e Cultura
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Mas, afinal de contas, o que é História?
O que é Cultura? Primeiras reflexões...
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Trataremos portanto, nesta aula, a relação entre os
conceitos de História e Cultura. Definir conceitualmente História
e Cultura é importante por nos permitir compreender como o
ser humano construiu e constrói seu mundo, seus diversos
sentidos onde a esperança, os medos, as necessidades e os
sonhos de um povo inteiro se entrecruzam numa busca contínua
por sentido e pertencimento. Cultura e História perfazem um
binômio que se completam e emprestam significados mútuos.
Então, o que é História? O que é Cultura?
Antes que possamos definir conceitualmente o que
é História, vamos definir o que é Cultura. Esse passo será
importante para podermos alinhar esses conceitos numa
interdependência essencial que ajuda a explicar, ao mesmo
tempo, ambos.
Segundo Kalina Silva - no seu Dicionário de Conceitos
Históricos, seguindo a definição célebre de Edward Tylor -
cultura pode ser entendida como aquilo que “abrange todas as
realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo”.
Ou seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido
pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial,
desde artefatos e objetos até ideais e crenças.
Cultura é todo complexo de conhecimentos e toda
habilidade humana empregada socialmente. “Além disso,
é também todo comportamento aprendido, de modo
independente da questão biológica”.
Como a Cultura está atrelada à produção humana,
parece natural alinharmos esse conceito ao de História. Então,
como é possível definir História? Uma das mais conhecidas e
respeitadas definições vem de Jacques Le Goff na sua obra
“História e Memória”.
Para Le Goff, a História é um conjunto de conceitos:
é a procura das ações realizadas pelos homens formando a
ciência histórica; é busca pelas realizações dos homens, os
acontecimentos passados narrados, tornando-se, assim, um
conjunto de narrativas – quer verdadeiros ou falsos – sobre
a realidade histórica – real ou fictícia – o que é evitado na
língua inglesa que distingue entre History (a primeira) e story
(a segunda).
A etimologia da palavra é reveladora: História deriva de
vocábulo grego que significa “conhecimento que surge a partir
da investigação”.
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Trata-se do estudo do homem no tempo e no espaço, suas
ações, conquistas e derrotas, compondo um quadro narrativo
– que desemboca na cientificidade histórica – que se vale de
relatos, documentos ou resquícios arqueológicos, elaborando
uma análise crítica e profunda dos mesmos, permitindo uma
visão abrangente do passado humano. Como apresenta a
historiadora espanhola Adelaida Sagarra Gamazo:
Podemos conceituar a História como um
processo humano, ou melhor, como resultado do
conhecimento humano e do ajuste do processo
civilizatório…ademais, a História, como ciência
social, pode ser definida como um conjunto de
todos os tempos e desempenhos da liberdade
humana… (GAMAZO, 1996, p.1).
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Outro elemento que compõe a definição de História é
a Historicidade. José Horta Nunes, no artigo Leitura de
Arquivo, afirma que “o termo historicidade funciona de modo
Há alguns
a caracterizar a posição do analista do discurso em relação à
teóricos
do historiador”.
que fazem
O deslocamento história/historicidade marca uma a distinção
diferença entre as concepções de história, de um lado como entre historiologia
conteúdo, e de outro como efeito de sentido. Aos historiadores e historiografia.
ligados à análise do discurso cabe questionar a transparência Historiologia seria o
da linguagem, levando-se em conta a tessitura da língua. estudo das estruturas,
leis e condições da
Há alguns teóricos que fazem a distinção entre historiologia
realidade histórica.
e historiografia. Historiologia seria o estudo das estruturas,
Historiografia, por seu
leis e condições da realidade histórica. Historiografia, por seu
turno, seria um relato
turno, seria um relato da História, modo de escrever a História.
da História, modo de
escrever a
História.
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Ao mesmo tempo, trabalhar a historicidade na leitura
de arquivos leva a realizar percursos inusitados, seguindo-
se as pistas linguísticas, traçando percursos que desfazem
cronologias estabelecidas, que explicitam a repetição de
mecanismos ideológicos em diferentes momentos históricos,
que localizam deslocamentos e rupturas.
Desse modo, o arquivo, por exemplo, não é visto como
um conjunto de "dados" objetivos dos quais estaria excluída a
espessura histórica, mas como uma materialidade discursiva
que traz as marcas da constituição dos sentidos.
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Os acontecimentos históricos possuem relevância por
terem um espectro que sai da mera esfera particular em
sentido estrito. Isso não significa, entretanto, que o historiador
– o profissional que estuda a História – não se dedique à vida
privada das nações.
No entanto, o historiador o faz pensando no seu alcance
mais universal e coletivo, extraindo de ações privadas um
sentido social coletivo. Isso se torna claro quando entendemos
que os fatos históricos podem ser eventos que pertencem ao
passado mais próximo ou distante, de caráter material ou
mental, que destaquem mudanças ou permanências ocorridas
na vida coletiva.
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Para quem se pergunta sobre a importância da História,
há um exercício bem simples que pode auxiliar na resposta.
Imagine que alguém peça que você se defina. A questão é:
quem é você? Ora, antes de tudo temos que saber quem nós
somos. O conhecimento de si mesmo é a base para toda e
qualquer ação – seja ela no presente ou voltada para o futuro.
Diante dessa questão, você muito provavelmente irá
responder partindo do princípio: indicar onde você nasceu, a
data, o local, como era sua família, como foi sua infância, o
que lhe influenciou até agora, etc.
Compondo uma história de si mesmo, você será capaz
de entender melhor quem você é agora no presente, ou seja,
compreender quais são seus sonhos, seus anseios, seus
medos, etc. Tudo isso possui uma estrutura e esta se encontra
enraizada na sua formação histórica: sua família, seu bairro,
seu país, sua cultura, seu tempo histórico.
Sendo assim, parece muito natural que entendamos
a importância da História quando queremos compreender
a nossa sociedade. Queremos saber quais são as bases
estruturais que a formaram e, assim, vislumbrar os erros e
acertos do passado. Outro bom exemplo e se pensarmos na
nossa Constituição federal que foi promulgada em 1988. Ora,
o Brasil saiu da Ditadura Militar em 1985, ou seja, apenas três
anos antes de nossa Constituição.
Numa busca por um país democrático, seria natural que
nossa Constituição garantisse todos os direitos que foram
usurpados durante a Ditadura.
Isso nos permite enxergar com muita clareza o todo
do processo. A História, então, se torna ciência fundamental
quando queremos entender a nossa Cultura, seus meandros,
suas estruturas e possibilidades.
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