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Formas de Governo, Leis Partidárias e Processo Decisório*

Fernando Limongi

Introdução 3), pode ser lida como um manifesto, em


que o neo-institucionalismo aplicado à polí­
Nos últimos anos, à medida que os estu­ tica comparada define seus principais eixos
dos sobre transições de regimes perdiam fô­ temáticos e pressupostos:
lego, a política comparada sofreu o impacto
da “revolução” neo-institucionalista. Com o We seek a new synthesis between the theo­
advento dessa perspectiva, o debate acadêmi­ retical impetus of a whole tradition of poli­
co sobre a democracia em países periféricos tical thought - the rational choice, or new
passou a girar em torno de dois aspetos, a sa­ intitutionalism school - with the driving
ber, a distinção quanto à forma de governo questions of comparative politics. [...] The
essayist here explore the consequences of
(debate presidencialismo versus parlamenta­
two important differences between Ameri­
rismo), de um lado, e, de outro, quanto aos
can and Japanese political institutions. The
efeitos das leis eleitorais sobre o comporta­
first is the choice of parliamentary as oppo­
mento dos políticos e eleitores (voto pessoal
sed to presidential government. On the one
versus voto partidário). Em boa medida, o
hand, the dependence of the parliamentary
neo-institucionalismo aplicado à política executive on legislative confidence may
comparada resumiu-se à ênfase nos efeitos weaken it relative to a president with cons­
postos em marcha por essas variáveis. titutionally guaranteed powers. On the
Esta passagem, retirada da introdução hand, this very interdependence gives par­
do livro Structure andpolicy in Japan and the liamentary parties the incentive to hold to­
United States, escrita pelos editores da cole­ gether more tighdy than might parties in
tânea, Cowhey e McCubbins (1995, pp. 2- legislatures that do not fear the fall of the

* Este texto passou por inúmeras versões. Sua origem é um texto apresentado na Anpocs, em 1999, as­
sinado também por Argelina Figueiredo, Paula Sterzi, Simone Diniz e Ana Luzia Valente. Com a auto­
rização dos demais autores, reescrevi várias vezes o texto até então. Partes dele foram aproveitados em
trabalho conjunto com José Antonio Cheibub, publicado em 2001 naAnnual Review of Political Scien­
ce. Sua última versão encontra-se em um capítulo da minha tese de livre-docência. Agradeço aos inte­
grantes da banca, composta por Maria Hermínia Tavares, Brasílio Sallum Jr., Gláucio Ary Dillon Soa­
res, Wanderley Guilherme dos Santos e Sebastião Velasco Cruz, cujos comentários, na medida das
minhas capacidades, foram integradas ao texto. O leitor atento notará que boa parte dos argumentos
apenas repete o que já escrevi com Argelina Figueiredo em textos que discutem o caso brasileiro. Em
suma, este texto é mais coletivo do que individual.

BIB, São Paulo, n° 55, Io semestre de 2003, pp. 7-40 7


government if they experience defections O objetivo deste artigo é o de oferecer
from the party lines on an important vote. uma revisão crítica desses argumentos. Enfa­
This is specially true given the possibility of tizo os mecanismos invocados para explicar
divided government in presidential systems. a variação da performance de regimes demo­
The second important explanatory variable cráticos. Procurarei sublinhar as inconsistên­
in these essays is the structure of the electo­ cias de alguns dos argumentos correntes. Do
ral systems. If we accept that the (at least
ponto de vista propriamente positivo, pre­
instrumental) goal of legislators everywhere
tendo, na última seção do trabalho, apontar
is to be reelected, then the rules by which
para a importância de uma variável que não
elections take place are important determi­
vem recebendo a atenção devida na literatu­
nants of their incentive structures. [...] Ul­
ra, qual seja, a do grau de centralização/des­
timately, we are interested in political insti­
tutions not for their own sake, but for the centralização do processo decisório. Argu­
ways in which they shape the policy out­ mento que essa variável afeta diretamente os
puts of the governments. cálculos dos atores políticos relevantes, mo­
dificando a performance do governo.
A fusão ou a separação dos poderes pas­ Neste artigo, institucionalismo é enten­
sou a ser invocada como uma espécie de “pri­ dido, seguindo as proposições de Diermeier
meiro princípio” a partir do qual seria possí­ e Krehbiel (2002), como um método de aná­
vel deduzir o funcionamento de todo o lise no qual explicações para resultados dos
sistema político: a probabilidade de crises, a processos políticos são buscadas na variação
disciplina partidária etc. Isso porque, de das instituições formais. Isso porque as insti­
acordo com esse argumento, a definição tuições definem a estrutura de recompensas e
constitucional dos poderes Executivo e Le­ punições para diferentes estratégias, pautan­
gislativo afetaria os incentivos e as estratégias do assim o comportamento dos atores políti­
dos políticos. O parlamentarismo seria supe­ cos. Logo, para que esse tipo de análise faça
rior ao presidencialismo por conter mecanis­ sentido, para que efetivamente tenha poder
mos que incentivariam a cooperação entre os explicativo, as premissas comportamentais
atores políticos, incentivos que estariam au­ devem ser mantidas constantes.1 Por vezes,
sentes, quando não operando em sentido como mostrarei, os argumentos correntes
contrário, no presidencialismo. não seguem à risca esse preceito básico. As
Análises centradas no efeito da variação conseqüências da variação institucional de­
das leis eleitorais tomam formato similar, pendem da variação concomitante das pre­
isto é, o funcionamento do sistema político missas comportamentais.
é deduzido a partir do controle exercido pe­ Além desta primeira parte introdutória
los líderes partidários sobre as chances elei­ e da conclusão, o texto é composto de qua­
torais dos políticos. A variação desse quesito tro seções. A primeira discute a possibilida­
institucional é a base para a construção de de da ocorrência de "paralisia decisória”
uma tipologia abrangente e exaustiva dos (Santos, 1986) em governos parlamentaris­
sistemas políticos, os quais são classificados tas e presidencialistas. A segunda é dedicada
de acordo com os incentivos presentes na à relação entre as formas de governo e a dis­
arena eleitoral para que políticos se elejam e ciplina partidária. A terceira discute a rela­
se reelejam com base no voto pessoal ou no ção entre as leis eleitorais e a disciplina par­
voto partidário. tidária. A quarta trata da variação no grau de
centralização do processo decisório em regi­ zados por Kaare Strom (1990, p. 61) regis­
mes presidencialistas e parlamentaristas. tram que apenas 13,9% dos governos for­
mados no pós-guerra em países membros da
OECD foram sustentados por maiorias uni-
Paralisia Decisória e Forma de Governo partidárias.
A falta de um partido majoritário é, por
Governos parlamentaristas seriam imu­ certo, uma dificuldade contornada com cer­
nes à “paralisia decisória” . Afinal de contas, ta facilidade por meio da formação de gover­
a própria existência do governo dependeria nos sustentados por coalizões partidárias. Os
da superação dessa possibilidade. A “forma­ dados coligidos por Strom (1990, p. 61)
ção do governo” depende da existência pré­ mostram que governos parlamentaristas sus­
via de uma maioria legislativa, o que, con­ tentados por coalizões majoritárias represen­
seqüentemente, garantiria a capacidade do tam 49,9% dos 345 governos formados in­
governo para governar. Em não havendo cluídos em sua análise.
uma maioria legislativa disposta a apoiar o No entanto, a noção usual, segundo a
governo, eleições são convocadas para solu­ qual governos parlamentaristas contam ne­
cionar o impasse. Governos parlamentaris­ cessariamente com o suporte de uma maio­
tas fundam-se no atendimento prévio do ria - seja ela unipartidária, seja fruto de uma
imperativo majoritário (cf. Cheibub e Li- coalizão - , foi questionada por Kaare Strom
mongi, 2002, para uma discussão mais (1990, p. 61). Em seu estudo seminal,
aprofundada deste ponto). Strom mostrou que governos minoritários
No entanto, a fusão dos poderes Execu­ representam nada mais e nada menos do que
tivo e Legislativo ocorre somente se um go­ 36,2% dos governos parlamentaristas for­
verno é formado, e não há garantias, como mados no pós-guerra.2 Governos minoritá­
observam Laver e Schonfield (1990), de que rios, ao menos em tese, seriam fortes candi­
os governos serão formados. Há fortes in­ datos para sofrer de “paralisia decisória”. Isto
centivos nesse sentido, mas não é necessário é, um governo minoritário deveria ser sinô­
que isso ocorra. O recurso às urnas, por si nimo de crise política, de imobilismo.
só, não garante a existência de uma maioria Strom argumenta que, sob determinadas
legislativa. Contados os votos, tem início condições, é racional formar governos mi­
uma segunda fase do processo, a de forma­ noritários. Pesam nessa decisão a possibili­
ção do governo. dade de influenciar políticas públicas sem
No limite, sob parlamentarismo, a ga­ fazer parte do governo e as expectativas elei­
rantia da existência de um governo só existe torais (recompensa ou punição das urnas)
quando um partido controla a maioria das por fazer parte do governo. Usando uma sé­
cadeiras. No entanto, maiorias unipartidá- rie de indicadores, o autor mostra que a per­
rias não são freqüentes e tendem a ocorrer formance dos governos minoritários não di­
apenas em países regidos por sistemas eleito­ fere radicalmente da observada em governos
rais majoritários. De acordo com os dados majoritários.3
coligidos por Przeworski, Alvarez, Cheibub O fato é que, em alguns países escandi­
e Limongi (2000), entre 1950 e 1990 um navos, governos minoritários são a regra e
partido recebeu mais de 50% dos votos nas não a exceção.4A freqüência com que gover­
eleições em 44,6% dos anos observados sob nos parlamentaristas minoritários ocorrem
governos parlamentaristas. Os dados organi­ questiona a suposição de que essa forma de

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governo é sustentada por um imperativo (1995), podemos dizer que a possibilidade
majoritário. Os incentivos à cooperação en­ de que governos de coalizão redundem em
tre parlamentares, os quais caracterizariam o “paralisia decisória” varia positivamente com
parlamentarismo, não são tão fortes quanto o número de partidos que integram a coali­
normalmente se supõe. zão e com a distância ideológica entre eles. E
Quanto às coalizões que sustentam o possível, portanto, que um governo se for­
governo, é preciso distinguir entre a coalizão me, mas que o espaço existente para inicia­
governamental e a legislativa. A primeira é tivas capazes de reunir apoio da maioria para
constituída pelos partidos que recebem pas­ alterar o status quo venha a ser mínimo,
tas ministeriais e apóiam formalmente o go­ quando inexistente.
verno. A segunda assegura-lhe votos para Feitas essas considerações, deve-se con­
aprovar as matérias de seu interesse. Gover­ cluir que a “paralisia decisória” não é um mal
nos minoritários existem quando estas coali­ do qual o parlamentarismo esteja necessaria­
zões não são idênticas. Vale notar, para refe­ mente imune. Além disso, a ocorrência de
rência futura, que existem membros do governos minoritários bem-sucedidos mostra
Legislativo dispostos a apoiar o Executivo
possibilidades não consideradas pelos críticos
sem receber pastas ministeriais, isto é, cujo
do presidencialismo. Governos podem ter
comportamento não é guiado exclusivamen­
êxito sem o apoio formal da maioria legisla­
te pelos ganhos de cargos.
tiva. Por certo, essas ressalvas não são sufi­
Quanto à paralisia decisória sob parla­
cientes para afastar o cerne da identificação
mentarismo, deve-se considerar que a distri­
entre presidencialismo e a probabilidade de
buição de cadeiras pode levar a uma situação
“paralisia decisória”, uma vez que essa forma
em que não exista qualquer governo, majo­
de governo repousa sobre o princípio da
ritário ou minoritário, viável. De fato, na
separação de poderes e o acordo de ambos,
Grécia, em 1989, foram necessárias três elei­
do poder Executivo e do Legislativo, é con­
ções consecutivas para “desempatar” os re­
dição necessária para a aprovação de leis.
sultados das urnas e um governo pudesse ser
formado. A Dinamarca, nos anos de 1990, Como o eleitor dispõe de dois votos e esses
confrontou-se com uma situação peculiar: votos são transformados em cadeiras segun­
governos minoritários tiveram suas propos­ do regras distintas, segue que não há qual­
tas legislativas sucessivamente derrotadas. quer garantia de que o Executivo e o Legisla­
Isso porque os dois maiores partidos se mos­ tivo tenham vontades convergentes.
traram incapazes de formar governos viáveis. Esta garantia pode ser dada quando o
Em decorrência dessa situação, a tarefa de partido do presidente controla a maioria das
constituir o governo foi confiada a pequenos cadeiras no Legislativo.5Em 56,2% dos anos
partidos de centro, cujas propostas não fo­ observados sob presidencialismo, entre
ram apoiadas quer pela esquerda, quer pela 1950 e 1990, um partido controlava mais de
direita (Damgaard, 1994; Elklit, 1999). 50% das cadeiras (Przeworski, Alvarez,
A distribuição de cadeiras pelos partidos Cheibub e Limongi, 2000), uma proporção
pode levar à formação de governos cujo es­ mais alta do que a verificada sob parlamen­
copo de ação é necessariamente diminuto. tarismo. Os dados, no entanto, não distin­
Coalizões são formadas em torno de pontos guem o partido do presidente e há, assim, a
programáticos comuns, que definem a agen­ possibilidade de que esses venham a ser, em
da do governo. De acordo com Tsebellis verdade, “governos divididos”.

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No entanto, o fato de o partido do pre­ which often causes presidents to overestima­
sidente não controlar a maioria no Legisla­ te their power. The principal opposition par­
tivo não significa que ele estará condenado ties (or party) recognize that the executive is,
a ter suas pretensões bloqueadas pelo Con­ on the whole, the one responsible for the
gresso. Por que presidentes não poderiam performance of the government. Thus they
recorrer à formação de coalizões? Por que are often loathe to do anything to help the
presidentes minoritários não podem ser president succeed. Instead, they often adopt
a policy of blind opposition with the end
bem-sucedidos? Essas alternativas, como vi­
goal of causing the government to fail with
mos, são corriqueiras no parlamentarismo e
the hope that one of their party leaders will
não podem ser, simplesmente, tomadas
be able to win the next presidential election.
como inviáveis sob o presidencialismo. Tão
logo essas alternativas são consideradas,
Esses argumentos não resistem à leitura
muitas das críticas usuais ao presidencialis­
atenta. Quanto à estratégia a ser perseguida
mo e sua tendência a gerar conflitos ins-
pelo presidente, ela se estriba na suposição de
transponíveis entre o presidente e o con­
que o presidente superestima as suas próprias
gresso caem por terra.6
forças. Mais do que isso, supõe que todos os
Com raras exceções, seguindo as pro­
presidentes cometam um equívoco: inebria­
posições de Linz (1994) e a ênfase que esse
dos pelos votos obtidos, acreditam que po­
autor dá ao caráter de soma zero da compe­
dem governar sem obter o apoio da maioria
tição política sob o presidencialismo, a lite­
no Congresso. Parece ser mais razoável supor
ratura especializada tem desconsiderado a
que os presidentes saibam que a aprovação
possibilidade de que presidentes sejam
de matérias pelo poder Legislativo depende
apoiados por coalizões partidárias. De acor­
do apoio da maioria dos parlamentares e
do com Linz, presidentes, porque possuem
que, dessa maneira, recorram ao apoio popu­
mandato popular próprio, não procurarão
lar direto em condições excepcionais.
obter a cooperação do Legislativo, preferin­
Quanto ao comportamento dos parti­
do apelar diretamente ao povo para obter a
dos que não controlam a presidência, cabe
aprovação de sua agenda. De outra parte, os
líderes partidários derrotados na eleição notar, antes de mais nada, que as decisões
estratégicas enfrentadas no parlamentaris­
presidencial negarão apoio ao presidente.
Com olhos voltados exclusivamente para a mo não são muito diferentes. Participar do
próxima eleição e suas chances de chegar ao governo pode trazer ganhos e/ou perdas
cobiçado cargo, prefeririam contribuir para eleitorais, e os partidos devem pesar ganhos
o fracasso do governo. e perdas para decidir se participam ou não
Os argumentos de Linz foram sistema­ do governo. Toda e qualquer coalizão envol­
tizados por Mark P. Jones (1995, p. 6) que ve a cooperação presente entre partidos que
os apresenta da seguinte forma: no passado disputaram e no futuro disputa­
rão os votos dos eleitores. Não há razões
Presidents have their own independent po­ para supor que no presidencialismo, sempre
pular mandate and are likely to be reluctant e para todos os partidos, as perdas excedam
to cede the degree of power necessary to an os ganhos. Além do mais, retornando ao ar­
opposition party in order to entice it into a gumento de Jones, em um contexto multi-
legislative coalition. This is due to their inde­ partidário, os partidos devem considerar as
pendence as nationally elected officials, conseqüências do fracasso do governo em

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eleições futuras. Ao fazer oposição cega ao presidencialismo. A cadeira presidencial não
governo, apostando em seu fracasso, um é tudo a que os partidos e os políticos po­
partido pode beneficiar um outro partido dem aspirar. Participar do governo, contro­
mais distante da sua posição no espectro lando pastas ministeriais e/ou influenciando
político.7 políticas, pode vir a ser do interesse dos par­
Se todos os partidos adotassem a estra­ tidos sob presidencialismo. Ou seja, as pre­
tégia da oposição cega prevista por Jones, missas comportamentais não são as mesmas
poderíamos chegar a um resultado absurdo, quando raciocinamos sobre regimes presi­
em que nenhum partido lançasse candidatos dencialistas e parlamentaristas. Em um caso,
à presidência. Bastaria, para tanto, que sou­ o presidencialismo, raciocinamos assumin­
bessem do fato de que, sob representação do a categoria de políticos que são guiados
proporcional, a chance de um partido con­ exclusivamente pelo desejo de obter cargos.
trolar a maioria das cadeiras legislativas é Em outro contexto, sob parlamentarismo,
muita baixa. Sabendo disso, todos os poten­ temos uma visão mais generosa dos políti­
ciais candidatos perceberiam que seu gover­ cos, uma vez que seus cálculos incorporam
no estaria fadado ao fracasso por falta de preocupações com as políticas.
apoio parlamentar. O fato é que não se pode derivar da se­
Deve-se considerar ainda a possibilidade paração de poderes a impossibilidade de pre­
de governos minoritários bem-sucedidos sob sidentes virem a ser apoiados por coalizões
presidencialismo. Mesmo quando a estraté­ partidárias. Trabalhos empíricos mostram
gia eleitoral recomendar que um partido evi­ que os presidentes são apoiados por coali­
te cooperar formalmente com o governo, zões. De acordo com os dados organizados
esse partido pode apoiar as iniciativas especí­ por Deheza (1998), 56,1% dos governos
ficas do governo. Presidentes minoritários presidencialistas latino-americanos foram
podem ser bem-sucedidos à maneira dos pri­ apoiados por coalizões partidárias. A Argen­
meiros-ministros minoritários. Basta que tina é o único país incluído em sua amostra
exista um grupo de parlamentares que acre­ que não registra a ocorrência de qualquer
dite ter ganhos políticos votando com gover­ governo de coalizão.9
no, mesmo sem participar formalmente dele. A suposição de que os presidentes não
O fato é que o cargo de presidente não poderiam ser sustentados por coalizões par­
é tudo o que os políticos, reunidos ou não tidárias levou à defesa de fórmulas eleitorais
em partidos, podem querer. Os críticos do que aumentem as chances do partido presi­
presidencialismo, mais uma vez seguindo as dencial controlar a maioria das cadeiras do
proposições de Linz, enfatizam o fato de esse Legislativo. Para tanto, defendeu-se o aban­
sistema se assemelhar a um jogo de soma­ dono da representação proporcional e a ado­
zero. Mas isso só é verdade se mantida a pre­ ção de fórmulas eleitorais que favoreceriam
missa de que os políticos seriam guiados ex­ o bi-partidarismo. Indo além do conhecido
clusivamente pela ambição de ocupar contraste entre sistemas majoritários e pro­
cargos; office seeking, para usar o jargão cor­ porcionais, as propostas recentes têm sugeri­
rente.8A existência de governos minoritários do o abandono do uso de eleições presiden­
sob parlamentarismo indica que partidos e ciais em dois turnos e a realização de
políticos podem perseguir outros objetivos “eleições casadas” para o Legislativo e o Exe­
além da cadeira de primeiro-ministro e/ou cutivo.10 Essas fórmulas são defendidas por
postos ministeriais. O mesmo ocorre sob favorecerem a redução do número de parti-

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dos e, conseqüentemente, as chances de um Forma de Governo e Disciplina Partidária
presidente minoritário. As reformas eleito­
rais com esse objetivo perdem sua justificati­ Os políticos, de acordo com a visão do­
va quando se abandona a convicção de que minante atualmente na ciência política, têm
os presidentes não podem ser apoiados por como objetivo fundamental garantir a con­
coalizões.11 tinuidade de suas carreiras e, para tanto, pre­
Dessa forma, tomando em conta a dis­ cisam se reeleger. Dito de outra maneira, a
tribuição das preferências dos detentores de função de utilidade dos políticos é definida
mandato parlamentar e do chefe do Execu­ pela probabilidade de sua reeleição. Tudo o
tivo, expressas na distribuição de cadeiras mais, portanto, depende ou deve ser deriva­
por partidos, a lógica do funcionamento do desse interesse fundamental. Está claro
dos sistemas políticos erigidos sobre a sepa­ que os políticos maximizam suas funções de
ração ou a fusão de poderes não é radical­ utilidade sob restrições institucionais dita­
mente distinta. Quanto a esse aspecto, os das, fundamentalmente, pela forma de go­
defensores do parlamentarismo tenderam a verno e pela legislação eleitoral vigente. Ou
minimizar as dificuldades experimentadas seja, as instituições definem as estratégias
sob essa forma de governo, ao passo em que empregadas pelos políticos para obter o que
exageravam as dificuldades existentes no desejam: dar continuidade às suas carreiras.
presidencialismo. Nesta seção, discutiremos as restrições
Olhando atentamente os argumentos, postas pela forma de governo. Os efeitos das
veremos que, no mais das vezes, as diferen­ leis eleitorais serão discutidos na seção se­
ças que se atribui à forma de governo são guinte. Em geral, nas análises recentes, a
derivadas, na realidade, da variação das su­ presença da separação ou da fusão dos pode­
posições comportamentais. Os críticos do res tem levado a previsões antagônicas quan­
presidencialismo raciocinam com modelos to à tendência de os políticos cooperarem
em que, nessa forma de governo, os políti­ com vistas à aprovação de leis. De um lado,
cos são “míopes” (só pensam nos resultados teríamos o presidencialismo, no qual preva­
eleitorais imediatos) e/ou office seeking lece o princípio da independência e da rigi­
(tudo que querem é o cargo de presidente), dez temporal dos mandatos presidencial e
enquanto, sob parlamentarismo, eles agem parlamentar. De outro, teríamos o parla­
com base em ganhos de longo prazo e têm mentarismo, no qual os mandatos são inter­
preferências por políticas. Nesses termos, dependentes. Como os políticos se preocu­
tais argumentos violam os princípios expos­ pam com a continuidade de suas carreiras,
tos por Krehbiel e Diermmeier. seus cálculos seriam radicalmente diversos
Cheibub, Saiegh e Prezeworski (2002) em um e outro caso.
mostram que os modelos de formação de No presidencialismo, de acordo com o
governo desenvolvidos para dar conta do fe­ argumento tradicional, os parlamentares
nômeno sob o sistema parlamentarista po­ não teriam incentivos para considerar o efei­
dem, feitas as adequações necessárias, ser es­ to de suas decisões sobre o sucesso do gover­
tendidos ao presidencialismo. Os resultados no, uma vez que o chefe do Executivo não
são os mesmos. Ou seja, quando as mesmas tem como afetar a duração de seus manda­
premissas comportamentais são aplicadas às tos. Sendo assim, os legisladores podem ado­
duas formas de governo, as diferenças desa­ tar um comportamento oportunista e irres­
parecem. ponsável. Importa ao parlamentar garantir a

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sua reeleição, a qual depende dos laços que assume que a disponibilidade da estratégia
o unem à clientela eleitoral que lhe cabe de­ independa das relações dos parlamentares
fender. Posto em uma situação na qual fosse com o governo. Em outras palavras, os bene­
forçado a optar entre apoiar o governo e be­ fícios a serem distribuídos às clientelas elei­
neficiar seus eleitores, o deputado escolheria torais podem ser auferidos sem a participa­
sempre a segunda alternativa. Agiria desta ção e o apoio do Executivo.
forma por uma única e simples razão: os di­ Sob o parlamentarismo, a realidade seria
videndos eleitorais gerados por essa estraté­ radicalmente diversa. Os mandatos dos par­
gia eleitoral. lamentares e do Executivo, dada a vigência
O argumento aplica-se a todos os parla­ da fusão de poderes, são interdependentes.
mentares, independentemente de sua filia­ Os parlamentares antecipariam as conse­
ção partidária. Em outras palavras, todos os qüências de seus votos para a sobrevivência
membros do Legislativo possuem o mesmo do governo e, conseqüentemente, para a
interesse e esse interesse é ditado, em última continuidade de seus mandatos. Esse cálculo
instância, pela aplicação do imperativo elei­ impediria a ação irresponsável e individualis­
toral. Como as regras eleitorais que regem a ta dos parlamentares. O vínculo imediato e
eleição de todos os legisladores são as mes­ direto com os eleitores seria mediado pela so­
mas, todos os membros da instituição segui­ brevivência do governo.
riam a mesma estratégia e favoreceriam o Em questões complexas ou de aprova­
mesmo tipo de política. Assim, seguindo ção mais difícil, os governos parlamentaris­
este argumento, o Legislativo pode ser to­ tas contam com uma arma poderosa: o
mado como um ator único, uma vez que to­ voto de confiança. Em lugar de votarem ex­
dos os legisladores adotam uma estratégia clusivamente a matéria em pauta, os parla­
eleitoral comum. mentares votam também a continuidade de
Com base nesse argumento, é possível seus mandatos e o controle do partido so­
postular a existência de uma relação causal bre o governo. Assume-se, implicitamente,
entre essa forma de governo e a ausência da que a antecipação das eleições provocará a
disciplina partidária. O argumento original, perda de mandatos para um número consi­
uma vez mais, deve-se a Linz (1994, p. 35), derável de parlamentares, o que levaria ao
para quem: “A noção de um sistema partidá­ rodízio do controle do poder. Prevendo tais
rio ‘responsável’ e disciplinado está em desa­ conseqüências, os parlamentares preferi­
cordo estrutural, se não for incompatível, riam apoiar o governo a seguir seus interes­
com o presidencialismo puro”. ses pessoais imediatos.
No entanto, a dedução do comporta­ De acordo com este argumento, não é o
mento irresponsável dos parlamentares a Primeiro Ministro ou o partido que pune os
partir da independência e da rigidez tempo­ parlamentares que se comportam de maneira
ral dos mandatos pede suposições adicionais oportunista. Quem o faz são os eleitores. Para
nem sempre explicitadas. Em primeiro lu­ que o argumento seja consistente, é necessá­
gar, pede que o eleitor recompense a estraté­ rio, portanto, que os eleitores votem em par­
gia dos deputados. Eleitores, portanto, vo­ tidos e não nos parlamentares, isto é, que o
tam com os olhos voltados para o curto voto seja partidário e não pessoal. Mas não se­
prazo, e são incapazes de perceber as relações ria esse mesmo eleitor o beneficiário do com­
de seus atos e dos políticos que patrocinam portamento irresponsável do parlamentar?
com o fracasso do governo.12 Em segundo, Há uma inconsistência lógica no argumento,

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pois o representante vota contra o governo nos mesmos dados, o autor mostra que 38%
para beneficiar seus eleitores que, no momen­ das trocas que envolveram a mudança de
to seguinte, negam-lhe o apoio. Em outras partido do Primeiro Ministro e 46% das mu­
palavras, a ameaça de dissolução só pode ser danças que levaram à redefinição da compo­
tomada como a base do comportamento res­ sição partidária do governo ocorreram sem
ponsável do parlamentar se os eleitores vota­ eleições. As eleições estão longe de ser o re­
rem partidariamente e não nos políticos, com sultado necessário da dissolução do governo.
base na avaliação de sua “folha corrida” de be­ O argumento segundo o qual a ameaça
nefícios concedidos às suas bases. da dissolução seria a base do comportamen­
No entanto, como veremos na próxima to “parlamentar responsável” assume que os
seção, o que leva os eleitores a privilegiar os políticos preferem estar no governo a estar
partidos ou os políticos individuais, se o na oposição. Membros do partido que go­
voto é partidário ou pessoal, é uma função verna, com medo de que as eleições anteci­
da legislação eleitoral e não da forma de go­ padas causem a alternância no poder, não
verno. Em outras palavras, nada impede que negariam apoio ao Primeiro-Ministro. Isto
se observe voto pessoal em regimes parla­ é, preferem estar no poder a estar na oposi­
mentaristas (por exemplo, o Japão até a re­ ção. Estranhamente, os argumentos sobre a
forma de 1933) e voto partidário em regi­ irresponsabilidade dos políticos sob o presi­
mes presidencialistas (a Venezuela até a dencialismo não consideram os benefícios
reforma de 1993). que a participação no governo pode trazer.
Se a ameaça da dissolução do governo Ou seja, a associação entre “irresponsabili­
fosse suficiente para garantir o apoio a ele, a dade parlamentar” e presidencialismo se an­
instabilidade governamental deveria ser bai­ cora na suposição de que não se ganha nada
xa em todos os governos parlamentaristas. apoiando o governo.13 Mais do que isso, su­
Não é, no entanto, o que observamos. Há põe que os parlamentares poderão distribuir
casos notórios de instabilidade governa­ benefícios a seus eleitores, quaisquer que se­
mental, como a Terceira e Quarta Repúbli­ jam suas relações com o governo. Para fins
ca na França e a Itália do pós-guerra, para de argumentação, suponhamos que o Exe­
citar apenas os casos mais conspícuos. Ou cutivo controle o acesso aos recursos que os
seja, a ameaça de dissolução do governo não políticos desejam distribuir às suas clientelas
pode ser tomada como suficiente para ga­ eleitorais. Se for assim, o governo está em
rantir o apoio dos legisladores ao governo. posição favorável para negociar com os par­
Além disso, a relação entre dissolução do lamentares e impor suas considerações nes­
governo e eleições não é tão direta quanto sas barganhas.14
querem crer os críticos do presidencialismo. Como veremos adiante, a capacidade
O cálculo dos legisladores não pode ser intei­ dos parlamentares de afetar as políticas pú­
ramente atribuído aos riscos de uma eleição blicas depende da organização do processo
antecipada, pela simples razão de que essa decisório, mais especificamente do controle
não é a conseqüência necessária e nem a mais do Executivo sobre a agenda legislativa. No
freqüente da dissolução do governo. Chei- momento, cabe frisar que a irresponsabilida­
bub (1998) mostra que 56% de todas as tro­ de parlamentar não pode ser tomada como
cas de Primeiros Ministros em 21 países in­ intrínseca ao presidencialismo ou como ne­
dustrializados, entre 1946 e 1965, não cessariamente ausente no parlamentarismo.
ocorreram em função de eleições. Com base A capacidade do Legislativo de patrocinar

15
políticas distributivistas clássicas depende da modelo norte-americano, em que a agenda
organização do processo decisório no inte­ legislativa é decidida autonomamente pelo
rior do Legislativo e dos poderes legislativos próprio Legislativo. Empiricamente, ambas
do presidente. as suposições são incorretas. O controle da
Modelos formais que relacionam gover­ agenda legislativa pelo chefe do Executivo
nos parlamentaristas à disciplina partidária não é uma característica intrínseca ao parla­
foram desenvolvidos por Baron (1998) e por mentarismo, tampouco o presidencialismo
Diermeier e Feddersen (1998). Esses mode­ implica um Legislativo descentralizado, con­
los assumem que os membros de uma coa­ trolador da iniciativa legal. Esse ponto será
lizão governante têm interesses divergentes discutido na seção seguinte.
quanto às políticas a serem implementadas Essas observações são suficientes para
pelo governo. Digamos que políticos quei­ sustentar que os modelos expostos até o
ram implementar políticas distributivistas momento podem ser adaptados ao presi­
para atender suas clientelas e aumentar suas dencialismo. Se os presidentes controlarem
chances de reeleição. Como os recursos são a agenda legislativa, o mecanismo invocado
escassos, há conflito mesmo entre membros para explicar a disciplina partidária sob par­
de uma coalizão. Ainda assim, eles preferem lamentarismo poderá ser estendido ao presi­
a continuidade do governo, na medida em dencialismo. Os deputados votam contra
que este assegura uma probabilidade supe­ seus interesses imediatos e apóiam as medi­
rior a zero de que a política de sua preferên­ das presidenciais com base nas expectativas
cia será implementada. Sob um governo lide­ de ganhos futuros que a participação no go­
rado pela oposição, essa probabilidade cai a verno pode lhes assegurar.
zero. Dada essa estrutura de preferências, o Em resumo, não há razões para relacio­
governo pode contar com o voto disciplina­ nar a disciplina partidária à forma de gover­
do dos integrantes da sua bancada quando no. O contraste entre a independência e a
condiciona sua sobrevivência à aprovação de interdependência dos mandatos não é sufi­
uma matéria. Em outras palavras, o voto de ciente para estabelecer a presença ou a au­
confiança explica a disciplina partidária: o sência de incentivos à cooperação entre par­
controle sobre a agenda legislativa garante lamentares e destes com o Executivo. Alguns
que os políticos troquem os ganhos imedia­ dos argumentos encontrados na literatura
tos pelos ganhos futuros, os quais dependem são baseados em comportamentos inconsis­
da sobrevivência do governo. A queda do go­ tentes e empiricamente falsos. Tais argumen­
verno significaria transferir o controle sobre tos dependem de premissas adicionais sobre
a agenda legislativa para representantes de o comportamento dos eleitores e sua capaci­
outros grupos políticos. Dessa forma, legisla­ dade de avaliar a conseqüência de seus votos.
dores podem votar contra suas preferências Assume-se que os eleitores sob presidencia­
imediatas em determinadas questões. O voto lismo estariam sempre dispostos a respaldar
de confiança torna explícita a troca entre os com votos a ação oportunista dos parlamen­
interesses imediatos e os de longa duração. tares. Sob parlamentarismo, os eleitores pu­
Ambos os modelos supõem que, por um niram essa mesma estratégia.
O

lado, todos os governos parlamentaristas Mais uma vez, a variação é menos insti­
controlam a agenda legislativa. Por outro, tucional e mais comportamental. As premis­
quando estendidos ao presidencialismo, as­ sas relativas ao comportamento dos atores
sumem que os governos tomam a forma do variam com as instituições. Por que eleito-

16
res, sob presidencialismo, seriam menos ca­ rios detêm sobre a elaboração das listas que o
pazes de incorporar as conseqüências de seus partido oferece aos eleitores. O parlamentar
atos em seus cálculos? Da mesma forma, por indisciplinado não poderá ser candidato à
que os objetivos dos políticos seriam diver­ reeleição. Nesse caso, carreiras políticas serão
sos em uma e outra forma de governo? N o­ construídas no interior do partido e, conse­
tadas essas inconsistências, fica claro que o qüentemente, eleitores votarão nos partidos
poder explicativo dos argumentos levanta­ e não nos políticos. Os partidos medeiam as
dos se vê prejudicado. E impossível distin­ relações entre eleitores e políticos.
guir o que cabe às instituições e o que cabe Onde os partidos políticos não contro­
à variação na racionalidade do eleitor. lam o acesso às listas partidárias, a estratégia
dominante para os políticos seria a de culti­
var bases próprias de apoio político. O vín­
Leis Eleitorais e Disciplina Partidária culo com o eleitor é construído por meio de
uma conexão pessoal que une os políticos às
A estratégia dos políticos para obter seu suas clientelas eleitorais, conexão esta que se
principal objetivo, a reeleição, é influencia­ estabelece às margens dos partidos. Para re­
da de maneira direta pelas leis eleitorais. No ceber votos, políticos patrocinam políticas
caso, não se trata da distinção usual e mais públicas que ofereçam benefícios localizados
conhecida entre sistemas majoritários e pro­ e tangíveis a seus eleitores. Como esses bene­
porcionais e suas conhecidas conseqüências fícios são financiados por taxas pagas por to­
para o número de partidos. Nos argumentos dos e sem uma correspondência direta entre
aqui considerados, importam os incentivos e o que se contribui e o que se recebe, os elei­
as penalidades que as leis eleitorais implicam tores só percebem a ação dos políticos para
para a construção de vínculos pessoais entre lhes trazer benefícios e não os responsabili­
os políticos e seus eleitores. zam pelos custos pagos. Por isso, os políticos
Para que os partidos dominem a arena que trazem benefícios para suas clientelas
eleitoral, de acordo com esse argumento, é são recompensados com votos.
necessário que os líderes controlem os recur- Os políticos, portanto, para se reeleger,
sos-chave que, em última análise, vão deter­ defendem os interesses de uma clientela es­
minar as chances de sucesso eleitoral dos pecífica, responsável, em última análise, por
candidatos aos cargos legislativos. Se os líde­ sua eleição. Nesses termos, os políticos não
res controlam esses instrumentos, as carrei­ têm qualquer incentivo para seguir a linha
ras políticas passam a ser construídas no in­ partidária. Fazê-lo não traria dividendos
terior dos partidos e dependem da sintonia eleitorais. Partidos não contam na arena
entre o comportamento do parlamentar e a eleitoral e parlamentar porque não dispõem
linha partidária. Em outras palavras, o polí­ de meios para punir políticos que agem em
tico que procurar cultivar uma base de apoio desacordo com a linha partidária.
própria à margem do partido não terá suces­ Assim, de acordo com esse argumento,
so em sua carreira. O partido tem meios os partidos são fortes,1’ e contam para o jogo
para cortar suas pretensões, negando o seu político onde e quando eles controlam o
acesso à arena eleitoral. acesso dos políticos à lista eleitoral. São fra­
Portanto, a raiz última da força partidá­ cos onde não controlam esses recursos. Por­
ria, expressa na disciplina das bancadas em tanto, a partir dos recursos controlados pe­
plenário, é o controle que os líderes partidá- los líderes partidários se pode deduzir o tipo

17
de conexão eleitoral, se partidária ou pes­ mílias: sistemas com ou sem voto preferen­
soal. Apesar de procurarem estabelecer um cial. No segundo caso, quando não há voto
ordenamento completo das fórmulas eleito­ preferencial, a lista de candidatos é ordena­
rais existentes, Shugart e Carey enfatizam da pelo partido e não pode ser alterada pelo
que esta é, na realidade, a distinção básica: eleitor. Sendo assim, o eleitor só pode votar
“A habilidade dos líderes para partidários no partido, não tendo meios para expressar
para garantir a cooperação entre políticos suas preferências quanto aos nomes presen­
para a amanutenção da reputação partidária tes na lista. Nesse caso, portanto, a carreira
depende das sanções que estes mesmos líde­ de um polídco é inteiramente determinada
res podem impor aos políticos que desres­ pela luta intrapartidária pré-eleitoral. Logo,
peitam a linha do partido” (1992, p. 420). políticos não teriam incentivos para cons­
A primeira vista, os sistemas majoritá­ truir bases eleitorais próprias, uma vez que o
rios com distritos uninominais favoreceriam eleitor não tem peso na decisão quanto à sua
o voto pessoal. Essa associação esteve pre­ inclusão na lista e, por decorrência, sua po­
sente nos primeiros trabalhos sobre o tema. sição nesta. A carreira política, portanto, se
Por exemplo, no influente livro Thepersonal define, fundamentalmente, no interior do
vote, publicado em 1987, Cain, Ferejohn e partido. Segue que o partido terá total con­
Fiorina afirmam que as relações entre eleito­ trole sobre o comportamento dos parla­
res e políticos na Inglaterra estariam fora de mentares na arena legislativa. Isso porque os
equilíbrio, prevendo sua transformação. Na políticos antecipam a punição futura do
realidade, a pesquisa empírica apresentada partido expressa na exclusão da lista ou na
no livro indicaria uma evolução em direção colocação em posições baixas.
a relações mais personalizadas, como aquelas Os sistemas proporcionais com voto
presentes no sistema norte-americano. Em preferencial, ao permitir que os eleitores
outras palavras, o voto partidário estaria em expressem suas preferências individuais,
declínio na Inglaterra. trariam consigo incentivos para que os po­
A literatura subseqüente, como atesta a líticos cultivassem vínculos pessoais com
citação de Shugart e Carey reproduzida aci­ suas clientelas.1" O voto do eleitor além do
ma, encarregou-se de corrigir os exageros de partido pode distinguir o candidato, e é
Cain, Ferejohn e Fiorina. O localismo e o natural supor que o eleitor vá favorecer
personalismo não dependeriam quer das ba­ aquele político que, a seu ver, se diferencie
ses geográficas do distrito, quer do número dos demais. Há, portanto, incentivo para
de cadeiras em disputa. A distinção voto que membros de um mesmo partido bus­
pessoal/voto partidário, a qual distinguiria quem se diferenciar uns dos outros, no
os Estados Unidos da Inglaterra, estaria fun­ sentido de construir laços personalizados
dada no controle partidário sobre a seleção com seus eleitores. Para usar a terminolo­
dos candidatos apresentados aos eleitores.16 gia de Shugart e Carey (1995): nesses siste­
No que se refere a sistemas proporcio­ mas há incentivos para que os políticos cul­
nais, a literatura sempre adotou o critério tivem o voto pessoal. Mais do que isso, o
identificado acima, qual seja, o do controle partido não teria como punir aqueles que
da composição da lista pelo partido para dis­ embarcam nessa estratégia. Logo, o políti­
tinguir os sistemas políticos. Fundamental­ co que quiser estabelecer vínculos pessoais
mente, neste quesito, sistemas proporcionais com os eleitores terá sua estratégia recom­
podem ser distinguidos em duas grandes fa­ pensada na arena eleitoral.

18
Shugart e Carev (1995) sustentam que Na realidade, os argumentos apresenta­
os incentivos para que os políticos cultivem dos por Shugart e Carev acabam por associar
o voto pessoal são maiores sob voto propor­ voto pessoal à existência de competição in-
cional preferencial do que em sistemas ma­ trapartidária:
joritários uninominais. Isso se deveria a
uma relação mais ampla: os incentivos para In ali systems where there is intraparty com­
cultivar o voto pessoal cresceriam com a petition, as M grows, so does the value of
magnitude do distrito. Isto é, quanto maior personal reputation. Conversely, in systems
o número de deputados eleitos pelo distri­ where there is no intraparty competition, as
to, tanto maiores os incentivos para que os M grows, the value of personal reputation
políticos construam vínculos pessoais com shrinks (1995, p. 418).
seus eleitores. Nas palavras de Shugart e
Carev: “Na medida em que o número de Há uma certa confusão no argumento,
co-partidários de que um determinado o que pede esclarecimentos. Por definição,
candidato tem que se distinguir cresce, a dado que os partidos monopolizam a oferta
importância de estabelecer uma reputação de candidaturas, a competição intrapartidá-
pessoal única, distinta da do partido, tam­ ria sempre existirá. O uso do termo “lista
bém cresce” (1995, p. 430). aberta” dá lugar a idéias equivocadas quanto
Cabe notar que o argumento considera ao seu funcionamento, parecendo indicar
apenas os possíveis retornos eleitorais do in­ que a lista está aberta a todos os candidatos
vestimento para criar bases de apoio pes­ em potencial. Não é o caso. A lista é aberta
soais, desconsiderando inteiramente os cus­ não à entrada dos candidatos, mas aos elei­
tos. Esses também aumentam à medida que
tores. Por isso, o mais correto é denominá-la
cresce o número de competidores. Não é,
lista não-ordenada, que é uma das modali­
sob essas condições, fácil criar um eleitorado
dades de voto preferencial. Os partidos ofe­
cativo com base nos serviços individuais
recem uma lista que é estabelecida em sua
prestados a uma determinada clientela elei­
convenção, isto é, fruto da disputa pré-
toral. Redutos eleitorais precisam não ape­
eleitoral, da qual os eleitores não partici­
nas ser definidos como também defendidos
pam. A disputa partidária pré-eleitoral será
contra um sem número de potenciais “inva­
tanto maior quanto menor o número de
sores”. Os custos para a construção de uma
candidaturas por cadeiras que o partido
base de apoio específica são bem menores
em um sistema majoritário, uma vez que es­ puder oferecer. A diferença é que, com o
sas se encontram pré-definidas pelo próprio voto preferencial, o eleitor também partici­
distrito. Ademais, em sendo o distrito uni­ pa da disputa intrapartidária. E este, do
nominal, segue que, necessariamente, não ponto de vista normativo, é o seu atrativo.
existem dois parlamentares a representar o Não se pode esquecer que, por definição,
mesmo distrito. Em outras palavras, nessas qualquer seja a regra eleitoral, os partidos
condições, o político monopoliza a oferta de monopolizam a oferta de candidatos. Parti­
políticas públicas para o distrito, o que não dos, ponanto, agem e têm as vantagens dos
ocorre em um sistema proporcional em que oligopólios Se a decisão quanto à nomeação
sequer é possível estabelecer com a clareza dos candidatos é feita sem a intervenção dos
necessária quem é o responsável pelo benefí­ eleitores, são aumentados os riscos de que os
cio oferecido aos eleitores. partidos se distanciem dos eleitores, dando

19
lugar ao que na crônica política se chama, medida em que esta privilegia a suposta li­
depreciativamente, “partidocracia”. berdade que esse sistema acarretaria para os
Assim, em todo e qualquer sistema po­ políticos, focando-se nas relações entre líde­
lítico, a competição eleitoral ocorre em dois res e parlamentares e deixando de lado as re­
níveis: intrapartidário e interpartidário. Leis lações entre o partido e os eleitores. O inver­
eleitorais regulam estes dois processos, defi­ so ocorre com a lista fechada: seus aspectos
nindo quem delas participa e quando elas negativos têm sido negligenciados.
ocorrem. A lista fechada significa a comple­ Cabe observar que, em sistemas propor­
ta separação no tempo das duas disputas e cionais, o voto é sempre primeira e funda­
impede que os eleitores afetem diretamente mentalmente partidário. Por definição, o
a luta intrapartidária. Logo, reforça o poder voto proporcional implica o fato de que a
dos líderes não apenas em relação aos parla­ conversão de votos em cadeiras agregará, ini­
mentares, mas também na relação desses cialmente, os votos por partidos. Essa é a dis­
com o eleitorado. Não é demais lembrar que tinção básica entre o sistema majoritário e o
Michels formulou a famosa lei de ferro das proporcional. No majoritário, os votos são
oligarquias após estudar a política intrapar­ primariamente conferidos a indivíduos, mes­
tidária. Ou seja, nem todas as conseqüências mo onde há alguma forma de transferência
da lista fechada para o fortalecimento dos de votos. Nesses termos, o voto pessoal puro
partidos são positivas. só pode ocorrer em sistemas majoritários.
A lista não-ordenada como praticada no Sob sistema proporcional, o voto pessoal
Brasil faz com que a disputa intrapartidária sempre tomará tintas partidárias. Sob as dife­
se resolva em dois momentos, na convenção rentes modalidades de voto preferencial, ofe­
e no dia da eleição, permitindo assim uma rece-se ao eleitor uma possibilidade de ex­
participação mais direta do eleitor na defini­ pressar uma opção pessoal no interior do
ção das opções partidárias. Assim, de manei­ partido. Por mais que parte dos políticos
ra inversa ao que usualmente se observa, a procure privilegiar seus traços pessoais e fugir
lista favorece o maior controle dos cidadãos do controle partidário, o fato de que suas
sobre os políticos. chances de obter uma cadeira dependem, an­
O eleitor também pode ter maior ou me­ tes de tudo, dos votos dados ao partido, isto
nor participação na luta intrapartidária em é, do número de cadeiras obtidas pelo parti­
sistemas majoritários. Nesses sistemas, esse do, limita o alcance da estratégia.
tipo de competição pode ser levado aos elei­ Há ainda um outro ponto que merece
tores de duas formas diferentes. Primeiro, ele ser discutido. Na literatura, a tendência para
pode anteceder ao momento eleitoral, como o desenvolvimento do voto pessoal é, por as­
é o caso do sistema de primárias, praticado sim dizer, naturalizada. Os argumentos con­
nos Estados Unidos. A segunda alternativa é sideram apenas os incentivos presentes na
dada pelo sistema de lemas praticado no Uru­ arena eleitoral para o seu florescimento. O
guai, chamado no Brasil de sublegenda. Nes­ acesso aos recursos orçamentários necessá­
se segundo caso, parte da disputa intraparti­ rios à construção dos vínculos pessoais com
dária ocorre no dia da eleição. os eleitores é desconsiderado. Na verdade,
A literatura que trata dos efeitos das leis acredita-se que onde as condições eleitorais
eleitorais tem desconsiderado esses aspectos. favorecem o voto pessoal, o sistema político
Os efeitos nocivos da “lista aberta” têm sido como um todo será marcado pelas tendên­
exagerados pela literatura especializada, na cias centrífugas postas em marcha pela cone­

20
xão eleitoral. As políticas públicas carecerão a obtenção das políticas necessárias à reelei­
de coerência interna, posto que os partidos ção dos políticos.
e/ou o governo não serão capazes de coorde­ No entanto, para que os incentivos ao
nar as ações dos políticos. Em uma palavra, voto pessoal, presentes na arena eleitoral, de­
a fragilidade dos partidos leva à “crise de go­ terminem o tipo de política pública aprova­
vernabilidade”. Esse argumento é apresenta­ da pelo congresso, certas condições institu­
do de forma mais completa por Cain, Fere- cionais adicionais precisam ser alcançadas.
john e Fiorina na seguinte passagem: Em especial, a organização interna dos tra­
balhos legislativos precisa favorecer os obje­
Important features of democratic political tivos eleitorais dos parlamentares. Segundo
processes vary with the ways by which mem­ Mayhew, em passagem tantas vezes citada:
bers gain and retain their seats. To the extent
that members develop personalized electoral The organization of the Congress meets re­
support, they are able, should they so desire, markably well the electoral needs of its mem­
to withstand efforts by national leaders to bers. To put it another way, if a group of
control and coordinate their behavior. This planners sat down and tried to design a pair
ability has obvious consequences for the style of American national assemblies with goal of
of policy making and the types of policies serving members’ electoral needs year in and
characteristic of the political system. Moreo­ year out, they would be hard pressed to im­
ver, the manner in which members of repre­ prove on what exists (1974, p. 81).
sentatives assemblies gain office has broader
consequences for the development of gover­ Mayhew evita estabelecer uma relação
namental institutions. Representatives who causal clara. A organização do Legislativo
believe themselves responsible for their own não é direta e explicitamente creditada aos
electoral fate are less likely to accept govern­ interesses eleitorais dos parlamentares. As
ment practices and institutions which deny leis eleitorais e a organização do processo de­
them the means to exercise individual in­ cisório estão em equilíbrio, mas não sabe­
fluence than are representatives whose fate mos quem as “projetou”. A literatura inspi­
lies in the hands of national party or other rada em seu trabalho dá por suposto que os
authority. Again, the consequences for the incentivos eleitorais determinam o princípio
style and substance of policy making are ob­ organizacional estabelecido no interior do
vious. In general, a polity’s electoral process, poder Legislativo. Afinal de contas, os legis­
policy processes, and institutional structure ladores escolhem soberanamente as regras
are bound together: if one element of the sob as quais se darão seus trabalhos e é de se
constelation changes, the others will adjust esperar que escolham o princípio organiza­
toward a new equilibrium (1987, p. 4). cional que maximize seus dividendos eleito­
rais, isto é, o princípio organizacional des­
O argumento praticamente dilui a força centralizado, baseado em comissões, por
do neo-institucionalismo, na medida em meio do qual podem controlar a decisão so­
que a maneira pela qual os políticos obtêm e bre as políticas públicas na área em que tem
retêm seus mandatos determina seus interes­ maior interesse eleitoral.
ses e tudo o mais se molda a esse interesse Cain, Ferejohn e Fiorina são explícitos a
básico. O processo decisório será organizado este respeito. Eles acreditam que a interação
da maneira mais apropriada e eficiente para entre as leis eleitorais, a estrutura institucio-

21
nal e as decisões sobre políticas públicas aca­ ram o movimento neo-institucionalista.
bam por gerar uma situação de equilíbrio Em uma leitura, o argumento tem aspectos
político-institucional, o que significa que funcionalistas: o caráter peculiar das insti­
tuições é explicado por suas conseqüências,
One source of institutional change lies in as longas carreiras dos políticos. Uma outra
the degree of consistency between legislative leitura possível leva à recuperação do plura­
and electoral rules. When electoral rules lismo. Os interesses explicariam as institui­
creates incentives for a personal vote and le­ ções vigentes. O argumento estabelece um
gislative rules deny representatives the op­ vínculo automático e direto entre o interes­
portunity to establish it, stress arises in the se presente na arena eleitoral e a organiza­
system, or to put it another way, the rules ção legislativa. Tal vínculo só pode ser sus­
are in desequilibrium. Indeed, we suggest an tentado se a lição que usualmente se deriva
even stronger hypothesis: there is an inhe­
do teorema de Arrow em textos introdutó­
rent tendency for single member-district,
rios ao neo-institucionalismo for esqueci­
plurality rule system to move in the direc­
da. Como ensinado em livros-texto (ver,
tion of greater decentralization and inde­
por exemplo, Shepsle e Boncheck, 1997,
pendent electoral standing. Generally spea­
cap. 2) decisões coletivas não podem ser
king, electoral institutions are more difficult
to change than legislative ones, because elec­ entendidas como mera agregação das prefe­
toral institutions are enshrined in the cons­ rências individuais. Isto é, não basta assu­
titution of a political system (1987, p. 217). mir que os políticos tenham um interesse
comum em garantir suas reeleições para in­
Estes autores postulam, assim, a existên­ ferir que serão capazes de coordenar suas
cia da relação causal insinuada por Mayhew. ações e escolher o desenho institucional
Shepsle e Weingast são ainda mais explícitos: ótimo para este fim. Nessa situação, os po­
líticos enfrentariam os clássicos problemas
Professional politicians possess ingenuity, an que afetam a ação coletiva.
entrepreneurial spirit, and adaptability. Le­ As explicações que conectam direta­
gislative institutions and policies they foster mente os incentivos presentes na arena elei­
reflect this central fact. Legislators, motiva­ toral a resultados das políticas públicas não
ted to secure reelection and legislative in­ se sustentam. Paradoxalmente, esse tipo de
fluence, devise institutions to further these argumento, que tem nos estudos legislativos
objectives (1984, p. 366). norte-americanos uma de suas origens, aca­
ba por tornar irrelevantes as variáveis cen­
Shepsle e Weingast, portanto, acredi­ trais destes mesmos estudos, a saber, o modo
tam que os políticos racionais agirão sem­ pelo qual o processo de tomada de decisão
pre como os planejadores hipotéticos de no interior do poder Legislativo é organiza­
Mayhew. Esse tipo de argumento, por as­ do. Esse formato organizacional peculiar -
sim dizer, naturaliza o modelo norte-ameri­ sistema de comissões —é tomado como o re­
cano Se os políticos buscam garantir sua sultado necessário e natural de sistemas em
reeleição, adotarão as instituições que os que se identificam incentivos para a constru­
políticos norte-americanos adotaram: o sis­ ção do voto pessoal. Evidentemente, os in­
tema de comissões. centivos não bastam. Atores não maximizam
Do ponto de vista metodológico, tal suas preferências sem restrições. Na verdade,
operação fere os princípios que alimenta­ a mesma naturalização do sistema norte-

22
americano se verifica quando analisamos o legislature makes the proposals and the exe-
contraste presidencialismo/parlamentarismo cudve (the president) signs or vetoes them
quanto à organização do processo decisório. (1995, p. 325).
É o que discuto a seguir.
Se fosse assim, o processo decisório não
seria propriamente uma variável indepen­
Processo Decisório e Controle da Agenda dente. Como mostrarei, essa associação não
é completa. Nem todos os regimes parla­
Na literatura comparada, a centraliza­ mentaristas podem ser equiparados à Ingla­
ção ou a descentralização do processo deci­ terra, da mesma forma que os Estados Uni­
sório não tem sido tratada como uma variá­ dos não podem ser tomados como o modelo
vel institucional independente e com peso de um regime presidencial.
explicativo próprio. Dadas as origens do A Inglaterra tende a ser considerada o
neo-institucionalismo - os estudos legislati­ exemplo típico de governo parlamentaris­
vos norte-americanos e a ênfase dada nestes ta. Conforme mostra Cox (1987), as ori­
estudos ao sistema de comissões —, esse si­ gens do “segredo eficiente” encontram-se
O O
lêncio não deixa de ser paradoxal. De fato, no crescente controle exercido pelo gabi­
tal ausência pode ser entendida pelas obser­ nete sobre a agenda dos trabalhos legislati­
vações que fecharam a seção anterior, qual vos. A “expropriação” dos direitos parla­
seja, a tendência a se assumir que o forma­ mentares dos membros do parlamento em
to do processo decisório se adapta aos impe­ favor do Gabinete ocorreu, paradoxalmen­
rativos presentes na arena eleitoral. Mais es­ te, quando as pressões para que os parla­
pecificamente, acredita-se que o processo mentares atendessem às demandas de seus
decisório organizado em torno do sistema eleitores cresceram. Na origem desse pro­
de comissões surgiria “naturalmente” nos cesso estão as reformas eleitorais de mea­
regimes políticos em que prevalece o voto
dos do século XIX, que ampliaram o su­
pessoal. O modelo norte-americano, dessa
frágio e, dessa forma, a dependência dos
forma, passa a ser tomado como paradigmá­
políticos para com os eleitores. A deman­
tico. Desvios dessa tendência ocorreriam
da dos eleitores por legislação cresceu e a
somente onde as leis eleitorais neutralizas­
pauta do parlamento se viu sobrecarregada
sem o voto pessoal, dando oportunidade ao
pela enxurrada de propostas. A reorganiza­
surgimento do voto partidário e da centra­
ção do processo decisório favoreceu o Ga­
lização do processo decisório.
binete, o qual passou a controlar a agenda
No que tange às formas de governo, a
legislativa. Dado esse controle, os eleitores
centralização do processo decisório tende a ser
perderam qualquer incentivo para votar
associada a governos parlamentaristas, en­
nos candidatos em função de seus atribu­
quanto a descentralização aparece como uma
tos pessoais e/ou serviços prestados. Os
característica intrínseca ao presidencialismo.
parlamentares deixaram de ser capazes de
Nas palavras de Tsebellis:
atender às demandas particulares de seus
In parliamentary systems the executive (go­ eleitores. Reconhecendo que a função de­
vernment) Controls the agenda, and the le­ les se resumia a formar e sustentar o gabi­
gislature (parliament) accepts or rejects pro­ nete, os eleitores deixaram de considerar as
posals, while in presidential systems the características pessoais dos candidatos na

23
hora de decidir seu voto. O critério parti­ ríodo 1945-1978. Projetos e emendas da
dário passou, então, a orientar o eleitor. oposição ou dos próprios membros do go­
Um aspecto essencial da primazia do verno têm escassas chances de ser aprovados.
gabinete inglês encontra-se no fato de ele Trabalhando com dados para três sessões le­
controlar as finanças. Conforme notam Lo- gislativas, Rose (1986, p. 13) encontrou uma
wemberg e Patterson (1979, p. 249), desde taxa de sucesso de 4,4% para as emendas
o começo do século XVIII, o governo garan­ apresentadas pela oposição e de 9,5% para as
te para si o direito exclusivo de introduzir apresentadas por backbenchers da situação.
medidas que impliquem alterações nos gas­ O controle do gabinete inglês sobre a
tos e/ou nas receitas. A proposta de orça­ agenda legislativa implica seu contrário. Os
mento envidada pelo Gabinete raramente é backbenchers não têm acesso direto à produ­
alterada. Segundo Lowenberg e Patterson: ção legal. O número de dias reservados à
apreciação dos projetos introduzidos pelos
The budget is presented separetley by the backbenchers não passa de vinte em um ano.
chancellor of the exchequer [...]. The expec­ A despeito dessa restrição, eles ainda apresen­
tation is so great that this budget will even­ tam um número grande de projetos, fazendo
tually be adopted by Parliament exacdy as com que a escolha dos projetos a serem apre­
presented by the government that a provi­ ciados seja feita por sorteio (Lowemberg e
sional resolution places it into effect on the Patterson, 1979, p. 249).
day it is delivered, though months may pass Nem todos os governos parlamentaris­
before its final enactment. Nothing compa­ tas, no entanto, apresentam essas caracterís­
rable occurs with respect to other legislative
ticas. A Terceira e a Quarta República Fran­
proposals which must go through a fairly
cesa são casos bastante conhecidos de
time-consuming procedure before they are
instabilidade governamental sob o parlamen­
enacted (1979, p. 250).
tarismo. A característica distintiva desses re­
gimes era o fato de o governo não controlar
Como é sabido, na Inglaterra, a disci­
a agenda dos trabalhos legislativos. De acor­
plina partidária é a norma. Partidos votam
do com Andrews:
de maneira unida nas centenas de votações
nominais a ter lugar em cada sessão legisla­
The constitution of the Third Republic had
tiva. As medidas usuais de coesão partidária,
provided for very little executive involve­
como o índice de Rice, por não apresenta­
ment in the parliamentary process; what
rem variação significativa, foram substituí­ existed emphasized the president rather than
das pela mera contagem das votações em the prime minister or Government [...]. The
que houve pelo menos um voto indiscipli­ Fourth Republic constitution was designed,
nado. As votações com votos indisciplinados in part, to provide the Government with
raramente passam de uma dezena em uma greater means to lead parliament in its law­
sessão legislativa e, em geral, não alteram o making [...]. The governments continued to
resultado das votações (Crowe, 1980). be plagued by uncertain majorities, as the
Ainda assim, o governo não deixa de co­ constitutional devices had litde practical ef­
lher algumas derrotas (Schwarz, 1980). Na fect (1978, p. 466).
Inglaterra, de acordo com Rose (1986), a
chance de uma proposta introduzida pelo ga­ A agenda legislativa não era estabelecida
binete ser aprovada foi de 96,6% para o pe­ pelo governo, mas pela Conferência de Presi-

24
dentes dos partidos em que o governo tinha legislation weakened that authorization so­
representação. A partir de 1955, o governo mewhat. The situation became similar to the
passou a se beneficiar da revisão das regras Third Republic after 1934 (1978, p. 485).
internas do parlamento, o qual começou a
adotar votos ponderados proporcionais às A Quinta República apresenta um qua­
bancadas representadas na Conferência de dro radicalmente diverso. Com a aprovação
Presidentes (Andrews, 1978, p. 471). A des­ da Constituição de 1958, o governo obteve
peito deste avanço, a definição da agenda uma série de instrumentos, por meio dos
não foi monopolizada pelo governo. quais passou a exercer um completo contro­
A própria definição da agenda do gover­ le sobre a agenda legislativa. Por exemplo, o
no, tanto na Terceira quanto na Quarta Re­ artigo 48 da Constituição estabelece que as
pública, acabou se tornando um dos princi­ matérias introduzidas pelo governo e as dos
pais motivos para a queda do governo por parlamentares aceitas por ele têm prioridade
meio do mecanismo conhecido como inter­ sobre as demais e devem ser debatidas na or­
pellation , (Idem, ibidem). Tratava-se de um dem estabelecida pelo governo. Quanto à
tipo de voto de confiança invocado para de­ ação dos parlamentares na área financeira,
cidir se a agenda proposta pelo governo era Andrews nota que
ou não aceitável pelo parlamento. Dessa for­
ma, coalizões negativas de veto podiam se Under the article 40 and 41 of the 1958
formar para bloquear a ação do governo. E, constitution, the government can prevent
ainda, as comissões podiam “fechar as por­ the receipt of private members’ bills that
tas” ao governo, já que, como nota Andrews would increase expenditures, reduces reve­
{Idem, ibidem), “um projeto de lei não pode­ nues, or trespass in the domain of the regu­
ria ser submetido ao Plenário sem a aprecia­ lation. This was a constitutional innovation,
ção prévia da comissão”. Segundo este autor, as neither preceding constitution contained
o governo podia forçar a comissão a apresen­ such provision {Idem, ibidem).
tar seu parecer dentro de determinado pra­
zo, mas, em geral, tal ato era respondido Entre as muitas armas conferidas ao go­
com um parecer desfavorável ao governo. verno para limitar o campo de ação possível
Na Terceira e na Quarta República, as li­ dos deputados, encontra-se o “voto bloquea­
mitações à apresentação de propostas legisla­ do”, previsto no artigo 48 da Constituição,
tivas que implicassem aumento de despesas
que, quando invocado pelo governo, faz
e/ou reduzissem receitas praticamente inexis-
com que o destino da matéria e das emendas
tiam. De fato, ao longo desse período, algu­
selecionadas pelo ele sejam decididas em
mas tentativas para limitar a ação dos parla­
uma única votação.
mentares nessa área foram tomadas, mas
Uma outra poderosa arma do governo é
todas acabaram por se provar ineficazes. An­
conferida pelo artigo 49, que permite ao
drews explica que
governo aprovar medidas sem que essas se­
The 1946 Constitution expressly authorized jam efetivamente votadas. De acordo com o
depudes to propose expenditures, except “du­ artigo citado, o governo pode invocar sua
ring the discussion of the budget, the estima­ responsabilidade e atrelá-la à matéria, de tal
te or suplementary budgets” (Art 17). Howe­ sorte que essa será aprovada desde que não
ver, parliamentary rules and, after 1949, seja aprovada, por maioria absoluta dos vo-

25
tos e em 24 horas, uma moção de censura ma (1976, p. 147), a política italiana do
ao governo. pós-guerra é marcada pela oposição entre
A “racionalização do parlamento” (Hu­ dois partidos com forte presença e controle
ber, 1996) francês resultou em uma altera­ sobre a arena eleitoral, a saber, Democracia
ção radical do padrão da produção legislati­ Cristã e Partido Comunista Italiano. Além
va. Conforme escreve Keeler: do mais, um desses partidos manteve o con­
trole quase absoluto sobre o governo. Dado
Whereas the Fourth Republic parliament esse quadro, argumenta Di Palma, seria de
debared a flood of private member bills and se esperar que a maioria se mostrasse capaz
passed an average of 65.2 propositions per de exercer o poder em bases estáveis e com
year, many of which constituted assaults on resultados visíveis. No entanto, a instabili­
the budget, the Fifth Republics govern­ dade governamental mostra que a Democra­
ment-dominated parliament has produced cia Cristã raramente foi capaz de garantir a
an average of only 11 propositions per year, aprovação de seu programa pelo parlamento
none of which could affect financial mat­ que, em tese, controlava.
ters. While 29.7% of all laws promulgated A organização interna do parlamento
during the Fourth Republic were initiated italiano fornece parte da resposta para esse
by the parliament, private-member bills re­ paradoxo. Nas palavras de Di Palma:
presented only 11.5% of the total from
1959 through 1991 (1996, p. 522). The divisiness of the Italian party system
leads us to expect an arena-like parliament,
A participação dos governos na produ­ dominated by the presence of a number of
ção legal durante a Quinta República sem­ highly organized and bickering political par­
pre foi superior a 80%. De acordo com os ties that transfer to parliament the political
dados compilados por Frears (1981, p. 49), divisions they incarnate in society. In parti­
entre 1959 e 1977, a participação do gover­ cular, the presence of a strong Christian De­
no sobre o total de leis promulgadas foi de mocratic Party and a strong Communist
86,8%. Para o período entre 1959 e 1973, party, each holding permanendy opposite
os dados apresentados por Andrews (1978, roles, suggests a legislature with limited
p. 484) indicam que a taxa de aprovação do transformative potentials, in which the ma­
jority tries to curb a dangerous opposition
governo foi de 84,8%. A taxa de sucesso do
through a set of strongly majoritarian rules.
governo ao longo da Quarta República foi
However, the procedural and organizational
de 58,2%.
features of the Italian legislature offer us qui­
A Itália do pós-guerra é outro exemplo
te a different picture: one in which indivi­
de governo parlamentarista marcado pela ins­ duals, minorities, and parliament maintain
tabilidade governamental. Strom (1990, p. considerable power vis-à-vis the government,
58) contabiliza nada mais nada menos do que in which the centers of parliamentary deci­
48 governos formados na Itália entre julho de sion are dispersed, and in which transforma­
1946 e abril de 1987, ou seja, neste período, tive resources are available (1976, p. 150).
os governos italianos duraram em média me­
nos que um ano. Somente quinze dos 48 go­ Entre as características que permitem a
vernos duraram mais do que um ano. participação dos parlamentares e da minoria
A fragilidade dos governos italianos não nas decisões, Di Palma destaca o poder termi­
é facilmente explicada. Como nota Di Pal­ nativo das comissões, o fato do governo não

26
possuir poder de veto e, por último, não ter ciar as políticas públicas como membros do
poderes para encerrar os debates. Ademais, as partido ou de partidos que emprestam apoio
medidas introduzidas pelo governo não goza­ legislativo ao primeiro ministro. Em outras
vam de qualquer privilégio, e a agenda dos palavras, como argumenta Huber (1996), os
trabalhos era definida pelo presidente de cada poderes de agenda são utilizados para estru­
uma das casas legislativas. As votações nomi­ turar e manter unida a maioria.
nais, em geral, eram secretas, fazendo com A ausência do controle do governo so­
que o governo se visse à mercê dos votos dos bre a agenda legislativa implica o seu contrá­
chamados “franco atiradores”. Com base nes­ rio, a possibilidade de que minorias venham
sas considerações Di Palma conclui: a erigir pontos de veto, obstruindo as tenta­
tivas da maioria de patrocinar mudanças nas
The result of many of these arrangements is políticas. Em geral, as minorias exercem esse
that one out of four bills approved from poder por meio do controle sobre comissões
1948 to 1968 has been a private bill - a ra­ legislativas. Para que esse ponto de veto se
tio unmatched by other European parlia­ efetive, em geral, elas lançam mão da prerro­
ments —and that amendments by the oppo­ gativa de emitir parecer e escrever substituti­
sition are again more successful than in vos sobre as matérias sob sua jurisdição.
other European parliaments (Di Palma, Quando o governo não tem como retirar
1976, cap. 2). All of this, however, still lea­ matérias das comissões, o vínculo eleitoral
ves considerable room for government ini­ com minorias prepondera sobre os laços
tiative. We find, for instance, that, owing in partidários. Os custos eleitorais de apoiar o
part to the legislative power of the commit­ governo, mesmo para um membro da maio­
tees, our parliament approves a literally stag­ ria, identificado com uma minoria afetada
gering number of laws -eight thousand in por uma proposta governamental, são mui­
the same twenty years. Three out of four are to elevados.
government laws. More importantly, we O contraste entre os casos francês e ita­
find that almost 70 percent of government liano e o inglês evidencia a importância do
bills introduced from 1948 to 1972 have controle exercido pelo Executivo sobre a
been passed with the votes of the Commu­ agenda dos trabalhos legislativos. O ponto a
nist party (1976, p. 15l)-ls ressaltar é que, embora esteja presente na
maioria dos governos parlamentaristas, essa
A comparação entre, de um lado, a In­ característica institucional não é constitutiva
glaterra e, de outro, a França e a Itália mos­ desta forma de governo. Governos parla­
tra a importância do controle da agenda le­ mentaristas podem conviver com legislativos
gislativa pelo gabinete e, o que é dizer o descentralizados em que os legisladores dete­
mesmo com a ênfase invertida, das restri­ nham recursos para influenciar e participar
ções sobre as ações legislativas dos parla­ de maneira ativa do processo decisório. Em
mentares individuais. Sobretudo, cabe frisar outras palavras, a “crise de governabilidade”,
a relevância das restrições sobre os projetos a incapacidade do governo para governar,
individuais que impliquem gastos. O con­ pode ocorrer em regimes parlamentaristas.
trole do gabinete sobre o processo decisório Nestes termos, cabe frisar que a crise e a ins­
completa-se quando este passa a monopoli­ tabilidade governamental não estão relacio­
zar as iniciativas orçamentárias. Dessa for­ nadas ao número de partidos. O que real­
ma, os parlamentares só têm como influen­ mente importa é o desenho do processo

27
decisório, na medida em que este define o te dos casos constitucionais), Shugart e Carey
poder institucional com que minorias con­ (1992, cap. 8) procuram construir um índice
tam para barrar as pretensões da maioria. de poderes legislativos presidenciais. Dessa
De outra parte, a centralização do pro­ maneira, oferecem um contínuo que vai dos
cesso decisório não é incompatível com o presidentes mais fracos aos mais fortes.
presidencialismo. A literatura que trata Em suas análises empíricas, no entanto,
do presidencialismo sequer chega a cogitar o contínuo cede lugar à classificação dicotô­
que os presidentes possam utilizar seus po­ mica (presidentes fracos versus fortes), a
deres legislativos com objetivos similares ao partir da qual os autores procuram derivar
de primeiros ministros, isto é, para obter as chances de sucesso (medido em termos
apoio político. O presidencialismo tende a de sobrevivência ou derrocada) do regime
ser analisado tomando por referência as ex­ democrático. O argumento tem por base os
pectativas expressas pelos “Pais Fundadores” incentivos criados por essa diferença insti­
da república norte-americana. A separação tucional para que os presidentes busquem
de poderes é parte constitutiva do modelo negociar com o Legislativo. Quanto maio­
de checks and balances, isto é, de um mode­ res os poderes do chefe do Executivo, me­
lo em que os poderes são contrapostos uns nores seriam os incentivos para que buscas­
aos outros com vistas à sua neutralização. sem obter a cooperação do Legislativo. Em
Em outras palavras, o presidencialismo é outras palavras, os presidentes usariam seus
equiparado ao sistema de checks and balan­ poderes legislativos para “dobrar” a resistên­
ces, em que o Executivo e o Legislativo de­ cia dos legisladores. Presidentes fracos, de
vem ter interesses discordantes para que um
outra parte, não teriam outra alternativa se­
venha a controlar e limitar um ao outro.
não a de negociar com o Legislativo. Shu­
Shugart e Carev (1992) foram, prova­
gart e Carey argumentam nesse sentido na
velmente, os primeiros a chamar a atenção
seguinte passagem:
para as diferenças institucionais no interior
dos governos presidencialistas. Contra a cor­
Our examination of the dimensions of presi­
rente dominante, a qual tratava das mazelas
dential power suggests the regimes with great
do presidencialismo no singular, o trabalho presidential legislative powers are problema­
pioneiro destes autores distinguiu tipos de tic, as are those in which authority over cabi­
presidencialismo, com base na variação dos nets is shared between assembly and presi­
poderes legislativos dos chefes do Executi­ dent. On matters of legislation, we suggest
vo.19 Há presidentes que podem ser chama­ that relatively strong assemblies should be as­
dos de fracos, como o norte-americano, por­ sociated with more stable and effective go­
que dotados apenas de poderes legislativos vernment relative to strong presidencies be­
reativos —no caso, o poder de veto em sua cause assemblies serve as arenas for the
forma mais branda, qual seja, o veto total. perpetual fine-tuning of conflicts. [...] The
No outro extremo, temos presidentes, como dual democratic legitimacies decried by cri­
o brasileiro pós-1988 e o chileno pós-1989, tics of presidentialism —the claim that no de­
cujos poderes legislativos incluem uma varie­ mocratic principle exists to resolve conflicts
dade de poderes ativos, que vão da prerroga­ over who better can claim to represent the
tiva exclusiva de iniciar legislação em deter­ “will” of the electorate —are minimized to the
minadas áreas ao poder de decreto. Com base extent that an assembly is accorded a more
nessas variações institucionais (na maior par­ powerful role in legislation than is the presi­

28
dency. Thus presidentialism with a strong tre os detentores de mandato em um e outro
congress indeed does afford a democratic poder, suposição negada pelo desenvolvi­
principle for the regulation of interbranch mento dos partidos políticos. Estes, como se
conflicts; that principle is that the assembly sabe, não figuram no modelo desenhado pe­
prevails, subject to a need for compromise los federalistas.
with the president. The relatively weaker pre­ A variação dos poderes legislativos do
sidents (those of Costa Rica and the United presidente distingue os tipos de presiden­
Stares, for example), cannot use decree legis­ cialismo. O efeito da variação positiva dessa
lative authority to break a “logjam” in con­ variável não é, necessariamente, o de contri­
gress, as many presidents can do with perfect buir para a manifestação do conflito institu­
legality. Thus, a fundamental conclusion is cional latente, contido no princípio da se­
that the criticism of presidential regimes paração dos poderes. Antes, o contrário:
should not be put forward as if all presiden­ quanto maiores os poderes legislativos do
cies were created equal; rather, these criti­
presidente, maior o grau de “fusão de pode­
cisms apply with greater force to strong pre­
res” possível sob presidencialismo. As con­
sidents (1992, p. 165).
seqüências dessa ‘‘fusão de poderes” para a
produção legislativa e para a disciplina par­
No que se refere aos poderes legislativos
tidária podem ser similares às observadas
do presidente, os autores trabalham, portan­ sob parlamentarismo.
to, no interior das premissas estipuladas por
Os presidentes podem ter tanto o con­
Linz (1994). A separação de poderes impli­ trole sobre o orçamento como as condições
ca a existência de interesses institucionais di­ de neutralizar a ação de minorias. Quanto ao
versos. A intensidade com que tais interesses primeiro ponto, as análises de Shugart e Ca-
se manifestam varia com a força dos poderes rev (1992), complementadas pelos trabalhos
legislativos outorgados ao Executivo. Presi­ reunidos em Mainwaring e Shugart (1997) e
dentes fortes lançam mão de seus poderes le­ de Alesina et al. (1998), mostram que a
gislativos para romper os obstáculos postos maioria dos presidentes controla as fases
pelos interesses próprios dos legisladores. O mais importantes da elaboração e da execu­
ponto de partida da análise é, portanto, o de ção do orçamento. A prerrogativa exclusiva
que o Legislativo e o Executivo têm - ou de­ do Executivo implica o seu contrário: a res­
vem ter - interesses antagônicos. trição ao acesso dos parlamentares aos recur­
Os poderes legislativos do presidente são sos que deveriam mobilizar para a constru­
incorporados à análise sem que se considere ção dos vínculos pessoais com seus eleitores.
a distribuição das preferências. A possibilida­ Em outras palavras, as constituições presi­
de de que os poderes legislativos do presiden­ dencialistas mais recentes erigiram barreiras
te possam ser utilizados de acordo com uma significativas, que impedem os políticos de
lógica partidária não é sequer considerada. A usarem recursos orçamentários com vistas à
literatura norte-americana, a partir da leitura construção do “voto pessoal”.
consagrada das intenções dos idealizadores Os chefes de Estado contam ainda com
de sua constituição, expressa nos Federalist armas para eliminar “pontos de veto” no in­
Papers, assume que a separação de poderes terior do processo Legislativo. Eles podem
implica, necessariamente, a contraposição de forçar a apreciação das matérias de seu inte­
interesses institucionais distintos. Essa supo­ resse por meio do pedido de urgência ou
sição depende da inexistência de vínculos en­ algo similar. O poder de decreto pode ser

29
considerado sob esta ótica, posto que, nesse Em resumo, o grau de centralização do
caso, a vontade do Executivo tem força de processo decisório deve ser considerado uma
lei imediatamente. variável independente nas análises institu-
A tendência a analisar o presidencialis­ cionalistas. Sua variação independe da varia­
mo com base no modelo do conflito entre o ção da forma de governo. De um lado, não
Executivo e o Legislativo tem levado a um é verdade que o gabinete controle a agenda
equívoco adicional. Onde e quando os pre­ legislativa em todos os governos parlamenta­
sidentes controlam a produção legislativa, ristas. Na medida em que não o fazem, go­
teríamos a manifestação do “decretismo' ou vernos parlamentaristas mostram forte ten­
do velho “caudilhismo”, um tipo peculiar de dência a sofrer crises de governabilidade,
governo que não mereceria o título de de- isso é, do governo se mostrar incapaz de ven­
mocracia-liberal. A preponderância legislati­ cer as resistências de minorias encasteladas,
va do Executivo é tomada como a prova da por exemplo, em comissões legislativas,
atrofia do poder Legislativo, portanto, da fa­ como aconteceu na França e na Itália. Em
lência da separação de poderes e dos contro­ governos presidencialistas, o Executivo pode
les mútuos que este formato institucional ter controle sobre a agenda legislativa sem
implica. Governos com tal formato, de acor­ que isto represente, necessariamente, um ris­
do com este raciocínio, estariam a um passo co à ordem democrática. A relação entre o
presidente e sua base de apoio parlamentar
da ditadura e, como seria de es esperar, são
não deve ser interpretada de maneira diver­
encontrados na América Latina.
sa da que tem lugar em regimes parlamenta­
Essa questão merece esclarecimento.
ristas. O sucesso legislativo dos chefes do
Conforme observou com propriedade Hu­
Executivo, dos presidentes ou dos primeiros
ber (1996), por significativos que sejam, os
ministros pode ser explicado com base em
poderes de agenda do Executivo não permi­
modelos similares. A referência é a mesma,
tem que este imponha sua vontade à maio­
qual seja, a delegação da maioria.
ria. Nesses termos, para recorrer à termino­
logia introduzida por Krehbiel (1988),
poderes de agenda não conferem poderes
Conclusão
positivos. São antes armas da própria maio­
ria, permitindo que esta se estruture e se A agenda de pesquisas neo-instituciona-
mantenha unida, contando com uma prote­ listas não mudou muito ao longo da última
ção contra o “canto da sereia” dos ganhos de década. As variáveis independentes a receber
curto prazo. Em outras palavras, a prerroga­ atenção permaneceram as mesmas. No es­
tiva da iniciativa legislativa confere significa­ sencial, as conclusões também não se altera­
tivas vantagens estratégicas, que podem ser ram. A essência da passagem citada na aber­
utilizadas para induzir os membros da coali­ tura deste artigo, escrita por Cowhev e
zão à cooperação (Tsebellis, 1995). Ou seja, McCubbins em 1995, é reproduzida na in­
as sugestões de Huber permitem estender os trodução de uma nova coletânea, editada
modelos de Baron (1998) e de Diermeier e por Haggard e McCubbins em 2001:
Feddersen (1998) ao presidencialismo, isto
é, tomar o controle sobre a agenda legislati­ This volume is devoted to exploring the ef­
va como a base para explicar a disciplina fects of political institutions on public po­
partidária. licy. A generation of work has shown that

30
institutions affect various political outco­ dencialismo os políticos só se interessem por
mes. For example, numerous scholars have cargos e não se importem com as políticas
shown that electoral systems shape the beha­ adotadas. Da mesma forma, os eleitores de­
vior of parties, candidates, and voters. Other vem se comportar de maneira míope, dando
scholars have demonstrated that different pouca ou nenhuma atenção às conseqüên­
constitutional structures, such as presiden­ cias de suas decisões no futuro. No que se re­
tial or parliamentary systems, affect regime fere ao efeito das leis eleitorais, as conclusões
stability, accountability, responsiveness, and usuais só se sustentam quando desconside­
democratic durability (Haggard e McCub- ram o processo decisório ou, pior, tomam-
bins, 2001, p. 1.) no como uma função direta do imperativo
eleitoral. Dadas essas inconsistências, não é
Como se vê, os comparativistas perma­ de se espantar que, ao longo da década de
neceram ocupados com a análise das mes­ 1990, a literatura tenha patinado sobre os
mas variações institucionais identificadas mesmos temas e achados.
anos antes. Se as instituições importam, para A identificação das variáveis relativas à
repetir o jargão, basta identificar o que os organização do processo decisório está na
autores citados acima denominam ‘'estrutu­ origem do movimento institucionalista.
ra institucional”, a saber, leis eleitorais e for­ Não deixa de ser paradoxal que os compara­
ma de governo, para que o analista tenha to­ tivistas relegassem essas variáveis ao segundo
das as respostas que procura. Não é de se plano. Procurei mostrar as conseqüências
estranhar que os artigos reunidos neste volu­ deletérias desse abandono. A organização do
me reproduzam os mesmos “achados” revi­ processo decisório —seu grau de centraliza­
sados e criticados acima. ção —afeta diretamente a estrutura de incen­
Como procurei mostrar, a maior parte tivos dos atores políticos, dando base para
dessas conclusões não resiste à análise aten­ uma explicação mais consistente para a coo­
ta. Em geral, resultados quanto aos efeitos peração entre o Executivo e o Legislativo, as­
da forma de governo dependem da variação sim como para a coesão partidária. Os alega­
das premissas comportamentais e não das dos efeitos da forma de governo e das leis
institucionais. Para que as conclusões nega­ eleitorais são, em geral, subsumidos por
tivas acerca desta forma de governo se sus­ aqueles ditados pela centralização do proces­
tentem, é necessário assumir que no presi­ so decisório.

Notas

1. “O método deste tipo de pesquisa consiste em análises em que as características institu­


cionais são tomadas como exógenas e os postulados comportamentais são fixos e, então,
comparar os equilíbrios que são gerados sob os diferentes arranjos institucionais” (Dier-
meier e Krehbiel, 2002).
2. Se governos minoritários fossem mais instáveis do que os demais, estes dados poderiam
não nos dizer muito. No entanto, o quadro não se altera radicalmente quando Strom cal­
cula esta proporção sobre os anos observados: governos minoritários ocorrem em 28,2%
dos anos observados.

31
3. Os indicadores udlizados por Strom, no entanto, não incluem a produção legislativa.
4. Como já mencionado, a amostra de Strom limita-se aos países membros da OECD. Sua
discussão se insere no interior de uma literatura que discute a instabilidade de governos
parlamentaristas. A instabilidade do regime democrático e a probabilidade de transições
não figura entre suas preocupações.
5. Assumindo que este partido seja disciplinado. Ver a discussão do tema mais adiante.
6. Um resumo das posições antipresidencialistas pode ser encontrada na seguinte passagem
do influente artigo de Stepan e Skach (1993, p. 17): “A essência do presidencialismo puro
é a independência mútua. Desta condição que define (e limita) esta forma de governo,
decorrem uma série de incentivos e regras decisórias que, de maneira previsível, encora­
jam a formação de governos minoritários, desencorajam a formação de coalizões duráveis,
maximizam as chances de impasses legislativos, motivam os executivos a desrespeitar a
constituição e estimulam os membros da comunidade política a, periodicamente, pedir
que os militares promovam golpes. Presidentes e legislaturas são eleitos diretamente pelo
povo e têm seus próprios e fixos. Esta independência mútua cria a possibilidade de im­
passes políticos entre o chefe do executivo e o legislativo para o qual não há um mecanis­
mo constitucional capaz de solucioná-lo' .Os argumentos apresentados a seguir são basea­
dos em Figueiredo e Limongi (2000, p. 160).
7. Considere-se a decisão de um partido de direita quanto à sua participação no governo em
que o presidente é filiado a um partido de centro e em que o partido de esquerda vem
crescendo eleitoralmente nos últimos pleitos. Nesse caso, o fracasso do governo poderia
beneficiar a esquerda e é duvidoso que a direita se recuse a participar do governo.
8. Para uma discussão da oposição entre as premissas office-policy seeking no contexto da for­
mação de governos, consultar Laver e Schonfield (1990). Cheibub e Limongi (2001) dis­
cutem o tema, tomando por referência o contraste presidencialismo/parlamentarismo.
9- Para outros trabalhos empíricos sobre o tema, consultar também Abranches (1988),
Amorim Neto (1995) e Meneguello (1998).
10. Para argumentos neste sentido, consultar Shugart e Carev (1992), Jones (1995) e Carev
(1997).
11. Na verdade, pode-se considerar que o problema se torna mais agudo sob o bi-partidaris-
mo com partidos disciplinados. Nesse caso, os presidentes minoritários poderiam ser con­
denados ao fracasso legislativo.
12. Vale notar que este argumento parece contradizer aquele que sustenta a defesa de eleições
casadas. Em um caso, acredita-se que as decisões eleitorais quanto aos dois votos de que
o leitor dispõe são totalmente independentes, em outro, que são interdependentes.
13- Confundindo a conjuntura vivida com aspectos institucionais, muitos dos argumentos
antipresidencialistas resumem as iniciativas presidenciais a medidas impopulares, como
cortes de gastos, relacionadas a planos de estabilização e reformas estruturais. Nesses ter­
mos, apoiar o governo traria apenas custos eleitorais. Para um exemplo conspícuo desta
confusão, consultar Mainwaring (1991b).
14. Ver Figueiredo e Limongi (2000, p. 163) para o desenvolvimento deste argumento.

32
15. Cabe notar que a distinção partidos fortes-fracos é de natureza diversa da encontrada em
Sartori (1968). Neste último caso, a força dos partidos tem por referência os eleitores.
Para Sartori, são fortes os partidos em sistemas partidários que forçam os eleitores a con­
vergir para o centro, evitando a radicalização e a polarização política. Ver Limongi
(2002) para uma discussão da tipologia de Sartori e sua repercussão sobre o debate po­
lítico brasileiro.
16. Cabe notar que Cox (1987) explica o surgimento do voto partidário na Inglaterra sem fa­
zer menção às leis eleitorais.
17. Um dos artigos mais influentes na literatura internacional sobre o tema é do Mainwaring
(1991a). Este artigo contribuiu decisivamente para cristalizar a interpretação de que as
leis eleitorais adotadas pelo Brasil impedem o fortalecimento dos partidos políticos. Para
uma crítica desta visão com relação ao Brasil, ver Figueiredo e Limongi (2002).
18. Segundo Di Palma, 75% das leis passadas em cada uma das câmaras foram aprovadas por
poder terminativo das comissões (1976, p. 151). E interessante notar que Di Palma não
se refira ao fato de o Executivo dispor do poder de decreto. Este também não é mencio­
nado por Cotta (1990). Para análises do uso do poder de decreto na Itália, ver Delia Sal-
la e Krepel (1998). Para uma análise comparativa do uso do decreto na Itália e no Brasil,
ver Figueiredo e Limongi (1991).
19. Segundo os autores, a outra dimensão fundamental para a variação no interior do presi­
dencialismo é dada pelo calendário eleitoral, mais precisamente, pela proximidade entre
as eleições presidenciais e as legislativas. Nesse aspecto, os autores preocupam-se com a re­
dução do número de partidos e, concomitantemente, com as condições que levam o par­
tido presidencial a controlar a maioria das cadeiras no Legislativo.

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• Artigo recebido em novembro/2002


• Aprovado em março/2003

Resumo

Formas de Governo, Leis Partidárias e Processo Decisório

O neo-institucionalismo aplicado à política comparada resumiu-se à ênfase nos efeitos postos


em marcha pela forma de governo e/ou pelas leis eleitorais. A fusão ou a separação dos pode­
res passou a ser invocada como uma espécie de “primeiro princípio” a partir do qual seria pos­
sível deduzir o funcionamento de todo o sistema político: a probabilidade de crises, a discipli­
na partidária etc. Análises centradas no efeito da variação das leis eleitorais tomam formato
similar, isto é, o funcionamento do sistema político é deduzido a partir do controle exercido
pelos líderes partidários sobre as chances eleitorais dos políticos. O objetivo deste artigo é o de
oferecer uma revisão crítica desses argumentos. Enfatizo os mecanismos invocados para expli­
car a variação da performance de regimes democráticos. Do ponto de vista propriamente posi­
tivo, na última seção do trabalho sublinho a importância do grau de centralização/descentrali­
zação do processo decisório. Argumento que essa variável não vem merecendo a atenção devida.

Palavras-chave: Democracia; formas de governo; leis eleitorais; processo decisório.

Résumé

Formes de gouvernement, lois électorales et processus décisionnel

Le néo-institutionnalisme appliqué à la politique comparée s’est résumé à l'importance des


effets mis en marche par la forme de gouvernement et/ou par les lois électorales. La fusion et
la séparation des pouvoirs est désormais invoquée en tant qu'une espèce de “premier principe” à
partir duquel il serait possible de déduire le fonctionnement de tout le système politique : la
probabilité des crises, la discipline politique, etc. Des analyses centrées dans l’effet de variation

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des lois électorales adoptent un format similaire, c’est-à-dire, le fonctionnement du système
politique est déduit à partir du contrôle exercé par les dirigeants des partis sur les chances élec­
torales des politiciens. L’objectif de cet article est d’offrir une révision critique de ces arguments.
L’accent est mis sur les mécanismes invoqués pour expliquer la variation de la performance de
régimes démocratique. Du point de vue positif, l’importance du degré de centralisation/décen­
tralisation du processus décisionnel est mise en évidence dans la dernière partie du travail. Nous
soutenons que cette variante ne reçoit pas l’attention qui lui est due.

Mots-clés: Démocratie ; formes de gouvernement ; lois électorales ; processus décisionnel.

Abstract

Forms o f Government, Party Legislation, and the Decision Process

The so-called neo-institucionalism applied to compared politics has focus its attention on the
emphasis put into effect by the forms o f government and/or the electoral legislation. Either
the fusion or the separation o f powers was then evoked as some kind of “primary principle”
from which the entire political system would be understood: crisis probability, party disci­
pline, etc. The analysis centered on the effect of the electoral legislation variations takes sim­
ilar shape, i.e., the running of the political system is traced from the control exerted by party
leaders over the electoral chances of politicians. This paper aims at offering a critical review
on such arguments. It emphasizes the process invoked to explain the variation of the so-called
performance of the democratic regimens. It also points out, in the last section, the importance
of the level o f centralization/decentralization on the decision process, variable that hasn’t
received considerable attention in spite of its importance.

Key words: Democracy; forms o f government; electoral legislation; decision process.

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