Fernando Limongi
* Este texto passou por inúmeras versões. Sua origem é um texto apresentado na Anpocs, em 1999, as
sinado também por Argelina Figueiredo, Paula Sterzi, Simone Diniz e Ana Luzia Valente. Com a auto
rização dos demais autores, reescrevi várias vezes o texto até então. Partes dele foram aproveitados em
trabalho conjunto com José Antonio Cheibub, publicado em 2001 naAnnual Review of Political Scien
ce. Sua última versão encontra-se em um capítulo da minha tese de livre-docência. Agradeço aos inte
grantes da banca, composta por Maria Hermínia Tavares, Brasílio Sallum Jr., Gláucio Ary Dillon Soa
res, Wanderley Guilherme dos Santos e Sebastião Velasco Cruz, cujos comentários, na medida das
minhas capacidades, foram integradas ao texto. O leitor atento notará que boa parte dos argumentos
apenas repete o que já escrevi com Argelina Figueiredo em textos que discutem o caso brasileiro. Em
suma, este texto é mais coletivo do que individual.
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governo é sustentada por um imperativo (1995), podemos dizer que a possibilidade
majoritário. Os incentivos à cooperação en de que governos de coalizão redundem em
tre parlamentares, os quais caracterizariam o “paralisia decisória” varia positivamente com
parlamentarismo, não são tão fortes quanto o número de partidos que integram a coali
normalmente se supõe. zão e com a distância ideológica entre eles. E
Quanto às coalizões que sustentam o possível, portanto, que um governo se for
governo, é preciso distinguir entre a coalizão me, mas que o espaço existente para inicia
governamental e a legislativa. A primeira é tivas capazes de reunir apoio da maioria para
constituída pelos partidos que recebem pas alterar o status quo venha a ser mínimo,
tas ministeriais e apóiam formalmente o go quando inexistente.
verno. A segunda assegura-lhe votos para Feitas essas considerações, deve-se con
aprovar as matérias de seu interesse. Gover cluir que a “paralisia decisória” não é um mal
nos minoritários existem quando estas coali do qual o parlamentarismo esteja necessaria
zões não são idênticas. Vale notar, para refe mente imune. Além disso, a ocorrência de
rência futura, que existem membros do governos minoritários bem-sucedidos mostra
Legislativo dispostos a apoiar o Executivo
possibilidades não consideradas pelos críticos
sem receber pastas ministeriais, isto é, cujo
do presidencialismo. Governos podem ter
comportamento não é guiado exclusivamen
êxito sem o apoio formal da maioria legisla
te pelos ganhos de cargos.
tiva. Por certo, essas ressalvas não são sufi
Quanto à paralisia decisória sob parla
cientes para afastar o cerne da identificação
mentarismo, deve-se considerar que a distri
entre presidencialismo e a probabilidade de
buição de cadeiras pode levar a uma situação
“paralisia decisória”, uma vez que essa forma
em que não exista qualquer governo, majo
de governo repousa sobre o princípio da
ritário ou minoritário, viável. De fato, na
separação de poderes e o acordo de ambos,
Grécia, em 1989, foram necessárias três elei
do poder Executivo e do Legislativo, é con
ções consecutivas para “desempatar” os re
dição necessária para a aprovação de leis.
sultados das urnas e um governo pudesse ser
formado. A Dinamarca, nos anos de 1990, Como o eleitor dispõe de dois votos e esses
confrontou-se com uma situação peculiar: votos são transformados em cadeiras segun
governos minoritários tiveram suas propos do regras distintas, segue que não há qual
tas legislativas sucessivamente derrotadas. quer garantia de que o Executivo e o Legisla
Isso porque os dois maiores partidos se mos tivo tenham vontades convergentes.
traram incapazes de formar governos viáveis. Esta garantia pode ser dada quando o
Em decorrência dessa situação, a tarefa de partido do presidente controla a maioria das
constituir o governo foi confiada a pequenos cadeiras no Legislativo.5Em 56,2% dos anos
partidos de centro, cujas propostas não fo observados sob presidencialismo, entre
ram apoiadas quer pela esquerda, quer pela 1950 e 1990, um partido controlava mais de
direita (Damgaard, 1994; Elklit, 1999). 50% das cadeiras (Przeworski, Alvarez,
A distribuição de cadeiras pelos partidos Cheibub e Limongi, 2000), uma proporção
pode levar à formação de governos cujo es mais alta do que a verificada sob parlamen
copo de ação é necessariamente diminuto. tarismo. Os dados, no entanto, não distin
Coalizões são formadas em torno de pontos guem o partido do presidente e há, assim, a
programáticos comuns, que definem a agen possibilidade de que esses venham a ser, em
da do governo. De acordo com Tsebellis verdade, “governos divididos”.
10
No entanto, o fato de o partido do pre which often causes presidents to overestima
sidente não controlar a maioria no Legisla te their power. The principal opposition par
tivo não significa que ele estará condenado ties (or party) recognize that the executive is,
a ter suas pretensões bloqueadas pelo Con on the whole, the one responsible for the
gresso. Por que presidentes não poderiam performance of the government. Thus they
recorrer à formação de coalizões? Por que are often loathe to do anything to help the
presidentes minoritários não podem ser president succeed. Instead, they often adopt
a policy of blind opposition with the end
bem-sucedidos? Essas alternativas, como vi
goal of causing the government to fail with
mos, são corriqueiras no parlamentarismo e
the hope that one of their party leaders will
não podem ser, simplesmente, tomadas
be able to win the next presidential election.
como inviáveis sob o presidencialismo. Tão
logo essas alternativas são consideradas,
Esses argumentos não resistem à leitura
muitas das críticas usuais ao presidencialis
atenta. Quanto à estratégia a ser perseguida
mo e sua tendência a gerar conflitos ins-
pelo presidente, ela se estriba na suposição de
transponíveis entre o presidente e o con
que o presidente superestima as suas próprias
gresso caem por terra.6
forças. Mais do que isso, supõe que todos os
Com raras exceções, seguindo as pro
presidentes cometam um equívoco: inebria
posições de Linz (1994) e a ênfase que esse
dos pelos votos obtidos, acreditam que po
autor dá ao caráter de soma zero da compe
dem governar sem obter o apoio da maioria
tição política sob o presidencialismo, a lite
no Congresso. Parece ser mais razoável supor
ratura especializada tem desconsiderado a
que os presidentes saibam que a aprovação
possibilidade de que presidentes sejam
de matérias pelo poder Legislativo depende
apoiados por coalizões partidárias. De acor
do apoio da maioria dos parlamentares e
do com Linz, presidentes, porque possuem
que, dessa maneira, recorram ao apoio popu
mandato popular próprio, não procurarão
lar direto em condições excepcionais.
obter a cooperação do Legislativo, preferin
Quanto ao comportamento dos parti
do apelar diretamente ao povo para obter a
dos que não controlam a presidência, cabe
aprovação de sua agenda. De outra parte, os
líderes partidários derrotados na eleição notar, antes de mais nada, que as decisões
estratégicas enfrentadas no parlamentaris
presidencial negarão apoio ao presidente.
Com olhos voltados exclusivamente para a mo não são muito diferentes. Participar do
próxima eleição e suas chances de chegar ao governo pode trazer ganhos e/ou perdas
cobiçado cargo, prefeririam contribuir para eleitorais, e os partidos devem pesar ganhos
o fracasso do governo. e perdas para decidir se participam ou não
Os argumentos de Linz foram sistema do governo. Toda e qualquer coalizão envol
tizados por Mark P. Jones (1995, p. 6) que ve a cooperação presente entre partidos que
os apresenta da seguinte forma: no passado disputaram e no futuro disputa
rão os votos dos eleitores. Não há razões
Presidents have their own independent po para supor que no presidencialismo, sempre
pular mandate and are likely to be reluctant e para todos os partidos, as perdas excedam
to cede the degree of power necessary to an os ganhos. Além do mais, retornando ao ar
opposition party in order to entice it into a gumento de Jones, em um contexto multi-
legislative coalition. This is due to their inde partidário, os partidos devem considerar as
pendence as nationally elected officials, conseqüências do fracasso do governo em
11
eleições futuras. Ao fazer oposição cega ao presidencialismo. A cadeira presidencial não
governo, apostando em seu fracasso, um é tudo a que os partidos e os políticos po
partido pode beneficiar um outro partido dem aspirar. Participar do governo, contro
mais distante da sua posição no espectro lando pastas ministeriais e/ou influenciando
político.7 políticas, pode vir a ser do interesse dos par
Se todos os partidos adotassem a estra tidos sob presidencialismo. Ou seja, as pre
tégia da oposição cega prevista por Jones, missas comportamentais não são as mesmas
poderíamos chegar a um resultado absurdo, quando raciocinamos sobre regimes presi
em que nenhum partido lançasse candidatos dencialistas e parlamentaristas. Em um caso,
à presidência. Bastaria, para tanto, que sou o presidencialismo, raciocinamos assumin
bessem do fato de que, sob representação do a categoria de políticos que são guiados
proporcional, a chance de um partido con exclusivamente pelo desejo de obter cargos.
trolar a maioria das cadeiras legislativas é Em outro contexto, sob parlamentarismo,
muita baixa. Sabendo disso, todos os poten temos uma visão mais generosa dos políti
ciais candidatos perceberiam que seu gover cos, uma vez que seus cálculos incorporam
no estaria fadado ao fracasso por falta de preocupações com as políticas.
apoio parlamentar. O fato é que não se pode derivar da se
Deve-se considerar ainda a possibilidade paração de poderes a impossibilidade de pre
de governos minoritários bem-sucedidos sob sidentes virem a ser apoiados por coalizões
presidencialismo. Mesmo quando a estraté partidárias. Trabalhos empíricos mostram
gia eleitoral recomendar que um partido evi que os presidentes são apoiados por coali
te cooperar formalmente com o governo, zões. De acordo com os dados organizados
esse partido pode apoiar as iniciativas especí por Deheza (1998), 56,1% dos governos
ficas do governo. Presidentes minoritários presidencialistas latino-americanos foram
podem ser bem-sucedidos à maneira dos pri apoiados por coalizões partidárias. A Argen
meiros-ministros minoritários. Basta que tina é o único país incluído em sua amostra
exista um grupo de parlamentares que acre que não registra a ocorrência de qualquer
dite ter ganhos políticos votando com gover governo de coalizão.9
no, mesmo sem participar formalmente dele. A suposição de que os presidentes não
O fato é que o cargo de presidente não poderiam ser sustentados por coalizões par
é tudo o que os políticos, reunidos ou não tidárias levou à defesa de fórmulas eleitorais
em partidos, podem querer. Os críticos do que aumentem as chances do partido presi
presidencialismo, mais uma vez seguindo as dencial controlar a maioria das cadeiras do
proposições de Linz, enfatizam o fato de esse Legislativo. Para tanto, defendeu-se o aban
sistema se assemelhar a um jogo de soma dono da representação proporcional e a ado
zero. Mas isso só é verdade se mantida a pre ção de fórmulas eleitorais que favoreceriam
missa de que os políticos seriam guiados ex o bi-partidarismo. Indo além do conhecido
clusivamente pela ambição de ocupar contraste entre sistemas majoritários e pro
cargos; office seeking, para usar o jargão cor porcionais, as propostas recentes têm sugeri
rente.8A existência de governos minoritários do o abandono do uso de eleições presiden
sob parlamentarismo indica que partidos e ciais em dois turnos e a realização de
políticos podem perseguir outros objetivos “eleições casadas” para o Legislativo e o Exe
além da cadeira de primeiro-ministro e/ou cutivo.10 Essas fórmulas são defendidas por
postos ministeriais. O mesmo ocorre sob favorecerem a redução do número de parti-
12
dos e, conseqüentemente, as chances de um Forma de Governo e Disciplina Partidária
presidente minoritário. As reformas eleito
rais com esse objetivo perdem sua justificati Os políticos, de acordo com a visão do
va quando se abandona a convicção de que minante atualmente na ciência política, têm
os presidentes não podem ser apoiados por como objetivo fundamental garantir a con
coalizões.11 tinuidade de suas carreiras e, para tanto, pre
Dessa forma, tomando em conta a dis cisam se reeleger. Dito de outra maneira, a
tribuição das preferências dos detentores de função de utilidade dos políticos é definida
mandato parlamentar e do chefe do Execu pela probabilidade de sua reeleição. Tudo o
tivo, expressas na distribuição de cadeiras mais, portanto, depende ou deve ser deriva
por partidos, a lógica do funcionamento do desse interesse fundamental. Está claro
dos sistemas políticos erigidos sobre a sepa que os políticos maximizam suas funções de
ração ou a fusão de poderes não é radical utilidade sob restrições institucionais dita
mente distinta. Quanto a esse aspecto, os das, fundamentalmente, pela forma de go
defensores do parlamentarismo tenderam a verno e pela legislação eleitoral vigente. Ou
minimizar as dificuldades experimentadas seja, as instituições definem as estratégias
sob essa forma de governo, ao passo em que empregadas pelos políticos para obter o que
exageravam as dificuldades existentes no desejam: dar continuidade às suas carreiras.
presidencialismo. Nesta seção, discutiremos as restrições
Olhando atentamente os argumentos, postas pela forma de governo. Os efeitos das
veremos que, no mais das vezes, as diferen leis eleitorais serão discutidos na seção se
ças que se atribui à forma de governo são guinte. Em geral, nas análises recentes, a
derivadas, na realidade, da variação das su presença da separação ou da fusão dos pode
posições comportamentais. Os críticos do res tem levado a previsões antagônicas quan
presidencialismo raciocinam com modelos to à tendência de os políticos cooperarem
em que, nessa forma de governo, os políti com vistas à aprovação de leis. De um lado,
cos são “míopes” (só pensam nos resultados teríamos o presidencialismo, no qual preva
eleitorais imediatos) e/ou office seeking lece o princípio da independência e da rigi
(tudo que querem é o cargo de presidente), dez temporal dos mandatos presidencial e
enquanto, sob parlamentarismo, eles agem parlamentar. De outro, teríamos o parla
com base em ganhos de longo prazo e têm mentarismo, no qual os mandatos são inter
preferências por políticas. Nesses termos, dependentes. Como os políticos se preocu
tais argumentos violam os princípios expos pam com a continuidade de suas carreiras,
tos por Krehbiel e Diermmeier. seus cálculos seriam radicalmente diversos
Cheibub, Saiegh e Prezeworski (2002) em um e outro caso.
mostram que os modelos de formação de No presidencialismo, de acordo com o
governo desenvolvidos para dar conta do fe argumento tradicional, os parlamentares
nômeno sob o sistema parlamentarista po não teriam incentivos para considerar o efei
dem, feitas as adequações necessárias, ser es to de suas decisões sobre o sucesso do gover
tendidos ao presidencialismo. Os resultados no, uma vez que o chefe do Executivo não
são os mesmos. Ou seja, quando as mesmas tem como afetar a duração de seus manda
premissas comportamentais são aplicadas às tos. Sendo assim, os legisladores podem ado
duas formas de governo, as diferenças desa tar um comportamento oportunista e irres
parecem. ponsável. Importa ao parlamentar garantir a
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sua reeleição, a qual depende dos laços que assume que a disponibilidade da estratégia
o unem à clientela eleitoral que lhe cabe de independa das relações dos parlamentares
fender. Posto em uma situação na qual fosse com o governo. Em outras palavras, os bene
forçado a optar entre apoiar o governo e be fícios a serem distribuídos às clientelas elei
neficiar seus eleitores, o deputado escolheria torais podem ser auferidos sem a participa
sempre a segunda alternativa. Agiria desta ção e o apoio do Executivo.
forma por uma única e simples razão: os di Sob o parlamentarismo, a realidade seria
videndos eleitorais gerados por essa estraté radicalmente diversa. Os mandatos dos par
gia eleitoral. lamentares e do Executivo, dada a vigência
O argumento aplica-se a todos os parla da fusão de poderes, são interdependentes.
mentares, independentemente de sua filia Os parlamentares antecipariam as conse
ção partidária. Em outras palavras, todos os qüências de seus votos para a sobrevivência
membros do Legislativo possuem o mesmo do governo e, conseqüentemente, para a
interesse e esse interesse é ditado, em última continuidade de seus mandatos. Esse cálculo
instância, pela aplicação do imperativo elei impediria a ação irresponsável e individualis
toral. Como as regras eleitorais que regem a ta dos parlamentares. O vínculo imediato e
eleição de todos os legisladores são as mes direto com os eleitores seria mediado pela so
mas, todos os membros da instituição segui brevivência do governo.
riam a mesma estratégia e favoreceriam o Em questões complexas ou de aprova
mesmo tipo de política. Assim, seguindo ção mais difícil, os governos parlamentaris
este argumento, o Legislativo pode ser to tas contam com uma arma poderosa: o
mado como um ator único, uma vez que to voto de confiança. Em lugar de votarem ex
dos os legisladores adotam uma estratégia clusivamente a matéria em pauta, os parla
eleitoral comum. mentares votam também a continuidade de
Com base nesse argumento, é possível seus mandatos e o controle do partido so
postular a existência de uma relação causal bre o governo. Assume-se, implicitamente,
entre essa forma de governo e a ausência da que a antecipação das eleições provocará a
disciplina partidária. O argumento original, perda de mandatos para um número consi
uma vez mais, deve-se a Linz (1994, p. 35), derável de parlamentares, o que levaria ao
para quem: “A noção de um sistema partidá rodízio do controle do poder. Prevendo tais
rio ‘responsável’ e disciplinado está em desa conseqüências, os parlamentares preferi
cordo estrutural, se não for incompatível, riam apoiar o governo a seguir seus interes
com o presidencialismo puro”. ses pessoais imediatos.
No entanto, a dedução do comporta De acordo com este argumento, não é o
mento irresponsável dos parlamentares a Primeiro Ministro ou o partido que pune os
partir da independência e da rigidez tempo parlamentares que se comportam de maneira
ral dos mandatos pede suposições adicionais oportunista. Quem o faz são os eleitores. Para
nem sempre explicitadas. Em primeiro lu que o argumento seja consistente, é necessá
gar, pede que o eleitor recompense a estraté rio, portanto, que os eleitores votem em par
gia dos deputados. Eleitores, portanto, vo tidos e não nos parlamentares, isto é, que o
tam com os olhos voltados para o curto voto seja partidário e não pessoal. Mas não se
prazo, e são incapazes de perceber as relações ria esse mesmo eleitor o beneficiário do com
de seus atos e dos políticos que patrocinam portamento irresponsável do parlamentar?
com o fracasso do governo.12 Em segundo, Há uma inconsistência lógica no argumento,
14
pois o representante vota contra o governo nos mesmos dados, o autor mostra que 38%
para beneficiar seus eleitores que, no momen das trocas que envolveram a mudança de
to seguinte, negam-lhe o apoio. Em outras partido do Primeiro Ministro e 46% das mu
palavras, a ameaça de dissolução só pode ser danças que levaram à redefinição da compo
tomada como a base do comportamento res sição partidária do governo ocorreram sem
ponsável do parlamentar se os eleitores vota eleições. As eleições estão longe de ser o re
rem partidariamente e não nos políticos, com sultado necessário da dissolução do governo.
base na avaliação de sua “folha corrida” de be O argumento segundo o qual a ameaça
nefícios concedidos às suas bases. da dissolução seria a base do comportamen
No entanto, como veremos na próxima to “parlamentar responsável” assume que os
seção, o que leva os eleitores a privilegiar os políticos preferem estar no governo a estar
partidos ou os políticos individuais, se o na oposição. Membros do partido que go
voto é partidário ou pessoal, é uma função verna, com medo de que as eleições anteci
da legislação eleitoral e não da forma de go padas causem a alternância no poder, não
verno. Em outras palavras, nada impede que negariam apoio ao Primeiro-Ministro. Isto
se observe voto pessoal em regimes parla é, preferem estar no poder a estar na oposi
mentaristas (por exemplo, o Japão até a re ção. Estranhamente, os argumentos sobre a
forma de 1933) e voto partidário em regi irresponsabilidade dos políticos sob o presi
mes presidencialistas (a Venezuela até a dencialismo não consideram os benefícios
reforma de 1993). que a participação no governo pode trazer.
Se a ameaça da dissolução do governo Ou seja, a associação entre “irresponsabili
fosse suficiente para garantir o apoio a ele, a dade parlamentar” e presidencialismo se an
instabilidade governamental deveria ser bai cora na suposição de que não se ganha nada
xa em todos os governos parlamentaristas. apoiando o governo.13 Mais do que isso, su
Não é, no entanto, o que observamos. Há põe que os parlamentares poderão distribuir
casos notórios de instabilidade governa benefícios a seus eleitores, quaisquer que se
mental, como a Terceira e Quarta Repúbli jam suas relações com o governo. Para fins
ca na França e a Itália do pós-guerra, para de argumentação, suponhamos que o Exe
citar apenas os casos mais conspícuos. Ou cutivo controle o acesso aos recursos que os
seja, a ameaça de dissolução do governo não políticos desejam distribuir às suas clientelas
pode ser tomada como suficiente para ga eleitorais. Se for assim, o governo está em
rantir o apoio dos legisladores ao governo. posição favorável para negociar com os par
Além disso, a relação entre dissolução do lamentares e impor suas considerações nes
governo e eleições não é tão direta quanto sas barganhas.14
querem crer os críticos do presidencialismo. Como veremos adiante, a capacidade
O cálculo dos legisladores não pode ser intei dos parlamentares de afetar as políticas pú
ramente atribuído aos riscos de uma eleição blicas depende da organização do processo
antecipada, pela simples razão de que essa decisório, mais especificamente do controle
não é a conseqüência necessária e nem a mais do Executivo sobre a agenda legislativa. No
freqüente da dissolução do governo. Chei- momento, cabe frisar que a irresponsabilida
bub (1998) mostra que 56% de todas as tro de parlamentar não pode ser tomada como
cas de Primeiros Ministros em 21 países in intrínseca ao presidencialismo ou como ne
dustrializados, entre 1946 e 1965, não cessariamente ausente no parlamentarismo.
ocorreram em função de eleições. Com base A capacidade do Legislativo de patrocinar
15
políticas distributivistas clássicas depende da modelo norte-americano, em que a agenda
organização do processo decisório no inte legislativa é decidida autonomamente pelo
rior do Legislativo e dos poderes legislativos próprio Legislativo. Empiricamente, ambas
do presidente. as suposições são incorretas. O controle da
Modelos formais que relacionam gover agenda legislativa pelo chefe do Executivo
nos parlamentaristas à disciplina partidária não é uma característica intrínseca ao parla
foram desenvolvidos por Baron (1998) e por mentarismo, tampouco o presidencialismo
Diermeier e Feddersen (1998). Esses mode implica um Legislativo descentralizado, con
los assumem que os membros de uma coa trolador da iniciativa legal. Esse ponto será
lizão governante têm interesses divergentes discutido na seção seguinte.
quanto às políticas a serem implementadas Essas observações são suficientes para
pelo governo. Digamos que políticos quei sustentar que os modelos expostos até o
ram implementar políticas distributivistas momento podem ser adaptados ao presi
para atender suas clientelas e aumentar suas dencialismo. Se os presidentes controlarem
chances de reeleição. Como os recursos são a agenda legislativa, o mecanismo invocado
escassos, há conflito mesmo entre membros para explicar a disciplina partidária sob par
de uma coalizão. Ainda assim, eles preferem lamentarismo poderá ser estendido ao presi
a continuidade do governo, na medida em dencialismo. Os deputados votam contra
que este assegura uma probabilidade supe seus interesses imediatos e apóiam as medi
rior a zero de que a política de sua preferên das presidenciais com base nas expectativas
cia será implementada. Sob um governo lide de ganhos futuros que a participação no go
rado pela oposição, essa probabilidade cai a verno pode lhes assegurar.
zero. Dada essa estrutura de preferências, o Em resumo, não há razões para relacio
governo pode contar com o voto disciplina nar a disciplina partidária à forma de gover
do dos integrantes da sua bancada quando no. O contraste entre a independência e a
condiciona sua sobrevivência à aprovação de interdependência dos mandatos não é sufi
uma matéria. Em outras palavras, o voto de ciente para estabelecer a presença ou a au
confiança explica a disciplina partidária: o sência de incentivos à cooperação entre par
controle sobre a agenda legislativa garante lamentares e destes com o Executivo. Alguns
que os políticos troquem os ganhos imedia dos argumentos encontrados na literatura
tos pelos ganhos futuros, os quais dependem são baseados em comportamentos inconsis
da sobrevivência do governo. A queda do go tentes e empiricamente falsos. Tais argumen
verno significaria transferir o controle sobre tos dependem de premissas adicionais sobre
a agenda legislativa para representantes de o comportamento dos eleitores e sua capaci
outros grupos políticos. Dessa forma, legisla dade de avaliar a conseqüência de seus votos.
dores podem votar contra suas preferências Assume-se que os eleitores sob presidencia
imediatas em determinadas questões. O voto lismo estariam sempre dispostos a respaldar
de confiança torna explícita a troca entre os com votos a ação oportunista dos parlamen
interesses imediatos e os de longa duração. tares. Sob parlamentarismo, os eleitores pu
Ambos os modelos supõem que, por um niram essa mesma estratégia.
O
lado, todos os governos parlamentaristas Mais uma vez, a variação é menos insti
controlam a agenda legislativa. Por outro, tucional e mais comportamental. As premis
quando estendidos ao presidencialismo, as sas relativas ao comportamento dos atores
sumem que os governos tomam a forma do variam com as instituições. Por que eleito-
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res, sob presidencialismo, seriam menos ca rios detêm sobre a elaboração das listas que o
pazes de incorporar as conseqüências de seus partido oferece aos eleitores. O parlamentar
atos em seus cálculos? Da mesma forma, por indisciplinado não poderá ser candidato à
que os objetivos dos políticos seriam diver reeleição. Nesse caso, carreiras políticas serão
sos em uma e outra forma de governo? N o construídas no interior do partido e, conse
tadas essas inconsistências, fica claro que o qüentemente, eleitores votarão nos partidos
poder explicativo dos argumentos levanta e não nos políticos. Os partidos medeiam as
dos se vê prejudicado. E impossível distin relações entre eleitores e políticos.
guir o que cabe às instituições e o que cabe Onde os partidos políticos não contro
à variação na racionalidade do eleitor. lam o acesso às listas partidárias, a estratégia
dominante para os políticos seria a de culti
var bases próprias de apoio político. O vín
Leis Eleitorais e Disciplina Partidária culo com o eleitor é construído por meio de
uma conexão pessoal que une os políticos às
A estratégia dos políticos para obter seu suas clientelas eleitorais, conexão esta que se
principal objetivo, a reeleição, é influencia estabelece às margens dos partidos. Para re
da de maneira direta pelas leis eleitorais. No ceber votos, políticos patrocinam políticas
caso, não se trata da distinção usual e mais públicas que ofereçam benefícios localizados
conhecida entre sistemas majoritários e pro e tangíveis a seus eleitores. Como esses bene
porcionais e suas conhecidas conseqüências fícios são financiados por taxas pagas por to
para o número de partidos. Nos argumentos dos e sem uma correspondência direta entre
aqui considerados, importam os incentivos e o que se contribui e o que se recebe, os elei
as penalidades que as leis eleitorais implicam tores só percebem a ação dos políticos para
para a construção de vínculos pessoais entre lhes trazer benefícios e não os responsabili
os políticos e seus eleitores. zam pelos custos pagos. Por isso, os políticos
Para que os partidos dominem a arena que trazem benefícios para suas clientelas
eleitoral, de acordo com esse argumento, é são recompensados com votos.
necessário que os líderes controlem os recur- Os políticos, portanto, para se reeleger,
sos-chave que, em última análise, vão deter defendem os interesses de uma clientela es
minar as chances de sucesso eleitoral dos pecífica, responsável, em última análise, por
candidatos aos cargos legislativos. Se os líde sua eleição. Nesses termos, os políticos não
res controlam esses instrumentos, as carrei têm qualquer incentivo para seguir a linha
ras políticas passam a ser construídas no in partidária. Fazê-lo não traria dividendos
terior dos partidos e dependem da sintonia eleitorais. Partidos não contam na arena
entre o comportamento do parlamentar e a eleitoral e parlamentar porque não dispõem
linha partidária. Em outras palavras, o polí de meios para punir políticos que agem em
tico que procurar cultivar uma base de apoio desacordo com a linha partidária.
própria à margem do partido não terá suces Assim, de acordo com esse argumento,
so em sua carreira. O partido tem meios os partidos são fortes,1’ e contam para o jogo
para cortar suas pretensões, negando o seu político onde e quando eles controlam o
acesso à arena eleitoral. acesso dos políticos à lista eleitoral. São fra
Portanto, a raiz última da força partidá cos onde não controlam esses recursos. Por
ria, expressa na disciplina das bancadas em tanto, a partir dos recursos controlados pe
plenário, é o controle que os líderes partidá- los líderes partidários se pode deduzir o tipo
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de conexão eleitoral, se partidária ou pes mílias: sistemas com ou sem voto preferen
soal. Apesar de procurarem estabelecer um cial. No segundo caso, quando não há voto
ordenamento completo das fórmulas eleito preferencial, a lista de candidatos é ordena
rais existentes, Shugart e Carey enfatizam da pelo partido e não pode ser alterada pelo
que esta é, na realidade, a distinção básica: eleitor. Sendo assim, o eleitor só pode votar
“A habilidade dos líderes para partidários no partido, não tendo meios para expressar
para garantir a cooperação entre políticos suas preferências quanto aos nomes presen
para a amanutenção da reputação partidária tes na lista. Nesse caso, portanto, a carreira
depende das sanções que estes mesmos líde de um polídco é inteiramente determinada
res podem impor aos políticos que desres pela luta intrapartidária pré-eleitoral. Logo,
peitam a linha do partido” (1992, p. 420). políticos não teriam incentivos para cons
A primeira vista, os sistemas majoritá truir bases eleitorais próprias, uma vez que o
rios com distritos uninominais favoreceriam eleitor não tem peso na decisão quanto à sua
o voto pessoal. Essa associação esteve pre inclusão na lista e, por decorrência, sua po
sente nos primeiros trabalhos sobre o tema. sição nesta. A carreira política, portanto, se
Por exemplo, no influente livro Thepersonal define, fundamentalmente, no interior do
vote, publicado em 1987, Cain, Ferejohn e partido. Segue que o partido terá total con
Fiorina afirmam que as relações entre eleito trole sobre o comportamento dos parla
res e políticos na Inglaterra estariam fora de mentares na arena legislativa. Isso porque os
equilíbrio, prevendo sua transformação. Na políticos antecipam a punição futura do
realidade, a pesquisa empírica apresentada partido expressa na exclusão da lista ou na
no livro indicaria uma evolução em direção colocação em posições baixas.
a relações mais personalizadas, como aquelas Os sistemas proporcionais com voto
presentes no sistema norte-americano. Em preferencial, ao permitir que os eleitores
outras palavras, o voto partidário estaria em expressem suas preferências individuais,
declínio na Inglaterra. trariam consigo incentivos para que os po
A literatura subseqüente, como atesta a líticos cultivassem vínculos pessoais com
citação de Shugart e Carey reproduzida aci suas clientelas.1" O voto do eleitor além do
ma, encarregou-se de corrigir os exageros de partido pode distinguir o candidato, e é
Cain, Ferejohn e Fiorina. O localismo e o natural supor que o eleitor vá favorecer
personalismo não dependeriam quer das ba aquele político que, a seu ver, se diferencie
ses geográficas do distrito, quer do número dos demais. Há, portanto, incentivo para
de cadeiras em disputa. A distinção voto que membros de um mesmo partido bus
pessoal/voto partidário, a qual distinguiria quem se diferenciar uns dos outros, no
os Estados Unidos da Inglaterra, estaria fun sentido de construir laços personalizados
dada no controle partidário sobre a seleção com seus eleitores. Para usar a terminolo
dos candidatos apresentados aos eleitores.16 gia de Shugart e Carey (1995): nesses siste
No que se refere a sistemas proporcio mas há incentivos para que os políticos cul
nais, a literatura sempre adotou o critério tivem o voto pessoal. Mais do que isso, o
identificado acima, qual seja, o do controle partido não teria como punir aqueles que
da composição da lista pelo partido para dis embarcam nessa estratégia. Logo, o políti
tinguir os sistemas políticos. Fundamental co que quiser estabelecer vínculos pessoais
mente, neste quesito, sistemas proporcionais com os eleitores terá sua estratégia recom
podem ser distinguidos em duas grandes fa pensada na arena eleitoral.
18
Shugart e Carev (1995) sustentam que Na realidade, os argumentos apresenta
os incentivos para que os políticos cultivem dos por Shugart e Carev acabam por associar
o voto pessoal são maiores sob voto propor voto pessoal à existência de competição in-
cional preferencial do que em sistemas ma trapartidária:
joritários uninominais. Isso se deveria a
uma relação mais ampla: os incentivos para In ali systems where there is intraparty com
cultivar o voto pessoal cresceriam com a petition, as M grows, so does the value of
magnitude do distrito. Isto é, quanto maior personal reputation. Conversely, in systems
o número de deputados eleitos pelo distri where there is no intraparty competition, as
to, tanto maiores os incentivos para que os M grows, the value of personal reputation
políticos construam vínculos pessoais com shrinks (1995, p. 418).
seus eleitores. Nas palavras de Shugart e
Carev: “Na medida em que o número de Há uma certa confusão no argumento,
co-partidários de que um determinado o que pede esclarecimentos. Por definição,
candidato tem que se distinguir cresce, a dado que os partidos monopolizam a oferta
importância de estabelecer uma reputação de candidaturas, a competição intrapartidá-
pessoal única, distinta da do partido, tam ria sempre existirá. O uso do termo “lista
bém cresce” (1995, p. 430). aberta” dá lugar a idéias equivocadas quanto
Cabe notar que o argumento considera ao seu funcionamento, parecendo indicar
apenas os possíveis retornos eleitorais do in que a lista está aberta a todos os candidatos
vestimento para criar bases de apoio pes em potencial. Não é o caso. A lista é aberta
soais, desconsiderando inteiramente os cus não à entrada dos candidatos, mas aos elei
tos. Esses também aumentam à medida que
tores. Por isso, o mais correto é denominá-la
cresce o número de competidores. Não é,
lista não-ordenada, que é uma das modali
sob essas condições, fácil criar um eleitorado
dades de voto preferencial. Os partidos ofe
cativo com base nos serviços individuais
recem uma lista que é estabelecida em sua
prestados a uma determinada clientela elei
convenção, isto é, fruto da disputa pré-
toral. Redutos eleitorais precisam não ape
eleitoral, da qual os eleitores não partici
nas ser definidos como também defendidos
pam. A disputa partidária pré-eleitoral será
contra um sem número de potenciais “inva
tanto maior quanto menor o número de
sores”. Os custos para a construção de uma
candidaturas por cadeiras que o partido
base de apoio específica são bem menores
em um sistema majoritário, uma vez que es puder oferecer. A diferença é que, com o
sas se encontram pré-definidas pelo próprio voto preferencial, o eleitor também partici
distrito. Ademais, em sendo o distrito uni pa da disputa intrapartidária. E este, do
nominal, segue que, necessariamente, não ponto de vista normativo, é o seu atrativo.
existem dois parlamentares a representar o Não se pode esquecer que, por definição,
mesmo distrito. Em outras palavras, nessas qualquer seja a regra eleitoral, os partidos
condições, o político monopoliza a oferta de monopolizam a oferta de candidatos. Parti
políticas públicas para o distrito, o que não dos, ponanto, agem e têm as vantagens dos
ocorre em um sistema proporcional em que oligopólios Se a decisão quanto à nomeação
sequer é possível estabelecer com a clareza dos candidatos é feita sem a intervenção dos
necessária quem é o responsável pelo benefí eleitores, são aumentados os riscos de que os
cio oferecido aos eleitores. partidos se distanciem dos eleitores, dando
19
lugar ao que na crônica política se chama, medida em que esta privilegia a suposta li
depreciativamente, “partidocracia”. berdade que esse sistema acarretaria para os
Assim, em todo e qualquer sistema po políticos, focando-se nas relações entre líde
lítico, a competição eleitoral ocorre em dois res e parlamentares e deixando de lado as re
níveis: intrapartidário e interpartidário. Leis lações entre o partido e os eleitores. O inver
eleitorais regulam estes dois processos, defi so ocorre com a lista fechada: seus aspectos
nindo quem delas participa e quando elas negativos têm sido negligenciados.
ocorrem. A lista fechada significa a comple Cabe observar que, em sistemas propor
ta separação no tempo das duas disputas e cionais, o voto é sempre primeira e funda
impede que os eleitores afetem diretamente mentalmente partidário. Por definição, o
a luta intrapartidária. Logo, reforça o poder voto proporcional implica o fato de que a
dos líderes não apenas em relação aos parla conversão de votos em cadeiras agregará, ini
mentares, mas também na relação desses cialmente, os votos por partidos. Essa é a dis
com o eleitorado. Não é demais lembrar que tinção básica entre o sistema majoritário e o
Michels formulou a famosa lei de ferro das proporcional. No majoritário, os votos são
oligarquias após estudar a política intrapar primariamente conferidos a indivíduos, mes
tidária. Ou seja, nem todas as conseqüências mo onde há alguma forma de transferência
da lista fechada para o fortalecimento dos de votos. Nesses termos, o voto pessoal puro
partidos são positivas. só pode ocorrer em sistemas majoritários.
A lista não-ordenada como praticada no Sob sistema proporcional, o voto pessoal
Brasil faz com que a disputa intrapartidária sempre tomará tintas partidárias. Sob as dife
se resolva em dois momentos, na convenção rentes modalidades de voto preferencial, ofe
e no dia da eleição, permitindo assim uma rece-se ao eleitor uma possibilidade de ex
participação mais direta do eleitor na defini pressar uma opção pessoal no interior do
ção das opções partidárias. Assim, de manei partido. Por mais que parte dos políticos
ra inversa ao que usualmente se observa, a procure privilegiar seus traços pessoais e fugir
lista favorece o maior controle dos cidadãos do controle partidário, o fato de que suas
sobre os políticos. chances de obter uma cadeira dependem, an
O eleitor também pode ter maior ou me tes de tudo, dos votos dados ao partido, isto
nor participação na luta intrapartidária em é, do número de cadeiras obtidas pelo parti
sistemas majoritários. Nesses sistemas, esse do, limita o alcance da estratégia.
tipo de competição pode ser levado aos elei Há ainda um outro ponto que merece
tores de duas formas diferentes. Primeiro, ele ser discutido. Na literatura, a tendência para
pode anteceder ao momento eleitoral, como o desenvolvimento do voto pessoal é, por as
é o caso do sistema de primárias, praticado sim dizer, naturalizada. Os argumentos con
nos Estados Unidos. A segunda alternativa é sideram apenas os incentivos presentes na
dada pelo sistema de lemas praticado no Uru arena eleitoral para o seu florescimento. O
guai, chamado no Brasil de sublegenda. Nes acesso aos recursos orçamentários necessá
se segundo caso, parte da disputa intraparti rios à construção dos vínculos pessoais com
dária ocorre no dia da eleição. os eleitores é desconsiderado. Na verdade,
A literatura que trata dos efeitos das leis acredita-se que onde as condições eleitorais
eleitorais tem desconsiderado esses aspectos. favorecem o voto pessoal, o sistema político
Os efeitos nocivos da “lista aberta” têm sido como um todo será marcado pelas tendên
exagerados pela literatura especializada, na cias centrífugas postas em marcha pela cone
20
xão eleitoral. As políticas públicas carecerão a obtenção das políticas necessárias à reelei
de coerência interna, posto que os partidos ção dos políticos.
e/ou o governo não serão capazes de coorde No entanto, para que os incentivos ao
nar as ações dos políticos. Em uma palavra, voto pessoal, presentes na arena eleitoral, de
a fragilidade dos partidos leva à “crise de go terminem o tipo de política pública aprova
vernabilidade”. Esse argumento é apresenta da pelo congresso, certas condições institu
do de forma mais completa por Cain, Fere- cionais adicionais precisam ser alcançadas.
john e Fiorina na seguinte passagem: Em especial, a organização interna dos tra
balhos legislativos precisa favorecer os obje
Important features of democratic political tivos eleitorais dos parlamentares. Segundo
processes vary with the ways by which mem Mayhew, em passagem tantas vezes citada:
bers gain and retain their seats. To the extent
that members develop personalized electoral The organization of the Congress meets re
support, they are able, should they so desire, markably well the electoral needs of its mem
to withstand efforts by national leaders to bers. To put it another way, if a group of
control and coordinate their behavior. This planners sat down and tried to design a pair
ability has obvious consequences for the style of American national assemblies with goal of
of policy making and the types of policies serving members’ electoral needs year in and
characteristic of the political system. Moreo year out, they would be hard pressed to im
ver, the manner in which members of repre prove on what exists (1974, p. 81).
sentatives assemblies gain office has broader
consequences for the development of gover Mayhew evita estabelecer uma relação
namental institutions. Representatives who causal clara. A organização do Legislativo
believe themselves responsible for their own não é direta e explicitamente creditada aos
electoral fate are less likely to accept govern interesses eleitorais dos parlamentares. As
ment practices and institutions which deny leis eleitorais e a organização do processo de
them the means to exercise individual in cisório estão em equilíbrio, mas não sabe
fluence than are representatives whose fate mos quem as “projetou”. A literatura inspi
lies in the hands of national party or other rada em seu trabalho dá por suposto que os
authority. Again, the consequences for the incentivos eleitorais determinam o princípio
style and substance of policy making are ob organizacional estabelecido no interior do
vious. In general, a polity’s electoral process, poder Legislativo. Afinal de contas, os legis
policy processes, and institutional structure ladores escolhem soberanamente as regras
are bound together: if one element of the sob as quais se darão seus trabalhos e é de se
constelation changes, the others will adjust esperar que escolham o princípio organiza
toward a new equilibrium (1987, p. 4). cional que maximize seus dividendos eleito
rais, isto é, o princípio organizacional des
O argumento praticamente dilui a força centralizado, baseado em comissões, por
do neo-institucionalismo, na medida em meio do qual podem controlar a decisão so
que a maneira pela qual os políticos obtêm e bre as políticas públicas na área em que tem
retêm seus mandatos determina seus interes maior interesse eleitoral.
ses e tudo o mais se molda a esse interesse Cain, Ferejohn e Fiorina são explícitos a
básico. O processo decisório será organizado este respeito. Eles acreditam que a interação
da maneira mais apropriada e eficiente para entre as leis eleitorais, a estrutura institucio-
21
nal e as decisões sobre políticas públicas aca ram o movimento neo-institucionalista.
bam por gerar uma situação de equilíbrio Em uma leitura, o argumento tem aspectos
político-institucional, o que significa que funcionalistas: o caráter peculiar das insti
tuições é explicado por suas conseqüências,
One source of institutional change lies in as longas carreiras dos políticos. Uma outra
the degree of consistency between legislative leitura possível leva à recuperação do plura
and electoral rules. When electoral rules lismo. Os interesses explicariam as institui
creates incentives for a personal vote and le ções vigentes. O argumento estabelece um
gislative rules deny representatives the op vínculo automático e direto entre o interes
portunity to establish it, stress arises in the se presente na arena eleitoral e a organiza
system, or to put it another way, the rules ção legislativa. Tal vínculo só pode ser sus
are in desequilibrium. Indeed, we suggest an tentado se a lição que usualmente se deriva
even stronger hypothesis: there is an inhe
do teorema de Arrow em textos introdutó
rent tendency for single member-district,
rios ao neo-institucionalismo for esqueci
plurality rule system to move in the direc
da. Como ensinado em livros-texto (ver,
tion of greater decentralization and inde
por exemplo, Shepsle e Boncheck, 1997,
pendent electoral standing. Generally spea
cap. 2) decisões coletivas não podem ser
king, electoral institutions are more difficult
to change than legislative ones, because elec entendidas como mera agregação das prefe
toral institutions are enshrined in the cons rências individuais. Isto é, não basta assu
titution of a political system (1987, p. 217). mir que os políticos tenham um interesse
comum em garantir suas reeleições para in
Estes autores postulam, assim, a existên ferir que serão capazes de coordenar suas
cia da relação causal insinuada por Mayhew. ações e escolher o desenho institucional
Shepsle e Weingast são ainda mais explícitos: ótimo para este fim. Nessa situação, os po
líticos enfrentariam os clássicos problemas
Professional politicians possess ingenuity, an que afetam a ação coletiva.
entrepreneurial spirit, and adaptability. Le As explicações que conectam direta
gislative institutions and policies they foster mente os incentivos presentes na arena elei
reflect this central fact. Legislators, motiva toral a resultados das políticas públicas não
ted to secure reelection and legislative in se sustentam. Paradoxalmente, esse tipo de
fluence, devise institutions to further these argumento, que tem nos estudos legislativos
objectives (1984, p. 366). norte-americanos uma de suas origens, aca
ba por tornar irrelevantes as variáveis cen
Shepsle e Weingast, portanto, acredi trais destes mesmos estudos, a saber, o modo
tam que os políticos racionais agirão sem pelo qual o processo de tomada de decisão
pre como os planejadores hipotéticos de no interior do poder Legislativo é organiza
Mayhew. Esse tipo de argumento, por as do. Esse formato organizacional peculiar -
sim dizer, naturaliza o modelo norte-ameri sistema de comissões —é tomado como o re
cano Se os políticos buscam garantir sua sultado necessário e natural de sistemas em
reeleição, adotarão as instituições que os que se identificam incentivos para a constru
políticos norte-americanos adotaram: o sis ção do voto pessoal. Evidentemente, os in
tema de comissões. centivos não bastam. Atores não maximizam
Do ponto de vista metodológico, tal suas preferências sem restrições. Na verdade,
operação fere os princípios que alimenta a mesma naturalização do sistema norte-
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americano se verifica quando analisamos o legislature makes the proposals and the exe-
contraste presidencialismo/parlamentarismo cudve (the president) signs or vetoes them
quanto à organização do processo decisório. (1995, p. 325).
É o que discuto a seguir.
Se fosse assim, o processo decisório não
seria propriamente uma variável indepen
Processo Decisório e Controle da Agenda dente. Como mostrarei, essa associação não
é completa. Nem todos os regimes parla
Na literatura comparada, a centraliza mentaristas podem ser equiparados à Ingla
ção ou a descentralização do processo deci terra, da mesma forma que os Estados Uni
sório não tem sido tratada como uma variá dos não podem ser tomados como o modelo
vel institucional independente e com peso de um regime presidencial.
explicativo próprio. Dadas as origens do A Inglaterra tende a ser considerada o
neo-institucionalismo - os estudos legislati exemplo típico de governo parlamentaris
vos norte-americanos e a ênfase dada nestes ta. Conforme mostra Cox (1987), as ori
estudos ao sistema de comissões —, esse si gens do “segredo eficiente” encontram-se
O O
lêncio não deixa de ser paradoxal. De fato, no crescente controle exercido pelo gabi
tal ausência pode ser entendida pelas obser nete sobre a agenda dos trabalhos legislati
vações que fecharam a seção anterior, qual vos. A “expropriação” dos direitos parla
seja, a tendência a se assumir que o forma mentares dos membros do parlamento em
to do processo decisório se adapta aos impe favor do Gabinete ocorreu, paradoxalmen
rativos presentes na arena eleitoral. Mais es te, quando as pressões para que os parla
pecificamente, acredita-se que o processo mentares atendessem às demandas de seus
decisório organizado em torno do sistema eleitores cresceram. Na origem desse pro
de comissões surgiria “naturalmente” nos cesso estão as reformas eleitorais de mea
regimes políticos em que prevalece o voto
dos do século XIX, que ampliaram o su
pessoal. O modelo norte-americano, dessa
frágio e, dessa forma, a dependência dos
forma, passa a ser tomado como paradigmá
políticos para com os eleitores. A deman
tico. Desvios dessa tendência ocorreriam
da dos eleitores por legislação cresceu e a
somente onde as leis eleitorais neutralizas
pauta do parlamento se viu sobrecarregada
sem o voto pessoal, dando oportunidade ao
pela enxurrada de propostas. A reorganiza
surgimento do voto partidário e da centra
ção do processo decisório favoreceu o Ga
lização do processo decisório.
binete, o qual passou a controlar a agenda
No que tange às formas de governo, a
legislativa. Dado esse controle, os eleitores
centralização do processo decisório tende a ser
perderam qualquer incentivo para votar
associada a governos parlamentaristas, en
nos candidatos em função de seus atribu
quanto a descentralização aparece como uma
tos pessoais e/ou serviços prestados. Os
característica intrínseca ao presidencialismo.
parlamentares deixaram de ser capazes de
Nas palavras de Tsebellis:
atender às demandas particulares de seus
In parliamentary systems the executive (go eleitores. Reconhecendo que a função de
vernment) Controls the agenda, and the le les se resumia a formar e sustentar o gabi
gislature (parliament) accepts or rejects pro nete, os eleitores deixaram de considerar as
posals, while in presidential systems the características pessoais dos candidatos na
23
hora de decidir seu voto. O critério parti ríodo 1945-1978. Projetos e emendas da
dário passou, então, a orientar o eleitor. oposição ou dos próprios membros do go
Um aspecto essencial da primazia do verno têm escassas chances de ser aprovados.
gabinete inglês encontra-se no fato de ele Trabalhando com dados para três sessões le
controlar as finanças. Conforme notam Lo- gislativas, Rose (1986, p. 13) encontrou uma
wemberg e Patterson (1979, p. 249), desde taxa de sucesso de 4,4% para as emendas
o começo do século XVIII, o governo garan apresentadas pela oposição e de 9,5% para as
te para si o direito exclusivo de introduzir apresentadas por backbenchers da situação.
medidas que impliquem alterações nos gas O controle do gabinete inglês sobre a
tos e/ou nas receitas. A proposta de orça agenda legislativa implica seu contrário. Os
mento envidada pelo Gabinete raramente é backbenchers não têm acesso direto à produ
alterada. Segundo Lowenberg e Patterson: ção legal. O número de dias reservados à
apreciação dos projetos introduzidos pelos
The budget is presented separetley by the backbenchers não passa de vinte em um ano.
chancellor of the exchequer [...]. The expec A despeito dessa restrição, eles ainda apresen
tation is so great that this budget will even tam um número grande de projetos, fazendo
tually be adopted by Parliament exacdy as com que a escolha dos projetos a serem apre
presented by the government that a provi ciados seja feita por sorteio (Lowemberg e
sional resolution places it into effect on the Patterson, 1979, p. 249).
day it is delivered, though months may pass Nem todos os governos parlamentaris
before its final enactment. Nothing compa tas, no entanto, apresentam essas caracterís
rable occurs with respect to other legislative
ticas. A Terceira e a Quarta República Fran
proposals which must go through a fairly
cesa são casos bastante conhecidos de
time-consuming procedure before they are
instabilidade governamental sob o parlamen
enacted (1979, p. 250).
tarismo. A característica distintiva desses re
gimes era o fato de o governo não controlar
Como é sabido, na Inglaterra, a disci
a agenda dos trabalhos legislativos. De acor
plina partidária é a norma. Partidos votam
do com Andrews:
de maneira unida nas centenas de votações
nominais a ter lugar em cada sessão legisla
The constitution of the Third Republic had
tiva. As medidas usuais de coesão partidária,
provided for very little executive involve
como o índice de Rice, por não apresenta
ment in the parliamentary process; what
rem variação significativa, foram substituí existed emphasized the president rather than
das pela mera contagem das votações em the prime minister or Government [...]. The
que houve pelo menos um voto indiscipli Fourth Republic constitution was designed,
nado. As votações com votos indisciplinados in part, to provide the Government with
raramente passam de uma dezena em uma greater means to lead parliament in its law
sessão legislativa e, em geral, não alteram o making [...]. The governments continued to
resultado das votações (Crowe, 1980). be plagued by uncertain majorities, as the
Ainda assim, o governo não deixa de co constitutional devices had litde practical ef
lher algumas derrotas (Schwarz, 1980). Na fect (1978, p. 466).
Inglaterra, de acordo com Rose (1986), a
chance de uma proposta introduzida pelo ga A agenda legislativa não era estabelecida
binete ser aprovada foi de 96,6% para o pe pelo governo, mas pela Conferência de Presi-
24
dentes dos partidos em que o governo tinha legislation weakened that authorization so
representação. A partir de 1955, o governo mewhat. The situation became similar to the
passou a se beneficiar da revisão das regras Third Republic after 1934 (1978, p. 485).
internas do parlamento, o qual começou a
adotar votos ponderados proporcionais às A Quinta República apresenta um qua
bancadas representadas na Conferência de dro radicalmente diverso. Com a aprovação
Presidentes (Andrews, 1978, p. 471). A des da Constituição de 1958, o governo obteve
peito deste avanço, a definição da agenda uma série de instrumentos, por meio dos
não foi monopolizada pelo governo. quais passou a exercer um completo contro
A própria definição da agenda do gover le sobre a agenda legislativa. Por exemplo, o
no, tanto na Terceira quanto na Quarta Re artigo 48 da Constituição estabelece que as
pública, acabou se tornando um dos princi matérias introduzidas pelo governo e as dos
pais motivos para a queda do governo por parlamentares aceitas por ele têm prioridade
meio do mecanismo conhecido como inter sobre as demais e devem ser debatidas na or
pellation , (Idem, ibidem). Tratava-se de um dem estabelecida pelo governo. Quanto à
tipo de voto de confiança invocado para de ação dos parlamentares na área financeira,
cidir se a agenda proposta pelo governo era Andrews nota que
ou não aceitável pelo parlamento. Dessa for
ma, coalizões negativas de veto podiam se Under the article 40 and 41 of the 1958
formar para bloquear a ação do governo. E, constitution, the government can prevent
ainda, as comissões podiam “fechar as por the receipt of private members’ bills that
tas” ao governo, já que, como nota Andrews would increase expenditures, reduces reve
{Idem, ibidem), “um projeto de lei não pode nues, or trespass in the domain of the regu
ria ser submetido ao Plenário sem a aprecia lation. This was a constitutional innovation,
ção prévia da comissão”. Segundo este autor, as neither preceding constitution contained
o governo podia forçar a comissão a apresen such provision {Idem, ibidem).
tar seu parecer dentro de determinado pra
zo, mas, em geral, tal ato era respondido Entre as muitas armas conferidas ao go
com um parecer desfavorável ao governo. verno para limitar o campo de ação possível
Na Terceira e na Quarta República, as li dos deputados, encontra-se o “voto bloquea
mitações à apresentação de propostas legisla do”, previsto no artigo 48 da Constituição,
tivas que implicassem aumento de despesas
que, quando invocado pelo governo, faz
e/ou reduzissem receitas praticamente inexis-
com que o destino da matéria e das emendas
tiam. De fato, ao longo desse período, algu
selecionadas pelo ele sejam decididas em
mas tentativas para limitar a ação dos parla
uma única votação.
mentares nessa área foram tomadas, mas
Uma outra poderosa arma do governo é
todas acabaram por se provar ineficazes. An
conferida pelo artigo 49, que permite ao
drews explica que
governo aprovar medidas sem que essas se
The 1946 Constitution expressly authorized jam efetivamente votadas. De acordo com o
depudes to propose expenditures, except “du artigo citado, o governo pode invocar sua
ring the discussion of the budget, the estima responsabilidade e atrelá-la à matéria, de tal
te or suplementary budgets” (Art 17). Howe sorte que essa será aprovada desde que não
ver, parliamentary rules and, after 1949, seja aprovada, por maioria absoluta dos vo-
25
tos e em 24 horas, uma moção de censura ma (1976, p. 147), a política italiana do
ao governo. pós-guerra é marcada pela oposição entre
A “racionalização do parlamento” (Hu dois partidos com forte presença e controle
ber, 1996) francês resultou em uma altera sobre a arena eleitoral, a saber, Democracia
ção radical do padrão da produção legislati Cristã e Partido Comunista Italiano. Além
va. Conforme escreve Keeler: do mais, um desses partidos manteve o con
trole quase absoluto sobre o governo. Dado
Whereas the Fourth Republic parliament esse quadro, argumenta Di Palma, seria de
debared a flood of private member bills and se esperar que a maioria se mostrasse capaz
passed an average of 65.2 propositions per de exercer o poder em bases estáveis e com
year, many of which constituted assaults on resultados visíveis. No entanto, a instabili
the budget, the Fifth Republics govern dade governamental mostra que a Democra
ment-dominated parliament has produced cia Cristã raramente foi capaz de garantir a
an average of only 11 propositions per year, aprovação de seu programa pelo parlamento
none of which could affect financial mat que, em tese, controlava.
ters. While 29.7% of all laws promulgated A organização interna do parlamento
during the Fourth Republic were initiated italiano fornece parte da resposta para esse
by the parliament, private-member bills re paradoxo. Nas palavras de Di Palma:
presented only 11.5% of the total from
1959 through 1991 (1996, p. 522). The divisiness of the Italian party system
leads us to expect an arena-like parliament,
A participação dos governos na produ dominated by the presence of a number of
ção legal durante a Quinta República sem highly organized and bickering political par
pre foi superior a 80%. De acordo com os ties that transfer to parliament the political
dados compilados por Frears (1981, p. 49), divisions they incarnate in society. In parti
entre 1959 e 1977, a participação do gover cular, the presence of a strong Christian De
no sobre o total de leis promulgadas foi de mocratic Party and a strong Communist
86,8%. Para o período entre 1959 e 1973, party, each holding permanendy opposite
os dados apresentados por Andrews (1978, roles, suggests a legislature with limited
p. 484) indicam que a taxa de aprovação do transformative potentials, in which the ma
jority tries to curb a dangerous opposition
governo foi de 84,8%. A taxa de sucesso do
through a set of strongly majoritarian rules.
governo ao longo da Quarta República foi
However, the procedural and organizational
de 58,2%.
features of the Italian legislature offer us qui
A Itália do pós-guerra é outro exemplo
te a different picture: one in which indivi
de governo parlamentarista marcado pela ins duals, minorities, and parliament maintain
tabilidade governamental. Strom (1990, p. considerable power vis-à-vis the government,
58) contabiliza nada mais nada menos do que in which the centers of parliamentary deci
48 governos formados na Itália entre julho de sion are dispersed, and in which transforma
1946 e abril de 1987, ou seja, neste período, tive resources are available (1976, p. 150).
os governos italianos duraram em média me
nos que um ano. Somente quinze dos 48 go Entre as características que permitem a
vernos duraram mais do que um ano. participação dos parlamentares e da minoria
A fragilidade dos governos italianos não nas decisões, Di Palma destaca o poder termi
é facilmente explicada. Como nota Di Pal nativo das comissões, o fato do governo não
26
possuir poder de veto e, por último, não ter ciar as políticas públicas como membros do
poderes para encerrar os debates. Ademais, as partido ou de partidos que emprestam apoio
medidas introduzidas pelo governo não goza legislativo ao primeiro ministro. Em outras
vam de qualquer privilégio, e a agenda dos palavras, como argumenta Huber (1996), os
trabalhos era definida pelo presidente de cada poderes de agenda são utilizados para estru
uma das casas legislativas. As votações nomi turar e manter unida a maioria.
nais, em geral, eram secretas, fazendo com A ausência do controle do governo so
que o governo se visse à mercê dos votos dos bre a agenda legislativa implica o seu contrá
chamados “franco atiradores”. Com base nes rio, a possibilidade de que minorias venham
sas considerações Di Palma conclui: a erigir pontos de veto, obstruindo as tenta
tivas da maioria de patrocinar mudanças nas
The result of many of these arrangements is políticas. Em geral, as minorias exercem esse
that one out of four bills approved from poder por meio do controle sobre comissões
1948 to 1968 has been a private bill - a ra legislativas. Para que esse ponto de veto se
tio unmatched by other European parlia efetive, em geral, elas lançam mão da prerro
ments —and that amendments by the oppo gativa de emitir parecer e escrever substituti
sition are again more successful than in vos sobre as matérias sob sua jurisdição.
other European parliaments (Di Palma, Quando o governo não tem como retirar
1976, cap. 2). All of this, however, still lea matérias das comissões, o vínculo eleitoral
ves considerable room for government ini com minorias prepondera sobre os laços
tiative. We find, for instance, that, owing in partidários. Os custos eleitorais de apoiar o
part to the legislative power of the commit governo, mesmo para um membro da maio
tees, our parliament approves a literally stag ria, identificado com uma minoria afetada
gering number of laws -eight thousand in por uma proposta governamental, são mui
the same twenty years. Three out of four are to elevados.
government laws. More importantly, we O contraste entre os casos francês e ita
find that almost 70 percent of government liano e o inglês evidencia a importância do
bills introduced from 1948 to 1972 have controle exercido pelo Executivo sobre a
been passed with the votes of the Commu agenda dos trabalhos legislativos. O ponto a
nist party (1976, p. 15l)-ls ressaltar é que, embora esteja presente na
maioria dos governos parlamentaristas, essa
A comparação entre, de um lado, a In característica institucional não é constitutiva
glaterra e, de outro, a França e a Itália mos desta forma de governo. Governos parla
tra a importância do controle da agenda le mentaristas podem conviver com legislativos
gislativa pelo gabinete e, o que é dizer o descentralizados em que os legisladores dete
mesmo com a ênfase invertida, das restri nham recursos para influenciar e participar
ções sobre as ações legislativas dos parla de maneira ativa do processo decisório. Em
mentares individuais. Sobretudo, cabe frisar outras palavras, a “crise de governabilidade”,
a relevância das restrições sobre os projetos a incapacidade do governo para governar,
individuais que impliquem gastos. O con pode ocorrer em regimes parlamentaristas.
trole do gabinete sobre o processo decisório Nestes termos, cabe frisar que a crise e a ins
completa-se quando este passa a monopoli tabilidade governamental não estão relacio
zar as iniciativas orçamentárias. Dessa for nadas ao número de partidos. O que real
ma, os parlamentares só têm como influen mente importa é o desenho do processo
27
decisório, na medida em que este define o te dos casos constitucionais), Shugart e Carey
poder institucional com que minorias con (1992, cap. 8) procuram construir um índice
tam para barrar as pretensões da maioria. de poderes legislativos presidenciais. Dessa
De outra parte, a centralização do pro maneira, oferecem um contínuo que vai dos
cesso decisório não é incompatível com o presidentes mais fracos aos mais fortes.
presidencialismo. A literatura que trata Em suas análises empíricas, no entanto,
do presidencialismo sequer chega a cogitar o contínuo cede lugar à classificação dicotô
que os presidentes possam utilizar seus po mica (presidentes fracos versus fortes), a
deres legislativos com objetivos similares ao partir da qual os autores procuram derivar
de primeiros ministros, isto é, para obter as chances de sucesso (medido em termos
apoio político. O presidencialismo tende a de sobrevivência ou derrocada) do regime
ser analisado tomando por referência as ex democrático. O argumento tem por base os
pectativas expressas pelos “Pais Fundadores” incentivos criados por essa diferença insti
da república norte-americana. A separação tucional para que os presidentes busquem
de poderes é parte constitutiva do modelo negociar com o Legislativo. Quanto maio
de checks and balances, isto é, de um mode res os poderes do chefe do Executivo, me
lo em que os poderes são contrapostos uns nores seriam os incentivos para que buscas
aos outros com vistas à sua neutralização. sem obter a cooperação do Legislativo. Em
Em outras palavras, o presidencialismo é outras palavras, os presidentes usariam seus
equiparado ao sistema de checks and balan poderes legislativos para “dobrar” a resistên
ces, em que o Executivo e o Legislativo de cia dos legisladores. Presidentes fracos, de
vem ter interesses discordantes para que um
outra parte, não teriam outra alternativa se
venha a controlar e limitar um ao outro.
não a de negociar com o Legislativo. Shu
Shugart e Carev (1992) foram, prova
gart e Carey argumentam nesse sentido na
velmente, os primeiros a chamar a atenção
seguinte passagem:
para as diferenças institucionais no interior
dos governos presidencialistas. Contra a cor
Our examination of the dimensions of presi
rente dominante, a qual tratava das mazelas
dential power suggests the regimes with great
do presidencialismo no singular, o trabalho presidential legislative powers are problema
pioneiro destes autores distinguiu tipos de tic, as are those in which authority over cabi
presidencialismo, com base na variação dos nets is shared between assembly and presi
poderes legislativos dos chefes do Executi dent. On matters of legislation, we suggest
vo.19 Há presidentes que podem ser chama that relatively strong assemblies should be as
dos de fracos, como o norte-americano, por sociated with more stable and effective go
que dotados apenas de poderes legislativos vernment relative to strong presidencies be
reativos —no caso, o poder de veto em sua cause assemblies serve as arenas for the
forma mais branda, qual seja, o veto total. perpetual fine-tuning of conflicts. [...] The
No outro extremo, temos presidentes, como dual democratic legitimacies decried by cri
o brasileiro pós-1988 e o chileno pós-1989, tics of presidentialism —the claim that no de
cujos poderes legislativos incluem uma varie mocratic principle exists to resolve conflicts
dade de poderes ativos, que vão da prerroga over who better can claim to represent the
tiva exclusiva de iniciar legislação em deter “will” of the electorate —are minimized to the
minadas áreas ao poder de decreto. Com base extent that an assembly is accorded a more
nessas variações institucionais (na maior par powerful role in legislation than is the presi
28
dency. Thus presidentialism with a strong tre os detentores de mandato em um e outro
congress indeed does afford a democratic poder, suposição negada pelo desenvolvi
principle for the regulation of interbranch mento dos partidos políticos. Estes, como se
conflicts; that principle is that the assembly sabe, não figuram no modelo desenhado pe
prevails, subject to a need for compromise los federalistas.
with the president. The relatively weaker pre A variação dos poderes legislativos do
sidents (those of Costa Rica and the United presidente distingue os tipos de presiden
Stares, for example), cannot use decree legis cialismo. O efeito da variação positiva dessa
lative authority to break a “logjam” in con variável não é, necessariamente, o de contri
gress, as many presidents can do with perfect buir para a manifestação do conflito institu
legality. Thus, a fundamental conclusion is cional latente, contido no princípio da se
that the criticism of presidential regimes paração dos poderes. Antes, o contrário:
should not be put forward as if all presiden quanto maiores os poderes legislativos do
cies were created equal; rather, these criti
presidente, maior o grau de “fusão de pode
cisms apply with greater force to strong pre
res” possível sob presidencialismo. As con
sidents (1992, p. 165).
seqüências dessa ‘‘fusão de poderes” para a
produção legislativa e para a disciplina par
No que se refere aos poderes legislativos
tidária podem ser similares às observadas
do presidente, os autores trabalham, portan sob parlamentarismo.
to, no interior das premissas estipuladas por
Os presidentes podem ter tanto o con
Linz (1994). A separação de poderes impli trole sobre o orçamento como as condições
ca a existência de interesses institucionais di de neutralizar a ação de minorias. Quanto ao
versos. A intensidade com que tais interesses primeiro ponto, as análises de Shugart e Ca-
se manifestam varia com a força dos poderes rev (1992), complementadas pelos trabalhos
legislativos outorgados ao Executivo. Presi reunidos em Mainwaring e Shugart (1997) e
dentes fortes lançam mão de seus poderes le de Alesina et al. (1998), mostram que a
gislativos para romper os obstáculos postos maioria dos presidentes controla as fases
pelos interesses próprios dos legisladores. O mais importantes da elaboração e da execu
ponto de partida da análise é, portanto, o de ção do orçamento. A prerrogativa exclusiva
que o Legislativo e o Executivo têm - ou de do Executivo implica o seu contrário: a res
vem ter - interesses antagônicos. trição ao acesso dos parlamentares aos recur
Os poderes legislativos do presidente são sos que deveriam mobilizar para a constru
incorporados à análise sem que se considere ção dos vínculos pessoais com seus eleitores.
a distribuição das preferências. A possibilida Em outras palavras, as constituições presi
de de que os poderes legislativos do presiden dencialistas mais recentes erigiram barreiras
te possam ser utilizados de acordo com uma significativas, que impedem os políticos de
lógica partidária não é sequer considerada. A usarem recursos orçamentários com vistas à
literatura norte-americana, a partir da leitura construção do “voto pessoal”.
consagrada das intenções dos idealizadores Os chefes de Estado contam ainda com
de sua constituição, expressa nos Federalist armas para eliminar “pontos de veto” no in
Papers, assume que a separação de poderes terior do processo Legislativo. Eles podem
implica, necessariamente, a contraposição de forçar a apreciação das matérias de seu inte
interesses institucionais distintos. Essa supo resse por meio do pedido de urgência ou
sição depende da inexistência de vínculos en algo similar. O poder de decreto pode ser
29
considerado sob esta ótica, posto que, nesse Em resumo, o grau de centralização do
caso, a vontade do Executivo tem força de processo decisório deve ser considerado uma
lei imediatamente. variável independente nas análises institu-
A tendência a analisar o presidencialis cionalistas. Sua variação independe da varia
mo com base no modelo do conflito entre o ção da forma de governo. De um lado, não
Executivo e o Legislativo tem levado a um é verdade que o gabinete controle a agenda
equívoco adicional. Onde e quando os pre legislativa em todos os governos parlamenta
sidentes controlam a produção legislativa, ristas. Na medida em que não o fazem, go
teríamos a manifestação do “decretismo' ou vernos parlamentaristas mostram forte ten
do velho “caudilhismo”, um tipo peculiar de dência a sofrer crises de governabilidade,
governo que não mereceria o título de de- isso é, do governo se mostrar incapaz de ven
mocracia-liberal. A preponderância legislati cer as resistências de minorias encasteladas,
va do Executivo é tomada como a prova da por exemplo, em comissões legislativas,
atrofia do poder Legislativo, portanto, da fa como aconteceu na França e na Itália. Em
lência da separação de poderes e dos contro governos presidencialistas, o Executivo pode
les mútuos que este formato institucional ter controle sobre a agenda legislativa sem
implica. Governos com tal formato, de acor que isto represente, necessariamente, um ris
do com este raciocínio, estariam a um passo co à ordem democrática. A relação entre o
presidente e sua base de apoio parlamentar
da ditadura e, como seria de es esperar, são
não deve ser interpretada de maneira diver
encontrados na América Latina.
sa da que tem lugar em regimes parlamenta
Essa questão merece esclarecimento.
ristas. O sucesso legislativo dos chefes do
Conforme observou com propriedade Hu
Executivo, dos presidentes ou dos primeiros
ber (1996), por significativos que sejam, os
ministros pode ser explicado com base em
poderes de agenda do Executivo não permi
modelos similares. A referência é a mesma,
tem que este imponha sua vontade à maio
qual seja, a delegação da maioria.
ria. Nesses termos, para recorrer à termino
logia introduzida por Krehbiel (1988),
poderes de agenda não conferem poderes
Conclusão
positivos. São antes armas da própria maio
ria, permitindo que esta se estruture e se A agenda de pesquisas neo-instituciona-
mantenha unida, contando com uma prote listas não mudou muito ao longo da última
ção contra o “canto da sereia” dos ganhos de década. As variáveis independentes a receber
curto prazo. Em outras palavras, a prerroga atenção permaneceram as mesmas. No es
tiva da iniciativa legislativa confere significa sencial, as conclusões também não se altera
tivas vantagens estratégicas, que podem ser ram. A essência da passagem citada na aber
utilizadas para induzir os membros da coali tura deste artigo, escrita por Cowhev e
zão à cooperação (Tsebellis, 1995). Ou seja, McCubbins em 1995, é reproduzida na in
as sugestões de Huber permitem estender os trodução de uma nova coletânea, editada
modelos de Baron (1998) e de Diermeier e por Haggard e McCubbins em 2001:
Feddersen (1998) ao presidencialismo, isto
é, tomar o controle sobre a agenda legislati This volume is devoted to exploring the ef
va como a base para explicar a disciplina fects of political institutions on public po
partidária. licy. A generation of work has shown that
30
institutions affect various political outco dencialismo os políticos só se interessem por
mes. For example, numerous scholars have cargos e não se importem com as políticas
shown that electoral systems shape the beha adotadas. Da mesma forma, os eleitores de
vior of parties, candidates, and voters. Other vem se comportar de maneira míope, dando
scholars have demonstrated that different pouca ou nenhuma atenção às conseqüên
constitutional structures, such as presiden cias de suas decisões no futuro. No que se re
tial or parliamentary systems, affect regime fere ao efeito das leis eleitorais, as conclusões
stability, accountability, responsiveness, and usuais só se sustentam quando desconside
democratic durability (Haggard e McCub- ram o processo decisório ou, pior, tomam-
bins, 2001, p. 1.) no como uma função direta do imperativo
eleitoral. Dadas essas inconsistências, não é
Como se vê, os comparativistas perma de se espantar que, ao longo da década de
neceram ocupados com a análise das mes 1990, a literatura tenha patinado sobre os
mas variações institucionais identificadas mesmos temas e achados.
anos antes. Se as instituições importam, para A identificação das variáveis relativas à
repetir o jargão, basta identificar o que os organização do processo decisório está na
autores citados acima denominam ‘'estrutu origem do movimento institucionalista.
ra institucional”, a saber, leis eleitorais e for Não deixa de ser paradoxal que os compara
ma de governo, para que o analista tenha to tivistas relegassem essas variáveis ao segundo
das as respostas que procura. Não é de se plano. Procurei mostrar as conseqüências
estranhar que os artigos reunidos neste volu deletérias desse abandono. A organização do
me reproduzam os mesmos “achados” revi processo decisório —seu grau de centraliza
sados e criticados acima. ção —afeta diretamente a estrutura de incen
Como procurei mostrar, a maior parte tivos dos atores políticos, dando base para
dessas conclusões não resiste à análise aten uma explicação mais consistente para a coo
ta. Em geral, resultados quanto aos efeitos peração entre o Executivo e o Legislativo, as
da forma de governo dependem da variação sim como para a coesão partidária. Os alega
das premissas comportamentais e não das dos efeitos da forma de governo e das leis
institucionais. Para que as conclusões nega eleitorais são, em geral, subsumidos por
tivas acerca desta forma de governo se sus aqueles ditados pela centralização do proces
tentem, é necessário assumir que no presi so decisório.
Notas
31
3. Os indicadores udlizados por Strom, no entanto, não incluem a produção legislativa.
4. Como já mencionado, a amostra de Strom limita-se aos países membros da OECD. Sua
discussão se insere no interior de uma literatura que discute a instabilidade de governos
parlamentaristas. A instabilidade do regime democrático e a probabilidade de transições
não figura entre suas preocupações.
5. Assumindo que este partido seja disciplinado. Ver a discussão do tema mais adiante.
6. Um resumo das posições antipresidencialistas pode ser encontrada na seguinte passagem
do influente artigo de Stepan e Skach (1993, p. 17): “A essência do presidencialismo puro
é a independência mútua. Desta condição que define (e limita) esta forma de governo,
decorrem uma série de incentivos e regras decisórias que, de maneira previsível, encora
jam a formação de governos minoritários, desencorajam a formação de coalizões duráveis,
maximizam as chances de impasses legislativos, motivam os executivos a desrespeitar a
constituição e estimulam os membros da comunidade política a, periodicamente, pedir
que os militares promovam golpes. Presidentes e legislaturas são eleitos diretamente pelo
povo e têm seus próprios e fixos. Esta independência mútua cria a possibilidade de im
passes políticos entre o chefe do executivo e o legislativo para o qual não há um mecanis
mo constitucional capaz de solucioná-lo' .Os argumentos apresentados a seguir são basea
dos em Figueiredo e Limongi (2000, p. 160).
7. Considere-se a decisão de um partido de direita quanto à sua participação no governo em
que o presidente é filiado a um partido de centro e em que o partido de esquerda vem
crescendo eleitoralmente nos últimos pleitos. Nesse caso, o fracasso do governo poderia
beneficiar a esquerda e é duvidoso que a direita se recuse a participar do governo.
8. Para uma discussão da oposição entre as premissas office-policy seeking no contexto da for
mação de governos, consultar Laver e Schonfield (1990). Cheibub e Limongi (2001) dis
cutem o tema, tomando por referência o contraste presidencialismo/parlamentarismo.
9- Para outros trabalhos empíricos sobre o tema, consultar também Abranches (1988),
Amorim Neto (1995) e Meneguello (1998).
10. Para argumentos neste sentido, consultar Shugart e Carev (1992), Jones (1995) e Carev
(1997).
11. Na verdade, pode-se considerar que o problema se torna mais agudo sob o bi-partidaris-
mo com partidos disciplinados. Nesse caso, os presidentes minoritários poderiam ser con
denados ao fracasso legislativo.
12. Vale notar que este argumento parece contradizer aquele que sustenta a defesa de eleições
casadas. Em um caso, acredita-se que as decisões eleitorais quanto aos dois votos de que
o leitor dispõe são totalmente independentes, em outro, que são interdependentes.
13- Confundindo a conjuntura vivida com aspectos institucionais, muitos dos argumentos
antipresidencialistas resumem as iniciativas presidenciais a medidas impopulares, como
cortes de gastos, relacionadas a planos de estabilização e reformas estruturais. Nesses ter
mos, apoiar o governo traria apenas custos eleitorais. Para um exemplo conspícuo desta
confusão, consultar Mainwaring (1991b).
14. Ver Figueiredo e Limongi (2000, p. 163) para o desenvolvimento deste argumento.
32
15. Cabe notar que a distinção partidos fortes-fracos é de natureza diversa da encontrada em
Sartori (1968). Neste último caso, a força dos partidos tem por referência os eleitores.
Para Sartori, são fortes os partidos em sistemas partidários que forçam os eleitores a con
vergir para o centro, evitando a radicalização e a polarização política. Ver Limongi
(2002) para uma discussão da tipologia de Sartori e sua repercussão sobre o debate po
lítico brasileiro.
16. Cabe notar que Cox (1987) explica o surgimento do voto partidário na Inglaterra sem fa
zer menção às leis eleitorais.
17. Um dos artigos mais influentes na literatura internacional sobre o tema é do Mainwaring
(1991a). Este artigo contribuiu decisivamente para cristalizar a interpretação de que as
leis eleitorais adotadas pelo Brasil impedem o fortalecimento dos partidos políticos. Para
uma crítica desta visão com relação ao Brasil, ver Figueiredo e Limongi (2002).
18. Segundo Di Palma, 75% das leis passadas em cada uma das câmaras foram aprovadas por
poder terminativo das comissões (1976, p. 151). E interessante notar que Di Palma não
se refira ao fato de o Executivo dispor do poder de decreto. Este também não é mencio
nado por Cotta (1990). Para análises do uso do poder de decreto na Itália, ver Delia Sal-
la e Krepel (1998). Para uma análise comparativa do uso do decreto na Itália e no Brasil,
ver Figueiredo e Limongi (1991).
19. Segundo os autores, a outra dimensão fundamental para a variação no interior do presi
dencialismo é dada pelo calendário eleitoral, mais precisamente, pela proximidade entre
as eleições presidenciais e as legislativas. Nesse aspecto, os autores preocupam-se com a re
dução do número de partidos e, concomitantemente, com as condições que levam o par
tido presidencial a controlar a maioria das cadeiras no Legislativo.
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Resumo
Résumé
38
des lois électorales adoptent un format similaire, c’est-à-dire, le fonctionnement du système
politique est déduit à partir du contrôle exercé par les dirigeants des partis sur les chances élec
torales des politiciens. L’objectif de cet article est d’offrir une révision critique de ces arguments.
L’accent est mis sur les mécanismes invoqués pour expliquer la variation de la performance de
régimes démocratique. Du point de vue positif, l’importance du degré de centralisation/décen
tralisation du processus décisionnel est mise en évidence dans la dernière partie du travail. Nous
soutenons que cette variante ne reçoit pas l’attention qui lui est due.
Abstract
The so-called neo-institucionalism applied to compared politics has focus its attention on the
emphasis put into effect by the forms o f government and/or the electoral legislation. Either
the fusion or the separation o f powers was then evoked as some kind of “primary principle”
from which the entire political system would be understood: crisis probability, party disci
pline, etc. The analysis centered on the effect of the electoral legislation variations takes sim
ilar shape, i.e., the running of the political system is traced from the control exerted by party
leaders over the electoral chances of politicians. This paper aims at offering a critical review
on such arguments. It emphasizes the process invoked to explain the variation of the so-called
performance of the democratic regimens. It also points out, in the last section, the importance
of the level o f centralization/decentralization on the decision process, variable that hasn’t
received considerable attention in spite of its importance.
39