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Universidade de Brasília

IREL – Instituto de Relações Internacionais


História das Relações Internacionais Contemporâneas
Docente: Pio Penna Filho
Discente: EMANUEL LUCAS XIMENES LEAL

Ensaio sobre "O Legado do Congresso de Viena à Questão Judaica nos Estados
Germânicos"

Tratar da questão judaica a partir do que se moldou na Europa com o Congresso de


Viena não faria sentido sem se considerar fatos anteriores, especialmente conquanto à
influência que Napoleão exerceu no continente pelos ideais da Revolução Francesa, tendo
como marco histórico 1789, os quais, determinaram a ocorrência do evento.

Dessa forma, o presente ensaio relaciona as questões presentes nos ideários da


Revolução Francesa frente a oposição das demais grandes potências europeias de então no
Congresso de Viena (1815), que incutiu nos diversos povos sob domínio de Napoleão
sentimentos de liberdade e cidadania autodeterminada, como parte de um povo vinculado a
direitos em um Estado-Nação, a exemplo dos judeus da Europa, especialmente nos que
viviam nas sociedades germânicas, focando Áustria e Westfália (hoje parte da Alemanha).

Analisa os efeitos posteriores ao Congresso de Viena às populações judaicas, sua


participação política, seus pleitos e anseios, bem como a representação que a sociedade de não
judeus incutia a essas pessoas, basicamente marginalizando-os, e excluindo-os do contexto
social de forma plena, a partir de uma análise da representação literária na obra Die
Judenbuche (A faia dos judeus), de Annette von Droste-Hülshoff, publicada em 1942.

Retomando aos ideais franceses, Napoleão não apenas expandiu territórios em suas
conquistas, mas difundiu ideais. Ideais estes que marcaram e influenciaram mentes, povos e
culturas, que culminaram com o sentimento de cidadania dos contemporâneos Estados-nação.
Foi um poder muito mais efetivo - inclusive para sua própria derrocada - que suas empreitadas
militares, poder esse que não visualizou ou por ventura subestimou.

Povos que anteriormente não se viam como cidadãos, com seus direitos respeitados,
como detentores de poder de transformação, se viram empossados de uma nova dinâmica e
desejo de autodeterminação. Com os ideais de liberdade e igualdade, em essência civil-
jurídica, como constituintes de um conjunto de nacionais, percebeu-se a importância desse
conjunto de valores compartilhados para a ação política, tanto de ordem interna como externa.

Porém, com a derrota de Napoleão e a tentativa de reestabelecimento da ordem


anterior vigente pelas potências vencedoras (Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia) e um
apanhado de outros Estados, definiram no Congresso como se daria a ordem internacional na
Europa, inclusive com anseio de mitigar os ideais de liberdade e igualdade para todo povo dos
Estados. Mas isso não seria aceito por muitos povos após experimentarem um certo nível de
cidadania, ao molde francês, o que levou a diversos levantes no continente com estopim em
1848, a Primavera dos Povos. Essa experiência de preocupação e descontentamento ocorreu
também com os judeus, tema deste trabalho.

No redesenho das fronteiras e do poder durante o congresso, diversas delegações


judaicas de toda a Europa participaram a fim de garantir os direitos conquistados na era
napoleônica: manter sua emancipação. Isso se dava, no caso judaico, de uma cultura e ação
histórica cristã contra os judeus, que se mantinha, e que com o congresso, com determinada
influência religiosa, poderia tender ao recrudescimento dessa garantia, caso de maior atenção
nas nações com povo germânico, a exemplo de Áustria e Prússia.

A preocupação não era infundada. Em Viena a população judaica crescia, ao passo


que famílias “toleradas” aumentavam, dada sua importância econômica. Somente em 1811
conseguiram obter autorização local para criar uma Betstube, ou sala de orações, o que era
proibido, pois desde 1671 não se permitiam templos não católicos, salvo escondidos da rua, e
somente em 1824 puderam construir uma sinagoga.

Em Viena isso se refletia de forma bastante contundente, a julgar por também ser o
local das reuniões, pois “apesar das discriminações medievais que ainda vigoravam sobre os
judeus vienenses, alguns deles, devido à sua riqueza e cultura, eram tidos em altíssima
consideração pelas elites européias. Durante o Congresso, os Rothschilds, Arnsteins, Eskels,
von Herz e Itzongs abriram seus salões para os participantes do Congresso, levantando a
questão judaica junto a seus freqüentadores. Os salões culturais de anfitriãs judias, como
Fanny von Arnstein e sua irmã, já eram famosos endereços freqüentados pelas elites
européias, inclusive por José II, imperador da Áustria” (MORASHÁ)

Destaque importante nesse intento teve Metternich, que sob influência de Salomon
Rothschild, barão austríaco, demonstrou apoio à causa judaica. Mas sofrendo forte oposição,
terminou o congresso sem uma solução contundente, apesar das declarações de garantir
direitos aos judeus. Com a criação da Confederação Germânica presidida pela Áustria dos
autoritários Habsburgos, que indicavam objeção à resolução efetiva da causa com uma
reforma, houve mais um indicativo de que os judeus saíram perdendo.

Nas décadas seguintes ao Congresso surgiu um movimento conservador nacionalista


germânico com fortes laços religiosos cristãos, se utilizando de caráter racional e teórico, e
que alcançou adeptos na população, fomentando assim o antissemitismo e agressões, como
restrições e tributação diferenciada, que culminou nas ações de Hep-Hep-Krawalle a exemplo
de 1819, similares aos pogroms. Em contrapartida, “houve um esforço por parte dos judeus de
se igualar em diversos aspectos à sociedade cristã, abrindo mão de certos costumes, da
religião, da língua, enfim, de uma identidade compreendida como judaica e não alemã, dada a
discussão em pauta sobre a questão judaica nas sociedades germânicas” (NOWINSKA, 2015,
p.73).

Dada falta de igualdade frentes aos demais austríacos, em 1848, judeus vienenses
abraçaram a causa revolucionária espalhada pela Europa, a fim de solucionar questões como
cidadãos austríacos e de sua condição enquanto povo judeu, tendo líderes no movimento,
como Adolf Fischhof e Ludwig August. Nesse intento “o imperador Fernando I é obrigado a
aceitar o parlamentarismo e uma Constituição, que reconhecia os direitos iguais e a liberdade
de credo a todos os cidadãos”, todavia o movimento contrarrevolucionário absolutista fez com
que Fernando I abdicasse em nome de seu filho Francisco José suspendendo as reformas.

Porém, mesmo com a ad-rogação quanto às discriminações contra judeus, se permitiu


a liberdade religiosa, além de “alguns direitos, entre os quais a autorização para formar sua
própria comunidade religiosa e, em 1860, a permissão aos judeus da Baixa Áustria para
adquirir propriedades. Finalmente, em 1867, quase um século após a Revolução Francesa, os
judeus do império austro-húngaro são emancipados” (MORASHÁ).
Como em todo discurso histórico, há sempre o problema quanto à apreensão do que
seria real e quanto às fontes, pois muitas delas estão a cargo daqueles que detém o poder e
controle delas, especialmente as “oficiais”, criando monumentos linguísticos, parafraseando
Le Goff, que se perpetuam como verdades em função do presente e de um projeto vigente, e
que somente outras fontes, alternativas, podem elucidar um caminho diferente para
perspectivas de diversas retóricas.

Por isso a literatura pode se tornar uma fonte importante para se conhecer fatos e
ações tidos por muito tempo como marginais, mas que demonstram a realidade de outras
perspectivas. Para a situação judaica resultante de 1815 para as sociedades germânicas no
período, a obra Die Judenbuche (A faia dos judeus), uma novela de Annette von Droste-
Hülshoff, publicada em 1842, retratando a representação que se tinha na época de costumes e
valores desse grupo na sociedade alemã e os judeus nela.

Para compreender essa dinâmica é importante o debate a respeito disso como bem
exposto por Magdalena Nowinska (2015), em seu artigo sobre a obra que intitula “Parte da
sociedade ou sociedade à parte? Representação de judeus na novela Die Judenbuche (1842)
de Annette von Droste-Hülshoff”.

Importante frisar que a problemática da questão judaica perpassa o caráter desse


povo não ser referenciado e debatido por ele mesmo em diversas ocasiões, caso da obra –
como no Congresso de Viena que mesmo com delegação judaica, não foram plenamente
atendidos – como em outras obras e outros povos, de não ter no âmbito aceito da sociedade
seu espaço de fala representado, e assim, não judeus discutirem e definirem questões sobre os
judeus, ou mesmo julgarem. Isso demonstra também um caráter marginal relegado aos judeus,
ao que hoje conhecemos como Alemanha, no período de sua publicação, sendo imaginados e
representados, costumeiramente, com uma visão distorcida e ruim. Esse caráter reforça a
identificação do antissemitismo vigente, bem como o fato de a obra ter sido basicamente
ignorada na sociedade alemã até final do século XIX, quando só então foi valorizada.

Nas palavras de Nowinska (2015) é colocado que “o texto foi compreendido pela
autora como um “quadro de costumes”, ou seja, uma representação realista e ao mesmo tempo
crítica de costumes e moralidades de uma sociedade, neste caso um vilarejo na Westfália. O
quadro inclui também personagens judaicos [para análise] se os judeus são representados
nesse texto como parte da sociedade ou como uma sociedade à parte, como outsiders. A
análise é inserida dentro do contexto histórico da publicação da Judenbuche”, vilarejo esse
cujas relações sociais de seus habitantes se assemelham a como a histografia hoje designa boa
parte do período medieval europeu (NOWINSKA, 2015, p.71).

Partindo da análise da autora da obra e o contexto social no qual se inseria, é


indubitável prover que, é difícil aceitar quando alguém se propõe a uma neutralidade, pois a
obra tratando como os judeus personificados no livro à parte da sociedade alemã, pode-se
compreender mais daquele que constrói (ou grupo ou meio os quais se insere) o discurso do
que propriamente os fatos contidos em uma narrativa, já que Annette von Droste-Hülshoff
pertencia a uma família tradicional aristocrática da Westfália, remontando aos períodos
feudais, e vivendo basicamente nas propriedades da família, tipicamente a ordem
predominante daqueles que compuseram as delegações germânicas em Viena (1815), e estes
como detentores do poder em seus Estados, instituírem as políticas nacionais.
Essencial para compreender o contexto da obra, e preocupante, é que o projeto inicial
de Droste-Hülshoff era escrever uma obra de história criminal, relacionando judeus, com o
título Criminalgeschichte Friedrich Mergel (Uma história criminal – Friedrich Mergel).
Porém., “O texto foi alterado e ampliado pela autora no decorrer dos anos 1830 para ser
inserido na mencionada obra sobre costumes na Westfália. Este projeto, contudo, não foi
adiante e, em 1842, Droste-Hülshoff resolveu publicar a parte já pronta do texto, justamente a
Judenbuche.” (NOWINSKA, 2015, p.73). Dessa forma ampliou a participação dos judeus no
contexto dos costumes locais com os motifs (símbolos) judaicos, mas mantendo o gênero
criminalístico (baseado em caso de assassinato verídico), e por sugestão do editor, intitulando
como Die Judenbuche (A faia dos judeus), refletindo caráter comercial e provocativo aos
judeus.

Dessa forma, ao se analisar um texto literário como fonte, como dito por Nowinska
(2015), é importante se ater a três aspectos: (1) a representação dos personagens judaicos; (2)
o discurso do narrador, a representação da convivência entre judeus e gentios na sociedade do
“quadro de costumes”.

A biografia começa com o nascimento de Friedrich Mergel em 1738 e termina com a


sua morte em 1788, narrando “a trajetória de vida de um camponês, Friedrich Mergel, na
Westfália rural do século XVIII. É uma biografia de um criminoso [marcada por mortes
violentas e assassinatos], com certas semelhanças ao Verbrecher aus verlorener Ehre (Um
criminoso por honra perdida) de Friedrich Schiller. O texto acompanha a vida de Mergel
desde o seu nascimento até a sua morte [indicada como suicídio por culpa de seus crimes,
dando um caráter de “verdade” às suas ações anteriores como confissão, e não imaginário
público], mas relaciona a biografia também com o seu contexto social” (NOWINSKA, 2015,
p. 74).

Outro ponto que se percebe a diferenciação aos judeus é que quando se refere a
algum personagem judeu, não o denomina pelo nome, mas o chama apenas “o judeu”,
despersonificando seu caráter, ou no máximo como um gentílico antes do nome, como “o
judeu Aaron”, “o judeu Salomon”, etc.

Interessante destacar, à parte da visão má do contexto judaico, que seu período de


vida remonta a um ano anterior à Revolução Francesa, marco da mudança dos rumos os quais
as sociedades tradicionais com poder, inclusive da Westfália, não aceitavam, em um cenário
bucólico pitoresco e saudosista dos “velhos tempos”; o passado era o ideal. Isso vai de
encontro às motivações gerais da busca do equilíbrio europeu, e da retomada dos valores
anteriores à Revolução Francesa, impulsionadas pelo Congresso de Viena.

Embora seja uma obra repleta de referências a essa diferenciação quanto aos judeus,
cabe neste ensaio demonstrar o panorama do contexto em que esse povo viveu, após o
Congresso de Viena, de forma discriminada e/ou marginalizada; fator esse que também
permeou as ações e o imaginário de muitos ao longo do século XIX até culminar com o
grande desastre do holocausto produzido pela Alemanha nazista e a Segunda Guerra Mundial,
fator que relacionando-se política, econômica, social e historicamente, também outras
questões no mesmo Congresso, levaram a esse catastrófico conflito, cujo presente trabalho
não esgota as análises para a questão judaica na Europa do século XIX pós Viena e a tragédia
na sociedade alemã nazista.
Portanto, remontar, “fazer essa pergunta significa naturalmente pressupor que esse
tipo de questão existia, o que de fato era o caso. Die Judenbuche foi publicada em um período
no qual a posição de judeus na sociedade alemã era discutida e negociada publicamente, ou
seja, em uma época de debates acerca da emancipação dos judeus, cujo ponto central era a
questão se os estados alemães deveriam conceder a eles os mesmos direitos da população
cristã – ou seja, se eles deveriam ser tratados como cidadãos iguais e como parte da sociedade
alemã. […] O termo “emancipação” refere-se a medidas políticas de diversos estados
europeus, desde a declaração de direitos humanos em 1789 na França, de garantir aos judeus
igualdade como cidadãos. Na Alemanha, a emancipação foi introduzida por Napoleão durante
a ocupação dos territórios alemães. As medidas foram em parte revisadas depois do
Congresso de Viena em 1815.” (NOWINSKA, 2015, p.71)

Sendo assim, não há como negar a importância dos ideais franceses e ações
napoleônicas, bem como a reação aristocrática das demais potências, talvez menos a Grã-
Bretanha, para a questão judaica e seu legado para os judeus no século XX, e talvez até a
criação do Estado de Israel.

REFERÊNCIAS

DROSTE-HÜLSHOFF, Anette. The Jews' Beech Tree: A Moral Portrait from Mountainous
Westphalia. University Press of America, Lanham, 2014

ELON, Amos. The Pity of It All: A Portrait of Jews In Germany 1743 – 1933. Londres.
Penguin Books, 2004.

HACKEN, Richard. The Jewish Community Library in Vienna: From Dispersion and
Destruction to Partial Restoration. Leo Baeck Institute Yearbook, Oxford, 2002.

HOFFMAN, C.; BERGMANN, W.; SMITH, H. W. Exclusionary Violence: Antisetic Riots


in Modern German History. The University of Michigan Press, Michigan, 2002.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1990.

MONDAINI, Marco. Guerras Napoleônicas. In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das
guerras. São Paulo: Contexto, 2008. Guerras Napoleônicas.

MORASHÁ. Os judeus de Viena: da Idade Média à Emancipação. Portal Morashá,.


Disponível em: <http://www.MORASHÁ.com.br/comunidades-da-diaspora-1/os-judeus-de-
viena-da-idade-media-a-emancipacao.html>.Acesso em: 10/09/2018.

NICOLSON, Harold. The Congress of Viena – A Study in Allied Untry: 1812 – 1822. The
Viking Press, Nova York, 1964.
NOWINSKA, Magdalena. Parte da sociedade ou sociedade à parte? Representação de
judeus na novela Die Judenbuche (1842) de Annette von Droste-Hülshoff. Revista
Literatura E Sociedade, v.20, n. 21, p. 70-79, São Paulo, 2015.

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