José Afonso da Silva e Manoel Gonçalves Ferreira Filho não admitem a alegação de
direito adquirido contra regramentos oriundos do poder constituinte originário. Contudo,
afirmam que reforma constitucional, ou seja, o poder constituinte derivado, deve respeitar os
direitos adquiridos. Logo, as emendas constitucionais devem respeitá-los.
Essa limitação seria decorrente do cotejo do art. 60, §4°, IV, e o art. 5°, XXXVI.
Vejamos:
"Art. 5° [...]
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e
a coisa julgada;"
Contudo, há outra corrente. Para Celso Bastos e Celso Mello não há direito adquirido
contra nova Constituição nem contra reforma constitucional. Aqui não se discute no que se
refere às ilimitações inerentes ao poder constituinte originário, nem quanto ao fato do poder
constituinte derivado ser limitado. A divergência se baseia na extensão da limitação criada
pelo cotejo dos artigos citados. Para a corrente em comento, há limitações, só que essa
limitação se dirige ao legislador e não ao constituinte. Logo, aqui a garantia existe, mas não
limita o poder constituinte derivado.
A jurisprudência acerca do assunto no STF, que conta com oitos acórdão anteriores à
Constituição atual, vem demonstrando a tendência de não admitir alegação de direito
adquirido em face de emendas constitucionais.
i) emendas constitucionais;
A única Constituição que estabeleceu distinções técnicas entre emenda e revisão foi a
de1937. Há duas diferenças básicas entre as espécies: uma formal e outra material.
i) material
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meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. Infratores sujeitos às
penalidades legais.
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Constituição como um todo. É importante frisar que ambas devem respeitar as cláusulas
pétreas.
ii) formal
Enfim, emenda e revisão são duas espécies de um gênero, qual seja, a reforma
constitucional. É importante estabelecer a distinção entre reforma constitucional e mutação
constitucional. Quando se fala em reforma constitucional, quer se dizer processo formal de
mudança da Constituição. Quando se fala em mutação constitucional devemos tomar
cuidado, pois existem dois conceitos, um nacional e um estrangeiro:
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ii) para a doutrina estrangeira - o prof. Carlos Menault diz que se trata de mudança de
conceito sem mudança de texto.
Exemplo claro é o art. 226, §3°. Esse dispositivo nunca sofreu alteração formal.
Entretanto, hoje, dezenove anos depois da Constituição, o seu contexto é outro e, por isso, a
essa norma são dadas outras interpretações, como, por exemplo, a aceitação da união
estável sem coabitação.
1 – Constituição
1.1 – Conceito
É importante saber que Constituição não é um conceito unívoco, pois, existem para
ela no mínimo três conceitos distintos. Vejamo-los:
i) sentido sociológico
Esse conceito foi desenvolvido por Hans Kelsen na obra "Teoria Pura do Direito". É o
conceito que nos cabe analisar. Mesmo a constituição tomada no sentido jurídico admite
duas espécies:
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a) formal
b) material
Enquanto a Constituição formal possui manifestação física, a material não tem. Esta,
a rigor, é a somatória de todas as normas com substrato constitucional, aonde quer que elas
se encontrem.
O Brasil, por outro, lado possui uma Constituição analítica. Ela fala sobre quase tudo
e é impossível encontrar qualquer assunto que não seja nela versado ou, não o sendo, não
possa ter a sua constitucionalidade controlada com base em princípios elencados na
Constituição. É muito mais palatável para o sistema pátrio dizer que o controle de
constitucionalidade acerca do nome será feito com base em princípios constitucionais que o
defendam do que com base no Código Civil.
i) divisão do poder político – a doutrina chama de parte orgânica da Constituição, vez que se
refere à parte de organização do Estado;
a) essa expressão é utilizada por praxe. Por isso, quando se diz divisão do poder político
deve-se ler divisão do exercício do poder político, vez que, na essência, ele é uno. É
importante lembrar que a rigor existem duas formas de se repartir o poder político:
1
Verificação da relação normativa entre a lei e a Constituição. Havendo congruência entre elas, a lei é
constitucional. Não havendo, inconstitucional.
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O exercício do poder político é dividido entre órgãos. No caso pátrio, temos o poder
executivo, poder legislativo e poder judiciário, ou seja, meros órgãos. Aqui se encontra a
tripartição de poderes. Contudo, não é a única forma. Existem outras.
Aqui não se pode esquecer que também estão incluídas nessa divisão as finalidades
sociais e econômicas a serem alcançadas pelo Estado. Tanto é assim que o Brasil possibilita
intervenções estatais econômicas e sociais.
Outra observação cabível é que direitos, garantias e remédios não são sinônimos.
Dessa forma a diferença que existe entre elas é temporal. A ordem jurídica os estabelece em
momentos diferentes. Assim, em primeiro lugar ela afirma 2 a existência de direitos. Após, o
são disponibilizadas as garantias. Contudo, para o efetivo respeito aos direitos no caso da
garantia ser rompida o constituinte prescreve o remédio. Assim, é correto dizer que a todo
direito corresponde uma garantia que o assegura e a toda garantia corresponde um remédio
que a torna eficaz.
1) direito penal
Há afirmação da liberdade ambulatorial – ir, vir e ficar. Para que esse direito fosse
assegurado foram estabelecidas garantias, como as formalidades necessárias para a
efetivação de prisão provisória. Esta é uma garantia que corresponde à liberdade
ambulatória. Contudo, se rompida a garantia pela prisão ilegal, caberá o Habeas Corpus, ou
seja, o remédio prescrito de forma a tornar a garantia eficaz.
2) direito civil
2
O termo “afirma” evita a discussão filosófica entre os jusnaturalistas, defensores da tese de que a
Constituição declara direitos já inerentes aos homens e o juspositivistas, para os quais os direitos do
homem precisam ser constituídos pelo texto constitucional.
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Hoje o pêndulo do nosso direito está em migração da parte orgânica para a parte
dogmática. É sobre esta última que o direito contemporâneo está debruçado. O número de
obras recentes sobre direitos fundamentais é muito maior do que aquelas acerca da parte
orgânica. Sob o ponto de vista da ciência do direito é nítida essa mudança. O direito positivo
também afirma essa tendência. A CF de 88 foi a primeira a trazer os direitos fundamentais
para o começo do seu texto. O constituinte originário fez isso deliberadamente, de forma que
os direitos agora limitam a ação do Estado. E não como ocorria anteriormente, tempo em
que o Estado tutelava direitos. É uma questão hermenêutica. O direito norte-americano se
encontra em movimento inverso, pois vem cerceando direitos e fortalecendo o Estado. Isso
ocorre principalmente em virtude do terrorismo.
O estudo dos elementos foi inaugurado pelo Prof. José Afonso da Silva. Basicamente,
a Constituição possui cinco elementos. Até o terceiro elemento há total correspondência com
os objetos da Constituição:
i) orgânico;
ii) limitativo;
Está compreendido na parte dogmática. Versa sobre tudo o que tem a ver com
direitos, garantias e remédios constitucionais. O poder político é limitado pela afirmação de
direitos.
iii) sócio-ideológico
Também está compreendido na parte dogmática, vez que versa sobre os fins que o
Estado almeja alcançar na ordem econômica e social. No índice da Constituição, também não
de forma exauriente, este elemento se encontra nos títulos VII e VIII.
v) formal de aplicabilidade;
Aqui surge uma questão pouco tratada: qual é a natureza jurídica do preâmbulo?
Como elemento formal ele deveria fazer parte da Constituição. É o que entende José Afonso
da Silva. Contudo, não é a única posição existente na doutrina pátria.
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i) quanto à origem
a) Constituição promulgada
b) Constituição outorgada
2) constituição de 1891
3) constituição de 1934
Foi promulgada.
4) constituição de 1937
Foi outorgada.
5) constituição de 1946
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Foi promulgada.
6) constituição de 1967/69
7) constituição de 1988
Foi promulgada.
a) Constituição escrita
b) Constituição não-escrita
Um quinto exemplo não unânime é a Suécia – sua Constituição é formada por quatro
atos distintos.
iii) histórico
a) Constituição liberal
Refere-se à dicotomia estudada desde o ensino médio, a saber, Estado Liberal – não
intervencionismo na ordem econômica e social e Estado Social – intervencionista na ordem
social e econômica.
Portanto, a Constituição liberal é própria do Estado Liberal. Ela reconhecida por uma
característica muito peculiar: não há em seu corpo normas acerca da intervenção na ordem
econômica e social.
b) Constituição social
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Espanha de 1930 também é um exemplo. Por fim, a Constituição Brasileira de 1939. A partir
desta todas as Constituições mundo afora são sociais, excetuando-se a Constituição Norte-
Americana, muito anterior a todas as já citadas e tipicamente liberal.
a) dogmática
b) histórica
Detalhe interessante é que essas classificações são estanques, ou seja, devem ser
estudadas de forma isoladas. Não há nenhum motivo para dizer que uma espécie é
decorrente da outra. A única hipótese em que um critério é decorrente do outro são os
critérios ii e iv. Por um razão lógica toda Constituição escrita é dogmática e toda Constituição
não-escrita é histórica. Esta se encontra espraiada em uma sucessão de documentos
diferentes que, logicamente, refletirão idéias diferentes.
v) quanto à estabilidade
a) Constituição rígida
b) Constituição flexível
c) Constituição semi-rígida
Em parte é rígida. Em parte é flexível. A própria Constituição diz qual parte é qual. A
nossa Constituição imperial (1824) era assim. Todas as demais Constituições republicanas
foram rígidas.
a) Constituição sintética
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b) Constituição analítica
2 – Normas constitucionais
i) vigência
1) iniciativa;
2) deliberação;
3) votação;
4) sanção ou veto;
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5) promulgação;
6) publicação.
"Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto
de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total
ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao
Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
[...]"
Como se lê, o artigo 66 fala em 15 dias para o presidente vetar o projeto. Vejamos
agora o §7°, do mesmo dispositivo:
"§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do
Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao
Vice-Presidente do Senado fazê-lo."
Agora o artigo fala em lei, já havendo, portanto, sanção ou veto. Ora, o art. 66, §1°
situa-se no período entre votação e sanção e fala em projeto. O §7° fala em lei, situando-se
temporalmente após a sanção ou veto. Assim, se o presidente da república sancionar o
projeto, já se fala em existência da lei. Se ele o vetar e o Congresso derrubar o veto, é com
essa derrubada que se fala em existência da lei. Frise-se que existência não quer dizer
obrigatoriedade; cogência. Evidente que esta última característica decorre da publicação. O
que se viu é que apenas a existência da lei decorre da sanção pelo presidente da república
ou da derrubada do seu veto pelo Congresso.
Esse é o entendimento correto. Apesar de o art. 66, §5° falar em projeto, trata-se de
uma impropriedade terminológica que vem de Constituições anteriores, devendo em vez de
projeto de lei ser lido lei. Vejamos:
"§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto [projeto não, mas
sim lei] enviado, para promulgação, ao Presidente da República."
ii) validade
iii) eficácia
iv) efetividade
v) aplicabilidade
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