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O LOUCO DEVE CUMPRIR MEDIDA DE SEGURANÇA

PERPETUAMENTE?

LUIZ FLÁVIO GOMES


Doutor em Direito penal pela Faculdade de Direito da
Universidade Complutense de Madri, Mestre em Direito
penal pela USP, Secretário-Geral do IPAN
(Instituto Panamericano de Política Criminal),
Consultor e Parecerista e Diretor-Presidente do IELF–PRO OMNIS:
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
(1ª Rede de Ensino Telepresencial da América
Latina – Com a Pro Omnis o IELF ficou maior e melhor – www.proomnis.com.br).

Desde o final do século XIX a ciência penal discute qual seria a melhor forma
de se tratar o delinqüente louco. É certo que ele não pode cumprir pena em
presídio comum e muito menos ficar junto com os demais detentos
mentalmente normais. Para os loucos devemos reservar as medidas de
segurança, que hoje consistem em internação em hospital de custódia e
tratamento ou em tratamento ambulatorial. Quando o louco comete algum
delito punido com reclusão, automaticamente será internado (porque é
presumido perigoso). Mas internado deve permanecer até quando?

Por força do Código penal brasileiro a medida de segurança dura por tempo
indeterminado (art. 97). Persiste até que se comprove por laudo médico a
cessação da periculosidade. Enquanto não cessada esta o agente deve ficar
recolhido. Isso significa, na prática, que a medida de segurança no Brasil pode
ter caráter perpétuo.
Muitas pessoas hoje, por sinal, acham-se recolhidas nessa situação. O caso
mais famoso no Brasil foi, sem sombra de dúvida, de Índio Febrônio do
Brasil, que ficou 57 anos num hospital de custódia no Rio de Janeiro. Entrou
com 27 e morreu com 84 anos, dentro do hospital, cumprindo medida de
segurança.

O problema é que a Constituição Federal proíbe a pena perpétua (CF, art. 5º,
inc.XLVII, “b”). Por seu turno, o art. 75 limita o cumprimento da pena de
prisão em trinta anos. A questão é a seguinte: esses limites (constitucional e
legal) previstos para a pena também incidem nas medidas de segurança? A
resposta (constitucionalmente falando) só pode ser positiva, porque a medida
de segurança detentiva tem caráter aflitivo (e é privativa de liberdade). Na
essência, portanto, a pena de prisão não difere em nada da internação: ambas
privam a pessoa de sua liberdade em razão do cometimento de um delito,
ambas são aflitivas.

Justamente nessa linha há recente julgado da Primeira Turma do STF (HC


84.219, j. de 09.11.04, ainda não concluído) – cf. Informativo 369 do STF, rel.
Min. Marco Aurélio – que está enfatizando o seguinte: “A Turma iniciou
julgamento de habeas corpus em que se pretende a extinção de medida de
segurança aplicada à paciente, diagnosticada como doente mental pela
prática do delito de homicídio, cujo cumprimento, em hospital de custódia e
tratamento, já ultrapassara trinta anos. A impetração é contra decisão do STJ
que indeferira a mesma medida, sob o fundamento de que a lei penal não
prevê limite temporal máximo para o cumprimento da medida de segurança,
somente condicionada à cessação da periculosidade do agente. Sustenta-se,
na espécie, com base no disposto nos artigos 75 do CP e 183 da LEP, estar a
medida de segurança limitada à duração da pena imposta ao réu, e que,
mesmo persistindo a doença mental e havendo necessidade de tratamento,
após a declaração da extinção da punibilidade, este deve ocorrer em hospital
psiquiátrico, cessada a custódia. O Min. Marco Aurélio, relator, deferiu o
writ para que se implemente a remoção da paciente para hospital psiquiátrico
da rede pública, no que foi acompanhado pelos Ministros Cezar Peluso,
Carlos Britto e Eros Grau. Considerou que a garantia constitucional que
afasta a possibilidade de ter-se prisão perpétua se aplica à custódia
implementada sob o ângulo de medida de segurança, tendo em conta, ainda, o
limite máximo do tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade a
que alude o art. 75 do CP, e o que estabelece o art. 183 da LEP, que delimita
o período da medida de segurança ao prever que esta ocorre em substituição
da pena, não podendo, dessa forma, ser mais gravosa do que a própria pena.
Com base nisso, concluiu que, embora o §1º do art. 97 do CP disponha ser
indeterminado o prazo da imposição de medida de segurança, a interpretação
a ser dada a esse preceito deve ser teleológica, sistemática, de modo a não
conflitar com as mencionadas previsões legal e constitucional que vedam a
possibilidade de prisão perpétua. Após, pediu vista dos autos o Ministro
Sepúlveda Pertence”.

Como se vê, já são quatro votos favoráveis à tese de que as medidas de


segurança também se sujeitam ao limite de trinta anos (CP, art. 75). Resta
agora somente o voto do Min. Sepúlveda Pertence que, de qualquer modo, não
alterará o resultado final. E o que devemos fazer com o louco quando vence o
prazo de trinta anos? Cessa a medida de segurança e cessa também a
jurisdição da Justiça penal. Mas e se perdura a loucura? Deve o paciente ser
transferido para hospital da rede pública, eliminando-se a intervenção da
Justiça penal. É a nova solução do STF, bastante consentânea com o Estado
Democrático de Direito brasileiro (que não tolera a privação perpétua da
liberdade).

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