Anda di halaman 1dari 20
SS wv e987 24 mundo dos fenémenos é uma ficgdo dos filésofos. © que existe 6 uma organizagao, isto 6, um grupo de seres humanos ligados por um sistema complexo_de duos desempenham diferentes papéis, e alguns detém um poder especial ou autoridade, como chefes ou ancios capazes de dar ordens que serio obedecidas, como legisladores ou juizes, por diante. 9 ) existe; ha apenas, na realidade, poderes de individuos — reis, primeiros- istros, magistrados, policias, chefes de partido, £ votantes. A 6 sugerido, fornece, para um estudo objective das sociedades humanas pelos métodos da ciéncia natural, a definicao mais satisfatéria da natureza especial dos fenémenos sociais para a investigago dos quais este ro constitui uma contribuigdo. INTRODUGAO Por M. FORTES e E, E, EVANS-PRITCHARD 1. © OBJECTIVO DESTE LIVRO que tivemos em mente ao ini este estudo foi fornecer um guia adequado para os antropologistas. Esperamos igualmente que ele seja um contributo para a disciplina de politica comparativa, Estamos certos de que 0 primeiro objectivo foi atingido, ” pois as sociedades di 30 fepresentativas de) Vi tipos comuns de(istemas p : dos em conjunto, dio aoe g apreciar a grande yariedade de tais tipos. Como se observa no mapa‘esbogo (pag. seg.), os cito sistemas descritos estéo largamente difundidos no continente. A maioria das formas descritas séo_variantes de um_ ica encontrado entre socie- por isso, este livro cobre uma larga parte de Africa. Temos consciéncia de que nem todo o de sistema politico encontrado na Africa esta aqui representado, mas estamos em crer owt sof fo bo fo iso jo DISTRIBUIGAO DOS POVOS PELA ORDEM QUE APARECEM NESTE LIVRO 1. Zulo 4. Banyankole 2 Ngwato 5. Kede 4. Nuer 3. Bemba 6, Banto de Kavirondo 27 africana aparecem nestes ensaios. { Alguns colaboradores descreveram as mudancas {operadas nos sistemas politicos que investigaram em | virtude da conquista e governo europeus. Se nao real- gamos este lado da matéria, € porque todos os laboradores esto mais interessados nos problemas ferente aos aspectos praticos. A politica do governo indirecto 6 agora geralmente aceite na Africa britanica. Pensamos que, a longo prazo, tal politica pode vir a se os principios dos sistemas icos africans, tal como sao descritos neste livro, forem entendidos. ll, UMA AMOSTRA REPRESENTATIVA DE SOCIEDADES AFRICANAS Cada ensaio 6 uma_condensa detalhado do sistema politico de um s6 povo, efectuado fos Ultimos anos pelos métodos mais avangados de trabalho .de campo, por investigadores treinados na teoria antropolégica. Um certo nivel de brevidade que nao faz justiga a alguns tépicos importantes tornou-se necessario por exigéncias de espago. Cada ensaio fornece, porém, um modelo dtil pelo qual os siste- 28 africanas s6 podera realizar-se ap6s uma classi do tipo empreendido. Seria entdo possivel estiidar toda uma gama de sociedades adjacentes a luz do sistema Ngwato, do sistema Tale, do sistema Ankole, do sistema Bemba, e assim por diante, e, por anilise, enunciar as principais caracteristicas de séries de sis- _ *temas politicos encontrados em vastas reas. Uma anilise_dos resultados obtidos por estes estudos com- Parativos em dominios onde toda uma _variedade_de sociedades apresenta muitas Sociedade Stes _nos seus sistemas politicos, conduziria mais do comparativo satisfatério das instituigdes pol = ‘Nao pretendemos sugerir que os sistemas poli- ticos de sociedades que tém um alto grau de Seme- Thanga-cultyral kejam necessariamente do mesmo tipo, embora no todo tendam a sé-lo. Contudo, 6 bom ter mesmo nas oito sociedades descritas neste livro. Tam- bém pode haver um conteédo_cultural_totalmente - A fungao de ideologia ritual na organizagao politica em Africa ilustra claramente isto. Os valores misticos igam-se ao cargo politico entre os Bemba, os Ba- nyankole, os Kede, e os Tallensi, mas os simbolos 29 e as instituigdes em que estes valores sdo expressos s40 muito diversos nas quatro sociedades. Um estudo pados do seu idioma_cultural_e reduzidos a termos ” funcionais, As semelhangas estruturais dentro da dis-. paridade das culturas sdo postas a descoberto e a: dissemelhangas estruturais revelam-se por detras de um fundo de uniformidade cultural. Hé evidentemente uma conexéo intrinseca entre a cultura de um povo e a sua organizacao social, mas a natureza desta cone- Ee xdo 6 0 problema maior em sociologia e nés nao podemos frisar em demasiado que estes _dois_com- ponentes da vida social nao devem confundir-se. Acre. ditamos que as oito sociedades descritas nao darao apenas ao estudante um bird's-eye view dos princi- pios basicos da organizacao politica africana, mas possibilitar-Ihe-4o igualmente tirar algumas conclusées elementares de tipo geral e teérico. Deve salientar-se, contudo, que todos os colabo- radores pretenderam acima de tudo dar um relato| descritivo conciso e subordinar a esta finalidade as especulagées teéricas. Sempre que foi possivel tirar| conclusées tedricas, estas foram largamente determi nadas pela opiniéo que formaram sobre a consti cao da estrutura politica. Nem todos sio do mesmo parecer nesta matéria. Ao manifestarmos os nossos Pontos de vista achémos melhor evitar_referéncias _ aos escritos de filésofos politicos, e estamos certos que ao procedermos desta forma nao divergimos dos nossos colaboradores. x% ” 30 Ill. A FILOSOFIA POLITICA E A POLITICA COMPARATIVA No achémos que as teorias de filésofos politicos nos ajudassem a entender as sociedades que estu- démos e considerémo-las de pouca utilidade cientifica, porque as suas conclusdes sio raras vezes formula- das em termos de comportamento observado ou sus- ceptiveis de serem analisadas por este critério. A filo- sofia politica ocupa-se principalmente de como os homens devem viver e que forma de governd devem ter, mais do que em saber quais so os seus habitos, oliticos @ as suas instituigdes. ‘Até onde os filésofos politicos tentaram com- preender as instituigdes existentes em vez de justi icd-las ou criticd-las, fizeram-noem termos de psicolo- gia popular ou de histéria. Recorreram_geralmenté a hipéteses acerca de estddios anteriores da sociedade humana, supostos como destituidos de_instituicdes miliares nas suas proprias sociedades pudessem ter surgido a partir destas formas elementares de_orga- nizagao. Os filésofos politicos nos tempos modernos tém procurado muitas vezes fundamentar as suas teorias apelando para os factos de sociedades pri- mitivas. Nao podém ser censurados se ao procederem assim foram induzidos em erro, pois pouca investiga- go antropolégica se fazia em relagdo aos sistemas politicos primitivos comparada com a investigagéo > noutras instituigdes, costumes e crengas pri ito menos ainda se faziam estudos comparativos (doles (*). Nao achamos que seja possivel descobrir M jas_origens das instituigdes primitivas @, por isso, /' ¢ pensamos que néo vale a pena procurar faz6-lo. Fala- mos em nome de todos os antropologijtas sociais izemos que um estudo cientifico de insti- tuigdes politicas deve ser indutivo @ comparativo © desejamos_somente estabelecer_@ explicar as_unifor- inter- midades encontradas entre elas e as suas dependéncias com outros. aspectos de organizagao, Iv. OS DOIS TIPOS ESTUDADOS DE SISTEMA POLITICO Verificar-se-4 que os_sistemas politicos descritos. neste livro_se\arrumam sob. duas categorias__prin- cipais. Um grupo, que referimos pot ‘grupo A) consiste naquelas sociedades que tém autoridade centralizada, aparelho administrative e_ instituigdes. ju ©) Devemos exceptuar desta afirmagao 0 Prof. A. H. Lowie, embora no conjunto, ndo aceitéemos os seus métodos e conclusdes, Velamse os seus trabalhos Primitive Society (1920) e’ Origin of the State (1927). Estamos a pensar unica mente em antropologistas, Os trabalhos dos grandes historiax dores de. Direito e constitucionalistas como Maine, Vinogradoff @ Ed, Meyer pertencem a outra categoria, Todos os estudiosos do instituigdes politicas devem muito &s sues investigagdes pioneiras: 32 suma, um _governo—e nas _quais as distingdes_de riqueza,_privilégio_e status _correspondem a go de poder e autoridade. Este grupo compreende os Zulo, os Ngwato, os Bemba, os Banyankole ‘@3 Kede. 0 outro grupo, que referimos pof(grupo 8.) consiste naquelas st centralizada, aparelho administrativo e instituicbes judi- Giais_constituidas —em suma, néo_tém_governo—e nas quais nao existem divisdes agudas de categoria, status ou riqueza. Este grupo” compreende os Logoli, ‘os Tallensi_e os Nuer. Aqueles que considéram que um Estado deve definir-se pela presenca de insti- tuigdes governamentais, consideram o primeiro grupo} como Estados primitivos e o segundo como socie- dades estatais. "0 tipo de informagio dada e 0 tipo de problemas discutidos numa descrigdo de cada sociedade tém dependido largamente da categoria a que-sla-pertence. Os que estudaram as sociedades dofgrupo A)ecupam- [$6 principalmente ‘em descrever a organizacao gover- z Jes do por isso um relato sobre o status dos reis e classes, o papel dos funcionérios adminis- fos_de_um_tipo ou. outro, os privilégios de cate- goria, as diferengas da riqueza e do poder, a tagao dos impostos e outros tributos, as divisdes ter- Ttorlals do Estado e a sua relacao com a autoridade cen- tral, os direitos dos siibditos.e.as.obrigagdes dos gover- nantes, _e o controle..sobre estudaram as so‘ problemas para considerar o que na auséncia de formas explicitas de governo se podia tomar como constituindo a estru- | Cal pon sDas 5 Cok : simples entre OS Nuer, que tém_mui ivisbes_ter- fitoriais distintas. A dificuldade foi maior para os Lo- goli_e os Tallensi, que igo tém_unidades_politicas espaciais claramente_definidas. \ V. PARENTESCO NA|ORGANIZAGAO POLITICA | \a “Ss \ Se iais particulares através da ia, a que chamamos o sis- \2-¥ em, Apenas 0 _Altimo Em “2 as76om fungées politicas. Em ambos os grupos de sociedades o parentesco e/ los iagos domésticos desempenham um papel impor | ltante na vida dos individuos, mas a sua relagdo com ( o sistema politico é de ordem secundaria. Nas socie- | ldades_do grupo A é a orga izagdo administrativa, £6 do_grupo A _é nas sociedades do grupo B éo.sistema_de linhagem hy i a / i segmentaria_que primariamente regula _as_relagaes- «, /, | politicas entre os. ‘segmentos. territori iS. i isto & mais -nitido entre os Ngwato, cujo sistema —\politico se assemelha ao padréo que nos @ (A jee Estado-nagao moderno. A unidade ica é cialmente um agrupamento_territori ; Y de lagos de parentesco serve meramente para cimentar =<", ed onde o plexus _y jz. \ OL, \? \ NN 3 > 34 aqueles jé estabelecidos pela categoria de membro do bairro, distrito e nagdo. Nas sociedades deste ti © Estado nunca & 0 sistema de paféiitésco na sua ampla_acepgao, mas_esté organizado em principios Yotalmente diferentes. Nas sociedades do grupo'B os lagos de parentesco parece ‘assumir um papel mais ®) proeminente na_organizacao politica, devido ima?) associagéo do agrupamento territorial com o agrupa- nto wagem, mas trata-se, ainda aqui, apenas de_um papel de sequnda_ordem. = vavel que se possam distinguir trés tipos de sistema politico Primeiro, hd aquelas ‘sociedades muito _pequenas, nenhuma das quais esté descrita neste livro, em que mesmo a unidade poli- tica mais vasta abrange um grupo de pessoas todas unidas umas as outras pelos lagos de parentesco, de modo que as relagdes_politicas sao confinantes com as relagdes de_parentesco e a estrutura politica ‘ea organizagao de parentesco se ‘encontram comple- tamente_fundidas, Segundo, hé as sociedades nas quais uma estrutura de linhagem é a moldura_do_sis- tema politico, havendo uma coordenagao precisa ¢ entre Ge dois, de modo que eles sdo consistentes um com 2 outro, embora cada um permanega distinto e aut6- nomo na sua propria esfera. Terceiro, ha as sociedades em que a moldura da estrutura politica é uma organi- zagao administrativa. ° K variedade numérica e territorial de um sistema politico varia de acordo com o tipo a que pertence. Um sistema de parentesco parece ser incapaz de unir to largo nimero de pessoas numa Gnica organizagao para defesa e resolugao de disputas por arbitragem 35 como um sistema de linhagem, e um sistema de linha: gem incapaz de unir tantos membros como um sis- tema administrativo. VI. A INFLUENCIA DA DEMOGRAFIA a nas £ digno de nota que a unidade pol sociedades com organizagao estatal seja numericamente maior da que as que nao tém uma organizagao estatal. “Os grupos politicos mais largos entre -os Tallensi, Logoli e Nuér néo podem competir com um quarto para meio milhéo do Estado Zulo (em cerca de 1870), Gs 101 000 do Estado Ngwato e os 140.000 do Estado Bemba. € verdade que os Kede e a sua populagao su ta ndo séo t3o populosos, mas devemo-nos lembrar de que eles fazem parte do vasto Estado Nupe, Nan Se asté a sugerir que uma (nidade politied Yestatal precise de ser muito pequena — as unidades politicas . Nuer compreendem umas 45000 almas—nem que uma unidade politica com. organizagao estatal_tenha de ser muito larga, mas é possivelmente_verdade que, faja um limite para o volume de uma_populacdo capaz | a e de se manter unida sem qualquer espécie de govern? centralizado. O volume da populacao nao on 4 fundir-se com a_densidade_da_populacdo. Pode haver yw” 71a certa relagdo entre o grau de desenvolvimento politico e o volume da populagao, mas seria incorrecto. ue_as instituigses governamentais se_encon- “tram naquelas_sociedades_com_maior_densidade._O ‘posto parece ser igualmente provavel, a ajuizar pelo Foss0 Tnaterial. A densidade dos Zulo é de 3,5, a dos 36 Ngwato 2,5, a dos Bemba 3,75 por quilémetro qua- drado, enquanto que a dos Nuer 6 mais elevada e a dos Tallensi e Logoli muito mais alta. Pode supor- 7s@ que os aldeamentos densos e permanentes dos Tallensi conduziriam necessariamente ao desenvolvi- mento de uma forma centralizada de governo em que a grande disperso das aldeias itinerantes entre os Bemba seria incompativel com o governo centralizado. © reverso 6 realmente o caso. A somar ao material contido neste livro, 0 que se passa com outras socie- dades africanas poderia ser citado como prova de que uma_{arga_populagéo numa unidade politica e um “elevado _grau de centralizacao politica nao andam ne cessariamente juntos com a grande densidade. Vil. A INFLUENCIA DO MODO DE VIDA A densidade e a distribuig&o da populagdo numa sociedade africana esto claramente relacionadas com condigées ecolégicas que também afectam todo o modo de vida. € ébvio, contudo, que as simples di- ferengas_nos_modo: jida_nao_determinam_dife: reneas na estrutura politica. Os Tallensi e os Bemba ‘so ambos agriculturalistas, os primeiros com cultu- ras @ os Ultimos com rotativas, mas tém, no en- tanto, sistemas politicos muito diferentes. Os Nuer e os Logoli do grupo B e os Zulo e Ngwato do grupo A praticam igualmente a agricultura mista e a pastorici Em_geral, os modos de vida, juntamente_com_es condigdes ambientais, que impdem sempre limites auténticos aos modos de vida, determinam os valores kb £ lid 37 dominantes_dos_povos e influenciam fortemente as suas organizacdes_sociais, incluindo os seus sistemas_ ‘politicos. Isto 6 evidente nas divisdes politicas dos | Nuer, na distribuicdo dos aldeamentos Kede e na orga- izagdo administrativa que os engloba, @ no sistema de classe dos Banyankole. ‘A maioria das sociedades africanas pertencem a ra uma ordem econémica muito diferente da nossa. A 4, deles 6 principalmente uma economia de subsisténcia com_uma diferenciagao_rudimentar de trabalho produ- tivo e sem. Mecanismo para.acumulagao de riqueza _ sob_a_forma_de. capital. industrial ou comercial. A ri- queza se 6 acumulada toma a forma de artigos de Ml ada para susten- consumo e amenidades, ou é wu tar os dependentes adicionais. Desta forma tende a Quit! jisdes issipar-se rapidamente e ndo da lugar a de classe permanentes. As distingdes_de_categoria, status ou ocupagéo operam independentemente de rengas de riqueza.— Os privilégios econémicos, tais como di exigir_impostos, menté_a_ principal recompensa_de poder p me itos de jto_e trebalho, sao simultanea- essencial_de_manté-lo_nos_ sistemas pol do grupo A. Mas hé obrigagdes econdmicas a con- trabalangar, nfo menos fortemente apoiadas por san- G6es institucionalizadas. Nao deve esquecer-se_tam- bém que aqueles que tiram_o maior benefici ico tém as _maiores responsa- as. distingdes_de_categoria_¢_status_séo_de—menor importancia nas sociedades do grupo B. As fungdes | Wy 38 politicas_nao_trazem con: ainda que @_posse_de 'a_média_possa_ser_um_critério ‘ou_status_requeridos para a_lideranca politica, porque nestas sociedades economicamente homogéneas, igua- térias e segmentérias a obtencéo de riqueza depende de qualidades pessoais excepcionais de realizagses ou de um status superior no sistema de linhagem. vl SISTEMAS POLITICOS COMPOSTOS E A TEORIA DA CONQUISTA Pode afirmar-se que as sociedades como os Tallensi e Nuer, sem governo central ou apare- istrativo, se desenvolvem em Estados como os Ngwato, Zulo e Banyankole em resultado de con- ta, Aponta-se, no caso dos Zulo e dos Banyankole, uma dessas transformagées. Mas a histéria de todos os povos tratados neste livro nao é suficientemente conhecida para nos permitir afirmar com certo grau de seguranga qual tenha sido o curso do seu desen- volvimento politico. O problema deve portanto ser apresentando de uma maneira diferente. Todas as sociedades do grupo A parecem ser uma amdlgama de povos diferentes, cada um conhecedor da sua histéria @ origem tnica, e todos excepto os Zulo e os Bemba S a, ¢ todos excepto os Zulo @ os Bemns so ainda hoje culturalmente heterogéneos. A diver- sidade cultural 6 mais vincada entre os Banyankole e os Kede, mas esté também patente entre os Ngwato. Podemos, portanto, indagar em que medida a hetero- geneidade cultural de uma sociedade est4 correlacio- wy nada com um sistema administativo e a autoridade central. 5 trazidos & luz neste livro, sugerem ue a heterogeneidade cultural.e econémica ests asso- jada com a estrutura, politica de.um Estado. A auto- ridade centralizada e uma organizacao_administrativa parecem ser necessérias para acomodar ralmente diversos dentro de um sistema p* do eles tém diferentes modos especialmente quan: de vida. Um sistema _de classes, ou castas_pode _advir de_classes quando haja_grandes._divergéncias culturais_e espe Tlmente econémicas, Mas também se encontram for- mas_centralizadas de governo com povos. de cultura homogénea e de pouca diferenciacdo economics como Zulo, & possivel que grupos de cultura diversa fadiram mais facilmente a um sistema politico uni ‘0 sem a emergéncia de classes quanto mais perto, stiverem culturalmente umas das outras. Uma forma: centralizada_de_goyerno nao & necessaria para per- | mitir a jungao de diferentes grupos relacionados otreitamente pela cultura e levando o mesmo modo de lizagdo surge necessariamente ido largo ndmero, ‘Vida, nem aquela centralizagdo_surge (Aluer)tém abso lonquistadas, que sdo como eles préprios pastoril e com uma cultura muito seme- thante, Incorporaram-nos por adopgéo @ por outras formas no seu sistema de linhagem. Mas isto nado, resultou numa estrutura_de classe_ou_de_casta_ou_ ‘uma forma centralizada_de _governo. ‘Divergéncias, textos _culturais_& econdmicos sao “0 i segmentério como o dos Nuer ou o dos Tallensi. Nao ificar Isto. ,-porém, claro nante territorial. 37" que a teoria de conquista do Estado primitivo — pa Wo “outro aru jindo de que a prova histérica esté ao seu elcance — ~_ “deve tomar em conta nao apenas o modo da co! we _Auista @ as condigdes de contacto, mas também as ~” semelhangas e divergéncias da cultura e do modo de jinhagem_ e. de_elos de "iver dos conquistadores e conquistados e das i cooperacao « Taixa de territério definida tituigdes politicas de que so portadores e entram na sigo_direitos sobre _uma _faixa bro da comu- flova. combinagao. © os seus habitantes. A categoria de membro da comu: nidade Total, © 08 panham, adquire IX. O ASPECTO TERRITORIAL x gem toma o lugar dé subordinacao politica, e as © © aspecto territorial das primeiras formas de ; \er interrel organizagao politica foi posto em evidéncia por Maine } * HL. tamente -correlacionados_com as em Ancient Law e outros investigadores tém-lhe Xphi™ segmentos de linhagem \ dedicado bastante atengdo. Em todas as sociedades As relagdes politicas nao so simplesmente um descritas neste livro o sistema politi a-mol- sten tico, 4 dura _ territorial, mas tem uma fungao diferente nos. sua prépria natureza, incorpora relagdes territoriais dois tipos de organizacao politica. A diferenca é de- reveste-se do tipo particular da importancia politica vida & predominancia de um aparelho administrativo que elas apresentam. judicial num tipo de sistema e a sua auséncia no X. O EQUILIBRIO DE FORCAS 4 \ i ja NO SISTEMA POLITICO sistema politico _relativamente_estavel_em ites. Todo aquele que vive dentro destes limites é seu sibdito—o ito de viver nesta area s6 se adquire pela aceitagéo das je mantém_a_supre- 42 macia_do_governante principal opéem-se_as_forcas. que actuam como contestadoras_dos_seus _poderes. Instituigdes tais como a organizagao regimental “dos Zulo, a restri¢ao genealégica de sucesso ao reino ‘ou a chefatura, a nomeagao pelo rei dos seus parentes para chefados regionais, e as sangdes misticas do seu cargo, tudo isto contribui para reforgar 0 poder da autoridade central. Mas eles so contrabalancados ‘por outras instituigbes, como o conselho_do_rel, 08 sacerdotes oficiantes que tem uma voz decisiva na investidura do rei, as cortes das rainhas-maes, eassim por diante, que contribuem para a salvaguarda, dos usos_e costumes ¢ pare 0 controle do poder centra- iizado. A distribuigdo regional de poderes e pi necesséria por causa de dificuldades de comunicacéo e transporte e de outras deficiéncias culturais, impoe severas restrigdes @ autoridade de um rei. O_equili- brio entre a autoridade central e a autonomia regional ‘Se um rei abusa do seu poder, os chefes_subordina- dos podem suceder ou conduzir uma_revolta contra le. Se um chefe subordinado parece estar a torar- “se poderoso e independente em demasia, @ autori- dade central apoiada por outros chefes subordinados poder suprimi-lo. Um rei pode fortalecer_. sua auto- ridade Jancando chefes riveis subordinados uns contre 9s outmas. Seria_um erro considerar_o esquema_da_fiscall-- zagéo e comparticipagso constitucionais @ a delegacéo de poder e autoridade nos chefes Tegionais como ape- nas uma manobra administrativa. Um principio geral de grande importincie esté presente nestes arranjos, \._ tais funcionérios @ delegados & eficaz para o-governo md . oy que tem por fim dar a toda a secgao e a todo o interes: ve we se maior da sociedade uma representagdo directa O8 je? indirecta na marcha do governo. Os chefes locais representam a autoridade central em relagdo as seus. distritos, mas também representam_o povo que Ihes— gst sujeito em relagao autoridade central. Os conselheiros e os funcionérios rituais represen- ‘tam 0_interesse da_comunidade na preservagao dos sos e costumes e na observancia das medidas ritu is” julgadas necessérias para o seu bem-estar. A voz de. 3 ry devido a0 princfpio geral de que 0 poder e a auto; ridade devem ser dist sm ser distribuidos. O_poder e a autoridade {2 do rei sio compésitos, Os varios componentes esto colocados om cargos diferentes. Sem a cooperagao daqueles que detém estes cargos & extremamente dificil, se ndo impossivel, o rei obter as suas receitas, vinear_ sua supremacia judicial e legistativa, ov man: ter 0 seu. prestigig_secula investidos de poderes e privilégios subsidiérios mas essencias podem, muitas vezes, sabotar os actos de um governante se os desaprovarem. Visto sob um angulo =f" diferente, 0 govern de um Estado africano consiste wine! num _compromisso entre poder_e. autoridade dem. im a XQ iado_e obrigagéo e responsabilidade do_outro, Todo aqueie que desempenha fungdes politicas tem res- ponsabilidades com ista ao bem comum, conforme os seus direitos @ privilégios. A distribuigao de auto- fidade politica fornece um aparelho pelo qual os varios agentes do govern podem ser chamados as suas responsabilidades. Um chefe ou um rei tem o direito os 44 de exigir impostos, tributo @ trabalho dos seus subdi- tos e tem a correspondente obrigago de Ihes fazer justiga, protegé-los de inimigos e salvaguardar o seu bem-estar geral por actos e observancias ritueis. A estrutura de um Estado africano implica que os reis @ os chefes governem por consenso. Os sdbditos de _um governante estéo perfeitamente seus deveres para com eles bem como dos deveres que eles tém para con S “so capazes de exercer presso para fazer cumprir estes deveres. Deviamos acentuar aqui que estamos falando de ‘arfanjos consttuctormts;e ndo de como estes funcio- ‘nam na pratica; Os africanos reconhecem téo bem como nés que 0 poder corrompe e os homens tém @ propensio para abusar dele. Sob muitas formas © tipo de constituiggo que encontramos nas socieda- des do grupo A & complicado e demasiado lasso para evitar inteiramente os abusos. A pratica, muitas vezes, contradiz a teoria nativa de governo. Tanto” 0s governantes como os governados, agindo por interesses_pessoais privados, infringem as regras_da “constituigao. Embora ela geralmente tenha uma forma calculada para corrigir qualquer tendéncia para 0 des- low potismo absoluto, nenhuma constituiggo africana pode # impedir um governante de, por vezes, se transformar num tirano. A hist6ria de[Shakalé um caso extremo, J" mas neste e noutros casos onde a contradic¢ao entre a teoria e a pritica 6 demasiado evidente e a infrac- ¢ao das regras constitucionais se torna demasiado grave, a desaprovagéo popular acaba por se fazer sen- tir e pode mesmo resultar num movimento separatista ou de revolta conduzido por membros da familia real 45 ou chefes subordinados. Isto foi o que aconteceu a, Shaka. - ‘Deve lembrar-se que nestes Estados hé_apenas ()'"’ uma teoria_de governo. No caso_de_rebelido.o_objec- 6 tivo e o resultado 6 apenas mudar_as detém os cargos e nunca abolir o no por uma_nove forma. “Quando os chefes subordinados, que séo muitas vezes parentes do se rebelam contra ele, pro- cedem assim em defesa de valores violados pela sua conduta inadequada. Mais do que qualquer outra sec- go de povo eles tem o maior interesse em manter adr3o_constitucional ideal _permanece puma phat as das suas NOsATas. fa, joos diferente de compromiisso encon- ® . “tra-se nas sociedades do /grupo Bl. € um equilibrio ee entre um ndmero_de_segmentos, especialmente justa: >? postos e estruturalmente equivalentes. que s80 def... nidos pela linhagem local, e ndo em termos adminis: trativos. Cada segmento tem os mesmos interesses como outros segmentos de uma ordem parecida. A_ série_de relagdes intersegmentérias que constit estrutura politica _@ um compfomisso de lealds locais opostas e de tagos rituais de linhagem diver- | gente. gente. O conflite entre os interesses de divisces yy strativas 6 comum em sociedades como as d os, cujas rivalidades sio muitas vezes pozi7 pessoais ou devidas ao seu parentesco com O rei ou a aristocracia governante, exploram muitas vezes estas lealdades locais divergentes para os seus prdprios / m za @ propor: issengdes inter-regionais._Nes n janizago_administrativa, @ di- vergéncia de_interessas_entre_os_segmentos compo: a _estrutura_pol Os_conflitos_ , s locais significam_necessariamente, confltos entre segmentos de linhagem, uma vez que a8 dois esto intimamente entrelagados; e o factor estabilizante néo 6 uma organizag&o juridica ou mil tar muito super ordenada, mas & simplesmer total dé_rélagbes intersegmentos. Plesments 8 some ciona freios em tai sociedades XI. A INCIDENCIA E FUNCAO, DA FORCA ORGANIZADA Segundo 0 nosso juizo, a caracteristica_mais significativa que distingue as formas de governo dos Estados centralizados € piramidais dos Ngwato, : Bemba, etc., dos sistemas politicos segmentérios dos Logoli, dos Tallensi e dos Nuer, é a incidéncia e funcao de forga organizada dentro do sistema. No primeiro grupo de sociedades, a principal sangao dos direitos e prerrogativas de um governante, da autoridade exercida pelos chefes seus subordinados, 6 o comando de forga organizada. Isto pode possibilitar a um rei africano governar com opresséo por algum tempo, se estiver inclinado a isso, mas um bom. governante usa_as forgas armadas sob a sua autoridade_para_o interesse_publico, como um instrumento aceite de governo — isto 6, para a defesa da sociedadé como um todo ou de qualquer secgdo dela, para agresséo 47 contra um. igo comum, e como uma sangao coer- iva para fazer cumprir a lei ou fazer respeitar a cons- ‘0 rei_e os sous delegados ¢ conselheiros_usam. a forge orgarizeda com 0 consentimento dos seus sub- ditos a fim de manterem um sistema politico que os tiltimos consideram como o fundamento da sua ordem social. b: Nas sociedades do grupo B nao hé associacso, classe ou_segmento_que_ tenha um_lugar d dominante comando defo: na_estrutura_politica através. a Srganizada_maior do que aquela que esté a_dispos gdo de qualquer dos_seus, congéneres. Se se helo a forga numa disputa entre segmentos a8 for gas dum lado e doutro serdo iguais. Se um segment Gerrota 0 outro no procura estabelecer. dom' r fico sobre ele; na auséncia de um aparelho adm ‘qrative nO" ha do, facto, meios para que isso posté wcontecer, Na 4akagem de filosofia politica, nao hé individuo ou grupo sobre o qual repouse a soberania. Num sistema, a_estal idade @ mantida_por um tal_sistema,_a je_é_mantida_por_um Squilbrio em cada linha de fractura e em cada porto a Este eau “tt do comando ca. “de forga correspondente & 0 dos interesses pxe semelhantes mais concorrentes entre OS segmentos semelhantes fomélogos_da_s Enquanto um aparelho judicial 6 possivel e sempre se encontra no8 socie- dades do grupo A, uma vez que tem 0 apoio de forga organizada, as_instituigdes_juridicas dos Logoli, e dos Nuer repousam no direito dé auto- Vibri de XII. DIFERENGAS EM RESPOSTA AO GOVERNO EUROPEU As distingdes que apontimos entre as duas cate- gorias em que se distribuem estas cito sociedades, especialmente quanto a caracteristica de equilibrio de cada uma, tornam-se muito evidentes quanto ao seu ajustamento as normas dos governos coloniais. A maioria destas sociedades foi conquistada ou sub- meteu-se a lei europeia com o receio de invasées. Eles no teriam aderido a ela se desaparecesse a ameaga da forga @ este facto determina o papel agora desempenhado na sua vida politica pelos administra- dores europeus. . Nas sociedades do grupo A, o chefe principal, é proibido, por pressio do governo colonial, de usar de forca organizada comandada por_ele e debaixo da Sua responsabilidade. Isto resultou por toda a parte na diminuigso_da_sua_autoridade e geralmente au- mentou_o poder e a independéncia dos seus subor- dinados. Fle nao governa mais por direito proprio, mas como © agente joverno_colonial. A estrutura piramidal do Estado é agora mantida, colocando-se 0 chefe no seu topo. Se ele capitula por completo, pode tornar-se num simples fantoche do governo colo- nial. Perde 0 apoio do seu povo porque o padréo de direitos e deveres reciprocos que o ligavam a ele esté destruido. Alternativamente, pode ser capaz de salvaguardar o seu status anterior, em certa me- dida, dirigindo abertamente, ou a coberto, a oposigéo 49 que a sua gente inevitavelmente sente em face do mando estrangeiro. Muitas vezes ele fica na posigao equivoca de ter que conciliar os seus papéis_con- traditérios como representante do seu povo contra_ 6 gaverno colonial ¢ do dltimo_contra o seu povo. Ele torna-se 0 eixo, sobre 0 qual balanga precaria- mente um novo sistema. A_administragao_indirecta pode ser encarada como uma politica delineada para estabilizar_ a. nova_ordem ‘a, com o chefe nativo, neste seu_duplo_papel, mas \do_a fricgao a que possivelmente pode dar azo. Nas sociedades do grupo B,.a administrago eu- ropeia tem tido um efeito oposto. O governo colonial néo pode administrar através de agregados de viduos compostos por segmentos politicos, mas tem_ de recrutar agentes administrativos. Para este fim faz uso_de quaisquer pessoas que possam ser assimiladas & nogéo estereotipada de um chefe africano. Estes < agentes tém agora pela primeira_vez_o apoio da forga_por detrés da sua autoridade,_ estendendo-se a_esferas: de que nao ha precedente. O recurso a violncia_ como uma forma de autodefesa dos . de individuos ou de grupos ja nao 6 permitido. agora pela- primeira _vez uma autoridade exigindo obediéncia em virtude da forga superior que. the possibilita estabelecer tribunais de justica em subs-_ tituiggo de autodefesa, Isto tende a _conduzir todo Lt -em_mituo equilibrio ao © sistema de ‘segment colapso e a sua subst{tuigéo por um sistema burocré- tico europeu. Surge uma organizacdo mais parecida com a de um Estado centralzado. ——=SOS*~*~S~*S 4 XII, OS VALORES MISTICOS ASSOCIADOS A FUNCAO POLITICA ‘A sangéo de forga néo & uma inovago nas for- mas africanas de governo. AcentuSmos o facto de ela ser um dos principais pilares do tipo indigena do Estado. Mas a sangdo de forga de que a admi- nistragdo europeia depende esté para além do sistema politico nativo. Nao é utilizada para manter os valores inerentes a esse sistema. Em ambas as sociedades do grupo A e do grupo B os governos europeus podem impor a sua eutoridade, mas em nenhuma delas sio capazes de estabelecer lagos morais com 0 povo su- jeito. Como ja vimos, no sistema original indigena a forga 6 utilizada por um chefe com o consenso dos seus sbditos para prosseguir o bem comum. Um govemante africano nao é para o seu povo apenas governante africans uma pessoa _que pode exercer a sua vontade sobre eles. Ele é 0 eixo das suas relagées politicas, 0 sim- olo_da_sua unidade © exclusividads, e a incamaglo dos seus valores essenciais. € mais do que um gover- ante secular. Nessa capacidade 0 governo europeu pode em larga medida substitui-lo. As suas creden- ciais so misticas e derivam da antiguidade. Quando ndo ha chefes, 98 segmentos em equilibrio que com- dem a estrutura politica. so testemunhados pela tradigdo e mitos e as suas inter-relagdes so guiadas por valores éxpressos por simbolos misticos. Nestes limites sagrados os governantes europeus nunca pe- netram. Eles nao tém garantia ritual ou mistica_para a sua autoridade. 51 Qual seré o significado deste aspect n@ orga- nizag’o_politica_africana2® »/ pave Ytof ‘As_sociedades africanas néo séo modelos de sdo, revolta, guerra civil, e assim por per- passam a hist6ria de qualquer Estado africano. Nas sociedades como as dos Logoli, Tallensi e Nuer 2 na- tureza segmentéria da estrutura social surge muitas vezes com mais intensidade @ luz do conflito armado entre os segmentos. Mas se 0 tingi um grau suficiente de estabilidade, estas convulsdés internas necessariamente nao o fazem naufragar. +— adem, efectivamente, set o meio de o fortale- cer, como vimos, contra os abusos e infracgdes dos governantes que agem segundo os seus interesses pri- vados. Nas sociedades segmentérias, a guerra ndo é assunto de um. segmento impondo a sua vontade sobre outro, mas é a maneira pela qual os segmentos protegem os seus interesses_particulares dentro de um campo’ de interesses e valores comuns. ” Em todas as sociedades africanas existem inume- raveis vinculos que se contrapdem as tendéncias para a fricgao politica nascida de tensdes e rupturas da estrutura social. Uma organizagao administrativa apoiada em Sangdes coercivas da qualidade de per- tencer a um cla, & linhagem e em lagos de grupos dé idade na teia apertada e modelar do parentesco —todas ‘estas pessoas unidas tém interesses priva- dos e seccionais diferentes ou mesmo opostos. Mui tas vezes também ha interesses materiais comuns, tais como a necessidade de partilhar as pastagens ou de comerciar num mercado comum, ou iniciativas . grengas, rituais e actividades tornam © gdes umas as outras. Também ha valores rituais comuns, a superstrutura ideolégica da organizagao Os membros de uma sociedade africana sentem a sua unidade e apercebem-se dos seus interesses comuns através de simbolos, e 6 a sua adesio a estes simbolos que mais do que qualquer outra coisa d& & sua sociedade coes&o e continuidade. Na forma de mitos, ficgdes, dogmas, rituais, lugares _sagrados '@ pessoas, estes simbolos representam a unidade_e. exclusividade dos grupos que os respeitam. Sao con- siderados, porém, néo como meros simbolos, mas eles tém_de_ser_traduzidos em termos de funcéo social e da estrutura social que eles ajddam a manter. Os africanos ndo tém conhecimento objectivo das for- Gas que determinam a sua organizagao_social_e actuam sobre 0 seu comportamento social. Contudo, seriam incapazes de levar a sua vida colectiva se nao pudes- ‘sem pensar e sentir acerca dos interesses que actuam sobre eles, as instituiges por meio das quais organizam uma acco colectiva e a estrutura dos gru- pos nos quais estéo organizados. Mitos, dogmas, crengas, ritt istema social intelectuaimente tangivel e coerente para um africano m-lhe pensar e sentir sobre ele. Além disso, imbolos_sagrados..que refiectem o sistema cial, rodeiam-no_de valores misticos que _evocam, de pare além_da obediéncia exarada pela sangao secular de forca. jicamente estes _simbolos, 53 plano mistico, onde figura como um sistema de valo- res sagrados para além de criticismo_ou_revisdo. = dai as pessoas derrubarem_um_mau rei, mas. dei- Q sistama social ¢ como se fosse transportado a um Xarem_o feinado sempre incélume; dai_as guerras_ xarem_o_rein ‘ou_feudos. entre segmentos_de_uma sociedad. como serem. conservados dentro dos limites por sangdes misticas. Estes valores sio Somuns a toda a sociedade, a governantes © gover- nados, de igual modo e a todos os segmentos e secgdes de uma sociedade. 0 africano nao vé para além dos simbolos; pode bem dizer-se que se compreendesse o seu signil cado objectivo, eles perderiam 0 poder que tém sobre ele. Este poder reside no seu contetdo simbético € cate poet ae a na sud associagéo_com as _instituigdes nevrdlgicas_ da estrutura social, tais como © reinado. Nem toda a espécie de ritual ou qualquer género de ideias m ticas pode expressar os valores que mantém uma sociedade unida e fixam a lealdade e a devogao dos seus membros para com os seus governantes. Se estudarmos os valores misticos ligados_ com 0, reinado. em quaisquer das sociedades do grupo A, achamos referem a fertilidade, satde, prosperidade,. az, justiga—a tudo, em suma, que da vida e feli- “cidade atm povo. 0 africano considera estas obser- Vancias rituais como uma suprema salvaguarda das necessidades e das relagdes bésicas que edi — terra, gado, chuva, sade corporal, a familia, o cla, o Estado, Os valores misticos reflectem a importagéo geral dos elementos bésicos da existéncia: a terra como a fonte 54 de vida de toda a gente, a satde fisica como algo de universalmente desejével, a familia como a unidade procriadora fundamental, e assim por diante, Estes sio os interesses comuns de toda a sociedade, tal como © nativo os v8. Estes so os temas de tabus, obser- vancias @ ceriménias nos quais, nas sociedades do grupo A, toda a gente tem um quinhdo através dos seus representantes e nas sociedades do grupo B todos os segmentos participam, uma vez que séo problemas de idéntica actualidade para todos. Acentu&mos 0 facto de o aspecto universal de coisas como terra ou fertilidade serom os assuntos de comum interesse numa sociedade africana; pois estes assuntos~tém também uma outra faceta para eles, como os interesses_ segmentos deuma_sociedade. A produti propria terra, a riqueza e seguranca da sua propria familia ou do seu préprio cla séo assuntos que consti- tuem a preocupagio diéria e prética para o membro de uma sociedade africana; sobre tais assuntos levan- tam-se os conflitos entre secgdes e facgdes da socie- dade. Assim, as necessidades vitais de existéncia e as relagbes sociais basicas sao, nos seus aspectos pragmatico e utilitério, como que fontes de satisfagéo imediata e de ideias, os bens de interesses privados; como interesses comuns, eles _néo sao _utilitérios_ pragmaticos, mas assuntos de valor moral e de. ficado_ideolégico. Os is b daqueles interesses muito particulares perante os quais eles ficam em oposigéo. Explicar o aspecto ritual da organizago politica africana em termos de menta- lidade magica sera insuficiente e no vamos muito feressés comuns brotarit 55 longe ao dizer que terra, chuva, fertiidade, etc., s40 «coisas sagradas» porque elas séo as necessidades mais vitais da comunidade. Tais argumentos néo expli- cam porque 6 que as grandes ceriménias em que se celebra o ritual para 0 bem comum estéo usualmente numa escala piblica. Elas deviam estar sempre ligadas as fungdes politicas primordiais e deviam fazer parte da teoria politica de uma sociedade organizada. Também no 6 bastante desligar estas fungdes des de autoridade politica. Entéo por que séo elas encaradas como sendo as responsabilidades essenciais do cargo? Porqué ‘so tantas vezes distribuidas por um numero de funcionérios independentes entre si que ficam_desté modo com a possib coma de de exercer uma acco controladora umas sobre as outras? € claro que elas também servem de sangdo contra o abuso de poder politico e como um meio de fazerem os funciondrios politicos cumprir as suas obrigagdes administrativas, bem como os seus deveres re para que o bem comum nao sofra injdria. Quando, finalmente, se afirma como facto des- observavel que nés estamos aqui a tratar de instituigses que servem para afirmar e promover a fariedade - politica, devemos perguntar a razéo disso. Por que 6 que um aparelho administrativo englo- ‘Rando tudo_num_sistema_delinhagem ampla e diver ‘Sificada capaz, por si s6, de ati _semelhante resultado tie See "Nao podemos tratar em pormenor todas estas questdes, Jé Ihes demos, porém, demasiado espago por considerarmos que s4o da maior importancia tanto do ponto de vista tedrico como do ponto de vista prético. Os aspectos «sobrenaturaisy do governo afri- cano dao sempre que pensar e séo muitas vezes exas- strador europeu. Mas necessita- Wwestigago antes de podermos compreendé-los inteiramente. As hipéteses que esta- mos a utilizar so, segundo cremos, um ponto de partida estimulante para outras investigagdes sobre estes assuntos. A parte sobre a qual nés jé nos debru- gémos 6, talvez, menos controvertida. Mas 6 incom- pleta. Qualquer aspecto do comportamento soci portanto qualquer relagao politica, tem um contetido utilitério e pragmiatico. Significa que os bens materiais mudam de mos, séo desembolsados ou adquiridos, com © que certos individuos atingem os seus fins. relagdes politicas tém também um aspecto moral; isto 6, expressam direitos_e_deveres,_privilégio Ges, sentimentos politicos, lagos sociais e Nés vemos claramente estes dois aspectos em actos como 0 pagamento de um tributo ao administrador ou entrega de gado-de-sangue como compensagao de ho- micidio. Consequentemente, encontramos nas relagdes Politicas dois tipos de interesses operando conjunta- mente, interesses materiais_¢ morais, embora na forma abstracta. Os nativos dao importancia aos com- ponentes materiais de uma relag3o politica e, geral- mente, afirmam-no em termos das suas fungdes pragmaticas e utilitdri 57 Um direito ou dever particular ou sentimento politico existe como um item de comportamento de um individuo ou de uma pequena secg3o de uma sociedade africana e & coercivel por sangdes seculares trazidas para actuar sobre estes it nas secgdes. Mas numa comunidade organizada um direito particular, dever ou sentimento, existe apenas como um elemento num corpo inteiro de direitos, deveres © sentimentos, comuns e recipro- cos e mutuamente em equilibrio, 0 corpo de normas morais e legais. Da_regularidade e da ordem com que tod este corpo de normas interligadas € mantido, de- pende a estabilidade e 2 continuidade da estrutura de uma sociedade africana, Em geral, os direitos respeitam- se, os deveres cumprem-se, os sentimentos mantém os membros unidos. De outro modo, a ordem social seria to insegura que as necessidades materiais de exis- téncia jamais poderiam ser satisfeitas. O trabalho pro- dutivo para um ponto morto e a sociedade desin- tegrar-se-ia. Este 6 0 maior interesse comum em qual- quer sociedade africana, e 6 este interesse que 0 sistema politico, visto em toda a sua grandeza, nao serve. Esta também é a ltima série de premissas. e podemos dizer, axiomatica, de ordem soci Se elas fossem continua e arbitrariamente violadas, 0 sistema social deixaria de trabalhar. Podemos resumir esta ané- lise dizendo que os interesses_materiais que actuam “sobre individuos e grupos numa_sociedade africana operam dentro do quadro_de_um_corpo..de_normas morais @ legais interligadas_cuja ordem e estabilidade. & mantida pela organizagdo politica. Os africanos, como Salientémos, ndo analisam o seu sistema social, vivem- 58 -no. Pensam e sentem acerca dele em termos de valores que refiectem, na doutrina e simbolo, mas nao explicam, as forgas que na verdade controlam © seu comportamento social. Salientando-se dentro destes valores esto os valores misticos dramatizados nas grandes ceriménias publicas e ligadas pelas suas instituigdes politicas de capula. Cremos que estas so pelo maior interesse geral da comunidade politica mais vasta & qual um membro de uma sociedade particular africana pertence, isto 6, por todo o corpo_de direitos, deveres € sentimentos interligados, porque 6 isto que torna a sociedade numa Gnica comunidade p E a razdo porque estes valores misticos estéo sempre associados com cargos politicos nevralgicos e se expri- mem tanto pelos privilégios como pelas obrigagdes do poder politico. A sua forma mistica é devida ao Ultimo @ axio- matico carécter dum quadro de normas morais e leg: que no podiam conservar-se por sangdes seculares como se fossem um corpo, As ceriménias_periédicas sao necessérias para afirmar e consolidar estes_valo- res porque, no curso ordinério dos acontecimentos,. as pessoas preocupam-se com os interesses privados_ e_séctoriais @ estdo aptas_a perder de vista_o_inte- resse_comum_e a sua interdependéncia politica. Por fim, 0 seu conteddo simbélico reflecte as_necessi- dades vitais da existéncia e as relagées sociais bési cas porque estas sao os elementos mais concretos e tangiveis de todas as relacdes politicas e sociais. O teste visivel de como se mantém e funciona bem um dado corpo de direitos, deveres e sentimentos, encontra-se ao nivel da seguranga e sucesso com 59 que se satisfazem as necessidades basicas da exis- tancia e se sustentam as principais relagdes sociais. € um facto interessante os reis africanos reterem sob a administragdo europeia as suas fungdes rituais, muito depois de se ter perdido a maior autoridade secular sancionada por estes, segundo se diz. Nem terem sido os valores misticos do poder politico intei- ramente obliterados por uma mudanga de religido para © Cristianismo ou Islao. Enauanto © reinado perdurar como 0 eixo de um corpo de normas legais ¢ morais mantendo um povo unido numa comunidade politica, muito provayelmente continuar& a ser um foco de valo- res misticos/ € facil’ ver uma conexao entre o reinado e os interesses e a solidariedade de toda a comunidade num Estado com autoridade altamente centralizada. Em sociedades a que falta um governo centralizado, os valores sociais nao podem ser simbolizados por uma dnica pessoa, mas sdo distribuidos por pontos cardiais da estrutura social. Aqui encontramos os mitos, os dogmas, as ceriménias rituais, os poderes misticos, etc., associados com os segmentos, defi- nindo e servindo para manter a relagdo entre eles. As ceriménias periddicas, acentuando a sol idariedade dos segmentos, e entre segmentos, como contra os inte- resses seccionais dentro destes grupos, séo a norma entre os Tallensi e os Logoli néo menos do que entre os Bemba e os Kede. Entre os Nuer, o chefe pele de leopardo, uma personagem sagrada associada com a fertilidade da terra, é 0 meio através do qual sao nego- ciados os feudos @ dai as relagdes reguladas interse- gmentos. A diferenga entre as sociedades do grupo B 60 @ as do grupo A esté no facto de néo haver qualquer pessoa que represente a unidade politica do povo. N&o existindo unidade, nfo pode haver pessoa que represente a unidade das parcelas do povo. Os poderes rituais @ es responsabilidades distribuem-se ‘em conformidade com a estrutura altamente segmen- thria da sociedade. XIV. © PROBLEMA DOS LIMITES DO GRUPO POLITICO Concluimos por salientar dois pontos de grande importincia sobre os quais muitas vezes se salta. Embora se possam definir grupos ou unidades poll. ticas, eles no podem ser tratados isoladamente, pois Yazem sempre parte de um sistema social mais vasto. localizadas dos Tallensi saltam umas com as outras como uma série de circulos que se interceptam, de node precisamente onde correm as linhas de diviséo politica. Estes campos jus- tapostos de relagdes politicas estendem-se quase inde- finidamente, de modo que existe uma espé de entrelagamento mesmo entre os povos vizinhos, & enquanto nés podemos ver que este povo é 1O daquele, nao 6 facil dizer em que ponto, cultural ou politicamente, se encontra justificagéo para conside- ré-los como unidades distintas. Entre os Nuer, a demar- cacao politica é mais simples, mas mesmo aqui ha entre os segmentos de uma unidade politica a mesma espécie de rela¢éo estrutural como existe entre esta 61 unidade e outra unidade da mesma ordem. Daqui a signagéo_ de grupos politicos auténomos ser sem- pre, nalguma medida, uma questo orbitréria. Isto é mais notério entre as sociedades do grupo B, mas ‘entre as do grupo A também hé uma interdepen- déncia entre 0 grupo politico descrito e os grupos politicos vizinhos e uma certa justaposigao entre eles. Os Ngwato tam uma relagdo segmentaria com as outras tribos Tswana que em muitos respeitos € da mesma ordem da que existe entre as divisoes dos proprios Ngwato. O mesmo sucede noutras socie- dades com governos centralizados. Esta justaposigéo e entrelagamento das socie- dades é largamente devida ao facto do ponto onde as relagSes politicas estreitamento_definidas_em termos de acgio 7 @ Sangdes legals terminam nao ser © ponto em que todas as relagdes sociais cossam. Avestrutura social de um povo estende-se_para.al do seu sistema politico, assim definido, pois hé sempre relagdes sociais de um género ou outro entre povos de diferentes grupos politicos auténomos. Clas, grupos de idade, associagées rituals, relagoes de afi- nidade e de comércio e relagdes sociais de outras espécies, unem povos de diferentes unidades politicas. A lingua_comum_ou_as_linguas_intimamente _relacio- nadas, costumes semelhantes_e_crengas.-2-assim-por_. diante, também os unem. £ dai um forte sentimento de comunidade que pode existir entre grupos que ndo conhecem um nico chefe ou néo se unem pare fins politicos especificos. A comunidade de lingua _s- cultura, como frisémos, 140 dé necessariamente, On 62 gem a unidade polit a, Algo mais do que a diferenca Tinguistica e cultural impede a unidade_politica Eis aqui um problema de importéncia mundial: qual 6a relagdo de estrutura politica para qualquer estrutura social? Por toda a parte, na Africa, os.lagos sociais de uma espécie ou outra tendem a juntar povos que esto politicamente separados e os lacos politicos parecem ser dominantes onde quer que haja conflito entre eles e outros lagos sociais. A solugao deste ir numa investigagao mais atu- e aos simbolos por que se expressam. Os lagos de interesse utilitério entre 08 individuos. e_entre.os. gru- pos néo sao tdo fortes como os que, implicam, uma ligagdo,com_simbolos misticos. € precisamente a. maior riedade, baseada_nestes. lagos, que .geralmente d& aos grupos politicos o seu dominio sobre grupos sociais de outras espécies. O REINO DOS ZULO NA AFRICA DO SUL (*) Por MAX GLUCKMAN. 1. INTRODUGAO HISTORICA ‘A organizagao politica dos Zulo divide-se em periodos da historia zulo—sob o dominio do rel Mpande e actuaimente sob a administragao europeia. ria zulo foi descrita em pormenor por Bryant fe Gibson, e eu quero apenas dar um tragado simples que poder ser preenchido por referéncias aos seus fivros(?). Utilize’ registos hist6ricos, em parte para (1) A informagéo contida neste artigo fol largamente gida durante 0 trabalho de catorze meses na Zululandia (199638), subsidlada por National Bureau of Educational and Social Research da Unido da Africa do Sul (Carnegie Fund). Desejo expressar o meu reconhecimento por esse subsidio. Também recorri a muitos livros, relatérios e relatos acerca da Zululandia nos siltimos cem anos. Para a bibliografia destes, ‘gum relato sobre a sociedade zulo, vejase E. J. KRIGE, Social ‘Systems of the Zulo (Longmans, 1936). (2) A. T. BRYANT, Olden Times in Zululand and Natal (Longmans, 1938); J. ¥. GIBSON, The Story of the Zulus (Long- mang 1911), © relato sobre a nagao zulo neste artigo é uma Teconstrugao a partir de histérlas, documentos coevos © 05 meus Inquéritos a Individuos Idosos.

Anda mungkin juga menyukai