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Leitura do Documento Kairós

África do Sul, 1985 (1ª Ed.)

A primeira coisa a notar é o título do texto: Desafio para a Igreja: o Documento


Kairós (Challenge to the Church: the Kairos Document). O que gostaria de enfatizar por
ora é o fato de os organizadores chamarem o trabalho de “documento”. Essa maneira de
nomear e produzir o texto expressa uma maneira de se relacionar com a experiência e o
momento de maneira bastante característica. Em suas acepções mais cotianas, um
documento possui o significado de “registro” e “prova”, denotando uma espécie de
objetividade que informa ao presente um dado passado. Mas além de ser engessada e há
muito problematizada pelos historiadores, essa compreensão de documento e seu
“índice temporal” contrasta com o texto aqui em questão de uma maneira ainda mais
radical, considerando a sua autorreferência kairológica. Pois a intenção maior do
documento Kairós não é simplesmente registrar uma vivência presente, mas responder
ao momento “histórico” de sua própria emergência. Assim, os organizadores do Kairós
estavam cientes que “o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é
um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham
o poder” (LE GOFF, p. 495). Em vez de mitigar ou esconder essa “origem”
fundamental, o documento reivindica-o como o seu sentido mais profundo. Trata-se não
apenas de um “documento-monumento”, mas um manifesto do e para o momento.

Esse texto revela-se de grande interesse para a tese porque torna manifesto uma
forma de historicidade que só poderá ser entendida de maneira mais profunda quando o
situamos no plano temporal do instante, e não da pura sequencialidade da cronologia. O
que o texto documenta não é uma vivência dada no agora presente e que somente num
futuro (ausente e distante) poderá se tornar “histórico”, mas antes e fundamentalmente
uma experiência da história que carrega um sentido fortemente existencial. E o seu
caráter de “histórico” refere-se, fundamentalmente, ao instante da situação, bem como
na resposta enviada ao desafio que se apresenta na existência.

Já no prefácio, fica manifesto esse teor marcadamente existencial. Vale


reproduzir as duas frases que abrem o documento: “The KAIROS document is a
Christian, biblical and theological comment on the political crisis in South Africa
today. It is an attempt by concerned Christians in South Africa to reflect on the situation
of death in our country” (p. 5). Enquanto uma resposta decidida diante de uma situação
de crise profunda, ele parte de uma “preocupação” acerca da “situação” dada na
experiência. A situação “preocupa”, as coisas não mais estão “em ordem”. Expressa-se
assim uma disposição angustiosa diante da situação vivida, decorrente da perplexidade
diante da crise. E é por causa dessa angústia que se faz necessário dar uma resposta que
seja produtiva, ou seja, mais do que um discurso meramente constatativo (por mais
“crítico” que ele possa ser). Tal resposta supõe um discurso essencialmente
performativo, no qual o que se busca são modelos alternativos que possam reorganizar a
experiência e constituir um novo sentido.
O caráter performativo do Kairós fica evidente também no seu prefácio. Após
dar uma rápida contextualização (as repressões ocorridas em 1985 e a inércia que a
Igreja se mantinha), os organizadores revelam que o documento surgiu de uma série de
encontros que um grupo de teólogos “who were concerned about the situation” realizou
e cujo objetivo era “to reflect on this situation to determine what response by the
Church and by all Christians in South Africa would be most appropriate” (p.5). Foi a
partir dessa ação coletiva que o texto começou a ganhar corpo. Após a elaboração de um
primeiro esboço, o qual fora submetido a uma crítica ampla, designou-se grupos de
trabalhos sobre temas específicos que o grupo pretendia incluir no documento –
incluindo teólogos, leigos e lideranças da Igreja. Em particular, o prefácio faz questão
de destacar o tópico “Challenge to Action”, que fecha o texto. Segundo os
organizadores, o texto final é resultado de uma consulta feita à comunidade cristã sul-
africana, aportando numerosos comentários e sugestões que continuaram a chegar
mesmo após a data da publicação da primeira edição (13 de setembro de 1985).
Também por esse motivo, os autores do prefácio fazem questão de ressaltar que o
documento-manifesto “was an open-ended documento which will never be said to be
final” (p.5).

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