Olá! Meu nome é Gustavo Trindade Valio e sou graduado em Engenharia de Materiais pela Uni-
versidade Federal de São Carlos (UFSCar) nas ênfases de Polímeros, Metais e Cerâmicas. Fiz meu
mestrado em Ciências e Engenharia de Materiais na área de concentração de Desenvolvimento
Tecnológico em Metais também na UFSCar com colaboração do instituto HZG (Alemanha). Sou
especialista em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP — São Carlos).
Atualmente, faço doutorado em Ciências e Engenharia de materiais na área de concentração de
Desenvolvimento Tecnológico em Polímeros e MBA em Finanças, ambos na UFSCar. Fiz iniciação
científica desde o segundo ano de graduação, fui estagiário em empresas de PD&I (HZG e CCDM)
nas áreas de Materiais e trabalho no Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais
(CCDM) como responsável técnico das áreas de Polímeros e Cerâmicas. Lecionei no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), Campus Araraquara, por dois anos,
aulas para ensino médio concomitante com técnico, técnico e graduação. Estou iniciando meu
trabalho no Claretiano — Centro Universitário e quero compartilhar meus conhecimentos para ajudar você durante esta
grande empreitada que é a graduação.
Gustavo Trindade Valio
TECNOLOGIA DE ESTAMPAGEM
Batatais
Claretiano
2018
© Ação Educacional Claretiana, 2017 – Batatais (SP)
Trabalho realizado pelo Claretiano – Centro Universitário
Cursos: Graduação
Disciplina: Tecnologia de estampagem
Versão: jul./2018
(Original do Autor)
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Eduardo Henrique Marinheiro
Camila Maria Nardi Matos Filipi Andrade de Deus Silveira
Carolina de Andrade Baviera Rafael Antonio Morotti
Cátia Aparecida Ribeiro Rodrigo Ferreira Daverni
Dandara Louise Vieira Matavelli Vanessa Vergani Machado
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Projeto gráfico, diagramação e capa
Josiane Marchiori Martins
Bruno do Carmo Bulgarelli
Lidiane Maria Magalini
Joice Cristina Micai
Luciana A. Mani Adami
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Antônio Guimarães Toloi
Patrícia Alves Veronez Montera
Raphael Fantacini de Oliveira
Raquel Baptista Meneses Frata
Tamires Botta Murakami
Simone Rodrigues de Oliveira
Videoaula
André Luís Menari Pereira
Bruna Giovanaz
Marilene Baviera
Renan de Omote Cardoso
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia,
gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Conteúdo
Esta obra tem por objetivo estudar as operações de estampagem de corte, dobramento e repuxo. Neste material, as ope-
rações de corte possuem um maior foco, principalmente em relação ao dimensionamento dos estampos de corte. Serão
apresentados, na primeira unidade, os tipos de operações de corte, alguns cálculos relacionados a eles e como realizar o
estudo de layout das peças na estampagem de corte. Na segunda unidade, serão estudados os principais elementos de
um estampo de corte e como realizar alguns dimensionamentos desses elementos. Na última unidade, serão abordadas
as outras duas formas de estampagem, o dobramento e o repuxo, e alguns cálculos relacionados a esses processos de
conformação mecânica.
Bibliografia Básica
CHIAVERINI, V. Tecnologia mecânica: processos de fabricação e tratamento. v. 2. São Paulo: Pearson Makron Books, 1986.
JUNIOR, I. V.; CEVERSAN, E. G. TECNOLOGIA DE ESTAMPAGEM 1 – Corte. São Paulo: FATEC Sorocaba, 2012.
POLACK, A. V. Manual prático de estampagem: breve tratado teórico-prático para os mecânicos e profissionais desta especialidade.
São Paulo: Hemus, 2004.
Bibliografia Complementar
CUNHA, L. B. Elementos de máquinas. Rio de Janeiro: LTC, 2005.
HELMAN, H.; CETLIN, P. R. Fundamentos da conformação mecânica dos metais. 2. ed. Artliber, 2013.
NOVASKI, O. Introdução à engenharia de fabricação mecânica. 2. ed. São Paulo: Blücher, 2013.
RABELLO, E. B. D.; PUGLIESI, M. Tolerâncias, rolamentos e engrenagens: tecnologia mecânica. São Paulo: Hemus, 1975.
SILVA, D. F.; MALAGUTTI, T. F. Processos e laboratório de fabricação II. Batatais: Claretiano, 2015.
Palavras-chave _________________________________________________________________
Estampagem, operações de corte, operações de dobra, operações de repuxo e dimensionamento de estampo de corte.
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1. INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Tecnologia de Estampagem!
Provavelmente, você já ouviu falar de deformações plásticas, deformações elásticas, tensão de
cisalhamento, tensão de flexão, tensão de compressão e de tração. A estampagem utiliza estes con-
ceitos teóricos para transformar chapas metálicas em peças finais ou intermediárias que serão utili-
zadas em diversos produtos utilizados no dia a dia.
A estampagem é um processo de fabricação de peças dentro da categoria dos processos de
conformação mecânica, que inclui também os processos de laminação, extrusão, forjamento e trefi-
lação. É um processo de fabricação constituído de um conjunto de operações aplicadas a uma chapa
metálica com o intuito de transformá-la em uma peça com geometria específica, sem a produção de
cavaco. Este processo de fabricação utiliza-se da aplicação de deformação plástica para a produção
dessas peças. A estampagem de chapas metálicas possui dois tipos de operações principais: o corte
e a deformação. Elas são realizadas em chapas relativamente finas de metal. As espessuras típicas
dessas chapas estão entre aproximadamente 0,4 mm (1/64 pol.) e 6 mm (1/4 pol.). Acima de 6 mm,
a classificação de chapa muda para placa. Por possuir grande espessura, as placas não são utilizadas
normalmente em estampagem devido à necessidade de grandes forças de processamento, como
também de aquecimento, para que durante o processo não ocorra fratura em regiões indesejadas
da peça.
As chapas e placas metálicas são produzidas pelo processo de laminação. Após este processo,
a chapa é bobinada e está pronta para ser utilizada no processo de estampagem. As chapas metáli-
cas mais utilizadas na estampagem são compostas de aço de baixo carbono (0,06%-0,15% C). Seu
baixo custo de matéria-prima e boa conformabilidade (facilidade de deformá-la plasticamente),
combinado à sua resistência mecânica suficiente para a maioria das aplicações, fazem com que este
grupo de materiais seja ideal para a estampagem.
O processamento de chapas metálicas é comercialmente importante no mundo todo. Imagine
a quantidade de produtos que utilizam peças que precisaram ser estampadas: carrocerias de auto-
móveis e caminhões, região externa de aviões e vagões ferroviários, locomotivas, equipamentos
agrícolas e de construção, eletrodomésticos, móveis de escritório e muito mais. Embora esses
exemplos sejam evidentes porque possuem exteriores de chapa de metal, muitos de seus compo-
nentes internos também são feitos de chapas. Peças que possuem baixa espessura e não são planas
ou possuem algum tipo de furo provavelmente foram conformadas por estampagem. As peças de
chapas metálicas são geralmente caracterizadas por alta resistência mecânica, boa precisão dimen-
sional, bom acabamento superficial e custo relativamente baixo. Para componentes que devem ser
feitos em grandes quantidades e com baixo custo, linhas produção de estampagem em massa po-
dem ser projetadas para processar as peças. Latas de bebidas de alumínio são um excelente exem-
plo de produto estampado.
A estampagem de chapas metálicas é geralmente realizada à temperatura ambiente (trabalho
a frio). O processamento ocorre com o auxílio da temperatura para os casos da utilização de chapas
espessas e placas ou outros em que o metal utilizado é frágil ou a deformação é muito significativa
(estampagem profunda). Estes casos são geralmente processos que utilizam temperaturas médias
(trabalho morno) e não trabalho a quente realmente.
A maior parte das estampagens de chapas metálicas é realizada em máquinas-ferramenta
chamadas de prensas. O termo “prensa de estampagem” é usado para distinguir essas prensas das
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais,
possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento
dos temas tratados.
1) Baricentro: centro de gravidade de uma forma geométrica.
2) Cavaco: farpa ou lasca produzida pelo desbaste do material. Geralmente, é formado em
processos de usinagem.
3) Conformabilidade: característica de um material em relação à sua capacidade de ser
deformado plasticamente
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHIAVERINI, V. Tecnologia mecânica: processos de fabricação e tratamento. v. 2. São Paulo: Pearson Makron Books, 1986.
MARCONDES, P. Projeto de Ferramentas para Conformação de Chapas. Paraná: UFPR, 2008.
GROOVER, M. P. Fundamentals of modern manufacturiong. Materials, processes, and systems. 5. ed. EUA: Wiley, 2013.
POLACK, A. V. Manual prático de estampagem: breve tratado teórico-prático para os mecânicos e profissionais desta espec
Objetivos
• Compreender o que são e quais são as operações de estampagem que envolvem corte.
• Calcular valores de folga.
• Calcular valores de força de corte.
Conteúdos
• Operações de corte.
• Corte, contorno e puncionamento.
• Outras operações de corte.
• Análise matemática do corte de chapas.
1. INTRODUÇÃO
Vamos iniciar os estudos de Tecnologia de estampagem?
Os produtos gerados pelas operações de estampagem são de comum acesso e estão a nossa
volta. O estudo deste tipo de fabricação mecânica é importante para você, futuro engenheiro, pois
com ele você terá maior compreensão de como são fabricadas algumas peças. Com esta informa-
ção, será possível escolher qual será a melhor maneira de se fabricar uma peça.
Nesta unidade, serão descritos os conceitos referentes ao processo de fabricação mecânica de
estampagem de corte. Nela serão abordadas as principais operações de corte, como também algu-
mas operações secundárias, mas de grande importância, para este e outros processos de fabricação.
Também serão abordados alguns dos cálculos relevantes que envolvem o processo de fabrica-
ção de peças por estampagem de corte. Conceitos e cálculos relacionados à folga entre punção e
matriz, força de corte e de sujeição serão abordados.
2. 1. OPERAÇÕES DE CORTE
A operação de corte de chapas metálicas utilizando a prensa de estampagem é realizada por
uma aplicação de tensões, inicialmente, de compressão e de cisalhamento, entre duas bordas afia-
das de corte (punção e matriz). O processo de aplicação de tensões na chapa está apresentado no
esquema da Figura 2 por meio das quatro figuras que representam cada etapa do processo de corte.
No processo de corte, uma borda de corte superior (o punção) se movimenta para baixo na direção
de uma segunda borda de corte inferior fixa (a matriz). Inicialmente, o punção desloca-se para baixo
até entrar em contato com a chapa. Quando o punção, já em contato com a chapa, desloca-se para
baixo causando uma deformação plástica na superfície superior da chapa, ele aplica uma tensão de
compressão. Esta etapa consiste na primeira etapa do corte.
À medida que o processo continua e o punção se move mais para baixo, ocorre a penetração
tanto do punção como da matriz na chapa metálica devido à tensão de compressão e, principalmen-
te, de cisalhamento provocada pelas ferramentas de estampo na chapa. Desta forma, é iniciado o
corte da peça. Esta zona de penetração corresponde geralmente a cerca de um terço da espessura
da chapa. À medida que o punção continua seu movimento para baixo, o processo de fratura é inici-
ado nas duas arestas de corte (arestas do punção e da matriz). Esta é a última etapa do corte, e nela
ocorre a separação entre as partes que estão sendo cortadas pela aplicação de tensões de cisalha-
mento. Caso a folga entre o punção e a matriz estiver correta, as duas linhas de fratura se encon-
tram, resultando em uma separação limpa da peça em duas partes.
As bordas cortadas da chapa possuem características específicas geradas por cada etapa do
corte, como mostra a Figura 3. No topo da superfície de corte da peça, há uma região arredondada
(zona de deformação). Esta região corresponde à depressão feita pelo punção no trabalho do corte
devido à deformação plástica realizada por tensões de compressão durante o início da penetração
do punção. Nesta região, ocorre a deformação plástica durante o processo de corte e ela corres-
ponde a aproximadamente 5% da espessura da chapa. Quanto mais rígido o material, menor será a
região de deformação. Logo em seguida a esta região arredondada há uma região lisa e brilhante
(zona de cisalhamento). Esta região é resultado da penetração do punção que aplica tensões, princi-
palmente de cisalhamento, na peça. Esta região possui aproximadamente 40% da espessura da peça
e, quanto mais rígido o metal, menor será sua área. No final desta região, ocorre o início da região
de fratura (zona de ruptura). Esta região é uma superfície relativamente áspera, onde o movimento
contínuo de decida do punção causa a fratura do metal. A região é relativamente inclinada e corres-
ponde ao trecho onde ocorre o destacamento entre as partes cortadas. Este destacamento ocorre
devido à diminuição da seção útil de corte e, com a aplicação de cargas acima do limite suportado
em cisalhamento desta região, ocorre a fratura, separando totalmente as partes. Finalmente, na
parte inferior da borda, ocorre a formação de uma rebarba. Rebarba é um canto afiado na superfície
inferior da peça provocado pelo alongamento do metal durante a separação final entre a peça e a
chapa. Quanto mais preciso for o corte, menor será a região de rebarba.
para dividir chapas grandes em seções menores para operações subsequentes de estampagem. Por
exemplo, a chapa que vem em uma bobina é cortada em tiras para posteriormente ser utilizada em
outro processo de estampagem. Este processo é realizado em uma máquina chamada tesoura gui-
lhotina. As lâminas superiores das tesouras guilhotinas são muitas vezes inclinadas, como mostrado
na Figura 4 (b), para reduzir a força de corte necessária durante a operação. Esta redução da força
será explicada mais adiante.
O contorno envolve o corte da chapa ao longo de um contorno fechado em uma única etapa
para separar a peça do material circundante (chapa ou tira), como na Figura 4 (a). A peça desse pro-
cesso é a porção de material que é destacada da chapa. O puncionamento é semelhante ao contor-
no, exceto que, neste processo, é produzido um furo na peça e a parte separada é um pedaço de
sucata, retalho. A peça que será utilizada é a parte que possui o furo. A distinção entre estes dois
processos de corte é ilustrada na Figura 5.
Estas três operações (corte, contorno e puncionamento) são as mais comuns para a produção
de peças estampadas utilizando o processo de corte. Elas são o ponto de partida para a fabricação
de uma infinidade peças que, após sofrerem estas operações, podem ser submetidas a outros pro-
cessos de estampagem (dobramento e repuxo) ou já estarem prontas para utilização. Uma peça
simples que é produzida apenas com esses processos descritos são as arruelas. Inicialmente, a bobi-
na é cortada em tiras ou podem ser utilizados retalhos. Após esta primeira etapa, a peça passa pelo
processo de contorno e puncionamento, e está pronta. A seguir, serão elencadas outras operações
de estampagem que envolvem a aplicação de variações do processo de estampagem de corte
Destaque e separação
Estas operações são caracterizadas pelo corte de fora a fora da tira metálica, ou seja, os pun-
ções e matrizes desse tipo de operação possuem largura suficiente para cortar toda a largura da tira
metálica. Sua diferença em relação ao corte já descrito é que, ao final deste processo, é gerada uma
peça, e no corte convencional é gerada uma tira que não é considerada uma peça.
A operação de destaque é uma operação de corte na qual as peças são cortadas de uma tira
de chapa metálica pelo corte dos lados opostos da peça de forma sequencial, como mostrado na
Figura 6 (a), em que os estampos de corte ficam localizados na mesma região da prensa e são alter-
nados de acordo com o contorno a ser cortado. Cada corte forma uma das bordas da peça, que pos-
sui a largura igual a da chapa, produzindo sempre uma nova peça a cada operação de estampagem.
As características de uma operação de corte por destaque que a diferenciam de uma operação de
corte convencional é (1) as bordas cortadas não são necessariamente retas e (2) as peças brutas
podem ser organizadas na tira de metal de tal forma que o retalho não é gerado.
A separação envolve o corte de uma tira de chapa de metal por um punção com duas bordas
de corte que possui largura igual a da chapa, como mostrado na Figura 6 (b). Esta operação é neces-
sária quando o contorno da peça tem uma forma irregular que impossibilita o encaixe perfeito de
duas peças, de forma que toda a tira seja utilizada. A separação é menos eficiente do que o desta-
que, pois este resulta em algum material desperdiçado (sucata). Ele também é um processo que
necessita de ferramentas mais complexa e, consequentemente, mais caras.
uma força Fh de retenção que evita a movimentação da chapa provocada pela força aplicada pelo
punção. Desta forma, a chapa não se movimenta, por estar comprimida e travada, evitando distor-
ções da região estampada. O punção, com folgas menores, desce com uma velocidade mais lenta
que o normal para gerar uma região com as dimensões precisas e com alta qualidade das bordas. O
processo é geralmente realizado em espessuras de chapas relativamente finas.
Recorte é uma operação de corte realizada na peça semiacabada para remover excesso de
metal e estabelecer a dimensão precisa da peça. Um exemplo típico de chapas de metal é o corte da
parte superior de um recipiente que foi submetido à estampagem profunda, com o intuito de deixar
a borda do recipiente com as dimensões desejadas, como mostrado na Figura 8 (c).
O transpasse é uma operação que ocorre normalmente após a operação de puncionamento.
Esta operação é utilizada tanto para aumentar o diâmetro do furo da peça como também para criar
uma curvatura no furo. A região curvada pode aumentar a resistência mecânica e também melhorar
o acabamento da peça.
Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você vai compreender melhor as operações de cor-
te. Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras indicadas, procurando assimilar o
conteúdo estudado.
Folga
A folga c em uma operação de corte é a distância entre o punção e a matriz, conforme mos-
trado na Figura 2(a). Folgas típicas em estampagem convencional variam entre 4% e 8% da espessu-
ra da chapa metálica e. O efeito de folgas indevidas é ilustrado na Figura 10. Caso a folga seja muito
pequena, as linhas da fratura superior e inferior tendem a percorrer direções opostas, gerando uma
superfície lisa e de fratura muito grande, além de maiores forças de corte que podem levar à quebra
das ferramentas. Caso a folga seja muito grande, o metal fica comprimido entre as arestas de corte
e o resultado é uma quantidade excessiva de rebarbas e um desgaste precoce da ferramenta. Em
operações especiais que exigem bordas muito retas (corte fino, por exemplo), a folga é de apenas
cerca de 1% da espessura do material.
A folga correta depende da espessura da chapa e do tipo de material que ela é composta (ma-
terial frágil ou dúctil). A folga recomendada pode ser calculada por uma fórmula linear preestabele-
cida ou pela utilização do gráfico que descreve a folga c em relação à espessura e da chapa, de acor-
do com o tipo de metal. As duas formas levam em consideração o metal da chapa a ser estampado.
O primeiro método utiliza a seguinte equação:
Quadro 1 Valores das folgas permitidas para os principais metais utilizados em estampos de corte.
METAL
Ligas de Alumínio 1100S e 5052S. 0,045
Ligas de Alumínio 2024ST e 6061ST, latão, aço de baixa resistência laminado a frio e aço inox de 0,060
baixa resistência.
Aço de média resistência laminado a frio, aço inox de média e alta resistência. 0,075
Fonte: Groover (2013, p. 484).
O segundo método de cálculo de folga entre matriz e punção é o que utiliza o gráfico da Figura
11. Nele pode ser visto que a variação da folga não é linear como o descrito pela fórmula anterior.
Para calcular a folga, é necessário conhecer o material da chapa, para poder ser escolhida a curva
correta e a espessura dela. Com estes dois dados, é possível calcular a folga. Por exemplo, para o
caso de uma estampagem com uma chapa de alumínio com espessura de 4 mm, temos uma folga
de aproximadamente 0,1 mm, como mostrado em verde na Figura 11.
Devido à geometria da aresta que vai ser cortada, a dimensão externa da parte retirada da
chapa Db (pode ser a peça ou a sucata) será maior que o tamanho do furo que fica na chapa Dh. Na
operação de contorno, a peça será retirada da chapa metálica e, portanto, ela deve ter a sua dimen-
são determinada pela matriz. Assim, as dimensões do punção e da matriz para uma operação de
contorno com diâmetro Db são determinadas como:
Diâmetro do punção para operação de contorno
Diâmetro da matriz para operação de contorno
O cálculo é feito desta forma, pois a parte retirada (peça) da chapa, para possuir sua dimensão
igual ao projetado, deve estar com as dimensões da matriz. Essas dimensões serão exatamente
iguais às do desenho.
No caso de uma operação de puncionamento, o furo da chapa deve possuir a dimensão esti-
pulada pelo desenho. O tamanho do furo será determinado pelas dimensões do punção. Dimensões
de punção e matriz para um puncionamento com diâmetro Dh são determinadas como:
Diâmetro do punção para puncionamento =
Diâmetro da matriz para puncionamento =
O cálculo é feito desta forma, pois o furo deve ter as dimensões do punção para que o furo
contenha as dimensões especificadas em desenho. Essas dimensões serão exatamente as do dese-
nho. Para que a sucata ou o estampo de contorno caia através da matriz, a abertura da matriz deve
ter uma folga angular de 0,25° a 1,5° em cada lado, como mostrado na Figura 13. A parte reta da
matriz é utilizada para a realização de afiação devido ao desgaste natural que ocorre durante as
operações de estampagem e, consequentemente, com a perda da afiação da matriz.
Forças de corte
As estimativas de força de corte são importantes porque essa força determina o tamanho (to-
nelagem) que a prensa necessita possuir. A força de corte Fc de chapas pode ser determinada por:
Em que TS é tensão de ruptura em MPa (lb/in2). Esta alternativa é utilizada pelo fato de os en-
saios de tração serem mais comuns que os ensaios de cisalhamento. Assim, é possível encontrar
com mais facilidade os dados de tração dos materiais.
Estas equações para estimar a força de corte assumem que todo corte ao longo do compri-
mento da aresta cortada p é realizado ao mesmo tempo. Neste caso, a força de corte será a máxima
possível. Pode ser realizada uma redução da força máxima utilizando uma aresta de corte angular
no punção ou na matriz, como mostrado na Figura 14 (b). O ângulo (chamado de ângulo de cisalha-
mento) do punção ou matriz diminui o contato entre a ferramenta e a chapa durante todo o proces-
samento e, desta forma, reduz a força aplicada em qualquer momento da estampagem. No entanto,
a operação com ferramentas de corte em ângulo necessita de equipamentos com maiores cursos
para efetuar o mesmo corte realizado com ferramentas sem ângulo de corte (reta).
A energia total necessária na operação com ou sem ângulo na ferramenta é a mesma, seja
concentrada em um breve momento ou distribuída por um período de tempo mais longo. Esta
energia é traduzida em trabalho. O trabalho aplicado durante o corte com a ferramenta inclinada e
a reta é o mesmo. Desta forma, é possível demostrar, de forma simples, a redução desta força du-
rante o processo de corte. Este trabalho aplicado pode ser demonstrado pela seguinte equação:
Em que F é a força aplicada e d a distância percorrida pela ferramenta de corte. Para o caso de
uma ferramenta reta, temos:
Em que e é a espessura da chapa. Quando é utilizada uma ferramenta de corte inclinada, a dis-
tância percorrida por ela é superior devido à inclinação, como demonstrado pela Figura 14. Assim, o
trabalho é calculado por:
Em que a é a distância mais percorrida pela ferramenta devido à sua inclinação. Como o traba-
lho para executar estes dois cortes não varia, pois a operação possui o mesmo perímetro de corte p,
temos que:
Força de sujeição
Em alguns processos que envolvem estampagem com o corte da chapa (corte, contorno, pun-
cionamento), existe a necessidade de se prender a tira metálica para a obtenção de peças com mai-
or qualidade. Para fixar a tira, são utilizados sujeitadores ou prensa-chapa. Estes dispositivos devem
aplicar uma força suficiente para que a chapa não se movimente durante a realização da operação
de estampagem. Seu cálculo é baseado na força utilizada para o corte. Nas condições em que as
ferramentas (punção e matriz) se encontram afiadas e a folga é calculada de forma correta, esta
força equivale entre 5% e 12% da força de corte. O padrão utilizado é de 10%, como na equação a
seguir:
Com as leituras propostas no Tópico 3. 2., estão disponíveis dois vídeos. O primeiro é sobre o
calculo da folga entre matriz e punção e o segundo sobre a força de corte. Com eles será mais fácil
de compreender os cálculos apresentados. Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as
leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo estudado.
3. 1. OPERAÇÕES DE CORTE
Nada melhor que um vídeo para explicar como funciona um processamento de fabricação. A
seguir, são apresentados vídeos de alguns processos que envolvem o corte na estampagem. É im-
portante que você assista a estes vídeos para fixar os conceitos descritos anteriormente nessas ope-
rações. Também é importante que você estude os materiais de leitura indicados.
• LIU, J. Stamping process. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=uz1G3z_puug>. Acesso em: 16 jul. 2018.
• HIPARTER MOLD. Progressive drawing metal die made in China. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Y6bpFbXnm_c>. Acesso em: 16 jul. 2018.
• VERNILLE, M. Linha de puncionamento completa. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=TYtYhCleLKk>. Acesso em: 16 jul. 2018.
• GRUPO IDEMET. Pivatic punzonadoras de torreta alta em México. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=fHmJ1D9RARI >. Acesso em: 16 jul. 2018.
• JOHNNYPHANTOM. Euromac CNC punching machines. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=66jKzy6UbQY >. Acesso em: 16 jul. 2018.
• ADIRASAPORTO. Pivatic punch press. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=IatYTDR6of8>. Acesso em: 16 jul. 2018.
• HACO AUSTRALIA. Haco Kingsland CNC tube punching machine. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=r_aELzW4BZs >. Acesso em: 16 jul. 2018.
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se
encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estu-
dados para sanar as suas dúvidas.
1) A empresa estamparia S.A. recebeu uma encomenda de 250.000 arruelas com diâmetro externo de 20 mm e
diâmetro interno de 10,5 mm (M10), com espessura de 1,8 mm. Seu processo de fabricação é realizado em
duas etapas: operação de contorno para o diâmetro externo e operação de puncionamento para o diâmetro
interno. Calcule as dimensões dos punções e das matrizes para as duas etapas utilizando os dois métodos de
cálculo para folga (equação e gráfico), para os casos em que a chapa metálica for de aço e de latão.
2) A empresa Estamparia S.A. possui algumas prensas de estampagem e quer saber qual prensa deve utilizar para
fazer as arruelas de latão (S=300).
a) Calcule as forças máximas utilizadas na operação de contorno e puncionamento para o caso dos punções e
matrizes serem retos.
b) Calcule a força de sujeição para as duas condições caso fosse necessário prender a tira para uma excelente
qualidade da peça.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:
1) Cálculo do punção e matriz para o processo de contorno (região externa da arruela):
2)
Esta forma uma prensa de 35 N ou 3,5 ton, que deve ser escolhida para a fabricação das arruelas.
b) Força de sujeição:
5. E-REFERÊNCIAS
PENTEADO, F. Processos de estampagem. 2018. Disponível em: < http://bmalbert.yolasite.com/resources/Estampagem.pdf>. Acesso
em: 20 jun. 2018.
6. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final desta unidade. Foram discutidos aqui os conceitos relacionados à estampa-
gem de corte. Neste momento, você deve compreender o que é e quais são os processos de estam-
pagem que envolvem corte. Também foram discutidos como se calcula a folga entre matriz e pun-
ção e as forças envolvidas nas operações de corte. Portanto, você deve ir para a próxima unidade
sabendo calcular e aplicar estes conceitos que serão utilizados para o dimensionamento da ferra-
menta de estampo.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENAZZI JR., I.; CAVERSAN, E. G. Tecnologia de estampagem 1 – Corte. São Paulo: Fatec Sorocaba, 2012.
CHIAVERINI, V. Tecnologia mecânica: processos de fabricação e tratamento. v. 2. São Paulo: Pearson Makron Books, 1986.
GROOVER, M. P. Fundamentals of Modern Manufacturing. Materials, Processes, and Systems. Fifth Edition. EUA: Wiley, 2013.
MARCONDES, P. Projeto de Ferramentas para Conformação de Chapas. Paraná: UFPR, 2008.
POLACK, A. V. Manual prático de estampagem: breve tratado teórico-prático para os mecânicos e profissionais desta especialidade.
São Paulo: Hemus, 2004.