CCSE / UEPA
Belém - PA / 2018
© Todos os direitos reservados ao Grupo de Pesquisa RessignificaЯ.
P 912
Práticas corporais, cultura e diversidade / Marta Genú, Meriane Paiva
Abreu e Carla Loyana Teixeira (Organizadores). Belém, PA: Centro de
Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará, 2018.
238 p.: Formato Digital. (Coleção Formação e Produção em Educação,
dirigida por Marta Genú; n. 3).
Vários autores
ISBN Digital: 978-85-98249-32-2
1. EDUCAÇÃO FÍSICA – pesquisa. 2. EDUCAÇÃO FÍSICA – estudo e
ensino. 3. SEXUALIDADE. 4. DANÇA. 5. BALÉ. 6. SEXO – diferenças
(educação). I. Genú, Marta. II. Abreu, Meriane Paiva. III. Teixeira,
Carla Loyana. IV. Série.
Alana de Moura
Roberta Costa
4 Corpo, dança e etnia: vivência das danças tradicionais brasileiras na 59
Comunidade Indígena Jenipapo-Kanindé
Klertianny do Carmo
Marcos Antônio Campos
Arliene Stephanie Pereira
5 Corpos negros nos aplicativos de relacionamentos gays: entre discursos,
75
dinâmicas e subjetivações
Delton Felipe
Samilo Takara
6 Danças e doenças psicológicas: um olhar para a diversidade cultural em
uma ala psiquiátrica em Belém do Pará 93
Rayanne Estumano
Luciane de Aguiar
Stefanie Franco
Vera Solange Souza
7 Diálogos sobre identidades de gênero e sexualidades: narrativas de
sujeitos descentrados e suas relações com a Educação Física Escolar 109
Sergio Cunha
Allyson Carvalho
3
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Ângelo Pegorett
Antonio Hugo de Brito Júnior
9 Mostra de Ginástica Geral e Folclore: uma experiência de valorização da
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diversidade cultural na formação de professores do Curso de Educação
Física da Escola Superior Madre Celeste (ESMAC)
Natalia do Espírito Santo da Silva
10 O imaginário amazônico e a musicalidade do Maestro Waldemar
Henrique: uma proposta do ensino da dança na escola de acordo com a 167
Abordagem Crítico-Superadora
Giovelângela de Paula
Rayanne Estumano
Bruno Santa Brígida
11 Para além de desculpas: fatores que limitam o trabalho com a questão
étnico racial na Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Porto 185
Alegre
Gabriela Bins
Vicente Molina Neto
12 Relações de gênero nas aulas de Educação Física: a visão das professoras
e dos professoras da Rede Municipal de Educação de Ananindeua (PA) 211
Daniella Bittencourt
Emerson Duarte
4
APRESENTAÇÃO
5
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
E é dessa forma singular, que reunimos nesse Livro 3 temas sobre cultura
e diversidade, que são investigados nas práticas corporais em diferentes
contextos. Do Norte ao Sul desse continente Brasil, podemos apreciar nesse
conjunto de produções ora apresentado, os estudos e reflexões que versam sobre
as cores, modos e formas de viver como tão bem registrou Hayes em suas obras.
O primeiro capítulo de autoria de Priscila Gomes Dorneles (BA) analisa
a feminilidade como “problema” na Educação Física Escolar. A autora trata o
tema a partir da perspectiva pós-estruturalista, particularmente tomando os
Estudos Culturais, e finaliza o texto instigando a comunidade a exercitar o
olhar, suspeitar e duvidar de práticas comuns ao cotidiano da escola.
Carla Loyana Teixeira, Gisele dos Santos Ribeiro e Meriane Paiva Abreu
(PA) discutem o trato com o gênero na Educação Física Escolar e admitem que
6
a escola é base formadora da sociedade, e apostam na Pedagogia Histórico-
Crítica como ferramenta que possibilita superar a desigualdade social e
transformar a sociedade.
Com arte também se discute gênero e formação humana desde a escola, e
dessa forma Alana de Moura e Roberta da Costa (CE) escrevem sobre o assunto,
no capítulo sobre a prática artística do Ballet Clássico e a construção do gênero
nas aulas de Baby Class. Em corpo, dança e etnia, Klertianny do Carmo, Marcos
Antônio Campos e Arliene Stephanie Pereira (CE) analisam a vivência das
danças tradicionais brasileiras na Comunidade Indígena Jenipapo-Kanindé.
No quinto capítulo, refletimos com Delton Felipe e Samilo Takara (PR)
sobre as formas de relacionamento humano em redes sociais, em que os autores
usam a ousadia e de forma verdadeira e realista analisam como os corpos dos
homens negros são apresentados nos aplicativos – apps – de relacionamentos
gays.
Em grupo, as autoras Rayanne Estumano, Luciane de Aguiar, Stefanie
Franco e Vera Solange Souza (PA) traçam um olhar para as doenças
psiquiátricas a partir da dança e da cultura, com sujeitos de um hospital
psiquiátrico e anunciam que a proposta da dança na perspectiva da cultura
corporal, pode nortear os aspectos sociais, afetivos e cognitivos dos pacientes
com problemas psicológicos.
Sergio Cunha e Allyson Carvalho (RN) pesquisaram sobre a auto
percepção de sujeitos descentrados sobre a própria trajetória para perceber as
implicações de suas experiências no processo de educação escolarizada e
debatem os vínculos afetivos desenvolvidos no âmbito escolar.
Para falar de gênero, sexualidade e currículo na formação de professores
de educação física Ângelo Pegorett e Antonio Hugo de Brito Júnior (PA)
apresentam o resultado de discussões sobre a temática a partir da intervenção
docente nas aulas de Educação Física em instituições federais de ensino superior
na região amazônica. Enquanto que Natalia do Espírito Santo da Silva (PA) nos
apresenta a valorização da diversidade cultural tratada numa mostra de
ginástica e folclore por acadêmicos da graduação.
Da mesma forma que a música sempre foi valorizada pelo americano
Hayes, e na forma do lamento do Jazz, o Maestro paraense Waldemar Henrique é
estudado por Giovelângela de Paula, Rayanne Estumano e Bruno Santa Brígida
7
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Resumo: Este artigo analisa aspectos da produção discursiva na Educação Física escolar
atravessados e constituídos pelo enunciado “feminilidade problema” nas aulas desta
disciplina. A partir de perspectivas pós-críticas e dos Estudos de Gênero, aciono o
conceito de gênero e trago elementos de uma pesquisa realizada com professores/as que
atuavam na disciplina de Educação Física, contudo esta pesquisa se articula com outras
produções apresentadas ao longo do texto, as quais movimentam o lugar do masculino
como referente e da feminilidade como problemática nos processos educativos
relacionados ao trato com as práticas corporais na escola.
Palavras-chave: Educação Física escolar. Gênero. Feminilidade problema. Separação de
meninos e meninas.
INTRODUÇÃO
1
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URFGS).
Professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). E-mail:
prisciladornelles@gmail.com
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importa destacar que, ao ser esta uma produção engendrada por determinadas
formas de conhecer os gêneros, sua atuação cotidiana na escola, efetivamente,
também as produz.
2
É possível compreender de forma mais consistente, por exemplo, a ciência como uma
produção generificada a partir do artigo de Marina Fischer Nucci (2010) premiado no
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3
Emprego as expressões exercícios physicos e gymnasticos preservando a forma
utilizada pelo autor em suas publicações.
4
Segundo Eustáquia de Sousa (1994), essa proposta de Exercícios Físicos foi
apresentada no Decreto do estado de Minas Gerais nº 1.947, de 30 de setembro de 1906.
Nesse decreto, encontram-se elementos importantes para a organização educacional,
como conteúdos das disciplinas, normas, horários, etc.
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figura o problema sobre quais são os exercícios, que mais lhe convenham [...]”
(AZEVEDO, 1960, p. 82).
Contextualizando mais algumas produções que se dedicam, também, a
propor uma educação do corpo feminino, a publicação norteadora do ingresso e
da aplicação do Método Francês nas escolas de Educação Física do exército, o
Regulamento nº 7 – Regulamento de Educação Física (1934), apresenta uma
seção nomeada de “Educação Física Feminina. Esse manual orienta: “[...] evitar-
se-á a aplicar-lhe [à mulher], sem as devidas precauções, os processos da
educação física reservada aos rapazes” (1934, p. 16). Também prescreve as
seguintes atividades para as mulheres:
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5
Os títulos das seções deste artigo que recorrem ao uso das aspas estão assim dispostos
por serem fragmentos das falas dos/das professores/as de Educação Física da Rede
Municipal de Porto Alegre, colaboradores/as de uma pesquisa sobre a separação de
meninos e meninas na escola (DORNELLES, 2007). Esta pesquisa utilizou-se de
diferentes estratégias metodológicas, dentre as quais se destacaram o uso de
questionários e a realização de entrevistas com docentes da referida disciplina que
separavam meninos e meninas nas suas aulas.
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Há, aqui, uma ruptura com as análises de papéis e/ou funções sexuais
que se remetem ao nível da individualização das diferenças de gênero para
problematizar como a Educação Física escolar fabrica diferenças e
desigualdades entre meninos e meninas. E, nesse processo, como constitui a
“feminilidade problema” para esta instituição formal de ensino. Na Educação
Física escolar brasileira, são criadas representações de feminilidade e de
masculinidade, fazendo com que meninos e meninas possam achar se eles/elas
são adequados/as ou não para a pratica de determinadas práticas corporais
(DORNELLES; TEIXEIRA, 2014).
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disciplina escolar.
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É, foi interessante, porque ele tinha que fazer aula comigo, porque
ele é homem, né. Mas ele sempre se excluía, porque ele não
conseguia se encaixar com aquela violência, né. E ele não tinha
aquela mesma habilidade dos guris, ele realmente era um guri
sensível. Era um menino que não tinha habilidade motora para
participar das atividades que eu oferecia, então, ele sempre saía
fora. Ele evitava ou ele não vinha na minha aula e estava se
prejudicando. [...] Está lá, as gurias até reclamam porque ele é
homem. Está se desviando, mas é homem, tem força. Então, as
gurias reclamam muito dele, porque ele, às vezes, vai e dá aquela
lançada de bola muito forte e pega nas gurias. Elas reclamam que é
muito forte. (Sérgio, 09/11/2006, p. 11).
Então, está lá, o menino se desenvolvendo com as meninas, dentro
da condição dele. Vai se igualar às meninas, está entendendo? Por
isso que dá para colocar meninos e meninas junto, está entendendo?
(Sérgio, 09/11/2006, p. 13).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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The femininity as a "problem" in School Physical Education: notes from the separation
of boys and girls
Abstract: This article analyses the aspects of the discursive production in School
Physical Education crossed and constituted by the "femininity problem" in physical
education classes. From pos-critical perspectives and Gender Studies, it discusses the
concept of gender and brings elements of a research carried out with physical education
teachers. However, this research articulates itself with other productions presented
along with the paper, in which moves the place of masculine as the reference and of
femininity as problematic in the educative processes related to the corporal practices in
the school.
Keywords: School physical education. Gender. Femininity problem. Separation of boys
and girls.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Fernando de. Da educação física: o que ela é, o que tem sido e o que deveria
ser; Antinous: a evolução do esporte no Brasil. 3. ed. rev. São Paulo: Melhoramentos,
1960.
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LOURO, Guacira L. Corpo, escola e identidade. In: Educação & Realidade, v. 25, n. 2, p.
59-76, jul./dez., 2000.
NUCCI, Marina Fischer. “O Sexo do Cérebro”: uma análise sobre gênero e ciência. In:
BRASIL. 6º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero. Redações, artigos científicos e
projetos pedagógicos vencedores – 2010. Brasília: Presidência da República, Secretaria
de Políticas para as Mulheres, p. 31-56, 2010.
SOUZA, Adrian Pedra de. Conflitos de gênero durante a trajetória escolar de mulheres
que jogam futsal/futebol em times amadores da cidade de Amargosa/BA. 2018.
Monografia de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física) – Centro de
Formação de Professores, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Amargosa,
2018.
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Resumo: O presente artigo discute como a Pedagogia Histórico Crítica (PHC) dialoga
com as questões de gênero nas aulas de educação física. Como teoria do conhecimento,
adota o materialismo histórico-dialético. Realiza uma pesquisa bibliográfica, seguida de
uma análise de conteúdo para pautar as discussões. Compreende as diferenças entre os
gêneros como pontos de discussão para a proposição de respeito e tolerância diante das
diversidades. Conclui que a PHC contribui para a reflexão acerca do debate sobre gênero
nas aulas de educação física, de forma a recuperar as discussões e experiências que
favoreçam homens e mulheres, conscientes de classe trabalhadora, para superação de
quaisquer discriminações, para além de um capitalismo que utiliza as diferenças para
desigualar e estratificar o indivíduo, mascarando nesse processo, a sua condição de
classe.
Palavras-chave: Pedagogia Histórico-Crítica. Gênero. Educação Física Escolar.
INTRODUÇÃO
6
Licenciada em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Especializanda em Pedagogia da Cultura Corporal na Universidade do Estado do Pará
(UEPA). E-mail: loyanateixeira@gmail.com
7
Mestra em Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora da
Faculdade de Educação e Tecnologia da Amazônia (FAM). E-mail:
giribeiroef@hotmail.com
8
Mestra em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Professora da
Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC/PA). E-mail:
meri_black@hotmail.com
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1.2 Problematização:
Segundo Gasparin (2007, p. 35), a “problematização é um desafio, ou
seja, é a criação de uma necessidade para que o educando, através de sua ação,
busque o conhecimento”. Ora, se está posto o conhecimento e ali se identificam
lacunas do pensamento sincrético exposto, cabe ao professor interrogar e
colocar um problema sobre o qual o educando não havia pensado e/ou exposto
no procedimento anterior. Este momento consiste no questionamento da
realidade e do conteúdo e, portanto, colocados os problemas, estes precisam ser
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1.3 Instrumentalização:
Passado por todo o processo inicial de processamento do conteúdo é
necessário, de acordo com Gasparin (2007), colocar o aluno para se confrontar
com o próprio conteúdo, visto que ele já foi colocado para falar sua
compreensão sobre tal. A "instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo
é posto à disposição dos alunos para que o assimilem e o recriem, e ao
incorporá-lo, transformem-no em instrumento de construção pessoal e
profissional" (GASPARIN, 2007, p. 57). Nesse instante, o aluno faz a
comparação dos elementos cotidianos da prática social inicial com os
conhecimentos científicos trazidos pelo professor.
1.4 Catarse:
A catarse se caracteriza pelo momento no qual o educando expressa a
síntese do conhecimento, a sistematização do que foi assimilado. Portanto, é
significativo por representar o processo de abstração do sujeito, a capacidade
de compreensão sobre determinado tema, uma operação mental que, segundo
Vygotsky (1989, apud GASPARIN, 2007), está casada com a formação dos
conceitos, com o processo de análise anteriormente feita na instrumentalização.
Para o professor, a catarse pode ser entendida como um momento propício à
ação avaliativa, de verificação da compreensão, no plano teórico, por parte dos
alunos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Abstract: The article discusses how the Historical-Critical Pedagogy (PHC) dialogues
with the gender questions in physical education classes. It adopts the historical-
dialectical materialism as the theory of knowledge, and it carries out a bibliographic
research, followed by content analysis to substantiate the discussion. It comprehends the
differences between genders as points of discussions for proposing respect and tolerance
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in front of diversities. It concludes PHC contributes for the reflections about the gender
debate in physical education classes, in order to recover the discussions and experiences
favoring men and women, aware as working class, for overcoming of any
discrimination, to beyond the capitalism which uses the differences to unequal and
stratify the individual, masking on this process, its class condition.
Keywords: Historical-Critical Pedagogy. Gender. School Physical Education.
REFERÊNCIAS
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
SOARES, Carmen Lúcia et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo:
Cortez, 2012.
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INTRODUÇÃO
9
Licenciada em Educação Física pela Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza
(FAMETRO). E-mail: alanamarialencardemoura@gmail.com
10
Mestra em Ciências Morfofuncionais pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Professora da Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO). E-mail:
rcosta.dance@hotmail.com
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METODOLOGIA
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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vestida de tutu e sapatilha de pontas, que compõem o mundo das meninas, são
aplicadas no ensino do balé infantil para a introdução dos aspectos de leveza e
graça. (WOLLZ; CERQUEIRA; MULLER, 2016)
A terceira questão quando indagados: Nas suas aulas de baby class, qual
o grau de dificuldade para lidar com situações que não se encaixam no estilo
tradicional do ballet clássico? Fácil; Médio; Difícil; Extremamente Difícil.
Gráfico 2 - Grau de dificuldade para lidar com situações que não se encaixam
no estilo tradicional do ballet clássico
Nos resultados do gráfico 2, 17% das professoras lida com facilidade nas
situações que não se encaixam no estilo tradicional do ballet clássico e 87%
enfrenta dificuldade média. É importante destacar que não obtivemos
percentual para difícil e extremamente difícil.
Nas aulas de ballet, muitas vezes, as ações do professor determinam, de
certo modo o sucesso de seus alunos. Cabe a ele conduzir a técnica
fundamentada nos ideais artísticos do ballet, incentivando seu público a
apreciar a arte e frente as dificuldades e situações que não se encaixam
presentes na formação dos alunos, tenham motivação para enfrentar e
prosseguir. (RODRIGUES; LIMA, 2011)
O terceiro gráfico e representam a quarta questão que se destinou: Com
base nas suas experiências, o ballet clássico nas suas aulas pode influenciar na
definição de gênero dos participantes?
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Diante dos resultados obtidos, 17% das professoras afirmam que o ballet
influência diretamente na definição do gênero dos alunos do baby class, 33%
alegam que intervém parcialmente e 50% garantem que dificilmente influência.
Para justificar sua resposta o sujeito P1 diz que, “o que influência na
verdade não é o baby class propriamente dito, mas sim uma sociedade hipócrita
e preconceituosa como a nossa. O ballet em si, não deve ser alvo do preconceito,
ele é uma arte como todas as outras e merece todo nosso respeito”. Para o sujeito
P2, “quem dança, faz por amor, acredito numa identificação com a atividade e
não vejo uma influência no gênero”. O sujeito P3 “a dança não influencia nessa
questão de gênero.” O sujeito P4 defende que, “não é uma modalidade da dança
ou do esporte que irá definir ou influenciar na questão de gênero do praticante.”
Sujeito P5 acredita que, “se a criança já tiver no gene dela, a dança só irá afinar
o gênero.” O sujeito P6, o ballet no baby class “é usada mais para uma base do
clássico e não definição de gênero”.
Assim a dança pode ser analisada como uma dentre as muitas práticas
socialmente instituídas através das quais os corpos dos indivíduos são marcados
por gênero. O ballet ainda é visto como uma prática exclusivamente feminina e,
com isso, relacionado à feminilidade. É por esse motivo que, as aulas de ballet
infantil continuam recebendo somente o público feminino, o que reforça na
infância o estereótipo da bailarina no ballet clássico. (SANTOS, 2009)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
The artistic practice of the classical Ballet the gender construction in Baby Classes
Abstract: Dance is related to the language processes that participate in the cultural
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construction of the body, acting as a cultural pedagogy of gender, by which the social
differences of gender are reproduced and through the representation of different ways of
using the male and female body. Children's ballet is relatively new, which justifies the
absence of an institutionalization with rules and norms similar to the other levels of
ballet teaching. Therefore, the present research aims to investigate the influence of
classical ballet in baby classes as a construction of the student's gender. The research's
scenario was an academy of dance, in a private school in the municipality of Fortaleza
(CE). It is a descriptive observational field study, longitudinally, with a qualitative and
quantitative approach. Six baby class' teachers and 11 dancers effectively enrolled in the
baby class participated in the research. For data collection, it used field diary and a
semi-structured questionnaire composed of five objective and descriptive questions. The
results indicate that most teachers do not recognize classical ballet as an influence in the
definition of the gender. However, it observes that baby classes can lead to the
coexisting learning of the technique, as well as being part of the gender's construction of
the dancers.
Keywords: Classical ballet. Gender. Baby class.
REFERÊNCIAS
ANDREOLI, Giuliano Souza. Dança, gênero e sexualidade: um olhar cultural.
Conjectura: filosofia e educação, Caxias do Sul, v. 15, n. 1, p. 107-118, jan./abr. 2010.
AMARAL, Jaime. Das danças rituais ao ballet clássico. Ensaio Geral, Belém (PA), v. 1
n.1, jan./jun. 2009.
BARBOZA, Tayná. Dança, sexo e gênero: uma visão histórica. mar. 2016.
JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos.
2. ed. Brasília, DF: [s.n.], 2012.
56
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LENGOS, Georgia (Org.). Põe o dedo aqui: reflexões sobre a dança contemporânea para
crianças. São Paulo: Terceira Margem, 2007.
OSSONA, Paulina. A educação pela dança. 4. ed. São Paulo: Summus, 1988.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade,
v. 20, n. 2, p. 71-99, 1995.
57
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WOLLZ, Larissa Escarce Bento; CERQUEIRA, Juliana Cecilio; MÜLLER, Rita Flores.
As pequenas bailarinas do baby class: construções do feminino no ensino do balé.
Demetra, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 745-762, 2016.
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INTRODUÇÃO
11
Mestra em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
klertianny@gmail.com
12
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor da
Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: marcosalmeidacampos@gmail.com
13
Mestranda em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Professora do Instituto Federal do Ceará (IFCE). E-mail:
sephanie_ce@hotmail.com
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um todo. Nossa memória cultural é muito rica, mas pouco valorizada, e acaba
por se perder no meio escolar, muitas vezes sendo lembrada apenas em datas
comemorativas.
Historicamente, as danças populares se veem diminuídas frente a outros
estilos de dança, como o balé clássico. Concordamos que o balé clássico é tão
importante quanto qualquer outro estilo, mas a realidade mostra que as danças
de rua, tradicionais, de salão, afro, dentre outras, encontram resistência e/ou
pouco espaço nos meios educacionais. Oliveira (1991, p. 28) afirma que a
“ideologia que acompanha o Balé é reforçada pelo fato da Dança Afro ser
exercida por pessoas de menor poder aquisitivo e negras, por isto, uma ‘arte
menor’”. Pode-se confirmar esta afirmação por uma simples investigação nas
escolas de qualquer cidade, a partir da quantidade de escolas de balé em
comparação com a quantidade de escolas de dança afro. A dança afro nas
escolas, muitas vezes, funciona a partir de projetos implantados por professores
negros ou por ações afirmativas de ONGs, ou como afirmado anteriormente em
datas comemorativas esporádicas como o dia da consciência negra, por
exemplo. Quando falamos em dança indígena, podemos categorizar uma quase
inexistência de trabalhos que toquem este tema.
Se observarmos a discussão acerca da Pluralidade Cultural, apontada nos
Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997),
observaremos já na introdução a questão da disparidade de importância de
certos conhecimentos em confronto com outros.
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Paulo Freire (1987) propõe uma perspectiva das ações culturais, não no
sentido de sobrepor uma cultura sobre a outra, mas de ampliar seu repertório, a
partir do momento que se parte do conhecimento anterior dos jovens e,
posteriormente, vê-se aquilo que é representativo para o mesmo, não havendo
desvalorização de sua cultura, mas a sua ampliação. Esta perspectiva de agir a
partir da invasão cultural foi e é algo muito forte em muitos projetos puramente
conteudistas, algo que pode interferir negativamente no processo de busca de
autonomia deste jovem, inclusive de jovens indígenas. Como afirma Duarte
Júnior (2001), há no Brasil um desprezo para com os conhecimentos
provenientes das nações indígenas há séculos, graças à arrogância e ao
sentimento de superioridade do branco colonizador para com os povos aqui
instalados. Isto faz com que a dita superioridade branca, no arcabouço de seus
conhecimentos eruditos, despreze ou destrua saberes milenares destes povos.
A catequização dos tempos coloniais e a atual demonização da
mitologia indígena e negra feita por alguns grupos evangélicos desprezaram um
imenso repertório de conhecimentos sobre a utilização de plantas medicinais,
sobre danças e lendas e sobre a tradição oral. Os meios de comunicação pouco
ou nada apresentam estas tradições, e quando o fazem, usam, na maioria das
vezes, a lógica do exótico ou primitivo ou ainda deturpando sua cultura.
Ainda é muito recente a atenção dada às línguas indígenas e a formação
de cursos pensados a partir das demandas destes povos. Com isto, podemos
inferir uma realidade pouco motivante para jovens manterem e cultivarem suas
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tradições.
Como aponta Stacanela (2010, p. 21), “[...] há um educativo para além do
escolar, e os jovens aprendem fora da escola”, o que faz com que o tempo livre
destes jovens possa ajudar a manter ou a quebrar representações, alienações e
paradigmas. Vale ressaltar que a proposta de um projeto que busque o diálogo
entre culturas é primordial, ainda mais se pensarmos que a “[...] cultura consiste
num conjunto de normas, concepções etc. que são compartilhadas por um grupo
de pessoas [...] através de um processo de interação” (GOTTLIEB; REEVES,
1968, p. 68). Isto reverbera a crítica que Paulo Freire faz acerca da invasão
cultural. Como lidar com o ensino de danças tradicionais juntos a jovens
indígenas, frente ao fato que estes jovens também possuem danças dentro de
suas etnias como práticas rituais ancestrais? Como pode ser feito este trabalho,
numa perspectiva de diálogo, onde ambos os lados podem aprender uns com os
outros?
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Assim, o contato inicial dos jovens com a temática era feito por meio de
uma conversa inicial sobre os conhecimentos que tinham a respeito da dança.
Em seguida eram passados vídeos e, a partir daí, iniciava-se a oficina prática
(Ver figura 2), na qual os jovens tinham contato com a base gestual e noções
coreográficas gerais, utilizando os métodos de ensino global, parcial e misto. A
cada encontro, embora fosse ensinado um ritmo diferente, sempre se retomavam
os ritmos anteriores, para que assim percebessem as diferenças e similaridades.
69
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70
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.
Fonte: Acervo pessoal.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Body, dance, and etnia: experience of traditional brazilian dances in the Jenipapo-
Kanindé indigenous community
Abstract: The text presents the report of a proposal of sensible corporal practices
represented and valued through the art, based on the experience of a work developed
with young people of the indigenous community Jenipapo-Kanindé, in the city of
Iguape (CE). The report reveals a denotation of revalorization of identities through
dance and bodies which make its own history in the world. Where, in 2013 and 2014,
scholarship students linked to the "Between Feathers and Accounts" extension program
(PROEXT), proposed by the Oré Anacã Group of the Federal University of Ceará
(UFC), worked in the community promoting weekly workshops of traditional Brazilian
dances. The program aimed to encourage and promote black and indigenous cultures by
immersion in other cultures' reality, seeking to recognize body-significant, gestural and
musical elements through direct contact with individuals linked to cultural
manifestations. As a methodology, the indigenous youths built theoretical and practical
dynamics together with two scholarship students in 25 meetings, in which they were
challenged to research and practice dances, emphasizing those with black and
indigenous ethnic influence.
Keywords: Corporal practices. Dance. Indigenous Jenipapo-Kanindé.
REFERÊNCIAS
73
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Sulamita de (Org.). Sociologia da Juventude II: para uma sociologia diferencial. Rio de
Janeiro: Zahar, 1968.
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Educação, v. 9, n. 18, p. 218-231, jul./dez. 2014.
74
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Resumo: O presente texto analisa como os corpos dos homens negros são apresentados
nos aplicativos -apps- de relacionamentos gays. Utiliza o Grindr e o Scruff que são dois
dos aplicativos de dispositivos móveis populares no Brasil. Os apps promovem
encontros afetivos e/ou sexuais por meio de diálogos por mensagens, uso de imagens
fotográficas e permite o mapeamento de geolocalização dos usuários em rede. Uma das
principais características desses apps é visibilizar a diversidade de corpos em perfis em
busca de encontros. Utiliza-se para análise a descrição/apresentação oferecidas pelos
usuários que se identificam como negros em seus perfis no intuito de problematizar a
relação entre visibilidade, sexualidade, objetificação e empoderamento. Como lente
teórica adota conceitos vinculados aos Estudos Culturais com colaboração dos Estudos
Foucaultianos como, identidade, representação, discurso e biopolítica. Conclui que para
entender a forma como esses homens negros se apresentam é necessário discutir o
impacto que a interseção entre a raça, sexualidade, gênero como discursos constitutivos
da sociedade brasileira tem sobre a formação identitária dos homens negros gays.
Palavras-chave: Homens negros gays. Aplicativos de relacionamentos. Formação
identitária.
INTRODUÇÃO
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
17
Por grupos de socialização, entendemos as chamadas “tribos” comuns aos grupos que
pertencem a cultura LGBT (Lésbica, Gay, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Esses
grupos são marcadores característicos por aspectos físicos, intelectuais, afetivos e/ou
sociais que apresentam diferenças e registram aspectos de interesse e/ou desinteresse
entre os sujeitos do grupo.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
perfis que estão relacionados às tribos dos bears18. Outros grupos são registrados
por diferenças culturais, sociais ou mesmo aspectos corporais que podem ou não
ser características que delimitam o grupo. Assim como o Scruff, o Grindr
também atende a essa demanda de categorizar os grupos a partir de suas
características e preferências.
O Grindr foi criado em 2009 pelo jornalista israelense, residente nos
Estados Unidos Joel Simkhai, que afirma que o aplicativo foi desenvolvido com
a intenção de levar homens gays a conhecerem outros homens gays o mais
próximo possível19. Outra característica que chama atenção é o próprio do app
“Grindr” que significa moedor em inglês. O que faz que autores como Couto;
Souza e Nascimento (2013) afirmem que em aplicativos como esse
77
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20
Faz-se importante ressaltar que a população negra (soma de pretos e pardos) no
Paraná é, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD-Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), de 2016, é de 34.25%, uma das menores do Brasil. A cidade realizada
a pesquisa, da população negra é 25,7%. Esses dados são importantes porque os apps
utilizam a tecnologia de geolocalização, o que faz com que o número de perfis de
homens negros gays encontrados possam ter uma variação significativa de região para
região de acordo com o percentual de negros e negras.
83
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espaços dos apps é uma das características que encontramos nos perfis. “A
afeminação é da ordem do insuportável”, como explica Zago (2013, p. 195). Os
perfis que localizamos não se aproximam em nenhum momento da feminilidade,
pelo contrário, vão estabelecer uma lógica de virilidade que sustenta a relação
homoerótica no contemporâneo, por meio dos valores culturais enquadrados na
sociedade.
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CONSIDERAÇÕES
Este texto tem como intuito focar os olhares para as relações sexuais
e/ou afetivas entre homens negros gays e outras identidades ou na sociabilidade
entre iguais. Os valores culturais que registramos aqui são apenas indicativos de
que os estudos acerca das homossexualidades e das negritudes se fazem
necessários para problematizarmos diferentes relações, interações e
possibilidades de entender os corpos e as dinâmicas do prazer em apps.
Reconhecemos, neste movimento, que se aproxima de uma ideia de
passeio pelos perfis, a potencialidade de visibilizar de que modo as dinâmicas
das masculinidades constituem e são constituídas nos espaços de sociabilidade
gays. O machismo, a misoginia e a homofobia povoam estes territórios e
sustentam lógicas de virilidade e sexualidade que deslocam os anticorpos e os
corpos que importam nas dinâmicas do dispositivo de sexualidade.
Registramos, desse modo, que conhecer nos ajuda a perceber como os
corpos negros e gays podem corroborar para práticas de sociabilidade que
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Black bodies in the applications of gay relationships: between speeches, dynamics, and
subjectivations
Abstract: The paper analyzes how black men's bodies are presented in the gay
relationship applications - apps. It uses Grindr and Scruff, which are two of the popular
mobile device applications in Brazil. The apps promote affective and/or sexual
encounters through message dialogues, use of photographic images and allow the
mapping of the geolocation of networked users. One of the main features of these apps
is to visualize the diversity of bodies in profiles searching for encounters. The
description/presentation offered by users who identify themselves as black in their
profiles is used to analyze the relationship between visibility, sexuality, objectification,
and empowerment. Theoretically, it adopts concepts linked to Cultural Studies with the
collaboration of Foucaultian Studies such as identity, representation, discourse, and
biopolitics. It concludes that to understand the way these black men present themselves
it is necessary to discuss the impact that the intersection between race, sexuality, gender
as constitutive discourses of Brazilian society has on the identity formation of black
gay men.
Keywords: Gay black men. Relationship applications. Identity formation.
REFERÊNCIAS
CEVASCO, Maria Elisa. Dez lições sobre Estudos Culturais. 2. ed. São Paulo: Boitempo,
2008.
COUTO, Edvaldo Souza; SOUZA, Joana Dourado França de; NASCIMENTO, Sirlaine
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Tecnologias digitais e sociabilidade – performances interacionais e mediações
sociotécnicas. Salvador: UFBA, 2013.
89
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In: _______. Antropologia do Ciborgue: as vertigens do pós-humano. 2. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2009. p. 7-16.
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INTRODUÇÃO
21
Licenciada em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail:
rayestumano@hotmail.com
22
Licenciada em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail:
luciane.c.f.a@gmail.com
23
Graduanda em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail:
stefanie.franco.sf@gmail.com
24
Mestra em Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora da
Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: soldurui@hotmail.com
93
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METODOLOGIA
94
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DOENÇAS PSICOLÓGICAS
Depressão
A Organização Mundial da Saúde aponta que mais de 300 milhões dos
indivíduos sofrem por depressão no mundo e mais de 260 milhões convivem
com crise de ansiedade. Estes distúrbios psicológicos são temas presentes em
toda a sociedade e recebem destaque em diferentes abordagens, seja na área
relacionada à saúde mental, na mídia ou em rodas de conversas informais,
justamente, por apresentarem um índice epidemiológico que tende a expandir.
Vejamos, então, a especificidade de cada uma destas:
A depressão é uma doença psicológica que pode desencadear diferentes
percepções nos indivíduos. Por tal motivo, utiliza-se este termo para designar
98
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25
Características apontadas no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais
– DSM – IV, 2002.
99
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Esquizofrenia
A Esquizofrenia é uma enfermidade psicológica crônica que afeta cerca
de 1% de indivíduos no mundo – 70 milhões de pessoas – segundo a
Organização Mundial da Saúde (2000). As causas desta patologia, a priori,
encontram-se ainda desconhecidas pela ciência, entretanto, entende-se que
fatores de ordem biológica, genética e ambiental podem influenciar o
desenvolvimento desta doença nos sujeitos.
De acordo com Oliveira et al. (2012, p. 310) “a mudança na maneira de
se referir aos portadores de esquizofrenia tem sido uma tentativa de fazê-los ser
considerados pessoas com um problema e não pessoas - problemas”. Essa
concepção mais ampla, que compreende as causas das doenças mentais
relacionadas aos aspectos biológicos e sociais, vem sendo considerada e
difundida entre a comunidade científica com o intuito de alterar os estereótipos
e termos pejorativos que muitos pacientes tendem a enfrentar.
Dentre as principais percepções promovidas em pacientes acometidos
com a Esquizofrenia estão: a incapacidade de organizar o pensamento, o
surgimento de delírios e alucinações mentais capazes de induzir a não
26
Devido ao paciente apresentar sintomas de delírios e alucinações e/ou predisposição a
cometer suicídio.
100
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27
Os Centros de Atenção Psicossociais são unidades de tratamento de pessoas
acometidas por transtornos psicológicos que prestam serviço público à comunidade
locada em seu território de atuação.
102
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Dances and psychological diseases: one look at cultural diversity in a psychiatric ward
in Belem/PA
Abstract: This study reports what subjects experienced with Physical Education
contents in a psychiatric ward of a hospital. Its specific objective is to comprehend the
contribution of circular dance content for the social, emotional and cognitive aspects in
the treatment of psychological diseases patients. It is a field study, with a qualitative
approach, descriptive actions, based on the materialism historical and dialectical. As an
instrument for data collection and data analysis, it used observations, photographic
interpretations, and notes in the field diary. It concludes that circular dance along with
other contents aids to reduce the hospitalization time of the admitted patients in this
hospital, and the most important, the respect to the cultural diversity after the practices
proposed by the researchers.
Keywords: Circular Dance; Physical Education; Psychological Diseases.
REFERÊNCIAS
ANDRADA, Paula Costa de; SOUZA, Vera Lúcia Trevisan de. Corpo e docência: a
dança circular como promotora do desenvolvimento de consciência. Revista
Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo,
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GIACON, Bianca Cristina Ciccone; GALERA, Sueli Aparecida Frari. Primeiro episódio
de esquizofrenia e a assistência de enfermagem. Revista da Escola de Enfermagem da
USP, São Paulo, v. 40, n. 2, p. 286-291, 2006.
107
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
OLIVEIRA, Elda de. O desafio de assistir pacientes com transtornos decorrentes de uso
prejudicial e ou dependências de álcool e outras drogas. 2005. 186 f. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2005.
_______. The word health report 200: Health system: improving performance. Genebra:
OMS, 2000.
108
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Resumo: Este estudo buscou expor as relações sociais e escolares, bem como as
compreensões do próprio corpo de dois alunos do Ensino Médio do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Campus Parnamirim,
utilizando-se das histórias orais coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas,
tendo uma abordagem qualitativa. A partir das falas coletadas, esta pesquisa tem o
objetivo de identificar a auto percepção de sujeitos descentrados sobre sua trajetória e
perceber as implicações de suas experiências no processo de educação escolarizada pelo
qual passam, bem como debater acerca dos vínculos afetivos desenvolvidos no âmbito
escolar. As entrevistas foram categorizadas em quatro aspectos: (I) social – a maneira
como a pessoa se enxerga; (II) familiar, esclarecendo suas relações no meio doméstico;
(III) escolar - construção de vínculos com colegas e professores; (IV) da Educação Física
– ligação e importância da disciplina no decorrer da trajetória colegial. O discurso dos
entrevistados se equivaleu em alguns pontos, como no fato de ambos terem sido expulsos
de casa ou quando relatam que não precisaram expor suas orientações sexuais. Da
mesma maneira que os dois citam o IFRN como local de ajuda no desenvolvimento e
afirmação de suas personalidades. Somado a isso, temos ainda as expressões orais que
remetem às aulas de Educação Física enquanto espaço de desconforto por suas
condições.
Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Educação Física escolar.
INTRODUÇÃO
30
Este trabalho trata de um recorte de trabalho de conclusão de curso a ser apresentado
ao Departamento de Educação Física (DEF) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), como requisito para conclusão da graduação de Licenciatura em
Educação Física.
31
Graduando em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN).
32
Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail:
allyssoncarvalho@hotmail.com
109
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
110
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Quando a autora nos fala de um corpo generificado, isso quer dizer que
o sexo biológico não é determinante para a identificação de gênero, haja vista
que os aspectos socioculturais que permeiam o cotidiano do indivíduo podem
interferir nas suas escolhas em diversas perspectivas, inclusive a sexual.
Ao chegar à pré-adolescência os sujeitos, em sua maioria, começam a
despertar seu lado afetivo. É nessa fase em que se descobre o corpo do outro e
reconhece qual daqueles os atraem sexualmente. Com isso, o indivíduo inclina-se
a sua orientação sexual. Se este se sente atraído por alguém do gênero oposto
chamamos de heterossexual, se for do mesmo gênero, homossexual. Contudo,
temos ainda os sujeitos bissexuais que se sentem atraídos por ambos os gêneros,
ou o registro dos assexuais que diz respeito às pessoas que não sentem atração
por nenhum gênero, mas vale ressaltar que ainda é uma sexualidade em
construção, e por fim os pansexuais que se atraem por pessoas, independente do
gênero ou sexualidade.
A ampliação das possibilidades de se compreender o campo da
sexualidade considera ainda que este conceito não corresponde apenas a atração
sexual, mas amplia-se para outros campos, como nos explica Goellner (2009):
Acerca do que foi abordado até este ponto, mesmo diante desta
pluralidade, ainda nos deparamos com situações minimamente
incompreensíveis. Apesar das diferenças que dizem respeito tanto à orientação
sexual, quanto à identidade de gênero, nenhum indivíduo pode ser excluído das
práticas sociais, incluindo as corporais e esportivas. No entanto, não seguir os
111
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
33
Disponível em: <http://blog.tribunadonorte.com.br/politicaemfoco/na-camara-de-
natal-vereadores-aprovam-retirada-de-termos-que-indicam-discussao-de-genero-nas-
escolas/>.
34
Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2015-12-26/exclusao-de-
genero-do-plano-nacional-de-educacao-e-retrocesso-diz-educador.html>.
112
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
113
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
114
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
E ainda, estas
115
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Aspectos Sociais
Enxergar-se como sujeito descentrado, mesmo não sabendo a
significância do termo, não foi tarefa simples para esses alunos, pois era
necessário que se entendesse a pluralidade de elementos que poderia adentrar
esse corpo, como nos mostra Goellner (2008) quando diz que
116
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Eu sou uma pessoa assim [...], hoje eu quero estar de menina, eu vou
me vestir de menina. Hoje eu quero me vestir de roupas que as
pessoas possam me adequar ao gênero masculino, eu vou me vestir
assim.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Aspectos Familiares
Para os indivíduos que vivem fora dos padrões heteronormativos e
convivem com relações pouco acolhedoras em diversos espaços sociais, imagina-
se que encontrariam a segurança e laços afetivos no seio familiar. Contudo, a
realidade relatada por nossos entrevistados é um tanto distintiva desta
expectativa.
Muitas vezes esses sujeitos, à margem da sociedade e do acolhimento
familiar, correm riscos severos nas ruas pelo simples fato de serem quem são.
Pensar que o fato de sair à noite, para esses sujeitos, é uma prática perigosa é
desvelar uma realidade cruel para os sujeitos descentrados. Especialmente
quando falamos do Brasil, que, segundo notícia do periódico Estado de Minas, é
o país que mais mata travestis e transexuais36, dados da Rede Nacional de
Pessoas Trans do Brasil (Rede Trans Brasil), e sendo a quinta maior taxa de
feminicídio37, segundo os números da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para além dos fatos noticiados, as falas dos entrevistados corroboram
com a cena pouco animadora. O entrevistado A relata que “Atualmente eu fui
expulso de casa [...] pelo meu pai. Ele não aceitou. Então eu tive que sair.”
A aceitação referida pelo sujeito é atrelada à identidade de gênero e
sexualidade exercida pelo aluno. Enquanto desviante da expectativa, o sujeito se
percebe à mercê do julgamento e aceitabilidade do outro, neste caso, membros
da família.
Já o sujeito B voltou a morar com os pais, mas confessa que a mãe
36
Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/especiais/dandara/2017/03/09/noticia-especial-
dandara,852965/brasil-e-pais-que-mais-mata-travestis-e-transexuais.shtml>.
37
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/onu-feminicidio-brasil-quinto-maior-
mundo-diretrizes-nacionais-buscam-solucao/>.
118
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Não quis entender, me colocou para fora de casa, eu tive que morar
com meu tio por dois meses, porque eles não queriam estabelecer
contato com uma pessoa que não estava de acordo com o modo de
vida deles [...]. Eles viam isso como doença.
Aspectos escolares
Atualmente, os participantes deste estudo estão rodeados por colegas
acadêmicos que os entendem e os aceitam, mesmo que com reservas oriundas de
um distanciamento da expectativa social. Todavia, essa é uma realidade ainda
nova, haja vista que na história de vida de nossos entrevistados habitam
passagens por escolas menores e no interior do estado do Rio Grande do Norte,
onde os pensamentos retrógrados e tradicionalistas ainda dominam as
discussões.
Como os estudantes relatam, o início de suas trajetórias acadêmicas foi
mais conturbado, pelo fato de ainda não se reconhecerem enquanto sujeitos
descentrados – percebiam-se diferentes, porém não entendiam o que se passava.
Ao comentar um ato preconceituoso sofrido no ensino fundamental, quando um
119
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Eu espero. Eu não sei o que é isso, por mais que seja “ah, é um
menino de boas”, mas eu não entro. Eu acho que eu já tenho no
psicológico “eu vou entrar e eles vão aprontar alguma coisa”. Eu
espero todos saírem.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Dialogues about gender identities and sexuality: narratives of uncentered subjects and
its relations with School Physical Education
Abstract: This study aimed to expose the social and school relationships, as well as the
understandings of two students about their own body. These students are from the High
School of Federal Institute of Education, Science, and Technology of Rio Grande do
Norte (IFRN) - Campus Parnamirim. It used oral histories collected through semi-
structured interviews, therefore having a qualitative approach. Considering the
collected speeches, this research has as objective to identify the self-perception of
uncentered subjects about their own trajectory and to notice the implications of their
experiences in the education process they faced, as well as to discuss emotive bonds
122
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
developed in the school context. The interviews were classified into four aspects: (I)
social – the way the person sees her or himself; (II) family, explaining their relationships
in the domestic area; (III) school – construction of bonds with friends and teachers; (IV)
Physical education – connection and importance of the course during the school path.
The interviewees' speeches were similar in some parts, such as the fact they were both
expelled from their houses or when they affirm they didn't need to expose their sexual
orientations. The same way the two mention IFRN as a place of help in the development
and affirmation of their personalities. In addition, we still have the oral expressions that
send to the Physical Education classes like a space of discomfort for their conditions.
Keywords: Gender. Sexuality. School Physical Education.
REFERÊNCIAS
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123
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
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2010.
124
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Resumo: Este artigo é resultado das discussões e estudos desenvolvidos pelo Grupo de
Pesquisa Ressignificar – Conceição do Araguaia a respeito da intervenção docente em
educação física no que tange aos temas gênero e sexualidade. A investigação realizada
objetivou analisar a presença dos referidos temas nos currículos dos Cursos de formação
de professores de Educação Física em Instituições de Ensino Superior (IFES) da Região
Amazônica. A pesquisa caracterizou-se como documental, tendo em vista a adoção,
como fontes de informação, os currículos dos 19 Cursos de Educação Física das IEFS no
contexto supracitado. Neste estudo concluímos que os temas gênero e sexualidade não
são incorporado pela maioria dos currículos dos Cursos de Educação Física da IFES,
principalmente quando consideramos as ementas das disciplinas. Nos currículos que
apresentam os descritores gêneros e sexualidade, observamos determinada polarização
entre a área do conhecimento das Ciências humanas que concentra as disciplinas que
incorporam o referido tema e as demais áreas que carecem desta aproximação.
Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Currículo. Formação de Professores de Educação
Física.
INTRODUÇÃO
125
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
126
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Das indagações levantadas, uma nos chamou a atenção, qual seja, aquela
relacionada à formação dos professores, culminando na delimitação da seguinte
pergunta-problema: Como os currículos dos Cursos de formação de professores
de Educação Física em IFES da Região amazônica, têm se apropriado dos temas
gênero e/ou sexualidade?
Perspectivando encontrar respostas a este problema, a pesquisa de
caráter documental, foi desenvolvida seguindo a mesma lógica pela qual
organizamos este trabalho. Inicialmente buscamos apreender o objeto
considerando o que até então havia sido produzido sobre o assunto,
principalmente em relação aos entendimentos do gênero e sexualidade como
categorias históricas, bem como da Educação Física como prática social
específica situada no âmbito da ação pedagógica. Num segundo momento,
pretendemos discorrer sobre gênero, sexualidade e formação de professores de
Educação Física, com enfoque no papel desta última na reprodução e/ou
transformação das relações estabelecidas socialmente, particularmente por meio
das práticas corporais, tendo em vista as dimensões de gênero e sexualidade. Por
fim, apresentamos os dados e análises dos currículos dos Cursos de Educação
Física da IFES existentes na Região Amazônica.
127
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
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129
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
sociais e orgânicas do ser humano em conjunto, visto que uma exerce influência
sobre a outra. Quando partimos de uma concepção dialética do homem, onde
suas dimensões são historicamente conflitadas, podemos compreender as
construções e variações sociais das culturas e sociedades.
Adotamos, portanto, o entendimento de que o gênero é a construção
social em torno do sexo e, a sexualidade é
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gráfico 1 a seguir.
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INSTITUIÇÕES CURSOS
IFRR Curso de Educação Física - Licenciatura
Curso de Educação Física - Licenciatura
IFTO
Curso de Educação Física - Licenciatura (PARFOR - Presencial)
Curso de Educação Física - Licenciatura
UFAC
Curso de Educação Física - Bacharelado
UNB Curso de Educação Física - Licenciatura (EaD)
UNIFAP Curso de Educação Física - Licenciatura
Curso de Educação Física - Licenciatura
Curso de Educação Física - Bacharelado em Promoção em Saúde e
UFAM
Lazer
Curso de Educação Física - Bacharelado em Treinamento Esportivo
Curso de Educação Física - Licenciatura
UFMA
Curso de Educação Física - Bacharelado
Curso de Educação Física - Licenciatura
UFMT
Curso de Educação Física - Bacharelado
Curso de Educação Física - Licenciatura (Campus Belém)
UFPA
Curso de Educação Física - Licenciatura (Campus Castanhal)
UNIR Curso de Educação Física - Licenciatura
Curso de Educação Física - Licenciatura (Campus Miracema)
UFT
Curso de Educação Física - Licenciatura (Campus Tocantinópolis)
Fonte: e-MEC (2018).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Abstract: This article is the result of discussions and studies developed by the research
group Ressignificar - Conceição do Araguaia regarding the teacher's intervention in
physical education with the themes gender and sexuality. The investigation aimed to
analyze the referred themes in the curricula of Physical Education Courses in Higher
Education Institutions (IFES) in the Amazon Region. It is a documental research,
based on the curricula of 19 Physical Education Courses. It concluded the themes gender
and sexuality are not included in the most curricula of Physical Education Courses,
especially when considered the disciplines' syllabus. In the curricula that presented the
descriptors gender and sexuality, we observed a polarization between the area of
knowledge of human sciences which centers the disciplines that include the referred
theme and the other areas that lack this discussion.
Keywords: Gender. Sexuality. Curriculum. Physical Education Teacher’s.
REFERÊNCIAS
BONA JÚNIOR, Aurélio. A ontologia de Lukács e a sexualidade em perspectiva
emancipatória. Filosofia e Educação, Campinas. v. 3, n. 2, p. 18-43, out./mar. 2011/2012.
142
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RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
SANTOS, Ana Paula da Silva; SILVA, Rita de Cassia de Oliveira e. Gênero e formação
de professores de educação física: apontamentos a partir da interculturalidade crítica.
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Canoas. Anais... Canoas: ULBRA/UFRGS, p. 1-12, 2015.
SOARES, Carmen Lúcia et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 2012.
143
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INTRODUÇÃO
41
Mestranda em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Professora da
Escola Superior Madre Celeste (ESMAC). E-mail: nataliafolclore@hotmail.com
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precisava ser educado com rigor e disciplina. E a educação por sua vez vinha
para “contribuir” na formação de individuo higienizado, domesticado, forte e
apto para a guerra e para o trabalho nas indústrias.
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existirem valor e significado para quem os vive, pois, caso contrário, serão
deixados de lado, virando apenas uma lembrança em nossas memórias.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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SOARES, Carmen Lúcia et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo:
Cortez, 2012.
SOUZA, E. P. M. de. Ginástica Geral: uma proposta para a educação física escolar e
comunitária. 2002.
166
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Resumo: O artigo trata do conteúdo dança, tendo como suporte teórico a abordagem
crítico-superadora, adotando o materialismo histórico-dialético como parâmetro
científico. Realizou-se uma análise qualitativa, o qual se utilizou das ações
metodológicas descritivas, com uma coleta de dados sustentada a partir de observações e
interpretações dos momentos pedagógicos. O instrumento de coleta de dados, anotações
das falas dos alunos e a partir de observações de dimensões atitudinais do conteúdo
dança. O artigo tem como objetivo apresentar possibilidades do trato do conteúdo
dança, a partir de músicas do Maestro Waldemar Henrique, tendo como parâmetro
teórico-metodológico a abordagem crítico-superadora. Conclui-se que é possível tratar a
dança como conteúdo de aulas de Educação Física, orientada pela abordagem crítico-
superadora a partir da obra do Maestro Waldemar Henrique.
Palavras-chave: Cultura Amazônica. Educação Física. Abordagem Crítico-Superadora.
Dança.
INTRODUÇÃO
42
Mestranda em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Professora da
Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC/PA). E-mail:
cgiovelangela@yahoo.com.br
43
Licenciada em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail:
rayestumano@hotmail.com.
44
Licenciado em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Especializando em Pedagogia da Cultura Corporal na Universidade do Estado do Pará
(UEPA). E-mail: brunosantabrigida@yahoo.com.br
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A ABORDAGEM CRÍTICO-SUPERADORA
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configurada com temas [tais como]: jogo, esporte, ginástica, dança ou outras
[...]”.
Para Soares et al. (2012), essa abordagem surge para confrontar a
tradicional Educação Física, pautada essencialmente no desempenho prático
dos alunos, tendo como principal objetivo o desenvolvimento da aptidão física.
Contrapondo-se ao paradigma da aptidão física, a ACS entende que o principal
papel da Educação Física no ensino escolar é proporcionar o aprendizado da
cultura corporal (jogos, ginásticas, danças, esportes e capoeira).
A ACS não nega a necessidade dos aprendizados técnicos, mas
compreende que a cultura corporal é mais do que técnicas motoras, entendendo
que a prática pedagógica da Educação Física deve ser diagnóstica, judicativa e
teleológica. Diagnóstica, pois precisa constatar os dados da realidade.
Judicativa, pois necessita fazer julgamento, análises, interpretações da realidade
constatada. E teleológica, pois deve ter um alvo para alcançar, ou seja, deve ter
claro que projeto de homem e sociedade defende. (SOARES et al., 2012)
Outro aspecto característico da abordagem é considerar os ciclos de
aprendizagem no planejamento das aulas. Sendo uma teoria pedagógica
fundamentada no MHD, leva em conta que os conhecimentos no ensino escolar
devem ser organizados de acordo com uma espiral de conhecimento, que amplia
e aprofunda os conteúdos ao longo das etapas.
Para Soares et al. (2012), os ciclos de aprendizagem são uma maneira de
organizar os conteúdos do ensino escolar, distribuídos em quatro ciclos que
abrangem todo o ensino básico.
O primeiro ciclo (pré-escola à 3ª séries) é o ciclo de organização da
identidade dos dados da realidade, de modo que o aluno se encontra num estado
de síncrese, ou seja, compreendem os dados da realidade de forma caótica,
difusa, misturada, cabendo ao professor “[...] organizar a identificação desses
dados constatados e descritos pelo aluno para que ele possa formar sistemas,
encontrar as relações entre as coisas, identificando as semelhanças e as
diferenças.” (SOARES et al., 2012, p. 36).
No segundo ciclo (4ª à 6ª séries), denominado ciclo de iniciação à
sistematização do conhecimento, o aluno deve adquirir consciência de sua
atividade mental, ou seja, deve confrontar os dados da realidade com os seus
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O CAMINHO DA ESCOLA
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aluno como sujeito historicamente construído e um ser social que está inserido
no contexto educacional que privilegia somente interesses capitalistas.
A docência exige do professor conhecimentos, sensibilidades e
capacidades de reflexão e dedicação profissional. É necessário o preparo das
aulas, estudar o assunto e objetivar cada prática, assim como ensinar aos alunos
que a Educação Física proporciona diversas experiências e que todas as
atividades ministradas poderão auxiliá-los na sua caminhada escolar e,
consequentemente, nas escolhas que cada um fará futuramente.
O ponto positivo da relação aluno com o conteúdo dança na escola é o
de oportunizar a criatividade, fazendo com que ele também expresse suas
experiências corporais, enfatizando sempre o respeito à diversidade cultural
expressa na Obra do Maestro Waldemar Henrique, o que possibilitou o
conhecimento histórico e sua visão crítica acerca da musicalidade.
O planejamento do trabalho pedagógico, estruturou-se no estudo da
biografia do Maestro Waldemar Henrique e nas suas Obras: Foi Botô Sinhá,
Tamba-Tajá, Uirapuru, na visitação aos Teatros da Paz e Waldemar Henrique,
na criação de coreografias e na apreciação da música a partir da riqueza da
Obra do Maestro. As aulas foram sistematizadas pela proposta da pedagogia
histórico-crítica, dentro do método didático: prática social inicial,
problematização, instrumentalização, catarse e prática social final.
O Maestro Waldermar Henrique (1905-1995) foi um compositor
paraense e Diretor do Teatro da Paz, em Belém do Pará. Ele merece
reconhecimento pelas suas composições críticas e pelo olhar sensível que
retratou a Amazônia. Estudou música no Rio de Janeiro e obteve notoriedade
no Brasil e no exterior com mais de 150 composições.
Sendo assim, ao levarmos as canções do Maestro Waldemar Henrique
para a escola, estamos ampliando a compreensão do patrimônio cultural dos
alunos e o reconhecimento social de suas identidades. A partir disso, a
interpretação e a valorização que existe dentro da diversidade cultural que
compõem a Amazônia, visa promover atitudes de respeito e combate a
estereótipos e preconceitos contra as minorias, e segundo Neira (2008, p. 83), a
“[...] tematização do conhecimento popular potencializará novos métodos para
validar a oportunidade das vozes divergentes”. Dessa forma, o trabalho
pedagógico abrirá novos horizontes para a Educação Física nas escolas.
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Quadro 1 – Nome, descrição e análise das canções do Maestro Waldermar Henrique
Nome da
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Letra da canção Análise da Canção
canção
Tajá-Panema chorou no terreiro / E a virgem morena fugiu Este fato é um mito na região amazônica. Onde o boto
“Foi Boto no costeiro (bis) / Foi Bôto, Sinhá... / Foi Bôto, Sinhô! / Que transforma-se em um belo rapaz, que veste-se de branco e usa
Sinhá” veio tentá / E a moça levou / No tar dansará / Aquele douto / chapéu branco na cabeça. Este homem conquista facilmente
Foi Bôto, Sinhá / Foi Bôto, Sinhô! / Tajá-Panema se poz a moças jovens e bonitas, casadas ou não. Convida-as para
A Lenda do chorá / Quem tem filha moça é bom vigiá! ( bis) / O Bôto não dançar, namorar e passear para seduzi-las e engravidá-las
Boto dorme / No fundo do rio / Seu dom é enorme / Quem quer que depois disso, volta para o rio. Isso é mascarado muitas vezes
o viu / Que diga, que informe / Se lhe resistiu / O Bôto não pelos vizinhos ou padrastos que acabam assediando as
dorme / No fundo do rio... mulheres e colocam culpa no boto.
Tamba-Tajá / Me faz feliz / Que meu amor me queira bem... / Na tribo dos índios macuxis havia um índio que, por muito
Que seu amor seja só meu, / De mais ninguém, / Que seja amar sua esposa, levava-a sempre consigo para todo lugar.
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“Tamba–Tajá” meu, / Todinho meu, / De mais ninguém... / Tamba-Tajá, / Me Certa vez, o índio teve que ir para a guerra, mas a esposa
faz feliz / Assim o índio carregou sua “macuxy” / Para o ficou doente, sem poder andar. Mas mesmo assim, o levou nas
A Lenda do roçado, para a guerra, para a morte... / Assim carregue o costas e durante o combate, sua amada foi ferida e morreu. O
Tamba - Tajá nosso amor a boa sorte / Tamba-Tajá / Tamba-Tajá, / Me faz índio, desesperado de amor, enterrou-se junto com ela. No
feliz, / Que mais ninguém possa beijar o que beijei, / Que lugar onde jaziam seus corpos, nasceu um tajá diferente. O
mais ninguém escute aquilo que escutei / Nem possa olhar tajá faz parte de algumas plantas da Amazônia que tem
dentro dos olhos que olhei / Tamba-Tajá... poderes curativos e mágicos.
Certa vez de “montaria” / Eu descia um “paraná” / O caboclo Havia uma tribo de índios cujo cacique era amado por duas
que remava / Não parava de falá(r) / Á, á... Não parava de jovens. Não sabendo qual escolher para esposa, o jovem
falá(r) / Á, á... Que cabôclo falador! / Me contou do cacique prometeu que iria escolher aquela com melhor
“lobisomi”/ Da mãi-d’água, do tajá, / Disse do jurutahy/ Que pontaria. Assim sendo, fez-se uma competição. A jovem que
se ri pro luar / Á, á... Que se ri pro luar / Á,á... Que cabôclo perdeu a prova se chamava Oribicy. Ela chorou tanto por ter
“Uirapuru” falador !/ Que mangava de visagem / Que matou surucucú/ E perdido seu amado, que suas lágrimas formaram um córrego.
jurou com pavulagem / Que pegou uirapuru / Á, á...Que Sua tristeza era tanta, que pediu a Tupã que a transformasse
A Lenda do pegou uirapurú/ Á, á... Que cabôclo tentador! / Cabôclinho num passarinho para que visitar seu amado sem ser
Uirapuru meu amor,/ Arranja um pra mi/m/ 21. Ando “rôxa” prá reconhecida. Tupã realizou o desejo da moça e Oribicy, com
pegar/ “Um zinho”assim; / O diabo foi-se embora / Não quiz sua nova forma, voou até o amado. Para sua grande tristeza,
me dar/ Vou juntar meu dinheirinho / Prá poder comprar. / viu que o cacique vivia muito feliz com sua esposa. É por
Mas, no dia que eu comprar / O caboclo vai sofrer / Eu vou isso que o uirapuru, o pássaro que não é pássaro, vive a
desassocêgar/ O seu bem-querer / Á, á... O seu bem-querer / Á, cantar e a atrair com seu canto todos os que o ouvem, fazendo
á... Ora deixa ele prá lá... com que a sua tristeza seja amenizada.
45
Arte relacionada com o vestuário.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abstract: The article deals with the dance content, theoretically based on the critical-
surpassing approach, adopting the historical and dialectical materialism as the
scientific parameter. It carried out a qualitative analysis, in which it used the
descriptive methodological actions, with a data collection sustained by observations and
interpretations of the pedagogical moments. The tools for data collection included notes
of students' speeches and observations of attitudinal dimensions of the dance content.
The article aims to present possibilities of dealing with the dance content, from Maestro
Waldemar Henrique's music, based on the critical-surpassing approach. It concludes it
is possible to treat the dance as content in Physical Education classes, guided by the
182
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
REFERÊNCIAS
ALIVERTI, Márcia Jorge. Uma visão sobre a interpretação das canções amazônicas de
Waldemar Henrique. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n. 54, p. 283-313, 2005.
ASSUNÇÃO, Jeane Rodella; XAVIER FILHO, Lauro Pires. Saiba mais sobre educação
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MARQUES, I. Ensino de dança hoje: textos e contextos. São Paulo: Cortez, 2003.
SOARES, Carmen Lúcia et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo:
Cortez, 2012.
TAFFAREL, Celi Nelza Zülke. Criatividade nas aulas de Educação Física. Rio de
Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.
183
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
184
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Resumo: Este artigo apresenta a analise dos limites para o trabalho com as questões
étnico-raciais na escola oriundos da triangulação dos dados da investigação
“Mojuodara: a educação física e as relações étnico-raciais na RME-POA”. A pesquisa,
de caráter qualitativo, é constituída de um questionário diagnóstico e um estudo de caso
etnográfico. Entre os limites apontados estão a dificuldade de se estabelecer um trabalho
coletivo, principalmente, que abranja esse tema; as dificuldades do dia a dia da escola e
sua rotina; a carência na formação para tratar do tema; o conceito de igualdade relatado
pelos professores e o fato de a Lei n. 10.639/03 e a Lei n. 11.645/08 serem políticas de
direito, mas ainda não serem políticas que se concretizem na prática.
Palavras-chave: Educação Física. Escola. Relações étnico-raciais.
INTRODUÇÃO
46
Doutoranda em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Professora da Secretaria Municipal de Educação de Porto
Alegre (SMED). E-mail: ganobre@hotmail.com
47
Doutor em Filosofia e Ciências da Educação pela Universitat de Barcelona (UB-
Espanha). Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:
vicente.neto@ufrgs.br
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CARÊNCIA NA FORMAÇÃO
186
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[...] dentro da educação física nem se fala nisso, isso nem existe na
educação física, nas poucas formações que eu pude ir não tem
discussão é como se isso não passasse pela área; por que no meu
tempo de graduação isso passava longe da academia também, e na
realidade eu acho que isso está tão perto da educação física, são
191
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192
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lei, mas na realidade ela não tem autonomia e muito menos apoio institucional
para viabilizar maiores ações em prol do ensino das questões étnico-raciais na
escola. Falta articulação com o setor pedagógico da secretaria e muitas vezes
interesse das escolas. A fala do assessor vem ao encontro do que observamos
durante o trabalho de campo:
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Então nos questionamos o que pode ser feito para pensarmos a escola
brasileira e, mais especificamente, a escola municipal de Porto Alegre como um
espaço não exclusivo de escolaridade e também como um espaço de educação
mais amplo, como aponta Mazama (2009).
Nossa escola não foi pensada para trabalhar com outros valores, outras
formas de aprendizagem, de tempos, espaços e organização. Desde seu formato
arquitetônico, dividido em salas, da mesma forma que estruturamos o
pensamento, tudo compartimentado nas suas respectivas gavetas. Essa escola
deriva da ciência ocidental, que, conforme Nascimento (2009, p. 182), “[...]
propõe a busca de regras e normas universais, aplicáveis às varias dimensões da
realidade compartimentadas em disciplinas específicas”. Como resultado disso,
nos deparamos com a segmentação da experiência humana, que é resultado da
separação do conhecimento em disciplinas especializadas, definindo espaços
fechados de investigação científica e construção de conhecimento. Em conversa
com o Mestre Griô Aprendiz sobre essa realidade, ele fala:
198
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51
Tinguerreiros é o codinome dado à escola onde foi feita a etnografia.
200
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IGUALDADE X EQUIDADE
52
Cf. Nogueira (2004).
203
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204
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As pessoas sempre dizem que não importa a cor da pele, que todos
são iguais ou tratados com igualdade. Eu uso o conceito de equidade
do SUS. Nós não somos iguais e temos que ser tratados e vistos de
forma diferente. Eu não posso tratar a aluna X (aluna negra que a
mãe saiu agora da cadeia) igual aos outros, precisa de um olhar
diferente. (Trecho do diário de campo 23/09/2013).
CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS
205
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
aspectos servem como limitadores dessa prática. Mas é importante ressaltar que
apesar desses limites encontramos muitos professores que abordam a temática.
Ficou evidente que os cursos de graduação das universidades aqui localizadas
preparam de modo insuficiente os professores para lidarem com as questões da
diversidade, principalmente a diversidade étnico-racial. Na Educação Física,
essa questão é pouco debatida e nos currículos das universidades de onde são
oriundos os professores participantes desta pesquisa poucas são as disciplinas
que tematizam o assunto.
Precisamos refletir que garantir o direito em lei e garanti-lo entre as
pessoas funciona de modo diferente. Apesar de essas leis já terem anos desde sua
promulgação, elas ainda não existem de fato no cotidiano das escolas. A
implementação da lei como política pública é um processo lento e, por mais que
já possamos ver avanços, como mostram alguns dados dessa pesquisa, ainda
temos um longo caminho a trilhar.
A temática das relações étnico-raciais e da diversidade é uma temática
que, segundo o Mestre Griô Aprendiz, “se não tiver o respaldo institucional é
difícil de ser assimilada” (Fragmento da entrevista com o Mestre Grio
Aprendiz). A falta de uma política clara da SMED para a implementação do
ensino das questões étnico-raciais e o fato de ela ser ainda uma lei de direito,
mas não de fato, é mais um limitador para que se avance no trabalho com essas
questões na escola e, principalmente, na Educação Física, que é o foco desta
pesquisa.
Também devemos levar em conta que a estrutura da escola é reflexo da
visão de mundo onde ela é construída e que ela não favorece o trabalho com as
cosmovisões africanas, afro-brasileiras e indígenas. A escola é baseada na
dualidade corpo e mente, dando prioridade à mente e dividindo desde o seu
espaço físico até a organização dos seus tempos e conteúdos em dispositivos
pré-definidos. A escola ainda não está preparada para conviver e acolher outras
formas de aprender e ensinar.
De uma forma ou de outra, todos os aspectos discutidos neste texto,
tornam-se limites para que os professores realizem um trabalho com as questões
étnico-raciais nas aulas de Educação Física da RME-POA. Arriscamo-nos a
afirmar que essas limitações extrapolam a dimensão desta rede de ensino e
podem ser limitadores não só aqui, mas em diversas escolas do país. Porém,
206
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
esses limites não impossibilitam que o trabalho aconteça. Eles tornam a tarefa
mais difícil e cansativa e é possível que funcionem em alguns casos como
justificativa para a sua não realização.
Contudo, vários professores estão realizando boas práticas pedagógicas
que dão visibilidade ao corpo e à cultura corporal afro-brasileira e indígena.
Mas, ainda não é suficiente, urge ampliar a discussão para a maioria dos
professores que tem dificuldades em lidar com a temática em sua prática
pedagógica.
Nossas escolas propagam com frequência o discurso racista,
principalmente a partir das ações ou dos silenciamentos e invisibilidades da
cultura negra dentro de seus espaços. Assumindo isso, poderemos reverter a
situação e tornar a escola um núcleo de resistência ao racismo e uma semente
que plante a educação antirracista na mente e corpo de professores e estudantes.
Beyond excuses: limiting factors to the work with racial ethnic issue in the Physical
Education of Porto Alegre’s municipal schools
Abstract: This article presents the analysis of the limits to work with ethnic and racial
issues in the school arising from the data triangulation of the study entitled "Mojuodara:
physical education and ethnic and racial relations in RME-POA". It is a qualitative
research and uses a diagnostic questionnaire and an ethnographic case study. Among
the limits found it is: the difficulty of establishing a collective work to encompass this
subject; the difficulties of the school's daily routine; the lack of training to approach the
discussion; the concept of equality related by teachers; and the fact that Law 10.639/03
and 11.645/08 are legal rights, but still are not put into practice in the reality.
Keywords: Physical Education. School. Ethnic-racial relations.
REFERÊNCIAS
ABRAMOWICZ, Anete; OLIVEIRA, Fabiana de; RODRIGUES, Tatiane Cosentino A
criança negra, uma criança negra. In: ABRAMOWICZ, Anete; GOMES, Nilma Lino
(Org.). Educação e Raça: perspectivas políticas, pedagógicas e estéticas. Belo Horizonte:
Autêntica, 2010.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
MOLINA NETO, Vicente et al. The first years of work at school: effects on identity,
autonomy and training of physical education (PE) teachers. In: Creativity and
Innovation in Educational Research (Abstract Book) . European Conference on
Educational Research. Istanbul - TUR: European Educational Research Association,
2013.
MOREIRA, Antonio Flavio (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos
estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
SANT’ANA, Ântonio Olímpio de. História e conceito básico sobre o racismo e seus
derivados. In: MUNANGA, Kabenguele (Org.). Superando o Racismo na escola. 2. ed.
Brasilia: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade, 2005. p. 39-67.
SANTOS, Marzo Vargas dos; MOLINA NETO, Vicente. Aprendendo a ser negro: a
perspectiva dos estudantes. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. 143, p. 516-537,
maio/ago. 2011.
209
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210
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INTRODUÇÃO
53
Mestranda em Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Professora da
Secretaria Municipal de Educação de Ananindeua (SEMED). E-mail: danny-
bittencourt@hotmail.com
54
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor da
Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: emerson@uepa.br
211
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55
A PEA compreende as pessoas ocupadas e desocupadas na semana da coleta de dados.
Define-se desocupadas as pessoas que na semana da coleta de dados estavam em busca
de trabalho. (IBGE, 2007)
56
A Taxa de Ocupação corresponde ao percentual de pessoas ocupadas na semana da
coleta de dados em relação às pessoas economicamente ativas nessa semana. (IBGE,
2007)
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Ocupação das mulheres salta de 51,2% para 52,0% nessa década, ou seja, as
mulheres não conseguem mais ampliar o quantitativo de vagas de emprego
considerando o total de mulheres na PEA. (ANDRADE, 2016, p. 10)
Contribui para esse panorama a manutenção da dupla jornada de
trabalho que as mulheres estão submetidas, como parte do processo de
naturalização das atividades destinadas às mulheres, produto dos valores da
sociedade patriarcal e da ideologia machista ai desenvolvida. Naturalizar os
afazeres e cuidados domésticos como atividades exclusivas das mulheres (tanto
em relações heterossexuais, quanto em relações homossexuais), configura-se
como fator que mantém a dependência e opressão da mulher em relação aos
homens (ou mesmo em relações homossexuais57).
Notam-se avanços quanto a dupla jornada de trabalho das mulheres nos
anos iniciais do século XXI, contudo sem impacto na dupla jornada dos
homens. De 2001 a 2015, o tempo gasto pelas mulheres com os afazeres e
cuidados domésticos regrediu em 23,5%, uma redução de 34 horas para 26 horas
semanais. No entanto, entre os homens, o quantitativo de horas despendidas
com afazeres e cuidados domésticos ficou estagnado em 11 horas semanais ao
longo do período em análise. (BARBOSA; COSTA, 2017, p. 25)
Os autores avançam, ainda, para a análise do impacto que a elevada
57
O Machismo aqui é encarado como uma opressão a mulher, independente do seu
agente. E isso ganha sustentação na realidade concreta, a partir da dinâmica das
relações heterossexuais, que são largamente permeadas pelo machismo, mas também no
interior das relações homossexuais, que reproduzem os elementos definidores do
machismo. Rodrigues (2017) apresenta relatos de mulheres que mantiveram relações
homoafetivas e vivenciaram, de suas companheiras, um conjunto de
ações/comportamentos/verbalizações machistas, inclusive violência doméstica, de
natureza física e/ou psicológica. Fomin (2015) em entrevista a uma ativista do
movimento LGBT, observa, a partir das falas de sua entrevistada, que o machismo entre
as mulheres nas relações homoafetivas se manifesta desde o controle sobre a vestimenta,
ao uso da maquiagem, até o controle do corpo permeado pela violência física. Sobre o
particular da violência doméstica nas relações homoafetivas entre mulheres, Avena
(2010) destaca que o “ciúme” se configura como o principal catalisador para a violência
contra a mulher nessas relações. Nessa trilha analítica, Almeida (2010) realizou
investigação empírica com famílias homoafetivas (três casais de mulheres e um casal de
homens) e a reprodução do machismo no interior da dinâmica familiar, e concluiu que
há reprodução do machismo a partir da divisão do trabalho doméstico desigual, da
monogamia e das questões que dela derivam e da negação do projeto de vida individual-
profissional de um dos membros da família em detrimento do projeto familiar como
defesa de um dos membros da relação.
220
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
221
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
sociedade.
Cabe lembrar que as relações de gênero estão permeadas por outros
fatores sociais, como a classe e a raça a que pertence uma mulher, ou seja, estas
relações se expressam de formas bastante diferentes na mulher burguesa e na
mulher proletária.
Ser pobre, com um emprego precário, com difícil acesso aos serviços da
seguridade social e a educação e com precárias condições de sobrevivência são
condições de classe, é a condição da classe trabalhadora no capitalismo. Uma
mulher, nessas condições, tem experiências diferentes do “feminino” vivido por
uma burguesa que reside em um bairro de luxo, é proprietária ou mulher de
empresário, frequenta todos os dias o cabeleireiro, possui empregados
domésticos e babá, etc. (TOLEDO, 2005, p. 118)
Destaca-se, ainda, que a luta pela equidade entre os gêneros, como
expressão da luta contra a opressão à mulher, deve se unir a luta contra o modo
de produção capitalista, pelo fim da exploração da classe trabalhadora. Dessa
maneira, as mulheres trabalhadoras fazem de sua luta de gênero, que é
necessária, mas limitada em seu alcance, uma luta de classes, a única que pode
abrir caminho, de fato, para a emancipação de todas as mulheres. (TOLEDO,
2005, p. 119)
Para Kollontai (2011, p. 92), a medida que a mulher intervém no
movimento da vida social, a medida que se torna ativa na vida econômica e na
luta pela sua classe, seu horizonte se alarga e, então, compreende as
desigualdades como mutáveis.
Como frisado anteriormente, o alcance da emancipação é limitado e não
depende somente da mulher, são necessárias políticas públicas que ofereçam
melhores condições de vida a mulher, ou seja, serviços públicos de boa
qualidade, creches, escolas, lavanderias, restaurantes. Portanto, é preciso o
comprometimento de toda a sociedade com as tarefas domésticas e não mais
concentrada nas mulheres, como observado a pouco nos dados nacionais.
(TOLEDO, 2005, p. 104)
É possível perceber que somente por meio de muitas lutas é que haverá
justiça social e igualdade de acesso as oportunidades. Contudo, este não é um
papel exclusivo da mulher, é necessária a mobilização de todos os sujeitos e
setores da sociedade.
222
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Esta seção trata das relações históricas e desiguais entre os gêneros e seu
reflexo nas aulas de Educação Física, problematizando a necessidade de inserir
o debate sobre as relações de gênero, reiterando o papel social do(a) professor(a)
no desenrolar destas relações.
Compreende-se a Educação Física como “[...] matéria escolar que trata,
pedagogicamente, temas da cultura corporal, ou seja, os jogos, a ginástica, as
lutas, as acrobacias, a mímica, o esporte e outros. Este é o conhecimento que
constitui o conteúdo da Educação Física” (SOARES et al., 2012, p. 19). Nessa
direção, ela deve:
Portanto, a Educação Física deve ser vivida de forma igual por todos os
estudantes, pois diz respeito a construção das práticas corporais que foram
elaboradas ao longo do tempo e traz consigo conhecimentos necessários para a
formação de sujeitos críticos, capazes de situar historicamente por meio dos
conhecimentos da cultura corporal e capazes, também, de lutar pelo fim das
desigualdades entre os seres humanos.
Todavia, a educação na sociedade capitalista, ocidental e moderna tem
caminhado em direção contrária a estes pressupostos e cumpre o papel de
apartar os sujeitos. Começou separando e marginalizando àqueles que a ela não
tinham acesso, logo após separou, também, os adultos das crianças, os católicos
dos protestantes, também se fez desigual para os ricos e para os pobres e, por
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
para que não construam suas aulas sobre os corpos individuais dos(as)
alunos(as), haja vista que isto pode ocasionar a legitimação de uma natureza
superior de alguns sujeitos sobre outros (classe, etnia, gênero, sexualidade).
Neste sentido, é possível que concepções de diferenciação entre o
masculino e o feminino possam negar às alunas, nas aulas de Educação Física, a
vivência dos conteúdos em sua totalidade, construindo a ideia de inabilidade
das meninas nas práticas corporais perante os meninos.
Esta atitude carece de reflexão, pois a formação escolar é direito de
todos os seres humanos, independentemente de suas características pessoais, é
preciso considerar alunos e alunas como sujeitos que possuem diferenças, mas
que possuem os mesmos direitos e devem acessar os mesmos conteúdos, as
mesmas oportunidades.
Isto se chama equidade e se identifica como a forma de respeito à
igualdade de direitos e deveres, igualdade de acesso às práticas corporais, é
somente assim que todos os sujeitos envolvidos nas aulas terão acesso a todos os
conteúdos histórica e culturalmente produzidos pela humanidade, tal como
defendido por Soares et al. (2012).
Nesta perspectiva, Louro (2003, p. 74) afirma que o processo de
diferenciação nas aulas de Educação Física, normalmente está vinculado a
reafirmação do feminino como um desvio do masculino, em que se utiliza o
discurso de que existem atividades que vão contra a feminilidade. Nas palavras
da autora, “que se opõem a um determinado ideal feminino heterossexual, ligado
à fragilidade, à passividade e a graça como o fato de que tais atividades podem
"machucar" os seios ou os órgãos reprodutores das meninas”.
É importante ressaltar que gênero é também uma categoria relacional,
pois diz respeito às relações entre homens e mulheres e, diante deste discurso, há
também que se preocupar com os meninos que também estão sujeitos a
estereótipos e preconceitos que os colocam em condições de só poderem praticar
atividades de grande vigor que exaltem o lado forte da masculinidade.
Neste sentido, é necessário repensar as aulas de Educação Física no
intuito de que se possam dar oportunidades iguais de escolhas a todos os alunos
e a todas as alunas, para que através das experiências das diversas práticas
corporais e da própria vida, eles e elas se sintam capazes de desenvolver atitudes
e escolhas próprias na construção de suas identidades e de suas trajetórias de
225
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
vida.
Para isto, o papel das(os) professoras(es) é fundamental. Conforme Silva,
Gomes e Goellner (2008, p. 398) o que deve estar em evidência na educação
escolar é o processo de ensino-aprendizagem e, por isso mesmo, a Educação
Física deve ser experimentada por todos e todas de forma positiva, para que
estas experiências não sejam estereotipadas pelo gênero.
Além disso, para Goellner (2015) é muito importante o processo de
apropriação teórica das questões que envolvem relações de gênero pelas(os)
professoras(es), pois algumas vezes, no campo da prática pedagógica, eles e elas
não identificam as desigualdades de gênero por conta da escassez de debate e
familiaridade com a teorização a respeito desta temática, o que pode ser feito
durante sua formação profissional (inicial e continuada).
Portanto, entende-se que a desnaturalização desse biologicismo presente
na Educação Física é uma necessidade central, pois somente por meio de um
novo entendimento acerca do tema, a partir da sua caracterização histórica, é
que se poderá consolidar uma formação justa e igualitária, com radicalidade
teórica.
Constitui tarefa para as(os) professoras(es) de Educação Física tratarem
sobre as desigualdades nas suas aulas, sem a divisão das aulas por sexo, assim
como elaborar atividades que despertem nos alunos e alunas uma atitude crítica
e reflexiva frente a estas problemáticas.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Importa aqui destacar que a crença de que são fatores biológicos que dão
a mulher o papel de mais frágil, desencadeia pensamentos de superioridade
masculina naturalizadas, o que torna as relações desiguais entre as meninas e os
meninos como imutáveis, além disso, é como se as pessoas já nascessem
predestinadas a serem de um modo único, como uma marca genética
intransponível, no qual elas não possuem escolhas, ou ainda, no qual as relações
sociais não interferissem nessa dinâmica.
Esse pensamento interfere na Educação Física de modo que impede a
participação efetiva das meninas nas práticas, uma vez que já está
predeterminado que elas são, em suma, mais frágeis e, portanto, não podem ser
inseridas nalgumas práticas da cultura corporal. E essa realidade ainda se
227
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
228
Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
questões.
É necessário destacar que 33,3% das(os) professoras(es), que
responderam que a mulher é, em parte, mais frágil que o homem, percebem esta
fragilidade como um fato histórico, cultural e/ou religioso, o que demonstra que,
para estas(es) professoras(es), as diferenças são algo construído pelos seres
humanos e, portanto, podem ser modificadas.
Pode-se concluir que, as(os) professoras(es) avaliam que as alunas são
iguais, em termos de habilidades, aos alunos, enquanto que quase metade das
professoras não as consideram, o que, de certo modo, foi uma surpresa, visto que
a luta pela equidade entre homens e mulheres está, historicamente, vinculada ao
feminismo e operada por mulheres, no entanto este fato não se confirma neste
estudo.
Neste aspecto é possível verificar que existe um grande conflito no que
diz respeito ao desempenho de meninas e meninos e, pode-se perceber que,
ainda é possível verificar uma visão androcêntrica da Educação Física, é
possível que isto se deva ao fato de que no curso das experiências, aprende-se
que os homens, por sua condição biológica, dominam a execução das atividades
físicas e as mulheres ficam relegadas a atividades secundárias neste campo.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
Ainda que este acesso esteja acontecendo é preciso questionar que tipo
de debates foram estes, visto que muitos problemas foram percebidos nos
posicionamentos das(os) professoras(es).
As situações aqui postas têm como finalidade desafiar as normatizações
e os estereótipos presentes na Educação Física. É necessário permanecer atento
para que os sujeitos não sejam silenciados, não apenas em suas representações,
mas em suas próprias experiências. Quando se fala em representações um
grande exemplo é a dificuldade que a autora encontrou em escrever todos os
sujeitos no masculino; é preciso romper com esta lógica, que parece ser de
ordem gramatical, mas que é de ordem social e cultural, de que os homens
representam as mulheres.
As mulheres precisam ser inscritas na vida pública, no campo político,
social e as formas de viver o feminino precisam ser encaradas como diversas,
uma vez que gênero não é uma categoria solitária, mas é atravessado por
diversos outros marcadores sociais, como raça, sexualidade e classe, e por isso
mesmo precisa estar em debate, tendo em vista que a luta pela equidade de
gênero é uma luta atrelada a diversas outras lutas, que permitem aos seres
humanos alcançarem a transformação da realidade e uma formação de matriz
omnilateral.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
que não seja o objetivo deste artigo discuti-lo em profundidade – uma vez que
os números de casos relatados pelas(os) professoras(es) são significativos.
Conforme a pesquisa, 60,0% das(os) professoras(es) disseram já ter presenciado
algum tipo de violência contra a mulher em suas aulas e, na maioria destes
relatos, aparecem mais de um tipo de violência contra a mulher.
Quando somados todos os casos de violência contra a mulher já
vivenciados pelas (os) professoras(es), tem-se uma predominância para a
violência psicológica58, com 36,6%, como atestam os dados expressos por meio
da Tabela 3. A partir da maior recorrência da violência psicológica, de modo
igual aparecem a violência física e moral, além de um pequeno percentual de
violência sexual. Todavia, a simples existência de relatos por parte dos
participantes da pesquisa de violência contra a mulher no espaço escolar,
demonstra a gravidade do problema, a magnitude que a opressão contra as
mulheres apresenta no interior do espaço de formação sistematizada dos seres
humanos.
58
Conforme demarcado por meio da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, em seu Art.
7º, os tipificação das formas de violência contra a mulher são: I - a violência física,
entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a
violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou
à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou
anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial,
entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial
ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria. (BRASIL, 2006)
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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de Educação Física.
Além disso, aponta-se para a necessidade de se pensar na formação
destas(es) profissionais que atuam na educação básica articulada com
perspectivas de superação dos preconceitos, dos estereótipos. Para isso, é
fundante o papel do Estado, com políticas públicas e novos estudos que
apontem melhores condições as(aos) professoras(es) lidarem com problemas que
envolvem as questões de gênero.
As(os) professoras(es) e a escola, de modo geral, têm um papel
primordial, pois deve ajudar a perceber, encaminhar e instruir as dúvidas
das(os) alunas(os) em relação a superação dos estereótipos, dos preconceitos e
das desigualdades. É necessário expor, falar sobre este assunto, pois somente
assim, pode-se desmistificar os conceitos já elaborados de fragilidade natural da
mulher.
Frisa-se que os apontamentos feitos até aqui, são de caráter provisório,
pois somente por meio de uma mudança radical (de raiz) nas estruturas desta
sociedade é que será possível alcançar, efetivamente, a emancipação dos seres
humanos, a partir de uma formação para a emancipação dos sujeitos, visto que
uma educação que aponta para a emancipação dos seres humanos,
consequentemente, deve subsidiar, também, a equidade de gênero para uma
formação omnilateral.
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Práticas Corporais, Cultura e Diversidade
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as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de
Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 8 ago. 2006.
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