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Finalmente, no terceito item, abordel « questao di ' capitulo 4 do género humano refletindo-se na estrutu : humana no nivel do par sao do individuo, pois sua relagao com 0 mundo é mediada por relacao com essas objetivagoes. $ A formagao da individualidade livre e universal 10 O marxismo eo individuo, Schatt (1967, p.53) fez magio: ka questao no tanto di 960 homem, com todos os ude homem, fem gerah mas do individuo concrete. Come, porém, conhecer 0 in pp. 54-61) mostrou que 0 pensamento ci concreto pela via juo concreto? Marx (20 -o nfo se apropria do ‘ate 2005.79 358 164 Isso vale para 0 conhecimento da natureza, da sociedade e do indivi- duo. Nos capitulos anteriores deste livro, apresentei algumas cavego~ rias para uma teoria marxista da formagao do individuo necessirias para o conhecimento da individualidade concreta, Incorparadas, dessa maneira, a essa teoria,as categorias de objetivagao, apropriagao, humanizagdo, alienagao ¢ género humano, chego agora «o momento da anilise da prépria categoria de individu dade humana. Considerando que género humano se transforma ao longo do seu processo historico de objetivagao, pode ser afirmado © mesmo em relagao 4 individualidade humana? Em outras palaveas, ser um individuo que pertence ao género humano é algo que se modifica’ ao longo da hist6ria? E, na atualidade, quais sao as possibilidades de formagao da individvalidade livre ¢ universal? Para responder a essas perguntas, estruturei este capitulo em trés itens. No primeiro, analiso a diferenca entre a individualidade animal ¢ a humana. No segundo, abordo, apoiando-me em Marx, 0 imento da individualidade humae m, no terceiro item, analiso a categoria que da titulo a este wvro: a individualidade para si. A individualidade animal e a humana Todo ser humano é dnico, singular, irrepetivel. Mesmo nas re- lagdes de maxima alienagdo, quando as pessoas parecem se anular totalmente nos papéis alienados (HELLER, 2004, pp. 87-110), elas nao deixam de ser individuos, ainda que sua individualidade esteja extremamente limitada em seu desenvolvimento. A alirmarao de que cada pessoa é tinica nao encontra muita resisténcia nem gera grandes polémicas. Bem diferente é 0 que ocorre com a tentativa de explicar em que consiste e como se forma essa singularidade de todo individuo humano. Como, geralmente, ndo sao explicitados os fundamentos sobre os quais se elabors concepgilo de individ ualidade, as tentativas deexplicagao do que ela 105 &e de como se forma, frequentemente, fazem justaposigoes incoe~ rentes de elementos de tcorias nao apenas distintas como também conflitantes entre si. Antes de tudo, é preciso distinguir a individualidade biolégica, isto é, animal, da individualidade especificamente humana, Como ja mencionei na apresentagio deste livro, Luria (1979, pp. 50-70) mos- trou que a individualidade, como fato biolgico, pode ser constatada no comportamento dos vertebrados superiores. Analisando 0 que de- nomina “comportamento individualmente varidvel dos vertebrados” autor mostra que esses animais, em virtude de o sistema nervoso ter neles atingido, ne evolucao biologica, certo nivel de desenvolvimento, podem apresentar complexas variegSes comportamentais, o que Ihes taco a condigoes ambientais, assegura grande capacidade de a varidveis, Ou seja, na interagio adaptativa com o meio ambiente, dividualidede, um conjunto singular esses animais formam um: de comportamentos que Ihes garante a sobrevivéncia nas condigdes ambientais dadas. Logicamente, o animal forma essa singularidade comportamental a partir dos mecanismos inatos que Ihe sio trans- nitidos por hereditariedade e dos limites das possibilidades de seu organismo. ‘Da mesma forma que qualquer vertebrado superior, os membros da espécic humana possuem uma singularidade biolégica assegurada pela propria estratura do seu sistema nervoso e pela necessidade de adaptagao as condicdes ambientais. Constituir uma individualidade biologica a partir da adaptagao 20 meio nao é, portanto, algo que diferencie a individualidade humana da animal, A especificidade da individualidade humana surge, e se desenvolve, como ji mostrei nos capitulos anteriores, a partir da dialética entre objetivayao ¢ apro- pringio das caracteristicas humanas historicamente desenvolvidas ¢ socialmente existentes. O animal, em sua atividade vital, apenas utiliza a heranga da ‘especie, jd dada em seu organism, mesmo quando, #0 adaptar-se as condig6es ambientais, desenvolve formas singulares ¢ extremamente complexas de comportamento, A relagao do animal com a sua espé- cie esta dada no ponto de partida de sua atividade, No caso do ser hhumano, 0 cédigo genético da especie também esti dado no ponte de partida da vida do individuo, Mas nao ocorre o mesmo no que se refere 4 relagao do luo cam o género humano, Estando este objetivado externamente zo organismo dos individuos, ou dizendo de forma mais preci sendo o género humano ininterrupta e terminavelmente construido exteriormente ao organismo dos seres humanos, estes formarao sua individualidade pela relagao com o ser genérico objetivado, Objetivando-se como um ser humano e, para isso, apropriando-se das objetivagdes genéricas, cada pessoa tem sua individualidade constituida como resultado da linamica da atividade social, isto é,a relacdo entre objetivacio e apropriagao. Seve (1989, p. 155) assim utiliza as categorias de objetivacao e apropriagao para analisar » formayao da individvalidade humana: se as capackdades caracteristi 1s da humanidade historicemente de- Ja se tomaram completamente diferentes das aptidées inatas dlos yertebrados superiores elo Homo habilis das origens, isso ocorreu stinshabildades se acurmularam aa longo das geracies; ao mais no interior do organismo, ao titmo ult nto da evolucto bioldgica, num genoma que presereve de antemio,em suas grandes linhas,o des no exterior,ao rtm tino compostamental imitadodo individuo, ma cata vex mais répido da histéria, num mundo soc Imente produzido por instrumentos, signos, rlagdes sociais em expansio ilimitada,ul- trapossande, de mod Infinito, aquite que cada individuo pode disso to sampliada das ex- seapro, weno decorrer de sua ex ia, Foi gragas a esa objet ue e tomou possivel a reprocusio indefinidarnen 2 su apropr por cutren, que ela se individualiza humanamente por intermédio d scgubionsuiis epeararclnnen te singel: Essa citagao sintetiza uma serie de aspectos que analisei nos capitulos anteriores deste livre, Em primeiro lugar, a questio da exis- tencia de uma“humanidade historicamente desenvolvida’, o género Jnimano, que ¢ diferente do conjunto de caracteristicas biolGgicas da espécie, transmitidas pelo codigo genético. Em segundo lugerssendo fo desenvolvimento do género humano “descentrado” em relagdo a0 organismo dos individuos, isso gera uma ampliagio historica tao grande das earacteristicas humano-genéricas que setorna impossivel a identidade entre individuo ¢ genero humano, ou seja, cada individue podera se apropriar e se objetivar sempre de maneira “parcial” em comparagdo ao conjunto das objetivagées genéricas, bm terceiro lugat o ritmo das transformacées do genero humano € socialmente deter~ nado, nao estando limitado a ocorréncia de alteragdes genéticas da espécie, Em quarto lugar, a formagio da individualidade hmana tem como condigao sine qua non a apropriacao dessa humanidade historicamente desenvolvida, o que ocorre sempre com a mediagao de outros seres humanos, Em quinto lugar, essa concepeao nada tem aver com a ideia de que a apropriagao das objetivacoes humanas se justaponha a uma individuslidade que existiria j4 no poate de par- ida da formacao de cada ser humano. Ao contririo, trata-se de uma concepgio da individualidade como algo que se forme ao longo desse processo, ou se} dade € resultado e nao ponte de partida. Nesse aspecto, convém fazer uma observasdo pera evitar inter- pretagoes unilaterais da relagio entre @ objetivagao e a apropriacio na formagao da indiyidualidade humana. Naquela citagao, Seve diz que 6 gragas apropriagdo parcial dos resultados objetivados da his téria humana que a crianga se individualiza, Pelo fato de a citagao aparecer aqui destacada do contexto do texto original, ela poderia set interpretada de forma unilateral, Por essa razio, € necessério frisar quea individualidade nao resulta apenas da apropriagao e que a ob- jetivacao nao ¢ algo que acontece apés a conclusto das apropriagOes. aindivide: Apropriagao € abjetivagao nao sto Fases pelas quais 0 individu pass em sua formacio, mas dois processos que constituem uma unidade Com a observagao de que a formagao da individualidade nao se reduz 8 apropriagdo, € preciso também observar que a categoria de apropriagdo nao ocorre apenas na relagdo entre o individuo ¢ os resultados da histéria social. No primeira capitulo deste livro, mos que a apropriagao é um proceso que, antes de qualquer coi, deve ocorrer entre a sociedade ea natureza. No segundo capitulo, a0 analisar a socialidade humana, expus que a categoria de apropriagio se refere também ao proceso coletive pelo qual os seres humanos apropriam-se das forgas sociais jd existentes, fazendo com que elas deixem de ser forgas genéricas em sie passem ao plano de forgas gené= rieas para si. Esse tipo de apropriagao nao se realiza a nao ser por meio. de agées coletivas que tém como resultado objetivo a transformagao da sociedade. Essa observacio é importante porque a categoria de apropriagio algumas vezes € reduzida, principalmente na psicolo- ia, 20 processo de interiorizagao, pelo individuo, das caracteristicas humanas objetivadas. A interiorizagao 6, de fato, uma forma funda- mental de apropriagao, mas nem sequer a apropriacio na formaglo da individualidade pode ser reduzida ao processo de interiorizagao, Marx (2004, p. 108) analisou a apropriasao como um processo que engloba objetividade e subjetividade, pensamento e atividade: Assim como propria prinadaé apenas. expressio sensivel de que homem se toraasimultancamente ojetvu para siesimultaneamente setoraa antes um objeto estranho e nao humana (unmenschlichi, que sua extemagto de vida § sua ext agloane> uma efetividade estrana, assim 2 suprassungio potitiva da propriedade privada,ou seja aapropriaga9 sensvel da esséncia € da vida humanas, do ser humano objetivo da ra hamana para e pelo homens, no pode sr aprecridida apenas no sentido da fgg imediati unilateral, niosomente ne sentido da posse, no entid do ter. © hamiem se aprop: iorizagdo de vida,sua efel gagio da efetivagao (Entvvirlic da suis exsércia deforma omnilater Portanto como umhomem tot relagbes fi lo, vor, ouvir, cheirar, degustar, se leer, Sex ativo, ama, enfim todos os érgias dda sua individualidade, assim como as 61gd0s que sao imediatamente ‘em sua forma como drgdos comunitirios, sio no sew comportamento bjetivo cu no sew pensar, intuir, perceber, mesmo, ¢ apropriagto da ef para com o objeto € 0 acto lng precisamente tao multiplice (vefach) quanto multipliess 80 as dautes bumanas) Como mostra essa passagem, a apropriagio é um amplo processo ‘As forgas humanas qué estio objetivadas na forma de proprie- ada, isto é, na forma de capital, colocam-se perante os seres 1s como Forgas que os dominam. A superagao dessa forma alic- um processo coletive de apropriagao. hum, nada de objetivagao huma’ A socializagao da propriedade dos meios de producao, pressuposto fundamental para uma sociedade socialista, é um proceso de apro- priagdo dos meios de produgao pela classe trabalhadora. © pleno juo também é desenvolvimento das faculdades humanas no indi um processo de apropriagao, neste caso, da subjetividade humana gue est objetivada nos bens culturais. Essa concepgao historica, social e objetiva da categoria de apropriagao ¢ fundamental para que a propria formacao da subjetividade humana nao seja concebida de forma idealista ¢ abstrata, como alertou Marx (idem, p. | i}: mente se apreende tanto ersal, quanto se pode fazet ividade bu- taeriat, comsun (que j como uma parte daguele movimento un far da indusira, jf que tod cistria,atividadeestranhada? do estranhamento, Una psicelogia para a qualeste livro, portanto pre- cisamentea parte mais presente pesceptivel de modo semsivel,a parte ais acessivel da historia, est fechado nao pode( ado] se tornar uma ciacia real, plena de contetido efigivo.O que se deve pensar; em geval, de unsa ciéncia que abstraisolenemente desta grande parte do trabalho ‘humano e nao seate em si mesma a sua incorapletude, enquanto uma he diz sendo, talver, 0 riqueza do fazer humano assim expandida nad: “caréncia que Se pode dizer numa pulavra; “ea ar a formagio da individu ‘ ialidade human: : a é, portant nuito mais do que analisar os processos de feta ‘ind U5 repto, estes sejam de uma importincia fundamental Nao en. tou, portanto, menosprezando ji be Bee precando © papel da subjetividade, tanto na ‘io quanto na alienagao dos seres humano: tando a necessidade de se conceber a categoria aeeproprivtl em seu significado amplo. apropriagio oO desenvoly mento histérico da individualidade humana ‘Mars. Marx (2011, p.40) mostra que a individuelidade humana passou Por um processo histérico de evolugao, partindo de , uma Hidade quase inexistente, d Hd tente, dada a estreita dependéncia c lividua- es relagao ao « caminhando para uma crescente diferenciagie,resultante da apropriagio, pe las Corgas i icialmen "40, pelo individuo, sore forgas humans socialmente Quanto ais 0 individuo, e per © individuo que produ, aparece aol fae parece como depsndente, somo Imente na: 1 mais tarde, ates do conflito ¢ da fusao 2 vss frmas de cone oil safonam cleat a ividuo como ara seus fins privados, como necessidide exterior. Mas este ponto de vista, o ponto de vista do individu poniode iste) mis desmolidacaiés procnte Dreriwmres oo - Beh nos,no ae Sov rezreecy’, ndo apenas um animal soc também um animal que somente pode isolar-se rodugao do singular isolndo fora da sociedacle — um sociedade, A 7 ‘que decerto pode muito bern ocoerer «um cviiza dotado das eapacidades da sociedade, por acaso perdido na selva ~ & smento da Hinguager sem individuos tao absurda quanto o desenvo) vivendo juntos e falando uns com os outros. CO individuo humano néo é—como idealisticamente imaginavam oseconomistas burgueses, tantas vezes criticados por Marx, na origem da histérie — um ser que catregue em sua singularidade as cepacidades sociais que the permitam produzir as condighes de sua existencia de forma isolada para, depois disso, entrar em contato com outros seres humanos e trocar com eles os produtos do seu trabalho. Da mesma forma, « inguagem nao foi criada por um individuo isolado que de- sc deparou com outros indiyfduos com os quais pode empregar 4 linguagem para se comunicar. Ao contrario, no infcio da hist6rie, ‘o ser humano sempre foi um ser totalmente gregirio, no sentido de uma imediata c total dependéncia em relacao a0 conjunto a que per~ tencia eno sentido cle quase total indiferenciagao entre os integrantes desse conjunto, Quanto menos desenvolvidas as relagdes entre os seres humanos, menos possibilidades existem de individualizacao. po Para o senso comum e para certas concepgdes do ser humano, pode paradoxo aquilo que ¢ perfeitamente claro e eoerente na idualiza e 86 conquista parecer 0 concep¢do marxista: o ser humano s6 se indi sua liberdade por meio do desenvolvimento das relaghes sociais ¢ da ealidade humana abjetivada. A individualizagao e a socislizagao so duas faces de um mesmo processo: fs uma ver a“sociedade” como 1 Sua manifes- astragao fr taco de -vida~ mesmo que ela ainds na0 aparesa ne forma imediata varia de vido, realizada simmultaneamente umaexternacio ¢ confirmagiods vida social com outros ~épori slividual ea vida genérica do homem nio sao diversas, POT mais que também ~e isto necessa ‘id individual sia um modo ma sgenérica, ou quanto mais avida generica seja um real (Mme, 2004, p. 107] particular ow Entretanto, seria a ideia do individu que consegue, com sul préprias forgas, produzir uma tealidade humana apenas fruto di relagbes sociais alienadas, apenas uma tentativa, pelo pensament de eternizagao das relagoes de produgao capitalistas? 0 produtor solado de mercadorias ¢ forma burguesa de re presentacio de algo que foi um avango histérico, a possibilidade de controle, pelo indiyiduo, de suas atividades, sua vida, sta objetivagao como ser humano, bem como a possibilidade de cle escolher onde © como viver. Entretanto, 0 eardter contraditério da forma como ocorteu esse avango histérico mostra-se nitidamente na condigio do trabalhador na sociedade capitalista, Do ponto de vista puramente: formal, isto é, perante a lei, o trabalhador é um cidadao livre, que pode escolher onde trabalhar e 0 tipo de trabalho que quer realizar, Ele € proprietério de sua forga de trabalho ¢ pode vends-la.a quem quiser, ‘Mas a realidade ¢ outra, pois ele precisa de dinheiro para sobreviver €,para isso, precisa encontrar um capi sta que queira comprar s atividade. Quando o trabalhador vai comprar comida, ele tem que pagar por ela o preco que foi estipulado pelo vendedor; mas quando © trabalhador vai vencer sua forga de trabalho, ele tem que aceitar © preco que é estipulado pelo comprador, A principio, cle pode nao concordar com esse preco, masa ameaca permanente de deserprego acaba forcando-o a se submeter aos interesses do capitalista. E, depoi que o trabalhador vendeu sua atividade, esta jd nao mais lhe pertence, ele a alienon desi, ele passa a ser apenas o executor de uma atividade cujo real sujeito passa a ser otra pessoa. Recebido 0 saldrio, o trabae aclor é livre para gastar esse dinheiro como quiser, Mas novamente a realidade se mostra diferente, pois ele tem que gastar esse dinheiro 4 firn de estarem condic6es de continuar a exercer sus fungao social de trabalhador. £ claro que pelo lado do capitalista as coisas sao bem diferentes, Ele também tem sua atividade determinada pela Iogica do capital e, se no compreender isso, ser destraido pelos outros cas Pitalistas. Mas, difereatemente do trabalhador, o buxgués nao vende sua atividade, ele compra a atividade dos trabalhadores ¢ a emprega para produzir © aumento do capital, £ claro que suas necessidades Ee sto qualitative © quantitativamente distintas das do trabalhador e, inclusive quando as necessidades sito as mesmias como, por exemplo, a necessidade de alimentar-se, a forma de satisfaze-la € totalmente diferente, A principio, o trabalhador ¢ 0 capitalista sto individuos livres, mas a liberdade do copitelista existe & custa da exploragao da atividade do trabalhador. Contudo, ainda que dessa forma alienada, a sociedade capitalista eri 0s pressupostos objetivos ¢ subjetivos do desenvolvimento da livre individualidade. A nogio de um produtor isolado cacrega essa contradigao, jé que, por um lado, expressa a ideologia que eterniza as relagoes socisis burguesas e, por outro, expressa 0 aparecimento istérico do individuo capaz de sintetizar as forcas sociais e, por meio elas, objetivar-se de forma universal e livre, Nao me parece casual que, a0 definir como “absurda” a nocao de um produtorisolado, Marx mencione a aparentemente insignificante excegie constituida pela situagio de um “civilizado perdido na selva’. No paragrafo imedia- amente anterior ao dessa citada passagem, Marx (2011, p. 39) havia mencionado as “robinsonadas”: cividuos prostuzindo em seciedade ~ por iso, 0 ponto de partida é naturalmente, a producio dos individuos socialmente determinada, O ‘eagacor pescador, singulares eisolados, pelos quais comesam Smith & Ricardo, pertencem as ilusdes desprowidas de fantasia das rbinsonadas 40 século XVII ‘A mengao ao civilizado perdido na selva é, portanto, nitidamen- te inspirada no romance Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (2011), publicado na Inglaterra em 1719. Por que Marx faz entao essa ob- servagao, quando havia acabado de criticar as robinsonadast Ao ctiticar as robinsonadas, Marx tem como alyo a atitude ideolégica metodologica de transposigao, para o inicio da historia, de algo que 56 foi possivel como uum resultado dela; au seja, 0 faio de que a possibilidade de 0 individuo se autonomizar € um produto do de~ senvelvimento social € nao o ponto de partida da historia. Quando za observagdo de que uma pessoa acidentalmente perdida na selva ossa produzit porsi mesma sua existéncia, Marx esta mostrando que © individuo pode se objetivar, pode produzir isoladamente, porque se apropriou das forgas sociais; colocando-as, entao, em movimento por meio de sua atividade, objetivando-as em uma realidade que ele humaniza pelo seu trabalho. F isso s6 é possivel porgue esse individuo 4 “potencialmente dotado das capacidades da sociedad’, Ele nao deixou de ser social por estar perdido na selva, assim como Robinson Crusoé nao deixou, por estar perdido na ilha, de ser um indlividuo da Inglaterra capitalista, como mostra Marx (1983, pp. 73-74), em O capital; Como a Economia Politica gosta de robi Robinson em sua ilba. aparece primelro loderado por origem, ele precisa satistizer, m de excevtar trabalhos fabricar mbveis, dames fazer ferramenta cagar ete. Ni fi oy virias nscsssiades 6 de diferentes espéci amas, pi Ws agul dus oragoes e coisas hantes, porque 20ss0 Robinson se compris nelase considera tals lades recreio, Apesar da diversidacle de suas fungoes produtivas, i, logo a escriturar dos objetas de ase a sa produgaa e, Ihe custam deter Robinson e as coisas que formam sua riqueza, par ele mestno criada, 10 simples ¢ transpacentes que até o Sr. M. Wirth deveria ‘entendé-las, sem extraordinario esforco intelectw i, ja Ihantes és de uma sociedade pré-capitalista— que einda nao haviam sido integtadas 2 novas formas de trabalho, 3s novas relagées sociais € 2 escolarizagdo. Entre esses dados, um que aparece com bastante nitidez € 0 da recusa, por uma parte das pessoas entrevistadas, de extrair conclusdes de ractocinios na forma de silogismos, na medida em que isso exigia a aceitagao de premissas gerais que ultrapassavam © quadio da experiencia local, Um dos silogismos apresentados tinha os seguintes dizeres: “No extremo norte, onde ha neve, todos 0s ure sos sio brancos. Novaya Zemeya esti no extremo norte e sempre hi eve la, De que cor sio os ursos lé2” (idem, p. 56). A resposta dada or um dos enirevisiados ¢ bastante ilustrativa tanto da limitagio da individuatidade as condisées locsis quanto do valor atribuido 4 tradicao € & experiéncia dos mais idos e “Se um homem liver sessenta 01 itenta anos ¢ tiver visto um urso. branco ¢ disser al 9a respeito, podemos acreditar nele, mas eu nunca vi um urso branco e por isso nao posto dizer, Esta & a minha dltima alayra, Aqueles que yiram podem contar, e aqueles que ndo viram idem, p. 57) 6m possa afimar que nio € correto empregar essa pesquisa para me teferir 2 uma caracteristica de sociedades pré- -capitalistas, E claro que ¢ preciso ter cautela com esse procedimento ¢ no tratar as duas realidades como idé: 5) mas énticas, mas o proprio Marx (1983, pp. 74-75) fer esse tipo de comparagao: i Para observar o trabalho comum, isto é, 0 trabalho diretamente so- ao, an presi vot & forma naturleste desea db mein que encontanos wo inl de Marae dor oh BG ara de ui fui capone spp se ite sgl flop raupaete censttuiu semplo mals primo. ss dene defrontam-se i fami fe ie lizados, & inddstria rural pa como produtos diferentes de seu familiar, mas nao se reli é ‘jonam entre si coma mercadorias, Os tra blhos diferentes que criam esses produtos, i pecustrl ‘ecelager, costura etc, sio na sia forma natural fungées sacivs, por iusto, vente desenvalvida, assim como 3 t a ‘como 2 tem a produsdo ée merea- dorias. Diferencas de sexo e dade ¢ as condigsee naturais do trabalho, que mudam com as estagdes do ano, regula sia distribu dent familia eo ternpo de trabalho dos membros individuals fail ‘Ainda que outros aspectos do caréter relativamente estiticon da individualidade nas comunidades naturais das sociedades pré= -capitalistas pudessem ser analisados, esses trés sto suficientes para mnie objetivo: o de analisar essa sintese, felts por Marx, do desenvol= nento histérico da individualidade humana. Nesca sintese, o segundo estagio € o da sociedade burguesis capitalismo surge como a sociedade que destr6i a unidade natural entre individuo, comunidade ¢ condigdes objetivas de produgio, Isso tem um significado hist6rico humanizador, porque derruba os limites ntranspontveis nas sociedades pré-capitalistas, no que se refere tani a reproducio da sociedade como a reprodugio dos individuos, Isso ria 0s pressupostos do desenvolvimento da individualidade livre € universal, E necessdrio, entio, analisar alguns aspectos do processo de criagio desses presstipostos pelo capitalismo, considerando-se que {sso ocorreu na forma da universalizagio da alienagéo. Na teoria da histéria de Marx, 0 capitalismo 6,20 mesmo tempos o fim de uma era e 0 inicio de ontra. A sociedade burguesa ¢, para Marx, a iltima sociedade construida sobre a base do antagonismo de classes, O capitalismo é, nesse sentido, o grau historicamente mais elevado de objetivagao alienada das forgas essenciais humanas. Aa ser superedo o capitalismo, pela sociedade socialista, como uma transigae para 0 comiunismo, essas forcas essenciais serao reapropriadas pelos individuos livremente associados, encerrando-se a “pré-histéria dt sociedade humana”, Para Marx, a histéria da sociedade humana sera aquela na qual as cinco componentes da esséncia humana poderto se desenvolver nao apenas na forma de ser emt si mas na forma de ser para si e de ser para nds, Com @ superayao do capitalism e o fim das | os setes humans, por meio de sua atividade, podes classes socia a0 se objetivar de forma plena, rica, sem barreiras intransponiveisy relacionando-se conscientemente com a universalidade do género:

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