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I SIMPÓSIO INTERNACIONAL – LITERATURA, CULTURA E SOCIEDADE

Caderno de Resumos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV)


Viçosa - Minas Gerias - Brasil

Nilda de Fátima Ferreira Soares – Reitora


Demetrius David da Silva– Vice-Reitor
Vicente de Paula Lélis – Pró-Reitor de Ensino
Eduardo Seiti Gomide Mizubuti – Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Gradução

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

Gerson Luiz Roani – Coordenador

COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO

Felipe Matias
Gerson Luiz Roani
Renato de Oliveira Dering
Rodrigo Corrêa Martins Machado

MONITORES:

Centro Acadêmico Letras:

Ana Claudia Vieira Mendonça, Bruna Falcone Zauza, Marcela de Azevedo Masala,
Marcelo Gomes Perez, Nayara Carolina Soares Branco, Nayara Silva Guimarães
Pereira, Rafael Lobão Gotti, Rafael Orletti Oliosi, Rafaela Araújo Felipe e Viviane
Terezinha de Faria Moreira.

Discentes:

Juliana Meneguitte e Lucca Tartaglia

Todos os resumos deste caderno são de inteira responsabilidade de seus autores, não
cabendo qualquer responsabilidade legal sobre seu conteúdo à comissão organizadora
do caderno e do evento.
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COMUNICAÇÃO

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IMAGINARIO Y SIMBOLISMO ANDALUZ EN LA POESÍA DE FEDERICO GARCÍA LORCA.

Clara Pajares Gil - UFV

Comentario de algunos elementos que aparecen en la poesía de Federico García Lorca, los cuales nos
desplazan a un territorio que es fruto del paso de diferentes pueblos y civilizaciones que, con el tiempo,
han ido conformando una identidad muy particular, la andaluza. Estas figuras, que manifiestan una
presencia a menudo repetida en la obra de Lorca, son una herencia del mestizaje que caracteriza el
imaginario colectivo de la región del poeta. Región por la que pasaron numerosos pueblos del
Mediterráneo oriental antes de la llegada de musulmanes, judíos, católicos y de una peculiar cultura
nómada que dejaría una huella imborrable en el suelo andaluz, el pueblo gitano. El producto de esta
mezcla de culturas se traslada a la obra del poeta granadino, al igual que ocurrió con otros poetas de la
llamada Generación del 27. El objetivo de este trabajo es mostrar como Lorca, fuertemente vinculado a la
realidad que le rodeaba, es heredero de símbolos e imágenes que pertenecen a una tradición histórica y
encuadrar algunos de sus poemas en el contexto geográfico y cultural de Andalucía, tierra en la que inició
y desarrolló el talento poético que lo hizo inmortal.

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DOIS OLHARES: O ROMANCE-PEPORTAGEM E A APROPRIAÇÃO DA VERDADE


FACTUAL EM SINAIS DE VIDA NO PLANETA MINAS, DE FERNANDO GABEIRA, E OS
AMORES DA PANTERA, DE JOSÉ LOUZEIRO .

Felipe Augusto Caetano Matos - USP

Procuraremos, na presente comunicação, fazer a exibição de nossa pesquisa em andamento acerca dos
romances Sinais de Vida no planeta Minas, de Fernando Gabeira, e Os amores da Pantera, de José
Louzeiro. Primeiramente, tais obras nos chamaram a atenção pelo fato de ambas lidarem com materiais
noticiosos, enquadrando-se no estudo que realizamos sobre o gênero ―romance-reportagem‖. Tentaremos
mostrar como tal gênero se configura nos romances e exploraremos, também, as relações existentes
entre mídia informativa e ficção, mais precisamente entre jornalismo e ficção, que, apesar de não serem
inéditas, voltam à tona no contexto da literatura brasileira na década de 70 e permeiam a década de 80.
Em segundo lugar, nos é pertinente abordar os dois romances em questão devido à opção dos escritores
por tratar, digamos assim, do mesmo tema: a vida e (principalmente) a morte da ―socialite‖ mineira
Ângela Diniz, que foi assassinada na década de 80 por seu então companheiro, sendo que tal caso teve
enorme repercussão e foi amplamente noticiado pela mídia da época. Notamos que ambos os autores se
valeram de materiais noticiosos, o que, a nosso ver, aproxima as duas obras, embora o enfoque e a
representação da figura da protagonista Ângela Diniz se dê de modo diverso em ambas.

Palavras-chave: romance-reportagem, Fernando Gabeira, José Louzeiro

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Crônica de um vagabundo: nas dobras da cidade

Michel Mingote Ferreira de Ázara - UFMG

O presente trabalho abordará o conto Crônica de um vagabundo, do escritor Samuel Rawet, considerando
os aspectos descentralizadores do texto, sejam eles a errância, o exílio, a fragmentação e a
desterritorialização. O teórico Gilles Deleuze ancorará tal leitura, além de outros pensadores como
Marshall Berman, Michel Maffesoli e Walter benjamim. Esses aspectos serão abordados em relação à
configuração do espaço urbano em sua narrativa, que se torna um espaço labiríntico. Nesse sentido, será
apresentada uma diferenciação em relação à figura clássica do flâneur, e, através das figuras do labirinto e
do nomadismo, será analisada a narrativa do conto, que apresenta um personagem que perambula por esse
espaço citadino, sem ponto de partida e nem de chegada. Essa forma de ocupar o espaço urbano, de vagar
sem destino, de vagabundear na cidade, configura a possibilidade de se pensar uma escrita marginal, que
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rompe com o sistema de significação dominante, ao apresentar a figura do vagabundo, de um homem sem
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profissão, sem qualidades. O pensamento do filósofo Gilles Deleuze também contribuirá para se pensar a
escrita como um processo de devir, sempre inacabado. Assim, antes de se pensar no estado representativo
da linguagem, por exemplo, quando se analisa a representação do estrangeiro nos textos literários, é
através da própria escrita que o escritor torna-se um imigrante, um estrangeiro, um marginal.

Palavras-chave: Samuel Rawet; labirinto; errância.

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DA ANTROPOFAGIA A PERIFERIA: LEITURA COMPARADA ENTRE SÉRGIO VAZ E


OSWALD DE ANDRADE

Ricardo Ibhraim Matos Domingos - UFJF

O presente trabalho tem por objetivo analisar comparativamente os manifesto escritos por Oswald de
Andrade (Manifesto Antropófago) e Sérgio Vaz (Manifesto da Antropofagia Periférica). Ao nalisar os
dois texto intenta-se mensurar as manutenções e distenções envolvidas na feitura do segundo, de Sérgio
Vaz, para o primeiro. O Manifesto da Antropofagia Periférica é um dos textos que vem adicionado ao
que chamamos hoje de literatura Marginal, ou seja, textos escritos por autores advindos das periferias dos
grandes centros urbanos do país. Ao retomar o autor modernista, Sérgio Vaz reclama a antropofagia como
índice de manifestaçõa identitária, através desse tema recorrente na literatura brasileira, o escritor reclama
para si o direito de ―devorar‖ o cânone literário nacional e utilizá-lo de acordo com o contexto no qual se
encontra. Entedemos por antropofagia não somente um mecanismo literário, mas também um conceito
sócio-político articulador de forças discursivas dentro de uma campode saber restrito, neste caso a
literatura. A apreensão dessa estratégia conteudística nos dois textos revela, de certa forma, um
componente revolucionário no desenvolvimento da literatura brasileira, o que vai de encontro com vária
teorias sobre as letras nacionais, revelando assim, a pertinência da análise dos textos escolhidos e a
possível contribuição que tal análise pode dar a crítica atual.

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MUITO ALÉM DA CONTEMPORANEIDADE: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO LITERÁRIA


BRASILEIRA DAS GERAÇÕES 90 E 00 CONTEMPLADA NAS AULAS DE LITERATURA
PARA O ENSINO MÉDIO NO PORTAL DO PROFESSOR

Simone Cristina Menezes Salgado - CEFET-MG

Esta pesquisa apresenta análises de aulas para o ensino médio, componente curricular literatura,
publicadas no link Sugestões de Aulas do Portal do Professor, ação conjunta do Ministério da Educação
(MEC) e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para facilitar e dinamizar o trabalho docente. Tem
como objetivo investigar se a literatura brasileira contemporânea, especificamente a produção literária dos
anos 90 e 00, está e como está presente nesse material de apoio pedagógico para o professor. Busca-se
verificar possíveis convergências entre o discurso da modernidade proposto em um ambiente virtual
interativo que reúne várias ferramentas para fins didáticos, associando novas tecnologias de informação e
comunicação (NTIC) e educação com a contemporaneidade da literatura originária do período
cronológico selecionado. A pesquisa com abordagem exploratória e quali-quantitativa passa pela
investigação da estrutura e dos atributos associados à qualidade dos portais em língua portuguesa às
marcas que caracterizam a produção literária contemporânea e sua abordagem no portal educacional.
Com os resultados apurados no estudo, espera-se contribuir para o aprofundamento da discussão no
campo aplicado sobre o ensino de literatura, evidenciando a forma com que esses textos e suas roupagens
são tratados em suportes digitais, com intuito de aprimorar os materiais de apoio pedagógico para o
docente ali socializados e suprir a carência de análises científicas nessa seara.

Palavras-chave: material didático digital - ensino de literatura – literatura contemporânea.

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ESPAÇO SOCIAL DELIMITADO: A CARACTERIZAÇÃO RELIGIOSA DE TIETA EM
“TIETA DO AGRESTE” DE JORGE AMADO.

Gláucia da Silva Cosme - UFPEL

Analisar-se-á a simbologia recorrente na obra Tieta do Agreste, de Jorge Amado, observando os aspectos
que se remetem a fatores de aceitação social relativo à personagem feminina Tieta a partir da ligação das
características desta com o ―demônio Lilith‖. Dessa forma, será destacada a relevância de elementos
externos ao texto, como o contexto que a referida obra está inserida. Abordando a representatividade da
personagem Tieta, dotada de uma personalidade forte, assim como Lilith ― uma autêntica femme fatale.
Destarte, ao contestar essas características, vê-se que a caracterização da personagem Tieta está ligada às
peculiaridades Judaicas Cristãs conferidas ao demônio Lilith. Tais peculiares estão atreladas ao espaço
social que é destinado a figura dramática Tieta do Agreste; a margem da sociedade. Questionando sua
posição, discutem-se os elementos que se apresentam introduzidos historicamente no meio social, o que
configura a cultura patriarcal preconceituosa em referencia a mulher no âmbito social. Para tanto,
embasar-se-á principalmente na Teoria Critica da Sociedade, fundamentadas pelos intelectuais Walter
Benjamin e Theodor Adorno, e a Sociologia Literária, sendo esta sustentada principalmente por autores
como Antonio Candido e Alfredo Bosi. Por fim, se verificará como se constituiu a identidade de Tieta,
que se apresenta incompleta em contraponto às expectativas historicamente e culturalmente formuladas
pelo âmbito social em vigência no momento de produção da obra de Tieta do Agreste, 1977.

Palavras Chave: Sociedade, literatura, religiosidade e caracterização.

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CAMILO CASTELO BRANCO E MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA: A FICÇÃO COMO


RECRIAÇÃO DO REAL

Tatiana de Fátima Alves Moysés - USP

Camilo Castelo Branco e Manuel Antônio de Almeida estão inseridos no mesmo momento histórico; em
virtude disto suas obras apresentam aspectos confluentes. Por outro lado, a distância geográfica que os
separa – que implica também numa distância entre os contextos culturais - é responsável pela formação
das diferenças que culminam na peculiaridade de suas obras. Assim sendo, esta comunicação tem o
intuito de analisar o modo como Almeida e Camilo fazem da ficção uma recriação estilizada do real,
efetuando ainda uma comparação entre ambos que priorize tanto as distinções quanto as semelhanças de
certos aspectos de suas narrativas.

Palavras-chave: história, literatura, sociedade.

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ENSINO EM LARGA ESCALA: UM LUGAR PARA A LITERATURA NO RJ

Cristiane Brasileiro (Fundação Cecierj/Seeduc)

A rede estadual das escolas públicas do Rio de Janeiro passa, desde o início deste ano, por um processo
avançado de reforma curricular do Ensino Básico. Nesse contexto, buscamos registrar em primeira mão
as principais características da inserção específica dos estudos literários na atual proposta, assim como a
discussão que antecipou e vem acompanhando a constituição dessa área. Recuperamos, pra isso, não só as
orientações pedagógicas e as avaliações externas mais influentes que, tendo sido geradas pelo MEC,
determinaram em primeira instância os contornos gerais das soluções locais, como também as posições
conflitantes que emergiram ao longo do período de consulta pública aberta aos professores da rede. Por
fim, apontamos os impasses mais notáveis que têm surgido no interior de um curso de formação
continuada envolvendo 2000 professores da área, que foi concebido como um sistema de apoio à
implementação do Currículo Mínimo na escolas, e enfatiza na teoria e na prática as funções que o
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profissional da área deveria ocupar como leitor modelo diante de seus alunos.
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Palavras-chave: políticas públicas; currículo; Literatura; leitor modelo


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LITERATURA, PSICOLOGIA E MITO

Cassiane Ladeira da Silva Araujo - UFJF

Este trabalho propõe dialogar com dois campos de conhecimento, Literatura e Psicologia. Pretende-se
analisar, do ponto de vista da psicologia junguiana, a alma ancestral ameríndia e a formação do herói
cultural no mito makunaima, a partir das obras Makunaima en el valle de los kanaimas, do indígena
pemon Lino Figueroa, Mitos e lendas dos índios taulipangue e arekuná, de Koch-Grünberg e
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade. A partir do conceito de ―trickster‖ da
psicologia analítica, analisamos o mito do herói em Macunaíma, de Mário de Andrade, e no demiurgo
Makunaima. Sua criatividade e irredutibilidade a categorias fixas, assim como seu status de herói cultural
dos povos indígenas aos quais o mito pertence, permitem definí-lo como ―trickster‖. A fim de
entendermos a função transformadora do mito para as sociedades indígenas, recorremos ao processo de
individuação, considerado o eixo da psicologia junguiana. Ao estabelecer um diálogo entre o mito
Makunaima e Macunaíma, de Mário de Andrade, procuramos refletir sobre a perda de nossa alma
ancestral. Esta perda está presente na sociedade brasileira desde o seu nascimento, mais especificamente
desde o processo de colonização e catequisação dos povos originários pelos jesuítas. Buscar a alma
brasileira nas origens indígenas é o desafio de nosso trabalho.

Palavras-chave: Trickster; Mitologia indígena; Psicologia junguiana.

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O COMEÇO HISTÓRICO DA CANÇÃO BRASILEIRA – UMA QUESTÃO DE ARQUIVO

Pedro Bustamante Teixeira – UFJF

Até bem pouco tempo na música, no início do século XX, conhecia-se apenas um modo de registro
musical: a partitura - escrita musical hegemônica no ocidente que procura racionalizar através de
operações matemáticas, o tempo e as alturas das intervenções sonoras nos silêncios ou já dentro de uma
sonoridade pré-estabelecida. O conhecimento da escrita musical, portanto, por muito tempo condicionou
tanto a gravação e o arquivamento das expressões musicais, quanto o arquivamento da gravação e a
gravação do arquivamento. Sem a consolidação de uma escrita capaz de traduzir as suas próprias músicas
e palavras, muitos povos preservaram seus sons e mantiveram vivas suas próprias línguas, apenas pelo
exercício da oralidade. Contudo, apesar de poder, por exemplo, transcrever perfeitamente toda uma
sinfonia de Bethoven, com toda gama de instrumentos que uma composição como essa requer, em relação
às expressões exóticas a tradição musical ocidental, essa escrita musical, aprimorada constantemente para
traduzir exclusivamente a música ocidental, torna-se inadequada, mais arbitrária do que de fato poderia
ser e, fatalmente, compromete a gravação de suas expressões musicais e as demais etapas que envolvem o
processo para a sua preservação enquanto memória-técnica: arquivo. Contudo, com a invenção do
fonógrafo a mediação da escrita musical na tradução da música é dispensável. O fonógrafo revoluciona a
forma de registro das produções sonoras e ainda permite pela primeira vez na historia a consolidação de
um arquivo sonoro. Neste trabalho, voltados para a gênese da música popular (comercial) brasileira,
procuraremos discutir a idéia do nascimento histórico da canção brasileira como uma questão de arquivo
e as consequências das ações de uma política patrimonialista do governo brasileiro em relação ao samba.

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LITERATURA DE CORDEL: ENTRE VERSOS E RIMAS SOTÁDICOS E SACÂNICOS

Ana Maria de Carvalho - UFPA


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Em geral, as classificações temáticas dos cordéis são para fins didáticos, distribuindo-se em blocos que
podem ser temáticos ou baseados na sua estrutura. Ao pesquisar sobre elas encontrei classificações
temáticas sobre: religião, cangaço, amor etc. Na obra de Alves Sobrinho (2003) dentre as temáticas
citadas por ele, chamo atenção para a temática da depravação, definida como aquela que trata de assuntos
obscenos e imorais. Essa mesma temática é denominada por Salles (2003) de sotádica, ou seja, produções
que apresentam um conteúdo que foge à regra da moral e dos bons costumes. Esse tipo de cordel teve seu
auge na década de 50, no Nordeste e atualmente no Pará um dos seus representantes é o poeta Antonio
Juraci Siqueira. O objetivo desse trabalho é analisar esses cordéis e lê-los como um texto cultural, capaz
de dizer algo além da sacanagem. Assim, é importante comentar a relação que há entre riso e sexualidade
a partir da temática sotádica. A discussão apresentará os pressupostos teóricos baseados em Bergson
(2007), Foucault (1977), Propp (1992), Idelette Muzart-Fonseca dos Santos (2006).

Palavras-chave: cordel, sotádico, riso e sexualidade.


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AS FORMAS E IMAGENS DA FESTA POPULAR EM MORTE E VIDA SEVERINA

Felipe Gonçalves Figueira UFF

O presente trabalho tem origem nos estudos desenvolvidos durante o mestrado no PPGL/UFF, sob
orientação do Professor Dr. Paulo Bezerra. Morte e Vida Severina é subintitulado por João Cabral como
auto de natal pernambucano, em uma análise do texto, Benedito Nunes cinde a obra em dois fluxos
discursivos distintos, denominando o nascimento do filho de Mestre Carpina como ―o auto dentro do
auto‖. Auto é uma denominação genérica utilizada no Brasil para designar espetáculos dramáticos
populares, tendo ou não a presença do elemento hierático como núcleo catalisador da ação, esses eventos
da expressão artística popular foram bastante comuns no país, especialmente no nordeste, até a primeira
metade do século XX. Em meu trabalho analiso a influência das formas e imagens da festa popular no
auto Severino. Para a realização desta tarefa tomo de empréstimo os conceitos de Mikhail Bakhtin: 1)
Familiarização e Livre Contato Familiar; 2) Excentricidade; 3) Mésalliance; e 4) Profanação. Com isso,
busco construir uma perspectiva comparada entre esta obra do autor pernambucano, os autos nordestinos
e o sistema das festas populares como descrito pelo crítico russo.

Palavras-chave: 1- Morte e Vida Severina; 2- João Cabral de Melo Neto; 3- Carnavalização; 4- Mikhail
Bakhtin.
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O QUE OS JOVENS LÊEM?

Marta Passos Pinheiro – CEFET-MG


Carolina Carvalho Martins – CEFET-MG
Kaique Torres Fernandes - CEFET-MG

Este trabalho apresenta resultados da pesquisa sobre o ―Perfil do jovem leitor na educação profissional
técnica de nível médio‖, desenvolvida no CEFET-MG e financiada pela FAPEMIG. Essa pesquisa tem
como objetivo principal investigar os hábitos de leitura literária dos alunos que ingressam (1° ano) no
CEFET-MG, do campus de Belo Horizonte. Foram selecionados, para fins comparativos, dois cursos da
área de humanas, Meio Ambiente e Turismo, e dois cursos da área de exatas, Edificações e Química.
Partindo do problema principal, o que o jovem lê?, propomos ainda as seguintes questões: o aluno que
ingressa no CEFET-MG tem o hábito de ler literatura? Quais são os gêneros literários e os livros mais
procurados por esses jovens? Os perfis culturais e hábitos de leitura (especialmente o da leitura literária)
dos alunos dos cursos de exatas se diferem muito dos alunos dos cursos da área de humanas? Para
responder às perguntas propostas, foi aplicado um questionário, com a maioria das perguntas fechadas,
nas turmas selecionadas. Na análise dos dados, foram utilizados como base teórica os estudos de Petrucci,
de Lahire e de Paulino. Como resultados parciais, destacamos: os best-sellers, como Código da Vinci, e
os livros considerados ―juvenis‖, como Harry Potter e Crepúsculo, são os mais lidos pelos alunos, tanto
da área de exatas como da área de humanas e os livros de poesia são os menos lidos. Esses dados nos
levam a acreditar que, em relação aos alunos que ingressam nos cursos técnicos do CEFET-MG, não
existe um determinado perfil de leitura diferenciado para as áreas de exatas e humanas. Também é
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possível traçar um perfil de leitura desses jovens que apresentam uma preferência por best-sellers e por
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livros considerados juvenis. A hipótese de que os alunos não lêem literatura não se confirmou. Os jovens
não lêem os clássicos, que costumam ser cobrados pelos professores. Existe uma leitura paralela, não
solicitada e não autorizada. Composta prioritariamente por best-sellers e livros voltados para o público
juvenil, esse tipo de leitura não é legitimado pela escola e pela sociedade.

Palavras-chave: leitura literária; práticas culturais; legitimidade cultural


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LITERATURA ENTRE FANTASMAS

Roberto Said - UFMG

O desmedido alvo desta comunicação contrasta-se com sua brevidade: viso à literatura na
contemporaneidade. Volto-me, para tanto, ao pensamento de Derrida; não para abordar especificamente
um autor ou uma obra, mas para avaliar as condições de possibilidade da literatura em nosso tempo
presente, para tratar dos impasses e exclusões da literatura da cena pública e social, do apequenamento do
espaço literário – processo que se consuma passo a passo e que tem cobrado vigência no campo dos
estudos literários. Publicações recentes em nossa área parecem cifrar essa ―era de suspeita‖: A literatura
em perigo, de Todorov, Literatura para quê?, de Antoine Compagnon, Poetas sem leitores, de Marc
Spencer e o polêmico artigo de Flora Sussekind, A crítica como papel de bala, publicado no JB em abril
de 2010. Interessa-me, portanto, atravessar com Derrida discursos contemporâneos que assombram a
literatura, ao colocar em xeque sua existência, ao deslegitimar a legitimidade de seu saber, tratando-a,
enfim, como um morto-vivo, como um fantasma que perambula sem função social. A bem dizer, parece
ser essa, desde sempre, a sua vocação, ser um fantasma, seu modo de ser na cultura ocidental é
fantasmático. Sua origem ou sua possibilidade reside também no direito à morte. Meu assunto avizinha-
se assim de uma questão derridiana: a da inscrição, do como e onde se inscrever, dos locais de inscrição
da literatura, de sua não-presença, de sua não-contemporaneidade. E, desdobra-se, nesse movimento, em
um debate político, em uma política da escrita literária.

Palavras-chave: Jacques Derrida, literatura, simulacro, contemporaneidade

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A CARNAVALIZAÇÃO DA LITERATURA: UMA APROXIMAÇÃO ENTRE A CULTURA


CÔMICA POPULAR MEDIEVAL EUROPEIA E A CULTURA CÔMICA POPULAR
BRASILEIRA

Everaldo dos Santos Almeida – Universidade Lusófona (PT) / FAMA

Análise da carnavalização da linguagem histórico-literária medieval em Mikhail Bakhtin influenciada por


François Rabelais, e suas comparações com a cultura brasileira em decorrência da concepção sociológica
da linguagem, tendo a literatura como espaço de suas manifestações. Pondera-se a representação dos
múltiplos discursos sociais entre sujeitos históricos em constante interação com a carnavalização da
ambivalência e ressignificação semântica proporcionada pela cultura cômica popular medieval e brasileira
em contextos de valores éticos, estéticos e sociais na dependência das interações entre sujeitos ou grupos
sociais. A discussão pretende analisar a sensação carnavalesca da linguagem popular literária e proximal
entre os indivíduos em contato, a cultura e os valores nacionais, como pressupõe a teoria literária
bakhtiniana. Assim, a carnavalização da linguagem é vista como uma visão de mundo onde as ações
simbólicas subvertem a noção de tempo e de espaço. Para tanto, a cultura e a ideologia são vistas como
resultado de aspectos materiais e sociais dos signos na reestruturação dos próprios meios de representação
da realidade. Os signos culturais são ponderados como dotados de sentidos, tornando-se parte da unidade
da consciência verbal e coletivamente constituída, sendo a linguagem literária a representante dos fatores,
aspectos evolutivos e transformacionais da carnavalização da linguagem.

Palavras-chave: Carnaval. Ambivalência semântica. Comicidade. Ideologia.

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LEMBRANÇAS E CONFISSÕES NA OBRA NAQUELES BRAÇOS DE CAMILLE LAURENS

Luciana Marques Rufato - UFJF

Neste trabalho pretende-se analisar a obra Naqueles Braços de Camille Laurens através de teorias que
versam sobre o gênero ―auto-ficção‖. As teorias sobre a ―auto-ficção‖ que serão abordadas foram
desenvolvidas por Serge Doubrovsky e Vicent Colonna e serão apresentadas em contraposição às teorias
autobiográficas elaboradas por Philippe Lejeune. A questão estrutural de ambos os tipos de textos, bem
como suas características fundamentais, serão expostas com o intuito de mostrar as diferenças, ainda que
sutis, entre autobiografia e auto-ficção. Em Naqueles Braços são relatados fatos reais ocorridos na vida da
autora, que os apresenta em forma de memórias. Na obra literária em questão, estas memórias estão
relacionadas aos homens que fizeram parte da vida da autora, em especial o pai; o marido; o amante; e o
analista, e quão importantes e influentes aqueles foram em sua vida. A forma como os acontecimentos
relevantes da vida da escritora são narrados é puramente auto-ficcional, pois, além da não-necessidade de
relatar os fatos ocorridos de maneira verossímil, há também uma quebra na linearidade da ordem dos
ocorridos, mostrando que a memória humana é falha e que as lembranças surgem ao acaso.

Palavras – chaves: Auto-ficção. Escritas de si. Memórias. Autobiografia. Escritas do eu.

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DO QUARTO DE DESPEJO À SALA DE VISITAS: UMA LEITURA DOS DIÁRIOS DE


CAROLINA MARIA DE JESUS

Aline Alves Arruda - IFSULDEMINAS/UFMG

Esta comunicação pretende analisar a trajetória da escritora afro-brasileira mineira Carolina Maria de
Jesus a partir da análise de seus dois diários: Quarto de despejo, publicado pela primeira vez em 1960, e
Casa de Alvenaria, publicado em 1961. Minha leitura se propõe a pensar a escrita autobiográfica da
autora desde sua vida anterior ao sucesso de seu best-seller até sua mudança para a ―sala de visitas‖,
relatada em seus livros. Neles, Carolina mostra que usa a escrita como arma de denúncia e o gênero diário
a acompanha nessa tentativa. A consciência que a escritora demonstra diante das condições políticas e
históricas que a levaram, como a muitos, ao quarto de despejo da favela, é surpreendente. As marcas de
gênero e etnia estão presentes nos diários de Carolina, o que justifica sua inserção na literatura feminina
afro-brasileira.

Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus – literatura afro-brasileira – literatura feminina

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Autobiografia e ficcionalidade em O cemitério dos Vivos/Diário do Hospício de Lima Barreto

SOUSA ,Wanély Aires de Sousa - UFU

O cemitério dos vivos, de Lima Barreto é obra pouco conhecida no meio acadêmico. A narrativa de
caráter autobiográfico retrata a trágica experiência ligada ao hospício. Entretanto, o que chama a atenção
nesta obra é a natureza ambígua dessa narrativa, enquanto registro e/ou ficcionalidade. Tendo por base
tais inquietações, atentamo-nos para o conceito de literatura da urgência para definir um tipo de escrita
realizado sob estado de emergência, consolidado como inscrição capaz de ir além das técnicas de controle
corporal no hospital psiquiátrico. Assim, temos uma história que apresenta a temática da loucura,
inserida em um plano estético permeado pelo discurso que sofre as influências diretas da desordem
(ruptura da linearidade, fragmentação da narrativa, sobreposição de informações, constantes paradoxos)
comum a esse fenômeno. Fica, pois, definido que a escolha dessa história justifica-se pela vontade de
responder a seguinte questão: Quais elementos inscrevem a loucura nesses discursos e de que maneira
estes nos permitirão perceber o limite entre a ficção e a realidade da narrativa? Para o desenvolvimento de
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tal estudo, tivemos como principais textos para o suporte teórico História da Loucura, de Michel
Foucault (2009) e, para uma boa análise da narrativa de relato pessoal, O diário íntimo e a narrativa, de
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Maurice Blanchot (2005).


Palavras-chave: diário, ficção, loucura
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OS NOVOS – MEMÓRIA EM O SUPLEMENTO

Eliana Mirian Ferreira Nunes - UFOP

Este trabalho propõe-se a apresentar a atuação do grupo denominado Geração Suplemento, no final da
década de 60 em Minas Gerais, por meio do periódico O Suplemento Literário do Minas Gerais como
modo de refletir e analisar os modos de representação e da memória através da abordagem de textos
produzidos e dedicados aos intelectuais que compunham esse grupo . A representação e a memória da
Geração Suplemento serão abordadas por meio da analise de três séries dedicadas aos escritores que
fazem parte do grupo, sendo elas: O escritor mineiro quando jovem, Os novos de toda parte e Os novos
em Antologia, para perceber o modo como esse grupo é representado. Uma vez que as matérias das séries
possuem o caráter de entrevista-depoimento-reportagem, adotasse como base para pensar a construção da
biografia da geração, leituras sobre autobiografia e escritas de si de modo a chegarmos a caraterização
dessa escrita biográfica da geração. E como um dos desdobramentos deste trabalho, pretende-se ainda
refletir sobre o estudo do romance Os novos de Luiz Vilela pensando a relação ficção/discurso factual. O
romance lançado em 1971 narra a história de um grupo de amigos, jovens e escritores em processo, que
tinham como objetivo maior conseguir se projetar no mercado editorial brasileiro. Com base em ensaios e
publicações no periódico O Suplemento Literário do Minas Gerais e da narrativa do livro somos levados
a acreditar que o romance fornece elementos possíveis de serem articulados ao grupo. Com isso, busca-se
um diálogo entre os fatos narrados no romance e os acontecimentos da época que perpassam a vida dos
escritores mineiros que formaram um círculo de amizade, com propósitos comuns e constituíram o grupo
denominado Geração Suplemento.

Palavras-chave: representação, memória, geração.

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O JOGO DE PISCADELAS DA POESIA DE PAULA TAVARES

Marcelo Pereira Machado - EPCAR

O principal objetivo da comunicação é apresentar a poética da angolana Paula Tavares, por meio do livro
O Lago da Lua de 1999, utilizando-se um referencial teórico que leve em consideração especificamente
os Estudos de Gênero, além do enfoque nas correntes de estudos identitários. A partir da análise dos
poemas, é possível se deparar com o passado de Angola, antes da colonização, pois quer fazer o local
ancestral ter voz, e também com o presente, pós-colonização, na tentativa de marcar os contatos culturais.
Desse modo, a produção da poetisa projeta sobre os versos uma dinâmica dupla, transitando entre tradição
e modernidade. A principal articuladora dessa dinâmica será a mulher, que por sua vez, também possuirá
nos poemas, uma constituição dupla, sendo ao mesmo tempo, imanência, já que conserva os costumes
ancestrais do país, e transcendência, pois assume papéis diferentes dos tradicionais. Nesse signo circular,
que vai e volta, que quer ―pular o cercado‖ - em referência a um dos seus versos - mas continua, – como
em outro poema - pintando o corpo de ―tacula‖, encontra-se a produção de Paula Tavares, numa espécie
de canto que não seria panfletário, incisivo; dar-se-ia aos poucos, em ―piscadelas‖.

Palavras-chave: Literatura, Angola, Estudos de Gênero, Poemas.

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A MEMÓRIA DO TRAUMA EM “LEMBRANÇA DE UMA BATALHA”, DE ITALO CALVINO

Bruna Fontes Ferraz - UFMG

Mesmo já tendo escrito algumas de suas memórias de guerra, Italo Calvino (1923-1985) só as relatará em
primeira pessoa numa espécie de testemunho em ―Lembrança de uma batalha‖ (1974), misto de ensaio
literário sobre a memória, rememoração, e conto que se encontra na obra O caminho de San Giovanni
(2000). Evidenciaremos, assim, de que forma Calvino relata suas memórias e seus traumas nesse ensaio
literário, num relato mais autobiográfico no qual o escritor italiano recorre a lembranças, muitas vezes
imaginadas, para recompor o seu caminho junto com outros partigiani (guerrilheiros que combatiam o
nazi-fascismo) até o vilarejo de Baiardo. Nesse sentido, observaremos como a escrita é o meio encontrado
por Calvino para recorrer à fonte da memória e mesmo superar o evento traumático, já que a reconstrução
da caminhada até Baiardo, bem como toda a luta por lembrar e por vencer as lacunas da memória levam-
no a conseguir rememorar e mesmo narrar a sua dor.

Palavras-chave: Trauma; Memória; ―Lembrança de uma batalha‖.


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A MODIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS E A REPRESENTAÇÃO MÍTICA DO LUGAR NO


ROMANCE LEITE DERRAMADO

Alexsandra Loiola Sarmento – PUC-MG /Unimontes

As transformações do espaço ocorridas na passagem do século XIX para o século XX são vivenciadas
pelo narrador-personagem Eulálio d‘Assumpção no romance Leite Derramado. A narrativa
memorialística de Chico Buarque descreve um cenário do Rio de Janeiro, que se identifica com o cenário
das obras machadianas. Entretanto, essa paisagem se confronta com a imagem do Rio de Janeiro do
século XX, na qual predominam arranha-céus, prédios inspirados no Art Déco francês, com traços de uma
arquitetura modernista influenciada por Oscar Niemeyer e Le Corbusier. Diante desse novo cenário, o
narrador manifesta um sentimento de perda material, simbólica e identitária. Assim, por meio da memória
onírica, ele passa a refugiar-se em lugares imaginários do passado, que se tornam míticos por representar
de forma idealizada os reinos da infância. Desse modo, o presente trabalho procura analisar as
transformações ocorridas com a modernização dos espaços e seu reflexo no imaginário do narrador-
personagem do romance Leite Derramado, tendo como referencial os estudos sobre o espaço feitos por de
Michel de Certeau, Sharon Zukin, Henri Lefebvre, Zygmunt Bauman entre outros.

Palavras-chave: espaço, lugar, representação mítica

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DE(S)MARCAÇÕES DO ENSINO E DA LITERATURA

Conceição Aparecida Bento –UFVJM

A literatura comporta muitos saberes. A afirmação de Barthes pode ser o ponto de partida, mas não é o
suficiente para definir o ser da literatura, se é que isso é possível. Pensar o seu ser é tarefa árdua: ele
vincula-se ao social, à história, à filosofia, às ciências ou ultrapassa todos esses elementos, tangenciando,
ao mesmo tempo, com todos eles? A poiesis, identificada com o fabricar, com a passagem do não ser ao
ser, pode, talvez, sem esgotá-la, dizer a literatura. O que se propõe, nessa comunicação, é pensar como, a
partir da dificuldade de demarcação dos limites da literatura, pensar o seu ensino. Para alguns, o binômio
ensino/ literatura é uma antinomia; uma contrariedade nada fácil de resolver. A articulação, no entanto, se
realiza. Coloca-se, assim, o problema: o que se faz quando se ensina a literatura; explicita-se ou se trai
esse objeto no momento em que ele é levado para a sala de aula? Como dar a ele a devida dimensão
nesse espaço?
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BOUVARD ET PÉCUCHET: UM ATAQUE AO BURGUÊS, UM ATAQUE À FORMA?

Fernanda Ferreira dos Santos - USP

A presente comunicação faz parte de minha dissertação de mestrado e tem como objetivo tratar do
questionamento da forma romance presente, a meu ver, na obra de Flaubert Bouvard et Pécuchet. Pouco
estudada no Brasil e na própria França, a obra póstuma do autor é um campo vasto de estudo e suscita
questionamentos bastante pertinentes sobre escritura e leitura. Neste momento, a intenção é aprofundar os
estudos sobre escritura, para isso, o ponto de partida é a declarada ojeriza flaubertiana ao burguês, não
somente no romance em questão, mas em outros do autor e em suas correspondências. Se o ataque ao
burguês é recorrente, a recusa ao modelo romance é uma possibilidade, e isso oferece a pretensão de
observar um texto em que se passa a perceber a superficialidade do romance, bem como há a criação
dessa superficialidade, ―uma máscara que se aponta com o dedo‖, segundo Barthes. A morte do livro, tão
anunciada por Barthes, parece estar presente na obra para o surgimento da escritura.

Palavras-Chave: escritura, crítica genética, Flaubert, teoria da recepção

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PASSAGEM DA MÃO, PASSAGEM AO DOM - OS POEMAS DE ARMANDO FREITAS FILHO


LIDOS PELO DIÁLOGO CRÍTICO DERRIDA-HEIDEGGER

Luiz Fernando Medeiros de Carvalho (CES-JF)

Mais ou menos diretamente, e de modo mais ou menos visível, a mão ou a palavra Hand desempenha um
papel imenso em toda concepção heideggeriana desde Sein und Zeit, notadamente na determinação da
presença a partir do modo da Vorhandenheit ou da Zuhandenheit. Traduz-se a primeira , mais ou menos
bem em francês por ―étant subsistant,‖e melhor em inglês por ―presence-at-hand, a segunda por ―être
disponible‖ como utensílio, e melhor, porque o inglês pode guardar a mão, por ―ready-to-hand, ―
readness-to-hand‖. O Dasein não é nem vorhanden, nem zuhanden. Seu modo de presença é outro, mas é
melhor que ele tenha a mão para reportar-se aos outros modos de presença. Esta comunicação propõe-se a
interpretar a interpretação de Jacques Derrida sobre a relação da mão à palavra e ao pensamento, na
cadeia discursiva da filosofia de Heidegger. Por outro lado, propõe-se associar as passagens sobre a mão a
um pensamento do dom, até chegar à cena da escrita dos poemas de Armando Freitas Filho, construídos
como jogo das mãos.

Palavras-chave: desconstrução, manualidade, hospitalidade, poema.

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FUNK: NOVAS EXPRESSÕES DO COSMOPOLITISMO DO POBRE

Vanderlucia Aparecida da Costa - UFSJR

Este trabalho pretende discutir como o estilo musical funk tem servido para descrever de forma muito
original, ampla e envolvente o que tem ocorrido no interior das favelas brasileiras. A motivação para esta
escrita encontra-se, principalmente, na constatação de o estilo não ser hegemonicamente aceito e
reconhecido, contudo é tocado nos mais diversos espaços, inclusive os elitistas e acadêmicos, mostrando-
se uma ―força incontrolável‖ que convoca toda a sociedade, em algum momento, a refletir sobre o que
está sendo narrado em suas letras, o que para alguns é visto como pornografia e violência numa afronta ao
que é considerado de bom-gosto e de bom-tom, para outros é a realidade sendo contada nua e crua,
começando pela sexualidade vivida precocemente pelas crianças e adolescentes até o dia-dia de guerra
entre traficantes e policiais. A partir de um traçado histórico desde as origens americanas até a
contemporaneidade, baseada numa reflexão acerca do conceito de ―Cosmopolitismo‖ designado por
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Silviano Santiago, o funk será revisitado.


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LOBO ANTUNES: O TEMPO E O LUGAR

Patrícia Camargo – UFRJ


Beatriz Soares Cardoso – UFRJ

Este artigo se propõe a apresentar um estudo sobre as metáforas do tempo e do lugar no Segundo Livro de
Crônicas de Antonio Lobo Antunes. Considerado um dos grandes expoentes da literatura contemporânea,
Lobo Antunes traduz em belíssimas metáforas não só o tempo que passou em África, como também seu
contato com uma cultura diferenciada. Acredita-se que as crônicas desse livro sejam também a
composição de um mosaico de cores, imagens, sensações, fragilidades, fragrâncias, vibrações, cuja
representatividade alcança, através de metáforas, a solitude de um viajeiro catalisador desses elementos.
O olhar daquele que escreve será pensado, analisado pelo olhar deste que pesquisa buscando responder
aos seguintes questionamentos: O que se fala, de onde se fala, de quem se fala? Este será o ponto de
partida para se adentrar nas metafóricas viagens pelo território africano. Serão selecionadas algumas
crônicas relacionadas ao tempo como passagem, nostalgia, lembranças e cosmovisão; e ao lugar como
espaço por onde se pode perceber as fronteiras e margens do fazer literário. Busca-se uma abordagem
baseada nos conceitos de metáforas, paisagem, crônica, escrita diaspórica, entre outros.

Palavras-chave: crônicas, metáforas, poiesis-topia, memória.

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QUATRO MULHERES MORTAS: O ETERNO-FEMININO NA OBRA DE ÁLVARES DE


AZEVEDO

Francisco Roberto Szezech Innocêncio (UFPR)

A obra poética de Álvares de Azevedo apresenta uma clara divisão em duas vertentes opostas,
antagônicas, que, no entanto, como defende o próprio autor, compõem uma peculiar unidade. Isso porque,
segundo Azevedo, sua obra funda-se numa binomia, termo cunhado por ele para explicar a continuidade
entre os polos divergentes de uma poética ora idealista, nacionalista e lamartiniana; ora materialista,
cosmopolita e byroniana. Em Macário, Azevedo recorre a elementos do mito literário de Fausto,
principalmente em sua manifestação goetheana, para representar a migração de sua poética entre esses
dois polos binomiais opostos. Entre tais elementos, destacam-se as figurações azevedianas do Eterno-
Feminino, princípio que na obra de Goethe representa o impulso criador (e redentor) da humanidade.
Enquanto para Goethe, porém, esse princípio é sempre elevado, conduzindo o seu Fausto à elevação e à
salvação final, no drama de Azevedo ele se biparte em polos opostos, manifestando-se em figurações
femininas que se situam sempre em posições extremas e antagônicas de um eixo binomial: de um lado
altamente espiritualizadas (ainda que estéreis), e do outro absolutamente materializadas, identificando-se
com a carne e a matéria orgânica — e mesmo inorgânica. Temos, assim, na obra em questão, quatro
representações femininas que remetem aos polos opostos do romantismo azevediano: a santa etérea e
inatingível; a prostituta morta; a mãe enlutada (a mater dolorosa); a mulher-estátua (a morte).

Palavras-chave: Romantismo brasileiro; Álvares de Azevedo; Mito fáustico; Eterno feminino; Binomia.

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CONTROL, DISCIPLINE AND SUBJECTION IN GEORGE LAMMING‟S IN THE CASTLE OF


MY SKIN

Renata Lucena Dalmaso – UFSC


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The powerlessness of being a British colonial subject in the Caribbean island of Barbados is one of the
main topics in George Lamming‘s debut novel In the Castle of My Skin, one that is mirrored in the
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microcosm of the village, where the subjection to the landlord permeates the lives and culture of the place
and its inhabitants. If the village itself is to be considered the main character of the novel, as the author
himself proclaimed in the Introduction to the 1983 edition, this collective persona is doubly marked in its
subjection to foreign forces. It is at the same time subjected to the rule of the British Empire, and,
simultaneously, to the laws and constant vigilance of the landlord. What I intend to show in this paper is
that not only do the villagers do not object this doubled status as colonial subjects, they internalize this
condition and, in fact, choose to identify with and even idolize the figure of the landlord. The processes of
dominance and control become thus naturalized and uncontested. To support this analysis I draw on the
works of two authors: Foucault‘s theories on discipline and Freud‘s concept of narcissism of minor
differences.

Keywords: Caribbean, Postcolonialism, Discipline

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INÊS PEDROSA: MEMÓRIA & LABIRINTOS ROMANESCOS

Ulysses Rocha Filho – UFG


Jorge Alves Santana – UFG

―Não se consegue amar completamente senão na memória.‖ Fazes-me falta (2002). A escritora
portuguesa Inês Pedrosa (1962), a cada um dos seus romances, apresenta um reflexo da consciência
do tempo em que vivemos. Não sendo biográfica, sua obra (completando a maioridade)
aborda uma claraboia poética e polifônica que orna sua narrativa (rotulada) de ótica feminina.
Se o segredo, o amor e a memória são temas recorrentes nos romances pedrosinos, a dimensão temporal e
social são componentes que, igualmente, caracterizam Nas Tuas Mãos (1997) ou A Eternidade e o Desejo
(2007). E os artifícios utilizados para esse mister são os mais inusitados. No romance de 1997, a autora
intercala os discursos de três mulheres de uma mesma família O diário de Jenny (uma sequência), o
álbum de Camila (instantâneos) e as cartas de Natália (fragmentos), entrecruzando memórias e
pensamentos que ilustram gerações. Em A Eternidade e o Desejo, as memórias literárias não passam só
pela autoria, por aquele que lembra, mas pelos narradores (sempre alternados e passíveis de diversos
gêneros) que trazem para o texto literário um somatório de experiências de linguagem. A compreensão da
escrita passa pela compreensão das relações interlocutivas, pelo acabamento que vem de fora, ou seja, do
outro (interlocutor/compreensão ativa e responsável, contato entre sentidos – autor/tema/leitor) que
interage com o que é escrito pelo autor, que contempla, dá sentido na e pela relação de contato entre
sentidos (autor–leitor). Desta forma, o(s) sujeito (s) que lembra, nas memórias escritas e descritas, é
controlador da autoria que vai tecendo seus labirintos desde os primeiros sinais gráficos com o intuito de
ser (des)coberto. Esta comunicação deverá ser produto integrante do Projeto de Pesquisa LINHAS
POÉTICAS DE INÊS PEDROSA, registrado sob n. 34465, no SAPP/UFG.

Palavras-chave: Inês Pedrosa - romance contemporâneo - Prosa Poética – memória.

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A RUPTURA DA TRANSMISSÃO E A DESENCARNAÇÃO DO CORPO AFRICANO EM


“ENTERRO TELEVISIVO”, DE MIA COUTO

Regina Lúcia de Medeiros - UFRN

Propomos, nesta comunicação, uma leitura do conto ―Enterro televisivo‖, de Mia Couto, na perspectiva
das relações que a obra literária estabelece com a vida social. Investigamos, tendo em vista esse
propósito, as relações homem – máquina, oral – escrito e cultura tradicional – cultura de massa, sugeridas
na própria malha textual do conto, com o duplo objetivo de problematizar as mudanças culturais ocorridas
em África e de investigar os procedimentos de que se vale o autor para internalizar na sua produção essas
relações sociais contemporâneas. Em função deles, levantamos questões características da
contemporaneidade, as quais remetem a um processo de ruptura de transmissão dos costumes próprios da
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tradição oral: a falta de diálogo com os idosos, a atual educação televisiva e o silêncio imposto às
manifestações da vida cultural pela atuação de forças repressoras. Estudada e analisada técnica e
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poeticamente por Hampaté Bâ e problematizada nas obras do escritor moçambicano, essa ruptura resulta
dos processos violentos de colonização a que foram submetidas as populações de África. Fundamentamo-
nos nas leituras acerca da ―tradição africana‖, realizadas por Hampaté Ba, e nos estudos sobre a voz
empreendidos por Paul Zumthor.

Palavras-chave: pós-colonialismo; ruptura; tradição; voz.

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O RISO COMO FORMA DE DISTANCIAMENTO EM CÂNDIDO DE VOLTAIRE E NO


CONTO “JACINTO (RECORDAÇÕES DE VILA RICA)” DE ALPHONSUS GUIMARAENS

Danielle Fardin Fernandes - UFV

O estudo trata das particularidades do riso em dois autores: Voltaire e Alphonsus Guimaraens. Embora
ambos escritores se distanciem completamente em relação ao país de origem e época de vivência, ainda
assim, tais particularidades não impedem que se possa identificar as semelhanças na construção dos dois
textos: Cândido (2001) e ―Jacinto‖ (1960). A ironia, a principal delas, é usada de modo a provocar um
riso que é reflexo de uma decepção com o social e com a realidade existencial. Mikhail Bakhtin, no livro
Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento (1993), expressa a questão do riso através de um
estudo que fez acerca de outro autor, Rabelais. E D.C. Muecke explica a utilização das palavras para
formar uma didática do riso através da obra Ironia e o Irônico (1995). Tais críticos avaliam a arte cômica
voltando-se para o social e tornando o riso uma ação integrante e natural das atividades humanas, deste
modo, Cândido e Jacinto são situados no mesmo plano. Os dois personagens criticam a sociedade, mas ao
mesmo tempo fazem parte desse complexo de relações. A ironia é o principal material provocador do riso
que faz com que seja possível, paradoxalmente, se aproximar e se afastar deste mesmo social. Assim,
Alphonsus e Voltaire optam por essa ferramenta para criar uma crítica de afastamento e de pessimismo
existencial. Já sobre essa relação de pessimismo existencial encontramos justificativas em Verena Alberti
com o livro O Riso e o Risível: na História do Pensamento (1999).

Palavras-chave: Alphonsus Guimaraens; Cândido; Voltaire; riso; ironia.

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A CONTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL BRASILEIRA NA LITERATURA PÓS-


COLONIALISTA

Rita de Cássia Martins Oliveira – CES-JF

O estabelecimento da identidade nacional esteve, durante os primeiros escritos literários brasileiros,


relacionado ao elemento autóctone e ao português, especialmente no que tange à supremacia do segundo
sobre o primeiro. A língua e a doutrina religiosa impostas pelo colonizador tornaram-se inexoráveis,
ocasionando a extinção, quase total, da linguagem e dos elementos culturais dos índios brasileiros. Surgia
uma nova identidade, travestida de européia e que não mais refletia as tradições dos povos aqui já
existentes. Os escritos do período colonialista serviram para reforçar as ideias, ou os ideais dos
colonizadores. Somente após a independência brasileira é que surgiram as primeiras manifestações
literárias de caráter nacional. O sentimento nacionalista que surgiu com o Romantismo manifestou-se
como uma tentativa de minimizar a influência europeia, e criar um processo de abrasileiramento. Autores,
como José de Alencar, voltaram seus discursos para a valorização dos símbolos nacionais, entre eles a
natureza e o índio, fazendo deste um mito, ainda que utópico. Anos mais tarde, com o surgimento do
movimento modernista, novamente veio à tona o desejo de estabelecer uma identidade nacional. Mais
uma vez, o índio tornou-se protagonista desta história. Porém, não se vê a pureza do Romantismo, que
agora dá lugar à miscigenação. O discurso literário que surgiu com os modernistas inaugurou expressões
já brasileiras provenientes da herança da mistura étnica que aqui se instalou.

Palavras-chave: Índio, Romantismo, Modernismo, miscigenação


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A ARTE DO FORA: PARA ALÉM DA LITERATURA NA ARTE CONTEMPORÂNEA

Luiz Henrique Carvalho Penido - UFMG

Temos por propósito analisar brevemente as relações entre a premonição hegeliana de fim da arte e as
figurações radicais de uma ―literatura‖ que se expande para fora do livro. Assim, discutiremos os
sintomas de determinada extenuação das concepções de literatura no discurso teórico-crítico
contemporâneo, prefigurada transversalmente por Hegel com o tema do fim da arte e, posteriormente,
efetivada em vários níveis pela multiplicação dos suportes para zonas indiscerníveis. Registra-se assim,
que o fim do sistema dialético hegeliano no que tange a arte e por consequência a literatura,
contrariamente a um pessimismo muitas vezes votado ao autor, anuncia a sua ressurreição suprassumida
sob outras formas. A hipótese a ser discutida é a de que a arte contemporânea, a sua alarmada morte, não
se configura através dos radicalismos de uma antiarte ou uma antiliteratura – ingenuidade de um
dadaísmo –, mas pela criação de um espaço de pura exterioridade em que as designações parecem perder
a sua relevância ou simplesmente suspender a sua eficácia – pedagogia de autores como Artaud e
Deleuze, mas também praticadas pelas tendências intermidiáticas em ascensão.

Palavras-chave: fim da arte, exterior, contemporaneidade.

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A IMOLAÇÃO DAS VIÚVAS INDIANAS: UMA ABORDAGEM SOBRE MULHERES


SUBALTERNAS A PARTIR DE GAYATRI SPIVAK E JACQUES DERRIDA

Fabio Marchon - UFRJ

Esse texto tem como objetivo elucidar a questão proposta pela teórica literária Gayatri Spivak acerca da
imolação das viúvas indianas no texto - manifesto ―Pode o subalterno falar?‖. A partir da discussão
exercida por Spivak, influenciada pelo pensamento da desconstrução de Jacques Derrida, abordaremos o
lugar da mulher, muitas vezes colocada em um pólo inferior diante do falogocentrismo que permeia o
pensamento metafísico ocidental. Em Éperons, o filósofo franco-argelino demonstra essa violenta
hierarquia imposta pela filosofia ao busca dizer qual é o lugar destinado à mulher. Para tanto, partindo da
filosofia de Nietzsche e sua diversificada leitura sobre mulheres, promovendo a heterogeneidade, mas
também a singularidade, Derrida observa que a partir do estilo de escrita nietzschiano pode-se
desconstruir essa violenta forma de lidar com a alteridade conduzindo a questão da mulher para além da
imposição de escolha entre uma coisa ou outra. Derrida aponta no que denominou estratégia geral da
desconstrução, a inversão e o deslocamento do conceito da mulher, guiando-se pela ausência de lugar ou
o não-lugar para não permitir que a questão sobre a mulher continue sendo conceituada e enclausurada
diante das hierarquias. É nesse sentido que o subalterno não pode falar para Spivak, no entanto expõe-se
sua heterogeneidade que explode o conceito de mulher enquanto marcada pelo falogocentrismo.
Terminaremos com o romance Leite Derramado de Chico Buarque, onde a personagem Matilde nos ajuda
a pensar para além do masculino/ feminino.

Palavras-chave: - desconstrução - alteridade – feminino

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PARA UMA LONGA FORMAÇÃO DO IMAGINÁRIO DO ALÉM: UMA APRESENTAÇÃO


DOS TOPOI LITERÁRIOS DA DIVINA COMÉDIA, DE DANTE ALIGHIERI

Regiane Rafaela RODA – UNESP(SJRP)


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A Divina Comédia foi escrita entre 1302 e 1321 pelo poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321), e
descreve a viagem pelos três mundos do além, Inferno, Purgatório e Paraíso. Estas três regiões sempre
povoaram o imaginário mítico humano desde a Antiguidade, sendo possível encontrar referências à sua
existência em muitas culturas e crenças da atualidade. Em muitas religiões, o além se configura como um
espaço misterioso e de revelação em que estão guardadas as respostas para as perguntas que direcionaram
a vida dos homens na terra. Estas questões sempre envolveram a tentativa de compreender um sentido
para a existência humana e a busca por uma explicação que transcendesse a ―realidade‖. Para os gregos
antigos, uma existência posterior à vida era uma certeza presente em sua cultura. Já nos primeiros séculos
da Idade Média, a estruturação dos dogmas e das leis canônicas da Igreja baseava-se no Antigo
Testamento, mais precisamente no ―Pentateuco‖ (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).
Nos Evangelhos existe a referência a um mundo subterrâneo que está diretamente ligada à ideia de um
Inferno de sofrimentos e castigos, dominado pelo fogo e pelo tormento eterno que se opõe diretamente ao
Paraíso de bem-aventurança, determinando a polaridade crucial entre as duas regiões que representavam
as idealizações do Bem e do Mal. Com o surgimento de um ―terceiro lugar‖, o Purgatório, houve uma
alteração dessa polaridade contribuindo assim, para uma nova tomada de posição do homem frente ao seu
próprio destino. O objetivo deste trabalho, à luz das teorias do intertexto, é apresentar como Dante
Alighieri retoma alguns dos elementos míticos das culturas pagã e cristã para compor sua viagem
transcendente e contribui, em alguns casos, para firmar as bases das interpretações a respeito destes locais
no imaginário da sociedade medieval.

Palavras-chave: Literatura Italiana, Mitologia, Antiguidade Clássica, Idade Média.

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EL ÚLTIMO PATRIARCA E A NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UMA “PERSONAGEM


MASCULINIZADA” PARA SUBVERTER A SUPREMACIA FALOCÊNTRICA

Louise Áurea Oliva - UFJF

No premiado romance El Último Patriarca (Premi de les Lletres Catalanes Ramon Llull 2008), a escritora
amazigh-catalã Najat El Hachmi cria uma personagem que ao narrar a história de seu pai, o patriarca de
uma família amazigh do norte da África que se instala na Catalunha, subverte o estatuto imposto pelas
práticas religiosas e tradições tanto da sociedade amazigh quanto da europeia que, como tantas outras,
promovem a supremacia falocêntrica. Analisaremos em quais medidas esta personagem criada (não
possui nome no romance) necessita ―comportar-se como homem‖ ou pelo menos questionar o
comportamento feminino (o papel que a mulher é obrigada a exercer) para conseguir acabar com o
patriarcalismo que sufoca a mulher. Utilizaremos o termo ―personagem masculinizada‖ para marcar como
que a protagonista-narradora do romance segue o padrão masculino desde sua feminilidade para ir contra
comportamentos que violentam a mulher, física e moralmente. Estes comportamentos são
problematizados no romance a partir da esfera privada, o lar que aprisiona a mulher; a partir da religião,
que dita a moral a ser seguida, dividindo homens e mulheres; e a partir das práticas sexuais, que marcam
mudanças abruptas na evolução dos personagens dentro do romance.

Palavras-chave: cultura amazigh; Catalunha; mulher; Najat El Hachmi

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ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO: AS ESQUERDAS BRASILEIRAS ATRAVÉS DAS


CRÔNICAS RODRIGUEANAS

Carolina Bezerra de Souza - UFRJ

A partir de dezembro de 1967 Nelson Rodrigues passa a escrever no jornal O Globo a coluna Confissões,
a qual viria substituir a coluna Memórias escrita desde fevereiro do mesmo ano no jornal Correio da
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Manhã. Com a sua transferência, mudam-se também os enfoques da coluna, se antes tínhamos em maior
parte reminiscências autobiográficas do autor, agora percebem-se verdadeiros embates travados entre o
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cronista e as esquerdas brasileiras, que segundo ele ocupavam uma posição hegemônica dentre a grande
intelectualidade da época. Presenciaremos ao longo de Confissões diversos dos conflitos político-sociais
que ocorreram no período, com seu estilo irônico Nelson nos relata acontecimentos históricos, como os
movimentos estudantis, as passeatas, a arte engajada, o catolicismo progressista, entre outros. Temos a
partir do falso e do fictício expressões da realidade brasileira, questões que estavam em conflito naquele
momento, que se faziam presente nas discussões políticas e sociais da época. Portanto, analisar as
crônicas rodrigueanas como fontes históricas permitem ao historiador inserir-se em novas redes de
interlocução social, inserindo a obra literária num processo histórico no qual ela também é parte ativa.
Contudo, o presente trabalho tem por objetivo analisar as representações da esquerda brasileira
construídas por Nelson Rodrigues através de suas crônicas e como esta vai de encontro a memória
construída por essas esquerdas na pós-ditadura civil-militar.

Palavras chave: Nelson Rodrigues, esquerdas, literatura.

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O LEÃO NA TRAGÉDIA: IMAGEM DIONISÍACA

Luciene Lages Silva - UFBA

A partir das Bacantes de Eurípides, buscamos investigar as associações entre a imagem do leão e o deus
Dioniso. É fato que a imagem do leão está vinculada ao deus do teatro, provavelmente, antes mesmo dos
festivais dionisíacos: lembremo-nos do hino homérico a Dioniso, em que o animal aparece como uma das
suas teofanias. Mas se, em Homero, o leão era a metáfora ideal para a representação do guerreiro valente,
impetuoso, intrépido; na tragédia e, sobretudo, nas peças de Eurípides, passa a incorporar traços naturais
da manifestação de selvageria e crueldade (próprios do ritual dionisíaco). Na peça, o ultraje de um
cadáver conquistado (Peleu) converter-se-á em dilaceramento no ritual dionisíaco, quer seja ele produzido
física, social ou moralmente. Dioniso representa a dissolução da ordem, ou melhor, aquele que transpõe
os ―limites da existência ordenada‖, desconhecendo as fronteiras entre o masculino e o feminino, entre o
humano e o animal. Parece-nos que Eurípides estabelece no texto um curioso jogo semântico entre
Dioniso e Penteu, entre perseguidor e perseguido, caça e caçador, selvagem e domesticado, entre a
selvageria e a loucura. A caça das Bacantes é uma caça ritual, significa a experimentação do próprio deus:
Penteu é dilacerado para que se manifeste o poder de Dioniso. Mas o leão na peça parece integrar uma
certa coincidentia oppositorum, cujos pólos são: o leão que é sacrificado, Penteu, e o leão que é
consagrado, Dioniso.

Palavras-chave: Leão, Dioniso, selvageria, ritual

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UM ESTUDO SOBRE CONCEPÇÕES DE LITERATURA DE PROFESSORES

Érica Cristina dos Santos - CEFET/MG

Este artigo tem como objetivo apresentar a pesquisa sobre as concepções de leitura literária que norteiam
o trabalho dos professores dos nonos anos do ensino fundamental de escolas da rede municipal de
Itabirito/MG. A leitura, como forma de acesso à arte literária, constitui um instrumento importante para
perceber como os grupos sociais representam o mundo de maneira peculiar e constroem uma visão da
realidade da maneira que melhor lhes convém. Sendo a escola a instituição incumbida de desenvolver
essa capacidade no aluno, cabe analisar de que forma ela vem trabalhando as práticas de leitura literária,
que habilidades estão sendo desenvolvidas, com quais conceitos de literatura e de leitura os professores
estão operando. O referencial teórico centra-se nas seguintes contribuições: as definições de obra aberta e
pacto ficcional de Umberto Eco; a teoria sobre a função social da literatura, história da literatura e leitor
crítico a partir de Hans Robert Jauss; a importância do leitor na obra e o conceito de ficção defendidos por
Wolfgang Iser; de Chiappini, as reflexões acerca do cânone literário; de Graça Paulino, Zilberman e
Magda Soares sobre ensino de literatura; de Chartier, Fish e Fischer sobre história da leitura. A
metodologia utilizada consiste em pesquisa bibliográfica para fundamentação teórica, realização de
entrevista semiestruturada com professores das escolas selecionadas e análise das atividades realizadas
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pelos professores com os alunos. Como se trata de uma pesquisa em execução, não há ainda resultados
obtidos. Porém, espera-se constatar que as concepções dos professores em questão seja adequada a uma
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atividade docente que leve o aluno a perceber, sobretudo, a dimensão estética dos textos literários.
Palavras-chave: leitura literária – ensino de literatura – concepções de literatura

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A ESCRITA DA MEMÓRIA POR ALUNOS DA EPCAR

Anderson Luiz da Silva - EPCAR


Maria da Luz Coelho - EPCAR

Este trabalho pretende apresentar resultados parciais de uma pesquisa interdisciplinar envolvendo
Literatura, Memória e História, desenvolvida na EPCAR (Escola Preparatória de Cadetes do Ar),
instituição de ensino médio de formação militar situada em Barbacena – MG. Embora a Aeronáutica
possua seus ―lugares de memória‖ devidamente institucionalizados, buscamos outras fontes que possam
ser somadas aos registros memorialísticos já existentes, porém valorizando a recolha de ―documentos‖ de
caráter mais individual, subjetivo, de indivíduos comuns, cujo registro da experiência vivida, em contato
com registros coletivos já existentes, possa trazer ao debate o confronto entre o eu e o nós, entre a
pessoalização e a impessoalidade. Essa questão, que diz respeito à posição do sujeito no mundo
contemporâneo, já vem sendo problematizada nas discussões epistemológicas de diversos campos da
ciência. Na literatura, os gêneros confessionais, cujo estudo vem ganhando força nas últimas décadas,
foram, por muito tempo, considerados como menores e, portanto, circularam à margem das chamadas
altas literaturas. No campo da História, movimentos ao longo do século XX, desde a Escola dos Annales,
vêm procurando deslocar o foco de pesquisa das grandes narrativas para abordagens que privilegiem
aspectos mais delimitados, ―menores‖, em relação à visão de pequenos grupos ou indivíduos sobre fatos
históricos. As fontes utilizadas em nossa pesquisa foram produzidas a partir de um hábito consolidado na
EPCAR: registros pessoais, biográficos e memorialísticos – sob a forma de prosa, verso ou iconografia –
deixados pelos alunos em diversos locais da escola (inscrições no chão, em árvores, em paredes, no
mobiliário dos alojamentos), todas assinadas e datadas, desde os últimos anos da década de 1970.

Palavras-chave: memória; autobiografia; primeira pessoa; Literatura; História.

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CONTEXTUALIZAÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL E RELIGIOSA NO SUL DOS ESTADOS


UNIDOS: UMA LEITURA DE “THE DISPLACED PERSON”
Caroline Caputo Pires - UFV

O presente trabalho aborda a temática do desenvolvimento e da adaptação social do ser humano no conto
―The Displaced Person‖ da autora norte americana Flannery O‘Connor. Tais tópicos orientam o estudo na
busca de identificar e questionar a origem das ansiedades, deformidades, atitudes grotescas e sofrimentos
do homem ao discutir o comportamento das personagens e o modo como elas se relacionam consigo
mesmas e com os membros da sociedade com os quais convivem. As análises dos relacionamentos intra e
interpessoais das personagens em relação à comunidade tornam-se uma ação que motiva o conto. Sob
diferentes pontos de vista, a autora retrata a vida em sociedade, através de personagens que ao se
identificarem, de alguma forma, umas com as outras, transferem suas insatisfações pessoais e não-
aceitações de situações referentes às próprias vidas, a outras pessoas, que se tornam vítimas de agressões
morais e físicas. Baseando-se nisto, a abordagem é feita a partir das teorias de Sigmund Freud, sobre o
inconsciente humano, e Mikhail Bakhtin sobre o texto dialógico e interdisciplinar. Sob essa perspectiva,
este trabalho apresenta um contexto marcado pelas divergências sociais e culturais entre as relações
dicotômicas entre as personagens como reflexos das ideologias predominantes da cultura da região sul
dos Estados Unidos.

Palavras-chave: Psicanálise; discurso dialógico; interdisciplinaridade; grotesco; Flannery O‘Connor.


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CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS MODOS DE REPRESENTAÇÃO DOS SENTIMENTOS NA
MINISSÉRIE “OS MAIAS”

Kyldes Batista Vicente - Unitins/UFBA

O romance ―Os Maias‖ foi publicado por Eça de Queirós em 1888 e procurou mostrar a sociedade do
século XIX, especialmente a vida política, econômica, artística e familiar portuguesa. Este trabalho
pretende apresentar considerações acerca dos modos de representação dos sentimentos na minissérie ―Os
Maias‖, exibida em 2001 a partir do romance homônimo de Eça de Queirós. A minissérie foi roteirizada
por Maria Adelaide Amaral e sua equipe e dirigida por Luiz Fernando Carvalho. Estes realizadores
procuraram recriar imagens queirosianas na televisão brasileira. Nosso objetivo é apresentar elementos de
discussão acerca da tragédia e do melodrama na recriação dos realizadores brasileiros do texto português.

Palavras-chave: minissérie, melodrama, tragédia.

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LITERATURA E POLÍTICA NA QUARTA DECLARAÇÃO DA SELVA LACANDONA

Mara Carolina de Lima Galvão - UEPB

Atualmente, com as demandas atuais do mercado literário, não há como especificar um Cânone, pois é
possível, diante deste contexto, referir-se à existência de diversos cânones. A pesquisa trata da leitura de
textos cuja finalidade não é literária, mas que são compostos ―literariamente‖ ou apropriam-se do viés
literário. Assim sendo, este trabalho tem como objetivo verificar a presença do literário na quarta
declaração das Declarações da Selva Lacandona, manifestos políticos compostos pelo Exército Zapatista
de Liberação Nacional, do México. Parte-se da hipótese de que as declarações não são apenas tratados
políticos. Como forma de realizar este estudo, retoma-se a discussão das vanguardas literárias do início do
século XX, especificamente na América - Latina (SCHWARTZ, 2008), além de salientar o diálogo entre
manifestos literário e político (BERMAN, 2007), como também analisar, nas declarações, a representação
de duas paratopias (MAINGUENEAU, 2006) sendo a primeira literária, referente à negociação entre a
forma de vida do intelectual que carrega a tradição literária e sua formação cosmopolita em relação à vida
na Selva Lacandona; e a segunda que se caracteriza como a étnica, cuja relação está nas formas de vida
do indivíduo escritor e do indivíduo político.

Palavras-chave: literariedade, manifesto político, fronteiras, vanguardas, paratopias.


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A OBRA INFÂNCIA, DE GRACILIANO RAMOS, COMO REPRESENTAÇÃO DA MEMÓRIA


COLETIVA REGIONAL

Leticia Baron Bortoluzzi - UCS

Dentro da história da literatura, um dos autores mais marcantes foi Graciliano Ramos. Com a utilização
de seu estilo, considerado ―áspero‖, por alguns teóricos, o romancista concedeu uma nova perspectiva aos
estudos regionalistas, tendo como cenário principal o Alagoas, palco em que figuram as relações de
poder, dominação e opressão, materializadas em diversos níveis, tanto no meio físico, quanto no das
relações humanas. Em sua produção a obra Infância exerce substancial relevância, visto que auxilia na
compreensão dos demais romances. Ressalte-se que sua narração é feita em primeira pessoa, por ser
amparada na memória do escritor, apresentada em forma de quadros, que mesmo exposta sob o prisma
individual, pois se refere às suas vivências, assume um caráter coletivo e é responsável pela constituição
dos lugares de memória regionais. Além disso, cumpre destacar que sua publicação se deu em 1945,
período de efervescência política no contexto histórico brasileiro e mundial, em virtude do fim da
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Segunda Guerra, do Estado Novo, do início da Guerra Fria e da conquista da legalidade pelo Partido
Comunista.
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Palavras-Chave: Alagoas. Relações humanas. Lugares de memória. Contexto histórico.

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A ILHA DO DIA ANTERIOR: HISTORICIZAÇÃO DA FICÇÃO E FICCIONALIZAÇÃO DA


HISTÓRIA

Virgínia Lages - FSLF

Esta comunicação tem como objetivo analisar a narrativa do romance A ILHA DO DIA ANTERIOR, de
Umberto Eco, a partir das idéias de ―ficcionalização da história” e ―historicização da ficção” do filósofo
Paul Ricoeur. Para tal, procurarei demonstrar, no romance, que a relação entre memória, vestígio e
testemunho projeta-se na categoria do ―quase‖: quase ficção, quase história. O romance é a história de
um náufrago que para aplacar a ventura que a vida lhe reservou se (re)descobre em suas memórias ao
documentar sua epopéia. Escrito em Barroco, Eco utiliza em abundância metáforas, alusões, elisões,
intertextualidade dentre outros recursos e estilos linguísticos. Estes que dão vida a discussões
cientificistas, a amores platônicos e desesperançados e, sobretudo, a sensação de impotência perante o
tempo e sua própria história diante da face inalcançável de seu destino. Destino que se encontra em um
ponto posterior à linha imaginária do tempo, onde, seu corpo moribundo passou no dia anterior. O debate
das relações entre Literatura e História é constante e pertinente às duas disciplinas, tornando
imprescindível refletir a mediação entre realidade e universo ficcional. E, que na perspectiva
metodológica de Ricoeur a ficção se põe a serviço do inesquecível, permitindo assim que a historiografia
se iguale à memória.

Palavras chave: Memória, Ficção, História e Narrativa

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ALEXEI BUENO E JOSÉ TOLENTINO: A RECENTE POESIA DE BRASIL E PORTUGAL

Paulo Antônio Vieira Júnior (UFG)

Os direcionamentos tomados pela nova poesia de Brasil e Portugal, como tem sido unânime a crítica
especializada em perceber, é vasta e diversificada. A diáspora que eclodiu nas vanguardas, ao que parece,
progrediu para um espraiamento de tendências, dicções e movimentos resultantes de soluções individuais
seguidas por cada artista. Num percurso pela poesia dos últimos 40 anos, uma tendência forte que se
destaca é a de escritores cuja produção se destina a leitores mais experimentados, com requintado espírito
crítico, e que detêm profunda leitura (e releitura) dos clássicos. Em poetas como Alexei Bueno e José
Tolentino Mendonça há evidente manifestação de um anacronismo tendendo à revalorização da literatura
através da própria literatura. O anacronismo na obra do poeta brasileiro Alexei Bueno, e do poeta lusitano
José Tolentino, é o que se objetiva investigar na interlocução aqui proposta. As diferentes concepções
líricas em Alexei e Tolentino encontram um ponto de convergência na volta ao passado, no diálogo com a
tradição. O anacronismo em tais poetas figura como uma negação de sua época e os valores por ela
cultuados e, consequentemente, na valorização da literatura do passado.

Palavras-Chave: poesia contemporânea, anacronismo, modernidade, clássico.

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UMA VISÃO PARALÁCTICA DA MEMÓRIA NA OBRA DE MILAN KUNDERA


Wilton Barrosos - UnB
Rosimara Richard - UnB

Na modernidade, o grande problema a ser enfrentado pelo homem é a perda da tradição, dos elos que
unem o presente e o passado, que fornecem a noção de pertencimento e o constitui enquanto sujeito em
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uma determinada sociedade. A impotência humana frente às instituições modernas é o que muitas vezes
aparece caracterizada nas obras literárias mais diversas, algumas vezes como uma tentativa de
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distanciamento do mundo do qual se participa ou participou, outras vezes como uma busca para
compreendê-lo e, assim, tentar adquirir o controle das instituições que direcionam a vida, desse modo, a
perda da memória aparece como uma das grandes ameaças do mundo moderno. E, tendo em vista que os
séculos XIX e XX foram marcados por grandes mudanças e transformações nos campos social, político,
econômico e cultural, tendo na figura do escritor Milan Kundera uma importante testemunha desses
acontecimentos, por ter ele vivenciado seus reflexos em sua própria vida, a proposta que aqui se apresenta
constitui-se um estudo da obra desse autor, para quem as memórias perfazem um tema chave e são uma
espécie de âncora utilizada pelo autor- narrador-personagem, como meio de preservação do eu, ameaçado
constantemente de submergir ante a possibilidade do esquecimento que, nesse caso, significaria a perda
gradativa das raízes e das referências identitárias.

Palavras-chave: Literatura. Filosofia. Paralaxe. Memória.

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OS KALUNGAS, A TECNOLOGIA E A POESIA EM MOVIMENTO

Cardes Monção Amâncio – CEFET-MG


José Wagner Moreira – CEFET – MG

Este artigo foi escrito em momento anterior de minha ida à campo, durante o planejamento das ações e
reflexão teórica. Tem como objetivo levantar questões relativas à oralidade, à transmissão da história não
escrita, à relação de uma comunidade com as tecnologias e à possibilidade dessa comunidade se apropriar
da ferramenta audiovisual de maneira construtiva e que possa acrescentar proveitosamente novos
elementos à sua cultura. O objeto em questão é uma oficina de videopoesia ministrada por este autor,
durante o mês de abril de 2011, nos Kalungas, no norte de Goiás.Vivemos num universo permeado de
imagens e na maior parte do tempo somos apenas agentes passivos de recepção. A oficina propõe uma
inversão no processo comunicativo, principalmente no âmbito dos bens culturais: receptores tornam-se
produtores da mensagem. Assim, através da poesia, do som e da imagem em movimento abriremos em
conjunto, facilitador e participantes, caminhos para a expressão em uma linguagem contemporânea, o
vídeo. Os kalungas constituíram seu quilombo cerca de 300 anos atrás. São negros trazidos da África para
trabalhar nas minas de ouro de Goiás, que começaram a ser exploradas no momento em que se iniciou o
declínio do ciclo do ouro em Minas Gerais. São cerca de 4.500 moradores, numa área demarcada de 235
mil hectares. Até cerca de 1960 o contato com o resto do Brasil era muito pequeno e os kalungas que
viviam na região mais central do território, ainda acreditavam que ainda vigorava a escravidão no país.

Palavras-chave: videopoesia, poesia digital, tradição.


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O ESCRITOR SEGUNDO PEDRO ALMODÓVAR

Rodrigo Santos de Oliveira (UFMG)

Este trabalho pretende investigar a representação de personagens escritores na obra do cineasta espanhol
Pedro Almodóvar segundo as concepções de autoria e autoficção para Michel Foucault, bem como a
inserção do escritor no espaço da mass media. Ao comparar as funções e transposições entre o escritor e o
roteirista na filmografia de Almodóvar, pretende-se defender o conceito de amadorismos ficcionais, não
relacionado a uma proposição pejorativa e menor de criação artística, mas ao ensaio escritural, à mimese,
à construção artística por meio de recortes e repetições.

Palavras-chave: Almodóvar, amadorismo, autoficção.

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MARIA FIRMINA DOS REIS E PAULINA CHIZIANE: MARGENS DA ESCRITA LITERÁRIA


FEMININA
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Cíntia Acosta Kütter - UFF

O objetivo desta comunicação é pensarmos o percurso literário de duas precursoras: Maria Firmina dos
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Reis, brasileira, e de Paulina Chiziane, moçambicana, que apesar de separadas geograficamente possuem
similaridades importantes em suas obras. Analisaremos os romances: Úrsula e Balada de amor ao vento
sob a perspectiva da escrita feminina em relação à sociedade de sua época e de que forma esta sociedade
influenciou nestas escritas.

Palavras-chave: Maria Firmina dos Reis; Paulina Chiziane; Literatura Feminina; Gênero.

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A IDENTIDADE HOMOERÓTICA EM “TERÇA-FEIRA GORDA E EU, TU, ELE” DE CAIO


FERNANDO ABREU: UMA VISÃO QUEER EM MORANGOS MOFADOS.

André Maciel de Oliveira – UEL


Regina Helena Machado Aquino Corrêa -UEL

Neste estudo apresenta-se uma análise da identidade homoerótica nos contos ―Terça-Feira Gorda e Eu,
Tu, Ele‖, de Caio Fernando Abreu, em que as personagens esbanjam o uso de máscaras sociais, peças
obrigatórias em situações como as apresentadas nos textos, integrados à obra Morangos Mofados. Esta
proposta recorre às avaliações por meio da ótica da teoria queer, a qual é uma teoria sobre o gênero que
afirma que a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos indivíduos é o resultado de um
constructo social e que, portanto, não existem papéis sexuais essencial ou biologicamente inscritos na
natureza humana, antes formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais.
Propõe-se, assim, explicitar e analisar esses processos a partir de uma perspectiva comprometida com
aqueles socialmente estigmatizados, dando maior atenção à formação de identidades sociais normais ou
"desviantes" e nos processos de formação de sujeitos do desejo classificados em legítimos e ilegítimos.
Toma-se como referência os estudos de identidade de Michael Foucault, e o uso das ‗máscaras‘, a partir
da visão de Bakhtin, na identificação sexual no espaço social e pessoal das personagens nos textos lidos.

Palavras-Chave: Homoerotismo. Teoria Queer. Gênero. Caio Fernando Abreu.


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AS ALEGORIAS NA OBRA TEBAS DO MEU CORAÇÃO, DE NÉLIDA PIÑON:


UMA FORMA DE TRADUZIR UMA IDENTIDADE MESTIÇA

Gislene Teixeira Coelho - UFJF

Este trabalho propõe trabalhar duas figuras alegóricas presentes na obra Tebas do meu coração, de Nélida
Piñon, que são representadas pela construção de um barco e de uma catedral. Destaco na alegoria sua
capacidade de lidar com sujeitos e vozes distintas, sua habilidade de representar o múltiplo, o
heterogêneo, o diverso. Trata-se de uma figura que, por sua capacidade de representar a alteridade,
consegue traduzir a problemática que envolve a América mestiça. No romance, a representação alegórica
do barco e da catedral destaca-se por constituir elementos aparentemente inocentes, mas que ganham
sentido no decorrer do texto e passam a funcionar como categorias performáticas e críticas das questões
propostas. A autora insere nessas figuras a ideia de revisitação e transformação da memória e da
identidade cultural, fazendo uma constante referência ao passado e ao futuro, tempos marcados pelos
sentimentos de vazio e de incerteza. As construções alegóricas corroboram a representação de uma arte
mestiça, a qual exprime a alma de um sujeito com identidades e culturas plurais, marcada também por um
sentimento de luto cultural dado o processo de interferência original.

Palavras-chave: alegorias, mestiçagem, memória e identidade cultural.

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“NÃO ALIMENTO, ENVENENO”: MÁRIO DE ANDRADE E O PAPEL DO INTELECTUAL

Maria do Rosário A. Pereira - UFMG


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O objetivo deste trabalho é mostrar que visão da cultura letrada, mais especificamente do papel exercido
pelo intelectual na sociedade, pode-se depreender a partir da leitura de algumas cartas do escritor Mário
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de Andrade. A citação que compõe o título foi retirada de uma carta endereçada a Moacir Werneck de
Castro em 28/08/1941 e serve como mote para as reflexões deste ensaio. A década de 1940 foi um tanto
quanto importante para uma espécie de rearticulação no pensamento do autor de Macunaíma, tendo em
vista os fatos ocorridos não apenas na vida política brasileira e mundial – internamente o Estado Novo de
Getúlio Vargas havia sido implantado em 1937, e os conflitos da Segunda Guerra Mundial abalavam
tanto estruturas sociais quanto consciências –, mas também em sua vida pessoal – com o novo regime
político, Mário se despede do Departamento de Cultura de São Paulo, o que o afeta profundamente,
inclusive porque a mudança para o Rio de Janeiro não o deixa confortável. A carta aparece então como
uma espécie de ―ateliê‖ do escritor, ou melhor, de escritores, um arquivo em que são guardadas memórias
afetivas, pessoais, históricas, intelectuais. Por meio da vasta correspondência trocada com interlocutores
os mais diversos, percebe-se que o escritor paulista se propunha a estabelecer um debate intelectual sobre
as questões culturais e políticas que suscitavam debates àquele momento. A carta torna-se, assim, um
espaço em que a autonomia e a liberdade que se encontravam escassas naquele momento podiam ser
exercitadas, sobretudo se se pensar no caráter pessoal da correspondência, sempre endereçada a um, e não
a muitos – o que não impedia, porém, que as redes de contato entre os intelectuais fossem se formando,
subliminarmente.

Palavras-chave: Mário de Andrade; correspondência literária; papel do intelectual.


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VIOLÊNCIA E PAIXÃO, DE FERNANDO BONASSI: A IRRUPÇÃO DO CONTEMPORÂNEO


NA LITERATURA BRASILEIRA

Raquel Medina Dias - UFMT

Parte de um projeto de pesquisa, este trabalho objetiva propor um estudo sobre os contos de Violência e
Paixão, (2007), de Fernando Bonassi. Uma arte produzida nas curvas do milênio, essa obra trata de
curtas narrativas que revelam as impressões de um ser social que não só escreve, mas vive no mundo em
descrição. Segundo Lukács (1991), a perspectiva é um dos elementos capitais na constituição da obra de
arte e é dela que depende, em larga escala a constituição hierárquica dos acontecimentos, dos
personagens, das situações. O cenário urbano é o principal elemento espacial onde se desenvolvem as
narrativas contemporâneas. Por hipótese, um estudo nessa modalidade propõe que, mais importante do
que identificar a arte literária, é reconhecê-la e pensar na sua especificidade e configuração numa
determinada época, na perspectiva da totalidade social e na especificidade do objeto em si, do texto
literário, no panorama da Literatura Brasileira Contemporânea.

Palavras-Chave: Literatura – Sociedade – Contemporâneo

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A ESCRITA LÍRICA DO EU: RASTROS DA INFÂNCIA EM QUATRO VOZES

Denny José Almeida Costa – UFSJ


Maria Ângela de Araújo Resende - UFSJ
Eliana da Conceição Tolentino - UFSJ

Reconstruir o passado através da palavra é uma constante na literatura. Este trabalho tem o objetivo de
investigar os aspectos de parte das obras poéticas de Manuel Bandeira, Manoel de Barros, Murilo Mendes
e Carlos Drummond de Andrade relacionados à infância e à memória tendo como base a recriação das
espacialidades poéticas e as teorias sobre o espaço na Literatura. Uma das questões fundamentais da
pesquisa é a investigação dos pontos de convergência e afastamento na construção do itinerário poético
dos referidos autores. Partindo da reflexão sobre os poemas selecionados, foi analisado o processo
memorialístico pelo qual a infância se constrói através das imagens de espaço reproduzidas poeticamente
e o sujeito do não-lugar que se insere na trajetória lírica dos autores. Como aporte teórico, usaremos das
contribuições de Gaston Bachelard (1988) e (1989), Ecléa Bosi (1994), Halbwachs (2006), Antonio
Candido (1987) e Michel Pollak (1992). Os poetas estudados conseguem recriar a partir de espacialidades
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poéticas o menino perdido. Emprestam novos olhares para o homem que tem um lugar de origem, que é
dono de uma história que se entrelaça à história de outros. O mapeamento de núcleos poéticos através de
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espaços reinventados e a incansável busca pela infância adormecida são marcas de grande parte das obras
em questão e que tornam viável o diálogo intertextual e a possibilidade de leitura de certa tradição poética
na história da literatura brasileira.

Palavras-chave: memória, infância, poética

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VOZES DA CABANAGEM: OS DISCURSOS DA LITERATURA E DA HISTÓRIA NA


CONSTRUÇÃO DE “O REBELDE”
Livia Sousa da Cunha (UFPA)

O conto ―O Rebelde‖, da obra Contos Amazônicos (1893), do escritor Inglês de Sousa, apresenta em seu
enredo um fato da história paraense, a Cabanagem. Na narrativa os personagens vivenciam as primeiras
manifestações dos revoltosos em 1832. Foi a partir da constatação desse fato histórico, no conto, que se
desenvolveu a pesquisa em questão, atentando para o jogo estabelecido entre o real e o ficcional, ou seja,
como um fato histórico foi recriado no universo ficcional inglesiano. Nesse sentido, foram observados os
discursos da história, nos séculos XIX e XX, nas obras Motins Políticos (1865-1890) de Domingos
Antônio Raiol, Cabanagem: o povo no poder (1984) de Julio José Chiavenato, e Cabanagem: a revolução
popular da Amazônia (1985) de Pasquale Di Paolo, e o discurso da literatura, em ―O Rebelde‖ do século
XIX, na construção das versões sobre a Cabanagem, com o objetivo de verificar como cada historiador e
literato se posicionou sobre a Cabanagem elegendo vítimas, vilões e heróis; além de verificar como as
vozes dos personagens e do narrador do conto se posicionam condenando ou justificando a ação cabana.
A discussão apresenta os pressupostos teóricos baseados em Paul Ricoeur (1999), Jacques Le Goff
(2005), Beatriz Sarlo (2007) e Umberto Eco (2004).

Palavras-chave: Literatura, história, Cabanagem, versão, herói.

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MEMÓRIA "CINEMATOGRÁFICA" ACONTECENDO NA PRAÇA XV

Juliana Silva Dias - UNESP

Nesta comunicação, analisamos o conto ―Aconteceu na Praça XV‖, da obra Pedras de Calcutá (1977), de
Caio Fernando Abreu, sob o viés da memória. Para tanto, foram utilizados alguns trechos da teoria da
memória coletiva elaborada Maurice Halbwachs, contida em A memória coletiva (1968), para que
pudéssemos analisar e interpretar algumas manifestações memorialísticas que aparecem no referido
conto. Demos atenção especial à questão do ―espaço‖ relacionado à memória e à "coletividade" que nele -
no espaço - imprime sua marca: aspectos muito presentes e fortes no/do conto, no que se refere ao tema
aqui estudado, que aparecem como espécies de transfiguração do passado vivido pelas personagens e que
permitem que certos acontecimentos e sentimentos possam ser, de certa forma, retomados e reconstruídos
a partir do espaço e da presença dessa coletividade. Além desses, outro elemento recorrente e estruturador
do texto é o flashback que entendemos como uma forma específica de (re)aparição desse passado que dá
ares cinematográficos à narrativa de Abreu. Por fim, nos utilizamos de certos trabalhos concernentes à
fortuna crítica de Caio Fernando Abreu que, de alguma maneira, estão relacionados à perspectiva adotada
por este trabalho.

Palavras-Chave: Abreu, espaço, Halbwachs, coletividade, flashback.


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A OSTRA E O VENTO – LIVRO E FILME: O TEMPO COMO MATÉRIA DRAMÁTICA

Sonia Maria Pereira Maciel - UEMG

Neste trabalho, buscou-se explicitar aspectos do processo de codificação na literatura e no cinema. O


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corpus analisado foi composto pelo livro A ostra e o vento do escritor cearense Moacir C. Lopes (1982) e
o filme homônimo, uma adaptação para o cinema, sob a direção do cineasta Walter Lima Júnior (1997). O
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processo de codificação em uma dada linguagem faz-se por meio do grau de convencionalidade do
modelo artístico em geral e do objeto (artístico) em particular, que se constitui pela norma, pelos desvios
da norma, pelo grau de previsibilidade e de informação estética. Foram analisados, tanto no livro quanto
no filme, procedimentos composicionais utilizados, tendo em vista a identificação dos elementos
responsáveis pela significação de cada um dos modelos de arte. O elemento considerado responsável pela
estruturação da linguagem artística e, portanto, portador de informação, tanto no livro quanto no filme, foi
o tempo. A análise, no texto verbal, baseou-se no problema do quadro-fronteira na obra artística (Iuri M.
Lotman e Boris A. Uspênski), para estabelecer o valor modelizante das categorias de princípio e de fim e
explicar a configuração do tempo; no texto fílmico, baseou-se nas oposições binárias (V. V. Ivanov),
reveladas pelos efeitos cromáticos explorados. O estudo dos mecanismos semióticos, à luz da
comparação, torna mais evidentes os procedimentos próprios para cada tipo de arte. Este trabalho, ao
abordar a problemática do sistema de codificação, na literatura e no cinema, delineou especificidades de
cada um dos sistemas de signos, ressaltando o elemento tempo como o principal portador de significação.

Palavras-chave: Literatura; Cinema; Codificação; Adaptação; Modelização.

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A AMAZÔNIA EM ROMANCES: SOB O SIGNO DA TERRA

Marlí Tereza Furtado (UFPA)

Ao observarmos as narrativas ficcionais que retrataram a Amazônia entre 1850 e 1950, percebemos que, a
partir de Inglês de Sousa, se formou uma tradição nesse retrato, pautada na fixação dos choques
produzidos pelos grandes interesses que governam os homens. Embora oscilante entre o enfoque ora mais
centrado nos dramas do homem e menos na natureza, ora mais na natureza, que, de tão imponente se
torna voluntariosa e apequena os dramas do homem, impotente diante dela, mesmo que pertinaz e
persistente, essa tradição foi sendo superada já no final da década de 1930, à medida em que o
Modernismo brasileiro sedimentava suas propostas. Por essa razão, o presente trabalho se propõe a
analisar três romances sobre a Amazônia: Terra Verde, de Adauto Fernandes, de 1925, Terra Imatura, de
Alfredo Ladislau, de 1933 e Terra de Ninguém, de Francisco Galvão, de 1934. Partindo dos três títulos,
nos quais a palavra terra se destaca, investigaremos os pontos comuns dessas narrativas tanto no nível
temático quanto no aspecto formal, de modo a verificar em que medida as três se aliam ou não a uma
maneira tradicional de focalizar ficcionalmente a região.

Palavras-chave: Amazônia, narrativas, tradição.


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A MEMÓRIA NAS CRÔNICAS DE JOÃO DO RIO

Claudia Gonçalves Ribeiro - UFF

A partir das impressões do cronista João do Rio a respeito do processo de modernização do Rio de
Janeiro do início do século XX, este trabalho tem por objetivo discutir a construção de uma determinada
memória carioca. Para isto, será proposta uma breve discussão acerca do conceito de Memória enquanto
processo que a todo instante recebe influências dos indivíduos envolvidos em seu processo de
reconstrução. Além disso, as crônicas serão ressaltadas como fonte de relato em constante relação com o
tempo, considerando-as, assim, uma descrição objetiva das situações do dia a dia e também comentário
subjetivo de tais situações. Numa mistura de jornalismo e literatura, as crônicas serão destacadas como
um importante meio para a construção de uma determinada memória – a memória das pessoas anônimas
ou mesmo comuns. No entanto, a construção da memória pelas crônicas de João do Rio não deverá ser
vista como uma verdade absoluta, mas como um processo de representação de si próprio ou do outro que
varia constantemente segundo uma determinada ideologia. Dessa forma, através da experiência do
próprio cronista em captar tudo aquilo que a sociedade rejeitava, a construção da memória a respeito das
consequências da modernização da cidade do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX será
enfatizada nas crônicas de João do Rio.
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Palavras-Chave: impressões, pessoas anônimas, Rio de Janeiro.
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A SÁTIRA EM DOIS TEMPOS E EM DOIS MODOS: GREGÓRIO DE MATOS E GUERRA E


TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA.

Dinamarque Oliveira da Silva - UFV


Angelo Adriano Faria de Assis - UFV

A presente comunicação é um desdobramento da dissertação de mestrado intitulada: Poetas no tempo,


pólen ao vento: Gregório de Matos e Guerra e Tomás Antônio Gonzaga. Este texto, seguindo as linhas de
análise da dissertação, investiga e reflete sobre os modos de compor Sátira de Gregório de Matos e de
Tomás Antônio Gonzaga em seus respectivos séculos. Tais poetas escreveram textos significativos, cuja
temática, a sociedade do Brasil colonial é, visceralmente, substância e motivo de seu ato de criação. A
significação atribuída a tais textos para a literatura brasileira reside na importância que eles têm do ponto
de vista estético e que supera a noção de representação da realidade como registro histórico. A estrutura
dessas obras recria, transfigura e; portanto, poetiza o viver no Brasil dos séculos XVII e XVIII. A Sátira
de Gregório de Matos e o poema Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga põem em relevo o aspecto
literário vinculando-o ao cenário histórico na medida em que obedece aos padrões rígidos e universais da
composição poética do Classicismo e ao mesmo tempo os ultrapassa. Nesta comunicação serão
apresentados trechos da poesia de Gregório e de Gonzaga, analisando em seus modos de compor Sátira,
um testemunho poético de sofisticação, emoção e talhe artístico da palavra.

Palavras-Chave: Barroco, Arcadismo, Letras Coloniais.


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A ÁGUA EM MANOEL DE BARROS E JOSÉ SARAMAGO: UMA PERCEPÇÃO BRASILEIRA


E UMA PORTUGUESA DA LITERATURA PARA CRIANÇAS.

Massillania Gomes Medeiros – UFPB/UNESC

No livro Exercícios de ser criança (1999), de Manoel de Barros, poeta da região do Pantanal mato-
grossense, podemos nos deparar com dois poemas-narrativos direcionados a crianças. Dentre eles, chama-
nos a atenção a história intitulada de ―O menino que carregava água na peneira‖, que trata de um menino
que, em razão de sua imaginação e de sua percepção extremamente aguçadas, é considerado por aqueles
que com ele convivem como um forte candidato a poeta. Acontece que todas as suas ações
extraordinárias, relacionadas à sua futura profissão, estão ligadas, de alguma forma, à água. Inclusive,
uma das imagens mais marcantes do menino-poeta se perfaz em sua atitude de carregar água na peneira.
Por outro lado, no livro O silêncio da água (2010), de José Saramago, escritor de origem portuguesa,
temos uma narrativa construída em primeira pessoa, onde podemos acessar a história de um menino que,
saindo um dia para pescar às margens do rio Tejo, teve seus objetos de pesca levados por um peixe, o
qual ele, inicialmente, havia fisgado. Inconformado com tal fato, o menino traça uma batalha na qual tem
por intento retomar do bicho aquilo que lhe foi tomado. Mais tarde, o menino desiste da empreitada,
quando toma consciência de que aquele peixe ladrão, provavelmente, nunca mais tornará a passar por
aquele pedaço de rio onde se encontrara, não sendo possível fisgá-lo novamente. Contudo, também faz
uma reflexão, na qual percebe que o peixe, após haver carregado consigo os instrumentos do menino,
nunca mais será o mesmo, pois ficou nele impressa a sua marca. Neste sentido, acreditamos haver, tanto
na história de Manoel de Barros quanto na de José Saramago – dois poetas-narradores de nacionalidades
diferenciadas – percepções diferentes sobre o mundo e sobre o mundo das crianças, imprimindo aos seus
personagens reflexões peculiares sobre a relação com a água, que merecem ser analisadas e comparadas.
Para a construção dessa análise comparativa, lançaremos mão de teorias como as de Bachelard (2002),
Barros (2000), Candido (1996), Carvalhal (2010), Nitrini (1998) e Zilberman (1987).

Palavras-chave: Literatura comparada – Literatura Infantil – Água – Narrativa


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FILOCTETES: UMA NOVO LOCAL DE NASCIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS?

Bernardo Gomes Barbosa Nogueia (UNIPAC/ITABIRITO – FADIP)

O presente trabalho quer evidenciar como a leitura de uma tragédia, exatamente pela universalidade de
sua narrativa, pode desempenhar papel importante no modus de compreensão do homem na
contemporaneidade. Nesse sentido, a partir da leitura do Filoctetes, buscaremos evidenciar como essa
tragédia traz todo um arcabouço teórico que nos permite ler em seu desenvolvimento, aquilo que
chamamos o nascedouro dos Direitos Humanos de primeira geração. Essa preocupação do tragediógrafo
fica evidente se estivermos atentos à forma como Filoctetes é abandonado na ilha, pelo simples fato de
não mais prestar valia aos fins bélicos para os quais fora convocado. A humanidade no Filoctetes é
irradiada de variegadas formas e é a essas ―antecipações‖ conceituais que estaremos atentos em nossa
leitura. Queremos, portanto, acentuar que ideias ditas modernas e conceitos ainda utilizados estavam lá na
citada tragédia. O conflito de Filoctetes com Ulisses retrata bem a necessidade de reconhecimento do
homem como fim, alicerce de criação de muitas cartas modernas de Direitos Humanos e que será o fiat
lux de nosso trabalho que pretende trazer a lume uma nova visão para o surgimento dos Direitos Humanos
a partir da leitura desta tragédia.

Palavras chave: Filoctetes, tragédia, direitos humanos.

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JANELA DO CAOS E OUTRAS JANELAS


Cristiano Otaviano – UFVJM/UFJF
Um dos pilares do Iluminismo é a crença no poder criador do homem. Mais especificamente, no poder do
cientista. Na esteira de tal concepção, as filosofias do século XIX apostaram nas virtudes do progresso e
em um destino glorioso como horizonte da humanidade. Os últimos cem anos, porém, foram marcados
por tal quantidade de fracassos que estas esperanças acabaram por ruir. Tomando como ponto de partida o
poema Janela do Caos, de Murilo Mendes, este trabalho busca compreender um pouco sobre o
posicionamento da arte diante de tal processo, num mesmo momento em que se afirmava a força dos
meios de comunicação de massa. O fato de ter sido escrito sob o impacto da Segunda Guerra Mundial –
momento chave no processo de construção da descrença no futuro da humanidade – faz deste poema um
exemplo significante. Assim, partindo de um painel de alguns dos motivos que levaram ao ocaso do
mito do progresso, o trabalho avaliará o papel da tecnologia nos movimentos que levaram à gestação
de visões niilistas da vida. Em seguida, será feita uma análise dos meios de comunicação de massa e
das funções que eles assumem em nossa sociedade. Estruturados tais pressupostos, o foco do estudo
será direcionado para o poema. O passo inicial será compreender sua organização interna, tomando como
referencial os valores que perpassam a obra do poeta mineiro. Em seguida, compararemos a representação
da realidade pela mídia e aquela que Murilo Mendes construiu em Janela do Caos. Por fim, será feita uma
breve explanação sobre as posturas da arte neste mundo cujos sonhos, fracassados na prática, se
reproduzem no brilho das telas. Tentaremos compreender os efeitos que a poesia produz quando abre
outras janelas...
Palavras-Chave: Poesia – Progresso – Guerra – Mídia – Representação
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CONSIDERAÇÕES SOBRE A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA EM CLARA DOS


ANJOS, DE LIMA BARRETO E “GUARDE SEGREDO”, DE ESMERALDA RIBEIRO.

Amanda Crispim Ferreira - UFMG

O presente artigo tem por objetivo refletir sobre a representação da mulher negra em nossa Literatura, não
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só por meio da análise de personagens negras, mas também por meio da escrita dessas mulheres. Tal
exercício consiste em uma reflexão sobre a Literatura, e também sobre a sociedade brasileira e o lugar
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desta mulher nesta sociedade, lugar, que na maioria das vezes contribui para a reprodução de estereótipos
nos textos literários brasileiros. Para isso, estudaremos o romance Clara dos Anjos e o conto ―Guarde
Segredo‖ de Lima Barreto e Esmeralda Ribeiro respectivamente, comparando-os, a fim de perceber como
se dá a representação da mulher negra nestes. Também analisaremos a escritura afro-feminina no texto de
Esmeralda Ribeiro destacando suas caracteríticas, e suas diferenças com o texto branco e masculino
predominante em nossa sociedade e Literatura.

Palavras-chaves: Personagens negras; escritura afro-feminina; Literatura.


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B RASIL E ÁFRICA: RELAÇÕES LITERÁRIAS EM M INAS GERAIS

Eliana da Conceição Tolentino –UFSJ

O objetivo deste trabalho é apresentar o Suplemento Literário do Minas Gerais como espaço de
divulgação não só das literaturas brasileira e portuguesa, durante os anos de 1966 a 1976, mas também de
outras literaturas, como algumas do continente africano. A presença da literatura africana no periódico
encontra-se dos anos sessenta até oitenta e mesmo noventa. Há no Suplemento não só a presença da
Literatura Angolana como timidamente também a da Literatura Moçambicana, seja ela apresentada como
a transcrição de poemas de poetas angolanos e alguns poucos moçambicanos bem como a publicação de
ensaios de autores de África e do Brasil sobre a literatura daquele continente. Além disso, o Suplemento
conta também com intelectuais que atuam no exterior e cumprem a função de correspondentes, trazendo
para o Brasil o que de novo estava acontecendo no mundo. Preocupado em difundir a literatura bem como
dar espaço aos novos, além de ter um cunho didático, procurando informar e formar leitores, o
Suplemento assume uma postura de veículo de vanguarda à medida que divulgava principalmente o que
havia de novo na literatura brasileira e internacional.

Palavras-chave: Suplemento Literário do Minas Gerais, literatura, difusão.

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PATOGRAFIAS CÉLTICAS NAS LETRAS VITORIANAS

Raimundo Sousa - UFSJR

Recorte de uma pesquisa mais ampla acerca da invenção da Irlanda pelo discurso colonial inglês, este
trabalho focaliza especificamente o século XIX, quando da emergência do ―celticismo‖ como um campo
epistemológico que alocou o binômio sexo-raça como estruturante de um sistema de significação
disjuntivo que contrapunha celtas e anglo-saxões.Nessa formação discursiva dedicada à taxionomia da
raça céltica, a instrumentalização de teorias raciais e psiquiátricas legitimou cientificamente estereótipos
imputados aos irlandeses como justificação para medidas interventivas. Mediante análise de textos de
literatos como Tennyson, Montégut e Arnold, investigamos a intersecção entre o discurso raci(al)ista e
concepções de gênero vigentes, bem como sua confluência em representações gaelofóbicas. Como tese
nuclear, argumento que os celtas irlandeses eram significados como contratipos dos anglo-saxões por sua
suposta instabilidade emocional e debilidade intelectual, e assim equiparados às mulheres metropolitanas.
Fiando-se na representação como dispositivo de controle, feminizava-se a Irlanda atribuindo-lhe uma
patologia ―tipicamente‖ feminina, a histeria, para naturalizar relações de poder entre império e colônia à
semelhança das relações matrimoniais. Enquanto as inglesas eram rotuladas como dependentes da
ingerência masculina, o discurso colonial sustentava que a Irlanda, uma nação feminina, não sobreviveria
senão tutelada pelo império. Tal como as mulheres adoecidas pelo discurso médico, a colônia era
diagnosticada como inapta à emancipação, já que governada pela oscilação maníaco-depressiva entre
quadros de furor e prostração melancólica. Em um período no qual o império era duplamente pressionado
pelas suffragettes e pela colônia, patriarcalistas e celticistas concatenavam gino e etnofobia para
argumentar que as mulheres e os celtas careceriam, respectivamente, da salvaguarda masculina e
imperial. Da mesma forma que o casamento era considerado panacéia para a doença nervosa da mulher, a
manutenção do colonialismo era, analogamente, apontada como solução para os celtas irlandeses.
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Palavras-chave: Discurso Colonial; Celticismo; Irlandeses; Histeria.


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SIGNOS DE UMA MULTITERRITORIALIDADE: ANISSA MOHAMMEDI, POETISA
MIGRANTE

Wellington Rogério Da Silva - UFJF


Ana Beatriz Gonçalves - UFJF

Muito se questiona hoje sobre a permanência ou não do pós-colonial. De qualquer modo, concernente ao
mundo árabe, os acelerados movimentos que ali se produzem provocam novas possibilidades espaço-
temporais. Ao mesmo tempo, a problemática continua a ser debatida na França, pois ainda se está um
pouco longe de pacificar o passado. Não tão perto de sua primeira cultura, mas tentando se aproximar do
mundo em seu sentido maior, a poetisa bilíngue – francês e cabila – Anissa Mohammedi insere-se menos
no problema e mais na poesia, cuja forma e discurso contemporâneos resgatam a arte da parole e
imaginam um mundo além do pós-colonial, por meio de uma das suas poucas obras, Au nom de ma
parole. Evocando um mundo invisível, que não surgiria necessariamente das coisas exteriores, a escritora
argelina, originária da Cabília, reside atualmente na França, de onde parece provocar uma migração e
exílio interiores, mas sonhando pela poesia que de lá produz com a perpetuidade de um mundo caótico.
Sua escrita, performática, parece então lançar luzes intermitentes nos poucos pontos escuros de um
fascismo travestido.

Palavras-chave: migração, literaturas francófonas, discurso poético.

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UMA DOSE DE CÓLERA NOS PALCOS DA INTERCULTURA TROPICAL, EM RADUAN


NASSAR

Mariene Queiroga - UEPB

Um dos conflitos culturais subsistentes na dimensão histórica brasileira diz respeito à relação entre
espaço geográfico e construção de identidades. No Brasil, um autor que promove um campo fértil para
essas discussões é o paulista Raduan Nassar, particularmente em sua obra Um Copo de Cólera. Esta
representação ficcional parece ter assimilado certos aspectos do contexto social da época da ditadura
militar. Nosso propósito é estudar os elementos sociais de época como influência na escrita deste autor.
Assim como evidenciar também como cada personagem se situa através de suas distintas forças culturais
hegemônicas e representativas: o narrador personagem como figura do espaço do campo, e a personagem
feminina como referência do espaço urbano; ambos com o intento imaginário do poder absoluto. Além
disso, pretendemos relevar os processos de interlocução na delimitação de espaço, resistência e recusa de
passagem de fronteira, pela bipolaridade espacial (cidade x campo) nas relações de poder. Para tanto, se
faz necessário um estudo aprofundado do contexto histórico da época, assim como a colaboração teórica
de Antonio Candido(2008), Renato Ortiz (2006), Alfredo Bosi (1992) e Rossana Reguillo (2005).

Palavras chave: Espaço, identidade, ditadura militar, Raduan Nassar.

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DA DESTERRITORIALIZAÇÃO E DO SENTIMENTO DE LUGAR NO CONTO


HISPANOAMERICANO O RASTRO DE TEU SANGUE NA NEVE DE GARCÍA MÁRQUEZ

Aldenora Márcia C. Pinheiro Carvalho – UFMA


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Estabelecido em meio aos instrumentos teóricos trabalhados nos estudos culturais, os conceitos de
identidade podem ser compreendidos a partir de sua complexidade, uma vez que vincula diferentes
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acepções acerca do indivíduo e de suas relações com a sociedade. Nesse sentido, partindo do conceito de
identidade, pode-se afirmar que todos os debates e questionamentos sobre identidade estão cada vez mais
dilatados e fluídos. Portanto, este trabalho pretende verificar com um olhar literário, porém, numa
perspectiva dos estudos culturais, as marcas da identidade do sujeito – personagem Billy Sánchez – no
conto O rastro de teu sangue na neve do colombiano Gabriel García Márquez. Uma vez abordada a
questão da identidade cultural, propõe-se também analisar dentre as características culturais
relativizadoras do processo de representação cultural, o sentimento de ―lugar‖ subjacente no conto. Vale
destacar ainda que, a partir desses pressupostos, a noção de identidade vai estabelecer outra discussão
dentro de um mesmo plano: a diferença entre identidade nacional e identidade cultural. Embasado nos
pressupostos teóricos dos estudos culturais, pretende-se com esse estudo considerar as principais acepções
acerca de conceitos como lugar e não-lugar, sentimento de pertencimento e necessidade de
reconhecimento. Para tanto, tomaremos por base os instrumentos teóricos trabalhados por Hall (2006),
Canclini (2008), Augé (2007), Bhabha (2010) e, no campo literário, Márquez (2009).

Palavras-chave: Sujeito. Identidade. Cultura. Lugar/Não-lugar.


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O LUGAR DE BERNARDO GUIMARÃES NA TRADIÇÃO LITERÁRIA BRASILEIRA

Ewerton Kaviski - UFPR

O objetivo da presente comunicação é apresentar algumas reflexões acerca do papel e do lugar da obra de
Bernardo Guimarães na tradição literária brasileira. Pretende-se, por um lado, apresentar o mapeamento
das principais estratégias de configuração ficcional presentes nos romances do autor; e, por outro,
evidenciar, a partir dessas principais estratégias, certas continuidades e rupturas desses mesmos romances
em relação a nossa tradição literária. Para tanto, dedicaremos atenção especial ao modo de construção da
personagem e a forma de configuração da voz narrativa em O ermitão de Muquém (1869), O índio Afonso
(1873), A escrava Isaura (1875) e Rosaura, a enjeitada (1883). Nesse sentido, acreditamos que é
possível, ainda que de modo inicial, apontar para algumas linhas que irmanariam Bernardo Guimarães a
José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Franklin Távora, Manuel Antonio de Almeida e visconde
de Taunay – autores díspares e com resultados de fatura muito distintos em certa perspectiva.

Palavras-chave: Bernardo Guimarães, tradição literária, romance oitocentista.

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SHAKESPEARE E BOAL: A TEMPESTADE SENDO REVISITADA NO BRASIL

Sirlei Santos Dudalski – UFV

Entre as várias releituras d‘A tempestade, encontramos uma adaptação brasileira e não poderia ser de
ninguém menos do que a do dramaturgo carioca Augusto Boal. A tempestade, de Boal, foi escrita em
1979. Publicada em Portugal, a peça, assim como outras apropriações do texto shakespeariano anteriores
a ela, retrata o embate entre o opressor e o oprimido de forma maniqueísta. No entanto, sua importância
para a discussão do pós-colonialismo e do neo-colonialismo vai além do esperado. O presente trabalho
tem como objetivo fazer um breve levantamento de alguns ensaios e adaptações que influenciaram as
releituras contemporâneas d‘A tempestade, de Shakespeare, além de analisar A tempestade brasileira,
criada pelo fundador do Teatro do Oprimido. Boal dedica sua peça ao poeta cubano Roberto Fernandez
Retamar, alegando ter sido ele quem lhe dera a idéia e o estímulo para escrever A tempestade. É
importante ressaltar que o Caliban de Boal representa todos os latino-americanos. Como afirma o próprio
Retamar, somos todos Calibans, já que Próspero invadiu nossas ilhas e nos impôs seu idioma, deixando-
nos sem idioma para amaldiçoá-lo.

Palavras-chave: Releituras; Opressor; Oprimido; Teatro shakespeariano; Teatro brasileiro


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A PALAVRA-IMAGEM EM JORNAL DOBRABIL, DE GLAUCO MATTOSO

Ana Paula Aparecida Caixeta - UnB

Glauco Mattoso, artista brasileiro com uma vasta produção literária, é considerado ―poeta maldito‖
devido à sua escrita escarnecedora e fescenina. Em seu trabalho mais conhecido, o periódico satírico-
humorístico JORNAL DOBRABIL, o autor exibe uma grande influência da relação palavra-imagem na
elaboração do panfleto. O presente estudo traz, a partir dessa perspectiva, uma apresentação do autor
como artista visual, visto que o JORNAL DOBRABIL carrega nítidas ligações com a palavra-imagem
que remontam a antropofagia oswaldiana a partir do que Glauco Mattoso chama de coprofagia. Nesse
contexto, a relação verbo-visual, presente no trabalho do autor, dialoga com a estética dadaísta e
modernista, claramente presentes em revistas literárias e produções artísticas visuais do século XX.

Palavras-chave: artista visual, coprofagia, estética.

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LABIRINTO DE LINGUAGEM EM “A FÚRIA DO CORPO”, DE JOÃO GILBERTO NOLL

Rafael Loureiro de Almeida - UFRJ

Romance labiríntico. Descontração tensa e paradoxal no ato de narrar. A fúria do corpo, romance de João
Gilberto Noll, cria e sobrepõe tessituras da linguagem ao lidar com ambientes vertiginosos e personagens
em constante conflito. A narrativa produz um fio condutor instável, pois alterna fuga e retorno ao traçado
sequencial até desconfigurá-lo. A linguagem utilizada constrói a atmosfera da narrativa e, principalmente,
a construção de si mesma, e tal construção pode ser acompanhada centralmente na leitura de A fúria do
corpo. Sob a máscara de um relato em nível coloquial, são construídas diversas relações com outros
níveis, funções e figuras de linguagem. O conjunto de esforços linguísticos revela importantes
características dos personagens, assegura à narrativa multiplicidade de discursos e cria uma trama no
limiar de um sobrecarregamento da estética utópica. Neste pequeno estudo, serão analisadas algumas das
muitas manipulações metalinguísticas propostas no primeiro romance de Noll: figuras de linguagem,
jogos de estrutura, entre outras técnicas verificáveis nessa criação.

Palavras-chave: narratologia, literatura, romance, pós-modernismo.

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OS TIPOS POPULARES E A VOCAÇÃO HUMANA EM “TRIO”, DE SAMUEL RAWET

Luciano de Jesus Gonçalves - UFMS

O trabalho apresenta o conto ―Trio‖, em Que os mortos enterrem os seus mortos (1981), de Samuel
Rawet, tendo em vista a elaboração do foco narrativo do grupo das personagens dispostas no texto. O
conto, formado por três tipos populares – um morador de rua, um artesão e um dono de tabuleiro de
cocadas, possivelmente, adepto do candomblé – é utilizado, nesse sentido, na realização de uma leitura
sobre as reflexões relacionadas à dimensão humana, advindas da construção estrutural dessas
personagens. Esta dimensão é resumida nas possibilidades de sofrer, criar e/ou pensar o mundo, adotadas,
cada uma delas, por uma das personagens. Ressalta-se que, no objeto literário, tal construção, aliás, é
obtida a partir do tratamento que o contista confere à linguagem. Verifica, por fim, que o narrador
construído por Rawet sinaliza que, em alguns momentos e contextos, os poderes de abstração, fantasia e
crença humanos, podem ser invalidados pela falta de instrução formal: seja oral, na argumentação em face
de uma detenção injustificada; seja escrita, diante da imposição de assinatura de algum documento que
ateste a própria liberdade, por exemplo.
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Palavras-Chave: Narrativa. Conto. Literatura Brasileira.


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MITO E ROMANCE: O ENTRELAÇAR DOS FIOS DA IMAGINAÇÃO EM CAIM, DE JOSÉ
SARAMAGO
Nagib Pereira da Rocha - UFV

Embora em nossa época o mito possa parecer uma palavra irritante, um anacronismo, uma ideia fora do
lugar, uma vez que hoje predomina sua significação reduzida e depreciada ao campo semântico do
fantasioso ante uma sociedade que celebra a cada dia uma nova descoberta advinda da técnica e cuja
arquitetura lógica preconizada pelo discurso racional dirige-se para a desmitologização, embora seja essa
a impressão superficial de nossa contemporaneidade, se determo-nos numa análise em profundidade
veremos que vivemos num tempo cujo pensamento mítico encontra-se disseminado por toda parte. Aliás,
veremos na verdade que ele nunca esteve ausente. Deste modo, torna-se possível constatar que o
comportamento e a mentalidade desmitificadora são contrariados pela necessidade mítica do ser humano,
necessidade que faz com que ele, a nossa sociedade, mesmo dizendo-se amítica e pretendendo atuar de
forma mitofágica, aproveite as oportunidades para tentar criar e afirmar uma mitologia que pensa
adequada à sua realidade. Levando em consideração esse ―retorno do mito‖ é que procuramos analisar por
este viés a obra Caim. Podemos arriscar a afirmação de que a obra saramaguiana, em seu conjunto, é
quase um monomito do herói, expressando-se em interfaces mito-poéticas. Longe de vincular meros
conteúdos – histórico, bíblico, social, político ou psicológico – a obra de José Saramago é uma
manifestação artística de articulações imaginárias entre romances, séries literárias e outros códigos que se
movimentam, textualmente, do poético-mitológico ao poético gestual, xilográfico e escritural. Mito e
poética no texto ficcional saramaguiano estão em consonância, vale dizer, unidos pelo mistério da
representação. Ambos ritualizam os fios da imaginação, transformando signos que, sob um novo ângulo,
abandonam sua qualidade apenas linguística para assumir a dimensão surpreendente da palavra literária.

Palavras-chave: Imaginário mítico, Caim, Monomito, Herói


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AS PAIXÕES DE CATULO

Neiva Ferreira Pinto - UFJF

Na esteira dos poetas alexandrinos, Catulo, o poeta romano do séc I a. C, traz para Roma uma poética da
paixão, criando efeitos de intimidade ―humana‖, de subjetivismo, diríamos hoje, quase sempre distante
das contendas dos deuses que povoavam a epopéia. Essa poesia, herdeira também de Safo, chegou para
nós como uma lírica amorosa. Assim, torna-se uma tentação irresistível ler essa poesia com o
instrumental da semiótica das paixões. Faço uma proposta de leitura de Catulo que possa mostrar como
sua poesia realiza aquilo que a Semiótica das paixões chama Afetividade ou dimensão passional nos
discursos. Menos que uma contribuição à leitura do poeta antigo – essa leitura tem o sentido de aprender,
com Catulo, como se canta uma paixão, há 2000 anos, ao mesmo tempo em que pode oferecer mais um
exemplo de como a poesia construiu, e codificou, uma linguagem do discurso apaixonado, que configura
muito de nosso imaginário passional.

Palavras-Chave: Catulo, Poesia, Paixões.

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DISCUTINDO A NARRATIVA LÚDICA ELETRÔNICA SOB UM PONTO DE VISTA


ESTRUTURAL

Clarissa Marquezepi Picolo - UNESP (São José do Rio Preto)

Quando os primeiros jogos eletrônicos foram lançados, pouco se tinha a discutir sobre a mídia, por ser um
entretenimento que oferecia àquele que jogava alguns momentos de diversão que se acabavam em pontos.
Quanto mais pontos acumulados, mais o jogador havia avançado naquilo que o jogo propunha. No
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entanto, conforme novas tecnologias e novas ferramentas de programação foram sendo inventadas,
diferentes tipos de jogos foram surgindo; jogos que não só ofereciam pontos ao jogador, mas que também
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o colocavam na pele de uma personagem, dando a ele interação em um mundo fictício e participação nas
escolhas dos eventos de uma história. O jogador então pôde começar a interagir em diferentes níveis de
uma narrativa, em razão de ela estar envolvida no sistema lúdico de um jogo. Um jogo eletrônico,
portanto, passou a ser um ambiente onde existe o gerenciamento de uma narrativa em comunhão com
elementos variados: som, imagens, movimento e ação daquele que joga. Segundo Wolf (2001), esse
gerenciamento faz com que a narrativa de um game seja diferenciada, inédita, e não-canônica, e de acordo
com Aarseth (1997), esse tipo de narrativa é a precursora da formação de uma nova literatura. Propõe-se
aqui o questionamento acerca da narrativa de um jogo eletrônico, pensando em como seria possível
analisá-la tendo como base teórica a conceitos estruturalistas para análise da narrativa – de acordo com
Propp (1983), Bremond (1972) e Barthes (1972). Pretende-se aqui realizar uma discussão sobre esse tipo
de narrativa, pensando nas peculiaridades que ela apresenta em relação ao que se espera de uma narrativa
veiculada em mídias mais comuns, pensando na sua consagração como gênero literário virtual em vista
das afirmações de Aarseth (1997) e Murray (2001), na intenção de que essa análise traga luz para os
conceitos de narrativa e de literatura que temos hoje.

Palavras-chave: ludologia, narratologia, jogos eletrônicos, narrativa, interatividade

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DRAMATURGIA/TEATRO EM CORDEL: O CRUZAMENTO DE CULTURAS NO DIÁLOGO


DAS FORMAS DRAMÁTICAS PRESENTE PRESÉPIO MAMBEMBE, DE LOURDES
RAMALHO.

Rodrigo Rodrigues Malheiros - UEPB


Diógenes André Vieira Maciel - UEPB

A produção da dramaturga Lourdes Ramalho, especificamente a partir de 1990, contexto em que se


travam diálogos interculturais, apresenta uma proposta estética voltada à re-significação das raízes étnico-
culturais do universo popular nordestino, em especial as que dialogam com a cultura ibérica do século
XVI, num movimento de busca e re-construção de identidade. Este trabalho busca elucidar a partir da
análise-interpretação da obra Presépio Mambembe, da dramaturga paraibana, o percurso histórico e
estético de composição de uma nova forma dramática, a saber, a dramaturgia/teatro em cordel, desde o
entremez ibérico, comercializado em cordéis, nas suas formas híbridas e na sua chegada ao Brasil;
passando pelo teatro de comédia de Martins Pena de meados do século XIX, que entra em contato com o
entremez ibérico, e o consequente abrasileiramento da dramaturgia por ele cultivada em terras nacionais
até o definitivo cruzamento de tradições que se dá com o surgimento de cantorias e peleja dos cantadores
de viola no sertão nordestino e sua fixação num suporte escrito nos folhetos.

Palavras-chave: Formas híbridas. Interculturalidade. Dialética forma/conteúdo.

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SÁTIRA E METAFICÇÃO POÉTICA NO BRASIL OITOCENTISTA

Ednaldo Candido Moreira Gomes - UNICAMP

A teoria de Costa Lima acerca do controle do imaginário e da revisitação da mímesis – compreendida


como uma atividade produtora – permite-nos propor uma reavaliação de parte da poesia oitocentista, a
saber: a) do conjunto de obras de Correia de Almeida – poeta satírico oitocentista comentado por
intelectuais da extirpe de: Camilo Castelo Branco a Olavo Bilac. b) Da possibilidade de o texto satírico
ser compreendido como o espaço privilegiado da metaficção poética no Brasil do século XIX. Nesse
sentido, pretende-se nesta comunicação abordar o livro A república dos Tolos: poema herói-cômico-
satírico e exercitar uma leitura que não se centralize, unicamente, a identificar ideias político-partidárias e
estendê-las a uma visão unívoca de um autor empírico. Antes, pretende-se aproximar tal texto de uma
tradição satírica do versejar luso-brasileiro e, conjuntamente, analisá-lo sob a ótica de uma persona
satírica que procura colocar à prova as variadas instâncias, instituições e práticas discursivas do século
XIX luso-brasileiro. Por ora, pode-se afirmar que essa vertente literária subjugada pela tradição
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historiográfica pode ser lida como uma poética fundamentalmente crítica que aponta as contradições de
um dos momentos ímpares da modernidade literária, qual seja: a possibilidade de coexistirem duas
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diferentes literaturas numa mesma língua escrita, o que afastaria e desconstruiria a perspectiva de que a
literatura, sobretudo, deveria servir como um instrumento pedagógico de legitimação do Estado-nação.Tal
concepção contribuiu para equacionar as perspectivas historicistas e as visões retórico-poéticas da
literatura, uma vez que pretendeu estabelecer um vínculo com a tradição clássica e objetivou desconstruir
criticamente os protocolos e as diretrizes formais dos vários discursos oitocentistas; majoritariamente, da
temática literária e cultural.
Palavras-chave: poética oitocentista, sátira, Correia de Almeida.

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AS FRONTEIRAS ENTRE ROMANCE E MEMÓRIAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA


ENTRE O AMANUENSE BELMIRO E A MENINA DO SOBRADO

Aliny Santos Justino - UFOP

Esta pesquisa concentra-se na abordagem da memória como temática e parte decisiva da construção
literária de O amanuense Belmiro, romance de Cyro dos Anjos publicado em 1937. Neste romance, o
autor nos apresenta a figura conflituosa do narrador-personagem Belmiro Borba, que desde o primeiro
momento se diz empenhado em escrever suas memórias e, dessa forma, reviver seu passado. Entretanto,
tal empreendimento mostra-se falho em certa medida, já que aos poucos o que Belmiro percebe é que o
presente vai tomando conta da narrativa. E o que era para ser um livro de memórias, acaba por se tornar
uma espécie de diário, onde relata todas as suas altercações com a realidade. Contudo, no desenrolar
desses apontamentos diários, Belmiro insere várias evocações de seu passado, do passado da família
Borba. Nesse momento instala-se um grande conflito entre narrar o presente e rememorar o passado, e
que será o tom predominante de todo o processo ficcional. Como a narrativa em questão aborda uma
relação entre o projeto memorialístico desejado por Belmiro e a elaboração do diário que ele engendra,
este trabalho também se propõe a realizar uma leitura comparativa entre O amanuense Belmiro e A
menina do sobrado, obra memorialística do mesmo autor, no intuito de analisar as fronteiras entre
romance e memórias. A menina do sobrado, publicada em 1979, apresenta um ―narrador-autor‖ que
descreve o percurso de sua vida, relatando tudo que o envolve: a cidade Natal, Belo Horizonte, família,
amigos e amores. Nosso intuito é o de analisar os deslizamentos presentes no sentido de admissão de uma
inter-relação entre a ficção de O amanuense Belmiro e os relatos contidos nas memórias. Dessa forma,
mostraremos a relação concreta entre as duas obras, evidenciando como o romance se baseia em situações
que, mais tarde, foram narradas nas memórias.

Palavras chaves: romance, memória, ficção e transformação ficcional.

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DELÍRIOS E SONHOS N‟A MORTE SEM NOME, DE SANTIAGO NAZARIAN

Wellington Furtado Ramos (UFMS/USP)

Freud utilizou uma grande quantidade de textos literários como objeto de reflexão e, por vezes, fonte de
exemplificação para os aspectos teóricos que estava desenvolvendo em sua metapsicologia. Dentre essas
reflexões, um de seus textos primordiais no pensamento do literário em relação ao psicanalítico foi
―Delírios e sonhos na Gradiva, de Jensen‖ (1906), no qual o pai da psicanálise disseca a narrativa do
dramaturgo alemão na busca de explorar aquilo que já tinha sido exposto em sua ―Interpretação dos
sonhos‖ (1900). Na obra de 1900, Freud analisa uma série de sonhos de seus pacientes e, no capítulo
sétimo de seu livro, nos expõe aquilo que ele chama de ―O trabalho do sonho‖, ou seja, os procedimentos
que permitem que o sonho alcance o objetivo de ser a ―realização de um desejo‖. Neste trabalho,
pretendo, a partir dos procedimentos apontados por Freud no que diz respeito ao trabalho do sonho (a
saber, a figurabilidade, a condensação e o deslocamento), verificar em que medida esses procedimentos
são úteis para a análise e interpretação do romance A morte sem nome, do escritor brasileiro
contemporâneo Santiago Nazarian. Esta leitura reside, portanto, na busca de analogias entre o aporte
teórico próprio dos estudos literários coadunados ao conhecimento advindo da psicanálise, buscando
propiciar um diálogo entre esses campos do saber com vistas a mais uma possibilidade de leitura da obra
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de arte literária.
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Palavras-chave: Literatura Brasileira Contemporânea; Literatura e Psicanálise; Sonho; Santiago Nazarian.

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O PASSADO COMO MOTE: LEMBRAR PARA SALVAR.

Antônio Deval Neto - UNICAMP

André Schwarz-Bart (1928-2006), cria em sua obra O último dos Justos (1959) todo um universo que
compreende vários séculos da história do ocidente para contar a história de um judeu desaparecido nas
câmaras de gás de Auschwitz. Para isso, ele usa a História com outro viés, invertendo o ângulo da
narrativa oficial: os reis, barões, bispos, papas e generais aparecem como personagens secundários,
tampouco sua obra versa sobre os bravos resistentes ou revoltosos do Gueto de Varsóvia, seus heróis são
simples homens e mulheres que não deixam seus nomes na história, apenas seus rastros. Para criar o
universo de seu romance, ele usa as obras do historiador Leon Poliakov, os arquivos da Bibliothèque
Sainte-Geneviève, além de relatos de sobreviventes e uma intensa pesquisa sobre judaísmo, Hassidismo,
história e cultura judaicas e a Bíblia. Esta pesquisa prévia serviu para a apreensão dos contornos de um
mundo judaico destruído pelo Holocausto. Neste artigo será tratada a recriação do shtetl (povoado judaico
do Leste Europeu) presente nos capítulos A Lenda dos Justos e Zémyok como constitutivas de uma
tomada do passado (que se apresenta em todo o romance) como forma de preservar do esquecimento este
mundo que foi destruído.

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FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIAS NO ENSINO DE LITERATURA


PARA SURDOS

Ana Luisa Borba Gediel - UFV

O presente trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão acerca do despertar para o enino-
aprendizagem na área de Literatura infantil por meio de uma atividade teórico-prática proposta aos
acadêmicos matriculados na disciplina de LET 290 – Língua Brasileira de Sinais. O desafio mencionado
no início de cada semestre supunha que os acadêmicos das diferentes áreas do conhecimento
construíssem uma atividade para ser desenvolvida em sala de aula, na qual possibilitasse a inclusão de
aluno(s) surdo(s) na escola regular. A ideia da atividade ficara a critério de cada um, que deveria escolher
o tema para a realização do estudo, preparar material visual para a apresentação e aprender os sinais
condizentes em LIBRAS para a condução da aula. Importa ressaltar que acadêmicas dos cursos de Letras,
Pedagogia e Educação Infantil, dos diferentes semestres que a disciplina vem sendo oferecida, tiveram o
interesse de desenvolver tal ação pedagógica voltada para a inclusão de alunos surdos a partir da literatura
infantil. A contação de histórias e a apresentação do mundo da literatura foi uma das preocupações
frequentes, visto que tal iniciativa era considerada por elas uma forma de interação social, na qual deveria
ser constituída desde as séries iniciais. Desse modo, a apresentação dos clássicos da literatura infantil e a
criação de elementos que possibilitassem a apreciação de livros e materiais didáticos para incentivar o
gosto pela leitura foram propostos. Salienta-se ainda, a preocupação em proporcionar espaços de inclusão
a partir da literatura por meio de dispositivos que envolvem as minorias, tais como, gênero, raça,
necessidades especiais, classe, entre outras questões. Pode-se demonstrar com esses trabalhos a
possibilidade de um olhar para a realidade que está por vir, ou seja, das possíveis experiências dos futuros
professores. Além disso, considera-se um passo inicial para o desenvolvimento de estudos nessa área.

Palavras-chave: ensino de literatura, educação de surdos, formação inicial de professores.

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RELEITURA DA LITERATURA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DE MAURICIO DE


SOUSA
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Rosangela Maria Saygli - Faculdade Pitágoras


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Embora estejam presentes em livros didáticos, avaliações para concursos e em inumeráveis ambientes
culturais, as histórias em quadrinhos ainda são consideradas um tipo de leitura cujo objetivo é o lazer e o
entretenimento. Muitos leitores iniciam o gosto pela literatura por meio delas e adquirem conhecimentos
sobre temas variados. Este estudo pretende analisar a paródia Os 4 músicos do bairro do Limoeiro!,
protagonizada pelos personagens de Mauricio de Sousa, releitura do conto Os músicos de Bremen, dos
Irmãos Grimm. Nessa história, serão analisadas as estratégias que Mauricio de Sousa utiliza em seu
conjunto de recursos intertextuais e o processo comunicativo. Também serão analisados a presença do
narrador no texto e o diálogo intertextual. A partir das histórias em quadrinhos, o leitor, além de conhecer
a literatura universal, enriquece sua percepção crítica, interpretativa e cultural, constrói uma pluralidade
interpretativa que lhe permite a se inserir em um artifício de formação cultural muito mais amplo do que
se imagina. Logo, as histórias em quadrinhos podem ser um caminho através do qual se perceba não
existirem fronteiras para que jovens e adultos apreciem a literatura.

Palavras-chave: Literatura. História em quadrinhos. Intertextualidade.


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REFLEXOS DA DEMOCRATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO ENSINO DE LITERATURA NO


ENSINO MÉDIO, NA ERA DA INFORMÁTICA.

Cláudia Mafra - CEFET/MG

O objetivo principal visado com esse trabalho é fazer uma reflexão acerca do ensino de literatura no
Ensino Médio, levando em consideração os hábitos de leituras dos alunos, assim como a bagagem
literária trazida por eles do Ensino Fundamental. Partindo da memória do ensino de literatura no país,
pretende-se também questionar a utilização dos meios didáticos utilizados no passado e no presente, e
analisar os novos meios que surgem com a informática. Dessa análise, surgirá um questionamento em
relação à utilização desses novos meios didáticos trazidos pelas novas tecnologias que é inevitável: a
informática associada ao ensino de literatura será capaz de suprir as demandas necessárias à motivação
dos alunos que não têm o hábito da leitura e de garantir o envolvimento deles com obras literárias que
retratam um mundo e uma linguagem tão diversos e distantes de seu tempo? Terão os professores de
literatura o preparo necessário para a utilização dessas ferramentas de forma a garantir uma aprendizagem
significativa? As mudanças dos meios didáticos trarão alguma mudança em relação ao enfoque dos
conteúdos? O referencial teórico utilizado para essa pesquisa baseia-se principalmente em reflexões sobre
o ensino de literatura no Brasil, feitas por Chapinni, Ziberman e Graça Paulino; o emprego da tecnologia
no ensino de literatura analisada por Marta Pinheiro; os hábitos de leitura estudados por Rodella de
Oliveira. A metodologia a ser utilizada constará da fundamentação teórica que proverá a base para a
pesquisa de material didático de literatura a ser analisado e selecionado com vistas à confecção de um
questionário que deverá ser respondido por professores que utilizem ou tenham utilizado esse material
didático. Com esse trabalho, pretende-se levar o professor de literatura à reflexão e ao questionamento de
seu papel e das ferramentas por ele utilizadas na execução de seu trabalho.

Palavras-chave: hábito de leitura, livro didático, novas e antigas tecnologias no ensino.

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POETAS E CIENTISTAS: INTERFACES POÉTICAS ENTRE O STALKER DE TARKOVSKI E


OS IRMÃOS KARAMÁZOV DE DOSTOIÉVSKI

Fabrícia Silva Dantas - UEPB

O presente texto busca relacionar literatura, poesia e cinema através do estudo sobre a relação poética
entre os personagens centrais do filme Stalker (1979), do diretor russo Andrei Tarkovski e os personagens
do livro Os irmãos Karamázov (2008), de Fiódor Dostoiévski. Através da análise intersemiótica,
objetivamos estudar o modo como esses personagens esboçam dois comportamentos diferentes sobre a
vida: de um lado, um modo de vida sensível, mais integrado ao meio ambiente e, portanto, próximo à
imagem do poeta; e do outro, uma forma de vida mais individualista, representada pela ideia tradicional
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que se tem do cientista. Através da análise intersemiótica dos personagens centrais das duas obras,
percebemos uma espécie de tradução indireta entre os elementos do filme e do livro – tradução que
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chamamos de poética. Ao longo da nossa discussão, entendemos que o relacionamento poetas/cientistas


propõe uma interessante reflexão em torno do diálogo entre a arte e a ciência, entre a poesia e o cinema,
ou seja, reforça a interface entre a literatura e os diferentes saberes. Para fundamentar nossa discussão,
nos basearemos em considerações de Bakhtin (1981), Czegledy (2003), Deleuze e Guattari (1997),
Maffesoli (2002), Tarkovski (1998), entre outros.

Palavras-Chave: Literatura. Poesia. Cinema. Intersemiótica.

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A LITERATURA VIA CINEMA: O PRIMO BASÍLIO POR DANIEL FILHO

Carlos Alberto Correia UNESP (ASSIS)

Uma das questões que acampa cada vez mais os estudos acadêmicos é a reflexão sobre as relações da
literatura com outras artes e mídias, além de seus respectivos processos de transcodificação. No século
XX a multiplicação de meios de comunicação produziu frequentes e fecundas relações entre as mais
variadas linguagens e códigos, possibilitando assim, uma maior complementação e enriquecimento entre
elas. As produções antes restritas ao oral e ao papel passam a migrar para novos suportes e mídias, o que
possibilita algumas ampliações ou limitações a obra original, de acordo com as especificidades de cada
novo veículo que conduzirá aquele conteúdo. Dentre esses inúmeros suportes que se lançaram neste
período da história, este estudo se deterá na relação entre dois meios, muito comuns quanto se referem aos
mecanismos de comunicação, sendo eles: o livro e o cinema. O fulcro de análise deste estudo consiste em
apontar alguns recursos presentes na adaptação fílmica, ―O primo Basílio‖, dirigido por Daniel Filho em
2007, resultante de um diálogo intertextual com o romance português homónimo, escrito por Eça de
Queirós em 1878. Nesse diálogo, a literatura e o cinema se aproximam por meio da reescrita do romance
traçada e transcodificado pela ótica do cineasta-tradutor. Para tal, pretende-se, analisar as marcas da
releitura contidas no texto fílmico, discutindo os traços de atualização presentes na produção audiovisual.

Palavras-chave: Adaptação audiovisual. Ressignificação. Intertextualidade.

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O DISCURSO MIDIÁTICO DE CLARICE LISPECTOR

Aparecida Maria Nunes – UFAL

A escritora Clarice Lispector até bem pouco tempo era conhecida apenas pelo hermetismo da sua ficção.
Na imprensa, porém, desde os anos 1940, a jovem Clarice se adapta aos gêneros e ao público a quem
deve falar. E a linguagem clariciana, então, adquire matizes ao gosto da comunicação de massa, sobretudo
no período conhecido como os anos dourados. Entre 1959 e 1961, a escritora se dedicou à produção de
colunas femininas na imprensa carioca: Correio feminino, no jornal Correio da manhã, e Só para
mulheres, no Diário da noite. Com habilidade, a jornalista manipulou o discurso dos conselhos,
aparentemente desinteressados, mesclando, vez e outra, as incitações da publicidade da época. Mas, como
por trás da persona das colunistas havia a escritora Clarice Lispector, é importante perceber como o
discurso midiático da ficcionista engendra temas de uma vida desejável, ao mesmo tempo hedonista e
idealista, preconizada pela cultura de massa.

Palavras-chave: Literatura e jornalismo, Clarice Lispector jornalista, Cultura de Massa

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O RETORNO À PÁTRIA EM OS CUS DE JUDAS E UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA


CHAMADA TERRA

Ana Paula Silva - UFV


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Angelo Adriano Faria de Assis - UFV


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Assim como as Grandes Navegações que trouxeram os portugueses à África, as Guerras Coloniais que
marcaram o fim do Sistema Colonial também são abordadas na literatura, porém desta feita num viés
questionador, destoante do canto épico camoniano. Em Portugal, escritores revisitam a história
problematizando o mito da nação imperial e questionando a manutenção desse sistema anacrônico por
meio de tão cruéis batalhas. De outra parte, a literatura africana também aborda as consequências do
colonialismo e a luta pela independência das colônias. Neste trabalho, propomos uma comparação de dois
romances, o português Os cus de Judas e o moçambicano Um rio chamado tempo, uma casa chamada
terra. Em Os cus de Judas, Lobo Antunes denuncia o drama dos retornados das Guerras Coloniais e
questiona o mito imperial revisitado por meio das memórias do médico que servira no exército português
nos territórios africanos. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto, também
aborda um retorno, o do africano que volta a sua terra natal, de onde se ausentou para ter acesso à
Universidade. Esse retorno se constitui numa oportunidade de questionar os resultados da luta pela
independência de seu país e reencontrar suas tradições. Assim, nos dois romances observamos a
revisitação da Guerra Colonial a partir de dois lugares, a ex-colônia e a ex-metrópole, e com as
problematizações referentes à construção de identidades, seja da nação, seja do indivíduo. Para discutir
essas questões, consideramos a conceituação de memória coletiva feita por Halbwachs e as teorizações de
Stuart Hall acerca da identidade cultural na pós-modernidade, bem como ensaios críticos e teóricos a
respeito das obras e dos conceitos abordados.

Palavras-chave: Lobo Antunes, Mia Couto, memória, identidade.

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ESPAÇO E NARRATIVA: UMA LEITURA DO ESPAÇO N‟O AMANUENSE BELMIRO


(1937)

Joelma Santana Siqueira - UFV


Gislene dos Santos Pereira - UFV

Em Espaço e romance, Antonio Dimas, discutindo abordagens do espaço na literatura, distinguiu as de


mérito simplesmente ilustrativo das mais elaboradas por empreenderem uma leitura analítico-
interpretativa da obra. Para as primeiras, utilizou termos como ―verismo fotográfico‖e ―geografia
literária‖, referindo-se a análises que perseguem o veraz e não o verossímil literário e que, por isso
mesmo, têm pouco ou nada a ver com a especificidade dos estudos literários. Diferentemente, Dimas
destacou as abordagens que tentam apreender o significado do espaço em relação ao trabalho de
elaboração do artista, ou seja, à funcionalidade do espaço no interior da narrativa. A presente
comunicação se insere neste segundo tipo de abordagem e pretende, após discussão sobre espaço e
narrativa, propor uma análise do espaço no romance O amanuense Belmiro (1937), de Cyro dos Anjos,
com olhos na funcionalidade do espaço em relação aos demais elementos da narrativa. Consideramos que
à variação de aspectos intimistas e aspectos realistas no interior do referido romance correspondem
formas diferentes de configuração do espaço.

Palavras-chave: Espaço ficcional; Narrativa moderna; O amanuense Belmiro.

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CLAVES NARRATIVAS DE LA NOVELA DEL DICTADOR HISPANOAMERICANA EN GENERAL


A CABALLO DE LISANDRO OTERO.

Carlos Ferrer Plaza (AECID/ UNESP)

La temática del poder dictatorial en Hispanoamérica se ha desarrollado literariamente durante los siglos XIX y
XX a través de un extenso número de obras, pero es en la década de los setenta cuando la publicación de
novelas con esta temática fue más prolífica. La publicación casi simultánea de El recurso del método (1974) de
Alejo Carpentier, Yo el Supremo (1974) de Augusto Roa Bastos y El otoño del patriarca (1975) de Gabriel
García Márquez constituyó un acontecimiento editorial y literario que tuvo una inmediata reacción de interés
por parte de la crítica. Se comenzó a estudiar el tema dictatorial desde el enfoque de una suerte de subgénero
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narrativo cuyo corpus estaría formado por un número muy extenso de obras provenientes de casi todos los
países hispanoamericanos. En el presente trabajo pretendemos estudiar la influencia de la denominada novela
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del dictador en la narrativa política hispanoamericana inmediatamente posterior a los años setenta. Para ello nos
centraremos en la novela General a caballo (1980) del cubano Lisandro Otero, situándola en relación al
conjunto de las obras que conforman el género al que se adscribe y analizando de qué manera el autor da un
giro literario a varios elementos comunes en las novelas de los años setenta al proponer un enfoque en el que la
ironía y el humor tienen una importancia preponderante.

Palabras clave: narrativa hispanoamericana – novela política – literatura cubana - dictadura – Lisandro Otero.

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A POSICAO DO NARRADOR EM MENINO DE ENGENHO

Virginia Maria de Araujo Cruz - UFV

No livro Menino de Engenho, publicado em 1930, obra escrita por Jose lins do Rego, paraibano nascido
na cidade de Pilar , foi analisado a posição do narrador, principalmente, quanto a preocupação em
representar a realidade social, econômica e política em que vivia a população brasileira durante a década
de 30 do século XX, dando ênfase, sobretudo, na condição dos desfavorecidos como os negros, as
mulheres e crianças. O romance, narrado em primeira pessoa por Carlos Melo, expõe as vivencias e
tensões sofridas por ele enquanto criança órfã, criada por seu avo o Coronel Jose Paulino, em um engenho
de açúcar em pleno ciclo da cana-de-açúcar no nordeste do Brasil. O narrador expõe os fatos ocorridos,
ora na visão do menino Carlinhos, ora na visão do narrador já adulto, deixando implícita a sua posição
diante da explora e miséria dos trabalhadores do engenho, fazendo assim uma tentativa de representar aos
que não podiam se auto-representar.

Palavras- chave: modernismo – social- negros - economia

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UM POSSÍVEL COMEÇO? FRONTEIRAS E PROCESSOS DE FRONTERÍA EM SYLVIA


MOLLOY

Dayane Campos da Cunha - UFJF

Sylvia Molloy  escritora, crítica literária e professora  é argentina, mas vive há mais de trinta anos nos
Estados Unidos, onde desenvolve uma estética literária sempre perpassada pela questão do deslocamento,
da fragmentação e da complexa relação que estabelece com seu país de origem desde um ―afuera‖
[MOLLOY, 2006]. Tenciono, nesta comunicação, observar como se manifesta em dois gêneros distintos
[ensaio e escrita de si] a experiência do exílio vivenciada pela escritora e em que medida essa experiência
deixa marcas em seus textos. Para tanto, analisarei o livro Varia Imaginación (2003) e o ensaio ―Back
home: un posible comienzo‖ (2006), buscando mostrar como a autora ultrapassa as fronteiras dos gêneros
literários na tentativa de encontrar no processo de escritura um home [TERKENLI,1995] possível. O fio
experiencial atravessa os gêneros, deixa rastros, burla fronteiras. Abril trigo (1997), ao trabalhar o
conceito de fronteira - limite, separação - o compara em oposição ao que ele denomina frontería. Para o
autor, a fronteira marca o limite entre o eu e o outro, enquanto a frontería privilegia o contato e o avanço.
Pensando na escritura de Molloy, pergunto-me: poderíamos falar em fronterías literárias? Qual seria o
―lugar‖ do intelectual que vive e escreve fora de seu home? Sempre estrangeiro onde quer que esteja?
Seria esse o locus enunciativo desse escritor? Sempre ―afuera‖? E essa condição ―afuera‖ não seria uma
forma de não se deixar prender ou apreender pela doxa, pelos discursos do poder? Quiçá o estar à margem
ou ―além‖, mas não ―em‖ algum lugar permita estabelecer um outro olhar  de viés  e seja, por essa
mesma condição, uma saída da clausura, da fronteira dos discursos.
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LITERATURA E POLÍTICA NA QUARTA DECLARAÇÃO DA SELVA LACANDONA

Mara Carolina de Lima Galvão - UEPB


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Atualmente, com as demandas atuais do mercado literário, não há como especificar um Cânone, pois é
possível, diante deste contexto, referir-se à existência de diversos cânones. A pesquisa trata da leitura de
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textos cuja finalidade não é literária, mas que são compostos ―literariamente‖ ou apropriam-se do viés
literário. Assim sendo, este trabalho tem como objetivo verificar a presença do literário na quarta
declaração das Declarações da Selva Lacandona, manifestos políticos compostos pelo Exército Zapatista
de Liberação Nacional, do México. Parte-se da hipótese de que as declarações não são apenas tratados
políticos. Como forma de realizar este estudo, retoma-se a discussão das vanguardas literárias do início do
século XX, especificamente na América - Latina (SCHWARTZ, 2008), além de salientar o diálogo entre
manifestos literário e político (BERMAN, 2007), como também analisar, nas declarações, a representação
de duas paratopias (MAINGUENEAU, 2006) sendo a primeira literária, referente à negociação entre a
forma de vida do intelectual que carrega a tradição literária e sua formação cosmopolita em relação à vida
na Selva Lacandona; e a segunda que se caracteriza como a étnica, cuja relação está nas formas de vida
do indivíduo escritor e do indivíduo político.

Palavras-chave: literariedade, manifesto político, fronteiras, vanguardas, paratopias.


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A CRIAÇÃO E A CRIATURA: DIALÉTICA ENTRE VIDA E OBRA NA POESIA DE


ALEJANDRA PIZARNIK E ANA CRISTINA CESAR

Sara de Miranda Marcos - UEPB

Diz-se que o ser criador é o sujeito que consegue lidar com a problemática relacionada com os exercícios
da literatura da sua época. Quando se fala sobre a criação artística de um escritor e a relação que sua obra
estabelece com a (sua) vida, não se sabe até que ponto a vida interfere na obra ou a obra interfere na vida.
Acredita-se, então, que a relação existente entre vida e obra é indissociável. Deste modo, pretende-se aqui
analisar de que modo a dialética entre vida e obra se desenvolve nas obras poéticas de Alejandra Pizarnik
e Ana Cristina Cesar, salientando a interlocução entre ambas. Para tanto, destaca-se o estudo dos ritos que
se relacionam com o ato criativo, a relação do eu com o outro e a indissociabilidade da personalidade do
criador com a sua criação (MAINGUENEAU, 2001). Também se enfatizam as ideias que permeiam a
necessidade de criar para expurgar os conflitos como busca do sentido da vida e a literatura como saúde
(DELEUZE, 1997), além de discutir a temática do deslocamento do sujeito que vive para sua
subjetividade diante de uma sociedade do espetáculo (BIRMAN, 1999).

Palavras-chave: Literatura latino-americana, Alejandra Pizarnik, Ana Cristina Cesar, personalidade


criadora, criação poética.
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O VESTIBULAR E O ENEM COMO ESPAÇOS DE CANONIZAÇÃO DA LITERATURA


BRASILEIRA

Leni Nobre de Oliveira – CEFET- MG

Esse artigo, com base na Dissertação de Mestrado O vestibular como espaço de canonização da
Literatura Brasileira e na Tese de Doutorado Espaços contemporâneos de consagração da Literatura
Brasileira, e por meio de dados atuais de pesquisa de campo, propõe apresentar estratégias de
canonização de autores e obras pelos vestibulares, tendo como análise os processos seletivos da UFMG e
os da PUCMinas, e as perspectivas atuais de ensino de Literatura e de leitura de obras literárias frente à
adoção do ENEM como processo seletivo para o ingresso em cursos superiores. Queremos demonstrar
que, embora o ENEM tenha sido adotado pelas principais instituições de ensino superior na seleção de
candidatos, e seja mais democrático do que os vestibulares tradicionais, suas perspectivas de inserção de
novas obras literárias e autores no debate para a formação de diferentes juízos críticos e de incorporações
no corpus canônico da Literatura nacional são menos favoráveis a inovações do que as estratégias
utilizadas pelas universidades em questão, visto que esse se pauta pelos livros didáticos, manuais
importantes para o auxílio dos professores na qualificação dos alunos, mas pontuais e tradicionais em
relação ao conjunto de autores e obras a serem privilegiados. Embora a nossa rica tradição literária
mereça ser rememorada, essa perspectiva se insere na contramão da promoção de leituras integrais de
obras literárias não consagradas ou em processo de reconhecimento público, uma vez que os livros
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didáticos, dada a sua contingência, apresentam prioritariamente recortes das obras, metodologia adequada
para a exemplificação e compreensão das características dos estilos literários e das estratégias estéticas,
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mas insuficientes para a preparação dos candidatos, visto que, se antes conhecíamos de antemão as obras
a serem estudadas para os vestibulares, e essas eram em número limitado, agora temos como meta a
apresentação de todo o corpus canônico presente nos manuais.
Palavras-chaves: Canonização literária; ENEM; Livro didático; memória cultural; vestibular

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JOSÉ, AUTOR DE RUBEM FONSECA

Andressa Marques Pinto - UFJF

O objetivo desta comunicação é levantar algumas questões sobre a presença do sujeito na escrita,
especialmente na autobiográfica. Para tanto, refletiremos sobre a autobiografia e a ficção, assim como a
noção de sujeito nestas manifestações. Após discutirmos a presença do sujeito/autor na obra literária no
contexto da modernidade e do advento do romance, pensaremos como se dá a presença do mesmo na
escrita de si. Nossa hipótese é que no espaço ficcional o eu dissipa-se e pode assumir diversos núcleos, o
que não implicaria em sua anulação, mas o possibilita irrealizar-se através da imaginação, inventando
possibilidades e não se confundindo com nenhuma delas. Desta forma, na escrita autobiográfica, o sujeito
apresentado seria uma das várias possibilidades vindas da dissipação do eu. Nesta perspectiva,
refletiremos sobre o livro José, de Rubem Fonseca, procurando apontar seu caráter autobiográfico, e
como a escolha do autor pela narrativa em terceira pessoa aponta para o objetivo de relatar somente a
história de um dos possíveis ―eus‖ do sujeito, que em José é aquela (história) que fez com que José
Rubem Fonseca se transformasse em Rubem Fonseca, um autor de si mesmo.

Palavras-chave: autobiografia, literatura contemporânea, Rubem Fonseca.

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BOPP, VIAJANTE INFATIGÁVEL PELAS TERRAS DO SEM FIM.

Fabíola Guimarães Pedras Mourthé – CEFET-MG

O presente trabalho busca analisar a obra ―Cobra Norato‖, do poeta modernista Raul Bopp, idealizado
em 1921, escrito em 1928 e publicado em 1931, que continua ainda hoje, desafiante e revolucionário.
Pretende-se examinar a narrativa mitológica Amazônica à partir da apropriação de conceitos espaciais.
Buscar-se-a também a tradução intercultural do poema, considerando as características marcantes da
oralidade na obra . Cobra Norato, um dos mais belos poemas inspirados pelo movimento antropofágico,
convida-nos ainda hoje, a reflexão acerca das regiões marginalizadas e periféricas e a distância espacial e
temporal que as separam dos centros detentores do poder. Outro aspecto a ser abordado é a crítica
bibliográfica contemporânea e a análise do perspectivismo ameríndio no poema. A pesquisa é
basicamente bibliográfica e o método a ser utilizado é o crítico-analítico. Com este trabalho espera-se
contextualizar a tradução intercultural do poema Cobra Norato, reafirmando o valor estético da obra,
considerando-a como obra prima, dando-lhe um caráter de atualidade em um contexto que se renova em
cada leitura, perpassando o tempo e o espaço.

Palavras-chave: Cobra-Norato, espaço, tradução intercultural.

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OCORRÊNCIAS DO VIL METAL NA OBRA DE JORGE DE SENA


Beatriz Helena Souza da Cruz - UFF

Observando a obra de Jorge de Sena, aquele que se assume como o poeta do testemunho, vejo que o
dinheiro comparece de forma diversa em seus escritos, por exemplo como medida de valor mesmo do que
não são mercadorias e, com muita frequencia, cumpre o papel de marcar a desvalorização do ser humano.
Embora o dinheiro em si não seja objeto de poemas, nem contos ou romances, e mesmo quando o
vocábulo não aparece na obra, podemos perceber que ocorre relacionado a trabalhadores, ora pobres, ora
desempenhando funções inusitadas, bem como advindo de esmolas, permitindo visualizarmos a sociedade
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capitalista numa de suas essenciais características, estruturalmente falando, que é a necessidade de pagar-
se por tudo, pois, sendo o objetivo dos detentores do poder, ou seja, do capital, o lucro, relações de
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compra e venda ocupam lugar destacado e, com o passar do tempo, expandem-se cada vez mais além do
mundo dos negócios.
Palavras-chave : Jorge de Sena, dinheiro, valor, marxismo.
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CECÍLIA MEIRELES E J.-P. SARTRE: ESCRITORES-VIAJANTES EM VENEZA

Luís Antônio Contatori Romano (UFPA)

A partir de diálogo com o conceito de Literatura de Viagens e com a tipologia de viajantes proposta por
Fernando Cristóvão, pretende-se caracterizar o olhar do viajante contemporâneo em contraste com o do
viajante tradicional e do turista de massas ao analisar-se dois textos literários de escritores viajantes:
Cidade Líquida, crônica de Cecília Meireles, e Veneza, de minha janela, texto de Sartre, que deveria
compor um romance inacabado. Duas concepções contemporâneas de viagem que são distintas. Cecília
Meireles transfigura a viagem ao reexperienciá-la pela memória e plasmá-la em crônica a partir de
procedimentos essencialmente sonoros, metafóricos e sinestésicos, parecendo recriar, pela escrita em
prosa-poética, a ―aura‖ do lugar em cuja contemplação se deteve. Sartre parece conceber o deslocamento
espaço-temporal do viajante como busca de uma experiência privilegiada da aventura ou de alguma
totalização de sentidos apenas realizável na forma narrativa.

Palavras-Chave: Literatura de Viagens, Literatura Comparada, Prosa-Poética

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O IMAGINÁRIO MÍTICO E LITERÁRIO A PARTIR DE ÍTALO CALVINO E CARL GUSTAV


JUNG

Hermenegildo Ferreira Giovannoni - UFJF

Em um primeiro momento, este artigo pretende apresentar e analisar o conceito de imaginação proposto
pelo escritor Ítalo Calvino, utilizando como referência principal sua obra intitulada ―Seis propostas para o
próximo milênio‖. Será mostrado como ele considera os processos imaginativos como o fundamento da
linguagem típica do mito e o importante papel por eles desempenhado na literatura, tanto no âmbito da
leitura quanto no da escrita. Serão expostas também as principais características da imaginação enquanto
forma peculiar de conhecimento, em oposição à forma de conhecimento própria da ciência e da filosofia,
tais como o discurso por imagens, a autonomia, a geração espontânea e a lógica associativa. Em um
segundo momento, as concepções de Calvino serão comparadas ao conceito de imaginação elaborado por
Carl Gustav Jung, precursor da Psicologia Analítica, ao longo de toda sua obra, destacando-se sua
importância como processo psíquico subjacente à mitologia do todos os tempos e lugares e à criação
literária em geral. As principais características da imaginação, enquanto linguagem simbólica própria do
âmbito inconsciente da psique, serão analisadas a partir de sua analogia e complementaridade em relação
aos aspectos apontados por Calvino apresentados anteriormente. Por último, tendo como base as teorias
elaboradas por ambos os autores, serão levantadas hipóteses e discussões acerca do valor da imaginação
no mito, na literatura e na cultura em geral.

Palavras-chave: imaginação, literatura, mito, psicologia analítica.

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ERA CONSTRUÇÃO, JÁ É RUÍNA? NACIONALIDADE, IDENTIDADE E OS IMPASSES DA


MODERNIZAÇÃO NA LITERATURA BRASILEIRA

Júlio Cezar Bastoni da Silva – UNESP

É de certo consenso na crítica que a literatura brasileira apresenta, ao longo de sua história, a preocupação
com a nacionalidade, não apenas referente à construção de uma literatura autônoma e distinta, mas uma
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responsabilidade perante o conjunto da sociedade nacional. Este tipo de preocupação constitui uma linha
de força importante na literatura brasileira, e se articula em diálogo constante com os impasses da
modernização brasileira, isto é, além de uma certa recorrência de preocupação nacionalista, a literatura
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representa os dilemas de um desenvolvimento desigual, que articula progresso e arcaísmo, riqueza e


miséria, como contrafaces de um mesmo problema. O presente trabalho visa cercar esta dimensão social
em sua recorrência na forma literária, tomando como ponto de referência algumas produções romanescas
a partir do romantismo, explorando como essa dualidade social brasileira está representada na forma
literária. Nossa hipótese, portanto, é de que a dimensão comprometida de nossa literatura representa, sob
variadas formas, o dualismo social brasileiro e as variadas respostas historicamente dadas à questão,
desde o romance nacionalista romântico, passando pela distopia naturalista, o balanço da nacionalidade
no modernismo, o engajamento do romance da década de 1930, até o momento de crise do projeto
nacional na literatura, presente em fins do século XX e começo do XXI. Este trabalho, que constitui um
desdobramento de nossa pesquisa em nível de mestrado, centrada no período romântico e naturalista,
possui como base metodológica a abordagem sociológica da literatura, de matriz marxista, constituindo
interface com as interpretações sociológicas e econômicas dos dilemas da modernização brasileira.

Palavras-chave: romance brasileiro; nacionalidade; dualismo social.

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OS ARQUIVOS, A CRÍTICA GENÉTICA E A RASURA COMO ESTILO

Moema Rodrigues Brandão Mendes - CESJF

Este trabalho propõe uma reflexão sobre o fato de que Memória é recuperação, é reencontro, é
recordação, à medida que caminha em direção ao resgate de um passado recuperável, percorrendo uma
trajetória a partir das sociedades antigas, onde os homens ainda não conheciam a escrita. Esta reflexão se
desenvolve a partir da construção de uma edição genético-crítica do romance Memórias sem malícia de
Gudesteu Rodovalho, de Gilberto de Alencar, escritor mineiro, a partir de dois manuscritos. O contato
com os manuscritos da obra é um ato de resgate que preserva a construção da história social do homem
em sua trajetória cultural. Nas sociedades antigas, quando os homens ainda não conheciam a escrita,
havia pessoas que guardavam, na memória com particular interesse os códices: eram os guardiões dos
códices reais, os historiadores da corte. A Memória se torna história, igualmente, com o desenvolvimento
dos estudos de Crítica Textual, cuja origem nos remete ao período alexandrino, nos anos de 322 a 146
a.C, quando a famosa Biblioteca de Alexandria se tornou o maior centro cultural da Antigüidade.
Paralelamente, a Crítica Genética é um estudo que contribui para a preservação da Memória, pois
evidencia um progressivo interesse pelos processos de criação. Presentemente, os manuscritos, com suas
rasuras, e marginália e toda a forma de comprovação dos papéis de trabalho do autor, como os de Gilberto
de Alencar, despertam o interesse do pesquisador.As fendas do texto são exploradas, de modo a permitir,
ao estudioso, um maior entendimento da obra. Este pensamento originou a interessante vertente
historicista da crítica literária, que se apóia na instância produtora do discurso para configurar a gênese da
obra.

Palavras-chave: Gilberto de Alencar. Memória. Preservação. Manuscritos.

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O LÚDICO E O TEATRO NA CULTURA BARROCA: UM ESTUDO SOBRE AS PEÇAS


TRAGICÔMICAS DE ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA, O JUDEU

Eduardo Neves da Silva – FAPESP/UNESP/Araraquara

As peças tragicômicas do luso-brasileiro Antônio José da Silva (1705-1739) — mais conhecido na


História da Literatura pela alcunha de O Judeu — apresentam uma grande diversidade de recursos
cênicos e literários cuja função primordial, além de provocar o riso espontâneo, é a de maravilhar os
sentidos do espectador. Vários desses recursos, como os disfarces e os duelos — além dos trocadilhos e
de outros expedientes de linguagem — são componentes de natureza lúdica, isto é, são pertinentes ao
domínio do jogo. O objetivo deste projeto é verificar, tendo como subsídio os estudos sobre o lúdico
desenvolvidos pelo historiador Johan Huizinga (1872-1945) — além de outros estudos sobre as relações
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entre arte e ludicidade e sobre a cultura barroca, na qual está inserida o autor —, a hipótese de que o
teatro de Antônio José da Silva configura-se tal qual um jogo, que se desdobra em competições amorosas,
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verbais e sociais. O corpus primário da pesquisa será constituído por três óperas joco-sérias do Judeu, a
saber: Esopaida ou vida de Esopo (1734), Os encantos de Medeia (1735) e Guerras do alecrim e
manjerona (1737). Cada elemento deste corpus representa, respectivamente, uma das três fontes
principais da produção teatral do comediógrafo: a literária, a mitológica e a histórica.

Palavras-Chave: Barroco; Intertextualidade; Jogo; Óperas Joco-sérias.


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INÊS DE CASTRO: O HISTÓRICO QUE SE FEZ LITERÁRIO

Diogo Ballestero Fernandes de Oliveira - UFRJ

Acenheiro, Manizola, Fernão Lopes e Rui de Pina fixaram para a História a tragédia de Inês de Castro. A
Literatura, desse registro, se apropriou. O presente estudo analisa o alargamento (daquilo que nos
cronistas citados é sugestão) da matéria histórica em matéria literária nos seguintes autores quinhentistas:
Garcia de Resende, Antônio Ferreira, Luís Vaz de Camões.

Palavras-chave: Inês de Castro, crônicas, ficcionalização.

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ANTÔNIO SALLES E A FORMAÇÃO DE PEDRO NAVA: ESTUDO SOBRE A


APROPRIAÇÃO DE UMA HERANÇA CULTURAL

Cleusa Ap. Fogaça da Silva – FURB


Maria da Conceição Lima de Andrade – UERN

Partindo da proposição segundo a qual o escritor é conduzido a agir como mediador das estruturas sociais
que chegam à objetivação, por meio do trabalho literário e, que a leitura de uma obra permite tirar
proveito das propriedades do discurso literário para introduzir uma socioanálise do mundo social, este
trabalho pretende compreender as influências de Antônio Salles, ensaísta, romancista e crítico cearense do
começo do século XX, na formação do médico e escritor mineiro Pedro da Silva Nava. Para tanto, além
do estudo dos volumes de memórias Baú de Ossos, Balão cativo e Chão de ferro de Pedro da Silva Nava,
recorreu-se à pesquisa bibliográfica, com análise documental e com fontes testemunhais. A análise revela
os modos por meio dos quais são mobilizadas estratégias de apropriação dos capitais cultural e social,
com a consequente transferência da herança simbólica do tio para o sobrinho, suprindo, assim, a
orfandade paterna do intelectual mineiro.

Palavras-chave: Pedro Nava. Antônio Salles. Literatura. Capital cultural. Capital social.

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A TOPOANÁLISE DOS SENTIDOS EM “O CORTIÇO”, DE ALUÍSIO DE AZEVEDO

Dalanna Carvalho Fonsêca– UEPB

Partindo do pressuposto que a topoanálise, termo que corresponde aos estudos do espaço de uma obra
literária, vem constituindo-se como um profícuo segmento de estudos na atualidade, os quais são
subdivididos em diversas categorias, é de objetivo deste trabalho, verificar como os gradientes sensoriais
humanos, mais conhecidos como os cinco sentidos, se apresentam na construção do espaço da obra
literária ―O Cortiço‖, de Aluísio de Azevedo. Esta proposta torna-se bastante pertinente haja vista
encontrarmos pouquíssimos autores que se detiveram a esta questão de observar como as personagens se
relacionam com o espaço, do ponto de vista sensorial, pois, ao analisarmos bem, verificaremos que é
impossível a construção do espaço humano em uma obra literária sem a presença do nosso aparelho
perceptivo. Para tal, utilizaremos os postulados teóricos de Borges Filho (2009) no que tange os estudos
relacionados à topoanálise dos sentidos, bem como os conceitos de topofilia e topofobia; Gaston
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Bachelard (2008), e seus postulados referentes à dialética do exterior e do interior; e Santo Agostinho
(2005), no que se refere à questão da relação da memória e os sentidos.
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Palavras-chave: Topoanálise, gradientes sensoriais, cortiço.


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CARACTERÍSTICAS DO ROMANCE HISTÓRICO EM NAS TUAS MÃOS,


DE INÊS PEDROSA

Tainara Quintana da Cunha - FURG

Muitos são os estudos que se ocupam em promover a aproximação entre Literatura e História, na maioria
das vezes, elaborados a partir dos romances que se pretendem históricos. Nessa perspectiva, dada a
abrangência destes conteúdos e as discrepâncias nas quais se embatem os estudiosos que se propõe a
explorar o assunto, para delimitar um conceito de romance histórico, bem como, os elementos que o
compõe, faremos uma breve explanação acerca da História e da Ficção para, logo após, valermo-nos dos
elementos elencados por Geog Lukács, teórico que dedica parte de sua obra para a investigação das
estruturas do romance histórico, sendo sua teoria muito utilizada no reconhecimento dessas narrativas. Na
esteira de tais investigações, este trabalho tem por objetivo explorar as características e peculiaridades
contidas no romance “Nas tuas mãos” (2005) da autora portuguesa Inês Pedrosa, e que nos conduzem
para que possamos analisá-lo sob a perspectiva os romances históricos tradicionais, ou seja, aqueles nos
quais a história extra-textual é utilizada como pano de fundo na narrativa, auxiliando no desenvolvimento
das ações das personagens e conferindo verossimilhança ao texto. Dessa forma, pretende-se ainda
explanar como os fatos elencados na historiografia portuguesa do século XX (especialmente o período
salazarista), referidos na obra, influenciam na formação da personalidade das personagens apresentadas
no texto em questão.

Palavras-chave: Literatura, História, Romance português.

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A MILITÂNCIA PELAS/NAS LINHAS DA FICÇÃO: RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E


POLÍTICA

Wagner Lacerda - UFJF

Quais são os limites entre o papel do escritor e a atuação do militante político? Afinal, o artífice das
palavras sempre poderá atuar no desmonte dos discursos autoritários e contestar as verdades tidas como
absolutas. No entanto, o escritor engajado não deve ser obrigado – ou se obrigar – a prescrever soluções
em sua obra. Partidarizar a literatura, transformando-a em veículo de transporte de dogmas e respostas
pré-concebidas é, paradoxalmente, supervalorizar e sub-valorizar a literatura, atribuindo a ela, de forma
exagerada, uma única função e afastando-a, exatamente, daquilo que ela tem de mais forte: o espaço
aberto para a pluralidade e para o outro. Assim, esse trabalho se insere no campo de debates da crítica que
se propõe a estudar as intrínsecas relações entre a literatura e a política, discutindo o processo de
construção das alegorias no universo ficcional e as múltiplas relações entre verdade e poder. Ocupa,
ainda, espaço de destaque no texto a reflexão sobre algumas questões que permeiam a construção de todo
um projeto literário que se propõe a refletir sobre a sociedade e a questioná-la. O referencial
teórico/crítico desse trabalho engloba conceitos e estudos de Walter Benjamin, Michel Foucault, Norberto
Bobbio e Peter Burke, dentre outros.

Palavras-chave: alegoria, projeto literário, verdade, poder

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PARIS É UMA FESTA: UM BREVE OLHAR SOBRE A OBRA AUTOBIOGRÁFICA ERNEST


HEMINGWAY

Natália Galdino Müller – UFJF


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Este trabalho pretende fazer uma sucinta análise sobre a obra autobiográfica do aclamado escritor norte-
americano Ernest Hemingway,membro importante do famoso grupo de escritores e artistas conhecidos
como ―The Lost Generation‖. Intitulada ―Paris é uma Festa‖ (1964), sua obra autobiográfica, de
publicação póstuma, revive os primeiros anos vividos pelo autor na França durante o inicio de sua
carreira. . A parir da análise desta obra, em particular, pretendemos avaliar o caráter confessional da
escrita comparando-o com as técnicas ficcionais de narração do autor, que muitas vezes estão, também,
impregnadas por fatos de sua vida particular. É também de nossa intenção confrontar os métodos usados
por ele, em sua autobiografia, com aqueles descritos por teóricos dessa modalidade como Phillipe
Lejeune, Doubrovisky.Tentaremos discutir, brevemente, algumas características do gênero autobiográfico
e contrapor, a referida obra, com o conceito de autoficção, através da elucidação do pacto autor/leitor aqui
estabelecido. E é através do esclarecimento acerca desse pacto que discutiremos a categorização dessa
obra que se ergue no limiar da ficção e da realidade.

Palavras-Chave: Ernest Hemingway, Autobiografia, Narrativa, Gênero.

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VARIAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS EM SOLO DE CLARINETA, DE ERICO VERISSIMO

Davi Siqueira Santos - UNESP/Assis

O escritor gaúcho Erico Verissimo (1905-1975) é autor de uma copiosa obra literária, compreendendo
romances, contos e narrativas de viagem. No entanto, em seus últimos anos de vida, concentrou-se na
produção de escritas memorialísticas e autobiográficas. São frutos deste trabalho os dois volumes de Solo
de clarineta; o primeiro publicado em 1973 e o segundo publicado em 1976, como obra póstuma. Ao
longo da leitura de ambos os tomos, percebe-se um permanente deslocamento que se faz em dois eixos: o
temporal e o espacial. Sendo assim, a narrativa compreende a infância de Verissimo no município de
Cruz Alta-RS, sua posterior mudança para Porto Alegre e, por fim, suas andanças pelo mundo como
turista inveterado. Por meio desse percurso, múltiplos lugares servem de cenário para as suas recordações
de vida, desde a casa dos pais, com a farmácia de Sebastião Verissimo, seus funcionários e sua clientela,
até a expansão por um ―Mundo velho sem porteira‖, título de um dos capítulos do segundo tomo da obra
em que o autor narra suas viagens por Portugal. Com esse mapeamento do percurso espaço-temporal em
Solo de clarineta, pretende-se observar melhor o método de narração dessas memórias, uma vez que os
múltiplos deslocamentos no tempo e no espaço originam novos acontecimentos e, consequentemente,
proporcionam novas histórias a serem relatadas pelo memorialista.

Palavras-chave: Memória; relatos de viagem; deslocamentos.

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O SELVAGEM DA ÓPERA: UM ROMANCE NO LABIRINTO DO SIMULACRO

Rebeca Alves – UNESP/ASSIS - FAPESP

A literatura de Rubem Fonseca (1925-), de maneira geral, realiza um retrato da época contemporânea,
sobretudo no enfoque prestado ao aspecto violento do mundo urbano. Por outro lado, além do privilégio
dado ao caos das grandes cidades, o autor apresenta outras peculiaridades literárias que também nos
possibilitam verificar sua afinidade com a ficção atual: o apelo à linguagem coloquial, à intertextualidade,
à tendência em romper com a pureza genérica, inovações na trama policial, entre outras características.
Para essa comunicação, no entanto, propomos uma leitura de O selvagem da ópera (1994), romance cujo
narrador anônimo assume o papel de biógrafo do operista brasileiro Antônio Carlos Gomes (1836-1896),
vislumbrando, por meio dos dados referentes à vida do músico, ver seu trabalho nas telas de cinema; ele
mesmo afirma tratar-se de um texto que servirá de base para um filme de longa metragem. Além disso,
esse narrador mostra um olhar inovador sobre os dados históricos e, com isso, trata de questões
relacionadas à construção identitária na arte brasileira. A partir dessa obra, portanto, pretendemos analisar
o jogo de simulacros realizado no romance, já que o narrador nos prepara armadilhas para nos fazer
pensar que estamos diante de um material biográfico, ou mesmo de um texto cinematográfico.
Concomitante à análise formal, devemos considerar as implicações temáticas que, de maneira
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equivalente, propõem pensar a figura de Carlos Gomes e seu momento histórico.


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Palavras-chave: Simulacro; mise en abyme; cinema; biografia; identidade.

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O AMANUENSE BELMIRO E A ESTILIZAÇÃO DO REAL

Alex Alves Fogal - FHA

O romance O Amanuense Belmiro (1937) do autor mineiro Cyro dos Anjos, é uma obra literária
enquadrada na chamada geração de 30 do modernismo brasileiro, contexto no qual a criação ficcional do
autor foi usualmente considerada pela crítica como representativa de uma vertente intimista. Contudo,
pretendemos apresentar uma visão distinta, uma vez que a estrutura narrativa do livro parece apresentar
um método narrativo ambíguo, que produz diferentes modulações diante de um mesmo evento narrado.
Tal particularidade pode ser notada quando o narrador do romance alterna seu estilo de narrar entre a
utilização de uma perspectiva mais subjetiva e lírica e outra mais objetiva e direta, sendo que acreditamos
ser possível observar um movimento dialético entre as duas possibilidades narrativas no interior do
romance, já que nenhuma delas se manifesta isoladamente. Assim sendo, objetivamos demonstrar tal
composição estética a partir da maneira pela qual o romance formaliza as representações da cidade de
Belo Horizonte no plano ficcional. Para alcançar tal meta, foi necessário utilizar dois tipos de estudos, os
quais, segundo acreditamos, estão em consonância. Uma dessas linhas de interpretação diz respeito às
contribuições teóricas que auxiliaram na questão da representação da realidade no plano literário,
enquanto a outra diz respeito aos estudos que privilegiam a relação entre literatura e cidade, ou melhor,
entre o plano ficcional e o espaço de maneira geral. A obra apresentou-se como um instigante objeto de
pesquisa tanto pela sua composição formal quanto pelo modo segundo o qual o real é estruturado na
narrativa. Já em relação à questão da imagem da cidade expressa no plano ficcional, nota-se que as
relações entre as imagens proporcionadas pela ficção e as que a realidade nos apresenta, proporcionam
possibilidades múltiplas de estudos e análises a respeito da capital mineira.

Palavras-Chave: O Amanuense Belmiro, método narrativo, Belo Horizonte

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QUEM CALA, CONSENTE? UMA LEITURA DE CALÚNIA E DE THE HANDMAID’S TALE,


SOB A PERSPECTIVA DO SILÊNCIO.

Relines Rufino de Abreu – UFV


Maria Cristina Pimentel Campos - UFV

Esta comunicação contempla comparativamente as obras The Handmaid’s Tale (1985), de Margaret
Atwood e Calúnia (1981), de Lillian Hellman, sob o olhar que procura perscrutar o silêncio como
promotor de significação, principalmente no que se refere aos papéis sociais representados pelas
personagens femininas. As produções literárias analisadas neste estudo são manifestações onde o poder
da palavra, enquanto elemento constituidor de realidades, encontra espaço de destaque. As relações de
poder e a política do silêncio impedem que a voz do indivíduo desviante se manifeste, expondo diversas
nuances das subjetividades das personagens. Tendo em mente as considerações de Eni Orlandi acerca
dessa temática, observa-se a implantação da ―política do silêncio‖ por diferentes formas, as quais atuam
juntas nas obras ao mesmo tempo em que apresentam diversos métodos de aplicação. Para propor essa
leitura comparativa, foram relevantes as considerações de Mikail Bakhtin, Kathryn Woodward, Teresa de
Lauretis e outros estudiosos que compõem a fortuna critica dos escritores.

Palavras chaves: censura, desviante, ideologias, vozes.

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ROSA E MIA COUTO: A POÉTICA DA RESISTÊNCIA

Francis Paulina Lopes da Silva - UNEC


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Leitura da escritura poética de Guimarães Rosa e Mia Couto, como elemento de resistência de toda forma
de opressão colonialista, sugerindo o novo, a partir da tradição, da cultura e identidade do povo. Em Rosa,
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alquimista da palavra, a revitalização da linguagem, pela plasticidade verbal, inspirada na fala sertaneja,
resgatando, em ―estórias‖, valores, crenças e anseios da gente do sertão. Breve leitura de O último voo do
Flamingo, de Mia Couto, contextualizado em um momento de reestruturação social e política de
Moçambique, nos anos de guerrilha após a guerra civil e a Independência do país. Ficção e realidade se
fundem em mistério e ironia, impregnados de um realismo fantástico, retratando a cultura mais profunda,
a alma do país em conflitos pela libertação. A poética da contaminação brasileira, em Mia Couto: mais
que literário, um processo social aprendido dos que vêm de outra cultura. Em ambos, exímios contadores
dos casos do povo, a presença da língua como instrumento de humildade, de aprendizagem da oralidade,
na ficção escrita por um português arrevesado, misturado com a terra – o ―português corta-mato‖.

Palavras chave: Identidade cultural; Tradição e modernidade; Literatura e sociedade. Linguagem.

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O SURREALISMO MEXICANO DE OCTAVIO PAZ

Henrique do Nascimento Gambi - UFMG

Durante sua juventude, Octavio Paz entra em contato com o capítulo V do livro L’Amour fou, de André
Breton. Trata-se da descrição que o autor francês faz de sua subida ao Pico do Teide em Tenerife.
Segundo Paz, estas páginas abriram para ele o caminho para a modernidade. Neste capítulo, Breton insere
diversos princípios do surrealismo, tais como a comunhão entre a natureza e a pessoa amada, a
valorização do amor como princípio da busca do maravilhoso no cotidiano, dentre outros. Neste trabalho,
pretendemos partir de alguns desses elementos para discutir de que forma eles foram incorporados à
escrita de Octavio Paz. Não se trata, entretanto, de apenas apontar a maneira pela qual o escritor
mexicano incorporou os elementos do movimento de vanguarda francês. O sentido desta pesquisa será
outro: investigar os traços ou resíduos da cultura mexicana presentes em alguns de seus textos, traços ou
resíduos que agiriam como uma força de resistência dessa influência, contribuindo para a expansão de sua
própria criatividade. Para tanto, serão utilizados, como corpus para nossa análise, os seguintes livros do
escritor mexicano: Aguila o sol? , pedra do sol e Labirinto da solidão.

Palavras-chave: L’Amour fou; vanguarda; resíduos.

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SOLDADOS DE SALAMINA: UMA META-FICÇÃO HISTORIOGRÁFICA?


Rosana Silva da Mota - UFF
A narrativa espanhola contemporânea ao longo dos séculos foi adquirindo várias características de
acordo com as gerações de autores representantes de cada época histórica. No caminho seguido pela
escritura, encontramos diversos nomes que se tornaram imortais no cenário literário mundial, uma
importante obra foi Soldados de Salamina do escritor e jornalista espanhol Javier cercas. Este romance
publicado no ano de 2001, retrata um período difícil para a História de Espanha: A guerra Civil - 1936 -
1939 -. Cercas expôs suas críticas a respeito dos períodos antes, durante e pós-guerra, uniu o relato
verídico com o romance histórico, buscando apontar as conseqüências para as pessoas que a vivenciaram
e seus herdeiros que carregaram a nefasta derrota da liberdade. Neste contexto se desenvolverá esta
comunicação que abordará a questão do gênero na narrativa histórica, tendo norteador Soldados de
Salamina, e a dificuldade de classificação de seu gênero, pois sua narrativa aponta para uma confluência
de diversos subgêneros. Nesta obra encontramos as seguintes características: intertextualidade, discursos
polifônicos e meta-narratividade. O autor oferece ao leitor a instigante oportunidade de acompanhar a
montagem de uma trama onde autor e personagem se confundem em alguns momentos, já que pertencem
ao mesmo discurso, e ajudam no desenvolvimento da história.
Palavras-chave: Javier Cercas, literatura espanhola contemporânea, história e memória.

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BANDEIRA E MÁRIO: TROCA EPISTOLAR E CRÍTICA LITERÁRIA

Marcia Regina Jaschke Machado - USP

A troca epistolar entre escritores que integraram o Modernismo brasileiro teve um papel fundamental no
processo de legitimação desse movimento literário, principalmente no que toca a década de 1920. O
crescente número de correspondências dessa parcela de intelectuais que têm vindo a público nos últimos
tempos oferece a dimensão desse processo. É possível perceber que entre os missivistas estabeleceu-se
uma prática de circulação de seus textos ainda em processo de elaboração e conseqüente troca de idéias a
seu respeito. Tal prática foi responsável pelo surgimento de certa ―crítica literária‖ produzida no âmbito
privado das cartas. Nesse sentido, a comunicação aqui proposta tem como objetivo apresentar algumas
características dessa ―crítica‖ presente na correspondência de Mário de Andrade com Manuel Bandeira
durante os anos de 1920. Assim como os textos de crítica produzidos pelos próprios escritores, publicados
nos jornais e revistas da época, essa ―crítica‖ apresenta um caráter peculiar: mostrava-se um importante
instrumento de reflexão conjunta sobre os novos caminhos do fazer literário daquele momento.

Palavras-chave: Modernismo brasileiro; crítica literária; epistolografia; Mário de Andrade; Manuel


Bandeira.

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MEMÓRIAS REVELADORAS

Cristina Vasconcelos Machado - UFJF

O presente trabalho tem por objetivo analisar a construção / arquitetura da obra Um rio chamado tempo,
uma casa chamada terra (2003), do escritor moçambicano Mia Couto, enfocando o resgate de memórias
realizado pelo personagem Mariano através das cartas recebidas após a suposta morte do avô Dito
Mariano. Pretende-se demonstrar que essas memórias resgatadas, além de serem reveladoras de segredos
familiares, permitem uma reflexão sobre como conceber os costumes tradicionais familiares em tempos
modernos. Além disso, procurar-se-á compreender como a criação literária, ao se empenhar em recuperar
memórias individuais, mesmo que sejam fictícias, possibilita o estabelecimento de um arquivo, e faculta a
seu autor o papel de arconte; guardião e hermeneuta. A literatura ao ser analisada como um arquivo
permite que certas memórias não sejam silenciadas, admitindo a equivalência a um vaga-lume em uma
floresta de produções. Essas considerações são fundamentadas nas considerações de Fonseca (2008),
Macedo (2007), Didi-Huberman (2011), dentre outros.

Palavras-chaves: Memória. Arquivo. Mia Couto.


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“IT WAS SO FAMILIAR THAT WAS WHAT MADE IT FEEL SO TRULY STRANGE”:
QUESTÕES SOBRE O ESTRANHO EM CORALINE

Maiara Alvim de Almeida – UFJF

Em seu ensaio ―O estranho‖, de 1919, Freud discorre sobre o conceito que dá nome ao ensaio, cujo termo
original em alemão, unheimlich, seria usado para se referir a tudo aquilo que um dia fora familiar, é
recalcado, e volta como algo estranho, sinistro e não familiar. O próprio prefixo un-, para o psicanalista,
já seria um sinal de repressão. Nesse ensaio, Freud também toca em pontos que causam a sensação do
estranho, tais como autômatos, repetições/duplos e, tomando como exemplo o conto Der Sandmann, de
Hoffmann, o medo da perda dos olhos – medo esse identificado com a castração, e um dos medos
primários das crianças. Assim, tomando como base as reflexões de Freud e seu conceito de estranho, o
presente trabalho se propõe a fazer uma leitura da novella Coraline, de Neil Gaiman (2002). A obra em
questão aborda diversos pontos pertinentes se analisados sob o ponto de vista psicanalítico. Partindo de
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tais reflexões, propõe-se a também esboçar uma hipótese sobre o papel do medo dentro das histórias
infantis, bem como apontar como essa é uma tendência crescente em obras do gênero.
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Palavras-chave: Coraline, Neil Gaiman, Freud, Unheimlich, Literatura infantil


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UM DIÁLOGO ENTRE A POESIA DE VINÍCIUS DE MORAES E A CULTURA RELIGIOSA

Haudrey Germiniani Calvelli – Faculdade Dinâmica Vale do Piranga


André Dias - Faculdade ASMEC

Uma obra literária diz muito sobre o seu tempo. Os temas e ressonâncias podem ser os mesmos, porém as
perspectivas de discussão estão sempre ligadas à época e à subjetividade do autor em questão. Os
elementos religiosos que aparecem nas diversas obras literárias ou artísticas podem ser manifestações
críticas ou, por outro lado, consonantes com as idéias em vigor. A Literatura registra as nuanças da alma
humana, revela a necessidade humana de transcendência, da busca do divino. Na busca do equilíbrio da
vida humana, é na religião que o homem encontra possibilidade de construir uma base segura para viver e
articular algumas respostas às muitas perguntas que o cercam em toda a existência. Na Literatura, as
diversas perguntas e respostas manifestam desejos e conflitos do homem em sua relação à divindade.
Assim, a Literatura expressa através da representação, em suas múltiplas instâncias artísticas, uma
situação reflexiva sobre sua herança cultural religiosa. Na perspectiva do artístico a Literatura traz o
modo de ver e a vivência do religioso pelo humano. Ao incorporar temas ligados à religião, a Literatura
traz uma discussão e interpretação dos discursos religiosos. O dialogo entre a Literatura e a religião
aparece em diversas manifestações artísticas. Muitos estudiosos vêm refletindo sobre as especificidades
de ambas as partes, cujas contribuições ocorrem em via dupla. Neste trabalho pretendemos apresentar um
diálogo entre poesia de Vinicius de Moraes e a cultura religiosa brasileira.

Palavras-chaves: Religiosidade, significados e poesia.


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DESTERRITORIALIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE: CORPOS VISÍVEIS E INVISÍVEIS EM


CISNEROS E MUKHERJEE
Lúcia Helena de Azevedo Vilela – UFV

Tendo como foco as protagonistas de Sandra Cisneros em ―Woman Hollering Creek‖ e de Bharati
Mukherjee em ―Happiness‖, parte-se da noção de que o corpo pode operar como metáfora para a cultura a
fim de lançar-se um olhar sobre a narrativa das personagens no espaço de trânsito entre o México e os
Estados Unidos, no texto de Cisneros e entre os universos das culturas indiana e norte-americana na
estética híbrida de Mukherjee. Percebe-se que os sujeitos das obras selecionadas estão em constante
movimento, uma vez que o seu espaço é como uma ilha dentro de uma cultura dominante, mas seus
corpos refletem a visão de mundo da cultura patriarcal de onde se deslocaram. A dimensão política da
análise se constrói sobre o fato de que os corpos dessas duas mulheres desterritorializadas, que se incluem
em minorias étnicas nos Estados Unidos, são aqui vistos como tendo sido duplamente inscritos por
estruturas de poder, ou seja, trazem consigo traços de seus países de origem e do espaço de trânsito.
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O ESPECTADOR MODELO EM “O HOMEM E O CAVALO”, DE OSWALD DE ANDRADE

Flávia Almeida Vieira Resende – UFMG

Este artigo tem por objetivo fazer uma análise semiótica do texto dramático ―O homem e o cavalo‖, de
Oswald de Andrade. A análise busca apontar no texto em que medida e como ele prevê o seu
leitor/espectador, conduzindo-o e manipulando-o, e em que medida ele deixa espaços para que o
leitor/espectador se manifeste e seja também construtor da obra dramatúrgica. Nesse sentido, o conceito
de ―leitor modelo‖, de Umberto Eco, sua transposição para a semiótica teatral, por Marco de Marinis, no
conceito de ―espectador modelo‖, e outros teóricos da semiótica teatral, como Anne Ubersfeld e Patrice
Pavis, serão fundamentais para a análise. Intentamos, ainda, perceber como essas escolhas formais dizem
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respeito às escolhas éticas presentes na peça. ―O homem e o cavalo‖, peça publicada em 1934, prevê uma
relação menos hierárquica entre palco/plateia, e é marcado por uma ideologia política clara, de aclamação
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ao regime socialista, e isso faz diferença no modelo de espectador que é estabelecido pelo texto. A
identificação dessas marcas do leitor/espectador modelo no texto original de Oswald de Andrade e dos
espaços abertos que o texto deixa para a encenação permite pensar na possibilidade de uma
reconcretização do texto hoje, mesmo que a propaganda ideológica do texto nos pareça desatualizada.

Palavras-chave: teatro político, leitor modelo, semiótica teatral.


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LUIZ GAMA: O PRECURSOR DE UMA POÉTICA NEGRA

Shirley Ferreira - CESJF

Este artigo apresenta um pequeno estudo sobre a vida e a obra de Luiz Gama, mostrando que mesmo
tendo uma trajetória marcada por acontecimentos dramáticos, esse autor conseguiu construir uma
literatura de consciência negra, movido pela obstinação de livrar o seu povo do cativeiro. O tom
denunciador de seus textos trouxe para Gama o reconhecimento momentâneo da sociedade oitocentista,
entretanto, o poeta recebeu criticas conservadoras logo após, sendo desconsiderado pela História da
Literatura Brasileira, que prestigiava a ideologia dos europeus, levando-o ao esquecimento, na maior
parte do século XX. Mas com a aparição de escritores negros e novos sujeitos sociais, no final do século
passado, interessados em outra estética literária, Luiz Gama passou a ser considerado, como o precursor
de uma poética que afirma a identidade africana.

Palavras-Chave: Literatura Brasileira, Poesia Negra, História da Literatura

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O HAMLET DE CARL SCHMITT: LITERATURA E POLÍTICA NO CREPÚSCULO DOS


ESTADOS

Ramon Mapa da Silva - Faculdade Dinâmica de Ponte Nova

O Hamlet de Shakespeare é objeto de um sem número de leituras. Carl Schmitt enxergava em Hamlet
uma lente por onde se poderia vislumbrar a guinada essencial da Inglaterra em sua conquista dos mares
do mundo e as flutuações que acometeram a soberania inglesa nessa época. Para Schmitt, Shakespeare se
inspirara na figura histórica do Rei James I para dar vida a seu Hamlet, o que possibilitou a formação do
mito do personagem, uma vez que, segundo o autor, é preciso um fundamento histórico para converter um
personagem ou narrativa em mitos. As disputas confessionais que tomavam conta da Inglaterra nesse
período também contribuíram para a obra de Shakespeare, como Schmitt demonstra na análise da relação
de Hamlet com o fantasma de seu pai, que poderia ser visto como um mensageiro espiritual ou um
demônio tentador, dependendo da fé que se professasse. Tais disputas confessionais e teológicas teriam
feito com que o Hamlet histórico, o desafortunado Rei James I, esquecesse de exercer a soberania em seu
reino, se perdendo em decisões vacilantes e pouco efetivas. A isso Schmitt chamou de ―hamletzação do
Estado‖, fenômeno que, segundo ele, se generalizou na segunda metade do século XX, o século do ―fim
da estatalidade‖. Schmitt oferece então uma releitura de Hamlet, estabelecendo fortes relações entre a
literatura, a política e o direito para uma compreensão da soberania estatal em nossa época.

Palavras-chave: mito, política, soberania, estatalidade, hamletzação

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O RIO DE JANEIRO NO CENÁRIO DISCURSIVO: AS RUAS-TEXTO DE JOÃO DO RIO

Mariana Pereira Dias - UFMG

A modernização do Rio de Janeiro no início do século XX foi facilitada pela divulgação da imprensa nos
jornais, meio de comunicação iniciador da crônica, que mais tarde viria a ser gênero literário. É desse
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gênero que se vale João do Rio para construir literariamente uma visão sobre essa nova cidade que
emergia. Renato Cordeiro Gomes acredita que escrever a cidade, como faz João do Rio, é construir um
livro de registros sobre ela, uma possibilidade de materializar sua história através da memória dos
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escritores, e onde cada escritor, embora tenha uma leitura própria da cidade, se utiliza de uma mesma
simbologia que Gomes define como a tensão entre racionalidade geométrica e emaranhado de existências
humanas. A simbologia da cidade é o discurso que a descreve, não reproduzindo o visível, mas tornando-
a visível pelos mecanismos da linguagem nas dobras da linguagem transparente. É esse discurso que
persegue o texto de João do Rio, pervertendo o ideal civilizatório da modernidade do Rio de Janeiro e
resgatando o que a história expulsou, colocou fora de cena, para transformar em objeto de prazer. Dessa
maneira é que o repórter-jornalista se funde ao flâneur e passeia pelas ruas do subúrbio do Rio para
identificar as ―pequenas profissões‖ que por lá existem para sobrevivência desses que foram expulsos da
Avenida Central, a fim de fixá-las em suas crônicas como parte de sua cidade-discurso.

Palavras-chave: Rio de Janeiro, cidade, rua

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A LITERATURA COMO RESGATE DA MEMÓRIA HISTÓRICA DE UM POVO NA OBRA A


MURALHA

Samantha Borges - UFSM

O artigo tem como objetivo analisar a obra A Muralha, de autoria de Dinah Silveira de Queiroz, lançada
no ano de 1954, como forma de homenagem e comemoração aos 400 anos da fundação da cidade de São
Paulo. O romance narra a história de lutas, conquistas e massacres do povo paulista, entre o final do
século XVII e início do século VXIII. Apresentando em sua narrativa os principais aspectos do estilo do
romance histórico ao molde Lukacsiano, o artigo se volta às teorias do romance histórico e às relações e
influências que a literatura mantém com as perspectivas teóricas da memória e da história. Para
fundamentar o referencial teórico utilizam-se autores como Lukács, Cândido, Yerushalmi, Jelin, entre
outros. Através desse contexto, busca-se tecer considerações sobre de que maneira a obra se transforma
em uma ferramenta de resgate da memória histórica do povo paulista, trazendo à luz aspectos que se
fixam como características da identidade paulistana.

Palavras-chave: Romance histórico; memória; identidade.

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A POLÍTICA E O SOCIAL NA NARRATIVA DE JOSÉ GODOY GARCIA

Ionice Barbosa de Campos – UFU


Eduardo José Tollendal – UFU

José Godoy Garcia é um autor goiano que ainda não teve seu espaço reconhecido nacionalmente. Entre
suas onze publicações, desde 1948 até 1999, lançou uma romance intitulado O Caminho de Trombas
(1966) que narra a história de um povo humilde tentando conquistar seu espaço na cidade e ao mesmo
tempo manter sua posição na zona rural. Estes acontecimentos são narrados a fim de demonstrar o auge
do crescimento de Goiânia apresentando uma linguagem simples e objetiva, trazendo um assunto
universal para dentro da história regional. Nossa finalidade nessa comunicação é de apresentar a narrativa
godoyana no cenário acadêmico de forma a evidenciar que este é o único romance de José Godoy Garcia
e carrega um teor social, político e humanitário muito grande, sendo que podemos considerá-la uma obra
moderna. Assim também se faz toda sua obra poética e literária em geral, buscando mostrar ao leitor o
magnetismo existente entre o homem e a natureza, entremeado pela ação da cultura e conhecimentos
populares. Existem ainda outros tantos aspectos que se fazem notar no romance, que serão demonstrados
na apresentação do trabalho. Sedimentar-nos-emos nas orientações teóricas de Massaud Moisés (1978) e
Antonio Candido (2002) para explicar as características encontradas na narrativa de Godoy Garcia e
identificarmos os elementos que a constituem como uma obra importante para a literatura produzida em
Goiás e também a nível nacional.
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Palavras-chave: romance histórico, literatura em Goiás, Modernismo.


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A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO EM LINHA DO PARQUE, DE DALCÍDIO JURANDIR

Alinnie Santos - UFPA/CAPES


Orientação: Profª Drª Marlí Tereza Furtado -UFPA

O romance proletário Linha do Parque foi publicado, sob o enfoque da estética do Realismo socialista, no
ano de 1959 e narra a trajetória de duas gerações do movimento operário que atuou na cidade de Rio
Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, durante a primeira metade do século XX. Nesse livro, de
autoria do escritor paraense Dalcídio Jurandir, membro ativo do Partido Comunista Brasileiro (PCB),
podemos perceber o destaque dado pelo autor às personagens femininas, pois tais são apresentadas, no
decorrer da história, como operárias que trabalham intensamente em prol dos ideais do movimento, como
também de melhores condições de trabalho nas fábricas. Esse trabalho objetiva, portanto, discutir a
representação do feminino no romance Linha do Parque, dedicando-se principalmente à análise das
personagens Julieta, Marcela e Maria, a fim de investigar a sua importância para o desenvolvimento de tal
narrativa, bem como refletir sobre as manifestações ideológicas presentes nessa obra.

Palavras-chave: personagens femininas; movimento operário; manifestações ideológicas


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ROMEU E JULIETA: DIÁLOGOS ENTRE LITERATURA E DANÇA

Michelle Aparecida Gabrielli – UFV


Sirlei Santos Dudalski – UFV

O presente trabalho visa a analisar o processo de transposição de linguagem entre literatura e dança, mais
especificamente de uma peça teatral para um balé clássico. Para este intento, escolheu-se a peça Romeu e
Julieta, de William Shakespeare. Esta obra pode ser considerada como a maior história de amor de todos
os tempos e, consequentemente, foi transposta para diversas linguagens artísticas. Na área da dança,
Romeu e Julieta foi traduzida principalmente para a linguagem do balé clássico embora outros estilos de
dança também a tenham tido como cerne. A versão mais conhecida no balé e, também, nosso objeto de
estudo, é a que foi produzida pela The Royal Ballet com coreografia de Kenneth Macmillan, tendo como
trilha sonora as composições de Serge Prokofiev e como protagonistas os bailarinos Rudolf Nureyev e
Margot Fonteyn. Portanto, para efeito de análise utiliza-se a teoria semiótica de Charles Sanders Peirce,
na qual, pretende-se compreender os aspectos e as transformações da peça teatral para a obra coreográfica
a partir de elementos como figurino, cenário, objetos de cena, personagens e o movimento em si.

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UMA REJEIÇÃO À TRAGÉDIA: UMA NOVA MÎ(ME)SE EN CÈNE NO TEATRO DE NELSON


RODRIGUES

João Felipe Barbosa Borges (UFV)

A obra de Nelson Rodrigues gira em torno de alguns temas centrais, como amor e morte, sexo e traição,
violência e transgressão, que, desgastados no cenário teatral europeu e brasileiro, frequentemente apagam
seu caráter de originalidade. Contudo, talvez não seja pelo conteúdo, mas pela forma, que o dramaturgo
atinja sua maior inovação, trazendo ao palco uma tragédia que, ao mesmo tempo em que rejeita seu
modelo fundador, vai contra a uma tragédia, por volta dos anos de 1930 e 1940, ainda presa aos preceitos
clássicos de objetividade e realidade. Nesse sentido, pretendo identificar, em Vestido de noiva, elementos
que afastam a peça do modelo clássico de tragédia, e instauram uma nova mîse en cène no teatro
brasileiro, liberta da prisão formal que representou durante tanto tempo o real. Para tanto, tomo como
principais referências para a leitura da peça, as teorias de Szondi (2001) e Guinsburg (1988), sobre a
semiologia do teatro e o drama moderno, e as teorias de Auerbach (2004) e Lukács (2000), sobre a
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representação da realidade.
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Palavras-chave: Nelson Rodrigues; tragédia; realidade.


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O TEATRO COMO HISTÓRIA E SUBVERSÃO: O DISCURSO POPULAR NO DRAMA


SHAKESPEARIANO

Deize Mara Ferreira Fonseca – UFRJ


Marlene Soares dos Santos – UFRJ

A obra de William Shakespeare (1564-1616) ocupa um lugar central no cânone literário do Ocidente,
destacando-se nas poesias lírica, narrativa e dramática. A discussão política tem um espaço privilegiado
no teatro shakespeariano, em especial nas peças baseadas nas histórias da Inglaterra e de Roma. As peças
históricas inglesas funcionam como instrumentos de resgate da memória coletiva do povo inglês, e,
juntamente com as peças romanas, assumem um caráter didático, ao deslindarem as formas como o poder
é disputado em uma sociedade, aproveitando-se da identificação do público elisabetano com o ideário
romano, contribuindo dessa forma para a construção da identidade nacional. Embora esta dramaturgia
seja normalmente pensada como locus para descrever os embates entre governantes e demais lideranças
políticas, é possível destacar momentos em que o discurso e as ações populares vêm à tona. Em Henrique
VI, parte II, temos o rebelde Jack Cade, uma voz popular inicialmente contestadora que acaba seduzida e
posteriormente silenciada pelo discurso do poder. Em Julio César e Coriolano, as vozes da plebe surgem
para mudar os rumos dos governos e contribuem para a selar os destinos dos protagonistas. Shakespeare,
ao deslocar no tempo e/ou no espaço as suas tramas, aproveita para pôr em pauta questões políticas
sensíveis à sociedade elisabetana, como os jogos do poder e a participação popular. Cabe-nos desvendar
as vozes ocultas nesta dramaturgia.

Palavras-chave: teatro elisabetano, poder, vozes populares

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O FALSO EM RICARDO PIGLIA E SILVIANO SANTIAGO

Ananda Nehmy de Almeida – UFMG

Em Os moedeiros falsos, André Gide associa os conceitos de ―família‖, ―bastardia‖ e ―ética‖ ao elaborar
a trama de um esquema de falsificação de moedas que se desenvolve num internato de garotos de famílias
tradicionais francesas. Os escritores Ricardo Piglia e Silviano Santiago retomam a ideia de ―falso‖,
associada à concepção de ―bastardia‖, como estratégia política e cultural de inserção da sua produção
literária nos cânones nacionais e na Literatura Universal. O ensaio A vida como literatura: O amanuense
Belmiro e o romance Em Liberdade, ambos de Silviano Santiago, apresentam os desdobramentos do
conceito de falso nas teorias e produções literárias referentes ao pastiche, aos gêneros autobiográfico e
romance memorialista. Em O último leitor e na ficção O nome falso: homenagem a Roberto Arlt, Ricardo
Piglia problematiza a noção de autoria e as figuras do leitor e do autor a partir da noção de falso em
diálogo com a obra de Roberto Arlt. O objetivo desse artigo é pesquisar como os ensaios e obras literárias
de Silviano Santiago e Ricardo Piglia abordam o conceito de falso a partir de uma estratégia estética,
política e cultural de produção literária que realiza a crítica às restrições estabelecidas pelos meios de
seleção dos cânones literários locais e universal.

Palavras-chave: falso, pastiche, leitor e autoria.

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O REGIME DIURNO DE IMAGEM EM VIDAS SECAS E BICHOS: UMA LEITURA ATRAVÉS


D‟AS ESTRUTURAS ANTROPOLÓGICAS DO IMAGINÁRIO
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Maria do Socorro Pereira de Almeida – UFPB


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Com esta pesquisa busca-se, através das obras Vidas Secas, de Graciliano Ramos e Bichos, de Miguel
Torga, a representação do regime diurno de imagem verificável nas manifestações fenomenais da
natureza, na representação animal e humana. O foco de análise recai sobre os símbolos vistos como
positivos e negativos que pululam ―As faces do tempo‖ e ―O cetro e o Gálio‖, propostos por Gilbert
Durand, em As estruturas antropológicas do imaginário e que se fazem presentes na relação homem–
natureza. Seguindo essa orientação teórico-metodológica conclui-se o estudo examinando como esses
símbolos, imaginariamente e ontologicamente constituintes da essência humana, estão representados por
Ramos e Torga.

Palavras-chave: Homem. Imaginário. Natureza Símbolos. Animais.

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LITERATURA, HISTÓRIA E CATOLICISMO POPULAR EM GOIÁS

Leila Borges Dias Santos – UFG

O presente trabalho objetiva investigar contos de Bernardo Élis relacionados à devoção católica popular
em Goiás com contribuições entrelaçadas advindas da crítica literária e da história do catolicismo. Trata
da influência mútua entre a literatura e a compreensão histórica do catolicismo popular local, pelo fato de
Literatura e História em conjunto permitirem a análise da influência literária e do meio circundante sobre
a estrutura estética dos contos. Esse estudo, portanto, segue a crítica de Antonio Candido que considera a
dimensão histórica como imprescindível para a compreensão das motivações intrínsecas à obra literária e
o fator social como veículo explicativo da estrutura da obra, conciliando fatores externos e internos. A
eficácia literária apontada por Candido remete à análise de Sandra Jatahy Pesavento devido às
aproximações entre Literatura e História, pois ambas seriam advindas do universo das representações
humanas, sejam elas provenientes da ficção ou de fontes documentais, mas que, enfim, desembocam na
capacidade humana para representar a realidade. A História seria então similar à Literatura ao apresentar
narrativa próxima do real e ao construir universo com lógica própria. A primeira baseada no vivido e a
segunda na ficção. E apesar de ambas se utilizarem de estratégias retóricas, como diz Pesavento, a
primeira contaria com preocupações teóricas e a segunda com preocupações estéticas. Os contos
selecionados de Bernardo Élis são A virgem Santíssima no quarto de Joana, O engano do seu vigário,
Missa de primeiro de ano de Caminhos e Descaminhos, Noite de São João, de Ermos e Gerais e O padre e
um sujeito metido a rabequista, de Veranico de Janeiro.

Palavras-chave: Literatura, História, Catolicismo popular.

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DO AMOR E DA MORTE: CONSIDERAÇÕES SOBRE A FOTOGRAFIA EM ROLAND


BARTHES E ITALO CALVINO

Claudia Maia –UFMG

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma leitura do conto ―A aventura de um fotógrafo‖, de Italo
Calvino, a partir das reflexões apontadas por Roland Barthes em A câmara clara, inclusive aquelas que
desenvolve tomando como mote o conto de Calvino. Originalmente publicado como ensaio em 1955, com
o título ―Le follie del mirino‖, esse conto foi reunido depois no livro Os amores difíceis, juntamente com
outros textos que trazem no título o termo ―aventura‖, utilizado por Barthes para definir sua experiência
com a fotografia – a atração que certas fotos exercem sobre ele é como uma espécie de ―aventura‖, no
sentido mesmo do que ―advém‖, do que ―anima‖. O crítico francês comenta sobre a fotografia partindo de
duas experiências: a do sujeito olhado e a do sujeito que olha, ao passo que a personagem de Calvino vive
a experiência de um fotógrafo, ainda que amador. A despeito dessa diferença, ambos buscam a essência
da fotografia, o traço que lhe é peculiar, fundamental, propondo, assim, cada um deles, uma teoria sobre a
imagem e sua relação com o humano.

Palavras-chave: fotografia, literatura, Roland Barthes, Italo Calvino.


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A VOZ DAS MULHERES NA POESIA DE AUTA DE SOUZA

Karlla Christine Araújo Souza - UERN

O ambiente de convívio de uma mulher oitocentista como foi Auta de Souza era, predominantemente, de
relações femininas. A poeta norte-rio-grandense conseguiu romper essas fronteiras e conviveu com
muitos homens, seus quatro irmãos e os amigos políticos e literatos deles, bem como os homens que
participavam do Clube do Biscoito. Ainda assim, a presença das amigas do internato, das moças e
mulheres de sua província, das colegas de Macaíba, das acompanhantes de viagens e até da sua avó
Dindinha, foi traço marcante de seu livro Horto. Ao transcendermos a leitura católica que comumente é
feita da poeta, podemos perceber que Auta fala por essas mulheres, sem se colocar como elas e, ao
mesmo tempo, traduzindo seus anseios, angústias, sonhos e desejos, poetizando o universo feminino
como nenhum homem de sua época conseguiu fazê-lo. Auta realizou feitos inéditos em comparação a
estas mulheres, publicava sua escrita em revistas e periódicos importantes, ainda que utilizando
pseudônimo, e publicou um livro de poesia que foi reconhecido em todo o país. A análise dos poemas
―Versos Ligeiros‖, ―Zirma‖ e ―A Noiva‖ nos revela sua poesia não apenas como modelo católico a ser
seguido pelas mulheres que desejassem contrair matrimônio. Nestes versos podemos apreender um
registro cultural das representações de gênero, das regras e tabus religiosos e do lugar da mulher naquela
sociedade.

Palavras-chave: Escrita feminina. Tabu. Ruptura.


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LA LIBERTE GUIDANT LE PEUPLE: ANÁLISE DO DISCURSO ROMÂNTICO NA TELA DE


EUGÈNE DELACROIX

Lucas Piter Alves Costa - UFV


Renan Araújo Gomes - UFV

A Liberdade guiando o povo, do pintor francês Eugène Delacroix, foi pintada em 1830, em comemoração
à Revolução de Julho do mesmo ano, ocasião da queda de Carlos X. Vemos as imagens dessa tela como
significantes que apontam para conceitos – seus significados potenciais. A essa junção de imagens e
conceitos chamamos de signo – os significantes mais os significados. Nesse raciocínio, podemos situar o
quadro A Liberdade guiando o povo como um signo do Romantismo que, em meio a tantos outros,
movimenta as formações discursivas sobre a escola romântica. Assim, temos que o significado d‘A
Liberdade guiando o povo será a soma dos conceitos de seus significantes (os personagens, o
enquadramento, as cores, etc) inseridos em um ordenamento discursivo que se relaciona com outros
signos (os outros textos que dialogam com o quadro) que ajudam a construir o imaginário romântico. A
proposta deste trabalho é analisar o ideal romântico representado no quadro de Delacroix, e ver como essa
representação se estrutura nos elementos visuais do quadro. Para isso, partiremos da Gramática do Design
Visual (GDV), desenvolvida por Gunter Kress e Teo van Leeuwen (2006) para análise da tela de
Delacroix. Essa proposta de extrair o significado do quadro de Delacroix com base em suas relações com
outros enunciados, não se esgota, e é por essa razão que qualquer análise, em termos de Análise do
Discurso, será sempre um recorte de uma dada realidade sociodiscursiva. A irrefutável condição do
interdiscurso leva-nos a considerar que cada sistema semiótico se insere em outro, gradativamente, à
medida que as relações vão se estabelecendo em uma prática social. O quadro tem sua organização
semiótica que, por sua vez, insere-se em um sistema maior que são as outras fontes de representação
românticas, inseridas, por fim, num vasto e inapreensível complexo de representações, na maioria,
conflitantes.
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A ADAPTAÇÃO DE COBRA NORATO PELO GRUPO GIRAMUNDO

Nelson Nunes dos Santos Júnior – CEFET-MG


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O grupo de teatro de bonecos Giramundo, que completou 40 anos de atividade em 2010, criou 33 peças
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em 37 anos. O ritmo imprimido pela companhia é um dos responsáveis pela formação de uma ampla
experiência de montagem de espetáculos para teatro de bonecos. Nesse tempo, diversas obras teatrais do
grupo foram adaptadas a partir de textos da literatura brasileira e mundial. Assim, tendo em vista essa
particularidade, o artigo tem como objetivo analisar a relação entre o poema Cobra Norato, de Raul Bopp,
e a adaptação teatral feita pelo grupo de teatro de bonecos Giramundo da referida obra literária brasileira.
Poema modernista, a montagem do espetáculo Cobra Norato foi um marco na carreira da trupe teatral,
gerando reconhecimento nacional e ainda permitindo que, daí em diante, a brasilidade fosse incorporada
como uma das principais referências do Giramundo. Na transcrição do poema de Raul Bopp para o palco,
são abordados os aspectos textuais, culturais e da construção de bonecos. Com a pesquisa, espera-se
verificar o modo como ocorre a adaptação de textos literários para o teatro, levando em conta as
características do trabalho do Giramundo, e contribuir para os estudos das obras do grupo.

Palavras-chave: Teatro, Literatura, Adaptação

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DE PARTIDAS, AUSÊNCIAS E NÃO REGRESSOS: O DISCURSO ANTI-ÉPICO DE LOBO


ANTUNES

Paulo Ricardo Kralik Angelini - PUCRS

Mesmo o cantar das glórias portuguesas camoniano reserva um espaço indelével para a crítica de uma
incipiente decadência. Adensado com Fernando Pessoa e potencializado ao extremo com António Lobo
Antunes, o discurso anti-épico tem local assegurado na contemporânea literatura lusitana. Este artigo
pretende discutir o lugar da crítica da decadência trazida pelas obras As naus e Os cus de Judas,
desnudando um Portugal pequeno, quase desvalido, já sem pompa nem colônia; essa barca portuguesa,
como afirma Eduardo Lourenço, carregada de passado, a naufragar em seu próprio imaginário de
grandiosidade e poder. António Lobo Antunes reconstrói seus próprios Lusíadas, refundando uma
colonização em um espaço de perdas e de ausências – na volta dos nobres guerreiros a uma Lisboa já não
mais Lixboa, no retorno de um combatente da guerra colonial em território africano –, personagens que
carregam as marcas de um apagamento da identidade e do sujeito fragmentado, características tão caras à
contemporaneidade.

Palavras-chave: Literatura Portuguesa, António Lobo Antunes, Narrador, desterritorialização, identidade

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IMAGENS DE BENJAMIN

Pedro de Freitas Damasceno da Rocha - UFJF

Fundamentado nas obras de Walter Benjamin, este trabalho busca nos escritos do autor e em seu modo de
enunciação, uma forma e mesmo alguma metodologia de exposição do ser e sua identidade. Forçado a
viver de forma itinerante, o autor e ensaísta tece de maneira bastante pessoal inúmeras críticas sobre
temas variados da sociedade em que viveu. Interessados na expressão de uma identidade como
personalidade e entidade, e em como se expõe o escritor em cada um de seus relatos, vamos atrás de
imagens fornecidas e tracejadas em cada uma das cidades e espaços percorridos. Considerando esta
movimentação como fuga, seguimos seus rastros e coletamos passagens como fragmentos de
personalidade em sua produção com o objetivo de podermos construir um esboço que nos seja útil para
compreender como se é possível fazer da escrita um espaço de preservação e resistência do ser. Como
ponto chave de nosso trabalho, consideraremos o jogo de máscaras encenado por uma personalidade que
pondera sua própria condição em relação ao espaço que ocupa. Centrados no raciocínio de que o
pensamento arquiteta o corpo, avaliaremos a pluralidade dos corpos em questão – a dizer: cidades,
indivíduos, livros e ruínas da civilização – buscando entender que valor o ensaísta dá às cidades que visita
e habita, e em que grau a história e constituição de cada um destes espaços em consonância e
convergência com sua própria história e condição se projetam nas obras estudadas.

Palavras chave: Alegoria; Identidade; Lugar de enunciação; Escrita.


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ITINERÁRIO DE INTERPRETAÇÕES SOBRE A PEREGRINAÇÃO DE FERNÃO MENDES
PINTO

Daniel Vecchio Alves – UFV


Gerson Luiz Roani - UFV

A obra Peregrinação tem por natureza a missão de continuar a viagem de seu autor, sem parar de correr o
mundo desde que veio à público em 1614. A Peregrinação esta cheia de informações sobre o Oriente,
especialmente sobre as regiões do Sião, da China e do Japão. Nessa obra encontraram os europeus umas
das primeiras descrições desses mundos. Por isso, se levantou muito naturalmente a questão de saber o
que havia de verdadeiro ou de falso no texto de Fernão Mendes Pinto. No entanto, sua obra não manifesta
apenas um interesse objetivo pelo mundo oriental, tendo sempre presente o seu país de origem e
estabelecendo a cada passo do texto paralelos e contrastes entre as duas civilizações. A narrativa do texto
esta longe de ter uma estrutura linear simples e conjuga basicamente dois planos: um plano individual e
um outro plano social. Muitos outros estudos sobre a Peregrinação assentam na valorização de um
desdobramento literário entre esses dois planos, no qual a narrativa incorpora os principais modelos
retóricos em voga no século XVI, como a crônica, o relato de viagem, a novela de aventuras, as
peregrinações e as hagiografias medievais, sendo todas essas vozes um verdadeiro baralhamento no modo
de significar ou se apropriar desse novo mundo. Este trabalho tem por objetivo traçar um balanço geral da
recepção de algumas das principais críticas existentes sobre a obra em destaque. Tal balanço crítico torna
a abordagem da Peregrinação mais produtiva pela continuidade das linhas de leitura já desenvolvidas e
pela tentativa de procurarmos a máxima coerência nas análises do texto.

Palavras-Chave: Fernão Mendes Pinto, Tendências Críticas, Literatura de Viagens, História das
Descobertas Portuguesas

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ENTRE O RURAL E O URBANO: ANÁLISE DOS ESPAÇOS EM MACUNAÍMA (1928)

João José Lopes – UFV


Joelma Santana Siqueira – UFV

A obra Macunaíma foi publicada em 1928 pelo escritor Mário de Andrade. Foi chamada de rapsódia pelo
próprio autor e isso explica, de certo modo, o fato de a obra, como as rapsódias musicais, apresentar uma
grande variedade de motivos populares. O herói Macunaíma nasce em uma tribo amazônica, chega a São
Paulo, e de lá, como já ressaltou Cavalcante Proença, foge para a Ponta do Calabouço no Rio e logo está
em Guajará Mirim nas fronteiras de Mato Grosso e Amazonas, chupa manga-jasmim em Itamaracá de
Pernambuco, toma leite de vaca Zebu em Barbacena, Minas Gerais, decifra litóglifos na Serra do Espírito
Santo e se esconde no oco de um formigueiro na Ilha de Bananal, em Goiás. No que diz respeito à
representação do espaço na narrativa, o autor usou a expressão ―embrulhada geográfica proposital‖ para
referir-se à justaposição de espaços geográficos percorridos por Macunaíma, constituindo-se em um
itinerário fantástico. A ausência de um itinerário realista percorrido pelo herói, no entanto, não impede
que possamos identificar na obra questões importantes sobre o espaço rural e urbano do Brasil moderno,
haja vista, por exemplo, o impacto de Macunaíma ao chegar à cidade de São Paulo. Nesse sentido, o
presente trabalho tem por objetivo propor uma análise dos espaços percorridos pelo herói visando
identificar e discutir relações entre a narrativa e aspectos da modernização brasileira.

Palavras-chave: Espaço ficcional; Macunaíma; Modernidade.

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ALGUMAS QUESTÕES ACERCA DAS ESTRARÉGIAS DE ARQUIVAMENTO EM


DINA SFAT - PALMAS PRA QUE TE QUERO
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Fabiana Patrícia Lima Pinto - UFSJ


Constata-se atualmente o crescente interesse acerca das biografias, autobiografias, diários etc, as
chamadas escritas de si. Durante a modernidade, e como efeito do individualismo proposto pela revolução
industrial e pelo sistema ocidental burguês, as escritas de si começaram a ganhar espaço tanto na esfera
particular - diários, cartas etc - quanto na pública - com as biografias e autobiografias de personalidades
ilustres. No entanto, a contemporaneidade e as idéias desconstrutivistas do final do século XX
incentivaram a construção dessas escritas de uma forma diferente daquela a que se estava acostumado,
fazendo-as fugir de regras fixas, e tornando-as mais abertas à heterogeneidade e à hibridez. Este trabalho
tem como objetivo primordial refletir sobre as questões que cercam as estratégias de arquivamento do eu
na obra Dina Sfat - palmas pra que te quero, uma escrita de si construída em colaboração entre a própria
atriz Dina Sfat e a jornalista Mara Caballero. Denegando uma pesquisa puramente conceitual, já que o
próprio objeto de investigação não pode ser enquadrado em um conceito, o que se procurará praticar é
uma análise mais ampla e aberta, que prestigiará pensadores crédulos na ―impureza‖ da ação arquivista,
na utilização de construções inteligíveis, etc. Os pressupostos teóricos utilizados para o estudo de Dina
Sfat - palmas pra que te quero serão: Phillippe Artières com os conceitos de arquivamento e as
transformações sofridas pelo arquivo durante o processo de arquivamento; Pierre Bourdieu e a noção de
ilusão biográfica, a desconstrução do conceito de arquivo sugerida por Jacques Derrida; José Saramago e
a proposta da importância do autor como parte constitutiva da obra, que neste trabalho será focalizado
como arquivista, e finalmente Roland Barthes e o conceito de biografema.

Palavras-chave: estratégias, arquivamento do eu, escrita de si.

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A TRADUÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: NOVAS TEORIAS E TENDÊNCIAS

Marcela Iochem Valente – PUCRJ/ CAPES

Até não muito tempo atrás, os estudos de tradução estavam vinculados aos estudos da linguagem dando
atenção apenas a questões estruturais e linguais. Porém, estudos mais recentes de tradução têm ressaltado
que esta não é um processo meramente interlingual onde um profissional conhecedor de duas línguas de
trabalho simplesmente leva um determinado texto de uma língua alvo para uma língua fonte. Sabe-se hoje
que o processo tradutório é muito mais complexo do que se imaginava – e do que o senso comum ainda
acredita ser – pois há muitas questões culturais que entremeiam esse processo. Com base nesses estudos
mais recentes, podemos seguramente afirmar que a tradução, na verdade, não é parte apenas dos estudos
da linguagem, mas claramente, está relacionada aos estudos culturais. Quando falamos de traduções de
obras literárias pertencentes aos então chamados grupos de minoria, esse aspecto intercultural da tradução
é ressaltado e as questões linguísticas, antes preocupação central das traduções, passam a ser apenas mais
um dos aspectos a se considerar durante o processo tradutório. Considerando então que as questões
relacionadas à tradução vêm sendo cada vez mais discutidas na literatura comparada, este trabalho
pretende apresentar algumas teorias e tendências contemporâneas no que concerne o processo tradutório.
Para ilustrar a teoria apresentada, traremos alguns exemplos de difícil tradução devido a questões
culturais e não apenas linguais retirados da peça A Raisin in the Sun (1959) da autora afro-americana
Lorraine Hansberry.

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A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM PELA LINGUAGEM VERBAL NA POESIA

Patrícia Resende Pereira – CEFET-MG

O presente artigo tem como proposta de pesquisa investigar o modo como a imagem é construída por
meio da linguagem verbal, levando em conta as características de ambas. Para tanto, como objeto
empírico, foram selecionados três poemas publicados na edição de maio na Piauí, revista mensal
destinada ao jornalismo literário. As três poesias, escritas pela polonesa Wislawa Szymborska, tem como
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ponto central o modo como o fazer poético constrói textos e a forma como são recebidos pelo público.
Assim, usando os três textos poéticos como ponto de partida, a proposta é discutir a forma como
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linguagem verbal, utilizando todos os seus recursos, tem condições de construir a imagem. O suporte
teórico ficou por conta de Octávio Paz (1990), Alfredo Bosi (1990) e Lucia Santaella (2009). Ao término
da pesquisa, observou-se que a imagem é construída, em especial, por meio da descrição das formas e dos
objetos, além de focar na narração dos eventos.

Palavras-chave: Imagem; Poesia; Wislawa Szymborska; Linguagem verbal

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CARPE DIEM: O DIÁLOGO NEOCLÁSSICO ENTRE RICARDO REIS E SIR LAWRENCE


ALMA-TADEMA

Carlos Francisco de MORAIS – UFTM

Este trabalho se insere em pesquisa que atualmente desenvolvemos no âmbito do GLD – Grupo de
Pesquisas Literatura em Diálogo, ligado ao Departamento de Estudos Literários da UFTM – Universidade
Federal do Triângulo Mineiro. O objetivo primordial do GLD é estudar as relações que o texto literário
estabelece com outros textos, outros autores, outras artes, outras linguagens. De maneira específica, nossa
pesquisa se interessa pela maneira como a obra poética de Fernando Pessoa e seus heterônimos tece essas
relações. Nesta comunicação, o foco é o compartilhamento de um mesmo zeitgeist por Ricardo Reis,
heterônimo neoclássico pessoano, e os artistas ingleses reunidos no movimento que se convencionou
chamar de ―Victorian Classicism‖. Nosso objetivo é demonstrar como os procedimentos poéticos de Reis
se ancoram nos mesmos princípios clássicos que sustentam os procedimentos pictóricos de Lord
Leighton, G. F. Watts e Sir Lawrence Alma-Tadema. Para tanto, neste texto analisaremos em conjunto a
famosa ode de Ricardo Reis cujo primeiro verso é ―Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio‖ e o
quadro ―Ask me no more‖, que é uma das realizações mais perfeitas de Alma-Tadema e do próprio
Victorian Classicism.

Palavras-chave: Literatura e outras linguagens. Estudos interartes. Heteronímia. Victorian Classicism.

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A INFLUÊNCIA DA II GUERRA MUNDIAL NA ESCRITA E ADAPTAÇÃO PARA O CINEMA


DE TESTEMUNHA DA ACUSAÇÃO DE AGATHA CHRISTIE

Fernando Antonio Bassetti Cestaro - UFSC

Admitir nas obras de Agatha Christie a presença do mistério policial cativante é compreender em essência
a maestria literária desta senhora capaz de prender seus leitores do início ao fim de sua narrativa. Em
assim sendo, quando nos deparamos com a sua obra ―Testemunha da Acusação‖ acreditamos estar diante
de uma pedra angular do castelo editorial desta dama britânica. Dentre as mais de oitenta e quatro obras
que Agatha Christie escreveu, seis obras da ―‗Dame‘ bretã‖ estão elencadas em um prolífico campo de
peças teatrais. A obra em análise é um desses exemplos. Neste trabalho, buscamos um diálogo entre a
caracterização alegórica dos protagonistas desta obra de Christie, sua adaptação cinematográfica de 1957
e as principais potências mundiais da II Guerra Mundial. Para tanto, acreditamos que a estratégia da obra
e do cinema foi conseguir utilizar ferramentas de significação das páginas da história. O que Agatha
Christie conquistou em ―Testemunha da Acusação‖ com seu jeito hábil e sarcástico foi trazer o leitor para
uma cadeira de seu teatro ficcional; o mesmo fez o diretor Billy Wilder no cinema com o apreciador de
filmes clássicos, convidando-o para compartilhar desta criação que ilustra através dos seus principais
personagens o deslinde do maior conflito contemporâneo mundial.

Palavras-chave: Maestria literária; caracterização alegórica; ferramentas de significação históricas.

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GEOGRAFIA E LITERATURA: UM DIÁLOGO ATRAVÉS DA POÉTICA DE PATATIVA DO


ASSARÉ
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Sergio Luiz Malta de Azevedo – UFCG


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Esse trabalho propõe uma leitura dos poemas de Patativa do Asseré, uma das figuras mais representativas
da poesia popular nordestina, no intuito de observar como se representa o espaço geográfico nos poemas
desse autor. Busca-se, através da teoria humanista de Espaço e Lugar do Geógrafo Yi Fu Tuan, mostrar
como a percepção geográfica se encontra na poética desse autor. Conclui-se com a pesquisa, que Patativa
é um poeta ligado teluricamente ao lugar e mostra de modo muito especial os recantos sertanejos, através
de um lirismo pungente, dando um contexto sócio-político a sua poesia, ao tempo em que, mostra a
beleza das paisagens sertanejas, pela desconstrução da visão pejorativa e miticamente criada a respeito do
sertão nordestino.

Palavras-chave: Geografia. Poesia. Percepção do espaço. Sertão.

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A REVISTA O CINEMA (1913) E A CONSOLIDAÇÃO DO CINEMATÓGRAFO COMO ARTE

Danielle Crepaldi Carvalho – UNICAMP/FAPESP

Ao longo do primeiro trimestre de 1913, foi editada semanalmente no Rio de Janeiro O Cinema: jornal
oficial dos Cinematógrafos e Revista de Arte Cinematográfica, publicação que se distanciava de suas
congêneres por mobilizar elementos complexos no entendimento do medium que cada vez mais influenciava
a sociedade. Numa época em que os periódicos dedicados ao assunto publicavam especialmente fotogramas
e resumos dos filmes, destinados à divulgação do repertório apresentado nas salas de exibição, O Cinema
dava relevo às questões estéticas. A afirmação de que ―o cinematógrafo é também uma literatura‖, presente
no primeiro número da publicação, ecoa em suas demais crônicas, as quais se propõem a deslindar os
meandros da cinematografia: com o tempo, seus produtos teriam se deslocado do teatro – do qual a
princípio se aproximara – para adquirirem o status de uma arte com contornos próprios; daí a constatação
da revista acerca da necessidade de se produzir uma ―literatura cinematográfica‖ especialmente para as
telas, que enxugasse ao máximo o texto em proveito da mímica, ou então sua tentativa de compreender o
porquê de o cinematógrafo envolver o público mais que a literatura ou a pintura. Não se pode pensar
nesses textos dissociados da produção cinematográfica que lhes é contemporânea. Os artigos de O
Cinema claramente dialogam com a produção do final dos anos de 1900 e começo de 1910, época em que
D. W. Griffith – um dos principais codificadores da linguagem das telas – principiara suas produções de
maior fôlego. Portanto, a comunicação pretende analisar a revista no diálogo com as fitas que eram, à
época, apresentadas na capital e referidas em periódicos.

Palavras-chave: cinema, crônica, literatura, crítica cinematográfica, O Cinema.


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PREDADORES: A IRONIA COMO INSTRUMENTO DA CRÍTICA À CULTURA POLÍTICA


ANGOLANA

Silvio de Almeida Carvalho Filho – UFRJ

Ao analisar o romance Predadores do escritor Pepetela, detectamos como a ficção tornou-se, nesse autor,
um instrumento esmerado para interpretar a história do tempo presente angolano. Passeando por uma
cronologia ficcional historicizante que estabelece como cronotopos o período dos anos de 1974 a 2004,
elegeu Luanda como o principal, mas não único, topos de seu discurso. O narrador realizou e permitiu
efetuar reflexões instigantes sobre o período da opção política pelo socialismo. Chamou, então, entre
outros aspectos, atenção para a superficialidade do jargão revolucionário utilizado então por alguns
angolanos, o oportunismo político corrente em alguns setores do MPLA, a crítica à atuação americana e
soviética frente à guerra civil no país. Com a passagem do socialismo para o capitalismo, narrador e
personagens possibilitam-nos aferir como a cultura política vigente permaneceu a mesma e até se
acrisolou. O autor mofou da emergência de uma burguesia predadora que não somente extorquiu o
público como se fosse um patrimônio privado, mas também foi responsável pela fuga ilegal de capitais
para o exterior. Indicou-nos como a aparente desordem na administração pública e o caráter informal do
poder beneficiaram mais a interesses particulares que públicos, favorecendo a não transparência das
decisões, a formação das clientelas, a corrupção a impunidade com a participação de elementos advindos
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de diferentes hierarquias sociais. Essa criminalização do Estado articulava-se, também, com investidores
estrangeiros que muito lucravam ao incentivar aquelas práticas. Ademais, o autor permitiu-nos ver como
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essas relações patrimonialistas articulavam-se com um autoritarismo que percorria as relações públicas e
privadas de poder, mesmo após o inconcluso processo de democratização. Relatou, igualmente, a
necessidade de aumentar as seguranças patrimoniais e pessoais dos novos ricos que ostentavam riqueza
excessiva ante uma sociedade majoritariamente pobre ou miserável.

Palavras-chave: Angola, Literatura, História, Pepetela, Criminalização do Estado.

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O SUJEITO MARGINAL NO TEMPO E NO ESPAÇO DO CONTO PELA NOITE, DE CAIO


FERNANDO ABREU

Rodrigo Frausino da Silva – UFV


Gerson Luiz Roani - UFV

Este trabalho propõe uma reflexão acerca das questões temporais e espaciais na figura do sujeito criado
no conto ―Pela Noite‖, do escritor Caio Fernando Abreu. As situações vivenciadas pelo estrangeiro em
relação ao tempo e ao espaço servem como viés para a leitura do texto literário. O deslocamento que o
indivíduo faz em direção ao outro é analisado como percurso pautado na fragmentação temporal, que leva
o sujeito a procurar por si mesmo na figura do outro. O relacionamento amoroso narrado no conto
também propicia reflexões acerca das diferenças da condição humana observadas nas personagens,
através da movimentação feita no espaço cada vez mais urbanizado. O mundo marginal criado pela
narrativa serve como ponto de partida para se pensar a existência de limites entre literatura e realidade nos
tempos contemporâneos. Por meio da utilização de teoria acerca da produção cultural, este trabalho
sugere questionamentos sobre a literatura no Brasil, desde o último quarto do século XX. Outras questões
são levantadas, como a relação do sujeito com o mundo e com a literatura, sua trajetória fora de seu meio
social. A imagem do sujeito exilado é investigada no que tange às relações entre literatura e movimento
no espaço e no tempo. Pretende-se que este trabalho seja uma leitura da obra de Caio Fernando Abreu
pautada nas relações espaciais e temporais para a construção do texto literário. Ademais, É intenção
investigar os limites entre o texto literário e a realidade no conto Pela noite.

Palavras-chave: margem, estrangeiro, deslocamento, fragmentação, diferenças.

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OS VALORES EM “NOSSO DIA”

Aline de Jesus Sena – Anhanguera/Uniderp

Este trabalho objetiva uma análise acerca do conto ―Nosso dia‖ que compõe o livro Tremor de Terra,
(1964), de Luis Vilela. Trata-se de uma narrativa em que um casal faz uma refeição especial para
comemorar o décimo aniversário de casamento. A partir de autores como; Simone de Beauvoir, (1949) e
Paula Vaz, (2008), analisamos a relação estabelecida entre o casal, visivelmente, divergente em seus
interesses, mesmo partilhando da mesma ocasião. Será analisada a presença da personagem feminina
enquanto passiva e, ao mesmo tempo, contestadora, diante das atitudes do homem. Não se trata de um
feminino emudecido pelos ditames do outro, mas a presença de uma mulher que questiona cada atitude da
personagem masculina sem, necessariamente, perder a condição de outro na relação narrada pelo conto. O
autor faz uso de um cenário cotidiano para evidenciar que, mesmo sendo a mulher, a personagem
detentora do maior número de falas no diálogo, não significa que ela não esteja na condição de
submissão. Sua postura dependente é evidenciada de forma explícita no conto, com relação à questão
financeira, e de forma menos evidente no que diz respeito a sua necessidade, emocional, do outro.

Palavras-chave: Literatura; Mulher; Submissão.

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LETRAMENTO LITERÁRIO E (A AUSÊNCIA DE) POLÍTICAS PÚBLICAS NACIONAIS E
ESTADUAIS PARA O ENSINO DE LITERATURA EM LÍNGUA INGLESA

Daiane da Silva Lourenço –CAPES/UEM-PR

A leitura literária passou por um período extremamente tradicional, no qual a periodização prevaleceu.
No entanto, a partir de meados do século XX novas concepções de leitura literária surgiram, diante de
teorias como a Estética da Recepção e a Sociologia da Leitura, dentre elas destacamos o Letramento
Literário. Neste trabalho apresentamos discussões a respeito da teoria do Letramento Literário
(ZAPPONE, 2008), sua proposta de alargamento do conceito de literatura, sua relação com os diferentes
meios em que a Literatura em Língua Inglesa (LLI) tem circulado no Brasil e com o multiletramento.
Apesar de tal abordagem teórica propiciar a inserção da LLI no ensino básico brasileiro, visto que a LLI
está mais acessível aos jovens, percebemos que, em geral, as políticas públicas nacionais e,
especificamente, as do estado do Paraná não incentivam o trabalho com textos literários nas aulas de
língua inglesa. Estudamos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de língua estrangeira e as
Diretrizes Curriculares Estaduais (DCEs) de língua estrangeira moderna do Paraná a fim de entendermos
como a LLI é abordada (ou não) em tais documentos e suas propostas de leitura literária.
Palavras-chave: leitura literária; Literatura em Língua Inglesa; ensino; PCNs; DCEs do Paraná.

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“MOMENTANEAS” E “HORIZONTAIS”: AS PROSTITUTAS NA SEÇÃO “DE PALANQUE”,


DE ARTUR AZEVEDO

Esequiel Gomes da Silva - UNESP/Assis/FAPESP

Em 1885 Artur Azevedo inaugurou no Diário de Notícias, no Rio de Janeiro, uma seção chamada ―De
palanque‖, na qual se propunha a comentar sobre arte, cultura e assuntos genéricos. Para contemplar seu
projeto jornalístico, além de teatro, música, literatura, pintura e escultura, o cronista também escrevia
sobre criminalidade, febre amarela, falta d‘agua, enchentes, bem como acerca dos costumes e
comportamento das pessoas. Num momento em que os gêneros ligeiros – mágica, opereta e revista de ano
– dispunham de grande prestígio entre a população fluminense, havendo, portanto, entre os homens de
letras um pensamento comum acerca da ―degeneração‖ da cena dramática nacional, percebemos que nas
crônicas escritas nessa seção, o crítico maranhense comenta com certa recorrência sobre a presença das
prostitutas nos teatros da capital do Império. Na percepção do jornalista, as casas de espetáculo, que
tradicionalmente funcionavam como um espaço de entretimento, onde se reuniam as melhores famílias da
sociedade fluminense, tornavam-se lugares propícios ao ―comércio do prazer‖. Desse modo, além da
―decadência‖ na arte dramática, havia também uma decadência moral, que encontrava nas putas suas
principais agentes. Importa considerar ainda que o descontentamento de Artur relativamente às mulheres
de ―beijo fácil‖ estendia-se também à presença delas em outros espaços de convívio social. Levando-se
em consideração o contexto em que vivia o cronista – um período fortemente marcado pela preocupação e
necessidade de se controlar o meretrício – pode-se dizer que em seus textos havia algo de ―sanitarista‖ e,
neste sentido, serviam como instrumento de divulgação das ideias defendidas nas teses da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, como pretendemos mostrar na comunicação que ora propomos.

Palavras-chave: Rio de Janeiro; imprensa; crônica; teatro; prostituição.

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A CULTURA HÍBRIDA E O PAPEL DA CRÍTICA LITERÁRIA NA CONTEMPORANEIDADE

Andreia da Silva Santos – UEPB


Andreza da Silva Santos (co-autora) – UFPE
Luciano Barbosa Justino – UEPB
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O conceito de diversidade cultural é fator preponderante para a estruturação da crítica literária na


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contemporaneidade. Conceito este que delineia a cultura não como sendo uma peça monolítica e sim
centra-se na ideia de que há inúmeras diferenças culturais bem como diversos tipos de expressões. Em
meio a essas mutações, o horizonte da crítica teve que expandir-se, pois os antigos conceitos, assim como
os métodos de análise aos quais se ancoravam, não são mais o sustentáculo para os exames dos objetos
culturais. Pode-se observar que atualmente o moderno e o tradicional não são mais opostos e as divisões
de alta cultura, cultura popular e cultura de massas, não podem mais ser consideradas como categorias
estanques, a cultura hibridizou-se. Desse modo, a crítica tem que considerar inúmeros detalhes no
momento da análise, a intertextualidade, alusões, citações, pastiches, elementos estes que aglutinam-se no
texto e não há mais como classificar o que é original ou o que se ―copiou‖. Para se entender como a
crítica cultural se apresenta na contemporaneidade é importante ressaltar um importante movimento: os
estudos culturais, que se interessa por temáticas, até então consideradas excluídas dos contextos
acadêmicos como: etnia, religião, sexualidade, cultura popular e de massas e as temáticas urbanas, entre
outras. A experiência literária se faz, atualmente, por meio das várias expressões culturais e das múltiplas
linguagens, seja a música, cinema, artes plásticas, vídeo, etc. Bem como os exames da literatura recam
sobre obras que não fazem parte do chamado cânone literário, como as histórias em quadrinhos, a
literatura digital e tantas formas de expressão. Os escritores bem como outros artistas do século XXI,
experimentam um presente como um ―já era‖, utilizando uma expressão cunhada pro Lyotard (2010),
autor este que afirma que os criadores, literatos ou artistas de outras expressões convivem com a
―agoridade‖ do presente. Dessa forma, o artigo pretende analisar o papel da crítica frente a essa cultura
híbrida e mutante.
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JÚLIA LOPES DE ALMEIDA E O AUTOCONHECIMENTO FEMININO EM CORREIO DA


ROÇA

Fernando Albuquerque Miranda - UFJF

Investiga-se neste artigo a representação da escritaora Júlia Lopes de Almeida da condição da mulher em
seu livro Correio da roça, um romance epistolar publicado em 1913. Na obra, são abordadas questões
como a contraposição entre meio rural e cidade, instrução e ignorância e trabalho e inatividade sob a ótica
feminina. A busca pelo autoconhecimento da mulher surge através da correspondência mantida por Maria
e Fernanda, as duas personagens principais do livro. A troca de confidências possibilita a superação do
estado melancólico vivido por uma delas a partir das perdas do marido e da confortável vida na sociedade
carioca com suas filhas. No percurso teórico, exploramos as ideias de Simone de Beauvoir, para quem
ninguém nasce e sim torna-se mulher, sobre a condição feminina em uma sociedade conformada para
relegar à mulher o papel de submissão perante ao homem e os estudos de Freud e Julia Kristeva acerca do
luto e da melancolia.

Palavras-chave: Literatura brasileira; Inserção sócio-cultural da mulher; Melancolia.

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A INTELECTUALIDADE CARIOCA NOS CAFÉS

Lara Jogaib - UNIRio

No bojo das mudanças ocorridas no Rio de Janeiro a partir do projeto de modernização implementado
pelo prefeito Pereira Passos nos primeiros anos do século XX, a intelectualidade carioca possui espaços
privilegiados de atuação. Este trabalho contempla o estudo de parte destes intelectuais que publicavam
seus textos nos jornais da época, como a Gazeta de Notícias e A Notícia. Fora das redações, os locais de
encontro de boa parte de tais literatos eram os cafés e as confeitarias, já freqüentados por eles desde antes
da proclamação da República. Ali os debates acalorados giravam, entre outros assuntos, em torno do dia a
dia da cidade e da defesa de suas posições políticas. A Confeitaria Colombo, o Café Paris e o Café do Rio
eram ainda locais de trabalho e de trocas intelectuais e sociabilidades. Nesses locais nasciam muitos de
seus textos e, inclusive, muitas sátiras à Academia Brasileira de Letras, alimentado assim supostas
rivalidades entre os membros da academia e os boêmios. Nesse sentido, este trabalho procura discutir a
importância dos principais locais de sociabilidade desse campo literário em formação no Rio de Janeiro
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no início do século XX, observando como os textos por eles produzidos podem servir como fontes
históricas para entendimento das questões culturais e sociais pertinentes a tal período.
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Palavras-chave: sociabilidade, crônica, primeira república


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DE AUTORES ÀS TEORIAS

Marcelo da Silva Bispo – UESC/FAPESB


Cláudio do Carmo – UESC/BA

Este trabalho apresenta breves considerações sobre a autoria na literatura. Para tanto, coloca sob as luzes
da razão ou da análise crítica o criador e a criação literária, bem como a complexa relação entre o artista e
a obra de arte, intermediada pela linguagem. Trata-se, nesse sentido, de problematizar e ampliar o debate
sobre uma das temáticas mais recorrentes e menos resolvidas nos estudos literários e que intriga
estudiosos e pesquisadores à medida que se publica novas obras de ficção literária. Desse modo, busca-se
investigar como o problema do autor, aquele que se apresentava, de início, a chave para o entendimento
pleno do fenômeno da literatura, foi (não) resolvidos de imediato ou tratados nas margens do extremismo
da negação ou da afirmação, de maneira quase sempre radical, trazendo de volta aos estudos e à crítica,
antigas querelas iniciadas ainda no ponto de partida ou na fase inicial dos estudos literários. Toma-se
como objeto de análise e aplicação teórica, a ficção literária de Chico Buarque. Vale-se, na análise, dos
pressupostos teóricos sobre a morte do autor e da função autoral.

Palavras-chave: Literatura. Autoria. Chico Buarque.

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MEMÓRIA E IDENTIDADE: AS LENDAS URBANAS DA CIDADE DE CATALÃO-GO


Flávia Freitas de Oliveira – UFG/CAC
Alexander Meireles da Silva – UFG/CAC

Em resposta ao zeitgeist pós-moderno, caracterizado pelo interesse no discurso das margens, as pesquisas
dos estudos culturais vem sendo ampliadas e diversificadas. Neste sentido, chama a atenção como o
conceito de cultura ainda é marcado pela complexidade das suas manifestações e domínios. Esse quadro é
particularmente verdadeiro quando se fala da cultura popular e suas diversas manifestações, como na
cidade de Catalão, localizada no sudeste goiano. Para identificar alguns elementos presentes nesse
imaginário popular catalano utilizamos como corpus, para este trabalho, os relatos individuais. Não sendo
possível a análise da fala de todos os moradores da cidade, criamos ―células‖ que compõem um corpus
com 36 entrevistados, denominados informantes, estratificando a população de acordo com o perfil
linguístico delimitado por: sexo, escolaridade e faixa etária. Considera-se aqui que a análise de uma
cultura popular local pode ser concebida por meio da fonte oral, da história do homem comum que viveu
determinado fato, que mesmo documentado, ainda pode ser ―melhor‖ explicado por quem viveu aquela
história de fato. Uma problemática em se trabalhar com fontes orais é referente ao meio acadêmico, que
por vezes, não dá credibilidade no corpus levantado pelo pesquisador, exatamente, pela facilidade em se
deturpar esse tipo de dado. É de suma importância valorizar tal fonte, visto que são por meio dos relatos
individuais que conheceremos mais das memórias e, com isso, enxergaremos a identidade catalana. Além
disso, as narrativas orais sobrevivem por meio dessa tradição de contar e (re)contar. Nada melhor do que
os contos populares e/ou lendas urbanas para revelarem a crença do popular, seus rituais, hábitos, desejos
e demais configurações da sua identidade cultural. Acreditando que o imaginário constitui a identidade e
que esta última é formada diante da cultura, procuramos conhecer neste trabalho os elementos que
compõem o imaginário dos habitantes de Catalão, bem como a cultura popular desse local por meio da
tradição oral.

Palavras-chave: Memória, Lendas Urbanas, Cultura e Imaginário.


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„A ARCA DA ALIANÇA‟ DE CARLOS NEJAR: UMA INTERSEÇÃO ENTRE TEOLOGIA E
LITERATURA NA POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Cínthia Marítz dos Santos Ferraz Machado –UFV

Freqüentemente surgem questionamentos sobre da influência religiosa dentro da literatura, e sobre a


(im)possibilidade de aproximação e intersecção entre Teologia e Literatura, uma vez que a primeira constitui
uma ciência e a segunda é considerada como arte. O que acontece é que, sendo ciência, a Teologia trata do
ser humano e por isso é antropológica; ela pretende ser conhecimento especulativo e racional sobre a
natureza de Deus e suas relações com o homem. A Literatura também trata dos homens, dos seus sonhos, do
seu modo de viver, enfim, é conhecimento ficcional e representação do mundo; lança seu olhar sobre a
realidade e os homens inseridos nela. Logo Teologia e Literatura têm algo em comum: as artes literárias são
uma forma de comunicação de que a mensagem teológica pode e sempre se utilizou. Deste modo elas ajudam
a completar a visão que a Teologia tem do homem, uma vez que cuidam da relação entre este e o estar no
mundo por um viés distinto do das ciências. Nessa mesma esfera, o encontro com Deus se nos faz por
intermédio da linguagem, ou seja, por meio do discurso, visto que as experiências espirituais só se nos
tornam acessíveis por intermédio da comunicação. Cabe então, o questionamento sobre como se constrói e se
manifesta a espiritualidade e o sentimentalismo, na alfaiataria em que se transforma, muitas vezes, a
linguagem literária.

Palavras-chave: intersecção; especulação; representação; mensagem;


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MEMÓRIAS DA EMÍLIA: LITERATURA E ESTUDOS DE GÊNERO

Ângela Cristina de Andrade Figueira – CESJF


Camila Lopes Cravo Matos – CESJF
Maria Olinda Venâncio - CESJF

Monteiro Lobato, escritor moderno, preocupava-se com a renovação da Literatura Brasileira que fosse ao
encontro do que havia de mais autêntico na realidade nacional e com a linguagem falada no Brasil.
Acreditava que o livro era o meio de adquirir conhecimento. Colocava, como eixo central de sua obra,
personagens capazes de questionar o estabelecido. Emília é uma dessas personagens em que observamos
múltiplas faces, supostamente carregadas de ideologias do autor. Assim, o objetivo deste trabalho é o
estudo do gênero memórias, tendo como corpus a obra Memórias da Emília, percorrendo um caminho
comparativo entre as características comuns a esse tipo de texto e as apresentadas na obra. Considerar-se-
á a linguagem empregada, o contexto literário e a intenção do autor. Os gêneros contribuem para a
ordenação e estabilização das atividades comunicativas cotidianas. São entidades sócio-discursivas, mas
não são estanques, nem enrijecedoras da ação criativa. Lobato queria diferenciar-se dos seus
contemporâneos e, para tal, cria possibilidades de as crianças construírem questionamentos e interferirem
a todo momento na narrativa. O contexto social em que se inseria foi fundamental para a constituição das
ideias apresentadas nas narrativas.

Palavras-chave: gênero – linguagem – arquitetura do texto – intertextualidade - narrador

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FRONTEIRAS DO LITERÁRIO: O CONHECIMENTO NATURAL, CIENTÍFICO E


RELIGIOSO NA TRÍADE ÉPICA DE LEONARDO DA SENHORA DAS DORES CASTELLO-
BRANCO

Misael Rodrigues de Sousa –UESPI

Esta comunicação tem como objetivo abordar as relações hierárquicas entre o literário, o conhecimento
natural, científico e religioso, na obra poética de Leonardo da Senhora das Dores Castello-Branco.
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Cientista experimental, personagem histórico e revolucionário da Batalha do Jenipapo, católico fervoroso


e intelectual autodidata, Leonardo é um pioneiro em nosso país, um homem além do seu tempo e uma das
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grandes incógnitas nesta relação entre literatura e outras áreas do conhecimento. Tendo vivido e
publicado no século XIX – O Ímpio Confundido (Lisboa-1835, 1836 e 1837); o Santíssimo Milagre
(Lisboa-1839) e A Creação Universal (Rio de Janeiro-1856) – o piauiense é tido como um dos primeiros
em nosso país a trabalhar a poesia como instrumento de compreensão da realidade divina, através da
observação empírica da natureza e da racionalidade científica. Leitor de Lucrécio, adota uma linha
Barroco-Conceptista em pleno desenvolvimento do Romantismo, não se furtando de buscar na tradição
científica iluminista e no raciocínio cartesiano as bases de sua ―Mecânica Astronômica‖ de inspiração
divina. Em sua póiesis, a observação da natureza, ratificada pela ciência, leva logicamente a aceitação do
divino, e é nisto que o poeta-cientista ou cientista-poeta se dedica exaustivamente a comprovar: a ciência,
antes de ser inimiga, é a base lógica que fortalece a fé e ratifica as verdades teológicas. Cosmogonia,
Escatologia, Alegoria Mítica, Geonaturalismo Empírico, Etologia, teorização consciente sobre o
científico no literário e o literário no científico são alguns dos diversificados temas abordados pelo ainda
inclassificável Leonardo. Este, inexplicavelmente, é o primeiro estudo acadêmico sobre o escritor
piauiense, ainda totalmente inédito no estado que tanto promoveu e exaltou em sua vida e seus escritos.

Palavras – Chave: Literatura, Conhecimento e Hierarquia Poética.

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A PRESENÇA DE ANA CAROLINA – UM SILÊNCIO QUE FALA

Ariadne Maria de Mendonça Chaves – UFSJ


Eliana da Conceição Tolentino – UFSJ

A partir de uma leitura teórica de O cosmopolitismo do pobre (2004), de Silviano Santiago, e de Pode o
subalterno falar? (2010), de Gayatri Spivak, este artigo estuda no filme AMÉLIA (2000) a questão
nacional contrastada ao multiculturalismo pós-moderno. Dirigido por Ana Carolina Teixeira Soares, esta
narrativa cinematográfica conta a vinda da atriz francesa Sarah Bernhardt ao Brasil, acompanhada por sua
camareira, a mineira Amélia. Esta falece durante a viagem e deixa em contato a Europa e a América, nas
personagens da francesa e das irmãs da brasileira. Nessas mulheres percebem-se distintas representações
identitário-nacionais que lutam pela manutenção de sua ―cor local‖, o que resulta em um conflito entre
nações. Necessário é colocar que esse embate se caracteriza, principalmente, pela ausência de
comunicação. As personagens, que desconhecem a língua do outro, gritam na tentativa de se fazer
entender. De forma que, AMÉLIA se apresenta como uma narrativa gritada que aponta paradoxalmente
um silenciamento sócio-cultural imposto ao terceiro-mundo, subalternizado no contexto transnacional. No
filme, a diretora Ana Carolina através da rixa ―Paris versus Cambuquira‖ aponta uma descaracterização
do nacional, já anacrônico. Nesse ―novo‖ processo de se entender a nacionalidade, o multiculturalista,
cabe destacar a resposta que o terceiro mundo dá ao primeiro: como em um espaço hegemônico a
periferia caminha com seus próprios meios, os que apreendeu do colonizador europeu. É o que AMÉLIA
evidencia, quando um filme brasileiro fala transnacionalmente por meio de seu silêncio.

Palavras-chave: Amélia, silenciamento, subalterno, multiculturalismo.

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DIALÉTICA DA MARGINALIDADE: CARACTERIZAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA


CONTEMPORÂNEA OU MARCA DE AFIRMAÇÃO?

Nilton Pereira Silva - PUCRJ

O tratamento da questão da violência nas artes por Raphael Martins em sua dissertação de mestrado A
Barbárie como arte: Tendências da literatura e do cinema brasileiro contemporâneo vai ao encontro do
que o ensaista João Cezar de Castro Rocha definiu por dialética da marginalidade no texto Dialética da
marginalidade: caracterização da cultura brasileira contemporânea. Isso porque Rocha inscreve
igualmente a violência na sua dialética, porém não como uma tendência da atualidade das representações
artísticas, e sim como uma teoria que, segundo ele, seria mais adequada do que a tradicional dialética da
malandragem, com a qual trabalharam Antonio Candido e Roberto DaMatta, na tentativa de traçar
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definitivamente a identidade nacional. Assim sendo, o objeto desta análise crítica é o interesse da
dialética da marginalidade pelo conteúdo violento da literatura e do cinema dos últimos anos. Por
Página

objetivo, prima-se discutir a aplicabilidade da referida dialética no enquadramento da cultura brasileira


contemporânea, donde partiu o título Dialética da marginalidade: caracterização da cultura brasileira
contemporânea ou marca de afirmação?.

Palavras-chave: violência, literatura, cinema, representação

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A HISTÓRIA DE UM SILÊNCIO: A INSURGÊNCIA DA VOZ FEMININA EM A MANTA DO


SOLDADO, DE LÍDIA JORGE

Audrey Castañón de Mattos – UNESP/Araraquara

Em A manta do soldado, romance de Lídia Jorge, há a insurgência de duas vozes femininas que realizam
a crítica da sociedade androcêntrica e patriarcal e da própria literatura enquanto forma de representação
da realidade. Tal questionamento se dá pela via da linguagem, a partir de dentro do discurso masculino,
desconstruindo-o. Sendo um romance de autoria feminina, a primeira voz que emerge é a do autor
implícito, cuja crítica se processa não apenas nos entrelaçamentos do enredo, mas, principalmente, no
rompimento com o paradigma do personagem masculino por meio do engendrar da figura do filho mais
velho de uma família rural e fortemente patriarcal segundo padrões aristotélicos e galênicos de concepção
da mulher. A voz da narradora domina o primeiro plano da narrativa num complexo jogo discursivo em
que, simultaneamente, destaca a autoridade masculina e promove o seu sombreamento, pois a sua história
é estruturada sobre o que não foi dito por impedimento de convenções sociais fortemente amparadas no
patriarcalismo rural. A escrita feminina, que pode ser lida como um discurso de duas vozes, uma
dominante e uma silenciada, é aqui realizada no sentido de explicitar a voz silenciada, transformá-la em
grito, arrancá-la das camadas inferiores do palimpsesto, figura que bem identifica o modelo da ficção
produzida por mulheres. PALAVRAS-CHAVE: Escrita feminina; literatura de autoria feminina; literatura
portuguesa contemporânea.

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OS CONCEITOS DE “SEMELHANÇA”, “DIFERENÇA” E “IDENTIDADE” EM FOUCAULT E


SUAS RELAÇÕES COM A CRÍTICA IMPRESSIONISTA BRASILEIRA: A PRESENÇA DE
ESPAÇOS FICCIONAIS NO TEXTO CRÍTICO
Nelson Ricardo Guedes Dos Reis - UFMG

Nosso objetivo aqui é refletir acerca do pensamento de Michel Foucault, prioritariamente sobre aquela
linha desenvolvida em seu livro As palavras e as coisas, e sua relação com a crítica impressionista
brasileira. Gostaríamos de esclarecer que esta relação, não é, de forma alguma, uma relação de causa e
efeito, ou uma relação de influência de um suporte teórico, no caso o estruturalismo, sobre uma prática
crítica, no caso o impressionismo, pois aquele é posterior ao ―movimento‖ da crítica impressionista
brasileira. O que pretendemos com esta aproximação é usar a teoria estruturalista, representada aqui (por
mais que o autor negue esta filiação) por Foucault e sua obra seminal, As palavras e as coisas, para tentar
entender algumas características da crítica impressionista. Dentre essas características, uma em especial
vem sendo tema de nossos estudos há algum tempo, qual seja: a presença de elementos literários no texto
crítico, em outras palavras, a literariedade do texto crítico, a fluidez verbal aliada ao rigor analítico que,
ao mesmo tempo que aproxima o texto crítico do texto literário, não retira daquele seu poder de análise
formal e conteudística sobre o texto criticado. Para facilitar nosso esforço analítico e reduzir nosso campo
de ação, já que a crítica impressionista brasileira abarca algumas décadas e dezenas de críticos
renomados, nos centramos em duas emblemáticas figuras da chamada crítica impressionista: João Ribeiro
e Álvaro Lins. Um breve comentário de Foucault, que está inserido em uma emaranhada e complexa rede
de raciocínio cujo autor tenta, mas nem sempre consegue, desembaraçar nas mais de 500 páginas de As
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palavra e as coisas, está na base de nosso estudo, além de ter desencadeado toda a linha de raciocínio que
tentaremos traduzir, aqui, em palavras. A passagem citada é esta que reproduziremos a seguir: ―O
Página

comentário se assemelha indefinidamente ao que ele comenta e que jamais pode enunciar.‖ Foucault
insere este comentário no segundo capítulo de sua obra, intitulado de ―A prosa do mundo‖. Neste
capítulo, no anterior e nos próximos três ou seja, na primeira parte de As palavras e as coisas, Foucault
demonstra que o conhecimento, até o século XVI, se construía com base na semelhança: ―Vê-se que a
experiência da linguagem pertence à mesma rede arqueológica a que pertence o conhecimento das coisas
da natureza. Conhecer essas coisas era patentear o sistema das semelhanças que as tornavam próximas e
solidárias umas às outras.‖ Ora, se o comentário se assemelha ―indefinidamente‖ ao que ele comenta, isso
quer dizer que o texto crítico, por definição, se assemelha ao texto criticado, sem contudo poder enuncia-
lo. Foucault dessa forma encaminha nosso raciocínio na busca de uma semelhança entre o texto base e
aquele outro texto que se escreve sobre ele, no caso, o texto crítico. Levando em consideração que os
textos-base ou textos criticados que estamos tratando aqui são textos literários: romances, poemas,
crônicas, contos, etc, e nos apoiando na acertiva foucaultiana, concluímos que se o comentário se
assemelha ao que ele comenta, o texto crítico, ao se assemelhar ao texto criticado, é literário como ele ou
seja, possui o que alguns teóricos chamam de literariedade e que Barthes nomeou de ―escritura‖
(ecriture), em oposição à ―escrevência‖ (ecrévain).

Palavras chave: crítica, estruturalismo, impressionismo

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A ARQUITETURA DO POEMA-CIDADE EM JOÃO CABRAL E MURILO MENDES

Gislaine Goulart dos Santos - Unicamp

A cidade de Sevilha é marcada pela revolução da arquitetura barroca do século XVIII em que se apreciam
suas características construtivas e ornamentais de composições originais com combinações de materiais,
estilos e cores. O espaço é de herança mourisca e judia, com ruas que escondem tradições e belos
azulejos, igrejas gótico-mudéjar e barrocas que mesclam o negro e o branco. Em Sevilha o sagrado e o
profano se interpenetram e a literatura reflete fortemente essas peculiaridades. Em João Cabral,
principalmente, em Sevilha andando (1989) e em Murilo Mendes no livro Tempo Espanhol (1959) é
destacada a temática da cidade de Sevilha, referindo-se a arquitetura, seus costumes e tipos espanhóis e,
embora os poetas retratem o mesmo espaço, cada um poetizou Sevilha de acordo com suas vivências e
intenções. Pensando assim, propõe-se com este trabalho analisar o modo como ambos os escritores
abordaram as características arquitetônicas de Sevilha no seu fazer poético. Murilo Mendes abarca a
Sevilha branca e negra, religiosa e histórica; enquanto Cabral se interessa pela Sevilha realista,
materialista, apresentando uma relação de intimidade com a cidade e também com a poesia espanhola.
Nos dois livros em questão, constatam-se algumas coincidências em relação à predileção de ambos os
poetas pelo espaço espanhol e pela aliança da palavra e da imagem, como também diferenças: Tempo
espanhol é mais um livro de viagens que percorre a tradição cultural não só de Sevilha, como também da
Espanha, recorrendo à história e à cultura espanhola, retratando seus traços arquitetônicos por meio de
uma linguagem substantivada; Sevilha andando representa uma mulher e um espaço ideais para se viver e
a arquitetura de uma Sevilha materialista e realista traduzida no fazer poético de João Cabral,
configurando o seu projeto de poesia.

Palavras-chave: Tempo Espanhol; Sevilha andando; arquitetura; poesia.

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A CIDADE QUE A PALAVRA FOTOGRAFA

Sara Ferreira Marcenes Pozzato – UFSJ- Reuni/CAPES


Eliana da Conceição Tolentino - UFSJ

O presente trabalho objetiva demonstrar a tênue relação entre a escrita e a cidade de Luanda, na obra de
Luandino Vieira. Com status de personagem principal, Luanda é, por excelência, o palco privilegiado na
cena luandina. É o espaço que, ao mesmo tempo, dispersa e atrai as tensões do período colonial e pós-
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colonial. Luanda foi/é centro de lutas e disputas, estórias e vitórias. Luandino já havia demonstrado seu
amor pelo espaço urbano da cidade ao retomar seu nome - Luanda – em seu próprio: Luandino Vieira –
Página

José Vieira Mateus da Graça, tornando a ambos – cidade e autor – seres de papel, com forte ressonância
afetiva e identitária. De forma geral, o foco dado à Luanda como cenário privilegiado na Literatura
Angolana é justificado pelo contexto sócio-cultural ali presente: palco de transformações, surgimento da
imprensa e do que se pode conceber como os primeiros movimentos culturais angolanos – revistas
Mensagem e Cultura. O espaço luandense é, pois, o conjunto das paisagens naturais e das vidas que o
habitam. Ele é a matriz em que as novas gerações releem e ressignificam as ações do passado. Ele é o
presente, agregador do passado e do futuro.

Palavras-chave: pós-colonialismo, espaço, Luanda, Luandino Vieira.

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O PROCESSO DA ESCRITA NAS OBRAS ATONEMENT E IN BETWEEN THE SHEETS, DE


IAN McEWAN ATRAVÉS DOS PROTAGONISTAS BRIONY E STEPHEN

Dayanne Alves - UFV

Este trabalho discute como Ian McEwan aborda o processo de escrita nas obras Atonement e ―In between
the sheets‖ tendo como foco as personagens principais Briony e Stephen. Elementos como semelhanças,
diferenças e o papel de cada um dos protagonistas nas respectivas obras são observados. Apesar de ambos
serem escritores, Briony, em Atonement, é descrita como uma menina segura, confiante e controladora
das palavras e do seu mundo, além de ter seu talento apreciado pela família. Por outro lado, Stephen, em
In between the sheets, é inseguro, não parece ser bem sucedido na profissão de escritor e não recebe o
incentivo da ex esposa. O autor então constrói a protagonista Briony de forma mais ativa, uma vez que
ela é autora de Atonement, sua reparação por proferir uma inverdade que separou para sempre sua irmã do
homem que ela amava. Desse modo, Briony reúne os jovens amantes em seu mundo, ou seja, em seu
livro. Stephen é mais passivo e participa de forma mais indireta na vida familiar, não percebendo a
relação de sua filha com a amiga. A questão central do conto é o duplo sentido do termo ―sheet‖, que
pode ser entendido como papel ou lençol, ressaltando os múltiplos sentidos da escrita que são desvelados
no desenrolar do texto.

Palavras-chave: Literatura Inglesa, ficção moderna, metaficção.

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A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DOS ROMANCES NÃO-CANÔNICOS DA DÉCADA DE 30

Elisa Domingues Coelho - Unicamp

O decênio de 30, chamado por nossa Historiografia Literária de Segunda Geração Modernista, é
caracterizado por vasta produção literária e seu caráter idiossincrático repousa justamente neste ponto.
Grande parte das obras que se inserem nesse período não constituem o cânone literário, não ficaram para
a posteridade como grandes feitos de nossa literatura ainda embrionária; foram, ao contrário, pequenas
manifestações literárias – muitas meros rascunhos de estilizações alcançadas depois por escritores como
José Lins do Rego e Graciliano Ramos – que tendo pouca repercussão e restrita à crítica da época, hoje
se encontra parcial ou totalmente esquecidas. É nesse contexto que nosso trabalho vem se inserindo. Tais
obras trazem uma importância para além de sua valoração estética, seja ela ínfima ou não, mas revela
fundamental importância na nossa história social e literária. Atuando como ―pano de fundo‖ das grandes
manifestações literárias, elas trazem em suas páginas o registro histórico que caracterizou a produção da
década em questão, constituindo assim um testemunho literário das questões do Pará, Ceará, Amazônia;
São Paulo, entre tantas outras. Paralelamente, constituem o registro da inserção da variante popular na
prosa, dos novos recursos de estilo e suas diferentes tentativas de inserção nessa ficção que estava em
franco processo de mudança. Desse registro literário, nada se pode ver nos romances da Grande
Literatura, pois ali verificamos uma estética vitoriosa, na ―linha de chegada‖ de sua evolução após a
Semana de 22. Somente nesses débeis, falhos registros que preencheram o decênio de 30 é que podemos
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entender o panorama literário da época e o caminho que desembocou nas grandes obras de nosso
Modernismo.
Página

Palavras-chave: Literatura Brasileira dos anos 30; prosa regionalista; autores secundários.
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DUAS PERSONAGENS AMBICIOSAS NA FRANÇA E NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Maria Elvira Lemos da Silva- USP

O arrivismo social, tema largamente abordado na literatura do século XIX, tem uma de suas grandes
representações em Julien Sorel do romance Le rouge et le noir (1830) de Stendhal. Sorel é uma
personagem verdadeiramente engendrada pelos acontecimentos históricos e sociais da época em que o
romance foi escrito. Beneficiando-se de seu conhecimento dolatim e da Bíblia, vai aos poucos
conquistando posições vantajosas nas casas em que é acolhido como preceptor e secretário. Escrito quase
meio século depois de Le rouge et le noir, A mão e a luva (1874), do brasileiro Machado de Assis se
passa no Rio de Janeiro do Segundo Reinado. Diferentemente de Stendhal, Machado de Assis não
constrói a trama da heroína Guiomar – a partir de fatos históricos específicos. Entretanto, a obra brasileira
propicia ao leitor uma aguçada percepção dos costumes vigentes no Segundo Reinado, em mais de uma
esfera social. Do nascimento humilde à vida adulta confortável, a trajetória de Guiomar traz à tona
nuanças de uma sociedade em transformação. Essa comunicação tem por objetivo observar a construção e
o desenvolvimento dos protagonistas – Julien Sorel e Guiomar – em seus respectivos contextos literários,
a fim de estabelecer, entre as narrativas, possíveis conexões. Não obstante, ao longo do trabalho, para
além das semelhanças, tais como capacidade de adaptação e ambição, pôde-se perceber diferenças
substanciais entre Julien e Guiomar: enquanto aquele destaca-se por não se adequar à norma social
estabelecida, esta encaixa-se perfeitamente na sociedade em que vive, dominando amplamente suas
regras.

Palavras-chave: arrivismo social, Stendhal, Machado de Assis

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OUTROS CARNAVAIS: MODERNIDADE, CRÍTICA E GALHOFA NAS CRÔNICAS DA


BELLE ÉPOQUE CARIOCA

André Luis Mourão de Uzêda – UFRJ

Este trabalho propõe uma leitura do imaginário social da Primeira República por meio de crônicas de
carnaval publicadas no Jornal do Brasil de 1914 a 1924, recorte que abrange o final do período da
chamada Belle Époque tropical no Rio de Janeiro. Tendo como base a proposta dialética de Walter
Benjamin de se repensar o conceito de história pelo ―princípio da montagem‖, atentando para o estudo
dos particulares ou fragmentos apagados pelo discurso historicista tradicional, é nosso intuito mostrar
como os cronistas desse período observam e interpretam as transformações sócio-culturais da então
Capital Federal que modificam o cenário das manifestações culturais de caráter popular na virada do
século XIX para o século XX – o que aí inclui o carnaval carioca. Focados sobre um aspecto histórico
minucioso desse momento, os cronistas carnavalescos nos atentam para uma nova leitura do processo de
constituição de um imaginário social da ainda recém-instaurada República Brasileira, que intenciona
moldar um discurso positivista de civilização, modernidade e progresso trazidos pelo novo governo. Ora
de teor laudatório, ora de teor crítico a essa visão progressista que assola o carnaval de rua carioca, entre
finas ironias e deboches como lhe é peculiar, a crônica carnavalesca acaba por se firmar como importante
material de pesquisa para levantar aspectos particulares da história que, como propõe Benjamin, rompem
com o continuum do discurso historicista. Assim, tomando a crônica por seu caráter efêmero e
experimental, voltada para aspectos do cotidiano, é nosso objetivo final refletir sobre a inextricável
relação entre literatura, memória e história que se estabelece neste gênero ainda tão pouco explorado pela
crítica.

Palavras-chave: Carnaval carioca; Crônicas carnavalescas; Modernidade literária; Primeira República;


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Walter Benjamin.
Página

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UMA NOVA EDIÇÃO D‟A MULATA


Roberto Loureiro - Faculdade CCAA

Esta comunicação pretende relatar os trabalhos em curso na preparação de uma nova edição d‘A mulata,
de Carlos Malheiro Dias. Esse projeto tem apresentado desafios como a análise dos recortes da viagem de
regresso do autor ao Brasil, anos depois da polêmica causada pela publicação da obra; a leitura do
manuscrito do livro e o cotejo desta versão com a segunda edição publicada em 1896 que contém as
correções apontadas por Malheiro Dias – material que faz parte do acervo do Real Gabinete Português de
Leitura. Outros pontos importantes do trabalho são a atualização da ortografia e da pontuação. Esse
estudo também pretende encontrar mais pistas sobre o incômodo que o livro representou no meio
intelectual carioca e uma nova edição desta obra representa um avanço no estudo das relações culturais
entre Portugal e o Brasil no final do século XIX. Além disso, trata-se da visão de um autor português,
identificado com o Realismo-Naturalismo, sobre a sociedade brasileira finissecular.

Palavras-chave: edição corrigida; manuscrito; Realismo-Naturalismo.

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A REPRESENTAÇÃO DA LITERATURA PARA OS ESTUDANTES DO COLÉGIO DE


APLICAÇÃO COLUNI, EM VIÇOSA – MG

Maria de Lourdes Nogueira Brito - UFV


Elisa Cristina Lopes - UFV

O objetivo desse artigo é verificar a representação e o significado da literatura que os alunos do COLUNI,
percebem ou constroem nesse espaço escolar. A literatura está associada à cultura, e deste modo, a idéia
que se faz dela é sempre medida a partir de conteúdos fornecidos pelo contexto histórico-cultural de cada
época. A literatura tem o caráter de mobilizar a sociedade, permitindo a sobreposição entre o lúdico e o
conhecimento sistematizado sobre a realidade, subsidiando a formação de sujeitos plenos, autônomos,
sensíveis, críticos, cidadãos e sujeito de sua própria história. Assim, esta pesquisa tende ampliar os
conceitos de literatura na medida em que poderá incluir novos elementos que configurem o conceito
atualmente. Dessa forma, a intenção desta pesquisa é rediscutir e ressignificar as práticas pedagógicas que
envolvem esse conteúdo, incentivando a leitura literária por meio da aproximação mais direta entre aluno
e texto. Com base nesta percepção, a pesquisa poderá apontar caminhos para a formulação de propostas
pedagógicas, visando não apenas a formação do aluno no que concerne ao conhecimento literário, mas
também reforçar/enfatizar e até mesmo resgatar no meio escolar a importância das artes na formação
social e cultural do cidadão. Destarte, fez-se um censo sobre a representação da Literatura para os alunos
do COLUNI, e verificou-se que para a maioria dos alunos, Literatura é uma forma de aproximação do que
há de mais fantasioso, mágico e fabuloso da vida, além de ser diversão, levando o leitor para um mundo
diferente da sua realidade.

Palavras-chave: Representação da Literatura; Estudantes; COLUNI


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O HIBRIDISMO DA POESIA DE PAULO LEMINSKI: UMA LEITURA DE WINTERVERNO

Rosimar Araújo Silva - UFF

A proposta é pensar a obra Winterverno, de Paulo Leminski (1944 – 1989), publicada postumamente
em 1994, sob a perspectiva da transgressão das fronteiras entre o literário e o não-literário, lançando
mão, para isso, de uma análise intertextual de suas obras poéticas e de seu pensamento crítico. Trata-se
de um projeto compartilhado, feito em guardanapos, entre poemas de Leminski e esboços de desenho
de João Suplicy, a partir de uma experiência marcada por interrupções e um aparente acaso, dando a ver
uma produção tanto serial quanto intersemiótica. Assim, o hibridismo se instaura como efeito
mobilizador dos trânsitos que o poeta pratica, devido à pluralidade dos arranjos de concepções de arte e
de linguagem, gêneros e movimentos artísticos diversificados que organizam os seus trabalhos poéticos
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e críticos. E desse modo Leminski se inscreve sob o signo do provisório e se assume no espaço sempre
aberto do híbrido e do inacabado. A investida desse poeta no excesso de tantos entrecruzamentos
Página

culturais acaba apontando para o que consideramos esteticamente monstruoso.


Palavras-chave: pluralidade, transgressão, arte, experiência e linguagem.
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NEGOCIAÇÃO CULTURAL E A FIGURA DO ESTRANGEIRO NA POESIA DE PAULA


TAVARES

Patrícia Ribeiro - UFJF

O presente trabalho propõe a análise da poética da escritora angolana Paula Tavares a fim de investigar
como é apresenta a figura do estrangeiro e quais as relações que ele estabelece com a voz poética de
alguns poemas da autora. Em seus poemas, Paula Tavares apreende e expõe com deferência e grande
sensibilidade a tradição cultural de Angola, apresentando um universo permeado pela imagem dos
antepassados, dos ritos de passagem associados às mulheres, das máscaras ritualísticas e do boi, animal
oferecido aos deuses em sacrifícios realizados por povos pastores de algumas regiões angolanas.
Entretanto, vale ressaltar que a relação da poeta com os elementos da tradição cultural desse país ocorre
dentro do espaço de criação poética, logo o olhar da poeta recria e muitas vezes contesta, na sua escrita,
alguns elementos da tradição ancestral. Assim, este trabalho busca examinar como a figura do estrangeiro
relaciona-se com a voz poética e com essa tradição cultural. Para tal investigação, este trabalho utiliza os
conceitos de alteridade, tradução cultural e hospitalidade, recorrendo aos pressupostos de Hall (2006 e
2009) e Derrida (2003).

Palavras-chave: Poesia; Paula Tavares; Literatura angolana; Tradução cultural.


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CORPO: FIGURA SEMIÓTICA

Tatiana Cristina Ferreira - USP

O corpo humano, como um conjunto de enunciados, adquire caráter semiótico na relação entre sua
valorização denotativa e conotativa. Corpo: figura semiótica é a análise aspectual da superfície a qual
revela o olhar semiótico do nível profundo e devolve modulada por ele, a curva de flutuação tensiva do
texto, na qual os auges de tensão correspondem a momentos emocionais. Como exemplo, exporei partes
do filme ―Madame Bovary‖ cuja personagem Emma terá sua expressão aspectual e rítmica observada e
ainda veremos como essas expressões se somam. Verificaremos suas variações tímicas. Consideramos a
emoção como um tipo de tensão, que na fala ou pelo o corpo podem ser apreendida da análise verbo-
visual. Em semiótica, para entender as projeções de sentido de determinado corpo é preciso verificar
como a sua colocação em discurso o transforma de um corpo aparentemente denotado a um corpo
marcado por conotações culturais. Segundo Fontanille (2001), desde a Semiótica das Paixões, há uma
sugestão de separação dos conceitos emoção e paixão. A semiótica define paixão como um estado ou
percurso fortemente aspectualizado e com fortes conotações sócio-culturais, enquanto a emoção como
aflorar corporal da paixão, num processo que vai do individual ao coletivo, é o momento em que a paixão
do sujeito torna-se perceptível e passível de moralização social. Assim, gestos com a cabeça, olhar, corpo,
fala, momentos de extasia: o fluir do tempo corporal compõe o percurso passional (despertar afetivo,
disposição, pivô passional, emoção, moralização).

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ESCRITURAS DA MULHER LATINO-AMERICANA: EXPRESSÃO E CONFINAMENTO

Rose Mary Abrão Nascif - UFJF


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Já não se admite considerar a escritura de mulheres como uma produção literária circunscrita na
marginalidade. Subverteu-se a perspectiva marginal ao vislumbrar-se o prolífico processo de
Página

consolidação da arte da palavra escrita protagonizada por mulheres, na medida em que, embora ainda
resvale em certo preconceito de ordem genérico, a produção literária assinada por mulheres tem, paulatina
mas efetivamente, demarcado seu espaço e posição no âmbito universal das letras. Não seria diferente na
América Latina. Algumas autoras latino-americanas usam da literatura não apenas para entreter, mas
também para demarcar seu posicionamento sócio-político, no âmbito doméstico ou supra-doméstico, sem
contudo moldar-se a parâmetros canônicos para estabelecer-se como sujeito portador de uma linguagem
que convida à reflexão e à reformulação de conceitos tanto em dimensões literárias como institucionais.
Tomamos por base a escritora cubana Zoé Valdés e a brasileira Marilene Felinto: a primeira, empenhada
na denúncia dos abusos cometidos pelo regime autocrático em Cuba, e a segunda, militante esquerdista no
Brasil, ambas as vozes mediadas pela literatura.

Palavras-chave: Literatura, Gênero, América Latina

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ELEMENTOS FABULOSOS E ORALIDADE: ESTRATÉGIAS TEXTUAIS PÓS-COLONIAIS


EM UM CONTO DE MIA COUTO

Elizabeth da Silva Mendonça - UNESP-IBILCE/S. José do Rio Preto

A amplitude do conceito de pós-colonialismo abriga algumas críticas literárias feitas a partir das
produções das nações anteriormente colonizadas pelas metrópoles ocidentais. Pensando nas formulações
de Appiah (2007), sobre a contestação que o pós-colonial faz das narrativas legitimadoras anteriores, em
nome de um universalismo ético-humanista, podemos observar a literatura de Mia Couto, no conto ―O dia
em que explodiu o Mabata-bata‖, do livro Vozes anoitecidas, como um projeto literário que consegue unir
o estético, ao político. Mia Couto incorpora à língua portuguesa, o léxico das culturas locais, através do
processo de oraturização. O autor traz para a letra marcas da oralidade comuns à cultura africana e com
isso a escrita passa a ser uma forma de resistência ou mesmo de descolonização da língua. Trata-se de
uma estratégia de hibridização linguística com um objetivo estético-político, pois, através da língua,
resgata-se toda uma cultura, uma tradição, até então silenciadas pelos processos coloniais. Além da
oralidade, o escritor recorre ao elemento fabuloso, a fim de recuperar o imaginário popular, valer-se dele
para subverter o real e, usando o humanismo ético do pós-colonialismo, aludido por Appiah, dar voz a
personagens esquecidos.

Palavras-chave: pós-colonialismo; humanismo; ética; estética; Mia Couto.

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ARTE E FILOSOFIA NA LITERATURA DE J. GUIMARÃES ROSA

Wanderley C. Oliveira - UFSJ

O objeto de estudo desta comunicação é a novela de Guimarães Rosa intitulada ―Cara-de-Bronze‖. Em


sua origem, este texto faz parte do conjunto de sete novelas publicadas pelo escritor em 1956, no livro
que tem como título: Corpo de baile. A partir de 1960, esta obra passou a ser editada em três volumes
independentes, que são: 1. Manuelzão e Miguilim; 2. No Urubuququaquá, no Pinhém; e 3. Noites do
sertão. A ―Cara-de-Bronze‖ faz parte do segundo volume: No Urubùquaquá, no Pinhém. É ele que
utilizamos aqui. A partir da estória contada em ―Cara-de-Bronze, temos dois objetivos: pensar a arte
como uma possibilidade de reaprender a ver o mundo, e apresentar esta possibilidade como
imprescindível para a unidade do personagem central da narrativa: o fazendeiro Cara-de-Bronze. Para
tanto, dividimos a estória em quatro instâncias. As duas primeiras são aquelas dos vaqueiros e o do
violeiro, apresentadas, respectivamente, como dois pólos opostos: o da formiga e o da cigarra. As duas
últimas, são as estâncias do dono da fazenda e do vaqueiro Grivo. Este último encarna a possibilidade da
arte como reaprendizado do olhar para o mundo a partir da própria instância do olhar pragmático em que
vivem os vaqueiros; e o fazendeiro, por sua vez, estabelece as exigências da arte, que possibilitará, na
estória, o resgate de seu mundo e de si mesmo.
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Palavras-chave: Olhar. Utilitarismo. Mundo. Admiração.


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HISTÓRIA DA LITERATURA DE DIVINÓPOLIS

Pedro Pires Bessa - FUNEDI/UEMG

Em 2012, a cidade de Divinópolis, MG, completará 100 anos de emancipação política. Está havendo
grande esforço para um levantamento histórico de tudo que se relaciona com essa cidade, inclusive a
literatura. Partindo de uma reflexão teórica sobre literatura regional e memória podemos levantar os
tópicos, a seguir, a respeito da história da literatura de Divinópolis. Aqui houve e há uma riqueza imensa
de produção literária, com exceção da poeta Adélia Prado, conhecida com todo o mérito, outros literatos
de grande valor de Divinópolis aguardam o momento de ver suas obras analisadas criticamente e
difundidas, com vigor. Esta literatura possui todos os gêneros literários: poesia, romance, crônica, conto,
biografia e outros. Há uma expressão tradicional e de vanguarda; também popular e oral. Há um contínuo
lançamento de novos livros e de novos autores. Desde 1914 até hoje, muitos jornais da cidade têm espaço
para a literatura. O Jornal Literário AGORA, publicado em Divinópolis de agosto de 1967 a julho de
1969, fez de Divinópolis, durante esse tempo, o centro cultural de Minas Gerias, com ressonâncias no
Brasil e no exterior. Ele é o fundamento da cultura de nossa cidade. De 1922 até 1961 há a existência de
apenas 13 (treze) livros de escritores de Divinópolis. Em 1961, foi fundada a Academia Divinopolitana de
Letras e os escritores da terra buscam, desde então, publicar a maioria de suas obras em livros. Aqui há a
Noite da Poesia. Toda primeira 2ª-feira do mês, a partir das 19:00 horas, poetas de Divinópolis e das
regiões circunvizinhas reúnem-se, na Biblioteca Municipal, para declamar publicamente suas próprias
composições ou a de outros poetas. No mês de outubro de 2011, esse movimento completará,
ininterruptamente, 22 (vinte e dois) anos de existência.

Palavras-chave: Abundância. Gêneros. Instituições. Renovação. Difusão.

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ARANDO A LINGUAGEM: UMA LEITURA COMPARADA ENTRE SEAMUS


HEANEY E SALGADO MARANHÃO

Fabrício Tavares de Moraes - UFJF

O presente trabalho pretende comparar as poéticas do brasileiro Salgado Maranhão e do irlandês Seamus
Heaney, observando a forma como ambos se utilizam da linguagem e de diversas metáforas semelhantes
para representar tanto o lugar da poesia na contemporaneidade quanto o lugar que a figura do poeta
atualmente ocupa no seu contexto social. Para atingir tal objetivo, portanto, será traçado um quadro da
representação poética contemporânea com seus embates e percalços, bem como da influência que o
contexto sócio-econômico e cultural exerce na criação literária nos dias atuais. Pretende-se ainda,
utilizando conceitos de T.S. Eliot e do crítico norte-americano Harold Bloom, examinar a maneira como
ambos os poetas se apropriam e revisam a tradição poética moderna e clássica, criando assim obras
poéticas plenas de referências e significações que combinam uma estética e um lirismo extremamente
refinados com um profundo senso de responsabilidade do indivíduo contemporâneo perante os grandes
problemas coletivos.

Palavras-chave: Poesia contemporânea; Tradição poética; Estética

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UM CONTEÚDO EM TRÊS SUPORTES

Germano da Costa Lemos - CEFETMG

O livro, há muito, é o suporte canônico para textos didáticos e é por meio dele que o professor constrói
suas aulas, respeitando os limites que impõem para a realização delas. No entanto, em poucos anos,
nossas sociedades conheceram dois outros suportes textuais que têm, em muitos momentos, assumido o
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seu lugar na preparação de aulas de todos os conteúdos: a apostila (que mantém muito da estrutura do
livro tradicional) e os portais educativos (que extrapolam as possibilidades que existiam nos livros e nas
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apostilas, criando um número surpreendente de ligações hipertextuais entre o objeto em estudo e o


mundo). No ensino de literatura, o livro didático comumente desempenha um papel de limitador das
possibilidades pedagógicas, considerando os excertos dos textos que apresentam, a pouca qualidade e
quantidade de imagens e, principalmente, as dificuldades de relacionar o objeto estudado com os diversos
textos do presente. Por outro lado, as apostilas e os portais educativos que possibilitam a preparação de
aulas de literatura enfocam alguns aspectos e procuram sanar esses problemas que citamos como
negativos no livro didático. Diante disso, objetivamos uma reflexão acerca desses três suportes textuais a
partir da análise das possibilidades de construção de uma aula sobre a produção da prosa trovadoresca em
cada um deles. Para isto, discutiremos a natureza e a especificidade de cada um dos suportes analisados, a
relativização do livro como suporte canônico para o ensino de literatura e as possibilidades de uso de
ferramentas tecnológicas para o planejamento e execução de aulas de literatura.

Palavras-chave: Livro Didático. Apostilas de Literatura. Portais Educacionais. Aula de Literatura.


NTIC‘s.
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GÊNESIS E APOCALIPSE SEGUNDO DALCÍDIO JURANDIR NA OBRA CHOVE NOS


CAMPOS DE CACHOEIRA

Sandra Terezinha Perlin – UEPA

A presente comunicação pretende abordar as possíveis aproximações entre a obra Chove nos Campos de
Cachoeira, de Dalcídio Jurandir, grande expoente da literatura amazônica, e a Bíblia. As intuições em
curso já são capazes de indicar que a obra de Dalcídio Jurandir abriga, em diversos níveis, formas
múltiplas de reescritura de episódios advindos das narrativas bíblicas. Numa perspectiva intertextual,
Dalcídio Jurandir se apodera da literatura bíblica reescrevendo-a numa ótica Marajoara. A aproximação
entre as obras dar-se-á, mais propriamente, a partir de uma perspectiva mítico-escatológica, onde
elementos como água, fogo e as representações do fim e dos ciclos da vida na terra se transformam em
eixos interpretativos centrais da obra do autor paraense.

Palavras-chave: Bíblia; Literatura; Reescritura; Religião; Hermenêutica.

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A LITERATURA DE MASSA EM FOCO: ATÉ QUE PONTO SE PODE REJEITÁ-LA?

Renato de Oliveira Dering – UFV


Elisa Cristina Lopes – UFV

A literatura de massa, conhecida grosso modo como best-seller, é uma vertente que vem se firmando há
algum tempo. Escritores como Alexandre Dumas, Charles Dickens, Bernardo Guimarães e José de
Alencar tiveram suas épocas de literatura voltada para uma massa leitora, através de folhetins, publicados
em rodapés de jornais, e esses autores são hoje considerados cânones de nossa literatura. O que se
confunde, talvez, seja o que seria essa literatura de massa propriamente dita e o conceito do que seja best-
seller. Deste modo, a principal confusão se faz através do mecanismo mercadológico, considerando que o
mais vendido supõe um baixo valor estético. Contudo, essa generalização remete a um primeiro erro, se
levarmos em consideração que os autores supracitados foram também best-sellers em suas épocas, bem
como o próprio ícone brasileiro Machado de Assis ainda é, se consideramos apenas o valores de vendas
de seus livros perante mercado. O objetivo dessa pesquisa consiste em discutir as seguintes indagações: o
que pode ou não pode ser considerado literatura e através de quais mecanismos que se delimita tal
acepção? Será que toda obra que detém de um sucesso de vendas, e talvez de público também, será
sempre desprovida de valores que a possibilite se firmar tal como literatura?

Palavras-chave: literatura de massa, best-seller, folhetim

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DO DESTOANTE AO DESTOADO: OS DESLOCADOS. A LITERATURA INFANTIL DE


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CLARICE LISPECTOR
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Flávia Alves Figueirêdo Souza – UNIMONTES


Alex Fabiano Correia Jardim – UNIMONTES
Esta pesquisa trata das especificidades da literatura infantil brasileira escrita por Clarice Lispector, a
saber: Quase de verdade (1978), A vida íntima de Laura (1974), A mulher que matou os peixes (1968) e
O mistério do coelho pensante (1967); à luz de uma série de diálogos estabelecidos entre o discurso
literário e os discursos de ordem histórica, filosófica, psicanalítica e pedagógica. A respeito da discussão
sobre as atribuições da dita literatura infantil, parece-me que o gênero atuará como um só corpo em que
vivem as mais profundas controvérsias e diversidades; defini-la (a literatura infantil) dependerá da
singularidade do olhar a lhe ser lançado e da comunicação que estabelecerá com outras instâncias
discursivas. Se, em linhas gerais, a produção literária infantil soará por demasiada diversa, parece-me que,
paradoxalmente, o fato de cada vez afunilar os nomes em suas especificidades, mais necessário soa
esmiuçá-lo, desdobrá-lo. Nesse sentido, a análise dos textos de C.L resulta em literatura infantil em que se
alicerça um espaço de tensão, de deslocamento e de harmonização entre duas instâncias e as que lhes
forem consequentes, trata-se de um ponto movediço que acontece sobre a travessia, entre o tradicional e o
moderno; entre a renovação e a permanência dos aspectos instaurados pela tradição europeia e com que
dialoga. À luz dessa percepção, a literatura infantil de C.L considera o receptor infante específico, quando
redimensiona a relação entre emissor e receptor, entre o que narra e o que recebe o narrado; reavalia a lida
dada à fantasia, ao happy end, ao maniqueísmo e ao moralismo; através de uma literatura híbrida intra e
intertextual que flexibiliza o código moral e a dimensão vocabular de seus textos em favor do recebedor
infante e da aporia a que se permitem os livros.

Palavras - Chave: TRADIÇÃO; MODERNIDADE; TRAVESSIA.

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SOCIEDADE, SUJEITO E HISTÓRIA EM “MEMÓRIAS DE ADRIANO” DE MARGUERITE


YOURCENAR

Nilson Adauto Guimarães da Silva - UFV

O presente trabalho busca discutir o romance Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar,


examinando as relações entre o discurso literário e o discurso de outros campos do conhecimento, como a
narrativa memorialística e histórica; busca também examinar o gênero romance epistolar que se aproxima
da narrativa de confissão. Será abordada a intertextualidade como aspecto essencial na composição da
narrativa, uma vez que o processo de interlocução articula no discurso dialógico do narrador referências a
outros discursos, em particular o discurso histórico do período clássico. O romance, de estilo preciso e
sóbrio, assume assim a feição de uma carta, em que o velho imperador produz confissões e, por meio de
uma longa anamnese, faz um balanço de sua própria existência e do tempo em que viveu, relacionando
sua personalidade a seu contexto social. O personagem escreve sua (auto)biografia, e como imperador
suas memórias pessoais se tornam memórias históricas. É um romance de uma carta só, com um narrador-
personagem único. Entretanto, na voz de Adriano falam inúmeras outras, e o retrato memorialístico de
sua personalidade, humana por excelência, é também o retrato de uma época. No romance de Yourcenar,
o tema social está associado àquele da expressão da identidade: a dimensão sociológica e a dimensão
psicológica se associam como em muitas abordagens filosóficas.

Palavras-chave: Yourcenar, Literatura e História, Identidade.

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O CRONOTOPO DA VIAGEM NO POEMA VOLTA A SANTIAGO DO CHILE DE FERREIRA


GULLAR
Marcélia Guimarães Paiva - CESJF

O poema Volta a Santiago do Chile do livro de Ferreira Gullar Em alguma parte alguma alude ao seu
exílio político e ao golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende do Chile. Nesse poema, o
poeta escreve sobre seu retorno à cidade refletindo sobre seu passado e presente. O tempo (o exílio vivido
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no passado e o presente) e o espaço (a cidade de Santiago do Chile) são elementos fundamentais nesse
poema. O desenvolvimento do poema não é linear, pois as reflexões sobre o passado e o presente se
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alternam como em um jogo. Observam-se no poema três dimensões: a dimensão ―memória‖, a dimensão
―realidade‖ e a dimensão ―Allende‖. ―Memória‖ é dimensão do passado enquanto ―realidade‖ é a
dimensão em que transcorre o presente. Essas duas dimensões giram em torno da dimensão ―Allende‖. A
dimensão ―Allende‖ também envolve e intersecciona as outras duas; existe em função das outras e
também influi sobre elas. O poeta anda pela cidade real com o sentimento/sofrimento de que Allende não
está e sem ter a possibilidade de harmonizar-se nem com o passado nem com o presente. O cronotopo da
viagem articula a história narrada em torno do deslocamento espaço-temporal desse protagonista e é
especialmente caracterizado pela busca de sua própria identidade.
Palavras-chave: exílio; cronotopo, poesia política
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A LITERATURA DE DENÚNCIA DE JOSÉ J. VEIGA NO CONTO “A USINA ATRÁS DO


MORRO”

Fabianna Simão Bellizzi Carneiro – UFG/CAC


Alexander Meireles Silva – UFG/CAC

Rios que jorram dinheiro, cavalos que voam, pessoas transportadas dentro de bolhas, enfim. É comum
encontrarmos na escrita de José J. Veiga situações que fogem ao real vivido mas que nem por isso deixam
de nos fornecer pistas várias das angústias reais vivenciadas pelo homem contemporâneo. Veiga nos
deixou uma escrita contundente, marcada por histórias nas quais notamos traços do sombrio e opressor
que ganha ainda mais relevo em se tratando de narradores-crianças, presença recorrente em suas
narrativas. No conto ―A usina atrás do morro‖ (1959) encontraremos situações insólitas narradas por uma
criança e que ganham fôlego por denunciarem a opressão, a violência e o corte abrupto das opções e das
liberdades individuais. Para uma melhor tessitura das análises deste conto, buscarei respaldo em teóricos
que compreenderam a literatura de denúncia inserida no contexto de opressão que durante muitos anos
perdurou em vários países da América Latina. Autores como Ángel Rama, François Laplantine, Nestor
Garcia Canclini, Suart Hall fornecerão indispensável suporte para construção deste artigo. Não se trata de
um trabalho conclusivo, mas sim analítico, portanto a metodologia se sustenta em pesquisa bibliográfica
que será citada ao longo do texto.

Palavras-chave: realismo mágico – literatura latino-americana – contemporaneidade


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O MAL DA ILUSÃO:

A MULHER DESILUDIDA E O ATIVISMO DE SIMONE DE BEAUVOIR

Teresa Cristina da Costa Neves (UFJF)

Publicada quase duas décadas depois de O segundo sexo e quatro meses antes dos eventos de Maio de
1968 na França, a novela A mulher desiludida, de Simone de Beauvoir, faculta uma dupla leitura. Por um
lado, pode ser explorada como uma revisão, de um ponto de vista ficcional, das ideias seminais
formuladas pela autora no ensaio literário que a tornou figura lendária do movimento feminista. Por outro,
permite ser percebida como um prenúncio das transformações que instigariam as mulheres a vencer o
imobilismo e inaugurar uma postura ativista. Na ficção em tela, são identificadas alusões feitas ao best-
seller de Betty Fiedan, A mística feminina, obra que desmistificou a idéia de realização doméstica das
mulheres norte-americanas de classe média, nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial. Também
são divisados na narrativa o desprezo de Beauvoir pela moral burguesa e sua postura intelectual
existencialista, marcas distintivas tanto de sua conduta pessoal incomum e revolucionária, quanto de sua
índole crítica, flagrante no conjunto de sua produção literária.

Palavras-chave: Feminismo; Maio de 1968; Ficção.

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CORPO, PALAVRA E PODER NA ESCRITA DE PAULINA CHIZIANE

Anamélia Fernandes Gonçalves – UFSJ

Com uma tradição literária marcada pela narrativa de autoria masculina, Moçambique assiste ao
despontar de Paulina Chiziane, considerada a primeira mulher do país a escrever um romance.
Procurando se levar em consideração a relevância do fato para o estudo em questão, o principal objetivo
deste trabalho é evidenciar a importância da escrita de autoria feminina, mais especificamente, a produção
escrita de Paulina Chiziane para as transformações das relações de poder entre homens e mulheres
escritores ou não, em Moçambique, em particular e na África como um todo. Para tanto, foi necessário
também observar o contexto pós-colonial em que essa escrita se insere. Como objeto de estudo, elegeu-se
o romance O Alegre Canto da Perdiz de Paulina Chiziane, e o corpo, particularmente o corpo feminino,
foi tomado como principal categoria de análise. Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizados
ainda como eixos norteadores os conceitos de Desterritorialização e Reterritorialização desenvolvidos
por Deleuze e Guattari (1977).

Palavras-chave: Paulina Chiziane - pós-colonialismo – Desterritorialização - Reterritorialização

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QUE ÁFRICA ESCREVE O ESCRITOR MOÇAMBICANO MIA COUTO

Luana Raquel da Silva Rezende - PUCRJ

Em O romance na África do sul-africano J. M. Coetzee, a personagem Elizabeth Costello, uma escritora,


se preocupa em fazer com que o romance, gênero textual europeu, passe a ter características africanas.
Seria uma metáfora utilizada do autor, Coetzee, para falar da busca pela afirmação africana na literatura?
Ainda seguindo a linha de raciocínio sugerida pelo romance de Coetzee outra questão se coloca: Para
quem escreve o escritor africano? Os questionamentos levantados por Coeetze são muito pertinentes para
a discussão que se pretende levantar no presente trabalho: O que escreve o escritor africano Mia Couto e
com que intenção. O presente trabalho objetiva realizar uma breve análise da escrita do moçambicano
Mia Couto com o intuito de verificar se sua produção literária vai além de todos esses questionamentos.
Nos interessa compreender que África podemos encontrar nas histórias desse escritor, considerado pela
crítica um dos melhores escritores de língua portuguesa.

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A DOR DE AMOR E SUA ENUNCIAÇÃO EM DUAS CANÇÕES DE CHICO BUARQUE DE


HOLLANDA

Samira de Jesus Mór - UFJF

Propomos nesse trabalho a leitura de duas canções de Chico Buarque de Hollanda, ―Pedaço de mim‖ e
―Atrás da porta‖, buscando aproximações e distanciamentos no que se refere à temática amorosa.
Interessa-nos observar o sujeito ou os sujeitos dessas canções em sua necessidade de enunciar a dor da
separação. Uma dor que dói no corpo e que nos faz lembrar o mito das esferas relatado por Aristófanes
em O banquete, de Platão. Os amantes são obrigados à separação ou esta se dá pelo fim do amor em uma
das partes. De toda forma, a dor pela impossibilidade da relação amorosa perpassa o corpo e nele se
estabelece. Resta à nostalgia do enlace irrealizável a linguagem, pois o amor feliz não produz enredos.
Como afirma o filósofo e ensaísta suíço Denis de Rougemont, o amor feliz não tem história. Só é preciso
contar a história do amor quando ele acaba ou é recíproco mas infeliz. A linguagem, esse lugar da falta,
da ausência, mas também da criação, instrumento que traz à existência, passa a ser o consolo do sujeito
amoroso, para usar a expressão de Roland Barthes, esse eu que chora e lamenta a ausência de seu objeto
de amor. Nossa leitura pretende, então, aproximar e contrapor os sujeitos dessas canções e sua dor de
amor, tendo como referencial teórico a obra de Platão supracitada; História do amor no Ocidente, de
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Denis de Rougemont; e O prazer do texto e Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes.


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Palavras-chave: Canção, Chico Buarque, Amor, Linguagem, Filosofia.


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VESTÍGIOS QUE NÃO SE DEIXAM APAGAR

Beatriz Fam – UFMG

Ao indagar ―quais são as imagens dignas de serem recordadas?‖, Wim Wenders, cineasta alemão, já
demonstrava a sua preocupação diante do fato de que, no mundo moderno, perdemos a nossa capacidade
em enxergar o invisível. Para trabalhar essa questão, partiremos de uma análise das fotografias que
compõem a exposição Ausencias, de Gustavo Germano, na qual o fotógrafo argentino coloca, lado a lado,
duas imagens muito parecidas. A primeira, retirada de um álbum de família, mostra a felicidade das
pessoas retratadas; a segunda, tirada anos depois pelo próprio fotógrafo, é praticamente igual à primeira,
mas tem como objetivo fazer uma denúncia: ali falta alguém, e essa pessoa já não está mais presente
porque foi vítima da ditadura militar argentina, e desapareceu sem deixar rastro algum. A simplicidade
das imagens vai de encontro à grandeza de sua mensagem. A ausência do ente querido se torna presença a
partir do momento em que é para ele que olhamos. Nossos olhos não se direcionam para os que ali estão,
pois detemos nosso olhar somente no espaço vazio, na falta. Seguindo a noção benjaminiana de spur, este
ensaio pretende analisar os vestígios que as imagens carregam e como estes são responsáveis por salvar a
memória, permitindo que se lembre algo que muitos tentaram esquecer.

Palavras-chave: fotografia; vestígio; memória; esquecimento

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A LINGUAGEM DO COTIDIANO EM “MANGUE” E “EVOCAÇÃO DO RECIFE”: FISSURA


DAS FRONTEIRAS EM MANUEL BANDEIRA

Gládiston de Souza Coelho - PUCSP

O leque que se abre no campo literário, e em especial, na poesia, para a melhor compreensão do vácuo
situado entre a realidade ficcional e a convencional, re-atualiza a discussão acerca dessa linha limítrofe.
Quando entramos em contato com a poesia de Manuel Bandeira, percebemos o modo como esse poeta
opera a palavra, e nos colocamos na fissura entre essas duas realidades. Dessa forma, o autor lança luz
sobre a apreensão da territorialidade, conceito tão amplamente debatido no campo das ciências humanas,
e o reconfigura por meio da criação de seus versos. Reabre-se, assim, o estudo desse tema tendo-se em
vista a historiografia brasileira do início de século XX, e contribui de igual modo para a apreensão desse
período. Destarte, revela como cacos em suspensão o reflexo da natureza humana, bem como já
pavimenta os pilares sobre os quais repousa a reflexão em relação ao modo de vida urbano
descentralizado. Nos poemas ―Evocação do Recife‖ e ―Mangue‖, que integram o livro Libertinagem,
podemos verificar uma tessitura de fios labirínticos transpostos emanada de uma linguagem prosaica
criadora de um palco poético para o qual se convergem, fundem-se e diluem-se as linhas limítrofes como,
por exemplo, do local e o universal, do poema e o conto, do micro e o macro. Com isso, possibilita os
elos entre o mundo real e a verdade poética, e, igualmente, recupera o sentido primordial da poesia. Isso,
mediante a compreensão do termo dentro do universo literário, tanto na composição da espacialidade
quanto da temporalidade. Tomando por axiomáticos tais argumentos, Bandeira antecipa, na malha
poética, as transformações que iriam reconfigurar a geografia planetária, além de assoalhar o modo de
vida urbana, cujos deslocamentos e um sair de centro estabelecem um novo paradigma nas relações
sociais e entre a literatura e a realidade.

Palavras-Chave: Cotidiano – Fronteiras – Linguagem – Literatura – Poesia

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UMA LEITURA SIMBÓLICA DA NARRATIVA INTERATIVA AMERICAN MCGEE‟S ALICE

Deyseane Pereira Santos - UEPB

A sociedade humana está circundada por narrativas que a acompanha muito antes da invenção da
imprensa de Gutenberg ou da estrutura do livro, desde a época em que a oralidade predominava. Segundo
Murray (2005), as narrativas sempre foram o instrumento basilar encontrado pelos agrupamentos
humanos para construir comunidades, desde uma tribo reunida em volta de uma fogueira até uma
comunidade global conectada por um computador de última geração. Elas podem ser apresentadas em
diferentes mídias (livros, história em quadrinhos, jornal, cinema, teatro, etc.) incluindo jogos eletrônicos.
Sendo assim, ela é uma constante que varia em seu meio de expressão. A expansão rizomática da
narrativa para diversos domínios do saber marca um processo evolutivo das técnicas de comunicação e
informação literária, que vai da era oral, passando pela escrita e chegando a era digital, formando com
isso um fluxo evolutivo da arte de contar histórias e revitalizar o imaginário. Diante disso, este trabalho
visa demonstrar um dos vários vieses de leitura da narrativa interativa American McGee’s Alice,
videojogo lançado pela empresa Eletronic Arts no ano 2000, à luz do Imaginário simbólico, em que se
destacam os regimes diurno e noturno da imagem, cunhados por Gilbert Durand na obra Estruturas
antropológicas do imaginário (2002), no intuito de observar como o imaginário se configura nesse novo
meio, o ciberespaço.

Plavras-chave: Narrativa. Imaginário. Ciberespaço. Games


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MÁRIO E CARLOS: CARTA COMO “FOLHA AO ATÁ, LEVADA PELOS VENTOS”.

Maria Santos

Este trabalho propõe uma reflexão sobre o texto ―cartas‖, a partir das correspondências de Mário de
Andrade e Carlos Drummond de Andrade. Escapando às demarcações de gêneros, as cartas, desses
missivistas, aparecem como um texto híbrido, devido à complexidade interna no que diz respeito aos
assuntos abordados, à linguagem usada, à forma de abordar os fatos narrados. Além disso, como prosa
poética, as cartas configuram-se também como um sistema de representações sócio/histórico/cultural de
uma época. O discurso então se constitui polifônico por ser atravessado por diferentes formas de pensar,
de acordo com as relações de cada um dos poetas com o social/ideológico, manifestado no ato de
enunciação. O espaço das cartas, nessa perspectiva, torna-se múltiplo, peculiarmente, por não se
cristalizar e sim por se recriar em discursos outros. Essa proliferação de discursos é instaurada pelo
dialogismo: o ―Eu‖ em relação com o outro e com o meio, edificando o discurso de si, do literário, da
crítica literária, da memória, da crítica social, da história. E é sobre cada um destes discursos, na escritura
das cartas, que se pretende discutir neste seminário.
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O ENLACE ENTRE TEATRO E LITERATURA: APRENDER A NADA-R E MALANDRAGEM


MADE IN BAHIA EM CENA

Débora de Souza – UFBA


Williane Silva Coroa – UFBA
Rosa Borges dos Santos – UFBA

Propõe-se, neste trabalho, apresentar algumas considerações sobre relações entre teatro e literatura,
observando-se diálogos estabelecidos no processo de construção de textos teatrais em que cada escolha
comunga com posições estéticas e ideológicas dos dramaturgos. Tomam-se como objeto de estudo os
textos Aprender a nada-r, de Nivalda Costa, e Malandragem made in Bahia, de Antonio Cerqueira,
produzidos e censurados no período da Ditadura Militar, na Bahia. Desse modo, observam-se como
aqueles dramaturgos baianos apropriam-se de textos literários, atualizando-se sentidos, em uma relação,
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manifesta ou secreta. O presente trabalho realiza-se a partir dos estudos desenvolvidos pela Equipe Textos
Teatrais Censurados (ETTC), coordenada pela Profa. Dra. Rosa Borges (UFBA), em que se objetiva
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editar e interpretar, por meio de atividade filológica, esses textos, arquivados, principalmente, nos acervos
do Espaço Xisto Bahia, localizado à Biblioteca Pública do Estado da Bahia, do Teatro Vila Velha, em
Salvador, e na Coordenação Regional do Arquivo Nacional, no Acervo da Divisão de Censura e
Diversões Públicas do Arquivo Nacional, em Brasília. Adotar-se-ão os pressupostos teóricos da Filologia,
adotando-se os métodos da Crítica Textual e da Crítica Genética ou Crítica de Processo.

Palavras-chave: Literatura dramática. Teatro. Apropriação.

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EM BUSCA DO “TODO FULGURANTE”: PEDRO NAVA E SEU BIOGRAFADO

Cassimiro Baesso Júnior - CESJF

O objetivo deste texto é apresentar uma análise do manuscrito de Pedro Nava (1903 – 1984), ainda não
publicado, sobre o médico e também escritor João Vicente Torres Homem (T.H. - 1837 – 1887). Dessa
forma, buscamos nesta obra pontos de convergência entre o homem Pedro Nava e seu biografado. T. H.
foi médico do império e prolífico escritor - publicando oito livros e inúmeros artigos -, além de professor
da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A referida obra faz parte do acervo de Nava que está
depositado na Fundação Casa de Ruy Barbosa. É constituída de 251 páginas duplas e numeradas, sendo a
partir da página 190 já dactiloscritas. Apresenta um grande número de rasuras silenciosas, certamente
devido às várias revisões do autor. Nava iniciou sua escritura em 1946, interrompendo-a a partir do
segundo capítulo – e, mesmo retomando-a em 1964, nunca chegou a completar os quatro capítulos
previstos. A biografia desenvolvida por ele foge do padrão convencional. Baseia-se no método de
diagnóstico que T. H. utilizava em sua clínica diária, sendo o primeiro capítulo dedicado à inspeção -
exame clínico - e o segundo ao interrogatório – anamnese -. De acordo com depoimentos do próprio
autor, os capítulos poderiam ser lidos independentemente. Possivelmente os dois capítulos não escritos
tratariam da análise do cadáver e da reflexão final para a conclusão do diagnóstico. Sabemos que Nava
sempre almejou fazer parte de uma linhagem científico-humanista à moda francesa – ―um todo
fulgurante‖ - e nossa pesquisa avalia inicialmente os motivos que o levaram a selecionar especificamente
T.H. como biografado. Analisando seus pontos de convergência – ambos são médicos, escritores,
detentores de grande erudição e pertencentes a famílias de médicos - nossa hipótese é de que T. H. foi o
primeiro alter ego literário de Pedro Nava.

Palavras-chave: Torres Homem. História da Medicina. Memórias.

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A MEMÓRIA COMO PROCESSO POÉTICO DE CRIAÇÃO NA NARRATIVA DE


“ANGÚSTIA”, DE GRACILIANO RAMOS

Felipe Oliveira de Paula - UFMG

Neste estudo pretende-se pensar a memória na narrativa de Angústia (1936), de Graciliano Ramos, não
apenas como elemento retórico, mas como processo poético. Ou seja, a memória pode ser entendida como
princípio estruturador da intriga de Angústia. Para tanto, será focalizado a transição do narrador-
personagem, Luís da Silva, do meio rural para o meio urbano, e a importância que seu avô, Trajano
Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, e seu rival, Julião Tavares, têm no desenvolvimento da trama.
Nesse percurso, Luís da Silva, descendente da aristocracia rural, sente que seu lugar de origem fora
roubado por Julião Tavares, símbolo da burguesia em ascensão. Para não enfrentar o presente, o narrador
recorre o tempo todo às memórias da infância e lá se esconde. Através dessas memórias, que norteiam à
narrativa, demonstrar-se-á uma posição social equivalente entre o avô Trajano Pereira e Julião Tavares,
respeitando as transformações sócio-históricas. Neste viés, é por meio da memória, como mnemopoética,
que será feita a ligação entre Literatura e História.

Palavras-chave: Narrador-persongem; Rural; Urbano; Mnemopoética.


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POR UMA MEMÓRIA DO CINEMA EM "PAULO SÃO OLNEY": METÁFORA DE UMA
ALEGORIA NA HISTORIOGRAFIA CINEMATOGRÁFICA BRASILEIRA EM TEMPOS DE
DITADURA MILITAR
Maria David Santos - UEFS

Foi com o objetivo de discutir a realidade do país em suas obras que o escritor e cineasta baiano Olney
Alberto São Paulo logo cedo saiu de sua terra natal Riachão do Jacuípe para morar e adquirir formação
escolar em Feira de Santana - também na Bahia, onde desenvolveu atividades ligadas ao teatro,
jornalismo e cinema. Tempos depois lançou-se no mundo profissional do cinema na cidade do Rio de
Janeiro onde residiria até o fim da vida. Hoje, exatamente após 33 anos decorridos da morte prematura de
Olney São Paulo - ocorrida aos 41 anos de idade -, é tanto possível reconhecê-lo como uma figura
importante para o cenário cultural local, nacional e internacional, assim como também perceber o
apagamento e esquecimento da contribuição dada por Olney São Paulo para a cinematografia brasileira
do século XX. O cineasta maldito do sertão, como assim ficara conhecido traz em seu curriculum o fato
de ter produzido um filme, nunca exibido comercialmente, e, no entanto o motivo dos vários inquéritos
sofridos durante a ditadura militar no Brasil - o média-metragem Manhã Cinzenta (1969), baseado em um
dos seus contos de mesmo nome de 1966. É através desta obra que a memória de um dos períodos
marcantes na história política e cinematográfica do Brasil é traduzida em imagens que transmitem uma
experiência ao mesmo tempo individual e coletiva, histórica e ficional.

Palavras-chave: Literatura, Cinema, Olney São Paulo, ―Manhã Cinzenta‖, Ditadura Militar.

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OS RITOS DE PASSAGEM EM PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM, DE CLARICE


LISPECTOR

Rodrigo Felipe Veloso - UniMontes


Elcio Lucas de Oliveira - UniMontes

O presente trabalho pretende investigar como se configura os ritos de passagem em Perto do coração
selvagem, de Clarice Lispector. A metodologia a ser estudada trata-se da teoria de Arnold Van Gennep
sobre os ritos de passagem, especialmente sob três períodos: separação, margem e agregação. Desse
modo, pretendemos investigar como a protagonista Joana realiza o seu processo ritual e como este, liga-se
à mudança de uma fase de vida a outra. Logo, da narrativa emanam essas questões que serão analisadas e
apresentadas, mais do que atravessadas pelo texto, elas também se deixam atravessar por essa escrita
sobre a vida, vida esta, que pulsa no texto literário.

Palavras-chave: Ritos, Passagem, Separação, Margem, Agregação.

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ESTÉTICA DA SAUDADE: AS INTER-RELAÇÕES ENTRE ESCRITA DE SI E MEMÓRIA DE


NA OBRA MENINO DE ENGENHO

Evangley de Queiroz Galdino – UFPB

Este artigo tem a finalidade de analisar o romance ―Menino de Engenho‖ de José Lins do Rego tentando
esclarecer a inter-relação entre escrita de si (autobiografia) e memória tentando perceber se há uma tensão
instaurada nesta dicotomia relacionando-a com a presença do traço estético caracterizado pelo sentimento
de saudade. A complexa relação entre autor e narrador é apontada como um caminho para construção de
um tipo de narrativa peculiar na qual se objetiva a construção de uma identidade do Nordeste e ao mesmo
tempo resguardar toda uma tradição que se contrapõe aos avanços de uma modernidade que esfacela os
territórios e grupos, fragmentando o sujeito. Para tanto, iremos utilizar das contribuições acerca o
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território do Nordeste e suas problemáticas levantadas por Durval Muniz. A relação entre memória e
subjetividades levantadas por Bresciani, e sua relação com uma escrita de si como apontadas por Ângela
Página

Castro Gomes são guias em nosso trabalho. A busca do autor também é nossa uma tentativa de domar o
tempo um grito contra o esquecimento.
Palavras chaves: Literatura regionalista, Escrita de si, Memória

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ESTRANHO CORPO: OLHOS PUXADOS POR NUANÇAS DE COR EM HUNG LIU E


MARGARET ATWOOD

Guilherme A. S. Póvoa - UFJF

Diversas manifestações de preconceito racial, aliadas ao lugar do estrangeiro no mundo de hoje, não nos
parece isolado de um contexto mais amplo de exclusão social. Por isso, o olhar sobre a instituição de
ideologias em torno do estrangeiro de cor é cara a esse artigo, tendo-se em vista uma sociedade que ainda
se configura em um sistema de ideias de utópica pureza e rearranja suas verdades em premissas herdadas
de interpretações acríticas de doutrinas racialistas. Dentro desse campo de estudo, focaremos neste artigo
algumas discussões sobre o sujeito diaspórico em relação ao corpo e à categoria analítica de raça, que,
seguindo o mesmo diapasão, culminam em uma discussão importante sobre a identidade cultural, num
contexto em que a crise desta se mostra cada vez mais evidente. Para tanto, arrimo-nos principalmente em
algumas considerações teóricas sobre os conceitos de identidade cultural e de raça para depois
discorrermos suas implicações no corpo em direção a outros contextos, a saber, a da situação dos asiáticos
diaspóricos na América do Norte – tema tratado no autorretrato Resident Alien da artista sino-
estadunidense Hung Liu e no conto ―The Man from Mars‖, da escritora canadense Margaret Atwood, que
serão analisados neste trabalho.

Palavras-chave: Identidades diaspóricas, linguagem, subjetividade, raça.


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HIBRIDAÇÃO E DESLOCAMENTOS: UM DIÁLOGO NA CONTEMPORANEIDADE

Débora Chaves - UESC

A pós-modernidade pode ser entendida como a condição sócio-cultural em que se encontra o mundo
contemporâneo, diante das crises ideológicas que dominaram o nosso século, onde o seu conceito tornou-
se um dos mais discutidos nas questões relativas à arte, à literatura ou à teoria social. Diante dessas
discussões, propomos uma abordam crítica e cultural que torne possível o diálogo entre os conceitos que
informam essa hibridação, ressaltando as principais manifestações, capazes de traduzir a relevância dos
deslocamentos; e para isso, usaremos textos relacionados à crítica da cultura, aplicando suas idéias ao
romance A Eternidade e o desejo, de Inês Pedrosa.

Palavras-chave: Literatura. Cultura. Hibridação. Deslocamentos.

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O QUE LAMPEJA NO ESCURO: O SUBTERRÂNEO DA LITERATURA BRASILEIRA

Felipe Fritiz de Carvalho - UFJF

Personagem importante na divulgação do Modernismo no Brasil, poeta, crítico literário e, sobretudo,


romancista, famoso pela liderança do grupo Verde (1927-29), de Cataguases, Minas Gerais, Rosário
Fusco desapareceu completamente da cena de discussão literária após 1961, ano em que publica Dia do
Juízo, último romance que publicou em vida (morreria em 1977). Autor dissidente e controverso,
ambientava seus romances no submundo da então capital federal, Rio de Janeiro, assim como o fizeram
João do Rio e Lima Barreto, a despeito das imensas diferenças entre si. O que nos importa, para o
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presente trabalho, é a relação literária que Fusco partilhava com os autores cariocas, a dimensão política
da desmistificação da capital desenvolvimentista, do Brasil desenvolvimentista, assim como João do Rio
Página

e Lima Barreto desmistificaram, cada um a seu modo, a Reforma Urbana de Pereira Passos. Assim, o que
nos chama a atenção é o modus operandi dos três autores, Fusco em especial. Para tanto, utilizaremos as
teorias de Roland Barthes sobre as Mitologias, e seu desmascaramento da consciência burguesa, bem
como as teses de Guy Debord sobre a Sociedade do espetáculo, na medida em que ali são desmascarados
os aparelhos sócio-estatais que naturalizam os processos de alienação social e mistificam o Estado e o
Capital como geradores de ordem e de progresso. Portanto, estudar esse três autores sob a pertinência
política da representação interessada do submundo carioca e brasileiro, em face aos mitos
desenvolvimentistas, seja da Reforma Urbana, seja das décadas de 1940 e 1950, torna um trabalho
igualmente político, pois traz à tona a face escura da sociedade, que os holofotes do poder querem
obnubilar.

Palavras-Chave: Mitologias. Política. Literatura Comparada. Rio de Janeiro.

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EM BUSCA DO GÊNERO ENCENADO NAS CARTAS CHILENAS.

Ana Paula Gomes do Nascimento – UNICAMP


Alcir Pécora - UNICAMP

As Cartas chilenas circularam em manuscritos anônimos no decênio de 1780 em Vila Rica, atual Ouro
Preto. Por terem surgido num período próximo à Inconfidência Mineira e por terem sido atribuídas a
Tomás Antônio Gonzaga, as cartas passaram a ser lidas como um documento prenunciador desse
movimento em que o autor esteve implicado. Por essa razão, poucos estudos se ocuparam com a questão
do gênero ao qual gênero a obra pode ser filiada. Nosso estudo, portanto, se preocupa em investigar o
gênero epistolar satírico que estaria em jogo na obra. Para tanto, recorreremos à tradição retórico-ético-
poética, ainda vigente até o século XVIII, para tentar desvendar tal gênero. Note-se de saída, que já no
título da obra encontra-se a menção ao gênero epistolar, faltando apenas descobrir que tipo de carta
Critilo escreve de Santiago do Chile para o seu amigo Doroteu, residente em Espanha. Para responder a
essa questão, precisaremos estudar de que maneira Fanfarrão Minésio é retratado ao longo de tais cartas.

Palavras-chave: Epístola – Sátira – Poética – Retórica

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SONHO OU VIGÍLIA? SOMBRAS DO INDIZÍVEL EM FINNEGANS WAKE E ALICE

Ana Carla Vieira Bellon - UFPR

O presente trabalho tem como objetivo central propor um diálogo entre aspectos das enigmáticas obras
intituladas Alice no país das maravilhas e Através do Espelho, de Lewis Carroll (1865) e Finnegans
Wake, de James Joyce (1939). O breve estudo se centrará na noção de realidade provida da atmosfera
onírica suscitada por ambas as obras. Para conduzir este colóquio algumas reflexões clássicas como o
diálogo entre Sócrates e Teeteto, de Platão e a discussão suscitada por La vida es Sueño, de Pedro
Calderón de la Barca, relacionada à noção de realidade, caminharão ao lado desta meditação acerca da
realidade despertada/sonhada pelo maravilhoso e mítico. As literaturas de cunho não realista não se
centram na suposta correspondência com o mundo experimentado materialmente e, assim, abrem espaço
para a criação de seus próprios seres e, mais do que isso, para a experiência de novas sensações
despertadas por este ―indizível-incalável‖. A reflexão tenta transcender a escala habitual do dizível nas
obras em foco, tenta conduzir, não dizendo o que se diz, mas refletindo sobre a potencialidade da
linguagem trazida pela literatura. O indizível não pode ser dito, mas insinuado e conduzido pela arte e a
arte literária ―experiencia‖ ―indizíveis‖, de certa forma, através da transgressão da linguagem. A obra de
Carroll envolve o sonho, a ruptura das lógicas convencionais e a noção de realidade. Tal qual esta,
Finnegans Wake, obra polêmica por propor um novo modo de leitura, também envolve, dentre muitos
outros aspectos, os enigmas do sonho, da realidade e da lógica convencional. O diálogo entre estas obras,
na qual a segunda traz inúmeras referências à primeira, instigou uma interpretação que insiste em tocar no
―como dizer o indizível‖.
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Palavras-chave: Literatura não-realista, realidade, sonho, mítico.


Página

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A TRANSFORMAÇÃO DO LUGAR NO LIVRO O LUGAR, DE ANNIE ERNAUX

Talita Silva Schröder - UFJF

O presente trabalho tem como objetivo analisar os elementos autobiográficos do livro O lugar, da
escritora francesa Annie Ernaux que abandonou a escrita ficcional para se dedicar à escrita
autobiográfica, além de analisar a relação narrador-personagem, a maneira como a história de um
individuo nos é contada, a tradição política e social de um lugar, as dificuldades encontradas para manter
boas relações familiares, os preconceitos desenvolvidos pela própria personagem, dentre outros. Também
tentaremos desvendar qual o lugar que a autora se refere e se há uma transformação de lugar do início ao
final do livro. Além disso, o trabalho será importante para mostrar como os livros autobiográficos estão
ganhando cada vez mais espaço no meio literário e quais são os autores importantes neste meio. Como
corpus teórico utilizaremos dos capítulos do livro O pacto autobiográfico, de Rousseau à internet, de
Philippe Lejeune. Para tanto, iremos utilizar dos estudos de outros teóricos como Serge Doubrovsky,
Philippe Vilain e Diana Klinger para enriquecer nossa discussão.

Palavras-chaves: autobiografia, Philippe Lejeune, Annie Ernaux, lugar

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ATAULFO ALVES E SUAS COMPOSIÇÕES - UMA REFERÊNCIA PÓS-COLONIAL NA


LITERATURA

Rilza Rodrigues Toledo - FUPAC-VRB/UBÁ

Este trabalho tem como objetivo fazer a leitura crítica e análise de algumas letras de canções do cantor e
compositor Ataulfo Alves, com vistas a permear nos escritos literários do artista mineiro, os traços pós-
coloniais que configuram estes textos. Dessa forma, o estudo da literatura se faz como uma atividade em
movimento, uma visão diferenciada no sentido de desmistificar o texto definitivo - entrevistas e letras de
música. Tudo o que está escrito, registrado é matéria, instrumento para análise transformação. É preciso
reconhecer que o discurso oral ou escrito, jamais poderia estar livre de amarras do período histórico em
que foi produzido, ou seja, o discurso está inerente a todas as práticas e instituições culturais e necessita
da ação dos indivíduos para se efetivar. É o que se observa em Ataulfo, seu talento propiciou-lhe uma
aproximação do universo dominante e isso para ele era inconsciente. Assim ele conseguiu emergir em
meios como o rádio, o disco e o show, que quase só deferiam prestígio e notoriedade aos brancos.

Palavras-Chave: Ataulfo Alves, Pós-Colonialismo. Literatura.

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A ÁRVORE QUE TINHA BATUCADA: ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA CULTURAL EM


BOAVENTURA CARDOSO

Martha Cristina de Almeida Sousa - PUCMG

Este trabalho busca analisar a ocorrência do dialogismo e da polifonia como estratégias de resistência
cultural no conto ―A árvore que tinha batucada‖, de Boaventura Cardoso, bem como evidenciar o papel
da árvore como elemento mítico fundacional da cultura africana. Para tanto, utilizou-se como
fundamento a teoria bakthiniana acerca de dialogismo, interação verbal, polifonia. Além dessa
fundamentação, são apresentadas também as teorias de Altuna (1993), Calzolari (2009), Costa (2009),
Miranda (2009), Santos (2009), Silva (2009) e Tutikian (2005) acerca da cultura africana em seus mais
diversos aspectos, principalmente no que diz respeito aos mitos fundadores, às tradições orais de
transmissão do conhecimento e às lutas contra o aculturamento. A análise aponta que através da utilização
do dialogismo e da polifonia como estratégias estruturadoras do texto, o autor busca o resgate da cultura
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africana soterrada após séculos de dominação branca, oferecendo ao leitor uma visão crítica do processo
brutal de apagamento de que a cultura africana foi vítima. Além disso, o autor recria o processo de
Página

contação de histórias através de sua escrita e permite ao leitor resgatar essa tradição africana. O texto
efetiva o confronto entre a ideologia colonialista européia e a ideologia africana, desmascara o caráter
monológico que o discurso do colonizador encerra e obriga o leitor a refletir sobre tal caráter.
Palavras-chave: Dialogismo. Polifonia. Resistência cultural. Árvore. África.
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A VIAGEM NO CONTO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

Rosana Baptista dos Santos - UFLA

O objetivo deste trabalho é analisar o tema da ‗viagem‘ na obra do ficcionista português Mário de
Carvalho, especialmente em Fabulário e outras histórias (1984), uma coletânea de breves contos. Dois
motivos são recorrentes nessas narrativas: as viagens, muitas vezes fantásticas, a lugares múltiplos e
excêntricos e o choque com culturas ou sujeitos ‗diferentes‘ do que tradicionalmente se conhece, qualquer
um deles indicativos de uma mesma necessidade de fuga do simples cotidiano. A temática da viagem,
fecunda na literatura ocidental desde a Odisseia, em Mário de Carvalho adota vários feições (ou funções)
e problematiza questões relativas à própria condição humana, como a busca por uma identidade ou razão
de vida, as limitações humanas no espaço e no tempo e, obviamente, a possibilidade de fuga de um lugar
prosaico, banal, que, certamente, a ficção (ou a arte) propicia. Para a criação dessas viagens fantásticas, o
autor estabelece um diálogo intertextual com vários textos ou temas da Literatura Greco-latina.
Entretanto, tais motes surgem de uma maneira fragmentada na narrativa, de uma forma indireta,
interligados a problemas que envolvem tanto a sociedade quanto o indivíduo moderno. Portanto, para a
realização desse estudo, utilizar-se-á como metodologia de análise os preceitos da Literatura Comparada.

Palavras-chave: Literatura Portuguesa- Literatura Comparada- Fantasia- Narrativa


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VIVIR ES PRECISO, VOLVER NO ES PRECISO

Juan Pablo Chiappara - UFV

El volver a casa desde siempre fue un tópico en la literatura, lo cual confirma la obsesión del Hombre por
reencontrarse con su lugar de origen una vez que lo ha dejado. En la tradición, dicho lugar de origen suele
no tener fisuras, es una tierra prometida o patria ideal que ha debido abandonarse y a la cual se pretende
regresar luchando contra las adversidades. La filosofía que funda el Estado Nacional moderno ha
ratificado esta tradición y el romanticismo literario latinoamericano la ha corroborado. En cambio, el caso
que proponemos tratar es el plasmado en dos novelas del autor contemporáneo uruguayo Carlos Liscano:
El camino a Ítaca y La ciudad de todos los vientos. Éstas nos permiten reflexionar sobre los
acontecimientos culturales y políticos ocurridos en los últimos 50 años en la sociedad uruguaya.
Dictadura, prisión, exilio, autoexilio, crisis de los mitos de fundación, crisis de identidad y reelaboración
de un imaginario que permita el regreso a casa son asuntos imbricados en los dos libros y, a su vez,
constituyen aspectos representativos de problemas que enfrentan hoy varias generaciones de uruguayos,
las cuales están involucradas, directa o indirectamente, con una diáspora que alcanza el 15% de la
población. Nuestro trabajo concluye que las novelas mencionadas de Carlos Liscano sugieren una nueva
manera de imaginarse como uruguayo, la cual no coincide más con un modelo oficial de nación, ni está
vinculada a un territorio fijo o a una única tradición. Por consecuencia, es posible concebir que se viva en
un espacio liminar, abierto y flexible, que mezcla tradiciones y propicia una identidad multicultural, sin
dejar de pertenecer como ciudadano al Estado de origen. Esto supone, además, una forma menos opresora
y menos amenazadora de lo nacional que aquella que instauró la Modernidad.

Palabras claves: literatura, modernidad, nación, diáspora, limen

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A POESIA INTERSEMIÓTICA DO AUGUSTO DE CAMPOS


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Francisco Fábio Vieira Marcolino – UFPB


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Este trabalho faz uma leitura do poema "SOS" do Augusto de Campos, publicado inicialmente em
Despoesia (1994) e posteriormente em Não (2003), no formato de CD rom. Enfocaremos a tradução
intersemiótica realizada do suporte livro para o meio digital, explorando os extratos de subjetividade
potencializados pela animação digital do texto poético. Abordaremos a convergência dos meios em
diálogo com a poética "verbivocovisual" proposta por Augusto de Campos e concretizada nos "clip-
poemas". O conceito de "tradução intersemiótica", baseado na convergência de som, imagem e ideias,
será articulado a partir dos estudos de Julio Plaza, Lucia Santaella, Haroldo de Campos e Octávio Paz.
Acreditamos que a produção poética do Augusto de Campos realiza uma atualização da linguagem
poética ao explorar as possibilidades dos novos suportes liberados pela ―cultura das mídias‖ e pela
―cibercultura‖.

Palavras-chave: Tradução intersemiótica; poesia digital; cibercultura.

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A RELIGIOSIDADE EM MACUNAÍMA: UMA CONSTRUÇÃO LITERÁRIA DAS


MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS NO BRASIL DE MÁRIO DE ANDRADE

Paula Daniela Silva Marinho – UEPA

A obra Macunaíma (1928) de Mário de Andrade é uma das mais renomadas do Modernismo brasileiro e
vem sendo árdua e continuamente estudada ao longo dos anos devido ao seu caráter plural em se tratando
de delineamento e formação da cultura brasileira. No entanto, é possível também identificar no texto de
Andrade uma nuance de manifestações religiosas que se apresentam ao longo da narrativa, conferindo à
personagem principal um forte caráter religioso, o qual se difere da premissa há muito tempo defendida
de que Macunaíma seria, portanto, desprovido de qualquer tipo de moral em virtude da conduta assumida
por ele na epopéia modernista. Desse modo, pretende-se analisar hermeneuticamente a religiosidade
presente na obra, assim como o que ela representa para a personagem em questão e a maneira pela qual a
literatura andradiana apropria-se dela.

Palavras-chave: Religiosidade; Manifestações religiosas; Moral religiosa Hermenêutica; Literatura.

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REVOLUÇÃO, LUTA E POESIA EM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Rodrigo Corrêa Martins Machado – UFV


Gerson Luiz Roani - UFV

Sophia de Mello Breyner Andresen figura como uma das mais significativas poetas da Literatura
Portuguesa Contemporânea. Em relação à escrita poética andreseniana, na lírica, a artista buscou o
estabelecimento de uma relação com o real através das palavras, com inegáveis influências clássicas,
devido, principalmente, à paixão da poeta pela cultura grega. Destacamos, na escrita desta poeta, a forte
relação entre poesia e os problemas sócio-políticos. Sophia de Mello Breyner Andresen vivenciou, em
Portugal, a partir de 1933, um estado ditatorial que teve duração de 41 anos (deposto em abril de 1974),
designado Salazarismo, nome dado em referência a António Oliveira Salazar, fundador e líder desse
governo. Nesse regime, duas entidades caracteristicamente dominadoras, Estado e Igreja, uniram-se a fim
de controlar todas as esferas da vida portuguesa, para isso, foram utilizados mecanismos, como a censura
e a opressão, que obrigavam a todos os cidadãos portugueses a se submeterem a tal política. Sophia se
mostrou totalmente contrária às injustiças cometidas pelo Estado salazarista, de maneira a se tornar um
dos grandes expoentes de resistência ao governo. Esse trabalho configura-se como uma proposta de
pesquisa a ser desenvolvida durante o mestrado, no qual objetivamos estudar as aproximações existentes
entre Poesia e História na obra andreseniana O nome das Coisas (1977). Esta figura dentre uma das
principais obras de reflexão acerca do período ditatorial português e, principalmente, sobre a Revolução
dos Cravos. Nessa obra, nos deparamos com poemas de reflexão profunda em relação ao tempo passado,
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presente e, sobretudo, ao tempo futuro que, naquele momento, afigurava-se como algo libertador, no qual
haveria liberdade para sonhar, se expressar e para resgatar a grandeza de Portugal que há muito havia se
Página

perdido.
Palavras- Chave: Sophia Andresen; O Nome das Coisas; Poesia; História.

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AS FRONTEIRAS IMAGINADAS NA ESCRITA DE MIA COUTO


Paulo Roberto Machado Tostes - UFF

Este artigo tem como objeto de análise um recorte do contexto histórico e cultural de Moçambique
presente na ficção de Mia Couto, em particular na obra Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra
(2005). Nessa perspectiva, o país de Mia Couto não se limita a um lugar geográfico, que possamos
encontrar em um mapa. Trata-se, antes, do espaço da fabulação que ressoa na sensibilidade do escritor
Mia Couto que, a partir de seu contexto histórico e cultural, propõe caminhos para outra percepção dos
espaços – outras fronteiras e outras palavras –, onde a plurissignificação do texto literário busca romper
com a imposição dos discursos do antigo colonizador e dar visibilidade às tradições orais. Contrapondo-
se, então, à lógica clássica e demonstrando que a ficção não é nessariamente o oposto da verdade
histórica, a escrita coutiana nos abre verdades que até então estariam encobertas por aquela lógica. É
nesse sentido que esta proposta analisa as fronteiras imaginadas na escrita coutiana, onde se interpenetram
as tradições das culturas orais de Moçambique e a tradição ocidental imposta pelos portugueses.

Palavras-chave: cultura, ficção, nação.


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CECÍLIA MEIRELES: POETISA, EDUCADORA E INTELECTUAL PARTICIPANTE

Danielle Morais Generoso - UFJF

Este trabalho visa apresentar e analisar um aspecto da autora brasileira, Cecília Meireles, pouco
explorado: seu lado atuante na política, quando levanta várias questões a cerca dos problemas enfrentados
pelo Brasil, em meio a Revolução de 1930, bem como sua veia filosófica, quando faz reflexões sobre o
mundo e a humanidade. Serão analisados alguns de seus artigos de imprensa, publicados no ―Diário de
Notícias‖, a partir do recorte feito pela jornalista Valéria Lamego em seu livro A farpa na lira: Cecília
Meireles na Revolução de 30, e algumas crônicas escritas para programas radiofônicos entre os anos de
1961 e 1963, que foram reunidas e publicadas três anos após a sua morte. Cecília Meireles atuou, da
primeira metade do século XX aos anos iniciais da década de 60, como educadora e intelectual
participante, colaborando às causas da cultura e da educação em uma época de mentalidade tradicional e
patriarcal. Em seus discursos, nos jornais brasileiros da época, Cecília revelava uma dimensão ideológica
e buscava, através da militância política, sensibilizar a sociedade brasileira, os órgãos e instituições
públicas, mostrando os problemas do sistema educativo e a necessidade de reformulá-lo.
Palavras-chave: Cecília Meireles, Revolução de 30, Educação, Política
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A POESIA DA MEMÓRIA E DO ESQUECIMENTO COMO SUBSTRATO DA LÍRICA DE E. A.


POE
Adolfo José de Souza Frota – UEG/UFG/FAPEG

O objetivo de nosso trabalho é fazer a análise de uma coletânea de poemas do norte-americano Edgar
Allan Poe e discutir os temas da memória e do esquecimento sob o ponto de vista da filosofia grega. A
partir de um breve levantamento bibliográfico sobre a mitologia da memória e do esquecimento, onde se
discute o papel de Mnemósine e Lete na filosofia e religião helênicas, também objetivamos, com o
presente trabalho, encontrar alguns aspectos da lírica romântica de Poe e sugerir uma abordagem em que
a memória funcione como mecanismo que ameniza a dor da perda individual e, às vezes, coletiva. No
último caso, a dor coletiva é apenas um reflexo que problematiza a individualidade do eu-lírico que
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combate o esquecimento através da arte poética, da verbalização de experiências pessoais, da criação de


imagens do passado frente a um presente melancólico e vazio. Assim, o tempo se torna o grande inimigo
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da memória. Por isso, a fuga para o passado funciona como uma alternativa de enfrentamento do tempo.

Palavras-chave: Poesia, Mnemósine, Lete, Edgar Allan Poe.


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LITERATURA E TEOLOGIA EM QUESTÃO: TESTEMUNHO E EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


NA POESIA DE ADÉLIA PRADO

Douglas Rodrigues da Conceição - UEPA

Vem da Gaudium et Spes, texto do Concílio Vaticano II, uma preocupação que gravita em torno da
relação existente entre ―cultura humana e a formação cristã.‖ O texto conciliar sobressalta que,
determinadas expressões culturais, tais como ―a literatura e as artes‖, ―são de grande importância para a
vida da Igreja‖, mas também reconhece que a relação entre a própria cultura humana e a tradição religiosa
cristã católica nem sempre se dá modo harmônico e, portanto, se cosntitui num desafio ao fazer teológico
da Igreja. Se entrevê, portanto, a grande responsabilidade das artes, pois são nelas, de modo mais nítido,
que a auto-expressividade do ser humano assume uma forma, sobretudo, quando nelas o próprio homem
retrata a busca por uma compreensão de si mesmo e a busca por respostas aos seus mais profundos
dilemas. Reconhecendo a possibilidade de superação das fendas que separam a cultura humana da cultura
propagada pela tradição cristã, procuraremos demonstrar, nesta comunicação, que a experiência religiosa
entrevista na literatura da poetisa católica Adélia Prado, evocada por um eu-poético emergente nos versos
de sua poesia, se perfaz a partir de uma dinâmica de reconhecimento e de distanciamento, portanto
ambígüa, da confissão religiosa da prórpria escritora mineira. Dois eixos, portanto, serão explorados mais
detidamente nesta comunicação: 1. a clara influência de uma tradição religiosa no seu fazer literário e daí
depreender o potencial teológico de sua literatura; 2. problematizar a presença de um nítido pacto
autobiográfico travado entre o eu-poético feminino da poesia adeliana e o próprio testemunho biográfico-
religioso da escritora.

Palavras-chave: tradição religiosa, pacto autobiográfico, teopoética, sagrado.

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OROPA FRANÇA E BAHIA: MEMÓRIA DE DE LUGARES E NÃO-LUGARES NA PROSA DE


FICÇÃO BRASILEIRA.

Cláudio do Carmo - UESC

Os lugares se parecem, são totens, que desafiam a imaginação, e que nos fazem buscar no apuro da
memória o sentido identitário. A memória então se presta a mapear lugares aparentemente instaurados
na ficção, mas que guardam a indefinição da origem, estando sempre no liame entre realidade e ficção.
Lisboa, Rio de Janeiro e Bahia são lugares reais e imaginados, ligados por sua história e pertença, mas
atravessados por uma pós-memória que encobre e desata laços, ao assumir a forma narrativa. Pretende-se
aqui refletir sobre o entre-lugar significativo que se opera em ambientes narrativos no contexto da prosa
de ficção brasileira, num só tempo históricas e a-históricas, a partir de traços culturais diversos e de
representações traduzidos na constituição de obras literárias desde o século XIX, mormente na primeira
metade, aos dias atuais. Para tanto nos valemos de um recorte que contempla algumas das narrativas mais
notadas da historiografia literária nacional, no sentido de problematizar a ocorrência destes lugares e suas
memórias quer sejam afetivas ou materiais.

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ALÉM DO PRAZER ESTÉTICO, AQUÉM DO MÉTODO: IMPLICAÇÕES POLÍTICAS DO


ENSINO DE LITERATURA

Sérgio Roberto Gomide Filho - UFMG

Partindo do levantamento de estudos recentes sobre a importância do ensino/aprendizagem do texto


literário e tomando, como objeto de análise, a própria tendência atual de reflexões dessa natureza, este
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trabalho propõe uma discussão acerca das relações entre o ensino/aprendizagem da literatura e a
constituição da subjetividade. A perspectiva adotada é fundamentalmente política, na medida em que,
para além das visões que restringem a função do texto literário ao ―prazer estético‖, envolve uma reflexão
Página

sobre operações constitutivas do sujeito-leitor, em seu poder de dizer e de agir. Não obstante, a
perspectiva é política, na medida em que envolve também a consideração do estatuto problemático da
literatura na contemporaneidade, o que, em maior ou menor grau, acaba por incidir sobre os ―métodos de
ensino‖ da disciplina. Nesse cenário, cumpre pontuar, por um lado, as implicações políticas inerentes aos
usos da língua tornados possíveis pelo texto literário; por outro, o panorama histórico-cultural da
literatura na modernidade, incluindo-se aí o próprio discurso da crítica subjacente ao tratamento do texto
literário na escola e na academia, particularmente no que diz respeito à legitimação de concepções que
fazem com que a negatividade e a reflexividade passem a atuar como índices de literariedade.

Palavras-chave: Literatura; Ensino/aprendizagem; Subjetividade; Política.

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A PESTE DA INSÔNIA E A EPIDEMIA DA CEGUEIRA: AS DOENÇAS SOCIAIS EM


GABRIEL GARCÍA MARQUEZ E JOSÉ SARAMAGO

Anna Giovanna Rocha Bezerra - IFPB

Tentar definir pós-modernismo ou pós-modernidade nos coloca diante de um primeiro impasse: suas
manifestações estão ocorrendo no presente momento em que diversificadas culturas se transformam e que
o homem busca acompanhar, com certo grau de dificuldade, tais mudanças. A literatura, desde que surge
– ainda na antiguidade clássica, com filósofos como Platão e Aristóteles - nos disponibiliza uma gama
variada, com todo o paradigma de verdades refletidas através da ficção e procura construir um cenário,
assim como personagens, que de certa forma, recriem situações e modos de vida que se coadunem com os
ares dos novos tempos. Literatura é um meio de que a ficção dispõe para transformar a realidade na qual
todo ser humano se insere. Buscar compreender a posição do ser humano na nova conjuntura política,
econômica, social e artística e como tais mudanças eclodem no seio das sociedades, justamente por se
refletirem no fazer literário de dois grandes nomes da literatura universal, é que se faz pertinente para
nosso interesse nesse estudo. As doenças ―psicossomáticas‖ antes denominadas de ―melancolia‖ por
Freud, trazem para si papel preponderante na sociedade que se descortina diante do homem moderno.
Dois grandes nomes da literatura universal, Saramago e García Marquez, demonstram, através de
metáforas e alegorias, especificamente utilizando uma vertente da literatura denominada de literatura
fantástica, tocar em questões tão comuns e tão assustadoras, ao mesmo tempo, para o homem
contemporâneo. Assim, o presente artigo tem por objetivo analisar comparativamente os pontos de
contato entre as obras ―Cem anos de solidão”(1967) do escritor colombiano Gabriel García Marquez e
“Ensaio sobre a cegueira”(1995) do escritor português José Saramago, considerando duas manifestações
de enfermidades descritas em ambas as obras – a peste da insônia e a epidemia da cegueira branca –
respectivamente. Aqui nos delimitaremos a observar como os escritores, valendo-se do recurso literário
da alegoria e do fantástico imprimiram às narrativas um tom metafórico para tratar de questões inerentes
ao ser humano, como a eterna e incansável busca pelo conhecimento, que em Cem Anos de Solidão se
traduz através da ânsia desenfreada dos habitantes de Macondo diante da possibilidade de não mais
dormir, para dessa maneira, melhor aproveitar o tempo, bem como a impossibilidade de perceber o outro
em Ensaio Sobre a Cegueira, quando os habitantes sem nome de uma metrópole sem identificação,
subitamente são acometidos por uma misteriosa e contagiante epidemia que os impedem de ―enxergar‖ o
mundo ao seu redor. Para fundamentar nosso estudo, utilizaremos autores teóricos do campo da literatura
comparada, como Nitrini (1997), Wellek (1944), Belei (1992) e para tratar a temática do pós-modernismo
nossa fundamentação terá, entre outros, Bhaba (2007), Caldera (2006), Hall (1997).

Palavras-chave: Literatura Comparada. Modernidade. Cultura.

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“SAUDADES E PORTANTO VIVO EM QUALQUER LUGAR” – UMA LEITURA DE


SÔBOLOS RIOS QUE VÃO, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Rebeca Leite Fuks - UFRJ


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Esta comunicação tem como objeto de estudo o livro ―Sôbolos rios que vão‖, último romance publicado
por António Lobo Antunes pela Editora Dom Quixote, em outubro de 2010. O livro se estrutura na forma
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de diário ficcional e compreende quinze dias corridos entre os meses de março a abril de 2007.
Destacaremos nesta apresentação como se dá o esforço de Lobo Antunes no sentido de diluir todas as
fronteiras do romance: de tempo, quando mescla passado(s) e presente, de campo, quando mistura cenas
reais com frutos de seu imaginário, e até mesmo de gêneros literários, quando produz uma obra como
esta, que não é nem um romance, nem um diário, nem uma autobiografia. Esta comunicação encontra-se
associada à elaboração de uma Dissertação de Mestrado, orientada pela Professora Ângela Beatriz de
Carvalho Faria, na Faculdade de Letras da UFRJ (Pós Graduação em Letras Vernáculas) e vincula-se ao
Projeto de Pesquisa sobre a ficção portuguesa contemporânea do século XXI.

Palavras-chave: Sôbolos rios que vão, memória, infância, morte

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ESTRATÉGIAS DE LEITURA EM LITERATURA DE AUTO-AJUDA NO ENSINO SUPERIOR:


ANALISANDO O MONGE E O EXECUTIVO DE JAMES C. HUNTER

Alex Caldas Simões - UFV

O ensino superior, bem como outros segmentos de ensino, tem como objeto de estudo e ensino, o texto,
materializado em algum gênero do discurso do domínio acadêmico e/ou literário. Tal constatação,
portanto, tem instigado diversos pesquisadores, vinculados aos estudos da língua/literatura, a refletirem
sobre práticas de leitura e escrita de textos técnico-científicos e/ou artísticos. Motivados por essa demanda
de pesquisa, apresentaremos em nossa exposição estratégias de ensino de leitura – que levem em
consideração a leitura como atividade complexa dependente da decodificação e do processo de interação
entre leitor e escritor – para a literatura, classificada como autor-ajuda, O monge e o executivo: uma
história sobre a essência da liderança, de James Hunter, inserida na área acadêmica de administração.
Pautados em um aporte teórico-metodológico da lingüística textual (Cf. PIETRI, 2007; MOITA-LOPES,
1996; KOCH, 2006), desenvolveremos, então, atividades de leitura que se pautam na construção e na
verificação de hipóteses de leitura sobre um título, trecho, imagem, ou outro, em um verdadeiro jogo de
―mostrar e revelar.‖ De nossa pesquisa, concluímos que a literatura de auto-ajuda, embora muitas vezes
estigmatizada no ensino superior, pode constituir-se em um instrumento relevante de ensino-aprendizado,
em especial quando se trata do ensino de leitura no ensino superior, uma vez que os alunos podem
entender mais facilmente conceitos técnico-acadêmicos de uma leitura literária do que de uma leitura
essencialmente teórica e/ou empírica.

Palavras-chave: Leitura. Literatura. Ensino Superior.


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AS TIRAS DA MAFALDA COMO RECURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO NO ENSINO DE


LÍNGUA ESPANHOLA: UMA ANÁLISE DOS MECANISMOS UTILIZADOS PARA A
MANUTENÇÃO DO HUMOR NO PROCESSO DE TRADUÇÃO

Nad Pereira Leite Borges – CEFET-MG

Segundo o Art. 1.º de nossa LDB ―a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na
vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.‖ Essa é uma das razões que
levaram o MEC a recomendar, por meio dos PCN, o uso de gibis como material didático-pedagógico. Os
quadrinhos, meio de comunicação muito abrangente, são constantemente utilizados como suporte de
ensino proposto em diversos materiais didáticos, com objetivos que permeiam desde aspectos
gramaticais, semânticos e de interpretação, ou simplesmente como recurso para proporcionar momentos
de descontração durante as aulas. Este trabalho pressupõe um estudo de literatura comparada na medida
em que propõe analisar a tradução dos quadrinhos de Mafalda , personagem criada pelo argentino Quino
na década de 60. Este estudo considera os aspectos sociais e culturais envolvidos na tradução dessas tiras
e, e analisa os mecanismos utilizados para a manutenção do humor dessas histórias na língua de chegada.
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Para isso, foram escolhidas como corpus dessa análise algumas tiras da Mafalda publicadas em espanhol
e suas respectivas traduções em português do livro ―Toda Mafalda‖, da Martins Fontes. O método
Página

proposto é o comparativo, tendo como sustentação para as referidas análises a Teoria do Escopo de Reiss
e Vermeer e os estudos de Sírio Possenti e Marta Rosas sobre linguística, tradução e humor. Após as
análises, conclui-se que o tradutor deve focar-se no leitor e não no texto original para conservar o sentido
humorístico e que nem sempre a conservação do humor é alcançada de maneira eficaz devido às
particularidades de cunho social e cultural envolvidas no processo de tradução.

Palavras-chave: língua-cultura, humor; tradução; Mafalda.


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PALAVRA EM CINA, IMAGEM ENCENA: A AUTOBIOGRAFIA COMO RESPOSTA


DIDÁTICA MULTIDISCIPLINAR

Luciana Brandão Leal – UFV/PUCMG

Rememorar é a arte de ler cicatrizes. As reminiscências buscam reavivar o passado, trazendo-o à tona,
misturando-o às sensações e percepções imediatas, modificando-as profundamente. Quando revisitadas
pela consciência, as lembranças retornam latentes: pois essas lá estavam, no inconsciente, vivas. A
definição de autobiografia está relacionada à intenção manifestada pelo autor/artista, que velada ou
explicitamente, pretende contar sua vida, expor seus sentimentos e pensamentos. O entusiasmo por esse
conceito, assim como suas manifestações, pode ser verificado tanto na Literatura quanto no Cinema; além
de estender-se a outras formas artísticas de representação. Em sentido estrito, pressupõe um compromisso
explícito entre ―eu‖ enunciador e seus interlocutores, um ―pacto‖ de verdade, que na maioria das vezes é
também sua fronteira. Nesta proposta didática, direcionada para as três séries do Ensino Médio, buscar-
se-á discutir a importância da Literatura e do Cinema sob o foco autobiográfico, além de oferecer
subsídios práticos de diálogos multidisciplinares . É fundamental considerar que a autorrepresentação
permite a dupla presença do artista: como criador e criatura. Para o espectador, uma vez terminada a
magia do olhar reflexivo, pode ser difícil determinar o elo entre estes dois aspectos. Entretanto, observar
um autorretrato abre novo espaço para leitura ou releitura do indivíduo ali exposto. Através da
manifestação artística em flashbacks, aprimora-se o olhar e as técnicas de composição imagética, trazendo
à discussão novas percepções sobre o meio circundante. O enredo, concebido e estruturado por cada
aprendiz, será a representação das experiências estéticas individuais. Possibilitando assim, que esses
jovens produtores de arte possam reconhecer a realidade, particular e plural, refletindo criticamente sobre
ela.

Palavras-Chave: Autorrepresentação, Cinema, Literatura, Memória e Multidisciplinaridade

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VERGÍLIO FERREIRA: “O BELO E O TERRÍVEL NO INTOCÁVEL DO LEMBRAR”

Guilherme de Sousa Bezerra Gonçalves - UFRJ

Ao remontar ao passado, Cláudio, o narrador-protagonista do romance Até ao fim, do escritor português


Vergílio Ferreira, busca esclarecer os acontecimentos que culminaram com a morte de seu filho, Miguel.
Na vigília solitária desse corpo-linguagem, a narrativa se constrói sob o crivo da subjetividade do pai: é
por intermédio de sua vivência que um puzzle histórico-fictício vai paulatinamente sendo montado pelo
leitor – a relação de Miguel com a mãe, Flora; a presença sempre fantasmagórica de Oriana; Clara, um
futuro que se anuncia já onomasticamente. Nessa vida projetada a partir da morte, espaço da
negatividade, o romance, em sua construção imagística, se debruça sobre a construção de uma percepção
ética tal como queria Spinoza; para tanto, o romance faz uso de estratégias escriturais que permitem
afirmar ainda a existência de uma ―ética da linguagem literária‖ barthesiana. Pretendemos, então,
esmiuçar essas duas éticas que se entrecruzam e se afirmam na medida em que Cláudio se liberta das
amarras de uma suposta e falaciosa culpa.

Palavras-chave: ética; escritura; literatura portuguesa.

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FOGO MORTO: A DRAMATIZAÇÃO SOCIAL E SUBJETIVA DA DECADÊNCIA

Bárbara Del Rio - UFMG/ CAPES

O presente trabalho visa ao estudo da obra Fogo Morto (1943), de José Lins do Rego, especificamente da
análise dos seus elementos estéticos que dramatizam na narrativa o tema da transição das práticas
mercantilistas para a economia capitalista no nordeste brasileiro. Considerada pela crítica literária como o
romance que conclui magistralmente o ―ciclo da cana-de-açúcar‖, Fogo Morto representa criticamente o
declínio da estrutura agrária dos engenhos e, sobretudo a degradação humana frente à modernização. Em
face dos outros romances do ciclo, a obra em questão é apontada como sedimentação dos procedimentos
artísticos outrora utilizados em Menino de Engenho (1932), Bangüê (1934), Moleque Ricardo (1935) e
Usina (1936), já que nela se alcança a representação da realidade sob vários prismas. Não se pretende
nesta pesquisa estender ao estudo comparado desses procedimentos da obra com as demais produções do
autor, mas investigar de que modo Fogo Morto consegue contemplar dinamicamente a realidade
decadente açucareira. Por meio da análise da instância narrativa e da configuração dos personagens, estes
adotados tradicionalmente pela crítica literária como tipos, representantes de um grupo social, pretender-
se-á evidenciar a sua complexificidade de modo a dramatizar na exposição do seu psicologismo, a
decadência sócio-econômica da região. Nesse sentido, interessa demonstrar como o romance, através da
combinação matizada das esferas sócio-econômica e existencial-subjetiva, supera o didatismo e a rigidez
que separa a ficção brasileira dos anos 30 e 40 em rótulos ―social-regional‖ e ―psciológico-intimistra‖
encenando, assim de forma mais contundente o tema da decadência.

PALAVRAS-CHAVE: Fogo Morto, Romance regional, Romance intimista.

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NARRADORES DE JAVÉ: O INSÓLITO ENTRE A HISTÓRIA E A FICÇÃO

Aline de Almeida Moura – PUCRJ

No filme Narradores de Javé (Eliana Caffé, 2004), a solução para salvar a pequena cidade chamada Javé
da inundação causada pela construção de uma barragem é provar que a cidade tem importância como
patrimônio cultural, bem como uma grande história para contar para a humanidade. A solução encontrada
pelos moradores do vilarejo é recolher as narrativas orais dos moradores. O problema é que ―aquele
pessoal só acredita em documento firmado, em papel escrito (…) só tem validade se for um trabalho
assim... científico!‖. E aí começa a dúvida sobre o que é científico, como provar que o lugarejo tem sua
importância na ―grande história‖, ressaltando que essas narrativas são povoadas por eventos
extraordinários e até sobrenaturais. Nesse sentido, o presente trabalho pretende analisar a relação entre a
―grande História‖, como escrita salvadora da cidade, e a análise que Biá faz da escrita. Pode-se notar um
contraponto entre a necessidade de se escrever a história científica e a própria concepção de escrita de
Biá, para quem ―uma coisa é o fato acontecido, outro é o fato escrito‖. Ou seja, a escrita carrega um
sentido de convencimento através do bom uso da linguagem, o que contradiz o sentido científico que se
pretende dar para a escrita da grande história de Javé. Para a ciência, a história busca a verdade, e o
convencimento do acontecimento de um fato se dá pela análise de fontes e não pelo bem escrever, como
Biá afirma. Para escrever bem, a emergência de eventos insólitos, que rompem o senso comum, são
admitidos, ainda que alguns personagens reclamem da falta de verossimilhança nas narrativas. São duas
concepções diferentes de representação da realidade, que se chocam e são objetos de análise neste
trabalho.

Palavras-chave: Insólito ficcional, Historiografia, Ciência, Representação.

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O FANTÁSTICO E A PSICANÁLISE NA TRANGRESSÃO DA MORAL EM MÁRIO DE SÁ-
CARNEIRO

Bruno da Silva Soares – UERJ


Flavio García –U ERJ

Mário de Sá-Carneiro é considerado mito do autor único para o Modernismo português por sua
construção vanguardista para a época, com uma prosa angustiante, em que protagonistas dedicam-se à
busca de um mistério maior que a vida cosmopolita do início de século XX. No ocaso de mal-estar e
posicionamento filosófico-pessoal desprendido das necessidades de consumo que a burguesia cultuava,
Sá-Carneiro produziu obras de cunho fantástico que exemplificam a função social que essa literatura
exerceu, anteriormente ao surgimento da psicanálise: a narrativa fantástica serviu de palco para o debate
de questões sobre o comportamento e a psique humana. Partindo das teorias da literatura – Todorov e
Filipe Furtado – e da psicanálise –Freud e Lacan –, que tiveram o fantástico por objeto de reflexão,
pretende-se, neste trabalho, antever os espaços tênues que, em Sá-Carneiro, manifestaram essas
discussões do mal estar do homem moderno.

Palavras-chave: Fantástico, Mário de Sá-Carneiro, Psicanálise, Modernismo.

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ENTRE O EU E OS OUTROS: POR UMA INSÓLITA LEITURA DO MEDO EM VINTE E


ZINCO, DE MIA COUTO

João Olinto Trindade Junior – UERJ


Flavio García – UERJ

As narrativas contemporâneas estão em constante processo de negociação entre o eu e o outro, já que,


quando confrontado por eventos insólitos, em espaços de lógica animista e contra-hegemônica, o homem
moderno se dá conta de sua vulnerabilidade, tendo o medo como reação primária frente ao desconhecido.
É na Contemporaneidade que, diante de mudanças e desconstruções, o homem é confrontado diariamente
com os medos produzidos por uma modernidade líquida, de maneira que eventos ditos normais têm a
capacidade de resgatar um sentimento de angústia e desespero ditos sobrenaturais. Dessa forma, neste
trabalho, estudaremos como o escritor moçambicano Mia Couto explora as manifestações do confronto
entre o eu e o outro em Vinte e Zinco. Nessa narrativa, a lógica transita entre o sólito e o insólito, de
forma híbrida, e eventos ditos comuns têm a capacidade de resgatar um terror tão grande quanto se
fossem sobrenaturais, resgatando temores que o homem cartesiano descobre ser incapaz de superar.

Palavras-chave: Insólito, Sobrenatural, Medo.

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MIA COUTO: DESVENDANDO A HISTÓRIA POR MEIO DA MEMÓRIA

Luciana Morais da Silva – UERJ / UFRJ


Prof. Dr. Flavio García – UERJ

Em A varanda do frangipani, do autor moçambicano Mia Couto, há uma imersão pelos conhecimentos
insólitos de personagens reclusas em uma fortaleza colonial, espaço aparentemente normal, mas que, no
entanto, guarda em si uma gama de mistérios. É a morada de homens e mulheres que viveram para ver o
alvorecer de um novo mundo e da morada de um frangipani. Em espaço de variada possibilidade e ainda
de profunda reclusão, os asilados se exilam do viver social, já que não compreendem o mundo externo ao
asilo, ainda que, com ele, sejam confrontados. Personagens (sobre-)viventes em um mundo de outrora,
principalmente, por sua segregação física, acabam subvertendo a realidade ao buscar na memória, no
contar, os meios para sua vivência. Seres de uma varanda onde sonho e realidade se confundem, vão
apresentando seus cruzamentos, indicando um espaço em que ―nós, os vivos e os mortos, estamos a
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desenterrar esse caroço onde residem espantáveis maravilhações‖ (COUTO, 2007, p. 82). Testemunhas
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da História, narram suas próprias vidas, e na tênue linha entre o ficcional e o imaginário, enchem de
saliva a escrita (Cf. COUTO, 2007, p. 27). O Moçambique que amaram está morrendo, ―nunca mais
voltará‖ (COUTO, 2007, p. 47).
Palavras-chave: História, Memória, Insólito ficcional, Narrativa.

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O ELEMENTO EMPÍRICO NA OBRA:


DIÁRIO DE ZLATA – A VIDA DE UMA MENINA NA GUERRA

Juliane Emiliano – UFU


Jacy Alves de Seixas – UFU

A comunicação aqui proposta pretende demonstrar como o elemento empírico encontra-se na obra Diário
de Zlata - A vida de uma menina na guerra. Em seu diário, que inicia antes da guerra explodir em
Sarajevo, Zlata Filipovic descreve o sofrimento vivido por ela, sua família e amigos por causa da guerra
da Bósnia. Relata que seus sonhos foram interrompidos, que o mundo não é mais o mesmo: sua escola
fecha, falta luz, água, comida e terá que viver com os barulhos e destroços de ataques aéreos. E é por
meio desse contexto de guerra civil, que se pretende abordar a função da literatura confessional, mais
precisamente o diário, para um possível registro de fato histórico. Já que sabemos, de acordo com
Antonio Candido (2006) os aspectos sociais envolvem a vida literária deixando assim transparecer o
―meio‖ pelo texto, porque o contexto não é apenas a menção sociológica a função da cultura e na
organização, todavia é a própria ação de descrever com seus recursos de gesto e voz.

Palavras-chave: Diário; Literatura; História; Filipovic.


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O (MELO)DRAMA DA LINGUAGEM NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA: O DIA


MASTROIANNI

Renata Farias de Felippe - UFSM

Uma das tendências da literatura contemporânea, segundo Nízia Villaça, é marcada pela descrença na
capacidade de dizer da linguagem. Tais textos - que se utilizam do código para tratar sobre um
permanente vazio ideológico, existencial e expressivo – encenam o que denominamos como (melo)drama
da linguagem, a expressão permanente da insuficiência das palavras. No romance O dia Mastroianni, de
João Paulo Cuenca, a insistência na utilização de recursos metalinguísticos e a ênfase na perspectiva
autorreflexiva do narrador apontam à tendência contemporânea apontada por Villaça e tal reiteração, em
torno de um vazio insuperável, remete ao universo melodramático, espaço por excelência da vitmização,
da expressão da desvantagem. Para tratarmos sobre uma discursividade melodramática, necessariamente,
teremos de tratar sobre o gênero melodramático, manifestação que atravessa diversos meios (literários,
televisivos, cinematográficos) e que tem influência sobre o imaginário e a sensibilidade coletiva. Se como
gênero o melodrama goza de pouco prestígio nos âmbitos artístico e acadêmico – o que contrasta com a
sua ampla aceitação no âmbito da cultura de massas – não se pode ignorar a sua presença na formação de
uma sensibilidade particular e que deixa marcas na produção literária recente.

Palavras-chave: Literatura Contemporânea Linguagem Melodrama

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COMO SE FOSSE UM ROMANCE: MEMORIA E FICÇÃO EM NATALIA GINZBURG

Luiz Carlos Gonçalves Lopes – UFMG

Em 1963 foi publicado o romance de Natalia Ginzburg, Léxico familiar (Lessico famigliare). O romance
autobiográfico parte da memória familiar da escritora em direção a uma memória coletiva, seu
movimento vai do privado ao público. Chama atenção a advertência na qual Natalia escreve que ―Neste
livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada: e toda vez que, nas pegadas do meu velho
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costume de romancista, inventava, logo me sentia impelida a destruir o que inventara‖. Ainda na mesma
advertência a escritora italiana diz que o livro possui muitas lacunas e, portanto, ela acredita que ele deve
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―ser lido como se fosse um romance: ou seja sem exigir dele nada a mais, ou a menos, do que um
romance pode oferecer‖. A partir dessas informações da advertência do romance, pretende-se investigar
as relações entre memória e ficção na literatura de Natalia Ginzburg. Para tanto, é preciso perguntar-se de
que modo a memória familiar da escritora se converte num testemunho dos tempos sombrios da Segunda
Guerra Mundial e como a ficção pode ser um gesto de resistência a todo poder instituído e ao próprio
esquecimento.

Palavras-chave: Natalia Ginzburg, memória, esquecimento, ficção

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“VIRA E MEXE NACIONALISMO” EM A GLORIOSA FAMÍLIA, DE PEPETELA, E VIVA O


POVO BRASILEIRO, DE JOÃO UBALDO RIBEIRO

Luciene Araújo de Alemida – UFG


Marilúcia Mendes Ramos – UFG

O objetivo deste trabalho é apresentar uma leitura dos romances, A Gloriosa Família de Pepetela e Viva o
povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, sendo que ambos dialogam ao representarem em suas obras
episódios da História, angolana e brasileira, respectivamente. Acreditamos que esse diálogo entre história
e literatura seja impulsionado pelo desejo de (re)escrever a história, preenchendo suas lacunas,
principalmente dando voz aos excluídos da História oficial. Ambos possuem características do novo
romance histórico. Buscamos assim averiguar de que maneira o escritor Pepetela, em A Gloriosa Família,
reconstrói um importante período da história do povo angolano por meio da literatura. Esse romance
retrata os anos de ocupação Holandesa do território angolano, já ocupado por Portugal em virtude das
expansões marítimas do século XV. Para mesclar sua ficção com matéria de extração histórica, o autor
fez uma extensa pesquisa em arquivos e documentos históricos de Angola do início da colonização. No
entanto, o autor recria no ficcional o que não foi instalado pelo discurso histórico, preenchendo as lacunas
deixadas pela história e proporcionando ao leitor outra perspectiva acerca desse episódio, mais
precisamente os sete anos (de 1642 a 1648) em que os holandeses, estabelecidos com a Companhia das
Índias Ocidentais, realizaram um enorme tráfico de escravos, de Luanda para o Brasil, principalmente. Já
Viva o povo brasileiro, romance do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, apresentará em sua ficção um
período mais largo de nossa história, a trajetória que compreende o episódio da invasão Portuguesa até o
da Ditadura Militar. Em ambos os romances o narrador assume papel preponderante para o (re)contar da
história, razão pela qual centraremos nossa analise sobre os narradores, uma vez que por eles somos
apresentados aos fatos e a uma outra história.

Palavras-chave: Literatura, História, Nação, Narrador.


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ASCENÇÃO AO INFERNO PELA ESCADA DO PARAÍSO: RELAÇÕES INTERTEXTUAIS


ENTRE O PRIMO BASÍLIO E A DIVINA COMÉDIA

Tatiana Prevedello - UFRGS

A tradição que se inscreve no cânone literário ocidental é, constantemente, revisitada e, de acordo com os
ideais vigentes em cada época, assume novas figurações, uma vez que os trabalhos textuais de um período
específico assimilam e atualizam as informações que vigoraram em outras épocas históricas. Em
inúmeras circunstâncias se redefinem os pontos conflituosos entre as vertentes e são tecidos novos
caminhos para manifestar o pensamento do artista criador no contexto em que acontece a publicação. Na
obra de Eça de Queirós, O primo Basílio, inúmeros recursos intertextuais advindos da tradição literária e
artística são evocados com o propósito de intensificar as ações das personagens e sugerir,
antecipadamente, as circunstâncias mais dramáticas e decisivas que se desenvolverão no enredo. O foco
de nossa análise parte do pressuposto de que esta obra canônica do realismo português, em evidente ironia
aos paradigmas sociais e morais, valendo-se de recursos narrativos específicos, traz para o seu cerne
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ficcional um diálogo, implícito ou referido em símbolos e citações, com A Divina Comédia, do poeta
italiano Dante Alighieri. Há alusões explícitas no retrato da ligação adúltera entre Basílio e Luísa, feitas
tanto por referências ao épico dantesco como pela reprodução exata de versos. A voz narrativa apresenta
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o espaço do adultério, designado como o Paraíso, com uma tonalidade sarcástica, na qual há a intenção
metafórica de mostrar a condenação da protagonista à clausura infernal e a uma sucessão ininterrupta de
quedas. Pretendemos, por conseguinte, discutir como Eça de Queirós se propunha a imprimir nesta obra
um recurso exemplar no processo de denúncia da dissolução moral da sociedade e como o autor visava
redimensionar, para o contexto do século XIX, a perspectiva punitiva e apresentada por Dante no século
XIV.

Palavras-chave: Tradição; Influência; Realismo Português.


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A CAUSA SECRETA EM MACHADO DE ASSIS:


A BANALIDADE DO MAL E A PERDA DO HERÓI NA MODERNIDADE.

Webert Guiduci de Melo - UFJF

O trabalho visa discutir a crítica cultural e social presente no conto ―A causa Secreta‖ de Machado de
Assis, tomando como base para essa análise o texto ―Mal-estar da Civilização‖ de Freud e, também, o
pensamento de Hannah Arendt com sua formulação conceitual sobre ―a banalidade do mal‖, além de
algumas leituras paralelas de outros contos do próprio Machado de Assis. A pesquisa busca problematizar
a posição do autor enquanto crítico social, extrapolando, desta forma, uma posição que vai além do
simples ato de contar uma história ou nos representar um mero retrato da sociedade. O autor passa a ser
capaz de identificar a tensão desconfortante do sujeito na modernidade, não apenas representado, mas
apresentando a relação que se criou entre o sujeito e seu mundo. A pesquisa busca identificar, assim, o
conflito entre o individuo e a sociedade, ou melhor, como a cultura produz máscaras sociais que
condicionam a todos a uma situação de desconforto, gerando relações em que o imperativo social se
sobrepõe as individualidades, criando indivíduos incapazes de viverem experiências reais dentro de uma
coletividade, em que a marca de uma constante violência ou uma covarde omissão surgem para
preservação ilusória do ―eu‖. E por fim, buscamos refletir sobre a posição da Literatura na modernidade,
como ferramenta de denúncia, exposição e apresentação do sujeito dentro dessa contemporaneidade, e
qual sua viabilidade para a construção de sujeitos que se tornem capazes de dialogar em uma coletividade,
se construindo através da linguagem que é o mesmo instrumento que muitas vezes oprime.

Palavras-Chave: Crítica social; Mal-estar na cultura; Máscaras culturais; Violência e poder.

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FERRÉZ: CRONISTA DE UMA POLÍTICA MULTICULTURAL

Giovani Duarte Verazzani – UFJF

O documento que aqui se apresenta procura estabelecer uma proposta de leitura da última obra de Ferréz,
Cronista de um tempo ruim, numa tentativa de esboçar os traços dessa literatura denominada Marginal-
Periférica através de outras produções do referido autor e, ao mesmo tempo, identificando seu caráter
violento e agressivo como forma de resistência às novas formas de dominação cultural do chamado ―pós-
colonialismo‖, bem como sua preocupação com a produção cultural como maneira de emancipar tanto o
sujeito produtor quanto o receptor dos textos; levar-se-á em conta o gênero escolhido, a crônica, e suas
peculiaridades para representação da realidade, identificando-o como um papel político na sociedade e,
através de conceitos e teorias dos Estudos Culturais, buscar-se-á caracterizar essas atitudes peculiares
desse autor em estudo, verificando como essa literatura se enquadra dentro de um modelo de ―política
cultural‖ ou ―política multicultural‖, quando seu objetivo vai além de denunciar e expor as fraturas do
falho projeto de modernização e almeja ser instrumento de luta e mobilização.

Palavras-chave: Ferréz; Crônica; Resistência; Política; Pós-colonialismo.


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DIREITO & LITERATURA: RASTROS DE MEMÓRIA DO ERRO JUDICIÁRIO DE
ARAGUARI NA OBRA DE JOÃO ALAMY FILHO

Eliene Rodrigues de Oliveira – UFU


Luiz Humberto Martins Arantes - UFU

A comunicação que se pretende apresentar visa tecer breves apontamentos sobre a obra literária ―O Caso
dos Irmãos Naves – o erro judiciário de Araguari‖ e os rastros de memória nela constantes. Escrita por
João Alamy Filho, advogado que enfrentou a truncada polícia durante a ditadura militar para defender os
irmãos Sebastião Naves e Joaquim Naves que foram torturados e condenados por um crime que nunca
existiu, a obra literária concebida em 1960 na tentativa de esclarecer a verdade dos fatos e contribuir para a
melhor aplicação da lei, não apresenta um estilo de escrita: ora demonstra um fluente literário, ora um
rígido processual das transcrições dos autos processuais. Os escritos literários serviram de inspiração para
a concepção do filme de Jean Claude Bernardet e Luís Sérgio Person (1967) e o espetáculo teatral do
Grupo EmCena dirigido por Thiago Scalia (2006), também intitulados de ―O Caso dos Irmãos Naves‖.
Pensar na referida obra como um ―gérmen‖ da memória social é reconhecê-la como uma parte da
identidade de Araguari-MG e da identidade jurídico-brasileira. Um registro de memória do real
personagem narrador que inspirou a criação de outros artistas e suas artes: o cinema e o teatro. Cada
criação retomando aos autos processuais, a ―fonte-mãe‖ dessas criações.

Palavras-chave: direito & literatura; memória; caso dos irmãos naves.

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JOÃO GRILO E SUAS “ARTES DE FAZER”

Isamabéli Barbosa Candido – UEPB

Pretende-se com este artigo estabelecer uma análise-interpretação do perfil do personagem João Grilo da
peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, no que se refere as suas características e atitudes face
aos que detêm o domínio sócio-político-econômico e ideológico. O texto será dividido em duas partes. A
primeira parte versa sobre os estudos de Michel de Certeau, especificamente a discussão sobre as práticas
cotidianas na tentativa de extrair delas as maneiras de fazer dos sujeitos que muitas vezes aparecem a
título de resistência apresentada por ele na obra, A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de fazer. Faz-se um
recorte dos estudos desenvolvidos por ele relacionados ao conceito de tática, considerada como uma
prática do sujeito que faz uma hábil utilização do tempo, das ocasiões que apresentam e também dos
jogos que introduzem nas fundações de um poder, e trampolinagem, relacionada às práticas cotidianas e
como acontecem essas práticas entre os indivíduos. Na segunda e última parte, explicito um conjunto de
argumentos que dão às ideias desenvolvidas criticidade e rigor, no que se refere à compreensão de tais
conceitos no comportamento desse herói-picaresco no convívio social ao utilizar-se da tática para
sobreviver, prática cotidiana dos mais fracos.

Palavras – chave: João Grilo, práticas cotidianas, tática, trampolinagem


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IMAGINÁRIO TECNOLÓGICO NA CARTA DE CAMINHA

Paulo Cezar Santos Ventura – CEFETMG


João Batista Santiago Sobrinho – CEFETMG

O objetivo do presente trabalho é fazer um relato inicial de pesquisa que visa, entre outras possibilidades,
elucidar na Carta de Caminha (literatura de informação) procedimentos técnicos de navegação no âmbito
do contexto sócio-histórico das navegações portuguesas dos séculos XV e XVI. Ao investigar as
percepções de Caminha e seu imaginário, tomando-o como metonímia de seu tempo, pretende-se abordar
101

as questões técnicas que envolvem o empreendimento capitaneado por Cabral. Os procedimentos


metodológicos de pesquisa foram: uma leitura da Carta focalizando palavras que remetem a informações
sobre as técnicas de navegação e sobre as medidas de espaço e tempo através da Cartografia e da
Página

Astronomia; uma busca e leitura das referências literárias concernentes à historiografia e à filosofia das
técnicas naquele momento histórico. Uma análise preliminar nos remete a um veio implícito relativo à
questões técnicas daquele tempo e espaço nas filigranas da Carta.

Palavras chave: literatura de informação, técnica e imaginário.

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O IMAGINÁRIO MÍTICO EM DÔRA, DORALINA: A COBRA MORDEU O RABO

Maria Eveuma de Oliveira – UERN


Manoel Freire – UERN
Sérgio Wellington Freire Chaves – UERN

Ouroboros é um símbolo representado por uma serpente, ou um dragão, que morde a própria cauda. Está
relacionado com a alquimia, que é por vezes representado como dois animais míticos, mordendo rabo um
ao outro. Segundo o Dicionário de símbolos (2007), o ouroboros simboliza o ciclo da evolução voltando-
se sobre si mesmo. O símbolo contém as ideias de movimento, continuidade, autofecundação e, em
consequência, o eterno retorno. Os primeiros registros deste arquétipo foram encontrados entre os
egípcios, chineses e povos do norte europeu (associado à serpente folclórica Jörmungandr) há mais de
3.000 anos. Na civilização egípcia, é uma representação da ressurreição da divindade egípcia Rá, sob a
forma do Sol. No pensamento simbólico dos egípcios, a serpente tem um papel essencial e bastante
multiforme; conheciam-se, por exemplo, diversas deusas-serpentes e uma deusa-cobra que vigiava as
plantas. Ao lado disso, encontram-se inúmeras serpentes mitológicas (aladas, com pés ou com várias
cabeças, etc.). Podemos encontrar essa simbologia da cobra mordendo o rabo em várias lendas e em
diferentes regiões: nas Lendas de Aruanda, de Ronaldo Torres, lenda de oxumare, povoando assim o
imaginário mítico de um povo. O presente artigo objetiva mostrar o imaginário mítico presente na obra
Dôra, Doralina, de Rachel de Queiroz, assim como, mostrar que é somente na fazenda Soledade que se
torna possível, a protagonista, recuperar a si mesma. Afinal, a cobra mordeu o rabo e ela acabou voltando
para fazenda; dá-se então o eterno retorno, onde a mesma recupera um lugar que é somente seu, pois
agora ela se tornara a Senhora da fazenda, papel ocupado anteriormente por Senhora, sua mãe. Nosso
trabalho está ancorado nos estudos de (CHEVALIER, 1990), (VERNANT, 1992) (TODOROV, 2006),
entre outros.

Palavras-chave: Imaginário. Lendas. Cultura. Retorno.


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O SAGRADO E O PROFANO NA CULTURA SERTANEJA EM A CASA

Sérgio Wellington Freire Chaves - UERN


Maria Eveuma de Oliveira - UERN

Neste trabalho nos propomos analisar as representações das crenças, superstições e religiosidade no
discurso literário da obra A Casa, da escritora cearense Natércia Campos. Objetivando examinar como o
sertanejo interage com o mito, a crença, a superstição religiosa, procuraremos compreender como se
configura no romance a identidade sertaneja construída historicamente na sociedade brasileira. Vidas
marcadas pela desgraça provocadas por uma terra seca, na qual mandacarus e xiquexiques reinam
triunfantes com seus verdes tons de vida, contrapondo-se a toda a paisagem, até mesmo ao próprio
sertanejo, vestido com suas roupas de couro cinzas-amarronzados para que os espinhos e arbustos,
contorcidos pela sede constante, não lhes dilacerem cada vez mais o corpo, os sertanejos entregam-se à
crença, que no sertão é fonte jorradora de vida. Os habitantes de todo o sertão demonstram culto aos
santos e, muitas vezes, também, ao demônio; mesclando-se aí o sagrado e profano; repletos de presságios,
102

esconjuros e orações, criam tabus, e para enfrentá-los sempre contam com relíquias, amuletos, patuás e
santinhos. O padre político de Juazeiro pode se tornar o santo do povo, assim como um Antônio qualquer
é erguido pela fé a grande conselheiro, por quem o povo carente maravilha-se nos confins da terra estéril
Página

e ingrata. É como se nestas superstições estivessem a força do fraco, a vitória do desgracioso, a certeza de
vida no vasto bosque de cruzes que afirmam que ali jaz mais um Severino. Cremos que tais questões aqui
arroladas: cultura, religiosidade, identidade, são dignas de reflexão. Fundamentar-nos-emos em Candido
(2000), Cascudo (2002), Galvão (1998) entre outros, buscando assim respaldar a já referida reflexão. Em
síntese, por meio do estudo da narrativa naterciana, desejamos estudar a representação literária da cultura
sertaneja, discutir os valores do sagrado e do profano nesta cultura, salientando sua religiosidade como de
irrefutável importância para a identidade nordestina.

Palavras-chave: A Casa. Cultura. Religiosidade. Sertão.


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GEOGRAFIAS RAREFEITAS NAS CIDADES:


RASTROS URBANOS NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Cristina Maria da Silva - UFCE


Esta comunicação vincula-se a uma pesquisa de pós-doutorado Etnografia de Narrativas: As experiências
na cidade da literatura contemporânea, que tem o objetivo de captar as experiências urbanas nas cidades
através de narrativas literárias. Lendo as narrativas de Luiz Ruffato, João Gilberto Noll, Fernando
Bonassi, Bernardo Carvalho, Joca Reiners Terron, Férrez e Marcelino Freire, é possível compreender o
esboço das cidades e das práticas urbanas. Na literatura encontramos como indica Foucault, o lugar onde
nossa cultura operou algumas escolhas originais, nela vemos uma reconfiguração dos signos da realidade
recompondo as contingências do social. Percebemos as cidades a partir de suas geografias narrativas, ou
em suas ―enunciações pedestres‖, passos e rastros. A etnografia tem caminhando entre as ficções sociais
para se configurar como texto e leitura das culturas ou de suas artes de fazer. Como descrição, ela tenta
captar rastros do vivido, entrelaça seus fios nas narrativas, caminha entre a ficção, o verdadeiro, o falso,
tal como a construção literária, que sendo em si uma trama, enovela a realidade espacial e temporal em
seu avesso, recombinando sentidos. A questão das cidades aparece nessas narrativas, como aponta Noll,
como uma ―geografia rarefeita.‖ Estas ficções são urbanas, revelam experiências desgastadas, metáforas
da impossibilidade de reconstituição identitária. São cidades imaginárias, de passos migrantes, visões
deslocadas e desestabilizadoras da forma e do olhar, ―cidades ácidas‖, com cartografias de pouca
densidade. Esboçam-se as fúrias do inquieto animal humano, entre esquecimentos, violências e desejos,
socialidades e seus conflitos, cartografias geográficas esmaecidas na memória, o alheamento e o extravio
encarna-se no corpo e se estendem pela paisagem das cidades. Espacialidades vorazes e vertiginosas do
vivido.

Palavras-chave: Narrativas, Experiências Urbanas, Rastros das Socialidades.


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O DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO COMO UM ESPAÇO DE FICCIONALIZAÇÃO DA VIDA

Lígia Mychelle de Melo Silva - UFRN

De acordo com Philippe Lejeune (2008), o diário é uma escrita quotidiana, uma série de vestígios
datados, que sempre pressupõem a intenção de balizar o tempo através de uma sequência de referências e
exerce as funções de preservar a memória de seu autor, desabafar, conhecer-se, pensar, entre outras. Pelo
fato de o diário ser um relato cronológico, de caráter confessional, se supõe que a escrita desse gênero
deva ser sempre espontânea e reveladora do Eu empírico. Assim, partindo da noção que temos da
estrutura de um diário íntimo, podemos afirmar que Florbela Espanca (1894-1930) rompe com a unidade
do gênero diário, uma vez que do Diário do último ano (1998) a escritora não se limita a narrar
acontecimentos relacionados às suas vivências quotidianas, embaralhando elementos ficcionais ao seu
relato autobiográfico. Nesse sentido, é possível pensarmos o diário florbeliano como um projeto literário
da modernidade, tendo em vista que nele podem ser observados traços estéticos e estilísticos presentes em
grande parte dos textos de escritores modernos (como o hibridismo dos gêneros e o esfacelamento do
sujeito lírico). Desse modo, a proposta para esta comunicação é fazermos uma leitura do Diário do último
ano numa perspectiva da modernidade, partindo de uma reflexão em torno das interfaces entre a
experiência vivida e a representação literária.
103

Palavras-chave: Florbela Espanca. Ficção. Autobiografia. Modernidade. Hibridismo.


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EXÍLIO E PERMANÊNCIA EM A SÉTIMA CRUZ, DE ANNA SEGHERS

Patrícia Helena Baialuna de Andrade – UNESP/Araraquara

A Alemanha da década de 1930 viu duas grandes ondas migratórias se sucederem: a primeira em 1933,
logo após a ascensão do partido nazista ao poder, e a segunda a partir de 1938, com a anexação da Áustria
e eclosão da Guerra. Grande parte dos intelectuais deixou o país nesse período, não abandonando,
contudo, a atividade literária, que assumiu as características que a demarcaram como Literatura de Exílio.
Dentro desta tendência encontramos a obra de Anna Seghers, reconhecida desde o final da década de
1920 e que tratou, em vários de seus romances, das questões que afligiam o homem, especialmente o
europeu, de então: os horrores da guerra, o medo da Gestapo e do exército alemão, a conflituosa relação
do homem com sua terra natal e as dificuldades da vida no exílio. Uma dessas obras é o romance A
Sétima Cruz, do qual fazemos um breve estudo, levando em conta as questões histórico-literárias do
período mencionado.

Palavras-chave: LITERATURA ALEMÃ, EXÍLIO, NAZISMO

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“O TEMPO SÓ ANDA DE IDA” A MEMÓRIA E A MORTE EM MANOEL DE BARROS

Waleska Rodrigues de M. O. Martins – UNESP

O presente trabalho trata da figuração da Morte, na perspectiva da transmutação de elementos, e da


Memória, relacionada diretamente com a Vida, na obra poética de Manoel de Barros. Parte-se da
percepção de que o jogo contraditório vida x morte, sempre em proveito da primeira, permeia a
sociedade desde a Idade Média até os dias atuais. A proposta é perceber a ideia da Morte e suas
figurações na obra de Manoel de Barros, confrontando com a perspectiva da Memória como
presentificação da Vida. Um aspecto importante da obra manoelina é a transição entre os ―estados‖ do ser
humano e da natureza, do seu passado com o seu presente. A morte, a infância, a memória e a natureza se
apresentam de maneira instável no discurso manoelino. A profusão de tais temáticas expõe um ciclo que
ora se apresenta como vida, ora como morte. Com tal focalização, o trabalho apresenta como recorte para
cenário da contradição/complementaridade A voz de meu pai, ―Poesias‖ (1956), o poema narrativizado
Agroval, da obra ―Livro de Pré-Coisas‖ (1985) e Soberania, em ―Memórias Inventadas: a terceira
infância‖ (2008). Assim, o objetivo é apresentar a figuração da Morte, intrinsecamente ligada ao processo
de transmutação, em contraposição à Memória, relacionada com a presentificação da Vida. O método
para análise parte da Semiótica, por entender que seu objeto, descrita por Bertrand (2003), é considerar o
texto literário como um discurso que encontra em si mesmo seu ―código semântico‖ (p. 23) e seu próprio
contexto. Há, nesse sentido, uma espécie de autonomia textual que lhe proporciona condições de
apresentar um desdobramento do mundo (em termos de significante e significado) que se revela no ato da
leitura. Para Courtés (1979), a Semiótica tem por objetivo a exploração do sentido, dando conta também
do processo de significação, muito mais amplo e complexo.

Palavras-Chave: Literatura Brasileira; Semiótica; Manoel de Barros

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TERCEIRA MARGEM: DESMISTIFICANDO HAROLD BLOOM

Sandra s. F. Erickson - UFRN

Criticado pela direita (por ser muito radical) e pela esquerda (por ser por demais conservador: leia-se
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canonista), Harold Bloom é um dos mais polêmicos críticos contemporâneos. A crítica à Bloom se
concentra principalmente em seus postulados sobre cultura e literatura e sobre sua insistente preferência
pelos autores canônicos. Ênfase especial nessas críticas é colocada na projeção midiática de seu debate
Página

com os chamados ―críticos multiculturais,‖ a quem Bloom acusa de descaracterizar, e ameaçar o cânone
de extinção (porque as abordagens desses críticos são voltadas para o contextualismo histórico, e não para
os paradigmas estéticos e por suas preferências pelas literaturas emergentes [ainda sem endereço certo no
cânone]). Bloom parece conservador e rabugento porque defende os clássicos, a elite do cânone, como
única leitura válida. Esse ―elitismo cultural‖ que pode levar a ―um pessimismo analítico‖ e à passividade
decorrente de uma crença excessiva no potencial de uma [esgotada] ―alta cultura,‖ tão alegado contra
Bloom, é também levantado contra Adorno e Horkheimer. Todavia, esse pessimismo, originado na
própria leitura crítica do cânone, resultada do hermetismo dos códigos estéticos desenvolvidos pelo
próprio cânone a partir do modernismo produzido intencionalmente para o cânone. Bloom defende o
direito de todos ao cânone. Apesar de seu elitismo no que se refere à manutenção de obras apenas
poeticamente fortes, ele não acredita e nem prega que exista uma classe especial de leitores para quem o
cânone é destinado. Todo leito deve ter acesso a ele. Por isso, é preciso trabalhar pela sua manutenção e
na sua disseminação. A visão de leitor articulada pelos multiculturais acaba sendo paternalista, e
patrocinadora de uma espécie de preconceito deshumanizante assumindo que: 1. leitores não precisam ler
as obras que são consideradas melhores pela crítica; 2. tudo o que leitores precisam é a sintonização com
a agenda de valores promovidos por essa crítica, acabando por produzir um codex não menos perigoso.
Assim, o operário não pode se construir: deve ser construído pelos intelectuais do sistema. Todavia
Bloom acredita (como Gramsci) que, ao ler o cânone (pensamento crítico), o operário em construção se
tornar o operário construído (intelectual orgânico). Propomos que sua militância estética nada tem de
elitista, ao contrário, ele, democraticamente defende o direito de todo leitor ao melhor do cânone.

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AS MEMÓRIAS E ESTÓRIAS DE PAULINA CHIZIANE E CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

Rafaella Cristina Alves Teotônio – UEPB

A memória é um recurso bastante utilizado na composição das obras literárias africanas, cuja fonte é a
tradição oral, conhecimento transmitido através do registro memorialístico. A partir da influência do
Griot, típico contador de estórias, as narrativas dos autores africanos são recheadas de estórias e da
história acerca de seus povos e nações. Uma forma de escrever a África na literatura. Ambientando um
espaço em que a diversidade cultural é comum, os escritores africanos tendem, em seus escritos, revelar
esta complexidade cultural que emana de suas nações, com intuito de resgatar ou com o simples objetivo
de representar e discutir literariamente os problemas e questões que povoam seus países. Este artigo
propõe discutir o modo como a memória coletiva da nação se relaciona com a escrita de duas grandes
autoras africanas contemporâneas, Paulina Chiziane, moçambicana, autora dos romances Ventos do
Apocalipse (1999), Nikecthe: uma história de poligamia (2002) e O alegre canto da perdiz (2008), e
Chimamanda Ngozi Adichie, nigeriana, autora das obras Meio sol amarelo (2008) e Híbisco roxo (2011).
Examinando como a identidade é escrita e reescrita nas obras dessas autoras, com o aporte teórico de Le
Goff (1990), Hall (2006) e Sarlo (2007), dentre outros autores, o artigo estuda a relação entre memória,
tradição oral e identidade nas obras africanas.

Palavras-chave: Literatura; África; identidade; memória; nação.


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A SEXUALIDADE ABORDADA PELO GLOBO REPÓRTER: UM ESTUDO DE GÊNERO

Rosiane Viana Silva - UFSJ

Foucault expõe que a sexualidade sempre esteve presente na história da humanidade expressa pela
vontade de saber cada vez mais sobre o sexo. Butler tem demonstrado que todo gênero é representado, ou
seja, todos os dias representamos um papel, de homem ou mulher, de heterossexual. Assim, entendemos
que a mídia televisiva caracteriza-se como uma potente ferramenta de poder, usada, muitas vezes, para
manipular e influenciar, sendo evidente a sua estrutura como elemento interventor na constituição social,
105

utilizando do poder disciplinar apresentado por Foucault. Deste modo, elegemos o programa Globo
Repórter, exibido em 10 de dezembro 2010 pela rede Globo de televisão, que teve como temática a vida
sexual dos brasileiros, para entender de que forma o discurso da sexualidade foi construído. O assunto da
sexualidade é abordado, na introdução do programa, a partir de imagens de mulheres dançando a dança
Página

do ventre. O futebol e a dança do ventre, segundo a mídia, fazem parte de universos distintos. Embasado
no discurso da medicina, o programa da Rede Globo, para assegurar a veracidade das informações,
entrevista alguns médicos para buscar entender os problemas sexuais e as possíveis soluções para homens
e mulheres. O programa analisado confere à sexualidade o caráter de representação, ou seja, o mesmo
utiliza-se do poder midiático disciplinador, alicerçado no discurso da medicina do sexo, para apresentar
os moldes devidos, de preferência, binários e opostos, do ato sexual (o homem deve ser viril e a mulher
sensual; o órgão masculino é externo, portanto, ativo, e o feminino, interno, passivo; a mulher se excita
com palavras, o homem com a visão (do corpo feminino), etc.).

Palavras-chave: performance, mídia, sexualidade

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RITMOS LITERÁRIOS NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA: A MÚSICA NO SILÊNCIO DO


POEMA

Robson Coelho Tinoco – UnB


Marília de Alexandria – Escola de Música de Brasília

Na literatura, como na música, revela-se a estrutura de um todo indivisível, típica manifestação de


organismo atuante em expressão criada globalmente, em que cada uma de suas partes se constituem em
elementos inseparáveis de percepção estética e apreensão musical. A literatura, arte de musicalidade
subjetivamente implícita, repete tal integração todo-partes constitutivas e tal sentido de globalidade é
percebido em alguns gêneros musicais que, dada sua estrutura de progressão melódica, sugerem um tipo
de discurso narrativo. Ao buscar a articulação entre a expressão melopoética de uma música, integrada à
expressão literária de um texto, tal sentido dialógico pode residir, por exemplo, na composição de um
conjunto de atividades envolvendo textos-base aplicados e músicas. Tais textos e músicas visariam ao
estabelecimento de novos paradigmas educacional-interartísticos, para a compreensão da sociedade pós-
moderna, sob ritmos musicais informatizados, neotécnicas de informática, cibernética, semiologia, ética e
a tão (mal)avaliada questão da leitura dialógica que integraria tudo em uma ampla rede de
conhecimentos. Assim, é possível, melopoeticamente, a recriação de um novo caminho de percepção
interartística. Por ele, considerar que o valor da educação do aluno será medido por sua capacidade
pessoal, integrada ao coletivo, em articular de maneira equilibrada hipóteses e inferências contidos em
uma nova onda informacional – educação contemporânea. Essa onda vai, cada vez mais, representar a
transição/superação dos limites do conhecimento sócio-escolar imposto, com o objetivo de se perceber
musicalmente, por exemplo, a melodia rítmica impressa nas frases poéticas. Tal transição não ocorre
automaticamente e, portanto, deve ser trabalhada como conjunto bem articulado de capacidades sócio-
individuais e percepções interartísticas. Assim, a devida integração música x poema possibilitará, sob a
óptica de uma melopoética inovadora, processos efetivos de aquisição-entendimento dessa nova
linguagem dialógica.

Palavras-chave: poemas – música – educação – sociedade


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CEM ANOS DE TENNESSEE WILLIAMS: AS ADAPTAÇÕES DE A STREETCAR NAMED


DESIRE PARA AS TELAS.
Renata de Souza Gomes - UFRJ

Em memória ao centenário de nascimento do dramaturgo Tennessee Williams, a presente comunicação


intenciona apresentar o impacto causado pelos textos de Williams nos leitores, espectadores da
Broadway e film-goers da Hollywood nos anos do Pós-Guerra. Sobretudo, serão apresentadas as
relações entre Tennessee Williams, Elia Kazan – o diretor da montagem da peça e do filme cujo texto-
fonte é o livro A Streetcar Named Desire, e a Liga da Censura americana da época. Sabendo que
Williams é um dos autores da Literatura Norte-Americana que mais gera adaptações de seus livros para
suportes midiáticos - performances, cinema, e televisão, a comunicação apresentará, por fim, como as
106

adaptações dialogam com a literatura, e como os estudos de adaptação literária vêm se afirmando como
área de estudos interdisciplinar.
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Palavras-chave: Estudos da adaptação – Literatura – Cinema – Tennessee Williams.


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TEIAS LITERÁRIAS: ESTREITANDO LAÇOS

Patrícia Pedrosa Botelho – UFF-IFET/JF

A fim de analisar comparativamente os pontos de contato entre os projetos literários dos romances
contemporâneos, Partes de África do escritor português Helder Macedo e Nove Noites do escritor
brasileiro Bernardo Carvalho, discutiremos as formas pelas quais estes textos problematizam as
convenções narrativas usuais. Por questionarem as configurações do gênero autobiográfico, discutiremos
no que consiste este espaço, no contexto literário da pós-modernidade, no que tange à abertura para a
inserção do memorialismo e da ficcionalidade. Para tanto, faremos uso de textos teóricos, críticos e
literários para que possamos também compreender o lugar do leitor diante de linhas tênues que põem em
dúvida não só a legitimidade das experiências vividas e/ou encenadas, como a própria percepção da
realidade. Frente a discursos instáveis e provocantes, este trabalho pretende demonstrar de que modo se
dá a coerência, a razão e a lógica disfarçadas por narradores que nos iludem estar fazendo parte de um
processo descomedido, com o intento de descobrir a história do ‗outro‘, enquanto, na verdade, sabemos,
estarem em uma busca incessante pela história e pelo conhecimento do próprio ‗eu‘, i.e., pela construção
da própria subjetividade.

Palavras-chave: Helder Macedo; Bernardo Carvalho; auto-ficção; memória.

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DA NARRATIVA POÉTICA AO IMPRESSIONISMO: UM CONTO DE MENALTON BRAFF

Mariângela Alonso (Universidade Estadual Paulista/Cnpq)

O objetivo desta pesquisa é trazer à luz aspectos líricos presentes na composição do conto Moça debaixo
da chuva: os ínvios caminhos, narrativa que faz parte da coletânea Á sombra do cipreste, publicada em
1999 por Menalton Braff. No conto em questão o poético apresenta-se em todos os níveis, desde a
linguagem, marcada por um traço sumamente polissêmico até as descrições de personagens e espaço. A
narrativa de Braff gravita em torno do olhar lírico do narrador para a moça que surge debaixo da chuva
como uma espécie de pintura impressionista. Para demonstrar os momentos líricos de revelação que
surgem ao longo da narrativa braffiana, apresentamos, como suporte teórico, os pressupostos da teoria da
narrativa poética ou romance lírico postulados por Jean-Yves Tadié e Ralph Freedman. Procuramos, com
esta análise, salientar o traço poético da obra de Menalton Braff, marcada por uma linguagem polissêmica
e caracterizada muitas vezes pela permanência de traços impressionistas.

Palavras-chave: lirismo; pintura impressionista; Jean-Yves Tadié; Ralph Freedman

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A VIA DOLOROSA DE J. MUNGAU: DESLOCAMENTOS EM CAMPO DE TRÂNSITO DE


JOÃO PAULO BORGES COELHO

Wellington Marçal de Carvalho – PUCMG-CAPES/PROSUP-II

Pretende-se uma leitura da obra Campo de trânsito do escritor João Paulo Borges Coelho, articulada a
algumas categorias conceituais que se debruçam sobre a idéia de exílio e de não-lugar entrelaçando-as a
teorizações a respeito da noção de viagem. Destacar-se-ão, também, pontos de contato com estudos cujo
arcabouço teórico apresenta considerações sobre os conceitos de identidade e comunidade. O foco será
lançado nas passagens da caminhada de J. Mungau, a personagem principal do romance, nas quais ficam
evidentes questionamentos desse sujeito com relação à subtração, repentina, de sua liberdade. Na trama
narrativa, a grande questão da busca pela resposta do abrupto aprisionamento de J. Mungau só equivale
em importância, à irreparabilidade do dano causado pelo estado errante do ser em exílio. Borges Coelho,
107

magistralmente, opta abandonar os seus leitores, perplexos talvez, com J. Mungau ainda no não-lugar de
sua viagem.

Palavras-chave: Literatura moçambicana – crítica e interpretação. Não-lugar. Identidade. Exílio.


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Viagem.
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REPRESENTAÇÃO E MEMÓRIA NO CONTEXTO COLONIAL ANGOLANO: EM O


VENDEDOR DE PASSADOS E OS CUS DE JUDAS

Romilton Batista de Oliveira - UNEB


Paulo de Assis de Almeida Guerreiro - UNEB

Este artigo tem como objetivo analisar duas obras literárias O Vendedor de passados, do angolano José
Eduardo Agualusa e Os cus de Judas, do português Antonio Lobo Antunes, numa perspectiva
fundamentada nos estudos da memória e da representação. Pretende-se, a partir do contexto histórico
colonial de guerra e pós-guerra em que ambas as obras estão inseridas, investigar como a memória é
construída, levando em consideração a representação dessa memória através das duas posições narrativas,
a de colono e a de colonizador. Esta pesquisa é bibliográfica, e autores como Stuart Hall, Maurice
Halbwachs, Michael Pollack, Walter Benjamin, entre outros, serão de suma importância na consistência
de um diálogo interdisciplinar em torno da memória e da representação. Vale ressaltar que este artigo é
oriundo de uma pesquisa que está em andamento no mestrado em Cultura, Memória e D. Regional, sob a
orientação do professor doutor Paulo de Almeida Assis Guerreiro, na linha de pesquisa Cultura, Memória,
Identidade e Linguagem, recentemente qualificado.

Palavras-chave: Literatura, Memória, Representação, Angola.

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SHAMANIC PRACTICE, DREAMING AND THE ROMANTIC IDEAL

Marcel de Lima Santos -UFMG

Este artigo lida com as conexões entre as representações de práticas xamânicas, os sonhos e o ideal
Romântico na literatura de expressão inglesa. O papel dos sonhos nas representações do xamanismo se
integra nas cerimônias iniciáticas, nos procedimentos de cura, nas práticas ritualísticas etc. O interesse
pelo mundo dos sonhos enquanto manifestação espiritual é igualmente típico entre os poetas Românticos
da Inglaterra, os quais procuravam uma identificação entre o sonho e o sublime. Assim sendo, pode-se
dizer que, tanto xamãs como poetas buscam, em determinadas ocasiões, observar o mundo dos sonhos a
partir da ingestão de substâncias alteradoras da consciência; essa busca é objeto de investigação deste
artigo, que procura mostrar que, apesar das diferenças culturais mais conspícuas, há de fato similaridades
que permeiam as representações xamânicas e o ideal Romântico em suas peregrinações/representações
a(d)o desconhecido.

Palavras-chave: Xamanismo – Literatura - Romantismo – Representação – Sonho


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FICÇÃO E ALEGORIA NO COMPÊNDIO NARRATIVO DO PEREGRINO DA AMÉRICA

José Adriano Filho - UNICAMP


Na obra Compêndio Narrativo do Peregrino da América, de Nuno Marques Pereira, a presença do
alegórico tem um papel fundamental na medida em que estabelece a ligação entre doutrina e estética. O
primeiro volume da obra foi publicado em 1728 e suas sucessivas reimpressões (1731, 1752, 1760 e
1765) atestam sua grande aceitação pública e grau de abrangência. A obra narra alegoricamente a viagem
de um Peregrino em direção às Minas de Ouro, mas, para além da viagem do Peregrino, há outras
viagens; há o roteiro do Peregrino, mas também uma peregrinação pelo mundo, considerado como
morada provisória, enquanto se caminha rumo ao céu, a verdadeira pátria do homem. Seu título oferece
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indicações de seu gênero, mas assinala também algumas características de sua estrutura e caráter didático:
a história das relações entre a religião, seus ministros, os livros e a literatura tinha já uma longa tradição
quando este tipo de narrativa teve uma circulação maior. O interesse que a obra suscita não está
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dissociado das repercussões que o movimento da Contra Reforma e os ecos do Concílio de Trento
tiveram em nível da produção artística no mundo católico. A obra apresenta algumas contradições do
início da modernidade: o surgimento de uma nova cosmovisão, a passagem do teocentrismo ao
antropocentrismo que pode ser vista no conflito da história do Peregrino: a tensão entre uma ordem
baseada ainda numa cosmovisão mítico-religiosa e outra, a nova racionalidade, baseada na ciência e na
técnica modernas. Esta experiência de crise afetou as estruturas sociais, suscitou uma consciência geral de
desencanto e de desilusão, sendo traduzida na visão do mundo como local desordenado e perigoso.

Palavras-chave: Literatura Brasileira; Religião; Barroco.

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DESCONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO EM AS NAUS DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Maria José Ladeira Garcia – FIC/FASU

É pela dicotomia desconstrução/reconstrução que se pretende ler o romance As naus de António Lobo
Antunes. Coincidências e repetições, entrecruzamentos espaciais e temporais, multiplicidade de vozes,
mistura de estilos e linguagem são recursos utilizados pelo romancista, revelando nas entrelinhas as micro
histórias que enriquecem e colaboram para a reconstrução de uma nova história plural, mais rica e
democrática. As personagens adquirem novas identidades de base paródica e carnavalizante, mas
conservam vestígios de sua subjetividade histórica. Lobo Antunes apresenta uma visão negativa e
pessimista da sociedade portuguesa das últimas décadas do século XX, desvelando uma ruptura com o
poder absoluto de reconstrução do passado. Todas as certezas estabelecidas pela História aparecem
fragmentadas, desconstruídas, dando margem a novas e múltiplas possibilidades de interpretação. A sua
prosa é uma interrogação do passado com espírito crítico para se reconstruir a memória e a identidade
nacional. Busca um sentido para o presente sem menosprezar os mitos do passado que aparecem
invertidos. Na narrativa, as naus surgem como elemento metonímico, configurando o metafísico social,
privilegiando a multiplicidade de vozes narrativas, o estilhaçamento do ser e incorporando intertextos
paródicos literários e históricos. O romancista incita, ainda, o inconsciente coletivo através de um
conjunto de vozes que desvelam as personagens. A linguagem se revela em vários planos temporais e
espaciais com alguns arcaísmos que reforçam o efeito de remissão para o século XVI, mas a narrativa se
passa no presente cujos indícios se percebem pelas várias menções a Angola e às descrições de lugares e
objetos que só podem existir numa Lisboa do final do século XX. O romance acaba desembocando na
problemática da própria busca de identidade de um Portugal que precisa novamente voltar-se para si
mesmo; nesse sentido, o futuro implica uma releitura do passado, porém, uma releitura tão crítica quanto
possa ser a sua desmistificação.

Palavras-chave: Entrecruzamentos espaciais e temporais, Multiplicidade de vozes, Mistura de estilo e


linguagem, Crítica social

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AMBIGUIDADE E DESTINO NO ENCONTRO ENTRE O MENINO RIOBALDO E


DIADORIM, EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS

Luciane dos Santos – UEL/Capes

Há tempos que a crítica literária brasileira assume o regionalismo como insuficiente para entender e
interpretar a obra Grande sertão:veredas, de Guimarães Rosa. Não somente ela, mas todo texto do
presente autor nos oferece amplas possibilidades de leituras e interpretações, como por exemplo, verificar
a presença de temas trágicos permeando as histórias dos muitos personagens roseanos. Dessa forma, o
presente artigo tem a finalidade de apresentar o destino de Riobaldo, protagonista e narrador em Grande
sertão:veredas, a partir do encontro com o menino e posteriormente com o moço Diadorim. A focalização
da análise abrange a questão do medo x fascínio assim entendido por uma ação ambígua do protagonista
perante o encontro em questão. Assim, a ambigüidade da tragédia grega apresentada por Jean-Pierre
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Vernant calçará a análise do presente artigo. A pesquisa é de cunho bibliográfico e deixa a possibilidade
para outras leituras, com o mesmo tema, porém tanto em outros fragmentos da obra como ela num todo.
Palavras-chave: Ambiguidade; destino; Grande sertão: veredas.
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MARGENS E FRONTEIRAS DO LITERÁRIO: O LÍQUIDO REALISMO DO CONTO DA
GERAÇÃO 00

Emanuela Francisca Ferreira Silva – PUCMG

Não há uma única chave para a mímeses do realismo urbano, há apenas índices, tentativas textuais.
Representar a ação, captá-la como na fotografia, é tarefa árdua para a Literatura. Há de se fazer somente
nos cacos, nos fragmentos. Margens e fronteiras do Literário começam a se desfazer na tentativa de
escrever, re-ver este início do século XXI. O conto da geração 00 é tentativa líquida de retratar essa
realidade. Por isso, o foco desse trabalho será a análise de dois contos de Verônica Stigger do livro Os
anões. São eles: Os anões e 200 m2 que se encontram subdivididos no índice na seção história e, que
utilizam da escatologia – secreções do corpo humano – e dos antagonismos: diminutivos e exageros em
seu texto. Esse artigo é uma tentativa de perceber nesses dois contos, que parecem ser metonímias da
sociedade atual, a presença ainda que fragmentada da ideia de real.

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ESCRITAS ESQUECIDAS: SOBRE “QUATRO-OLHOS”, DE RENATO POMPEU, E UM


BILHETE DE KANT

Tiago Lanna Pissolati - UFMG

Os rastros da memória têm acompanhado o traço da escrita desde suas primeiras manifestações. No
entanto, esse mesmo traço é carregado de uma outra força que pode fragmentá-lo, cercá-lo de lacunas ou
mesmo levá-lo às margens do impossível: o esquecimento. Não se trata do lado avesso da memória, do
seu oposto ou contraparte, mas de uma potência que, justamente por dotar a memória de vazios, torna-a
possível. Na literatura, há escritas carregadas pela força da memória – como os diários, testemunhos,
ficções memorialistas e relatos diversos. Cabe perguntar, por outro lado, de que forma se manifestaria
uma escrita impulsionada pelo esquecimento. Uma escrita que, impedida de acessar o passado, surge das
ausências, dos vazios, dos abismos da memória. Escrita que surge, portanto, da impossibilidade de
lembrar. A fim de buscar uma resposta a essa questão, recorremos a duas manifestações dessas escritas do
esquecimento. A primeira delas, retratada no Lete de Harald Weinrich, consiste em um bilhete que o
filósofo Immanuel Kant escreveu para si mesmo, com o objetivo de lembrar-se de esquecer um criado
querido. A segunda, sobre a qual nos deteremos mais longamente, consiste no romance Quatro-olhos, de
Renato Pompeu, publicado em 1976. Escrito no período mais mordaz da ditadura militar brasileira, o
romance nos apresenta a uma escrita que só se faz possível a partir do esquecimento do narrador e
protagonista. Para analisar essas duas escritas do esquecimento, recorreremos às interlocuções entre
Georges Didi-Huberman e Walter Benjamin acerca das relações entre memória, esquecimento e a busca
da origem. Ao colocar as ideias desses pensadores em diálogo com os textos a serem analisados,
acreditamos encontrar o ponto em que o esquecimento, ao contrário de impedimento à escrita, torna-se
produtor dela.

Palavras-chave: memória, esquecimento, origem, ditadura militar.

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ANGOLA, NACIONALISMO E LITERATURA: OS DESAFIOS DO MPLA NO PROCESSO DE


DESCOLONIZAÇÃO ANGOLANO (1960-1970)

Priscila Henriques Lima - UniRio

Este apresentação busca analisar os desafios enfrentados no processo de consolidação do nacionalismo


proposto pelo MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, durante as décadas de 60 e 70,
período que ocorre a guerra de libertação angolana, por meio da obra literária Mayombe de Pepetela,
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codinome do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos. Angola conta em sua história
com uma das guerras mais sangrentas da humanidade, e pelo seu recente término, ainda podemos
observar um país devastado, tanto economicamente quanto socialmente, entretanto vivendo um período
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de paz. Em 2002 chegava ao fim três décadas de guerra civil pós-independência, contabilizando 500 mil
mortes. O trabalho se pautará pelo conceito de nacionalismo, elaborado por Eric Hobsbawm no livro
Nações e Nacionalismo e os conceitos de intelectual coletivo e hegemonia, elaborados por Antonio
Gramsci e compreendidos pelas obras de Carlos Nelson Coutinho. Também buscaremos contextualizar o
tempo histórico a que se insere o período abordado, isto é, num momento crucial da Guerra Fria, tendo
influenciado diretamente os processos de descolonização por meio dos princípios comunistas oriundos da
URSS. A possibilidade de diálogo entre a história e a literatura respalda-se nos princípios de Antonio
Cândido, por meio da obra Literatura e Sociedade. A metodologia utilizada será, além de localizar a obra
literária no seu tempo, a inspiração do seu autor e o papel do mesmo nos movimentos de libertação
angolano, se pautará por identificar no decorrer da narrativa, traços que venham corroborar a ideia de que
o grande desafio para o processo de descolonização seria os problemas étnicos, característica marcante da
sociedade angolana.

Palavras-chave: Literatura; Nacionalismo; Mayombe; Intelectual; MPLA.


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POESIA E DIPLOMACIA EM FRANCISCO ALVIM

Célio Diniz Ribeiro - UFF

Ler os poemas de Francisco Alvim foi, e tem sido, para mim, um grande desafio. Autor de uma poética
das mais complexas no cenário da poesia marginal, ainda é pouco estudado e divulgado na academia. Por
faltar estudos que deslindem o conjunto de sua obra quanto à recepção bem como quanto às relações
estabelecidas entre sua poesia e sua experiência profissional, como diplomata, tal se constitui o objetivo
desta pesquisa. Em nossa história literária, vários poetas foram diplomatas - Gonçalves de Magalhães,
Gonçalves Dias, Vinícius de Moraes e João Cabral de Melo Neto, para citar alguns - todavia, nenhum
outro tematizou essa experiência tanto e de maneira explícita, como o fez Alvim. Para fundamentar esta
pesquisa, ademais, utilizarei as teorias de Martin Buber, já que a questão do diálogo está presente na
poética alviniana e na diplomacia pari passu, e a Estética da Recepção (Iser e Jauss). Nesta perspectiva,
foi possível reconhecer que Alvim tem uma poesia em que se destaca um sentido de democracia bem
forte, ao voltar-se para as falas cotidianas, das ruas, numa época de ditadura militar. Acrescente-se ainda
o fato de ter participado do grupo Frenesi (anos 70), de poetas marginais. Por conseguinte, tensões de
poder, presentes em situações de negociação/diálogo, que se apresenta entre temáticas oficiais e um
coloquialismo, em certo sentido, próprio da poesia contemporânea, são expressas em sua poética, onde se
destaca a plurivocidade como forma de afirmação das relações dialógicas e democráticas.

Palavras-chave: Francisco Alvim. Poesia contemporânea. Diplomacia.


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Página
PAINEL

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ASPECTOS POLÍTICOS EM OLNEY SÃO PAULO

Samara Medeiros de Oliveira – UEFS/FAPESB


Claudio C Novaes – UEFS/FAPESB

De 1964 a 1985 o Brasil viveu a ditadura militar, período caracterizado pela falta de democracia,
censura, perseguição política, repressão contra aqueles que supostamente se indispunha contra o regime e
supressão dos direitos constitucionais. No mundo da arte o Brasil acompanhava o movimento Cinema
Novo, movimento este que tinha como ideal a criação de filmes baratos, com cenários próprios da nossa
terra e linguagem adequada à situação social da época. Fizeram parte desse movimento cineastas como
Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues, Paulo Cesar
Saraceni, Leon Hirszman, David Neves, Ruy Guerra, Luiz Carlos Barreto e um cineasta até então um
tanto desconhecido: Olney São Paulo. Cineasta feirense, Olney São Paulo mostrou em suas obras uma
visão política do povo sertanejo, considerando aspectos como da resistência social diante dos diversos
problemas colocados pela realidade histórica e ambiental. Sua obra completa conta com 14 filmes, entre
longas e médias metragens e documentários. Dois desses filmes chamam atenção por seu tema político
relacionando-se ao período vivido na época pelo país, são eles: Manhã Cinzenta (1969) e Pinto vem
aí(1976). Manhã Cinzenta conta a história de um casal de estudantes que vivendo em um país imaginário
sofre torturas por tentar lutar pelo que acreditam, é uma crítica praticamente direta à ditadura e Pinto vem
aí conta a história de um conhecido político feirense que assim como Olney enfrentou bravamente a
ditadura e que teve uma história de vida muito parecida com a do cineasta.Infelizmente Olney São Paulo
é pouco lembrado, mas ao nos inteirarmos de sua história relacionada à sua capacidade profissional,
impossível não surgir a curiosidade de conhecê-lo um pouco mais. Pode- se aproveitar também a
oportunidade para conhecer ainda mais o período político que Olney representou, sua linguagem fílmica e
o Movimento cinema novo.

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ANTÓNIO LOBO ANTUNES E A FICCIONALIZAÇÃO DA HISTÓRIA: UM OLHAR SOBRE


O ROMANCE OS CUS DE JUDAS

Débora Siqueira de Andrade – UFV


Gerson Luiz Roani - UFV

António Lobo Antunes configura-se como um dos maiores escritores da atualidade, quiçá o maior
romancista da Literatura Portuguesa contemporânea. Além de gerar inúmeras discussões e trabalhos
dentro e fora do âmbito acadêmico, Lobo Antunes foi indicado ao Prêmio Nobel pelo conjunto da obra, e
é notável, sobretudo, por embeber seus textos em um estreito diálogo entre a História e a Literatura. É a
partir dessa interlocução entre a história oficial e a arte literária que ocorre o processo de ficcionalização,
pois o autor retoma, alude e se apropria dos fatos históricos para, simultaneamente, criar um universo
ficcional peculiar. Sendo assim, a presente pesquisa analisou o romance Os cus de Judas (1980), que
integra a trilogia de livros loboantunianos acerca da Guerra Colonial na África, com o objetivo de
delimitar os pontos de intersecção existentes entre os discursos literário e histórico. Através da leitura
minuciosa de textos teóricos que discutem e legitimam a imbricada relação do fazer literário com a
História, investigou-se como foi construída essa relação em Os cus de Judas, bem como se observou os
artefatos estéticos empregados pelo autor a fim de produzir um texto que, além de dialogar com o
discurso histórico, se consagra como uma obra literária engenhosa. Além disso, verificou-se que a
ideologia adotada no romance, a começar pelo próprio título do texto, não poderia ser outra senão a de
uma visão paródica e jocosa da histórica oficial. Ou seja, Lobo Antunes constrói seu discurso em Os cus
de Judas com base na distorção, ou melhor, na desconstrução e recriação do discurso histórico que
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circunda a Guerra Colonial na África e o episódio de 25 de Abril.

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BECKETT: TRADUÇÃO, AUTOTRADUÇÃO E APROPRIAÇÃO CULTURAL

Micaela Rodrigues de Souza Fraga - UFOP


Maria Clara Versiani Galery - UFOP

O presente trabalho tem como objetivo divulgar alguns resultados do projeto de iniciação científica de
mesmo título, iniciado há seis meses. O projeto, que conta com o apoio do programa de incentivo à
pesquisa da UFOP, tem como objeto de estudo a peça Esperando Godot de Samuel Beckett e pretende
analisar as especifidades da tradução dessa obra. Para isso, temos estudado a prática autotradutória desse
escritor irlandês (que, como se sabe, realizou suas obras mais importantes em francês para depois vertê-
las para sua língua materna, o inglês), além de algumas montagens de sua peça em contextos de conflito –
como o projeto de Susan Sontag de encenar Godot em Sarajevo, durante a guerra civil na Iugoslávia
(1993); e a encenação bilíngue (árabe e hebraico) da peça no Teatro Municipal de Haifa, em Israel (1985)
– pensando em tradução não apenas como uma tentativa de transposição de um texto de uma língua para
outra, mas também na passagem do texto teatral para seu destino final, o palco.

Palavras-chave: Esperando Godot, montagem, tradução, repetição.

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PIBID: PRÁTICAS EDUCACIONAIS, DESAFIOS E POSSIBILDADES NO ENSINO DE


LITERATURA

Adeliana Alves de Oliveira – UFMT


Gleiciane Silva Queiroz. – UFMT
Meurilin Higino da Silva – UFMT
Odorico Ferreira Cardoso Neto – UFMT

O PIBID é um programa que tem por finalidade ainda na formação docente, desenvolver práticas
educacionais como exercício de iniciação à docência. A Literatura é um ensino indispensável na formação
do alunado. Esse estudo fora inserido nos âmbitos educacionais com a finalidade de incentivar o
indivíduo a práxis da leitura. Sabe-se que o aluno que tem por hábito ler, desenvolve uma leitura
aprimorada e eficaz, criando assim habilidades e desenvoltura no aprendizado da língua, nos estudos de
produção textual, compreensão e interpretação de textos. Uma das práticas educacionais elaboradas que
está sendo adotada é o ensino da literatura aliada a novas tecnologias, ou seja, literatura digital,
trabalhando primeiramente as obras literárias contemporâneas, depois incentivando a volta aos clássicos e
demais estilos literários por meio da mídia, até mesmo porque é um recurso que os alunos tanto utilizam e
gostam. Em nossas pesquisas e trabalhos desenvolvidos percebe-se que o aluno não tem consciência da
importância da literatura na formação escolar e com isso não se interessa pelo estudo dela. Um dos
desafios que a equipe PIBID tem encontrado é o de superar o desinteresse do discente pela literatura e
obter um resultado satisfatório no que se diz estudos literários.

Palavra - chaves: Ensino de literatura, PIBID, Educação.

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A ARTE LITERÁRIA EM TEMPOS MODERNOS: NOVAS ABORDAGENS DIDÁTICO-


PEDAGÓGICAS

Cleyson Santana de Freitas - UFMT


Odorico Ferreira Cardoso Neto - UFMT

O estudo de literatura é sempre visto como uma análise da arte histórica das sociedades, da estética
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artística e do pensamento do homem em uma abordagem que contextualiza a história, o homem e o


conhecimento. Trabalhar com literatura em sala de aula traz consigo métodos e abordagens que
possibilitem aos alunos maior compreensão acerca dos estilos de época bem como seus variados gêneros
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literários. Com o avanço da informática, da modernização dos meios de comunicação, dos novos
aparelhos técnico-científicos e equipamentos foi permitido aos docentes criar aulas expositivas,
utilizando-se de mídias digitais no processo didático-pedagógico que possibilitaram maior dinamismo no
desenvolvimento da aula. O rendimento escolar nessa perspectiva de aula não convencional é bem maior,
pois permite aos alunos visualizar em tempo real os conteúdos de literatura e seu contexto histórico além
de favorecer o trabalho com as análises de contos e poemas. O uso de temas transversais em um ritmo
transdisciplinar contempla uma abordagem mais ampla que a simples aula tradicional e comporta uma
melhor contextualização de temas e assuntos antes visto como complexo e desmotivadores. Essa
abordagem didático-pedagógica possibilita ao professor apresentar aos alunos obras consideradas
consagradas pela literatura nacional, influenciando outros olhares, novas leituras, releituras de livros
literários e não literários na forma digital em que a tela do monitor sirva para promover a leitura de e-
books, livros digitais, disponibilizados por bons autores além de admitir pesquisas rápidas a assuntos que
contemplem a abordagem de aula.

Palavras-chave: Arte literária, Transdisciplinaridade, Mídias Digitais, Temas Transversais.

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VERSÕES DIVERSAS DO EPISÓDIO DA CORRIVEAU: LEITURAS PARA UMA ANÁLISE


DE A GAIOLA DE FERRO

Angelo de Souza Sampaio – UEFS


Fernando de Freitas Franco - UEFS

Marie-Josephte Corriveau, conhecida simplesmente por La Corriveau, é a personagem principal da lenda


quebequense de mesmo nome. Nas narrativas desta história, a culpa pelas mortes dos vários maridos de
La Corriveau recai sobre ela acompanhada de inúmeros boatos, sobre como ela teria cometido os crimes.
Suspeita, sem provas, de matar seu primeiro marido e ré confessa da morte do segundo, La Corriveau é
condenada à forca. Após sua morte, seu corpo é posto em uma gaiola de ferro e pendurado em um poste
de uma encruzilhada, causando pânico e pavor aos moradores da cidade de Lévis, Canadá. Tendo em
vista as diversas versões do episódio da Corriveau, ―lenda‖ que mistura realidade e ficção, o presente
trabalho tem por objetivo fazer um estudo comparativo das ditas versões, voltado para a análise das
imagens representativas da história/personagem e para a tradução e compreensão feita pela literatura
através da voz da escritora, também quebequense, Anne Hébert no livro A Gaiola de Ferro.

Palavras-chave: Literatura quebequense; Lendas; Imaginário mítico.

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POR UMA ESCRITURA CONFLITANTE: OS FRUTOS DA TRANGRESSÃO EM LAVOURA


ARCAICA

Cristiana Silva Mendes Cangussú - UniMontes


Alex Fabiano Correia Jardim - UniMontes

A proposta do trabalho é problematizar os signos da violência a partir da obra Lavoura Arcaica de


Raduan Nassar. Trataremos de um conflito que perpassa todo o texto do autor: o conflito entre razão,
paixão e tradição enquanto ruptura entre as faculdades concordantes e discordantes do pensamento. No
texto de Raduan Nassar o pensamento só é possível a partir de uma violência. Nesse sentido, o
personagem André é o pólo dessa passagem impulsionada por uma violência que marca o corpo e o
espírito. No romance, razão e tradição se compõem enquanto fundamento da família, instituição por
excelência, de forte apelo religioso. Por outro lado, a paixão se apresenta enquanto elemento trágico e
transgressor de uma ordem estabelecida e de uma moral constituída. A literatura de Raduan – Lavoura
Arcaica – nos indica que as relações humanas são estabelecidas não unicamente pelo dever e pelo
respeito, mas também, por uma violência física e psíquica. No romance, os signos de amor entre André e
Ana, instalam a potência de uma singularidade, de uma vida. Nesse caso, a literatura de Raduan Nassar
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constrói uma estética, seja pelo estilo da escrita, seja pelo ser de sensações que ela cria ou pelos mundos
que ela inventa e fabula.
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Palavras-chave: tradição – paixão – violência – ruptura – família.

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PIBID: UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO PARA O TRABALHO COM OS GÊNEROS
TEXTUAIS E LITERATURA NA SALA DE AULA.

Cleidiane Queiróz Silva – UFMT


Heide Cristina Costa Silva – UFMT
Maria Auxiliadora Ferreira Nobre – UFMT
Odorico Ferreira Carodoso Neto - UFMT

A leitura e a escrita são pontos fundamentais para a inserção do indivíduo dentro da sociedade. Nessa
perspectiva, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) visa oferecer e
possibilitar uma maior reflexão acerca do estudo de língua portuguesa, literatura, escrita, leitura e o
trabalho com os gêneros textuais, de modo a propiciar uma aprendizagem significativa por parte dos
alunos em sala de aula. Conforme as diretrizes apresentadas pelos PCNs é fundamental que todo docente
independentemente de sua área de formação tenha o texto como principal instrumento de trabalho, e que o
uso deste, possa articular-se coerentemente dentro das propostas interdisciplinares pronunciadas entre as
áreas de conhecimento, para que dessa forma o aluno possa caminhar, conquistar sua autonomia no
processo de ensino aprendizagem, formar-se cidadão crítico, capaz de formar suas próprias opiniões e
posicionamentos. Nesse aspecto, o PIBID vem desenvolvendo trabalhos na área de linguagem, códigos e
suas tecnologias, utilizando os gêneros textuais no cotidiano escolar, visando uma maior interação entre
professores e alunos e incentivando o gosto pela leitura. E nesse processo de desenvolvimento e formação
do discente cabe à escola a responsabilidade de sistematização desses saberes.

Palavras-Chave: PIBID, Literatura, Gêneros Textuais e Leitura.


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MEMÓRIA CULTURAL SÃO-JOANENSE NOS EXEMPLARES DO JORNAL DO POSTE.

Juliana do Carmo Jesus Pio – UFSJ/CNPq


Eliana da Conceição Tolentino - UFSJ

Este trabalho propõe a apresentar o projeto de iniciação científica: ―Catalogação, Armazenamento e


Digitalização dos exemplares do Jornal do Poste‖. O Jornal do Poste é um veículo de notícias de São
João del-Rei, criado em 1958 por Joanino Lobosque Neto. O acervo do Jornal, de 1962 a 2000, encontra-
se na Universidade Federal de São João del-Rei. Esse periódico era afixado em murais e colocado nas
cidades de São João del-Rei, Lagoa Dourada e Tiradentes. Inicialmente as notícias eram manuscritas em
letras maiúsculas com caneta esferográfica e as manchetes com caneta pilot em cores variadas. O jornal
passou a ter as notícias datilografadas a partir de 1962. A temática predominante é a local e nas notícias
estão presentes pessoas comuns da cidade, e dessa forma o periódico conversa com as particularidades do
seu leitor e configura-se como documento cultural. Nossa atividade no projeto consiste na separação dos
exemplares sob a categorização: mês e ano. Após a separação será realizada a higienização, catalogação e
digitalização do periódico. Como embasamento teórico recorremos a: Os arquivos Imperfeitos de Fausto
Colombo, Mal de Arquivo de Jacques Derrida e no artigo ―Na rede do tempo história da literatura e fontes
primárias‖ de Maria Eunice Moreira, presente no livro As pedras e o arco: fontes primárias, teoria e
história da literatura, organizado por Regina Zilbermann et all. A partir da realização do trabalho o jornal
será disponibilizado para consulta on-line na página da Universidade Federal de São João del-Rei e
tornar-se- á corpus de pesquisa para várias áreas. O trabalho busca assim contribuir para a preservação e
divulgação da memória cultural são-joanense.

Palavras-chave: Jornal do Poste, arquivo, notícias.

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AS MEMÓRIAS DO EXÍLIO NAS CORRESPONDÊNCIAS DE JORGE DE SENA

Nilton Nogueira da Silva Júnior – UFSJ/FAPEMIG


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Eliana da Conceição Tolentino - UFSJ


O presente painel se propõe ao estudo da produção epistolar do escritor português Jorge de Sena (1919-
1978), quando de seu período de exílio no Brasil dos anos 1960. O corpus utilizado nessa pesquisa é uma
série de cartas escritas entre os anos de 1960 e 1964, período da atividade intelectual de Sena no país.
Como referencial teórico, optamos pelas leituras do texto de Edward Said “Reflexões sobre o Exílio”,
presente no livro homônimo (2003), para tratar de questões como a expressão do desenraizamento na
produção literária; em consonância com Said, Rollemberg (1999) vai colocar a função do exílio como
afastamento de grupos contrários à política de determinado território. Nessa perspectiva, analisaremos as
correspondências buscando configurar as características da escrita do exílio, como o deslocamento e todas
as suas implicações políticas e sociais. Abordando a temática das relações de exílio entre brasileiros e
portugueses, recorreremos a Eduardo Lourenço no texto ―Pequena Diáspora Lusitana‖ (2003), que é parte
do livro Incertas relações: Brasil-Portugal no século XX, em que a experiência do exílio de escritores
portugueses no Brasil é tratada “não como uma situação de exílio, mas como algo familiar, pelo fato de
que o Brasil representa uma terra de acolhimento” (Abdala, apud Lourenço, 2003, p 9-35).

Palavras-Chave: Exílio; Cartas; Memória; Jorge de Sena

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IMAGENS DO NEGRO EM O ABC DO ENFORCADO, DE OLNEY SÃO PAULO.

Juliana Cordeiro de Oliveira Silva - UEFS


Claudio Cledson Novaes - UEFS

Este trabalho tenciona analisar a representação do negro sertanejo na obra de Olney São Paulo, bem como
traçar um perfil literário e biográfico do personagem principal na narrativa em análise. Narrativa esta que
apesar de caracterizar-se como prosa, estrutura-se como literatura de cordel pela forma como os fatos são
descritos. A relevância desse estudo se estima pela abordagem histórica presente no conto. O tema da
narrativa traz à tona diversas versões sobre a figura de Lucas da Feira, reforçando a importância de
analisar o sentido e o percurso do negro no sertão nordestino, em especial na região de Feira de Santana-
BA. O estudo do caso Lucas da Feira é uma forma de divulgar uma visão distante dos posicionamentos
vigentes em Feira de Santana, que ora o elegem como herói ou líder do movimento de libertação da raça,
ora lhe atribuem um sem número de adjetivos denegritivos. Neste sentido da radicalização dessas duas
posições, esperamos que o nosso trabalho suscite debates que ajudem a refletir novas abordagens e,
consequentemente, a enriquecer o conhecimento da História da Bahia e de Feira de Santana, em particular
sob um olhar literário.

Palavras- chave: Abordagem histórica, negro sertanejo, sertão nordestino.

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A PRESENÇA DO MITO DO PARAÍSO NA OBRA FILMICA AVATAR

Ariana Carla Barbosa da Silva - UNEB

Os mitos são narrativas que constituem a identidade cultural de uma determinada sociedade. O mesmo
narra à trajetória desse povo desde as origens, podendo ter elementos místicos, contradições, arquétipos.
Diante disso, é possível observar nos objetos midiáticos – principalmente literatura e no cinema – a
ressignificação do mito do paraíso, uma vez que com passar dos séculos esses mitos não se perdem, não
caem num esquecimento, pelo contrário esses mitos recebem outros elementos significativos. Partindo
desse pressuposto julga-se pertinente estudar a presença do mito do paraíso na obra filmica Avatar (James
Cameron, 2009) observando a ressignificação que esse mito sofre e as influências que o autor recebeu ao
compor essa obra. Vale ressaltar que as discussões abordadas nesse trabalho ocorrerão a partir da relação
intersemiótica existente entre a literatura e o cinema.
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A HERANÇA GÓTICA EM JOÃO DO RIO: “DENTRO DA NOITE”

Bruno Oliveira Tardin – UFV

A partir dos estudos feitos sobre a literatura gótica inglesa e o romance neogótico, amplamente difundido
pela Europa de final do século XIX dentro da literatura decadentista, bem como da análise da produção
literária de João do Rio, e sua coletânea de contos, publicada em 1910 e intitulada Dentro da Noite. O
contista foi ávido leitor do grande representante deste gênero literário em solo inglês, Edgar Allan Poe,
bem como renomado tradutor dos textos de Charles Baudelaire, alguns dos traços motivadores a realizar a
análise, aqui proposta, dos traços recorrentes no texto de João do Rio que refletem aspectos teóricos e
temáticos deste gênero que, inadvertidamente, é declarado ausente de nossa produção literária brasileira –
fato que a pesquisa busca reavaliar. A coleta de tais aspectos em comum entre os textos foi feita a partir
do conto que, assim como abre a coletânea de Dentro da Noite, é quem lhe empresta o título. Serão
apresentadas as características, latentes ao texto literário, que denunciem a presença de aspectos
relevantes ao que se denominou chamar o ―horror moderno‖ na literatura, como a seleção de tipos e
arquétipos para as personagens envolvidas (em especial o anti-herói gótico), a escolha e representação dos
cenários, a linha de força que irá manter o enredo, dentre outros. Também serão abordados alguns
aspectos temáticos e estruturais, influentes na recepção da obra literária, que atestem à possibilidade de se
defender, na literatura de João do Rio, a presença de elementos arquetípicos e filosóficos nos temática e
estrutura do texto literário de Dentro da Noite, recorrentes à revitalização do gênero gótico na Europa,
movimento que irá legar, dentre outras, obras como o Drácula, de Bram Stoker, e O retrato de Dorian
Gray, de Oscar Wilde.

Palavras-Chave: literatura comparada; neogótico; contrastes temáticos; estudos culturais.

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DE MAKÈZÚ À MAYOMBE: A SOCIEDADE ANGOLANA ENTRE A POESIA DE


INTERVENÇÃO E A PROSA DE GUERRA

Felipe Paiva Soares - UFS


Carlos Liberato - UFS

O trabalho analisa a literatura de dois escritores angolanos sendo estes o poeta Viriato da Cruz (1928 -
1973) e o romancista Artur Pestana dos Santos – Pepetela (1941) -. Para tanto, a produção
intelectual desses autores é inserida no contexto geral da época e das ideologias de libertação nacional em
Angola. Fugindo das demarcações históricas tradicionais a presente análise faz uso da literatura como
marco temporal, identificando dois momentos diferentes desse período da história angolana; um marcado
pela aqui chamada ―Poesia de Intervenção‖ em que se destacaram nomes como Agostinho Neto, Antonio
Jacinto e o próprio Viriato da Cruz e um posterior: A ―Prosa de Guerra‖ encabeçada principalmente por
José Luandino Vieira e Pepetela. Dessa forma, busca-se analisar os poemas de Viriato da Cruz, em
especial Makèzú, e os romances de Pepetela escritos durante a guerra de libertação enfatizando Mayombe
(escrito entre 1971 -1972 e publicado em 1980), utilizando também a entrevista concedida por Pepetela
exclusivamente para este trabalho. A investigação tem, portanto, três frentes de análise; a literatura, a
história e a memória. Dessa maneira, intenta-se lançar nova luz sobre as poesias de Cruz e a prosa de
Pepetela relacionando-as com a sociedade angolana do período e evidenciando como muitos aspectos
dessa sociedade – sejam do conflito armado que então se desenrolava ou do cotidiano - transpareciam na
pena de ambos. Como aportes teóricos serão utilizadas, sobretudo, as teorias de pensadores africanos (ou
ligados de certo modo ao continente) também do período tais como Amilcar Cabral e Frantz Fanon.
Norteando-se pelas teses de assimilação fanoniana e de resistência cultural de Cabral busca-se esclarecer
a sociedade angolana interseccionando sua história recente e sua produção literária reforçando, dessa
forma, o mutualismo interdisciplinar e o olhar endógeno para com a produção teórica e literária africana.
118

Palavras-Chaves: Viriato da Cruz, Pepetela, Literatura Angolana, História Angolana


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INTERAÇÃO LEITURA/ESCRITA: O DESPERTAR PARA A LITERATURA ATRAVÉS DE
UM GÊNERO NÃO-LITERÁRIO

Sara Mendes de Oliveira – UFV


Wânia Terezinha Ladeira - UFV

Gêneros textuais formam conjuntos de tipos específicos de textos de qualquer natureza, literários ou não.
Um gênero textual muito frequente na vida dos adolescentes é apresentado – em revistas e jornais – em
forma de testes, os quais ‗avaliam‘ seus conhecimentos quanto à moda, saúde, namoros etc. O objetivo
desse trabalho é apresentar o resultado de uma atividade que teve como enfoque despertar o interesse do
aluno para a literatura nacional através da interação leitura/escrita – por meio de um texto em forma de
teste, de um romance brasileiro e de uma produção escrita. A atividade foi desenvolvida em uma escola
do Ensino Médio, da rede pública estadual, no município de Viçosa, MG. O foco central do trabalho foi
analisar a relação aluno/texto, por meio de leituras e na produção textual. Foi proposta a realização, pelos
alunos, de um teste intitulado: Que tipo de mulher sou?; Que tipo de homem sou?. O teste era voltado
para construção de perfis – tímido, desinibido, desconfiado, romântico – e o resultado levava o aluno a
perfis de personagens da literatura brasileira – Capitu, Ceci, Luiza, Bentinho, Peri e Basílio. Feito o teste,
cada aluno era ‗comparado‘ a um personagem, e a leitura dos respectivos livros – Dom Casmurro, O
Guarani e Primo Basílio – foi proposta. Após o teste e a leitura do livro os alunos realizaram uma
atividade de produção textual. Nessa produção eles deveriam escrever sobre o personagem ao qual foram
comparados, visando relatar as características do mesmo e, finalmente, revelar se o personagem literário e
o próprio aluno se ‗parecem‘ ou não. Por fim, diante das leituras e produções realizadas, foram analisadas
as dificuldades referentes à interpretação, ao conteúdo e à linguagem, apresentadas pelos estudantes.

Palavras-chave: Gêneros textuais; Testes; Literatura brasileira


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SOBRE OS OLHOS DA VENTURA: UMA ANÁLISE DA OBRA LIVRO DE MÁGOAS, DE


FLORBELA ESPANCA

Lucca Tartaglia – UFV

Florbela Espanca, portuguesa nascida no final do século XIX em Vila Viçosa (Alentejo), começou muito
cedo sua produção literária, quando a vida lhe somava ainda os últimos anos da infância. Adquiriu, no
passar dos tempos, reconhecimento como contista e, principalmente, como uma eximia sonetista em
Portugal, publicando inúmeras obras no decorrer de sua carreira, dentre elas o Livro de Mágoas, em 1919.
Dedicado este a seus dois grandes amores: o pai, republicano e então melhor amigo, João Maria Espanca,
e à alma irmã da sua, seu irmão, Apeles. ―Este livro...‖, soneto este que introduz a obra, já propõe uma
visão acerca das ―estranhezas‖ do eu-lírico em relação ao mundo, levando a um processo de análise
distópica quanto à linearidade irrefutável do destino. Propõe-se, através da presente pesquisa, estabelecer
uma releitura dos sonetos publicados no Livro de Mágoas, observando como esses temas são trabalhadas
e inferindo acerca das problemáticas que permeiam a obra.

Palavras-chave: sonetos portugueses, mágoas, estranheza, destino

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OS ESTATUTOS DO HOMEM, DE THIAGO DE MELLO: UTOPIA E REVOLUÇÃO

Iúna Gabriella Costa de Paiva – UESPI

O presente trabalho pretende analisar a obra Os Estatutos do Homem, escrito em 1964 por Thiago de
Mello – enquadrado na temática da poesia de resistência –, e com isto trazer à academia discussões sobre
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este paradigma literário. O poeta apropria-se do gênero textual Artigo de lei, e conseqüentemente do
discurso jurídico, para trazer uma estilística própria da sua escrita: a utilização das palavras para resgatar
valores e princípios de dignidade humana, ainda restantes na sociedade capitalista. Decretando a liberdade
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do ser humano e o fim da opressão, os quatorze artigos da obra, a todo instante subvertem o sistema em
vigor e reivindicam um mundo onde só é possível uma vida verdadeiramente humana. Para a Teoria
Marxista literária, a obra rompe com as estruturas existentes e carrega uma ideologia predominante às
correntes políticas de esquerda, onde cabe ao ato de escrever servir como mais um instrumento de luta
para alcançar o sonho revolucionário de libertação.

Palavras-chave: Poesia de resistência - Dignidade humana - Liberdade - Teoria Marxista literária

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O LETRAMENTO LITERÁRIO COMO MEIO PARA INSERÇÃO NA CULTURA LETRADA

Alessandro José da Cunha - UFMG


Vanda Lúcia Carneiro - FADILESTE

Há difundido no Brasil um vasto discurso de promoção da leitura. Um discurso que justifica a sua
ausência e que também reconhece a existência de um país que não lê, ou não lê o suficiente. É comum
que a culpa dessa inadequação recaia fortemente na escola, considerada uma das maiores instâncias de
formação de leitores – ela é o lugar para o qual a sociedade dirige a função de ensinar a ler e a escrever e
formar cidadãos. O presente trabalho discute a questão da leitura literária e da recepção de textos com
alunos das séries finais do Ensino Fundamental na Escola Estadual João Xavier da Costa, situada numa
região periférica do município de Manhuaçu - MG. Sabemos que a literatura é uma arte, e como tal, faz-
se necessário que seja ensinada com a função social de construir e reconstruir a palavra que,
humanizadora, gera leitores críticos e conscientes de suas responsabilidades. Assim, a pesquisa propõe e
desenvolve uma experiência com o texto literário a ser vivida e compartilhada. Experiência que contribui
para a formação de indivíduos sábios o bastante para entender a sociedade como um texto a ser lido,
inseridos assim na cultura letrada. São atividades frequentemente desenvolvidas: leituras de telas e textos,
organização e divulgação da biblioteca como um espaço cultural, teatro, visitas a ambientes culturais,
oficinas etc. Atividades estas que procuram criar nos alunos o gosto e o afeto pela escola, que deve ser o
espaço de sociabilidade. Para difundir os resultados, o projeto tem um blog onde divulga seus trabalhos.

Palavras-chave: leitura literária, letramento, literatura.

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CARMEN DA SILVA, UMA RIO-GRANDINA PRECURSORA DO FEMINISMO: POR UMA


RELEITURA DE SUAS ESCRITAS

Alexandre Pinto da Silva – FURG


Núbia Jacques Hanciau - FURG

Este trabalho – desenvolvido no âmbito do projeto Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do
feminismo – retoma obras e ideais da autora, buscando torná-la reconhecida e lida na atualidade,
contextualizando sua escrita neste ano singular em que o projeto completa dez anos e que, pela primeira
vez, a Presidência da República é ocupada por uma mulher. Pretende-se – a partir de levantamento feito
em artigos, obras ficcionais e autobiográficas – mostrar a importância da autora para mais de uma geração
de mulheres (1960-70), e sua atualidade, evidenciando seu engajamento nas causas sociais e militância
feminista. Para o desenvolvimento da pesquisa serão consultadas as obras: Sangue sem dono, A arte de
ser Mulher, O homem e a Mulher no mundo moderno e Histórias hibridas de uma senhora de respeito,
relacionadas com a teoria da literatura e a crítica literária feminista. Pretende-se mostrar que Carmen da
Silva traçou metas e as perseguiu com determinação. E como ela mesma especifica, ela sentiu seu
feminismo na pele. Sua experiência de vida, seu amadurecimento enquanto escritora e cidadã exposta aos
acontecimentos mundiais a levaram a publicar artigos memoráveis na revista Claudia, ao longo de 22
anos na seção ―A Arte de Ser Mulher‖, textos e os livros apontados aqui, que inspiravam a autonomia e a
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independência da mulher.

Palavras Chave: Literatura, representação feminina, engajamento.


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O ESPÍRITO DE FORMAÇÃO ESTÉTICO-LITERÁRIA ATRAVÉS DAS CARTAS

Madjer Ranyery de Souza Pontes – UFC


Odalice de Castro Silva - UFC

A correspondência de escritores constitui ferramenta de fundamental importância para o conhecimento de


sua personalidade artística, como também nos informa a respeito dos alicerces de sua formação literária.
O presente trabalho conjectura a respeito de como o ―gênero‖ epistolar possibilita um conhecimento
específico sobre a formação estético-literária de dois escritores que tomaram a carta como uma
possibilidade da observação de si: José de Alencar e Gustave Flaubert. Avaliamos a correspondência dos
respectivos autores como um percurso da ―invenção do eu‖, refletindo de como a produção epistolar
participa da constituição de um estilo próprio de cada um, bem como das leituras que fizeram e
assimilaram como diretrizes formativas de suas literaturas. A carta por abranger uma pluralidade de
temáticas e permitir que o escritor faça uma apreensão retrospectiva do seu e de outros conhecimentos
elaborados artisticamente, possibilita que, em seu processo de formação, o escritor pense a escritura e se
pense na escrita. Assim, este trabalho considera a carta em sua complexidade, como um objeto literário
carregado de informação, e não só como subsídios particulares dos autores.

Palavras-chave: correspondência; formação literária; josé de alencar; gustave flaubert.

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A FRIA ELEIÇÃO DO ESPÍRITO

Edilson da Silva Pereira - UFC


Marcelo Magalhães Leitão - UFC

A partir dos romances Iaiá Garcia e A Mão e a Luva, da primeira fase do escritor fluminense Machado de
Assis, discutiremos nesse artigo a problemática da Sublimação, que de acordo com o psicanalista
Sigmund Freud, constitui-se de uma individualidade exteriorizada num cenário social, bem como um
comportamento exigido pelas imposições e valores atribuídos pela sociedade em todos os seus âmbitos.
Assim podemos conjecturar que, a civilização é constituída sobre uma renúncia aos instintos primitivos
(pulsão). Como é vigente no estilo machadiano, mesmo observado na fase romântica, glosam-se questões
dos conflitos do ser humano e as ambiguidades afetivas nas obras de Machado são sempre dispostas como
algo intrínseco ao ser. As personagens dos romances que serão aqui analisadas inserem-se no contexto
romântico, porém, constata-se o eterno dilema das pulsões das personagens realistas. Com isto,
tentaremos analisar as imposições societárias sob o desejo do inconsciente das personagens Iaiá Garcia e
Estela, e Guiomar, dos respectivos romances antes citados.

Palavras-chave: romantismo; sublimação; machado de assis; sigmund freud.

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SONHOS PROFÉTICOS E REVELADORES NA ILÍADA E NA ODISSEIA

Rodrigo Vieira Ávila de Agrela - UFC


Orlando Luiz de Araújo - UFC
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Para Borges, os sonhos constituem os mais antigos e um dos mais complexos gêneros literários. Já Walter
Benjamin chama-os de ―semelhanças invisíveis‖, chegando a idealizar o projeto ―livro dos sonhos‖.
Freud, conhecido como o pai da psicanálise, afirma que os sonhos são as manifestações do Inconsciente e
que sempre trazem um sentido intencional, seja para realização de algo, seja apenas para a tentativa de
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uma realização. O objetivo deste trabalho é fazer uma análise da representação do sonho no contexto
clássico, especificamente, do sonho do atrida Agamémnon, no Canto II da Ilíada, e do de Penélope,
esposa do divino Odisseu, no Canto IV da Odisseia. Assim, será nossa proposta, também, criar um
panorama dos vários significados do sonho em diferentes culturas, fazendo um diálogo com os conceitos
de sonho na poesia homérica e nos românticos. Os teóricos utilizados para a composição deste trabalho
foram Schlegel, Voltaire, Junito de Souza Brandão, Jorge Luís Borges e Walter Benjamin.

Palavras-chave: Sonhos; Romantismo; Freud; Odisseia; Ilíada.

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O USO DE GRADED READERS NO ENSINO DE INGLÊS

Aline Marjorie Pio de Melo – UFC


Maria Fabíola Vasconcelos Lopes – UFC

Este trabalho visa defender o uso do livro paradidático (graded readers) no ensino do inglês,
demonstrando como torná-lo uma ferramenta poderosa no aprendizado. No ensino de língua estrangeira
os graded readers servem como fonte adicional para qualquer tipo de aluno, sendo encontrados em vários
níveis e sobre os mais variados assuntos, atingindo, assim, diversos grupos, além de estimular a
autonomia de estudo do aluno. Diante deste prisma e a partir de estudo oriundo da experiência como
monitora de língua inglesa vinculado ao Departamento de Letras Estrangeiras dentre os alunos iniciantes
em inglês em contexto universitário, apresentamos esta comunicação. A pesquisa objetiva demonstrar de
que maneira o uso da versão simplificada pode facilitar a compreensão da versão original. O estudo se
apóia em Simensen (1987) e Day & Park (2005) sendo o livro escolhido para a pesquisa The Prisioner of
Zenda de Anthony Hope (1894), por ser encontrado em duas versões, a original e a adaptada (graded
reader). Os procedimentos metodológicos adotados contemplam as seguintes etapas: elaboração e
aplicação de questionário; contemplando 10 perguntas no formato múltipla escolha. As perguntas foram
divididas em duas seções: a) de compreensão do texto e b) gramática cujo intuito era o de testar a
compreensão e o conhecimento do aluno sobre o conteúdo gramatical exigido nos semestres iniciais de
língua inglesa. Apresentamos os resultados parciais do referido estudo e propomos formas variadas de
explorar os graded readers para que o aluno possa se beneficiar com o seu uso. Dos resultados, pode-se
afirmar que 80% dos alunos que participaram da primeira fase da pesquisa tiveram resultados satisfatórios
quanto à segunda fase, que consistiu no uso da versão original do reader, mostrando assim que o uso da
versão adaptada serviu como base para a compreensão da versão mais densa.

Palavras-chave: ensino, graded readers, paradidáticos

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A GRAMÁTICA NA POLÍTICA: UMA ANÁLISE DOS PERSONAGENS DE LORD OF THE


FLIES ATRAVÉS DOS MODALIZADORES

Camila Araújo da Silva - UFC


Maria Fabíola Vasconcelos Lopes - UFC

A modalidade deôntica está ligada ao eixo da conduta, se refere à linguagem das normas (obrigações,
permissões...) e se resume na maneira como o enunciador se expressa em relação ao conteúdo da frase e
seu grau de verdade em relação a quem o enunciado se destina. A modalidade deôntica se manifesta entre
sujeitos e pressupõe uma relação hierárquica entre locutor e interlocutor, fonte e alvo deôntico
respectivamente. Em Lord of the Flies, livro escrito por William Golding, podemos observar um grupo de
crianças, garotos, tentando conviver em uma ilha deserta após a queda de um avião. Sem adultos por
perto as normas impostas pela sociedade não tem mais nenhum valor para eles, já que começam a agir
como selvagens. Com a ajuda da modalidade deôntica podemos fazer uma análise dos personagens, mais
precisamente de suas personalidades, com base na ocorrência dos modalizadores em seus discursos.
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Focaremos a análise nas personagens do livro Ralph e Jack, pois ambos assumem o posto de líder do
grupo em diferentes momentos na obra. Observando a escolha lexical de cada um, com o uso da
modalidade deôntica, podemos confirmar o espírito democrata do primeiro e autoritário do segundo.
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Palmer (1986) e Lopes (2009) fundamentam a pesquisa quanto ao uso da modalidade e A República de
Platão nos dá suporte à analise dos regimes políticos cabíveis a cada um dos personagens.
Palavras-chave: modalidade, política, literatura
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A CARACTERIZAÇÃO DO MAL NO ROMANCE O GUARANI


Marta Nayara Freitas -UFC
Ana Márcia Siqueira Alves -UFC

Publicado inicialmente em folhetins, O Guarani (1857), o primeiro romance indianista de José de


Alencar, é obra constituída de quatro partes, e que enfatiza em seus capítulos uma acirrada luta entre o
Bem e o Mal. Peri, o índio valente e corajoso, protagonista do romance, assume o papel do herói nacional,
caracterizado por sua história de lealdade à família de D. Antônio de Mariz. Contrapondo-se ao índio
Peri, o romance traz ainda Loredano, um ex-frade italiano, personagem ganancioso e dono de uma
ambição que o faz maquinar planos desumanos para conseguir o que deseja – um grande tesouro. Assim,
este trabalho tem por objetivo central analisar o caráter demoníaco desse personagem, religioso traidor de
sua fé, que ao longo da obra assume o papel de um inimigo secreto, aguardando o momento oportuno
para por em prática os seus planos movidos pela ambição desenfreada. Destacamos a importância desse
antagonista em razão do suspense que provoca, já que somente o leitor tem conhecimento do verdadeiro
caráter de Loredano, fazendo dele um tipo ideal para o gênero folhetim. Apoiando-se nos livros A
Personagem de Ficção (organizado por Antonio Candido) e A Carne, o Diabo e a Morte na Literatura
Romântica, de Mário Praz, o trabalho pretende investigar, no futuro, a caracterização do mal na obra de
José de Alencar.

Palavras-chave: Caracterização, Mal, O Guarani.

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UM ESTUDO DOS COSTUMES E TRADIÇÕES DO POVO MINEIRO EM SAGARANA

Ana Kércia Falconeri Felipe -UFC


Júlio César Araújo -UFC

Uma das características mais marcantes de João Guimarães Rosa é a linguagem inovadora. O autor se
destaca pelo uso de neologismos, além de ter se destacado como um tradutor do Regionalismo Brasileiro.
O presente artigo tem, portanto, o objetivo de mostrar traços regionalistas de Minas Gerais, presentes no
livro Sagarana, de Guimarães Rosa. Trabalharemos com a hipótese de que o povo mineiro é influenciado
por uma cultura que está viva até os dias de hoje. Baseamos nossos estudos em teóricos como Afrânio
Coutinho, Antônio Cândido e Ligia Chiappini, e além deles, buscamos artigos já publicados sobre a
temática regionalista. Antes de começarmos a desenvolver este artigo, fizemos várias leituras do livro em
questão, e só assim, junto com todo o embasamento teórico, conseguimos identificar o Regionalismo do
interior de Minas Gerais, onde se destaca a religião e a tradição. No livro, Guimarães Rosa trabalha com o
mineiro de maneira que destaca sua vida sofrida, marcada pela religiosidade, e algumas vezes, por traços
sobrenaturais. Assim, conseguimos concluir que no livro há várias demonstrações de costumes e tradições
da população que vive no interior de Minas Gerais. O livro Sagarana é a mescla de culturas de um povo
que tem a sua natureza retratada de maneira fiel.

Palavras-chave: Sagarana, regionalismo, costumes e tradições


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GAIBÉUS: TRAÇOS ROMÂNTICOS NO ROMANCE DE ALVES REDOL

Klauber Renan Dutra -UFC


José Leite de Oliveira Júnior -UFC

Gaibéus, publicado em 1940, foi o primeiro romance do escritor português Alves Redol. Publicado
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durante a vigência da escola Neorrealista, o livro destaca as mazelas que o homem do campo sofre e as
dificuldades que este tem que enfrentar. Redol cria um panorama com abundância de imagens e uma
linguagem que retrata o povo rural, os Gaibéus e os Rabezanos. Este trabalho tem como objetivo buscar
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no romance Gaibéus traços do movimento romântico, mediante a leitura minuciosa do livro e dialogando
com as características do Romantismo. No romance, vê-se que o autor apresenta as tradições e costumes
do povo, destacando o uso de expressões e da linguagem. Além de fazer uma crítica social ferrenha, faz o
uso da metáfora e descreve a paisagem que serve de fundo para o romance. Este artigo é baseado em
teóricos como René Welleck, Antônio Cândido, Massaud Moisés, Domício Proença Filho e outros textos
que permitem o diálogo entre Gaibéus e o Romantismo.

Palavras-chave: Gaibéus, Alves Redol e Romantismo

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ÁJAX E ÁJAX: UM HEROI DESMEDIDO

Nathan Matos Magalhães -UFC


Orlando Luiz de Araújo -UFC

O objetivo deste trabalho é realizar uma comparação entre o heroi Ájax encontrado na Ilíada, de Homero,
e o heroi Ájax encontrado na peça Ájax de Sófocles. Desejamos demonstrar que esse o Ájax apresentado
na Ilíada é o mesmo apresentado na peça de Sófocles, portanto, o mesmo heroi está presente nas duas
obras. Porém, existem diferenças, mas que são causadas por desentendimentos do herói com os deuses e
com os chefes Atridas. Demonstraremos de que forma o herói-épico, cheio de si, portava-se perante a
guerra, perante os deuses e como se dá a sua formação épica; e de que forma o heroi sofocliano, o heroi-
trágico, perderá a razão, já que ele irá querer se vingar dos chefes Atridas por ter sofrido uma grande
desonra. Entendemos que a partir do desentendimento de Ájax com a deusa Atena é que se dá a diferença
primordial entre o Ájax épico e o Ájax trágico. Ájax não é qualquer guerreiro e seu valor não deve ser
questionado, pois em vários momentos na Ilíada seu valor é mantido como sendo o maior dos guerreiros
gregos após Aquiles. Já em Ájax, todo o seu valor é esquecido quando o mesmo tenta se vingar. Nosso
trabalho num primeiro momento partiu da leitura das duas obras: Ilíada e Ájax, respectivamente, tendo
como fundamentação crítica os estudiosos: BARBOSA (2011), PIRES (2006) e KANGUSSU (2008) para
a análise comparativa.

Palavras-chave: Ájax; Sófocles; Ilíada; Homero.

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DECEIT IN “THE STORM” AND THE SCARLET LETTER

Cláudia Marina Leite Moreira – UFV

Considering that deceit was treated as a sin that women could not commit in the age of the nineteenth
century, sexual desire was considered a right for men in the American puritan society. It was a time when
women should behave according to the religious and cultural standards of society. This work aims to
study how the two authors, Kate Chopin and Nathaniel Hawthorne deal with this theme and to examine
parallel how both authors portray the deceit in their works, in their respective works, ―The Storm‖ and
The Scarlet Letter, discussing on the role of women, their husbands and the society as a system or
mechanism used to punish sin as well as how stories are developed in relation to the characters, setting,
attitude of society towards women, posture of the cuckolded husband, women's attitude towards their
own deceit, as in ―The Storm‖, where she doesn´t show herself as guilty and acts naturally after
committing the sin; and the role of lover, who is part of the deceit, but has not the same punishment as the
woman, as in The Scarlet Letter. Both stories pass in the nineteenth century, a time when women were
sexually repressed, and the society imposed to woman a restricted education and strictly focused on
domestic work and care for the welfare of her husband and children.

Keywords: puritan society; guilty; women‘s role

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LA HAINE: SOBRE QUESTÕES IDENTITÁRIAS – DA GLOBALIZAÇÃO AO SUBÚRBIO

Élen Rodrigues Gonçalves e Bruna Garcia -UFJF

O presente artigo pretende mapear o comportamento humano na atualidade, repensando sua posição
identitária no espaço urbano de uma sociedade globalizada. Para tanto, serão articuladas duas ideias: a
visão de Stuart Hall (2003) sobre identidade e alteridade a partir de Michel Maffesoli (2003) sobre as
configurações da dualidade bem e mal perante o Homem na Modernidade, e os acontecimentos que
perpassam o filme "La Haine" -"O ódio" (França, 1995). A partir do filme, será proposta uma reflexão
sobre o confronto entre as relações humanas, fadadas a uma paulatina liquefação na medida em que se
criam estereotipias em torno do suburbano, do dito alienado, retratado no filme, como o ―mal do
subúrbio‖. Ao se questionarem os discursos de autoridade e, principalmente, ao se buscar uma liberdade
na tentativa de construir uma subjetividade individual e singular, será discutida a mudança de perspectiva
em torno do discurso ―le monde est à vous/ nous‖ para evidenciar que, na contemporaneidade, não se
pode mais demarcar níveis sociais, uma vez que essas vozes, sempre silenciadas, aproximam-se
gradativamente e com mais rapidez do mundo que insiste em deixá-los à margem. Embora datado de
1995, La Haine apresenta uma percepção tão aguçada sobre a sociedade, que é possível transferir suas
ideologias e seus discursos de resistência para a contemporaneidade.
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A PRESENÇA DA LITERATURA E FILOSOFIA FRANCESA EM QUATRO OBRAS DE


MACHADO DE ASSIS

Gabriela Soares Freire – UFF


Maria Elizabeth Chaves de Melo – UFF

O presente trabalho se propõe a fazer um estudo de caso das leituras de Machado de Assis, através da
pesquisa das citações e referências a pensadores e autores franceses encontradas na obra do autor
brasileiro. O projeto consiste na releitura dos romances mais conhecidos do autor, tendo sido
selecionadas, inicialmente, quatro obras: Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas
Borba, Esaú e Jacó, no intuito de buscar nelas referências ou citações de autores franceses, escritores de
ficção e pensadores. Com isso, pretende-se fazer um levantamento das relações de Machado de Assis com
as ideias francesas do seu tempo, tanto no âmbito da literatura, quanto no do pensamento, bem como nas
ciências humanas e sociais. O trabalho aborda a troca de olhares entre Brasil e França, aprofundando-se
na reflexão teórica sobre essas duas identidades, considerando que as relações de interação entre essas
duas culturas são responsáveis pelo modo como ambas as sociedades se veem. O projeto se insere num
outro, mais amplo, da professora Dra. Maria Elizabeth Chaves de Mello, que se propõe a investigar a
relação ambígua gerada pelo entrecruzamento de olhares entre as culturas Brasileira e Francesa. Partir-se-
á do princípio de que a aproximação da literatura brasileira com a cultura francesa, no século XIX, é
gerada pela necessidade de afastamento da cultura portuguesa. Pretendendo se libertar de Portugal e
fundar uma literatura nacional, os escritores brasileiros, a partir do romantismo, adotam a França como
modelo de todas as ideias, como as de conceito de nação e identidade nacional. Machado de Assis terá
grande relevância nessa pesquisa sobre a troca de olhares entre Brasil e França, pois sua obra se insere na
reflexão sobre as questões relacionadas ao ceticismo e pessimismo, questionadoras das teorias do bon
sauvage.

Palavras-chave: estudos comparados, influência francesa, Machado de Assis, positivismo, ceticismo e


pessimismo.

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“SILVIO SANTOS VEM AÍ”: UMA ANÁLISE BARTHESIANA DO MITO TELEVISIVO


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Rafael Barbosa Fialho Martins – UFV


Maurício de Medeiros Caleiro -UFV
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A suposta modernização da produção cultural parece ser um processo constante; tecnologias e produtos
surgem a cada dia colocando-se como ―novos‖ e ―inéditos‖, mas o que se vê é a repetição que a cultura
apresenta. Na televisão tal fenômeno é amplamente visível, e produtos são produzidos em ―escala
industrial‖, como algo necessário. Essa verdadeira ―Indústria Cultural‖ é vista com olhos críticos pelos
teóricos Max Horkheimer e Theodor Adorno, que buscam entender a cultura de massa, suas produções e
como ela se estabelece. Nesse sentido, a tarefa de analisar alguns desses produtos se faz interessante e
importante para que um olhar aprofundado seja despertado, a fim de se entender o cenário cultural –
intencionalmente produzido – em que nos encontramos. Este trabalho tem por objetivo analisar, à luz das
ideias de Roland Barthes em sua obra Mitologias, a figura mitológica do apresentador de TV Silvio
Santos e perceber em que medida seu programa de televisão é um produto da ―Indústria Cultural‖ e
integra o imaginário mítico dos telespectadores. O trabalho é estruturado de maneira a identificar no
personagem Silvio Santos os aspectos que Barthes considera constitutivos de um mito. A linguagem, o
figurino, o discurso, as músicas e até o microfone são analisados como verdadeiras estratégias para a
construção do mito em questão. Conclui-se que, na medida em que é uma realização mitológica, e teve de
passar por várias ―etapas de produção‖ (escolha de microfone, estilo de roupas, por exemplo) até se tornar
um mito, Silvio Santos é um produto, meticulosamente fabricado pela Indústria Cultural e vendido pela
comunicação de massa, fazendo parte do imaginário mítico.

Palavras-chave: Mitologias. Semiótica. Comunicação de massa. Produto cultural.

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OS SOLITÁRIOS MORIBUNDOS DE LYGIA FAGUNDES TELLES: UMA ANÁLISE DOS


CONTOS ANTES DO BAILE VERDE E AS PÉROLAS

Lucas de Oliveira Cordeiro – UEC


Sarah Diva Ipiranga - UEC

As obras de Lygia Fagundes Telles apresentam a recorrência dos temas da morte e dos moribundos. O
objetivo desta pesquisa é analisar dois contos da escritora brasileira para verificar o tratamento ficcional
que a autora, através de meios formais e de recursos técnicos, oferece a um problema social discutido e
exposto pelo sociólogo alemão Norbert Elias em seu estudo intitulado A solidão dos moribundos. O
trabalho se deu em três etapas principais: levantamento de algumas teorias sobre o conto enquanto
gênero, leitura sobre o problema que é o tratamento dos moribundos nas modernas sociedades ocidentais
e análise do corpus. O exame do conto As pérolas possibilitou a constatação dos seguintes aspectos:
superficialmente o texto parece ser uma história sobre o intenso ciúme de um marido, mas num nível mais
profundo o conto encerra assuntos como a perda de significado da existência (em um sentido amplo)
vinculada às atitudes de isolamento e de rejeição dos moribundos para com os indivíduos que os cercam e
vice-versa; a análise do conto Antes do baile verde, por sua vez, permitiu as observações que se seguem:
aparentemente trata-se da narração dos momentos finais de preparação de uma jovem, cujo pai está
doente, para um baile de carnaval, porém a narrativa envolve outros aspectos mais densos: fantasia de
imortalidade e consequente rejeição da ideia da morte da parte de alguns indivíduos. Conclui-se que os
contos estudados inserem-se em um dos paradigmas formais do conto (moderno): cada relato encerra
outro relato secreto, sendo o segundo (no caso dos contos estudados) sobre o isolamento social do
indivíduo que agoniza.

Palavras-chave: conto moderno; moribundos; isolamento social.

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NELSON RODRIGUES: FICÇÃO E HOMOEROTISMO

Gustavo Moreira Alves - UFOP


Jose Luiz Foureaux de Souza Junior - UFOP

O projeto de iniciação científica busca articular uma releitura de Nelson Rodrigues, lançando um olhar
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analítico sobre as relações homoeróticas que personagens masculinos e femininos estabelecem em


algumas de suas obras. São elas o folhetim Asfalto selvagem: Engraçadinha, seus pecados e seus amores,
de 1959, a peça O beijo no asfalto, encenada pela primeira vez 1960, e três contos de A vida como ela é...,
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publicados na década de 50: ―Isto é amor‖, ―O fruto do amor‖ e ―A desconhecida‖. A escolha de Nelson
Rodrigues como objeto de estudo baseou-se na importância do autor para a literatura e, principalmente,
para a dramaturgia. Manuel Bandeira, que o considerava ―um grande poeta‖, disse a respeito de Nelson:
―O que me dana é não ter como ele esse dom divino de dar vida às criaturas da minha imaginação‖. Em
Devassos no paraíso, João Silvério Trevisan compara-o a Tennessee Williams, um dos maiores
dramaturgos norte-americanos de todos os tempos: ―Em sua obra, é raro encontrar um personagem
‗normal e honesto‘. Aí, todos são tão desviados e neurotizados quanto os de Tenesse Williams, exceto que
em Nelson sobra deboche e, consequentemente, auto-ironia – esse componente que, a meu ver,
transfigura e remete para a poesia, seja ela de qual tonalidade for‖. A propósito da diversidade de gêneros
literários explorados por Nelson Rodrigues, optou-se neste trabalho por obras de três formatos: folhetim,
peça de teatro e conto.

Palavras-chave: homossociabilidade, engraçadinha, vida-como-ela-é, beijo-no-asfalto

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OBRAS QUE MARCARAM INÍCIO E FIM DO ROMANTISMO: “A MORENINHA” E


“SENHORA”

João Eliseu Vieira – UFV

Este trabalho tem como objetivo principal analisar a presença de traços oitocentistas nos romances: A
moreninha (Joaquim Manoel de Macedo) e Senhora (José de Alencar) no que diz respeito à conduta de
suas personagens como que um guia para os leitores do século XIX. Pensando nisso, o foco a ser
cuidadosamente observado se refere aos padrões de comportamento e valores morais ditados para a época
na cidade do Rio de Janeiro. Tendo em mente que o primeiro romance acima citado marca o inicio do
romantismo e o segundo, o momento de transição deste para o realismo, procuramos estudar o último
capítulo desta obra e o primeiro capítulo daquela. A motivação para se fazer esse trabalho nasceu do
interesse em conhecer e divulgar os limites do romantismo. A metodologia é de estudo e análise de obras
literárias da época. A aplicação será realizada com os 11 anos de uma escola estadual de Viçosa. Também
será levado em conta o que alguns autores disseram a respeito de tais obras.

Palavras-Chave: Romantismo, Moreninha, Senhora

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O TEXTO DRAMÁTICO EM SALA DE AULA: UMA EXPERIÊNCIA COM ENSINO MÉDIO

Alessandra Magda de Miranda -CAPES/UEPB


Micaela Sá da Silveira -CAPES/UEPB
Rozalva Cunha da Silva -CAPES/UEPB
Magliana Rodrigues da Silva -CAPES/UEPB

O texto dramático é um dos gêneros literários que possibilita o desenvolvimento cognitivo dos educandos
e o trabalho com as práticas de oralidade, leitura e escrita. Isso evidencia a relevância do trabalho com
este gênero em sala de aula. Mas ao contrário do que se espera, o trabalho com este gênero em sala de
aula é relegado a um segundo plano, e por vezes até excluído. Nesta perspectiva, o presente estudo
objetiva: a) apresentar uma experiência de trabalho com o texto dramático, desenvolvido com alunos do
Ensino Médio, no projeto ―Argumentar para produzir‖, implantado em uma escola da rede estadual de
ensino, no município de Campina Grande/PB, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência – PIBID/UEPB; e, b) refletir a respeito da importância do trabalho com este gênero para o
aperfeiçoamento das habilidades de leitura. Para tanto, aportaremo-nos teoricamente nos postulados de
Cosson (2006), Freitas (2005), Kato (2007), Kleiman (2008), Lúcio (2005), Maciel e Andrade (2005),
Neves (1978), OCEM (2006), Pinheiro (2005), PCNs (1997), RCEM(2006), Slade (1978), Soares (2007),
127

dentre outros. Como procedimentos metodológicos, utilizamos o estudo de caso, que permitiu a união dos
dados coletados, com questionários qualitativos, observação direta e registro de imagens. A pesquisa
evidenciou que o trabalho possibilita a desinibição dos educandos e a interação, além de contribuir para o
Página

aprimoramento das habilidades de leitura.


Palavras-chave: Leitura; Dramaturgia; Ensino.
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PASSEIO NOTURNO I E II : O TEXTO LITERÁRIO NO PROCESSO ENSINO-


APRENDIZAGEM

Micaela Sá da Silveira -CAPES/UEPB


Alessandra Magda de Miranda -CAPES/UEPB
Renalle Meneses Barros -CAPES/UEPB
Magliana Rodrigues da Silva -CAPES/UEPB

Por muito tempo, o ensino de Língua Portuguesa restringiu-se ao trabalho com os aspectos formais da
língua, de modo que a Literatura foi relegada a um segundo plano, mesmo sendo ela uma forma de
expressão que representa ideologias diversas, levando os indivíduos a refletirem sobre uma determinada
sociedade. Graças aos estudos e pesquisas desenvolvidos no meio acadêmico, e educacional, a respeito
das contribuições do trabalho com o texto literário no processo de ensino-aprendizagem, reconheceu-se a
relevância de se desenvolver práticas pedagógicas que vislumbrem o texto literário não apenas como um
lugar de prazer estético, de fruição, uma leitura sem proposta efetiva, mas como meio de ampliar a
capacidade crítica e reflexiva dos alunos enquanto leitores e cidadãos. Dessa forma, o presente estudo
tem como objetivo: a) apresentar uma experiência de trabalho com os contos Passeio Noturno I e Passeio
Noturno II, de Rubem Fonseca, desenvolvido no projeto ―Argumentar para produzir‖, implantado em
uma escola da rede estadual de ensino, no município de Campina Grande/PB, através do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/UEPB; b) refletir sobre a importância do
trabalho com os textos literários no processo de ensino-aprendizagem; c) apresentar quais as estratégias
de leitura utilizadas pelos educandos quando se deparam com o texto literário; e d) traçar os possíveis
perfis desses leitores. Nosso cerne teórico foi fundamentado nas contribuições de Cosson (2006), Freitas
(2005), Gotlib (1990), Guedes (2009), Kato (2007), Kleiman (2008), Leite (1997), OCEM (2006), PCNs
(1997), RCEM(2006), Soares (2007). Como metodologia, utilizamos o estudo de caso, que permitiu a
união dos dados coletados com questionários qualitativos e observação direta. A pesquisa evidenciou que
o trabalho de leitura feito com o texto literário ultrapassa os limites da mera extração do sentindo final do
texto, permitindo ao leitor imaginar-se como próprio produtor do texto (leitor reconstrutor).

Palavras-chave: Leitura. Texto literário. Ensino.


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MEMÓRIA E IDENTIDADE: O PERFIL DA MULHER NEGRA PÓS-ABOLICIONISTA


NORTE AMERICANA EM AMADA DE TONI MORRISSON.

Gleice Kely de Almeida Freitas - UNEB


Samara de Souza Freitas - UNEB

A escritora Toni Morrison tornou-se famosa por seu trabalho intenso e comovente, em que ela exprime a
experiência da mulher negra norte-americana durante os séculos XIX e XX. Em seu romance ―Amada‖ a
autora se debruça na representação da condição da mulher negra norte americana, no período pós –
abolicionista. Assim, ―Amada‖ permite ao leitor a possibilidade de observar a história da escravidão nos
Estados Unidos, pelo ponto de vista de uma mulher negra recém liberta, vivendo em conflito com suas
dores passadas e as atuais numa terra preconceituosa. A partir dessa representação, é possível perceber as
marcas físicas e emocionais que fazem parte do perfil da mulher negra que são expressas no livro a fim
entender o legado deixado pela escravidão na condição da mulher negra. É importante perceber que a
ideologia da literatura feita por escritoras negras expressam um reflexo de sua identidade e lança ao
público reflexões sobre as contribuições que esse legado trouxe para a formação da mulher negra
atualmente. Assim, o objetivo deste trabalho é perceber as características presentes no perfil da mulher
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negra norte americana no período pós-abolicionista através da protagonista do romance e refletir a


respeito da influência desse perfil na representação da mulher negra hoje.

Palavras Chave: legado da escravidão; mulher negra; história


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A LITERATURA COMO EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA

Isabelle de Araújo Lime – UFV


Arthur Fontgaland – UFV
Diogo Tourino de Sousa – UFV

A literatura é dotada de um discurso capaz de interpelar a vida social ao materializar personagens e


relações cotidianas. Tal característica foi fundamental para a consolidação de uma imaginação sociológica
anterior à institucionalização da Sociologia no Brasil ocorrida apenas nos anos 1930. Nessa direção, um
dos objetivos do trabalho desenvolvido pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à docência
PIBID/CAPES, subárea de Sociologia, é evidenciar a relação entre literatura e Sociologia no processo de
desnaturalização e estranhamento no ensino e aprendizagem de jovens em idade escolar. Para tanto,
parte-se do princípio de que as narrativas literárias produzidas sobre a sociedade são capazes estimular o
exercício da imaginação sociológica nos estudantes. Desse modo é possível fazer uso da literatura
enquanto um recurso didático para a interpretação da vida social, privilegiado na dotação de sentido à
realidade, tarefa por vezes vetada ao discurso científico. Essa ação conjunta entre literatura e Sociologia
é capaz de promover nos estudantes a percepção das questões sociais através da arte e sua representação
das relações sociais.

Palavra-chave: Imaginação sociológica – ensino médio – narrativas literárias

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A EDUCAÇÃO FEMININA NA INGLATERRA VITORIANA, UM OLHAR SOBRE ORGULHO


E PRECONCEITO DE JANE AUSTEN

Nívia Cristina S. Gomes – UEFS


Hosana Kizzt da Cruz Fernandes – UEFS
Liviane Gomes Ataíde – UEFS

Este trabalho busca analisar as formas de educação e de conduta social permitidas na Inglaterra Vitoriana
do século XVIII, as quais as mulheres eram submetidas com base na descrição da obra Orgulho e
Preconceito de autoria da inglesa Jane Austen. Jane Austen é o maior nome feminino da literatura inglesa
do século XVIII e soube descrever com precisão a sociedade inglesa, seus costumes, suas relações sociais
e as formas de educação e repressão sobre as mulheres, não apenas a classe aristocrática, como também
da pobreza rural. A análise deste trabalho se deu em três etapas: a análise da obra Orgulho e Preconceito,
coleta de dados bibliográficos da autora Jane Austen e a análise e comparação com dados históricos da
época, tanto políticos quanto culturais. Com estes dados foram feitas análises das situações em que as
personagens femininas sofrem ao longo da narrativa e feito um destaque das criticas que a autora faz ao
tratamento preconceituoso dado às mulheres, principalmente as de poucas oportunidades e direitos
concedidos às mulheres de classes mais baixas. Apesar de conservadora, Jane Austen faz uma crítica sutil
a respeito das divergências que a sociedade impõe entre as classes sociais e principalmente em relação à
posição da mulher, as poucas expectativas, a falta de proteção e a má educação ao qual elas são
submetidas, que afirma ainda mais o poder da sociedade estritamente patriarcal da época. Nosso trabalho
trás uma linha de reflexão sobre a situação feminina da época e novas abordagens e olhares sobre a
condição das mulheres ao longo deste período e as implicâncias politicas e sociais que trouxe para esta
época.
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Palavras- chave: literatura de gênero – literatura inglesa – abordagem histórica


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MÃOS DE CAVALO: CONSTRUÇÃO DE PERSONALIDADE MASCULINA

Gisele Vieira de Carvalho – UFC/CAC


Ulysses Rocha Filho – UFG/CAC

O escritor Daniel Galera (1979), a cada um dos seus romances, apresenta um reflexo da consciência
masculina e do tempo em que vivemos. sendo biográfica, sua obra volta-se muito para as
feições pos-modernas: o fascínio pela violência estética em contraponto à covardia frente a agressividade
real, o recalque das emoções, o desejo e a impressão de vermos nossas vidas registradas pelas lentes de
uma câmara de cinema. A obra Mãos de Cavalo(2006) retrata, em uma narrativa entrecortada, a vida do
personagem Hermano em três fases: um garoto de dez anos, um adolescente de quinze e um cirurgião
plástico adulto. Amalgamam-se , assim, passado e presente para gerar a personalidade masculina desse
protagonista nominado ―Mãos de Cavalo‖. Psicologicamente o cavalo é símbolo da natureza instintiva, é
a energia que apóia o ego consciente sem que esse perceba, a energia que gera o fluxo da vida e que
dirige nossa atenção para as coisas, influenciando nossas ações através de uma motivação. O objetivo
dessa comunicação é apresentar a concepção tanto do homem Hermano, dito pos-moderno, quanto os
aspectos inovadores desse romance de caráter confessadamente autobiográfico.

Palavras-chave: Daniel Galera - romance contemporâneo – memória – autobiografia.

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FLUXOS DA LASCIVIDADE FEMININA: UMA ANÁLISE DOS CÓDIGOS SEXUAIS


ENTRE MULHERES NO FILME TOQUE DE VELUDO, BASEADO NA OBRA LITERARIA
DE SARAH WATERS

Dayana Pereira do Nascimento – UFCG


Janaína Romão Xavier – UEPB
Josefa Samara Romão Balbino – UFCG
Cibelle Jovem Leal - UFCG

Nos finais do século XIX, a cidade londrina guardava em seus espaços mais íntimos posturas lascivas
femininas que não eram aceitas socialmente, mas que nem por isso deixavam de serem praticadas. Por
sua vez, uma obra literária escrita por Sarah Waters no ano de 1998, nos apresenta um pouco das práticas
sexuais subversivas de mulheres da elite inglesa no período vitoriano. A obra que originou um filme com
o próprio título: Toque de Veludo traz em sua trama um romance lésbico entre uma moça de nome Nan,
que vivia em uma comunidade pobre da Inglaterra e uma atriz que interpreta um homem conquistador e
boêmio, em que Nan acaba por se render aos encantos da sensualidade expressada pela artista de nome
Kitty, a qual mostrou outro mundo para ela. Um mundo por trás das cortinas de veludo vermelhas do
palco, um espaço onde o teatro que se apresentava se fazia vivo e transgressor. Por conseguinte, no filme
estão expressos os mais variados códigos sexuais femininos desde a heterossexualidade, o adultério
lésbico até a prostituição lésbica. Códigos estes que transgridem os códigos hegemônicos de gênero
impostos culturalmente às mulheres em nossa sociedade, como monogamia, domesticidade e passividade.
Nesse sentido, Toque de veludo expressa um mundo feminino antidisciplinar, mas ao mesmo tempo as
várias possibilidades de desejos e de práticas sexuais existentes entre a humanidade desde antanho, mas
que se tornam ―invisíveis‖ devidos os discursos normatizadores e disciplinares disseminados pelos vários
mecanismos de dize-visi-bilidades que naturalizam os valores culturais em cada sociedade. Portanto,
através da união entre literatura e cinema podemos visualizar as criatividades humanas capazes de
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questionar e trans-formar nossos valores sociais, culturais e as nossas próprias posturas.

Palavras-chave: lascividade; lesbianismo; Toque de Veludo


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ANÁLISE DO LIVRO MÃOS DE CAVALO DE DANIEL GALERA.

Talita Alves Da Costa –UFG


Grenissa Bonvino Stafuzza - UFG

Este projeto surgiu no momento do Estágio, e teve como mote de trabalho esclarecer aos alunos do
Ensino Médio algumas características sobre o livro Mãos de Cavalo de Daniel Galera, que será cobrado
no vestibular da UFG – 2012/1. Elegemos como principais objetivos: fazer com que o aluno tome
conhecimento das características presentes no livro, dos temas que são abordados nele e o que pode ser
encontrado na vida deles. Promover um debate sobre o livro após a leitura do mesmo e em principal fazer
com que eles tenham um gosto e hábito pela leitura. O respectivo projeto abordou questões da língua
relacionadas aos textos publicados em revistas, jornais e internet. Em especial, foi desenvolvido um
trabalho de discussão sobre todo esse material utilizado, com o intuito de fazer com que eles tivessem o
interesse de ler o livro e não só o material que lhes foi dado. Palavras chave: Leitura, Literatura,
Vestibular, Estágio.

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HORROR EM MOTO CONTÍNUO: DOS CLÁSSICOS AOS JOGOS ELETRÔNICOS – “O


MÉDICO E O MONSTRO” E “AMNESIA: THE DARK DESCENT”

Thales Moura Lima - UFV

Baseado em conceitos principalmente na teoria literária a cerca do romance de ficção e fantasia, em


alguns conceitos da semiologia e da psicologia apresento um estudo sobre o gênero horror em diferentes
mídias. Estudo este, angariado pela obra ―Dança Macabra‖ de Stephen King, pelas teorias de ficção e
fantasia de Tzvetan Todorov em ―Introdução a Literatura Fantástica‖ e ―Os monstros e a questão racial na
narrativa modernista brasileira‖ de Célia Magalhães, além de algumas teorias próprias. No trabalho em
questão trago a análise de dois objetos de pesquisa: o primeiro, uma análise baseada no estudo de
estereótipos do gênero no clássico ―O médico e o monstro‖ (tradução da editora Ediouro) de Robert Louis
Stevenson, com intuito de mostrar como o estudo de princípios extraliterários contribui para a análise
literária, além da importância da obra para o surgimento do estereótipo de monstro ―Lobisomem‖ como
desenvolvido por Stephen King (1981); o segundo, um jogo eletrônico chamado ―Amnesia: The Dark
Descent‖ da empresa ―Frictional Games‖ cujo enfoque está na análise da relação das imagens, sonoplastia
e concentração do jogador para feitura do efeito do medo, mostrando também como os estudos literários
contribuem para outros campos de conhecimento, arte e entretenimento.

Palavras chave: Ficção, Fantasia, Literatura, Mídia, Medo

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UMA ANÁLISE DA FAMÍLIA GAY E DE SUA PROBLEMATIZAÇÃO ENQUANTO


INSTITUIÇÃO FAMILIAR EM TESES DE DOUTORADO.

Gizelda Ferreira do Nascimento -UEPB


Fabiana de Araújo e Silva -UEPB
Orientador: Antonio de Pádua Dias da Silva -UEPB

Com a abertura dos espaços sociais para o tema da homossexualidade, questões como educação, saúde,
direito, opção sexual e família vêm ganhando cada vez mais visibilidade em nossa sociedade. Partindo da
análise dos resultados duma pesquisa realizada no PIBIC, intitulada A HISTÓRIA DA LITERATURA
GAY NO BRASIL, coordenada por Antonio de Pádua Dias da Silva, que consiste em catalogarmos teses
de doutorado que abordem, problematizem ou reflitam sobre a literatura de temática gay. Constatei que a
família é um dos temas de destaque dentro dos trabalhos publicados nessa área. Há uma problematização
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sobre diferentes temas como: a adoção de crianças por casais gays, a revelação da homossexualidade por
parte de um dos membros da família homoparental sobre sua opção sexual, a aceitação dessa nova forma
de família pelos parentes mais próximos e a construção dessa nova identidade familiar constituída por
Página

casais do mesmo sexo. O presente trabalho tem como objetivo analisar as teses que trouxeram para
discussão o tema familiar entre casais gays, como também destacar quais as universidades que se
debruçaram sobre o assunto e a partir de qual ano teve início essas publicações. A metodologia adotada
foi caracterizada com revisão bibliográfica e descritiva, através da qual se procura obter informações
sobre a questão familiar de casais do mesmo sexo em teses de doutorado. Nossa pesquisa foi realizada via
catalogação de teses disponíveis no portal CAPES/CNPq e nos sites de pós-graduação.

Palavras-chave: Família, Gay, Sociedade.

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DA CRÍTICA A CRÍTICA: AS MEMÓRIAS DE LUGARES EUROPEUS EM NOITE NA


TAVERNA

Thayane Morais Silva – UFOP


José Luiz Foureaux de Souza Jr. - UFOP

O presente trabalho propõe logo de início uma revisão crítica e histórica pelas emergências do
romantismo no Brasil a partir de leituras capitais, traçando um panorama geral e específico que seja
relevante para a sustentabilidade deste trabalho. Contudo, nosso principal objetivo é analisar como as
memórias de lugares europeus, presentes na narrativa ―Noite da Taverna‖ são correlatas à peculiaridade
do romantismo de Álvares de Azevedo. A memória, no contexto desde trabalho, está relacionada aos
parâmetros de fontes e influências literárias conferindo, deste modo o apropriamento das lembranças dos
precursores do jovem ultrarromântico. Destes dois objetivos deriva-se ainda um terceiro, que consiste em
refletir a posição de Álvares de Azevedo no quadro referencial que circunscreve o Romantismo no Brasil,
respeitando os parâmetros propostos para a investigação – demandando uma pesquisa que teria como
fonte as publicações póstumas do autor que trazem seu posicionamento crítico sobre as emergências do
romantismo brasileiro naquela época. Nesse sentido, a ―crítica da crítica‖ ganha em relevância e
pertinência, por buscar não apenas repetir o status quo das leituras que tradicionalmente feitas sobre a
obra em analise.

Palavras chave: Romantismo, Ultrarromantismo, crítica literária, memória.


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BOM SENSO E BOM GOSTO: A REPERCUSSÃO DA CARTA DE ANTERO DE QUENTAL

Juliana Meneguitte Morais - UFV

No final do século XIX em Portugal um dos atos que posteriormente irá contribuir para a formação de um
grupo de escritores chamado Geração de 70 foi a Questão Coimbrã. Este manifesto, como estivesse em
clara oposição à literatura romântica, acabará por ser também o início de um novo período literário,
aquele que posteriormente se convencionalizou chamar realismo. A Questão Coimbrã, ocorrida no ano de
1865, teve como participantes mais ativos os escritores então estudantes em Coimbra Teófilo Braga e
Antero de Quental, este responsável pela escrita de uma carta intitulada Bom senso e bom gosto, destinada
a Antônio Feliciano de Castilho em resposta à sua publicação a Carta ao Editor Pereira. Esta carta
demonstra o descontentamento de Castilho em relação à nova geração de escritores portugueses que
nascia em Coimbra. A carta-resposta de Antero de Quental então critica severamente as considerações de
seu autor e fala sobre um modo diferente de fazer literatura completamente oposto ao que vinha sendo
feito. O que é dito por Antero nessa carta causa grandes repercussões, tanto como um ataque à literatura
romântica e seu maior defensor, Castilho, como o ímpeto inicial da Questão Coimbrã e posterior
formação da Geração de 70 e da escola realista em Portugal. Este trabalho procura analisar as motivações
da escrita de tal carta e como e por que ela gerou repercussões de tais dimensões na literatura portuguesa.

Palavras-chave: Questão Coimbrã, Geração de 70, realismo português


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DOPPELGÄNGER EM SARAMAGO: O MITO DESVELADO EM “O HOMEM DUPLICADO”

André Luiz Alves dos Santos - UFV

Em 2003, o premiado escritor José Saramago lançou um romance cujo tema se entrecruza com uma das
mais inquietantes problemáticas do ser humano: a identidade. Em O Homem Duplicado, Tertuliano
Máximo Afonso se vê numa difícil situação ao descobrir, enquanto assistia a um filme, a existência de um
homem de aparência idêntica a sua. O mundo moderno hoje, assim como Tertuliano, se vê carente de uma
identidade própria, forçada a reconstruir e ressignificar seus ―eus‖ a partir de naturezas multifacetadas
(HALL, Stuart, 2005). Não obstante, a crise de identidade pelo qual o ser humano vem sofrendo não é
uma exclusividade do mundo moderno; desde o início dos tempos a humanidade tem lidado com seus
próprios reflexos na busca de lograr conhecimento sobre si. Esta materialização do ser em outros corpos é
conhecida pela a figura mitológica do Doppelgänger (termo alemão que significa ―o caminhante duplo‖),
e tem povoado o mundo ficcional do cinema contemporâneo de George Lucas (Star Wars), as histórias de
ficção científica de Philip K. Dick (O Vingador do Futuro, Blade Runner) e até mesmo de cânones
literários como Fyodor Dostoyevsky (O Duplo: Poema de Petesburgo). Mesmo tão frutífero, mas
academicamente tão pouco explorado, tenciona-se investigar neste trabalho a presença do mito do
Doppelgänger no romance de Saramago, O Homem Duplicado, cujo tema convergente é de inequívoco
interesse das artes e da sociologia: a identidade.

Palavras-chave: mitologia, identidade, doppelgänger

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REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA LEITURA: ESPAÇOS SOCIAIS E FORMAÇÃO DO


LEITOR
Camila Rita Lelis – UFV
Elisa Cristina Lopes – UFV

As recentes pesquisas sobre o hábito de leitura dos brasileiros têm discutido a responsabilidade de três
entidades no processo de incentivo à leitura, quais sejam: o Estado, a Família e a Escola. No que tange ao
Estado, são necessárias ações que favoreçam a aproximação entre os leitores e os livros, construindo e
aprimorando os espaços de leitura. Em muitos casos, estes espaços são desconhecidos e desconsiderados,
vistos apenas como acessórios nos processos de incentivo a leitura, cultura e educação e nada contribuem
para promover interesse no publico leitor. Portanto, este trabalho vem reforçar a necessidade de estudos
mais específicos sobre a prática de leitura e comportamento do leitor brasileiro, buscando conhecer a
representação social da leitura no contexto atual, averiguando os espaços sociais de leitura e a sua
contribuição para a formação de leitores e do conhecimento literário. Quando focamos o tema leitura
envolvemos não apenas as abordagens teóricas, mas também o estudo empírico. Assim, o método
utilizado na pesquisa é constituído por uma verificação empírica dos espaços de leitura, tendo como foco
as Bibliotecas Municipais das cidades de Viçosa e São Miguel do Anta. A verificação foi composta de
visitas, diagnóstico dos espaços, análise das situações de funcionamento e uso dos e sua possível
influência na formação de leitores. O que pôde ser notado é o descaso por parte das autoridades em
relação a esses espaços, tanto ao espaço físico quanto ao que tange a preparação de funcionários e
aquisição de novos acervos. A conclusão que se chegou confirmou a hipótese de que a biblioteca não está
exercendo sua função de espaço social promotor da leitura e, portanto, não tem influência na formação de
leitores.
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PRIMERAS MANIFESTACIONES LITERARIAS EN COLOMBIA Y BRASIL: UN ESTUDIO


COMPARATIVO
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Gina Paola Moreno García – UFV


Joelma Santana Siqueira – UFV

Brasil y Colombia: Dos países, dos culturas, dos historias, dos literaturas. A pesar de sus diferencias,
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estos pueblos también tienen aspectos históricos y literarios en común. Entre ellos la colonización y la
conquista europea durante los siglos XV- XIX y la formación de su pensamiento como fusión de la vida
aborigen y el ideal europeo con las tierras descubiertas. Por su parte, la Nueva Granada fue descubierta y
colonizada por el reino español, el cual impuso la lengua castellana como instrumento de comunicación.
Mientras tanto, la Isla de Veracruz fue explorada por la corona de Portugal, quien estableció la lengua
portuguesa. Es importante aclarar que dentro de la cultura colombiana las manifestaciones indígenas son
consideradas el origen de su literatura. ―La leyenda de Yurupary‖ nació en la Amazonia Colombo-
Brasilera y fue recogida a finales del siglo XIX por el indígena brasilero Maximiliano José Roberto, quien
la escribió en lengua Nheengatu (del tupi-guaraní). Después, durante la colonia se destacó Gonzalo
Jiménez de Quesada, fundador de Bogotá, con su obra ―Compendio historial‖ en la cual narra eventos
acontecidos durante sus conquistas en el nuevo reino de Granada. Por otra parte, Brasil contempla su
literatura desde las narraciones de los portugueses sobre el nuevo territorio descubierto. ―La carta de Pero
Vaz de Caminha‖ fue el primer documento escrito en lengua portuguesa en el nuevo mundo. Como su
nombre lo dice, es una carta dirigida el rey de Portugal, en la cual, Pero Vaz de Caminha describe el viaje
desde Portugal, el descubrimiento del nuevo continente y lo que en el hallaron. En otras palabras, es a
través de la lectura y análisis de los autores anteriormente mencionados, sus obras y el contexto histórico
que encontramos semejanzas y diferencias en el origen de estas dos literaturas latinoamericanas.

Palabras clave: Historiografía- Literatura comparada-Literatura Colombiana- Literatura Brasilera.

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O COMPORTAMENTO FEMININO: ANÁLISE DAS PERSONAGENS GRISELDA E LADY


MACBETH
Natália Mariloli Santos Giarola - UFV

O presente trabalho visa analisar o comportamento das personagens Griselda e Lady Macbeth nas obras
―The Clerk‘s tale‖ de Geoffrey Chaucer e ―Macbeth‖ de William Shakespeare, respectivamente, a fim de
mostrar como os estereótipos femininos e masculinos são trabalhados em cada personagem. Os trabalhos
com gêneros são importantes para análises, uma vez que contrastam um conjunto de fatos culturais,
sociais e psicológico, Piscitelli (2004). Na Idade Média, a sociedade era patriarcal, em que o homem tinha
poder e a igreja tinha uma forte influencia sobre o comportamento das pessoas. Por isso, em ―The Clerk‘s
tale‖, Chaucer critica o comportamento feminino, uma vez que a mulher, naquela época, era submissa, e
isso pode ser observado por meio da personagem Griselda que era fiel, paciente e virtuosa. Entretanto, na
obra de Shakespeare, Lady Macbeth era ambiciosa, cruel e manipulava seu marido com sua sexualidade e
poder, tornando-o submisso a ela. Com isso, ela se distanciava dos estereótipos burgueses, em que as
mulheres eram julgadas como inferiores aos homens. Assim, essas duas personagens possuem diferentes
características que as tornam mais intrigantes, possibilitando que os leitores identificam e reflitam sobre o
ser humano e o papel da mulher na sociedade.

Palavras-chave: Feminismo, estereótipos, sociedade.


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DE MENDIGOS A MALANDROS: A HISTÓRIA SE REPETE? ALGUMAS CONSIDERAÇÕES


SOBRE A PRODUÇÃO DE A ÓPERA DE TRÊS VINTÉNS DE BRECHT

Reginaldo Francisco Santos Dudalski – UFV


Sirlei Santos Dudalski – UFV

Tem-se debatido muito a questão da autoria e do plágio na obra do escritor alemão Bertolt Brecht, os
trabalhos realizados por Solange Ribeiro de Oliveira e John Fuegi são exemplos disso. Elisabeth
Hauptmann é apontada como a grande autora de A Ópera de Três Vinténs (1928), visto que de acordo
com Fuegi, pelo menos oitenta por cento da peça foi escrita por ela. Ainda sobre essa peça, vale ressaltar
que foi criada tendo como inspiração A Ópera do Mendigo (1728), de John Gay. Essa prática era comum
por parte do escritor alemão que costumava escrever sua dramaturgia a partir de peças pré-existentes, mas
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mudando pequenas partes do enredo, para servir aos ideais de uma peça crítica e antiburguesa. Devemos
lembrar que a intertextualidade, como diz Leyla Perrone-Moises, pode ser dividida em duas partes: a
intertextualidade crítica e a intertextualidade poética. Somente a primeira, feita pelo crítico literário, é
declarada e submissa a regras pré-estabelecidas. Em outras palavras, o escritor, artista que cria através do
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pré-concebido, tem a liberdade de fazê-lo e citar livremente, fato que tem gerado grandes discussões,
sobre as quais pretendemos refletir.
Palavras-chave: Teatro alemão; teatro brasileiro; autoria; intertextualidade

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TIETÊ: UM RIO DE IMAGENS E SENSAÇÕES

Bruna Araújo Cunha – UFV


Joelma Santana Siqueira – UFV

Este trabalho propõe uma análise do poema ―A meditação sobre o Tietê‖, de Mário de Andrade, tendo em
vista a história do rio Tietê, a modernização da cidade de São Paulo, o percurso literário do escritor Mário
de Andrade e o conceito de espaço na arte moderna. Entendemos que há no poema uma figuração
polisensorial do rio Tietê relacionada às sensações do eu lírico. No auge na modernidade, o rio foi fonte
de energia hidráulica e palco de modalidade esportiva, mas não demorou a ser também um problema de
poluição ambiental. Em outras palavras, elemento primordial para o desenvolvimento da cidade, o rio é
também um entrave decorrente do processo de industrialização e expansão urbana. Nesse sentido, por
meio de considerações históricas sobre a cidade de São Paulo e por meio dos estudos sobre o espaço
moderno procurar-se-á discutir imagens poéticas do Tietê presentes no poema, relações entre essas
imagens e a história cultural, bem como a visão que o poema esboça sobre o processo de transformação
do Tietê e as possíveis causas e conseqüências.

Palavras-chave: Poesia moderna; rio Tietê; São Paulo; Lírica e sociedade; Mário de Andrade.

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O NARRADOR COMO AUTOR E PERSONAGEM EM SUA CONDIÇÃO DE RÉU NA


LITERATURA MARGINAL

Juliana Bellini Meireles – UFOP/ FAPEMIG)


Ligia Gomes do Valle - UFOP
Alexandre Graça Faria - UFOP

A partir das edições da revista ―Caros Amigos Literatura Marginal: a cultura da periferia‖ organizada por
Ferréz, iniciou-se a difícil jornada de autores das periferias à inserção no mercado editorial. Os três
números da revista reuniram 48 autores majoritariamente oriundos de periferias paulistanas e 80 textos.
Ferréz intitulou as três edições da revista como ―Literatura Marginal‖ para classificar a condição dos
escritores, ou seu tema, já que na maioria das vezes, reportam o cotidiano da periferia em suas obras.
Logo, esses autores iniciam uma fase da literatura contemporânea brasileira que desestabilizará ainda
mais as fronteiras entre o real e o ficcional, entre autor, narrador e personagem, por esse cotidiano ser não
só tema de suas obras, como também suas realidades como escritores/moradores. Segundo Ricardo Piglia,
o processo de leitura nos dias de hoje perpassa a idéia do julgamento. Sendo assim, o leitor se denomina
como um detetive, permeando e condicionando sua leitura: o autor como leitor e suas estratégias que
antecipam uma leitura prévia de seu leitor esperado (classe média) e o leitor da periferia, que mesmo
perpassado por esse tipo de leitura (detetive), está intrinsecamente envolvido na atmosfera da
identificação da trama, dos personagens e da vida do autor como veículo de auto-representação em busca
de uma identidade periférica. Assim, este objetiva mapear as estratégias do narrador ao decorrer da trama
que possam comprovar as hipóteses aqui levantadas em relação aos possíveis perfis de leitores que essas
obras podem emergir e seus mecanismos de leitura, partindo do romance Guerreira, de Alessandro Buzo
(2007).
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Palavras-chave: Literatura Marginal; Leitor; Autor; Personagem.


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AS ENTREVISTAS DE CLARICE LISPECTOR PARA FATOS & FOTOS/GENTE

Paulo Felipe Costa e Silva – UNIFAL


Aparecida Maria Nunes – UNIFAL

Clarice Lispector realizou entrevistas singulares para Fatos & Fotos/Gente, revista pertencente ao extinto
grupo Bloch. Retomando a sequência de entrevistas publicadas por Manchete, Clarice aparentava criar
um tipo de entrevista incomum para o gênero: expondo a si própria e, com isso, fazendo com que seu
entrevistado também o faça. Das publicações de Manchete para Fatos & Fotos, passaram-se sete anos –
nos quais, para o contexto brasileiro, ocorreram intensas modificações, inclusive no modo de enxergar o
mundo, nos meios políticos e na sociedade. Esses elementos de época geralmente aparecem na resposta
do entrevistado, nas perguntas de tipo ―seus planos atuais‖ e na descrição de abertura da entrevista, na
qual a entrevistadora contextualiza o local ou evento recorrente que descrevia o momento atual pelo qual
o entrevistado se encontrava. O presente, então, seria apenas um elemento sincrônico da biografia de cada
entrevistado, trinta anos depois. Este painel procura contemplar tais elementos, bem como relacioná-los
com fatos históricos relevantes – se for o caso – e frisar sua importância para as últimas entrevistas
realizadas pela ficcionista antes de sua morte. Para isso, serão utilizados estudos de Cremilda Medina,
Montse Quesada e Nadine Habert.

Palavras-chave: literatura e jornalismo; Clarice Lispector; história; gênero entrevista.

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EDGAR ALLAN POE, O ESCRITOR MALDITO

Glaucia Lorena de Santana Silva - UEFS

Muitas pessoas encontram na literatura, mais especificamente, nos poemas uma forma de com a arte
expressar seus sentimentos, desde muito essa arte, é uma transfiguração do real, refeita por meio do
espírito do artista. Temos o exemplo de Edgar Allan Poe, um escritor norte-americano nascido em,
Boston, sua complexidade está explicita em suas obras, Poe é considerado na Literatura universal, como
um dos principais escritores malditos. Sua influência estendeu-se á poesia simbolista, á ficção científica,
ao romance policial moderno e psicológico. Escrevia contos góticos, em que expõem personagens
doentios, obsessivos, fascinados pela morte, que tem aptidão para o crime, dominados por maldições
hereditárias, são seres que alteram entre a lucidez e a loucura, vivendo numa espécie de aflição, como
fantasmas assustadores de um terrível pesadelo. O Corvo (1845) é uma das obras mais famosas de Poe. O
Corvo narra um amor perdido e o sofrimento que o mesmo o causa. Um jovem adormecido pela dor que a
morte do seu amor lhe causava, amor que ele perdeu para as garras da morte, e razão pela qual o mesmo
caminhava para a loucura. E como é típico de Poe, ele fez questão de apresentar um ambiente obscuro,
passando a ideia de negatividade, pois como já é sabido em suas obras, priorizava aspectos dramáticos e
trágicos, ate mesmo depressivo. Assim como foi considerado um dos principais escritores malditos, a
forma que Poe transcreve suas obras o torna também, como um dos maiores autores de contos de terror.

Palavras-chave: Literatura; Poemas; Góticos;

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A CATALOGAÇÃO DO ACERVO DE FONTES IBIAPINA

Lanna Caroline Silva de Almeida - UESPI


Amanda Beatriz Araújo Sousa - UESPI
Francisco Hudson Pereira da Silva - UESPI
Maria das Dores da Cunha Ferreira - UESPI
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Simone Sampaio Ribeiro - UESPI


Márcia Edlene Mauriz Lima -UESPI
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O presente projeto pretende narrar os resultados da pesquisa realizada, no período de 2010-2011, na


biblioteca particular do escritor, juiz e professor João Nonon de Fontes Ibiapina (1921-1986), como parte
do Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Piauí. A pesquisa teve como objetivo a
seleção, organização e classificação das cartas, jornais e revistas, cujo material é revelador de sua vida
pessoal e literária; além de reunir documentos a favor da memória cultural do Estado do Piauí. Para
execução dessa nossa investigação desenvolvemos uma pesquisa de cunho quantitativo/qualitativo,
através da seleção do material, separando-os cronologicamente, para depois classificá-los. Assim,
atestamos que os documentos que circundam a vida de um escritor têm uma dimensão sócio-cultural e
que os seus arquivos literários espaços agregados das especificidades do material desencadeiam o seu
processo de criação. Para tanto, utilizamos de uma linha de pesquisa denominada Crítica Genética, com
base no pensamento teórico de Salles (2004), Grésillon (2007), Nabuco (1959) e Corujeira (1971), bem
como o contato com o acervo do escritor. Assim, a pesquisa nos levou ao conhecimento e análise dos
documentos de Fontes Ibiapina, além de uma visão detalhada do acervo relativo à sua vida e obra. Logo,
descoberto o valor do conjunto de sua obra para a história e a crítica da literatura piauiense, verificou-se a
importância dos referidos documentos como fontes de alimentação a novas pesquisas no Piauí e no Brasil.

Palavras-chave: Crítica Genética - Acervo - Catalogação

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A COEXISTÊNCIA DO TRADICIONAL E DO NOVO EM TERRA SONÂMBULA DE MIA


COUTO

Maikely Teixeira Colombini - UFV

Em meio a perigos e carências de todas as ordens, resultado de uma devastadora guerra civil, um menino
e um velho caminham rotos a fugir de todo massacre insensato causado pelas guerrilhas. É nesse contexto
pós-independente de Moçambique, que Mia Couto relata a história do pequeno Muidinga e seu obstinado
protetor, o velho Tuahir. Mia Couto, escritor moçambicano tido como um dos mais importantes escritores
africanos de língua portuguesa trabalhou arduamente pela independência moçambicana. Em suas obras
ele descreve minuciosamente as raízes do mundo, explorando o homem em suas relações com a terra.
Geralmente se atribui aos mais velhos a tarefa de contar histórias aos mais jovens, para que haja uma
transmissão de conhecimentos e experiências. No entanto, em Terra Sonâmbula há uma inversão dos
papéis. A escrita é uma nova categoria para se transmitir conhecimento, havendo, assim, um afastamento
da tradição. No ato de contar histórias ritualisticamente à beira de uma fogueira, Muidinga vai penetrando
no conhecimento ancestral e a partir da oralidade, ele une a tradição à cultura moderna. Nesse sentido é
notável uma dependência do novo ao velho e também do velho ao novo, bem como a importância do
velho na cultura africana. Tuahir, por exemplo, é cônscio da necessidade de resguardar os sonhos para
vencer as desgraças da vida. Há uma explícita alusão a uma cultura considerada tradicional e uma nova
que é imposta: a cultura letrada. Em Terra Sonâmbula, o mundo dos sonhos, do fantasioso está presente
em todo o romance e se mistura a uma realidade cruel de devastação, em que eles caminham a fugir da
guerra, estão a lutar pela sobrevivência.

Palavras-chave: Mia Couto, cultura letrada, cultura africana, tradição.

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NOITE DE REIS, DE SHAKESPEARE: A MÚSICA EM CENA NA PEÇA E NO FILME

Rafael Barcellos de Moraes, UFV


Sirlei Santos Dudalski, UFV

William Shakespeare, um dos maiores representantes da dramaturgia mundial, utilizava cantigas e


canções populares em suas peças, provavelmente demonstrando familiaridade com a música de sua época.
Servindo como contracanto às experiências de suas personagens, a então música de cena, associada ao
drama shakespeariano na celebração da vida e do homem, parece também atuar como elemento essencial
ao enredo. Por isso, em nossa pesquisa, temos por objetivo analisar de que forma a música está presente e
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quais as suas funções na peça Noite de Reis, na tentativa de contribuir para as discussões acerca da
utilização da música na dramaturgia shakespeariana. Da mesma forma, buscamos estabelecer as
diferenças e semelhanças entre a peça e a adaptação fílmica de Trevor Nunn, de 1996, no que se refere ao
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uso da música de cena. Para tal, fazemos um parâmetro da essência musical em Noite de Reis com um
ensaio sobre o uso humano do som. Por se tratar de uma pesquisa ainda em desenvolvimento, as primeiras
análises indicam que através do contracanto harmonioso e melódico, a música suscita um movimento
cadencial, ao mesmo tempo retomando o enredo e produzindo um movimento progressivo dos eventos na
peça. Além disso, em Noite de Reis, não apenas como instrumento para o desenvolvimento da cadência, a
música constitui elemento essencial, sobre a qual leitores ou ouvintes são constantemente lembrados
através do cantar ou do tocar de instrumentos e pelas metáforas e eufemismos presentes nas falas das
personagens. Norteando o seu enredo, a música é colocada metaforicamente como alimento do amor não
correspondido e melancólico de uma de suas personagens principais, o Duque Orsino. O excesso de
música alimenta esta comédia shakespeariana, engendra as figuras de linguagem e serve como
contracanto aos conflitos, à melancolia e ao amor cultivado pelas personagens.

Palavras-chave: Música de cena; comédia shakespeariana; adaptação fílmica.

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UM TETO TODO SEU DE VIRGINIA WOOLF: UMA BREVE ANÁLISE DA MULHER COMO
CONSTRUTORA E ATRIZ DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCACIONAIS.

Cristiane Viana da Silva – UFPI


Fabiana dos Santos Sousa - UFPI

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a obra Um teto todo seu de Virginia Woolf que retrata
o importante papel da mulher na sociedade. As mulheres durante séculos foram submissas e tinham como
função social o de ―donas do lar‘‘. Surge, então, o feminismo que bradava por uma visibilidade pública
lutando pelo reconhecimento legal da igualdade de direito ao voto, ao trabalho e a educação. A mulher
passa a ser desconstruída e não mais considerada como um ser uno, atentou-se para as diferentes
orientações sexuais, e reivindicou-se que ela tinha o direito de ter os seus próprios espaços para falar e
expressar-se. As chamadas ―rainhas do lar‖ deixam o ambiente doméstico e passam a ser construtoras e
atrizes dos movimentos sociais e educacionais. De acordo com Woolf, é preciso ter condições materiais
para a realização de sua produção intelectual, ou seja, independência econômica e um teto todo seu. A
mulher, como se sabe, foi relegada a escrita da história em decorrência óbvia da falta de instrução e do
poder patriarcal exercido na época. Ela vociferava pela inclusão social e acesso educacional. Desta forma,
a referida análise abordará a obra um Teto todo seu de Virginia Woolf que discute as condições de vida
das mulheres, especificamente, da Inglaterra, e suas reais possibilidades de inclusão em uma sociedade
notadamente patriarcal e desigual.

Palavras-chave: mulher, inclusão social, educação.

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ENTRA, ENTRA NO BATEL, QUE AO INFERNO HÁS DE IR: A REPRESENTAÇÃO DO MAL


NA SOCIEDADE VICENTINA DE QUINHENTOS.
Amanda Lopes de Freitas - UFV
Gerson Luiz Roani - UFV

Este estudo busca analisar a construção da personagem Diabo em O Auto da Barca do Inferno (1517), de
Gil Vicente, tendo em vista o contexto quinhentista no qual emerge a produção literária vicentina. Com
base na teoria bakhtiniana da Carnavalização, busca-se identificar elementos carnavalescos nesta
personagem que pode ser compreendida como porta voz de um mundo ―às avessas‖: Mestre de cerimônia
dos que adentram no Batel infernal, o Diabo vicentino não só resgata por meio da memória as
profanações cometidas por seus condenados em vida, intervido como instrumento moralizante através do
cômico e da sátira, como também desconstrói a noção de ordem recriando o espaço post motem a partir de
uma ótica ambivalente. Para a realização deste trabalho, partiu-se do princípio de que o arquétipo
―diabo‖ é por excelência a mais expressiva personificação do Mal no Ocidente, sendo responsável pela
formação identitária ocidental no que diz respeito à edificação do imaginário acerca do Mal. Neste
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sentido, objetiva-se por meio deste estudo definir relações entre Literatura, História e Religiosidade,
tendo como núcleo a problemática do Mal sob a personificação diabólica. Por fim, também se pretende
resgatar o estudo crítico das obras de Gil Vicente, haja vista a extrema importância de sua dramaturgia,
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sobretudo para o universo lusófono.


Palavras-chave: Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, Diabo, Carnavalização.
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A TRIBUNA SOUSANDRADINA

Juliana Pacheco Oliveira Neves- UEFS

Adeítalo Manoel Pinho - UEFS

O poeta Joaquim de Sousa Andrade, o Sousândrade, é um autor controverso dentro do cenário da


literatura brasileira. Sua poesia destoante do ritmo e dos temas habituais do romantismo não foi
compreendida nem pela crítica nem pelo público da época, e acabou rejeitada. Com o resgate de
Sousândrade feito no modernismo, as possibilidades de estudos de sua obra se abriram; essas
possibilidades, no entanto, se veem muitas vezes limitadas pelas dificuldades na compreensão de seus
versos. A dificuldade é causada pela estreita ligação entre a poesia de Sousândrade e os acontecimentos
políticos e sociais da época, que fazem de sua poesia uma tribuna literária. Este trabalho busca interpretar
(ou talvez a palavra certa fosse desvendar) essas ligações dentro do Inferno de Wallstreet, trecho de sua
obra mais famosa, O Guesa, com enfoque nas referências que o autor faz à viagem de D. Pedro II aos
estados Unidos, em 1876. A viagem foi extensamente documentada na imprensa norte-americana, mas
igualmente documentada, com a crítica, a poética e a ironia peculiares ao autor, nas estrofes de
Sousândrade. Para a interpretação, aqui, de três estrofes, usamos os jornais da época, bem como a
pesquisa pelos nomes, lugares e fatos que aparecem nessas estrofes.

Palavras-chave: Sousândrade, D. Pedro II, O Guesa

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ENCENANDO SHAKESPEARE: UMA EXPERIÊNCIA CATÁRTICA

Janaína Reis de Miranda – UFV


Sirlei Santos Dudalski – UFV

O seguinte trabalho tem como objetivo descrever a grandiosa experiência de interpretar uma cena das
mais consagradas tragédias de William Shakespeare: Othello – The Moor of Venice, apresentada em 30
de junho de 2011 por um grupo de seis alunos do quinto período de Letras da Universidade Federal de
Viçosa. Tal interpretação realizou-se porque o grupo aceitou o desafio proposto pela professora da
disciplina de Literatura Inglesa I (Let 414). Contou-se, também, com a participação do restante da turma,
ou seja, de outros dois grupos que encenaram, consecutivamente, Romeo and Juliet e The Tempest. Na
presente exposição serão considerados elementos tais como a catarse, a qual julgamos ter sido sentida não
somente pelos espectadores, como, também, pelos intérpretes; a investigação feita acerca da cena correta,
escolhida conforme a dinâmica da obra e habilidade interpretativa de cada membro do grupo; a precisão
na escolha dos figurinos, valorizando a caracterização dos personagens; e os cuidados na elaboração do
cenário, visando ao entendimento e à interação do público quanto ao espaço e o tempo da ação teatral.
Outro fator abordado e de grande valia são as descrições e reflexões concernentes à linguagem utilizada
pelos alunos no momento da atuação e o treinamento realizado para a assimilação do inglês de
Shakespeare como forma de alcançar a mais fiel representação da obra possível para o nosso contexto.
Esperamos, com isso, transmitir todo o envolvimento e dedicação de alunos que, em sua primeira
experiência de atuação, obtiveram êxito por meio de peças teatrais tão canônicas e cujo autor é um dos
maiores ícones da história literária dos últimos tempos.

Palavras-chave: teatro; linguagem; emoção

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“ESSA NEGA FULÔ”: ASPECTOS EDUCACIONAIS REFERENTES ÀS MINORIAS ÉTNICO-


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RACIAIS

Ana Paula Alves de Moura – UEPB/CNPq


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José de Sousa Campos Junior- UEPB - CNPq


As reflexões em torno de aspectos educativos que contribuem para a melhoria da escola pública estão
sendo impulsionadas atualmente, principalmente, no que diz respeito às discussões que envolvem as
minorias étnico-raciais. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar o perfil da figura
feminina em épocas diferentes do mesmo século por meio dos poemas ―Essa Nega Fulô‖, de Jorge de
Lima escrito no início do século XX, e ―A Outra Nega Fulô‖, de autoria de Oliveira Silveira,
cronologicamente pertencente às décadas finais do mesmo século, além de refletir sobre os fatores sócio-
históricos que acarretaram a mudança de representação da mulher neste último poema. Estes textos
poéticos mantêm uma relação intertextual e destacam a figura feminina do período de escravidão no
Brasil. Este trabalho é resultado de uma atividade referente a esses poemas realizada no âmbito do Projeto
―Literatura e Afrodescendência: O que há por trás disso?‖, que faz parte do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, da Universidade Estadual da Paraíba. O projeto, voltado para
alunos do ensino médio, é desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Assis
Chateaubriand, localizada na cidade de Campina Grande (Paraíba).

Palavras-chave: Literatura. Gênero. Afrodescendência. Educação.

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OS ESTEREÓTIPOS DO FEMININO E DO AFRODESCENDENTE NA SOCIEDADE


BRASILEIRA

Wanessa Denyelle Sousa Gomes – UEPB/CNPq


Francielle Suenia da Silva – UEPB/CNPq

A literatura é um das manifestações culturais pela qual a sociedade pode ser representada. O conto
Boneca, de Cuti (1996), representa a sociedade ao abordar a questão dos estereótipos culturais. Partindo
desse ponto, este trabalho tem como objetivo principal analisar questões de gênero e afrodescendência
trazidos neste conto que foi utilizado em um dos exercícios aplicados em aulas do Projeto ―Literatura e
Afrodescendência. O que há por trás disso?‖ que está ligado ao Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência – PIBID, da Universidade Estadual da Paraíba; o projeto é desenvolvido com alunos
do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Assis Chateaubriand, localizada na
cidade de Campina Grande-PB. A atividade foi realizada a partir de leitura e fragmentação do conto, bem
com a escrita de um possível final do texto citado. Desse modo, apresentaremos as respostas dos alunos
tanto à necessidade da oferta e procura de bonecas negras no mercado como forma de identificação étnica
e de inclusão social quanto na questão de gênero.

Palavras chave: Gênero. Cultura. Literatura. Afro-brasileiro. Educação.

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SIMONE DE BEAUVOIR E A MULHER DESILUDIDA: UMA REFLEXÃO SOBRE A


CONDIÇÃO FEMININA ONTEM E HOJE

Fabiana de Araújo e Silva -UEPB


Gizelda Ferreira do Nascimento -UEPB
Antonio de Pádua Dias da Silva -UEPB

No ano de 1967, a escritora francesa Simone de Beauvoir publicou o livro A Mulher Desiludida. As três
histórias contidas nesse livro são narradas por suas protagonistas e apresentam em comum o tema da
solidão e do fracasso, sendo que para cada uma das histórias é dado um enfoque específico. Na primeira
história, que traz o título A Idade da Discrição, a protagonista passa por uma crise de meia idade, na qual
cada vez mais se distancia de seu marido; na segunda, intitulada Monólogo, a personagem principal
encontra-se sozinha e cheia de ódio após o suicídio da filha, o que a faz perder a guarda de seu outro filho
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para o ex-marido; na última - que traz o mesmo título dado ao livro - temos como protagonista uma
mulher traída por um marido que já não a ama mais, porém, devido a uma forte dependência conjugal não
consegue deixa-lo. Ao ler essas histórias não há como negar que nelas existem conflitos próprios da
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condição feminina. Sendo assim, nosso objetivo é o de analisar as três histórias expondo de que maneira
os conflitos vividos pelas personagens da escritora francesa há mais de cinquenta anos também podem ser
observados em conflitos vividos pelas mulheres de hoje.

Palavras-chave: mulher, literatura, condição feminina, atualidade.

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LA AMISTAD, “VERDADERA” PROTAGONISTA DE DON QUIJOTE

Luciene Freitas Mota – UEFS


Samara Medeiros De Oliveira – UEFS
Edson Oliveira Silva - UEFS

Investigación acerca de la relación entre Don Quijote y Sancho Pancha en la obra Don Quijote de la
Mancha de Miguel de Cervantes. Con el objetivo de hacer una comparación sobre lo que grandes
teóricos y filósofos que discutieron sobre el tema amistad con la relación entre las personajes principales
de la obra de cervantes. Concluimos que hay una relación genuina de amistad entre las dos personajes
con todos los entrabes, altos y bajos que puede existir en una relación de esa. Don Quijote de la Mancha
de Miguel de Cervantes, obra centenaria, a pesar de ya haber sido estudiada de los más diversos ángulos
siempre hay algo nuevo que se puede encontrar o añadir en los estudios de ese singular manuscrito que
hay desde mucho conquistado generaciones.

Palabras-clave: Sancho Pansa; Quijote; Amistad.

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LEITURA DE DOIS ROMANCES OITOCENTISTAS: A MORENINHA (1844) E


IRACEMA (1865)

Juliely Veiga Gomes – UFV


Joelma Santana Siqueira – UFV

O presente trabalho tem por objetivo discutir aspectos importantes do romance oitocentista. Para tanto,
escolhemos duas obras canônicas do Romantismo brasileiro: A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de
Macedo, e Iracema (1865), de José de Alencar. No que diz respeito à obra A Moreninha, é relevante
destacarmos que o cenário utilizado pelo autor era íntimo aos leitores da época e, além disso, sua obra
apresenta histórias com sentimentos românticos que despertavam o interesse da sociedade carioca daquele
tempo. A segunda obra analisada, Iracema, abordou o espaço e costumes que estavam intimamente
relacionados às sociedades indígenas brasileiras. A partir de aspectos do romance oitocentista discutidos
por Machado de Assis e Antônio Candido, analisaremos características do gênero folhetinesco, os
quadros de costumes, a descrição dos ambientes, a construção e a análise dos personagens nesses dois
romances românticos que, apesar de enfatizarem a observação da realidade, tematizam o amor romântico
com forte pendor para a imaginação.

Palavras-chave: Romance oitocentista; A Moreninha; Iracema.

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VISÃO SATÍRICA EM “EPILOGOS”

Thalita Christina Andrade da Silva – UFV


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Joelma Santana Siqueira – UFV

O nome Gregório de Matos e Guerra, desde o século XVII, esteve envolvido em polêmicas e
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controvérsias por causa da personalidade mordaz, do conteúdo crítico de poemas atribuídos a sua pessoa,
ou até mesmo por causa do questionamento sobre a sua existência e sobre a autoria de suas obras. O
―Boca do Inferno‖, como foi chamado, com freqüência, tem sido assunto presente nos estudos sobre a
poesia barroca brasileira. No nosso trabalho, evitaremos a discussão sobre autoria, propondo uma análise
do poema ―Epílogos‖ atribuído a Gregório de Matos. Com base nos estudos sobre a sátira, realizado por
João Adolfo Hansen em Sátira e engenho, buscamos situar a visão crítica da persona poética no contexto
de produção da sátira, ciente de que, como nos alertou Hansen, a sátira não é realista no sentido de imitar
fatos, acontecimentos, mas no sentido de que encontra a realidade de seu tempo como prática discursiva
partilhada por enunciadores, destinatários e públicos.

Palavras-chave: Poesia barroca; Sátira; Gregório de Matos.

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AS DIFERENTES FACES E A REPRESENTAÇÃO ERÓTICA DO DESEJO

Milene de Fátima Santos - UFV

Este trabalho constitui uma análise do livro Do desejo (2004) de Hilda Hilst, sendo escolhidos para estudo
três dos sete livros de poesia reunidos na obra e publicados originariamente em 1992. No presente
trabalho, tomamos por análise o total de seis poemas, sendo dois de cada livro: Do desejo, Amavisse e
Sobre a tua grande face. Esta escolha se justifica pelas diferentes faces do desejo, que é articulado por
diversas maneiras dentro de cada livro, ou capítulo, assumindo contornos únicos, juntamente com a
pulsão erótica que o envolve. Tendo em vista que o ideal de criar essa reunião partiu da própria autora,
torna-se relevante analisar a disposição de cada livro de poesia na obra. Também buscamos entender
como se configura a construção do desejo e a articulação do erotismo, examinando ainda de que maneira
esta obra se insere em uma literatura dita contemporânea ou ―pós-moderna‖. Todos esses aspectos foram
analisados por meio de uma pesquisa de cunho bibliográfica e documental. Para tanto foi fundamental a
leitura e compreensão de textos críticos a respeito do erotismo e da poesia, bem como estudos que
colocam em discussão a poesia pós-moderna, tais como Poética do Pós-Modernismo, de Linda Hutcheon
(1991); O Erotismo de Georges Bataille (1987), além de outros autores como Hugo Friedrich (1991),
Salete de Almeida Cara (1986) e Alcir Pécora (2010). Ademais, é relevante analisarmos Do desejo de
Hilda Hilst já que é uma obra que possibilita várias interpretações e dá margem para o estudo de diversos
aspectos, além do fato de que Hilda é uma autora contemporânea e, como tal, dispensa um novo olhar
para o mundo que não aquele das demais épocas literárias.

Palavras-chave: Hilda Hilst; Literatura Contemporânea; Do desejo; Erotismo;

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CINEMA E TRAGÉDIA: O HERÓI NO FILME O REI LEÃO (1994)

Lucas de Castro Fonseca (Letras/UFV)


Sirlei Santos Dudalski (Letras/UFV)

O filme O Rei Leão (1994), dirigido por Roger Allers e Rob Minkoff, obteve grande sucesso de crítica e
de público e foi vencedor de dois Oscars. No seu enredo é notável diversas referências à obra Hamlet, de
William Shakespeare: o fratricídio, o desterro, o encontro com o fantasma do pai etc. Esta peça, escrita
entre 1599 e 1601 é uma das mais conhecidas de Shakespeare e trata da saga trágica do príncipe Hamlet
da Dinamarca que conhece seu fim no inevitável encontro com a própria morte e de toda a sua família.O
presente trabalho propõe uma discussão sobre a figura do herói no filme em diálogo com aspectos do
gênero trágico. Observando as diferenças entre as duas obras, a partir de textos sobre a tragédia, escritos
por Aristóteles, Nietzsche e Rosenfeld, analisaremos o destino do suposto herói trágico do filme, que tem
aproximações com o destino do herói shakespeariano.
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Palavras-chave: Cinema, Hamlet, Rei Leão, Tragédia, Teatro


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JOSE SARAMAGO, LUIS VAZ DE CAMÕES E SUAS INTERFERÊNCIAS NA HISTÓRIA
PORTUGUESA

Bárbara Carneiro Filgueiras - UFOP


Dulce Maria Vianna Mindlin - UFOP

Após leitura dos livros O Memorial do Convento, do autor José Saramago, e Os Lusíadas, de Luis Vaz de
Camões, percebe-se que partes relevante da história trata sobre fator reais [A inquisição, a construção do
convento de Mafra, o casamento da princesa de Portugal (Memorial do Convento)/ a navegação
portuguesa, as batalhas ocorridas durante esta época (Os Lusíadas)], que se misturam com ficção [toda a
existência de Blimunda e Baltasar, as personagens centrais do livro (Memorial do Convento)/ parte da
história de Inês de Castro, as ninfas (Os Lusíadas)]. O livro Memorial do Convento se encaixa no gênero
épico/romance histórico pela temática tratada no livro e pelo modo como o tempo é ordenado e retratado,
No caso da obra épica camoniana são narradas tanto as viagens feitas quanto fatos que vão além disto,
mas que interferiram nas navegações e/ou na história de Portugal. Podemos adotar como exemplo o canto
três de Os Lusíadas, no qual Camões fala do caso de Inês de Castro com Dom Pedro I, porém, por mais
que isto realmente tenha acontecido, o desfecho da história não é comprovado historicamente. Logo,
percebemos traços semelhantes em ambos os livros e é isto que o trabalho pretende retratar.

Palavras chave: Camões, Saramago, Realidade, Ficção

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O ALIENISTA: A NARRATIVA MACHADIANA CONTISTA E O PENSAMENTO SOCIAL DA


LOUCURA.

Francisca Damiana de Freitas e Sousa - UERN


Maria da Paz de Freitas e Sousa - UERN

A literatura realista de Machado de Assis (1839-1908) desenha criticamente a sociedade moderna, o


homem e seu comportamento e as instituições sociais. A maturidade do realismo está presente no conto
literário ―O alienista‖ quando fala sobre a instituição asilar como produtora das doenças psíquicas e
reprodutora do discurso da demência e suas mais variadas manifestações. Nosso estudo nessa pesquisa
tem como enfoque retratar como Machado de Assis na escrita desenha de maneira irônica e metafórica a
história do asilo no Brasil imperial e a loucura como doença mental e comportamental. A casa verde de
Itaguaí tem alguma representação histórica com o hospício D.Pedro II? Por que Machado desenha entre
os personagens loucos, seres reais da sociedade carioca? Como Machado consegue desenhar o
pensamento da psiquiatria em nomes como Esquirol, Pinel e Morel? O escritor com aguçado
conhecimento descreve a temática da loucura, do asilo, das ciências, da história carioca e da periferia a
margem da humanização psiquiátrica com seus loucos a soltos. Literatura, história do pensamento social,
psiquiatria e critica literária a explicar a complexidade da narrativa machadiana sobre a loucura na época
oitocentista do Brasil e denota em suas linhas literárias traços de uma realidade histórica da cultural
material do homem carioca e da psiquiatria. Para o estudo veremos o pensamento de Maria Clementina
Pereira Cunha, Michel Foucault, José Lemes Lopes e Magali Gouveia Engel. A temática da loucura na
escrita do autor é uma representação de sua posição critica diante das ciências, do meio e da
marginalização social.

Palavras-chave: O alienista; pensamento social machadiano; o discurso da psiquiatria no Brasil.

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143
Página
AS LENDAS, OS MITOS E AS SUPERSTIÇÕES EM O CONQUISTADOR, DE ALMEIDA
FARIA

Carla Souza - UFV


Moniki Andrade - UFV

Considerada por alguns teóricos como sendo uma obra autobiográfica, o romance O Conquistador de
Almeida Faria (publicado em 1990), se divide em sete simbólicos e irônicos capítulos em que Sebastião o
personagem principal, narra em forma de uma memória a sua vida, começando pelo dia do seu
nascimento 20 de janeiro de 1954 até 1978 quando completa vinte quatro anos de idade. O romance se
configura numa significativa aura mística. A princípio, Almeida Faria faz a visitação ao mito do
Encoberto, no qual o protagonista realiza uma jornada noite adentro a fim de pesquisar o significado que
a figura de D. Sebastião tem para a cultura portuguesa. O Conquistador não é uma história de aventuras,
mas a história de uma luta pela conquista de uma identidade pessoal, na qual o indivíduo não mais espera
a vinda a salvação e passa a buscar o seu auto-conhecimento e suas próprias conquistas ao longo da vida.
A partir dos sucessos e fracassos, experiências do nosso dia-a-dia, podemos perceber que o ser humano
possui um otimismo inacreditável, dificilmente perdendo sua fé em acreditar que tudo é possível. Desde a
nossa criação, os fenômenos da natureza, o respeito pela vida e morte e a não compreensão de
determinados eventos naturais e físicos contribuíram para o surgimento de lendas, superstições e mitos.
Nesse trabalho, analisamos como as lendas, superstições e mitos presentes no romance O Conquistador
contribuem para sua significação. Toda essa simbologia é fundamental para a compreensão do enredo.

Palavras-Chave: identidade pessoal, simbologias, misticismo

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OTHERNESS IN “THE LOONS” BY MARGARETH LAURENCE

Késia Silva Rodrigues – UFV


Sirlei Dudalski - UFV

Este trabalho foi escrito no curso de Literatura Contemporânea com o objetivo de verificar como a
alteridade se apresenta na short-story ―The Loons‖ escrita pela autora americana modernista Margareth
Laurence. A alteridade se apresenta, em suas diversas formas, em um contexto muito interessante e lúdico
onde um grupo étnico é rejeito pela sociedade demostrando a discriminação social, racial, politica e
econômica da época; e através de riquezas de detalhes o leitor pode perceber e mergulhar dentro da
sociedade daquele tempo. Foi realizada uma análise das estratégias linguísticas e literárias usadas pela
autora como uso de ironias, metáforas, imagens e simbolismos levando o leitor a refletir sobre a sua
própria realidade e efetuar uma auto-análise de como a discriminação ocorre sutilmente em sua realidade.
A estrutura linguística e a forma de construção do texto também são analisadas, com o objetivo de
demonstrar como a forma influência na imposição da visão do autor ao leitor. O objetivo deste trabalho é
levar o leitor a identificar e refletir de forma crítica sobre a alteridade em suas multiformas em textos
literários.

Palavras chaves: Alteridade, Simbolismo e Discriminação

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VIGIAR E OPRIMIR: O PANOPTISMO DO TEATRO TRADICIONAL

Mariana De-Lazzari Gomes – Mestranda UFV


Orientadora: Sirlei Santos Dudalski - UFV

O presente trabalho propõe uma discussão das relações entre teatro e política no que tange ao
uso da arte para a manutenção do poder. Considerando que, desde a Grécia clássica, diversas
pesquisas têm se dedicado a estudar as ligações existentes entre teatro e poder, pretende-se
alargar a concepção brechtiana acerca da passividade do espectador no teatro tradicional,
ressaltando-a como uma congregada dos meios de opressão ideológica. Para tanto, considera-se
o diálogo entre o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal e O Panoptismo, terceiro capítulo da
terceira parte de Vigiar e Punir, de Michel Foucault, intitulada Disciplina. Foucault coloca que a
especificidade da disciplina reside na atitude de se desviar da norma. No intuito de fazer com
que o indivíduo siga as normas, dispositivos de vigilância foram desenvolvidos, sendo que esses
mecanismos tinham como finalidade interiorizar uma culpa por cada ato ―anormal‖ do sujeito.
Uma das formas de vigilância destacadas era o Panóptico, cujo significado concerne a uma total
observação da vida indivíduo por parte do disciplinador, consolidando, pela ordem psicológica,
os mecanismos de poder. Por sua vez, a técnica do Teatro do Oprimido coloca em risco a
passividade panóptica a partir do momento em que propõe a interferência do espectador na
ação, de modo que este contribua para a solução dos conflitos representados. Assim, em lugar
de vigiar suas ações, o indivíduo transcende a própria noção de teatro tradicional, tomando-o
para si como local onde se experimenta a revolução.

Palavras-chave: Teatro, Política, Poder


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Página

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