DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CURITIBA
2015
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CURITIBA
2015
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CDU 658
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TERMO DE APROVAÇÃO
Agradecimentos
Começo por minha família. Pais, irmã, marido e filho, os quais me incentivam
em todos os projetos, e dessa vez não foi diferente. Obrigada por compreenderem
meus propósitos de vida e serem a razão maior de todas as minhas tentativas de
evolução. Saibam que a confiança no apoio incondicional de vocês, transcende todo
o medo e todo o cansaço. Ao Fábio, pesquisador competente e experiente, que
desde o início respeitou as limitações naturais de uma recém-chegada ao mundo
acadêmico, e que me introduziu e me guiou – com imensa habilidade e sabedoria -
no prazeroso percurso do estudo da teoria habermasiana, o qual tenho convicção de
estar ainda nos primeiros passos, o meu mais profundo reconhecimento. Aos meus
professores, os raros, que desde as primeiras aulas empenharam-se em mais que
transmitir, mas em proporcionar a inquietação necessária para que, ao procurar por
respostas, eu compreendesse que as descobertas que se faz no caminho são tão ou
mais importantes que as respostas finais, se é que elas existem. Especialmente aos
professores Rene e Samir, os quais além de brilhantes acadêmicos, são exemplos
de dedicação e generosidade. Todos terão para sempre um lugar especial nas
memórias que levarei do meu mestrado, deixo registrados a minha admiração e
agradecimento pelas significativas contribuições ao meu trabalho.
Na verdade, quem luta apenas na esperança de bens materiais não colhe nada que
valha a pena viver.
Antoine de Saint-Exupéry
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Resumo
Palavras-chave
Abstract
This study discusses the discursive construction process in a political public sphere
intended for the planning and management of the Agenda 21 for Paraná. This
represents the local layer of the global agreement signed by 179 nations at the
time of Rio-92 for the establishment of common goals of global development for the
21st century, which considers, with the economic dimension, environmental limits
and social injustices. Based on the critical theory of Habermas and assuming a
counter-hegemonic posture from that observed in the mainstream of the Brazilian
Academy of Administration, the central argument is that the sustainability discourse
is subject to mechanisms of coercion and system domination, which hinder the
establishment of legitimate agreements that would bring about an emancipated
society. In this sense, the aim of the study was to uncover how the mechanisms in
this public sphere operate, in time for the public participatory planning of
sustainability in the context of Paraná, in the light of Habermas’ theory of
communicative action. Since a qualitative approach is taken to the present
research, its empirical component features ideographic procedures, aiming to keep
an epistemological consistency in relation to the theoretical framework. The
principal evidence demonstrates that, despite the strengthening of a participatory
democratic model in the direction of sustainable development that the forum
represents, the orientation in its communicative processes reflects the strategic
interests of dominant groups. Such interests prevent this sphere of public
deliberation from fostering integral and autonomous communicative action. This
being so, we might infer that the sustainability discourse produced by the forum
does not express the voices of all groups in society. In this sense, we highlight the
disregard of the interests of the traditional communities, which historically have
been more vulnerable to the consequences of developmental models. The
conclusion of the study is that two coercive forces stand out. The interests of
private initiatives characterize the first, where the absence from the debate of the
companies and institutions that represent them weakens the plurality required in a
deliberative democratic process of public policies on sustainability. The role of the
State shows up the second; this role demonstrates the interest by its control over
the social processes of participation by formal authority, even keeping the forum
within the physical limits of its structure. Besides, the representatives of the State
act to restrict the application of resources through which the forum would otherwise
expand its penetration, impeding a wider participation by the society of Paraná
state.
Keywords
Sumário
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 17
1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA ..................................... 24
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ...................................................................... 24
1.3 JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 25
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................. 26
Lista de figuras
Lista de tabelas
Abreviaturas e siglas
Abreviatura/ Significado
Sigla
Abreviatura/ Significado
Sigla
1 INTRODUÇÃO
1
Algumas vezes, tais metas estão igualmente relacionadas às duas questões simultaneamente,
como é o caso do ODS 8 – Fome zero e agricultura sustentável.
19
Para dar conta de tal intento, a principal orientação teórica do estudo foi a
Teoria do Agir Comunicativo (TAC), de Jürgen Habermas. Nesta perspectiva teórica
é observado que a possibilidade de acordos reais e duradouros entre o governo e a
sociedade – que sejam livres de mecanismos de dominação – está depositada na
viabilidade das condições para que se atinja um processo argumentativo livre e
legítimo. Assim sendo, o discurso consensual e coletivamente criado, conforme
Habermas, é dependente de uma atitude de cooperação entre os sujeitos e está
fundamentado no emprego da racionalidade comunicativa.
1.3 JUSTIFICATIVA
2
Este ponto será mais detalhado no capítulo seguinte, na subseção que trat a de um breve
levantamento sobre a produção acadêmica brasileira sobre sustentabilidade.
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2 REVISÃO TEÓRICA
maneira, as seções que se seguem têm por finalidade central situar e delimitar o
problema de pesquisa no domínio teórico no qual se pretende concomitantemente
fundamentar os argumentos da pesquisa e sustentar as conclusões alcançadas a
partir dos dados empíricos.
Além disso, outro fato é de grande relevância para esta escolha. Nos últimos
anos, a ANPAD tem se organizado pela estrutura de divisões representando
subáreas de interesse dos programas associados e, estas, por sua vez, têm se
organizado a partir de temas propostos pelos associados individuais nas reuniões de
30
Assim, fazendo uma análise a partir deste contexto, a tendência das divisões
ESO, GCT e GOL é a de ancorar seus posicionamentos em abordagens mais
gerencialistas. As divisões Administração Pública (APB) e Estudos Organizacionais
(EOR) são as que, historicamente, apresentam trabalhos amparados em uma visão
mais crítica. Desta forma, os trabalhos apresentados nestas últimas duas divisões
foram detalhadamente analisados quanto a natureza dos temas, objetivando
conhecer em maior profundidade o que se têm refletido e pesquisado no Brasil
acerca da sustentabilidade, considerando o potencial de uma abordagem crítica
sobre o tema.
32
A maior parte dos estudos em APB e EOR caracteriza-se por ensaios teórico-
empíricos, verificando-se a presença de quatro estudos quantitativos, incluindo um
estudo bibliométrico. Pode-se observar que o volume de trabalhos ligados a
sustentabilidade nestas duas divisões foi aumentando gradativamente ao longo do
período levantado (figura IV). A tendência constatada nos trabalhos apresentados
em 2014 é a de circunscrever a sustentabilidade dentro de um contexto social, suas
inter-relações e fundamentos epistemológicos. Esta mesma tendência não se
verifica nestas divisões acadêmicas nos anos anteriores, ao contrário, durante o
período de 2010 a 2013 observa-se que o esforço científico ocorreu no sentido de
formular e aplicar frameworks prescritivistas de gestão da sustentabilidade, além da
criação de modelos com indicadores setoriais e regionais para mensurar o impacto
de processos administrativos e operacionais implementados como consequência das
mudanças trazidas com a sustentabilidade.
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Nosso entendimento é de que a área – mesmo nas divisões APB e EOR, que
são tradicionalmente mais críticas – é predominantemente voltada para uma visão
prescritivista e gerencial da sustentabilidade, centrada em modelagens tecnicistas e
retoricamente defendidas como soluções para o problema da sustentabilidade, e
revela a força de um mainstream hegemônico e voltado para os interesses de
mercado no campo acadêmico. E essa suposição é reforçada pelo estudo
bibliométrico realizado por De Luca, Cardoso, Vasconcelos e Pontes (2014), que
abrangeu além dos trabalhos apresentados no EnANPAD, artigos publicados em
periódicos com conceito Qualis/Capes B2 para o triênio 2010-2012. Este estudo, em
síntese, demonstra que a produção científica brasileira em Administração sobre o
tema sustentabilidade, no período entre 2003 e 2010, preocupou-se com a criação
de modelos propostos pelos próprios autores analisados, principalmente no que
tange a formulação de métricas de avaliação e dimensionamento de impacto
socioambiental de ações organizacionais. Isto confirma a tendência dominante até
2013 de construção de modelos e frameworks de gestão da sustentabilidade, que
suportam a pretensa conciliação entre o interesse gerencialista e as questões
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Outro ponto abordado nesta seção diz respeito à revisão histórica do fórum
objeto do presente estudo - Fórum Permanente da Agenda 21 do Paraná -
considerando sua particular natureza política, ou seja, enquanto modelo de
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de Kyoto. Nesta conferência foi decidido que as bases do protocolo seriam revistas
até 2015 para entrarem em vigor apenas a partir de 2020.
A Agenda 21 tem sua origem na Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento ou Rio-92. Foi criada como um termo de
compromissos sobre o desenvolvimento de sociedades sustentáveis, supostamente,
expressando o desejo de mudança do atual modelo de civilização para outro que
predomine o equilíbrio ambiental e a justiça social (BEZERRA e FERNANDES,
2000). Os esforços desta conferência resultaram em um instrumento de
planejamento, por meio do qual as nações signatárias se comprometem em facilitar
os processos de construção das Agendas 21 nacionais e locais.
4
Documento assinado em maio de 2002.
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sua criação, além das reuniões deliberativas e dos Grupos de Trabalho Temáticos
(GTT), as seguintes ações foram realizadas:
Ação
Ano
Ação
Fonte: Adaptado de MEIO AMBIENTE (2015) e memória da 58º Reunião Ordinária do Fórum.
Paraná
Secretário Especial para Assuntos da Região
Pastoral da Criança
Metropolitana de Curitiba
Representação Sul do Conselho Nacional do
Secretário Especial de Corregedoria e Ouvidoria Geral
Meio Ambiente
Secretário Especial de Relações com a Comunidade Sindicatos
Assembleia Legislativa do Estado do Paraná União dos Estudantes Secundaristas
Associação Comercial do Paraná União Paranaense de Estudantes
Universidades Federais, Privadas e Institutos de
Associação dos Municípios do Paraná
Pesquisa
Associação Paranaense de Instituições de Ensino
Outros órgãos e instituições
Superior do Paraná
Centrais dos Trabalhadores
Tema Enfoque
5. Pesquisa, Inovação, Contempla todas as iniciativas que tem por objetivo alavancar o
Ciência e Tecnologia desenvolvimento sustentável.
Virada linguística é uma expressão que foi usada pela primeira vez no início
do século XX pelo filósofo do círculo de Viena, Gustav Bergmann, e que foi
consagrada por Richard Rorty, na coletânea The Linguistic Turn, de 1967
(MARCONDES, 2009). A virada linguístico-pragmática tem dois momentos. No
primeiro, o da virada linguística, enfatiza-se o fato de que o ser humano pode
acessar a realidade pela linguagem, numa condição de paralelismo, onde a verdade
é espelhada e reflete a realidade, ou seja, não é acessada em si mesma. Nesta
concepção, aquilo que os seres linguísticos acessam é a verdade pela linguagem.
Ou seja, a linguagem é a verdade em si, pois não se conhece nada se não por meio
do emprego da linguagem.
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A virada pragmática iniciou com Austin e Searle, com a teoria dos atos de fala,
e Habermas dá sequência a esta perspectiva com sua teoria do agir comunicativo
(ARAÚJO, 2004). A questão primordial para estes filósofos é refletir como a
linguagem é usada, o que se intenciona fazer com a linguagem e seu efeito no
estado das coisas por meio dos atos de fala ou proferimentos. Para tanto, se faz
necessário compreender o uso da fala em eventos interacionais e quais são os
elementos que influenciam e constituem o uso da linguagem enquanto instrumento
do agir social.
é absoluta, pura; ela é uma construção entre sujeitos dotados de autonomia, que
linguisticamente atingem um significado compartilhado sobre determinado fato. Para
Habermas (2012, p. 31) “a racionalidade é entendida como a maneira pela qual o
saber é adquirido e empregado”, ou seja, a racionalidade é um processo interacional
mediado linguisticamente do sujeito com os objetos e dele com outros sujeitos.
Neste ponto se faz necessária a compreensão de que o conceito habermasiano de
racionalidade pressupõe a presença de autonomia, de seres detentores de vontade
própria, e que agem por meio da linguagem para se expressar no mundo. Segundo
Aragão (2006, p. 51), “Habermas sugere que a linguagem é exatamente aquela
aptidão do ser humano que o distingue dos animais, sua verdadeira característica
antropológica”.
Segundo Vizeu (2011), para a ação ser considerada racional e fazer sentido
para os sujeitos participantes de um evento interacional comunicativo, e com
potencial para deliberar sobre assuntos cotidianos nas várias esferas da vida, três
dimensões ontológicas de mundo devem ser atendidas: objetiva (mundo concreto),
subjetiva (mundo subjetivo) e normativa (noção de legitimidade). Ou seja, uma ação
para ser racional não pode estar incompleta em nenhuma destas esferas ontológicas,
e uma ação em que ao menos uma destas esferas não esteja atendida, não será do
tipo racional. Na dimensão objetiva ou factual, os objetos, sujeitos ou eventos a que
fazemos referências têm concretude e são constatáveis. A dimensão subjetiva ou
expressiva diz respeito ao mundo interior ou ao mundo interior de outra subjetividade,
expressa sentimento ou impressão sobre algo. Na dimensão normativa ou social há
juízo de valor, o qual pode variar entre diferentes comunidades, culturas e época.
Segundo Habermas (2012, p. 45), “padrões de valor não têm a universalidade de
normas reconhecidas intersubjetivamente e tampouco são pura e simplesmente
particulares”.
2.4.6 Reciprocidade
interação a fim de que se atinja um acordo sobre algo, ou seja, a ação comunicativa
depende de uma situação de compartilhamento intersubjetivo. As ações mediadas
pela fala, para serem naturalmente eficazes, ou seja, comunicativamente racionais,
devem emergir da essência do que é verdadeiro para os sujeitos e acontecem em
um cenário de confiança mútua e reciprocidade. Habermas explica que a situação
ideal de fala pode ser analisada em termos do que ele denomina de constituidores
universais do diálogo (HABERMAS, 1970).
Habermas (2012, p. 48) afirma que “um argumento contém razões que se
ligam sistematicamente às pretensões de validade de uma exteriorização
problemática”. Ou seja, quando um sujeito não concorda com o que foi exposto por
outro ele levanta indagações e faz questionamentos que estão interligados com as
pretensões de validade: veracidade, sinceridade, compreensibilidade e correção
normativa. Desta forma, partindo da conexão com as pretensões de validade,
Habermas aponta para cinco formas de argumentação: discurso teórico, discurso
prático, discurso explicativo, crítica estética e crítica terapêutica.
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uma forma de questionar e refletir sobre seus próprios padrões valorativos, e isso se
torna possível a partir do reconhecimento de que valores não são universais, eles se
tornam a norma para determinado grupo social em função de vários aspectos e
interesses comuns e compartilhados, porém são da mesma maneira eleitos ou
destituídos.
podem interagir uns com os outros, expressar suas opiniões e articular maneiras
pelas quais as leis sejam elaboradas considerando também os seus argumentos.
Segundo Faria (2000, p. 50), “para Habermas é a partir da inter-relação entre os
espaços institucionais e a construção de opinião informal em espaços extra
institucionais que se encontra a possibilidade de um governo legítimo”. Assim,
Habermas sugere um modelo de democracia descentralizado, onde as decisões
tomadas nas esferas parlamentares são avaliadas e criticadas em espaços públicos
e esta massa de propostas e ideias possa retornar à esfera parlamentar sob a forma
de input ao processo decisório de cunho político, tornando o processo de elaboração
de políticas públicas representativo de toda a sociedade.
coletivo. No entanto, ainda que a esfera pública perca sua função crítica, ainda
preserva a função de influenciar as instituições públicas formais.
Assim, Habermas apresenta os pressupostos de uma situação ideal de fala, que são
a orientação para o entendimento e a reciprocidade.
A TAC sugere que os problemas sociais podem ser deliberados por todos os
cidadãos em espaços públicos de forma racional e livre de dominação e exploração
ideológica. A partir disto, a tomada de decisão política pode ser conduzida de forma
a considerar as propostas de todas as camadas da sociedade, e passam a
influenciar as instâncias políticas parlamentares, distanciando a pauta política dos
interesses dominantes, representados especialmente pelo Estado burocrático e
pelas organizações capitalistas.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
a. Discurso da sustentabilidade
c. Orientação ao entendimento
d. Orientação ao êxito
- Representante da ONG: “lá em Estocolmo tudo bem, mas olha o sol que
está fazendo hoje aqui”.
- Membro de origem suíça: “você está enganado, por que os faróis diminuem
em 30% os acidentes”.
104
Este fato sugere que a maior parte dos membros não se sente à vontade para
participar das discussões, muitas vezes sentindo-se constrangidos pelo fato de
não pertencerem ao grupo mais participativo, o qual é formado em sua maioria
por membros mais antigos. Além disso, a coordenadora por várias vezes
apresentou uma postura inflexível sobre as propostas que não estavam
refletindo a sua vontade, e por diversas ocasiões prevaleceu a sua determinação
como definitiva, revelando a assimetria de poder nas relações da coordenação
perante aos demais membros do fórum.
5
Os membros mais participativos, que são também os membros com mais tempo de fórum, além
dos coordenadores e do estagiário, são representantes das seguintes instituições: Instituto
GT3, Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, CREA/PR, Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior do Paraná, CEAD Poty Lazzarotto, Organização Ambiental Sócio Agro Arte
Cultural Brinque e Limpe e um participante ativo, não vinculado a nenhuma instituição/
organização/ entidade.
105
promessa. Por outro lado, nos dias que se sucederam a essa reunião, a
coordenadora contatou os membros por e-mail para que se organizassem a respeito
de outro assunto e não mencionou a questão da Semana da Agenda 21. Assim,
percebe-se que a existência da coordenação formal, nesta situação, impediu que a
proposta de um participante tenha sido levada a diante, pois a condução ou
não da iniciativa havia ficado a cargo da coordenadora, demonstrando a
assimetria de papéis entre a coordenação e os demais membros do fórum.
minutos o debate entre outros três participantes e por fim apresentou seus motivos,
usando inclusive argumentos já colocados pelos outros e complementando-os com
outras considerações, mas de forma a fortalecer e apoiar, apesar de explicitar que
não necessariamente concordou com todos os termos colocados anteriormente
pelos demais membros. Demonstrou-se naquele momento que os membros
estavam engajados em uma atitude de cooperação para o entendimento,
situação que é um pré-requisito ao discurso, pois estavam dispostos a convencer
e serem convencidos a partir de bons argumentos sobre os hábitos de consumo
da sociedade capitalista moderna e seus impactos para a sustentabilidade.
como traçando o plano de atividades do fórum para 2015, a partir das demandas e
objetivos que principalmente são caros à própria coordenação.
que as iniciativas da ONU são enviesadas para acomodar os interesses dos países
mais ricos e, portanto, a Agenda 21 do Paraná não deve necessariamente seguir as
disposições e princípios dos documentos oferecidos pela ONU, conforme trecho
abaixo:
Tenho sérias divergências sobre o fato dos países ricos decidirem para os
países pobres o que eles devem fazer. Essa Agenda 21 é para nós
cumprirmos e eles cumprem? Veja o clima. Por que eles não precisam
cumprir, está certo? Os dominantes? Isso vai ser sempre assim... Isso
interfere aqui no processo de intervenção da nossa soberania. Acho que
não precisamos seguir o roteiro da ONU, porque a ONU não conhece o
Brasil, nem o pessoal que está em Brasília conhece o Brasil. Precisamos
ver o que nós precisamos e queremos fazer para nós.
"para limpar o rio (...) então podou as árvores, fez a pracinha não sei aonde (...)
mudou a vida da cidade?!".
Assim, fica evidente que apesar de formalmente o fórum ter sido criado para
atender aos diversos interesses e contar com a pluralidade necessária ao processo
de articulação de propostas e planos de ação sobre o desenvolvimento sustentável
no estado do Paraná, o processo não é suprido pela argumentação de todos os
participantes e nem tampouco a maioria dos segmentos da sociedade está
efetivamente representada. Principalmente a iniciativa privada, a qual é diretamente
responsável e igualmente impactada pelas propostas que estão sendo sugeridas, e
que não tem participado da elaboração do PLDS do Paraná, fator que
invariavelmente prejudicará o sucesso da etapa de pactuação de responsabilidades.
A coordenadora revela que seu trabalho inclui prestar contas das atividades
do fórum para a SEMA e outros órgãos do estado, como as Secretarias de Estado
do Desenvolvimento Urbano e do Planejamento. Neste sentido, o fórum está
subordinado em grande parte aos interesses do governo, já que este entende que
por injetar algum recurso por menor que seja pode esperar retorno imediato para sua
gestão, por meio da publicidade das ações e resultados obtidos pelo fórum. A
coordenadora comenta sobre o período em que assumiu a função: "Entendi que eu
teria que fazer a coordenação do fórum e a coordenação da Agenda 21 na SEMA”.
O estagiário relata que o fórum é periodicamente cobrado pelos funcionários da
SEMA e cita: “o secretário vivia pedindo relatórios do que tinha sido feito e tudo mais
porque precisava levar para frente". Em sua opinião, o fórum acaba sendo uma
possível fonte de resultados para a gestão dos secretários e governador.
denominada “O que o Paraná tem feito”. A iniciativa teve como propósito dar
visibilidade as ações governamentais de referências ao século XXI”, conforme os
termos da memória da 35º reunião ordinária.
em usar fóruns globais e locais para retardar a implementação de ações efetivas que
possam ser contrárias aos seus próprios interesses. Neste sentido, um membro
expõe que a criação de novas iniciativas pela ONU é um indicativo das vantagens
que são aproveitadas por pessoas ou grupos ou até mesmo por instituições, com
essas mudanças, e comenta:
“Há interesses por trás destas iniciativas, de alguns grupos. Assim quando
passa a não ser mais vantajoso, mudam o foco. (...) porque isso contempla
interesses de outros, em determinados seguimentos alguém ganha com
isso. A Agenda 21, enquanto instrumento de implementação de ações, vai
contra o interesse de grandes setores produtivos, como é o caso do
agrobusiness, que perderia bilhões caso por exemplo uma dieta menos
restrita a proteína animal fosse incentivada. A agenda 21 vai contra o
interesse de grandes organizações (...). Temos uma grande indústria da
carne, a palavra de ordem é o agronegócio em termos de Paraná e de Brasil.
É a indústria frigorífica que mobiliza bilhões nesse país. Então são grandes
interesses em jogo e nós acabamos sendo cidadãos sonhadores, que
pensamos nesse futuro comum, em que todos se reconhecem como seres
de direitos e deveres".
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Além disso, o bloqueio operado pelos interesses do mercado, seja por meio
da não colaboração para a elaboração e implementação da Agenda 21, ou em um
contexto maior ainda, na condução, mesmo que indireta, da pauta política, conduz o
fórum a permanecer em um estágio incipiente de ideias, mas que muito
provavelmente não serão objeto de avaliação pelos atores mais influentes –
organizações e governo. Em outras palavras, o plano local de desenvolvimento
sustentável para o Paraná deveria estar sendo concebido por meio de um processo
deliberativo que considera os melhores argumentos, e que não se enfraquece com a
artimanha retórica de grupos dominantes, que estrategicamente devotam seus
interesses às estruturas simbólicas do sistema capitalista: Estado e Mercado. Mas,
na prática, o Fórum Permanente da Agenda 21 do Paraná verifica-se como um
espaço incapaz de transcender as dificuldades de se agir comunicativamente, ou
como Habermas sugere, de agir para evitar a penetração do mundo da vida pela
rigidez do mundo sistêmico.
Cabe ressaltar que um esforço adicional, porém fora do escopo que se propôs
cobrir com esta pesquisa, seria necessário no sentido de avaliar o papel que os
espaços de fala ligados a sustentabilidade, porém não vinculados formalmente ao
governo, teriam na construção, fortalecimento e propagação de um discurso menos
enviesado pela estrutura forma burocrática e mais socialmente representativo.
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REFERÊNCIAS
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Publications, 2000
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VIZEU, Fabio; BIN, Daniel. Democracia deliberativa: leitura crítica do caso CDES à
luz da teoria do discurso. RAP, Rio de Janeiro 42 (1): 83-108, Jan/Fev, 2008
VIZEU, Fabio; MENEGUETTI, Francis; SEIFERT, Rene. Por uma crítica ao conceito
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Janeiro, Set. 2012
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