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Assento n.

° 11/94

Acordam, em plenário, no Supremo Tribunal de Justiça:


I
O Banco Nacional Ultramarino, S. A., interpôs recurso para o tribunal pleno do
Acórdão de 19 de Março de 1992, fotocopiado a fls. 101/106 e proferido no
recurso de revista n.° 81 430, em que é recorrido, sendo recorrente SIURBE
Sociedade de Investimentos Urbanos, S. A., invocando oposição com o
Acórdão de 27 de Maio de 1986, publicado no Boletim do Ministério da Justiça,
n.° 357, a p. 377. Naquele acórdão, concedendo a revista, decidiu este
Supremo Tribunal que a renúncia à prescrição não tem efeitos definitivos,
inciando-se novo prazo prescricional após o acto de renúncia.
A fls. 38/39, a secção reconheceu a existência de oposição e mandou
prosseguir o recurso.
Alegando, o recorrente formula as seguintes conclusões:
1.ª Na sua definição vocabular em dicionários da língua portuguesa, a palavra
«renúncia» significa desistência, abandono, sacrifício, rejeição, recusa, não
aceitação, abdicação, etc., onde, portanto, está ínsita a noção de extinção;
2.ª O legislador não utiliza palavras com sentido antagónico ou antinómico ao
seu significado comum;
3.ª A lei não pode conter redundâncias o que aconteceria se se considerasse
que teria início novo prazo prescricional após a renúncia, pois que, além do
mais, confundiria na realidade as duas figuras, da renúncia e da interrupção
da prescrição;
4.ª Quer no domínio do direito público como no domínio do direito privado, a
renúncia significa abandono ou perda, tanto no direito interno como no
externo, como vem sendo entendido pela jurisprudência e pela doutrina;
5.ª O legislador, efectivamente, quis que a renúncia operasse para o futuro,
como obviamente se conclui da relação do artigo 302.° do Código Civil;
6.ª Deve ser lavrado assento em que se fixe que a renúncia opera para o
futuro e impede que comece a correr novo prazo prescricional a partir da data
em que ocorreu, como acto jurídico unilateral não recipiendo exprime vontade
de abdicar ou abandonar um direito subjectivo ou outra situação jurídica que
se extingue em função dela renúncia e, portanto, quem renuncia a um direito
fá-lo para todo o sempre, abandonando-o ou abdicando dele, não se
podendo exercer o direito que se extinguiu ou abandonou. [Nota. Transcrição
textual.]
Contra-alegando, a recorrida invoca a índole pública do instituto da
prescrição e os artigos 305.° e 311.° do Código Civil, buscando ainda
argumentos no campo dos direitos reais, para concluir que o assento deve ser
lavrado no sentido da decisão recorrida.
O Ex.mo Procurador-Geral-Adjunto, a fls. 51 e seguintes, acompanha a
posição da recorrida, propondo assento confirmativo do acórdão sob recurso.
Colhidos os vistos, porque nada temos a dizer contra o decidido pela secção
quanto à existência de oposição entre o acórdão recorrido e o acórdão
fundamento, cumpre decidir.
II
Como resulta do acórdão recorrido, o autor (ora recorrente) pedira a
condenação da ré (recorrida) a pagar-lhe uma certa quantia e juros, com
fundamento em duas letras de câmbio aceites pela ré. Esta, ao contestar,
invocou a prescrição dos direitos cambiários relativos às letras ajuizadas,
uma vez que tinham decorrido mais de três anos desde o vencimento das
letras, mas o autor contrapôs-lhe a renúncia à prescrição através de
declaração exarada no documento a fl. 23 dos autos (cf., nestes, fl. 6).
Após essa renúncia, decorreu novo período superior a três anos até à
propositura da acção onde foi proferido o acórdão recorrido.
E foi esta questão, «que suscita duas soluções antagónicas», que o douto
acórdão recorrido decidiu no seguinte sentido: «Extinto em 29 de Abril de
1981 o direito potestativo de recusar o cumprimento das respectivas
obrigações cambiárias, iniciou-se naquela mesma data novo prazo
prescricional.» E, em conformidade, concedeu a revista, para subsistir a
decisão da 1.ª instância, que julgara a excepção procedente e absolvera a ré
do pedido.
O acórdão fundamento contém, sobre questão idêntica, uma decisão de
sinal contrário: «a renúncia opera para o futuro e impede que comece a correr
novo prazo [...] Quem renuncia a um direito fá-lo para todo o sempre,
abandonando-o ou abdicando dele. E não se pode exercer um direito que se
extinguiu ou abandonou».
III
A questão surge a propósito do artigo 302.°, n.° 1, do Código Civil («a
renúncia da prescrição só é admitida depois de haver decorrido o prazo
prescricional»), uma vez que a lei civil não contém qualquer referência à
perpetuidade ou ao imediatismo dos efeitos da renúncia.
A solução atribuidora de efeitos definitivos à renúncia é a defendida pela
recorrente, para o que invoca, antes de mais, argumentos derivados do
significado da palavra renúncia, que não nos parecem relevantes, pois que
aquilo que está em causa não é o sentido de um termo, mas sim o efeito
jurídico do acto, que de modo nenhum se deduz da significação do mesmo
termo: continuará a haver «desistência, abandono, rejeição, recusa, não
aceitação, abdicação», se apenas se renunciar à prescrição de que se
beneficiou com o decurso de um dado prazo sem se pretender renunciar à
prescrição que resulte de prazo que venha a decorrer e a completar-se
posteriormente.
E, porque não está em causa o conceito de renúncia, nem mesmo o seu
efeito, mas sim a extensão desse efeito, não pode dizer-se que a solução
oposta confunda as figuras da renúncia e da interrupção da prescrição.
Com António Macieira («Renúncia ao direito de prescrição», na Gazeta da
Relação de Lisboa, 21.°, p. 425, citado pelo Ex.mo Magistrado do Ministério
Público), diremos:
[...] não há confusão possível entre a renúncia ao direito de prescrição e a
interrupção desta mesmo quando aquela e esta se pretendem averiguar
por factos donde resultem necessariamente.
Nesse caso, o prazo da prescrição não chegou a concluir-se. No da renúncia,
o prazo consumou-se. Ali, pretende-se provar que o prazo se interrompeu
por factos donde se deduz o reconhecimento expresso; na renúncia que o
direito adquirido pela prescrição foi repudiado por factos donde tal repúdio
necessariamente se conclui.
Assim, se contra alguém que alega a prescrição se provar que, depois de
decorrido o prazo, pediu mora no pagamento, mandou dinheiro por conta,
tentou fazer uma transacção para pagamento, fixando na sua proposta uma
quantia como base dela, declarou publicamente que devia e queria pagar, é
óbvio que se provou a renúncia do direito que tinha adquirido pela prescrição.
Quanto ao artigo 302.°, ele não é literalmente ofendido com a tese do acórdão
recorrido, pois que, segundo ela, a renúncia «opera para o futuro», mas em
relação ao direito (potestativo) que o renunciante adquiriu no termo do prazo
prescricional decorrido quando emitiu a declaração de renúncia.
IV
Quanto ao acórdão fundamento, parece-nos que contém mais uma afirmação
do que razões para ela, ao dizer que «a renuncia opera para o futuro e
impede que comece a correr novo prazo prescricional», que «quem renuncia
a um direito fá-lo para todo o sempre, abandonando-o ou abdicando dele» e
que «não se pode exercer um direito que se extinguiu ou abandonou».
Porque isto, salvo o devido respeito, é o quod est demonstrandum.
Além disso, a conclusão que dele transcrevemos depara com um obstáculo
que nos parece intransponível no próprio plano da lógica quando o
conjugarmos com o preceito legal em causa nesta questão, o artigo 302.°,
n.° 1, do Código Civil: é que, adquirido pelo devedor o direito (potestativo) de
recusar o cumprimento da obrigação com o decurso de um certo prazo
prescricional, mas emitida a declaração de renúncia; visto que é impossível
suster o curso do tempo, inicia-se imediatamente um novo prazo susceptível
de, em abstracto, conduzir de novo à prescrição. Ora, se consideramos que
a renúncia vale para o futuro, temos de concluir que o renunciante está
a renunciar antecipadamente à prescrição, ou seja, ao direito de se eximir,
pela segunda vez, ao cumprimento da obrigação, o que contraria
abertamente o preceituado no invocado artigo 302.°, n.° 1.
V
Vem já de longe a inadmissibilidade da renúncia antecipada à prescrição
mesmo desde antes do Código de Seabra: veja-se, designadamente,
Coelho da Rocha, no § 455 das Instituições de Direito Civil Português
(Coimbra, 1848).
Já no domínio do Código de Seabra, Dias Ferreira, depois de dar as razões
justificativas do instituto da prescrição, escreveu, no volume 2.° do Código
Civil Anotado (Coimbra, 1871):
Por isso é admitida a prescrição como instituição social, essencialmente
necessária à ordem pública, tendo-lhe Cícero até chamado finis sollicitudinis et
litium e outros jurisconsultos romanos patrona generis humanis. [P. 58.]
E no 1.° volume (Coimbra, 1870):
Não pode também renunciar-se à prescrição, artigo 508.°, que é de direito
público e foi introduzida por conveniência social; essa renúncia inutilizaria o fim
da lei, tornando-se cláusula sacramental em todos os contratos, pois que os
proprietários e credores nunca deixariam de exigir como obrigatória esta
condição, para não correrem o risco de perder o seu direito pela
prescrição. Porém, ao direito adquirido pela prescrição, como de interesse
particular, pode renunciar-se [...] [P. 225.]
Vigente já a reforma de 1929, Cunha Gonçalves aliás, já referido no
acórdão recorrido no Tratado ..., III, depois de citar Bigot-Prèameneu («de
todas as instituições do direito civil, a prescrição é a mais necessária à
ordem social», p. 635) e de relembrar (p. 659) que o instituto da prescrição se
baseia no interesse público, afirma que a renúncia à prescrição adquirida não
obsta a que uma nova prescrição principie a favor do renunciante (p. 667),
chamando também a atenção para o facto de que a renúncia a uma
prescrição em curso só pode ser tida como interrupção da prescrição.
VI
A promulgação do Código Civil de 1966 não alterou este estado de coisas,
como resulta desde logo do importantíssimo trabalho preparatório do Código,
que é o estudo do Prof. Vaz Serra, no Boletim do Ministério da Justiça, 105.° a
107 .° (v., para a problemática da renúncia da prescrição, o n.° 105.°, pp.
131-145).
E os Profs. Pires de Lima e Antunes Varela referem, no Código Civil Anotado,
a propósito do artigo 300.°:
A proibição estabelecida na lei e a solução prescrita para a sua violação
(nulidade do negócio) explicam-se pelas razões de ordem pública (interna) que
estão na base do instituto da prescrição, destinado a tutelar a certeza do
direito e a segurança do comércio jurídico.
A proibição e a sanção a que se referem estes ilustres mestres consiste no
seguinte (teor do artigo 300.°): «São nulos os negócios jurídicos destinados a
modificar os prazos legais da prescrição ou a facilitar por outro modo as
condições em que a prescrição opera os seus efeitos.»
Então, com o acórdão recorrido, diremos que, se a renúncia impedisse o
decurso de novo prazo, «possibilitaria que, a partir dela, um direito
disponível e não isento, por lei, de prescrição, passasse a gozar dessa
isenção por virtude de mera declaração negocial, o que contraria as
disposições conjugadas dos citados artigos 298.°, n.° 1, e 300.° A ser esse o
sentido da declaração negocial de renúncia impedir também futura prescrição
do direito em causa teria então de funcionar a sanção de nulidade estatuída
no artigo 300.°, pelo que sempre haveria que reduzir o respectivo negócio
apenas à prescrição completada anteriormente (v. artigo 292.° do Código
Civil)».
Convém a propósito lembrar que a tese do recorrente depara com um
obstáculo no plano da declaração: é que, para se verificar se houve ou não
renúncia antecipada à prescrição, «deve examinar-se com cuidado o valor
das frases escritas ou dos factos» (Cunha Gonçalves), pelo que não parece
que possa dizer-se que quem declara sem mais renunciar à prescrição esteja
a renunciar ao direito (potestativo) já adquirido e também ao que poderia
adquirir futuramente.
VII
Em síntese:
Permitir que a renúncia ao direito já adquirido pelo decurso do prazo
prescricional através do qual a obrigação originária se converteu em mera
obrigação natural se tomasse como uma renúncia ao direito resultante do
decurso dum novo prazo renunciando-se em definitivo ao instituto (de
interesse público) da prescrição seria, indubitavelmente, infringir a regra da
segunda parte do artigo 300.°, na medida em que se estaria, mais ainda do
que a «dificultar as condições em que a prescrição opera os seus efeitos», a
impedir que se produzissem esses mesmos efeitos.
VIII
Por tudo o exposto, nega-se provimento ao recurso e formula-se o seguinte
assento:
A renúncia da prescrição permitida pelo artigo 302.° do Código Civil só
produz efeitos em relação ao prazo prescricional decorrido até ao acto de
renúncia, não podendo impedir os efeitos do ulterior decurso de novo prazo.

Condena-se a recorrente nas custas deste recurso.


Lisboa, 5 de Maio de 1994. - Mário de Magalhães Araújo Ribeiro - Roger
Bennett da Cunha Lopes - José Miranda Gusmão de Medeiros - Alberto
Carlos Antunes Ferreira da Silva - Sebastião Duarte Vasconcelos da Costa
Pereira - João Augusto Gomes Figueiredo de Sousa - Jaime Octávio
Cardona Ferreira - José Maria Sampaio da Silva - José António Lopes
Cardoso Bastos - José Santos Monteiro - Adriano Francisco Pereira Cardigos
- Mário Fernandes da Silva Cancela - Mário Sereno Cura Mariano - Raul
Domingos Mateus da Silva - Pedro de Lemos e Sousa Macedo - António
Manuel Guimarães de Sá Couto - Francisco Rosa da Costa Raposo - Ramiro
Luís d'Herbe Vidigal - Mário Horácio Gomes de Noronha - António Pais de
Sousa - Francisco José Galrão de Sousa Chichorro Rodrigues - Carlos da
Silva Caldas - Fernando Machado Soares - Zeferino David Faria - José Martins
da Costa - João José Sequeira de Faria Sousa - José Joaquim Martins da
Fonseca - Augusto José Mendes Calixto Pires - António Alves Teixeira do
Carmo - Miguel de Mendonça e Silva Montenegro - Humberto Carlos Amado
Gomes - Manuel Luís Pinto de Sá Ferreira - José Sarmento da Silva Reis
António de Sousa Guedes Bernardo Guimarães Fisher de Sá Nogueira -
Fernando Faria Pimentel Lopes de Melo - António Joaquim Coelho Ventura -
José Henriques Ferreira Vidigal - José Joaquim de Oliveira Branquinho - -
Gelásio Rocha - Fernando Jorge Castanheira da Costa - António César
Marques (vencido. É admissível a renúncia da prescrição depois de haver
decorrido o prazo prescricional artigo 302.°, n.° 1, do Código Civil. Assim
como, na respectiva acção, pode não ser invocada tal excepção, o que
depende, apenas, da vontade do devedor. A renúncia, em si, traduz a perda do
direito a que se renuncia. Não há qualquer contradição com o disposto no
artigo 300.° do dito Código, já que se não modifica qualquer prazo de
prescrição.
Decorrido esse prazo, o interesse que subjaz é o particular do devedor que
renuncia àquele direito. Votei, assim, pelo modo como se decidiu no acórdão
fundamento) - Fernando Adelino Fabião

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