Rogerio P. de Andrade
Instituto de Economia/Unicamp
Resumo Abstract
O objetivo deste artigo é discutir o concei- The purpose of this paper is to discuss the
Palavras-chave to de incerteza através da reconstituição das uncertainty concept through a reconstitution of the
incerteza, Knight, Keynes, formas como o mesmo aparece nas versões ways in which this notion emerges in the works by
Shackle, Davidson. de Knight, Keynes, Shackle e Davidson. O Knight, Keynes, Shackle and Davidson.
Classificação JEL B20, B50. artigo procura se concentrar nas peculiarida- It focuses on the uniqueness of each approach.
des de cada uma destas abordagens da noção It is unquestionable that these authors’ theories
de incerteza. É indubitável que as teorias da of uncertainty have meaningful resemblances.
incerteza destes autores apresentam parale- Nevertheless, although all these treatments share
lismo e afinidades significativas. Ainda que an emphasis on the conceptual distinction between
estes vários tratamentos comunguem de uma (probabilistic) risk and uncertainty, as well as on
ênfase na diferença conceitual entre risco their immeasurability, it is fair to say that these
(probabilístico) e incerteza, assim como no authors’ approaches to the conceptualisation of
aspecto da não mensurabilidade, suas abor- uncertainty are distinctive in many respects. Thus,
dagens e realces na conceituação da incerteza the paper evaluates and contrasts their analyses,
são distintos. Diante disso, o artigo compara concentrating on their peculiarities. It was from this
e contrasta estas análises, concentrando-se “classical” view of uncertainty (Knight, Keynes,
nos aspectos que lhe são únicos e singulares. Shackle and Davidson) that a “modern” approach
Foi a partir da visão “clássica” de incerteza to uncertainty could originally be constructed and
de Knight, Keynes, Shackle e Davidson que further developed, and it is now rooted in current
Keywords se pode construir a hoje já consolidada visão heterodox approaches.
uncertainty, Knight, Keynes, “moderna” do “princípio da incerteza”, ir-
Shackle, Davidson. reversivelmente enraizada em boa parte do
JEL Classification B20, B50. pensamento econômico heterodoxo.
It will appear that a measurable uncertain- to be thrown back from the ‘dynamic’ theory
ty, or ‘risk’ proper, as we shall use the term, to the Uncertainty of the Future, a condi-
is so far different from an unmeasurable tion of affairs loosely designated by the term
one that it is not in effect an uncertainty at ‘risk’ in ordinary language and in business
all. We shall accordingly restrict the term parlance (Knight, 1921, p. 38).
‘uncertainty’ to cases of the non-quantitati-
Knight (1921, p. 224-225) fornece
ve type. It is this ‘true’ uncertainty, and not
uma taxonomia com três categorias de
risk [...] which forms the basis of a valid
probabilidade. As duas primeiras são a
theory of profit (Knight, 1921, p. 20).
“probabilidade a priori” e a “probabilida-
A discussão de Knight sobre in- de estatística”; ambas são quantificáveis.
certeza está associada à sua teoria de de- A terceira ele chama de “estimativa”,
terminação do lucro – os lucros surgem que é não quantificável. Probabilidades
apenas em uma situação de incerteza. O a priori (ou lógicas) são aquelas utilizadas,
lucro é visto como uma receita residual, por exemplo, em jogos de azar (dados,
não predeterminada, cujo montante se- cara ou coroa, roleta, etc.). Esse tipo de
rá conhecido numa data posterior à to- probabilidade expressaria uma “classifi-
mada da decisão econômica. A frustração cação absolutamente homogênea de ca-
de expectativas tem papel importante a sos” e situa-se “no mesmo plano lógico
desempenhar: das proposições da matemática” (Kni-
ght, 1921, p. 224). Julgamentos de pro-
Dynamic changes give rise to a peculiar form babilidade desse tipo são, em sua essên-
of income only in so far as the changes and
cia, “induções da experiência” (Knight,
their consequences are unpredictable in cha-
1921, p. 225).
racter. [...] Change may cause a situation
out of which profit will be made, if it brings
A probabilidade estatística é uma
ignorance of the future (Knight, 1921, p. 37). generalização empírica que diz respeito a
um grupo de casos observados no pas-
sado. Ela se baseia na análise indutiva de
It is not dynamic change, nor any change, as
such, which causes profit, but the divergence um grande grupo de casos. Knight defi-
of actual conditions from those which have ne-a como uma “avaliação empírica da
been expected and on the basis of which bu- frequência de associação entre predica-
siness arrangements have been made. For a dos” (Knight, 1921, p. 225). Esse tipo de
satisfactory explanation of profit we seem probabilidade não pode ser analisado em
Para Keynes (1936, p. 147), os fa- mação de expectativa de longo prazo so-
tores que influenciam as expectativas cor- fre alguma influência do estado presente
rentes das rendas esperadas são tanto os das coisas, a menos que justificativas bem
eventos correntes que os agentes supõem fundadas mudem nossa opinião sobre a
serem conhecidos “com maior ou menor situação corrente. A “prática usual” (uma
certeza” – por exemplo, o volume exis- convenção!) dos agentes consiste em ob-
tente de capital e de ativos de capital em servar a situação atual e depois projetá-la
geral, o nível presente de consumo, etc. – no futuro, modificando-a apenas à medi-
e os eventos futuros que só podem ser da que tenham motivos claros para espe-
previstos “com maior ou menor confian- rar mudanças (Keynes, 1936, p. 148).
ça” – a saber: futuras mudanças no esto- As decisões de investimento de-
que de ativos de capital e nas preferências pendem do estado das expectativas de
dos consumidores, as condições de de- longo prazo, que, por sua vez, dependem
manda efetiva nos diversos períodos da tanto da formulação de um “prognósti-
vida do investimento em questão, assim co mais provável” como da confiança nes-
como mudanças futuras nos salários no- sa predição (Keynes, 1936, p. 148). O grau
minais. O “estado da expectativa psico- de confiança está, portanto, associado ao
lógica” em relação a esses eventos futu- grau percebido de incerteza do conheci-
ros é o “estado da expectativa de longo mento relacionado a um possível even-
prazo” e é diferenciado da “expectativa to futuro.
de curto prazo”, que diz respeito a prog-
Contudo, as estimativas de even-
nósticos correntes sobre as receitas da co-
tos no futuro distante podem significar
mercialização da produção com as instala-
pouco, já que o conhecimento em que se
ções existentes.2
baseiam é escasso:
A formação das expectativas não
leva fortemente em consideração os fato- The outstanding fact is the extreme preca-
res “muito incertos”. Embora, em deter- riousness of the basis of knowledge on whi- 2
Keynes define as
minadas situações, fatos muito incertos ch our estimates of prospective yield have expectativas de curto prazo
possam se tornar decisivos, um guia razo- to be made. Our knowledge of the factors como “expectations as to the cost
ável para as decisões correntes é levar em of output on various possible scales
which will govern the yield of an investment
and expectations as to the sale-
conta os eventos a que se atribui um grau some years hence is usually very slight and proceeds of this output” (Keynes,
elevado de confiança. Assim sendo, a for- often negligible (Keynes, 1936, p. 149). 1936, p. 47).
[A] decision ... is a cut in the logical con- of materials that were in his mind before,
nectedness of past and future. [...] [P]art but manifesting [...] ‘inspiration’ [...] [that
of what enters into a decision is uncaused is] the birth of the fundamentally unpredic-
(Shackle, 1990d, p. 23). table thoughts (Shackle, 1958, p. 22-23).
[I]f decision involves essential novelty, pre- São essas “inspirações” – em ou-
diction of human conduct is logically impos- tra ocasião Shackle (1965, p. 194) refere-
sible (Shackle, 1958, p. 21). se à “improvisação” em vez de inspira-
[P]redicted man is less than human, ção – que tornam o sistema dinâmico.
predicting man is more than human. [...]
[M]an in his true humanity can neither pre- 5_ Davidson: a hipótese
dict nor be predicted (Shackle, 1958, p. 105) da não ergodicidade
A materialização inesperada de A análise de Davidson da incerteza per-
possibilidades futuras não previamente tence à linhagem das três versões ante-
imaginadas, conhecíveis somente ex post, riores. A inovação de sua abordagem
torna o prognóstico preciso das ações hu- consiste no uso dos conceitos de “er-
manas uma tarefa vã e talvez inútil. Em godicidade” e “não-ergodicidade”.9 Nos
outras palavras, o “mundo da ordem” é sistemas ergódicos, a realidade externa é
condicionado e governado pelos humo- imutável. O futuro é simplesmente uma
res do “mundo da inspiração”. réplica estatística do passado. Do ponto
A inspiração, ou o ato de criar al- de vista metodológico, a hipótese ergó-
go a partir do estado presente dos even- dica fundamenta a economia neoclássi-
tos, revoluciona desde dentro uma or- ca. Nos processos não ergódicos, a reali-
dem determinada das coisas. A “decisão dade é criativa. Decisões cruciais geram
inspirada” (Shackle, 1990d, p. 25) é uma ambientes não ergódicos, incertos, em
iniciativa imprevisível. Ela é capaz de ge- que o tempo é irreversível. Em um sis-
rar mudanças irrevogáveis e recriar o es- tema não ergódico, a realidade externa é
tabelecido e o familiar. Um ato de cria- “transmutável ou criativa no sentido de
ção original é visto, portanto, como que o futuro econômico pode ser criado
the sudden presence in a man’s thoughts of por ações humanas correntes e futuras”
something essentially novel, something not (Davidson, 1995, p. 108).
9
Ver, e.g., Davidson
(1982-1983, 1988, 1991, 1992, arising, in its completeness and its essence, Em um mundo ergódico, as rela-
1994 e 1995). merely from some materials or arrangements ções entre variáveis são atemporais, ou
(preços, quantidades). Nesse sentido, a vios de uma norma. O lucro é uma ca-
análise de Keynes não expressa uma re- tegoria que independe da existência de
alidade em que há simultaneidade e pre- forças gravitacionais atuando na eco-
determinação dos resultados. Possui, em nomia. Não há trajetórias tendenciais pa-
vez disso, uma preocupação com a sequ- ra um estado de equilíbrio. Keynes res-
ência temporal irreversível, a causalidade, salta a interação entre o ideal (imaginado)
a indeterminação e a ignorância a respei- e o real, o esperado e o realizado. A in-
to dos futuros possíveis (e impossíveis!). certeza vem à tona por meio da frustra-
Em seu sistema, se houver um resultado ção das expectativas. A visão de Keynes
de equilíbrio, ele é fortuito, não a expres- da determinação dos lucros opera em
são de dispositivos mecânicos que atuam duas dimensões, a saber: uma renda es-
no interior da economia para engendrar perada (expectacional) no início de um
um estado inescapável.11 período de produção (definição ex ante)
Nessa perspectiva, é possível afir- e uma renda residual e incerta, definida
mar que a abordagem de Knight é uma no final de um período de produção pe-
espécie de “meio-termo” entre o Treati- la demanda efetivamente realizada (de-
se on Money (TM) e a Teoria Geral (TG) de finição ex post). Tal tratamento inexiste
Keynes (1930 e 1936). A visão de Knight em Knight.
assemelha-se à do TM no sentido em que Outra diferença importante na ma-
o lucro é o resultado de perturbações de neira com que ambos tratam incerteza e
uma “norma” – na linguagem da TM, “ga- probabilidade é que Keynes considera as
nhos inesperados” (windfall gains). Por ou- probabilidades como crenças ligadas a
tro lado, tanto a TG como as intervenções proposições sobre eventos, e Knight, a
pós-TG reconhecem claramente a impor- eventos em si (cf. Runde, 1995). Enquan-
tância da incerteza (que está ausente no to para Knight a incerteza é um atributo
TM) e que é semelhante à visão de Knight da realidade material externa, para Key-
de que a incerteza deve ser contrastada a nes é um atributo do conhecimento e ex-
risco probabilístico e entendida como au- pressa graus de crença (Lawson, 1988).
sência ou escassez de conhecimento. Posto de outra forma, enquanto Kni-
Para uma discussão
11
Contudo, a análise de Keynes é ght concebe a incerteza em seu aspecto
adicional da ideia de equilíbrio,
determinismo e decisões mais abrangente. Tanto na TG como nos “ontológico”, Keynes ressalta sua forma
cruciais, ver Andrade (2009). trabalhos pós-TG, os lucros não são des- “epistêmica” (McCann, 1994, p. 52).
são sobre a incerteza a eventos que ocor- só pode ser observada ex post, ao final de
rem na esfera econômica, sobretudo as um período de produção (cf. Davidson,
decisões de investimento e a preferência 1994, cap. 2).
pela liquidez. Por fim, uma análise da economia
Contudo, a análise de Davidson “como um todo” (orgânico) também es-
representa, ao mesmo tempo, um pas- tá presente, no sentido de que não é pos-
so à frente. Esse autor incorpora a ideia sível analisar o sistema econômico em
shackleana de decisões cruciais, mas vi- termos de “partes”, separadas, estanques
ra Shackle de cabeça para baixo, minimi- e independentes, em termos de um lado
zando seu subjetivismo. Davidson des- “monetário” e um lado “real”, cada qual
carta o individualismo metodológico de com vida autônoma e sem influência re-
Shackle. A realidade não ergódica é uma levante sobre o outro. A moeda não é
realidade objetiva, definida por intera- meramente um numerário neutro que
ções sociais. A intersubjetividade, e não não afeta as decisões de produção e in-
a pura imaginação subjetiva na men- vestimento. A própria existência da mo-
te dos indivíduos, é o que condiciona as eda como reserva de valor (como um ati-
decisões dos agentes. As estruturas sub- vo) interliga de forma relevante ambos
jacentes de natureza não ergódica são lo- os “lados” do sistema econômico.
gicamente anteriores à ação individual.
Existe uma realidade não ergódica, uma
“estrutura profunda” subjacente aos fe- 7_ Observações finais:
nômenos que se manifestam ao nível da o princípio da incerteza no
“superfície”. Nesse sentido, a visão de pensamento heterodoxo
Davidson deriva de um Shackle mais O princípio da incerteza conforme for-
keynesiano, menos “neo-austríaco”. mulado pelo que se poderia denominar
Ademais, o lucro não é visto co- de visões “clássicas” de Knight, Key-
mo “forma peculiar de renda” (como em nes, Shackle e Davidson foi, no decorrer
Knight), o resultado de desvios de valo- dos anos, reconhecido como importan-
res naturais de equilíbrio. Neste sentido, te e aprofundado. É possível encontrar
a abordagem de Davidson é mais próxi- abordagens adicionais, ou versões “mo-
ma da de Keynes. O lucro do empresá- dernas” do conceito de incerteza, em um
rio é uma renda incerta e residual, que número significativo de contribuições,
como, por exemplo, Lawson (1985, 1988 mento (correspondendo a graus de cren-
e 1997), Carvalho (1988), Runde (1990, ça) (Lawson, 1988, p. 40; Carvalho, 1988,
1991 e 1995), Dosi e Egidi (1991), Dow p. 78). Existe uma incerteza “ontológica”
(1995 e 2004), Vercelli (1995 e 2002) e De- (ou “sistêmica”): a incerteza manifesta
quech (1997, 2000 e 2004).14 do ambiente, algo com que se defronta o
Em todas essas análises, há uma li- agente. E existe a incerteza “epistêmica”:
nha de raciocínio comum: o conceito de a incerteza de nossa compreensão do am-
incerteza está associado à ausência (ou li- biente, isto é, dos sinais produzidos pelo
mitação) de conhecimento e é contras- sistema (nossas crenças de que um even-
tado com a ideia de conhecimento na to ocorrerá) (McCann, 1994, p. 52-53).
forma de cálculo de risco probabilístico Knight pode ser incluído na primeira ca-
quantificável. tegoria, e Keynes e Shackle pertenceriam
Quando as circunstâncias futuras à segunda modalidade de incerteza. A vi-
pertinentes forem desconhecidas, ou pelo são de Davidson representaria, por assim
menos bastante incertas, formular prog- dizer, um ponto intermediário entre esses
nósticos não é tarefa trivial. O ambien- dois tipos de incerteza. Ele parece oscilar
te pode mudar de forma imprevisível. Os entre os dois tipos, pois, às vezes, tem-se
obstáculos com que se deparam os agen- a impressão de que a incerteza correspon-
14
Há uma ampla gama de tes que devem formular previsões são: de a uma característica do conhecimen-
referências bibliográficas sob to, e, às vezes, é como se não houvesse
o título incerteza na literatura i. o passado pode não ser um guia
um continuum de valores de probabilida-
recente. Contudo, vale lembrar relevante para o momento em
que o objetivo deste artigo de, mas apenas uma separação clara entre
que é formulado o prognóstico; e
não é fazer uma revisão crítica certeza absoluta e incerteza radical. Nes-
dessa literatura, mas, sim, ii. não há método confiável para
te último caso, a incerteza se manifestaria,
recuperar os elementos mais estimar as probabilidades das
então, como um atributo da realidade.15
importantes da discussão sobre diversas mudanças possíveis.
incerteza nas visões de Embora as interpretações de Kni-
Knight, Keynes, Shackle e Subjacente a todas essas interpre- ght, Keynes, Shackle e Davidson con-
Davidson, de forma a tações está a ideia de que nosso conhe- centrem-se principalmente na não men-
realçar as singularidades de
cimento sobre situações futuras é falível surabilidade, todos eles a contemplam
cada abordagem.
A respeito desta última
15 e contingente (cf., e.g., Andrade, 2004). como uma subclasse de problemas ou
questão, ver McCann (1994, A incerteza é um atributo tanto da reali- um caso especial de uma abordagem
p. 145, n. 156). dade material externa como do conheci- mais abrangente. Neste sentido, suas vi-
lístico não pode orientar com segurança cimento e sua relação com a conduta. As
nossas decisões, nem proporcionar uma pessoas não compreendem o presente
previsão acurada. Embora empregada de como ele é e em sua inteireza, não preve-
forma generalizada nas teorias da escolha em o futuro a partir do presente de for-
racional, tal hipótese é no mínimo pro- ma bastante acurada, tampouco sabem as
blemática. Mudança recorrente, compu- consequências dos próprios atos de for-
tabilidade mental limitada, conhecimen- ma infalível. Conforme observado tan-
to falível e contingente, etc., todos esses to por Knight como por Keynes, a pos-
fatores requerem a necessidade de rever sibilidade de previsão aparentemente se
e atualizar as informações que respaldam baseia na uniformidade da natureza e is-
nossas decisões. so está longe da realidade efêmera em
Os agentes se defrontam com “no- que vivemos.
vidades essenciais” e sabem, portanto, Por conseguinte, a seguinte ques-
por experiência própria, que seu conheci- tão poderia ser colocada: até que ponto o
mento do mundo é imperfeito. Podemos mundo é inteligível? Há dificuldades prá-
até mesmo afirmar que sabemos algo so- ticas quando se fazem inferências e jul-
bre o futuro, mas, em geral, as decisões gamentos baseados em conhecimento
na vida cotidiana baseiam-se no fato de contingente e falível. Uma forma de lidar
sabermos bem pouco sobre vários fato- com essas dificuldades que incidem sobre
res que nos afetam e nos afetarão. Assim as decisões é recorrer às instituições vi-
sendo, agimos sob a influência de crenças gentes em cada contexto da decisão, co-
instáveis, que estão sujeitas a mudanças mo convenções, regras, rotinas, etc.16 Mas
tão logo a situação demande uma revisão isto já é outra estória, que foge ao escopo
de nossas opiniões presentes. Isso signi- deste artigo.
fica que nem somos totalmente ignoran-
tes, nem completamente bem informa-
dos, mas que, em vez disso, temos algum
conhecimento limitado e imperfeito (fa-
lível e contingente) dos vários contextos
Para uma discussão
16
de decisão em que nos vemos imersos.
da natureza e dinâmica
das convenções, ver A análise da incerteza depara-se
Andrade (1998). com investigação da natureza do conhe-
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