Introdução.
Quais são os motivos que tornam os “Pais” importantes para a Igreja Cristã
do século XXI? De onde vem e para onde vai, essa motivação em conhecer mais
de perto homens como Cirilo de Jerusalém ou Jerônimo? Qual o real interesse do
evangélico quando lida com a Patrística e a Patrologia? Perguntas difíceis de
serem respondidas, porém creio que devemos glorificar a Deus por “elas”, pois é
um grande indicio de que Deus está despertando homens com verdadeira
preocupação em conhecer os primórdios da História do Cristianismo e como ele
se desenvolveu.
O interesse pelos “Pais” não deverá ser apenas um interesse intelectual ou
acadêmico. Não basta conhecê-los apenas por conhecer. O conhecimento
sugerido aqui, necessariamente envolve o intelecto, no entanto deve ir além dele.
É o conhecimento que se movimenta na direção de..., que vai ao encontro a cada
um deles, possibilitando o despertar de emoções que se expressem em carinho,
amizade e profundo respeito. Este é o momento de conhecê-los individualmente e
com mais profundidade. Este é o tempo e a oportunidade propícia para um
envolvimento sadio e responsável com a vida e a obra de cada um deles. Eles
estão lá num passado muito distante, mas totalmente acessível ansiosos para que
os busquemos. É proposto um conhecimento sobre eles integral, abrangente, mas
principalmente espiritual. É possível movimentar-se para atingir essa realidade. O
projeto da Casa Editora Presbiteriana, é oferecer neste primeiro momento 13
lições concernentes a estes celebres instrumentos de Deus que contribuíram
mais que qualquer um para levantar as paredes do edifício espiritual, sobre bases
já lançadas por Cristo e pelos apóstolos. Isto posto, a pergunta que se segue é a
seguinte: É possível obter tal compreensão estudando apenas 13 lições? Treze
lições não serão suficientes para isso. O que se deve pedir a Deus nesse
momento é que você se desperte para iniciar aqui uma busca, uma pesquisa, um
envolvimento. Não se sabe se esta busca terá fim, o lógico é que quanto mais
envolvimento tivermos com os “Pais”, mais presos a eles estaremos, e mais amor
dedicaremos a cada um deles.
Assim, “o interesse da Igreja Evangélica do início do século XXI pelos “Pais”
se dá numa dupla direção: em primeiro lugar e antes de qualquer coisa, com um
objetivo doutrinário: os “Pais” são testemunhas da doutrina verdadeira da igreja. A
outra preocupação necessariamente é de caracter mais histórico, isto é, conservar
a memória de sua vida e de suas obras.” 1
Esta tese sustentada, lançamos outro desafio. De que maneira os “Pais”,
tão antigos, poderão ajudar a igreja militante a vencer seus desafios, uma vez que
está inserida em uma sociedade pós-industrial onde os valores evangélicos são
desprezados? Esta pergunta tão intrigante será respondida com sua ajuda, nos
estudos propostos.
O curso envolve treze lições. O ponto de partida será Inácio de Antioquia. O
interesse da igreja do século XXI, por Inácio justifica-se basicamente por sua
fidelidade a Cristo até a morte. Justino de Roma é o nosso próximo alvo. Destaca-
se como grande defensor do cristianismo em meio a um mundo cego e
1
André Benoit, p.15
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 2
3.º Trim.2001
Texto Básico
2 Timóteo 4.6
“Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado.”
Introdução.
2
André Benoit, p. 12
3
A. Hamman, p. 15
4
A. Hamman, p. 15
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 4
O nome Inácio (Ignácius) não poderia ser mais apropriado para o homem
que é considerado um dos Pais da Igreja Antiga. Deriva-se do latim: Igne=fogo,
natus=nacido. Ignácius, portanto, significa homem nascido do fogo, apaixonado
por Cristo, pela Igreja, pela unidade dos santos e pelo desejo de imitação de seu
mestre.
Ele viveu no período de 60 – 117 a. C. aproximadamente e tornou-se célebre
pela fidelidade a Cristo em meio as perseguições sofridas e as cadeias que
enfrentou. Constantemente era transportado em cadeias de um lado para outro.
Quando preso, em suas paradas obrigatórias, não se esquecia de escrever às
Igrejas que o recebia ou lhe enviavam saudações.
Suas epístolas são memoráveis, no seu todo o tema central quase sempre é
o da “verdadeira união”. E esta união é a fonte viva que alimenta o desejo
ardente de imitar a Cristo em sua paciência até o martírio. Este tema é freqüente,
especialmente na sua carta aos Romanos; na qual ele suplica para que nada
fosse feito para impedi-lo de chegar à arena e ser devorado pelas feras. No
capítulo quatro ele diz: “deixai-me ser o pasto das feras” e no capítulo cinco ele
expressa seu ardente desejo: “Desde a Síria até Roma, luto contra as feras, por
terra e por mar, de noite e de dia, acorrentado a dez leopardos (a um
destacamento de soldados); quando se lhes faz bem, tornam-se piores ainda.
Todavia, por seus maus tratos, eu me torno melhor discípulo, mas nem por isso
sou justificado”. Inácio não queria que nada o impedisse de alcançar a Jesus
Cristo, e que os piores flagelos do diabo o afligissem com a única condição de
alcançar o Senhor Jesus, dispunha-se a atravessar o inferno para que ao fim
convivesse com o Senhor.
5
A. Hamman, p.17
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 5
TEXTO
Com poucas palavras dirijo-me a vós; acreditai em mim! Jesus Cristo vos
manifestará que digo a verdade; ele, a boca verdadeira pela qual o Pai
verdadeiramente falou. Pedi vós por mim, para que o consiga. Não por motivos
carnais, mas segundo a vontade de Deus vos escrevi. Se for martirizado, vós me
quisestes bem; se rejeitado, vós me odiastes.6
TEXTO
2 Coríntios 2.4-5
“A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas
em demonstração do Espirito e de poder.”
Introdução.
1. A formação de um filósofo.
6
C. Folch Gomes, p. 40; Liturgias das Horas p. 1387-1388.
7
André Benoit, p. 55
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 7
8
Pierre Pierrard, História da Igreja, p.30
9
Daniel-Rops, p.278
10
Earle E. Cairns, p. 89
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 8
história do pensamento cristão, que com ele passou a ser encarado com
seriedade.11
Os ensinamentos deste filósofo cristão obrigaram as autoridades e os
pensadores a levar em conta o cristianismo. Ele deu ao pensamento cristão direito
de cidadania. Seu martírio prova que sua ação e sua influência eram temidas
pelas autoridades romanas.
O desempenho literário de Justino foi muito fecundo. Outros pais da Igreja
afirmaram que ele compôs inúmeras obras, das quais somente três chegaram até
nós: duas Apologias e o Diálogo de Trifão. As apologias teriam sido escritas entre
150-160, enquanto o Diálogo entre os anos 155-165. 12
Não satisfeito com o mundo pagão, Justino expôs duas grandes
proposições:
Antigüidade da Bíblia. Ele procura apresentar a Bíblia como a fonte de toda
sabedoria, cujo porta-voz é Moisés, mestre de todos os sábios. Na primeira
apologia tenta demonstrar como Moisés é anterior a Platão, ou melhor, como
Platão depende de Moisés.
Argumento Profético. Justino não se refere aos milagres para sustentar a
divindade de Cristo. Coloca o acento nas profecias, talvez por força da
proliferação dos mágicos do mundo pagão, que apresentavam coisas fantásticas.
Ao contrário a existência de pitonisas e outras profetizas devia incitá-los a prestar
atenção em todas as profecias.
Ele apresenta as profecias cumpridas pelo próprio Cristo, outras que são
realizadas na vida da Igreja. Pelas profecias Justino busca provar que Jesus
Cristo, fundador da religião Cristã, é o filho de Deus, enviado para transformar e
restaurar a humanidade. Sua preocupação é pois mostrar o cristianismo como
revelação do Deus único.
O diálogo com Trifão. Trifão, segundo Eusébio, tem sido o mais celebre dos
hebreus daquele tempo. Porém hoje se considera Trifão não como um
personagem histórico, mas o protótipo do judeu, assim como ele é visto então.
Se para o mundo pagão Justino fala do Deus único, para os judeus ele
desenvolve a cristologia. Neste sentido temos os seguintes pontos:
A cristologia é antes de tudo o anúncio de Cristo na Sagrada Escritura.
Justino expõe as profecias que anunciam o messias, proclamando a realização
delas na pessoa de Jesus Cristo, por eles crucificado.
O Cristo crucificado. Ele busca na sagrada Escritura dois principais
argumentos que anunciam o Cristo sofredor.
1º O sinal da cruz que se encontra prefigurado em todo o Antigo
Testamento.
2º Cita por inteiro o salmo 21 que estaria visando alguém crucificado: O
messias sofredor na cruz. Ele comenta versículo por versículo, pois para ele como
para uma grande parte dos Pais, as epifanias no Antigo Testamento são epifanias
de Cristo, são manifestações de Deus em seu filho. Esta doutrina decorre, em
grande parte, da sua concepção da transcendência de Deus.
11
Daniel-Rops, p. 279
12
Fernando Antônio Figueiredo, pp. 116-117
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 9
TEXTO
Trechos da 1ª Apologia:
“No dia que se chama do sol celebra-se uma reunião dos que moram nas
cidades ou nos campos e ali se lêem, quanto o tempo permite, as Memórias dos
apóstolos ou os escritos dos profetas. Assim que o leitor termina, o presidente faz
uma oração e convite para imitarmos tais belos exemplos. Erguemo-nos, então, e
elevamos em conjunto nossas preces, após as quais se oferecem pão, vinho e
água. O presidente também, na medida de sua capacidade, faz elevar a Deus
suas preces e ações de graças, respondendo todo o povo: amém. Segue a
distribuição a cada um, dos alimentos consagrados pela ação de graças, e se
envio aos ausentes, por meio dos diáconos. Os que têm e querem, dão o que lhes
parece, conforme sua livre determinação, sendo a coleta entregue ao presidente,
que assim auxilia os órfãos e viúvas, os enfermos, os pobres, os encarcerados, os
13
Daniel-Rops, p. 280
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 10
Texto Básico
Judas 3
“Amado, quando empregava toda diligência, em escrever-vos acerca da nossa comum salvação,
foi que senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes diligentemente
pela fé que uma por todas foi entregue aos santos.”
Introdução.
Assim como a igreja Antiga, hoje recorremos aos “Pais” porque neles
encontramos opiniões semelhantes, que, somadas, representam a verdade. 15
Irineu é considerado o mais exímio teólogo do século II. 16 na sua juventude
foi discípulo de Policarpo. Nascido em Esmirna, na Ásia Menor, aproximadamente
em 130 d. C. Quando jovem foi influenciado pela pregação de Policarpo. Foi
presbítero em Lião durante a perseguição de Marco Aurélio. Após a morte de
Fotino, bispo de Lião ( 177-78 d. C), imediatamente Irineu tornou-se o seu
sucessor. Os relatos sobre seus últimos dias são muito imprecisos. Gregório de
Tours é quem pela primeira vez, em suas obras, informa que Irineu sofreu
martírio. O idioma que Irineu se utilizou para escrever foi o grego, sua língua
materna. Escritor profundo deixou-nos diversas obras, das quais apenas duas
foram conservadas na integra.
15
André Benoit, p. 13
16
B. Altaner.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 11
17
20
Tony Lane, v. 1.
21
Paul Tillich, p.49.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 13
TEXTO.
22
Paul Tillich, p.49.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 14
Texto Básico.
I Tm 4:16
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim,
salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.”
Introdução.
23
André Benoit, p. 15
24
P. Pierrard, p. 36.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 15
25
A. Hamman. p.57
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 16
TEXTO.
26
André Benoit, p. 38
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 17
Texto Básico.
Gálatas 1.6
“ Admira-me que estejais passando depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para
outro evangelho.”
Introdução.
28
André Benoit, p. 98
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 18
1. O nascimento de um apologista.
29
B. Altaner, p. 274
30
A. Hamman, p. 109.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 19
a) Ário.
b) Concílio de Nicéia.
31
J. Huscenot, pág. 13
32
Elogio a Atanásio, Patrologia Grega, t. 25, col. 1081.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 20
34
J. Huscenot, pág. 14
35
J. Huscenot, pág. 16
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 21
TEXTO
36
A. Hamman, p. 117.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 22
Pai – Verbo que é o próprio ser – dele participa e é por ele auxiliada, a fim de não
cessar de existir, o que aconteceria, caso não fosse guardada pelo Verbo, que é a
imagem do Deus invisível, primogênito de toda criatura. Por ele e nele tudo existe,
tanto as coisas visíveis quanto as invisíveis. Ele é também a cabeça da igreja,
como ensinam os ministros da verdade nas Sagradas Escrituras.
Por conseguinte, este Todo-Poderoso e santíssimo Verbo do Pai,
penetrando em tudo, desdobra por toda a parte as suas forças, e ilumina todas as
coisas visíveis e invisíveis. Em si mesmo contém e abraça todas, de modo que
não deixa nada alheio a seu poder, mas em tudo e por tudo, a cada um em
particular e a todos em conjunto concede a vida e a proteção. 37
TEXTO
2 Tm 2.2
“...Isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para transmitir a outros”
Introdução
37
C. Folch Gomes p. 203-204; Liturgias das Horas, Vol. III, p.54-55.
38
A. Hamman, p. 179
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 23
39
J. Huscenot, p. 43.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 24
TEXTO
Das Catequeses
como sumo sacerdote. No Deuteronômio Deus diz a Moisés: Convoca para junto
de mim o povo para que me escutem e aprendam a temer-me. Há outra menção
da Eclésia, quando se fala das tábuas da Lei: Nelas estavam escritas todas as
palavras que o Senhor vos falou no monte, do meio do fogo, no dia da “Eclésia”,
isto é, convocação como se dissesse mais claramente: No dia em que, chamados
pelo Senhor, vos congregastes. O Salmista também diz: Eu te confessarei,
Senhor, na grande “Eclésia’, no meio do povo numerosos te louvarei.
Já antes o salmista cantara: Na “Eclésia”, bendizei o Senhor Deus, das
fontes de Israel. O Salvador edificou com os gentios a segunda, a nossa Santa
Igreja dos cristãos, da qual dissera a Pedro: E sobre esta pedra edificarei a minha
igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ele.
Rejeitada a primeira, a da Judéia, de ora em diante multiplicam-se as
Igrejas de Cristo, aquelas de que se fala nos salmos: Cantai ao Senhor um cântico
novo, seu louvor na ‘eclésia’ dos santos. De acordo com isto diz o Profeta aos
judeus: Meu afeto não está em vós, diz o Senhor e acrescenta logo: Por isso, do
nascer do sol até o ocaso, meu nome é glorificado entre os povos. Desta mesma
santa e católica Igreja escreve Paulo a Timóteo: Para que saibas como comportar-
te na casa de Deus, a Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade.
Atos 6.1
“Ora, naqueles dias multiplicando-se o número dos discípulos houve murmuração dos helenistas
contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.”
Introdução.
Tal riqueza era acompanhada de encargos públicos, pois a tais famílias estava
vinculada, em parte, a sobrevivência do Estado. Assim, uma família possuidora de
florestas deveria fornecer a madeira necessária para os benefícios comum.
À família senatorial cabia preservar e incentivar a cultura ou a educação,
elementos essenciais na manutenção da unidade do Império.
Muito embora a motivação seja bem outra, esta realidade não deixará de
influenciar a aceitação de Basílio como bispo.
Sabe-se que em 368, por ocasião de uma grande fome, Basílio, já
ordenado, exerceu um papel relevante em Cesaréia. Ele organizou as sopas
populares, permitindo acesso a elas, o que é destacável na época, mesmo aos
judeus. Gregório de Nissa observa isso como um traço que surpreende,
agradavelmente, a toda comunidade.
3. A criação da Basiléia.
Basílio, eleito bispo, criou nos arredores de Cesaréia uma nova cidade,
fazendo com que o imperador doasse um vasto terreno para ali construir um
“hospital” no qual ajuntou uma hospedaria e uma igreja. Este conjunto se
destinava a acolher os viajantes de passagem e compreendia alojamento para os
empregados e os trabalhadores pobres da cidade. Em poucos meses uma cidade
satélite surgiu às portas de Cesaréia. Após sua morte ela tomou o nome de
Basiléia ou Basilíades, como uma homenagem póstuma a este que a construiu e,
o que é notável, onde ele estabeleceu a sua residência, junto aos pobres.
Gregório de Nazianzo, em seus elogios a Basílio, mostra que esta cidade
foi ponto referencial de sua ação social e de seu pensar. Para ele, era ela a oitava
maravilha do mundo: “os pobres têm uma pequena propriedade, os doentes são
tratados e os peregrinos acolhidos.”
metrópole da nova Capadócia. Objetivava com isso, que o bispo nomeado para
Tiana, agindo como metropolitano, neutralizasse a ação de Basílio.
Basílio, mais rápido que o Imperador instituiu novos bispos que o ajudarão em
sua luta e os colocou nas novas dioceses criadas. Entre eles figuram seu irmão
Gregório de Nissa e seu amigo Gregório de Nazianzo, nomeado para Sásimas.
Gregório de Nissa compreendeu a situação e se esforçou para proteger os
interesses do irmão. Com tais nomeações, Basílio conseguiu manter a ortodoxia
na Capadócia, pois evidentemente os bispos escolhidos eram todos defensores da
fé nicena.
Basílio era homem de equilíbrio e de diálogo, totalmente a serviço da
ortodoxia. Na história da Igreja, existem homens comparáveis ao bispo de
Cesaréia, mas não há quem lhe seja superior. Livremente os contemporâneos
chamaram-no, somente a ele, de Grande ( Basílio Magno). O recuo do tempo,
longe de enfraquecer este apelido, só fez confirmá-lo. Raramente um título foi tão
bem merecido. 43
TEXTO
43
A. Hamman, p.138-139
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 29
TEXTO
Atos 5.29
“Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes importa obedecer a Deus que aos homens.”
Introdução.
1. De governador a bispo.
44
Liturgias das horas, Vol. III, p. 45-47.
45
Daniel-Rops, p. 564
46
P. Pierrard, p. 47
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 30
Há uma pergunta que perturba Ambrósio: “Como vou ensinar aos outros o
que ignoro? Especialista de retórica e doutor em direito, não sou quase um zero
em teologia e noviço em catequese?”
O erudito Simpliciano ofereceu-se para ajudá-lo. Dirigido por ele, já
quadragenário, entregou-se aos estudos sagrados, “tota anima” (com toda a
alma). Leu, meditou e saboreiou os autores cristãos, sobretudo gregos, sem, aliás,
se esquecer dos pagãos, especialmente o místico Plotino, autor das Enêidas, e
seu discípulo Porfíro. Os discursos de Gregório de Nazianzo tornaram-se o seu
livro de cabeceira. Para a sua iniciação exegética, leu Basílio, Orígenes e Fílon, o
judeu.
Parece que este período de grande iniciação às ciências sagradas durou
cerca de dez anos, tendo já terminado, quando em outubro de 384, Ambrósio se
encontrou com Agostinho que, mais tarde lhe chamou “doctor meus”, meu mestre.
Admiravelmente bem preparado para as tarefas administrativas, o antigo
magistrado é excelente em guiar os homens. Em todos os meios, eclesiásticos e
civis, foi imediatamente considerado como um político hábil, influente e indiscutido.
Vigoroso apologeta (defensor da fé), muitas vezes, encarregado de
missões diplomáticas difíceis, este pastor nunca se deixou enredar pelos grandes
do seu tempo. Mantendo a justiça, conseguiu servir a Igreja sem alienar-se ao
Estado. São ainda de admirar os seus sábios compromissos sem nunca ficar
dependente.47 Como bispo, se esforçou ao máximo. Foi uma das mais belas
figuras de pastor que a Igreja conheceu até hoje. É um pastor completo: doutor,
médico, diretor de consciências, defensor da justiça, advogado dos humildes e dos
explorados, até mesmo missionário, trabalhando pela conversão de um povo
germânico, os marcomanos. Evangelizou a rainha Frigitil que procurara por ele.
Teve a alegria de acolher na Igreja Agostinho de Hipona e de marcá-lo para
sempre. Esta diversidade de dons contrasta com a unidade que os agrupa e os
inspira. Raramente em um homem o ser e a ação são tão profundamente e tão
simplesmente uma coisa só.48 Ao regressar de uma viagem a Pavia, em 397, caiu
enfermo, falecendo nesse mesmo ano.
TEXTO.
48
A. Hamman, p. 207-208
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 32
do órfão e fazei justiça à viúva, e vinde, discutamos, diz o Senhor ( Is. 1. 17-18).
És tentado pelo espírito de soberba, mas ao ver o desamparado e o indigente,
com bom coração te compadeceste, amaste mais a humildade do que a
arrogância: És testemunha de Cristo. E o que é ainda maior, não deste
testemunho só com palavras, mas com atos.
Que testemunha será mais digna de crédito do que quem confessa ter o
Senhor Jesus vindo na carne ( 1 Jo 4.2), e guarda os preceitos do Evangelho?
Pois quem ouve e não faz, nega a Cristo: embora afirme pela palavra, nega com
os atos. A quantos disserem: Senhor, Senhor, acaso não profetizamos em teu
nome e expulsamos demônios e fizemos muitos milagres? naquele dia
responderá: afastai-vos de mim todos os que praticastes a iniquidade ( Mt 7.22-
23). É, por conseguinte, testemunha quem dá testemunho dos preceitos do
Senhor Jesus com a garantia dos atos. Quantos, então, são diariamente, em
segredo, mártires de Cristo e confessam Jesus como Senhor! conhecia este
martírio e testemunho fiel de Cristo o Apóstolo, que disse: É esta a nossa glória e
o testemunho de nossa consciência (2 Cor. 1.12). Quantos por fora atestaram e
por dentro negaram! Não confieis em espírito qualquer ( 1Jo. 4.1), mas por seus
frutos (Mt 7.16) reconhecei em quem deveis confiar. Portanto, nas perseguições
interiores, sê fiel e forte para seres aprovado também nas perseguições públicas.
Com efeito, nas íntimas perseguições, há reis, governantes e juizes terríveis pelo
poder. Tens um exemplo na tentação sofrida pelo Senhor.
E lê-se em outro lugar: Que o pecado não reine em vosso corpo mortal (Rm
6.12). Vês diante de que reis és levado então, ó homem, ante que senhores dos
pecados, quando reina em ti a culpa? Quantos pecados, quantos vícios, outros
tantos reis. E somos conduzidos à sua presença, estamos diante deles. Todavia
se alguém confessa a Cristo, imediatamente faz prisioneiro aquele rei, derruba-o
do trono de seu espírito. Como poderia manter-se o tribunal do demônio naquele
em que se levanta o tribunal de Cristo.49
Texto Básico.
2 Timóteo 3.16
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para
a educação na justiça.”
Introdução.
49
Liturgias das Horas, p.1358-1359.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 33
1. O trajeto de um tradutor.
52
P. Pierrard, p. 47
53
J. Huscenot, p.85
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 34
O ano 382 era o fim deste período: Epifânio e Paulino, convocados a Roma
para um concílio sobre as questões do Oriente, recorrem ao lingüista e
apresentam-no ao Papa.
O papa Dâmaso é um espírito judicioso. Personalidade segura, aristocrata,
percebeu perfeitamente a personalidade de Jerônimo. E adotou-o, protegeu-o e
empregou-o como alto funcionário da Igreja. De viajante, torna-se conselheiro para
assuntos do Oriente, consultor em questões bíblica. Com o incentivo do papa,
Jerônimo começou sua profícua carreira de tradutor e exegeta. Além destas
atividades gigantescas ele tornou-se sábio conselheiro de importantes senhoras
romanas. Das mulheres discípulas podemos destacar Paula, uma rica senhora
romana a quem tinha ensinado hebraico e as suas duas filhas, Eustochia e
Blesília.
TEXTO.
Do prólogo ao Comentário sobre o Profeta Isaías.
Pago o que devo, obediente aos preceitos de Cristo que diz: Perscrutai as
Escrituras (Jo.5.39); e: buscai e achareis (Mt. 7.7). Assim que não me aconteça
ouvir com os judeus: Errais, sem conhecer as Escrituras nem o poder de Deus
(Mt. 22.29). Se, conforme o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a
sabedoria de Deus, e quem ignora as Escritura ignora o poder de Deus e sua
sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.
Daí que eu imite o pai de família que de seu tesouro tira coisas novas e
antigas. E a esposa, no Cântico dos Cânticos, que diz: Coisas novas e antigas,
irmãozinho meu, guardei para ti (cf. Ct. 7.14 Vulg.). E explicarei Isaías ensinando a
vê-lo não só como profeta, mas ainda como evangelista e apóstolo. Ele próprio
falou de si e dos outros evangelistas: Como são belos os pés daqueles que
evangelizam boas novas, que evangelizam a paz (Is. 52.7). E também Deus lhe
fala como a um apóstolo: Quem enviarei, e quem irá a este povo? E ele
54
Jean Huscenot, p.90
55
Jean Huscenot, p. 90.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 36
respondeu: Eis-me aqui, envia-me ( cf. Is. 6.8). Ninguém pense que desejo
resumir em breves palavras o conteúdo deste livro, pois esta criatura contém
todos os mistérios do Senhor, falando do Emanuel, o nascido da Virgem, o
realizador de obras e sinais estupendos, o morto e sepultado, o ressurgido dos
infernos e o salvador de todos os povos. Que direi de física, ética e lógica? Tudo o
que há nas santas Escrituras, tudo o que a língua humana pode proferir e uma
inteligência mortal receber, está contido neste livro. Atesta esses mistérios quem
escreveu: Será para vós a visão de todas as coisas como as palavras de um livro
selado; se é dado a alguém que saiba ler, dizendo-lhe: Lê isto, ele responderá:
Não posso, está selado. E se for dado a quem não sabe ler e se lhe disser: Lê,
responderá: Não sei ler (Is. 29. 11-12).
E se alguém parecer fraco, ouça as palavras do mesmo apóstolo: Dois ou
Três profetas falem e os outros julguem; mas se a outro que esta sentado algo for
revelado, que se cale o primeiro ( I Cor. 14.32). Como podem guardar silêncio, se
está ao arbítrio do Espírito, que fala pelos profetas, o calar-se e o falar? Se na
verdade compreendiam aquilo que diziam, tudo esta repleto de sabedoria e de
inteligência. Não era apenas o ar movido pela voz que chegava a seus ouvidos,
mas Deus falava no íntimo dos profetas, segundo outro profeta diz: O anjo que
falava em mim (Zc. 1.9), e: Clamando em nossos corações, Abba, Pai (GL 4.6), e:
Ouvirei o que o Senhor deus disser em mim ( Sl. 84.9).
Texto Básico.
2 Timóteo 2.15.
“Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que
maneja bem a palavra da verdade.
Introdução.
56
A. Hamman, p.193
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 37
Sua mãe, Antusa, viúva aos vinte anos, do comandante militar da prefeitura
do Oriente, recusou-se a casar de novo para que pudesse dedicar todo o seu
tempo à educação dos seus dois filhos: uma menina e um menino. A menina
morreu jovem. O menino tornaria-se a consolação e orgulho da mãe. Esta
educadora modelo arranca do retórico pagão Libânio esta exclamação de
admiração: “Deuses, que mulher cristã admirável!”.
Libânio, amigo do imperador Juliano foi quem o educou nos clássicos
grego e na retórica, provavelmente ai foram lançadas as bases para sua excelente
capacidade de falar. De fato, em Antioquia, a mãe prudente entregou-se
inteiramente à tarefa de fazer de seu filho um homem. No meio desta capital, ela
velará sempre por João sem nunca o monopolizar. É verdade que, ao contrário de
Mônica, mãe de Agostinho, Antusa, não teve de reconduzir o seu filho à sabedoria
e à fé. Ela observou atentamente ao desenvolvimento harmonioso de uma alma
cândida, não perturbada pelas paixões humanas e fiel a Deus.
No cultivo deste espírito rico de esperança interviram mestres
credenciados. O primeiro, Melécio de Antioquia, foi um prelado ponderado e quem
o batizou. Em segundo lugar, Diodoro, o primeiro presbítero de Antioquia e depois
do ano 378, bispo de Tarso, fundador da famosa escola de Antioquia, influenciou
Crisóstomo e Teodoro de Mopsuéstia. Quanto a estes discípulos um era bem
diferente do outro, Teodoro sustentava visões preferivelmente liberais a respeito
da Bíblia, enquanto João a considerava como sendo, em cada parte, a infalível
Palavra de Deus. A exegese do primeiro era intelectual e dogmática; a do último,
mais espiritual e prática. Um era famoso como crítico e intérprete; o outro, embora
fosse hábil exegeta, ofuscou todos os seus contemporâneos como um orador de
púlpito. Por essa razão, Teodoro foi intitulado o Exegeta, enquanto João foi
chamado de “Crisóstomo”.58
Ambos escolherão uma hermenêutica da investigação histórica do que a da
alegórica, no comentário exegético.
Quanto à vida monástica quem o influenciou grandemente foi Carterius
diretor da “Escola de ascetas”.
Foi então que sua sensível mãe apelou. Antusa pediu-lhe que, por ela, a
decisão fosse adiada. Escutemos a sua defesa: “Querido filho, não me deixes
57
Daniel-Rops, p. 522
58
Louis Berkhof, p. 19
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 38
viúva pela segunda vez. Quando me fechares os olhos, ainda haverá muito tempo
para escolheres um estado de vida que te convenha. Contudo, enquanto eu ainda
respirar, peço-te: suporta a minha presença.” Perturbado com esta súplica
maternal, João continuará a viver debaixo do mesmo teto da sua querida mãe.
2. Em busca da perfeição.
3. Pregador inigualável.
59
Jean Huscenot. p.73
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 39
Em 399, o grande chefe dos Godos arianos, Gainas, impõe como condição
prévia à negociação da paz uma exigência cruel: “Quero a cabeça do Eunuco
Eutrópio. Só depois negociaremos.” Inconstante e frouxo, Arcádio aceitará,
abandona o ministro, ainda ontem seu favorito, mas hoje uma vítima que entrega
ao carrasco. Perseguido Eutrópio foge. Refugia-se na catedral de Constantinopla
e agarra-se ao altar que lhe garante o direito de asilo.
No inicio de 402, desembarcam em Constantinopla cerca de cinqüenta
monges vindo do Nítrio (região desértica do baixo Egito). Chamam-lhes “irmãos
altos” por causa da grande altura dos seus quatro superiores. Estes monges foram
perseguidos por Teófilo de Alexandria que os acusava de origenismo (doutrina da
restauração universal e alegorismo escriturístico exagerado) e pedem asilo a
Crisóstomo.
Sempre caridoso, Crisóstomo ficou impressionado e albergou-os em um
hospício próximo da igreja Santa Anastácia ( ou ressurreição).
Por influência de Eudóxia, Arcádios convocou um concílio para resolver o
litígio e determinar a sorte dos refugiados religiosos. Aliado a Epifânio de
Salamina, Teófilo de Alexandria resolveu acusar Crisóstomo de “um herege
disfarçado de origenismo”. E, então, abriu-se um conflito teológico! Do
acolhimento dos “irmãos altos” passou-se ao debate doutrinário de fundo. A
primeira residência de desterro é Cucusa, hoje Turquia. João faz uma viagem de
sessenta e dois dias.
Em 407, não retomou João o contato com o Papa Inocêncio I que o apoiou.
Depois disto João foi deportado para Pithionte, na margem oriental do mar negro,
mil e quinhentos quilômetros, junto do Cáucaso, em plena região bárbara. A
partida ocorreu a 25 de agosto, no fim do verão com etapas diárias de vinte
quilômetros, com este ritmo, o viajante esgotou-se profundamente, no dia 14 de
setembro, sucumbe no caminho, perto de Comana, no Ponto e morreu pouco
depois. Trinta e um ano depois, 27 de julho de 438, o imperador Teodósio II, filho
de Eudóxia, mandou transladar os seus despojos e sepultá-los na igreja dos
Santos Apóstolos. Carregaram triunfalmente as suas cinzas para Constantinopla.
A herança literária de João é mais ampla que a de todos os outros
escritores orientais, porque suas obras foram conservadas. Dos ocidentais, só
Agostinho se lhe pode equiparar. Com relação ao conteúdo, seus escritos
oferecem material muito rico não apenas ao teólogo, mas também para a história
da civilização.61
60
Jean Huscenot. p.75
61
B. Altaner, p. 326
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 40
TEXTO
Enquanto somos ovelhas, vencemos e ficamos por cima, seja qual for o
número dos lobos que nos rodeiam. Se, ao contrário, formos lobos, seremos
vencidos; não termos a ajuda do pastor. Pois este apascenta ovelhas, não lobos;
abandonar-te-á e te deixará, porque não lhe dás ocasião de mostrar seu poder. O
que o Senhor quer dizer é isto: Não fiqueis perturbados quando, ao vos enviar
para o meio dos lobos, eu vos ordeno ser como ovelhas e pombas. Eu vos
poderia proporcionar o contrário: enviar-vos sem mal algum em vista, sem vos
sujeitar ao lobo qual ovelha, porém, tornar-vos mais terríveis do que leões.
Convém que seja assim. Isto vos fará mais refulgentes e proclamará meu poder.
Dizia o mesmo a Paulo: Basta-te a minha graça, pois a força se realiza na
fraqueza (2Cor 12.9). Fui eu mesmo que estabeleci isto para vós. Ao dizer, pois:
Eu vos envio como ovelhas (Lc 10.3), subentende: Não desanimeis por esse
motivo; eu sei, certamente, eu sei que assim sereis invencíveis.
Em seguida, para que não viessem a pensar que poderiam conseguir algo
por si mesmos, sem demonstrar que tudo vem da graça, e, assim, não julgassem
ser coroados sem méritos, diz: Sede prudentes como serpente e simples como
pombas (Mt. 10.16). Que vantagem terá nossa prudência entre tantos perigos?
dizem eles. Como poderemos ter prudência que uma ovelha possua, no meio de
lobos, e de tão grande número de lobos, que poderá fazer? Seja qual for a
simplicidade de uma pomba, que lhe adiantará, diante de tantos gaviões
ameaçadores? para aqueles que não entendem, nada certamente. Para vós,
porém, será de muito proveito.
Mas vejamos a prudência que aqui se exige: a da serpente. Esta expõe
tudo, até mesmo se lhe cortam o corpo, não se defende, contanto que proteja a
cabaça. Assim também tu, diz ele, à exceção da fé, entrega tudo: dinheiro, corpo,
até mesmo a vida. A fé é a cabeça e a raiz; salva esta, tudo o mais que perderes,
recuperarás depois ao dobro. Por isso, não ordenou ser só simples, nem só
prudente; mas uniu as duas coisas, a fim de serem verdadeiramente uma força.
Ordenou a prudência da serpente para não receberes golpes mortais; e a
simplicidade da pomba, para não te vingares dos que te fazem o mal nem
afastares por vingança os perseguidores. Sem ela, de nada vale a prudência. E
não pense alguém ser impossível cumprir este preceito. Mais do todos, conhece
ele a natureza das coisas; sabe que a ferocidade não se aplaca com a ferocidade,
mas com a brandura.62
62
Liturgia das Horas, p.525-526
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 41
Texto Básico.
Romanos 13.13-14.
“Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e
dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada
disponhais para carne, no tocante às suas concupiscências.”
Introdução.
63
P. Pierrard, p. 48
64
A. Hamman, p. 227.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 42
2. Do maniqueísmo ao neoplatonismo.
3. A conversão de Agostinho.
65
Jean Huscenot, p.98
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 43
4. Agostinho e os dissidentes.
TEXTO
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 44
Dia o Apóstolo: Sede como eu. Embora judeu por nascimento, desprezo em
meu espírito as prescrições segundo a carne. Porque também eu, como vós, sou
homem. Em seguida, com delicadeza, ele os faz reconsiderar sua caridade, para
que não o tratem como inimigo. Assim fala: irmãos, suplico-vos, não me
ofendestes em nada. Como se dissesse: “não julgueis que desejo ofender-vos”.
Por isto diz ainda: filhinhos, para que o imitem como pai. A quem, continua,
dou de novo à luz até que Cristo se forme em vós. Fala principalmente na pessoa
da Igreja, pois declara em outro lugar: Tornei-me pequenino entre vós, como mãe
que acalenta seus filhos.
No crente, Cristo se forma, pela fé, no homem interior, chamado à liberdade
da graça, manso e humilde de coração, que não se envaidece pelos méritos de
suas obras, que são nulas. Se ele começa a ter algum mérito, deve-o à própria
graça. A este pode chamar seu mínimo e identificá-lo consigo aquele que disse: O
que fizestes a um dos mínimos meus, a mim o fizestes. Cristo é formado naquele
que recebe a forma de Cristo. Recebe a forma de Cristo quem adere a Cristo com
espiritual amor.
Disto decorre que, imitando-o, se torne o que ele é, na medida que lhe é
possível. Quem diz estar em Cristo, fala João, deve caminhar como também ele
caminhou.
Visto como os homens são concebidos pelas mães para se formar e, uma
vez formados, são dados à luz do nascimento, surpreendem-nos as palavras: de
novo dou à luz até que Cristo se forme em vós. Temos de entender este novo
parto como a aflição dos cuidados que ele suporta por aqueles pelos quais sofre
até que Cristo nasça. De novo sofre as dores do parto por causa da sedução
perigosa que os perturba. Semelhante solicitude a respeito deles, que o faz dizer
estar em dores do parto, pode continuar até que cheguem à medida da idade
perfeita de Cristo, de maneira que já não se deixem levar por todo vento de
doutrina. Não está solícito, portanto, em relação à fé inicial deles, pois já haviam
nascido, mas quanto a seu fortalecimento e perfeição. Assim é que ele diz: A quem
de novo dou à luz, até que Cristo se forme em vós. Com outras palavras refere-se
ao mesmo sofrimento: Os meus cuidados de todos os dias, a solicitude por todas
as Igrejas. Quem se enfraquece sem que eu também me torne fraco? quem
tropeça, que eu não me ponha a arder? 66
A primazia de Cristo.
Texto básico
66
Liturgia das horas, Vol. III, p162-163.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 45
Colossenses 1.17
Introdução.
2. Um inicio espinhoso.
67
André Benoit, p. 12.
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3. Um mestre em cristologia.
a) Nestório.
4. Concílio de Éfeso
68
Jean Huscenot. p. 112
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 48
TEXTO
quanto os santos apóstolos se esforçaram por bem realizar todas estas tarefas, se
leres os escritos dos Atos dos Apóstolos e de Paulo. 69
Texto Básico
Atos 9.31
Introdução.
1. Um futuro brilhante.
69
Liturgias das Horas, p. 1408-1409.
70
Jean Huscenot, p.139.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 50
partir”. Mas, desta vez não há hipótese de voltar para trás nem de mudar de idéia.
Na páscoa de 597, os pioneiros abordaram os bárbaros. Perfeitamente acolhidos
pelo rei Etelberto, ainda pagão, mas de boa vontade, e por sua mulher cristã, a
rainha Berta, os missionários romanos começaram logo, quase a seguir, a realizar
conversões em massa. Depois do próprio soberano, batizado em 01 de junho de
597, seis meses mais tarde é a vez dos seus súditos.
Gregório também foi um grande reformador da liturgia romana e do canto
na igreja. A partir do ano 600 e durante os quatro últimos anos que lhe restaram de
vida, o grande líder foi importunado por intensas dores físicas. 73
TEXTO
73
Jean Huscenot. p. 148.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 52
palavras vãs, começo a dizer sem dificuldade aquilo que a princípio tinha ouvido
com má vontade; e ali onde me aborrecia cair, agrada-me permanecer. Que, pois,
ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas
ainda deitado no vale da fraqueza? Poderoso é, porém, o criador e redentor do
gênero humano para conceder-me, a mim, indigno, a elevação da vida e a eficácia
da palavra. Por seu amor, me consagro totalmente à sua palavra. 74
Bibliografia.
ALTANER, B., STUIBER, A., Patrologia: São Paulo, Edições Paulinas, 1972.
ARRUDA, Lázaro Lopes de, Anotações de História da Igreja: São Paulo, CEP,
1990.
BENOIT, André, A Atualidade dos Pais da Igreja: São Paulo, Aste, 1966.
CAIRNS, Earle E., O Cristianismo Através dos Séculos: São Paulo, Edições
Vida Nova, 1990.
CESARÉIA, Basílio de., Patrística: Basílio de Cesaréia, São Paulo: Paulus, 1998.
FRANGIOTTI, Roque, História das Heresias (séculos I-VII): São Paulo, Paulus,
2ª edição, 1995.
74
Liturgia das Horas, p. 1245-1246.
História da Igreja - Rev. Wilson Santana Silva - 16/09/2018 - 53
GOMES, C. Folch, Antologia dos Santos Padres: São Paulo, Edições Paulinas,
3ª edição, 1975.
HALL, Christopher A., Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja: Viçosa, Ed.
Ultimato, 2000.
ILLANES, José L., SARANYANA, Josep I., História de la Teologia: Madrid, BAC,
1995.
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1999.
NICHOLS, Robert Hastings., História da Igreja Cristã: São Paulo, CEP, 1981.
VEYNE, Paul, Como se Escreve a História: Brasília, Ed. UnB, 4ª Edição, 1998.
WALTON, Robert C., História da Igreja em Quadros: São Paulo, Ed. Vida, 2000.