Anda di halaman 1dari 4

As Crianças e a Morte

In: https://grupopapeando.wordpress.com/2010/05/23/as-criancas-e-a-morte/

“A Órfã” por James Tissot(1836-1902)

49
Não adianta fingir que a morte não existe. Não adianta iludir-mo-nos. Todos nós vamos morrer
um dia! É tão certo como estar neste momento a ler estas linhas… Tudo o que nasce tem um
fim, a morte faz parte da vida, é uma realidade incontornável. Porque não falamos então desta
inevitabilidade? Porque evitamos abordar o tema, especialmente com as crianças? Porque as
impedimos de lidar com a tristeza, de se aproximarem de quem está a morrer, de se
despedirem, de se exprimirem? A morte tornou-se demasiado incómoda. Como disse Pascal,
já que não podemos substituí-la temos a audácia de não pensar nela!

As crianças apercebem-se da separação e da morte, interrogam-se sobre a existência, têm a


sua própria visão do que viver e morrer, ainda que tantas vezes não tenham oportunidade de
se manifestar, de expor as suas dúvidas, de partilhar os seus pensamentos, as suas emoções…
«As crianças, por estarem mais próximas do início da vida, por estarem mais perto da fonte,
ainda não desenvolveram tantos medos e angústias em relação à vida e à morte, têm uma
visão mais pura», explica a psicóloga Carol Gouveia e Melo, autora do livro Viva a Vida – Um
conto sobre a vida e a morte (Climepsi, 2007). «Sabe-se que nascemos apenas com o medo
das alturas e dos sons altos, os restantes medos são adquiridos… O receio da morte
desenvolve-se à medida que a criança cresce e tem muito a ver com o meio que a envolve,
com as crenças e os medos dos adultos, que acabam por ser assimilados», lê-se no livro. Não
é a morte que verdadeiramente assusta as crianças, é o nosso medo que as contagia: «O que
uma criança mais receia é a separação, é ficar separada de quem ama.» A visão sombria e
terrífica da morte é algo apreendido culturalmente: «Cabe a todos fazer um esforço para que
deixe de ser assim.»

Não Há Vida Sem Morte

«A morte é um processo natural da vida, morte e vida estão intrinsecamente ligadas, uma não
existe sem a outra, é como a palma e as costas da mão», lembra Carol Gouveia e Melo. «Não
há vida sem morte, e também não há morte sem vida. Uma gera a outra como se fosse uma
roda que gira sem parar, criando um ciclo após o outro», explica sabiamente o avô ao neto,
sentado no leito da sua cama, no conto infantil escrito por Carol, «É fundamental ajudar as
crianças a entender e aceitar a morte, mas para isso não as podemos confundir nem enganar,
nem impedir que saibam a verdade,» O silêncio, as perguntas sem resposta, as respostas em
sentido figurado, reforçam a “visão da morte como algo interdito ou tremendo. Sobre a morte
não se fala, ou fala-se evasivamente e arruma-se o assunto. «Só que se não falarmos
abertamente, arriscamo-nos a que as crianças imaginem coisas ainda mais estrambólicas e
horríveis, que podem gerar outros medos e até complicações de saúde», adverte a terapeuta,
colaboradora da Amara (associação pela Dignidade na Vida e na Morte). «Conheço vários casos
curiosos, como o de um menino que não participou no funeral do avô e que desenvolveu asma,
tendo os sintomas desaparecido totalmente quando a mãe o levou ao cemitério. “Oh mãe,
porque não me trouxeste aqui antes? É um sítio tão bonito!”, comentou o menino.» Um
cemitério, um quarto de um hospital… podem transformar-se em locais inesperadamente
interessantes quando observados pelos olhos curiosos de uma criança.

Esconder que alguém próximo morreu só complica a situação e adia o inevitável. «É preciso
dar nome às coisas; chamar morte à morte, sem rodeios. Não se deve dizer: foi para o céu,
adormeceu para sempre, transformou-se numa estrelinha, porque a criança não entende esta
linguagem simbólíca, só vai ficar mais confusa e pode desenvolver fobias, como a de andar de
avião ou de adormecer. Também não é correcto manter a criança à parte quando alguém que
ela ama está muito doente ou na fase terminal da sua vida, porque ela vai perceber que se
passa algo de muito grave, que não lhe querem dizer. Isso só faz aumentar a sua angústia e
a sensação de exclusão. Tenho ornado muitos testemunhos de pessoas que sofreram por não
terem podido assistir à doença da mãe ou do pai quando eram crianças, por não terem tido a
possibilidade de se despedirem. Sentem um vazio, como se algo lhes tivesse sido roubado»,
diz Carol Gouveia e Melo. «Sempre que possível, deve-se deixar a criança acompanhar a
pessoa doente e participar nos cuidados, ajudando na alimentação, na higiene… será uma
forma de se sentir útil, de mostrar o seu afecto, de compreender que a doença e a velhice
fazem parte da vida. A degradação física custa muito mais aos adultos do que às crianças que
vêem com outros olhos e comunicam a outro nível». Não adianta ler histórias muito bonitas
se, na prática, não deixarmos as crianças familiarizarem-se com a perda e a morte.
«É importante que a criança possa ver a pessoa depois de morrer para se despedir se for essa
a sua vontade, mas não deve ser forçada a isso. Da mesma maneira, deve ser permitido à
criança ir ao funeral, o que evitará fantasias sobre para onde foi o familiar que desapareceu.»

50
O Peso da Culpa

A morte é sempre um acontecimento triste. «O sofrimento é inevitável quando se perde


alguém que nos é querido mas podemos ajudar as crianças a lidar com o sofrimento de uma
forma saudável, tornando-as mais fortes e mais preparadas para enfrentar os desgostos e as
adversidades que vão surgir ao longo da vida. Como é que isso se consegue? Com partilha,
choro, abraços, amor. Elas descobrem que até as coisas mais tristes podem ser ultrapassadas
com o apoio dos outros.» O argumento de querer poupar o sofrimento aos filhos já não serve
como desculpa para não se falar da morte ou da pessoa que morreu… Há a ilusão de que se
não tocarmos no assunto, estamos a proteger a criança, como se o silêncio alterasse
magicamente a realidade: «O que acontece é que a criança se sente confusa e desamparada,
sem ter com quem conversar. Quanto mais negarmos os seus sentimentos, dizendo “não
chores que isso passa”, “não fiques triste”…, mais a criança terá necessidade de nos convencer
de que o que sente é real ou então desiste e fecha-se no seu mundo.»

As crianças não reagem da mesma forma que os adultos, nem passam por todas as etapas do
processo de luto – choque, negação, protesto, depressão/ambivalência, reconstrução e
superação. «A sua capacidade Morrer é de entendimento varia com a idade, a sua visão da
morte pode ser muito diferente ao longo do tempo, logo as suas reacções também são
variáveis. Contudo, um sentimento frequente entre as crianças é a culpa», diz a terapeuta.
Muitas sentem-se culpadas pelos sentimentos que têm ou tiveram em relação à pessoa que
morreu e culpabilizam-se pela sua morte: «É fundamental explicar à criança que a morte desse
ente querido nada tem a ver com os nossos sentimentos, não podemos deixar que cresçam
com o peso da culpa» No caso de morte por suicídio, torna-se mais complicado superar a perda
e aceitar a morte: «Em qualquer situação, será sempre necessário escutar e responder às
dúvidas à medida que a criança vai crescendo.» O assunto nunca fica arrumado.

Quando a morte paira sobre a própria criança, quando a perspectiva de cura se desvanece, o
sentimento de culpa e de impotência desaba sobre a família. A dificuldade de falar sobre a
morte é ainda maior. «Por vezes queremos proteger a criança e escudá-la da verdade que a
pode ferir. O problema é que a mentira dói mais ainda.»

Uma criança é muito sensível, consegue sentir a preocupação e a tristeza, não se deixa
enganar pela cara alegre que compomos. Se explicarmos que estamos tristes e porquê ela vai
sentir-se mais segura. Como é óbvio não podemos transmitir a verdade de qualquer maneira,
sem contemplações, é preciso acompanhar o ritmo da criança e perceber o que podemos dizer
em cada momento», aconselha Carol Gouveia e Melo; «Quando transmitimos a verdade com
carinho e serenidade, as crianças aceitam-na melhor do que nós.»

Diferentes Idades, Diferentes Visões

Cada criança constrói a sua percepção da morte, que vai evoluindo ao longo da idade. «Uma
criança pode encontrar inúmeros exemplos de morte, por exemplo, numa folha caída ou num
animal morto, e observar que este não se move nem reage a qualquer estímulo. Isso suscita-
lhe curiosidade e ela procura rapidamente uma explicação junto de um adulto ou de outra
criança. A partir dessas explicações ou crenças, ela desenvolve as suas próprias ideias. Tanto
o que lhe é dito, como o que não se diz (que passa nalguns casos pelo silêncio ou pela fuga à
questão), tem uma grande repercussão no imaginário infantil e no seu desenvolvimento»,
escreve Abílio Oliveira, no livro Ilusões na Idade das Emoções (F.C. Gul-benkian, 2008).

Em geral, consideram-se quatro fases, que se sucedem no tempo, do nascimento à


adolescência, mas nem todas as crianças passam por estas etapas. Até aos dois anos, «a
morte tende a ser entendida como a separação de alguém que lhe era querido (em especial a
mãe ou o pai) e como perda do conforto que sentia». O bebê reage à ausência de uma figura
significativa, revelando dificuldade em comer, dormir ou manter hábitos de higiene já
adquiridos. «Entre os três e os cinco anos, a morte é vista como algo temporário e reversível,
ou como uma espécie de castigo que pode terminar a qualquer momento; a criança crê ter
pensamentos mágicos e que pode trazer de volta o morto ou, pelo contrário, provocar a morte
a alguém; pode sentir-se culpada pelo que aconteceu ou pelo que não consegue fazer, pois as

51
razões da cessação da vida são mágicas e misteriosas. Recusa-se a aceitar a morte como o
fim, sendo incapaz de imaginar a vida sem o pai ou a mãe; pode recear que o morto sinta frio
ou fome, que esteja zangado ou triste, ou ficar chocada se ele não comparecer na sua festa
de aniversário, pois, interiormente, ela continua muito ligada a ele» refere Abílio Oliveira.

Dos seis aos nove anos, «a criança começa a perceber que a morte é permanente e comum a
todos os seres vivos; mas, intimamente, crê que ela e os seus familiares, ao contrário de
outros, não serão castigados e estão imunes». Nesta idade, a morte é representada como um
monstro, um papão, um fantasma, provocando medo, angústia e, por vezes, terrores
nocturnos. É também frequente o interesse pelas causas e pelo processo de decomposição
decorrente da morte, que aprendem na escola em relação às plantas e animais. A partir dos
dez anos e até à adolescência, a morte passa a ser olhada «como um acto final e irreversível,
uma parte do ciclo de vida». As maiores interrogações surgem na adolescência, com o
questionamento dos rituais religiosos, da espiritualidade e do sentido da vida.

Chamada Para a Vida

Custa-nos aceitar a morte, talvez porque intimamente acalentamos o desejo de eternidade.


Mas ainda que fosse possível, será que algum de nós desejaria nunca morrer ou viver para
sempre com o corpo que tem? Temos medo de morrer mas a hipótese de nunca morrermos
parece ser ainda mais assustadora, como romanceou José Saramago. Porquê, então, fugir do
tema? Porquê o silêncio? Porquê impedir as crianças de descobrir a verdade? «Nunca
conseguimos vencer completamente o medo da morte, porque está relacionado com medos
inerentes à vida: o medo do desconhecido, da separação de quem amamos, de não viver uma
vida plena, de envelhecer e perder a dignidade… Mas se tentarmos viver a nossa vida com
sentido, se estabelecermos mais proximidade com os outros, atenuamos a ansiedade que
temos perante a morte», diz Carol. «A morte nunca deixa de estar presente no nosso intimo,
constituindo um dos maiores enigmas da vida», escreve Abílio Oliveira. Quanto mais
reflectimos sobre a morte, mais apreciamos e valorizamos cada instante da vida. A morte tem
um objectivo: chamarnos para a vida. »

Nota: Citações recolhidas por Ana Leão e Alejandra Aímeloa, em trabalhos cie
investigação científica, reaiizadas no âmbito de um mestrado em Ciências da
Educação.

Para saber Mais:


As crianças do Vale da Morte - Reflexões sobre a criança terminal
http://www.jped.com.br/conteudo/96-72-05-287/port.pdf

MORTE PEDIÁTRICA NO COTIDIANO DE TRABALHO DO ENFERMEIRO: SENTIMENTOS E


ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
http://www.revistarene.ufc.br/vol11n2_pdf/a07v11n2.pdf

Terminalidade da vida infantil: percepções e sentimentos de enfermeiros


http://www.scielo.br/pdf/bioet/v23n3/1983-8034-bioet-23-3-0608.pdf

Algumas sugestões de livros infantis sobre a morte


http://www.reab.me/9-livros-para-conversar-com-criancas-e-jovens-sobre-a-morte/

Video: Psicóloga oferece sugestões de como lidar com crianças que passaram por perdas.
https://youtu.be/K4lcr8ea9DI

52

Anda mungkin juga menyukai