Departamento de Matemática
Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional – PROFMAT
por
Vanderlei Nemitz
Dezembro/2014
Curitiba – PR
Agradecimentos
À minha mãe, Rose e à minha irmã, Ellen, pelo incentivo nos momentos de
dificuldade e compreensão durante todo o tempo.
Ao Prof. Dr. Aldemir José da Silva Pinto, pela paciência, pelo apoio e
principalmente pela cuidadosa orientação durante todo o trabalho.
Resumo
Os Números Complexos são geralmente apresentados na terceira série do Ensino Médio. Após
um breve histórico, a abordagem é quase toda algébrica, exceto quando é estudada a forma
trigonométrica. Além disso, raramente são apresentadas aplicações desses números no
cotidiano, o que torna o estudo um tanto quanto desestimulante para os alunos desse nível de
ensino.
O objetivo desse trabalho é mostrar como os Números Complexos estão fortemente
relacionados com a Geometria. Além de apresentar alguns importantes resultados
geométricos, resolveremos alguns problemas sob o ponto de vista dos Números Complexos,
até então tratados pela maioria dos alunos (e professores) como exclusivos da Geometria.
Abordaremos também algumas transformações geométricas elementares, em especial a
transformação de Möbius, na qual podemos associar matrizes.
Palavras-chave: Números Complexos, Geometria, transformações geométricas
Abstract
The Complex Numbers are generally presented in the third year high school. After a brief
history, the approach is almost all algebraic, except when it is studied in a trigonometric form. In
addition, applications of this numbers in the day-to-day life are rarely presented, what gets he
study a bit unencouraging for the students in this level of teaching.
The goal of this working paper is to show how the Complex Numbers are strongly
related with the Geometry. Besides presenting some important geometric results, we will solve
some problems by the point of view of Complex Numbers, until then approached by a high
number of students (and teachers) as exclusive of Geometry. We will also approach some
elementary geometric transformations, especially the Möbius transformation, in which we can
associate matrices.
Key-words: Complex Numbers, Geometry, geometric transformations.
Sumário
1. Introdução 1
2. Números Complexos 3
2.1. O corpo dos números complexos.................................................................3
2.2. Representação geométrica de um número complexo..................................8
2.3. Raízes da unidade......................................................................................18
2.4. Forma exponencial de um número complexo.............................................20
3. Aplicações à Geometria 22
3.1. Ponto médio de um segmento....................................................................22
3.2. Distância entre dois pontos.........................................................................22
3.3. Condição de alinhamento de três pontos...................................................23
3.4. Equação da reta..........................................................................................24
3.5. Equação paramétrica da reta......................................................................25
3.6. Equação da reta paralela............................................................................25
3.7. Equação da mediatriz de um segmento.....................................................26
3.8. Equação da circunferência.........................................................................30
3.9. Área de um triângulo...................................................................................34
3.10. Distância de um ponto a uma reta............................................................38
3.11. Semelhança de triângulos........................................................................41
3.12. Semelhança e triângulo equilátero...........................................................44
3.13. Baricentro de um triângulo........................................................................46
3.14. Circuncentro de um triângulo....................................................................48
3.15. Ortocentro de um triângulo.......................................................................50
3.16. Lei dos senos............................................................................................52
3.17. Lei do cosseno..........................................................................................54
3.18. Transformações geométricas...................................................................55
3.18.1. Translação.............................................................................................55
3.18.2. Rotação em torno da origem................................................................55
3.18.3. Homotetia...............................................................................................56
3.18.4. Reflexão em torno de uma reta que passa pela origem........................57
3.18.5. Inversão.................................................................................................59
3.19. Transformação de Möbius........................................................................60
3.19.1. Matriz associada a uma transformação de Möbius...............................62
4. Problemas 69
5. Conclusão 82
Referências 83
1. Introdução
1
como por exemplo, os problemas 4 e 5, se caracterizam por apresentarem um
elevado nível de dificuldade e talvez não seja conveniente apresentá-los em
uma turma do Ensino Médio, mesmo que possam ser resolvidos utilizando
unicamente conhecimentos adquiridos nesse nível de ensino. No entanto, são
interessantes resultados que podem motivar todos aqueles que gostam de
Matemática. Destacamos ainda o problema 7, que apresenta o Teorema de
Napoleão e o problema 10, que mostra ludicamente uma aplicação dos
números complexos.
2
2. Números complexos
Multiplicação: ℂ × ℂ → ℂ
(3) z ⋅ w = ( a + bi ) ⋅ ( c + di ) = ac + adi + bci + bdi2 = ( ac − bd ) + ( ad + bc ) i
a + bi = c + di ⇒ a − c = ( d − b ) i ⇒ ( a − c ) = ( d − b ) i2 ⇒ ( a − c ) = − ( d − b )
2 2 2 2
3
Resolvendo o sistema de equações lineares, obtemos:
ac + bd bc − ad
x= e y= 2 , em que c ≠ 0 ou d ≠ 0
c +d
2 2
c + d2
Portanto:
z a + bi ac + bd bc − ad
= = + i, com w ≠ 0
w c + di c 2 + d2 c 2 + d2
A 1: ( x + y ) + z = x + ( y + z ) (associativa da adição)
A 2 : x + y = y + x (comutativa da adição)
M2 : x ⋅ y = y ⋅ x (comutativa da multiplicação)
Proposição
ℂ é um corpo
4
A1: ( x + y ) + z = x + ( y + z )
( x + y ) + z = ( a + bi + c + di) + e + fi
( x + y ) + z = ( a + c ) + ( b + d) i + e + fi
( x + y ) + z = ( a + c ) + e + (b + d) + f i
( x + y ) + z = a + ( c + e ) + b + ( d + f ) i
( x + y ) + z = a + bi + ( c + e ) + ( d + f ) i
( x + y ) + z = a + bi + ( c + di + e + fi)
( x + y) + z = x + ( y + z)
A2: x + y = y + x
x + y = a + bi + c + di
x + y = ( a + c ) + ( b + d) i
x + y = (c + a) + ( d + b) i
x + y = c + di + a + bi
x+y=y+x
A 3 : ∃ 0 ∈ K tal que x + 0 = x
Seja 0 = m + ni , com m, n ∈ ℝ .
x+0 = x
a + bi + m + ni = a + bi
( a + m ) + ( b + n ) i = a + bi
a + m = a
⇔m=0 en=0
b + n = b
Portanto, existe 0 = 0 + 0i tal que x + 0 = x .
A 4 : ∀ x ∈ K, ∃ ( − x ) ∈ K tal que x + ( − x ) = 0
Seja − x = p + qi , com p, q ∈ ℝ .
x + ( − x) = 0
a + bi + p + qi = 0 + 0i
( a + p ) + ( b + q) i = 0 + 0i
a + p = 0
⇔ p = −a e q = −b
b + q = 0
Portanto, existe ( − x ) = ( −a ) + ( −b ) i tal que x + ( − x ) = 0 .
5
M1 : ( x ⋅ y ) ⋅ z = x ⋅ ( y ⋅ z )
( x ⋅ y ) ⋅ z = ( a + bi) ⋅ ( c + di) ⋅ ( e + fi)
( x ⋅ y ) ⋅ z = ( ac − bd) + ( ad + bc ) i ⋅ ( e + fi)
( x ⋅ y ) ⋅ z = ( ac − bd) ⋅ e − ( ad + bc ) ⋅ f + ( ac − bd) ⋅ f + ( ad + bc ) ⋅ e i
( x ⋅ y ) ⋅ z = [ace − bde − adf − bcf ] + [acf − bdf + ade + bce] i
( x ⋅ y ) ⋅ z = a ⋅ ( ce − df ) − b ⋅ ( de + cf ) + a ⋅ ( de + cf ) + b ⋅ ( ce − df ) i
( x ⋅ y ) ⋅ z = ( a + bi) ⋅ ( ce − df ) + ( de + cf ) i
( x ⋅ y ) ⋅ z = ( a + bi) ⋅ ( ce − df ) + ( cf + de ) i
( x ⋅ y ) ⋅ z = ( a + bi) ⋅ ( c + di) ⋅ ( e + fi)
( x ⋅ y) ⋅ z = x ⋅ (y ⋅ z)
M2 : x ⋅ y = y ⋅ x
x ⋅ y = ( a + bi ) ⋅ ( c + di)
x ⋅ y = ( ac − bd ) + ( ad + bc ) i
x ⋅ y = ( ca − db ) + ( da + cb ) i
x ⋅ y = ( ca − db ) + ( cb + da ) i
x ⋅ y = ( c + di) ⋅ ( a + bi)
x⋅y=y⋅x
M3 : ∃ 1∈ K tal que x ⋅ 1 = x
Seja 1 = m + ni , com m, n ∈ ℝ
x ⋅ 1= x
( a + bi) ⋅ (m + ni) = a + bi
( am − bn ) + ( an + bm ) i = a + bi
am − bn = a
⇔ m =1e n = 0
an + bm = b
Portanto, existe 1 = 1 + 0i tal que x ⋅ 1 = x .
6
M4 : ∀ x ∈ K, x ≠ 0, ∃ x −1 ∈ K tal que x ⋅ x −1 = 1
Seja x −1 = p + qi , com p, q ∈ ℝ .
x ⋅ x −1 = 1
( a + bi) ⋅ ( p + qi) = 1 + 0i
( ap − bq) + ( aq + bp ) = 1 + 0i
ap − bq = 1 a −b
⇔p= 2 e q= 2
aq + bp = 0 a +b a + b2
2
a −b
Portanto, para x ≠ 0 existe x −1 = 2 2
+ 2 2
i tal que x ⋅ x −1 = 1.
a +b a +b
D1: x ⋅ ( y + z ) = x ⋅ y + x ⋅ z
x ⋅ ( y + z ) = ( a + bi ) ⋅ ( c + di + e + fi)
x ⋅ ( y + z ) = ( a + bi ) ⋅ ( c + e ) + ( d + f ) i
x ⋅ ( y + z ) = a ⋅ ( c + e ) − b ⋅ ( d + f ) + a ⋅ ( d + f ) + b ⋅ ( c + e ) i
x ⋅ ( y + z ) = [ac + ae − bd − bf ] + [ad + af + bc + be ] i
x ⋅ ( y + z ) = ( ac − bd) + ( ae − bf ) + ( ad + bc ) + ( af + be ) i
x ⋅ ( y + z ) = ( ac − bd) + ( ad + bc ) i + ( ae − bf ) + ( af + be ) i
x ⋅ ( y + z ) = ( a + bi ) ⋅ ( c + di ) + ( a + bi) ⋅ ( e + fi)
x ⋅ ( y + z) = x ⋅ y + x ⋅ z
7
2.2. Representação geométrica de um número complexo
(3) Dois segmentos orientados não nulos (A, B) e (C, D) são de mesma
direção ou paralelos quando os segmentos AB e CD são paralelos (incluindo o
caso em que AB e CD são colineares).
8
Figura 3: Segmentos orientados de Figura 4: Segmentos orientados de
mesmo sentido sentidos contrários
• Quando as retas AB e CD “coincidem” (são a mesma reta), consideramos um
segmento orientado (E, F) que não está contido na reta AB e de mesmo
sentido de (A, B) . Assim, os segmentos orientados (A, B) e (C, D) são de
mesmo sentido quando (E, F) e (C, D) são de mesmo sentido. Caso contrário,
(A, B) e (C, D) são de sentido contrário.
9
Assim, se os segmentos orientados (A, B) e (C, D) são equipolentes, então os
ψ ( a, b ) = a + bi .
ψ ( v1 + v 2 ) = ψ ( a1 + a2 , b1 + b2 ) = ( a1 + a2 ) + ( b1 + b2 ) i = a1 + b1i + a2 + b2i
ψ ( v 1 + v 2 ) = ψ ( v1 ) + ψ ( v 2 )
2) ψ é bijetora.
Logo, ψ é injetora.
Sendo z = x + yi ∈ ℂ , tem-se:
ψ ( a, b ) = z ⇒ a + bi = x + yi ⇒ a = x e b = y
Logo, ψ é sobrejetora.
10
Figura 7
Definição
Definimos o conjugado do número complexo z = a + bi como sendo o número
complexo z = a − bi . Geometricamente, o conjugado z corresponde ao
simétrico de z em relação ao eixo real (figura 8).
Figura 8
Definição
Dado o número complexo z = a + bi , denomina-se módulo de z o número
9).
11
Figura 9
As propriedades a seguir podem ser verificadas a partir das definições.
P1) z = z , ∀ z ∈ ℂ
De fato:
Sendo z = a + bi , tem-se:
( )
z = a − bi = a + bi = z
2
P2) z ⋅ z = z , ∀ z ∈ ℂ
De fato:
Sendo z = a + bi , tem-se:
P3) z1 + z 2 = z1 + z2 , ∀ z1, z 2 ∈ ℂ
De fato:
Sendo z1 = a + bi e z 2 = c + di , tem-se:
z1 + z 2 = ( a + bi ) + ( c + di ) = ( a + c ) + ( b + d) i
z1 + z 2 = ( a + c ) − ( b + d) i
z1 + z 2 = ( a − bi) + ( c − di)
z1 + z 2 = z1 + z2
P4) z1 ⋅ z 2 = z1 ⋅ z2 , ∀ z1, z 2 ∈ ℂ
De fato:
Sendo z1 = a + bi e z 2 = c + di , tem-se:
12
z1 ⋅ z2 = ( a + bi) ⋅ ( c + di) = ( ac − bd) + ( ad + bc ) i
z1 ⋅ z2 = ( ac − bd) − ( ad + bc ) i
z1 ⋅ z2 = ( a − bi ) ⋅ ( c − di)
z1 ⋅ z2 = a + ( −b ) i ⋅ c + ( −d ) i
z1 ⋅ z2 = ac − ( −b ) ⋅ ( −d ) + a ⋅ ( −d ) + ( −b ) ⋅ c i
z1 ⋅ z2 = ( ac − bd) + ( −ad − bc ) i
z1 ⋅ z2 = ( ac − bd) − ( ad + bc ) i
Logo, z1 + z 2 = z1 + z2 .
P5) z1 ⋅ z 2 = z1 ⋅ z 2 , ∀ z1, z 2 ∈ ℂ
De fato:
2
( )
z1 ⋅ z 2 = ( z1 ⋅ z 2 ) ⋅ z1 ⋅ z 2 = z1 ⋅ z 2 ⋅ z1 ⋅ z2 = ( z1 ⋅ z1 ) ⋅ ( z 2 ⋅ z2 ) = z1 ⋅ z 2
2 2
z1 z
P6) = 1 , ∀ z1, z 2 ∈ ℂ, z 2 ≠ 0
z2 z2
De fato:
1 1
Observamos inicialmente que = . Sendo z 2 = c + di , tem-se:
z2 z2
1
=
1
=
1
⋅
( c − di) = c − di = c + −d i
z2 c + di ( c + di ) ( c − di) c 2 + d2 c 2 + d2 c 2 + d2
2 2
1 c −d c 2 + d2 1 1 1
= 2 2
+ 2 2
= = = =
c +d c +d (c ) c +d
2 2 2
z2 2
+ d2 c 2 + d2 z2
z1 1 1 1 z
Portanto, = z1 ⋅ = z1 ⋅ = z1 ⋅ = 1 .
z2 z2 z2 z2 z2
z
P7) z −1 = 2
, ∀ z ∈ ℂ − {0}
z
De fato:
1 1 z z
z −1 = = ⋅ = 2
z z z z
13
Seja um número complexo não nulo z = a + bi . Indiquemos por
extremidades O e z, e por θ o ângulo que o eixo real forma com este segmento
no sentido anti-horário (figura 10).
Figura 10
Portanto, tem-se:
b
sen θ = ⇒ b = ρ ⋅ sen θ
ρ
a
cos θ = ⇒ a = ρ ⋅ cos θ
ρ
Assim, o número complexo z pode ser escrito da seguinte forma:
z = a + bi
z = ρ ⋅ cos θ + ρ ⋅ sen θ ⋅ i
z = ρ ( cos θ + isen θ )
14
2) Divisão de números complexos
z1 ρ1 ( cos θ1 + isen θ1 )
=
z2 ρ2 ( cos θ2 + isen θ2 )
z1 ρ1 ( cos θ1 + isen θ1 ) ( cos θ2 − isen θ2 )
= ⋅ ⋅
z2 ρ2 ( cos θ2 + isen θ2 ) ( cos θ2 − isen θ2 )
z1 ρ1 cos θ1 ⋅ cos θ2 − cos θ1 ⋅ isen θ2 + isen θ1 ⋅ cos θ2 − isen θ1 ⋅ isen θ2
= ⋅
z 2 ρ2 ( cos θ2 ) − (isen θ2 )
2 2
Proposição
Dados um número complexo não nulo z = ρ ( cos θ + isen θ ) e um número n ∈ ℤ ,
tem-se:
zn = ρn ⋅ ( cos nθ + isen nθ )
Demonstração
• n∈ℕ
Pelo princípio da indução finita:
z0 = 1
i) n = 0 ⇒ 0 ⇒ z = ρ ⋅ ( cos 0 + isen 0 )
0 0
Então:
15
zk +1 = zk ⋅ z = ρk ⋅ ( cos kθ + isen kθ ) ⋅ ρ ⋅ ( cos θ + isen θ )
zk +1 = ρk ⋅ ρ ⋅ ( cos ( kθ + θ ) + isen ( kθ + θ ) )
zk +1 = ρk +1 ⋅ ( cos ( k + 1) θ + isen ( k + 1) θ )
zk ρ ⋅ ( cos kθ + isen kθ )
k
zk −1 = =
z ρ ⋅ ( cos θ + isen θ )
ρk
zk −1 = ⋅ cos ( kθ − θ ) + isen ( kθ − θ )
ρ
zk −1 = ρk −1 ⋅ cos ( k − 1) θ + isen ( k − 1) θ
( cos θ + isen θ )
n
= cos nθ + isen nθ
( cos θ + isen θ )
n
= cos nθ + isen nθ
Para n = 2 , tem-se:
( cos θ + isen θ )
2
= cos 2θ + isen 2θ
cos2 θ + 2 ⋅ cos θ ⋅ isen θ + i2 ⋅ sen2 θ = cos 2θ + isen 2θ
( cos 2
)
θ − sen2 θ + i ( 2 ⋅ sen θ ⋅ cos θ ) = cos 2θ + isen 2θ
i cos 2θ = cos θ − sen2 θ
2
16
Para n = 3 , tem-se:
( cos θ + isen θ )
3
= cos 3θ + isen 3θ
cos3 θ + 3 ⋅ cos2 θ ⋅ isen θ + 3 ⋅ cos θ ⋅ i2 ⋅ sen2 θ + i3 ⋅ sen3 θ = cos 3θ + isen 3θ
( cos 3
) ( )
θ − 3 ⋅ cos θ ⋅ sen2 θ + i 3 ⋅ cos2 θ ⋅ sen θ − sen3 θ = cos 3θ + isen 3θ
i cos 3θ = cos3 θ − 3 ⋅ cos θ ⋅ sen2 θ
i sen 3θ = 3 ⋅ cos2 θ ⋅ sen θ − sen3 θ
Definição
Dado um número complexo z, denomina-se raiz n-ésima de z um número
complexo w tal que w n = z , em que n ∈ ℕ e n ≥ 2 .
Proposição
Se z = ρ ( cos θ + isenθ ) , então existem n raízes enésimas de z, da forma
θ + k ⋅ 2π θ + k ⋅ 2π
w k = n ρ ⋅ cos + isen , em que
n
ρ ∈ ℝ+ e k ∈ℤ
n n
Demonstração
Seja w = r ( cos α + isen α ) um número complexo tal que w n = z . Então, temos:
wn = z
r n ⋅ ( cos nα + isen nα ) = ρ ( cos θ + isenθ )
rn ( ) ⋅ cos2 nα = ρ2 ⋅ cos2 θ ( iii)
2
r n ⋅ cos nα = ρ ⋅ cos θ ( i )
n ⇒
r ⋅ sen nα = ρ ⋅ sen θ ( ii ) r n ( ) ⋅ sen2 nα = ρ2 ⋅ sen2 θ ( iv )
2
(iii) + (iv )
(r ) ⋅ ( cos ) ( ) ( )
2 2
n 2
nα + sen2 nα = ρ2 ⋅ cos2 θ + sen2 θ ⇒ r n = ρ2 ⇒ r n = ρ ⇒ r = n ρ
θ + k ⋅ 2π θ + k ⋅ 2π
Portanto, w = r ( cos α + isen α ) = n ρ ⋅ cos + isen , em
n n
que n
ρ ∈ ℝ+ e k ∈ℤ.
17
Substituindo k por 0, 1, ..., n − 1 , determinamos n raízes enésimas distintas
θ θ + 2π θ + ( n − 1) ⋅ 2π
w 0 , w1, ..., w n−1 , que correspondem aos ângulos , , ..., .
n n n
θ + n ⋅ 2π θ θ
Para k = n , o ângulo é dado por = + 2π , congruente a . Para
n n n
θ + ( n + 1) ⋅ 2π θ + 2π θ + 2π
k = n + 1, o ângulo é igual a = + 2π , congruente a e
n n n
assim sucessivamente. Analogamente, para k = −1, − 2, ... obtemos ângulos já
obtidos para k = 0, 1, ..., n − 1. Portanto, um número complexo z possui
exatamente n raízes enésimas.
O número real 1 pode ser escrito como 1 = 1( cos 0 + isen 0 ) . Assim, as raízes
18
Todas as raízes n-ésimas da unidade têm módulo 1 e, portanto, pertencem a
uma circunferência de raio unitário. Os argumentos de w 0 , w1, …, w n−1 formam,
2π
nessa ordem, uma progressão aritmética de razão . Assim, para n ≥ 3 ,
n
esses números complexos são vértices de um polígono regular de n lados
inscrito na circunferência. Para n = 2 , são pontos diametralmente opostos.
2π 4 π 2(n − 1)π
Além disso, como os argumentos são 0, , , …, , podemos
n n n
representar as raízes enésimas da unidade por: 1, w, w 2 , …, w n−1 .
Nas figuras 11 e 12 estão representadas geometricamente raízes enésimas da
unidade para n = 3 e n = 5 .
• n = 3 : As raízes cúbicas da unidade são vértices de um triângulo equilátero.
Figura 11
• n = 5 : As raízes quintas da unidade são vértices de um pentágono regular.
Figura 12
19
2.4. Forma exponencial de um número complexo
20
Considere agora que z = ρ(cos θ + isen θ) . Como eiθ = cos θ + isen θ , temos:
z = ρ(cos θ + isen θ)
z = ρ eiθ (forma exponencial de z)
por exemplo, eiπ = −1. Mais tarde, com uma melhor compreensão das funções
complexas, conclui-se que a equação proposta por Euler é a única
possibilidade, de modo a manter para os números complexos as propriedades
dos números reais.
21
3. APLICAÇÕES À GEOMETRIA
Proposição
z1 + z 2
O ponto médio do segmento de extremidades z1 e z2 é dado por .
2
Figura 13
Demonstração
z1 + z 2
zM − z1 = z 2 − zM ⇔ 2 ⋅ zM = z1 + z 2 ⇔ zM =
2
Proposição
A distância entre os pontos z1 = ( a, b ) e z 2 = ( c, d ) é dada por:
D ( z1, z 2 ) = z 2 − z1
22
Figura 14
Demonstração
D ( z1, z2 ) = (c − a) + ( d − b)
2 2
z2 − z1 = c + di − ( a + bi ) = ( c − a ) + ( d − b ) i ⇒ z2 − z1 = (c − a) + ( d − b)
2 2
Portanto, D ( z1, z 2 ) = z 2 − z1 .
Proposição
Dois vetores não nulos AB e CD são paralelos se, e somente se, existe λ ∈ ℝ∗
tal que AB = λ ⋅ CD .
Proposição
z3 − z1
Três pontos z1 , z2 e z3 são colineares se, e somente se, ∈ ℝ∗ .
z 2 − z1
Figura 15
23
Demonstração
z3 − z1
= λ ∈ ℝ∗ .
z 2 − z1
Proposição
A equação da reta que passa pelos pontos z1 e z2 é dada por:
z − z1 z − z1
=
z 2 − z1 z2 − z1
Figura 16
Demonstração
Seja z um ponto qualquer da reta determinada pelos pontos z1 e z2 . Como z1 ,
z − z1
z2 e z são pontos colineares, temos que ∈ ℝ . Como o conjugado de um
z 2 − z1
número real é o próprio número, temos:
z − z1 z − z1 z − z1 z − z1 z − z1 z − z1
= ⇔ = ⇔ =
z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1
24
z − z1 z − z1
= ⇔
z 2 − z1 z2 − z1
⇔ z ( z2 − z1 ) − z1 ( z2 − z1 ) = z 2 ( z − z1 ) − z1 ( z − z1 ) ⇔
⇔ z ( z2 − z1 ) − z1 ( z2 − z1 ) − z 2 ( z − z1 ) + z1 ( z − z1 ) = 0 ⇔
⇔ z ( z2 − z1 ) + z1 ( − z2 + z1 + z − z1 ) + z 2 ( − z + z1 ) = 0 ⇔
⇔ z ( z2 − z1 ) + z1 ( z − z2 ) + z 2 ( z1 − z ) = 0 ⇔
⇔ z ( z1 − z2 ) + z1 ( z2 − z ) + z 2 ( z − z1 ) = 0 ⇔
⇔ zz1 − zz2 + z1z2 − z1z + z 2 z − z 2 z1 = 0 ⇔
⇔ zz1 + z 2 z + z1z2 − z 2 z1 − z1z − zz2 = 0 ⇔
z z 1
⇔ z1 z1 1 = 0
z2 z2 1
z − z1
z2 e z são colineares, podemos escrever que = λ , com λ ∈ ℝ .
z 2 − z1
Desenvolvendo, temos:
z − z1
=λ
z2 − z1
z − z1 = λ ( z2 − z1 )
z = λz2 − λz1 + z1
z = (1 − λ ) z1 + λz2
Proposição
A equação da reta que passa por z3 e é paralela à reta determinada por z1 e
z2 é dada por:
25
z − z3 z − z3
=
z 2 − z1 z2 − z1
Figura 17
Demonstração
Seja z um ponto distinto de z3 da reta paralela à reta determinada por z1 e z2
z − z3
z − z3 = λ ⋅ ( z 2 − z1 ) , com λ ∈ ℝ∗ . Assim, como λ = ∈ ℝ ∗ , temos:
z 2 − z1
z − z3 z − z3 z − z3 z − z3
= ⇔ = ⇔
z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1
⇔ z ( z2 − z1 ) − z3 ( z2 − z1 ) = z ( z2 − z1 ) − z3 ( z2 − z1 ) ⇔
⇔ z ( z2 − z1 ) + z ( z1 − z2 ) − z3 ( z2 − z1 ) − z3 ( z1 − z 2 ) = 0
Proposição
A reta determinada por z1 e z2 é perpendicular à reta determinada por z3 e z 4
z 4 − z3
se, e somente se, tem parte real nula.
z 2 − z1
26
Figura 18
Demonstração
Sejam z1 = (x1, y1 ) , z 2 = (x 2 , y 2 ) , z3 = (x 3 , y 3 ) e z 4 = (x 4 , y 4 ) .
z 4 − z3 z 4 − z3 z 2 − z1 ( x 4 − x 3 , y 4 − y 3 ) ⋅ ( x 2 − x1, y1 − y 2 )
= ⋅ = =
z 2 − z1 z 2 − z1 z 2 − z1 z 2 − z1
2
=
((x 4 − x3 ) ⋅ (x 2 − x1 ) − (y 4 − y3 ) ⋅ (y1 − y 2 ), (x 4 − x3 ) ⋅ (y1 − y 2 ) + (y 4 − y3 ) ⋅ (x 2 − x1 )) =
2
z 2 − z1
(x − x ) ⋅ (x − x ) + (y − y ) ⋅ (y − y ) (x − x ) ⋅ (y − y ) + (y − y ) ⋅ (x − x )
= 4 3 2 1 4 3 2 1
, 4 3 1 2 4 3 2 1
(1)
z − z
2
z − z
2
2 1 2 1
z1z 2 ⊥ z3 z 4 ⇔ z1z 2 ⋅ z3 z 4 = 0
⇔ ( x 2 − x1, y 2 − y1 ) ⋅ ( x 4 − x 3 , y 4 − y 3 ) = 0
⇔ (x 2 − x1 ) ⋅ (x 4 − x 3 ) + (y 2 − y1 ) ⋅ (y 4 − y 3 ) = 0 (2)
De (1) e (2), temos:
z 4 − z3 (x 4 − x 3 ) ⋅ (y1 − y 2 ) + (y 4 − y 3 ) ⋅ (x 2 − x1 )
z1z 2 ⊥ z3 z 4 ⇔ = 0,
z 2 − z1 z − z
2
2 1
z 4 − z3
Assim, tem parte real nula.
z 2 − z1
Proposição
A equação da reta que passa por z3 e é perpendicular à reta determinada por
z1 e z2 é dada por:
z − z3 z − z3
+ =0
z 2 − z1 z2 − z1
27
Figura 19
Demonstração
Seja z um ponto distinto de z3 e que pertence à reta perpendicular à reta
z − z3
determinada por z1 e z2 . Como z1z 2 ⊥ z3 z , o número complexo tem
z 2 − z1
parte real nula. Como o conjugado de um número cuja parte real é nula é o
oposto desse número, temos:
z − z3 z − z3 z − z3 z − z3 z − z3 z − z3
= − ⇔ = − ⇔ + =0
z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1 z2 − z1
28
Definição
Em um plano, a mediatriz de um segmento é a reta perpendicular ao segmento
passando pelo seu ponto médio.
Figura 20
Proposição
A equação da mediatriz do segmento de extremos z1 e z2 é dada por:
z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = z2 − z1
2 2
Figura 21
Demonstração
A equação da reta perpendicular à reta determinada por z1 e z2 e que passa
29
z + z2 z +z
z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = 1 ( z2 − z1 ) + 1 2 ( z2 − z1 ) ⇔
2 2
z z − z1z1 + z2 z2 − z2 z1 + z1z2 − z1z1 + z2 z2 − z2 z1
⇔ z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = 1 2 ⇔
2
⇔ z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = z2 z2 − z1z1 ⇔
⇔ z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = z 2 − z1
2 2
Definição
Seja P um ponto pertencente a um plano π e r um número positivo. A
circunferência de centro P e raio r é o conjunto de todos os pontos desse plano
cuja distância ao ponto P seja igual a r.
Figura 22
Proposição
A equação da circunferência que passa pelos pontos z1 , z2 e z3 é dada por:
A ⋅ (z − z1 ) − A ⋅ (z − z1 ) = B ⋅ z − z1 ( 2 2
) , sendo:
( 2
A = z3 − z1
2
) (z − z ) − ( z
2 1 2
2
− z1
2
) (z − z )
3 1
30
Figura 23
Demonstração
Sendo z0 o centro e R a medida do raio da circunferência, temos:
2
z1 − z0 = R ⇒ z1 − z 0 = R 2 ⇒ R 2 = (z1 − z 0 ) ⋅ (z1 − z0 )
2
z 2 − z0 = R ⇒ z 2 − z0 = R 2 ⇒ R2 = (z 2 − z0 ) ⋅ (z2 − z0 )
2
z3 − z0 = R ⇒ z3 − z0 = R 2 ⇒ R 2 = (z3 − z0 ) ⋅ (z3 − z0 )
A solução do sistema é:
z0 =
(z 2
2
− z1
2
) (z − z ) − ( z
3 1 3
2
− z1
2
) (z − z )
2 1
z0 =
(z 3
2
− z1
2
) (z − z ) − ( z
2 1 2
2
− z1
2
) (z − z )
3 1
31
z − z0 = z1 − z0 ⇔
2 2
⇔ z − z0 = z1 − z0 ⇔
⇔ (z − z0 )(z − z0 ) = (z1 − z0 ) ⋅ (z1 − z0 ) ⇔
⇔ zz − zz0 − z0 z + z0 z0 = z1z1 − z1z0 − z0 z1 + z0 z0 ⇔
⇔ (z1 − z) z0 + (z1 − z)z0 = z1z1 − zz ⇔
⇔ (z − z)
(z 2
2
− z1
2
) (z − z ) − ( z
3 1 3
2
− z1
2
) (z − z ) +
2 1
+(z − z)
(z 3
2
− z1
2
) (z − z ) − ( z
2 1 2
2
− z1
2
) (z − z ) = z z − zz ⇔
3 1
2 2
(
⇔ (z1 − z) z 2 − z1 (z3 − z1 ) − z3 − z1 (z 2 − z1 ) +
2 2
) ( )
2 2
(
+(z1 − z) z3 − z1 (z2 − z1 ) − z 2 − z1 (z3 − z1 ) =
2 2
) ( )
= (z1z1 − zz) [(z2 − z1 )(z3 − z1 ) − (z3 − z1 )(z 2 − z1 )] ⇔
2
( 2 2 2
)
⇔ z3 − z1 (z2 − z1 ) − z 2 − z1 (z3 − z1 ) (z − z1 ) −
( )
(
− z3 − z1
2 2
) (z − z ) − ( z
) (z − z ) (z − z ) =
2 1 2
2
− z1
2
3 1 1
dada por A⋅ (z − z1 ) − A⋅ (z − z1 ) = B ⋅ z − z1 ( 2 2
) , sendo:
(
A = z3 − z1
2 2
) (z − z ) − ( z
2 1 2
2
− z1
2
) (z − z )
3 1
temos:
2
z − z0 = R ⇔ z − z0 = R2 ⇔ (z − z0 ) ⋅ (z − z0 ) = R2
32
Proposição
2 2
A equação Az + Az + B + γ z = 0 , com B e γ reais e Bγ < A , representa uma
Demonstração
Sabemos que a equação da mediatriz do segmento z0 z1 é dada por:
z ( z1 − z0 ) + z ( z1 − z0 ) = z1 − z0
2 2
2 2
Sendo A = z1 − z0 e B = z0 − z1 , a equação anterior é escrita como:
Az + Az + B = 0
Sendo α = − z0 e β = z0 z0 − R2 , temos:
2 2 2 2
αz + αz + β + z = 0 , com β = z0 z0 − R2 = z0 − R2 = α − R2 ⇒ β < α
Portanto:
• Se γ = 0 , a equação reduz-se à equação de uma reta.
• Se γ ≠ 0 , obtemos a equação de uma circunferência dividindo por γ .
A A B
Como = α, = α e = β , temos a seguinte condição:
γ γ γ
2 2
B A
2 B A 2
β< α ⇒ < ⇒ < 2 ⇒ Bγ < A
γ γ γ γ
33
3.9. Área de um triângulo
Definição
Sejam z1 e z2 números complexos. O produto escalar de z1 e z2 , indicado
z1, z2 = Re(z1 ⋅ z2 )
z1, z2 = Re[(x1, y1 ) ⋅ (x 2 , y 2 )]
z1, z2 = Re[(x1, − y1 ) ⋅ (x 2 , y 2 )]
z1, z2 = Re[(x1⋅ x 2 + y1⋅ y 2 , x1⋅ y 2 − y1⋅ x 2 )]
z1, z2 = x1⋅ x 2 + y1⋅ y 2
Proposição
O produto escalar de z1 e z2 é dado por:
1
z1, z2 = ⋅ (z2 ⋅ z1 + z1 ⋅ z2 )
2
Demonstração
Sendo z1 = (x1, y1 ) e z 2 = (x 2 , y 2 ) , temos:
1 1
⋅ (z 2 ⋅ z1 + z1 ⋅ z2 ) = ⋅ [(x 2 + iy 2 ) ⋅ (x1 − iy1 ) + (x1 + iy1 ) ⋅ (x 2 − iy 2 )] =
2 2
1
= ⋅ [x 2 ⋅ x1 − ix 2 ⋅ y1 + iy 2 ⋅ x1 + y 2 ⋅ y1 + x1⋅ x 2 − ix1⋅ y 2 + iy1⋅ x 2 + y1⋅ y 2 ] =
2
1
= ⋅ (2 x1⋅ x 2 + 2 y1⋅ y 2 ) = x1⋅ x 2 + y1⋅ y 2 = Re(z1 ⋅ z 2 ) = z1, z 2
2
Proposição
Seja α o ângulo formado por z1 e z2 , tal que 0 ≤ α ≤ 180° . O produto escalar
de z1 e z2 é dado por:
z1, z 2 = z1 ⋅ z 2 ⋅ cos α
Demonstração
Observe a figura 24:
34
Figura 24
Corolário
Os números complexos z1 e z2 são ortogonais se, e somente se, z1, z 2 = 0 .
Demonstração
α = 90° ⇒ cos α = 0 ⇒ z1, z2 = 0
z1, z2 = 0 ⇒ z1 ⋅ z2 ⋅ cos α = 0 ⇒ cos α = 0 ⇒ α = 90° (0 ≤ α ≤ 180°)
35
Definição
Sejam z1 e z2 números complexos. O produto vetorial de z1 e z2 , indicado
z1 ∧ z2 = Im(z1 ⋅ z 2 )
z1 ∧ z2 = Im[(x1, y1 ) ⋅ (x 2 , y 2 )]
z1 ∧ z2 = Im[(x1, − y1 ) ⋅ (x 2 , y 2 )]
z1 ∧ z2 = Im[(x1⋅ x 2 + y1⋅ y 2 , x1⋅ y 2 − y1⋅ x 2 )]
z1 ∧ z2 = x1⋅ y 2 − y1⋅ x 2
Proposição
O produto vetorial de z1 e z2 é dado por:
1
z1 ∧ z2 = ⋅ (z2 ⋅ z1 − z1⋅ z2 )
2i
Demonstração
Sendo z1 = (x1, y1 ) e z 2 = (x 2 , y 2 ) , temos:
1 1
⋅ (z 2 ⋅ z1 − z1⋅ z2 ) = ⋅ [(x 2 + iy 2 ) ⋅ (x1 − iy1 ) − (x1 + iy1 ) ⋅ (x 2 − iy 2 )] =
2i 2i
1
= ⋅ [x 2 ⋅ x1 − ix 2 ⋅ y1 + iy 2 ⋅ x1 + y 2 ⋅ y1 − (x1⋅ x 2 − ix1⋅ y 2 + iy1⋅ x 2 + y1⋅ y 2 )] =
2i
1
= ⋅ ( −2iy1 ⋅ x 2 + 2ix1⋅ y 2 ) = x1 ⋅ y 2 − y1 ⋅ x 2 = Im(z1 ⋅ z 2 ) = z1 ∧ z 2
2i
Proposição
Seja α o ângulo formado por z1 e z2 , tal que 0 ≤ α ≤ 180° . O módulo de
z1 ∧ z 2 é dado por:
z1 ∧ z 2 = z1 ⋅ z 2 ⋅ senα
36
Demonstração
2 2 2 2 2 2 2 2
z1 ⋅ z 2 ⋅ sen2α = z1 ⋅ z 2 ⋅ (1 − cos2 α ) = z1 ⋅ z 2 − z1 ⋅ z 2 ⋅ cos2 α =
2
2 2 2 2 2 1
= z1 ⋅ z 2 − z1, z 2 = z1 ⋅ z 2 − ⋅ (z 2 ⋅ z1 + z1 ⋅ z2 ) =
2
2 1 1 1
= z1 ⋅ z 2 − ⋅ (z 2 ⋅ z1 )2 + ⋅ z 2 ⋅ z1 ⋅ z1 ⋅ z2 + ⋅ (z1 ⋅ z2 )2 =
4 2 4
1 1 1
= (z1 ⋅ z 2 ) ⋅ (z1 ⋅ z 2 ) − ⋅ (z 2 ⋅ z1 )2 − ⋅ z 2 ⋅ z1 ⋅ z1 ⋅ z2 − ⋅ (z1 ⋅ z2 )2 =
4 2 4
1 1 1
= z1 ⋅ z2 ⋅ z 2 ⋅ z1 − ⋅ (z 2 ⋅ z1 )2 − ⋅ z 2 ⋅ z1 ⋅ z1 ⋅ z2 − ⋅ (z1 ⋅ z2 )2 =
4 2 4
1 1
= − ⋅ [(z 2 ⋅ z1 )2 − 2 ⋅ (z 2 ⋅ z1 ) ⋅ (z1 ⋅ z2 ) + (z1 ⋅ z2 )2 ] = 2 ⋅ (z 2 ⋅ z1 − z1 ⋅ z2 )2
4 4i
Portanto:
2 2 1
z1 ⋅ z2 ⋅ sen2α = 2
⋅ (z 2 ⋅ z1 − z1 ⋅ z2 )2 ⇔
4i
⇔ ( z1 ⋅ z2 ⋅ senα ) = (z1 ∧ z 2 )2 ⇔
2
⇔ z1 ∧ z2 = z1 ⋅ z2 ⋅ senα
Figura 25
h
senα = ⇔ h = z 2 ⋅ senα
z2
37
Proposição
A área S de um triângulo cujos vértices são z1 , z2 e z3 é dada por:
z1 z1 1
1
S = ⋅ z2 z2 1
4
z3 z3 1
Figura 26
Demonstração
A área do triângulo é a metade da área do paralelogramo determinado por
z1 − z 2 e z1 − z3 , ou seja:
1
S= ⋅ (z1 − z 2 ) ∧ (z1 − z3 )
2
1 1
S = ⋅ ⋅ [(z1 − z3 ) ⋅ (z1 − z 2 ) − (z1 − z 2 ) ⋅ (z1 − z3 )]
2 2i
1 1
S = ⋅ ⋅ [(z1 − z3 ) ⋅ (z1 − z2 ) − (z1 − z 2 ) ⋅ (z1 − z3 )]
2 2
1 (z − z ) (z1 − z 2 ) 1 (z3 − z1 ) (z 2 − z1 ) 1 (z3 − z1 ) (z3 − z1 )
S= ⋅ 1 3 = ⋅ = ⋅
4 (z1 − z3 ) (z1 − z2 ) 4 (z3 − z1 ) (z2 − z1 ) 4 (z 2 − z1 ) (z2 − z1 )
z3 z3 1 z1 z1 1
1 1
S = ⋅ z2 z2 1 = ⋅ z 2 z2 1
4 4
z1 z1 1 z3 z3 1
Proposição
Dados os pontos z1 , z2 e z3 , a distância de z3 à reta determinada por z1 e z2
é dada por:
38
z1 z1 1
z2 z2 1
z3 z3 1
d=
2 ⋅ z1 − z 2
Figura 27
Demonstração
A área do triângulo cujos vértices são z1 , z2 e z3 pode ser calculada por
1
⋅ z1 − z2 ⋅ d , em que d é a distância de z3 à reta determinada por z1 e z2 .
2
Portanto:
z1 z1 1
1 1
⋅ z1 − z 2 ⋅ d = ⋅ z 2 z2 1
2 4
z3 z3 1
z1 z1 1
z2 z2 1
z1 z1 1
1 z3 z3 1
d= ⋅ z2 z2 1 =
2 ⋅ z1 − z 2 2 ⋅ z1 − z 2
z3 z3 1
39
Passaremos agora a algumas aplicações dos números complexos à
Geometria Plana. Iniciaremos com os triângulos. Antes de apresentar a
semelhança de triângulos, considere a seguinte definição:
Definição
Dizemos que um triângulo é orientado quando especificamos a ordem de seus
vértices. Essa orientação pode ser no sentido horário ou anti-horário. Na figura
28, o triângulo cujos vértices são z1 , z2 e z3 tem orientação no sentido horário,
sentido anti-horário.
Figura 28
Figura 29
40
3.11. Semelhança de triângulos
Definição
Dois triângulos z1z 2 z3 e w1w 2 w 3 são semelhantes quando o ângulo em zk é
Figura 30
z
α = arg z 2 − arg z1 = arg 2
z1
Figura 31
41
Pode-se observar na figura 31 que:
z − z1
α = z 2 z1z3 = ( z 2 − z1 ) O ( z3 − z1 ) = arg ( z3 − z1 ) − arg ( z 2 − z1 ) = arg 3
z 2 − z1
Proposição
Dois triângulos z1z 2 z3 e w1w 2 w 3 com a mesma orientação são semelhantes,
z 2 − z1 w 2 − w 1
que indicamos por △z z z ∼△w w w
1 2 3 1 2 3 se, e somente se, =
z3 − z1 w 3 − w 1
,
z1 w1 1
ou seja, z 2 w2 1 = 0 .
z3 w3 1
Demonstração
Da Geometria Plana, dois triângulos são semelhantes se, e somente se, as
razões entre as medidas de dois pares de lados homólogos são iguais e os
ângulos formados por esses lados são congruentes (LAL).
Portanto:
z 2 − z1 z3 − z1
△z z z ∼△w w w
1 2 3 1 2 3 ⇔
w 2 − w1
=
w 3 − w1
e z 2 z1z 3 ≡ w 2 w1w 3 ⇔
z 2 − z1 w − w1 z − z1 w 2 − w1 z 2 − z1 w 2 − w 1
⇔ = 2 e arg 2 = arg ⇔ = ⇔
z3 − z1 w 3 − w1 z3 − z1 w 3 − w1 z3 − z1 w 3 − w1
z1 w1 1
⇔ z2 w2 1 = 0
z3 w3 1
Proposição
Dois triângulos z1z 2 z3 e w1w 2 w 3 com orientações contrárias são semelhantes,
z1 w1 1
z 2 − z1 w 2 − w1
= , ou seja, z 2 w2 1 = 0 .
z3 − z1 w 3 − w1
z3 w3 1
42
Demonstração
Pode-se observar na figura 32 os triângulos w1w 2 w 3 e w1w 2 w 3 , em que o
Figura 32
contrárias.
Assim:
△z z z ∼△w w w (reverso) ⇔△z z z ∼△w w w
1 2 3 1 2 3
△w w w ∼△w w w (reverso)
1 2 3 1 2 3
1 2 3 1 2 3
z1 w1 1
⇔ z2 w2 1 = 0
z3 w3 1
43
3.12. Semelhança e triângulo equilátero
Proposição
Um triângulo z1z 2 z3 é equilátero se, e somente se, é semelhante ao triângulo
z 2 z3 z1 .
Figura 33
Demonstração
z1 e z 2 ; z 2 e z3 ; z3 e z1
um triângulo equilátero.
Proposição
Os pontos z1 , z2 e z3 são vértices de um triângulo equilátero se, e somente
Outra maneira para caracterizar um triângulo equilátero é por meio das raízes
cúbicas da unidade. Observe a figura 34.
44
Figura 34
Dessa forma, um triângulo z1z 2 z3 é equilátero se, e somente se, é semelhante
45
3.13. Baricentro de um triângulo
Definição
Uma mediana de um triângulo é um segmento cujas extremidades são um dos
seus vértices e o ponto médio do lado oposto.
Todo triângulo tem três medianas, uma relativa a cada vértice (ou lado).
Proposição
As três medianas de um triângulo se intersectam em um ponto denominado
baricentro.
Figura 36
Demonstração
Sejam z1 , z2 e z3 os vértices de um triângulo. A equação da reta suporte da
z z 1
z1 z1 1=0
z2 + z3 z 2 + z3
1
2 2
Desenvolvendo o determinante, temos:
46
z + z3 z + z3 z + z3 z + z3
zz1 + z 2 + z1 2 − z1 2 − zz1 − z 2 =0
2 2 2 2
z + z3 z + z3 z + z3 z + z3
z z1 − 2 + z 2 − z1 + z1 2 − z1 2 =0
2 2 2 2
z ( 2z1 − z2 − z3 ) + z ( z 2 + z3 − 2z1 ) + z1 ( z2 + z3 ) − z1 ( z 2 + z3 ) = 0 (I)
z ( 2z2 − z1 − z3 ) + z ( z1 + z3 − 2z 2 ) + z 2 ( z1 + z3 ) − z2 ( z1 + z3 ) = 0 (II)
Cada uma das equações (I), (II) e (III) é combinação linear das outras duas. De
fato, adicionando, por exemplo, as equações (II) e (III), obtemos:
z ( −2z1 + z2 + z3 ) + z ( − z 2 − z3 + 2z1 ) − z1 ( z2 + z3 ) + z1 ( z 2 + z3 ) = 0 (IV)
As equações (I) e (IV) são opostas. Portanto, (I) é combinação linear de (II) e
(III). Dessa forma, as retas se intersectam em um único ponto.
2 = 2
2
Analogamente, λ3 = .
3
47
2
Substituindo λ por em qualquer uma das equações, tem-se que:
3
z1 + z 2 + z3
z= (baricentro do triângulo z1z 2 z3 )
3
Proposição
As três mediatrizes de um triângulo se intersectam em um ponto denominado
circuncentro.
Figura 37
Demonstração
Sejam z1 , z2 e z3 os vértices de um triângulo. A equação da mediatriz do lado
z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = z2 − z1
2 2
(I)
respectivamente, por:
z ( z3 − z1 ) + z ( z3 − z1 ) = z3 − z1
2 2
(II)
z ( z3 − z2 ) + z ( z3 − z2 ) = z3 − z2
2 2
(III)
Cada uma das equações (I), (II) e (III) é combinação linear das outras duas. De
fato, subtraindo, por exemplo, a equação (III) da equação (II), obtemos:
z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = z2 − z1
2 2
(IV)
48
As equações (I) e (IV) são iguais. Portanto, (I) é combinação linear de (II) e (III).
Dessa forma, as retas se intersectam em um único ponto.
Para determinar o ponto de intersecção das três mediatrizes, resolvemos o
sistema formado pelas equações (I), (II) e (III).
z ( z2 − z1 ) + z ( z 2 − z1 ) = z 2 2 − z1 2 (I)
z ( z3 − z1 ) + z ( z3 − z1 ) = z3 − z1 (II)
2 2
z ( z3 − z2 ) + z ( z3 − z 2 ) = z3 − z 2
2 2
(III)
z ( z2 − z1 ) + z ( z2 − z1 ) = z 2 − z1
2 2
z ( z2 − z1 ) = z2 − z1 − z ( z2 − z1 )
2 2
z2 − z1 − z ( z2 − z1 )
2 2
z=
z2 − z1
Substituímos o resultado anterior em (II):
z 2 2 − z1 2 − z ( z2 − z1 )
z ( z3 − z1 ) + ( z3 − z1 ) = z3 − z1
2 2
z2 − z1
(
z ( z3 − z1 )( z 2 − z1 ) + z2 − z1
2 2
)(z 3 (
− z1 ) − z ( z2 − z1 )( z3 − z1 ) = z3 − z1
2 2
)(z − z )
2 1
z ( z3 − z1 )( z2 − z1 ) − ( z2 − z1 )( z3 − z1 ) = z3 − z1( 2 2
)(z − z ) − ( z
2 1 2
2
− z1
2
)(z − z )
3 1
( z2 − z1 ) − z1 ( z2 − z1 ) − z2 ( z3 − z1 ) + z1 ( z3 − z1 )
2 2 2 2
z3
z=
z3 z2 − z3 z1 − z1z 2 + z1z1 − z2 z3 + z2 z1 + z1z3 − z1z1
( z3 − z2 ) + z2 ( z1 − z3 ) + z3 ( z2 − z1 )
2 2 2
z1
z=
z1 ( z3 − z2 ) + z2 ( z1 − z3 ) + z3 ( z2 − z1 )
Portanto:
( z3 − z2 ) + z2 ( z1 − z3 ) + z3 ( z2 − z1 )
2 2 2
z1
z= (circuncentro do triângulo z1z 2 z3 )
z1 ( z3 − z2 ) + z2 ( z1 − z3 ) + z3 ( z2 − z1 )
49
3.15. Ortocentro de um triângulo
Definição
Uma altura de um triângulo é um segmento perpendicular à reta suporte de um
dos seus lados, cujas extremidades são um ponto dessa reta e o vértice oposto
ao lado considerado.
Proposição
As retas suportes das três alturas de um triângulo se intersectam em um ponto
denominado ortocentro.
Figura 39
Demonstração
Sejam z1 , z2 e z3 os vértices de um triângulo. A equação da reta suporte da
z ( z2 − z1 ) + z ( z 2 − z1 ) − z3 ( z2 − z1 ) − z3 ( z 2 − z1 ) = 0 (I)
Analogamente, as equações das retas suporte das alturas relativas aos lados
z1z3 e z 2 z3 são dadas, respectivamente, por:
z ( z3 − z1 ) + z ( z3 − z1 ) − z 2 ( z3 − z1 ) − z2 ( z3 − z1 ) = 0 (II)
50
z ( z3 − z2 ) + z ( z3 − z 2 ) − z1 ( z3 − z2 ) − z1 ( z3 − z 2 ) = 0 (III)
(z − z3 ) + z2 (z − z1 ) + z 3 (z − z ) + z ( z − z ) + z ( z − z1 ) + z 3 2 ( z1 − z2 )
2 2 2 2 2
z1
z= 2 3 1 2 1 2 3 2 3
z1 ( z 3 − z 2 ) + z (z − z ) + z (z − z )
2 1 3 3 2 1
para k ∈ {1, 2, 3} .
Assim:
51
1 1 1 1 1 1
( z2 − z3 ) + ( z3 − z1 ) + ( z1 − z2 ) + z12 ⋅ − + z 2 2 ⋅ − + z3 2 ⋅ −
z= z 2 z3 z3 z1 z1 z 2
1 1 1
⋅ ( z3 − z 2 ) + ⋅ ( z1 − z3 ) + ⋅ ( z 2 − z1 )
z1 z2 z3
z13 ⋅ ( z3 − z 2 ) + z 23 ⋅ ( z1 − z3 ) + z33 ⋅ ( z 2 − z1 )
z1z 2 z3
z=
z 2 z3 ⋅ ( z3 − z 2 ) + z1z3 ⋅ ( z1 − z3 ) + z1z 2 ⋅ ( z 2 − z1 )
z1z 2 z3
z13 ⋅ ( z3 − z 2 ) + z 23 ⋅ ( z1 − z3 ) + z33 ⋅ ( z 2 − z1 )
z=
z 2 z3 ⋅ ( z3 − z 2 ) + z1z3 ⋅ ( z1 − z 3 ) + z1z 2 ⋅ ( z 2 − z1 )
z 2 z3 ⋅ ( z 3 − z 2 ) + z1z3 ⋅ ( z1 − z3 ) + z1z 2 ⋅ ( z 2 − z1 ) ⋅ ( z1 + z 2 + z3 ) =
( ) (
= z1z 2 z3 ⋅ ( z3 − z 2 ) + z 2 z3 ⋅ z3 2 − z 22 + z1z 2 z3 ⋅ ( z1 − z3 ) + z1z3 ⋅ z12 − z3 2 + )
(
+ z1z 2 z3 ⋅ ( z 2 − z1 ) + z1z 2 ⋅ z 22 − z12 = )
( )
= z 2 z3 ⋅ z 32 − z 22 + z1z3 ⋅ (z 1
2
− z3 2) + z z ⋅ (z
1 2 2
2
)
− z12 =
= z 2 z33 − z 23 z3 + z13 z3 − z1z33 + z1z 23 − z13 z 2 =
= z13 ⋅ ( z3 − z 2 ) + z 23 ⋅ ( z1 − z3 ) + z33 ⋅ ( z 2 − z1 )
Portanto, z = z1 + z 2 + z3 .
Proposição
Em um triângulo ABC, em que a, b e c são as medidas dos lados opostos aos
ɵ , C , tem-se que a b c
ângulos internos A , B = = .
sen A ɵ
sen B sen C
Demonstração
Sejam z1 , z2 e z3 os vértices do triângulo ABC (figura 40).
52
Figura 40
z3 − z1 z − z2
Considere os números complexos e 3 . O argumento do primeiro
z 2 − z1 z1 − z 2
z3 − z1 z3 − z 2
Utilizando a identidade + = 1 , temos:
z 2 − z1 z1 − z 2
z3 − z1 z3 − z 2 z − z1 z3 − z 2
+ = 1 ⇒ Im 3 + Im = Im (1) = 0
z 2 − z1 z1 − z 2 z 2 − z1 z1 − z 2
A parte imaginária de um número complexo é o produto de seu módulo pelo
seno de seu argumento. Assim:
z − z1 z3 − z 2
Im 3 + Im =0⇔
z
2 − z1 z
1 − z 2
z − z1 z − z1 z3 − z2 z − z2
⇔ 3 ⋅ sen arg 3 + ⋅ sen arg 3 =0⇔
z2 − z1 z 2 − z1 z1 − z2 z1 − z2
z3 − z1 z3 − z 2
⇔
z2 − z1
⋅ sen A +
z1 − z2
( )ɵ =0⇔
⋅ sen −B
z3 − z1 z3 − z 2 ɵ⇔
⇔ ⋅ sen A = ⋅ sen B
z2 − z1 z1 − z 2
ɵ⇔
⇔ z3 − z1 ⋅ sen A = z3 − z2 ⋅ sen B
ɵ⇔ a b
⇔ b ⋅ sen A = a ⋅ sen B =
sen A ɵ
sen B
53
3.17. Lei do cosseno
Proposição
Em um triângulo ABC, em que a, b e c são as medidas dos lados opostos aos
ɵ , C , tem-se que a2 = b2 + c 2 − 2bc ⋅ cos A .
ângulos internos A , B
Demonstração
Sejam z1 , z2 e z3 os vértices do triângulo ABC (figura 41). A medida do ângulo
z3 − z1
interno A = z 2 z1z3 corresponde ao argumento do número complexo .
z 2 − z1
Figura 41
Considere ainda que z 3 − z 2 = a . Temos:
z3 − z 2 = ( z3 − z1 ) − ( z 2 − z1 ) = ( z3 − z1 ) − ( z 2 − z1 ) ⋅ ( z3 − z1 ) − ( z2 − z1 )
2 2
z3 − z 2 = ( z3 − z1 )( z3 − z1 ) − ( z3 − z1 )( z2 − z1 ) − ( z 2 − z1 )( z3 − z1 ) + ( z 2 − z1 )( z2 − z1 )
2
z3 − z 2 = z3 − z1 + z 2 − z1 − ( z3 − z1 )( z2 − z1 ) + ( z 2 − z1 )( z3 − z1 )
2 2 2
Assim:
54
( z3 − z1 )( z2 − z1 ) + ( z2 − z1 )( z3 − z1 ) = 2 ⋅ z3 − z1 ⋅ z2 − z1 ⋅ cos A
2 2 2
z3 − z2 = z3 − z1 + z 2 − z1 − 2 ⋅ z3 − z1 ⋅ z2 − z1 ⋅ cos A
a2 = b2 + c 2 − 2 ⋅ b ⋅ c ⋅ cos A
3.18.1. Translação
Definição
Sejam z e w números complexos. Denomina-se translação de z por w a função
τ: ℂ → ℂ , definida por τ(z) = z' = z + w .
Figura 42
Definição
Seja z = ρ ( cos θ + isen θ ) um número complexo. Denomina-se rotação em torno
55
Figura 43
Dessa forma, para rotacionar um número complexo 90º em torno da origem,
basta multiplicá-lo por cos90° + isen90° , ou seja:
π(z, 90°) = ρ[cos(θ + 90°) + isen(θ + 90°)] = ρ( − sen θ + icos θ)
Na forma algébrica, o resultado anterior equivale a multiplicar o número
complexo z por i, pois cos90° + isen90° = i . Assim:
Figura 44
3.18.3. Homotetia
Definição
Sejam z um número complexo e k um número real. Denomina-se homotetia
com centro na origem O e razão k a função σ : ℂ → ℂ , definida por
σ(z) = z' = k ⋅ z .
Quando k > 0 a homotetia é direta e quanto k < 0 é inversa.
Para k > 1 tem-se uma dilatação e para 0 < k < 1 uma contração.
56
Figura 45: Dilatação direta
Definição
Seja z um número complexo e r uma reta. Denomina-se simétrico de z em
relação à reta r o número complexo zʹ tal que r seja a mediatriz do segmento
zzʹ.
Figura 47
57
Considere agora uma reta r de inclinação θ e que passa pela origem O e um
número complexo z. (Figura 48). O simétrico de z em relação à reta r é zʹ.
Figura 48
Figura 49
Assim:
z' z z' z w w w w2
= ⇔ = ⇔ z' = z ⋅ ⇔ z' = z ⋅ ⋅ ⇔ z' = z ⋅ 2 ⇔ z' = z ⋅ w 2
w w w w w w w w
58
3.18.5. Inversão
Definição
Sejam z um número complexo não nulo e C uma circunferência de raio 1 e
centro na origem O. Denomina-se inversão, em relação a C, a função
1
ξ: ℂ∗ → ℂ∗ , definida por ξ(z) = .
z
Figura 50
Proposição
A inversão transforma:
a) circunferências que passam pela origem, sem a origem, em retas que não
passam pela origem.
b) retas que passam pela origem, sem a origem, nelas mesmas.
c) circunferências que não passam pela origem, nelas mesmas.
d) retas que não passam pela origem, em circunferências que passam pela
origem, sem a origem.
Demonstração
2 2
Já sabemos que a equação Az + Az + B + γ z = 0 , com B e γ reais e Bγ < A ,
59
1 1 1
w= ⇒z= ⇒z=
z w w
Az + Az + B + γzz = 0
1 1 1 1
A⋅ + A⋅ +B+ γ⋅ ⋅ = 0
w w w w
Aw + Aw + Bww + γ = 0
2
Aw + Aw + B w + γ = 0
equação Aw + Aw + γ = 0 .
• Se B ≠ 0 e γ ≠ 0 , a inversão transforma circunferência que não passa pela
2
origem, de equação Az + Az + B + γ z = 0 , em circunferência que não passa
2
pela origem, de equação Aw + Aw + B w + γ = 0 .
Definição
az + b
A transformação f(z) = , em que a, b, c, d são números complexos
cz + d
constantes, tais que ad − bc ≠ 0 é denominada transformação de Möbius ou
transformação homográfica.
az + b
O quociente faz sentido apenas se c e d não forem simultaneamente
cz + d
nulos. Caso tivéssemos ad − bc = 0 , ou seja, ad = bc , teríamos as seguintes
possibilidades:
60
ad
• Se c ≠ 0 , então b = .
c
ad
az +
az + b c = a ⋅ (cz + d) ⋅ 1 = a
f(z) = =
cz + d cz + d c cz + d c
Portanto, a função f é constante.
• Se c = 0 , então d deve ser diferente de zero. Da igualdade ad = bc , temos
que ad = 0 , o que implica em a = 0 .
az + b b
f(z) = =
cz + d d
Portanto, a função f é constante.
az + b az + b a b
• Se c = 0 , a expressão f(z) = reduz-se a f(z) = = z+ .
cz + d d d d
a
A transformação é formada por uma rotação de amplitude arg , de uma
d
a b
homotetia de razão e de uma translação de amplitude .
d d
a bc − ad 1
• Se c ≠ 0 , consideramos a expressão f(z) = + ⋅ .
c c2 z+
d
c
A transformação é formada por:
61
d d
z + : Uma translação de amplitude .
c c
1
: Uma inversão e uma simetria em relação ao eixo real.
d
z+
c
bc − ad 1 bc − ad
2
⋅ : Uma rotação de amplitude arg 2 e uma homotetia de
c d c
z+
c
bc − ad
razão .
c2
a bc − ad 1 a
+ 2
⋅ : Uma translação de amplitude .
c c d c
z+
c
az + b
A transformação f(z) = pode ser obtida multiplicando a matriz (z 1)
cz + d
a c
pela matriz e em seguida dividindo-se o primeiro elemento pelo
b d
segundo da matriz linha resultante.
a c
( z 1) ⋅ = ( az + b cz + d)
b d
62
a c
Assim, dizemos que a matriz está associada à transformação de
b d
az + b
Möbius definida por f(z) = , em que a, b, c, d são números complexos
cz + d
constantes, tais que ad − bc ≠ 0 .
Figura 51
63
• Se a = d = 1 e b é um número complexo não nulo, a transformação consiste
de uma translação, que pode ser verticalmente (b é um número imaginário
puro), horizontalmente (b é um número real diferente de zero) ou ainda nas
duas direções.
1 0
( zk 1) ⋅ = ( zk + b 1) ⇒ f(zk ) = zk + b
b 1
Exemplo:
1 0
Sejam z1 = 1 − i , z 2 = 3 − 2i e z3 = 2 + i vértices de um triângulo e a
1 + 3i 1
matriz associada à transformação.
1 0
( zk 1) ⋅ = ( zk + 1 + 3i 1) ⇒ f(zk ) = zk + 1 + 3i
1 + 3i 1
Assim:
f(z1 ) = z1 + 1 + 3i = 1 − i + 1 + 3i = 2 + 2i
f(z 2 ) = z 2 + 1 + 3i = 3 − 2i + 1 + 3i = 4 + i
f(z3 ) = z3 + 1 + 3i = 2 + i + 1 + 3i = 3 + 4i
Figura 52
64
vertical de 3 unidades. Podemos observar também que esse tipo de
transformação preserva os ângulos e os comprimentos. Assim, o triângulo
inicial e o transformado são congruentes.
a 0
( zk 1) ⋅ = ( a ⋅ zk 1) ⇒ f(zk ) = a ⋅ zk
0 1
Exemplo:
−2 0
Sejam z1 = 1 − i , z 2 = 3 − 2i e z3 = 2 + i vértices de um triângulo e a
0 1
matriz associada à transformação.
−2 0
( zk 1) ⋅ = ( −2zk 1) ⇒ f(zk ) = −2zk
0 1
Assim:
f(z1 ) = −2z1 = −2 ⋅ (1 − i) = −2 + 2i
f(z 2 ) = −2z 2 = −2 ⋅ (3 − 2i) = −6 + 4i
f(z3 ) = −2z3 = −2 ⋅ (2 + i) = −4 − 2i
Figura 53
65
Esse tipo de transformação preserva os ângulos e gera comprimentos
proporcionais. Assim, o triângulo inicial e o transformado são semelhantes. A
dilatação ou a contração se dá em relação à origem do plano complexo.
1 0 zk
( zk 1) ⋅ = ( zk d ) ⇒ f(zk ) =
0 d d
zk
Para d = i , tem-se que f(zk ) = .
i
zk z k i
Para d = −i , tem-se que f(zk ) = = ⋅ = i ⋅ zk .
−i −i i
zk
Como i = 1⋅ (cos90° + isen90°) , então f(zk ) = = ρ[cos(θ − 90°) + isen(θ − 90°)]
i
e f(zk ) = i ⋅ zk = ρ[cos(θ + 90°) + isen(θ + 90°)] , em que ρ e θ são o módulo e o
Exemplo:
1 0
Sejam z1 = 1 − i , z 2 = 3 − 2i e z3 = 2 + i vértices de um triângulo e a
0 −i
matriz associada à transformação.
1 0 zk zk i
( zk 1) ⋅ = ( zk −i ) ⇒ f(zk ) = = ⋅ = i ⋅ zk
0 −i −i −i i
Assim:
f(z1 ) = i ⋅ z1 = i ⋅ (1 − i) = 1 + i
f(z 2 ) = i ⋅ z 2 = i ⋅ (3 − 2i) = 2 + 3i
f(z3 ) = i ⋅ z3 = i ⋅ (2 + i) = −1 + 2i
66
Figura 54
De acordo com os números complexos a, b e d, podemos ter mais de uma
transformação em concomitância.
−2 + 4i 0
Por exemplo, considere a matriz . Observe que ad ≠ 0 .
−1 + 3i 1 + i
−2 + 4i 0
Calculemos: ( zk 1) ⋅ = ( ( −2 + 4i)zk − 1 + 3i 1 + i )
−1 + 3i 1 + i
Sejam z1 = 1 − i , z 2 = 3 − 2i e z3 = 2 + i vértices de um triângulo Assim:
( −2 + 4i)zk − 1 + 3i
f(zk ) = = (1 + 3i)zk + 1 + 2i
1+ i
f(z1 ) = (1 + 3i)(1 − i) + 1 + 2i = 5 + 4i
f(zk ) = (1 + 3i)zk + 1 + 2i ⇒ f(z 2 ) = (1 + 3i)(3 − 2i) + 1 + 2i = 10 + 9i
f(z ) = (1 + 3i)(2 + i) + 1 + 2i = 9i
3
67
Figura 55
A transformação é composta de:
• Uma rotação de amplitude arg(1 + 3i) = arctg3 ≃ 71,6° .
68
4. Problemas
Resolução:
Inicialmente, vamos representar o quadrado no plano complexo:
Figura 56
O ponto A é a representação geométrica do número complexo 1 + 2i .
O ponto C é a representação geométrica do número complexo 5 + 4i .
BC = i ⋅ BA
C − B = i ⋅ (A − B)
5 + 4i− B = i ⋅ (1 + 2i − B)
5 + 4i− B = i − 2 − B ⋅ i
7 + 3i 7 + 3i 1 + i 7 + 7i + 3i − 3 4 + 10i
B= = ⋅ = = = 2 + 5i
1− i 1− i 1+ i 1 − i2 2
Assim, B = (2, 5) .
69
Procedendo de maneira análoga com os vetores DC e DA , obtemos as
coordenadas do vértice D.
O vértice D ainda por ser obtido observando-se, por exemplo, que os vetores
AB e DC são iguais.
AB = DC
B − A = C−D
2 + 5i − (1 + 2i) = 5 + 4i − D
2 + 5i − 1 − 2i = 5 + 4i − D
D = 4+i
Assim, D = (4, 1) .
Resolução:
Neste caso, temos duas possibilidades, os quadrados ABCD e ABCʹDʹ.
Figura 57
70
Inicialmente, vamos determinar os vértices C e D:
AD = i ⋅ AB AD = BC
D − A = i ⋅ (B − A) D − A = C −B
D − (1 + 2i) = i ⋅ [5 − 3i− (1 + 2i)] 6 + 6i − (1 + 2i) = C − (5 − 3i)
D − 1 − 2i = i ⋅ [4 − 5i] C = 10 + i
D = 4i + 5 + 1 + 2i
D = 6 + 6i
Assim, C = (10, 1) e D = (6, 6) .
Resolução:
Mais uma vez, temos duas possibilidades, os triângulos ABC e ABCʹ.
Figura 58
Vamos inicialmente determinar o vértice C:
71
AC = AB ⋅ (cos 60° + i⋅ sen60°)
1 3
C− A = (B − A) ⋅ + i ⋅
2 2
1 3
C = −2 − 2i + [4 + 2i − ( −2 − 2i)] ⋅ + i ⋅
2 2
1 3
C = −2 − 2i + (6 + 4i) ⋅ + i ⋅
2 2
C = 1− 2 3 + 3 3 ⋅ i
Assim, C = (1 − 2 3, 3 3) .
Analogamente:
Assim, C' = (1 + 2 3, − 3 3) .
72
Resolução:
Suponhamos, sem perda de generalidade, uma circunferência de raio unitário
com centro na origem do plano complexo e os vértices A1 , A 2 ,..., A n do
73
5. Considere um ponto P pertencente a uma circunferência de raio unitário e
A1 , A 2 ,..., A n vértices de um polígono regular convexo inscrito nessa
Resolução:
Novamente vamos supor, sem perda de generalidade, uma circunferência de
raio unitário com centro na origem do plano complexo e os vértices A1 , A 2 ,...,
2
i PA1 = 1 − z ⇒ (PA1 )2 = 1 − z = (1 − z) ⋅ (1 − z) = 1 − z − z + z ⋅ z = 2 − (z + z)
2
i PA 2 = w − z ⇒ (PA 2 )2 = w − z = (w − z) ⋅ (w − z) =
2
= w ⋅ w − w ⋅ z − z ⋅ w + z ⋅ z = w − w ⋅ z − z ⋅ w + z ⋅ z = 2 − (w ⋅ z + z ⋅ w)
i PA 3 = w 2 − z ⇒ (PA 3 )2 = w 2 − z = (w 2 − z) ⋅ (w 2 − z) =
2
= w 2 ⋅ w 2 − w 2 ⋅ z − z ⋅ w 2 + z ⋅ z = w 2 − w 2 ⋅ z − z ⋅ w 2 + z ⋅ z = 2 − (w 2 ⋅ z + z ⋅ w 2 )
⋮
2
i PA n = w n−1 − z ⇒ (PA n )2 = w n−1 − z = (w n−1 − z) ⋅ (w n−1 − z) =
2
= w n−1 ⋅ w n−1 − w n−1 ⋅ z − z ⋅ w n−1 + z ⋅ z = w n−1 − w n−1 ⋅ z − z ⋅ w n−1 + z ⋅ z =
= 2 − (w n−1 ⋅ z + z ⋅ w n−1 )
Portanto:
74
(PA1 )2 + (PA 2 )2 + … + (PA n )2 = 2 − (z + z) + 2 − (w ⋅ z + z ⋅ w) + 2 − (w 2 ⋅ z + z ⋅ w 2 ) +
+ … + 2 − (w n−1 ⋅ z + z ⋅ w n−1 )
(PA1 )2 + (PA 2 )2 + … + (PA n )2 = (2 + 2 + 2 + … + 2) − [(z + z) + (w ⋅ z + z ⋅ w) +
n vezes
+ (w ⋅ z + z ⋅ w 2 ) + … + (w n−1 ⋅ z + z ⋅ w n−1 )]
2
Resolução:
Vamos apresentar duas soluções: uma algébrica e uma geométrica.
Como z + z −1 ∈ ℝ , temos:
x 2 y + y3 − y
= 0 ⇒ x 2 y + y 3 − y = 0 ⇒ y ⋅ (x 2 + y 2 − 1) = 0 ⇒ y = 0 ou x 2 + y 2 = 1
x +y
2 2
75
Segunda solução: geométrica
1
De modo geral, os módulos de z e de são distintos (um é o inverso do outro)
z
e os argumentos são simétricos em relação ao eixo real. Observe a figura 61:
Figura 61
1
O vetor soma só estará contido no eixo real quando os módulos de z e de
z
1
forem iguais ou quando z for real (neste caso também será). Assim:
z
1 1 2
z = ⇒ z = ⇒ z = 1⇒ z = 1
z z
ou
z∈ℝ
Os números complexos tais que z = 1 descrevem uma circunferência com
76
7. (Teorema de Napoleão) Considere um triângulo ABC qualquer. Construímos
os triângulos equiláteros ABD, ACE e BCF, externos ao triângulo ABC. Prove
que o triângulo externo de Napoleão, cujos vértices são os baricentros dos
triângulos ABD, ACE e BCF é equilátero.
Resolução:
Seja G1G2G3 o triângulo externo de Napoleão, de acordo com a figura 62:
Figura 62
Seja ABC o triângulo dado. Os triângulos DBA, BFC e ACE são equiláteros e
com a mesma orientação que o triângulo 1ww 2 , em que 1, w e w2 são as raízes
cúbicas da unidade. Assim:
D + Bw + Aw 2 = 0
B + Fw + Cw = 0
2
A + Cw + Ew 2 = 0
Considere agora o triângulo G1G3G2, também com a mesma orientação que o
triângulo 1ww 2 . Vamos calcular G1 + G3 w + G2 w 2 :
77
8. (IME – RJ) Determine os parâmetros α , β , γ e δ da transformação
αZ + β
complexa, W = , que leva os pontos Z = 0; − i; − 1 para W = i; 1; 0 ,
γZ + δ
Resolução:
Do enunciado, tem-se que W(0) = i , w( −i) = 1 e w( −1) = 0 .
αZ + β
W(Z) =
γZ + δ
α⋅0 + β
W(0) = γ ⋅ 0 + δ = i β = δ ⋅ i (I)
α ⋅ ( −i) + β −α ⋅ i + β
W( −i) = =1 ⇒ = 1 (II)
γ ⋅ ( −i) + δ −γ ⋅ i + δ
α ⋅ ( −1) + β −α + β
W( −1) = =0 = 0 (III)
γ ⋅ ( −1) + δ −γ + δ
De (III), −α + β = 0 ⇒ α = β (IV) .
Assim, α = δ ⋅ i (V) .
Substituindo (IV) e (V) em (II), temos:
−α ⋅ i + β
= 1 ⇒ −δ ⋅ i ⋅ i + δ ⋅ i = −γ ⋅ i + δ ⇒ δ + δ ⋅ i = −γ ⋅ i + δ ⇒ γ = −δ (VI)
−γ ⋅ i + δ
Assim:
δ ⋅i⋅ Z + δ ⋅i i⋅ Z + i
W(Z) = =
−δZ + δ −Z + 1
Considerando δ = 1, temos:
α = i, β = i, γ = −1, δ = 1
Para esses valores, se W(Z) = −2 − i , então
i⋅ Z + i 2 + 2i
−2 − i = ⇒ 2Z − 2 + iZ − i = i ⋅ Z + i ⇒ Z = ⇒ Z = 1+ i
−Z + 1 2
78
9. (IME – RJ) Seja o conjunto
A = {z ∈ ℂ | z = 1}
Resolução:
Podemos pensar nesse problema geometricamente. A multiplicação de 4 + 3i
por z corresponde a uma rotação de amplitude arg(4 + 3i) e de uma homotetia
Figura 63
79
10. Dois piratas decidem enterrar um tesouro em uma ilha. Escolhem, como pontos de
referência, uma árvore e duas pedras. Começando na árvore, medem o número de
passos até a primeira pedra. Em seguida, dobram, segundo um ângulo de 90°, à
direita e caminham o mesmo número de passos até alcançar um ponto, onde fazem
uma marca. Voltam à árvore, medem o número de passos desde a árvore até a
segunda pedra, dobram à esquerda, segundo um ângulo de 90°, e caminham o
mesmo número de passos até alcançar um ponto, onde fazem outra marca.
Finalmente, enterram o tesouro exatamente no ponto médio entre as duas marcas.
Anos mais tarde, os dois piratas voltam à ilha e decidem desenterrar o tesouro, mas,
para sua decepção, constatam que a árvore não existe mais (o vento, a chuva e os
depredadores a haviam arrancado). Então um dos piratas decide arriscar. Escolhe ao
acaso um ponto da ilha e diz: “Vamos imaginar que a árvore estivesse aqui.” Repete
então os mesmos procedimentos de quando havia enterrado o tesouro: conta os
passos até a primeira pedra, dobra à direita, etc., e encontra o tesouro.
A pergunta é: esse pirata era sortudo ou um matemático? [10]
Resolução:
Iremos apresentar aqui uma solução para esse problema utilizando números
complexos.
Observe a figura 64, que ilustra a situação do problema:
Figura 64
Os pontos A, P1 e P2 representam as posições da árvore e das duas pedras. O
tesouro está enterrado no ponto médio de Q1 e Q2.
Assim:
Q1 + Q2
T=
2
Já sabemos que:
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P1Q1 = −i ⋅ P1A
P2Q2 = i ⋅ P2 A
Q1 − P1 = −i ⋅ (A − P1 )
⇒ Q1 = P1 − i ⋅ (A − P1 ) e Q2 = P2 + i ⋅ (A − P2 )
Q2 − P2 = i ⋅ (A − P2 )
Assim:
Q1 + Q2 P1 − i ⋅ (A − P1 ) + Q2 + P2 + i ⋅ (A − P2 ) P1 + P2 P1 − P2
T= = = + ⋅i
2 2 2 2
Desta forma, observamos que a localização do tesouro não depende da
posição da árvore.
De fato, o pirata era um matemático!!!
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5. Conclusão
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Referências
[1] ÁVILA, G., Variáveis Complexas e aplicações. LTC, Rio de Janeiro, 2000.
[5] HAHN, L., Complex Numbers and Geometry. The Mathematical Association
of America, 1994.
[6] MOISE, E.E., DOWNS, F.L.: Geometria Moderna, Blücher, São Paulo, 1971.
[8] NETO, S.P., GÓES, C.C. Matemática na Escola Renovada, v.3. Editora
Saraiva, 1973.
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