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% Colegao: Linguagem/Critica EMILE BENVENISTE Direcio: Charlotte Galves Eni Pulcinelli Orlandi Conselho Editorial: Charlotte Galves Eni Pulcinelli Orlandi (presidente) Marilda Cavalcanti Paulo Otoni aN % PROBLEMAS DE LINGUISTICA GERAL II FICHA CATALOGRAFICA Dados de Catalogagio na PoblicagSo (CIP) Internacional (Gimara Brora do Lire, SP, Rea) - ‘ Tradugio: Benveniste, Emile, 1902-1976, Parte I — Eduardo Guimaraes B4I3p Problema de fnglfstica geral 11 / Emile Benve- Parte Il —Marco Antonio Escobar Ten cis dado Eta Guimoren ~~ Pa nema Campinas, SP: Pontes, 1989, Parte IV — Vandersi Sant’Ana Castro (Linguagem/eritica) Parte V— Joao Wanderlei Geraldi Parte VI — Ingedore G. Villaga Koch Bibliogratia, ISBN §5-7113-0183 Reviso Técnica da Tradusfo: 1, Linghistica 1, Titulo, 1. Série. Eduardo Guimaraes 58.2426 cpp-4i0, Inulices para eatdlogo sistematico 1 Vingitien 410 1989 AA intersubjetividade tem assim sua temporalidade, seus termos, suas dimensées, Por ai se reflete na lingua a experiéncia de uma relagio primordial, constante, indefinidamente reversivel, entre o falante ¢ seu parceiro, Em iltima andlise, € sempre ao ato de fala no proceso de troca que remete a experiéncia humana inscrita na Jinguagem. 80 CAPITULO 5 0 aparelbo formal da enunciacio * Todas as nossas descrigdes lingifsticas consagram um lugar freqiientemente importante ao “‘emprego das formas”. O que se entende por isso é um conjunto de regras fixando as condigées sin tdticas nas quais as formas podem ou devem normalmente aparecer, uma vez que elas pertencem a um paradigma que arrola as esco- Ihas possiveis. Estas regras de emprego sio articuladas a regras de formagio indicadas antecipadamente, de maneira a estabelecer uma certa correlacdo entre as vatiagies morfol6gicas ¢ as latitudes combinatdrias dos signos (acordo, sele¢ao miitua, preposigdes ¢ re- gimes dos nomes e dos verbos, lugar ¢ ordem, etc.). Como as esco- Ihas estéo limitadas de uma parte e de outra, parece que se obtém assim um inventério que poderia ser, teoricamente, exaustivo, dos empregos como das formas, ¢ em conseqiiéncia uma imagem pelo ‘menos aproximativa da lingua em emprego. Gostariamos, contudo, de introduzir aqui uma distinco em ‘um funcionamento que tem sido considerado somente sob o angulo da nomenclatura morfoldgica e gramatical. As condigdes de em- prego das formas nao so, em nosso modo de entender, idénticas as condigdes de emprego da lingua. Sao, em realidade, dois mundos diferentes, ¢ pode ser util insistir nesta diferenga, a qual implica uma outra maneira de ver as mesmas coisas, uma outra maneira de as deserever € de as imerpretar. © emprego das formas, parte necesséria de toda descrigio, © Langages, Paris, Didier-Larousse, 5.° ano, n.° 17 (margo de 1970), p. 128, 81 tem dado lugar a um grande nimero de modelos, to variados quanto 05 tipos lingiifsticos dos quais eles procedem. A diversidad das estruturas lingtifsticas, tanto quanto sabemos analisé-las, nao se deixa reduzir a um pequeno ntimero de modelos, que compreen- dem sempre € somente os elementos fundamentais. Ao menos dis- pomos assim de certas representagdes muito precisas, construidas por meio de uma técnica comprovada. bem diferente é 0 emprego da lingua. Trata-se aqui de tum mecanismo total € constante que, de uma maneira ou de outra, afeta a lingua inteira, A dificuldade ¢ aprender este grande fend- ‘meno, tio banal que parece se confundir com a prépria lingua, tao necessirio que nos passa despercebido. ‘A enunciagdo ¢ este colocar em funcionamento a lingua. por um ato individual de utilizagao. \ © discurso, dirse-é, que € produzido cada vez que se fala, esta manifestagao da enunciaclo, no & simplesmente a “fala”? — E preciso ter cuidado com a condigao especifica da enunciagio: € © ato mesmo de produzir um enunciado, e nao o texto do enun- ciado, que € nosso objeto. Este ato 6 0 fato do locutor que mobiliza 4 lingua por sua conta. A relagao do locutor com a lingua deter- mina os caracteres lingiifsticos da enunciagao. Deve-se consideré-la como o fato do locutor, que toma a lingua por instrument, © nos caracteres lingtiisticos que marcam esta relacao, Este grande processo pode ser estudado sob diversos aspectos, Veremos principalmente tres. © mais imediatamente perceptivel e 0 mais direto — embora de um modo geral no seja visto em relagdo ao fendmeno geral da enunciagdo — € a realizacdo vocal da lingua. Os sons emitidos ¢ percebidos, quer sejam estudados no quadro de um idioma parti cular ou nas suas manifestacdes gerais, como processo de aquisi¢au, de difusdo, de alteracio — sGo outras tantas ramificagdes da fo- nética — procedem sempre de atos individuais, que o lingiiista surpreende sempre que possivel em uma produgao nativa, no inte- rior da fala, Na prética cientifica procura-se eliminar ou atenuar (98 tragos individuais da enunciagao fonica recorrendo a sujeitos di- ferentes e multiplicando os registros, de modo a obter uma imagem tos ou ligados. Mas cada um sabe que, para média de sons, dist 82 ‘© mesmo sujeito, os mesmos sons nao sio jamais reproduzidos exa tamente, ¢ que a nogdo de identidade nao € senio aproximativa ‘mesmo quando a experineia & repetida em detalhe. Estas diferencas dizem respeito A diversidade das situagSes nas quais a enunciagao € produzida, © mecanismo desta produgdo € um outro aspect. m mesmo problema. A enunciagdo supse a conversio individual da lingua em discurso. Aqui a questio — muito dificil e pouco estu- dada ainda — é ver como 0 “sentido” se forma em “palavras”, em que medida se pode distinguir entre as duas nogdes e em que ter- mos descrever sua interacéo. E a semantizagdo da lingua que esté no centro deste aspecto da enunciacdo, € ela conduz a teoria do signo e & anélise da significancia !. Sob a mesma consideracéo dis poremos os procedimentos pelos quais as formas lingiisticas da enunciagdo se diversificam e se engendram, A “gramética trans- formacional” visa a codificé-las e a formalizé-las para dai depreen- der um quadro permanente, e, de uma teoria da sintaxe universal, prope remontar a uma teoria do funcionamento do espitito. Pode-se, enfim, considerar uma outra abordagem, que consis- tiria em definir a enunciagao no quadro formal de sua realizacao. E 0 objeto proprio destas paginas. Tentaremos esbogar, no interior da lingua, os caracteres formais da enunciaggo a partir da mani- festagio individual que ela atualiza. Estes caracteres so, uns ne- cessirios ¢ permanentes, os outros incidentais e ligados & particula- ridade do idioma escolhido. Por comodidade, os dados utilizados aqui so tirados do portugués [francés] usual e da lingua da con- versagao. Na enunciagao consideraremos, sucessivamente, 0 préprio ato, as situagdes em que ele se realiza, os instrumentos de sua reali- zagho. © ato individual pelo qual se utiliza a lingua introduz em primeiro lugar 0 locutor como pardmetro nas condigées necessérias da enunciagao. Antes da enunciaglo, a lingua nao é sendo possi lidade da lingua. Depois da_enunciagao, a Kingua é efetuada em 1 do 1. Tratamos disso particularmente mum estudo tea, 1, 1969 (ef. acima, p. 43-66) iblicado pela revista Semio- 83 uma insténeia de discurso, que emana de um locutor, forma sonora que atinge um ouvinte e que suscita uma outra enunciagio de retomo. Enquanto realizasio individual, a enunciagio pode se defi cm Felagdo & lingua, como um processo de apropriagio. © locutot se apropria do aparelho formal da lingua e enuncia sua posisio de locutor por meio de indices especificos, de um lado, e por meio de progpdimentos acess6rios, de outro Cotas imediatamente, desde que ele se declara locutor ¢ assume 4 lingua, ele implanta o outro diante de si, qualquer que seja o graut de presenca que ele atribua a este outro) Toda enunciagao 6, expli- cita ou implicitamente, uma alocugéo, ela postula um alocutério, Por fim, na enunciagdo, a lingua se acha_empregada para a expresso de uma certa relagio com o mundo{ A condi¢go mesma dessa mobilizagao e dessa apropriagio da lingua ¢, para o locutor, a necessidade de referir pelo discurso, e, para 0 outro, a possibi lidade de co-referir identicamente, no consenso pragmético que faz de cada locutor um co-locutor. A referéncia é parte integrante da enunciacao. 4 - Estas condigées iniciais vio reger todo o mecanismo da refe- réncia no processo de enunciacdo, criando uma situacdo muito sin gular e da qual ainda nao se tomou a necesséria conseiéneia,, 0 ato individual de apropriagdo da lingua introduz aquele que fala em sua fala. Este € um dado constitutivo da enunciacéo, A senca do locutor em sua enunciagao faz com que cada instar de discurso constitua um centro de referéncia interno. Esta situagio Yat 8€ anifestar por um jogo de formas especificas cuja fungio & de colocar o locutor em rela¢do constante e necesséria com sua enunciagio. sta descrigdo um pouco abstrata se aplica a um fendmeno lingiistico familiar no uso, mas cuja anélise te6rica esté apenas co- mecando, E primeiramente a emergéncia dos indices de pessoa (a rélagdo ew-tu) que néo se produz senfio na e pela enunciacao: 0 termo ew denotando o individuo que profere a enunciagao, e 0 ter- ‘mo ft, 0 individuo que af esté presente como alocutério, Da mesma natureza e se relacionando & mesma estrutura de enunciago sfo os numetosos indices de osfensio (tipo este, aqui, 8 ete), termos que implicam um gesto que designa o objeto ao mesmo tempo que € pronunciada a instancia do termo. As formas denominadas tradicionalmente “ pronomes pessoais”, “demonstrativos”, aparecem agora como uma classe de “individuos lingiifsticos”, de formas que enviam sempre e somente a “indivi- duos”, quer se trate de pessoas, de momentos, de lugates, por opo- edo aos termos nominais, que enviam sempre e somente a con- ceitosf Ora, 0 estatuto destes “individuos lingiiisticos” se deve 20 fato de que eles nascem de uma enunciaga0, de que sio produzidos por este acontecimento individual e, se se pode dizer, “semel-nati” Eles so engendrados de novo cada vez que uma enunciagao & pro- ferida, e cada vez eles designam algo novo. Uma terceira série de termos que dizem respeito & enunciagao € constituida pelo paradigma inteiro — freqiientemente vasto e com- plexo — das formas temporais, que se determinam em relagio a EGO, centro da enunciagao. Os “tempos” verbais cuja forma axial, © “presente”, coincide com 0 momento da enunciaglo, fazem parte deste aparelho necessério ® Esta relago com 0 tempo merece que af nos detenhamos, que meditemos sobre sua necessidade, e que interroguemos sobre o que a fundamenta. Poder-se-ia supor que a temporalidade € um quadro inato do pensamento. Ela é produzida, na verdade, na e pela enun- ciagéo. Da enunciagao procede a instauracdo da categoria do pre- sente, © da categoria do presente nasce a categoria do tempo. O presente é propriamente a origem do tempo, Ele ¢ esta presenga no ‘mundo que somente o ato de enunciago torna possivel, porque, & necesséirio refletir bem sobre isso, 0 homem néo dispoe de nenhum outro meio de viver o “agora” e de torné-to atual sendo realizando-o pela insergo do discurso no mundo, Poder-se-ia mostrar pelas and- lises de sistemas temporais em diversas linguas a posieao central do presente. O presente formal ndo faz sendo explicitar o presente inerente & enunciagdo, que se renova a cada produgao de discurso, € a partir deste presente continuo, coextensivo & nossa propria pre- senca, imprime na consciéncia o-sentimento de uma continuidade 2, Os detalhes dos fatos de lingua que apresentamos aqui de um modo sin- tético, estfo expostos em muitos eapitulos de nossos Problémes de lingui tique générale, 1 (Paris, 1966), © que nos dispensa de insistir sobre el 85 que denominamos “tempo”; continuidade € temporalidade que se engendram no presente incessante da enunciagdo, que & 0 presente do proprio ser e que se delimita, por referéncia interna, entre o que vai se tornar presente e 0 que ja nao o € mais Assim a enunciagio é diretamente responsivel por certas clas- ses de signos que ela promove literalmente a existéncia. Porque eles nao poderiam surgir nem ser empregados no uso cognitivo da lingua. E preciso entio distinguir as entidades que tém na lingua seu estatuto pleno e permanente ¢ aquelas que, emanando da enun- iagdo, nao existem sendo na rede de “‘individuos” que a enuncia- fo cria e em relacdo a0 “aqui-agora” do locutor. Por exemplo: 0 “eu”, o “aquele”, o “amanha” da descticdo gramatical nao séo sendo 0s “nomes” metalingifsticos de eu, aquele, amanhd produ- vidos na enunciagao. Além das formas que comanda, a enunciago fornece as con- digdes necessdrias as grandes fungGes sintéticas. Desde 0 momento im que 0 enunciador se serve da lingua para influenciar de algum modo 0 comportamento do alocutério, ele dispde para este fim de um aparetho de fungGes. E, em primeiro lugar, a interrogacdo, que € uma enunciagdo construfda para suscitar uma “resposta”, por um processo lingtifstico que € ao mesmo tempo um processo de com- portamento com dupla entrada, Todas as formas lexicais ¢ sintéticas da interrogacdo, particulas, pronomes, seqiiéncia, entonagao, et. derivam deste aspecto da enunciacio, De modo semelhante distribuir-se-o os termos ou formas que denominamos de inrimagio: ordens, apelos concebidos em catego- rias como o imperativo, © vocativo, que implicam uma relacio viva € imediata do enunciador ao outro numa referéncia necesséria 20 tempo da enunc Menos evidente talvez, mas também certo, é 0 fato de a asser eGo pertencer a este meso repertério, Em seu rodeio sintético, ‘como em stia entonagao, a assergao visa a comunicar uma certeza, ela € a manifestacdo mais comum da presenca do locutor na enun- ciagdo, ela tem mesmo instrumentos especificos que @ exprimem ou que a implicam, as palavras sim € nao afirmando positivamente ‘ou negativamente uma proposigio. A negaco como operagdo I6- gica é independente da enunciacdo, ela tem sua forma prépria, que 86 é nfo. Mas a particula assertiva ndo, substituta de uma proposigao, classifica-se como a particula sim, com a qual ela teparte o esta- tuto, nas formas que dizem respeito & enunciagéo. De modo mais amplo, ainda que de uma maneita menos cate- gorizivel, organizam-se aqui todos os tipos de modalidades formais, uns pertencentes aos verbos, como os “modes” (optativo, subjun- tivo) que enunciam atitudes do enunciador do Angulo daquilo que enuncia (expectativa, desejo, apreensio), outros & fraseologia (“tal vez", “sem davida”, “provavelmente”) ¢ indicando incerteza, possi- bilidade, indecisio, etc., ou, deliberadamente, recusa de assercio. © que em geral caracteriza a enunciagéo € a acentuagiio da relagdo discursiva com 0 parceiro, seja este real ou imaginado, int vidual ou coletivo. Esta caracteristica coloca necessariamente 0 que se pode de- nominar 0 quadro figurative da enunciagio. Como forma de dis- curso, a enunciagéo coloca duas “figuras” igualmente necessérias, uma, origem, a outra, fim da enunciagao, & a estrutura do didlogo. Duas figuras na posigo de parceiros so alternativamente prota gonistas da enunciaclo. Este quadro € dado necessariamente com a definigéo da enunciagio. Poder-se-ia objetar que pode haver dilogo fora da enunciagao, ou enunciagdo sem diélogo. Os dois casos devem ser examinados. Na disputa verbal praticada por diferentes povos e da qual uma variedade tipica é 0 hain-teny dos Merinas, nao se trata na verdade nem de didlogo nem de enunciagao. Nenhum dos dois par- ceiros se enuncia: tudo consiste em provérbios citados ¢ em pro- vérbios opostos citados em réplica. No hé uma nica referéncia explicita a0 objeto do debate. Aquele, dos dois participantes, que dispée do maior estoque de provérbios, ou que os emprega de modo mais habil, mais malicioso, menos previsivel deixa o outro sem saber o que responder € € proclamado vencedor. Este jogo no tem senao a aparéncia de um didlogo. Inversamente, 0 “‘monélogo” procede claramente da enuncia- do. Ele deve ser classificado, ndo obstante a aparéncia, como uma variedade’ do dilogo, estrutura fundamental. © “monélogo” ¢ um dlilogo interiorizado, formulado em “linguagem interior”, entre um locutor e um eu ouvinte, As vezes, 0 eu locutor é'0 tinico a 87 falar; © eu ouvinte permanece entretanto presente; sua presenga é necessétia ¢ suficiente para tomar significante a enunciagio do eu locutor. As vezes, também, 0 eu ouvinte intervém com uma objegao, ‘uma questo, uma diivida, um insulto. A forma lingiiistica que esta intervengao assume difere segundo os idiomas, mas € sempre uma forma “pessoal”. Ora 0 eu ouvinte substitui o eu locutor ¢ se enun- cia entao como “primeita pessoa”; & assim em francés [portugués] ‘onde 0 “monélogo” seré cortado por observagdes ou injungées tais como: “Non, je suis idiot, j'ai oublié de lui dire que...” [“Nao, eu sou um idiota, esqueci de te dizer que...”]. Ora 0 eu ouvinte interpela na “segunda pessoa” o eu locutor: Non, tu n’aurais pas di lui dire que...”" [“Ndo, tu (vocé) nao deverias (ria) the ter dito que...”]. Haveria af uma interessante tipologia dessas relagdes para estabelecer; em algumas linguas ver-se-ia predominar o eu ‘ouvinte como substituto do locutor e se colocando por sua vez como eu (francés, inglés), ou.em outras, pondo-se como parceiro de dis- logo © empregando tu (alemao, russo). Esta transposico do didlogo em “‘mondlogo” onde EGO ou se divide em dois, ou assume dois paptis, prestase a figuragdes ou a transposigdes psicodraméticas: conflitos do “ew [moi] profundo” ¢ da “consciéncia”, desdobra- mentos provocados pela “inspiragdo”, etc. Esta possibilidade 6 fa- cultada pelo aparelho lingitistico da enunciacao, sui-teflexivo, que compreende um jogo de oposicdes do pronome ¢ do anténimo (eu/ ‘me/mim (Je/me/moi])® Estas situagdes exigiriam uma dupla descrigéo, da forma lin- alifstica e da condigZo figurativa. Contenta-se muito facilmente com invocat a freqtiéncia ¢ a utilidade préticas da comunicagio entre 05 individuos, para que se admita a situagdo de didlogo como re- sultando de uma necessidade, abstendo-se assim de arialisar as mail- tiplas variedades. Uma delas se apresenta em uma condigéo social das mais banais em aparéncia, mas das menos conhecidas, de fato. B. Malinowski indicou-a sob o nome de comunhéo fética, qualifi- cando-a assim como fendmeno psicossocial com fungao lingiiistica. Ele a configurou partindo do papel que a linguagem ai desempe- nha, & um processo em que o discurso, sob a forma de um diélogo, 3, Ver um artigo do BSL 60 (1965), fase. I, p. 71 € ss. 88 estabelece uma colaboragio entre os individuos. Vale a pena citar algumas passagens desta anélise *: © caso da linguagem usada no livre ¢ fortuito intercurso social merece especial atengo. Quando vérias pessoas sentam- se juntas em torno da fogueira da aldeia, depois de terminadas as tarefas quotidianas, ou quando batem papo, descansando do trabalho, ou quando acompanham algum simples trabalho manual com um tagarelar que nada tem a ver com 0 que esto fazendo — é claro que, nestes casos, estamos diante de um ‘outro modo de usar a linguagem, com um outro tipo de fungao do discurso. Aqui, a lingua no depende do que acontece no momento; parece estar até privada de qualquer contexto de situagio. O sentido de cada enunciado nao pode estar ligado ao comportamento do locutor ou do ouvinte, com a intengdo do que esto fazendo. ‘Uma simples frase de cortesia, tio usada entre as tribos selvagens como nos saldes europeus, cumpre uma funcao para a qual o sentido de suas palavras é quase completamente indi- ferente. As perguntas sobre a satide, os comentérios sobre 0 tempo, as afirmagGes de algum estado de coisas absolutamente Sbvio — tudo so Frases trocadas nfo com a finalidade de informar, nem para coordenar as pessoas em aco e certamente que no para expressar qualquer pensaniento. Nao hé divida de que temos aqui um novo tipo de uso lingiiistico — que estou tentado a chamar comunhio fatica, instigado pelo deménio da invengao terminoligica — um tipo de discurso em que os lagos de unio so criados pela mera troca de palavras. .. As palavras, na comunhao fética, sf0 usa- das, principalmente, para transmitir uma significacdo, a signifi- cagiio que 6, simbolicamente, a delas? Certamente que nao. Elas preenchem uma fungao social e esse é o seu principal objetivo, mas nfio slo o resultado de reflexao intelectual nem despertam, necessariamente, qualquer espécie de reflexdo no ouvinte. Mais uma vez podemos dizer que a linguagem néo funciona, neste caso, como um meio de transmissio do pensamento. 4. Traduzimos aqui algumas passagens do artigo de B. Malinowski publicado fem Ogden ¢ Richards, The meaning of meaning, 1923, p. 313 © 8 89 Mas podemos consideré-la um modo de agio? E em que relagio se situa com a nossa concepefo decisiva de contexto de situagio? E Sbvio que a situagao exterior nao participa dire- tamente na técnica da fala, Mas 0 que € que pode ser consi- derado situagdo quando um certo mimero de pessoas tag relam juntas sem finalidade? Consiste, apenas, nessa atmosfera de sociabilidade © no fato de uma comunhdo pessoal dessas pessoas. Mas esta ¢ obtida, de fato, pela fala e a situagdo, em todos esses casos, & criada pela troca de palavras, pelos senti mentos especificos que formam a convivéncia gregéria, pelo vai e vem dos propésitos que constituem 0 tagarelar comum A situagio, em seu todo, consiste no que acontece lingii camentel Cada enunciagao € um ato que serve 0 propésito di reto de unir o ouvinte ao locutor por algum lago de sentimento, social ou de outro tipo. Uma vez mais, a linguagem, nesta funco, manifesta-se-nos, no como um instrumento de reflexo mas como um modo de ago.) Estamos aqui no limite do “diélogo”. Uma relagio pessoal criada, mantida, por uma forma convencional de enunciago que se volta sobre si mesma, que se satisfaz em sua realiza¢io, nao comportando nem objeto, nem finalidade, nem mensagem, pura enunciagéo de palavras combinadas, repetidas por cada um dos enunciadores. A anélise formal desta forma de troca lingifstica esté por fazer’, ‘Muitos outros desdobramentos deveriam ser estudados no cor texto da enunciacdo. Ter-se-ia que considerar as alteragdes lexi que a enunciacdo determina, a fraseologia, que € a marca freqiien- te, talvez necesséria, da “‘oralidade”. Seria preciso também distin- guir a enunciagio falada da enunciagio escrita. Esta se situa em dois planos: o que escreve se enuncia a0 eserever ¢, no interior de sua escrita, ele faz os individuos se enunciarem, Amplas perspec- tivas se abrem para a anélise das formas complexas do discurso, a partir do quadro formal esbocado aqui. is 5. Nio hi sobre ela senio algumas referéncias, por exemplo, em Grace de Laguna, Speech, tts function and development, 1927, p. 244 n3 R. Ja obson, Essais de lingustique générale, trad. N. Ruwel, 1963, p. 217 90 Il ESTRUTURAS E ANALISES Tradugdo: Rosa Attié Figueira

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