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João Ribas – seja enquanto diretor artís- Incapaz de oferecer resistência ao mer-
tico da instituição, seja enquanto curador cado, como aponta Boris Groys, o museu
da exposição “Robert Mapplethorpe: Pic- transforma-se numa espécie de conten-
tures” –, o caso provou ter, pelo menos, tor da economia global, e, segundo Eduar-
uma invulgar capacidade de atrair a aten- da Neves, isso significa que são privile-
ção pública, provocando uma enchente: giadas as “colecções que mais parecem
mais de seis mil pessoas visitaram a expo- funcionar como banco de trocas”. E, con-
sição em apenas quatro dias. Numa altu- sequentemente, “a arte contemporânea
ra em que a poeira está longe de assentar, não ocidental patrocinada por grandes
com o ministro da Cultura, Luís Filipe Cas- empresas que investem globalmente,
tro Mendes, a preferir, como é seu hábi- reflecte a forma através da qual o museu
to, resguardar-se na morgue, ao invés de constitui a extensão de projectos eco-
ter um papel atuante face a uma institui- nómicos que servem o turismo, a eco-
ção onde o seu ministério investe mais nomia global e a designada prosperida-
dinheiro do que em qualquer dos museus de económica”.
públicos nacionais, deve notar-se que o Voltando à ideia de Manguel de que cabe
risco que corre o Museu de Serralves é de ao público “tornar-se acessível não como
uma natureza muito diferente daquela uma massa uniforme idealizada, mas como
que tradicionalmente se apontava aos uma colecção de indivíduos heterogéneos,
museus. que trazem desejos específicos e concei-
Eduarda Neves, primeira signatária da tos diversos de saudável anarquia para
carta aberta que exigia ao Conselho de dentro das salas rotuladas de um museu”;
Administração de Serralves que, face torna-se evidente que são os próprios
“aos últimos acontecimentos ocorridos museus hoje que contrariam esta noção.
em torno da exposição do fotógrafo Robert Se para Manguel o desejo é a noção cha-
Mapplethorpe, “apresente a respetiva ve, pois, não podendo nunca funcionar
demissão ou, caso não se confirmem os como “uma força colectiva, mas algo essen-
factos expostos, procedam ao contradi- cialmente íntimo, um sentido privado com
tório”, publicou em julho deste ano, no que se explora o mundo”, este vê-se frus-
quinto número da “RE.VIS.TA.” – publi- trado pelos projectos museológicos que,
cação dedicada aos temas da arte/refle- ao contrário do Louvre, ao invés de bus-
xão/crítica –, o texto “Duas ou três coi- carem formas engenhosas de lidar com o
sas que sei sobre ele. O museu de arte problema das multidões, tudo fazem para
contemporânea de Serralves”. Ali, o dia- atrair as massas uniformizadas. Ao invés
gnóstico anteriormente traçado sobre de criar atrito, desconsidera a noção de
os museus é desenvolvido focando o caso que “o observador deve estar só perante
de Serralves, que a professora auxiliar a criação solitária”, “para que a experiên-
da Escola Superior Artística do Porto cia de visitar um museu possa ter sentido
aponta, como exemplo da “familiarida- para além do turismo”.
de entre museu e capital”, não opondo Manguel termina o ensaio lembrando
resistência à tendência para se transfor- as palavras de Paul Valéry gravadas na
mar em mais um pólo mobilizado pelas fachada do Musée de l’Homme, em Paris.
lógicas da propaganda cultural que mais Data de 1937, este mot de passe que lê quem
investimento atraem: “Anúncios publi- esteja às portas daquele museu à espera
citários, faixas, cartazes que nos suge- de entrar – “Depende de quem entra/ Que
rem a doação de 0,5% do nosso IRS para eu seja tumba ou tesouro/ Que eu fale ou
que o museu possa ‘ir mais longe’, domi- fique em silêncio. Só tu decidirás./ Amigo,
nam o espaço. Desta forma, engolem não entres sem desejo” –, não poderia, por
imagens que propõem comunicar-nos estes dias, ser lido senão de forma sarcás-
exposições presentes e futuras. Garan- tica, por um qualquer Robinson Crusoe
tida a fidelidade ao happy end e a apro- que, ao entrar no Museu de Serralves, se
ximação confortável aos patrocinadores sentisse participar num naufrágio em que
e organizadores, contribui para assegu- fosse obrigado a dizer adeus para sempre
rar a boa imagem das empresas, promo- à condição de solitário, para ficar tranca-
ver o turismo e o show business.” do no meio da multidão.

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