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artigos e ensaios Estética, política e cidades: apontamentos

sobre a dimensão crítica de intervenções artísticas


em espaço urbano no final do século XX

Gabriel Girnos Elias de Souza


Arquiteto e urbanista, professor assistente efetivo no Departamento
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (UFRRJ), Rua Honório de Barros nº28, apto 502,
Flamengo, Rio de Janeiro - RJ, CEP 22250-120, (21) 3258-3347,
gabrielgirnos@gmail.com

Resumo

O artigo traça um panorama de questões e referências sobre arte, política


e espaço urbano na contemporaneidade. Começa com os aspectos de
despolitização e estetização da cidade, com destaque à exploração da cultura
como marketing e controle; em seguida são discutidas as dimensões políticas
da arte no século XX, para então delinear algumas formas básicas de operações
críticas sobre o espaço urbano desenvolvidas desde os anos sessenta. Por
fim, é introduzida a particularidade dos grandes eventos de arte em espaços
urbanos e as dificuldades que a rotineirização institucional da transgressão
cria para a dimensão crítica da arte na cidade.

Palavras-chave: arte urbana, espaço urbano, cultura.

O final do século XX assistiu à proliferação de uma


série de iniciativas artísticas de ida ao espaço urbano,
subjetividade e história — numa situação que vários
autores designariam como “pós-modernidade” 1.
incluindo desde intervenções isoladas a grandes Na visão de alguns pensadores, ao final do século
1  Empregado até hoje por eventos expositivos, as quais conviveram com um XX a política seria crescentemente substituída pelas
muitos em áreas variadas
do conhecimento acadêmi-
crescente valor estratégico da produção artística e relações de mercado e, no limite, pela ideia de uma
co das “humanidades”, o cultural em políticas urbanas de desenvolvimento administração eficiente da vida. Esse esvaziamento
termo pós-modernidade ou
pós-modernismo foi definido
e atração de capital e mercados. Este fenômeno, implicaria numa crise da inserção social do discurso
por F. Jameson como “um já bastante estudado, estaria por sua vez ligado crítico, nisso incluso o teor crítico e político das
conceito de periodização cuja
principal função é correlacio-
de forma geral a um processo mais amplo de manifestações estéticas como um todo.
nar a emergência de novos transbordamento da estética e de encolhimento
traços formais na vida cultural
com a emergência de um
da política nos tempos recentes — imbricados O filósofo Jacques Rancière pensou tal situação
novo tipo de vida social e de ao domínio progressivo de relações de mercado contrapondo os conceitos de política e polícia e
uma nova forma econômi-
sobre as variadas dimensões da vida humana — e de consenso e dissenso. A “política”, segundo sua
ca — chamada frequente-
mente e eufemisticamente também à busca pela reorganização de propostas concepção, estaria fundamentada no dissenso:
de modernização, sociedade
políticas e estéticas de resistência a partir dessa não apenas um conflito de interesses de grupos
pós-industrial ou sociedade
do consumo, sociedade dos realidade. distintos mas, mais profundamente, a possibilidade
media ou do espetáculo, ou
de opor diferentes configurações do mundo
capitalismo multinacional”
(JAMESON, 1985, p.17). As mudanças profundas e aceleradas na tecnologia, sensível. “Polícia”, por sua vez, denominaria o
economia e cultura do final de século XX marcaram que banalmente se tem por “política” em nossa
um deslocamento de posição e significado para certas ordem cotidiana: as atividades de administração,
noções políticas básicas da modernidade ocidental agregação, vigilância e manutenção da ordem
como Estado, classe, trabalho, esfera pública, fundamentadas no consenso,

16 2[2012 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de pós-graduação do instituto de arquitetura e urbanismo iau-usp
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um modo de simbolização da comunidade que visa lugar da política, sendo vital ao horizonte civilizador
excluir aquilo que é o próprio cerne da política: o da modernidade e à idéia de democracia e de espaço
dissenso [...]. O consenso tende a transformar todo público. As experiências urbanas do cosmopolitismo,
conflito político em problema que compete a um da diferença e da multidão seriam constituintes
saber de especialista ou a uma técnica de governo. da esfera pública moderna. Em contraponto ao
Ele tende a exaurir a invenção política das situações arbítrio e interesse despótico da esfera privada, o
dissensuais. (RANCIÈRE, 2005) mundo público urbano seria o solo da experiência
da alteridade, do encontro com o estranho: o lugar,
A verdadeira racionalidade da política, assim, afirmaria enfim, da possibilidade de eqüidade na diferença e
a cisão estrutural da sociedade, um mundo comum da constituição do dissenso.
“instituído, tornado comum, pela própria divisão”
(RANCIÈRE, 1996, p.368). Nessa compreensão Desde o surgimento das metrópoles da era industrial,
de política como um conflito sobre a partilha do porém, a grande cidade também figurou como lugar
mundo sensível, as múltiplas formas de elaboração inóspito de incivilidade, desigualdade e insalubridade;
estética, como construções do sensível, carregam o lugar onde se produz alienação. O olhar sobre
necessariamente sempre dimensões políticas, esse aspecto fragmentador da sociabilidade, da
participando sutil e inelutavelmente na formação percepção e da política se impõe com tanto mais
de consensos e dissensos. força em megalópoles da periferia do capitalismo
“pós-industrial”, como São Paulo, Rio de Janeiro
Tendo então como inquietação de fundo a produção ou Cidade do México.
estética como fator tanto de politização como de
despolitização do espaço urbano contemporâneo, A metrópole contemporânea se despolitiza por
este texto tem o objetivo de delinear um panorama ser ininteligível: por demais extensa, complexa e
de questões e referências de pensamento sobre fragmentária, ela é inapreensível como totalidade.
as relações políticas entre arte e cidade no final Marcada pela expansão, pela descontinuidade,
do século passado, o qual possa servir a análises e pelo ruído e pela transformação constante —
reflexões futuras sobre iniciativas de arte urbana. Para aspectos ligados à expansão exagerada ocorrida sob
tanto, começaremos pela questão de despolitização a primazia de lógicas privadas como as do mercado
da cidade e da estética, visitando a noção de imobiliário ou do automóvel — a estrutura urbana
espetacularização e a instrumentalização da cultura passa a ser determinada “mais pela continuidade
em políticas urbanas. Em seguida será introduzida topológica das infraestruturas do que pelo padrão
a questão do relacionamento entre arte e política; geométrico do tecido urbano” (ZAERA, 1996,
passando-se logo à discussão específica das p.13). Um território em constante crescimento e
possibilidades de atuação da arte na cidade, serão reconstrução, ao mesmo tempo pontuado por
delineadas quatro direções básicas de intervenção terrenos, edifícios e espaços públicos em abandono,
crítica vistas nas últimas décadas. Por último, o desconectados do sistema produtivo e do uso
potencial crítico das práticas de intervenção será cotidiano dos habitantes. A opacidade de sua
questionado diante do contexto de espetacularização configuração e funcionamento reduz a cidade a um
discutido antes e da institucionalização das conjunto de problemas intrincados, e tende a reduzir
transgressões artísticas; aqui se dará especial atenção a política à administração e aplicação eficiente de
ao fenômeno particular dos grandes eventos de arte conhecimentos técnicos.
urbana, compreendidos como uma tendência tão
significativa quanto problemática na arte urbana A metrópole se despolitiza também ao perder
recente. gradualmente sua característica de lugar
de socialização . O espaço público se torna
Metrópole: despolitização e primariamente espaço de circulação; as distâncias
estetização aumentam bruscamente, os espaços são rasgados
e descaracterizados para dar vazão ao tráfego; o
Ambiente construído pela coletividade humana espaço urbano passa a ser caminho a ser cruzado
e lugar de adensamento e produção de cultura e entre os ambientes privados da casa, do trabalho
história, a cidade é classicamente concebida como ou da diversão, gerando uma convivência pública

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cada vez mais exígua e socialmente homogênea. e agressivo aos sentidos, socialmente dividido,
A comunicação e convivência se privatizam de crescentemente privatizado e direcionado pelo
maneira crescente, seja através de meios de lucro financeiro. Na confluência do desejo por
telecomunicação, seja nos espaços privados que segurança, inteligibilidade e identidade coletiva
simulam imagens de “urbanidade” — condomínios com a necessidade de criação de cenários urbanos
fechados, enclaves empresariais, centros comerciais e imagens positivas para a atração de empresas,
— ou em espaços públicos devidamente vigiados, turismo e mercados, a estética é mobilizada tanto
livres das atividades informais de populações mais como dimensão reconciliadora quanto como fator
pobres. Nessa privatização do convívio, é corroído estratégico de valorização mercantil.
o poder da experiência urbana como encontro
com a alteridade. O espaço de megalópoles como Estética e espetáculo
São Paulo, Los Angeles (E.U.A.) ou Lagos (Nigéria)
expressa, materializa e reproduz uma cisão social em Quais as implicações propriamente políticas da
que a cidade como espaço público, político e coletivo estetização generalizada da realidade material das
encontra dificuldade em acontecer; esta deixa de cidades? Há décadas são estudadas e discutidas
ser o lugar histórico e simbólico da civilidade para as conexões entre o processo de midiatização e
converter-se em local de marginalidade, da violência estetização e as transformações do sistema capitalista
e perigo, onde a política confunde-se crescentemente de consumo, e como elas afetam a relação fundamental
com a gestão da segurança. dos agentes humanos com a produção de sua
realidade sensível. A noção de espetacularização é
A metrópole se despolitiza por sua mercantilização. com frequência invocada nesse debate, em geral
No contexto recente da globalização e financeirização ligada ao conceito seminal de espetáculo formulado
da economia — assim como da crescente importância por Guy Debord em fins dos anos sessenta: uma
do turismo como gerador de divisas — as metrópoles “relação social mediada por imagens” que institui
tornam-se pontos estratégicos da circulação um consumo passivo e contemplativo como modelo
econômica mundial, o que também cria um clima de sociocultural dominante.
competição pela atração de empresas, investimentos
e turistas. Em meio a tal situação, a dimensão da O espetáculo [...] não é um complemento ao
cidade como lugar civilizador da coletividade seria mundo real, um adereço decorativo. É o coração
superada por seu papel como espaço de investimento da irrealidade da sociedade real. Sob todas as suas
e lucro; sua dimensão identitária e formativa, formas particulares de informação ou propaganda,
subordinada ao fornecimento de possibilidades de publicidade ou consumo direto do entretenimento,
consumo e prazer. As cidades se assemelhariam o espetáculo constitui o modelo presente da vida
cada vez mais a empresas e mercadorias: algo a socialmente dominante. Ele é a afirmação onipresente
ser administrado, vendido e consumido, visando da escolha já feita na produção, e no seu corolário
à produção crescente e competitiva de lucro. A — o consumo. (DEBORD, 1997)
política, assim, é substituída pelo gerenciamento
eficiente e pelo consumo. Na esteira dessa e outras críticas socioculturais de
fundo marxista, vários autores nas décadas seguintes
Por fim, a metrópole se despolitiza pela estetização. já desenvolveram o problema da espetacularização
Seja nos meios de comunicação simplesmente em termos de uma irrealização da vida urbana
inseparáveis da vida atual, seja na ubiqüidade contemporânea: um processo de reprodução de
de imagens de publicidade em toda e qualquer uma alienação em relação à realidade social, na
superfície visível, seja no embelezamento e design qual os meios de comunicação, a publicidade e
dos objetos e espaços do espaço urbano, a percepção o embelezamento forneceriam sucedâneos dos
da cidade contemporânea está sempre rodeada pela vínculos culturais perdidos no próprio processo de
produção técnica de aparências e representações. mercadorização da vida. Como resume o crítico
Concomitantemente, pode-se dizer também que as Hal Foster:
dimensões sensíveis e simbólicas ganham um papel
crescentemente compensatório e paliativo num no espetáculo, o “desejo das massas contempo-
espaço urbano que dificulta vínculos, fragmentário râneas de ter as coisas mais ‘próximas’ espacial

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e humanamente” — de superar a alienação — é do espetáculo como forma de resistência por seu


preenchido de maneira falsa exatamente porque o poder como forma de controle social (ARANTES,
que é oferecido é o próprio oposto da comunidade, 2002, p.62).
o próprio instrumento da alienação: a mercadoria.
[...] Desse modo, o espetáculo representa “o ponto Cultura e cidade: propaganda,
em que a aparência estética se torna uma função da disputa e “conciliação”
natureza da mercadoria”; na verdade, no espetáculo,
2 No
a aura perdida da arte, da tradição, da comunidade, A estetização espetacular da cidade está imbricada
trecho entre aspas, Hal
Foster faz uso de palavras de é substituída pela “aura” da mercadoria. (FOSTER, a uma profunda instrumentalização da cultura.
Walter Benjamin. 1996, p.130) 2 Em definição bem ampla, “cultura” poderia ser
3 Chauí relembra que as pala- compreendida aqui como o conjunto de práticas
vras “espetáculo” e “especu- Na ubiquidade da produção técnica de aparências pelas quais seres humanos se humanizam, criando
lação” têm a mesma origem,
“e estão ligados à ideia do com vistas à sedução, portanto, a estética confundir- sua existência social, econômica, política, religiosa,
conhecimento como opera- se-ia cada vez mais com a fetichização; propensa intelectual e artística (CHAUÍ, 1995, p.295). No referido
ção do olhar e da linguagem.
A cultura está impregnada de a nivelar tudo como opção de consumo, por um contexto de predomínio da estetização consumista,
seu próprio espetáculo, do lado, e a prometer satisfações e felicidades fora do entretanto, as conotações de “cultura” tendem a
fazer ver e do deixar-se ver”
(CHAUÍ, 1993). alcance, por outro, a estetização da cidade seria, se confundir crescentemente com entretenimento,
paradoxalmente, a um só tempo uma tentativa embelezamento e distinção social, tendo seu caráter
de resposta à irrealização da vida urbana e um dissensual diluído e passando a fazer parte dos
componente ativo dessa mesma irrealização. processos de apropriação e mercadorização do
espaço urbano.
A estilização ou estetização generalizada é a resposta
da megalópole para a angústia gerada pela falta [...] este transbordamento do estético, sendo
do objeto, e é o modo através do qual denega o concomitante a um crescente desinteresse
niilismo que ela mesma difunde. Veiculada pela pelo político, traz em seu bojo os dilemas da
mídia e pelo próprio habitat que se faz emissor dilapidação de ações culturais concorrendo para
e receptor de imagens, a estetização propõe ao sua “funcionalização”. A cultura, nesses termos, é
habitante um infindável desfile de estilos que ele reduzida às consequências das mudanças econômicas
compra, acreditando poder satisfazer uma demanda e a mercadificação de projetos e práticas culturais lhes
na realidade insaciável, porque é uma demanda acarreta uma perda de seu potencial de contribuição
inconsistente. (SANTOS, 1994) para com uma tarefa social na qual a dignidade
humana seria privilegiada na vida do mais amplo
Nessa linha de pensamento, a “irrealização” coletivo. (PALLAMIN, 2001, p.77-78)
espetacular representaria a captura da dimensão
estética num registro inerentemente despolitizador. De um ponto de vista histórico, o contexto aqui
Refletindo especificamente sobre o peso da dimensão esboçado de apropriação da estética e da cidade
estética no espaço urbano contemporâneo na através da estética estaria relacionado às novas
década de noventa, autores como V. Pallamin relações entre políticas urbanas e políticas culturais
já colocaram que, nesse contexto recente de estabelecidas no fim do século XX. Em meio à
privatização econômica e desinvestimento simbólico proliferação de lugares genéricos, de espaços
dos espaços públicos, a própria recepção estética degradados e esvaziados de uso e sentido e à
tenderia a portar e reproduzir “um sentido de presença crescente de populações “não integradas”,
contínuo desenraizamento”, concomitante a o âmbito cultural tornou-se depositário de esperanças
uma crescente “desafeição por metas coletivas” de “reconciliação” com a cidade.
3 Chauí relembra que as pala- (PALLAMIN, 2001, p.69-70).
vras “espetáculo” e “especu-
lação” têm a mesma origem, Desde o fim dos anos setenta, as mudanças
“e estão ligados à ideia do Em seu sentido amplo, a ideia de espetáculo econômicas e políticas da globalização e da “pós-
conhecimento como opera-
frequentemente carregou potencialidades políticas, modernidade” esboçaram um novo tipo de atuação
ção do olhar e da linguagem.
A cultura está impregnada de com um grande poder de transgressão e mobilização sobre centros urbanos, marcado por “revitalizações”
seu próprio espetáculo, do
coletiva na história humana3; o que estaria em de áreas centrais degradadas, gradualmente
fazer ver e do deixar-se ver”
(CHAUÍ, 1993). jogo aqui, então, seria a substituição da potência abandonadas na reorganização espacial da produção

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econômica industrial e na ida da moradia e atividade “revitalizações” ou “requalificações” de áreas


das elites para outros locais. No lugar do ideário centrais degradadas seria o fenômeno denominado
de planejamento global, estabeleceu-se então um gentrification: processo no qual populações de
modelo calcado no desenvolvimento de mercado, baixo poder aquisitivo — as mais temidas pelo
com intervenções pontuais e estratégicas que visariam pânico social — dariam lugar a populações
servir de motor para a valorização de determinadas economicamente mais “interessantes”. Com facetas
áreas perante o mercado e os habitantes. Atividades e manifestações particularizadas em várias cidades
culturais adquiriram grande importância nessas do mundo, tal processo teria tanto mecanismos
novas estratégias, em que convergiam interesses jurídicos, econômicos (alta de aluguéis, expropriação
estatais e privados na projeção de uma imagem ou expulsão, etc.) e policiais (arquiteturas “anti-
de prestígio e bem-estar social que contribuísse no mendigo”, vigilância, etc.) quanto elementos
desenvolvimento do turismo e do mercado imobiliário. simbólicos — como o estabelecimento de arquiteturas
Assim, instalou-se uma busca pela constituição de um de acesso controlado ou que, apesar de publicamente
4 Entre os casos pioneiros de
revitalização cultural de áreas clima de “urbanidade”, em geral expresso na busca acessíveis, sejam socialmente “intimidadoras” por
degradadas, poderiam ser de ambientes social e esteticamente harmônicos sua monumentalidade e caráter “de elite”. Devido
citadas aqui a implantação
do Centro Georges Pompi- que evocassem prosperidade, entretenimento, a sua conotação de “distinção”, por sua vez, o
dou em Paris e a recuperação cosmopolitismo e aculturação. Entre os vários tipos emprego generalizado da estética e da cultura estaria
de regiões “perigosas” ou
“decadentes” de Nova York de renovação “cultural” resultantes nas últimas justamente relacionado a esse aspecto simbólico e
como o Soho e East Village décadas, Vaz e Jacques listam segregador de “enobrecimento” 4.
através de sua transformação
em centros de arte contem-
porânea. No Brasil, um dos desde a tradicional reabilitação de centros Diante desse quadro de exclusão e disputa do
primeiros e mais significativos
exemplos de reforma urbana antigos com preservação de patrimônio histórico; espaço, autores como David Harvey e Rosalyn
“cultural” estaria na reforma passando pela renovação de áreas degradadas nas Deutsche viram na “culturalização” da política
do bairro histórico do Pelou-
rinho, na cidade de Salvador quais incorporadores se utilizavam de museus e urbana uma proposta implícita de “concretizar”
— que, iniciada em 1992, equipamentos de lazer para aumentar os valores simbolicamente uma integração social e uma
“literalmente ‘limpou’ o sítio
histórico ao expulsar seus imobiliários; pela reabilitação de áreas centrais que cidadania inexistentes — proposta que, na verdade,
habitantes e suas respectivas se tornaram quase shoppings a céu aberto; pela legitimaria a segregação e a privatização da cidade5.
práticas cotidianas populares
e substituí-las por ‘simulacros recuperação de centros históricos que se tornam A intenção “harmonizadora” do investimento
culturais turísticos’” (JAC- vastos museus; pela requalificação de ambientes em cultura e arte tenderia então a ser ideológica,
QUES, 2005).
históricos que evocam cenários padrão Disneyland; no sentido marxista do termo: um discurso que
5 Entre nossas referências de até a promoção de nova imagem local apoiada “oferece à sociedade fundada na divisão e na
estudos sobre gentrifications
e sobre o uso de discursos
em novos ícones arquitetônicos. (VAZ e JACQUES, contradição interna uma imagem capaz de anular a
de coesão social, estariam as 2003, p.132) existência efetiva da luta, da divisão e da contradição”
considerações de D. Harvey
sobre a Baltimore City Fair
(CHAUÍ, 2003, p.27). Assim, embora em geral
de 1970: um tipo de resposta A constituição de uma imagem simbólica e autoproclamadas “democráticas”, as estratégias
administrativa ao acirramen-
economicamente atraente para as cidades também ligando a imagem positiva da cidade com o “bem
to de distúrbios e conflitos
urbanos da década de 60, exigiria manter um clima de “agitação cultural” público” e a coesão social na verdade tenderiam
com estratégias visando ma-
neiras de “reunir” a cidade,
(ARANTES, 2002), manifestada na proliferação de a ser policiais: ações e discursos reforçadores de
“promover o redesenvolvi- centros e instituições culturais — frequentemente consensos e contrários ao dissenso constitutivo do
mento urbano” e superar a
“mentalidade de cerco com
ligadas a instituições financeiras — mas também de espaço verdadeiramente político.
que o cidadão comum en- uma igualmente importante ampliação do circuito
carava o centro da cidade”
temporário de exposições, espetáculos, oficinas, “Terrain Vague”
(HARVEY, 1993, p.89). Ou-
tro exemplo seria o estudo festivais, eventos e das novas megaexposições
da crítica norte-americana
internacionais. Nesse processo, a própria cidade Para além dos esforços e discursos voltados a uma
Rosalyn Deutsche sobre a re-
qualificação da Union Square se aproximaria de um imenso museu-espetáculo, urbanidade “harmoniosa” e à reinserção das áreas
Garden, onde as populações
ofertando atrações de cultura, lazer e turismo. residuais e degradadas da cidade numa matriz de
“indesejáveis” de mendigos
teriam sido afastadas em identidade urbana, todavia, os anos noventa também
nome da “integridade do
Essa constituição estetizante de uma nova veriam o estabelecimento de um campo de leituras,
espaço público” e da “união
cívica” — representada entre “urbanidade”, por sua vez, guardaria relação com discussões e iniciativas mais especulativas a respeito
outras coisas, pelas escultu-
o crescimento da violência e marginalidade sociais. desses espaços, influenciadas por expoentes da
ras comemorativas do local
(DEUTSCHE, 1996). Um aspecto ressaltado por muitos estudos das filosofia e arte contemporânea. Essas atividades

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procurariam tratar a cidade justamente em sua política pela ação e inclusão “culturais”. A cultura,
dimensão de fragmentação, voltando-se a princípio assim, seria a “cola social” (HARVEY, 1993) a levar
menos a recuperar uma coesão do que a refletir beleza ao feio, poesia ao desencantado, vida ao
e elaborar sobre as potencialidades mnemônicas decadente, identidade ao vago, diversidade ao
e estéticas dos vazios urbanos enquanto espaços genérico, civilidade ao incivilizado, bem como
de alteridade, deslocados do sistema econômico e também alguma inclusão aos excluídos — seja por
simbólico da cidade. proporcionar-lhes acesso à “alta cultura”, seja por
colocar em evidência a cultura produzida por estes,
Estes lugares estranhos existem a parte dos circuitos seja por “gerar renda” para estes. Nas políticas
6 Na versão original: “These efetivos da cidade e de suas estruturas produtivas. Do urbanas e culturais brasileiras dos fins do século,
strange places exist outside
ponto de vista econômico, áreas industriais, estações por exemplo, foi comum que estética e cultura
the city’s effective circuits
and productive structures. de trem, portos, bairros residenciais inseguras, adquirissem essa conotação de “panacéia” para
From the economic point of
e lugares contaminados estão em locais onde a patologias urbanas e sociais, sendo vinculadas a
view, industrial areas, rail-
way stations, ports, unsafe cidade não mais está. [...] O que deve ser feito discursos de “democratização do acesso à cultura”
residential neighborhoods,
com estes enormes vazios, de limites imprecisos e e depois mesmo à valorização da cultura “de
and contaminated places are
where the city is no longer. de vaga definição? [...] a reação da arte é preservar periferia”.
[...] What is to be done with
estas alternativas, espaços estrangeiros, estranhos
these enormous voids, with
their imprecise limits and para a eficácia produtiva da cidade. Se na ecologia No contexto dessa cooptação política e comercial da
vague definition? Art’s reac-
encontramos a luta por preservar os espaços produção cultural, a pergunta que se coloca é se tanto
tion, as before with “nature”
(which is also the presence despoluídos de uma natureza mitificada como as faces mais conservadoras da produção cultural
of the other for the urban
mãe intocada, a arte contemporânea parece lutar (“democratização” da “alta cultura”, nostalgia de
citizen), is to preserve these
alternative, strange spaces, pela preservação destes outros espaços no interior um espaço público idealizado, etc.) quanto as mais
strangers to the productive
da cidade. (SOLÀ-MORALES, 1995, pp.40-41) 6 progressistas (valorização de culturas “alternativas”
efficiency of the city. If in
ecology we find the struggle ou dos potenciais próprios dos terrain vagues) não
to preserve the unpolluted
Crescentemente presente nas artes desde os anos acabariam sendo constituídas e apropriadas no
spaces of a nature mythicized
as the unattainable mother, setenta, esse outro olhar ao urbano tornou-se foco interior de uma ordem de espetáculo, consumo e
contemporary art seems to
de um debate mais articulado no pensamento sobre apaziguamento de conflitos; e como elas poderiam,
fight for the preservation
of these other spaces in the a cidade de meados dos anos noventa — época em por ventura, evitá-lo.
interior of the city” (SOLÀ-
que o arquiteto e filósofo Ignasi de Solà-Morales
MORALES, 1995, pp.40-41).
fez uma das formulações mais influentes do tema, Arte, crítica e cidade
7 Solà-Morales explicaria da cunhando a expressão Terrain Vague 7. Atingindo
seguinte maneira a prefe-
rência pelo termo francês: considerável relevância então — chegou a ser um dos Colocadas as questões de despolitização e
“tanto la noción de ‘terrain’ cinco pontos de discussão do Congresso Mundial de
como la de ‘vague’ contienen
espetacularização sobre a cidade e cultura é
una ambigüedad y una mul- Arquitetura de 1996, em Barcelona (FIORAVANTE, necessário redirecionar o foco desta reflexão para
tiplicidad de significados que 06 jul. 96) — os debates e reflexões sobre vazios
es la que hace de esta expresi-
as especificidades das atividades artísticas — ala
ón un término especialmente urbanos foram tema de várias iniciativas artísticas específica da produção cultural geral — e sua relação
útil para designar la categoría desde então (no Brasil, o Projeto Arte/Cidade, foi
urbana y arquitectónica con
política com o espaço urbano, em especial em suas
la que aproximarnos a los provavelmente o exemplo mais significativo de manifestações de intervenção sobre este.
lugares, territorios o edificios manifestações relacionadas ao tema).
que participan de una doble
condición. Por una parte ‘va- De início, é necessário revisitar a própria noção de
gue’ en el sentido de vacan- Contudo, mesmo para se pensar essa outra arte como uma atividade crítica e política. De uma
te, vacío, libre de actividad,
improductivo, en muchos abordagem cultural sobre a cidade é preciso maneira geral, pode-se dizer que “a Arte” aparece
casos obsoleto. Por otra parte considerar sua convivência com um contexto de no imaginário da modernidade com uma ruptura no
‘vague’ en el sentido de im-
preciso, indefinido, vago, sin predominância de concepções “essencialistas” reino das “artes” — o reino das técnicas, das formas
límites determinados, sin un do espaço urbano como lastro físico de uma
horizonte de futuro” (SOLÀ-
do fazer — que separaria a esfera das artes práticas
MORALES, 1996. p.10-23). comunhão cívica; um contexto no qual estética e utilitárias, do labor, e a esfera “autônoma” das
cultura, crescentemente “funcionalizadas”, teriam “belas-artes”, território da expressão e representação
conotações de autonomia e transcendência em estéticas. Antes dotadas também de funções
relação aos conflitos da sociedade. Nesse registro, utilitárias e ritualísticas, as “obras de arte” na
como apontaram autores como Arantes e Rancière, modernidade seriam despojadas de “suas antigas
se operaria uma substituição da ação e reivindicação funções de ícones da fé, de emblemas do poder

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ou de decoração da vida dos Grandes” (RANCIÈRE, seja, pensada em sua presença política. Nesse
2005) para serem objetos de contemplação estética caminho, entretanto, entrariam em conflito dois
e passarem a pertencerem a uma instituição social aspectos básicos: “a autonomia da forma (custodiada
específica. Essa “partilha do sensível” característica pela aura) e a pressão dos conteúdos históricos
da modernidade — que Rancière denominou regime (marcada pela utopia)” (ESCOBAR, 2002, pp.34-
8 O regime estético das artes estético das artes8 — não desvinculou a arte de seu 35). Essa diferença viria a definir o que poderia
seria “um determinado regi-
lugar como signo de sofisticação e distinção social ser resumido aqui como dois aspectos de crítica
me de liberdade e de igual-
dade das obras de arte, em das elites; mas iria lhe possibilitar o questionamento perpetrada pela arte: por um lado, a exploração das
que estas são qualificadas
a respeito do que é ou não assunto desta, do que formas da percepção e expressão humanas interiores
como tais não mais segundo
as regras de sua produção é ou não próprio de seu fazer e por quem e para à própria arte — uma direção de “afastamento”
ou a hierarquia de sua desti-
quem essa arte é feita. em relação à “vida prática” ou, ao menos, de
nação, mas como habitantes
iguais de um novo tipo de manutenção de uma diferença essencial entre
sensorium comum onde os
Condição problemática e parcial desde o princípio, a “arte” e “vida”; e por outro, a busca pela crítica ou
mistérios da fé, os grandes
feitos dos príncipes e he- “autonomia” da esfera artística em relação à “vida intervenção direta nos conteúdos, símbolos e fazeres
róis, um albergue de aldeia
prática” viria instaurar no interior da arte moderna da “vida prática” — um movimento de aproximação
holandesa, um pequeno
mendigo espanhol ou uma uma tensão permanente entre as duas partes cindidas. e sobreposição à vida. Obviamente, tal divisão não
tenda francesa de frutas ou
A busca pela reaproximação entre “vida” e “arte” significa uma divergência obrigatória; certas obras
de peixes são propostas de
maneira indiferente ao olhar foi uma característica essencial das vanguardas desafiam uma distinção simplista, movendo-se
do passante qualquer, o que
modernistas do século XX: desde o período entre criticamente em múltiplas dimensões. Tampouco
não quer dizer à totalida-
de da população, todas as guerras, manifestações vanguardistas buscariam é simples falar de qualquer hierarquia de potencial
classes confundidas, mas a
questionar a arbitrariedade da “autonomia” e do “político” entre esses dois caminhos. Segundo
esse sujeito sem identidade
particular chamado ‘qualquer valor social da arte, por um lado, ou estabelecer uma Rancière, a dimensão política da arte não estaria
um’” (RANCIÈRE, 2005).
relação de aprendizado e ensinamento com a vida, por propriamente em sua capacidade de “explicar” o
outro. Rejeitada como “esfera autárquica” (FOSTER, mundo, mas em promover o choque entre realidade
1996, p.20) por muitos no século XX, entretanto, e potencialidade; para o autor, o realmente político
a arte não seria apenas mais um elemento da vida; não seria “o conhecimento das razões que produzem
grosso modo, a utopia vanguardista de “fusão da tal ou tal vida, mas o confronto direto entre uma
vida à arte” teria como ideal de futuro trazer a essa vida e o que ela pode” (RANCIÈRE, 2005).
mesma vida a autonomia e “transcendência” da
arte. No bojo das mudanças intensas do espaço, [...] a arte não é política antes de tudo pelas
modos de vida e percepção do século XIX e XX, a mensagens que ela transmite nem pela maneira
prática da arte se firmou como possível instrumento como representa as estruturas sociais, os conflitos
de compreensão e proposição das novas formas de políticos ou as identidades sociais, étnicas ou sexuais.
percepção e prática que expressariam e moldariam [...] Porque a política, bem antes de ser o exercício
o mundo novo — o que implica também na arte de um poder ou uma luta pelo poder, é o recorte
como uma prática crítica às percepções e aos modos de um espaço específico de “ocupações comuns”;
de vida da sociedade. é o conflito para determinar os objetos que fazem
ou não parte dessas ocupações, os sujeitos que
O mote do modernismo foi a grande frase da crítica participam ou não delas, etc. Se a arte é política,
do jovem Marx a Hegel: modernistas acreditavam ela o é enquanto os espaços e os tempos que ela
que era necessário para qualquer arte [...] tomar recorta e as formas de ocupação desses tempos
as formas do presente profundamente dentro e espaços que ela determina interferem com o
de si, com o risco de mímica, quase ventriloquia; recorte dos espaços e dos tempos, dos sujeitos e dos
mas disso poderia vir a possibilidade de crítica, de objetos, do privado e do público, das competências
verdadeira desestabilização — iriam “ensinar às e das incompetências, que define uma comunidade
formas petrificadas como dançar cantando-lhes política. (RANCIÈRE, 2005)
sua própria música”. (CLARK, 2002)
O interesse específico do presente texto, por sua
Assim, de esfera de distinção social e representação vez, está nas questões políticas e estéticas que se
de poderes instituídos, a arte passou a ser pensada colocam formas de arte que, de diferentes maneiras,
como potência transformadora da realidade — ou acabam por construir-se em sobreposição ao “espaço

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Estética, política e cidades: apontamentos sobre a dimensão crítica de intervenções artísticas em espaço urbano no final do século XX

da vida” — mais especificamente, aquelas que o espaços “alternativos” aos locais institucionalmente
fazem em presença no espaço público urbano. circunscritos: de um lado, os novos meios de
comunicação, documentação, veiculação e circulação
A Arte na cidade de informações e produtos (os media, o cinema
independente, o espaço publicitário, o sistema de
As relações entre arte e espaço urbano são antigas, correios); e de outro, os espaços “externos” das
extensamente discutidas sob várias ópticas distintas. paisagens naturais, da arquitetura e do espaço
Aparentemente, os enfoques mais comuns ao urbano.
assunto continuam sendo o da cidade como local
de uma visibilidade específica para a obra de arte, Dentro da situação do pós-modernismo, a prática
por um lado, e o da arte como embelezamento não é definida em relação a um dado meio —
e construção simbólica da paisagem urbana, de escultura — porém mais em relação às operações
outro. O que mais interessa a este texto, porém, é a lógicas em um conjunto de termos culturais, para
intervenção artística em espaço urbano, um caso de os quais qualquer meio — fotografia, livros, linhas
“presença artística” na cidade bem distinta simples em paredes, ou a própria escultura — podem ser
locação de obras em espaços públicos. usados. (KRAUSS, 1998, p.41) 10

9 No original: “The (neo-avant- O termo “intervenção” designa aqui práticas Em contraposição à autonomia idealizada do objeto
gardist) aesthetic aspiration artístico — bem como aos mercados e instituições
artísticas que se constituem a partir da atuação
to exceed the limitations of
traditional media, like paint- consciente e deliberada sobre contextos físicos e apoiados neste — várias operações artísticas desde
ing and sculpture, as well as os anos sessenta passaram a usar “obras” para
discursivos específicos. Tais práticas teriam origem
their institutional setting; the
epistemological challenge to no ambiente contestador e experimentalista das discutir justamente o espaço, a instituição, o
relocate meaning from within sistema social e ideológico relacionados a elas.
“neovanguardas” das artes visuais dos anos sessenta,
the art object to the contingen-
cies of its context; the radical provavelmente o momento mais radical de crítica e Em contraposição ao espaço “ideal” e abstrato do
restructuring of the subject museu, surgiu o paradigma de arte “site-specific”
expansão e das fronteiras da arte, intrinsecamente
from an old Cartesian model
to a phenomenological one ligado ao contexto de crítica social da época. Em — trabalhos criados a partir de situações e locais
of lived bodily experience; and específicos, ao invés de objetos transportáveis. A
retrospectiva, a pesquisadora Miwon Kwon sintetizou
the self-conscious desire to
resist the forces of the capital- esse momento artístico no seguinte conjunto de noção de “especificidade”, por sua vez, sofreu
ist market economy, which desdobramentos desde suas primeiras experiências,
elementos:
circulates art works as trans-
portable and exchangeable como aponta M. Kwon (ago. 2002): inicialmente,
commodity goods” (KWON, predominaria uma perspectiva mais formal e
a aspiração estética (neovanguardista) de
2002, p.12).
exceder as limitações dos meios tradicionais, sensorial dos lugares de intervenção, e com o
10  No original: “within the como pintura e escultura, assim como seu tempo a “especificidade” adquiriu teor mais cultural
situation of postmodernism,
practice is not defined in aparato institucional; o desafio epistemológico e histórico, com obras que passaram a investigar
relation to a given medium de deslocar a significação do interior do objeto a relação entre produção social dos espaços e da
— sculpture — but rather
in relation to the logical op- artístico para as contingências de seu contexto; percepção estética11.
erations on a set of cultural a reestruturação radical do sujeito, de um velho
terms, for which any medium
— photography, books, lines modelo cartesiano para um fenomenológico de Conforme mencionado anteriormente, porém, a arte
on walls, mirrors, or sculp- experiência vivida corporalmente; e o desejo em espaço urbano tem sido empregada nas últimas
ture itself — might be used”
(KRAUSS, 1998, p.41). ������
A pri- autoconsciente de resistir às forças da economia décadas como parte do processo de estetização e
meira publicação do texto de mercado capitalista, a qual põe em circulação espetacularização da cidade, voltado à constituição
data de 1979.
trabalhos de arte como mercadorias transportáveis de uma imagem e um clima cultural atrativos, por
11 Miwon Kwon delineou de e trocáveis [...]. (KWON, 2002, p.12) 9 um lado, e à “suspensão” simbólica de contradições
três paradigmas de “especifi-
cidade” no desenvolvimento
sociais e políticas presentes nos espaços, por outro.
histórico da prática site-specific: A ênfase transgressora das experiências da época Nessa situação, o contextualismo site-specific não
o paradigma fenomenológico,
o paradigma social/institucio- afastaria as obras artísticas da investigação formal pode ser compreendido como crítico per se; a
nal e o paradigma discursivo centrada nos suportes (escultura, pintura, etc.) para “especificidade de sítio” já seria instrumentalizada
(KWON, ago. 2002).
a inclusão de diversas outras questões referentes desde os anos oitenta por processos de requalificação
à sociedade e à instituição artística. Aproximando- de espaços urbanos, chamada a “contribuir” com
se da cultura popular, da indústria cultural e da a cidade e a “preencher” necessidades sociais,
contracultura, as artes plásticas passaram a invadir seja como decoração formalista e utilitária ou

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Estética, política e cidades: apontamentos sobre a dimensão crítica de intervenções artísticas em espaço urbano no final do século XX

como simbolização de uma identidade cultural uma prática voltada a audiências pré-existentes que
12 Segundo Rosalyn Deuts- fetichizada12. ocupa e desenha espaços físicos, mas sim como
che, a New Public Art norte-
americana dos anos oitenta
uma prática que constrói um espaço público, ao se
seria em muitos aspectos Em meio à instrumentalização ideológica ou comercial, envolver e engajar pessoas em discussões e disputas
a pioneira desse processo.
Pensada como contextualista
torna-se necessário a uma arte urbana crítica evitar políticas (DEUTSCHE, 1996, p.288).
e site-specific, ela se dedica- conotações simplistas de “democratização” ou
va à criação de espaços em
contraposição à tradicional
“desinstitucionalização” da arte pela simples Seria possível pensar essa crítica da arte em termos
locação “decorativa” de ob- presença pública, bem como de “enriquecimento” da oposição feita por Michel de Certeau (1994)
jetos de arte na urbe (DEUTS-
CHE, 1996, p.19). Mas essas
da cidade pela simples presença da arte; seria entre o modelo de ação estratégica e o modelo de
“colaborações” de artistas preciso pensar o espaço urbano como um discurso ação tática. Orientado à ocupação e organização
com arquitetos, urbanistas
e governos seriam também
material e socialmente construído e a arte como um sistemática de um determinado território, o paradigma
estetizantes e “funcionalizan- dos agentes da produção desse discurso. A idéia “estratégico” postularia um lugar delimitável como
tes”: produziriam ambientes
agradáveis e particularizados,
de “produção social do espaço” de Henri Lefebvre seu, a partir do qual se “gerenciam relações com
forneceriam mobiliário, dre- colocaria o significado urbano como algo surgido uma ‘exterioridade’ composta de alvos e ameaças”
nagem de água, marcação de
datas históricas importantes,
das práticas cotidianas de uso da cidade. Por essa (CERTEAU, 1994, p.36). O modelo “tático”, por
acentuariam ou conduziriam perspectiva, a realização de manifestações artísticas sua vez, se refere a um contexto não-idêntico no
a percepção do público para
algo. Essa arte seria saudada
em espaços urbanos poderia ser encarada como uma qual se efetuar uma ação dinâmica e nômade, sem
pelo marketing dos promo- “prática social relacionada a modos de apropriação base estática; como explica Pallamin (2001, p.36),
tores de desenvolvimento,
críticos de arte e políticos
do espaço” (PALLAMIN, 2001, p.45) no interior da seu espaço seria o da alteridade, implicando em
conservadores como “social- vida cotidiana. Em sentido semelhante, Michel de “mobilidade conforme as condições do momento e
mente responsável” por sua
contribuição funcional ou
Certeau falaria sobre o uso cotidiano do espaço atenção a particulares injunções”. Nesse sentido, a
estética para os “prazeres como uma manipulação análoga à operação da inserção crítica da arte na cidade é necessariamente
do ambiente urbano” (idem,
p. 48), tornando-se fator de
linguagem: tática: ela tem de mover-se taticamente num campo
propaganda de locais urba- de alteridade e, com sua ação, introduzir ou revelar
nos em ascensão.
[...] da mesma forma como uma figura de retórica é alteridade — de demandas, fazeres, representações
uma operação feita no interior do sistema lingüístico, ou formas sensíveis — no espaço normalmente
podemos dizer que as práticas cotidianas constituem percebido como “coerente”.
diferentes tipos de operação no interior de um
sistema urbanístico, de um sistema econômico, etc., Ao mesmo tempo deslocada da “autonomia” do
havendo, portanto, certo paralelismo entre ambas. objeto artístico tradicional e deslocada do sistema
Pois essas práticas são igualmente manipulações, de utilidade e significado dominantes do cotidiano,
maneiras de utilização da língua, do sistema, perante a arte poderia em tese constituir momentaneamente
as relações de força, utilizando-as para contornar espaços táticos de alteridade interior a uma ordem
o léxico existente, dos objetos, dos lugares de instituída — ou seja, ser o “outro” da realidade dentro
uma sociedade, dos lugares de uma cidade, etc. desta própria. M. Chauí denominou “contradiscurso”
(CERTEAU, 1985, p.17) a classe de discursos que se elaboraria dentro de
outro discurso de forma a desdobrar as contradições
Ao fazer-se presente na cidade, a arte faria parte deste (CHAUÍ, 2003, p.23); de maneira análoga,
então do jogo de léxicos urbanos — seja em favor dos poderíamos considerar então que a potência política
usos e discursos dominantes, seja contra estes. Nesse da arte na cidade estaria em constituir-se em seu
sentido, a habilidade propriamente crítica da arte na contradiscurso.
cidade estaria ligada a “criações que imaginam novas
possibilidades para as práticas espaciais” (PALLAMIN, Contradiscursos urbanos
2001, p.44-5), atuando em dissonância ao sistema
vigente de forças e representações que mantém uma Uma grande variedade operações críticas nos
determinada ordem, propondo relações diferenciadas e aos espaços urbanos têm sido elaborados na
de uso e de e significado. O debate de autores história recente das artes, muitas das quais já foram
norte-americanos sobre arte pública pensaria esse largamente estudadas e debatidas. Porém, é possível
potencial de crítica em termos de noções agonísticas divisar padrões, recorrências e direcionamentos no
de democracia e espaço público. R. Deutsche, por que se refere aos meios, às ênfases e ao tipo de
exemplo, postularia a arte pública crítica não como envolvimento com que esses contradiscursos têm

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Estética, política e cidades: apontamentos sobre a dimensão crítica de intervenções artísticas em espaço urbano no final do século XX

sido constituídos desde os anos oitenta. A título urbana como suporte para intervenções pictóricas e/
de reflexão, propõe-se a seguir o esboço de quatro ou verbais, tratando-as como veículo de mensagens,
direções básicas de intervenção, correlacionáveis representações e efeitos gráficos. Este é talvez o meio
e combináveis entre si: a intervenção plástica, mais conhecido e corriqueiro de ação no espaço
a ocupação gráfica, a criação de situações e o urbano, até por sua relativa acessibilidade de meios
agenciamento de mídias e processos. e por sua vinculação a práticas socioculturais como a
pichação e o graffiti — as quais receberam atenção
A ideia de intervenção plástica, em primeiro e acolhimento crescente por parte do mundo da arte
lugar, visa aqui englobar trabalhos que, através de desde a década de oitenta, reação que se intensificou
construções, inserções e subtrações físicas e materiais na primeira década do século XXI.
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Segundo Serra, “the pre- no espaço urbano, interferem na relação humana
liminary analysis of a given
com a arquitetura e a paisagem. É provavelmente Há experiências que trabalham com imagens,
site takes into consideration
not only formal but also social o tipo mais célebre de arte site-specific, centrando signos em espaços urbanos de evidência com a
and political characteristics of
seus meios e alvos na materialidade, na forma e na elaboração de outdoors, cartazes ou efetuação de
the site. Site-specific works
invariably manifest a judg- experiência corporal. Os precedentes desse tipo de projeções. Mas o meio mais comum e popularmente
ment about the larger social
operação remontam às experiências minimalistas, conhecido desse contradiscurso ainda é o graffiti,
and political context of which
they are a part.” (SERRA, nos anos sessenta, de passagem do foco no objeto com exemplos de “ocupações” que mobilizam
1990, p. 158). No caso da Til-
artístico para o foco no espaço, concomitante à muito conscientemente seus locais, tratam questões
ted Arc, o artista deixou clara
a intenção de se contrapor à busca de superação do domínio da visualidade políticas específicas e discutem a própria cidade,
função “decorativa” espera-
contemplativa para a inclusão da vivência do corpo seus usos e territorialidades. É comum que essas
da da arte com seu enorme
arco de aço: “na praça existe em deslocamento. mensagens e representações inseridas no campo
uma fonte, e qualquer um
visual da cidade sejam referentes a temas não
esperaria que houvesse uma
escultura ao lado dela, de Obviamente, como estruturas físicas interferem ou relacionados diretamente ao suporte e local onde
modo que o conjunto embe- se vinculam aos significados e usos dos locais em estão; em certos casos, contudo, elas relacionam-se
lezasse o edifício. Eu descobri
um caminho para dissociar que se encontram, intervenções essencialmente estreitamente à realidade em que o espaço, edificação
ou alterar a função decora- plásticas acumulam muitas outras nuances além da ou elemento “ocupado” se insere. Assim, sem alterar
tiva da praça e para que as
pessoas fossem integradas forma, e podem visar um campo de ação simbólica materialmente o espaço da cidade — como fariam
ativamente no contexto da e pragmaticamente mais amplo. Algumas obras as “intervenções plásticas” — as ocupações gráficas
escultura” (R. Serra apud
FARIAS, s.d.). Acusado de públicas do artista norte-americano Richard Serra ocasionam uma recodificação da sua paisagem, com
egoísta e insensível ao bem seriam exemplos de uma arte que possibilitaria uma perspectiva mais marcadamente semântica.
público, o trabalho foi retira-
do pela prefeitura da cidade rearticulações da percepção e dos usos do espaço
em 1989. (c.f. DEUTSCHE, urbano através de adições escultóricas sem emprego Criação de situações, por outro lado, se refere à
1996 e KWON, 2002).
de signos ou quaisquer aparatos mais semanticamente multiplicidade de manifestações efêmeras em espaço
14 A IS, é importante lembrar,
carregados. Uma intervenção como Tilted Arc (1981) urbano, que visam interferir no comportamento
tinha em Guy Debord e sua
crítica do espetáculo um de — instalação de um imenso plano curvo de aço na cotidiano na cidade não pela manipulação mais
seus eixos fundamentais, e Federal Plaza, em Nova York — não seria nem uma ou menos definitiva do espaço físico ou visual,
esteve fortemente imbricada
ao espaço urbano . Sua pro- investigação formal autônoma e nem uma tentativa mas por acontecimentos temporários e atividades
posta de “urbanismo unitá- de embelezamento. Relacionada a uma leitura do coletivas que destoem das estruturas de conduta
rio” iria “contra o espetáculo
passivo, princípio de nossa espaço urbano que ultrapassava o âmbito formal, a e percepção normatizadas. Uma das principais
cultura onde a organização obra visaria uma rearticulação crítica perante o sítio referências históricas para esse tipo ação crítica
do espetáculo se estende
tanto mais escandalosamente de intervenção; e, de fato, mostrou-se tão dissonante estaria no conceito de détournement cunhado pela
quanto aumentam os meios em relação à função “decorativa” da praça que Internacional Situacionista (1957-1972): o desvio
de intervenção humana.
Enquanto hoje as próprias acabou por ser retirada13. Instigadas e embasadas do uso, ordem e significados preestabelecidos da
cidades são dadas como um por leituras do espaço, então, intervenções plásticas cidade, com ações coletivas que visavam romper com
lamentável espetáculo, um
suplemento aos museus, para podem ultrapassar o formalismo e tensionar a lógica o comportamento passivo da sociedade industrial de
os turistas que passeiam em de visibilidade, organização e uso dos locais nos consumo e apropriar-se da cidade como espaço de
automóveis de vidro, o UU
considera o meio urbano quais interferem. jogo e participação14. Mas os fatores como a crítica
como terreno de um jogo de comportamental e a busca pela interação criativa
participação”. “O urbanismo
unitário no fim dos anos 50”, Ocupação gráfica, por sua vez, designaria in- do público, na verdade, foram características de
autor anônimo, In Óculum tervenções que se apropriam — muitas vezes clan- várias das iniciativas de intervenção mais marcantes
4, p.32.
destinamente — das superfícies visíveis da paisagem surgidas desde a década de sessenta.

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Estética, política e cidades: apontamentos sobre a dimensão crítica de intervenções artísticas em espaço urbano no final do século XX

Podem ser incluídas entre exemplos desse vetor de tipo de atividade: nela, o artista empregou o design
operações as Interversões do grupo “3 nós 3”, na como mídia crítica para abordar a situação dos
São Paulo dos anos oitenta: atividades como andar sem-teto em Nova York, também problematizando
em Avenida Paulista de olhos vendados, ensacar a percepção dos significados e dos processos de
esculturas públicas, ou estender grandes faixas de reestruturação, capitalização e exclusão social
plástico colorido em viadutos na calada da noite em jogo no espaço urbano. Elaborado para as
15 Na caracterização de Hal — definidas pelo próprio grupo como “atividades necessidades nomádicas específicas dos moradores
Foster, esse tipo de traba- públicas que se destinam a colocar em crise a de rua e a partir de um processo de pesquisa e
lho artístico “não põe entre
parênteses a arte para um normalidade vigente” (GONÇALVES FILHO, 1981). colaboração com estes, o “veículo para sem-
experimento formal ou per- Um caso particularmente comum de “criação de teto” seria ao mesmo tempo utilitário e simbólico:
ceptivo; em vez disso, procu-
ra suas filiações em relação a situações” em espaço urbano em tempos recentes, proporcionaria aos envolvidos uma ferramenta de
outras práticas (na indústria por outro lado, seriam as performances teatrais de uso da cidade e um espaço de evidência destes
cultural e em outras partes)
[...]. Os artistas ativos nesse rua que buscam ocasionar interrupções na vida como agentes do espaço urbano, problematizando
trabalho [...] usam as mais cotidiana, iniciativas marcadas pela interação e o sua condição de invisibilidade social e de sujeição
variadas formas de produção
e modos de abordagem (co- jogo entre artistas e espectadores. a políticas institucionais coercitivas16.
lagem fototexto, fotografias
construídas ou projetadas,
videotapes, textos críticos, Agenciamento de mídias e processos, por Mais do que uma questão de meios ou fins, a
obras de arte apropriadas, ar- fim, agrupa operações em espaço urbano que diferença do agenciamento de mídias e processos
ranjadas ou sucedâneos etc.),
e, no entanto, todos eles se trabalhariam com a mobilização de diferentes para as outras direções de contradiscurso aqui
parecem no seguinte aspecto: práticas e espaços de evidência, (sejam as mais propostas é essencialmente processual: trata-se de
cada um deles trata o espaço
público, a representação so- novas mídias, seja o espaço, seja os atores presentes atividades que articulam variados meios e atores
cial ou a linguagem artística nele) procurando intervir diretamente em debates, dentro do sistema urbano e social, mas também
na qual ele ou ela intervém
tanto como um alvo quanto discursos e processos ligados a estes. Surgidas que tomam essa própria articulação como fator
com uma arma” (FOSTER, já no contexto dos anos oitenta de críticas de simbólico em si, como parte da manipulação de
1996, p.139-40).
representações sociais e de debate sobre a noção de significados e usos que opera. Isso implicaria numa
16 Segundo o próprio artista, espaço público, as intervenções desse tipo tenderiam prática complexa e ramificada de negociação, da
a política municipal da cidade
em relação aos moradores de a compreender a esfera pública como um espaço qual a “obra” ou acontecimento visível seria apenas
rua seria excludente e coerci- constituído discursivamente (DEUTSCHE, 1996, um dos produtos; nesse caminho, mais que produzir
tiva, resumindo-se aos abri-
gos para sem-teto: lugares às p.289) a ser utilizado “como alvo e como arma” de objetos, ambientes ou ações autônomas, os artistas
vezes semelhantes a prisões, formas múltiplas (FOSTER, 1996) 15. Uma interessante passariam a agenciar relações no espaço urbano
que não passariam de res-
postas parciais e provisórias visada ao tipo de operação que se quer designar (MOASSAB, 2003). Aproximando-se mais do ativismo
(WODICZKO, 1988, p.54). aqui é dada pela síntese de características que o político, as intervenções mais “agenciadoras”
Em desafio à atitude oficial, o
artista proporia com seu veí- artista Krzysztof Wodiczko (polonês radicado nos tenderiam a trabalhar o ambiente urbano como
culo algo igualmente parcial EUA) fez para o que considerava “arte pública crítica campo de forças, interesses e representações,
e provisório, mas que ao invés
de enquadrar e esconder iria atual” em 1987: procurando crescentemente se inserir em processos
aceitar e evidenciar a condi- participativos e coletivos para catalisar relações e
ção básica de nomadismo da
vida desabrigada. Mais que ação crítico-afirmativa na vida cotidiana e suas debates públicos.
servir a necessidades utilitá- instituições (educação, design, ambiente, espetáculo
rias, o veículo destinava-se
a ajudar no processo de le- e mass-media, etc.); transformação crítica da cultura Apresentados esses quatro conjuntos de intervenção
gitimação de seus usuários desde dentro. Colaboração crítica com instituições urbana, é necessário frisar a consciência de que tal
como parte da comunidade
urbana, chamando atenção de mídia massivas e públicas, design e educação divisão é inevitavelmente redutora, implicando em
para sua labuta diária de mo- em busca de trazer conscientização (ou consciência abrigar sob cada categoria uma multiplicidade de
vimento e coleta; o fato de
que trabalhavam para sua crítica) em relação à experiência urbana: vencer artistas, motivações, concepções e contextos de
subsistência — como todos tempo e espaço em informação, anúncios, quadros atuação completamente diferenciados. Ainda assim,
os cidadãos — ganharia ou-
tra visibilidade (WODICZKO, de aviso, luminosos, metrôs, monumentos e edifícios acredita-se aqui que esse esboço poderá fornecer
1988, p.61-62). Então, além públicos, televisão a cabo e canais públicos, etc. uma referência introdutória útil a interessados
de confrontar-se com os sis-
temas políticos e econômicos Dirige-se ao observador passivo, o habitante alienado em intervenções artísticas no espaço urbano. A
que excluem os sem-teto, da cidade. (WODICZKO, 1987, p.45). diferenciação aqui proposta também não exclui a
esse trabalho subverteria os
modos de percepção que os possibilidade de combinações e sobreposições entre
exilam (DEUTSCHE, 1996, A obra Homeless vehicle (1988-1989), do próprio os caminhos apontados; projetos cuja intervenção
p.99).
Wodiczko, seria uma importante referência desse mais visível é predominantemente plástica podem

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Estética, política e cidades: apontamentos sobre a dimensão crítica de intervenções artísticas em espaço urbano no final do século XX

estar engajados em processos mais amplos de uma autoimagem de sofisticação. Consolidar-se-ia


negociação e representação social, e assim por diante. aí, então, uma situação da Cultura como forma de
Assim sendo, “intervenção plástica”, “ocupação consumo e controle, na qual a arte seria vista como
gráfica”, “criação de situações” e “agenciamento diversão ou espetáculo e a crítica como “uma série
de mídias e processos”, devem ser encarados menos de opiniões a serem consumidas” (FOSTER, 1996,
como categorias que como dimensões de ação. pp.20-21).

A normalização da transgressão e os Codificadas como formas conhecidas de “arte” e


grandes eventos de arte urbana em muito desprovidas de uma vontade política de
transformação coletiva do mundo, as aproximações
Consideradas certas potencialidades e variedades entre arte e vida — seja na publicidade e meios de
críticas da intervenção artística sobre o espaço urbano, comunicação, seja na “arte” propriamente dita —
é necessário por fim considerar certas dificuldades que tenderiam então a acontecer principalmente como
as transformações na cultura e no circuito artístico espetáculo e consumo, integradas à produção de
trariam para a constituição de “contradiscursos imagens, aparências e “opiniões”. A passagem
urbanos” pela arte, ao colocarem em crise o lugar neovanguardista de uma arte de objetos para uma
da crítica e absorverem a transgressão artística como arte de eventos, documentações e contextos visaria
forma institucionalizável e consumível. dar ênfase à exibição pública em detrimento do
objeto-mercadoria; todavia, o circuito artístico nas
Em contraposição ao momento “contestador” dos últimas décadas transformaria justamente a exibição
anos sessenta, as últimas décadas do século XX em sua grande mercadoria.
assistiriam à reinserção das atividades originalmente
transgressoras nas instituições e no mercado, formando Com a emergência de novas instituições e formas
17 “A princípio extremamente uma “estética do antiartístico” 17. Essa legitimação e de gerência fundadas em lógicas de mercado,
táticos, esses imperativos se
a apropriação de operações antes subversivas, por sua estabeleceram-se relações muito mais estreitas com
tornaram com o tempo con-
vencionais, já que as formas vez, estariam intrinsecamente ligadas às mudanças o mundo empresarial e passou-se a usar técnicas de
antiestéticas eram recupe-
que a dimensão cultural sofrera em sua relação marketing e meios de comunicação para transformar
radas pela repetição, e os
espaços ‘alternativos’ se ins- com o capitalismo no fim do século — em especial a arte em grande atração (BUENO, 1999, pp. 274-
titucionalizavam” (FOSTER,
o “alargamento prodigioso daquilo que chamamos 275). O principal produto vendido e consumido
1996, pp. 34-35).
de cultura, em virtude da mídia e da informatização passaria a ser menos as obras do que o “espetáculo”
da vida diária”. (JAMESON, 1994, p.189) montado a partir delas e em torno delas — fosse
a arquitetura do espaço expositivo, o “conjunto
A indústria cultural contemporânea teria se temático” de uma exposição ou a “autenticidade”
transformado em um “espaço de heterogeneidade, de um espaço urbano. Nesse processo, a percepção
onde se interpenetram arte culta, arte popular de ambiental expandida nas experiências vanguardistas
massa e arte comercial” (BUENO, 1999, p.258). A se converteria no oferecimento de uma experiência
Cultura “generalizada” substituiria as distinções e diferenciada de entretenimento; a figura do curador
conflitos interiores à produção cultural por “uma cresceria e ganharia preponderância como um
Babel onde habitam todas as formulações estéticas “organizador de espetáculos”, passando a tornar-se
disponíveis” (idem, p.259), englobando igualmente a por vezes o propositor e indutor de projetos artísticos,
arte “festiva” e a “subversiva”, os cânones históricos, enquanto o artista passou a se inserir cada vez mais
a cultura pop, e manifestações populares, “étnicas” como um prestador de serviços.
e folclóricas — todas unificadas pelo mercado. O
atual uso ubíquo do termo cultura ganharia tons É nesse processo de institucionalização e espeta-
de um consumismo acrítico, no qual a diversidade cularização de formas e atividades artísticas, por
é um dado positivo na mesma medida em que sua vez, que as práticas de intervenção em espaço
também é positiva a variedade de ofertas e marcas urbano começariam a participar nas estratégias de
em um supermercado. O que um consumidor valorização da cidade, sendo assimiladas para a
exige de um produto não é problematização, mas constituição de “identidades” urbanas e/ou de um
eficiência — o que, no caso da cultura, é o prazer, clima atrativo de “agitação cultural”.
a beleza, a capacidade de entreter ou o respaldo a

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Para concluir o panorama construído neste texto, centers passaram a explorar a eficácia pública da
resta ressaltar que a teia de questões aqui delineada arte em benefício da sua própria imagem e da
— sobre a despolitização e espetacularização da do local do evento. [...] Atualmente, os setores
cidade, sobre a mercantilização e funcionalização de marketing conhecem muito bem o valor de
da cultura, sobre as formas de crítica e intervenção mercado da arte em geral. Por isso se valem não
da arte sobre a cidade e sobre a cooptação e apenas da presença de artistas famosos para dar
neutralização de práticas e discursos críticos — é mais brilho aos eventos, mas também aproveitam
de particular importância para a análise de um tipo o fato de que os highlights precisam ter caráter
específico de ocorrência da “arte na cidade” que passageiro, devendo ser oferecidos como eventos
se estabeleceu a partir dos últimos anos do século únicos. (BÜTTNER, 2002, pp.74-75)
XX: os grandes eventos de arte site-specific em
espaços urbanos. Assim, dos museus-espetáculo às grandes exposições
temáticas em espaços urbanos, despontariam
O final do século veria uma proliferação inédita de manifestações cada vez mais difíceis de separar da
projetos de arte em espaços não-institucionais, dentre lógica do consumo e turismo urbano — e, muitas
os quais merecem destaque especial os projetos vezes, francamente vinculadas a esta. Deve-se ter
contínuos ligados a uma cidade — o que M. Kwon em vista que, dentro do quadro de comercialização e
chamou de city-based international art programs competição entre cidades, intervenções site-specific
(KWON, ago. 2002). Geralmente agrupados em poderiam ser usadas para extrair ou produzir distinção
18 “Certainly, site-specific art
torno de determinados eixos temáticos, tais eventos e identidade, fatores aflitivamente procurados no
can lead to the unearthing
of repressed histories, help costumam reunir uma grande quantidade de artistas mundo do marketing urbano (KWON, 2002)18.
provide greater visibility to trabalhando com diferentes locações, espaços Mesmo intervenções voltadas à estranheza e às
marginalized groups and is-
sues, and initiate the re(dis) públicos e, por vezes, com a população das cidades, significações latentes de lugares em situação de
covery of “minor” places so capturando a atenção do circuito artístico, da mídia suspensão no espaço urbano — os terrain vagues
far ignored by the dominant
culture. But inasmuch as the e da intelectualidade. Nesse heterogêneo conjunto — poderiam também acabar por converter o espaço
current socioeconomic or- de manifestações, pode-se destacar aqui as edições urbano em um espaço de exposição estetizado,
der thrives on the (artificial)
production and (mass) con- da Documenta de Kassel (Alemanha) ocorridas cujas questões políticas ficariam obliteradas. Como
sumption of difference (for desde 1987; os eventos do projeto binacional InSite, alertaria Nelson Brissac Peixoto, curador do Projeto
difference’s sake), the siting
of art in “real” places can ocorridos desde 1994 na fronteira entre Tijuana Arte/Cidade, a valorização da “experiência e da
also be a means to extract the (México) e San Diego (E.U.A); e as quatro edições deambulação” trazida pelas obras site-specific
social and historical dimen-
sions of these places in order do projeto Arte/Cidade, ocorridas em São Paulo acabaria “formatando uma pragmática baseada
to variously serve the the- entre 1994 e 2002. no espetáculo da cidade”; com a transformação da
matic drive of an artist, sat-
isfy institutional demographic cidade em local de exibição, “o mapa substitui a
profiles, or fulfill the fiscal Para autores como Claudia Büttner (2002, p.73), a obra de arte, a cidade substitui o museu” (PEIXOTO,
needs of a city”. (KWON,
2002, p.53) Em outro texto, propagação de eventos de arte em espaço urbano 2002, p.19).
a autora também escreveu: a partir da segunda metade da década de oitenta
“significantly, the appropria-
tion of site-specific public art apontaria menos para uma problematização mais A rotineirização e apropriação das críticas artísticas,
for the valorization of urban significativa da cidade do que para uma maior por sua vez, atingiriam mesmo iniciativas mais
identities comes at a time of
a fundamental cultural shift apropriação dessas práticas artísticas por interesses “agenciadoras” de diálogo e trabalho direto com
in which architecture and de promoção. populações. No fim da década de noventa, já se
urban planning, formerly the
primary media for expressing estabeleceria no circuito mundial das artes um
a vision of the city, are dis- [...] aos poucos foi se cristalizando o entusiasmo pela nicho de “ativismo conciliatório”, expresso em uma
placed by other media more
intimate with marketing and arte das instalações específicas para um determinado abordagem de questões sociais através de estratégias
advertising. […] Site speci- lugar como gênero popular. O primeiro plano foi participativas envolvendo artistas estrangeiros
ficity and public art in this
context find new importance sendo ocupado pela encenação espetacular do itinerantes trabalhando com comunidades de
because they can supply dis- ambiente e não pelo questionamento da realidade terceiro mundo. Muitas dessas iniciativas passariam
tinction of place and unique-
ness of locational identity, preexistente, seja por meio de intervenções sutis, a reproduzir irrefletidamente a fórmula apontada
highly seductive qualities in seja pela confrontação com o conteúdo do local. por Kwon (2002, p.146): artista + comunidade +
the promotion of towns and
cities within the competitive Abriu-se então um mercado formidável: realizadores questão social = nova arte pública / crítica. Neste
restructuring of the global de festivais e megaeventos, secretarias culturais e ponto, cabe retomar o alerta de Rancière sobre a
economic hierarchy“(KWON,
ago. 2002). muitos empreiteiros de feiras, aeroportos e shopping tendência do “déficit de política” contemporâneo

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Estética, política e cidades: apontamentos sobre a dimensão crítica de intervenções artísticas em espaço urbano no final do século XX

em dar um valor de substituto aos “dispositivos ou assistencialistas para sua viabilização. Nesses
pelos quais a arte entende criar situações e relações casos complexos é necessário, para retomar os
novas” — valor que tende a subordiná-los às termos de Certeau, divisar tanto nuances táticas de
categorias do consenso. Nessa situação, a tentativa crítica quanto nuances estratégicas de espetáculo
para “ultrapassar a tensão inerente à política da das atividades que os conformaram.
arte” ameaçaria produzir seu contrário: a redução
da política ao “serviço social” e a “indistinção ética” Considerações finais
(RANCIÈRE, 18 abr. 2005).
O tom de aporia adotado no panorama construído
Ressalte-se aqui que, no estudo de grandes eventos, neste texto não tem pretensão de conduzir a um
é importante que a reflexão sobre intervenção de diagnóstico final e global sobre o tema; pretende
obras particulares na cidade deve ter seu significado apenas levantar e manter em vista aspectos ricos,
e impacto específico compreendidas no contexto ambíguos ou contraditórios da relação entre arte,
evento cultural ao qual se relaciona. Mais ainda, política e cidade a serem considerados tanto em
este mesmo deve ser compreendido em seu impacto seu estudo quanto em sua prática.
geral: ao estabelecer uma teia de discursos curatoriais,
ao constituir situações expositivas — com uma Procurou-se aqui considerar os potenciais críticos
infraestrutura física ou informativa de visitação às particulares da arte no espaço urbano; mas também
obras — e ao concentrar a atenção midiática e que, no contexto cultural, social e espacial constituído
intelectual, projetos como InSite e Arte/Cidade por si desde o final do século passado, tais potenciais
só constituem uma “intervenção ampliada” no espaço não impossibilitam a apropriação dessa arte como
urbano, uma situação de evidência diferenciada. elemento de reificação e espetacularização da
Essas grandes exposições constituem-se elas mesmas cidade. A atuação crítica do trabalho artístico, afinal,
um campo próprio de visibilidades, interesses e está sujeito à condição dúbia da própria “arte”
reverberações interferindo na percepção que se como espaço diferenciado em nossa sociedade: a
possa ter das obras particulares e no estabelecimento mesma instituição “arte” que pode ser apropriada
de territorialidades da própria cidade. Assim, para e instrumentalizada para ações novas e socialmente
considerar a atuação de intervenções da arte no inviáveis no mundo instrumental da vida cotidiana,
léxico urbano — em qualquer uma das variações afinal, é também uma possível moldura estetizante
enumeradas ao longo deste texto — é necessário que pode diluir a potência política destas. Embora
atentar para a recodificação que tais eventos por si aparentemente óbvio, é sempre importante
só já operam nesse mesmo léxico. Pensar os grandes ressaltar que não há atuação crítica efetiva sem
eventos de arte em espaço urbano, por sua vez, implica uma coletividade política, um público disposto a
em atentar para a teia política de forças, discursos engajar sua consciência.
e conseqüências que possibilitam e legitimam essas
“intervenções ampliadas”, considerá-las em sua Visou-se aqui, enfim, menos à caracterização de
inserção no sistema de valorações e interesses do impasses do que a um vislumbre da multiplicidade e
circuito artístico e das empresas e instituições que da complexidade de fatores e manifestações com que
os financiam. se pode deparar ao se examinar o jogo entre aspectos
táticos e estratégicos, entre criação de dissensos
Como campos de visibilidade privilegiados, grandes e apropriação por ordens consensuais. Espera-se,
eventos que lidam com o espaço urbano e seus sobretudo, ter fornecido aqui alguma contribuição
habitantes existem numa situação ambígua do ponto para estudos que partilham do impulso que ocasionou
de vista da construção de críticas na cidade e sobre este texto, ou seja: reflexões interessadas na procura
a cidade: sua escala, sua coesão, suas atividades contínua de novas e antigas propostas de resistência
agregadas — debates, palestras, manifestações e dissenso na arte e na cidade.
— e sua presença em mídia permite um alcance
público mais amplo no levantamento de questões
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