534-535, julho-setembro/2010
Resenha
Aguardada há muito, esta obra do prof. Fa‑ sive no Brasil, enquanto o segundo analisa o orça‑
brício Augusto de Oliveira, de longa trajetória mento, mostrando que, além de instrumento de
pelo campo das Finanças Públicas, traz importan‑ planejamento e de controle dos gastos, é peça de
tes contribuições tanto do ponto de vista teórico cunho político, balizando as negociações sobre a
quanto para a compreensão da realidade contem‑ alocação dos recursos públicos e a distribuição da
porânea. Além de abordar criticamente a questão carga tributária entre as diferentes classes sociais.
do Estado e dos bens públicos, examina os reno‑ Num balanço crítico das abordagens de Wagner,
vados fundamentos que balizam a ação do Estado Peacock e Weiseman, Richard e Peggy Musgrave
e conformam o novo papel atribuído à política e dos autores da public choice, de Oliveira incor‑
fiscal e à tributação em conexão com o processo pora as concepções keynesiana e de O’Connor
de globalização financeira. Essa abordagem já re‑ para mostrar como a tendência secular ao aumen‑
presenta, em si, um avanço significativo — visto to do gasto público resulta da dinâmica da acumu‑
que os livros‑texto tradicionais omitem o contexto lação de capital, num contexto de legitimação da
histórico e o conteúdo político da atuação estatal ordem social capitalista. O capítulo se encerra dis‑
—, permitindo ultrapassar a dicotomia tradicional cutindo a evolução dos gastos públicos no Brasil,
eficiência versus equidade e identificar as condi‑ a partir dos dispositivos da Lei 4320/64 e de seus
ções econômicas e sociopolíticas que fizeram com desdobramentos posteriores. O quarto capítulo
que a competitividade se tornasse questão vital analisa, teoricamente e no Brasil, a natureza, os
nessa nova etapa do capitalismo. Mais do que isso, determinantes e as origens da tributação, assim
ao resgatar a visão marxista — segundo a qual ao como os seus princípios, enquanto o capítulo 5
setor público caber garantir a reprodução da or‑ discute a questão do déficit público, inclusive no
dem social capitalista — e a keynesiana — que Brasil. Tendo sido considerado como prejudicial
salienta o seu papel como estabilizador do ciclo, pelos economistas clássicos e neoclássicos, se
evitando o colapso —, o livro ultrapassa a visão transformou, com Keynes, em instrumento rege‑
convencional que mecanicamente contrapõe o Es‑ nerador do sistema, para novamente ser concebi‑
tado ao mercado, comprometendo o entendimento do, a partir dos anos 1970, como inibidor do in‑
do cambiante papel do setor público, bem como os vestimento e acelerador da inflação. O capítulo 6
determinantes e a dinâmica das finanças públicas, examina a dívida pública desde a sua origem, pas‑
nas várias etapas de desenvolvimento capitalista. sando pelas visões neoclássica e keynesiana, para
Abrindo caminhos alternativos, o livro se desaguar no paradigma teórico atual, que a tem
compõe de seis capítulos, além da introdução. O como instrumento de valorização do capital finan‑
primeiro examina teoricamente a provisão de bens ceiro, o que significa, como muito bem aponta o
públicos, assim como a evolução e os papéis do autor, que se torna em trava do crescimento eco‑
Estado no desenvolvimento do capitalismo, inclu‑ nômico. Analisa, ainda, a trajetória da evolução