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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


DEPARTAMENTO DE HISTORIA

Disciplina: Escrita e Oralidade nas Sociedades Africanas


Professora: Marina Berthet
Aluno: Flavia Silva Barros Ximenes

Resenha do Livro Meio Sol Amarelo

Meio Sol Amarelo é o livro da escritora nigeriana Chimamanda Ngozie Adichie,


cuja trama se desenrola na recém-independente Nigéria dos anos 1960, cobrindo os
antecedentes, o desenvolvimento e o término da guerra de Biafra.
Chimamanda é uma jovem e premiada escritora nigeriana, considerada a mais
proeminente de uma nova geração de escritores. Aos dezenove anos foi para os Estados
Unidos, onde estudou comunicação na Universidade de Drexel, na Filadélfia e ciência
política na Eastern Connecticut State University. Seu primeiro romance, o também
premiado Hibisco Roxo, foi recebido com elogios da crítica. Meio Sol Amarelo é seu
segundo romance, publicado em 2006 e ganhador, em 2007, do Orange Prize for
Fiction, um dos prêmios literários mais prestigiados do Reino Unido.
A narrativa se desenrola basicamente em torno de cinco personagens, que tem
suas vidas atravessadas e alteradas pela guerra de Biafra: Ugwu, menino do interior que
vai trabalhar como criado na casa de Odenigbo, professor universitário e nacionalista
que se apaixona por Olanna, filha de família rica que desagrada os pais ao se unir a ele.
Olanna tem uma irmã gêmea, Kainene, que cuida dos negócios do pai e se envolve com
Richard, inglês apaixonado pela cultura nigeriana e pela própria Kainene.
A história começa com Ugwu saindo de sua aldeia levado pela tia para trabalhar
na casa de Odenigbo, ao qual se afeiçoa, e através dele é apresentado ao mundo dos
livros e consequentemente volta à escola. Quando Olanna vai morar com Odenigbo o
ciúme que sente no início, por ter outra pessoa interferindo na sua relação com o patrão,
se transforma em admiração e ele se dedica igualmente a ambos.
Olanna e Kainene são gêmeas, mas não idênticas. Olanna se destaca por ser
excepcionalmente bonita e Kainene não tem a beleza da irmã, mas é dona de
personalidade forte e enigmática; após se formarem em Londres, enquanto Olanna vai
lecionar sociologia na universidade, Kainene começa a cuidar dos negócios do pai. O
relacionamento entre as irmãs é um tanto distante, e após alguns desencontros elas
voltam a se unir durante a guerra.
Richard, um tímido jornalista inglês, se encanta com uma descoberta
arqueológica feita na Nigéria, resolve conhecê-la de perto e escrever um livro sobre ela.
Deslocado entre os ingleses expatriados, se encontra entre os nigerianos: torna-se
amante de Kainene, aprende a língua ibo, vai como bolsista estrangeiro para a
universidade de Nsukka, onde convive com Odenigbo e Olanna enquanto tenta em meio
a várias tentativas, desistências e recomeços, escrever um livro. Richard parece mais
nigeriano que seu criado, Harisson, que tem verdadeiro pavor a tudo que é africano, e só
cozinha comida estrangeira.
A guerra vem desestabilizar a vida dos personagens. A esperança de uma guerra
curta, de vitória e grandeza da nova nação é pouco a pouco destruída. No lugar da
vitória esperada vem a fome que consome o novo país, Biafra, que deforma suas
crianças antes de matá-las de inanição. Junto ao horror dos ataques aéreos e das cidades
invadidas, a fome foi uma arma de guerra terrivelmente eficaz. Famintos, com medo,
fugindo de bombardeios, com a vida transformada depois de perderem entes queridos,
nossos personagens veem o sonho de Biafra morrer e só resta juntar os pedaços e tentar
reconstruir a vida com o quê – e com quem – sobrou.
O livro convida a algumas reflexões sobre a construção da memória. Dentro de
um acontecimento, neste caso a guerra de Biafra, existe a memória pessoal de cada
indivíduo que o viveu. Essas memórias pessoais se entrelaçam à memória coletiva,
formando um todo, onde as histórias de cada um se tornam parte de uma história maior
e formam um arcabouço vivo de experiências interligando passado e presente.
Cada sujeito trabalha essa memória individual de acordo com sua própria
experiência de vida e cada grupo faz um uso próprio de suas memórias. Os que lutaram
por Biafra se lembrarão da guerra como a luta pela liberdade de seu povo e os que
lutaram contra a secessão recordarão da batalha contra os rebeldes que tentaram dividir
o país. A partir de suas memórias cada indivíduo e cada grupo constroem sua própria
história, cada um usando suas recordações de forma diversa.
Durante a narrativa do livro vão sendo apresentados trechos do livro que Ugwu
escreve, onde conta a história da guerra. Pode-se dizer que essa história trará toda uma
carga sentimental no ato de relembrar esse passado, entrelaçando a memória coletiva do
conflito com a memória individual de Ugwu e que não será uma reconstrução da guerra,
mas um relato sobre esse acontecimento do ponto de vista de um indivíduo, o narrador,
com toda a subjetividade que isso implica. Através do ato de narrar ele pode dar voz a
seu grupo, usando a memória para legitimar sua luta.

Daí que nessa abordagem da memória seu caráter político-afetivo não pode
ser descartado, mas sim apreciado como possibilidade de expressão de
subjetividades e sensibilidades que têm importância nas ações dos sujeitos e,
claro, na história passível de ser construída a partir da vivência dos
mesmos.1

A construção da memória não pode deixar de lado o esquecimento. Nesse


processo o que é esquecido diz tanto quanto o que é lembrado, uma vez que a memória
não é uma recuperação integral do passado, mas uma reconstituição do mesmo. Sendo
assim, cada indivíduo reconstrói seu passado segundo seus próprios critérios, dando
importância a determinados fatos em detrimento de outros ou relegando alguns
acontecimentos ao esquecimento de forma consciente ou não. É esse processo dinâmico
de recordar e esquecer que torna os acontecimentos vivos e passíveis de transmissão,
oralmente ou por escrito permitindo que cada grupo ou indivíduo se reconheça neles.
Entre as memórias pessoais que se entrecruzam para formar a narrativa do livro,
as femininas merecem destaque. Diferentes mulheres são retratadas, mostrando a toda a
complexidade do universo feminino e sua importância no cotidiano. As mulheres mais
velhas que ainda trazem consigo a tradição das aldeias, que resiste com suas cerimônias
e crenças apesar da colonização, estão presentes, como um elo de ligação entre dois
mundos. A rica nigeriana preocupada com as aparências, com a opinião da sociedade, já
mais perto da cultura colonizadora que da sua própria, numa mostra do avanço branco
sobre a sociedade tradicional, substituindo valores e tradições. E as professoras da
universidade, espalhafatosas, na observação de Ugwu.
Está presente a mulher violentada na guerra, sem voz nem direitos, sem
condições de reagir à violência, como tantas mulheres em tantas guerras ao redor do
mundo. Não se sabe ao certo quantas, pois ao contrário dos mortos, dos quais se pode
contar os corpos, não se conta o número de mulheres violadas: simples objetos usados e
descartados, incidentes sem importância.

1
SANTOS, Márcia P. dos. História e memória: Desafios de uma relação teórica; in OPSIS, VOL7, Nº 9,
JUL-DEZ 2007.
Também sem voz e usada como um objeto é Amala, a criada, menina comum da
roça, de olhos baixos e poucas palavras, submissa a ponto de não ter forças para se
recusar a dormir com o filho da patroa para que ela pudesse ter um neto, como uma
chocadeira humana. A criança, uma menina, é rejeitada pela mãe, que nunca a quis, e
pela avó, que queria um menino.
A pequena teve direito não só a viver como a ser criada como filha por Olanna,
mas a rejeição de crianças pelo simples fato de serem meninas é real. Principalmente na
Índia e na China, o infanticídio e aborto de fetos do sexo feminino chega a níveis
alarmantes. O economista indiano ganhador do prêmio Nobel, Amartya Sen, alertou a
Índia sobre os assassinatos em massa de mulheres pela primeira vez em 1986. Segundo
ele, havia cerca de 37 milhões de mulheres “desaparecidas” no país. Há uma campanha
global contra o genocídio feminino na Índia, a campanha “50 milhões de
desaparecidas”2. São 50 milhões na Índia, quantas em outros países, quantas no total?
O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que todas as
pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, e muitas mulheres são privadas
do direito fundamental, à vida, não por terem cometido algum crime, mas por serem
mulheres, num triste e silencioso extermínio.
As mães que choram sobre os corpos ensanguentados dos filhos poderiam estar
em qualquer parte do mundo. Não seriam companheiras na mesma tragédia as mães que
viram seus filhos sucumbir à fome de Biafra e as mães que perderam seus filhos na
fome do seco nordeste brasileiro? A fome usada como arma de guerra para conter os
biafrenses e que trouxe doenças e morte não é parente da fome e das doenças com as
quais o governo controla o povo do sertão de Jorge Amado?

Ali, nas margens do São Francisco, em sertão de cinco estados, as


epidemias possuem aliados poderosos e naturais: os donos da terra, os
coronéis, os delegados de polícia, os comandantes dos destacamentos da
força pública, os chefes, os mandatários, os politiqueiros, enfim o soberano
governo. (...) Pestes necessárias e beneméritas, sem elas seria impossível a
indústria das secas, tão rendosa; sem elas, como manter a sociedade
constituída e conter o povo, de todas as pragas a pior? 3

2
http://50mmport.wordpress.com
3
Amado,Jorge, Tereza Batista cansada de guerra: 10° Ed. Rio de Janeiro, Record, 1978. Pg.188-189
Todas as mulheres que valentemente contribuíram com o que puderam fazer no
cenário brutal da guerra são iguais a mulheres espalhadas pelo mundo que lutam em
condições desiguais contra a guerra, a miséria a fome e as doenças.
Olanna e Kainene são gêmeas de aparência e temperamento opostos que se
mantém distantes, cada uma levando sua própria vida até que são unidas pela tragédia
da guerra, já que apesar de tudo são irmãs. Seriam elas uma metáfora da própria
Nigéria? Dividida em regiões opostas, cada uma com sua característica particular, que
voltam a se unir depois de um afastamento que parecia ser definitivo? Olanna na sua
viagem em visita aos tios se admira de quanto o Norte inteiro era tão diferente do Sul.
As irmãs conseguiram se reaproximar após uma traição que parecia imperdoável. Seria
possível superar uma divisão territorial arbitrária feita pelo colonizador, que não levou
em conta as diferenças étnicas de uma região, ou como diria Odenigbo, a identidade
autêntica de um africano é a sua tribo? O livro deixa a questão em aberto, mostrando o
lento recompor de uma nação ferida.
A história das irmãs também mostra questões do universo feminino que são
comuns ao redor do mundo. Kainene é uma mulher moderna e hábil negociante, mas
tem uma certa dificuldade com as emoções, personificando um conflito rotineiro nos
dias atuais: mulheres altamente capazes profissionalmente que se sentem um tanto
deslocadas quando tem que lidar com sua própria sensibilidade. Olanna, apesar de
belíssima, enfrenta uma traição do marido, que tem uma filha com outra mulher. Esse
conflito, além de comum, é atemporal. Várias mulheres ao longo de toda a história da
humanidade tem lidado com essa situação. Olanna perdoa a traição e cria a menina, o
que abre espaço a uma reflexão: seria um ato de coragem, de submissão, de grandeza?
Talvez um certo complexo de inferioridade, apesar da beleza, que fez com que aceitasse
um homem que a traiu? Ou simplesmente o amor por Odenigbo torna os deslizes
desculpáveis? Kainene também perdoou a traição de Richard. O fato dessa traição não
gerar um filho facilita o perdão?
Mais do que uma história da guerra, Meio Sol Amarelo é um grande emaranhado
de memórias de seus personagens, com seus conflitos que nos levam à reflexão sobre
questões que estão presentes em nossa própria memória.

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