Olá pessoal! Vou me ocupar hoje de um tema um tanto traiçoeiro. Trata-se da freqüente
ressalva encontrada no CTN que autoriza regramento diferenciado por meio de lei ordinária:
salvo disposição de lei em contrário.
Em verdade, iremos explorar outras cláusulas que não se utilizam exatamente dessas palavras,
mas que produzem efeito semelhante.
Existem cláusulas desse tipo inclusive na Constituição Federal. Existem situações derivadas
desse tipo de técnica legislativa que nos remetem não à lei, mas a convênios que celebram
entre si Estados e o DF.
Como se não bastasse a dificuldade intrínseca a cada um dos temas de que trata a legislação,
existe ainda a necessidade de conhecer bem cada uma das cláusulas que admitem a
possibilidade do legislador conferir tratamento particular. Senti-me motivado a escrever sobre
isso após examinar a prova aplicada no último mês de janeiro pela Fundação Carlos Chagas no
concurso para o cargo de Auditor-Fiscal do Município de São Paulo, onde foram cobrados
conhecimentos dessa natureza com certa ‘insistência’.
É sempre da mesma forma, a CF ou o CTN estabelecem a regra que será aplicável caso a
legislação que vier a tratar das minúcias da tributação não disponha em contrário.
Não posso deixar de mencionar a grande colaboração de meu amigo Rafael Vidal de Araújo na
elaboração deste texto.
Abaixo apresento uma lista do que iremos tratar.
O tema será dividido em dois. Neste Toque 8, iniciaremos com os itens 1 a 10, que são
encontrados no texto segundo o índice abaixo:
1. CF – Creditamento do ICMS .............................................................................................. 2
2. CF – Relação entre alíquotas do ICMS em operações internas e interestaduais ................ 3
3. CTN – Regras de vigência das normas complementares.................................................... 3
4. CTN – Ocorrência do fato gerador ..................................................................................... 4
5. CTN – Atos ou negócios jurídicos condicionais................................................................. 4
6. CTN – Extraterritorialidade da legislação tributária........................................................... 5
7. CTN – Convenções particulares ......................................................................................... 5
8. CTN – Efeitos da solidariedade .......................................................................................... 6
9. CTN – Responsabilidade objetiva ...................................................................................... 6
10. CTN – Valor tributário expresso em moeda estrangeira .................................................... 7
1. CF – Creditamento do ICMS
Art.155 § 2o. II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário
da legislação:
a) não implicará crédito para compensação com o montante devido nas
operações ou prestações seguintes;
b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores;
O normal é que as operações de circulação de mercadorias sejam tributadas. Nessa hipótese,
segundo o princípio da não-cumulatividade, o adquirente paga pela mercadoria e se credita do
ICMS embutido no preço. Esse crédito será utilizado para deduzir o ICMS devido em razão
das saídas que der causa - “operações ou prestações seguintes”. Assim, o valor a recolher será
o total de ICMS apurado deduzido do valor dos créditos a que tiver direito.
Nas situações que envolverem operações isentas ou beneficiadas com não-incidência, a CF
estabelece a regra a seguir, aplicável apenas se a legislação infraconstitucional não dispuser de
forma diferente:
a) a aquisição de mercadoria não-tributada não dá direito a crédito de
ICMS para ser utilizado nas operações seguintes (efeito em azul na
figura abaixo);
b) quem adquire uma mercadoria tributada e dá saída sem tributação deve
estornar o crédito computado na aquisição (efeito em vermelho na figura
abaixo).
isenção ou
ICMS 1 não-incidência ICMS 2
A regra estabelecida pela CF é que as alíquotas aplicáveis nas operações internas a cada Estado
ou DF devem ser maiores que as alíquotas aplicáveis nas operações interestaduais, ou no
mínimo iguais. Lembre-se que nas operações internas todo o ICMS fica com o Estado onde se
deu a operação. Já nas operações interestaduais, a depender dos sujeitos envolvidos, ocorre
uma ‘repartição’ do valor de ICMS devido.
Para guardar bem essa disposição, pense que há uma tentativa de não desestimular operações
interestaduais. Assim, alíquotas internas ≥ alíquotas interestaduais.
Mas, em função da ressalva no texto constitucional, é permitido aos Estados e ao Distrito
Federal deliberarem no sentido de estabelecer alíquotas internas inferiores às previstas para as
operações interestaduais.
Apenas para recordar, o inciso I acima se refere aos atos normativos expedidos pelas
autoridades administrativas. O inciso II se refere às decisões dos órgãos singulares ou coletivos
de jurisdição administrativa, e o inciso III aos convênios que entre si celebrem a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
A regra de vigência do CTN, a partir da data da publicação ou a partir de 30 dias após a data da
publicação, para os atos normativos ou decisões, respectivamente, vale apenas se não houver
disposição em contrário.
Em relação aos convênios existe uma lacuna. Se não houver regra específica para o início da
vigência de convênios, recorre-se ao CTN. Mas nesse caso, o CTN nos remete novamente ao
regramento específico dos convênios. Qual a saída?
Quando o CTN, no seu art. 103, inciso III, não estabelece prazo para início da vigência dos
convênios, está implícita a exigência de que os próprios convênios, ou a lei que os regula,
cuidem do tema. No entanto, permanecendo a lacuna, muitos autores defendem que, em razão
do art. 101 do próprio CTN, aplica-se a Lei de Introdução ao Código Civil, ou seja, quando não
houver determinação específica, o início de vigência de convênios ocorre 45 dias após sua
publicação.
Murillo Lo Visco 3 Editora Ferreira
murillolv@gmail.com www.editoraferreira.com.br
Direito Tributário Toque 8 – Salvo disposição em contrário (1)
Segundo o CTN, em atos ou negócios jurídicos sob condição resolutória, considera-se ocorrido
o fato gerador desde o momento em que estejam definitivamente constituídos, ou seja, desde o
momento da prática do ato ou da celebração do negócio.
Entretanto, devido à cláusula excepcionadora, lei pode dispor de maneira diversa sobre o
momento em que os atos ou negócios jurídicos condicionais reputam-se perfeitos e acabados,
sendo a condição suspensiva ou resolutória.
A regra é que as convenções particulares não podem ser opostas ao fisco. Por exemplo, Fulano
compra um carro de Beltrano. Entre eles celebram que Beltrano é responsável pelos tributos
incidentes até a data do negócio. Caso o fisco venha a cobrar os tributos referentes a data
anterior ao negócio, irá cobrar de Fulano, segundo a regra de responsabilidade por sucessão do
art. 131, inciso I. Não adianta Fulano alegar que, segundo contrato de venda e compra, quem
deve é Beltrano.
Mas, em função da ressalva no texto do CTN, lei pode dispor que convenções particulares,
relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, podem ser opostas à Fazenda Pública,
para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.
Segundo o art. 124 do CTN, são solidariamente obrigadas as pessoas que tenham interesse
comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; e as pessoas
expressamente designadas por lei.
De maneira simplista, ocorre solidariedade passiva quando mais de uma pessoa figura no pólo
passivo da obrigação tributária e, segundo o art. 275 do NCC, o credor (no caso o fisco) tem
direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida
comum.
Em razão da ressalva do CTN, a lei pode alterar os efeitos da solidariedade de modo a dispor
que o pagamento efetuado por um dos obrigados não aproveite aos demais; que a isenção ou
remissão do crédito não exonere todos os obrigados; ou que a interrupção da prescrição, em
favor ou contra um dos obrigados, não favoreça ou prejudique aos demais.
Quanto a infrações, a regra geral do Direito Tributário é a responsabilidade objetiva. Não há,
portanto, que se perquirir a respeito da intenção do agente. Baste que se comprove a
materialidade do ato.
Também é regra que a responsabilidade persistirá independentemente da efetividade, natureza
e extensão dos efeitos do ato praticado.
Porém, lei definidora de infração tributária pode adotar algum aspecto subjetivo – dependente
da intenção: dolo ou culpa – para atribuir responsabilidade por infrações.
Assim, a lei pode, por exemplo, dispor que seja necessário o dolo do agente ou responsável
para lhe atribuir responsabilidade por infrações. Nesse caso, ao contrário do que ocorre quando
a responsabilidade é objetiva, além da materialidade do fato, a autoridade administrativa terá
que produzir provas convincentes de qual era realmente a intenção do agente.
Em decorrência desse aspecto, a lei pode diferenciar as penalidades ao constatar que o agente
ou responsável agiu com dolo ou culpa. Pode, por exemplo, agravar a pena quando ficar
evidenciado o dolo.
Ainda, a lei pode dispor que a responsabilidade por infrações da legislação tributária dependa
da efetividade, natureza ou extensão dos efeitos do ato. Inclusive pode agravar a
responsabilidade por infrações em função desses fatores.
A regra estabelecida pelo CTN é que a conversão em moeda nacional, quando valor tributário
esteja expresso em moeda estrangeira, se dê ao câmbio do dia de ocorrência do fato gerador da
obrigação.
Entretanto, quando o valor tributário estiver expresso em moeda estrangeira, a lei pode
estabelecer que o câmbio de outro dia, que não o fixado no dia de ocorrência do fato gerador,
sirva como taxa de conversão em moeda nacional.
Gabarito:
01 – E
02 – B
03 – E
04 – A
05 – D
06 – A
07 – Certo