Escola Olı́mpica
Junho 2018
Bruno Lorena
Victor Bastos
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1 Introdução
A Primeira Lei da Termodinâmica afirma que o calor é uma forma de en-
ergia, e os processos termodinâmicos não violam o princı́pio da conservação
de energia. Isso significa que a energia não pode ser criada ou destruı́da.
Pode, no entanto, ser transferido de um local para outro e convertido para
e de outras formas de energia. Vamos mostrar-lhes alguns bons exemplos de
como usar a importante equação que segue para resolver problemas e analisar
a situação.
Q − W = ∆U (Eq1).
Daremos uma atenção especial a este uma vez que é o que pode ser melhor
explorado nas questões.
1.2 Reversı́vel
Processos reversı́veis, trabalhamos normalmente com gases. E esse pro-
cessos são definidos como muito lentos, logo:
Pext = Pgás
nRT
Onde esse Pgás = V
de acordo com a equação de Clayperon
R
Daı́, W = Pgás dV
1.2.1 Isotérmico
R R nRT V
W = Pgás dV = V
dV = nRT ln Vfi
2
1.2.2 Isobárico
R R
W = Pgás dV = Pgás dV = Pgás ∆V
1.2.3 Isocórico/isovolumétrico
R
W = Pgás dV = 0
1.2.4 Adiabático/isentrópico
Por curiosidade, o processo adiabático (Q=0) pode ser chamado de isentrópico
pois dS = dQ
T
= T0 = 0
R Pf Vf −Pi Vi
W = −∆U = −n γ−1 (Tf − Ti ) = − γ−1
∆U = 0 → processo isotérmico
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2 Exemplos
2.1 Exemplo 1
Recipiente e Êmbolo (ITA)
2.1.1 Solução
Como o sistema é isolado de forças externas e a massa do gás é desprezı́vel,
conserva-se a quantidade de movimento segundo a expressão.
mc vc
me |v~e | = mc |~
vc | → ve = me
(Eq 2)
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2 me ve2
Daı́, −( mc2vc + 2
) = ∆U (Eq3)
2
Substituindo Eq2 em Eq3: ∆U = −( mc2vc + me
2
· ( mmc ve c )2 )
Simplificando, obtém-se:
ve 2
∆U = −mc (mc + me ) 2m e
2.2 Exemplo 2
Quanto de calor?
2.2.1 Solução
Antes de ver essa solução, veja o apêndice no fim da lista.
Para começar:
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multiplicando P1 por V2 e P2 por V1 :
P
Então, V
= cte. Consequentemente, n = −1 na Eq8 (no apêndice):
C= cv + R2
2.3 Exemplo 3
Muita Capacidade (Seletiva-Brasil)
2.3.1 Solução 1
Uma vez que o pistão é leve, Fr = ma ≈ 0. Logo:
F
P = A
= K(L − x) A1 and V = A(L − X).
P
V
= K, so P V 1 = K.
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R R R R
C= γ−1
− n−1
= 2/3 − −2
C = 2R
2.3.2 Solução 2
Seja x o comprimento da mola e L o tamanho do recipiente.
F K(L−x)
P = A
= A
V = A(L − X)
Diferenciando, encontramos::
cv −2K(L−x)dx
R
= C −2K(L−x)dx
R
− (−K(L − x)dx)
−2cv = −C + R2 . Mas cv = 3R
2
porque o gás é monoatômico.
C = 2R
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2.4 Exemplo 4
Movendo um pistão (Irodov)
2.4.1 Solução
É óbvio que existe um agente externo que aplica uma força no pistão e
como o processo é lento, podemos considerar que F r = 0, vamos anotar:
F = (P 2 − P 1 )S
P 2 (V o −Sx) P oV o P oV oT
T
= To
→ P2 = (V o −Sx)T o
P oV oT S
Logo, F = To
( V o 22Sx
−S 2 x2
)
dQ1 − P 1 dV = dU 1
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dQ2 − P 2 (−dV ) = dU 2
P oV oT S
dQsis − dW sis = (P 2 − P 1 )Sdx = To
( V o2Sxdx
2 −S 2 x2 ) = dU sis = ncv dT
P oV oS
( 2Sxdx )
T o ncv V o 2 −S 2 x2
= dT
T
−du
But n = n1 + n2 = PRT oV o + P oV o 2xdx 1
R R
o RT o
and V o 2 −S 2 x2
= S2 u
. Where
u = V o 2 − S 2 x2 . Por isso:
2 2 x2 −R
o −Sx) 2cv
− 2cRv ln( V o V−S
o2
) = ln( TTo ) → T = T o [ (V o +Sx)(V
V o2
]
Do problema:
4ηV o 2 R
(V o + Sx)(V o − Sx) = (ηV )V = (1+η)2
, pois ηV + V = 2V o e cv = γ−1
Então, finalmente::
2 γ−1
T = T o [ (η+1)
4η
] 2
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2.5 Exemplo 5
Processo isotérmico irreversı́vel (OBF)
Uma certa porção de gás ideal está encerrada na câmara formada por
um pistão acoplado a um cilindro vertical. Inicialmente, a posição do pistão
é mantida fixa através de um pino de forma que a pressão inicial do gás é
p0 = 1, 00 atm e seu volume é 5,00 litros. A pressão externa ao pistão pext =
10, 0 atm é dada pela soma da pressão atmosférica e da pressão exercida por
uma massa m que está apoiada em sua superfı́cie externa. As paredes do
cilindro são diatérmicas e o conjunto está parcialmente mergulhado em uma
mistura com água e gelo em equilı́brio entre si e com a atmosfera (todos
os subsistemas estão à temperatura de 0o C). Em certo momento, o pino é
removido e espera-se que o sistema atinja um novo estado de equilı́brio. Qual
a massa de gelo que se funde neste processo?
2.5.1 Solução
Usando a Eq1, Q = Wpext (processo isotérmico)
Processo isotérmico: pi Vi = pf Vf
∆V = 4, 5L
Q = ∆mL = Wext
Logo:
∆m = pext ∆V
L
106 ·4,5·10− 3
∆m = 33
≈ 136g
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2.6 Exemplo 6
Bombeamento (Guide)
2.6.1 Solução
Essa questão novamente se enquadra bem na subseção 1.3. Daı́, pela Eq1:
0 − W = −P ext ∆V = ∆U
R
Portanto, P ext V 0 = n γ−1 (T f − T i ) (Eq 5)
P 0 V 0 = nRT i (Eq6)
T = γT i
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2.7 Exemplo 7
Calorzim numa esfera maçica (ITA)
2.7.1 Solução
Q − (mg∆r + P ∆V ) = mcv ∆T
∆r = r α3 ∆T
∆V = Vi α∆T
Substituindo tais equações na Eq7,
P 4πr3 α
Q = ∆T (mcv + mgr α3 + 3
)
Q
Daı́, Tf = T + ∆T = T + 3α
mcv +mgr α
3
+ P 4πr
3
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3 Tarefinha de casa
3.1 Problema 1
Um vaso cilı́ndrico horizontal de 2l de comprimento é formado por um
pistão fino isolante de calor em duas partes iguais, cada uma contendo n mols
de um gás monoatômico ideal a uma temperatura T . O pistão é conectado
às faces externas do vaso por meio de molas não deformadas de constante
elástica k cada uma. Quando uma quantidade de calor Q é fornecida ao
gás na parte direita, o pistão é deslocado para esquerda por uma distância
x = 2l . Determine a quantidade de calor Q0 cedida na temperatura T a um
termostato com o qual o gás na parte esquerda está em contato térmico o
tempo todo. (Dica: Use a ideia do exemplo 3)
1.jpeg
3.2 Problema 2
Uma amostra de 1,0 mol de ar se expande isotermicamente, a 0o C, de
22,4 L até 44,8 L. Em cada caso, calcule o q, w, ∆U, ∆H e ∆S. No caso do
trabalho, forneça o valor em módulo. Dados: log2 = 0, 3; ln10 = 2, 3; log3 =
0, 5. (Dica: Use a ideia do apêndice)
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3.3 Problema 3 (200 PPP)
Considere 2 esferas de ferro idênticas, um deles que apoiado numa placa
termicamente isolada, enquanto a outra é puxada por um fio isolado.
Iguais quantidades de calor são dadas às duas esferas. Qual delas ficará
com maior temperatura ? (Dica: Use a ideia do exemplo 7)
4 Apêndice
Processos Politrópicos
1) Usando a 1a lei:
ncv dT = nCdT − P dV
dP
dP V n + nP V n−1 dV = 0 → P
= −n dV
V
dP V + P dV = nRdT
4) Colocando 2) em 3):
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dV
P (−nV V
+ dV ) = P dV (1 − n) = nRdT
nRdT
De 4) e 1) ncv dT = nCdT − 1−n
R R
Daı́, C = cv + 1−n
. Usando que cv = γ−1
R R
C= γ−1
− n−1
(Eq 8)
4.0.1 Notas
Se você não viu os exemplos acima, você deve estar se perguntando por
que essa equação é tão importante. Deixe-nos mostrar como é incrı́vel.
4.0.2 Nota 1
Se n = γ, o processo é adiabático, portanto não deve haver calor. Este
processo tem C = 0, então, Q = 0 como deveria.
4.0.3 Nota 2
Se n = 1, O processo é isotérmico, então, para tentar mudar a temper-
atura, você deve ter Q → ∞. Colocando n = 1 na nossa equação para o C,
encontramos |C| → ∞ como deveria.
4.0.4 Nota 3
Se P é constante, P V 0 também é constante. Então, C = R( 1+γ−1
γ−1
) =
γ
R γ−1= cp como deveria.
4.0.5 Note 4
Se V é constante P V ∞ também é, porque V ∞ >> P , então qualquer
variação de P não mudaria a expressão como um todo. Logo, colocando
R
n → ∞, C = γ−1 = cv
Espero que você esteja convencido de quão poderoso é e quão bonito pode
ser se você der a devida atenção hehehe.
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