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....... . 1001
....... . 1003
DIREITO CONSTITUCIONAL
E CONSTITUIÇÃO
/

Podemos conceituar Estado, de forma genérica e simplificada, como a


organização de um povo sobre um território determinado, dotada de sobe-
rania. Nessa definição estão os elementos tradicionalmente descritos como
necessários à existência de um Estado: a soberania, o povo e o território.
Os estudiosos da Teoria do Estado acrescentaram, ulteriormente, a finalidade
como elemento integrante da noção de Estado, ou seja, a organização sobe-
rana de um povo em um território deve ser orientada ao atingimento de um
conjunto de :finalidades.
Todo Estado, conforme acima conceituado, tem uma Constituição, em
um sentido amplo. Nessa acepção ampla, ou sociológica, a Constituição é
simplesmente a forma de organização do Estado. Trata-se de um conceito
fático de Constituição, que independe da existência de um texto escrito, ou
mesmo de normas, escritas ou não, referentes a essa organização; usualmente
é empregada, para descrevê-lo, a expressão "Constituição material do Estado".
Conquanto, no sentido abordado no parágrafo anterior, todos os Estados
tenham Constituição, o estudo sistemático e racional do fenômeno constitucio-
nal somente se desenvolve a partir do surgimento das primeiras Constituições
escritas, elaboradas para desempenhar o papel de lei fundamental do Estado.
Denomina-se constitucionalismo o movimento político, jurídico e ideológico
que concebeu ou aperfeiçoou a ideia de estruturação racional do Estado e
de limitação do exercício de seu poder, concretizada pela elaboração de um
1 documento escrito destinado a representar sua lei fundamental e suprema.

J
J
2 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Pauto & Marcelo Alexandrino

Para efeito de estudo, identifica-se a origem do constitucionalismo com ção de suas


a Constituição dos Estados Unidos, de 1787, e a Constituição da França, bem como a
de 1791. Ambas são Constituições escritas e rígidas, inspiradas nos ideais de direitos e ga
racionalidade do Iluminismo do século XVIII e, sobretudo, na valorização Afirma-
da liberdade formal (laissez faire) e do individualismo, marcas nucleares do ramo do dir
Liberalismo, corrente de pensamento hegemônica nos campos político, jurí- de um espec
dico e econômico dos séculos XVIII, XIX, e primeiro quartel do século XX. tado como o
O conteúdo dessas primeiras Constituições escritas e rígidas, de orien- que é a orde
tação liberal, resumia-se ao estabelecimento de regras acerca da organização representar a
do Estado, do exercício e transmissão do poder e à limitação do poder do na árvore, e
Estado, assegurada pela enumeração de direitos e garantias fundamentais do
indivíduo. 1.1. Ob
A expressão Direito Constitucional - explicitando que a organização inv
estatal é, sobretudo, uma ordem jurídica - nasce com o constitucionalismo.
Em sua origem, o Direito Constitucional refere-se, tão somente, à ordem O Direi
jurídica fundamental do Estado liberal. Portanto, o Direito Constitucional foco princip
nasceu impregnado dos valores do pensamento liberal. a cabo, em
e Direito C
Com o seu desenvolvimento, em um período seguinte, o Direito Cons-
titucional, aos poucos, foi se desvinculando dos ideais puramente liberais. A O Dire
Constituição assume uma nova feição, de norma jurídica e formal, protetora por objetivo
dos direitos humanos. determinado
direito posit
Em decorrência dessa evolução de pensamento, a Constituição deixou
das regras e
de retratar exclusivamente uma certa forma de organização política - a do
nacional ou
Estado liberal, com sua ideologia - e passou a representar o espelho de toda
ou do vigen
e qualquer forma de organização política. O conteúdo do Direito Constitucio-
tucional arg
nal desatou-se de considerações ideológicas puramente liberais, passando a
tratar das regras fundamentais de estruturação, funcionamento e organização O Direi
do poder, independentemente da forma política adotada pelo Estado. de uma plu
lhanças entr
Modernamente, as pressões, as exigências e os conflitos sociais têm
diferentes te
forçado o constitucionalismo puramente jurídico a ceder lugar ao constitucio-
nalismo político, democrático e social. Assim, o Direito Constitucional atual, No con
a par de assegurar as conquistas liberais, apresenta marcada feição política parado pode
e forte conteúdo democrático e social. critério da m
Importante destacar que, em todas as fases de sua evolução, o constitucio- Pelo cr
nalismo não perdeu o seu traço marcante, que é a limitação, pelo Direito, da po as Cons
ingerência do Estado (Governo) na esfera privada. Essa sempre foi - em e diferenças
todas as suas fases - a característica essencial do movimento constitucionalista. épocas disti
do estudo d
O Direito Constitucional é um ramo do direito público, fundamental à
um mesmo
organização, ao funcionamento e à configuração política do Estado. Nesse
por exemplo
papel, de direito público fundamental - feliz expressão de José Afonso da
da Constitu
Silva -, o Direito Constitucional estabelece a estrutura do Estado, a organiza-
1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 3
drino

lismo com ção de suas instituições e órgãos, o modo de aquisição e exercício do poder,
a França, bem como a limitação desse poder, por meio, especialmente, da previsão dos
s ideais de direitos e garantias fundamentais.
valorização Afirma-se que o Direito Constitucional é muito mais do que apenas um
cleares do ramo do direito público. Ele consubstancia a matriz de toda a ordem jurídica
ítico, jurí- de um específico Estado. Figurativamente, o Direito Constitucional é represen-
éculo XX. tado como o tronco do qual derivam todos os demais ramos da grande árvore
de orien- que é a ordem jurídica de determinado Estado (essa imagem tem o mérito de
rganização representar a unidade do Direito - por definição, indivisível -, consubstanciada
poder do na árvore, e esclarecer que a alusão a "ramos" tem função puramente didática).
mentais do
1.1. Objeto do Direito Constitucional quanto ao foco dle
rganização investigação
ionalismo.
, à ordem O Direito Constitucional, em sentido amplo, subdivide-se, conforme o
stitucional foco principal de suas investigações e os métodos de que se vale para levá-las
a cabo, em Direito Constitucional especial, Direito Constitucional comparado
e Direito Constitucional geral.
eito Cons-
liberais. A O Direito Constitucional especial (particular, positivo ou interno) tem
, protetora por objetivo o estudo de uma Constituição específica vigente em um Estado
determinado. Sua orientação, portanto, é tipicamente dogmática: ocupa-se do
direito positivo, procedendo à análise, interpretação, sistematização e crítica
ão deixou
das regras e princípios integrantes ou defluentes de uma certa Constituição,
ca - a do
nacional ou estrangeira (estudo do vigente Direito Constitucional brasileiro;
ho de toda
ou do vigente Direito Constitucional italiano; ou do vigente Direito Consti-
onstitucio-
tucional argentino etc.).
assando a
rganização O Direito Constitucional comparado tem por fim o estudo comparativo
do. de uma pluralidade de Constituições, destacando os contrastes e as seme-
lhanças entre elas. Trata-se de um método descritivo, baseado no cotejo de
ociais têm
diferentes textos constitucionais (a rigor, não é propriamente uma ciência).
onstitucio-
onal atual, No confronto dos textos constitucionais, o Direito Constitucional com-
ão política parado pode adotar: (a) o critério temporal; (b) o critério espacial; e (c) o
critério da mesma forma de Estado.
onstitucio- Pelo critério temporal, ou comparação vertical, confrontam-se no tem-
Direito, da po as Constituições de um mesmo Estado, observando-se as semelhanças
e foi - em e diferenças entre as instituições que o direito positivo haja conhecido em
cionalista. épocas distintas da evolução constitucional daquele Estado. Trata-se, assim,
do estudo das normas jurídicas positivadas nos textos das Constituições de
amental à
um mesmo Estado em diferentes momentos histórico-temporais. Seria o caso,
do. Nesse
por exemplo, do estudo comparativo das diferentes Constituições brasileiras,
Afonso da
da Constituição Imperial de 1824 à Constituição Federal de 1988.
organiza-
4 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

Pelo critério espacial, ou comparação horizontal, comparam-se, no es- aquisição


paço, diferentes Constituições vigentes, isto é, confrontam-se Constituições ao poder
de diferentes Estados, preferencialmente, de áreas geográficas contíguas. de freios
Seria o caso, por exemplo, do confronto da Constituição do Brasil com as O co
Constituições dos demais países integrantes da América Latina; ou do estudo senciais d
comparativo dos textos constitucionais dos países que integram o Mercado Constitui
Comum do Sul - ivfERCOSUL; ou do estudo comparativo das Constituições caracteriz
dos países que integram a União Europeia etc. Dentre os três critérios, esse são os se
é o mais utilizado.
Pelo critério da mesma forma de Estado, confrontam-se Constituições a) a
de países que adotam a mesma forma de Estado, as mesmas regras de orga- b) d
nização. Seria o caso, por exemplo, do estudo comparativo das Constituições d
de alguns países que adotam a forma Federativa de Estado. c) d
O Direito Constitucional geral (ou comum) tem por fim delinear, siste- e
matizar e dar unidade aos princípios, conceitos e instituições que se acham d) d
presentes em vários ordenamentos constitucionais. Sua função é, portanto, d
a elaboração de uma teoria geral de caráter científico (ciência teórica, não
meramente dogmática ou descritiva). O ala
Cabe ao Direito Constitucional geral ou comum definir as bases da deno- atribuiçõe
minada teoria geral do Direito Constitucional, tais como: conceito de Direito considerá
Constitucional; fontes do Direito Constitucional; conceito de Constituição; jurídicos,
classificação das Constituições; conceito de poder constituinte; métodos de Confo
interpretação da Constituição etc. deviam re
É importante destacar que o Direito Constitucional especial, o Direito e transmi
Constitucional comparado e o Direito Constitucional geral estão em constante 1 aos indiv
convívio, em permanente interconexão. Assim, o Direito Constitucional com- 1 No E
parado, ao realizar o confronto de diferentes textos constitucionais, contribui nalista ap
para o aperfeiçoamento do Direito Constitucional especial de determinado passado a
país, bem assim para o enriquecimento teórico do Direito Constitucional ge- finalidade
ral. O Direito Constitucional geral, partindo do estudo comparativo realizado boração d
pelo Direito Constitucional comparado, contribui para a formação do Direito 1 lixas) e pr
Constitucional especial de cada país, e assim por diante. e linhas d

2.1.
O Di
A Constituição, objeto de estudo do Direito Constitucional, deve ser de base s
entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que rege a sua Em m
organização político-jurídica. o que per
1
As normas de uma Constituição devem dispor acerca da forma do Estado, tuição, co
dos órgãos que integram a sua estrutura, das competências desses órgãos, da sociológic
1
•. l·
~
andrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 5

m-se, no es- aquisição do poder e de seu exercício. Além disso, devem estabelecer as limitações
Constituições ao poder do Estado, especialmente mediante a separação dos poderes (sistema
s contíguas. de freios e contrapesos) e a enumeração de direitos e garantias fundamentais.
rasil com as O constitucionalista J. J. Gomes Canotilho, com base nos pontos es-
ou do estudo senciais da concepção político-liberal de Constituição, cunhou a expressão
o Mercado Constituição ideal, reiteradamente citada pelos autores pátrios. Os elementos
Constituições caracterizadores desse conceito de Constituição ideal, de inspiração liberal,
ritérios, esse são os seguintes:

Constituições a) a Constituição deve ser escrita;


ras de orga- b) deve conter uma enumeração de direitos fundamentais individuais (direitos
Constituições de liberdade);
c) deve adotar um sistema democrático formal (participação do "povo" na
linear, siste- elaboração dos atos legislativos, pelos parlamentos);
ue se acham d) deve assegurar a limitação do poder do Estado mediante o princípio da
é, portanto, divisão de poderes.
teórica, não
O alargamento do âmbito de ação do Estado - o Estado atual possui
ses da deno- atribuições jamais cogitadas pelo Liberalismo clássico - tem levado a um
o de Direito considerável aumento da importância do Direito Constitucional nos estudos
Constituição; jurídicos, bem como à tendência de ampliação de seu conteúdo material.
métodos de Conforme antes referido, as normas de uma Constituição, no Estado liberal,
deviam restringir-se a determinar a estrutura do Estado, o modo de exercício
l, o Direito e transmissão do poder e a reconhecer direitos fundamentais de liberdade
m constante 1 aos indivíduos.
cional com- 1 No Estado moderno, de cunho marcadamente social, a doutrina constitucio-
is, contribui nalista aponta o fenômeno da expansão do objeto das Constituições, que têm
determinado passado a tratar de temas cada vez mais amplos, estabelecendo, por exemplo,
tucional ge- finalidades para a ação estatal. Isso explica a tendência contemporânea de ela-
vo realizado boração de Constituições de conteúdo extenso (Constituições analíticas ou pro-
o do Direito 1 lixas) e preocupadas com os fins estatais, com o estabelecimento de programas
e linhas de direção para o futuro (Constituições dirigentes ou programáticas).

2.1. Constituição em sentido sociológico, político e jurídico


O Direito Constitucional não se desenvolve isolado de outras ciências
al, deve ser de base social, tais como a Política, a Sociologia, a Filosofia.
e rege a sua Em maior ou menor grau, essas ciências possuem laços de interconexão,
1 o que permite sejam construídas diferentes concepções para o termo Consti-
a do Estado, tuição, como norma básica de um Estado, a saber: Constituição em sentido
s órgãos, da sociológico, Constituição em sentido político e Constituição em sentido jurídico.
1
•. l·
~
6 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

2.7.7. Constituição em sentido sociológico Nessa c


tituição e l
Na visão sociológica, a Constituição é concebida como fato social,
térias de gr
e não propriamente como norma. O texto positivo da Constituição seria
(organizaçã
resultado da realidade social do País, das forças sociais que imperam na
outras); as
sociedade, em determinada conjuntura histórica. Caberia à Constituição
somente, le
escrita, tão somente, reunir e sistematizar esses valores sociais num docu-
mento formal, documento este que· só teria eficácia se correspondesse aos
valores presentes na sociedade. 2. 7.3. C
Representante típico da visão sociológica de Constituição foi Ferdinand Em sen
Lassalle, segundo o qual a Constituição de um país é, em essência, a soma tiva estrita
dos fatores reais de poder que nele atuam, vale dizer, as forças reais que norma fun
mandam no país. Para Lassalle, constituem os fatores reais do poder as forças de validad
que atuam, política e legitimamente, para conservar as instituições jurídicas primacial
vigentes. Dentre essas forças, ele destacava a monarquia, a aristocracia, a normas jur
grande burguesia, os banqueiros e, com específicas conotações, a pequena O pens
burguesia e a classe operária. Hans Kels
Segundo Lassalle, convivem em um país, paralelamente, duas Consti- Para K
tuições: uma Constituição real, efetiva, que corresponde à soma dos fato- como puro
res reais de poder que regem esse País, e uma Constituição escrita, por ou filosófic
ele denominada "folha de papel". Esta, a Constituição escrita ("folha de sociedade,
papel"), só teria validade se correspondesse à Constituição real, isto é, se como tal, m
tivesse suas raízes nos fatores reais de poder. Em caso de conflito entre a Segund
Constituição real (soma dos fatores reais de poder) e a Constituição escrita positivada
("folha de papel"), esta sempre sucumbiria àquela. de valores
com a orde
2.7.2. Constituição em sentido político coadunar-se
de promov
A concepção política de Constituição foi desenvolvida por Carl Schmitt, sociais exis
para o qual a Constituição é uma decisão política fundamental, qual seja, genénca, h
a decisão política do titular do poder constituinte. Esta er
Para Schrnitt, a validade de uma Constituição não se apoia na justiça jurídica de
de suas normas, mas na decisão política que lhe dá existência. O poder Kelsen
constituinte equivale, assim, à vontade política, cuja força ou autoridade é lógico.:.jurí
capaz de adotar a concreta decisão de conjunto sobre modo e forma da pró- Em sen
pria existência política, determinando assim a existência da unidade política hipotética,
como um todo. lidade da C
A Constituição surge, portanto, a partir de um ato constituinte, fruto de Essa id
uma vontade política fundamental de produzir uma decisão eficaz sobre modo suposta, er
e forma de existência política de um Estado. admitia co
de índole
drino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E 7

Nessa concepção política, Schmitt estabeleceu uma distinção entre Cons-


tituição e leis constitucionais: a Constituição disporia somente sobre as ma-
ato social,
térias de grande relevância jurídica, sobre as decisões políticas fundamentais
ição seria
(organização do Estado, princípio democrático e direitos fundamentais, entre
mperam na
outras); as demais normas integrantes do texto da Constituição seriam, tão
onstituição
somente, leis constitucionais.
num docu-
ndesse aos
2. 7.3. Constituição em sentido jurídico
Ferdinand Em sentido jurídico, a Constituição é compreendida de uma perspec-
a, a soma tiva estritamente formal, apresentando-se como pura norma jurídica, como
reais que norma fundamental do Estado e da vida jurídica de um país, paradigma
r as forças de validade de todo o ordenamento jurídico e instituidora da estrutura
s jurídicas primacial desse Estado. A Constituição consiste, pois, num sistema de
ocracia, a normas jurídicas.
a pequena O pensador mais associado à visão jurídica de Constituição é o austríaco
Hans Kelsen, que desenvolveu a denominada Teoria Pura do Direito.
as Consti- Para Kelsen, a Constituição é considerada como norma, e norma pura,
dos fato- como puro dever-ser, sem qualquer consideração de cunho sociológico, político
scrita, por ou filosófico. Embora reconheça a relevância dos fatores sociais numa dada
("folha de sociedade, Kelsen sempre defendeu que seu estudo não compete ao jurista
isto é, se como tal, mas ao sociólogo e ao filósofo.
to entre a Segundo a visão de Hans Kelsen, a validade de uma norma jurídica
ção escrita positivada é completamente independente de sua aceitação pelo sistema
de valores sociais vigentes em uma comunidade, tampouco guarda relação
com a ordem moral, pelo que não existiria a obrigatoriedade de o Direito
coadunar-se aos ditames desta (moral). A ciência do Direito não tem a função
de promover a legitimação do ordenamento jurídico com base nos valores
l Schmitt, sociais existentes, devendo unicamente conhecê-lo e descrevê-lo de forma
qual seja, genénca, hipotética e abstrata.
Esta era a essência de sua teoria pura do direito: desvincular a ciência
na justiça jurídica de valores morais, políticos, sociais ou filosóficos.
O poder Kelsen desenvolveu dois sentidos para a palavra Constituição: (a) sentido
toridade é lógico.:.jurídico; (b) sentido jurídico-positivo.
ma da pró- Em sentido lógico-jurídico, Constituição significa a norma fundamental
de política hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da va-
lidade da Constituição em sentido jurídico-positivo.
e, fruto de Essa ideia de uma norma fundamental hipotética, não positivada, pres-
obre modo suposta, era n~cessária ao sistema propugnado por Kelsen, porque ele não
admitia como fundamento da Constituição positiva algum elemento real,
de índole sociológica, política ou filosófica. Assim, Kelsen viu-se forçado
8 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

a desenvolver um fundamento também meramente formal, normativo, para 2.2. C


a Constituição positiva. Denominou esse fundamento "norma fundamental
hipotética" (pensada, pressuposta), que existiria, segundo ele, apenas como Na co
pressuposto lógico de validade das normas constitucionais positivas. Essa boço da i
norma fundamental hipotética, fundamento da Constituição positiva, não de conteú
possui um enunciado explícito; o seu conteúdo pode traduzir-se, em linhas "decisão p
gerais, no seguinte comando, a todos dirigidos: "conduzam-se conforme de- fundament
terminado pelo autor da Constituição positiva"; ou, de forma mais simples, A evo
"obedeçam à Constituição positiva". entre Con
Para Kelsen, a norma jurídica não deriva da realidade social, política Const
ou filosófica. O :fundamento de validade das normas não está na realidade escritas ou
social do Estado, mas sim na relação de hierarquia existente entre elas. Uma tucional, i
norma inferior tem fundamento na norma superior, e esta tem fundamento do poder e
na Constituição positiva. Esta, por sua vez, se apoia na norma :fundamental soante ens
hipotética, que não é uma norma positiva (posta), mas uma norma imaginada, o conjunto
pressuposta, pensada. competênc
da pessoa
Em sentido jurídico-positivo, Constituição corresponde à norma positiva Segun
suprema, conjunto de normas que regulam a criação de outras normas, lei
seu conteú
nacional no seu mais alto grau. Ou, ainda, corresponde a certo documento
ou consue
solene que contém um conjunto de normas jurídicas que somente podem ser unitária o
alteradas observando-se certas prescrições especiais. natureza d
Dessas concepções de Constituição, a relevante para o Direito moderno Sob o
___é_a_jurídko_::p_osi:tiya,_a_partir_da_qual a Constituição é vista como norma caracteriza
:fundamental, criadora da estrutura básica do Estado e parâmetro de validade importand
de todas as demais normas. Ainda sob
toda socie
mais rudim
O con
A Constituição é a soma dos A Constituição é uma de- A con~tituiÇão · é c~m~r~~il­
terminado
fatores reais de poder que cisão política fundamental dida de uma perspectivã es· instituído
regem uma nação (poder sobre a definição do perfil tritamente formal, consis- de organiz
econômico, militar, político, primordial do Estado, que te- tindo na· norma fundamental do median
religioso etc.), de forma ria por objeto, principalmen- de um Estado, paradigma
que a Constituição escrita te, a forma e o regime de de validade de todo o arde- · restriçõ,es,
só terá eficácia, isto é, só governo, a forma de Estado namerÍto jurídico e · in~filúi­ pelos órgã
determinará efetivamente as e a matriz ideológica da na- dora da estrutura primacial
inter-relações sociais dentro ção; as normas constantes do Estado; a qoristitl!ição :
de um Estado quando for do documento constitucional é considerada como nomía
construida em conformidade que não derivem da decisão pura, como puré deve·r~ser,
com tais fatores; do contrá- política fundamental rião são sem qualquer .c;cinsicler?ção 1 Não se e
rio, terá efeito meramente "Constituição", mas, tão so- de cunho sociológico, .políti- Estado",
retórico ("folha de papel"). mente, "leis constitucionais". co óu filosófico. · · ·· organizaç
sentido m
ou não,

.1
ndrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 9

mativo, para 2.2. Constituição em sentido material e formal


undamental
penas como Na concepção política de Constituição, de Carl Schmitt, aparece o es-
itivas. Essa boço da ideia de existência, em um mesmo documento escrito, de normas
ositiva, não de conteúdo propriamente constitucional - as normas postas em razão da
, em linhas "decisão política fundamental" - e outras normas de conteúdo diverso não
onforme de- fundamentais, as quais foram chamadas meras "leis constitucionais". '
ais simples, A evolução dessa noção dá surgimento à consagrada distinção doutrinária
entre Constituição em sentido material1 e em sentido formal.
ial, política Constituição em sentido material (ou substancial) é o conjunto de normas,
na realidade escritas ou não escritas, cujo conteúdo seja considerado propriamente consti-
e elas. Uma tucional, isto é, essencial à estruturação do Estado, à regulação do exercício
fundamento do poder e ao reconhecimento de direitos fundamentais aos indivíduos. Con-
fundamental soante ensina Paulo Bonavides, "do ponto de vista material, a Constituição é
imaginada, o conjunto de normas pertinentes à organização do poder, à distribuição da
competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos
da pessoa humana, tanto individuais como sociais".
ma positiva Segundo esse conceito, há matérias que são constitucionais em razão de
normas, lei
seu conteúdo, e as normas que delas tratam - é indiferente se são escritas
documento
ou consuetudinárias, se integram um único documento redigido de forma
e podem ser unitária ou textos esparsos surgidos em momentos diversos - ostentam a
natureza de normas constitucionais (normas materialmente constitucionais).
to moderno Sob o ponto de vista material, portanto, o que possui relevância para a
omo norma caracterização de uma norma como constitucional é o seu conteúdo, pouco
de validade importando a forma pela qual tenha sido inserida no ordenamento jurídico.
Ainda sob esse enfoque, não há Estado sem Constituição, uma vez que
toda sociedade politicamente organizada contém uma estrutura mínima, por
mais rudimentar que seja. ·
O conceito formal de Constituição diz respeito à existência, em um de-
é c~m~r~~il­ terminado Estado, de um documento único, escrito por um órgão soberano
rspectivã es· instituído com essa específica :finalidade, que contém, entre outras, as normas
mal, consis- de organização política da comunidade e, sobretudo, que só pode ser altera-
fundamental do mediante um procedimento legislativo mais árduo, e com muito maiores
, paradigma
todo o arde- · restriçõ,es, do que o necessário à aprovação das normas não constitucionais
o e · in~filúi­ pelos órgãos legislativos constituídos.
ura primacial
qoristitl!ição :
como nomía
é deve·r~ser,
c;cinsicler?ção 1 Não se está referindo, aqui, ao conceito fálico, sociológico, de "Constituição material do
ógico, .políti- Estado", entendido como o conjunto de fatores reais que Integram e que determinam a
· · ·· organização peculiar de uma determinada comunidade política. A expressão "Constituição em
sentido material", neste tópico, refere-se a normas constitucionais, que podem ser escritas
ou não, mas são normas, não elementos fáticos .

.1
10 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

Na acepção formal, portanto, o que define urna norma como constitucional As Con
é a forma pela qual ela foi introduzida no ordenamento jurídico, e não são produzid
o seu conteúdo. Por isso - diferentemente da concepção material, pela qual (plebiscito o
todo Estado possui Constituição -, somente faz sentido falar em Constituição diante a esco
formal nos Estados dotados de Constituição escrita e rígida. constituinte"
Finalizando este tópico, procuramos esboçar, com escopo puramente Na hist
didático, um conceito básico de Constituição, reunindo elementos integran- mocráticas
tes das acepções material e formal de Constituição. Podemos definir as 1937, 1967
Constituições atuais como: o conjunto de normas, reunidas ou não em um As Con
texto escrito, que estabelecem a estrutura básica das instâncias de poder boradas pel
do Estado, regulam o exercício e a transmissão desse poder, enumeram os
meio de re
direitos fundamentais das pessoas e os fins da atuação estatal; no caso das
cabe ao po
Constituições escritas, a par das normas que expressam esses conteúdos
detentor do
fundamentais, pode haver outras - defluentes de disposições inseridas ·em democrática
seu corpo por conveniências políticas do constituinte - tratando das mais
diversas matérias, fato que não lhes retira o caráter de normas constitu- É impo
cionais, nem as toma inferiores hierarquicamente a qualquer outra norma pular, em re
da Constituição. chamado pa
imperador (
no Chile), s
correntes id
O Profe
nominadas
Algumas Constituições possuem texto extenso, dispondo sobre as mais
um compro
diversas matérias. Outras apresentam texto reduzido, versando, tão somente,
debilitada, d
sobre matérias substancialmente constitucionais, relacionadas com a organi-
de outra, da
zação básica do Estado. Algumas permitem a modificação do seu texto por
Constituição
meio de processo legislativo simples, idêntico ao de modificação das demais
por essa raz
leis, enquanto outras só podem ser alteradas por processo legislativo mais
e o democr
dificultoso, solene. A depender dessas e de outras características, recebem
da doutrina distintas classificações, conforme exposto nos itens seguintes.
3.2. Qu

3.1. Quanto à origem Quanto


Constit
Quanto à origem, as Constituições podem ser outorgadas, populares ou junto de reg
cesaristas. documentos
As Constituições outorgadas são impostas, isto é, nascem sem participa- dado Estado
ção popular. Resultam de ato unilateral de uma vontade política soberana (da As Con
pessoa ou do grupo detentor do poder político), que resolve estabelecer, por tituições co
meio da outorga de um texto constitucional, certas limitações ao seu próprio só texto fo
poder. As Constituições outorgadas são designadas por alguns doutrinadores '
se apresent
"Cartas Constitucionais". tos diversos
1

J
rino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 11

stitucional As Constituições democráticas (populares, votadas ou promulgadas)


co, e não são produzidas com a participação popular, em regime de democracia direta
pela qual (plebiscito ou referendo), ou de democracia representativa, neste caso, me-
onstituição diante a escolha, pelo povo, de representantes que integrarão uma "assembleia
constituinte" incumbida de elaborar a Constituição.
puramente Na história do constitucionalismo brasileiro, tivemos Constituições de-
integran- mocráticas (1891·, 1934, 1946 e 1988) e Constituições outorgadas (1824,
definir as 1937, 1967 e 1969).
ão em um As Constituições cesaristas (bonapartistas) são unilateralmente ela-
de poder boradas pelo detentor do poder, mas dependem de ratificação popular por
meram os
meio de referendo. Essa participação popular não é democrática, pois
caso das
cabe ao povo somente referendar a vontade do agente revolucionário,
conteúdos
detentor do poder. Por isso, não são, propriamente, nem outorgadas, nem
eridas ·em democráticas.
das mais
constitu- É importante destacar que nas constituições cesaristas, o referendo po-
tra norma pular, em regra, não constitui um instrumento de democracia, pois o povo é
chamado para ratificar um projeto de texto constitucional preparado por um
imperador (plebiscitos napoleônicos) ou um ditador (plebiscito de Pinochet,
no Chile), sem interferência de assembleias representativas da pluralidade de
correntes ideológicas do país e sem liberdade de discussão.
O Professor Paulo Bonavides refere-se, também, à existência das de-
nominadas Constituições pactuadas (ou dualistas), que se originam de
e as mais
um compromisso instável de duas forças políticas rivais: a realeza absoluta
somente,
debilitada, de uma parte, e a nobreza e a burguesia, em franco progresso,
a organi-
de outra, dando origem à chamada "monarquia limitada". Nesse regime de
texto por
Constituição, o poder constituinte originário está dividido entre dois titulares;
as demais
por essa razão, o texto constitucional resulta de dois princípios: o monárquico
tivo mais
e o democrático.
recebem
guintes.
3.2. Quanto à forma

Quanto à forma, as Constituições podem ser escritas ou não escritas.


Constituição escrita (ou instrumental) é aquela formada por um con-
ulares ou junto de regras sistematizadas e formalizadas por um órgão constituinte, em
documentos escritos solenes, estabelecendo as normas fundamentais de um
participa- dado Estado.
erana (da As Constituições escritas podem se apresentar sob duas formas: Cons-
lecer, por tituições codificadas (quando se acham contidas e sistematizadas em um
u próprio só texto formando um único documento) e Constituições legais (quando
trinadores ' 1
se apresentam esparsas ou fragmentadas, porque integradas por documen-
tos diversos, fisicamente distintos, como foi o caso da Terceira República
1

J
12 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

Francesa, de 187 5, formada por inúmeras leis constitucionais, redigidas em 3.3. Q


momentos distintos). 2 Quan
A Constituição Federal de 1988 é tradicionalmente classificada como ou históri
escrita codificada, pelo fato de as normas constitucionais constarem de um As C
único documento. Entretanto, com a introdução, pela EC 45/2004, do § 3.º dado mom
ao art. 5.º da Constituição, prevendo a possibilidade de incorporação ao fundamen
ordenamento pátrio de tratados e convenções internacionais sobre direitos ortodoxa
humanos com status equivalente ao de emendas constitucionais, a doutrina comprom
tem entendido que começamos a migrar para um modelo de Constituição conciliam
escrita, porém legal (integrada por documentos esparsos). 3
As C
Nas Constituições não escritas (costumeiras ou consuetudinárias), as lenta form
normas constitucionais não são solenemente elaboradas por um órgão especial- líticos, re
mente encarregado dessa tarefa, tampouco estão codificadas em documentos própria so
formais solenemente elaborados. Tais normas se sedimentam a partir dos
usos e ~ostumes, das leis esparsas comuns, das convenções e da jurisprudên-
A Co
cia. Exemplo é a Constituição inglesa, país em que parte das normas sobre elaborada
ideias ent
organização do Estado é consuetudinária.
sido elab
Anote-se que tanto nos Estados que adotam Constituição escrita (ou ins- realidade
trumental) quanto nos Estados que adotam Constituição não escrita existem fez com q
documentos escritos que contêm normas constitucionais. Na Inglaterra, parte analítico,
das normas constitucionais está em documentos escritos: leis esparsas, trata-
As C
dos. 4 A distinção essencial é que, nos países de Constituição escrita, as normas
por um ó
constitucionais são elaboradas por um órgão especificamente encarregado
critas, aq
desse mister, que as formalizam em texto constitucional sol~ne. _Div~rsamente,
nos Estados de Constituição não escrita, as normas constituc1onais, quando As C
escritas, estão cristalizadas em leis e outras espécies normativas esparsas, lham as i
que surgiram ao longo do tempo e, dada a sua dignidade, adquiriram status do tempo
constitucional. necessida
Constituiç
do lento
2 Ressaltamos, porém, que o Professor Alexandre de Moraes, citando o constitucio~a!is!a
Konrad Hesse emprega a terminologia "constituição legal" como sinônima de "constitu1çao
escrita" neste~ termos: "A Constituição escrita, portanto, é o mais alto estatuto jurídico de 3.4.
determi~ada comunidade, caracterizando-se por ser a lei fundamental de uma :ociedade.
A isso corresponde o conceito de constituição legal, como resultado da elaboraçao de u~a Quan
Carta escrita fundamental, colocada no ápice da pirâmide normativa e dotada de coercibi-
lidade."
Constituiç
a É essa a orientação perfilhada pelo Prof. Pedro Lenza (Direito Constitucional Esquematizado, Na c
14ª ed., p. 84). somente
4 Por esse motivo, o Prof. Paulo Bonavides considera a Constituição da Inglaterra apenas funcionam
"parcialmente costumeira", cujas leis constitucionais abrangem o direito estatutário (statute
law), o direito casuístico ou jurisprudencial (case law), <: costume_, IT!ºrm~nte o d~ ~atu­ substanci
reza parlamentar (parliamentary custom) e as convençoes const1tuc1on~1s (constitut1onal uma norm
conventions). Para ele, inexistem, hoje, Constituições totalmente costum71ras, como ª. que boração o
teve a França, antes da Revolução Francesa de 1789, composta exclusivamente de uma
complexa massa de costumes, usos e decisões judiciárias". vazada em
andrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 13

redigidas em 3.3. Quanto ao modo de elaboração


Quanto ao modo de elaboração, as Constituições podem ser dogmáticas
ficada como ou históricas.
tarem de um As Constituições dogmáticas, sempre escritas, são elaboradas em um
04, do § 3.º dado momento, por um órgão constituinte, segundo os dogmas ou ideias
orporação ao fundamentais da teoria política e do Direito então imperantes. Poderão ser
obre direitos ortodoxas ou simples (fundadas em uma só ideologia) ou ecléticas ou
s, a doutrina compromissórias (formadas pela síntese de diferentes ideologias, que se
Constituição conciliam no texto constitucional).
As Constituições históricas (ou costumeiras), não escritas, resultam da
dinárias), as lenta formação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sociopo-
gão especial- líticos, representando uma síntese histórica dos valores consolidados pela
documentos própria sociedade, como é o caso da Constituição inglesa.
a partir dos
A Constituição brasileira de 1988 é tipicamente dogmática, porquanto foi
jurisprudên-
ormas sobre elaborada por um órgão constituinte em um instante determinado, segundo as
ideias então reinantes. Ademais, é uma Constituição eclética. O fato de ter
sido elaborada em um período em que o Estado brasileiro deixava a triste
crita (ou ins- realidade de um regime de exceção, de aniquilamento dos direitos individuais,
crita existem fez com que, entre outros aspectos, resultasse ela em um documento extenso,
laterra, parte analítico, muitas vezes prolixo.
parsas, trata-
As Constituições dogmáticas são necessariamente escritas, elaboradas
a, as normas
por um órgão constituinte, ao passo que as históricas são do tipo não es-
encarregado
critas, aquelas que a prática ou o costume sancionaram ou impuseram.
iv~rsamente,
nais, quando As Constituições dogmáticas tendem a ser menos estáveis, porque. espe-
vas esparsas, lham as ideias em voga em um momento específico. Dessarte, com o passar
iriram status do tempo e com a consequente evolução do pensamento da sociedade, surge a
necessidade de constantes atualizações, por meio da alteração do seu texto. As
Constituições históricas tendem a apresentar maior estabilida~e, pois r~sultam
do lento amadurecimento e da consolidação· de valores da propna sociedade.
onstitucio~a!is!a
de "constitu1çao
tuto jurídico de 3.4. Quanto ao conteúdo
uma :ociedade.
oraçao de u~a Quanto ao conteúdo, temos Constituição material (ou substancial) e
da de coercibi-
Constituição formal.
Esquematizado, Na concepção material de Constituição, consideram-se constitucionais
somente as normas que cuidam de assuntos essenciais à organização e ao
glaterra apenas funcionamento do Estado e estabelecem os direitos fundamentais (matérias
atutário (statute
nte o d~ ~atu­ substancialmente constitucionais). Leva-se em conta, para a identificação de
s (constitut1onal uma norma copstitucional, o seu conteúdo. Não importa o processo de ela-
ª.
as, como que boração ou a natureza do documento que a contém; ela pode, ou não, estar
mente de uma
vazada em uma Constituição escrita.
14 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

Nessa visão, a Constituição é o conjunto de normas pertinentes à organi- rígida, não s


zação do poder, à distribuição das competências, ao exercício da autoridade, com organiz
à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como rias) do noss
sociais; tudo quanto for, enfim, conteúdo essencial referente à estruturação porque não
e ao funcionamento da ordem político-jurídica exprime o aspecto material para a conc
(ou substancial) de uma Constituição. constituciona
de organizaç
Na concepção formal de Constituição, são constitucionais todas as
normas que integram uma Constituição escrita, elaborada por um processo Segundo
especial (rígida), independentemente do seu conteúdo. Nessa visão, leva-se De fato, par
em conta, exclusivamente, o processo de elaboração d& norma: todas as política bási
normas integrantes de uma Constituição escrita, solenemente elaborada, serão das ao exerc
constitucionais. Não importa, em absoluto, o conteúdo da norma. formalizada
a Constituiç
Dessa forma, em uma Constituição escrita e rígida é possível encontrar- sentido form
mos dois tipos de normas: (i) normas formal e materialmente constitucionais ção solenem
e (ii) normas apenas forn1almente constitucionais. elaborado po
As normas formal e materialmente constitucionais são aquelas que, além mais leis do
de integrarem o texto da Constihiição escrita (aspecto formal), possuem Constituição
conteúdo substancialmente constitucional (aspecto material). É o caso, por concepção m
exemplo, do art. 5.º da Constituição Federal de 1988: as normas nele contidas referirmos à
são fonnalmente constih1cionais porque estão inseridas no texto da Consti- deverá ser n
tuição escrita e rígida; também são normas materialmente constitucionais, Também
porque tratam de direitos fundamentais, assunto essencial no que concerne nais fora do
à atuação do Estado. substancialm
As normas apenas formalmente constitucionais são aquelas que integram ganização es
o texto da Constituição escrita, mas tratam de matérias sem relevância para o processo de
estabelecimento da organização básica do Estado. É o caso, por exemplo, do escrita. Ao c
art. 242, § 2. 0 , da Constituição Federal, que estabelece que o Colégio Pedro cionais aque
II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. solenemente
A Constituição Federal de 1988 é do tipo formal, porque foi solenemente No Bras
elaborada, por um órgão especialmente incumbido desse mister, e somente importante, p
pode ser modificada por um processo especial, distinto daquele exigido para tratamento ju
a elaboração ou alteração das demais leis (rígida). Não é correto afirmar jurídico. Com
que a Constituição Federal de 1988 seja parte formal e parte material. A constituciona
Constituição, no seu todo, é do tipo formal. Entretanto, nem todas as normas maior relevâ
que a compõem são materialmente constitucionais; conforme já explicado, constituciona
algumas são, apenas, formalmente constitucionais. Isso por
Observe-se que uma mesma norma pode ser enxergada sob as duas seu texto têm
óticas, formal e material. Assim, sob a ótica formal, o § 2.º do art. 242 da normas mate
Constituição, acima mencionado, é norma indiscutivelmente constitucional, já Todas as nor
que inserida numa Constituição do tipo rígida. Já para a concepção material, valor, têm st
esse dispositivo, embora integrante do texto de uma Constituição escrita e da natureza
Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E 15
ndrino

es à organi- rígida, não seria constitucional, porque trata de matéria que nada tem a ver
autoridade, com organização do Estado. O mesmo se dá com as leis eleitorais (ordiná-
duais como rias) do nosso País. Sob a ótica formal, não são elas normas constitucionais,
struturação porque não integram o texto da Constituição escrita e rígida. Ao contrário,
to material para a concepção material de Constituição, são normas substancialmente
constitucionais, uma vez que tratam de matéria relativa a elemento essencial
de organização do Estado (forma de aquisição do Poder).
s todas as
m processo Segundo a concepção material, todos os Estados possuem Constituição.
ão, leva-se De fato, para se falar em Estado, é necessário pressupor uma organização
a: todas as política básica no respectivo território, a existência de instituições relaciona-
rada, serão das ao exercício do poder, rudimentares que sejam. Essa organização básica,
. formalizada ou não em um documento escrito, na concepção material, será
a Constituição do Estado. Nem sempre, porém, haverá uma Constituição em
encontrar- sentido formal. Isso porque nem todos os Estados possuem uma Constitui-
stitucionais ção solenemente elaborada, é dizer, um conjunto de regras constitucionais
elaborado por um processo especial, distinto daquele de elaboração das de-
s que, além mais leis do ordenamento. Então, quando se indaga se todo Estado possui
, possuem Constituição, poderemos responder positivamente, se levarmos em conta a
o caso, por concepção material (ou substancial) de Constituição. Se, ao contrário, nos
le contidas referirmos à Constituição em sentido formal, a resposta à mesma pergunta
da Consti- deverá ser negativa.
titucionais, Também, pela concepção material, podem existir normas constitucio-
e concerne nais fora do texto de uma Constituição escrita. Se a norma trata de matéria
substancialmente constitucional, isto é, se o seu conteúdo diz respeito à or-
e integram ganização essencial do Estado, ela será constitucional, independentemente do
ncia para o processo de sua elaboração, esteja ou não ela inserida em uma Constituição
xemplo, do escrita. Ao contrário, sob o ponto de vista formal, só são normas constitu-
égio Pedro cionais aquelas que integram o documento denominado Constituição escrita,
a federal. solenemente elaborado, seja qual for o seu conteúdo.
olenemente No Brasil, que adota Constituição do tipo rígida, o conceito formal é o
e somente importante, porquanto tudo que consta da Constituição formal recebe o mesmo
xigido para tratamento jurídico, consistente na sua supremacia sobre todo o ordenamento
eto afirmar jurídico. Com efeito, essa distinção entre norma formalmente e materialmente
material. A constitucional, em um regime de Constituição escrita e rígida, não possui
as normas maior relevância jurídica, seja para a aferição da aplicabilidade das normas
explicado, constitucionais, seja para a fiscalização da validade delas.
Isso porque, nesse tipo de Constituição, todas as normas que integram o
b as duas seu texto têm o mesmo valor, pouco importando sua dignidade, isto é, se são
art. 242 da normas materialmente constitucionais ou, apenas, formalmente constitucionais.
ucional, já Todas as normas integrantes de uma Constituição formal, rígida, têm o mesmo
o material, valor, têm status constitucional e deverão ser respeitadas, independentemente
o escrita e da natureza do seu conteúdo.
16 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

Com isso, em um sistema de Constituição rígida, como o nosso, todo o 0 local, a


processo de fiscalização da validade das leis leva em conta, tão somente, a Trata-se d
supremacia formal da Constituição. Ou, em outras palavras: o controle de evolução
constitucionalidade das leis é realizado sob o enfoque estritamente formal. Se considera
a norma integra o texto da Constituição rígida, seja qual for o seu conteúdo, substancia
será dotada de supremacia formal e, portanto, não poderá ser desobedecida norma co
pelo legislador infraconstitucional, sob pena de inconstitucionalidade. derá ser c
Essa dualidade de visão - formal e material - traz à luz os conceitos de razão dos
supremacia material e supremacia formal das normas constitucionais. no espaço
A supremacia formal decorre da rigidez constitucional, isto é, da exis- O fat
tência de um processo legislativo distinto, mais laborioso, para elaboração nas forma
da norma constitucional. Uma norma constitucional é dotada de supremacia Estado, e
formal pelo fato de ter sido elaborada mediante um processo legislativo es- a estabilid
pecial, mais rígido, que a diferencia das demais leis do ordenamento. irrelevant
A supremacia material decorre do conteúdo da norma constitucional. do texto
Uma norma constitucional é dotada de supremacia material em virtude da
natureza do seu conteúdo, isto é, por tratar de matéria substancialmente 3.5. Q
constitucional, que diga respeito aos elementos estruturantes da organização
do Estado. A cla
rabilidade
Numa Constituição escrita e rígida, todas as normas constitucionais
facilidade
são dotadas de supremacia formal, visto que foram elaboradas segundo um
procedimento mais solene do que aquele de elaboração das demais leis. flexíveis
Assim, em um sistema de Constituição formal, podemos afirmar que todas A Co
as normas constitucionais se equivalem em termos de hierarquia e, também, que não a
que todas elas são dotadas de supremacia formal em relação às demais leis em pleno
do ordenamento. evolução
Ao contrário, no caso de uma Constituição não escrita, flexível, não se A Co
pode cogitar de supremacia formal, porque não há distinção entre os pro- para mod
cessos legislativos de elaboração das normas que integram o ordenamento elaboraçã
jurídico. Em um sistema de Constituição não escrita, flexível, as normas é do tipo
constitucionais são dotadas, tão somente, de supremacia material (devido à nos, nas
dignidade de seu conteúdo). aprovação
integrante
Finalmente, vale ressaltar que não há um rol taxativo de normas consi-
deradas materialmente constitucionais (cuja presença no texto da Constituição Polític.a.
seria obrigatória), e, menos ainda, de normas que devessem ser tidas por A Co
apenas formalmente constitucionais (cuja presença no texto da Constituição processo
seria desnecessária). Não há unanimidade doutrinária a respeito dessa sepa- to, como
ração. Há, é verdade, um mínimo de matérias que todos estão de acordo em podem se
reconhecer como substancialmente constitucionais, de que são exemplo as com que
que regulam o exercício do poder, impondo limitações à atividade estatal e A Co
reconhecendo direitos fundamentais às pessoas. No mais, tudo variará segundo legislativ

'.~
xandrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 17

nosso, todo o 0 local, a época e a ideologia de quem se disponha a elaborar a listagem.


o somente, a Trata-se de conceitos abertos, dinâmicos, que aceitam - e acompanham - a
o controle de evolução social do Estado, no tempo e no espaço. Assim, uma norma hoje
te formal. Se considerada apenas formalmente constitucional poderá, amanhã, ser tida por
seu conteúdo, substancialmente constitucional (variação no tempo); da mesma forma, uma
desobedecida norma constitucional considerada materialmente constitucional no Brasil po-
lidade. derá ser classificada como apenas formalmente constitucional na Itália, em
conceitos de razão dos valores e do tipo de organização política daquele Estado (variação
ionais. no espaço).
to é, da exis- O fato é que levar para o texto da Constituição demasiadas normas ape-
ra elaboração nas formalmente constitucionais, que nada têm a ver com a estruturação do
e supremacia Estado, e que certamente melhor ficariam na legislação ordinária, prejudica
egislativo es- a estabilidade da Constituição, pois as oscilações frequentes nessas matérias
amento. irrelevantes terminam por forçar, continuadamente, a aprovação de reformas
onstitucional. do texto constitucional.
m virtude da
stancialmente 3.5. Quanto à estabilidade
a organização
A classificação das Constituições quanto ao grau de estabilidade (alte-
rabilidade, mutabilidade ou consistência) leva em conta a maior ou a menor
onstitucionais
facilidade para a modificação do seu texto, dividindo-as em imutáveis, rígidas,
segundo um
demais leis. flexíveis ou semirrígidas.
mar que todas A Constituição imutável (permanente, granítica ou intocável) é aquela
a e, também, que não admite modificação do seu texto. Essa espécie de Constituição está
s demais leis em pleno desuso, em razão da impossibilidade de sua atualização diante da
evolução política e social do Estado.
xível, não se A Constituição é rígida quando exige um processo legislativo especial
entre os pro- para modificação do seu texto, mais difícil do que o processo legislativo de
ordenamento elaboração das demais leis do ordenamento. A Constituição Federal de 1988
l, as normas é do tipo rígida, pois exige um procedimento especial (votação em dois tur-
ial (devido à nos, nas duas Casas do Congresso Nacional) e um quorum qualificado para
aprovação de sua modificação (aprovação de, pelo menos, três quintos dos
integrantes das Casas Legislativas), nos termos do art. 60, § 2.0 , da Carta
ormas consi-
Constituição Polític.a.
ser tidas por A Constituição flexível é aquela que permite sua modificação pelo mesmo
Constituição processo legislativo de elaboração e alteração das demais leis do ordenamen-
o dessa sepa- to, como ocorre na Inglaterra, em que as partes escritas de sua Constituição
de acordo em podem ser juridicamente alteradas pelo Parlamento com a mesma facilidade
exemplo as com que se altera a lei ordinária.
dade estatal e A Constiruição semirrígida (ou semiflexível) é a que exige um processo
riará segundo legislativo mais difícil para alteração de parte de seus dispositivos e permite

'.~
18 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

a mudança de outros dispositivos por um procedimento simples, semelhante determinado


àquele de elaboração das demais leis do ordenamento. permitir a a
Na história do Constitucionalismo brasileiro, unicamente a Constituição A rigid
do Império (1824) foi semirrígida, pois exigia, no seu art. 178,5 um processo supremacia
especial para modificação de parte do seu texto (por ela considerado substan- todas as nor
cial), mas, ao mesmo tempo, permitia a modificação de outra parte mediante de superiori
processo legislativo simples, igual ao de elaboração das demais leis. Todas ápice do or
as demais Constituições do Brasil foram do tipo rígida, inclusive a atual. Assim,
Cabe observar que nem toda Constituição escrita será, necessariamente, denominado
rígida, conquanto atualmente seja essa a regra. Conforme aponta a doutrina, do tipo rígi
já houve, na Itália, Constituição escrita do tipo flexível, isto é, Constituição verificar qua
formalmente elaborada, por um órgão especial (escrita), mas que permitia ções (e, por
a modificação do seu texto pelo mesmo processo legislativo de elaboração os seus com
das demais leis do ordenamento (flexível). Contudo, registre-se, a tendência do ordenam
moderna é de elaboração de Constituições do tipo escrita e rígida. Diversa
A rigidez não impede mudanças na Constituição. Não se admite, no por exemplo
Constitucionalismo moderno, a ideia da existência de Constituição absoluta- uma norma
mente imutável, que não admita alterações no seu texto. A rigidez visa, tão mo processo
somente, a assegurar uma maior estabilidade ao texto constitucional, por meio de seu cont
da imposição de um processo mais árduo para sua modificação. portanto, se
É importante esclarecer que não é correta a ideia de que quanto maior a em um regi
rigidez assegurada à Constituição, maior será a sua estabilidade e permanência. controle de
O grau de rigidez deve ser suficiente para assegurar uma relativa estabilida- Deve-se
de à Constituição, por meio da exigência de processo mais dificultoso para mente da ex
a modificação do seu texto, mas sem prejuízo da necessária atualização e insuscetível
adaptação das normas constitucionais às exigências da evolução e do bem- Sabe-se
-estar social. A rigidez deve, portanto, assegurar essas duas necessidades da nais que, po
Constituição: certa estabilidade e possibilidade de atualização. abolição po
Apenas para ilustrar, suponhamos que a Constituição Federal de 1988 só emendas co
pudesse ser emendada por meio da aprovação, em dois turnos de votação, de seu art. 60,
todos os membros das Casas do Congresso Nacional (isto é, por unanimi- Conform
dade dos congressistas). Ora, esse excessivo grau de rigidez provavelmente tão somente
frustraria qualquer tentativa de modificação da nossa Constituição, impedindo Constituição
a sua necessária atualização. Com isso, com o passar do tempo, a tendên- dispositivos
cia seria sua transformação em uma Constituição meramente nominativa, especial, ma
sem correspondência com a realidade. Enfim, se é verdade que a rigidez uma Consti
é importante para a estabilidade de uma Constituição, também é certo que seus disposi
insuscetível
5 Estabelecia o citado art. 178: "É só constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições Apesar
respectivos dos poderes políticos, e aos direitos politicos e individuais dos cidadãos; tudo
o que não é constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas [nos arts. 173
com o conc
a 177], pelas legislaturas ordinárias." núcleo não
ndrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 19

semelhante determinado grau de flexibilidade é indispensável para sua permanência, ao


permitir a atualização do texto constitucional.
Constituição A rigidez tem como decorrência imediata o denominado princípio da
m processo supremacia formal da constituição. Consoante acima visto, a rigidez situa
do substan- todas as normas constantes do texto da Constituição formal em uma posição
te mediante de superioridade em relação às demais leis, posicionando a Constituição no
leis. Todas ápice do ordenamento jurídico do Estado.
e a atual. Assim, rigidez é o pressuposto para o surgimento e a efetivação do
sariamente, denominado controle de constitucionalidade das leis. Se a Constituição é
a doutrina, do tipo rígida, ocupa o vértice do ordenamento jurídico e, então, há que se
Constituição verificar quais leis desse ordenamento estão de acordo com as suas prescri-
ue permitia ções (e, portanto, são constitucionais) e quais leis estão em desacordo com
elaboração os seus comandos (e, são, dessarte, inconstitucionais, devendo ser retiradas
a tendência do ordenamento jurídico).
a. Diversamente, em um sistema de Constituição flexível - o da Inglaterra,
admite, no por exemplo -, descabe cogitar de impugnação de inconstitucionalidade de
o absoluta- uma norma frente a outra, pois o mesmo Parlamento elabora, segundo o mes-
ez visa, tão mo processo legislativo, as leis constitucionais (assim consideradas em razão.
l, por meio de seu conteúdo) e as demais leis. As decisões do Parlamento não poderão,
portanto, ser impugnadas perante os tribunais do Poder Judiciário. Por isso,
nto maior a em um regime de Constituição flexível não se pode falar, propriamente, em
rmanência. controle de constitucionalidade das leis.
estabilida- Deve-se ressaltar, ainda, que a rigidez constitucional não decorre direta-
ultoso para mente da existência de cláusulas pétreas, isto é, da presença de um núcleo
ualização e insuscetível de abolição na Constituição.
e do bem- Sabe-se que as cláusulas pétreas são determinadas matérias constitucio-
ssidades da nais que, por opção do legislador constituinte originário, são insuscetíveis de
abolição por meio de modificação da Constituição, pela aprovação de futuras
de 1988 só emendas constitucionais. A Constituição Federal de 1988 as estabelece no
votação, de seu art. 60, § 4.0 •
r unanimi- Conforme vimos, a rigidez (ou a flexibilidade) da Constituição decorre
vavelmente tão somente do processo exigido para a modificação do seu texto. Uma
impedindo Constituição poderá ser rígida e não possuir cláusulas pétreas (todos os seus
a tendên- dispositivos poderão ser abolidos, desde que haja obediência ao procedimento
ominativa, especial, mais dificultoso, por ela estabelecido). Pode-se, diversamente, ter
e a rigidez uma Constituição flexível que possua cláusulas pétreas (admite alteração de
é certo que seus dispositivos por meio de processo legislativo simples, mas há um núcleo
insuscetível de abolição).
e atribuições Apesar de a existência de cláusulas pétreas não ter relação necessana
idadãos; tudo
nos arts. 173
com o conceito de rigidez constitucional, vale registrar que a presença desse
núcleo não suprimível leva o Professor Alexandre de Moraes a classificar a
20 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO• Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

Constituição Federal de 1988 como super-rígida, uma vez que "em regra As C
poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado, mas, excepcional- regular a
mente, em alguns pontos é imutável (CF, art. 60, § 4. 0 - cláusulas pétreas)". mas sim
Por fim, cabe-nos mencionar que o Professor Uadi Lammêgo Bulos faz meios par
referência, também, às Constituições transitoriamente flexíveis (suscetíveis de "uma cons
reforma, pelo mesmo rito das leis comuns, mas apenas por determinado período; do poder
ultrapassado este, o documento constitucional passa a ser rígido). Além disso, roupa que
o renomado professor estabelece uma distinção conceituai entre Constituições Em sí
fixas (que só podem ser modificadas por um poder de competência idêntico o poder e
àquele que as criou - poder constituinte originário) e imutáveis (que se pre- ainda têm
tendem eternas, alicerçadas na crença de que não haveria órgão competente semântica
para proceder, legitimamente, à reforma delas, muito menos para revogá-las). para estab

3.6. Quanto à correspondência com a realidade (critério 3.7. Q


ontológico}
No to
O constitucionalista alemão Karl Loewenstein desenvolveu uma classi- e sintética
ficação para as Constituições que leva em conta a correspondência existente Cons
entre o texto constitucional e a realidade política do respectivo Estado (cri- volvida) é
tério ontológico). não a orga
Para ele, as Constituições de alguns Estados conseguem, verdadeira- Constituci
mente, regular o processo político no Estado. Outras Constituições, apesar que melh
de elaboradas com esse mesmo intuito, não logram, de fato, normatizar a preceitos
realidade política do Estado. Há, ainda, Constituições que sequer têm esse Constituci
intuito, pois visam, tão somente, à manutenção da vigente estrutura de poder. Exem
A partir dessa constatação, podem as Constituições ser classificadas em que, nos
três grupos: Constituições normativas, Constituições nominativas e Consti- transitória
tuições semânticas. não substa
As Constituições normativas são as que efetivamente conseguem, por política d
estarem em plena consonância com a realidade social, regular a vida política Cons
do Estado. Em um regime de Constituição normativa, os agentes do poder ta) é aque
e as relações políticas obedecem ao conteúdo, às diretrizes e às limitações princípios
impostos pelo texto constitucional. São como uma roupa que assenta bem e do sistem
realmente veste bem. cionais,, em
As Constituições nominativas (nominalistas ou nominais) são aquelas titucional.
que, embora tenham sido elaboradas com o intuito de regular a vida polí- América,
tica do Estado, ainda não conseguem efetivamente cumprir esse papel, por As C
estarem em descompasso com o processo real de poder e com insuficiente constituci
concretização constitucional. São prospectivas, isto é, voltadas para um dia a adaptaç
serem realizadas na prática, como uma roupa guardada no armário que será mento ins
vestida futuramente, quando o corpo nacional tiver crescido. no texto c
xandrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 21

ue "em regra As Constituições semânticas, desde sua elaboração, não têm o fim de
excepcional- regular a vida política do Estado, de orientar e limitar o exercício do poder,
las pétreas)". mas sim o de beneficiar os detentores do poder de fato, que dispõem de
go Bulos faz meios para coagir os governados. Nas palavras de Karl Loewenstein, seria
suscetíveis de "uma constituição que não é mais que uma formalização da situação existente
nado período; do poder político, em beneficio único de seus detentores". São como uma
. Além disso, roupa que não veste bem, mas dissimula, esconde, disfarça os seus defeitos.
Constituições Em síntese, enquanto as constituições normativas limitam efetivamente
ncia idêntico o poder e asseguram direitos e as nominativas, embora não o façam, hoje,
(que se pre- ainda têm esse propósito, para concretização futura, as constituições ditas
o competente semânticas são submetidas ao poder político prevalecente, servindo apenas
a revogá-las). para estabilizar e eternizar a intervenção dos dominadores de fato.

io 3.7. Q11.11a011to à extensão


No tocante à extensão, as Constituições são classificadas em analíticas
u uma classi- e sintéticas.
ncia existente Constituição analítica (longa, larga, prolixa, extensa, ampla ou desen-
Estado (cri- volvida) é aquela de conteúdo extenso, que versa sobre matérias outras que
não a organização básica do Estado, isto é, sobre assuntos alheios ao Direito
, verdadeira- Constitucional propriamente dito. Ora cuida de minúcias de regulamentação,
ições, apesar que melhor caberiam na legislação infraconstitucional, ora de regras ou
normatizar a preceitos pertencentes ao campo da legislação ordinária, e não do Direito
uer têm esse Constitucional.
ura de poder. Exemplo de Constituição analítica é a Constituição Federal de 1988,
ssificadas em que, nos seus mais de trezentos artigos (entre disposições permanentes e
as e Consti- transitórias), exagera no regramento detalhado de determinadas matérias,
não substancialmente constitucionais, que nada têm a ver com a organização
nseguem, por política do Estado.
vida política Constituição sintética (básica, concisa, tópica, breve, sumária ou sucin-
tes do poder ta) é aquela que possui conteúdo abreviado e que versa, tão somente, sobre
às limitações princípios gerais ou enuncia regras básicas de organização e funcionamento
ssenta bem e do sistema jurídico estatal, isto é, sobre matérias substancialmente constitu-
cionais,, em ,sentido estrito, deixando a pormenorização à legislação infracons-
são aquelas titucional. E o caso, por exemplo, da Constituição dos Estados Unidos da
a vida polí- América, composta de apenas sete artigos originais e vinte e sete emendas.
se papel, por As Constituições sintéticas asseguram maior estabilidade do arcabouço
m insuficiente constitucional, bem como maior flexibilidade interpretativa, o que favorece
para um dia a adaptação dos princípios constitucionais a situações novas do desenvolvi-
ário que será mento institucional de um povo, sem a necessidade de mudanças formais
no texto constitucional.
22 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

Entretanto, a tendência contemporânea é de adoção, pelos diferentes Es- seguido pel


tados, de Constituição do tipo analítica, de conteúdo extenso, mesmo sendo não os indi
sabido que esse tipo de Constituição tende a ser menos estável, em virtude numa deter
da necessidade de seguidas modificações formais do seu texto. legislador c
marcas do E
3.8. Quanto à finalidade surgiu exata

Uma classificação moderna, de grande relevância, é a que distingue as


Constituições em Constituição-garantia, Constituição-balanço e Constituição 3.9. O
dirigente, no tocante a suas finalidades. O cons
Constituição-garantia, de texto reduzido (sintética), é Constituição ne- uma feição
gativa, que tem como principal preocupação a limitação dos poderes estatais, que se torn
isto é, a imposição de limites à ingerência do Estado na esfera individual. Daí todo o mun
a denominação "garantia", indicando que o texto constitucional preocupa-se os seguinte
em garantir a liberdade, limitando o poder.
As Constituições-garantia são o modelo clássico de Constituição, propug- a) a C
nado nas origens do movimento constitucionalista, restringindo-se a dispor b) dev
sobre organização do Estado e imposição de limites à sua atuação, mediante de
a outorga de direitos fundamentais ao indivíduo. São, portanto, típicas dos c) dev
Estados liberais. elab
Constituição-balanço é aquela destinada a registrar um dado es- d) dev
tágio das relações de poder no Estado. Nesse tipo de Constituição, o div
texto é elaborado com vistas a espelhar certo período político, findo o
qual é elaborado um novo texto para o período seguinte. Sua preocupação Enfim,
é, portanto, disciplinar a realidade do Estado num determinado período, ser escrita e
retratando o arranjo das forças sociais que estruturam o Poder. Foi o na elaboraç
que aconteceu na antiga União Soviética, que elaborou três Constituições O Prof
seguidas com essa finalidade. A primeira, em 1924 (Constituição do pro- ta, que "é
letariado); a segunda, em 1936 (Constituição dos operários); e a última, direcioname
em 1971 (Constituição do povo). aplicação p
Constituição dirigente, de texto extenso (analítica), é aquela que define tão somente
fins, programas, planos e diretrizes para a atuação futura dos órgãos estatais. O Prof.
É a Constituição que estabelece, ela própria, um programa para dirigir a As primeira
evolução política do Estado, um ideal social a ser futuramente concretizado em um úni
pelos órgãos estatais. O termo "dirigente" significa que o legislador cons- esparsos, e
tituinte "dirige" a atuação futura dos órgãos governamentais, por meio do Lammêgo B
estabelecimento de programas e metas a serem perseguidos por estes. unitextuais
O elemento que caracteriza uma Constituição como dirigente é a exis- Vale le
tência, no seu texto, das denominadas normas programáticas, mormente Prof. Paulo
de cunho social. Como o próprio termo indica, tais normas estabelecem um em um úni
programa, um rumo inicialmente traçado pela Constituição, que deve ser per- documentos
ndrino
Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 23

erentes Es- seguido pelos órgãos estatais. São normas que têm como destinatários diretos
smo sendo não os indivíduos em si, mas os órgãos estatais, requerendo destes a atuação
em virtude numa determinada direção, o mais das vezes de caráter social, apontada pelo
legislador constituinte. Constituição dirigente representa, portanto, uma das
marcas do Estado Social ( Welfare State) - aliás, tal modelo de Constituição
surgiu exatamente nesse tipo de Estado.

istingue as
onstituição 3.9. Outras classificações
O constitucionalista português J. J. Gomes Canotilho, tendo por base
ituição ne- uma feição liberal de Constituição, concebeu a expressão Constituição Ideal,
es estatais, que se tornou largamente difundida, e hoje é repetida por doutrinadores de
vidual. Daí todo o mundo, inclusive por vários autores brasileiros. Para Canotilho, são
preocupa-se os seguintes os elementos que caracterizam uma Constituição Ideal:

ão, propug- a) a Constituição deve ser escrita;


se a dispor b) deve conter uma enumeração de direitos fundamentais individuais (direitos
o, mediante de liberdade);
típicas dos c) deve adotar um sistema democrático formal (participação do povo na
elaboração dos atos legislativos, pelos parlamentos);
dado es- d) deve assegurar a limitação do poder do Estado mediante o princípio da
tituição, o divisão de poderes.
o, findo o
eocupação Enfim, para Canotilho, uma Constituição Ideal deve, necessariamente,
o período, ser escrita e prever direitos fundamentais individuais, a participação do povo
der. Foi o na elaboração das leis e o princípio da divisão de poderes.
nstituições O Professor Alexandre de Moraes refere-se à Constituição nominalis-
ão do pro- ta, que "é aquela cujo texto da Carta Constitucional já contém verdadeiros
e a última, direcionamentos para os problemas concretos, a serem resolvidos mediante
aplicação pura e simples das normas constitucionais. Ao intérprete caberia
que define tão somente interpretá-la de forma gramatical-literal".
os estatais. O Prof. Pinto Ferreira refere-se às Constituições reduzidas e variadas.
a dirigir a As primeiras seriam aquelas sistematizadas, cujas normas estão consolidadas
oncretizado em um único código, enquanto as últimas seriam as formadas por textos
ador cons- esparsos, espalhados no ordenamento jurídico. Por sua vez, o Prof. Uadi
or meio do Lammêgo Bulos as denomina, respectivamente, de Constituições unitárias,
estes. unitextuais e pluritextuais.
e é a exis- Vale lembrar que essas mesmas Constituições são denominadas pelo
mormente Prof. Paulo Bonavides de Constituições (escritas) codificadas (sistematizadas
elecem um em um único 'documento) e Constituições (escritas) legais (integradas por
ve ser per- documentos diversos, fisicamente distintos, como foi o caso da Terceira
24 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

República Francesa, formada por inúmeras leis constitucionais, redigidas Algun


em momentos distintos, tratando cada qual de elementos substancialmente haja cons
constitucionais). expressão
O Prof. André Ramos Tavares refere-se às Constituições liberais e sociais. é, que adm
As Constituições liberais são aquelas resultantes do triunfo da ideologia ao de ela
burguesa, dos ideais do Liberalismo, correspondentes ao primeiro período de Machado
surgimento dos direitos humanos, que exigiam a não intervenção do Estado nas quais
na esfera privada dos particulares. São, também, denominadas Constitui- sorte que
ções negativas, pois impunham a omissão ou negativa de ação do Estado, tarefa de
preservando-se, assim, as liberdades públicas. normas c
acompanh
As Constituições sociais correspondem a um momento posterior do
entre a C
constitucionalismo, em que se passou a exigir do Estado atuação positiva,
corrigindo as desigualdades sociais e proporcionando o surgimento do Estado
do bem comum. Nesse tipo de Constituição, busca-se a concretização da
igualdade material (e não meramente formal), e nela são traçados expressa-
mente os grandes objetivos que deverão nortear a atuação governamental,
razão porque é também denominada de Constituição dirigente.
O Professor Machado Horta classifica a Constituição Federal de 1988
como expansiva. Para o renomado constitucionalista, seriam dois os aspectos
que caracterizariam nossa Constituição atual como expansiva: (i) a aborda-
gem de novos temas, não presentes nas Constituições brasileiras pretéritas;
e (ii) a ampliação do tratamento de temas permanentes, já presentes nas
Constituições pretéritas.
O constitucionalista português Jorge Miranda faz referência às hetero-
constituições, que são Constituições decretadas de fora do Estado por um
outro, ou por outros Estados, ou, ainda, por uma organização internacional. Quadro
Classific
Segundo o eminente professor, incluem-se entre elas as primeiras consti- Consti
tuições do Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Jamaica (aprovadas por leis
do parlamento britânico), a primeira Constituição da Albânia (obra de uma
conferência internacional, de 1913 ), a Constituição cipriota (procedente dos
acordos de Zurique, de 1960, entre a Grã-Bretanha, a Grécia e a Turquia) e
a Constituição da Bósnia-Herzegovina (após os chamados acordos de Dayton
de 1995).
O Prof. Diogo de Figueiredo Moreira Neto estabelece a distinção entre
Constituição principiológica (em que predominam os princípios, identificados
como normas constitucionais providas de alto grau de abstração, consagra-
doras de valores, pelo que é necessária a mediação concretizadora, tal como
a Constituição Federal de 1988) e Constituição preceituai (em que preva-
lecem as regras, individualizadas como normas constitucionais revestidas de
pouco grau de abstração, concretizadoras de princípios, pelo que é possível
a aplicação coercitiva, tal como a Constituição mexicana).
xandrino Cap. 1 • Dl.REITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 25

ais, redigidas Alguns autores referem-se, ainda, à Constituição plástica, embora não
stancialmente haja consenso quanto ao seu significado. O Professor Pinto Ferreira usa a
expressão Constituição plástica como sinônimo de Constituição flexível, isto
rais e sociais. é, que admite modificações no seu texto mediante procedimento simples, igual
da ideologia ao de elaboração das leis infraconstitucionais. Já o constitucionalista Raul
ro período de Machado Horta emprega o vocábulo "plástica" para conceituar as Constituições
ão do Estado nas quais há grande quantidade de disposições de conteúdo aberto, de tal
as Constitui- sorte que é deixada ao legislador ordinário ampla margem de atuação em sua
o do Estado, tarefa de mediação concretizadora, de densificação ou "preenchimento" das
normas constitucionais, possibilitando, com isso, que o texto constitucional
acompanhe as oscilações da vontade do povo, assegurando a correspondência
posterior do
entre a Constituição normativa e a Constituição real.
ação positiva,
nto do Estado
cretização da • Outorgadas
dos expressa- Origem • Populares (Democráticas,
Promulgadas)
overnamental,
• Cesaristas

eral de 1988
•Escritas
s os aspectos Forma
• Não Escritas
(i) a aborda-
as pretéritas;
• Dogmáticas
presentes nas Modo de Elaboração
• Históricas

ia às hetero- •Formal
tado por um Conteúdo
Quadro Geral de • Material (Substancial)
internacional.
Classificação das
meiras consti- Constituições •Rígida
adas por leis
Estabilidade • Flexlvel
obra de uma
• Semirrigida
ocedente dos
a Turquia) e
•Normativa
os de Dayton Correspondência com • Nominativa
a Realidade
•Semântica
stinção entre
identificados • Sintética (Concisa)
ão, consagra- Extensão
• Analltica (Prolixa)
ora, tal como
m que preva-
•Garantia
revestidas de
Finalidade •Balanço
ue é possível
• Dirigente (Programática)
xandrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 33

ucionalidade, A Carta vigente é composta de um preâmbulo, uma parte dogmática,


nto de novas integrada por nove títulos, e um rol de dispositivos de cunho transitório,
e a arguição reunidos no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
argamento da Apresentamos, a seguir, considerações sumárias acerca das normas que
a quebra do compõem cada uma dessas três divisões da Constituição Federal de 1988,
com destaque para o exame da relevância jurídica do preâmbulo, bem como
senhado, for- das peculiaridades das normas do ADCT.
garantias dos
5.1. Preâmbulo
al detalhadas
ação Pública A Constituição Federal de 1988 apresenta o seguinte preâmbulo:
m a proteção
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, des-
o a suas ati- tinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais,
sem dúvida, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
obtenção de igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com
infância, aos a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a pro-
teção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
rutura e em FEDERATIVA DO BRASIL.
ios Federais,
dministração Muito se discute a respeito da relevância jurídica do preâmbulo de uma
inclusive em Constituição, especialmente quanto à sua eficácia jurídica e à possibilidade
bremaneira o de uma lei ser declarada inconstitucional por contrariar o seu texto.
damentais de A matéria não é pacífica na doutrina. Há três posições doutrinárias
ole, populares sobre o tema: (a) a tese da irrelevância jurídica, segundo a qual o pre-
âmbulo não se situa no domínio do Direito, mas sim no da política; (b)
a tese da plena eficácia, que reconhece ao preâmbulo a mesma eficácia
jurídica de quaisquer outras disposições constitucionais; e (c) a tese da
relevância jurídica indireta, segundo a qual o preâmbulo desempenha um
papel orientador na identificação das características da Constituição, mas
não se confunde com suas normas.
omulgada em No Brasil, a questão foi enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal em
democrática, importante ação, na qual se discutia a constitucionalidade do preâmbulo da
va, principio- Constituição do Estado do Acre, pelo fato de haver sido omitida a referência
· à proteção de Deus, presente no preâmbulo da Constituição Federal de 1988.8
do, compõe- Para o Tribunal, o preâmbulo da Constituição Federal não se situa no
ntes do corpo âmbito do Direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica
Disposições '
ª ADI 2.076-5, rei. Min. Carlos Velloso, 15.08.2002.
34 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO• Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

do constituinte. Como tal, não possui valor normativo, apresentando-se de cada ente
desvestido de relevância jurídica e força cogente. Não constitui o preâmbu- à repartição
lo, portanto, norma central da Constituição, razão pela qual a invocação da da ordem so
proteção de Deus não é norma de reprodução obrigatória na Constituição Apresen
Estadual. concerne a d
Em outra oportunidade, diante de ação em que congressistas reque- Deve-se
riam a suspensão da tramitação da proposta que veio a resultar na Emenda corpo princi
Constitucional 41/2003 (Reforma da Previdência), por ofensa ao texto do constitucion
preâmbulo da Constituição Federal de 1988, a Corte Maior deixou assente,
também, que o conteúdo do preâmbulo não impõe qualquer limitação de
ordem material ao poder reformador outorgado ao Congresso Nacional.9 5.3. At
Em síntese, podemos concluir que o preâmbulo da Constituição Federal
O Ato d
de 1988: (a) não se situa no âmbito do Direito Constitucional, mas no do-
grupos disti
mínio da política; (b) não constitui norma central da Constituição Federal;
(c) não possui valor normativo, apresentando-se desvestido de força cogen- a) os q
te e relevância jurídica; (d) não é norma de observância obrigatória pelos do r
estados-membros, Distrito Federal e municípios; (e) não serve de parâmetro cons
para a declaração da inconstitucionalidade das leis, vale dizer, não há in- b) os q
constitucionalidade por violação do preâmbulo; e (f) não constitui limitação de r
à atuação do poder constituinte derivado, ao modificar o texto constitucional. juríd
Sem embargo dessas conclusões, a doutrina pátria costuma reconhecer ao
preâmbulo da Constituição Federal de 1988 a função de diretriz interpretativa Exempl
do texto constitucional, por auxiliar na identificação dos princípios e valores fixou compe
primordiais que orientaram o constituinte originário na sua elaboração. vação do S
do Distrito
5.2. Parte dogmática ela Constituição de 1988 Um bom
ADCT, que
A parte dogmática da Constituição de 1988 constitui o seu corpo prin- prevista par
cipal, ou permanente (esta última expressão, usada em contraposição à parte 1988. Urna
que contém as disposições transitórias, o ADCT). revisão con
Estruturalmente, a parte dogmática da Constituição de 1988 divide-se em estar exauri
nove títulos, a saber: (I) Dos Princípios Fundamentais; (II) Dos Direitos e Em am
Garantias Fundamentais; (III) Da Organização do Estado; (IV) Da Organização do ADCT é
dos Poderes; (V) Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas; (VI) r ocorre ·a situ
Da Tributação e do Orçamento (VII) Da Ordem Econômica e Financeira; 'ir a sua eficác
f
(VIII) Da Ordem Social; (IX) Das Disposições Constitucionais Gerais. É impor
O corpo permanente da Constituição congrega todas as normas essenciais 1 do ADCT s
i
à organização e ao funcionamento do Estado brasileiro, como as relativas jurídico e i
aos direitos fundamentais, à estrutura do Estado federal e às competências 1 essa razão,
que enseja,
9 MS 24.645-MC/DF, rei. Min. Celso de Mello, 08.09.2003.

j normas in:fr
ndrino Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 35

sentando-se de cada ente político, à organização dos poderes e da Administração Pública,


o preâmbu- à repartição de rendas, aos princípios fundamentais da ordem econômica e
nvocação da da ordem social etc.
onstituição Apresenta, também, inúmeras normas programáticas, mormente no que
concerne a direitos sociais, porquanto se trata de uma Constituição dirigente.
stas reque- Deve-se lembrar, ainda, que, por ser urna Constituição prolixa, o seu
na Emenda corpo principal abriga, também, inúmeras regras tidas por apenas formalmente
ao texto do constitucionais, que nada têm a ver com a organização básica do Estado.
xou assente,
mitação de
Nacional.9 5.3. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias {ADCT)
ção Federal
O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) reúne dois
mas no do-
grupos distintos de preceitos:
ão Federal;
orça cogen- a) os que contêm regras necessárias para assegurar uma harmoniosa transição
atória pelos do regime constitucional anterior (Constituição de 1969) para o novo regime
e parâmetro constitucional (Constituição de 1988);
não há in- b) os que estabelecem regras que, embora não sejam relacionadas à transição
ui limitação de regime constitucional, têm caráter meramente transitório, têm sua eficácia
nstitucional. jurídica exaurida tão logo ocorra a situação nelas prevista.
conhecer ao
nterpretativa Exemplo da primeira espécie de dispositivo é o art. 16 do ADCT, que
os e valores fixou competência temporária para o Presidente da República, com a apro-
oração. vação do Senado Federal, para indicar o Governador e o Vice-Governador
do Distrito Federal, até que nele fosse realizada a primeira eleição direta.
Um bom exemplo da segunda categoria de disposições é o art. 3. 0 do
ADCT, que estabeleceu as regras para a realização da revisão constitucional
corpo prin- prevista para ocorrer cinco anos após a promulgação da Constituição de
ição à parte 1988. Urna vez cumprido esse comando, isto é, realizado o procedimento de
revisão constitucional (em 1993/1994), o dispositivo perdeu a eficácia, por
ivide-se em estar exaurido o seu objeto.
s Direitos e Em ambos os casos, a característica própria de urna norma integrante
Organização do ADCT é a existência de eficácia jurídica somente até o momento em que
áticas; (VI) r ocorre ·a situação nela prevista; ocorrida a situação, a norma transitória perde
Financeira; 'ir a sua eficácia jurídica, por exaurimento de seu objeto.
f
Gerais. É importante ressaltar que, embora de natureza transitória, os dispositivos
s essenciais 1 do ADCT são formalmente constitucionais, ou seja, têm o mesmo status
i
as relativas jurídico e idêntica hierarquia à das demais normas da Constituição. Por
ompetências 1 essa razão, sua observância por todas as instâncias de poder é obrigatória, o
que enseja, por exemplo, a declaração de inconstitucionalidade de quaisquer

j normas in:fraconstitucionais com eles incompatíveis. Outrossim, a modifica-


36 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino

ção de qualquer dispositivo do ADCT somente poderá ser feita por meio da T
aprovação de emendas à Constituição, com estrita observância do art. 60 da F
Constituição Federal. d) e
Quanto ao último ponto, cabe mencionar que o ADCT tem sido objeto d
de reiteradas modificações e acréscimos mediante emendas à Constituição. C
Essas emendas, em sua maioria, introdlizem novas matérias de caráter tran- tr
sitório, ou prorrogam prazos anteriormente previstos, como é o caso da EC à
89/2015, que deu nova redação ao art. 42 do ADCT, ampliando o prazo em d
que a União deverá destinar às Regiões Centro-Oeste e Nordeste percentuais n
ci
mínimos dos recursos destinados à irrigação. o
Ademais, importantes garantias constitucionais continuam provi-
e) el
soriamente disciplinadas por dispositivos do ADCT, com plena eficácia ta
mesmo depois de décadas da promulgação da Constituição Federal, em face co
da omissão do legislador ordinário quanto ao seu dever de regulamentá-las. de
É exemplo a proteção à relação de emprego diante da despedida arbitrária ou ar
sem justa causa, que continua disciplinada pelo art. 10, inciso I, do ADCT, fu
por não haver sido editada a lei complementar reclamada pelo art. 7. 0 , inciso
I, da Constituição Federal.

5.4. "Elementos da Constituição" As no


Faremos menção, finalmente, aos chamados elementos da Constituição. mento jurí
Vimos que a tendência moderna é de elaboração de Constituições analíticas ou novo fund
prolixas, repletas de normas pormenorizadas, sobre as mais diferentes maté- a atuação
rias. Esse inchamento das Constituições fez com que a doutrina estabelecesse indivíduos
uma distinção entre tais normas constitucionais, dividindo-as em diferentes A pro
categorias, levando-se em conta a sua estrutura normativa. Apresentaremos, peito, esp
a seguir, sinteticamente, a classificação elaborada pelo Professor José Afonso pretérito, c
da Silva, que divide os elementos da Constituição Federal de 1988 em as relaçõe
cinco categorias, a saber: Neste
em vigor
a) elementos orgânicos - que se contêm nas normas que regulam a estrutura
do Estado e do poder, que se concentram, predominantemente, nos Títulos
III (Da Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes e do 6.1. V
Sistema de Governo), Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas
e da Segurança Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento); As Co
b) elementos limitativos - que se manifestam nas normas que consagram o momento
elenco dos direitos e garantias fundamentais (Título II da Constituição - expressa, e
Dos Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se os Direitos Sociais, Caso
que entram na categoria seguinte);
vigor de t
c) elementos socioideológicos - consubstanciados nas normas que revelam o da Constit
caráter de compromisso das Constituições modernas entre o Estado indi- de sua pro
vidualista e o Estado social, intervencionista, como as do Capítulo II do
exandrino
Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 37

a por meio da Título II (Direitos Sociais) e as dos Títulos VII (Da Ordem Econômica e
do art. 60 da Financeira) e VIII (Da Ordem Social);
d) elementos de estabilização constitucional - consagrados nas normas
m sido objeto destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da
Constituição. Constituição, do Estado e das instituições democráticas, como os encon-
e caráter tran- trados nos_ arts. 34 a 36 (Da Intervenção), 59, I, 60 (processo de emendas
o caso da EC à Constituição), 102, I, "a" (ação direta de inconstitucionalidade e ação
o o prazo em declaratória de constitucionalidade), 102 e 103 (jurisdição constitucional) e
te percentuais no Título V (Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, espe-
cialmente o Capítulo I, pois os Capítulos II e III, conforme vimos, integram
os elementos orgânicos);
nuam provi-
e) elementos formais de aplicabilidade - são os que se acham consubs-
plena eficácia tanciados nas normas que estabelecem regras de aplicação das normas
deral, em face constitucionais, assim, o preâmbulo, o dispositivo que contém as cláusulas
gulamentá-las. de promulgação, as disposições constitucionais transitórias e o § 1.º do
a arbitrária ou art. 5.º, que determina que as normas definidoras dos direitos e garantias
I, do ADCT, fundamentais têm aplicação imediata.
art. 7. 0 , inciso

As normas de uma nova Constituição projetam-se sobre todo o ordena-


Constituição. mento jurídico, revogando aquilo que com elas seja incompatível, conferindo
s analíticas ou novo fundamento de validade às disposições infraconstitucionais e reorientando
ferentes maté- a atuação de todas as instâncias de poder, bem como as relações entre os
estabelecesse indivíduos ou grupos sociais e o Estado.
em diferentes A problemática da aplicação de normas constitucionais novas diz res-
resentaremos, peito, especialmente, à aferição da sua relação com o texto constitucional
r José Afonso pretérito, com as normas infraconstitucionais anteriores e à sua eficácia sobre
de 1988 em as relações jurídicas baseadas em fatos passados.
Neste tópico, serão analisadas as principais situações atinentes à entrada
em vigor de uma nova Constituição. Passemos a elas.
lam a estrutura
nte, nos Títulos
Poderes e do 6.1. Vacatio Constitutionis
Forças Armadas
nto); As Constituições normalmente contêm cláusula especial que determina o
e consagram o momento em que seu texto começará a vigorar. Não havendo essa cláusula
Constituição - expressa, entende-se que a vigência é imediata, a partir da sua promulgação.
Direitos Sociais, Caso a Constituição contenha cláusula expressa que difira a entrada em
vigor de todo o seu texto, surge a chamada vacatio constitutionis (vacância
que revelam o da Constituiçãd), que corresponde ao interregno entre a publicação do ato
o Estado indi- de sua promulgação e a data estabelecida para a entrada em vigor de seus
Capítulo II do

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