PORTUGUESAS NO SÉC.XX
“Women are second-class citizens throughout the world. For all the
restrictions on contraception and abortion - all these, and many more, are
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Teresa Pizarro Beleza Serralves-Porto 2001
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SUMÁRIO
IX - O mundo do trabalho.
XI - E o Futuro?
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de progresso, tão cara a alguns optimistas, sofre abalo certo com a contemplação do que foi,
por exemplo, o retrocesso da condição feminina, em muitos aspectos, no séc. XIX, nas
sociedades europeias . Em Portugal, também. Mas neste aspecto, como seguramente em
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“The greatest revolution in the twentieth century world has been the changed status
of women in society...” - assim começa a entrada sobre “emancipação das mulheres” no
Penguin Dictionary of Twentieth Century History (1900-1978). Ainda que em anos
posteriores o mundo tenha conhecido outras extraordinárias revoluções (a queda do muro de
Berlim, o fim do Apartheid na África do Sul) creio que a afirmação se mantém verdadeira.
E no entanto, essa “revolução” está muito longe da sua completude. Não só os
factores de resistência e reacção são inúmeros, como novas formas de discriminação vão
“insidiosamente” surgindo.
Sobre uma parte das implicações do que aqui vai tão resumidamente escrito pode ler-se o belo livro de Susan
M.OKIN, (1979) Women in Western Political Thought.
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É muito curioso o texto de Genviève Fraisse sobre a misoginia de Strindberg (in DAUPHIN e FARGE, eds,
1997) como exemplo da reacção à emancipação das mulheres nos finais do séc. XIX.
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mesmo antes de vários retrocessos legislativos , anacronicamente cristalizados em 1966 - com
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inúmeras práticas e regras que de todo se opunham a qualquer ilusão de igualdade. Processos
de divórcio como o que opôs Alfredo da Cunha à sua mulher Maria Adelaide (Infelizmente
louca, Doida não) demonstram a possibilidade de meios “alternativos” de controlo serem
utilizados para as mulheres recalcitrantes: nesta cause célèbre, o recurso à psiquiatria para
rotular como loucura a decisão de autonomia amorosa e existencial de uma senhora da
sociedade burguesa lisboeta bem pensante.
Ainda que não seja possível hoje encontrar uma medida ou uma escala de “progresso”
como a pressuposta na famosa frase que Marx e Engels tomaram de Fourier, dada a infinita
variação que a Antropologia documentou também nesta matéria (Rosaldo, 1980), é
certamente defensável que o estatuto jurídico das relações sociais de género constitui traço
relevantíssimo da cultura de uma sociedade em determinado período ou momento. Por isso, a
proposta da sua inclusão numa obra sobre o panorama cultural do séc. XX em Portugal é
sinal evidente de esclarecida compreensão das coisas. Não só a Antropologia - tomemo-la
aqui como, simplificadamente, o estudo de Culturas - se tem debruçado proficuamente sobre
elementos do Direito vigente em algumas sociedades (cada vez mais desejadamente as
nossas, progressivamente abandonado o etnocentrismo dos inícios desse discurso científico),
mas também o caminho inverso pode ser percorrido: um olhar cruzado, inverso, “simétrico” -
tanto quanto aqui possa existir simetria - será um enriquecimento da nossa percepção do
universo cultural, olhando do Direito como local de produção discursiva altamente
estruturante de uma sociedade, o mesmo é dizer, da sua cultura.
3 V. Beleza, 1993.
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Tenho também naturalmente consciência do carácter problemático das restantes
expressões utilizadas no mote que me foi dado: “Cultura”, “portuguesa”, “séc. XX”. Mas,
quanto a estas, deixo o seu eventual deslinde a (outras) especialistas.
do início dos anos setenta (FIRESTONE, 1970), centraliza a oposição social e política não
nas classes sociais (à maneira de Marx) mas no confronto entre os sexos masculino e
feminino. Na perspectiva jurídica, a mais complexa e interessante versão desta ideia
encontra-se na obra de Catherine Mackinnon (1982, 1983, 1987, 1991).
“The feminine character, and the ideal of femininity on which it is modeled, are
products of masculine society. The image of undistorted nature arises only in
distortion, as it’s opposite. Where it claims to be humane, masculine society
imperiously breeds in woman its own corrective, and shows itself through this
limitation implacably the master. The feminine character is a negative imprint of
domination. But therefore equally bad. Whatever is in this context of bourgeois
delusion called nature, is merely the scar of social mutilation” (ADORNO, 1989,
fragmento 59, p. 95)
Também John Stuart MILL escreveu, com rara percepção para o tempo em que o
fazia (1869, em plena Inglaterra Vitoriana):
“What is now called the nature of women is an eminently artificial thing - the
result of forced repression in some directions, unnatural stimulation in others. It may
be asserted without scruple, that no other class of dependants have had their
Kate MILLET, 1979 (ed. original de 1970). V. também Kate GREEN (1995) The Woman of Reason.
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character so entirely distorted from its natural proportions by their relation with their
masters...” (Stuart Mill, 1970, p. 148).
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Na verdade, em geral as mulheres são obrigadas a uma dupla ou às vezes tripla tarefa:
além do trabalho fora-de-casa, ainda têm o encargo de tomar conta dos filhos e da casa e
frequentemente dos parentes e dos afins idosos. Assim como é verdade que em geral as
mulheres ganham, em todas as profissões, menos dinheiro do que os homens. O problema
está, justamente, em compatibilizar a ideia de abstracção e generalidade da lei, por um lado,
com a de não discriminação por outro e ainda com a “violência conceptual” que consiste em
equiparar “à força” todas as mulheres. Algumas mulheres não têm filhos nem outros
encargos familiares. Algumas mulheres têm um estatuto económico-social mais elevado do
que muitos outros homens, etc.
Creio que, do ponto de vista conceptual, a única via correcta (talvez mesmo a única
“possível”) será a de manter a consciência desta unidade fragmentada das pessoas a que
chamamos, também no discurso jurídico, mulheres.
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decretos-leis, Códigos - Civil, Penal, etc, Constituição...). No entanto, três outras áreas de
análise serão essenciais para definir tal estatuto.
Por um lado, as formas de produção normativa “inferiores” (regulamentos,
portarias...); porventura, mesmo circulares dentro de serviços públicos, por exemplo, quanto
a regras que condicionam certas práticas, certas formas de fazer as coisas (por exemplo, a
indicação que em caso de declaração fiscal conjunta de um casal, o “contribuinte A” tem de
ser o marido e não a mulher); ou ainda os formulários de certos documentos (como os
passaportes portugueses, que até recentemente tinham um espaço para a fotografia do
portador e ao lado um outro para a “mulher/femme”).
Por outro lado, as intensas produção de Declarações e celebração de tratados
internacionais (V. TOMASEVSKI, 1998. PENTIKÄINEN, 1999) no que às mulheres diz
respeito - desde as normas protectoras das mulheres no campo do trabalho (na realidade,
protectoras da função maternal) até às recentes Convenções que se pretendem anti-
discriminatórias. Se é um facto que tais diplomas (tratados internacionais) fazem parte
integrante do Direito português, uma vez assinados e ratificados nos termos constitucionais , 8
No que à Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, diz respeito, a nossa Constituição atribui-lhe
valor interpretativo privilegiado no que concerne às disposições constitucionais sobre direitos fundamentais.
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normativamente passiva e dirigida à conjugalidade, a masculina predadora e promíscua. Por
isso mesmo, as relações sexuais com uma mulher são, para um homem, por natureza uma
vitória, para a mulher uma derrota. E o casamento, inversamente, é uma conquista para a
mulher e para o homem uma armadilha, uma perda de liberdade.
A regulação jurídica do aborto e da “homossexualidade” são outros dois campos em
que a mesma conclusão pode ser alcançada. A eles voltarei mais adiante.
Algumas causes célèbres são, ou podem ser, também instrumentos significativos de
análise da imposição violenta de certas normas juridico-morais de comportamento às
mulheres. Refiro, brevemente, dois casos emblemáticos.
O processo-crime movido contra as autoras de As Novas Cartas Portuguesas é um
caso precioso para entender essas concepções dominantes no discurso jurisprudencial. No
caminho entre a acusação por atentado à moral pública (1972) e a absolvição final, em 1974,
se traçou também o difícil caminho da ditadura para a democracia em Portugal, porventura
no seu lugar mais central e por isso mesmo menos óbvio: a intimidade das pessoas.
O processo-crime de que Natália Correia foi vítima aquando da publicação da Poesia
erótica e satírica é também um bom exemplo do (estreito) limite da tolerância pelo Estado
Novo não só da liberdade de expressão, mas em especial da reacção pronta ao que era visto
como comportamento (neste caso, literário) de uma voz feminina incómoda.
A expressão “Direito das Mulheres” indica, antes do mais, um ponto de vista e uma
intenção: fazer uma análise do mundo jurídico que tome as mulheres como centro de atenção
de quem investiga e olhar o Direito de forma interrogativa e crítica a partir da verificação
prévia de que as mulheres são social e juridicamente desfavorecidas.
É uma investigação que implica transgressões metodológicas e a própria quebra de
barreiras disciplinares. Analisar o estatuto jurídico das mulheres implica atravessar os vários
ramos do Direito (Constitucional, Civil, Administrativo, Penal, Trabalho); o confinamento do
estudo às barreiras tradicionais entre os vários ramos do Direito oculta, em grande medida, a
própria tomada de consciência da totalidade desse estatuto.
Depois, as formas como as mulheres são diferenciadas no mundo jurídico implica,
como já referi, o conhecimento de processos de operação que são normalmente ignorados no
estudo das fontes formais de Direito e na análise dogmática dos conceitos e técnicas
jurídicas. As práticas jurídicas são essenciais para se avaliar a situação real das mulheres.
Isto significa uma necessidade de atenção a estudos empíricos pouco habituais nos estudos
jurídicos (ex. para saber que realidade tem o chamado “assédio sexual” no trabalho
(AMÂNCIO e LIMA, 1992); ou a forma como são apoiadas ou violentadas as vítimas de
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O ensino universitário do Direito das Mulheres começou em Portugal há dois anos e meio, na Faculdade de
Direito da Universidade Nova de Lisboa. Os “Estudos sobre as Mulheres”, no sentido contemporâneo do
termo, são relativamente recentes em Portugal - mas a vertente jurídica é recém-nascida. Levanta, aliás, ainda
muitas perplexidades - há colegas minhas (e colegas meus) que me perguntam com ar espantado se tal coisa
existe, de que consta o Programa, ou me interrogam sobre o que é que eu ensino em cadeira de tão estranho
nome. A própria introdução do tema no Curriculum da licenciatura - como cadeira de opção - não foi
pacífica, ao que sei. A vulgaridade da sua existência na generalidade das Universidades Americanas terá sido
argumento importante na sua adopção final.
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crimes sexuais que apresentam queixa à polícia; ou de que maneira o crédito bancário é mais
difícil de ser obtido por uma empresária a quem os Bancos “aconselham” a apresentar-se com
o marido; ou se as repartições de Finanças continuam a recusar-se a receber declarações do
IRS em que a mulher do casal aparece como “1º contribuinte”, etc.
Por outro lado, é também importante reunir aspectos da vida social - os hábitos sociais
dominantes - aos textos legislativos para se perceber a situação real das mulheres. Só sabendo
que os contratos de arrendamento são em geral celebrados em nome do homem se entende a
dificuldade adicional da situação da mulher em caso de separação de um “casal de facto” -
situação só parcialmente resolvida com a legislação de final de século sobre as uniões de
facto . Ou paralelo problema em caso de compra de uma casa, em que a companheira põe
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“...iI n’est pas ... une de vos femmes qui n’ait une nuit de sa vie rêvé d’être
Clytemnestre ”, escreve Marguerite Yourcenar em “Clitemnestra”, um dos breves e
belíssimos contos reunidos em Feux, obra de juventude que a autora descreverá mais tarde
como o luto literário por um amor perdido . Clitemnestra dirige-se aos juízes que a julgam,
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na reconstrução do mito por Yourcenar, pelo crime de mariticídio. Este crime, na nossa
tradição jurídico-cultural, foi considerado parente do crime de alta traição ou de regicídio.
As mulheres que matam violentamente os seus maridos reagindo a anos de vida de
submissão física, sexual e moral foram em Portugal objecto de alguns estudos. O mais
relevante é porventura o de Elza PAIS (1998). 12
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A lei nº 135/99, de 28 de Agosto (“adopta medidas de protecção da união de facto”) estendeu a protecção da
casa de morada de família aos casamentos de facto. Note-se que esta lei apenas se aplica a casais constituídos
por pessoas de sexo diferente que, não estando ligadas por casamento a terceiro nem impedidas de contrair
matrimónio entre si, vivam juntas há mais de dois anos. Neste momento em que escrevo (Abril de 2001), esta
Lei encontra-se em processo de revisão na Assembleia da República.
11 Prefácio datado de Novembro de 1967, que pode ser lido por exemplo na edição de 1998 (YOURCENAR,
1998).
12 Pode ver-se também uma análise de casos jurisprudenciais nesta área em BELEZA (1989) e (1991).
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A história europeia do controlo jurídico das mulheres consistiu, em boa medida, em
"privatizá-las": por isso o estudo cruzado do Direito da Família e do Direito Penal é crucial.
Um dos campos em que essa análise pode ser particularmente fecunda é a do que se poderia
chamar Direito Penal da Família, em que se inclui a incriminação autónoma (quer dizer, não
diluída nos crimes comuns de ofensas corporais, ou ameaças, ou injúrias) dos maus tratos
conjugais.
Do ponto de vista das mulheres, a separação tradicional entre sanções penais e não
penais faz relativamente pouco sentido: a sua sujeição ao poder disciplinar do pai ou marido
em tudo se equiparava a um "sistema penal doméstico" . Essa "autoridade penal doméstica",
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ainda sobrevivente nos maus tratos em alguma medida socialmente tolerados (SILVA, 1995;
VICENTE, 1987), não era confrontada com nenhumas "garantias" formais de defesa. Era um
reduto de ilegalidade à semelhança de outros: plantações de escravos; penitenciárias;
prisioneiros de guerra. Mas durante muito tempo, foi uma ilegalidade (positivamente) legal.
O nosso Direito Civil, secular, consolida o patriarcado de forma juridicamente
eloquente no Código Civil de 1867, dito Código de (do Visconde de) Seabra. E,
simultaneamente, no Código Penal de 1852/86 (as duas versões do que foi, essencialmente, o
nosso primeiro Código Penal, que vigoraria, retalhado por reformas várias, até 1982). As
regras de Direito da Família (contidas no Código Civil) e as regras fundamentais sobre as
interdições penais em matéria de sexualidade, plasmadas na regulação dos crimes sexuais,
então vistos como crimes contra os “bons costumes” (incluídas no Código Penal) têm de ser
cruzadas entre si para se poder compreender com clareza a forma como o Direito privatizou
as mulheres.
Mas o alcance total desta expressão só será compreendido se, simultaneamente, forem
observadas as regras legais que afastaram expressamente as mulheres da esfera pública,
impedindo-as de exercerem cargos políticos ou vedando-lhes o simples direito de voto. Ou
excluindo-as do serviço militar. Ou negando-lhes a nacionalidade portuguesa na sequência do
casamento com um estrangeiro. Este estado de coisas perdurará, no essencial, até 1974, isto
é, até à Revolução que permitiu a restauração da democracia. É na sua sequência que, pouco
a pouco, as leis vão sendo alteradas - algumas expressa e avulsamente antes da própria
Constituição de 1976 (revogação de disposições do Código Penal que permitiam ao marido
abrir a correspondência da mulher, ou matá-la em flagrante adultério); outras, com a entrada
em vigor dessa mesma Constituição (que revogou todo o Direito ordinário anterior que fosse
contrário aos seus princípios, entre eles o da igualdade entre os sexos); e outras ainda,
posteriormente revistas (caso paradigmático da Revisão do Código Civil em 1977, ou da
substituição do Código Penal em 1982).
A ligação das mulheres ao Estado é, assim, ao contrário dos homens, uma ligação
indirecta. É a nacionalidade do Pai ou do marido que determinam a sua. São o pai ou o
marido que por ela votam (o argumento da unidade familiar foi utilizado para negar o direito
de voto às mulheres). O marido/o pai representam a família perante o Estado e são de alguma
forma o representante da autoridade estadual na esfera familiar. A incapacidade jurídica da
mulher casada desenhada em letra de lei em 1867, sob forte influência do Direito
Napoleónico, perdurará em grande medida até à Revolução democrática de 1974, já que a
primeira República, que nos seus inícios parecia capaz de considerável avanço no que à
cidadania das mulheres dizia respeito, se ficou pela publicação da lei do divórcio e a
declaração da igualdade entre os cônjuges. Rapidamente os revolucionários republicanos
esqueceram o apoio que tinham recebido de mulheres que defenderam activamente a causa
republicana e as promessas de acesso ao voto ficaram na gaveta. Algo de parcialmente
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semelhante ao que se passara em França depois de 1789. Nessa medida, como certamente em
outras, a Revolução republicana foi uma esperança não cumprida (ESTEVES, 1991).
É em parte por esta razão que o estudo da legislação já formalmente revogada - seja o
Código Civil do século passado (1867), as leis da República ou o Código Civil de 1966 - é
importante. É-o também para vincar o papel constitutivo do Direito no estatuto de pessoa
diminuída que, também do ponto de vista jurídico-formal, era a mulher.
Tenho a convicção de que as pessoas em geral pensam que o Direito se foi mais ou
menos limitando a fixar uma determinada ordem social, mais ou menos consensual e
adequada à época. Ora o carácter injuntivo de certas regras leva a considerar que a capitis
deminutio das mulheres era coisa imposta com diligência e severidade por parte do
legislador, como uma questão de ordem pública. Podem ser exemplos a proibição legal de
atribuir à mulher poderes de administração excepto nos casos restritos previstos na lei, no
Código Civil de 1867 e no Código Civil de 1966 ; ou, em geral, a rigidez do contrato de
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casamento quanto aos seus efeitos - até hoje, aliás; ou o pormenor com que se desenhava a
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A regra formalmente idêntica do texto actualmente vigente terá, provavelmente, sentido socialmente inverso.
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incapacidade negocial da mulher casada. Não se tratava “apenas” de avalizar uma sociedade
de desiguais, mas, positivamente, de a construir (BELEZA, 1997 a).
Se é verdade que a discriminação económica é reforçada pela discriminação social e
política, a inversa também é verdadeira. O Direito foi - e ainda é, em alguns países - um
poderoso factor de discriminação.
Por isso o estudo do Código Civil de 1966 e de outra legislação há muito revogada
não é questão inútil ou ultrapassada. Pelo contrário, tenho por certo que é um trabalho de
análise essencial à compreensão do discurso jurídico actual.
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estatuto jurídico dessa entidade a que habitualmente chamamos mulheres - pode ser
estruturalmente vista num quadro com as seguintes características:
a) Ausência não dita, isto é, esquecimento/Ausência dita, isto é, exclusão. Duas
formas de produção de alteridade, de construção “implícita” do outro.
b) Presença heterónoma do lado de fora / Presença heterónoma do lado de dentro.
Presença dita, reclamada, isto é, inclusão.
c) Presença autónoma: as mulheres como seres humanos, tout court.
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Além das Nações Unidas, têm sido decisivas para a imposição de uma função anti-
discriminatória do Direito (para o desfazer das muitas discriminações criadas e fomentadas
pelo Direito) as instâncias europeias. A União Europeia, por um lado e o Conselho da
Europa, por outro, têm desenvolvido esforços inestimáveis neste campo.
No que diz respeito à União, destacam-se o Direito dos Tratados (do Tratado de
Roma, já referido, à explícita cláusula de não discriminação do Tratado da União) e, por
último, a proibição de discriminação da Carta Europeia, que pretende ser ou vir a ser um
embrião de Constituição europeia. Mas tiveram e têm papel absolutamente decisivo os
pronunciamentos do Tribunal de Justiça, que em sucessivos Acórdãos deu corpo ao princípio
de não discriminação entre os sexos, designadamente no mundo do trabalho. Por outro lado,
a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu têm desenvolvido múltiplos programas de
acção e declarações tendentes, também, à criação de uma igualdade efectiva entre homens e
mulheres, seja no campo da igualdade laboral ou de segurança social, na área da violência
doméstica, da participação política ou do assédio sexual.
Igualmente o Conselho da Europa se tem dedicado, na luta pela efectivação dos
direitos humanos, à causa da não discriminação. No que à discriminação sexual diz respeito,
a sua política tem abrangido variadas formas e áreas, desde o uso da linguagem não sexista à
atenção a questões ligadas à maternidade ou ao tratamento equitativo de homens e mulheres
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Como argumenta, noutra sede, Paula L. de Faria, no que às questões de protecção dos doentes diz
respeito:Contra-Sida , Dezº 2000.
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em situações de detenção. Em alguns campos, a acção da União Europeia e do Conselho da
Europa tendem em alguma medida a sobrepor-se. Mas considerando a significativa diferença
de formas de actuação por um lado (acentuadamente no plano jurídico) e nas zonas
geográficas de acção, por outro, esse possível efeito cumulativo não será, certamente,
excessivo.
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também para as mulheres (para os homens ela sempre existiu, foi tolerada e até fomentada
como prova de masculinidade) a assunção de uma sexualidade-por-si-própria e autónoma,
mas sobretudo nessa mesma medida rivalizam com a outra intolerável fuga das mulheres ao
controlo sexual por parte dos homens: o Amor-entre-mulheres. À(s) tentativa(s) da sua
regulação jurídica voltarei mais adiante.
Pouco depois de 1974, outros dois processos foram política e socialmente notórios: o
de Maria Antónia Palla, jornalista, acusada também de atentado à moral pública por, num
programa televisivo, ter dado conselhos às mulheres relacionados com a interrupção da
gravidez. Foi absolvida no Tribunal da Boa-Hora e também objecto de solidariedade e apoio
por parte de vários e várias intelectuais portugueses, que se prestaram a testemunhar no
processo ou a intervir tecnicamente do lado da defesa.
Um outro processo correu na Boa-Hora, em data próxima, por crime de aborto, contra
uma jovem de nome Conceição. O tribunal, perante o absurdo daquela acusação solitária (as
estatísticas oficiais da Justiça são óbvios sinais do carácter “simbólico”, para não ser “levado
a sério”, da incriminação do aborto; são raríssimos os casos que chegam a tribunal), absolveu
a arguida com base em argumentos técnicos algo habilidosos (BELEZA, 1984). Face ao
movimento de solidariedade que também neste caso se desencadeou, era notório o mal-estar
do tribunal colectivo que teve de proceder ao julgamento.
A discussão pública aquando do Referendo à alteração do Código Penal sobre
interrupção da gravidez (MAGALHÃES, 1998) e os resultados da consulta popular - apesar
da elevadíssima abstenção - mostram porventura o ainda dominante moralismo hipócrita em
matéria de política em geral e de política criminal em particular no que diz respeito à
contracepção e ao aborto. As mulheres “podem” abortar, desde que o façam em segredo, não
o proclamem nem levantem o incómodo problema das inaceitáveis desigualdades sociais e os
gravíssimos efeitos em sede de saúde pública que a legislação ainda hoje (2001) em vigor
fomenta e “legitima”.
No que diz respeito ao casamento, a idade núbil (16 anos) só foi formalmente
equiparada entre os sexos em 1977. O Conselho da Revolução, ao tempo com funções de
controlo da constitucionalidade das leis, entendeu (correctamente) antes ainda dessa
equiparação formal que a diferença tradicional de idade núbil para rapazes e raparigas - 16 e
14 anos, respectivamente - funcionava como a perpetuação de uma desigualdade no acesso à
educação, ao mercado de trabalho e às possibilidades de efectiva realização pessoa,
“amarrando” miúdas de 14 anos a um destino e a uma responsabilidade a todos os títulos
“injusta” . Os argumentos habituais para a manutenção da diferença encobrem,
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posição hierárquica pré-definida, pela lei divina e humana. É subversiva porque celebra o
amor sem a “justificação” da procriação, porque dá primazia à paixão e aos sentimentos
intensos de uma forma muito mais evidente do que o amor heterossexual-conjugal - e tudo
isto é do reino dos infernos, pouco produtivo do ponto de vista económico e pouco
estabilizador do ponto de vista político-social. Ou, pelo menos, tido como tal.
Também do ponto de vista jurídico a heterossexualidade obrigatória torna
problemática a existência lésbica (A. Rich, 1980). Longe das Ordenações do Reino que
incriminavam as mulheres pelo “pecado de molície”, as leis do séc. XIX e XX adoptaram
uma posição pudica de refoulement, dir-se-ia, quanto à homossexualidade feminina. Como a
Rainha Vitória, a lei preferiu em alguma medida fazer de conta que ela não existia. É certo
que o Código Penal incrimina, a partir de certa altura, a “prática habitual de actos contra a
natureza”. Mas a nossa jurisprudência leu tradicionalmente este preceito como dizendo
respeito aos homens (sodomia). Os problemas de “desordem” colocados por práticas
homossexuais surgiam, também juridicamente falando, tipicamente em instituições
totalmente masculinas: forças armadas, serviço colonial, etc. Muito provavelmente, a
repressão da homossexualidade feminina foi levada a cabo por meios informais, como em
geral o controlo do comportamento das mulheres por contraposição ao dos homens (controlo
por família, vizinhança, códigos morais, religião para as mulheres versus controlo pelos
meios formais de Direito, para os homens).
No final do séc. XX, a repressão da homossexualidade feminina é, como afirmei,
indirecta. Nenhuma lei a proíbe - excepto na pequena margem de uma diferenciação na
“idade do consentimento” para as relações heterossexuais e homossexuais, no Código Penal . 18
18
As organizações Opus Gay e Branco no Lilás solicitaram em finais de 2000 ao Provedor de Justiça que
levantasse perante o Tribunal Constitucional o problema da inconstitucionalidade do artº 175º do Código
Penal, na medida em que a diferença de incriminação entre sexualidade com adolescentes homófila e
heterófila será - como eu própria venho de há muito defendendo no meu ensino - contrária ao princípio
constitucional de não discriminação. Será ainda certamente difícil de compatibilizar com os fundamentos da
República contidos nessa mesma Constituição: o respeito pela dignidade e autonomia ética humanas e a
tolerância numa sociedade multi-cultural.
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deixa de ser curioso, de que esta é uma possível via de manutenção da essencialidade das
estruturas familiares, com a inevitável transformação a que a família sempre esteve e sempre
estará sujeita...
IX - O mundo do trabalho
Construído para pessoas sem “problemas familiares”, isto é, que não têm a seu cargo
filhos, maridos ou pessoas idosas, o mercado de trabalho foi-se alterando ao longo do século
também na sua composição de sexos, mas manteve um carácter estruturalmente “masculino”.
O Direito do Trabalho reflecte esse preconceito e só recentemente as normas europeias de
não discriminação começaram a ser lidas - pouquíssimo aplicadas, em Portugal - de uma
forma que transcende a imagem “trabalhador como pessoa sem laços ou dependências
familiares”, ou, talvez melhor, com esses laços ou dependências resolvidos por outrem (a
mulher, a mãe). Este padrão mantém-se em grande medida mesmo quando entra em cena o
Direito anti-discriminatório, na segunda metade do século, por influência do Tratado de
Roma, cujo art.º 119º acabaria por ter uma leitura/aplicação totalmente inesperada e até
“subversiva” dos propósitos iniciais dos pais fundadores (não havia mães, realmente...):
incluído como cláusula de anti-concorrência “desleal” (os salários baixos para as mulheres
praticados na indústria têxtil eram receados como originando distorções na concorrência),
essa disposição veio a ter uma evolução surpreendente nas políticas europeias e na própria
jurisprudência do Tribunal Europeu de Justiça (das Comunidades).
Mas a história da configuração jurídica das mulheres no mercado de trabalho é muito
mais complexa do que uma simples sucessão discriminação/anti-discriminação poderia fazer
crer.
Desde logo, mais uma vez neste ponto a demarcação do que seja o “mercado de
trabalho” é problemática. Se estivermos a pensar em mulheres das classes burguesas, o
problema legal pode ser nomeadamente centrado nas disposições das leis que impediram ou
limitaram a prática do “comércio” por parte das mulheres casadas. Ou as disposições que -
curioso paradoxo de “avanço atrasado”!! - permitiam magnanimamente às mulheres casadas,
no Código Civil de 1966, receber direitos de autora pelas obras publicadas. Na verdade, este
direito é, na sua consagração, por um lado muito mais “revolucionário” do que possa parecer:
escrever sempre foi considerado privilégio masculino (refiro-me ao universo português e
europeu ocidental dos últimos três séculos, apenas). A instrução, a capacidade de
comunicação (com as amigas, com os amantes) sempre foram consideradas perigosas nas
mulheres. Não é por acaso que a grande luta das feministas republicanas, em Portugal, se
centra não só no direito ao voto - já então visto correctamente como condição mínima de
cidadania - mas também na instrução. Diríamos, hoje, do elementar direito humano à
instrução.
Mas se o campo de análise forem as mulheres operárias, ou as empregadas
domésticas, ou segmentos profissionais similares, as coisas mudam de figura. A estas poderia
esperá-las ou a curiosa mistura de exploração e familiaridade, totalmente “desregulado” (ou
melhor: não regulado!) pelo Direito formal e escrito do universo das empregadas domésticas;
ou as profissões para as quais o Estado Novo esperava e obrigava uma dedicação total das
mulheres solteiras (professoras primárias, enfermeiras... e, anos mais tarde, hospedeiras do
ar). Ou, no caso das operárias, o abuso laboral e sexual pelos patrões, que as tornou
pateticamente reais heroínas do célebre poema de António Gedeão, “Calçada de Carriche”. A
recepção formal por parte de instâncias jurídicas da realidade do assédio sexual no local de
trabalho começa a dar-se só nos finais do séc. XX, deparando ainda hoje com toda a sorte de
resistências teóricas e políticas. Muitas vezes colocadas entre a exploração material e sexual
em casa e no trabalho, vendo-lhes vedado qualquer acesso ao controlo da natalidade e
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consequentemente sobre o seu próprio corpo, entregues às mãos de curiosas para a
“contracepção abortiva” no pavor da dor e da morte, as mulheres operárias em Portugal, no
séc. XX, sofreram quase sempre em silêncio e poucos por elas falaram.
Uma referência especial é devida às profissões jurídicas: até 1974, todas as carreiras
propriamente técnicas nesta área se encontravam vedadas por lei expressa às mulheres.
Se recuarmos a Outubro de 1972, data em que eu frequentava o quarto ano da
licenciatura em Direito na Universidade de Lisboa, já nessa altura as alunas constituíam
número apreciável da população discente em Direito. Escolho este ano por ter sido, no plano
político e académico, simbolicamente marcado pelo assassinato de um colega meu, José
António Ribeiro Santos. No plano jurídico-constitucional, o ano de 1972 marca também a
desilusão da esperança de abertura política do regime, dado que a Revisão da Constituição
nesse mesmo ano ficou muito aquém do que seria necessário para a democratização do
regime - também no que à não discriminação entre os sexos diz respeito.
Nesses tempos dos finais da ditadura do Estado Novo, as “questões femininas”
estavam, em alguma medida, ofuscadas pela urgência da restauração da democracia. Isto
explicará talvez em parte alguma fraqueza dos movimentos feministas em Portugal nos anos
que se seguiram à Revolução de 1974.
Em Outubro de 1972, Marcelo Caetano “piscava à esquerda e virava à direita”, como
se ironizava no milieu e ele próprio, se bem recordo, comentou numa “Conversa em Família”
na televisão. Seria curioso e educativo produzir uma série em vídeo com essas conversas e
mostrá-las aos nossos estudantes universitários de hoje, lembrando-lhes, por exemplo, que
aquele ilustre Administrativista dizia a quem o quisesse ouvir que o curso de Direito não era
para Senhoras (é claro, ele diria assim, com maiúscula). Julgo que o disse em pleno exame
oral de Direito Administrativo à minha irmã Leonor, se a memória me não trai. Hoje, a
população discente é maioritariamente feminina e as carreiras jurídicas foram todas abertas às
mulheres - há pouco mais de vinte anos, a idade das minhas alunas de agora, que olham para
mim como se eu tivesse aterrado de um qualquer Marte ou como se eu fosse contemporânea
da primeira República quando eu lhes conto que iniciei o curso com todas essas carreiras
vedadas por lei ao meu sexo.
Algumas das proibições legais de acesso a lugares de autoridade - além da
magistratura, também os lugares de chefia na administração local - terão porventura algum
poder explicativo para o facto de ainda ser na judicatura (por contraposição ao Ministério
Público, que é hoje, mas não era anteriormente, também considerado uma Magistratura) e no
“poder local” (presidências das Câmaras municipais, designadamente), em termos de
participação política, que o défice da presença feminina é mais óbvio.
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Só na Constituição de 1933 aparece a referência ao sexo como fundamento proibido
de discriminação, em geral. Mas isto “salvo, quanto à mulher”, o que resultasse “da sua
natureza ou do bem da família “. Na Revisão de 1972, fica apenas a referência à natureza.
muitas outras, como ainda o facto de a vida política estar cheia de “quotas” informais (de
regiões, tendências, influências, etc etc).
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Se um partido político decidisse inserir nos seus Estatutos uma cláusula segundo a qual só cidadãos do sexo
masculino e de raça ariana seriam admitidos como membros, suspeito que a generalidade dos meus
concidadãos e das minhas concidadãs acharia que o assunto diria respeito à legalidade democrática, à
Constituição e ao controlo político (do povo) e judicial (dos tribunais) sobre a sua aplicação. Se o Regimento
da Assembleia da República estatuísse que todas as reuniões do Plenário se desenrolariam entre a meia-noite e
as sete da manhã, alguém seria capaz de objectar à afirmação de que haveria aí, entre outras, uma violação
evidente da obrigação constitucional de contribuir para a harmonização entre a vida privada e a vida familiar?
Se um pai ou uma mãe de uma criança de sete anos a impedir de ir à escola, invocando objecção ideológica,
ou a obrigar a permanecer fechada num quarto sem comida nem luz durante três dias como castigo por
qualquer “malfeitoria”, creio que todos reconhecerão o direito e o dever de a lei e o Estado intervirem em
nome do interesse da criança, invocando violações várias de normas legais e constitucionais. Ou de direitos
humanos essenciais, numa perspectiva substantiva. É por isso que me parece curiosa a argumentação - que,
aliás, sugere uma ideia de “último recurso” - segundo a qual a determinação legal de “quotas” mínimas em
função do género nas candidaturas a eleições parlamentares seria anti-democrática porque, em última análise,
violadora da autonomia partidária.
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dir-se-ia) , fica algum segurança sobre o bem fundado desta ideia. Sobretudo se a isto for
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XI - E o Futuro?
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