Tem
a ver com várias coisas. Uma delas é genética, mesmo. Os índios têm, por
razões de evolução, muito menos resistência ao metabolismo do açúcar no
organismo. Por isso que eles têm essa tendência à obesidade e à diabetes.
Segundo, os índios sempre tiveram álcool, na América do Norte menos,
mas todos os índios da Amazônia preparavam bebidas fermentadas, etc. É
a mesma coisa com o tabaco, só que ao contrário. O tabaco é indígena. Os
índios fumavam, mas não tinham câncer, ou a taxa devia ser muito
pequena, assim como o alcoolismo existe entre nós mas é muito menos
violento. Por quê? Os índios, para fazerem o tabaco deles e a bebida deles,
tinham que produzir à mão. Tabaco tinham de plantar, de enrolar, de
fazer um charuto, levava cinco dias para fumar, eram objetos custosos. A
cerveja que faziam levava semanas. Aí, chega de repente a cachaça, seis
meses de trabalho indígena concentrado numa garrafa que custa dois
reais. A mesma coisa com a gente: quando você pega num maço de cigarro
que tem concentrado seis meses de trabalho indígena, você fuma um atrás
do outro. Você morre de câncer aqui e os índios morrem de cirrose lá.
O capitalismo apresenta aos índios uma coisa que eles nunca tiveram: o
infinito mercantil. Os objetos não acabam nunca. Você tem uma
quantidade infinita de cachaça. É como se chegassem aqui marcianos que
nos dessem soro da vida eterna. Os índios não entendem e consomem,
consomem, consomem. Eles produziam pouco para ter tempo livre. O que
acontece agora é que continuam produzindo pouco, mas os produtos
chegam em quantidade infinita. E eles não têm estrutura social, política,
institucional. Vai levar séculos para que desenvolvam resistências. Todo o
ser humano gosta de se drogar, alterar a consciência, desde o café até ao
LSD, então nos índios o álcool entrou destruindo tudo. É certamente a
coisa mais destrutiva em todos os índios das Américas.