SINOPSE
O presente texto apresenta diferentes conceitos e significados do termo papel
encontrados na obra de Moreno e de outros psicodramatistas. Destaca a origem dos
papéis psicossomáticos, sociais e psicodramáticos na matriz de identidade, ressaltando a
importância dos mesmos para o surgimento do eu e constituição do indivíduo no
contexto da teoria e prática psicodramática.
UNITERMOS
Papel. Papel Social. Papel psicossomático. Papel psicodramático. Papel imaginário.
ABSTRACT
This paper presents different conceptions and meanings of the term role found in
Moreno's work and other Psychodramatists'. It emphazises the origin of the
psychosomatic,social and psychodramatic roles. It also focuses on the importance of
these roles to the emerge of the I and to the construction of the individual within the
psychodramatic context.
UNITERMS
Role. Social role. Psychosomatic role. Psychodramatic role. Imaginary role.
INTRODUÇÃO
A noção de papel não está ligada a um autor em particular, nem a um determinado ramo
das ciências apenas. No âmbito das Ciências Sociais diversos autores trataram, não só
do conceito de papel, como também de sua função e importância dentro do sistema
social. Destacaram seu caráter psicossocial que influencia a formação da
individualidade e coletividade, pelos padrões de conduta individual e coletiva
representados pelos papéis.
Não há dúvida que este conceito oferece inúmeras possibilidades de investigação sobre
a relação indivíduo e sociedade, junto às disciplinas que tratam dos fenômenos pessoais
e coletivos, tais como a psicologia, a sociologia, a antropologia e a filosofia. Para
muitos autores as teorias de papel são consideradas o ponto de ligação entre elas.
Assim, destaca-se aqui, a excelente obra de Rocheblave-Spenlé (1962) (22) que, ao
apresentar um estudo histórico-crítico da noção de papel, analisa as contribuições dos
precursores e primeiros teóricos do papel, com destaque para as contribuições de G. H.
Mead, R. Linton, T. Parsons, T. M. Newcomb e J. L. Moreno, para citar apenas os mais
conhecidos.
Por outro lado, Ray Holland (1977) em seu livro "Eu e o Contexto Social" analisa as
contribuições de autores que buscaram a inter-relação do papel e da personalidade,
destacando a "teoria do construto pessoal e papel" (G. Kelly, D. Bannister e F.
Fransella), a "teoria estrutural do papel" (Park e Burgess, e Merton) e a "teoria do papel
eu/outro" (Coser e Rosenberg).
Etimologicamente diversos termos dão origem à palavra papel com diferentes sentidos.
O termo vem do latim medieval rotulus (derivado de rota = roda) que pode significar
tanto "uma folha enrolada contendo um escrito", bem como "aquilo que deve recitar um
ator numa peça de teatro". No sec. XI o termo era utilizado também no sentido de
"função social", "profissão". O termo francês "rôle", o inglês "role" e o castelhano "rol"
igualmente têm sua origem na mesma etimologia latina "rotulus". (3)
A palavra papel na língua portuguesa, etimologicamente, vem do grego pápyros, do
latim papiro. Papiro designava um arbusto do Egito de cuja entrecasca se fazia o papel,
obtendo-se o material para a escrita.
Em relação ao teatro, todo papel necessita de um ator e todo ator tem um papel a
desempenhar. Sabe-se que o teatro pode sobreviver sem um texto escrito, prescindir da
cenografia (representação ao ar livre), e até dispensar a palavra (mímica). Pode existir
(como durante séculos) sem o diretor. Mas o teatro jamais viverá sem o ator.
Na Grécia Antiga, Téspis (560 a.C.) teria escrito e representado o primeiro papel na
história do teatro. Além do coro e corifeu (já existentes nas festas religiosas – festas
dionisíacas-), Téspis inova representando vários personagens através de mudanças de
máscaras e roupas. As representações de tragédias incluiam o coro, corifeu e ator (este,
geralmente, o próprio poeta). Com Ésquilo surge o segundo ator e Sófocles introduz o
terceiro. Na tragédia grega nunca havia mais de três personagens em cena e os atores
eram o protagonista, o antagonista e o tritagonista. Ao primeiro cabiam os papéis
principais e os demais divididos entre os atores secundários.
A fonte inspiradora da teoria dos papéis de Moreno foi o teatro. Por sua origem,
segundo ele, papel não é um conceito sociológico ou psiquiátrico. Veio da linguagem do
teatro e através dele entrou para o vocabulário científico. E como o teatro representou,
no início, a matriz e o locus do projeto moreniano, nada mais lógico, portanto, que o
conceito de papel tenha se constituido numas das pedras angulares da teoria moreniana
e da prática sócio-psicodramática.
É esquecido a miude, que a moderna teoria dos papeis teve sua origem no teatro, do
qual tomou suas perspectivas. Tem uma longa história e tradição no teatro europeu, a
partir do qual desenvolvi, gradualmente, a direção terapêutica e social de nosso tempo.
Introduzia nos Estados Unidos em meados da década de 20. Dos papéis e contrapapéis,
situações de papéis e conservas de papel, desenvolveram-se naturalmente suas
extensões modernas: o executante de papel, o desempenho de papéis, a expectativa de
papel, a passagem ao ato (acting out) e, finalmente, o psicodrama e o sociodrama. (18,
p.28)
Surge, assim, um novo tipo de teatro. Não um teatro repetitivo, de peça escrita pelo
dramaturgo, decorada, ensaiada e encenada sucessivamente. O Teatro da
Espontaneidade é sempre uma peça única, que flui e se consuma no aqui-agora do ato
vivencial dos atores-criadores. Um teatro vivo, teatro vida. "Minha visão do teatro foi
moldada segundo a idéia do self espontaneamente criativo", diz Moreno. (l5, p.17)
Através da nova forma de seu teatro, Moreno buscava tanto o desenvolvimento pessoal
quanto social do indivíduo. Para alcançar esses objetivos, acreditava que o homem
podia se transformar através da ação, experimentação e vivências, refletindo e
modificando sua conduta.
Dessa maneira, como síntese unificadora, o papel - conceito social - conecta com a
espontaneidade, de conteúdo individual. Papel e espontaneidade caminharam juntos
desde os primeiros trabalhos de Moreno com seu teatro de improviso: "O desempenho
de papéis foi a técnica fundamental do teatro espontâneo vienense. Dada a
predominância da espontaneidade e da criatividade no desempenho de papéis, este foi
chamado ‘desempenho espontâneo-criativo’". (17, p. 157)
Essas duas dimensões, a individual e a coletiva são encontradas nos diferentes sentidos
e concepções de papel apresentadas por Moreno ao longo de sua obra:
- O papel pode ser definido como a unidade de experiência sintética em que se fundiram
elementos privados, sociais e culturais. (18, p. 238) - O papel é a forma de
funcionamento que o indivíduo assume no momento específico em que reage à uma
situação específica, na qual outras pessoas ou objetos estão envolvidos. (18, p. 27) - O
papel é uma cristalização final de todas as situações em uma zona especial de operações
pelas quais o indivíduo passou (p.ex. o comedor, o pai , o piloto de avião). (18, p. 206)
-O papel pode ser definido como uma pessoa imaginária criado por um autor dramático,
p. ex. um Hamlet, um Otelo ou um Fausto; esse papel imaginário pode nunca ter
existido, como p. ex. um Pinóquio ou um Bambi. (18, p. 206)
- O papel é a unidade da cultura: ego e papel estão em contínua interação. (18, p. 29) -
O papel pode ser um modelo para a existência, como Fausto, ou uma imitação dela
como Otelo... O papel também pode ser definido como uma parte ou um caráter
assumido por um ator... O papel ainda pode ser definido como uma personagem ou
função assumida na realidade social, p. ex. policial, médico, juiz... Finalmente o papel
pode ser definido como as formas reais e tangíveis que o eu adota. (18, p. 206)
Nessas diferentes definições e concepções pode-se notar que os papéis possuem algo
comum: são fenômenos observáveis, aparecem nas ações, são atuados, representam
aspectos tangíveis do eu.
Moreno ora define o papel como função prescrita e assumida pelo indivíduo, ora como a
"forma real e tangível que o eu assume" passando do plano dramático ao social. Para
ele, o papel ora se refere à uma pessoa imaginária, ora a um modelo para a existência ou
a um personagem da realidade social, uma imitação da vida ou uma forma tangível do
eu. E, como observa Rocheblave-Spenlé, destaca-se o sentido de representação teatral e
ação, funções sociais desempenhadas pelos indivíduos na sociedade, representação da
individualidade das pessoas, modelo de experiência, "parte" de uma pessoa real
representada por um ator, caráter ou função assumidos numa realidade social e
cristalização final do modo de realizar ações especiais, como pai, mãe, etc.
A mesma autora observa, por outro lado, que enquanto a maioria dos autores que
trataram do tema (tais como G. H. Mead, R. Linton, Parsons...) enfocam os papéis como
facilitadores das relações sociais pela sua previsibilidade e por representarem padrões
de conduta aceitos, Moreno ilumina um aspecto novo e original do papel: a
possibilidade criativa do homem que o assemelha a Deus cujas ações são criadoras e
espontâneas.
A partir da ruptura entre realidade e fantasia surge a diferenciação dos papéis sociais e
psicodramáticos, até então misturados. Os papéis de mãe, filho, professor, etc. são
denominados sociais, separados dos psicodramáticos que são personificações de coisas
imaginadas, tanto reais como irreais. Num diagrama de papéis (l8, p. 129) Moreno
representa a divisão entre ambos como tênue, mas atribui maior espaço e predominância
aos psicodramáticos.
Com o desenvolvimento desses novos conjuntos de papéis (os sociais relacionados com
o mundo real, os psicodramáticos com o mundo da fantasia), completa-se a terceira fase
da matriz de identidade, denominada a da inversão de papéis onde, primeiro existe a
tomada de papel do outro para, em seguida, ocorrer a inversão concomitante de papéis,
o que acarreta uma transformação total na sociodinâmica do universo infantil.
A fase da inversão de papéis que ocorre no segundo universo infantil (precedida pela do
duplo e a do espelho) representa a culminância do processo de desenvolvimento do eu e
constitui a base psicológica para todos os processos de desempenho de papéis e para
fenômenos como imitação, identificação, projeção e transferência. Inverter e
desempenhar o papel do outro, não surge de súbito nem ocorre nos primeiros meses de
vida. Somente com a integração dos papéis precursores, em torno do terceiro ano, a
criança dispõe de uma identidade que lhe permitirá relacionar-se com outras pessoas.
Poderá, assim, inverter o quadro, assumindo o papel de quem, um dia, a alimentou,
carregou no colo ou com ela passeou. Dessa maneira, a experiência da realidade irá
permitir que, a partir da adoção de papéis, iniciada com os psicossomáticos, surjam
várias possibilidades de interação dos sociais e psicodramáticos.
Pela análise da gênese e desenvolvimento na história do indivíduo fica claro que "o
papel é uma experiência interpessoal", na qual vários atores encontram-se implicados,
constituindo-se, ao mesmo tempo, numa interação de estímulos e respostas. Interação
que tanto sinaliza fatores previsíveis da resposta em função dos papéis sociais e da
percepção dos mesmos, quanto elementos imprevisíveis resultantes da espontaneidade
dos atores/participantes da interação. Necessário se faz, portanto, analisar um outro
aspecto, o conceito de complementaridade, o contra-papel.
Como para Moreno o eu "é revelado pelo desempenho de papéis", ele vai privilegiar,
sobremaneira a técnica do role-playing com todo seu desdobramento pedagógico
(aprendizagem e treinamento de papéis) e terapêutico. A finalidade do role-playing
como jogo psicodramático de papéis "é proporcionar ao ator uma visão do ponto de
vista de outras pessoas, ao atuar no papel dos outros, seja em cena, seja na vida real".
1
Ver livro de Monteiro, R et alii "Técnicas Fundamentais do Psicodrama". São Paulo. Editora Brasiliense,1993.
com os papéis que o aprisionam a modelos e padrões, normas, status, rótulos pré-
determinados. O Psicodrama possibilita ao indivíduo utilizar seu potencial
imaginativo/criativo para transformar a realidade, retomar papéis sociais instituídos,
cristalizados e conservados, para recriá-los modificando-os e invertê-los, reinventando-
os na vivência das relações em que se encontra envolvido e implicado. Uma vez que a
proposta psicodramática é resgatar o homem espontâneo-criativo preso nas amarras da
conserva cultural, pode-se dizer que a criatividade é aquilo que o indivíduo faz para
recriar o seu eu com espontaneidade através do conjunto de papéis que desempenha no
jogo da vida.
Bermudez considera o ser humano uma condensação dos fatores ambiente, corpo e
mente com destaque para os papéis psicossomáticos de ingeridor, defecador e urinador
oriundos das funções fisiológicas correspondentes. A importância fundamental da
estruturação dos papéis psicossomáticos é a progressiva delimitação de áreas que eles
vão produzindo. Assim, o papel de ingeridor delimita as áreas corpo-ambiente, o de
defecador as de ambiente-mente e o de urinador mente-corpo. Evolutivamente, para
Bermudez, o papel de ingeridor estrutura-se nos primeiros dias de vida, o de defecador
entre o terceiro e oitavo mês e o de urinador entre o oitavo e vigésimo quarto. O
"Núcleo do Eu" é a estrutura resultante da integração das três áreas com os três papéis
psicossomáticos a partir da "estrutura genética programada interna" e da "externa".
Como um dos pioneiros na história do movimento psicodramático brasileiro, Bermudez
tem feito escola e sua teoria do Núcleo do Eu possui inúmeros seguidores.
DALMIRO BUSTOS (l979), figura de destaque no cenário psicodramático, entre suas
inumeráveis contribuições ao Psicodrama, apresenta os conceitos de suplementariedade,
de papel complementar interno patológico, de dinâmica dos papéis (vínculos) e papel
gerador de identidade.
Para Bustos, os papéis estruturam o ego em suas trocas com o meio ambiente. A zona
de interação entre o ego e o mundo exterior está estruturada em forma de papéis. Cada
papel se relaciona com complementares de outras pessoas através de vínculos. Pela falta
de diferenciação entre o eu e os outros, entre mundo interno e externo, o universo das
relações fica povoado de confusões, sem limite entre o eu e não eu. Não há consciência
dos vínculos. O eu e o outro significativo ficariam unidos em suplementariedade, onde
um é parte do outro, sem possibilidade de vínculo. A fantasia da inexistência do vínculo
caracteriza a suplementariedade onde cada um dos termos de uma relação se comporta
como se fosse parte de um todo, sem solução de continuidade. Passa-se de um estar com
o outro à fantasia de ser parte do outro. É o funcionamento unitário, base das relações
simbióticas.
O mesmo autor explica, ainda, que todo conflito é incorporado através de um papel,
geralmente o de filho com seu complementar: mãe ou pai. A situação de conflito faz
com que este papel fique fixado em seu modus operandi ao papel complementar
primário, denominado complementar interno patológico. Quanto mais forte o conflito,
mais incapacitante o resultado e maior número de papéis são afetados. Isso porque, todo
estímulo externo que desencadeie esta dinâmica originará condutas que correspondem à
relação com este complementar interno patológico. Como, por exemplo, um filho
hipersensível diante de um pai supercrítico poderá apresentar condutas afins em suas
relações com outras figuras de autoridade. Isso ocorre, porque, para se desprender dos
complementares primários, a criança necessita de apoio indispensável para superar a
angústia da separação e retomar a espontaneidade. Na falta desse apoio, ela tenderá reter
o que é garantido ou conhecido, aferrando-se ao complementar primário, parcial ou
totalmente, configurando-se, assim, o papel complementar interno patológico. Este irá
bloquear ou afetar em diferentes graus as relações com os outros, revelando-se parte
constitutiva permanente dos vínculos, provocando respostas ou atitudes de acordo com
as experiências primitivas do indivíduo, e não com os estímulos externos e atuais.
Diminui a capacidade de reações espontâneas, aumentando a ansiedade. Constitui a base
das relações transferenciais. (5, p. 18-23) (6, p. 24).
Outro conceito desenvolvido por Bustos é o de papel gerador de identidade, (5, p. 22)(7,
p. 77-78), caracterizado como aquele que, dentro de um repertório de papéis de um
adulto, predomina como um ponteiro positivo indicador do indivíduo. Afirma que todas
as pessoas têm um papel central e predominante que impregna os demais, auxilia a
cimentar a identidade, construindo auto-confiança, especialmente se tal papel for
passível de mudanças em diferentes momentos de suas vidas. Constitui-se em eixo
predominante que funciona como defensivo nas situações de conflito, bem como possui
função ordenadora (ordenamento interno).
Por outro lado, ao discutir o conceito de papel social chega ao caráter histórico do
mesmo ou, conforme o denomina, a um tipo de papel: o histórico que, enquanto
modelo, circunscreve e delimita os papéis sociais. Moreno não o descreve, segundo
Naffah, por não considerar a função estruturante da história. Entretanto, concorda com
Moreno quando este afirma que os "os papéis são os fatos mais significativos dentro de
qualquer cultura específica", mas desde que não se esqueça que estas formas relacionais
estão circunscritas a um processo histórico e à uma estrutura social, política e
econômica, de que são manifestações necessárias, consolidação do instituído. Conclui
que os papéis sociais, sua estrutura e dinâmica próprias, nada mais fazem que repetir e
concretizar num âmbito micro-sociológico, a estrutura de contradição e oposição
básicas que se realiza entre papéis históricos, constituida pela relação dominador-
dominado, uma vez que o conceito de papel social pressupõe o de classe social e vice-
versa.
A partir de sua formação psiquiátrica e toda sua experiência clínica, Fonseca apresenta
um enfoque de papel bastante operativo, oferecendo uma instrumentalização prática
para o trabalho do psicoterapeuta.
Ressalta, assim, que os papéis psicossomáticos podem ser vistos como zonas corporais
em ação, incluidas na relação mãe-filho e em outros papéis familiares, sem prejuízo da
identidade corporal da criança.
A configuração sociométrica dos vínculos virtuais é mais estável que a dos residuais (e
estes, muito mais que os atuais) já que não estão sujeitos à confrontação com a
realidade, quer presente ou passada.
Moysés Aguiar acredita que a diferenciação desses três tipos de vínculos poderá
fertilizar a prática e teoria psicodramática, se utilizada como instrumento para análise
dos papéis.
Por outro lado, examinando a dinâmica dos papéis e a questão do contra-papel, não a
entende como uma estrutura bi-polar simples. Para ele, a complexidade das relações
indica ocorrência frequente de complementaridades múltiplas, como triangulação e
circularização de papéis. Nesse sentido, destaca duas vertentes que tornam o
desempenho de papéis mais e mais complexo: a primeira é a composição do papel, cujas
inúmeras funções podem ser consideradas, de per si, como "sub-papéis". Exemplifica
com o papel de mãe que inclui missões tão díspares como amamentar, limpar o
bumbum do bebê, aconselhar filha adolescente, etc.. Tarefas estas que envolvem
projetos distintos e operações peculiares, especialmente quanto à complementaridade
que implicam. Surgem os sub-papéis de amamentador-amamentado, limpador-limpado,
conselheiro-aconselhado, etc., compondo o conjunto maior que é o papel mãe-filho. A
segunda vertente é a que se refere a papéis paralelos. Estes surgem quando, numa
determinada relação, a consecução do projeto comum permite ou mesmo exige o uso de
modelos relacionais próprios de outras relações. Apresenta, como exemplo, a
complementaridade professor-aluno incluindo práticas "paternais" que caracterizam
outro papel do mesmo cacho, a relação pai-filho. Ou, ainda, o papel homem-mulher
revelando conteúdo "paternal", próprio do papel pai-filho. Esclarece que os
comportamentos que ocorrem entre os parceiros, cuja natureza tem a ver mais com o
segundo papel do que com o primeiro, constituem o papel paralelo. Funciona como
"condimentos" do papel principal.
PALAVRAS FINAIS
O presente texto não pretendeu esgotar o tema papel, nem apresentar uma visão crítica
de diferentes autores. Procurou, apenas, aglutinar e condensar, nesse espaço
privilegiado da Revista Brasileira de Psicodrama, as conceituações de Moreno e
contribuições de outros autores sobre esse inesgotável filão de possibilidades para a
teoria e prática do psicodrama: o conceito de papel.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
7. ___________ Perigo ... Amor à Vista! São Paulo: Editora Aleph, 1990.