Anda di halaman 1dari 14

24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

Renan Giménez Azevedo Follow


Aug 23 · 15 min read

A nossa “vã” ciência: considerações sobre a


divulgação cientí ca na internet brasileira
Considerar: Vem do latim considerare, de sidus, astro. O sentido
etimológico era o de observar atentamente os astros, evoluindo depois por
observar atentamente qualquer coisa.

(VICTORIA, L. A. P. Dicionário da origem e vida das palavras. Rio de


Janeiro: Livraria do Império, 1958, p. 52).

Recentemente, o Pirula fez uma sequência de tuítes a respeito da


astrologia, a rmando que esta seria “a ‘terra plana’ socialmente aceita”.
Para quem não sabe, Pirula é doutor em zoologia na USP, cuja tese
pode ser acessada neste link. Além disso, ele possui um canal no
YouTube onde ele faz divulgação cientí ca com ótimos vídeos sobre
biologia, seu campo de conhecimento. Acredito que eu acompanhe seu
trabalho desde 2011, quando ele falou sobre Belo Monte. Volta e meia
ele faz vídeos sobre política, religião, ateísmo, entre outros assuntos.
Em seu último vídeo, ele fala da repercussão dos tuítes sobre astrologia
em quase 50 minutos.

Este texto é para discutir alguns pontos a respeito da postura do Pirula,


já que ele admitiu estar aberto às críticas, bem como tratar sobre como
ele e outros divulgadores das ciências “hard” (física, química, biologia,
medicina) categorizam a ciência como a de um tipo muito especí co,
de nindo como aquela produzida por estes campos do conhecimento,
desconsiderando as ciências “humanas” de suas análises. Realmente
não me recordo de um debate aprofundado de Marilyn Strathern,
Christina Toren, Claudia Fonseca, Fabíola Rohden, ou Bruno Latour nos
textos, vídeos e análises destes divulgadores. Estes nomes são ligados,
de uma forma ou de outra, à Antropologia da Ciência e apontam
algumas implicações sobre a ciência e seus métodos. E o problema em
não fazer este tipo de análise é assumir que a ciência positivista é
neutra e pura — algo que não é verdade. Sim, o conhecimento cientí co
deveria se autorregular com publicações, mas isto não se re ete de fato.

Este texto possui três pontos centrais:

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 1/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

1) A astrologia e a terra plana são radicalmente diferentes entre si,


pelas próprias propostas de cada uma destas ideias;

2) As ciências “hard” possuem uma forma de produção de


conhecimento que restringem outras áreas do conhecimento em sua
categorização daquilo que pode ser considerado ciência ou não;

3) Eu percebo a ausência de um tipo de crítica sobre a ciência dos


divulgadores cientí cos, uma crítica que pode ser utilizada para o
melhor uso deste conhecimento.

Espero conseguir lançar as bases para discussão neste texto.

Teorias da conspiração vs. Pensamento


místico
Eu sei que astrologia não é uma ciência […]. A astrologia de fato nada tem
a ver com a astronomia. Tem a ver com pessoas pensando sobre pessoas.

(ADAMS, Douglas. Praticamente Inofensiva. Rio de Janeiro: Sextante,


2010, p. 20–21)

Por que o Pirula ter comparado a terra plana com astrologia é tão
incômodo, inclusive para aquelas pessoas que não acreditam em
astrologia? A razão é que a astrologia não é a “terra plana” socialmente
aceita pois são formas de conhecimento distintas. A astrologia propõe
um sistema simbólico místico que, a priori, não entra em con ito com
outras formas de conhecimento. Já as ideias da terra plana, dos
movimentos anti-vacinação, e de negacionistas do aquecimento global
e do holocausto são formas de pensamento paranoicas em si,
contestando qualquer ontologia que não seja a sua própria. Em outras
palavras: são teorias da conspiração.

Teorias da conspiração são tentativas de explicar como certos eventos


são resultados de ações de grupos poderosos, de modo que as
explicações negam as narrativas aceitas sobre os eventos sendo que,
inclusive, versões o ciais são categorizadas como uma prova da
conspiração, um elemento para despistar da verdade, que seria a teoria
da conspiração propriamente dita (de nição que eu traduzi da
Encyclopædia Britannica). Esta negação da realidade é apontada pelo
Pirula em sua série de tuítes, onde ele apresenta seus argumentos para
tal. Ele também gravou um ótimo vídeo sobre teorias da conspiração,
explicando como que a própria teoria da Terra plana funciona como

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 2/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

uma dessas paranoias. Em suma, o discurso terraplanista aponta que o


planeta não é uma esfera, e há respaldo que seus defensores admitem
ser cientí co.

A astrologia, por outro lado, não é uma fonte de conhecimento que se


propõe a ser cientí ca. A lógica aqui é uma gramática para uma prática
mística, pessoal e/ou coletiva, que se baseia em aspectos simbólicos,
metafóricos, de elementos astronômicos, determinados originalmente
pelos solstícios e equinócios no hemisfério norte, onde a regra
fundamental é que o que está acima é como está abaixo. Estas e outras
ideias estão no Caibalion, livro que teria sido escrito por Hermes
Trismegisto, aquele da tábua de esmeralda que o Jorge Ben Jor gravou
um disco.

Não vou entrar em muitos detalhes para não car muito chato para
aqueles que não gostam do assunto, mas para ilustrar a dinâmica da
coisa: o equinócio de primavera de ne o primeiro dia do signo de Áries,
período marcado pela tosa de ovelhas que estavam cheias de energia
depois do inverno, tem o auge no signo de Touro, onde bovinos eram
utilizados para o trabalho e plantio na terra, e encerrava-se no signo de
Gêmeos, festividades antes do início do verão que envolviam
casamentos e apresentações teatrais. As características destes três
signos, a partir das práticas terrenas, é o ímpeto e energia de Áries, a
força da materialidade em Touro, e a comunicação em Gêmeos. O
mesmo ocorre para outros signos. Os planetas são marcadores de
outros aspectos. Por exemplo: o Sol seria a personalidade brilhante e
exposta (como o astro-rei), enquanto Marte é a vontade belicosa (artes
“marciais” são marcianas), e Mercúrio tem a ver com o conhecimento
(Hermes é o nome grego de Mercúrio, e por isso que a hermenêutica
tem esse nome). E ainda há outros desdobramentos simbólicos de
elementos e várias outras coisas que podem ser entendidas neste vídeo.

Em suma: existe uma correspondência simbólica para a compreensão


da sociedade e este conhecimento é utilizado para um entendimento
pessoal. A astrologia em nada tem a ver com as forças físicas, e a ideia
de energia aqui é uma coisa que não é passível de detecção material.
Resumidamente, astrologia é um conhecimento místico e não
necessariamente religioso (são coisas diferentes), que não se propõe a
ser uma ciência, mas é uma forma de conhecimento muito bem
ordenada que não nega a realidade presente — aliás, se inspira nesta
para precisão de ângulos em um mapa natal, radicalmente diferente de
uma teoria da conspiração como a terra plana que nega o formato do
planeta. Aliás, Aleister Crowley, um mago inglês e profeta da Nova Era,
que recebeu um livro sagrado, fez um tarot próprio e o escambau,

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 3/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

criticou uma ideia de astrologia cientí ca. Na minha opinião, não sei se
há alguma outra autoridade tão boa no assunto quanto ele.

Então os três pontos de comparação do Pirula da Terra Plana com a


astrologia são que: 1) são antigas igual; 2) não possuem respaldo
algum em evidência; 3) os argumentos dos defensores se baseiam em
viés de con rmação e péssima compreensão de leis da física. Bem, o
primeiro ponto não é possível de discordar. O terceiro argumento falha
no desconhecimento dele sobre a astrologia (não é baseada nas leis da
física, mas em outras questões), algo que, honestamente, não é
prioridade para o Pirula (e não o julgo por isso). Mas o segundo
argumento (“não possuem respaldo algum em evidência”) tem a ver
com a ideia central do próximo assunto, que é a construção do
conhecimento.

Cosmologias da ciência
Ciência é mais do que um corpo de conhecimento. É uma forma de pensar;
uma maneira de questionar o universo de forma cética, com o
entendimento das falhas humanas.

(Carl Sagan’s Last Interview: Science as a Candle in the Dark)

Vamos assumir que existe A Ciência e a “pseudociência”, e cada uma


possui formas distintas de criação de conhecimento, onde a primeira
privilegia a materialidade dos fenômenos ao mensurá-las
estatisticamente, algo que não é possível com as “pseudociências” (que
admitem ter um rigor cientí co). Contudo, estas não podem ser
descartadas apenas por não utilizarem o mesmo registro de
conhecimento daquelas, assim como não se deve considerar
“pseudociência” qualquer forma de conhecimento que escape do
método cosmológico cientí co.

“Cosmologia” é a forma de ordenamento dos seres, sujeitos e objetos,


em uma forma de concepção de mundo (cosmos). Existem diversas
cosmologias, como ameríndias, religiosas como judaica e cristã, e a
ciência também é uma cosmologia que possui suas próprias ontologias,
marcadas pela materialidade. De fato, todos os avanços tecnológicos da
modernidade foram possíveis graças a esta forma de raciocinar o
mundo. Particularmente, gosto do GPS para ilustrar estes avanços em
um sistema altamente so sticado que é resultado das aplicações da
relatividade einsteiniana.

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 4/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

Uma outra cosmologia é a linguística. Um autor pós-moderno, Jacques


Derrida, a rmou que nada existe fora do texto e esta ideia traz consigo
alguns resultados interessantes. O primeiro deles é que apenas
conseguimos conceber o mundo enquanto linguagem, enquanto texto.
Desa o a qualquer pessoa me mostrar um número 1, uma situação
destinada ao fracasso pois o número 1 não existe além de um conceito
matemático ou como um sinal grá co (1).

O ponto que quero trazer para discutir aqui é que o método cientí co
das “hard sciences” é apropriado para uma forma especí ca de
produção de conhecimento, que é aquele passível de testes em
laboratórios. Isolam-se as variáveis, observam-se os objetos, criam-se
hipóteses, aplicam-se os testes e repete-se o processo para alcançar um
resultado determinado. Remédios são produzidos desta forma, bem
como outros exames são desenvolvidos, e novos materiais são
descobertos. Esta é a única forma de se fazer ciência? É óbvio que não.

Darei um exemplo de objeto difícil de reproduzir em laboratório:


racismo. Kimberle Crenshaw é a criadora da teoria feminista
interseccional, cunhando o termo em um artigo de 1989, onde ela faz
aparecer os marcadores racial e misógino nos critérios de admissões e
demissões em empresas nos EUA (um texto em português onde ela
menciona este trabalho pode ser acessado neste link). Como reproduzir
a experiência da demissão de mulheres negras em laboratório para
comprovar o racismo evidente? Existem outras formas de análise
estatística, como o cruzamento de dados das próprias demissões ou em
ambientes controlados para observar as reações dos sujeitos, mas isto
não faz com que o racismo estrutural não seja confessado, nem permite
medir o nível de racismo de uma pessoa, e ambas informações seriam
dados objetivos. O mesmo vale para outras pressões da sociedade,
como o machismo, patriarcado e a própria exploração da economia
capitalista. Citando Roy Wagner, a antropologia (e estendo esta
a rmação para as humanidades em geral) não possuem uma
objetividade absoluta como as “hard sciences” racionalistas se
pretendem a ter, mas sim uma objetividade relativa que é construída a
partir de vários contrastes que não é evidente em um primeiro
momento. Isso não signi ca que as humanidades sejam terra de
ninguém, sem qualquer tipo de metodologia. Um clássico absoluto é
Argonautas do Pací co Ocidental (1992), de Bronisław Malinowski,
onde a introdução possui o título autoexplicativo “Objeto, método e
alcance desta pesquisa”.

Como alguém que consome conteúdos de divulgação cientí ca, eu


percebo uma certa arrogância de divulgadores que utilizam o Método

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 5/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

Cientí co (com eme e cê maiúsculos) como um evangelho para


determinar o que é ou não é ciência. A psicologia é outra área do
conhecimento que não é possível de ser reproduzida em testes
laboratoriais, logo deve-se categorizar a psicologia como uma
pseudociência por isto e erradicar com o seu estudo acadêmico? A ideia
aqui é que existem formas de produção de conhecimento distintas que
não devem ser descartadas simplesmente por serem diferentes umas
das outras. Se é o caso, então o que pode ser de nido como ciência ou
não-ciência? Bem, esta é uma questão para a loso a da ciência e que,
honestamente, não tenho calibre para responder, mas abre espaço para
outra questão que é relevante para pensarmos a respeito e chegarmos a
alguma resposta.

Limites do método cientí co


DO OBJETIVO DA CIÊNCIA:
[…] É certo que com a ciência se pode favorecer um e outro objetivo. Talvez
agora se conheça mais a ciência por causa de sua faculdade de privar os
homens de seu prazer e de torná-los mais frios, mais insensíveis, mais
estoicos […].

(NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. São Paulo: Editora Escala, 2006, p. 49)

Na minha leitura (que é nietzschiana), a grande crítica à ciência


moderna é que esta não resolve questões “da alma” humana. Nós,
enquanto grande civilização humana, enviamos artefatos para além do
nosso sistema solar, conseguimos detectar doenças ainda em um nível
embrionário, somos capazes de produzir comida para alimentar o
planeta inteiro. Ainda assim, desenvolvemos depressão, morremos de
fome, nos matamos em guerras e suicídios. Esta crítica ao pensamento
moderno, que concebeu o mundo contemporâneo, aparece em diversas
formas que são menosprezadas pelas ciências “hard”. E há duas áreas
do conhecimento que são desprezadas por divulgadores de ciência,
bem como acadêmicos “hard”, e que podem contribuir para isto:
homeopatia e loso a pós-moderna.

Começo pelo primeiro. Não vou entrar no mérito dos testes clínicos da
homeopatia, que é bem demonstrada a ine ciência farmacológica, mas
sim sobre a forma de tratamento. Um médico homeopata observa o
paciente como um sujeito e valoriza a “individualidade enferma em
seus aspectos bio-psico-sócio-espirituais”, e não como uma máquina
defeituosa que precisa ser consertada com remédios. O sucesso da
homeopatia e sua resiliência como campo da medicina não estão na

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 6/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

e cácia do medicamento, mas sim no engajamento do paciente que é


tratado como um ser humano, algo que não ocorre nas clínicas médicas
de um modo geral. O canal Kurzgesagt — In a Nutshell tem um ótimo
vídeo a respeito da homeopatia, abordando lobby, farmacologia e as
razões pelo seu sucesso (em inglês, mas com legendas).

Como é esperado, Pirula também fez um vídeo sobre homeopatia,


especi camente o debate que ocorreu na USP. Logo no início do vídeo,
ele critica a “ rme convicção de seus usuários e praticantes”, dizendo
que isto pode ser para qualquer crença. Novamente, não vou discutir
sobre a validade da homeopatia, mas sim discutir as possíveis
motivações que levam a alguém optar um tratamento que é alvo de
críticas pela comunidade médica. E esta motivação, cogito, estaria
embasada numa descrença da ciência moderna que não é capaz de
resolver problemas humanos intangíveis, não quanti cáveis. Ao mesmo
tempo, esta mesma ciência privilegia a materialidade dos fenômenos
físicos, químicos e biológicos. Exemplos contemporâneos de ambientes
propícios para produção de mal-estar e doenças são a academia
(universidade) e o local de trabalho. Resultado: epidemias de
analgésicos opioides e de psicoestimulantes para lidar com a pressão
produzida nestes locais, mas as causas não são resolvidas.

Este é o meu argumento de porque as pessoas acabam se tornando


“naturebas” e negam a medicina moderna e é neste ponto que
divulgadores cientí cos poderiam se pautar melhor: tratar as pessoas
como sujeitos complexos que estão inseridos em sociedades com
pressões diversas. A pretensão de uma pureza objetiva e clara para
resolver problemas possui vantagens (como avanços tecnológicos), mas
também possui limites. A sociedade não é objetiva e as pessoas tornam-
se sujeitos nessas situações que fogem de modelos matemáticos. E aqui
entra a crítica pós-moderna, que aponta os limites da modernidade e a
desconstrói, mas não chega a apresentar uma solução. Para uma
re exão mais aprofundada sobre o tema, sugiro a leitura de O mal-estar
da pós-modernidade, do Zygmunt Bauman. Este Sonho de Pureza, este
construto ideal a ser atingido pela Ordem, este “meio regular e estável
para nossos atos; um mundo em que as probabilidades dos
acontecimentos não estejam distribuías ao acaso, mas arrumadas numa
hierarquia estrita — de modo que certos acontecimentos sejam
altamente prováveis, outros menos prováveis, alguns virtualmente
impossíveis” (BAUMAN, p. 15), é buscado pela ciência e medicina
modernas, mas falham em alcançar outros locais além do laboratório. E
isto se agrava quando divulgadores cientí cos agem quase como
proselitistas, a rmando categoricamente que aquilo que escapa de um
método determinado deve ser sumariamente descartado. Eu discordo

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 7/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

desta rejeição. O que deve ser feito é compreender estes outros modos
de pensar o mundo para buscar outras soluções que estão além dos
nossos limites teóricos, como tem sido o trabalho do Viveiros de Castro
em torno do perspectivismo e do pensamento indígena amazônico. A
relação com a natureza destes povos é completamente diferente da
nossa — e temos muito a aprender com esta cosmologia.

Atualmente, não percebo uma boa ideia de divulgadores cientí cos em


criticar a astrologia e a homeopatia pelas razões que discuti até agora.
Penso que seria muito mais produtivo em compreender estas visões de
mundo e incorporar na postura acadêmica, nem que seja para admitir
os limites do método cientí co, algo que não é feito e pode gerar coisas
bastante nocivas como a ideia de eugenia. Não quero cair na Lei de
Godwin aqui, mas a comparação feita pelo Pirula de astrologia com
eugenia foi bastante infeliz. O argumento é que a normalização delas é
nociva pois ambas são interpretações erradas da realidade, porém ele
não aponta que a fundamentação delas são diferentes. Enquanto o
discurso da astrologia não nega a ciência e a postura terraplanista tenta
colocar em xeque o pensamento cientí co, a eugenia é justamente uma
hipervalorização das ciências biológicas. Este mesmo discurso,
hipercienti cista e eugênico, ainda existe em círculos que vão além de
supremacistas raciais, como os “incels” (celibatários involuntários) que
usam argumentos retirados de livros de eugenia, como a formação do
crânio, para determinar para sua solidão. Este é um discurso que busca
evidências na ciência e que pode levar pessoas a matar.

Bem, este texto já está muito maior do que eu planejei e de forma


alguma é um ataque ao Pirula e demais divulgadores de ciência. Ao
contrário, acredito que precisamos melhorar a forma que a ciência é
divulgada na sociedade. Da mesma forma que as informações mal
difundidas como a fosfoetanolamina podem causar sérios problemas,
menosprezar outros estilos de vida podem gerar um ar de arrogância
aos cientistas que pode di cultar ainda mais a comunicação e causar
ainda mais ruídos. Saber de astrologia pode não resolver o próximo
problema da física, mas pode ajudar a rir de mais algumas piadas e
entender como as pessoas se entendem como pessoas, como já disse
Douglas Adams. Seja como for, há muito mais coisas entre o céu e a
terra do que já sonhou a nossa ciência.

Links e referências (em ordem de menção)


1. Sequência de tuítes do Pirula sobre astrologia e terraplanismo
https://twitter.com/Pirulla25/status/1030420608511864832

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 8/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

2. Lattes do Pirula
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?
id=K4127004H1

3. Revisão da família Baurusuchidae e seu posicionamento logenético


dentro do clado Mesoeucrocodylia. Tese de doutorado
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41133/tde-27082014-
103842/pt-br.php

4. Canal do Pirula
https://www.youtube.com/channel/UCdGpd0gNn38UKwoncZd9rmA

5. Cladística — reconstruindo a Evolução (#Pirula 94)


https://www.youtube.com/watch?v=SAoFkZczm2Y

6. Belo Monte é a Gota D’água? (#Pirula 10)


https://www.youtube.com/watch?v=xnitmB22JtQ

7. A treta dos meus tweets sobre astrologia (#Pirula 262)


https://www.youtube.com/watch?v=ePG4rOwhuC8

8. Marilyn Strathern, « Cortando a Rede », Ponto Urbe [Online], 8 |


2011, posto online no dia 31 julho 2011, consultado o 22 agosto 2018.
URL: http://journals.openedition.org/pontourbe/1970 ; DOI:
10.4000/pontourbe.1970

9. TOREN, Christina. Antropologia e psicologia. Rev. bras. Ci. Soc., São


Paulo, v. 27, n. 80, p. 21–36, Out. 2012. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69092012000300002&lng=en&nrm=iso>. acessos em 22 Aug. 2018.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69092012000300002.

10. FONSECA, Claudia. A certeza que pariu a dúvida: paternidade e


DNA. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 12, n. 2, p. 13–34, ago. 2004.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2004000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 ago. 2018.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2004000200002.

11. ROHDEN, Fabíola. “O homem é mesmo a sua testosterona”:


promoção da andropausa e representações sobre sexualidade e
envelhecimento no cenário brasileiro. Horiz. antropol., Porto Alegre, v.
17, n. 35, p. 161–196, jun. 2011. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 9/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

71832011000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 ago. 2018.


http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832011000100006.

12. Latour, B. (1996). On actor-network theory: A few clari cations.


Soziale Welt, 47(4), 369–381. Disponível em <
http://www.jstor.org/stable/40878163 >

13. Antropologia da Ciência. Horiz. antropol. vol.17 no.35 Porto Alegre


jan./jun. 2011. http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_issuetoc&pid=0104-718320110001&lng=pt&nrm=iso

14. Veritasium: Is Most Published Research Wrong?


https://www.youtube.com/watch?v=42QuXLucH3Q

15. Conspiracy theory. (2018). In Encyclopædia Britannica.


https://www.britannica.com/topic/conspiracy-theory

16. Terra Plana e o Filtro pra Teorias da Conspiração (#Pirula 130)


https://www.youtube.com/watch?v=yzY7swaTwmA

17. O Caibalion: Estudo da Filoso a Hermética do Antigo Egito e da


Grécia http://www.hermetics.org/pdf/KybalionBr.pdf

18. Jorge Benjor — 1974 — A tábua de esmeralda


https://www.youtube.com/watch?v=Uj_9sVy-evk

19. Conhecimentos da Humanidade: Astrologia — Live com Marcelo


Del Debbio https://www.youtube.com/watch?v=u2cwH7hB3P0

20. Aleister Crowley. How Horoscopes Are Faked.


https://hermetic.com/crowley/international/xi/11/how-horoscopes-
are-faked

21. Carl Sagan’s Last Interview: Science as a Candle in the Dark


https://www.singularityweblog.com/carl-sagans-last-interview-
science-as-a-candle-in-the-dark/

22. Silvia Faustino. Derrida e a linguagem. Revista Cult


https://revistacult.uol.com.br/home/derrida-e-a-linguagem/

23. CRENSHAW, Kimberle. Demarginalizing the intersection of race


and sex: A black feminist critique of antidiscrimination doctrine,
feminist theory and antiracist politics.
https://philpapers.org/archive/CREDTI.pdf

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 10/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

24. CRENSHAW, Kimberle. A intersecionalidade na discriminação de


raça e gênero. VV. AA. Cruzamento: raça e gênero. Brasília: Unifem, p.
7–16, 2004. http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-
content/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf

25. Governo do Paraná — Teste de Imagem


https://www.youtube.com/watch?v=m6M_PiqmGZg

26. Roy Wagner. A invenção da cultura (livro)


http://www.ubueditora.com.br/a-invenc-o-da-cultura.html

27. Bronisław Malinowski. Argonautas do Pací co Ocidental (livro)


http://www.ubueditora.com.br/argonautas-do-paci co-ocidental.html

28. OPEN SCIENCE COLLABORATION. Estimating the reproducibility


of psychological science. Science, v. 349, n. 6251, aac4716, 27 ago.
2015. American Association for the Advancement of Science (AAAS).
Disponível em
<http://science.sciencemag.org/content/349/6251/aac4716>
http://dx.doi.org/10.1126/science.aac4716.

29. Does SCIENCE = TRUTH? (Nietzsche + Mega Man) — 8-Bit


Philosophy https://www.youtube.com/watch?v=Y68mGbvZZZg

30. Organização Mundial da Saúde. Depression.


http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/depression

31. Organização Mundial da Saúde. World hunger again on the rise,


driven by con ict and climate change, new UN report says.
http://www.who.int/news-room/detail/15-09-2017-world-hunger-
again-on-the-rise-driven-by-con ict-and-climate-change-new-un-
report-says

32. Nerdologia. Como Funciona a Homeopatia?


https://www.youtube.com/watch?v=26AgMFsh-98

33. Teixeira, M. (2006). Homeopatia: ciência, loso a e arte de curar.


Revista De Medicina, 85(2), 30–43.
http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/59211/0

34. Margarete de Moraes. Atendimento médico rápido e impessoal


deixa pacientes descon ados. Folha Online. 12/07/2001
https://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u213
.shtml

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 11/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

35. Kurzgesagt — In a Nutshell. Homeopathy Explained — Gentle


Healing or Reckless Fraud? https://www.youtube.com/watch?
v=8HslUzw35mc

36. A treta da homeopatia na USP (#Pirula 213)


https://www.youtube.com/watch?v=kJsUDGW7rmM

37. Beny Spira. A homeopatia é uma farsa. 15/05/2017


http://jornal.usp.br/artigos/a-homeopatia-e-uma-farsa-criminosa/

38. Rosana Pinheiro-Machado. Precisamos falar sobre a vaidade na


vida acadêmica. 24/02/2016
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/precisamos-falar-sobre-a-
vaidade-na-vida-academica

39. Viracasacas #73 Sofrimento mental, trabalho e consumismo


https://viracasacas.com/2018/08/07/73-sofrimento-mental-trabalho-
e-consumismo/

40. Vox. Painkillers now kill more Americans than any illegal drug
https://www.youtube.com/watch?v=Hx7WLlJzrlw

41. Bianka Vieira. Rebite universitário. Revista Trip #266. 03.07.2017


https://revistatrip.uol.com.br/trip/estudantes-de-medicina-e-o-uso-
indiscriminado-de-ritalina-drogas-da-inteligencia-saude-mental-
suicidio-fmusp

42. Zygmunt Bauman. O mal-estar da pós-modernidade (livro)


https://zahar.com.br/livro/o-mal-estar-da-pos-modernidade

43. O pensamento indígena amazônico.


https://www.youtube.com/watch?v=E7lOjgpql9Y

44. Lei de Godwin. Wikipedia


https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Godwin

45. Tuíte do Pirula comparando astrologia com eugenia


https://twitter.com/Pirulla25/status/1030424071203430400

46. Nerdologia. A Ciência Nazista https://www.youtube.com/watch?


v=HelR0sMSWmc

47. Christian Dunker. O machismo e quem são os incels? Falando nIsso


191 https://www.youtube.com/watch?v=sTLwraoGAIQ

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 12/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

48. ContraPoints. Incels https://www.youtube.com/watch?


v=fD2briZ6fB0

49. BBC. Elliot Rodger: How misogynist killer became ‘incel hero’.
https://www.bbc.com/news/world-us-canada-43892189

50. Anthony Esolen. The Humility of Science, the Arrogance of


Scientists https://www.catholiceducation.org/en/science/faith-and-
science/the-humility-of-science-the-arrogance-of-scientists.html

51. Tuíte: “Me dando conta agora que Marx é taurino e isto dá todo um
novo sentido a “de pé, ó vítimas da fome””
https://twitter.com/cris_charao/status/992113592987242496

52. Astrologia, por Douglas Adams (citação retirada de Praticamente


Inofensiva, capítulo 2) https://medium.com/@passis/astrologia-por-
douglas-adams-52b1ec544146

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 13/14
24/08/2018 A nossa “vã” ciência: considerações sobre a divulgação científica na internet brasileira

https://medium.com/@rga.relint/a-nossa-v%C3%A3-ci%C3%AAncia-considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-divulga%C3%A7%C3%A3o-cient… 14/14

Anda mungkin juga menyukai