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Projeto de Mestrado – Departamento de Psicologia

Héder Lemos Bello

Título

Psicanálise e Gênero: Possíveis Articulações entre Trauma e os Estudos


Queer

Professora orientadora

Maria Isabel Fortes

Linha de Pesquisa

Psicanálise: Clínica e Cultura


Ontem, o lugar da luta era a usina, hoje são os corpos

Beatriz Preciado

1. Objetivos
1.1. Objetivo Geral

O objetivo geral é conceber como a psicanálise e os estudos queer


podem se articular em relação a experiências traumáticas relacionadas à
identidade de gênero ou à orientação sexual, tendo como contexto a clínica
psicanalítica na atualidade.

1.2. Objetivos Específicos

 O primeiro objetivo é investigar o conceito de trauma em psicanálise;

 O segundo é estudar os elementos dos estudos queer que evidenciem a


violência que os sujeitos que escapam da inteligibilidade cis-normativa
sofrem;

 Articular o conceito de trauma em psicanálise com as diferentes formas de


violência sexual e de gênero verificadas ao longo dos estudos queer e
assim discutir como o dispositivo analítico pode oferecer um lugar de escuta
para a elaboração dessas experiências;

2. Justificativa

A clínica contemporânea constantemente se depara com a violência e


com as experiências traumáticas da atualidade, produzindo assim novos
desafios para a escuta psicanalítica e para a atuação do analista (BIRMAN,
2006). Este trabalho visa produzir uma aproximação entre a psicanálise e os
estudos queer. Entendemos, por essa via, que os sujeitos LGBT são alvos
específicos de violência justamente porque seus corpos, identidades e desejos
não se conjugam completamente de acordo com as normas que delimitam os
padrões heterossexuais de inteligibilidade, habitando, assim, zonas de abjeção
(BUTLER, 2017).

Portanto, esse projeto se debruça sobre este contexto específico de


violência relacionada a questões de identidade de gênero e de orientação
sexual. Visa pôr em questão como a clínica psicanalítica no contemporâneo se
coloca diante das experiências traumáticas vivenciadas pela população LGBT.
Assim, a fim de pensar a especificidade do trabalho clínico que daí se
desdobra, o presente trabalho toma como problemática de pesquisa a
dimensão traumática dessas diferentes formas de violência e, desta maneira,
justifica a sua importância.

3. Metodologia

A metodologia de pesquisa é essencialmente teórica, mas aproveita as


ressonâncias de nossa experiência clínica. A dissertação se dividirá em três
capítulos. O primeiro tratará da questão do trauma; para isso, nos utilizaremos
principalmente do conceito de “desmentido” ou “desautorização” conforme
proposto por Sándor Ferenczi (1931/1992). O segundo capítulo dissertará a
respeito dos elementos dos estudos queer que se relacionem com a
problemática do trauma e da violência, como por exemplo: o conceito de
heterossexualidade compulsória que Judith Butler (2006) evidencia e que gera
uma lógica de marginalização de outras formas de sexualidade e produz
processos de exclusão. Por fim, no terceiro capítulo, faremos uma costura
entre a teoria do trauma em Ferenczi e os conceitos que os estudos queer
trazem acerca da violência contra a população LGBT. Com isso, pretendemos
entender como a clínica psicanalítica pode se posicionar diante das questões
discutidas ao longo da dissertação.

4. Fundamentação Teórica

4.1 Conceito de trauma

O trauma em Psicanálise, especificamente em Freud, tem dois


momentos, de acordo com Kupermann (2017), a teoria da sedução, que
“concebe o trauma como sendo um excesso inassimilável pelo aparelho
psíquico produzido em função de um agente externo provocador – o exemplo
paradigmático é a sedução (assédio) de uma criança por um adulto.” Essa
teoria surge como uma explicação para a neurose. A neurose no adulto seria o
resultado do impedimento da criança de dar sentido ao que lhe acontecera,
ainda na infância. O recalcamento viria como uma operação de defesa frente
ao saber. Ainda de acordo com Kupermann (2017), Freud abandona a teoria do
trauma, por acreditar que os relatos de abuso ou assédio não passavam de
ficções de seus pacientes. A partir de 1920, com a publicação de “Além do
Princípio do Prazer” e com o interesse de Freud pela compulsão à repetição de
situações desagradáveis e auto-destrutivas, evidenciadas pelo contexto dos
sonhos em que as cenas traumáticas eram constantemente retomadas pelos
soldados que tinham vivenciado a Primeira Guerra Mundial, Freud (1920)
formula uma outra teoria do trauma que seria relacionado ao excesso de
excitação promovido no aparelho psíquico pelas exigências da pulsão de
morte.

A partir dessas teorizações freudianas, e dando enfoque para as


indicações que pleiteamos trabalhar futuramente na dissertação, queremos
colocar a teoria do trauma em Ferenczi que muito nos ajudará em nossas
possíveis articulações.

Levando em conta as compilações que Ferenczi realiza, principalmente


a partir de 1930, podemos delinear dois tempos do trauma. O evento
traumatogênico em si e o não-reconhecimento ou a não-valorização do relato
desse evento. O trauma para Ferenczi (1933/1992) tem dois tempos distintos e
interligados. No entanto, ele concebe como realmente patogênico não o fato
endógino como Freud (1920), mas destaca como traumático a ausência de
acolhimento externo ao vivido. Para Ferenczi (1931/1992), o que irá determinar
se um evento será patogenicamente traumático é o desmentido do relato ou a
desautorização da cena traumática, ou seja, é a negação explícita por parte de
um outro daquilo que foi experimentado por um sujeito em sofrimento. “O pior é
realmente o desmentido, a afirmação de que não aconteceu nada, de que não
houve sofrimento (...) é isso, sobretudo, o que torna o traumatismo patogênico”
(FERENCZI, 1931/1992, p. 79).

4.2 Elementos dos estudos queer

De acordo com Miskolci (2009), os estudos queer nascem nos Estados


Unidos no fim da década de 1980 em oposição crítica aos estudos sociológicos
sobre minorias sexuais e de gênero. De acordo com o autor, que faz uma breve
genealogia dos estudos queer e suas origens, os estudos sociológicos que se
debruçavam sobre as minorias sexuais eram realizados a partir de uma lógica
heterossexista, em que a heterossexualidade era tomada como ponto de
partida e referência. Os primeiros teóricos queer, que surgiram da Crítica
Literária e da Filosofia, tais como, Teresa de Lauretis, Eve K. Sedgwick, David
M. Halperin, Judith Butler e Michael Warner faziam oposição a forma como os
estudos gays e lésbicos eram construídos.

Sob a influência de Michel Foucault e Jacques Derrida, os teóricos dos


estudos queer conceberam a sexualidade como um dispositivo histórico de
poder e colocaram em questão os binarismos que sustentam a lógica social
sexual em que estamos inseridos, tais como homem/mulher,
heterossexual/homossexual. Numa perspectiva gramatológica e discursiva
esses autores começaram a descontruir tais termos como naturais e
demonstraram seu caráter histórico, sustentado por uma reprodução discursiva
reiterada pela heteronormatividade. Ainda de acordo com Miskolci (2009), os
estudos queer surgiram... “do encontro entre uma corrente da Filosofia e dos
Estudos Culturais norte-americanos com o pós-estruturalismo francês, que
problematizou concepções clássicas de sujeito, identidade, agência e
identificação.” Vale ressaltar que esse autor destaca que a escolha do termo
queer como auto – denominação é uma escolha estratégica de
problematização da normalização imposta pelo forma heterossexista em que os
estudos sobre a sexualidade em ciências sociais era concebido, já que queer é
um xingamento que denotava anormalidade, perversão e desvio. Os estudos
queer produzem uma inversão, questionando a norma e produzindo uma
pesquisa a partir do lugar minoritário e não a partir de um olhar heterossexista
ou heteronormativo sobre a população LGBT. Visa, portando, dar visibilidade e
escuta àqueles que sofrem com a lógica violenta da heteronormatividade.
Preciado (2011) defende a ideia de que a heterossexualidade se
estrutura como um sistema de governo e com isso gera uma série de
marginalizações, opressões e descasos em relação aos que não pertencem a
heteronorma. Sendo assim, ela promove uma subversão a esse sistema que
oprime e cataloga como anormais, todos que não representam o ideal de
“inteligibilidade cis-normativa”, conceito de Butler (2017).
Por fim, Preciado (2011) concebe que as multidões queer num ato de
resistência à toda categorização, patologização e violência reivindiquem para si
essa posição subalterna como um lugar de potência política que pode
equivocar as normas sexuais e de gênero. Seguindo a intuição de Fortes
(2013), que nos lembra como a psicanálise com conceitos freudianos, tais
como: “zonas erógenas” e “sexualidade perversa e polimorfa”, evidencia como
a sexualidade é concebida como fragmantária e com isso, como potente para
criar outras possibilidades diante do imperativo heteronormativo.

4.3 Articulações preliminares entre trauma e estudos queer

Após uma breve colocação do que seria o desmentido ou a


desautorização para Ferenczi, que figura o não-reconhecimento do sujeito em
sofrimento, o que configura, para esse autor, o traumatismo e o que seria a
postura dos estudos queer, que nascem a partir de uma mudança de
perspectiva, partindo não de um olhar heterossexista, mas sim de um
visibilidade das minorias sexuais e favorecendo um lugar de fala que permita
essas minorias falarem por si próprias e relatar como é esse lugar ocupado
enquanto sujeito que sofre com a lógica heteronormativa, podemos começar a
delinear um pequeno esboço de como poderemos fazer essas aproximações
teóricas e conceituais.

Segundo Gondar (2012), o aspecto central na teoria ferencziana são as


relações de desvalorização e desrespeito que se configuram na maneira pela
qual uma narrativa é desacreditada. Dessa forma, o trauma ganha uma
configuração social e política, visto que é a moralidade e as relações de poder
que tornam determinadas violências e injustiças reconhecíveis ou não numa
sociedade que tem a hetenorma como balizador principal de suas relações. Os
estudos de Kai Erikson (1995), um dos primeiros sociólogos a pesquisar o
trauma, dialogam com as colocações de Gondar. Seus estudos revelaram que
o que produzia de fato um processo traumático em uma determinada
comunidade atingida por um desastre natural, era o descaso que os
governantes ou autoridades tinham com as pessoas após o evento ocorrido.
Gondar (2012) ainda faz uma aproximação com o pensamento do filósofo Axel
Honneth, em seu texto Ferenczi, como pensador político, mostrando que o
motor por trás das reinvidicações políticas dos movimentos sociais é a luta por
reconhecimento. Nesse ponto, podemos começar a ensaiar algumas
articulações entre os estudos queer e a teoria do trauma em Ferenczi,
evidenciando assim, também o caráter social e político das feridas sociais e
dos possíveis traumas que uma sociedade heteronormativa produz. Sendo
assim, na inspiração de Ferenzci e de Gondar, podemos delinear que um dos
possíveis papéis do analista seria o de oferecer uma escuta que pudesse
reconhecer o sofrimento dos sujeitos LGBTs, que vivem sobre o imperativo
moral de uma sociedade heteronormativa. Finalizando, podemos afirmar que a
partir dessas colocações, fica-nos algumas questões, que esperamos poder
articular e empreender futuramente.

5. Referências Bibliográficas

BIRMAN, J. (2006). Arquivos do mal-estar e da resistência. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira.

BUTLER, J. (2017). Problemas de gênero: feminismo e subversão da


identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

FERENCZI, S. (1931/1992). Análises de crianças com adultos. Obras


Completas IV. São Paulo: Martins Fontes.

_________ S. (1933/1992) Confusão de língua entre os adultos e a criança.


Obras Completas IV. São Paulo: Martins Fontes.

FORTES, M. I. A. (2013) Corpo em pedaços: a potência do fragmento. Rio de


Janeiro: Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 65, n.1, p. 152-162.

FREUD, S. (1920/1972) Além do Princípio do Prazer. Porto Alegre: Imago.

GONDAR, J. (2012) Ferenczi como pensador político. Rio de Janeiro:


Cadernos de Psicanálise, v. 34, n. 27, p. 193-210.

KUPERMANN, D. (2017) Estilos do Cuidado: A Psicanálise e o Traumático. São


Paulo: Zagodoni.
MISKOLCI, R. (2009) Teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analítica
da normalização. Sociologias [online], n.21, pp.150-182.

PRECIADO, B. (2011). Multidões Queer: notas para uma política dos anormais.
Florianópolis. Estudos Feministas, v.19, n.1, p. 11-20.

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