Anda di halaman 1dari 119
Dados Internacionais de Catalogasio na Publicagdo (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bobbio, Norberto, 1909 — (© Postivismo Juridica: Ligdes de filosoia do dicto / Norbert Bobbio, compilaas por Nello Morr: tadusSo esol Marcio Pushes, son Bin, Carlos E: Rodrigues. — Sto Paulo: lone, 1098 ISBN 85.274.05285 1. iret 2, Dizeito — Filosofia 3. Positivism I. Mora, Nelo, I Tio, 95.0822 cbu-340.12 Indices para catilog. 1. Positvismojuriic: Ditto: Filosofia 40.2 NORBERTO BOBBIO O POSITIVISMO JURIDICO LIGOES DE FILOSOFIA DO DIREITO ccompiladas pelo Dr. NELLO MORRA Tradugio © notas Marcio Pugliesi, da Faculdade de Dieito da Universidade de Sto Paulo, son Bini, da Faculdade de Filosofia da Universidade de Sdo Paulo, ‘Carlos E, Rodrigues, da Faculdade de Diteito da Pontificia Universidace Catlin de So Paulo, ee © G. Giapicheli Eaitore SRL. ‘Torino — lia © Direitos Reservados para lingua portuguesa feone Bditora Lids, 1999. Colegio Elementos de Dieito Coordenagio Técnica (Carlos E, Rodrigues MarcioPugliesi Producio ¢ Capa Aniziode Oliveira Diagramagio Rosicler Freitas Teodoro Revisio Rosa Maria Cury Cardoso Proibida a reprodugio total ou parcial desta obra, de qualquer forma ‘ou meio eletnico, mecnico, inclusive através de processos ‘xerograioos, sem permissio expressa do editor (Leint $988, 14/12/1973). ‘Todos os direitos reservados pela iCONEEDITORA LTDA. Rua das Palmeiras, 213 — Sta Cesta. ‘CEP 01226-010 —-Sio Paulo — SP ‘Tels/Fax: (011)3666-3095 INDICE Preticio & nova edigio. Parte 1 [AS ORIGENS HISTORICAS Do PostTIvISMO JURIDIC INTRODUCAO 1. Diteto naturale ditto postivo no pensamento cléssico 2. Diteto naturale direitopostivo no pensamento medieval... 3. Direito naturale direto positive no pensamento dos jusnaturalstas dos séeulos XVII XVII. 4. Critéros de dstingio entre dieito natural drcto positivo Capitulo | — OS PRESSUPOSTOS HISTORICOS 5. RelagSes entre dreito naturale diritapostivo 6. O context histrico do positivism juridico. ‘A posicdo do juz quanto Tormacio do dreto antes e depois do surgimento do Estado modern. 7. Os eventos histércos do direito romano 8. “Common law” “statute law" na Inglaterra: sir Baward Coke e Thomas Hobbes. = {9. A monopolizago do dteito por atte do legislador na ‘eoncepeio absolutista ena liberal, Montesquiewe Beccari, 10. A sobrevivéncia do direito natural nas concepes jusilos6fieas do racioalismo no século XVI ‘As “Tacunas do diteito” a 15 19 2 26 32 37 Capitulo Il — AS ORIGENS DO POSsITIVISMO TURIDICO NA ALEMANHA, 11, AEscolahistérica do dizeto” como predecessora ‘do positivisme jridica. Gustavo Hugo, 12, Ascaractersticas do historicismo. De Maistre, Burke, Moser 13, A escola histirica da dteito. C.F. SavignY soon 14, O movimento pela coiticago do desta. Thibaut 15, A polémica entre Thibaut Sevigny sobre a coditicacSo {do direito na Alemanha Capitulo Ill — 0 CODIGO DE NAPOLEAO EAS ORIGENS DO POSITIVISMO JURIDICO NA FRANCA 16. Ossiniticado histirico do Codigo de Napotedo A codificugo Jusiniana ea napalednica 17. Asconcepgéesfilosbfico-jridicas do iluminismo inspiradoras da coiticag francesa Assos programs ds AsseriGat evolucioi on . 18, Or ro dati danni: Cambacérés 18, Aclaboraio ea aprovagio do projet definitive: Poralis 31 45 a7 33 st 63 64 or 7 20, As relages ente 0 jue lei sogundo oat. 4 do Cédigo Civil © diseurso preliminar de Portals 21, A escola da exegese: as causashistéricas do seu vento, 22. A escola da exegese: seus maioresexpoenes suas ‘caractersticasfondamentais : Capitulo IV — AS ORIGENS DO POSITIVISMO JURIDICO NAINGLATERRA: BENTHAM E AUSTIN 23. Bena: assign A pi mint de sa on wits en 73 8 83 9 24. 25. 2, 2. 28 Bentham: a extca 8 common law e a teora da codificagio 96 Austin: a tenativa de mediacio ente a escola histérica lems eo utilitarismo inglés . 101 Austin: sua concepeo do ditto positiv0 a. 105 Austin: a distineSo entre dirito legislativo e ditcito Jdicidrio: a ertia a0 dieitojudicario 109 ‘Austin: o problema da couificagio. vows AHL CONCLUSAO DA PARTE HISTORICA 29. 0 fatohistérico da produgio lepsltiva do direito€o funda mento do postvismo juridico;o significado da legisla «119 30. A cotiticagioinexistente na Alemanht fungio histrica do Aieio cientitien vo vow 121 231. Ihering: © método da cigncia juries osu ve 122 Parte I ‘A DOUTRINA DO POSITIVISMO JURIDICO INTRODUGAO 3, (0 pomtosfundaments da doutrina juspo tne BL Capitulo |— 0 POSITIVISMO JURIDIC CoM 33 x. 35. ABORDAGEM AVALORATIVA DO DIREITO © positivism juriico como posta centifica frente a0 diteito juizo de validade€ jui2o de VAlO sexsncen 135 Ciencia do diteitoe ilosofia do dirito:definighes avalorativas edefinigdes valortvis rn 138 “Positivism judi e“realismo juridico” a dfinigho 4o ireito como norma valida ou como norma ef anue M2 36, 37 38 (0 “formalismo” como caractristica da definigzo {uspositivista do dzeto sents 1M Capitulo Il — A DEFINICAO DO DIREITO FM FUNCAO DA coacao [As origenshistricas da concepso coercitiva do direito: ‘Tomasi a “7 ‘A teorizagio da concepgéo coercitiva: Kant e Ihering. Objecies 8 eS8 eo snes ISI ». ‘A moderna formuagio a toi acoso Kelsen e Ross 135 Capitulo TI — A TEORIA DAS FONTES DO DIREITO: A LEL 40, 4 2 48 44, 45, COMO UNICA FONTE DE QUALIFICAGAO (0 significado tenico da expresso “fontes do dirito” a. 161 ‘Condigbes necessiras para que num ordenamento juridico ‘evista Uma fone predominante nnn 1, Fontes de qualificaio jriica; fntes de conhecimento jurdico (Fontes reconhecidas e fones delegadas) 16s ( costume como fone de dreto a histria do pensamento {uriicne na histria das instituigbes postive 166 [A deciso do juiz como fonte de ditto. A eqUidade ara. 171 ‘A chamada “natureza das coisas” como fone Je diet0 ow. 175 Capitulo [V — A TEORIA IMPERATIVISTA DA. NORMA JURIDICA 1 da norma jridica como comando, Distingio entre comand e conselho. Austin €Tho8 nn 18L A construsio imperatvista das norms permissivas 186 A caracterizagio do imperativo juidico: tentativasinsatisftéia. 189 . ‘A caracterizagio do imperative jurico dito como imperativohipottico, sone IH Capitulo V— A TEORIA DO ORDENAMENTO JURIDICO 50, SL 32. 53 54 ‘A teora do ordenamento juriieo como contbuigio ‘original do positvismo jurdico 8 teria geal do dirito .. 197 ‘A unidade do ordenamentojuridico. A weoriakelseniana (norma fandame ta 199 Relagies entre caeréncia e compleitude do ordenamento jurigico rn 202 ‘A coeréncia do ordenamento jurdico, Os critrios para elimina as antinomias 208 A completitude do ordenamento juriicn, ( problema das lacunas da lei : 207 Capitulo VI— A FUNCAO INTERPRETATIVA 55. 56 si. DA JURISPRUDENCIA (© papel da jurispradéncta, A nogia de “interpetagio™ 211 (0s meios hermenéutios do poitvismo judi: a intrpretagio decarativ; a nterretagio integraiva (wanalogia) 24 A concepeojuspostvita da cigneajuridica ‘formalism eieniico” ven 220 Capitulo VII — 0 POSTTIVISMo JURIDICO COMO 58 39, IDEOLOGIA DO DIREITO “Teoria” ¢“ideologa". © aspecto ideokigicn do positivism jurdicn, Cten 8 teria e&ideologa da juspositivisto 223, (O conteido eo significado da versio extremista da ‘deologia jospositivista as suas vias justifcages histrico-filosstieas 1 228 (60, A versio moderada do positvismo étco:&ordem como Valor proprio do dtt0 nnn sone 229 CONCLUSAO GERAL 61. Os tes aspectos fundamentas do positivismo juridico: nossa avaliagéo — or) [APENDICE, ot a 239 10 PREFACIO A NOVA EDICAO Estas ies sobre opositivismojuridico, publicads primeiramen= te sob form de fascfulos pela Cooperaiva Libraria Universitaria “Torinese, hi muito tempo esgotades, foram desenvolvidas por mim no sano académico de 1960-1961. Sua publicaco foi possivel pela diligén- cia e pea periciacom que foram compiladas pelo doutor Nello Morraa {quem apesir de tantos anos passados, expresso a mais viva gratido. Foram concebides como comentirio histrico e como sintese twérica de dois cursos precedents sobre a Teoria da norma juridica® © sobre 8 Teoria do ordenamento juridico**, desenvolvids tespectiva- mente nos anos académicos de 1957-1958 e 1959-1960, publicados pelo editor Giappichelc, dferentemente das presents alas, permanente mente redid. Seguiram-sea ais eusos alguns outos sobre ditcto natura, dos quas alguns tragos podem ser lorigados no volume de fasciculos, Looke ¢ 0 direito natural, editado pelo mesmo Giappichelli cm 1963. (© problems da natueza do significado histrieo do positivismo juridicoestava na ordem do dia naqueles anos, particularmente depois do ensaio que HL. A Hart havia escrito em defesa do posiivismo juridico em si polémica com Lon L. Fuller, Positivism and Separation ‘of Lav and Morals na Harvard Lave Review, vol 71, 1988, pp. 593- 630 (trauzido ao italiano na coletinea de esrtos de Hat, Comeibuti ail” analisi det dirt, sob coordenacio de Vitorio Frosini, Milo, Giutfee, 1968, p. 107-166). No mesmo ano fo editada a principal obra de Alf Ross, On Law and Justice, Londres, Steve & Sons (radugio italiana por Giacomo Givazzi, Einaudi, Turim, 1968). Em 1961, 0 an0 a primeira cdigio desis fasfculos, foi editadaa obra principal de Hart, ‘The Concept of Law, Oxford, Clarendon Press (radu italian a cargo {de Mario A. Catanco, também pela Einaudi, Trim, 1965°*"). No ano anterior hava sido editada 4 obra conclusva de Hans Kelsen, a nova tedigio de Reine Rechtslehre, Viena, Franz Deutick (radugio n cargo de Mario Losuno, Binaudi, 1966****), No verio de 1960, ‘Alessandro Passerin d’Entreves ¢ eu, com a colaboragio de Renato ‘reves, convidamos os professors Hart ¢ Ross com alguns de seus alunos € outros jovens estdiosos italianos para um semindro sobre 0 positivismo juridico, com cerca de duas semanas de duragio, na Villa Serbelion i Bellagio, sob os auspicios da Rockefeller Foundation, Foi sobretudo deste seminario que obiveinspragio,ealém da insprac ‘muito material, para desenvolve todo um curso sobre oassunto, Adela que 0 embasa e jusifica sua articulagéo foi exposta por mim em um artigo, “Sul positivsmogiurdieo”,publicado a Revista di Filosofia, no primeizofasciculo de 1961 (pp. 144). Emus primeira edigioestecurso tee ahonr de ser doutsinten- samente apreciado, no sem algumasjustas observagies eriicas, na Revita trimestrale di dirito ¢ procedure eivile (ano XV, 1961, pp 1476-1480) por Guido Fass, ujo precoce desaparecimento constitu rave perda para 0 meio estudioso. Dedico esta reimpressio& sua cara ini dizer que o curso se ressente do tempo em que foi esc «ede um debate que nto maisse desenvolve nos ermos de entdo. Mas no orevisei,nemoatualze. Apesar de toda gua que passou sob as pontes 4d positivismo jurieo, os pares centmis resisiram. A presente reimpressio repioduz exatamente a primeira edigio, silvo algumas equenas correqaes formas. Nonacer0 Bosse PARTET AS ORIGENS HISTORICAS DO POSITIVISMO JURIDICO INTRODUCAO 1. Direto natural e dieito positive no pensamento cléssco © curso a ser ministrado este ano € dedicado 20 positivismo Juridico edivisi-se-4-em dus partes, primeira dediada a problemas histirioose a segunda a prblemas wesricos, Acxpressiopostvismo juridico” nto deriva daquelade“positivis- mo" em sti filsstieo, embora no séulo passado tena havido uma ‘cera ligacio entre os dostermos, posto que alguns positivist jurdicos ‘ram também postvistas em sentido filos6tico: mas em suas origens (que se enconizam no inicio do séeulo XIX) nada tem a ver com 0 positivism ilossfico— tanto €verdade que, enquanto.o ra Alemaaha, 0 segundo surge na Panga. A expressio "postvismo jurdico”derivada locucio divetopostivo contrapostaaquelade direto ‘natural. Para com-preender 0 significado do posiivismo juridico, portato, é necessrio esclarecero sentido da expresso direito postive ‘Toda a radio do pensamento juridieo ocidental € dominada pla Aistingio entre “Wireto postivo” e “Wieito natura”, dstingio que, {quanto uo coateido concetual,jé se encontra no pensamento grego ¢ latino; o uso da expresso “direito positvo" é, earetant,rlatvamente recene, de ver que se encontra apents nos textos latinos medievais, [No latim da epoca romana, 0 uso do tema pasitvus em sentido andlogo aquele a ser assumido na expresso “dieitopostivo” &encon- teado em apenas um texto. ‘Trata-se de uma passagem das Nott Attiche de Aulo Geli, onde sedis Quod P. Nigidus arguisime docuit nomi non posi ese, sed satura. ‘Como se vé, nesta passagem a contrapesicio entre “positive” e “natura” fit telativamente 4 natureza no do dieito mas da lingua gem: esta raz io problema (que jf encontramos nas dispotas entre Séerates ¢ 0 sofistas) da distingao entre aquilo que € por natureza {lysis} eaguilo que € porconvengso ou posto pelos homens (hess). problema quc se pe pela linguagem, isto 6, se algo & “natural” ow *convencionl”, poe analogamente também paraoditeto vez que se enconia no latim pés-lissico a expresso pasitvustferia 20 dieito € numa passigem do Commento de Caleidio ao Timeu de Platéo* (esta obra de Calcio, um neoplatinico ou camentador de Platio, fo durante um longo tempo — até séeulo XII— a nica fonte 4o conhecimento medieval de Plato). Diz-se nee: Ex qu adparet in hoc Ho list &, no Tiel principale id ag ‘ontemplationem consideraionemgucinstutnon postive, sednatura- es its justia aque aqua quae nscripae insite leis descrtendse formals ibui ex eruina moderation substantia Aqui o termo “positivo"refere-se 8 justiga: a passagem pretende expressar precisamente que o Timeu tata justiga mataral” (sto das leis naturais que regem o cosmos, e, portanto, a cosmologa, a eriagio e 8 constituigio do universo) e nao da justiga posiiva” (ist das leis reguladoras da vida social), ‘Como dissemos, a distingio conceitual entre diteito natural e ireitopostvo ja se enconia em Platdoe em AristStles, Este tltimo inicia deste modo o capitulo VU do livio V de su Etioa a Nicémaco: Ds jstiga civil uma pate 6 de cxigem natural, our se fanda em ai Natura € quel justiga que mantém em tod paste omesmoeeitoe nid ‘depen do fato de que paeea boa a alguém ou mi fandada na le acl, ao contro, de quedo porn sess engens so estas 08 aguelassmassim como uma vez sancionads.(Datadugiode A Plebe, cd. Laer. pp 18845 )+* Neste texto o ditto postive &chamado “direito legal” (nomikn dlikaion) 0 natural € dito “physikén’s observamos que & impréprio teaduzir 0 termo dikaion pela palavea “direito” (ainda que 0 fagamos ‘assim por motivospritcos) uma vez que o grego dikaion (bem como 0 latino as) tem um significado dal indicando o mesmo tempo ideia de “justiga”e de “direito”. Dois sio os ertéios pelos quais Aristeles Aistingueo dreto naturale positive: =item inc Gein tnd tatepsade ‘hom ne eae foc pS oak eden 6 4) odireito natural é aqele que tem em toda pate (pantachoa) a mesma efiedcia ( ildsofo emprega o exemplo do fogo que queima em ‘qualquer parte), enquanto 9 dieto positivo tem eficcia apenas nas ‘comunidades poitea singulares em que ¢ post; 10 witeto natural presereve ages cujo Valor nfo depende do {vizo que sobre elas tenho sujeito, mas existe independentemente do fato de parecerem boas alguns ov més a outtos. Prescreve, pois, gies ‘ja bondade ¢objetiva(aghes que so boas em si mesmas, diam os ‘escoldsicos medievss) O diteita positive, a0 contro, € aquele que ‘estabelece ages. que, antes de serem reguladas, podem ser cumpridas indiferentemente de vm modo ou de outro mas, uma vez reguladas pela Tei importa (isto €: €corretoenecessrio) que Sejam deserapenhadas do modo presrito pel le, Aritoeles dé este exemplo: antes da existéncia {ée uma lei ritual € indiferentesacifcar a uma divindade um ovelha ou (duascabras; mas uma vez existente uma lei que ordena sarifcar uma ‘ovlha, ito se tora obrigatrio: & correla sacifcar uma ovelha eno ‘duascabras no porque esta agi Se boa por sua natreza, mas Porque conform uma lei que dispae desta manera. Esta dicolomia também € encontrada no direito romano, onde & formolada como dstingio entre “direito natural” (e 6 preciso notar que também o jus gent € mutes vezes includ neste) us cvile (no em sentido estrito— contraposto a0 jus honorarium —masem sentido lato = contraposto ao jus gentum ou 20 jus naturale). Assim, no inicio das Instuigdes se. enconta a triple distingio ene jus naturale, jus ‘gent c jus civil A primeira categoria ius naturale) — definida ‘como “quod natura omnis animalia docuit” —nio nos interessa porque estamos examinando a categoria da jus gentium que cortesponde 20 fonceto de direito natural, bem como o de jus civile correspond 20 rosso conceita de dieto positive. Formulase a distingSo entre jus _gentium jus civle meses terms: Jus naturals quod natura oma animaladocut.. Juste chile ‘et gent ta dvr omnes popu qu Tegibus et moribus eguntur, pertin soo promi, parti communt omni honda jure went fam qu sue ppl ips sb jus const, id pus proprium Citas ex vowatarg as cle, quas jus propria isis cia: (quad verasttals rai inter met omnes consid apd omnes ” ‘populosperacqueeusoditurvocaturgue jus gentium, quas quo jure ‘nes gente untur (11,2, 1)" (0 jus gent eo jus cle correspondem & nossa dstngéo entre ieitonatuta edizeto postive, visto que primeira se efereAnatureza (naturals ratio) co segundo is estates do populus. Das distingSes ‘ofa apresentadas tems que so dois os erties par distnguiro direto positive (jus cle) do dirito natural (us gentium): 8) primeiro limita-se a um determinado povo, 0 passo que © ‘segundo nio tem limites; 'b)0 primeiro poste pelo povo (isto €, por uma entidade soci ‘rida pelos homens), enquanto 0 segundo € posto pela naturals ratio, [Numa passagem posterior & inoduzido um tereeitocrtéio dis- ‘Sed natural quidem jure quacapud omnes gemespareequeervantar, living quam providenia conta semper firmus ional permanent: ca vero, qua ipsa sbi quaeque chs const, saepe fmucarisolent vel acu consensu popu ve aia posta lege lata (1,2, ms Enguanto, ois, diteito natural permanece imutivel no tempo, 0 positivo muda (assim como no espaco) também ao tempo, uma norma pode ser anulada ov mudaéa seja por costume (costume ab-rogativo) seja por efeito de uma outa lei Um outa defini céebreéencontrada num fragmento de Paulo ce apresentad a0 Digest: Jus plaids mols dir: uno modo, cum id qu Semper aequum ae ‘bonuses dicta, atest narrate alter mado, quod omnibus arts qu cvtate ale est ut xt jus ie (D1 1s) Dois si os eitrios sobre os qua se basciaadistingio de Paulo centre dreto naturale drei civil )odireto natural universe imutivel (semper) enquanta.civil € particular (no tempo eno espago): byodizeitonaturaestabelece aquilo que bom (bonum etaequum), enquanto o civil estabelece agulo que € sti: 0 juizo correspondente a0 primeirofunda-se num rtéro moral, ao passa que oelativo ao segundo baseiase num eitéro econdmico ow uit, 2, Direito natural edireto positive no pensamento medieval. De acordo com os resultados obtidos por Kuttne,em suas pesqui- ‘1s, primeiro uso da formula jus positium se enconta mum flésofo ‘medieval, em fins do século XI, precisamente, em Abelarda (segundo investigasGes anteriores de Kantarowic, ao contro, aereditavase que © primeiro uso de fal termo adviesse de Damaso, no século XII; © & provivel que pesquitas mais acuradas permitissem remontat tal uso sinda anteriormentea Abelado)- Este timo autor assim escreveem seu ialogus inter philosophum,judacum etchristianum: pore autem in hs quae adjust pertinent, nom solu naturals, enim etiam positoae sta ramitem nan excedere Jusquippe dad naturale aad postivam dcr Depois de haverdefinido o dieito natura, mass fildsofo pros- segue definindo o dizeito postivos Positive autem justia id et gud ah hominbus institu, a luitaiem se el honestatem is manic, sola consuctdine ‘ur seep mtr auctoritate Pat. lat 178, 1856), Segundo Abelardo, entio, o dieito posiiva “ill est quod ab hhominibus instittur”s isto ga sua earactristca 6 ade ser post pelos hhomens, em contaste com diteto natural que nog posto poresses;mas poralgo (oualguém) queestialém desses, como naturez (oxo proprio Deus) "Ess distin ene dirito mature direito positive se encontraem {todos os eseritores medievas telogos, filésofs,canonistas. Na Summa theologca (IU. ae, g. 90) de Santo Tomas, por exemplo, hi uma extensissima disseacio reatva aos diferentes tpos de lei, O autor istingue quato, saber: “lex eterna”, alex naturals, lex humana ea 19 “lex divina”. Esquecendo-nos da primera eda quar destas categoria (2 levaeterna ex dvina) que nio nos interessam aqui, consderemos alex ‘naturals ea lex humana: as lis corespondem a distingo entre direto ratura e drito positive; em verdad, Santo Temis mio chama positiva a Tex humana apenas porque também fx divina psiiva A lex naturals €definida pelo fil6sofo como: Partecipai less acerna in rational crear A Ler humana, continua ele, deriva da natural por obra do legisla dor que pe ea faz valer, mas tl derivagbo pode ocorrer segundo dois. diferentes modes, ou se, per conclusionem ou per determinationem. 8) tem-sederivagio per conclusionem quando ale positva deriva "amos numa sociedad sem saber om preciso que obrigngSesassumi. A suhordinacio dos juizs tle tende a garanti um valor muito importante: a seguranga da dirt, de modo que 0 cidadiosaiba com cetteza seo proprio comportumento € ou nio conforme Ali Estes concetos sio relomados por Beccaria na sua célebre obra Dos delitose das penas(1764)* Unadas pssagens maiselebrese fre= ‘qentementecitadas na polémica antpositvisaacha-se no pardgrafo 3 ‘A primeira conseqéncia destespincipios€ que somente as ks podem ‘ecrtar as peas sobre os deli cesta auloridae 6 pode resi jumo 10 legisladr, qu tepreseataasocedade una pr um coma social [Agar Beccaria ape para eoncepsto comratalista para demonstat| ‘quo pose do letistadorndo€arbitiio mas e funda m sociedad feito para asociedade| Neahum magisrado, qu & pare da sociedad, pode com justia inl penas contra um oatto membre da mesma Sociedade Mas uma pena arescia ale do limite fixao plas leis €3 nj, ras uma bar pena; portant, no pode um massed, {ualquerpreteto de zl, ou hem pablo, acescer pen estbeleid ‘um ido dlingent Beccaria enuncia aguio principio dito de “estritalegalidade do Aireito penal”, que seexprime na maxima: “nullum erimen, nulla poena sine lege”. Nopardgrato 4, insite, ademais,emsuss afrmagies sobre as relagGes entre 9 juize ale. O juiz no 6 no pode itrogarpenas @ nao ‘ser os catos e nos limites prevstos pel li, como também ao pode imerpretar a norma juriica, porque a interprctago dt lei um sentido siversodaquee que Ihe foi dado pelo legisiado (uma posigio extremists ue hoje nem mesmo o mais obstnado positvstaestaria disposto & acita) (uaa consegignla:tampoen a autre de interpreter a isp ras pose se atibuto do juizes crimin, pea azdo dead stem leysladones- Ov juizes no receheram as leis demons anepusados ‘como uma tadgso domestics em festmento que aso deitasse sos piston seniowcudado de obec; receberam asim da sociedad ‘Viva, ou do soberano representa dela, come legitimo deposit do tivo tesla da vorade de todos receberam-ni no como brig ese un antigo jusinent, no porque leg votade no existent, nique porque reuzia ox homens 8 estado de soiedde a estado de rebanh, mis com efeitos de um cit express jurameto gi as ‘ontadsrvinidas don sito vs fizeram so soberan, como vinculos rnecesiios para fear reger fermen intestino dos ineresespat- calares. (0) ‘Osea ser ent legime interpret da ei? © soberan, at © depositrio dasefetivas vontades de todos, oo juz eu ofa & Somentecxaminar seo tal homer havia eomeigo ou no uma ago sonra seis? Em fod delito deve faze o jui um silgismo prfeito: a maior deve ser lei gras amen,» ago conform ou nasa conse fa, Herd ou pen Quando ui for constrangio oo dese fazer também dos ilogsmos somene, abirse- a port incerta. ‘Nao hi cosa mais perigosa do que agus axioms comm: “E preciso costo esprit” uma baragem romps Trente 8 torrente ds opines, Aqui Bocearia expen “eoria do silogismo”, bem conhecida pelos jurists, segundo a qual o juz ao apicar as les deve fazer como aguele {que vedi conclisio de wm silogism, Assim fazendo le nioctianada ‘de novo, apenas toma explictoagulo que jest implicto ma premissa maior. Beccars que, sem mis, ue osilogismo seja“perfelto": no scti assim aguee rcieinio do jurista que se fondasse numa interpreta ‘glo unaldgica de ums norma juridica (este caso de fat, 0 silogismo é Togicamenteimperfeito), a 10. A sobrevivéneta do direito natural na concepgbesjusfloséfieas {do racionalismo no século XVIIL. As “lacunas do direito”. Vimos que os eseitoresracionalists do séoulo XVII teorizaram sobre onipotéacia do leislador. Com eles, entctanto, anda no chegamos ao posiivismo juriico propriamente dito. E preciso lembrar fq nesse século direito natural ainda est vivo tem um dos seus florescimentos mais ntensos, no sé no plano doutrndrio como também no pritico. Basi recordar ainflugncia que o pensamento jusnaturlista teve na formacio da Consituigio americana © das ConstitigBes da Revolugio Frances. No pensamento do séeulo XVIN tm ainda pleno valor osconceitos-base da filosofi jusnaturalisa, tas como oestado de natura, fei natural (eoncebida como um complexo de norms que se coloca a0 lado — ou melhor acima — do ordenamento positivo), 0 ie jutista. Assim, por exemplo, Aubry e Rau, embora fo negando “a existéncia de certs prinepiosabsoluts eimutaveis, anteriores supe, riores a toda legislacio positiva",afirmam, todavia, que "0 dircto natural no consitui um corpo completo de preceitos abslutos. ¢ imatives” visto que tuisprincipios absolutes sio muito vagose podem ‘er determinados somente pelo direito positvo, ao qual exclusivamente se deve dirigir jurist: o mote de Aubry era:"woda-a le. mada a ndo sera let" (Bonnecase, op cit, pp. 161, Paricularmentecaracterstica€ 8 opinio de Demolombe, segundo a qual, emiboraexistindo o ditito natural dstnto do positvo ele ¢irrelevante para jurist enquanto no for incorporada ali (0 jurisconsltonio deve se prender aun modelo maisou menos peri ‘0,1 um tipo mais ou mens del. dio natural par eles a0 € sempre melhor, nem o mais exeeene; mas eto natural posive, Pratcivelrealizavel €aquee sobretide, que se conforma se sai Imzihor ao espitito, aos prinpos eas tendenias gras da Iegilagho ‘sri; ees por que peso qe € sempre nessa mesma lislagao que £ neces ating, dietamene ou iaditetamenes todas egress soles juss (Bonnecsse, opt, no, p. 170), Demalome fet, pois, uma inversio tipicamente positivist das relagies ence dieto naturale dieito postive, Em lugar de mensurar a validade do direto positive com base na sua conformidade com 0 natura firma que este ttm & tanto mais relevante quanto sea con sagrido pelo primeiro. Esta jnversio levaditetamente a um formulagio ogicamente contraditria, no momento em que o autor diz que oditito ‘natural nfo € necessaiamente 0 melhor dirito, dado que a propria ‘etinigio de dieto natural comport a iia da sua excelenea eda sua superioridade relativamente a0 diet postive, A escola da exegese impulsions a concep tradicional das es entre dieito natura edireito positvo também com respeto & ‘um outro problema, © da aplicabilidade em via subsidiria do direito natural em caso de lacunas no ditita postive, Segundo a interpretagao «dada por Portalis no seu dscutso preliminar (vero § 20), 0 art. 42 do Cédigo de Napoleio admit tal fungia subsidira do direto natural; mas a escola da exegese aller interpretagio desse ato, afirmnd ‘que com base neleo juz dove se fundar unicamente n ei para resolver ‘quaisquer controversias. Assim Demolombe esereve a5 arec-me que tumbéan em mara iil, eo syjelt avo ao invocar, pars sinensis pretenio, nad senao uma para era de ditto na Fal agossneionadasequor india onieplictament el ei, ojve m0 ‘levers dspemar-the a beneticia de sn concusies [to no deve scaler seu pedi «depois de haverindieado alguns aspects da interpretagio do at. 4,0 autor conlui que, com base ele jue no poe lealmente pretender que let no te proporcions os sneios pure resolver a causa que Ihe & submetids (Boanecse, op. ct, 68). A intorpreagio do at. 4 dade por Demolombe leva portant 3 afirmaro principio da completiude da lei 'b) Um segundo aspect €representado pela concepsorigidamen te estaal do direto, segundo 8 qual juridicas io exclusivamente as. normas post pelo Estado, ov, de qualquer forma, ue conduzam a um reconhecimento por parte dele Tal coneopsio implies no principio da ‘nipoténcia do legislador do qual falamosouras vezes; este principio fifo coincide com negagio genérics do direito natural, porque importa também 1 negacio de toda tipo de dircito postivo diferente daguele posto pela lei, como o direito consuetudinrio, 0 dieito judiciio e Principalmenteodireitociemiieo. As seguintesalirmagies de Mourton podem ser consideradas uma simula das concepgées do juspositivismo francés sobre o problema das fontes do dite: ara cusps oadvqado gra ojuz exile md dito, o iret positve que se define: o conjunto das leis que o legislador mln prs gua tetas oehomeente Ase ‘ie ov mors as, com feo, abigatarengano ao fren ‘Shcionodas petals -Aolegslaors cabo dtd term tar ergs to muneroave, vere ao cotroveas do dio natal eta ue iguliene cigs Dale de ton om mira mia sa resi dant da rés da es poise Cosa pr ula segend eae no prs lla Nad ain Gate oum ipnges soo retenode sues sata Suna naamaine gue prevent Ey juin SOB ouhiver re msrarsve date manegtatad que sso Seite doe (Bomeseon i 15 86 Fica portanto claro que, segundo a escola da exepese, le n ‘deve se interpreta segundo raza eos ertris valorativos daguele {que deve aplici-1a. mas, a0 contri, este deve submeterse completa ‘mente i razio express na propria le: neste sentido um expoente det escola, D' Argent, assoverava ‘Stultasapiemia quae vue lege spientio ese (Bonnecase, op. et p-IS}). 6) esta attude diamte a lei nasce um tereeiro aspecto do Positivismo urdieo frances: a interpreta dali fundada ma ntengo do legislador. Tatase de uma concep da inerpetagio que tem una rand importincia na hstéia e ma pti da jurisprudéncia, senda Aacatada até os nosos dias perfeitamentecoerente com os postulados fundamentais da escola da exegese: eo tnicodieitoéaquelecontidona i, compreendida como manifesticio escrita da vontade do Estado, ‘orna-seentio natural coneeber a nterpeetueio do dirito como a busca! ‘a vontade do tesislador naqueles casos (obscuriade ou lacuna dale) nos quais ela nfo deluiimediatamente do pripio texto legislative, € todas as técnias hermenéuticas — estudo dos trabalhos preparatrio, ‘da finaidae para a qual a lei foi emiid, da inguagem leislatva, das relagies logieosistemsticas entre uma dada disposi legilativae as ‘utras disposigbes ele. — so empregadas pars atingr tal propésito, Distingue-sea vontad dolegishadorem vontade real vontade presum da busci-se a vontade teal do legislador no caso em que ale dsciplina

Anda mungkin juga menyukai