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A ORGANIZAGAO DO CURRICULO POR PROJETOS PDE TRABALHO © SONHECIMENTO E UM CALEIDOSCOPIO 52 EDIGAO FERNANDO HERNANDEZ MONTSERRAT VENTURA Tradugéo: Jussara Habert Rodrigues Consultoria, supervisdo e revisao técnica desta edigao: Maria da Graca Souza Horn Pedagoga. Mesire em Educagao ARINED Porto Alegre, 1998 A Organizaao do Curriculo por Projetos de Trabalho 119 © PROJETO DE TRABALHO SOBRE “OS DESERTOS: O DESERTO DO SAARA”’ (QUINTA SERIE DO ENSINO FUNDAMENTAL) Realizado durante o segundo trimestre do periodo 1987-88, na turma de quinta série do Ensino Fundamental. Sua professora era Maite Mases. Aspecto basico a destacar: as formas de abordar a organizagao de um Projeto. Quiros aspectos a salientar: a criacdo de uma estrutura organiza- tiva do grupo para realizar o estudo do Projeto; os aspectos que refle- tem a tomada de decisées por parte da professora. A escolha do projeto Depois de realizar 0 Projeto do primeiro trimestre sobre “o corpo humano”, com o novo ano se inicia um processo de introdugdo de no- vas propostas de trabalho. Algumas delas j& haviam sido propostas durante o periodo anterior, como foi o caso do tema de “as novas tecnologias”. Decidiu-se trabalhar “o deserto do Saara”, mas, depois que a professora perguntou ao grupo se sabiam responder a pergunta “por que ha desertos no mundo”, o interesse inicial ampliou-se e 0 Pro- jeto se converteu em "Os desertos: o deserto do Saara’”. Os argumentos para a escolha desse Projeto foram: a) “temos pouca informacdo, sabemos pouco”, “nao sabemos responder a per- gunta que a professora nos fez”, eb) "60 tema que nos apresenta ques- tées mais interessantes”. No inicio do periodo, se havia decidido realizar um Projeto em cataléo e outro em castelhano para melhorar o nivel de conhecimento e dominio desta lingua. Por essa razéo, 0 Projeto “o deserto” foi reali- zado em castelhano. Inicio do trabalho Uma vez decidido o Projeto, se procedeu 4 organizagéo do traba- lho para poder desenvolvé-lo. Vale a pena destacar que cada Projeto tem uma organizagdo propria, determinada por um conjunto de fatores entre os quais devemos destacar: os objetivos definidos pela professo- ta, os contetidos especificos do tema e as caracteristicas do grupo que vai realizar o trabalho. Cada Projeto tem, além disso, um nexo condu- 120 dndez e Montserrat Ventura tor. Nesse caso foi a pergunta feita pela educadora: “por que ha deser- tos no mundo?”. A partir das respostas dadas pelos alunos, organizou-se a ativi- dade a partir de trés niveis: 1. Desde as hipéteses individuais. Parte-se da organizagao da hipdtese que cada aluno formulou para poder responder a esta questdo. A partir da conceitualizagao da informagdo que se vai tratando na sala de aula, ¢ possivel ir compro- vando, verificando e contrastando cada uma delas. Seria possivel dizer que o grupo parte das explicagdes que vao sendo elaboradas em aula para poder chegar, primeiro, & compreensdo do problema que esta por tras da pergunta da professora, e, apés, a uma definigdo daquele. Desde uma perspectiva coletiva. Elabora-se um indice ini- cial que, depois, vai sendo modificado e ampliado em fun- gao da informagao que vai chegando & turma. ”O deserto do Saara” é um exemplo de que 0 Projeto permite ao grupo realizar um trabalho de descrigéo com mais detalhes, ao mesmo tempo que lhes permite delimitar e relacionar os diferentes itens do tema. Desde os interesses individuais. Nele se tratam todos os as- pectos que respondam aos interesses particulares dos alu- nos e que ndo sdo contemplados no indice coletivo. Aorganizagéo do trabalho para a realizagdo do Projeto Esse Projeto, pois, se realiza em trés niveis em trés frentes dife- rentes. Todos eles tm o mesmo ponto de partida: a pergunta proposta pela professora e as correspondentes hipéteses respostas formula- das pelos alunos, e cuja sintese é a seguinte: ls Formulagdo de hipdteses: o problema proposto é a compre- ensdo e a definicdo a partir da explicagao. Esse caminho permitia encontrar respostas para pergunta inicial “por que ha desertos no mundo?". O deserto do Saara. O problema que devia ser resolvido era vincular a descrigéo e as diferentes partes de um traba- lho. Para isso, 0 indice que ordena a informagdo deve evo- luir. O indice inicial se modifica e se amplia. A Organizagao do Curriculo por Projetos de Trabalho 1 3. Possibilidade de ampliar a informagao de maneira indivi- dual a partir dos niveis 1 ¢ 2. Vale a pena ter presente, antes de tratar de uma forma detalhada a maneira como se desenvolveu o tema, que, na medida em que se vai obtendo informagées, se vai analisando, ou seja, buscando tomé-la significativa. Isso faz com que, para alcancé-lo, estejam “funcionan- do” os trés niveis de forma simulténea, o que implica um “ir e vir” cons- tante do enfoque geral as trés maneiras de desenvolvé-lo; com o que se abre a possibilidade de que os alunos aprendam a estabelecer rela- goes no momento de tratar as informagées num Projeto. Esse processo € 0 que agora passamos a explicar. Desenvolvimento do trabalho A partir do nivel J. O primeiro trabalho que se realiza consiste em diferenciar “uma hipdtese” de uma “opinido”. Esse elemento impli- ca que as hipéteses propostas teriam de mudar o sentido de sua formu- lagéo e passar do "eu opino” ao “eu suponho”. F facil de detectar o sentido de progresso na aprendizagem a partir dessa observagéo: anteriormente, em outras séries, os alunos haviam utilizado o termo hipéteses, mas como uma forma genérica de denominagdo, sem des- tacar sua especificidade atributiva, que agora se considera necessdrio delimitar. Essa proposta levou & consulta do dicionario para formalizar a diferenga entre os conceitos pares "hipétese/suposicgao” e “opinido/ pensamento”. Uma vez esclarecida essa situagdo, se procedeu & orde- nagao as hipéteses apresentadas pelos alunos mediante uma andlise, agrupando-as nos seguintes critérios: . 24 criangas supunham que os desertos existiam porque se dava uma relagdo com o clima (com a temperatura, a pluviosidade, 0 ciclo da agua e os ventos). . 1 crianga supunha que havia uma relagdo com a tempera- tura interior da terra. . Acriangas supunham que os desertos se deviam & agéo des- truidora dos seres humanos. a 1 crianga supunha que os desertos haviam aparecido no periodo de formagdo da terra. 122 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura Algumas dessas hipéteses estavam formuladas nos seguintes termos: “Se supée que, ha muito tempo, quando a Terra realizava suas mudangas, onde hoje havia desertos, havia mar e lagos. A agua foi filtrando-se. Por isso, sob os desertos ha agua, e o deserto vai crescen- do porque o vento empurra a terra”. De forma paralela a essa atividade, elaborou-se o indice coletivo © os indices individuais, j4 que se deve levar em conta que a denomi- nagao do Projeto “Os desertos: O deserto do Saara” engloba os dois indices. Assim, o indice individual pretendia organizar o estudo dos desertos, com o objetivo de comprovar as hipéteses individuais. Uma vez elaborados os dois indices, se procedeu ao desenvolvimento do trabalho, e como antes se apontava, sobre a base da pergunta: “por que hé desertos no mundo?”. Foram formulados trés tipos de respostas que se constataram com as hipéteses pessoais recolhidas na andlise antes resenhada, e de acordo com as avaliagées de: verdadeira, falsa ou incompleta. As res- postas foram: * "Ha desertos no mundo porque, nas regides tropicais, hé massas de ar seco que se precipitam na Terra”. ° “Ha zonas nas quais se forma um deserto pela nao con- fluéncia do vento e das nuvens”. . “Em outras zonas, essas cordilheiras evitam que chova, ¢ se formam zonas desérticas.” Esse caminho permite ao grupo comprovar as hipéteses individu- ais sobre a base da localizagao dos desertos no mundo. Essa ativida- de permitia ao grupo chegar as seguintes conclusées (veja ilustragée na préxima pagina): * Os desertos mais importantes se encontram no hemisféric norte. * Os desertos mais importantes se encontram em torno dos Trépicos de Cancer e de Capricémio. Em relagdo a essas duas afirmagées, a turma propés duas ques- « Pode estabelecer-se uma relagdo entre os trépicos e os de- sertos? A Organizacao do Curriculo por Projetos de Trabalho 123 -, aga moe oes and dail Went aah Scherw sre extend tre ET 210 Jit com Daneto adeange wma Amaitind rmagesnne de OSD hm at Sw Oke lesclesiontns (Cs desenes) (Situarao do Deseo do Saar shaggy Seer) {deste do Sour ow nto acbre ure rue dew BI bi Ne S grante doar sean uncertain do 40 Kn do ‘ fee Gece \ if * Y Essa relagéo nos permite verificar as hipéteses que nos pro- pusemos? E com isso se chega a uma definigdo climatica do que é um de- serio. Uma definigao ndo de diciondrio, e sim resultado da conceitualiza- gao elaborada com as atividades anteriores: “Consideram-se zonas desérticas aquelas em que o nivel médio de chuva é inferior a 200mm", A partir do nivel 2. Articula-se , sobretudo, a partir da criagéo do indice coletivo com o titulo “O deserto do Saara”. Este tinha os seguin- tes enunciados: 124 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura Motivos de formagdo do deserto do Saara. Situagao: continentes paises que o formam e extensdo. Populagao e costumes: os tuaregs. O subsolo do deserto: minerais, conflitos entre os paises. Pope Enunciados que se vao modificando e perfilando a partir da in- formagéo que se obtém. Assim, com os tuaregs, se propunha abordar o conhecimento da populagdo do deserto e de seus costumes, mas foi modificando-se para tratar de encontrar as causas da extingao desse povo e as razées pelas quais os costumes dos tuaregs estavam se trans- formando. Mas, como se apontava, também o indice se amplia em fungéo da nova informagdao que o grupo vai adquirindo. Surgem assim novos enunciados do tipo: 5. As dunas: de onde procede a areia? 6. Os odsis: de onde procede a gua? 7. Kagricultura do deserto do Saara. De forma coleliva, iam sendo abordadas as concretizagdes que afetavam o tema do deserto do Saara, em relagGo com a pergunta ge- tal apresentada no nivel 1: “por que existem os desertos?”. O nivel 2 serviu para ir ampliando as fontes de informagdo que permitiram reconhecer relagées que explicassem a pergunta geral. Assim, os conhecimentos obtidos sobre as zonas climdticas permitiu saber que ha cinco subclimas tropicais e que um deles é 0 desértico. Este se origina pela confluéncia dos ventos secos e as correntes frias oceanicas, o que faz com que nao chova. Isso é 0 que acontece no deserto do Saara, que pode ser explicado como resultado da combina- go de pelo menos dois fatores: a agdo dos ventos secos que vao de Oeste para Leste (explicagao climdtica) e a presenga das montanhas do Atlas (explicagado geogrdfica) (ver ilustragao na pagina seguinte). Outra atividade surgiu a partir do conhecimento da informagéo sobre as correntes; o grupo chegou 4 conclusdo de que elas existem de dois tipos no planeta terra: de ar e de agua. A partir da informagao sobre 0 clima, se chegou @ conclusdo de que a causa pela qual nao chove no deserto do Saara é a confluéncia dos ventos secos e as cor- rentes ocednicas frias, e, pelo contrdrio, chove no mar. A Organizagao do Curriculo por Projetos de Trabalho 1.25 ermagao do deserio FomncieN SEL ebsenta oe (ermagaeres cet EE EL tot ne, 1 Sopra 0 vento seco do Ose a Lente (apenas love nuvens) APS. 2. Por sua proximidede com o ee mia er Ae Fertavoobe podem hoger - Spears pemeieeen CER, Spacers bare monn > aae ince sleyoren rater ona da chavos i KT beheston ena decinice) mont Fre be Xtras Gate Bae | atmos Baa vechhn ) me ten Baa, dapera Reena de Cerny Zo aS Tambeém se realizaram exercicios para saber o que era, na prati- ca, a oscilagde térmica. Para isso se realizou uma comparagéo entre a temperatura do Saara e a de Barcelona. Concretamente, entre a da cidade de Barcelona e a de Gran Erg, na Argélia. A conclusdo a que se chegou foi que a oscilagéo térmica média anual de Barcelona era de 25 graus, enquanto a de Gran Erg era de 50 graus. Em Grau Erg, como conseqiiéncia da oscilagdo, poucos animais e plantas podem adaptar- se a essa grande diferenga de temperaturas. Outra atividade foi a da comparagéo das superficies dos deser- tos e da Espanha, a partir da seguinte informagao: © Saara tem 8.000.000 quilémetros quadrados. © Libico tem 1.650.000 quilémetros quadrados. O Arabico: 1.300.00 quilémetros quadrados. O Australicno: 1.500.000 quilémetros quadrados. O Colorado: 100.000 quilémetros quadrados. A Espanha: 504.750 quilémetros quadrados. Outra questdo proposta foi: por que os tuaregs estdéo em perigo de extingao?. Essa pergunta permitiu abordar quais podem ser as cau- sas fundamentais da extingéio de um povo. A informagdo obtida foi organizada narrativamente da seguinte forma: “Em relagao & economia, os tuaregs eram pastores'de cabras das quais utilizavam o leite. Tinham escravos negros para cultivar as hortas. Comercializavam com camelos e trocavam sal por milho, trigo e tamaras, pois nao utilizavam o dinheiro. Atualmente, os tuaregs continuam sendo pastores, mas nao tém @scravos porque o governo argelino aboliu a escravatura. Agora os 126 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura tuaregs cultivam suas hortas, trabalham como pedreiros e compram a comida num mercado de Tamanrasset. Enviam seus filhos a um inter- nato, onde lhes ensinam francés e arabe, e a vestir e a comer tal como se faz nas grandes cidades da Argélia. O que aconteceré com os tuaregs? Deixardo de existir como tribo ja que estdo levando seus filhos aos internatos, onde Ihes ensinam a viver como na cidade, e, quando saiam, nado vao querer viver nas mon- tanhas. Fazem parte da tribo dos tuaregs, mas néo vivem como 0 havi- am feito até agora.” Uma vez realizada essa andlise, assistiu-se a um video sobre os tuaregs. A observagao sobre a filmagem se realizou levando em conta os aspectos anteriores ¢ fixando-se nao sé nos detalhes, como, por exem- plo, se as mulheres usavam véu ou no, ou como enterravam seus mortos. O material trazido por uma aluna permitiu realizar outro tipo de trabalho, como o que se desenvolveu sobre o fosfato e deu margem a analisar 0 conflito do Saara Ocidental. A informagdo a que se chegou como sintese foi: “O Saara Ocidental pertencia 4 Espanha como uma colénia. A Espanha se retirou daquele pais e deixou o contlito entre os saharauis e os marroquies. Ha grandes zonas no deserto do Saara em que a areia contém fosfatos, que séo indispensdveis para fabricar adubos. No mundo ha poucas zonas que contenham fosfatos, por isso é tao importante o conflito que se gera pela propriedade da terra A partir desse ponto, cada aluno tinha que dar sua opinido sobre © conflito. Opinides que foram do tipo: “Minha opinido é que as duas partes do deserto (a Reptblica Saharaui e Marrocos) poderiam fazer uma empresa que se dedicasse a recolher o fosfato e repartir depois 0 dinheiro.” Também se realizaram atividades que faziam referéncia a as- pectos complementares do indice coletivo, por exemplo, “as dunas”. Sobre esse aspecto, se estabeleceu que o mais importante nao era sa- ber de onde provém a areia do deserto. O trabalho sobre a oscilagao térmica, feito com anterioridade, permitiu responder a questéo: "As dunas sdo zonas desérticas com areia. A areia, em algumas zonas desérticas, procede da desintegragao das rochas submetidas & grande oscilagdo térmica de cada dia. As rochas se dilatam com o calor e se contraem com o frio, e, quando se contraem, se quebram. As dunas sao areias que se movem pela agdo do vento, e, quamdo encor- tram um obstdculo, formam pequenas montanhas.” A Organizacéio do Curriculo por Projetos de Trabalho 127 Esta mesma estrutura na relagao pergunta-atividade ficou incor- porada no trabalho sobre os oasis. A questao que devia ser respondi- da nao foi “o que é um odsis?”, e sim “como se forma?, de onde ver a agua?”. A resposta foi dada nos seguintes termos: “Sobre a procedéncia da agua nos odsis: a agua da chuva vai infiltrando-se nas camadas subterréneas, atravessando camadas per- meaveis até chegar a uma camada impermedvel. Ali a agua vai acu- mulando-se e cria um pogo. Sobre a formacéio de um odsis: quando os habitantes dos deser- tos encontram um pogo bastante grande, plantam vegeta¢ao. Os oasis sao uma conseqiiéncia da presenca de agua e da agao dos seres hu- manos.” Para conhecer a agricultura do deserto, a professora perguntou se este podia ser um tema de interesse e se queriam inclui-lo no Proje- to. Isso abriu caminho para uma tarefa de categorizagao e localizagao da agricultura no deserto. Ao mesmo tempo, se realizou um trabalho de derivagdo: como os animais e as plantas se adaptam ao deserto? quais sao as adaptagées fisiolégicas? Esta atividade levou & realizagéo de uma classificagado dos ani- mais em fungao da estratégia que utilizam para adaptar-se ao deserto, estratégias que estao em relagdo com sua capacidade de movimento, se sdio aves e se tém costumes noturnos. Assim, se estabeleceram enun- ciados do tipo: Sobre as adaptagées dos animais: "Alguns com muita mobilida- de tém a possibilidade de fugir da seca, transferindo-se para zonas onde o deserto volta a tornar-se verde periodicamente. Esse é 0 caso das gazelas e dos antilopes”. “Os animais que tém costumes noturnos evitam a exposigdo 40 sol e desenvolvem sua vida no amanhecer, durante o creptsculo e du- rante a noite. Esse é 0 caso dos répteis e dos roedores.” “As estratégias das aves sao parecidas com as do grupo anterior. Algumas efetuam longos véos didrios, outras aproveitam as sombras das rochas e saem para buscar alimentos quando esta amanhecendo. As de rapina e as insectivoras se alimentam dos tecidos dos animais e quase ndo necessitam de agua.” Nesta classificagéo, o dromedario foi colocade num item diferen- te, porque nao é um animal do deserto, e sim adaptado a ele. Sobre esse animal, se concluiu: “Sua adaptagao é por acumulagéo de gordura. As almofadinhas que tém sob as unhas sao para evitar que afunde na areia. Pode prote- 128 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura ger o nariz mediante a utilizagao de alguns miisculos que lhe permi- tem té-lo aberto ou fechado durante uma tempestade de areia. O dromedario mantém a temperatura de seu corpo bem mais elevada, de maneira que a diferenga entre a temperatura de seu corpo e a do ambi- ente seja minima. Tem o corpo coberto por uma leve camada de la para suavizar o impacto dos raios solares sobre a epiderme. Produz grande quantidade de gordura que guarda na corcova. Essa gordura pode ser convertida em {ons de hidrogénio que, combinados com o oxigénio da respiragao, formam a agua.” A adaptagdo das plantas se abordou a partir de uma classifica- gdo inicial, em fungdo de se eram anuais, cactdceas ou se tinham anti- bidticos nas raizes. O enunciado da sintese informativa sobre esse as- pecto foi o seguinte: “A agua € 0 principal fator que limita a vegetagdo no deserto. As plantas anuais sdo as que predominam, pois seu ciclo é muito breve (algumas crescem, florescem e morrem em apenas oito horas). As que se adaptam ao meio sao as sementes que sé germinam se “estao segu- ras” de completar seu ciclo. Outra forma de assegurar a adaptagao é manter muito espago entre umas e outras por meio da presenga de antibicticos nas raizes, que nao deixam crescer as sementes das plan- tas préximas. As cactdceas limitam a superficie, privando-se de folhas e reduzindo-se tao somente ao caule, que é muito grande e se transfor- ma num depésito de agua que lhes permite resistir a grandes periodos de seca.” A partir do nivel 3. Foi abordado, como ja foi dito, individualmen- te. Nele, cada aluno podia desenvolver os temas que lhe interessasse que no figurasse em nenhum dos itens do Projeto comum. Como se havia concordado em realizar uma exposigdo de cada um desses tra- balhos, recomendou-se recolher a informacéo de forma que facilitasse sud apresentagdo ao grupo. Por exemplo, um menino da turma tratou, nesse indice individual, do estudo de um animal do deserto: o rato- canguru (ver ilustragao na préxima pagina). Todas essas atividades tentam resolver as diferentes questées propostas no indice geral e, ao mesmo tempo, permitem conceitualizar estruturalmente a informagao para buscar repostas explicativas ¢ relacionais além do detalhe ou da descrigao. A Organizagio do Curriculo por Projetos de Trabalho 1.29 A avaliagdo do Projeto Uma vez finalizado o trabalho dos trés niveis, se procedeu & ava- liagao do tema. Dado que a seqiiéncia de aprendizagem tem diferentes momen- tos organizativos, a avaliagao também tratou de adequar-se e respon- der a eles. O nivel 1. Realizou-se uma avalia¢do inicial que permitiu conhecer os pre- conceitos que os alunos tinham em torno da pergunta “por que ha de- sertos no mundo?”. Procedeu-se & ordenagdo de andlise das hipote- ses-resposias. A verificagao se categorizou em respostas verdadeiras, falsas ¢ incompletas. O nivel 2. Seguiu-se um processo de avaliagao formativa mediante o de- senvolvimento do indice inicial (ver os pontos de 1 a 14) e sua amplia- ¢Go (ver os pontos de 5 a 7) para comprovar se a selegao de contetidos e a organizagéo da seqiiéncia eram as adequadas. A professora recolheu os dados a partir dos trabalhos realiza- dos. Sua andlise e a interagdo com os alunos mostraram o processo individual que estavam realizando. Também se fez um acordo de realizar uma prova final e a devolu- gGo ¢ avaliagéo de seus resultados com 0 objetivo de recolher informa- cao sobre os conceitos e procedimenios trabalhados no Projeto. 130 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura Onivel 3. Organizou-se uma exposicdo, com o debate correspondente, das ampliagées individuais do indice. Os contetidos trabalhados no Projeto Uma vez realizado o Projeto, a professora destacou e explicitou, a titulo de sintese, os seguintes contetidos, que também lhe haveriam de servir como ponto de partida para organizar o préximo tema e para contrastar com os objetivos da etapa. (Ver quadro na préxima pagina). Chegando a este ponto, pode ser de interesse assinalar que a incluso de dois Projetos da mesma denominagdo nao foi casual. Que- riamos mostrar com isso que o importante ndo é o tema que se traba- lha, e sim as relagdes que se articulam em torno dele e os niveis de complexidade que se vao adaptando ao processo de aprendizagem de cada turma, segundo sua “histéria” e as intengdes da professora. O tratamento da informagéo nos Projetos sobre “os desertos” em segun- da e quinta séries ndo significa incorrer em repeticdes e redunddncias, e sim permite fazer com que o aluno enfrente novos problemas e for- mas de relagao. O mesmo que acontece com o professorado e a situa- ¢Go que definem e resolvem em cada caso, que se encontra repleta de variagées e peculiaridades. A Organizagdo do Curriculo por Projetos de Trabalho 13 CONCEITUAIS 1. Por que ha deserts no mundo? - Situar os desertos num globo e num planisfério. -Identificar 0 Equador e os Trépicos de Cancer e de Capricomio. -Relacionar « situagao dos desertos ¢ dos trépicos. - Conhecer as caracteristicas do clima tropical desértico. - Situar os ventos e as correntes ocednicas frias relacionadas com os desertos. - Analisar as consoqiiéncias da nao confluéncia das nuvens e dos ventos. - Identificar os acidentes naturais que contribuem para a formagao dos desertos. 2. Odeserto do Saara. -Conhecer os motivos de sua formagéo: ventos, correntes ocednicas e acidentes geograti- = Conhecer a situacéo e a extensio do deserto do Sara - Analisar as conseqiiéncias da oscilagdo térmica no que faz referéncia & adaptacéio ao meio das espécies que vive no Sara. 3. Identificar os paises que formam o deserto do Sara. 4, Identificar as caracteristicas e as causas da extingdo dos tuaregs: econémicas, politicas, climaticas e culturais. 5. Relacionar a presenga das dunas com a procedéncia e os movimentos da areia. 6. Explicar a formagtio dos odsis, a procedéncia © os movimentos da areic. PROCEDIMENTAIS = Compartilhar o tratamento coletive de informagoes. = Abordar as informagées e a construcdo do Projoto om trés niveis: coletivo, individual-cole- tivo e individual. - Estabelecer a distincdo entre uma opinido © uma hipétese. - Kpronder a formular hipéteses com respeito & pergunta "por que hé desertos nomundo?”. - Kprender formas de aproximar-se da informacao para verificar hipéteses. - Classificar as hipéteses em vordadeiras, falsas e incompletas. - Elaborar informagdo a partir do estudo de mapas fisicos do continente atricano. - Observat e inferir explicagées sobre a localizacao dos desertos no mundo. = Estabelecer a comparagéo térmica entre cidades a partir do exemplo das cidades de Bar- colona e Gran Exg. = Situar no mapa politico os paises que esto compreendidos no deserto do Sara. - Identificar as caracteristicas ¢ formas de vida dos tuaregs a partir de um video. ATITUDINAIS - Tomar consciéneia da importéncia do uso da agua nas atividades humanas. - Mostrar intoresse pelas diferencas culturais a partir da explicagdo das causas de extingso de um povo. - Utilizar as diferontes fontes de informagéio como forma de comprovar as hipéteses, as idéias, as opiniées. Seqiiéncia de planejamento do Projeto sobre “O deserto”, na quinta série do Ensino Fundamental 132 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura © PROJETO DE TRABALHO SOBRE “A ANTARTIDA’ (SEXTA SERIE DO ENSINO FUNDAMENTAL) Realizado durante o primeiro semestre do periodo 1987-88 na tur- ma de sexta série do Ensino Fundamental. Sua professora era Leonor Carbonell. Problema a ser destacado: Técnicas e procedimentos no trata- mento da informagao. Outros aspectos a assinalar: A avaliagéo, os procedimentos utili- zados, a relacéo do Projeto com o plano de trabalho e outras ativida- des da classe e a criacao dos indices. Introdugao: a organizacao da turma de sexta série A organizagao do trabalho em sexta série se realiza através de: O Projeto de trabalho coletivo. O Projeto de trabalho individual. As matérias instrumentais. As oficinas. Pp Cada semana, a professora, na tutoria de classe, dedica um tem- po para organizar o trabalho da semana, no qual se realiza a previsdo de atividades em cada um dos quatro niveis organizativos dos conhe- cimentos na classe. Desta forma, todos os alunos sabem “o que, 0 como eo porqué” do que se fara durante a semana, tanto em nivel individual como coletivo. Assim se consegue que a aprendizagem adquira um valor de contextualizagao e sua significagdo recebe uma nova proje- cdo na medida em que todo o grupo sabe o que se espera que se va trabalhar. Esse planejamento é recolhido numa folha semanal de “Pla- no de trabalho” que esta em coordenagdo com a “agenda pessoal” de cada aluno. Inicio do trabalho: a distingdo entre o Projeto individual e ocoletivo Os dois tipos de Projetos de trabalho que se realizam na sala de aula tém pontos de confluéncia e de diferenciagao entre si. Essa distin- ¢ao, da qual a professora € consciente, deverd ser compartilhada tam- bém pela classe; para isso, se propés ao grupo uma situagdo em que fosse necessdtio expressar tal diferenca. A resposta dos alunos foi: A Organizagao do Curriculo por Projetos de Trabalho 133 A forma de trabalhar é a mesma, pois em ambas se deve decidir o tema, elaborar o indice e buscar informagées. A diferenga 6 que ndo se conta com o apoio do grupo. Além disso, e de uma forma generalizada, todos acreditavam que aprendiam mais no Projeto individual do que no coletivo. Com isso, demonstravam que sabiam se organizar, mas, no individual, aprendi- am mais coisas. Mas, tanto num quanto noutro, é necessdrio tomar consciéncia dos diferentes recursos que podem ser utilizados segundo o tipo de informagdao com a qual se trabalhe. Além disso, ambos incidem na or- ganizagao individual do aluno, no que se refere ao tempo e a seu espa- go de trabalho. As estratégias procedimentais mais utilizadas no Projeto indivi- dual sao, em resumo, a formulagdo de hipdteses, a realizagao de es- quemas e quadros de recapitula¢do e a inferéncia de conclusées. Componentes da relag&o ensino-aprendizagem que foram levados em conta no Projeto No desenvolvimento do Projeto coletivo se tem em conta os se- guintes aspectos: 1) O indice; 2) O tratamento da informagao; 3) Os procedimentos e as técnicas de estudo; 4) A tomada de consciéncia da duragao do tema; 5) A avaliagéo. l. O indice. ho longo do tratamento de um tema, podem ser realizados trés tipos de indices: 0 inicial, o geral eo final. O primeiro se baseia na tomada de contato que cada aluno realiza com o tema que se decidiu estudar. Parte da consi- deragao cognitiva de que os alunos néo sdo “uma caixa vazia", e sim que todos j& sabem e tém uma idéia do que podem trabalhar a partir do enunciado de um tema. Partin- do de uma situagao coletiva, se chega a um indice organi- zado. Primeiro, a partir de todas as propostas individuais, e, depois, partindo de uma ordenagdo dos temas que con- formaram o estudo do Projeto. No caso do Projeto da Antértida, houve onze titulos que resumiam as propostas individuais e serviam de pautas organizadoras de infor- macdo. 134 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura Uma vez realizada essa operagao de planejamento, comega a desenvolver-se 0 Projeto de trabalho seguindo 0 indice. A medida que vamos tendo mais informagées, vemos que ha temas que ndo foram propostos no indice; ao mesmo tempo se realizam as modificagoes necessdrias para chegar ao final do Projeto de trabalho. Nesse mo- mento, se elabora o indice final, em que se recolhe todo o trabalho realizado. Em outro momento (Hernandez, Carbonell e Mases, 1988), identificamos, em forma de pesquisa, 0 valor que tem para os alunos a utilizagao dos trés indices como procedimento que lhes va incorporan- do progressivamente a organizacdo da informagao. O tratamento da informagdo. Nesse aspecto, levou-se em conta, por um lado, a fonte de informagéio que se utilizava em sala de aula, e, por outro, como se tratava tal informa- cao. Encontramo-nos com as seguintes fontes: livros, videos, mapas, materiais de entidades ecolégicas, jornais, revis- tas, conferéncias, visitas, exposic6es, museus. Quanto a seu tratamento, devemos ter presente que a utilizagdao de dife- rentes fontes leva implicito um processamento diferencia- do. Nao é igual o processo de relagdo com a informagao que se estabelece diante de um video e a leitura de um li- vro. Ainda que isso jé tivesse ocorrido anteriormente na ex- periéncia escolar dos alunos, agora se tornam mais consci- entes de sua significagao. 3 Os procedimentos e técnicas de estudos utilizados foram: * A partir de um roteiro, preenché-lo de contetido depois <= observar um video. . Saber fazer perguntas que ajudem a conhecer aspectos Co tema. . Utilizar a definigdo, as vezes como ponto de partida de um trabalho, as vezes como conclusdo. * Utilizar planisférios para saber localizar nele as “linhas” de demarcagéo, assim como para situar a Antartida. a Conhecer e praticar o valor do sublinhado. . Realizar comparagées e classificagées de dados segundo diferentes critérios. . Estabelecer relagdes entre conceitos. A Organizagao do Curriculo por Projetos de Trabalho 135 Utilizar quadros sinépticos e esquemas para resumir a in- formagao. s Interpretar graficos. * Estabelecer conclusées a partir da informagéo trabalhada de forma individual e coletiva. . Levantar hipdteses que depois devem ser comprovadas. . Realizar experimentos para inferir informagao. J Fazer resenhas. Elaborar questionarios. Iniciar a aprendizagem da escrita de anotagées. 4. A tomada de consciéncia da duragdao do tema implica uma responsabilidade organizativa do tempo e do espago, tanto individual como coletivamente. 5. Naravaliagdoséo estabelecidas questées relacionadas com @ nova informagdo conhecida ao longo do Projeto e com seus procedimentos organizativos que se tenham utilizado em aula. No capitulo sobre a avaliagao, neste mesmo livro, se mostra um exemplo de seu tratamento em relagdo a esse Projeto, no qual se explicitam esses mesmos critérios den- tro do sentido de globalizagéo do ensino na escola. A organizacao inicial do trabalho no Projeto A maneira de abordar 0 tema é a seguinte: 1. Cada aluno deve saber a resposta é pergunta que a profes- sora propde em algum momento do desenvolvimento do Pro- jeto. 2. Enecessario, além disso, ter presente o segundo indice e, ao mesmo tempo, as fontes de informagao de que se dispée. 3. Ainformagéo que um video apresenta serve para dotar de contetido o inicio de um Projeto e para comegar a dar res- posta ds diferentes partes do indice. Objetivos gerais do Projeto Saber explicar as razées de uma decisdo e a importancia dos argumentos de aprendizagem. Elaborar critérios de decisdo e de acor- dos. Elaborar um indice como guia de trabalho (0 que fizemos, o que 136 Fernando Hemandez e Montserrat Ventura nos falta e que derivagdes podem ser extraidas do indice). Conscien- tizagao do tempo que se dedica ao Projeto e valorizagao do mesmo. Conteudos trabalhados no Projeto Como assinalamos ja em outro capitulo, a programagao, na es- cola em geral, e nos Projetos, em particular, tem trés momentos que servem para organizar a atividade de planejamento do professorado. No primeiro deles, uma vez delimitado o que se vai abordar com a classe, se especifica o problema ou estrutura fundamental que se quer destacar. Junto a isso se realiza uma previsdo dos fatos, conceitos, prin- cipios, procedimentos cognitivos e instrumentais e as atitudes que po- dem ser tratadas a partir do tema ou da situagdo definida. Durante a agato, a realizagao do Projeto, neste caso, se submete a revisdo, e o professor vai incorporando, a partir de sua reflexao sobre a turma, os aspectos que resultam de maior relevancia. Ao final, uma vez realiza- do o projeto ou a oficina, ou qualquer outra forma de organizar os co- nhecimentos escolares, se sistemaliza a partir do dossié de trabalho, da avaliagao e da meméria que, em forma de anotagées, o professor foi realizando sobre o que, “em realidade”, se trabalhou em aula. Isso permite, além disso, ter um instrumento de intercaémbio com outros co- legas no momento da “mudanga de série”, uma pauta de referéncia para contrasta-la com os objetivos finais da etapa e com o préprio pla- nejamento de curso realizada por cada educador. A lista que apresen- tamos a seguir é a que foi realizado pela professora de sexta série uma vez realizado o Projeto sobre a Anidrtida. 1, Contetidos conceituais * Situagdo da Antartida no mundo, a partir do globo terrestre e do planisfério. * Forma, extensdo e relevo do continente. * Nogdo de acidentes geograficos. * Relacdo da fauna com o meio ambiente * Oclima: diferenga entre clima e tempo: - Grandes zonas climdticas do mundo. - Oclima temperado: principais caracteristicas. - Relagéo da vegetagéo com o clima. - Oclima dos Pélos (comparagao com o nosso e entre os dois Pélos) - Conceito de “clima hostil” (comparagao com o A Organizagao do Curriculo por Projetos de Trabalho 137 clima do deserto) * Possibilidade do homem de adaptar-se a meios hostis. * Formas de vida e mudanga de costumes. * Problemas ecolégicos no continente gelado: caga, pesca, ex- tragées minerais. * Experiéncias nucleares. * Competigao do espago. * Solugdo para os problemas da Antdrtida: entidades ecoldgi- cas ¢ organizagées oficiais. * O que é0 ozénio? Perigos que comporta, pesquisas. * Como, quando e quem descobriu a Antartida? * A atragdo dos Pélos: o magnetismo e a bussola. * Papel das pesquisas cientificas. Contetides procedimentais * Introduzir-se na utilizagdo da definigao nao como descri¢éo, mas como explicagao. * Comparacdo com as situagées e com os elementos ja conheci- dos. * Elaboragao de hipéteses a partir de nova informagdo. * Elaboragdo de hipsteses a partir de situagoes conhecidas que nao respeitam algumas condigées (por exemplo, os pingiiins) * Extrair informagdo de um escrito: o sublinhado, o resumo e os esquemas de trabalho. * Situagées diferenciadas dentro de uma definigao. * Aprender a realizar 0 caminho do particular para o geral. * Utilizagao do mapa de cores. * Relatividade de situagées muito conhecidas por nés, mas que sdo consideradas diferentes em outros lugares. * Interpretagdo de grélicos ¢ de temperaturas. * Leitura de quadros de dados sobre chuva e temperatura. * Organizagéo de um texto a partir da negagao de um titulo. * Relagdo entre situagdes (consideradas como causas) e seus efeitos (uma situagdo tem diferentes efeitos). * Extrair informagdo de um video. * Reconhecer a informagéo do video em um quadro de dupla entrada. * Elaborar hipéteses compreensivas. Fernando Hernandez e Montserrat Ventura 3. Atividades procedimentais para a aprendizagem * Buscar informagao, entendé-la e repassd-la ao globo e ao planisfério. * Observacdo e leitura de um mapa do continente da Antartida. * Diferenciacaio de todos os elementos. * Debate sobre as diferentes hipdteses. * Relacionar o trabalho individual com 0 trabalho coletivo. * Formular perguntas sobre os quadros de dados de temperatu- ra e de chuva. * Completar a propria produgao a partir das intervencgdes dos outros. * Trabalho individual de sublinhar e trabalho coletivo de elabo- | ragdo de um quadro de dupla entrada. * Fazer anotagées como forma de reflexao imediata sobre a in- | formagao que se esta recebendo. A avaliagao do Projeto No capitulo sobre a avaliagdo, foi utilizado como exemplo-e serve de base da seqiiéncia que, para realizd-la, se foi introduzindo na esco- la - 0 processo de avaliagao seguido pela professora de sexta série neste Projeto. Vamos destacar aqui alguns de seus pormenores. Umar vez finalizada a realizagéo do Projeto, a professora explicitou dois critérios que, em consondncia com o planejamento psicopedags- gico que havia tido presente em seu trabalho, devia dirigir o sentido da prova de avaliagao: 1. Os contetidos sobre os quatis se avaliam os alunos devem estar relacionados com as estratégias de aprendizagem e com os procedimentos relacionais trabalhados no Projeto. Estes tinham sido, sobretudo: Bi Saber estabelecer relacées de comparagdo « partir das referéncias de informagdo trabalhadas em aula. . Chegar a estabelecer novas inferéncias a partir des- sas mesmas informagées. 2. Arealizagéo da prova de avaliagao deveria servir como ins- trumento de auto-avaliagdo para a professora. Para isso, buscava detectar o sentido da aprendizagem realizada pe- los alunos, especialmente a partir dos erros cometidos na formulagdo das respostas & proposta anterior. A Organizagao do Curriculo por Projetos de Trabalho 139 Projeto de trabalho: A Antartida 1. Compare e comente as semelhangas e diferengas entre: - O Pélo Norte e 0 Pélo Sul. - O deserto do Saara e a Antartida. 2. “A Antartida influi na climatologia atual”. O que aconteceria se a temperatura da Terra aumentasse e os Polos comegassem a descongelar? 3. Climas Clima mediterraéneo: Tarragona: precipitagées totais (em mm) Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. 40 80 130 14 38 21 41 45 6 O2 20 Total: 486 mm Tarragona: temperaturas médias (em graus) Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. 25 16 12 12 8 8 ll 15 17 20 25 Clima equatorial: Kribri (Camaréo) precipitagées totais (em mm) Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. 650 450 250 110 110 150 250 330 260 250 100 Total: 3.210 mm Kribri (Camarao) temperaturas médias (em graus) Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. 23 24 25 27 25 27 25 25 24 24 22 Ago. ol Ago. 27 Ago. 300 Ago. 23 Compare os climas de Tarragona e Kribri a partir das tabelas de pluviosidade e temperaturas. Deve ser levado em conta: - Os meses em que 0 indice de pluviosidade é mais elevado. - As temperaturas maximas e minimas dos dois climas. - Aoscilagao da temperatura durante o ano. - As estagdes do ano. 140 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura 4. Imagine que vocé é um pesquisador e vai viver trés meses na Antdrtida. Explique que pesquisa faria. Que material necessitaria para realizar a pesquisa? Que tipo de roupa e acessérios pessoais levaria? 5. Umpatis quer construir uma exploracao petrolifera na Antartida. Busque argumenios a favor e contra essa proposta. Explique sud posi¢dao. RESPOSTAS DE UM ALUNO A PROVA DE AVALIACAO 1. Compare: POLO NORTE E POLO SUL Semelhangas: - Os dois sao pélos. - Tém o mesmo clima (frio). - Estao gelados. - Os dois sao desérticos. Diferengas: - O Pélo Norte n&o tem tanta terra como o Sul. - Um esta no Hemistério Sul, e outro no Norte. - No Pélo Norte tem mais populacao. - Sao feitas mais pesquisas no Pélo Sul. O DESERTO DO SAARA E A ANTARTIDA Semelhangas: - Os dois s&o desérticos. - Ha pouca agua. - Muita extensdo de terra. - Pouca populagao. Diferengas: - O deserto do Saara tem um clima muito quente e a Antartida muito frio. - Um esta no Hemisfério Sul, e outro no Norte. - No deserto hé mais vegetagado do que na Antartida. A Organizagao do Curriculo por Projetos de Trabalho 141 2. Oque aconteceria se a temperatura da Terra aumentasse e comegasse a descongelar 0 gelo dos pélos? ~ TInundaria todo o mundo e as conseqiiéncids seriam tragicas; todos os animais terrestres morreriam; as aves s6 poderiam se alimentar de peixe, 50% da vida humana morreriam, s6 so- breviveriam os animais marinhos e os que soubessem nadar; seria o fim do mundo. 3. Compare os climas de Tarragona e Ktibri a partir das tabelas de pluviosidade e temperaturas. TEMPERATURAS O més das temperaturas mais altas de Tarragona € agosto, com 27 graus, e o més de Kribri (Camaro) foi dezembro, com 27 graus de maxima; e de minima, o més de Tarragona foi margo, com 11 graus, e, em Kribri, foi julho, com 22 graus. Em Kribri, as temperaturas oscilam de 22 a 27 graus, isso quer dizer que sempre tem a mesma temperatura, inverno ¢ verdo. Por outro lado, Tarragona tem de ll a 27 graus, 0 que significa que as temperaturas sao mais variadas. PRECIPITAGOES As precipitagées em Tarragona séo de 486 mm por metro qua- drado, e, em Kribri, s&o de 3.210 mm por metro quadrado (total por ano). Isso significa que em Kribri as precipitagoes sao muito mais intensas do que em Tarragona. 4. Sobre os pingiiins, o material que traria seria uma camara de filmar e alguns filmes, uma televisdo, um video, uma camara fotografica, uma bussola ¢ alimentos para pingtiins. Material para ir para neve. Escova de dentes, pasta de dentes, um espelho, uma tesoura para cortar as unhas e sabonete. 142 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura 5. A FAVOR Fazer uma exploragdo petrolifera na Antartida pode dar muitos beneficios para o pais. CONTRA Fazer uma exploragdo petrolifera na Antartida pode ser muito ruim porque poderia destruir o ecossistema antartico e poderia matar muitos animais e, se saisse petréleo das exploragées, iriam se multiplicando até que a Antartida fosse uma extensGo de terra cheia de exploragées petroliferas. MINHA OPINIAO Eu estou de acordo com a opinido “contra”. Exemplo do material utilizado para avaliagdo na tarma de sexta série do Ensino Fundamental e das respostas de um aluno Sobre esses objetivos se projetou a prova de avaliagao que lhes foi aplicada. Uma vez recolhida, a professora apresentou a seguinte informagdo: i A lista de erros que os alunos apresentaram em relagdo com o sentido ou as intencgdes que haviam sido formuladas para a avaliagdo. A lista dos critérios que havia utilizado para avaliar as con- tribuigdes dos alunos, que ela anotava junto a lista de pon- tuagées dos trabalhos de cada estudante, e que foram explicitados com posterioridade como critérios de corregao para realizar a avaliagdo dos resultados da prova. Com todo esse material, se procedeu uma andlise do contetido e posteriormente foram recolhidos em forma de matriz descritiva, tal como se reflete na figura seguinte, para proceder a sua interpretagdo junto com a professora de forma que se pudesse detectar: a)os niveis de coe- réncia na seqiiéncia de avaliagao que havia seguido e b) os principais problemas encontrados em relagao ao enfoque psicopedagégico do qual se parte nos Projetos. A Organizacao do Curriculo por Projetos de Trabalho 143 CARACTERISTICAS DOS ERROS Em rolagdo & comparagao: Localizagao geografica Falta do informagao Problemas conceituais Em relacao as respostas: Nao utiliza informagao trabalhada Nao hé argumontos Nao he relacdo cemsa- efeito Resposta incompleta Problemas de redagao Nao levou em conta algum clomontoda pergunta Referéncias de critério, nao de quantidade. Esses critérios aparecem em Hemandez, Carbonell ¢ Mases (1988a) Enunciados gercis. Sua concretizacao se encontra em Hernandez, Carbonell e Mases (1988q). AVALIAGOES DOS ALUNOS* 10 referéncias sobre con- tetdos: + eros ‘Txeferéncias sobre lingua- gem (morfossintaxe) 19 sobre procedimentos: inferénci 3 sobre aspectos: apre- sentagdo, organizagdo e atitudes CRITERIOS DE AVALIAGAO** Enros Linguagem Elaboracdo + argumentos Apresentagao Relagdo de critérios expressados pela professora na corregto e devolugdo da avaliagdo sobre a Antértida A partir dessa atividade, se estabeleceram as seguintes deriva- ¢6es, que traziam informagao sobre as concepgées da professora com respeito ao processo seguido na avaliagao do Projeto: 1. Os erros detectados néo podem desligar-se do problema do tratamento da informagéo. Comparar e inferir sto as ope- ragées cognitivas que exigem por parte do aluno uma “cons- ciéncia™ de todos os elementos que sao necessdrios para resolver os problemas propostos. 2. Oaluno, na medida em que se vale da linguagem para so- lucionar os problemas propostos na avaliagao, se depara, 144 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura em alguns momentos, com a situagdo de nado saber como explicar o que em realidade sabe. As intengdes avaliadoras da professora nao podem atuar como um item implicito na resolugéo dos alunos. Esses de- ver&o saber o que se espera deles, e a professora deve explicité-lo quando se organiza seu estudo. O fato do aluno nao detectar o sentido do que se espera de suas contestagées pode ser a causa da expressdo de sua nao compreensdo e das respostas inadequadas ou parci- ais. Na preparagao (formulagde de intengées), na agao (reali- zagao da prova) e na avaliagao, se detecta um bom nivel de coeréncia por parte da professora. No entanto, a complexi- dade da proposta psicopedagégica que se pretendia reali- zar exige uma seqiiéncia de avaliagdo mais detalhada, bem como conhecer o sentido de aprender e da prépria avalia- ¢Go para os alunos a fim de realizarem comparagao com as propostas da professora. O sentido da avaliagdo para os alunos e para a professora Uma das premissas basicas da proposta pedagégica dos Proje- tos é tratar de situar a relagGo ensino-aprendizagem da turma partin- do de um contexto comunicativo. Isso implica assumir na avaliagao que ndo sé se vai levar em consideragdo o significado das respostas dos alunos, mas também o que est& implicito e pode ser interpretado ante os enunciados apresentados pela professora. Tudo isso, além do mais, em conexdo com a finalidade das atitudes que na aula contribui- ram para favorecer ou nao essa relagao. Para realizd-lo, se procedeu a realizagao de uma confrontagao dos resultados obtidos na prova de avaliagdo com os alunos. Para isso, se partiu de quatro questées que faziam referéncia a: Ri O sentido da avaliagdo. O valor da avaliagdo como parte do processo de aprendi- zagem. A interpretagdo sobre o significado principal da avaliagéo: a percepgéio sobre o que é uma resposta elaborada. Acontrontagdo como resultado da avalliagéo da professora. A Organizacao do Curriculo por Projetos de Trabalho 145 Cada um desses aspectos encerra uma reflexco sobre o funda- mento das decisées que levaram a sua adogao (pode encontrar-se tam- bém em Hernandez, Carbonell, Mases, 1988). © procedimento utilizado para sua elaboragae foi selecionar, com base na lista de aula, sete alunos que foram entrevistados a partir de um questiondrio semi-estruturado. Com o material obtido, se realizou uma ordenacdo ¢ interpretagdo mediante a aplicagao da técnica da “andlise cruzada”. Essa tarefa, que a formagdo inicial ou permanente do professorado nao costuma contemplar, nos mostrou, em nossa ex- periéncia, que o conhecimento de algumas técnicas como as propos- tas por Miles e Huberman (1985) ajudam os professores a refletir par- tindo da pratica e facilitam que suas decisées estejam dotadas de uma maior fundamentagdo. Na interpretagao que se deriva dessa andlise, aparecem alguns elementos que revelam as concepgdes da professora em relagao a sua tomada de decisoes, em comparagao com as contribuigées dos alu- nos, e que serviram para dar como resultado a seqiiéncia de avaliagdo resenhada no capitulo correspondente. Essas concepgées podem re- sumir-se nas seguintes: 1. Osentido da aprendizagem nao se produz de forma linear sobre a base das intengdes comunicativas da professora. A seqiiéncia de aprendizagem, da qual faz parte a avaliagdo, contém muitas referéncias implicitas (tanto nos alunos como na professora) para que esta possa ser abordada desde uma causalidade estrita. 2. Os alunos assumem o sentido de apreender como acumu- lagéo de informacdo (conhecimentos), enquanto a profes- sora enfatiza o valor dos procedimentos de inferéncia e re- lacao. A passagem de um modo a outro de aprender impli- ca um longo caminho que néo comega nem acaba no peri- odo no qual se realizou o estudo. 3. Assimcomo ocorria com a definigdio das concepgées da pro- fessora ante a seqiiéncia de avaliagdo, tal como ficou refle- tido anteriormente, a explicagéo dos critérios e a antecipa- cdo das decisées avaliadoras aos alunos favorecem o in- tercambio comunicative no momento da avaliagao. 4, Hé ume coincidancia entre a formulagao e a pratica da pro- fessora no sentido de detectar os aspectos significativos do processo de ensino-aprendizagem proposto, e, dessa for- 146 Fernando Hernandez e Montserrat Ventura ma, se mantém o critério de avaliagao formativa ao longo das duas fases do estudo. CO fato de introduzir a reflexGo e a andlise sobre as crengas ea prdtica da avaliagao modifica uma série de decisées no caminho de um novo processo avaliador. Nesse caso, fo- ram incorporados os seguintes aspectos: E necessdrio especificar, antes da avaliagao, o que se ava- liara. No Projeto individual, os critérios de correg&o dever&o ser sobre: organizag&o e apresentagao; elaboragéo e contet- dos; linguagem: caligratia e bibliografia, de maneira que adquiram maior relevéncia todos os aspectos que depois se enfatizaré nos Projetos de aula. Mas, sobretudo, 0 processo seguido revela a conexdo entre as fases do planejamento, agao e avaliagao na tomada de decisées da professora. A coeréncia entre elas esta em es- trita relagdo com a inovagdo adotada na escola e n&o pode entender-se 4 margem dela. Nesse sentido, a avaliagao re- verte e faz parte do processo geral de ensino-aprendiza- gem e a organizagéio da aula por Projetos pode facilitar de forma mais precisa essa relagao.

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