We present a phenomenological analisis of the importance of magnetism in our society as a tool for
the scientific and the tecnological progress, from the old times to our days.
sim como em alguns compostos intermetálicos de transição, a Mecanica Estatı́stica. Como os sistemas magnéticos
os materiais isolantes foram compreendidos antes da década podem ser representados por uma variedade de mode-
de 70. Por outro lado, várias questões de natureza fun- los matemáticos relativamente simples, o magnetismo é o
damental do magnetismo itinerante ainda hoje não tem re- campo da Fı́sica de maior aplicação da Mecânica Estatı́stica.
sposta satisfatória às mesmas [2]. Foi principalmente devido a este campo que poderosas fer-
ramentes desenvolvidas nas últimas décadas foram postas a
2. Mecanismo de Interação prova. Este é o caso das expansões em alta temperatura da
Teoria de Grupos de Normalização (que deu o Prêmio Nobel
Considerações da estrutura eletrônica estabelecem a K. Wilson em 1982) e dos métodos de simulação por com-
também o mecanismo da interação entre os momentos putador, tal como o Método de Monte Carlo. Já na década
magnéticos. Quando a interação é forte o suficiente para de 70, a pesquisa em magnetismo era dirigida para mate-
se sobrepor à agitação térmica, os momentos magnéticos riais com interações entre momentos em três dimensões (d
tendem a ficar alinhados coletivamente resultando numa = 3), e com ordenamento simples, ferro, ferri ou antiferro-
magnetização. É esta magnetização que determina a re- magnético. A década de 70 presenciuo uma grande evolução
sposta macroscópica do material quando está submetido a na sı́ntese de materiais magnéticos. Foram descoberto ma-
campos externos. Por outro lado, se a temperatura é au- teriais com interações predominantemente em planos (d =
mentada, a desordem térmica aumenta e a magnetização 2) ou em cadeias lineares (d = 1) e com ordenamentos mais
diminui, tendendo bruscamente a zero numa temperatura de complexos, como os sistemas modulados. Foram também
transição Tc . A figura 1 [3] apresenta o comportamento produzidos materiais com desordem espacial dos momen-
tı́pico da magnetização M em função da temperatura T de tos, como as ligas, os sistemas densos diluı́dos e os vidros de
um material magnético. A medida e, conseqüentemente, spin que estimularam o desenvolvimento de novas técnicas
a interpretação teórica detalhada deste comportamento em de Mecânica Estatı́stica. Foi graças a contribuições fun-
materiais constituem um tópico atual de pesquisa em mag- damentais à Fı́sica fornecidas neste campo que Louis Néel
netismo. Quando a temperatura ultrapassa o valor de Tc , em 1970, J.H. Vleck e P.W. Anderson em 1977 recebem o
o sistema passa da fase ordenada (momentos magnéticos Prêmio Nobel. Os sistemas de baixa dimensionalidade (d
alinhados) para a fase paramagnética, sofrendo assim uma = 1, 2) e os sistemas ordenados constituem áreas de grande
transição de fase. interesse e atividade atualmente.
à pesquisa básica. Os materiais magnéticos desempenham onde dA~ é um vetor normal à superfı́cie em cada ponto. Na
um importante papel na tecnologia moderna, pois encon- teoria macroscópica, a magnetização entra nas equações de
tram um grande número de aplicações em produtos e proces- Maxwell levando informações das propriedades magnéticas
sos industriais dos mais variados setores. As aplicações vão ~ e H.
do material, através da relação entre B ~ No Sistema
desde dispositivos com funções muito simples, como os pe- Internacional de unidades,
quenos ı́mãs permanentes usados para fechaduras de portas
de móveis e utensı́lios, a inúmeros componentes sofisticados ~ = µ0 (H
B ~ +M
~ ), (3)
utilizados na indústria eletroeletrônica. Neste setor os ma-
onde µ0 = 4π × 10−7 N/A2 é a permeabilidade magnética
teriais magnéticos somente são suplantados em volume de
do vácuo. No sistema CGS,
aplicação pelos semicondutores, mas em termos econômicos
eles têm uma importância quase tão grande quanto estes. ~ =H
~ + 4π M
~
B (4)
Muitas das aplicações atuais dos materiais magnéticos re-
sultaram de avanços cientı́ficos e tecnológicos obtidos nos ~ =H
No Sistema CGS, no vácuo B ~ e µ = 1.
318 G. J. B. Rodrı́gues
Figura 2. Distribuição dos artigos publicados nos Anais das ICM/76, ICM/79, ICM/82, ICM/85, ICM/92, ICM/9S e ICM/97 respectiva-
mente.
8. Classificação dos Materiais Magnéticos de potência elétrica, ultracentrifugadora, etc.). Eles são uti-
lizados em duas categorias: ı́mãs permanentes e os mate-
Atualmente os materiais magnéticos desempenham um riais macios. Os ı́mãs permanentes são aqueles que têm
papel muito importante nas aplicações tecnológicas do a propriedade de reter um campo magnético constante. Os
Magnetismo, em aplicações tradicionais, como em dis- principais desafios da pesquisa em materiais para o uso em
positivos eletromagnéticos (geradores, motores, transfor- ı́mãs permanentes são: compreensão da origem e do pa-
madores, aviões, relógios, computadores, eletrodomésticos pel das interações nos materiais desenvolvidos empirica-
etc.), dispositivos eletroacústicos (fones, altofalantes, ag- mente, suas propriedades térmicas, magnéticas e mecânicas,
ulhas magnéticas, discos compactos e microfones de tele- a sı́ntese de novos materiais, temperatura de Curie mais el-
fones, toca-disco, etc.), instrumentos de medidas (gal- evadas, maior facilidade de fabricação em massa, melhores
vanômetros e balanças), dispositivos de torque (medidores
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica vol. 20, no. 4, Dezembro, 1998 319
propriedades mecânicas e, se possı́vel, baseados em insumos eletrônica: a gravação magnética. Esta aplicação é baseada
minerais abundantes [2]. Os materiais macios ou materiais na propriedade que tem a corrente numa bobina em alterar o
de alta permeabilidade são utilizados para produzir um alto estado de magnetização de certos materiais. Isto possibilita
fluxo magnético gerado por uma corrente elétrica ou uma armazenar, num meio magnético, a informação contida num
grande indução magnética devido a um campo externo. Es- sinal elétrico. A recuperação, ou leitura, da informação
sas propriedades devem ser alcançadas com requisitos diver- gravada, é feita através da indução de uma corrente elétrica
sos de variação no tempo e no espaço, com um mı́nimo de pelo meio magnético em movimento. A gravação magnética
dissipação de energia. Os materiais de alta permeabilidade é, de longe, a melhor tecnologia da eletrônica para ar-
devem então ter um ciclo de histerese estreito, ou seja, um mazenamento não-volátil de informação. Ela é essencial
Hc pequeno e uma grande inclinação na parte da curva B ~ para o funcionamento de computadores, gravadores de som
~ tal como é ilustrado na figura 3, que também mostra
vs H, e de vı́deo, além de inúmeros equipamentos acionados por
as grandezas importantes no ciclo de histerese. O que de- cartões magnéticos.
termina aplicação de cada material é seu ciclo de histerese, Os meios magnéticos atualmente utilizados em gravação
que representa o campo B ~ resultante em função do campo são feitos pela deposição de uma emulsão de partı́culas
H~ aplicado (por exemplo, com uma corrente elétrica numa magnéticas sobre uma superfı́cie (de polietileno, por ex-
bobina). emplo, no caso de fitas), ou filmes finos preparados por
evaporação a vácuo ou “sputtering ”. A informação é
gravada no meio em movimento (disco ou fita) através
de um sinal elétrico variável no tempo, produzindo uma
magnetização que varia no espaço. A finalidade da gravação
de sinais em função da frequência e a capacidade de ar-
mazenamento (em bits/polegada [2], por exemplo) depen-
dem da qualidade do meio. Os materiais adequados para
a gravação têm campo coercitivo intermediário entre os
ı́mãs permanentes (milhares de Oe) e os de alta permeabil-
idade (alguns Oe). Ele deve ser suficiente para manter a
magnetização produzida durante a gravação e ao mesmo
tempo possibilitar que a informação seja apagada, sendo
tipicamente da ordem de centenas de Oe [2].
Dependendo da origem microscópica de sua
magnetização e das interações internas, os materiais são
comumente classificados em uma das seguintes categorias:
Figura 3. Ciclo de histerese de um material magnético. Diamagnéticos, Paramagnéticos, Ferromagnéticos e Anti-
ferromagnéticos. O diamagnetismo é o tipo mais fraco de
resposta magnética de um sistema e é caracterizado por ter
Vários materiais de alta permeabilidade são usados at- susceptibilidade negativa e da ordem de grandeza de 10−5 .
ualmente dependendo da aplicação. Em dispositivos de A origem do diamagnetismo está na variação do momento
baixa frequência (motores, geradores, transformadores e angular orbital dos elétrons induzida pela aplicação do
reatores entre outros) os materiais mais comuns são os campo externo. A explicação clássica deste fenômeno vem
chamados aços elétricos, feitos com lâminas de aço com da lei de Lenz, pela qual uma variação de campo magnético
pouca concentração de carbono ou com silı́cio; ligas de ferro resulta numa corrente elétrica induzida que tende a se opor
e nı́quel ou ferro e cobalto, na forma de material bruto ou a esta variação, isto é criando um campo oposto ao aplicado.
de liga amorfa preparada por esfriamento rápido sobre uma Este fenômento ocorre em qualquer átomo. Mas como ele é
superfı́cie metálica fria. Atualmente há uma grande ativi- muito fraco, só aparece quando no material não há dipolos
dade de pesquisa e desenvolvimento em ligas amorfas com magnéticos permanentes que produzem efeitos muito mais
o objetivo de reduzir os mecanismos de perda de energia e pronunciados. Os materiais diamagnéticos são aqueles que
melhorar os processos de produção de fitas em larga escala. não possuem dipolos magnéticos permanentes, ou seja, são
Nas últimas décadas surgiu uma nova aplicação para os aqueles cujos átomos ou ı́ons têm camadas eletrônicas com-
materiais magnéticos que adquiriu grande importância na pletas. Este é o caso dos gases nobres, He, Ne, Ar, Kr e
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Xe. É também o caso dos sólidos com ligação iônica, cu- distante daqueles que representam os materiais. O resul-
jos átomos trocam elétrons para ficarem com suas últimas tado da uma interação relativamente pequena entre fı́sicos
camadas completas, tais como KBr, LiF, CaF2 e NaCI. teóricos e experimentais, não é uma caracterı́stica apenas do
Deve-se salientar que não todos os materiais diamagnéticos Magnetismo. Com a melhoria dos laboratórios da Fı́sica Ex-
são não condutores; existem materiais tais como o Cu, Ag, perimental no Paı́s e o aumento da maturidade dos fı́sicos, a
e Au entre outros, que são diamagnéticos apesar de ter sua interação entre teóricos e experimentais tem crescido grad-
última camada eletrônica completa, isto é devido a que sua ualmente. Isto se verifica tanto entre pesquisadores de
suscetivilidade é negativa. uma mesma instituição, como de instituições diferentes, até
Os materiais que têm momentos magnéticos atômicos mesmo localizadas em regiões distantes do Paı́s.
permanentes são classificados em uma das outras catego- As dificultades da área do Magnetismo no Brasil
rias acima mencionadas ou então têm estrutura magnética decorrem de vários fatores. Do ponto de vista da
mais complexa como é o caso dos chamados vidros de pesquisa básica pode-se destacar quatro: o pequeno número
spin. Ainda, para ter aplicação prática é necessário que de pesquisadores, a escolha dos temas de pesquisa, a
a magnetização macroscópica seja alta, o que ocorre ape- deficiência dos laboratórios e a falta de pessoal e equipa-
nas nos materiais ferro ou ferromagnéticos. Estes são os mentos para a preparação de materiais magnéticos.
materiais utilizados nas três aplicações anteriormente men-
cionadas: ı́mãs permanentes, materiais macios e meios de Agradecimento
gravação magnética.
Agradeço ao Angelo Morrone do Laboratório de Mag-
9. Conclusão netismo do Instituto de Fı́sica da UFRGS, por suas valiosas
observações, crı́ticas e sugestões a este trabalho.
A evolução do Magnetismo no Brasil pode ser atribuida
a liderança exercida por diversas pessoas em diferentes Referências
intituições do Paı́s. 1. S. M. Rezende, A Fı́sica de Materiais e Dispositivos
No Brasil, o Magnetismo é uma das maiores sub- Eletrônicos, Editora da Universidade Federal de Per-
áreas da Matéria Condensada em termos de número de nambuco, Recife, (1996).
pesquisadores, refletindo o que também ocorre a nı́vel in- 2. A Fı́sica no Brasil na Próxima Década, Fı́sica da
ternacional. Existe uma grande guantidade de pessoas Matéria Condensada, Sociedade Brasileira de Fı́sica,
que trabalham tanto na teoria quanto na experiência com Instituto de Fı́sica, USP. (1990).
doutorado em 13 instituições do Paı́s, são elas: USP, UFF, 3. B.D. Cullity, Introduction to Magnetic Materials,
UFPE, CBPF, UFRGS, UNICAMP, UFMG, UFRGN, PUC- Addison-Wesley Publishing Company, Philippines,
RJ, UFRJ, UFCE, UFSCAR, UFES. (1972).
Acredita-se que a pouca interação entre os pesquisadores 4. M. N. Baibich, J. M. Broto, A. Fert, F. Nguyen Van
teóricos e experimentais, na pesquisa relacionada ao Mag- Dau, F. Petroff, P. Etienne, G. Creuzet, A. Frederich
netismo, seja provavelmente devido a que a malhor parte dos and J. Chazela, Phys. Rev. Lett. 61, 2472 (1988)
teóricos no Brasil trabalham com modelos abstractos muito