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UFRGS- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

IGEO-INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
GEOGRAFIA POLÍTICA

Aluno: Ricardo Souza (191391).


Professor: Aldomar Arnaldo Ruckert
Data: 27.06.10

RESENHA
SANTOS,Milton. Por uma outra globalização. São Paulo: Record, 2001

Milton Santos(1926-2001),um dos mais proeminentes geógrafos brasileiros,


formado em Direito e Honoris Causa em Geografia, desenvolveu vasta e profunda obra
sobre urbanização e Terceiro Mundo. Nesta obra, “Por uma outra Globalização- do
pensamento único à consciência universal” ele faz uma análise crítica da globalização
que hoje se configura mundialmente, apontando suas perversidades, e,indo além, indica
suas falhas e propõe soluções, uma globalização mais humana, que se dará pelos
mesmos meios técnicos que sustentam a globalização vigente, mas agregados a uma
ampla consciência e ação coletiva..

Santos propõe atualmente a existência de três globalizações, de três ideias de mundo


que coexistem na atualidade: a Globalização como Fábula, a Globalização como
Perversidade e a Globalização como Possibilidade.

A Globalização como Fábula seria o mundo tal como nos fazem ver, que nos fazem
acreditar ser, por meio das fabulações propostas pelos meios de comunicação que visam
moldar um “pensamento único” da aldeia global, da supressão das distâncias, a queda
das fronteiras e das ideologias, a falência do Estado e o endeusamento do consumo.

A Globalização como Perversidade, seria o mundo tal como é, de fato, com a


mundialização do mercado se agravou as mazelas e as desigualdades profundamente,
como fome, miséria, desemprego crônico e estrutural, retorno de doenças até então
erradicadas como tuberculose, e elevada mortalidade infantil mesmo com o avanço da
medicina.

A Globalização como Possibilidade, seria uma o mundo como pode ser, justamente
pelos mesmos meios técnicos que a viabilizam a globalização tal como é. Hoje a
cultura popular tem acesso a meios de comunicação que antes seriam restritos à “cultura
de massas” que de certa forma mitiga a assimetria de forças. Esse meios tecnicos se
usados por outra orientação política e social, podem ser usados para escrever uma nova
história. A globalização de certa forma possibilitou conhecer as diferentes culturas de
outras civilizações e essa mistura cultural tende a contrapor o racionalismo europeu. E
também é perceptível um novo discurso, uma Universalidade Empírica, não a abstração
filosófica, antes atribuída.
No segundo capítulo, Santos descreve alguns conceitos, que seriam os sustentáculos
da Globalização perversa que também podem sustentar uma outra globalização
possível.
A atual Globalização perversa seria o auge da internacionalização do capitalismo, e
esse período histórico deve ser analisado agregando tanto o estado da técnica quanto o
estado da política, que geralmente são vistos de forma separada,de forma errônea. A
história é feita pelas famílias de técnicas de cada época(as técnicas da idade da pedra, a
idade dos metais, a era industrial, a era da eletricidade e hoje era da técnica da
informação), e as escolhas políticas que determinam onde, quando e como fazer o uso
delas .Logo todas as técnicas da atualidade que viabilizam o mercado global e uma
globalização perversa podem, se seu uso político for outro, criar-se-ia uma globalização
diferente. Os elementos que constituem essa globalização são a unicidade da técnica,a
convergência dos momentos,a cognoscibilidade do mundo, e o motor único da mais-
valia global.

A Unicidade Técnica hoje foi proporcionada pela família de técnicas modernas da


Informação que aborda a informática, a cibernética e a eletrônica,e cuja principal
ferramenta é o computador, o que garante um diálogo entre outras técnicas, diferente de
outras ondas tecnológicas que caracterizaram outros períodos. A tendência é uma
família técnicas ao surgir e predominar, acabar por suplantar os submeter as técnicas
anteriores, assim levando atores dependentes dessas técnicas a se tornarem obsoletos. A
família técnica atual é a primeira que envolve o planeta como um todo impondo sua
presença direta ou indiretamente. Claro que esse efeito se dá devido orientação política
dessas técnicas, de vocação invasora e predatória e monopolizada nas mãos de alguns
Estados e empresas. Ela e outros elementos da globalização se retroalimentam
dialeticamente, sem a unicidade da técnica seria impossível a o mercado global e a
unicidade do tempo, e ela não teria eficácia sem eles.

A Convergência dos Momentos,que seria a uniformidade não só do tempo de “relógio”


mas dos momentos vividos, da percepção do tempo, a chamada “interdependência e
solidariedade do acontecer”.Isso é resultado de uma corrida técnica das empresas
globais de garantir a uniformidade dos relógios e assegurar que o mercado funcione
permanentemente em diferentes lugares do mundo. Devido a esse avanço científico que
possibilitou a convergência dos momentos, se proporcionou a informação instantânea de
qualquer ponto do mundo, o que fundamenta a falácia da aldeia global, porém sabemos
que aceleração proporcionada pela técnica que garante a cognoscibilidade do planeta é
limitada a poucos atores que dominam os meios técnicos, que detêm a fluidez efetiva
sobre o tempo,

A Cognoscibilidade do Planeta, outra novidade da atualidade, hoje como nunca


podemos conhecer o planeta de forma de extensa e profunda. Isso possibilita uma
unicidade técnica, temporal e espacial, e é usado para uniformizar a economia e
alimentar aquilo que está por trás de tudo isso, o motor único da globalização, a mais-
valia global.

A Mais- Valia Global, ou seja, o Motor Único da atual economia capitalista se dá pelo
poder das empresas, já globais que se valem de uma unificação da técnica, do tempo e
do espaço e da mundialização do dinheiro, do consumo, da informação, das dívidas e
dos lucros que se retroalimentam para manter o sistema, para assim garantir seus
lucros, ou seja sua mais-valia em escala mundial. Anteriormente haviam vários
impérios, ou seja vários motores como força e alcance próprios , o motor inglês, o
motor francês, o motor alemão, etc. Hoje, há um motor só que empurra uma produção
mundial, por meio de empresas globais que competem entre si e só sobrevivem aquelas
que obtiverem maior mais-valia para continuarem produzindo e competindo. Para tanto
há uma constante demanda nas universidades por melhor ciência e tecnologia, para
melhorar a produtividade e a competitividade de cada empresas a cada avanço no
mesmo ramo, outras empresas já procuram as universidades para superarem a líder de
vendas. A mais-valia global apesar de fugidia, não é abstrata; não pode ser medida, mas
é evidente de forma empírica por meio da produção e dos lucros produzidos nessa
competição global.

Os processos históricos se dão por uma sucessão de períodos em que um suplanta o


outro e entre eles há um crise, que se dá quando as circunstâncias de um período perdem
a estabilidade, provocam a desordem, que dá início ao novo período. A atualidade
globalizada, também como nunca antes, tem características duais tanto de período
quanto de crise. É um período porque tem características próprias que influenciam o
todo e é crise persistente porque essas características estão constante choque, que
exigem rearranjo. Essa crise permanente se manifesta sucessivamente em diferentes ,
apesar de ser global, permanente e estrutural, logo soluções não estruturais, o resultado
é a geração de mais crise. E o sistema mantêm essas contradições, que geram a
globalização como perversidade por meio da tirania do dinheiro, para manter a mais
valia global, e a tirania da informação, para “controlar os espíritos” que se dá pelas
fabulações,.Essa fabulações impõe uma ideologia do “Pensamento único” de uma visão
únicas das crises e de remédios únicos, como se todas as crises no mundo fossem as
mesmas. Mas sabemos que na prática a única crise que desejam afastar é uma a crise
financeira, não a verdadeira crise que caracteriza o período em si, complexa e
multidimensional: crise ambiental,crise social,crise política e crise moral.

No terceiro capítulo Milton Santos descreve a dupla tirania que faz com que a
Globalização Perversa se realize: a Tirania da Informação e do Dinheiro que
conjuntamente impõe um novo totalitarismo, mais aceito por ter características similares
à democracia.

A tirania da Informação, que se vale da unicidade da técnica e do tempo-espaço, que


teoricamente nos permite saber instantaneamente o que se dá em qualquer parte do
mundo,no entanto, contrariamente,pouco Estados e empresas detêm poder sobre
ela,mamipulando-a tornando-a extremamente despótica. Daí vem as fabulações sem as
quais não haveria globalização perversa e não haveria a violência do dinheiro que hoje
há. A periferia do sistema se torna cada vez mais periférica, justamente por não deter
contro da informação que acaba por ser obrigada a assimilar. Não vivemos a aldeia
global justamente porque a informação já chega a cada um de nós
manipulada,maquiada,e transmitida indiretamente, com uma dupla faceta, de informar e
de convencer, para formar as fabulações e mitos. O convencer vem se tornado tão
importante , que a publicidade acabou adquirindo papel de nervo central do comércio,
antecedendo a própria produção. Inclusive a lógica da publicidade acaba se impondo se
impondo em todos os ramos, até aqueles que seriam moralmente conflitantes, como o
setor médico e escolar, sem falar na própria política, que se rendeu ao sistema dos
“marketeiros”.As fabulações da Aldeia Global e da contração espaço-tempo tentam
criar a ideia da homogenização do mundo, do mercado e da cidadania,sem fronteiras
,passando por cima de culturas a seculos desenvolvidas pelos diferentes povos. Mas na
verdade as fronteiras nunca estiveram tão vivas,certamente com outra perspectiva,
aberta aos mercados e bens, mas fechado para as pessoas. O pensamento único fabula a
falácia da morte do Estado, que garantiria na vida dos homens e das empresas, mas
constata-se que a tese neoliberal que quanto menos o estado agir, maior a
competitividade, vem falhado, e cada vez menor o número de empresas beneficiadas,
tendendo a oligo e monopólios em vários ramos, e se aprofundando a desigualdade
entre indivíduos, por meio da violência do dinheiro.

A Tirania do Dinheiro se dá de forma ainda mais violenta, devido a uma nova


configuração econômica da existência da empresa global produtiva, que vive atrelada à
uma empresas financeiras,devido a importância do uso do seu dinheiro, que expatriam
as poupanças de várias nações reconvertendo-as em créditos e dívidas,por intermédio
dessas financeiras globais, assim os governos passam a priorizar o pagamento de
dívidas e juros extorsivos a serviços sociais à suas populações, sendo, enfim,
subjulgados pela violência do dinheiro, que transforma quase todas as relações em
troca. O crédito com o poder que acabou adquirindo, produziu uma nova noção de
dinheiro, agora em estado puro,com ideologia própria, que alimenta loucura
especulativa, como costumava ser chamada por Marx.
A tirania do dinheiro cria, por meio da propagação do pensamento único
individualista uma tríade de males: a Competitividade que regula nossas ações, o
consumo regula nossas inações e a confusão dos espíritos impede o entendimento do
sistema

A Competitividade passa a ser o princípio ético da atualidade, prevalece a norma da


guerra, para legitimar qualquer uso de força a fim de eliminar o adversário, abolindo
completamente a solidariedade e a compaixão, como nunca antes. Esse cenário reafirma
o ápice do capitalismo e do individualismo generalizado arrebatador e possessivo em
todos os sentidos: econômico, político,territorial, e social, construindo no indivíduo a
coisificação só outro, justificando um comportamento desrespeitoso e preconceituoso.
Essa lógica do individualismo competitivo, a despeito da solidariedade mútua, se
reflete no que há de mais perverso na ampliação do desemprego, o sucateamento da
educação e o desapreço à saúde.

O Consumo, também guiado pela lógica individualista , guia nossas inações, Hoje as
empresas adquirem certa autonomia produtiva não só por criarem o produto, mas
anteriormente por meio da publicidade, tirania da informação, de forma sistemática e
enganosa, criar o consumidor. Tanto o consumo quanto a competição são dois lados da
mesma moeda, do mesmo sistema ideológico que ao mesmo tempo é forte, devido sua
eficiência produtivas, porém fraco em um todo, como proposta de mundo, pois encoraja
o imobilismo, os narcisismos e leva à decadência moral e intelectual. Há quem diga que
o consumo é o novo fundamentalismo do século.

Confusão dos espíritos, consequência do consumo e da competição e condicionada


por uma informação totalitária tem como objetivo manter o controle das mentes. Para
legitimar esse totalitarismo e a unificação relativa do mundo ,o discurso antecede tudo
hoje, inclusive o uso da técnica e da produção, técnicas essas filhas da ciência, tida
como infalível, quase messianizada, se tornando uma das principais fontes de poder do
pensamento único, principalmente uma entronização do cálculo e dos números, como
tentativa de legitimar o status quo. Já dizia Sartre que nessas condições de
competitividade e de salve-se-quem-puder se suprime a solidariedade, o convívio social
e a democracia. A democracia que resta é uma democracia mercadorizada, das eleições
e as pesquisas de opinião que definiriam quantitativamente as opiniões, provocando a
morte do debate político.

Essas Tiranias impõe sua perversidade estrutural de uma forma violenta, a Violência
estrutural, que oprime funcionalmente, mas é furtiva, mas se fala muito mais da
violência periférica particular e é a única onde costuma haver punições. Essa violência
estrutural através do dinheiro, da competitividade e do poder em estados puros. O
dinheiro em estado puro, com a nova concepção internacionalizada e virtual de
dinheiro, que norteia o consumo e proporcionando vasta acumulação de capital a uns e
o endividamentos para a grande maioria,criando um circulo vicioso e torna o dinheiro
causa e consequência de desamparo e medo. Essa busca incessante de dinheiro para o
consumo induz à competitividade em estado puro,ou seja criar uma nova “ética”
perversa que afrouxa valores morais e induz à violência, glorifica a esperteza a despeito
da honestidade .Essa perversidade também cria o poder em estado puro, a força para
competir por mais dinheiro. Isso tudo produz uma fábrica de perversidades sistêmicas e
naturalizadas: fome, desemprego, miséria, mortalidade infantil, etc..Segundo dados 1,4
bilhão de pessoas vive com menos de um dólar por dia, mas de fato sabemos que esse
número é muito maior,pois a pobreza hoje é um conceito que não pode ser definido
pura e simplesmente por uma quantia arbitrária, mas de uma questão de inferioridade,
exclusão e violência estrutural .

Nos últimos cinquenta anos criou-se três conceitos graduais de pobreza,a pobreza
incluída(pobreza “acidental”,pontual e residual), a marginalidade(“doença da
civilização',exclusão parcial) e a pobreza estrutural globalizada(exclusão total e
crônica ,desemprego e desvalorização do trabalho, funcional à perversa globalização).
Dessa perversidade morre a chamada Política com “P” maiúsculo e se figura a política
das empresas, que substitui a democracia plena pela democracia de mercado, que
distribui o poder conforme o grau de acesso à tirania da informação e do dinheiro e
impõe o autoritarismo global, o globalitarismo. Essa nova política se dá pelo mercado,
e os atores são as empresas globais, sem preocupações éticas e sociais, pois a única
coisa que as regula é a competitividade, o chamado terceiro setor, que delega à
iniciativa privada os serviços sociais, privilegiam pequenos grupos “convenientes” à
imagem da empresa, assim como exclui uma vasta maioria. A política sempre deve se
dar em uma visão de conjunto, o combate a pobreza deve ser estrutural, fora isso é
privilégio de grupos do interesse do doador. Um exemplo relevante é o dos programas
do Banco mundial, que funcionalmente combate algumas manifestações de pobreza,
mas estruturalmente reproduz desigualdades, assim como muitos partidos ditos de
esquerda abandonam as soluções estruturais, para paliativas que não farão feito a médio
e longo prazo. O autor também criticas as Políticas Públicas, que quando existem não
podem substituir uma Política Social. A Política morre a tal ponto que Estados
Nacionais são submetidos, dentro de seu próprio território,às exigências de empresas
globais para que se instalem,sob ameaça de se retirarem do país,que o Estado se
omita,se torne mais ausente, que se implantem técnicas, que alteram bruscamente as
relações sócias, podendo provocar desemprego estrutural, com o discurso oficial que
essas empresas justamente darão progresso e emprego.
Hoje temos um território nacional de uma economia internacional e a pobreza
nacional de um sistema internacional. Mas até que ponto a soberania nacional é violada
nesse processo?Até que ponto caíram as fronteiras? Por mais globais que sejam as
empresas e por mais que o pensamento único propague, ps Estados ainda são fortes e
não podem ser substituídos, nem por elas, nem por setores filantrópicos e a forma que
cada Estado cede soberania não é algo natural nem uniforme, depende da maneira que
cada governo se insere na globalização .

No quarto capítulo, Milton Santos, seguindo a análise crítica da globalização como


perversidade, ele discorre sobre a distorção e da fragmentação do território,a perda de
soberania dos Estados, provocado pela tirania do dinheiro em estado puro, que cada vez
mais mercantiliza as relações,elevando o valor de troca em detrimento do valor de uso.

Os poucos que concentram e exercem o poder do dinheiro, por meio desse poder
fragmentam o território dos Estados Nacionais, na lógica da competitividade
verticalizada, que não é mais entre países, mas empresas hegemônicas, que arrastam
países consigo, e passam a se apropriar de parcelas de território para suas atividades.
Devido à fragmentação não há regulamentação dessas atividades, os próprios atores
impõe uma sua ordem desordeira sem finalidade alguma da obtenção de mais-valia
global a custa de processos excludentes, que eliminam as relações horizontais entre as
sociedades.

Tamanha a distorção do território, que até a agricultura, setor que deu princípio à
civilização e á relação de trabalho homem-natureza, foi profundamente afetada. A
agricultura, principalmente em países como o Brasil, se tornou científica e globalizada,
guiada por uma demanda e preços estrangeiros. Com ampla demanda técnica, a custo da
de degradação do trabalhador rural, submetido a regras quase militares, que caso não
forem seguidas, a consequência é o elevado desemprego rural e urbano, ou outras
frentes com o caso dos brasiguaios.

Além de afetar a estrutura econômica, a globalização também coloca em complico a


questão política da territorialidade, pois vale lembrar que Território é a unidade básica
das relações políticas, ele é composto pelo solo e a população que sobre ele habita e se
reconhece como tal, desse relação que surge a noção de tribo,nação e Estados. No
Brasil,existe uma forte polêmica sobre o tema da descentralização, uma discussão
sobrem quem deve arcar com ônus dos problemas financeiros dos 27 estados e dos
mais de cinco mil municípios cada vez mais sucateados.

A imposição da lógica do dinheiro força os países a distorcerem suas políticas


econômicas, para que deixem de servir à população, mais sim ao dinheiro, Os próprios
órgãos internacionais,que governam de fato, como o FMI, o Banco Mundial e o BID,
classificam os países, de acordo com parâmetros favoráveis aos interesses da Tríade
(Estados Unidos, União Européia e Japão), cujas empresas disputam influência em
diversos territórios que submetem, e quanto mais aderem à globalização piores as
consequências à sua população.
Adaptando-se às novas regras do dinheiro surgem blocos regionais como a União
Européia, na qual há uma proposta de homogenização econômica, com livre fluidez de
pessoas (Espaço Shengen)e mercadorias ,e a criação de moeda única. Tudo isso o fim
de criar condições aos países e empresas mais forte do subcontinente competirem mais
agressivamente com os outros membros da Tríade. Desses blocos surge outra fabulação
da ideia do cidadão do mundo, que é longe de ser uma realidade, pois os atores
hegemônicos são definidos como anti-homem e anti-cidadão, logo só a possibilidade
objetiva de cidadania dentro de seu país de origem. No entanto, em países complexos
como o Brasil,a cidadania plena depende de uma mudança estrutural, econômica e
político-territorial, para suprir a condição esquizofrênica do nosso território, abrindo
mão das relações de verticalidade, para uma relações horizontais , que se dará pela
tomada de consciência considerada determinante por Milton Santos . Tamanhas as
perversidades e contradições provocadas pela globalização, se criam condições para os
indivíduos se conscientizarem, ao perceberem que soluções eleitoralistas, imediatistas e
paliativas não surtirão efeito, e que são necessárias mudanças estruturais. A própria
globalização, ao mostrar minimamente informações sobre o restante do mundo aguaça a
curiosidade, e com ajuda de um conhecimento do sistema, cria-se uma visão crítica da
realidade que concionará a tomada da consciência.

No quinto capítulo, Milton Santos, após análise crítica das perversidade das
globalização, evidencia os limites e as fraquezas desse regime globalitário. Como se
trata de um período histórico,assim como os outros, não é eterno e há sinais de
variáveis ascendentes em processos paralelos que autorizam a pensar um período
transição em curso. Entre esses está o desencanto pela técnica e a recuperação gradual
do bom senso, ao invés do senso comum. Os ideias da racionalidade e da velocidade
estão em decadência devido à escassez generalizada que afeta inclusive as classes
médias. A racionalidade do sistema dá sinais de crise, por ser uma racionalidade
totalitária, que falha com a razão, uma grande parte da humanidade não consegue(ou
não quer) seguir as leis e regras estabelecidas,propagando-se ilegalidades e
informalidades, de onde saem contrarracionalidades, paralelas à racionalidade
tecnocrática dominante, que se dão pelo caldeamento de elementos culturais de todos os
continentes, fruto da própria globalização .O paradigma da velocidade também é
contestável, pois é uma velocidade além de restrita a poucos,que exercem a
competitividade desenfreada, as grandes crises econômicas foram condicionadas pelo
mal uso dessa velocidade que não é fruto exclusivo da técnica, mas de imposição
política,um artifício, logo não beneficia nem interessa a grande maioria da humanidade.
Mediante esse histeria técnica e competitiva criam-se artificialmente necessidades, para
que nem os “possuidores” nem os “não possuidores” estejam satisfeitos, induzindo-os
ao consumo e uma eterna sensação de escassez, de insatisfação, e essa produção é
distribuída perversamente de forma desigual.

A ideia de escassez é percebida de formar diferentes entre os “de cima” e os “de


baixo” e se dá,de diferentes formar, um processo de tomada de consciência. O autor
difere miseráveis e pobres: miseráveis sofreram privação total, com quase
aniquilamento do indivíduo que se resigna com sua condição, o pobre, apesar de suas
carências, segue em luta pela sobrevivência,em uma guerra permanente contra a
escassez,enfrentam diariamente e tentam buscar soluções, e essa consciência se torna
motor do conhecimento e da possibilidade criar uma política dos 'de baixo”.Sem relação
com a política institucional, sem compromisso com o globalização e o interesse
dominante, mas ligado ao seu cotidiano concreto. Daí saem os movimentos organizados
que agregam forças para reivindicar suas necessidades, mas o autor alerta a
importância do pragmatismo e da flexibilidade, típicas do cotidiano para não se
prenderem a estratégias passadas.
Em seguida Milton Santos faz uma análise histórica das classes médias brasileiras, que
tiveram uma trajetória peculiar, e ele atribui como um importante ator para uma nova
globalização, de renovação política. O milagre econômico brasileiro viabilizou o
surgimento das classes médias em nosso país, fruito da explosão demográfica,urbana e
do crédito,uma classe que cresceu se reconhecendo mais como consumidora que como
cidadão,detentora de privilégios, não de direitos. Seu crescimento se deu sem disputa
interna, mas com disputa e submissão das classes mais baixas recém-urbanizadas, que
passaram a ser mais excluídos com o crescimento das classes médias. Essa origem
justifica a tolerância, ou até cumplicidade desse grupo social à Ditadura Militar .Após
sua queda, a redemocratização, mantendo vícios de origem, criou uma democracia
eleitoreira e comercial, muitos dos partidos perderam a ideologia e se renderam a uma
lógica de “mercado de votos”, e com o passar do tempo a escassez passou a atingir as
classes médias, perdeu-se a garantia de estabilidade financeira, da educação dos filhos,
do acesso à previdência digna, o que provocou um descontentamento generalizado com
a política,inclusive se afastando dela, querendo menos participação, situação na qual a
reação deveria ser contrária. Apesar dessa particularidade, as classes médias tiveram
maior acesso ao bem-estar e à educação de qualidade, tendo mais chance de tomarem
consciência, de passarem de consumidores para cidadãos, e decidirem participar das
lutas. Essa consciência não necessariamente será generalizada e com a mesma
intensidade, mas é importante que se instale.

O papel histórico das classes médias a ser cumprido, segundo Milton Santos, no
momento que ela se solidarizar com as reivindicações dos pobres. Com a escassez
atingindo essa classes também, a possibilidade da tomada de consciência passa a ser
maior. Essa tarefa a ser cumprida é exigir a retomada ideológica dos partidos, para que
assim se crie uma democracia não só eleitoral, mas social, econômica e política.

No último capítulo Santos estabelece seus prognósticos da mudança em curso, a


solução por ele proposta ,a globalização como possibilidade, da consciência coletiva
conjugada com os meios técnicos que já viabilizam a globalização perversa, e assim
criar a outra globalização, mais humana,lembrando os conceitos de estado das técnicas
e estado das políticas, que se retroalimentam no processo histórico. Ele define como
possibilidade a nova globalização porque , segundo A. Schimidt, a realidade é tudo que
existe e o que tem condições de existir, logo é reversível a globalização tal como é e há
condições de criar outra .Ele também critica o conceito de nação ativa e nação passiva.
A nação ativa é aquela que participa ativamente da globalização e do comércio
internacional, obedecendo os ditames da Tríada(Estados Unidos Japão e Europa)
,aqueles que se interessam por essa globalização, e a nação passiva que não participa
desse processo, para Milton a denominação deveria ser contrária pois a nação passiva é
a que não se deixa subjugar. Alguns elementos que evidenciam a mudança em marcha é
a urbanização mais concentrada, o empobrecimento relativo das classes baixas e
médias e o avanço e a miscigenação da cultura popular,a cultura da política “de
baixo” ,que pode receber suporte do avanço de técnicas mais dóceis, podendo competir
com a cultura de massas do pensamento único.

A nova família técnica, presidida pela informática, ao contrário de outras ondas da era
industrial, que exigiam elevados gastos em máquina e manutenção, concentrando o
acesso e a riqueza adquirida. Com essa técnica se tornou mais viável a perodução
paralela e independente, criando um “novo artesanato”.
Conseguida a mudança técnica, é necessária a mudança filosófica do homem, a etapa
mais importante, que determinará o estado das políticas. Essa mudança é viável com o
ressurgimento das teses terceiro mundistas, com o empobrecimento geral das classes
baixas e médias, ao mesmo tempo que globalização, embora perversa, permite janelas
para a disseminação da cultura popular, isso tudo contribuindo para a tomada de
consciência. Essa consciência não se dará de forma unânime e geral, ela inicia pelo
questionamento do indivíduo,da visão crítica do sistema e da realidade, e depois para a
organização coletiva, cujo principal objetivo é a transição do modelo político-
econômico centrado no dinheiro, para um modelo centrado no homem, que não permita
o endividamento de países, que torne o pagamento de dívidas prioritário, em detrimento
de políticas sociais. Contrariando a tese de Fukuyama, que afirmava que história
acabou, para Santos apenas começou se ambas as mutações se derem, uma nova
proposta de mundo pode surgir, para o homem e para o planeta.

Podemos concluir com a leitura dessa obra, última da grandiosa carreira intelectual de
Milton Santos, o autor, após uma profunda dissecação da perversidade sistêmica do
mundo,deixa como apelo que os cidadãos tomem consciência e se mobilizem,que a
história não acabou e outro mundo é possível com a mesma base técnica;e recomenda
que se adote como princípio o paradoxo “obedecer para subsisti e resistor para poder
pensar o futuro”.

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