A Sentença e a
10 Coisa Julgada
A Sentença
Conceito:
A sentença é o ato pelo qual o juiz dá cumprimento à obrigação jurisdicional do Estado, ou seja, é a
decisão sobre o pedido do autor, feita por um juiz competente e segundo as normas processuais.
Com o objetivo de trazer maior celeridade ao processo e eliminar a separação existente entre o
reconhecimento de um direito pelo Judiciário e a efetiva satisfação desse direito (causada pela
existência de um processo de conhecimento e um processo de execução, ambos autônomos), a
Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005, extinguiu a autonomia do processo de execução
dos títulos judiciais, tornando a execução uma fase seguinte à sentença e, portanto, fazendo
parte do processo de cognição.
Requisitos da Sentença:
O art. 458 do Código de Processo Civil relaciona os requisitos essenciais da sentença:
relatório: no relatório constarão os nomes das partes, a exposição de todos os fatos e razões de
direito que as partes alegaram e as principais ocorrências do processo;
Princípio da Conformidade:
Conforme o art. 460 do Código de Processo Civil, é defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor,
de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto
diverso do que lhe foi demandado. Em decorrência desse princípio, denominado da conformidade
(também chamado do paralelismo, da congruência, ou da adstrição), a sentença não pode apresentar
vícios em relação ao pedido. A sentença deve também ser certa, ainda quando decida relação jurídica
condicional.
Vícios da Sentença
É a sentença que, não apreciando o pedido, defere objeto diverso do
EXTRA PETITA que foi demandado, hipótese em que o autor permanece sem
resposta jurisdicional.
É a sentença que excede os limites do pedido, ou seja, o juiz decide
ULTRA PETITA
além do que foi formulado nos autos
É a sentença que fica aquém do pedido. O juiz não analisa
CITRA PETITA
totalmente o que foi solicitado pelo autor.
Sentença Ilíquida:
É vedado ao juiz proferir sentença ilíquida, quando o autor tiver formulado pedido certo (art. 459,
parágrafo único). De modo contrário, se o autor houver formulado pedido genérico (art. 286), tanto
poderá ocorrer a prolação de uma sentença líquida quanto ilíquida.
Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, o juiz decidirá de forma
concisa.
A sentença pode ser chamada de declaratória negativa quando negar a existência de direito
que ampare a pretensão deduzida pelo autor.
02 Sentenças Constitutivas:
São as que, além de declarar o direito, criam, modificam ou extinguem uma relação jurídica,
como na renovatória de aluguel ou no divórcio.
03 Sentenças Condenatórias:
São as que, além de declarar o direito, também impõem ao réu uma obrigação, como a
condenação ao pagamento de uma indenização por perdas e danos.
04 Sentenças Mandamentais:
As sentenças de natureza mandamental (ou injuncional) são aquelas que impõem ao réu uma
ordem que só por ele pode ser cumprida, sob pena de sanções criminal, civil e processual.
Distingue-se o provimento mandamental do provimento condenatório. Neste, a condenação
pode ser materializada através de execução, independentemente da vontade do réu. Naquele,
o descumprimento da decisão implica crime de desobediência, além da possibilidade de
CÓDIGO DE Art. 461 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o
PROCESSO CIVIL juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 2º - A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287)
§ 4º - O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§6º - O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que
se tornou insuficiente ou excessiva.
O § 5º foi introduzido pela Lei 10.444/2002 que incluiu a possibilidade de o juiz impor de
ofício ou a requerimento do credor, multa por tempo de atraso o que não constava do
dispositivo anterior. A mesma Lei acrescentou o § 6º.
Entrega de Coisa:
CÓDIGO DE Art. 461-A – Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz ao conceder a tutela
PROCESSO CIVIL específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.
Publicação da Sentença:
A sentença, como os atos processuais em geral, é ato público e deverá ser dada à publicidade por
meio da publicação. Enquanto não publicada não produzirá os efeitos que lhe são próprios. A
sentença pode ser publicada na própria audiência ou, então, em mãos do escrivão, isto é, quando ele a
recebe do juiz e certifica nos autos.
Alteração da Sentença:
Depois da publicação da sentença, o juiz não pode mais alterá-la, salvo para corrigir, de ofício ou a
requerimento da parte, inexatidões materiais (ex: nome das partes), ou retificar erros de cálculo.
Também poderá haver alteração no caso de embargos de declaração, oferecidos por uma das partes,
para esclarecer obscuridade, dúvida ou contradição, ou quando foi omitido ponto sobre que deveria
pronunciar-se a sentença.
Os antigos arts. 639, 640 e 641 foram renumerados pela Lei 11.232/2005, com sua revogação
explícita, pelos artigos 466-A, 466-B e 466-C, respectivamente, para se adaptarem à nova
sistemática da auto-executividade das sentenças referentes às obrigações de fazer, nas quais se
incluem as de contratar.
A Coisa Julgada
Conceito:
Coisa julgada é a qualidade que a sentença adquire, de ser imutável, criada pela impossibilidade da
decisão ser atingida por eventual recurso. (art. 5°, inciso XXXVI da Constituição Federal e art. 6°, §
3°, da Lei de Introdução ao Código Civil). A coisa julgada pode ser formal ou material.
Na extinção do processo sem julgamento do mérito, há coisa julgada formal e não material,
vez que, dentro do processo, não havendo mais recurso, a sentença se torna inalterável,
podendo, todavia, a questão ser reaberta em outro processo.
Questões Decididas:
É defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas, a cujo respeito se operou a
preclusão (art. 473). As questões já decididas também não podem ser novamente objeto de decisão
pelo juiz, mas o art. 471 prevê a possibilidade de o juiz analisar novamente questões já decididas,
relativas à mesma lide, quando a relação jurídica for continuativa e sobreveio modificação no estado
de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença (ex:
ação de alimentos). Além desta possibilidade, pode haver outros casos, desde que previstos por lei.
Noções Gerais
Noções Iniciais
Nos casos em que a sentença não determinar o valor devido, deve se proceder à liquidação da
sentença (art. 475-A). Existem três modalidades de liquidação: a liquidação por cálculo, a liquidação
por arbitramento e a liquidação por artigos.
Com a edição da Lei 11.232/2005, a liquidação da sentença passou a fazer parte do processo
de conhecimento e não mais do processo de execução. Foram inseridos os novos artigos 475-
A a 475-H que substituíram os revogados arts. 603 a 611 do CPC, adaptando a liquidação de
sentença à nova sistemática de cumprimento da sentença.
Intimação:
Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de seu advogado (art.
475-A, § 1º).
Com a possibilidade de a liquidação ser desencadeada mesmo que haja recurso pendente, é
interessante observar que se houver reforma da decisão na instância superior, deverá ser
realizada uma nova liquidação de sentença.
CÓDIGO DE Art. 362 - Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz lhe ordenará que
PROCESSO CIVIL proceda ao respectivo depósito em cartório ou noutro lugar designado, no prazo de 5 (cinco)
dias, impondo ao requerente que o embolse das despesas que tiver; se o terceiro descumprir a
ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, tudo
sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência.
Na liquidação por artigos não há a formulação de novo pedido em face do réu, mas sim apenas
a alegação de fato novo, que precisa ser provado, para o fim exclusivo de ser fixado o valor da
indenização. É uma produção de provas de índole complementar, com a observância do
procedimento comum e do contraditório.
Noções Gerais
Noções Iniciais:
O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 (obrigação de fazer ou não fazer) e 461-A
(entrega de coisa) do Código de Processo Civil ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por
execução. Como vimos, a Lei 11.232/2005 trouxe uma grande modificação, sendo que com relação
ao título judicial não existe mais um processo autônomo de execução. A execução passa a ser uma
fase da ação que originou o título judicial.
Como vimos, a Lei 11. 232/2005 extinguiu o processo autônomo de execução em relação aos
títulos judiciais. Esta mesma Lei inseriu os artigos 475-I a 475-R ao Código de Processo Civil
regulando o cumprimento da sentença. Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da
sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial
(art. 475-R).
Títulos Judiciais:
São títulos executivos judiciais conforme definição do art. 475-N do CPC:
a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não
fazer, entregar coisa ou pagar quantia;
a sentença penal condenatória transitada em julgado;
a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta
em juízo;
a sentença arbitral;
o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;
a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e
aos sucessores a título singular ou universal.
Impugnação:
Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu
advogado, ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo
correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.
A impugnação somente poderá versar sobre:
falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;
inexigibilidade do título;
penhora incorreta ou avaliação errônea;
ilegitimidade das partes;
excesso de execução;
qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,
compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.
Efeitos da Impugnação:
A impugnação não suspende a fase executória do processo, porém é facultado ao juiz atribuir tal
efeito suspensivo desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja
manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação (art.
475-M). Entretanto, ainda que atribuído este efeito, o credor poderá mediante caução, arbitrada
judicialmente, requerer o prosseguimento da execução (art. 475-M, § 1º). Deferido efeito suspensivo,
a impugnação será instruída e decidida nos próprios autos e, caso contrário, em autos apartados (art.
475-M, § 1º). A decisão que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo de instrumento,
salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá apelação (art. 475-M, § 3º).
CÓDIGO DE Art. 475-O - A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a
PROCESSO CIVIL definitiva, observadas as seguintes normas:
§ 2º - A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada:
I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, até o limite de
sessenta vezes o valor do salário-mínimo, o exequente demonstrar situação de necessidade;
II – nos casos de execução provisória em que penda agravo de instrumento junto ao Supremo
Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa
manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação.
Prestação de Alimentos:
Nos termos do art. 475-Q, quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz,
quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o
pagamento do valor mensal da pensão. O objetivo da regra é assegurar o cumprimento da obrigação
alimentícia, resultante de ato ilícito, para que o executado não se desfaça do seu patrimônio,
inviabilizando o pagamento das prestações.
CÓDIGO DE Art. 475-Q - Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a
PROCESSO CIVIL esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento
do valor mensal da pensão.
§ 1º - Este capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras
em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do devedor.
Bibliografia
Atualizada em 10.12.2011