Estimadas companheiras e companheiros na luta pela paz e por uma América Latina e
Caribe livre e soberana,
encruzilhadas e graves ameaças, mas também de muita resistência e luta pela democracia,
a justiça social, a soberania e o progresso compartilhado. Quero saudar o Movimento
Cubano pela Soberania dos Povos e a Paz (MovPaz), as companheiras e os companheiros
envolvidos na organização deste brilhante seminário e, especialmente, ao nosso amigo
Silvio Platero, presidente do MovPaz e coordenador da Região América do Conselho
Mundial da Paz, que exerce com brilhantismo a sua responsabilidade. Quero igualmente
saudar os companheiros do Conselho Mundial da Paz dedicados à promoção deste
seminário, que realizamos em conjunto.
Amigos e amigas,
Num quadro como este, os nossos esforços pela paz estão associados às lutas dos
povos por seus direitos, justiça, progresso social e soberania nacional.
Não somos partidários da tese do fim do ciclo progressista nem nos resignaríamos
facilmente com a derrota de um avanço recente histórico e transformador na região, a
exemplo e inspirados pela gloriosa e resistente Revolução Cubana. Desde que assumiu o
governo na Venezuela o comandante Hugo Chávez, outros países conquistaram avanços
havia séculos ansiados, através da força do voto popular e o compromisso patriótico e
internacionalista dos governos progressistas. Além do empenho com a transformação da
vida de tantos e tantas pessoas privadas das riquezas de seus próprios países, riquezas
historicamente concentradas nas mãos de uns poucos oligarcas ou rendidas ao capital
estrangeiro, a soberania nacional e a integração regional solidária também são marcos dos
governos que se alçaram através da soberania popular na Venezuela, Bolívia, Argentina,
Equador, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Chile, Brasil, entre outros, com as limitações
e insuficiências que todos conhecemos, mas que não podem obscurecer as conquistas 2
históricas que alcançamos. Por isso mesmo, como temos denunciado reiterada e
enfaticamente, é que a maior parte destes países passou e passa por graves crises
políticas, sociais e econômicas derivadas não apenas dos fatos conjunturais e cíclicos da
economia mundial, mas principalmente devido à promoção, pelo imperialismo
estadunidense e aliados regionais, da sua desestabilização, para propiciar a derrubada dos
governos progressistas.
Com ultrajante prepotência, no início do ano, o então secretário de Estado dos EUA
Rex Tillerson visitou nossa região para trazer a ameaça contra a Venezuela bolivariana,
referindo-se até mesmo aos golpes militares do passado como uma opção para derrubar o
presidente Nicolás Maduro. Com grande cinismo, o secretário de Defesa dos Estados
Unidos James Mattis visitou há algumas semanas o Brasil, Argentina, Chile e Colômbia
para, como a águia que sobrevoa seu território, monitorar o desenrolar dos acontecimentos
na região que os EUA ainda consideram o seu quintal. À imprensa norte-americana Mattis
disse que as relações estadunidenses com esses países, hoje governados ou por forças
ilegítimas e golpistas ou por fiéis à agenda neoliberal agressiva ditada pelo patrão do norte,
são de uma proximidade tal que os EUA podem prescindir do destacamento de grandes
forças militares na região.
Além de tal abordagem revelar com nitidez o raciocínio que sempre fundamentou a
política externa da potência imperialista para a nossa e para outras regiões, segundo a qual
com aqueles países que não se vergam aos seus ditames a ameaça é a solução, tal retórica
convenientemente encobre o fato de que os EUA mantêm quase 80 bases militares na
América Latina e Caribe, reativaram a Quarta Frota da sua Marinha de guerra em 2008 e
continuam negociando acordos militares com seus parceiros/lacaios regionais.
O artigo ressalta que os Estados Unidos têm cerca de 800 bases militares em todo
o mundo. Destas, 76 são na América Latina. Entre as mais conhecidas destacam-se 12 no
Panamá, 12 em Porto Rico, 9 na Colômbia e 8 no Peru, concentrando-se a maior
quantidade na América Central e no Caribe.
Capote Fernández cita que o Comando Sul dos Estados Unidos publicou em março 3
de 2018 uma informação sobre sua estratégia para a América Latina e o Caribe nos
próximos dez anos, referindo-se aos principais "perigos" ou "ameaças", segundo a ótica do
império. O informe menciona nesta categoria países como Cuba, Venezuela, Bolívia, e
fenômenos como "a luta contra o narcotráfico", redes ilícitas regionais e transnacionais e a
maior presença da China, Rússia e Irã na região.
O artigo destaca que o atual comandante do Comando Sul, almirante Kurt Tidd,
expôs em fevereiro de 2018 perante o Congresso estadunidense os cenários planejados
para o continente, objetivos, meios e estratégias, de acordo com a Estratégia de Defesa
Nacional em 2018 e a Estratégia de Segurança Nacional do biênio 2017-2018. E cita as
palavras do almirante: "Em termos de proximidade geográfica, comércio, imigração e
cultura - diz - não há outra parte do mundo que afete mais a vida cotidiana dos Estados
Unidos do que a América Central, a América do Sul e o Caribe".
Esses devem ser elementos presentes em nossa campanha global contra bases
militares estrangeiras, cujo último encontro tivemos a honra de manter nesta capital
revolucionária, em maio de 2017, no V Seminário Internacional pela Paz e pela Abolição
das Bases Militares Estrangeiras. Naquela ocasião denunciamos “que o objetivo dos
Estados Unidos é saquear e controlar os recursos naturais dos países, além de intimidar
os povos e assegurar governos submissos ao imperialismo. Por isso, é imprescindível a
nossa denúncia da instalação da base militar dos Estados Unidos em Guantánamo ainda
em 1903 e a imposição da Emenda Platt, através das quais o império impulsionou sua
política de dominação sobre a América Latina e Caribe, estendida para todo o mundo.
Estas bases não são apenas militares, embora em essência todas o sejam. Há bases
que funcionam como centros para a guerra midiática e a chamada ciberguerra, o Comando
Sul trabalha em conjunto com a Nasa, a Agência de Inteligência Geoespacial e as Forças
Armadas brasileiras – e de outros países – em um projeto para a criação de um satélite
para a South Cyber-Container Initiative: análise de redes para detectar atividades
maliciosas na rede, desenvolvido em conjunto com o Departamento de Segurança
Nacional, o Departamento da Defesa e o Birô Federal de Investigações (FBI).
Como em tantos países no mundo, com ênfase para a Europa, vemos as forças de
extrema-direita e abertamente fascistas ganharem espaço neste caldo cultivado pela mídia
conservadora e massiva. É o caso também da Argentina e do Equador, onde a ex-
presidenta Cristina Kirchner e o ex-presidente Rafael Correa, sucedidos por forças de
direita cultivadas neste caldo, são acusados e condenados antes mesmo da condução de
quaisquer procedimentos de direito.
Companheiros e companheiras,