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Professor titular na UERJ. Pesquisador do CNPq e da FAPERJ.
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FOUCAULT, Michel. Do governo dos vivos: Curso no Collège de France, 1979-1980: aulas de 09 e 30 de
janeiro de 1980. Tradução, transcrição e notas Nildo Avelino. São Paulo: Centro de Cultura Social, 2009.
Disponível em https://ayrtonbecalle.files.wordpress.com/2015/07/foucault-m-do-governo-do-vivos.pdf
Acesso em 20 de abril de 2018.
Para excertos do curso, ver: FOUCAULT, M. Do governo dos vivos. Transcrição, tradução e notas de Nildo
Avelino. Verve, São Paulo, Nu-Sol, n. 12, outubro/2007, p. 270-298.
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FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. Curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
É este o deslocamento e a importante contribuição do livro “Formar almas,
plasmar corações, dirigir vontades: o projeto educacional das filhas da caridade de São
Vicente de Paulo (1898-1905)”, de Maria Aparecida Arruda, no qual a autora analisa as
condições de possibilidades para a criação do Colégio Nossa Senhora das Dores (CNSD)
na cidade de São João del-Rei, Minas Gerais, bem como aspectos do dispositivo em
funcionamento.
Fundado em 1898 por irmãs vicentinas, o CNSD iniciou suas atividades com o
ensino voltado para um público exclusivamente feminino. O prédio foi construído para
abrigar cem alunas internas e tantas outras externas para a formação primária,
"ginasial", secundária e o Curso Normal, em regime de internato, semi-internato e
externato. Ao considerar os diferentes estratos de formação para os quais a escola se
voltou, a autora deu centralidade ao exame no nível da formação docente, buscando
compreender as relações entre sociedade e educação escolar religiosa e suas
articulações com os modelos educacionais difundidos à época. Para tanto, analisou os
dispositivos disciplinares destinados a institucionalizar um programa de formação
docente, tendo como princípio a difusão da doutrina cristã associada à
profissionalização do magistério praticada no Colégio no início do seu funcionamento.
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AVELINO, Nildo. Do governo dos vivos: uma genealogia da obediência. Anais do XIX Encontro Regional
de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP – USP. 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.
formação recai sobre dois pontos: o noviço deverá aprender a vencer sua vontade e para
isso seu mestre deverá lhe dar ordens, muitas ordens, e ordens que serão tanto quanto
possíveis contrárias às inclinações pessoais. O mestre deverá ir na contracorrente das
inclinações do noviço para que ele obedeça e para que, nessa obediência, sua vontade
seja vencida. Deve-se, portanto, ensinar-lhe obediência. Trata-se de uma obediência
exaustiva e perfeita, que seja capaz de fazer o noviço percorrer pelo discurso todos os
segredos de sua alma, de fazer com que os segredos da sua alma venham à luz e que,
nesse emergir, a obediência ao outro seja total, exaustiva e perfeita. Obedecer tudo e
nada esconder. Tudo dizer de si, nada esconder; nada querer por si, obedecer em tudo.
É a junção desses dois princípios que se localiza no coração da instituição monástica e
de toda uma série de dispositivos que informam o que constituiu a subjetividade
ocidental.
Ainda de acordo com Avelino (2008), a obediência nos termos postulados por
Foucault se encontra vinculada à regimes de verdade, o que, por sua vez, supõe a
existência regular de atos de verdade. Estes são tomados a partir da análise do conceito
de exomologese do cristianismo primitivo, que designa um ato destinado a manifestar
uma verdade e a adesão do sujeito a essa verdade. Fazer a exomologese de sua crença
não é simplesmente afirmar o que se crê, mas afirmar o fato dessa crença; é fazer do
ato de afirmação um objeto de afirmação e, portanto, autenticá-lo seja em si mesmo,
seja diante dos outros. A exomologese é uma afirmação enfática cuja ênfase se aplica
antes de tudo sobre o fato de que o próprio sujeito deve se ligar a essa verdade,
aceitando suas consequências.