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TRIBUNAL DO JURI: aspectos psicológicos na formação da íntima convicção

Arthur Vieira de Oliveira Lavôr1

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo averiguar se existem e com que grau de
incidência atuam outros fatores que não a evidência colacionada aos autos aliada aos
discursos de defesa e acusação que influenciam direta ou indiretamente na maneira como os
jurados tomam suas decisões. Aspectos como a raça, gênero e grau de atratividade do
acusado, bem como a raça, gênero e visão de mundo dos membros do Conselho de Sentença,
a mídia, o preconceito racial, os esteriótipos, dentre outros desempenham papel marcante no
cenário do Tribunal do Júri. Por fim, busca-se dar algumas sugestões para que se possa
atenuar ou eliminar a indesejada interferência de todos esses elementos extralegais, que não
sejam as provas técnicas em si aliadas aos discursos persuasivos fornecidos tanto pela defesa
quanto pela acusação, no intuito de garantir ao acusado por crimes dolosos contra a vida um
julgamento mais justo, livre de cognições preconcebidas, enfim, um processo criminal mais
imparcial possível.

Palavras-Chave: Tribunal do Júri. Aspectos Psicológicos. Mídia.

1 Graduado em direito pela Universidade Federal de Pernambuco, Pós graduando em direito penal e
processual penal pela Faculdade Damas (arthur.lavor@hotmail.com)
2

INTRODUÇÃO

Instituído no Brasil em 1822, o Tribunal do Júri na época, era restrito aos crimes de
opinião ou de imprensa. Hoje, aos jurados cabe a árdua tarefa de julgar os acusados de terem
cometido crimes dolosos contra a vida.

O juri é composto por um juiz togado e por 25 (vinte e cinco) jurados, que serão
sorteados dentre os alistados. Anualmente, o juiz elabora uma lista geral dos jurados, na qual
variam a quantidade de acordo com a população total de cada comarca. Desses vinte e cinco,
sete serão os jurados selecionados para julgar cada caso concreto.

O presente artigo pretende apresentar a instituição do Tribunal do Júri, consolidada


como está, sob uma ótica de estudos psicossociais. O que se pretende é perquirir se existem
fatores “extralegais”, alheios ao direito penal e processual penal, que condicionariam os
jurados a formarem o veredito. Após a análise de diversos estudos realizados na área da
psicologia social focados especialmente no Conselho de Sentença, coube discutir se esses
ditos fatores existem e em que grau eles interferem na cognição de cada membro daquele
conselho.

Busca-se colocar em evidencia o fato de que os jurados, como seres humanos que são,
possuem crenças, valores, características específicas que podem influenciar e até mesmo, em
casos em que as evidências são muito ambíguas, determinar o veredito final. Fatores como a
origem racial do acusado e dos jurados, a personalidade autoritária, a mídia sensacionalista,
dentre outros, desempenham papel importantíssimo na formação da íntima convicção.

Outros aspectos que não a própria evidência apresentada nos autos merecem atenção
quando se trabalha com o Tribunal do Júri. Ao final, após expor diversos resultados obtidos
pelos pesquisadores, pretende-se traçar possíveis estratégias a fim de garantir ao acusado ser
julgado da forma mais imparcial e objetiva possível.
3

O presente trabalho se divide em quatro partes: em primeiro lugar se busca demonstrar


diversos fatores que influenciam os jurados a tomar suas decisões; em sequência são
apresentadas estratégias para atenuar os efeitos gerados por esses fatores; ao depois, trabalha-
se com o efeito causado pela mídia nos jurados; por fim, são oferecidas formas de diminuir
esses efeitos.
4

1 Fatores que influenciam a decisão dos jurados

O interesse da psicologia jurídica americana em analisar as decisões que


individualmente tomam cada um dos integrantes do Conselho de Sentença se iniciou
especialmente em meados do século passado com o chamado “Chicago Jury Project”. Grande
parte dessa investigação culminou com a publicação em 1966 do tão citado livro de Kalven y
Zeizel “The American Jury”. Referidos autores recompilaram dados de julgamentos reais,
entrevistaram a juízes, advogados e ex-jurados e foram os primeiros a evidenciar alguns
fatores que parecem influenciar os jurados no desempenho de sua função. Sobre referidos
autores, comenta Reid Hastie:
O melhor resumo das intuições de especialistas sobre o comportamento dos
jurados é provavelmente a clássica pesquisa de Kalven e Zeizel (1966) sobre
opiniões dos juízes sobre as causas das decisões do Júri (suposições semelhantes
podem ser inferidas como motivações implícitas subjacentes às Normas Federais de
Provas [1983] e vários decisões de apelações concernentes ao direito de julgamento
pelo juri). Essencialmente, os jurados são caracterizados como lógicos crus que
raciocinam completamente sobre implicações de evidencia não técnica. Mas,
quando a evidencia é técnica, esparsa, ou se a acusação envolve eventos que
provocam emoções, os sentimentos dos jurados são liberados e considerações
extralegais (ex., a raça do acusado ou vítima, a atitude do jurado com respeito à lei
aplicável, etc.) influenciam o julgamento.(tradução do autor).2

Desde então até a atualidade, os diversos estudos nos indicam a importância das
condições sociodemográficas e especialmente dos fatores psicossociais dos jurados. Ainda
que há vários dados que indicam a influência das características que cada jurado fornece
individualmente, a capacidade de prever a decisão a partir de determinados traços parece ser
maior nas variáveis atitudinais, quanto mais específicas sejam, melhor. Ademais, quanto mais
ambíguo seja o caso, maior é a possibilidade de que influenciem os juízos derivados das
características de cada jurado.

2 Texto original: The best summary of expert intuitions about juror behavior is probably Kalven and
Zeisel's (1966) classic survey of trial judges' opinions about the causes of jury decisions (similar assumptions
can be inferred as implicit motivations underlying the Federal Rules of Evidence [1983] and various appellate
decisions concerning the right to trial by jury). Essentially, jurors are characterized as rough-and-ready logicians
who reason competently about the implications of nontechnical evidence. But, when evidence is technical,
sparse, or if the charge involves emotion-provoking events, the juror's sentiments are "liberated" and extralegal
considerations (e.g., the race of the defendant or victim, the juror's attitude toward the applicable law, etc.)
influence the judgment”. HASTIE, Reid. Inside the Juror: The Psychology of Juror Decision Making.
Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 4
5

Também é importante ressaltar que o que os cidadãos possam entender e perceber


sobre o caso durante o julgamento vai depender da influência que o juiz, o promotor e o
defensor exercem sobre eles.
Por fim, os estudos apontam que a opinião sobre o acontecimento pode depender do
tipo de publicidade que tenha tido o caso, da impressão que causa o acusado e, em menor
medida, de algumas características da vítima.
São três os principais métodos utilizados pelos pesquisadores para estudar como
decidem os jurados. A técnica mais popular é a realização de estudos experimentais com júris
simulados. Estes são estudos nos quais um julgamento ou parte de um é apresentada a
participantes de uma forma escrita ou por vídeo. Os participantes são instruídos a serem os
jurados e chegar a uma decisão com base nas provas. Como dizem os autores Ray Bull,
Amina Memon e Aldert Vrij:
A maior vantagem do estudo com júri-simulado é que eles permitem
variáveis específicas serem manipuladas com alto nível de controle, por exemplo,
características do defendido, características dos jurados e características do caso.
Eles também fornecem a oportunidade de sistematicamente testar intervenções
como a utilidade em deixar os jurados tomarem notas. (tradução do autor)3.
Contudo, tal método possui suas limitações. Além de a natureza artificial em que as
provas são apresentadas, os jurados sabem que suas decisões não terão consequências e,
portanto, não há como comparar com as emoções que os jurados reais sentem em um
julgamento judicial real. Estas deficiências têm levantado preocupações sobre a validade dos
resultados da investigação.
Outro método utilizado pelos pesquisadores para estudar o processo que governa a
decisão dos jurados são estudos de caso e fontes de arquivamento. Consiste basicamente em
estudar casos anteriores, e buscar evidenciar, a partir de amostras grandes, quais fatores
podem ter influenciado em determinados tipos de julgamento. No entanto, a análise aqui é
post-hoc, isto é, as variáveis são estudadas após o experimento, não existe controle prévio,
dos fatores a serem estudados que regem a decisão dos jurados.
Um terceiro método consiste em entrevistas pós-deliberação e pesquisas de ex-
jurados. Um bom exemplo é o levantamento de 48 julgamentos por júri (variando de tentativa

3 Texto original: The major advantage of mock-jury studies is that they allow specific variables to be
manipulated with a high level of control over, for example, defendant characteristics, juror characteristics and
case characteristics. They also provide an opportunity to systematically test interventions such as the usefulness
of allowing jurors to take notes.” BULL, Ray; MEMON, Amina; VRIJ, Aldert. Psychology and Law:
Truthfulness,Accuracy and Credibility. 2ª ed. Chichester: Wiley, 2003, p. 149.
6

de roubo ao assassinato) realizado na Nova Zelândia em 1998, durante o qual os jurados


foram fornecidos com questionários antes da sessão de julgamento, ao final, após a
deliberação, foram realizadas entrevistas. Uma riqueza de dados foram recolhidos, incluindo
os comentários dos jurados sobre como mal preparados eles se sentiram para o julgamento, as
vantagens de anotações durante o julgamento e a pressão que outros membros do júri
exerceram para se chegar a um veredicto durante as deliberações.

1.1. Influência das Características dos Jurados

Ainda que a investigação feita nos últimos cinquenta anos indique que a valoração do
caso parece depender fundamentalmente das evidências apresentadas, existem diversos
estudos que apontam a influência de algumas características dos jurados, ainda que sejam
evidencias não tão sólidas. Como afirma Fernando de Jesus:
Os jurados, ao comparecerem a um Tribunal, trazem consigo vários
conhecimentos sobre a vida, como tendências de julgamento e estereótipos, que são
reflexos de fatores gerais, o que poderia causar sérios prejuízos a um julgamento
imparcial (Sobral et al, 1990; Kaplan, 1982). Torna-se importante sabermos quais
são as variáveis internas que os jurados trazem consigo e quais as externas a que
eles serão submetidos dentro do processo judicial, sem nos esquecermos de que se
trata de uma decisão de julgamento complexa4.

1.1.1 Origem Racial

Aqui é importante mencionar a teoria da identidade social. De acordo com ela, o senso
de quem são das pessoas vem a partir de suas associações de grupo. Mantemos uma
autoimagem positiva ao enxergar nossos próprios grupos como superiores a outros. Se
aplicarmos esta teoria contexto do júri, pode-se argumentar que os jurados se comportam de
forma mais branda em relação réus com quem eles podem se identificar (chamado de
endogrupo). Conforme afirma o professor Jaume Massip:
Os estudos indicam uma tendência à inclinação do favoritismo endogrupal,
em consonancia com as abordagens da identidade social positiva. Brighman y
Wasserman (1999) fornecem dados sobre a opinião dos americanos no famoso caso
de O. J. Simpson. A amostra que eles examinaram incluía cidadãos de raça branca e
afroamericanos, constatando a influência da raça na opinião sobre o caso. Também
com jurados experimentais se confirma que os jurados de raça branca são mais
benevolentes com acusados de sua mesma raça. São capazes de sentir mais empatia

4 JESUS, Fernando de. Psicologia aplicada à justiça. – Goiânia: AB, 2001, p. 52


7

por eles e realizar atribuições mais situacionais (Johnson, Whitestone, Jackson y


Gatto, 1995). De igual maneira, os jurados de raça negra são mais benevolentes que
os de raça branca quando o acusado é negro (Abshire y Bornstein, 2003).(tradução
do autor) 5
Importante destacar que esta inclinação varia de acordo com a força do lastro
probatório. Se o caso for débil, ambíguo, o jurado tende a condenar a pessoa do exogrupo.
Contudo, se a evidência é mais forte, tende a ser mais severo com o acusado de seu
endogrupo. Este fenômeno acontece em consonância com o efeito da “ovelha negra”. Como
explicam Ray Bull, Amina Memon e Aldert Vrij:
Uma hipótese contrária ao efeito da ovelha negra (Marques, 1990), o qual
ocorre quando um membro do grupo é percebido pelos outros membros do grupo
como uma ameaça a sua autoimagem positiva e portanto é visto ainda mais
negativamente que um acusado que é de outro grupo(tradução do autor) 6.

De acordo com as referidas teorias o professor Fernando de Jesus cita um dado


encontrado em uma pesquisa:
Ugwnegbu (1979) em seu estudo de interação entre a raça da vítima, a do
acusado e a do jurado, encontrou o fato de que, quando a vítima e os jurados são
brancos, estes julgam os negros com maior rigor, se a evidência é duvidosa; quando
os jurados são negros, a vítima é negra e o acusado é branco, com a evidência
equilibrada ou favorável para a culpabilidade, julga-se o acusado como mais
culpado7.

É importante destacar que existem dois fatores que determinarão em que medida o
efeito racial, mas não apenas racial, de esteriótipos como um todo, influenciará na tomada de
decisão pelos jurados: ambiguidade da evidência e composição dos jurados. Como afirma o
Bryan Edelman:
Esteriótipos são improváveis de se manifestarem em decisões finais quando
uma clara estrutura normativa é desenvolvida que impeça decisões heurísticas

5 Texto original: “Los estudios indican una tenndencia al sesgo del favoritismo endogrupal, em
consonancia com los planteamintos de la identidad social postiva. Brighman y Wasserman (1999) aportan datos
sobre la opinión de los estadounidenses em el famoso caso de O. J. Simpson. La muestra a la que encuestaron
incluía ciudadanos de raza blanca y afroamericanos, constatando la influencia de la raza em la opinión sobre el
caso. También con jurados experimentales se confirma que los jurados de raza blanca son más benevolentes con
acusados de su misma raza. Son capaces de sentir más empatía hacia ellos y realizar atribuciones más
situacionales (Johnson, Whitestone, Jackson y Gatto, 1995). De igual manera, los jurados de raza negra son más
benevolentes que los de raza blanca cuando el acusado es negro (Abshrie y Bornstein, 2003).” MASIP, Jaume et
al. Psicología Jurídica. Madrid: Pearson Educación, 2006, p 167.
6 Texto original: A counter hypothesis is the black-sheep effect (Marques, 1990), which occurs when an
in-group member is perceived by other members of the group as a threat to their positive self-image and
therefore is viewed even more negatively than a defendant who comes from an out-group” BULL, Ray;
MEMON, Amina; VRIJ, Aldert. Psychology and Law: Truthfulness,Accuracy and Credibility. 2ª ed. Chichester:
Wiley, 2003, p. 153
7 JESUS, Fernando de. Psicologia aplicada à justiça. – Goiânia: AB, 2001, p. 55-56
8

baseadas na raça (ex. A compreensão das instruções é alta); evidência é forte em


uma direção ou em outra (ex., ou fortemente suporta uma sentença de vida ou
morte); tensão racial e os ideais dos jurados é saliente (ex., um jurado negro está no
júri); e sentenças baseadas na raça não podem ser racionalizadas (ex., instruções aos
jurados fornecem orientações detalhadas para avaliar a evidencia e chegar a uma
decisão). Esteriótipos são mais prováveis de ter um impacto em decisões quando a
compreensão das instruções é baixa, o júri é todo branco, jurados são ”liberados”
pela evidencia, e sentenças baseadas na raça podem ser racionalizadas (ex., as
instruções não fornecem muita orientação). Sob essas condições, a estrutura
normativa é fraca, e ideias dos jurados brancos são menos prováveis de suprimir os
efeitos dos esteriótipos nas suas posições pré-deliberação. Como resultado, as
posições pré-deliberação são prováveis de se manifestarem no produto final da
sentença. (tradução do autor)8.

1.1.2 Autoritarismo

Alguns estudos foram realizados para investigar como o autoritarismo influencia no


veredito. Basicamente o autoritarismo implica uma reação negativa aos que se desviam do
cumprimento das normas. Assim, logicamente, estudos apontam que pessoas mais autoritárias
tendem a ser mais serveras (Mitchell y Bryne9, 1973). Também há uma tendência em ser mais
benevolente quando o acusado é uma figura de autoridade, como por exemplo, um policial
(Hamilton10, 1978). Há que se ressaltar ainda que existe um tipo específico de autoritarismo
que influencia ainda mais, que é o autoritarismo legal, consistente em não assumir a
presunção de inocência e não aceitar os procedimentos para resguardar os direitos do
processado. Como afirma Fernando de Jesus:
Foram realizados estudos com jurados reais e com falsos jurados, à procura
de relações entre atitudes políticas conservadoras e jurados com características de
personalidade autoritária, encontrando-se que estes tendem a ser mais severos, em
seus vereditos individuais, que os jurados que possuem atitudes políticas mais

8 Texto Original: “Stereotypes are unlikely to manifest themselves in final sentencing decisions when a
clear normative structure is developed that constrains race-based decision heuristics (i.e., instruction
comprehension is high); evidence is strong in one direction or the other (i.e., either strongly supports a life or
death sentence); racial tension and jurors’ egalitarian ideals are made salient (i.e., a black male is on the jury);
and race-based sentencing cannot be rationalized (i.e., jury instructions provide detailed guidelines for
evaluating evidence and reaching a decision). Stereotypes are most likely to have an impact on decisions when
instruction comprehension is low, the jury is all white, jurors are “liberated” by the evidence, and race-based
sentencing can be rationalized (i.e., the instructions do not provide much guidance). Under these conditions, the
normative structure is weak, and white jurors’ egalitarian ideals are less likely to suppress the effects of
stereotypes on their pre-deliberation sentence positions. As a result, pre-deliberation sentence positions are likely
to carry over into the final sentence outcome.” EDELMAN, B.C. Racial Prejudice, Juror Empathy, and
Sentencing in Death Penalty cases. New York: LFB Scholarly Publishing LLC, 2006. p. 74
9 MITCHELL, H. E., BRYNE, D. (1973). The defendant’s dilemma: Effect of juror’s attitudes and
authoritarism on judicial decisions. Journal of Personality and Social Psychology, 25, 123-129.
10 HAMILTON, V. (1978). Obedience and responsability: A jury simulation. Journal of Personality and
Social Psychology, 46, 126-146
9

liberais (Nemeth e Sosis, 1973). Uma das distorções-traços mais estudadas é o


autoritarismo. As primeiras investigações previniram que os jurados com atitudes
conservadoras e autoritárias seriam menos indulgentes e mais punitivos do que os
jurados de atitudes liberais11.

Ainda sobre o tema, elabora Sonia Chopra e outros:


Uma meta análise da literatura correlacionando personalidade autoritária
com o veredito sugere que juris autoritários são significativamente mais prováveis
em condenar que jurados que são menos autoritários (Narby, Cutler, E Moran,
1993). Se um considerar um tipo específico de personalidade autoritária, o
autoritarismo legal, a relação entre essa característica de personalidade e o veredito
é ainda maior. (Narbyet al., 1993) (tradução do autor)12.

1.1.3 Sexo e Idade

Sobre tais aspectos existem estudos que apontam que existe maior benevolência por
parte das mulheres, exceto em caso de estupro. Nessa esteira, afirma Fernando de Jesus que
“em relação ao sexo, alguns estudos apontam uma maior benevolência por parte da mulher
(Efran, 1974; Davis et al, 1975)”13.
Com relação a idade existem estudos que demonstram ser os jovens mais benevolentes
e os anciãos mais severos. Contudo existem estudos também que não encontram efeitos
significativos provocados pela variável idade. Nas palavras de Fernando de Jesus:
A idade tem demonstrado uma distorção em direção à benevolência, em
jurados jovens (Simon, 1967, Sealy e Cornish, 1973). Os jurados de
aproximadamente trinta anos, particularmente aqueles que possuem pouca
experiência anterior de Tribunal de Júri (Sealy e Cornish, 1973), tendem a ser mais
benevolentes que os de maior de idade. Alguns estudos não encontram diferenças
em relação à idade (Reed, 1965). A participação dos mais jovens e dos mais velhos
é menor, existindo uma relação direta entre idade e recordação de fatos e instruções
judiciais (Gray e Ashmore, 1976; Perond e Hastie, 1983). Adkins (1968-12969)
ressalta que os anciões são benevolentes em geral, porém em casos penais são
severos14.

11 JESUS, Fernando de. Psicologia aplicada à justiça. – Goiânia: AB, 2001, p. 56


12 Texto original: A meta-analysis of the literature correlating authoritarian personality with verdict
suggests that authoritarian jurors are significantly more likely to convict than jurors who are less authoritarian
(Narby, Cutler, & Moran, 1993). If one considers a specific type of authoritarian personality, legal
authoritarianism, the relationship between this personality characteristic and verdict is even stronger (Narbyet
al., 1993) CHOPRA, S. R. et al. Juros and Juries: A Review of the Field. In: OGLOFF J. R. P. (Ed.). Taking
psychilogy and law into the twenty-first century. New York: Kluwer Academic Publishers, 2002. p. 228
13 JESUS, Fernando de. Psicologia aplicada à justiça. – Goiânia: AB, 2001, p 57.
14 Idem, Ibidem.
10

1.2 A figura do acusado

A percepção do acusado é influenciada principalmente por sua origem racial e por ter
ou não antecedentes criminais. Geralmente a impressão que os jurados possuem sobre o réu
frequentemente é negativa simplesmente pelo fato de ser réu. Sobre o tema, discorre Neil
Brewer:
Em horas, jurados podem usar informação irrelevante para o julgamento
para fazer julgamentos. Atributos pessoais, assim como atratividade física, raça, e
status socioeconômico do acusado pode influenciar um processo de formação de
decisão dos jurados e afetar o veredito. Muitos estudos empíricos têm agora
explorado se esses fatores contaminam as decisões dos jurados (ex., Kalven e Zeisel,
1966; MacCoun, 1990)(tradução do autor).15.

1.2.1 Origem Racial

Este tema tem sido um dos mais analisados, dado que as linhas principais de
investigação provém de uma sociedade racialmente heterogênea, como a americana.
Novamente há que falar em tendências de favorecimento endogrupal. Quando coincide a raça
do acusado com a da maioria dos membros do jurado, o acusado pode ter uma posição
favorável. O contrário também é verdadeiro. Nas palavras de Jaume Massip:
Esta inclinação negativa para o grupo externo tem sido observada em um
grande número de estudos, embora ela tende a se manifestar quando a evidência no
caso é fraca ou ambígua. No entanto, como já mencionado, quando se fala das
características sociodemográficas do júri, quando a culpabilidade do réu é clara, a
semelhança leva para que o júri queira ser mais severo(tradução do autor) 16.
Importante mencionar que hoje em dia o preconceito racial tende a se manifestar de
forma indireta. Com o desejo de não se passar por racistas existe a tendência de querer
esconder o preconceito. Isto ocorre especialmente se a questão racial tem importância e ainda
mais, quando argumentos raciais estão presentes nos discursos da defesa e acusação. Nessas
situações especiais pode ser que os cidadãos queiram não passar a imagem de racistas. Mas

15 Texto original: “At times, jurors may use information irrelevant to the trial to make trial judgments.
Personal attributes, such as physical attractiveness, race, and socioeconomic status, of a defendant can influence
a juror’s decision-making process and affect the verdict. Many empirical studies have now explored whether
these extraevidentiary factors bias jurors’ decisions (e.g., Kalven & Zeisel, 1966; MacCoun, 1990)” BREWER,
N.; WILLIAMS, K. D. Psychology and Law: An Empirical Perspective. New York: The Guilford Press, 2005, p
386.
16 Texto original: “Este sesgo negativo hacia el exogrupo se ha observado em un gran número de estudios,
aunque tiende a manifestarse cuando la evidencia del caso es débil o ambígua. Sin embargo como ya se comentó
al hablar de características sociodemográficas del jurado, cuando la culpabilidad del acusado es clara, la
semejanza lleva a que el jurado quiera ser más severo” MASIP, Jaume et al. Psicología Jurídica. Madrid:
Pearson Educación, 2006, p 181.
11

quando a questão de origem racial do acusado não seja relevante, cabe esperar que se
manifeste o preconceito nas decisões.
Uma importante observação é que alguns estudos identificaram que quando a raça está
estereotipada ao tipo de crime cometido, os jurados tendem a ver tais acusados mais
negativamente. Nos termos de Neil Brewer e Kipling D. Williams:
É possível que quando acusados cometerem crimes que são
estereotipicamente associados com a raça deles/delas, os jurados os vêm em uma luz
mais negativa, por conseguinte castigando esses acusados mais severamente
(Gordon, Bindrim, McNicholas, & Walden, 1988). (tradução do autor) 17.

Para concluir o tópico, resumindo os efeitos que algumas características dos jurados e
do acusado podem influenciar no julgamento, cabe destacar um trecho da obra de Neil
Brewer e Kipling D. Williams:
Além de semelhanças de um jurado para o réu, certos aspectos do crime também
pode determinar se um jurado será tendencioso contra um acusado de uma raça
determinada. Por exemplo, um estudo examinou os efeitos de raça do réu em juízos
de jurados simulados brancos e negros (Sommers & Ellsworth, 2000). Os
pesquisadores manipularam se as questões raciais eram salientes. Eles descobriram
que quando as questões raciais eram salientes, a raça do réu não influencia nas
decisões dos participantes brancos. No entanto, quando as questões raciais não eram
salientes, os participantes brancos avaliaram o réu negro a ser mais culpado,
violento e agressivo do que o réu branco. Participantes negros eram mais propensos
a ser mais branda para o réu negro do que o acusado branco. Os pesquisadores
concluíram que os brancos eram mais motivados para aparecer não preconceituosos
quando as questões raciais foram enfatizadas do que quando não foram enfatizadas.
Assim, fatores extralegais afetam as decisões de jurados, e a apresentação dos fatos
do caso pode também interagir com os fatores extralegais para produzir preconceito.
(Sommers & Ellsworth, 2000)18. (tradução do autor).

17 Texto Original: It is possible that when defendants commit crimes that are stereotypically associated
with their race, jurors view them in a more negative light, consequently punishing those defendants more
severely (Gordon, Bindrim, McNicholas, & Walden, 1988)” BREWER, N.; WILLIAMS, K. D. Psychology and
Law: An Empirical Perspective. New York: The Guilford Press, 2005, p 387.
18 Texto original“In addition to a juror’s similarities to the defendant, certain aspects of the crime can also
determine whether a juror will be biased against a defendant of a particular race. For example, one study
examined the effects of defendant race on judgments of white and black mock jurors (Sommers & Ellsworth,
2000). The researchers manipulated whether racial issues were salient. They found that when racial issues were
salient, the defendant’s race did not influence white participants’ decisions about the defendant. However, when
racial issues were not salient, white participants rated the black defendant to be more guilty, violent, and
aggressive than the white defendant. Black participants were more likely to be more lenient toward the black
defendant than the white defendant. The researchers concluded that whites were more motivated to appear
nonprejudiced when racial issues were emphasized than when they were not emphasized. Thus, extralegal
factors affect juror decisions, and the presentation of the case facts may also interact with the extralegal factors
to produce bias (Sommers & Ellsworth, 2000)”.BREWER, N.; WILLIAMS, K. D. Psychology and Law: An
Empirical Perspective. New York: The Guilford Press, 2005, p 388.
12

1.2.2 Antecedentes Penais

Ora, não existe muita dúvida de que os jurados terão uma impressão negativa do
acusado quando saibam que ele possui antecedentes penais, especialmente se os antecedentes
se relacionam diretamente com o crime em questão. Jaume Masip afirma que:
A influência desse fator parece refletir tanto na opinião de culpabilidade que
defendem os jurados como no veredito depois da deliberação. Assim o indicam
estudos com jurados experimentais (Borgida y Park, 1988) e com jurados reais
(Barnett, 1985).(tradução do autor)19.
Ainda sobre o tema, colacionando diversos estudos, Fernando de Jesus escreve:
Os antecedentes do acusado também foram motivo de estudo. Foram
encontradas influências significativas deles na sentença ou veredito em um estudo
de campo realizado por Hagan (1974), tendo o mesmo controlado estatisticamente
outras variáveis. Em 10% dos casos, os jurados condenam, baseando-se nos
antecedentes do acusado (Kalven e Zeisel, 1966). Em outro estudo foi constatado
que embora o juiz instruísse os jurados, ao informar os antecedentes do acusado, a
taxa de culpabilidade era maior do que se não o fizesse (Doob e Krischenbaum,
1972)20.

1.2.3 Atratividade

De acordo com os resultados de uma meta-análise que exploram a influência das


características do acusado em julgamentos por jurados, uma das das maiores vantagens que
um réu pode ter é simplesmente ser fisicamente atraente (Mazzella & Feingold, 199421). Os
pesquisadores examinaram 25 estudos que avaliaram os efeitos de atratividade física em
julgamentos dos jurados. Em júris simulados, os jurados foram menos propensos em
considerar réus fisicamente atraentes culpados do que aqueles que eram fisicamente pouco
atraentes (Mazzella & Feingold, 1994). Existe certa evidencia de que ser não atraente está

19 Texto Original: La influencia de este factor parece reflejarse tanto em la opinión de culpabilidad que
defiendem los jurados como em el veredicto tras la deliberación. Así lo indican estudios com jurados
experimentales (Borgida y Park, 1988) y com jurados reales (Barnett, 195)” MASIP, Jaume et al. Psicología
Jurídica. Madrid: Pearson Educación, 2006, p 182.
20 JESUS, Fernando de. Psicologia aplicada à justiça. – Goiânia: AB, 2001, p 58.
21 MAZELLA, R., & FEINGOLD, A. (1994). The effects of physical attractiveness, race, socioeconomic
status, and gender of defendants and victims on judgments of mock jurors: A meta-analysis. Journal of Applied
Social Psychology, 24, 1315–1344.
13

relacionada com a criminalidade (Bull & Rumsey, 198822), o que pode explicar por que a
atração é vantajosa. Se réus atraentes forem condenados, eles podem receber punições mais
brandas do que réus não atraentes (Mazzella & Feingold, 1994). Importante ressaltar que, nas
palavras de Neil Brewer e Kipling D. Williams:
No entanto, as punições que os jurados atribuiram ao acusado são
significativamente diferentes dependendo do tipo de crime. No geral, o preconceito
de atratividade estende-se a punições para crimes como roubo, estupro e adultério;
no entanto, os réus atraentes receberam punições mais duras do que os réus pouco
atraentes em casos de homicídio por negligência e estelionato (Bray, 1982; Efran,
1974; Jacobson, 1981; Jacobson & Popovich, 1983; MacCoun, 1990; Mazzella &
Feingold, 1994; Skinner, 1978 )(tradução do autor)23.
Sobre o tema, segundo Fernando de Jesus:
A atração sexual do acusado influi mais nos homens do que nas mulheres
(Efran, 1974; Penrod e Hastie, 1983); os acusados com menor atração possuem
maior possibilidade de serem condenados e recebem sentenças maiores (Rumsey e
Castore, 1974; Kaplan e Kemmerick, 1974; Berg e Vidmar, 1975). Os efeitos
negativos do acusado que não possui atração é multiplicado, caso o jurado seja
autoritário (Berg e Vidmar, 1975).24

1.3 As características das vítimas

O processo de decisão dos jurados é menos influenciado pela impressão que a vítima
causa, em comparação com as características dos próprios membros do Conselho de Sentença
e dos acusados. Os estudos mostram a contribuição do gênero, origem racial. Também a
vitimização expressada junto com o atrativo social da vítima pode contribuir para que a ela
seja atribuída a responsabilidade pelo crime.

1.3.1 Gênero e origem racial

22 BULL, R., & RUMSEY, N. (1988). The social psychology of facial appearance. New York: Springer-
Verlag.
23 Texto Original: However, the punishment jurors assigned to the defendant differed significantly
depending on the type of crime. Overall, the attractiveness bias extends to punishments for crimes such as
robbery, rape, and cheating; however, attractive defendants received harsher punishments than did unattractive
defendants in cases of negligent homicide and swindling (Bray, 1982; Efran, 1974; Jacobson, 1981; Jacobson &
Popovich, 1983; MacCoun, 1990; Mazzella & Feingold, 1994; Skinner, 1978). BREWER, N.; WILLIAMS, K.
D. Psychology and Law: An Empirical Perspective. New York: The Guilford Press, 2005, p 386.
24 JESUS, Fernando de. Psicologia aplicada à justiça. – Goiânia: AB, 2001, p 56.
14

Parece existir maior tendência a ser severo com o acusado quando a vítima do delito é
uma mulher. Este é um dos dados mais consistentes da meta-análise de Mazzela y Feingold25
(1994).
Ademais, a psicologia jurídica tem ressaltado que uma das piores condições para um
acusado é que sua origem racial seja distinta da dos membros do júri e que, ademais, a vítima
pertença ao mesmo grupo racial que os jurados. Como afirma o professor Jaume Masip:
“Consoante o favoritismo endogrupal anteriormente mencionado, os estudos revelam que os
jurados tendem a ser mais serveros quando a origem racial da vítima coincide com as suas
(Bottoms, Davis y Epstein, 2004)”(tradução do autor).26”

1.3.2 Vitimização, atrativo social e crença no “mundo justo”

Existe uma linha de investigação que analisa o impacto que tem a percepção do
sofrimento que o crime gerou na vítima e em seus familiares. Myers y Greene (2004)
destacam que uma grande parte dos dados levam a conclusão de que quanto maior o impacto
do crime maior é a severidade dos jurados. Isso se acentua ainda mais quando a vítima é
descrita como uma pessoal socialmente valorada.
Todavia, existem estudos que demonstram que se o júri percebe o que aconteceu com
a vítima como possível de ter acontecido com eles mesmos, se sentem ameaçados. Nessas
circunstancias pode ser que um processo psicológico inicie-se que culmina com a tendência
em culpar a vítima. É a chamada crença num “mundo justo”. Acreditar nisso significa
considerar que cada um sofre na vida o que merece. Assim, os jurados podem fielmente
acreditar que o que aconteceu com a vítima tenha sido sua própria responsabilidade e culpá-
la. Sobre o tema, Sonia Chopra e outros:
Os pesquisadores têm também demonstrado que as características de
personalidade da ”crença em um mundo justo” (Lerner, 1970) prediz veredito,
apesar de que pode levar o jurado tanto a depreciar a vítima do crime ou

25 MAZELLA, R., & FEINGOLD, A. (1994). The effects of physical attractiveness, race, socioeconomic
status, and gender of defendants and victims on judgments of mock jurors: A meta-analysis. Journal of Applied
Social Psychology, 24, 1315–1344.
26 Texto original: En consonancia com el favoritismo endogrupal anteriormente mencionado, los estudios
revelan que el jurado tiende a ser más severo cuando el origen racial de la víctima coincide com el suyo
(Bottoms, Davis y Epstein, 2004).MASIP, Jaume et al. Psicología Jurídica. Madrid: Pearson Educación, 2006, p
183.
15

severamente punir os réus (Gerbasi, Zuckerman, & Reis, 1977; Moran & Comfort,
1982)(tradução do autor).27

2 Possíveis estratégias para diminuir o efeito dos fatores extralegais

Tendo em vista que diversos fatores que não as evidências e os argumentos utilizados
pelos advogados de defesa e acusação influenciam na decisão dos jurados, deve-se pensar em
adotar formas que atenuem, quando não eliminem por completo, esse indesejado mal. As
estratégias são pensadas em função dos estudos da psicologia social, sem os devidos
argumentos legais.

2.1 Número de Jurados

Aumentar o número de jurados não é uma estratégia que sempre funcionará para todos
os julgamentos, contudo seria uma mudança dotada de logicidade. No Brasil, o Conselho de
sentença é formado por sete jurados. Para evitar que os preconceitos que cada jurado possui
antes do julgamento a respeito de diversos fatores, como por exemplo, a raça do acusado,
sejam o elemento determinante do veredito, faz-se necessário que o júri seja o mais
heterogêneo possível, para que o nível de preconceito esteja devidamente “balanceado”.
Aumentando o número de jurados existe um incremento probabilístico de isso acontecer.
Nesse sentido, comentam Neil Brewer e Kipling D. Williams:
Uma meta-análise deste conjunto de pesquisas sobre o tamanho júri avaliou
17 estudos que testaram se um júri de 6 pessoas difere de um júri 12 pessoas, em
relação às decisões(Saks & Marti, 1997). Júris de 12 pessoas deliberou mais,
recordou mais provas com precisão, gerou mais argumentos, e foram mais
demograficamente representante da comunidade do que o de 6 pessoas. (...) Além
disso, porque um júri de 12 pessoas é mais representativo da comunidade maior do
que um júri de 6 pessoas, é mais provável que contenha maior variedade de opiniões
e conhecimentos(tradução do autor)28.

27 Texto original: Researchers have also demonstrated that the personality characteristic of "belief in a just
world" (Lerner, 1970) predicts verdict, although it can lead jurors to either derogate crime victims or harshly
punish defendants (Gerbasi, Zuckerman, & Reis, 1977; Moran & Comfort, 1982)”. CHOPRA, S. R. et al. Juros
and Juries: A Review of the Field. In: OGLOFF J. R. P. (Ed.). Taking psychilogy and law into the twenty-first
century. New York: Kluwer Academic Publishers, 2002. p. 228.
28 Texto Original: A meta-analysis of this body of research on jury size reviewed 17 studies that tested
whether 6-person juries make decisions that differ from the decisions of 12-person juries (Saks & Marti, 1997).
Juries of 12 people deliberated longer, recalled more evidence accurately, generated more arguments, and were
more demographically representative of the community than 6-person juries. (…) Furthermore, because a 12-
person jury is more representative of the larger community than a 6-person jury, it is more likely to contain a
16

2.2 Procedimento de Seleção dos Jurados

Enquanto aqui no Brasil, após ser o jurado considerado hábil para tal, o controle na
seleção restringe-se basicamente em cada parte eliminar até três jurados, independente de
motivação. Contudo, é de se ressaltar que os únicos dados a que os advogados têm acesso são
o sexo, idade e profissão. É evidente que tais dados ainda que possam ajudar em selecionar os
jurados mais imparciais possíveis, não fornecem informações suficientes para tal.
Nos Estados Unidos, o processo de seleção dos jurados é muito mais extenso, e
chama-se “voir dire”.O que ocorre é a eliminação dos jurados que as partes acreditam ser os
menos objetivos e imparciais, e não a seleção dos mais favoráveis. Para tal, os advogados
dispõem de dois artifícios, o “challenge for cause” e o “peremptory challenge”. O Primeiro
acontece quando o advogado, durante o questionamento, identifica que um jurado
provavelmente tem um preconceito que influenciará na sua capacidade de ser imparcial.
Então, peticiona ao juiz, fundamentando, que exclua-o, o que pode ser deferido ou não. Esse
artifício pode ser usado de forma ilimitada. O outro artifício é o mesmo que existe no
ordenamento jurídico brasileiro, os advogados podem, limitadamente e sem fundamentar,
escolher quais jurados serão eliminados. Sobre o “voir dire”, comenta James Ogloff:
As premissas por trás do voir dire são de que os jurados têm características
identificáveis que vão influenciar a sua decisão em um caso, que os advogados
sabem quais as características dos jurados preverá seus veredictos, e que a remoção
de jurados com estas características resultará em maiores deliberações qualidade do
júri e os veredictos(tradução do autor)29.
Nos Estados Unidos principalmente, têm crescido os estudos na área da psicologia
social, principalmente relacionados com como os jurados chegam às decisões. Os advogados
têm tentado aprimorar a habilidade de identificar e eliminar jurados indesejáveis indo além
dos métodos tradicionais de seleção dos jurados. Utilizando-se da chamada “seleção científica
de jurados” são contratados profissionais especializados para ajudar na eliminação. Tais
profissionais utilizam técnicas de pesquisa da ciência social. Em vez de depender de
generalizações, tentam identificar o pano de fundo e atitudes, relevantes ao caso, dos

range of juror opinions and expertise” BREWER, N.; WILLIAMS, K. D. Psychology and Law: An Empirical
Perspective. New York: The Guilford Press, 2005.
29 Texto Original: The underlying premises of voir dire are that jurors have identifiable characteristics that
will influence their decision in a case, that attorneys know which juror characteristics will predict their verdicts,
and that the removal of jurors with these characteristics will result in higher quality jury deliberations and
verdicts.” OGLOFF, James R. P. Taking Psychology and Law into the Twenty-First Centuy. New York: Kluwer
Academic Publishers, 2004. p. 227.
17

indivíduos que moram na comarca em que será realizado o julgamento. Essa abordagem conta
com uma especifidade maior, o que teoricamente leva a maior habilidade de previsão. Para
tal, são usadas diversas técnicas incluindo pesquisas na comunidade ou até mesmo criar um
júri simulado para examinar a relação entre as características dos jurados e as preferências de
vereditos, para aquele caso específico.
Contudo, atualmente, ainda não se obtiveram resultados satisfativos que comprovem
ser a seleção de jurados uma estratégia efetiva, seja pela pouca quantidade de pesquisas, seja
pela metologia utilizada pelos estudos, seja pelo fato de ainda não se saber precisar
exatamente como cada fator pessoal dos jurados influenciam de forma determinante no
julgamento. Como explica Joel Lieberman e Bruce Sales:
Pesquisas em ciências sociais investigando a eficácia real do ”voir dire” na
seleção do júri produziram resultados mistos. Normalmente, esses estudos envolvem
tanto apresentar a advogados materiais de simulação tais como os perfis de
potenciais jurados e pedindo advogados para prever veredictos (por exemplo,
Olczak et al., 1991), ou comparando o veredicto de um júri real com um composto
por indivíduos excluídos do serviço de júri (por exemplo, Diamond e Zeisel, 1974).
Usando esses tipos de metodologias, vários estudos têm indicado que os advogados
são um pouco eficazes na identificação e eliminação de jurados tendenciosas, e que
os jurados selecionados através do processo de “voir dire” tomam veredictos
diferentes do que aqueles que foram selecionados de forma aleatória (Baldus et al,
2001;. Diamante e Zeisel, 1974;. Padawer-Singer et ai, 1974). No entanto, outra
pesquisa descobriu que os advogados têm dificuldade em identificar os jurados
desfavoráveis, e às vezes executar em um nível chance de essa tarefa (Fulerô e
Penrod, 1990; Kovera et al, 2003;. Olczak et al, 1991;. Zeisel e Diamond, 1978 ; ver
Lieberman e Vendas de 2007 para uma revisão).(tradução do autor).30
Por fim, importante ressaltar que conforme a seleção científica dos jurados vai
avançando e pesquisadores psicossociais prosseguem em entender o comportamento humano,
paulatinamente, será mais fácil identificar jurados tendenciosos. Ademais, podem ser
desenvolvidas medidas de medir atitudes mais específicas, como examinar a influência de
determinadas características em certos tipos de caso. No futuro, com maiores pesquisas

30 Texto Original: “Social science research investigating the actual effectiveness of voir dire jury selection
has produced mixed results. Typically, these studies involve either presenting attorneys with trial simulation
materials such as the profiles of prospective jurors and asking attorneys to predict verdicts (e.g., Olczak et al.,
1991), or comparing the verdict of an actual trial jury to one composed of individuals excluded from jury
service (e.g., Diamond and Zeisel, 1974). Using those types of methodologies, several studies have indicated
that attorneys are somewhat effective at identifying and eliminating biased jurors, and that jurors selected
through the voir dire process render different verdicts than those selected on a random basis (Baldus et al., 2001;
Diamond and Zeisel, 1974; Padawer-Singer et al., 1974). However, other research has found that attorneys have
difficulty identifying unfavorable jurors, and sometimes perform at a chance level at this task (Fulero and
Penrod, 1990; Kovera et al., 2003; Olczak et al., 1991; Zeisel and Diamond, 1978; see Lieberman and Sales,
2007 for a review)”. LIEBERMAN, J. D.; KRAUSS, D. A. Jury Psychology: Social Aspectos of Trial Process.
Farnham: Ashgate, 2009, p 100, 101
18

aplicadas a esta área, seguramente será aprimorada a habilidade de se escolher jurados e então
julgamentos mais imparciais possíveis serão realizados. O produto final de tais avanços e
reformas deve ser um aumento na eliminação de cidadãos com ideias preconcebidas sobre o
acusado e por consequente, um julgamento mais justo para todas as partes do processo. Na
obra “Scientific Jury Selection” (Seleção Científica de Jurados, em português), os autores Joel
Liberman e Bruce Sales dissertam que:
Certamente haverá avanços no campo da psicologia que lhe proporcionarão
melhor compreensão dos fatores que influenciam o comportamento humano. As
aplicações práticas destes avanços são susceptíveis de melhorar a utilidade da
seleção do júri científico, particularmente se os avanços são acompanhados por
formação acadêmica aprimorada”.(tradução do autor)31

3 O efeito da Mídia

Grande parte dos dados confirmam que os jurados se deixam influenciar por
informações que carecem de valor legal, mas que lhes servem para conformar uma opinião
sobre o caso. A maioria deste tipo de informação é adquirida através da repercussão do caso
nos meios de comunicação. Revisões do tema indicam que geralmente esta repercussão afeta
contra o acusado, tendo em vista que existe a tendência de a informação formulada pela
imprensa violar o princípio da presunção de inocência. Quanto maior houver sida a
publicidade do caso em diferentes meios, maior cabe esperar que seja a influência. Na
verdade, não existe problema nenhum no fato da mídia fazer a cobertura do caso. O problema
reside no sensacionalismo, na forma como são veiculadas as informações. Ao noticiar, a
imprensa, principalmente sobre um fato criminoso, termina por construir a opinião de
cidadãos que poderão vir a ser os jurados que julgarão o caso noticiado, colocando a
imparcialidade dos mesmos em dúvida e, portanto, ferindo diretamente o princípio da
presunção da inocência.

Como afirma Álvaro da Costa e Sousa Neto Júnior e outros:


O que se torna preocupante, pois as informações construídas e repassadas
pela mídia, na maioria das vezes é a repetição daquilo que foi, de forma superficial,

31 Texto Original: “There will certainly be advancements in the field of psychology that will give a better
understanding of factors that influence human behavior. The practical applications of these advancements are
likely to improve the utility of scientific jury selection, particularly if advancements are accompanied by
improved academic training.”LIEBERMAN, J. D.; SALES, B. D. Scientific Jury Selection. Washington, DC:
American Psychological Association, 2007, p 209
19

apurado pela polícia, através do inquérito policial, instrumento impróprio, donde


não existe a mínima possibilidade do contraditório e da ampla defesa, impondo ao
acusado a pena irreversível da culpabilidade presumida e que criam grande
relevância no conceito das demais pessoas que acreditam na mídia como verdade
única32.
Na mesma esteira, Flávio Cruz Prates e Neusa Felipim dos Anjos Tavares:
Alguns setores da mídia vistos como supostamente “justiceiros”, antes de
qualquer diligência necessária publicam o nome de possíveis suspeitos atribuindo-
lhes o condão de “acusados” ou mesmo “réus”, sem que estes estejam respondendo
ainda sequer a um processo. Carnelluti já descrevia o que significava para uma
pessoa responder um processo, tendo ou não culpa por um fato: “Para saber se é
preciso punir, pune-se com o processo”. O cidadão nestas circunstâncias, mesmo
que teoricamente acobertado constitucionalmente pelo princípio da presunção de
inocência, se vê em realidade apontado como “culpado” pelos meios de
comunicação de massa, sofrendo enorme exposição e o encargo de poder enfrentar
um Conselho de Sentença maculado por um “jornalismo investigativo” nem sempre
ético e harmonizado com a realidade dos fatos ditos “apurados.33
A meta-análise de Steblay, Besirevic, Fulero y Jiménez-Lorente34 (1999, p. 219-235)
revela que a informação jornalística de caráter negativo afeta a consideração de culpabilidade
do acusado. Um total de 44 estudos com dados por 5755 participantes foram incluídos na
meta-análise. Participantes expostos a publicidade negativa antes do julgamento julgaram o
réu culpado mais do que os outros que não foram. Os estudos que encontram em maior
medida este efeito são aqueles que utilizaram questionários com jurados reais; aqueles em que
a informação do caso incluem vários aspectos negativos (detalhes do crime, antecedentes
penais, difusão de dados incriminatórios, etc.); e em que intervalo temporal entre a
apresentação da informação e a avaliação que faz o jurado foi pequeno.
Sobre o tema, comentam Joel Lieberman e Daniel Krauss:
Mais especificamente, a publicidade negativa antes do julgamento negativo
levou os participantes a verem novas provas como apoiando o lado da acusação. Em
resumo, um número de estudos apontam para os problemas associados com
publicidade antes do julgamento. Os resultados de estudos individuais nesta área são
reforçadas pelos resultados de uma meta-análise feita por Steblay et al. (1999) que
examinou os efeitos globais de publicidade antes do julgamento em todos os 44
estudos envolvendo 5.755 participantes. Steblay et al. descobriu que a publicidade
negativa antes do julgamento estava prejudicando claramente aos réus, e que o
efeito não é limitado a investigações laboratoriais artificiais que podem apresentar

32 BORGES, E. K., et. al. Tribunal do Júri: Influências Psicológicas nas Decisões dos Jurados. Revista
Facnopar, Apucarana, v. 5, n., jan/jul.2014. Disponível em: <www.facnopar.com>. Acesso em: 01/07/2018, p.
17
33 PRATES, F. C., TAVARES, N. F. A., A Influência da Mídias nas Decisões do Conselho de Sentença.
Direito e Justiça. Porto Alegre, v. 34, n.2, jul/dez. 2008.
34 STEBLAY, N. M., BESIREVIC, J. FULERO, S. M. y JIMÉNEZ-LORENTE, B. (1999). The effects of
pretrial publicity on juror veredicts: A meta-analytic review. Law and Human Behavior, 23, p. 219-235.
20

publicidade pouco antes da apresentação de provas no julgamento(tradução do


autor)35.
Todos esses fatores são coerentes com os dados da cognição social. A informação
adquirida proporciona um contexto em que cada indivíduo codifica e retém uma imagem de
um acusado culpado. A informação que os jurados têm antes que se inicie o julgamento é
utilizada como um marco de referência que afetará em como vai interpretar a informação que
seja apresentada durante o julgamento (Hope, Memon y McGregor36, 2004, p. 111-119).
Importante ressaltar que os comentários anteriores são feitos considerando que a
informação veiculada pela mídia tenha sido negativa em relação ao acusado. Contudo, se a
imprensa fornece dados que favorecem a defesa, ocorre um incremento nos estândares
necessários para considerar o acusado culpável. Os que receberam este tipo de informação
requerem uma maior quantidade de dados incriminatórios para poder condenar (Kovera 37,
2002).
Os meios de comunicação difundem o caso e os cidadãos reacionam como indivíduos
mas também como membros de grupos sociais. Os meios de comunicação ecoam essa reação
social ajudando a criar uma percepção de consenso. Se temos isso em conta, a influência da
publicidade que o caso apresente vai mais além da capacidade de formar opinião por difundir
um aspecto concreto dos fatos. Contribui a explicitar prejuízos sociais e favorece processos de
conformidade social no cidadão que vai ser jurado. Alguns elementos de um caso, muitas
vezes amplificados pelo estilo sensacionalista dos meios de comunicação, podem fazer com o
cidadão que chegue a ser jurado tenha um veredito formado antes mesmo de conhecer e
examinar as provas.

4 Procedimentos possíveis para reduzir os efeitos da mídia adotados em outros Países

35 Texto original: More specifically, negative pretrial publicity led participants to view new evidence as
supporting the prosecution’s side. In sum, a number of studies point to the problems associated with pretrial
publicity. The findings of individual studies in this area are strengthened by the results of a meta-analysis done
by Steblay et al. (1999) that examined overall effects of pretrial publicity across 44 studies involving 5,755
participants. Steblay et al. found that negative pretrial publicity was clearly damaging to defendants, and that the
effect is not limited to artificial laboratory investigations that may present pretrial publicity just prior to the
presentation of trial evidence”.LIEBERMAN, J. D.; KRAUSS, D. A. Jury Psychology: Social Aspectos of Trial
Process. Farnham: Ashgate, 2009, p 71.
36 HOPE, L. MEMON, A. y MCGREGOR, P. (2004). Understandig pretrial publicity: Predecisional
distortion of evidence by mock jurors. Journal of Experimental Psychology: Applied, 10, 111-119.
37 KOVERA, M. B. (2002). The Effects of general pretrial publicity on jurors decisions: An examination
of moderators and mediating mechanism. Law and Human Behavior, 26, 43-72.
21

Tendo em conta o efeito extremamente negativo que o sensacionalismo midiático


provoca sobre o caso a ser julgado pelos jurados, várias estratégias não tão efetivas são
utilizadas em diversos países. Com certeza, com o fito de se alcançar maiores patamares de
imparcialidade, de não contaminação pela mídia, maiores pesquisas precisam ser realizadas,
assim como as disciplinas psico sociais devem desenvolver melhores métodos investigativos
a fim de precisamente

4.1 Controle na Seleção dos jurados

Nessa etapa, nos Estados Unidos, se pergunta aos potenciais jurados o que eles leram
e conhecem sobre o caso. Uma opção então seria eliminar aqueles que tivessem uma opinião
formada por aquilo que conhecem através da mídia. Contudo, na maioria dos casos, é
impossível determinar quais não sabem de nada, em casos em que existe muita repercussão.
Por outro lado, selecionar jurados que absolutamente não atendem aos meios de comunicação
não é o ideal. Estar-se-ia confundindo imparcialidade com insegurança.
Na verdade, meramente saber detalhes sobre o caso não é suficiente para identificar
um cidadão como influenciado. O que verdadeiramente se busca é identificar o que sabe cada
jurado e qual sua opinião em relação a tal informação. O problema, como afirma Jaume
Masip é que:
Os candidatos muitas vezes são incapazes de valorar a quantidade de
informação e a repercussão que esta pode ter. Utilizam uma estratégia de
minimização (Vidmar, 2002), respondendo “eu li algo ou ouvi algo” ou “só li o que
saiu na imprensa no princípio”. Geralmente têm uma visão de si mesmos como
pessoas capazes de serem objetivas e por desejabilidade social se preocupam em dar
essa impressão(tradução do autor)38.

Ainda há que se ressaltar que na medida em que se pergunta a um possível jurado sua
opinião sobre o caso baseado no que conhece sobre o mesmo incrementa o efeito da
publicidade. Ao expressar sua opinião sobre o caso, o candidato se sente mais comprometido

38 Texto Original: “el problema es que los candidatos muchas veces son incapaces de valorar la cantidad
de información y la repercusión que esta puede tener. Utilizan una estrategia de minimización (Vidmar, 2002),
respondiendo “algo he leído u oído” o “solo lo que salió al principio em la prensa”. Generalmente tienen una
visión de sí mismos como personas capaces de ser objetivas y por deseabilidad social se preocupan por dar essa
impresión”. MASIP, Jaume et al. Psicología Jurídica. Madrid: Pearson Educación, 2006, p 180
22

com ela (Freedman, Martin y Mota39, 1998, p. 255-270). Como escrevem Ray Bull, Amina
Memon e Aldert Vrij:
Os tribunais nos Estados Unidos costumam usar ”voir dire” para
contrabalancear o impacto da publicidade antes do julgamento, identificando e
excluindo potenciais jurados que indicam que eles não podem ser imparciais. No
entanto, um jurado pode não ter consciência quanto à extensão de terem sido
influenciados pela publicidade e imprecisamente afirmam imparcialidade.(...) No
entanto, como discutido anteriormente, pesquisa em ciências sociais indicam que
“voir dire” é improvável de eliminar completamente o problema da publicidade, e
há evidência de que “voir dire” pode realmente agravar o problema da publicidade,
se os jurados são convidados a expressar inclinações de veredicto antes do
julgamento (Freedman et ai, 1998;. Steblay et al 1999) (tradução do autor)40.

4.2 Atraso do Julgamento

Ainda que não hajam muitos dados sobre a efetividade dessa estratégia, ela se baseia
no fato de que o passar do tempo faz com que o caso não esteja tão presente na mente dos
cidadãos. E parece que pode ser útil em diminuir o impacto dos dados publicados sobre o
caso. Mas, além de tal estratégia ser contra o princípio da razoável duração do processo, um
estudo conclui: “Aumentar a duração do tempo entre a exposição de publicidade preventiva
e apresentação de informações do julgamento reduz o impacto da publicidade factual, mas
não de publicidade orientada de forma neutra ou emocional (Davis, 1986;. Kramer et al,
1990)41.”
4.3 Mudança de Jurisdição

39 FREEDMAN, J. L., MARTIN, C. K., Y MOTA, V. L. (1998). Pretrial Publicity: Effects of


admonitions and expressing pretrial opinions. Legal and Criminological Psychology. 3, 255-270.
40 Texto Original: “Courts in the United States typically use voir dire to counter the impact of pretrial
publicity by identifying and excluding prospective jurors who indicate that they cannot be impartial. However, a
juror may be unaware as to the extent they have been biased by pretrial publicity and inaccurately claim
impartiality.(...) However, as previously discussed, social science research indicates that voir dire is unlikely to
completely eliminate the problem of pretrial publicity, and there is evidence that voir dire may actually
exacerbate the problem of pretrial publicity if jurors are asked to express pretrial verdict inclinations (Freedman
et al., 1998; Steblay et al. 1999).” LIEBERMAN, J. D.; KRAUSS, D. A. Jury Psychology: Social Aspectos of
Trial Process. Farnham: Ashgate, 2009, p 72.
41 Texto Originail: “Increasing the length of time between exposure to pretrial publicity and presentation
of trial information reduces the impact of factualpublicity, but not neutral or emotionally oriented publicity
(Davis, 1986; Kramer et al., 1990).”Idem, ibidem.
23

Pode ser medida extremamente efetiva nos casos em que apenas tenha havido
repercussão local. Contudo, se o caso fica conhecido nacionalmente, fica muito mais difícil se
estabelecer uma comarca onde as pessoas sejam teoricamente mais imparciais42.

4.4 Restrições à própria Mídia

Em alguns países, como Inglaterra e Escócia, o judiciário trata de forma séria qualquer
publicidade prejudicial antes do julgamento. É uma ofensa publicar qualquer coisa que dê
margem à criação de um “risco substancial” que interfira no curso da justiça em qualquer
processo. Na prática, na Escócia nunca teve um caso em que isso foi aplicado com sucesso.
Em um caso, o Tribunal impôs multas de elevada quantia no canal de notícias por ter causado
grande risco de preconceito, e algumas semanas depois, mesmo assim, decidiu que o acusado
seria capaz de receber um julgamento justo. Já na Inglaterra, houve um caso em que o
Tribunal reverteu a condenação de supostos terroristas irlandeses porque o juiz não “liberou”
os jurados após uma onda de publicidades negativas. Sobre o assunto, Joel Lieberman e
Daniel Krauss descrevem:
Leis específicas variam de país para país quanto à extensão de tais restrições.
Algumas nações até mesmo impedem o relato do progresso ou natureza de uma
investigação policial. Assim, quando uma pessoa se torna oficialmente um suspeito,
ele ou ela está livre de qualquer especulação na mídia (D. Canter, personal
communication, July 17, 2007).(tradução do autor)43.
O controle oficial da disseminação de notícias relacionadas ao caso parece ser o
melhor remédio para evitar os danos causados à imagem do réu. Contudo, mesmo que aqui no
Brasil fosse superado o conflito entre o princípio da liberdade de expressão e o do princípio
de inocência, e fosse implementado o bloqueio à mídia, os jurados ainda poderiam acessar
notícias sobre o caso, especialmente os de maior repercussão, tanto pela internet como por
agências de notícias de outros países. Como exemplos, Joel Liberman e Daniel Krauss 44
mostram que em 1993, no Canadá, durante o julgamento de Paul Bernardo por estupro e
assassinato de várias mulheres, mesmo após os membros da imprensa terem sido barrados de

42 MASIP, Jaume et al. Psicología Jurídica. Madrid: Pearson Educación, 2006, p 180
43 Texto original: Specific laws vary from country to country regarding the extent of such restrictions.
Some nations even prevent the reporting of the progress or nature of a police investigation. Thus, once a person
officially becomes a suspect, he or she is free from any further speculation in the media (D. Canter, personal
communication, July 17, 2007)”. LIEBERMAN, J. D.; KRAUSS, D. A. Jury Psychology: Social Aspectos of
Trial Process. Farnham: Ashgate, 2009, p 74.
44 Idem, ibidem,
24

noticiar qualquer detalhe sobre o caso, vinte e seis por cento da população de Ontario
reportou obter informação sobre o caso por publicações de jornais americanos, como o New
York Times e o Washington Post ou de redes televisivas.

CONCLUSÃO

É inegável que o Tribunal do Júri está insculpido sob um ideal democrático. Assim,
aspectos históricos, o ritual e principalmente também a presença dos próprios cidadãos, como
representantes da sociedade, no julgamento dos seus pares justificam a manutenção da
instituição até os presentes dias pois o seu status constitucional é o reflexo de que, há muitos
anos, os representantes do povo ratificam os anseios dos cidadãos.
Para o acusado, a melhor composição do Conselho de Sentença possível seria ideal, a
fim de que lhe seja garantido o julgamento justo. Pelo fato de ser formado por seres humanos,
mais especificamente, sete jurados, o Tribunal do Júri está inevitavelmente sujeito a
interferência de fatores extralegais na busca pelo veredito. Mesmo que de forma inconsciente,
crenças, atitudes e até mesmo a personalidade de cada jurado individualmente podem afetar a
qualidade de uma decisão.
É por meio da análise de diversos estudos e pesquisas, que conclui-se não somente as
evidências apresentadas no caso serem responsáveis pelo veredito final. Vários pesquisadores
na área da psicologia social têm buscado demonstrar que existem diversos outros fatores que
contribuem para que um jurado decida por condenar ou absolver o réu. Através desses
25

estudos é possível que concluir que sim, existem determinados elementos que podem
influenciar os membros do Conselho de Sentença a tomarem suas decisões. São eles: as
condições sociodemográficas e especialmente os fatores psicossociais dos jurados, o tipo de
publicidade que tenha tido o caso, a impressão que causa o acusado e, em menor medida,
algumas características da vítima. Apesar dos estudos possuírem limitações, conclui-se que
tais fatores influenciam em maior ou menor medida, dependendo do tipo do caso, e
especialmente da força das evidências apresentadas. Quanto mais ambíguas as provas,
maiores as chances de exercerem papel importante na formação da íntima convicção.
No que se refere aos atributos dos jurados, pode-se concluir quanto a origem racial
que se os jurados forem da mesma raça que o acusado, em consonância com a teoria da
identidade social positiva, é provável que sejam mais benevolentes. Contudo, se o caso
apresentar evidências fortes em desfavor do réu, os jurados tendem a condenar e serem mais
severos com o acusado de sua mesma raça. Fenômeno este explicado pela teoria da ovelha
negra.

Quanto ao traço da personalidade autoritária, conclui-se que pessoas mais autoritárias


são mais severas, e que tende-se a ser mais benevolente com acusados que são figuras de
autoridade.
A respeito do sexo e idade dos jurados, alguns estudos apontam que as mulheres
tendem a ser mais benevolentes, enquanto que em relação a idade, tendem os jovens a serem
mais benevolentes e os anciãos mais severos. Importante destacar que outros estudos não
encontraram influência no veredito da variável idade.
Quanto a figura do acusado, pode-se destacar que o fato de possuir antecedentes
reflete de maneira negativa no julgamento, principalmente se são relacionados com o caso em
questão. Outro ponto é a sua atratividade. Estudos demonstram que ser atrativo é uma
vantagem para o réu, os jurados são mais benevolentes.
Com relação à vítima, um estudo identificou maior severidade quando: é mulher; e
também caso é grave e atinge fortemente seus familiares. Por outro lado, alguns cidadãos
podem ter a crença no mundo justo, e por consequência tendem em considerar que a vítima é
responsável pelo lhe aconteceu, consequentemente sendo mais benevolentes com o acusado.
26

Para reduzir ou até mesmo eliminar a influência desses fatores, partindo de


argumentos psicossociais apenas, sem entrar na discussão sobre a constitucionalidade e
legalidade das seguintes medidas, pode-se sugerir duas principais mudanças. Primeiro, que se
aumente o número de jurados, sob o simples argumento de o Conselho de Sentença ser o mais
heterogêneo possível, assim equilibrando possíveis preconceitos que possam ter os jurados
individualmente. Segundo, que seja introduzido no Brasil um modelo de seleção de jurados
semelhante ao que existe nos Estados Unidos da América. Que os advogados possam
formular perguntas aos candidatos a serem jurados, a fim de identificar quais deles já estão
influenciados, propensos a votar contra seus respectivos clientes, assim como individualmente
a cada um fornecer um questionário a ser preenchido. Esta última técnica permite que os
jurados sejam mais honestos, por não sentirem a pressão de responder abertamente na frente
dos outros e do juiz.
É certo que apesar de o processo de seleção dos jurados, nos Estados Unidos, ainda
não ter tido resultados que comprovem produzir decisões mais imparciais, tal método possui
potencial. No futuro, haverá avanços no campo da psicologia que lhe proporcionarão melhor
compreensão dos fatores que influenciam o comportamento humano. As aplicações práticas
destes avanços são susceptíveis de melhorar a utilidade da seleção do júri, particularmente se
os avanços são acompanhados por melhores formações acadêmicas dos profissionais.
Por fim, cabe ressaltar que a mídia desempenha papel fundamental na formação de
opinião dos cidadãos. Grande parte dos dados confirmam que os jurados se deixam
influenciar por informações que carecem de valor legal, mas que lhes servem para conformar
uma opinião sobre o caso. A questão não é a cobertura jornalística que ocorre antes do
julgamento. O problema reside no sensacionalismo, na forma como são veiculadas as
informações. Ao noticiar, a imprensa, principalmente sobre um fato criminoso, termina por
construir a opinião de cidadãos que poderão vir a ser os jurados que julgarão o caso noticiado,
colocando a imparcialidade dos mesmos em dúvida e, portanto, ferindo diretamente o
princípio da presunção da inocência.
A fim de atenuar tais efeitos, mostra-se algumas medidas que outros países tomam:
controle na seleção dos jurados; atraso do julgamento; mudança de jurisdição e restrições à
própria mídia. Dentre elas, apesar das limitações que cada uma possui, as mais promissoras
27

são o controle na seleção dos jurados que tenham sido fortemente influenciados pelas notícias
e à restrição a própria mídia, a exemplo de como fazem Inglaterra e Escócia.
Por final, cabe concluir que no Brasil a área de pesquisa ainda é muito incipiente.
Todos os dados utilizados neste trabalho foram obtidos de trabalhos realizados no exterior, a
maioria nos Estados Unidos. Para que seja possível traçar estratégias mais concernentes à
realidade brasileira, é necessário que este campo da psicologia social ganhe impulso, e que
diversos estudos sejam realizados, buscando identificar quais traços influenciam de forma
determinante o jurado brasileiro a formar sua opinião sobre o acusado.

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