87
ECONOMIA
E
SOCIOLOGIA
A MODERNIDADE ENTRE SECULARIZAÇÃO
E TEOLOGIA POLÍTICA
É V O R A
2 0 0 9
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 5
Augusto da Silva
A SECULARIZAÇÃO AO ESPELHO DA SOCIOLOGIA DA
RELIGIÃO .......................................................................................... 7
Enrico Donaggio
RESISTIR AO SÉCULO XIX. FILOSOFIA, POLÍTICA E
SECULARIZAÇÃO EM KARL LÖWITH ...................................... 69
Alexandre Franco de Sá
SENTIDO E SENTIDOS DA TEOLOGIA POLÍTICA NO
PENSAMENTO DE CARL SCHMITT ......................................... 79
Giacomo Marramao
PRESENTE MESSIANICO – SULLA TEOLOGIA POLITICA
DELL’ «INATTESO» IN WALTER BENJAMIN ............................ 93
António Caselas
SECULARIZAÇÃO E TEOLOGIA ECONÓMICA EM
GIORGIO AGAMBEN ..................................................................... 107
Antonio Rivera García
LEO STRAUSS, LECTOR DE LOS TRATADOS TEOLÓGICO-
POLÍTICOS DEL SIGLO XVII ....................................................... 121
Olivier Feron
A MODERNIDADE ENTRE SECULARIZAÇÃO E TEOLOGIA
POLÍTICA .......................................................................................... 149
Silvério da Rocha-Cunha
DRÔLE DE POLITIQUE E SECULARIZAÇÃO NUMA ERA
DE COMPRESSÃO ........................................................................... 159
José Caselas
A IDEIA DE SECULARIZAÇÃO E O PAPEL DOS INTE-
LECTUAIS EM FOUCAULT E BAUMAN .................................. 171
movidos por certas esperanças e certas expectativas, sem o qual nos será difícil
avaliar a contribuição que a acção política pode ter na realização destas expec-
tativas e sobretudo apreciar com moderação se o nosso compromisso político
pode responder por si só a essas expectativas. No cruzamento das ordens polí-
tica, histórica, teológica e filosófica joga-se uma possível compreensão de nós
mesmos como modernos, ou seja, como sendo a partir daqui obrigados a assu-
mir uma certa responsabilidade na forma como fazemos a nossa história.
O. FERON
Universidade de Évora
A Secularização
A Secularização ao espelho da Sociologia da Religião 7
Augusto da Silva *
Resumo: Neste artigo, após se ter definido «secularização» e alguns conceitos afins ou complementa-
res, recorda-se como este fenómeno foi vivido e negociado em Portugal, no relacionamento da Igreja e do estado
após conflitos mais ou menos graves por meio de sucessivas «Concordatas», antes de a sociologia estar constitu-
ída como ciência. Descrevem-se em seguida as etapas percorridas pela Sociologia da Religião, desde a sociográ-
fica, num esforço de quantificação e representação gráfica da descristianização, passando pela busca dos factores
explicativos das desigualdades encontradas em diferentes tempos, lugares e categorias sociais, sua incidência nas
dimensões estruturantes, crenças, ritos, moral, organização e termina-se apontando o lugar dado à secularização
por alguns sociólogos portugueses em suas pesquisas sobre sociologia da religião.
de la teología política
Resumo: Este estudo pretende convocar os interlocutores que intervêm nas diferentes etapas da elabo-
ração da célebre teologia política de Carl Schmitt. Através da influência ou da crítica da obra de pensadores
como Hans Barion, Erik Peterson, Max Weber, Santo Agostinho ou Hans Blumenberg, acompanharemos o
percurso teórico que conduz Carl Scmitt a desenvolver os argumentos de uma recusa cada vez mais radical de
uma modernidade complexa através da univocidade reactiva, orgânica e imperial do teológico-político.
Palavras-chave: Secularização, teologia política, Concílio Vaticano II, Césaro-papismo.
Résumé: Cette étude prétend convoquer les interlocuteurs qui interviennent dans les différentes étapes
de l’élaboration par Carl Schmitt de sa célèbre théologie politique. Au travers l’influence ou la critique de
l’œuvre de penseurs comme Hans Barion, Erik Peterson, Max Weber, Saint Augustin ou Hans Blumenberg,
nous accompagnerons le cheminement théorique qui conduit Carl Schmitt a développer les arguments d’un
refus sans cesse plus radical d’une modernité complexe au travers de l’univocité réactive, organique et impériale
du théologico-politique.
Mots clefs: Sécularisation, théologie politique, modernité, concile Vatican II, Césaro-papisme.
* Universidad de Murcia.
Enrico Donaggio **
Resumo: Neste artigo serão analisados alguns traços da análise que Karl Löwith faz do papel estra-
tégico da filosofia da história no momento em que a aspiração à verdade que parecia ter definido a filosofia se
reduz a uma justificação ideológica do terror político. Recusando a alternativa Atenas-Jerusalém, Löwith exclui
qualquer nostalgia redentora de uma Grécia primitiva para assumir lucidamente um certo cepticismo moderno
face qualquer tipo de sacralização da história.
Résumé: Dans cet article seront analysés certains motifs de l’analyse que Karl Löwith fait du rôle
stratégique de la philosophie de l’histoire à l’heure où l’aspiration à la vérité qui semblait avoir définit la
philosophie se réduit à une justification idéologique de la terreur politique. Refusant l’alternative Athènes
– Jérusalem, Löwith exclu toute nostalgie rédemptrice d’une Grèce primitive, pour assumer lucidement un
certain scepticisme moderne face à une quelconque sacralisation de l’histoire.
1987; M. Foucault, What is Enlightenment? (Qu‘est-ce que les Lumières ?), in P. Rabinow (ed. responsável),
The Foucault Reader, Pantheon Books, New York, 1984, pp. 32-50.
Alexandre Franco de Sá *
Resumo: O presente estudo pretende abordar o conceito de teologia política não só no conteúdo restrito
que Schmitt lhe atribui, mas também considera aquilo a que se poderia chamar o próprio horizonte em que o
conceito se inscreve e se situa, analisando o seu papel no âmbito da totalidade da obra de 1922 tal como o seu
peso no pensamento schmittiano.
Résumé: La présente étude prétend aborder le concept de théologie politique non seulement dans le
sens strict que Carl Schmitt lui attribue, mais considère également ce que l’on pourrait appeler l’horizon propre
dans lequel le concept s’inscrit et se situe, en analysant son rôle dans la totalité de l’œuvre de 1922 tout comme
son importance dans le pensée schmittienne.
* Universidade de Coimbra.
Giacomo Marramao *
Resumo: O presente artigo apresenta o messianismo particular e paradoxal que Walter Benjamin
desenvolve numa reinterpretação moderna de uma teologia política não orientada para uma promessa de salva-
ção eventualmente secularizável, mas como messianismo que assume a contingência da sua posição na história,
messianismo pós-secular e pós-religioso.
Résumé: Le présent article présente le type particulier et paradoxal de messianisme que Walter
Benjamin développe dans une réinterprétation moderne d’une forme de théologie politique non pas orientée vers
une promesse de salvation éventuellement sécularizable, mais comme messianisme assumant la contingence de
sa position dans l’histoire, comme messianisme post-séculier et post-religieux.
1. La chiave di lettura delle tesi benjaminiane Über den Begriff der Geschichte
(Sul concetto di storia), che intendo qui prospettare, è espressa in forma deli-
beratamente provocatoria dal titolo: Messianismo senza attesa. Titolo letteral-
mente para-dossale: in contrasto con la dóxa, con ogni common sense o opinione
corrente circa i caratteri tradizionalmente attribuiti al «messianico». Come
può darsi, in senso proprio, messianismo senza «orizzonte di aspettativa»:
a prescindere, appunto, dalla dimensione dell’attesa messianica? E il venir
meno dell’attesa non costituisce, allora, ragion sufficiente del dissolvimento
della tensione messianica in quanto tale? Si trova qui racchiusa – è mia ferma
convinzione – la cifra segreta di un testo a un tempo translucido ed enigma-
tico, che può ricevere un senso compiuto solo ricomponendo la costellazione
multipolare dei suoi referenti concettuali e simbolici: reinterpretando, cioè, la
* Universidade de Roma 3.
em Giorgio Agamben
António Caselas *
Rex regnat
Sed non gubernat
ADOLPHE THIERS
Abstract: The aim of this article is to approach the perspective of secularization, mainly based on
the recent development of the work by Agamben and through it to give an interpretation of the relationships
between the doctrinarian-theological legacy and the political power. The role played by the sovereign power,
the economy and the government as secularized categories of transcendence and immanence in the evolution
of modern societies is the core of Agamben’s thesis, and thus, moves away from traditional concepts of the
scatological secularization. The providential establishment of an economy that no longer identifies itself with
the model of Aristotelian thought comes from this patristic and scholastic inheritance that outlines the Western
social reality and political thought. The messianic temporality developed through the re-reading of the Letter of
Saint Paul to the Romans is also invoked here as a secularized category that can clarify the legal-political field.
However, that programmed objective co-exists with a critical view of that interpretation bearing in mind the
present political reality.
Key words: secularization; government; glory; providence; temporality; Economic Theology.
* Universidade de Évora.
Resumo: Neste artigo abordamos a leitura straussiana dos tratados teológico-políticos que Hobbes
e Espinosa escreveram. Neles pode-se identificar os assuntos essenciais para compreender a modernidade:
a secularização crítica da religião revelada e a emergência do paradigma liberal dos direitos. Para o antiliberal
Strauss, o problema de desta teologia política radica no que conduz à politização da filosofia; e com isto ao
obscurecimento da alternativa mais séria acerca da melhor forma de vida, aquela que nos obriga a escolher entre
a procura autónoma da verdade e a vida entregue à fé religiosa ou a cidade.
Resumen: En este artículo abordamos la lectura straussiana de los tratados teológico-políticos que
escribieron Hobbes y Spinoza. En ellos se puede localizar dos asuntos esenciales para comprender la moder-
nidad: la secularizadora crítica de la religión revelada y la emergencia del paradigma liberal de los derechos.
Para el antiliberal Strauss, el problema de esta teología política radica en que conduce a la politización de la
filosofía; y con ello al oscurecimiento de la alternativa más seria sobre la mejor forma de vida, la que nos obliga
a elegir entre la autónoma búsqueda de la verdad y la vida entregada a la fe religiosa o a la ciudad.
Palabras clave: secularización, teología política, crítica de la religión, motivo epicúreo, liberalismo,
derechos, igualdad.
2006. También me permito citar mi artículo «Secularización y crítica del liberalismo moderno»,
en Isegoría. Revista de filosofía moral y política, n.º 39, 2008, pp. 79-100.
e teologia política *
Olivier Feron **
Resumo: Neste artigo examinaremos os argumentos do debate que opôs C. Schmitt e H. Blumen-
berg à volta da definição de modernidade como secularização. Esta tese vital para a teologia política de Schmitt
baseia-se numa série de pressupostos como o da substancialização das constantes históricas às quais Blumenberg
opõe a obrigação de cada um de nós pensar a contingência da sua posição na história, garantia contra qualquer
tentação totalitária.
Palavras-chave: Secularização, teologia política, substância, retórica, contingência, história.
Résumé: Dans cet article, nous examinerons les termes du débat qui opposa C. Schmitt et H. Blu-
menberg autour de la définition de la modernité comme sécularisation. Cette thèse vitale pour la théologie
politique de Schmitt se fonde sur une série de présupposés, dont celui de la substantialisation des constants
historiques, thèses auxquelles Blumenberg oppose l’obligation pour chacun de nous de penser la contingence de
sa position dans l’histoire, garantie contre toute tentation totalitaire.
Mots clefs: Sécularisation, théologie politique, substance, rhétorique, contingence, histoire.
Silvério da Rocha-Cunha **
Resumo: Este texto pretende sublinhar os dilemas políticos de uma Modernidade que é, actualmente
e de facto, um momento de decadência. E quer notar possibilidades de tornar estimulantes os valores utópicos
que, no entanto, deram à Modernidade a sua legitimidade.
Résumé: Ce texte veut mettre l’accent sur les dilemmes politiques d’une Modernité qui est aujourd’hui,
en fait, un moment de décadence. Et veut pointer des possibilités de rendre vivifiantes les valeurs utopiques qui,
pourtant, ont donné à la Modernité sa légitimité.
** Este texto é financiado pela FCT (FEDER/POCI 2010) e insere-se no projecto de uma
equipa do NICPRI sob título «Visões e possibilidades de uma cidadania mundial no século XXI».
** Doutor em Teoria Jurídico-Política. Professor da Universidade de Évora. Membro do
NICPRI.
1 Cf. N. Bobbio, «Tullio Ascarelli», in ID., Dalla Struttura alla Funzione. Nuovi studi di teoria del
diritto, 2.ª ed., Milano, Ed. di Comunità, 1984, pp. 217 ss.
2 N. Bobbio, op. cit., p. 251.
José Caselas *
Resumo: O presente artigo aborda a noção de secularização em Foucault e Bauman. Para o pri-
meiro, o poder disciplinar e mesmo o Estado moderno derivam de técnicas pastorais secularizadas através de
uma razão governamental (designada governamentalidade) que se expandiram a todo o tecido social a partir
da matriz da razão de Estado. O ponto de cristalização dessa razão governamental foi a individualização,
herdeira do poder pastoral, indissociável, todavia, das revoltas de conduta assumidas pelo ascetismo e pelos inte-
lectuais. Para Bauman, na esteira de Foucault, o poder pastoral e prosélito da Igreja originou um poder pastoral
do Estado, assumido pelos filósofos do Iluminismo a partir da matriz do consenso. Na época contemporânea
já não é mais possível defender esse paradigma comunicativo, passando o intelectual de legislador a intérprete
num contexto de pluralismo.
Palavras-chave: secularização; poder pastoral; governamentalidade; Estado moderno; razão de Estado.
Résumé: Le présent article approche la notion de sécularisation chez Foucault et chez Bauman. Pour
le premier, le pouvoir disciplinaire et même l’État moderne émanent de techniques pastorales sécularisées par
une raison gouvernementale (dénommée gouvernementalité) qui se sont propagées à tout le tissu social à partir
de la matrice de la raison d’État. Le point de cristallisation de cette raison gouvernementale fut l’individualisa-
tion, héritière du pouvoir pastoral, toutefois indissociable de l’insoumission prise sur eux-mêmes par l’ascétisme
et par les intellectuels. Pour Bauman, dans la trace de Foucault, le pouvoir pastoral et prosélyte de l’Église
donna lieu à un pouvoir pastoral de l’État, assumé par les philosophes de l’Illuminisme à partir de la matrice
du consensus. À présent, ce paradigme communicatif n’est plus possible, en passant l’intellectuel de législateur à
interprète dans un contexte de pluralisme.
Mots-clé: sécularisation; pouvoir pastoral; governementalité; État moderne; raison d’État.
* Universidade de Évora.
Pág.