0 que os brasileiros
pensam dos índios?
-
a
Kísêdjê Kapêrê j
INSTITUTO INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL SOCIOAMBIENTAL
Acervo
NO BRASIL
POVOS INDÍGENAS
1.474.506
570.970
2.045.476
www.socioambiental.org
103.679,621
Povos
no
Indígenas
BRASIL Porto Inseguro
0 que os brasileiros
pensam dos índios?
INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL
civil, sem fins lucrativos, fundada em 22 de abril de 1994.
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Conselho Diretor:
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isadf@tba.com.br
?!-_>/> Acervo
-//ISA
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I
EZEQUIAS HERINGER (XARÁI
11948 1996)
1
BEPGOGOTI MEKRAGNOTI
17-1996)
VIRGÍNIA VALADÃO
KRUMARE METUKTIRE 11952-1998)
DARCY RIBEIRO (7-1998)
11922-1997)
PREPORI KAIABI
CLAUOIO VILLAS-BÔAS ARACY LOPES DA SILVA (7-2000)
11916-19981 (1949-2000)
EM MEMÓRIA
" O Reencontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos
mundo um pouco mais para frente, adiando assim o seu fim "
'JíLíZs* Acervo
_//f ISA
Apresentação 007
Legislação 089
NOROESTE RORAIMA
AMAZÔNICO SERRA
LAVRADO
‘
5Ít
241 293
TAPAJÓS/ SUDESTE
MADEIRA* DO PARÁ
12 . 13. 14.
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www.socioambiental.Qrq
Edição de imagens
Administração
Moisés Pangoni, Reinaldo Yoshikawa,
O
dnup
Carlos Alberto de Souza, Marcelo de Souza,
Beto Ricardo
Cristina Khan (Brasília), Solange de Oliveira
Vários colaboradores.
ISBN 85-994-09-6
00-5385 CDD-980.41
Prezado leitor(a):
VOCÊ ACHA QUE ATÉ 1 .500 TODO DIA ERA DIA DE ÍNDIO, MAS HOJE
ELES SÓ TÊM O DIA 19 DE ABRIL? Não é bem assim! Repare! Aqui no ISA, por
exemplo, como nas milhares de aldeias dos mais de 200 povos nativos diferentes que hoje
vivem no país, todo dia continua sendo dia de índio. Esta publicação é um dos frutos de um
olhar cotidiano, atento e dedicado, que teve início na década de 70. A tarefa de tecer
um painel abrangente da situação atual dos povos indígenas no Brasil tem
sido, de fato, um quebra-cabeça somente possível pela persistência de uma
equipe de pesquisadores-editores do ISA, coordenada por Fany Ricardo, que,
ao longo dos anos, manteve rotinas diárias para receber e buscar informa-
ções qualificadas, dentro de uma estratégia acumulativa que contou com
uma extensa rede de colaboradores voluntários. POVOS
lllcIlCJCIlCIS
no Brasil 1996/2000 é uma obra de referência que se soma a uma
série iniciada em 1980, pelo CEDI. Traz um resumo comentado das políticas indigenistas,
conflitos, da demografia, das línguas, da legislação e outros temas afins. Todo o material
está organizado em oito capítulos temáticos e 1 8 capítulos regionais, com índice remissi-
indigenista oficial compatível com os novos tempos pós Constituição de 1988, propician-
do sobrevida ao "abacaxi Funai", que já chegou ao 27° presidente em 33 anos. En-
quanto o Estado não atualiza suas formas de relacionamento com os povos
indígenas, superando o paradigma tutelar e passando a encarar as terras
indígenas numa estratégia mais ampla de "áreas protegidas", o prêmio "ve-
xame anunciado" do período vai para a dobradinha governo federal PM -
CopvngMad r
Acervo
//\C I SA
Traz notícias sobre os Yanomami, incluindo seus próprios boletins e referências bibliográficas.
•CEDEFES- Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva [www.cedefes.org.br/]
Informações sobre os índios de Minas Gerais.
• CTI- Centro de Trabalho Indigenista [www.trabalhoindigenista.org.br/]
Informa sobre as atividades da organização junto aos Guarani, Terena, Waiãpi e povos Timbira.
• IDETI - Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas [ www.ideti.org.br/]
Divulga os cursos e atividades culturais desta organização Xavante, destinados ao público não-indígena.
• ISA - Instituto Socioambiental [www.socioambiental.org/]
Divulga as ações dos diversos programas da instituição, campanhas e ações judiciais, "clipping" diário, notícias
exclusivas e um extenso banco de informações atualizadas sobre povos indígenas no Brasil, incluindo verhntBs pnr Ptnia
• Operação Amazônia Nativa [www.opan.org.br/]
Informações institucionais sobre a organização indigenista com sede em Cuiabá (MT), fundada em 1969.
• OPITARJ - Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá e Jordão
[www.amazonlink.org/opitarj/port/]
Conta a história da organização, fundada em 1994, relata os seus projetos atuais e apresenta sumariamente
a cultura dos Kaxinawá, Ashaninka, Katukina e Yawanawá, que vivem no estado do Acre.
• PWA - Programa Waimiri Atroari [www.waimiriatroari.org.br/]
Informações sobre este povo indígena e sobre as ações do PWA, apoiado pela Eletronorte.
• Vídeo das Aldeias [www.videonasaldeias.org.br/]
DA IGREJA CATÓLICA
• Cimi - Conselho Indigenista Missionário [www.cimi.org.br/]
Disponibiliza informes e denúncias sobre fatos envolvendo os povos indígenas de todo o país,
incluindo a versão eletrônica do periódico Porantim e fornece informações sobre a instituição -
que é orgão oficial da CNBB - Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil.
•0 Mensageiro [www.mensageiro.freeweb.supereva.it/]
Versão eletrônica da revista 0 Mensageiro do regional Norte II do Cimi.
(Fonte: Banco de Dados do Programa Povos Indígenas no Brasil - Instituto Socioambiental, dezembro/2000)
**
139. Pankaru Pancaru BA 84 1999
147. Paumelcnho ? RO ?
Tapeba **
162. CE 2.491 1999
Tumbalala ** BA
179. ?
188. Urupain ? RO ?
ESTIMATIVAS - Para o ISA os 216 povos indígenas contemporâneos no Brasil somam uma
população estimada em 3S0 mil. Como não há um censo indígena no Brasil, os cômputos
globais têm sido feitos - seja pelas agências governamentais (Funai ou Funasa), pela Igreja
Católica (Cimi) ou pelo ISA - com base numa colagem de informações heterogêneas, que
apontam para estimativas globais que variam entre 3S0 e SOO mil.
VARIAÇÕES - Variam os critérios censitários, as datas, há povos sobre os quais simplesmente não há
informações, sabe-se pouco sobre os índios que vivem nas cidades... Até o número de etnias varia, seja
porque, por exemplo, povos até então "isolados" entram "em contato" - o Brasil é um país em formação -
CRESCIMENTO A população indígena total tem crescido nos últimos 25 anos, embora povos específicos
tenham perdido população e alguns estejam até ameaçados de extinção (na listagem acima há 12 povos
com população entre 2 e 38 indivíduosll.
MOSAICO - Dos 216 povos listados no quadro acima 40 (1 8.5%) têm parte da sua população residindo
em outro(s) país(es). Mesmo quando há informações demográficas a respeito, essas parcelas não foram
consideradas nem na estimativa global para o Brasil, nem para a classificação que segue: 61 povos
(28.2%) têm uma população de até 200 indivíduos, 50 (23.1%) entre 201-500, 37 (17.1%) entre
501-1.000, 43 (19.9%) entre 1.001-5.000, 09 (4.1%) entre 5.001-10.000, 05 (2.3%) entre
10.001-20.000, 01 entre 20.001-30.000 e 02 com mais de 30.000.
â OUTROS TERMOS
AS NARRATIVAS INDÍGENAS AQUI PUBLICADAS DISPENSARIAM QUALQUER APRESENTAÇÃO - QUANTO MAIS UMA
ASSINADA POR UM BRANCO NÃO FOSSE 0 FATO DE QUE SEU DESTINATÁRIO SOMOS PRECISAMENTE NÓS, OS
BRANCOS. É APENAS POR ISSO QUE NÃO ME PARECE IMPRÓPRIO INTRODUZI-LAS, FAZENDO VOTOS DE QUE ELAS
NOS POSSAM ABRIR OS OUVIDOS, E REAVIVAR A MEMÓRIA. ESCUTEMOS POIS O QUE DIZEM OS DESANA, OS
BARÉ, OS MAWÉ, TODOS ESSES QUE VIEMOS A CHAMAR, POR ESQUECIMENTO, "ÍNDIOS", COMO QUEM DIZ OS
OUTROS, QUANDO FOMOS NÓS QUE NOS TORNAMOS OUTROS. OS QUE FORAM ESQUECIDOS NÃO ESQUECERAM.
O que se lerá aqui é a história destes quinhentos anos, uma Não é difícil perceber, entretanto, a presença de um grande
história que pensamos conhecer - mas contada em outros tema que atravessa muitos dos textos a seguir. Pois a diver-
termos. Não é, para começar, uma história (dos índios) con- sidade aparente reflete, ou antes, refrata uma convicção fun-
tada pelos brancos, mas uma história (dos brancos) contada damental. Esta diz: os índios são anteriores aos brancos, na
pelos índios. Uma história, ou melhor dizendo, várias. Pois ordem do parentesco e na ordem do território. Os brancos
estas histórias impressionam pela diversidade: diversidade não chegaram aqui, eles saíram daqui; não descobriram os
das posições enunciativas, dos contextos discursivos, dos índios, mas encobriram a si mesmos, até voltarem para o que
gêneros de fala, dos recursos semânticos, dos registros pensaram ser um encontro com o desconhecido, mas que
epistêmicos, dos processos de textualização. Fala-se aqui do não foi senão um reencontro com o olvidado. Somos, recor-
passado "imemorial", mas também do ontem e do amanhã; dam-nos os Desana, seus irmãos mais moços. Abandonamos
falam vozes muito distantes, outras muito próximas; falam nossos maiores no princípio dos tempos, e muito mais tarde
povos com experiência secular dos brancos, outros cujo "con- (apenas quinhentos anos atrás), acreditamos tê-los desco-
tato" conosco é coextensivo ao tempo de vida do narrador; berto. Os que vieram a ser chamados índios são aquele frag-
contam-se o que chamaríamos 'mitos', como se contam me- mento da humanidade originária que decidiu, para o melhor
mórias pessoais, inscrevem-se fragmentos de conversas, e ou para o pior, não seguir conosco. 0 retorno dos brancos
depoimentos formais, e entrevistas, e conferências; diz-se o era esperado - estava previsto -, mas se esperava, talvez,
que se diz há muito, e diz-se o que nunca foi dito; conta-se um pouco mais deles: que se comportassem como parentes
muito do que contamos, mas de modo bem diferente. Conta- que retornam, não como algozes; que partilhassem o que
se, em suma; mas também explica-se, critica-se, lamenta-se, haviam aprendido lá aonde foram morar, não que voltassem
justifica-se, reivindica-se, pergunta-se. Há muito o que dizer. para tomar o pouco que aos índios coubera; que seu enge-
nho não tivesse sido adquirido às custas da sabedoria, que
Tal impressão de heterogeneidade emerge não apenas da re-
sua arte não lhes houvesse embaralhado o entendimento, que
lação entre as narrativas, mas de muitas delas em si mes-
sua escrita não fosse usada para calar a voz dos que ficaram.
mas, em particular daquelas que buscam o fio que liga o pre-
sente ou o passado recente às condições gerais de possibili- 0 que dizem, então, estas narrativas, é que a relação com os
dade do mundo. Os personagens "históricos” (isto é, que fi- brancos sempre existiu. Não houve nem há "contato" que
guram em nossos mitos históricos) coexistem sem solução não fosse ou seja uma atualização - por mais que desastrosa
de continuidade ontológica com personagens "míticos"; te- - de uma virtualidade traçada no discurso das origens. Ailton
mas clássicos da tradição indígena pan-americana refletem, Krenak observa agudamente que "o encontro e o contato
absorvem e transformam motivos igualmente clássicos da entre nossas culturas e nossos povos, ele nem começou ain-
mitologia do Velho Mundo; juízos etnográficos profundos so- da e às vezes parece que ele já terminou". Mas vale também,
bre a sociedade dos brancos buscam sua justificação em am- e pelas mesmas razões, o inverso: ele jamais começou, pois
plas caracterizações antropológicas e cosmológicas. Há, dir- ele estava lá antes do começo. No começo foi o desencontro,
se-ia, de tudo. Exatamente como na história que conhece- e este ainda não terminou, quinhentos anos passados.
mos, aliás, cuja heterogeneidade é apenas menos sensível a
Mas quinhentos anos não é nada, conclui Ailton. É verdade.
nossos olhos e ouvidos, acostumados que estão às nossas
Sobretudo para quem tem boa memória, para aqueles cujo
próprias convenções narrativas, onde coabitam escalastem-
pensamento não está, como fulmina Davi Kopenawa, cheio
porais incomensuráveis, e aos nossos saltos "naturais" en-
de vertigem e de esquecimento. Possamos ao menos lem-
tre múltiplos registros discursivos.
brar daqui para a frente, nós que somos verdadeiramente
"muito esquecidos".
Acervo
-//ISA
P A L A V R A S
1 N D í G E N A S
S V N 3 ) ! Q N 1
S V a A V 1 V d
DOZE NARRATIVAS
SOBRE A ORIGEM DO
MUNDO, A CHEGADA DOS
BRANCOS E OS 500 ANOS
DO BRASIL
Copvrçhled material
A SAGA DE DAVI
KOPENAWA YANOMAMI
BRUCE ALBERT - Antropólogo, IRD/ISA
Davi Kopenawa
Aldeia Watoríki, Serra Demini (Roraima), 1998
Os xapiripe dançam juntos sobre grandes espelhos que descem do céu. Nunca são
cinzentos como os humanos. São sempre magníficos: o corpo pintado de urucum e
percorrido de desenhos pretos, suas cabeças cobertas de plumas brancas de urubu
rei,suas braçadeiras de miçangas repletas de plumas de papagaios, de cujubim
e de arara vermelha, a cintura envolta de rabos de tucanos.
Milhares deles chegam para dançar juntos, agitando folhas de palmeiras novas,
soltando gritos de alegria e cantando sem parar. Seus caminhos parecem fios de
aranhas brilhando como a luz do luar e seus ornamentos de plumas mexem lentamente
ao ritmo de seus passos. Dá alegria de ver como são bonitos!
Os espíritos são tão numerosos porque eles são as imagens dos animais da floresta.
Todos na floresta têm uma imagem utuper, quem anda no chão, quem anda nas árvores,
quem tem asas, quem mora na água. São estas imagens que os xamãs chamam e fazem
descer para virar espíritos xapiripe. Esta imagens são o verdadeiro centro, o verdeiro
interior dos seres da floresta. As pessoas comuns não podem vê-los, só os xamãs.
Mas não são imagens dos animais que conhecemos agora. São imagens dos
pais destes animais, são imagens dos nossos antepassados.
No primeiro tempo, quando a floresta estava ainda jovem, nossos antepassados eram
humanos com nomes de animais e acabaram virando caça. São eles que flechamos e
comemos hoje. Mas suas imagens não desapareceram e são elas que agora dançam para
nós como espíritos xapiripe. Estes antepassados são verdadeiros antigos. Viraram caça
há muito tempo mas seus fantasmas permanecem aqui. Têm nomes de animais mas são
seres invisíveis que nunca morrem. A epidemia dos brancos pode tentar queimá-los e
devorá-los, nunca desaparecerão. Seus espelhos brotam sempre de novo.
Davi
Aldeia Watoriki,
Serra Demini (Roraima),
Kopenawa
DESCOBRINDO
1998
OS BRANCOS
Dos espíritos Há muito tempo, meus avós, que habitavam Mõramabi araopi, uma casa situada
muito longe, nas nascentes do rio Toototobi, iam às vezes visitar nas terras baixas
canibais
outros Yanomami estabelecidos ao longo do rio Aracá.
Demini, ele próprio tributário da seus primeiros facões. Elesme contaram isso muitas vezes quando eu era criança.
margem esquerda do rio Negro. Naquele tempo, eles só encontravam brancos ao viajar muito longe de sua aldeia e
não iam vê-los sem motivo, simplesmente para visitá-los. Haviam visto suas ferramentas
1
Os antigos Yanomami metálicas e as cobiçavam, pois possuíam apenas pedaços de metal que Omama deixara 2
.
Não era para procurar fósforos que iam ver os brancos tão longe, não: tinham
seus paus de cacaueiro para fazer fogo. Evidentemente, eles achavam as panelas
de alumínio muito bonitas, mas tampouco era por isso que faziam aquelas viagens:
também tinham vasilhas de terracota para cozinhar sua caça. Era realmente por seus
facões e seus machados que iam visitar aqueles estrangeiros.
Mas foi bem mais tarde, quando habitávamos Marakana, mais para o lado da foz do rio
Toototobi, que os brancos visitaram nossa casa pela primeira vez. Na época, nossos mais
velhos estavam ainda todos vivos e éramos muito numerosos, eu me lembro. Eu era um
menino, mas começava a tomar consciência das coisas. Foi lá que comecei a crescer e
descobri os brancos. Eu nunca os vira, não sabia nada deles. Nem mesmo pensava que eles
existissem. Quando os avistei, choreide medo. Os adultos já os haviam encontrado algumas
vezes, mas eu, nunca! Pensei que eram espíritos canibais e que iam nos devorar. Eu os
3
Uma equipe da Comissão achava muito feios, esbranquiçados e peludos. Eles eram tão diferentes que me aterroriza-
Brasileira Demarcadora dos Limites
vam. Além disso, não compreendia nenhuma de suas palavras emaranhadas. Parecia que
ICBDLI subiu o rio Toototobi em 1958-9.
eles tinham uma Eram pessoas da "Comissão" 3 Os mais velhos diziam
língua de fantasmas. .
que eles roubavam as crianças, que já as haviam capturado e levado com eles quando
‘Alusão a uma primeira visita da tinham subido o rio Mapulaú, no passado 4 Era por isso também que eu tinha muito medo:
.
a romper em soluços, e todo mundo fugia para a mata vizinha! Mós somos habitantes da
floresta, não conhecíamos os aviões e estávamos aterrorizados. Pensávamos que eram
seres sobrenaturais voadores que iam cair sobre nós e queimar todos. Todos tínhamos
muito medo de morrer! Eu me lembro que também tinha medo das vozes que saíam dos
rádios e da explosão dos fuzis que matavam a caça. Perguntava-me o que todas aquelas
coisas que pareciam sobrenaturais poderiam ser! Perguntava-me também por que
aquelas pessoas tinham vindo até nossa casa.
Os brancos são engenhosos, têm muitas máquinas e mercadorias, mas não têm Descobrir o
nenhuma sabedoria. Mão pensam mais no que eram seus ancestrais quando foram criados.
Descobrimento
Nos primeiros tempos, eles eram como nós, mas esqueceram todas as suas antigas palavras.
Mais tarde, atravessaram as águas e vieram em nossa direção. Depois, repetem que
descobriram esta terra. Só compreendi íssd quando comecei a compreender sua língua.
Mas nós, os habitantes da floresta, habitamos aqui há longuíssimo tempo, desde que Omama
nos criou. No começo das coisas, aqui só havia habitantes da floresta, seres humanos*. 6
A autodesignação dos Yanomami -
yanomae thèpê- significa antes de
Os brancos clamam hoje: "Nós descobrimos a terra do Brasil!". Isso não passa de uma tudo "seres humanos" - e se aplica
mentira. Ela existe desde sempre e Omama nos criou com ela. Nossos ancestrais a também aos outros índios, opondo-se
aos animais, aos seres sobrenaturais
conheciam desde sempre. Ela não foi descoberta pelos brancos! Muitos outros povos,
e aos nâo-indios (napêpê).
como os Makuxi, os Wapixana, os Waiwai, os Waimiri-Atroari, os Xavante, os Kayapó e
os Guarani ali viviam também. Mas, apesar disso, os brancos continuam a mentir para si
mesmos pensando que descobriram esta terra! Como se ela estivesse vazia]
Como se os seres humanos não a habitassem desde os primeiros tempos!
Os brancos foram criados em nossa floresta por Omama mas eie os expulsou porque temia
1
sua falta de sabedoria e porque eram perigosos para nós! 7 Ele lhes deu uma terra, muito Os brancos foram criados
por Omama a partir do sangue
longe daqui, pois queria nos proteger de suas epidemias e de suas armas. Foi por isso que de um grupo de ancestrais
os afastou. Mas esses ancestrais dos brancos falaram a seus filhos dessa floresta e soas Yanomami devoradas por lontras
numa grande enchente
e jacarés
palavras se propagaram por muito tempo. Eles se lembraram: "É verdade! Havia lá, ao longe, provocada pela quebra de um
uma outra terra muita bela!", e voltaram para nós. Na margem desta terra do Brasil aonde resguardo menstrual.
eles chegaram viviam outros índios. Esses brancos eram pouco numerosos e começaram a
mentir: "Nós, os brancos, somos bons e generosos! Damos presentes e alimentos! Vamos
viver a seu lado nesta terra com vocês! Seremos seus amigos!". Era com essas mesmas
mentiras que tentavam nos enganar desde que também chegaram a nós. Depois dessas
primeiras palavras de mentira eles foram embora e falaram entre si. Depois voltaram muito
YANOMAMI
&
numerosos. No começo, sem casa nesta terra, ainda mostravam amizade peios índios.
Tinham visto a beleza desta floresta e queriam se estabelecer aqui. Mas desde que se
instalaram realmente, desde que construíram suas habitações e abriram suas plantações,
desde que começaram a criar gado e a cavar a terra para procurar ouro, esqueceram
sua amizade. Começaram a matar as gentes da floresta que viviam perto deles.
Nos primeiros tempos, os seres humanos eram muito numerosos nesta terra. É o que
dizem nossos mais velhos. Não havia doenças perigosas, sarampo, gripes, malária.
Estávamos sozinhos, não havia garimpeiros para queimar o ouro, fábricas para produzir
ferro e gasolina, carros e aviões. A floresta e os que a habitavam não estavam o tempo
todo doentes. Foi apenas quando os brancos se tomaram muito numerosos que sua
fumaça-epidemia xawara começou a aumentar e a se propagar por toda parte. Essa
coisa má se tomou muito poderosa e foi assim que as gentes da floresta começaram a
* A axpressão xawara wakexi morrer8 Quando viviam sem os brancos nossos ancestrais não tinham fábricas, caçavam
.
desde os primeiros tempos. Digo simplesmente que também os como, isso é tudo,
0 Povo das Quando viajei para longe, vi a terra dos brancos, lá onde havia muito tempo viviam
seus ancestrais. Visitei a terra que eles chamam Eropa. Era sua floresta, mas eles a
Mercadorias
desnudaram pouco a pouco cortando suas árvores para construir suas casas. Eles fizeram
muitos filhos, não pararam de aumentar, e não havia mais floresta. Então, eles pararam de
caçar, não havia mais caça também. Depois, seus filhos puseram-se a fabricar mercadorias
e seu espírito começou a obscurecer-se por causa de todos esses bens sobre os quais
fixaram seu pensamento. Eles construíram casas de pedra, para que não se deteriorassem.
Continuaram a destruir a floresta, dizendo-se: “Nós vamos nos tornar o povo das
mercadorias! Vamos fabricar muitas delas e dinheiro também! Assim, quando formos
realmente muito numerosos, jamais seremos miseráveis!”. Foi com esse pensamento que
eles acabaram com sua floresta e sujaram seus rios. Agora, só bebem água "embrulhada",
que precisam comprar. A água de verdade, a que corre nos rios, já não é boa para beber.
Nos primeiros tempos, os brancos viviam como nós na floresta e seus ancestrais eram
pouco numerosos. Omama transmitiu também a eles suas palavras, mas não o escutaram.
Pensaram que eram mentiras e puseram-se a procurar minerais e petróleo por toda parte,
todas essas coisas perigosas que Omama quisera ocultar sob a terra e a água porque seu
calor é perigoso. Mas os brancos as encontraram e pensaram fazer com eias ferramentas,
máquinas, carros e aviões. Eles se tomaram eufóricos e se disseram: "Nós somos os únicos
a sertão engenhosas, só nós sabemos realmente fabricar as mercadorias e as máquinas!".
Foi nesse momento que eles perderam realmente toda sabedoria. Primeiro estragaram sua
própria terra antes de ir trabalhar nas dos outros para aumentar suas mercadorias sem
parar. Nunca mais eles se disseram: "Se destruirmos a terra, será que seremos
capazes de recriar uma outra?".
isso que eles maltratam a terra, desbravando-a portoda parte, e a cavam até debaixo de
suas casas. Eles não pensam que ela vai acabar por desmoronar. Eles não temem cair
no mundo subterrâneo. Porém, é assim. Se os "brancos-espíritos-tatus-gigantes''
[mineradoras] entram portoda parte sob a terra para retirar os minérios, eles vão
se perder e cair no mundo escuro e podre dos ancestrais canibais
s
.
9
O universo yanomami
compõe-se de quatro niveis
superpostos suspensos em um
Nós, nós queremos que a floresta permaneça como é, sempre. Queremos viver nela
"grande vazio". 0 mundo subterrâneo
com boa saúde e que continuem a viver nela os espíritos xapiripè, a caça e os peixes. foi formado pela queda do nivel
Cultivamos apenas as plantas que nos alimentam, não queremos fábricas, nem terrestre na aurora dos tempos.
É habitado pelos ancestrais
buracos na terra, nem rios sujos. Yanomami da primeira humanidade,
que se tornaram monstros canibais
Queremos que a floresta permaneça silenciosa, que o céu continue ciaro, que a (os aõpataripê).
escuridão da noite caia realmente que se possam ver as estrelas. As terras dos brancos
e
coisas que os xamãs conhecem, que eles não têm medo. Seu pensamento
é por isso
está cheio de esquecimento. Eles continuam a fixá-lo sem descanso em suas
mercadorias, como se fossem suas namoradas.
Oesenbo:
Davi Kopenawa
Relatos antigos [sehay poot'i] colhidos em diversas Os brancos são associados a dois tipos de sapos
localidades da Área Indígena Andirá-Marau referem-se esbranquiçados: um chamado kaingkaing [não
à epopéia de um deus mítico que os Sateré-Mawé identificado] e outro manka’i[H\\a venulosa - cunauaru].
reconhecem como seu ancestral. Numa dessas versões, Também são feitas outras associações: uma com o
o nome atribuído ao demiurgo pelos narradores é o de macaco wahue: "caiarara” [Cebus albitrons unicolor],
"Imperador". 0 termo Imperador foi utilizado no contexto por ser ele "todo branco e sem-vergonha". A outra é
da língua sateré-mawé, sendo Imperador a única palavra com o tiapu ou tiapii [Cacicus cela], "japiin", [pássaro
em português do relato original, que tanto para o da família dos Icterideos]. Neste último caso, o traço
narrador quanto para os demais ouvintes, todos homens destacado é aparentemente, o hábito de habitação
adultos, era considerada uma palavra de sua própria coletiva e numerosa, bem como grande versatilidade
a
língua. Acrescentaram que o seu nome completo era canora demonstrada por esse pássaro. Alguns
"Imperador Dom Pedro". Em outros contextos, ocorre narradores apontam para justificar essa associação
a utilização do apelativo morekuat, nome genérico para a característica multi-instrumental da música ocidental.
"chefe", hoje reservado principalmente aos Os brancos são, assim, representados como
funcionários públicos. descendentes daqueles que seguiram o Imperador e
os Sateré-Mawé como descendentes dos que ficaram.
0 relato, em suas diversas versões, é fundamental
para a compreensão de como se configuram diversos A palavra toran, pronunciada com ênfase pelos
temas entre os Sateré-Mawé, tais como o da identidade narradores depois de uma pausa final, cada vez que
étnica, o lugar e o papel atribuído à categoria social narram um mito, demarca uma sequência temporal
dos brancos ( karaiwa na suas representações sobre
) durante a qual espera-se que a atitude dos presentes
o mundo e naquelas referentes às relações de poder seja de reverente silêncio diante das sehay poot'r.
com as instituições do Estado brasileiro. Fundamentam, palavras antigas, tidas pelos homens idosos como
por outro lado, o sentimento religioso embutido no senso palavras de bem e de beleza.
de territorialidade e na prática política dos Sateré-Mawé.
Um ponto comum a todas as versões do relato é o
consentimento explicitado pelo Imperador diante da
opção da parte dos índios de ficarem nas suas terras.
As narrativas Sateró-Mawé foram recolhidas a editadas por Alba Lucy Giraldo Figueroa a fazem parte de sua tese de doutorado
"Guerriers de 1‘écrrture et commerçants du monde enchanté: histoíre, identité e traitement du mal chez les Sateré-Mawé (Amazonie Centrale, Brésill".
A primeira narrativs foi treduzide por Silvia de Oliveira e a terceira por Brito de Souza.
O IRMÃO DE EVA
Vidal, rio Manjuru (AM) - 1 996
A
[terreiro
ntigamente a gente não morria, porque
de pedra]. Lá foi
morávamos
a primeira terra que nós habitamos.
lá, no nusoquen
Mas foi depois que existiu a morte, que a irmã dele morreu, weitapin "joga no caminho um bocado de serrado para eles não
quando ele abandonou essa casa primeira, que ele convidou o Adão. descobrirem mais por onde eu fui". De repente, o seu rasto ficou coberto
Tupana que mandou eles soirem de lá, daquela paragem. "Olha, Adão, e eles não souberam mais por onde segui-lo.
chamo teu povo para sair daí, daquela paragem". Ele falou assim: "Adão,
Quando chegou na beira do rio, ele atravessou - ele é poderoso, né?
chama teu povo para continuar, para ele ir embora, poro sair daí. Vai ter
Era um rio bem grande. De repente ele transformou uma pedra numa
muitas frutas pelas matas que vocês vão atravessar. Mos eu não quero
cachoeira e eles não conseguiram mois passar. Eles chegarom até a beiro,
que vocês fiquem se entretendo, Eu vou no frente".
lá eles corriam de um lado paro o outro e gritavam: "Ei! para onde
Ele insiste: "Vocês vão ter muita fruta, mas vocês não vão se entreter. que vocês foram!? Para onde que vocês foram!? Como que vocês
"
Mas o Adão é teimoso. Quando ele chegou lá, numa fruteira, ele trepou atravessaram!?". E escutaram o baque; era que estavam fazendo navio
e foi cortar o galho da fruteira. Lá, o povo dele se entreteve, quando para eles irem para irem para fora. Porque Deus fez aquele barco para
já,
eles seguiram, seguiram e seguiram. De noite já, eles encontraram uma eles irem embora. Mas o Adão, que não ouviu conselho, ele ficou. E ele
sorveira. Estava cheio de fruta, ele derrubou e eles demoraram mais uma chamou, chamou. Até que Deus respondeu: "Olha, Adão, eu já não dei
vez. Eles já estavam na viagem, mas ficavam se entretendo por aí. conselho para ti? Para tu me seguir com teu povo, mas tu não me ouviste.
Encontraram também uma árvore de coramurizeiro e lá o Adão trepou Tu vais ficar". Ele chamou mais ainda, e Deus respondeu da outro lado:
de novo. E em vez deles seguirem na frente, sem se entreter, não, eles se "Olha, Adão: Eu achei melhor que você ficasse mesmo. Porque se nós
pararam na fruta até a anoitecer. Lá eles acamparam e, quando foi de dia, abandonarmos todos o nossa terra, não iria dar certo. Vocês tem que
seguiram. Encontraram logo uma bacabeira e apanharam muita bacoba. trabalhar. Vocês tem que voltar. Tu tens que dizer para a tua mulher,
Aí, eles se entretiveram, fizeram um bule de vinho e a beberam todinho. para Eva: É melhor que nós vamos embora paro nossa casa. Porque ele
Lá, eles fizeram um barraco, de novo, para dormir. Quondo se lembraram convidou, mas nós não ouvimos o conselho, então nós temos que voltar,
que Deus lhes tinha mandado ir na frente: "Podem ir embora, que tal dia nós temos que trabalhar muito porque nós temos muita plantação [sese
eu vou para lá". Aí nessa lembrança, ele disse: "Eu não disse para vocês motpap ipoityp mikoí]". Aí, eles cuidaram de ir de novo para lá de
irem embora? Para quando eu chegasse, vocês já estarem na beira do rio onde eles vieram. Se eles tivessem ouvido o conselho de Deus,
esperando? Aí, quando eu chegasse, eu ia fazer um barco, uma canoa". nós não íamos ficar como nós, na mata. Nós não íamos trabalhar
0 velho veio por onde eles vieram. Por onde eles vieram, Deus passou na roça. Mas nós não aproveitamos nadinha.
tombém. Lá, ele encontrou de novo uma árvore derrubada. "Puxa vida,
Aqueles que foram com Deus, estão trabalhando para irem embora.
eles não me ouviram. Bem que eu falei para eles que não se entretivessem
Mas eles não, os que ficaram, se entretiveram na fruta. Ela se lembrou
nas coisas". Ele andou um pouquinho e lá encontrou, de novo outra árvore
e disse: "Eu tenho um irmão que me deu machado, terçado, ferro de
derrubada. Lá, ele achou foi barraco. "Aqui, eles ficaram". Ele andou,
cova, e eu deixei; por isso nós temos que ir embora de novo [voltar]".
andou, de novo e lá ele encontrou outra fruteira derrubada. "Puxa vida;
Disse Eva, convencendo o seu marido.
o Adão não me ouviu que eu falei para não se entreter com o pessoal dele.
Eu disse a ele que, à tarde, eu ia lá com eles. Quando chegasse lá, já ia 0 passarinho tikwã [Mimus gilvus. Mimidae ] estava dizendo, cantando
estar pronto para ir embora". Ele os encontrou, lá onde tinham se lá em cima do barco deles: "tikwã, tikwff': "Olha, não demora: a chuva
entretido: "Puxa, Adão, você não ouviu a que eu disse para você. já vai arriar". Aí o Imperador, que era o secretário de Deus, o velho, disse:
Eu falei para você vir embora. Então, eu já vou". E ele passou na frente "Mas o que diacho esse passarinho está adivinhando!?". E se pôs a ralhar
e eles ficaram para trás. "Eles ficaram para trás, porque o Adão não ouviu com ele, achando que estava mais do que abusado da cara. Aí, falou umas
o que eu lhes disse". Durante a sua viagem, ele falou a um passarinho coisas para o tikwã. E este respondeu: "Não, esse barco de vocês está para
sair, para vocês ir embora". 0 Imperador falou para ele não cantar maii
Imperador olhou e disse: Está certo, o que Deus falou está certo.
É o dia mesmo. Aí, não demorou e a chuva arriou. Aí criou aquela grande
água, lá onde o navio estava. Choveu, choveu, choveu, até que conseguiu
a doença: de muito longe vem febre, gripe, tudo quanto é doença. Eles se
Toran
O IMPERAD
ERA ÍNDIO primeira pessoa que nasceu
Poi isso
foi lapuya, depois foi o karaiwa.
Alfredo Barbosa - kaiwat, eles moram na própria terra mesmo. Depois apareceu
Ponto Alegre, rio Andirá (AM), 1 996 _umo pessoa, o "Imperador" que disse que era para eles não
ficarem na mata e sim para irem para yarupap ["lugar onde estão/
fazer muita coisa". Os que foram remando, a nação sapo [waça], ficou na
cidade [tawa walo\ aldeia grande] e nós ficamos aqui no mato. Eles deram
origem aos brancos como vocês, aos japoneses, americanos, são todos
magkali, aquele sapinho branco. Lá ele deu inteligência para fazer avião,
rádio, televisão. Ele achou que era bom que lapuya ficasse cuidando de
tanta riqueza que tinha nos matos e disse que um dia ele mandava alguém
trazer espingarda, machado, terçado, máquina, machado novo, paro trocar
por produto. São os regatões. Ele disse que um dia ia contribuir com essas
coisas que hoje estão nas cidades e que o regatão traz. Morekuaria mil
po'oro koi, isto é o que as autoridades mandam.
Toran
HE'I E
RIPYAIPOK
Dona Marii
Trindade L<
Vida Feliz, rk
E
xistiram dois irmãos que jusante).
Uri era o nome da mulher, mas como quando iam descer ela cochichou ['he?i-'he?í\ ao ouvido do irmão
que ela tinha esquecido uma coisa: o seu banco, foi chamada de Urihe?r. Uri cochichou: Urihe?i-he?i.
0 irmão dela chamava Mari, mas como ele voltou, também a causa do apelo da irmã, chamaram ele
Mari-aipok: Mari voltou: Mari py aipolc. [Mari pé voltou]. Uri era o nome de Eva em língua sateré.
"Vi á chegada dos peró [portugueses] em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós,
franceses, fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar
residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que nossos companheiros
de Pernambuco reputavam grandemente honroso. Mais tarde, disseram que nos devíamos
cidades para morarem conosco. E assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só
nação. Depois, começaram a dizer que não podiam tomar as raparigas sem mais aquela, que
Deus somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar
sem que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários pa/[padres]. Mandaram vir os
par, e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os nossos e a batizá-los. Mais tarde
afirmaram que nem eles nem os pai podiam viver sem escravos para os servirem e por eles
trabalharem. E, assim, se viram os nossos constrangidos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos COITI OS eSCEaVOS
capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda
a nação; e com tal tiraria e crueldade a trataram, que os que ficaram livres foram,
Assim aconteceu com os franceses. Da primeira vez que viestes aqui, vós o fizestes
somente para traficar. Como os peró, não recusáveis tomar nossas filhas e nós nos
julgávamos felizes quando elas tinham filhos. Nesta época, não faláveis em aqui vos fixar.
Apenas vos contentáveis com visitar-nos uma ve2 por ano, permanecendo entre nós
somente quatro ou circo luas. Regressáveis então a vosso país, levando os nossos
Depois da chegada dos paí, plantastes cruzes como os peró. Começais agora a instruir
e batizar tal qual eles fizeram; dizeis que não podeis tomar nossas filhas senão por esposas
e após terem sido batizadas. O mesmo diziam os peró. Como estes, vós não queríeis
escravos, a princípio; agora os pedis e quereis como eles no fim. Não creio, entretanto,
que tenhais o mesmo fito que os pero; aliás, isso não me atemoriza, pois velho como
estou rada mais temo. Digo apenas simplesmente o que vi com meus olhos."
Acervo
ISA
BRUNA FRANCHETTO
Antropóloga e lingüista, Museu Nacional/ UFRJ
as pernas dos soldados. Pegaram-nos. 0 sangue correu. - Os caraíba foram-se. Atracaram no porto do pessoal
Juntaram os mortos e perguntaram: “Onde está o chefe?". de Sahutaha. Atravessaram o rio procurando Kujaitsí, o
Não havia chefe entre os mortos. Os caraíba continuaram chefe. Chegaram de madrugada. Alguns fugiram de pressa,
a viagem. "Vamos procurar em outra direção". Os que
outros morreram. Diante dos mortos, os caraíba perguntaram
tinham fugido voltaram aos poucos perto da aldeia, de novo: "Onde está o chefe deles?". Não havia chefes.
depois que os caraíba tinham ido embora. Tinham fugido. Continuaram procurando Kujaitsí.
-
"Vamos!". Os caraíba foram até o pessoal de - Depois foram-se os caraíba, para matar o pessoal
Ugihihütü, sempre de noite. De novo tentaram fugir por entre de Kunagü. Alguns fugiram depressa; os que iam devagar
as pernas dos soldados. Juntaram os mortos e perguntaram foram golpeados pelo círculo das casas. Não havia chefes
"Onde está o chefe? Onde está Kujaitsí?". Lá não estavam os entre os cadáveres enfileirados. Era quase impossível
chefes, nem Kujaitsí, nem Agahi, nem Painingkú. Os caraíba para eles encontrar Kujaitsí.
foram procurá-los, foram procurar Kujaitsí. A aldeia ficou
-Então dirigiram-se na direção do pessoal de Ahakugu,
vazia depois que os caraíba passaram matando.
na época da festa de nduhe kuegü. Não conseguiram achar
- Depois foram até o pessoal de Agatahütü. Era apenas o caminho. "Onde está o rio deles? Vamos por este atalho".
um pessoal de casa de roça, eram poucos. Eles também Só havia uma passagem estreita para as canoas.
foram agredidos a faca. Diante dos mortos enfileirados, Não encontraram a rio de entrada. "Onde vamos?". Foram-se
os caraíba perguntaram: "Onde está o chefe? para o pessoal de Isangá, para o porto dos de Isangá.
Procuremos na direção de Ajikugu".
- Lá as mulheres perguntaram-se "Quem são aqueles? Vamos
- Em Ajikugu estava Kuigalu, amarrando folhas de buriti.
olhar!". "São os caraíba!" - disseram os que tinham casado
Um buriti caiu, depois de cortado, sobre as canoas dos
na aldeia (os sobrinhos). "Itseke [espíritos]
I
novo diante dos mortos: "Onde está o chefe? Não está aqui matar". Os antepassados caraíba não conseguiram matar
entre os cadáveres". os chefes. Dizem que estes fugiram e acabaram por amansar
KUIKUKO
os antigos caraíba. "Fujamos, mãe!". "Deixa eu ficar por - Eles vieram quando a aldeia estava vazia. Vieram para
aqui". "Será que os caraíba não irão te golpear?". Fugiu ver o criminoso, o vingador. Foram-se. Os outros fugiram no
com Os caraíba foram matando aqueles que
a esposa. meio do caminho para outras aldeias, dizem. Esta foi a última
tinham permanecido nas casas. Os caraíba mataram vez.Pegaram Kujaitsí. "Não, não vamos matá-lo".
d pessoal de Isangá, enganaram-nos. Deslocaram-se de canoa. Depois pegaram Agahi.
"Não, não vamos maté-io; venha conosco!'. Assim,
-Foram-se para Intagii. Eram esrtes nossos antepassados,
os convenceram a ir até onde viviam os antepassados
o pessoal que morava em Angahuku. Os antigos não
caraíba. Depois pegaram Painigkú. Em seguida voltaram
conheciam os caraíba. Novamente estes os golpearam,
de óti. "Vamos!". Aqueles eram Agahi, Kujaitsí, Painingkú,
os atacaram. Morreram, enfileiraram os mortos. "Voltemos.
Ihikutaha. Depois que tinham pego os chefes, depois de tê-los
Mais uma vez virão nos matar". Os que voltaram para
vestidos com camisas, calças e sapatos, vieram para cá, para
olhar a aldeia, mais uma vez, iriam ser mortos.
o pessoal de Ipatse, para matar outras tribos. "Vamos matá-
- Kuigalu estava lá para matar o chefe dos caraíba. los?". Agahi, Painingkú e Kujaitsí estavam com eles. Atiraram
Ficaram espiando enquanto eles vinham. Aí os mataram. "Será que vamos matá-los?". "Não, deixem disso".
Os camaradas [caraíba] foram-se depois da morte de seu "Certo!". Os antepassados caraíba prenderam apenas
chefe; voltaram para o seu lugar. "Certo, vamos! Olha! Kujaitsí; voltaram, mas não mataram mais nossos antigos,
Mataram-nos quando nós quase estávamos indo embora, pararam de matar. Agora, procurando o pessoal de Kujaitsí,
logoquando você estava me dizendo: vamos, meu tio". acabaram por prender Painigkú, mas pararam de matar.
Sobre o túmulo estava uma cruz feita pelos caraíba. Assim, os nossas antigos ficaram muitos,
"Aqui estão as coisas que foram enterradas junto.
- Novamente outra vez vieram. 0 pessoal de Kujaitsí
assim aos poucos as facas aumentaram, chegaram posso constatar? Por que não nos deixam em paz por aqui?
facas pequenas para todos. Eu sei que antigamente seus antepassados sempre nos
matavam, vindo das aldeias dos caraíba, nossos
- Tempo quando havia muitas crianças, chegou
depois,
antepassados estavam aqui, os caraíba nos perseguiam.
Kálusi (Karl Von den Steinen). [Onde está a aldeia de Kálusi?].
Foi por isso, por outro lado, que as crianças são poucas,
Ele veio até Kuhikúru, isso na época em que os caraíba já
agora. Antigamente, contam, as caraíba nos matavam.
eram bons. "Aqui estão os caraíba". "Não nos matem!".
Fugindo deles, nossa gente mudou de aideia várias vezes.
"Não, estou aqui para dar isso para vocês". "Certo". 0 chefe
Aqui estão, veja, os descendentes. Por que vocês pegam
estava na casa. Depois levaram as coisas no meio da aldeia
nossa terra? Eu sei que vocês estão sobre nossas antigas
para a partilha. 0 chefe falou "Venham aqui, venham aqui!".
aldeias. Os caraíba dizem de nós: "De pressa, peguem as
"Vamos olhar!". Saíram das casas, os antigos. As mulheres
terras deles!". Eu pergunto porque vocês tomam a nossa
fizeram fila. "Venham aqui, perto dos chefes!". Os chefes
como vocês falam a nosso respeito. Escuta! Assim
terra,
deram colares nas mãos das mulheres, colares brancos,
eram os caraíba antigamente, eu sei, os que iam matando
miçangas 'olho de peixe'. Eram lindos. Todos os colares
nossos antigos. Agora nós amansamos os caraíba. Escuta!
foram distribuídos. Depois foram distribuídas as facas para
Acabou a estória. São estas as últimas palavras.
os homens, facas pequenas, machados, anzóis. Os antigos
Os Desana, cuja autodenominação é Imiko-masã "Gente Após vários anos como capitão de São João Batista, ele
do Universo", são um dos 15 grupos indígenas da família fundou em 1990 a Unírt — União das Nações Indígenas do Rio
lingüística Tukano oriental que moram, com outros povos das Tiquié,uma organização indígena filiada à Foirn - Federação
famílias lingüísticas Arawak e Maku, na região do rio Negro, das Organizações Indígenas do Rio Negro, da qual ele foi o
noroeste amazônico. Somando aproximadamente 1.500 pessoas presidente até 1994. 0s principais objetivos da organização
no Brasil, os Desana dividem-se em umas 60 comunidades e eram a demarcação do território indígena e a revitalização da
sítios espalhados nas margens do rio Tiquié e seus afluentes, cultura da região. Em 1992, ele construiu num terreno elevado,
como, por exemplo, os igarapés Umari, Cucura e Castanha. próximo de São João, uma maloca no estilo tradicional, que
Há também algumas comunidades desana em afluentes do rio deveria servir de espaço de exposição e para a formação
Papuri, como, por exemplo, nos igarapés Turi, Ingá e Urucu da cultural dos jovens.
margem brasileira, e do rio Uaupés, como o igarapé Japurá.
Os Desana estão ligados aos outros povos da região por um De acordo com a tradição oral dos Desana, comum a outros
Depoimento coletado em português pela antropóloga francesa Dominique Buchillet em Brasília, em junho de 1992
e publicado em francês na revista Ethnies. Droits de l'Homme et Peuples autochtones (Paris, Survival International
France) n° spécial 'Chroniques d'une conquàte', 1993 n° 14, pp. 19-21.
"Para nós, os Eimko-mosã "A Gente do Universo", isto é, os Desana, a humanidade inteira, ou seja tanto os
Índios quanto os brancos, têm a mesma origem. Quando Paníiri-gasiru, a "Canoa-de-Transformaçào" chegou
em Diá-peragobe wi'í, [Cachoeira de Ipanoré, médio rio Uaupés, região do alto rio Negro] os ancestrais da
humanidade, jó em forma humana, começaram a sair pelo buraco. 0 ancestral daqueles que iriam ser as
brancos também estava nesta canoa. Ele foi o último a sair. Yebá-gõãmi, o nosso demiurgo, o mandou na
direção do sul, dizendo que lá ele poderia fazer a guerra, ele poderia roubar e atacar as pessoas para sobreviver.
Para nós, que somos os irmãos maiores dos broncos, ele deu a ordem de ficarmos calmos, vivermos unidos e de maneira pacífica.
Mas para o homem bronco, ele deu a ordem de ganhar a sua vida pela violência, de fazer a guerra, de matar.
Assim, quando os primeiros brancos chegaram na região, os nossos avós já sabiam que eles vinham para fazer a guerra, porque
Yebá-gõãmi havia dito para o ancestral deles ganhar a sua vida pela violência. Nós, nós somos calmos, nós não fazemos a guerral
Nós vivemos de maneira pacífica. Mas o branco gosta de violência. Ele gosta de fazer a guerra, ele gosta de batalhar, ele gosta de matar, ele
gosta de se apropriar das coisas dos outras pela violência. A gente sabe muito bem como ele é violento! Yebá-gõãmi lhe deu uma espingarda
como arma. A espingarda é o poder do branco. Yebá-gõãmi lhe disse que ele poderia obter todo o que queria com essa espingarda.
Com o branco, saiu também da Canoa-de-Transformação o missionário. Os dois saíram juntos! É por isso que, quando os nossos avôs
viram o branco chegar com a espingarda, eles já sabiam que ele estaria com o missionário. E, de fato, quondo o homem branco apareceu
aqui, na nossa terra [região do alto rio Negro], ele estava acompanhado do missionário. Nós jó sabíamos que o missionário chegaria com
o branco porque Yebá-gõãmi o havia dito! Para o missionário, ele deu um livro [a bíblia] para ele poder viver. Por isso, quando os
nossos ancestrais viram pela primeira vez o missionário com seu livro, eles já sabiam que esse livro era o poder dele, a sua arma.
Nós sabemos muito bem que o livro [Bíblia] é a arma do missionário. 0 outro branco possuía como arma uma espingarda.
Com essa espingarda ele pratica todo tipo de violência. A gente vê muito bem que Yebá-gõãmi falou a verdade! Ele tinha falado que
o homem branco faria suo vida roubando, matando, fazendo a guerra... É isso que nós vemos hoje em dia. Nós vemos o branco entrar na
nossa terra à procura de ouro, de cassiterita... Ele entra no nosso território com violência. Ele quer ser o proprietário de todas essas coisas!
Para nós, que somos os irmãos maiores do homem branco, Yebá-gõãmi deu o poder da memória, a faculdade de guardar tudo na memória, os
cantos, as danças, as cerimônias, as rezas para curar as doenças... Nós guardamos tudo isso na nossa memória! Nosso saber não está nos livros!
Mas ao branco, que foi o último a sair da Canoa-de-transformação, ele deu o poder da escrita. Com os livras, ele poderio obter tudo o que ele
precisaria, ele havia dito. É por isso que o homem branco chegou à nossa terra com a escrita, com os livros. Assim, Yebá-gõãmi havia dito!
Yebá-gõãmi queria também que a humanidade fosse imortal. Ele queria que a humanidade fosse como são hoje em dia as aranhas,
as cobras, as centopéias, os camarões. Estes, quando velhos, trocam de pele e voltam o ser jovens. Yebá-gõãmi queria também que a
humanidade trocasse de pele, mas ele não conseguiu. Ele havio dado aos ancestrais da humanidade uma cuia de ipadu [ Erylhroxylvm coca
var. ipadu] para lamber. Quando eles viram aranhas, escorpiões e outros insetos venenosos na beira da cuia, os ancestrais da humanidade
não tiveram coragem de se aproximar. Mas ns aranhas, os centopéias, os escorpiões não hesitaram e comeram o ipadu. É por isso que
eles trocam de pele quando velhos. É o ipadu que lhes deu o poder de trocar de pele!
Havia também uma grande bacia de água. fetá-gõã/mmandou os ancestrais da humanidade tomar banho. 0 ancestral do branco se
precipitou, e se banhou. Se os índios, seus irmãos maiores, tivessem sido os primeiros a tomar banho, a pele do seu corpo teria virado
branca, como é a pele do homem branco. Mas quando os índios se decidiram a lomor banho, a bacia virou e eles somente conseguiram
molhar a planta dos pés e a palma das mãos. É por isso que nós, os índios, temos o planta dos pés e a palma das mãos brancas! 0 branco,
o nosso irmão menor, tem a pele branca porque ele foi o primeiro a tomar banho na bacia. Foi isso o que os nossos avôs contaram!"
Como para outros povos de tradição tupi-guarani, a criação com cerca de 50 anos, não ó chefe nem xamã,
Jurusi uhu,
não é concebida pelos Zo'é como um evento ipso-facto, mas mas um “homem importante” entre os Zo'é, entre os quais
como uma ocorrência entre outras, dentro do movimento a posição de “representante" de determinados grupos
que faz alterar a relação dos homens entre si. Assim,
ciclico locais está em construção, no novo contexto de relações e
pouco importa se o herói que refaz os Zo'é após o cataclisma, convivência com agentes de assistência e visitantes da área.
Jipohan, é branco ou não é. Ele era “como os brancos” No decorrer das minhas estadias entre os Zo'é, Jurusi uhu
e possuia bens semelhantes aos dos kirahi de hoje. esteve sempre interessado em conversas e ensinamentos,
convidando-me a acompanhar sua familia em várias viagens
0 diálogo, editado e traduzido livremente, foi gravado na
pela área. Ele sempre foi um dos mais interessados em
aldeia Zawarakiaven em julho de 1992. 0 assunto da origem
reconhecer nossas “aldeias” e é neste contexto que liderou a
dos Zo'é surgiu quando estava conversando com Jurusi uhu
que alguns Zo e fizeram aos Waiãpi do Amapá, em 1996.
visita
e sua família, a respeito da localização de aldeias antigas e de
DESENHOS Z0'ê
Colei; lo úl Dommiqu» Gillmc
JIPOHAN EGEN
'
u s i ttff» , ra '
h i e Ta t i t u
Jurusi uhu - Ele fabricou os Zo'é, há muito tempo atrás. uito num'
Como é que os Kirahi chamam Jipohan? ps.
Os Baré, um grupo indígena de origem Aruak, vivem reunidos com os Baniwa e os Passé na Fortaleza São José do
principalmente no Brasil, nos cursos módio e superior do rio Rio Negro (atual Manaus), forte militar que servia de base para
Negro, nos rios Içana e Xié (dois afluentes do alto rio Negro) as incursões na região do rio Negro, em busca de escravos.
e na Venezuela, na região do canal Cassiquiara. Considera-se
que eles somam aproximadamente 1500 no Brasil. 0 nome Baré
Ao longo dos séculos foram, juntamente com outros
Quando Manduca chegou, ao saber da notícia, mandou que os povos tinham que passar por esse longo período de
seus capangas prenderem todos os homens e mulheres sofrimento. Mas depois que se reconhecessem, começariam
de um determinado lugar para conversar com ele. então a reconquistar seus direitos originários, agiriam como
Quando esse pessoal chegou, ele já estava em estado de índios, brasileiros, amazonenses, sangabrielenses. A grande
embriagues e ordenou que todos fossem amarrados ao pé conquista do reconhecimento dos mais de 10 milhões de
de uma laranjeira onde havia um enorme formigueiro, até o hectares de terras demarcadas no rio Negro resultou de uma
dia seguinte. Ordenou então que todos embarcassem para luta que foi conseqüência desse passado. Mesmo assim, se
que ele, pessoalmente, os levasse de volta. alguns dos nossos antepassados nos vissem no estado em
que estamos perguntássemos por que eles há 500 anos
e lhe
viviam livres e tranqüilos, certamente nos responderiam:
"Nós não éramos índios!"
Baré-mira iupirungá (Origem do povo Baré) uma fuga. No primeiro período de lua nova ele e ela fugiram,
aproveitando o momento em que as guerreiras saíram para
Kuíri açú ambêu penaram, maiê taá baré-míra iupirungá caçar e coletar mel e frutas, o que serviria de consumo nos
[Agora eu contar para vocês a história da origem do dias da festa daexecução do homem que dera para o grupo
povo Baré], diziam os nossos historiadores do passado. muitas guerreiras de sua geração. Foram viver distante dos
E começavam a história dizendo:
demais grupos. Acredita-se que esse local tenha sido nas
Antigamente, ainda no início do mundo, entrou no rio Negro, proximidades de Mura no baixo rio Negro.
agarrado por um grupo de mulheres guerreiras, que tinham por isso ele me enviou, para ensinar vocês a trabalhar
o costume de aceitar apenas mulheres em seu grupo. e com isso garantir a comida de vocês todos os dias".
Quando tinham necessidade de ter filhos, aprisionavam Ele então passou a morar com eles por um iongo período,
machos de outras tribos e dessa relação, se nascesse mulher ensinando-os a fazer canoa, remo, roça, armadilha para
elas criavam, e se fosse hemern eias o matavam. Esse seria pegar caça, peixe e treinar o novo grupo para guerra.
o destino do homem que nadou até o navio, para quem
deram o nome de"Mira-Boia"IGente-Cobra), se não fosse Quando o pequeno grupo já sabia de tudo que lhe foi
festa na primeira íua cheia, grande fogueira no centro do Tipa e tomem todas as mulheres do antigo grupo de Tipa para
mel silvestre foram coletados. serem mulheres de vocês, aí então vocês serão grandes e
pátio foi feita, muitas frutas e
respeitados e serão conhecidos por Baré-Mira (povo Baré)".
A festa com os rituais rolaram durante oito dias. No final da
festa, o grupo tomou a seguinte decisão: Mira-Boia ficaria Purnaminari, o mensageiro de Tupana, voltou várias
morando com um grupo com a condição de gerar um filho vezes para visitar e instruir seu povo. 0 grupo cresceu
com cada uma delas. Teria que dormirtrês noites com uma bastante a ponto de dominar totalmente a região do baixo
mulher que estivesse na época do seu período fértil. e médio rio Negro. Ao chegarem na Cachoeira de Tawa
Terminando essa missão, ele seria executado, assim (São Gabriel) permaneceram ali até que Purnaminari
como todo filho que nascesse homem. decidisse o novo destino do seu povo. No entanto, nessa
por ser a mais nova, a mais bonita e muito regras de Purnamínari, que ordenou ao povo não se misturar
menstruação. Ela,
com Mira-Boia com outros grupos, porém Kurucuí e Baburi acharam que
querida pelo grupo, teve o privilégio de morar
até que sua gestação aparecesse visualmente para o resto para pode aumentar os seus grupostinham que ter muitas
utinsKios WAPISHANA
1
paranakaru - literalmente “os do
Os brancos chegaram antigamente.
1
Não havia brancos aqui, nem lã em Georgettown.
mar", "os que vieram do mar - com que
Não. Todos iguais: Aruak, Carib, Wacawai, iguais, todos caboco. Eles não sabiam fazer os Wapishana designam os ingleses,
em contraste a karaiwa (brasileiros).
roça, parece: nunca haviam visto machado, terçado, lima, fósforos, eles nunca haviam
visto essas coisas.
Eles viviam por aí, pelo mundo, mas viviam. Eles faziam seu fogo com o que se
chama izako, pedra vermelha, pequena. Era diferente o modo como faziam seu fogo.
É, mas eles tinham fogo, eles queimavam sua roça, assim eles viviam sempre.
arrumaram aquele barco de vento; não era movido a motor não, só vento.
Então, eles embarcaram todas as coisas: terçado, roupa, enxada, machado, fósforos,
lima, de tudo eles embarcaram. É, eles foram, foram... é, para cá, pelo lado de Georgetown.
Mas não havia cidade não. Eles vieram pelo mundo. Trouxeram sua gente, cinco ingleses,
com eles. Procuravam a terra. Foram pelo meio do mar3 vieram, vieram, não havia onde
,
!
ni»ni'o parana, água grandá.
descansar. Só vieram, não se sabe por quantos dias, parece. Por muitos dias vieram.
É longe aquela Inglaterra, sim! Então, os outros disseram para aquele Colombo:
"Ora, mataremos você!". 0 chefe disse: "Não, mais um pouco, dêem-me três dias, se
não encontrarmos terra, aí vocês me matam." Eles concordaram. Então, vieram, vieram,
e viram mato. Com aquele olho que colocavam, aqueles ingleses brancos mal viam um
matinho. "Você vê - eles diziam - terra lá?". "Há gente então", "Nós iremos lá longe",
É, mas seu olho de tirar e pôr alcançava lá. Em três dias alcançaram a beira da mata.
flechar, quase flecharam. Mas parece que aqueles ingleses acenaram com a mão: "não nos
flechem!" Eles chegaram, e então vieram para o barco. Mas diz-se que não sabiam a língua,
só a sua mesmo, "Nós trazemos coisas - mostraram para eles, assim, assim - para o trabalho:
terçado, tudo, machado - eles mostravam - fósforos... Olhe aqui, assim se faz fogo...".
Até que se foram acostumando com o que encontraram, eles já conheciam pedra.
no mato, só folha de inajá que levantavam. Não era como nossa casa não! Eram desse jeito.
Nós fomos encontrados, nós fomos encontrados. Assim nós fomos encontrados. É o fim.
>
a
não só aqui neste lugar da América, mas no mundo inteiro,
útero da cultura que cada uma dessas antigas tradições
mostrando a diferença e apontando aspectos fundadores da
tem do ser social, da história, do mundo, da realidade
identidade própria de cada uma das nossas tradições, das
circundante, e a minha admiração é que esses textos
nossas culturas, nos mostrando a necessidade de cada um
maravilhosos já tenham sido divulgados há tanto tempo,
de nós reconhecer a diferença que existe, diferença original,
e mesmo assim a maioria das pessoas continue ignorando
de que cada povo, cada tradição e cada cultura é portadora,
essas fontes de nossa história antiga. Como essa história
é herdeira. Só quando conseguirmos reconhecer essa
do contato entre os brancos e os povos antigos daqui
diferença não como defeito, nem como oposição, mas
desta parte do planeta tem se dado? Como temos nos
como diferença da natureza própria de cada cultura e
relacionado ao longo desses quase 500 anos? É diferente
de cada povo, só assim poderemos avançar um pouco
para cada uma das nossas tribos o tempo e a própria
o nosso reconhecimento do outro e estabelecer uma
noção desse contato? Em cada uma dessas narrativas r
convivência mais verdadeira entre nós.
antigas já havia profecias sobre a vinda, a chegada dos
brancos. Assim, algumas dessas narrativas, que datam de Os fatos e a história recentes dos últimos 500 anos têm
dois, três, quatro mil anos atrás, já falavam da vinda desse ndicado que o tempo desse encontro entre as nossas
outro nosso irmão, sempre identificando ele como alguém culturas é um tempo que acontece e se repete todo dia.
que saiu do nosso convívio e nós não sabíamos mais onde Não houve um encontro entre as culturas dos povos do
estava. Ele foi para muito longe e ficou vivendo por muitas Ocidente e a cultura do continente americano numa data
e muitas gerações longe da gente. aprendeu outra
Ele e num tempo demarcado que pudéssemos chamar de 1500
tecnologia, desenvolveu outras linguagens e aprendeu ou de 1800. Estamos convivendo com esse contato desde
a se organizar de maneira diferente de nós. sempre. Se pensarmos que há 500 anos algumas canoas
um povo que ninguém conhece, como recentemente fizeram vez mais a conhecer a minha cultura, conhecer a tradição
sobrevoando de helicóptero a aldeia dos Jamináwa, um povo do meu povo e reconhecer também, na diversidade das
que vive na cabeceira do rio Jordão, lá na fronteira com o nossas culturas, o que ilumina a cada época o nosso
Peru, no estado do Acre. Os Jamináwa não foram ainda horizonte e a nossa capacidade como sociedades humanas
abordados, continuam perambulando pelas florostas do alto de ir melhorando, pois se tem uma coisa que todo mundo
rio Juruá, nos lugares aonde os brancos estão chegando quer é melhorar. Os índios, os brancos, os negros e todas as
somente agora! Poderíamos afirmar, então, que para os cores de gente e culturas no mundo anseiam por melhorar.
Jamináwa 1500 ainda não aconteceu. Se eles conseguirem
atravessar aquelas fronteiras, subirem a serra do divisor e O CONTATO ANUNCIADO
virarem do lado de lá do Peru, o 1500 pode acontecer só lá
pelo 2010. Então eu queria partilhar com vocês essa noção de Na história do povo Tikuna, que vive no rio Solimões, na
que o contato entre as nossas culturas diferentes se dé todo fronteira com a Colômbia, temos dois irmãos gêmeos, que
dia. No amplo evento da história do Brasil o contato entre a são os heróis fundadores desta tradição, que estavam lá na
cultura ocidental e as diferentes culturas das nossas tribos Antiguidade, na fundação do mundo, quando ainda estavam
acontece todo ano, acontece todo dia, e em alguns casos se sendo criadas as montanhas, os rios, a floresta, que nós
repete, com gente que encontrou os brancos, aqui no litoral, aproveitamos até hoje,,. Quando esses dois irmãos da
200 anos atrás, foram para dentro do Brasil, se refugiaram e tradição do povo Tikuna, que se chamam Hi-pí - o mais velho
- seu companheiro de aventuras
ou o que saiu primeiro e Jo-í
só encontraram os brancos de novo agora, nas décadas de
30, 40, 50 ou mesmo na década da 90. Essa grande na criação domundo tikuna, quando eles ainda estavam
movimentação no tempo e também na geografia de nosso andando na terra e criando os lugares, eles iam andando
de nosso povo expressa uma maneira própria
território e quando o Jo-í tinha uma idéia e expressava essa
juntos, e
das nossas tribos de estar aqui neste lugar. idéia, as coisas iam se fazendo, surgindo da sua vontade.
0 irmão mais velho dele vigiava, para ele não ter idéias muito
TERRITÓRIOS TRADICIONAIS perigosas, e quando percebia que ele estava tendo alguma
idéia esquisita, falava com ele para não pronunciar, não
0 território tradicional do meu povo vai do litoral do
contar o que estava pensando, porque ele tinha o poder
Espírito Santo até entrar nas serras mineiras, entre o vale
de fazer acontecer as coisas que pensava e pronunciava.
do rio Doce e o SãD Mateus. num pé de em cima da
Então, Jo-í subiu açaí e ficou lá
Mesmo que hoje só tenhamos uma reserva pequena no médio palmeira, bem alto, e olhou longe, quanto mais longe ele
rio Doce, quando penso no território do meu povo, não penso podia olhar, e o irmão dele viu que ele ia dizer alguma coisa
naquela reserva de quatro mil hectares, mas num território perigosa, então Hi-pí falou: "Olha, lá muito longe está vindo
onde a nossa história, os contos e as narrativas do meu povo um povo, são os brancos, eles estão vindo para cá e estão
vão acendendo luzes nas montanhas, nos vales, nomeando vindo para acabar com a gente". O irmão dele ficou
os lugares e identificando na nossa herança ancestral o apavorado porque ele falou isso e disse: "Olha, você não
fundamento da nossa tradição. Esse fundamento da tradição, podia ter falado isso, agora que você falou isso você acabou
assim como o tempo do contato, não é um mandamento ou de criar os brancos, eles vão pode demorar muito
existir,
uma lei que a gente segue, nos reportando ao passado, ele tempo, mas eles vão chegar aqui na nossa praia". E, depois
é vivo como é viva a cultura, ele é vivo como é dinâmica e que ele já tinha anunciado, não tinha como desfazer essa
viva qualquer sociedade humana. É isso que nos dá a profecia. Assim as narrativas antigas, de mais de quinhentas
possibilidade de sermos contemporâneos, uns dos outros, falas ou idiomas diferentes, só aqui nessa região da América
quando algumas das nossas famílias ainda acendem o fogo do Sul, onde está o Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela,
friccionando uma varinha no terreiro da casa ou dentro de nos lembram que os nossos antigos já sabiam desse
casa, ou um caçador, se deslocando na floresta e fazendo contato anunciado.
o seu fogo assim - auto-sustentável.
Os Tikuna têm suas aldeias parte no Brasil e outra na vizinha
Essa simultaneidade que temos tido a oportunidade de viver Colômbia. Os Guarani partilham o território dessas fronteiras
é uma riqueza muito especial e um dos maiores tesouros que do sul entre Paraguai, Argentina, Bolívia. Em todos esses
temos. 0 professor Darcy Ribeiro costumava dizer que a maior lugares, áreas de colônia espanhola, áreas de colônia
herança que o Brasil recebeu dos fndios não foi propriamente portuguesa, inglesas, os nossos parentes sempre
o território, mas a experiência de viver em sociedade, a nossa reconheceram na chegada do branco o retorno de um irmão
engenharia social. A capacidade de viver junto sem se matar. que foi embora há muito tempo, e que indo embora se retirou
também no sentido de humanidade, que nós estávamos sempre, nos dá sempre a oportunidade de reconhecer o
construindo. Ele é um sujeito que aprendeu muita coisa Outro, de reconhecer na diversidade e na riqueza da cultura
longe de casa, esqueceu muitas vezes de onde ele é, de cada um de nossos povos o verdadeiro patrimônio que
e tem dificuldade de saber para onde está indo. nós temos, depois vêm os outros recursos, o território, as
nossas tecnologias
florestas, os rios, as riquezas naturais, as
Por isso que os nossos velhos dizem: "Você não pode se e a nossa capacidade de articular desenvolvimento, respeito
esquecer de onde você é e nem de onde você veio, porque pela natureza e principalmente educação para a liberdade.
assim você sabe quem você é e para onde você vai". Isso não
pessoa do indivíduo, é importante para Hoje nós temos a vantagem de tantos estudos antropológicos
é importante só para a
o coletivo, é importante para uma comunidade humana saber sobre cada uma das nossas tribos, esquadrinhadas por
quem ela é, saber para onde ela está indo. Depois os brancos centenas de antropólogos que estudam desde as cerimônias
chegaram aqui em grandes quantidades, eles trouxeram de adoção de nome até sistemas de parentesco, educação,
também junto com eles outros povos, daí vêm os pretos, por arquitetura, conhecimento sobre botânica. Esses estudos
exemplo. Os brancos vieram para cá porque queriam, os deveriam nos ajudar a entender melhor a diversidade,
movimento imenso. Imagine o movimento fantástico que exige mesmo um esforço da cultura, que é um esforço de
aconteceu nos últimos três, quatro séculos, trazendo milhares ampliação e de iluminação de ambientes da nossa cultura
e milhares de pessoas de outras culturas para cá. Então meu comum que ainda ocultam a importância que o Outro tem,
povo Krenak, assim como nossos outros parentes das outras que ainda ocultam a importância dos antigos moradores
nações, nós temos recebido a cada ano esses povos que vêm daqui, osdonos naturais deste território. A maneira que essa
para cá, vendo eles chegarem no nosso terreiro. Nós vimos gente antiga viveu aquifoi deslocada no tempo e também no
chegar os pretos, os brancos, os árabes, os italianos, os espaça, para ceder lugar a essa idéia de civilização e essa
japoneses. Nós vimos chegartodos esses povos e todas idéia do Brasil como um projeto, como alguém planeja
essas culturas. Somos testemunhas da chegada dos outros Brasília lá no Centro-Oeste, vai e faz.
visão de que tem importância sim a nossa história, que tem todo mundo, então que progresso é esse? Parece
importância sim esse nosso encontro, e o que cada um que nós tínhamos muito mais progresso e muito mais
desses povos traz de herança, de riqueza na sua tradição, desenvolvimento quando a gente podia beber na água
tem importância, Quase não existe literatura indígena
sim. de todos os rios daqui, que podíamos respirar todos os
publicada no Brasil. Até parece que a única língua no Brasil ares daqui e que, como diz o Caetano, alguém que estava
é o português e aquela escrita que existe é a escrita feita lá na praia podia estender a mão e pegar um caju.
pelos brancos. É muito importante garantir o lugar da
Tem uma música do Caetano, tem uma poesia dele que
diversidade, e isso significa assegurar que mesmo uma
fala disso, o nativo levanta o braço e pega um caju.
pequena tribo ou uma pequena aldeia guarani, que está aqui,
As pessoas estão preferindo em nome do progresso
perto de vocês, no Rio de Janeiro, na serra do Mar, tenha a
instalar aquelas casas com aquelas placas luminosas
mesma oportunidade de ocupar esses espaços culturais,
e distribuir Coca-Cola na praia.
fazendo exposição da sua arte, mostrando sua criação e
pensamento, mesmo que essa arte, essa criação e esse
pensamento não coincidam com a sua idéia de obra de arte
À MARGEM NO ORIENTE
contemporânea, de obra de arte acabada, diante da sua visão No Japão tem uma lha que se chama Hokaido,
norte do
estética, porque senão você vai achar bonito só o que você lá povo Ainu, tem um porto nessa ilha que se chama
vive o
faz ou o que você enxerga. Nosso encontro - ele pode Nibutani, é uma palavra ainda que dá nome para esse lugar,
começar agora, pode começar daqui a um ano, daqui a assim como aquela montanha bonita lá em Tóquio, no Japão,
dez anos, e ele ocorre todo o tempo. Pierre Clastres, depois o monte Fuji, também reporta a uma história muito antiga do
de conviver um pouco com os nossos parentes Nhandevá povo Ainu, uma história muito bonita, de uma mãe que ficou
e M'biá, concluiu que somos sociedades que naturalmente sentada esperando o filho que foi para a guerra e que não
nos organizamos de uma maneira contra o Estado; não tem retornava, passou o inverno, passaram as estações do ano
nenhuma ideologia nisso, somos contra naturalmerte, assim e ela ficou cantando, esperando o filho voltar e o filho
como o vento vai fazendo o caminho dele, assim como a demorava demais, então ela chorava de saudade do filho;
água do rio faz o seu caminho, nós naturalmente fazemos as lágrimas dela foram formando aquela montanha e o lago,
um caminho que não afirma essas instituições como e toda aquela paisagem linda é dessa mãe que ficou com
fundamentais para a nossa saúde, educação e felicidade. saudade do filho que saiu para a guerra e que não voltou,
então ficou chorando por ele. Os Ainu estão lá em Hokaido
Desde os primeiros administradores da Colônia que
há mais ou menos uns oitocentos anos, talvez mais um pouco,
chegaram aqui, a única coisa que esse poder do Estado
porque eles foram tendo que subir lá para cima, que é o lugar
fez foi demarcar sesmarias, entregar glebas para senhores
mais gelado, liberando aqueles territórios cá de baixo para a
feudais, capitães, implantar pátios e colégios como este
formação desses povos que vieram subindo. 0 Japão agora
daqui de São Paulo, fortes como aquele lá de Itanhaém.
no final do século XX é uma das nações mais tecnológicas,
Nossa esperança que o desenvolvimento das nossas
é
digamos assim, do mundo, mas eles não puderam negar a
relações ainda possa nos ajudar a ir criando formas de
existência dos Ainu, eles negaram isso até agora. Na década
representação, formas de cooperação, formas de
de 70 alguns Ainu conseguiram chegar à comissão da ONU
gerenciamento das relações entre nossas sociedades,
que trata desses assuntos e apresentaram uma questão para
onde essas instituições se tornem mais educadas, é uma
o governo do Japão: querem reconhecimento e respeito pela
questão de educação. Se o progresso não é partilhado por
sua identidade e cultura. Quinhentos anos não é nada.
todo mundo, se o desenvolvimento não enriqueceu e não
propiciou o acesso à qualidade de vida e ao bem-estar para
^4-íZ^ Acervo
-7/A ISA
D
iante de textos tão distintos, a busca de recorrências deve por força deixar
escapar muita coisa, e coisa importante. Não ouso, por exemplo, sequer
|
f esboçar uma discussão dos registros discursivos empregados, como o contraste,
uma dada narrativa, entre um modo testemunhal, onde conto
às vezes interno a e
reflito sobre o que vi "com os meus olhos", como diz Momboré-uaçu, e um modo
tradicional (no sentido preciso do termo), Dnde narro o narrado, falando "pela fala" de um
1
Tal distinção corresponde apenas outro, como diz Jurusi uhu Não tenho, também, elementos bastantes para dar realmente
1
.
Quero, aqui, apenas registrar uma ressonância que percorre qs textos, e que ecoa alguns
motivos importantes da tradição oral indígena. Eia diz respeito à inserção do problema da
origem dos brancos no complexo pan-americano analisado por Lévi-Strauss, na tetralogia
Mitológicas e nos livros que a seguiram, notadamente o último, História de Lince.
É notável que presença dos brancos tivesse sido tão cedo absorvida por um complexo
a
veio a ser verdadeira: o outro (nós) tinha toda uma outra idéia do que devia ser o outro.
"Qual é, com efeito, a inspiração profunda desses mitos? [...] Eles representam a organiza-
ção progressiva do mundo e da sociedade na forma de uma série de bipartições, mas sem
que entre as partes resultantes a cada etapa surja jamais uma verdadeira igualdade: de um
modo OU de outro, uma delas é sempre superior a outra. Desse desequilíbrio dinâmico depende o bom
funcionamento do sistema, que sem ele se veria constantemente ameaçado de cair em
um estado de inércia. 0 que esses mitos proclamam implicitamente, é que os pólos entre
os quais se ordenam os fenômenos naturais e a vida em sociedade céu e terra, fogo e —
água, alto e baixo, perto e longe, índios e não-índios, concidadãos e estrangeiros etc. —
jamais poderão ser gêmeos. O espírito se esforça em emparelhá-los, mas não consegue
estabelecer sua paridade. Pois são tais afastamentos diferenciais em cascata, tais como
!
c. Lévi-Strauss, Histoire de Lynx. concebidos peio pensamento mítico, que põem em marcha a máquina do universo" 3 .
quase imortais, mas são bestiais; são engenhosos, mas estúpidos; escrevem,
mas esquecem; produzem objetos maravilhosos, mas destroem o mundo e a vida...
Superculturais e infra-sociais, portanto. E assim é possível passar de uma visão positiva
ou mesmo irênica dos brancos, tal a exprimida nas narrativas sateré-mawé, a uma negativa
e polêmica, como a manifestada nas falas de Davi Kopenawa ou de Bráz de Oliveira França.
A narrativa de Luiz Gomes Lana se dispõe, quanto a isso, na zona ou momento de transição
entre esses dois pólos, enquanto o discurso de Momboré-uaçu traz um rigoroso raciocínio
indutivoque fundamenta a passagem 'experimental' do primeiro ao segundo.
Da possibilidade mítica à realidade histórica, diriam talvez alguns, esquecendo
com isso que o mito é uma versão da história, e a história uma transformação do mito.
Mas, se o problema da origem dos brancos está, por assim dizer, resolvido desde antes
do começo do mundo, o problema simétrico e inverso do destino dos índios permanece-lhes,
parece-me, crucialmente em aberto. POIS O desafio OU 6HÍQm3 C|U6 S6 põe 30S ífldiOS COnsistG 6TT1
saber se é realmente possível utilizar a potência tecnológica dos brancos, isto é, seu modo
de objetivação —
sua cultura —
sem se deixar envenenar por sua absurda violência, sua
grotesca fetichização da mercadoria, sua insuportável arrogância, isto é, por seu modo de
Subjetivação —
sua sociedade. Davi Kopenawa responde negativamente a essa
questão: a cultura dos brancos exprime sua sociedade, e por aí não há saída. Ailton Krenak
parece responder positivamente: a sociedade indígena se exprime em sua cultura, e deve
haver espaço para esta. A história irá decidir; e então, o mito terá explicado.
0 problema da origem dos brancos foi 'processado' pela máquina do mito do fogo, A morte branca
como observamos. Mas algumas das narrativas aqui apresentadas mostram uma dimensão
específica desse processo, que não foi objeto de atenção especial nem de DaMatta, nem
de Lévi-Strauss. Refiro-me à presença, nos textos desana e sateré-mawé, bem como no que
1
se pode entrever no diálogo zo'é, do difundido mito da 'vida breve cujo lugar dentro do ,
‘
complexo sobre a origem do fogo e da cultura foi demonstrado em "O cru e o cozido"*. c Lévi-Strauss, te cru etiecuit.
-
A narrativa desana encadeia os temas da vida breve e da origem dos brancos. Após
descrever como o branco, o último a sair da Canoa-de-Transformação, foi mandado embora
pelo demiurgo, o texto passa diretamente (e, para um ouvinte que não conhece o contexto
mítico mais amplo, algo misteriosamente) ao motivo da vida breve dos humanos. Os bichos
venenosos conseguiram se aproximar do recipiente contendo a droga da troca de pele, a
humanidade não. Nenhuma referência aos brancos, aqui; mas é tentador imaginar que, entre
os bichos venenosos, talvez estivesse o branco... Pois no parágrafo seguinte este reaparece,
na figura do ancestral que conseguiu se transformar em branco ao se banhar na bacia da
água mágica do demiurgo. Como se sabe, em outras versões do mito (e para outros povos
amazônicos), o tema da imortalidade ou da ressurreição acha-se associado a um banho em
uma bacia de água mágica, que nos troca a pele. Nesta narrativa desana, o tema parece ter
se cindido: a imortalidade ou rejuvenescimento perpétuo pela troca de pele se restringe aos
animais, mas o meio típico de alcançá-la é deslocado para explicar a diferença — expressa
em termos de uma troca de cor da pele, justamente — entre índios e brancos.
A desana transforma outros mitos tukano onde a relação entre surgimento dos
narrativa
brancos e origem da morte é bem mais evidente. Em uma história barasana registrada por
cerimônias do He ('Jurupari'), 0 fragmento mítico tupinambá reportado por Abbevilie, e o mito barasana de Hugh-Jones,
concebidas como uma menstruação sugerem uma inversão da senioridade entre os irmãos em conseqüência da escolha das
masculina — e/ou, como indica o mito
de Lana, mediante a ingestão de coca,
armas. (Recorde-se que o sistema patrilinear dos Tukano hierarquiza as fratrias masculinas
substância indispensável em tais e seus descendentes por ordem de nascimento.) Lévi-Strauss tratou os mitos da vida breve
cerimônias. Quanta à relação entre as
roupas e a longa vida, trata-se
em termos de um "código dos cinco sentidos", que, como se pode constatar, está presente
obviamente de uma equivalência no mito desana. Seria possível ver no motivo da escolha das armas uma modulação deste
simbólica, motivada pelo tBma da troca
de pele dos animais. De resto, a noção
código. Em lugar de erros relacionados à sensibilidade, teríamos aqui uma falta ligada ao
de uma 'imortalidade' dos brancos, no bom senso, isto é, ao entendimento: um 'errD de cálculo', digamos. No mito quinhentista
caso do mito barasana, refere-se ao de Thevet, a ruptura do demiurgo (de quem os brancos seriam os "sucessores e verdadeiros
fato de que os brancos são inumerá-
veis, reproduzindo-se incessantemen- descendentes", diz o frade francês) com
humanidade índia, fruto da ingratidão ou
a
te: imortais, portanto, no sentido de agressividade desta, pode igualmente sertomada como um caso de 'má escolha’, de
que é inútil matá-las; sempre chegarão 8
outros em seu lugar. E este raciocínio
ausência de discernimento por parte dos humanos (dos índios).
evoca também um tema famoso da mitologia nativa, o 'chamado da madeira podre a que os
humanos responderam em lugar dos chamados da pedra e da madeira dura, perdendo assim
10
Ver o mito apinayé (M9)
a oportunidade de viver tanto quanto estas últimas No caso das narrativas sateré-mawé,
1
".
a narrativa dos Mawé: vêm do mesmo lugar para onde foram os brancos. A história kuíkuro e barulhento — lhering observou
também que este pássaro tem
é ainda mais direta: ainda após amansados, mesmo depois de convencidos a deixar de matar um cheiro muito desagradável.
os índios, os caraíba continuaram trazendo a morte, na forma da doença e do feitiço. Venenosos (um veneno que 'troca
Quando não matam com as próprias mãos, fazem-no por procuração, através dos objetos — a pele'), lascivos e
A esse triplo título, os brancos vêm desenhar os limites do humano, por excesso ou
por carência. No que concerne ao 'fogo', isto é, à tecnologia da objetividade, somos
superculturais. No que concerne à mortalidade natural da espécie, somos sobrenaturalmente
'imortais' (inumeráveis e indestrutíveis]. Mas no que concerne à vida de relação, às formas
socialmente instituídas da subjetividade, somos indiscutivelmente sub-humanos.
É sobre este último limite que quero dizer algo, à guisa de conclusão.
caminho e ficar. Par autro lado, esse irmão é quem lhe teria dado machados, terçados,
enfim, objetos dos brancos (ou de Tupana), o que poderia sugerir que o irmão de Eva é
que embora, ficando Adão e sua mulher na floresta. Os textos são muito ambíguos.
foi
Seria Tupana o irmão de Eva? Seriam os brancos os cunhados de Adão os brancos que —
a velha mitologia tupi-guarani tem por descendentes do demiurgo? Ou seriam os índios os
u Na pequena narrativa “Uruhe‘i e
filhos desse irmão de Eva, visto que foi ele quem a chamou de volta para a floresta? 13
Mari pysipok", figuram apenas Eva
seu irmão Mari-pyaipok,
(Uruhe'i) e
nome que provavelmente se liga ao
Seja como fôr, Eva tinha um irmão. 0 que é conforme à visão indígena dos fundamentos
Maira da mitologia tupi. Ambos os da vida social: portrás de todo casal, há o irmão da mulher, o homem que cedeu sua irmã
irmãos ficam, ou voltam do caminho,
ao outro homem. D 'átomo de parentesco’, para recordarmos a noção famosa de
e os Sateré-Mawe são ditos
descendentes de Eva; Adão não Lévi-Strauss, é constituído por uma criança, seu pai, sua mãe, e seu tio materno.
entra em cena. Outras versões do
mito de Uruhe'i e Mari-pyaipok fazem Os textos mawé sugerem, então (ou pelo menos eu gostaria que estivessem sugerindo...),
destes personagens dois irmãos que os brancos e os índios não seriam simples e igualmente os descendentes de Adão e Eva.
homens, com Mari como o que foi
embora e Uruhe'i como o que ficou. Não seríamos, — fórmula que jamais impediu que alguns desses
portanto, 'todos irmãos'
(Essas variantes, registradas por 'irmãos' espoliassem, escravizassem e assassinassem outros irmãos. Não seríamos todos
Nunes Pereira e outros, são referidas
nos trabalhos de Alba Figueroa.)
'filhos de Adão', pois — alguns seríamos, do irmão de
talvez, filhos descendentes
Eva,
Não é impossível que as versões mais colaterais desta, não de Adão. Quem são os sobrinhos de Eva, os brancos ou os índios,
antigas do mito fossem protagonizadas
uma questão que o mito não permite resolver. Mas isso não muda a moral da história:
eis aí
por um par de irmãos homens, e talvez
gêmeos, como na mitologia tupinambá, somos primos cruzados, isto é, cunhados potenciais. Não somos naturalmente idênticos
que parece ter fortemente influenciado como o são irmãos; seremos sempre diferentes, pois é essa diferença que nos torna
a cultura mawé. A feminização de um
dos irmãos se deveria, nesse caso, a socialmente necessários uns aos outros, e iguaimente necessários uns aos outros.
uma interferência da casal blbltco, 0 reencontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos de uma necessária aliança
ou a uma fusão com mitos de
proveniência não-tupi, Mas eia pode
entre parceiros iguaimente diferentes, de modo a podermos, juntos, deslocar o desequilíbrio
estar exprimindo o fundo mitológico perpétuo do mundo um pouco mais para a frente, adiando assim o seu fim. (outubro, 2000)
propriamente mawé, povo que fala
uma língua do tronco tupi mas
não da família tupi-guarani.
SOS BRASIL 500 ANOS Editorial do ISA publicado em Parabólicas rf 57. março, 2000
ANUNCIADO PELO ISA HÁ DOIS ANOS EM SUA PUBLICAÇÃO MENSAL PARABÓLICAS <N°45 DE NOVEMBRO/98).
Bem perto DALI, O FRAGMENTO REMANESCENTE DE PAISAGEM natural de MATA ATLÂNTICA CONHECIDO
como Monte Pascoal, transformado em parque de papel, está sendo consumido por outros
Pataxó que não têm alternativa para sobreviver, enquanto Ibama e Funai não se entendem.
A OUTRA FACE DESTA MESMA MOEDA SERÁ UMA MARCHA INDÍGENA QUE DESEMBOCARÁ EM COROA
Vermelha, incentivada pela Igreja Católica, cuja autoridade suprema acaba de pedir perdào -
a Deus, é claro - pelos erros históricos cometidos contra os povos nativos do mundo.
Será que a América católica sempre precisará de ridículos tiranos?
Fora do centro, milhares de iniciativas promissoras ocorrem, se valendo do ambiente
comemorativo, muitas delas envolvendo parcerias, inclusive entre poder público e sociedade.
Tais iniciativas incluem desde seminários e pacotes multimídias sobre música popular ou sobre
a temática indígena, até shows ao ar livre dos monstros sagrados da MPB, patrocinados
por uma rede de supermercados. Coisas para ver, (re) pensar e desfrutar, seja numa
ALDEIA REMOTA DA AMAZÔNIA OU NUM PARQUE DE CIDADE.
Como escreveu um dos fundadores do ISA, "devastamos mais da metade de nosso país
pensando que era preciso deixar a natureza para entrar na história: mas eis que esta última,
COM SUA COSTUMEIRA PREDILEÇÃO PELA IRONIA, EXIGE-NOS AGORA COMO PASSAPORTE JUSTAMENTE A
natureza '.'Será que a diversidade socioambiental do Brasil, cantada em prosa e verso,
RESISTIRÁ ÁS SUCESSIVAS RECICLAGENS DO NOSSO MODELITO PREDATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO
E AO AMBIENTALISMO PRIVATISTA DE SUCURSAL QUE SE INSTALOU NO PAÍS A PARTIR DA RlO 92?
A LONGO PRAZO NÃO NOS RESTARÁ, EM MEIO AO CAOS, ALTERNATIVA ENTRE A MESMICE DOS
SHOPPINGS E O CONFINAMENTO DOS PARQUES TEMÁTICOS?
Copyrk
1
Instituto Socioambiental
PESQUISA NACIONAL DE OPINIÃO ISA/IBOPE, Perguntados sobre quais seriam os três maiores problemas dos
REALIZADA DE 24 A 28 DE FEVEREIRO DE 2000, índios,57% indicaram a invasão das suas terras, 41% apontaram
REVELA QUE A MAIORIA DOS BRASILEIROS 28% indicaram as doenças transmiti-
0 desrespeito à sua cultura e
RECONHECE OS DIREITOS DOS ÍNDIOS E das pelo contato com os brancos (gráfico 09). Assim, os maiores
APÓIA AS DEMARCAÇÕES DE SUAS TERRAS problemas indicados são decorrentes da relação com os não índi-
os. 92% dos entrevistados consideram que os índios devem conti-
nuar vivendo como tais (gráfico 04) e que, para isso, 0 governo
deveria priorizar a implantação dc programas dc saúde e dc edu-
A IMAGEM DOS ÍNDIOS
cação adequados (48%), realizar a demarcação das suas terras
O Ibope realizou uma pesquisa de opinião pública de âmbito naci- (37%) e estimular a produção de bens voltados para 0 mercado
onal, encomendada pelo ISA, sobre o que os brasileiros pensam (31%) (gráfico 19).
Embora a grande maioria dos brasileiros viva em cidades ou regi- manente e de usufruto exclusivo sobre 1 % do território nacional,
ões distantes das terras indígenas, 78% dos entrevistados revela- apenas 22 % dos entrevistados consideram que é muita terra para
ram ter interesse no futuro dos índios (gráfico 02) A pesquisa .
muita terra.
apenas possuem uma cultura diferente da nossa (gráfico 18), e
também 89% consideram que eles só são violentos com aqueles Perguntados especificamente sobre o caso dos índios que falam
que invadem as suas terras (gráfico 14). português e se vestem como nós, 70% dos brasileiros consideram
que os seus direitos territoriais devem ser mantidos, contra 24%
ver a sua defesa (gráfico 17). 75% acham que os índios precisam O reconhecimento do direito dos índios a serem diferentes de nós
ser protegidos e ensinados e 93% afirmaram que eles devem rece- é um consenso nacional: 92 % da população acham que eles de-
ber uma educação que respeite os seus valores (gráfico 13 ). vem ter o direito de continuar vivendo de acordo com os seus
deram que eles devem ter espaço para viver conforme a sua cultu- Os índios conservam a natureza
ra (gráfico 12). 67% discordam que os índios devessem ser pre- e vivem em harmonia com ela?
parados para abandonar a selva e viver como nós (gráfico 16).
Estes índices são ainda maiores entre os entrevistados que têm 100 100
80 80
O FUTURO 70 70
60 60
A pesquisa também detectou uma mudança significativa na opi-
50 50
nião dos brasileiros quanto ao futuro dos índios. Em vista da tra-
40 40
gédia histórica representada pelos 500 anos de colonização, com
30 30
que muitos povos indígenas foram extintos e a sua população total
20 20
reduzida de alguns milhões para os atuais 300 mil, havia, até há
alguns anos atrás, uma forte impressão, mesmo entre aqueles que
Concorda
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Discorda
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Não Sabe/
Não Opinou
ro. No entanto, a maior parte dos entrevistados (45%) expressou
otimismo quanto ao futuro dos índios, tanto com relação a conti-
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100 100
A PESQUISA 90 90
80 80
A amostragem do Ibope considerou as diferenças de sexo, de grau
30 30
20 20
10 10
GRÁFICO 03:
Você acha que a educação dada aos índios deve respeitar seus
valores e sua cultura?
100 100
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GRÁFICO 09:
GRÁFICO 06:
Na sua opinião quais são os 3 principais problemas
Os índios devem ser educados
que afetam os índios brasileiros atualmente?
de acordo com a nossa cultura?
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GRÁFICO 15:
GRÁFICO 12:
Os índios são bons mas aprendem
Deve haver espaço para que os índios
muitas coisas ruins com os brancos?
possam viver de acordo com a sua cultura?
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GRÁFICO 18:
Os índios não são ignorantes, apenas
possuem uma cultura diferente da nossa?
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No papel de mocinho
Brasileiros acham que os índios são bons e protegem
a natureza. As coisas ruins aprenderam dos brancos
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O bom selvagem
A optnUo doi brasileiros nio poderia ser mais favoravH
a população indígena Acompanhe os principais resultados
de uma pesquisa inédita feita pelo Ibope
Oi índios, que
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da população sdo
donrn de 11% do
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no começo da semana
MARCHA INDÍGENA Conselho
passada.
Intertribal,
10/10/99)
REPRESSÃO ANUNCIADA
Diante da organização dos movimentos sociais
na Bahia e das retomadas de terra pelos Pataxó
c Palaxó Hã-Hã-Hãe no extremo sul do estado,
o senador Àntonio Carlos Magalhães afirmou:
“Quem vier fazer manifestação conirária quan-
do o Brasil comemora 500 anos, evidentemen-
te não é brasileiro e não sendo brasileiro não
pode ser tratado como tal”. Antes disso, em ja-
ÍNDIOS PROTESTAM CONTRA mais fiel assessor da Presidência ao mais (ISA a partir de O Diário de Porto Seguro,
FESTA DO DESCOBRIMENTO combativo militante da causa indígena. 26/01/00)
Por serem os donos da terra onde ficará o
0 Conselho de Articulação dos Povos e Organi- Memorial do Descobrimento, os índios 1’ataxó
ÍNDIOS PASSAM POR
zações Indígenas do Brasil (Capoib) enviou ao estão no centro das atenções dos preparativos
Papa João Paulo carta de protesto contra o
SANTARÉM NA MARCHA
II oficiais. São os únicos que têm conversado pes-
que chama de “festa triunfalista" programada soalmente com os representantes do governo e
EM DIREÇÃO À BAHIA
pelo Governo brasileiro para celebrar os 500 tentam obter a promessa de construção - além No próximo dia 9 de abril, eslará passando por
anos do Descobrimento. Os índios querem que do museu e das ocas, onde poderão expor seus Santarém, rumo à Coroa Vermelha, na Bahia, a
o evento sirva para mostrar a real situação en- artesanatos e montar espetáculos e produções “Marcha Indígena 2000”, que sairá de diversas
frentada por eles, vítimas da colonização. Se- culturais - de uma escola, um posto de saúde e regiões do País. A caravana da região Norte,
gundo Maurício Guarani, membro do Conselho, uma farmácia de remédios naturais. (JB, composta de 523 pessoas, sairá de Manaus,
os índios não têm por que comemorar. Desde o 21/03/99) passará por Parintins, Santarém, Belém, Impe-
ano passado, 42 líderes indígenas foram assas- ratriz, Palmas com chegada em Salvador pro-
sinados no Brasil. (O Globo, 23/10/98)
ÍNDIOS LANÇAM gramada para o dia 16 de abril. Antônio Anaya,
ponto alto das atividades oficiais, com inaugu- foi descoberto pelos portugueses. “Não existiu A Procuradoria Geral da República no Acre en-
ração do Memorial do Descobrimento, para descobrimento. Como alguém pode ter desco- tra hoje na justiça Federal com um pedido de
promover a Conferência Indígena, um amplo berto um território onde viviam 5 milhões de salvo-conduto para garantir a entrada de índi-
seminário sobre os problemas e desafios des- pessoas?”, pergunta Mola. os de todo o País na cidade de Porto Seguro
ses povos. Em 22 de abril de 2000, no sul da A carta foi assinada na aldeia Panambizinho, na (BA) no dia 22 de abril, na festa dos 500 anos
Bahia, haverá manifestação para agradar do região de Dourados (MS) , no encerramento do do Descobrimento. O procurador Marcus
Vinícius Aguiar acatou denúncia apresentada MARCHA INÉDITA LIDERANÇAS CONVIDAM FHC...
por caciques de 17 tribos do Acre e região sul CONTESTA A FESTA OFICIAI O líder indígena Carajá Pataxó, 38, pretende
do Amazonas. Segundo eles, a Policia Militar
Os índios brasileiros decidiram ficar de iòra dos entregar hoje ao presidente Fernando Henrique
baiana estaria sendo orientada a montar uma
festejos oficiais dos 500 anos. O governo pro- Cardoso documento pedindo sua presença na
barreira na entrada da cidade a pretexto de evi-
tar “protestos" nos festejos do Descobrimento. move uma festa de Estado, com a presença de inauguração de monumento em homenagem
Os caciques apresentaram recortes de jornais autoridades estrangeiras, e os índios lamentam aos 500 anos do Brasil, em Santa Cruz Cabrália
de Porto Seguro em que um oficial da PM con- 0 que chamam de “invasão européia”. Num (BA). Anteontem, 0 ministro Alberto Cardoso
movimento tido como inédito no país, por sua (Segurança Institucional) informou que FHC
firma que o policiamento será aumentado na
abrangência e poder de mobilização, desde 0 não iria à solenidade. O governo alegou dificul-
cidade. “Estou pedindo habeas-corpus preven-
tivo para que seja garantido aos índios o direito
dia 4 foi iniciada a “Marcha Indígena 2000". O dades para fazer a segurança do presidente no
movimento quer reunir no dia 22 numa gran- local. Assinado por 36 Pataxó, 0 documento
de ir e vir”, disse o procurador. “E para res- ,
de conferência, em Porto Seguro, mais de 2.000 afirma que os índios aceitam a presença de
guardar também o direito da manifestação pa-
índios representando cerca de 200 etnias policiais civis e militares na reserva “para a
cífica do pensamento”. Para Aguiar, a medida
identificadas no país. manutenção da ordem pública e segurança das
da PM “traz implícita uma conotação racista”.
“Brasil: Outros 500", como
denominado 0
foi autoridades” convidadas para a festa. No texlo,
(MSP, 30/03/00)
movimento, vai chamar a atenção da sodedade os índios dizem também que as auloridades
para a causa indígena e contestar a versão ofi- presentes à cerimônia não serão alvo de pro-
PROCURADOR PEDE testos ou qualquer tipo de constrangimento.
ciai do Descobrimento.
SEGURANÇA PARA A programação dos índios é ampla e abrange (FSP, 13/04/00)
VIAGEM DOS ÍNDIOS também outras minorias sodais, como negros
O procurador do Ministério Público Federal no e sem-terra. Com a marcha, iniciada na Amazô- ... MAS ELE TEME
a
Amazonas Ageu Florêndo pediu onlem à 6 Câ- nia (onde vivem 51% dos indígenas do país), POR SUA SEGURANÇA
mara de Coordenação, em Brasília, que acione eles pretendem chamar a atenção das diversas
localidades por onde passarão dizendo que “os
O presidente da Funai, Carlos Marés, disse on-
todos os órgãos federais e estaduais para que
lem que os índios pataxó estão sendo “cons-
haja segurança nos deslocamentos das lideran- índios continuam sendo explorados e excitados”.
trangidos” pela Polícia Militar da Balda e pela
ças indígenas que vão participar do manifesto As propostas da marcha e da conferência são
Comissão dos 500 Anos, presidida pelo Minis-
contrário aos festejos dos 500 anos do Desco- elogiada por Marés, um advogado que ocupa
tério do Esporte e Dirismo, Rafael Greca. Um
brimento em Porto Seguro, na Bahia. A decisão há cinco meses a presidência da Funai. “Pela
monumento de protesto contra as festividades
dc Florêncio foi tomada após receber 0 docu- primeira vez há uma mobilização nacional dos
dos 500 anos que estava sendo feito pelos Pataxó
mento Manifesto Manaus: 500 Anos de Resis- povos indígenas. As poucas tentativas anterio-
em Porto Seguro foi destruído peia PM. Hoje,
tência Indígena Negra e Popular, de sete lide- res foram frustradas. Além disso, os índios es-
às 16b, 0 presidente Fernando Henrique Car-
ranças licuna do Amazonas, na sede da Procu- tão certos ao dizer que não têm 0 que come-
doso recebe unta comissão de 12 lideranças in-
radoria da República regional. Os Hcuiia criti- morar, de reclamar mais políticas públicas”,
dígenas, durante protesto de 1.300 índios, em
cam a comemoração oficial dizendo que “é uma afirmou.
Brasília. Ele ameaça não ir às comemorações
festa para elites colonialistas responsáveis pelo Os governos federal e da Bahia estão se prepa-
rando para impedir que a marcha e a confe-
em Porto Seguro por causa dos conflitos.
genocídio e massacre dos índios, negros e po-
Diante das ameaças do presidente FHC de não
bres”, e pediram garantias para que não sejam rência indígena se transformem num ato con-
participar da festa dos 500 anos do Descobri-
barrados nas divisas interestaduais. Segundo tra 0 presidente Fernando Henrique Cardoso e
sua política social e econômica. Na última quin-
mento, em Porto Seguro (BA) ,
por causa da falta
Ageu Florêncio, 0 documento será encaminha-
dc segurança em função dos protestos dos ín-
do à Funai, Poficia Federal e Ibama. (OESP, ta. foi decidido que a segurança dos eventos,
dios previstos durante as comemorações, os
04/04/00) espedalmente durante 0 período em que FHC
governos federal e estadual iniciaram uma ope-
estiver presente, ficará a cargo do Ministério
ração para tentar acalmar a comunidade indí-
ÍNDIOS DO AM E DE da Defesa. As Forças Armadas ocuparão os síti-
gena. Foi oferecido todo 0 apoio logístico para
RR INICIAM MARCHA os e praias históricos de Porto Seguro, e os ma-
os índios realizarem a conferência dos povos e
nifestantes terão de enfrentar fuzis e possivel-
em Manaus,
Protestos e manifestações culturais mente tanques nas ruas se partirem para um organizações indígenas em Coroa Vermelha.
que reuniram cerca de 400 índios de diversas Além de alugar a casa de show Cabralão, onde
confronto.
marcaram ontem 0 da Marcha seriam realizados os debates, o governo fede-
etnias, início O primeiro sinal de que haverá dificuldades
Indígena para tribos do Amazonas e de Roraima. ral forneceria colchões, alimentação e infra-
nesse setor foi dado semana passada, quando
A marcha será formada por caravanas de todas estrutura para 0 evento. As lideranças pataxó
cerca de 200 PMs cercaram e destruíram, du-
as regiões do país, O objetivo do movimento, de Porto Seguro aceitaram a proposta e convi-
rante a noite, 0 monumento que os índios pre-
segundo a sua direção, é mostrar que 0 “Brasil - daram FHC a participar da festa. Na semana
tendiam construir na praia Coroa Vermelha
que os índios querem é outros 500" (alusão - denunci- passada, 200 policiais militares ocuparam Co-
onde foi realizada a primeira missa
aos 500 anos do Descobrimento). Durante os ando 0 que classificam de “genocídio da raça".
roa Vermelha e destruíram um monumento de
acusou ontem a comissão que organiza a (esta se dirigindo para Porto Seguro (BA) onde par- dades para os 500 anos não se resumem a
dos 500 anos, coordenada pelo ministro do ticipam, de 16 a 22 de abril, da Semana dos Brasília. Os índios de Pernambuco, com apoio
Esporte e Turismo, Rafael Greca, de desrespei- Povos Indígenas 2000. Muitas caravanas pas- de várias entidades, fazem manifestação hoje.
a Constituição e criar um clima de terroris-
tar sam antes por Brasília, onde está marcada para Eles vão exigir a demarcação, a homologação
mo contra os índios no Sul da Bahia, com o uso hoje a primeira manifestação de protesto con- de terras e o pagamento de indenizações a pos-
de forças policiais, intimidações e violências. A tra as comemorações oficiais dos 500 anos de seiros, por parte do governo federal, para a li-
PM baiana invadiu a reserva pataxó, na semana Descobrimento. Ontem, uma caravana forma- beração de áreas indígenas. O protesto, marca-
passada, e destruiu a base de um monumento da por 80 índios de lá etnias de Mato Grosso do para esta tarde, no Bairro do Recife Antigo,
que estava sendo erguido pelos índios. As criti- partiu de Cuiabá com destino a Brasília. De Cam- faz parte das manifestações programadas para
cas de Marés, que está demissionário, inicia- po Grande, outra caravana de 90 índios, repre- os 500 anos do Descobrimento. (OESP, 14/04/00)
ram mais uma crise no Governo, trazendo em- sentando seis nações indígenas de MS, seguiu
baraços para o novo ministro da Justiça, José para Salvador. (OESP, 13/04/00)
Gregori, antes mesmo da sua posse. Segundo
Marés, a comissão dos festejos tem cometido ÍNDIO APONTA FLECHA PARA
arbitrariedades contra os índios. Ele lembrou ACM DURANTE MANIFESTAÇÃO
que o artigo 231 da Constituição proíbe qual-
quer violação da reserva indígena. Ele disse que O presidente do Senado, Anlonio Carlos Maga-
até a construção de uma cruz metálica de 16 lhães (PFL-BA), teve ontem uma flecha aponta-
agressões e de resistência.
mita há nove anos no Congresso. Antes de che-
(O Globo, 13/04/00)
gar ao Congresso, cerca de 500 integrantes da
marcha já haviam atirado flechas no relógio da
Rede Globo comemorativo aos 500 anos do
Brasil. (FSP, 14/04/00)
Ique/JB,
16/04/00,
psg. 8.
V,SA
~' ACONTECEU
CARTA DE MONTE PASCOAL
Na véspera do Dia do índio e a quatro dias das
comemorações dos 500 anos do Descobrimen-
to, índios de todo o país exigiram ontem, na
Carta do Monte Pascoal, que o Governo federal
demarque e regularize os territórios indígenas
até o fim do ano. E pediram o fim do genocídio
de seus povos. Estes são os dois principais pon-
tosdo documento escrito no Monte Pascoal,
onde durante dois dias reuniram-se índios de
180 etnias, em encontro preparatório da Con-
ferência dos Povos Indígenas do Brasil, que
começou ontem.
Na carta, os índios voltam a denunciar a des-
truição do monumento erguido em Coroa Ver-
melha e repudiam o massacre de Eldorado do
Carajás. (O Globo, 19/04/00)
JZ
'*U= S*- Acervo
SA Í~Ã~C 0 N T E C E U
I
de nada. Doeu em mim, ter crianças alijando com Eu coloquei dejoelhos, andei mais de cinco metros o Brasil, foi para protestar com paz. Chegando la
desespero eu sabia que eu era um ser humano,
,
de joelhos, pedi para que eles parassem. Eu fui com violência, foram embora, não de cabeça bai-
mas não um animal para ser tratado com bom- andando, anilando dejoelhos, eu cheguei nafrente xa,mas esperando os outros 500 que não fjossam
bas, com os cavalos. Eu olhei para mim, eu colo- deles, eles diziam o soldado, que estava só cum- ser assim.
quei primeiramente a Deus no meu caminho que prindo a missão deles. Aí quando eu levantei, vi (Excerto do depoimento de Gildo Jorge Roberto
me protegesse de todo o mal que ia acontecer co- um daqueles colocando mais um, mais uma bom- Terena, pronunciado no ato público de solidarieda-
migo, eu abri as minhas mãos, pedi a orientação ba, para jogar pro lado do meu povo, eu abri os de e acolhida da delegação da Marcha Indígena 2000,
do Pai, que Ele pudesse me proteger. At com hu- meus braços, queeram pra jogar em mim e
eles na cidade de Rondonópolis no dia 24 de abril de
milhação de todos os povos em mim me pus, me
, não neles e nisso eu fui empurrado pela bomba e 2000, na Praça dos Carreiros, às 17 horas).
malizou. três procuradores, que acompanharam a ma- metida para garantir a segurança da comitiva
O china ficou tenso principalmente por causa nifestação ao lado dos índios. Eles observam presidencial. “Tal propósito não tem o condão
da intransigência do coronel Muller, que coman- no texto que os policiais militares que partici- de afastar o respeito à legalidade e aos direitos
dava a tropa de mais de mil homens em Cabrália. pavam das operações haviam retirado do peito fundamentais dos cidadãos, listados no artigo
(OESP, 23/04/00) a sua identificação, possivelmente para garan- 5“ da Constituição da República", assinala o tex-
ta-denúncia ao Ministério Público Federal. O chão da sala." Este infeliz comentário do ministro da Cultura e, por
presidente da Funai, Carlos Marés, que estava incrível que pareça, sociólogo, Francisco Weffort, resume a postura do gover-
com os índios e foi atingido por um dos no diante da repressão promovida pela polícia baiana aos manifestantes -
petardos, pediu demissão. E índios, negros, estudantes e MST - que tentaram protestar contra a festa que
o Cimi, instituição ligada à comemorou os 500 anos. Mas o ministro esqueceu de um detalhe: nenhum
CNBB. se pronuncia sobre o daqueles que sentiram na pele as bordunas da PM
episódio oficialmente hoje. foiconvidado para o rega-bofe oficial. As imagens
Satisfeitos com os resultados de índios apanhando correram mundo, transforman-
da Conferência Indígena, a do o que poderia ter sido uma festa popular num
maior e mais abrangente de fiasco com poucos precedentes.
todos os tempos, mas tristes A truculência começou no início de abril, quando
e revoltados com os episódi- a polícia destruiu, na calada da noite, um monumen-
os do último Sábado, os índi- to-resistência dos índios pataxós, ainda inacabado,
os partiram ontem para todos em Porto Seguro. No dia 22, o protesto pacífico de
os pontos do país fazendo índios desarmados foi sufocado pela tropa de cho-
protestos. Os índios Kayapó. que. Bombas de gás lacrimogêneo e granadas de
por exemplo, rasgaram, ain- efeito moral encerraram com violência o que era
da no asfalto, logo depois do para ser apenas uma passeata. Perguntado sobre o
episódio, as roupas que ves- porquê da repressão, FHC foi FHC: “Não fui eu que
tiam. (A Tarde, 24/04/00) mandei." Enquanto a pancadaria não tinha critérios
- 141 pessoas foram presas -, ele plantava uma muda
de pau-brasil com o presidente de Portugal, Jorge
Sampaio, rodeado por 2Ü0 ilustres homens brancos
de temo. Para que as autoridades não fossem inco-
modadas pelo alarido dos excluídos, mais de 6 mil
policiaisforam acionados. Até a liberdade de ir e vir
dosturistas foi violada: as estradas que dão acesso a
Porto Seguro foram fechadas e ninguém entrava ou
saía sem dar explicações ou ter um crachá.
Não foi só na hora de fazer a segurança que o
governo meteu os pés pelas mãos. Boa parte do
dinheiro gasto foi desperdiçado. A réplica da nau
capitânia de Cabral custou R$ 3,8 milhões e não
saiu do lugar. A tentativa de ir de Salvador a Por-
to Seguro falhou por problemas no mastro e nos
motores e a nau só deverá cumprir a rola em ju-
nho. O vexame foi motivo de piadas de brasileiro.
Flá cinco séculos, os portugueses da Escola de
Sagres já cruzavam o mundo.
Apesar da violência, da total desorganização e
de uma falta de sensibilidade histórica e social, a
RESUMO Da Bahia do Palácio do Planalto acabou caindo sobre a
ira
para o mundo: Quem é
mesmo cabeça de um defensor do lado mais fraco. O pre-
o selvagem?
sidente da Funai. Carlos Frederico Marés, que es-
teve o tempo todo com os índios e quase foi atingido por uma granada, pediu
demissão e foi chamado de desleal pelo porta-voz da Presidência. O ex-
presidente de Portugal Mário -Soares deu uma aula de política aos nossos soció-
logos: "Manifestações são normais em regimes democráticos.” Mais uma lição
do colonizador. A senadora Marina Silva (PT-AC) endossou: “Isso prova que a
democracia só chegou na casa-grande. Na senzala ainda é ditadura."
fwrs Garçoni
dígenas.
Hm tom cordial, no entanto firme, a carta res-
mento indígena - o que seria um profundo exer- nário era o pesadelo que atormentava o "mícleo nômico atual não comporta a participação dos
cício da democracia, apropriada pelos setores duro ” do governo federal. setores fxtpubres e do movimento indígena orga-
populares. Alguns índios da Amazônia e o cacique de Coroa nizado.
Mas o governo Fernando Henrique Cardoso não Vermelha aceitaram fazer o jogo do governo, de O máximo que conseguiu foi criar uma "cabeça
entendeu assim. Desde a destruição, em 4 de abril olho nos benefícios que conseguiriam de imedia- de ponte" no movimento indígena, a partir da
de 2000, do monumento indígena em Coroa Ver- to e no futuro. Fizeram de tudo para construir o Amazônia, para construir novas investidas con-
melha. para o governo federal, tudo se transfor- "objeto do desejo " do governo federal, o Cenário tra os povos indígenas no Brasil. Da mesma for-
mou em uma ameaça à ordem estabelecida. O l. Tentaram destruir a Conferência Indígena. ma que, de resto, tentafazerem outros movimen-
general Alberto Cardoso comandou a estratégia Ameaçaram os participantes, ameaçaram o Cimi tos sociais: dividir, conquistar aliados
militar, o sr. Marcelo Cordeiro foi destacado para como entidade de apoio. Trouxeram a Funai, a “confiáveis " para o governo federal e caracteri-
cooptar os índios e separá-los dos demais movi- Polícia Militar, a Prefeitura de Santa Cruz Cabrália zar os movimentos autênticos, incluindo o MST,
mentos sociais. para dentro da Conferência Indígena. Trouxeram como "radicais" e "inimigos do diálogo e da de-
A fxirtir da entrada em campo destes dois emissá- uma jornalista de Brasília para fazer o trabalho mocracia”. Para sustentar um modelo político e
rios do poder central, o movimento indígena, o de confundir os jornalistas e atacar o Cimi. econômico baseado na violenta exclusão social,
Cimi, o movimento negro e os movimentos popu- A ordem federal era atacar a Conferência e esse o único caminho é conquistar aliados fiéis entre
lares, incluindo o MST, passaram a se confrontar grupo fez o que pôde, inclusive com o apoio de os próprios excluídos.
como “núcleo duro" do governofederal, com seus uma milícia indígena, um novo apêndice da Po- Milhares de lideranças indígenas voltaram para
estrategistas militares e dos órgãos de inteligência. lícia Militar baiana. Porfim, vieram milhares de as suas aldeias, tristes porém dignas. Também
Estes, ao que tudo indica, trabalharam com três policiais militares para terminar o trabalho sujo voltaram, cansados e dignos, os milhares de mili-
cenários possíveis. de evitar as manifestações indígenas, negras e tantes do movimento negro e dos movimentos
Cenário 1: o presidente Fernando Henrique Car- popjdares. populares. Todos eks haviam cumprido com sua
doso cumpre toda a agenda do dia 22 de abril, A brutalidade foi tanta durante a Conferência tarefa, haviam realizado seus objetivos maiores.
divulgada em âmbito nacional e internacional Indígena, como no dia 22 de abril que resultou Haviam feito um grande congraçamento na luta
.
pelo Itamaraty. Vai a Coroa Vermelha, inaugura no oposto do que desejava o grupo palaciano e coletiva, na prática. Haviam desmascarado afar-
as obras, recebe os tripulantes da Nau Capitanea seu esquema indígena: as lideranças que se reti- sa de um Estado e de um goi>erno controlados por
etc. Para tanto, era necessário a destruição da raram da Conferênciaficaram isoladas, suas pró- oligarquias, Jx>rpolíticos e por militaresfascistas,
Conferência Indígena, a expulsão do Cimi do lo- prias bases não as acompanharam. Foram des- índios, militantes negros e militantes populares
cal, o controle militar sobre os demais movimen- moralizadas. voltaram para casa plenos de razão e de futuro.
tos sociais e uma articulação forte e bem sucedi- O terror impbntado e espallyado durante todo o Embora de forma difícil e confiitiva, todos havi-
da com lideranças indígenas que fossem "orgâ- dia 22, peb general Cardoso e pela Polícia Militar am tUuio um passo decisivo em direção ao seu
nicas" e que conquistassem um controle férreo da Babia, detonou, na mídia nacional e interna- objetivo maior:a construção dos outros 500 anos
sobre o conjunto dos povos e organizações indí- cional, as comemorações oficiais dos 500 anos na sociedade brasileira. Paulo Maldos, maio/00)
(
as organizações passaram a manter Convênio com dígenas. sem ter traçado claramente estratégias legitim idade para falar por si ou pelo seu povo.
a Fundação Nacional de Saúde na perspectiva de que permitissem definir uma nova relação com o A construção de um futuro viável para os
modificar o triste quadro de saúde dos povos in- movimento indígena, agarrando-se desesperada- nossos povos: Apesar dos problemas sofridos ao
dígenas. cansado de analisar os relatórios anuais mente a urna prática que, infelizmente, nesta atu- longo dos 500 anos nos mobilizamos na conquista
,
do Cimi a respeito das “violências contra os po- ai conjuntura, não está tão distante da tutela do de nossos direitos. Estamos convictos das neces-
vos indígenas "procuramos mudar o curso da his- Estado através da Fundação Nacional do índio - sidades de unir as forças de nossos povos, nossos
tória e dos acontecimentos na vida quotidiana FUNAI, tão severamente criticada pelo Cimi. lideres, nossas mulheres e crianças para construir-
das aldeias. Por assinarmos os convênios com a 0 embate estava criado, favorecendo as divergên- mosjuntos um espaço para garantir na prática o
Fundação Nacional de Saúde fomos duramente cias políticas que opuseram o Cimi e o movimen- reconhecimento de nossos direitos como povos di-
criticados pelo Cimi que não concorda que as or- to indígena, em função dessa tendência incorri- ferenciados.
ganizações indígenas atuem na prestação de ser- gível em querer ver a organização dos povos indí- Seguiremos lutando pela melhoria da qualidade
viços de saúde, alegando que esta é uma política genas a sua "imagem e semelhança ", mesmo sen- de vida das nossas comunidades de modo a obter
de terceirização.. do necessário para tal denegrir lideranças indí- melhores serviços na área da saúde, educação, a
A crise de identidade do Cimi: Com a dinâmi- genas que. por ironia do destino, destacaram-se demarcação de nossas terras, a defesa do meio
ca desse processo organizativo, o papel de justamente através da ação missionária, ou agir ambiente, o desenvolvimento auto-sustentável, a
articulador do Cimi passou progressivamente a de modo tal a promover divisões entre os povos proteção de nossos culturas, hem como a
ser assumido pelos povos indígenas, que foram indígenas. reestruturação do órgão indigenista oficial e nossa
definindo novas formas de lutas e de fortaleci- 0 Cimi continua insistindo em querer ser porta- participação em todas as instâncias que tratem
mento das nossas organizações. voz dos povos indígenas e definir o destino dos de assuntos de nossos interesses. (Brasília-
Pouco a pouco o Cimi viu definhar o seu papel índios. Isso é inadmissível. Cada indígena,perten- DF, 17/05/00)
até então protagonista na defesa dos direitos in- cendo a alguma organização ou não, é quem tem
José Severino da Silva, Capoih (Conselho de Articulação dos Povos e Organizações indígenas do Brasil)
Euclides Pereira, Coiab ( Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira)
Jerônimo Macuxi, CIR (Conselho indígena de Roraima)
Aldenicio Susana Basto, Foccit (Federação das Organizações Caciques e Comunidades Indígenas da Tribo Tikuna)
Nino Fernandes, CGTT (Conselho Geral da Tribo Tikuna
ObadiasB. Garcia CGTSM (Conselho Geral da Tribo Sateré Matvé)
,
As Artes Indígenas
na Mostra do Redescobrimento
Curador-associado do
Luís Donisete Benzi Grupioni
Módulo Artes Indígenas
PROPOSTA CONCEITUAL
Com curadoria de Lúcia Hussak van Velthem (Museu Paraense
Emílio Goeldi) e José Antonio Fernandes Dias Braga (Universida-
de de Lisboa), o módulo Artes Indígenas procurou inovar a forma
de apresentação dos artefatos indígenas. Recusando os modelos
tratar objetos indígenas como obras de arte, uma vez que na sua A mostra Artes Indígenas reumu pela primeira vez, num mesmo
origem eles não foram feitos, nem pensados enquanto tal. Se no ambiente de exposição, objetos de diferentes museus que nunca
mundo ocidental, a arte é uma esfera distinta da vida, nas socieda- haviam sido exibidos juntos. Teve o mérito de trazer de volta para
des indígenas tal automatização não existe. Objetos de uso cotidi- o Brasil objetos que desde que foram coletados e depositados em
ano e ritual se equivalem e se distanciam pelos múltiplos significa- museus europeus nunca haviam retomado para o país. Este foi o
dos que carregam para aqueles que os produzem e os possuem. O caso do mantelete emplumado Túpinambá, coletado provavelmente
segundo enfoque procurou cercar os objetos pelos efeitos que eles na primeira metade do século XVII, que foi levado para a Holanda
produzem, com quatro eixos estruturantes: construir avida cotidi- por Maurício de Nassan, em 1664, e depois oferecido ao Rei da
ana, fabricar a imagem de si, combater os inimigos e criar realida- Dinamarca, sendo integrado ao Gabinete Real de Curiosidades até
des paralelas. Foram apresentados artelatos utilizados no preparo entrar para a coleção do Nationahnuseet.
e no consumo de alimentos, na ornamentação e na identificação
das pessoas, na guerra e nos rituais. Um último bloco, denomina- PARTICIPAÇÃO INDÍGENA
do “devorar a cultura dos brancos" cumpriu a função de mostrar
a apropriação de técnicas e motivos ocidentais nas produções in-
Composta majoritariamente por artefatos guardados em museus
dígenas contemporâneas, sejam elas obras voltadas para o merca-
brasileiros e estrangeiros, o módulo Artes Indígenas não esteve
do de arte, sejam vídeos dirigidos por videomakers indígenas. restrito a este universo. Objetos contemporâneos foram adquiri-
dos exclusivamente para serem exibidos ali, de modo a atestar a
etnólogos que marcaram o conhecimento antropológico dos índi- esta exposição foi uma honrosa exceção, (maio, 2000)
DEMOGRAFIA E LÍNGUAS
Censos Demográficos e "os índios":
Dificuldades para Reconhecer
e Contar
Antropóloga/iSA
Marta Azevedo
vida dos grupos indígenas nos contextos em que vivem, suas rela-
DADOS DEMOGRÁFICOS PARA AS
ções com a população do entorno, explicando assim alguns com-
POPULAÇÕES INDÍGENAS
portamentos demográficos específicos.
do censo da Colômbia de 1993, e algumas análises que usam como A partir de análises demográficas e antropológicas de populações
referência os censos demográficos e outros tipos de registros, como autóctones de diferentes regiões colonizadas pelos europeus sabe-
cálculos de fecundidade baseados no método do filho tido no ano se que após um longo período de perdas populacionais causadas
anterior ao censo, são instrumentos úteis para gerar informações por guerras, epidemias e pelos processos de escravização, os po-
específicas sobre populações indígenas assim como nos induzem vos indígenas iniciam um processo de recuperação demográfica,
a realizar futuras investigações. muitas vezes consciente. Alguns estudos exemplares demonstram
realizados apontando componentes das estruturas sociais, inclu- México se pesquisa esses povos autóctones nos censos através do
indo modelos de casamento e composição familiar, como quesito língua falada (não estrangeira), prevalecendo assim um
determinantes dessa dinâmica. Após esse período de incremento critério linguístico e não racial e nem de cor da pele.
populacional começaa queda dos níveis de fecundidade, ou seja a
Apesar disso é possível pesquisar as populações indígenas nos cen-
diminuição do número médio de filhos por mulher. Os estudiosos
sos e comparar esses dados com os de registros vitais, coletados a
desse tema apontam sem dúvida a urbanização e mudança de status
partir das certidões dc nascimentos e óbitos, obrigatórias em todo
feminino nas sociedades, como variáveis importantes para essa
o país. Tomando-se o município como unidade territorial para essa
queda. O perfil demográfico de países europeus hoje em dia de-
pesquisa pode-se inferir alguns tipos de contagens e característi-
monstram que com a diminuição da mortalidade e queda da
cas. É possível cruzar as informações do quesito cor, com religião,
fecundidade passa a existir uma diminuição acentuada no ritmo
língua (censo 1940) residentes e natos
,
no município. Além disso
de crescimento, até o que se tem chamado de suicídio demográfico,
tem-se a informação de domicílios rústicos (entre os quais estari-
quando os níveis de fecundidade de algumas populações ficam
am os indígenas) Por exemplo, no censo de
. 1940, para o municí-
abíiixo do nível da reposição.
pio de São Gabriel da Cachoeira/ AM (que não sofreu divisões des-
A questão que se coloca hoje em dia para os estudos demográficos de essa época):
de populações indígenas no Brasil é se esses povos estão em fase
Populaçao total Brancos Pretos Amarelos Pardos
de crescimento acelerado devido à queda da mortalidade provocada
pela melhoria ao atendimento da saúde, mas ainda com a fecun- 13-182 1,011 68 8 12.043
didade estando em níveis muito superiores aos da população não
indígena, ou se esse crescimento é produto realmente de uma re-
Com o objetivo de conhecer melhor as características sócio-
demográficas dos imigrantes (alemães, italianos e japoneses) que
cuperação demográfica consciente, ou seja, que as sociedades têm
a percepção de que perderam população em um período de sua aqui chegavam, o censo de 1940 pesquisou também a informação
história recente e estão agora tentanto recuperar essa população.
sobre línguas faladas da população. Os resultados desse censo
permitem verificar a incidência de línguas nativas faladas por uma
população bastante significativa principalmente nos estados do
OS ÍNDIOS E OS CENSOS OFICIAIS
norte, apesar de não terem sido recenseados os índios sem conta-
As características demográficas das populações indígenas brasi- to ou com pouco contato com as frentes de colonização. Porém,
leiras nunca foram alvo de interesse específico dos censos análises desse censo sobre esse fato não foram até 0 momento
demográficos (não comentarei aqui as PNADs - pesquisas nacio- desenvolvidas pois 0 interesse eram as outras línguas “estrangei-
nais por amostra de domicílios, também feitas pelo IBGE -
,
que ras” faladas e não as línguas nativas. A partir desse censo pode-se
não pesquisaram os povos indígenas, talvez porque esses não fos- cruzar a informação cor da pele -parda - com 0 quesito língua
sem considerados como mão de obra possível, ou relevantes falada, tendo-se distinguido a língua guarani e outras línguas
economicamene para o país) . Embora não tenham sido pesqui- indígenas para pessoas de 5 anos e +. Obteve-se para 0 Brasil
população de 46.208 pessoas que falavam guarani ou são dos resultados devido ao tamanho pequeno da maior parte
outra língua aborígene; não existem dados por município; no esta- desses povos. Foram calculados os resultados para todas as unida-
do do Amazonas a população é de 10.381 homens e 9.182 mulhe- des da federação, não só aqueies onde estão localizadas Tis, para
res (de 5 anos e +). É possível a partir disso fazer inferências, analisar os dados por levando-se em conta aqueles índios que se
comparando-se com outros levantamentos específicos do SPI (Ser- encontram em áreas urbanas. A qualidade das informações obti-
viço de Proteção ao índio) e posteriormente FUNAI. Em 1960 e 80 das é bastante boa, se levarmos em conta a metodologia adotada.
o censo levanta apenas o quesito cor, sendo que os índios foram A população indígena total contabilizada foi dc 306.245, algo pró-
incluídos em pardos; em 1970 o quesito cor da pele não constou ximo dos totais veiculados pelas outras fontes indigenístas para
da pesquisa. essa mesma data, Na tabela abaixo estão os resultados da popula-
ção indígena dos estados da Amazônia legal, por fonte, incluindo
Várias questões decorrem das definições dos conceitos usados nos
os resultados do IBGE, dados veiculados pela FUNAI, setor de saú-
questionários dos censos e da sua metodologia de coleta de da-
dos. Muitos trabalhos já comentaram e analisaram a escolha polí-
de, em 1996, e dados veiculados pelo ISA em sua publicação "Po-
vos Indígenas no Brasil - 1991/1995”. Pode-se observar, porém,
tica dos censos brasileiros de identificar as ditas “minorias étni-
que alguns resultados por estado estão aquém daqueles obtidos
cas” a partir do quesito cor da pele, e não escolher por exemplo
pelas outras fontes, por exemplo Roraima, Acre, Mato Grosso,
finguas taladas (como é o caso do censo mexicano), ou identifica-
Rondônia e Amapá. Já para outros estados 0 oposto ocorreu; a
ção étnica por povo (como é o caso de censos como o americano
população indígena contada pelo censo foi bastante superior àquela
e o canadense), ou mesmo realizar censos especiais para essas
populações ao mesmo tempo que o censo demográfico nacional
veiculada pelas outras fontes, como por exemplo São Paulo, Rio
de jíuieiro e Espírito Santo. Nesses últimos a população é grande
vai a campo (como é o caso de países como a Colômbia, Venezuela
nas áreas urbanas, portanto a categoria indígena deve ser entendi-
e Paraguai) A variável ‘pardo’, no quesito 'cor da pele
. residu-
da e analisada de maneira diferente: são pessoas que se auto-iden-
al, isso quer dizer que todos os caboclos no norte, os mulatos,
tificaram enquanto indígenas, que estão dispersas pelos grandes
mestiços em geral são classificados como pardos, sem possibili-
centros urbanos, Para analisarmos tal fenômeno de (ressur-
dades de desagregação para análises mais detalhadas. A introdu-
gimento de índios urbanos (ou descendentes de índios) seria pre-
ção da variável ‘indígena’, no censo de 1991, no referido quesito
também pode ser discutida na medida em que não é cor da pele,
ciso uma pesquisa qualitativa detalhada, qual a motivação que le-
níveis de educação, níveis de renda, tipos de profissão etc., que Amazonas 57.901 65.433 67.882
permitem análises sobre as características sócio-demográficas da
Roraima 32.771 31.265 23.422
população. O cálculo da amostra é feito de maneira estatística com
Pará 10.563 18.381 16.134
base nas características e nas projeções da população obtidas por
pesquisas anteriores do IBGE. A amostra do censo brasileiro é Amapá 3.859 4.723 3.244
amostra por município e depois por setor censitário, e verificar pulações. Muitos cálculos podem ser feitos com os dados do cen-
para cada TI (consideradas setores censitários especiais) qual a so, apesar de todas as limitações apontadas, e, considerando-se
população e suas características, o que reduziria o grau de preci- que 0 próximo censo 2000 continuará a contar essa população, é
_//£ ISA divo que se realize um debate sobre as diferentes fontes de QUESTÕES POLÍTICAS E ANTROPOLÓGICAS:
dados e suas qualidades e potencialidades para análises.
DESAFIOS PARA O FUTURO
Com relação aos censos oficiais do IBGE, poderíamos recomen-
FONTES ALTERNATIVAS DE DADOS dar que se melhorasse a metodologia de coleta de dados fazendo
Outras fontes de dados sobre a população indígena são geradas um treinamento específico para aqueles recenseadores que fos-
por instituições como a Fundação Nacional de Saúde e Instituto sem trabalhar nas Tis, consideradas setores censitários especiais
Socioambiental, cada uma delas com uma metodologia e objetivos e ainda que se fizesse um questionário especial para as popula-
diferentes. O ISA tem efetuado um acompanhamento preciso do ções indígenas, com a colaboração de profissionais especializados,
processo de identificação e demarcação das terras indígenas, para que possa ser aplicado junto com o censo, para que pudéssemos
tal trabalho é necessário fazer estimativas do contigente realmente começar a ter dados comparáveis e ao mesmo tempo
populacional dos povos que habitam essas terras. Essas estimati- específicos para as políticas públicas direcionadas aos povos indí-
vas são feitas apenas com o objetivo de informar o processo de genas. Será imperativo também repensar o critério operativo de
demarcação e acompanhar a evolução da população total dc cada identificar os povos indígenas, não como variável do quesito cor
TI ou de cada etnia. Para isso é necessário usar diferentes fontes da pele, mas como totalidades sociais distintas, a exemplo do que
de dados, uma vez que a instituição não tem como objetivo fazer vem ocorrendo com os censos norte-americanos ou canadenses.
A Fundação Nacional de Saúde, atual Funasa, a partir de 1991, dinâmica demográfica, recomendaríamos repensar o critério geo-
vem procurando efetuar cofetas de dados populacionais com gráfico. incluindo a base geográfica das Tis, municípios, e áreas
enfoque para os epidemiológicos, para a melhoria da oferta dos urbanas, devido à cada vez maior presença de índios nas cidades e
serviços de saúde. A partir desse ano, com a estruturação dos Dis- considerando que. já se sabe que os índios ocupam bairros especí-
tritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena, espera-se que essa ficos delimitados, o que gera uma rede que opera e facilita esse
atividade de coleta e registros de dados epidemiológicos melhore movimento migratório e relações sociais com suas comunidades
A Lei 6001 de 1973, Estatuto do índio, em seu capítulo III, artigo Recomenda-se, finalmente, a realização de censos indígenas, inte-
12, postula que os registros vitais, ou seja de nascimentos e óbitos grando ou complementando os censos globais, elaborados com
e casamentos civis de índios ‘não integrados’ serão efetuados pelo ampla participação das comunidades indígenas em todas as suas
órgão de assistência ao índio, ou seja pela FUNAI. Portanto essa fases (desde a elaboração do instrumento de coleta de dados) em
seria uma fonte de dados valiosa para se conhecer os dados das convênios com organismos que a elas prestam assistência técnica
populações indígenas, mas na maior parte dos casos, os postos ou econômica. (dezembro 2000) ,
regiões do Brasil, apesar de não possuir rendimento para análises duas populações indígenas no Brasil” - X Encontro de Estudos Populacionais,
1996.
demográficas, já que não são pesquisadas as variáveis como ida-
Lingüista e Antropóloga,
Bruna Franchetto
Museu Nacional/ UFRJ - CNPq
DEPOIS DE 500 ANOS, 85% DAS LÍNGUAS entre dialetos e bnguas, tarefa nada simples, dadas as dificuldades
INDÍGENAS FORAM EXTINTAS. E DAS 180 de estabelecer fronteiras claras; nesse campo, entram em jogo,
ainda, mullilíngüe.
No contexto sulamericano, o Brasil é o País com a maior densida- O pesquisador Willem Adelaar apresentou, em 1991, o seguinte qua-
de linguística, ou seja diversidade genética, e também uma das dro para a América do Sul m :
amazônica, para uma população hoje estimada em 350 mil pesso- Argentina 14-23 169.432 a 190.732
as, 215 etnias. Essas línguas se distribuem em 41 famílias, dois
Bolívia 35 2.786.512 a 4.848.607
troncos, uma dezena de línguas isoladas, conforme Aryon
Brasil 170-180 155.000 a 270.000
Rodrigues™. O número de falantes vai de um máximo de 20 mil/
dez mil (Guarani, Tikuna, Terena, Macuxi, Kaingang) aos dedos Chile 6 220.053 a 420.055
de uma mão, quando não resta um único e último falante; mas a Colômbia 60 a 78 194.589 a 235.960
média é de menos de 200 falantes por língua. O número total de
Equador 12-23 642. 109 a 2.275.552
línguas deverá se alterar com a aumento de descrições de novas
Unguas ou de línguas ainda parcialmente documentadas. Guiana Francesa 6 1.650 a 2.600
o Zo'e ingressou na fanvflia tupi-guarani; em 1 995, foi identificado Peru 50 a 84 4.724.307 a 4.831.220
um grupo arredio como sendo falante do até então desconhecido
4.600-4.950
Suriname 5
Canoê. Pierre e Françoise Grenand listam 52 grupos amazônicos
Venezuela 38 52.050 a 145.230
ainda sem contato e cujas línguas podem revelar novos agrupa-
10%, se encontram seguras, a salvo; no próximo século, diz Ken giiistas, essa perda significa não conseguir reconstruir a pré-histó-
Hale, a categoria “língua” incluirá, somente, aquelas faladas por, ria lingiiística e determinar a natureza, o leque e os limites das
no mínimo, cem mil pessoas
ÍS)
Isso significa que 90%
. das línguas possibilidades linguísticas humanas, tanto em termos de estrutura
do planeta está em menos 20% - ou talvez 50% - das
perigo; pelo como em termos de comportamento comunicativo ou de expres-
línguas já estão agonizando. Uma língua agonizante ou “em peri- são e criatividade poética, Mais graves e mais complexas são as
go” é, uma língua local, minoritária, e em situação
tipicamente, conseqüências da perda lingiiística para as populações indígenas,
de ruptura geracionai, onde se os pais ainda falam com seus pró- minoritárias e sitiadas. Se é complexa a relação entre identidade
prios pais suas línguas maternas, já não o fazem mais com seus lingiiística e identidade étnica, cultural e política - não sendo cias
próprios filhos, que abandonam definitivamente o uso da língua redutíveis uma à outra, como mostram os povos indígenas do Nor-
nativa, destinada à morte dentro de um século, a menos que algo deste não há dúvida quanto às consequências da agonia e desa-
aconteça para a sua revitalização. Entre os fatores principais dessa parecimento de uma língua com relação à perda da saúde intelec-
condenação à morte está a pressão das línguas nacio5 tual do seu povo, das tradições orais, de formas artísticas (poéti-
nais, dominantes, em situações de pressão socioeconômica, de ca, cantos, oratória), de conhecimentos, de perspectivas
falantes numa aldeia multilíngiie onde dominam o Kuikuro (karib) vações que nos permitem apreciar ainda os sistemas e processos
e o Kamayurá (tupi-guarani)
(,:l)
. As outras línguas alto-xinguanas, fonológicos e morfossíntãticos do tupinambá e do tupi antigo. Do
ainda saudáveis, dão, contudo, sinais preocupantes: a escola é outro lado, e ao mesmo tempo, critica-se a roupagem expositiva
considerada o tempo/espaço onde tem que se aprender a língua que traduz e classifica os fatos registrados através das categorias
do branco; os jovens, fascinados com tudo o que provém do mun- da tradição gramatical greco-latina, A língua indígena, de qual-
do das cidades, procuram falar cada vez mais o português e ao quer maneira, era consumida e transfigurada, enfim, conquistada,
mesmo tempo se aíàstam das tradições orais. É como se a avalanche pelo empreendimento missionário, na escrita, nos catecismos, nos
e a sede de novos conhecimentos aniquilassem tudo aquilo que se autos e peças teatrais pedagógicas, onde o combate cristão bilín-
torna associado aos velhos, à vida aldeã. giie (tupi/português) entre o bem e o mal deveria engajar índios e
<34*^ Acervo
//xC ISA
,
pecadores das aldeias e das vilas, na luta contra o demô- Levantamento feito por Slorlo e Moore em 1991 mostrava que de
nio do paganismo e na elevação para o reino divino pregado pelos 80 a cem línguas tinham recebido algum tipo dc descrição; quase
conquistadores. Mais tarde, o romantismo tupi na construção da metade estava sem nenhuma documentação. Os autores conside-
nacionalidade brasileira apresentaria a face profana dessa tradi- ravam que 10 % das línguas contavam com uma descrição grama-
ção missionária, erguendo-se com seus lirismos sobre morte, tical satisfatória. Havia somente 12 doutores no Brasil dedicando-
massacre, sacrifício de povos inteiros. E é uma língua tupi transfi- se ao estudo dessas bnguas, somente oito universidades com a
gurada (e desfigurada) pela literatura que foi traduzindo para o presença das bnguas indígenas em programas de pós-graduação.
imaginário nacional brasileiro um índio genérico que continua O SIL trabalhava com 40 bnguas, não tendo contribuído à forma-
povoando o senso comum, a história escolar, filmes e novelas. ção de nenhum pesquisador brasileiro. Cinquente e nove esfavam
10)
sendo investigadas por lingüistas não-missionários; entre I 985
'
centava, o estudioso viajante, que acompanhava, direta ou indire- uma dezena de pesquisadores missionários com vínculos acadê-
tamente, as novas expedições de conquista: Koch-Griiniberg, micos cm instituições brasileiras). Observava-se 0 aumento da
Steinen, Capistrano de Abreu, Nimuendajú, para mencionar os mais participação de graduandos e pós-graduandos; as atividade do SIL
importantes. As observações gramaticais, mais ou menos sistemá- pareciam estacionárias. O número de pesquisadores estrangeiros
ticas, eram acompanhadas ou ilustradas por coletâneas de textos, representava cerca de 10 % desse total: norte-americanos, france-
transcrições alfabéticas dc peças das tradições orais de diversos ses, holandeses, alemães, sem contar os ligados às missões evan-
povos indígenas. Começava a se constituir um corpus, na sua mai- gélicas, onde os norte-americanos são a maioria. Entre 1991 e
oria composto de narrativas, que seriam transfiguradas, novamen- 1995, houve aparentemente um aumento de cerca de 40% em ter-
íe, para alimentar um folclore nacional com suas personagens mos do número de bnguas estudadas.
emblemáticas, como Macunaíma, o herói trickster dos povos karib Naquele momento, eu observava que, para as cerca de 180 lín-
do norte amazônico. guas, poderia se falar que pouco mais de 30 delas têm uma docu-
mentação ou descrição satisfatória (algo como uma gramáüca de
EVANGELIZAÇÃO E PESQUISA referência com textos e, possivelmente, um léxico), 114 tendo al-
(e competem) diferentes paradigmas, num saudável pluralismo critivos parciais e escassez de gramáticas de referência. Nos domí-
científico; amadurece a discussão entre pesquisa descritiva e pes- nios dos gêneros de discurso, da arte verbal, da coleta de tradi-
quisa teórica, cujo objetivo é a de inserir os dados dc línguas indí- ções orais, da elaboração de dicionários, as lacunas são imensas,
genas nos debales e embates da teoria linguística atual. Foi reto- como nos estudos sociolingüísticos, estes últimos indispensáveis
mada a investigação histórica e comparativa. Assim, por exemplo, quando se trata de entender as muitas e complexas situações de
espera-se resultados importantes do projeto "Tupi Comparativo" bibngüismo, multilingiiismo e perda linguística.
Kamayurá"” e ainda
mentar uma iíngua num projeto conjunto com os índios e propor
cas Tiriyó, Tmmai, Karo, Apurinã, Tikuna,
Kadiweu, Karitiana, entre outras.
um trabalho de preservação on salvamento fáltam-nos intru-
mentos conceituais e estratégicos. Como diz Grinevald, em traba-
O quadro institucional, infefizmente, melhorou pouco. Ainda se- lho aqui citado, este linguista de campo é como uma orquestra de
gundo Seki, no final dos anos 90, dos 66 programas de pós-gradu- um homem só: deve dominar todos os campos da linguística des-
ação em Letras e Linguística, apenas 12 desenvolvem pesquisas critiva, conhecer as principais teorias que podem guiar suas inter-
sobre línguas indígenas. Não obstante, aumentou, sem dúvida, a pretações e explicações, saber o baslante de uma específica lin-
presença de trabalhos sobre línguas indígenas em eventos científi- guística aplicada para se enveredar em projetos de alfabetização
cos nacionais e, nos internacionais, já faz algum tempo que os ou de revitalização linguística sem cair na armadilha de achar que
missionários/lingüistas do SIL não dominam mais a cena. Inaugu- os problemas se resolvem na escola, conseguir fazer pesquisa so-
ra-se ou cresce a participação de brasileiros nos universos eletrô- bre a língua com os índios, ser sensível e esperto, saber que fazer
nicos especializados, como üstas de discussões, algumas das quais linguística numa aideda não é um passeio de algumas semanas.
criadas no últimos anos, como a Ung-amerindia iniciativa de ,
Os índios certamente agradeceriam todos os esforços e inciaíivas
pesquisadores da Unicamp. A isso acrescentamos que, pela pri-
que facilitassem o aparecimento desse novo pesquisador; a lin-
meira vez, informações ricas e razoavelmente fidedignas apare-
guística "indígena” deixaria para trás, definitivamente, amadorismo
cem em sites oficiais e não-oficiais e em veículos governamentais
e subalternidade; a sociedade cm geral aprenderia mais sobre um
e de divulgação científica.
assunto que diz respeito diretamente à salvaguarda de uma rique-
Em suma, muito está sendo feito no Brasil fora da redoma za que está em seu seio e que, ou desconhece, ou sepulta, no sen-
missionária, se pensarmos na penúria de uns 20 anos atrás. Há, so comum dos estereótipos. ( outubro 2000)
,
-
diversity", no voliim t EndangeredLanguages - Language loss and community
(1) Fonte: Adelaar, Willem “The endangered problem: South America", em
response (editado por Lenore A. Grenoble e J. Whaley Lindsay, Cambridge:
Endangered Languages (editado por Robert Robons e Eugene Uhlenbeck, New
Cambridge University Press, 1998).
York: St. Marin ‘s Press, 1991). Os dados de Adelaar também podem ser confe-
ridos em As línguas amazônicas hoje (organizado por Francisco Queixalós e (7) Mapa etno-bístórtco de Curt Nimuendaju (Rio de Janeiro: IBGE, 1981).
das", em Ciência Hoje, 16 (95), 1993. Heckenberger, Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, no prelo).
LEGISLAÇÃO
Panará
Copyrighled m.ifânal
;
^4/^» Acervo
-//'SÁ _
LEGISLAÇÃO
críticas e sugestões de quaisquer interessados até o dia 31 de agosto. exercício de direito assegurado pela Constituição): sujeito a Jiena de
reclusão de um a quatro anos.
0 Código Pena I em vigor caracteriza-se por definir essencialmente
crimes contra o Jiatrimônio (furto, roubo etc.) e crimes contra pes- • associação discriminatória (organizar associação afim de pregar
soas, sejam eles contra a vida, a honra ou a liberdade individual discriminação ou preconceito ) sujeito a pena de reclusão de um a
Pouca atenção é dada aos crimes praticados contra bens ambientais quatro anos;
e sociais, de natureza coletiva e sem repercussões patrimoniais ou
• fabricação, comercialização de símbolos, emblemas, distintivos ou
econômicas diretas. TaI omissão foi parcialmente suprida com a re-
propaganda destinada à propagação de doutrina racista ou
cente edição da lei de Crimes Ambientais. Embora de forma ainda
atentatória à Uberdade: sujeito apena de reclusão de um a quatro anos.
incipiente, o anteprojeto cria novos delitos, que não constam do Códi-
go em vigor, buscando criminalizar condutas lesivas a direitos sociais Crimes contra a humanidade -Além do crime de genocídio,
já previsto em lei específica, são definidos os crimes de:
OS “NOVOS CRIMES” DO ANTEPROJETO
• tortura ( torturar alguém com emprego de violência ou grave ame-
Crimes contra comunidades indígenas - São criados aça, causando-lhe sofrimento físico ou mental) : sujeito à pena de
os crimes de: reclusão de quatro a oito anos
• invasão de terras indígenas: sujeito à pena de reclusão de dois a • condescendência com a tortura e sonegação de informação (dei-
cinco anos e multa; xar o carcereiro de comunicar ao juiz a transferência dejtessoa pre-
sa para outro estabelecimento ou para outro local): sujeito a deten-
• realização de jsesquisa ou lavra mineral em terras indígenas sem
ção de seis meses a dois anos. (Juliana Santilli, jul/98)
autorização legal: sujeito à pena de reclusão de dois a cinco anos;
Os índios deixam de ser legalmente incapazes, segundo o projeto de incapacidade civil dos índios toma os seus atos anuláveis, quando
lei que institui o novo Código Civil, em tramitação no Congresso. 0 praticados sem a assistência do órgão tutelar e sem que os índios
novo Código Civiljáfoi aprovado pela Câmara dos Deputados e />elo revelem consciência dos atos praticados. 0 novo Código Civil acaba
Senado Federal, lendo voltado à Câmara ftara apreciação das emen- com a relativa incapacidade civil indígena, e estatui que a matéria
das aprovadas no Senado. Espera-se a sua aprovação no início de será regulada fmr legislação especial, o que é um avanço conceituai
2001. 0 Código Civil em vigor, aprovado em 1916, considera os índi- 0 projeto de lei que estabelece o Estatuto das Sociedades Indígenas,
os “ relativamente incapazes”, equiparando-os aos maiores de 16 anos também em tramitação no Congresso, estabelece a capacidade civil
e menores de 21 anos e aos pródigos (indivíduos que dilapidam o plena dos índios. (Juliana Santilli, nov/00)
CARLOS MARÉS, JURISTA, EX-PRESIDENTE Juridicamente, o que tem mais importância no Brasil: o
DA FUNAI, RESPONDE A 12 PERGUNTAS Código Civil ou o Estatuto do índio?
FORMULADAS POR ESTUDANTES DE DIREITO CM - As duas leis estão dentro da mesma hierarquia, portanto uma
não manda na outra, Mas o Estatuto do índio tem duas situações
Pergunta - índio pode lazer carteira de identidade? E se que o coloca acima do Código Civil. Primeiro, é mais novo, e a lei
especial e pela regra geral das leis, as leis especiais têm prevalência
Carlos Marés - Sim, índio pode e deve fazer carteira de identidade, sobre as leis gerais, e o Código Civil é uma lei geral. Isto quer dizer
que é um registro geral dos cidadãos brasileiros. Portanto, todos que os dispositivos do Estatuto que contrariarem o Código Civil ou
têm direito à carteira de identidade. Isso é um direito, não uma qualquer lei anterior ou geral, a eles prevalecem.
obrigação. A carteira de identidade normal, que sc tira na polícia,
autoridades brasileiras. CM - Não, o Direito pressupõe que todas as pessoas devam saber a
razão porque estão sofrendo a sanção. Portanto, toda sanção tem
A lei brasileira não permite, não admite a identificação étnica. A
carteira de identidade apresenta o nome, a filiação, a data e o lo-
que ser fruto de um processo legal em que se esclareça o porquê
de estar havendo a sanção e a razão do ato praticado. Ele tem
cal de nascimento, mas não tem nenhuma informação a respeito
direito de defesa sempre.
de identidade étnica, cor de pele ou opção sexual. Por outro lado,
o índio tem direito também a um registro na comunidade onde índio pode prestar concurso para algum cargo público?
nasceu. Esse registro é uma identificação étnica, sem dúvida.
CM - Pode, para todos os cargos públicos que ele esteja habilita-
índio pode votar? Pode ser candidato? do a fazer. Por exemplo, é claro que ele não pode ser juiz se não
for bacharel em Direito, Cada concurso público tem suas exi-
CM - Não há nenhuma restrição ao voto, de nenhum cidadão bra-
gências, como algum curso, determinado tipo de formação ou
sileiro. Todos os cidadãos brasileiros têm direito a votar. Não há
determinada escolaridade que devem ser observadas. Se ele
essa restrição em hipótese alguma. Agora, para votar, ele tem que
preencher esses requisitos, tem liberdade e direito total de
estar inscrito no registro eleitoral, que é o cartório eleitoral, O
participar.
voto no Brasil é obrigatório, portanto ele. como cidadão brasilei-
ro, é obrigado a votar se for maior de idade e alfabetizado em É possível que determinada língua indígena, quando fala-
Mngua portuguesa. Porém, eu entendo que se ele vive na aldeia, da pela maioria da população de certo município, se torne
segundo seus usos e tradições e o povo, coletivaraente, decide não oficial?
votar, esta decisão prevalece sobre a obrigatoriedade ria lei brasi-
CM - É uma pergunta meio complicada, em princípio não, A bngua
leira, porque os povos indígenas têm o direito constitucional de
oficial brasileira é o português, no entanto é admitido no caso do
viver segundo seus usos, tradições e costumes.
indígenas o uso da língua materna para todos os fins, inclusive no
O índio pode ser candidato, pois é um cidadão com todos os direi- processo judicial. Porém, ela não pode se tornar oficial dc um
tos. Para ser candidato, entretanto, há algumas restrições, como o município. Não há línguas oficiais de um município. A língua ofici-
conhecimento da língua, para alguns cargos. Se ele cumprir esses al é a Portuguesa e vale para o Brasil todo, sendo admitidas as
requisitos, poderá ser candidato. línguas indígenas em conjunto com ela.
determinadas atividades em que se incluam alguns grupos indíge- mo a partir do ponto de vista do direito de um povo, mas não é
nas, não há restrições legais para fazer isso. Agora, o banco priva- lícito a partir do ponto de vista do direito brasileiro.
do vai fazer se puder ter vantagens, lucro, Então é muito difícil o
Como encarar o direito autoral coletivo na nossa legis-
índio estabelecer alguma relação com o banco privado porque ele
lação?
teria que reter um lucro, que dificilmente vai ter. Já com bancos
públicos e com dinheiro público, é claro que sim, depende apenas CM A nossa legislação
- autoral não trata de direito autoral coleti-
de vontade política. vo, ela se limita aos direitos autorais individuais. Entretanto, tem
que haver um casamento entre os direitos estabelecidos na Consti-
Os índios devem pagar impostos quando vendem os pro-
tuição e a legislação infraconstitucional. Ainda não há legislação
dutos de suas terras?
garantindo os direitos autorais coletivos. Mas é possível garanti-
CM - Esse é um problema delicado. Há impostos federais, estadu- los de outra forma, mesmo que não tenha lei, através de atos, como
ais e municipais, cada um deles será competente para cobrar e exemplo de reconhecimento pelos órgãos públicos, de que aquele
isentar o Governo federal, estadual ou municipal. Em geral, não há bem, aquela obra, é um produto coletivo. O Museu do índio, o
isenção para produtos destinados ao mercado consumidor. E se Museu de Arte Nacional, a Biblioteca Nacional e o Instituto de
não há isenção, eles estariam obrigados a pagar. É claro que é Patrimônio Histórico podem fazer isso. ( outubro 2000) ,
SOB FORTES PRESSÕES, 0 CONGRESSO sob a égide destes conceitos, foi promulgada a Lei 6001, também
NACIONAL RETOMA A DISCUSSÃO SOBRE conhecida como “Estatuto do índio", e que continua até hoje em vigor.
O ESTATUTO DAS SOCIEDADES INDÍGENAS
A NOVA CONSTITUIÇÃO
Você aceita a idéia de que as leis brasileiras tratem os índios como
Em 1988 veio a nova Constituição brasileira, e um dos seu princi-
se fossem crianças, loucos ou incapazes? Ou que o Estado os subs-
pais avanços é o capítulo que consagrou os direitos indígenas.
titua no exercício pleno de direitos civis? Pois assim tem sido, ao
Rompendo uma tradição secular, ela reconheceu aos índios direi-
longo de quase todo este século que está prestes a terminar.
tos permanentes. Eles jánão teriam que ser incorporados àcomu-
O Código Civil brasileiro foi promulgado em 1916. Na lógica de tdião nacional, ou serem forçados a assimilar a nossa cultura. Suas
reconhecer os direitos individuais, estabeleceu que “todo homem organizações sociais, línguas, tradições e os seus direitos originá-
é capaz de direitos e obrigações na ordem civil”. Mas criou exce- rios às terras que ocupam, passaram a ser permanentemente re-
rer até o final deste ano ou, no máximo, até o início do ano que
des” ou "povos”, que designe o do conjunto das comunidades
vem. Até lá, os debates serão intensos.
herdeiras de um mesmo processo histórico, que falam a mesma
h'ngua e compartilham a mesma formação cultural. Assim, ela não A promulgação do novo Estatuto será fundamental para se superar
estabelece devidamente a titularidade dos direitos culturais, atri- a pesada herança da tutela e da substituição dos índios enquanto
buindo-os às “comunidades" indígenas quando, na verdade, eles sujeitos diretos dos seus próprios direitos. Será uma carta de
não pertencem genericamente a toda e qualquer comunidade, mas alforria concedida pelo Estado aos povos indígenas, para que eles
somente àquelas que pertencem à mesma sociedade ou povo. possam construir, com um mínimo de autonomia, os seus própri-
os projetos de futuro.
Em relação aos temas da educação e da saúde, a proposta do go-
verno é mais sucinta, pois se limita a remetê-los a outras leis já Antes tarde do que nunca. No limiar do novo milênio, o Brasil
existentes, promulgadas posteriormente à formulação da propos- precisa livrar-se do ranço colonial da tutela e da dominação. O
ta do Congresso. Por outro lado, é bastante mais extensiva quanto Estatuto das Sociedades Indígenas permitirá que as novas gera-
ao aproveitamento de recursos hídricos e potenciais energéticos, ções respirem outros ares e vislumbrem outros horizontes. Os
ou quanto à regulamentação do exercício do poder de polícia peio outros 500. (Publicado na revista Ciência Hoje n° 163, ago/OO)
órgão indigenista federal, estabelecendo multas e outras punições
aplicáveis aos invasores das terras indígenas, estendendo ao órgão
o poder de aplicar a nova lei que pune os crimes ambientais.
Acervo
//\\ ISA
Biodiversidade e Conhecimentos
Tradicionais: Formas Jurídicas
de Proteção
O papel das comunidades indígenas e de outras comunidades tra- laboratório suíço. Diante da repercussão negativa do acordo, o
dicionais na conservação da biodiversidade tem sido reconhecido governo decidiu editar uma MP que regulasse, ainda que
em vários acordos internacionais, entre os quais a Convenção da casuisticamente, o acesso aos recursos genéticos e aos conheci-
indígena Coordinadora de las Organizaciones Indígenas de las dispõe: “À pessoa dc boa fé que, até 30 de junho de 2000, utilizava
Organizaciones de la Cuenca Amazônica (Coica) perante a agên- ou explorava economicamente qualquer conhecimento tradicio-
cia de patentes dos Estados Unidos, e o patenteamento da “quinua”, nal no País, será assegurado o direito de continuar a utilização ou
planta de alto valor nutritivo usada por comunidades tradicionais exploração, sem ônus, na forma e nas condições anteriores”. Ou
dos países andinos. seja, com o objetivo de “legitimar” o acordo da Bioamazônia com
A discussão acerca da criação de mecanismos legais de proteção em terra indígena, área pública ou privada, para acesso a recursos
aos conhecimentos indígenas e tradicionais associados à genéticos, dispensará prévia anuência das comunidades indígenas
biodiversidade, bem como de controle e compensação às comuni- e locais e dc proprietários. A Confederação Nacional dos Traba-
dades detentoras de tais conhecimentos, torna-se particularmente lhadores na Agricultura (Contag), com a assessoria dos advoga-
relevante em função da MP n° 2.052, de 30 de junho de 2000, dos do Instituto Socioambiental, propôs ação direta de
editada pelo Governo, e das propostas legislativas em tramitação inconstitucionalidade contra a referida MP, perante o Supremo
no Congresso Nacional. Tribunal Federal.
A MP foi editada às pressas pelo governo para “legitimar” o acor- Vê-se que o citado Artigo 14, ao permitir o acesso aos recursos
do firmado entre a organização social Bioamazônia e a genéticos situados em terras indígenas sem a prévia anuência das
multinacional Novarüs Pharma, em 29 de maio de 2000, que pre- respectivas comunidades, afronta os direitos de posse permanente
vê o envio de dez mil bactérias e fungos da Amazônia ao referido e usufruto exclusivo assegurados aos índios pela Constituição.
na legislação interna brasileira. A necessidade de criação de um pendentemente da titularidade do direito de propriedade sobre os
regime legal suigenerís de proteção aos direitos intelectuais cole- mesmos, sofrerão os índios mais uma restrição no exercício de
tivos tem sido destacada em vários fóruns internacionais de discussão. seus direitos territoriais e culturais, tão fundamentais à sua pró-
pria sobrevivência como povos diferenciados.
Dois dos maiores especialistas mundiais, Vandana Shiva (da ONG
Research Foundation for Science, Technology and Natural Resource Entendemos que os recursos genéticos - da mesma forma como
Pollcy, de Nova Déllti, índia) e Gurdial Singh Nljar (da rede de os bens ambientais em geral - independente de pertencerem ao
ONGs Third World Network, sediada em Penang, na Malásia) cha- domínio privado ou púbbco (conforme a dominialidade sobre os
mam atenção para os preconceitos existentes na própria definição recursos naturais que os contêm), devem ter 0 seu acesso e utili-
do conhecimento, em que se considera o conhecimento ocidental zação limitados e condicionados por regras de interesse público.
como “científico" e as tradições não-ocidentais como “não cientí- Isto não significa, entretanto, que devam integrar 0 patrimônio
ficas”, afirmando que os sistemas tradicionais de conhecimento público. São bens de interesse público, independentemente de se-
têm as suas próprias fundações científicas e epistemológicas, que rem de propriedade pública ou particular.
tos legislativos acerca da matéria, além da MP editada pelo Execu- soberania a ser exercida pela sociedade civil daquele país. A pro-
tivo: 1 ) uma proposta de emenda constitucional encaminhada pelo posta de emenda constitucional apresentada pelo governo parece
Executivo ao Congresso, que pretende incluir os recursos genéti- incidir exatamente neste equívoco: confunde 0 direito de sobera-
cos entre os bens da União; 2) projeto de lei apresentado pela nia sobre nossos recursos genéticos com dominialidade pública
senadora Marina Silva (PT-AC), já aprovado pelo Senado Federal ou estatal. Proteção estatal não significa propriedade pública, ne-
na forma de Substimtivo apresentado pelo relator deste na Comis- cessariamente.
são de Assuntos Sociais, senador Osmar Dias (PSDR-PK) e 3) pro-
jeto de lei apresentado pelo deputado Jacques Wagner (PT-BA), Projeto da senadora Marina Silva
ainda na Câmara dos Deputados. A Câmara dos Deputados insta- O Projeto de Lei n° 306/95, de autoria da senadora Marina Silva
lou uma Comissão Especial para apreciar os projetos. (PT-AC) dispõe sobre 0 acesso a recursos genéticos e seus produ-
,
comunidades indígenas e dependerá de prévia autorização das recursos genéticos nacionais, a serem concedidas pelo Executivo,
mesmas, bem como de prévia comunicação ao órgão indigenista e determina a criação de uma Comissão de Recursos Genéticos,
federal". Vejamos o que dispõem tais projetos legislativos. composta por representantes do governo, da comunidade científi-
reconhece e protege os direitos das comunidades locais e popula- Embora os projetos de lei citados acima contenham alguns dispo-
ções indígenas de se beneficiarem coletivamente por seus conhe- sitivos visando reconhecer e proteger os direitos de comunidades
cimentos tradicionais e a serem compensadas pela conservação tradicionais associados à biodiversidade, o que nos parece bas-
dos recursos genéticos, mediante remunerações monetárias, bens, tante positivo, tais iniciativas são ainda tímidas e pouco precisas
serviços, direitos de propriedade intelectual ou outros mecanis- na regulamentação de mecanismos de compensação para as co-
1)
mos”. Determina a criação de um cadastro nacional onde serão munidades tradicionais.
depositados registros de conhecimentos associados a recursos
genéticos pelas comunidades locais e indígenas, e estabelece que
Um regime legal sui generis de proteção a direitos intelectuais
coletivos de comunidades tradicionais deve partir das seguintes
as comunidades locais e indígenas detêm os direitos exclusivos
premissas:
sobre seus conhecimentos tradicionais, somente elas podendo
cedê-los, por meio de contratos. Prcvisão expressa dc que são nulas de pleno direito, e não pro-
duzem efeitos jurídicos, as patentes ou quaisquer outros direitos
Dispõe ainda que a proposta de contrato de acesso a recursos
de propriedade intelectual (marcas comerciais, etc.) concedidos
genéticos (quando situados em terras indígenas) “somente será
sobre processos
3) ou produtos direta ou indiretamente resultan-
aceila se for precedida do consentimento prévio fundamentado da
tes da utilização de conhecimentos de comunidades indígenas
comunidade local ou população indígena, obtido segundo as nor-
ou tradicionais, como forma de impedir o monopólio exclusi-
mas daras e precisas que serão definidas para esse procedimento 4)
vo sobre os mesmos;
pela autoridade competente” (Arts. 44 e 45).
a recursos genéticos situados em suas terras tradicionais. supervisionada por um conselho com representação paritãria de
órgãos governamentais, não-governamentais e associações indí-
genas representativas, bem como um quadro de consultores ad
hoc que possam emitir pareceres técnicos, quando for necessário.
(abril, 2000).
Pacto Andino 0 Regime Comum Andino de Acesso (ou Co belece normas para a realização da bioprospec-
munidade Andina) - aos Recursos Genéticos foi ção. Em 1997, foi editada a Lei de Proteção aos
adotado acordo comercial regional pela Decisão Direitos dos Povos Indígenas. Ambas leis estabe-
391 de 19%, que deixou entre a Colômbia. Equa lecem que o acesso ao conhecimento indígena só
dor. a sua regulamentação a cargo de cada serão permitidos dentro das terras ancestrais in
Venezuela, Peru e Bolívia, país. Distingue o re dígenas com o livre, prévio e informado consen
curso genético do componente intangível (conhe timento das comunidades. A referida lei protege
ci mentos associados) e estabelece que o contrato os direitos de comunidades indígenas aos seus
de acesso, quando tenha como objeto componen “domínios ancestrais", integridade cultural,
tes intangíveis, conterá um Anexo, no qual se pre autogoverno (inclusive ao seu próprio sistema ju
veja a repartição justa e eqüilativa dos benefící dtcial). posse coletiva das terras e preservação dos
os provenientes de seu uso. sistemas indígenas de conhecimento.
Bolívia A Decisão Andina 391 foi regulamentada pelo Tailândia Embora o país não tenha ratificado a Con venção
Decreto 24.676/97. Em relação aos conhecimen da Diversidade Biológica, o Ministério da Saúde
tos tradicionais, estabelece a realização de Con propôs normas permitindo o registro da mediei
tratos Anexos, subscritos pelos provedores do com na tradicional tailandesa. Caso seja aprovada a
ponente intangível e o solicitante do acesso. proposta, os curadores tradicionais podem regis
trar suas práticas medicinais para assegurar me
Equador Em 1996, aprovou uma mini lei, que declara:
canismos de compensação pela sua utilização co
"0 Estado equatoriano é o titular dos direitos
mercial. Os EUA protestaram contra a proposta.
de propriedade sobre as espécies que integram
a biodiversidade, bens nacionais e de uso públi índia Encontra-se em tramitação um projeto de lei
co. Sua exploração comercial se sujeitará à regu regulando o acesso a recursos genéticos e a dis
lamentação especüdque determinará o presidente tribuição equitativa dos benefícios derivados. As
da República, garantindo os direitos ancestrais comunidades locais poderão inlercambiar livre
das comunidades indígenas sobre os conhecimen mente os componentes intangíveis dos recursos
tos e os componentes intangíveis da biodiversi- biológicos. Em 1995, foi estabelecido o Registro
dade e dos recursos genéticos e o controle sobre da Biodiversidade dos Povos. A índia tem se des
eles Foi criado um Grupo de Trabalho sobre tacado na defesa dos direitos de agricultores pe
Biodiversidade. rante a comunidade internacional.
Peru 0 governo criou um grupo formado por represen Malásia A proposta de lei (“Community InteUectual Rights
tantes indígenas, de ONGs e funcionários de Mi AcVj elaborada pela rede de ONGs Third World
nistérios e do órgão de patentes (Indecopi) para NetWork prevê que: I) as comunidades locais e
,
formular um projeto de lei regulando o acesso a indígenas são os guardiões (custodians) de suas
recursos genéticos. Saliente-se que a sua legisla inovações; 2) devem ser proibidos quaisquer di
ção de propriedade industrial é uma das poucas reitos de monopólio exclusivo sobre tais inova
a obrigar o Estado a criar uma regulamentação ções, e quaisquer transações que violem tal proi-
especial para o registro de conhecimentos de co bição são nulas e não produzem efeitosjurídicos
munidades indígenas e rurais. e 3) o livre intercâmbio e transmissão de conhe
cimentos entre comunidades indígenas.
0 INCREMENTO DO USO DA IMAGEM concretos referentes ao patrimônio cultural indígena. Diga-se ain-
EDOS BENS CULTURAIS INDÍGENAS TRAZ da que o Estatuto do índio, Lei 6.001/73, reporta-se aos temas,
quer meios ou para qualquer Em, sem a sua devida autorização e tos literários, artísticos ou científicos, das músicas, fotografias,
respectiva compensação. A imagem dos índios, de suas comunida- desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e tantas outras coisas,
des e povos constitui patrimônio indígena a ser protegido e respei- listadas no Artigo 7° da Lei 9-610, de 19 de fevereiro de 1998, que
tado por todos. regulamenta o assunto. O direito autoral está eminentemente
Quanto aos direitos autorais dos índios, o Artigo 231 da Constitui- centrado na idéia da produção individual. Toda a proteção ofere-
ção de 88 reconhece a organização social, costumes, línguas, cren- cida parte da idéia de que há um autor, pessoa física (apenas em
ças, tradições indígenas e o caráter coletivo das mesmas, ofere- casos excepcionalíssimos, pessoa jurídica), responsável direto e
cendo garantia específica a lodos os seus bens - aqui incluídos os exclusivo pela criação de uma dada obra artística, científica ou
bens culturais. Além disso, a Constituição reconhece expressamente literária, a quem a lei confere direitos morais e patrimoniais sobre
a existência de manifestações culturais indígenas, que constituem aquela obra. Admite-se, obviamente, a co-autoria e a existência de
o seu patrimônio cultural, objeto de ampla proteção na seção obras coletivas, mas essas nada mais são do que o somatório de
dedicada aos bens culturais e à cultura, em que se cria para o criações individuais que passam a integrar uma obra autônoma.
Estado brasileiro a obrigação de protegê-las. Esse modo de proteção, entretanto, não incorpora as especi-
Além da Constituição, as leis federais e estaduais de proteção aos ficidades da produção cultural indígena, que, em sua grande par-
bens culturais em geral podem também ser aplicadas em casos te, decorre de uma atuação coletiva e indivisa. Tomemos como
O grafismo xikrin, como tantas outras formas de expressão das reconhecer e proteger padrões distintos dos seus.
culturas indígenas, tem autoria coletiva, que assim há de ser reco- A fim de solucionar esses problemas e garantir a proteção efetiva
nhecida. Não se trata de um somatório de autorias individuais, aos bens culturais indígenas, o então presidente da Fundação Na-
nem de co-autoria, mas de uma atividade que possui característi- cional do índio (Funai), Carlos Frederico Marés, criou o registro
cas de um sistema de comunicação visual o qual confere a essa do patrimônio cultural indígena, a cargo do Museu do índio. O
arte funções específicas na vida dessa sociedade. Desse modo, a novo mecanismo deverá facilitar o cadastro dos bens culturais in-
proteção autoral deve também se fazer coletivamente -o direito é tegrantes do patrimônio indígena, na medida em que povos indí-
concernente a todo o povo e a cada índio em particular como genas, suas comunidades, organizações e os próprios índios, em
tido aos detentores do bem cultural, como por exemplo as comuni- da Funai, Glenio da Costa Alvarez. ao estabelecer que afomui de registro
dades indígenas e quihmbolas, fazerem a requisição. do bem cultural inuiterial indígena éo cadastramento. (Ijlia Toledo Diniz,
se tratando de produção individual, além de outros interessados, obtida deve ser a mais específica possível, definindo-se detalhes
poderão solicitar a sua instauração. Independentcmente de regis- sobre o uso do objeto contratado para um fim determinado.
tro, porém, os direitos autorais dos índios têm se resolvido caso a Quanto ao pagamento ou outra forma de compensação, há que ser
caso, em acordos privados nos quais é reconhecida a autoria cole- pacntado com os próprios índios e fixado no instrumento de auto-
tiva das obras e são estabelecidas obrigações pelo uso dos direitos rização. Não há percentual ou parâmetro estabelecido na legisla-
de autor. 0 direito de imagem dos índios também tem sido objeto ção. Em se tratando, por exemplo, da cessão de direitos autorais
de contratos que lhes garantam proteção e justa compensação. sobre desenhos ou ilustrações a serem inseridas numa publica-
A premissa é de que está assegurado aos povos e comunidades ção, pode se estabelecer um valor fixo, uma percentagem da ven-
indígenas, e ao índio como indivíduo, em caráter permanente, o da da publicação, ou, ainda, ambos. 0 ideal é que esse valor seja,
direito exclusivo de usarem, fruírem e disporem de suas obras e no mínimo, compatível com a praxe do mercado para os não-índi-
criações de espírito, ainda que transmitidas pela tradição oral, in- os, considerando-se o valor cultural agregado característico da
dependentemente de sua origem temporal. Assim sendo, a utiliza- situação em questão. Nos casos de utilização de obras e criações
ção de quaisquer obras e criações por terceiros, tendo ou não fins indígenas sem finalidade lucrativa, este fato deverá ser levado em
lucrativos, deve ser precedida de expressa autorização do povo ou consideração.
comunidade indígena em questão. Em outras palavras, é necessá-
Finalmente, os contratos de cessão de direito autoral deverão con-
rio obter permissão, por escrito, dos autores, para utilizar o mate-
ter salvaguardas que garantam crédito de autoria coletiva e proibi-
rial, o que se materializa num contrato pelo qual o interessado se
ou parcial da obra indígena, sem expres-
ção de reprodução total
compromete a pagar ou oferecer outra forma de contrapartida
sa autorização da comunidade autora. Nos casos de cessão de uso
pactuada com os índios.
do direito de imagem, é importante também garantir que a utiliza-
costumes e tradições. Há, porém, casos de definição mais comple- Brasil ainda não encontram claro amparo nas leis. Em que pese
xa,em que a autoria de uma obra seria partilhada por mais de este fato, os índios têm buscado soluções criativas para assegurar
uma comunidade indígena. É o caso, por exemplo, de alguns mi- os seus direitos. É de se esperar que o direito brasileiro venha a
tos, danças e rituais. Em qualquer hipótese, todavia, a autorização incorporar essas iniciativas, (outubro, 2000)
das atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto, aprovado pelo mais informações pertinentes.
Decreto n°564, de OS de junho de 1992, e com fundamento nos arti- Art. 5°. O cadastro deverá ser efetuado no prazo máximo de noventa
gos 215, §l°e231 da Constituição Federal, dias, de maneira gratuita, devendo o Museu do índio fornecer ao
interessado certidão que ateste a condição do bem cadastrado.
RESOLVE: Art. 6°. A Fundação Nacional do índio deverá dar ampla divulgação
o
Art. I . Fica criado o Cadastro do Patrimônio Cultural Indígena. aos bens culturais cadastrados, especialmente junto às sociedades
Art. 2° Caberá ao Museu do índio proceder ao cadastro do indígenas.
patrimônio cultura! indígena em livro próprio. Parágrafo Único -O Museu do índio organizará banco de dados con-
Parágrafo Único -O cadastro não é condição necessária para tendo todas as informações sobre os bens cadastrados.
atestar a existência e titularidade do bem cultural. Art. 7°. Fica instituída, para funcionamento no âmbito do Museu do
Art. 3°. Poderão solicitara instauração do procedimento de cadastro: índio, a Comissão Deliberativa, que deverá dirimir as dúvidas ou
I. as sociedade indígenas e suas comunidades; conflitos decorrentes do cadastro efetuado.
II. as organizações indígenas Parágrafo Único -A Comissão Deliberativa será composta petos se-
VII. o índio, no caso de produção individual. m. o Chefe do Museu do índio regulamentará o funcionamento da
Parágrafo Único - Em qualquer hipótese, fica ressalvado o direito da Comissão Deliberativa em regimento interno.
sociedade indígena interessada obstar o cadastro de um bem inte- Art. 8o Retvgar a Portaria n° 2I6/PRES, de
.
03. 04.2000.
grante do seu patrimônio cultural Art. 9o . Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação.
Art. 4 o A solicitação de cadastro deverá ser dirigida ao Chefe do Mu-
.
Assina: Glenio da Costa Alvarez, presidente.
1°
0 DIREITO DE USUFRUTO EXCLUSIVO DOS § - Incluem-se no usufruto, que se estende aos acessórios e
ÍNDIOS SOBRE AS RIQUEZAS NATURAIS DE seus acrescidos, o uso dos mananciais e das águas dos trechos
SUAS TERRAS DEVE SER ENTENDIDO COMO das vias fluviais compreendidos nas terras ocupadas.
A Constituição Federal assegura aos índios os direitos de posse O direito de usufruto exclusivo, assegurado constitucionalmente
permanente sobre suas terras tradicionais e de usufruto exclusivo aos índios, implica que estes podem tirar dos recursos naturais de
sobre os recursos naturais nelas existentes, incluídas as riquezas suas terras todos os frutos, utibdades e rendimentos possíveis, desde
do solo, dos rios e dos lagos. As únicas exceções ao direito de que não lhe alterem a substância ou comprometam a sua
tamento de recursos hídricos e mineração por terceiros, desde Os índios não podem alienar a terceiros o seu direito de usufruto.
que ouvidas as comunidades indígenas e assegurada a participa- Isto não significa, entretanto, que estejam obrigados a gozar direta
ção nos resultados da lavra (Art. 231, §3°) e imediatamente de seus bens, ou que não possam fazer parcerias
produto da exploração econômica de tais riquezas e utilidades. terras habitadas pelos índios, como também as utilizadas para suas
O direito de usufruto exclusivo Indígena não pode impedir os índi- Em outras palavras: as atividades tradicionais das comunidades
os de desenvolver suas próprias atividades produtivas, ainda que indígenas, voltadas para a sua subsistência ou consumo interno,
com finalidades comerciais. Fundamental é a preservação dos re- não estão sujeitas a qualquer restrição ou condicionadas por qual-
cursos ambientais existentes nas terras indígenas, de forma a asse- quer autorização do Poder Público. Já as atividades de exploração
gurar a sobrevivência das próximas gerações, bem como a manu- comercial de recursos naturais dependem do cumprimento das
tenção da posse e do controle das comunidades indígenas sobre exigências e normas legais específicas, inclusive das normas
as atividades e projetos desenvolvidos em suas terras, posto que ambientais aplicáveis,
estes devem promover a sua auto-sustentação econômica e
diciais, ou cujos efeitos nocivos sejam desconhecidos pelos índi- vidades produtivas utilizando-se de suas riquezas naturais e não
os, devido às suas diferenças culturais. como um empecilho legal ao desenvolvimento de projetos que
promovam a sua auto-sustentação econômica e ambiental. As ati-
Conforme já dito acima, a Constituição veda a transferência da posse
vidades econômicas voltadas para a comercialização, que venham
da terra indígena a terceiros e o também já transcrito aci-
Art. 24,
a ser desenvolvidas pelas comunidades indígenas, dependem, en-
ma, deve ser entendido em sintonia com o Art. 18 do Estatuto:
tretanto, do cumprimento das exigências e normas legais específi-
"Art. 18 -As terras indígenas não poderão ser objeto cie arren- cas, sobretudo das leis ambientais.
damento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja
O usufruto exclusivo dos índios sobre os recursos naturais de suas
o pleno exercício da posse diretapela comunidade indígena ou
terras não impede que os índios realizem parcerias ou sejam as-
pelos silvícolas.
sessorados por terceiros na elaboração e desenvolvimento de pro-
§1° - Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos jetos econômicos em suas terras, desde que não transfiram a pos-
grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, se das mesmas e nem alienem definitivamente o uso ou fruição de
pesca ou coleta defrutos, assim como de atividade agropecuária suas riquezas naturais.
”
ou extrativa.
Garinipagein pelos próprios índios
Denlro do conceito de usufruto exclusivo, entretanto, há que se
A garimpagem pelos próprios índios é expressamente permiti-
fazer distinções entre o uso de recursos naturais para o atendi-
da pelo Estatuto do índio:
mento de necessidades internas de uma comunidade indígena,
segundo seus usos, costumes e tradições, e a produção de exce- “Art. 44 - As riquezas do solo, nas áreas indígenas, somente
dentes para comercialização, ainda que vise a sua própria subsis- pelos silvícolas podem ser exploradas, cabendo-lhes com ex-
tência. Sobre esta distinção, leciona Carlos Frederico Marés de clusividade o exercício da garimpagem, faiscação e cata das
Souza Filho (em seu livro “O Renascer dos Povos para o Direito") que: referidas áreas".
“
0 usufruto de suas terras (indígenas), segundo seus usos, cos- A Constituição Federal promulgada em 1988 manteve o usufruto
tumes e tradições, implica a possibilidade de, sem restrições, exclusivo das comunidades indígenas sobre os recursos do solo,
utilizar os bens e recursos da área. Portanto, os indígenas po- conforme já explicitado. Portanto, o Art. 44 do Estatuto do índio
dem fazer roça, aldeia, extrair lenha e alimentos para o uso da foi por ela recepcionado e mantido. É evidente a distinção entre o
comunidade, sem qualquer restrição, porque restrições impos- tratamento constitucional conferido à mineração e ao garimpo. A
tas administrativamente ou por lei, implicariam inconsti- Constituição trata as duas atividades de forma diferenciada, refe-
tro de terras indígenas. Nenhuma das disposições constitucionais sob a forma de manejo florestal sustentável e proíbe o corte e a
que procuraram legitimar o garimpo organizado se aplicam às ter- comercialização de determinadas espécies.
ras indígenas, por expressa ressalva constitucional. Salienta-se, finalmente, que a exploração florestal realizada por
As terras indígenas foram expressamente excepcionadas e excluí- terceiros em áreas indígenas viola flagrantemente o direito de usu-
projeto de lei que institui o Estatuto das Socie- ras indígenas, a proposta do governo acrescen-
dades Indígenas, em substituição à Lei n" 6001/ ta um capítulo dispondo sobre o aproveitamento
TRAMITAÇÃO DO ESTATUTO 73, o Estatuto do índio, o governo federal fina- de recursos hídricos e potenciais energéticos,
DO ÍNDIO SERÁ RETOMADA lizou discussões internas e apresentou a sua que detalha disposições específicas a respeito,
proposta alternativa ao projeto cie lei formula- enquanto o projeto da Câmara se limitava a apli-
Os líderes partidários da Câmara dos Deputa- do por uma comissão especial da Câmara dos car à questão, no que couber, o disposto em
dos decidiram adiar para o dia 18 de abril a Deputados a partir de um substitutivo do seu relação à exploração de recursos minerais.
votação do recurso que impede a continuidade relator, deputado Luciano Pizzatto (PFL-PR). Quanta à regulamentação da pesquisa e lavra
da tramitação do Projeto de Lei do Estatuto das
A proposta do governo, intitulada “Estatuto do mineral, a proposta do governo fortalece a via
Sociedades Indígenas. Trata-se de um índio e das Comunidades Indígenas", foi apre- da licitação, garantindo aos portadores de re-
substitutivo, assinado pelo deputado Luciano
sentada hoje pelo presidente da Funai, Carlos querimentos de pesquisa mineral protocolados
Pizzatto (PFL-PR) que jaz na mesa da Câmara Marés, às lideranças indígenas que participam
,
no Departamento Nacional de Pesquisa Mine-
desde 1994. O adiamento foi proposto pela li-
da marcha de prolesto contra as comemorações ral antes de outubro de 88 apenas a vantagem
derança do PT nu Câmara dos Deputados, de- dos 500 anos de colonização do Brasil e se en- para fim de desempate no processo de licita-
putado Aloizio Mcrcadante (PT-SP), e contou
contram reunidas nas proximidades do Monte ção, enquanto o projeto da Câmara lhes atribuía
com o apoio dos cerca de 400 índios que com- Pascoal e do da Bahia.
iiloral sul direito de prioridade, liberando-os da licitação.
punham a Marcha Indígena 2000, presentes
O texto do governo, com 130 arligos, adota ba- A proposta do governo desenvolve de forma mais
ontem ao auditório Nereu Ramos, da Câmara
sicamente a mesma estrutura de títulos e capí- extensa a questão do exercício do poder de
dos Deputados,
tulos e o mesmo espectro temático do projeto polícia pelo órgão indigenista federal na prote
A decisão havia sido tomada anteontem tace à
que tramita na Câmara, mas apresenta modifi- ção do património indígena, estabelecendo
confirmação, pelo b'der do governo na Câmara,
cações importantes quanto ao seu conteúdo e multas e outras sanções cuja especificação em
deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), de que
tratamento conceituai. O texto não contempla lei vem sendo exigida por decisões dos tribu-
a Casa Civil da Presidência da República estaria
o conceito de sociedade (ou povo) indígena, tomando como parâmetro dis-
nais superiores,
prestes a fechar uma outra proposta e enviá-la
que, no projeto da Câmara, dá sentido e unida- posições constantes da Lei de Crimes
à casa. Pelo menos desde o segundo semestre
de às comunidades indígenas que integram uma Ambientais, também promulgada recentemen-
do ano passado o Executivo federal tenta pro-
mesma organização social e compartilham lín- te. Porém, garante a atribuição das comunida-
duzir um texto para ser lançado na Câmara na
gua, costumes e tradições comuns. des indígenas em autorizar o ingresso de ter-
conjuntura dos 500 anos, mas até ontem nada
Os capítulos referentes à assistência à saude e à ceiros em suas terras, hoje em mãos da Funai,
havia sido formalmente apresentado. Entretan-
educação foram bastante reduzidos em relação que passa a ser apenas comunicada.
to, na audiência que lideranças indígenas tive-
ao projeto da Câmara, em vista da existência de No que se refere às terras indígenas, a proposta
ram no Palácio do Planalto ao final do dia, o
outras disposições legais promulgadas mais incorpora os prazos de audiência a terceiros
presidente Fernando Henrique afirmou que a
recentemente, como as constantes da Lei de nos processos administrativos de demarcação
proposta do governo lhes seria apresentada hoje.
Diretrizes e Bases da Educação e de outra lei constantes do Decreto n“ 1775, que instituiu o
Na semana passada, um acordo de lideranças
específica sobre saúde indígena, também co- chamado contraditório. Porém, preserva os dis-
havia decidido que a votação do recurso que
nhecida como Lei Arouca, aprovada no ano pas- do projeto da Câmara que especificam
positivos
paralisou a continuidade da tramitação do
sado pelo congresso. as condições para a participação dos índiòs na
substitutivo do deputado Pizzalto ocorreria on-
Os capítulos relativos aos direitos culturais in- identificação e demarcação das suas terras.
tem, dia 14 de abril. Paraleiamente, seria apre-
sentado um requerimento de urgência para a
dígenas também foram reduzidos a um único, Assim como o projeto da Câmara, a proposta
“patrimônio cultural", que preserva, no entan- do governo revoga o instituto da tutela da União
tramitação do texto obstruído. Os parlamenta
to, princípios básicos de proteção a estes direi- sobre os índios, de que trata o Código Civil e a
res, então, teriam cinco sessões para votar o
novo texto, se houvesse apresentação de emen- tos, incluídos os conhecimentos tradicionais Lei ri
1
ficiente. Diante desta circunstância e face à con- posta assegura o direito de usufruto exclusivo caráter tutelar ao órgão indigenista especifica-
14/04/00) penais é mais restrito que o constante do projeto Câmara, no geral, acabam por conferir uma
da Câmara, não acolhendo novas tipificações de maior ênfase nas questões econômicas,
GOVERNO ELABORA crimes contra os direitos indígenas e reduzindo patrimoniais e negociais. Ficam ampliadas as
PROPOSTA PARA O ESTATUTO penas, de modo a adequá-las aos parâmetros do condições de interveniência do órgão
Código Penai. Ficam mantidos us critérios cultu- indigenista federal e reduzidas as atribuições
Proposta, que se intitula “Estatuto do índio e rais na atribuição de penas e de atenuantes no caso extra judiciais do Ministério Público Federai em
das Comunidades Indígenas”, foi entregue peio dos crimes praticados por índios. relação aos direitos indígenas.
presidente da Funai hoje aos índios reunidos Aproveitamento econômico - Por outro lado, A proposta do governo reafirma o caráter per-
em Monte Pascoal. além de manter os capítulos referentes à explo- manente dos direitos indígenas inscritos na
Constituição de 1988 e, assim, os regulamenta ÍNDIOS FAZEM PRESSÃO representantes dos povos e organizações indí-
e os consolida. Porém, não tem a grandeza de PARA MUDAR ESTATUTO genas do País para discutir o conteúdo de uma
reconhecer a unidade das organizações sociais "proposta alternativa”, preparada pelo Execu-
indígenas, atribuindo às comunidades indíge-
Os chefes indígenas não aceitarão que um tivo Federal.
sos Hídricos da bacia, pela definição dos meca- teresses na bacia. Devem estar representadas tam-
0 JURISTA CARLOS FREDERICO MARÉS DE ca. Inclusive, ele foi advogado de presos políticos, Foi ele que ad-
SOUZA FILHO, 25° PRESIDENTE DA FUNAI, vogou em meu favor, para a minha volta ao Brasil. Ele que me
RELATA AS VICISSITUDES E LIÇÕES APÓS CINCO recebeu em São Paulo. Então, qualquer convite que viesse do José
MESES DE GESTÃO À FRENTE DO ÓRGÃO PÚBLICO Carlos, eu analisaria... A abertura que o José Carlos deu foi total.
Ele queria que a Funai funcionasse. Havia uma história que a Funai
FEDERAL MAIS DESPRESTIGIADO DO PAÍS
estava muito mal, que estava prevista até a sua possível extinção...
lutamente fora...
O convite partiu do
ministro da Justiça
GapyriQhtedm
"
DOS 13 PONTOS
Da “agenda positiva " prer lamente negociada com o governo, o que foi possível fazer em 5 meses, segundo Marés
I. Promulgar, até abril de 2000, uma nova lei reguladora das relações dos 1. “0 Estatuto do índio estava encalhado na Casa Civil. Puxamos a discus-
povos indígenas com o estado-sociedade brasileira, substituindo o atual são para o Ministério da Justiça. Foi uma discussão extremamente dura,
Estatuto do índio ( lei 6001/73) e superando o parâmetro tutelar em que até porque a Casa Civil queria baixar uma qualidade
o Estatuto do índio para
o momento se assentam essas relações. Há um projeto de lei (2057/91) em anterior ao estatuto atual, até que, numa conversa com o próprio FHC, ele
tramitação na Câmara dos Deputados, visando instituir o Estatuto das So- perguntou para o Pedro Parente, na minha frente, como estava indo o esta-
ciedades Indígenas, já aprovado em Comissão Especial e pronto para ser tuto e ele respondeu que estava indo muito bem... Eu cortei a conversa di-
votado em plenário. Foi colocado em pauta em abril deste ano e pouco de- zendo que estava muito atrasado e que esse compromisso não se cumpriria.
pois retirado a pedido da Casa Civil,que se propôs a apresentar uma pro- Ele me perguntou o por quê e eu disse que o homem quefaz as leis na Casa
posta de governo a curto prazo. Civil, chamado José Bonifácio Andrada, impedia. Então ele disse que ia tro-
car e de fato colocou um outro interlocutor, Eduardo Graeff. A discussão
melhorou, mas continuou muito dura e, na verdade, ela só saiu do papel,
porque o presidente se comprometeu com os índios no dia 13 de abril, no
encontro com as lideranças, que entregaria uma proposta de estatuto na
conferência de Porto Seguro. Usando esse argumento, eu pressionei a Casa
”
Civil e entreguei o Estatuto aos índios.
2. Concluir o processo de ratificação legislativa da Convenção 169 da Orga- 2. "A ratificação da Convenção 169 andou ainda menos que o Estatuto, pois
nização Internacional do Trabalho relativa aos Povos Indígenas e Tribais dependia do Congresso e o governo não mexeu uma palha, aliásfez quest '
em Países Independentes, já efetivado no âmbito da Câmara e das comis- de não mexer e sempre colocava como uma discussão para depois do Esta-
sões do Senado, pendente de votação final em plenário. tuto. ”
3. Constituir, no âmbito do Ministério da Justiça, um Conselho de Defesa 3 “A discussão de um Conselho de Defesa dos Direitos Indígenas foi em
dos Direitos Indígenas, presidido pelo min istro de Estado e secretariado pelo tomo daforma de composição. A primeira idéia era de personalidades, que
presidente da Funai, composto por representantes de órgãos governamen- representassem a visualização internacional da política indigenista, o que
tais tais como os Ministérios da Saúde, Educação, Meio Ambiente, Defesa, era muito ruim. Total ausência de índios. Além do mais era preciso ter algu-
Orçamento. Política Fundiária e Agricultura, e por representantes de orga- mas pessoas ligadas à causa indígena e não só vaca sagrada... Muito cedo
nizações indígenas e de apoio aos índios, com competência para definir e me dei conta que esse Conselho que imaginávamos dar respaldo ao presi-
acompanhar os rumos da política indigenista no Brasil. dente da Funai era uma coisa inviável. Faltou vontade política de cima. *
4. Formular e implantar, gradativamente, a partir da estrutura da Funai, 4. “Os chamados programas regionais eram o centro de uma proposta para
um sistema de programas integrados de ação governamental por regiões -
uma nova política pública indigenista. Na verdade, mostrou-se que a pro-
"Programas Regionais " - visando desenvolver novos modelos de política posta é possível e positiva. 0 que aconteceu, porém, é que os programas
indigenista a nível local-regional, iniciando pelas regiões em que haja maior regionais precisam de tempo de implementação. Imaginávamos que rapi-
organização do movimento indígena, promovendo instâncias de represen- damente seria possível estabelecer alguns programas regionais, quejá esta-
tação junto ao Estado brasileiro, com os primeiros programas formulados vam maduros, como no alto Rio Negro, no Amapá, em Roraima e no Acre.
até abril de 2000. Mas eu tinha de resolver problemas mais imediatos, como o problema
xavante, o programa que mais avançou. Não conseguiu fazer um programa
regional no MS. 0 programa regional não serve apenas para resolver proble-
mas nas regiões mais maduras, mas também naquelas que têm velhas polí-
ticas deformadas.
.5. Articulação dos Programas Regionais com os Distritos Sanitários Especi- 5. “0 grande problema tia transferência da assistência da saúde indígena
ais Indígenas e com a política de atenção à saúde indígena recém da Funai para a Funasa foi a transição. Escolheram a pior transição possí-
reformulada pelo governo federal. vel. Foi desastrosa, possibilitou uma onda de críticas no sentido de que isso
ia acabar com a Funai. Porque realmente, a proposta foi mais ou menos
essa. Entregaram todos os carros todos os aviões... A saúde
, nem precisava.
A transição foi malfeita e equivocada. ”
6. Intensificar o processo de demarcação das terras indígenas, que já se 6. A Raposa/Serra do Sol foi a grande sacanagem do governo FHC. Durante
encontra em fase adiantada mas momentaneamente em ritmo lento, e pro- todo o tempo em que estive na Funai fui enganado a respeito. Pequenos
mover a homologação da TI Raposa/Serra do Sol - principal demarcação logros. Na verdade, o FHC não quer enfrentar os políticos de Roraima, não
pendente de conclusão - através de decreto presidencial (processo de ho- quer perder os votos. Esse é o problema. Mas também não queria perder a
mologação encaminhado pela Funai se encontra no Ministério da Justiça). oportunidade de fazer uma boa política indígena. Falei três vezes pessoal-
mente com o FHC sobre essa terra e as três vezes eu fui ludibriado. Na quar-
ta vez, numa conversa com os índios, ele respondeu que havia sido feita
uma comissão para discutir. E a comissão era o Gol. Cardoso. Na verdade,
ele não quer. E eu linha claro que, mesmo sobrevivendo ao 22 de abril, eu teria
apoio às garantias dos conhecimentos tradicionais dospovos indígenasfrente tual está na proposta do Estatuto das Sociedades Indígenas e outra, minha,
à ameaça de patenleamento e para a proteção dos direitos coletivos de au- é a de habilitar o Museu do índio para ser o depositário da cultura imaterial
tor e de propriedade intelectual. individual e coletiva das sociedades indígenas. Isso foifeito. Isso dependeu
menos do governo, foi o que a gente queria fazer e fez .
8. Propor ao MPF que assuma integralmente a defesa judicial dos interesses 8. “0fato de o MPF assumir a defesa desses direitos coletivos dos índios era
indígenas, instado diretamente petos povos indígenas ou peta Funai. uma questão de ampliação da sua ação. Isso avançou bastante, mais em
função do meu relacionamento direto do que institucionalmente. A propo-
sição do governo é tratar as questões administrativas da Funai como ques-
tões públicas e federais e, portanto, defendidas pela Advocacia Geral da
União .
9. Definir uma política nacional de apoio às iniciativas indígenas e pró- 9. “A única coisa que avançou explicitamente foi sempre nomear índios
indígenas junto à OEA. ONU, OIT e outros organismos e foros internacio- para os encontros internacionais, como na reunião que tratou da Conven-
nais, em especial à declaração dos direitos indígenas da OEA e do Fundo ção da Biodiversidade em Sevilba. Fiz contato com todos os organismos in-
Indígena, com aceitação de representação oficial dos índios brasileiros tias ternacionais. Mas isso precisava de mais tempo. Já tinha dado passos, tanto
instâncias pertinentes. nos organismos internacionais quanto intemamente, no Itamaraty. Eu che-
guei à conclusão que o Itamaraty é um órgão muito complicado de conver-
sar, tem uma hierarquia muito fechada. Tem que conseguir muito apoio
para mudar qualquer política internacional .
10. Constituir grupos de trabalho em conjunto com os países vizinhos para 10. "A única coisa que eu consegui fazer foi visitar praticamente todos os
estudar soluções para as questões de nacionalidade, de direitos e interesses comandantes militares de fronteira e abrir a discussão sobre os povos que
dos povos que vivem nas regiões de fronteira. vivem nessas regiões. 0 que me surpreendeu foi a receptividade entre os
comandantes militares, que se dão conta que é preciso ter uma política
indigenista correta e positiva na fronteira. Principalmente fxira que as po-
pulações indígenas vejam o Brasil com simpatia.
11. Incluir as demandas indígenas nos fundos e programas governamentais 11. “A única coisa que avançou foi no Ministério da Saúde, além da inclu-
defomento, como o Pronaf (Ministério da Política Fundiária), e ampliar a são do Pronaf indígem e alguns fomentos estaduais. Por exemplo, a pers-
interface indígena com o PPG7, Programa Piloto para a Proteção das Flores- pectiva de um programa regional guarani no Mato Grosso do Sul,
tas Tropicais Brasileiras (Ministério do Meio Ambiente) ampliando-a para
,
12. Manter a Funai livre de ingerências político-partidárias quanto a no- 12. "Essa foi total, pois era uma condição da administração.
meações para funções de confiança assegurando ao seu presidente ampla
.
13 Assegurar cobertura financeira com periodicidade definida pelo Tesou- 13- "A cobertura financeirafoi conseguida através de uma conversa pessoal
ro Nacional, através do Ministério da Justiça, aos empenhos orçamentários com o FHC, que se comprometeti no ano 2000 a lilferar tudo o que pudésse-
realizados pela Funai garantindo-lhe o
,
máximo de autonomia possível e mos gastar Ele dizia que a Funai era um poço sem fundo. A primeira pro-
isentando o seu orçamento de eventuais contingenciamentos. posta que fizemos foi de dinheiro para a indenização das ocupações, das
benfeitorias de boa-fé, principalmenle das áreas do Nordeste e do MS. Isso
somava algo em torno de R$ 150 milhões, prometidos para o ano 2000. 0
problema real que aconteceu nos três primeiros meses é que não tinha or-
que não sofreu uma "xavantada". O que você fez mais con- Claro! A dificuldade que ele teria seria uma disputa étnica. Algu-
cretamente em relação aos Xavante? mas etnias não aceitam outras. Ao contrário disso ser um proble-
O problema xavante é o extraordinário equívoco das pofrticas
ma, isso seria uma solução. Inclusive a existência de um conselho
adotadas no passado, paternalismo, entrega de postos... Cada
de indígenas, um grande congresso nacional indígena com repre-
sentantes de todos os povos, o que é meio difícil de conceber...
bordunada era respondida com presentes, o que aprofundava dis-
para os Xavante e que
mas uma coisa desse tipo é o caminho...
putas internas, divisões... A proposta que fiz
cussão que eles mesmos fizessem, que as decisões e os pedidos O grande problema é que se depende dos governos estaduais que
fossem aprovados em conselhos xavante nas aldeias. Isso come- tenham uma sensibilidade com as questões indígenas. Naqueles
çou a ser aceito. Inicialmente, era muito complicado. Os Xavante que tinham essa sensibilidade, os projetos andavam e avançavam.
tivos, já com o AP, que eu tinha grandes expectativas, não tive tem- que demiti-lo. Então, cm deferência, mandei uma mensagem para
po de aprofundar. E isso se explica pelo fato de MS e RS terem ele dizendo que teria que demiti-lo. Era uma questão meramente
problemas gravíssimos e urgentes. administrativa interna e dentro do meu conceito de administração
pública. Acho que não existe dentro da administração pública nin-
E o papel das ONGs na política indigenista? guém intocável. E se alguém for intocável, saio eu. A polêmica toda
Uma política pública indigenista, assim como ambientalista, se ela foi criada por interesse político subalterno. Quando mandei o fax
não conta com um diálogo com as ONGs - eu não diria parceria, não o demitia, mas avisava que ele estava numa situação complica-
porque a ONG deve ter uma visão crítica e o parceiro não é o da e que seria demitido. A demissão saiu no Diário Oficial da União
crítico -, a política pública não vai conseguir emplacar. Por uma dias depois. A direita interceptou essa informação intemamente
razão bastante simples, porque toda visão que um administrador na Funai e jogou na imprensa, Esse é um típico fato criado para
público tem, especialmente federal, é deformada. O espelho que tentar a minha desmoralização. O Villas-Bôas me ligou numa sex-
corrige a deformação tem de ser a sociedade civil organizada. Não ta-feira, dia que recebeu o tal fax, eu estava no alto Solimões e ele
tem de cumprir um papel crítico, não Quem fez a armação contra você?
precisa ser meiga...
Tem nome e sobrenome. Chama-se
Andréa Matarazzo [secretário de comu-
Você foi identificado com o ISA?
nicação da Presidência da República].
No começo, esse peso era grande. As Ele que incentivou a imprensa a fazer isso.
pessoas me viam como um agente do ISA Eu pedi para o José Carlos Dias ligar para
para destruir a Funai internamente. Mas o Andréa Matarazzo e avisá-lo que se con-
isso foi rebatido muito rapidamente por algumas pessoas de muito tinuasse eu diria publicamente o que ele estava fazendo. E aí, mor-
peso dentro da Funai e que não têm essa vinculação. Em Roraima, reu um pouco o assunto. Se o presidente da República estava tão
eu era visto como o demônio do ISA que estava lá para destruir o interessado em manter o Villas-Bôas, poderia me dar uma ordem
governo. Nunca me trataram como governo, mas como ISA. Agora, expressa para não demiti-lo ou simplesmente me demitir, o que
dentro do governo federal, isso não tinha peso algum, era só dis- seria a mesma coisa. Eu ia partir para o ataque naquele momento.
curso de alguns setores de roraimenses. A oposição que eu tinha E aí parou. Se eu estava errado, porque não me demitiram? Até
era estritamente política, era a direita do governo que queria me então o Villas-Bôas não estava demitido. Era o momento. O que
ver queimado. aconteceu foi uma mistura de interesses, eu já tinha demitido mui-
ta gente e desagradado uns quantos políticos, especialmente do
Você teve apoio do ISA ?
PFL. Inclusive do Paraná, que estavam fazendo força para me der-
Minha relação com o ISA-Brasília, especialmente com o Márcio rubar. Ninguém tinha coragem de sair em público e defender um
Santilli, não poderia ter sido melhor. Foi uma relação de apoio coronel ou um fantasma desconhecido, então pegaram o mote do
franco. O ISA-São Paulo tinha algumas discussões lotalmente fora Villas-Bôas. Acho que houve uma ordem do presidente mandando
do eixo que eu imaginava como, por exemplo, no episódio Villas- parar com a história, porque se continuasse acabaria sobrando
Mas, qual o contexto em que você assinou o polêmico fax Mas a mídia enfatizou que demitir Orlando Villas-Bôas por
demitindo Orlando Villas-Bôas? fax era demais...
Eu comecei fazendo uma limpa nos cargos comissionados. Alguns Isso não era bem verdade. É uma barbaridade. Se é um fax ou um
não apareciam e outros estavam totalmente deslocados. Demiti um telefonema não faz nenhuma diferença. Quando ele saiu na im-
coronel da polícia militar e uma parente próxima de um alto esca- prensa dizendo que foi demitido por fax, eu não tinha mais o que
conversar com ele. A demissão sai sempre no Diário Oficial da A primeira observação que pude fazer é a mais óbvia: os proble-
União, enquanto não sair é apenas aviso do que vai acontecer. Man- mas indígenas estão fora da Amazônia. Acho que a Constituição de
dei o fax avisando que ia demitir, como ele estava irregular, o fax 1988, quando definiu os direitos indígenas, avançou muito para
tinha o sentido de dar a possibilidade dele se demitir, é o que faria evitar o que foi feito com os índios fora da Amazônia... Antes de
qualquer pessoa. Eu recebi centenas de mensagens de apoio e 88, a demarcação das terras indígenas era uma benesse do Esta-
pouquíssimas críticas, algumas nem enviadas a mim. Praticamen- do. Depois de 88, as áreas são demarcadas por direito indígena.
te todas as críticas, fora as da imprensa, foram de gente ligada ao Antes não havia direito. Isso ocasionou todas as demarcações das
ISA. Pessoas que não vinham enfrentar a discussão comigo, só ali- áreas fora da Amazônia. Não foram direitos, foram concessões de
mentavam a coisa de jornal. O resto das pessoas me mostrou apoio. terras aos índios. Isso gerou a grande dificuldade dos índios fora
Recebi apoio de muitos índios. da Amazônia. Na Amazônia, se discute se o índio tem ou não direi-
to à terra. Muda o enfoque da discussão.
Para a opinião pública brasileira, fora do mundo restrito
do indigenismo, Orlando Villas-Bôas é identificado com Efetivamente, as demarcações estão sendo feitas antes da fronteira
os direitos dos índios... Além disso, às vésperas da sua agrícola chegar, isso também deternúna a possibilidade de garan-
posse, você aceitou um almoço amigável com ele, por ini- tir esses direitos. É isso que deve ser feito... A política do não-
ciativa do ISA, e convidou-o para acompanhá-lo ao Xingu. direito é a política da concessão, no chegar da fronteira agrícola.
Você não acha que deveria ter ponderado isso na maneira Dentro da Amazônia, podem vir a acontecer grandes problemas.
to mal organizado, porque o orçamento da União é muito mal or- na reunião dos índios com o Fernando Henrique, no Planalto. Na
ganizado. A União criou um plano estratégico, uma nova véspera, José Carlos Dias tinha saído do Ministério. Mas já estava
metodologia, influência da reengenharia, qualidade total que aca- marcada uma reunião em que eu e o ministro iríamos ao Congres-
ba piorando profundamente o orçamento público. 0 orçamento so, acompanhar os índios e depois haveria uma reunião com o
da Funai é um orçamento ruim porque é pequeno, mal direcionado, FHC, que receberia 12 líderes indígenas enquanto os demais fica-
mas muito fácil de arrumar. É questão de vontade política, se o riam ali na praça da Esplanada, esperando a aparição do presi-
presidente da República quiser, ele arruma. Temos de nos dar conta dente na sacada. Isso era o combinado. Ele viria na sacada, com as
é que o orçamento da Funai, fora o pessoal, esse ano de 2000 era lideranças, dava um alô, e se recolhia. Seria uma cena para a im-
na ordem de Rí 40 milhões. Eu pedi para o FHC botar mais RÍ prensa internacional. E além disso, ia receber os índios lá em Por-
150 milhões, tenho consciência que esse valor era loucura, por- to Seguro, no dia 22. iam entregar um documento para ele.
que não tinha capacidade de gasto. Acho que se a Funai gastasse
metade já estava bom. O problema é saber que política vai ser Mas a combinação estava aceita pelos índios?
aplicada ao orçamento e que transparência vai ter o orçamento.
Havia muita divergência interna entre os índios, evidentemente.
Quais as observações sobre a cena indígena que você fez Havia toda uma discussão. No dia 13 pela manhã houve a cena no
nas suas viagens pelo Brasil? Congresso. O senador Eduardo Suplicy conseguiu trazer o presi-
denie do Senado, Antônio Carlos Magalhães, que então levou aquela entendeu. O Davi olhou para ele, e disse algo como, eu só estou
flechada no nariz. O José Gregori, ministro da Justiça já nomeado dizendo que nós queremos o Marés como presidente da Funai.
em substituição ao José Carlos Dias, demonstrou um medo Então ficou uma coisa esquisita. O Nailton Pataxó, que não é trou-
desesperador dos índios. Ele tinha medo, e não queria mais que xa, viu a situação, deixou passar a vez dos dois e voltou a falar,
houvesse a reunião dos índios com o presidente. Mas como a reu- “Presidente, eu só quero dizer o seguinte: os pataxó têm sofrido
nião já estava marcada, ele queria, de algum jeito, eliminar ou muito. . . e o único presidente da Funai que tem tido um compor-
simplificar. E a reunião foi totalmente transformada. Primeiro por- tamento ao lado dos índios, que a comunidade gosta, que o meu
que não quiseram que eu fosse. Ele pediu para eu não ir. Daí eu povo quer é o Marés, então a gente quer que ele seja mantido
disse assim: se eu não for você está me demitindo. Então ele quis como presidente". Daí o Fernando Henrique disse para o Nailton:
que eu fosse. Daí eu fui. A reunião foi de uma tensão...! A sensação “O problema de escolha do presidente da Funai é meu!". Então o
que eu tinha é que nós iríamos ser todos presos. A impressão que Nailton Pataxó vira para ele e diz: “O problema é seu, mas o sofri-
eu tinha era a de ter entrado no quartel do inimigo. Era uma coisa mento é nosso”. E eu ah, eu estava sem graça. Parecia que eu tinha
clean, não tinha um quadro na parede. Não tinha nada, tudo clean mandado os índios falarem.
No Palácio do Governo, no Planalto. Com seguranças, uma sala A segunda vilania aconteceu quando falou uma liderança macuxi
grande, não tinha cadeiras, nada. Os ín- que estava lá e pediu a demarcação da
dios paradinhos no meio, os guardinhas Raposa/Serra do Sol (RR) Aí o Fernando .
nos cantos. Todos com uma cara de que Henrique fala que quanto à “Raposa" as
lhadores e passar fogo. Um clima Yanomami) Você teria que montar uma comissão para ten-
indescritivelmente tenso. Entra o “O que a comissão
gostaria que eu tar resolver: decidir,
fotógrafo, nada! Daí o Orlando olhou para o presidente e começou concordarem com estes três pontos então está pronto. Pode sair
a falar: “Olha, nós estamos aqui"... E soltou o verbo indígena. Con- amanhã ou depois, O presidente disse, então, que quando os índi-
versa vai, conversa vem. “Eu estou aqui com os meus parentes, os estivessem lá em Porto Seguro, o presidente da Funai levaria o
estou representando, não sei o que”... Passaram-se dez minutos. Estatuto para eles verem.
começou a sentir que o Fernando Henrique se soltou, começou a medo! Mas a conversa foi boa, falou todo mundo, o presidente
falar, se metia no meio, dava palpites. E aí lodos falaram. Foi uma falou, deu risada. . . E depois a gente soube pelo pessoal do Palá-
conversa ótima, distendida, alegre, com um toque, aliás, dois to- cio que FHC ficou feÜz com a reunião. Tão feliz que achou que não
ques de vilania. O primeiro foi depois da fala do Davi Yanomami . . iria haver problemas em Porto Seguro. Isso gerou uma nefasta
Ele disse: “Presidente, quero dizer que nós estamos sofrendo. . declaração do José Gregori para a imprensa, no dia seguinte, quan-
queremos que o senhor resolva o problema dos Yanomami . . . mas do ele disse: “Eu acho que é preferível a gente falar com os índios
para resolver o problema dos Yanomami nós queremos que o se- do que com os amigos dos índios”. Alguns dias antes dessa reu-
nhor mantenha o Marés na presidência da Funai, porque esse é o nião, a Polícia Militar da Bahia tinha derrubado o monumento que
presidente amigo dos índios”. E o Fernando Henrique vira para os índios estavam erguendo na área indígena, então a tensão esta-
ele, com grosseria, e diz: “Você gostaria que eu indicasse o caci- va toda à flor da pele e ainda por cima o Henrique Suruí meteu a
que da sua tribo?". Ele falou isso para o pobre do Davi, e este não flecha no nariz do senador ACM.
positiva? numa conjuntura difícil? Não fazia sentido. Eu tinha que acompa-
nhar aquele momento e ver o que aconteceria para frente. Ver se
Na verdade, a partir do dia 13 de abril, o ministro da Justiça me
eu conseguiria dar a volta por cima. Eu imaginava que ele ia me
isolou totalmente! Eu não falava nem com o porteiro do Ministério
demitir e escolher alguém de sua confiança, mas não, eu pedi de-
do Turismo, que a essa altura coordenava o programa da come-
missão depois da agressão de Porto Seguro e ele não tinha nin-
moração oficial dos 500 anos do Brasil em Porto Seguro, na Bahia.
guém para por no lugar, levou 20 dias para conseguir alguém,
Até esse dia, a Funai tinha o papel de principal interlocutor entre
andou convidando alguns amigos meus que não aceitaram.
com o Ministério do Htrismo e a área de segurança, para resolver
não falou comigo! Ele não falou comigo polícia mesmo. Mas eu não imaginava
a partir dessa reunião do dia 13. Nessa que fosse botar polícia naquela circuns-
reunião ele não havia tomado posse ain- Não fui com uma tância. Eu ainda pensava que a gente po-
da. Ele era ministro mas não tinha toma- deria reeditar o cenário proposto no co-
do posse oficialmente. No dia seguinte ele
agenda positiva meço, que era aquela história toda e,
tomou posse, e evidentemente eu fui até a Porto Seguro. depois, um grande happy end com o
lá. Quando eu fui cumprimentá-lo foi
A minha vontade Fernando Henrique recebendo os índi-
algo, assim, grotesco. Estávamos no mes- os. Então eu fui para Porto Seguro nessa
mo barco, queria dar os meus parabéns
demissãt expectativa Eu não fui propriamente com
e desejar felicidades. Quando eu estiquei uma agenda positiva, mas tentando enfi-
a mão, ele disse: "Eu não posso falar com ar goela abaixo do governo uma agenda
você agora, mas eu te chamo”. Mas é cla- positiva.
falar comigo. Durante todo o período eu não consegui falar com que ia ser uma coisa boa, apesar da situação extremamente tensa
o ministro? nar. Mas a minha agenda era de impor uma agenda positiva.
Eu falei com ele no dia 19 de abril, Dia do índio, num evento que
Estando em Porto Seguro, houve um momento em que você
houve na sede da Funai em Brasília. E ele foi até lá fazer um discur-
chegou a fechar uma negociação que viabilizaria o encon-
so. E foi o discurso mais sensacional que se pode imaginar. Ele
tro dos índios com o presidente?
elogiava a política indigenista do governo. Disse que era a primei-
ra vez que os índios estavam a favor do governo. E não se referia a Sim, eu conversei com os assessores do FHC e do gal. Cardoso.
mim. Dava a entender que eu não tinha nada a ver com aquilo, que Conversei com eles, eles me deram todos os telefones... caso acon-
eu era contra aquela política! Naquele dia ele fez o discurso e foi tecesse alguma coisa. Eu fui negociar esse encontro com os índi-
embora correndo e me disse, de novo, que não poderia falar co- os. Fui conversar com os índios que, entretanto, tiraram em as-
migo e que me chamava depois. Eu disse que o dia 22 estava aí. sembléia que não queriam fazer esse encontro com o Fernando
Depois de um "pois é”, ele foi embora. Então não falei com mais Henrique. Tudo isso lá na Bahia. Fui na Conferência Indígena e
ninguém. Portanto, não com uma agenda positiva a Porto Segu-
fui falei no encerramento.
ro. A minha vontade naquele momento era pedir demissão. Eu
estava vendo que eu estava afastado. Aí eu ponderei com algumas
pessoas e a posição que eu entendi como a mais correta, naquele
que eu gostaria de relatar mais detalhadamente. Quando cheguei, vam se fortalecendo. E havia um reposicionamento de todo o mo-
na manhã seguinte, já tinham prendido um monte de gente, já ti- vimento indígena, que estava começando ganhar uma outra pers-
nha gente ferida... uma confusão! pectiva. Uma coisa sintomática dessa nova perspectiva era que essa
marcha, típica de liderança, recebeu adesões inesperadas, como a
Eu, o Ideputado federal] José Dirceu e a [senadoral Marina Silva
dos Xavante. Outra perspectiva foi dada pelos índios do Nordeste,
conversamos com o comandante da Polícia Militar que estava lá...
que estão cada vez mais se articulando, e se articulando de uma
Os índios tinham decidido que iriam marchar até Porto Seguro,
forma diferente. A repressão em Porto Seguro foi nesse sentido
independente do encontro com FHC. O policial disse que a ordem
devastadora para o movimento indígena. Vai ser difícil o movi-
era não deixar entrar em Porto Seguro. Eu lhe perguntei: "Quem
mento indígena se recuperar, sobretudo recuperar a sua esponta-
deu ordem? Autoridades superiores, o presidente da República?"
neidade.
Porque se fosse o presidente eu pedia para ele liberar. Não tinha
nenhum risco marchar até Porto Seguro. Era uma loucura da se- Depois dessa experiência na Funai, como ficaram as tuas
gurança, uma marcha de cinco horas! Então, eu fiz o seguinte trato convicções sobre o assunto?
com o comandante. Eu iria buscar a au-
torização para eles entrarem em Porto Eu acho que todas as idéias que eu tinha
Seguro. Mas eu não conseguia falar no A repressão em a respeito da questão indígena, do ponto
telefone. Como eu tinha crachá para en- de vista dos direitos coletivos e da minha
Porto Seguro foi
trar no lugar das autoridades, eu ia para perspectiva teórica, foram confirmadas
lá para conseguir a autorização, enquanto devastadora para o integralmente. Claro que eu tenho uma
os índios estavam na marcha. Foi esse o reflexão muito mais profunda hoje. Algo
acordo feito. Estava fácil. Mas os índios que deve ser mais refletido é o problema
andaram duzentos metros e veio a bate- da territorialidade. Sempre para mim, a
ria pesada da polícia atirando bombas. questão indígena foi ligada à
Eu não tive tempo nem de sair de Coroa territorialidade. Sempre que se falava de
Vermelha. Então foi uma traição da Polí- índio, localizava-se o território. Talvez
cia Militar ali, mas não foi só da PM, foi fosse um equívoco meu, talvez para os
também do governo. Eu saí marchando antropólogos isso fosse uma coisa muito
com os índios. Os Xavante estavam mui- fácil... Isso foi para mim uma novidade
to animados. A idéia era chegar lá e fazer uma festa. Eles queriam grande para a reflexão. Ver que é possível existir um povo que não
fazer uma festa para o FHC, eles queriam fazer uma festa para eles. está diretamente referenciado a um território, ou que o território
Os índios se sentiram naquele momento traídos mesmo! pudesse ser apenas uma questão ou nenhuma questão. Quando
saí da Funai, com essa coisa toda na cabeça, a primeira coisa que
A polícia abriu inquérito tentando responsabilizar você fiz foi ler sobre a questão cigana para ver exatamente como se
pelo que aconteceu... desloca do conceito de territorialidade. Talvez essa seja uma ques-
Recebi a notícia, por um jornal, de que eu não tinha tomado as
tão puramente teórica, sem muito valor político. Mas, enfim, do
ponto de vista teórico, a reflexão que eu fiquei devendo foi essa.
atitudes de pacificação necessária. Arquivaram rapidamente, não
prosseguiram com um inquérito da PM baiana (outubro, 2000)
a acusação. Esse foi
feito apenas para não punir o Comandante, não fui chamado nem
para testemunhar, quanto mais para me defender.
CONTRIBUIÇÕES DO ISA PARA A são apenas começava a chegar ao interior do país. Várias regiões
REESTRUTURAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS não eram ainda acessíveis por estradas. A maioria da população
FEDERAIS RELATIVOS À ATENÇÃO AOS ÍNDIOS rural era analfabeta e destituída de direitos efetivos. Grandes pro-
jetos económicos e de infra-estrutura apenas começavam a se im-
plantar na Amazônia, sob o signo da “integração nacional”.
Este texto resume idéias gerais para uma reestruturação dos ser-
O instituto da tutela é aplicado aos índios (ou “silvícolas”, como
viços públicos federais relativos à atenção aos povos indígenas. É
prefere o Código Civil) desde o inído do século e está cristalizado
um instrumento de discussão, com vistas a constituir propostas de
no Estatuto do índio (Lei 6001/73) como na lei de criação da
intervenção da sociedade civil e do movimento indígena num con-
Funai. Há 30 anos, embora boa parte dos povos indígenas já man-
texto de anunciada reforma do Estado. Parte do pressuposto de
tivesse contatos regulares com a sociedade/estado nacional, eram
que nenhum processo ou modelo de reforma pode atingir seus
relações comparativamente tênues, apesar das pressões históricas
legítimos objetivos finalísticos se não for capaz de articular-se aos
de colonização e de aculturação. A grande maioria da população
projetos de futuro próprios dos povos indígenas. Por outro Lado, a
indígena não falava português, o grau de isolamento geográfico
possibilidade de intervenção destes povos - e das suas organiza-
era infmitamente maior, não havia televisão nas aldeias, o poder
ções - neste processo, depende da sua capacidade de propor ru-
público estava distante (apesar de a Funai dispor de melhor estru-
mos e alternativas em tempo político real, no momento em que as
tura e recursos) e as frentes de expansão econômica, se já assola-
decisões de governo são tomadas. Pretendemos, com este texto,
vam terras indígenas, o faziam com intensidade bem menor.
oferecer a contribuição do ISA a esta discussão.
Atualmente, se por um lado ainda há algumas dezenas de grupos
indígenas isolados, por outro lado as comunidades e as suas lide-
ESGOTAMENTO DA TUTELA
ranças cncontram-sc em contato freqiiente c regular com inúme-
Em 998 a Funai
i completou 30 anos, o Estatuto do índio comple- ras agências de estado, federais, estaduais e municipais, com
tou 25 e a Constituição 10 anos dc vida. Temos uma legislação conírontantes, exploradores, pesquisadores, missionários, jorna-
infraconstitucional que precede em 15 a constitucional vigente, e listas, membros de organizações de apoio e representantes de or-
um órgão de estado que precede a ambos e que se define como de ganismos internacionais. A maioria das aldeias dispõe de equipa-
caráter tutelar. mentos de comunicação e transporte (embora em condições ge-
ralmente precárias), ouve rádio ou televisão, recebe visitas fre-
Os últimos 30 anos trouxeram modificações profundas na organi-
qiientes de terceiros ou convites para se fazer representar cm reu-
zação social e política de todos os povos. Houve extraordinário
niões ou eventos.
avanço nas comunicações, na informática, na biotecnologia e na
própria consciência dos povos em relação ao meio ambiente e aos O assédio de interesses econômicos sobre as terras indígenas se
direitos coletivos e difusos. O Brasil de trinta anos atrás era ainda generalizou. A própria Funai estima que 85% das terras indígenas
um país de forte predomínio cultural e econômico de base rural, sofre algum tipo de intrusão de terceiros, de forma permanente ou
submetido a governos militares de caráter autoritário, com inú- intermitente, com maior ou menor grau de consentimento por parte
meros bolsões de isolamento habitados por populações distantes das lideranças locais, sendo os intrusos, geralmente, garimpeiros,
dos centros de informação e dos meios de comunicação. A televi- madeireiros, posseiros, fazendeiros ou pescadores. Paralelamen-
ou gerais, e que em alguns casos mantêm vínculos com organiza- tratar e demitir funcionários, que poderiam dispor de unidades
ções indígenas internacionais, como a Coica, por exemplo. Houve operacionais ou projetos de área em quantidade e localização apro-
priadas a cada região.
enorme ascensão da temática indígena nos fóruns institucionais
nacionais e internacionais. Apesar da influência das organizações Os programas regionais deveriam ser formulados, implantados e
de apoio, funcionários públicos e de terceiros em geral, o administrados por um conselho regional, com poderes para deci-
protagonismo político das lideranças indígenas alcançou patamar dir sobre as programações anuais, propor os orçamentos anuais,
inédito e irreversível no contexto globaiizante deste final de sécu- avaliar o desempenho do programa e dos seus funcionários e indi-
lo. Sob certos aspectos, talvez possamos afirmar que as mudanças car nomes para a sua coordenação executiva. Não deveria haver
nas relações de contato havidas nestes últimos 30 anos foram mais um único modelo de gestão administrativa para todos os progra-
profundas que as dos 470 anos anteriores. mas regionais, podendo haver modelos alternativos, mais viáveis
Às vésperas do terceiro milênio, soa ridículo que índios sejam con- ou adequados às diferentes realidades regionais, especialmente
siderados “relativamente capazes" e, sobretudo, que um órgão de quanto ao nível de organização dos povos da região e a sua capa-
Estado seja tutor das 215 etnias que habitam o território brasilei- cidade de assumir o gerenciamento do seu programa em maior ou
ro, intermediando (autorizando e desautorizando) as inúmeras menor grau. Nos casos das regiões em que o nível de organização
relações de contato em que se encontram envolvidas. Por outro dos índios é incipiente, é maior o seu grau de dependência em
lado, a condição de tutelados cerceia a sua livre expressão políti-
relação à Funai, não há organizações de apoio em condições de
ca, a administração direta dos seus territórios, o seu acesso aos apoiá-los e são mais precárias as condições de logística, o Estado
serviços públicos, ao mercado de trabalho, às linhas oficiais de deverá geri-los por administração direta.
crédito, etc. Além de reduzir a capacidade civil dos índios, a tuteia Os programas regionais devem ter por objeto um espaço territorial
é um obstáculo à autogestão das terras e dos projetos de futuro expressivo e não devem pulverizar-se em grande quantidade, evi-
dos povos indígenas. tando assim a burocraúzação ou a perda de referência estratégica
A “proteção" da tutela deve ser substituída por outros instrumen- do órgão. Organizar as atividades de fomento em cerca de 30 pro-
tos de apoio do poder público aos povos indígenas. O Estado não gramas regionais seria o ideal em termos administrativos, permi-
deve pretender substituí-los como sujeitos políticos no exercido tindo a articulação direta com a direção nacional, sem instâncias
direto dos seus direitos e das suas relações. Um novo estatuto deve administrativas regionais, estaduais ou intermediárias. Estas me-
regular estas relações e ao Estado deve caber o papel de viabihzar diações burocráticas acabam isolando os programas, abrindo es-
serviços básicos (educação, saúde) e fomentar os projetos cultu- paços para a interferência política e dificultando o diálogo cotidi-
rais, econômicos, ambientais indígenas. O conceito de fomento é ano entre eles e a sede, o que prejudica as iniciativas de articula-
muito mais apropriado que o de tutela para definir o papel amai e ção inter-institucional, as negociações de recursos e a cooperação
futuro que os povos indígenas devem reivindicar do Estado. entre os programas. No entanto, se o número de programas se
soluções. É de se supor que onde o movimento indígena está mais O Ministério da Saúde deveria implementar os distritos sanitários
organizado, imprimirá uma dinâmica diferenciada ao programa indígenas na sua estrutura, através de uma agência específica que
da sua região.O objetivo seria superar o modelo atual dc órgão melhor possa atender esta demanda frente a outras que hoje se
centralizado, em que um dirigente eiege isoladamente as priorida- encontram no âmbito da FNS. Os dirigentes destes distritos deveri-
des e distribui o orçamento como deseja, permitindo que alguns am integrar a coordenação dos programas regionais. Será impor-
grupos indígenas que têm acesso mais fácil à sede, se articulem a tante para os índios que as discussões sobre a implantação dos
interesses corporativos para fazerem valer as suas demandas em distritos sanitários ocorra de forma articulada com a de progra-
detrimento das dos demais povos e da própria qualidade da políti- mas regionais, inclusive no que se refere às áreas de jurisdição,
No modelo dos programas regionais, cada região teria o seu pró- Da mesma forma, não deve ser ignorada ou prejudicada a atenção
prio orçamento, não podendo comprometer os demais. Certamente direta do Ministério da Educação em relação aos povos indígenas.
haveria programas regionais melhores que outros, mais avança- Como sc sabe, há um sistema nacional de ensino, descentralizado
dos, mais democráticos, com maior capacidade de articular apoi- (federalizado), e uma rede de escolas indígenas, especializada. 0
os e iniciativas. Sem prejuízo do intercâmbio de experiências e de Comitê de Educação Escolar Indígena do MEC deveria ser reforça-
boas soluções, é desejável que os programas sejam, mesmo, dife- do com recursos humanos e financeiros para ampliar a escala dos
rentes e possam expressar diferentes graus de organização indíge- projetos que atualmente apóia e para poder trabalhar mais siste-
na, desde que os que desejem e reunam as condições para avan- maticamente na articulação das demandas indígenas com o siste-
çar nas soluções não sejam impedidos ou desestimulados pela ma, na regularização das escolas indígenas e no estímulo a proje-
centralização, pelo burocratismo, ou por interesses espúrios. O tos de capacitação e profissionalização. As instituições prestadoras
avanço de cada programa regional seria determinado pela capaci- de serviços de educação indígena, sejam prefeituras, Estados, igre-
dade da coalizão de forças locais, que se articularam em torno jas ou ONGs, assim como as organizações de professores indíge-
dele, de construir as soluções no decorrer do tempo, de utilizar da nas, deveriam se fazer representar nos conselhos regionais.
melhor fornia os recursos disponíveis.
Assim, os programas regionais, embora constituindo uma agência
de fomento para demandas indígenas, deveriam articular na sua
SAÚDE E EDUCAÇÃO estratégia de ação as ações específicas a serem desenvolvidas no
âmbito de outras instituições públicas. Os consellios regionais,
Os programas regionais (assim como os estratégicos) devem ter
dispondo de representação expressiva das organizações e lideran-
por objeto apoiar e fomentar as formas de vida de cada povo, pensá-
ças indígenas locais, deveriam exercer o seu papel de planejamen-
las - portanto - no seu todo, mas o órgão ou agência dc Estado
to e de controle social do conjunto destas atividades do Estado,
por eles responsável não deve pretender o monopólio das rela-
sem prejuízo da constituição de conselhos ou outras instâncias es-
ções com os povos indígenas. Seria um braço do Estado que apóia
pecíficas para as políticas de saúde ou de educação.
a sua organização para se relacionar com o conjunto. Da mesma
forma, o fato dele existir não reduz as responsabilidades de outros
órgãos públicos em relação às demandas indígenas. Se compete TRANSIÇÃO
ao Ibama proteger as florestas c fomentar o desenvolvimento sus-
A constituição de um órgão público de fomento não pode ser feita
tentável, também tem ele responsabilidades em relação às flores-
do dia para a noite. Seria inútil formular uma boa proposta alter-
tas situadas em terras indígenas e às demandas de manejo de re-
nativa à Funai e querer implantá-la através de um decreto ou me-
cursos naturais por seus habitantes.
dida provisória. Embora a necessidade dc um órgão mais apropri-
Isto é particidarmente importante e urgente no que diz respeito à ado que a Funai já seja antiga, não basta mudar o nome, a roupa e
política para saúde indígena. Disputas corporativas entre a Funai e o endereço de uma instituição pública para se poder mudar a po-
a FNS, nos últimos anos, inviabilizaram a organização de um servi- lítica indigenista. A própria Funai dispunha de um modelo
ço de saúde razoável para os povos indígenas. Se o que se espera é institucional mais moderno e interessante que o antigo SPI mas,
uma ação integrada por parte do Estado, diferentes agências têm como foi constituída sob uma forte crise que assolou o SPI, sem
que se articular para atender o conjunto das demandas indígenas. um projeto claro alternativo, assumiu todos os seus ridos, sem
Nenhum órgão indigenista - ou de fomento - pode abarcar ade- construir antes um paradigma diferente de política indigenista.
cada contexto e às condições concretas do movimento indígena em Manaus, até que os programas no norte estivessem formulados
local. Seria necessário estabelecer uma agenda (de três a quatro
e em condições de serem implementados, deslocando-se no ano
anos de trabalho) para a formulação (planejamento) e a implan-
seguinte para outra região, e assim sucessivamente. Na medida em
tação dos programas regionais. Alguns programas seriam formu-
que os primeiros programas começassem a ser implementados,
lados num primeiro ano, para começarem a ser implantados num serviriam dc referência (consideradas as especificidades locais)
segundo ano, quando outros seriam formulados para posterior
para as regiões onde ainda não estivessem formulados.
implementação, Assim, áreas prioritárias para a implantação de
Quando a maior parte das regiões já tivesse programas constituí-
programas regionais deveriam ser definidas, considerando, num
dos, seria possível se dimensionar com exatidão qual é a estrutura,
primeiro momento, as regiões em que o movimento indígena se
necessária para uma sede central do órgão de fomento. Da mesma
encontra melhor estruturado.
forma, deveriam ir sendo definidas as regras para a relação entre
Quando se iniciasse a formulação de um programa em determina- os programas regionais e a direção central do órgão. Uma nova lei
da região, compondo-se os atores locais numa coordenação pro- deverá definir estas regras, de preferência a partir da prévia defi-
visória, seria importante contar com a colaboração das unidades nição do novo estatuto, com o reconhecimento da plena capacida-
locais da Funai. Neste sentido, os administradores regionais deve- de civil dos índios, das obrigações do Estado, das condições e li-
riam estar informados do processo, provendo as informações e mitações para o exercício do usufruto exclusivo dos recursos na-
apoio logístico necessários para a formulação do programa. Qu an- turais existentes nas terras indígenas. (Publicado originalmente
ACON
s
T E L£_UJ
para proporcionar às sociedades indígenas o quando de antropologia. Foi parte do corpo docente do
larização de sua situação no Brasil,
legítimo direito de explorar em bases racionais Museu Nacional (IIFRJ) e, a partir de 1968, da
seu retorno depois de nove anos de exílio.
os recursos naturais existentes em suas terras”. Antes de assumir o cargo, Marés apresentou 13
InB. É integrante do Conselho Indigenista des-
Sua atuação foi marcada pela defesa de parce- propostas para o ministro como condição para de que foi criado, em 1967. À época, esse con-
rias entre o estado e os municípios para melho- selho representava o poder máximo no órgão.
poder assumir a presidência da Funai (ver arti-
rar os atendimentos às sociedades indígenas.
go Descascando o “abacaxi”, nos “500 anos”
O antropólogo tem experiência de pesquisa com
Em 31 de maio, Lacerda foi retirado à força do do Brasil). Entre elas, estava a homologação da os Terena e os Suruí do Pará.
prédio da Funai por 5 1 guerreiros xavante, que Durante a gestão de Marés, Roque Laraia foi o
reserva indígena Raposa/Serra do Sol.
se revoltaram devido ao afastamento do diretor responsável pela Diretoria de Assuntos
O curto período em que Marés esteve na Funai
da AER de Nova Xavantina.
foi marcado por atos polêmicos. Logo no início
Fundiários. Lm entrevista exclusiva ao Isa, con-
A gestão de Lacerda teve de enfrentar, a partir fessou que os maiores problemas por ele en-
de 2000, declarou publicamente que não have-
de maio de 1999, os inquéritos por ocasião da ria o que comemorar no dia 22 de abril, aniver-
frentados em sua curta gestão na presidência,
CPI da Funai, promovida por parlamentares que foram o esvaziamento dos quadros profissionais,
sário de 500 anos do “descobrimento" do Bra-
visavam investigar o relacionamento do órgão a escassez de recursos e a pressão constante de
sil. "É uma festa da chegada das caravelas, festa
federal com ONGs, admissão de antropólogos e dos brancos. A maior parte dos índios brasilei-
grupos indígenas, como os Xavante e os Fulniô.
aplicação de recursos. Nesse período, tomou- Segundo ele, “não é possível administrar a Funai
ros tem contato com a civilização branca há bem
se cada vez mais público o caos orçamentário menos de 500 anos”, disse ele.
com os Xavante do jeito que estão". Para ele. a
da Funai. maioria dos índios continua desassistida, ao
A gestão de Marés foi marcada pela negociação
Em novembro, por pressões dos índios, de vá- em [orno da apresentação da nova proposta para passo que uma etnia acaba consumindo o tem-
rias instituições e de ONGs, colocou o cargo à po da administração e tomando a maioria dos
índio". Em 7 de abril de 2000,
o “Estatuto do 1
disposição. Na ocasião, ele admitiu que enfren- recursos parcamente disponíveis. (ISA)
Marés apresentou a proposta do governo “Es-
tou conflitos internos, principalmente com o tatuto do índio e das comunidades indígenas"
médico Oswaldo Cid Nunes da Cunha, exonera- às lideranças indígenas que se reuniam em 27° GLÊNIO ALVAREZ - iMA10/00
do da chefia do Departamento de Saúde na Funai Monte Pascoal, em ocasião da marcha de pro-
em Brasília, que classificou Lacerda de “incom- testo contra as comemorações dos 500 anos. 0 geólogo Glênio
petente". Alvarez, funcionário
isso sedeu antes mesmo da proposta ser sub-
Lacerda acusou o médico de deslealdade ao da Funai há 1 4 anos, é
metida ao Legislativo.
condenar publicamente a decisão do governo o 26° presidente do
Em 22 de abril, após presenciar uma ação da
de transferir a área de saúde indígena para a orgão indigenista ofi-
polícia contra a marcha dos índios que iam de
Fundação Nacional de Saúde. (ISA) cial desde sua funda-
Coroa Vermelha a Porto Seguro para protestar
ção, em 1967. Foi ad-
contra as comemorações dos 500 anos, Marés
25° CARLOS FREDERICO MARÉS - anunciou que pediria demissão. “Não posso
ministrador regional
A nomeação do alagoano Rcnan Calheiros, que troca política entre 0 Palácio e os partidos da 13/09/98)
foi líder da Câmara no governo Collor (a quem base, 0 presidente nunca conseguiu empossá-lo.
apoiou na campanha de 1989), permitiu a Em maio de 2000, 0 Estatuto do índio e das
Fernando Henrique Cardoso encerrar a com- Comunidades Indígenas foi enfim encaminha-
plicada negociação com 0 PMDB na reforma do ao Congresso Nacional. Até outubro do mes-
ministerial. A escolha abriu caminho para a mo ano, Gregori declarou oito Tis. (ISA)
veira e Antônio Carlos de Souza Uma, o evento ra do Brasil com a Colômbia, principalmente
mento síntese, encaminhado à presidente do
pretendeu promover um debate sobre a elabo- em áreas do rio Javari. Nessa região, diversos
Conselho da Comunidade Solidária, a primei-
ração de uma nova política indigenista na vira- índios estariam sendo aliciados por traficantes
ra-dama Ruth Cardoso, que participou da ceri-
da do milênio, envolvendo setores da agência colombianos.
mônia de encerramento do encontro. a
(ISA,
indígena, instâncias da administração federal e A revelação de Lacerda foi em depoimento
partir do relatório “Bases para uma nova feita
Desse modo, o intento do seminário foi deslo- tentáveis, com investimentos externos. GAIGER SE INDISPÕE
car a discussão do eixo da agência indigenista Também elaborado pela Finatec, o projeto terá
com
COM OS XAVANTE
oficial c da relação tutelar para dar foco as ini- convênio o Sivam para garantir a integri-
ciativas e organizações indígenas. Em vez de dade das comunidades. Segundo o chefe do O presidente da Funai, Júlio Gaiger foi agarra-
tomar a questão da tutela como pressuposto Departamento de Planejamento da Funai, Saint do ontem por um grupo de índios Xavante du-
básico, o debate gravitou em tomo do efetivo Cl ai r Pitangui Verciani, o Pró-fndio consiste em rante uma reunião de trabalho no auditório do
aproveitamento da rica e diversificada experi- elaborar projetos de biotecnologia, manejo sus- órgão. levado escada abaixo pelos índios,
ência sócio-cultural das sociedades indígenas, tentável, ecoturismo, agricultura, entre outros, Gaiger foi resgatado na frente do prédio por um
que inclui iniciativas próprias de autogestão, para as comunidades desenvolverem. (OESP, funcionário que o colocou dentro de um carro
soluções políticas dinâmicas e um processo ati- 15/09/99) particular que passava pelo local. Gaiger pediu
"
para ser levado ao Ministério da Justiça, onde As xavantadas " na Funai:
SULIVAN É ACUSADO
DE ARMAR MANIFESTAÇÕES
Há oito meses no posto de presidente da Funai,
Sulivan Silvestre de Oliveira fez uma aliança com
os índios xavante, etnia que possui 8.000 mem- XAVANTE PEDEM tão,alegada como impedimento à demarcação
bros e ficou famosa pela mania de produzir in- DEMISSÃO DE LACERDA da extensão integrai das terras indígenas, como
vasões e ameaçar ftincionários da entidade. ocorre em relação à Ti Raposa-Serra do Sol.
Uma pressão política distorcida. Assim o presi- Os políticos locais também praticam a
Dados aatos espetaculares, osXavante são uma
dente da Funai, Márcio Lacerda, definiu a inva- cooptação de índios que, embora minoritários,
espécie de PFL indígena - falam alto com o go-
são da sede do órgão, ontem, por 51 guerrei- aceitam se posicionar contra a demarcação em
verno, estão sempre no poder e são acusados
ros xavante - que o redraram à força do prédio troca de benesses governamentais.
por outras tribos de favoredmento na distribui-
e ainda ocuparam a entrada do Ministério da
ção de recursos. O acordo, do qual os índios Em dezembro de 96, houve uma tentativa de
Justiça. Os índios (um dos vários grupos xavante
de outras eutias desconfiavam há tempo, veio à redução da área através de um despacho do
da Reserva Parabubure, em Mato Grosso) ocu- então ministro da Justiça, Nelson Jobim. À épo-
tona semana passada por causa de denúncias
como param a Funai em represália ao afastamento do
dos funcionários da Funai. Eles apontam ca, o jornal O Globo publicou declaração do
diretor da AER Nova Xavantina - à qual a reser-
indício da parceria uma manifestação organi- deputado Francisco Rodrigues (PPB-RR) atri-
va é circunscrita -, ocorrido depois que foram
zada em março, quando os Xavante invadiram buindo a redução proposta a um acordo que
apurados gastos excessivos da AER em 98.
a sede da entidade, constrangeram e agrediram resultou no apoio maciço da bancada de
dois funcionários, O chefe Arnaldo Xavante, um De acordo com o presidente da Funai, o admi- Roraima à emenda da reeleição. Em dezembro
nistrador Raimundo Lustosa foi afastado sema-
dos líderes do protesto, admitiu que tudo foi de 98, foi anunciada a assinatura de uma por-
na passada do cargo pelos gastos aparentemente
negociado diretamente com Oliveira. “A única do atual ministro Renan CaüieLros deter-
taria
Irregulares da AER Nova Xavantina. Márcio
coisa que o presidente pediu foi que não hou- minando à Funai a demarcação da área na sua
Lacerda explicou que o grupo xavante respon-
vesse violência”, explica. extensão integrai. O anúncio foi feito em ceri-
de março por
sável pelo incidente de ontem quer Lustosa
Os índios decidiram a invasão mônia no Palácio do Planalto e a portaria foi
de volta à administração para manter o que
iniciativa própria, mas, antes de ir às vias de entregue pelo Ministro da Justiça, em mãos, ao
fato, negociaram o apoio do presidente da FUnai
chamou de status quo. (jornal de Brasília,
coordenador do CIR.
ambos adversários de 01/06/99)
Eles tinham dois alvos, A CPI da Funai teve sua instalação proposta por
Oliveira; um era o economista OUicüio Reis, requerimento de deputados amazônicos em
diretor de assistência; outro, a antropóloga Ana maio de 95. Propunha-se a investigar demarca-
Costa, diretora de saúde.Os dois foram arras-
CPI DA FUNAI
ções de terras indígenas, antropólogos, ONGs e
tados pelos corredores, expulsos do prédio e “irregularidades” no órgão. No entanto, o re-
xingados de “traidores” por defender o uso de CPI DA CHANTAGEM querimento permaneceu engavetado durante
critérios técnicos na aplicação das verbas da quatro anos e agora, em março de 99, foi res-
Parlamentares conservadores da bancada ama-
entidade. Os Xavante, que reivindicavam a com- suscitado (entre outros) pela própria lideran-
zônica, liderados pelos deputados Elton Ronhelt
pra de 100 automóveis para suas reservas esta- ça do governo no Congresso como forma de
(PFL-RR) e Antônio Feijão (ex-PFL, boje PSDB-
vam enfurecidos com Reis que havia vetado o impedir a instalação de outra CPI, a do sistema
AP), propuseram ao presidente da Funai.
seu pedido. Depois do protesto, ele cedeu, li-
financeiro, que constrangeria o governo ao in-
Márcio Lacerda, e ao Ministro da Justiça, Renan
berando a compra de vinte carros para a tribo. vestigar ganhos absurdos dos bancos às véspe-
Calheíros, a redução da área da TI Raposa-Ser-
Ana Costa, que era contra a doação de objetos ras da desvalorização do real. 0 deputado EI-
ra do Sol, a ser demarcada pelo governo fede-
e dinheiro aos índios, foi demitida. Quem se lon é o primeiro vice-líder do governo na Câ-
ral, em troca do arquivamento da CPI da Funai,
deu bem foi o índio Arnaldo Xavante, Ele ga- mara e o primeiro subscritor do requerimento
recentemente instalada na Câmara dos Deputa-
nhou um cargo de assessor da Presidência e dá da CPI da Funai.
dos a pretexto de investigar irregularidades no
expediente em Nova Xavantina, no interior de
Várias denúncias de irregularidades na admi-
órgão.
Mato Grosso, nistração da Funai têm sido divulgadas pela
ATI Raposa-Serra do Sol, com extensão de ,6 i
posta de CPI antecede este fluxo recente de ir- CPI DEFINE ROTEIRO INQUÉRITOS COMEÇAM COM
regularidades e serve, agora, ao objetivo da DE INVESTIGAÇÕES COMANDANTE DA AMAZÔNIA...
chantagem política sobre o governo por parte
da sua própria base parlamentar. (Últimas No- A CPI da Funai aprovou, no liltimo dia 8, 0 ro- O comandante militar da Amazônia, Luiz
tícias/ISA, 29/03/99)
teiro de seus trabalhos. O roteiro, proposto pelo Gonzaga Lessa, disse que a defesa da Amazônia
deputado federal Antônio Feijão, prevê duas fa- pode ser utilizada como pretexto para a inter-
Na primeira, os membros da Comissão — venção armada no Brasil por parte de países
CÂMARA INSTALA CPI ses.
presidida pelo deputado federal Alceste Almeida desenvolvidos. Segundo ele, a intervenção mili-
Hoje será instalada a CPI da Funai, com o obje- (PMDB-RR) - colherão depoimentos de pes- tar motivada pela proteção ao meio ambiente é
tivo de apurar também o relacionamento do soas previamente escolhidas, entre funcionári- “tendência da próxima década”.
órgão íederal com ONGs internacionais, os re- os públicos, representantes de ONGs, de enti- Lessa foi 0 primeiro inquiri do pela CPI da Funai
quisitos para a admissão de antropólogos e a dades de classe (espedalmente de garimpeiros e usou a maior parte do tempo destinado à sua
aplicação de recursos pela fundação, e empresas de mineração) e do Ministério Pú- exposição para expor as “ameaças" à Amazô-
“As áreas demarcadas são ricas em minérios blico. Na segunda, os componentes da CPI visi- nia. Disse considerar preocupante a ausência
como urânio, ouro e cobre”, diz o autor do re- tarão as áreas indígenas Yanomami e Raposa- do Estado em longas faixas dc fronteira c que 0
querimento para a criação do CPI, deputado Serra do Sol (Roraima), Waiãpi (Amapá), Interesse pela Amazônia se justifica pelo fato de
Elton Rohneit (PFL-EE), que apresentou o pe- Pataxó (Bahia) e Wahmri-Atroari (Amazonas) a região ter um quinto da disponibilidade de
dido em 1995. Segundo ele, a demora na insta- 0 roteiro aprovado prevê que a CPI investigará água doce do planeta, um terço das florestas
lação da comissão foi motivada pela existência os critérios para demarcação de terras indíge- tropicais c riquezas do subsolo. Depois de afir-
de outras comissões de inquérito no período. nas, 0 relacionamento da Funai com outros ór- mar que a Amazônia é inegociável, afirmou:
Como 0 regimento interno da Câmara permite gãos públicos e com ONGs, a aplicação das ver- “Queira Deus que no futuro não tenhamos de
0 funcionamento simultâneo de apenas cinco bas orçamentárias do órgão indigenista oficial lutar para reincorporar a Amazônia ao territó-
CPIs, a da Funai teve de esperar. e os requisitos para a admissão de antropólogos. rio brasileiro”. (FSP, 17/06/99)
“A Funai é alvo de muitas pressões externas, O roteiro não especifica se esía admissão se refere
em especial de ONGs internacionais”, afirma aos quadros da Ftinai 011 às tetras indígenas. ... E PRESIDENTE DA FUNAI
Rohneit, que se diz favorável às demarcações, Além da Funai, a Comissão selecionou um con-
Márcio Lacerda compareceu ontem, dia 18/08
mas não da forma atual. Cinicamente, 0 prová- junto de instituições, entre governamentais fe-
,
índios pedindo que a área Raposa-Serra do Sol ser escopo de conflitos fundiários ou por aíetar da deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM)
não seja demarcada. (Hoje em Dia, Belo Hori- terras indígenas, a gestão do orçamento da Funai e do deputado João Grandão (FT-MS).
zonte, 11/06/99) são outros tópicos lislados pelos deputados da O roteiro aprovado pela CPI informa que ama-
CPI. (Marco A. Gonçalves /ISA, 10/06/99) nhã, dia 10, a comitiva parlamentar se desloca-
rá pela manhã para a 'II Raposa-Serra do Sol,
_// S A !
sa-Serra do Sol, o roteiro informa que os depu- Presente à audiência, o governador Neudo Cam- interessa particularmente ao relator da CPI,
tados deverão visitar a aldeia Maturuca e, em pos disse que ONGs que mantêm relações com Antônio Feijão, que luta para impedir que o CTI
seguida, sobrevoar as plantações de arroz de organismos internacionais controlam setores continue desenvolvendo projetos junto aos ín-
não-índios instaladas na região do rio Surumu, importantes do Estado, instado pelos deputa- dios Waiãpi. A visita ao Estado, que prevê uma
dentro de tetras indígenas. Daí, a comitiva se- dos de oposição a apresentar provas das acu- visita à aldeia Aramirã, na TI Waiãpi, foi
guirá para as aldeias Cantão e Malacacheta, Para sações, o governador disse que não as tinha. O transferida para entre 22 e 24 de novembro.
o dia 11, está agendada audiência pública na relator Antônio Feijão declarou ao jornal Folha (Marco A. Gonçalves/ ISA, 27/10/99)
Assembléia Legislativa de Boa Vista, e no último de Boa Vista que a CPI vai encaminhar um
dia, uma visita à TI Yanomami - mais especifi- obeio ao MPF pedindo instauração de inquéri- ANTROPÓLOGA É INQUIRIDA
camente, à base militar de Surucucus - e, em to para apurar a atuação de estrangeiros em
Os deputados da CPI da Funai inquiriram no
seguida à aldeia Dernini. (Marco A. Gonçalves/ terras indígenas. (Marco A. Gonçalves/ ISA,
dia 1“ dc dezembro a antropóloga Dominique
ISA, 09/09/99) 14/09/99)
Gallois, doutora e professora do Departamento
de Antropologia da USP. Dominique é também
... E RELATOR MANIPULA RELATOR QUER coordenadora de vários projetos que o CTI de-
PROGRAMAÇÃO “ZERAR” DEMARCAÇÕES senvolve junto aos índios Waiãpi, povo que ha-
A recém-encerrada visita da CPI da Funai à O jornal Folha de Boa Vista informa que foram bita as florestas do oeste do Amapá (ver capítu-
Roraima foi pródiga em cenas de manipulação ouvidas 19 pessoas nos três dias de visita da lo Amapá/Norte do Pará).
e ameaças aos processos de demarcação dc ter-
CPI à Roraima e registradas cerca de 30 horas Na dihgência da CPI no Estado, ocorrida entre
ras indígenas, mesmo aos já consolidados. O de depoimentos em fita cassete. O deputado osdias22e24de novembro Dominique Gallois
,
relator e o presidente da CPI procuraram pro- havia sido acusada por deputados locais, entre
Antônio Feijão declarou que a demarcação da
duzir evidências que corroborem a tese de que TI Raposa-Serra do Sol não se baseou em crité- os quais o relator da CPI, Antônio Feijão, de
a demarcação da TI Raposa-Serra do Sol em rios antropológicos e que no texto final da CPI promover divisão entre os Waiãpi, aumentar a
uma área única inviabiliza projetos econômi- recomendará a revisão de seu processo área indígena no momento de sua demarcação
cos de interesse da ebte esladual. Assim, o ro- demarcatório, e de ter elaborado um projeto de “garimpagem'’
teiro da visita à Raposa-Serra do Sol foi altera-
Na audiência realizada na Assembléia Legislativa dentro da terra indígena.
do de modo que apenas os opositores da de- de Boa Vista, Feijão disse que quer zerar todos Por conta das divergências entre Antônio Fei-
marcação fossem ouvidos os procedimentos relativos à demarcação de jão e Dominique Gallois, os deputados Dr.
A visita à aldeia Maturuca, onde cerca de mil terras indígenas. À imprensa local, afirmou ain-
Rosinha (PT-PR) e Vanessa Grazziotin (PC do
índios esperavam a chegada dos deputados, foi
da que seu relatório vai propor a reestruturação
B-AM) reclamaram da impropriedade de o
transferida da manhã para o flm da tarde, ge-
da Funai, uma política de integração entre índi-
relator inquiriruma pessoa contra a qual to-
rando protestos dos tuxauas (bderes indígenas)
os e não-índios e rígidos critérios para a ad-
mou várias iniciativas na Justiça. Mesmo diante
que pretendiam “desmascarar" as reais inten- missão de entidades que queiram trabalhar em da insistência dos dois deputados, a pondera-
ções da CPI. A comitiva que se dirigiu à TI este- terras indígenas.
ção não foi aceita pelo presidente da Comissão,
ve nas fazendas de arroz irrigados implantadas A deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) e deputado Alceste Almeida
pelo governo estadual dentro da terra indíge- o deputado João Grandão (PT-MS) afirmaram Ao longo de 40 minutos, Dominique Gallois
na, em algumas aldeias controladas por grupos que a visita à Roraima deixou claro que o obj e- explicou detalhadamente seu trabalho junto aos
aliados do governador Neudo Campos (PPB) tivo da CPI não é investigar denúncias de
Waiãpi, desde seu primeiro contato com o gru-
em vilas de garimpeiros e na sede do municí- corrupção na Funai, mas impedir a continuida- po, no nifcio dos anos 70. Relatou as conseqii-
pio de Uiramutã, também criado dentro dos li- de das demarcações de terras indígenas e for-
ências do contato promovido pela Funai, na
mites identificados pela Funai como terra tra- çar a revisão de outras demarcações já homo- época da abertura da Perimetral Norte, as su-
dicional indígena. logadas pelo governo federal. (ISA, a partir de cessivas invasões de garimpeiros c o risco dc
Os parlamentares ouviram as queixas dos fa- extinção a que os Waiãpi estiveram expostos.
Folha de Boa Vista, 10 e 14/09/99)
zendeiros e a manifestação de membros da or- Historiou os 18 anos de luta dos índios para
ganização indígena Sodiur que representa tuna obter a demarcação de suas terras, reahzada
-
CPI É PRORROGADA
minoria absoluta das aldeias de Raposa e que, mediante convênio entre a Sociedade Alemã de
E ADIA VIAGEM AO AMAPÁ
curiosamente, defende menos terras para os Cooperação Técnica (GTZ) e a Funai entre 1994
índios e mais para os arrozeiros. Um acordo de lideranças viabibzou a entrada e 1996.
No dia seguinte à visita i Raposa-Serra do Sol, do pedido de prorrogação da CPI da Funai na A antropóloga informou ainda que, ao contrá-
os deputados da CPI estiveram na audiência pauta de votação da Câmara dos Deputados rio do que vinham dizendo opositores do tra-
pública realizada na Assembléia Legislativa, em ontem, dia 26. O pedido de prorrogação aca- balho do CTI no Amapá, os Waiãpi perderam
Boa Vista, capital do estado, encerrada apenas bou sendo aprovado no final do dia, conceden- grande parte de seu território ao longo do pro-
às 2 horas da manhã de domingo. O ISA apu- do mais 60 dias para que a Comissão realize cesso de reconhecimento oficial. Em seguida,
rou que os parlamentares roraimenses e seus seus trabalhos. A contagem desse período pas- o relator Antônio Feijão encaminhou duas ba-
abados acusaram o ex-administrador regional sa a ser feita a partir do dia 18 de outubro, um terias de perguntas sobre os procedimentos
da Funai em Roraima, Walter Blós - destiteído dia após o fim do período regular de 120 dias. adotados na auto-demarcação da área e sobre
recentemente do cargo por pressões da banca- F,m sessão ordinária realizada hoje (27/10) os ,
um projeto de recuperação de áreas degratla-
da federal de Roraima e do governador Campos -
parlamentares da Comissão acataram solicita- das pelo garimpo dentro da área Waiãpi, apro-
,
o CIR e a Diocese de Roraima de semear a dis- ção, feita pelos parlamentares de oposição, para vado como projeto demonstrativo (PDA) no
córdia entre os índios em Raposa-Serra do Sol. que a viagem ao Amapá fosse adiada. A viagem âmbito do PPG7. Todas as questões foram res-
dificílima de manobrar na comunicação, e não das e baseadas, por exemplo, na propriedade co- (Washington Novaes, OESP, 1 1/02/00)
por uma preocupação real do governofederal com letiva. Mostra como o direito desses povosfoi subs-
nal e a falta de participação das comunidades cional de Saúde, promovendo a realização de sidencial chamou o reforço da Polícia Militar.
indígenas conforme esse modelo. Conferências Estaduais de Saúde Indígena. Liderados pelo cacique Raoni, eles produziram
O Cimi declarou que não vai estabelecer qual- (ISA, a partir do "Parecer do Cimi sobre a po- uma “Carta das Lideranças Indígenas", critican-
quer espécie de convênio com o governo que lítica da Funasa para a saúde dos povos in- do a decisão do governo em transferir da Funai
vise ao gerenciamento dos ÜSEIs, mas que con- dígenas", 16/06/99) para a FNS a responsabilidade pela assistência
Defendeu que a política de atenção à saúde deva tica indigenista da Funai mostraram temor com
CONTRA FNS
se dar em conformidade com o processo de a proposta de alguns setores do Governo que
consolidação do Sistema Único de Saúde, deli- Cerca de 70 índios kayapó fizeram uma mani- desejam extinguir o órgão c transformá-lo numa
berando que a atenção à saúde aos índios deva festação em Brasília em frente do Palácio do secretaria ligada à presidência da República.
viabilizar o enfoque diferenciado. Planalto, onde tentaram uma audiência com o (Hoje em Dia, 19/06/99)
SAÚDE INDÍGENA É
“BRASÍLIA, 22 DEJULHO DE 1999 TRANSFERIDA PARA FNS
Exmo. Senhor Com a finalidade de suprir as demandas O DOU publicou a Medida Provisória n° 1 .91 1-
Presidente da República verificadas e a minimização da situação ora co- 8, alterando a Lei 9.649, que dispõe sobre a
Dr Fernando Henrique Cardoso locada, solicitamos que sejam imediatamente organização da Presidência da República e dos
Exmo. Senhor, implantados os Distritos Sanitários Especiais In- Ministérios. A novidade desta oitava reedição
Nós, lideranças indígenas, representantes das or- dígenas com a assinatura do Decreto, passando a
da MP é a introdução de modificações que im-
ganizações indígenas, abaixofirmadas, legítimos responsabilidade sobre a saúde indígena para o
plicam na transferência da competência legal
conhecedores das dificuldades enfrentadas por Ministério da Saúde. Consideramos este sistema
do patrimônio, funcionários e funções de con-
nossas comunidades, estivemos em Brasília nos de maior importância para a população indíge-
fiança da Funai para a FNS, no que se refere à
dias 21 e 22 de julho de 1999 analisando a situa- na uma vez que são propostas firmadas pelas li-
deranças indígenas durante a realização das Con- atenção à saúde indígena.
ção de desespero em que se encontram os indíge-
nas brasileiros no que se refere à questão do aten- ferências de Saúde Indígena nos estados e regiões As mudanças trazidas pela reedição da MP de-
dimento à satíde. e com aval na Conferência Nacional realizada em verão ser complementadas na próxima segun-
Neste momento, cerca de 99% da população indí- Brasíliaem 1993 A proposta abre a possibilidade da-feira por um decreto presidencial, a ser pu-
gena está totalmente abandonada fjelo poder pú- da definição de um gestor único na questão da blicado também no Diário Oficial. Este decreto
blico responsável verificando-se, entre outros
,
saúde indígena contemplada com competência precisará a competência da FNS, preverá a im-
problemas, afalta de medicamentos, viaturas para técnica e administrativa própria.
plantação do sistema de DSEI's, e transferirá as
transportes de doentes e total descrédito para com- Não pretendemos com a criação dos Distritos Sa-
rubricas orçamentárias da Funai relativas à saú-
pra de medicamentos. nitários retirara responsabilidade da Funai, mas
de para a FNS, alterando alguns aspectos do De-
Indignados com da Funai frente à
tal descaso valorizar seu papelfrente a outras atribuições que
creto n” 1.141/94.
questão da saúde nas áreas indígenas, tem se ve- possui com relação à defesa dos direitos indíge-
rificado revoltas e movimentos locais das comu- nas relativos à questão de terras, Jiscalização, A nova MP altera o artigo 14 da Lei n° 9.649,
nidades indígenas, reivindicando uma maior res- manejo sustentável, alternativas econômicas e que define as competências dos ministérios,
ponsabilidade do órgão indigenista. outras questões relevantes que dizem respeito à introduzindo os índios entre o público-alvo a
Como forma de resoltw estas reivindicações, a melhoria da qualidade de rida dos povos indígenas. ser beneficiado pelas ações do Ministério da
Funai vem exercendo atos de repressão contra as José Set>erino da Silva - Capoib Saúde. Incluiu, ainda, na referida lei um novo
lideranças indígenas utilizando seu poder de po- Benjamin Castro - Coiab artigo (28-B), transferindo da Funai (Ministé-
lícia para abertura de inquéritos policiais com a Waldemir Parintintim - Cunpir
rio da Justiça) para a FNS (Ministério da Saú-
conivência do Ministério Público Federal, como José Souza da Silva - UN/-AC
do índio
de): I) os Postos de Saúde e Casas
está acontecendo no Rio Grande do Sul e em ou- Genival de Oliveira dos Santos UNI -Tefé
mantidas pela Funai para assistência à saúde
tras regiões. Esta práticatem legitimado de for- Clóvis Am brósio - CIR
OSPTAS das comunidades indígenas; 2) os bens móveis,
ma injusta a irresponsabilidade e a inoperância Osvaldo Honorato Mendes -
de definição de uma política de saúde indígena Juvino Sales -Apois patrimonial deverá, segundo o texto da MP, ser
tem causado enormes transtornos quando os in- Aurélio Tenharin efetivada até 28 de setembro de 1999, "fican-
dígenas buscam apoio à saúde nas áreas, ocor- Daniel Pereira Lescano
do, desde já, referidos bens à disposição da FNS,
rendo muitas vezes um jogo de empurra-empur- Antônio Sarmento dos Santos -ANTAPAMA
sem prejuízo das atividades operacionais a eles
ra entre a Funai e a Fundação Nacional de Saúde, Emir Borges Pereira - Terena
pertinentes."
aumentando ainda mais o sofrimento das comu- Ambrósio Viana -Poim eAAISARN
Quanto à distribuição dos servidores, o artigo
nidades indígenas com óbitos que poderiam ser Vitorino Soares Guajajara -
“ Ficam redistribuídos da
Manoel Eufrásio Rodrigues -APOINME/PB 28-B dispõe que: 1)
evitados e causando, inclusive conflitos e divisão
"
nas comunidades indígenas, muitas vezes estimu- Clóvis Rufino Reis - Civqja Funai do Ministério da Justiça para a FNS do
lados por funcionários dos dois órgãos. Ministério da Saúde, os cargos de provimento
junta entre a Funai e os citados ministérios, sob seja terceirizado. através do Ministério da Saúde, para estruturar
a suposta coordenação da primeira. Além disso, a FNS parece estar ainda longe de de- e pôr em funcionamento um “subsistema de
Destavez, a mudança vem com força de lei - finir ou adotar parâmetros jurídicos adequados atenção à saúde indígena", vinculado ao SUS
medida provisória, até que o Congresso a aprove. para uma política consistente de terceirização. A que terá como base os DSEIs, unidade admi-
Transfere da Funai e unifica na FNS a estrutura modalidade de convênio que vem sendo adotada nistrativa que proverá serviços de saúde junto
pública federal pertinente, seus recursos huma- nas negociações que estão mais avançadas acaba às aldeias indígenas e será responsável pela ar-
nos, equipamentos e orçamento específicos. Pro- por transferir para a instituição conveniada a
ticulação das demandas respectivas junto ao
põe-se um sistema de DSEIs, com orçamentos pró- barafunda burocrática e formal que impede as
SUS. Estabelece, ainda, que a União deverá fi-
prios pré-indicados e boa parte das atribuições e instituições públicas de funcionar. Há restrições
nanciar este subsistema, podendo outras insti-
qualidades a eles atribuídos pelas últimas confe- quanto ao tempo de duração dos convênios, para
rências nacionais de saúde indígena. o pagamento de encargos trabalhistas aos profis- tuições públicas ou privadas, complemenlar-
O Departamento de Operações (Deope), da FNS, sionais a serem contratados,ou para a abertura mente, aportar recursos ou execular serviços
ao qual está subordinado a Coordenadoria de Saú- de licitações que envolvam valores maiores. São de assistência à saúde dos índios. (Últimas Ato-
de Indígena (Cosai), anunciou que dispõe de R$ anteriores às leis que criaram as figuras das Or- Hcias/ISA. 01/09/99)
55 milhões no orçamento de 99 para implementar ganizações Sociais e das Organizações da Socie-
a nova política e os 33 DSEIs previstos para todo o dade Civil de Interesse Público, justamente para
Brasil. Está pleiteando no orçamento plurianual remover obstáculos para as parcerias entre a so-
FUNASA ABRE SERVIÇO
outros R$ 100 milhões/ano para os próximos três ciedade civil e o Estado. A Funasa inaugurou ontem o Serviço de Apoio
anos. Os DSEIs terão limitações quanto à sua au- Expectativas - Ao mesmo tempo em que tais mu -
ao índio (SAI) centro de referência para
,
índi-
tonomia administrativa, não constituindo uni- danças abrem a possibilidade de ampliar os re-
os que vêm de todo o Brasil, prindpalmente da
dade orçamentária. Terão seu “gestor" nomeado cursos disponíveis, criar mecanismos de controle
região Centro-Oeste, buscar tratamento de saú-
diretamente por Brasília, mas dispondo de um socialmais efetivos, melhorar a qualidade dos
orçamento próprio indicativo, resultante da di- serviços prestados e das relações inter- de especializado em Brasília.
visão destes valores ftelos vários DSEIs, através de institucionais envolvidas, geram, também, preo- O SAI vai fazer a triagem e o encaminhamento
um critério ponderado que considera estimati- cupações quanto à unilateralidade da estratégia do paciente indígena aos hospitais da rede pú-
vas de poptdação e condições de logística de cada de terceirização e ao baixo nível de institu- blica do Distrito Federal, além de acompanhar
área proposta para a sua criação. cionalidade com que ela se desenvolve. Há até todo o tratamento, até que ele esteja em plenas
Os esforços do Deope/FNS para iniciar a quem atribua as limitações na política de convê- condições de voltar para a sua aldeia. O maior
implementação de alguns distritos estão integral- nios a um boicote velado da burocracia da FNS à objetivo do SAI é reduzir o tempo de perma-
mente orientados para um modelo de implantação de um modelo de assistência
nência do índio fora de sua aldeia e garantir
terceirização da execução dos serviços de saiíde, terceirizado.
agilidade no diagnóstico e no tratamento médico.
através de uma política de convênios com orga- Seja como for, o sentimento que paira entre os
nizações indígenas, ONGs, universidades e igre- interessados é de muito ânimo quanto à perspec-
O serviço contará com um médico, uma enfer-
meira, sete auxiliares de enfermagem e pessoal
jas quejá estejam envolvidas na prestação destes tiva de melhora na situação em que se encontra
sennços. A FNS nomeia um "gestor", disponibiliza hoje a saúde indígena, mas de sofrimento diante de apoio para garantir ao índio o melhor acom-
recursos e, supostamente, acompanha e se res- dos limitados instrumentos da nova política. Para panhamento, desde sua chegada a Brasília até
ponsabiliza pela qualidade da execução. Assim, as organizações civis, assumir maior responsa- sua volta ao estatuto de origem. (Jornai de
em algumas regiões em que o movimento indíge- bilidade em relação aos serviços já constitui de- Brasília, 23/02/00)
na está mais organizado ou em que há institui- safio suficiente, que não deveria ser agravado por
ções sérias envolvidas com ações de saúde, há ar- dificuldades adicionais de gestão. Tudo indica que
ticulações não-governamentais em curso para as limitações do momento têm mais a ver com as
GOVERNO DESTINA
assumir a organização dos distritos e, portanto, agruras da transição. Mas pode também signifi- NOVOS RECURSOS
alguma viabilidade para o modelo de terceirização car que este processo exigirá no futuro do Minis-
A Funasa vai investir 65,72% a mais de recur-
pretendido. tério da Saúde uma solução institucional mais
No entanto, o Brasil é grande e os índios são su- consistente, como a criação de uma agência es-
sos este ano em programas de saúde indígena
jeitos sociais de ponta, dispersos pelasfronteiras, pecializada em saúde indígena, independente da no País. 0 anúncio de mais investimentos será
tendencialmente mais presentes exatamente onde pesada e ineficaz estrutura atual da FNS. (Márcio feito hoje pelo presidente do órgão, Mauro
o Estado e a sociedade nacionais estão menos pre- Santilli, Parabólicas/ISA, ago/99) Ricardo Costa, quando definirá a aplicação de
sentes. No Vale do Javari (AM), no Parque do RS 106 milhões para o atendimento de 210
AC Altojuruá/ União das Nações Indígenas Estruturar ações de atenção básica de saúde 5,721.028,08 11/99 a
Cruzeiro do Sul Alto Purus/ do Acre e Sul do Amazonas - nas áreas de abrangência dos DSETs 01/01
UNI (pop. 13 mil índios, 125 comunidades,
162 profissionais de saúde)
Subtotal 5.721.028,08
AP Amapá/Norte do Pará/ Secretaria do Estado Promover melhoria na condição de saúde das 2.482.678,00 08/99 a
Macapá da Saúde do Amapá populações indígenas do Amapá e norte do Pará 10/00
(87 profissionais de saúde e 26 pessoas de apoio)
Subtotal 2.482.678,00
AM Rio Negro/ Associação Saúde Implantar 0 DSEI do Rio Negro com 0 objetivo de 2.052.182,00 11/99 a
São Gabriel da Cachoeira sem limites (SSL) prestar atenção integral a saúde da população 1/01
indígena dos rios Tiquié e Vaupés
(pop. 6 mil, profissionais de saúde 36)
AM Alto Rio Negro/ Diocese de São Gabriel Implantar a atenção primária à saúde e formação 2.023,267,87
São Gabriel da Cachoeira da Cachoeira de recursos humanos no DSEI para as etnias Baré,
34 profissionais de saúde)
AM Rio Negro/ Prefeitura Municipal de Desenvolver ações de saúde em território 1.356.193,00 11/99 a
São Gabriel da Cachoeira São Gabriel da Cachoeira Yanomami na região do Alto Rio Negro 05/02
(pop. 6 rail, 90 comuuidades indígenas)
AM Alto Solimões/Tabatinga Diocese do Alto Solimões Implantar e desenvolver do Sistema de Saúde e 7.777.080,10 10/99 a
abrangência do DSEI (pop. 32.500 índios, 05/01
1 16 aldeias, 235 profissionais de saúde)
AM Médio Purus/Lábrea Organização dos povos Atenção básica de saúde à população do DSEI 2 . 672 719,74
. 11/99 a
indígenas do Médio Purus - (pop. 3.423, 50 comunidades, formação de 04/01
OPIMP 47 AIS, 9 microscopistas e estruturação do
controle social e da organização da rede de serviços)
AM Javari/Atalaia do Norte Conselho Indígena do Implantar e desenvolver das ações de saúde do 2.666.656,00 10/99 a
Vale do Javari (Civaja) DSEI do Vale do Javari (pop. 2.681,22 aldeias e 06/01
64 profissionais de saúde)
AM Tefé/Tefé União das Nações de Tefe/ Prestar assistência a saúde a partir de programas 4 988 152,00
. .
AM Alto Rio Negro/ Federação das Organizações Formar, capacitar e treinar em serviço RH para o DSEI
São Gabriel da Cachoeira Indígenas do Rio Negro e organização do serviço de saúde na regjão da calha
do Rio Negro e estrada
AM Yanomami/Boa Vista Instituto de Desenvolvimento Implantar um sistema de saúde adaptado às 1.691.698,00 11/99 a
Sanitário em Meio Tropical - peculiaridades locais no território Yanomami, 11/00
IDS região dos rios Cauaburis, Marauia e Padauari
(pop. 9-269, aldeias 230, profissionais de saúde 110)
AM Yanomami Secoya — Serviço de Garantir assistência básica de saúde a população 1.577.083,00 H/99 a
Coperação com o Yanomami (pop. 1.535) das regiões do Rio Maruauiá. 01/01
Povo Yanomami Demini e Padauari - Região do Médio Rio Negro —
AM (profissionais de saúde 19)
AM Yanomami Inspetoria Salesiana Prestar assistência básica de saúde a população Yanomami 101.220,00
Missionária da dos xaponos Pahoroa e Xamatá no Rio Marauiá
Amazônia - Isma (pop.531 índios, 2 comunidades)
Subtotal 37.425-913,11
PA Kaiapó/Redeoção Prefeitura Municipal Garantir atenção a saúde da população indígena do 2.923-353,00 10/99 a
de Redenção DSEI (pop. 3.318, aldeias 29 e 56 profissionais de saúde)
PA Tapajós/ltaituba Prefeitura Municipal de Assistência a saúde da população indígena Mundurucu 2.072.571,00 12/99 a
Jacareacanga e Kayabi (pop. 8.121 índios, distribuídos em 87 aldeias, 01/01
profissionais de saúde 72)
PA Altamira/Altmira Prefeitura Municipal Estruturar e implantar as ações de saúde à população 1.934.671,00 12/99 a
de Altamira indígena da região dos rios Médio Xingu, Iriri e Curuá 01/01
(pop. 2 mil, 1.423 aldeados c profissionais de saúde 52)
PA Guamá/Tocantins Prefeitura Minicipal Implantar a casa do índio na sede do município e prestar 713.817,00 12/99 a
de Paragominas atenção integral a saúde e indígenas das aldeias das etnias 01/01
Tembé, Timbira, Kaapor-Tembé e Amanayé (pop. 1.016
índios, 13 aldeia, 24 profissionais de saúde)
PA Guamá/Tocantins Prefeitura Municipal Organizar pólo-base de Ourém para prestar assistência à 641.953,00 12/99 a
de Ourém saúde da população indígena do Alto rio Guamá 01/01
(pop. 508 índios, 1 1 aldeia e 7 profissionais de saúde)
Subtotal 8.286.365,00
RO Porto Velho/Porto Velho Cunpir - Coordenação da Promover a saude, assistência médica, desenvolvimento 3-331935,59 11/99 a
União das Nações e povos do controle social, capacitaçãode recursos humanos e 01/01
indígenas de Rondônia infra estrutura do DSEI de Porto Velho (pop- 6.028 - 20 etnias)
RO Vilhena/Vilhena Proteção Ambiental Prestar assistência a saúde à população indígena do DSEI 4. 123-887,00 10/99 a
Cacoalende - Paca (pop. 5-067, aldeias 65 e 88 profissionais de saúde) 01/01
Subtotal 7.455.812,59
RR Leste de Roraima Boa Vista Conselho indígena Implantar assistência a saúde a população indígena do 6.945.041,00 11/99 a
de Roraima - CIR DSEI. (pop. 27 mil, aldeias 185 e 270 profissionais de saúde - 03/01
250 AIS)
RR Yanomanii Boa Vista Saúde Yanomami Prestar assistência a saúde de forma permanente e 7.208.870,00 10/99 a
Boa Vista - Urihi integral as populações Yanomami residentes nas 02/0
regiões Ajarani, Auaris. Balawaú, Demini, Honnoxi,
Missão Catrimani, Parafuri, Surucucu, Toototobi,
Tukuxim. Xiriana e Xitel (pop. 6.159 - 12 sub-regiões)
RR Leste de Roraima Conselho Indígena Contribuir para melhoria da situação de saúde da qualidade 442.915,85
Boa Vista de Roraima de vida nas comunidades indígenas do Leste de Roraima
Subtotal 3-098.809,00
136 POLÍTICA iNDIGENlSTA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0 CIO AMBIENTAL
-
Acervo
'
~-/AiC
y I SA A C Q WTECE U ]
.. .^kAAA.l.-
TO Tocantins/Palma Fundação de Assistência Implantar e organizar serviços de saúde para os povos 3 116 939,20
. .
Subtotal 3.116.939,20
MT Xingn/Canarana MT Universidade Federai do Desenvolver, implantar e executar ações do sistema à saúde 2.887.049,64 08/99 a
Estado de São Paulo da população indígena em toda jurisdição do DSEI do Xingu 10/00
Cpop. 3.600, aldeias 47, profissionais de saúde 64)
MT Kaiapó/Cofider Prefeitura Municipal Implantar o DSEI para atender 2.018 índios em 12 aldeia das 2.287.345,00 12/99 a
de Colider etnias Kayapó, Panara, Apiaka, Mundurucu, Kaiabi 01/01
MT Xavante/Barra da Garça Sociedade na Defesa Implantar a atenção de saúde à população indígena Xavante 5.434.589,24 11/99 a
da Cidadania - SDC (pop. 10.136, 1 10 aldeias e 156 profissionais de saúde) 03/01
MT Tangará da Serra/Cuiabá Trópicos - Instituto de Prestar assistência a saúde da população ao DSEI 2.695.235,99 11/99 a
apoio ao desenv. e (pop. 4.218, aldeias 56 e 80 profissionais de saúde) 03/01
meio ambiente
MT Cuiabá Operação Amazônia Atenção básica de saúde aos povos indígenas Enawene Nawe, 511.745
Nativa - Opan Myky e Irantxe na região noroeste do Estado do Mato Grosso
Subtotal 1381596487
19 profissionais de saúde)
GO Araguaia Associaç. Educação e Organizar 0 sistema de atenção básica de saúde aos povos 733 452,95
.
Subtotal 2.173.131,17
MS Mato Grosso do Sul/ Missão Evangélica Caiuá Promover a saúde, prestar assilência e controlar os 3.098.809,00 11/99 a
Campo Grande agravos das populações indígenas do DSEI 04/04
(pop. 33.223, aldeias 48 e 101 profissionais de saúde)
Subtotal 3.098.809,00
MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integrai a saúde aos povos indígenas 550.107,00 12/11 a
de Àmarante Guajajara, Krikatl e Gavião (pop. 3.485, profissionais 01/01
de saúde 52)
MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integral a asaúde do povo 59.430,00 12/11 a
de Maranhãozinho Urubu-Kaapor nas terras indígenas do Alto Uiriaçu 01/01
(pop 250, indios, profissionais de saúde 4)
MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Promover atenção integral a saúde dos povos indígenas 853-529,00 12/11 a
de Zé Doca das etnias Guajajara, Urubu-Kaapor, Awá-Guajl 01/01
(pop. 1.450, profissionais de saúde 41)
MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integral a saúde às etnias Guajajara, 1 .009.9 15,00 12/11 a
de Barra do Corda Ramkokame-krá*Canela, Apanyekrá-Canela e Krápum-kateyê 01/01
que habita as terras indígenas de Cana Brava-Guajajara,
Rodeador e Lagoa Comprida (pop. 6.660 e profissionais de saúde 87)
'?l- 17 Acervo
//*' I SA A C OJ I E •1 “ ll* il-'
MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integral a saúde em áreas indígenas nos 910.630,00
de Arame territórios de Bacurizinho, Morro Branco, Urucu-Juruá e
32 aldeias próximas ao município de Arame (pop. 5036 índios,
6l profissionais de saúde)
CE Ceará Missão Tremembé Assegurar o acesso de pacientes indígenas aos Serv. 78.400,00
De Referência e garantir a participação das lideranças
indígenas nas reuniões do Conselho Distrital de Saúde Indígena
SC Interior Sul/ Chapecó Prefeitura Municipal Implantar o programa de promoção e integral de saúde na 78.000,00 12/99 a
de Entre Rios reserva indígena PI Chapecó (pop. 1.050 índios, 6 profissionais 11/00
de saúde)
SC Interioro Sul/Chapecó Prefeitura Municipal Promover a melhoria das condições de vida a saúde indígena 259.000,00 12/99 a
de Ipuaçu Kaingang através do desenvolvimento de ações de promoção n/oo
prevenção e assistência de saúde
SC Interior Sul Prefeitura Municipal Implantar o programa de promoção da assistência integral 277.308,00 12/99 a
José Boiteux a saúde nas comunidades indígenas de José Boiteux (9 profissionais 11/00
de saúde)
SC Interior Sut Associação Estadual O programa de promoção, prevenção e assistência primária 4.406.577,44 12/99 a
dos Rondonislas em toda jurisdição dos DSEIs de São Paulo, Parauá 11/00
e Santa Catarina
Além de anunciar o aumento de recursos, a implementadas medidas preventivas, a doença nizações indígenas e ONGs conveniadas com a
Eunasa também divulgará o Informe de Saúde pode em poucos anos virar uma epidemia. Funasa para uma avaliação dos trabalhos reali-
Indígena, um relatório que trata da re- Essas são algumas das conclusões da pesquisa zados no último ano e para definir as novas ba-
estruturação e dos investimentos feitos nos 34 Fronteiras Amazônicas do Brasil, coordenada em 2001. Os presentes reco-
ses dos convênios
DSEUs espalhados pelo País. (OESP, 23/03/00) pelo professor da Universidade de Brasília Victor nheceram o aumento nos índices de prevenção,
Leonardi. Encomendado pelo Ministério da Saú- imunização e de controle das doenças, resulta-
de e financiado pela ONU, o levantamento está do da maior participação dos profissionais de
FUNASA INCENTIVA HOSPITAIS
sendo finalizado e será lançado como livro cm saúde nas comunidades indígenas. Não obstante,
A Funasa anunciou ontem que vai pagar até 30% oulubro. Foram feitos, nos últimos três anos, advertiu-se que ainda há muito que avançar no
a mais que a tabela normal do SUS para os hos- estudos sobre moradores, especialmente os ín- funcionamento dos DSEIs, por exemplo, no que
pitais que se dispuseram a atender índios. Com dios,que vivem entre Oiapoque, no Amapá, ao se refere ao conhecimento e respeito dos pro-
esse incentivo, a fundação espera conseguir Alto Guaporé, noMato Grosso. fissionais em relação aos conceitos de saúde e
vencer a resistência de muitos hospitais. Segundo Leonardi, embora ainda não se confi- doença próprios da configuração cultural de
Como os indígenas têm o hábito de acompa- gure um quadro de epidemia, é alto o risco de cada povo, abordagem que está no cerne da pro-
nhar seus doentes durante as internações, os disseminação da Aids entre as populações indí- posta dos DSEI. Dessa maneira, temas debati-
em hospitais por
médicos evitam receber índios genas dessa área, que têm II mil quilômetros dos nesse encontro anteciparam pautas que es-
não contarem com infra-estrutura adequada. de extensão. (O Globo, 23/07/00) tarão na III Conferência Nacional de Saúde In-
(O Globo, 24/03/00) dígena, a se realizar dos dias 14 a 18 de maio
de 2001. (Últimas Notícias/ISA, 24/10/00)
A INTENÇÃO DESTE ARTIGO É REFLETIR movimento indígena? Remédios diferentes? Vacinas diferentes? A
SOBRE A POSSIBILIDADE E 0 PROCESSO DE questão, normalmente colocada com certa ironia, é pacientemen-
CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE ATENÇÃO À te respondida pelos índios que diferente é o modo de acesso e o
uso que eles fazem desses produtos, hoje indispensáveis à sua so-
SAÚDE INDÍGENA QUE ATENDA CADA SITUAÇÃO
brevivência física. Esta diferença no acesso, interpretação e usos
dos serviços de saúde passa por questões linguísticas, culturais,
Numa reunião do Fórum Permanente Mbya-Guarani, em dezem- políticas e geográficas, entre outras, e c mais evidente nas regiões
bro de 1998 na cidade de Porto Alegre, uma autoridade municipal onde ocorrem conflitos com a população não indígena, quando a
questionou os representantes indígenas sobre a sna excessiva mo- aplicação de vacinas, por exemplo, passa a ser tida pelos índios
bilidade. Após uma discussão sobre a situação de saúde e as difi- como uma exposição a venenos de efeitos imediatos ou tardios. É
culdades relativas ao acesso aos serviços públicos, o secretário o caso da população das serras do nordeste de Roraima, que fo-
perguntava por que as famílias guaranis não se lixavam onde as gem das vacinas oferecidas pelo recém criado município de
terras estavam sendo demarcadas, pois poderíam ser cadastradas Uiramutã, sediado mim aglomerado que se formou em torno de
numa determinada unidade de saúde o que permitiria um atendi- uma corrutela do garimpo dentro da terra indígena. A população
mento adequado aos casos de doença. não consegue acreditar que pessoas que convivem com (ou traba-
lham paia) as mesmas que disparam armas de fogo contra seus
Felipe Brizuela, liderança que tem com
se destacado nas relações
líderes e aliados, seqiiestram as irmãs da Consolaía e atiram seu
os não índios nos últimos anos, responde que o caminho de uma
caminhonete da ponte sobre as pedras do rio tenham algum inte-
pessoa nem a própria pessoa decide: é Nanderu quem o faz, não é
resse em contribuir com a melhoria de seu estado de saúde.
possível que onde uma pessoa deva ir seja determinado por outra
não vêem a tristeza como nossa doença, vocês não sabem da nossa como “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
alegria de ver um pedaço do mato com água limpa, os animais políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
comendo, uma árvore florescer..." doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
profissional de saúde: para o primeiro a doença é um aconteci- Esta conquista do povo brasileiro foi resultado da mobilização de
mento na vida que pode ter as mais diversas conseqüências, para setores populares, profissionais de saúde e políticos no movimen-
o segundo é só mais um caso dc doença. Afinai, o que seria uma to pela reforma sanitária qne começou a se formar na década de
atenção diferenciada à saúde conforme a demanda organizada pelo 70 e que teve sua proposta final sistematizada em 1986 na VIII
e servia principalmente a interesses corporativos das instituições. rência de agravos que poderiam ser significativamente reduzidos
Mais grave ainda é que o decreto de 1994 contrariava totalmente com o estabelecimento de ações sistemáticas e continuadas de aten-
os princípios e diretrizes da II Conferência Nacional de Saúde para ção básica à saúde nas comunidades.
os Povos Indígenas realizada em 1993 que apontavam para a cria-
Embora não cubram a totalidade da população indígena no Brasil,
ção dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas como um
os dados disponíveis indicavam, em diversas situações, taxas de
subsistema de saúde complementar ao SUS.
morbidade e mortalidade três a quatro vezes maiores que as
registradas para a população brasileira em geral.
processo contou com diversas discussões regionais e nacionais e Apesar de importantes empreendimentos no que diz respeito à
resultou em um plano de organização de 34 Distritos Sanitários organização de serviços, 0 desafio de contemplaras especificidades
Especiais Indígenas para atendimento de toda a população indíge- de cada contexto na implantação dos Distritos Sanitários Especiais
na brasileira. Atendendo a maioria das recomendações das confe- Indígenas ainda está longe de ser superado. A Fundação Nacional
rências de saúde indígena, 0 modelo não contempla, entretanto, a de Saúde firmou convênios com organizações indígenas,
autonomia administrativa dos distritos e a indicação dos seus che- indigenistas, universidades e municípios procurando suprir as
fes pelo Conselho Distrital. necessidades das mais diversas naturezas e em cada situação tem
se deparado com diferentes potencialidades e entraves para efeti-
0 Distrito Sanitário Especial Indígena ficou caracterizado como
vo funcionamento do modelo. Ainda que seja observado um au-
uma unidade organizacional de responsabilidade da Fundação
mento significativo na oferta de serviços, há que se considerar que
Nacional de Saúde, estabelecida a partir de uma população e terri-
as necessidades de saúde transcendem os limites do setor saúde e
tório definidos por critérios socioculturais, geográficos,
trazem demandas que não podem ser atendidas Lsoladamente pe-
epidemiofógicos e de acesso aos serviços; contando com uma rede
ias organizações que assinaram convênios com a Fundação Nacio-
de serviços própria nas terras indígenas, capacitada para as ações
nal de Saúde para execução das ações. Além das dificuldades para
de atenção básica à saúde, e articulada com a rede regional para
recrutamento de pessoal com perfil adequado para atuação num
procedimentos de média e alta complexidade. A participação Indí-
contexto intercultural e pouca capacidade administrativa por par-
gena é garantida nos Conselhos Distritais de Saúde de composição
te de algumas organizações, especialmente as indígenas que fo-
parilária entre usuários indígenas (50%) prestadores de serviços
,
térios, onde está incluída a transferência de recursos humanos e ticipação e protagonismo indígena inéditas na história do Brasil
outros bens destinados às atividades de assistência à saúde da Funai com a criação d.e conselhos locais e distritais de saúde. Estes são
para a Funasa. Finalmente, em 31 de agosto de 1999, 0 Senado as instâncias que permitirão a adequação dos serviços às diferen-
Federal aprovou a Lei no. 9.836/99, do projeto apresentado pelo tes realidades desde que se constituam cm espaços de diálogo que
Deputado Sérgio Arouca em 1994 baseado nos princípios gerais valorizem a palavra dos representantes indígenas onde sejam dis-
do relatório final da H Conferência Nacional de Saúde para os Po- cutidos as reais necessidades c problemas de saúde da população.
vos Indígenas, que complementa a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080/ Para tanto há que se ter clareza sobre 0 papel dos Conselhos
de, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente, de- Buscar os meios para efetiva participação da sociedade no
marcação de terras, educação sanitária e integração institucional",
aprofundamento da reflexão e tomada de decisão nas questões
colocando ao Estado a necessidade de superara mera responsabi- relativas ao seu bem estar é o passo decisivo em direção a um
lidade de disponibilizar serviços médicos, mas também proporci- processo de saúde para todos os cidadãos.
onar os meios necessários às comunidades indígenas para melho-
rar e exercer 0 controle sobre sua saúde. Deste ponto de vista, (E o que é que isso tem a ver com água limpa, árvores florindo,
assegurar a eqüidade sanitária implica em reduzir as diferenças comida boa e farta, animais brincando?..,) (abril, 2000)
a
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Ata da 83 Reunião: 117-118
Enfermeiros 317 252 223 88 46 18 139 55 BRASIL. Lei 9836/99- DOU, 24/09/1999. Seção 1, p. 1.
Dentísías 162 120 104 86 19 15 56 46 BRASIL Medida Provisória n.° 1.911-8, de 29 de julho de 1999- DOU, 30/07/99 p. 14.
a
Aux. Enfermagem 889 732 708 96 114 15 436 59 CONFERÊNCIA NACIONAL DE PROTEÇÃO À SAÚDE DO ÍNDIO, 1 Relatório Final. Brasília,
1986.
Ag. Indig.de Saúde 2644 2311 1545 66 164 7 439 18
CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE PARA OS POVOS INDÍGENAS, 2‘ Relatório Final.
Outros 897 825 719 87 71 8 185 22 FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. Consolidado dos relatórios bimestrais - DES/DAS - Ano
1998 - Brasília, FUNAI, 1999 (xerox).
Total 54714583 3437 74 436 9 1339 29
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Relatório anual de saúde indígena. Boa Vista, Coorde-
nação Regional da Fundação Nacional de Saúde, 1998.
cução do
NOS ÚLTIMOS ANOS, PODE-SE A legislação que trata da educação escolar indígena tem apresen-
CONTABILIZAR UMA SÉRIE DE AVANÇOS tado formulações que dão abertura para a construção de uma es-
E CONSENSOS NA ESTRUTURAÇÃO DE UMA cola indígena que, inserida no sistema educacional nacional, man-
POLÍTICA PÚBLICA, DE ÂMBITO NACIONAL, tenha atributos particulares como o uso da bngua indígena, a sis-
apresentam a cada momento. Todavia, essas definições no plano jurídico ainda encontram-se
nários têm se tornado recorrentes para a discussão da legislação DA FINAI PABA O MEC
educacional, de propostas curriculares para a escola indígena, de
A transferência de responsabilidade e de coordenação das iniciati-
formação de professores índios, do direito de terem uma educa-
vas educacionais em terras indígenas do órgão indigenista (Funai)
ção que atenda a suas necessidades e seus projetos de futuro. Hoje para o Ministério da Educação, em articulação com as secretarias
não mais se discute se os índios têm ou não que ter escola, mas estaduais de educação, através de decreto da presidência da Re-
sim que tipo dc escola. pública (n.26/91), responde em muito pelas alterações ocorridas
Se nos atermos à legislação, verificaremos um processo lento, mas neste setor. Essa transferência abriu a possibilidade, ainda não efe-
que segue de forma gradativa e cumulativa, onde o direito à uma tivada, de que as escolas indígenas fossem incorporadas aos siste-
educação diferenciada, garantido na Constituição de 1988, vem mas de ensino do país, de que os então “monitores bilingues” fos-
sendo regulamentado por meio da legislação subseqiiente. Além sem formados e respeitados como profissionais da educação e de
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e da que o atendimento das necessidades educacionais indígenas fos-
Resolução 3/99 do Conselho Nacional de Educação, a educação sem tratadas enquanto política pública, responsabilidade do Esta-
indígena está contemplada no Plano Nacional de Educação e no do. Encerrava-se, assim, um ciclo, marcado pela transferência de
projeto de lei de revisão do Estatuto do índio, ambos em tramitação responsabilidades do órgão indigenista para missões religiosas no
do novos canais de interlocução para os índios. E é possível, tam- para o surgimento de novos cursos de formação, por iniciativas
bém, demonstrar as inúmeras resistências dessas mesmas esferas governamentais. Outra ação significativa deu-se com o apoio à
de poder em absorver as escolas indígenas, respeitando o direito publicação de materiais didático-pedagógicos elaborados pelos
dos índios à uma educação diferenciada, tarefa que requer novos próprios professores índios enquanto momento importante do
aportes teóricos, metodológicos e administrativos. processo de sua formação, permitindo a ampliação de uma litera-
tura de autoria dos próprios professores indígenas.
construção de um documento que tivesse a função de definir os Participantes de Encontro, promovido pelo MEC,
parâmetros de uma política nacional para essa para traçar princípios sobre a formação de professores indígenas.
COORDENAÇÃO GERAL DE
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
Outras iniciativas importantes vieram somar-se a este novo contex-
to. Consolidou-se uma coordenação geral de educação escolar
indígena no âmbito do Ministério da Educação, ao mesmo tempo
em que se incentivou a criação de instâncias gestoras nas secreta-
rias de educação estaduais para cuidar das escolas e da formação
dos professores indígenas. Formulou-se no MEC um programa de
financiamento de projetos na área da educação indígena para apoiar
ações desenvolvidas por organizações de apoio aos índios e uni-
versidades, além de direcionar recursos orçamentários do FNDE
para que as secretarias de estado da educação pudessem também
Copyrtghiad material
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL ESCOLAS INDÍGENAS E SEUS DOCENTES EM 2000
PARA ESCOLAS INDÍGENAS Estado Escolas Escolas Professor Professor
Municipais Estaduais não-índio Indígena
Consolidando este quadro, um novo documento começou a che-
gar nas escolas indígenas de todo o país: o Referencial Curricular Acre 21 64 20 64
Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI), documento indutor e Alagoas 11 15 45
orientador de novas práticas, que contou com a participação de
Amapá 01 39 77 107
especialistas, técnicos e professores índios em sua formulação.
* 110
Trata-se de um longo e detalhado documento em que se apresen- Amazonas 537 761
conhecimentos com conhecimentos universais selecionados. Num Mato Grosso 133 07 45 271
campo que se caracteriza por uma plêiade de concepções e práti-
Mato Grosso do Sul 37 116 138
cas diferentes, o documento conhecido pela sigla RCNEI conse-
Minas Gerais 07** 01 69
guiu reunir e sistematizar um mínimo de consenso, capaz de sub-
sidiar diversas interpretações e propostas de construções pedagó- Pará 68 9 77 100
gicas e curriculares autônomas. Para que isto de fato ocorra será
29 88
Paraíba 37
preciso qualificação profissional dos agentes educacionais e aber-
Paraná 26 37 63
tura nos rígidos esquemas administrativos das secretarias de edu-
cação, demodo que se possa construir novos canais de interlocução Pernambuco 81 30 166
em que as comunidades indígenas tenham papel ativo na definição Rio de Janeiro 03*** 10
do projeto político pedagógico de suas escolas.
Rio Grande do Sul 08 44 141 162
Rondônia 29 31 43 90
CENSO ESCOLAR INDÍGENA
Roraima 10 173 47 423
No plano administrativo está em curso a realização de um censo
escolar indígena, quantítativo e qualitativo, com três produtos, ne-
Santa Catarina 26 39 45
das quais 631 são estaduais e 1.035 municipais, com diferentes **** São Paulo não possui escolas indígenas autônomas. Existem salas de aulas em
situações de reconhecimento legal. Pouquíssimas são reconheci- aldeias, vinculadas a escolas estaduais e municipais. Não foi indicado o número de
salas de aula.
das como escolas indígenas, apesar da criação dessa categoria pela
Resolução 3/99 do CNF.. Em sua grande maioria são consideradas Fonte: Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas do MEC, a partir de dados
fornecidos pelos setores responsáveis pela educação indígena nas secretarias esta-
como escolas rurais ou salas de extensão de escolas urbanas, se-
duais de educação (Out/00).
guindo calendários e currículos próprios desses estabelecimen-
tos. De acordo com o levantamento do MEC são 4.000 professores
lecionando nessas escolas, sendo 959 professores não-índios, e
3.04 1 professores índios. Pouco se sabe sobre o perfil destes pro-
fessores e sobre sua formação. Das 24 secretarias de estado da
tempos variados. Isso tem reflexo direto no modo de funciona- apontam para uma verdadeira revolução no reconhecimento do di-
mento da escola: com exceção de um único estado, em que todas reito dos índios à uma educação específica voltada à valorização do
as escolas indígenas possuem uma proposta curricular própria, a conhecimento indígena e preocupada em garantir meios e instru-
maioria das escolas indígenas do país não conta com proposta mentos para um convívio mais equilibrado com a sociedade brasileira.
curricular específica, seguindo as das demais escolas regulares do leis em vigor -Alei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de
Estado. Na verdade, a maioria das escolas em terras indígenas não 19%, trata, pela primeira vez desse direito. Em dois artigos, preco-
,
são nem reconhecidas como escolas indígenas. niza como dever do Estado o oferecimento de uma educação escolar
bilíngue e intercultural, que fortaleça as práticas socioculturais e a
língua materna de cada comunidade indígena, e proporcione a opor-
A LEGISLAÇÃO E A REALIDADE tunidade de recuperar suas memórias históricas e reafirmar suas
Constata-se, assim, um hiato entre a legislação e a realidade, entre identidades, dando-lhes, também, acesso aos conhecimentos técni-
dessas secretarias. Poucas são as que estruturaram um corpo téc- precisa das esferas de competência, em regime de colaboração, entre
nico administrativo para formular e implementar uma política es- União, Estados e Municípios. À primeira cabe legislar, definir diretrizes
tadual de educação indígena e que mantêm cursos regulares de e políticas nacionais, apoiar técnica e financeiramente os sistemas
um instrumento de submissão histórica, é o grande desafio do mo- sam efetivamente assumir os destinos de suas escolas, (outubro,
te. Onde ela existe, passos certeiros ou não estão sendo dados.
Onde ela não existe, é preciso criar condições para que as coisas
'4/A» Acervo
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de ensino para o provimento de programas de educação intercultura luciano Pizzallo, o capítulo da educação indígena virou uma colcha
e de formação de professores indígenas, atém de criar programas de retalhos, congregando propostas dispares e antagônicas. 0 G<wer-
específicos de auxílio ao desenmlvimento da educação. Aos Estados no Federal apresentou um novo texto que acredita-se que seja incor-
caberá a responsabilidade "pela oferta e execução da educação escolar porado peto relator. Nele prevê-se que os "índios tenham acesso aos
indígena, diretamente ou por regime de colaboração com seus conhecimentos valorizados e socializados no contexto nacional, de
municípios", integrando as escolas indígenas como “unidades modo a assegurar-lhes a defesa de seus interesses e a participação na
próprias, autônomas e específicas no sistema estadual" e provendo- vida nacional em igualdade de condições, enquanto grupos etnica-
as com recursos humanos, materiais efinanceiros, além de instituir mente diferenciados " e garantindo “ respeito aos processos educativos
e regulamentar o magistério indígena. e de transmissão de conhecimento das comunidades indígenas". 0
processo de implantação de escolas deverá, pela proposta do Execu-
leis em discussão no Congresso - Outras duas leis em dis-
estão
tivo, garantir autonomia tanto para o projeto pedagógico quanto à
cussão no parlamento e também tratam do direito dos índios à uma
gestão administrativa, num contexto plural de idéias e concepções
educação diferenciada: o Plano Nacional de Educação e a revisão do
pedagógicas. Ficam assegurados “ currículos programas e processo
Estatuto do índio. ,
A C 0 INI T E C E ü j
APROVADO O NOVO
EDUCAÇÃO Baniwa, secretário municipal de São Gabriel da
Cachoeira (AM). REFERENCIAL CURRICULAR
As experiências de formação de professores
EDUCACÃO INDÍGENA indígenas desenvolvidas por organizações não-
NA NOVA LDBEN govemamentais de apoio aos índios foi tema de
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação uma sessão do encontro. Foram apresentadas
Nacional, conhecida como Lei Darcy Ribeiro, as experiências da OGPTB entre os Ticuna, do
apresenta três artigos que regulamentam a oferta ISA no Ningu, da CPI-AC no Acre e do CTI entre
MEC REALIZA ENCONTRO ção dos sistemas de ensino estaduais como a ção, um texto de subsídio, formativo e informa-
para que estados municípios possam in-
DE EDUCAÇÃO INDÍGENA esfera responsável pela oferta da educação es- tivo, e
colar indígena; 2. Criação da categoria oficial teirar-se, respeitar e incentivar a nova política
Entre os dias 30 de setembro e 03 de outubro, de escola- indígena para garantir que a pública atualmente em vigor para as escolas
o MEC promoveu, em Brasília, o I Encontro especificidade da educação intercultural e bi- indígenas, a partir de um novo marco jurídico
Nacional de Coordenadores de Projetos na língüe seja assegurada; 3. Universalização da expresso na Constituição de 1988 e na Lei de
Área de Educação Indígena. Participaram adoção das diretrizes para a política nacional Diretrizes e Bases de 1996. Reúne os princípi-
cerca de 80 pessoas representando secretariai s de educação escolar indígena e implementação os contemporâneos que garantem a educação
estaduais de educação, demees, Funai, ONCs dos referenciais curriculares indígenas em todo específica e diferenciada, bilmgiie e intercultural
e universidades. o país; 4. Garantia de inclusão das escolas indí- a que tem direito as diversas sociedades indí-
A questão da LDB e a regularização dos currí- genas nos programas de auxílio ao desenvolvi- genas dopais. Como um referencial paraa cons-
culos e cursos de formação de professores in- mento da educação já existentes e criação de trução curricular, oferece subsídios aos profes-
dígenas foi abordada em palestra proferida pelo outros programas específicos que contemplem sores das escolas indígenas e aos técnicos dos
Prof. Júlio Winggers (SC) , A inclusão da educa- as necessidades destas escolas; 5. Garantia de sistemas de ensino sobre aspectos variados dos
ção escolar indígena no Plano Nacional de Edu- programas de formação em serviço aos docen- processos de ensino-aprendizagem, desejáveis
cação foi apresentada por Luís Donisete tes indígenas, procurando a qualidade e a con- nas áreas de conhecimento próprias às escolas
Grupioni (Marl/USP). A construção de refe- tinuidade sistemática desta formação, e sua re- indígenas brasileiras. Dá sugestões de trabalho
renciais pedagógicos curriculares indígenas foi gulamentação e reconhecimento público como a serem discutidas e criticamente apropriadas
o tema da palestra de Nietta Monte (CPI AC). E carreira do magistério. (ISA, tiov/97) para o ensino de línguas (portuguesa e Indíge-
a discussão sobre a munidpalização ou esta- na), matemática, geografia, história, ciência,
dualização foi conduzida pelo Prof. Gersen arte e educação física, ao longo do ensino fun-
damcntal. Tirou da clandestinidade e tornou nicipal de São Gabriel da Cachoeira, Gersen Estadualização - Normalizando a LDBEN, a re-
“oficiais" algumas das mais significativas expe- Banivva, defendeu que os municípios também solução define claramente as esferas de com-
riências atuais em educação escolar indígena. deveríam ter essa responsabilidade. Ele afirmou petência, em regime de colaboração, entre
(Nietta Lindenberg Monte in Página 20, Rio que se fossem estadualizadas as escolas indíge- União, Estados c Municípios. À primeira cabe
Branco, 13/12/98) nas, seu município ficaria com apenas 5% das legislar, definir diretrizes e políticas nacionais,
escolas, uma vez que as outras 95% são indíge- apoiar técnica e financeiramente os sistemas de
DOS REFERENCIAIS Sul também se posicionou contrária a cação intercultural e de formação de professo-
estadualização. Outras instituições e represen- res indígenas, além de criar programas especí-
A Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indí- tantes de secretarias manifestaram seu apoio a ficos de auxílio ao desenvolvimento da educa-
genas do MEC iniciou a distribuição do estadualização. O argumento principal é que os ção, Aos Estados caberá a responsabilidade
Referencial Curricular Nacional para as Esco- municípios não tem capacidade técnica para “pela oferta e execução da educação escolar
las Indígenas em todo o país. Foram editados oferecer uma educação de qualidade aos po- indígena, diretamente ou por regime de cola-
12.000 exemplares do Referencial que serão vos indígenas e de que são muito expressivos boração com seus municípios", integrando as
distribuídos para todos os professores indíge- os interesses anti-indígenas nos municípios, o escolas indígenas como “unidades próprias,
nas, técnicos governamentais, ONGs, universi- que poderia fazer com as escolas indígenas não autônomas e específicas no sistema estadual" e
dades e imprensa. Destes, 2.500 serão envia- tivessem qualquer apoio do poder municipal, provendo-as com recursos humanos, materiais
dos para as escolas indígenas acompanhado de A questão da estaduahzação, bem como outras e financeiros, além de inslituir e regulamentar
um kit com publicações, embaladas numa cai- ponderações apresentadas na audiência públi- o magistério indígena.
xa. Fazem parte destas publicações: Cadastro ca serão discutidas nas próximas reuniões do Formação - A resolução garante uma forma-
Nacional de Consultores da Educação Escolar CNE, quando se votará a resolução, garantiu o ção específica para os professores indígenas e
Indígena, 0 Governo Brasileiro e a Educação presidente da Câmara Básica, Ulisses de Olivei- que esta poderá ocorrer em serviço e, quando
Escolar Indígena 1995-1998, e um guia com ra Panisset. (ISA, out/99) for o caso, concomitantemente com a sua pró-
informações sobre os 10 livros didáticos que pria escolarização. Esta formação deverá dar
acompanham o referencial, produzidos por pro- MINISTRO HOMOLOGA ênfase à constituição de competências que pos-
fessores indígenas e assessores de diferentes RESOLUÇÃO sibilitem aos professores indígenas a elabora-
projetos de formação governamentais e não- ção de currículos e programas próprios, pro-
governamentais. O Ministro da Educação Paulo Renato Souza
dução de material didático e utilização de
Segundo a Secretaria de Ensino Fundamental do homologou no dia 18 de outubro o parecer de
metodologias de ensino e pesquisa.
MEC, Iara Prado, a idéia de re-edição destes n“ 14/99 da Câmara de Educação Básica do
0 MEC deverá iniciar, ainda este ano, utn pro-
Üvros didáticos e sua distribuição para todas as Conselho Nacional de Educação, favorável à
grama de divulgação e discussão da resolução
escolas indígenas do país, é “oferecer referên- aprovação do projeto de Resolução que fixa
em todo o país, de modo a informar o conteú-
cias, exemplificando como é possível a cons-
diretrizes nacionais para o funcionamento das
do da resolução aos professores indígenas e a
trução de material didático de qualidade ade- escolas indígenas e dá outras providências.
incentivar os setores responsáveis pela educa-
quado a cada comunidade indígena, e ao mes- À resolução, que recebeu o n' 3/99, cria a cate-
ção indígena nas secrelarias a implemeulá-la.
mo tempo, iniciar um intercâmbio entre os di- goria escola indígena, reconhecendo-lhe “a
(luís Donisete Grupioni, nov/99)
ferentes povos e escolas indígenas do país". condição de escolas com normas e ordena-
mento jurídico próprios”. Constituirão elemen-
0 MEC enviará os Kits e os Referenciais para as COMITÊ TEM
Secretarias Estaduais de Educação para as tos básicos para a definição dessa categoria sua
e
NOVA COMPOSIÇÃO
ONGs que desenvolvem projetos em áreas indí- localização cm terras habitadas por comunida-
genas, para que elas façam a distribuição junto des indígenas, atendimento exclusivo a comu- O Comitê de Educação Escolar Indígena, ins-
às escolas e professores indígenas. (ISA, dez/98) nidades indígenas, ensino ministrado nas lín- tância assessora e consultiva do MEC, tem nova
guas maternas e organização escolar própria. composição. Fazem parte do Comitê os seguin-
O capílulo da resolução que define como com- sadas, poderão manter escolas indígenas. Esta- Oeste (FiladéUio de Oliveira Neto e Maria de
petência dos Estados a responsabilidade pelas beleceu-se um prazo de três anos para a trans- Lourdes Kaivvã) da região Nordeste (José Ag-
,
escolas indígenas e pela formação dos profes- ferências das escolas municipais para os siste- naldo Gomes de Souza e Sandro Cruz dos San-
sores índios gerou polêmica. O secretário mu- mas estaduais de educação. tos) e da região Sudeste (Algemiro da Silva)
amente duas vezes por ano e o MEC levará cm do coordenador da COIAB, Euclides Macuxi. deia, Uma Outra História, Primeiros Coiilatos,
consideração suas recomendações como sub- (Jornal do MEC, abr/00) Nossas Tetras, Filhos da Terra, Do Oulro Lado
sídios às ações a serem implementadas na área do Cén e Nossos Direitos.
da educação escolar indígena no país. (ISA a PROFESSORES INDÍGENAS “É a primeira vez que a questão indígena é abor-
partir do DOU, 29/03/00) DISCUTEM FORMAÇÃO dada numa série para televisão, dando a pala-
vra aos índios, visando enriquecer o currículo
Quinze professores indígenas, de treze etnias,
escolar e combater idéias preconceituosas a
INEP/MEC REALIZA CENSO
representando as diferentes regiões do país es-
respeito desses povos. A série "índios no Bra-
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Edu- tiveram reunidos em Brasília, em encontro pro- sil” traz depoimentos de personagens, residen-
cacionais (INEP/MEC) em parceria com as se- movido pelo MEC, para traçar princípios sobre tes em diferentes partes do país, que expres-
cretarias estaduais e municipais de educação a formação de professores indígenas. 0 encon- sam com extrema fidelidade a relação nem sem-
está realizando o primeiro censo escolar indí- tro, que contou cora a assessoria da educadora
pre amistosa, entre o índio e o branco, desde a
gena no país. Através do censo será possível Nietta Monte e do antropólogo Luís Donisete época do descobrimento até os dias atuais”,
conhecer o modelo pedagógico adotado em Grupioní, foi centrado na discussão de quatro
explica Vincent Carelli, diretor da série. (ISA,
cada comunidade indígena, o currículo e o ca- temas: o perfil do professor indígena, currícu- ago/00)
lendário escolar, o número dc alunos indíge- lo da escola indígena, currículo dos cursos de
nas matriculados em cada série, o vínculo ad- formação dos professores indfgenas, e materi-
ministrativo e a infra-estrutura das escolas, o al didático e a pesquisa. Durante o encontro, PROJETOS ECONÔMICOS
tipo de material didático e equipamentos exis- os professoras indígenas analisaram e apresen-
tentes nas escolas indígenas e o grau de forma- taram sugestões para o documento “Diretrizes
EM TERRAS INDÍGENAS
ção dos professores indígenas. para a implementação de programas de forma-
“Esse levantamento levará o Brasil a conhecer ção de professores indígenas nos sistemas es- CARTILHA INCENTIVA TURISMO
a realidade educacional nas comunidades indí- taduais de ensino”, em fase de elaboração pelo
O governo lançou ontem no Rio uma cartilha
genas, identificai' o perfil do aluno, do profes- MEC. (ISA, ago/00)
que ensina os índios a explorar a indústria do
sor c da escola, c as peculiaridades existentes,
turismo.O lexto dá dicas de como os morado-
além da relação que cada um desses povos TV ESCOLA LANÇA SÉRIE res nas reservas devem receber os visitantes e
mantém com a nossa sociedade”, explica Ma- DE VÍDEOS SOBRE ÍNDIOS os orienta a resolver problemas relacionados
ria Helena Guimarães de Castro, presidente do
com a nova atividade, como tratamento do lixo
INEP, que realiza o levantamento em conjunto O canal da TV Escola começa a exibir a série
produzido pelos turistas e eventuais doenças
com a Secretaria de Ensino fundamental. (Jor- “índios no Brasil”, composta por 10 progra-
transmitidas pelos brancos no contato.
nal do MEC, abr/00) mas de aproximadamente 20 minutos cada. Sob
A iniciativa do governo provocou a imediata
a direção do documentarista Vincent Carelli, da
ONG Vídeo nas Aldeias (SP), a série é uma ini-
reação de estudiosos da cultura indígena. Um
TELECONFERÊNCIA SOBRE dos principais indigenistas do país, Sidney
ciativa da TV Escola, da Secretaria de F.nsino a
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA Possuelo, funcionário da Fimai, criticou a me-
Distância, em parceria com a Secretaria de En-
dida. Encarregado dc frentes de contato com
“Educação Indígena: formação do professor” sino Fundamental do MEC. Alunos, professores
índios arredios, como os Korubo, no vale do
foi o tema da primeira teleconferência que inau- e diretores poderão amphar os seus conheci-
Javari, fronteira do Brasil com o Peru, Possuelo
gurou a série “Parâmetros Curriculares Nacio- mentos e desmistificar os preconceitos a res-
é contra a aberrara das áreas para o turismo.
nais da Educação Fundamental", realizada no peito da questão indígena no Brasil. Primeira-
Ele argumenta que o incentivo ao turismo entre
dia 14 de abril, pelo MEC, no auditório da mente os vídeos serão exibidos pelo canal da
os índios é precipitado. Para Possuelo, a explo-
Embratel em Brasília. A teleconferência foi TV Escola. No próximo ano, a SEF estará reali-
ração do turismo nas aldeias como fonte de
transmitida ao vivo para os 57 auditórios da zando 15.000 cópias dos programas que serão
renda para as comunidades segue a tendência
Embratel, onde se reuniram professores, con- enviados para as escolas do país, acompanha-
do governo de “terceirizar tudo". (A Crítica,
sultores c especialistas em Educação de todo o dos de três livros, com textos que deram ori-
16/12/97)
país, telepostos também da Embratel e rede da gem aos roteiros dos vídeos, escritos por an-
TV Escola. tropólogos e consultores da SEF (Bruna
No início foram exibidos três filmes: o primei- Franchetto, Carlos Fausto, Dominique Gallois,
TURISMO EM RESERVAS
ro, explicativo sobre a história dos índios no Luís Donisete Grupioni, Virgínia Valladão c O presidente da Funai, Sulivan Silvestre, infor-
Brasil e as ações do MEC dirigidas a eles; o se- Vincent Carelli), mou que na próxima semana deve ser criado
gundo, mostrando a experiência da escola in- Os programas - Apresentada pelo bder Ailton um grupo de trabalho para avabar o lançamen-
dígena nas aldeias Maxacali e Pataxó, em Mi- Srenak, “índios no Brasil" mostra, sem inter- to do Manual Indígena de Ecoturismo, ocorri-
nas Gerais; e o último, apresentando o projeto mediários, como vivem e o que pensam os ín- do no último dia 15, em Brasília. O documento
desenvolvido pela Comissão Pró-Índio do Acre dios de nove povos dispersos no território na- foi apresentado no World Ecotur' 97, encontro
na formação de professores indígenas. cional, escolhidos entre mais de duzentas etnias: que discute o turismo ecológico como fonte de
A mesa-redonda contou com a participação da Ashaninka e kaxinawá (AC) Baniwa do Rio Ne-
,
renda.
coordenadora-geral de apoio às escolas indí- gro (AM), Krahô (TO), Maxacali (MG), O objetivo da discussão é analisar os aspectos
genas do MEC, lvete Campos; do consultor do Pankararu (PE) Tanomami (RR) Kaiowá (MS)
, , antropológicos e etnológicos e tomar o assun-
MEC para educação indígena, Luís Donisete e Kaingang do sul do país, São dez os títulos to mais comum aos funcionários da instituição.
dades indígenas, de que elas se mantenham por tabeleceria uma maior integração entre os índios
Susana GriUo Guimarães, reconhece a necessi-
capacidade própria, mas temo que a atividade e a população não-índia. (O Liberal, 23/02/99) dade da Funai assessorar os projetos que sur-
turística possa prejudicá-las, trazendo doenças, gem em vários estados. Ames de deixar a dire-
toria de Assistência do órgão, ela demonstrou a
forçando o contato com a civilização e SOLUÇÕES PARA O
7
preocupação com a exploração do turismo sem
descaracterizando a cultura indígena ', ponde- DESENVOLVIMENTO
rou Silvestre. estudos e anunciou acriação de uma comissão
SUSTENTÁVEL? para analisar o assunto. “Os Guató, os Bororo,
Segundo a cartilha, os índios teriam que cons-
truir hotéis rústicos para hospedar os visitantes O novo presidente da Funai, Carlos Marés, em Paresi, Pataxó e Kaingang também querem o
fora das aldeias; vender pacotes para agências; visita oficial ao Amazonas veio buscar nas ex- turismo. Não podemos virar as cosias para isso”.
treinar guias; exigir que os turistas estejam va- periências dos índios da região, em especial dos Susana reconheceu a pouca participação da
cinados, entre outros pontos. uaimiri-atroaris, soluções de desenvolvimento Funai na resolução de problemas nas aldeias,
“Como se pode exigir qoe essas ações sejam auto-sustentado, uma das principais metas de por falta de recursos, e que o turismo étnico
cumpridas por etnias que ainda não admitem o sua administração. pode ser a solução para muitos deles. “0 pro-
contato com os brancos? indaga o presidente Marés visitou os Waimiri ontem e também irá a blema é que, senão ordenadas, as vistos po-
,
da Funai, demonstrando que a oficialização do São Gabriel da Cachoeira reunir-se com os re- dem gerar impactos negativos. A produção de
turismo nas reservas é algo delicado e que pre- presentantes da Coiah. Em entrevista coletiva, alimentos nas aldeias pode ser afetada pela ex-
concedida oniem em Manaus, Marés falou so- cessiva produção de artesanato”.
cisa de tempo para discussão, (Diário de
Cuiabá, 04/01/98) bre projetos da Funai c a situação do órgão no Os grupos de estudo acontecerão em parceria
que diz respeito à saúde, proteção e demarca- com o MALA. Mas a mudança constante de car-
ção de terras indígenas. gos na Funai faz mais estragos do que se imagi-
FUNAI APOIA EXPLORAÇÃO
Para o novo presidente, uma das principais pre- na. 0 vai-e-vem de diretores poderá atrasar a
SUSTENTÁVEL DE RESERVAS
ocupações da fundação será justamente com criação definitiva da comissão. Hoje, a direto-
O novo presidente da Funai, o ex-senador José uma área que passou a ser gerenciada pela ria de Assistência é acumulada pelo vice-presi-
Márcio Panoff Lacerda (PMDB-MT), defendeu Funasa: a saúde dos povos indígenas. Marés diz dente do órgão, Dinarte Nobre de Madeira, En-
oniem, ao tomar posse, a exploração econômi- que a Funasa tem competência técnica para as- quanto isso, o turismo nas aldeias do Xingu está
ca de áreas indígenas. Lacerda disse que a ex- sumir a saúde dos índios, mas critica a manei- proibida.
ploração legal de madeira e garimpo em áreas ra como se deu a passagem de um órgão para Indiferentes a Brasília, os Kamayurá não vêem
indígenas pode ser uma fome de recursos outro. a hora de coiicrelizar o projeto. Ergueram uma
para as comunidades. Ele lembrou que há vári- Segundo Marés, não houve um processo de tran- oca extra para receber os turistas, com banhei-
os projetos nesse sentido em tramitação no Con- sição. A mudança ocorreu sem nenhum prepa- ro e cozinha. Para quem reclama da falta de
gresso que podem ser aproveitados, mas res- ro, o que leni gerado impasses em várias regi- recursos, levantar a estrutura tão cedo, sem
saltou que qualquer tipo de utilização econô- ões. “A Funasa é um órgão técnico de alia com- garantias de aprovação do projeto, foi pouco
mica nas reservas deve ser feita de forma assis- petência, mas não tinha nenhuma tradição para prudente.
tida e orientada. lidar com a realidade indígena”, diz. Para re- Confiantes,des esperam não ter mais proble-
“A proibição resultou em danos mais graves do solver a questão, ele propõe por enquanto, o mas para manutenção de veículos e
fazer a
que aqueles que se pretendeu prevenir: o ga- diálogo e o trabalho conjunto entre Funai e motores de barcos. 0 pajé da tribo, Takumã,
rimpo clandestino, a exploração predatória da Funasa. lembra que a abertura de estadas aumentou o
madeira de lei, a biopirataria’’, afirmou. As ações e metas da Funai, para seu novo presi- intercâmbio entre as comunidades da região,
(...) Lacerda considera indispensável acriação dente, serão localizadas. Ele não defende uma inclusive durante cerimônias como o kwarup,
de mecanismos legais que garantam a preser- política nacional para os indígenas, mas políti- o que lambém exige gastos.
vação do ambiente e a destinação de parte do cas diferenciadas, propondo ainda uma revisão Tradição à parte, um breve passeio mostra que
dinheiro obtido com as atividades econômicas do órgão. os índios terão muito o que fazer para atrair os
aos índios. Para o novo presidente da Funai, a Os projetos produtivos em área indígena são turistas. Apesar da disposição de preservar a
tentativa de preservação absoluta das reservas vistos com bons olhos pelo novo presidente. Ele cultura, latas e plásticos são facilmente vistos
indígenas impediu o aproveitamento econômi- não vê polêmica no índio se estruturar econo- no caminho que leva à lagoa Ipavu, perto da
co dessas áreas sob o amparo da lei, contribu- micamente. “Só é preciso ter cuidado para não aldeia.
indo para que o acesso dos índios à sociedade alterar as crenças e a cultura dos povos”, res- Em uma das ocas, crianças jogam cartas, brin-
não-índia ocorra pela porta da ilegalidade. salta. Até mesmo a exploração de madeira em cam com bonecos dos teiettubies, ouvem a ban-
(,..)Crítico das práticas assistencialistas que não teria problema desde qoe
terras indígenas da norte-americana For Non Blondes e exibem
historicamente dominaram a relação da Funai houvesseum plano de manejo. Os projetos eco- um cartaz dos australianos Hanson. 0 que pode
com os índios, Lacerda defendeu o desenvolvi- nômicos dependeriam da necessidade de cada ser um tremendo banho de água fria no turista
mento sustentável dos grupos. Ele sugeriu ain- povo. (A Crítica, 09/12/99) acontece exatamente na oca de Kotok e Takumã
- os lideres da aldeia. (Correio Braziliense,
10/08/00)
ÓRGÃO QUER BAIXAR PORTARIA OBRIGANDO convênio a definição de obrigações para ambas as partes, sendo
RELIGIOSAS A REALIZAR CONVÊNIOS COM A Funai abusa do seu poder legal quando pretende aprovar ou
A FUNAI PARA INGRESSAR OU REALIZAR vetar projetos ou atividades dc interesse das comunidades, mesnto
QUAISQUER ATIVIDADES DE APOIO AOS ÍNDIOS quando a natureza dessas atividades independe de autorizações
formais dos poderes públicos. Na minuta, os projetos que serão
ria que pretende condicionar o ingresso e a permanência de subordinados à aprovação da Funai. É um abuso do instituto da
prepostos de entidades civis e religiosas em terras indígenas à pré- tutela, que relega as comunidades indígenas à incapacidade civil,
via celebração dc convênios com a Funai. cerceia o seu direito de organização, de conduzir os seus próprios
destinos e de construir as relações de parceria que desejam. Na
Essa minuta circulou de mão em mão entre os índios funcionári-
minuta, a Funai sequer se obriga a cumprir prazos na análise dos
os, que trabalham na sede do órgão. O texto da minuta atinge,
convênios e projetos.
inclusive, as organizações indígenas que, juridicamente, são orga-
Exige das entidades informações sobre suas fontes de financia-
nizações civis como outra ONG qualquer. A Funai, na amai gestão,
mento e contratos com terceiras partes, mesmo nos casos em que
tem questionado a legitimidade das organizações indígenas, ale-
ela sequer participa financeiramente dos projetos. Decidirá segundo
gando que apenas ela, enquanto órgão tutor, além da comunidade
seus próprios critérios jurídicos e técnicos, que não são
indígena em si, através de suas lideranças tradicionais, pode legal-
explicitados, dando margem a ampla subjetividade. Atribui-se o
mente representar direitos e interesses indígenas.
direito de determinar a reahzação de auditorias a qualquer tempo,
Esse entendimento viola frontalmente o disposto no artigo 232 da obrigando as entidades a custeá-las.
Constituição brasileira: “Os índios, suas comunidades c organiza-
ções são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa dos O CONVÊNIO QUE SE
seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em to-
PROPÕE NÃO É CONVÊNIO, É UM
dos os atos do processo”.
EMARANHADO DE OBSTÁCULOS
A Constituição legitima expressamente as organizações indígenas
burocráticos capaz de inviabilizar a execução de projetos das pró-
e não faz referência, sequer, à existência da Funai. Se as organiza-
prias comunidades indígenas. A minuta estabelece que apenas en-
ções indígenas podem ingressar em juízo, muito mais ainda po-
tidades civis registradas no Brasil podem reahzar os convênios
dem desenvolver os seus projetos livres de qualquer cerceamento
Ou
obrigatórios com a Funai. seja, outras entidades não teriam
por parte da Funai, desde que o façam de acordo com a lei.
possibilidade de atuar em terras indígenas, mesmo que disponham
A minuta é essenrialmente ilegal, pois pretende obrigar institui- de convênios com organizações indígenas ou instituições públicas
ções privadas que atuam legalmente a reahzar convênios com a ou privadas Ou seja, empresas estrangeiras de minera-
brasileiras.
Funai, sendo que a própria figura do convênio pressupõe a Mvre ção poderiam atuar lcgalmcnte em terras indígenas, mas organi-
expressão de vontade das partes. É, também, inerente à figura do zações civis de apoio, não.
À intenção arbitrária da parte da Funai, nesse nível, não tem pre- .Ainda no âmbito do PP-G7, embora em um outro seu componente,
cedente nos anos 90, e lembra os piores momentos da ditadura o PDA, que apoia projetos demonstrativos de associações civis,
militar. No entanto, não constitui um caso isolado. está prevista a criação de uma linha de financiamento específica
para projetos comunitários indígenas. A iniciativa conta com o apoio
A intenção de se afirmar corporativamente através do cerceamen-
da coordenação do PPTAI,, mas sofre oposição da Coordenação de
to às atividades de organizações civis tem se manifestado em ou-
Patrimônio Indígena da Funai.
tras oportunidades recentes, inclusive no que se refere ao PP-G7,
Plano Piloto de Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras, finan- Esse segmento pretende gerir diretamente quaisquer recursos que
ciado pela cooperação internacional, especialmente pelo governo se destinem a projetos indígenas, dispondo do poder de veto a
alemão, e que mantém um componente indígena denominado projetos que considere, a seu próprio juízo, como lesivos aos índi-
PPTAI., Plano de Proteção das Terras Indígenas da Amazônia Legal os, ainda que contem com o apoio dos índios e estejam adequados
Brasileira. às leis vigentes. Incomoda ao setor, que projetos sejam aprovados
no âmbito de uma comissão executiva em que as ONGs têm parti-
Os contratos internacionais relativos ao PP-C7 preveem que de-
marcações de terras indígenas poderão ser realizadas, entre ou-
cipação paritária e em que a Funai terá apenas representação.
Dentro da própria Funai se engendram grupos de interesse capa-
tras modalidades, através de convênios com organizações indíge-
nas e de apoio que atuam nas terras objeto de demarcação, casos
zes de inviabilizar o sucesso dessa iniciativa, em prejuízo dos índi-
nas e dos próprios doadores prevaleceu e o dispositivo O caso mais conhecido é o do Projeto de Recuperação de Áreas
alegadamente contraditório será substituído, de modo a reafirmar Degradadas por Garimpos da Terra Indígena Waiãpi, no estado do
essa alternativa ao processo usual de demarcação e a necessidade Amapá, uma parceria entre a organização indígena local e o CTI,
Acervo
-7/flSA
AUMENTO DO INDIGENISMO ALTERNATIVO
Durante a década de 90, aumentou significativamente a participa- ria com a Foim, é responsável f>ela implementação do Projeto de
ção de organizações não-governamentais (ONGs) em projetos com Consolidação da Demarcação Física das cinco TIs do Rio Negro e tam-
comunidades indígenas nas áreas de saúde, educação escolar, de- bém desenvolve projeto de fiscalização e vigilância no Parque Indí-
marcação e vigilância de terras e alternativas econômicas sustentá- gena do Xingu, em parceria com a organização indígena Atix (Asso-
veis. Buscando a sustentabilidade das terras indígenas e suas comu- ciação Terra Indígena Xingu); os Amigos da Terra, em parcerias com
nidades. projetos nessas áreas envolvem, hoje, tanto as entidades da diversas organizações indígenas, instala redes de radiofonia e treina
sociedade civil constituídas, majoritariamente, por não-índios e os usuários em diferentes terras indígenas; a Operação Amazônia
costumeiramente denominadas "ONGs" como as chamadas “ organi- Nativa (Opan) desenvolve ações de vigilância e, em parceria com os
zações indígenas". Nos domínios específicos da saúde e educação Amigos da Terra, de instalação de radiofonia em seis TIs no estado do
escolar, verifica-se, ainda, o crescimento da atuação de instituições Amazonas (Katukina do Rio Biá, Kanamari do Riojuruá, Kanamari
como Universidades e Fundações. do Matrinchã. Vate do Javari, Kulina do MédioJuruá e Kulina do Ca-
cau de Tarauacá). A Opan mantém, ainda, um projeto de apoio à
Demarções de Tis - Entre 199! e 1994, demarcações físicas de di-
preparação do acompanhamento indígena e da consolidação da de-
versas terras indígenas foram efetivadas através de convênios entre
marcação física da TI Vale do Javari. em seu limite sul.
o órgão indigenista governamental, Fundação Nacional do índio
(Funai), e ONGs. Saúde Com a transferência da responsabilidade pela saúde indíge-
-
Araweté do Igarapé Ipixuna (sudeste do Pará), custeada freio gover- de professores indígenas e elaboração de material didático, também
no austríaco No mesmo ano, a Funai e o Centro de Trabalho são um campo de atuação de ONGs. 0 CTI, junto aos Waiãpi, a CP
Indigenista (CTI) oficializaram acerto para que a demarcação da TI Acre junto aos índios daquele estado, a CCPY, com os Yanomami, o
Waiãpi (Amapá) fosse realizada por esta ONG, em parceria com os ISA, no Parque Indígena do Xingu e na região do Rio Negro são alguns
índios e com recursos do PPTAL (Projeto Integrado de Proteção às exemplos (ver capítulos regionais).
Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal). Em 1996, o Insti-
Projetos Econômicos - Atualmente, há dezenas de projetos econô-
tuto Socioambiental (ISA), a organização indígena Foim (Federação
micos entre povos indígenas no Brasil. Quase sempre, a preocupação
das Organizações Indígenas do Rio Negro) e a Funai assinaram con-
manifesta pelas entidades proponentes (ONGs e organizações indí-
trato relativo à condução da demarcação de cinco TIs na região co-
genas) é combinar geração de renda econômica e preservação
nhecida como “Cabeça do Cachorro" (Alto Rio Negro, Médio Rio Ne-
ambiental. Alguns desses projetos são custeados diretamente por agên-
gro I e II, Rio TéueRioApapóris), com recursos do PPTAL (ver capí-
cias da chamada cooperação internacional através de agências, pri-
tulo Noroeste Amazônico).
vadas ou governamentais, e de bancos e instituições
Fiscalização e Vigilância - Quatro ONGs participam do Compo- intergovemamentais. Crescem nos últimos anos, entretanto, possi-
nente Dois do PPTAL, que são os projetos defiscalização e vigilância bilidades de crédito através de linhas de financiamento ligadas a ór-
das terras indígenas demarcadas com recursos desse projeto: o CD, gãos governamentais brasileiros, como o PDA (ver box em seguida)
em parceria com a Apina (Conselho de Aldeias Waiãpi), trabalha na o 1’DPI (ver capítulo Organizações Indígenas), o Padic (MT) e o PAIC
Implementação do Plano de Vigilância da 77 Waiãpi: o ISA, em parce- (RO). (ISA, oiit/00)
no Estatuto do índio e no Código de Mineração, a Funai bombar- viado para a Funai que, quarenta dias já transcorridos, estando
deia os procedimentos adotados pelos índios com o expresso ob- informada da urgência da sua manifestação frente ao apertado
jetivo de impedi-los dc exercer esse seu direito.O mesmo espírito cronogramade execução do manejo, ainda não se manifestou. Em
corporativo vem rondando outros projetos. suma, a Funai, que tem a obrigação legal de prover aos índios os
meios necessários à sua digna sobrevivência, não o faz e, ainda
0 Plano de Manejo Florestal da Terra Indígena Xíkrin do Cateté,
por cima, sente-se no direito de impedir que instituições civis os
parceria entre a Associação Bép-Nói e o ISA, aprovado por porta-
apoiem para que eles mesmos o façam.
ria conjunta da Funai e do Ibama há quase dois anos, está sofren-
do oposição do mesmo grupo. O projeto dispõe do apoio daCVRD Afirma-se numa tutela cartonai e no corporativismo mais estreito,
(Companhia Vale do Rio Doce), do Banco Mundial, do Ibama, do ainda que os índios, seus supostos tutelados, sejam brutalmente
Ministério do Meio Ambiente, do Ministério da Justiça, da Embrapa prejudicados. E tudo ocorre em um governo que se esmera em
e de um grande número de instituições públicas e privadas. afirmar, como prioridade sua, a realização de parcerias com a
sociedade civil. (Publicado em Últimas Noticias/ISA, 13/03/97)
^ Acervo
_//f I SA
Assessores do
ORGANIZAÇÕES 1973 já está definido que o ingresso nas áreas
indígenas deve ter autorização da Funai. Bve-
vez, seja objeto de projelo de
ministro disseram que ele foi
lei.
“fcrlemenle" pres-
NÃO-GOVERNAMENTAIS mos quatro que não funcionaram
portarias, sionado pela bancada evangélica, que estava
porque não havia vontade política", diz. “Não insatisfeita com as restrições de acesso que vol-
NOVO CONSELHO INDIGENISTA vedamos nenhuma portaria; as organizações são taram a ser impostas às missões.
bem vindas, mas precisamos saber de seus pro- A existência de biopirataria em terra indígena
ACEITA "PAUTA SURPRESA”
pósitos para evitar interferências nas culturas remete a dois problemas diferentes: o acesso
A Funai reuniu em Brasília, nos dias 4 e 5 de dos povos”. às áreas e à regulamentação da aquisição de
março, os novos membros do Conselho Para o ISA, a proposta é ilegal, porque atinge conhecimentos indígenas. “Portarias concedem
lndigenista. Na reunião, para a qual não houve até as organizações indígenas que, juridicamen- à Funai poder cartorial; mas o necessário é que
pauta estabelecida previamente, a Funai colo- te, são organizações civis como outras quais- o órgão tenha poder de polícia", diz o antropó-
cou sobre a mesa uma minuta de Portaria para quer. “A minuta é essencialmente ilegal, pois logo Carlos Alberto Ricardo, do Instituto
regulamentar a entrada e a ação de organiza- pretende obrigar instituições privadas que atu- Sociambieiital (ISA), ao referir-se à impotência
ções civis e missões religiosas em terras indí- am ilegalmente a lazer convênios com a Funai. da Funai diante de madeireiros e garimpeiros,
-
genas. Fazem parte do Conselho: Titulares Além disso, só estabelece obrigações para as que estão presentes na maioria das terras indí-
Antônio Carlos Silveira (Fundação Nacional de entidades", afirma Santilli. genas demarcadas.
Saúde); Rafael José de Menezes Bastos (Asso- Silvestre garante que a entrada em vigor da por- Para a coordenadora do Núcleo de História In-
ciação Brasileira de Antropologia) ; João Baptisia taria não significa que a Funai passará a adotar dígena da Universidade de São Paulo,
Borges Pereira (Universidade de São Paulo) uma atitude polirialesca. (Correio Braziliense, Dominique Gallois, normas diferentes devem
Megaron Txucarramãe, Pedro Comélio Seg Seg 27/03/98) regulamentar o acesso de pesquisadores, mis-
Kaingang, Francisca Nevantino Ângelo (repre- sionários e membros de ONGs. Para da, que
sentantes Indígenas) e Benedito Ferreira Mar- FUNAI BLOQUEIA trabalha há 20 anos em area indígena, hoje “não
ques. Suplentes - Fíávio Pereira Nunes (Funda-
ACESSO ÀS ALDEIAS... há controle nenhum”.
ção Nacional de Saúde) Carlos Fausto (Associ-
;
Convênio firmado em 1996 entre a Funai e a
ação Brasileira de Antropologia); Lux Boelitz Pesquisadores, missões religiosas, organizações Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Vidal (Universidade de São Paulo); Marcos não-governamentais enfrentarão maiores res- concede à Embrapa o direito de eoletar e con-
Terena Tsuptó Xavante e Esteia Maria dos San- Irições para entrar em aldeias indígenas, A Funai servar recursos genéticos da tàuna e da flora
,
tos de Oliveira (representantes Indígenas) e vai divulgar amanhã portaria com novas exigên- indígena mediante autorização da Funai, que
Marcos António dos Santos. cias para o acesso de estranhos às aldeias, como deverá necessariamente ouvir a comunidade.
Os membros do Conselho presentes à reunião forma de conter a máfia da biopirataria que atua Apesar disso, nenhum dos mais de 200 presi-
assumiram o compromisso de enviar sugestões em áreas indígenas. Arquivos da Funai - divul- dentes das associações indígenas (registradas
para aprimorar a minuta de portaria até o dia gados no domingo - mostram que grande nú- na Receita Federal) assinou o convênio. A cole-
13/03. Uma nova reunião do Conselho está mero de instituições aluam à revelia do gover- ta feita em terra Indígena passa a fazer parle do
marcada para o dia 23/03- no e muitas vezes põem os próprios índios con- Sistema Brasileiro de Recursos Genéticos fican-
Em plena pré-temporada de invasão ilegal de tra a Punai, alem de promoverem um leilão da do à disposição de qualquer pesquisador do
madeireiras, que acontece todo ano no final da floresta.
planeta.
estação chuvosa na Amazônia, a pauta coloca- Para se ter acesso a terras indígenas, normal- Desde 1995, tramita no Senado um projeto de
da pela Funai diante do ilustre Conselho é, no mente exige-se a comprovação do que vai ser
lei, apresentado pela senadora Marina Silva (PT-
mínimo, uma prioridade questionável. (Últimas feito, cópias de documentos, atestados de vacina- AC), elaborado com base na convenção sobre
Notícias/ISA, 05/03/98) ção e a autorização só é dada depois que os antro- diversidade biológica, aprovada na Eco 92, 0
pólogos consultam os índios sobre o pedido. projelo regulamenta Inclusive a apropriação dos
FUNAI ELABORA “Hoje a Funai não tem muitos meios para con- recursos em terra indígena, mas esbarra no
NORMAS PARA ONGS trolar e fazer uma fiscalização de forma eficaz", lobby dos setores interessados em permanecer
afirma o ex-presldente da fundação, Márcio nas terras indígenas dc forma ilegal. (O/SP,
A Funai pode baixar hoje uma instrução Santilli. A prova disso, segundo ele, são as cons-
13/08/98)
normativa para disciplinar o ingresso e perma- tardes invasões que ocorrem em centenas de ter-
nência de entidades civis e religiosas em terras ras indígenas. (Correio Braziliense, 12/08/98) AUSÊNCIA DO ESTADO
indígenas em todo o país. A proposta, divulgada
PREOCUPA MILITARES
no começo do mês, condiciona a entrada im-
e
... MAS PORTARIA E PARLAMENTARES
plantação de projetos nestas áreas à assinatura
É REJEITADA POR CALHEIROS A criação de novos territórios na região amazô-
de convênios com a Funai. Logo após ser
divulgada - em minuta, dia 3 passado, durante Renan Calheiros rejeitou ontem o texto da por- nica está sendo considerada uma solução para
a reunião do Conselho lndigenista em Brasília taria elaborada por técnicos da Funai com ob- vários problemas na área, como a ausência do
- a medida começou a ser criticada por orga- jetivo de regulamentar o acesso de pesquisado- Estado e a ocupação desse espaço pelas ONGs,
nizações não-governamentais que trabalham res, missionários e membros das organizações Durante visita à Amazônia, o ministro da Defe-
com os índios. não-governamentais às áreas indígenas. sa, Geraldo Quintào, disse que a solução para
As entidades acusam Sulivan Silvestre de violar Calheiros teria dito, após reunião com o presi- problemas como invasão de fronteira, a entra
a Constituição Federai e estar tomando uma dente da Funai, no fim da tarde, que não have- da de drogas no País, integração da região, além
decisão política. Em resposta, Silvestre diz que ria mais “portaria nenhuma". Segundo ele, o da efetiva atuação de todos os ministérios e ór-
as entidades querem substituir a Funai. “Desde texto “precisa ser elaborado com calma" e, tal- gãos dos governos federal e estadual seja a cri-
Antropólogo/ISA
Marcos Pereira Rufino
PARA ALÉM DO PROSELITISMO RELIGIOSO, projeto de sustentatibilidade e ocupação territorial entre os Mura,
MISSIONÁRIOS CRISTÃOS ESTÃO ENVOLVIDOS cuja meta é a produção, beneficiamento e comercialização de fru-
A atuação da missão católica também não esconde a sua diversida- das propostas de auto-sustentação elaboradas pelo Cimi procura
de. Além do trabalho realizado pelas diversas ordens e congrega- situá-las como atividades de baixo impacto sobre as condições
ções, cada qual com o seu carisma e projeto missionário próprio, sociais e econômicas internas aos grupos indígenas que são bene-
há hoje a forte presença de missionários seculares, comprometi- ficiados por elas. Estas propostas salientam também o sentido co-
dos diretamente com o plano pastoral da hierarquia eclesiástica munitário que estas atividades podem desempenhar no interior
do país. Estes últimos estão, em sua grande maioria, ligados ao destas realidades.
Cimi - Conselho Indigenista Missionário, órgão anexo à CNBB,
Ainda no campo católico, não podemos ignorar que em algumas
criado por ela com a finalidade de coordenar a ação missionária
regiões o Cimi participa diretamente, através da pastoral indigenista
nacionalmente e sintonizá-la com as preocupações contemporâ-
diocesana local, da gestão dos Distritos Sanitários Especiais indí-
neas da Igreja Católica. Contrariamente aos missionários católicos
genas, junto com as organizações indígenas e ONGs parceiras. Éo
das ordens e congregações, os cerca de 40Ü missionários do Cimi,
caso da diocese de Boa Vista, em Roraima, cujos missionários atu-
distribuídos em 112 equipes, estão cada vez mais distantes do
proselitismo religioso e concentram a sua amação na política
am em parceria com o CIR, e da diocese de São Gabriel da Cacho-
Nos últimos anos vêm sendo desenvolvidos também alguns proje- A ação de missionários protestantes é ainda mais complexa. Além
tos de geração de alternativas econômicas, como por exemplo, o das centenas de grupos que frequentemente são denunciados por
—//\' I SA
suas práticas de claro desrespeito à diversidade cultural, com a Os grupos protestantes de maior destaque no cenário da política
imposição de valores, cultos e cosmologias estranhos aos índios, indigenista são o GTME (Grupo de Trabalho Missionário Evangéli-
há também um conjunto de agentes missionários protestantes di- co) e o Comin (Conselho de Missão entre os índios). Estas duas
retamente envolvidos na política indigenista. A maior parte das ati- agências missionárias são muito próximas uma da outra. Apesar
vidades desenvolvidas por estas denominações evangélicas, e que de estarem explicitamente comprometidas com a evangelização
não são propriamente religiosas, estão na área da educação e da dos povos com quem atuam, ambas enfatizam o envolvimento mis-
saúde. Nos é bastante conhecido o trabalho de sistematização lin- sionário na educação, saúde e movimento indígena, atuando con-
guística e gramatical realizado em diversos povos, cujos resulta- juntamente na realização de diversas atividades neste âmbito. Al-
dos são aproveitados não apenas para a tradução da Bíblia no idi- gumas vezes, elas agem em parceria com os missionários católi-
oma nativo mas também para a estruturação de escolas indígenas cos do Cimi e ONGs na condução de atividades comuns. Podemos
e grupos de alfabetização. O desenvolvimento de ações dirigidas à citar a sua participação conjunta no Comitê de Resistência Indíge-
saúde é frequente em muitas missões protestantes, ocupando, na, Negra e Popular, e na marcha indígena dos 500 anos, evento
muitas vezes, o espaço deixado pelo Kstado. Em alguns contextos, que propunha fazer uma contracelebração dos festejos oficiais
a atuação destas missões em programas de saúde é a principal realizados pelo governo e Igreja Catóbca. (outubro, 2000)
forma que elas tem de legitimar a sua presença entre os índios e,
um grande plano de trabalho, indicando áreas de atuação egru/xis ços, mas também sua continuidade e sua eficiência enquanto ins-
indígenas. trumentos para a autodeterminação: e
Recusando a delegação indiscriminada de resjxmsabitidades a estas 4) As políticas públicas devem ser sensíveis ao acúmulo de conheci-
missões e entendendo que a oferta da assistência não deve estar con- mentos gerados por diferentes agentes da sociedade civil, tanto na
dicionada à aceitação de novas práticas religiosas nem ao formulação do desenho global dessas políticas, quanto em nível lo-
proselitismo religioso, os pesquisadores reunidos firmaram um do- cal. Tendo em vista as especificidades e a complexidade de cada caso,
cumento propondo ao governo federal que crie instâncias de ai atia- tais conhecimentos contribuem efetivamente /mra uma melhor ade-
ção da presença missionária em áreas indígenas, promova amplo quação dos serviços prestados às demandas das diferentes comuni-
debate junto às comunidades indígenas e leve em consideração o dades indígenas.
conhecimento acumulado sobre estas sociedades na formulação e O documentofimt da reuniãofoi encaminhado às autoridades com-
implementação de políticas públicas voltadas jxtra estes povos. petentes e será apresentado ao Conselho Científico da ARA e à An/xx:s,
que realiza encontro em Caxambu (MG) na próxima semana. (Luís
ção de respeitar as práticas culturais dos povos .Segundo de, as instituições religiosas dispõem
MISSÕES RELIGIOSAS indígenas: “o Ministério da Educação assumiu de uma estrutura que permite a ação direta dos
o seu papei no processo de garantir a integri- missionários nas aldeias, 0 que facilita a identi-
NOVOS CRITÉRIOS PARA dade cultural dessas populações, como órgão ficação dos problemas específicos de cada co-
MISSIONÁRIOS EM TI responsável pela condução da política educa- munidade e melhora. 0 atendimento fornecido
cional a ser oferecida aos índios do país. Hoje pelos religiosos.
0 presidente cia Funai, Sulivan Silvestre, anun-
tem-se uma política definida, um setor compe- “Não podemos fazer a mesma coisa em 60 al-
ciou ontem, em Campo Grande (MS), que vai
com 60 funcionários, sendo que a maior
tente e conselho representativo para identificar deias
baixar portaria na próxima semana estabelecen-
problemas, propor soluções e orientar uma parte trabalha na área administrativa”, diz. Ele
do critérios para o funcionamento de seitas re-
política educacional para os povos indígenas espera resposta da direção da Funai para a cons-
ligiosas e entidades civis em terras indígenas.
da Constituição do grupo técnico. “Precisamos de um
que siga determinação legal tituição
Silvestre disse que as seitas que estiverem “in-
Federal de 1 988 - a estrita separação entre Igreja estudo sério sobre o caso". (ESP. 28/12/99)
terferindo e prejudicando a cultura indígena
e Estado -, sem deixar qualquer dúvida quanto
poderão ser expulsas das aldeias”. A Funai vai
los ou perturbar, de qualquer modo, a sua prá- apitó) é um elemento significativo do tipo de
guns estudos apontam a presença de igrejas
tica’ ,
prevendo detenção de um a três meses de penetração que os seguidores de Edir Macedo
evangélicas como causa dos suicídios. “Não
prisão para 0 infrator. Os índios, como cida- vêm promovendo entre os indígenas.
pode haver qualquer catequízação ou evange-
dãos, têm direito a receber uma educação de Estimulando a pregação religiosa na língua na-
lização, porque isso poderia ofender a cultura
qualidade ofertada pelo poder público: eles não tiva da comunidade c formando pastores índi-
das comunidades indígenas", disse Silvestre.
devem ser forçados ou seduzidos a aderirem a os, a Universal conseguiu reproduzir na reser-
As seitas e entidades civis já instaladas cm ter-
uma nova religião e a abandonarem práticas va cópias fiéis de suas reuniões nas maiores
ras indígenas deverão apresentar à Funai um
tradicionais e seculares para terem acesso a capitais do país.
projeto de atuação. As que não se adequarem
programas de alfabetização e letramento. Pro- Todas as noites, por volta das 18hJ0, 0 pastor
às exigências do órgão deverão ser expulsas das
tege-se, nesse sentido, as manifestações cultu- índio Benjamin Sereza, 43, e suas duas obrei-
aldeias, segundo Silvestre. (ISA, a partir de Di-
rais das sociedades indígenas, reconhecendo ras se banham no córrego próximo à aldeia
ário de Pernambuco, 17/10/97)
aos índios 0 direito de permanecerem índios, e Campinas, vestem uniformes da Universal e se
rompendo com umalonga tradição jurídica que dirigem ao templo para a realização do culto.
MEC NÃO DÁ APOIO AO SIl sempre procurou assimilar os índios, fazendo De cabelos penteados, eles esperam a chegada
com que abandonassem suas línguas e práticas dos índios para 0 início da pregação. Sereza
A chefe da Assessoria Internacional do gabine-
culturais”. (ISA a partir do Ofício 443/99 do veste camisa social gravata. Elas, saias azul-
te do ministro da Educação, embaixadora Vitó- marinho e blusas
MEC, 09/11/99) listradas.
ria Alice Cleaver, enviou ofício para a Socieda-
(. .)
.Como todos os fiéis da Universal, os índios
de Internacional de Linguística informando que
ESTADO PERDE são estimulados a fazer ofertas em dinheiro à
o MEC não dará apoio ao ensino missionário
AUTORIDADE MORAL igreja. 0 pastor diz arrecadar em média R$
em áreas indígenas. A correspondência é a res- 40,00 por mês.
posta doMEC à visita de Isabel Murphy e Steven A Procuradoria Regional da República 110 Mato
A principal fonte de renda da Universal na al-
N. Sheldon, representantes da Sociedade Inter Grosso solicitou à Funai, em setembro deste ano, deia são os aposentados, que, como trabalha-
nacional de Lingüíslica ao Ministério, realiza- a formação de um grupo técnico para 0 acom-
dores rurais, recebem mensalmente do INSS um
da no primeiro semestre, quando solicitaram panhamento da atuação da Igreja Universal do
salário mínimo.
apoio ao trabalho de ensino missionário entre Reino de Deus na aldeia Campinas.
Segundo 0 professor Paraúdza, na falta de di-
os índios. Responsável pelo parecer enviado sobre 0 as-
nheiro, os pastores também recolhem e vendem
Diz a correspondência que “É de conhecimen- sunto ao Ministério Publico, Jorge Luiz de Paula,
pelos índios. Os re-
peças de artesanato feitas
to deste Ministério que o SIL iniciou sua atua- antropólogo da administração da Funai em Nova cursos são enviados aos líderes da igreja em
ção no Brasil em uma época em que a linguísti- Xavantina (área que engloba a aldeia Campi-
Cuiabá (MT). (ESP, 28/12/99)
ca ainda não se institacíonalizara em nosso País nas) , afirma que falta ao Estado “autoridade
e a educação indígena seguia o modelo tradici- moral” para impedir a ação dos evangélicos na
onal, feita em português, em escolas do Serviço região.
de Proteção aos índios ou, ainda, por missões “As igrejas agem na brecha da tal ta de assistên-
religiosas, por meio da transferência de respon- cia do governo. E,como ninguém faz nada de
sabilidades originariameníe de competência do graça, os índios acabam tendo de assistir aos
órgão indigenista brasileiro”. cultos. Mas, para tirar as missões de lá, 0 que
Educação laica - Na correspondência, o MEC vamos pôr no lugar? Não temos recursos. Falta
reafirma o caráter laico da educação e a inten- autoridade moral para isso”, diz.
TERRAS INDÍGENAS:
DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO
DE RECURSOS NATURAIS
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Acervo
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TERRAS INDÍGENAS:
DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO
DE RECURSOS NATURAIS
Acervo
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NOS ÚLTIMOS ANOS, HOUVE UM SIGNIFICATIVO registradas em cartório foram submetidos ao contraditório admi-
AVANÇO NO PROCESSO DE DEMARCAÇÃO nistrativo, incluídas algumas das terras já demarcadas mas ainda
DAS TERRAS INDÍGENAS NO BRASIL, MAS não registradas, que puderam ser contestadas retroativamente.
Cerca de 150 demarcações foram simultaneamente submetidas às
AINDA PERSISTEM DIFICULDADES POLÍTICAS
contestações de terceiros, num período marcado por fortes ten-
E ADMINISTRATIVAS PARA A SUA CONCLUSÃO
sões, críticas à mudança na sistemática de demarcação e de ame-
aças de invasões às terras indígenas. Assim, durante os 180 dias
No período de 1996 a 1999, o processo de demarcação adminis- que se seguiram à publicação do Decreto 1775, houve forte apre-
trativa das terras indígenas viveu fluxos e refluxos importantes. No ensão por parte dos índios, da Funai e de organizações de apoio
decorrer de 95, o primeiro ano do primeiro mandato de Fernando quanto às suas conseqüências.
Henrique Cardoso (FHC), a maior parte dos processos pendentes
Ao término destes prazos, a quase totalidade das contestações
de decisão política desde o governo anterior foi objeto de atos
havidas foram rejeitadas e houve a expedição de um significativo
administrativos, como portarias de delimitação e decretos de ho-
número de portarias dedaratórias e de decretos de homologação.
mologação. No entanto, o curso dos demais processos esteve pa-
A grande maioria dos processos em curso teve prosseguimento, o
ralisado, à espera da decisão de governo sobre a anunciada revi-
que possibilitou a conclusão de vários deles e um avanço significa-
são do Decreto 22/91 que, até então, estabelecia o procedimento
tivo no cômputo oficial das demarcações de terras indígenas. Ao
administrativo para a demarcação das terras indígenas.
término do seu primeiro mandato, FHC tornou-se o campeão das
Em janeiro de 1996, foi expedido o Decreto 1775, assinado pelo demarcações, com o maior número de decretos homologatórios e a
presidente da República a pedido do ministro da Justiça, Nelson maior extensão já demarcada por um presidente na história do Brasil.
O novo decreto introduziu o chamado princípio do contraditório sa-Serra do Soi (RR) . O recurso às novas diligências foi a forma
nos processos de demarcação. Entre a conclusão dos trabalhos de encontrada pelo ministro da Justiça para satisfazer pressões políticas
identificação de terra indígena, através de portaria do presidente contrárias às demarcações ou para contornar problemas específicos.
da Funai, e a expedição da portaria dedaratória dos limites ofici-
A Terra Indígena (TI) de Sete Cerros, com sua demarcação já ho-
ais da mesma, da lavra do ministro da Justiça, abriram-se prazos
mologada, havia sido objeto de um mandado de segurança
para a manifestação de terceiros interessados: de 90 dias, para
impetrado pela Agropecuária Sattin Ltda. junto ao Supremo Tribu-
que proprietários ou órgãos públicos apresentassem as suas con-
nal Federal (STF) que deu origem ao questionamento que modvou
testações aos limites propostos; de 60 dias, para que a Funai desse
o ex-ministro da Jusüça, Nelson Jobim, a propor a revisão do De-
parecer às contestações apresentadas; e de 30 dias, para que o
creto 22/91 e a edição do Decreto 1775/96. Ao final do prazo para
ministro da Justiça decidisse a respeito.
as novas diligências, nenhuma providência administrativa foi
Num primeiro momento, todos os processos demarcatórios em recomendada ou adotada. A permanência dos índios Kaiowá
curso envolvendo terras indígenas que ainda não haviam sido na área está garantida por uma liminar do ministro do STF,
A TI Seruini-Marienê foi contestada por uma agropecuária que Ambiente e financiado pelos países do Grupo 7 especialmente pela
Jobim proferiu um despacho ao final do prazo das diligências de- tizado em meados de 1996.
terminando que os proprietários fossem indenizados pela área in- Através do PPTAL foram realizadas 31 identificações e 38 demar-
cidente, mantendo a extensão integral da Tl. cações de terras indígenas, todas situadas na Amazônia Legal Bra-
A TI Évare I, dos índios Ticuna, foi contestada por índios Kokama sileira. Outras 62 identificações e 93 demarcações estão em curso
que vivem em parte dela. Os Kokama, à époea da demarcação, não ou previstas para os próximos anos. Esse projeto constituiu a mai-
la depois e alegaram direitos sobre a parte que ocupam. Despacho tro anos. Os recursos aportados pela cooperação alemã possibili-
taram o reconhecimento oficial de mais de 20 milhões de ha de
do ex-ministro determinou que os seus limites fossem revistos, de
terras indígenas.
forma a se demarcar uma parte da área em favor dos Kokama, sem
que houvesse aumento da extensão total. Entre estas, destacam-se em importância as demarcações de cinco
A TI Baú, dos índios Kaiapó, foi objeto de despacho ministerial deter-
terras contíguas situadas na região do Rio Negro, com 10,6 mi-
lhões de ha c mais de 30 mil índios de 23 etnias. Destacara-se,
minando a sua redução. Porém, ela não chegou a ser reduzida e os
seus limites anteriores chegaram a ser posteriormente confirmados.
também, as demarcações das Tis do Vale do Javari, com 8,5 mi-
lhões de ha e cerca de quatro mil ocupantes, e Munduruku, com
A TI Apyterewa foi contestada, entre outros, pela madeireira
2,3 milhões de ha e pouco mais de cinco mil ocupantes.
Peracchi, que afirmou dispor de títulos de domínio incidentes.
A TI Krikati também sofreu várias contestações de ocupantes não- indígenas ainda não demarcadas situadas na Amazônia Legal.
A TI Raposa-Serra do Sol também foi contestada pelo governo de execução no âmbito do projeto. Em alguns casos, o PPTAL proveu
Roraima c por ocupantes não-índios. Despacho ministerial deter- apoio institucional a organizações indígenas para treinamento e
A edição do Decreto 1775 não chegou a promover reduções de dispor de um componente indígena para intervenções de caráter
terras indígenas em escala significativa, como se temia quando da regional pelos povos que vivem nas áreas priorizadas para a sua
sua edição. Tampouco promoveu o alegado saneamento jurídico implantação. Mesmo assim, ainda se estará longe de atender as
do processo demarcatório. As demarcações, em gend, continua- demandas econômicas e de manejo de recursos naturais dos po-
ram avançando e o número de ações judiciais propostas contra vos indígenas da região.
terras indígenas do Rio Negro, o Instituto Socioambiental (ISA) e pela logística gerabnente mais fácil, os avanços mais significativos
a Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foira) têm ocorrido na Amazônia. Ainda assim, nos últimos quatro anos,
protagonizaram as demarcações, atribuindo-lhes ênfase no pro- dezenas de terras indígenas tiveram as suas demarcações conclu-
cesso de participação e de conscientização dos índios, e não ex- ídas nas demais regiões do País. Porém, nestas regiões, a deman-
dusivanienie nas técnicas de engenharia envolvidas nos trabalhos da de pagamento de indenizações por benfeitorias de ocupantes
de demarcação física. não-índios é muito maior, até por conta da ocupação colonial muito
mais intensa que se estabeleceu historicamente nestas regiões. A
A maior parte das cerca de 600 comunidades residentes foi visita-
Funai estima em cerca de 200 milhões de reais a demanda de re-
da, participou da discussão sobre as demarcações e os direitos
cursos para a regularização fundiária das terras indígenas já
delas decorrentes, tomou conhecimento sobre os novos limites
demarcadas cm todo o País.
das terras indígenas e recebeu mapas e outros materiais informa-
tivos e promocionais. Centenas de questionários foram aplicados
entre as comunidades indígenas, recolhendo muitas informações CÔMPUTO DA SITUAÇÃO JURÍDICO-
sobre os usos e expectativas com relação às terras demarcadas. ADMINISTRATIVA DAS TERRAS INDÍGENAS
Outra experiência importante de participação indígena sc deu na A partir das identificações e demarcações realizadas nos últimos
demarcação da TI Kulina do Médio Juruá, situada no sul do Ama- anos, a situação jurídico-administrativa das terras indígenas no
zonas, realizada através de convênio com a União das Nações Indí- Brasil, em agosto de 2000, ficou sodo a seguinte:
genas do Acre (UNI-AC) e com o apoio do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi). Constituiu-se em um caso denominado de Situação N° % do n° Extensão % da extensão
“autodemarcação”, também com um grande grau de protagonismo Jurídica de Terras Ha das Terras
indígena no seu processo.
A identificar 59 2.697.000
A participação indígena nos trabalhos de demarcação tem impor- (duas interditadas)
tância fundamental parti assegurar não apenas a correção de even- Em identificação 56 41.100
tuais problemas que freqiientemente ocorrem quando da defini- (duas interditadas)
ção dos limites das terras, mas para a consciência dos ocupantes Em identificação/ 25 1.474.553
sobre estes limites, sua posterior fiscalização e a própria gestão Revisão
pre é possível assegurar a efetiva participação indígena nos pro- Delimitada 72 19.9n.235
cessos demarcatórios, especialmente quando o grupo ocupante é (24 em demarcação)
exíguo em termos de população ou tem contato recente com a
Total 89 15,48 23.214.547 22,40
sociedade nacional. Sobretudo, porque a cultura tutelar da Funai
Reservadas 14 73-222
privilegia o caráter das demarcações como obras de engenharia e
despreza a importância desta participação. Homologadas 64 17.190.234
te, Sudeste, Sul e Mato Grosso do Sul continuam dependendo ex- tensão das terias “a identificar” ou “em identificação” apresenta
dusivamente do aporte de recursos do orçamento da União. F.n- uma distorção, pois apenas parte delas dispõe de referências quanto
quanto a Funai sequer consegue gastar todos os recursos disponí- à área. As terras “em revisão" ou sujeitas a “restrições de uso”
ficadas. As terras “identificadas” e “delimitadas" poderão apre- Houveram fluxos e refluxos e, à exceção de alguns momentos es-
sentar pequenas alterações quanto às suas extensões pois a defini- pecíficos em que as demarcações se intensificaram, pode-se dizer
ção dos seus números exatos depende dos trabalhos topográficos que o ritmo delas é geralmentc lento, mesmo havendo disponibili-
executados no processo de demarcação física. dade de recursos no contexto do PPTAL. Dc todo modo, diferente-
mente do período dos governos militares e do governo Samey, em
0 número de terras indígenas também sofre alterações em função
qne havia paralisia no processo por deliberada falta de decisões
dos processos de demarcação que, eventualmente, podem aglutinar
políticas, e ressalvado o caso de alguns processos que continuam
ou desmembrar algumas das terras. Também ocorrem casos, como
pendentes ainda hoje pela mesma razão, os principais obstáculos
entre os Mbiá no Sul do País, em que grupos indígenas que se
para que haja um fluxo mais ágil nas demarcações estão situados
encontram acampados em beira de estradas acabam obtendo uma
no âmbito da própria Funai, Há morosidade na formação dos gru-
terra que até então não constava de listagens oficiais, Há, ainda,
pos de trabalho para Identificação de terras indígenas, atrasos na
grupos de índios antes isolados, que passam a estabelecer contato
entrega dos laudos antropológicos, na tomada das providências
e passam a ter as suas terras nelas incluídas.
rclatívas às licitações para as demarcações físicas e na fiscalização
Essas alterações tomam complexa a tarefa de comparar o cômpu- dos trabalhos demarcatórios, que frequentemente apresentam er-
to atual com outros cômputos anteriores. O publicado na última ros técnicos e exigem o retorno das empresas contratadas para
edição de “Povos Indígenas no Brasil, 1991-95”, por exemplo, que sejam refeitos. Estes fatores deverão impedir que o processo
mencionava uro número total de terras que incluía as 14 áreas de demarcação das terras indígenas seja concluído ainda no atual
que, posteriormente, foram oficialmente reconhecidas de forma mandato presidencial.
contínua integrando a TI Alto Rio Negro. Assim, a melhor forma de
Portanto, estes avanços ainda estão muito aquém do desejável e do
avaliar o desempenho do processo demarcatório nos últimos anos
possível, sendo que a Constituição previa a conclusão de todas as
é através da comparação das providências adotadas em cada go-
demarcações até o ano de 93, prazo este já descumprido há vários
verno, como se segue:
anos. Pelo menos 1 50 terras indígenas continuam sem limites de-
finitivamente estabelecidos, além de outras providências faltantes
Presidente Período/ Qtdes. Extensão Homolo- Extensão
indicadas pelo cômputo acima.
ano declaradas (ha) gada n° (ha)
que Nacional do Xingu, criado em 1961 por decreto presidencial no de cinco “vilas” de garimpeiros invasores. No entanto, este des-
com base na legislação ambiental então vigente, portanto, através pacho não apresentou um memorial descritivo para o novo perí-
de ato de igual hierarquia legal que o decreto homologatório de metro proposto, que definisse com clareza os cortes que deveriam
terra indígena e que foi redemarcado posteriormente. ser feitos, estimados em cerca de 300 mil ha. Os limites não foram
revistos pela Funai e, em dezembro de 1998, a portaria ministerial
As 14 terras “reservadas” a que se refere o cômputo acima são
de reconhecimento da sua extensão integral foi assinada pelo ex-
consideradas como estando com os seus procedimentos
ministro Renan Callieiros, determinando a sua demarcação física.
demarcatórios concluídos com base nas normas então vigentes,
embora não se descarte a possibilidade de que também venham a Como os limites reconhecidos pela portaria ministerial
ser submetidas um dia aos procedimentos atuais. Juridicamente, correspondem, na sua quase totalidade, à linha de fronteira inter-
não há necessidade de redemarcar estas terras, mas muitas outras que nacional e ao curso dos principais rios da região, as providências
se encontravam em condições similares o foram por decisão da Fimai. relativas à sua demarcação física necessárias à homologação da
se um processo de fortes pressões políticas movido pelo governo e tes de terras indígenas. Algumas são absolutamente legítimas, pois
pelas bancadas parlamentares estaduais, que incluíram a ameaça se referem a casos de terras demarcadas em tempos passados com
de promoverem um “banho de sangue”, proferida até mesmo em exígua extensão, insuficientes para a sobrevivência dos índios. Pre-
cadeia de televisão, caso a terra indígena venlta a ser homologada dominam casos deste tipo nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do
pelo presidente da República. País, nas quais se incluem o Mato Grosso do Sul, onde os índios
Terena e Kaiowá vivem confinados com menos de um
em áreas
Apesar da área já estar adnimistrativamente demarcada, ainda ocor-
em fazendas fora
hectare por habitante, sendo forçados a trabalhar
rem pressões no âmbito do Poder Executivo e há pendências no
dos seus íimites e sofrendo várias consequências nefastas. A
Poder Judiciário. Em reunião sobre o assunto havida na Presidên- exiguidade das terras é um dos fatores apontados como causa do
cia da República, a Advocacia Geral da União c o Ministério da
elevado índice dc suicídios entre os Kaiowá.
Defesa expressaram ao presidente sua preferência pela redução
da área, nos termos do despacho Jobim. 0 Ministério da Justiça, a Porém, também há casos em que demandas indígenas por ampli-
Casa Civil e a Funai expressaram o seu apoio à portaria ministeri- ação de área estão relacionadas a reservas de recursos naturais
al. O presidente ainda não tomou uma decisão a respeito. exauridos nos territórios tradicionais era decorrência da explora-
ção predatória, normalmente realizada com algum grau de con-
Por outro lado, o Estado de Roraima propôs um mandado de se-
sentimento dos grupos indígenas ocupantes. É o caso da TI
gurança junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), defendendo
Badjônkôre, reivindicada pelos índios Kaiapó, que já dispõem de
uma demarcação em “ilhas", ainda mais restritiva que a própria
mais de dez milhões de ha reconhecidos, para uma população que
proposta do despacho Jobim. O STJ analisa o mandado de segu-
não ultrapassa seis mil pessoas. Eles alegam que esta nova área se
rança e concedeu uma liminar determinando a permanência dos
inclui no território por eles tradicionahnente ocupado no passa-
ocupantes não-índios na área até o julgamento final do mandado.
do. Atualmente, há apenas ocupações indígenas recentes em sedes
No entanto, a liminar concedida não impede a continuidade do pro-
de fazendas situadas na região. Ao longo dos últimos 20 anos, a
cesso demarcatório e a homologação da área na sua extensão integral.
exploração predatória de mogno exauriu as reservas anteriormente
Pela importância específica do caso, a pendência quanto à homo- existentes na TI Kaiapó e há indícios de que, mais do que a terra,
logação de Raposa-Serra do Sol coloca dúvidas quanto à os Kaiapó visam com esta reivindicação o acesso a outras áreas
credibilidade da posição do governo em relação à demarcação onde ainda possa haver mogno passível de exploração.
cação das terras indígenas. Alguns de caráter administrativo, como das mais a recursos naturais exauridos do que à necessidade de
os já apontados em relação às dificuldades da Funai para acelerar terra propriamente dita. Portanto, têm a ver com a incapacidade
o processo demarcatório. Outros relativos ao acúmulo de obstá- da Funai e das próprias comunidades em implementarem projetos
culos surgidos em função de decisões judiciais que anulam ou econômicos que viabilizem a auto sustentação dos índios. Se não
atrasam outras demarcações. Mas há outros ainda mais comple- chegam a ser ilegítimas, estas reivindicação colocam, pelo menos,
xos, que se referem a uovas demandas indígenas por revisões de muitas dúvidas quanto à conclusão do processo demarcatório,
áreas já demarcadas ou identificadas, e as relativas às chamadas projetando para o infinito reivindicações que vêm encontrando
cendente dos TUpinambá que. na verdade, eram constituídos de coloca o órgão indigenista ao sabor de pressões, nem sempre qua-
povos diversos, os primeiros a estabelecer contato com os portu- lificadas, mas que por vezes acabam se sobrepondo à situação mais
gueses na costa brasileira durante o século XVI. fundamental de providenciar a identificação e a demarcação de
terras indígenas que ainda não foram objeto de qualquer provi-
Estas situações também tendem a produzir resistências políticas,
dência administrativa.
dúvidas antropológicas e pendências judiciais. Colocam, ainda, o
Estado brasileiro diante da perspectiva de infinitude do processo Esta situação casuística poderá ampliar o número de processos
demarcatório. demarcatórios subjúdice ou sujeitos a derrotas judiciais. Poderá,
também, suscitar reações ainda maiores por parte de regionais ou
de forças políticas contrariadas, com conseqiiências nefastas até
PROVIDÊNCIAS E RISCOS PARA O FUTURO mesmo para os casos absolutamente legítimos de demarcação de
terras para os povos que até hoje não viram as suas demandas
Em vista das pendências ainda existentes no processo de demarca-
atendidas.
ção das terras indígenas, algumas providências poderiam ser ado-
tas no sentido de agilizar a sua conclusão. A principal delas seria a 0 governo federal deveria equacionar a questão da disponibifização
articulação de uma campanha nacional pró identificação de terras de recursos orçamentários para as demarcações e regularizações
indígenas, que pudesse mobilizar antropólogos e técnicos de vári- da situação fundiária das terras já demarcadas. Por maiores que
os órgãos e instituições, priorizando as terras que ainda não fo- sejam as necessidades de recursos, elas constituem uma pequena
ram objeto de qualquer providência administrativa em relação a fração frente aos compromissos orçamentários da União, mesmo
outras demandas de revisão e deampliação de terras já identificadas os correspondentes à política de reforma agrária Diante do volu-
Via de regra, estes antropólogos, alguns recém formados, inclusi- so demarcatório no horizonte do seu mandato. Resolver com bre-
ve, são enviados a campo sem que disponham de informações e de vidade os casos pendentes de decisão política, como o de Raposa-
orientações básicas para a realização dos seus trabalhos. A conse- Serra do Sol, programar a disponibifização dos recursos necessá-
qiiência tem sido o atraso na entrega dos laudos antropológicos rios e pressionar a Funai para que resolva as deficiências que têm
ou a necessidade de revisá-los posteriormente. retardado as providências que estão aos seus cuidados.
As demandas de revisão de terras já demarcadas requerem o esta- É bem verdade que situações como a dos índios que ainda não
belecimento de critérios que possam distinguir entre os vários ti- mantém contato com a sociedade nacional, não são passíveis de
pos de reivindicação. Nos casos das terras em que há evidente programações com cronogramas rígidos. Mas mesmo nestes ca-
superpopulação indígena, a Funai não deveria continuar esperan- sos, as providências possíveis deveriam ser urgentizadas, pois com
do pela eclosão de conflitos e podería antecipar-se, formulando o passai' do tempo e com o avanço do processo de ocupação até
programas que ordenem estas demandas. Já nos casos em que a mesmo nas regiões mais remotas do país, as soluções ficarão cada
questão não é a exiguidade de mas a exaustão de recursos,
terras, vez mais difíceis e onerosas, (jiãho 2000) ,
A CRIAÇÃO DE GRUPOS DE TRABALHO PARA posição entre terras indígenas e UCs ê que muitas vezes as comu-
RESOLVER A QUESTÃO DAS SUPERPOSIÇÕES nidades são alijadas dos processos de tomada de decisão sobre a
SERÁ UM EXERCÍCIO PARA A INTEGRAÇÃO utilização das áreas necessárias à sua sobrevivência, o que impli-
DAS POLÍTICAS INDIGENISTA E AMBIENTAL ca, em alguns casos, na restrição de uso da área pelos índios, e em
outros, na autorização de uso por terceiros, em flagrante desres-
peito aos direitos originários das comunidades sobre seus recur-
A defesa dos direitos indígenas c ambientais historicamente anda- sos. Dessa forma, devido à falta de permeabilidade do órgão
ram juntas. É impossível garantir o direito que as comunidades ambiental às demandas da comunidade indígena, em muitos casos
indígenas têm sobre as terras por elas tradicionalmente ocupadas esta se torna uma “intrusa” em sua própria terra, perdendo a au-
(art. 231 da Constituição Federal) sem considerar a importância tonomia sobre o manejo dos seus recursos e sobre a fiscalização
da conservação ambiental dessas áreas e sua aptidão para ofere- do território. Um exemplo clássico de conflito desse tipo é o da
cer os recursos necessários à sobrevivência física e cultural das Ilha do Bananal, onde convivem um Parque Nacional du Araguaia
comunidades que nela habitam. Porém, nem sempre a convivên- e uma Terra Indígena (antiga TI Boto Velho) ,
e onde os conflitos
cia entre a política Indigenista e a política ambiental tem sido har- Fundiários são agudizados pela falia de gestão administrativa con-
órgãos competentes para tratar da questão indígena (Funai e seus do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
antecessores) sempre viram a questão ambiental como secundá- Renováveis (lbama).
ria no processo de demarcação de terras, assim como os órgãos
ambientais nunca entenderam a demarcação de terras indígenas OS GRUPOS DE TRABALHO:
como uma possibilidade efetiva de conservação dos recursos na- POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA O CONFLITO
turais. Dessa forma, embora seja notório que as comunidades in-
Entretanto, esses conflitos advindos da superposição entre áreas
dígenas necessitem de áreas ecologicamente sadias para poder
indígenas e UCs podem estar com seus dias contados. A resolução
sobreviver, e que em decorrência disso costumam utilizar seus dessas pendências tomou-se obrigação legal. O cumprimento dessa
recursos de maneira a conservá-los para as amais e próximas ge-
exigência prevista em lei dependerá, no entanto, de vontade políti-
rações, não se logrou ainda implementar uma política integrada
ca e articulação dos agentes de governo para a Implementação da
para essas questões. Lei n° 9-985, de 18 de junho de 2000, que instituiu o Sistema
l'ma grave decorrência dessa falta de planejamento conjunto é a Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Snuc) e esta-
criação de Unidades de Conservação (UCs) sobrepostas a áreas belece os critérios e normas para a criação, implantação e gestão
tradicionalmente utilizadas por povos indígenas, 0 que gera, em das unidades de conservação.
muitos casos, uma série de atritos entre as comunidades, a Funai e A lei do Snuc, como ficou conhecida, estabeleceu, em seu artigo
o órgão ambiental. O principal problema decorrente da sobre- 57, a obrigação para os órgãos federais responsáveis pela execu-
A própria lei determina que as comunidades indígenas devem ter cultural, segundo seus usos, costumes e tradições". De acordo com
voz ativa nesse processo, o que pressupõe a participação de repre- esse princípio constitucional, não é possível validar unidades de
sentantes de cada comunidade em que exista situação de conservação em terras tradidonahnenle ocupadas por comunida-
superposição territorial de terras indígenas e UCs em eventuais des indígenas, pois estas têm direito originário sobre suas terras,
grupos específicos para regularizar cada área de conflito. O grupo ou seja, anterior à criação de qualquer unidades de conservação.
inicial que definirá as diretrizes gerais deveria contar com repre- Em outras palavras, a regra que deverá nortear as tarefas dos gru-
sentações significativas de lideranças indígenas das principais áreas pos de trabalho a serem instituídos segundo determina o artigo 57
onde existem superposições. Outros atores com reconhecida atu- da Lei do Snuc, é a de qualquer unidade de conservação cujos
ação nas áreas sob análise também deveriam ser consultados e limites se sobreponham, total ou parcialmente, ao perímetro de
convidados a participar nesse processo, como instituições públi- terras indígenas, deixarão de existir, onde houver superposição.
cas e privadas, com experiência comprovada nesses temas
A superposição parcial entre os perímetros de UCs e terras indíge-
socioambientais. Espera-se que essa falha venha a ser contornada
nas deverá ensejar a alteração do ato normativo criador da unida-
no decorrer desse processo de discussão.
de de conservação. Uma alternativa em situação de conflito seria o
estabelecimento de um novo perímetro para a unidade de conser-
vação se houver possibilidade de expansão desta em área contí-
gua, porém não coincidente com a terra indígena. Em não sendo
possível, poder-se-ia cogitar da hipótese de criação de uma nova
Há %(1) %(2)
* AT! Roto Velho foi reidentificada com o nome de tnawébohona e ampliada para 376.545 ha
**A TI Balaio está sendo reidentificada, mudará o nome e a extensão
Há %(1) %(2)
AM Parque Estadual Serra do Araçá Yanomami 1.522.002 81,80 15,90
AM Parque Est. Rio Negro Setor Norte Waimiri-Atroari 5.715 3,36 0,22
RO Floresta Estadual de Rend. Sust. Do Rio Vermelho (D) Kaxarari 2.713 1,87 2,45
•A Funai aprovou os reestudas da TI tbirama, em 1 1/11/99, cuja superfície de 14.084 ha, passou para 37. 108 ba, comfigurando sobreposição com as duas UCs.
unidade conservação em área próxima com características históricos. É imprescindível que as autoridades competentes te-
ambientais e natureza similar à que deixar de existir. Em outras nham vontade política para resolver essas pendências e estabele-
palavras, onde existir unidade de conservação totalmente inserida çam políticas de conservação ambiental compatíveis com a prote-
em terra indígena, ela deverá deixar de existir. Onde a superposição ção e defesa dos direitos das comunidades indígenas e do desen-
for parcial, seu perímetro deverá ser alterado, limitando-se ao volvimento sustentável. Não será simples a solução dos casos de
perímetro não superposto, ou ampliado a área contígua. superposição de terras indígenas e unidades de conservação, pois
mesmo com a criação dos grupos de trabalho e a definição de
DESAFIOS diretrizes justas e plausíveis, ainda assim será necessário um ár-
É importante que os grupos constituídos pelos ministérios avaliem duo trabalho junto ao poder legislativo para que sejam editadas as
caso a caso para permitir a adequação dos objetivos de conserva- leis necessárias à desafetação das Unidades de Conservação, como
o
ção ambiental e de proteção dos direitos territoriais das comuni- determina o texto constitucional (art. 225, § I
,
111) . De qualquer
dades indígenas. É preciso que as áreas de governo envolvidas com forma, esse será um importante exercício para a definição de po-
esses conflitos dêem prioridade para o trato da matéria, abando- líticas para o uso sustentável dessas terras de enorme importância
nando eventuais comportamentos corporativistas e antagonismos socioambiental. (novembro, 2000)
PODEM OS ÍNDIOS ASSOCIAR-SE AO exaurir. Mudam a localização das aldeias em busca de novas re-
ESTADO BRASILEIRO PARA PROMOVER servas de recursos naturais, enquanto a área anteriormente ocu-
A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS pada se recompõe. Um dia poderão voltar a viver onde se localiza-
EXISTENTES EM SUAS TERRAS? PODEM OS va sua antiga aldeia. Nem sempre se trata de um processo pacífico,
linear, pois a guerra é um recurso freqüente, de modo que um
ÍNDIOS ASSOCIAR-SE A TERCEIROS PARA
local anteriormente ocupado por determinado grupo passa a per-
PROMOVER A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS
tencer a outros. Certamente há casos de povos pré-colombianos
NATURAIS EXISTENTES EM SUAS TERRAS?
que pressionaram excessivamente os recursos dos seus territóri-
A relação pré-contato entre os índios e a natureza tem alto grau de índios. • A Constituição fala do de usufruto exclusi-
direito
sustentabilidade. Ocupam determinada áreae nela praticam a caça, vo que os índios detêm sobre as riquezas do solo, dos rios
a pesca, a coleta e a agricultura até que os recursos comecem a se e dos lagos existentes em suas terras. É um direito, não é
POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1 996/2000 ' INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS T73
pedimento. Se para exercê-lo de forma efetiva os índios sas de mineração que cobiçam as riquezas das suas terras. Deve o
se associam, se esta associação não lhes é lesiva, não há violação Estado brasileiro promover esta proteção? Investir concretamente
do usufruto exclusivo. Usufruto exclusivo não significa que os ín- nela? Recompensai' os Yanomami pelo respeito às montanhas que,
dios só podem explorar seus recursos com suas próprias mãos, aliás, estão entre as mais altas e belas do Brasil?
Os Xikrin do Cateté, também do sul do Pará, zonearam o seu terri- ológico, ainda que bem intencionado, sobre se podem ou não po-
tório em parceria com o ISA, visando o manejo de madeira, mas dem explorar ou conservar aquilo que lhes pertence de direito,
também visando a conservação permanente dos seus castanhais. em parceria ou não com aliados que possam apoiá-los ou com
Praticaram algum ato inconstitucional? Podem obter reconheci- instituições públicas que devam apoiá-los.
porque protegê-las dos próprios Yanomami, mas sim das empre- cindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao
segundo seus usos, costumes e tradições». Se a Constituição fosse quais foram criadas RIRN terão acesso, em caráter preferencial, à
burra ou perversa, e impedisse “a preservação dos recursos linhas de crédito e outros incentivos para o desenvolvimento
ambientais necessários ao seu bem estar”, seria o caso de alterá- de atividades de auto-sustentação econômica c defesa do
la. Felizmente, a Constituição é generosa para com os índios e só patrimônio ambiental.
precisa ser compreendida e respeitada.
Art. 60 (incluir renumerando os demais)
Segue-se a proposta formulada pelo ISA como sugestão para in-
Nos casos em que unidades de conservação já criadas
clusão no projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados,
incidam total ou parcialmente sobre terras indígenas, o poder pú-
que visa instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
blico federal deverá, no prazo de dois anos da promulgação desta
relatado pelo Deputado Fernando Gabeira. Que os leitores façam a
lei sob pena da nulidade dos atos que as criaram, instituir grupos
sua própria avaliação. É o texto:
de trabalho específicos composio por representantes da comuni-
Art. 14 (incluir inciso)
dade indígena ocupante, do órgão indigenista e ambiental e, quan-
VIII - Reserva indígena de Recursos Naturais do for o caso, de outras instituições públicas ou privadas com reco-
licitação dais) comunidade (s) indígena(s) que detém direitos de ral deverá, no prazo de um ano:
D
II. retificar os limites da unidade de conservação de modo
§ 2 - A criação da RIRN não prejudicará o exercício das
a subtrair a área incidente sobre terra indígena, observando-se,
competências legais do órgão indigenlsta federal sobre a sua área
sempre que possível, o disposto no § 6” do artigo 59-
de abrangência,
III. revogar o ato de criação da unidade de conservação,
o-
§ 3 O plano de manejo da RIRN será formulado e execu-
quando sua área original for totalmente incidente sobre terra indí-
tado em conjunto pela comunidade indígena e pelos órgãos
gena e se comprovar a impossibilidade de compatibilização ou a
indigenista e ambiental, que poderão, quando for o caso, convo-
redassificação, nos termos do previsto neste artigo.
car outras instituições públicas ou privadas com reconhecida atu-
ação na área. § T- Não se aplicam aos casos mencionados no parágrafo
anterior o disposto nos parágrafos 3°, 4o ,
7" e 8“ do artigo 59.
4“
§ -
0 plano de manejo deverá especificar:
Art. 61 (incluir, renumerando os demais)
a) as atividades de fiscalização, de manejo de recursos na-
turais, de pesquisa ou de visitação que poderão ou deverão nela Nos casos de redassificação ou compatibilização da coe-
§ 5”- A RIRN será gerida pela comunidade indígena ocu- das comunidades indígenas.
pante, que poderá requisitar o apoio do órgão indigenista e do o
§ 2
- O estabelecimento das medidas indicadas no caput
órgão ambiental para a realização dos atos de proteção e fiscaliza-
não prejudicará em nenhuma hipótese o livre trânsito dos índios
ção da unidade.
em suas terras. (Texto amplamente divulgado pelo ISA no dia
o-
§ 6 Na RIRN não serão realizadas obras não previstas 05/09/96)
no seu plano de manejo, bem como atividades que impliquem em
desmatamento, exploração de madeira e de minérios.
^L/7 » Acervo
//A I sA
TERRAS INDÍGENAS abrigam reservas ambientais e indígenas e foi reunião, convocada pelo ministro do Meio Am-
derrotada pelos senadores nordestinos que per- biente e presidente do Conama, José Sarney Fi-
dem 0,8% do FPE, conforme cálculos com base lho, ocorreu num contexto em tpie entidades
FUNAI DESVIA Tia arrecadação de 1998. preservacionistas radicalizam o discurso con-
RECURSOS DO PPTAL “Vou ter dificuldades em do
ouvir senadores tra a presença de índios e outras populações
O diário paulista Folha de S, Paulo noticiou, no Nordeste defendendo a preservação da Ama- humanas em unidades de conservação. Ocor-
dia 28 de setembro, que a Funai zônia”, desabafou Marina, ao final da votação. reu, também, uma semana após o governo fe-
está usando
recursos do Programa Integrado de Proteção O projeto ganhou apoio de 40 senadores, mas deral instituir um grupo de trabalho
às Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) para ser aprovado precisava de 41 votos. Qua- imerministerial para tratar do assunto, confor-
doados pela Alemanha para a demarcação de tro parlamentares se abstiveram e 19 vota- me determinado pelo artigo 57 da Lei n° 9-985/
terras indígenas, para cobrir suas despesas. O ram contra. 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Uni-
programa é um dos componentes do Programa “Com essa rejeição estamos deixando de dar dades de Conservação (SNUC). Embora muitos
Piloto para a Proteção das Florestal Tropicais uma contribuição do ponto de vista prático, dos presentes tenham preferido entender a
do Brasil do G7, o grupo dos sete países mais relevante e estratégico para o País”, alertou questão como “um falso dilema”, os discursos
ricos do mundo. De acordo com o jornal, dos Marina. Ela acrescentou que 538 mil km 2 da enfatizaram uma suposta incompatibilidade
R$ 804 mil desviados da conta do PPTAL, ape- Amazônia foram devastados nos últimos 30 entre a presença indígena e a preservação de
de acordo com a reportagem, “os coordenado- bitantes da região”, reclamou. gral". O ISA defendeu que a questão deve ser
que a Funai explique em carta o que ocorreu". pôs redução de 1% dos 85% do FPE destinados de de apresentar suas propostas.
O Ministério da Justiça, ao qual a Funai está su- aos Estados das regiões Norte, Nordeste e Cen- Diante da dificuldade para conciliar as posições,
bordinado e a direção do programa pressionam tro-Oeste e mais 1% foi retirado dos 15% o plenário do Conama decidiu criar uma co-
o órgão indigenista oficial para que “devolva o distribuídos entre Sul e Sudeste. (A Crítica, missão para acompanhar os trabalhos do GT
18/11/99) intermimsterial composto por representantes de
restante dos recursos antes que o caso tome
proporções maiores", escreveu o repórter Lucas entidades indígenas, indigenistas, ambientalistas
ter sido quitada peio programa, devolvida compor a comissão - deverá ocorrer
lhida para
foi
CRONOLOGIA DAS DISCUSSÕES no âmbito dos dois grupos de trabalho.
por falta de pagamento. A Folha de S. Paulo
informa que “o dinheiro do PPTAL havia sido Destaque de alguns fatos que colocaram na 23/1 l/OO - Realização da primeira reunião da
sacado pela Funai e usado para pagar contas pauta da mídia e dos movimentos indigenista comissão do Conama, O grupo, nessa ocasião,
do órgão, que amarga uma de suas piores fases e ambientalista a questão da presença indíge- decidiu discutir preliminarmente as
de falta de recursos. “Pelas normas do PPG7, na em Unidades de Conservação oficialmente sobreposições de unidades de conservação de
a Funai só tinha autorização para usar a ver- reconhecidas uso sustentável (uso direto) com terras indíge-
ba com proteção às terras indígenas”, escre- 5 a 9/1 1/00 - Realização do II Congresso Bra- nas e a primeira categoria escolhida irara os
veu o repórter. sileirode Unidades de Conservação. Esse con- trabalhos foi Florestas Nacionais (Flonas) De- .
A devolução dos recursos, segundo informa o gresso promovido pela Rede Pró-Unidades de cldiu-se por uma proposta que compatibilize
jornal, foi exigida expressamente pelo ministro Conservação, em Campo Grande, divulgou um Flonas e terras indígenas, de modo a não ser
da Justiça, Renan Callieiros, ao presidente da abaixo assinado manifestando “profunda preo- necessário propor alterações na legislação vi-
Funai, A Funai repôs R$ 400 mil em duas par- cupação com as invasões de unidades de con- gente. A proposta para compatibilizar Flonas e
- uma de R$ 250 servação por grupos indígenas, cada vez mais terras indígenas teria as seguintes característi-
celas mil e outra de R$ 150
mil. A Funai prometeu devolver o restante “à frequentes e graves" e solicitando “medidas ur- cas: a) a adoção de um regime de gestão com-
medida em que o PPTAL precisasse do dinhei- gentes no sentido de garantir total respeito aos partilhada, no qual a concessão para a explo-
ro”. (Últimas Notícias/ISA, Jimites e finalidades dos Parques Nacionais de ração da Flona seria do lbama, mas dependen-
29/09/98)
Monte Pascoal, Araguaia, Superagui e demais te de anuência prévia do (s) povo (s) indígena(s)
que habitam a área sobreposta; b) os custos da
FUNDO PARA ÁREAS unidades de conservação de proteção integral,
determinando, ademais a imediata retirada dos elaboração do projeto seriam ressarcidos pela
DE PRESERVAÇÃO ,
índios Pataxós reclamam posse do Monte resses: garantir a manutenção e a susten- nômico sustentável de recursos naturais; recupe-
Pascoal - Já governo federal quer a saída dos tabilidade de nossa diversidade biológica. rando áreas degradadas e recursos naturais em
indígenas do território do parque. (Gazeta do Por outro lado, tanto os esforços de proteção da exaustão; e implementando soluções negociadas
Povo, 20/10/00) biodiversidade em VCs como as políticas de para os casos de sobreposição entre terras indí-
sustentabilidade cultural e econômica para os genas e unidades de conservação.
Pataxós negam saída do Monte Pascoal (A Tar-
povos indígenas do Brasil têm sido deficientes. As Na proposta apresentada, sugere- se uma primei-
de-Salvadur. 26/10/00) áreas protegidas do país sofrem os mais diversos ra etapa a ser desenwhnda na Amazônia e na Mata
índios ocupam sede do Ibama em TO - Javaés problemas desde unidades de conservação que só
, A primei-
Atlântica. Essa etapa abarca trêsfases.
existem formalmente até áreas onde as ativida- ra é aformulação de uma proposta preliminar de
contaram com a ajuda dos Karajás para expul-
do
des degradadoras são uma constante, comprome- programa, com estratégias diferentes para os dois
sar funcionários Instituto do Parque Nacio-
tendo deforma grave a biodiversidade que se que- biomas, priorizando na Amazônia a identifica-
nal do Araguaia (Gazeta Mercantil, 07/11/00)
ria conservar. As políticas referentes aos povos ção de áreas prioritárias para a conservação de
Documento pede índio longe de Superagui (O indígenas, por sua vez, não têm logrado garantir biodiversidade nas terras indígenas e na Mata
Estado do Paraná, 09/11/00) que as comunidades indígenas consigam se man- Atlântica, que apresenta uma realidade bem dis-
ter, levando algumas delas à beira da indigência tinta, adotando-se a estratégia de analisar casos
Ambientalistas pedem retirada de índios de re- total. Vários fatores estão por trás desse cenário, que podem ser considerados fyaradigmáticos. A
servas naturais ( A Tribuna da lmprensa-RJ, desde a falta de uma política consistente e inte- segunda fase da proposta apresentada ao MMA
10/11/00) grada de conservação de biodiversidade no país, pode ser descrita como um amplo processo de
passando pela ausência de recursos materiais e consulta às organizações e comunidades indíge-
Conama decide quem fica com as áreas de con-
humanos, até o desinteresse do governo e da pró- nas, às instituições de pesquisa e aos atores go-
servação (O Liberal-Pelem, 14/11/00)
pria sociedade por tais questões. vernamentais envolvidos. A terceira e últimafase
Conama discute superposição de áreas (Diário No caso da sobreposição entre Tis e UCs, apesar da proposta prevê aformulação final do progra-
do Comércio-SP, 15/11/00) da evidente convergência de interesses - ou uma ma e sua discussão com os interessados.
verdadeira sobreposição de interesses - acontece O grande diferencial dessa proposta de programa
Tribo Nauas reclama posse de terras - Conside- também um somatório dos problemas encontra- éofato de nãofocalizar o conflito da sobreposição
rados extintos os Nauas querem reserva de 40 dos independentemente na conservação de e sim criar uma abordagem mais ampla da ques-
mil ha do Parque da Serra do Divisor ( A Críti- biodiversidade em áreas protegidas e na tão de conservação da biodiversidade e seu uso
ca, 16/11/00) sustentabilidade econômica dos povos indígenas, sustentável ruis terras indígenas. Vale ressaltar que
ou seja uma sobreposição de problemas. muitas vezes o problema da sobreposição entre
índios podem ser retirados de Superagui. Pes-
É mister perceber que o foco dessa questão não é terras indígenas e unidades de conservação frode
quisadores querem a desocupação imediata das
a sobreposição de terras indígenas e unidades de ser percebido como um falso conflito, pois há, na
áreas de proteção ambiental ( Gazeta do Pom- conservação e sim o estabelecimento de uma po- maioria das vezes, ao lado de uma clara conver-
Curitiba, 19/11/00) de proteção e uso sustentável de nossa
lítica gência dos interesses dos povos indígenas e da-
Os índios e os Parques Nacionais (A Gazeia do biodii>ersidade que considere todo o nosso terri- queles preocupados com a proteção da
tório deforma integrada, ou seja não apenas uni- biodiversidade brasileira, divergências continu-
Povo, 21/11/00)
dades de conservação. adas entre os órgãos governamentais res/xmsá-
Assim, o tema deve ser tratado de forma mais veis por tais questões, criando um clima de con-
ampla ao invés da tentativa de solucionar os epi- frontação que poderia ser evitado.
sódios conflituosos que surgem, cada vez com Por outro lado, não é fx)ssível aceitar que os po-
maisfreqüência, e que não são nada mais do que vos indígenas sejam tratados como
agentes res-
indicadores da dimensão do problema a ser tra- ponsáveis pela degradação da diversidade bioló-
tado. gica nas unidades de conservação, quando se sabe
com a questão dessa forma, criando
Para lidar que há inúmeras áreas protegidas no país onde
uma interface ampla entre a conservação de não há nenhuma sobreposição com terras indí-
biodiversidade e a integridade das terras indíge- genas em estado avançado de degradação
nas, o Instituto Socioambiental possui duas pro- ambiental, sem que os responsáveis - madeirei-
postas não excludentes que, cabe ressaltar, trans- ros, caçadores, garimpeiros e fazendeiros - se-
cendem o problema da sobreposição entre uni- jam punidos. (Nurit Bensusan/ISA, dez/00)
DOS INTERESSES MINERÁRIOS é a retomada das discussões sobre ele no Congresso Nacional, onde
NAS TERRAS INDÍGENAS TRIPLICOU tramitam o Projeto de Lei n° 1 .610-A/96, que regulamenta as ativi-
ral incidentes em terras indígenas na chamada Amazônia Legal tui o Estatuto das Sociedades Indígenas, do qual consta um capítu-
chegou, em abril dc 1998, a 7.203, atingindo 126 terras indígenas lo sobre mineração em Tis.
mação (Cedi) e geólogos da Coordenação Nacional dos Geólogos na região amazônica, ntesmo considerando que, neste período,
(Conage), iniciado em 1986. também cresceu a extensão do reconhecimento oficial de terras
indígenas, conforme se pode ver na tabela.
Naquela oportunidade, a pesquisa foi motivada pelas discussões
sobre o assunto no processo de elaboração do novo texto consti-
tucional brasileiro. Os dados do período 1986-87, publicados em Final de Dez/ Jun/ Abr/
1988 (Empresas de Mineração e Terras Indígenas na Amazô- 19870 93 <-> 95 98 f"'1
Desde então, o Cedi, sucedido pelo ISA a partir de 1994, tem man- Ressalta-se que os números de 1998 não incluem os dados refe-
tido uma rotina diária de monitoramento dos interesses minerãrios rentes a quatro Tis situadas no sul de Rondônia, em decorrência
incidentes em Tis na Amazônia Legal. O método consiste em cru- de problemas técnicos nos disquetes obtidos pelo ISA junto ao
zar informações cartográficas obtidas junto a órgãos oficiais - as DNPM. No entanto, é provável a existência dc processos referentes
que constam dos alvarás de pesquisa e lavra oficialmente concedi- a essas terras, pois, já em 1995, a situação era a seguinte: TI
dos pelo DNPM e as que estão nos documentos de reconhecimen- Massaco com dois títulos (2% de seu subsolo) TI Rio Omerê com ;
to de TLs pelo governo federal (portarias ministeriais e decretos 22 títulos (100% do subsolo); TI Rio Mequens com dez títulos
presidenciais), de modo a produzir dados georreferenciados. (55,06%) e TI Tubarão-Latundê com 17 títulos (56,03%).
PERU
MG
Especificamente entre 1993 e 98, merece destaque o significativo Os subsolos dessas Tis apresentam, como se acaba de ver na tabe-
crescimento do número de requerimentos e títulos minerários nas la, altas taxas de superposição com áreas requeridas. No caso das
Terras Indígenas a seguir: Tis Curuá, Parakanã, Roosevelt, Serra Morena, Tapirapé/Karajá,
dc 05/10/88 dc 05/10/88 Silvana Indústria e Comércio Ltda. (com 961 títulos), a Cia. Vale
do Rio Doce e suas subsidiárias (com 590) e a Mineração Itamaracá
TI Yanomami 554 158
(que, com a Itajobi, chega a 452).
TI Alto Rio Negro 320 72
A tarefa de mensurar a multiplicidade de interesses numa mesma
TI Waimiri-Atroari 140 56
TI foi dificultada pelas lacunas existentes no Banco de Dados de
TI Raposa/ Serra do Sol 70 41 Empresas Mineradoras do DNPM. Somente como exemplo: no caso
TI Nhamundá-Mapuera 54 40 da TI Xikrin do Caíeté, há 27 empresas e pessoas físicas interessa-
Casos marcantes são: Mato Grosso e Rondônia. Somente na TT Menkragnoti, dos índios
Kayapó, no Pará, dispõe de 284 requerimentos de pesquisa mine-
ral e na terra dos Uru Eu Watt Watt, em Rondônia, 144. Segundo o
TÍTULOS MINERÁMOS banco de dados do DNPM, a Mineração Silvana tem como sócias a
EM SITUAÇÃO IRREGULAR Mineração Santa Elina e Santa Elina Gold Corporation.
Foram assim considerados todos os processos que não são reque- Quanto aos minérios mais requeridos, o interesse pelo ouro de
é,
rimento para pesquisa, que é a fase inicial do processo no DNPM longe, o principal. Há 4,468 processos em que o objetivo é a pro-
para obtenção de autorização de pesquisa.
cura desse minério, representando 62% do total dos interesses
Tais títulos somam 311, representando: 14 concessões de lavra, das mineradoras. Em segundo lugar, aparece o cobre, com 425
l63 autorizações de pesquisa, 25 em disponibilidade, 92 requeri- títulos e requerimentos, o que representa 5,9% do total dos processos.
A maior parte desses títulos foi concedida após ou durante o reco- QUEM BLOQUEIA O QUÊ?
nhecimento oficial das Tis em que incidem. Destacamos dois ca-
Como conclusão, podemos lançar duas indagações. A primeira
sos: o das 6 concessões de lavra concedidas, em 1993, à Coopera-
delas segue a hipótese do bloqueio cartonai do subsolo das terras
tiva dos Produtores de Ouro de Pontes de Lacerda (MT) que reca- ,
Pode-se verificar uma grande concentração de títulos concedidos parece desqualificar o argumento, muitas vezes apresentado, de
às mesmas empresas. As dez maiores mineradoras, com suas sub- que as demarcações de Tis na Amazônia visam dificultar ou mes-
sidiárias, detêm 3.313 (46%) dos títulos existentes. As três empre- mo obstruir a exploração minerai, (julho, 1999)
“Excelentíssimo Senhor presidente. Outro aspecto preocupante é o fato de que muitas comunidades in-
n° 16I0-A de 1996, de autoria do senador Homero Jucá. Para tanto contato com a sociedade envolvente e não têm experiência sobre pro-
destacamos alguns pontos negativos aos interesses dos povos indíge- cedimentos de contratos e desconhecem os valores dos diversos mi-
nas contidos no projeto de lei do senador HomeroJucá. Inicialmente nerais no mercado nacioruü e internacional.
o projeto prevê prioridade aos cerca de três mil requerimentos de Vale dizer que as comunidades indígenas não possuem equipamen-
autorização de pesquisa e de registro de licença para exploração mi- tos adequados à exploração racional de minerais e tão pouco sabem
nera! dentro de terras indígenas anteriores à Constituição de 1988. manusear máquinas utilizadas na garimpagem. Neste sentido, a
Tal previsão representa uma grande ameaça à rida das comunida- transformação do referido projeto em lei será um estímulo às inva-
des, uma vez que esses pedidos não vão precisar de editais e nossas sões legalizadas, tendo como consequência a exploração de mine-
organizações e comunidades não dispõem de recursos financeiros e rais através da manipulação e enganação dos índios pelos
humanos para promover laudos antropológicos e submeter todos es- mineradores profissionais.
ses pedidos às regras de relatório de impacto ambienta! específico, Um exemplo lamentável de que a exploração mineral, mesmo com a
em audiências públicas. autorização dos próprios índios, resulta em jogo de intrigas e
Outra grande preocupação advém do fato de que os principais enganação dos índios vem ocorrendo na Terra Indígena Waiãpi, onde
articuladores pela aprovação do projeto de lei de autoria do senador um projeto de mineração implementado pelo Centro de Trabalho
Homero Jucá, na Câmara, são proprietários ou ligados a empresas lndigenista (CT1) já causou sérios problemas de divisão social e os
mineradoras, o que evidencia interesses particulares em detrimento parentes Waiãpi não têm controle sobre a quantidade de ouro explo-
do interesse público. rado e não se dão conta dos prejuízos causados à organização social
0 pedido de urgência urgentíssima articulado pela “ bancada da mi- das comunidades. A Coiab não é contra a garimpagem em terras in-
neração ” e a posição do deputado Antônio Feijó (PSDB-AP) demons- dígenas, realizada ou autorizada pelos índios, mas esperamos que
tram que o Congresso Nacional corre o risco de aprovar o que parece isso ocorra qiumdo os índios envolvidos estejam conscientes das im-
ser uma estratégia montada por empresas mineradoras que resulta- plicações sociais e ambientais da garimpagem, tenham compreen-
mineração em terras indígenas? Nesse sentido reiteramos a nossa É nessa conjuntura que os parentes com poucos anos de contato não
solicitação para que os deputados agilizem a tramitação do projeto estão preparados para gerir de imediato projetos de mineração, haja
n° 2.057/91, cujo o relator é o deputado Luciano Pizzato. visto que nesse contexto, revelam-se complexos para os índios.
A alegação dos defensores do projeto do senador Romerojucá de que Assim sendo, queremos que os nossos direitos garantidos pela Cons-
o mesmo visa combater a garimpagem clandestina e racionalizar a tituição sejam respeitados. Para tanto, ratificamos a nossa posição
exploração mineral não apaga da nossa memória ofato de que, infe- contrária ao projeto de lei de autoria do senador Homero Jucá, que
lizmente, muita das vezes as leis são usadas para mascarar ativida- trata da exploração mineral em terras indígenas e esperamos contar
des ilícitas. Basta citar o falo de que dados do próprio governo fede- com o apoio de Vossa Excelência, no sentido de promover o debate e
ral, ou seja, a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), informam a agilização do projeto de lei do Estatuto das Sociedades Indígenas.
que 80% da madeira que sai da Amazônia é ilegal, apesar de que por Certos da atenção e da sua seriedade como legislador e jurista, ante-
lei a exploração de madeira deve ser controlaria pela autoridade com - cipamos os nossos agradecimentos.
Acervo
//\C ISA
REGULAMENTAÇÃO DA MINERAÇÃO EM TERRAS da propor soluções satisfatórias para alguns pontos considerados
INDÍGENAS ESBARRA EM PONTOS POLÊMICOS cruciais no tratamento da questão da mineração em terras indíge-
putado Pizzatto, nem 0 Projeto do senador Jucá, conseguiram ain- zas minerais nas terras indígenas.
ente, o ideal é que a própria lei fixe o percentual máximo LIVRE UTILIZAÇÃO POR PARTE DAS
do subsolo a ser explorado, ou que, pelo menos, estabeleça
COMUNIDADES INDÍGENAS DOS RECURSOS
parâmetros para tal limitação, os quais deverão nortear a ativida-
PROVENIENTES DA PARTICIPAÇÃO
de autorizadora do Congresso Nacional, evitando, quando da aná-
lise dos casos concretos, um desequilíbrio entre a garantia dos
NOS RESULTADOS DA LAVRA
direitos constitucionais indígenas e a possibilidade de exploração O Substitutivo do deputado Pizzatto estabelece que caberá à Co-
dos recursos minerais existentes no subsolo de suas terras. munidade Indígena administrar os recursos que receba a título de
participação nos resultados da atividade mineraria realizada em
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE suas tetras. Enquanto isso, o Projeto do senador Jucá determina
que tais recursos sejam depositados em caderneta de poupança
INDÍGENA NOS RESULTADOS ECONÔMICOS
em nome da Comunidade, que só poderá utilizar de forma livre os
DECORRENTES DA EXPLORAÇÃO MINERAL rendimentos auferidos, ficando o uso do valor principal condicio-
A Constituição estabelece que as Comunidades Indígenas deverão nado à autorização da Funai e do Ministério Público Federal.
participar dos benefícios resultantes da exploração mineral do
Pois bem, a participação nos resultados da lavra é garantida às
subsolo de suas terras. Essa participação é entendida em termos Comunidades Indígenas a título compensatório pela exploração
econômicos. Porém, restam dúvidas quanto ao melhor modo de
de suas terras e pelos impactos socioambientais inevitáveis, decor-
fixar o coeficiente dessa participação, assim como as bases sobre
rentes das atividades minerarias. Não seria juslo, pois, condicionar
as quais deve ele incidir.
o uso de recursos que visam minimizar as consequências de uma
O Projeto de Lei do senador Romero Jucá e o Substitutivo do depu- atividade que se faz em razão do interesse nacional - já que o
tado Lueiano Pizzatto fixam um percentual mínimo de 2%, fazen- subsolo é bem da União - à manifestação de vontade do próprio
do-o incidir sobre o “faturamento bruto resultante da Estado, seja qual for a justificativa usada para tanto.
rá dispor uma Comunidade Indígena para saber se o percentual própria Comunidade Indígena.
O falo é que nenhum dos dois projetos enfrenta a questão. Portan- território, a obrigação de financiar o bem-estar das demais Comu-
to, cabe indagar se não seria o caso de fazê-lo de imediato, recor- nidades, o que, no entanto, é dever do Estado.
rendo â assessoria de especialistas na área de tributação e mine-
ração, ou se deve a matéria ser deixada para discussão quando da OBRIGATORIEDADE DE REALIZAÇÃO
regulamentação da lei.
DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL
Outra pergunta recai sobre o próprio montante do percentual mí- Uma das exigências presentes no Substitutivo da Comissão Especi-
nimo estabelecido, havendo críticas quanto ao coeficiente de 2%, al é que a realização de atividades minerarias em terras indígenas
considerado insuficiente por alguns. Seria então o caso de deixar só ocorra após a elaboração de Estudo de Impacto Ámbieutal/Re-
que a Comunidade Indígena negociasse o percentual com a mineradora latório de Impacto Ambiental (EIA-Rima). O Projeto Jucá não es-
interessada, ao invés de fixá-lo em graus mínimo e máximo? tabelece esta exigência. Embora conste do texto constitucional a
pecífico, além das providências quanto à recuperação dos danos a manutenção desses dispositivos em ambos os projetos é pífia:
ambientes dela resultantes, conforme expressa exigência da pró- por serem tais requerimentos anteriores à Constituição de 88, quan-
pria Constituição Federal (Alt 225, §2°). do não existiriam regras especiais para a mineração etn terras in-
nal sem, no entanto, especificar como ela deverá ocorrer. Não está gulamentação da exploração mineral em terras indígenas. A ver-
previsto, por exemplo, que a audiência às Comunidades Indígenas dade é, porém, que tanto os índios como as organizações de apoio
deverá ocorrer dentro de suas próprias terras, tampouco está de- têm debatido o tema, procurando oferecer soluções aos proble-
finida a forma em que se dará a oitiva, não estando claro sobretu- mas existentes, sendo certo que os projetos de lei até hoje apre-
do o procedimento que levará ao conhecimento da Comunidade sentados resultaram, etn sua maior parte, de iniciativas e propos-
Indígena a questão sobre a qual ela deverá se manifestar. tas dos próprios índios e da sociedade civil organizada.
A lei há de ser expressa neste sentido, frisando que a consulta às Não obstante, tanto o Projeto Jucá quanto o Substitutivo do depu-
Comunidades deverá ser in loco e assegurando-lhes o recebimen- tado Pizzatto deixaram de incoqtorar muitas dessas sugestões, o
to de prévias informações sobre o conteúdo do projeto sobre o que aliás responde pelas lacunas e controvérsias apontadas aci-
qual deverá se manifestar, estabelecendo inclusive, se necessário, ma. Resta então perguntar a quem interessaria a não-regulamentação
obrigação para a empresa mineradora interessada de arcar com o da matéria, já que os índios e as organizações de apoio não têm medi-
pagamento de consultores independentes, os quais possam ofere- do esforços para que o tema seja regulamentado em lei (julho 1999) . ,
nidades Indígenas para que possam avaliar as consequências das pela realização da exploração mineral em terra indígena. Ou seja,
atividades propostas sobre os seus territórios, em assim fazendo, se dois interessados concorrerem para explorar minérios e apre-
ambos os projetos acabam por dispensar os titulares desses re- sentarem propostas iguais, aquele que for titular de um requeri-
querimentos de se submeterem ao juízo prévio de verificação das mento anterior a 88 será declarado vencedor, (outubro, 2000)
Patrimônio Genético:
De quem? Para quem?
0 GOVERNO FEDERAL ELABOROU UMA EMENDA genéticos, na medida em que reconhece a estreita relação entre a
CONSTITUCIONAL PARA QUE 0 PATRIMÔNIO conservação deste recurso e os conhecimentos, o modo de vida,
GENÉTICO SEJA BEM DA UNIÃO os costumes e as tradições de tais populações, que há séculos, ou
milênios, interagem com o ambiente natural conhecendo-o pro-
fundamente e conservando-o, já que desenvolvem atividades de
A quem pertence o patrimônio genético do País? Quem são, se é pouco ou quase nenhum impacto.
que há, os detentores ou proprietários das informações existentes
Assim, a CDB indica que, aiém dos interesses econômicos, recaem
na estrutura genética dos recursos biológicos (Dora, fauna,
sobre a diversidade biológica e, portanto, sobre os recursos gené-
microorganismos) espalhados por todo território brasileiro, seja
ticos que a integram, interesses outros de ordem coletiva e difusa.
em propriedade privada, em terras indígenas, em posses de popu-
lações tradicionais ou ainda cm terras públicas? E mais: qual a A legislação brasileira já apontava neste sentido desde a promul-
conseqiiência para os sujeitos acima apontados caso a resposta gação da Constituição Federal de 1988, o que se consolidou com a
seja “a”, “b “ ou “c” ? 0 governo federal anunciou que pretende entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Lei
responder a essas questões rapidamente, sem um debate mais n° 8.078/90.
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvol- Do ponto de vista do interesse eminentemente difuso - In-
vimento - a ECO 92, no Rio de Janeiro, e ratificado em 1994, atra- teresses afetos a uma coletividade indeterminada de pessoas, so-
vés do Decreto Legislativo n° 02, estabelece normas e princípios bre os recursos genéticos destacam-se e são determinantes os in-
que devem reger o uso e a proteção da diversidade biológica em teresses de natureza socioambiental, que apontam para a necessi-
cada país signatário. Em linhas gerais, a Convenção propõe regras dade de sua conservação em face da relevância para a manuten-
para assegurar a conservação da biodiversidade, o seu uso susten- ção da qualidade de vida humana e demais formas de vida. Vale
tável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso eco- aqui lembrar o amplo conceito legal de meio antbienle trazido
nômico dos recursos genéticos, respeitada a soberania de cada pelo artigo 3°, da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, Lei
nação sobre o patrimônio existente em seu território. Além disso, 6.938/81: “conjunto de condições, leis, influências e interações
é importante frisarmos que a CDB garante direitos especiais aos de ordemfísica, química c biológica, que permite, abriga e rege
povos indígenas e às populações tradicionais sobre os recursos a vida em todas as suas formas”, bem como o artigo 225 da
integram e compõem. Registre-se aqui, que no caso dos povos constituinte, tanto para os recursos genéticos, como para os
indígenas, a posse permanente de um território lhes assegura o ecossistemas de relevante interesse para o País (Mata AÜântica,
direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais nele existentes, Floresta Amazônica, Pantanal Mato-grossense, Serra do Mar e zona
inclusive os recursos genéticos (art. 231 CF/88) Ou . mesmo a iden- Costeira, §4°, art.225 ), ou ainda o patrimônio cultural (artigo
tificação de um dado povo ou grupo social ao uso de uma espécie 216 CF/88) se cotejados com a expressão bem de uso cotnum do
da flora nativa (plantas medicinais) como forma de exteriorização povo que, no art. 225 qualifica o meio ambiente ecologicamente
e reprodução intrínsecas de sua cultura. O ardgo 216 da Constitui- equilibrado, pode nos conduzir a uma reflexão mais ampla e au-
ção também prevê a proteção jurídica dos bens materiais e daciosa. Não se trata mais de expressar uma categoria jurídica
imateriais portadores de referência à identidade, à ação e à me- definidora de propriedade estatal ou privada de um recurso mate-
mória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira rial, mas sim de bens materiais e imateriais cujo valor reside fun-
(indígenas, quilombolas, caiçaras, caboclos, caipiras), suas for- damentalmente na possibilidade e necessidade de seu uso coleti-
mas de expressão, os modos de criar, fazer e viver e as criações vo, cujo acesso pela população deve ser o mais amplo possível
científicas, artísticas e tecnológicas, qualificando tais bens como posto que se tratam de recursos essenciais para a garantia de vida
patrimônio cultural brasileiro. digna da população humana, inclusive as futuras gerações. Neste
sentido é que o paúimónio genético se enquadraria na categoria de
Do ponto de vista do interesse exclusivamente individnal -
bens de interesse difuso ou público, categorias jurídicas ainda em cons-
O conceito de patrimônio, no caso dos recursos genéticos, se re-
trução tanto pela doutrina como pela própria legislação, mas que per-
veste tão somente de conteúdo econômico, ou seja, da apropria-
sistentememe o governo federal insiste em desconsiderar.
ção mesma do recurso, no sentido de usar, gozar, fruir e dele dis-
por, excluindo todos os demais, evidentemente que dentro dos li- Reconhece-se que há necessidade cada vez mais emergente de
mites ao uso da propriedade estabelecidos pela legislação. buscarmos solução político-jurídica responsável que assegure, a
todos os titulares dos interesses acima referidos e não apenas à
Vaie dizer, entretanto, que os “interesses” difusos, coletivos ou in-
União, o respeito aos seus direitos. Entretanto, considerando-se a
dividuais podem convergir ou conviver simultaneamente sobre uma
complexidade da matéria e os distintos e legítimos interesses e
mesma como no caso sobre os recursos genéticos, inde-
“coisa”,
direitos envolvidos - públicos e privados, coletivos e difusos -, é
pendentemente de sua titularidade ou mesmo posse.
forçoso concluir que devemos aprofundar o debate com a socie-
O recurso genético é elemento constitutivo da própria essência ou dade interessada (comunidade científica, setor privado, popula-
da estrutura mesma dos recursos naturais (água, ar, solo, fauna e ções indígenas, comunidades locais, proprietários rurais, peque-
flora), que por sua vez compõem o meio andiiente ecologicamen- nos produtores) buscando principalmente, ao sugerirmos solu-
te equilibrado. A conservação e o uso dos recursos genéticos, que ções, ainda que por meio de ficções jurídicas inovadoras, refletir
integram os recursos naturais, interferem potencialmente (positi- sobre os impactos que a inclusão precipitada do patrimônio gené-
va ou negativamente) no equilíbrio ecológico - protegido constibi- tico como bem da União, ou cm qualquer outra categoria existente
cionalmente que se almeja para a manutenção da qualidade de ou por ser criada, poderá causar a todos esses interesses.
vida das presentes e futuras gerações. Assim sendo, podemos di-
Não podemos aceitar que administradores provisórios do Estado,
zer que a expressão "patrimônio genético”, na hipótese, revela
a pretexto de exercer a legitima soberania sobre a diversidade bi-
interesses e direitos que transcendem ao direito individual-priva-
ológica do País, reproduzam dissimuladamente a prática tirânica
do, ou mesmo ao direito público, despontando para um novo di-
e autoritária de outrora, que desconhecia deiiberadamente a im-
reito a que chamamos de intergeracional e portanto difuso, em
portância dos povos indígenas e das populações locais como su-
função da inequívoca indeterminabilidade de seus titalares ou
jeitos no processo de promoção do desenvolvimento sustentável
sujeitos, que são inclusive as gerações futuras.
da nação. A CDB, ainda que timidamente, reconhece esse papel,
Desta forma, a palavra “patrimônio”, no presente caso, expressa cabendo ao governo demonstrar se realmente pretende realmente
um conjunto de obrigações das presentes gerações que aplicá-la em nosso País. (outubro, 2000)
RECURSOS GENÉTICOS ação de uma Opep da biodiversidede, podemos ra, de espécies conhecidas (como a mandioca,
livrar o mundo da estreiteza do Ocidente todo- milho, arroz etc.) e que as pesquisas e inter-
poderoso e nos unir em torno dos 99® da câmbios promovidos pela empresa visam aten-
“LEI DAS PATENTES biodiversidade mundial que nos pertence. So- der às necessidades básicas de populações de
É CONVITE AO ROUBO” mente assim, leremos uma moeda de barganha baixa renda, tendo uma finalidade essencial-
forte. Todos os recursos financeiros existentes mente social e não lucrativa. Ele argumenta tam-
A dentista indiana Vandana Shiva, diretora da
não podem suprira falta de biodiversidade. (Pa- bém que os índios, quando entenderem que o
Fundação para a Pesquisa em Ciência Tecnologia
rabólicas, n° 17, abril de 19%) convênio não lhes beneficia, poderão negar a
e Recursos Naturais de Nova Delhi, tem denun-
autorização para a coleta.
ciado a armadilha geopolítica que está sendo
armada por alguns países que lideram a corri-
CONVÊNIO FINAI E EMBRAPA Miranda acredita também que a preocupação
com a necessidade de assegurar compensação
da à apropriação dos recursos genéticos exis- A Embrapa e a Fuiiai assinaram, em maio últi-
às comunidades indígenas pela utilização de
tentes no planeta. Autora de vários livros - en- mo, “convênio de cooperação" que permite a
seus conhecimentos tradicionais deve estar mais
tre eles Monoclutures os lhe Minds: prospecção botânica e a coleta de recursos ge-
voltada para as pesquisas científicas com plan-
Biodíversity, Biotlechnology andAgrfciiUure néticos em áreas indígenas. O convênio prevê a
tas medicinais. O pesquisador reconhece, en-
e StayingAlive: Women, Ecoiogy and Survlml necessidade de autorização prévia das comuni-
tretanto, que, uma vez cedidos os recursos ge-
in índia -, em 1993 com o
ela foi agraciada dades indígenas para a coleta, mas não estabe-
néticos para outras instituições, pouco contro-
Prêmio Nobel da Paz Alternativo, alimenta um lece mecanismos de controle sobre o destino e
le se terá sobre a sua utilização futura e sobre
sóbrio cult pelo movimento feminista c uma a utilização do material genético depois de co-
os produtos e processos que venham a ser de-
militância em defesa da natureza. Para Vandana, letado. Ele se antecipa às normas legais de con-
senvolvidos com base neles, que poderão vir alé
é na região amazônica e andina que se locali- trole sobre o acesso aos recursos genéticos bra-
a ser objeto de patenteamento por terceiros. Não
zam os maiores reservatórios do patrimônio sileiros, eslabelecidas em projeto de lei de au-
há nada no convênio impedindo que isso aconte-
genético da humanidade. E é para onde as soci- toria da senadora Marina Silva (PT-AC) que tra- ,
ça. £ luUamSmtílli, Parabólicas, pl-ago/97)
edades desenvolvidas têm olhado com cobiça, mita no Senado.
neste início da era da Revolução Biotecnológica. O convênio ainda não foi executado e depende-
Leia a seguir trechos da entrevista concedida rá da assinatura de convênios específicos para
COMISSÃO DA CÂMARA
por Vandana Shiva, em sua visita ao ISA em cada caso. Ele permite que a Embrapa
PEDE INVESTIGAÇÃO
abril de 96. disponibilize os recursos genéticos de áreas
SOBRE BIOPIRATARIA
ISA- A sra. acha que os recursos naturais indígenas a instituições de pesquisa, públicas
A comissão da Câmara dos Deputados que apu-
de países como o Brasil e a índia podem ou privadas, “desde que estes se destinem à ali- ra a biopirataria no Brasil pediu ao Ministério
ser uma moeda de barganha diante da mentação e agricultura”, e que “pertençam a Público que investigue esse tipo de prática den-
globalização? gêneros de espécies e variedades conhecidas".
tro de instituições de pesquisa do próprio go-
Eu acho que alguns recursos naturais são mui- Em troca, a Embrapa forneceria seus recursos verno. Segundo o relatório da comissão, divul-
to importantes, Nós precisamos estar cientes genéticos e técnicos para projetos agrope- gado ontem, os acordos científicos internacio-
desse riqueza para colocá-ia na mesa no mo- cuários em áreas indígenas.Os recursos gené- nais acobertam coletas ilegais de espécies ve-
mento em que as negociações mundiais quise- ticos (de espécies da fauna e da flora) das áre- getais e animais na Amazônia. Essas espécies
rem fazer parecer que nós nada temos e que as indígenas serão mantidos nos bancos de seriam usadas para a produção de novos medi-
aqueles que detêm o capital têm tudo. Mas, além germoplasma da Embrapa. Em seus registros,
camentos - é a esse tipo de prática que os cien-
disso, eu acho que temos mais do que a nature- deverão constar as áreas indígenas de onde fo-
tistas chamam de biopirataria. (FSP, 19/11/97)
za. Temos também uma diversidade cultural for- ram coletados e os povos indígenas que nelas
midável e já é tempo de começarmos a negociá- vivem. Entretanto, não há previsão de autoriza-
PROGRAMA TENTA
la de maneira otimista. Esta revolução ainda está ção dos índios para sua cessão a terceiros. O
por acontecer. convênio cria uma comissão paritária da Embrapa
COMBATER BIOPIRATARIA
ISA - Brasil e índia poderiam cria uma e da Funai para acompanhar as atividades. 0 governo vai estimular a formação de um con-
Opep biológica para melhorar seus recur- Os recursos genéticos das áreas indígenas esta- sórcio de empresas e instituições de pesquisa
sos naturais numa economia globalizada? rão disponíveis para instituições de pesquisa de para o desenvolvimento de produtos farmacêu-
Acho que sim. E nós teríamos alguns líderes com outros países, pois a Embrapa mantém uma po- ticos derivados de plantas, animais e
vontade de ferro. Uma Opep da biodiversidade lítica de intercâmbio internacional, devido à microorganismos oriundos da floresta amazô-
poderia não só resgatar os recursos do Tercei- grande dependência brasileira de recursos ge- nica. A propriedade da tecnologia, patenteável
ro mundo, como também salvar o planeta. Os nélicos eslrangeiros. Os índius, entretanto, não ou não, será dividida entre as entidades que tra-
modelos econômicos provenientes do mundo terão controle ou qualquer compensação eco- balharem no desenvolvimento do produto.
indusüializado, cultural e ecologicamente mui- nômica pela autorização de acesso: este é o O programa tem o objetivo de combater a
to pobre, em termos de biodiversidade, se so- ponto que suscita dúvidas sobre o convênio biopirataria na Amazônia. O projeto foi batiza-
brepõe a outros tipos de modelos, destruindo- entre organizações de defesa aos índios e ou- do de Programa Brasileiro de Ecologia
os e encobrindo-os. Assim, implanta-se a tros setores da sociedade civil que vêm acom- Molecular para o Uso Sustentável da Bio-diver-
monocultura do McDonakPs e da Coca-Cola por panhando a regulamentação legal do acesso a sidade da Amazônia (Probem) e vai consumir
toda a parir. Esse tipo de globalização, baseado recursos genéricos no pais. R$ 54,9 milhões.
somente no poder do capital, nivela por baixo a Márcio Miranda, chefe de pesquisa da Embrapa, O governo brasileiro estima que 25% de todas
humanidade. Não produz um engajamento in- pondera que o convênio só abrangerá recursos as drogas prescritas nos EUA contenham subs-
telectual, cultural e filosófico efelivo. Com a cri- genéticos destinados à alimentação e agricultu- tâncias ativas derivadas de plantas desenvolvi-
-?l j/ Acervo
--
—l/í s A I
A C 0 W TE j. ,
C E 01 _ _
das em florestas tropicais. As populações indí- to burocrático federal e que o excesso de con- Os próprios pesquisadores e o Inpa reconhe-
genas dominam o conhecimento sobre aproxi- trole gere descontrole no final. cem suas grandes dificuldades para exercer uma
madamente 1.300 plantas que contêm princí- "Tem lei que pega e lei que não pega", disse o atividade de vigilância e acompanhamento. Ade-
pios ativos com características de antibióticos, advogado Paulo de Tarso Siqueira Abrão, mem- mais, boa parte das verbas que subsidiam as
narcóticos, abortivos, anticoncepcionais, bro da comissão de meio ambiente da Ordem pesquisas do Inpa provém justamente de con-
antidiarréicos, anticoagulantes, fungicidas, anes- dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo. vênios internacionais.
tésicos, anliviróticos e relaxanles musculares. "O fundamental é que as negociações gerem Numa visão estratégica para o futuro da
Três laboratórios de referência serão criados frutos", disse, "f! preciso garantir a soberania biodiversidade nacional, o melhor (e talvez
em São Paulo e Amazonas para auxiliar na co- dos estados nacionais sem ser xenófobo”, con- único) antídoto contra a chamada biopirataria
leta de amostras, preparação de extratos e de- clui Abrão. está no aprofundamento das pesquisas
terminação da propriedade. A previsão é que O projeto de lei de acesso a esses recursos foi farmacológicas e no desenvolvimento de novas
os laboratórios do consórcio resultem na cria- proposto no Congresso pela senadora Marina técnicas de fabricação dos remédios, dentro do
ção do Pólo Tecnológico de Bioindústria da Silva (PT- AC). Ela deverá vir à SBPC discutir o próprio Brasil.
Amazônia, destinado a ampliar a base brasilei- projeto. Ontem, ela foi representada por um Limitar-se a legislar contra a presença estran-
ra de produção de insumos farmacêuticos de consultor, David Hathaway, da Assessoria e Ser- geira no setor talvez seja, além de um simples
origem biológica. A implantação do pólo pode- viços a Projetos em Agricultura Alternativa. paliativo, uma forma, nada sutil, de admitir a
rá ter incentivos fiscais. A utilização da Hathaway lembrou que há séculos existe um incompetência da pesquisa nacional para par-
biodiversidade inclui a domesticação de espé- "colonialismo genético”, para o qual países ticipar competitivamente desse importante
cies que possam gerar produtos comestíveis e criavam jardins bolânicos para se apropriar, por mercado. (PSP, 14/07/97)
produção de biomassa. A coleta será feita por exemplo, de plantas de outras regiões. “Com a
grupos ligados às universidades e instituições engenharia genética há mais centralização de GOVERNO TEME
de pesquisa da região. Os extratos serão pre- capital, de poder. As grandes empresas querem ISOLAMENTO E PERDA
servados, codificados e parte enviada para um se apropriar dos recursos genéticos globais." DE “DINHEIRO VERDE”
laboratório de referência a ser construído em Ele diz que, quando um país importa alumínio
A equipe do governo federal que estuda a legis-
Manaus (AM) do Brasil, paga pela mercadoria e pode reven-
lação sobre biodiversidade teme que o País
"Não temos dúvidas de que conseguiremos com- der um avião. Já quando uma grande empresa
possa criar uma espécie de
'
'Lei da Informática
bater a biopirataria"', disse o ministro Gustavo se apropria de um recurso genético, nada paga,
2", norma que criou uma reserva de mercado
Krause (Meio Ambiente, Recursos Hídricos e e o país importa depois o remédio pronto. Para
radical para produtos brasileiros em 1984.
Amazônia Legal) Outro laboratório de referên-
. Hathaway, trata-se também de justiça social. Por
O temor foi ampliado depois que a Assembléia
cia para ensaios biológicos será sediado no Ins- exemplo, quem possui o conhecimento sobre
Legislativa do Acre aprovou, no início deste mês,
tituto Butantan. O Laboratório de Estruturas um recurso genético muitas vezes é uma comu-
Moleculares do Instituto de Biociências da nidade indígena, que merece usufruir dos re-
a primeira Lei da Biodiversidade do País, O tex-
to proíbe a entrada de estrangeiros na floresta
Llnesp (Universidade Estadual de São Paulo) sultados. Para ele, trata-se ainda de incentivo à
amazônica daquele Estado. Para ter acesso aos
também vai colaborar. (PSP, 19/11/97) conservação. (PSP, 16/07/97)
recursos naturais do Acre, uma das áreas mais
peração internacional. "O ponto mais impor- terior com plantas coletadas na Amazônia, sem ção c cobrança de royalties pelo uso das rique-
tante é negociar bem as parcerias", disse Mareio o pagamento de royalties ao Brasil. zas genéticas e vegetais. O projeto, que pode
de Miranda Santos, chefe do Departamento de Para que possam trabalhar no Acre, pesquisa- ser alterado por sugestões (emendas) de ou-
Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa (Em- dores estrangeiros deverão estar acompanha- tros parlamentares, tenta regulamentar deter-
presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e dos por brasileiros e parte do material coleta- minações ainda da Convenção da Biodiver-
ex-diretor do Centro Nacional de Recursos Ge- do ficará sob controle do Estado. Para o âmbi- sidade, acordo feito por 144 países durante a
néticos (Cenargem). to federal, tramita no Congresso, desde 95, Eco-92, realizada no Rio.
"Não adiantaria nada ter uma excelente lei, mas projeto da senadora Marina Silva (PT-AC), O temor da equipe do governo é que, a pretex-
péssimos dentistas”, disse Miranda. Isto é, não com teor similar. to de defender o País da biopirataria, o Con-
adianta fechar as portas do resto do mundo -
Não se pode ignorar a importância do mercado gresso chegue a um lexlo ultranacionalista e
leia-se principalmente os EUA, detentor da mais de remédios derivados de plantas, qne, segun- com uma posição de isolamento.
poderosa engenharia genética e biotecnologia do a ONU, movimenta cerca de US$ 32 bilhões Biopirataria é a forma como ficou conhecida a
- para a biodiversidade brasileira, se não hou- em todo o mundo. Mas, mesmo reconhecendo saída ilegal, sem o pagamento de royalties, de
ver recursos humanos no País capazes de que as práticas desse setor devam estar sujeitas material genético (plantas, microorganismos,
pesquisá-la em parceria. “Nessa área, coope- a alguma forma de regulamentação em territó- ele.) para criar patentes de produtos no exterior.
ração internacional é necessária. Não é sufici- rio nacional, é bastante improvável que, dadas No momento, a Funai tenta cobrar de pesquisa-
ente a capacitação que existe no Brasil”, afir- as dimensões do Brasil, seja factível fiscalizar com doras ingleses, como revelou a Folha, pagamen-
mou. Ele também teme a criação de um apara- rigor os ilícitos contra o patrimônio biológico. to por remédios patenteados apartir de conhe-
címentos dos índios Kaxinawa, da região ama- dez fiscais em Manaus diariamente. A Pobcia Para o pesquisador da Universidade do Amazo-
zônica. 0 Ministério Público do Acre vai entre- Florestal do Amazonas tem efetivo maior, na casa nas e do Programa Brasileiro de Ecologia
gar à Justiça, depois de amanhã, denúncia so- da centena, mas não dá conta dos 1 ,5 milhão Molecular para o Uso Sustentável da Bio-
bre diversos casos de biopirataria. Para de km !
do Estado. tecnologia da Amazônia (Probem) ,
Spartaco
Fernando DaTAva, da equipe do governo, o País No centro de Manaus, é possível contratar gui- Astolfi Filho, a construção do centro de bio-
não deve seguir uma linha fechada e inacessí- as a partir de Rí 300,00 por dia. Com tecnologia no Amazonas será uma das formas
vel, o que iria contrariar até mesmo determina- monomotores, o preço sobe até R$ 600,00. Se- de manutenção dos conhecimentos tradicionais
ções da Agenda 21, documento da Eco-92 que gundo a PF, há cerca de cem pistas clandestinas dos povos indígenas. Spartacco disse que falta
trata da biodiversidade, desenvolvimento sus- no Amazonas. lora os rios. "Um hidroavião ao Brasil uma legislação mais rigorosa na pre-
tentável e colaboração entre países, "Existem pode vuar de países vizinhos, pousar em um servação das riquezas biológicas e do conheci-
estrangeiros bons e maus. Não há sentido fe- afluente, fazer o serviço e voltar”, afirma o di- mento tradicional. Segundo ele, o centro de
char as portas para todos", disse DaTAva, que é retor do lupa, Ozório Fonseca. biotecnologia é um projeto capaz de gerar ren-
chefe do Departamento de Vida Silvestre do Para ele, o problema também reside no fato de da para todos os participantes por meio dos
Ibama. "Poderíamos incorrer no mesmo erro que hoje a biopirataria pode ser feita com ca- produtos comerciáveis. Fie disse que o centro
da Lei da Informática”. netas. Explica-se. O pirata está interessado em deve ter uma. rede de análise de biodiversidade,
0 governo federal, segundo apurou a Folha, elementos encontrados na casca de uma árvo- formado por pessoas detentoras do conheci-
teme larnbém que uma lei como a aprovada no re. Ele a dissolve e preenche a carga de uma mento tradicional. (A Crítica, 13/11/98)
Acre crie obstáculos para que o país realize caneta esferográfica. Chegando em seu labora-
acordos de cooperação com bancos e entida- tório, liofiliza (seca) a solução e recolhe os re- BIOPIRATARIA É PRATICADA
des estrangeiras. Atualmente, países do G-7, clu- síduos sólidos. Que, devidamente estudados, são POR “TURISTAS”
be dos mais ricos do mundo, investem em pes- sintetizados.
quisas e infra-estrutura de órgãos brasileiros Segundo o diretor do lupa, nada impede que 0 cx-coordenador da Coiab, Sebastião
como o Inpa de Manaus. hotéis de selva montem laboratórios para aten- Machinery, 28, disse que apesar da dissemina-
Para o autor da lei aprovada no Acre, deputado der seus clientes cientistas. Ele conta um caso ção maior de informações sobre a existência
estadual Edvaldo Magalhães (PC do B) o con- mais radical, ocorrido recentemente no Peru, de biopirataria nas áreas indígenas, nas regi-
,
uma espécie de novo colonialismo”, disse, instalações a cientistas dos EUA. dos como turistas, missionários e pesquisado-
A Assembléia do Amazonas também tem um A Empresa de Turismo do Amazonas informa res que podem roubar conhecimentos do uso
projeto de Lei da Biodiversidade, ainda a ser que controla o chamado turismo receptivo, de plantas e animais como medicamentos. (A
votado, (m 13/07/97) aquele que leva turistas para o maio. Três das Crítica. 17/11/1998)
maiores agências de Manaus foram consulta-
É FÁCIL ENTRAR das peia Folha sobre a possibilidade de contra- ÍNDIOS DENUNCIAM
E SAIR DA FLORESTA tarum "mateiro”. Nenhuma aceitou o serviço, A BIOPIRATARIA
mas indicou endereço de agências "menores”,
Por R$ 400,00 por dia, um norte-americano Um documento paralelo à Carta da Terra ela-
sem registro oficial, que tinham até tabela de
contratou um guia caboclo, alugou uma borado pelo Comitê Internacional Intertribal,
preços. (FSP, 13/07/97)
voadeira (barco de alta velocidade) e se enfiou que envolve índios do Brasil, Ásia, África, Aus-
numa mata cem km acima de Manaus no co- trália e Europa, foi entregue ao coordenador
SEMINÁRIO ORGANIZADO mternacionai da Carta da Terra, o norte-ameri-
meço de março. Acompanhado por uma brasi-
PELOS ÍNDIOS DISCUTE cano Steven RockefeEer. Desta vez, os silvícolas
leira, ele carregava três caixas prateadas. De-
pois de três dias de pesquisas, trouxe em uma
BIODIVERSIDADE propõem não só sugestões e projetos a serem
das caixas duas plantas enormes. A biodiversidade é um tema que vem ganhando executados, mas graves denúncias de
"Ele disse que era para sua coleção particu- espaço nas discussões inlerriadonaís. Foi o que
biopirataria, roubo de madeira, extinção de
lar”, resume o guia Marcos Garanlido. O so- revelou ontem o ex- coordenador da Coiab, Se-
etnias e doenças transmitidas pelo homem bran-
brenome, apesar de ele dizer que é verdadeiro, cobram atitudes urgentes da ONU para
co. Mais:
bastião Manchinery. Ele participou ontem do
deve ser falso - é o "sobrenome" do boi que seminário "Biodiversidade e Direitos Indígenas:
que os indígenas recebam tratamento não só
ganhou o Festival Folclórico de Parintins neste biopro5pecção e conhecimentos tradicionais",
como minorias. Querem a definição de políti-
ano. A "viagem”, como classificou o guia de 33 cas claras governamentais que saíram da teoria
organizado pela Coiab. Sebastião ressaltou que
anos, rendeu R$ 500,00, O resto ficou com a os povos indígenas ainda não têm consciência
e sejam colocadas em prática. (A Gazeta.
Do Manejo Florestal
em Terras Indígenas
COMO OS ÍNDIOS PODEM, LEGALMENTE, É necessário a formulação e execução de políticas públicas que
MADEIRA DE SUAS ÁREAS de modo que possam manter a integridade de seu patrimônio e
possam desenvolver suas atividades produtivas com êxito conside-
rando suas peculiaridades econômicas, sociais, cukurais e a pre-
A exploração de madeira em terras indígenas é um assunto polê- servação de seus recursos ambientais.
plorar madeira em suas terras para fins comerciais. Todavia, tal §2°, submeteu ao regime de preservação permanente “as florestas
polêmica tem sido decorrente da falta de interpretação clara da e demais formas de vegetação natural destinadas a manter o ambi-
legislação pertinente e de políticas públicas consistentes para apoiar ente necessário à rida das populações silvícolas”. Embora o obje-
o desenvolvimento sustentável das comunidades indígenas. tivo fosse de proteger as comunidades indígenas, essa norma nas-
ceu sem possibilidade de eficácia plena por considerar como sen-
Diversos setores se posicionam terminantemente contrários à ex-
do de preservação permanente todos os recursos florestais exis-
ploração de madeira em terra indígena, alegando em síntese que
tentes nas terras indígenas. Sua aplicação implicaria na restrição
isso gera a sua conseqiiente invasão por estranhos, a degradação
total ao uso de tais recursos pelas comunidades indígenas, que
do meio ambiente e impacto cultural. Por um longo período esse
nem mesmo poderiam efetuar o aproveitamento de qualquer es-
argumento foi fortalecido pelo entendimento de que as florestas
pécie para a construção de uma casa ou confecção de uni arco.
situadas em terras indígenas estavam sujeitas ao regime de preser-
vação permanente e, também, pela inalienabilidade da madeira O Art. 46 da Lei n° 6001/73 (Estatuto do índio) modificou o Códi-
em questão, que pertenceria ao domínio da União Federal seguin- ,
go Florestal preconizando que “o corte de madeira nas florestas
do o principio civilista de que o bem acessório acompanha o prin- indígenas consideradas em regime de preservação permanente,
cipal, ou seja, como as terras indígenas pertencem ao domínio da de acordo com aletra “G” e §2° do Código Florestal, está condici-
União e são inalienáveis, os recursos florestais pertenceriam a ela onado à existência de programas ou projetos para o aproveita-
e também não poderiam ser objetos de comercialização. mento das terras respectivas na exploração agropecuária, na in-
dústria ou no reflorestamento.”
Porém, apesar de toda veemência dos setores que defendiam a
proibição da exploração de madeira em terras indígenas, milhões A letra “G” e o §2“ do Art. 3° do Código Florestal foram modifica-
de metros cúbicos de madeira foram extraídos ilegalmente destas ter- dos em função de sua incompatibilidade com o Art. 46 do Estatuto do
ras enriquecendo apena os proprietários de empresas madeireiras. índio. O caráter proibitivo da exploração de madeira presente naquele
Código, revestiu-se de natureza permissiva no texto desse último.
Isso demonstra que não basta simplesmente estabelecer regras
proibitivas quanto ao uso dos recursos das terras indígenas para Com efeito, a Medida Provisória n“ 1.956-55, de 19 de outubro de
proteger os interesses e o patrimônio das comunidades indígenas. 2000, que “Altera os arts. I
a 4a
, ,
14a 16 a
,
e 44 a, e acresce dispo-
a
O debate deve se pautar pela situação vivida de falo pelas comuni- sitivos à Lei ii 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o
dades indígenas e seus anseios quanto ao uso de seus recursos. Código Florestal, bem como altera o art. 10 da Lei na 9.393, de 19
'Art. 3“-A. A exploração dos recursos florestais em terras indíge- i) garantia das medidas mitigadoras dos impactos ambientais.
nas somente poderá ser realizada pelas comunidades indígenas
A aprovação do corte de madeira em terra indígena se fará me-
em regime de manejo florestal sustentável, para atender a sua sub-
diante a apresentação do plano de manejo florestal que será
sistência, respeitados os arts, 2= e 3“ deste Código." (NR)
apreciado pelo Ibama e a Funai. É dispensado a apresentação
Portanto, a Medida Provisória acima mencionada reafirmou a pos- do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório de Im-
sibilidade de exploração de madeira em terras indígenas já previs- pacto Ambiental - Rima.
ta pelo Estatuto do índio e pôs fim a qualquer dúvida nesse sentido.
Ressaltamos que o plano de manejo florestal apresentado por co-
O regime de manejo florestal sustentável a que se refere o Art. 1° munidades indígenas deverá respeitar as áreas de preservação
da Medida Provisória trata dos resultados econômicos e sociais permanente, às quais não é permitida a supressão, como exem-
que a atividade deve alcançar bem como o equilíbrio ecológico da plo, as florestas situadas ao longo dos rios, nas nascentes, nas en-
com a descrição do Art. 2"
área objeto do manejo. Esse regime foi conceituado pelo Decreto costas e no topo dos morros, de acordo
Código Florestal no que se refere a exploração das florestas primi- Feitas estas considerações, deve-se esclarecer que não é valido o
tivas da bacia Amazônica, que adotou o conceito dc manejo flores- argumento de que os recursos florestais existentes em terras indí-
tal sustentado de uso múltiplo, o qual sc aplica ao manejo flo- genas seriam inalienáveis como são as terras indígenas, em decor-
restal em terras indígenas situadas na Amazônia por serem dc rência do principio civilista que determina que o bem acessório
formação primitiva. siga o principal. Essa é uma questão já superada, uma vez que os
o direitos indígenas não podem ser interpretado tão somente à luz
Art. I do Decreto; “A exploração das florestas primitivas da bacia
do direito comum. Os institutos jurídicos dc proteção dos direitos
amazônica de que trata o art. 15 da Lei n 2 4.771, de 15 dc setem-
dos índios são norteados pela natureza diferenciada dos povos in-
bro de 1965 (Código Florestal) e das demais formas de vegetação
,
manutenção da diversi-
deira em terra indígena.
estrutura da floresta e de suas funções, de
dade biológica, de desenvolvimento sócio-econômico da região e 0§ 2“ do Art. 231 da Constituição Federal preconiza que cabe às
aos demais fundamentos técnicos estabelecidos neste Decreto." comunidades indígenas o usufruto exclusivo das riquezas do solo,
a) conservação dos recursos naturais; Roberto A. O. Santos, em parecer sobre “A Parceria Pecuária em
b) preservação da estrutura da floresta e de suas funções; Terras Indígenas”, observa:
c) manutenção da diversidade biológica;
“deve-se notar, porém, que não se pode interpretar a Consti-
d) desenvolvimento sócio-econômico da região;
tuição como se ela tratasse seus destinatários de modo irônico
II - fundamentos técnicos: ou desleal, dando, por exemplo, às populações indígenas um
a) caracterização do meio físico e biológico; presente grego: outorgar-lhes o usufruto, por um lado e por
”
b) determinação do estoque existente; outro, interditar-lhes o gozo das riquezas das terras, (in: Os
c) intensidade de exploração compatível com a capacidade do sítio; Direitos Indígenas e a Constituição, NDI/Sérgio Fabris, 1993).
Do exame desse conceito, se verifica que quatro elementos devem forme descreve o Código Florestal.
coexistir para que terra possa ser caracterizada como indígena: Aplicam-se também às atividades em terras indígenas as normas
- habitação em caráter permanente; de Decreto n° 2.788/98, que traz a regra geral sobre o tratamento
- utilização para atividades produtivas; a ser dado à exploração de florestas primitivas da Região Amazô-
- imprescindibilidade da terra à preservação dos recursos nica, já que avegetação em terras indígenas naquela região é pre-
ambientais necessários ao bem-estar; e dominantemente de formação primitiva.
- as necessárias para a reprodução 6'sica e cultural.
Quanto à extração de madeira, vimos que é possível e que se
Todos esses quatro elementos serão referenciados à luz dos usos, compatibiliza plenamente com o usufruto dos índios sobre as ri-
costumes e tradições dos índios ocupantes de uma dada terra. quezas existentes em sua terras, na forma prevista na Constituição
de 1988. Para tanto, há que se realizar o zoneamento e inventário
Assim, para que uma atividade econômica se realize no interior de
da terra a ser explorada, requisitos indispensáveis de acordo com
uma terra indígena, é preciso que se verifique, por exemplo, qual
o § 1° do Art. 231 da Constituição Federal.
a parte dessa terra que se destina à atividade produtiva, e qual a
parte que será resguardada para a proteção ambiental. Por fim, é imprescindível, ainda, que os benefícios provenientes
1“
da exploração de madeira em terras indígenas alcancem a todos
Isso, para que se atenda ao disposto no § do art. 23 1 da Consti-
os índios da comunidade envolvida. E que também sejam observa-
tuição Federal. Para tanto, no caso da exploração florestal em
das todas as técnicas de manejo florestal sustentável para a manu-
terras indígenas, impõem-se a feitura de zoneamento para de-
tenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
finição da área a ser explorada, acompanhado ainda do res-
pectivo inventário florestal, que identificará e classificará as Merece ressaltar que encontra-se em andamento o Plano de Ma-
espécies existentes. nejo Florestal da Comunidade Xikrin do Estado do Pará, com apro-
vação do Ibama e da Funai. A experiência dos Xikrin poderá servir
Desse modo, a exploração florestal em terra indígena pressupõe a
de inspiração para que outros povos indígenas possam desenvol-
realização prévia de zoneamento e inventário, devendo dar-se por
ver seus projetos.
via de manejo, em regime de rendimento sustentado, para que
seja assegurado o uso da floresta pelas gerações futuras, bem como A pretensão de que o Estado, apenas no exercício de seu poder dc
a participação de toda comunidade indígena nos sens resultados polícia atuando de modo a proibir e reprimir o corte de madeira
=
'*d f7. < Acervo
—7/f\ ISA AC 0 N T E C EJÍJ
contudo, agiu mais rapidamente. Com as coor- M.M. Amorim Redenção 854,661 854,661
denadas fornecidas pela tripulação de helicóp- Madeireira l.éo Ltda. Redenção 824,656 '•>825,656
tero-patrulha, dois caças (F-5 e AMX) decola-
Exportadora Peracchi Ltda. 'Ibcumã 7.921,457 860,568
ram para o local com a missão de destruir a
7-449,797 '>7.449,797
ponte. Disparada pelo caça F-5, a primeira bom-
Ind. Madeireira Palmitos Ltda. Ibcuraã 1.056,161 846,111
ba errou o alvo. Explodiu a 50 metros de dis-
tância, abrindo um pequeno buraco na mata. Itaibi Madeireira Ltda. Tucumã 896,885 743,812
Mas a segunda foi certeira. Arrancou o piso da E.C.G. Soares Tucumã 688,383 575,742
ponte, sem derrubá-la Mesmo ainda de pé, a
D.R. Leite Madeiras Tucumã 422,836 1.731,404
construção Bcou inutilizada.
A Aeronáutica contabiliza 600 Madeireira Serra Dourada Ltda. S.F. do Xingu 749,266 '•><•>5.842, 130
nri de mogno
apreendidos na área, além de 600 toras de ou- L.C.C. de Oliveira S.F. do Xingu 2.732,978 754,963
tras espécies de árvores de valor comercial, Ind. Paraense de Madeiras Água Azul 1-993,775 "1.758,715
apreendidas há dois anos. Essa madeira, até ‘>537,319
46,329
boje, encontra-se sob a guarda da FAB, mas os ''
Saldo negativo: indica que a madeira foi comercializada sem autorização do I bania, e documento focal hábil. A madeira inexiste no pálio.
madeireiros estão tentando liberá-la na justiça, ’
: J
Todo estoque encontrado será apreendido, considerando relatório de vistoria dos PMFS, que detectou ausência dos
alegando que cortaram a madeira fora e a leva- voiumes nos Projetos para os saldos alegados.
ram para o campo. (O Globo, 12/03/98) Fonte: Ibama. (Parabólicas/fSA , n° 4, jan-fev/99)
do Pará. Tanto no levantamento do Instituto Na- co Mundial nas áreas ambiental e indígena esti- vas hoje na Amazônia voltadas a desenvolver pro-
cional de Pesquisas Espaciais (Inpe), como no re- veram voltados para políticas compensatórias aos jetos de gestão territorial e de alternativas econô-
alizado pelos próprios estados as terras indíge-
, programas de desenvolvimento regional. As ações micas. enquanto é crescente o assédio de interes-
nas aparecem como verdadeiros oásis de flores- que direta ou indiretamente fomentaram desen- ses econômicos sobre os recursos naturais das
tas, cercados de destruição. volvimento e ocupação de novas áreas na Ama- terras indígenas.
Mesmo em áreas onde existem alianças com em- zônia foram as maiores beneficiadas com os fi-
presas madeireirascomo por exemplo, os casos
- nanciamentos do Banco. Esse passado desfavorá- MAJOR ACERVO
dos índios sumí, cinta larga e kayapó -, a explo- veljustificaria um investimento mais substanci- FLORESTAI PROTEGIDO
ração dos recursos madeireiros é seletiva, o que Banco em relação aos índios e ao
al por parle do As terras indígenas da Amazônia brasileira são o
garante a conservação da cobertura florestal. No meio ambiente. maior acervo de floresta tropical no mundo sob
entorno dessas terras, entretanto, prevalece o corte Se a luta pelo reconhecimento e demarcaçãofoi a alguma forma de proteção formal, totalizando
raso. questão central da segunda metade do século 20, mais de l milhão de Km* ou 100.883 079 ha, o
No entanto, ainda é tímido o reconhecimento da a gestão territorial das terras indígenas é o gran- que representa 20% do total da A mazônia no país.
importância dessas áreas por parte dos órgãos de desafio do próximo século. Cerca de 90% delas Desse total, 80,9% estão efetivamente reconheci-
ambientais estaduais e federais. Não há políticas sofrem algum ti/to de invasão ou pressões para das e outros 12,9% estão em processo finaI de re-
públicas que agreguem o componente ambiental exploração não sustentável dos seus recursos na- conhecimento. Essas terras somam uma área cin-
das terras indígenas e que invistam na turais. Paralelamente, as populações indígenas co vezes maior do que a superfície de todas as
sustentabilidade socioambiental atual e futura buscam formas viáveis de participar da econo- Unidades de Conservação federais e estaduais de
dessas terras e das populações que nelas residem. mia de mercado, o que em inúmeras situações uso indireto (que não permite presença huma-
Atualmente, o Banco Mundial passa por um pro- causam disputas internas, conflitos externos, na) existentes na Amazônia brasileira. Nesse con-
cesso de avaliação e revisão de sua política flo- aliciamento, dilapidação dos recursos, colocan- texto, o avanço no processo demarcatórío das ter-
restal e garante estar considerando as terras in- do em risco a sustentabilidade econômica e eco- ras indígenas no Brasil representa não só uma
dígenas como uma das principais áreas do ponto lógica das terras. grande conquista para os direitos das sociedades,
de vista geográfico para sua política "voltada para A ausência de uma política de gestão dos recur- mas também um enorme ganlx) para o meio am-
estimulara conservação e o reflorestamento e evi- sos naturais e principalmente em relação ao de- biente do hemisfério. ( André Villas Boas e Maura
tar o desmata-mento", segundo Virgílio Maurício senvolvimento de alternativas sustentáveis que Campanili, Parabólicas/ISA, n° 49, abr/99)
Viana, professor da Esalq/USP e consultor do Bird. possibilitem viabilizar novos parâmetros econô-
MADEIREIROS Ainda segundo a reportagem, a PF descobriu "Eles colocam cipós e galhos de árvores sob o
PLANEJAM SAQUE À TI que os madeireiros chegaram a rastrear a área rio, cobrindo depois com cascalho, permitin-
TRINCHEIRA BACAJÁ através de levantamento fotográfico aéreo para do o trânsito de caminhões”, disse ao jornal o
identificar as zonas a serem exploradas. Teri- delegado da PF Adolfo Raquel Machado. O de-
Segundo o jornal 0 Estado de S. Paulo, Polícia am, também, contratado mateiros para identi- legado declarou ao repórter Edson Luiz que não
Federal do Pará descobriu que invasores pla- ficar as melhores árvores a serem abatidas. Para tem certeza de que haja participação de índios
nejavam extrair 100 mil m'de madeiras nobres, escapar da fiscalização do lbama e da poficia, na exploração de madeiras nobres dentro da
cm especial mogno, da Terra Indígena Trinchei- os madeireiros camuflam as toras retiradas terra indígena. (ISA, 04/05/99)
ra Bacajá. região de Altamira (PA), onde vivem como se fossem pontes sobre rios da região,
comunidades Kaiapó Xikrin do Bacajá e Kaiapó para retirá-las tempos depois.
Kararaô.
ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS
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Sede da Oibi (Organização Indígena
da Bacia do Içana), na comunidade
Tucumã-fíupitã (AM)
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ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS
. .
*uz* Acervo
—/> I sA
Associações Indígenas e
Desenvolvimento Sustentável
na Amazônia Brasileira
AS ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS DOS O processo de multiplicação dessas associações tem sua origem
ANOS 1990: ENTRE A NOVA CONSTITUIÇÃO na encruzilhada de vários processos sócio-políticos gerais,
seja, foram quase multiplicadas por 20 em pouco mais de uma das questões relativas ao meio ambiente e aos direitos das minori-
do papel do “movimento indígena” no debate/embate político a genérica ou específica dos direitos indígenas) e a busca de parti-
propósito do modelo de desenvolvimento da região. cipação, eslas associações são hoje cada vez mais reconhecidas
como atores do desenvolvimento socioambiental regional nos
De fato, as primeiras e poucas organizações indígenas criadas nos
fóruns oficiais onde negociam diretamente e em função de suas
anos 1980 eram associações informais, politicamente ativas, po-
próprias estratégias, tanto com administrações públicas, quanto
rém pouco institucionalizadas e voltadas, essencialmente, para
com agências de cooperação, ONGs ou empresas (negociadoras
reivindicações territoriais e assistenciais dirigidas a um listado tu-
de produtos “verdes”ou provedoras de indenizações).
tor, considerado falho nas suas responsabilidades legais e sociais.
ração bi e muitilaterai e das ONGs internacionais (no domínio dos dos de várias ONGs leigas ou ligadas a redes de financiadoras reli-
terras reservadas, sendo que 71,6% destas áreas gozam de TERRAS INDÍGENAS E
reconhecimento legal em diversos graus (terras delimitadas, ho- UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
mologadas ou registradas), A regularização das últimas terras in-
O contingente demográfico dos povos indígenas da Amazônia legal
dígenas da região avança a passos rápidos, ainda que falte resolver
representa 231.610 pessoas, ou seja, 1,2% da população total da
vários casos importantes (como o da Terra Raposa Serra do Sol
região 9 .
À primeira vista, esta baixa proporção pode levar a ques-
em Roraima) e que a maioria das terras indígenas ainda sofram
tionar 0 interesse em se preocupar com a incidência deste seg-
alguma forma de invasão. Entretanto, para ter uma idéia do ritmo
mento social na problemática de um desenvolvimento regional sus-
desta territorialização indígena, é preciso lembrar que, desde ja-
tentável Entretanto,. abordar a dimensão ambiental da questão indí-
neiro de 1995, foram homologadas no país 115 terras indígenas,
gena nesses termos seria absolutamente superficial e equivocado.
cobrindo uma área de 313.445,7 km 2 .
s
da legalização e desintrusão das terras da União consideradas de áreas de relevante interesse ecológico). Estas unidades cobrem
uso exclusivo das populações indígenas*. Por outro lado, ele trans- 192.285,5 km 2
,
ou seja, somente 3,8% da superfície da Amazônia
11
fere 0 essencial da responsabilidade dos serviços públicos dire-
legal. Se se acrescenta a elas as unidades de uso direto (Flores-
cionados às populações indígenas, seja para a esfera local por via tas Nacionais, Reservas extrativistas e Áreas de proteção ambiental)
em grande parle transferido para a cooperação internacional) des de conservação se sobrepõem parcialmente umas às outras ou
com terras indígenas e até com áreas reservadas para usos incom-
Neste contexto de “pós-territorialidade” e de retração do Estado,
patíveis (tais como Terras militares ou Reservas garimpeiras). A
as sociedades indígenas estão hoje expostas, além da problemáti-
superfície total destas superposições chega, assim, a 168.010,7
ca tradicional da proteção territorial e da conquista da cidadania,
km 2 reduzindo a superfície efetiva das unidades de conservação
,
12
importância biológica na Amazônia estão inseridas em terras indí- rais explorados de maneira indiscriminada. Além disso, estima-se
4
genas.' Elas são habitadas por povos cujo modo de exploração que aproximadamente 50% das unidades de uso indireto têm po-
dos recursos é na grande maioria tradicional ou neo-tradicional e pulações residentes (como no caso do Parque do Pico da Neblina,
cujos conhecimentos e técnicas acumuladas em militares de anos terra dos índios Yanomami, o Parque do Jaú com ribeirinhos e o
de experimentos agronômicos e biotecnológicos constituem um Parque da Serra do Divisor com seringueiros).
reticência, entre ambientalistas adeptos da preservação integral O segundo contra-argumento - o mais freqiiente - é que os índi-
(oficiais ou não governamentais) contra a visão das ,
terras indíge- os, em função de suas novas aspirações sociais e econômicas numa
nas da Amazônia enquanto possíveis áreas de preservação ambiental situação de contato crescente, podem desenvolver - e em certos
e de uso sustentável da floresta. Três contra-argumentos são geral- casos já estariam desenvolvendo - atividades econômicas destrutivas
mente opostos a esta idéia; conda-argumentos, provavelmente, para o meio ambiente. Aisso pode-se opor uma série de objeções.
baseados num certo desconhecimento da realidade social e
ambiental das terras indígenas.
A primeira é que, se todos os povos indígenas mantêm algum tipo
de reiação econômica com o mercado, na imensa maioria dos
O primeiro contra-argumento observa que a maioria das terras
permanecem num espectro de baixo impacto
casos, estas relações
indígenas já sofrem de várias formas de invasão - por garimpei-
ambiental, na forma de trocas/trabalhos esporádicos, de sistema
ros, madeireiros, fazendeiros, colonos etc. - e que estas invasões,
tradicional de aviamento, ou de projetos comunitários mediados
certamente, vão se intensificar em função do desenvolvimento das 21
por instituições assistenciais (Funai, missões, ONGs). São bas-
atividades econômicas e dos fluxos migratórios nas regiões onde
tante raras na Amazônia as situações em que as comunidades indí-
se encontram as maiores áreas florestais ainda pouco afetadas.
genas dependem essendalmente do mercado para seu consumo e
Esta pressão sobre as terras indígenas e sua previsível acenniação
sobrevivência básicos, como é o caso de certas aldeias tikuna, con-
desqualificariam, assim, o aspecto da sua dimensão de preserva-
finadas em áreas indígenas reduzidas e densamente povoadas, com
ção ambiental.
escassos recursos naturais (ainda submetidos à predação de inva-
Entretanto, esta situação de ameaça ecológica não é em nada es- sores), e localizadas na periferia de centros urbanos do alto
pecífica às terras indígenas. Poucas unidades de conservação na Solimões (caso também dos Munduruku das áreas Praia do Man-
Amazônia são efetivamente implantadas e fiscalizadas (há apenas gue e Praia do índio, na periferia de Itaituba no Pará).
um funcionário do Ibama para cada 2 mil km 2 em áreas protegi-
7^ Acervo
_//£ ISA
São igualmente minoritários entre os 160 povos indígenas da Ama- (citadino/deculturado) ,
este modelo só inverte, de fato, a visão
zônia - apesar de serem regularmente destacados pela mídia - os colonial-evolucionista tradicional segundo a qual ir da floresta à
casos de grupos associados a atividades predatórias desenvolvidas cidade era percorrer o caminho do primitivo ao civilizado.
em suas terras por agentes econômicos das fronteiras regionais,
A atual realidade sociológica e cultural dos povos indígenas tem,
como garimpeiros e madeireiros. 22 Além disso, estas situações,
obviamente, pouco aver com esta ideologia “retro-evoludonista"
longe de configurar sistemas econômicos coletivos, envolvem em
e seu dualismo campo/cidade. De fato, longe disso, assistimos hoje,
gerai apenas alguns indivíduos (lideranças e snas famílias) como
,
em várias regiões, a um certo remanejamento dos coletivos indí-
é o caso da venda de madeira entre os Cinla Larga (Rondônia e
genas na forma de espaços sociais transversais - verdadeiras “co-
Mato Grosso) ou os Kayapó (Pará); venda de madeira, aliás, sele-
munidades muMocais” 36 em escala regional - que articulam re-
tiva e que não envolve exploração em grande escala ou, ainda
des de parentesco e fluxos de bens e pessoas entre vários pólos
menos, um desmatamento sistemático.
situados na floresta e na(s) cidade(s). Assim, esta expansão
Assim, a escala local destas atividades é totalmente incomparável translocal dos campos sociais indígenas e suas dinâmicas de mo-
com a magnitude dos empreendimentos econômicos “brancos” bilidade interna entre aldeias e cidades não pode ser confundida,
na Amazônia, e seu impacto ambiental permanece rclativamentc sob pena de se incorrer em cegueira conceituai, com um processo
marginal em função da densidade populacional das terras indíge- de migração das aldeias para as cidades.
nas em apreço, geralmente, extremamente baixa (0,02 hab/km 2
para os Cinta Larga do Aripuanã, 0,09 hab/km2 para os a Terra ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS E
Indígena Kayapó). Além do mais, estas atividades predadoras de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
segmentos dc algumas sociedades indígenas podem ser geralmente POTENCIALIDADES E INTERROGAÇÕES
revertidas quando são oferecidas e apoiadas alternativas aos mode-
No debate sobre as potencialidades das terras indígenas enquanto
los econômicos herdados da fronteira regional. Pode-se dar aqui
áreas de preservação ambiental e de desenvolvimento sustentável,
alguns exemplos, como o projeto de manejo sustentável de madei-
deve-se, portanto, evitar tanto o estereótipo dos índios ecologistas
ra elaborado peio ISA com os Kayapó-Xikrin (Pará) ou do projeto
(“autênticos”) quanto a caricatura inversa dos índios predadores
,
O terceiro contra-argumento oposto a uma visão das terras indíge- As formas de mudança no uso dos recursos naturais pelas socie-
nas da Amazônia enquanto áreas de preservação ambientai apre-
dades indígenas depende, na realidade, do leque de opções sócio-
senta-se, enfim, sob a forma de uma posição segundo a qual o cconômicas e políticas oferecidas para sua articulação com a cha-
processo de intensificação do contato sustentaria, a longo prazo, mada “sociedade envolvente” (nas suas vertentes regionais, naci-
uma migração dos povos indígenas (ou de parte substancial de-
onais e internacionais) Assim, a “sociedade envolvente” já não se
.
timas décadas.
A presença indígena nas cidades da Amazônia é relativamente im-
portante e inegável. Apesar do fato de que sua flutuação toma qual- Nas décadas de 1970 e 1980, as sociedades indígenas começaram
quer recenseamento bastante precário, esta presença foi estimada a conquistar um espaço no cenário político nacional contemporâ-
24
em 20.075 pessoas no seis estados da Amazônia Brasileira no neo. Nos anos 1990, elas viram este espaço se expandir em escala
censo do IBGE de 1991, ou seja, 10,8% da população indígena to- mundial e se desdobrar em um leque de novas potencialidades
tal da região. Este fenômeno de deslocamento para os centros ur- sócio-econômicas. Os índios da Amazônia não (êm mais como único
banos tem por origem vários fatores, incluindo conflitos e padrões referencial econômico pós-contato o modelo predatório da fron-
de mobilidade tradicionais, e não somente a busca espontânea de teira local ou o modelo agrícola neo-colonial do indigenismo tute-
mobilidade social (emprego, educação) e/ou a indução por agentes 27
lar (os “Projetos de Desenvolvimento Comunitário” daFunai). 0
25
de contato (missionários, indigenistas, atores econômicos regionais) processo de descentralização e a interligação crescente do local
ao global, fora da mediação do Estado, põem hoje ao seu alcance
Entretanto, o argumento de um futuro esvaziamento das terras in-
um universo complexo de fontes de financiamento, recursos téc-
dígenas por emigração remete a um modelo sociológico tão ina-
nicos e canais de decisão desde o município até o Banco Mundial.
dequado quanto obsoleto. Baseado numa oposição caricata entre
índios "aldeados" e “desaldeados” e na idéia redutora da passa- Este conjunto potencial de parcerias constitui o quadro sócio-po-
gem de mão única de um estado social (rural/tradicional) a outro lítico no qual se desenvolveram e no qual operam as mais de 250
% população indígena país 33,20% 3,61% 3,22% 10,44% 9,48?í 1,88% 61,83%
Superfície / km 2
158.016,74 21.838,01 23.343,07 38.271,28 49.596,20 22.067,76 313.133,06
(*): a presença dos mesmos povos cm vários estados faz que o total de povos é inferior a soma dos povos em cada estado.
(**): unidades de conservação federais e estaduais de uso indireto.
Fontes - Terras indígenas: banco de dados ISA 05/2000 {pesquisa F. Ricardo); Unidades de conservação: Mapa Amazônia 2000 ISA 12/1999 {pesquisa F. Ricardo) -
IVota: As associações indígenas dos seis estados da Amazônia Brasileira são atualmente objeto dc pesquisa realizada pelo autor no contexto de um projeto de cooperação
ISA CNPq IRD. Para se chegar a um número aproximado de organizações indígenas na Amazônia legal pode-se acrescentar aos números apresentados na Tabela 1 dados
oriundos de levantamentos indiretos como :
- L. Donisele Benzi Grupioni, 1999: "Diretório de associações e organizações indígenas no Brasil”. São Paulo: Ínep/MEC, Mari/USP: Mato Grosso = 48, Tocantins = 9,
Maranhão = 12, ou seja 69 associações
-MMA, 2000; "PDPl -Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas. Documento do Projeto. Anexo Vir. Brasília; MMASecretaria de Coordenação da Amazônia
Mato Grosso - 38, Tocantins = 10, Maranhão = 5 ou seja 53 associações. ,
associações indígenas da Amazônia legal para articular seus pro- vas expectativas materiais e sociais das suas comunidades de refe-
jetos de desenvolvimento social e econômico. É, portanto, a partir rência, envolvendo seus membros em projetos locais de explora-
da inter-mediação que estas associações garantem entre suas po- ção dos recursos naturais que sejam, ao mesmo tempo, não pre-
pulações de referência e o universo das parcerias disponíveis que datórios e capazes de promover uma certa auto-sustentação
serão definidas as condições sociais e políticas de possibilidade econômica das áreas indígenas. Nesse contexto, não deverá se ne-
para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável das gligenciar o lugar da diversificação complementar das atividades e
terras indígenas da Amazônia. Quatro parâmetros políticos e soci- recursos econômicos extra-locais {ver acima nossa observação
ais fundamentais, externos e internos, muito provavelmente, con- sobre o novo espaço translocai das comunidades indígenas) tam- ,
di-cionarão o sucesso desta dinâmica. bém suscetível de aliviar o peso dos recursos naturais da floresta
O segundo parâmetro, associado ao anterior, residirá na eficiên- lações que lhes são impostas pelas agências de financiamento (ou
cia poütica das associações para incentivar a elaboração de políti- de comercialização), mas, igualmente, no contexto das relações
cas públicas e não governamentais de escala apropriada, destina- que elas mesmas constróem com os demais membros das suas
das a investir no conhecimento da biodiversidade e na gestão eco- sociedades. A esse desafio acrescenta-se a complexa tarefa de ad-
nômica sustentável das suas terras, envolvendo estreitamente seus ministrar as formas de diferenciação social e cultural surgidas no
habitantes e tomando em conta seus projetos sociais específicos. processo de transformação sócio-econômíca induzido por estes
novos projetos de etnodesenvolvimento, (outubro, 2000)
O terceiro parâmetro, desta vez interno, remete à possibilidade
das associações indígenas traduzirem esta expressividade políti- Agradecimentos: Agradeço a M. Carneiro da Cunha, M. Fraboni,
co-institucional em autonomia econômica para as populações que W. Milliken, F. Pinton, A.R. Ramos, CA Ricardo. F. Ricardo e a equipe
se encarregam de representar. O desafio está em satisfazer as no- editorial do ISA por seus comentários eúru revisão final do texto.
jetória deste movimento desde o fim dos anos oitenta ver C.A. Ricardo. 1991: “. Ver, sobre a preocupante situação ambiental Tikuna: D. Lima, 1999: “Povos indígenas
"Quem fala em nome dos índios?*', in: Povos Indígenas no Brasil 1987/90. São Paulo: e ambientalismo - As demandas ecológicas de índios do Rio Sohmões", MS.
ISA. pp. 69-72 e 1996: “Quem fala em nome dos índios (11)?", in: Povos Indígenas «o ,T
Brasil 1991/1995. São Paulo
. Cálculos a partir da Tabela Terras Indígenas na Amazônia Legal do Mapa Amazônia
: ISA. pp. 90-94.
Brasileira 2000, ISA.
I
. Mesmo assim, em 2000, só 2% do orçamento federal para ações indigenistas foram 15
. Ver o artigo de A. Vfilas-Bôas e M. Campanili, 1999: "Terras indígenas protegem flores-
alocados a fiscalização das terras indígenas (Funai) e menos de 1% a iniciativas de
ta Amazônica”, Parabólicas 49.
gerenciamenlo e recuperação ambiental (via MMA e Funai). Ver Hélcio Marcelo de Sou-
za, 2000: "Políticas Públicas para povos indígenas: uma análise a partir do orçamento”, 19
. Ver G. Sales, 1996: "O sistema nacional de unidades de conservação: o estado atuai”
Nota Técnica Inesc nq 38 (9/10/2000). no documento “Presença humana cm unidades de conservação”. Brasília: Ipam-ISA-
PPG7-WWF-CDCMAM/CD.
•*.
Cerca de 32 % do orçamento indigenista federal (via Funasa-MS) foram alocados em
2000 a 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) articulados ao Sistema Único za
. Ver o exemplo da Reserva de desenvolvimento sustentável de Mamirauá (D. Lima 1997:
de Saúde e gerenciados em parceria com organizações indígenas, organizações nâo-go- “Equidade, desenvolvimento sustentável, e preservação da biodiversidade: algumas ques-
vemamentais e, sobretudo, prefeituras municipais. Só 1,4% foram especificamente desti- tões sohre a parceria ecológica na Amazônia”. In: Faces do Trópico Úmido - Conceitos e
nados a educação indígena via Funai e MEC (em parceria com ONGs e Secretarias de questões sobre desenvolvimento e meio ambiente. 1L Castro e F. Pintou (orgs. ) Belém:
.
Educação). (Fonte: Nota Técnica Inesc n° 38 de 9/10/2000). CEJUP) ou da Reserva Extractivista do Juruá (M. .Almeida, 1996: “The management of
4 conservalion areas by traditional popidations: the case of lhe upper Juruá extracíive re-
. As ações públicas em apoio a alternativas econômicas indígenas (via Funai) represen-
serve”. In: K.H. Redford et a!, (orgs), Traditionalpeoples and biodiversity conservation
tam apenas 3,7% do orçamento indigenista federai. (Fonte: idem).
in large tropical landscapes. América Verde - The Nature Conservacy)
Programas de apoio a iniciativas comunitárias de desenvolvimento local/sustentável
31
. Retomamos aqui a classificação e a discussão de D, LimaeJ. Pozzobon, 1999: “Amazô-
com acesso aberto a organizações indígenas como o Paic (Rondônia) e Padic (Mato
nia socioambiental (sustentabilidade ecológica e diversidade social)”, MS.
Grosso) tio Banco Mundial, e os Projetos Demonstraíiws/Tipo A (PD/A), componentes
do PPG7 ( Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) financi- 11
. Estes casos se desenvolveram geralmente a partir de situações de invasão maciça de
ado principalmente por países da União Européia. No âmbito dos PD/A está atualmente terras indígenas produzidas por talhas ou cumplicidade do órgão indigenista oficial as
em gestação um programa especializado para comunidades e associações indígenas, o quais lideranças indígenas, por falta de alternativa, se adaptaram com uma certa realpolitik
PDPI, Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas. económica.
s
. Fonte: Banco de Dados ISA, maio de 2000 (pesquisa F. Ricardo). JJ
. Dados IBGE.
7
. 43% do orçamento federal para ações públicas com povos indígenas foi alocado em 31
. Dado calculado a partir do trabalho de M. Azevedo, 1997: “Fontes de dados sobre as
2000 só para gastos com pessoal e manutenção da Funai. (Fonte: Inesc Nota Técnica n° populações indígenas brasileiras da .Amazônia’’, Cadernos de Estudos Sociais 13(1): 163-
38, 9/10/2000). 178. Recife: Fundação Joaquim Nabuco.
ras Indígenas da Amazônia Legal-fYYAL (aproximadamente RÍ 11 milhões previstos em Américanistes 85:261-280, ou de P. Ferri, 1990: Achados ou perdidos? A imigração
2001; fonte: idem) indígena em Boa Vista. Goiânia: MLAL.
9
Fontes: Funasa, fevereiro de 2000 e IBGE censo de 1996. 16
. Sobre este conceito ver M. Godelier, 1996: “Anthropologie sociale et histoire locale",
t2 25
, Fonte: Mapa Amazônia Brasileira 2000, ISA (Tabela 2). Ver também: E Ricardo: . Ver, por exemplo, C. Junqueira, 1984: “Sociedade e cultura", Ciência e Cultura 36
Sobreposições entre unidades de conservação federais, estaduais, terras indígenas (8) sobre um projeto proposto pela Funai aos Cima Larga do Posto Serra Morena no
terras militares e reservas garimpeiros, comunicação ao Seminário “Avaliação e identi- início dos anos 1980.
ficação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos
iH
. Nesse aspecto, não se tem, necessariamente, uma relação linear entre contato e degra-
benefícios da biodiversidade da Amazônia brasileira*’, Macap- 21-25 de setembro de 1999-
dação ambiental nas áreas indígenas (Ver R.Godoy, D. Wikie ej. Franks, 1997: “The effect
IS
. Fonte: Mapa Amazônia Brasileira 2000, ISA (Tabela 3), of markets on neotropical deforestatian: a comparativo study of four Amerindian societies”
Current Antbropology 38(5): 875-878). Na sua redução da problemática da susten-
14
. Seminário “Avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utiliza-
tabilidade ecológica à fixação local das populações indígenas, os projetos de desenvolvi-
ção sustentável c repartição dos benefícios da biodiversidade da Amazônia brasileira”,
mento etno-ambientais tendem, geralmente, a ocultar a contribuição dos fenômenos de
Macap- 21-25 de setembro de 1999- Ver Parabólicas 54, set.-oul, 1999 (ISA).
mobilidade sócio-espacial e de acesso a recursos monetários de origem extra-locais na
Ver o documento "Diagnóstico demográfico, sócio-cconômico e de pressão antrópica renda indígena (aposentadorias rurais, salários retribuindo atividades locais ou não, bem
ua região da Amazônia legal - Versão 1.0” do ISPN, julho de 1999. como empreendimentos econômicos urbanos ou de intermediação entre aldeias e cida-
des). Ver sobre esta questão a contribuição de P. Léna (IRD) ao texto do projeto de
pesquisa CNPq-IRD-UFRJ (LAGET): "Globalização, movimento associativo e desenvolvi-
mento local sustentável na Amazônia*’, Rio de Janeiro: maio de 2000.
Acervo
ISA
183 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA (AM, RO, RR, PA, AC, AP)
Pesquisa e compilação B. Albert (Novembro de 2000), com exceção das organizações da região do Rio Negro, pesquisadas por Beto
Ricardo. Este levantamento também contou com a colaboração em pesquisas de campo de José Pimenta (UnB-AC), Rosângela Reis (UNIR-
RO) e Maxim Repetto (UnB-RR)
Nota: As organizações e associações das demais regiões do país se encontram no final do volume, no Diretório Nacional.
COIAB Coordenação das Organizações Indígenas 1989 UNIRT União das Nações Indígenas do Rio Tiquié 1990
da Amazônia Brasileira ACIRI Associação das Comunidades Indígenas do Rio Umarí 1991
COPIAM Conselho de Professores Indígenas 2000 ATRIART Associação das Tribos Indígenas do Alto Rio Tiquié 2000
da Amazônia (ex-COPIAR 1990) (ex-CRETIART - 1994)
AM1SM Associação das Mulheres Indígenas Satéré-Mawé 1995 CIPAC Comunidades Indígenas de Pari Cachoeira 1995
ACWA Associação Comunidade Waimiri-Atroari 1997 OIBV Organização Indígena de Bela Vista 1997
do Alto Rio Negro (ex- ACIRI - 1989) ACIMRN Associação das Comunidades Indígenas 1994
AMAI Associação das Mulheres de Assunção do Içana 1992 do Médio Rio Negro
ACIRA Associação das Comunidades Indígenas do Rio Ayari 1995 BAIXO RIO NEGRO (2)
UNIB União das Nações Indígenas Baniwa 1997 ACIBRN Associação das Comunidades Indígenas 1988
ÜMIRA União das Mulheres Indígenas do Rio Ayari 1999 do Baixo Rio Negro
AIBRI Associação Indígena do Baixo Rio Içana 1999 ASIBA Associação Indígena de Barcelos 1999
Atalaia do Norte (1
Lábrea (1)
CIVAJA Conselho Indígena do Vale do Javari 1992
OPIMP Organização dos Povos Indígenas do Médio Purus 1995
OE1M Organização dos Estudantes Indígenas Mura 1998 GUAJARA MIRIM (9)
POROROKA Associação do Povo Indígena Kanoé 1997 OPIRE Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira 1988
AAPIIL Associação Agrária do Povo Indígena Igarapé Lourdes 1992 AAPBI Associação Agro-Extrativista Poyanawa do 1988
Barão e Ipiranga
AP IA Associação do Povo Indígena Arara 1995
metareilá Organização Metareilá do Povo Indígena Sumí 1988 AIN Associação do Povo Indígena Nukini da República 1999
OMIR
COOPAIR
Associação Regional Indígenas do baixo São Marcos
1999
2000
ASKARJ Associação dos Seringueiros Kashinawa do Rio Jordão 1988 ARIA Associação Regional Indígena do Amajari 1996?
MARUJA
A1PATAK
(5)
OURILÂNDIA DO NORTE (1) APIWA-TA Associação dos Povos Waiãpi do Triângulo do Amapari 1999
AKA Associação da Comunidade Kayapó - ÁUkre 2000
OIAPOQUE (2)
da justiça. “Já se fizeram duas Constituições para recursos atenderiam projetos de comunidades
GERAL indígenas da Amazônia legal.
determinar a demarcação das terras indígenas
e o prazo para conclusão terminou em outubro Estrutura - A Coiab propôs que sejam contra-
CONSELHO NACIONAL DOS de 1993 e a nossa Constituição não é cumpri- tados quatro indígenas e um técnico não-indí-
POVOS INDÍGENAS É CRIADO da. Entendemos que só um Tribunal Internaci- gena, a ser escolhido pelos índios, para serem
em onal tem condições de pressionar a Presidên- integrados à equipe de consultores que traba-
Líderes indígenas de 108 etnias criaram
Brasília um novo órgão para defender seus di-
cia da República e a Justiça brasileira para fa- lha na preparaçãodo PDI. Estes cinco mem-
zer valer nossos direitos”, justifica Adalberto Silva. bros comporiam a secretaria técnica do pro-
reitos, o Conselho Nacional dos Povos Indíge-
nas, apesar de existir estrutura semelhante na De acordo com os índios, todos os órgãos do grama junto com um secretário, que seria es-
Funai. A aprovação do Estatuto dos Povos Indí- Governo têm mostrado descaso e favorecido a colhido pelas organizações indígenas. Quatro
invasão das terras indígenas; a poluição dos rios grupos de trabalho regionais seriam constituí-
genas, a reestruturação da Funai e o combate
às brigas internas são as metas prioritárias dos
da Amazônia — que detém o maior volume de dos, como sedes em Manaus (GT Amazonas e
dirigentes do conselho empossado ontem. O água doce do mundo em disponibilidade de uso; Roraima), Porto Velho (GT Acre, Rondônia e
Estatuto do índio, que há cinco anos no
tramita favorecido a bio-pirataria e a apropriação Mato Grosso), Belém (GT Pará, Amapá,
Congresso, prevê a demarcação das áreas indí- indevida do conhecimento da medicina tradici- Maranhão e Tocantins) e, possivelmente, Sal-
genas de todo o País e estabelece novas políti-
onal. (A Crítica, 26/07/00) vador (BA), para o GT que trabalharia com as
cas de educação, saúde e proteção aos índios comunidades da Mata Atlântica, que poderão
brasileiros. ter uma secretaria técnica específica,
Um manifesto contra o descaso da Justiça bra- teiras e do uso econômico de seus recursos também devem apresentar plano de manejo. E
sileira para com os povos da floresta, índios, naturais em bases sustentáveis, incluindo sua construções de “cunho religioso não tradicio-
seringueiros eo meio ambiente está sendo dis- proteção. A Coiab - que congrega 64 entidades nais" eslão fora do programa.
cutido e deverá ser encaminhado, na próxima indígenas da Amazônia brasileira - propôs ao A Coiab propôs que os projetos se enquadrem
semana, ao Tribunal Internacional da ONU pe- governo que as organizações indígenas assu- em três níveis de financiamento: até R$ 20 mil,
las lideranças dos 45 povos indígenas de mam a condução do programa, que teria dura- com contrapartida de 10% para o proponente;
Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, Roraima e ção de cinco anos e estaria sediado em Manaus. entre R$ 21 mil e Rí 100 mil, com contrapartida
até dos Pataxó da Bahia. Segundo avaliação do Por ser parte do PP-G7, o PDI contemplará tam- de 20%, e entre R$ 01 mil e R$ 300 mil, com
i
líder do povo Macuxi de Roraima, José bém projetos oriundos de comunidades indí- contrapartida de 30*. As agências financeiras
Adalberto Silva, até agora houve o descum- genas que habitem áreas localizadas no domí- seriam o Banco do Brasil e outrascom presen-
primento das demarcações das terras indíge- nio da Mata Atlântica. Segundo o documento ça bem disseminada nas áreas de abrangência
nas; ainda há falta de vigilância permanente das preparado pela Coiab, estas comunidades teri- do programa, como o Banco da Amazônia
áreas para evitar invasões; ineficiência do apa- am à sua disposição 20% dos recursos (Basa) A entidade reivindica que sua proposta
.
rato judicial para fazer cumprir a lei e lentidão disponibilizados, enquanto os outros 80% dos seja entregue até 4 de novembro à coordena-
ção geral do PP-G7 para ser apreciada no dia teresses deles demonstra o nível de conscien- uma inovação. Mas é no plano político que o
10 do mesmo mês, duranle a reunião da Co- tização dos indígenas. “Vou levar e defender as programa poderá, segundo Lima, vir a mudar,
missão Geral da Coordenação do Programa Pi- propostas deles para o ministério”, afirmou. se der certo, uma perspectiva ruim que se fun-
loto. (Marco Gonçahies/ISA, 01/09/99 Mary disse ter escutado as discussões e pro- damenta numa suposta incapacidade dos índi-
postas de todos os representantes com o obje- os em geriros seus próprios destinos. (A Críti-
LÍDERES DIZEM QUE VÃO tivo de adequar o programa á realidade indíge- ca, 23/07/00)
ADMINISTRAR O PROJETO na. (A Crítica, 22/09/99)
dos amazônicos, em reunião realizada na sede valorização da cultura, não serão aceitos pro- de do Amazonas e por dez anos coordenou a
do órgão cm Manaus. Os índios questionam, por jetos que propõem a implementação de ativi- Federação das Organizações Indígenas do Rio
exemplo, a orientação do Governo alemão de dades voltadas para a mineração, criação de Negro (Foirn). A comunidade Baniwa vive na
excluir do financiamento projetos ligados ao gado, exploração de madeira e cultivo de frutas área do município de São Gabriel da Cachoei-
extrativismo mineral e de madeira e querem ou hortaliças que envolvam o uso de agrotóxico. ra. A assembléia que reuniu 31 organizações
deixar as Organizações Não-Governamentais Na avaliação do assessor de comunicação da indígenas aprovou a Declaração dos Povos e
(ONGs) fora do PDI. Coiab, Manoel Lima, a instituição do PDPI re- Organizações Indígenas da Amazônia Brasilei-
A atitude dos índios com relação ao PDI não presenta um avanço na relação dos agentes ra. O documento pede a revogação do Decreto
surpreendeu a secretária da .Amazônia Legal do financiadores do Programa de Proteção das Flo- 1.775 e imediata demarcação das terras indí-
MMA, Mary Allegrctti, 5 1 . F.la disse que a deci- restas Tropicais (PP-G7) com os índios. Sem genas. Também manifesta solidariedade às en-
são de querer estar à frente dos projetos de in- contar que no plano institucional representa tidades que defendem a causa indígena como o
O QUE É O PDPI
O PDPI (Programa Demonstrativo dos Povos In- tro das terras indígenas. Estas áreas conservadas culiaridades sócio-culturais. Para alcançar esse
dígenas) é uma ação complementar ao Projeto estão, muitas vezes, cercadas por territórios com- objetivo, o PDPI propõe apoiar iniciativas locais
Integrado de Proteção às Populações e Terras In- pletamente devastados pela ação colonizadora. que visem à sustentabilidade J)ós-demarcatória
dígenas da Amazônia Legal, o PPTAL. O PFTAL, que Assim, nenhuma ação no sentido de proteger a das terras indígenas. A seleção das propostas lo-
por sua vez, é um projeto quefaz parte do esforço Jloresla tropical poderia ignorar o papel estraté- cais exige que os sub-projetos contribuam com
maior do l*rograma Piloto para a Proteção das Flo- gico que as Terras Indígenas ocupam neste con- os objetivos gerais do Programa Piloto e que pos-
restas Tropicais do Brasil, o PPG7, financiado pe- texto. suam caráter demonstrativo para auxiliar outras
mais ricos do mundo, o G7. O obje-
los sete países A iniciativa de criar o PDPI partiu do entendi- situações similares.
do PDPI, segundo descrição do próprio docu-
tivo mento que as ações do PPTAL em tiabilizar a de- As comunidades indígenas são atores privilegia-
mento do projeto, é o de contribuir para a marcação das terras indígenas, apesar do passo dos na concretização do PDPI. Seja como propo-
sustentabilidade econômica, social e cultural dos fundamental que propiciam, não esgotam o con- nentes ou como executores de subprojetos, as co-
povos indígenas em suas terras e para a conser- junto de problemas que enfretitam os povos indí- munidades devem estar completamente inseridas
vação dos recursos naturais nelas existentes. Este genas, mesmo na questão específica do territó- na condução das tarefas cotidianas do programa.
programa pretende atingir suas metas por meio rio. A demarcação das terras indígenas resolve a Esta fmrticipação, em vista disto, é uma condi-
do financiamento de subprojetos ao nível local situaçãojurídico-legal dos territórios tradicional- ção imprescindívelpara a aprovação de qualquer
que sejam planejados e executados de forma mente ocupados pelos índios, mas isso, por si só, proposta que, para participar do fmeesso de se-
participativa e que forneçam modelos para que não garante que estas terras terão uma leção, deve explicitar os mecanismos que irão
outras experiências similares possam ser sustentabilidade econômica, política ou garantir a efetiva participação das comunidades
implementadas na região amazônica. ambiental. no projeto. Esta exigênciafaz com que o PDPI rom -
Tanto o PPTAL quanto o PDPI são resultados de O PDPI, portanto, inaugura uma nova fase do pa com a prática assisten-cialista junto aos fx>-
uma constatação importante para a proteção das PPG7. Com o grande avanço obtido na demarca- vos indígenas, promovendo a demonstração de
Florestas Tropicais em território brasileiro: as ter- ção das terras indígenas toma-se imprescindível, evidências de que os grupos indígenas possuem
ras indígenas, por meio das populações que as agora, que se garanta a segurança e proteção des- capacidade de gestão sobre empreendimentos e
ocupam, desempenham um papel de grande des- tes territórios. A integridade das terras demar- ações que atendam as suas necessidades. ( Equipe
taque para o desenvolvimento ecológico e econo- cadas depende também da capacidade das de redação do ISA, a partir dc Schrdder, Peter et
micamente sustentável na Amazônia. O estudo comunidades indígenas em gerir o seus recursos alii. PDPI - Projetos Demonstrativos dos Povos
atento de imagens de satélite melaram que, em naturais de maneira auto-sustentável, através de Indígenas. Ministério do Meio Ambiente/Secretaria
diversas regiões da Amazônia, as maiores áreas atividades econômicas que não agridam o seu de Coordenação da Amazônia, abril/00.)
florestais conservadas coincidem com o períme- patrimônio ambiental e nem tampouco suas pe-
A C 0 N T E C E U,
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, víti- COIAB PEDE DEVOLUÇÃO Portugal estará fazendo um gesto internacional
mas de massacres em Corumbiara (RO) e DE RELÍQUIAS INDÍGENAS que vai contribuir para que as organizações in-
INTERFERÊNCIA EXTERNA ção entre povos europeus e povos indígenas, a base política da Coiab, é grande a nossa ex-
haja vista, que é a primeira vez que uma cole- pectativa para que a devolução das peças deixe
Os índios querem autonomia para discutir e de ser um desejo exdusivamente nosso e íome-se
ção retirada de nossos ancestrais volta à região
decidir seu destino sem a interferência das igre-
de origem para ser vista pelos índios e não ín- também uma expressão da vontade do Go-vemo
jas, entidades e políticos que durante 500 anos
dios. Não temos dúvidas de que é uma ocasião de Portugal de colaborar para que possamos ter,
impediram o acesso dos povos indígenas à
rara para a reflexão sobre o nosso passado, a em solo amazônico, uma herança dos nossos an-
tecnologia. A informação foi dada pelo índio
nossa situação atual e sobretudo as nossas ex- cestrais, refletindo a força viva da multiplicidade
Darcy Marubo, da Coiab, durante o Encontro
pectativas para o foturo de nossos descendentes. étnica e cultural dos povos indígenas.
de Lideranças Indígenas Brasileiras, iniciado
Lamentamos que ao longo dos anos em nosso Certos da atenção que Vossa Excelência dará a
ontem na sede da entidade.
país os governos não tenham tido preocupação nossa solicitação reiterarmos os nossos votos
Ao fazer uma retrospecdva Idstórica das lutas do
em preservar a nossa história. Assim sendo, de apreço e antecipamos os nossos sinceros
movimento indigenano País, o hder Aílton Krenak,
agradecemos os esforços implementados em agradecimentos.
44, de Belo Horizonte, admitiu a necessidade das
Portugal que tornam possível a preservação Atenciosamente, Darci Duarte Comapa Marubo,
lideranças voltarem a trabalhar para dentro das
durante dois séculos de cultura material indígena. Coordenador Geral/Coiab” (abr/1998)
aldeias. “O movimento indígena não pode mais
Senhor Presidente o nosso pleito não é movido
ter só atuação política para fora. Precisa encon-
pelo rancor, mas pela certeza de que a chave COIAB ELEGE
trar alternativas de sobrevivência dentro das al-
tos indígenas coletados por Alexandre Ferreira, os Especiais Indígenas -DSEIs, procedimentos
de saúde preventiva, integrado ao sistema úni- vio, porém, ressalta que nas regiões onde é re-
E BIOPIRATARIA
co de saúde e que “a responsabilidade pela cente o início do processo dc organização polí-
política de saúde é da Funasa”, acrescentando tica, existe mais carência de informação sobre GOVERNO TEME
que "pelo convênio que nós assinamos, cie o funcionamento e a relação do poder público ISOLAMENTO E PERDA
(convênio) pode e deve ser alterado". Em rela- com povos indígenas. Ele cita como exemplo a DE DINHEIRO VERDE”
ção ao controle social, através dos conselhos região do Médio Purus. “Os índios do Médio
A equipe do governo federal que estuda a legis-
distritais, Ubiratan Pedrosa disse que a Funasa Purus ainda têm pouco apoio, pouca assistên-
lação sobre biodiversidade teme que o país pos-
não intervém nas decisões mas que tem dado cia e a 0P1MP (Organização dos Povos Indíge-
sa criar uma espécie de "Eei da informática 2”,
apoio às reuniões. ”0 iinportanle é que os con- nas do Médio Purus) está agora começando”.
norma que criou uma reserva de mercado ra-
selhos sejam formados com consistência”. Di- Na prática os cursos estão sendo muito bem
dical para produtos brasileiros em 1 984.
versos dos participantes ressaltaram que a re- recebidos pelas comunidades que participam
lação entre profissionais de saude e comunida- na definição dos lemas. Entre os assunlos esco-
0 temor foi ampliado depois que a Assembléia
Legislativa do Acre aprovou, no início deste mês,
des indígenas, nem sempre tem sido satisfatória lhidos destacam-se: a organização da socieda-
porque muitos profissionais estão somente in- de envolvente, alianças e parcerias possíveis de
a primeira Lei da Biodiversidade do país. 0 tex-
to proíbe a entrada de estrangeiros na floresta
teressados em ganhar salários e não querem serem estabelecidas entre povos indígenas e ou-
amazônica daquele Estado. Para ter acesso aos
respeitar o modo de vida tradicional das comu- tros segmentos sociais. (Jornal da Coiab. dez/99)
nidades. 0 chefe de operações da Funasa con-
recursos naturais do Acre, uma das áreas mais
ricas do país, os estrangeiros precisarão se as-
cordou com as dificuldades, mas lembrou que IGREJA PERDE INFLUÊNCIA
sociar a uma empresa ou entidade de pesquisa
6 um processo novo e que muitos profissionais ENTRE ÍNDIOS BRASILEIROS
do Brasil.
de saúde não possuem conhecimentos sobre
questões indígenas. {Jornal da Coiab, dez/99)
A influência da Igreja Catóüca entre os índios Uma lei semelhante, que serviu de base para a
do Brasil eslá diminuindo. A linha de ação do redação do texto aprovado no Acre, está em fase
Cimi tem sido contestada por um número cres- de tramitação no Congresso. É de autoria da
CURSO SOBRE POLÍTICAS
cente de comunidades especialinente as da re- senadora Marina Silva (PT-ÁC) e trata da prote-
PÚBLICAS MOBILIZA
gião amazônica, onde vive cerca de 60 % da ção e cobrança de royaltíes pelo uso das rique-
COMUNIDADES população indígena do Embora a que pode
País. discus- zas genéticas e vegetais, 0 projeto,
A série de cursos de formação sobre políticas são pareça burocrática, envolvendo o controle ser alterado por sugestões (emendas) de ou-
públicas que a Coiab vem realizandoem parce- das entidades de representação indígena, o ver- tros parlamentares, tenta regulamentar deter-
rias com organizações locais vem mobilizando dadeiro pano de fundo é ideológico. Para mui- minações ainda da Convenção da Biodiver-
comunidades, revelando expectativas
e a deter- tos índios, o visceral antineoliberalismo do Cimi sidade, acordo feito por 144 países durante a
minação dos povos que habitam recônditos não os favorece. Pelo contrário, estaria preju- Eco-92, realizada no Rio.
amazônicos. São centenas de pessoas, entre dicando suas comunidades. “0 Cimi quer que 0 temor da equipe do governo é que, a pretexto
homens, mulheres, idosos e crianças, que lu- os índios se organizem de forma comunitária, de defender o país da biopirataria, o Congresso
tam para superar a dura realidade da ausência longe de qualquer coisa que lembre o capita- chegue a um texto ultranadonaíista e com uma
do poder púbbco, que impede o acesso aos ser- lismo e de acordo com sua visão ideológica, que posição de isolamento. Biopiralaria é a forma
viços básicos de saúde, educação e de prote- fica entre o socialismo e o cristianismo primiti- como ficou conhecida a saída ilegal, sem o pa-
ção ao meio ambiente. De junho a dezembro a vo”, diz o Macuxi Eudides Pereira, diretor da gamento de royaltíes, de material genético (plan-
Coiab realizou, em parceria com organizações Coiab. “Acontece, porém, que muitos índios tas, microorganismos etc.) para criar patentes
locais, quatro cursos de formação de lideran- querem ler acesso a novas tecnologias, querem de produtos no exterior. No momento, a Ftmai
ças sobre poiílicas públicas, 0 primeiro foi re- ser capitalistas, sem ter de passar a vida inteira tenta cobrar de pesquisadores ingleses, como
alizado na Missão Surumu, na Terra Indígena usando tanga e cocar, para corresponder à vi- revelou a Folha, pagamento por remédios pa-
Raposa Serra do Sol, cm seguida foram realiza- são exótica que os outros têm dc nós, e sem ter de tenteados a partir de conhecimentos dos índios
dos cursos na aldeia São José, do Povo Krikati, morar cm barracões pobres e desconfortáveis”. kaxinawa, da região amazônica.
município de Montes Altos, no Maranhão; na Na prática, o Macuxi é favorável a acordos com 0 Ministério Público do Acre vai entregar à Jus-
Aldeia Nova Esperança, que reuniu povos empresas para a exploração das riquezas natu- tiça. depois de amanhã, denúncia sobre diver-
sos casos de biopirataria. Para Fernando e dos Suruí, de Rondônia, também roubados pela posse de sua planta sagrada, a ayahuasca,
Dal’Ava, componente da equipe do governo, o em condições semelhantes, (CB, 21/04/98) uma vez que um cidadão norte-americano ob-
país não deve seguir uma Unha fechada e ina- teve patente de utilização exdusiva da mesma.
cessível, o que iria contrariar até mesmo deter- INDÍGENAS ESPERAM Vários índios, procedentes da selva amazônica,
minações da Agenda 21, documento da Eco-92 QUE BIODIVERSIDADE alegam utilizar a Ayahuasca (Banisteriopsis
que trata da biodiversidade, desenvolvimento GARANTA LIBERDADE Caapiun, um potente alucinógeno que não pode
sustentável e colaboração entre países.
1
acordos de cooperação com bancos c entida- orgnizado pela Coiab. Sebastião ressaltou que presenta mais de 400 tribos de nove países da
des estrangeiras. Atualmente, países do G-7, clu- os povos indígenas ainda não têm consciência região. (A Crítica, 03/04/99)
be dos mais ricos do mundo, investem em pes- sobre a importância da preservação dos conhe-
cimentos tradicionais.
quisas e infra-estrutura de órgãos brasileiros A REVOLTA DOS PAJÉS
como o lupa, de Manaus. Para o pesquisador da Universidade do Amazo-
Para o autor da lei aprovada no Acre, deputado nas e do Programa Brasileiro de Ecologia A guerra contra a aprovação no Congresso Na-
estadual Edvaldo Magalhães (PC do B) ,
o con- Molecular para o Uso Sustentável da Biotecno- cional do projeto permitindo a ampliação do
trole aos estrangeiros era mais do que necessá- logia da Amazônia (Probem) Spartaco ,
Astolfi desmatamemo da Amazônia ganhou o reforço
rio. "Pode parecer um exagero, mas vivemos Filho, a construção do centro de biotecnologia de um grupo que lida com poderes sobrenatu-
uma espécie de novo colonialismo", disse. no Amazonas será uma das fornias de manu- rais: mais de 30 pajés de 17 nações indígenas
A Assembléia do Amazonas lambem tem um pro- tenção dos conhecimentos tradicionais dos po- de lodo o país. “Como pode o eleitor do Paraná
[eto de Lei da Biodiversidade, ainda a ser vota- vos indígenas. Spartacco disse que falta ao Bra- eleger um deputado que quer destruir a ilores-
do. (FSP, 13/07/97) sil uma legislação mais rigorosa na preserva- ta amazônica?" indagou Marcos Terena. E com-
ção das riquezas biológicas e do conhecimeno pletou: “Vocês não vão fazer nada? Nós vamos
PAJÉS SE UNEM tradicional. Segundo ele, o centro de biotecno- reagir!”. Os pajés estão em Brasília para discu-
CONTRA BIOPIRATARIA logia é um projeto capaz de gerar renda para tir o uso dos recursos naturais pelo homem
todos os participantes por meio dos produtos branco e, em especial, o que consideram “pi-
Nas páginas da Internet, a empresa americana comerciáveis. Ele disse que o centro deve ter rataria” dos conhecimento indígena sobre os
Coriell Cell Eeposítories vende a decodificação uma rede de anábse de biodivei-sidade, forma- princípios ativos de plantas medicinais. A Funai
do DNA e amostras de sangue dos Kantiana. A do por pessoas detentoras do conhecimento tra- recebe dezenas de denúncias contra laborató-
identidade genética dessa etnia da Amazônia vi- dicional. (A Crítica, 13/11/98) rios farmacêuticos de todo o mundo que esta-
rou mercadoria de alto valor comercial numa riam patenteando fórmulas usadas há séculos
operação clandestina, Pesquisadores america-
ÍNDIOS DENUNCIAM pelos índios. Depois de patentear, esses labora-
nos e um médico brasileiro estiveram na aldeia tórios industrializam os produtos sem pagar
com autorização da Funai a pretexto de investi-
A BIOPIRATARIA
nada aos detentores do conhecimento. Agora
gar o Mapinguari, ser mitológico da Região Ama- Um documento paralelo à Carta da Terra ela- os índios querem que o governo brasileiro adote
zônica que se assemelha a um bicho-preguiça borado pelo Comitê Internacional Intertribal, medidas específicas para protegê-los contra a
gigante, e colheram as amostras de sangue, à que envolve índios do Brasil, Ásia, África, Aus- exploração eapiratariaindustrial. QB, 16/01/00)
custa da ingenuidade dos índios. A história acon- trália e Europa, foi entregue ao coordenador-
teceu há dois anos foi denunciada por uma co- internacional da Carta da Terra, o norte-ameri- POVOS INDÍGENAS
missão especial da Câmara dos Deputados, mas cano Sieven Kockefeller. Desta vez, os silvícolas REALIZAM SEMINÁRIO
até hoje não se tomou nenhuma providência. O propõem não só sugestões e projetos a serem SOBRE BIODIVERSIDADE
primeiro passo será dado esta semana, quando executados, mas graves denuncias de
a Coordenação Geral de Defesa dos Direitos dos biopirataria, roubo de madeira, extinção de Durante o seminário “Biodiversidade e o co-
índios da Funai começa a divulgar no mundo etnias e doenças transmitidas pelo homem bran- nhecimento tradicionais: aspectos jurídicos e
todo uma Carta de Princípios da Sabedoria In- cobram atitudes urgentes da ONU para
co. Mais: econômicos", realizado em Rio Branco - AC, li-
dígena, exigindo o fim da biopirataria - a apro- que os indígenas recebam tratamento não só deranças indígenas discutiram de que maneira
priação ou roubo de conhecimentos tradicio- como minorias. Querem a definição de políti- é possível proteger, legalmente, os conhecimen-
nais e das características genéticas dos índios. cas claras governamentais que saíram da te- tos indígenas sobre biodiversidade e assegurar
Assinado por Terena, Javaé, Xerente, Pataxó, oria e sejam colocadas em prática. (A Gaze- que as comunidades sejam beneficiadas pelo
Xavante e os Kantiana, entre outros pajés, o ta, 04/12/98) repasse de conhecimento às indústrias farma-
documento é o resultado palpável de quatro dias cêuticas e pesquisadores. O seminário abordou
de discussões durante o I Encontro de Pajés, títrabém o problema da “biopirataria", carac-
INDÍGENAS DEFENDEM
encerrado no último final de semana em terizada pela apropriação ilegal de biodi-
PLANTA NOS EUA
Brasília. Nele, os índios cobram do governo bra- versidade e dos conhecimentos tradicionais
sileiro que exija a devolução do material gené- Vários representantes das tribos da Amazônia patrocinada por pesquisadores que atuam,
tico - sangue, pole, cabelo, unha - dos Kantiana chegaram esta semana a Washington para lutar muitas das vezes, a serviço de empresas inte-
ressadas em desenvolver produtos farmacêuti- ador das etnias Guaraní-Kaiowá, Nandeva e etnia pira-lapuia, foi eleito vice-prefeito. O mu-
cos a partir dos conhecimentos tradicionais Terena. Em Minas Gerais, houve a maior con- nicípio terá mais dois vereadores índios: Flávio
sobre o uso de plantas, insetos, óleos vegetais, corrência ao Executivo, três candidaturas a pre- Carvalho (PT) , de etnia dessana; e Alberto Bar-
cascas de árvores e outras formas de tratamen- feito e três a vice-prefeito. Manoel Gomes de bosa (PFL), tariano. (A Crítica, 20/10/96)
to de doenças utilizadas pelas comunidades indí- Oliveira elegeu-se ao cargo de vice-prefeito de
genas. (Jornal da Coiab, abrU/maio/junbo 2000) São João das Missões. No Amapá, o índio Galibi
,
ÍNDIOS TENTAM VOLTAR
Marworno, João Neves dos Santos, conseguiu
À CENA POLÍTICA
ARGUMENTO NA eleger-se a prefeito pelo Partido Socialista Bra-
PONTA DA LANÇA sileiro (PSB) no município do Oiapoque. João Fora do Congresso desde 1987, quando o caci-
Neves leve o apoio do governador do Amapá, que Mário Juruna concluiu um mandato de de-
Um grupo de 21 pajés, incluindo oito mulhe- João Capiberibe (PSB). Dos 2.868 votos, Neves putado federal, a comunidade indígena tenta,
res, de 15 tribos indígenas, protocolou ontem, conquistou 180% de índios e 20% de bran-
.713, este ano, retornar à cena política. Até agora são
no Palácio do Planalto, uma carta ao presiden- cos. deixando em segundo lugar o candidato 1 1 candidatos disputando vagas nas Assembléi-
te Fernando Henrique Cardoso, Nela, os índios da situação Sérgio Gomes (PSDB). as Legislativas, na Câmara dos Deputados e até
manifestam sua preocupação e exigem uma le- (Porantim, set/56) no Executivo, numa campanha que se trava qua-
gislação que proteja a medicina natural, pre- se integralmente dentro da floresta, já que a
servando os conhecimentos deles nesse setor ELEITOS DOIS maioria é da Amazônia. Cinco deles preferiram
contra estrangeiros que chegam ao país, levam PREFEITOS INDÍGENAS partidos de esquerda - PT e PC do B - e os
as informações e registram como propriedade dentais estão no PPB, PDT, PSDC e PTB.
intelectual. Também manifestam sua preocupa- As eleições municipais de 1996 apresentaram O único candidato a governador é David Olivei-
ção com o projeto de conversão do deputado boas surpresas. Pela primeira vez na história ra, que disputa a eleição no Distrito Federal pelo
Moacir Micheletto à medida provisória que al- política do país foram eleitos de uma só vez dois PSDC. (OESR 05/08/98)
tera o texto do Código Florestal, e propõe a re- prefeitos indígenas. No Oiapoque (PA) a vitó- ,
dução da área de proteção nas áreas de flores- ria ]ã esperada do Gahbi Marworno, João Ne- VOTO ELETRÔNICO CHEGA
ta amazônica e de cerrado. Os índios nem ten- ves (PSB), com 1.713 dos 2.868 votos do mu- AOS ÍNDIOS DO NORTE
taram uma audiência com o presidente. Antes nicípio. Em Baía da Traição (PB), o índio Mar-
Para chegar a Sucuriju, uma das localidades de
do entregarem o documento fizeram um ritual cos Potiguara (PMDB) assume o lugar de Nancy
mais difícil acesso no Amapá, o viajante tem de
simbolizando o início das negociações com o Potiguara, a primeira indígena a vencer eleições
enfrentar 12 horas de liarco pelo rio Amapá
governo. Tudo ocorreu do lado de fora do Pla- para o executivo municipal. Nu Amapá, Neves
Grande e pdo Oceano Atlântico, a partir da ca-
nalto porque a segurança impediu que os pai és prepara uma grande festa, na posse em 1“ de
pital, Macapá. Cerca de oito horas são necessá-
entrassem no palácio. QB e Extra. 18/05/00) janeiro, com direito a reunir representantes de
rias para levar os disquetes das urnas eletrôni-
partidos de oposição, como o PT e o presiden-
cas instaladas em outras sele localidades até o
te Pernando Henrique Cardoso, que ainda não
município de Mazagão, uma das centrais de
OS ÍNDIOS NA respondeu ao convite. Na Paraíba, os Potiguara
totalização dos votos no estado, que este ano
confirmaram a força que já fez dois prefeitos
POLÍTICA PARTIDÁRIA consecutivos na cidade litorânea. Na eleição
terá eláções 100% informatizadas.
Para que não haja imprevistos, o presidente do
de Marcos Potiguara. os índios reforçam a deter-
TRE, desembargador Douglas Evangelista Ra-
ÍNDIOS CONQUISTAM minação de que o prefeito esteja sintonizado
mos, equipou dois barcos com aparelhos de úl-
ESPAÇO POLÍTICO com as lutas do povo. (Cimi, 10/10/96)
tima geração, que garantirão o envio imediato
correram ao cargo de vereadores em todo o vereadores e um vice-prefeito índios, segundo onde a de energia elétrica é parte da roti-
falta
país. Embora não se lenha dados precisos esta levantamento das organizações indígenas do Alto na, o tribunal alugou 464 baterias de carro, um
foi, propordonalmente, a maior participação Solimões e Alto Itio Negro e Cimi. Quatorze dos para cada uma eletrônica. Embora as máqui-
em eleições, de todos os tempos. É uma eleitos se concentram nos municípios de São nas devotar tenham autonomia para funcionar seis
constatação da necessidade que têm os povos Gabriel da Cachoeira, Benjatnin Constant, horas sem energia, o TRE quer evitar surpresas.
indígenas, em cada vez mais, ocupar os espa- Tabalinga, São Paulo de Olivença, Amaturá e Com 170 mil eleitores, Roraima realizou elei-
ços políticos institucionais para fazer frente à Santo Antônio do Içá. Nesses municípios - mais ções simuladas até o último domingo. O resul-
discriminação imposta pela sociedade dos bran- Barcelos e Santa Izabel do Rio Negro - estão tado, segundo o diretor geral do TRE, foi sur-
cos. É um sinal claro de que os povos e comu- peia estimativa da Punai, 50 mil dos cerca de preendente, sobretudo nas aldeias indígenas.
nidades indígenas desejam assumir as próprias 89-500 índios que habitam o território Enquanto em cidades grandes há eleitores que
representações em todas as instâncias possíveis amazonense. levam mais de um minuto para votar, os 6.300
defendendo eles próprios os projetos políticos Barcelos, São Gabriel da Cachoeira e Santa Isa- índios cadastrados alcançaram a média de 22
pessoais ou comunitários. bel, no Alto Rio Negro, têm 92% de população segundos. (GM, 25/09/98
Neste ano, o estado com maior participação de O Cimi estima que 25 mil índios vota-
indígena.
indígenas nas eleições foi o Mato Grosso do Sul, ram em 3 de outubro. Em São Gabriel da Ca-
em sete municípios, com 20 candidatos a vere- choeira, Thiago Montalvo Cardoso (PSDB), de
Z/^C I SA
NOS 500 ANOS DO BRASIL, secutivos pelo PFL e tenta a vaga de novo pelo lação da cidade e da violência dos fazendeiros,
350 ÍNDIOS CANDIDATOS PMDB. QB, 26/09/00) reconheceu que tendo um representante eleito
as reivindicações do povo indígena teriam uma
"Ridocomeçou na década de 80 com Junina, ÍNDIOS CANDIDATOS maior repercussão, tanto no Estado como em
que conquistou o eleitorado do Rio e tornou-se Brasília. Agnaldo Santos foi lançado na política
LUTAM POR DIREITOS
o primeiro índio a ocupar uma cadeira na Câ- pelo falecido cacique João Cravina» um dos mai-
mara. Agora, no ano em que o Brasil completa Cerca de 20 mil índios vão às urnas nas elei- ores líderes pataxós e fundador do PT em Pau
500 anos de Descobrimento, a eleição de 2000 ções em Mato-Grosso do Sul, segundo estima o Brasil, em 89- (A Tarde, 04/10/00)
bate recordes: cerca de 550 índios se lançaram Cimi. O eleitorado indígena vive em 22 dos 77
candidatos em todo o país. E o leque partidário municípios do estado, morando em cidades e INDÍGENAS ELEGEM
dos índios em todo o país também é o mais va- reservas. 0 Tribuna Regional Eleitoral vai ins-
66 REPRESENTANTES
riado: eles estão filiados a 15 partidos, que vão talai' urnas eletrônicas também em seções que
do PC do B ao PPB. É o que mostra um levanta- funcionam nas aldeias. Pelo menos 59 candi- Pelo menos 66 candidatos representando po-
mento do Cimi, datos indígenas a vereador disputam os votos vos indígenas conseguiram se eleger nas elei-
Segundo a entidade, só em Roraima, somam distribuídos nas seis etnias sul-mato-grossenses: ções municipais. Segundo levantamento parci-
200 índios candidatos. O segundo estado com guarani, caiuã, terena, ofaié xavante, guató e al feito pelo Cimi, 313 candidatos com origem
o maior número de candidaturas indígenas é o kadiwéu. As seções exclusivas se concentram indígena concorreram na última votação. Até
Rio Grande do Sul. São 30 postulantes a verea- em municípios como Dourados, Miranda e agora, já foram registradas a eleição de um pre-
dor, dos quais 29 do povo caingang e um da Sidrolândia. feito, seis vice-prefeitos e 59 vereadores. Todos
tribo guarani xiribá. Para os índios, entrar em Em Miranda serão dez lugares de votação loca- esses candidatos conseguiram sua eleição em
uma eleição é mais uma tentativa de dar voz aos lizados nas reservas la Lima, Cachoeirinha e municípios de pequeno porte. O levantamento
seus povos. (O Globo, 19/09/00) Fillad Rebuá. São aproximadamente três mil feito pelo Cimi ainda não foi concluído, mas
eleitores terena, para 15 concorrentes da etnia apontava a eleição de 62 candidatos, Ainda não
MS BATE RECORDE que disputarão vagas na Câmara Municipal. Em estavam computados, por exemplo, os dados
DE ÍNDIOS CANDIDATOS Dourados, segundo dados da Funai, os eleito- referentes aos estados de Alagoas, onde um ve-
res guarani, caitiá e terena vão escolher seus reador foi eleito em Porto Real do Colégio, e do
A comemoração dos 500 anos do Brasil moti- candidatos em nove seções instaladas nas al- Pará, onde três vereadores garantira mandato
vou um “boom” de candidaturas de índios no deias Jaguapiru e Bororó. Seis candidatos se- em Jacarcacanga,
Mato Grosso do Sul. São pelo menos 50 con- rão submetidos à avaliação de seu eleitorado O PT foi o partido que mais elegeu candidatos
correntes, recorde na história do Estado. Na étnico e de outras pessoas simpatizantes da cau- indígenas, com 1 1 vereadores no total. A legen-
disputa municipal de 1996, eram 30 os postu- sa. (JB, 30/09/00) da já tinha sido a que apresentara o maior nú-
lantes sul-matogrossenses, num universo de 80 mero dc candidaturas, com 51 no total. PTB c
candidatos pelo Brasil. Só na região de PATAXÓ HÃ-HÃ-HÃE PMDB elegeram seis vereadores ada, apare-
Aquidauana e Miranda (que ficam no Pantanal), ELEITO VEREADOR cendo em segundo lugar. O PMDB, entretanto,
13 índios disputam as eleições. São 5 mil os foi o partido que conseguiu eleger o único pre-
eleitores indígenas. Eslíma-se que, para vencer Entre os 11 vereadores que tomarão posse, dia
feito Ugado dírelamente a povos indígenas. Mar-
o
por um partido grande, cada índio precisa de I de janeiro, na Câmara Municipal de Pau Bra- cos Antônio dos Santos, do povo Potiguara, re-
pelo menos 500 votos. sil, no sul da Bahia, estará o pataxó hã-ha-hãe petiu seu desempenho de 1996 e foi reeleito
"Enepo yakahã’a kevánefi vótuna íti, yakávanea, Agnaldo Francisco dos Santos, de 33 anos. Eleito
prefeito no município de Baía da Traição, na
akó keváne tutnune xi’íxa'\ A frase, em idi-
itea pelo Partido dos Trabalhadores, numa coliga-
Paraíba. (Valor Econômico, 13/10/00)
oma terena, foi dita no comício na aldeia Li- ção com o PSDB e PDT, ele é o primeiro índio
que conseguiu essa façanha na região e num
mão Verde, em Aquidauana (MS) pelo índios , JURUNA. O PRECURSOR. ESTÁ
terena Wanderlei de Souza, 24, que disputa ao município hostil à causa indígena, sendo o sex-
to colocado, com 197 votos. Articulado e de
FORA DA VIDA PÚBLICA
cargo de vereador pelo PT. Significa: “Se quiser
vender seu voto, venda. Mas não venda o futuro de discurso afiado, o pataxó disse que um de seus O cacique xavante Mário Juruna foi o primeiro
seu filho”. Foi a mais aplaudida. (ESP, 26/09/00) principais compromissos é com a organização um povo indígena eleito para
representante de
e mobilização da população de Pau Brasil para um mandato parlamentar no Congresso. Impul-
ÍNDIA DO PT DISPUTA criar um mecanismo de fiscalização das ações sionado pela vitória de Leonel Brizola para o
do Executivo. Antes mesmo de iniciar o manda- governo do Rio de Janeiro no final de 1982,
UMA VICE-PREFEITURA to, Agnaldo Santos está se mobilizando para Juruna elegeu-se deputado federal pelo PDT,
A índiaKaingang, Ana Vendrammi, está surpre- impedir que o prefeito eleito, José Augusto San- com 31-904 votos, cumprindo mandato de 1983
endendo na disputa eleitoral deste ano em José tos Filho, o Zé de Dezinho (PTB) nomeie,
dele- a 1986, Treze anos depois de sua passagem pela
Boiteaux, município do Oeste Catarinense com gado do município Marcos Vinícius Gaspar, o política, Juruna ainda mora em Brasília e é as-
3.181 eleitores. Candidata a vice-prefeitura pelo “Marcão", um dos fazendeiros que tiveram as sessor para assuntos indígenas da liderança do
PT, Ana tem chance de se eleger e será, na his- terras retomadas pelos índios e acusado por ele PDT na Câmara. Com a saúde bastante debilita-
tória política de Santa Catarina, a primeira ín- de ser responsável pelos maiores atos de vio- da, Juruna esteve muito doente em 1998 e 1999,
dia a ocupar o cargo. Outros cinco Kaingang lência contra os Pataxó. com pancreatite, pneumonia e problemas car-
participam da eleição de José Boiteaux, con- Segundo o novo vereador, a comunidade pataxó díacos. Juruna foi cacique da aldeia xavante de
correndo à Câmara Municipal. O ex-cacique sempre achou que não deveria se envolver com Namunjurá, na reserva indígena de São Marcos,
Elpídio Priprá se elegeu por dois mandatos con- política, mas diante dos preconceitos da popu- na cidade de Barra do Garça (MT). Chamou a
Miguel Arcan jo Barbosa de Araújo Tikuna Santo Antonio do Içá 274 PSDC AM Vereador
Àgnaldo Francisco dos Santos Pataxó Hã-Hã-Hãe Pau Brasil 197 PT BA Vereador
Francisco Alves da Silva Pataxó Santa Cruz Cabrália 174 PMDB BA Vereador
Luzia Silva Matos Pataxó Santa Cruz Cabrália 178 PMDB BA Vereador
Manoel Gomes de Oliveira Xakriabá São João das Missões 187 PDT MG Vice-prefeito Reeleito
Livíno Gomes de Oliveira Xakriabá São João das Missões 259 PDT MG Vereador
José Gomes de Oliveira Xakriabá São João das Missões 161 PDT MG Vereador
Marcos Antonio dos Santos Potiguara Baía da Traição 2043 PMDB PB Prefeito Reeleito
Genival da Silva dos Santos Potiguara Baia da Traição 106 PPB PB Vereador
Batista de Oliveira Kaingang Benjamin Constant do Sul 139 PMDB RS Vereador Reeleito
Erpone Lopes Kaingang Gramado dos Loureiros 143 PPB RS Vereador Reeleito
Moacir Venhkag Ferreira Doble Kaingang Cadque Doble 214 PFL KS Vereador
? SC Vereador
João Fortes Kaingang Entre Rios
Fonte: Secretariado Nacional do Ciml. a partir de seus regionais, lideranças indígenas e TRF-s, em 22/1 (IAK)
AS CANDIDATURAS INDÍGENAS
As eleições no Brasil - como todo evento multi- oso, ao discurso cosmológico, passa então a cir- projeto político próprio, determinados a atuar na
facetado misto defesta, acordo combate e ritual
, ,
cularem uma ordem específica, a ordem políica, vida pública. Os primeiros estariam ligados aos
- mobiliza os veículos de informação também pelo regida por uma racionalidade burocrática e fun- partidos que tradicionalmente situamos na es-
anedotário que produz. Curiosamente, a presen- damentada em valores que se pretendem univer- querda política, os segundos estariam filiadas aos
ça crescente dos índios no processo eleitoral nos salmente válidos. Formas tradicionais de lideran- partidos de perfil clientelista.
é transmitida exatamente neste registro. De certo ça política - como, por exemplo, aquela assumi- As relações de gênero também repercutem essas
modo, a participação dos índios na disputa por da pelo sábio ancião, com sua oratória sensível, transformações. Se no âmbito do movimento in-
vagas no jwder legislativo e executivo é apresen- seu zelo pela reatualização permanente do lega- dígena é cada vez mais freqüente a participação
tada no mesmo tom de estranheza com que o jor- do mitológico e da tradição, seu prestígio guer- feminina e mesmo o surgimento de organizações
nalismo brasileiro descreve índios xinguanos reiro, - cede lugar para uma nova forma de lide- indígenas de mulheres, a política local de alguns
paramentados com sandálias Havaianas e calções rança, desta vez protagonizada porjovens talen- municípios começa a presenciar esse novo ator
Adidas. É como se a candidatura indígena selas- tosos, escolarizados, falantes do português, mi- social. Nas eleições municipais do ano 2000 tive-
mediador que se interpõe entre os índios e a to- são conhecidos. Uns seriam representantes "legí- dade do voto indígena na uma eletrônica: 22 se-
mada de decisões. A política, que em muitas for- timos" de seu povo, indicados ao pleito eleitoral gundos contra mais de um minuto de muito elei-
mulações nativas atravessa a vida social de ma- diretamente pela decisão de suas comunidades ou tor branco. (Marcos Pereira Ruflno/ISA, sel/00)
neira ampla articulando-se simultaneamente às de suas respectivas organizações indígenas. Ou-
regras do parentesco, ao complexo ritual e religi- tros seriam candidatos isolados, envolvidos em um
Antropólogo/ISA
Fernando Fedola de L B. Vianna
EVENTOS REUNINDO ATIVIDADES FÍSICAS de 600 atletas indígenas, representantes de cerca de 30 etnias de
OLÍMPICAS CONVENCIONAIS COMO 0 FUTEBOL práticas como corrida de tora ( característica dos povos de língua
do Brasil Central) , arco-e-flecha, lutas corporais (como a buka-
CONSOLIDAM O ESPORTE COMO UMA DAS jê
pectadores, construída especialmente para a ocasião, abrigou mais nenhuma novidade. E o mesmo continua valendo quando olha-
políticos
escolhida. No entanto, desentendimentos entre o governo do Ama- Cada um dos eventos acima mencionados certamente guarda suas
zonas e representantes do poder federal quanto ao montante de especificidades. Deixando-as de lado, é possível notar alguns tra-
recursos financeiros que o primeiro deveria destinar para a reali- ços comuns, definidores do modelo dosjogos Indígenas tal como
zação do evento acabaram por inviabilizá-lo 3 . De acordo com o vem sendo desenvolvido e praticado no Brasil contemporâneo.
ponto-de-vista de um dos organizadores dosjogos (Marcos Terena,
de quem tratarei abaixo, comunicação pessoal), o ano de 98 não INTEGRAÇÃO ENTRE OS POVOS INDÍGENAS
foi propício para uma nova tentativa porque todas as atenções es-
Primeiramente, é de se frisar que a promoção desses eventos de-
tavam voltadas para a Copa do Mundo de futebol na França. .Assim,
pende diretamente da articulação entre órgãos do poder público
os Jogos dos Povos Indígenas só voltariam a se tornar realidade
das esferas federal - a Fundação Nacional do índio (Funai) e o
em 99, novamente no mês de outubro. Dessa feita, a cidade esco-
Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp), li-
lhida foi Guaíra, no Paraná6 .
•5í4jZ^ Acervo
-//ISA
nabdades indígenas e formas de os índios se organizarem, respon- NEGOCIAÇÕES POLÍTICAS
sáveis pela intermediação entre as comunidades e o Estado. E TROCAS CULTURAIS
Aqui, merece destaque o papel dos irmãos Carlos e Marcos Terena, Podemos, assim, conceber que a integração promovida pelo es-
É o que sugerem tanto o investimento que tem dedicado aos Jogos O mesmo funcionário do Indesp revela dois outros fatos que indi-
Indígenas como suas mais recentes aparições em encontros de cam por onde podem passar os processos políticos envolvidos nos
discussão de política indigenista, nos quais tem insistido na união Jogos Indígenas, Informados de que os Kaingang do Paraná esta-
dos índios de variados grupos e lembrado que a idéia da UNI co- vam planejando a realização de protestos durante o festival de
meçou quando ele e outros indivíduos indígenas, estando em Brasília Guaíra, seus organizadores sentiram obrigados a cancelar sua par-
por razões diversas, passaram a se encontrar para jogar futebol 17 .
ticipação: “não temos nada a ver com política mas somos governo
No modelo Jogos Indígenas, há, portanto, o objetivo dc integrar os federal”, acrescenta o funcionário. Para Marabá/2000, a organi-
vários povos indígenas entre si. Objetivo que, aliás, não está, ape- zação ofereceu aos Fulni-ô, de Pernambuco, 18 vagas, mas eles
nas, conforme o que estou sugerindo, na “cabeça” de Marcos queriam levar uma delegação com 30 pessoas. A negociação re-
Terena. Diz o índio Karipuna Mário dos Santos, administrador da dundou em que os Fulni-ô acabaram por não ir a Marabá.
Funai de Oiapoqne, no Amapá: “Os jogos contribuem para fortale-
Saibamos reconhecer, contudo, que nem todos os processos visí-
cer a unidade entre as tribos. Os povos daqui mantêm mais seme- veis no modelo de evento de que tratamos aqui merecem ser redu-
lhanças do que diferenças entre si. Com isso, conseguimos a coo-
zidos à dimensão política. Os Jogos podem implicar, também, tro-
peração de todos em tomo de projetos que interessem à comuni- cas culturais entre diferentes povos, como ilustra o caso da inclu-
dade”
1
*. Outro exemplo vem do campeonato de futebol dos índios
são da corrida de tora nos Jogos do Amapá. Os povos de lá não são
em São Paulo, o Intertribol, durante o qual lideranças dos Guarani
adeptos históricos ou “tradicionais” dessa prática. Conheceram-
Mbya, Guarani Nhandeva, Terena, Kaingang, Krenak e Pankararu
na assistindo uma demonstração realizada pelos Krahó (Tocantins)
reuniram-se para analisar os problemas comuns às cinco etnias,
precisamente num desses Jogos que reúnem povos indígenas de
definir prioridades e divulgar um documento intitulado Programa várias regiões do país. Gostaram da novidade e resolveram levá-la
Intertribos, em que manifestavam os objetivos de “integrar as ações” “para casa".
entre estes povos e de “desenvolver trabalhos em parcerias com
os órgãos federais, estaduais, municipais, organizações não gover-
namentais, universidades e instituições interessadas e comprome- NAS CIDADES
tidas com a causa indígena".
Outro aspecto marcante dos Jogos Indígenas advém do fato de, em
quase todos os casos, serem realizados nas cidades. Podem, por
isso, ser considerados um caso particular de um fenômeno mais
e indigenistas no Brasil vem aumentando, em freqiiência e visibili- vem-se em iniciativas nas quais está em cena o mostrar a cultura
dade social, nos anos mais recentes. indígena para os “brancos" verem (e a mídia divulgar).
Discriminar se os índios são ou não os principais sujeitos dessas Isso pode acontecer na forma de um debate organizado em para-
formas contemporâneas e às avessas de “expedições de contato" lelo à realização dos jogos e competições propriamente ditos, como
nem sempre é tarefa simples. Nas demonstrações de dança, shows ocorreu em Goiânia/96, com o fórum “Esporte e Identidade Cultu-
musicais, exibições fotográficas, realizações de jogos etc. que tra- ral Indígena", no qual autoridades, lideranças indígenas, esportis-
zem os índios (em “carne e osso” ou sua imagem) às cidades tas não-índios “de ponta" e personalidades como o jornalista Wa-
combinam-se, na realidade, disposições e interesses de atores tanto shington Novaes discutiram desde a utilização do corpo no cotidi-
indígenas - dentre as quais seria preciso considerar, em separa- ano até a suposta possibilidade de extinção da Funai, passando
do, as das chamadas lideranças - como não-indígenas, sejam es- pela demarcação de terras indígenas. Ou, então, nas declarações
tes últimos membros de agências governamentais ou não-gover- de lideranças indígenas e autoridades durante os eventos, cada
namentais. De todo modo, o que importa registrar é que, ao serem qual destacando um ponto diferente: a capacidade do esporte cm
Acervo
_//£ ISA
L U ;onho de unir povos historicamente inimigos” (iatista parece ser, afinal, a principal mensagem direcionada aos "bran-
Lars Grael, falando como diretor do Indesp®); a participação dos cos” dos Jogos Indígenas: que os índios querem continuar a ser
21
índios “na construção do Brasil" (Marcos Terena) ;
o pedido ao aceitos como tais sem prejuízo de poderem gostar e fazer algumas
ministro do Esporte e Turismo, por parte de uma líder dos das coisas de que os "brancos” também gostam e fazem. ( novem-
Pankararu de Pernambuco, para que ajude quem sofre com a seca bro, 2000)
no Nordeste do país 22 entre outros. ,
A jogadora kayapó se
prepara para a competição.
1
Notícias sobre os III Jogos dos Povos Indígenas cncontram-se, por exemplo, 15
Ver O Globo, 09/1 1/96, p. 21.
em O Liberal dos dias 13, 17, 18, 19, 20 e 22/10/2000. 14
Ver Jornal do Brasil, 1 3/04/97, p. 06.
2
Folha deS. Paulo 01/01/1995; O Popular, 07/10/1996. 15
O Globo, 20/04/1999; Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, 21/04/1999;
J
Folha de S. Paulo 18/02, 25/03, 25 e 28/04/95; O Globo, 20, 28 e 29/04/95; Correio Braziliense, 26/04/1999-
A Gazeta Esportiva, 28/04/95; IstoÉ, 03/05/95; Diário Popular, 27/09/1996.
16
Ver Relatório Final dos Jogos dos Povos Indígenas (Goiânia - 16 a 20/10/
4
O Popular, 07 e 1 3/1 0; Jornal da Tarde, 16/10; Folha de S. Paulo, 17/10; 1996, disponível na sede do Indesp, em Brasília.
Crítica, 18/10; O Estado deS. Paulo, 21/10; O Dia, 21/10 e Veja, 23/10/1996. 17
Comunicações de Marcos Terena em dois seminários sobre política indigenista:
11
0 Globo, 14/08; A Crítica, 22/08, 11,17, 25, 26 e 27/09/1997. Universidade de Brasília (maio/ 98) e Museu Nacional, Rio de Janeiro (junho/
6
99).
O Estado do Paraná, 15, 17, 19, 21 e 24/10/1999.
18
IstoÉ, 08/1 1/2000, p. 66.
'IstoÉ, 08/1 1/2000.
19
O caso xavante, em específico, de utilização dessas novas linguagens e
* A Crítica, 14/10/1997.
tecnologias pode ser acompanhado em artigo de Laura Graham, neste volume.
‘M Tarde, 23/09/2000. 20
Encarte sobre os Jogos de Marabá em Porãduba (Jornal da Funai - Brasília),
10
Folha de S. Paulo, 20/10/1996. ano I, n° 1 ,
outubro/ 2000.
21
"A Gazeta Esportiva, 22/02/1997; Folha de S. Paulo e Folha da Tarde, 23/02/ Correio Braziliense, 26/04/1999.
1997; O Estado de S. Paulo, 24/02/1997; O Dia, 26/02/1997. 22
Correio Braziliense, 26/04/1999-
12
Folha de S. Paulo, 29/04/1997 e revista Amazônia 21, Manaus, ano 2, n° 4,
janeiro/ 2000.
PROJETOS GOVERNAMENTAIS
DE DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
i
áreas de extremo impacto
|
áreas de muito alto impacto
J
áreas de alto Impado
I ]
Terras Indígenas
PADRÃO DE DESMATAMENTO NOS “Esse trabalho apresenta uma nova visão abrangente das ameaças
PRÓXIMOS 30 ANOS, AMEAÇANDO ao desenvolvimento sustentável da Amazônia', dizThomas Lovejoy,
180 MIL KM DE FLORESTAS
2
consultor-chefe de biodiversidade do Banco Mundial, que convi-
dou Nepstad a fazer a apresentação. “Ao reunir vários elementos,
fica claro que os projetos do Avança Brasil, não modificados, se-
Imagine uma área de floresta do tamanho de dois países como rão como acender um fósforo sobre a .Amazônia.”
Portugal. É o que a ex-colônia Brasil pode estar condenando à
“Prevejo que partes do trabalho serão questionadas. Isso é nor-
destruição, nos próximos 20/30 anos, se levar a cabo a recupera-
Massachusetts (EUA).
A Secretaria de Coordenação de Amazônia do Ministério do Meio
As quatro estradas são a Cuiabá-Santarém (BR- 163), Humaitá-
Ambiente (MMA) não comentou diretamente as previsões do estu-
Manaus (BR-319), Transamazônica (BR-230, trecho Marabá-
do, mas disse que o governo dedica atenção ao problema. Segun-
Rurópolis) e Manaus-Boa Vista (BR-174). Um total de 3.500 km
do Mary AUegretti, titular da secretaria, “o Ministério do Meio
de rodovias, que dariam acesso a centenas de militares de km 2
de
Ambiente está atento à questão dos possíveis impactos ambientais
floresta, boa parte dela intocada, ou quase.
decorrentes da implementação dos eixos nacionais de integração
Pior: algumas dessas florestas são sujeitas a incêndios, como nos e de desenvolvimento".
anos de seca provocada pelo fenômeno El Nino. O efeito do últi-
AUegretti nega que haja descoordenação entre as áreas de planeja-
mo, de 1997/98, não pôde ainda ser avaliado em detalhes porque
mento e de ambiente do governo federal. O MMA, diz, “está em
o governo não divulgou os dados oficiais de desmatamento de 1999,
articulação com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
normalmente fechados no começo do ano pelo Instituto Nacional
tão e com o BNDES para a elaboração de um estudo agregado
de Pesquisas Espaciais (Inpe).
desses possíveis impactos com vistas ao aperfeiçoamento do Avan-
ça Brasil na Amazônia”.
NO BANCO MUNDIA1 O Inpe informa que recebeu com atraso de três meses o repasse
O estudo das ONGs, com exclusividade pela Folha, foi apre-
obtido de verba para o ano passado. Com isso, os dados serão divulgados
sentado no Banco Mundial (Bird), em Washington, por Daniel este ano apenas no mês de abril. Em anos anteriores, isso aconte-
Nepstad, ecólogo do WHRC, em reunião que contou com a presen- ceria normalmente em janeiro.
P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL I 225
ESTUDO TAMBÉM APONTA RISCO DE FOGO cial e abrem clareiras na floresta. Com mais luz, resseca-se a ca-
desmatamento entre 80 mil e 180 mil km-, cálculo baseado no queimadas na Amazônia.
padrão histórico de outras rodovias amazônicas (33% a 55% de
A rodovia também facilita a colonização da área por pequenos
perda na faixa de 50 knt de cada lado da rodovia asfaltada) Inclui ,
Isso ocorre numa espécie de círculo vicioso. A estrada atrai ma- radiação solar, o que a resseca ainda mais. E assim por diante.
deireiros, que fazem um corte seletivo de árvores de valor comer-
do, Simpósio Ambientalista do Cerrado, Rede Internacional de Rios e ferrovias e portos para ganhar o mundo. Para construí-los, pode ha-
Coalizão Rios Vivos. ver algum ti/m de dano ao meio ambiente. Para isso temos medidas
compensatórias - aplicadas qtumdo o impacto acontece, mas pode ser
Pois afonte agora sou eu, Eliseu Padilha, ministro dos Transportes, e
compensado por outra ação - e mitigadoras, aplicadas j>ara amenizar o
afirmo: nenhuma obra federal no setor transportes está ameaçando
impacto e ajudar a população local a conviver coma nota realidade.
florestas ou rios. Estão comigo os governadores e prefeitos dos Esta-
dos e municípios na área de influência dessas obras. Para cada obra há uma medida. Para rasgarmos os 970 km da BR-
174, que liga o Brasil aos mercados do Caribe, tivemos que cortar
Representamos a vontade do nosso pom. E recusamos tanto o papel
120 km da reserva dos Waimiri-Atroari. O traçado era mais adequa-
de bandidos como o de mocinhos. Não existem dois lados, mas ape-
do. Aplicamos então uma medida compensatória com a criação do
nas o debate sobre o que é melhor para o País. A premissa básica é a
Programa de Proteção piara a Área Indígena. Em 1987, havia 374 ín-
clareza de intenções, obscurecida nesse mundo de "mocinhos e ban-
dios. o que restara de uma nação de cinco mil, abalada por constan-
didos". Temos a mais firme vontade de desenvolver o País sem colo-
tes surtos de malária e outras doenças tropicais. Foi um trabalho
car em risco o meio ambiente.
duro. Em 1997 ainda registramos 117 casos de malária, mas, em 1998,
Vivemos num mundo globalizado. "Mocinhos e bandidos" nos levam quando as obras foram intensificadas, registramos sete casos, e a
ao passado, a um mundo distante do atual, onde a sobrevivência é população crescera para 773 índios.
226 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
OS ÍNDIOS E 0 MINISTRO DOS TRANSPORTES
Testemunha ocular da história, indlgenista trais Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte), vem financiando
Porfírio Carvalho discorda do ministro o Programa Waimiri-Atroari, programa de ações indigenistas que visa
compensar, se é que se pode compensar, o s impactos e prejuízos cau -
Acabo de ler um artigo assinado peto Sr. ministro dos Transportes
sados pelo reservatório da usina hidrelétrica Bcdhina no território
Eliseu Padilha, publicado por esse jornal na seção Tendências/Deba-
Waimiri-Atroari. As ações que constituem o Programa Waimiri-Atroari
tes em 26 de março de 2000. 0 artigo me causou extrema indigna-
é que vem conseguindo melhorar o nível de vida da comunidade in-
ção, ao se referir aos resultados de ações patrocinadas peto Ministé-
dígena. Esta melhoria deu condições inclusive para que, posterior-
rio dos Transportes como medidas compensatórias por cortar 120
",
Os dados citados pelo ministro Eliseu Padilha nada têm a ver com as Eu sou testemunha disto. (José Porfírio Fontenele de Carvalho, carta
medidas compensatórias que ele afirma ter aplicado pela passagem enviada ao Painel do leitor - FSP, 31/03/00)
da BR-174 na Terra indígena Waimiri-Atroari. Desde 1987. a Cen-
•
VHMHM : iil
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 227
Hidrovia Araguaia-Tocantins:
Crônica de uma Fraude Anunciada
A hidrovia Araguaia-Tocantins-Rio das Mortes, incluída na lista de tropeçamos em algumas cenas que lembram outras novelas de
prioridades de projetos de infra-estrutura do plano “Brasil em empreendimentos públicos levados a cabo com total atropelamento
Ação”, atual “Avança Brasil”, tem despertado acalorados debates e desrespeito às normas ambientais do País; tudo em nome da
e discussões envolvendo a clássica dicotomia "desenvolvimento necessidade de “progresso” e “desenvolvimento”.
versus meio ambiente”, traduzida na necessidade, por um lado,
Em dezembro de 1995, a Fundação de Auxilio para o Desenvolvi-
de desenvolvimento e integração das regiões Centro-Oeste eNorte,
mento da Pesquisa (Fadesp) do Estado do Pará foi contratada pela
e por outro na necessidade de preservação dos ecossistemas regi-
Ahitar para elaborar um pré-estudo de impacto ambiental sobre
onais e dos povos inágenas e comunidades tradicionais e ribeiri-
um pequeno trecho do rio Araguaia entre Barra do Garças e
nhas que vivem às margens desses rios.
Xambioá. Vale lembrar que o projeto da hidrovia estende-se por
Sem adentrar no mérito propriamente político do empreendimen- aproximadamente 2.200 km entre os rios das Mortes, Araguaia e
to e limitando-se a uma análise objetiva do projeto frente à Consti- Tocantins. Inobstante esse detalhe, a Ahitar apresentou esse estu-
tuição Federal e às leis que regem a conduta do Estado enquanto do setorial preliminar ao Ibama como sendo o próprio ELA do
empreendedor, não é difícil perceber que o desenrolar dessa his- empreendimento, perfeito e acabado. Como a superficialidade do
tória não vem - como se desejaria - compassado com as normas estudo era gritante e os profissionais envolvidos na elaboração do
constitucionais e legais de proteção ao meio ambiente e aos direi- mesmo denunciaram o fato, numa audiência pública realizada no
tos dos povos indígenas. Congresso Nacional, o Ibama viu-se na necessidade de rejeitá-lo
ção da Hidrovia Tocantins Araguaia (Ahitar) - vinculada à Compa- da Companhia Docas do Pará vinha comprometendo a qualidade
nhia Docas do Pará, do Ministério dos Transportes -, chegou a dos estudos ambientais sobre o projeto. Isso sem comentar a ati-
implementar obras de plaqueamento e sinalização no Rio das tude no mínimo desleal do empreendedor para com o órgão
Mortes e Araguaia dentro dos limites de terras indígenas, o que ambiental e a sociedade civil de, dente da pouca abrangência e
gerou uma forte reação principalmente por parte das comunida- fôlego do estudo preliminar, entregá-lo como definitivo, certo de
des xavante de Areões e Pimentel Barbosa, que, assessoradas pelo que o mesmo seria aprovado.
O processo de licenciamento ambiental da hidrovia vem sendo No entanto, novamente a suspeita de fraude se levantou e nova
conduzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente c dos Re- investida dos Xavante se anunciou, abrindo um novo capítulo na
cursos Renováveis (Ibama) no mínimo de forma displicente, qua-
historieta da hidrovia.
se submissa Fazendo uma breve retrospectiva dos capítulos dessa
novela encenada pelo Ibama e pela Companhia Docas do Pará,
228 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
0PÓ10G0S DENUNCIAM FRAUDE foi fácil: depois de três pedidos de audiência ignorados, foram
De acordo com a carta dos quatro antropólogos, para impedir que o EIA/Rima fraudado fosse levado às audiências
trechos substan-
ciais do estudo antropológico relativos à análise de impactos e
públicas e dessa forma induzisse a sociedade em erro, uma vez
que o trabalho oficial não reflete as conclusões da equipe técnica
proposição de medidas mitigadoras foram sumariamente corta-
que o elaborou originalmente.
dos da versão final do EIA/Rima entregue ao Ibama. Coincidente-
mente ou não, os maiores impactos do empreendimento recaem O imbróglio chegou também ao conhecimento do Ministério Pú-
justamente sobre os povos indígenas que habitam a região, na blico Federal, que vem atuando de forma incisiva na questão: move
medida em que estes sobrevivem dos recursos naturais e da água hoje três ações civis públicas contra a Companhia Docas do Pará,
dos rios que atravessam a região. E grande parte destes impactos justamente por conta da denúncia feita pelos quatro intrépidos
não são mitigáveis, como a perda da qualidade da água que os antropólogos e a exemplo dos Xavante tampouco pretende deixar
índios bebem, ou a diminuição do estoque de peixes dos rios, que que a situação passe despercebida.
os índios comem.
Quatro medidas liminares foram conseguidas pelos Xavante e pelo
Apesar da reação desses antropólogos ter alcançado notável re- Ministério Público Federal, sustando por duas vezes a realização
percussão na mídia, essa fraude ainda continua velada aos olhos
das audiências públicas e o processo de licenciamento ambiental
do órgão ambiental, que afirma não ter “conhecimento formal” até que se sane a fraude perpetrada, o que vem gerando uma ver-
do ocorrido, muito embora esse ocorrido já tenha tomado pro-
dadeira guerra judicial nos tribunais, cujas batalhas vêm sendo até
porções de fato notório. agora vencidas pelos Xavante e pelo Ministério Público, que atuam
O Ibama simplesmente seguia “negociando” (termo usado pelos coordenadamente. Se tantas decisões judiciais vêm reconhecendo
próprios funcionários do órgão) com a Companhia Docas do Fará a fraude e suspendendo o licenciamento, é porque algo está de
- como se negociar o meio ambiente fosse possível - o andamento falo errado. Certo? Não necessariamente.
do processo de licenciamento. Assim, muito embora o Ibama já
O Ibama continua sistematicamente se omitindo frente a pedidos
tivesse recebido denúncias formais da fraude ao estudo antropo-
de explicações, tergiversando e arranjando desculpas para expli-
lógico, vinha dando andamento - a toque de caixa - ao processo
car o inexplicável.
de licenciamento, com o acompanhamento (ou seria supervisão?)
da Companhia Docas do Pará, A Companhia Docas do Pará, por sua vez, ao invés de se empenhar
em buscar soluções efetivas para os problemas contidos no estu-
Vista grossa a parte, o Ibama seguiu então agendando audiências
públicas para discutir o EIA/Rima junto aos interessados. Pergun-
do, encomenda - com recursos públicos - uma análise do EW
Rima a um grupo de consultores ligados à Faculdade de Saúde
ta-se: como discutir um estudo que não contém a análise dos im-
Pública da Universidade de São Paulo (USP), com o objetivo de
pactos ambientais e sociais nem medidas mitigadoras propostas e
corroborar frente à opinião pública a legitimidade do ELA/Rima
encontra-se sob suspeita de fraude?
fraudado. Clara situação de improbidade administrativa configu-
E as audiências públicas? Foram todas negociadas a portas fecha- rada pelo dispêndio de verbas públicas para tentar legitimar
das entre o Ibama e a Companhia Docas do Pará, lnobstante as uma ilegalidade.
dezenas de pedidos de audiências públicas formulados por orga-
nizações Indígenas e da sociedade civil, solenemente ignorados.
Mais um capítulo aberto na noveleta: muito embora membros des-
sa equipe de consultores tenham confirmado a fraude levantada
Todas as audiências foram estrategicamente marcadas em locais
pelos antropólogos, a Companhia Docas do Pará - insatisfeita com
onde a população claramente não tem condições de avaliar criti-
o produto final entregue pelo grupo - vem divulgando um relatório
camente o EIA/Rima e onde a opinião locai já se posicionara fran-
técnico que - de novo - não reflete as opiniões dos consultores
camente a favor da obra.
individualmente, concluindo que o EIA/Rima é um documento
“hábil” a subsidiar as discussões em tomo do empreendimento
XAVANTE CONTRA HIDROVIA
nas audiências públicas. Pior, usa do renome da USP para dar
Os Xavante conseguiram a muito custo arrancar o compromisso peso a um trabalho encomendado a um grupo de consultores
do Ibama de realizar uma audiência pública em suas terras. Não individuais.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 229
a-se de uma tentativa desesperada de buscar armas - com re- Todos os capítulos dessa tragicomédia vêm acenando para um fi-
cursos públicos, repita-se - para continuar na guerra judiciai, tan- nal incerto: se por um lado as ilegalidades e abusos são patentes a
to que o tal relatório vem sendo juntado em todas as ações e recur- ponto de gerarem tantos episódios como os narrados acima, não
sos como argumento de defesa, se deve subestimar o poder de ingerência política do governo na
esfera judicial, o que até agora não vem prevalecendo, felízmente.
Como o relatório vem sendo apresentado em nome da liSP e como
a Faculdade de Saúde Pública não é necessariamente o órgão mais
A preocupação que paira é a de que a lúdrovia Araguaia-Tocantins-
um estudo ambiental de uma obra dessa Rio das Mortes seja licenciada e implementada de forma atropela-
indicado para analisar
natureza, os Xavanle buscaram explicações junto ao Programa de da, sem qualquer controle social ou transparência administrativa
encomendado e não tem qualquer valor científico; ao contrário, os povos indígenas e as populações locais, enquanto os benefí-
ções Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), te de transporte vão parar nas mãos de empresas privadas ex-
utilizado como “parecer" num contexto de litígio judicial. Incan- perpetuará, mesmo que para tanto seja necessário sacrificar suas
sáveis, os índios buscam agora explicações junto à Reitoria da USP, próprias. (setembro 2000)
,
230 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIQAMBIENÍAL
A Amazônia e a Informação
Está aí de novo a Amazônia no olho do furacão. Por muitos moti- tou o processo de reforma agrária na Amazônia como um dos prin-
vos. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria sobre as pre- cipais vetores de desmatamento - mais de 250 mil km -, já que
2
ocupações ambientais da população brasileira mostrou que, para quase 90% das terras destinadas nos últimos 30 anos a esse fim
quase 50% dos habitantes da Amazônia e do Centro-Oeste, o prin- estão na Amazônia. Os órgãos envolvidos no processo, pelo lado
cipal problema está na devastação das florestas. dos que reivindicam terras, têm-se recusado a discutir o assunto e
exigem a retirada dessas conclusões do relatório. Do lado gover-
É uma preocupação que tem razões sólidas. Ainda há poucas se-
namental também prevalece o silêncio. A discussão sobre o pro-
manas, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) re-
grama de exploração de florestas nacionais - quaisquer sejam seus
afirmou a possibilidade de uma “superqueimada" este ano, num
méritos ou deméritos; a controvérsia é forte - parece empacada,
arco de florestas com mais de 200 mil km 2
-
do Pará a Rondônia,
depois de enfrentar obstáculos na justiça. Com todas essas ques-
incluindo partes do Tocantins e de Mato Grosso, Neste período do
tões sobre a mesa, continua-se a anunciar a abertura de novos
ano, com a seca agravada pelo El Nino, essa vasta extensão já esta-
“eixos de desenvolvimento” na região, paralelos aos “corredores
ria extremamente vulnerável por causa da extração seletiva de
ecológicos” planejados. Mesmo conhecendo o resultado devasta-
madeiras nobres, que abre clareiras e picadas na floresta, prejudi-
dor de iniciativas dessa natureza, como se tem visto no Centro-
ca parte da vegetação baixa (que seca) facilita maior penetração
Oeste e na própria Amazônia.
,
cópteros, os desmatamentos ilegais e queimadas nos 3,7 milhões A estratégia de relações públicas põe em destaque as possibilida-
de km 2
de florestas, inclusive no arco mencionado. Conseguirá? des de um sistema que contará com 87 estações meteorológicas,
Parece muito difícil. No ano passado, as operações desse tipo con- 19 radares fixos e seis móveis, 32 unidades de vigilância e teleco-
seguiram autuar por desmatamentos e queimadas irregulares em municações, três esquadrões de aviões Tucano, mais oito apare-
pouco mais de 40 mil ha, ou 420 km 2 - quando o desmatamento, lhos de sensoreamento, sensores térmicos, etc. E tudo isso ligado
segundo estimativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a satélites e outras tecnologias de ponta, capazes de permitir o
pouco mais de 3% da área atingida. o monitoramento do clima e dos recursos hídricos, a proteção
da biodiversidade e a fiscalização de queimadas e des-
POVOS INDÍGENAS N0 BRASI1199K2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PR0JETDS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 231
entre outras possibilidades. É muita coisa. Mas cia detecte a invasão de uma área indígena por uma madeireira.
abre interrogações. Informações complementares, das unidades terrestres, acrescen-
tam que se trata da madeireira tal, de propriedade de uma pessoa
A primeira é de natureza operacional. De posse de todas essas
da família de um parlamentar que ocupe importante posição no
informações, que poderão fazer os órgãos governamentais para
Congresso, na hora de votar projeto decisivo. Quem terá o poder
impedir, por exemplo, as queimadas e o desmatamento ilegais?
de liberar (e para quem) ou reter essa informação?
Em que estrutura de repressão se pensa? Ou, como já perguntou
alguém, ficaremos limitados a assistir a desnudamentos e queimadas São questões políticas e econômicas complexas. E preocupantes,
via satélite, já que o Brasil não dispõe de um só avião para combater diante da informação dos implantadores do Sivam de que ainda
incêndios e o número de fiscais em terra é quase insignificante? não foi definida a política de disponibilização de informações - os
O governo nega que a instalação do Sivam tenha sido apressada em atividades de tráfico de drogaS na Amazônia será feita com eficiên-
razão das denúncias de invasão do território brasileiro porgrupos terro- cia a partir do segundo semestre de 2001, quando o Sivam começar a
ristas. Segundo a Polícia Federal, membros do grupo maoísta Sendero operar. O gerente do setor de vigilâncias de grandes áreas da Funda-
ção Aplicações de Tecnologias Críticas (Atech), Valter Rodrigues, dis-
Luminoso, do Peru. estariam in filtrando-se entre sem-terras ligados
à Liga Operária Camponesa (LOC), em Machadinho DOeste IRO). se que, graças aos equipamentos de rastreamento de última geração,
será possível diferenciar as atividades legais das ilegais nos nove Es-
Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenherg, o acompanhamento do Sivam.
tados sob
governo já havia decidiá) investir na Amazônia há peto menos dez
anos, por meio de um programa de atendimento à população dafron- Uma das empresas que participam da instalação do Sivam, a Atech
teira. Com o Sivam, os recursos para essa área foram reajustados e desenvolveu nos Estado Unidos programa que analisa imagens de
são utilizados princi/>almente em pequenas obras de infra-estrutura satélites, fotos aéreas e transmissões de rádio, "suspeitando "das ati-
232 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE 0ESENV0LVIMENT0 REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
,
•í/j?. Acervo
-V/Tisa
de sua proteção. principais metasdo programa Calha Norte para regional e a manutenção da soberania nacional
A resistência a qualquer tipo de intervenção o próximo ano. Em Manaus, 16 prefeitos do e da integridade territorial. As fronteiras estão
estrangeira na Amazônia nasceu de uma preo- interior do Amazonas reuniram-se com o as-
delimitadas, mas, muitas vezes, não demarcadas.
cupação militar. Mais especificamente na Esco- sessor da gerência do programa, corone! Luiz Embora a cargo do Ministério da Defesa, o pro-
la Superior de Guerra (ESG), que, nos imos 60, Alberto Martins Bringel, ontem, na sede da As- grama é multissetorial. A maior presença mili-
começou a montar a chamada Doutrina da Se- sociação Amazonense de Municípios (AAM), tar uma explicação, segundo oficiais brasi-
tem
leiros: o fato é que em muitas localidades a única
gurança Nacional. onde foi apresentado o cronograma de ativida-
Nos anos 70, no auge do regime presença do Estado brasileiro é das Forças Ar-
militar, iniciou- des do projeto para os próximos quatro anos.
se um processo de colonização através do pro- (A Crítica, 16/12/99)
madas, com pelotões, em torno dos quais agru-
jetos de assentamento. Foi na época da abertu- pam-se comunidades. (trechos de art. de Pau-
ra da Transamazônica. Nessa década, o Exérci- BRASIL OCUPA lo Paiva, GM, 28/08 a 03/09/00)
to começou também a construir os Pelotões ESPAÇO NA AMAZÔNIA
Especiais de Fronteira, cujos quartéis se trans- NOVA CHANCE
O governo brasileiro decidiu incrementar o Pro-
formaram na única e eficiente presença do Es- grama Calha Norte, para garantir maior presen- A possibilidade do Plano Colômbia - a ação de
tado por anos.
ça do Estado na Amazônia. Um dos motivos que combate ao tráfico de drogas patrocinada pe-
Em 1985. o então presidente do Conselho de
levaram a essa decisão foi a gradual deteriora- los Estados Unidos - ter consequências no Brasil
Segurança Nacional, general Bayma Denys, ide-
ção da situação política da Colômbia, com pos- trouxe à tona um dos mais ambiciosos progra-
alizou e pôs em prática o Projeto Calha Norte, síveis reflexos ao longo de 1.600 km de frontei- mas de ocupação, defesa e desenvolvimento da
um programa que deveria envolver todos os
comum. Além disso, a presença de um sem
ra Amazônia: o Calha Norte. Criado em 1985, du-
setores do Governo, mas que, passados 12 anos,
número de entidades internacionais numa re- rante a gestão do presidente José Sarney, o pro-
ainda não conseguiu ultrapassar os quartéis. em minérios e biodiversidade também
gião rica jeto viu seus recursos minguarem a cada gover-
A idéia de que os países ricos pretendiam criar motivou as autoridades brasileiras, especial- no, chegando a míseros Rí 1,2 milhão em 1999-
uma zona de exclusão na Amazônia sc intensifi- mente do setor a no progra-
militar, reinvestir Em 1989, a verba equivalia a R$ 47 milhões.
cou nos anos 80, quando a região entrou na ma, criado em 1985 e praticamente estagnado Por causa da crise no país vizinho, militares já
pauta das prioridades dos ecologistas interna-
a partir do início da década de 90 .
sonham com uma dotação de R$ 70 milhões
cionais, por causa da questão indígena (demar-
E nesse cenário que o Ministério da Defesa está para 2001. No orçamento da União, R$ 5,7 mi-
cação das terras) e da preservação da floresta implementando o Programa Calha Norte (PCN) lhões estão destinados para o Calha Norte e o
tropical - vítima da ação de madeireiras e das um misto de promoção do desenvolvimento re- resto virá, acreditam os oficiais, por emendas
queimadas. (O Globo, 10/08/97) gional e manutenção da soberania nacional na de parlamentares. (JB, 17/09/00)
região.O PCN vai beneficiar os estados do Ama-
MINISTRO DEFENDE PROJETO
zonas, Roraima, Pará e Amapá, num total de 70 MAIS VERBAS
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Carlos municípios, e abrange quase seis mil km de
Lampreia, defendeu a ocupação da fronteira fronteira com Peru, Colômbia, Venezuela, O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, anun-
com a Colômbia e a retomada do projeto Calha Guiana, Suriname e Guiana Francesa. No ano ciou ontem que pediu aumento da dotação do
Norte. Lampreia disse que a crise colombiana passado, o programa contou com apenas US$ projeto Calha Norte para R$ 36 milhões. O Or-
não ameaça a soberania brasileira na Amazô- 676 mil. Neste ano, tem previstos no Orçamen- çamento deste ano destinou R$ 5 milhões ao
nia, mas observou que uma presença mais for- to quase US$ 14 milhões. Calha Norte, que se destina ã proteção da fron-
te do Estado respaldaria a ação diplomática. Os recursos destinam-se à construção de no- teira amazônica. Quintão disse também que os
"Nossa ação diplomática não será suficiente se vos quartéis para pelotões de fronteira e a con- militares poderão ter aumento de até 30 % a
o Estado não tiver na região uma presença ri- vênios que beneficiarão municípios mais caren- partir de novembro, de acordo com o texto da
gorosa”, afirmou. Ele lembrou que há dois anos tes da região com obras como postos de saúde, lei que vai reformular a estrutura salarial das
Sarney com o objetivo de integrar ao restante governo, atribui a retomada do Calha Norte ã trole sobre esses produtos e sobre o consumo
do País a área localizada entre a fronteira Nor- presença cada vez maior de ONGs internacio- de entorpecentes em seus territórios.
POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 233
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W_í7 * Acervo
-//Tisa
A revitalização do projeto Calha Norte, criado Hoje, o índio macuxi Desmano Afonso de Sou- tões Especiais de Fronteira e a estrada fazem
em 1986, é uma preocupação das Forças Ar- za, vice coordenador do Conselho Indígena de parte da estratégia de revitalização do Projeto
madas por causa dos efeitos do Plano Colôm- Roraima, disse que a presença de militares traz Calha Norte (defesa da soberania nacional na
bia, que será iniciado no próximo ano para re- “perigo" à reserva Raposa-Serra do Sol. “O gra- região amazônica)
primir o narcotráfico e grupos guerrilheiros ve perigo que o povo Yanomami enfrenta deve O objetivo do pelotão de Tunuí, na fronteira
colombianos acusados de ligações com os servir de exemplo para as autoridades compe- entre Brasil e Colômbia, é aumentar a seguran-
traficantes. (JB, 17/10/00) tentes com relação à construção do pelotão na ça contra investidas de guerrilheiros e
reserva. Atentamos ao perigo da presença de narcotraficantes na Amazônia brasileira. “O dê
ÍNDIOS SE OPÕEM À militares e outros no meio das comunidades Uiramutã, que ficará dentro da reserva Raposa-
NA AMAZÔNIA Em entrevista à Agência Folha, o índio Pedro fronteira com a Venezuela”, disse o general. Ele
Garcia, presidente da Federação das Organiza- disse que a estrada foi projetada para facilitar o
A construção de quartéis para dois novos Pelo- ções indígenas do Rio Negro (Eoirn), afirmou acesso ao pelotão de Maturacá, principalmente
tões Especiais de Fronteira (PEF) do Exército que as 17 famílias de índios Baniwa são contrá- na época da seca, quando o tráfego das embar-
brasileiro em terras indígenas está sendo con- rias também à presença de soldados nas comu- cações pelo rio é quase impossível.
testada pelos índios Macuxi, de Roraima, e nidades. “Sempre acontece um relacionamen- Em relação às denúncias de envolvimento de
Baniwa, do Amazonas. Os PEFs serão cons- to entre índias e soldados. Depois, elas ficam soldados com índias, o general Bandeira disse
truídos nos limites da reserva Raposa-Serra do mães solteiras, como aconíeceu em Iauaretê, que o Comando Militar da Amazônia registrou
Sol, em Uiramulã (RR) e na localidade de Tltnuí, onde tem crianças de Í2 e 14 anos, filhos de apenas um caso, em 1994. "O soldado foi pu-
em São Gabriel da Cachoeira (AM). soldados que não tiveram a responsabilida- nido com a demissão. Em todos esses pelotões,
Os índios argumentam em cartas enviadas ao de", afirmou. serão destacados militares casados, com famí-
Ministério da Justiça e à Funai que a instalação lideranças yanomami das comunidades de lia", afirmou.
dos pelotões traria às comunidades conflitos Maturacá, Nazaré, Inambu e Maia também re- Para o general, as lideranças indígenas têm
sociais com os próprios soldados, como aumen- jeitam a construção de uma estrada de 1 1 5 km outros interesses com as denúncias. “Essas li-
to da prostituição de índias e alcoolismo nas ligando São Gabriel da Cachoeira à aldeia deranças são manobradas por organizações
aldeias. Casos envolvendo índias Yanomami e Maturacá (AM), onde está instalado um pelo- governamentais e não-governamentais com in-
soldados já foram relatados ao Ministério Pú- tão de fronteira do Exército. Segundo o chefe teresses e ideais diferentes ou gente que quer
blico Federal pela Funai, a partir de depoimentos do Estado Maior do Comando Militar da Ama- conservar os índios na idade da pedra". (FSP,
do índio Davi Kopenawa Yanomami, de Roraima, zônia, general Clóvis Purper Bandeira, os Pelo- 26/10/00)
234 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Acervo
//\C ISA
No Xingu, a Energia
do Subdesenvolvimento
Se tudo transcorrer conforme seus planos, a Eletronorte espera instaladas na estrutura da própria barragem. No caso do Xingu,
concluir o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, no dois rios serão usados para o local do represamento ao de gera-
final de junho próximo. Será a maior usina brasileira (e uma das ção. Mas, para desempenhar essa função, terão de ser alargados e
maiores do mundo), com capacidade de geração três vezes supe- receber concreto numa extensão de 13 km. Nada absolutamente
rior à amai de Ihcuruí (e 50% maior se considerada a duplicação inédito em matéria de engenharia, mas trabalho complicado, ain-
da hidrelétrica do rio Tocantins, apenas iniciada) e quase do ta- da mais na Amazônia, em função da enorme movimentação de
manho da Itaipu, que o Brasil divide em partes iguais com o Paraguai. terra que acarretará.
Quando entregar à Aneel (a agência oficial reguladora do setor
Esse é um ponto a se considerar. Há outros, que já constituem
elétrico) os estudos definitivos de Belo Monte, a Eletronorte espe-
acervo histórico depois de Tucuruí. Samuel, Balbina, Coaracy Nunes
ra ter formado um ambiente favorável à execução da obra. Seu
e Curuá-llna, mas que exigem abordagens novas, distintas de vári-
orçamento foi reduzido do estratosférico valor inicial, de 1 1 bi-
as das soluções adotadas. Os rios da Amazônia são volumosos,
lhões de dólares, para fascinantes US$3 bilhões, sem que a capaci-
mas têm unia declividade pouco acentuada, de problemática va-
dade de geração - 11 mil megawatts, ou 1 1 milhões de quilowatts
zão diante do seu porte. A partir de suas margens costuma desen-
- tenha sofrido qualquer diminuição. É o menor custo de kw insta- volver-se uma densa e rica cobertura vegetal. A formação do solo e
lado rie hidroeletricidade que se pode alcançar num empreendi-
do subsolo de suas áreas é complexa, escondendo mistérios e ofe-
mento de grande porte. Algo que só tem semelhança com a usina
recendo surpresas. O equilíbrio é dinâmico, mas delicado. Os des-
do Xingó, no Nordeste.
dobramentos de qualquer alteração podem desafiara imaginação.
Para aumentar o glamour. o lago artificial que se transformará
No caso de Belo Monte, os engenheiros descobriram que a sinuo-
com o represamento das águas do Xingu terá metade do tamanho
sa curva do Xingu àaltura de Altamira cria um desnível de 90 metros
inicialmente previsto. Além do mais, os 600 km 2 do reservatório
entre o ponto de barramento do rio e o lugar ideal para a constru-
corresponderão às cheias normais do rio. É uma área quase que
ção da casa de máquinas, desnível quase 20 metros superior ao de
cinco vezes menor do que a do lago da hidrelétrica de Tlicuruí.
Tucuruí, dispensando a elevação da barragem a um nível tal que
Nenhuma das aldeia próximas será atingida e a mata afetada já
levaria a uma inundação em grande escala (como a prevista no
sofre semestralmente a ação das águas nos períodos de enchente.
primeiro projeto para a área, que concluía a desastrosa barragem
O único remanejamento significativo atingirá um bairro de Altamira, de Babaquara). É um passo adiante na cultura dos barrageiros.
mas esse deslocamento já estava previsto porque o local é periodi- Sua incorporação à cultura geral da região do País, entretanto,
camente inundado. Como Altamira está bem próxima, não será requer um competente questionamento do projeto. Efa precisa
necessário construir uma nova cidade ao lado do canteiro de obras: resistir a testes de consciência.
quem trabalhar na usina irá morar na sede do município, reduzin-
Esse é o aspecto fundamental das lições que a história da
do a necessidade de investimentos na infra-estrutura e favorecen-
hidreletricidade na Amazônia nos oferece: é preciso acompanhar
do Altamira, se medidas prejraratórias forem adotadas a tempo e
paripassu os idealizadores e executores da obra para evitar que,
na escala necessária.
ao ser apresentado o projeto básico, como a Eletronorte pretende
Maravilha da engenharia? Talvez. A inovação introduzida na Ama- fazer dentro de menos de um ano, ele seja uma autêntica caixa
zônia pelo projeto Belo Monte está na distância de 50 km, entre a preta para a sociedade - e, por outro lado uma arma, para os que
barragem e a casa de máquinas. Em Tucuruí, as máquinas foram dominam os códigos de decifração.
POVOS INDÍGENAS NCI BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 235
a
A mais
resiste
autoritária das
em instalar
empresas federias da região (na qual,
sua sede, passados 27 anos da sua criação), a
aliás, radicalismos decorrentes, na maioria das vezes, pura e simples-
mente da desinformação - ou, quando não, da má informação. Se
Eletronorte se recusa a antecipar, ampliar ou sequer instalar de- à primeira vista parece que a Belo Monte será uma obra bem me-
bates a respeito. Prefere só anunciar a obra quando seu desenho nos agressiva à população e ao meio ambiente do que Dtcuruí ou
estiver concluído, como sempre tem feito. Mas a sociedade ama- qualquer outra usina similar, não se deve deixar de considerar a
zônica, que tem sido tão prejudicada quanto beneficiada pela ação possibilidade de que, do ponto de vista econômico, ela represente
da empresa, numa escala incompatível com o grau de democrati- uma sangria muito maior para o Pará. Com linhas de transmissão
zação e inserção regional de outras empresas (inclusive as corpo- na maior tensão existente no País, enormes blocos de energia bru-
rações privadas), não pode mais tolerar a arrogância e a autosufi- ta serão transportados por mais de dois mil km para o grande
ciência da Eletronorte. É preciso forçá-la a baixar entre os jurisdi- centro consumidor brasileiro, deixando como saldo um Pará defi-
cionados que a empresa talvez prefira tratar como súditos. nitivamente "vocacionado”- e, por isso, espoliado - como provín-
Uma relação mais amadurecida e civilizada mostraria que essa é cia energética nacional. Energia não para desenvolver, mas para
até mesmo a maneira de evitar mal-entendidos, partidarismos e subdesenvolver, de vez.
Sampaio admite que a Eletrobrás e a Eletronorte tiraram muitas li- ambientalistas, não será comprometido.
ções do projeto de Tucuruí. Afinal, com seu enorme lago de 2,8 mH Os estudos de viabilidade econômicaficarão concluídos em dois anos,
kntí para uma potência instalada de 8,3 milMW (quando terminar
enquanto a Eletrobrás espera resolver as questões ambientais e lici-
o seu processo de duplicação), Tucuruí obrigou o remanejamento de tar a concessão até ofinal de 2003. 0 projeto básico ficará concluído
aproximadamente 20 mil pessoas, inundando inclusive a reserva no ano seguinte. Sampaio afirmou que os estudos preliminares indi-
indígena Parakanà.
cam que, sob todas as condições hidrotógicas, é possível transferira
Há uma década Belo Monte estava incluído na relação dos projetos energia para o sistema interligado, beneficiando o Sul-Sudeste. (Ga-
"malditos ", pois na proposta original o lago deveria ter 1,2 mil km2 , zeta Mercantil, 1 5/02/00)
236 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
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^4/?^ Acervo
— //V ISA
A C 0
HIDROVIA ARAGUA1A- ambiental, a Rede Cerrado, o Simpósio mais calorias do que consome; o problema é
Ambientalista Brasileiro no Cerrado, o WWF, a de renda e distribuição muito menos quando
TOCANTINS Rede Internacional de Rios e a Coalizão Rios as commodities têm seu mais baixo preço em
Vivos. E a análise independente do painel de es- 150 anos (Pnud, 1998).
ANATOMIA DE UMA INUTILIDADE pecialistas é um massacre. O avanço da fronteira agrícola implicaria ainda
Cotejados com os custos de transporte em ou- estímulo ao êxodo rural e ao inchaço das peri-
Coufirma-se o previsível: o estudo de impacto
tros empreendimentos, como a Ferronorte e a ferias urbanas, agravamento dos conflitos por
ambiental da Hidrovia Araguaia-Tocantins, hem
Ferrovia Norte-Sul (que está sendo retomada) teri as indígenas, aumento da erosão (de qua-
como o respectivo relatório, são inconsistentes
os custos da hidrovia são claramente tro a dez quilos de solo erodidos por quilo de
e não justificam a implantação desse projeto, A
antieconômicos. Tanto na direção sul, via grão produzido) e uso ainda mais intensivo de
análise independente desses documentos - fei-
Ferronorte (incluídos os custos no Porto de agroquímicos: seriam mais 3,6 milhões de li-
ta por uma coligação de instituições e que será
Santos), como rumo norle, mais altos que os tros por ano, a cada milhão de hectares incor-
divulgada nos próximos dias - comprova que o
da Norte-Sul. Isso apesar de os custos da porados ao processo de produção.
empreendimento seria desastroso do ponto de
hidrovia haverem sido claramente subestima- Todo esse estrago geraria apenas um posto de
vista ambiental, antieconômico, desnecessário,
dos, já que não incluem custos de operação trabalho para cada 94 ha cultivados, num toúd
prejudicial à sociedade, devastador para os gru-
(portos, rodovias) nem custo das medidas de quatro mil permanentes (60% dos postos se-
pos indígenas que vivem no trajeto e
mitigatórias dos impactos ambientais e sociais riam temporários) ,
com remuneração média de
desperdiçador de recursos públicos, entre mui-
do empreendimento. Nesse caso, como calcu- pouco mais de R$ i 50 mensais (a utilização de
tas outras coisas. Se os recursos previstos para
lar o custo/beneficio verdadeiro? agroquímicos exigiria 16 vezes mais que a re-
sua implantação - subestimados, porque não in-
Os impactos ambientais apontados pelos espe- muneração da mão-de-obra). Os mesmos in-
cluem portos nem rodovias alimentadoras - fos-
cialistas independentes são devastadores, desas- vestimentos previstos para a implantação da
sem dirigidos para ecoturismo, por exemplo,
trosos mesmo. A explosão de rochas e a movi- hidrovia, R? 220 milhões, se aplicados em infra-
gerariam muito mais empregos que os resul-
mentação de sedimentos pela dragagem nos estruturas de turismo, gerariam cinco mil em-
tantes da expansão da fronteira agrícola - des-
Rios das Mortes e Araguaia (com o propósito pregos diretos e 1 5 mil indiretos.
necessária. Pior que tudo, as obras previstas
de abrir um canal permanente de navegação na Seria possível ir muito além com a enumeração
nem sequer seriam capazes de consolidar um de outros prejuízos inadmissíveis. Mas não é
estiagem) inundariam áreas secas, vitais para o
canal de navegação permanente, que seria o seu
ecossistema, e secariam áreas de inundação, preciso, diante da grande pergunta: para que
suposto objetivo.
fundamentais para os processos de reprodução implantar um empreendimento antieconômico,
Muitos lances dessa história já foram comenta-
anti-social, antiambiental, ineficaz e desper-
da vida. A transformação da paisagem seria ra-
dos neste espaço, O primeiro estudo de impac-
diçador de recursos?
to da hidrovia, encomendado pela Administra-
dical, até mesmo com o desaparecimento de
parte das praias que já recebem centenas de A palavra agora está com o Ibama, a quem cabe
ção da Hidrovia Tocantins Araguaia - Ahitar (su-
milhares de visitantes por ano - o que levaria a
licenciar - ou não a hidrovia. (Washington
bordinada ao Ministério dos Transportes) à
graves perturbações sociais. Mas, ao final, es-
Novaes, OKSP em 17/03/00)
fundação de Amparo e Desenvolvimento da
sas obras estariam muito longe de atingir o ob-
Pesquisa da Universidade Federal do Pará
(UFPÁ), era tão inconsistente que foi recusado
jetivo de engenharia proposto. E, mesmo que GASODUTO
abrissem o canal de navegação para garantir a
liminarmente pelo Ibama e por órgãos BOLÍVIA-BRASIL
navegação na estiagem, não há cargas nessa
licenciadores dos Estados, depois de ser demo-
época do ano.
lido numa audiência pública na Comissão de
Meio Ambiente cia Câmara dos Deputados, em Não é só. As populações de peixes (vitais para GASODUTO COMEÇA
1996. o ecoturismo e para as populações ribeirinhas) A OPERAR EM 98
Encomendado novo estudo e entregue ao Insti- perderiam seus berçários nas lagoas de inun- Depois de décadas de negociação, Brasil e Bo-
tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur- dação. Toda a flora seria alterada, assim como lívia assinaram, em julho último, o termo para
sos Renováveis (Ibama) no ano passado, ele so- as planícies de inundação. Ao norte, o proces- a construção do maior gasoduto da América
freu várias contestações: de vários dos antro- so de movimentação de sedimentos levaria ao Latina, com 3 -
1 50 km. O gás natural da Bolívia
pólogos que dele participaram e denunciaram assoreamento e à possibilidade de inundações atravessará seis Estados e 120 municípios bra-
ao Ministério Público que o Estudo de Impacto ribeirinhas e perdas de lavouras. Até a Hidrelé -
ção pública promovida pela coligação que re (com técnicas melhores) . Mas essa multipli- Estas informações gerais foram apresentadas
reúne a Fundação Cebrac, o instituto Socio- cação não teria mercado - o mundo já produz num seminário de consulta promovido em Cam-
P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 237
)
Acervo
—//T sA
I
r
ACONTECEU
po Grande, pela Petrobrás, responsável pelo em- PETROBRÁS DIZ QUE foram descobertas as aldeias Morro dos Cava-
preendimento do lado brasileiro, e com apoio OBRAS BENEFICIAM los e Massiambu, ambas Guarani, no municí-
do Banco Mundial, que financia a obra junto ALDEIAS INDÍGENAS pio de Palhoça, a 25 km do Gasbol.
com o BID. Mais do que promover a consulta à As 22 aldeias representam uma população total
Afirmando que as obras do Gasoduto Bolívia-
sociedade civil, como indicado no convite, ín- de 18.500 habitantes e a demanda por uma aju-
Brasil (Gasbol) não vão interferir diretamente
dios Terena e representantes de ONGs foram da da Petrobrás difere, dc acordo com a região.
no habitat dos índios, a Petrobrás anuncia que
que a Petrobrás tinha a dizer.
instados a ouvir o As 18 aldeias dc Mato Grosso do Sul, por exem-
vai beneficiar 22 aldeias indígenas nos estados
A mensagem era simples: a obra não é um bi- plo. serão contempladas com benefícios da or-
de Mato Grosso do Sul (MT), Santa Catarina
cho de sete cabeças mas apenas uma imensa dem de R$ 900 mil; a de Icatu, com R$ 80 mil;
(SC) e São Paulo (SP) . Até o final do ano, a
cobra grande, fabricada e controlada pela e as de Santa Catarina, com R$ 120 mil. Os ín-
Companhia diz que vai investir US$ 1,1 milhão
tecnologia de ponta que a empresa domina e dios de Santo Catarina terão, provavelmente, as
cm benfeitorias para essas aldeias, seguindo a
adota. À platéia foi dominada por uma apresen- primeiras terras guarani a serem regularizadas
filosofia de promover o desenvolvimento cm
tação de números, tabelas, cifras e organo- pela Funai, com apoio do Gasbol, no litoral da-
sintonia com as comunidades. Um comitê de
gramas que provavam que, do ponto de vista de quele estado.
gestão acompanhará e fiscabzará todas as ações
impacto ambiental, nenhum efeito nefasto viria
envolvendo a aplicação dos recursos, com a Com moradias precárias de madeira, os índios
a ser enfrentado. 0 aspecto social da obra virá da aldeia Icatu, em São Paulo, optaram pela
participação de representantes da Funai, das
por planos de mitigação formulados a
aldeias e da Petrobrás. construção de dez casas de alvenaria, uma for-
contemplar as prefeituras dos municípios afe-
Os benefícios variam de acordo com as neces- ma de amenizar outro problema: a prolifera-
tados, a partir de planos de indenização c dc
sidades de cada aldeia. Algumas priorizam a ção de agentes transmissores de enfermidades,
“compensação ecológica e desenvolvimento
posse da terra; outras preferem a construção como a “doença de Chagas”. Em Mato Grosso
ambiental”. O que se esperava ouvir era como
de casas de alvenaria, a reforma de escolas e do Sul, as lideranças de 18 aldeias preferiram a
havia sido formulado o conteúdo disto tudo.
de postos de saúde, por exemplo. Os índios tam- construção, ampliação e reforma de escolas e
Mas, para a Petrobrás, não parecia ser este o
bém terão o apoio no desenvolvimento econô- de postos de saúde, construção de sistemas de
problema mais sério, já que tudo havia sido
mico - a sustentabibdade do Plano de Desen- abastecimento de água - envolvendo poços
pragmaticamente planejado.
volvimento dos Povos Indígenas - participando artesianos, bombas e caixas dágua e distribui-
Nesse processo, fomos convencidos que só a
de cursos técnicos. Outras solicitações aceitas ção -, entre outras coisas. Na lista de solicita-
construção do gasoduto é que pode causar mais
pela Petrobrás foram o fornecimento de semen- ções, consta ainda o apoio no desenvolvimento
transtornos: caos dos canteiros de obra, desnta-
tes variadas, a construção de sanitários e a aqui- econômico, com a realização de cursos técni-
tamento inevitável mas rapidamente recuperá-
sição de vacas leiteiras e de um reprodutor. cos, o fornecimento de sementes, a aquisição
vel e constante interlocução com as comunida- de ônibus escolar e a implementação de
A identificação dessas comunidades ao longo diver-
des afetadas diretamente (as populações resi-
do traçado do gasoduto marcou o início de uma sos sanitários.
dentes na “faixa de risco") e as afetadas indire-
série de entendimentos. A partir de pesquisas Também em Mato Grosso do Sul, as lideranças
tamente (populações Indígenas Terena de PUade
realizadas pela Petrobrás, constatou-se a pre- indígenas concluíram que as três aldeias mais
Rebuá e Aldeinha, em MS e Guarani Mbyá, SC,
sença de três aldeias da etnia Terena em Mato próximas às obras do Gasbol são as mais ne-
que ficam distantes em mais de cinco km da
Grosso do Sul, a cinco km das obras. Na cidade cessitadas, pois sofreram forte influência da
tubulação) . Risco de explosão? Não. Risco de
de Anastácio, foi localizada uma aldeia conhe- urbanização das cidades vizinhas. Para cada
emissão de gás? Pouquíssimo provável. Polui-
cida como Aldeinha. E, na cidade de Miranda, uma delas, portanto, serão destinados R$ 100
ção? Jamais, pois queima de gás natural não gera
outras duas: Moreira e Passarinho. Com a con- mil. As outras 15 contarão com recursos de R$
resíduos...
tinuidade dos trabalhos houve a aproximação 40 mil cada uma. Na mesma região, nas proxi-
Basta saber como será, então, a tal da inter-
com a aldeia Biguaçu, formada por Guarani, no midades das margens do Rio Miranda, a aldeia
locução da Comunicação Social da Petrobrás,
litoral de Santa Catarina, na cidade de mesmo contemplada com a aquisição de
Lalinta será
responsável pelo diálogo permanente entre o
nome, a oito km das obras do Gasbol. uma câmara frigorifica com capacidade para ar-
empreendedor e a sociedade, e como será o
As três afdeias Terena de Mato Grosso do Sul mazenar 20 toneladas de pescado. A câmara
caráter compensatório das medidas miti-
abriram mão dos frutos que poderiam colher funcionará como fonte de renda e está incluída
gadoras. Os índios, por exemplo, só foram saber
isoladamente e anunciaram a disposição dc di- no Plano de Desenvolvimento dos Povos Indíge-
da existência do gasoduto depois que recebe-
vidir com outras 15 aldeias - localizadas a SO nas. (Serviço de Comunicação Institucio-nal/
ram o convite para viajar a Campo Grande, para
km das obras do Gasbol - as benfeitorias con- Assessoria de Imprensa Petrobrás, 05/03/98
esse seminário. Eles manifestaram preocupa-
cedidas pela Companhia. Segundo os técnicos
ção pelo envolvimento das prefeituras, e não
da Funai, no processo de captação dos recur-
da Petrobrás, a harmonia entre os índios foi um COMPENSAÇÃO DOS
fator importante, pois contribuiu para agilizar ATINGIDOS PELA
sos para eles destinados.
o programa voltado para as comunidades que OBRA ESTÁ ATRASADA
Problemas técnicos já existiram e foram apon-
a Companhia desenvolve ao longo do gasoduto.
tados por ONGs ambientalistas do Rio Grande
do Sul. Foram incorporados como falhas ine-
Uma outra aldeia, a de Icatu. também foi locali- O plano de compensação às comunidades indí-
zada no município dc Brauna, oeste do estado genas que serão afetadas pelas obras do
rentes a um projeto de tal porte, mas facilmen-
de São Paulo, próximo a Mato Grosso do Sul, a gasoduto está scriamente atrasado na Bolívia A
te contornáveis. Se outros existem, precisar-se-
ia continuar agindo com a impertinência que
1 5 km do Gasbol. Ao visitar a aldeia, especialis- avaliação é do auditor ambiental Raúl I.ópez,
tas em etnia verificaram que Icatu é uma aldeia responsável por enviar relatórios aos bancos
caracteriza as ONGs. (Marina Kahn, Parabóli-
composta por Terena e a etnia Kalngang. Já no estrangeiros financiadores da obra orçada em
cas/ISA n°32, set/97)
litoral de Santa Catarina, além da aldeia Biguaçu, R$2 bilhões. O alraso é consequência de um
238 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Acervo
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impasse enlre a Petrobrás e o GTB, consórcio dc três senadores e pelo menos oito deputados. No Alto Rio Negro, por exemplo, a distância, o
empresas executoras da obra na Bolívia, que têm “Um território elege apenas quatro deputados difícil acesso e o tamanho dos municípios seri-
propostas diferentes para compensar os índios. federais", informou. am as principais dificuldades a serem supera-
López recomenda um árbitro para mediar a Para ele, a vantagem de criar territórios fede- das. A região, porém, é uma das mais belas do
questão, A primeira etapa do gasoduto, no tre- rais nas regiões mais afastadas da capital do estado, aos pés do Pico da Neblina, na divisa
cho entre Mato Grosso do Sul e São Paulo, ter- Amazonas está em aproximar o poder público com a Venezuela.
mina em dezembro desse ano. A obra toda in- dos habitantes. Citou como exemplo a dificul- Tráfico - O futuro governador do Alto Solimões
clui 3-150 km de dutos entre Santa Cruz na dades de acesso a serviços essenciais de saúde, teria de se armar de coragem e disposição para
Bolívia e Rio Grande do Sul que vão transportar educação e do Judiciário existentes nos muni- enfrentar o tráfico de drogas. As cidades de
o gás boliviano. O Banco Mundial, o Banco cípios de Juruá e Alto Solimões, “distantes duas Tabatinga, Benjamin Constante e Atalaia do Nor-
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a horas de vóo de Manaus e vários dias de bar- te, muito próximas à fronteira com a Colômbia,
Corporação Andina de Fomento são co”. Outro ponto é o de proteger as áreas de formam o trajeto preferido pelos narcotrafican-
financiadores da obra que receberam o relató- fronteiras que passariam a constar dos territó- tes. Em Tabatinga, por exemplo, o nível de vida
rio de López, referente às observações feitas em rios cm sua maior parte. exibido pela população não condiz com a rea-
o
todo o trecho do gasoduto entre I de março e O senador previu que essa ‘
situação de aban- lidade de um município pesqueiro e de modes-
31 de maio. Através das informações enviadas dono” deve estimular boa parte da população ta atividade econômica. Sinal de que os cartéis
por López, os bancos acompanham se a do estado a se manifestar favoravelmente à cri- da cocaína atuam de forma intensa na área.
Pctrobrás está executando planos de compen- ação dos territórios. Se isso ocorrer, os gover- O território do Juruá seria o menos problemá-
sação ao meio ambiente e às comunidades afe- nadores nomeados pelo presidente da Repúbli- tico dos três. Fazendo divisa com o Acre, não
tadas peio projeto. (Tribuna da Imprensa -
RJ, ca teriam os nomes submetidos ao Senado. teria conflitos de fronteira e, quem assumisse
13/07/98) (OESP, 31/10/00) seu governo, poderia se transformar em herói
se conseguisse apoio do governo federal para
TERRITÓRIOS FEDERAIS IDÉIA DE DESMEMBRAR concluir a BR-3 1 9, antiga reclamação dos ama-
cem mil pessoas vivem nesses municípios, de O deputado Artur Virgílio (PSDB), líder do go- rios só passarão a existirem 2003. Segundo ele,
acordo com o senador. verno no Congresso, é um dos mais entusias- até lá o governo federal terá as contas equili-
O plebiscito ocorrerá até seis meses após a pro- mados defensores do desmembramento. Segun- bradas e a divisão não representará um “peso”
mulgação da matéria, jefferson Péres previu que do ele, o estado do Amazonas é grande demais, para a União.
isso deverá ocorrer no segundo semestre de
o que o torna ingovernável. “Há quanto tempo De acordo com Péres, numa previsão otimista,
2001, caso os deputados votem o projeto, sem o governador não vai a determinadas cidades o projeto será aprovado em 2001 e o plebiscito
alterá-lo, até junho. Os termos do substitutivo do interior, como Juruá, Pauni ou Amalurá?”, realizado no segundo semestre. O senador lem-
alteram o projeto inicial apresentado pelo se- pergunta. “A criação dos territórios vai descen- bra ainda que, posteriormente, o Senado e a
nador Mozarildo Cavalcanti (PFL). O senador tralizar a administração dessas regiões." Câmara teriam de aprovar um projeto dc lei
por Roraima queria desmembrar 26 municípi- Para Virgílio, as preocupações econômicas são complementar para a instituição dos novos ter-
os para criar o estado de Solimões. Péres ale- infundadas. Ele cita o caso de Goiás, que pros- ritórios, o que na cena não ocorreria ames do
gou que não faria sentido criar um estado que, perou depois do desmembramento que criou o fim de 2002.
dificilmente, teria autonomia financeira, embora Tocantins, garante o parlamentar. “E Tocantins O senador não fez uma estimativa de quanto
tivesse de custear, entre outros gastos, uma As- tem uma perspectiva econômica das mais viá- seria o gasto para a constituição dos territóri-
sembléia Legislativa. Outra mudança, de acor- veis”, diz ele. os. Mas avalia que haverá um “ônus” para a
docom o senador, é que um estado implicaria Quem assumisse a administração dos novos ter- União, porque cada território é administrado
numa nova representação no Congresso, com ritórios teria de enfrentar problemas distintos. por um governador, secretários e há a necessi-
P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 239
-
propõem a criação do Território Federal do Rio a Constituição,em seu Artigo 18, parágrafo 3 °,
5 - 0 governo do Território Federal é nomeado pelo
Negro, bem como as dúvidas sobre o tema surgidas chama de " aprovação da população diretamente Presidente da República (artigo 84, inciso XIV, da
entre as organizações indígenas que integram a interessada". CF) e aprovado previamente, por voto secreto, após
Foirn, o Instituto Socioambiental elaborou esta Para saber se a população moradora da região arguição pública, pelo Senado Federal ( artigo 52,
Informação Técnica, relacionando as exigências aprova ou não a criação do Território Federal, o inciso III, item c, da CF).
feitas pela Constituição de 1988 quanto à cria- governo realiza um plebiscito, que nada mais é 6 Cada
- Território Federal disporá de 4 cadeiras
ção de territórios. do que uma consulta ao povo sobre um determi- na Câmara dos Deputados ( artigo 45, parágrafo
1 - Os Territórios Federais integram a União e de- rutdo assunto. Tal consulta éfeita mais ou menos 2 da CF) e não disporá de representação no Se-
vem ser criados por lei complementar (artigo 18, nos mesmos moldes de uma eleição, sendo que a nado.
parágrafos 2 o e 3 o da Constituição Federal). São
,
população vai às urnas para dizer se concorda ou 7 - Atualmente não há nenhum Território Federal
unidades federativas, como os Estados e o Distri- não com a criação do Território Federai criado. A Constituição de 1988 emancipou os an-
to Federal, mas não têm autonomia política. Note-se que quando a Constituição estabelece que tigos Territórios Federais de Roraima e doAmapá,
Isto quer dizer que. só se cria um Território Fede- a *população diretamente interessada" partici- transformando-os em Estados. 0 Território Fede-
ral após a aprovação da Lei Complementar espe- pará do plebiscito, refere-se às pessoas morado- ral de Fernando de Noronha foi anexado ao Esta-
cífica pelo Congresso Nacional, isto é, pela Câ- ras da região que estejam registradas na Justiça do de Pernambuco.
mara dos Deputados e pelo Senado Federal. Eleitoral como eleitores. Assim, por exemplo, os 8 - Existem no Congresso Nacional, tramitando
0 poder de legislar do Congresso Nacional com- menores de dezesseis anos não podem participar na Câmara dos Deputados, diversos projetos de
preende a possibilidade de elaboração de diferen- do plebiscito, porque não podem ainda votar. lei propondo a criação do Território Federal do
tes tipos de íeis. Existem Emendas à Constitui- 3 - Os Territórios Federais poderão ser divididos Rio Negro: Projeto de Lei do Deputado Federal Euler
o
ção, as Leis Complementares as Leis Ordinárias
,
em municípios (artigo 33, parágrafo I da CF), Ribeiro, do Deputado João Hermann Neto, Depu-
etc. Cada tipo de lei serie a uma situação deter- cujos prefeitos serão eleitos como nos demais tado Eduardo Jorge e do Deputado Aírton Casca-
minada e definida antecipadamente pela Consti- municípios. É a Lei Complementar quem dirá so- vel. Em tramitação no Senado, por sua vez, en-
tuição. Essas leis também se diferenciam pelo bre a criação de novos ou manutenção dos anti- contra-se o projeto de lei do Senador Mozarildo
número de votos de Deputados e Senadores ne- gos municípios. Assim, dependerá do que estiver Cavalcanti, que propõe a criação do estado do
cessários para a sua aprovação. Ou seja, quanto estabelecido na Lei Complementar específica para Solimões, estado este que abrangeria os municí-
mais complicado for o assunto a ser tratado pela a possível criação do Território Federal do Rio pios do Rio Negro. Este projeto jáfoi aprovado no
lei, maior será o número de votos necessários. Negro, saber se ficarão mantidos os municípios âmbito de uma das comissões do Senado na for-
No caso dos Territórios Federais, em face da sua atualmente existentes ou se serão criados outros, ma do substitutivo do SenadorJeferson Peres, do
importância e das implicações políticas, econô- transformando, por exemplo, um distrito de San- Amazonas, devendo agora ira plenário.
micas e sociais envolvidas, a Constituição exige ta Izabel do Rio Negro (se existe) em um novo Não se pode precisar quanto tempo projetos como
que a sua criação se faça mediante a votação de município. esses levam para ser aprovados. Em geral, demo-
uma Lei Complementar, que, por sua vez, pressu- 4 - Se o Território Federal tiver mais de 100 mil ram bastante só para ser votados. É certo, porém,
põe a aprovação pela metade mais um do núme- habitantes, ele disporá de órgãos judiciários de que se houver vontade do governofederal em a/?oi
a a
ro total dos Deputados e Senadores que compõem I e 2 instâncias, membros do Ministério Públi- ar a criação do Território Federal do Rio Negro, e
o Congresso Nacional (Artigo 69 da Constituição co FederaI e defensores públicos federais, e a lei se não houver maiores oposições, este tempo de
Federal). disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial votação e aprovação poderá ser bem menor. (Ana
2 Para que se crie o
- Território Federal é preciso (que corresponde à Assembléia Legislativa dos Valéria Araújo, nov/00)
que, além da votação da Lei Complementar, todos Estados e à Câmara Legislativa do Distrito Fede-
dade de funcionários para sustentar a máqui- gundo ele, um novo estado gerariaum custo Segundo ele, um bom argumento para a cria-
na. Cada território deverá ser representado por ainda maior para a União. “A criação de um ção dos territórios em regiões afastadas da ca-
quatro parlamentares e as novas regiões terão estado implica na criação obrigatória de um pital do .Amazonas é a possibilidade de haver a
uma segunda instância judicial, se a população Tribunal de Justiça, de uma Assembléia aproximação do poder publico com os mora-
ultrapassar os cem mil habitantes. Legislativa e de um Tribunal de Contas, impon- dores daquelas 22 cidades. (OESP, 02/11/00)
Péres modificou o projeto de decreto legislativo do pesado ônus ao novo ente federativo", diz o
original, que previa a criação de um novo Ksta- texto da proposta.
do, abrangendo 22 cidades do Amazonas. Se-
240 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
^4/7^ Acervo
ISA
1. NOROESTE AMAZÔNICO
VENEZUELA
COLOMBIA
íiVÂiÍÔmAmI/
Fiooa PARI „
CACHOflRÃI
BITTENCotHtT-,
“j a 1’írfcÁ.
)PARAM Di ICO P.MUCÁA
AMAZONAS..?'
ã
E AMAZONICO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n
?
, fonte, data } lha)
766 AKo flio Negro Arapaso 14.599* ISA: 96 Homologada. 7.999.381 São Gabriel da Calha Norte. Faixa de fronteira.
Baniwa Decreto s/n de 14/04/38 homologa a demar- Cachoeira AM Requerimento e alvará de pesquisa
Bará Tukano cação. Fazem parte da TI todas as ilhas Japurá AM mineral. UHE planejada no rio
Baré localizadas no rio Negro entre a foz do rio Fapuri, na cachoeira de Aracapa a
Desaro Uaupés e a foz do rio Xi$. Revoga os decretos 10 km em linha reta de Yauareté
Ka rapar 99.094 a 99.104 de 9/3/90 que homologavam as Onze Flonas iincidem totalmente
Kubeo demarcações das Ais Maku, Yauareté I, na TI. Flona: Cubate, Cuiari, Içana,
Kuripako Yaureté II, Xié, Içana-Aiari, Cuiari, Médio Içana, Içana Aiari, Pari Cachoeira I e Pari
Maku Hupda içana Rio Negro, Cubate, Taracué e Kuripaco, Cachoeira II, Pirauiara.Tarauacá I
Maku Nadeb e os decretos 98.437 a 98.439 de 23/11/89 que e Tarauacá II, Uruçu c Xié-
Maku Yuhupde homologaram as Ais Pari-Cachoeira I. Pari-
Makuna Cachoeira II e Pari- Cachoeira II'. (DQU, 15/04/98)
Miriti Tapuia
Piratapuia
Síria no
Ta ria no
Tukano
Tuyufca
Wanano
Warekerta
369 Balaio Tukano 220 Sampaio: 91 Em Identificação/Revisãc. 54.840 SãoGabrielda Calha Norte. Faixa de fronteira.
Desano PortFunai/PP/468 de 25/04/88 p/ identificação da Cachoeira AM Requerimento e alvará de pesquisa
área. Não apreciada pele GTI em reunião de 14/02/89 mineral. Rodovia BR-307 corta a
por não ter sido considerada terra tradicional. área. Perimetral Norte no limite.
Marabitanas/Cue-Cue Tariano 1.645 ISA: 96 A Identificar. 0 SãoGabrielda A Associação das Com. Ind. do R.
Warekera Documento da Acirne - Assoe. das Comun. Ind. Cachoeira AM Negro, a Associação Indígena
Baniwa do R. Negro e da Assoe. Ind. Potyra Kapoano, com Potyra Kapoano com apoio da
Arapaço apoio da Foirn, solicita o apoio da Funai para o Foírn, solicitam à Funai, através de
Tukano Estude Antropológico de Identificação das terras documento de 30/07/96, a
Kuripako tradicionalmente.ocupadas pelas comunidades, realização de Estudos
Barè (carta de 30/07/96) Antropológicos de Identificação
Desano das terras tradicionalmente
ocupadas pelas comunidades.
401 Médio Rio Negro I Tukano 1.401* ISA: "96 Homologada. 1.776.138 São Gabriel da Cachoeira AM Calha Norte. Requerimento e
Barè Decreto s/n.de 14/04/98 homologa a demarcação. Sta. Isabel do Rio Negro AM alvará de pesquisa mineral,
Kuripako fazem parte de Ti todas as ilhas localizadas no rio Japurá AM
Maku Dow Negro entre a foz do ria Uaupés e a foz do igarapé
Arapaço Uaínumale. (D 0 U, 15/04/98)
Tariano
Desano
Piratapuia
Maku Yuhupde
Baniwa
Mírlti Tapuia
1065 Médio Rio Negro II Arapaso 979* ISA: 96 Homolcgada, 316-194 São Gabriel da Cachoeira AM Calha Norte. Faixa de fronteira/
Tukano Decreto s/n. de 14/04/98 homologa a Sta. Isabel do Rio Negro AM Requerimento e alvará de pesquisa
Barè demarcação [DOU, 15/04/98) mineral. Influência de UHE São
Desano Gabriel da Cachoeira. Incide
Kuripako parcialmente no PN Pico da
Piratapuia Neblina.
Tariano
Miriti Tapuia
Baniwa
468 Paraná Boá-Boã Maku Nadeb 107 Pozzobon: 98 Homologada. 240,545 Japurá AM Calha Norte. Requerimento e
{Lago Jutai) Decreto s/n. de 03/11/97 homologa a Sta. Isabel do Rio Negro AM alvará da pesquisa mineral.
demarcação (DQU, 04/1 1/97)
483 Rio Apapüris Tukano 124 ISA: 96 Homologada. 106.960 Japurá AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Maku Yuhupde Decreto s/n. de 14/04/98 homologa a Requerimento de pesquisa mineral.
Tuyuka demarcação (DQU, 1 5/04/98)
Desano
486 frio Téa Oesano 356 ISA: 96 Homologada. 411.865 Sta. Isabel do Rio Negro AM Calha Norte. Requerimento e
Tukano Decreto de 14/04/98 homologa a demarcação.
s/n. SãoGabrielda alvará de pesquisa mineral.
Baré Fazem parte da TI as ilhas do rio Negro situadas Cachoeira AM Isolados.
Maku Nadeb entre a foz do igarapé Uainum ale e e foz do rio
Piratapuia Téa. (DOU, 15/04/93)
328 Uneiixi Tukano 180 ISA: 96 Homologada. 403.182 St». Isabel do Rio Negrt) AM Calha Norte. Requerimento
Maku Nadeb Decreto s/n de 1/12/98 homologa
1 a de pesquisa mineral/Ga ritnpo não-
demarcação (DOU, 14/12/98) indigena.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIÜ AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 243
* Acervo
ISA
DEMARCAÇÃO DE CINCO TERRAS COMO suas organizações, depois de 30 anos de luta pela demarcação
DE 22 POVOS NUMA REGIÃO DE FRONTEIRA Entre dezembro de 1995 e maio de 1996, o então ministro de
GEOPOLÍTICA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA Estado da Justiça, Nelson Jobim, declarou de posse permanente
dos índios e determinou à Funai a demarcação administrativa de
cinco Terras Indígenas (Tis) contíguas na região do alto e médio
No dia 15 de abril de 1998, quando o presidente da Federação rio Negro, situadas nos municípios amazonenses de São Gabriel
das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foim) ergueu os bra- da Cachoeira, Japurá e Santa Isabel:
ços diante da Assembléia lotada, na maloca da sede da organiza- TI Médio Rio Negro I (Portaria n° 1.558, de 13/12/95);
ção em São Gabriel da Cachoeira (AM), e exibiu os decretos de TI Médio Rio Negro II (Portaria n“ 1.559, de 13/12/95);
homologação que acabara de receber solenemente das mãos do TI Rio Téa (Portaria n° 106, de 13/02/96);
ministro da Justiça, houve uma grande comemoração. Esses pa- TI Rio Apapóris (Portaria n° 313, de 17/05/96) ;
e
péis se transformaram num troféu para os índios do Rio Negro e TI Alto Rio Negro (Portaria n° 301, de 17/05/96).
• Funai declara de “ocupação indígena" três áreas contíguas: Pari- Assembléia da Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio
Cachoeira (1.020.000 ha), lauareté (990.000 ha) e Içana-Aiari Negro (ACIBRN) (1990) discute reconhecimento dos direitos
(896.000 ha). territoriais e in vasões garimpeiros.
• lideranças do Tiquié propõem à Funai delimitação do Alto Rio Ne- • Recomendada demarcação da Tl Médio Rio Negro com 2. 142. 000
• Funai identifica e delimita Taracuá (1.616.000 ha). Cubate • Polícia Federa! (PF) retira 2500 garimpeiros do rio Cauaburi,
(1.023.000 ha) elçana-Xié (480.000 ha). que acabam se instalando no Médio Rio Negro.
logadas pelo presidente da República em abril de 1998. Formam situados na Colômbia e Venezuela -, está reconhecida oficialmente
uma área única com extensão de 10,6 milhões de ha, na faixa de como "áreas protegidas" (indígenas e ambientais, nos três países).
vés de mandado de segurança impetrado junto ao STJ, em 30 de fmtrilineares exogâmicos, entre outros. No lado brasileiro há represen-
novembro de 1994, antes mesmo da edição das portarias tantes dasfamílias linguísticas Tukano Oriental (Kubeo, Desuna, Tuhano,
declaralórias. O STJ concedeu liminar paralisando o processo, mas Miriti-Tapuya, Arapaso, Tuyuha, Siakuna, Bará, Siriano, Karapanã,
Wanano, Yuruti e Pira-tapuya), Arawak (Tariano; Baniwa, Kurilxiko,
depois julgou contra o pedido do listado do Amazonas, liberando
Warekena e Baré) eSluktt (Hupda Yubup, NadebeDouj. Essesgntpos
a demarcação. O Estado do Amazonas recorreu da decisão ao STF ,
da Cachoeira, em 1996, considerada sem fundamento pelo Minis- Atualmente, observa-segrande variação entre os inúmerospovoados da
tério da Justiça. área: mais de 50% desses /xrmados são sítios familiares, estabelecidos
Socioambiental (ISA) foram aceitas pela Funai: ( 1) como se trata gião. A catinga do rio Negro cobre a maior parte das Tis demarcadas
de uma "área única" formada por terras contíguas, a demarcação na região e seus solos são extremamente ácidos, arenosos e líxiviados
e nas linhas limítrofes comuns, entre a Terra Indígena Médio Rio mitem o aproveitamento agrícola. Por este motivo, há grandes ex-
Negro II e o Parque Nacional do Pico da Neblina; (3) o processo tensões de terras no interior das áreas indígenas que não são habita-
de demarcação deveria ser mobilizador e participativo em todos das, constituindo reservas de recursos vegetais e aquáticos. Por ou-
os níveis, incluindo reuniões nas comunidades, produção de ma- tro lado, a tendência à concentração da população e áreas de terra
terial informativo e o aproveitamento de mão-de-obra indígena. firme vem sendo reforçadas há décadas pela intervenção de missio-
nários e comerciantes, criando situações críticas do ponto de vista
A Funai de Brasília abriu mão da administração direta da demar- das sustentabilidade socioambiental. Há forte demanda nas comu-
cação e, diante desta situação, a Foirn se manifestou oficialmente, nidades por serviços básicos e apropriados de atendimento à saúde,
em agosto de 1996, indicando o ISA para assumir a tarefa. No educação, segurança alimentar e geração de renda.
0 presidente da República,
Fernando Henrique Cardoso, em
visita a São Gabriel da Cachoeira
mesmo período, em visita às instalações militares cm São Gabriel durante o segundo semestre de 1996, no quadro do Projeto Inte-
da Cachoeira, o presidente da República, Fernando Henrique Car- grado de Proteção das Terras e Populações Indígenas da Ama-
doso, recebeu das mãos do então presidente da Foirn, Braz Fran- zônia Legal (PPTAL) do Programa Piloto para as Florestas Tro-
ça Baré, no dia 23 de agosto, uma carta solicitando que o governo picais do Brasil (PP-G7)
federal agilizasse os trâmites para a demarcação física e homolo-
gação das cinco terras indígenas da região. O instrumento para viabilizar a realização desse projeto foi um
contrato de serviço entre o Programa das Nações Unidas para o
Atendendo solicitação da Funai, o ISA e a Foirn formularam um Desenvolvimento (PNUD) (ref. 187/97) e o ISA, por notória espe-
projeto denominado Consolidação da Demarcação Física e For- cialização. Recursos financeiros da cooperação alemã já contrata-
mulação de um Plano de Proteção e Fiscalização, o qual foi apre- dos com o governo federal brasileiro, no âmbito do PPTAI/PP-G7,
sentado e negociado diretamente com a sede do órgão em Brasília, sob controle financeiro de uma representação do KfW (banco es-
tatal alemão) em Brasília e fiscalização técnica de funcionários da genas no Rio Negro. Previa-se então a contratação de uma empre-
Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) na Funai, tiveram sa privada, através de licitação. Uma vez que se ingressou na nego-
que ser canalizados através do PNUD para contratar uma organi- ciação com a Foim e o ISA, subitamente os valores previstos bai-
zação não-governamental (ONG) brasileira que, em parceria com xaram para algo em tonto de 700 mil, dos quais uma parte foi
uma organização indígena se dispôs a executar parte da demarca- destinada pela Funai para contratar uma empresa de topografia.
ção, diante da recusa da Funai em fazê-lo pela via da administra- Ao final, depois de muitos percalços e dois tennos aditivos, o ISA
ção direta. ainda arcou com um prejuízo de cerca de 150 mil dólares -
das comunidades indígenas e da sociedade envolvente. Além do rio, que chegou a São Gabriel exatos 12 meses depois, quando já
mais, a aquisição dos equipamentos previstos no projeto Foim/ estava reunida a Assembléia da Foirn para comemorar a homolo-
ISA- como botes, motores, rádios, veículo e outros - ficaram sob gação da demarcação, em abril de 1998 (ver abaixo). Seus espe-
responsabilidade da Agência Brasileira de Cooperação, do Minis- lhos laterais tiveram serventia imediata apenas para que algumas
tério das Relações Exteriores, sob orientação da Funai, o que, como lideranças se pintassem antes da cerimônia. Ao final do processo,
se verá adiante, lambem adicionaram dificuldades ao planejamen- ainda que atrasados, esses equipamentos resultaram num saldo
to e execução das alividades previstas. positivo, porque permaneceram sob controíe direto da Foim e
associações filiadas.
Este modelo fracionado foi, no mínimo, ineficaz. A empresa con-
tratada burlou vários procedimentos técnicos e fez erros crassos. Sob uma coordenação geral formada pela diretoria da Foim e equi-
Driblou os fiscais da Funai/PPTAL, utihzou marcos de bronze fora pe do Programa Rio Negro do ISA, funcionou uma Coordenação
da especificação e, o mais grave de todos, implantou o marco do Operacional composta por cinco pessoas indígenas, selecionadas
Ponto Geodésico- 1, da TI Alto Rio Negro, acima da cabeceira do e indicadas pela Foirn e contraladas pelo ISA, sob comando de
Xié- Mirim, em território colombiano! Foi preciso que os técnicos Braz França (Baré) - ex-presidente da Foim entre 1991 e 1996.
topográficos contratados pelo ISA, com ajuda de pessoas das co- Foram organizados três tipos de frentes dc trabalho (a) de “fisca-
munidades próximas, localizassem o marco MF-1935-10, implan- lização e plaqueamento", que percorreu a maior parte das comu-
tado pela Comissão de Limites, junto ao qual, finalmente, o PG-1 nidades e sítios, localizados nos rios "internos” ou próximos da
foi correiamente fixado. Some-se a isso o fato de que alguns custos linha de fronteira internacional, ou seja, distantes da
de mobilização foram duplicados, visto que as equipes ISA/Foim “materialização” das Unhas secas; (b) de “picada seca" nos focais
encarregadas de abrir as linhas secas tiveram que acessar os pon- onde foi necessário abrir picadas e colocar marcos de concreto,
tos geodésicos separadamente, duplicando elevados gastos com o isto ó, em três trechos descontínuos, em locais remotos, somando
aluguel de helicóptero transladado de Manaus, a 850 km de dis- cerca de 56 km; e (c) de “fiscalização” para rios limites nos quais
tância de São Gabriel! não há comunidades residentes.
As atividades do projeto de consolidação ISA/Foim tiveram início, Durante as viagens das frentes de fiscaUzação e plaqueamento, equi-
em abril de 1997, com um ato público no ginásio escolar da cida- pes Foirn/ISA - com o apoio de pesquisadores associados de vári-
de de São Gabriel, da Cachoeira, com a presença de autoridades as instituições - visitaram cerca de 300 comunidades e sítios, dis-
religiosas, civis e mihtares e grande público. Na ocasião, mem- tribuindo informações, materiais de campanha e fazendo reuniões
bros da Foim e do ISA informaram sobre os procedimentos da para dar expUcações e aplicarum extenso questionário especial-
demarcação, tendo ao fundo um mapa das terras indígenas reco- mente elaborado para traçar um perfil socioeconômico da região.
nhecidas oficialmente impresso sobre lona plástica, nas dimen- Foram realizadas 238 entrevistas coletivas, a partir das quais se
sões de um outdoor. Na ocasião foram lançados também, como gerou um banco de dados georreferenciado, utilizado naformula-
parte da campanha da demarcação, uma camisela, um boné e um ção posterior de uma proposta de plano de proteção e fiscalização
mapa em lonapláslica com suporte para parede. Nesses materiais, e outros projetos de interesse da Foim e associações afiliadas.
ção por escrito à Funai em Brasília, reivindicando a sua identifica- lhão dc Engenharia e Construção (BEC) e estão sob comando do
o
ção oficial, reiterada muitas vezes; e (2) a Terra hidígena Balaio, a 5 Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), cujos quartéis estão loca-
meio caminho entre São Gabriel e Cucuí, delimitada provisoria- lizados na cidade de São Gabriel da Cachoeira, onde também estão
mente pela Funai em 1988. as bases da Aeronáutica, incluindo 0 radar do Sistema de Vigilân-
notícias) assimcomo a direção da Foirn quer a retirada de alguns não resolve todos os problemas, para os quais as autoridades de
;
poucos ocupantes não-indígenas remanescentes da mesma TI Alto Brasília devem consultaras comunidades. E acrescentou: “unta coi-
sa que nos preocupa bastante é essa lei de mineração que se trami-
Rio Negro, cujas benfeitorias foram avaliadas pela Funai há anos
(ver ofício da Foirn àFunai de 17 de março de 1998). Porém, há ta no Congresso Nacional, onde as comunidades não são consulta-
trões de barcos piabeiros que exploram pontos do Médio Rio Ne- ríamos que essa lei fosse aprovada sem a consulta prévia das co-
gro (ver nas notícias, adiante), remunerando determinadas co- munidades indígenas e no momento era o que tinha para dizer".
nica, expressão cultural e sustentabilidade e bem estar das comu- A Foim entendeu que um “plano de proteção e fiscalização” (ver
nidades indígenas. Box) das terras demarcadas seria apenas um componente desse
“programa regional”, (setembro, 2000)
Há uma forte demanda da parte das comunidades indígenas das
0 Plano de Proteção e Fiscalização das Tis do Alto e Médio Rio Negro 5. Pequenos projetos comunitários
aprovado na Assembléia Geral da Foim de abril de 98 linha as se-
• Constituição de umfundo de pequenos projetos comunitários (saú-
guintes linhas de ação:
de, educação, cultura, segurança alimentar, transporte e comunica-
1. Informação, comunicação e sinalização: ção), subordinado a um conjunto de regras de acesso amigável às
nhamento de demandas junto às autoridades federais onde persiste uma invasão crônica; e outras.
• implantação de cerca de dez projetos demonstrativos participativos • Ministério das Relações Exteriores/Tratado de Cooperação Amazô-
(prioridades definidas pelas associações/Foim, geslão direta, jiesquisa nica (TCA): programa socioambiental pró-ativo de cooperação
e assessoria técnica especializada e capacitação), nas diferentes sub- trinacioml Brasil/ColômbiaA'enezuela para a bacia do Rio Negro,
bacias das terras indígenas demarcadas, integrando ações de sanea- no âmbito do TCA, com a participação de representantes da Foim;
mento básico, energia alternativa, segurança alimentar, geração de
•Secretaria de Assuntos Estratégicos/Comissão para Coordenação do
renda, saúde, educação escolar, comunicação e transporte.
Projeto do Sistema de Vigilância da Amazônia (CCSIVAM): mecanis-
mos de cooperação e intercâmbio de informações com a Foim, asso-
ciações Jiliadas e suas parcerias não-govemamentais. fabr/98)
INDÍGENA SÃO ALGUNS DOS REQUISITOS intestinais. Casos de anemia e de desnutrição foram reportados,
IMPORTANTES PARA ENFRENTAR DE bem como uma incidência alta de doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs) e de tracoma, entre outros agravos.
MANEIRA APROPRIADA A SITUAÇÃO DE
SAÚDE INDÍGENA NA REGIÃO DO RID NEGRO TUBERCULOSE
A presença da tuberculose é atestada no Rio Negro desde o início
No contexto da implementação de Distritos Sanitários Especiais do século XX (MacGovern 1928). Um inquérito retrospectivo des-
Indígenas (DSEIs) (1999/2000) não é demais rever os dados de 1977 e 1990 dos registros dos casos de tuberculose de dois
epidemiológicos disponíveis bem como propor sugestões para hospitais da região indica uma laxa de incidência anual superior a
implementação do DSEJ no Rio Negro (DSEi-RN) levando ,
em conta Irês casos por mil habitantes, uma predominância de formas pul-
a variabilidade dos povos dessa região e a do ambiente em que monares, uma parle importante de formas extrapulmonares (um
vivem, terço dos casos registrados), sobrehtdo ganglionares, bem como
uma distribuição da doença em todas as faixas etárias e sem dife-
A região é o habitat dc 22 etnias (cerca de 30 mil pessoas), cujas
renças substanciais em relação ao sexo (Buchillet & Gazin 1998)
línguas pertencem a três famílias linguísticas (Túkano oriental,
Dados para o ano Í999 confirmam a importância da endemia
Arawak e Maku), com características socioculturais, padrão dc
tuberculosa, assim como os achados clínicos e epidemiológicos
assentamento, densidade populacional, grau de mobilidade espa-
(Semsa 1999), condizentes com o longo tempo de contato dos
cial, modo de uso e adaptação ao meio ambiente e grau de contato
índios com essa doença,
com a sociedade nacional variados. O ambiente em que vivem é
também bastante diversificado, resultando numa heterogeneidade MALÁRIA
em termos de recursos genéticos e microorganismos, Dados históricos comprovam a importância epidemiológica e sa-
nitária da malária no Rio Negro há dois séculos (Buchillet 1995)
Os dados disponíveis revelam, no entanto, a situação de saúde ca- que 69,2% deles apresentavam taxas altíssimas de multiparasitismo
lamitosa dos povos do rio Negro, na qual predominam as doenças intestinal (Felipe & Nigro 1997). Dados da ONG Saúde Sem Limi-
i Acervo
ISA
les (SSL) (1997) comprovam a alta prevalência de diarreias e gião. O alcoolismo é um problema importante, embora sua inci-
parasitoses digestivas na região como um todo. dência e significado sejam ignorados. Há, por fim, um número
elevado de “afecções mal definidas" (Amarante 2000).
ANEMIA E DESNUTRIÇÃO
CAUSAS DE ÓBITO
Casos de anemia e carências nutricionais severas foram reporta-
dos, particularmeme em grupos locais maku, embora ignora-se se Os dados de mortalidade são condizentes com os de morbidade,
estão ligados ao índice de infestação parasitária ou à situação de sendo as doenças diarréicas e respiratórias as principais causas
escassez alimentar verificada em certas épocas e/ou sub-regiões de morte. Verifica-se igualmente um número importante de óbitos
do Rio Negro. por causas ‘“indeterminadas” (20,7% das causas de mortes em
1998), o que reflete o nível de desassistência médica da região
OITROS AGRAVOS (Amarante 2000).
preocupante considerando que elas são a porta de entrada princi- TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
pal da infecção pelo Vinis da Imunodeficiência Humana (HIV).
Os dados analisados sugerem que a população da região encon-
Alguns casos de HIV/Aids foram reportados entre os militares da
tra-se ainda na fase inicial da chamada transição epidetniológica
região (ibid) O que também não deixa de ser alarmante, levando
caracterizada pelo predomínio de doenças infecciosas como fato-
em conta os frequentes intercâmbios sexuais entre o pessoal mili-
res de morbi-mortalidade. Esses dados precisariam, no entanto,
tar e as adolescentes da região. Outras doenças para as quais há
ser afinados de acordo com os vários grupos e sub-grupos do rio
registros incluem o tracoma, hiperendêmico entre certos sub-gru-
Negro, suas características sociocullurais e seu grau de contato
pos maku, podendo resultar em cegueira (SSL 1997). Há igual-
com a sociedade nacional. Os requisitos necessários para a ocor-
mente casos de hanseníase e de leishmaniose tegumentar (Ir. A.
rência, manutenção e impacto sobre as populações das principais
Sienckiewicz, comunicação pessoal). Entre as afecções dermato-
endemias da região (malária, tuberculose e parasitoses digestivas,
lógicas, predominam as escabioses e piodermites. Observa-se tam-
entre outras) permitem também postular que elas não acometem
bém surtos freqiientes de gripe, varicela e coqueluche, sendo os
de maneira igual os vários povos.
últimos refletindo a fraca cobertura vacinai da região (Semsa 1999)
Segundo os dados disponíveis, as doenças crônico-degenerativas, No caso da malária, por exemplo, podemos citar a exposição dife-
como diabetes, hipertensão arterial ou cardiopadas não parecem renciada a fatores importantes na transmissão dessa doença, como
contribuir de maneira substancial ao quadro nosológico da re- a presença de represas de água ou lugares de águas paradas, a
Agente Indígena de
Saúde da comunidade
de Jerusalém no Alto
Içana buscando
,
remédios com um
"promotor de salud"
da comunidade de
Camanaus, na fronteira
com a Colômbia.
concentração demográfica e ao grau de mobiiidade espacial, quanto epidemioíógico acurado é crucial numa região que constitui o
às condições do habitat e das fontes hídricas, à criação de ani- habitat de várias etnias, com modos de uso e adaptação ao meio
mais, ao destino inadequado dos dejetos e aos hábitos dietéticos, ambiente, grau de mobilidade espacial, tempo e formas de contato
entre outros, sendo, portanto, necessária a reaUzação de estudos a com a sociedade nacional diferenciados, como é o caso do Rio
nível micro para determinar a influência dos fatores físicos, Negro. A multiplicidade das variáveis que interferem no estado de
ambientais e sorioculturais no nível de infestação parasitária. Fica saúde das populações também impossibilita toda tentativa de ge-
também evidente que a tuberculose, doença ligada de maneira in- neralização. As diferenças no perfil epidemioíógico devem ser le-
tima às condições socioeconôrnicas de vida e ao estado imunitário vadas em conta para adequar as ações às necessidades e deman-
da pessoa, não acomete os povos indígenas de maneira igual. Con- das em matéria de saúde das diversas etnias, ou mesmo dentro de
siderando as características clínicas e epidemiológicas dessa do- uma etnia, delinear estratégias de controle de certas doenças (ma-
ença (incubação silenciosa, caráter crônico, capacidade de lária, tuberculose, parasitoses digestivas, entre outras) adaptadas
reativação endógena, distinção infecção/ doença etc.) e os requi- às características sotíoculturais locais e ao ambiente em que vi-
sitos para seu tratamento (quimioterapia anti-tuberculose de seis vem os vários grupos e sub-grupos, e direcionar a formação dos
ro que a conduta profilática e terapêutica a adotar deve ser funda- encontrados nas áreas de sua atuação. A própria concepção do
mentada no contexto sociocultural local. DSEI prevê inclusive o fomento a pesquisas e/ou levantamentos
visando aprofundar o conhecimento da clientela indígena (inqué-
Por Dm, levando em conta as relações sinérgicas entre certas do-
ritos populacionais, nutricionais, socioantropológicos, de procu-
enças infecciosas (tuberculose, por exemplo) e as carências
ra dos serviços de saúde, entre outros) desde que os resultados
nutricionais, sendo que a desnutrição favorece a infecção, e esta,
dos mesmos tenham aplicação nas diretrizes, programas e rotinas
por sua vez, agrava o estado de desnutrição, é fundamental a rea-
de serviço do DSEI.
lização de inquéritos de avaliação da situação nutricional dos ín-
dios desta região, incluindo também estudos qualitativos sobre a Cabe ressaltar, no entanto, que as estratégias para o delineamento
concepção local da alimentação e dos modos de preparação culi- e planejamento de ações e intervenções em saúde destinadas à
nária, bem como sobre a lógica cultural das restrições, prescri- populações etno-culturais específicas não podem se restringir aos
EXPLORAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS mil pessoas diretamente envolvidas no ramo, mais ou menos 150
CENTRALIZADA EM BARCELOS E MANAUS só em Santa Isabel. Uma só espécie, o cardinal (Paracheirodon
ESTÁ SUBINDO 0 RIO NEGRO E ENVOLVENDO axetrodi), constitui mais de 80% do volume de peixes ornamen-
CADA VEZ MAIS COMUNIDADES INDÍGENAS tais comercializados na bacia do Rio Negro. A alta taxa de mortali-
nicípios de Barcelos e Santa Isabel constituem a maior área de dade do Amazonas (UA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da
pesca de peixe ornamental na bacia do Rio Negro, sendo Barcelos Amazônia (Inpa) têm implementado o “Projeto Piaba” no municí-
o principal posto de comércio. A pesca é artesanal com mais de pio de Barcelos para estudar a biologia e ecologia dos peixes or-
Piabeiros em ação
na região do médio
Rio Negro.
ornamental, somente sete estão operando. Os quatro maiores ex- por tipo de peixe coletado e/ou os métodos pesqueiros que em-
portadores controlam pouco mais que 70% das exportações que pregam, se pescam em rios ou igarapés. Seria mais apropriado
saem de Manaus, Os exportadores que atualmente estão ativos em classificá-los segundo os locais em que são recrutados, em razão
Manaus são: das grandes distâncias percorridas para se obter peixes para ex-
portação. Com este critério, há duas categorias de coletores. Aque-
• Aquamazon Imp. e Exp,;
les moram numa das comunidades, tanto indígena quanto ri-
que
• Aquarium Corydoras Tetra; beirinha, perto de uma área pesqueira produtiva. Este tipo de
• Prestige Aquarium; coletor também é agricultor, pescador e caçador, coleta peixe or-
ção econômica.
• Turkys Aquarium;
À segunda categoria de coletor/freguês mora na cidade de Barce-
• Amazonas Selvagem.
los ou Santa Isabel e acompanha o patrão para a área pesqueira
Cada exportador tem seu próprio sistema para obter estoques de regularmente, ou pode ficar no acampamento para pescar duran-
peixe. Dois dos exportadores têm representantes que residem na te algum período, geralmente um a dois meses. Estes coletores
cidade de Barcelos e recebem peixes de intermediários e os envi- estão mais interessados em ganhar dinheiro vivo que os do interi-
am até Manaus. Estes representantes, por sua vez, têm aproxima- or, mais interessados nas mercadorias. Eles são geralmente soltei-
damente 20 intermediários e/ou pescadores independentes traba- ros e frequentemente, relacionados ao patrão através de amigos
lhando para eles. Um destes exportadores também tem um repre- ou parentes.
sentante no município de Santa Isabel. O raciocínio é que o expor-
tador pode controlar melhor o desembarque de peixes em Manaus.
PREÇO
Além dos representantes, estes exportadores empregam interme-
diários independentes espalhados pela bacia. Os demais exporta- Os preços pagos pelos peixes variam em função da espécie, tama-
dores têm vários intermediários; este número flutua de ano a ano, nho e estação do ano. Uma das espécies mais procuradas no rio
mas muitos permanecem leais. Os intermediários que entregam Negro é o cardinal tetra, um peixe com baixo valor no mercado. O
peixes aos representantes recebem menos que os que entregam freguês recebe entre R? 5,00 e Rí 10,00 por milheiro, conforme o
diretamente ao exportador, mas são pagos na hora e não assumem tamanho dos estoques encontrados nas instalações dos exporta-
o risco de mortalidade no transporte até Manaus. Os demais são dores em Manaus. O preço pago ao patrão também varia, mas o
últimos três anos, o exportador tem vendido cada cardinal por um talidade natural que superam 95%, em condições naturais. Em
preço que varia entre R$ 0,04 e R$0,13, conforme a demanda função disso é normal se observar flutuações inter-anuais de pro-
internacional, a época do ano e o tamanho do peixe. Nos EUA os dutividade locabzada, porque 0 sistema é limitado pela eficiência
preços médios para o atacadista, lojista e consumidor são USjS reprodutiva ano a ano e não possui um tampão populacional que
0,26, USÍ 0,fí5 e US$ 2,00, respectivamente. A grande diferença inclua várias faixas etárias, 0 que é observado com espécies de
entre n preço pago ao coletor e 0 preço pago pelo consumidor ciclo de vida longo. Assim sendo, variações de abundância de cur-
deve-se aos custos associados com 0 transporte, condicionamento to prazo não são indicadores robustos do impacto da pesca. O
e alta taxa de perda dos peixes, além do fato que os lojistas com- impacto da remoção do cardinal do sistema poderia ser medido
pram em quantidades pequenas. As corredoras que são encontra- em teoria usando indicadores de produtividade de espécies
das no alto rio Negro alcançam entre R$ 0,10 e R$2, 50/unidade, predadoras (taxas de crescimento por exemplo), mas seria quase
conforme a espécie. Esses peixes custam entre US$ 4,00 e US$1 2,00 impossível estabelecer uma relação de causa e efeito porque 0
nos EUA. sistema é muito complexo e há muitas outras variáveis as quais
poderiam influenciar 0 efeito.
A estagnação do preço pago ao coletor no Rio Negro se deve tam-
bém a concorrência com os exportadores colombianos, os quais Em anos de baixa produtividade os pescadores procuram áreas de
levam grande vantagem no preço do frete pago pelos comprado- maior retomo, aliviando a pressão de pesca e possibilitando a re-
res. No trecho Bogotá-Miami, um kg custa US$ 0,70, enquanto no composição dos estoques em um curto período de tempo. Tam-
trecho Manatis-Miami, custa US$ 1,50. bém, 0 percentual da área de atuação da pesca é relativamente
pequeno quando comparado com a área total de ocorrência dos
Uma via para melhorar a remuneração aos coletores seria investir
peixes, já que a pesca é hmitada pelo número de pescadores e
na abertura de mercado para espécies consideradas “nobres”, com
condições de pesca, O tempo médio de pesca efetivo por dia não
alto valor individual, como os acarás e acaris. Várias espécies de
ultrapassa quatro horas. O restante do tempo é usado para obten-
Apistogramma, por exemplo, também poderiam ser criadas em
ção de alimento, isca e prospecção para 0 próximo dia.
cativeiro, combinadas com a piscicultura de espécies comestíveis,
e encontrar bons preços no mercado. É importante notar que nas áreas mais produtivas, Téa, Urubaxi,
Aiuanã e Ataui, a maior parte da pesca é feita com cacuri,uma
IMPACTO AMBIENTAL armadilha “passiva” de eficiência limitada. Essa é,
,
talvez, uma das
características da pescaria que propicia a manutenção dos esto-
A pesca ornamental é muito distinta da pesca comercial porque é
ques em níveis que permitem sua recuperação em curto prazo.
extremamente seletiva e requer que 0 produto sc mantenha vivo.
Observando os pescadores, é evidente que os mesmos somente
Essa pesca, especíahnente do cardinal, usa uma metodologia de
pescam em áreas que dão um mínimo de retomo. Uma vez que 0
esforço que produz efeitos ambientais pouco expressivos do pon-
retorno não é alcançado, eles procuram outras áreas. Essa estra-
to de vista estético, Não há remoção de vegetação ou outra pertur-
tégia de pesca tem 0 efeito de não depauperar completamente es-
bação cm larga escala. É uma pesca eminentemente concentrada
toques localizados. Os pescadores usam 0 termo “deixar para se-
no igapó. Na verdade, a manutenção da produtividade depende da
mente para 0 próximo ano”, 0 que, de fato, aparentemente funci-
integridade ambiental dos pesqueiros, e os piabeiros em geral têm
ona bem, Como há uma divisão territorial da pesca, e os mesmos
consciência disto. Os acidentes com as queimadas do igapó em
pescadores voltam ano após ano para os mesmos pesqueiros, há
vários tributários do Rio Negro servem de evidência empírica.
um senso de manutenção dos ambientes de pesca. Quando algu-
Do ponto de vista do sistema biológico e ecológico como um todo, ma disputa acontece e esta não é resolvida a contento, incêndios
é difícil atribuir impacto, visto que o cardinal tem um cicio de vida misteriosos podem ocorrer. (setembro, 2000)
outras regiões pesquisadas na Amazônia brasileira, embora a di- há que se considerar os processos de seleção e experimentação
versidade se mantenha alta como um todo (com 41 variedades na de variedades, realizados durante inúmeras gerações, maximizando
-
região de Altamira ou 16 no Alto Juruá), se reduz singularmente a a diversificação das características agronômicas, utilitárias, ou
nível individual, com menos de quatro variedades cultivadas por morfológicas - das variedades. É o fundamento do processo local
agricultor. As explicações para esses contrastes só podem ser en- de seleção. Essa diversificação, que talvez encontre sua expressão
contradas com uma análise global dos sistemas que produzem ou máxima na região do Alto Rio Negro, dá origem a um amplo leque
utilizam esses recursos fito-genéticos. de variedades que confere aos sistemas agrícolas uma certa esta-
gem, como o fogo e a floresta. fibras, etc. A combinação dessas características permite preparar
de entender suas funções, as práticas agrícolas e representações a Percebe-se, então, que o elemento central de manejo não é apenas
ela associada e os processos evolutivos em curso. a variedade, mas a diversidade em si, enquadrando-se assim numa
lógica oposta à agricultura moderna que privilegia a homoge-
neidade e a produtividade do cultivo.
Mas a conservação de uma tal diversidade não responde apenas a regiões de colonização, os “indivíduos'' provenientes de sementes
fatores utilitários. É um bem coletivo inserido num referencial cul- são arrancados ou ignorados, por interferirem com uma diversi-
tural comum que se expressa, por exemplo, através dos mitos de dade varietal definida de forma mais rígida.
Apesar de ser menos visível, há outro elemento que enriquece cons- dificações geradas por uma pressão cada vez maior para a comer-
tantemente a diversidade de mandiocas: a fonte de diversidade cialização dos derivados de mandioca, uma crescente migração
encontra-se na multiplicação sexuada das mandiocas. Esse cultivo
da população rural para os pólos urbanos e a perda dos saberes
por estacas. Assim, o patrimônio associados tomam mais frágeis essas formas de manejo.
é principalmente reproduzido
genético de uma variedade será transmitido identicamente às ge-
A alta agrobiodiversidade identificada nas populações tradicionais,
rações de plantas seguintes. Ora, como qualquer outro vegetal, a
como entre os povos indígenas do Alto Rio Negro, não caracteriza
mandioca produz também sementes que, pela recombinação ge-
um estado de referência absoluto. Reflete uma história, pré e pós-
nética que ela implica, darão origem a novas variedades. Esse fe-
colonial, constituída de migrações, de contatos interétnicos e de
nômeno, embora não controlado, é perfeitamente conhecido por
pressões econômicas. Porém, o elemento que foi conservado, e
agricultores indígenas e caboclos da Amazônia e aproveitado como
cuja conservação deve ser incentivada, é a capacidade de adapta-
fonte de diversidade. Os novos pés nascidos de sementes serão
ção, através de práticas agrícolas e das representações associadas
testados, rejeitados ou multiplicados, dessa vez por estacas. Serão
à diversidade, a novos contextos. Manter uma alta diversidade não
incorporados ao estoque de variedades dos agricultores e entra-
significa ficar marginalizado em relação às exigências do merca-
rão em circulação nas mencionadas redes de intercâmbio.
do. As duas dimensões são compatíveis, principalmente se o papel
Esta relação entre diversidade e inovação - note-se que os funda- dessas populações, de conservar e criar novas variedades, for re-
mentos dos processos de seleção de novas variedades assemelham- conhecido e integrado nas políticas de conservação de recursos
se aos processos dos melhoradores modernos não é comparti- genéticos, em condições jurídicas que assegurem seus direitos
lhada por todos os agricultores da Amazônia. Por exemplo, nas sobre o material biológico, (setembro, 2000)
Tukano; Secretário - Bonifácio José, da etnia BUSCAM AÇÃO COORDENADA Igarapé e Boa Vista da Foz do Içana. Com a nova
Baniwa; Tesoureiro - Miguel Maia, da etnia organização, estas comunidades se desligaram
Tukano. Na assembléia também realizou-se a Pela primeira vez, um grupo de oito organiza- da Associação das Comunidades Indígenas do
escolha dos novos integrantes do Conselho Ad- ções indígenas da região de Iauareté, na Tem Rio Içana (Aciri), que tem sede em Assunção.
ministrativo da Foim, indicados pelas Associa- Indígena Alto Rio Negro (AM), noroeste da Os Estatutos foram aprovados, após leitura e
compõem a sua base territorial. (Co-
ções que Amazônia brasileira, se reuniu para discutir pro- explicações de Bonifácio José, diretor da Foim
municado da Foim, 15/12/96) blemas comuns, associados a questões como presente ao evento. A nova associação preten-
escolaridade indígena, fiscalização das terras de lutar pelos direitos indígenas, fiscalizar e pro-
Pedro Garcia Tariano. Maximiliano C. Menezes Tukano. Bonifácio José Baniwa. Miguel B. Maia Tukano.
transporte e comunicação de interesse coleti- 18/06/99) aram a situação da Funai na região e decidiram
vo. Foram eleitos para dirigir a associação Eido eleger um novo chefe de posto para a comuni-
Américo Cordeiro (presidente), Valdomiro Fir- FOIRN SOLICITA PRESSA NA dade de S. Joaquim, onde existe também um
mino (vice), José Maria Sampaio (secretário) TRAMITAÇÃO DO ESTATUTO pelotão do Exército. A sessão foi dirigida pelo
e Cosme Afonso Bittencourt (tesoureiro). Para capitão da Comunidade, sr. Alexandre Luiz
Lideranças indígenas reunidas para a XIII Reu-
conselheiros foram escolhidos Marcílio Didório Quintino. Apresentaram-se quatro candidatos e
nião do Conselho Administrativo da Foirn deci-
e Domingos Plácido. (ISA, aJmrtirdaAtada I 0 mais votado foi Rogério Luiz Quintino, cujo
diram solicitar do presidente da Câmara dos
Assembléia da Aibri, 19 e 20/03/99) curriculum inclui a formação escolar até a quar-
Deputados, Michel Temer, que aprove o Projeto
ta série do primeiro grau, seis anos como "pro-
AUTO-SUSTENTABILIDADE de Lei 2057/91 que visa instituir o Estatuto das
como
,
pio de S. (iabriel da Cachoeira. Cerca de 300 mente com a questão “da sobrevivência das fa-
líderes indígenas estarão reunidos na cidade, mílias e a desvalorização da sua cultura moral
CORIPACO DO ALTO IÇANA
discutindo a maneira de implementar econo- e material", reuniu-se e decidiu preparar uma
ELEGEM CHEFE DE PI
mias alternativas auto-sustentáveis nas comu- reunião maior, a qual ocorreu no dia 5 de no-
nidades para evitar as dependências econômi- Aproveitando a oportunidade de uma Conferên- vembro de 1999, no Salão Paroquial de Nossa
cas e especuladores da região e a busca de ali- cia Bíblica na comunidade de Jerusalém, na qual Senhora da Conceição, com a presença de 80
anças com instituições governamentais e não- estavam reunidas cerca de 450 pessoas, os pessoas de várias "tribos". O principal tema
a a
Gabriel, projeto de plantas medicinais com agen- - Precisa de escola de 5 a 8 série em São Joaquim: e manifestação de cultura e apresentações das
tesde saúde e Distrito Sanitário Especial Indíge- - Precisa de mais radiofonia; escolas e agradecimentos". (ISA, com base no Re-
na do rio Negro), alternativas econômicas (ex- - Precisa de mais AÍS em Campo Alto e Matraca; latório da Oibi referente à VI Assembléia Geral da
a a
periência: artesanato, farinha, tantalüa, avicul- - Precisa de reformas das escolas de I a 4 série; Associação e à primeira reunião das comunidades
tura e atualmente l*rojeto Arte Fibra de Arumã - Falta melhorar comunicação com representante Coripaco do Alto Içana, 24/10/99)
abordado foi ‘a necessidade de que os grupos cerca de 30 mil índios de 22 etnias diferentes. A livre circulação de bebidas alcoólicas em suas
se organizem para que sejam valorizadas as suas Foirn articula 34 organizações afiliadas, áreas. Apesar de proibida por lei, é notória a
culturas artísticas e materiais: e ... preservados O documento entregue ao presidente da Funai presença do álcool nas diversas áreas. Muitos
os seus costumes e suas identidades”. descreve dez linhas de ação, que passam pelo mostraram-se preocupados com o fluxo de
Após várias discussões, foi criada a Associação aprimoramento da comunicação entre as asso- transporte a partir da Colômbia, que encontra
Indígena de Barcelos (Asiba) e escolhida uma ciações e entidades que aluam na região, pelo condições de navegação favoráveis próximo as
Comissão Provisória para coordenar os traba- aperfeiçoamento da fiscalização sobre os limi- áreas indígenas. Outros observaram o proble-
lhos, composta por: Cecília Ticana, Virgília Baré, tes das (erras indígenas, pela implementação de ma representado pelo alcoolismo junto a mili-
Benjamin Baniwa, Clarindo Tariana, Romilda projetos demonstrativos geridos pelos índios tares e algumas lideranças indígenas, que faci-
Baniwa, Edgard Baré, Américo Tucano, Dilsa que possibilitem promover solução para pro- litam e até viabilizam o transporte de bebida
Baré e Maria Miguel Baré. blemas relacionados à falta de infra-estrutura e para dentro de suas reservas. Entre as propos-
O relatório sobre a reunião destaca que, em de serviços e a atender demandas básicas das tas de combater o problema está a de redistri-
1999, apareceram na região vários pesquisa- comunidades (segurança alimentar, saúde, edu- buir os postos de fiscalização, coordenando-os
dores, historiadores e lingliístas, que nunca fi- cação, saneamento, transporte), pelo fomento para uma ação mais eficaz. (ISA, a partir da
zeram algo que favorecesse a população indí- à capacidade técnica e a geração de renda c pela Ata da XIVReunião do Conselho Administra-
gena. No mês dc maio, apareceu IsmailTariano, articulação com órgãos públicos cujas ações tivo da Folm, jan/OO)
para pesquisar a história de Barcelos e propôs incidem nas áreas.
aos líderes indígenas que fosse feito “um gran- A proposta em questão sugere também atenção FOIRN AMPLIA DIRETORIA
de encontro com todos os irmãos”. à articulação com os programas do Programa E DISCUTE PARTICIPAÇÃO
Diante da necessidade de apoio jurídico, políti- Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais
FEMININA
co e financeiro, ficou acertada uma próxima do Brasil, 0 PP-G7 incidentes sobre a região.
reunião nos dias 10, 11 e 12 de dezembro pró- Além da identificação, demarcação e homolo- Os representantes reunidos na reunião do Con-
ximo, com a presença de pessoas de várias or- gação das Terras Indígenas Marabitanas-Cué Cué selho Administrativo da Foirn concluíram pela
ganizações. Também decidiu-se enviar uma car- e Balaio (via PPTAL), faz referência à implanta- necessidade de ampliação da diretoria da enti-
ta-circular para várias instituições governamen- ção do Corredor Norte da Amazônia, do Projeto dade. Todos concordaram que é preciso que a
tais e não-governamentais e que haverá articu- Corredores Ecológicos e aos Projetos Demons- entidade conte com alguém permanentemente
lação nas 44 comunidades rurais, para trativos Indígenas (PDIs) ,
ainda em discussão instalado em São Gabriel da Cachoeira, devido
cadastramento dos indígenas residentes no in- no âmbito do PP-G7. ao aumento de demanda por mu diretor que
terior. (ISA, Relatório do I Encontro Indígena De posse da solicitação da Foirn, 0 presidente estabeleça contatos, acompanhe o calendário
de Barcelos, 06/11/99) da Funai Carlos Marés sugeriu que o prazo para de prestação de contas e elaboração de relató-
do, dos 45 dias propostos, para uma semana. sença dc mulheres, que fomentem a participa-
INDÍGENAS URBANOS
(ISA, 15/12/99) ção feminina nas atividades da organização e
Como resultado da “Oficina de Comercialização (raga problemas específicos que digam respei-
de Artesanatos”, realizada em São Gabriel da XIV REUNIÃO DE to a mulher indígena. (ISA, a partir da Ata da
PROGRAMA DE do estatuto da entidade, 0 plano de proteção e A Foirn, cm reunião dc seu Conselho Adminis-
a Marcha trativo, discutiu os atuais critérios para a elei-
DESENVOLVIMENTO fiscalização pela parceria ISA/ Foirn,
dos 500 Anos, e a implantação do Distrito Sani- ção de membros dc sua diretoria. Ficou deci-
INDÍGENA SUSTENTÁVEL
tário Especial Indígena. Além destas questões, dido que o número de delegados a participar
A Poim entregou ao presidente da Funai, Carlos discutiu-se também os critérios necessários que da Assembléia da entidade a eleger a nova di-
Frederico Marés, no último dia 10 de dezem- devam ter os candidatos que disputarão vaga tia retoria será determinado por calha de rio e não
bro. solicitação de apoio político e financeiro diretoria da entidade e formou-se grupos para por associação. A calha do Rio Negro, Uaupés
para implementar um programa regional de avaliar os relatórios de atividades das entidades e Tiquié, Içana e Xié lerão cada uma o direito a
desenvolvimento indígena sustentável para 0 Alto de base filiadas à Foirn. (ISA, a partir da Ata 20 delegados, e a calha do Uaupés e Papuri,
e Médio Rio Negro. A proposta tem a finalidade da XIV Reunião do Conselho Administrativo 40. (ISA, a partir da Ata da XIV Reunião do
de consolidar a demarcação das cinco terras da Foirn, jan/OO) Conselho Administrativo da Foirn jan/00) ,
reuniram entre os dias 9 e 1 1 dc junho, na II alio rio Negro, a Coidi tem sido estimulada e tura Indígena dos Tariano do Distrito de lau-
Assembléia da Associação Indígena de Barce- apoiada decisivamenle pela Federação das Or- areté;
los (Asiba) . Os participantes residem na pró- ganizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), e é FDDI/lauareté - Fórum de Debates de Direitos
pria cidade de Barcelos e em comunidades c nma experiência sem precedentes. indígenas (representação no Distrito de Iaua-
sítios situados às margens do baixo rio Negro e Antes da criação da. Coidi, as atividades e proje- reté).
afluentes. Três pajés incensaram o local da as- tos desenvolvidos pelas organizações indígenas Assembléias - Em 1998, as principais organi-
sembléia, antes do início dos trabalhos sob a da região do alto rio Negro bascavam-se nas re- zações do Distrito de Iauareté tomaram a deci-
coordenação de Clarindo Tariana, e presidente lações diretas mantidas pela Foirn e suas orga- são de realizar suas assembléias conjuntamen-
da diretoria provisória eleita em novembro de nizações de base, que atualmente já ultrapassa- te, o que levou à realização da primeira assem-
99 (ver acima) O encontro, que contou com a
. ram a casa das 40. A Coidi propõe-se ocupar bleia geral da Coidi, ocorrida no mês de julho.
presença de Miguel Maia, membro da diretoria um espaço intermediário, buscando articular as Nos anos seguintes, 1999 e 2000, a estratégia
da Foirn, discutiu a implantação do Distrito ações de um conjunto de organizações vizinhas se repetiu, e a assembléia geral do Distrito de
Especial Sanitário Indígena do Rio Negro. 0 e que enfrentam problemas similares. Seu epi- Iauareté tornou-se talvez o mais importante
antropólogo Sidnei Feres apresentou os resul- centro de atuação é a sede do Distrito de lau- evento realizado anualmente na região.
tados do recente levantamento feito em conjunto areté, localizado no médio rio Uaupés, defronte Já na primeira assembléia, as organizações pre-
com a antropóloga Ana Gila de Oliveira (ISA/ à boca do rio Papuri, no ponto onde este rio sentes tomaram a importante decisão de exigir a
Foirn) no baixo Rio Negro, para identificar a passa a delimitar a fronteira Brasil/ Colômbia. retirada dos seis comerciantes brancos que atu-
população indígena da região. No último dia A população indígena de Iauareté é de cerca de avam permanentemente em Iauareté. Esta deci-
foram aprovados os Estatutos e eleita a primei- 2,300 indivíduos e a do distrito como um todo são, impulsionada peia demarcação da II Alto
ra diretoria permanente da Asiba, com Clarindo ultrapassa os seis mil. Desse modo, a Coidi re- Rio Negro e pela criação de uma associação de
Tariana na presidência, Marinete (secretária) presenta hoje todas as comunidades situadas no comerciantes indígenas a uma sé-
(Atidi), levou
Feres (tesoureiro). O conselho fiscal foi com- Uaupés entre as comunidades de Urubuquara e rie de gesiões e à ekiboração de documentos di-
posto por seis pessoas, entre as quais Milton Querari, bem como aquelas situadas no rio Pa- rigidos à Funai, Foirn, Poder Judiciário e Polícia
da Assembléia de Deus, também indicado como puri, desde sua foz até a de Melo Franco A popu- . Federal. A saída dos comerciantes brancos acon-
conselheiro da Asiba junto à Foirn. (ISA, com lação residente nessas comunidades pertence teceu entre abril e maio de 1999 de modo que,
,
base no “Relatório sobre a II Assembléia Ge- às etnias Tbkano, Tariana, Desana, Pira-Tapuia, na Segunda Assembléia, este fato já era
ral tia Asiba”, 09 a 11/06/00). Arapasso, Nfcmano, Tuyuka e Maku-Hupda. contabihzado como uma conquista da Coidi.
Fazem parte da Coidi tanto organizações de re- Nesta Segunda Assembléia, também foram in-
ACIBRN ELEGE NOVA presentação política, no sentido restrito do ter- dicados os nomes do Distrito que deveriam con-
DIRETORIA E LANÇA mo. como associações de segmentos específicos, correr às eleições para a Câmara Municipal de
INFORMATIVO que se ocupam de questões setoriais. São elas: São Gabriel da Cachoeira nas eleições de 2000
Unidi - União das Nações Indígenas do distrito e discutidas questões como transporte fluvial,
Em assembléia realizada entre 11 e 13 de ju-
de Iauareté; abastecimento de energia e obras públicas em
lho, na comunidade de Itapereira, foi eleita a
Oici - Organização indígena do Centro Iauareté iauareté, entre outras.
nova diretoria da Associação das Comunidades
(ex LIDI, ex UCIDI); Na Terceira Assembléia, ocorrida em julho de
Indígenas do Baixo Rio Negro (ACIBRN) assim ,
ONIMRP - Organização das Nações indígenas 2000, foi finalmente votado o estatuto da Coidi
composta: Jovelino Horácio (presidente),
do Médio Rio Papuri; e eleita sua segunda diretoria. Neste ano eleito-
Miguel Maia (vice) Clóvis Batista (
1“ secretá-
,
ONIARP - Organização das Nações Indígenas do ral, todos os candidatos à Prefeitura de São
rio) ,
Gerson Fonseca (2° secretário) Josias Bru-
Alto Rio Papuri; Gabriel da Cachoeira estiveram visitando
no e Luis Pena (tesoureiros). A nova diretoria
Unirva - União das Nações Indígenas do Rio Iauareté durante os dias em que foi realizado o
da ACIBRN tem utn programa de transporte c
Vaupés Acima; encontro, apresentando-se formalmenie à ple-
comunicação, além do fortalecimento do polo
Atidi - Associação dos Trabalhadores indígenas nária e fazendo comícios em diversos bairros à
base do Distrito Sanitário Especial Indígena do
do Distrito de Iauareté (dos comerciantes indí- noite. Havia mais de 200 pessoas participando
Rio Negro, sediado em Tapereira; o lançou um
genas) ;
das discussões. Todas as iniciativas c projetos
informativo. (Pucicab, n° 1, uga/00)
Aedi -Associação dos Educadores Indígenas do das organizações e associações foram apresen-
de Iauareté; tados durante os quatro dias de reunião. Diver
COORDENAÇÃO GERAL DE Distrito
-
Aispi Associação Indígena de Saúde Pública sos ofícios cobrando ações, fazendo sugestões
ORGANIZAÇÕES EM IAUARETÉ
de Iauareté; ou solicitando explicações foram elaborados e
Criada no final de 1997, a Coordenação das Amidi - Associação das Mulheres Indígenas do dirigidos à Prefeitura de São Gabriel, à Funai, à
Organizações Indígenas do Distrito de iauareté Distrito de Iauareté; Centrais Elétricas do Amazonas e ao Comando
(Coidi) representa uma integração de esforços APMCIFSM - Associação de Pais e Mestres das Militar da Amazônia. Além dos políticos, parti-
das cinco principais organizações indígenas Comunidades Indígenas da Escola São Miguel ciparam instituições como Foirn, FDDI/São
existentes nesta região (Unidi, Oici, Onimrp, Cercii - Centro de Estudos e Revitalização da Gabriel, ISA, Funai, Saúde Sem Limites, Prefei-
Oniarp e Unirva - ver abaixo). No contexto da Cultura indígena de Iauareté; tura de São Gabriel e Missão Salesiana. (ISA,
institucionalização do movimento indígena do AILCTDI - Associação Indígena da Língua e Cul- out/00)
3. ACIMRN 1994 S. Isabel Negro - Médio 34 comunidades Da Ilha de Chile para baixo,
4. CACIR 1993 Liábada Negro - Médio 12 comunidades De Plano até a Ilha do Chile
5. ACIBRN 1988 Tapereira Negro - Médio 19 comunidades De Tapajós ate Amti
14. ACIPK (= AIP) 1992 Ilha das Flores Negro - Alto 12 comunidades De S. Sebastião até S. Felipe
15. OCIARN 1998 Marabilanas Negro - Alto 12 comunidades De Nova Jerusalém até Cucuí
17. ACITRUT 1986 Taracuá Uaupés/Tiquié 28 comunidades De Monte Cristo até Ipanoré
18. AM1TRUT 1989 Taracuá Uaupés/Tiquié 28 comunidades De Monte Cristo até Ipanoré
19- ACIRC 1998 Dhutura Igarapé Castanha 08 comunidades De Fátima até Buraco de Cobra
20. UNIRT 1990 S. José 2 Tiquié 16 comunidades De Pirarara-poço até S. João Batista
21.CIPAC 1989 Pari-Cachoeira Tiquié - Alto 4 bairros Pari-Cachoeira - sede
22. ATRIART (1994) Caruru Tiquié - Alto 1 3 comunidades De S. Domingos até Fronteira Igarapé
(ex-CRETIART) 2000
23- ACIRU 1991 S. Sebastião Uinari/Tiquié 04 comunidades Umari (de S. Sebastião até Piracema)
25. UNIDI 1989 Loiro Uaupés 18 comunidades De Urubuquara até a Ilha S. João
26. OICI 1997 iauareté Uaupés 10 comunidades Distrito Iauareté
31. APMCIESM* 1998 Iauareté - sede Uaupés sem informação Distrito Iauareté
de 10 comunidades
36. UNIKVA 1996 Arara Cachoeira Uaupés - Alto 26 comunidades De Taiaçu até Foz do Querari (nUaupés)
38. ONIARP 1994 UirapLxuna Papuri - Alto 08 comunidades De Uirapixuna até Melo Franco
39. AIBRI 1999 Boa Vista Içana - Baixo 10 comunidades De Boa Vista até Buia
(no Içana) e Nazaré do Cubate
42. OIBI 1992 Tucumã Içana - Alto 16 comunidades De S. José até Tamanduá
43. UMB 1997 Castelo Içana — Alto 8 comunidades De Nazaré do Tçana até Tümii
c Vista Alegre (no Culari)
1) AMARN: Associação das Mulheres Indígenas 17) ACITRUT: Associação das Comunidades In- 32) AISPI: Associação Indígena de Satíde Pú-
do Alto Rio Negro; dígenas de Taracuá do Rio Uaupés e Tiquié; blica de Iauareté;
2) ASIBA: Associação Indígena de Barcelos; 18) AMITRUT: Associação das Mulheres Indí- 33) AILCTDI: Associação Indígena da Língua e
3) AQMRN: Associação das Comunidades In- genas de Taracuá do Uaupés e Tiquié; Cultura Indígena dos Tariaito do Distrito de
dígenas do Médio Rio Negro; 19) ACIRC: Associação das Comunidades Indí- Iauareté;
4) CACIR: Conselho de Articulação das Comu- genas do Rio Negro; 34) CERCI1: Centro de Esntdos e Revitalização
nidades Indígenas Ribeirinhas; 20) UN1RT União das Nações Indígenas do Rio da Cultura Indígena dos Tariano do Distrito de
5) AC1BRN; Associação das Comunidades do Tiquié; Iauareté;
de Saúde do Alto Rio Negro; 22) ATRIART: Associações das Tribos Indígenas 36) UNIRVA; União das Nações Indígenas do Rio
7) AFIÀRN: Associação dos Professores Indíge- do Alto Rio Tiquié; Uaupés Acima;
nas do Alto Rio Negro; 23) ACIRU: Associação das Comunidades Indí- 37) UN1MRP; União das Indígenas do Médio
8) ASSAI/ SGC: Associações dos Artesões Indí- genas do Rio Umari; Papuri;
genas - São Gabriel da Cachoeira; 24) OIBV: Organização indígena de Bela Vista 38) ONIARP: Organizações das Nações Indíge-
9) EDDI-SGC: Fórum de Debate de Direitos In- 25) UN1D1: União das Nações Indígenas do Dis- nas do Alto Rio Papuri;
dígenas - São Gabriel da Cachoeira; trito de Iauareté; 39) AIBRI: Associação Indígena do Baixo Rio
10) GETEC: Grupo de Estudo e Trabalho em 26) OICI: Organizações indígenas no Centro de Içana;
Ecoturismo; Iauareté; 40) AMAI: Associação das Mulheres do Assun-
11) AINBAL: Associação Indígena de Balaio; 27) AM1DI: Associação das Mulheres do Distri- ção do Içana;
12) AYRCA: Associação dos Yanomami do Rio to de Iauareté; 41) OCIDAI: Organização das Comunidades In-
Cauboris; 28) AEIDI: Associação dos Educadores Indíge- dígenas do Distrito de Assunção do Içana;
13) ACIRNE: Associação das Comunidades In- nas do Distrito de Iauareté; 42) OIBI: Organização Indígena da Bacia do
dígenas do Rio Negro; 29) COIDI: Coordenado ria das Organizações In- Içana;
14) ACIPK: Associação das comunidades Indí- dígenas do Distrito de laureté; 43) UNIB: União das Nações Indígena Baniwa;
gena de Potira Kapuamo; 30) ATÍDI: Associação dos Trabalhadores Indí- 44) OICAI: Organização Indígena Curipaco do
15) OC1ARN: Organização das Comunidades genas do Distrito de laureté; Alto Içana;
Indígenas do Alto Rio Negro; 31) APMCIESM: Associação de Pais e Mestres 45) UMIRA: União das Mulheres Indígenas do
16) ACIRX: Associação da.s Comunidades Indí- das Comunidades Indígenas da Escola São Rio Ayari;
genas do Rio Xié; Miguel; 46) ACIRA: Associação das Comunidades indí-
gena do Rio Ayari.
Orlando Oliveira. Domingos Barreto. Edilson Melgueiro. José Maria de Lima. Rosilene Fonseca.
FISCALIZAÇÃO justamente promover a assistência às comuni- Negro (Foim) pediram ao presidente a agilização
dades indígenas da região. (Correio Brazi- na demarcação e homologação de cinco áreas
foram criadas
MJ ABRE PROCESSO liense, 22/05/96) indígenas da região. As áreas já
vezes maior do que a Suíça. A demarcação de (ver íntegra da carta da Foim a FI1C no box), no ocasião na qual entregaram ao presidente um
áreas indígenas na faixa de fronteira não trará Estado do Amazonas, próximo à fronteira com a exemplar da publicação "Povos Indígenas no
qualquer problema para o Calha Norte, afirma Colômbia e a Venezuela. Em São Gabriel da Ca- Brasil 1991/95". (ISA e FSP, 24/0B/96)
em mãos superposição de terras indígenas e unidades de Da mesma forma, para liberação de recursos do
conservação ambiental da região, que não se res- Convênio que a Foirn está negociando neste mo-
Primeiramente gostaríamos de cumprimentá-lo,
,
trinja os direitos indígenas inscritos na Consti- mento com a Fundação Nacional de Saúde ( cujos
em nome dos 19 povos indígenas da região do Rio tuição Federal e garanta a proteção ambiental detalhes vão em anexo, em carta assinada pelos
Negro e agradecer o falo do senhor ter aceito o Seria para nós também muito importante quefos- agentes indígenas de saúde).
nosso convite e a oportunidade de nos receber. sem regulamentadas as relações entre o Exército Finalmente, gostaríamos de convidá-lo desde já .
Expressamos a nossa satisfação pelo reconheci- e as comunidades indígenas da região, seja na área .a voltar a São Gabriel, no dia 19 de abril de 1997,
mento das terras indígenas na região e solicita- destinada ao uso especial militar e superposta à Dia do índio, para. assim o desejamos, assinar a
mos que seja agilizada a demarcação Jísica e Terra huiígena Médio Rio Negro I. seja nos pelo- homologação das demarcações e o referido Plano
posterior homologação dessas terras, bem como tões de fronteira. de Proteção e Fiscalização.
sejam tomados sem efeito os decretos anteriores Pedimos ainda atenção do governo federal à pro- Sem mais peto momento,
que criaram as " ilhas ", hoje incorporadas à Ter- posta de Plano de Proteção e Fiscalização das Ter- Atenciosamente.
ra Indígena Alto Rio Negro. ras Indígenas e Unidades de Conservação Ambien- Assina: Braz de Oliveira França Baré, presidente
Solicitamos ainda, um esforço coordenado dos tal da Região, que será elaborada nos próximos da Foirn, SGC, 23/08/96.
PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO Federa] em Brasília, com o objetivo de obter a de Solidária, com apresentação de danças e can-
DE TERRAS FEDERAIS declaração judicial da ocupação indígena so- tos dos índios fiiyuka e agradecimentos à pri-
bre aquelas terras. A decisão foi publicada no meira dama Ru th Cardoso. Em S. Gabriel da
Duas reuniões foram realizadas em S. Gabriel
Diário Oficial dajustiça. Seção II. página 219, Cachoeira, o ministro da justiça - acompanha-
da Cachoeira pelo grupo de trabalho composto em 6 de fevereiro último. (ISA, 13/02/98) do do presidente da Funai, Sulivan Silvestre, e
por órgãos federais e entidades ligadas ã causa do diretor do Departamento de Assuntos
indígena. Enquanto prossegue a operação de-
FHC HOMOLOGA TERRAS Fundiários do órgão, Áureo Faleiros - entregou
nominada Siapa, para retirada dos garimpei-
INDÍGENAS DO RIO NEGRO... simbolicamente os mapas definitivos das terras
ros na área de fronteira entre o Brasil, Venezuela
indígenas Alto Rio Negro. Médio Rio Negro I e II,
e Colômbia, representantes da Funai, Ibama, presidente da República, Fernando Henrique Rio Téa e Rio Apaporis ao presidente da Foirn,
0
ISA, Exército e Foirn, avançam na elaboração Cardoso, assinou dia 14 de abril os decretos de Pedro Garcia Tariano, diante de uma assembléia
de um projeto mais amplo de proteção e fisca- homologação de 1 3 terras indígenas, numa ex- de lideranças da região. (ISA, 16/04/98)
lização das terras federais, envolvendo áreas
tensão total de 1 2.691. 163 ha, entre elas as ter-
indígenas do médio Rio Negro I e II, Parque ras Alto Rio Negro, Médio Rio Negro 1 e II, Rio COMUNIDADES EXIGEM
Nacional do Pico da Neblina e a parte Téa. Rio Apaporis, na região do Rio Negro, que SAÍDA DE COMERCIANTES
amazonense da terra indígena Yanomâmi. (A
um polígono contíguo com
constituem NÃO-INDÍGENAS
Crítica, 05/09/96) como Cabe-
10.610.538 ha, também conhecida
As comunidades indígenas do distrito de
ça de Cachorro, no noroeste do estado do /Ima-
FOIRN SOLICITA FISCALIZAÇÃO zonas, na fronteira entre o Brasil e a Colômbia.
lauareté, localizada no extremo oeste Terra In-
sede em Brasfiia, reconheceu que a demarca- Calheiros, as 23 etnias habitantes do noroeste tamente um ano, os índios solicitaram ao posto
ção administrativa das Terras Indígenas do Mé- da Amazônia brasileira comemoraram, em São da Funai instalado no distrito que repassasse à
dio Rio Negro I c II, feita por meio das Portari- Gabriel da Cachoeira (AM) a homologação pelo
,
administração regional sediada em São Gabriel,
as n° 1.558 e n° 1.559, do ministro dajustiça, governo federal de cinco terras contíguas, que a exigência da retirada dos intrusos, mas nada
implica na aceitação da procedência da Ação somam 10,6 milhões de ha. Houve comemora- foi feito. Os insistentes pedidos dos índios re-
Declaratória movida pelo Ministério Público ções também em São Paulo, no último dia 15 sultaram num comunicado, preparado pela Di-
Federal contra a União e a Funai (unto à Justiça de abril, em encontro do programa Comunida- retoria de Assuntos Fundiários (Brasília) e en-
Rio Negro querem criar um sislema de prote- Qoenibin Hemandes I.ozano, seu irmão Henri deDmuí-Cachoeira (Alto Içana) e Maturacá (TI
ção e garantir a demarcação das terras nessa Giovani Lozano e Pedro Jtiho infctnte Cabarte, Yanomami) - que permaneceram nos mesmos
região, tendo o Exército no combate aos garim- (ISA, com base no Oficio 078/99-NSGC-SS/ locais - e de Melo Franco (no Papuri) e Vila
peiros e narcotraficantes que atuam naquela DPF/AM) José Morrnes (garimpo do Traíra) todos os de- ,
área. Esse assunto vai ser um dos itens da pauta mais foram deslocados em direção à boca dos
a
da 13 Reunifto do Conselho Administrativo das PROPOSTA DE rios: Téa, Cauaburis, Uaupés, Içana, lá Mirim,
Organização indígenas do Alto Rio Negro, que MUDANÇA DE POSTOS... Marié e Xié. A dúvida que ficou entre os conse-
será realizada no município de São Gabriel da lheiros e diretores da Foirn é se os postos vão
Cachoeira. Na pauta também está prevista a dis- Os postos da Funai devem ter sua missão e lo- sair do papel. (ISA, com base nas portarias e
cussão de propostas de novas ações de ativida- calização redefinidas na região do alto Rio Ne- na Ata da XV reunião do CAP/Foim, ago/00)
des produtivas para as comunidades indígenas. gro. Essa é a síntese da proposta que aADR de
(A Crítica, 05/08/99) S. Gabriel da Cachoeira encaminhou à Funai de FOIRN INDICA CONDIÇÕES
Brasília, depois de chegar a um acordo com a PARA IMPLANTAÇÃO
VEREADORES COMENTAM Foirn e de contar com apoio lécnico do ISA. A DOS POSTOS
reorganização dos postos que constam na es-
DEMARCAÇÃO
trutura oficial da Funai na região foi determina- Em carta da Foirn dirigida ao presidente da
O vereador Erivelto Coimbra foi à tribuna da da pelo presidente da do órgão, diante da nova Funai, datada de 18 de agosto de 2000 e com
Câmara Municipal de S. Gabriel da Cachoeira situação gerada coma demarcação das cinco 53 assinaturas, entre diretores e conselheiros
a
para comentar que, na demarcação das terras terras indígenas, homologadas em 1 998. Segun- presentes na XV Reunião do Conselho Admi-
indígenas da região, não foi respeitado o raio do a proposta, dos onze PINs, sete deverão ser nistrativo da organização, foram feitas recomen-
de 40 km de zona urbana e que na época não deslocados dos cursos altos e médios dos rios dações para qoe os postos de vigilância e fisca-
houve qualquer interesse das autoridades lo- localizados na TI Alto Rio Negro, para as bocas lização recém criados sejam implantados de
caisem contestar o caso. O vereador disse que dos principais rios de acesso às cinco terras acordo com uma estratégia mais ampla de pro-
mesmo sem apoio mandou um ofício ao chefe demarcadas: Cauaburis, lá Mirim, Içana, teção e fiscalização das terras indígenas.
da Funai contestando e que, de uma maneira Uaupés, Xié, Marié e Téa. Melo Franco, onde já Á Foirn reconheceu que o remanejamento e
irresponsável, o mesmo encaminhou para a houve posto do SPI, e Vila Morntes, garimpo redefinição da missão dos postos foi “om pe-
Foim, com objetivo de fazer média política. O indígena na Serra do Traíra, ambas localidades queno passo acertado na direção de um Plano
vereador informou ainda que enviou recente- na fronteira com a Colômbia, também deverão de Proteção e Fiscalização das terras indígenas
mente documento neste sentido para a CPI da receber postos, Apenas Maturacá (Yanomami) da região". Para qoe a decisão saia do papel, a
Funai, na Câmara Federal em Brasília, mas ob- e TYinuí (Içana), permaneceríam onde estão. Foirn aprovou as seguintes recomendações:
teve a confirmação que a demarcação das ter- ( ISA, com base naproposta enviada petaAER/ - que a indicação das equipes de funcionários
ras indígenas foi feita de acordo com a lei. SGC/AM em 10/03/00) dos postos seja feita pelas associações indíge-
repassará para a AEE de SGC; pológica estão trabalhando para desenvolver um infra-estrutura necessária para desenvolver
-em cada posto devem ser contratadas no mí- modelo que possa ser parâmetro para projetos tecnologias de reprodução em cativeiro de es-
nimo quatro pessoas: um chefe, um operador de piscicultura no Alto Rio Negro, apropriado pécies de peixe da região, de acordo com as
de rádio, um motorista e um auxiliar de fisca- técnica, ecológica, social e culturabneme. Não condições locais, e a futura produção continu-
lização; em alguns casos, diante da necessida- apenas um modelo adaptado de piscicultura está ada de alevinos para povoamento das barragens
de maior de rotinas de fiscalização, serão ne- sendo construído, mas também uma forma de comunitárias.
cessárias pelo menos mais 2 auxiliares de fis- gestão eficiente, local e indígena, do projeto. Neste Quando estiver produzindo e distribuindo
calização; sentido, na Oficina ocorrida entre os dias 1 1 e 13 alevinos de aracu, o que se espera para os pri-
- a implantação destes postos deve ser precedi- de outubro, foi possível se chegar a alguns enten- meiros meses de 2000, este projeto beneficiará
da também da construção de locais apropria- dimentos sobre a organização do trabalho e as as comunidades filiadas à Cretiart (15), que so-
dos, da aquisição de alguns equipamentos bá- atribuições e responsabilidades de cada parte. mam uma população de cerca de 550 pessoas, É
sicos (radiofonia, bote com motor de popa, kit (Informativo Projeto de Piscicultura Alto possível que, depois de consolidada a atividade
de energia fotovoltáica, etc.) e material de con- Tiquié", Cretíart/Poirn/ISA, n° I, dez/99) de produção de alevinos, a Estação venha a ob-
sumo, especialmente combustível. ter excedentes, além da demanda das comuni-
Os Conselheiros da Foirn recomendaram ainda CRETIART DELIBERA dades associadas, que poderão ser utilizados no
o seguinte: SOBRE GESTÃO repovoamento do rio e na geração de alguma
- que a Funai se comunicasse com a CCSIVAM receita, necessária para a autonomia financeira
para indicar que os kits de equipamentos de Na IV Assembléia Geral da Cretiart, o Projeto de
desta atividade a médio prazo. (ISA, 04/11/99)
vigilância e comunicação, previstos para as ter- Piscicultura, voltou a ser um dos assuntos princi-
pais. Além do relato feito pelos assessores técni-
ras indígenas na Cabeça do Cachorro, sejam ESTAÇÃO CONSEGUE
cos e a equipe indígena sobre as atividades atu-
direcionados para os novos locais dos postos REPRODUÇÃO DO ARACU
de proteção e fiscalização da Funai; ais do projeto, centradas na reprodução do ara-
ção e um programa de treinamento para os fun- ção e gestão dos recursos do Projeto. A assem- reprodução induzida de uma espécie de aracu
cionários e de divulgação paras as comunida- bléia decidiu que a associação deveria assumir na Estação Caruru Cachoeira, Alto Rio Tiquié. A
des; e
parte da gestão dos recursos financeiros a serem experiência faz parte de um projeto mais am-
-que a Funai, juntamente com aFoirn, organize aplicados no Projeto no decorrer do ano 2000 e plo de manejo sustentável de recursos pesquei-
as responsabilidades correspondentes. Esta pro- ros e agroflorestais, que está sendo implanta-
uma rede de proteção e fiscalização envolvendo
a cooperação entre comunidades, associações, posta foi feita pelo ISA, através do assessor do do pelo ISA em parceria com a Federação das
missões, organizações não-govemamentais e ins- Programa Rio Negro, para apreciação da Assem- Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn),
na região, especial-
tituições públicas presentes
bléia. Tendo deliberado a este respeito, foi nas terras indígenas do alto Rio Negro. Depois
mente o Exército, Aeronáutica e o Ibama, com indicada uma pessoa para desempenhar a nova de várias tentativas fracassadas, a a reprodu-
reuniões periódicas de monitoramento. (ISA, função, que ficou sendo designaria por Logisla. ção induzida que obteve bons resultados foi feita
senvolvidas, relativas à reprodução de espécies São Domingos e a fronteira Brasil-Colômbia, o Iauareté (rio Uaupés) e Tmuí Caclioeoira (rio
de aracu e outros peixes regionais, bem como Conselho Regional das Tribos Indígenas do Alto Içana). As atividades da Estação Caruru rece-
experiências de adubação da água para a fase Rio Tiquié (Cretiart), o Instituto Sorioambiental bem apoio técnico do Cepta/Ibama e financia-
de larviciiltura e alevinagem. (ISA) e a Federação das Organizações Indíge- mento da Embaixada da Holanda, ICCO e Insti-
Não existe um modelo de piscicultura que pos- nas do Rio Negro (Foirn) . A piscicultura no Alto tuto de Cooperação Internacional da Áustria.
sa ser aplicado diretamente neste caso. Condi- Tiquié está sendo desenvolvida como projeto (ISA, 08/02/00)
ções ecológicas regionais muito específicas, li- demonstrativo e pretende-se que este modelo,
mitações logísticas, e a decisão de não criai' a quando concluído, seja replicado em Iauareté
dependência de insumos não disponíveis no lo- e no rio Içana.
cal (além dos equipamentos permanentes) são As instalações da Estação, composta pelo labo-
que levam ao desenvolvimento de um
fatores ratório de Reprodução, um depósito, uma casa
modelo pioneiro. Por este motivo, as comuni- de hóspedes, um viveiro de reprodutores, qua-
Habitat : 1. Igapó 2. Margem do rio 3 Caatinga 4. Terra firme 5. Mata virgem 6. Capoeira 7. Roça 8. Chavascal
MILHO HOKA (TK) HORIKA (TV) Gabriel da Cachoeira. Naquele tempo, São Gabriel cer um pouco, cerca de dois meses, evitando pra-
não era como hoje, os comerciantes compravam gas e doenças nas plantas. Vários alimentos não
l Ima outra planta que pode ser muito importante para suas própriascriações. Hoje em dia, com o devem ser consumidos, como galinha, inambu,
para o Projeto de Piscicultura é o milho. A des- crescimento e modernização do comércio, come- tapurus, peixe salgado, dentre outros.
vantagem das plantas mencionadas acima é que çaram a trazer dos centros maiores. A melhor época para o plantio é depois do aru, a
demoram alguns anos até produzir as primeiras Antigamente, cada família tinha sua roça f>ara friagem que ocorre depois das grandes enchentes
frutas, mesmo aquelas com crescimento mais rá- consumo próprio, mas também vendia para o in- e antes dos os primeiros verões do meio do ano.
pido. O cultivo de milho, ao contrário, dura só ternato de Pari-Cachoeira, as missões também ti- Já o avô de Avelino se orientava pela chuva, plan-
alguns meses. 0 milho já foi mais plantado no nham suas criações. Com o desenvolvimento do tando nofinal do verão, quando começava a chu-
alto Tiquié. Na Oficina, foi feita uma conversa transporte e do comércio e o fim dos internatos, va ele plantava (mais ou menos em março).
sobre os motivos da redução de seu plantio na a demanda por produtos daqui.
cessou Antigamente, quando se debulham, deixava-se
região, sobre as regras de plantio e sobre a possi- Quando havia as malocas grandes, os tuxauas uma parte na água. para brotar, depois se levava
bilidade e dificuldades de sua rein tradução do cul- controlavam o plantio. Este era socado e assado para plantar na roça. Hoje em dia, dizem que
tivo. 0 milho fortalecerá o Projeto, por que pode dentro defolhas do próprio sabugo e também usa- pode-se plantar, com bons resultados, logo depois
ser um importante item na alimentação dos pei- va-se parafazer caxiri, quefica mais suave e sau- que é debulhado.
xes.além de seu emprego na alimentação da po- dável. Com o comércio, a produção passa a ter Produz melhor nas capoeiras em que tem mais
pulação local e de outra criações. Segue um resu- outra finalidade. Quando este acabou, a ativida- esterco de minhoca. Também da na terra preta
mo do que foi dito na Oficina. de decaiu. (dilá niisé, em tukano) e, especialmente, na "ter-
Há algum tempo atrás havia comprador para o Antigamente, quando se plantava milho, para con- ra de pólvora" (õma diveri dita, em tukano). (in-
milho, principalmente a União Familiar Cristã seguir uma boa produção, devia-se fazer absti- formativo "Projeto de Piscicultura Alto Tiquié",
(Ufac) de Pari -Cachoeira, que revendia em São nência de algumas comidas e de sexo. até ele cres- Cretiart/ Foirn/ ISA, n° I, dez/99)
entações:
1. Modelo econômico
0 sistema de criação de peixes devefuncionar com
as mesmas regras das atividades de subsistência:
trabalha-se produzindo para alimentação e para
viver, o excedente podendo ser vendido. CABALZAR/ISA
nicas, usos);
evita mudar a dieta tradicional
evita mudar a composição de tipos de peixes do rio
evita introdução de doenças da água
evita o risco de procriação entre as espécies nati-
vas e espécies introduzidas (contaminação gené-
e a contagem
tica das populações locais)
dos ovos de
4. Criação em pequena escala
aracu após a
0 ideal é que cadafamília venha a ter seu próprio reprodução.
viveiro e tenha condições e conhecimentos para
manejá-lo.
5. Produção semi -intensiva ( sistema de
criação)
A produção (quantidade e tamanho que os peixes
atingem no viveiro) depende do jeito de acidar
dos peixes. Fazendo pouco esforço (pois deixa o
peixe no viveiro sem receber cuidados, sem ser
alimentado), chama-se "sistema extensivo". A
produção é baixa.
Quando o criador se esforça oferecendo alimen-
tos e outros cuidados aos peixes, chama-se "sis-
tema semi -intensivo " de criação. A produção au-
menta, e pode atender as necessidades de subsis-
8.Fonte de alimento segura - 0 sistema de criação de peixes não deve esgotar
tência, por isso o adotaremos.
6. Dedicação ao trabalho Tomando-se parte importante da alimentação, os recursos naturais de que depende. 0 que for
Para não atrapalhar outros trabalhos das famíli- essa produção da piscicultura não deverá falhar usado deve ser replantado f>ara dar conta de fu-
as, como a pesca, a caça, coletas, a abertura de nem ser interrompida. Por isso ela não deve de- turas necessidades.
roças, o plantio, etc., não podemos adotar um tipo pender de instintos de fora porque, se eles falta- Usando recursos naturais renováveis, fica mais
de criação que requeira dedicação muito grande rem, interrompe-se uma etapa e com ela toda a garantida produção constante ( que não se inter-
do criador, chamado sistema intensivo ".
", cadeia de produção. rompa) e permanente (que dure muito tempo).
7. Fontes de proteínas 9 Sustentabilidade ecológica
. 10. Replicabitidade
A produção da piscicultura deverá complementar Recursos naturais renováveis são aqueles elemen- Deve-se poder aplicar os resultados desta exfwri-
a pesca e a caça na alimentação das pessoas. A tosda natureza que, se utilizados com cuidado, ência em outras partes da bacia Amazônica.
pesca continuará sendo a maiorfonte de proteí- são repostos após um certo tempo. (Informativo “Projeto de Piscicultura Alto TU|uié'\
EDUCAÇÃO presentantes da universidade e das organizações dáticos nas línguas indígenas. A Conferência
indígenas, vai estudar 0 projeto e definir com contou com a participação de uma equipe do
base legal, inclusive a modificação do Estatuto da Educação, da Secretaria Estadual
IX ENCONTRO DE Ministério
e Regimento da Universidade, a forma de sele- de Educação, para que se façam parcerias para
PROFESSORES EM S. GABRIEL
ção e 0 número de vagas. Mas já se sabe que no as ações que constam do programa. Nessa oca-
O movimento dos Professores Indígenas do próximo ano, os índios amazonenses participam sião se discutiu a formação do Conselho Muni-
Amazonas, Roraima e Acre (Copiar) realizou seu do vestibular cotn características próprias e sis- cipal de Educação, com ênfase na educação in-
LX encontro etn São Gabriel da Cachoeira, du- tema diferenciado. dígena, por serem os índios a maioria absoluta
rante os dias de 09 a 15 de julho. Os professo- A Foim, a primeira a solicitar 0 acesso diferen- dos habitantes desse município. Falou-se ainda
res de outros locais dos estados do Amazonas, ciado dos índios à Universidade do Amazonas, da necessidade da regulamentação das escolas
Roraima e Acre chegaram a São Gabriel de bar- em dezembro de 1995, foi criada em I9S7 para municipais e da reelaboração dos seus currí-
co: a reunião teve início já no barco “Katatal” lutar pela demarcação das terras indígenas na culos e regimentos.
fretado só para esse fim. Estiveram presentes região do Rio Negro. Com sede em São Gabriel No programa “Construindo uma Educação Es-
cerca de 90 professores indígenas de diferen- da Cachoeira (a SOO quilômetros de Manaus), colar Indígena” consta um dado importante
tes etnias vindos de fora e 200 professores in- a Foim é composta por 23 organizações de base para 0 município, no diagnóstico da educação
dígenas do município de SGC. A reunião se rea- distribuídas ao longo dos rios da bacia do Rio escolar indígena que foi elaborado: 0 municí-
lizouno ginásio coberto do Colégio São Gabriel, Negro. (ISA eA Crítica, 27/03/97) pio é 0 segundo do Brasil com 0 menor índice
conlando com 0 apoio da Foim para a hospe- de analfabetismo, devido à grande escolarização
dagem e alimentação de todos os participantes. ... SERÁ APENAS AOS produzida pelas missões salesianas desde 0 iní-
Esse movimento se articula através do uma co- CURSOS SEQUENCIAIS cio do século. Em muitas comunidades esse
missão, a Copiar, que coordena a realização de índice é igual a zero entre a população jovem
seus encontros anuais, elabora os projetos e
0 Conselho Universitário da UA não aprovou 0 de 7 até 35 anos. (ISA, jtiI/97)
acesso diferenciado dos índios nos cursos de
presta contas de aplicação do dinheiro. Esses
graduação regulares. Em troca, viabilizou a en-
encontros têm produzido discussões e documen- A FALA TUKANO”
tos que têm sido paradigmáticos de normas e
trada de estudantes indígenas sem seleção aos
leis que 0 governo incorpora, como por exem- chamados cursos seqiiendais, aprovados pela O Centro “lauareté" de Documentação Etnográ-
nova Legião Brasileira de Assistência (LDB) Lei fica e Missionária (Cedem), vinculado à Inspe-
plo a Declaração de Princípios, produzida em ,
91 e reafirmada em 94. 0 tema desse DC Encon- Darq Ribeiro e 2000 foi 0 primeiro ano de ex- loria Salesiana Missionária da Amazônia, de
ro
1
',
foram discutidas questões relacionadas aos
título referente ao número de créditos que cada 'Mano dos Ye’pâ-masa" de autoria do linguis-
estudante faz durante 0 período letivo. Não são ta Flenri Ramírez, depois de dois anos de pes-
objetivos da escola indígena: para que servem
cursos superiores, mas podem se transformar quisa (1994-96), com apoio dos saiesianos e
as escolas e suas continuidades fora da aldeia, a
em, se 0 aluno tiver condições de se manter, do bispo da Diocese de S. Gabriel da Cachoei-
quais projetos de futuro dos povos indígenas
essas escolas estão a serviço. Foi discutida ain-
persistir e cumprir sequencialmente todos os ra, D. Walter Ivan Azevedo. A obra em 3 volu-
0 acesso diferenciado de estudantes indígenas um barco-escola e estruturação de uma mini- balho na região, que valorize a cultura, 0 arte-
à universidade. Uma comissão, formada por re- gráfica para produção/edição de materiais di- sanato, 0 trabalho feminino e fortaleça politi-
camente a organização indígena de mulheres. e Rosilene Fonseca, da Foirn, estiveram presen- COOPERAÇÃO ENTRE
Da assembléia das mulheres indígenas do Alto tes durante essa campanha, juntamente com UA E DIOCESE PARA
Rio Negro se pretende retirar propostas de in- Marina Kahn e Luís D. B. Grupioni do ISA. Nes- AÇÃO EDUCATIVA
tercâmbio entre as mulheres que migraram para sa ocasião, visitaram a organização Rainforest,
a cidade e as que estão no interior, “na base”, que já é parceira do ISA para o Programa Xingu. Um convênio firmado entre a UA e a Diocese de
como elas chamam. (A Crítica, 06/09/97) (ISA e O liberal. 28/10/97) S. Gabriel da Cachoeira vai possibilitar o de-
senvolvimento de programas e ações educativas,
Dm Dia de Trabalho (OD) para que essa orga- objetivos implementar a política nacional de
SEMEC INICIA PROGRAMA DE educação indígena no estado do Amazonas, e
nização possa apoiar projetos educacionais
FORMAÇÃO DE PROFESSORES discutir, analisar e apoiar as diferentes experi-
para populações do terceiro mundo. Neste ano
ências educacionais indígenas levadas a efeito
de 1997 a campanha da OD foi direcionada para A Secretaria Municipal de Educação (Semec)
nessa região. Esse Conselho tem ampla repre-
os povos indígenas no Brasil: alguns progra- de S. Gabriel da Cachoeira deu início a um pro-
mas de educação foram previamente escolhi- grama de formação dos professores indígenas, sentação dos professores indígenas - maioria
dos em uma visita feita pelos líderes dos estu- com titulação no nível de magistério. Essa for-
- sendo eleito presidente Ademir Ramos e vice-
presidente Jadir Neves, Makuxi de Roraima, que
dantes da campanha desse ano a algumas áre- mação vai se realizar em etapas, durante o pe-
as indígenas. Esses estudantes estiveram nas ríodo das férias escolares, para que os profes- também trabalha na Coiab. A calha do Rio Ne-
gro tem três representantes com seus suplen-
áreas (incluindo São Gabriel) conversando e sores que estão em sala de aula possam partici-
conhecendo as organizações indígenas, seus par integraimcnte. Os professores foram divi- tes, que ficaram responsáveis por articular e
fazer discutir as questões pertinentes a essa re-
parceiros para escolher os locais onde iriam didos em o grupo de professores
dois polos:
gião. (ISA,jul/98)
ser desenvolvidos os projetos educacionais. indígenas baniwa do rio Içana, que possuem me-
Foram escolhidos os seguintes projetos de edu- nor escolaridade, ficou sendo o Polo 1 ;
e o gru-
cação: Waiãpi do Amapá, em parceria com o po de professores falantes de línguas da família PROFESSORES INDÍGENAS
CT1;Yanomami de Roraima em parceria com
,
fhkano Oriental, que possuem maior escolari- FUNDAM APIARN
a Comissão Pró Yanomami e Povos Indígenas dade ficou sendo o Polo 2. O curso começou
Professores indígenas reunidos no final da III e
do Alto Rio Negro, a ser desenvolvido pela Foirn em Juivitera, comunidade do alto rio Içana, onde
IV etapas do Magistério Indígena, em São Gabriel
em parceria com o Instituto Socioambiental. foidada a primeira etapa, com duração de 1
da Cachoeira, em julho de 1999, fundaram a
Durante a campanha dos estudantes, algumas mês e meio. A segunda elapa foi ministrada em
Associação dos Professores Indígenas do Alto
lideranças indígenas e profissionais das orga- Tunuí Cachoeira, em julho de 1998, para o Polo
Rio Negro (Apiarn). O objetivo dessa nova as-
nizações não governamentais suas parceiras, 1 e em São Gabriel para o Polo 2 na mesma
sociação é valorizar as escolas nas comunida-
viajaram para a Noruega a fim de divulgar e in- época. A previsão é que os professores indíge-
des, reestruturá-las de maneira a valorizar as
formar sobre a situação em suas áreas, especi- nas em serviço se formem em dezembro de
A Apiarn tem tam-
culturas e línguas da região.
ficamente no que tange à educação. Miguel Maia 2000. (ISA, fetr/98)
bém como objetivo valorizar o trabalho do pro-
fessor indígena das comunidades, antigamente
chamado de professor rural. (ISA e A Crítica
17/08/99)
ATÉ PROFESSORES
O barco escola do Unicef que vai atuar como lei assegura o respeito aos princípios da FUNAI ESTUDA CONVÊNIO
instrumento pedagógico em São Gabriel da Ca- interculturalidade, bilingiiismo, reconhecendo COM UNIVERSIDADES
choeira, a 858 km de Manaus, partiu ontem, às e valorizando as pedagogias e valores tradicio-
nais dos povos indígenas. Fica assegurado ain-
A Eunai está em negociando com a Unicamp,
1 9h30, do porto de São Raimundo. O barco faz em nível su-
da o ingresso na carreira de magistério indíge- UnB, e UFPE a formação de índios
parte do projeto "Promovendo educação nas
na através de concurso específico, que leve em perior. 0 interesse do órgão, conforme apre-
escolas indígenas", um investimento por parte
conta os conhecimentos linguísticos e culturais
sentado em reunião do Conselho Administrati-
do Unicef de Rí 88.644 com uma contrapartida
vo da Foim, é formar profissionais, principal-
da Prefeimra de São Gabriel da Cachoeira no tradicionais. (ISA, nov/99)
mente advogados, plenamente identificados
valor de Rí 74.239. 0 oficial de educação para
com a causa indígena. Atualmente, a Eunai está
a Amazônia brasileira do Unicef, Marcelo PROFESSORES FAZEM
preparando projeto para viabilização da pro-
Mazzoli disse que o barco vai beneficiar direta- ENCONTRO EM S. ISABEL
posta, a pedido da Unicamp. (ISA, a [tartir da
mente 508 professores, dos quais 389 são indí-
Ata da XIV Reunião do Conselho Administra-
genas, e indiretamente 1 1 mil crianças, das quais Começou ontem o encontro de 250 professores
tivo da Foim, jan/00)
nove mil são índios. (A Crítica, 22/09/99) indígenas da calha do rio Negro, em Santa Isa-
eira aprovou em novembro a Lei do Sistema Mu- da no último encontro de professores indíge- nas para produção de materiais de leitura e es-
nicipal de Ensino, regulamentando todo o ensi- nas, em setembro. A Seduc está coordenando a tudos em sua língua. As oficinas contam com
no fundamental que está sob gestão municipal, realização do evento, com o apoio das prefeitu- apoio dos antropólogos Aloísio e Flora Cabalzar,
conforme a Constituição Eederal. Essa lei reco- ras de Barcelos, São Gabriel da Cachoeira e Santa do ISA. Foram escolhidos alguns temas, como
nhece e regulamenta os sub-sistemas de ensino Isabel do Rio Negro. (ISA eA Crítica. 02/12/99) a situação atual da sociedade e seu meio; ativi-
indígenas, que são os sistemas de ensino em dades humanas e seus resultados, e realizado
estruturação nas diferentes comunidades indí- um diagnóstico socioambiental. Esse trabalho
genas do município. Nessa regulamentação se resultou numa pesquisa sobre os etno-
reconhece que os sub-sistemas de ensino indí-
genas são diferentes porque devem se estruturar
tendo como base o respeito às organizações
sociais, políticas e culturais dos povos indíge-
nas. Esses sub-sistemas devem ser autônomos
para construírem seus projetos político-peda-
gógicos, levando em conta os projetos
societários de cada povo indígena. Outra lei
gena. Além disso, em seus princípios gerais, essa Escola Indígena Baniwa Coripaco Páanhali no A/to Içana.
primeiro livro de autoria coletiva dos Ttayuka: se vingam carregando o menino rumo à Lua,
“Mariya dita maiitda hira” o que numa tradu- onde ele passa a morar numa pequena aldeia,
Indígena no Alto Rio Negro, realizado em par- dos índios foram questões debatidas ontem no I cina de pinturas, desenhos e histórias que reali-
ceira pela Foirn e ISA. (ISA,jun/00) Simpósio dos Povos Indígenas do Rio Negro, que za até hoje, dentro da programação da exposi-
no Parque do Mindu, com o lan-
se encerra hoje ção “Memórias da Amazônia”, em cartaz no Centro
‘TERRA DAS LÍNGUAS” çamento da segunda edição do livro “Antes o Cultural Palácio Rio Negro. (A Crítica, 18/04/97)
A Escola Indígena Baniwa Coripaco Pãanhali indígenas da região. O festival, realizado no Cen- dígenas do Rio Negro (Foirn) e o ISA estarão
iniciou o primeiro período letivo de suas ativi- tro Folclórico, Artístico e Desportivo do muni- lançando o livro “Waferinaipe Ianheike: a sa-
dades no dia 29 de agosto. Já estão pronlas as cípio, encerrou ontem com a apresentação das bedoria dos nosso antepassados”, no próximo
12 casas que compõem a comunidade/escola tribos Tukano e Waupés, que levantou o ânimo dia 19 de abril. Dia do índio, na sede da Foirn,
Pãanhali, que servirão como salas de aula e tam- das torcidas. Os índios Yanomami encenaram o em São Gabriel da Cachoeira, região do alto rio
bém como moradias para os professores. F,ssa ritual Kariamã, em que os adolescentes - Negro (AM). Trata-se do terceiro volume da
escola está sendo criada a partir de uma idéia cunhantãs e curumins - são iniciados à vida Coleção Narradores Indígenas do Rio Negro,
que há pelo menos três anos a Oibi vero discu- adulta. (A Crítica, 31/08/96) editada pela Foirn com a colaboração técnica
tindo: fazer uma escola de 5' à ÍP série do ensi-
do ISA, que se destina prioritariamente ao pú-
no fundamental, que sejaprofissionalizante, vol- MALOCAS PARA EXPOSIÇÃO blico de leitores indígenas da região.
tada para as necessidades ambientais e econô- “MEMÓRIAS DA AMAZÔNIA” “Waferinaipe Ianheike” é uma coletânea de nar-
micas das comunidades Baniwa e Coripaco da
O índio tukano José Maria Lima Barreto dá ori- rativas míticas dos Hohodene e dos Walipere
região do Médio e Alto Içana. A Oibi realizou
entações na língua tukano para os construtores dakenai, dois grupos Baniwa que habitam as
três encontros de educação Baniwa para dis-
de uma maloca tuyuka que está sendo erguida margens do rio Aiari, afluente do rio Içana, no
cutir a idéia dessa nova escola, chegando, in-
na área externa do Centro Cultural Palácio Rio Brasil. Resulta do trabalho do antropólogo Robin
clusive, a detalhar os conteúdos da parte
Negro por índios de várias tribos do Alto Rio Wright entre estas comunidades entre 1977 e 76,
diversificada do currículo. O calendário esco-
que registrou uma grande quantidade de narra-
Negro. Uma maloca waimiri-atroari já está con-
lar está sendo organizado em períodos intensi-
cluída. Essas peças fazem parte da preparação tivas de diversos gêneros - orações, canções, liis-
vos letivos, de mais ou menos dois meses cada,
do local para receber, no período de 3 de abril tóriíLS e cantos xamânícos. Dos sete narradores
dc acordo com as atividades tradicionais das
Baniwa, apenas dois ainda estão vivos.
a 3 de junho, a exposição “Memórias da Ama-
comunidades da região. No período em que não
zônia: expressões de identidade e afirmação ét- Um destes, Manuel da Silva, de Uapui Cachoeira,
há atividade na escola, os estudantes e profes-
nica”, com 250 peças indígenas recolhidas há realizou o trabalho de revisão da primeira versão
sores voltarão para suas casas. (ISA, ago/OO)
200 anos pelo naturalista Alexandre Rodrigues da publicação. Sua segunda versão foi cuidado-
Ferreira em viagens pelo Alto Rio Negro. (A Crí- síimente revisada por Paulo Fontes Rodrigues, se-
reuniram-se na maloca da Foirn, em São Gabriel em reu niões matinais mediadas por Maximiliano tando inclusive com a participação de estudan-
dificultando a navegação. De São Paulo vieram Foram várias sessões livres para demonstrar os alimentação e remuneração das Comunidades
os músicos, os equipamentos e os técnicos de som, sons de diferentes tipos deflauta: os violões trazi- que participaram da oficina.
além de uma equipe da TV Cultura. Foram quase dos por Marlui circularam em várias mãos. Diá-
duas semanas de convivência e de intercâmbio logos musicais inusitados se estabeleceram. Como EM SÃO PAULO
cultural que geraram vários resultados. para os Tuyuka e os Wanano dançar-cantar- to- 0 sucesso da apresentação final levou o grupo
A idéia da oficina nasceu em 1997 entre a direto- car são gestos quase sempre associados, Rodolfo Tuyuka a São Paulo. A convite da Comunidade
ria da Foirn e a equipe do Programa Rio Regro do Stroeter, por exemplo, teve que abandonar seu Solidária, os Tuyuka do alto Papuri chegaram à
Instituto Socioambiental (ISA), coordenada pelo contrabaixo algumas vezes para entrar na nula capital paulista no dia 9 de abril para ensaios e
antropólogo Beto Ricardo, como resposta às de- empunhando uma flauta de pã. Marlui dançou- duas apresentações conjuntas com Marlui
mandas de várias comunidades interessadas em tocou-cantou somente com as mulheres. Miranda. Rodolfo Stroeter e o grupo de "cidadãos
registrar, com qualidade audiovisual, suasformas dançantes" dirigidos pelo coreógrafo Ivaldo
atuais de expressão cultural e de transformar em
APRESENTAÇÃO FINAI Bertazzo, dentro de uma programação da Comu-
espetáculo "parafora "parte de suas tradições vi- A partir do quinto dia de trabalho o grupo da ofici- nidade Solidária, no recém -inaugurado teatro do
vas. A proposta foi acolhida por Marlui Miranda e na começou a construir a apresentaçãofinal, pas- SESC Vila Mariana.
Rodolfo Stroeter/Pau - Brasil Som e Imagem e so a passo: ensaio, roteint. marcação de luz, cená- Os Tuyuka saíram de sua comunidade no dia 06
apoiada pela Comunidade Solidária, no âmbito rio e formas de acesso do público foram algumas até tauareté, na fronteira do Brasil com
a Colôm-
do Projeto Universidade Solidária. das dimensões trabalhadas. Assim como seus des- bia, de onde seguiram de avião a Manaus e São
dobramentosfuturos, combinando regras de uso do Paulo, com apoio da FAB. Ao chegar a São Paulo,
TRÊS MOVIMENTOS material gravado e a questão dos direitos au torais. os Tuyukaforam recebidos por uma equijte do ISA,
No dia seguinte à chegada a S. Gabriel, os Tuyuka A apresentação, realizada na noite de 3 de feve- que os acompanhou nos dez dias que permanece-
e os Wanano abriram suas caixas de adornos, se reiro, com a presença da primeira dama e antro- ram na capital paulista. Com casa lotada e a pre-
paramentaram, se pintaram e começaram a de- póloga Ruth Cardoso e comitiva, reproduziu o sença deprimeira -dama Ruth Cardoso, os Tuyuka
monstrar partes de rituais tradicionais que prati- movimento da oficina: peças da tradição de cada se apresentaram no SESC Vila Mariana nos dias
cam, apesar dos 300 anos de contato nada amis- uma das aldeias, números do repertório recolhi- 15 e 19. No dia 17, fizeram uma apresentação
tosos com os colonizadores e da implacável perse- do por Marlui Miranda em pesquisas anteriores e extra na Unicamp. em Campinas. (ISA, abr/OO)
guição cultural movida fie-
los missionários sa/esianos
neste séado.
Na sequência, Marlui Mi-
randa, acompanhada pelo
baixo acústico de Rodolfo
Stroeter, apresentou músi-
cas e instrumentos indíge-
nas de diversas etnias espa-
lhadas pelo Brasil, resulta-
do de suas andanças e pes-
quisas nos últimos dez
anos.
Concluída essa etapa de
apresentação mútua, os
participantes da oficina co-
meçaram a construir uma
agenda de trabalho que
combinou três movimen-
tos: (1) apresentar peças
inteiras para poder regis-
trar o áudio : (2) experi-
mentar nows instrumentos
e recursos audiovisuais: e
(3) construir uma apresen-
tação final para o público.
OIBIREÚNE MESTRES
DA CESTARIA DE ARUMÃ
Em abril de 1999, após quatro meses de prepa-
ração, a Oibi, com apoio da Foirn e do ISA, or-
ganizou uma oficina de mestres da arte de
arumã, identificados numa assembléia da asso-
ciação noanoanteriore convidados para o even-
to. Durante uma semana, estiveram reunidos na
casa comunitária de Dicumã-Rupitâ 20 artesãos
de dez comunidades do alto Içana. Cada qual
trouxe um conjunto de peças prontas para mos-
... que
trar e matérias-primas para preparar e trançar
transporta a
até o acabamento. cestaria de
Essa situação de trabalho e convivência permi- arumã até a
tiu uma interação inédita entre os artesãos, os cidade de SBC.
SAÚDE
EPIDEMIA DE TUBERCULOSE
O município de S. Gabriel da Cachoeira vive uma
epidemia de tuberculose. Em oito meses - de
janeiro a agosto deste ano - os casos registrados
representam 88,75% (80) de todo o ano de ARTE BANIWA
1996 (89). Os números foram fornecidos, por
telefone, pelo secretário municipal de Saúde, o
zonas, Tancredo Caslro Soares, disse que há três DOENGA AMEAÇA NOVA ONG PROCURA
anos a Susam não desenvolvia nenhuma ativi- DEIXAR ÍNDIOS CEGOS PROMOVER TRABALHO
dade no município. Essa ausência ajudou a
Os índios do Alto Rio Negro estão ameaçados
CONJUNTO
agravar o quadro. No período de 92/96, ü inci-
dência de tuberculose cresceu muito, está hem de ficar cegos. Uma pesquisa do Instituto de
Nos últimos anos, as instituições que trabalham
- Oftalmologia de Manaus, realizada na região de
acima dos índices asiáticos e africanos tidos mais diretamente a saúde da população que vive
- observou Soares, S. Gabriel da Cachoeira detectou que de 298
como os mais altos (A Crí- no interior de S. Gabriel da Cachoeira, estão
índios de diversas etnias examinados, mais de
tica, 02/09/97) procurando fazer suas atividades de forma con-
50% estão com tracoma, uma doença causada junta. Esse esforço possibilita que cada institui-
por uma bactéria que pode levar à cegueira.
INDICADORES APONTAM S. ção saiba o que a outra está planejando e fazen-
Segundo a pesquisa do Instituto, alguns índios
GABRIEL COMO ÁREA CRÍTICA do. Assim é possível trabalhar de forma organi-
Maku já estão cegos. (A Crítica, 03/03/99) zada, visando a melhoria no atendimento à saú-
A falta de políticas sanitárias preventivas e de es- de e na formação dos agentes de saúde. No sen-
trutura de saneamento adequadas, a dificuldade MINISTÉRIO LIBERA VERBA tido de oficializar esse modo de trabalhar foi
de transporte e o sedentarismo adotado pelo ín-
criada, em 28 de agosto de 1999, a Sociedade
Precisou de uma matéria na Rede Globo sobre
dio por influência do homem branco fizeram de para o Desenvolvimento da Saúde Indígena do
o abandono do hospital construído pelo proje-
São Gabriel da Cachoeira, município do Alto Rio
to Calha Norte em Iauaretê (AM), no Alto Rio
Rio Negro (SDS) . A SDS é formada pelas seguin-
Negro, uma das áreas com os piores indicado-
tes instituições: Foirn, AAISARN, Centro de Saú-
Negro, para o Ministério da Saúde decidir libe-
do país. Também
res de tuberculose e malária
de Escola Dom Walter Ivan, Saúde Sem Limites
rar uma verba de R$ f milhão. Os recursos são
ocorrem com grande frequência diarréias, e pela Associação dos Trabalhadores de Enfer-
suficientes para a reforma do imóvel e a com-
verminoses, infecções pulmonares e tracoma
pra dos equipamentos médico. Dez anos depois,
magem de São Gabriel da Cachoeira (ATESG)
(espécie de conjuntivite que causa a cegueira),
enfim, o hospital será inaugurado. (A Crítica,
A Secretaria Municipal de Saúde não faz parte
males de controle estatístico menos rigoroso. As
04/04/99) da SDS mas, estará trabalhando em parceria
maiores vítimas são os índios, que representam com a SDS. O objetivo principal da SDS é ga-
90% da população local, de 30 mil habitantes.
rantir que os serviços de saúde para a popula-
As ações de saúde na Região do Alto Rio Negro
ALCOOLISMO PROVOCA
ção do interior de S. Gabriel da Cachoeira se-
dependem, em grande parte, do trabalho qua- VIOLÊNCIA ENTRE ÍNDIOS
jam desenvolvidos com boas condições de ge-
se anônimo dos médicos das organizações não-
Diariamente, o xadrez da delegacia dc São rência e de qualidade técnica visando a melhoria
govemamentais, que ocupam o espaço deixa-
Gabriel da Cachoeira abriga pelo menos seis das condições de saúde e de vida nas comuni-
do pela omissão do poder público. O clínico
pessoas que perderam as estribeiras por causa dades. A SDS também tem como princípio que
Norimar de Oliveira é um exemplo. Formado
do álcool. De uma hora para outra começam a estas atividades sejam feitas respeitando-se as
pela Escola Paulista de Medicina, ele desistiu
distribuir socos, pontapés e até facadas em mu- culturas indígenas e as normas do Sistema Úni-
da vida na cidade grande - e de um salário mais lheres, filhos, amigos. Um ou outro caso de es- co de Saúde. (Wayuri, out/99)
gordo - para praticar aquilo que chama de tupro é registrado esporadicamente. Com uma
“uma medicina mais necessária", na ONG peculiaridade: ou as vítimas ou os agressores EXPOSIÇÃO SOBRE
Saúde Sem Limites, financiada pelo governo
são indígenas e estão alcoolizados. SAÚDE REPRODUTIVA
britânico e pela Comunidade Européia. QB, 0 coordenador da equipe do Programa Rio Ne-
22/02/98) Foi inaugurada a exposição sobre a saúde
gro da organização não-governamental Institu-
to Socioambíental, o antropólogo Carlos Alberto
reprodutiva das mulheres indígenas do Alto Rio
EPIDEMIA DE TRACOMA Ricardo, diz que a história da interação entre
Negro, no Memorial da América Latina, Essa
ATINGE OS MAKU brancos c índios explica, em parte, porque a exposição é fruto do trabalho desenvolvido pe-
REPRODUTIVA GERA não há rede de abastecimento nem tratamento ciantes. A reclamação unânime dos participan-
EXPOSIÇÃO de água. O lixo também não é tratado conveni- tes foi com respeito ao baixo preço pago pelos
enteinente, já que 15 colocam a céu aberto, 9 "patrões" pelo milheiro do peixe cardinal. Di-
Segue até 12 de dezembro a exposição Saúde enterram, 23 queimam e 9 jogam o lixo no rio. ante das reclamações, o representante dos com-
Reprodutiva - As concepções das mulheres in- Das 42 comunidades visitadas, apenas metade pradores concordou em pagar imediatamente
dígenas de lauareté, Terra Indígena no Alto Ido possui posto de saúde e estes encontram -se em dez reais e, quatro meses mais tarde, subir para
Negro. Amostra reúne uma seleção de desenhos mal estado de conservação. A assistência à saú- 12 reais. Os participantes da reunião disseram
produzidos por mulheres que participaram do de tem sido realizada pelos AIS e outros profis- que "... antes (anos atrás), havia um período
projeto Saúde Reprodutiva, desenvolvido pela sionais de saúde, como os do exército que rea- em que era proibido pescar cardinal e que ago-
antropóloga Marta Azevedo, do Núcleo de Estu- lizam visitas esporadicamente. (ISA, com base ra esse período não é mais respeitado, causan-
dos da População (Nepo), da Unicamp. A expo- no “Relatório de atividades. Levantamento de do vários transtornos para os pescadores que
sição acontece no Pavilhão da Criatividade do Saiíde no Município de Santa Isabel do Rio perdem seus materiais e para o meio ambien-
Memorial da América Latina. (O Dm, 07/12/99) Negro ” Sdo Gabriel da Cachoeira, jun/00) te”, com a diminuição dos estoques naturais.
Além do mais, o “manifesto" de embarque é
LEVANTAMENTO SANITÁRIO IDENTIFICAÇÃO DE feitoem Barcelos - provocando evasão de divi-
EM S. ISABEL COMUNIDADES INDÍGENAS sas no município dc origem, que é S. Isabel - e
sempre houve diálogo com as comunidades..” pio de Barcelos no Rio Aiuanã. A reunião deci- lhadores. (ISA, com base na denúncia envia-
Porém, relatou, há oito meses chegaram o sr. diu denunciar ao Ibama as atividades invasoras da pelas lideranças de Castanheiro à Foirn e
Raimundo e Eido dos Santos e Demétrio e seus e exigir um termo de compromisso dos repassada à AER/ Funai/ SGC em 03/1 1/99)
pescadores, denominados “novos piabeiros”, piabeiros da comunidade estipulando os perío-
todos vindos de Barcelos, causando transtor- dos e espécies permitidos para a atividade, Uma
nos ao sistema existente porque não respeitam reunião similar foi realizada também na comu- MINERAÇÃO
o “período de pesca” nem o meio ambiente. nidade de Tabocal - Rio Téa, para a discussão
Segundo o sr. Gomes, eles queimaram, em gran- dos mesmos problemas. (Relatório da reunião
“SEIS LAGOS”TEM 78%
de escala, as samambaias da margem do rio, na comunidade de Taboca/ - 15 de agosto de
onde os peixes se reproduzem na época da 1998 e reunião na comunidade de São João,
DO NIÓBIO MUNDIAL
cheia. O sr. João Batista Lopes, administrador município de Santa Isabel do Rio Negro - AM Guardada pelo Morra dos beis Lagos, entre a
da comunidade de S. João, acrescentou que 29/01/99) cidade de S. Gabriel da Cachoeira e o Pico da
estes piabeiros também capturam “bichos de Neblina, na região do alto Rio Negro, no Ama-
casco e pescados, atividades proibidas e res- IBAMA DE SGC RESPONDE zonas, está a maior reserva minerai de nióbio
peitadas pelos antigos piabeiros. O sr. Luis do planeta. Metal de alto valor industrial e ma-
F.m oficio assinado pelo sr. Ezio Borba, enge-
Carlos “Bazar”, piabeiro que há sele anos tra- téria-prima básica na produção de chips para
nheiro agrônomo de S. Gabriel, o Ibama res-
balha na região, afirmou que os novos piabeiros supercondutores c aços especiais, o nióbio bra-
ponde às demandas das comunidades indíge-
“tinham sua área de pesca em Barcelos, acaba- sileiro representa 78% das reservas mundiais.
nas de S. Isabel, encaminhadas pela ACIMRN e
ram com tudo lá, agora eles vem acabar com Segundo oJornal do Norte, de Manaus, que cir-
feitas ao Ibama, sem retorno. INVASORES DO “CASTANHEIRO” creta conhecida para o desenvolvimento da re-
Diante do exposto, os participantes da reunião gião do Alto Rio Negro e, com um pouco mais
Dezoito homens liderados pelos patrões de de investimento, provavelmente a saída econô-
resolveram formalizar suas denúncias e divulgá-
piaba Laércio Ribeiro e Baiano invadiram, sob mica mais viável para o Amazonas. É o que de-
las para o Ibama, Funai e PF, na espera de pro-
ameaça a mão armada, a Terra Indígena Médio fende o gerente da Companhia de Pesquisa de
vidências. Decidiram também que as comuni-
Rio Negro ü, através da comunidade Casta- Recursos Minerais (CPRM), João Orestcs San-
dades somente vão permitir a entrada de
nheiro, localizada na margem esquerda, acima tos, ao comentar sobre as reservas minerais do
piabeiros com mais de cinco anos de atividade
de S. Isabel. Estado, Para Santos, a exploração das reservas
na região desde qne assinem um termo dc com-
,
Segundo denúncia que lideranças da comuni- de nióbio, manganês, zinco e ferro no morro
promisso, com cinco cláusulas; respeitar o pe-
dade enviaram à Foirn em S. Gabriel, no dia 30 de Seis Lagos, no município de S. Gabriel da
ríodo de desova dos peixes ornamentais (entre
30 de abril e 30 de junho), respeitar o habitat
de outubro de 1999 os piabeiros chegaram em Cachoeira, de ouro, no Vaie do rio Tapajós, no
Castanheiro e pediram permissão ao capilão Sudoeste do Pará e Sudeste do Amazonas, e a
dos peixes e os locais de pescas de outros, con-
tratar exclusivamente pessoas das comunida-
Raul Ferreira da Silva para entrar, O capitão disse jazida de potássio, em Nova Olinda do Norte,
des e pagar pelo menos dez reais o milheiro,
que não aceitava e propôs: “nós mesmo faz a são algumas das áreas já conhecidas, que se
pesca c o senhor compra", o que não foi aceito exploradas renderiam recursos suficientes para
não mariscar outros peixes nem bichos de cas-
pelos piabeiros. Armado com revolver, o tal início de um projeto de substituição da Zona
co para vender. (ISA, com base no Relatório
da Reunião da Comunidade de S.João mu-
Baiano- que é casado com uma índia da co- Franca de Manaus, como pólo de Desenvolvi-
,
A Prefeitura Municipal de S. Gabriel da Cacho- a reserva de nióbio, na Região dos Seis bagos, de 72 horas para o Departamento Nacional de
eira está dando os primeiros passos para con- naquele município. O prefeito de São Gabriel, Produção Mineral (DNPM) e a CPRM se mani-
cretizar um dos seus principais projetos visan- Amilton Gadelha, 38, disse que a comunidade festarem sobre a ação, após o que deverá con-
do a viabilidade econômica para o município: esta "perplexa" com a atitude do Governo Fe- ceder liminar suspendendo, por prazo indeter-
a exploração do granito. Com esta finahdade, o deral que anunciou a venda da reserva sem fa- minado, o processo licitatório que entregaria à
prefeito Amifton Gadelha e o secretário de zer qualquer consulta aos que ali vivem. (A Crí- iniciativa privada a exploração da jazida, até que
Obras, Carlinhos de Souza Dias, viajaram no fi- tica, 03/09/97) a ação tenha a sentença definitiva. José Nunes
nal de maio ao município de Mucajá (RR), para explica que o direito de exploração da reserva,
conhecer “in loco" a fabricação de paralelepí- JAZIDA DE NIÓBIO SERÁ que foi baseado em relatório de pesquisa feita
pedos e contratar dois profissionais. A tarefa VENDIDA POR R$ 600 MIL pela CPRM em 1986, na verdade não existe,
desses profissionais será ensinar a técnica ãs porque a legislação brasileira à época já proi-
pessoas de S. Gabriel que já trabalham com o O direito de pesquisa e lavra sobre a maior re- bia a exploração do solo em área de Parque
granito, porém de forma muito rudimentar. Na- serva de nióbio do mundo, localizada em S. Nacional. Foi uma concessão ilegal, afirma, não
quele município, atualmente, cerca de 20 pes- Gabriel tia Cachoeira, está à venda por RÍ 600 se concede um direito onde existe uma proibi-
soas queimam o granito, provocando grande mil. O baixo preço deve-se a dois fatores: 0 ção expressa na legislação. Aliás, diz, a própria
desperdício. (A Crítica, 04/07/97) mercado mundial está super abastecido do pro- pesquisa foi ilegal, porque foi feita sem autori-
duto e a área onde fica a reserva - no morro zação do órgão competente, conforme estabe-
CPRM PRIVATIZARÁ dos Seis Lagos, próximo ao Pico da Neblina - é lecem o Código Florestal e o Regulamento do
de acesso. Desde que descoberta, no Parque Nacional. A jazida de S. Gabriel da Ca-
EXPLORAÇÃO MINERAL difícil foi
fim da década de 70, a reserva foi usada pelos choeira fica no Parque Nacional do Pico da Ne-
A CPRM, empresa pública responsável por le- militares como argumento para a necessidade blina. A área do Parque é uma reserva de con-
vantamentos geológicos, está transferindo ao de proteção da Amazônia. Na época, os milha- servação de uso indireto, o que quer dizer que
setor privado todo seu acervo de áreas para ex- res acreditavam que a reserva valia centenas de até mesmo a entrada de pessoas na região só é
ploração mineral. O processo será iniciado pela milhões de dólares. Os vencedores da licitação, permitida com autorização do órgão fisca-
licitação pública para a venda da maior jazida cujo resultado sairá ainda neste mês, poderão lizador, neste caso, o Ibama, informa. (A Crí-
de minério de niófaio do País, com reserva esli- explorar não só 0 nióbio, mas qualquer produ- tica 14/10/97)
,
POVQS INDÍGENAS NG BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIO AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 285
os no Rio Negro. Descobertas arqueológicas era SIVAM PROMETE LUZ ELÉTRICA de de Mitu. A maioria dos refugiados são índios
serras do Parque Nacional do Pico da Neblina, E POSTOS DE SAÚDE que procuraram seus parentes no Brasil com
naquela região, sugerem que o ouro já era ex- medo da guerrilha. (A Crítica, 14/11/98)
Fornecimento contínuo de energia elétrica em
traído do lugar em passado remoto, lugar de
cidade onde há racionamento, postos de saúde
maior concentração indígena do País (tem 23
em comunidades carentes e material didático
FOIRN PEDE INFORMAÇÕES
etnias c cerca de 30 mil índios - 10% da popu-
para distribuição em mais de 200 escolas são
SOBRE PCH DE ARACAPÁ
lação indígena nacional) S. Gabriel da Cacho-
alguns dos benefícios indiretos prometidos pelo
,
Dr. Sulivan Silvestre Cachoeira. Em Pari Cachoeira, antes das eleições os solda-
MD presidente da Funai Passado tempo houve a invasão do Comando Mi- dos do Quinto BIS e do Primeiro BEC beberam a
litar da Amazônia (CMA) na AU de Pari Cachoeira cachaça, discutiram e brigaram. Foram presos no
Senhor presidente. UI que expulsou todos os índios que trabalhavam Quartel de Pari Cachoeira. E quando foi no dia 4
naquele garimpo e queimou os barracões, os ins- de outubro, dia da eleição, os soldados invadi-
No dia 10 do corrente mês, em São Gabriel da trumentos de trabalho, a cantina que abastecia ram a casa do professor Brasilino Borges Barreto
Cachoeira, AM, fui procurado por Sr Benedito os trabalhadores.Na época esse prejuízofoi equi- por causa da filha dele. Agrediram os índios com
Fernandes Machado, líder indígena de Pari Cacho- valente a 45 quilos de ouro. A UCIRT esteve em pedaços de paus e a briga ficou feia em todos os
eira que desabafou com toda razão a respeito da Brasília efalou com ministro da Justiça Bernardo níveis. Em seguida, os soldados brigaram, embri-
violência cometida pelos soldados contra os índi- Cabral, presidente da Funai e Ongs indigenistas. agados invadiram uma seção eleitoral. Aí os ín-
os daquele local. Enfbn, a diplomacia não deu em nada. A UCIRT dios tiveram que revidar a briga e os soldados
Talfato não era novidade para nós que somos as pediu a indenização do CMA através de advoga- apanharam.
lideranças mais antigas. No tempo do Calha Nor- dos particulares uma vez que nenhum advogado Vendo o medo de nossos parentes f>ara dar quei-
te, a União das Comunidades do Rio Tiquié da Funai queria defender os interesses de nossos xa aos setores competentes, eu. Benedito Fernan-
(UCIRT), e tendo como presidente o Sr. Benedito povos. Pari Cachoeira sofreu o boicote por paríe des Machado resolvemos procurar Vossa Senho-
Fernandes Machado, índio Tukano, não foi per- da Funai e mesmo do Projeto Calha Norte só por- ria para resolver essa questão junto ao Ministé-
mitido a instalação de Quartel em Pari Cachoei- que não acreditamos na conversa do governo. rio do Exército, porque estamos confusos e não
ra, enquanto a Calha Norte não implementasse Passado o tempo, os novos líderes de Pari Cacho- vamos admitir em hipótese nenhuma que essa
os projetos de criação de peixe, pecuária, ativi- eira deixaram instalar o Quartel naquele local. violência perdure em nosso meio.
dades agrícolas, saneamento básico, educação, Começou a confusão, as índiasforam estupradas Ciente de que seremos atendidos, antecipo os
energia e melhoria de transporte. Vendo a nossa e ninguém tomou providência, porque a maioria meus sinceros agradecimentos.
"
reação negativa e por que não acreditávamos na dos líderes não conhecem as leis que os ampara. Atenciosamente, assina: Álmro Fernandes Sampaio
FOIRN QUER DEFINIÇÃO que deveriam compor um Programa Regional vivência entre militares e indígenas a serem
DE PROCEDIMENTOS de Desenvolvimento Indígena Sustentável do Alto adotados nas terras indígenas da região. Reco-
e Médio Rio Negro, a Foirn incluiu uma reco- mendações no mesmo sentido têm sido reitera-
Em documento entregue ao presidente da Funai, mendação ao Ministério da Defesa: definir e di- das pela Foirn, através de documentos dirigidos
Dr. Carlos Marés, indicando dez linhas básicas fundir um conjunto de procedimentos de con- a autoridades do governo federai, desde a visita
MINISTRO DA DEFESA
QUER TERRITÓRIO FEDERAL
0 Ministério da Defesa quer redesenhar o mapa
do país, para converter o Brasil numa Repúbli-
ca Federativa formada por 26 Estados, pelo Dis-
trito Federal e por dois territórios federais -
Alto Rio Negro e Alto Solimões. A nova divisão
da territorial da Região Norte, antiga aspiração
dos militares, foi agora publicamente
encampada por um civil: o ministro da Defesa,
Geraldo Quintão. Km meio à visita de três dias
ao Projeto Calha Norte, encerrada no domingo
( 14/05/00) Quintão lançou a idéia do parto dos
,
bém a afastar outra assombração recorrente - PELOTÃO EM TUNUÍ ra o que, acrescido ao hábito de consumir be-
ção das Organizações Indígenas do Rio Negro. A PF no Amazonas reforçou a vigilância na fron-
Nos qualro dias do evento, 250 lideranças indí- teira do Brasil com Peru e Colômbia, para ten-
ECOTURISMO EM
genas e representantes de órgãos governamen- tar prender o francês Marc Soula. Como o com- TERRAS INDÍGENAS
tais e de organizações nâo-governamenlais de- panheiro Joseph Merghel, ele tem em seu po-
Uma iniciativa dos índios Tukano de Pari Cacho-
baterão e apontarão os rumos para os povos der um carregamento de besouros e borboletas
eira, no alto rio Tiquié, na fronteira do Brasil
que vivem na região, onde em determinadas recolhidos da floresta: Mergiiel, belga estudio-
com a Colômbia, foi escolhida como projeto pi
áreas, as formas naturais de sobrevivência es- so de insetos, foi preso quinta-feira em flagran-
loto do programa de ecoturisrno em áreas indí-
tão se esgotando. (A Crítica, 25/08/96) te no Aeroporto de Tabatinga. Ele tentava em-
genas que órgãos do governo vão começar a
barcar num vôo para Manaus e depois para Bru-
PREFEITURA ENTREGA colocai' em prática a partir do próximo ano. O
xelas, com 78 besouros e 135 borboletas. (A
responsável por esse autêntico programa de ín-
MONUMENTO NO I FESTRIBAL Crítica, 02/09/97)
dio é Estevão Lemos Barreto, um tukano que
O prefeito de S. Gabriel da Cachoeira, Jusceii- cansou de ver os guias turísticos de Manaus fa-
IBAMA INVESTIGA
no Otero, fez, como parte do I Festribal, o tom- larem de coisas que pouco tinha a ver com os
TRÁFICO DE INSETOS
bamento da área onde fica localizado o Cenlro costumes indígenas. O objetivo do projeto, se-
Cultural, Folclórico, Artístico e Desportivo do O posto do Ibama no Parque Nacional do Pico gundo Barreto, é criar uma alternativa econô-
Alto Rio Negro, na principal avenida da cidade, da Neblina ( AM) ,
investiga a existência de uma mica, “dando início ao desenvolvimento susten-
ao entregar para comunidade um monumento rede internacional de tráfico de animais silves- tável dos povos indígenas dessa região''.
em pedra, tendo ao centro e no alto a cabeça tres, envolvendo besouros e borboletas nativos O lançamento da política de ecoturisrno para a
de um índio. No finai do mandato, Juscelino de florestas brasileiras. O preço oferecido por Amazônia e a criação oficial do Corredor Ecotu-
nas de outras etnias. 0 consumo de álcool erafre- po organizou -se para escolher um capitão e um nidade éa alta incidência de tracoma. relatada por
qüente e estimulado pelos patrões e por alguns animador de esportes, o que sinaliza o início do pesquisculores do Curso de Oftalmologia da Uni-
moradores de São Gabriel Quando encontravam- processo de resgate do senso de comunidade e da versidade de Ribeirão Preto. A população atingida
se na cidade, famílias inteiras podiam ser vistas autonomia perdidos durante o tempo em que vi- está sendo tratada pelos profissionais do Centro
dormindo nas ruas, pais e filhos embriagados, veram sob a dominação dos patrões. de Saúde Escola, instituição responsável pela saú-
vítimas constantes de escárnio e hostilidade por Desde 1994, eles contam com uma escola de pri- de da comunidade no contexto do Distrito Sanitá-
parte da população. Os índices de mortalidade meira à quarta série, vinculada à Secretaria Mu- rio Especial Indígena. (Cristiane Lasmar, 23/08/00)
rístico Amazônia-Pantanal-Foz do Iguaçu mar- UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA ria, o preparo da alimentação, o ensino bilín-
caram, de 10 a 14 de novembro em Santarém, TRAZ PRIMEIRA DAMA gue e a dança tradicional do povo Tdkano, os
no Pará, o Seminário
I Internacional de Ecoturismo A S. GABRIEL japoneses queriam também levar amostras de
da Amazônia. (Gazeta Mercantil, 21/11/97) plantas medicinais em troca de presentes.
A primeira dama Ruth Cardoso, presidente do Inconformado ao ver que os índios explicari-
PREFEITURA NEGA QUE ESTEJA Conselho da Comunidade Solidária, visitará o am os segredos das plantas e seus remédios de
PRETERINDO OS ÍNDIOS município de São Gabriel da Cachoeira, para graça, fez uma interferência rígida que acabou
acompanhar o trabalho dos estudantes das uni- não agradando os organizadores. No entanto, a
Esquenta o debate em torno do “modo” petista versidades de Campinas (SP) e do Amazonas na filmagem aconteceu em troca de duas moto-
de governar S. Gabriel da Cachoeira. Ontem foi região. No programa, também está incluída vi- serras, cujo uso foi logo autorizado pelo Ibama.
a vez do assessor Elias Brasilino contestar o ín-
sita aos Yanomami de Maturacá. A primeira- (Carta de Álvaro Sampaio para o presidente
dio Álvaro Sampaio, tachando-o de falso líder e
dama, que é antropóloga, também vai assistir a da Funai em 30/10/98)
de teleguiado do ex-prefeito Juscelino Gonçal-
uma apresentação da compositora e cantora
ves. Brasilino nega que o vice-prefeito Tiago Marlui Miranda em conjunto com os Tuyuca e FUNAI E PF VISTORIAM
Motalvo esteja sendo preterido e que haja algum
Uanano, como parte do programa Universidade COMERCIANTES INDÍGENAS
tipo de perseguição aos índios na área.
31/01 e Diário do Gran-
Solidária. (A Crítica,
0 prefeito de São Gabriel, Amílton Gadelha, por
de ABC, 03/02/98 - Ver mais detalhes na Uma operação conjunta Funai/PF foi a Iauareté
sua vez, diz que .Álvaro Sampaio equivocou-se retranca “Cultura", neste capítulo) para retirar comerciantes não indígenas, mas
ao dizer que os índios não participam de sua acabou fazendo uma vistoria nos 26 estabeleci-
gestão. São 13 os índios que integram o primei- mentos comerciais indígenas da localidade, em
IBAMA AUTORIZA ENTRADA
ro e segundo escalões de sua administração, in- uma grande apreensão de bebidas alcoólicas
DE TV JAPONESA NO BALAIO
cluindo Orlando Melgueiro como secretário de (cachaça, vinho, vodka e cerveja) e refrigeran-
Ttorismo, Gersen Luciano, como secretário de A área indígena do Balaio, superposta ao Par- tes, parte delas contrabandeada, entregues ao
Educação e Camico Agudelos como secretário que Nacional do Pico da Neblina, foi visitada pela comandante do pelotão de fronteira ali instala-
de Questões Indígenas. (A Crítica, 04/12/97) equipe de televisão Japonesa, Nagasaki, com do. Na baixada a equipe fez outras apreensões
autorização e apoio do sr. Ribamar Caldas da do mesmo tipo em Urubuquara e Taracuá. (ISA.
Funai e Ézio Borba do Ibama. com base no relatório Funai/PF de 02/02/99)
Mas, segundo a liderança do Balaio, Álvaro
Fernandes Sampaio, além de registrar a pesca-
CATADORES DE do alguns indígenas a abandonar os seus sítios, Por fazer convergir para um mesmo espaço
LIXO RECICLÁVEL alegando ter comprado uma extensa faixa de cerca de 40 pesquisadores de diferentes
terras, na qual estariam abrangidos os sítios proveniências e disciplinas (antropologia,
Localizada à margem da estrada que liga a cida-
circundantes. Na verdade, “Felipe” conta ape- biologia, ecologia, medicina, arqueologia,
de de S. Gabriel ao porto de Camanaus, a lixeira
nas com uma concessão de terras aprovada pela pedagogia, nutrição etc.) assim ,
como cerca de
municipal a céu aberto c frequentada diariamen-
Câmara Municipal de Barcelos (Lei n. 359 de 40 índios de várias comunidades da região, o
te por índios catadores de laias de alumínio. O 02/12/1997). Dela consta uma cláusula que o Seminário deu oportunidade para uma intensa
quilo do produto é vendido a R$ 0,50 a um obriga a apresentar, no prazo de 180 dias da troca de ideias, experiências, projetos,
alravessador conhecido pelo apelido de Azul,
promulgação da referida lei, um Projeto competências e formas de conhecimento.
que revende para uma fábrica de reciclagem lo-
Ambiental, exigência nunca cumprida, segundo Assim, pôde-se divulgar e debater as pesquisas
calizada em Manaus. (A Crítica, 17/08/99)
dois vereadores. Isso toma automaticamente concluídas, em curso ou planejadas, fazendo
sem efeito a concessão, retornando as terras ao um balanço da produção e traçando diretrizes
PARI-CACHOEIRA PEDE Patrimônio Municipal. Outra irregularidade é para projetos futuros, de modo a atender aos
BARCO AO GOVERNADOR que as terras “concedidas" estão dentro dos interesses não apenas dos pesquisadores e
limites de uma área de proteção ambientai mu- instituições, mas sobretudo das comunidades
O líder do PMDB na Assembléia Legislativa do nicipal (APA Maritiá), informação ausente da estudadas.
Estado, deputado Vicente Lopes, está sendo o ele-
lei de 1997. GTs, Palestras, Plenárias - Os participantes
mento de ligação entre a comunidade indígena -
É preocupante o modo como o “ecoturismo" e distribuíram-se em três Grupos de Trabalho
de Pari - Cachoeira, Município de São Gabriel
a pesca esportiva vêm sendo implantadas no Saúde e Nutrição; Culturas, Línguas e Educação;
da Cachoeira, no Alto rio Negro, e o governador município de Barcelos. Existem, hoje, dois pro- Ecologia e Recursos Biológicos nos quais as
Amazonino Mendes para a doação de um barco
jetos desse tipo - o Poloecotur, financiado pelo pesquisas foram apresentadas e submetidas aos
para transportar carga e passageiros. A comuni-
Banco Interamericuno de Desenvolvimento, e comentários dos outros pesquisadores e índios.
dade vem enfrentando problemas desde que o
um convênio de cooperação técnica entre a Se- A partir do conjunto de trabalhos, cada GT
único barco disponível para a locomoção entre
cretaria de Estado da Cultura, Ibrismo e Des- elaborou uma série de recomendações tendo
a população de Pari - Cachoeira e a sede do Muni-
porto. o Instituto de Proteção Ambiental do cm vista ações e pesquisas futuras.
cípio, não funciona mais. (A Crítica, 15/12/99)
Amazonas (Ipaam), o Instituto Brasileiro de Além dos GTs, o Seminário contou com palestras
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis e sessões plenárias noturnas. Uma das palestras
“ECOTLRISMO” PRiyUDICA (Ibama) e a Prefeitura Municipal - para a orga- foi proferida por Martin von Hildebrand,
COMUNIDADES INDÍGENAS E nização da pesca esportiva, para a realização presidente do consórcio de ONGs que atua na
RIBEIRINHAS EM BARCELOS dos quais as comunidades indígenas e ribeiri- Amazônia colombiana COAMA íConsolidación
nhas não foram consultadas de modo adequa- Amazônica), e Francisco Ortiz, presidente da
A Associação Indígena de Barcelos (Asiba), for-
do. Durante a eleição de 2000, o prefeito José Etnollano, ONG filiada a essa instituição. Os
mada por 53 comunidades, enviou um abaixo-
Ribamar Fontes Beleza, reeleito, visitou essas palestrantes traçaram um panorama da situação
assinado com 197 assinaturas à Procuradoria da
comunidades utilizando o avião e as lanchas do indígena na Colômbia.
República do Amazonas denunciando os prejuí-
hotel Rio Negro Lodge. Já estão sendo construí- A outra palestra, proferida pela coordenadora
zos às comunidades que vêm sendo gerados pe-
dos mais dois hotéis de selva no município: um do Programa Direito Socioamblental do ISA, Ana
los empreendimentos turísticos criados naquele
no rio Araçá e outro no rio Unini. No rio Araçá, abordou a questão do acesso
Valéria Araújo,
Município (a 356 quilômetros de Manaus).
já começou a construção do hotel, apesar do aos recursos genéticos e a proteção de
Atividades ligadas ao Rio Negro lodge. hotel de
pedido de concessão de terras ainda estar em conhecimentos indígenas associados. As
selva localizado na margem direita do rio Ne-
tramitação na Câmara de Vereadores, (ISA, a recomendações da advogada lançaram as bases
gro, entre as comunidades Baturité e Camaru,
partir de informações do antropólogo Sidnei para o estabelecimento de uma nova redação
no município de Barcelos, estão prejudicando
Peres e de A Crítica, 28/10/00) entre pesquisadores e grupos indígenas
os 89 assentamentos (comunidades e sítios) da
pesquisados na Amazônia, em que os primemos
região, onde vivem ribeirinhos e índios Tultano,
SEMINÁRIO REÚNE devem comprometer-se a repartir os benefícios
Baniwa, Baré, Piratapuia, Arapaço, entre outros.
ÍNDIOS E PESQUISADORES (intelectuais, financeiros e outros) suscitados
O hotel é do norte-americano Phillipe
Marstelíer, representante da Amazon Tours no
EM SÃO GABRIEL peia pesquisa (ver Box)
Nas sessões noturnas aberlas ao público, os
Brasil e também dono do hurcoAmazon Queen Estabelecer um Programa Regional de
Grupos apresentaram os resultados das
e deuma frota de 30 lanchas. As embarcações Desenvolvimento Indígena Sustentável foi o
reuniões internas e suas respectivas
conduzem turistas estrangeiros à região para a principal intuito do ISA e da Foirn ao realizarem
recomendações, que foram então debatidas e
prática de pesca esportiva, indígenas e ribeiri- o 1
“
Seminário de Pesquisa na região, ocorrido
aprimoradas. Nessa ocasião, algumas pesquisas
nhos reclamam que as lanchas afugentam os dos dias 15 a L8 de novembro de 2000, em São
também foram expostas e, em seguida,
peixes, prejudicando a pesca artesanal e de sub- Gabriel da Cachoeira (AM), na sede da
passaram peio crivo de comentadores
sistência. Os turistas não respeitam os comuni- Federação. O encontro ensejou aumentar os
indígenas.
tários e sitiantes, fotografando-os e filmando subsídios para a disseminação de modelos de
Horizontes e banhos de rio Ao final d»
os sem autorização dos mesmos. desenvolvimento sustentável concatenados com
Seminário, pôde-se fazer um levantamento das
Phillipe Marstelíer, conhecido como “Felipe”, as especificidades da região da bacia do Rio
cerca de 70 pesquisas desenvolvidas na região.
também proíbe os moradores dos sítios vizinhos Negro, habitada por cerca de .35 mil pessoas,
O próximo passo será a codificação do material
de caçar, ameaçando-os de chamar a polícia e cuja grande maioria é composta por índios de
e a divulgação dos resultados entre todos os
tomar as suas espingardas. Ele vem pressionan- 23 etnias.
pesquisadores e comunidades locais. Desse
modo, será possível fazer um acompanhamento O próximo seminário acontecerá em 2002 e terá coordenador do Programa Rio Negro/ISA, teve
da produção de conhecimento em curso, bem seu objetivo ampliado, uma vez que nào apenas a vantagem de transcorrer “sem Método Zoop
como reconhecer as lacunas existentes e as apresentará um panorama das pesquisas e com muitos banhos de rio", o que estimulou
áreas mais promissoras ou carentes de realizadas, como deverá incitar a realização de ainda mais as intervenções indígenas e a troca
pesquisa. novos projetos. de experiências fora das sessões. (Valéria Macedo.
Assim, o saldo desse primeiro Encontro foi Notícias Socioambientais/ISA, 27/11/00
bastante positivo e, como alegou Beto Ricardo,
pública ou privada, do qual deverá também cons- resultadosfinanceiros decorrentes da exploração forme resumido sobre os resultados da pesquisa
tar o seguinte: econômica de eventuais produtos ou qualquer (tese etc.), bem como cópia integral, em portu-
1. identificação do(s) pesquisador(s) e indica- outra forma de contrafkirtida; guês, para o acervo da FOIRN.
ção da instiluição(s) responsável pela pesquisa; O pesquisador, individualmente, e a instituição/ A comunidade/povo/associação deterá ser infor-
2. breve descrição do objetivo e razão da pesqui- fiessikijurídica pública ou privada deverão ainda: mada sobre o orçamento da pesquisa e suasfon-
sa, bem como dos procedimentos que serão utili- 1. comprometer-se a utilizar o material e produ- tes de financiamento.
zados; tos derivados, dados e/ou conhecimentos coletados Para a execução do projeto, o fwsquisador deverá
3 indicação do(s) local(s) em que serão realiza- exclusimmente para os fins autorizados pela co- apresentará comunidade a documentação infor-
das as atividades e do tem/x) previsto para o tér- munidade/povo/associação; mando que o seu projeto de pesquisa foi aprova-
mino dos trabalhos; 2. garantir o sigilo quanto aos dados confidenci- do pelos órgãos competentes e que foi submetido
4. informação sobre o uso e destituição do mate- ais envolvidos na pesquisa; à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa res-
rial e produtos derivados, dados e/ou conhecimen- 3 comprometer-se a indicar a comunidade/povo ponsável. quando for o caso.
tos coletados;
fíef. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa ín fi, fonte, data ) (ha)
12 Ananás Makuxi 38 Funasa: 9S Homologada. Rng. CRI e SPEí. 1.769 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 85.920 de 16/02/82 homologa a demarcação Garimpo Indígena + não-lndígena
{DOU, 27/02/82). Reg. CRI Matr 9340 Uv 2-RG com índios.
11. 01 em 22.11.88. Reg. SPU Cert.023 em 12/12/95.
Anaro Wapíxana 50 Funasa:S9 Em Identificação. 0 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de Fronteira
Port. 54de 04/02/2000 cria GT p / estudos e
identificação da TI (DOU, 08/02/00).
14 Aningal Makuxi 13B Funasa: 99 Homologada. Rag. CRI e SPU. 7.627 Amajari RR Calha Norte. Faixa de fronteira. Faz
Dec. 86.933 de17/02/82 homologa a demarcação limite com a Estação Ecológica de
{DOU, 18/02/82) Reg. CRI de Boa Vista Matr 9343 Maracá.
Liv. 2RG fl. 01 em 22.1 1.88. Reg. SPU Cert, 03 8
em 01/12/95.
lã Anta Makuxi 90 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 3.173 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Dsc.n.376 24/12/91 homologa demarcação
(DOU, 26/12/91). Reg CRI Mat 12.483 Liv. 2 RG
fl. 01 em 24/03/92. Reg SPU Cert 003 de 20/1!/».
24 Araçá Makuxi 2B1 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 50.018 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Gec. 85934 de 17.02.82 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral.
(DOU, 16/02/82). Reg. CRI Matr 9341 Liv 2-RG Rodovias 0R-174 e RR-203 cortam
fl. 01 e m 22. 1 1 .88. Cert 01 3 em 28/1 1/95.
48 Barata/Livramento Wapíxana 535 Funasa: 99 Delimitada. Em Demarcação. 18.830 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Port. Funai 1.222 de 19/05/32, declara de posse Requerimento de pesquisa mineral.
permanente. (DOU, 25/5/82) Port 35 de 16/01/88 Rodovia RR-022 corta a área.
criaGT p/ revisão de levantamento sócro-econômico
e fundiário da TI. (DOU, 20/01/98) Contrata Funai e
Reta Topografia e Construções Ltda. p/ demarcação
topográfica no bloco IV, constituído pela TI
(DOU, 19/05/00).
57 Bom Jesus Makuxi 71 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 859 Bcntim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Dec.257 de 29/10/91 homologa demarcação Rodovia RR-4G1 noíimite.
(DOU, 30/1 0/91). Reg. CRI Matr. 3.176, Uv. 2RG,
fl. 01 V em 23/8/88. Reg. SPU n. 011 em 02/12/96.
58 Boqueirão Makuxi 312 Funasa: 99 Identificada/Aprova da/Funai. Sujeita a Contestação. 15.890 Alto Al agre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Port. 257 de 13/03/97 cria GT p/reidentificar a TI.
(DOU, 14/03/97|. Despacho do presidente da Funai
n. 71 de 09/11/98 aprova os estudos de identificação
68 Cajueiro Makuxi 90 Funai: 94 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.304 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86.932 de 17/02/82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-intiigena
(DOU, 18/02/82). Reg. CRI Matr 9345 Liv. 2-RG fl. 01 com índios.
em 22.11.88. Reg. SPU Cert. 020 em 04/12/95.
72 Canauanim Makuxi 530 Funasa: 99 Homologada. 11.182 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de frontBira.
Wapíxana Dac.s/n. de Fernando H. Cardoso, de 15/02/96 Estrada estadual corta a área.
homologa a demarcação.(DDU, 16/02/96)
139 Jaboti Makuxi 187 Funasa: 99 Homologada. 14.210 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Dec. s/n. de 15/02/98 homologa a demarcação. Requerimento de pescuisa mineral.
(DOU, 16/02/96). Rodovia BR-4Q1 no limite.
140 Jacamím Wapíxana 794 Funasa: 99 Delimitada. 169.500 Bonfim RR Calhe Norte. Faixa de
Port.do ministra da Justiça n. 297 de 13/04/00 Caracaraí RR fronteira. Requarimento de
declara de posse permanente indígena. pesquisa mineral/Garimpo indígena
(DOU, 17/4/00). -r não-irtdigena com índios.
194 Malacacheta Wapíxana 485 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI. 28.631 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. de F. H. Cardoso, de 05/G1/96, homologa Requerimento de pesquisa mineral
a demarcação administrativa (DGU, 03/01/9S).
Reg. CRI em Bonfim Ma-, 17.305 LÍV.2/RG, fl. 01/02
em 19/01/98.
196 Mangueira Wapíxana 71 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI a SPU. 4.063 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Dec. B6.923de 16/02/67 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
{DOU, 17/02/82). Reg. CRI Bua Vista Matr 9339 com índios.
Uv. 2-RG fl. 01 em 22.11.88. Rag. SPU Cert. 019
em 01/12/95.
198 Manoá/Prum Wapíxana 785 Funasa: 99 Homologada. Reg. CHI e SPU. 43.337 Bonfim RR Calha None. Faixa de fronteira.
Makuxi Dec. 86924 de 16/02/82 homologa a demarcação
{DOU, 17/02/86). Reg. CRI Matr 9336 Liv. 2RG
fl. 1/2 em 22.11.88. Reg. SPU Cert. 014 em 29/11/95.
259 Moskcw Wapíxana 310 Funasa: 99 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestações. 14.200 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Port. Funai 1253 de 24/11/97 cria GT p/estudos Rodovia planejada RR-20E.
e identificação da TI. Despacho do pres. da Funai
n. 1 de 06/01/2000 aprova o relatório de estudes e
identrfic. e dBtermina que seja publicado no DOE de
- LAVRADO
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2QQG
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n®, fonte, data |
(ha)
1161 Muriru Wapixana 0 Identificade/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestações. 5.520 Bonfim RR Calha Norte, Faixa de
Despacho do pres. Funai n. 10 de 09/04/99 Canta RR Fronteira
aprova o Rei. de Identif. e Delim. da H e determina
a publicação no DOE tie RR, e afixação na sede da
prefeitura. |D0U, 14/04/99)
225 Ouro Makuxi 105 Furtai: 94 Homologada. Reç. CRI e SPU. 13.573 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86.931 da 17/02/82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
administrativa (DDU, 18/02/82). Reg. CRI Matr. 9338 com índios.
249 Pium Wapixana Makuxi 190 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.607 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 271 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU. 30/1 a/91). Reg. CRI Matr. 12.335 Uv. 2RG
fl. 01 em 02/01/92. Reg. SPU Cert 009 em 24/11/95.
250 Ponta da Serra Wapixana Makuxi 312 Funai: 95 Homologada. Reg. CRI e SPU. 15.597 Amajari RR Catha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86935 de 17/12/82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
(DOU .18/02/82). Reg. CRI Matr. 9337 Liv. 2-RG com índios. Rodovia BR 174 no
01 em 22.1 1 .88. Reg. SPU Cert. 017 em 30/1 1/95.
fl. limite.
256 Raimundão Makuxi Wapixana 97 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.276 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Decretos/n. de 03/11/97 homologa a demarcação.
{DOU, 04/11/97). Port. Funai n. 454 de 19/05/98
constituiCom. Técnica p/ efetuar pagto de
indenização por benfeitorias consideradas de boa
fé (DOU. 20/05/98) Reg. CRI em Alto Alegre
Matr. 17,301 Liv. 2-RG fl. 01 em 19/01/98.
258 Raposa/Serra do Sol Pata mona Ingarikó 12.242 Funasa: 99 Delimitada. 1.678.800 Paca ra ima RR Calha Norte. Faixa de fronteira
Wapixana Makuxi Port. do ministro da Justiça n. 820 de 11/12/98 Requerimento e alvará de pesquisa
Taurepang declara de posse permanente dos índios mineral/Ga rímpo indígena + não-
100 U. 14/1 2/98). indígena com índios. Hidrelétrica
planejada. Várias rodovias
estaduais cortam a área. 0 Parque
Nacional Monte Roraima incide
totalmente na TI.
282 Santa Inês Makuxi 239 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 29.698 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86922 de 16.02.82 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral/
IDDU, 17/02/82). Reg. CRI Matr. 9345 Liv. 2-RG Garimpa indígena + não-indigena
fl. 01/C2 em 211 1.88. Reg. SPU Cert. 016 em com índios. Rodovia planujada BR-
30/11/95. 202.
287 Sâo Marcos Wapixana 2.703 GAndrello: 98 Homologada. 654.110 Boa Vista HR Calhe Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Dec. 312 de 29/10/91 homologa demarcação Requerimento de pesquisa mineral/
Taurepang administrativa (DOU, 30/10/91 1. Port. Funai n. 781 Garimpa indígena + não-indígena
de 27/08/93 constitui equipe técnica de trabalho com índios. BR 174 e Rodovia
Funai/Incra-RR e Gov. de RR, para levantamento estadual corta a área e Unhâo de
fundiário e avaliação de benfeitorias de ocupantes transmissão da Eletronorte.
não-índios a levantamento cartorial (DOU, 1/W33).
Port. Funai. n. 658 de 25/06/98 cria Com. Técnica p
pagto de indenização de benfeitorias de boa fé.
|DDU, 26/06/98}. Port.F unai n. 918 cria CT p/ com-
plementar levantamento fundiário (DOU. 11/09/98).
292 Serra dá Moça Wapixana 335 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 11.628 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 258 da 29/10/91 homologa demarcação Rodovia RR-34S corta a érea.
IDDU, 30/10/91). Reg. CRI Matr. 6.691, Liv.-2-ZRG,
fl.. 1 92 em 10/1/86. Reg. SPU Cert. 012 em 06/12/96.
296 Sucuba Wapixana Makuxi 167 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 5.983 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86921 de 16.02.82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
(DDU, 17/02/82). Reg. CRI Matr. 9444 Liv. 2-RG fl. 01 com índios. Rodovia RR-205 corta a
em 22/11/38. Reg. SPU Cert. RR-381 em 19/10/87. área.
297 TabafascBda Wapixana 343 Funasa: 99 Em Identificação/Revisão. 8.250 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
de 21/04/82 declara de posse
Port. 1.223/E Rodovia RR-170 corta a área.
permanente indígena (DOU. 11/05/82). Port Funai
n. 257 de 13/03/97 cria GT p/realizar estudos é
levantamentos objetivando a revisão de limites
da TI. (DOU, 14/03/97). Tem ocupante não-índio
impedindo o levantamento
321 Trtiaru Wapixana 315 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 5.653 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 387 de 24/12/31 homologa demarcação Rodovia RR-050 no limite.
Facada na Raposa
DESPACHO DO MINISTRO DA JUSTIÇA REDUZ Porém, as estratégias coloniais sempre tiveram eficácia limitada,
A TI RAPOSA/SERRA DO SOL EM APROXIMADA- dadas as condições precárias das terras da região para a prática
MENTE 300 MIL HA, LEGALIZANDO ENCLAVES agrícola. Parte do território indígena se estende pelo chamado la-
vrado, planície inundável constituída de gramíneas que se prestam
DE GARIMPEIROS E FAZENDEIROS E SUAS VIAS
DE ACESSO, ESQUARTEJANDO A ÁREA ÚNICA a pastagens naturais, onde se instalaram “fazendas” que, em geral,
são sítios precários, com habitações de madeira, a partir dos quais
CONTÍNUA E AMEAÇANDO EXCLUIR MAIS DE
se pratica a criação extensiva de gado bovino. Outra parte é forma-
20ALDEIAS E OUTROS SÍTIOS INDÍGENAS DO
da pelas serras, que integram o Maciço das Guianas, onde a ocu-
PERÍMETRO A SER DEMARCADO
pação colonial é recente e baseada na atividade de garimpo. Em-
bora toda a área tenha sido permanentemente ocupada pelos índi-
A Terra Indígena (TI) Raposa/Serra do Sol situa-se no nordeste do os, enclaves coloniais acabaram se estabelecendo no seu interior,
Estado de Roraima, no interflúvio formado pelos rios Surumú, Maú imbricados entre as aldeias e demais sítios de ocupação indígena.
e Tacutú, alcançando ao norte as fronteiras do Brasil c.om a
Venezuela e a Guiana (leste) A oeste, do outro lado do rio Surumú,
.
ATIVIDADES ECONÔMICAS TRADICIONAIS
situa-se a TI São Marcos, já demarcada e homologada. Raposa/
Os índios de Raposa/Serra do Sol praticam ainda suas atividades
Serra do Sol é habitada desde tempos imemoriais pelos povos
econômicas tradicionais, a caça, a pesca, a coleta de frutos e de
Makuxi, Ingarikó, Wapixana, Taurepang e Patamona. Há registros
outros produtos necessários à construção das suas casas e à sua
de outros grupos étnicos que chegaram a habitá-la no passado,
sobrevivência em geral. Mas também incorporaram algumas ativi-
mas que migraram para o norte ou foram absorvidos pelos Makuxi.
dades econômicas típicas da região, como a criação de gado, man-
A população amai da Terra Indígena é estimada em 12 mil índios,
tendo rebanhos significativos, atualmente maiores que os manti-
organizados em cerca de cem aldeias. Há colonos c garimpeiros
dos por ocupantes não-índios. Há, também, grupos de índios que
não-índios vivendo ilegalmente no seu interior, cuja população flu-
hoje praticam o garimpo maiuuü de ouro e de diamantes.
tua, mas deve estar atualmente em tomo de 2 mil pessoas.
Estratégias de colonização e de
O processo de reconhecimento oficial da área como território in-
ocupação desta região foram
dígena remonta ao início do século, desde que se estabeleceram
implementadas em diferentes períodos históricos por iniciativa da
Coroa Portuguesa, dos governos centrais do Brasil pós-indepen-
as práticas governamentais de demarcação. Já em 1917, o Gover-
no do Amazonas editava a Lei Estadual n° 941 destinando as terras
dência, dos governos do Estado do Amazonas enquanto a ele este-
,
estado de Roraima. tório. Em 1977, foi instituído um Grupo de Trabalho (GT) Intermini-
levantamento fundiário e cartorial da área sem chegar a qualquer 1“ da lei n° 941, de 16 de outubro de 1917, e para inteira execu-
conclusão sobre o conjunto da área Na verdade, o conhecimento ção do acto de 1 1 de fevereiro do corrente anno, que considerou
oficial sobre a área acumulou-se progressivamente, resultando valido o processo de medição e demarcação do lote de terras
numa proposta de delimitação que veio a ser ajirovada pela Funai comprehendido entre os rios Sunimú e Cotingo e as serras de
e encaminhada para a competente decisão do ministro da Justiça Imairary-ipim e Conopiá-ipim, no município de Bôa Vista do Rio
no ano de 1993. Desde então, aguarda a sua aprovação, através de Branco, para localização, domicilio e aproveitamento dos índios
o o
portaria de delimitação, que deve determinar a sua demarcação Macuchys e Jaricunas, na forma dos artigos I e 5 da lei 94 1 de
,
física pela Funai. A extensão da área identificada é de aproximada- 16 de outubro de 1917, resolve declarar que fica reservado para
xou-lhes a impressão de que emitiria uma decisão favorável ao seu não podendo ser desconsiderada pelo ministro dajustiça, e não
pleito. Porém, dois meses depois, publicou o seu Despacho n° 80 dando margem à validação de qualquer ato de titulação ou ocupa-
que, mesmo rejeitando todas as contestações havidas, acaba pro- ção da referida área.
Quanto ao processo de identificação da área indígena: o Despacho proposta encaminhada pela Funai em 1993, subvertendo a expres-
n° 80 começa por historiar o processo de identificação desta área, sa competência do antropólogo no processo de identificação.
(a) Ao remeter-se à análise dos primeiros atos do Poder Público pacho ministerial suprime da área a ser definitivamente demarcada
em reconhecimento ao caráter indígena desta área, praticados pelo outras partes, referentes a vilas c estradas, que constituem a terra
Estado do Amazonas a partir de 1917, o ministro dajustiça relata indígena em Iodos os limites já estudados, inclusive o de 1981. Ao
a ocorrência de um primeiro ato demarcatório, através da Lei n“ tomar como referência ou como parte da decisão sobre os limites
941, que teria sido anulada e posteriormente revalidada através da definitivos antigas propostas, formuladas em distintos contextos
expedição de um título de concessão. Esse primeiro ato políticos, o ministro joga umas contra as outras, atribuindo-lhes o
demarcatório foi implicitamente desconsiderado já que o ministro mesmo grau de importância para. ao final, formular uma proposta
concluiu que “não obstante esta última informação (a revalidação própria, em que a terra indígena se reduz em maior extensão do
da Lei n° 941), não foi encontrado e nem se tem notícia da expedi- que nas demais. Aparentando intermediar os estudos de limites
ção do mencionado título de concessão”. Segue-se, então, a trans- existentes, na verdade, o ministro busca uma suposta solução inter-
crição na íntegra do título que o ministro não encontrou: mediária entre a identificação de 1993 e a proposta do governo de
Roraima, de demarcar apenas pequenos sítios (ou ilhas) ao redor “Nos meses de estiagem, a vegetação dos campos torna-se seca, a
das habitações indígenas para liberar o restante para os colonos e folhagem verde vai se restringindo às baixadas próximas às mar-
garimpeiros regionais, proposta esta que foi expressamente rejei- gens dos rios e igarapés, que em sua maior parte são intermiten-
tada, por ser inconstitucional, pelo próprio despacho ministerial. tes, e param de verter água, secando. Os índios voltam-se para os
poços nos leitos secos e para os lagos que conservam água, procu-
(c) Em outro momento do seu despacho, o ministro afirma que o
rando surpreender os animais que buscam o bebedouro nos mes-
laudo antropológico que fundamenta a proposta da Funai de 1993
mos locais, e dedicando-se a sua atividade principal, a pesca."
é "absolutamente silente" e "não contém fundamento específico
algum que demonstre” a ocupação indígena da parte da área que “Tais atividades devem ser entendidas como parte integrante do
havia sido excluída nos estudos de 1981 . No entanto, esta parte da conjunto de procedimentos de exploração e produção, empreen-
área situada na planície ao sul da área identificada em 1993 onde, ,
didos pela totalidade dos grupos locais em toda a área em ques-
além de se localizarem várias aldeias, se concentram os rios e la- tão, formando um sistema de circulação e distribuição de recur-
gos perenes, é fartamente referida no laudo antropológico, como sos de larga abrangência e imprescindível à sobrevivência tísica e
também nas informações adicionais elaboradas pela diretora de cultural dos povos indígenas."
va do governo local de promover o assalariamento de parte desta situam as vilas não se observam nenhum dos quatro componentes
população para que iá permanecesse, forjando uma hipótese de da definição constitucional de terras indígenas. Mas o despacho
crise social, com o objetivo de impedir a demarcação da área. omite a informação fundamental de que existem aldeias indígenas
(Uiramutã, Socó, Surumu, Água Fria) incrustadas em quatro das
Inscreve-se, também, nesta estratégia colonial do governo de Rorai-
cinco vilas mencionadas, além de várias outras que se situam nos
ma, a criação de municípios com sede no interior de terras indíge-
seus entomos. Ora, se até o componente da habitação mdígena
nas, sendo o caso do município de Uiramutã, recém instalado den-
permanente nelas se verifica, como se pode alegar a maplicabilidade
tro da TI Raposa/Serra do Sol. Trata-se de um exemplo caricatural
da definição constitucional? Na verdade, a eventual exclusão des-
do absurdo fenômeno de proliferação de municípios que não têm
tas áreas é que implicaria em flagrante violação constitucional.
qualquer condição de sustentabilidade orçamentária, que o País
gostaria de ver corrigido na oportunidade das anunciadas refor- Acrescente-se, ainda, que as atividades ilegaimente desenvolvidas
mas pobticas, pelos garimpeiros não se limitam ao entorno das vilas onde se
com 1.347,810 ha
I I identificação de 1984
com 1.577.850 ha
^ identificação de
com 1.678.800
1992
ha
VENEZUELA
aldeia indígena
estradas
GUIANA
mente pelo Incra a partir de 1981. No entanto, o parágrafo 6“ do ca sobre o imóvel, por anos a fio.
artigo 231 da Constituição é claríssimo ao considerar “nulos e ex- ... Pouco importa que o oposto, Newton Tavares, ocupe a área há
tintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por décadas. Tal argumento não justifica sua permanência em terras
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere de domínio da União, destinadas ao usufruto permanente da co-
este artigo...". Ora, se o Poder Público Federal praticou atos munidade indígena que ali está.
inconstitucionais, não poderia o ministro pretender corrigir os seus procedente a oposição e reitegro a União na
... Isto posto, julgo
eFeitos à custa de parte do território indígena. Se o ministro consi-
posse do imóvel objeto desta ação, devendo a Funai tomar as pro-
dera que particulares merecem reparos em consequência destes
vidências cabíveis aposse e usufruto permanente das terras, pelos
atos, deveria cuidar de indenizá-los e de reassemá-los. silvícolas que a habitam.”
Porém, ao pretender adotar os limites descritos em 1981, como Acresceute-se que na área reivindicada pelo sr. Newton Tavares,
forma de legitimar as titulações posteriores, o ministro ameaça situam-se quatro aldeias indígenas: Jibóia, Santa Cruz, Macaco e
excluir da demarcação as áreas em que se situam outras oito al- Amália. Reconhecer direitos a este ocupante ilegítimo representa-
deias indígenas (Urubu, Preguicinha, Vista Alegre, Patativa.Jauari, ria remover estas aldeias, violando-se o disposto no parágrafo 5
o
Laje, Nativi e Matiri), além de outros sítios, retiros de criação de do artigo 231, que veda a remoção de grupos indígenas de suas
gado, buritizais e lagos, utilizados para a pesca e a coleta por de- terras, ressalvadas algumas situações limite. O mesmo dispositivo
zenas de comunidades indígenas. Caso a referência de limites de constitucional foi mencionado no despacho para rejeitar a contes-
1981 fosse também adotada para o nordeste da área, que não está tação do governo de Roraima à identificação da área.
mencionado no despacho ministerial, outras duas aideias,
Canauapai e Canã, também ficariam excluídas da demarcação. Se
Como se vê, a pretexto de legitimar aios do Poder Público Federal
que atribuiu suposto direito de propriedade a particulares ocu-
até aldeias que, enquanto habitação permanente, definem o pri-
pantes da terra indígena, o ministro substituiu o papel do antropó-
meiro dos critérios da definição constitucional de terras tradicio-
logo ao optar por uma referência de limite sem respaldo científi-
nalmente ocupadas pelos índios, situam-se em áreas que o despa-
co, adotado sem o devido conhecimento sobre o que há de ocupa-
cho pretende excluir dos limites a serem demarcados, então se
verificam também os demais critérios que, no caso, são inclusivos.
ção indígena em áreas dele excluídas, além de omitir e distorcer,
mais uma vez, o sentido de decisões judiciais tomadas em relação
Ainda que, por absurdo, se pretendesse excluir as áreas tituladas à área. Sequer a antiguidade da ocupação e da titulação destas
dos limites a serem demarcados, não se poderia adotar a linha partes da área poderia ser argiiida, pois sobre a parte da área já
divisória dos estudos de 1981. Primeiro, porque aigumas destas reconhecida pelo próprio despacho como sendo indígena incidem
titulações incidem até mesmo dentro destes limites. Mas, princi- ocupações e titulações mais antigas, embora igualmente ilegais.
palmente, porque a extensão da área a ser eventualmente excluída
seria miüto superior à extensão da área titulada, incluindo as al-
dentro dos prazos processuais. E, ademais, a via processual da nhos, como é o caso dos rios Negro e Solimões e da BR- 174 (ro-
ação discriminatória não se presta a discutir a posse indígena so- dovia Manaus-Caracas) . No caso, as estradas existentes são esta-
bre a terra. Mais grave ainda, o ministro omitiu outra sentença duais e municipais, não havendo nenhuma de âmbito federal
judicial, proferida pela Justiça Federal em ação movida pelo Mi- (exceto o acesso à cidade de Normandia), e servem à interligação
Jornalista, assessor do
Marco Antonio Gonçalves
Programa Brasil Socioambíental/ISA
PAVIMENTAÇAO DA RODOVIA QUE LIGA MANAUS infra-estrutura, como a construção de uma linha de transmissão
A BOA VISTA E VENEZUELA VIRA SÍMBOLO DA proveniente da Venezuela, o chamado Linhão de Guri, "puxada"
COALIZÃO DE INTERESSES QUE MOVE 0 MAIS para solucionar o déficit de energia elétrica de parte da calha
norte do rio Amazonas.
NOVO "EL DORADO" DA AMAZÔNIA BRASILEIRA,
GERANDO CONFLITOS COM OS ÍNDIOS E
REEDITANDO 0 MODELO EXCLUDENTE E
PREDATÓRIO DE OUTRAS REGIÕES
Acervo
_//£ ISA
"SAIDA PARA 0 CARIBE”, PARA QUEM? zação tomaram o local a principal área de conflito entre índios e
não-índios da área São Marcos. Em 1998, durante sua campanha
As primeiras informações públicas sobre uma parceria econômi-
à reeleição, o atual governador do estado Neudo Campos (PPB)
ca com a Venezuela envolvendo o traçado da BR-174 surgiram em
declarou, provocatlvamente, ser o município “aporta de entrada
1995, quando foi anunciado que o governo brasileiro, através da
do progresso em Roraima”. Pacaraima é o local onde o sistema de
Eletrobrás, trocava informações com o governo venezuelano, atra-
transmissão vindo da Venezuela se conectará ao linhão erguido
vés da estatal Eletrificación dcl Caroni (Edelca), sobre uma possí-
pela Eletronorte entre 1998 e 99, cujo traçado coincide com o
vel importação de energia elétrica. Conforme divulgado na época,
desenho da BR-174. Ao contrário do que ocorreu na Venezuela,
as negociações envolviam interesses que se espraiavam por outros
no Brasil a execução das obras foi precedida por um ano de nego-
setores: mineração e siderurgia, telecomunicações, transporte,
ciações entre representantes das comunidades indígenas da TI São
petróleo e agricultura. Resultaram em um conjunto de 1 1 acordos
Marcos e a estatal, que resultaram num termo de compromisso
bilaterais, reunidos sob a Declaração de Caracas, assinados por
assinado entre a Apir e a Eletronorte em abril de 1998.
FHC e pelo então presidente venezuelano Rafael Caldera em julho
de 95. 0 acordo visava a integração da fronteira entre os dois pa- No lado venezuelano, o levantamento das torres têm esbarrado em
íses, prevendo, inclusive, a criação de uma zona de livre comércio dificuldades técnicas, orçamentárias e políticas, incluindo mobili-
em no máximo dez anos. zações de povos indígenas que habitam áreas a serem cortadas
pelo linhão, na Serra de Imataca e na Gran Sabana. Em julho de
No âmbito do acordo energético, as conversações gerar,mi a pro-
1998, técnicos governamentais dos dois países estiveram reunidos
posta de construção de uma nova usina hidrelétrica no rio Caroni
na cidade de Puerto Ordaz para discutir a revisão do cronograma
- no sudeste da Venezuela, onde está instalada a usina de Guri - e
das obras. Na ocasião, o governo da Venezuela admitiu que não
na interconexão elétrica entre Guri, Boa Vista e Manaus por meio
cumpriria o cronograma anteriormente acertado, que previa o iní-
de um linhão com cerca de 211 km de extensão, que percorreria
cio do fornecimento para dezembro do mesmo ano. Dois meses
o traçado das rodovias que unem os dois países. Em abril de 97,
depois, o atual presidente venezuelano Hugo Chávez Frias garantiu
FHC e Caldera assinaram uma dezena de outros documentos, en-
ao governador Neudo Campos que o linhão estaria concluído em
tre eles, o contrato de importação de energia elétrica, pelo qual o
abril de 2000.
Brasil deveria pagar US$ 9 milhões (cifra da época) por ano aos
venezuelanos ao longo de uma década. Em outubro, Chávez Frias enfrentava um novo levante indígena
dentro do Parque Nacional da Gran Sabana, sendo obrigado a anun-
Entre as assinaturas da Declaração de Caracas e do contrato de
ciar novo adiamento, desta vez, para meados de 2000. Ao longo do
importação de energia, o Banco Nacional de Desenvolvimento
período, a mobilização indígena evolui para uma coalizão nacio-
(BNDES) contratou o Consórcio Brasiliana - composto pelas em-
nal, composta não só por organizações indígenas, mas também de
presas de cons ultoria Booz Allen & Hamilton e Bechlel International,
defesa dos direitos humanos e ecologistas. Em abril de 2000, o
além do Banco ABN Amro - para decifrar os contextos dos 12 ei-
movimento distribui um manifesto via internet contra o linhão e os
xos da segunda fase do Brasil em Ação, identificando "oportunida-
projetos econômicos previstos para a Gran Sabana. “Não pode-
des de investimentos”. Nesse documento, a BR-174 aparece como
mos deixar de nos opor à insistência de destruir este maravilhoso
“a saída norte para o Caribe”. Paralelamente, a sinergia entre os
patrimônio ecológico e cultural apenas para satisfazer as ânsias de
interesses do governo federal e dos estados do Amazonas e de
um desenvolvimento suicida de Brasil e Venezuela", argumenta o
Roraima propiciaram a conclusão da pavimentação da BR-174,
libelo, considerando o projeto binacional “um erro Iiistórico”. Em
reinaugurada em maio de 1998 em uma cerimônia realizada so-
agosto, as torres e linhas de transmissão vindas de Guri permane-
bre o rio Alalaú, na TI Waimiri-Atroari. Esticada até a fronteira, a
ciam muito longe da fronteira entre os dois países.
estrada atualmente parte da capital do Amazonas em direção ao
norle, cortando a densa floresta amazônica, incluindo a área dos
Waimiri-Atroari (veja capítulo Roraima-Mata) Em seguida, pe- “NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA”
netra o lavrado de Roraima, ladeia várias unidades de conserva- PARA OS GRÃOS
ção e duas outras terras indígenas (Tis) (Araçá e Ponta da Serra)
Estimulado por políticas públicas federais e estaduais, o cultivo de
antes de atingir a TI São Marcos, dentro da qual se estende por 65
km grãos (especialmente soja) expandiu-se de maneira acelerada nos
até o município de Pacaraima, já no limile com a Venezuela.
últimos dez anos, avançando em todas as direções dos cerrados
do Planalto Central e sobre a borda oriental da Amazônia. Quatro
PELA “PORTA DE ENTRADA DO PROGRESSO”
dos sete projetos de investimentos em infra-estrutura para a Ama-
Elevada à condição de município em 1995, mesmo estando inte- zônia que integraram a primeira versão do programa Brasil em
gralmente situado dentro da TI São Marcos, a ex-Vila Pacaraima se Ação eram explicitamente orientados para favorecer a produção
converteu no centro geográfico de intervenções promovidas nos de soja no Centro-Oeste. E, embora o objetivo descrito nos docu-
últimos anos pela elite política de Roraima, corno a criação de mentos do programa fosse viabilizar uma saída para o Caribe, to-
uma área de livre comércio. Sua localização e progressiva urbani- dos os estudos e zoneamentos produzidos sobre o eixo da BR-
0 novo
Roraima
Eldorado
que mais recebe migrantes.
é o Estado
custo,
distribui
ta a
hoje
ou facili-
compra de ter-
quem
a cada
moradores
24 horas
O
sil acaba de sofrer uma revi- moradores de Rondônia é a perda de
ravolta. A
mais recente pes- qualidade da terra. Como todos os anos Verbas e problemas —
Rorainópolis, a
quisa sobre o assunto feita os agricultores queimam a roça para 300 quilômetros da capital de Roraima,
pelo Instituto Brasileiro de renovar o plantio, o solo fica cada vez Boa Vista, é um exemplo dessa distor-
Geografia e Estatística, IBGE, coloca mais pobre em nutrientes. “Em cerca de ção. Emancipada em 1997. a cidade qua-
Roraima como o Estado que mais atrai cinco anos a produtivi- druplicou sua popula-
população e Rondônia como o que mais dade cai", explica o ção desde então. Tinha
exporta gente (veja quadro). O movi- engenheiro agrônomo Confira os cinco Estados 7 000 habitantes há três
mento dos caminhões de mudança entre Gerino Alves Filho, que mais atraem moradores anos. Hoje tem 28 000.
os dois Estados não pára. Entre 1991 e coordenador de pesqui- e os cinco que mais exportam Se o Brasil tivesse cres-
1996, Rondônia perdeu, em média, 37 sas do IBGE em Ron- (em número de migrantes cido nesse mesmo rit-
pessoas por dia. Roraima recebeu 16 dônia. Por essa razão, a por 1 000 habitantes) mo, abrigaria hoje 640
novos moradores a cada 24 horas. Esses imensa maioria dos milhões de habitantes.
números representam uma mudança e migrantes que hoje Foi a própria prefeitura
RONDÔNIA 55
tanto no perfil migratório da região ama- estão indo para Rorai- de Rorainópolis que
TOCANTINS 55
zônica. Nos anos 70, Rondônia era o ma é formada por incentivou a explosão
Eldorado da nova fronteira nacional, o lavradores que já mora- MATO GROSSO 50 populacional. "Atual-
destino de milhares de brasileiros que ram em outras regiões PIAUÍ 48 mente. nosso orçamen-
iam para lá seduzidos pela política de da Amazônia. “Eles MARANHÃO 4} to mensal é de 70 000
distribuição de terras na Amazônia, pro- partem em busca de
1 TAXA DE ENTRADA
mas é preciso três
reais,
movida pelo governo militar sob o lema terras novas e férteis", vezes mais", afirma o
de “Integrar para não entregar". A popu- RORAIMA 120
diz Gerino Filho. Em prefeito Geraldo da
lação rondonense. que era de 100000 geral, vão para onde AMAPÁ 112 Costa. A nova popula-
habitantes em 1970, cresceu nove vezes lhes oferecem algum TOCANTINS 81 ção, a ser contabilizada
em apenas duas décadas. Enquanto isso. atrativo —ainda que MATO GROSSO 67 oficialmente no próxi-
em Roraima, no extremo norte do país, o ilusório. Como o go-
GOIÁS
mo censo do IBGE.
64
aumento populacional não chegava à verno federal desistiu deve dobrar a cota de
Fonte: fflG£
metade disso. Pouca gente queria ir da trágica política de Rorainópolis no FPM.
mica prioritária para o lavrado, inclusive, cultivos experimentais de variedades transgênicas, sob
responsabilidade da Embrapa. A decadência do garimpo e as res-
A primeira evidencia da opção pelos grãos em Roraima ocorreu
trições para a implementação de projetos de mineração industrial
em julho de 1997. quando Fernando Henrique anunciou planos de
deslocaram os esforços da elite política do estado - tradicional-
liberar 6 milhões de hectares para a agricultura após a conclusão
mente ligada aos interesses minerários - para a soja, ao menos
do asÊaltamento da BR- 174 - um número aparentemente exagera-
momentaneamente.
do, a menos que pretendesse converter índios em plantadores de
soja e florestas em áreas de monocultura. Na ocasião, FHC chamou Cadernos dc agríbusiness de diários nacionais têm anunciado o
o eixo de “nova fronteira agrícola”. Dez meses depois, o ISA reve- lavrado roraimense como um novo El Dorado para a implacável
lou que a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) expansão da soja. Terra barata, incentivos fiscais, clima definido,
Tis Raposa/Serra do Sol e São Marcos, para a implantação de um expansão. No inicio de 2000, Neudo Campos criou o projeto
programa de desenvolvimento integrado. De acordo com o coor- Grãonorte, por melo do qual pretende Incentivar plantios mecani-
denador do estudo, Valter José Marques, o trabalho fora encomen- zados sobre o lavrado, apoiados em estudos da Embrapa que esti-
dado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) no âmbito da mam haver 1 ,5 milhão de ha apropriados para a cultura de grãos
Comissão Binacional de Alto Nível Brasil-Venezuela. Iniciado em em Roraima. No início de agosto, o senador Mozarildo Cavalcanti
outubro de 1996, o zoneamento identificou áreas a serem aprovei- fez discurso incensando o projeto e sua meta de aumentar a área
tadas por atividades agrícolas - especialmente grãos - e pecuária. plantada de 1 mil para 5.850 ha.
Em fins de 1998, a Suframa e a FGV divulgaram os resultados do Pesquisadores de instituições respeitáveis, como a Embrapa e o
Projeto Potencialidades do Estado de Roraima, cuja finalidade se- Inpa, advertem que os planos de adensar a ocupação agrícola do
ria orientar “medidas incentlvadoras da Suframa” para facilitar a lavrado e de transformá-lo em um novo mar de soja - através de
vida “dos investidores sobre a aplicação de recursos” no estado. métodos convencionais, desenvolvidos em condições ecológicas
Apesar de recomendar o ecoturismo, a fruticultura, a piscicultura diferentes, como é o caso dos cerrados do Planalto Central - só
e produção de dendê, o estudo destaca a soja como atividade com agravarão os problemas de lixiviação e assoreamento já observáveis
grande potencial, por conta da existência de “1,2 milhão de ha na zona rural de Boa Vista, especiahuente nas áreas de cultivo me-
propícios para o plantio" no estado. Quanto às terras indígenas, canizado de arroz. Ademais, sua baixa rentabilidade por hectare
são caracterizadas neste estudo como “restrições à utilização dc demandará cultivos extensos, criando a perspectiva de um avanço
fatores potenciais existentes”. sobre as áreas florestadas, cuja inflamabilidade (associada ao evento
periódico do El Nino) favorece a ocorrência de incêndios devasta-
FUTURO DEVASTADOR dores, como os verificados entre o final de 1997 e início de 1998.
Embora proporcione uma frente de integração continental e rom- Na verdade, o futuro dos ecossistemas e das terras indígenas situa-
pa o isolamento da calha norte do Amazonas, o eixo constituído das na área de influência da BR-174 dependerá do caráter mais ou
pela BR-174 - e seu provável adensamento econômico - deve favo- menos predatório dos agentes exploradores e da capacidade dessas
recer o histórico propósito da elite roraimense de intrusar (para áreas serem defendidas das pressões externas. “Saída para o Caribe",
subtrair parcelas de) terras indígenas e isolar o movimento indí- “porta de entrada do progresso” ou "nova fronteira agrícola”, é
gena do lavrado, que têm no CIR e na Apir as organizações mais aqui, onde os planos de desenvolvimento estadual e federal para a
atuantes. Ao mesmo tempo em que promove a mais renitente cru- região se comungam, que emerge a questão crucial: qual o papel
zada contra o reconhecimento oficial de terras indígenas já vista reservado para a significativa população indígena do estado em re-
no estado, o governo do conservador Neudo Campos busca atrair lação às transformações econômicas projetadas para o próximo
produtores de grãos do Centro-Oeste e Sul do país. Visitas de século pela integração entre Brasil e Venezuela? (agosto, 2000)
RAPOSA/SERRA DO SOL ados pela Diocese de Roraima. O CIK relata que lano. Trata-se de um ex-missionário da congre-
a cobiça das reses indígenas provocou troca de gação belga “Hermanitos dei Evangelio", que
tiros entre um vaqueiro e índios Makuxi. O va- atuou entre os índios Yekuana e Sanuma. Em
DECRETO 1.775 CAUSA queiro foi morto e dois índios saíram feridos 1969, abandonou sua carreira missionário para
EUFORIA EM RORAIMA do episódio. No dia 2 de fevereiro, o tuxaua da se tornar um “expert” em assuntos de geopo-
Á imprensa de Roraima recebeu como uma bên- aldeia Flexalzinho, Darciano de Souza, foi bale- iítica e indigenismo, trabalhando como consul-
ção política o Decreto 1.775, assinado pelo mi- ado e esfaqueado, estando hospitalizado. (ISA, tor do Ministério das Relações Exteriores do
nistro Nelsonjobim, que permite a contestação a partir de Carta do CIF de 09/02/%) governo venezuelano, o que ajuda a entender a
dos processos de demarcação das áreas indí- proposta indecorosa feita no laudo. As posições
genas no País. Um articulista da Folha de Boa DEPUTADO PROPÕE antündígenas de Barandiarán na Venezuela tam-
Vista informa que o presidente da Assembléia DIVISÃO DA ÁREA... bém são notórias. (ISA, a partir de Parabóli-
Legislativa, Alrnir Sá, convocou ontem uma co- cas, tnai/%, e de informe de Nelly Arvelo
letiva para anunciar que já mobilizou o corpo
O deputado federal Salomão Cruz (PSDB) en- Jimenez, dejun/96)
de técnicos e advogados da Assembléia para,
caminhou, esta semana, uma proposta para so-
lucionar o impasse da demarcação da TI Rapo-
em 45 dias, concluir os estudos necessários ao DEU RAPOSA NO
sa/Serra do Sol ao presidente da Comissão Ex-
contraditório, o que ele chamou dc “vícios no
terna da Câmara dos Deputados, Sarney Filho,
NEW YORK TIMES
processo demarcatório” das Áreas Raposa/Ser-
ra do Sol e São Marcos.
A comissão acompanha os procedimentos rela- O conflito acerca da demarcação da TI Rapo-
tivos à demarcação de terras indígenas no Bra- sa/Serra do Sol foi parar na capa do New York
“Almir Sá sugeriu ao governador que determi-
sil. Pela proposta do deputado, duas reservas Times de 21 de junho de 1996- Gomo era de se
ne a feitura de um (novo) laudo aníropológico
independentes seriam demarcadas, uma para os esperar, otema da reportagem é a demora do
da Raposa/Serra do Sol”, informa o articulista.
Ingarikó e outra para os índios Makuxi, ministro Nelsonjobim em promover a demar-
O jornal informa que “o deputado Almir Sá vai
contralar também um advogado de renome para
Wapixana e Taurepang. A proposta difere da- cação de uma área com grande visibilidade
o processo de demarcação da
No laudo do “antropólogo” venezuelano Daniel
Ti Raposa/Serra do Sol. (O Diário, 09/02/%) de Barandiarán, ele sugere que o Brasil não deve
EM NY, TUXAUA ANUNCIA
demarcar a TI Raposaíierra do Sol para não pôr
AUTODEMARCAÇÃO
RELAÇÕES NA RAPOSA em risco “uma eventual ampliação territorial fu-
tura (!)". Mais que isso, Barandiarán comida o O vice coordenador do CIR, José Adalberto da
SE DETERIORAM
governo brasileiro a juntar-se à Venezuela para .Silva, Semana da Amazônia, que o
disse na VII
0 CIK enviou ao presidente da Funai, Márcio obter a conquista da porção ocidental da Guiana, governo de Roraima investe contra os direitos
Santiili, informe sobre conflitos que vêm ocor- equivalente a dois terços de seu território. As- dos índios. Criticando o governo brasileiro por
rendo deutro da TI Raposa/Serra do Sol, envol- sim, o governo de Roraima corrobora oficiaimen- gastar milhares de dólares em um evento sobre
vendo índios e funcionários das fazendas insta- te uma proposta de invasão de um país vizinho. a Amazônia em Nova York (EUA) ,
enquanto não
ladas na região. Segundo o informe, os confli- O (ai Daniel Barandiarán, no entanto, não é an- atende as reivindicações das populações indí-
tos se devem ao roubo do gado dos índios, do- tropólogo e provavelmente tampouco venezue- genas da região, o vice coordenador do CIR afir-
prestada pelo vice coordenador do CIR, José apelos a todas as entidades de defesa dos direi-
Adalberto. Adalberto disse que o CIR pretende tos indígenas para que manifestem seu desa-
ÍNDIOS INICIAM
“montar novas estratégias" de pressão caso o grado diante dessa inaceitável medida”, avisou
DEMARCAÇÃO EM UIRAMUTÃ... ministro Nelson Jobim não demarque a área o coordenador do Conselho. Nelino Galé ad-
Os índios Makuxi e Wapixana estão cumprindo até o mês de dezembro. (Folha de Boa Vista, vertiu que a decisão do governo vai perpetuar
a promessa que fizeram de realizar a n/10/96) os confrontos já existentesna Raposa/Serra do
autodemarcação da TI Raposa/Serra do Sol. Em Sol. “É extremamente preocupante que o mi-
represália à criação de municípios em áreas MINISTRO VISITA ÁREA, nistro dajustiça faça letra morta da Constitui-
consideradas indígenas, mais precisamente FAZ PROMESSAS... ção brasileira, que decreta nulos e extintos qual-
Uiramutã, os índios iniciaram a autodemarcação quer ato de domínio ou posse de terra indíge-
pelas fazendas Novo Destino, de propriedade do O CIR considerou a visita do ministro da Justi- na para fins meramente políticos", concluiu
ça, Nelson Jobim, "bastante proveitosa”, segun- Galé. (JB, 28/12/96)
fazendeiro Valdir Leite, e Central, de Plínio Ne-
do informe divulgado pela entidade no dia 15
ves. A Funai classificou a atitude dos índios como
de outubro. No entanto, para a entidade “é in-
GOVERNO E FAZENDEIROS
pacífica e simbólica. O ato, segundo a Funai,
compreensível o adiamento da decisão até o
não tem valor legal. (O Diário, 02/10 e Folha
fi-
QUEREM MAIS
nal do ano”, referindo-se ao anúncio do minis-
de Boa Vista, 03/10/96)
tro de que a assinatura da portaria demarcatória Depois de quase duas horas de discussão entre
sairia até o Natal, sem precisar uma data. No fazendeiros e os dois advogados contratados
... QUE É INTERROMPIDA entendimento do CIR, “o tempo dado até o final pelo governo do estado para estudar a possibi-
PARA ESPERAR MINISTRO do ano pode significar a necessidade da Funai lidade de contestar judicialmente a nova deli-
Há quatro dias estão parados os trabalhos de refazer a proposta (de limites) iniciai, o que mitação da TI Raposa/Serra do Sol, ficou deci-
autodemarcação que os índios estavam desen- implicaria em redução da área (Raposa/Serra dida a formação de um GT para reunir docu-
iniciada nasemana passada, depois de ser anun- ... E REDUZ LIMITES particulares, paralelamente.
ciada pelo tuxaua José Adalberto Silva, do CIR, DA RAPOSA A ação administrativa vai se basear no argumen-
na abertura da Semana da Amazônia, em Nova to de que Jobim não estabeleceu perímetros
O ministro dajustiça Nelsonjobim, contrari- urbanos,nem coordenadas geográficas, para
York, no final do mês passado. (Folha de Boa
,
ando as expectativas criadas Junto aos índios que a Funairealize a nova delimitação, como
Vista, 09/10/96)
durante sua visita à TI Raposa/Serra do Sol, as- manda o despacho. O deputado Salomão Cruz
sinou o despacho n° 80, no dia 20 de dezembro disse que a tentativa de provar a posse ou a pro-
DEPUTADOS AMERICANOS de 1996, propondo significativa redução dos li-
priedade das fazendas que ficaram dentro do
PEDEM MANUTENÇÃO DA ÁREA mites da área identificada pela Funai. O despa- limite da área única é um caso complicado.
cho foi publicado no dia 24 de dezembro e, Segundo ele, quem não conseguir provar que é
Dezessete deputados dos dois maiores partidos
norte-americanos enviaram ontem carta ao pre-
mesmo rejeitando as contestações apresentadas proprietário antes de 1934 pode se considerar
durante o processo de contraditório, determi- como um caso perdido. “Para este, o jeito é
sidente FHC pedindo que não permita a redu-
na "pequenos ajustes, ditados pelo interesse entrar com pedido de indenização", frisou. O
ção da TI Raposa/Serra do Sol. “Preocupa-nos
que a redução dessa área crie um precedente
público em preservar núcleos populacionais não deputado recomendou também que os fazen-
para a possível redução de 177 outras áreas
indígenas já consolidados, ou em resguardar deiros quetêm documentos provando a posse
situações jurídicas estabelecidas pelo próprio devem defender suas propriedades “usando até
indígenas no Brasil", escreveram os congres-
sistas. A carta ao presidente brasileiro, datada
Poder Público Federal”. Com base nesse argu- a força, se necessário”. (Folha de Boa Vista,
mento, Jobim determina, por sua própria inici-
25 a 27/01/97)
de 1 de outubro, foi divulgada pela Coalizão
ativa, que a Funai reformule e reapresente a
pelos Povos e o Meio Ambiente da Amazônia,
sediada em Washington. Os deputados temem
proposta de delimitação da áreas com várias
o restante para os colonos e garimpeiros. “O por “Goiano".Em seguida, com o apoio do pre- ano, Oscar Luigi Scalfaro, e ao papajoão Paulo
parâmetro para a delimitação definitiva deixa e de vereadores de Uiramutã, índios liga-
feito II advertindo para a decisão do ministro Nel-
de fora, além de algumas aldeias, a maior par- dos ao governo destruíram três casas das co- son Jobim de reduzir os limites da TI Raposa/
te dos buritizais, sítios de pastagem e lagos pe- munidades Tabatinga, Camararém e Lilás. O pre- Serra do Sol. Ao presidente FHC, foi entregue
renes utilizados pelos índios para pesca, com- feito Venceslau Braz destacou policiais civis para um abaixo-assinado com 3,2 mil assinaturas
prometendo as suas atividades de subsistência”, a fazenda Bom Jardim. Representantes das co- pedindo respeito aos direitos humanos e
disse SantiUi. munidades indígenas, temendo que outras ca- territoriais dos povos indígenas brasileiros, em
O ISA enviou cópias de sua posição ao ministro sas venham a ser derrubadas pelos policiais, particular, dos Guarani Kaiowá, Yanomami e
Nelson Jobim e ao presidente da Funai, Júlio foram até Boa Vista pedir ajuda à Funai. (Infor- Makuxi. (ISA, a partir de Cartas da Survival
Gaiger, apelando para que seja tornado sem me do CIR, 17/04/97) International, mai/97)
efeito o despacho ministerial, reconhecida a
ocupação indígena integral na extensão da área, FAZENDEIROS NÃO DESISTEM ÍNDIOS PARALISAM
a demarcação c a desintrusão da área. O ISA
OBRAS DENTRO DA TI
adverte que, se for consolidada por portaria, Termina hoje o prazo de 120 dias dado pelo
isso legitimaria as invasões existentes e possi- ministro da Justiça para que os interessados se Um informe divulgado pelo CIR em 26 de se-
bilitaria outras mais, ampliando as situações de habilitem a eventuais indenizações por ben- tembro afirma que uma construtora iniciou
conflito - além de se constituir num precedente feitorias de boa-fé levantadas dentro da TI Ra- obras de construção da prefeitura e de unta Câ-
reducionista, que poderia ensejar futuras re- posa/Serra do Sol. Mas os fazendeiros contrari- mara de Vereadores no recém-criado municí-
duções nas terras indígenas que estão sendo ados com a decisão mimsterial não desistem e pio de Uiramutã, dentro da TI Raposa/Serra do
ou que ainda serão identificadas pela Funai. estão apresentando novos argumentos para ten- Soi. Segundo o informe, as obras começaram
(Folha de Boa Vista, 08 a 10/03/97) tar manter suas posses dentro da área. Dos 292 no centro da aldeia Uiramutã, num campo de
proprietários de terras da TI Raposa/Serra do futebol utilizado pelos índios. No último dia 19,
FHC É RECEBIDO COM Sol, 21 recorreram aos advogados oferecidos diz o documento, as obras foram paralisadas
PROTESTOS EM BOA VISTA pelo governo estadual para auxiliá-los na ela- por moradores de várias aldeias e há no local
boração de recursos contra a decisão do mi- uma mobilização de 500 índios, que tende a
A chegada do presidente FiiC ontem a Boa Vis- nistro da Justiça Nelson Jobim, presente no des- aumentar de número, dada a aproximação das
ta foi marcada por protestos de sindicatos, ín- pacho assinado em 24 de dezembro de 1996- eleições de 3 de outubro, por eles repudiadas.
dios e estudantes roraimenses. Cerca de 500 Apesar de ter excluído parcela significativa da O CIR lembra ainda que, no ano passado, o
manifestantes não deram trégua ao presidente, área da fruição exclusiva indígena, a decisão mi- governo dc RR tentou iniciar ilegalmente as
desde a Base Aérea até o Palácio da Cultura. O nisterial considerou improcedente as contesta- obras de construção de uma hidrelétrica no rio
CIR e lideranças indígenas estiveram entre a ções apresentados pelos fazendeiros que ale- Coüngo, que nasce e morre dentro da terra in-
multidão, reivindicando a demarcação da TI gam propriedades instaiadas dentro da
ter ter- dígena. “Depois de muitos conflito, as obras
Raposa/Serra do Sol. (O Diário, 12/04/97) ra indígena, (ISA, a partir de Folha de Boa Vis- foram paralisadas. O objetivo do início das
ta, 24/04/97) obras da hidrelétrica era o mesmo da implan-
do Sol. A entidade diz que a política indigenista caprinos e ovinos dos quatro maiores proprie- ras da área a ser demarcada. (Folha de Boa
de FHC “d uma fraude". (JB, 02/12/97) tários não-índios. As compras foram feitas na Vista, 30/10, e Brasil Norte, 31/10/98)
região das Serras, considerada o coração da
PELOTÃO DE FRONTEIRA área indígena. O coordenador das Serras expli- ÍNDIOS QUEREM
EM UIRAMUTÃ cou que a compra esiá sendo feita de acordo
ADVOGADO FORA DA FUNAI
com a procura dos próprios fazendeiros inte-
0 Exército, através da 1* Brigada de Infantaria ressados em negociar a venda de animais e in- Um grupo de 35 lideranças indígenas ligadas
da Selva, escolheu o município de Uiramulã para denizações de benfeitorias. “Ate agora compra- ao CIR e à Apir, decidiu ocupar a saía da asses-
instalar um novo destacamento de fronteira. A mos só animais", explica. Além da cota feita por soria jurídica da Funai em Roraima, exigindo a
escolha, que incide sobre os limites identifica-
índios funcionários públicos, a Funai também imediata retirada do procurador da entidade,
dos da TI Raposa/Serra do Sol, preocupa tanto contribuiu com R$ 100 mil para comprar 500 Wilson Précoma. A ação foi comunicada por
a Funai como o CIR. Este encaminhou carta à cabeças de gado, segundo o coordenador regi- fax ao presidente da Funai, Sullvan Silvestre,
Presidência da República, propondo uma dis-
onal. O próximo passo é fortalecer o fundo fi- pedindo a exoneração de Précoma.
cussão aberia sobre a queslão. (Informe da nanceiro para indenizar benfeitorias e discutir O advogado vem fazendo acusações contra a
Funat/cm, 11/11/97) a melhor forma de distribuir os animais com- Administração Regional da Funai, acusada pelo
prados pela comunidade. (Folha de Boa Vista, procurador de favorecer uma candidatura ao
NOVO PRESIDENTE DA FUNAI 28/08/98) governo do estado. Outra denúncia é a do des-
DEFENDE ÁREA CONTÍNUA caso da Fimasa, que seria culpada pela morte
O CIR ganhou um importante aliado na luta pela RAPOSA VOLTA À de 43 índios Yanomami no pólo-base de Uaris
demarcada de forma contínua “com ressalvas". de 15 produtores instalados na pane sul e su- ral do CIR, mas não corre risco de vida. Segun-
Uma faixa de 400 ha, próxima a Uiramutã. foi doeste da Raposa, próximo ao rio Surumu, fo- do informou o Cimi, o CIR decidiu fazer uma
excluída pelo ministro para o Exército brasi- ram para lá levados por políticas governamen- assembléia para deliberar sob re a retirada ime-
leiro. tais estaduais de pouco mais de uma década, diata de todos os invasores da área. (Últimas
O anúncio da assinatura da portaria gerou rea- com o deliberado intuito de intrusar os domíni- Notícias/m, 17/02/99)
ção imediata do governador Neudo Campos, que os indígenas e, assim, viabilizar reduções nas
declarou “ser um absurdo e uma falta de res- terras tradicionalmente ocupadas pelas clnias ADMINISTRADOR PEDE
peito ao povo de Roraima e à maioria das lide- da região. DEMARCAÇÃO URGENTE
ranças indígenas, contrárias à demarcação pro- Dois dos produtores de arroz - Paulo César
posta”. O governador declarou também que vai Quartiero e Luiz Afonso Faceio, líderes do mo- O administrador regional da Funai em Boa Vis-
entrar com ação na Justiça, solicitando a anu- vimento dos rizicultores contra a demarcação - ta, Walter Blos, enviou no último dia 29 de mar-
lação da portaria. Segundo ele, a maioria dos estãona região há cerca de 15 anos; os outros ço memorando ao presidente do órgão em
líderes de malocas existentes na área pretendi- chegaram no primeiro mandato do atual gover- Brasília, Márcio Lacerda, informando sobre os
da é contra a demarcação contínua. “Nós te- nador reeleito, Neudo Campos. Foram assenta-
riscos que os índios da Funai
e os servidores
mos uma proposta conciliatória. Cria nove ilhas dos na região com o apoio de subsídios gover-
correm por conta da indefinição acerca do iní-
numa área de aproximadamente 700 mil ha, que namentais para programas de cultivos irrigados cio da demarcação física da TI Raposa/Serra
atende perfeitamente as necessidades de toda - considerados insustentáveis por conta de sua do Sol. No documento, Walter Blos exorta o
população indígena Makuxi e Wapixana", itincrância face à degradação que acarretam nos presidente da Funai, o ministro da Justiça
co toneladas de carne para a população em uma perdas. Além de as contestações apresentadas Raposa/Serra do Sol como medida de proteção
manifestação contra a decisão ministerial, pro- em 96 ao Ministério da Justiça, por conta do aos índios. (ISA, 01/04/99)
gramada para a Praça do Centro Cívico, em Boa chamado "princípio do contraditório", terem
Vista. “Não há como fazer o estado crescer se sido consideradas improcedentes pelo ministro MPF INVESTIGA
não houver espaço para o desenvolvimento agrí- Nelson Jobim, Faceio já teve duas iniciativas para CONTAMINAÇÃO NA TI
cola”, analisou um dos empresários. (Brasil permanecer na área frustradas pela Justiça.
A Procuradoria da República do Estado de Ro-
Norte. 12/12; Folha de Boa Vista, 12, 13 e 30/ De acordo com Lang, na primeira delas, o ex-
raima, através da Portaria n° 19, publicada no
12. e DOU, 14/12/98) deputado estadual entrou com uma ação najus-
Diário dajustiça de 20 de abril de 1999, deter-
tiça Federal, em 97, solicitando sua permanên-
minou a instauração de procedimento adminis-
DEPUTADOS E RURALISTAS cia dentro da área até que pudesse amortizar os
trativo para verificar a prática de atividades da-
CONTRA DEMARCAÇÃO investimentos que havia feito na área. Dias an-
nosas ao meio ambiente e às comunidades in-
tes da assinatura da recém-assinada Portaria n°
Depois de tentar convulsionar o abastecimento dígenas que habitam a TI Raposa/Serra do Sol
820, o STJ julgou a ação considerando impro-
de arrozecarne,coma distribuição gratuita de por parte de fazendeiros instalados nas proxi-
cedente seu pleito, Em seguida. Faceio tentou
sua produção em Boa Vista, os produtores de midades do município de Normandia. A inicia-
ainda obter, através de uma mandato de segu-
arroz e os pecuaristas instalados dentro da TI tiva decorre de denúncia encaminhada pelo CIR.
rança, uma liminar para permanecer na terra
Raposa/Serra do Sol decidiram intensificar a De acordo com o processo criminal em curso
indígena. Perdeu, de novo. (Marco Antonío
pressão sobre o Executivo (Funai e Ministério na 2“ Vara Federal de Roraima, a aplicação
Gonçalves/Últimas Notícias, ISA. 14/01/99)
dajustiça) e o Legislativo Federal. O CIR infor- indiscriminada de agrotóxicos na Fazenda Casa
mou que, na última semana, parlamentares de
MAKUXI BALEADO Branca, localizada no interior da TI, cm dezem-
Roraima estiveram reunidos com deputados e bro de 1995, causou grandes danos ambientais
o ministro da Justiça, Renan Calheiros, solici-
POR FAZENDEIRO na região, acarretando a morte de inúmeras
tando a paralisação do processo de reconheci- O índio Makuxi Paulo José de Souza, habitante aves silvestres e graves danos à saúde das co-
mento oficiai da área. Querem que, no mínimo, da TI Raposa/Serra do Sol, foi baleado por um munidades indígenas próximas. Segundo os do-
os trabalhos de campo da demarcação não se- fazendeiro na maloca Willimon, situada próxi- cumentos do processo, as águas provenientes
jam iniciados. mo a Uiramutã. Segundo o CIR, ele não corre dos arrozais da fazenda deságuam justamente
Dias antes (8 de janeiro), advogados da Comis- risco de vida. Os disparos foram dados pelo fa- no igarapé que banha a Aldeia Jauari.
são de Direitos Humanos da Ordem dos Advo- zendeiro Roberto Rodrigues, que sacou sua O procurador regional dos Direitos do Cida-
gados do Brasil (OAB-RR) protocolaram uma arma após uma discussão com Paulo José so- dão, Eduardo André Lopes Pinto, determinou a
ação popular, com pedido de liminar, na justi- bre a demarcação da terra indígena, segundo realização de perícia por técnicos da Superin-
ça Federai, visando barrar o início dos traba- nota do Cimi. Cerca de 300 índios que partici- tendência Estadual do Ibama (RR) para apurar
lhos demarcatórios, A ação foi solicitada pelos pavam de uma assembléia de tuxauas (líderes o lançamento de resíduos tóxicos no igarapé
ni ralistas e por políticos esladuais ao presidente indígenas) se dirigiram até a fazenda de jauari, com vistas a dimensionar os danos ambi-
da OAB-RR, Ednaldo Nascimento. Rodrigues para exigir sua saída da área. entais causados à fauna, flora e aos recursos
Segundo informações de Renato Lang, ex-mem- A escalada de violência em Roraima inclui ain- hídricos da Terra Indígena. O Procurador de-
bro da CPT no eslado e profundo conhecedor da um atentado contra um dos membros histó- terminou ainda ao Centro de Pesquisa
de seu histórico de ocupação desde o período ricos do Cimi. Egon Heck. Ele levou uma facada Agroflorestal de Roraima (CPAF) que envie téc-
militar, as queixas e alegações dos rizicultores de um vaqueiro quando acompanhava um gru- nicos à fazenda para emitir relatório sobre a
são inconsistentes. Segundo ele, todos os cerca po de índios que participava da assembléia ge- uUllzação de agrotóxicos no local e sua ade-
va, vice coordenador do CIR. “Estamos buscan- te. Na Ti São Marcos, homologada desde 1991,
TI Raposa/Serra do Sol para conhecer a área
há escolas e professores do estado que atuam
demarcada, mas ainda não homologada pelo do alternativas para que os índios não venham
a encher a periferia de Boa Vista", completou.
sem impedimento legai, A ameaça de Campos
presidente da República. Na véspera da viagem,
(Folha de Boa 16/12/98) tem a intenção de pressionar os líderes da
Taylor manteve audiência com o governador Vista,
Arikon e Sodiur a agirem contra a homologa-
Neudo Campos. O governo cedeu um helicóp-
... E APRESENTA PROPOSTA
ção da área única”, esclarece a nota do CIR.
tero para levar o viajante, junto com o secretá-
(Últimas Notícias/ISA, 18/02/00)
rio da Embaixada Inglesa no Brasil, John DE “PROGRAMA REGIONAL”
Pearson. No encontro, o inglês quis saber so-
O CIR entregou à presidência da Funai, no dia 8
bre o posicionamento do governo do estado
de fevereiro, uma proposta para a formulação
com relação aos problemas existentes nas re-
de um programa regional a ser aplicado em
servas. (Folha de Boa Vista, 17/08/99)
Raposa/Serrado Sol. A proposta havia sido apre-
sentada e aprovada pelos tuxauas da entidade
em Assembléia Geral, realizada na aldeia do
torno das organizações Sociedade dos índios na campanha contra as hidrovias IMPLANTAR EM RORAIMA
Unidos de Roraima (Sodiur) e Associação dos brasileiras”.
Povos Indígenas dos Rios Quino e Cotingo Ari (. Menos hostil que o discurso do de- DEMARCAÇÃO EM ILHAS JÁ III
km), esses índios têm o papel deforjar urna base putado Francisco Rodrigues, as MOVIMENTO POR RORAII
Filho e Luiz Hitler Briíto de Lucena (falecido), nou-se bispo de Registro, interior de São Pau-
das produtivas (sic) lá estabelecidas há deze-
contra a Portaria 820/98, do Ministério da Jus- nas de anos”, que teriam sido prejudicadas pela
lo, em 1975. Para dom Aldo, “o fato de a Santa
tiça, que demarcou a TI de forma contínua. decisão.
Sé ter indicado dom Apparecido é uma prova
A Ação Popular, interposta no dia 8 de janeiro O argumento do senador Mozarildo do compromisso que a Igreja tem com os po-
Cavalcanti,
de 1999, pede a suspensão dos efeitos da Por- vos indígenas de Roraima, cuja Diocese enfrenta
essencialmente político, foi contestado pelo pa-
taria 820/98, do Ministério da Justiça, assina- recer do senador acreano Tião Viana, que, além
problemas graves”. Ele lembra que, quando as-
da pelo então ministro Renan Calheiros, com de reconhecer a legitimidade do Executivo fe-
sumiu a Diocese predominava entre os índios
base no argumento de que a demarcação de deral para determinar a demarcação de terras
uma desesperança, tal a situação de explora-
Raposa/Serra do Sol, em área contínua de 1,6 ção e pressão que enfrentavam. Junto aos índi-
indígenas no país, lembra que a Constituição é
milhões de ha, atende a interesses de potências os, a Diocese mantém atendimento na área de
clara em relação à posse e ao usufrulo exclusi-
estrangeiras que pretendem internacionalizar vo indígena sobre as (erras que tvadicionalmente
saúde, com a manutenção, há 30 anos, de um
a Amazônia, e para isso, estariam usando ONGS ocupam, segundo preceitos expressos em seu
hospital e dois grandes postos, além de 80 me-
e a Funai. Artigo 231. “Percebe-se claramente que a am- nores, espalhados nas aldeias. Também realiza
Os advogados da União e Funai, solicitaram que trabalhos nas áreas de educação jurídica e auto-
plitude dos direitos conferidos aos índios (pela ,
os autores fossem ouvidos e pediram o fim da sustentação, através de vários projetos. (O li-
Constituição em vigor) não oferece ensejo à
Ação, argumentando que contra um ato admi- possibilidade de restrições decorrentes dos fa-
beral, 29/06/96)
nistrativo não caberia Ação Popular, Porém, o tos referidos na justificativa da proposição em
juiz alegou que “o ato administrativo sob crivo exame”, argumenta o senador do PT, rejeitan-
CIR TENTA IMPEDIR ELEIÇÕES
produz efeitos concretos e é passível do crivo do o projeto “em virtude de apresentar vícios índios das Tis Raposa/Serra do Sol e São Mar-
judicial". insanáveis de inconstitucionalidade”. (Marco cos ameaçam impedir as primeiras eleições
A atitude de Girão preocupa as comunidades Antonio Gonçalves/ISA, 13/09/00) municipais de Uiramutã e Pacaraima, emanci-
indígenas que habitam a Raposa/Serra do Sol,
pados no fim de 1995. As duas vilas de garim-
pois, a Ação Popular que parecia fadada ao es-
peiros, que se transformaram em sedes dos dois
quecimento, é ressuscitada no momento em que GERAL municípios, ficam dentro das respectivas áreas
organização indígenas e não-indígenas cobram
indígenas. Os índios se reuniram no último dia
a homologação pelo presidente da República, SEIS MIL ÍNDIOS 16, em Boa Vista, capital do estado, e adverti-
Fernando Henrique Cardoso. Um Mandado de NAS ESCOLAS DE RORAIMA ram que haverá derramamento de sangue se as
Segurança com pedido Liminar, contra a Por-
eleições uão forem suspensas. “Decidimos que
taria 820/98, impetrado pelo Estado de Rorai- Cerca de 6 mil crianças indígenas estão matri-
nãovai ter eleição, com ou sem liminar dajus-
ma, obteve Liminar Parcial do Superior Tribu- culadas em escolas de educação indígena espa-
Ficamos 20 anos tentando resolver o pro-
tiça.
nal de Justiça, “inviabilizando” a homologação lhadas pelo estado de Roraima. Até o fim do ano
blema pacificamente. Agora chegou o momen-
da terra dos Makuxi, Mapixana, Ingarikó e passado, eram 129 escolas atendendo aos índi-
tode decidir, nem que seja pela força”, disse
Taurepang. (CIS, juI/00) os, Este ano as comunidades indígenas de
ontem em Brasília o índio Makuxi José
Bonfim e Boa Vista receberam mais dez esco-
Adalberto, vice presidente do CIR. (O Globo,
las, sendo oito novas c duas reativadas. Dos 364
REJEITADO PROJETO 21/09/96)
professores contratados, 309 são índios e 55
QUE SUSTA DEMARCAÇÃO
não-índios, com cursos de qualificação ofere-
TROPAS PARA
Em sessão realizada hoje pela manhã, a Comis- cidos durante o ano.
são de Assuntos Sociais do Senado Federal apro- Com a criação do primeiro magistério indígena
GARANTIR O PLEITO
vou por unanimidade parecer do senador Tião do país, implantado no estado em 94, foi possí- Temendo conflitos durante a eleição nos muni-
Viana (PT-AC) que rejeita o Projeto dc Decreto vel atender os professores de todas as tribos da cípios dc Uiramutã e Pacaraima, tropas do Exér-
Legislativo (PDL) n° 106, dc autoria do sena- região. As escolas indígenas primárias adoiam cito c da PF foram deslocadas para essas áreas
dor Mozarildo Cavalcante (PFL-RR) que susta ,
a cartilha “Aprendendo com a Natureza" para a fim de garantir a normalidade das votações.
os efeitos da Portaria n" 820, de 1 1 de dezem- ensinar aos alunos indígenas a Língua Portugue- Cansados de esperar por uma decisão do mi-
bro de 1998, que declara a posse permanente sa. O livro e o caderno de exercícios foram edi- nistro da Justiça, Nelson Jobim, os índios resol-
indígena sobre os 1,6 milhão de ha da Terra tados em 89 e elaborados por 15 professores veram mobilizar e realizar a demarcação da área
Indígena Raposa/Serra do Sol. indígenas Makuxj e Wapixana e por cinco téc- Raposa/Serra do Sol por conta própria e, com
Apresentado ano passado, o PDL do senador nicos da Secretaria de Educação do Estado. (O isso, impedir a emancipação da vila de
por Roraima argumenta que o Artigo 49 da Diário - Boa Vista, 16/04/96) Uiramutã. (OESP, 03/10/96)
das comunidades indígenas que nela habitam. de alta tensão. Essa rede terá cinco km de ex- rebateu :
“É mais um cabide de emprego”. Para
(Folha de Boa Vista, 08/10/96) tensão e fará a ligação entre a usina e a sede de ele, se o governo estivesse interessado reabnen-
ções do advogado. (Brasil Norte, 01/10/98) impedido de trabalhar pelos índios, que inva-
Wilson Précoma, que os acusa de envolvimento as pretensões já anunciadas pela Funai de de-
O prefeito de Boa Vista c ex-governador Ottomar
na morte de 40 índios, no desvio de combustí- marcar as terras dos índios Wai-Wai (ampliada
Pinto (PTB) reagiu às críticas de dom Appareddo
vel e no uso indevido de viaturas das duas insti- afirmando que “o meu pastor não eslá trilhando de de 330 mil para 403 mil ha), Trombelas-
tuições em campanha política. (ISA, a partir o caminho da justiça cristã". Ottomar Pinto as- Mapuera (interditada desde 1987, com 2 mi-
de Diário de Boa Vista. 02/12/98)
em lhões de ha) e Muriru, com 5.520 lia. Essas áre-
sentou, 1980, várias famílias de agricultores
dentro da TI São Marcos, no Samã, quando a as envolvem parte desses municípios, por isso
... MANIFESTA APOIO
E área já estava em processo de demarcação pela os prefeitos vão participar da comissão. (ISA, a
PÚBLICO A PRÉCOMA Funai. Um dos assentados foi o japonês Masalúro partir de Folha de Boa Vista, 23/07/99)
Em nota veiculada na imprensa local, a seção Sotodate, que hoje se nega a sair da área e en-
de Roraima da OAB oficializou seu apoio às
frenta protesto dos índios do Samã. (Folha ele CPI DA FUNAI EM RORAIMA
denúncias do advogado da Funai, Wilson Boa Vista, 08 e 13/07/99)
Uma comitiva de sete deputados que compõem
Précoma. Em sua defesa, a OAB Roraima de-
a CPI que investiga os procedimentos para a
nuncia que o advogado eslá sofrendo retalia- FUNAI EXONERA
demarcação de terras indígenas e a atuação de
ções e ameaças dos dirigentes da Funai e da ADMINISTRADOR REGIONAL... ONGs conveniadas com a Funai embarca hoje
Funasa de Roraima. Précoma vem acusando os
O presidente da Funai, Márcio Lacerda, exone- para Boa Vista. O roteiro aprovado pela CPI in-
órgãos federais de negligência funcional, res-
rou Wídtcr Blós do cargo de administrador re- forma que amanhã a comitiva parlamentar se
ponsabilizando-os por óbitos nas comunidades
gional da Funai em Roraima. O vice coordena- deslocará para a TI Raposa/Serra do Sol, cuja
indígenas. (Folha de Boa Vista, 20/12/98)
dor do CIR, José Adalberto, disse que as lide- demarcação está obstruída por força das pres-
ranças indígenas estão indignadas com a deci- sões que o governo e a bancada roraimense
G7 FINANCIA DEMARCAÇÕES exercem sobre o Executivo federal. Em Rapo
são. Segundo ele, o Conselho já encaminhou
EM RORAIMA ofício ao presidente da Funai solicitando infor- sa/Serra do Sol, os deputados deverão visitar a
0 governo brasileiro está disponibilizando ver- mações sobre as razões do afastamento. aldeia Maturuca e, em seguida, sobrevoar as
bas do Projeto Integrado de Proteção às Terras À saída de Walter Blós da administração regio- plantações de arroz de não-índios instaladas na
nal da Funai não eslá ligada apenas à decisão região do rio Surumu, dentro de terras indíge-
e Populações Indígenas da Amazônia Legal Bra-
sileira (PPTAL) - financiado peio Programa Pi- administrativa por aplicação ou não da política nas. Daí, a comitiva seguirá para as aldeias Can-
indigenista. A presença de Blos e sua defesa da tão e Malacachela. Para o dia 11, está agendada
loto para a Proteção das Florestas Tropicais do
Brasil, dos sete países mais ricos do mundo consolidação das demarcações de terras no es- audiência pública na Assembléia Legislativa de
(PPG7) -, para demarcar sete novas áreas indí- tado incomoda a elite política de Roraima, que Boa Vista, e no último dia de permanência no
genas que estão em processo de reconhedmen- pressionaram Brasília para destiluí-lo. No mês estado (dia 12), uma visita à Terra Indígena
lo, a maioria nas regiões de Alto Alegre e Serra passado, Walter Blos criticou o ministro da Jus- Yanomami - mais especificamente, à base mili-
da tua. Três dessas terras já foram Identificadas Renan Calheiros, por conta da demora na
tiça, tar de Surucucus e, em seguida à aldeia Demini.
recentemente pela Funai: Boqueirão, Jacamim homologação da TI Raposa/Serra do Sol. (ISA, A visita a Roraima tem o objetivo de produzir
a partir de Folha de Boa evidências de que as terras indígenas e as uni-
e Muriru. As demais foram identificadas ao lon- Vista, 1.3/07/99)
estão espalhadas ein várias regiões do estado de A exoneração do administrador da Funai, Walter tuadas dentro de Raposa/Serra do Sol tem es-
ranças indígenas que estão reunidas, desde on- zendas produtoras de arroz irrigado listadas no
tem à tarde, na Missão Católica do Surumu. Se- roteiro de visiias da CPI são de propriedade de
POLÍTICOS ESTADUAIS
gundo o vice coordenador do CIR, José Adal- Paulo César Quartiero e Luiz Afonso Faceio, que
E BISPO EM CONFLITO
berto, os índios estão esperando a resposta do lideravam as manifestações contrárias à assi-
Deputados estaduais rebateram ontem as criti- ofício encaminhado ao presidente da Funai, natura da portaria ministerial que determinou
cas do bispo de Roraima, dom Appareddo Dias, Márcio Lacerda, no qual solicitam que ele ve- a demarcação da Raposa/Serra do Sol, em ja-
de que os políticos do estado desrespeitam as nha a Roraima esclarecer detalhadamente a sa- neiro. Seus cultivos foram implantados com in-
leis. A presidente em exercício da Assembléia ída de Blós. (Folha Boa Vista, 15/07/99) centivos fiscais do estado e recursos do Banco
do Brasil - que nunca foram pagos, gerando uni pelo governo e se opõem ã demarcação inte- fronteiras, me parece bastante estranha”, ana-
escandaloso desfalque aos cofres da casa ban- gral de sua própria terra”. De acordo com a lisou. (Folha de Boa Vista, 16/09/99)
cária - dentro dos limites da área indígena, ig- nota, a comitiva da CPI só chegou a Maturuca
norando o processo de demarcação conduzido às I6h30, quando muitas lideranças indígenas WALTER BLÓS
pela Funai à época. (Marco Antonio Gonçal- já haviam deixado o local por acreditar que não REASSUME FUNAI
ves/ISA, 09/09/99 haveria reunião, “Àquelas horas os tuxauas sa-
Empossado no último dia 1 1 de novembro, o
biam que não haveria mais tempo para uma dis-
novo presidente da Funai, Carlos Frederico Ma-
CPI É AGUARDADA cussão séria e adequada sobre os assuntos da
rés, nomeou Walter BIós para administrar o
CPI”, alega o documento.
POR 2,5 MIL ÍNDIOS órgão indigenista cm Roraima, em substituição
Segundo o CIR, a atitude da CPI não causou sur-
a Dismar Mesquista, à frente do órgão há ape-
O CIR divulgou nota informando que 2.500 ín- presa, já que os parlamentares de Roraima que
nas quatro meses. O nome de Walter BIós, que
dios estarão amanhã recepcionando os parla- a integram são contrários aos direitos dos índi-
havia sido exonerado do cargo por ter critica-
mentares da CPI na aldeia Maturuca, coração os e apoiam os invasores de Raposa/Serra do
do o ex-ministro Renan Calheiros pela demora
da Raposa/Serra do Sol”. ”0 CIR articula uma Sol.“O que nos surpreendeu e preocupou foi a
na homologação da TI Raposa/Serra do Sol, foi
das maiores mobilizações indígenas já ocorri- presença do presidente da Funai, Márcio
uma indicação do CIR. Sua retionieação foi
das em Roraima com a finalidade de questionar Lacerda, e do administrador local da Funai,
divulgada no fim de semana passado, durante
os parlamentares sobre a verdadeira intenção Dismar Mesquita (substituto de Walter Blos),
encontro organizado pela Coiab, em Manaus
da CPI”, informa a nota, que afirma que a CPI que acompanhavam a comitiva da CPI”. A nota
(AM). (ISA, a partir de Folha de Boa Vista,
em questão "foi criada para atrapalhar a demar- do CIR acusa o presidente da Funai de “coni-
15/12/99)
cação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol”. vência" com os propósitos da CPI e que prova
“Ao invés de se preocuparem com o cumpri- disso é o relator da Comissão, deputado Antô-
DEPUTADOS REAGEM
mento da lei, que determinava a demarcação de nio Feijão (então no PSDB-AP), ter divulgado
À VOLTA DE BLÓS
todas as terras indígenas até 1993, os deputa- na visita ao estado que terá audiência com
dos, principalmente de Roraima, usam a CPI Márcio Lacerda para tratar da anulação do pro- Deputados estaduais e federais de Roraima cri-
como moeda de barganha política", afirma na cesso de demarcação da TT Raposa/Serra do Sol. ticaram a nomeação de Walter BIós para a Ad-
nota o coordenador do CIR, jerônimo Pereira (ISA, a partir de nota do CIR de 13/09/99) ministração Regional da Funai no estado. 0 de-
da O CIR anuncia que planeja aproveitar a
Silva. putado Gelb Pereira (PDT) usou o plenário da
presença dos parlamentares em Roraima para CIRO GOMES DEFENDE Assembléia Legislativa para repudiar a decisão
mostrar que “a maioria absoluta dos úidios que-
REVISÃO DE ÁREAS JÁ do presidente da Funai, Carlos Frederico Ma-
rem a demarcação integral da Raposa Serra do BIós nomeado como assessor da presi-
DEMARCADAS rés. foi
Sol, contradizendo o discurso do governo esta- dência da Funai em Roraima, assumindo as fun-
dual e da bancada parlamentai', que usam algu- O vice-presidente do PPS, Ciro Gomes, virtual ções executivas da Regional Boa Visla alé que
mas comunidades para afirmar que os índios candidato à Presidência da República por seu seja nomeado o titular. Durante o período que
preferem uma demarcação em blocos ou ilhas". partido, disse ontem em enlrevisia coletiva que esteve afastado do órgão, BIós trabalhou no pro-
(Marco Antonio Gonçalves/ISA, 09/09/99) o ccoturismo e a agricultura podem ser grandes grama de fiscalização e vigilância da TI São
alternativas para desenvolver Roraima. Fie tam- Marcos.
CPI MUDA ROTEIRO bém defendeu a soberania da Amazônia e a re- “Há uma orquestração para entregar a Amazô-
E IRRITA ÍNDIOS visão das terras indígenas já demarcadas e ho- nia aos paísesdo G7”, disse Gelb Pereira,
mologadas na região. Afirmou que em Roraima acreditanto que a volta de Walter BIós teve in-
A CPI da Funai decidiu, na última hora, alterar há uma provinda mineral e extrativista de ma- fluência de Márcio Santilli, que atualmente di-
o roteiro previamente divulgado, transferindo deira importante, solos propícios à agricultura rige o ISA. Indagado sobre as criticas de vários
para o finai do dia a visita programada para a mecanizada e de alta produtividade. Mesmo sem políticos contra o seu retorno à ADR, BIós dis-
aldeia Maturuca. Em vez disso, a comitiva pre- dominar a temática indígena local, o ex-gover- se: “Prefiro não fazer nenhuma declaração con-
feriu visitar posseiros e vilas de garimpos ile- nador do Ceará fez algumas considerações. “A tra essas pressões políticas". Segundo ele, a
galmente instalados dentro da TI Raposa/Serra contradição básica é que o mero extrativismo nomeação se deu depois do órgão ter ouvido
do Sol, O CIR divulgou nota repudiando a deci- predatório não cabe; porém, o ambientalismo entidades de apoio aos índios, que têm convic-
são dos parlamentares: “os deputados visitaram radical ou a idéia de proteção ao índio, que faz ção do trabalho meramente técnico que desen-
comunidades indígenas que são manipuladas uma província mineral inteira coincidir com as volve. (Folha de Boa Vista, 15/12/99)
ORGANIZAÇÕES
INDÍGENAS
tendo a maior e mais regular base de af>oio entre região ocupada pelos Ingarikó. imediatos, a Sodiur têm se proposto a engrossar
as aldeias da TI Raposa/Serra do Sol Conta com o Arikom A Associação Regional Indígena do Kinô,
- a [Hisição dos políticos municipais e estaduais de
apoio da Igreja Católica, através da Diocese de Cotingo e Monte Roraima é comandada por Gil- retalhar a área indígena.
Roraima e do Cimi, e de entidades civis desde sua berto Makuxi e apoia a demarcação da Tl Raposa Alidcir - Criada com o apoio de políticos e ou-
fundação em 1990. É responsável pela formação
,
Serra do Sol em ilhas, como querem o governo do tros não- índios, principalmente de Pacaraima, a
em Normandia, município próximo da fronteira ganização articula um pequeno grupo de índios almente coordenada pelo tuxaua Anísio Filho, que
leste da TI. Abriga, ainda, outras organizações de garimpeiros, aliados de antigos garimpeiros não- habita a TI São Marcos. A entidade representa in-
segmentos indígenas específicas como associa-
,
índios, contra os novos garimpeiros do estado. teresses das comunidades das malocas Sorocaima
ções de mulheres, de professores indígenas etc. Sodiur - Dirigida pelo evangélico Jonas Arai, Bananal. Samã II e têm presença marcante
I,
Defende a demarcação da Tl Raposa/Serra do Sol Marcolino, tuxaua da populosa aldeia do Contão, de índios evangélicos. Mantém aliança com lodos
em uma área única e contínua, segundo a pro- a Sociedade de Defesa dos índios Unidos de os segmentos contrários à demarcação da Tl Ra-
posta da Funai encaminhada em 1993- Roraima organiza a oposição contra a demarca- posa/Serra doSolem área única, ou seja, o gover-
Apir - A Associação dos Povos Indígenas de ção de uma área contínua com 14 líderes indíge- no de Neudo Campos, a Sodiur e a Arikom. São se
Roraima historicamente se opõe ao CIR. embora nas de Raj)osa/Serra do Sol Contam com o apoio articulacom a Apir e a ATWM. (ISA, mai/97)
Raposa/Serra do Sol.
TRINACIONAL deranças, sendo sete de Roraima. Para secretá- organizações devem discutir. Afinal, o Brasil é
rioda organização foi eleito outro índio do es- o único país que garante constitucionalmente
Entre os dias 27 e 30 dc agosto, representantes tado, o professor Jadir, da maloca Boqueirão. um capítulo aos índios, o qual dá direito às
do CIR, do Conselho Nacional índio de Vene- Os dois membros da coordenação terão que populações de reservas demarcadas e o seu
zuela (Conive) e da Amcrindian Pcoples morar em Manaus, onde fica a sede da Coiab, usufruto. (Folha de Boa Vista, 15/07/99)
Association, da Guiana estiveram reunidos em por um período de três anos. (Anna Yekaré
Boa Vista para o Seminário Internacional dos
I Nossa Notícia/CIR, 05/98) MULHERES
Povos Indígenas do Brasil, Venezuela e Guiana.
REALIZAM ENCONTRO
Oitenta lideranças dos três países lançaram uma COORDENADOR DO
declaração conjunta propondo soluções para Pela primeira vez na história da organização
CIR É REELEITO
os conflitos regionais decorrentes da explora- indígena no estado, as mulheres indígenas de-
ção dos recursos naturais da região. As lide- Jerônimo Pereira foi reeleito coordenador do cidiram que não querem mais ser apenas cozi-
ranças reivindicam a demarcação integral e a Conselho Indígena de Roraima, e deverá per- nheiras ou cuidar de meninos. A partir dc ama-
desinírusão das terras indígenas, bem como manecer no cargo por mais quatro anos. Parti- nhã, elas participam na maloca Três Corações,
explicação não consolou a mãe. ‘Ti culpa dos estruturação efetiva do DSL, de acordo com as
brancos, é culpa dos brancos”, dizia, (Correio O CIR vai realizar, durante toda esta semana, diretrizes estabelecidas pela Coordenação de
liraziüense, 02/11/96) um treinamento introdutório sobre a realidade Saúde indígena da Funasa. A implantação e exe-
indígena no estado. O curso vem sendo minis- cução pardal do projeto teve seu início em ou-
DISTRITOS SANITÁRIOS trado no Aipana Plaza Hotel pela antropóloga tubro de 1999 tendo entrado
,
em execução ple-
MELHORAM ATENDIMENTO... Lêda Leitão Martins. O treinamento vem con- na em janeiro de 2000. Entretanto, o repasse das
tando com a participação de aproximadamente verbas pela Funasa não vem sendo feito da ma-
As entidades participantes do II] Encontro Es- 60 pessoas que foram contratadas pelo CIR, atra- neira pactuada, determinando a alteração de al-
tadual de Agentes Indígenas de Saúde de vés de convênio com a Eunasa, para prestarem gumas metas estabelecidas no inído do projeto.
Roraima divulgaram um manifesto solicitando atendimento às comunidades do Distrito Sani- As atividades desenvolvidas no âmbito do pro-
o reconhecimento do DSEI do Leste do estado tário Indígena do Lesle. A intenção do treina- jeto abrangem as seguintes áreas de atuação:
como forma mais adequada de organizar os mento, segundo o coordenador médico do pro- atenção básica à saúde; recursos humanos; for-
serviços de saúde na região. Assinado pelos jeto, Paulo Daniel, é que todos os profissionais mação de agentes indígenas de saúde; infra-es-
representantes do CIR, Apir, Coiab, Foirn, contratados, seja das áreas de saúde ou admi- trutura e equipamentos; operações e logística;
CGTSM e Civaja, solicita ainda participação no nistração, tenham conhecimento sobre a reali- medicamentos básicos; vigilância epidemio-
Núcleo Interiustitucional de Saúde Indígena de dade social, económica e política dos povos in- lógica; medicina tradicional indígena e mobi-
Roraima para programar a execução das ações dígenas, e, baseado em conceitos antropológi- lização comunitária e o controle social. Passa-
de saúde voltadas às comunidades indígenas. cos, compreendam suas culturas. (Folha de Boa dos seus seis primeiros meses, os resultados
Segundo informa o Boletim da Saúde, editado Vista, I O/U/99) do convênio CIR-Funasa têm sido avaliado de
pelo CIR, o reconhecimento do trabalho desen- forma positiva nas reuniões dos conselhos lo-
volvido pelos agentes indígenas de saúde da área um
... PARA ASSUMIR cais e distrital de saúde, sendo considerado
a contratação dos mesmos pelo gover-
Leste e
SAÚDE EM 2000 avanço importante na organização da saúde in-
no federal são as metas de iongo prazo do CIR dígena no país. (ISA, a partir de relatório do
para a área de saúde. No 111 Encontro, os parti- O CIR deu início ontem a mais uma oficina de asjun/oo)
cipantes avaliaram as conquistas e os pontos trabalho com as coordenações dos 25 pólos-
negativos do trabalho dos agentes indígenas nos base do Distrito Sanitário leste (DSI.) . O objeti-
últimos anos. vo do encontro c realizar o planejamento das
A ação dos agentes indígenas de saúde forma- ações de trabalho a serem desenvolvidas no ano
dos nos cursos realizados nos últimos anos tem 2000 pela entidade indígena através do convê-
valor de R$ 1 milhão, somando R$ 2 milhões ÍNDIOS REIVINDICAM não esclarece sobre os direitos dos índios à ter-
dos R$ 3,5 milhões destinados a financiar a re- DIREITOS SOBRE TERRA ra. Os índios Pemón alegam que a construção
tirada dos fazendeiros e posseiros da reserva. A NA VENEZUELA do linhão de Guri onde habitam, no Parque
liberação da última parcela, no valor de R$ 1 ,5 Nacional de Canaima e Serra Imataca, está des-
milhões, foi solicitada pela Funai, e está por Cerca de 800 índios da etnia Pemón, habitantes truindo florestas. “Este projeto está afetando 1
radas de má-fé 25 propriedades, sendo que nove pal estrada de acesso ao Brasil foi bloqueada
28/07 e 05/08/98) Venezuela. É a primeira vez que o governo da 0 CIR encaminhou carta ao presidente da
Venezuela mostrou-se disposto a ouvir as recla- Venezuela, Rafael Caldera, e a várias autorida-
mações dos índios. A constituição venezuelana des do primeiro escalão do governo do país,
transmissão de Guri dentro de terras indígenas. derrubaram postes nos 43 km de rede elétrica dígenas de Gran Sabana, Selva de Imataca, Rio
No documento, o CIR solidariza-se com os ín- entre Conlão e Sunimu, utilizando-se para isso Pareágua, localizados no estado de Bolívar, ante
dios Pemón, das áreas da Serra de Imataca e dc uma serra elétrica. Segundo o jornal, o pre- as agressões cometidas contra as comunidades
Gran Sabana, que estão protestando contra as sidente da empresa suspeita que “o ato de van- indígenas, pedem ao Brasil e à Venezuela para
obras c pedindo reconhecimento dos seus di- dalismo tenha sido motivado por razões políti- cancelarem o protocolo de construção que tem
reitos sobre a terra. "Repudiamos a forma au- cas”, e acusa o senador Romero Jucá, adversá- por finalidade o desenvolvimento da indústria
toritária que a Edelca (estatal energética da rio poUtico do grupo do governador Neudo Cam- mineira, turística e florestal da Selva de Imataca
Venezuela) está executando o projeto do linhão pos, de ser um dos mandantes do crime. e de Gran Sabana, terras ancestrais dos povos
de Guri", afirma a carta assinada pelo coorde- A CER acusa a Funai e o CIR de agirem na cala- Pemón e Akawayo”, diz a carta. Os índios con-
nador do CIRJerônimo da Silva. As lideranças da da noite, tentando impedir a continuidade sideram que a construção da rede “despoja
do CIR argumentam que a Venezuela assinou o das obras, que alegam ter provocado grande nossos povos de seus territórios e que o desen-
tratado da OIT, pelo qual sc compromete a ga- impacto ambiental na região. O ato de vandalis- volvimento industrial terá um alto custo em
rantir a propriedade coletiva c individual dos mo, segundo o CER, trouxe sérios prejuízos fi- matéria ambiental, causando o desaparecimento
territórios indígenas tradicionalmente ocupa- nanceiros para a empresa. A Polícia Mibtar de de nossa cultura". (O Liberal, 04/11/98)
dos por eles. (Folha de Boa Vista, 12/08/98) Pacaraima e de Surumu foi acionada para evitar
novos ataques. A CER está preparando medidas INTRUSOS SE DIZEM
APARATO MILITAR CONTRA judiciais para punir os responsáveis pelo crime.
PRESSIONADOS PELA FUNAI...
PROTESTO INDÍGENA (ISA, a partir de Brasil Norte, 03/09/98)
lideranças da Associação de Produtores Rurais
O governo da Venezuela decidiu jogar duro con-
FUNAI QUER SAÍDA de Pacaraima (APRP) fizeram uma representa-
trao bloqueio montado por índios, desde a úl-
tima semana de julho, na rodovia El Dorado,
IMEDIATA DE POSSEIROS ção ao Ministério Público Federai contra a
Funai, denunciando que estão sendo pressio-
ligação com o Brasil, perto da fronteira entre A Procuradoria Jurídica da Funai vai entrar com nados a assinar documentos de indenização das
os dois países. Segundo informações de Serena ação de reintegração de posse com pedido de benfeitorias de suas fazendas e abandonarem a
Winona Warner, da entidade Amazon Watch, 50 liminar para retirar todos os fazendeiros que reserva de São Marcos.
policiais da guarda nacional venezuelana, acom- ainda não saíram da reserva indígena de São Eles também procuraram a Comissão dos Di-
panhados de um carro de artilharia, teriam se Marcos. A procuradora jAfda Carvalho disse que reitos Humanos da OAB pedindo ajuda no sen-
deslocado para a região do protesto no último a ação está finalizada. Na mesma ação, a Funai tido de que lhes sejam pagos valores justos nas
dia 12 de agosto e desfeito o bloqueio. (Últi- vai fazer depósito judicial das benfeitorias dos indenizações. Estão denunciando também es-
mas Noticias/ISA, 14/08/98) fazendeiros que se negaram a receber as inde- tar “sofrendo pressões psicológicas por parte
nizações. de funcionários da Funai e Eletronorte”. O pre-
ESTRADA É LIBERADA Até a presente data, das 58 propriedades consi- sidente da APRP, por exemplo, disse que suas
deradas de boa-fé, foram pagas indenizações a foram depredadas em 40% do
A rodovia Pan-americana, que liga Santa Elena benfeitorias até
47 delas. Alda Carvalho negou que tenha incita- seu valor, e que a Funai estaria “economizan-
de Uairén (na fronteira com o Brasil) às gran-
verno daquele país paralise imediatamente a roratmenses são totalmente pacíficos, mas a A OAB quer pedir intervenção na Funai com base
construção do linhão de Guri, argumentando a paciência deles têm limite. Os índios são os do- num procedimento investigatório feito pela sua
quebra de equilíbrio ecológico causado pelas nos das terras c a palavra deles tem validade e é Comissão dc Direitos Humanos, a respeito do
obras. lideranças das etnias Akawaio, Arawako,
definitiva. O dinheiro que está sendo pago nas tratamento que os produtores rurais e
na rodovia Pan-americana, como forma de cha- Vista 30/10/98) indígena de São Marcos vêm recebendo pelo
mar atenção das autoridades. Os índios querem órgão indigenisla no estado. O presidente da
que o governo da Venezuela reconheça legal- PROTESTO INDÍGENA Comissão, Silvino Lopes, disse que os produto-
mente suas terras, criando a reserva indígena NA VENEZUELA res estão sendo coagidos e ameaçados a recebe-
no estado Bolívar, fronteira com o Brasil. O re- rem indenizações das benfeitorias de suas pro-
Dezenas de índios Pemón e Altawayo do sul da priedades bem abaixo dos valores reais. “A Funai
conhecimento beneficiaria mais de 315 mil
Venezuela concentraram-se ontem na capital não está dando segurança de ampla defesa a es-
indígenas venezuelanos. (Diário de Boa Vista,
venezuelana para protestar diante a embaixada sas pessoas”, afirmou ele. A Funai é acusada de
19/08/98)
do Brasil contra a construção de um linhão de incitar os índios a invadirem fazendas e roubar
transmissão de energia elétrica em seus territó- um
NO BRASIL, ÍNDIOS gado. Depoimentos tomados de índio afir-
rios. Vestidos com trajes coloridos tradicionais mam que estes estão sendo orientados a ocupa-
DERRUBAM REDE ELÉTRICA e pintados para guerra, os representantes indí- rem áreas próximas das fazendas para construí-
Através do jornal Brasil Norte, a CER (estatal genas entregaram uma carta ao embaixador do rem casas. (Folha de Boa Vista, 13/11/98)
energética de Roraima) denunciou que índios Brasil em Caracas, pedindo que seja abandona-
da TI Raposa/Serra do Sol, “estimulados pelo do o projeto de construção da rede entre o sul
CERCO A FAZENDEIRO três produtores que haviam entrado na Justiça metros do Parque Nacional Gran Sabana. Em
tentando o direito de posse da terra, dois fize- troca, exigem do governo a concessão de títu-
TEIMOSO
ram acordo e um ficou para ser decidido hoje. los de posse definitiva de terra. Apoiados por
Um grupo de 200 índios Makuxi, Taurepang e O juiz determinou que produtores e índios man- organizações ambientalistas não-govemamen-
Wapixana mantêm desde ontem um cerco à fa- tenham convivência pacífica, até que conclua o tais da Venezuela e de outros países, os indíge-
zenda de Massachiro Satodati. No interior da prazo de saída da reserva. (Folha de Boa Vista. nas chegaram a derrubar na semana passada
propriedade, além de Massachiro, estão 30 se- 22/07/99) quatro torres de energia. A estatal Edelca, en-
guranças armados. Os índios também fizeram carregada das obras em território venezuelano,
como reféns dois agentes federais e uma equi- AÇÃO PARA RETIRAR calcula que os prejuízos já somam USS 100 mil.
pe de reportagem da TV Roraima, que tentou NAO-ÍNDIOS O boicote indígena, segundo um analista de
lurar o bloqueio. O fazendeiro se nega a sair da Caracas, compromete o último prazo acertado
O MPF e a Funai entraram com ação civil públi-
área demarcada de São Marcos, conforme de- com o Brasil para o término da obra, em junho
ca na Justiça Federal para retirar de dentro da
terminação da Funai. Massachiro discorda do de 2000. (Gazeta Mercantil, 18/10/99)
reserva São Marcos todos os não-índios. Esta
valor proposto como indenização por suas
ação considera aqueles que ainda permanecem
benfeitorias. Os índios interditaram a única es-
na reserva como proprietários de má fé, ou seja,
trada que dá acesso à fazenda e impedem que
que construíram alguma propriedade ou com-
qualquer pessoa se aproxime. (O Estado do
praram de terceiros após a demarcação da re-
Paraná. 02/07/99)
em 1992. Eles deverão sair sem direito a
serva,
indenização. No levantamento feito pela Funai,
essas propriedades não têm direito a indeniza-
ção porque foram ocupadas após a demarca-
direção da Funai interviu no processo, avaliando de março de 1998, alocando recursos para 0 cus-
indo as entidades que acompanham ou partici-
inicialmente quem dos invasores era de boa ou teio da aquisição de um ônibus e um caminhão
pam das ações de apoio às comunidades indíge-
de má-fé e, em seguida, enviou uma comissão para que servirão para afioio a iodas as comunidades
nas. Buscávamos a melhor forma de discutir o
iniciar os pagamentos das indenizações. indígenas da TI São Marcos, visando suprir as
assunto e, se autorizado pelas comunidades in-
Iniciado o processo de pagamento, os invasores necessidades geradas pela ação dos órgãos públi-
dígenas, fazer com que a construção da Unha de
foram comparecendo um a um. Até maio de 1999 cos locais que, em represália à retirada dos inva-
transmissão fosse feita com o menor impacto
haviam sido pagos 57 invasões - num total de R$ sores da área, negam transporte às comunidades
ambiental possível.
2-334. 457, 79 faltando a pagar oito invasores ( 12
- indígenas.
Inicialmente as comunidades indígenas autori-
,
do à Funai e ao Ministério Público que se tomas- tribuídas às comunidades indígenas que se inte-
nhafosse construída atingindo as TlsAraçá e Pon-
sem providências judiciais para sua desintrusão ressarem em participar desta atividade. Foi pro-
ta da Serra. Os estudos também apontaram a pos-
definitiva. posto ainda a instalação no mesmo posto, de um
,
sores. Através de " audiências de justificação pré- indenizatório. quando os índiosjâ protestavam e
realizaram um levantamento das invasões exis-
via", em juízo, foram sendo realizados "acordos" ameaçavam retomar àforça algumasfazendas dos
tentes, fazendo uma reavaliação dos estudos re-
para a saída dos invasores. Nestes acordos, já fo- invasores. E, segundo, ao sistema judiciário local
alizados em
1994 pelo órgão indigenista oficial,
ram retirados mais 20 invasores (27 invasões), que, desrespeitando acórdãos do STF, insiste em
quanto ao valor das benfeitorias a serem indeni-
restando a sair 16 deles (17 invasões). 0 vedorpago "acordos " com os invasores, quando poderia de-
zadas. Este valorfoi estimado em R$3,5 milhões Mesmo as-
até 25 de agosto de 2000 foi de R$ 3384.33143. cidir liminarmente pela saída deles.
e no Termo de Compromisso firmado entre
referentes a 69 invasores (84 invasões). Em fun- sim, com todas as dificuldades enfrentadas, 0 pro-
Eletronorte e Funai com as comunidades indíge-
ção da reinclusão de invasores que já haviam cesso de desintrusão continua e se espera que até
nas peou estabelecido que se os valores fossem
abandonado a São Marcos e dos "acordos" cele- o final do ano esteja concluída. (Porfirio Carva-
maiores do que o estimado a estatal energética
brados em juízo, o valor pago ultrapassou os R$ lho, ago/00)
os complementaria. E, caso houvesse alguma so-
3,5 milhões inicialmente previstos.
bra deste valor, esta pertenceria às comunidades
indígenas da Tl São Marcos.
A Funai quer anular a patente de uma substân- nham uma expectativa positiva em relação ao Roraima, e a chuva foi comemorada pela po-
cia com poder anticoncepcional que utiliza co- pedido. O CIR pretende, paralelamente, perfu- pulação e pelos dois mil homens, entre bom-
nhecimento tradicional dos índios Wapixana. A rar poços artesianos e instalar canalização para beiros e técnicos do Brasil, da Venezuela c da
patente foi registrada no Reino Unido pelo quí- distribuir a água entre as famílias indígenas. A Argentina, que lutaram contra o fogo. Coinci-
mico britânico Conrad Gorinskj'. “Vamos tentar entidade acredita ser preciso implementar um dência ou não, Knkryti e Myt-i, pajés
anular a patente ou assegurar uma retribuição programa emergencial que dê conta de atender Txucarramãe, anteciparam para anteontem à
financeira aos Wapixana”, disse Júlio Gaiger, as populações até setembro, período da colheita. noite o ritual previsto para ontem, para pedir
presidente da Funai. A Convenção sobre Diver- A expectativa dos índios, diz Jerônimo, 6 poder chuva ao deus da chuva e do trovão Bep-
sidade Biológica, assinada por 144 países, pre- plantar suas roças nos meses de abril c maio. (Mar- Kororotí.
vê que, em caso de produtos obtidos a partir de co Antonio Gonçalves, Parabólicas/ISA, abr/98) Os pajés foram levados de avião pela Funai para
conhecimentos tradicionais, parte dos royalties Boa Vista, onde celebraram a dança ritual, com
seja destinado à comunidade que detém a in- BR-174 DEVERÁ LEVAR pedaços de cipó e água jogada aos céus, para
formação. depois anunciar tranqüilamente que dentro de
MAIS FOGO A RORAIMA
Gorinsky é o primeiro pesquisador a escrever poucas horas iria chover. E muito. E foi assim.
na patente que a substância registrada, chama- Os projetos oficiais de colonização instalados O pajé Myt-í limitou-se a dizer, no seu idioma
da de rupununine, em referência ao do próximos da floresta foram apontados por es- nativo: “Estou feliz por ter ajudado a acabar com
Rupunini, faz parte do conhecimento de um gru- pecialistascomo um dos componentes do o sofrimentodo povo Yanomami e dos brancos
po indígena que vive no Brasil. Os Wapixana vi- megaincêndio que devastou quase 15% da pai- de Roraima, mas não estou surpreso porque
vem em Roraima e na Guiana. Normalmente, sagem roraimense nos últimos cinco meses. De para mim não havia dúvida do poder de
os dentistas usam informações retiradas de gru- acordo com o ecólogo Reinaldo Barbosa, do Kororoti. Só estou espantado com a surpresa
pos indígenas, mas não admitem isso. Dizem Inpa, o baixo nível tecnológico adotado pelos de vocês.” (Correio Braziliense, Diário do
que chegaram à nova droga por meio de pes- colonos em relação ao manejo agrícola da tem -
Grande ABCJI\ OESP, 03/04/98)
quisas. O rupununine é uma substância oblida ou seja, as queimadas - somado à estiagem inten-
controlador do vírus da Aids. (PSP, 02/06/97) bre os recursos naturais (madeira, por exem- forme sobre os andamentos da campanha de
plo) e sobre os limites da floresta, a oeste, de- solidariedade aos povos indígenas atingidos
certo aumentarão. Cenas da mata em chamas, pela seca e pelos incêndios que devastaram o
INCÊNDIO como se viu no último mês de março, podem estado de Roraima entre o final do ano passa-
vir a se tomar uma rotina anual, criando, ao do e o último mês de março. Segundo o infor-
SEM ÁGUA E ALIMENTOS, lado da estação chuvosa, uma “estação de me, as primeiras entidades a contribuírem para
ÍNDIOS ESTÃO EM APUROS fogo” na região. a campanha foram a Oxfam, com R$ 1 36 mil, e
Pelo menos cinco áreas indígenas eslão direla- a Christian Aid, com R$ 107 mil. Ambas entida-
Os meios de sobrevivência tradicionais da po- mente afetadas pelo asfaltamenlo daBR-174. No des estão sediadas na Inglaterra. Esses recur-
pulação indígena do estado, estimada 30 mil ponta norte da estrada, já há notícias de atrope- sos serão utilizados para a compra de manti-
índios (aproximadamente 12,5% da popula- lamentos de índios da TI São Marcos, onde vi- mentos no mercado local, para compor cestas
ção) foram afetados tanto pela seca quanto pelo vem os Taurepang, Makuxi e Wapixana. Ainda
,
básicas. A composição da cesta deverá variar
fogo. No último dia 31, um dia após a chegada em Roraima, cresce a preocupação dos de acordo com o tamanho de cada família indí-
da chuva, o CiR uma organização indígena que Yanomami em relação à pressão sobre a fron- gena. Serão priorizadas, de acordo com o in-
representa etnias que habitam a região do la- teira leste de sua área. Já os Waimiri-Atroari, forme, as comunidades mais prejudicadas,
vrado (savanas) - informou que 1.1 14 famílias calejados com suas experiências passadas, já se como as iocalizadas na região das Serras, no
indígenas foram atingidas, perdendo casas, pas- precaveram: elaboraram um sofisticado plano Taiano e no Amajari. (Últimas Notícias/ISA,
tagens e roçados. No total, 2,2 mil ha de roças de monitoramento dos 125 km que cruzam sua 24/04/98)
foram devastados. Jerônimo Pereira da Silva, área tradicional, no Amazonas, O plano, que
coordenador geral da entidade, disse que mui- obteve K$ 3 milhões de recursos governamen-
das comunidades indígenas que habitam as
... E DA UNIÃO EUROPÉIA
tas tais, está em curso e conta com agentes motori-
serras e o lavrado roraimense já haviam perdi- zados distribuídos ao longo da rodovia . Hoje, Representantes do CIR, da CCPY, da União Eu-
do suas roças antes dos incêndios. cerca de 300 veículos cruzam diariamente a área ropéia e de quatro entidades de apoio européi-
Céticos em relação à eficiência do socorro go- Waimiri-Atroari. Com o asfaltamento total do as estiveram reunidas, entre os dias 20 e 23 de
vernamental, os tuxauas do CIR decidiram trecho roraimense, sabe-se lá por quanto esse maio, para acertar o repasse de R$ 1 ,2 milhão
deflagrar uma campanha internacional para ar- número poderá ser multiplicado. (Marco An- às comunidades indígenas afetadas pela seca e
recadar provisões e fundos para todas as co- tonio Gonçalves/!SA, abr/98) pelo incêndio que devastou cerca de 15% do
munidades atingidas. No dia 17 de março, en- estado de Roraima. Os recursos foram levanta-
caminharam um pedido de ajuda formal à Co- dos pelas ONGs France Liberté (França) Oxíam ,
vem as etnias Makuxi, Wapixana, Ingarikó, nos diversos programas governamentais de de-
Taurepang e Patamona. Os R$ 1 20 mil restan-
LÍDERES MAKUXI senvolvimento do estado. “Juntas, as comuni-
candidata Teresa Jucá (PSDB), inaugurou on- genas do estado. O prédio só serviu de palco
tem o Comitê de Apoio ao índio de Roraima, para uma festa, onde não faltaram promessas.
com a presença de comunidades indígenas de A criação do Comitê foi a forma encontrada pela
lodo o estado. Durante a inauguração do Comi- candidata de reverter uma situação criada por
tê, foram apresentados o programa de governo seu marido, Romero Jucá, quando presidiu a
do PSDB e as propostas de atuação desse parti- Funai, considerada uma das piores administra-
Os fatores climáticos se associam à irrespon- deral. Na capital, o ministro do Meio Ambiente, dade entre instituições de cooperação internaci-
sabilidade política para explicar o fogo que que era para ser mas acabou não sendo substi- onal e ouviram do secretário de Políticas Regio-
calcina as florestas de Roraima.Mas os fatores tuído, foi eclipsado, sendo entregue à Secretaria
nais que o xenofobismo militar não atrapalhará
políticos infelizmente, não podem ser apagados
,
de Políticas Regionais, vinculada ao Ministério
a chancela da burocracia federal ao refmse de
pela chuva. Os mesmos interesses que poten- do Planejamento, e à qual está subordinado o
recursos externos para o atendimento das reivin-
cializam a estiagem e o fogo lutam agora para Departamento de Defesa Civil, a coordenação dos
dicações indígenas. Vamos ver.
controlar os recursos emergenciais destinados a esforços emergenciais relativos à situação de
Espera-se, ainda, que ofim dofogo não relegue a
minimizar os efeitos da catástrofe. Roraima. Foi essa mesma Secretaria que, ainda
catástrofe ao esquecimento. As primeiras chuvas
Na verdade, essa disputa já estava enunciada nos no final do ano fmsado, loteou indevidamente,
já rebaixaram as manchetes nas primeiras pági-
primeiros momentos do incêndio. O governador segundo critérios político-eleitorais, os recursos
nas, antes mesmo que fosse superada a polêmica
Neudo Campos saiu falando que o fogo já havia disponíveis para enfrentaras consequências, no
sobre a extensão do incêndio. Outras tragédias,
consumido 25% do estado, num chute superesti- Brasil do fenômeno El Nino. No estado, a coor-
,
como a que assola os sem-terra do sul do Pará, já
mado para superestimar recursos emergenciais. denação operacional foi delegada ao comando
se interpõem à atenção da opinião pública. É tudo
Pisando em Brasília, advertido pelos comparsas local do Exército. Enquanto o fogo avançava, a
o que o lamaçal da politicalha local deseja. Que
federais, reduziu a estimativa para 3%, preten- tônica das discussões entre os órgãosfederais era
ninguém defora monitore a esbórnia eleitoral com
dendo evitar um escândalo internacional. Esti- se o Brasil deveria ou não aceitar ajuda interna-
os recursos emergenciais, para que fiquem asse-
mou milhares de cabeças de gado torradas, mas cional. Para os militares, não. O fogo é nosso e
guradas as condições objetivas para a oconvncia
quem queimou mesmo foram os jabotis e outras qualquer ajuda externa caracteriza um atenta-
de novos desastres sociais e ambientais. E que nin-
espécies que não dispõem de mobilidade sufici- do à soberania nacional. guém se engane, Jx)is a floresta queimada ainda
ente para fugir do fogo. Enquanto isso, seus ad-
dará lugar a novas frentes de colonização, repro-
versários o acusavam de omissão e buscavam em
duzindo a saga trágica que constitui a história de
Roraima. (Márcio Sanlilli/ISA, 02/04/98)
Acervo
-V/lSA
2.2. RORAIMA MATA
RAPO SA
iaicoV seira oo sot
VENEZUELA
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Munido AMAZONAS
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«aAMVIIHANAS
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f JL. » < .
NOVO AIH AO
— limite Interestadual
rodovia implantada
TERRAS INDÍGENAS
H reconhecida oficialmente
mais de 2.585.000 ha
rodovia planejada
A reconhecida oficialmente
menos de 2. 100 ha
capital de Estado
• cidade
\ }
interditada
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL/2000
Unidade de Conservação federal
KS222*
nuniiD Área militar |
apresentada em outro capitulo
4
* í —'—
Copyiighled maleri
)
/MATA
Terras Indígenas
Instituto Socioambíenta! - Dezembro de 2000
Ref, Terra Jndígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n
a
, fonte, data (ha)
131 Ilha Jacaré Xipaca Satere-Mawe 0 Em IdentificaçSo/Revisio. 2.044 Airão AM Calha Norte.
Em redefinição (Funai; 95).Reservada/SPI (Funai: 84).
425 Trombeta s/Mapuera Wai Wai 284 Dias Jr: 98 Em Identifica ção/lnterditada. U ruçara AM Calha Norte, faixa de fronteira.
Karafawyana Port.Funai nPP/3633 de 06/11/87 Faro
interdita área PA Requerimento e alvará de pesquisa
p/ estudos e definição da área (DOU, 01/12/87) Oriximiná PA
Port.Funai n. 981 de 18/9/00 cria GT p/estudos S.JcSu da Baliza RR
e identificação. (DOU, 20/09/00) Nhamundá AM
340 Wa imírí- Atroa ri Waimiri Atroari 798 Carvalho: 99 Homologada Reg. CRI. 2. S. Luiz RR Cãlha Norte. Requerimento e
Karafawyana Dec. 97837 do 16.6.89 homologa a demarcação Novo Airão AM alvará de pesquisa mineral. Parte
Piriutiti IsoJ. administrativa. Ficam excluídas: faixa de domínio Pres, Figueiredo AM da Ai inundada pela UHF Balblna
da BR 174 e inundação de Balbioa. Reg. CRI de Moura AM Rodovia BR-174 corta a área.
Pres. Figueiredo Matr. 459, liv. .2-RG, fj. 225 em Estrada da Paranapanema corta a
17/4/W; Novo Airão Matr. 755, Liv. 2-B, fl. 368 área./RR de Jatapíi planejada.
em 17/6/89; S. Luiz Cara ca rei Matr. 211, Liv. B-3RG, isolados.
fl. 8 em 2/2/99, S. João da Baliza Malr. 212,
Liv. B-3/RG, fl. 8 em 3/2/89. Reg. SPU Cert. 292 de
22/1 1/88. Dec. s/n de 28/07/94 que retifica os limites
da área do Exército, Gleba Rio Pardo, deixando de
incidirem 21.408 ha na Tl.fDOU, 29/07/94}.
585 Yanomami Yanomami 11,336 FNS: 99 Homologada. Reg. CRI. 9.664.975 Aíto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Yekuana Oec. s/n de 25/05/92 homologa a demarcação Boa Vista RR Requerimento e alvará de pesquisa
(DOU, 26/05/92). Port. Funai 939 de 28/09/S3 Caracaraí RR mineral. Hidrelétrica planejada.
constitui equipe técnica p/ levantamento fundiária Barcelos AM Rodovia BR-210 corta a área.
da TI na localidade do Rio Acara/município de S. Gab. da cachoeira AM Incidência de aproximadamente
Ba rcelos/AM (DOU, 30/09/93). Reg. CRI de S.G. Sta. Isabel r. Negro AM 459.633 ha do PN Picc da Neblina.
da Cachoeira (73.932 ha) Matr. 1 .209, Uv. 2/7. Macajal RR Incidência total das Flonas de
fl, 43 em 10/10/92: Sta Izab do R. Negro (1.575.072 ha) Roraima e Amazonas. E dc Parque
Matr. 102, Uv. Z-B. fl. 37/49 em 16/1 1/92; Barcelos Estadual Serra cu Araçá em
(2.223.302 ha) Matr. 296, Liv. 2-A1, fl.113 em 15/09/92; 1.522.002 ha. Isolados.
Boa Vista (1,502.718 ha) Matr. 12.687, Uv.Z/RG,
fl. gi/08 em 24/06/92; Alto Alegre <1.942.082 ha)
Matr. 12 086, Liv. 2-RG, fl. 01/02 em 24/6/92; Caracarai
(838.328 ha) Matr. 2.185, Liv. R-HRG, fl 68 em 16/2/93;
Mucajai (1.449.541 ha) Matr. 552, Liv. 2-B, fl.252/263
em 1/1 0/83. Oficio ao SPU 1 13 e 1 14 de 1 1/08/93.
Copyr
Amazônia, Yanomami
e os Equívocos
Ex-ministro da Justiça
Jarbas Passarinho
EX-MINISTRO DA JUSTIÇA REAFIRMA A Revista do Clube Militar freqüememente publica artigos contrá-
A DEMARCAÇÃO DA TERRA YANOMAMI rios a demarcações de terras indígenas, sobretudo a Yanomami.
Os equívocos dos críticos são flagrantes. A demarcação em linha
ha, um enclave cercado de florestas nacionais. Imediatamente, situava-se nas serras do Imeri e de Parima, hoje fronteira com a
procuradores da República entraram, em outubro de 1989, com Venezuela. Documentos históricos datados de 1787 provam que a
uma medida cautelar para fazer valer a portaria anterior. A liminar migração iniciou-se no século XIX, do que decorre a existência de
foi concedida pelo juiz da 7* Vara Federal. O Governo limitou-se a quatro ramos dos Yanomami: Sanumã, Yanan, Yanomai e Yanoman.
presidente da Funai, um militar nomeado pelo meu antecessor, reque- chamada de Nação Yanomami, abrindo possibilidade do
reu em 17 de outubro de 1990 0 cumprimento da sentença judicial. desmembramento do território pátrio. Em nenhum documento
oficial ou oficioso isso ocorreu. É falsidade grave, porque induz os
EQUÍVOCOS leitores da revista - e não milhares de militares - a acreditar no
ção dela, e isso foi desde logo preservado na portaria de 1991. O ministério das Relações Exteriores, em resposta a um requeri-
Outros reclamam que se ignorou 0 Congresso Nacional. Se lessem mento de informação do senador Epitácio Cafeteira, de maio de
0 artigo 231 da Constituição, veriam que só no caso do aproveita- 1996, afirmou não ter havido reunião da ONU em Bruxelas, mas
mento dos recursos hídricos e da pesquisa e lavra de minérios nas de um grupo ad boc e que nenhuma resolução existia. Mesmo os
Questionamentos sobre o custo-benejicio dessas estradas merecem, Yanomami dizem que estão interessados nos benefícios, mas desde
defato, atenção. Os 204 km da BR-307 consumiram dez anos de tra- que não venham em troca da estrada. (ISA, com base em Carta Aberta
balho do Batalhão de Engenharia e Construção (1972/82), custam apresentada na V Assembléia da Foirn, 24/10/00)
Foi Genocídio!
0 STJ,EM DECISÃO HISTÓRICA, FAZ 0 ACERTO Boiadeiro, Silva, Japão, Maranhão Uriçado, Adriano, Barbacena,
DE CONTAS COM A SOCIEDADE DEMOCRÁTICA Sozinho, Luiz Rocha, Parazinho, Pedão, Boroca. Não foram de-
E 0 ESTADO DE DIREITO NO CASO DO nunciados por falta de informação sobre suas identidades civis.
comunidade de índios yaiioiuami, habitante de Haximu, teria sido Catta Preta, reconheceu que 0 genocídio era delito distinto do ho-
destruída. O número inicial das pessoas tidas conto mortas micídio, por ser crime contra a etnia, cuja competência é do juiz
correspondia ao número de habitantes daquela comunidade, cer- singular, e não 0 tribunal do júri popular. Assim, proferiu julga-
ca de 69 - O fato motivou a ida do ministro da Justiça, do procura- mento, considerando procedente em parte a denúncia, sendo con-
dor geral da República e de toda a imprensa nacional e inter- denados Juvenal Silva (Cururupu), Francisco Alves Rodrigues
nacional ao palco dos acontecimentos, floresta amazônica, di- (Chico Ceará), João Pereira de Moraes (João Neto), Eliézio
visa com a Venezuela. Monteiro Néri (Eliézer), e Pedro Emiliano Garcia (Pedro Pran-
cheta) pelo crime de genocídio, com penas de 19 anos e 6 meses
A Polícia Federal foi logo instruída para atuar, sendo os trabalhos
aos primeiros, c 20 anos e 6 meses a este último, Os réus foram
desenvolvidos pelos delegados Sidney Veras, em seguida substitu-
absolvidos de outros crimes. Houve recurso tanto dos réus quanto
ído por Raimundo Cutrím. De outra parte, 0 procurador geral,
do Ministério Público. Deste, para obter condenação por outros
atendendo sugestões do procurador Aurélio Rios, designou (rês
delitos. Daqueles, para obter a absolvição, ou a nulidade do julga-
procuradores para atuar no caso: Frauklin Rodrigues, que já atu-
mento, por entenderem que, tendo havido mortes, a competência
ava em Roraima; Carlos Frederico Santos, lotado em Manaus e
seria do Tribunal do Júri.
conhecedor das questões em Roraima e Luciano Mariz Maia, da
Paraíba, que já tinha atuado em Roraima e realizava pesquisas com
a temática indígena. NO TRF
Foram denunciados e condenados Pedro Emiliano Garcia, tam- Perante 0 Tribunal Regional Federai, houve uma reviravolta. O TRF,
bém conhecido pela alcunha de Pedro Prancheta, garimpeiro; examinando a Apelação Criminal 1997.01.00.017140-0 RR, deci-
Eliézio Monteiro Neril, também conhecido pelo nome de Eliézer; diu, por maioria, anular a sentença proferida pelo juiz Itagiba Catta
Juvenal Silva, também conhecido pela alcunha de Cururupu, ga- Preta, por entender que, tendo havido morte, a competência para
rimpeiro; Francisco Alves Rodrigues - 0 Chico Ceará; João Pereira julgar seria do Tribunal do Júri, e não do juiz singular. Esclarecen-
de Morais - 0 João Neto. Foram absolvidos Waldinéia Silva Almeida, do seu pronunciamento, 0 Tribunal confirmou que houve genocídio.
também conhecida pelo nome de Ouriçada; e Wilson Alves dos Mas tal delito fora praticado mediante a morte intencional de mem-
Santos, conhecido pelo codinonie de Neguinho. Outros garimpei- bros do grupo yanomami de Haximu, se equiparando, para fins de
ros participantes da chacina de Haximu, conhecidos apenas por atribuição da competência para julgar, ao delito de homicídio. O
seus apelidos ou codinomes, ou alguns nomes completos, mas julgamento ocorreu em 30 de junho de 1998, e 0 juiz Tourinho
ausente a identificação foram Goiano Doido, Goiano Cabeludo, Neto, que havia preparado um voto estudado e profundo, de mais
Caporal, Carequinha, Paraná Aloprado, Ceará Perdido, Goiano de cem laudas, foi vencido, sendo que a tese vitoriosa foi apresen-
genocídio, mas o genocídio foi cometido com a morte de mem- tados como culpados efetivamente praticaram os atos que lhes fo-
bros do grupo. E, se houve morte, foi crime intencional contra a ram atribuídos.
DECISÃO PARADIGMÁTICA
O RECURSO DO MPF a
Ainda assim, a decisão da 5 Turma do STJ é paradigmática, e um
0 Ministério Público Federal não se conformou com esse pronun- importantíssimo precedente. Acolhendo o entendimento de que o
ciamento. Foi muitíssimo importante obter do TRF o reconheci- genocídio é crime contra uma etnia, o tribunal não apenas faz res-
mento de que houvera a prática de genocídio. Mas havia a necessi- peitar o grupo enquanto tal, como também, na prática, planta a
dade de se modificar o entendimento de que genocídio equivalia a semente da esperança de que crimes cometidos contra índios não
crime doloso contra a vida. Era necessário fazer reconhecer que o fiquem impunes, já que o tribunal do júri é formado por homens e
genocídio tinha como objeto (ou valor) protegido a etnia, que é o mulheres da sociedade envolvente, majoritária, a qual ordinaria-
conjunto das vidas humanas, que formam uma realidade distinta e mente absorve o preconceito e a discriminação contrários à Justi-
além das existências individuais dos membros do grupo. ça, e absolve garimpeiros, fazendeiros, madeireiros e outros inte-
Novidades na Gestão
da Saúde Yanomami
populacional é a Urihi Saúde Yanomami, conforme se pode Parafuri, Homoxi, Auaris, Catrimani e Ajarani.
averiguar no quadro abaixo:
SECOW ISMÀ 1.081 9% vantamento demográfico. O trabalho tem sido conduzido durante
URIHI 6.81 56,6% as visitas regulares das equipes de saúde, com o auxílio de intér-
Nota: O número de Yanomami atendidos pela Secoya é, conforme a própria entidade, um gráficos foram plotadas, na perspectiva de se elaborar um mapa
pouco superior ao aqui apresentado: 1 15ó (ver adiante). da área que venha a apoiar as ações no setor da saúde.
tro de ocorrência junto ao DSY/ Funasa - indicam uma população Arathau 227 02
assistida 1 1% maior do que aquela que se conhecia, ou seja, 6.81
Auaris Katimani (214) 1.677 31
Yanomami, dispersos por 136 comunidades.
Momoibu (110)
Para garantir 0 desenvolvimento das atividades em todas as aldei-
Saula (164)
as, as regiões de maior contingente populacional - Auaris, Sururucu
Onkopiu (124)
e Xitei - foram divididas em sub-regiões, com postos de atendimento
minimamente equipados (farmácia, radiofonia e equipe fixa) Posto/Auaris (426)
Passarão (150)
Sigaima (189)
Katarrinha (212)
Alamotau-tuu (88)
Parawau 287 10
Catrimani 510 12
Dcmini 112 01
Hakoma 307 04
Homoxi 460 03
Parafuri 398 10
Okomo u ( 423)
Yauratha (146)
Moxahi (451)
Toototobi 301 06
GC AT-’
Xitei Posto/Watatas (443) 21
Simoko (229)
Yopopekè (181)
Total 6.811 36
Vacinação no posto Parawau, Amazonas. Fonte: Urihi (jun/00)
tados importantes, como as reduções no coeficiente de mortalida- vetores, tratamento em massa para verminoses a cada três meses,
de e na incidência da malária e a capacitação de indivíduos tratamento de oncocercose, visitas do odontólogo, vigilância
Yanomami para o trabalho na área da úde. epidemiológica e treinamentos dos profissionais estão sendo de-
senvolvidas conforme o programado. Entretanto, seu real impacto
Mortalidade e malária caem pela metade na situação de saúde dos Yanomami só poderá ser avaliado ao
O inédito contingente de profissionais de saúde treinados atuando final do ano de 2000.
no campo e a assistência ininterrupta em todas as áreas desde o
As remoções para investigação diagnóstica ou tratamento especi-
começo deste ano possibilitaram a realização de um diagnóstico
alizado para a Casa do índio e Casa de Cura de Boa Vista (RR)
da situação de saúde dos Yanomami. Os números apresentados a
somaram 146 casos desde o início da assistência da Urihi, de-
seguir referem-se, sempre, ao período que vai de janeiro a junho
monstrando uma tendência de queda com o passar dos meses.
de 2000.
Foram notificados 32 óbitos entre os Yanomami assistidos pela A falta de atendimento regular na Venezuela tem levado muitos
Urihi, determinando um Coeficiente de Mortalidade Geral (C,MG) Yanomami de lá a buscarem assistência nos postos de saúde man-
de 4,7% no semestre. Se forem mantidos no segundo semestre, tidos próximos à fronteira. Somente no período considerado, fo-
tais números levarão o CMG de 2000 a 9.4 (em mil), ou seja, 52,5% ram examinadas 529 lâminas dessa população e os atendimentos
menor que a média deste coeficiente entre 1991 e 1999 (CMG chegaram a 259- Cento e nove casos de malária foram diagnostica-
médio = 19.8) Essa redução é ainda mais significativa lembrando- dos e tratados. Em geral, os Yanomami da Venezuela apresentam,
se que é possível que muitos óbitos ocorridos entre os Yanomami ainda, um grave quadro de desnutrição.
Outros aspectos do atendimento curso para o tratamento da malária. Todos esses Yanomami já es-
Diversas doenças foram responsáveis pelos 13.210 atendimentos tão ajudando no combate à malária nos locais onde vivem, e a
registrados. Porém, grande parte desses deveu-se às infecções res- meta, no futuro, é formar pelo menos um agente de saúde em cada
piratórias agudas e à malária: 31 e 20% respectivamente. comunidade.
Em todo o DSY, conheceram-se 14 novos casos de tuberculose, Outro trabalho desenvolvido foi a publicação do Manual
sendo oito destes oriundos das áreas assisti das pela Urihi. Em 1999, Terapêutico, organizado pelos médicos da Urihi. 0 Manual con-
haviam sido diagnosticados 57 novos casos de tuberculose. (Fon- tém informações detalhadas sobre as dosagens dos principais
te: Casa de Cura - Boa Vista, agosto/2000) medicamentos utilizados nas doenças mais comuns entre as popu-
Yanomami" situadas nesses dois municípios amazonenses. do IDS reúne uma enfermeira - responsável pela coordenação,
rotina e realização da vacinação -, auxiliares de enfermagem que
O maior obstáculo ao atendimento na área é 0 isolamento: a via-
compõem as equipes volantes e duas antropólogas: uma, de cam-
gem entre Barcelos e as comunidades mais distantes pode durar
po, permanece na área seis meses por ano; a outra, especialista
até cinco dias; e 0 rádio é 0 único meio de comunicação disponí-
em antropologia da saúde, presta assessoria ao projeto. Um dos
vel entre Barcelos, a representação regional da Funai e as locali-
princípios de atuação da equipe é deixar-se sensibilizar pela cultu-
dades yanomami atendidas pela Secoya.
ra indígena, dedicando-se a identificar os sintomas que os
Desde 0 início das atividades financiadas pelo convênio com a Yanomami associam às doenças mais comuns e a adequar a rede
Funasa, a Secoya vem dando continuidade ao trabalho que já rea- de saúde local à organização sócio-pohtica do grupo.
lizava na região, com iniciativas para controlar a malária, a tuber-
O processo associativo na região, onde surgiu a primeira organi-
culose e outras doenças (como a oncocercose), a promoção da
zação indígena yanomami, a Associação dos Yanomami do Rio
cobertura vacinai, a formação de agentes yanomami de saúde e 0
Cauaburis e seus Afluentes (Ayrca) -, também é objeto de atenção.
apoio à participação dos Yanomami na gestão do DSY, no que se
O IDS investe na ampliação das capacidades de autogestão dos
refere tanto à sua auto-organização como ao seu assento 110 Con-
membros da Ayrca e no fortalecimento da colaboração e
selho Distrital, que se reúne em Boa Vista (RR) Visando essa parti-
entrosamento entre ela e a Federação das Organizações Indígenas
cipação, são realizadas reuniões nas diversas comunidades da área,
do Alto Rio Negro (Foirn) Esse trabalho de capacitação objetiva,
envolvendo lideranças, pajés e os 15 agentes de saúde yanomami,
ainda, melhorar a compreensão, por parte dos Yanomami, das
que, embora ainda em treinamento, já estão atuando.
várias etapas e processos que envolvem a relação entre as ONGs e
Além de contratar 26 profissionais, a instituição tem-se dedicado à as comunidades no âmbito do Distrito Sanitário.
adequação e ampliação da infra-estrutura já existente na área, ad-
quirindo equipamentos médicos, odontológicos, logísticos e ad-
A colaboração do IDS com organizações indígenas vai além dos
laços com a Ayrca e a Foirn, estendendo-se às relações que man-
ministrativos e investindo na construção e reforma de diversos
tém com a Associação dos Agentes de Saúde Indígenas do Alto Rio
postos de saúde. (Fonte: relatório da Secoya, abr/OO)
Negro (AAISARN) Outras parcerias incluem 0 Instituto de Pesqui-
sas da Amazônia (Inpa), na definição de protocolos de
IDS (AMAZONAS)
enfrentamento da malária e da tuberculose, e duas instituições nas
Para 0 atendimento às regiões da TI Yanomami drenadas pelos quais são internados os pacientes yanomami: o Hospital de Guar-
rios Cauaburis e Padauiri, no estado do Amazonas, a Funasa fir- nição Militar e a Casa do índio, ambos instalados em São Gabriel
mou convênio com 0 Instituto pelo Desenvolvimento Sanitário em da Cachoeira. (Fon te: relatório do IDS, set/OO) (Equipe de Reda-
Meio Tropical - IDS em novembro de 1999- Desde então, 0 IDS, ção, setembro 2000)
,
^ÍJ7^ Acervo
//\\ I SA
Escolas Yanomami
de Educação Intercultural (PEI), que investe sistematicamente na ficará com os professores yanomami que estão sendo formados.
interculturalidade e bilingüismo, o PEI teve início em julho de 1995. vidades de imersão na "cultura dos brancos”, tais como visitas a
Assume, como seu principal objetivo, habilitar os Yanomami a li- bibliotecas, prefeitura, aterro sanitário público, cadeia pública,
darem com as políticas, atividades e ações dos “brancos" que in- cemitérios, Eletronorte, transmissoras de televisão e de rádio. A
terferem na vida deles. Atualmente, o PEI envolve cerca de 720 temática metodologias de alfabetização também vem sendo in-
Yanomami, nas regiões do Demini, Toototobi e Parawau. O pro- cluída nesses cursos.
grama inclui atividades letivas nas escolas situadas na área indíge-
na e cursos de formação de professores yanomami, realizados no Quem participa?
Centro de Treinamento da CCPY, em Boa Vista (RR). Cinco professores não-índios, um coordenador e um antropólo-
go, Bruce Albert (convênio IRD-ISA), formam a equipe da CCPY.
Currículo específico 0 quadro de consultores externos do PEI conta com a participa-
A interdisciplinaridade e a alfabetização em língua materna são as ção de Marta Azevedo (assessoria educacional), Maria Cristina
principais marcas do processo educativo desenvolvido. Português Troncarelli (assessoria pedagógica), Eduardo Sebastiani (mate-
e matemática não são as únicas disciplinas ministradas pelo PEI. mática) e Henri Ramirez (linguística).
Geografia, história, saúde, educação ambiental e cidadania - con-
Aproximadamente 55 alunos constituíram a primeira turma, com-
ceitos, Estatuto dos Povos Indígenas e Projeto de Lei n” 1610 sobre
posta por jovens a partir de dez anos, do Demini, em 1 996. Quatro
mineração em áreas indígenas - constituem sua grade curricular.
jovens do Toototobi e um do Parawau foram enviados ao progra-
ma, por decisão de uma assembléia dos mais velhos. Em 1997,
esses cinco jovens tornaram-se os primeiros professores Yanomami
Expansão do PEI
Temas candentes da política indigenista brasileira, como o novo
Estatuto dos Povos Indígenas e a questão da mineração em terras
to da população e a tendência de fixação em localidades próximas acerola, cupuaçu, caju, entre outras espécies, foram adquiridas, trans-
aos postos de saúde são causas conhecidas da transformação do esti- portadas e, já na área indígena, rejdantadas em embalagens esjxíci-
lode vida do povo Yanomami. Com elas, vem, também, o risco de ais para período de adaptação. 0 objetivo é plantar essas espécies em
uma escassez crescente de alimentos. Para enfrentar essa situação, a definitivo nas roças, para que se somem às bananeiras e mamoeiros
CCPY elaborou o Projeto Agrojlorestal Yanomami (PAY), iniciativa de já existentes nelas. 0 pomar de cada aldeia, chamado de "módulo
cunho ambiental localizada em sete aldeias das regiões de Demini e agrojlorestal "
, terá. assim, cerca de 110 espécies, em área de aproxi-
Toototobi. 0 projeto foi aprovado pelo PD/A do Programa Piloto de madamente 5 00 nP.
um manual agrojlorestal yanomami. envolvimento dos jovens, introduzir novas tecnologias, usando as
escolas como espaço principal desse processo.
Até o momento, foram realizadas buscas de tecnologias relevantes e
material genético selecionado em Manaus ( no inpa e Fazenda 0 PAY envolve recursos da ordem de aproximadamente U$ 230, 000. 00,
Aruanâ), Fortaleza (Embrapa e Agroindústria Tropical) e Boa Vista dos quais a CCPY participa com U$ 43.000.00, como contrapartida.
(Embrapa, Inpa e viveiros particulares) 0 coordenador do projeto é (Fonte: Boletim Yanomami, CCPY, Brasília, n° í, mai/00)
o engenheiro agrônomo Ari Weiduschat. que realiza visitas à área a
fia, educação em saúde, cadernos de leitura, etc. Além desses ma- Apoios
teriais, alunos do programa estão produzindo jornais para cada No início de suas atividades, o PEI contou com o apoio do Unicef.
região. 0 entusiasmo e a vontade de aprender coisas novas já de- O Earth Love Fund (da Grã-Bretanha) também já apoiou o projeto
monstradas pelos Yanomami no desenvolvimento do PEI tomam no passado. A partir de 1998, passou a receber financiamentos
promissoras as iniciativas voltadas para a expansão do programa das ONGs norueguesas Fundação Rainforest e OI). Em 1999, con-
que, assim, pôde começar a ser implementado numa quarta re- tou com o apoio da Survival International e do MEC. Para o ano 2000,
gião da TI Yanomami: llomoxi em meados de 2000. os recursos assim obtidos pelo PEI são da ordem dc 11$ 2 1 5.000. (se-
tembro, 2000)
Almeida Serra defendeu a inconstitucionalidade DA BIOSFERA” em carias ao presidente do Brasil pedindo que
da demarcação da TI Yanomami, consideran- ele libere verbas para a operação de retirada
“O Amazonas é o último grande território do
do-a crime de “lesa-pátria”. A posição de Pas- dos garimpeiros para que acabe com urgência
mundo intacto e temos que preservá-lo", afir- a invasão da área Yanomami,
sarinho foi de denúncia da leviandade e do
mou o belga André Kerremans, administrador Caso os garimpeiros não sejam retirados logo,
alarmismo das considerações de seu
do projeto Reserva da Biosfera Alto Orinoco-
interlocutor, já que fundadas numa inexistente as doenças voltarão aumentar de novo.” (Davi
Casiquiare, que acolhe a zona protetora da
declaração da ONU de que as terras indígenas, Kopenawa Yanomami, 05/06/96)
maior floresta tropical-úmida do mundo. O lar
a partir de 1996, seriam consideradas indepen-
da etnia Yanomami na Venezuela — com 83-830
dentes do listado brasileiro. O ex-ministro apro- PF DIZ QUE FALTAM
km 2 em plena selva amazônica - foi declarado
veitou para reconstituir e defender o processo
,
Duas entidades internacionais, a Survival ria vem destruindo rios e florestas, além de to Sanitário Yanomami. disse que as pistas clan-
luiernational e a World Rainforest Movement,
ameaçar com doenças os quase dez mil destinas preocupam porque essas localidades
enviaram carta ao presidente Fernando Yanomami que vivem na reserva. A operação são focos de infecção e reinfecção de doenças
vai incluir a participação da PE Funai, Ibama e infecto-contagiosas, principalmente a malária.
Henrique Cardoso,
A Survival diz em sua caria “eslar alarmada com DNPM e do Ministério das Relações Exteriores. Edgar diz que a Funasa lem mantido a doen-
o aumento da violência na área indígena, pois
A Operação Y'anomami ainda está no papel, à ça estável, mas seu controle fica difícil, por-
vasão da reserva estão superestimados. No finai dedezembro, em Homoxi, um alizada em conjunto pela Funai, Polícia Fede-
“A Funai tem que deixar de Mela e começai' a traba- Korematheri foi morto a tiros por homens do ral, ibama, Exército e Aeronáutica e terá um
lhar. O maior problema são essas entidades que en-
Tireytheril, com balas que, segundo informa- cuslo de R$ 1,7 milhão, No último fim de sema-
tram para catequizar os índios”, diz Goerisch. ram, teriam sido adquiridas da polícia na, foi destruída a pista clandestina de
Segundo o administrador da Funai em Boa Vis-
venezuelana. (Update/CCPY, fev/97)
Surucucus, a noroeste do estado. De acordo
ta,são 19 missionários estrangeiros que traba- com o presidente da Funai, Sulivan Silvestre,
lham na área Yanomami: 13 americanos, três mais 30 pistas devem ser dinamitadas e todos
RECURSOS PARA
portugueses, um alemão, um argentino e um os homens envolvidos têm ordem para prender
DESINTRUSÃO NÃO CHEGAM
queniano. Os missionários trabalham nas áre- garimpeiros, caçadores ilegais, posseiros e
as de educação, saúde e religião. “Eles leniam Dos 2,4 milhões que a Funai enviou para Boa grileiros. Segundo de, os que forem presos a
catequizar os índios mas não conseguem. Eu Vista para dar início à limpeza que tiraria os partir de agora vão responder a processo civil
sou contra esse trabalho, mas eles chegam aqui garimpeiros da terra dos Yanomami, apenas Rí e criminal e terão produtos como avião, ouro e
com a autorização do Itamaraty O que eu vou 400 mil chegaram ao destino. (Dtmusa Leão/ equipamentos apreendidos e levados para um de-
fazer?” disse Tavares. (FSP, 18/08/96) JB, 23/03/97) pósito judicial. Silvestre quer contar também com
xíí_f7^Acervo
//\V I SA A C Q N T E C EU
^ ..i.
a ajuda dos próprios índios que, conhecedores da pistas próximas da capital”, informou o funcio- ingresso das mineradoras será dada pelos
mata, podem mostrar onde estão os predadores. nário. Serão recadastradas todas as aeronaves yanomami aculturados que sabem falar o por-
Na viagem que fará na próxima semana à Ingla- do Estado, inclusive as de uso agrícola, para tuguês e querem a melhoria de suas tribos”,
terra, o presidente Fernando Henrique Cardo- que sejam localizadas aeronaves clandestinas. disse ele. A Procuradoria da República em
so vai levar o resultado da operação surpresa (Folha de Boa Vista, 09/01/98) Roraima constatou que “segmentos pofiticos do
na reserva dos índios Yanomami. A operação, Estado” incentivaram a invasão da área indíge-
programada há dois anos, vai ser a resposta que ... PARA CHEGAR na em outubro, quando o projeto do senador
o presidente dará às ONGs que reivindicam mais À SUA ETAPA CONCLUSIVA foi aprovado por unanimidade no Senado. Um
atenção do governo em Há
relação aos índios. jornal local chegou a anunciar cm manchete que
mais de cinco anos o governo não realizava uma Acompanhado da coordenação da Operação o garimpo estava liberado aa área yanomami.
operação dessa natureza na Reserva Indígena Yanomami e jornalistas, o presidente da Funai Um programa da Rádio Difusora, do governo
Yanomami, considerada a maior do país e com esteve na área indígena para anunciar a fase
estadual, foi suspenso pela Justiça por incenti-
tamanho equivalente ao de Portugal e da Bélgi- conclusiva da ação que tenta manter a comuni-
var a reação dos garimpeiros contra a Pohcia
ca, e onde vivem mais de nove mil índios. (O dade livre da ação predatória dos garimpeiros. Federal, (O Estado de Minas, 15/01/98)
Popular, 12/11 e OE$p 24/11/97 Uma das formas de evacuar a área por comple-
to, anunciada pelo coordenador da operação,
RETORNO DE SOBREVIVENTES
é o ponto principal do Plano de Defesa da Área
... INCLUINDO FISCALIZAÇÃO A HAXIMU CAUSA
Yanomami, cuja minuta será apresentada hoje
A VÔOS CLANDESTINOS... PREOCUPAÇÃO
à imprensa, com o controle rigoroso da venda
0 presidente da íunai, Suiivan Silvestre, vai pe- de combustíveis e da atuação de aeronaves Cerca de 70 índios Yanomami, sobreviventes do
dir à direção do Departamento de Aviação Civil no Estado e a entrada de alimentos. (Brasil massacre da aldeia de Haximu, de agosto de
que aumente a fiscalização sobre os vôos clan- Norte, 14/01/98) 1993, retornaram há dois meses à antiga aldeia,
destinos em direção à área da reserva dos localizada na Venezuela, próxima da fronteira
Yanomami, a 200 km de Boa Vista (RO) A me- DAVI AVALIA OPERAÇÃO com Roraima. Entidades de defesa dos direitos
dida faz parte da segunda etapa da operação de DO GOVERNO FEDERAL humanos do Brasd e da Venezuela temem uma
retirada de garimpeiros da região, que come- nova tragédia na área, porque o governo
“Operações já aconteceram muitas, o que es-
çou no dia 5 de novembro do ano passado. (PSP, venezuelano não presta assistência aos 16 mil
pero é que os garimpeiros não voltem para a
05/01/98) Yanomami que vivem em seu território e não
nossa terra,” declara o líder Yanomami, Davi
Kopcnawa, ao faiar do encerramento de mais combate a invasão dc garimpeiros brasileiros.
... DE
E DESATIVAÇÃO Os Yanomami caminharam 70 km floresta para
uma operação de retirada dos garimpeiros da
POSTO DE COMBUSTÍVEL voltar para Haximu. Abandonaram a aldeia de
reserva indígena. O líder yanomami diz que o
Posto clandestino de combustível na vila de maior mal levado pelos brancos são as doen- Toototobi, em Roraima, onde haviam se refugi-
ado após o massacre de 16 índios. “Eles esta-
lintre Rios, região de Caroebe, foi desativado e ças, em especial a malária, que mata de forma
lacrado ontem pela Polícia Federal e pelo coor- assustadora os Yanomami. Os piores anos para
vam com saudades e foram estimulados por
garantir a ida e vinda de uma aeronave tipo ambiente pelos garimpeiros: desmatamento,
concordaram com a construção de uma pista
Cessna 206, monomotor, 27 vezes na área clandestina perto da antiga aldeia e estariam
empoçamento de água, queimadas e lembra que
Yanomami, transportando cerca de cinco garim- trabalhando para os garimpeiros, disse Davi. “A
a maioria absoluta dos garimpeiros não é de
peiros por cada vôo. (Brasil Norte, 09/01/98) Roraima, esím de outros Estados. “São pesso- Venezuela tem uma política diferente com rela-
ção aos índios, mas participa de reuniões com
as que não possuem empregos ou outra forma
OPERAÇÃO QUER COMPLETAR dc sobreviver em seus Estados”, afirma Davi.
o governo brasileiro para combater a garimpa-
RETIRADA DE GARIMPEIROS... (Brasil Norte, 15/01/98) gem”, disse o embaixador da Venezuelano Bra-
sil, Nilos Alcalay. (A Crítica, 21/01/98)
Restam 800 a mil garimpeiros para serem reti-
RELATOR DEFENDE
rados da área Yanomami, segundo previsões da
MINERAÇÃO JUSTIÇA PUNE
Funai. Foram retirados 682, dos quais 542 ha-
GARIMPEIRO POR INVASÃO
viam sido indiciados pela Pohcia Federal. A pró- Um projeto do senador Romero Jucá (PFL- RR)
a
xima etapa do trabalho consiste em evitar o re- estabelece mineração em áreas indígenas com O Tribunal Regional Federal (TRF) da I Re-
torno dos garimpeiros para a reserva. “Sabe- o consentimento das comunidades atingidas. Ao gião (Brasília), em decisão publicada no Diá-
mos que há atividade garitnpeira no rio Caoaborí anunciar os resultados da operação Yanomami, rio dajustiça do dia 17 de agosto de 1998, não
e Pico da Neblina, onde esperamos encontrar o presidente da Funai, Suiivan Silvestre, disse aceitou o pedido de soltura encaminhado pelo
de cem a 150 garimpeiros”, afirmou Paulo que essa área não deve ser atingida pelo proje- garimpeiro Nelson Lindermann, preso por in-
Roberto, coordenador da operação pela Funai. to Jucá. “O nível de aculturação dos Yanomami vadir a TI Yanomami, localizada no oeste do
As atividades da segunda etapa serão realizadas não permite". Relator do projeto de Romero estado de Roraima. O Tribunal entendeu que a
principalmente em Boa Vista. “Faremos a fisca- Jucá na Câmara, o deputado Elloti Ronhelt (PFL- prisão de Lindermann foi justa e correta já que
lização permanente das distribuidoras de com- RR), vice-iíder do governo, disse que a Funai a legislação federai proíbe a extração de miné-
bustível para aviação (Shell e Petrobrás), e das não será ouvida a respeito. “A anuência para o rios dentro de terras indígenas. (ISA, 21/08/98)
ALIMENTO POR OURO “PISTA NÃO É DA FUNAI”, sexuais não protegidas põem em risco a saúde
destino vem causando na região, para fins de funcionários da Funai que trabalham na mes- gião da TI Yanomami, está causando a morte
futura indenização aos Yanomami. (ISA, 07/01/99) ma maloca. (Folha de Boa Vista, 08/10/99) dos índios por homicídio, além de colocar
em risco a vida dos profissionais da Urihi. A
YANOMAMI PRENDEM CRESCIMENTO DO GARIMPO denúncia está presente em ofício que a pró-
E ENTREGAM EM SURUCUCU É PREOCUPANTE pria Urihi, entidade que presta assistência à
saúde naquela área, encaminhou ao presiden-
GARIMPEIROS À FUNAI
Na TI Yanomami, a presença de garimpeiros nas te da Funai.
Os Yanomami da região do Paapiú, a cerca de regiões de Surucucu, Parafim e Xiriana vem ten- No documento, acompanhado de relatos dos
uma hora de vôo da capital de Roraima, Boa do, desde o final de 1999, um aumento mais recentes acontecimentos, a Urihi diagnos-
Vista,tomaram uma decisão inédita na tarde de preocupante. Nessas três regiões, há cerca de tica, ao longo do primeiro semestre deste ano,
ontem: expulsar os garimpeiros que ocupam mil garimpeiros em ação. Em Surucucu, a leste “uma escalada crescente de violência entre os
ilegalmentc o igarapé do Caveira. Armados de da serra Parima, entre as bacias dos rios Parima, Yanomami, incitada pelos garimpeiros que for-
arco, flechas, facões e espingardas, 50 índios Melo Nunes e Mucajaí, vivem cerca de 1750 necem armas e munição para grupos rivais".
detiveram quatro pessoas que ocupavam a área Yanomami do sub-grupo Yanomac (falantes do Os Yanomami “que reagem ao garimpo estão
de forma ilegal. Os Yanomami prenderam os yanomami oriental) A região começou a sofrer sendo paulatinamente assassinados, o que tem
garimpeiros F.liotério Bispo Araújo, Manoel de com a invasão garimpeira ainda na década de gerado entre os seus parentes a intenção de
Jesus Leda Ferreira, Francisco das Chagas Silva 80, depois que o projeto Radam divulgou a exis- vingança contra esses garimpeiros”, continua
ejoão Carlos Barros. Eles (oram levados para a tência de jazidas minerais por lá (1975) o texto. Apenas em 2000, já teriam sido assas-
comunidade de Paapiú e entregues aos agentes Os problemas trazidos pelo garimpo são vári- sinados quatro Yanomami.
da Funai, que os levaram até a Polícia Federal. os, incidindo nos planos social, cultural, Prevendo o risco de "um iminente conflito de
(OESP, 19/02/99) ambiental e sanitário. Prostituição e relações grandes proporções", a Urihi solicita ao órgão
MINISTÉRIO PÚBLICO garimpeira está provocando o recmdescimen- deias revelou que 25,3% estavam infectados. Na
QUER QUE PF INVESTIGUE to de doenças consideradas mortais para os frá- aldeia de Xitel, 97% dos índios tinham o vetor.
NOVA INVASÃO geis índios da região. Aumentaram os casos de A doença é provocada pelo agente Onckocerca
malária e doenças respiratórias e só nestes pri- vohsolw e transmitida por um tipo de mosqui-
O Ministério Público Federal de Boa Vista, memos seis meses, morreram 60 índios Pata . to, o borrachudo “simulídio", encontrado em
Roraima, pediu ontem à Polícia Federal que a Funai, 47 foram por doenças e os demais por todo o país. Com a invasão das reservas pelos
investigue uma nova invasão de garimpeiros na causas violentas. (O Liberal, 18/07/96) garimpeiros, a doença estaria ameaçando ci-
área indígena yanomami. Os garimpeiros esta- dades do Norte c Centro Oeste. (FSP, 25/02/97)
riam aliciando índios com presentes e armas
EPIDEMIA DE MALÁRIA ATINGE
de fogo, que acabaram sendo usadas em cinco
OS YANOMAMI NA VENEZUELA DEBILITAÇÃO FÍSICA
assassinatos de Yanomami cometidos pelos pró-
IMPRESSIONA JORNALISTAS
prios índios, só nesse ano, segundo relatórios Uma epidemia de malária que afeta o Alto
encaminhados à presidência da Funai em Orinoco, no Estado venezuelano do Amazonas, Jornalistas da grande imprensa que visitaram a
Brasília e ao procurador da República Felipe fronteiriço com o Brasil, está provocando a aldeia yanomami de Surucucus (RR) ficaram
Bretanha pela Administração Regional de Boa morte de Yanomami, denunciou o bispo de impressionados com a debilitação física dos
Vista e pelo Núcleo Interinstitudonal de Saúde Puerto Ayacucho, Angel Divasson. O alerta da índios e o seu estado visível de fome e doença.
indígena (Nisi) Os Yanomami contaram no Nisi epidemia foi lançado no mês passado em um (A Crítica, 06/08/97)
que também mataram um garimpeiro a tiros e posto de saúde em território brasileiro. O dire-
enterraram o corpo numa roça perlo da maloca tor de Epidemiologia do Ministério da Saúde SERVIDORES DA
de Conhiteri. As denúncias são de que haja en- da Venezuela, Francisco Araoz, disse que uma FUNASA ATENDEM
tre mil e quatro mil garimpeiros na área. “Há comissão de médicos e agentes da Guarda Na- APENAS NA CIDADE...
denúncias de que os garimpeiros estão tentan- cional transferiu-se para região para atender os
do jogar índios contra índios. Essa éuma práti- índios. (A Crítica, 10/11/96) Os bebês Yanomami estão morrendo porque a
ca comum dos garimpeiros, para agirem com Funasa em Roraima não consegue obrigar seus
mais liberdade", disse o presidente da Funai, FALTA VERBA PARA O DISTRITO servidores a trabalhar na selva. Médicos e auxi-
Glênio da Costa Alvarez, liares de enfermagem contratados para cuidar
No dia 31 de janeiro de 1997, o coordenador
Os relatórios encaminhados pelo Nisi ao pro- de dez mil Yanomami se recusam a ir a campo
do DSY, da Funasa, enviou memorando ao co-
curador Felipe Bretanha e à Fíinai iníormam que tratar as doenças do branco que são fatais para
ordenador regional informando que após dois
uma visita à maloca de Iaurata constatou que os índios, como malária. Ficam em Boa Vista,
meses sem receber pagamento, duas empresas de
todos os Yanomami da comunidade, cerca de aluguel de aeronaves suspenderam seus serviços.
esperando a chegada dos casos mais graves em
cem, estavam nos garimpos, situados a uma “Para evitar ter que paralisar os serviços dire-
um hospital batizado de Casa do índio. A esti-
hora de caminhada da mata. Da maloca, segun- uma população indígena em real risco de
a
mativa oficial é de que tenham morrido, em
tos
do o relatório, é possível ouvir o ruído dos
extinção", como medida emergencial, a CCPY e 1997, entre 30 e 35 bebês nas áreas yanomami
motores das dragas em funcionamento dia e sob responsabilidade da Fundação. Entre 8% e
a Medecins du Monde “emprestaram" à Funasa
noite. Os índios vão aos acampamentos para 10% das crianças que nascem nas aldeias mor-
um de 35 horas de vôo, a serem repostas.
total
trabalhar na extração do ouro ou “simplesmente rem antes de completai’ nm ano de vida.
Sem verba, o fornecimento de medicamentos e
ficam acampados próximos aos garimpeiros, Dos sete médicos contratados para se revezar
alimentos está abaixo do normal e está se tor-
com o objetivo de receber alimentação ou al-
nando impossível continuar a trabalhar na área
nos 15 pólos-base da Fundação, não há pedia-
gum presente”. (O Globo, 21/09/00)
Yanomami, mantendo dez postos, atendendo
tras e apenas um está realmente trabalhando
na selva com os Yanomami. Aliás, uma: a médi-
emergências e transportando pessoas por via
ca Maria Aparecida da Silva, autora de um am-
aérea para tratamento, nessa situação “insus-
YANOMAMI/SAÚDE tentável,humilhante e estressante". Foram
plo dossiê a respeito do descaso com a área
yanomami. No nível médio, a situação também
solicitadas medidas urgentes para soluci-
GARIMPO AUMENTA TAXA onar a situação.
é ruim. Dos 41 auxiliares de enfermagem que
DE DOENÇAS E MORTES Na região do Parafuri, numa comunidade deveriam ser designados para os postos, somen-
te 13 aceitaram o desafio. Dos 21 enfermeiros,
“protegida” por garimpeiros, 18 a 30 índios
O número de mortes por doenças entre os apenas cinco viajam regularmente para o ter-
estão com a cepa faldpanim da malária que,
Yanomami poderá se tomar incontrolável se ritório yanomami. (Correio Bmiliense, 18/01/98)
sem tratamento, pode levar à morte. (Update/
persistir o atraso na liberação de 6 milhões so-
CCPYJeu/97)
licitados pela Funai para desintrusar a área. Em E SÃO AMEAÇADOS
...
menos de um mês, segundo relatório da Funasa, DOENÇA PODE DE DEMISSÃO
13 índios morreram com malária e doenças
CHEGAR ÀS CIDADES
respiratórias cm aldeias próximas dos garimpos. O presidente da Funasa, Januário Montoni, irá
O antropólogo Edgar de Magalhães, da Funasa, A oncocercose, doença que provoca lesões da demitir os servidores que se recusarem a tra-
que vem tentando manter um acompanhamen- pele e pode causar cegueira, está saindo da re- balhar nas aldeias da reserva indígena
ano,morreram em 1997 -fez com que Montoni ença já haviam sido registrados naquela área os Yanomami. O diretor do sub-distrito sanitá-
promovesse, em Brasília, um encontro com o sem que as autoridades de saúde tomassem pro- rio em Roraima, Ivan Soares Faria, nega a de-
coordenador regional da Funasa em Roraima, vidências foi divulgada no Jornal Nacional, da núncia e afirma que os servidores da institui-
Hiran Manuel Dias, e o chefe do Distrito Sanitá- Rede Globo. O administrador da Funai em ção estão em campo. Faria atribui as mortes de
rio Yanomami, Edgartl Magalhães. O presiden- Manaus, Benedito Hangel, 43, garantiu ontem 43 Yanomami ao contágio de um vírus da gri-
te da Funasa deu um ultimato aos seus dois su- que o órgão não tinha conhecimento da situa- pe, que teria sido levado da Casa de Cura de
bordinados para que retomem os trabalhos den- ção. Hangel negou, ainda, que a Funai esteja Rondônia para a aldeia pelos índios. O Correio
tro da área indígena imediatamente. A Funasa ausente daquela área há três anos, como foi apurou, no entanto, que dos 69 servidores
conta com cem servidores com contrato tem- divulgado na reportagem. De acordo com o concursados para trabalhar na área Yanomami,
porário em Roraima e outros 149 funcionários administrador, o primeiro posto da Funai (mos- somente 19 aceitaram viajar para as aldeias.
concursados. Todos, sem exceção, ao serem trado pelo Jornal Nacional) apenas foi transfe- (Correio Brasiliense, 08/10/98)
contratados, foram cientificados de que teriam rido para uma área mais no interior da reserva,
que trabalhai* na área indígena - que tem 9,4 chamada de maloca Kona. “Os Yanomami são “CEGUEIRA DO RIO”
milhões de ha - enfrentando dificuldades nômades e às vezes é preciso transferir os pos-
A Organização Mundial da Saúde (OMS) come-
logísticas e doenças endêmicas da região, como tos para acompanhá-los”, explicou. (A Crítica,
morou recentemente o sucesso de seu progra-
malária e oncocercose (que provoca cegueira). 07/03/98)
ma de erradicação da chamada cegueira do rio,
(Correio Brasiliense, 07/02/98)
doença parasitária crônica, conhecida oficial-
YANOMAMI DA mente como oncocercose, e um dos grandes
NOTÍCIA DE SURTO VENEZUELA BUSCAM problemas de saúde pública na África Ociden-
DE MALÁRIA MOBILIZA ATENDIMENTO NO BRASIL tal, onde 60% da população estava infectada e
MINISTÉRIO DA SAÚDE... 10% cega. No Brasil, há ocorrência de
Yanomami da Venezuela estão se dirigindo ao
oncorcercose nos estados do Amazonas e de
O Ministério da Saúde (MS) anunciou ontem Brasil em busca de socorro médico. A informa- Roraima, especiahuente na área dos Yanomami,
medidas emergendais para conter a malária que ção é do serviço de saúde da Administração
na fronteira com a Venezuela. O primeiro caso
ataca os índios da reserva Yanomami, no Ama- Executiva Regional da Funai em Boa Vista. As
conhecido foi o da filha de missionários que
zonas. Coordenador do programa Farmácia informações dão conta de que o inchaço
trabalhavam em 1967 em Roraima, Vinte anos
Básica, Platão Fischer, disse que o ministério populacional, a forte estiagem e as queimadas
depois, a Funasa assumiu a coordenação do
envia hoje 7.500 comprimidos de Mefloquina que destruíram as roças dos índios, deixaram
programa de controle da doença, já endêmica
- medicamento usado para combater a doença escassos os alimentos, provocando forte des-
no Parque Indígena Yanomami. Entre 1993 e
- para as três aldeias de Santa Isabel do Rio truição entre os Yanomami. Por ser a região
1996, em Surucucu, Túcuxim, Homoxi e Xitel,
Negro. Os medicamentos serão transportados bastante fria, e estando os índios debilitados,
mais de 80% dapopulação indígena eslava con-
para o local em uma aeronave da Força Aérea aumentaram os problemas respiratórios, que
taminada. O tratamento foi iniciado, mas esbar-
Brasileira, com duas equipes da Funasa. Segun- provocaram também mortes entre os índios,
ra na dificuldade de acesso à área e gran de mo-
do Fischer, o ministério foi surpreendido com principalmente, entre aqueles vindos da
bilidade dos Yanomami. (JR, 04/03/99)
a denúncia veiculada pelo Jornal Nacional, da Venezuela. (Jornal de Brasüia, 30/09/98)
Rede Globo. De acordo coma reportagem, oito
MANUAL ETNOLINGÜÍSTICO
índios morreram de malária e 32 casos da do- EM 1998, 45 MORTES AJUDA A ENTENDER E TRATAR
ença foram registrados. Sem exercer atividades ATÉ SETEMBRO
devido à doença, os índios estão passando fome Com a finalidade de facilitar a compreensão das
e os remédios estão acabando. Em Roraima, de janeiro a setembro de 1998, doenças e 0 atendimento médico dapopulação
A contaminação dos Yanomami pela malária morreram 45 Yanomami em Auaris, sendo 13 indígena dos Yanomami, 0 Museu Paraense
antecipou a segunda etapa do programa Farmá- de malária, 17 de broncopneumonia e 15 por Emílio Gocldi editou 0 livro “Saúde Yanomami
cia Básica, iniciado pelos municípios com até diarréia, desnutrição e causas desconhecidas. - Um Manual Etnolingüístico”, de Bruce Albert
21 mil habitantes, no final de 1987. O Ministé- Nenhum Yanomami morreu por tuberculose. As e Gale Goodwin Gomez. (PSP, 04/04/99)
rio da Saúde estava examinando a extensão das mortes por broncopneumonia foram causadas
remessas de medicamentos para regiões caren- por um surto de gripe que atingiu a capital do MUDANÇAS PREOCUPAM
tes, comoárcaindígenaeassentamento. As três estado, Boa vista, entre junho e agosto. (O Po- SERVIDORES
aldeias de Santa Isabel do Rio Negro vão rece- pular, 05/10/98)
Dados da Funasa indicam que a disseminação
ber três kits com 40 medicamentos diferentes.
(A Crítica, 05/03/98) PROCURADOR DA de doenças está sem controle nas aldeias
Yanomami. Entre 1991 e 1998, morreram 1.211
FUNAI DENUNCIA
Yanomami. Os 30 mil Yanomami e as outras
... E FUNAI DESVIO DE RECURSOS
etnias de Roraima e Amazonas estão desde 0
Um técnico da Fimai segue hoje para o municí- O procurador da Funai, Wilson Précoma, de- início do mês com 0 atendimento prejudicado.
pio de Santa ízabel do Rio Negro (a 628 km de nunciou que os índios de Roraima foram aban- O presidente da Associação dos Trabalhadores
Manaus) para averiguar a denúncia de que os donados pela Funasa, que teria utilizado para na Saúde Indígena de Roraima, Mateus Gomes
índios yanomami fixados em três aldeias ao lon- outros fins uma verba de R$ 500 mil destinada da Silva, disse que 0 governo está “privaüzando
354 :
ROBAiMAMATA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1998/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
,
cumbindo às doenças trazidas pelos garimpeiros pneumonia. óbitos em cem mil habitantes) A média deste co-
e operários que ocuparam suas terras desde o iní- eficiente no Brasil é de 600 óbitos em cem mil
cio da década de 70 quando da construção da
OUTRAS DOENÇAS habitantes, ou seja, o risco de morrer para os
Rodovia Perimetral Norte, seguida da corrida ao As diarréias e a desidratação representam outro Yanomami é quase 2,5 vezes maior. Se levarmos
ouro' nos anos 80. 0 forte impacto grave problema de saúde para os Yanomami. De em consideração que não existe assistência aos
epidemiológico, aliado à baixa resistência 1991 até 97, foram registrados 20.388 casos, ou Yanomami do lado venezuelano, bem como em
imunológica destas populações para certas doen- seja, uma média anual de 2.9 12 casos. No primeiro parte da Reserva no lado brasileiro ,como as regi-
ças, fez diminuir a população em algumas regi- semestre de 1998foram 2.088 casos, surrando a ões do Xiriana, do Padauaris, de Aracaçá e parcos
ões em 22%, como no Vale do Ajarani e em 50% faixa do esperado para aftenas um semestre em atendimentos em Tukixim, Olomai. Xicoi e
na região do rio Catrimani. 43,4%. Sigaima, a ausência de notificações pode indicar
Desde 1991. a média do Coeficiente de Incidên- uma situação ainda mais critica.
MALÁRIA cia Anual de tuberculose foi de 584 (em cem mil
A malária está dentre as doenças mais constan- habitantes) A média nacional deste coeficiente é
POLÍTICA DE SAÚDE
tes. Somente do lado brasileiro, onde há registros, de 50, o que significa que o risco dos Yanomami Existe li ma indefinição legal sobre a responsabi-
foram notificados 27.445 casos nos últimos sete desenvolverem a tuberculose é quase 12 vezes su- lidade institucional da saúde indígena no f>aís
anos, o que corresponde a praticamente metade perior ao da população brasileira em geral. Ou- onde as atii idades de assistência primária são res -
do número de habitantes. Somente nos primeiros tras doenças responsáveis por grande número de ponsabilidade da Eunai e atividades de controle
meses de 1998 registrou -se um total de 4. 152 ca- atendimentos nos últimos anos são as verminoses, de endemias, imunização, educação em saúde,
sos de malária, indicando um aumento de 93,6% as afecções dermatológicas ( micoses infecções e ,
desenvohámento comunitário e treinamento de
em relação ao primeiro semestre do ano anterior. escabiose), as infecções urinárias, as agentes indígenas são obrigações da Eunasa. Em
conjuntivites, as odontalgias e os ferimentos e Roraima, bá choques de ações entre servidores dos
PNEUMONIA/IRA traumatismos. dois órgãos, perpetuando uma disputa pela res-
A constante presença de não- índios em seu terri- ponsabilidade e, ao mesmo /empo, impedindo
tório e o retornode pacientes que estiveram in-
MORTES uma nuiior integração interinstilucional. Hoje,
ternados na cidade de Boa Vista para tratamen to 0 total de óbitos registrados de 1991 a 1998 (pri- oito instituições (seis não-governamentais) se
de diversas doenças têm introduzido sistemati- meiro semestre) foi de 1.211, assim distribuídos: ocupam da Área Yanomami, das quais 0 Distrito
camente as infecções respiratórias agudas (IRi\), causa desconhecida (35,1%); malária (23,4%), Yanomami (DSY), parte integrante da
Sanitário
comprometendo profundamente suas atividades IRA (13,2%); violência (4,5%); causas neonatais funasa, tem o impei mais importante, cuidando
de subsistência. A cada epidemia de gripe, cerca (2,6%); diarréias (2%); acidente ofídico (1,8%); de l.i dos 24 “pólos-base" de atendimento. (ISA,
de 15% dos casos evoluem com complicações tuberculose ( 1,5%) 0 desconhecimento da causa 23/1 1/98)
bactéria nas, principalmente a pneumonia, com de tantos óbitos deve-se, em grande parte dos ca-
alto índice de mortalidade quando não há trata- sos, à ausência de profissional de saúde.
e internacionalizando” o alendimento à saúde SURTO DE TUBERCULOSE enças encontradas na área Yanomami c noções
dos índios ao transferir os serviços nas aldeias básicas etnográficas yanomami. Este é mais um
A Funasa perdeu o controle da tuberculose na
para ONGs. ( Correio Braziliense, 25/07/99) curso preparatório da Urihi, que, a partir do
reserva Yanomami. Só em Boa Vista, na Casa de
dia 1 5 de dezembro, vai assumir a execução dos
Cura Hekura Yano, são 32 indígenas com a do-
FUNAI CULPA FUNASA trabalhos da saúde indígena do Dislrito Sanitá-
ença, dos quais 42 Yanomami. A situação vem
rio Yanomami (DSY) A Urihi é uma organiza-
0 chefe do Departamento de Saúde da Funai. se agravando desde 1991. Na maloca Sikói, na
ção voltada especificamente para o trabalho
Oswaldo Cid, ingressou com uma representa- região de Aiiaris, há aproximadamente 30 pes-
de saúde yanomami. Foi criada pela CCPY, que
ção na Procuradoria Geral da República res- soas doentes e deste total 1 7 estão com tuber-
desenvolvia trabalhos em três áreas indíge-
já
ponsabilizando a Funasa pelo alio índice de culose. 0 índice tolerável de tuberculose pelo
nas, conforme informações de um dos coorde-
mortes e doenças entre os índios yanomami, em Ministério da Saúde é de 53 casos para cem mil
nadores da organização, Cláudio Esleves de Oli-
Roraima. Relatório do Serviço de Epidemiologia pessoas. F.m Sikói, mais de 50% da população veira. Ele disse que o convênio com a Funasa
da Funasa, em Roraima, revelou que apenas está contaminada. Conforme o levantamento
para o trabalho no DSY foi assinado entre a
20,6% dos Yanomami que morreram no ano feito pelo DSY, já foram regislrados até o mês com a CCPY.
Funasa e a Urihi e não Disse ainda
passado receberam algum tipo de assistência passado 1 29 casos da doença Como não se regis-
que, até o momento, a organização só recebeu
médica. No ofício enviado à Procuradoria, o a doença como causa mortis, outros casos po-
tra
cerca dc Rí 2,5 milhões da Funasa do total de
médico informa o percentual de índios que dem ter ocorrido, (folha de Boa Vista, 04/1 0/99)
Rí 7,2 milhões do convênio. (Folha de Boa
morreram sem assistência médica c diz que o Vista, 24/11/99)
alto índice de doenças respiratórias entre os ONG ASSUME
Yanomami é decorrência da “não presença dos SAÚDE YANOMAMI
médicos dentro da aldeia como era previsto",
Mais dc 60 profissionais de saúde contratados
(A Gazeta, 28/07/99)
pela Urihi Saúde Yanomami participam desde
ontem de um curso no hotel Hamaraty, com
duração dc três semanas. Essas pessoas eslão
recebendo treinamento sobre as principais do-
sa da fumaça. Sabemos que, na montanha, os nè Foi assim que a floresta já queimou no começo colhido e traduzido por Bruce Albert, IRD)
waripé, seres maléficos dafloresta, cultivam suas dos tempos. Sabemos isso porque ouiimos as pa-
LACERDA/AE
PAULO
JOSÉ
LUIZ INÁCIO DA SILVA, CANDIDATO À PRESIDÊN- genas do Amazonas. de manter programas de educação e saúde na
de Assuntos Indígenas do Ministério da Edu- rabólicas - ISA, mar/99) mias de malária e tuberculose introduzidas pelos
cação; o El Nacional cita o Herbário e a Es- “civilizados”. Parte da venda dos dois mil exem-
cola de Antropologia da Universidade Central CALENDÁRIO TRAZ plares que compõem a tiragem do calendário será
da Venezuela como avalistas do contrato. Se- DESENHOS E DEPOIMENTOS revertida para os Yanomami, através da CCPY.
gundo Centeno, pelos termos anunciados, a O desenho para o mês de janeiro é assinado
Universidade de Zurique terá direito sobre A editora DBAe a CCPY lançaram, em 1 1 de por Davi Yanomami. Retrata a sobrenatural “flo-
80% dos ganhos e benefícios - inclusive co- dezembro de 1999, o calendário “Rastros resta nova", que, conforme a visão do autor,
merciais - decorrentes da exploração das in- Yanomami 2000". Os desenhos, com pincel atô- encontra-se sob a proteção do criador Omama,
formações genéticas obtidas entre os mico, e os textos-depoimentos - tudo de auto- mas que, um dia, será ofertada ao homem para
Yanomami. "O ministério se conforma com ria de indivíduos Yanomami - referem-se a as- substituir a que está suja. (ISA, a partir FSP,
20% dos ganhos das patentes e comercia- pectos mítico-cosmológicos deste povo, bem 09/12/99)
publicou nota oficial, que pode ser lida na havia saído de Manaus no dia 4, a bordo do barco
pergunta. O geneticista gaúcho disse ter toma-
Internet(www. ameranthassn.org/press/ do conhecimento da polêmica por meio de
Noel, com mais cinco pessoas - tripulação mais 0
eldorado.htm): “Até que haja uma discussão e
Napoleon Chagnon, que teria afirmado que pre-
guia Petcr Hoestmann, também alemão - e, quan-
uma revisão completa e imparcial das questões
tende processar Tiemey. (Cláudio Ângelo, FSP,
do chegaram ao rio Curiuau, que corta a área
levantadas pelo livro, seria injusto externar um 23/09/00)
Waimiri-Atroari, já à noite, foram abordados por
julgamento sobre as acusações específicas con- um barco da Funal com pessoal armado.
tra indivíduos que ele contém”, afirma. Segundo Vollner, um dos tripulantes, que se
YANOMAMI.COM
O que diz Chagnon - 0 caso chegou a uma identificou como diretor do posto da Funai na
publicação dirigida a acadêmicos norte-ameri- Em setembro, a CCPY tomou conhecimento da área, exigiu que Hoestmann e 0 comandante do
canos, “The Chronide of Higher Education". apropriação do domínio 11 a Internet do título barco 0 seguissem até 0 posto, numa embarca-
Procurado por ela, Napoleon Chagnon disse que “Yanomaim.com". Ao pesquisar a possibilida- ção da própria Funai. Quando chegaram ao lo-
cal onde seria o posto, esperaram por 20 mi- REGIONAIS ACUSAM te, que garantiram a preservação de espécies
nutos até que três índios armados chegaram WAIMIRI-ATROARI DE importantes de quelônios e mamíferos aquáti-
junto com o funcionário do órgão. Em seguida, MONOPOLIZAR IGARAPÉ cos (tartarugas, botos, ariranhas, lontras pei-
foram levados a uma maloca próxima do pos- xes-bois e outros).A região está sendo usada
to, onde sofreram ameaças do chefe indígena. Os presidentes das comunidades de Padre como universidade de biodiversidade par diver-
Cerca de uma hora depois, segundo Hoestmann, Nova Jerusalém e Boa Esperança, loca-
Cailerí, sas escolas do pais. QB, 30/03/98)
o barco com o casal de alemães atracou no na rodovia BR- 174, denunciaram ontem
lizadas
porto. “Nós fomos obrigados a descer e, com que os Waimiri-Atroari estão impedindo que LIVRO NEGA CULPA
as pontas das flechas, os índios nos agrediram. pesquem no igarapé Água Branca. A denúncia DOS WAIMIRI NO
Até o guia teve sua orelha perfurada pela ponta foi feita através de um abaixo-assinado entre-
MASSACRE DE 1968...
das flechas", informou Volhter. Confundidos gue àadministração da Ftinai em Manaus e ao PWA.
com turistas, os “visitantes" tiveram todos os De. acordo com 0 presidente da comunidade Foi lançado 0 livro Massacre (Editora loyola,
seus pertences jogados no rio pelos índios -
Padre Calleri, Evandro dc Freitas, os índios cons- 239 páginas), do padre Silvano Sabattini, mis-
roupas, dinheiro, passaportes, máquina fotográ- truíram um cercado que impede as famílias de sionário d:i Congregação dos Consolata, presi-
fica e combustíveis. O prejuízo foi calculado em pescarem, uma das atividades que garante 0 dente da Comissão Pró-Índio da Prelazia de
Rí 20 mil. Ao final, foram reconduzidos para sustento das comunidades. Freitas diz não ter Roraima. A obra parte da recusa do missioná-
fora da área de barco. (A Crítica, 11/07/96) conhecimento de que ali seja terra dos índios,
rio em aceitar a versão oBciai dada ao massa-
“Sempre pescamos ali e nunca tivemos proble- cre de uma expedição comandada pelo sacer-
... E FUNAI TEM mas", observa. Segundo Freitas, um pescador dote João Calleri, que seguira de Manaus para
QUE CONTORNAR de 71 anos foi saqueado pelos Waimiri-Atroari a área dos índios Waimiri-Atroari, num trecho
da rodovia BR-1 74.
CRISE DIPLOMÁTICA ao tentar pescar na área, tendo-lhe sido tirados
um motor de popa, uma canoa, anzóis e linha Padre Cafieri viajou em outubro de 1968 acom-
A presidência da Punai está tentando fazer com de pesca. Em Presidente Figueiredo, a Funai panhado de sete homens e duas mulheres, com
que o caso ocorrido com o casal dc alemães disse aos denunciantes que nada poderia ser a missão de pacificar os índios e permitir a cons-
dentro da TI Waimiri-Atroari não vire um inci- feito. (A Crítica, 11/03/97) trução da estrada, que foi inaugurada em no-
dente diplomático. Em Manaus, um técnico do vembro. Os expedicionários acabaram mortos
Programa Waimiri-Atroari (PWA), mantido pela a tiros e flechadas, às margens do rio Abonari,
JÓIA A PARTIR DE BRACELETE
Eletronorte, afirmou que considera que o gru- hoje município de Presidente Figueiredo (AM).
po invadiu a área dos Waimiri-Atroari. Segundo A designer de jóias carioca Teresa Xavier, única Os Waimiri-Atroari foram apontados como os
ele, é impossível que lenha ocorrido um enga- brasileira que está enire os 25 vencedores do responsáveis pelas mortes.
no na rota de navegação do grupo, já que os Diamonds International Awards 1998, criou um Trinta anos depois, 0 livro de Sabatini apresen-
limites da reserva estão bem sinalizados. bracelete que combina palha trançada peios ta os resultados de suas investigações, que che-
Segundo Raimundo Cerejo, funcionário daFunai Waimiri-Atroari e 57 diamantes. O bracelete é garam a reunir 200 horas dc entrevistas e cem
que acompanha o processo, a presidência da originalmente utilizado pelos índios como um quilos de documentos, De acordo com elas, a
íunai recebeu uma carta da direção regional amuleto contra 0 mau-olhado. (OESP, 18/01/98) equipe de Calleri foi vítima de uma emboscada
(em Manaus) comunicando o problema e preparada pelos brancos, envoivendo 0 pastor
aguardando as providências que dependerão do COMPRADORES DA protestante Cláudio Lcawitt, do Movimento de
relatório dos técnicos que foram enviados à ELETRONORTE HERDARÃO Evangelização da Amazônia (Meva) ,
um coro-
reserva. “Mas é importante salientar que o arti- PROGRAMA nel inglês a serviço na Guiana, Wíllian
go 231 da Constituição determina que alguém Thompson, que seria ligado à CIA, e um mateiro
só pode entrar mima área indígena com a auto- O grupo que adquirir 0 Sistema Manaus de Ge- que participava da expedição, único sobreviven-
rização dos índios c da Punai, e 0 alemães não ração de Energia vai herdar uma série de com- te. Tanto a Meva como a CIA estariam interessa-
fizeram isso”, disse. De acordo com 0 coorde- promissos sociais e ecológicos firmados pela das na extração de minérios na região, e consi-
nador interino de Educação e Documentação Eletronorte na região. Enire eles, 0 de garanlir deravam incômoda a presença de Calleri na área
do PWA, as pessoas que os índios não conhe- a permanência na área e prestar assistência Waimiri-Atroari. (IstoÉ, 09/12/98)
cem e que entram na reserva sem sua autoriza- permanente à população Waimiri-Atroari, cuja
ção prévia são encarados como invasores “em existência estavaameaçada em 9R1 i
... MAS CACIQUE
Os índios já chegaram a ser pouco mais de 250
função do passado marcado por massacres e ASSUME PARTICIPAÇÃO
lulas pela lerra”. QB, 11/07 e A Crítica, 12/07/96) pessoas. Com a ajuda da empresa estatal, hoje
são mais de 700 pessoas vivendo na região. A O cacique Mário Paruwé, de 48 anos, quebrou
preocupação com os Waimiri-Atroari por parte o como, ainda adolescente,
VISITA DO silêncio: relatou
da Eietronorte vem desde a formação do lago participou com mais 59 índios, do massacre de
PRESIDENTE TCHECO
no rio Uatumã, que inundou parte considerável 12 pessoas da expedição do padre italiano
O presidente da República Tcheca, Vaclav Havei, do território Waimiri. Um convênio firmado com Giovanini Calleri, em 1968. Na versão oficial, 0
aproveitou sua visita ao Brasil para visitar os a Funai estabeleceu uma cota anual de R$ 800 padre irritou os índios ao pegar de volta pre-
índios Waimiri-Atroari. Havei trocou presentes mil, com a qual são adquiridos equipamentos, sentes que havia oferecido. Paruwé desmente:
com Tomás Temberre, líder indígena. O presi- roupas, remédios e oulros objetos de uso indi- “O padre chegou atirando e depois quis nos
dente deu uma espada de prata e ganhou um vidual e coletivo. amansar e catequizai; mas não aceitamos". Ele
arco com três flechas. (ESP, 19/09/96) A Eletronorte também firmou convênios com não revelou como ocorreram as mortes. Paruwé
vários órgãos governamentais de meio ambien- esclareceu ainda os motivos que levaram seu
naturais, alvo de invasões, eles passaram por DA BR-174 plantar um sistema de radar para evitar possí-
sucessivos massacres e de um total de cerca de veis invasões da área, afirma Porfírio. O custo
no século 19, ficaram 350, em 1974. anual desse plano é de R$ 390 mil e sua execu-
seis mil,
PLANO DE PROTEÇÃO
O sangue derramado ao longo das aldeias fez ção e manutenção ficarão a cargo do PWA, ór-
AMBIENTAL gão de gerenciamento terceirizado, mantido
brotar um sentimento forte, que tem na educa-
ção o maior alicerce. Hoje, a população é de Os Waimiri-Atroari querem o repasse antecipa- pela Eletronorte em convênio com a Funai.
823 índios, dos quais 500 são crianças vivendo do de R$ 3,9 milhões para permitir o A obra de recuperação da BR-174 está parada
em 17 aldeias, onde em todas há escolas. Ne- asfaltamento dos 125 km da rodovia BR-174 há três meses no trecho que passa dentro da
las, recebem as lições que servem para fortale- (Manaus-Boa Vista) que corta sua reserva. O reserva Waimiri-Atroari desde o rio Abonari, no
cer e garantir a vida. “Aprendemos a fazer o valor será aplicado no Plano de Preservação município de Presidente Figueiredo (AM), até
roçado, de onde tiramos alimento, e outras coi- Ambiental e Vigilância, por um período de dez o riojundiá (RR). Em condições precárias, pela
sas que usamos quando temos que tratar com anos e faz parte de um acordo assinado, em BR-174 trafegam cerca de 70 veículos por dia,
os brancos”, afirma Renato Maíka, estudante outubro do ano passado, entre os governos do cortando os 2,58 milhões ha da reserva habita-
há mais de 1 1 anos e agora preparando-se para AM e RR, ministérios dos Transportes e da Jus- da por 687 índios. Com sua recuperação, esse
assumir o posto de professor. No total, são 28 tiça, a Hunai e representante dos índios. Até hoje, tráfego vai aumentar suhstancialmente, provo-
professores na área. Na escola, construída se- os recursos não foram repassados porque de- cando o receio dos índios de que voltem a ocor-
guindo o padrão tradicional da arquitetura uti- pendem da aprovação do Congresso Nacional, rer invasões na área, depredações do meio
lizada nas malocas, Maika aprendeu primeiro que ainda não votou o orçamento de 96. Os re- ambiente, escassez de caça e poluição dos rios.
a língua materna, as lendas, as tradições, o passes estaduais - o governo do AM deve con- Hoje, o sistema de fiscalização consiste em três
melhor jeito de fazer roçado de mandioca. O tribuir com Rí 500 mil - só sairão junto com os pontos de vigilância, colocados estrategicamente
RISCOS AMBIENTAIS
É o que já vem ocorrendo em relação à Reserva
Biológica de Uatumã, situada na margem direita
da represa de Balbina, em Presidente Figueiredo
(AM). Região de belezas naturais indescritíveis, a
reserva tem se transformado em alvo de invasões
e de um turismo inconsequente. Há rumores de
que a prefeitura local interessada em estimular
a ocupação irregular da área teria financiado a
abertura de vicinais desde a BR- 174 em direção à
reserva. Quanto à Roraima, a pavimentação da es-
ÉFOGO...
Os projetos oficiais de colonização instalados pró-
ximos da Jloresla foi apontado por especialistas
como um dos componentes do megaincêndio que
devastou quase 15% da paisagem roraimense nos
últimos cinco meses. De acordo com o ecólogo
Reina/do Barbosa, do Instituto Nacional de Pes-
quisas da Amazônia (hipa), o baixo nível
tecnológico adotado pelos colonos em relação ao
manejo agrícola da terra - ou seja, as queimadas
- somado à estiagem intensa e aos ventos alísios,
proporcionou o acidente.
Com a pavimentação da BR-174 e a chegada de
novos migrantes, a escala no uso do fogo deverá
crescer de forma vertiginosa. A pressão sobre os
recursos naturais (madeira, por exemplo) e so-
bre os limites dajloresla a oeste, decerto
,
aumen-
tarão.Cenas da mata em chamas, como se viu no
9 commcmxsnAoIndm
último mês de março, podem vir a se tornar uma
rotina anual, criando, ao lado da estação chuvo-
sa, uma " estação de fogo
" na região. (Marco An-
entrega do cheque de RÍ 1,7 milhão ao repre- inspecionadas por técnicos do Ministério dos
Carvalho. (A Crítica, 26/01/96)
sentante dos Waimiri-Atroari, Mário Parwé, Transportes e pelo DNER. “A CAI não liberaria
Atroari vão discutir, a partir de amanhã, a pro- governador que a indenização deveria ter sido meçai' imediatameníe os trabalhos de pavimen-
posta do governo do estado do AM de pagar Rí paga pelo governo federal, perguntou “se o di- tação da BR-174 a partir do estado de RR até a
i milhão correspondente à pavimentação dos
,6 nheiro seria logo depositado”. Amazonino fronteira entre Brasil e Venezuela. De acordo
55 km da rodovia BR-174 que passam pela ter- garantiu que estava pagando adiantado por dez com o presidente da Companhia dc Desenvol-
ra indígena, antes de atingir o estado de anos de proteção ambiental da área indígena. vimento do Amazonas, Gilberto Jucá, com a li-
Roraima. Porfirio Carvalho e Marcilio de Souza A assinatura do termo de compromisso estabe- beração do financiamento junto à CAí o gover-
Cavalcante, coordenadores do PWA, viajam neste lece a liberação de 44% do valor total do Plano no do AM vai ser ressarddo pela União em Rí
final de semana para a TI onde vão expor às de Proteção Ambiental e Vigilância da TI 30 milhões. “A execução das obras levou o go-
lideranças a intenção do governo de assumir as Waimiri-Atroari. Pelo termo assinado, o gover- verno amazonense a desembolsar Rí 55 mi-
despesas com a pavimentação e asfaltamento do no vai prestar apoio na execução do lhões. Desse total, RÍ 40 milhões foram aplica-
trecho entre os quilômetros 210 e 251, onde monitoramento, vigilância sanitária, instalação dos na recuperação e pavimentação de aproxi-
está localizada a reserva dos Waimiri. (A Críti- de lixeiras e sensoriamento remoto da área por madamente 245 km da rodovia e os outros R$
ca, 12/04/96) onde passa a estrada. É de responsabilidade do 15 milhões na construção dc pontes", informa.
governo, ainda, a recuperação de áreas degrada- Embora a BR-174 faça parte do “Programa Bra-
FALTA DE DINHEIRO das peia construção da BR-174 e de áreas afe- sil em Ação”, a iniciativa de pavimentar a rodo-
tadas pelas obras de asfaltamento eiiire os rios via partiu do governador Amazonino Mendes.
O 6° Batalhão de Engenharia c Construção
Abonari e Alatoú. Hoje, o único trecho que ainda não foi total-
(BEC) e o governo de RR anunciaram que en-
O gerente do Projeto Waimiri-Atroari, Marcflio mente pavimentado no lado do AM encontra-se
quanto não for resolvida a questão dapavimen-
Cavalcante, acrescentou que além dos chama- dentro da TI Waimiri-Atroari. (Amazonas em
tação da estrada eles permanecerão fazendo
dos impactos imediatos devem ser levados em Tempo, 28/02/97)
apenas a manutenção do trecho que corta a TI
conta os que podem ser provocados com a pas-
Waimiri-Atroari, Quanto ao pagamento dos R$
sagem de um número grande de pessoas e car- RR E DNER
3,7 milhões aos índios para garantir a implan-
tação do plano de vigilância e proteção da área,
ros pelo local, particulannente nos cuidados COMPLETAM CUSTEIO
segundo o diretor do DER, José Eufrânio, não
com doenças infecto-contagiosas. Nesse caso, DO PLANO AMBIENTAL
nem O
um trabalho de vigilância sanitária, com avalia-
ficou acertado quem pagará e quando, É de Rí 2.126.445, 39 o valor do custeio das
ção periódica da presença de insetos em cur-
asfaltamento dos 70 km da rodovia situados na ações do Plano Ambiental e de Vigilância para a
sos d'água, deverá ser feito. Além de secretári-
parte roraimense da área dos Waimiri-Atroari TI Waimiri-Atroari. O acordo foi assinado on-
os estaduais, à solenidade estava presente o
continuará temporariamente indefinido. Ele tem pelo governador de RR, Neudo Campos, o
presidente da Funai, Júlio Gaiger. (A Crítica,
explicou que, pela escassez de recursos, a pa- diretor do DER, Rohm Rivero, com o líder indí-
25/07/96)
vimentação do trecho não é prioridade, depen- gena Mário Parwé c o assessor do PWft, José
dendo, inclusive, de um empréstimo leilo pelo Porfirio Carvalho, (Folha de Boa Vista, 09 e
governo federal junto à Confederadón Andina
DNER NEGOCIA COM IBAMA
10/08/97)
de Fomento - CAF, da qual faz parte a Venezuela.
O diretor-geral do DNER, Maurício Hasendever
(O Diário de Roraima, 13/04/96) Borges, fará uma inspeção nas obras de pavi- TRÁFEGO É FISCALIZADO
mentação da BR-174, que corta a reserva. A
GOVERNO DO AM programação inclui uma visita à Tl Waimiri-
Os Waimiri-Atroari contam com duas Toyotas,
ACONTECEU
TRECHO AMAZONENSE missão que investigue a possível radioatividade Para os índios, a contabilidade é muito mais
DA BR-174 É INAUGURADO da mina. (O Liberal, 16/05/96) simples. Eles querem o equivalente a um cami-
nhão carregado de minério por mês, o que da-
Depois de driblarem a campanha das entida-
ESTRADA EXPÕE CONFLITO... ria cerca de R$ 78 mil. Da mina saem, mensal-
des ambientalistas e indigenistas, os governos mente, cerca de 200 caminhões. “Eles estão
de Roraima e do Amazonas celebraram a pavi- “Se não pagar, não passa”. Com esse ultimato,
pedindo 0,5% do valor do minério extraído, bem
mentação dos 988 km da rodovia BR-174. O os índios Waimiri-Atroari fecharam ontem a
menos que os 2% normalmente exigidos das
governador Amazonino Mendes inaugurou 255 estrada que dá acesso à maior mina de cassi-
mineradores pelos proprietários da terra onde
km da estrada que passa pelo estado do Ama- terita do mundo, pertencente à Paranapanema.
atuam”, afirma Porfírio Carvalho, indigenista do
zonas, com a presença de políticos, empresári- O minério extraído de Pitinga responde por dois projeto de apoio aos índios Waimiri-Atroari.
os e representantes indígenas dos Wamiri-Atroari, terços do abastecimento da empresa, que pro-
Para Carvalho, os fundos de pensão erraram ao
cuja reserva é atravessada pela estrada. duz anualmente 15 mil toneladas de estanho. O comprar uma empresa que tinha pendências
A estrada passa a ser um corredor de exporta- minério é escoado por uma estrada vicinal que jurídicasem relação à sua principal mina. Os
ção para a Zona Franca de Manaus. “Saímos corta 45 km da reserva até atingir a BR-174,
Waimiri-Atroari reclamam a área de 526,8 mil
enfim do isolamento", diz o governador. Fal- que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR). ha ocupada pela Paranapanema, que fazia par-
tam apenas 54 km para a finalização do percur- A decisão dos índios foi tomada após uma frus-
te das terras imemoriais desse povo indígena,
so até Santa Elena do Uairém, na Venezuela. trada tentativa de negociação com os novos
segundo garantias da própria Constituição. No
( Tribuna do Norte, 08/04/98) controladores da Paranapanema sobre o paga-
entanto, na demarcação, a área ficou de fora.
mento de uma taxa para utilizar a estrada, “Te-
As reclamações dos índios vêm desde os anos
BRASIL E VENEZUELA mos com a Funai um contrato de licença para
80 e, para Porfírio Carvalho, os fundos deveri-
INAUGURAM BR-174 passagem pela reserva e um acordo de doação
am ter se informado a respeito.
à fundação dos Waimiri-Atroari, pelo qual pa-
INCOMPLETA O diretor da Paranapanema acha que há exage-
gamos R$ 16 mil por mês, mais carros, equipa- ro em tudo isso. “Já estive com os índios e eles
Apesar de inacabada, as obras de pavimenta- mentos e atendimento médico no hospital de
estão aculturados”, afirma Dequesch. A empresa
ção da BR-174 (Manaus-Boa Vista/Caracas) fo- Pitinga. Da F.letronorte, eles recebem outros R$
não pensa em retirar seus 2,5 mil empregados
ram inauguradas em clima de fervor cívico. O 70 mil mensais", afirma Ricardo Dequesch, di-
e respectivos familiares da área. Os índios de-
presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou retor da Paranapanema.
ram prazo de três dias para os empregados dei-
que a obra concretizava o “sonho boliviano”, Com a troca do controle acionário da empresa,
xarem a mina, usando a estrada. A empresa, no
uma referência ao herói Simón Bolívar. O pre- que pertencia â família Lacombe, passando aos
entanto, pode usar seu campo de pouso. A al-
sidente da Venezuela, Raphael Caldera, afirmou fundos de pensão dos funcionários do Banco
ternativa da empresa para não usar a estrada
que a estrada abre caminho para o projeto de do Brasil, os índios quiseram a revisão do acor-
seria construir uma outra estrada ou tirar mi-
integração da América Latina. A pavimentação do. "Eles pediram um valor cinco vezes maior e
nério por balsas, que desceriam quatro horas
da rodovia permite a viagem por terra desde o nós achamos que era muito. Nossa proposta era
pelo rio Pitinga até o lago da barragem de
litoral atlântico até o Caribe. Neste percurso, a uma quantia equivalente aos juros do valor de R$ Balbina.Mas isso não garantiria que a relação
estrada passa por 44 km que incidem com a 1 ,6 milhão pagos de uma só vez pelo governo fe-
com seus vizinhos fosse resolvida. (JB. 08/10/96)
reserva indígena Waimiri-Atroari. Do lado deral por outra estrada que corta a reserva Daria
venezuelano, a rodovia permite acesso a Cara- cerca de R$ 20 mil por mês”, diz Dequesch.
cas, capital venezuelana, com 12 horas de via-
gem. Os últimos 60 km, boa parte dentro da Os Waimiri durante bloqueio da estrada.
reserva, foram concluídos em outubro passa-
do. Grupos de apoio à política federal, critican-
MINA DE PITINGA
RELATÓRIO APONTA
RADIOATIVIDADE
Um relatório elaborado pela CNEN e um ofício
... £ AÇÕES DA EMPRESA NA da mineradora pela concessão, autorizando, FUNAI QUER LIBERAÇÃO
BOLSA DE SP SOFREM BAIXA ainda, a instalação de dois postos de vigilância DA ESTRADA...
dentro da área, onde a empresa manteria guar-
As ações preferenciais da mineradora A Funai está pressionando seus funcionários li-
das armados. Por conta dos interesses da
Paranapanema caíram 2,79% ontem, a terceira Paranapanema na jazida, o então presidente da
gados ao PWA a tirarem os índios da estrada
maior baixa entre as ações negociadas na Bol- em no-
que dá acesso à mina de Pitinga, ameaçando-
República assinou o Decreto 86.630,
sa de Valores de São Paulo. Depois do anúncio vembro de 1981, revogando encaminhamentos os de demissão. O presidente da Funai, Júlio
dos problemas com os índios Waimiri-Atroari, anteriores que reconheciam a área como de
Gaiger, entrou em contato com 0 gerente do
as ações da empresa já começaram o pregão ocupação indígena. Foi através desse decreto
PWA, Marcflio Cavalcante, e com 0 indigenista
com um preço 2,1% mais baixo. As ações pre-
que a área sofreu uma redução de 526,8 mil
Porfírio Carvalho, pedindo que os dois tentas-
versidade do Amazonas, sobre o conflito com a PARANAPANEMA ACEITA dios em 1 5 dias. Diante de mais uma negativa
empresa Paranapanema. Segundo Porffrio Car- NEGOCIAR COM PWA dos Waimiri-Atroari, a mineradora encaminhou
vaJIio, eles aguardam a resposta da empresa em aos órgãos ambientais projeto para a constru-
um Duas semanas após o início do plantão Waimiri- ção de uma outra estrada, de 82 km, para es-
relação à proposta de pagamento de carro
Atroari, à beira da estrada que dá acesso à mina
de minério para cada 200 que cruzem a estrada. coar a produção.
O indigenista do PM diz que, na verdade, os
de Pitinga, as negociaçõescom o Grupo O projeto da estrada está sendo avaliado pelos
querem mas defender sua Paranapanema recomeçam. “Os índios estão órgãos ambientais cm regime de urgência, a fim
índios não dinheiro,
por estarem preocupados insatisfeitos. Querem apressar uma solução",
de que as obras sejam iniciadas 0 mais breve
vida, fortalecer-se
comentou por telefone o gerente geral da Mi- A área onde a empresa pretende abrir
cora o buraco de mais de dez mil ha que a tnine- possível.
radora abriu em suas terras. “Os índios sabem neração Taboca,em Pitinga, Aroldo Garcia, após a estrada pertence ao Estado e, caso venha a
que a empresa se estabeleceu de forma ilegal uma reunião com os gerentes do PWA. A reunião ser construída, será considerada de uso públi-
quando, em 1981 o governo federai extinguiu
aconteceu na estrada, mas para ser realizada foi
co, segundo informou 0 presidente da Ipaam,
,
que esse prédio está em área da empresa”, dis- Paranapanema, onde os índios estão acampa-
EM APOIO, COIAB E CIMI
dos.A validade do acordo é de um ano, perío-
se 0 gerente da Taboca. (A Crítica, 20/10/96)
VÃO À PROCURADORIA do em que a Paranapanema espera já ter
Representantes da Coiab e do Cimi estiveram PARANAPANEMA construído uma estrada fora da reserva indíge-
ontem com o procurador chefe da Procurado- JÁ FALA EM PREJUÍZOS na. (Correio Braziliense, 07/11/96)
mineradora no meio ambiente indígena, como Por enquanto, a interdição da estrada não afe- A primeira audiência pública convocada pelo
a poluição do rio Alalaú. Para o procurador, a tou 0 trabalho de transformação da cassiterita Ipaam para a construção de uma nova estrada
comprovação de que o Grupo Paranapanema em estanho, que é feito em São Paulo. Dirigen- pela mineradora Paranapanema começou ten-
deve chegar a um acordo com os índios é o fato tes da Paranapanema reuniram-se ontem com sa,com a presença de 20 índios Waimiri-Atroari
de já vir pagando um imposto irrisório sobre a 0 governador Amazonino Mendes a porias fe- munidos de arcos e flechas com pontas de fer-
utilização da vicina! localizada nas terras chadas. A mineradora teria ido buscar 0 apoio ro e 30 policiais também armados. Técnicos do
Waimiri-Atroari. do governador para intermediar a negociação PWA acharam 0 clima preocupante e convence-
Os índios estão estudando a proposta da com os índios, versão que não foi confirmada ram os índios a voltar para a área indígena. Os
mineradora de pagar somente 0,5% sobre a pelo secretário de Comunicação do Estado, índios querem impedir a construção da estra-
produção peio uso da estrada. Um cálculo apre- Ronaldo Tiradentes. Já 0 gerente da Mineração da, pois alegam que seu traçado corta a área
sentado pela mineradora afirma que esse índi- Taboca, Aroldo Garcia, disse que no encontro dos índios isolados Pirititi
ce representa R$ 24 mil mensais. Segundo o foram tratadas questões relacionadas à empre- Durante a audiência, chegou-se à conclusão de
gerente geral da mineradora, a primeira pro- sa que prestou serviço ao F,stado na pavimenta- que, além da licença do órgão estadriíd (Ipaam),
posta dos índios “está fora da realidade”, refe- ção da BR-174. o novo empreendimento da Paranapanema tam-
rindo-se aosRí 78 mil exigidos pelos índios. A noite, os índios foram informados sobre uma bém terá que passar peio parecer técnico do
Com a ocupação da estrada, a empresa tem uti- nova proposta encaminhada pela mineradora. Ibama, que, ontem mesmo, extra-oficialmente,
lizado avião para o transporte de funcionários Dessa vez, foi oferecido 0 pagamento de R$ 15 se manifestou contra a construção da estrada.
cassiterita. (A Crítica, 16/10/96) de Pitinga. Segundo 0 gerente do PWA, os índi- e qualquer empreendimento que passe a uma
os rejeitaram mais uma vez. Esta é a terceira distância de no mínimo dez km de unidades de
proposta da Paranapanema rejeitada pelos ín- conservação precisa de licenciamento do órgão
Segundo o coordenador do Grupo de Unidades DEFENDE A NOVA ESTRADA meçar a colheita, eles começam a construir a
de Conservação do Ibama, Ângelo Lima, os im- maloca”, expEcou. “É isso que está acontecen-
pactos previstos são incalculáveis. O principal O gerente da Mineração Taboca, Aroldo Garcia, do, muito antes da Taboca querer a estrada na-
problema está na possibilidade de haver assen- voltou a falar sobre a expectativa de crescimen-
quela área”, garante. As plantações seriam, as-
tamento de (amílias ao longo da estrada. “É evi- to dos investimentos na mina de Pitinga. A sim, a maior prova de que a área é ocupada
dente que a construção de uma estrada traz Paranapanema já teria, inclusive, grupos inte-
pelos Waimiri-Atroari. (A Crítica, 04/03/97)
impactos ambientais claros. É uma visão puris- ressados em investir mais de US$ 100 miihões
nos próximos três anos, e que poderiam ser
ta dizer que pode haver controle quando sabe- IBAMA VETA NOVA ESTRADA
mos que a migração de famílias é facilitada com estendidos por mais de 20 anos, na produção
a construção de qualquer estrada", enfatizou de estanho. A Paranapanema diz que sem os O Ibama negou autorização à Mineração Taboca
investimentos, a extração de minérios pode aca- para o desmatamento de 146 ha destinados à
Lima. A mesma ressalva foi feita pelo represen-
tante da empresa de consultoria Ecojus, respon- bar nos próximos três anos. “Ninguém investi- construção de uma estrada de acesso entre a
sável pelo Rima, Roberto Vieira, Mesmo expE- rá em Pitinga se não houver confiabilidade de Vila de Pitinga e a rodovia BR-174. Até ontem, a
escoamento da produção e Evre acesso à mina, decisão não havia chegado oficialmente ao co-
cando ser desastrosa a colonização na área,
ele acredita ser possível haver a proibição de boje subjugado à vontade dos dirigentes do nhecimento da direção da empresa, mas o ge-
PWA", disse Garcia. rente Aroldo Garcia adiantou que a Überação
assentamentos.
O principal argumento que o Grupo Garcia reforçou a afirmação dc que o do empreendimento deve vir do Ipaam.
Paranapanema levou ontem para a audiência licenciamento para a construção de uma nova Para tomar a decisão, o superintendente do
pública refere-se às potencialidades da mina de estrada, que contorne os limites da Tl Waimiri- Ibama no AM, Hamilton Casara, levou cm con-
Atroari, seria a solução ideal para os proble- sideração os estudos da Coordenação de Pro-
Pitinga, que produz hoje cerca de 50% da
mas entre os índios e a mineradora. Segundo teção a Grupos Indígenas Isolados da Funai, que
cassiterita do mundo. Com a construção da nova
ele, nos levantamentos topográficos para a nova apontam sinais de índios na área requisitada
estrada, orçada em Rí 1 milhão, segundo o
estrada foram feitas picadas na mata e sobre- pela empresa para a construção da estrada.
gerente da Mineração Taboca, Aroldo Garcia, a
expectativa da empresa é de que os investimen- voo da região e nenhum sinal de índio foi cons- Esses estudos foram iniciados em 1994 e, atra-
tos sejam crescentes na mina do Pitinga, como não conseguirmos mais uma via dc
tatado. “Se vés de um ofício, a Funai recomenda que sem a
escoamento estaremos praticamente inviabi- conclusão dos estudos é “desaconselhável qual-
a exploração do estanho contido na rocha sã
(dura), além dos projetos para aproveitamen- lizando os outros projetos", disse. Para o AM quer intervenção na área em questão".
econômico de nióbio e tântalo, minerais e o município de Presidente Figueiredo, a Outro argumento apresentado pelo Ibama é que
to tam-
bém encontrados na área. “Se hoje já causa- mina de Pitinga contribui com a geração de a nova estrada traria “danos expressivos à fauna
mos perturbação aos índios, esta preocupação impostos na ordem de aproximadamente R| 5 e flora locais”, tanto no período de sua abertu-
va Biológica de Uatumã, por onde passaria a nova estrada para o escoamento da produção or do mundo, teve temporariamente congela-
estrada. Eles também voltaram a reivindicar a da mina dc Pitinga. Apresentando fotos do lo- do, por razões ambientais, o seu principal pla-
extensão de terra suprimida por um decreto cal, realizadas durante um sobrevôo, o diretor no de expansão: produzir uma liga composta
presidencial e cedida à mineradora. O da empresa, Ricardo Dequech, encaminhou o de ferro, nióbio e tântalo, destinada a uso in-
indigenista Porfirio Carvalho disse que “não há fato ao presidente da Funai, em Brasflia, e ao dustrial. O composto mineral produz rejeito
indenização no mundo que pague os prejuízos Ministério PúbÜco em Presidente Figueiredo. radioativo, com risco de contaminação
causados pela mineração”. O gerente do PWA, Marcílio Cavalcante, rebateu ambiental e dos operários que trabalham em
Questões levantadas pelos representantes do as acusações da empresa de que os índios inva- Pitinga. (A Crítica, 31/03/99)
Ministério Público faziam referência à necessi- diram a área para tumultuar a construção da
dade de aprofundamento do Rima. Para o pro- estrada. Segundo ele, nessa área há uma gran-
motor do Meio Ambiente, Roger Oliveira, é pre- de plantação de bananas além de outros roça-
ciso haver um estudo prévio para se confirmar dos plantados há mais de dois anos. “Depois,
como macacos, antas, etc., e outros membros im- Waimiri Atroari, que novamente não sejam viti- uso exclusivo das índios como lhes garante a Cons-
portantes do ciclo de vida animal daquela área. mas de ações criminosas de transeuntes da rodo- tituição FederaI e o Estatuto do índio.
A circulação de índios entre uma aldeia e outra e via, principalmente se esta circulação se der du- A medida que as comunidades indígenas toma-
seus sítios de coletas e de caça tornou-se extre- rante o período noturno. ram em erguer os ditos "pilares "- a cerca ,foi para
mamente perigosa, em virtude da circulação de Este temor tem fundamento. proteger e garantir o ecossistema local que vinha
veículos na estrada mesmo durante o dia e em Pelo lado ambiental, a circulação indiscriminada sendo depredado criminosamente por banhistas
alta velocidade, por não estarem habituados a de veículos no período noturno, aumentará o atro- vindos da cidade de Pacaraima e Boa Vista.
presença de veículos em seus caminhos, que é uma pelamento de animais, quejá atinge números sig- Éportanto uma medida que merece apoio dos três
ameaça constante a suas vidas e principalmente nificativos com prejuízos afauna e consequente- poderes da República - Executivo, Legislativo e
a das crianças. Em outras terras indígenas quejá mente ao estoque de alimentos dos Waimiri Judiciário e das instituições privadas ambien-
tem estradas implantadas há registro de alto ín-
. Atroari. Independeu temen te de atropelamentos, talistas nacionais e internacionais, pois além de
dice de acidentes fatais com perdas de vidas de como sabemos, a maioria dos animais da flores- seruma medida legal ajuda a proteger o patri-
muitos índios. ta têm hábitos noturnos, quando saem de suas mônio hídrico e ambiental daquela região, bene-
Após a construção da BR- 174 em 1974 ,o Exér- tocas e seus ninebos durante a noite, para se re- ficiando não só as comunidades indígenas ali
cito Brasileiro temendo represália dos índios produzirem e caçarem, completando o ciclo bio- habitantes como também toda a humanidade.
aos transeuntes da rodovia, e por saber que os lógico da vida. A circulação sem restrição de veí- Anexo fotos da sinalização ambiental da BR- 174
Waimiri Atroari sempre foram contrários a sua culos quebrará em escala maior estes ciclos, po- nos limites da Terra Indígena Waimiri Atroari.
instalação dentro de suas terras, só permitia, e dendo comprometer todo o processo da vida ani- É a nossa informação.
isto, SOMES TE DURANTE 0 DIA, a circulação de mal da região que é bastante representativo. Assina a carta datada de 17/07/2000, Marcilio de
,
veículos em forma de comboio guiados por via- Por outro lado, pela situação ainda conflituosa Sousa Cavalcante, gerente do PWA. (ISA, out/ÜO)
ISA A £ GLN T E C £ U
üflÉf
da Baliza, a cem km do local. Embora a região da pretendida TI Wai-Wai, feito pela Funai, está justificativas de demarcações. A Funai é acusa-
seja habitada pelos Wai-Wai os depósitos estão
,
cheio de mentiras. O relatório citado foi feito da de ter aumentado abusivamenle a área pre-
fora da área indígena, segundo João Orestes dos pelo antropólogo Noraldino Vidra Cruvinel. “Ele tendida, que era calculada em 1983/86 em 330
Santos, diretor da CPRM. (JB, 03/06/96) é mais um dos que estão contribuindo para a mil ha. A contestação do Estado cita uma lista
entrega da Amazônia para as nações ricas”, disse de 68 famílias na TI Wai-Wai, contra 21 mora-
... MAS LOGO DESMENTE Mecias. O relatório estima que a área ocupada dores não-índios relacionados no relatório da
pelos Wai-Wai é de 405 mil ha, que podem no Funai. (Folha de Boa Vista, 18/08/99)
O superintendente regional da CPRM, Fernando futuro se transformar em mais uma reserva in-
Pereira de Carvalho, chegou ontem a Boa Vista
em MILITAR É ACUSADO DE
dígena Roraima. O deputado chama a aten-
em entrevista coletiva concedida na Assem-
e,
ção para as inverdades contidas no relatório, DESRESPEITO POR TUXAUAS
bléia Legislativa do Estado, negou a informação como a referência à inexistência de população
da existência de uma jazida de ouro ao sul de RR. Três tuxauas da etnia Wai-Wai, acompanhados
não-índia na área antes de 1980. Tal afirmação
O geólogo João Orestes dos Santos, que conce- do procurador da Funai em Roraima, Wilson
levará centenas de famílias que moram na área
deu a entrevista que gerou a polêmica, informou Précoma, estiveram ontem na Folha para repu-
pretendida a serem classificadas pela Funai
ter havido um mal-entendido. Orestes disse que diar matéria publicada em 26/08/99. Dizem que
como "ocupantes de má fé”. “Em 1984, a re-
não afirmou nada sobre a descoberta da jazida.
as afirmações feitas por Ahiuf Bantel (oficial da
gião já era habitada por centenas de posseiros”,
Durante reunião na Assembléia, os deputados reserva da Aeronáutica) quanto à origem deles
afirma Mecias. (Folha de Boa Vista, 16/08/99)
presentes - Medas de Jesus, Berinho Bantin e são inverídicas. Os Wai-Wai reivindicam o au-
da por que a BR-174 estava interditada. (O Diário provisório, contra o processo de demarcação trutura de apoio para missões religiosas ame-
de Roraima, 15/06 e folha de Boa Vista, 15 e da TI Wai-Wai, que envolve terras de vários mu- ricanas posteriormente instaladas na região. Na
17/06/96) nicípios no sul de Roraima. O procurador de década de 60 os missionários teriam atraído
,
Justiça do Estado, Luciano Alves Queiroz, de- Wai-Wai residentes na Guiana e Suriname, para
DENÚNCIA CONTRA nuncia que existe “uma usual estratégia da Funai o território brasileiro.
em usar empregados subalternos, no sentido de Naquele período, segundo Bantel, índios da al-
CANDIDATO DERROTADO
reunir micro-regiões de Roraima, sacrificando deia Ganashen eram hostilizados por aqueles
O candidato derrotado, por apenas um voto, à áreas devolutas estaduais e posses de não-índi- da aldeia Tiriós. Para evitar os conflitos
prefeitura de São I.uiz de Anauá, João “Rico" os, para formar grandes áreas indígenas." intcrétnicos os evangélicos atraíram os índios
Nunes, está sendo acusado de ter feito ameaças Queiroz diz concordar com a necessidade de para a região do rio Anauá, onde vivem hoje.
de morte e incendiado malocas de índios Wai- se demarcar terras na área em questão, mas Os tuxauas dizem que a versão de Bantel é equi-
Wai. Os denunciantes, o tuxaua Paulo Wai-Wai não aceita a extensão pretendida. Defende o vocada. Afirmam que os índios sempre habita-
e outros dois índios, disseram ainda que João desdobramento em áreas menores, tanto para ram aquelas terras. Explicam que antes da co-
Rico, como é conhecido, tomou uma canoa e os Wai-Wai, como para os Mawauyana, Xeréu e lonização pelo homem branco, seu povo era
um motor de popa doado aos índios em troca outros. Segundo ele, “a atuação da Funai cum- formado por oito pólos na região que chamam
de votos. A pedido do procurador da República pre exigências de poderosos grupos internaci- de “way-way yelton komo" (terra dos Wai-Wai
em RR, Osório Barbosa Sobrinho, será aberto onais, fazendo surgir ocupações supra-nacio- e outros), boje pertencente a República da
um inquérito policial para investigar o caso. O nais ou a neutralização da soberania nacional Guyana, Suriname e Brasil. Com a divisão pofi-
advogado do político derrotado, Alcir da Ro- na extremidade norte do país. 0s funcionários tica destes países, o povo deles foi separado.
cha, disse estranhar a acusação considerando-
,
da Funai unem grupos indígenas diferentes, em Mesmo assim, nunca deixou de ocupar as anti-
a uma bobagem, (folha de Boa Vista, 17/10/96) cultura, usos e costumes, numa demonstração gas aldeias, (folha de Boa Vista, 13/10/99)
A TLÂ N TICO
OIAPOQUE.
GUIANA
do
[."CASO ORANCf
IOÀ/PIUI
iIACÂ iipioca
iRivyoAH
UH A DE
mim
)
> Acervo
ISA
AMAPA/NORTE DO PARA
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (nfl , fonte, data M
106 Gatíbi Karipuna do 568 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 6.689 Oiapoque AP Calha Norte. Faixa de fronteira,
Amapá DôC. 87.844 de 1982 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral.
Galihi (üGU, 22/1 1/82). Heg. SPU PA-71 em 12/12/83. Rodovia planejada AP-310
Reg. CRI Matr 01, Liv 02, fl. 01 em 10/10/83. planejada.
152 Juminá Galibi Marworro 129 Funai:99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 41.601 Oiapoqus AP Calhe Norte. Faixa de fronteira,
Karipuna do Amapá DeC. s/r de 21/05/92 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral.
administrativa (DOU, 22/5/92). Reg. CRI Matr. 17, Rodovia planejada AP-220
Liv. 2 fl. 17 em 16/09/92. Reg. SPU Cart. 02 em 20/03/95. planejada.
218 Nhamundá-Mapuera Xereu 2.376 Funai: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.049.520 Oriximiná PA Calha Norte. Requerimento e
Karafawyana Dec. 98063 de 17/08/89 homologa o demarcação Faro PA slvará de pesquisa minerai.
Katuena (DOU, 18/08/89}. Reg. CRI de Nbamundá (191.520 ha) Nhamunoá AM Hidrelétricas planejadas: Carona,
Katuena Matr. 556 Liv. 2-C, fl. 176. Reg. CRI de Faro (322.000 hei. Nhamundá e Cachoe :
ra Porteira.
Mawayana Matr. 1.030, Liv. 2-A, 11. 230 em 15/06/9C, Reg. CRI
Hixkariana Oriximir.á (538.000 ha) Matr. 1029, Liv. 2-A,
Kaxuyena Wai Wai ft. 229 em 15/06/90. Reg. SPU Cert. 11 de 21/09/90.
272 Ria Paru D'este Wayana Aparai 134 Funai:99 Homologada. Reg. CRI. 1.185.765 Monte Alegre PA Calha Norte. Faixa de fronteira.
Decreto s/n de 03/11/97 homologa a demarcação Alenquer PA Requerimento de pesquisa mineral/
(DOU, 04/11/97}. Reg. CRI em Monte Alegre Almeirim PA Garimpo não indígena.
Mat. 4.548, Liv. 2-R, fl. 50 em 03/04/93. Reg. CR!
em Alenquer Matr. 28556, Liv. 2-J, fl. 166 em 03/06/98.
323 Parque Tiriyó 1.340 Faiardo: 99 Homologada. Reg. CRI. 3,071.057 Óbidos PA Calha Norte. Faixa de fronteira.
Tumucumaque Wayana Aparai Dec. s/r. de 03/11/97 homolcga a demarcação Laranjnl do Jari AP Requerimento e alvará de pesquisa
Kaxuyana (DOU, 04/11/97}. Reg. CRI em Laranjal dn Jari Mair. 13, Oriximiná PA mineral/Garimpo não-indígena.
Aícrio (isolados) LÍV.2-A, fl. IS em em Alanouer
21/11/97. Reg. CRI Alenquer PA Isolados Akurio. Hidrelétrica
Matr. 2.854. em 03/06/98. Reg CR! am Óbidos
Liv. 2-J, Almeirim PA planejada. Rodovias planejadas.
Matr. RI -2100, Liv. 2/flG, fl. 2100 em 18/11/97. BR-163 e BR-210.
Reg. CRI em Oriximiná Matr. R1/338, Liv 2-G,
fl.185 em 21/07/98
324 Uaçá 1 e II Galibi Marworno 3.665 Funai: 99 Homologada. Reg, CRI e SPU. 470.164 Oiapoque AP Calha Norte. Faixa de fronteira.
Palikur Dec. N.298 de 29/10/91 Homologa a demarcaçao Requerimento de pesquisa mineral/
Karipuna do Amapá (DOU, 30/10/91}. Reg. CRI Matr.. N. 16, Liv. 2, Garimpo mdfcena. Rodovia BR-156/
fl,.16 em 06/03/32. Reg. SPU Cert 01 em 17/02/95. 3 corta a área. Rodovia planejada
AP-230. O Parque NaC. Cabo
Oranga Incide aproximadamente
66.853 ha na TI.
339 Waiãpi Waiãpi 525 Gallois; 99 Homologada Reg. CRÍ e SPU. 607.000 Laranjal do Jari AP Calha Norte. Fana de fronteira.
Decreta de 23/05/96 homologa a demarcação Amapari AP Requerimento e alvará de pesquisa
(DOU, 24/05/961. Roo. CHI em Amepsrl Matr. 001, mineral/Garimpo indígena e não
Liv. 2-RG, fl. 01 em 31/03/97. Reg. CRI em -indígena. Perimetral Norte corta a
Laranjal do Jari Matr. C04, Liv. 2-A, fl. C06 área. Rooovia planejada AP-160.
em 20/12/96. Reg. SPU Cert. s/n em 25/04/97
379 Zo'é Zd'b Ingarune 178 Funai: 98 Identificada/Aprcvãda/Furai. 624.000 Óbidos PA Calha Norte. Faixa de fronteira.
(isolados) Sujeita a contestação. Alenquer PA Isclados. Hidrelétricas p anejadas:
Port. Funai 309 de 97 cria GT p/ estudos e Armazém, Paciência, Mel,
identificação. Despacho do prcs. da Funai, Cara pana.
aprovando o estude de identificação (DOU, 03/1 2/99).
POVOS INDÍGENAS MO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ /MORTE DO PARÁ 373
Acervo
_//\C ISA
374 AMAPÁ /NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL
,
Acervo
ISA
OS QUATRO POVOS INDÍGENAS QUE VIVEM apoio, uma no curso médio do rio Paru de Leste e outra nu Alto
NO PARQUE TÊM ACESSO A MEIOS DE Paru de Oeste, desencadeou um processo de centralização da po-
pulação indígena da região, que teve seu auge no início dos anos
COMUNICAÇÃO E CONTAM COM NOVAS
70, com uma paisagem dc praticamente dois núcleos populacionais
OPORTUNIDADES DE CONTATO
concentrados nas sedes das missões, sendo uma protestante, no
rio Paru de Leste, e outra católica, no Paru de Oeste. Ao longo dos
A homologação do Parque Indígena do flimucuinaque represen- anos, porém, os índios voltaram, gradualmente, a retomar seus
tou uma conquista de fundamental importância para os Wayana, antigos locais de moradia, bem como a criar novos lugares, prín-
Aparai, Tiriyó e Kaxuyana. Entretanto, o decreto qne homologava a cipalmente próximos aos dois centros locais, que dispõem de pis-
respectiva demarcação, publicado em 4 de novembro de 1997, no ta de pouso, sistema de radiocomunicação, enfermaria, escola e
Diário Oficial da União (DOU) de n° 213, só não foi amplamente entreposto de comércio de bens de consumo básicos (como sal,
festejado pelo simples, mas nem por isso menos grave, fato de que açúcar, panos, munição e outros), buscando assim, conciliar a
nele não constava o direito de posse permanente aos Tiriyó e opção por morar em grupos menores com o desejo de acesso fácil
INDIGENISTA NA REGIÃO
Na faixa oeste, de população predominantemente tiriyó e kaxuyana,
O caso descrito acima aponta o forte vínculo, na região, entre os entre os anos 60 e 80, a assistência foi dividida entre a FAB e a
índios, a FAB e a Funai. É importante lembrar que a política Missão Franciscana, da Província de Santo Antônio/PE. Somente a
indigenista estabelecida na região a partir da década de 60 foi, partir dos anos 80, a Funai passou a ter atuação direta na região,
inicialmente, idealizada nos moldes dos chamados “trinômios" prestando auxílio complementar de pessoal na parte de cnferma-
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCI0AWIB1ENTAL AMAPÁ/ NORTE 00 PARÁ 375
Acervo
—
//\' I SA
gem e odontologia. Também na década do 80, a Fundação Nacional adquiriu um caráter complementar à assistência prestada pelos
de Saúde (Funasa) assumiu as vacinações que, até então, eram rea- missionários e militares instalados no Parque. Em 994 1 surgiu uma
lizadas pelo Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas (Susa) e por equi- nova fonte de apoio, o Governo do Estado do Amapá que. na ges-
pes do Instituto Evandro Chagas e do Instituto E. Barreto, de Belém. tão de João Alberto Capiberibe, iniciou uma série de convênios,
principalmente nas áreas de saúde, educação e transporte. A prin-
A ação dos missionários católicos entre os Tiriyó e Kaxuyana, des-
cípio, esses convênios foram estabelecidos com a Funai de Macapá.
de seu início, nos anos 60, caracterizou-se por aliar o trabalho
Em seguida, essa nova fonte motivou o surgimento da Associação
catequético à organização da assistência sanitária e educacional,
dos Povos Indígenas do Parque de Tumucumaque (Apitu), para
bem como ao desenvolvimento de um programa de capacitação
onde foram transferidos os convênios do governo do Estado.
dos índios para formas de trabalho não-indígenas, como criação e
comércio de gado, plantio de arroz, feijão e frutas de outras regi-
cadas, até que no início dos anos 90 sensíveis mudanças começa- A Terra Indígena Parque de Tumucumaque. Immologada em 1997.
ram a ocorrer. A morte de um missionário que desempenhava um localiza-se ao norte do Pará e noroeste do Amapá, na região em
papel importante no êxito da Missão, frei Cirillo Haas, não é unica- que o Hrasil faz fronteira com o Suriname. Compartilham desta
terra os índios Aparai. Kaxuyana, Tiriyó e Wayana, todos falantes
mente responsável pelas mudanças advindas, mas, de qualquer for-
de línguas caribe.
ma, marca o início de um novo período na faixa oeste do Parque.
O Parque de Tumucumaque. com 3-071.067 ha. e atravessado longi-
Durante a chamada "Fase Missionária" no Dimucumaque, que é
tudinalmente por duas hacias fluviais: uma. que tem por rios princi-
possível circunscrever ao período que vai de 960 a 990, os
1 1 índi-
pais o Paru de Oeste e o Marapi; e a outra, o Paru de Leste e o Citaré.
os estiveram oficialmente sob jurisdição da Delegacia Regional da Atualmente, os grupos indígenas que habitam o Parque constituem
Funai de Belém. Em com apoio financeiro do projeto Calha
1990, basicamente dois conjuntos populacionais, localizados em cada uma
Norte, foi construído um novo ponto de apoio, em uma nova sede destas bacias. Os Tiriyó da tremia Paru de Oeste/Marapi. juntamente
regional da Funai, não mais em Belém, e sim em Macapá (AP), em com os Kaxuyana. distribuem -se em torno do médio e alto curso des-
razão da melhor localização desta cidade, para efeitos de apoio ses rios e perfazem em tomo de 850 pessoas. Na bacia Paru de Leste/
ao Parque. Citaré, cerca de 75 índios Tiriyó encontram-se predominantemente
logístico
na cabeceira, enquanto os Wayarut e Aparai, /terfazendo em tomo de
De fato, com esta mudança, a Funai assumiu uma presença que até 415 indivíduos, habitam seu médio curso. No total, estima-se, para o
então não tinha, mas, por falta de recursos próprios, seu apoio Parque, uma população de, aproximadamente, 1340 pessoas, (set/00)
Reunidos na sede
da Apitu, índios
discutem o projeto
de fiscalização do
Tumucumaque.
1998
GRUPIONI
B.
DONISETE
LUÍS
376 AMAPÁ /NORTE D0 PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
MUDOU NA ÚLTIMA DÉCADA? pelos missionários. Na faixa oeste do Parque, por exemplo, com o
apoio logístico da Aeronáutica, a Missão Franciscana encarregava-
É no bojo de tais mudanças que os índios do lúmucumaque move- se de assistir a população local em praticamente todos os setores.
ram-se na última década. Na prática, viu-se o surgimento de novos Para tanto, contava com uma ampla infra-estrutura de instalações
interlocutores indígenas, munidos de novas estratégias de relacio- e equipamentos, cuja manutenção e usufruto dependia do traba-
namento com os segmentos da sociedade envolvente que passa- lho indígena, remunerado pelos missionários, garantindo uma fonte
ram a amar no Parque, com programas de intervenção, tanto vol- alternativa de dinheiro, além da venda de artesanato e/ou produ-
tados para as áreas de saúde e educação, quanto para busca de tos nativos a visitantes esporádicos. Também na faixa leste do Par-
alternativas econômicas e defesa territorial. Os mais velhos conti- que, porém com uma infra-estrutura mais simples, algumas roti-
nuam sendo consultados e tendo suas opiniões respeitadas. As co- nas se consolidaram com a presença direta dos missionários do
munidades locais são mais requisitadas a participar e se envolver, SIL, durante os anos 60 e 70, e esporádica, nos anos 80.
mas a complexidade dos assuntos e a barreira da língua acabam
por limitar aos poucos bons falantes do português o domínio dos Entretanto, ao longo da década de 90, o apoio logístico da MB,
novos assuntos. que antes era diversificado, foi diminuindo, restringindo-se, prati-
contramos os índios em pleno processo de construção de repre- balho” implantados e, sobretudo, a ação de novos agentes, princi-
sentações sobre um universo de novas informações, novos atores palmente da Funai e do Governo do Estado do Amapá, contribuiu
e novos estilos de intervenção que lhes chegam, a todo momento, para um descentramento dos índios em relação às Missões e para
direta ou indiretamente. uma diversificação em suas fontes de assistência e recursos.
Quem conheceu o Tumucumaque, no início dos anos 90, certa- Atualmente, na faixa oeste, a Missão Franciscana continua presen-
mente pôde verificar que em ambas a faixas do Parque, os índios te, mantendo sua infra-estrutura de apoio e o trabalho catequético.
encontravam-se, em maior ou menor grau, localizados em torno Na faixa leste, outras missões protestantes se fazem indiretamente
das duas aldeias-sede de cada uma das Missões atuantes na área e presentes, através de alguns dos próprios índios da região e arre-
vivendo um cotidiano em que os afazeres domésticos e rituais eram dores que assumiram o papel de “pastores indígenas”. Mas, para-
organizados de acordo com as atividades e demandas promovidas lelamente, assiste-se ao surgimento de uma nova fase no Parque,
Tiriyó na Missão.
1996
GRUPIONI
B.
DONISETE
LUÍS
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIQAMBIENTAL AMAPÁ /NORTE D0 PARÁ 377
,
Acervo
-V/£ 'SÁ lais pautada predomínantemente por um indigcnismo de base Sem entender direito por que, de um dia para outro, seus agentes
missionária, mas por ações coordenadas pela Funai e, sobretudo, de saúde ficariam sem remuneração, as comunidades indígenas
pelo Governo do Estado do Amapá. foram informadas pelos servidores da Funai de Macapá, de que se
tratava de uma maneira encontrada pelo Governo do Estado de
repreender a Funai por esta ser contra o trabalho do CTI, organi-
A AIDS E OS DESCOMPASSOS
zação não-governamental que, segundo acusações daquela Admi-
DA ASSISTÊNCIA nistração, promoveria atividades de garimpo clandestino nas ter-
Apesar de conviver com programas de assistência implantados pe- ras dos Waiãpi (ver artigo de Angela Scbwengber neste capítu-
los missionários e militares e deles usufruir, os povos do lo). Em decorrência desses acontecimentos e desse tipo de pensa-
lúmucumaque permaneciam pouco conhecidos e praticamente mento, os Tiriyó e Kaxuyana passam a endossar os boicotes da
ausentes do cenário em que o movimento indígena se organizou e Funai local aos trabalhos de quem quer que seja que, segundo
conquistou uma série de direitos. É bem provável que virassem o aquela ADR, estivesse a favor do CTI e contra a linha de ação do
século no mesmo anonimato com que passaram por ele, não fosse então administrador da Funai local. Foi assim que uma agente in-
a chegada da Aids entre os Tiriyó. Tal fato levou o Himucumaque dígena de saúde da comunidade tiriyó e kaxuyana desistiu, às vés-
aos principais noticiosos nacionais e a algumas agências interna- peras da viagem, dc participar dc um Encontro dc Saúde Indígena
cionais de notícias (ver box). em Manaus, em agosto de 1997, pois iria acompanhada da con-
sultora da CN-DST/Aids no Amapá, enfermeira Dulcimar dei Castillo
Passado o enorme susto, em março de 1997, causado por um re-
a quai, segundo a Funai, seria ligada ao CTI,
sultado alarmante de 12 soropositivos num universo de 432 amos-
tras, pairam muitas dúvidas entre os profissionais que acompa- Em relação aos desdobramentos da Comissão Estadual de Preven-
nharam o caso, e sobretudo entre os próprios Tiriyó, tendo em ção e Controle das DSTs e Aids, a Funai e Funasa do Amapá foram
vista que os desdobramentos da presença do vírus da Aids na re- convocadas duas vezes para participar de sua instauração, mas
gião não foram tão rápidos e trágicos como se previu no calor das não compareceram, alegando que a assistência à saúde indígena
primeiras notícias, De um modo geral, o susto parece ter alertado não era de competência estadual. De qualquer forma, como havia
o Ministério da Saúde para a gravidade da questão, principalmen- sido definido com os representantes da Funai, Funasa, Programa
te em populações indígenas e em zonas de fronteira. Na prática, Estadual de DST/Aids e representantes indígenas presentes no Se-
porém, o episódio da Aids entre os Tiriyó trouxe à tona a enorme minário de agosto uma agenda de ações para os sete meses se-
dificuldade de articulação interinstitucional existente entre a Ad- guintes, em setembro de 1997 foi encaminhada uma equipe
ministração Regional (ADR) da Funai de Macapá e demais órgãos, multiprofissional responsável pela elaboração de material infor-
governamentais ou não, que se proponham a desenvolver ações, mativo sobre DSTs e Aids nas línguas tiriyó e kaxuyana. De Macapá,
seja nas áreas básicas de assistência, seja em programas econômi- essa equipe deveria seguir para a Missão Tiriyó onde seriam reali-
cos, educacionais ou ligados à defesa territorial. zados os trabalhos junto à comunidade indígena. 0 então adminis-
Foi justamente em razão de tal dificuldade, que a CN-DST/Aids se trador regional da Funai, ao receber a equipe, disse que não tinha
viu impedida de concretizar o programa de ações preventivas, conhecimento daquele trabalho, o que causou espanto e surpresa
planejado durante o “Seminário de Prevenção das DSTs e Aids para em seus integrantes, tendo em vista que os servidores da área de
os Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará", realizado em saúde da Funai local participaram da elaboração da programação
Macapá, no mês de agosto de 1997, com a participação de repre- das ações de prevenção onde essa atividade se incluía. O adminis-
sentantes indígenas e representantes de órgãos envolvidos com a trador esclareceu então que não queria o ingresso da enfermeira
assistência aos povos da região, como Funai, Fimasa, Governo do Dulcimar dei Castillo ,
alegando a cada momento um motivo dife-
Estado, Centro de Trabalho Indigenista e Missão Franciscana. Na rente, ou seja, sem nenhum motivo concreto que explicasse o real
ocasião, em concordância com todos os representantes presentes, prejuízo que uma enfermeira com larga experiência no trabalho
foi constituída a "Comissão Estadual de Prevenção às DSTs e Aids”, de saúde indígena poderia causar à comunidade tiriyó e kaxuyana.
que a partir de então ficaria responsável pelo acompanhamento Deste modo, uma equipe de profissionais contratados pela CN-
constatação de que o emprego dos recursos estava incidindo mais formal sobre o acontecido, embora essa justificativa tenha sido so-
na contratação de pessoal não-indígena para trabalhar em Macapá licitada através de oficio enviado pelo então coordenador da CN-
do que na contratação de agentes indígenas para trabalhar nas DST/Aids. No ano seguinte, em abril de 1998, depois de sete meses
próprias comunidades, como firmava o convênio. sem que nenhuma ação relativa ao acompanhamento e controle
378 AMAPÁ/ NORTE DD PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
y
firmado !>elo Dr Isamu Barros Kanzaki, da Universidade Federa! do casos de DSTs para tratá-los jx>r abordagem sindrômica e iniciar um
Amapá, que, após ter encaminhado para a Universidade de Berkele trabalho preventivo e educativo entre aquela população indígena.
um lote de 350 amostras de sangue colhidas entre os Tiriyó e
Por ocasião da entrega à comunidade indígena dos tão esperados re-
Kaxuyana, a serem testadas para o vírus HTLV, foi informado de que
sultados da sorologia realizada em agosto do ano anterior, as lide-
havia sido casualmente descoberta, em uma amostra, a presença do
ranças pediram que os resultados fossem comunicados individual-
vírus H/V Cabe ressaltar que esta pesquisa do Dr. Kanzaki foi reali-
mente e que, sob hipótese alguma, fossem divulgados para fora das
zada apenas com a anuência da ADR da Funai de Macapá, sem auto-
aldeias, sob 0 argumento de que tinham desconfianças quanto à ve-
rização da Funai de Brasília, e ainda, que as
350 amostras foram
racidade dos resultados apresentados, tendo em vista que já fazia
colhidas e encaminhadas para fora do país
sem o conhecimento do
quase um ano que 0 sangue havia sido colhido e que desde então não
Conselho Nacional de Saúde, conforme as "Diretrizes e Normas
haviam tido mais notícias do andamento dos mesmos. Manifesta-
Regulamenladortts de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos
ram, ainda, seu desejo de quefosse urgentemente encaminhada uma
De qualquer forma, com esta constatação de mais um caso de IIIV+ nova coleta Em decorrência desta insegurança, por parte da comu-
na população tiriyó, a Funai de Macapá incumbe o Dr. Kanzaki de nidade, quanto aos resultados, e do pedido de um noto inquérito
realizar um inquérito sorológico específico para H1V. Em agosto de sorológico, que desta tez cobrisse toda população de cerca de 760
1996, sem comunicara Coordenação Nacional de DST/Aids do Minis- pessoas, a equijre do Ministério da Saúde decidiu não divulgar os re-
tério da Saúde e, mais uma vez, sem que o Conselho Nacional de sultados. nem mesmo para a Funai local, pois eles não poderiam ser
Saúde tomasse conhecimento, foram colhidas 432 amostras. Esta considerados oficiais.De fato, após a nova testagem solicitada, dos
iniciativa da Funai de Macapá esbarrou, porém, em um problema 12 casos positivos, apenas um foi confirmado. De qualquerforma,
operacional: o Henwcentro do Amapá (Hemoap), além de não ter a essa decisão de manter sigilo quanto aos 12 nomes causou uma das
atribuição de realizar testagem para H1V na população ent geral, con- primeiras indisposições da Funai do Anmpápara com a CN-DST/Aids.
forme as “Normas Técnicas para Coleta. Processamento e Transfu-
Cabia ainda a essa equi/ui realizar um diagnóstico situaciona! da
são de Sangue. Componentes e Derivados", não dispunha de kits su-
assistência médica aos índios, em gera I, sob jurisdição da AER da
ficientes para testar as 432 alíquotas e o sangue teve de ficar arma-
Funai de Macapá, e aos Tiriyó e Kaxuyana, em particular, tanto em
zenado à espera de alguma providência.
Macapá quanto na Missão Tiriyó.
das DSTs e Aids tenha sido feita, a consultora da CN-DST/Aids no posta a essa consulta, a comunidade encaminhou um rádio para a
Amapá reuniu-se com as instituições locais para retomar 0 trabalho ADR de Macapá, dizendo que, tanto a consultora da CN-DST/Aids,
de saúde na comunidade indígena tiriyó e kaxuyana, com a devida quanto 0 restante da equipe enviada pelo Ministério da Saúde eram
autorização da Funai/BSB. Eis que desta feita, a ADR local conside- considerados "persona non grata" pela comunidade,
rou que tal autorização não era suficiente, apesar de, em setembro
Consultados sobre 0 conteúdo deste rádio, três lideranças que se
do ano anterior, ter alegado que era de fundamental importância
encontravam em Macapá para participar da Semana do índio em
para seu ingresso na área. 0 administrador disse que precisava con-
nenhum momento confirmaram que mantinham a posição quanto
sultar a comunidade. Para tanto, fretou uma aeronave e foi pessoal-
â consultora Dulclmar dei Castillo e ao restante da equipe. Duran-
mente reunir-se com as lideranças para discutir 0 assunto. Em res-
te 0 Encontro de Saúde, realizado naquela semana, quando nova-
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ/ NORTE DO PARÁ 379
Acervo
-V/flSA
questionados sobre o rádio, disseram, em público, diante não fizeram senão defendê-la a todo custo, seguindo todas as suas
de uma câmera de vídeo que o problema todo surgiu porque o orientações para garantirem seu apoio.
pessoal daFimai disse para eles que Dulcimar teria ligações com o
Assim, em outubro de 1997, alguns representantes indígenas do
CTI e que o CTI não era bom porque garimpava em área indígena.
Tumucumaque foram convidados a participar da inauguração da
Posteriormente, esclareceram o ocorrido em entrevista gravada nova Casa do índio em Macapá e, naquela cerimônia, tiveram a
dizendo o seguinte: “(••) 0 que fizeram com a Dulce, fizeram as- oportunidade de conhecer o então presidente da Funai, Sulivan
sim, mas foi obrigado a dizer,mas não é que isso saiu do coração Silvestre, cujo discurso lhes conquistou. Para deixar os índios do
dos caciques ou do coração da comunidade. Isso saiu de outra Tumucumaque mais contentes, anunciou que sua terra encontra-
boca e entrou na outra boca, para outra boca dizer da Dulce que va-se prestes a ser homologada pelo presidente da República e
não é para rir a enfermeira. (...) Agora as coisas estão paradas, que, quando isso acontecesse, chamaria dois representantes para
nem a Funai, nem o Ministério (da Saúde) vai dar continuidade ao participarem, em Brasília, da cerimônia. Assim, os representantes
trabalho do DST e Aids”. De fato, no lugar das ações interrompi- indígenas voltaram para suas aldeias encantados com o poder e
das, não foram implementadas outras que as substituíssem, dc modo carisma do presidente da Funai e passaram a se considerar, a par-
que, em decorrência disso, tanto os Tirlyó e Kaxuyana quanto os tir dc então, seus protegidos e defensores.
demais grupos indígenas da região continuaram sem atenção neste
assunto e, assim, altamente vulneráveis a uma epidemia de Aids. NOVO GOLPE DA CAMPANHA DIFAMATÓRIA
Em juiho de 2000, os índios do lúmucumaque se riram diante de
A FUNAI LOCAL E A um novo dilema, dessa vez por conta da contratação, pelo Projeto
CAMPANHA CONTRA O CTI Integrado de Proteção das Terras e Populações Indígenas da Ama-
zônia Legal (PPTAL), da assessoria antropológica de Dominique
Ifm forte indício do caráter problemático da ADR da Funai de
Gallois, para coordenar uma equipe encarregada de realizar um
Macapá tem sido dado pela alta rotatividade de seus administrado-
levantamento etnoecológico no Parque. Ao serem consultadas a
res: em dez anos de existência, passaram por ali não menos de
respeito da entrada da equipe na área, as comunidades locais res-
sete. E uma constante, ao longo desses anos, tem sido a sistemáti-
ponderam que não aceitariam a entrada do CTI no Túmucumaque,
ca oposição aos programas de apoio nas áreas de saúde, educa-
evidenciando o quanto associam Dominique Gallois ao CTI e o
ção e alternativas econômicas, que CTI implantou entre os Waiãpi
quanto desconhecem que é por sua competência profissional com-
do Amapá.
provada em outras assessorias já prestadas ao PPTAL que ela foi
A certa altura, todo e qualquer órgão do governo federal e estadu- convidada a desenvolver o referido irahaího. Num dos rádios-res-
al que realizasse convênios ou quaisquer ações conjuntas com o posta, curiosameiite, pode-se ler o seguinte: “Comunicamos a vos-
CTI, entre os Waiãpi, passava, automaticamente, a ter suas ações sa senhoria que nós lideranças do Parque Indígena de
boicotadas nas demais áreas sob jurisdição da Funai de Macapá, lUmucumaquc não aceitamos o ingresso do pessoal do CTI. Infor-
Com estes agravantes, chegou-se a uma situação de paralisia e mamos que nos reunímos para dizer que nunca vamos aceitar.
impasse, em que a Funai local, consumida pelos conflitos com o Lideranças e comunidades desta área.” (Rádio n, 032/Apalaí,
CTI, por um lado, não conseguia atender satisfatoriamente às de- 10/07/00)
mandas de assistência aos índios sob sua jurisdição e, por outro
Ao que tudo indica, mesmo que a Funai de Macapá cesse sua cam-
lado, impedia que outras agências o fizessem, sob o argumento de
panha difamatória, ainda levará uni tempo até que os índios do
vínculo direto ou indireto, deslas com o CTI, deixando os índios à
Parque consigam se desvencilhar da imagem fantasmagórica culti-
mercê desses conflitos.
vada anos a fio cm torno do CTI, Este processo parece guardar
Com efeito, principalmente nos últimos cinco anos, foram vários semelhança com um outro que remonta à virada do século XIX,
os profissionais que se riram impedidos de exercer seu oficio de quando a população indígena da região, de quem descendem os
assistência e assessoria às comunidades indígenas do Amapá e norte atuais habitantes do Parque, temia entrar em contato com os bran-
do Pará, para não falar dos pesquisadores que passaram por cos. Tal receio, na época, era incitado pelos negros refugiados das
Macapá, sem pisar nas áreas indígenas, por serem alunos de Guianas, os mekoro, parceiros com quem trocavam produtos na-
Dominique Gallois, na Universidade de São Patúo (USP), num fla- tivos por industrializados, e por quem eram influenciados a temer
grante empenho de cerceamento à pesquisa lingiiística e antropo- e evitar qualquer contato com brancos, viessem estes da Costa Atlân-
lógica na região. tica ou do Sul.
Os índios do Parque, por sua vez, cada, vez mais alertados sobre, Conforme alardeavam os mekoro, os brancos só estavam interes-
supostas ameaças que estariam rondando a Funai local, sobre o sados em matar os índios e roubar suas terras. Sob tais ameaças,
perigo de que esta, fosse vencida por forças que a criticam porque ficava assegurado o monopólio dos negros no comércio que man-
querem acabar com ela, e temerosos de ficar sem a Casa do índio tinham com a população indígena da região. Os descendentes des-
que, na época, lhes hospedava em Macapá, compreensiveltnente, sa população foram superando, no decorrer deste século, seus
3B0 AMAPÁ/ NORTE 00 PARÁ POVOS INDÍGEMAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Achefõ Ttriyó,
Nos últimos anos, não se diz mais aos índios do Tumucumaque
cacique da
aldeia Pedra
que eles devem temer os brancos em geral, mas sim, que eles de-
Yonarè Tiriyó,
lados em um maior número de aldeias, mais motores de popa
cacique da transitando e mais aldeias espalhadas ao longo dos rios, mais di-
aldeia Paruaka,
nheiro circulando e mais bens de consumo industrializados en-
uma das
principais trando no Parque. Na paisagem das aldeias principais destaca-se a
lideranças tiriyó. proliferação das parabólicas; na vida diária, destaca-se uma nova
distribuição dos afazeres entre as atividades domésticas e as ativi-
dos anos 80. Ecos dessa nova concepção chegaram aos índios sob
a forma de novos juízos sobre a polídea de “aculturação dirigida”
com a qual estavam familiarizados até então. A respeito da política
anterior ouvia-se que era de caráter paternalista e promotora da
dependência indígena e a esses termos seguiam-se muitos pontos
de interrogação. Entender o que era paternalismo tornou-se um
dos primeiros desafios para que os índios do Parque pudessem
compreender o motivo das transformações no tipo de relação que
os novos agentes se dispunham a estabelecer. Desafio que não está
vencido, mas que se atualiza a todo momento em que os índios se
aqueles que levaram os índios do Tumucumaque, há um século, a Influenciados por transformações e questionamentos em torno do
temer os brancos; nessa última década, o pessoal da Funai de estilo de intervenção desenvolvido nos tempos do “trinômio”, os
Macapá, que os Tiriyó chamam defumiton, vem, de certa forma, missionários da faixa oeste entregaram para os índios, em meados
exercendo papel semelhante ao que um dia os mekoro exerceram dos anos 90, a administração da loja da Missão e dos retiros de
na vida daqueles grupos indígenas: o de querer monopolizá-los, gado, incluindo a comercialização interna e externa da carne. As
procurando isolá-los sob a alegação de que os outros são perigo- escolas do Parque, bem como a formação e remuneração dos pro-
sos e prejudiciais. fessores indígenas, foram assumidas pelo Núcleo de Educação In-
382 AMAPÁ /NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199B/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
-O Acervo
_/> ISA
OS ÍNDIOS DO CUMINAPANEMA INTERAGEM meta perseguida pelas antropólogas. Nesse sentido, o esforço do
COM NOVOS ATORES PARA CONVERTER GTcentrou-se na elaboração, com a participação dos índios, de
SUA ÁREA DE OCUPAÇÃO TRADICIONAL uma nova noção de "limite” adequada à sua realidade sociocultural.
EM "TERRA INDÍGENA" DEMARCADA
ISOLADOS?
Entre 1996 e 1998, as antropólogas Dominique Tilkin Gallois e Ainda que a Funai continue a defini-los insistentemente como "ín-
Nadja Havt Bindá, do Núcleo de História Indígena da USP, enfren- dios isolados”, a experiência de delimitação de sua terra implicou
taram um grande desafio: coordenar o Grupo de Trabalho (GT) um movimento inevitável de interlocução com a sociedade
designado pela Funai (Portaria n“ 309/PRES/97) para a identifica- envolvente. Ao se verem sob a necessidade de demarcar uma terra
ção e delimitação da terra dos Zo’é, grupo monolíngüe contatado sob critérios constitucionais, os Zo’é tiveram também de se ver
pelo órgão indigenista em 1987. como "índios”, o que representou para eles uma grande novidade.
ções, mas a compreensão e o aprendizado de categorias estranhas que determinam um modo tradicional de ocupação do espaço”.
ao seu universo cultural. Assim, a concepção de território para esses índios não se limita a
critérios puramente espaciais, antes deve ser buscada no
mapeamento de uma vasta rede de relações intercomunitárias.
TERRITORIALIDADE
O processo de territorialização para os Zo’é é o resultado da ma-
Até 1998, a área de ocupação Zo’é estava contida na Terra Indíge- neira como eles se organizam e regulam o acesso ao espaço e seus
na (TI) do Cuminapanema/Urucuiana, de 2.059-700 ha, interdita- recursos. O grupo local regula o acesso aos recursos ambientais,
da desde 1987 e que incluía regiões ocupadas por remanescentes apropriando-se de determinadas áreas. A referência principal não
do quilombo do Erepecuru. O esforço de identificação e delimita- é a habitação, mas a roça, que são classificadas como ativas (kiatu)
ção de uma área propriamente Zo’é passou, entre outros fatores, ou não ativas ( taperet). O grupo local não é definido pela ocupa-
pela garantia da contigiiidade de limites entre áreas de ambas po- ção propriamente dita de um espaço, mas pela história de um lu-
384 AMAPÁ /NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
•^4/4* Acervo
//\V I SA
Mapa desenhado pela família de
Sowari, indicando aldeias,
acampamentos e percursos na
porção norte e leste da área.
Fonte: Relatório de Identificação
da Terra Indígena Zo'é.
Gopyrlgtited material
No Relatório de Identificação, eles foram descritos da seguinte O FUTURO DOS ZOÉ NA “TERRA INDÍGENA”
maneira: "Partindo da cabeceira do igarapé da Raia Branca, aflu-
Segundo as antropólogas, a identificação da Terra Indígena Zo’é
ente do Erepecuru, segue-se o curso deste até o rio. O limite pros-
pela Funai deve ser vista apenas como um começo e, para o suces-
segue subindo o Erepecuru até o Igarapé da Batata, tomando o
so dessa iniciativa, deve ser configurada uma política de assistên-
rumo da sua cabeceira até o divisor de águas entre o Erepecuru e
cia capaz de atender às necessidades urgentes dos índios. Em pri-
o Kiãre. 0 limite leste acompanha o curso do Kiã’re e, depois, do
meiro lugar, é preciso reavafiar as intervenções de tipo "protecio-
Cuminapanema, Aproximadamente sete km a jusante da confluên-
nista”, que insistem na idéia de um isolamento absoluto. Mais que
cia Cuminapanema com o Tarari ultu, deve-se tomar rumo sudo-
proteger e isolar, cabe à política de assistência promover a partici-
este ate alcançar o curso do primeiro igarapé com direção W-E,
pação dos índios no processo de demarcação física e de geren-
imediatamente ao Sul da pista da Missão. Seguindo esse igarapé
ciamento ambiental de sua terra, que ainda está por vir.
até sua cabeceira, chega-se à cordilheira onde estão as cabeceiras
do Raia Branca". Faz-se necessário atribuir aos índios a capacidade de ter acesso ao
Waiãpi e CTI:
Uma Parceria Ameaçada
“Nós estamos lutando naquele caminho mesmo. Para nós não bem como a formação de adul-
escolas e enfermarias de suas aldeias,
,
A parceria entre os Waiãpi do Amapari e o Centro de Trabalho De 1993 a 1996, a campanha de boicote à parceria entre os Waiãpi
Indigenista (CTI ) tem sido, desde 1993, alvo de boicotes e de cam- e o CTI foi protagonizada por garimpeiros apoiados por Antônio
panhas difamatórias. Desde o início da década de 1990, com o Feijão (geólogo, ex-presidente da União dos Garimpeiros do Amapá
apoio da antropóloga Dominique Tilkin Gallois, o CTI desenvolve e hoje deputado federal) e Socorro Pelaes (então prefeita do mu-
um programa com múltiplas ações, cujo objetivo é contribuir para nicípio de Amapari/,AP) Estes articularam
. uma série de denúncias
o fortalecimento da autogestão e do desenvolvimento sociocultural e boatos falsos contra o CTI para tentar impedir a demarcação da
deste povo, atendendo às suas demandas e garantindo a sua parti- TI Waiãpi, já que isso tornaria ilegal e significaria mais um blo-
cipação permanente. Atualmente, os Waiãpi totalizam 525 pesso- queio às invasões garimpeiras, constantes naquela área. O tom das
as, distribuídas em 24 assentamentos, com postos de assistência falsas denúncias era de que o CTI escravizava os índios e apropri-
em cinco aldeias-base. A parceria com o CTI atende a todos os ava-se do ouro garimpado por eles. Mas estas foram desmentidas
grupos locais da área (ver box). veementemente pelos próprios índios.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ/ NORTE DO PARÁ I 3S7
Z* Acervo
//çC 1 SA
A TI Waiãpi foi demarcada e homologada em maio de 1996. Foi porções incomensuráveis a partir de 1996. O ápice foi em agosto
sobre o projeto de "Recuperação de Áreas Degradadas por Garim- de 1997, quando uma Ação Civil Pública (ACP) - hoje reconheci-
po", programado para o início de 1997, que sobreveio a segunda da pela própria justiçacomo se ressentindo de "acentuados as-
parte da campanha difamatória (ver box). pectos políticos, sociais, econômicos e até ideológicos” e como
dos Projetos Demonstrativos/Amazônia - PD/A. do Ministério do Meio em uma área ilegrailada fmr garimpo através de procedimento ga-
rimpeiro tecnicamente adequado para desenvolver metodologia e
Ambiente, sua implantação, a ser realizada ao longo de 24 meses, foi
suspensa na sequência da campanha deflagrada contra o CTI e o treinamento concomitante com a recuperação da área. O método
inclui desmonte hidráulico, sucção de polpa e concentração granítica.
Apina. Uma decisão judicia! recente foi favorável à execução desse
projeto, que agiuirda ainda consolidação. Um protótipo iniciai poderá sofrer adequações durante o desenrolar
dos trabalhos. Pretende-se lavar o ajeito e o cascalho remanescente,
O alvo inicial do projeto é a recuperação ambienta! de trechos da recuperando o máximo possível de ouro e mercúrio, refazendo-se a
bacia do igarapé Aimã, no coração da TI Waiãpi, intensamente ocu- topografia para revegetação orientada.
pada petos índios. A execução do projeto deve garantir a participa-
ção intensa de equipes indígenas de diversos grupos tocais e a conti- Em resumo, trata-se de consolidar uma nova orientação rui ativida-
nuidade do controle que estes exercem sobre os recursos naturais de de garimpeira realizada por estes índios hd muitos anos - e evitar a
seu território. O trabalho a ser realizado, em caráter piloto, para a multiplicação de pequenos garimpos explorados familiarmente, que
despoluição do igarapé Aimã, fmderáfuturamente ser adequado fuira serão reconduzidos num trabalho coletivo de escala de despoluição
a recuperação de outras zonas degradadas (sul e teste da TI), num de uma área degradada, com produção secundária de ouro arti-
formato de auto-gestão peta comunidade indígena. A ca/iacitação culando esta atividade ao sett atua! esforço na implantação de plan-
dos Waiãpi para a gestão dos recursos resultantes da produção se- tios agroflorestais nas picadas ila demarcação (consórcios de cupuaçú
cundária de ouro aluvionar e sua comercialização deve se dar na e pupunha. com viveirosfamiliares e central). Éjustamente peta sua
forma de investimentos capazes de atender demandas coletivas, sob escala não-familiar que essas atividades produtivas serão capazes
supervisão do Apina. A diversificação concomitante das atividades de fortalecer a experiência de gestão autônoma, principal expectati-
extrativistas e agro-florestais deve se dar numformato capaz de aten- va dos Waiãpi. (ago/00)
388 I AMAPÁ/ NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1998/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
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guar diante da autonomia que vinha sendo conquistada pelos índi- Durante essa guerra de papéis, os chefes waiãpi, individuahnente
os - por missionários da MNTB - que responsabilizavam o CTI e através do Apina, encaminharam inúmeros documentos, escre-
por sua expulsão, no final de 1995, da área indígena (responsabi- veram cartas para o procurador, para a Funai e para outras autori-
lidade exclusiva da Funai) -e por quatro Waiãpi do grupo local dades, muitas delas jamais respondidas. Fizeram duas caravanas à
Wiririry/Ytuwasu (assistidos até 1995 peia MNTB) que traziam di- Brasília (1997 e 1998) reunindo representantes de todas as aldei-
vergências históricas com as demais aldeias. as Waiãpi e buscando ser ouvidos e considerados pcios órgãos
federais competentes. Apresentaram-se voluntariamente e fizeram
Vale notar que. como desdobramento dessa intervenção equivoca-
declarações públicas, pedindo para ser ouvidos pelo procurador,
da do procurador e sobretudo em função da aliança entre políti-
que simplesmente ignorou-os em todos os seus procedimentos.
cos locais, a MNTB c a ADR da Funai em Macapá, esta facção indí-
Essa postura assumida também pelas demais autoridades, em
foi
gena recebeu desses agentes o apoio necessário para formalizar a
especial pela ADR Funai e pela imprensa. Em virtude disso, os ín-
cisão com relação aos demais Waiãpi, registrando em 1998, a As-
sociação dos Povos Indígenas do Triângulo do Àmapari (Apiwata).
dios apresentaram uma Representação ao Corregedor do MPF,
impugnando a tutela exercida e pedindo o afastamento do procu-
Os líderes que representam esta facção (composta de 1 5% da po-
rador de qualquer procedimento legal que envolvesse a defesa de
pulação da área) vinham, há alguns anos, se contrapondo às ações
de controle territorial realizadas pelo Apina em parceria com o
seu povo. Impetraram, também, um Mandado de Segurança com
pedido de liminar contra a decisão liminar do juiz Marcelo Dolzany.
CTI. Por esses motivos, os líderes da Apiwata vêm contribuindo
Além disso, pediram para ingressar como parte ativa na ACP, na
com a referida campanha de difamação, proferindo várias acusa-
condição de réus junto aos seus parceiros, na expectativa de po-
ções infundadas contra o CTI e contra a antropóloga Dominique
der ser ouvidos diretamente sobre a contenda.
Gallois, que geraram inquéritos e processos, em fase conclusão
iniciado por determinação do próprio procurador). 0 relatório que havia proibido acontinuidade das parcerias reviu parciahnente
foi capcioso, desfocando o objeto solicitado e inventando malicio- sua decisão e reconheceu a importância dessas para o bem-estar
saraente a existência de uma pista de pouso onde era uma roça, o dos índios, ordenando a retomada de todas as ações, em exceção
que resultou numa multa do Ibama (que, aliás, não acompanhou do “Projeto PD/A", sobre o qual a contenda continua. Entretanto, o
a equipe) ao CTI. Em agosto de 1997, o procurador abriu uma deputado Antônio Feijão, onipresente e contumaz opositor dos inte-
Ação Civil Pública (ACP), com pedido de liminar contra a Funai, o resses waiãpi, criou focos de boicote na Câmara Federal, na im-
MMA e o CTI para proibir a implantação do PD/A e determinar a prensa e em órgãos públicos federais no Amapá, que resistem até
retirada definitiva dos integrantes desta ONG da área waiãpi. ale- mesmo à decisões judiciais. Tal foi o caso dos funcionários da ADR
gando a “nocividade de sua presença para os índios”. Antes mes- da Funai, que conturbaram e impediram, até outubro dc 1999, a
mo de instaurar a ACP, o procurador havia requerido também a plena retomada das parcerias. Partiu deles a iniciativa de acionar a
abertura de inquérito policial contra Dominique Gallois, por cri- Pohcia Federal para retirar da área à força os técnicos do CTI, logo
me de difamação, que virou processo, do quaf a ré foi absolvida após a primeira decisão liminar da ACP. Os Waiãpi denunciaram
no inicio de 2000. inúmeras vezes esses funcionários, exigindo o seu remanejamento.
Em 29 de agosto de 1997, o juiz federal Marcelo Dolzany da Costa, O deputado Feijão foi também autor de inquéritos policiais, em
na época atuando em Macapá, acatou o pedido de liminar do pro- tramitação, contra Dominique Gallois. Autos desses inquéritos re-
curador sem ouvir as partes contrárias, sem verificar in loco as velam assessoria direta da MNTB e da Apiwata na fundamentação
acusações proferidas e entendendo preliminarmente ser, de fato e de acusações, como prática ilegal de garimpagem, uso abusivo de
de direito, ilegal o garimpo pelos índios em suas próprias terras. imagem indígena e manipulação de lideranças indígenas. Acusa-
Esta questão tornou-se o ponto nevrálgico de todo o processo. ções veementemente desmentidas pelos Waiãpi, vale lembrar.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 389
Acervo
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queio paralelo (porém fundamental) veio da Fmiai nacio- É importante destacar, na scqüência dos fatos da guerra dos pa-
nal, cujos sucessivos presidentes, omitiram-se em anular a portaria péis, a substituição do juiz federal e do representante do MPF em
interna de 15 de agosto de 1997 que havia suspendido os convênios Macapá. Ambos têm se empenhado para reverter a condução do
que viabilizavam as ações do CTI na área Waiãpi. Esta portaria foi caso, atuando em conformidade com a Sexta Câmara e promoven-
uma decisão da então presidente substituta do órgão, que assumiu do uma nova interpretação dos autos do processo. O novo juiz
o cargo em caráter provisório, até que o novo presidente fosse no- deliberou ser o garimpo em terras indígenas feito pelos próprios
meado. Somente em agosto de 1999 a referida portaria foi revogada. índios, atividade legai e constitucionalmente amparada. Além dis-
390 AMAPÁ f NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199B/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
) e ,
WJ 7^- Acervo
^/iWiSoAiyó
fome: Acervo de Luis Donisete B. Grupiom ACONTEC EU )
No ofício encaminhado à Funai, o ministro afir- “O nosso pajé só fazia enganar a gente, dando
mação de professores indígenas e melhoria nas
mou: “Estas instituições vêm enfrentando vári- leite do mato, uma eivas que não curavam nada. condições de ensino”, elaborado pela USP a
os problemas no sou relacionamento com a atu- Por isso que eu quero aprender para ajudar meu pedido da comunidade indígena.
al administração da ADR Funai de Macapá, que
povo a se curar das doenças”, afirma o índio Ao término do curso, os professores Tiriyó e
tem criado dificuldades para o estabelecimen- Kapixaba Apalai. Os monitores estão aprenden- Kaxuyana prepararam correspondência ao mi-
to de parcerias que visem a oferta de progra- do cuidados básicos em situação de emergên- da Educação solicitando apoio à sua for-
nistro
mas de educação escolar indígena de acordo cia, vão fazer aprendizado laboratorial e por fim
mação e informações sobre o funcionamento da
com a política traçada por este Ministério. Tais vão enlrar no setor de internação. Os três índi-
TV Escola. (Luís Donisete Grupioni, nov/97)
dificuldades dizem respeito à não colaboração os, que faiam pouco o português, passam o dia
de chefes de postos indígenas com as equipes no hospital, onde fazem refeições. Eles estão
LIVRO DE LEITURA
educacionais, não parceria da ADR de Macapá alojados na Casa do índio, em Icoaraci.f'0 Li- Na abertura da mostra de filmes “Os Brasis In-
na implantação dos programas apoiados por beral. 06/09/98)
dígenas", no Espaço Unibanco de Cinema (SP)
este Ministério e constrangimentos para o in-
foi lançado o livro de leitura “História do Pei-
gresso de profissionais nas áreas indígenas’’.
PPTAL APOIA ABERTURA XÊ-Tesoura" de autoria dos alunos da escola
(Luís Donisete Grupioni. ago/98)
DE NOVAS ALDEIAS Tiriyó Tuxawa Awiri, da aldeia de Cuxaré. O li-
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DD PARÁ 391
primeira vez e ficou encantado com o modo de tam suspeitas sobre os objetivos de seus traba- Neves admite que sofreu muita discriminação
vida daqueles índios. Com a ajuda do marechal lhos. A última vítima foi a linguista brasileira durante a campanha. “Os brancos diziam que
Eondon, iniciou um programa de pesquisas e Eliane Camargo, pesquisadora do Centre d’Etu- se recusavam a ser governados por um índios”,
uma longa convivência com os índios. Manfred des des Langues Indigènes d’Amérique (Celia/ contou Neves. “Ele ganhou as eleições por cau-
viveu quase 30 anos entre eles, de 1951 a 1979, CNRS) e professora visitante da USP. sa dos índios, que são minoria. O povo civiliza-
chegando a dar nome a aldeia Bonna, dos Aparai, No 24 de junho de 98, Eliane foi retirada
dia do votou no meu candidato” afirmou, ontem de
como homenagem a sna terra natal Durante esse . pela Funai do Parque Indígena do Tumucu- Macapá, a atual prefeita tucana Maria Bezerra.
uma coleção de gravações com
período, formou niaqtie, no extremo norte do Pará, onde estava Além das dificuldades que terá com a popula-
músicas e relatos da história e da cultura oral há dois dias dando continuidade a uma pesqui- ção branca, que desconfia da sua capacidade
do grupo, que estão sendo digitalizadas e incor- sa lingiiística entre os Wayana, iniciada em 1993. de administração, Neves vai ter que enfrentar
poradas ao Internationa) Institute for Tradicio- O procurador Regional dos Direitos do Cida- uma dura oposição na Câmara dos Vereadores.
nal Music, de Berlim, e ao Laboratório de ima- dão no Estado do Pará do Ministério Público O novo prefeito terá apoio de apenas quatro dos
gem Som em Antropologia da USB
e Federal, Ubiratan Cazetta, colheu um depoimen- nove vereadores eleitos. “Vou tentar mostrar aos
Centro de documentação - Em 1995, Man- to da pesquisadora, para análise das providên- brancos que não vou governar só para os índi-
fred, que está com quase 70 anos evivc aposen- cias cabíveis. A Funai de Brasília informou que os", disse Neves, otimista. Prova disso é a com-
tado em Bonn, de onde sai apenas para dar con- sua autorização havia sido assinada no dia 4 de posição de seu secretariado, metade branco e
ferências em universidades da Europa sobre sua agosto, após ter recebido um ofício da ADR metade índio.
experiência amazônica, iniciou um novo proje- Macapá, (Últimas Notícm/tSA, 14/08/98) Acusações e ameaças - Mal foi eleito, Neves
to: utilizar seu acervo para resgatar a tradição já assume num clima de inimizade com a
cultural dos Aparai e criar um Centro de Docu- EQUIPE VAI A ALMEIRIM prefeita. Ele jura que está sendo ameaçado de
mentação das Tradições Orais da Amazônia. SOCORRER OS APALAÍ morte e acusa Maria Bezerra pelas ameaças:
Com a ajuda do antropólogo paulista Tiago de “Ela disse que eu até poderia me eleger, mas
Oliveira Pinto, que dirige o Instituto Cultural
Uma equipe mista do Governo do Estado, inte- que não tomaria posse. Além disso, ela afirmou
Brasileiro na Alemanha, Manfred montou o pro- grada por membros da Defesa Civil e Coipo de que está guardando três balas de revólver: uma
jelo, cuja primeira etapa começou a ser execu- Bombeiros. Força Aérea Brasileira e Prefeitura para mim, outra para o meu vice, oJoãoDoris-
tada esta semana com a instalação, em Macapá, Municipal de Almeirim foi mobilizada às pres- mar, e a terceira para o governador do estado,
da aparelhagem básica de arquivo sonoro doa- sas ontem para socorrer cerca de cem famílias
João Capiberibe", contou Neves. (Correio Bra-
da por uma entidade alemã. Nesta etapa, que de indígenas da tribo Apalaí, da aldeia Bona, no ziliense, 09/10/96)
terá duração de seis meses, Manfred e os índi- alto rio Paru, no Parque Indígena de Dimucu-
maque, município de Almeirim, que estavam
os farão a seleção das narrativas míticas e his-
passando fome depois que suas roças foram
SEDE DA FUNAI É OCUPADA
tóricas para transcrição e tradução, enquanto
totalmente destruídas pela forte enchente que Cerca de 120 índios dos grupos Karipuna,
Mago de Oliveira cuidará da instalação do ar-
Eles vão trabalharcom um universo de 1.800 coordenador adjunto da Defesa Civil estadual, a novo administrador regional, Evandro Bezerra
índios Aparai e Wayana, que possuem 12 for- mobilização de ajuda para salvar os cerca de Ribeiro. Os índios afirmam que só irão desocu-
mas diferentes de escrita, mas aprenderão um 500 índios envolveu cerca de 30 pessoas enire par a sede da Funai quando Jairo Bezerra Ri-
sistema único pelo qual serão elaborados livros médicos, enfermeiros, assessores do governo e beiro, Irmão do funcionário nomeado, for reco-
e cartilhas utilizados nas escolas indígenas. "Eu membros do Corpo de Bombeiros e da Defesa locado no cargo. Segundo o cacique Mário dos
Civil, que seguiram ontem em três -
aeronaves Santos Caripuna, Jairo foi escolhido e indicado
acho que não teremos dificuldades, porque va-
mos trabalhar com aqueles índios novos que uma do Governo do Estado, uma da FAB e uma pelos índios das sete etnias que habitam no es-
explicou Manfred. (Folha do Amapá, 30/03 a Dourado, e de lá para a aldeia Bona, onde fo- se Caripuna. Já Evandro foi nomeado pelo se-
05/04/06) ram distribuídas cem cestas básicas com alimen- nador amapaense Gilvan Borges (PMDB). “O
tos e equipamentos para que os índios possam presidente da Funai curvou-se diante da influ-
FUNAI EXPULSA abrir roçados em terras mais elevadas. (O Li- ência política do senador, assinando uma no-
beral, 01/06/00) meação que para os índios não vale nada",
PESQUISADORA afir-
ocupar o carpo o cacique Mário Karipuna, que Dusseldorf, na Alemanha. Sob o olhar incrédu- tura de Oiapoque. O atraso nos repasses tem
lem o apoio dos índios. Para forçar a direção lo de seguranças e bombeiros, os quatro índios causado grande revolta entre os índios, que en-
da Kunai a anular sua decisão, os índios invadi- desceram o rio Reno numa frágil canoa Karipu- traram em conflito com o prefeito João Neves.
ram e vinham ocupando há 30 dias a sede do na, cavada em tronco de árvore, medindo seis Os índios reivindicaram ao governador a perma-
órgão em Oiapoque, ameaçando incendiá-lo, metros de comprimento e pesando 240 quilos, nência de 29 agentes de saúde c monitores na
além de queimar e destruir uma ponte na BR- feita na aldeia Espírito Santo, no Oiapoque. área de educação, além de maiores recursos para
1 56, rodovia federal que corta as reservas indí- Para chegar cm Dusseldorf, a canoa seguiu de a merenda escolar. Esses problemas têm sido
genas. O índio Kemando Karipuna disse que as caminhão até Macapá, foi de balsa até Belém e causados pelo atraso no repasse de dinheiro por
aldeias estão em festa com a decisão da Kunai: de avião de carga até a Alemanha. Depois da parte da prefeitura. (O Liberai, 06/07/99)
“Viramos a mesa porque não tinha graça um exibição, foi doada para a prefeitura local. (Di-
político se meter em assuntos de índios. O se- ário de Pernambuco, 14/07/98) PREFEITO GALIBI É
nador manda no Congresso, mas na Kunai quem AFASTADO POR IMPROBIDADE
manda somos nós”, resumiu Kemando. (Jor- ÍNDIOS REIVINDICAM
nal de Brasília, 08/05/98) Considerado um exemplo da convivência pací-
ASSISTÊNCIA
fica entre brancos e índios, o prefeito dc
Os representantes indígenas das tribos Karipuna Oiapoque, no Amapá, João Neves (PSB), da
DE CANOA NO RIO RENO
e Palikur, que atuam no município de Oiapoque, etnia Ualibi e da aldeia Cumarumâ, foi afastado
Quatro índios das etnias Karipuna e Galihi- estiveram com o governador João Alberto Capi- do cargo pela Justiça por acusações de impro-
Marworno, do município de Oiapoque, (AP) beribe reivindicando a regularização dos convê- bidade administrativa. De acordo com o Minis-
roubaram a festa no Heine Spekatakel, em nios de saúde e educação firmados com a Prefei- tério Público Estadual, Neves, de 37 anos, utili-
e nos primeiros anos da década de HO, e princi- te e aprovada pelas diferentes etnias. Foi eleita dio, a construção e reforma das enfermarias,
palmente em Junção das intensas relações, presidente por três vezes, e na última o mandato combustível para deslocamento terrestre e fluvi-
mantidas ao longo da história, entre as socieda- foi ampliado de um ano para dois. al, frete de aeronaves para emergências, passa-
des indígenas da região. Para ter uma idéia do volume de trabalho realiza- gens aéreas e terrestres, entre outras coisas.
Logo quefoi instituída, a Apio possuía um caráter do em fxirceria com o governo do estado do Ama/m, A duração do convênio é de apenas um ano. F,
reivindicatório, pois sua atuação estava limitada em cinco anos, a Apio construiu 14 escolas, cinco para garantir sua renovação, não pode haver fa-
à representação /folítica frente aos não-índios. Em centros comunitários, 13 alojamentos para pro- lha na execução. Para Vitória “vai ser um tra-
,
1996, iniciou-se uma transformação radical na fessores não índios, um alojanwnto para índios balho muito grande e a gente vai ter que mostrar
atuação e no pafiel da Apio tui região. Isso se deu em trânsito em Oiapoque. Reformou e ampliou a que tem condição de administrar o que é nosso
com a eleição em 1994 (e reeleição em J99H) de Casa de Saúde do índio em Oiafwque, adquiriu A Apio. sob a administração de Vitória, cumpre
um governo que priorizou as ações descentraliza- 17 aparelhos de radiofon ia, um carro para a Casa exemplarmente o papel de uma prefeitura volta-
das, tornando fundamental a particifuição direta de Saúde do índio, um caminhão com capacidade da aos índios. Certamente a influência política
das comunidades tradicionais do Amapá, o que de transportar até 12 toneladas da produção agrí- dessa associação tem contribuído muito para a
inclu iu as populações indígenas do Estado. cola das aldeias para o Oiapoque. F ainda, afirmação dos Povos Indígenas do Oiapoque.
O governo do estado passou a financiar projetos gerenciou o projeto de formação de professores (Antionka Capiberibe, out/00)
em todas as áreas sociaisficando a cargo da Apio Palikur, tendo como parceiros o MFC e a Unicef.
estabelecer as prioridades, gerenciar os projetos e
contratar mão-de-obra seja fmra a construção de
urna escola, seja para cursos deformação de pro-
fessores. Em 1996. a Afno era presidida f>elo Galibi
Marworno João Neves. Neste mesmo ano, ele foi
eleito prefeito do Oiapoque com a maioria abso-
luta dos rotos da área indígena, que representam
cerca de 30 % do total de votos do município. Isto
em grande parte, graças ao bom desempe-
se deu,
nho que teve à frente da Associação.
Com a saída de João Neves, a presidência da Apio
foi assumida interinamente por Vitória Santos dos
Santos. Era a segunda mulher a presidir a Associ-
ação. que teve como primeira presidente Esteia
dos Santos Oliveira.Ambas são filhas de um líder
Karipuna quefoi muito influente na região, o "fi-
nado Coco".
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 393
zou irreguiarmente R$ 350 mil repassados pelo demarcadas e três delas já foram homologadas: que os índios tenham permitido 0 acesso à in-
Ministério da Integração Regional. A eleição do Uaçá, com 470.000 ha; Juminã, com 24.000 ha formação tradicional sem garanlias de que vi-
prefeito-índio teve repercussão internacional. e Galibi com 6.689 ha) . Faltam homologar ape- rão a ser recompensados por isso. O professor
Ele chegou a ser recebido pelo presidente fran- nas os 573.000 ha dos Waiãpi. (O Liberal, informou que sugeriu à Funai de Macapá - que
cês Jacques Chirac e pela ex-primeira dama 14/03 e Folha do Amapá, 16 a 22/03/96) irregularmente autorizou a pesquisa - um acer-
Danielle Mitterrand, em um encontro de povos to para que eventuais ganhos decorrentes de sua
ameríndios realizado em Paris. Primeiro pre- MISSIONÁRIOS pesquisa revertesse para os índios. Como não
feito índio do Brasil, João Neves foi eleito em EXPULSOS DA ÁREA houve resposta até 0 momento, não há como
1996 com 1.713 votos, 47% do eleitorado. Para resguardar, caso um produlo venha a ser pa-
sua posse foram convidadas, enlre outras auto- Missionários da Missão Novas Tribos do Brasil, tenteado a parlir das amostras sangiiíneas ou
ridades, 0 presidenle Fernando Henrique Car- que há 12 anos prestam assistência às várias vegetais, uma participação dos Waiãpi nos gan-
doso, e 0 presidente do Conselho Regional da aldeias waiãpi, tiveram que deixar a área por hos. Há, ainda, dúvidas de que os índios tenham
Guiana Francesa, George Effori. Em 1996, determinação da Funai, para quem 0 Evangelho exata consciência do uso que está sendo feito
Oiapoque tinha cerca de mil eleitores indíge- desvirtuaria a cultura indígena. (JT, 27/03/96) de seu sangue e de suas plantas. Sabe-se, no
nas. QB, 20/06/00) entanto, que sem eles essa eventual descoberta
quando 0 banco eslatal alemão (KfW) se ofere- ram os próprios índios que levaram para a re-
ceu para financiar 0 processo demarcatório. Um SANGUE E PLANTAS WAIÃPI serva a médica Maria Ferreira Bitencourt e cin-
acordo entre a GTZ, ligada ao governo alemão, co auxiliares da área de satide, lodos integran-
SÃO ENVIADOS AO EXTERIOR
aFunai e 0 Centro de Trabalho Indigenista (CT1) tes do CTI. No entanto, 0 substituto do chefe de
possibilitou que os próprios Waiãpi participas- Um professor da Universidade Federai do Amapá posto da Funai, Moisés, não permitiu a entrada
sem da demarcação. O trabalho exigiu que eles (Unifap) de ,
nome Luiz Kanzaki, confirmou que da equipe na reserva e acionou a PF.
aprendessem a guiar e consertar veículos mo- há algum tempo vem coletando sangue de índi- Segundo os índios, eles já estão cansados dessa
torizados, reconhecessem mapas e operassem os Waiãpi e, por intermédio de alguns deles, teve questão em que pessoas que nada têm a ver com
sistemas de radiofonia. “Essa demarcação só acesso a plantas com potencialidades terapêu- as questões indígenas querem a retirada do CTI
deu certo porque os índios estavam envolvidos ticas. Segundo 0 professor, amostras tanto do da reserva. Ele afirma que a Funai não está res-
no processo desde 0 começo. Houve um traba- sangue dos índios quanto das espécies vegetais peitando a vontade dos caciques e do povo
lho de capacitação que foi decisivo", explica 0 foram enviadas para laboratórios dos EUA e do Waiãpi. “Enfermeiro do CTI trabalha melhor que
técnico indigenista do CTI, Pedro Dias Corrêa. México. Segundo Kanzaki, com as amostras enfermeiro da Funai", afirma Kasiripinã “Nós
Os Waiãpi aproveitaram 0 trabalho de abrir pi- sanguíneas sua pesquisa pretende detectar 0 ví- levamos 0 CTI porque mandamos na nossa al-
cadas para plantar mudas nativas, como 0 rus HTLV, causador de doenças neurodegene- deia e não a Funai”, completou. (Jornal do
cupuaçu, baciiri e pupunha, nos limites de sua rativas e de câncer. A partir das pesquisas Amapá, 14/08/97)
área. O plantio teve dupla finalidade: além de laboratoriais, disse, pode-se chegar a algum
estimular a visita dos índios aos limiles, haverá fármaco que combata esses males. Quanlo às CARTA DE KASIRIPINÃ
produção de frutas que poderão ser comer- plantas, elas seriam pesquisadas para se saber
WAIÃPI ENVIADA AO
cializadas. Os limites da área serão, ainda, fis- se sua eficácia é meramente simbólica ou se é
MINISTRO DA JUSTIÇA
calizados através de imagens de satélite. possível identificar algum princípio ativo que
Com a demarcação da área waiãpi, os 5.261 tenha valor terapêutico e, portanto, comercial. “Ao ministro dajustiça:
índios que habitam as quatro reservas indíge- O caso, aparentemente, não suscita suspeitas em A Funai não pode ficar contra 0 CTI. Funai e
nas existentes no Amapá vivem uma estabilida- relação às intenções científicas do professor da CTI têm de trabalhar direito. O CTI trabalha bem,
de de causar inveja aos “parentes” de outros Unifap. Mas, 11 a falta de legislação interna que mas a Funai de Macapá atrapalha muito. A Funai
Estados. No Amapá, todas as áreas já estão trate do assunto, escancara a possibilidade de não pode fazer conflito com Centro de Traba-
dos caciques, administrador da Funai não acre- fruto indígena sobre os recursos mineráveis Administração Regional (ADR) da Funai cm
dita. Fie diz que é o CTI que escreve as palavras garimpáveis em seu Segundo a deci-
território. Macapá informou Brasília sobre o que chamou
dos caciques em português. são, o juiz ordena a retomada integral do Proje- de “fatos desagradáveis".
Nós sabemos tirar a nossa idéia pata passar para to de Recuperação e Despoluição de Áreas De- O documento dizia que os Waiãpi foram sur-
os outros. Sabemos escrever em português. Nós gradadas por Garimpo, formulado pelos índios preendidos por uma “espécie de gripe, segui-
queremos a volta do CTI para nossa aldeia e Waiãpi com a assessoria do Centro de Trabalho da de forte vômito, diarréia e febre", que se
para a área. Indigcnista, uma entidade não-governamental de alastrou entre as crianças de até um ano. As
Levamos enfermeiros do CTI para nossas aldei- São Patdo, (Últimas mícias/ISA, 30/04/99) crianças passaram a morrer em 24 horas, após
as, mas a Funai mandou a polícia federal para a constatada a doença. O relatório denunciou a
nossa área buscar os enfermeiros do CTI que VÍRUS RADIOATIVO inexistência de serviço de saúde indígena no
foram levados pelos Waiãpi. A Policia Federal Estado. “Nossa administração não conta atual-
levou armas para nossa área sem avisar os Através de pesquisas, o cientista da Universida- mente com nenhum médico em seu quadro de
Waiãpi. Isso não pode acontecer. de Federal do Amapá (Unifap) Luiz Kanzaque, ,
profissionais”, descreve o documento. De acor-
A Funai não respeita caciques waiãpi. Nós res- descobriu o aparecimento de um vírus detecta- do com a ADR da Funai, a área Waiãpi é de
peitamos as autoridades, só autoridade que não do anteriormente em pessoas que hdam diaria- difícil acesso. A Funai de Macapá solicitou, no
respeita cacique Waiãpi”. (Kasiripim Waiãpi, mente com radiação. Kanzaque realiza diversas
dia 7, R$ 10 mil ao Departamento de Saúde do
Jornal do Dia, 14/08/97)
pesquisas na Amazônia, sendo titular de uma órgão em Brasília para levar uma equipe de téc-
cadeira na área de Enfermagem, na Unifap, e
nicos de saúde à aldeia. O dinheiro era para
UNICEF E GOVERNO ficou surpreso com o desenvolvimento do vírus pagar diárias de viagem, medicamentos, com-
nos índios, que só tinha encontrado ano-
PROMOVEM já
maUa em operadores de raio-X,
tal
entre outros da
bustível e locação de veículos. No dia 13, a ADR
têm contato com formas diferenciadas de vida. te), das minas de manganês, em Serra do Na- Dominique Gallois, a coordenadora da ONG
A prática é fruto de uma parceria entre o Unicef vio, a área que habitam possui uma das maio- conhecida como CTI (Centro de Trabalho Indt-
(Fundo das Nações Unidas) e o Governo do Es- res riquezas da Amazônia de minérios como genisto), está sendo acusada de insuflar os in-
tado do Amapá, através do Núcleo de Educação thorianita, molibdênio, zircônío, entre outros
dígenas contra os membros da CPI da Funai,
o Indígena da Secretaria Estadual de Educação. que possuem naturalmente radiação, criando instalada pela Câmara Federal, para apurar en-
O projeto Mirakatu está sendo desenvolvido há um “background" com essas características e tre outras coisas a atuação da Funai, o papel
um ano. Consiste num conjunto de atividades que pode muito bem ter atingido o grupo indí-
das ONGs nas aldeias, a biopiratoria, os aspec-
de professores-índios e não-índios das vilas de gena, necessitando que haja uma pesquisa mai- tos que direcionam a política de ocupação das
Riozinho, Tbcano 1 e TUcano II. O projeto Mira- or sobre o assunto, aproveitando as informa- terras indígenas e etc. Os membros da CPI vão
kalu financiou o registro audiovisual do dia-a- ções que o professor e pesquisador da Unifap reunir e realizar trabalhos de investigação em
dia na aldeia, realizado pelos Waiãpi. A comu- já possui ou investindo na própria pesquisa dele, algumas aldeias amapaenses no próximo dia 8
nidade recebeu verba da Unicef e do governo a fim de ajudar a perpetuação dos índios Waiãpi.
de outubro.
do estado par adquirir os equipamentos de fil- (O Liberal, 23/06/99)
A acusação parte de alguns índios contrários à
magem. Marti, o cineasta Waiãpi que partici- proposta feito pela antropóloga, durante reuni-
pou do projeto comenta: “Hoje podemos mos- BACTÉRIA FAZ VÍTIMAS ões realizadas, recentemente, nas aldeias
trar ao homem branco e a seus filhos o que é Waiãpi. Segundo o cacique da aldeia Manilha,
ser índio. Antes o branco era nosso inimigo. Somente no mês passado, cinco crianças Waiãpi,
Tzako Waiãpi, Dominique Gallois teria reco-
Queria nossa terra para caçar e pescar. Hoje no Amapá, morreram em menos de 24 horas,
mendado aos índios, inclusive, a prática da
estamos mais unidos. Ele (o branco) vai nos contaminadas pela bactéria Escbericbia cotí.
agressão física, principalmente contrao relator
ajudar a defender nosso mato”. (Diário Catari- Um relatório confidencial da Funai mostra que
da CPI, deputado federal Antônio Feijão (PSDB/
nense, 21/06/98) a falta de saneamento está comprometendo a
AP). (O Liberal, 14/09/99)
saúde dos índios, pois a bactéria se propagou
pela água e foi transmitida por leite materno.
POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1936/2DOO - INSTITUTO SGC10AMBIENTAL AMAPÁ /N0BTE 00 PARÁ 395
) ,
os cursos que ela ministrou para todos os cia da Polícia Federal em Sanlarém, onde conti- a partir de 1“ de setembro, o ingresso de pes-
Waiãpi. O curso não existe só este ano, já existe nuavam, à noite, sendo interrogados pela dele- soas, a qualquer título, na TI Cuminapanema,
há vários anos. Nós Waiãpi é que estamos pe- gada Maria das Graças Malheiros, para saber no estado do Pará, onde vivem os índios Zo'é.
dindo para ela continuar trabalhando com os qual o motivo da visita àquele grupo indígena. As autorizações já concedidas perdem a valida-
projetos do GTI. Em 1996, o CTI trabalhou com Josef Alfons Monia Houben, belga, médico, e de a partir da data estabelecida. A decisão foi
saúde em todas as aldeias porque nós pedimos Odina Grosso, italiana, enfermeira, vinham ten- publicada no Diário Oficial da União, no último
à Dominique”. (O Liberal, 24/09/99) tando entrar na área indígena há mais de um dia 17 de agosto.
mês, mas não obtiveram o aval da Funai. Sem De acordo com o texto da portaria, a proibição
FUNAI AUTORIZA autorização oficial, eles foram até lá com um não se aplica apenas às “forças Armadas, poli-
Segundo informações obtidas no aeroporto de suas funções institucionais, cujo ingresso, lo-
A Funai, através de Portaria n“ 663, autoriza o Santarém, eles fretaram um monomotor, atra- comoção c permanência na Terra Indígena
ingresso das equipes técnicas do Centro de Tra- vés do piloto Waiter Mouzinho, e foram levados Cuminapanema deverá ser antecipadamente
balho Indigenista (CTI) na área Waiãpi e o até uma pista do garimpo do Tadeu, pelo piloto acordada e acompanhada por funcionários da
restabelecimento dos convênios e parcerias nos “Alemão”, local próximo a aldeia dos Zo’é. De Funai”. A Equipe do Posto Indígena de Contato
projetos de saúde, educação evigilânda. (DOU, lá, com auxílio de mateiros, que vivem no ga- Cuminapanema, do Departamento de índios Iso-
08/11/99 rimpo, os aventureiros se embrenharam nas lados da Funai, é que fará cumprir a proibição
matas numa viagem que durou sete dias até a e a exceção determinada pela portaria. (Últi-
CPI DA FUNAI EM MACAPÁ aldeia. Lá, porém, foram denunciados pelo fun- mas Notícias/ISA, 20/08/98)
cionário da Funai à Polícia Federal.
A CPI que apura as ações da Funai faz hoje, às O depoimento deles na PF se prolongou noite ESTRANGEIROS
16 horas, em Macapá, audiência pública na adentro e deverá continuar por todo o dia de
PAGAM PARA VER
Assembléia Legislativa onde tomará depoimen- hoje, não tendo sido esclarecido ainda a razão
tos da antropóloga belga Dominique Gallois, do da viagem aos Zo’é. Os dois deverão ser depor- Os Zo’é viraram atração para equipes de televi-
ex-procurador da República no Amapá, João tados do pais, pois tinham o visto de turistas e são da Europa c EUA que estariam pagando até
Bosco Araújo Fontes Júnior, do funcionário da não poderiam ter empreendido a viagem à área USÍ 200 mil para filmá-los. A autorização para
Funai Dilson Marinho e do pastor Silas, líder indígena. a tomada das imagens foi dada dias antes que a
da Missão Novas Tribos. Segundo informações extra-oficiais, o episódio direção da Funai decretasse a proibição de aces-
De acordo com o Ministério Público Federal, o abriu o precedente para que a PF peça a inter- so às aldeias Zo’é. (O Liberal, 24/08/98)
CTI (Centro de Trabalho Indigenista), ONG a dição da pista do garimpo Tadeu, por ameaçar
qual Dominique pertence, promovia a explora- o isolamento dos índios. (O Liberal, 14/08/96)
ção de ouro ilegalmente na reserva indígena
waiãpi. Tal exploração estaria camuflada sob
4. SOLIMÕES
Ticuna
—
— limite interestadual
rodovia implantada
TERRAS INDÍGENAS
reconhecidas olicíalmente
mais de 19.000 ha
capital de Estado
A reconhecida oficialmente
menos de 13.200 ha
• cidade
INSTITUTO S0CIOAMBIENTAL/2000
nJJIUJT: ^ rea mi||,ar
apresentada em outro capitulo
!
Copyrlghled malenal
1 )
Terras Indígenas
Instituto Socioambientaí - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n“, fonte, data íha)
715 Acapuri de Cima Kocama 10! GT/Funai: S8 Delimitada. 19.40C Fonte Boa AM Sem localização.
Port do ministro da Justiça 237 de 13/04/2000
declara de posse permanente indigena
(O0U, 17/04/03).
496 Barreira da Missão Kaixana 480 Funai:95 Homologada. Reg. CRI. 1.772 Telè AM Calha Norte.
Miranha Oec 303 de 29/1G/91 homologa demarcação
WítOtD (DOU, 30/10/91 ). Reg. CRI Matr. 2178, Liv. 2 1, 11. 230
Issé verso em 20/1 1/91. Dominial Indígena.
Kambcba
Ticuna
52 Betânia Tlcuna 3.486 CGTT: 9$ Homologada. Reg. CRI e SPU, 122.763 Sto. Antonio do Içá AM Calha Norte.
Oecr. s/n de 03/07/95 homologa a demarcação
aprovada pela Funai (DOU, 04/07/95). Reg CRI de
Sto. Antonio do Içá Matr.107, Llv. 2-B, fl. 107 de
10/13/95. Reg. SPU. Cert. 002 em 19/03/96.
56 Bom Intenta Ticuna 258 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRI. 1.693 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa dei romeira.
Dec. do pres. F.H. Cardoso de 05/01/96 homologa a
demarcação. (DOU, 06/01/96). Reg CRI em Benjamim
Constant, Matr. 586, Liv. 2-3, fl. 8V em 12/01/96.
96 Estreia da Paz Ticuna 383 Débora Lima: 98 Homologada. Reg. CRI. 12.876 Jutaí AM
Dec. s/n de 03/07/95 homologa a demarcação
aprovada pela Funai (DOU, 04/07/95). Reg. CRI em
Jutaí Matr. 252, Liv. 2/RG, fl. 52 em 25/08/95.
97 Evaré Ticuna 13.023 Fiinai: 95 Homologada. Rég. CRI. 548.177 S. Paulo de Olivença AM Calha Norte. Na fronteira. Rodovia
Kocama Dec. do pres. F.H. Cardoso de (K/01/95 homologa Tabatinga AM planejada BR-307. A área do
a demarcação. (DOU, 08/01/96). Port. pres. da Funai Exército Gleba Ta ca na incide
de 27/06/96 designa Ana Suely Arruda C. Cabral tctalmeirte na TI.
etnolinguista para estudos visando a identific. Étnica
da Comunidade da localidade de Sapotal, no munic.
deTabatinga (DOU, 02/07/96). Despacho do M. da
Justiça concordando que as terras Ticuna e Kokama
sejam separadas desde que não excedam a área de
548.177 ha (DQU, 26/03/97). Reg. CRI em S. Paulo de
Olivença Matr. 541, Liv 2-C-l, fl. 61 em 20/06/96; em
Tabatinga Matr. 242, Liv. 2-B, H. 97 em 01/03/96; em
Sto Antonio do Iça Matr. 138, Liv. 2-B, fl. 138em 15/04/96.
98 Evaré II Ticuna 2.200 Fu na i: 95 Homologada. Reg. CRI E SPU. 176.205 S. Paulo de Olivença AM Faixa de fronteira.
Dec. do pres. F.H. Cardoso, de 05/01/96 homologe
a demarcação administrativa. (DOU, 08/01/96). Reg.
CRI em S. Paulo de Olivença Matr. 542, Liv. 2C-1,
fl. 62 em 20/06/%. Reg SPÜ Cert. s/n em 18/02/97.
403 ilha do Camaleão Ticuna 0 Homologada. Reg. CRI E SPU. 236 Anamá AM Calha Norte.
Dec. s/n de 63/07/95 homologa a demarcação
(DOU, 04/07/95). Reg. CRI em Anama Matr. 01. Liv. 1-RG,
II. 01V em 30/39/96. Reg. SPU Cert. s/n em 02/04/97.
146 Jaquiri Kambeba 55 Lid. Indígenas: 96 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.320 Maraã AM Calha Norte.
SPU Cert. 001 em homologa a demarcação
(DOU 30/10/911. Reg. CRI de Maraã Matr. 061. Liv. 2-A,
fl. 77 em 27/1 1/91. Reg. SPU Cert. 002 em 20/1 1/95-
176 Kokasna Kambeba 140 Funai: 89 Em Identificação/Revisão. 930 Tefé AM Calha Norte.
Kocama Planta de delimitação 06/01/33.
184 Lago Beruri Ticuna 120 Funai: 94 Homologada. Reg. CRI E SPU. 4.980 Beruri AM Calha Norte.
Dec. s/n de 03/07/95 homologa demarcação
aprovada pela Funai |DQU, 04/67/95). Reg. CRI de
Beruri Matr. 79, Liv. 2/RG.fl. 41 em 22/09/95. Reg.
SPU Cert, DOÍ em 11/03/96-
169 Lauro Sodré Ticuna 634 CGTT; 98 Em Identific ação/Revisão. 9.600 Benjamin Constant AM Faixa de fronteira. Rodovia
Planta de delimitação e 03/06/32. Port. Funai 1 .692/E planejada BR-230. Requerimento
de 23/08/34 p/ proposta de identificação e delimitação. de pesquisa mineral.
Port. 22 de 18/01/00 cria GT p/ estudos de identificação
(DOU, 20/01/00).
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa |n
fl
, fonte, data ) (ha)
192 Macarrão Ticuna 404 Lid. Indígenas: 93 Homologada. Reg. CRI. 44.267 Jutaí AM
De c. 260 de 29/10/91 homologa demarcação
administrativa (DOU, 30/10/91). Reg. CRI Jutaí
Matr. 62, Liv. 2, fl. 62 em 25/1 1/91. Oficio ao SPU
158 DAF em 11/08/93.
200 Marajai Mayoruna 203 Lid. Indigenas: 93 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.195 Alvarães AM
Dec. 2S£ tíe 29/10/91 homoioga a demarcação
(DOU, 30/1 0/S 1). Heg. CRl AlvarSes Matr.üOI, Liv.2-A,
fl. 32 em 05/12/91 . Reg. SPU Cert. 005 em 14/05/97.
210 Méria Karnpanã 45 Lid. Indígenas: 98 Homologada. Reg. CRl E SPU. 585 Alvarães AM
Mura Witoto Dec. s/n de 04/10/93 homoioga a demarcação
Miranha (DOU, 05/10/93). Reg. CRI de Alvarães Matr. 018,
Issó Liv. 2-A, fl. 018 em 10/11/93. Reg. SPU. Cert.11 em
27/11/95
212 Miratu Karapanã 350 Barbosa: 85 Homologada. Reg. CRl. T3.199 Uerini AM Calha Norte.
Mura Dec.390 de 24/12/91 homologa demarcação
Miranha (DOU, 26/12/91). Reg. CRl de Uaríni Matr. 2,183,
Issè Liv. 2-1, fl. 208 em 14/01/92. Of. ao SPU 156 de 11/08/93.
Witoto
711 Nova Esperança Ticuna 180 PBrecBn98 Idantificada/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestação. 19.900 S. Paulo de Olivença AM Faixa de Fronteira
do Rio Jandiatuba Port. Funai. 579 de 09/6/98 cria GT p/identificação
(DOU, 12/06/98). Despacho do presidente da Funai
aprovando a área (DOU, 09/06/00)
469 Paraná da Paricà Kanarnari 60 Lid. Indígenas: 93 Homologada. 7.865 Maraã AM Calha Norte.
Dec. s/n de 08/09/98 homologa a demarcação
(DOU, 09/09/98).
Porto Praia Ticuna 282 CGTT: 98 Em Identificação. 0 Uaríni AM Incide na Estação Ecológica
Port. Funai 745 de 18/D8/94 cria GT p/ identificação Estadual Mamirauá.
da área (DOU, 22/08/94). Port. Funai 134 de n/03/99 cri
709 São Sebastião Kaixana 224 GT/Funai: 97 Identíficada/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestação. 57.700 Tonantins AM
Port. Funai 743 de 1 1/08/97 cria GT para identificar a
TI.Despacho do presidente da Funai n.4 aprova
estudos de identificação da TI (DOU, 17/02/00).
286 São Leopoldo Ticuna 824 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRl. 69.270 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. s/n dB 12/08/93 homologa a demarcação da Rodovia planejada BR-23C.
Funai (OO U, 13/08/93). Reg. CRl de Benjamim Requerimento de pesquisa mineral.
Consta nt Matr. 401 , Liv. 2-B, fí. 164 em 26/05/89. CT
ao SPU em 28/04/88.
312 Tikuna de Ticuna 1.586 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRl. 1.065 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Santo Antonio Dec. 311 de 29/10/91 homologa demarcação Rodovia planejada BR-23C.
(DOU, 30,'10/911. Reg. CRl de Benjamim Consta nt
Matr. 546, Liv. 2-2, fl. 109 em 18/06/95.
313 Tikuna Feljoal Ticuna 2711 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRl. 40.948 S. Paulo de Olivença AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec.do pres.F.H. Cardoso de 05/01/96 homologa a Requerimento de pesquisa mineral.
demarcação administrativa (DOU, 08/01/96) Reg.CRI
de Benjamim Con$tant,Mat. n. 585, Liv. 2-3, f!.08V em
06/11/95.
311 Tikuna Porto Espiritual Ticuna 160 Funai:87 Homologada. Reg. CRl E SPU. 2.839 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. do pres. F.H. Cardoso de 05/01/96 homologa a
demarcação administrativa. (DOU, 08/01/96). Reg
CRl em Benjamim Constant Matr. 587, Liv. 2-3, fl.09
em 29/01/96 .Reg. SPU Cert 008 em 22/04/36.
326 Tukuna Umaríaçu Ticuna 4.300 Fu na i/PPTTAL: 98 Homologada. 4.854 Tabatinga AM Calha Norte. Faixa de Fronteira.
ec. s/n. de 11/12/98 homologa a demarcação Rodovia planejada BR-307.
(DOU, 14/12/98).
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n 6, fonte, data ] (ha)
325 Uati-Paraná Ticuna 480 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 127.199 fonte Boa AM Calha Norte.
Hec. 284 de 29/10/91 homologa a demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI de Fonte Boa Matr. 743,
Liv. 2'RG, ff. 0C1/005 em 03/05/93. Reg. SPU Cert
007 em 22/1 1/95.
337 Vui-Uata-ln cl ria
Ti 1.452 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 121.198 Amaturá AM Calha Norte. Faixa da fronteira.
Dec. 3/n de 03/07/95 homologa a demarcação
aprovada pela Funai IDOU, 04/07/95). Reg. CRI em
Amalurá Matr. 534, Liv. 2C-1, fi. 54 em 02/05/96.
Reg. SPU Cert. 002 em 21/01/98.
Os Ticuna diante da
Degradação Ambiental
Regina M. de Carvalho Erthal Antropóloga pesquisadora, trabalha com os Ticuna desde 1989
PASSAM PELA DEMARCAÇAO DA TERRA do rio Solimões, desembocou, com mais intensidade a partir da
E PELA AUTODETERMINAÇÃO década de 70, na formação de grandes aldeamentos, alguns com
uma população que já chega a mais de quatro mil indivíduos. Esta
“urbanização” crescente não tem sido acompanhada de uma infra-
Após um longo período de lutas pelo reconhecimento oficial de
estrutura imprescindível à viabilização da reunião de um número
suas terras, desde o final da década de 70, impulsionado pela par- significativo de pessoas ocupando um espaço comum, com utiliza-
ticipação de suas lideranças mais tradicionais no acompanhamen-
ção intensiva dos recursos naturais, já sendo visível um processo
to de todas as suas etapas, resultado de sua união estratégica em de degradação ambiental, com problemas urgentes de coleta e lo-
torno de um objetivo maior de proteção territorial, os Ticuna do
calização de dejetos, tratamento e distribuição de água. Ou seja,
Alto Solimões (AM) têm atualmente grande parte, aproxima-
questões de saneamento básico em geral.
damemte 90%, de seu território demarcado. Prossegue a luta pela
Os Ticuna começaram a ter, no decorrer das duas últimas déca-
finalização desse processo.
das, uma percepção cada vez mais clara das consequências das
O processo histórico de ocupação do território ticuna que gerou, mudanças de um padrão tradicional de ocupação do território que,
em situações históricas específicas, a dissolução de malocas tradi- junto a fatores externos e incontroláveis, tem determinado um
Copynonrea r
sustento, principalmente para as gerações mais novas, bombarde-
suas reservas de alimentos e a provisão de água potável afetando, adas de modo intenso pela grande circulação de brancos em seu
de maneira incisiva, seu bem estar e snas condições de saúde. território, pela proximidade com sedes municipais e/ou pequenas
Acostumados a manter uma relação com seus diferentes cidades, e ainda pelo apelo ao consumo que lhes chega via televi-
ecossistemas, enquanto provedores inesgotáveis dos bens neces- sões e rádios, pode significar um novo ponto de referência e de
sários à sua reprodução no sentido mais amplo, os Ticuna têm união em torno de uma apropriação produtiva, independente e
percebido a importância de pensar nos novos elementos que pas- sustentada, do território.
financiam o início da atividade, fornecendo barco, motor, implementando, cada vez de modo niais eficiente, um projeto de
malhadeira, combustível, e o pescador fica comprometido por essa autogestão que se tornou mais completo com a expansão da atua-
dívida inicial a aceitar o preço estabelecido pelo comerciante para ção do CGTT que, de órgão fiscalizador e definidor de políticas,
o produto do seu trabalho. adquire personalidade jurídica própria a partir de 1997, e passa a
ter o papel de formulador e gerenciador de projetos nas áreas de
A intensificação do esgotamento dos estoques nas áreas mais explo- desenvolvimento, saúde e educação.
radas tem levado os pescadores a invadir áreas de pesca e reserva de
comunidades menores, ou ainda lagos tidos como de preservação
Na área da saúde, a formação de quadros qualificados pela orga-
externos. O discurso preservacionista veiculado pelas lideranças do Alto Solimões foi chamada a assumir a coordenação (1999), a
Conselho Geral cia Tribo Ticuna (CGTT) vem encontrando cada vez partir de uma convocação e apoio dos Ticuna ao pe. Joseney Lira
,
menos eco nas gerações mais novas, e mesmo entre alguns capitães do Nascimento.
cooptados por uma política municipal de troca de ‘'favores” (car- O processo de demarcação desencadeou, paralelamente, uma
gos, pequenas obras, barco, motor, etc.) que percebem a explora- discussão crítica sobre as propostas de “projetos econômicos”
ção das riquezas do seu território como uma via de acesso rápida a e/ou "comunitários” implementadas até então pela Funai, fruti-
uma economia monetarizada e uma alternativa de sustento. ficando na parceria com o Fundo Mundial para a Natureza/WWF-
USA para a realização do “Projeto de Etnodesenvolvimento; Fauna
Também no que diz respeito aos seus recursos florestais, os Ticuna
e Flora Ticuna” (1993/94) que propunha um aprofundado le-
têm sido assediados por propostas de exploração que, por trás de
vantamento dos diferentes ecossistemas encontrados nas áreas
projetos com um discurso preservacionista e de sustentabil idade,
Ticuna e suas potencialidades de desenvolvimento. Mesmo com
escondem empresas que vêm atuando de forma predatória em
poucos recursos, o Projeto desenvolveu ainda atividades de qua-
outras áreas da Amazônia.
lificação de quadros para a construção e manejo de açudes,
Após um período de união incondicional das diferentes facções através de aulas práticas e teóricas, com especial atenção para
ticuna em torno da luta pela demarcação de seus territórios, a a discussão da necessidade de um viéls participativo e de prote-
demonstração da possibilidade de se criar alternativas efetivas de ção ambiental.
território, saúde e meio ambiente”, coordenado pelo antropólogo podendo ainda ter o seu resultado apropriado de modo mais ime-
João Pacheco de Oliveira, envolvendo o Museu Nacional/UFRJ, o diato pelas comunidades no senddo de preservação de seu territó-
Museu Goeldi, o Museu Amazônico/UA e a Fiocruz (Fundação Ins- rio ou de seu património cultural na forma do "Atlas das Terras
tituto Oswaldo Cruz) para estudar as representações indígenas Ticuna", do "Catálogo Digital do Acervo Museológico de Peças
expressas em seus discursos e práticas cotidianas sobre o territó- Ticuna-Museu Nacional” ou do vídeo “Uma Assembléia Ticuna".
rio, os processos de saúde/doença e em propostas de desenvolvi- Há outros em que, predominantemente, encontra-se o desenvolvi-
mento econômico. mento de metodologias e tecnologias a partir dos sistemas de ma-
nejo tradicionais bem sucedidos (pequenos açudes, manejo con-
Esse Projeto, que desenvolveu atividades de 199b a 1999, gerou sorciado de capoeira etc.) e ainda produtos definidos a partir das
produtos com um perfil acadêmico mais destacado (tese, disser- dinâmicas internas da sociedade ticuna e da necessidade de uma
nição clara de um modelo de assistência e de jnráticas sanitárias que go de coordenador do DSEI-AS. Consultada a Diocese do Alto Solimões
superasse uma vinculação direta às demandas espontâneas e/ou e ponderadas as orientações contrárias do Cimi. o pe. Joseney acei-
emergenciais. Acompanhando esse processo, a capacitação de AIS foi tou o convite dos Ticuna e o DSEI -ASfoi implantado em novembro de
realizada de modo extensivo jmr diferentes instituições de ensino, pes- 1999, com uma equipe que ainda se estrutura para a execução de
quisa, ONGs nacionais e internacionais, organizações missionárias etc. um projeto de um ano .
tentada a assumir a gerência do distrito sendo desestimulada pela AS com o perigo da utilização dos canais de expressão das necessida-
própria contingência de já ter coordenado sem sucesso um projeto des das comunidades ( Conselhos Locais e Distritais) - principalmente
patrocinado pela DST-AIÜSe se tomado inadimplente no processo de nos períodos de eleições municipais - para o modelo já assimilado
prestação de contas. A OASPT e lideranças do CGTT argumentaram do fazer político branco
Acervo
-V/£ ISA
diretriz de capacitação diversificada de suas lideranças (reuniões O trabalho de identificação dos modos tradicionais do uso dos
e assembléias do CGTT, encontros de lideranças femininas, cursos recursos naturais contribuiu para uma percepção crescente de que
diversos etc.). estes são extremamente bem sucedidos. Um projeto de desenvol-
produção de experiências.
NOVO COMPROMISSO, NOVO DESAFIO antiindígenas, geralmente vinculados aos poderes locais. Como
dominam melhor a comunicação para fora do grupo em questão,
Todo esse processo tem se refletido em uma maior capacidade das lhes dão crédito os burocratas do governo, jornalistas e a socieda-
lideranças do CGTT na escolha de projetos de desenvolvimento de como um todo, por conseqüência. Muitas vezes, também a che-
adequados aos seus diversos ecossistemas. gada de financiamentos (não importando as fontes) tem servido
de atrativo para alinhamentos ocasionais a organizações engajadas
Nesse sentido, uma nova parceria está sendo iniciada com o "Pro-
em lutas setoriais (saúde, educação etc.) Nota-se, principalmente
.
primordial para o seu sucesso, assim como no sentido da criação Um outro problema ligado à capacitação necessária dos indígenas
de condições internas de avaliação de outras propostas vindas do para o gerenciamento de projetos de desenvolvimento é que, mes-
setor privado ou do próprio governo. A criação de condições para mo quando tais “mediadores" estão envolvidos em um projeto que
a autogestão deve gerar uma maior capacidade de captação de não é individual, mas coletivo, para executar as tarefas que lhes
recursos junto a agências financiadoras a nível nacional e interna- cabem são obrigados a se afastarem de suas terras e de suas “ba-
cional. Esse posicionamento desloca as comunidades de uma re- ses", para usar uma terminologia utilizada pelo próprio movimen-
lação paternalista com os órgãos governamentais de assistência, to indígena. Normalmente vão morar nas cidades próximas, onde
privilegiando as necessidades concretas de desenvolvimento das dispõem da infra-estrutura necessária.
potencialidades econômicas de seu território, dentro de modelos
A construção de um projeto de autonomia indígena entre os Ticuna
que gerem qualidade de vida para todos e garantam o sustento das
pressupõe, portanto, um duplo desafio para o CGTT: capacitar jo-
atuais e futuras gerações,
vens administradores sem que percam seus referenciais de identi-
A necessidade do CGTT de contar com quadros capacitados para dade e lealdade ao grupo do qual fazem parte e mantê-los sob a
gerenciar seus projetos, tem colocado desafios e resultados algu- autoridade das lideranças tradicionais que, em última instância,
mas vezes na especialização em tarefas específicas. É evidente tam- são definidas pelas estratégias de alianças internas ao grupo, É
bém que tais quadros só são possíveis de serem formados entre aque- essa a estratégia que tem sido adotada pela principal organização
les indígenas que têm algum domínio dos códigos da sociedade na- Ticuna em parceria com os estudantes, professores bilíngiies, AIS
cional brasileira. O domínio da língua portuguesa, por exemplo, é e mulheres, (julho, 2000)
"ANTES DO CURSO EU NÃO SABIA VÁRIAS pria OGP1B, autorizada pela Resolução n° 5 1/97 do Conselho Estadual
COISAS QUE FAZEM FALTA PARA VIVER NO de Educação/AM. Encontra-se em processo de legalização nesse Con-
MUNDO DE HOJE. O CURSO VEIO ABRIR MEUS selho o nível de 2“ Grau, cuja carga-horária deverá estar completa no
ano 2001.
OLHOS PARA CONHECER, POR EXEMPLO, COMO
PREVENIR AS DOENÇAS, QUAIS OS DIREITOS QUE O Curso deu origem a outras ações que, no seu conjunto, formam o
TEMOS NA NOSSA EDUCAÇÃO, NA DEFESA DA Projeto Educação Ticuna. Com o objetivo mais amplo de construção
NOSSA TERRA. TODOS ESSES CONHECIMENTOS de uma nova escola, essas ações se organizam em programas específi-
EU LEVO PARA MINHA SALA DE AULA. cos que se articulam entre si e com as atividades do Curso, voltando-
ESTOU MELHORANDO MEU JEITO DE ENSINAR se, basicamente, para a formação do professor, preparação de materi-
ais didáticos e organização da proposta pedagógica da escola. Temos
E ABRINDO OS OLHOS DOS MEUS ALUNOS"
assim os programas de educação ambiental, de arte e cultora, dc saú-
(PROF. RAIMUNDO PINTO BITENCOURT)
de, dc capacitação de supervisores índios e preparação de currículo.
to, copo, caderno, dicionário, roupas e outros pertences pessoais, aos diversos programas. Através de suas histórias, relatos, depoimentos,
poucos os professores vão chegando à aldeia de Filadélfia, perto da os professores têm aprofundado seus conhecimentos sobre a mitolo-
fronteira com o Peru, no município de Benjamin Constant. Nesta al- gia, a língua, a música, os rituais, a natureza, a medicina, os valores, a
deia estia escola TorüNguepataü, a “nossa casa de estudos”, ofitial- ética c outros tantos saberes e experiências acumulados por essas pes-
mcnte Centro dc Formação de Professores Ticuna. É aí que os profes- soas. As informações, registradas em filas de áudio e vídeo, passam a
sores amarram suas redes para estudar durante 30 ou 40 dias, duas compor os materiais didáticos, mas sobretudo constituem importante
vexes ao ano, no período das férias. suporte para reflexões e decisões a respeito dos vários aspectos - cul-
^LíZ^Acervo
_y/£ ISA
estruturar em julho de 1997 no encontro organizado para discutir
tes. elaborada pelos professores, sob a orientação da dentista. rem como supervisores. No encontro, foram discutidas diversas ques-
Ngiã niirn to daugii i torii naane, que significa “vamos cuidar da dos livros que estão em fase de preparação pelos professores ticuna,
nossa terra", é o título da cartilha de educação ambiental, dirigida a sob a orientação dos consultores das diferentes disciplinas: Livro de
crianças e jovens das escolas ticuna, que está sendo preparada por um Geografia (com assessoria de Márcia Spyer de Resende); Dicionário
grupo de professores, com assessoria da antropóloga e bióloga Deborah Ticuna (assessoria de Marília Facó Soares); Livro de Matemática
de Magalhães Uma. O objetivo da cartilha é abordar os problemas (assessoria de Roseli de Alvarenga Corrêa); Livro de Alfabetização
ambientais da região, propor soluções e promover a criação de uma (assessoria de Carlota Novaes, Sirlene Bendazzoli, Cássia Marconi da
Xisto
Batista Muratú
preparando
pintura para
a Mostra do
Redescobrimento.
... contada
pelo seu pai,
Adolfo Tomás.
A partir de março de 1999, foi iniciado um outro tipo de traba- escolas ticuna para o desenvolvimento de inúmeras atividades -
lho com arte, envolvendo um grupo de professores que demons- nas áreas de Ciências, Matemática, Ecologia, Língua Portuguesa,
travam maior interesse e talento para o desenho e a pintura. As Arte, Geografia -, o vem sendo adotado em diversas escolas
livro
primeiras oficinas destinaram-se à elaboração de ilustrações para indígenas do país e também nas escolas dos não-índios. Tem par-
um livro sobre os peixes e à produção de um conjunto de pintu- ticipado de feiras de livros nacionais e internacionais, e integrado
ras que seriam selecionadas para o Calendário Burti 2000. Utili- o acervo de inúmeras bibliotecas do Brasil e de outros países.
zando materiais como tintas e papéis de boa qualidade, os artis-
Em 1977, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil selecio-
tas ticuna a cada dia aperfeiçoavam mais seus trabalhos, toman-
nou O Livro das Árvores para receber os prêmios, instituídos por
do-se mais exigentes e meticulosos quanto à técnica, composi-
ela, de “Melhor Livro Informativo” e “Melhor Projeto Editorial”.
ção, distribuição das cores, acabamento. A orientação de Jussara
Gruber se deu no sentido de abrir espaço para que pudessem 0 bvro também fez parte do kit de materiais didáticos preparado
aprimorar sua capacidade crítica, aguçar o olhar e descobrir as em 1998 pela Secretaria de Educação Fundamental/MEC para ser
nuanças de seu próprio estilo, em suma, estabelecer uma sintonia distribuído, junto com o Referencial Curricular Nacional para as
mais apurada com todos os aspectos que envolvem a experiên- Escolas Indígenas, a todas as escolas indígenas do país.
cia estética.
Mais adiante, em 1999, esse livro veio compor uma coleção de
Mesmo havendo um grupo mais constante, as oficinas estão aber- 1 10 obras de literatura infantil, que o Ministério da Educação ad-
tas à participação de quem quiser pintar. A idéia é que esses en- quiriu com recursos do Fundo Nacional para Desenvolvimento da
contros de arte sirvam de incentivo para muitos e que os artistas Educação (FNDE) para ser entregue a 36 mil escolas públicas,
que formam essa vanguarda sejam os mestres de outros tantos,
Os recursos obtidos com a venda de O Livro das Árvores têm ser-
constituindo-se referência e orientação para crianças e jovens.
vido para financiar ações da OGPTB e de seu projeto de educação,
As obras produzidas nas oficinas têm participado de exposições, complementando gastos referentes à organização e realização do
como a Mostra do Redescobrimento, no Parque Ibirapuera (São Curso, possibilitando reformas no Centro de Formação, pagamento
Paulo) nos meses de abril a setembro de 2000, e uma mostra so- de pessoal, aquisição de livros e outros materiais utilizados no
Oficina de
Xilogravura.
0 Livro das Árvores ajudará a floresta a viver em paz. nicas tradicionais ticuna de preparação do tuniri e a técnica japo-
Esta semente que nós plantamos no Livro das Árvores vai dar
nesa washi. Das pesquisas resultou um papel que é possívelfabricar
’’ utilizando apenas os galhos das árvores de onde os Ticuna retiram a
frutos para todos no futuro ( Prof. João Clemente Gaspar)
entrecasca (tururi) - utilizada na confecção de máscaras e•jiainéis -
,
sem. no entanto, precisar abatê-las.
LIVRO AJUDA A CONSTRUIR BIBLIOTECA
Os trabalhos produzidos na oficinaforam expostos, no mês seguinte,
Cerca de 80% dos recursos financeiros necessários à construção na Sala Rubem Vatentim do Espaço Cultural 508. em Brasília.
do prédio onde foi instalada a liiblioteca Utchara vieram da ven- Tais eventos foram organizados e financiados peto Projeto l+l In-
da do Livro das Árvores. A complementação desses recursos a tercâmbio Brasit-Japão e desenvolvidos em conjunto com a OGPTB.
OGPTB obteve junto à Fundação Nacional do índio (Funai), que
VIAGEM AOJAPÃO
também apoiou a aquisição do mobiliário.
Como continuidcule da oficim em São Leopoldo. Raimundo Leopardo
A Biblioteca Utchara -
que na língua ticuna significa "uirapuru" -
A Biblioteca possui uma acervo de mais de 2 mil livros, e, num doações de materiais para as escolas . Em agosto de 1999, Carlos
Macedo e Evajunga, responsáveis pelo projeto na Rainforest, junto
período de dois meses de funcionamento, já recebeu 1 .450 alunos
com um grupo de voluntários austríacos, viajaram aos Ticuna para
procedentes de quatro escolas ticuna situadas nas vizinhanças, bem
conhecer os professores e suas escolas.
como de escolas de não-índios, inclusive da cidade de Benjamin
Carlos Frederico Marés, então presidente da Funai, ções italianas patrocinaram essa publicação, organizada por Eva
em visita aos professores ticuna. Rosloski (da Associazione Voei delia Terra).
-T/bVansHro íplin
Fonte Calendário Burô 2000 AC ONTE CE if]
zados com uma legislação de índios”, afirmou. para proteger os lagos da região. Esta foi a
(AM) já começa a preocupar autoridades eclesi-
ásticas da região. Os religiosos questionam o cri- O bispo não poupou também o Cimi de suas críti- principal solicitação feita durante um encon-
Para de, a entidade não entende nada dos ín- tro inédito, que reuniu lideranças indígenas e
tério que será adotado para cadastrar a popula- cas.
A POLÍTICA LOCAL O bispo da Diocese do Solimões, dom Alcimar das espécies durante a época de reprodução.
Magalhães, foi convidado pelo governador do O Instituto também vai formar agentes
Os índios começam a despertar o interesse de estado, Amazonino Mendes, para fazer um le- fiscalizadores para protegerem os lagos e en-
políticos no interior da Amazônia. Com o au- vantamento das vocações econômicas da região. caminharem as pessoas responsáveis pela pes-
mento dos eleitores indígenas, eles são cada vez Acusado de ser ligado ao setor madeireiro, dom ca predatória ao Ibama. “Esse encontro foi algo
mais procurados por candidatos em busca de Alcimar aceitou o convite. O levantamento de- inédito, principalmente naquela região, onde
votos. Apesar do contato muito antigo, até hoje, verá subsidiar “ações governamentais de desen- já ocorreram diversos massacres de índios e
todos os Ticuna falam a língua nativa quando volvimento” para a região, que abrange os mu- assassinatos de ribeirinhos por causa da ma-
conversam entre si. Somente no município de nicípios de Tocantins, Santo Antônio do Içá, São deira ou da terra”, comentou Darcy Marubo,
Tabatinga, residem cerca de 10 mil Ticuna, se- Paulo de Olivença, Tabatinga, Benjamin Constant coordenador da Coiab. (A Crítica. 21/04/98)
gundo a prefeitura local. A densidade e Amaturá. A área tem forte presença de comu -
pio o Ticuna Edir. Ele ficou seis meses sem rece- clarou que o trabalho com os prefeitos da região afirma Alex Chacon, responsável pela concepção,
ber seus vencimentos e sem saber qual era a sua já apresenta resultados nos setores de saúde e design e produção do calendário. Ricas em co-
tarefa. Nas últimas eleições, os Ticuna elegeram educação, citando o convênio firmado com a Es- res, as pinturas retratam a natureza e mitos de sua
14 vereadores, segundo dados da Diocese do Alto cola Agrícola Federal. Já está acertada a criação cultura, floresta, animais, rituais e histórias con-
Solimões. (A Crítica, 19/04/96) de um hospital em São Paulo de Olivença. tadas pelos velhos. As obras resultaram de ofici-
A participação da Igreja e do bispo Alcimar nas orientadas pela educadorajussara Gruber, que
BISPO DEFENDE Magalhães no projeto de desenvolvimento da há 22 anos realiza atividades com os ticunas.Todas
DECRETO 1.775... região do Solimões, chamado de Terceiro Ci- as imagens foram trabalhadas com material apro-
clo, não está agradando ao Cimi. Segundo Egon priado-papéis especiais, tinta guache, ecoline e
O bispo do Alto Solimões, D. Alcimar Magalhães, Dionísio, coordenador da entidade, o quadro aquarela - e são acompanhadas por um breve tex-
declarou em entrevista ser a favor do Decreto da região é desolador com as populações indí- to descritivo dos autores, em português, ticuna e
u
1.775. Se esse decreto tivesse sido colocado genas, desassistidas por falta de políticas dos inglês. Entre os trabalhos escolhidos estão os de
antes não teríamos as amarguras vividas entre governos estadual e federal. Para o Cimi, o Ter- sete índios que participaram do Projeto Educa-
índios e não-índios. Na demarcação das áreas, ceiro Ciclo não responde satisfatoriamente às ção Indígena, iniciado em 1993, promovido pela
nem os índios nem os não-índios foram con- necessidades dos povos indígenas: é uma ação Organização Geral dos Professores Ticuna Bilín-
sultados. Foi uma visão unilateral de Brasília, imediatista e eleitoreira, que não apresenta pro- gues, que tem por objetivo possibilitar que os pro-
tendo como base limites traçados em 1964; de postas consistentes para a população regional. fessores ticuna concluam o segundo grau e con-
lá para cá, o modo de vida dos índios mudou'’, (ISA, a partir de A Crítica. 10/01/97) duzam a educação do grupo.
[aconteceu]
Apoiada por um fundo ligado à ONU, Jussara não governamentais tiveram audiência com Dr. PROCESSO CONTRA
Gruber criou uma escola destinada à formação Sérgio Latiria Ferreira, da procuradoria Geral OS RESPONSÁVEIS
de professores ticuna entre os nativos. Seu tra- da República do Estado do Amazonas.
“Seis dos assassinos que mataram homens,
Há dois anos,
balho gerou ótimos resultados. Garanto para Conselheiro Geral da Tribo Ticuna
mulheres e crianças Ticuna e desde 1988 esta-
parte da produção de seus formandos foi Senhor Pedro Inácio Pinheiro, que os crimino-
vam soltos, foram presos. Depois disso, o man-
publicada no Livro das Arvores, sobre a flora sos vão ficar preso em mês de Agosto adiante,
dante do crime, Oscar Castelo Branco, pediu
da região. Os trabalhos divulgados no Calendá- mais tarde até agora não houve nada de prisão.
prisão domiciliar para o juiz porque já está
surpreendem pela beleza e pela técni-
rio Burti Um do assassino Valderei Nascimento Penha,
muito velho. Outros oito indiciados não conse-
ca apurada, que em alguns casos lembram agora ele é prefessor, dando aula no município
guiram ser achados pela Polícia Federal, mas
movimentos pictóricos europeus: "Esse tipo de Um do assassino que
de Benjamin Constant, AM.
alguns deles nós Ticuna já sabemo onde estão.
traço nasceu de minha observação das folhas matou mais Ticuna no meio do Rio Solimões,
Quando fomos até a Poficia Federal em Taba-
do maio”, explica o índio Nhaimatücü. (Gaze- que pertence ao Rio Amazonas. Agora esta rin-
tinga para pedir para cumprirem o mandato de
ta Mercantil, 17/U e Veja 01/12/99 do da nossa cara do incito Ticuna porque nunca
prisão dois oito últimos fugitivos, eles sempre
ficaram preso, não tem cadeia nem jugamento
dizem que não tem pessoal e barco para cum-
AMPLIAÇÃO DE AEROPORTO para eles. Desde 1 500 nunca houve que mata-
prir a lei”. (Jornal Magüta, CGTT, out/99)
dor dos Índios ficaram preso ou condenado,
Surgiu uma possibilidade de entendimento en- dentro de 500 anos, será que nós Índios não
tre os índios ticunas e a Comissão para Cons- temos valor perante alei Constituição, quando
trução de Aeroportos na Região Amazônica um branco mataram durante um ano tem
NARCOTRÁFICO
já
(Cornara) ,
em Tabatinga, para a ampliação do jugamento do réu. Onde estão advogado dos
aeroporto na fronteira com a Colômbia. Os ín- índios queganha nome dos índios, principal-
ALCOOLISMO E DESNUTRIÇÃO
dios concordam em ceder parte da área, desde mente advogado contratado pela Funail. Esse Sc entre a população ribeirinha de Coari, Tefé,
que sejam indenizados por isso. A obra é con- advogado, não são advogado dos índios, o ad- Boa, Uarini e Alvarâes o drama é o
Jutaí, Fonte
siderada vital em termos de segurança, já que vogado do chefe do gabinete o branco que tra- consumo de drogas injetáveis, nas aldeias in-
Tabatinga é um dos pontos mais estratégicos balhou na Funai, para dizer a verdade não de- dígenas do Solimões ele se iraduz no alcoolis-
na Amazônia. (A Crítica, 04/12/99) fende os índios, mas só defende os brancos que mo e na desnutrição infantil. “Todas as tribos
estão no função da Funai”. (jornal Magüta têm suas vendinhas com bebidas alcoólicas,
POR QUE DEMORAM CGTT, 1999) sobretudo cachaça. Todos bebem, das crian-
AS DEMARCAÇÕES? ças aos velhos. O controle é muito difícil”, aler-
ALGUMAS PRISÕES ta o professor José Paravidino, da equipe da
Os índios ticunas aproveitaram a passagem do
UFF. As áreas são habitadas sobretudo por ín-
novo presidente da Funai, Márcio Lacerda, por “No dia 7 de maio de 1999, o policia federal
dios Ticuna em comunidades que já cresce-
Manaus no Em de semana, para saber o por prenderam 6 pessoas qne assassinaram os
ram o suficiente para abrigarem problemas de
que da demora da demarcação das suas terras Índios Ticuna em 28 de março de 1988 na boca
saúde pública. “É um festival de doenças: he-
no Alto Solimões. Existem 1 2 áreas em proces- do Igarapé Capacete, ficou preso o mandante
patite, malária, cólera, tuberculose e hanse-
so de demarcação, mas seis outras sequer fo- que o senhor Oscar Castelo Branco, e Vandeley
níase. As crianças são castigadas pelas vermi-
ram ainda homologadas. Estão assim, mais vul- Penha do Nascimento que matou mais índios
noses, doenças de pele e desnutrição", diag-
neráveis ao avanço das frentes de expansão dos Ticuna no meio do rio Amazonas, faltam 3 as-
nosticou Paravidino. "O álcool cria nas aldei-
brancos. (A Crítica, 15/12/99) sassino que foram escondido. Nós do Conselho
as uma cadeia de problemas, como a diminui-
Geral da Tribo Ticuna - CGTT, queremos julga-
ção da capacidade de trabalho, o acirramento
mento dos assassino mais breve possivel, pedi-
dos conflitos internos e a prática do
CHACINA DO CAPACETE mos das instituição cobrando da Procuradoria
disse a professora Fátima Guedes.
suicídio",
(PMDB) quer ,
entregar a área para o governo A PF já está na região do rio Bóia com 15 agen- tos casos em tão pouco tempo. Antropólogos do
federal, transformando-a em território da União. tes fazendo o levantamento da presença de ga- órgão devem iniciar, nos próximos dias, um es-
Segundo ele, o Estado não tem condições de rimpeiros e possíveis irregularidades na extra- tudo sobre a questão. (A Crítica 19/04/96) ,
fazer os investimentos para conter o avanço do ção de ouro no local. A confirmação foi dada
narcotráfico que, no seu entender, se deve àfalta ontem pelo superintendente da PF, Mauro MAIS DEZ CASOS
de perspectivas econômicas para a população Spósito, que deu prazo até o dia 5 de março levantamento parcial feito pela Funai registrou,
local. (FSP, 21/11/99) para o fim da operação, Spósito não confirmou
em 1999 ,
dez casos de suicídio entre os índios
se os garimpeiros invadiram as áreas indígenas.
ticimas, que habitam a região do Alto Solimões,
Ontem, o presidente da Coogam, Francisco no Amazonas, próximo da fronteira com o Peru
GARIMPO Barrozo dos Santos, confirmou a presença de
e a Colômbia. A população ticuna no lado bra-
cerca de mil garimpeiros nos rios Bóia, Mutum sileiro da floresta amazônica (há ticunas tam-
INVASÃO GARIMPE IRA e Jutaí, com 59 dragas e 45 balsas, sem autori-
bém no Peru e na Colômbia é de 32 mil índi-
)
consideram ter perdido a liderança. Na briga Gruber, sobre as possibilidades que leria de CENTRO MAGÜTA RESPONDE
das lideranças, eles fundaram várias entidades, continuar funcionando. Não houve, também,
“O Centro Magiita não está fechando as portas
como o Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT) nenhum interesse em averiguar de que maneira
ou encerrando suas muitas Unhas de atividade.
e a Associação Geral das Tribos Ticuna (ACGTT ) o Museu está conseguindo meios para continu-
Também não admite a hipótese de desfazer-se
O cacique é acusado de ter enriquecido ilicita- ar suas ações, nem mesmo uma preocupação
de sua sede. Jamais existiu também qualquer
mente, ficando com recursos obtidos pela co- com os compromissos já assumidos pelo Mu-
intenção da parte de sua diretoria de vir a fe-
munidade Ticuna. As lideranças Ticuna recla- seu e sua equipe técnica quanto a sua progra-
char ou desestruturar o Museu e a Biblioteca.
mam também que o cacique pratica arbitrarie- mação de trabalho para os próximos meses c
Isso não significa, contudo, que o Centro Magiita
dades. As denúncias dos Ticuna foram anos, bem como quanto às expectativas de ou-
não esteja atravessando graves dificuldades fi-
encabeçadas pelo índio Aldemício Bastos. Se- tras pessoas envolvidas no trabalho. De outro
nanceiras e que precise mudar o seu perfil
gundo o antropólogo João Pacheco de Olivei- fado, a Biblioteca do Museu vem atendendo cer-
institucional de modo a ajustor-se as atuais ne-
ra, presente ao encontro, a ACGTT represento ca deáO alunos por dia e professores da cidade
cessidades e aos critérios e prioridades das
os interesses dc uma minoria ligada ao hom em que só tem nessa biblioteca os livros necessári-
agências financiadoras. Gabe aqui alguns escla-
branco, além disso, quem está por trás do con- os a seus estudos e pesquisas.
recimentos (...) Pressionado por fatos relati-
flito vive mais em Manaus do que na região do Cabe salientar que o Museu, como todos sabem,
vos a luta pela demarcação de suas terias e por
Solimões. (A Notícia, 31/05/97) recebe diariamente visitantes, turistas e pesqui-
assistência diferenciada no campo da educação
sadores, e prindpalmente alunos das escolas
e saúde, o Magiila foi progressivamente expan-
EQUIPE QUESTIONA DECISÃO de Benjamin Constaut. (...) Este programa tem
dindo o número de pessoas a quem remunera-
o objetivo de aproximar as gerações mais jo-
“Prezados Senhores, va direta e regularmente.
vens da cultura e da história dos Ticuna, para
Ficamos surpresos com a ordem (...) de fechar F.m uma reunião do Conselho Indígena ocorri-
que sejam desfeitas as idéias preconceituosas e
o Museu Magiita e dispensar seus funcionári- discriminatórias em relação aos índios. Nesse
da em finais de 1993, logo após a conclusão da
os. Paulo Roberto Abreu Bruno, tesoureiro do demarcação física de seis principais áreas
sentido, o Museu tem sido um importante ins-
Magiita - Centro de Documentação e Pesquisa
trumento de transformação, possibilitando o
Ticuna, foi apresentado um balanço e discutida
do Alto Solimões (CDPAS), ordenou a Consían- extensamente entre as lideranças essa situação.
estabelecimento de relações mais equilibradas
tino Ramos Lopes, funcionário do Museu, que Até mesmo sem incluir os gastos com qualquer
entre índios e brancos na região. Entre abril e
entregasse as chaves do Museu no dia 17 de projeto específico ou atuação nas aldeias, a sim-
maio. visitaram o Museu mais de mil alunos,
maio a Nino Fernandes, primeiro secretário do ples manutenção do Centro com a folha de pa-
fatoque indica o sucesso desse programa.
Magiita-CDPAS, e que fossem encerradas as gamento e taxas (luz, telefone, etc.) totalizava
É preciso salientar também que o Museu já as-
atividades. Quando Constantino alegou que o cerca de 70 mil dólares por ano! Com o térmi-
sumiu vários compromissos com outras insti-
Museu estava funcionando, que a Biblioteca no de projetos de apoio institucional (Oxíam
tuições do país e do estrangeiro, para a realiza-
recebia muitos alunos e não podia parar e que
ção de exposições, palestras e outras atividades
em 1992 e Icco em 1994) tornar-se-ia inteira-
portanto, não seria justo fechá-lo, Paulo disse mente impossível embutir os custos de manu-
da cultura ticuna (...)
que então não efetuaria o pagamento a tenção dessa infraestrutura em projetos espe-
Visto a situação de isolamento, buscamos a par-
Constantino dos salários atrasados desde junho cíficos. (...)
ceria e o apoio de outras instituições, museus e
de 1995. (...).
pessoas (do país e de outros países), que direta
O Museu, como a Biblioteca são, sem sombra de
Sohre essa situação absurda e autoritária, te- dúvidas, atividades meritórias e importantes, pre-
ou indiretamente colaboraram para a sobrevivên-
mos vários pontos a considerar. vistas desde os primeiros projetos institucionais
cia do Museu e para a sua divulgação. Não pode-
O Magiita-CDPAS possui um Estatuto, onde
mos esquecer que o Museu Magiita foi destacado
do Magiita. Mas é importante notar que o públi-
consta o prazo de duração do Centro será co alvo do Museu são os visitantes estrangeiros e
em 1995 pelo Comitê Brasileiro do Icom (Con-
indeterminado, até que haja explícita manifes- que a biblioteca é uma iniciativa de interesse
selho Internacional de Museus), e com o Prêmio
tação contrária de parte de seus membros fun- municipal, pois atende a demanda dos estudan-
Rodrigo Mello Franco de Andrade. Naturaimente
dadores ou da Direção, ratificada por maioria tes brancos de Benjamin Constant. Hoje. depois
que, o Museu sendo fechado, deveremos prestar
absoluta dos associados, expressa em Assem- de muita luta pelos seus direitos à terra, no qual
esclarecimentos às instituições que destacaram
bléia Geral”.(...) o Magiita teve um papel fimdamental, quando em
o Museu e aos seus colaboradores, parceiros e
Considerando-se que não foi convocada uma simpatizantes. Isso colocaria o Museu, o Magtito-
um feito inédito, conseguiu junto ao governo da
Assembléia Geral para a resolução dos proble- Áustria os recursos necessários para realizar a
CDPAS e as equipes dc trabalho numa situação
mas administrativos e financeiros do Magiita- demarcação (ísica de seis das mais importantes
constrangedora, prevendo-se, logicamente, reper-
CDPAS, a leitura que se faz é que essa resolu- áreas dos Ticuna, as demandas prioritárias dos
cussões negativas também para o povo Ticuna,
ção partiu dc algumas pessoas e não da maio- índios são projetos de saúde e de desenvolvimento
Solicitamos, portanto, maiores esclarecimentos
ria dos associados, tampouco da Comissão In- sustentado, que precisam ser realizados nas al-
sobre essa questão, caso contrário nos sentire-
dígena e da totalidade dos membros da Direto- deias e com a ampla participação comunitária.
mos na obrigação e no direito de tomar outras
ria.Não aconteceu, ao menos, uma reunião Sem projetos econômicos o território Ticuna —
providências. Atenciosamente, Jussara Gomes
especial com lodos os membros da Diretoria, demarcado depois de muita luta - vai ser devas-
Gruber, Constantino Ramos lopes ejaime Custó-
já que o 2" Secretário, Adércio Custódio, não tado por atividades empresariais que buscam lu-
dio Manuel, Equipe do Museu Magiita". (Excertos
linha conhecimento de tais decisões. cro fácil e temam obter alguma cumplicidade de
da carta dirigida aos membros da Diretoria do
Desse forma, foi uma decisão arbitrária e des- algumas lideranças indígenas . A saúde Ticuna não
CDPAS, 16/05/96)
sem consultar os funcionários ticuna
respeitosa, pode ser pensada apenas como contratação e
MuseuJaime Custódio Manuel e Constantino
tio reciclagem de agentes indígenas, mas precisa
Ramos Lopes, e sua assessora, Jussara Gomes incluir saneamento básico a ser executado nas
em um verdadeiro símbolo político para os cinco municípios do Alto Solimões, que prefe- teiam uma vaga no magistério local.
1
MUSEU MAGÜTA A determinação da Procuradoria Regional do Tra- dos têm um curso fornecido pela OGPTB, com
baího para que as prefeituras dos municípios apoio do MEC e outras instituições, que os ha-
“O Museu Magiita é o patrimônio do CDPAS, amazonenses regularizem, até 0 mês de abril, a bilita para 0 ensino de primeiro grau. Com a
em 1997, os lideranças fecharam Museu por- situação de servidores contratados sem concurso presença da Funai, de líderes Ticuna e dos se-
que tudos funcionário entraram na justiça do público preocupa a OGPTB. Desta forma, os cerca cretários de Educação municipais, ficou acer-
trabalho para receber seu indenização. de 200 índios que atuam como professores nas tado que será estudado um concurso diferen-
Em 4 de novembro de 1997, a diretória do Tis do Alto Solimões, contratados pelas prefeitu- ciado para os índios. (ODia-RJ, 18/03/97)
Magiiía Centro de Documentação e Pesquisa do ras, terão que se submeter a concurso público se
Alto Solimões resolve tomar as providências quiserem continuar na fimção. A quase totalidade INTERCÂMBIO
necessárias à extinção desta entidade, para tanta desses professores indígenas, no entanto, não pos- NIPO- AMAZÔNICO
em comprimento, também, do seu estatuto, sui habilitação formal para 0 magislério nem 0 ní-
transfere seu patrimônio para o Conselho Ge- vel de escolaridade exigido para o concurso. O artista plástico japonês Naoalti Sakamoto,
ral da Tribo Ticuna - CGTT, entidade civil sem No início do ano, a Procuradoria enviou notifi-
em papel artesanal, viajou meio
especialista
fins lucrativos, que ficou com o patrimônio. cação recomendatórk às prefeituras, dando mundo para ensinar os índios Ticuna a impor-
Que são responsável Museu Magiita é CGTT, prazo de 120 dias para a anulação de contratos tância da conservação dos costumes artesanais.
AM1T e OASPT, que são responsáveis do Museu Durante oito dias, Sakamoto dormiu em rede, to-
Irregulares e realização de concurso público “de
Magiita não mais Centro Documentação de Pes- acordo com a conveniência da administração". mou banho de rio, comeu peixe assado e condu-
quisa do Alto Solimões, que já foi extinto o CGC, ziu uma oficina, apresentando aos índios uma tra-
A OCPTB se adiantou aos prefeitos e vai discutir
tudos os Assessores e Assessora não-índio fo- 0 assumo durante 0 1 Encontro Regional de Edu- dição oriental milenar na fabricação de papel, 0
ram em dia o próprio índios que
afastado, hoje cação Indígena - a Escola Ticuna, que começa wasbi. Os Ticuna extraem do fimiri - árvore co-
ficam dia em dias. hoje na aldeia Filadélfia, em Benjamin Constam. mum da região amazônica-papel artesanal usa-
Causa disso em 1997 um da Assessora criar mai- “Vamos propor que a prova a ser aplicada aos do na confecção de máscaras ornamentos e
or problema com índio prindpalmenle com en- professores Ticuna seja específica, levando em vestimentas típicas das festividades. A entrecasca
tidade CGTT, no dia da abertura ela queria levar
consideração a língua, a cultura e a história dos da árvore, que leva em média sete anos para cres-
tudo peça do Museu, ela só conseguiu leva para cei; fornece unta película fina com a qual os Ticuna
Ticuna”, disse Jussara Gomes, da OGPTB. Os
casa dela os livros da biblioteca do Museu. índios temem que os professores Ticuna sejam
fabricam um papel resistente e utilitário. Para fa-
Agora próprio índio recuperam tudos peças tem substituídos por professores brancos. “Isso se-
zer os adereços, os Ticuna pintam 0 papei com
321 peças que esta no exposição, e 180 peças ria extremamente danoso do ponto de vista cul-
pigmentos vegetais. Sakamoto veio mostrar aos
dade Fundação Vitac que aprovou projeto para considera a experiênda amazônica única: “Não
Museu Magiita.” (Jornal Magiita, CGTT, 1999)
MEC APOIA PROPOSTA encontraria nada fio autêntico”, revela. O papel
dos Ticuna é também uma forma dc expressão
“Quero cumprimentar a OGPTB pela preocu- artística própria, que corre o risco de ser esque-
pação com a qualidade da educação indígena. cida pelos próprias índios. O encontro, organiza-
Espero que esse processo de formação possa do e orientado peio Centro de Documentação e
continuar e que professores tenham condições Pesquisa do Alto Solimões, cm Benjamim Constant,
de exercer este importante magistério", escre- e pela arquiteta brasileira Maymni Ito, constatou
veu Ruth Cardoso, esposa do presidenle FHC, a dissolução do costume no dia-a-dia das aldeias
•^4=^ Acervo -r
_7/\C S A
I
ACONTECEU
car preso quando acontece qualquer problema DOENÇAS INTESTINAIS regional da FNS visitou algumas comunidades in-
interno na comunidade. Nós estamos sabendo MATAM NOVE dígenas do Alto Solimões e anunciou a interligação
onde Terra demarcada não é permitido a en- da rede para 250 ligações domiciliares e 20 tor-
trada do qualquer policia para prender os índi- Uma epidemia de diarréia se abateu sobre co- neiras públicas em Belém do Solimões, e a com-
os." (Jornal Magiita, CGTT, out/99) munidades ticuna do alto Solimões, no extremo pra de geradores para fazer funcionar 0 poço da
oeste do Amazonas, matando entre setembro e comunidade de Vendaval. As duas comunidades
o dia 22 de outubro nove indivíduos. A infor- foram as mais atingidas pelo surto de diarréia, com
SAÚDE mação, obtida pelo jornal.4 Crítica, de Manaus nove mortes. “Nas demais, não há condições de
(AM), afirma que um hospital militar de se cavar 0 poço, estamos aplicando 0 Iratainenlo
Tabatinga registrem este ano 2,6 mil casos de
SUSPEITA DE CÓLERA da água de superfície", disse o administrador. O
pessoas afetadas por diarréia aguda, ocasiona-
PÕE ALDEIA EM ALERTA projeto contou com a participação da Prefeitura
uma bactéria intestinal chama-
da pela ação de de Tabatinga. (A Crítica, 27/10/98)
Um provável caso de cólera na aldeia Belém do da Escherichia coli. Crianças com ató cinco
Solimões, coloca os írês mil moradores do lo- anos de idade são as maiores vítimas.
em situação de apreensão. Segundo o pre-
NOVA ORGANIZAÇÃO É CRIADA
cal De acordo com médicos citados pela reportagem,
sidente do Conselho Geral da Tribo Ticiiua o contágio pela enterobactéria é provocado atra- “Em dezembro de 1998, na reunião do CGTT,
(CGTf), Nino Fernandes, trata-se de um adulto vés do consumo de água contaminada pelas fe- na aldeia de Belém do Solimões/AM, os 42
Ticuna doente: “Não temos informações sobre zes de doentes. Análises feitas na água consumida monitores de saúde antigo, desistiram da Or-
a idade Sabemos que começou a passar
dele. pela população indígena da região de São Belém ganização de Saúde do Povo Ticuna do Alio
muito mal na madrugada de ontem”. O presi- do Solimões atestaram que os igarapés estão con- Solimões -- OSPTAS, causa do autoritaria que
dente de Conselho disse que estão em alerta taminados. A reportagem afirma que a assistên- é responsável da organização, e os agentes de
porque a aldeia já foi atingida por uma epide- cia prestada pela Fundação Nacional de Saúde saúde ficam abandonados, mais a organiza-
mia em 1995, com várias mortes. 0 cólera é (FNS) e pela Furtai é deficiente. ção 11 a aldeia não tem assembléia.
uma doença infecciosa contagiosa, que pode Os dois órgãos apontam a dificuldade de loco- Na comunidade tendo muita doença como ma-
manifestar-se sob a forma epidêmica. “A proli- moção como razão para a falta de controle sobre lária e colerá, parece 0 agente de saúde não tem
feração fica mais fácil com o hábito dos índios a epidemia. A Funai, especialmente, afirma não responsável, para caminha documento para
de viverem em comunidades e pela proximida- ter recursos materiais e financeiros para custear FUNAI e FNS, para conseguir os remédio, real-
de com o rio”. Nino informou que o índio atin- a ida de equipes até as áreas onde estão os doen- mente esta abandoanado. Causa disso os antigo
gido pela doença está recebendo cuidados na tes. “Os cortes (no orçamento) se acumulam há agente de saúde criaram uma nova organização,
que espera medicamentos da
aldeia, e disse muito tempo. Desde agosto deste ano estamos que é Organização da Agente Saúde do Povo
Fundação Nacional de Saúde. O coordenador sem um centavo", queixou-se o administrador em Ticuna- OASPT.” ffomalMagüta, CGTT, 1999)
da FNS em Manaus disse não haver confirma- Tabatinga, Walmir Torres, ao jornal.
ção da doença, mas ai nda assim o posto vai en- A redução no orçamento da Funai foi determina- CÓLERA
viar os medicamentos para suprir toda a aldeia, da no início de setembro, quando o governo fe-
(A Critica, 29/08/98) deral anunciou as primeiras medidas para ajus- “O Conselho Geral da Tribo Ticuna - CGTT de-
tar o déficit público e enfrentar a crise financeira nuncia a morte de um índio Ticuna - Nelson
CACIQUES VÃO RECEBER internacional. A FNS afirma que os antibióticos Zaguri, mas conhecido como Arigó, com idade
TREINAMENTO DE SAÚDE alé agora aplicados nos doentes não têm surtido aproximada de 50 anos, ocorrida na madruga-
efeito. Segundo a coordenadora Marília Rocha, da do dia 09 de abril, na aldeia Ticuna de Cajari
Cento e quatro caciques Tikuna da região do área indígena Évare município de Tabatinga.
citada pela reportagem, os medicamentos ade- I, I,
que consumiam as águas sujas do rio Solimões, vira notícia nacional e as providências são toma-
sem nenhum tipo de traiamento. O administrador da imediatamente. Em 95 morreram vitimados
pelo cólera mais de 07 ticimas em Belém do vam como índios e hoje são caboclos que vivem a passar como Ticuna para que Évare 1 fosse
Solimões, nesla aldeia moram mais de 3.000 m com moradores ribeirinhos do rio Solimões. demarcada apenas para os Ticuna? Como nós
índio e é considerada uma área de cólera. A FNS O secretário-executivo do Cimi, Roberto Liegott, somos caboclos se a própria Funai em seu rela-
fez um projeto para tratamento de água que es- diz que há 30 anos os Kokama voltaram a se tório sobre tribos indígenas no Amazonas nos
taria pronto para o final daquele ano e até o definir como índios, depois de terem perdido a relaciona como povo indígena? Se somos cabo-
momento não apareceu uma gota d’água tratada identidade em contato com os seringueiros da clos, por que então a limai nos deu registro in-
e o dinheiro sumiu. O CGTT cobra das autorida- região. A agente pastoral Socorro Cardoso, da dígena, que temos em mãos? Por que a Funai só
des sanitárias um trabalho sério e não os desvi- Prelazia do Alto Solimões, confirmou que os se preocupa em demarcar terra dos Ticuna quan-
os do dinheiro da saúde como está ocorrendo Kokama vivem com ribeirinhos no povoado de do existem várias outras tribos no Alto Solimões?
com a FNS.” (Jornal MagUta, CGTT, 1999) Sapo tal, a 50 km de Tabatinga, na fronteira com O presidente da Funai não sabe de nada nem
a Colômbia. (FSP, 20/02/96) conhece os problemas indígenas do Brasil. Se
ASSEMBLÉIA DISCUTE ele quer realmente saber se somos índios ou
FALTA DE ASSISTÊNCIA COMUNIDADE QUER caboclos, que venha à nossa aldeia em Sapotal e
testação encaminhada pela Coiama. “Não sabe- co instrumento legal para contestar o equívoco
Como esta acontecendo tem algum comunida-
mos quem é essa instituição, nem sabemos o da Funai — no caso, a demarcação da TI Évare I
des Ticuna que durante 3 anos nunca foram va-
cinada, por essa motivo que querem os Kokama, porque não enviaram com a área reclamada pelos Kocama dentro. As-
que nós da Agente de
nada, nenhuma carta, a nós da CGTT". ACoiama sinadas pelo coordenador da entidade, Francis-
Saúde criamos outro Organização de Saúde jun-
to nosso organização maior CGTT. Nós temos é uma instituição recente, desconhecida dos co Samias, e pelavice-coordenadora, Regina Sil-
Ticuna, da Coiab, do Cimi e das ADRs da Funai va, as cartas afirmam que estranham as declara-
106 aldeias com total de 32.457 habitante, nem
em Tabatinga e Manaus. Ovice-coordenador do ções da Funai e de outras entidades que alegam
essa metade desta população nunca foram aten-
Cimi, Francisco Loebens, suspeita que se esteja desconhecer a Coiama. (A Crítica, 01/03/96)
dido nunca tiveram Assembléia dc Saúde.” (Jor-
— limite interestadual
[
~ | terra indígena
reconhecida oficialmente
D batalhão do Exército
A aldeia
(fonte: Funai, 98)
+ pista de pouso
INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL/200O
terra indígena
í/.v;v^ Unidade de Conservação lederal
1
|
ÍO 0 10 <0 Km
- i
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n
# fonte,
, data ) (fia)
187 Lameirão Mayoruna ÍMatses) 0 Em Identificação/ Revisão. 48.500 Atalaia do Norte AM Na fronteira. Boa parte dos Matses
Identificada pelo GT do Javari Port. 1.848/ Ede que viviam nesta área,
28/09/85. P»U. Funai 174 de 10/03/95 p/ identificar transferiram-se para a Ti Vaie do
e delimitar s área (DOU, 03/03/95). Javari
333 Vale do Javari Matses (Mayoruna) 3.9B1 Cívaja:QO Delimitada. Em Demarcação. 8.519.800 Julaí AM Na fronteira.Requerimento e
Marubo Port do ministro da Jostiça 818 de 11/12/98 Senjarrtin Constant AM alvará de pesquisa mineral.
Ma rs Kcrubo declara do posse permanente (DOU, 14/12/98). S. Paulo de Olivençe AM Isolados. Rodovia planejada
Kanameri Kulma Pano Extrato de contrato 35/99 entre Funai e Setag, Atalaia do Norte AM 8R-307.
Maya Tsohom Ojapa vigência 22/12/93 a 21/12/00. Valor R$ 1.179.810.00.
Isol. do Jandíatuba (D DU, 24/12/99).
IsoL do Alto Jota
Isol. do São José
Iso. do QuJxito
1365 Vale do Javari 0 Com Restrição de Uso. 7.200 Benjamim Constant AM Gfebe que ficou fora da
Gleba Itaqual Port do pres. da Funai 904 de 11/10/99 estabelece delimitação da TI Vale do Javari.
restrição de uso pelo prazo de um ano (DOU, 14/10/99). índios isolados.
A Demarcação Finalmente
Chega ao Vale do Javari
Sílvia Cavuscens Sociólogo e indigenists, assessor dos povos do Vale do Javari desde 1384.
Contribuíram Clovis Rufino Reis, Jorge Marubo e André Maynrtina,
coordenadores do Civaja {ConseJho Indígena do Vale do Javari)
A TI VALE DO JAVARI, RECONHECIDA ção de uma área contínua, abarcando o conjunto da população
EM 1998, COMEÇOU A SER DEMARCADA indígena dessa região. A lentidão do processo de demarcação mo-
EM 2000, A REGIÃO É CENÁRIO COMPLETO tivou, em 1985, uma campanha nacional e internacional, lançada
por organizações não-governamentais no de sensibilizar as
DE UMA FRONTEIRA REMOTA DA AMAZÔNIA intuito
autoridades competentes.
BRASILEIRA: ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS
E NÃO-GOVERNAMENTAIS, FUNAI, IBAMA, O último trabalho de campo para a reidentificação e dehmitação
POLÍCIA FEDERAL, FRENTE DE CONTATO COM dessa TI, incluindo os levantamentos antropológico (referente à
população indígena) e fundiário (sobre a população ribeirinha),
ÍNDIOS ISOLADOS, MADEIREIROS, PESCADORES,
foi coordenado pela antropólogo Walter Coutinho, da Funai, no
CAÇADORES E NARCOTRAFICANTES
decorrer do ano de 1995.
A inércia do status quo começou a ser sacudida na primeira me- das. Dessa forma, em dezembro de 1998, aportaria de delimita-
tade da década passada por um conjunto de fatores diretamente ção (Portaria Dedaratória) foi assinada pelo ministro da Justiça,
relacionados à demarcação da Terra Indígena (TI) do Vale do Javari. iniciando nma nova fase deste longo processo demarcatório.
alizados em 1980, 1985, 1995/96, que apontam para a demarca- dos pelo PPTAL em 1999.
CAVUSCENS
SllVIO
A MADEIRA E A CONJUNTURA REGIONAL trabando de madeira para o Peru (cidade de Iquitos), através do
reboque em barcos com bandeira peruana, que não são objeto de
Em maio de 1996, o Ibama, com o apoio das Forças Armadas e
qualquer fiscalização.
da Polícia Federal, iniciou uma grande operação para apreensão
da madeira extraída ilegalmente da área indígena. Bloqueando Na conjuntura dessa região de fronteira internacional, um outro
os pontos de escoamento da madeira na foz dos principais rios fato importante vindo do Peru deve ser assinalado. As melhores
duto, que seriam exportados para os Estados Unidos, Europa e Javari estão justamente no Peru. Em várias comunidades lá situ-
sudeste da Ásia. adas, a partir de 1996, colonos peruanos vêm sendo assentados.
das balsascom a madeira apreendida, a Justiça nomeou os próprios dades indígenas na defesa de seus direitos, seja no que se refere à
madeireiros como seus fieis depositários. Como já era de se esperar, o terra, seja em busca de melhorias na situação da educação e saú-
produto desapareceu rapidamente. Após beneficiamento nas serrarias de, bem como de novas alternativas econômicas.
O corte de madeira na região não cessou após esse evento. A ma- ranças tradicionais, que participam, conversam e discutem os pro-
deira continua sendo extraída, principalmente na região do rio blemas nas assembléias. Entre tais líderes, João Tuxauá. maior
Jaquirana. O que acabou acontecendo foi a intensificação do con- liderança Marubo, que nunca deixou de acreditar nesse movi-
povo foi atingido por epidemias que mataram muitos de seus da Pastoral Indigenista da Diocese do Alto Solimões, já aludidos, deve-
integrantes. se destacar a contribuição da Médicos Sem Fronteira (MSF).
Ao longo dos anos, o Civaja consegqi estruturar-se. Possui uma A MSF atua diretamente no Javari desde 1994, em resposta a uma
sede na cidade de Atalaia do Norte, 13 voadeiras com motores de solicitação oficial do Civaja para que realizasse a assistência bási-
popa, um motor de centro, um flutuante e uma rede de radiofonia ca às comunidades, tratando das principais doenças (IRA, malária
que atinge todas aldeias do Javari. e DST), e cursos de formação. A MSF assumiu, ainda, a construção
do programa de fortalecimento institucional do Civaja refere-se à Curuçá, ocasionando dois óbitos em crianças de menos de 1 ano.
orientação para que a problemática do Javari seja abordada de No decorrer de 1997, graves problemas de saúde atingiram a po-
forma global. Em maio de pulação indígena do Javari, sendo que no período de fevereiro a
1997, por exemplo, o Civaja e a Pastoral
Indigenista da Diocese do Alto Solimões firmaram parceria para
maio de 1997, sete pessoas (5 crianças e 2 adultos) morreram,
desenvolver um projeto integrado junto às populações indígenas e em função, principalmente, de novo surto de coqueluche que, desta
vez, atingiu todas as aldeias.
ribeirinhas do Vale doJavari. O objetivo c realizar um processo
nos setores da saúde, educação e alternativas econômicas. As so- iniciado em 1994, visando solucionar, nas próprias comunidades, os
luções procuradas visam atender às necessidades específicas de problemas de saúde, prindpalmenle a alta taxa de incidência de malá-
cada grupo social, o que, no caso dos povos indígenas, ainda in- ria. Entre 1996 e 1998, outros AIS foram treinados, mas com elevado
clui a integridade étnica e territorial. grau de desistência. Em outubro de 1997, aFunasa realizou um Semi-
nário de Agentes Indígenas de Saúde do Vale do Javari. Com a partici-
pação da Funai e das entidades que atuam na área, 0 objetivo foi elabo-
A FUNAI NO JAVARI
rar propostas para os treinamentos dos AIS. Em 1998, cinco AIS foram
Mudanças constantes de administrador na Funai local e influen- integrados ao Programa de Agentes Comunitário de Saúde (PACS) da
cias políticas municipais e estaduais na condução do órgão têm Secretaria Municipal de Saúde de Atalaia do Norte.
motivado insatisfação por parte dos índios, que invadiram sua
Em novembro de 1998, aconteceu a I Assembléia dos AIS do Javari,
sede em junho de 1995 e em outubro de 1997. Nessa última
que contou com a presença de 28 AIS, além de representantes das
ocasião, houve nova mudança de administrador. Indicado pelas
entidades e da Funasa. A ocasião foi importante para uma definição
lideranças indígenas, chegou ao cargo o sr. Gilmar Jóias de
mais clara do trabalho de saúde na região, prindpalmente no tocante
Figueiredo Cosia Pinto, que melhorou nitidamente a qualidade
à prevenção e ao papel dos AIS. Também nessa ocasião, foi criado 0
da presença da Funai na área, ainda que sua atuação venha sen-
Setor de Saúde do Civaja, com 0 papel de preparar-se para assumir 0
do dificultada por falta de recursos financeiros e, principalmen-
trabalho da MSF, dada a perspectiva da saída da entidade da região,
te, pela indefinição quanto ao seu amai papel na relação com os
índios, reflexo da grave problemática estrutural por que passa o Em agosto de 1999, no bojo do processo de reestruturação do
órgão indigenista. Assim sendo, a equipe da Funai local é com- atendimento à saúde indígena no Brasil, 0 Civaja resolveu fir-
posta de 17 funcionários, que são obrigados a passar a maior mar convênio com a Funasa para implantar e gerir 0 Distrito
parte do seu tempo na cidade de Atalaia do Norte, sem condi- Sanitário Especial Indígena do Javari. A equipe do Distrito é
ções de deslocamento e permanência em área. composta por dois médicos, dois enfermeiros, 18 auxiliares
de enfermagem e 48 agentes indígenas de saúde, além das equi-
A divisão das responsabilidades da saúde integral ao índio entre
pes administrativa e de logística.
a Funai, encarregada da parte curativa, e a Funasa, responsável
pela prevenção, fez com que, nos últimos anos, a assistência dc Essa nova forma de relação com 0 governo federal representa um de-
saúde fosse realizada tle modo pontual, atendendo situações safio evidente para as lideranças indígenas, a quem cabe, agora, exe-
emergenciais. As campanhas de vacinação são representativas cutar as ações, desenvolvendo sua capacidade gerendal e administra-
desse período. Realizadas de helicóptero, atendem a uma parce- tiva sem, contudo, perder sua autonomia política, isto é, mantendo-se
la reduzida da população. Às vezes, passam-se meses entre uma organizadas em tomo da realização daquelas suas prioridades que
campanha e outra. extrapolam 0 setor da saúde.
É necessário interrogar-se em relação às implicações da demons- res e pescadores agiram contra a interdição da região habitada
tração de força dos funcionários da frente de contato, para este pelos Korubo, entrando em conflito, às vezes violento, com a fren-
grupo Korubo que vem mantendo contatos regulares com a popu- te de contato. São manifestações dos interesses escusos de poKti-
lação da comunidade ribeirinha do Ladário. As informações le- cos locais e dos poderes econômicos remanescentes do extrativismo
vantadas nas comunidades próximas à frente de contato dão conta pressionando a equipe da frente de contato. Entretanto, a atuação
de que os Korubo não gostam dos homens que compõem esta equi- isolada desta última contribui para acentuar a gravidade da situa-
pe e não querem ir para iá. Os Korubo teriam contraído malária ção, gerando o aumento dos preconceitos contra os índios e ten-
(provavelmente, já antes do trabalho da frente), gripe, tosse e de- sões suplementares desnecessárias. Daí a importância da articula-
senvolvido problemas de pele, em função do uso das roupas dadas ção da frente de contato com a fávaja e outros atores da região.
to, sem qualquer interação com as autoridades locais, com as enti- a construção de uma relação entre equipes de contato e índios que
dades e organizações indígenas que atuam na região e mesmo com venha, de fato, proporcionar a estes últimos a segurança, a proteção e
a Administração Regional da Funai de Atalaia do Norte tem sido ob- o bem estar necessários, isto é, a garantia de sua integridade físicae de
jeto de questionamentos. A maneira de trabalhar da frente de conta- sua sobrevivência como povo. (juího, 2000)
0 FUTURO INCERTO DOS TEMIDOS CACETEIROS Desde o fim dos anos 60, não houve um ano sequer em que não se
ouviu falar dos Konibo. Nas pequenas cidades de Benjamin Constam
e de Atalaia do Norte (3.600 hab,), que contam com uma média
Para o melhor ou para o pior, esta que era sem dúvida a última
de um ou dois incidentes por ano, raros são aqueles que não têm
"grande etnia” não contatada do Brasil parece estar normalizando
mortes para chorar ou alguma história para contar. Mais de 30
suas relações com o mundo exterior. Após cerca de 30 anos de
pessoas que se aventuraram ilicitamente em território Korubo en-
hostilidades com a sociedade brasileira, os Korubo, ou pelo me-
contraram a morte. Haveria, sem dúvida, mais vítimas ainda se
nos uma fração deles, aceitaram a proposta de paz do mais
esses índios, localmente designados como caceteiros, se valessem
renomado sertanista da Funai, Sydney Possuelo. As tentativas pre-
além dos tacapes que lhes conferiram fama, de arcos e lanças.
cedentes haviam sido breves e tensas. Mas, no fim de outubro de
1996, acompanhado de quatro intérpretes da etnia Matís vizinha, No que diz respeito às vítimas do lado Korubo, não há evidência de
de uma equipe de funcionários seletos e alguns representantes da qualquer estimativa confiável. Os matadores de ameríndios rara-
mídia, Possuelo conseguiu passar cinco dias em companhia dos mente dentam transparecer seus crimes, sobretudo na presença
Korubo. Cinco dias que certamente marcaram uma reviravolta de estrangeiros. Não há dúvida, entretanto, que são os Korubo as
decisiva na história da bacia do Javari. principais vítimas dessa guerra contida, conduzida contra os ex-
Sidney Possuelo e
um guia matís que
serviu de intérprete
no primeiro contato
pacíficocom os Korubo.
ciam as mutilações dos Korubo, cadáveres que flutuam nos rios ou mentado seguidos contatos com seringueiros na primeira metade
que jazem nas praias. Um funcionário da Funai, atualmente em do século XX. Alguns de meus informantes matís, que falam prati-
posto entre os Matís, estima que a população korubo está nitida- camente a mesma língua que os seus vizinhos Korubo e que só
mente em declínio. Sem dúvida, seria necessário rever os núme- foram oficialmente contatados no fim dos anos 70, contam, por
ros, que oscilam em tomo de 300, estimados alguns anos atrás exemplo, que seus antepassados possuíam dois “patrões” (Mai e
por especialistas. Benjamin) com os quais se comunicavam por meio de um intér-
prete de nome revelador (Korubon Anton) e que se apresentava
Os Korubo suportaram muitas provações, lúdo leva a crer que
como o fabricante das ferramentas que fornecia aos índios.
eles chegaram ao ápice de uma grave crise no momento do conta-
to de Possuelo com um segmento de soa população. Na esperança Quanto à nudez e à privação material desses índios sem arcos que
de melhorar uma situação repleta de tensões (externas e talvez são os Koinbo, pode-se postular, do ponto de vista da etnografia
também internas) que se tornava insustentável, um pequeno gru- regional, que não se traia de um arcaísmo, mas das consequênci-
po entre eles teve de deixai' o território, localizado entre o Itaquaí as de uma situação política na qual os adversários privilegiados
eo Ituí, ocupado peio menos desde o início do século XX. Foi essa passaram a ser os Brancos, em lugar de outros ameríndios da
fração de 17 pessoas que Possuelo primeiro contatou. mesma família lingüística. A privação e, particularmente, o aban-
dono dos ornamentos são, nessa parte do mundo, características
Em termos táticos, a escolha era prudente. Ao atravessar o Ituí, os
da interação com esses estrangeiros “radicais", os Brancos.
Korubo se instalavam em território inimigo (ocupado em particu-
lar por índios não contatados), distanciavam-se de seus lugares
conhecidos de caça, expunham-se, em suma, a sérios sofrimen- PERIGOS DO PÓS-CONTATO
tos, para não faiar do trauma que a decisão de migrar provocou.
O aspecto mais alarmante de toda essa situação diz respeito ao
Em lais condições, eles não recusaram, por muito tempo, os ma-
nufaturados que, espalhados pela floresta de modo
estado de saúde dos Korubo. O mínimo que se pode dizer é que a
a atrair sua
infra-estrutura médica da frente de contato não está à altura do
atenção, serviam como oferendas de paz,
resto dos equipamentos então disponíveis. Tíido leva a crer que
Possuelo, que chegou à região em maio de 1996, não precisou de um eventual surto de gripe, nada improvável, teria consequências
mais de seis meses para atingir os seus fins, diferentemente das tenta- desastrosas para a sobrevivência dessa população.
tivas de contato magicamente fracassadas em meados dos anos 70.
A longo prazo, é possível que a “pacificação” resulte na invasão
Há alguns anos, a tensão aumentava na região, tanto na cidade massiva de suas terras ou, ao menos, na intensificação do contato
como na floresta. Em Atalaia do Norte, houve notícias da com os brancos. Não causaria espanto se as famílias de não-índios
dinamitagem de casas comunais e de expedições armadas destina- que recentemente tugiram das margens do Ituí devido à ameaça
das a resolver de uma vez por todas o problema korubo. Num tal Korubo para lá voltassem, de modo a escapar da miséria da comu-
contexto, a Funai não teve outra opção senão contatar os Korubo. nidade fundada nas proximidades de Atalaia, num lugar chamado
Idealmente, mais valeria deixar os Korubo em paz e regulamentar Santa Cruz (comunidade significativamente apelidada de
de maneira estrita o acesso ao seu território. Mas deixou-se que o “Contrabanda”). Seria surpreendente, todavia, que as referidas fa-
conflito viesse à tona - os jogos econômicos eram muito impor- mílias tivessem essa idéia por si sós.
tantes e a situação por demais explosiva. Apesar dos riscos eviden-
Paradoxalmente, na medida em que os Korubo vivem mais perto
tes que ele comportava, esse contato representava talvez uma das
de Atalaia que outras etnias da região, contatadas há décadas, pode-
últimas chances de sobrevivência para os Korubo.
se dizer que a atitude dos primeiros colocou em xeque a seguran-
ça que havia nos territórios indígenas situados mais a montante,
AO VIVO E ONLINE particularmente o dos Matís e dos Marubo. O advento do “perigo
Geographic pôde acompanhar, ao vivo e on tine, o desenrolar das por parte da mídia, perdido o entusiasmo típico da atmosfera dos “pri-
operações. Diante de uma tal mediatízação com todo esse aparato, meiros contatos”, será cada vez mais difícil sensibilizar o público quanto
e a conseqüente globalização das imagens, torna-se preocupante aos verdadeiros problemas, que não deixarão de existir e ecoar.
Acervo
_//\C I SA
1 Kfc» ANOS DEPOIS itacoaí funciona bem, à noite e de
dia, impedindo praticamente toda
Os parágrafos acima são uma versão para o português de artigo
e qualquer penetração por ria flu-
publicado em francês em 1997 (revista Ethnies) Depois disso, a
vial. Os habitantes do vilarejo de
situação na frente de contato evidentemente evoluiu. Uma certa
fadário (a jusante do posto flutu-
normalização das relações parece ter sido conquistada desde en-
ante da Funai) bem que tentaram
tão, depois de algumas crises, dentre as quais a mais dramática
contornar o obstáculo a pé, abrin-
culminou na morte do sertanista Sobral Magalhães, assassinado
do algumas trilhas na floresta. No
por um Korubo em 22/09/1997. Muitas hipóteses circulam, e, sem entanto, essa tática rendeu pou-
dúvida, jamais saberemos qual foi exatamente o mal-entendido que
cos resultados. Os Korubo, na
motivou a tragédia. Depois de mais de um ano de visitas, regulares
companhia de alguns Matís, espa-
e aparentemente amigáveis, um funcionário pagou com a própria
lharam armadilhas sobre as trilhas
vida por uma desatenção nas suas relações com os Korubo. Te-
em questão para defender seu ter-
mia-se que as tentativas de aproximação fossem comprometidas e,
ritório. Dois invasores foram feri-
de fato, os índios deixaram passar muitos meses antes de voltar a
dos, e a população regional, já
visitar o posto. Mas voltaram, fazendo, segundo os Matís, como se
muito frustrada, começou a de-
nada tivesse acontecido. O retorno foi motivado, em particular,
sesperar-se. A pressão subiu a tal
pela busca de auxílio médico. Naquele período, a doença os havia
ponto que, em fevereiro de 2000,
atingido (malária, entre outras), matando algumas crianças.
cerca de 300 habitantes de Ben-
Um segundo drama veio à tona dois anos depois. Quando se ba- jamin Constant, armados com fu-
nhava bem em frente ao posto flutuante que serve de base para a zis e coquetéis molotov, retomaram à confluência, determinados a
equipe de Sydney Possuelo, no mesmo local em que Sobral teve pressionar o pessoal da base ou mesmo causar transtornos. Não
seu crânio esfacelado, uma menina Korubo desapareceu em pleno houve vítimas, mas foi necessária a intervenção de helicópteros e
dia, levada para o fundo da água por algum animal, certamente da Polícia Federal para restabelecer a calma.
uma anaconda. Como os Korubo poderiam atribuir esse novo in-
adolescentes, de quem tudo, a começar pela baixa qualidade de seu vigente desde outubro de 1999, permitiu a Possuelo suprir as ne-
cessidades do posto que impede o acesso ao território Korubo.
artesanato, indicava falta de experiência. Hoje, se sabe que o peque-
no grupo contatado por Sydney Possuelo separou-se do resto da Além disso, 0 processo legal de demarcação das terras, em ques-
etnia depois de um conflito em tomo de uma mulher, mas ainda tão há muito tempo, parece, enfim, em vias de se concretizar. Um
restam muitas incertezas quanto à história mais geral da etnia.
projeto inicial previa a interdição da ocupação de uma margem
apenas do Itaquaí, 0 que poderia resultar na abertura para todos
os tipos de invasões. Depois de muitas discussões, 0 projeto defi-
A POPULAÇÃO REGIONAL nitivo inclui, doravante, as duas margens do rio, oferecendo ga-
Se o clima melhorou no que diz respeito às relações entre os Korubo rantias suficientes. Se é necessário estar muito atento à maneira
e os membros da equipe de Possuelo, as relações da última com a pela qual as coisas evoluem, há que se indicar, da mesma forma,
população regional, ao contrário, parecem degradadas. A fiscali- um mínimo de otimismo. Depois de 30 anos de conflito, não é tão
zação exercida pela Funai na região de confluência do Ituí com o cedo para tanto, (maio, 2000)
falta de oportunidade econômica para as popu- queológicos mais importantes do mundo. Para
A audiência pública realizada ontem (8/5/96) pela
lações amazonenses nestas áreas obriga índios ele, a fronteira amazônica não passa por um
Comissão de Defesa Nacional da Câmara dos De-
e caboclos a procurar trabalho junto aos processo de internacionalização, mas de
putados, motivada pelas denúncias conddas na
reportagem “A Amazônia dos Esquecidos", exibi-
narcotraficantes. A mão-de-obra indígena, dis- “desnacionalização”. (A Critica, 09/05/96)
se, é usada para a primeira etapa da produção
da no Globo Repórter sobre a ação do narcotráfico,
da chamada pasta-base que, depois de ir a la- ... E EMPRESAS QUE
o contrabando de madeiras nobres e pescados,
trabalho escravo no Vale do Javari, na fronteira
boratórios clandestinos, é transformada em co- CONTRABANDEIAM
com o Peru e a Colômbia, deixou claro que a
caína pura. (A Crítica, 09/05/96) MADEIRAS NOBRES
região é um garimpo genético, onde recursos na-
... LABORATÓRIOS QUE
Ainda na Comissão de Defesa Nacional, o su-
turais são depredados à vontade. E, como ocorre
perintendente do Ibama, Hamilton Casara,
com todo garimpo, deixa cada vez mais pobre a SAQUEIAM RECURSOS
disse que está ocorrendo uma “garimpagem
população local e, assim que acaba a atividade no GENÉTICOS...
de madeiras nobres na última reserva flores-
local, dáxa destruição e miséria.
O professor da Universidade do Amazonas, tal do Brasil". Para explicar a denúncia, Ca-
0 superintendente do Ibama no AM, Hamilton
Frederico Arruda, denunciou aos deputados da sara disse que as empresas madeireiras são
Cesara, denunciou a “garimpagem” da floresta
Comissão de Defesa Nacional que laboratórios na- itinerantes, como o garimpo. Quando acaba
assim como o pesquisador da Universidade do
cionais e estrangeiros, em cooperação, estão o que estão procurando, seguem e se insta-
Amazonas, Frederico Arruda, denunciou a garim-
contrabandeando recursos genéticos da lam em outras regiões, tudo com uso de bai-
pagem genética, sobre a biodiversidade local.
biodiversidade do Vale do Javari. Para provar sua xa tecnologia e descumprimento da legisla-
Mauro Spósito, da PF do estado, confirmou a mai-
declaração, o pesquisador mostrou cópias de pu- ção. Segundo ele, há 1 1 serrarias do lado bra-
or área de plantação de coca na fronteira e o ad-
blicações internacionais mostrando a cooperação sileiro da fronteira e outras tantas do lado pe-
ministrador da Funai em Atalaia do Norte, na mes-
entre tais laboratórios. Na publicação Washington ruano.A madeira extraída é contrabandeada,
ma região, disse que os invasores das terras indí-
Insit, ele mostrou informações de que, em 1994, “em milhares de toneladas”, bem como ani-
genas da região estão chegando cada vez mais perto
foram enviados paia fora 1 5 mil extratos vegetais e mais silvestres, pescados ou vivos, Casara dis-
das aldeias de índios isolados, colocando em ris-
que a previsão para 1995 era de que esse número se que o Ibama no AM tem apenas 163 servi-
co a própria sobrevivência dessas populações.
alcançasse 20 mil. Ele informou ainda sobre um dores para cuidar de 1,5 milhão de km 2 .
TRÁFICO QUE
...
'
de uma área interditada pela Fintai devido à arem a entrada do rio Quixito com três barcos. RECORDE DE APREENSÕES
existência de um grupo Korubo isolado. A ope- O Exército ajuda na operação, que esteve pró-
ração começou no dia 10 de maio e tem a par- xima de trocar tiros com madeireiros do local.
A apreensão de 3.565 toras de madeiras nobres
ticipação do Exército, da PF e do governo do Na operação, a PF constatou ainda trabalho es- no Vale do Javari bateu todos os recordes estatísti-
AM. Pontos de escoamento da madeira foram cravo na extração de madeira nos municípios cos do Ibama nos últimos anos. A informação foi
bloqueados - rios Itaeoaí, Ituí e javari - pelos de Atalaia do Norte e Benjamin Constam. Nes- dada pela assessoria de comunicação do órgão,
homens da operação. Balsas carregadas com ses locais, os empresários pagam os trabalha- em Brasília, que afirma ainda que esse montante
toras foram interceptadas, mas ninguém foi pre- significa quase a metade da madeira em toras apre-
dores apenas com rancho (comida), roupas e
so ou pagou multa. As toras seguiriam pelo rio armas por uma permanência de dez meses na endida em todos os estados desde janeiro. Os nú-
Solimões até as fábricas de Manaus. mata. Segundo os fiscais do Ibama, todas as meros colocam o estado do AM em primeiro lu-
"Estamos fazendo perícia no locai para desco- madeireiras da região atuam sem projetos de gar, como recordista de apreensões.
brir qual é a madeireira responsável pela ex- manejo ou qualquer de regularização. A
tipo O Ibama continua fiscalizando e apreendendo
tração ilegal e comercialização", afirmou Ha- população está dividida em relação à operação: madeiras sem origem e vai apresentar nos próxi-
milton Casara, do Ibama amazonense. A Asso- alguns parecem indignados com a ostentação mos dias as informações necessárias àjustiça Fe-
ciação dos Madeireiros do Alto Solimões (Amas) deral sobre os cerca de 8 mil metros cúbicos apre-
dos madeireiros, que exibem mansões, carros
afirmou que a madeira foi retirada de áreas do ano e possantes voadeiras. Ao mesmo tem- endidos. À informação foi dada pelo superinten-
particulares. “Os donos das propriedades pos- po, as cidades estão à míngua. “Até hoje não se dente substituto do Ibama no AM, José Ricardo
suem títulos definitivos que garantem a regula- entende para onde vai todo esse dinheiro (da Araújo Lima, e do procurador do órgão, Faulo
mentação da posse da terra”, disse o presiden- madeira)", diz um funcionário público sob con- Figueiras. Eles explicaram ainda que a liminar
a
teda entidade. Túlio Albuquerque, que é con- dição de anonimato.
concedida pelo juiz federal da I Vara, Marcos
tra a operação. “O Ibama está favorecendo o A apreensão do barco que transportava o lote
Augusto de Sousa, suspendendo o leilão das toras,
narcotráfico”. Casara retrucou a afirmação, di- como vereador Valério Ramos, de Benjamin recuperar a madeira apreendida e interromper a
zendo que “concordar com a exploração pre- Constam. Eles afirmam que a medida é arbitrá- fiscalização. O Ibama informou ainda que a che-
datória seria concordar com um alto prejuízo à ria, já que a atribuição pertence à Capitania dos fe subsfiUita da Funai local, Sílvia Regina Tafuri,
sociedade”. (OESP, 15/05/96) Portos, Hoje, uma comissão de vereadores de confirma em documento que a madeira foi reti-
Benjamin Constam deve impetrar um mandado rada dos rios Ituí e Iíaquaí, na reserva. Vale do
... E MADEIREIROS RECLAMAM de segurança contra o Ibama por suposto abu- Javari. (A Crítica, 23 e 24/05/96)
balhadores no Alto Solimões estão sem empre- Parte da madeira apreendida nos rios Pau Bran- russa que foram encontrados e presos no inte-
go em conseqiiência da apreensão de madeiras co e Extremão pertence ao madeireiro José rior da TI Vale do Javali no dia 18, numa ope-
em toras pelo Ibama. Para o indigenista, a rea- Siqueira Filho, de 74 anos, que explora a ativida- ração conjunta com o Departamento de Índios
ção dos madeireiros acontece sempre que uma de há mais de 50 anos. Cearense do interior do Isolados da Funai . De acordo com informações
ação de fiscalização é realizada sobre a saída estado, ele alertou que está disposto a reunir 200 da Funai, os dois russos Vladmir Zeverev e
ilegal de madeiras da região e do Vale do Javari, homens armados para lutar contra a operação Anatoli Khijniak, ao serem abordados pela equi-
Ele lembra que o Vale do Javari sempre pediu que classifica como “o tiro de misericórdia” na pe do Departamento e pelos agentes da PF, se
uma maior atenção do governo através dos ór- economia de dois municípios dependentes da identificaram como sendo arquiteto e geógrafo.
gãos públicos, como o Ibama, a Funai c a PE comercialização de madeira. “Estou arruinado, Contaram que vieram ao Brasil para conhecer
Possuelo denuncia que a madeira cruza o mas sou capaz de gastar o último cartucho da populações indígenas, atraídos por reportagens
Solimões, chega a Manaus (AM) e sai do país minha espingarda para trocar tiros contra as feitas pela televisão do país deles e por ima-
por Belém (PA). “Alguns carregamentos de metralhadoras dos federais e militares", disse. O gens na rede mundial de computadores
madeira brasileira são feitos com notas fiscais barco apreendido pelo Ibama pertence a Azanir (Internet) .
(A Crítica, 23/03/99)
de empresas peruanas”, declarou. Possuelo está José Graça. Graça disse que o Ibama está usando
na região comandando a frente de atração dos seu barco na operação indevidamente. Um servi- TRÁFICO USA ÍNDIOS, DIZ
dor do órgão confirmou a informação, mas
Korubo. (A Crítica, 16/05/96) SECRETÁRIO ANTIDROGAS
negou que haja empecilho legal no uso.
NOVA APREENSÃO Em Benjamin Constam, e Atalaia do Norte, a no- índios da região dos rios Javari e Japurá, no
tícia de que toda a madeira apreendida será lei- Amazonas, estão sendo usados para transpor-
DE MADEIRA...
loada provocou indignação em políticos e em- tar insumos químicos do Brasil para laborató-
Fiscais do Ibama c da PF fizeram nova apreen- presários. Estes pretendem mobilizar a popula- rios de refino de cocaína na Colômbia. A infor-
são de madeira - cerca de 1.150 metros cúbi- ção em uma passeata contra a operação fede mação é do secretário nacional Anlidrogas,
cos - que estavam camuflados nos igarapés do ral. É visível a estagnação econômica da região, WaJter Maierovitcli, que participa em Tabatinga
Pau Branco e Extremão, afluentes do rio Quixito, a queda no comércio e a paralisação das serra- (AM) de um encontro com autoridades brasi-
Vale do Javari, município de Atalaia do Norte riascom a falta de matéria-prima. Das seis gran- leiras e colombianas. Maierovítch disse que os
(AM) Com a ajudou de
. um mateiro, os fiscais des serrarias, cinco estão paradas. O desempre- traficantes usam os índios para trazer insumos
conseguiram chegar ao local, depois de bloque- go é crescente. (A Crítica, 22/05/96) do Acre pelo rio Javari, passando pelos rios
Alves e José Alves Lopes - foram apreendidos gena Vale do Javari, os pescadores de Benjamim ... E RECEBE SOCORRO DE ONG
400 quilos de peixe Uso, tracajá abatido, mate- Constant e Atalaia do Norte planejam desafiar a
Profissionais da Médicos Sem Fronteiras
rial de pesca, armas e canoas. A prisão dos in- vigilância da Funai e entrar na reserva em bus- (MSF), ONG que atua em regiões carentes do
vasores da TI foi feita por uma equipe de fisca- ca de peixe. Uma reunião ratificou a posição mundo, estão no Vale do javari, prestando
lização da Funai e policiais militares de dos ribeirinhos de entrar ilegalmente na região, comunidades indígenas locais.
assistência às
Tabatinga.A área já está delimitada, aguardan- a exemplo do que ocorreu em janeiro, quando A entidade está tentando controlar o surto de
do demarcação, mas vem sendo invadida cons- queimaram o posto da Funai local. “Dessa vez, malária que só neste ano atingiu 1 68 índios.
tantemente por madeireiros, pescadores e ca- o objetivo é somente pescar", sustenta João A MSF preparou 13 microscopistas indígenas
çadores. (A Crítica, 15/07/99) Vieira da Silva, presidente da Colônia de Pesca- e deixou às comunidades sete microscópios
dores Z-3, completando: “Queremos um acor-
e sete motores “rabetas” para servir de apoio
PESCADORES DEVOLVEM do que nos permita transitar em parte da reser- ao trabalho de diagnóstico da malária e para
va”, disse Vieira. (A Crítica, 11/07/00)
CANOAS E REDES... o transporte dos agentes de saúde e doentes
da área. (A Crítica, 01/06/96)
Os pescadores de Benjamim Constant e Atalaia
do Norte cumpriram sua parte no acordo que
uma “guerra" com funcionários da Funai,
evitou
comandados por Sidney Possuelo, e com o de-
legado-chefe do Departamento de Projetos Es-
peciais da Superintendência da Polícia Federal
TERRA/DEMARCAÇÃO Somente poderão ingressar e locomover-se na Peru, vivem grupos Kanamari, Korubo (este,
área, por tempo determinado, pessoas autori- recentemente contatado pela órgão indigenista
zadas pelo Departamento de índios Isolados da federal), Kulina, Marubo, Matís, Mayoruna,
PORTARIA RESTRINGE Funai. A restrição não se aplica às Forças .Arma- além de outros ainda isolados. Com a aprova-
INGRESSO NA TI das e policiais, no exercício de suas funções ção do relatório, publicado no DOU no dia 29
VALE DO JAVARI... constitucionais, cujas entradas e deslocamen- de maio, abre-se 0 período de 90 dias para 0
tos deverão ser acompanhados por funcionári- encaminhamento de contestações à Funai, com
Através de Portaria n° 810, de 25 de setembro os da Funai. (DOU, 30/09/96) base no Decreto 1.775/96. (ISA, 03/06/98)
de 19%, 0 presidente da Funai, Júlio Gaiger,
baseado no reconhecimento do direito dos ín-
FUNAI APROVA TERRA
... E MINISTRO A DECLARA
...
dios às terras que ocupam, independente da
DOIS ANOS DEPOIS... DE POSSE PERMANENTE
demarcação, estabelece a restrição ao direito
de ingresso, locomoção e permanência de pes- O presidente da Funai, Sulivan Silvestre, apro- Através da Portaria n° 818 dei 1/12/98, 0 mi-
soas estranhas aos quadros da Funai, por três vou no último dia 26 de maio as conclusões do nistro da Justiça Renan Calheiros declara de
anos, no perímetro da TI, descrito pela Porta- relatório de identificação e delimitação da TI ocupação permanente indígena a TI Vale do
ria n° 1.849/E de 8 de abril de 1985 que inter- Vale dojavari, com 8.457.000 ha. Na área, situ- Javari, com 8.519.800. ha de superfície e 2.068
ditou a área. ada no estado do Amazonas, fronteira com 0 km de perímetro, localizada nos municípios de
como um todo. Visando reforçar essa política de proteção efisca- • Pronujver intercâmbio com outras iniciativas
lização, o DEU e 0 Centro de Trabalho Indigenista de proteção etm-ambiental na Amazônia;
Reconhecida e interditada pela Funai em 1985 a ,
(CTI) estabeleceram, em 1997, uma parceria para • Apoiar as atividades do Conselho Indígena do
Terra Indígena (Ti) Vale doJavari nunca foi obje- executar 0 Programa de Proteção Etno-Ambiental Vale do Javari (Ctvqja) visando orientar e capa-
to de uma estratégia de proteção e fiscalização do Vale dojavari. O Programa, com duração pre- citar seus dirigentes para as ações de proteção e
por parte do governo brasileiro. As retiradas ile- vista de 36 meses, teve apoio aprovado pela Agên- vigilância da TL
gais de madeira e de outros produtos eram feitas cia de Cooperação Espanhola (ABC!) em março de Visando atingir estes objetivos, o Programa pro-
abertamente, com 0 envolvimento da própria po- 1999, e pela Comissão Européia ( CE) em outubro pôs-se executar as seguintes atividades/ações:
pulação indígena aliciada pelos invasores. Tal
, do mesmo ano. • Reforçar a estrutura de fiscalização e vigilân-
estado de coisas só começou a mudar em 1996, Seu objetivo global é a preservação da Terra Indí- cia da base estabelecida na confluência Ituí-
quando a Funai, por iniciativa e sob a coordena- gena Vale dojavari, visando o bem estar dos povos Itaquaí, aumentando seu efetivo técnico-
ção de seu Departamento de índios Isolados indígenas que ali vivem e seus recursos naturais, operacional e sofisticando sua rede de comuni-
(DEU), estabeleceu a Frente de Proteção Etno- principalmente os pequenos grupos isolados sob cação com a base logística de Tabatinga;
Ambiental do Vale do Javari. constante ameaça. Atendendo à filosofia de tra- • Estabelecer novas bases de controle (Postos de
A base de operações dessa Frente foi instalada na balho do DEU, 0 projeto não busca estabelecer o Vigilância) em pontas estratégicos da TI ( confluên-
confluência dos rios Itaquaí e Hui, limite seten- contato com os grupos indígenas isolados, a não cia dos rios Itaquaí-Quixito e Jutaizinho-Jandia-
trional da TI e região por onde costumam ser em situações extremas, quando isto se revelar tuba) e implementar as ações de fiscalização;
perambular membros da etnia isolada Korubo. O como a única alternativa viável fmra lhes garan- • Estabelecer um
sistema cartográfico geo-
apoio do Ibania e da Polícia Federal às atividades tir a sobrevivência física. referenckulo para o monitoramento da TI;
de fiscalização permitiu a realização de apreen- Trata-se de estabelecer um conjunto de ações de • Realizar sobrevôos periódicos para detectar in-
sões de carregamentos de madeira, peles e carne proteção visando propiciar-lhes condições de se- vasões e mapear as malocas de grupos isolados;
de animais silvestres e pescados extraídos ilegal- gurança para uma vida livre e autônoma - e, qui- • Implementar expedições terrestres sistemáticas
mente da TI interditada, bem como 0 indicia- çá, para recompor seu contingente populacional para identificação de sinais da presença de gru-
mento dos infratores. e seu modo de vida tradicional. Para tanto, foram pos isolados em determinados pontos da TI;
Em 1997, a equi/w da Frente decidiu estabelecer estabelecidos os seguintes objetivos específicos: • Estabelecer um banco de dados para delimita-
contato com um grupo de 21 Korubo que come- • Consolidar as estratégias de proteção física da ção da área de perambulação dos grupos isola-
çou a perambularfora dos limites da TI. O objeti- TI Vale dojavari dos e para 0 conhecimento da sua dinâmica de
vo era garantir a sobrevivência do grufx), que se • Mapear as dimensões das áreas de domínio dos ocupação;
aproximava perigosamente dos vilarejos ribeiri- povos indígenas isolados: • Implementar ações de saúdejunto aos Matis e
nhos. Hoje, esses Korubo mantêm relações pacífi- • Conhecer em detalhes a dinâmica de ocupação Korubo já contatados através de um barco equi-
cas com osfuncionários da Frente, de quem rece- destes povos, sem a necessidade de estabelecer 0 pado para esta finalidade;
bem eventual assistência de saúde, principalmen- contato • Organizar um kit audiovisual itinerante para
te para 0 tratamento de malária. • Estabelecer e executar um Plano de Atendimen- divulgação das ações do projeto junto à popula-
to à saúde aos grupos recém -contatados (Matis e ção não-indígena;
Korubo); • Implementar seminários e reuniões de traba-
• Melhorar o conhecimento sobre as populações lho nas aldeias dos povosjá contatados, com apoio
indígenas e a utilização que fazem dos recursos do Civaja, buscando 0 envolvimento mais efetivo
naturais para o estabelecimento conjunto de al- desta população nas ações de proteção e vigilân-
ternativas econômicas para os povos com longo cia. (Trechos de folder do Centro de Trabalho
tempo de contato; Indigenista)
termina a demarcação administrativa da área. deu liminar aos madeireiros é filho de um de-
ÍNDIOS APOIAM AÇÃO
(DOU, 14/12/98) les. O documento alerta ainda para o contra-
CONTRA MADEIREIROS bando de pescado para a Colômbia. (A Crítica,
O Civaja divulgou documento manifestando pre- 26/05/96)
FUNAI RKSTRINGE ACESSO ocupação em relação à exploração de madei-
À REGIÃO DE “ISOLADOS” O coordenador
ras na TI do Vale do Javari. da ÍNDIOS E RIBEIRINHOS
entidade, Clóvis Rufino Marubo, declarou que
A Ftinai, através da Portaria n“ 964, estabelece DISCUTEM EXPLORAÇÃO
“a extração de madeira vem gerando uma gran-
restrição ao acesso naTI Vale dojavari - Gleba SUSTENTADA
de invasão em nossas terras, o que resulta em
Itaquaí, localizada no município de Benjamim
conflitos entre o branco e os índios, principal- índios e ribeirinhos da Amazônia estão jun-
Constant, cuja extensão é de 7.200 ha e 74 km primeira vez, discutindo o desenvol-
mente os isolados (os Korubo), que correm o tos, pela
de perímetro. Esta lerra constava da Portaria
risco de extinção se a atividade continuar". Um vimento da região e a exploração sustentada
n“ 810, de setembro de 1996, que restringiu o
retrospecto apresentado da invasão das terras dos recursos naturais. O encontro inédito
ingresso à TI Vale do Javari, mas ficou fora do
indígenas cita várias etnias que foram extintas acontece desde ontem, num hotel a 25 quilô-
perímetro da TI quando foi declarada de posse
em consequência do contato com os brancos. metros do município de Atalaia do Norte - a
permanente. Devido à existência de índios iso-
O documento divulgado pelo Civaja ressalta que cerca de mil km de Manaus. O coordenador
lados, nesse perímetro, a Funai restringe a en-
a atividade madeireira não traz nenhum benefí- do Civaja, Clóvis Marubo, acredita que a dis-
trada, locomoção e permanência de pessoas
cio à população local, pois esta é realizada com cussão é a única saída para que índios e ribei-
estranhas aos seus quadros, pelo período de
trabalho semi-escravo. “A exploração vem sen- rinhos vivam em harmonia. Segundo ele, os
um ano. (DOU, 14/10/99)
do feita na área indígena que atualmente está brancos são muitas vezes insuflados por ma-
interditada pelo Ministério da Justiça; além dis- deireiros para ficar contra a demarcação das
CONTRATO PARA so, a madeira é explorada e exportada ilegal- terras indígenas. O encontro termina, na se-
DEMARCAÇÃO DA TI mente, o que vem caracterizando o contraban- gunda-feira, com a organização de um docu-
do que traz grandes prejuízos ao país". De acor- mento. O texto irá definir propostas para que
A empresa Selag Serviços Técnicos Uda. ven- do com o Civaja, os madeireiros pertencem à o governo apoie a parceria entre os grupos.
ceu a licitação para demarcar a TI. A vigência classe política local, inclusive à família do bis- Participam da reunião representantes da Funai,
do contrato assinado entre Funai e empresa é po Alcimar Magalhães, que incita a população a do Ministério da Saúde, da Pastoral Indigenista
de um ano a partir de 22/1 2/99, O custo é de apoiar a atividade com a promessa de doar do Alto Solimões e ainda do Cimi. (Jorna! da
Rí 1.179.810,00. (DOU, 24/12/99) madeiras para a construção de casas. Nas cida- Tarde. 18/04/98)
da população, criar mais empregos, trazer gente do muitos conflitos com a população regional e Acreditamos que para melhorar, a única solu-
de fora para ocupar nossas terras consideradas os poi os indígenas que ali moravam. ção é oferecer mais recursos e condições de tra-
"vazios demográficos ", Além de profxir a seguran- Sabemos que o mesmo acontecerá aqui, já que as balho para as instituições locais, tais como: pre-
ça na área de fronteira. terras indígenas representam mais de 60% do to- feituras, entidades da sociedade civil, organiza-
Nossa memória é viva, não esquecemos que o tal da superfície do território do Alto Solimões. /lí ções indígenas. Recursos devem ser repassados
autor do projeto, Deputado Buler Ribeiro, mui- nossas terras serão invadidas e os nossos povos para região mas não para serem gastos com
,
tas vezes se posicionou contrário aos interesses sofrerão de novo muitas violências e desrespeito. mais administração, mais burocracia, como
dos povos indígenas. Na nossa região, ele apoia Principalmente os grupos indígenas isolados en- ocorre na proposta da criação dos Territórios
as empresas madeireiras jogando a população contram-se ameaçados devido à sua fragilidade Federais. Além disto faz-se necessário criar me-
regional contra os nossos povos. Ele tampouco no contato com a sociedade regiotud. canismos sérios de fiscalização desses recursos.
conhece a nossa realidade nem a vida e o sofri- Sabemos que as empresas madeireiras querem o Exigimos também a demarcação de nossas terras
mento dos ribeirinhos. Ele afirma estar preocu- Território Federal para poder conseguir mais como única forma de garantir a nossa sobrevi-
pado com a nossa situação. Ele está tão preocu- afxtio e recursos financeiros a fim de reiniciar a vência em respeito à própria Constituição de I9HH.
pado que não fez nada nem quando era secretá- extração da madeira de lei, sem quaisquer preo- Poderemos assim viver em paz na nossa Terra,
rio de saúde do Estado. cupações para os índios ou para os trabalhado- trabalhando e garantindo o nosso futuro, contri-
Corno poderíamos aceitar essa proposta sem des- res madeireiros que vêm explorando ao longo das buindo efetivamente com o desenvolvimento dessa
confiança, uma vez que vai beneficiar apenas os últimas décadas. região, resguardando inclusive melhor do que nin-
políticos desacreditados e os donos das empresas A única verdade contida no projeto do Deputado guém as fronteiras deste País. Aldeia São Sebasti-
madeireiras atualmentefalidas7 Como sempre, os Euler Ribeiro é que o povo está sofrendo, passan - ão, 13/03/1997".
Policiais da Dinandro
I polícia antinarcótico
do Peru ) investigam
com os Matsés da
comunidade Santa
Rosa, Quebrada
Chobas, informações
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r
sobre a existência '
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de pista de pouso WV
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clandestina.
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CIVAJA BUSCA PROJETOS DE “FANTÁSTICO” DENUNCIA Vale dojavari, estamos com dificuldades de po-
As comunidades indígenas do Vale do Javari, na CIVAJATEME REPRESÁLIAS cidade e nem podemos remover doentes, difi-
cultando assim o nosso acesso com parentes e
região do Alto Solimões, querem quebrar a de-
Através de carta à Funai, os coordenadores do comunidades indígenas no Vale dojavari, e a nos-
pendência econômica da indústria da pesca e da
Civaja denunciam os riscos que correm após sa comunicação radiofônica é interferida por pes-
madeira. 0 Gvaja estuda a elaboração de proje-
denúncias divulgadas pelo programa de tele- soas que não se identificam. Sendo que nossa
tos agroextrativistas para buscar financiamento,
visão "Fantástico”, da Rede Globo: vida está em risco...
através do programa de Projetos Demonstrativos
“Nós, coordenadores do Gvaja, vimos através des- Além disso, os empresários madeireiros de Ben-
(PDA), patrocinado pelo PPG-7, Submetidos, du-
ta informar que a missão realizada pela PF no dia jamim Constant querem denegrir a imagem da
rante décadas, ao trabalho semi-escravo que abas-
6 a 16 de julho 1998, no rio Curuçá, com objeti- Funai e lançam notas no jornal dizendo que a
tecia a indústria madeireira, os índios das tribos
vo de localizar pistas clandestinas de narcotráfico Fundação pode ter facilitado narcotraficantes,
Kanamari, Marubo, Matís e Mayuruna começam
na área que foi divulgada no Fantástico no dia 1 culpando a entidade Médicos Sem Fronteiras e
a discutir alternativas econômicas capazes de
de julho de 1998, apareceram pessoas que esta- índios que estão envolvidos com o narcotráfico
romper com a dependência do capital estrangei-
vam acompanhando a tripulação do barco de pro- na região, isso è tumultuar para impedir a de-
ro. Jorge Oliveira Duarte, do Civaja, contesta a
priedade do Civaja, sendo todos eles indígenas, marcação da Vale do Javari... Queremos tam-
acusação dos madeireiros de Benjamin Constant
como entrevistados Darci Marubo e Waldez, fun- bém que crie um posto de vigilância definitiva
de que os índios estejam favorecendo a ação de
cionário do DU da Funai no Javari. O descobri- na entrada do rio Curuçá para controlar não
narcotraficantes na região. Segundo ele, os ma-
mento de saída de tráfico de drogas no afluente somente o narcotráfico, mas também a entrada
deireiros '‘espalham o boato” para interromper
do rio Pardo e igarapé Todos Santos, nesta ope- e saída de pescadores e caçadores que tiram
o processo de demarcação das terras indígenas
ração da PF, trouxe hoje um clima muito tenso também a caça a pesca, alevinos e filhotes de
na região. Cerca de 90% do território de Atalaia
para os índios das comunidades indígenas tartaruga, que estão ameaçados...
do Norte, onde está localizado o Vale do Javari, é
Marubo, Mayoruna e Kanamari, mais próximos Nós do Civaja, queremos ajudar muito para que
composto por área indígena em aproximada-
daquela região. Tememos que os narcotraficantes a demarcação de nossa terra sej a agilizada logo
mente 8.400.000 ha. (A Crítica, 04/08/98)
entrem em conflito com os índios. E também, os depois do final do prazo de contestação que
índios foram entrevistados pelo Fantástico, e nós termina no final de agosto de 1998. Queremos
do Gvaja, diante deste fato, estamos ameaçados apoiar a demarcação de nossas terras, dizendo
e acusados como informantes para a PF. Com isso, onde devem ser colocadas as placas junto com
índios em trânsito no referido rio Curuçá e rio a Funai, e a equipe de demarcação de nossas
Pardo, principalmente rio Javari que é fronteira terras...” (O Mensageiro, set-out/98)
do Brasil com o Peru e território dos povos do
A National Geographic começa a exibir esta se- Santana e um trabalhador braçal. Para Possuelo, tarde de ontem, quando um grupo de jagun-
a revolta dos Korubo é resultado dos massacres ços invadiu as terras da tribo arredia Korubo
mana, direto da Amazônia brasileira, todos os
que eles sofreram dos madeireiros e morado- e ameaçou matar um por um os funcionários
passos de uma expedição da Funai que tentará
res da região. (O Globo, 13/10/96) da Funai que mantêm vigilância na entrada da
fazer contato com os índios Korubo. A aventu-
área, na foz do rio Itaquaí. A informação foi
ra, chefiada pelo indigenista Sidney Possuelo, o
confirmada ontem pelo comandante do 8 Ba-
parte de Tabatínga, junto à fronteira com a Co- E CONSEGUE
...
talhão de infantaria da Selva, coronel José An-
lômbia e prossegue por barco e a pé através da CONTATO AMISTOSO
tônio Braga. Segundo a nota, várias ameaças
mata. Os relatos e imagens serão transmitidos
Após anos de tentativas frustradas, o sertanista de morte foram dirigidas aos indigenistas, a
via satélite. (Isto É, 28/08/96)
Sidney Possuelo, da Funai, conseguiu atrair de ontem teria sido a mais grave. O adminis-
neste final desemana o principal grupo de ín- trador regional da Funai, Benedito Rangel, dis-
FRENTE DA FUNAI AVANÇA...
dios isolados do Vale do Javari. Os Korubo re- se que não há ainda confirmação oficial da
Oito sertanistas caminham há dois dias pela colheram os presentes típicos desses encon- origem das ameaças. “Podem ser contraban-
mata fechada da reserva do Vale do Javari, na tros: panelas de alumínio, facas e machados. distas, madeireiros ou até mesmo narcotrafi-
divisa com Colômbia c Peru, com a missão de O contato foi amistoso e a equipe da Funai, cantes”, revelou. O comandante militar de
entrar em contato com os índios Korubo e salvá- com 16 integrantes, chegou até a maloca dos Tabatinga, porém, garante que as ameaças são
los do perigoso assédio dos madeireiros. As Korubo para retribuir a visita que os indígenas frutodo confronto entre “uma força que quer
malocas dos índios são de difícil acesso: a mata haviam feito semana passada ao acampamen- madeira e outra força que quer preservar a
tem de ser aberta a facão e a água, nos igarapés, to da frente. Agora, Possuelo e sua equipe es- etnia indígena". (JB, 14/12/96)
chega na cintura dos funcionários da Funai. tão tratando de consolidar o contato, eliminan-
Sidney Possuelo explica que só resolveu reto- do o risco de uma reação imprevisível dos FUNAI AUTORIZA A RETIRADA
mar os trabalhos da frente de contato com os Korubos, perto de 150 índios, ainda que esta- DE TORAS JÁ DERRUBADAS
Korubo por temer que os índios sejam exter- tísticas vagas avaliem que eles podem ser uma
minados pelos madeireiros. A base da nova fren- população entre 200 e 2 mil índios. Para efeti- A Funai permitiu a entrada de madeireiros no
te de atração foi montada num barco que está var o contato com os índios, Possuelo ficará Vale do Javari, na área dos índios Korubo. A
ancorado no rio Ituí para evitar ataque dos pelo menos três anos no Vale do Javari. (OF.SP, autorização foi concedida para a retirada de um
Korubo, que não sabem nadar e têm medo de 17/10/96 e O Globo, 18/10/96) carregamento de madeira deixado para tris,
FUTEBOL ANTI-DOPPLNG
Os quase mil km cortados /w/o rio Javari, marcan- encontrado uma bola de futebol no barco dos vi- 0 campo de terra rapidamentefoi transformado
do a fronteira entre Brasil e Pera, fazem parte de sitantes. Foi o suficiente para quebrar a formali- em pântano com a chuva que caiu durante a fmr-
uma das regiões mais isoladas do mundo. Segundo dade da reunião. 0 cacique Antônio tomou a pa- tida. A bola impregnada de lama, assim como
as policias brasileira e peruana, os Índios MatséZ lavra e imediatamente desafiou o grupo de poli- todos os jogadores, muitas vezes era irreconhe-
Mayoruna, que habitam a região, são usados por ciais para uma partida de futebol no centro da cível em meio a confusão de pernas e corpos
traficantes peruanos para transportar grandes car- aldeia. Para Amauri e seu grupo era o equivalente caídos, na tentativa defazer um gol. Os quaren-
regamentos de cocaína, ou produtos químicos, até a fumar o "cachimbo da paz”. ta minutos de "guerra " entre policiais e índios
as pistas de pouso clandest inas abertas na selva. Para os moradores da aldeia 31 seria a segunda opor- resultou em um empate de três gols. Exaustos
Durante uma operação da PF brasileira, em abri tunidade de fxirtici[)ar de umjogo defutebol contra com o calor, e pelos efeitos da malária, resolve-
de 1999, para investigar a presença de trafican- um time estrangeiro. A /mineira foi quando seus ram decidir suas diferenças numa cobrança de
tes na área indígena, um grupo de policiais foi à parentes matsé, que vivem do outro Uuio do rio. em pênaltis. Desistiram depois de várias tentativas
aldeia 31, onde vivem 312 mayoruna, em busca território peruam, levaram a primeira bola e os en- sem sucesso. Ao final índios e policiais olharam-
de informações. 0 agente Amauri Bezerra Lima, sinaram a dar os primeiros chutes. Desde então es- se, não mais como adversários, mas como viti-
trêmulo de malária, contraída durante os 20 dias tavam esperatulo a oportunidadepara encontrar um mas de um sacrifício. Acabaram no rio toman-
da viagem, foi recebido pelos desconfiados caci- novo adversário. Temíveis como guerreiros no pas- do banho, como num vestiário de um grande
ques no interior de uma grande maloca. Alertou sado, os mayoruna, não admitem perder. Enquanto estádio. Se em campo não conseguiram uma vi-
para os riscos do envolvimento com traficantes, os policiais deixaram suas arnuis no barco, impro- tória, os policiais certamente conquistaram a
ofereceu medicamentos, e tentou apurar novas visando um uniforme parajogar, os índios, concen- confiança da tribo mayoruna. Sabem que nas
informações. Os índios ouviram em silêncio, apoi- trados em frente à maloca do cacique Antonio, pin- próximas investigações uma bola de couro será
ados em lanças e flechas,até que um jovem en- taram -se eforam para o campo segurando suasfle- mais eficiente do que temíveis metralhadoras.
trou pela pequena porta anunciando que havia chas como para uma "guerra". (Ricardo Beliel, revista VSD, edição 1 144, jun/99)
6. JURUÁ
JUTAÍ
PURUS
Kulina
^Lj7^ Acervo
—f/í ISA
6. JURUÁ
JUTAÍ
PURUS
PERU
J^BlrtrlNWÇA IC AR APJ
.nOt.U)* m issÀo
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t arauaRI.
abufari
*U/I Dl
piTiiio
iaitá
® capital de Estado
À reconhecida oficialmente
menos de 8.000 ha
• cidade
A em identificação
(sem perímetro
ou a identificar
definido)
tV.V.W.I Unidade de Conservação federal
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL/2000
! \
apresentada em outro capitulo
50 0 50 100 Km
)
* Acervo
ISA
JURUA/JUTAI/PURUS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n®, fonte, data (ha)
391 Acima Apurinã 40 Funaí: 99 Homologada. Reg. CRI. 40.686 Lábrea AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a TI. Reg. CRI
Matr. na comarca de Lábrea R3-1963, Liv. 2-H,
fl. 25 em 15/12/97. OF. 033 abra processo no
SPU em 19/01/98
353 Água Preta/lnari Apurinã 165 Funai: 95 Homologada. 139.763 Pauini AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação.
IDOU, 04/1 1/97}
357 Alto Sepatíni Apurinã 85 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI. 26.095 Lábrea AM PMACI.
ITerra dos Macacos) Dec. s/n dç 05/OV96 hqmploga a demarcação
(DOLT, 08/01/SG). Reg. CRI Matr. RM*2, Liv.2-H,
fl. 24 em 15/12/97.
20 Apurinã BR 317 km 124 Apurinã 162 Funai/R. Branco: 93 Homologada. Reg. CRI 42.198 Boca do Acre AM PMACI. Faíxa de fronteira.
Dec, 251 de 29/10/91 homologa a cemercaçãc Lábrea AM Requerimento de pesquise
administrativa (DOU, 30/10/911. Reg. CRI minera). Rodovia BR‘317 corta a
Boca tfo Acre (8.900 ha) Matr. 1758, Liv. 2, fL 79
em 09/12/91, Lábrea (33.297 ha}, Matr. 1642, Liv. 2F,
386 em 28/11/91. Proc. SPU Df. 131 em 1 1/08/93.
fl.
21 Apurinã do Apurinã 58 Relat. GT: 98 Identificada/Aprovada/funai, Sujeita a Contestação. 18.270 Tapauá AM Rodovia estadual no limite.
22 Apurinã (lo Apurinã 74 Funai Manaus: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 96.456 Tapauá AM Rodovia estadual corta a área. Faz
Ig.Tauamirjm Dec. 253 de 29/10/91 homologa demercaçao limite com a Reserva Biológica do
(DOU, 30/10/91 J. Reg. CRI de Tapauá Matr. RI-613, Abufari.
Liv. 2-D, fl. 15 em 31/05/99. Reg. SPU Cert. 006 em
16/04/96.
392 Banawa/Rio Piranhas Banawa Yafi 215 Funai: 99 Delimitada. 79.680 Tapauá AM PMACI
Port. Min. 260 de 28/05/92 declara de posse
permanente (DOU, 29/05/921. Port. da Funai 86 da
12/02/99 cria GT para revisão de limites da TI
(DOU. 19/02/99).
55 Boca do Acre Apurinã 121 Funai: 99 Homologada. Rsg. CRI. 23.240 Lábrea AM PMACI. Faixa de fronteira.
Dec. 263 de 29/10 /91 homologa a demarcação Boca do Acra AM Rodovia 8R-317 corta a área.
IDOU, 3Q/1 0/91), exclui área de servidão da BR 317.
Reg. CRI Boca do Acre <8.772 ha) Matr. 1.716.
Liv. 2-GD, fl. 30. 21/12/90 Reg. CRI em Lábrea
(17.512 ha}. Matr. 1.508. Liv.2-F, fl. 209em 02/05/89.
Proc. SPU Cert. 092 Suaf em 1 1/04/89.
62 Cacau doTarauacá Kulina 230 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 28.367 Envira AM
Oec. n.272 de 29/10/91 homologe a demarcação
(DOU, 30/1 0/911. Reg. CRI em Envlra, Matr. R-1-171,
Liv. 2 A, f 1. 171 em 22/1 0/91. Reg. SPU Cert. 01 5 em
15/08/97.
67 Caititu Apurinã 220 Funai: 99 Homologada Reg. CRI e SPU. 388.062 Lábrea AM PMACI.
Paumari Oec. 282 de 29/10/91 homologa demarcação
Jamamadi (DOU. 30/10/91 ). Reg. CRI Matr. 1503 Liv. 2-F,
59 Camicuã Apurinã 285 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 58.519 Boca do Acre AM PMACI.
Dec. 381 de 24/12/91 homologa demarcação
(OOU, 26/12/91). Reç. CRI Matr. 176S, Liv. 2 G,
em 22/01/92. Reg SPU Cert 10 em 24/11/95.
|
fl. 87/88
* Acervo
ISA
UTAI/PURUS
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2ÜtiO
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n®, fonte, data (ha)
393 Igarapé Capanã Jamamadi 40 Funai: 99 Homologada. Reg.CRI. 122.555 Boca do Acre AM PMACI. Requerimento de pesquisa
Dec. s/n em 03/1 1/97 homologa a demarcaç3o mineral.
(üOU, 04/1 1/97). Reg. CRI em Boca do Acre
Matr. 2.030, Liv. 2-H.fl. 75/76 em 29/12/97.
539 Inauíni/Teuini Jamamadi 107 Funai/R. Branco: 93 Homologada. Reg. CRI. 488.996 Boca do Acre AM PMACI. Fluna Alto Purus incide
Dec. s/n de 03/1 1/97 homologa demarcação Pauini AM parcialmente (67.863 ha
(DOU, 04/1 1/97). Reg. CRI em Beca do Acre aproximadamente) e a Flone
Matr. 2.029. Uv. 2-H, 11. 74 em 29/12/97. Mapiá-lnauini incide aproxim.
1.812 ha.
153 Juruô Kulina 0 Em Identificação/Revisão, 30.687 Juruá AM Faz limite com a Flana de Tefé.
Port. Funai 1.453/E
de 25/11/82 declara de posse
permanente dos indígenas.
160 Kanamari do Rio Juruá Kanamari 496 Neves/Labiak: 84 Homologada. 596.433 Eirunepe AM
Dec. s/n de 03/11/37 Resolução 74 de 14/10/99 Itamarati AM
revoga a resolução 45 de 01/04/97. E considera p/ Pauini AM
afeitos de ndenizaçâo as benfeitorias da boa-fé,
dos ocupantes não-índios cadastrados no levant.
Fundiário realizado p/ GT instituído p/ Port. 1.17/99
de 23/1 1/84 18/10/99). Port. Funai. 1.055 de
(DOU,
04/11/99 criaComissão Técnica pi assinar escritura
pública de reconhecimento de domínio em favor
da União que será lirmada no ato do pegto aos
ocupantes de títulos de dominio (DOU, 10/11/99).
169 Kaxarari Kaxarari 190 Funai/R. Brsnco: 93 Homologada. Rég. CRI. 145.869 Porto Velho AM PMACI - Planafloro. Faixa de
Dec. de 13/08/92 homologa s demarcação Lábrea RO fronteira. Requerimento de
adminisirativa (DOU, 14/08/92). Reg. CRI de pesquisa mineral
Lábrea (97.204 ha) Matr. 1.441. Uv. 2-F,íl, 113/114
em 13/07/88. Reg. CRI Porto Velho (48.647 ha)
Mair. 4.909 Uv. 2-RG, íl.OOl de 23/12/38. Proc.
SPU CT 150 Suaf em 10/06/88.
181 Kulina Co Médio Juruá Kulina 920 Fuínai;9S Homologada. 730.142 tpixuna AM
Dec. s/n de 11/12/98 homologa a demarcação Eirunepe AM
(DOU, 14/12/98). Port. Furtai 57B de 19/07/99 cria Envlra AM
GT para atualizar levantamento fundiário
(00U, 21/07/99).
708 Kumarudo LagoUala Kulina 280 GT/Funai: 95 Em Identifica çio. 89.000 Juruá AM
Port. Funai 745 de 18/C8/94 cria GT p/
identificação da área (DOU, 22/08/941.
446 JURUÁ / JUTAÍ / PUflUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1995/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
-
)
JUTAI/PURUS
Torras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioamhiental - Dezembro de 2000
Raf. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa {n
s
, fonte, data lha)
28 Mawetek Kanarnari 207 Relat. GT: 95 Delimitada. 118.000 Eirunepe AM Sem localização.
da Justiça 55$ de 0//10/S9 declara
Fort. ministro
de posse permanente indígena (DOU, 08/10/99).
503 Paumari do Cuniuá Kalukina Paumari 53 Funai: 95 Homologada. Fieg. CRI. 42.828 Tapauá AM
Dec, s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
(DOU, 04/11/97). Reg. CRI em Tapauá Matr. 1.755,
Liv. 2-E, 11. 45 em 31/12/97.
472 Paumari do Paumari Apurirã 561 GT de Identif.: 93 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 116.000 lábrea AM PMACI. Rodovia planejada BR-317.
Lago Marahã Port Funai 1128 de 07/11/97 cria GT p/reestudar a
TI, homologada Com 79.141 ha pur decreto de
03/09/98. Despacho do pres. da Funai aprova o
relatório de estudos e identificação |O0U, 20/08/99).
487 Paumari do Rio Ituxi Paumari 46 Funai/R. Srartco: 93 Homologada. 7.572 lábrea AM PMACI
Dec. s/n de 11/12/98 homologa a demarcação
(DOU, 14/12/98). Port 1.158 de 16/1 2/99 constitui
Comissão Técnica para pagto. das indenizações
de benfeitorias <le boa-fé (DOU, 23/12/99).
284 Rio Biá Katukina 400 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI. 1.185.791 Jutai AM Rodovia planejada BR-230.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação Caracari AM Requerimento de pesquisa mineral.
{DOU, 04/1 1/S7). Reg. CRI emCarauari Matr. 1.233,
Liv. 2-E, 11. 248 em 12/01/98.
500 São Pedro/Sepatini Apurinã 45 Funai: 91 Homologada. Reg. CRI. 27.644 Lábrea AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
{DOU, 04/11/97). Reg. CRI em Lábrea Matr. R-1954,
Uv.2-H.il. 26 em 15/12/97.
202 Seruini/Marienê Apurinã 230 Funai: 96 Delimitada. Demarcação Física. 144.971 Pauini AM PMACI. A área do Exército Gleba
Port. do ministro da Justiça 813 de 10/12/98 Lábrea AM 25 de Setembro incide aproxim.
declara de posse permanente (DOU, 11/12/98). 19502 ha na TI.
309 Terra Vermelha ApurinS 45 Funai: 96 Homologada. Reg, CRI e SPU. 6.928 Beruri AM
Dec. 274 de 29/10/91 homologa a demarcação
administrativa (DOU, 30/10/91). Reg. CRI Berurí
Matr. 27, Liv. 2 R6. 11. 15 verso em 13/04/92. Reg.
SPU Cen.004 em 13/05/97.
510 Tumiã Apurinã 45 Funai/R. Branco: 93 Homologada. Reg. CRI. 124.357 Lábrea Lábrea AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
(DOU, 04/11/97}. Reg. CRI em Lábrea Matr. R1-1965,
Liv. 2-H.fl. 27 em 15/12/97.
351 Zurjahã Zuruahã 135 FunBÍ:9G Homologada. Reg. CRI e SPU. 239.070 Tapauá AM
Dec.256 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU, 30/10/91 }. Reg.CRI Matr. RI/164,Liv. 2-D,
11, 17 em 13/06/30. Reg. SPU Cert. 004 em 12/04/96.
AOS CINCO SOBREVIVENTES DE HOJE NÃO maior dos massacres, no igarapé da Onça. Desse episódio sobre-
RESTA NEM A ESCOLHA DE ONDE MORAR viveram apenas sete.
Osjuma tornaram-se conhecidos pelas ações trágicas impetradas sentar qualquer perigo aos invasores responsáveis pela tentativa
contra eles. São vários os registros em que constam ataques e ten- de extermínio. No final da década de 70 e início de 80, o Conselho
tativas de extermínio. Na década de 60, lutavam para impedir o indigenista Missionário (Ciini ) denunciou o massacre de 1964 atra-
avanço da exploração em suas terras, enquanto os invasores vés do jornal Porantim caracterizando o
,
falo como genocídio.
buscavam acabar com toda sua população. Em 1964, aconteceu o Entretanto, ao que tudo indica, o assunto caiu no esquecimento.
e alto rio Madeira e os Juma no Purus. Esses grupos têm em comum na segunda metade do século XIX. quando levas m igratórias foram
um complexo sistema de metades exogâmicas que recebem o nome chegando gradativamente do Nordeste do Brasil para trabalhar no
de dois pássaros: Mutum e Tararé. extrativismo. Esse acontecimento está diretamente relacionado com
a crescente utilização da borracha ftelas indústrias dos Estados Uni-
No Purus, os primeiros registros da área já apontavam os Juma como dos e da Europa, que atingiu seu ápice por volta de 1910.
habitantes daquela região. Com o início da ocupação efetiva do loca!
Padecendo perseguições continuas, os Juma tentavam a todo custo
por não-índios, começaram as guerras contra os povos que Ui residi-
manter seuterritório e integridade. Em novembro de 1959, eles ata-
am. Em meados do século XIX, buscava-se a interligação dessa bacia
caram um casa! no igara/vé Trufary, gerando uma grande revolta na
fluvial com o rio Madeira numa tentativa de evitar o seu trecho
população de Canutama. Entretanto, ta! ataquefoi resultculo de uma
encachoeirado. Ti nesse momento que surgiram as referências mais
invasão anterior de regionais a uma aldeia indígena. Após tomarem
pontuais acerca das Imputações indígenas que ali habitavam, vege-
conhecimento ilo fato, a população local organizou-se em um pe-
tação e clima locais.
queno exército, armado de espingardas e rifles com a clara intenção
As principais referências desse período são de Manoel Urbano da de exterminar toda a população Juma. Esse evento só não ocorreu
Encarnação, que navegou pelo Purus em 1861, João Martins da Silva devido ü intervenção do delegado de polícia local que demoveu o
.
Coutinho, em 1862 e William Clandless, em 1864 São informações grupo de seu Em um momento anterior, um grupo de regio-
intento.
que dão conta também da possibilidade de ocupação efetiva por não- nais já havia invadido uma aldeiaJuma. destruindo-a por completo.
P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JURUÁ / JUTAI / PURUS 449
Acervo
—l/yC I SA
Ti 1993, K; é, um componente do grupo, de 35 anos, foi atacado OS IMPASSES CRIADOS
e morto por uma onça. Os Juma reduziram-se, então, a seis indiví-
Hoje, os Juma estão reduzidos a cinco indivíduos - um pai, suas
duos - um casal de velhos, um homem e suas três filhas -, que
três filhas e uma neta. Tanto o pai quanto as filhas estão casados
ficaram recebendo assistência esporádica da Funai através da Ad-
com os Uru-eu-wau-wau e vivem atualmente o impasse de voltar
ministração Regional (ADR) de Rio Branco, que possui em Lábrea
para suas terras ou de abandoná-la e viver na aldeia do Alto Jamary.
um posto indígena da Frente de Contato Rio Purus, ligada ao De-
partamento de índios Isolados da Funai. Aruká, o pai das meninas, recebeu uma mulher, Boropó, mas essa
tem se recusado a permanecer muito tempo junto ao marido. Além
No início dos anos 90, tentou-se o casamento das meninas Juma
disso, por já ter sido casada com seu tio materno, Boropó tomou-
com homens Parintintin e Uru-eu-wau-wau. Contudo, todas as ten-
se alvo de uma crise interna nos Uru-eu-wau-wau. A ameaça de
tativas realizadas nessa época foram frustradas. Recentemente,
levarem-na para viver na TI Juma fez eclodir uma disputa pela per-
como todos estavam com a saúde abalada, resolveram mudar-se
manência da mesma na aldeia do Alto Jamary.
para as proximidades da estrada que liga I.ábrea a Humaitá. Nesse
local, ficaram acompanhados de pescadores que transitavam pelo Esse fator, associado à saída dos três principais caçadores, agora
Purus. Esses, aproveitando-se da fragilidade do grupo, seduziam casados com as mulheres Juma, nos leva a considerar que a crise
as jovens Juma, levando-as consigo para suas viagens através do com relação ao povo Juma provocou um problema junto aos Uru-
rio (Boletim de Ocorrência de Lábrea lavrado em 31/07/98). eu-wau-wau. Se os Uru-eu-wau-wau forem viver na Terra Juma, a
aldeia Alto Jamary' entrará em crise, e se os Juma forem viver junto
aos Uru-eu-wau-wau, poderão desaparecer e a referida Terra Juma
OS TEMPOS RECENTES não será nem mesmo demarcada. No futuro, caso os filhos desses
No ano de 1998, a Funai de Brasília começou a negociar a casamentos não sejam considerados Uru-eu-wau-wau, poderão
contratação de um antropólogo para propor uma solução alterna- reivindicar suas terras, que possivelmente estarão tomadas por
tiva ao povo, pensando em casamentos com indivíduos de organi- invasores e destruídas suas unidades de recurso, (abril. 2000)
zação social semelhante, uma vez que já não havia mais possibili-
dades matrimoniais internas. Ao mesmo tempo, a ADR de Porto
Velho retirou os Juma de sua terra, transferindo-os para a Casa do
índio. Tentava-se, então, solucionar um outro problema: a falta de
mulheres entre os Uru-eu-wau-wau da aldeia do Alto Jamary, em
Rondônia.
LEGENDA
;
= i
,
H Juma
Uru-eu-wau-wau
1
lá.;'*. /\ homem
=
O mulher
BorehaT írowac
Bororó Aruká
i nr^n J
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j0T
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I
i
casamento
germanidade
filiação
falecimento
perceberem estar sendo observados. deixados na área de caça, muitas vezes coincidente entre eles e os
Hi-Merimã.
Entre as histórias dos Jamamadi, consta que os Hi-Merimã procu-
raram estabelecer contato com eles. Mas houve pouco entendi- Acerca dos Jamamadi, relata Ehnrenreich, em expedição pelo rio
mento acerca dos verdadeiros objetivos, tanto de um lado quanto Purus no ano de 1888: "Cada família tem o seu domínio de caça
de outro, resultando na morte de vários Hi-Merimã. delimitado por marcos divisórios determinados. Para este fim,
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JURUÁ /JUTAi/ PURUS 451
^4/Z^ Acervo
-V/flSA
usam-sc tufos dc pelos de animais (de capivara, aguti, macacos, época: “o nome de um era Stissti, ele não quis ficar aqui, ficou
espinhos dc Cercolabes prehensilis, etc.), entalados em paus ra- parece que uma semana trabalhando aqui e quis voltar para a
chados que se levantam, de distância em distância, à beira do ca- terra dele mesmo”,
minho que conduz da aldeia ao mato”.
De um encontro mais antigo entre esses dois povos, há informa-
O mesmo tipo de delimitação do território de caça é atribuído aos ções sobre uma festa em uma aldeia. Os Banawá contam que as
Hi-Merimã. No entanto, a diferença está em possuir ou não um casas eram como aquelas da roça deles, de chão batido e sem
terçado ou facão amolado para cortar o marco e deixar algum parede, e não existia nenhuma maloca grande. Relatam que além
resto de animal. Para efeito demonstrativo, os Jainamadi apontam de usarem somente tanga, ou amarrar o pênis, furavam o lábio
para um crânio e um fêmur de macaco fincados em um pau, por inferior e introduziam um adorno de pau.
eles cortado com o terçado e deixado no caminho e algumas pe-
nas de mutum, também fincadas no pau, que denotam a presença
SOROWAHA OU ZURUAIIÃ,
Hi-Merimã,
OS VIZINHOS DO OESTE
Cestos para transporte de alimentos coletados, deixados na mata
índios também falantes de uma língua da família Arawá e que vi-
pelos Hi-Merimã, também são bastante parecidos com os confec-
vem na Terra Indígena Zuruahã, que limita a oeste com a TI Hi-
cionados pelos Jamamadi. Todaviam, apresentam diferenças, como
Merimã. Nos relatos dos Sorowaha, há várias histórias de hostili-
a ausência de uma alça, conforme apontado pelo informante
dades entre eles e os Hi-Merimã. Entre as quais:
Jamamadi,
“0 pai dajaxiri estava flechando peixe num lago perto do igarapé
Durante uma caminhada de três dias com os Jamamadi, dentro da
Prelão, onde atualmente tem a casa do Gamoni. Ele estava tia mar-
TI Jamamadi/Jarawara/Kanamati, foi encontrado um local rico em
gem do lago observando os peixes e bem na sua frente havia um
vestígios dos Hi-Merimã. lá, os Jamamadi explicam como os Hi-
morro. Ele estava meio agachado, olhando para o lago, quando ou-
Merimã fazem a retirada de veneno usado na zarabatana e demais
viu um barulho (tipo um assobio para chamar a atenção). Olhou
flechas: “Eles usam veneno, prá mim ele pegou pé do veneno, su-
para o alto do morro e avistou alguns Maimã, estes apontaram fle-
biu, derrubou, desceu, bateu o cipó, taí o veneno que usa prâ ca-
chas em sua direção e ele ficou só olhando, pois não sabia o que
çar. Bate, bate, bate com pé, ferve e mistura com água o veneno no
estava acontecendo. Os Maimã atiraram as flechas e acertaram uma
funil e coloca na flecha. Tá tudo tirado, tá aí. Eles fazem flecha dc
flecha cm cada clavícula. Ele saiu correndo, os Maimã o seguiram e
arutnã. Eles têm panaco, parece que ele faz a casca do jutaí para
acertaram mais uma flecha no ombro (entre o peito e o braço),
fazer vinho daí fica com pilão e coloca vara assim. Tem batata,
sendo que ainda continuou correndo e caiu com a quarta flechada
cará de comer, na nossa língua é taia, tipo cará, dá no mato mes-
que o atingiu no saco escrotal quando tentava passar por cima de
mo, uma batata mesmo que o cará, ele acha come. Tem jamú, a
uma árvore que estava no caminho. Morreu ali mesmo.
batata que dá na terra, grande, batata dos índios mesmo, ele rala,
rala, espreme, tira goma, tira massa que ninguém num come, e a Outro Sorowaha o encontrou, retomou para casa e comunicou
goma come com jutaí, carne. Massa não come, ele deixa. Papai aos outros. Todos os homens sorowaha pegaram suas flechas e
parece que comeu esse, eu já não comi assim, papai quando anda arcos e saíram para buscar o morto. Não encontraram nenhum
assim no mato conta, por isso eu tô lembrando bem”. Maimã no local, pegaram o corpo e transportaram para casa, onde
o colocaram em sua rede. Passou a noite.
Há alguma regularidade nos vestígios deixados pelos Hi-Merimã.
No verão, época de seca, eles deixam diversas marcas na região de No outro dia, de manhã bem cedo, saiu um Sorowaha para caçar e
extração de copaíba dos Jamamadi. “A gente topa e dá prá ver bem viu os rastros dos Maimã no roçado. Tinham vindo à noite roubar
aí, rastro novo, quebrado novo, fogo dele aceso, tudo assim. Dc raízes de konaha (timbó) . 0 Sorowaha voltou para casa e contou
inverno eles vão se embora, passando longe, foi prá outro canto, o que tinha visto. Novamente os Sorowaha se armaram e saíram à
casa dele, maloca dele. Longe. Ninguém não viu maloca dele por- procura dos Maimã.
que é longe, não é perto não...’’. (Relato de Toitinha durante os
Não muito longe, avistaram os Maimã sentados em um pau, con-
trabalhos de campo, na identificação e delimitação da TI Hi-
versando. Os Sorowaha se aproximaram devagar e sem fazer baru-
Merimã, março-abril, 1999)
lho. Com a aproximação, os Maimã perceberam e saíram corren-
do, ficando a esposa de um Maimã mais atrás. Os Sorowaha a
flecharam. Ela morreu e os Sorowaha continuaram flechando-a.
BANAWÁ: HABITANTES DO MÉDIO PIRANHA
Encheram o corpo dela de flechas”. (Estas informações não es-
índios também pertencentes à família linguística Arawá encontra- tão publicadas e foram cedidas por João DalPoz. Encontram-
ram os Hi-Merimã e dizem ter compreendido parcialmente sua se em Mitos e Histórias dos Sorowaha ,
narrados a Jonia Fank e
língua. Mas houve entraves quando um “patrão” não-índio, para o Edinéia Porta da Equipe do Projeto Zuruaha, em colaboração
qual os Banawá trabalhavam, tentou usufruir da mão-dc-obra hi- com João Dal Poz e Mário Lúcio Silva, OPAN e Cimi Lábrea/
merimã. Segundo relata Bidu, Banawá, que era muito jovem na Cuiabá. 1996)
modo bastante peculiar de viver: “ Pra fazer bóia eles fazem o fogo nhos residentes nas imediações do rio Piranha. A madeira transpor-
acolá, um fogo maior e aí faz um girau. Daí bota um negócio pra tada estava sendo retirada de dentro da TI já interditada, cujos limi-
comer em cima, pra assar, a gente vê as varas. Aí pronto, eles an- tes são amplamente conhecidos pela pequena população local.
dam fazendo assim. Às vezes, quando passava a chuva, eles pega-
A extração de madeira tem sido a nova forma encontrada pela popu-
vam jarina e botavam assim, escorando no pau, acho que era pra
lação da região para garantir seu sustento, além de motivo de cons-
esperar passar a chuva, umas palhinhas escorada assim, não é
tantes embates entre políticos influentes que defendem os interesses
nem pra dormir, pra passar a chuva, Eles pegam a palha, botam
dos grandes madeireiros em oposição a técnicos ambientalistas.
em cima da outra e amarram no pau.”
Tal forma de extrativismo reproduz velhas práticas de clientelismo
Esta senhora afirma que nunca existiu índio nas proximidades de
e aviamento que têm início com o ribeirinho passando pelos “pa-
sua colocação, mas ao ser indagada sobre os vestígios atuais diz:
trões” regionais até as indústrias madeireiras exportadoras do
“Agora nós ficamos cabreiro, né. Porque o índio é que nem onça,
Amazonas. Invade territórios pouco explorados, desrespeitando
ele acostuma mas não amansa. É que nem eu tenho dito para os
os direitos originários de povos que lá estão,
meus meninos, o brabo mesmo que nunca tem contato com nin-
guém um dia, dois, irês, quatro anos fazendo sinal para eles e A abundância ainda encontrada na região certamente está com os
nada... Quatro anos c que eles foram atacar, mataram o pai dele! dias contados. Na medida em que os recursos utilizados pela in-
Mas não são estes índios daí, são de outro rio. Por isso eu digo dústria madeireira vão se esgotando em locais mais frequentados,
para eles, às vezes, né? A gente nunca sabe”. os ribeirinhos avançam, percorrendo territórios preservados. As-
sim sendo, qual seria o futuro daqueles que têm no isolamento a
sua alternativa de vida? (abril, 2000)
spreng), que, de tão dura e rasistentc, 6 cha- POR COMERCIANTE Fortaleza do Patauá, de ocupação tradicional
do grupo Apurinã, com superfície de 760 hec-
mada por muitos caboclos de árvore-de-aço. Ela
O assassinato do índio Heginaldo Apurinã, ocor- tares e 1 1 km dc perímetro. Após seis meses da
vem sendo explorada experimeníalmente pela
rido no último dia 18 110 município de Lábrea
,
aprovação, 0 Ministério da Justiça a declarou
indústria madeireira do AM e os primeiros re-
(AM) deixou a aldeia Japiim
,
em clima de revol- posse permanente dos índios Apurinã através
sultados são animadores. Não apresenta falhas
ta. “Os índios estão tensos e querem providênci- da portaria n° 408. A Terra Indígena está locali-
internas, tem período curto de secagem e per-
as da Justiça para punir 0 assassino”, afirmou
zada no município de Manacapuru, AM. (DOU,
mite aproveitamento comercial em torno de
ontem 0 coordenador da OP1MP, Moacir Apurinã,
04/02 e 13/08/99)
90% por causa do tronco uniforme.
que esteve em Manaus para pedir ao Ministério
A população dessa espécie é tão grande nas
Público 0 acompanhamento do processo,
margens do rio Juruá, segundo o madeireiro
Reginaldo morto com 13
APURINÃ ESTÁ
foi tiros pelo
George Valério, 42 anos, que seriam necessári-
atravessador de produtos agrícolas Antônio Je-
PRESO INJUSTAMENTE
as várias décadas de corte sistemático para es-
sus Rodrigues dos Santos, que está preso em O promotor de Justiça João Lúcio de Almeida
gotar os seus estoques nativos. “Tenho a im-
Lábrea. O crime aconteceu depois de um desen- Ferreira disse que se houve algum erro no pro-
pressão que podemos ter em nas mãos a nossa
tendimento entre os dois em relação ao paga- cesso que levou à prisão do índio Apurinã Ge-
galinha dos ovos de ouro”, atesta o madeireiro
mento de um carregamento de castanha vendi- raldo Florentino de Souza, 38, condenado a 12
Orivan Antônio Lopes, 52 anos, um dos princi-
da pelo índio. Segundo Moacir, a relação entre anos por crime de homicídio, não foi do Poder
pais exportadores do Vale do Punis. “É uma
índios e brancos tem sido conflituosa na área. Judiciário. A afirmação deve-se ao fato de que
forma de tirar a pressão sobre outras árvores,
Ele espera levar do Ministério Público a garantia 0 índio foi condenado pelo Tribunal do Júri Po-
como o mogno, a cerejeira e a sumaúma", diz,
de que 0 processo contra 0 assassino não sofra pular de Boca do Acre. Geraldo está preso há
com a experiência de quem corta madeira na
interferência políticas. (A Crítica, 25/04/97) três anos, como autor do assassinato do agri-
região há 40 anos. (A Crítica, 08/04/97)
cultor Raimundo João Abreu Souza, no municí-
JUSTIÇA SUSPENDE pio de Boca do Acre (a 1.038 quilômetros de
a
tou à polícia confessando 0 crime, 0 índio está
FUNAI AVALIA BENFEITORIAS O juiz da 16 Vara Federal em Brasília, Francis-
preso na Penitenciária Desembargador
co Neves da Cunha, suspendeu 0 pagamento de
Raimundo Viciai Pessoa e Almerindo vive livre-
A Comissão de Sindicância da Funai, instituída
indenização à empresa Agropastoril Novo Ho-
para avaliar as benfeitorias construídas por ocu-
mente em Boca do Acre. (A Crítica, 16/03/99)
rizonte, que possui títulos incidentes sobre a
pantes não-índios em áreas consideradas indí- Terralndígena Seminí/Marienê, habitada pelos
genas, fez publicar duas resoluções sobre a índios Apurinã, no Amazonas. O ex-ministro da
REUNIÃO SIGILOSA DISCUTE
questão. Na resolução 57, de 13 de novembro JustiçaNelsonJobim havia determinado iFunai
COMBATE AO TRÁFICO
de 1996, a comissão decidiu aprovar 0 parecer que indenizasse a Agropastoril pela “posse e Termina hoje, em Tabatinga (AM) ,
fronteira com
que considera de boa fé as benfeitorias domínio” sobre as terras indígenas, além da in- a Colômbia, um encontra sigiloso entre autori -
DA TI SERUINI-MARIENÊ O Ministério da Justiça considerou a proposta os. Segundo 0 secretário, os Rios Juruá e Iça,
apresentada pela Funai, objetivando a definição brasileiros, são portas de entrada pata a coca,
O Ministério da Justiça julgou improcedente a de limite da Terra Indígena Seruini/Marienê, e que é refinada em laboratórios ao longo dos Rios
contestação da área indígena Seruini-Marienê concluiu por declarar a TI como sendo de pos- Caquela e Putomayo, ambos na Colômbia.
do problema policial do tráfico há questões POPULAÇÃO DECRESCE por alguma doença, os índios Deni estavam se
ambientais e sociais em jogo, a comissão brasi- 20% EM QUATRO ANOS recusando a procriar por não verem perspecti-
leira em Tabatinga conta com agentes da Funai, vas melhores para seus filhos. A situação ficou
do Ibama e da Secretaria de Ação Social, além
Lm povo marcado para morrer. Assim tão grave que órgãos ligados aos direitos indí-
indigenistas e entidades de defesa dos direitos genas chegaram a pensar que este seria o fim
da Receita e da Polícia Federal.
indígenas definem a situação dos índios Deni da nação Deni. No mês de março, em carta en-
Maierovitch disse que os traficantes usam os
em consequência das doenças trazidas pelo
que, caminhada aos principais órgãos de saúde, vá-
índios para trazer insumos do Acre pelo rio
homem branco e da falta.de assistência da Funai, rios índios fizeram um apelo desesperado r.
Javari, passando pelos rios Solimões e Japurá,
estão morrendo de tuberculose, pneumonia, “Nosso povo continua morrendo, morre mais
ate entrar na Colômbia pelo rio Caquetá. A rota
malária e anemia. Dossiê do Setor de Saúde do que nasce. Precisamos de ajuda”. A carta foi
alternativa é pelo Rio Içá, que muda de nome
Cimi mostra um quadro aterrador: 15% da po- assinada por 12 índios que temiam ver aconte-
paru Pulomayo ao entrar em território colom-
pulação Deni está com tuberculose e 40% com cer entre seu povo o mesmo que ocorreu no
biano. “É nas margens dos rios Caquetá e
anemia crônica. Hm seis aldeias situadas às da década de 1970, quando 85 índios Deni
final
Pulomayo que ficam os principais laboratórios
margens do rio Xeniã, houve um decréscimo morreram vitimados pela tuberculose.
de refino dos cartéis colombianos”, disse ele
de 20% nos últimos quatro anos. Segundo o coordenador regional do Cimi, Mi-
por telefone. (OESPeJB, 28/05/99)
“Com uma população de 500 pessoas espalha- guel Feeney, hoje a situação ainda é difícil, mas
da,s por pequenas aldeias entre a margem es- está melhor. A entidade mantém contatos per-
APURINÃ GANHA LIBERDADE querda do rio Xeruã e as regiões centrais dos manentes com os Deni e está desenvolvendo um
E PROCESSO VAI SER REVISTO rios Cuiiiá, Mamoriá, Teutíni e seus afluentes trabalho na tentativa de reestabelecê-los não só
no oeste do Amazonas, o povo Deni é uma na- fisicamente mas também psicologicamente.
O índio apurinã Geraldo Florentino de Souza,
ção em extinção, em consequência dos cons- Entre os trabalhos articulados pelo Cimi, está o
38, foi libertado ontem. Ele estava preso liámais
tantes surtos de malária, sarampo e tuberculo- projeto de uma reserva extrativista de borracha
de três anos na penitenciária agrícola Anísio
se trazidos pelos branco invasor”, alerta Nicole para os índios, em parceria com o Ibama, na
Johim, na BR- 174. Ele agora vai aguardar em
Freris, médica do Cimi. A equipe do Cimi man- comunidade da Mandioca.
liberdade a revisão do processo que o conde-
teve contato com 271 índios Deni e confirmou Trabalho escravo - Um relatório de viagem
nou a 12 anos de prisão. (A Crítica, 01/06/99)
que o processo se acelerou. Um exemplo da sobre os índios Deni, o Cimi denuncia a exis-
de março de 1995 a abril desse ano,
tragédia: tência de trabalho escravo entre os indígenas
APURINÃ SOFRE NOVA CILADA nasceram dez bebês, mas sete morreram de na extração de madeira de sua própria terra.
malária e pneumonia. (O Globo, 12/05/96) “O velho patrão dos Deni, Raimundo Lopes,
As suspeitas de que o índio apurinã Geraldo continua explorando a área como se nada ti-
Florentino não teria paz, mesmo após ganhar
ESTUDO CONFIRMA QUEDA vessemudado nessas últimas décadas. No pri-
liberdade no rumoroso processo em que foi meiro semestre desse ano, o igarapé Rezemá
condenado por crime que não cometeu, confir-
NA EXPECTATIVA DE VIDA
ficou engarrafado com toras do senhor Lopes,
maram-se ontem. Em telefonema aos advoga- A expectativa de vida dos índios caiu de 48,2 enquanto os Deni ficaram devendo ao patrão. A
dos do Instituto dos Direitos Civis do Amazo- anos para 42,6 anos entre 1 993 e 1 995, de acor- exploração de madeira continua até a cabecei-
nas, ele informou que teria sido vítima de uma do com estudo realizado por Rômulo Moura, ra do rio Xeruã. Contudo, os maiores benefici-
nova cilada preparada por fazendeiros e está do Instituto de Medicina Tropical (IMT), de ados dessa devastação florestal são o prefeito
preso na Delegacia de Boca do Acre, por or- Manaus. Um exemplo da ineficiência do aten- do município de Itamarali e Valdemar Moraes,
dem do juiz local. Os advogados de Florentino dimento dispensado à saúde indígena, aponta- dono de uma serraria em Carauari (AM)”, diz
seguem hoje para Boca do Acre, onde vão se do no relatório do IMT, está localizado na capi- o relatório. (A Crítica> 08/12/96)
dos fatos e se possível, pedir o relaxa-
inteirar tal amazonense. Apesar de ser considerado o
mento da prisão. (A Crítica, 03/07/99) médico
principal posto de atendimento e tria-
ESTADO RECONHECE EPIDEMIA
gem dc índios de toda a Amazônia, a Casa do
índio de Manaus convive com superlotação e Cerca de 39 dos 291 índios Deni, na região do
APROVADA A TI APURINÃ
com a falta de isolamento daqueles que têm rio Juruá, centro-oeste do AM, estão contami-
DO IGARAPÉ SÃO JOÃO doenças contagiosas. nados pelo bacilo de Kock, que produz a tuber-
A Funai, no despacho n° 73, aprovou as conclu- Em junho desde ano (1996), uma equipe de culose. Segundo Nicolas Freris, médica do Cimi,
sões do Resumo do Relatório de Identificação e reportagem da Folha de S. Paulo encontrou na a situação é gravíssima na região devido à falta
Delimitação da Terra Indígena Apurinã do igarapé comunidade Deni 120 índios doentes e seus de assistência médica.0 superintendente esta-
São João. A terra é de ocupação do grupo Apurinã, parentes acomodados em alojamentos adapta- dual de Saúde, Risonildo Almeida, disse que
tem superfície de 18.270 hectares e 87 km de doscomo centro de internação para pacientes certamente o número de índios deni contami-
perímetro e está localizada no município de com tuberculose, fogo-selvagem, malária, ca- nados é muito maior do que se pode imaginar,
Tapauá, estado do Amazonas. Esse relatório tra- tapora e outras enfermidades. A superpopulação chegando a atingir mais da metade da popula-
ta-se de um reesmdo, pois o relatório anterior não e a falta dc isolamento resultam *‘da falta de ção. Para ele, o principal problema enfrentado
incluiu, na delimitação da terra, lagos, igarapés e vagas na rede pública de saúde”, esclareceu o pelo estado para diminuir o índice da doença é
outras áreas imprescindíveis para a sua reprodu- administrador regional da Funai de Manaus, a falta de interação entre o Programa de Con-
ção fisica e cultural. (DOU, 03/12/99) Benedito Rangel de Morais. (Tttpari ouí/96) ,
trole de Tuberculose e a Susam.
"ISOLADOS
LÍDERES PEDEM AJUDA A ONGS Sete caciques das quatro aldeias Deni do Vale recentemente. Agora, são apenas seis índios,
do Cuniuá (AM) estiveram presentes ao encon- sendo um casal de velhos, um homem de meia-
O projeto de apoio à autodemarcação elabora- tro com os ativistas do Greenpeace. O coorde- idade e três mulheres jovens. Diante disso, há
do pelo Cimi, Opan e (ireenpeace nasceu a par- nador geral do Programa para a Demarcação quem especule sobre a possibilidade de recor-
tir de um pedido das próprias lideranças indí- das Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) rer à engenharia genética para garantir a per-
genas durante visita das entidades à região em e representante da Funai, Artur Ribeiro Men- petuação dos Juma. Por algum moralismo que
maio de 1999. “Os Deni querem a terra demar- des, também participou. Em maio, o Greenpeace não se entende, a Funai tem afastado sistemati-
nistrador regional da Funai em Porto Velho. Sady uma área de seringueiras, castanheiras, madei- do trabalho valeram o reconhecimento do Pro-
Beavalti,sem o conhecimento dos funcionários ras de lei e ervas medicinais; ter facilitado a en- grama de Gestão Pública e Cidadania da FGV e
do órgão que acompanham a comunidade, auto- trada de pessoas estranhas, como madeireiros e da Fundação Ford, que selecionaram a iniciati-
rizou a remoção dos índios para a Casa do índio va da UNI-AC como uma das 20 finalistas para
comerciantes na área indígena, promovendo de-
(sob alegação de estarem doentes), e em seguida sagregação sociocultural e econômica entre os as premiações desse ano. Criado em 1991, o
para a terra indígena Uru-eu-wau-wau, em Kaxarari. (Folha do Amapá, 25 a 31/05/96) projeto conseguiu, quatro anos mais tarde, ini-
Rondônia, com o objetivo dc promover casamen- ciar concretamente o trabalho de demarcação
tos interétnicos. Durante a estada nesta área, dois de 770 mil ha de terra. Segundo Francisco
idosos do grupo vieram a falecer, sem que tenham KULINA Avelino Batista, responsável pelo projeto, foram
sido explicadas as causas. gastos US$ 600 mil nos trabalhos demarcatórios.
Na representação ao Ministério Público, as enti-
DEMARCAÇÃO SOB (JB, 28/09/97)
dades destacam trechos de memorando do che-
CLIMA DF, TERROR
da frente de contato da Funai no Rio Punis,
fe
MALÁRIA MATA NO JURUÁ
Rielli Franciscato, responsável pelo acompanha- Os índios Kulina denunciaram ontem em
mento dos Juma que sequer sabia da saída dos Manaus a morosidade com que está sendo tra- A Fundação Nacional de Saúde (FNS) anunciou
índios de sua terra. No documento dirigido ao tado pelo polícia o incêndio ocorrido na sede ontem que enviará uma equipe do município de
órgão em Brasília, Franciscato é taxativo em afir- da UNI-ÁC no município de Eirunepé. Segundo Fonte Boa (a 680 quilômetros de Manaus) para
mar que não havia motivo que justificasse a trans- o tesoureiro da entidade, Tóia Machineri, o in- a região do Cumaru do Lago Uala, na localidade
ferência, ocorrida, segundo ele, sem a concor- cêndio ocorrido dia 22 de abril faz parte das deCaiatú, no baixo Juruá, no Amazonas, a fim de
dância da comunidade. Ele demonstra preocu- intimidações feitas por políticos com a inten- combater a epidemia de malária que já matou
pação quanto ao estado de saúde do grupo no ção de paralisar os serviços de demarcação da duas crianças índias, da etnia culina, da aldeia
contato com a Casa do índio. Para Franciscato, a II Kulina do Médio Juruá. Pau-Pixuna, no último fim de semana.
morte dos idosos está relacionada a fatores psi- A denúncia foi encaminhada à Procuradoria da A FNS não informou a data do deslocamento da
cológicos originados com a transferência abrup- República no Acre, no dia 5 de maio. Ao dele- equipe mas os funcionários do setor do índio do
ta. (Informe do Cimi n°352, 18/03/99) gado de polícia de Eirunepé, Francisco Valdir órgão adiantaram que os agentes de saúde esta-
de Alencar, a UNI fez solicitação para que, após rão viajando o mais breve possível para a locali-
as deligências policiais, a entidade livesse como dade onde farão o diagnóstico, tratamento e con-
KAXARARI justificar a perda dos equipamentos de demar- trolede veiores. Até o dia 10 desse mês, segundo
cação (um teodolito e dois rádiotransmissores) o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em
CONSTRUTORA É ACUSADA e alimentação estocada para a equipe de traba- Manaus, dos 132 habitantes da aldeia Pau-Pixuna,
lho junto a entidade financiadora do projeto, a 36 índios estavam com malária vivax dez com a
DE INVADIR TERRA INDÍGENA )
ONG Pão Para o Mundo, com sede na Alema- do tipo falcipamm a forma mais grave, e três
,
A Associação das Comunidades Indígenas nha. “Até agora não recebemos nenhuma infor- apresentaram a malária mista {falciparum e
Kaxarari, do Acre, entrou com representação mação sobre o resultado do laudo feito pelo vivax). Três crianças culina estão internadas em
criminal junto à Procuradoria da República Corpo de Bombeiros", disse o índio. estado grave no hospital de Tefé, com malária
contra a construtora Mendes Júnior, do ex-se- A situação entre índios e fazendeiros da região falcipamm. As duas que morreram no sábado
nador pelo Amapá, Henrique Almeida, respon- é tensa desde o desenvolvimento dos trabalhos tinham menos de um ano de idade.
sabilizando a empresa por danos morais, ma- de demarcação das terras, realizado em convê- O membro da coordenação regional do Cimi,
teriais e ambientais às comunidades. Segundo nio com a Funai. Telefonemas anônimos amea- padre Egon Ileck, disse que o surto de malária
u
a representação entregue esta semana ao pro- çadores têm sido feitos às lideranças indígenas não é surpresa para os índios. O problema é
curador da República Luiz Francisco Fernandes e nenhuma providência foi adotada pela auto- que vem se agravando”. Heck disse que o traba-
de Souza, durante o asfaltamento da BR-364, ridade policial do município. Tóia disse tam- lho de prevenção contra a malária não vem sen-
ram à FNS que a situação estava piorando e que em 11 de dezembro passado e, para que seja dos pelo grupo, de forma tradicional, estavam
havia a necessidade de se adotar medidas urgen- concluída a regularização, é necessária a retira- fora das áreas demarcadas. Diante disso, a Funai
tes para combater a doença entre os índios. da de (odos os ocupantes não-índios. Esta fase reconheceu a necessidade de proceder a revi-
Funai responsabiliza a FNS -O administra- está em andamento, (A Crítica, 17/03/99) são de limites da área, constituindo um Grupo
dor da Funai em Manaus, Benedito Rangel de de Trabalho com a finalidade de realizar os es-
Morais, disse que a responsabilidade de contro- ÁREA EIRUNEPÉ tudos e levantamentos necessários.
lar doenças como a malária nas comunidades GANHA ESCOLAS Além disso, também aprovou o Resumo do Re-
indígenas é da Fundação Nacional de Saúde. latório de Identificação da Terra Indígena
Segundo ele, o decrelo federal número 1.141, O prefeilo de Eirunepé, Dissica Valério Tomáz, Paumarí do Lago Marahã, de ocupação dos gru-
de 19 de maio de 1994, determina que a FNS
inaugurou no último final de semana três esco-
pos Paumarí e Apurinã, com superfície e perí-
exerça esse controle. “AFunai é responsável pela
las, três postos de saúde e três geradores de metro aprovados de 1 16.000 hectares e 230 km
parte assistencial mas o controle das doenças energia em comunidades ribeirinhas do muni- respectivamente, localizada no município de
endêmicas como a malária é de responsabilida- cípio, localizadas no rio Eiru, Médio juruá. As Lábrea, AM. (DOU, 20/08/99)
de da FNS", disse. (A Crítica, 17/06/98)
benfeitorias, realizadas na área indígena Kulina,
A construção de pectivameme situados a cerca de 80, 50 e 30 O Ministério da Justiça declarou, através da por-
benfeitorias dentro da área in-
quilômetros da sede do município. taria 295, de posse permanente dos índios
dígena Kulina, do Médio juruá, no município
Os professores das escolas rurais foram treina- Paumarí a TI Paumarí do Lago Manissuã, com
de Eirunepé em uma comunidade de morado-
dos pela Secretaria Municipal de Educação superfície aproximada de 22.713 há e períme-
res não indígenas, pode resultar em conflito. A
(Semec) e nas aldeias as aulas serão ministradas tro aproximado de 1 16 km. Esta terra está loca-
denúncia foi feita peia Operação Amazônia Na- ,
7. TAPAJÓS
MADEIRA
Sateré-mawé
Copyrlghledmolen
^7^ Acervo
-//ISA
7. TAPAJÓS
MADEIRA
R p kr < r A » * '
taim/QVôWJV*
IPUaNÀ,
A 7A) na S ^R^ACANCA
TERRAS INDÍGENAS
rodovia implantada reconhecida oficialmente
mais de 15.000 ha
capital de Estado
reconhecida oficialmente
menos de 11.000 ha
em identificação ou
Unidade de Conservação federal a identificar
Ârea rníntar
flirnirr apresentada em outro capitulo
)
Acervo
-V/f ISA
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n°r fonte, data (ha|
13 Andirá-Marau Sateré-Mawé 7.134 Funai Parintins: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 788.528 Itaituba PA Requerimento de pesquisa mineral.
Dec, 93060 de 06/08/86 homologa a demarcação. Barreirirhs AM Incidência de Aprox. 90328 ha do
Reg. CRI de Parintins (30.934 ha) Matr. 1.888, Parintins AM P. Nacional da Amazônia. Rodovia
Liv.2 G, fl. 141 em 10/02/87;Barreirinha 1343.044 ha) Aveirp PA planejada PA-265.
Matr. 266, Liv. 2-B, fl. 83 em 16/02/87; Aveiros Ma ii és AM
{115.253 ha) Matr. 3.050, Liv. 2-G, fl.29 em 26/02/87;
ItaHu ba (350.61 5 ha) M
atr. 3.059, Liv. 2-G r fl. 23 em
{OU, 26/04/00)
53 Boa Vista Mura 54 Funai Manaus: 00 Idertificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 300 Careiro AM
Despacho do presidente da Funai 21 de 21/12/99
aprova as conclusões do relatório de estudos e
identificação (OÜU, 24/12/90|.
83 Cuatá-laranjal Munduruku 1738 GT/Funai: 97 Delimitada. 1.121.300 Borba AM Rodovia planejada AM-080
Sateré-Mawé Port.do ministro da Justiça 581 de 07/10/39
declarando de posse permanente {DOU. 09/10/99).
83 Cuia Mura 77 Funai Manaus; OO Homologada. Reg. CRi e SPU. 1.322 Autazes AM Rodovia AM-465 corta a área.
Dec. 309 de 29/10/91 homologa a demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI. Autazes Matr. 531, Liv. 2 B,
1370 Fortaleza do Castanho Mura 75 GT/Funai: 97 Idertificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 2.000 Careiro
Port 053 de 16/01/97 cria GT p/idenlificação da TI.
Despacha do presidente dã Funai n. 2 de 21/01/00
aprova conclusões do estudo de identificação
1D0U, 25/01/00).
107 Gavião Mura 77 Funai Manaus: 00 Homologada Reg. CRÍ. 8.811 Careiro AM
Dec. 305 de 29/13/91 homologa e demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CR! em Grajaú Matr. BGS0,
ÜV.2-RG, fl. 01 em 04/05/97.
111 Guapenu Mura 320 Funai Manaus: 00 Em Identificação/Reservada/SPI. 2.450 Autazos AM
Portaria 1816 de 8/1/85 cria GT p/ identificação
de limites e levantamento fundiário. Planta de
delimitação de 13/04/83.
S/MADEIRA
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n® fonte, data (ha)
519 Koyabi Kayabi 387 Funai Itaituba: 00 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 1.408.000 Jacareacanga Apiacás
Apiaká Despacho do presidentes da Funai 28 de 23/06/99
Munduruku aprova c relatório de estudos e identii. da TI.
(DOU, 25/C6/99).
133 Lago Aiapoá Mura 420 Funai: 94 Homologada. Reg. ORE e SPU. 24,866 Beruri Artnri AMAM
Dec. s/n de 12/08/93 homologa a demarcação
(DOU, 13/08/93). Reg. CRI de" Beruri Matr. 075,
Lrv. 2-RG, fl. 40V de 09/12/94. Reg. SPU Cert. 001
em 17/11/95.
1135 Lago Jauari Mura 145 Parecer/ Funai: 96 Delimitada. 15-180 Manicoré
Port.do Ministro da Justiça 824 de 11/12/98
declara de posse permanente (DOU, 14/12/98).
214 Mundurucu Munduruku 5075 Parecer/Funai: 95 Delimitada. 2.340.360 Jacareacanga PA Requerimento e alvará de pesquisa
Port. Ministro da Justiça 823 de 11/12/98 mineral. Garimpo indígena e não-
declara de posse permanente dos índios indígena. Hidrelétrica planejada (B.
(DOU, 14/12/98). S. Manoel). Rodovia planejada BR-
030. Hidrovia planejada.
217 Natal/Felicidade Mura 97 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 313 Autazes AM Dec. de homologação juntou as
Dec. 296 de 29/10/91 homologa a demarcação áreas Natal e Felicidade
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI Autazes Matr. 533, Reservadas/SPI.
Uv. 2B, fl. 191 em 25/02/92. Reg. SPU Cert. 012
em 16/06/97.
223 Nove de Janeiro Parintintim 30 Funai Porto Velho: 00 Homologada. 228.777 Humaitá AM Rodovia BR- 230 no limite.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa s demarcação
(DOU, 04/1 1/97).
234 Paracuhuba Mura 67 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 927 Autazes AM
Dec. 310 de 29/10/91 homologa demarcação
administrativa (DOU, 30/10/91). Reg. CR! Autazes
Matr. 530, Liv. 2-B, fl. 191 (25/02/92). Reg. SPU.
Cert. 011 em 06/06/97.
Acervo
-// ISA 'MADEIRA
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambienta! - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n B fonte, data
, (ha)
1131 Paraná doArauato Mura 103 Parecer/ Furtai: 98 Delimitada. 5.90C Itacoatiara AM
Port. ministra da Justiça 290 de 13/04/00 declara
de posse permanente indígena (DOU, 17/04/00).
(DOU. 26/04/00)
245 Pirahâ Mura Pirahã 36U Funai Homologada. 346.910 Humaitá AM Rodovia BR-230no limite.
Praia du Manyue Muncuruku 115 Funai Itsiluba: 00 Demarcada pelo Incra. 30 Itaituba PA
Lote demarcado pelo Incra, Projeto Fundiário
Cachimbo, Lote 736, Gíeba Arraia (Funai/Belém)
260 Recreio/ S. Félix Mura 139 Funai: 94 Homologada. Reg. CRI e SPU. 251 Autazes AM
Dec. 295 de 29/10/91 homologa demarcação.
(OQU. 30/19/91). Reg. CRI Autazes Matr. 532, Liv. 2 0,
n. 191 em 25/02/92. Reg. SPU Cert. 006 em 22/11/95.
1133 Ric Urubu Mura 374 Parecer/ Funai: 98 Delimitada. 27.500 liacoatidra
Port. co ministro da Justiça 294 de 13/Q4/C0
declara da posse permanente (DOU, 17/04/00).
278 Sai Cinza Munduruku 1.022 Funai Itaituba: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 125.552 Itaituba PA Requerimento de pesquisa mineral.
Dec. 393 du 24/ 1 2/9 1 homologa demarcação Garimpo indígena. Rodovia BR-23G
(DU, 26/1 2/91|. Recj. CRI Matr. 4155, Liv. 2, fl. 275 no limite.
289 São Pedro Mura 47 Funai: 99 Homologada. Reg. CRi e SPU. 726 Autazes AM
Dec. s/n de 05/01/96 homologa a demarcação
(DOU, 08/01/96). Reg. CRI de Autazes Matr. 314,
Liv. 2-A, ÍE. 334 em 14/12/87. Reg. SPU CerU75,
Liv. 380 cm 29/07/88.
843 Tabocal Mura 15 GT/ Funai: 97 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 907 Careiro AM
Port. Funai 053 de 17/01/97 cria GT p
estudos e identificação da Ti, Despacho do pres.
da Funai 71 de 26/1 1/99 aprovando o relatório
de identificação (DDU, 03/12/99|.
129 Tenharim do Tenharim 60 Funai Delimitada. 88.240 Manicoré AM Requerimento e alvará de pesquisa
Igarapé Preto Porto VeiliO: 00 Port. Ministro da Justiça 559 de 07/13/99 declara mineral. Estrada da rrtineradora no
de posse permanente (DOU, 08/10/99). limite da área.
307 Tenharim/ Marmelos Tenharim 460 Funai Homologada. Reg. CRI. 497.521 Humaitá AM Requerimento de pesquisa
Porto Velho: 00 Dec. do pres. Cardoso dB 35/01/96 homologa
F.H. Manicoré AM mineral. Garimpo indígena.
a demarcação (DOU, 03/01/96). Reg. CRI de Rodovia BR-230 corta a área.
Manicoré {257.662 ha) Matr. 1.295, Liv.2-4, II. 264
em 31/01/96; em Humaitá Matr. 2.458, Liv. 2-1,
fl. 178 em 19/03/96.
317 Torá Torà 103 GT Ident : 98 Delimitada. 50.600 Manicoré AM Alvará úe pesquisa mineral.
Aaurinã de 13/04/00 declara
Port. do ministro da Justiça 293 Humaitá AM
de posse permanente indígena |D0U, 17/04/00)
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n°, fonte, data ) (ha)
319 trincheira Mura 189 Funai: 99 Komolugadc. Reg. CRI u SPU. 1.624 Autazes AM
Dec. 91.143 da 20/08/86 declara de posse
permanente (DOU, 21/08/86). Reg. CRI de Auta2es
Matr. 288. Liv. 2-A, 11. 313 em 14/12/87. Reg. SPU
AM-174 em 29/07/88.
Acervo
_//£ ISA
Os Mura Lutam
para Recuperar suas Terras
ATINGIDOS PELO INTENSO CONTATO COM OS legal moveu o extinto Serviço de Proteção ao índio (SPI) a demar- ,
BRANCOS DESDE 0 SÉCULO XVIII E POR UMA car lotes destinados aos Mura nos municípios de Manicoré, Careiro,
POLÍTICA INDIGENISTA QUE LOTEOU E REDUZIU Itacoatiara e Borba. Parte significativa das terras Mura que perma-
neceram ocupadas, conservam esses marcos de madeira do
SUAS TERRAS, OS MURA TENTAM RECUPERAR SPI,
Os últimos anos foram decisivos para a população Mura, habitan- indigenista da época, de distribuição de pequenos lotes de terra
os Mura do município da Autazes, AM, criaram o Conselho Indíge- ocupação e exploração pela população regional. Tal política con-
na Mura (CIM), primeira e mais importante organização não-go- denou os Mura a viver nesses lotes que pontilham o vasto territó-
vemamental da etnia. Mais recentemente uma antiga reivindica- rio original de circulação da etnia, identificado anteriormente com
ção da etnia - a demarcação das suas terras -, conduzida pelos a bacia do rio Madeira.
de 16 de outubro, autorizou a
Wanderley Guedes Farias
concessão de lotes de terra à po- Antonio Guedes dos Reis Maria e
,
— //A I SA
AS TERRAS MURA
0 trabalho de identificação e demarcação das Terras Mura está sen- respectivamente. População: 22 pessoas (em 1998). Despacho do pre-
do financiado peto Programa Piloto para Proteção de Plorestas Tro- sidente da Funai n" 87. publicado no DOU em 24/12/99.
picais do Brasil (PPG- 7), através do Projeto Integrado de Proteção
das Terras e Populações Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL). Apre- TERRAS EM PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO
sentamos abaixo a situação dos trabalhos de identificação e delimi- (segundo Informações do ÜAF/Funai):
tação das Terras Indígenas Mura, segundo os diferentes estágios de • Terra Indígena Capivara (município deAutazes, AM)
reconhecimento oficiaI.
Com uma população de 154 habitantes (1997) e 827 ha. encontra-se
em fase de estudo, aguardando o relatório do GT PP 315/PRES/97.
TERRAS DFMiRCADAS F. HOMOLOGADAS (ANTERIORES AO PPTAL)
• Terra Indígena Guapenu (município de Autazes, AM)
Terra Indígena Município/UF
Superfície de 3.498 ha e população de 285 habitantes ( 1997). Aguar-
Cuia Autazes, AM da resultados do relatório do GT PP315/PRES/97.
Natal/Felicidade Autazes, AM
• Terra Indígena Jauary (município deAutazes, AM)
Recreio/São Félix Autazes, AM Superfície de 3 559 ha e população de 112 habitantes (1997). Aguar-
São Pedro Autazes, AM da resultados do relatório do GT PP3I5/PRES/97.
Trincheira Autazes, AM • Terra Indígena Lago do Limão ( município deAutazes, AM)
Superfície de 4. 183 ha e 49 habitantes (1997). Aguarda resultados do
TERRAS DECLARADAS DE POSSE PERMANENTE relatório do GT PP315/PRES/97.
Terra Indígena Município/UF • Terra Indígena Muratuba (município deAutazes, AM)
Itaitinga Autazes ,
AM Superfície de 954 ha e população de 31 habitantes ( 1997). Aguarda
Ariramha Manicoré. AM, que compreende as seguin- Superfície de 572 ha e população de 572 habitantes ( 1997). Aguarda
tes áreas: Área Ariramba: Área Igarapé dos resultados do relatório do GT PP315/PRES/97.
Mura e Área Mura do Baetas • Terra Indígena Panlaleão (município deAutazes. AM)
Lago Capanã Manicoré, AM. que compreende a Area Com uma população de 300 jiessoas (1997) ,
aguarda estudos.
Palmeira e Área Guariba
• Terra Indígena de Patauá (município de Autazes. AM)
Pinatuba Manicoré, AM Superfície de 619 ba e jiopulação de 47 habitantes (1998). Aguarda
Lagojauari Manicoré, AM resultados do relatório do GT 969/PRE/98.
Rio Urubu Itacoatiara, AM • Terra Indígena Ponciano (município deAutazes. AM)
Paraná doArauató ftacoatiara, AM Superfície de t.540 ha e 15 habitantes ( 1997). Aguarda relatório do
PELA FUNAI, publicados no Diário Oficial, afim de cumprir o prazo da relatório do GT PP053/PRES/97.
de 90 dias, para contestações de interessados. Encontram-se ainda • Terra Indígena Cunhã-Sapucaia (município de Borba. AM)
sem portaria do ministro da Justiça: Superfície de 452. 180 ba. 409. 665 km de perímetro e uma /mpuiação
• Terra Indígena Tabocal (município de Careiro, AM) aproximada de 587 habitantes. Aguarda o relatório do GT PPW39/
Suj>erjicie e perímetro aprovados: 907 ha e 17 km, respectivamente. PRES/99. Reúne as localidades deJuta í do Igapó Açu, Pacovão, Cttnhã,
População: 15 pessoas (em 1997). Despacho do presidente da Fumin° Sapucaia. Igara/ié Açu, Boca do Tupaiiã. Capana do Aracu, ciladas
• Terra Indígena Boa Vista (município de Careiro da Várzea, AM) • Terra Indígena Setemã (municípios de Borba e Nova Aripuanã, AM)
Esta terra foi homologada no dia II/I2/9B, com 133 ba. Teve seus Superfície de 18.900 ha e 77 habitantes (1997). Aguarda resultados
limites revistos. SujKrficie e perímetro aprovados: 300 ba e 21 km, do relatório GT PP053/PRES/97.
respectivamente. População: 38 pessoas (em 1998). Despacho do pre- • Terra Indígena Marinheiro (município de Careiro. AM)
sidente da Funai «“ 86. publicado no DOU em 24/12AJ9. Superfície de 3.500 ha e população de 73 habitantes (1997). Aguarda
• Terra Indígena Fortaleza do Castanho (município de Careiro, AM) resultados do Relatório GT PP053/PRES/97.
Su/ierfície e perímetros aprovados: 2. 800 ba e 31 km. respectivamente; • Terra Indígena Aplpica (município de Careiro. AM)
População: 75pessoas (em 1997). Des/xicho do jnresidente da Funai n° Superfície de 650 ha e 68 Habitantes (1998). Aguarda relatório GT
2. publicado no DOU em 25/01/00. PP969/PRES/98.
• Terra Indígena Padre (município deAutazes, AM) (Marta Amoroso/ISA - março, 2000)
Esta terra foi homologada no dia 23/05/96, com 391 ha. Teve seus
longo da área. Após os primeiros conflitos entre índios e não-índios, Em 1997, a Funai criou um grupo de trabalho ( Portaria n°315/PRES/
a Prefeitura de Autazes iniciou estudos para a avaliação da área ocu- 97), que realizou levantamento de campo visando determinaras áreas
pada,com o intuito de indenizar os indígenas ou realizar permutas urbanas e rurais ocupadas pelos Mura dentro da sede do município.
com os mesmos. Em 1989. um levantamento populacional realizado Novo grupo de trabalho da Funai está sendo programado para o ano
petas lideranças indígenas apontava nove famílias remanescentes, 2000, com o objetim de reexaminar a situação das terras dos Mura
sonumdo um total de 70 índios. Na ocasião, as indenizações foram em Autazes. O objetivo destes trabalhos de identificação e delimita-
calculadas pela Prefeitura, mas no ano seguinte, alegando falta de ção da TI Pantaleão, ainda em fase definalização, é garantir à popu-
recursos, a Prefeitura recuou, informando que os Mura seriam ex- lação mura condições de sustentabilidade. como áreas de cultivo
pulsos da área e suas moradias seriam derrubadas. próximas ao local do assentamento. (Equipe de edição, a partir de
entrevistas com Maurício dos Santos e Manuel Garcia, CIMZAutazes e
levantamento realizado por Klianc S. S. Pequeno, antropóloga/Funai,
fev/2000).
outras etnias, além de ciganos e negros foragidos, aos grupos mura beneficiarem da exploração dos recursos econômicos da terra.
seminômades. Lembremos que por ocasião da “redução voluntá-
No perímetro proposto para a delimitação da TI Cunhã-Sapucaia
ria” do século XVIII, a liderança que mediou as negociações entre
estão inseridos quatro lotes regularizados pelo do Instituto Nacio-
os Mura e as autoridades coloniais era um índio manao, criado
nal de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Deles, apenas um
desde pequeno pelos Mura.
pertence a uma moradora não índia que deverá abandonar a área.
Os outros três pertencem aos Mura da localidade Boa União, al-
Mura, utilizada para indicar uma condição indígena particular, a A participação desses indivíduos nos trabalhos preliminares de
do índio "misturado”. Por caboclo o Mura alude ao componente identificação, a atuação de alguns deles como professores e lide-
biológico, o sangue indígena, ainda que misturado em casamentos ranças indígenas junto à população local, indicam que é a defesa
com migrantes nordestinos ou imigrantes peruanos ou bolivianos; da Terra Indígena de Cunhã-Sapucaia, e não a posse de pequenos
por legítimo sinaliza o que pertence a uma determinada área geo- lotes individuais, que deverá de maneira geral mobilizar os esfor-
gráfica: caboclo legítimo do Matupiri, do Paraná do Madeirinha. ços dos Mura daqui para frente, (fevereiro 2000) ,
Waraná:
o Legítimo Guaraná dos Sateré-Mawé
DO GUARANÁ, OS SATERÉ-MAWÉ, POR VIVEREM pacto, controle de qualidade e pesquisa e desenvolvimento do projeto,
NO ÚNICO BANCO GENÉTICO DA PLANTA NO Com esse esquema, apesar de muito rigoroso, fica difícil para o
MUNDO, DEVEM CONQUISTAR UM VALOR CGTSM, conseguir defender, pelo menos em grande parle, as fina-
DIFERENCIAL NO MERCADO INTERNACIONAL lidades de longo prazo devido às pressões do gasto corrente e à
do Projeto Guaraná,
iniciado experimentalmente pela coordenação do Conselho três A TRADIÇÃO: UM COMPROMISSO
anos antes, o motor econômico para uma verdadeira autogestão
Os Sateré-Mawé conservaram, das terras ancestrais, o coração da
das 70 aldeias localizadas na TI Andirá-Marau, que possui 800 mil
área de eleição do guaraná, “as terras altas". Eles, no que chama-
hectares, habitada por 7 mil pessoas e situada na fronteira entre o
mos de nível “empírico”, são os descobridores das virtudes
Amazonas e Pará.
fitoterápicas do guaraná,. São os guardiões de formas ritualizadas
A perspectiva dessa autogestão é uma realidade que é conhecida de produção (coleta e transplante das mudas espontâneas da flo-
pelos tuxáuas por “Sateré-Mawé éco ga’apypiat waraná mimotypoot resta, cuidados especiais na torrefação em forno de barro, ao fogo
sése”, o que pode ser traduzido como “as terras sagradas à natu- de lenha aromática, etc.) e de seu consumo (relacionamento
reza e à cultura do guaraná do povo Sateré-Mawé”. Essa idéia pode mítico-mágico com a personificação da planta, laço entre as “be-
ser interpretada como uma estratégia para manter, reconstruir c las palavras” que a bebida de “çapó” de guaraná inspira nas reu-
fortalecer um espaço antrúpico caracterizado por uma economia niões políticas, o efeito de coerência e harmonia na organização
suave que visa proteger o único banco genético do guaraná exis- social comunitária, etc.)
tente no mundo.
A tudo isso, precisa-se acrescentar o compromisso que o Conse-
lho Tribal assume frente ao consumidor final de salvaguardar e,
dos com essa venda visam unicamente o interesse geral dos Sateré-
Mawé a longo prazo. Simplificando esse esquema, aproximada-
O MERCADO
mente um terço dos recursos gerados é destinado aos cultivadores, O pressuposto fundamental, então, é que o guaraná dos Sateré-
um terço ao Conselho - para os gastos correntes e tutela do inte- Mawé pode vir a ser reconhecido no mercado internacional com
resse coletivo da comunidade - e um terço para a transformação, um valor diferencial no plano qualitativo, assim como no plano
Acervo
//\C I SA
ético (produto que internaliza custos ecológicos e sociais, assim Essa unificação nasce pela necessidade de garantir o funciona-
como valores culturais e sociais), qualidades que podem ser mento do Conselho como associação econômica, cm primeiro lu-
transferidas ao preço final. A oferta no mercado internacional de gar, com o fim de chegar à comercialização internacional direta.
de fato sobre a autonomia das escolhas econômicas. CGTSM e realizada pela Amism (Associação das Mulheres Indíge-
Consequentemente, baseando-se na experiência que esta última se nas Sateré-Mawé), essencial ao controle sanitário e na prevenção
constrói, por sua vez, sobre a credibilidade da organização tribal da poluição ambiental, surgiu para evitar a possibilidade de con-
frente à comunidade de referência assim como frente aos parcei- taminação dos guaranazais; estimular a prevenção da degradação
ros da sociedade envolvente. do meio ambiente e criar a oportunidade de abrir o baixo Andirá
às formas de ‘turismo responsável’ (selecionado). Esta forma de
Em última análise, se o CGTSM desde 1995 (ano dos primeiros 20 kg
turismo, planejada com a colaboração da Associação Comunitária
de pó exportados) até iioje conseguiu manter o preço e multipli-
Aspac de Silves, permitiria ao consumidor conhecer o guaraná e
car cada ano a exportação (a colheita de 1999 é de 3,3 toneladas
quem cuida dele.
de pó), é porque, apesar da inércia ou das resistências ativas do
sistema, consegue manter sua credibilidade frente aos consumi- Cuidar das abelhas nativas
dores finais e às famílias de produtores. A instalação racionai de colmeias para criação de abelhas nativas
é. uma forma de contribuir para a melhoria da saúde na área for-
O novo estatuto, aprovado na Assembléia de 1998, que reunifica a A criação de abelhas pretende acabar com isso
os atravessadores.
tribo depois de sete anos de divisão entre o Andírá e o Marau, e ao mesmo tempo com o estresse cultural: a abelha ocupa impor-
aponta a visão de um futuro possível e restitui dignidade à autori- tante posição na mitologia Sateré-Mawé e, portanto, merece res-
dade tradicional dos tuxáuas, esmagada durante decênios pelo sis- peito. Além disso, esta atividade contribui para o incremento da
tema dos capitães criado pelo Serviço de Proteção ao índio (SPI) produção de frutas e ao retorno da caça.
As galinhas, o manejo
ENFIM, A AUTONOMIA QUE CHEGA LONGE
florestal e o artesanato, e... É preciso sublinhar que o Projeto Guaraná nasceu, cresceu e se
O financiamento, por parte do CGTSM, do projeto de criação de desdobra de forma totalmente autofinanciada. No sentido forte:
galinha caipira, organizado pela Amism, nasce para eliminar a im- até toda a atividade de assistência técnica ao Projeto na sua forma
portação de alimentos na área. Desdobra-se, logicamente, na subs- geral, realizada pela Acopiama - Associação de Consultoria e Pes-
tituição de ração industrializada por ração autoproduzida, utili- quisa Indianista da Amazônia, é financiada pelo guaraná. A
zando plantas nativas, objeto de manejo. Essa ação não vai só ser- Acopiama não teria meios para funcionar em outros projetos da
vir para garantir, sem custo monetário, ração de alta qualidade às Coiab em andamento, assim como com outras organizações indí-
galinhas, sem introduzir poluição biológica na área (antibióticos genas, se não fosse pelos Sateré-Mawé. Pequeno passo, talvez, de
etc,), mas também para começar a legitimar plenamente a reivin- um longo e difícil caminho que levará um dia as comunidades
dicação da Coiab frente ao Ibama, de liberação da exportação de indígenas até a liberdade de toda tutela! (março, 2000)
artesanato tradicional indígena. Trata-se de garantir a conserva-
Na região do Médio Madeira, vivem os grupos indígenas que se por comerciantes, que traziam bens manufaturados para trocar
autodenominam Kagwahiva. São eles o Tenharim Jahói, Parintintin, pelos produtos vegetais. Com 0 passar dos tempos, os vínculos
Torá (Txapakura), Apurinã (Aruãk), Pirahã (Mura) e Mura com esses comerciantes se estreitaram, e alguns indivíduos
do rio Marmelos, em 1994- Eles pediam a revisão de suas terras, Parte do grupo continuou a viver acima das cachoeiras do rio
já homologadas em 1996 (ver Povos Indígenas no Brasil - 1991/ Marmelos, mais próximos das cabeceiras, mas dois desses comer-
1995, pãg. 370). Apesar disso, essa é uma das terras que ainda ciantes, casados com mulheres tenharim, resolveram descer 0 rio,
não foi reconsiderada. Até meados dos anos 90, estavam iden- indo se estabelecer no rio Sepoti, um afluente do Marmelos. Neste
tificadas as Terras Parintintin, Pirahã e Tenharim do rio Marmelos. fundaram aldeias e a população cresceu. Os descendentes
local,
Em 1997, começaram as identificações de terras indígenas na re- casaram-se com mulheres da aldeia que permaneceu rio acima,
gião através do Projeto Integrado de Proteção às Terras e Popula- localizada hoje na Transamazônica. mas continuaram a viver no
ções Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) ,
com 0 reestudo da Sepoti. O rio Marmelos, abaixo das cachoeiras até sua foz, foi ocu-
Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto. Posteriormente se se- pado por muitos nácleos habitados pela população regional, que
guiram, em 1998, a identificação das TIs Tenharim do Rio subia 0 rio a partir de Auxiliadora, uma pequena vila pertencente
Sepoti, Torá e, em 2000, está em curso a identificação da Terra ao município de Mantcoré. Com a morte de uma mulher tenharim
Indígena Jahói. As terras Mura também estão sendo definidas por falta uma
de assistência, 0 grupo decidiu transferir-se para
através do PPTAL. localidade mais próxima de Auxiliadora, fundando uma aldeia no
rio Marmelos denominada Estirão Grande. Entretanto, nunca aban-
Embora a situação caminhe para uma melhora, algumas questões
donou 0 rio Sepoti, de onde retirava todos os produtos necessári-
prementes têm se colocado para estes povos. Em alguns casos existe
os à sobrevivência do grupo.
0 conflito entre os índios e regionais, tais como assentados do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e fa-
A Terra Indígena Sepoti foi identificada recenteniente e levou-se
zendeiros. Existem também conflitos entre grupos indígenas que em consideração 0 fato de os índios transitarem por duas áreas. A
disputam 0 mesmo espaço territorial. Além disso, a pressão exter- Terra Indígena Sepoti possui, assim, duas glebas - Sepoti e Estirão
na tem levado as populações indígenas a explorarem intensiva- Grande. Atualmente, os Tenharim do rio Sepoti têm vivido da caça,
mente seus territórios e, em alguns casos, tem ocorrido mortes da pesca, da produção de farinha para consumo e comercialização
e, printipalmente, da coleta da castanha. As atividades econômi-
por conflitos gerados pela exploração dos recursos naturais.
cas desse povo são vinculadas ao sistema de aviamento da região.
Assim, toda a produção é entregue aos regatões que circulam pelo
rio Marmelos, em troca de produtos manufaturados. O maior pro-
CRISENO IGARAPÉ PRETO: cundada por fazendas, que já destruíram a mata nativa para o plan-
tio de sementes. Os Tenharim têm resistido e tentam garantir que
CONSEQÜÊNCIAS DA HIDROVIA
seu território não seja invadido ou afetado pela monocultura que
A simação dos Tenharim do Igarapé Prelo complicou-se após a toma conta da região.
regularização de suas terras. A identificação propriamente foi rea-
tores rurais. Até recentemenle essas terras recebiam o incenti- mais duas, em diferentes locais do território. A expansão pode
vo do lucra de Humallá que cedia um título provisório sem propiciar um melhor controle dos limites, mas também um uso
qualquer validade legal.
mais intensivo dos recursos naturais. A Associação criada pelos
Tenharim - Apiten - tem, muito provavelmente, pensado nesses
Com a implementação da produção no local, alguns índios passa-
termos, pois busca alternativas não destrutivas como a
ram a trabalhar para os fazendeiros. Além disso, esses começaram comercialização de castanha e não cogita, pelo menos até o mo-
a incentivar a transferência da população para a Terra indígena
mento, a extração de madeira.
Tenharim do rio Marmelos, que fica nas proximidades.
um estado de prisão dentro do próprio território. Para que os ín- racos e São João.
dios não extraíssem artesanalmente a cassiterita, a empresa forne-
No caso da Terra Torá, muitas disputas aconteceram e em todas
cia comida diariamente aos índios, colocados em uma aldeia
elas, a população manteve-se resistente, construindo assim, uma
construída pela empresa.
noção de respeito pela área pretendida que perpassa rádios e regi-
A desagregação social atingiu níveis altíssimos, com alcoolismo e onais. Apesar disso, muitos indivíduos torá foram residir em cida-
prostituição. Alguns Tenharim trabalhavam para a mineração em des como Humaitá e Manicoré e hoje, com a possibilidade de de-
pesquisas de prospecção, já não realizando suas atividades tradi- marcação da área, pretendem voltar.
com regionais. Em artigo publicado pelo Aconteceu Especial 18, Osjahói, por exemplo, viviam até recentemente junto aos Tenharim
Cartagenes & Lobato relatam que os Torá pediam a ampliação do do rio Marmelos. O crescimento populacional, tanto Tenharim
território e uma discussão para resolver o litígio com os Apurinã. quanto Jahói, fez com que o segundo buscasse ocupar seu territó-
tfti .
ser demarcada pela Funai. nos cartórios, e antes mesmo do aparecimento de Valdenor, o cartó-
riojá havia emitido certidão negativa, caracterizando a inexistência
A 11 Tenharim já havia sido declarada de posse permanente indíge-
de ocupantes não-índios no rio Sepoti. As escrituras lavradas em
na, com 79.900 ha. pela Portaria Intemünisleritd n° 535, de 2! de
mas escrituras de
cartório não são títulos de propriedade efetivos,
novembro de 1989 A população Tenharim é de 43 habitantes. (DOU
compra e renda que não foram levadas em consideração nem mes-
14/04/99, 08/10/99)
mo peto cartório que as emitiu ",
fora da área, enquanto para os índios está dentro. sabe até quando os índios resistirão às pressões para explorar
novamente a cassiterila e para plantar soja em suas terras.
Os Pirahã, nesse momento, padecem de constantes invasões de
sua área. Regatões têm aliciado alguns índios para explorar casta- Apesar dos problemas, percebe-se que lodos os povos da região
nha, madeira e cipó no território. Recolhem o que podem carre- estão cientes de que é preciso buscar segurança e auto-suficiên-
gar e na saída entregam cachaça e até mesmo álcool puro para os cia. Todos eles possuem representantes participando de cursos de
índios. Disso resulta que muitas mortes ocorrem, seja por confli- formação de professores e agentes de saúde oferecidos por enti-
tos internos ou pelo consumo excessivo do álcool. dades da sociedade civil que atuam na região. Ao mesmo tempo,
estão buscando participar de fóruns locais e nacionais que deci-
Recememente, os Tenharim do rio Marmelos apreenderam um
dem sobre essas categorias, e consequentemente sobre as ques-
caminhão que retirava areia ilegalmente dentro do território indí-
tões políticas que envolvem os povos indígenas. Professores têm
gena. Após muitas negociações, aceitaram trocar o caminhão por
sido contratados pelas prefeituras e agentes de saúde fazem seus
um carro menor, deixando claro que não permitirão invasões.
estágios nos hospitais, sendo considerados excelentes profissio-
Todavia, em todas as Terras Indígenas da região, percebe-se que é nais. Já é um começo.
premente a busca de alternativas econômicas que não sejam pre-
Atualmente, as assembléias desses povos não se reduzem a enca-
datórias. Nas áreas localizadas na foz do do Marmelos e
minhar as questões que dizem respeito a cada uni deles. São, cada
adjacências, mais afastadas dos centros urbanos - caso das Terras
vez mais, amplos fóruns que congregam representantes de todos
Torá, Mura, Pirahã, Sepoti e alguns grupos Parintintin, a pesca
os grupos acima referidos e que buscam soluções também para
turística e predatória tem reduzido drasticamente os peixes do rio.
problemas coletivos. Assim, esperam estabelecer uma frente mui-
A falta das referidas alternativas econômicas e a presença dos
to mais forte para os inevitáveis embates políticos, (agosto, 1999)
regatões têm estimulado a exploração Intensiva dos recursos natu-
rais. Segundo os próprios índios, é cada vez mais difícil encontrar
O embargo da rodovia Teles Pires/Tapajós foi correm, segundo o cacique Isaías Crbá, da fal-
objetivaram apurar denúncias dos índios a Funai está esperando para fazer isso", diz ele.
Munduruku sobre a construção de uma estrada A luta pela demarcação da reserva dos
Dispostos a combater o projeto clandestina que liga Alta Floresta (MT) a Munduruku dura mais de 50 anos. Em 1945,
os Índios vêetn intromissão na Área. através do decreto 305, o governo do Pará re-
Jacareacanga (PA). 0 projeto da rodovia,
avalizado pela Codesup, com sede em Alta Flo-
servou aos Munduruku uma área de 510 mil
Ião unânimes no pensamento que estão amea- resta, já tem construídos 182 quilômetros de hectares Em junho de 1975 novo relatório da
çados pela execução do projeto: "Tanto faz pas- estrada. O DNER informou que a única rodovia
Funai indicava uma área ocupada inferior àque-
sar fora ou dentro da reserva, vamos ser preju- la prevista pelo decreto .305. insatisfeitos com
cujo traçado passava na Reserva Florestal de
dicados, Queremos o desenvolvimento do mu- Munduruku, a BR-080, foi totalmente abando- os trabalho do GT da Funai, os Munduruku ex-
nicípio sem prejuízo para ninguém", enfatizou pulsaram os técnicos e rejeitaram a delimita-
nado e excluído do Plano Rodoviário de Via-
Isaías. “Não aceitamos a estrada, o benefício é ção.(O Liberal, 13/10/97 ção, alegando que o relatório não previa áreas
só para o branco.
1
'
(O Liberal, 30/05/97) de caça e coleta, e que aldeias indígenas esta-
vam fora dos limites da área.
JUSTIÇA SUSPENDE
EIA/RIMA APONTA Em 1977 a reserva voltou a ser demarcada, sem
OBRAS DA HIDROVIA
trabalho de identificação antropológica. Sua
RISCOS TEMPORÁRIOS
A Justiça suspendeu obras da Hidrovia Tapajós. superfície foi ampliada para 948 mil hectares,
DA RODO-HIDROVIA A decisão do embargo imediato das obras de mas algumas aldeias ainda permaneciam fora
O EWRima da Hidrovia do Tapajós apresenta- dragagem foi decidida pelo juiz federal Edson dos limites.
do em audiência pública em ftaituba foi classi- Messias de Almeida. Tais obras, estimadas em Novo GT da Funai foi criado em 1987, com ob-
ficado de superficial por Graça Azevedo da Sil- R$ 140 milhões, afetam a reserva indígena jetivode identificar e delimitar a área
va, da promotoria do Meio Ambiente e Walter Munduruku e provocarão a destruição de mais Munduruku. Foi proposta a ampliação da área
Azevedo, da Funai. Estiveram presentes na au- de cem cachoeiras no estado do Pará, alagando para 1,9 milhões de hectares. A proposta foi
diência autoridades municipais, estaduais e fe- dezenas de praias ao longo do rio Tapajós. mais uma vez rejeitada pelas lideranças
derais, além de índios Munduruku. O principal Os procuradores da República responsáveis pela Munduruku, que alegavam que as cabeceiras
questionamento dos relatórios apresentados diz ação civil pública que deu início ao processo dos igarapés Watienti, Daidi e Cururu haviam
respeito à omissão no Rima do trecho entre os consideram que a hidrovia irá prejudicar as ficado fora da área,
municípios de Jacareacanga e Teles Pires, as- comunidades locais: “As populações afetadas Ainda uma última ação demarcatória foi efeti-
sim como a correlação entre a hidrovia e o pro- o Esta-
pelas obras não terão beneficio algum e vada em 1993, através do Decreto 22. A Funai
jeto de construção da rodovia entre Alta Flo- do do Pará que sofrerá o impacto ambiental, enviou à região uma nova equipe, coordenada
resta e Jacareacanga, que afetaria a área indí- também não terá benefícios”, afirma o procu- pela antropóloga Patrícia de Mendonça
gena Munduruku. (O Liberal, 17/06/97) rador Felício Pontes Jr., autor da ação. “Os úni- Rodrigues, com o objetivo de '
identificar e
cos beneficiários dessa hidrovia são os empre- delimitar a área de aldeias tradicionais e nas-
MPF EXIGE O EMBARGO sários produtores de grãos no Estado do Mato centes não compreendidas quando do estudo
DA TELES PIRES/TAPAJÓS Grosso." feito em 87”. Na área de ampliação, foi denun-
O juiz estipulou uma multa diária de R$ 10 mil ciada a existência de um garimpo no igarapé
O MPF, através das Procuradorias da República e determinou que a construção da hidrovia passe Massaranduba, de propriedade de Luís Barbu-
de Santarém e Mato Grosso ajuizaram a ação pela avaliação do Congresso Nacional, uma vez do, que havia sido montado depois da interdi-
civil pública com pedido de antecipação de tu- que envolve a questão de direito dos povos in- ção de 1990. Após ter sido desativado este ga-
tela para impedir a implantação da hidrovia dígenas. (Jornal da Tarde, 24/10/97) rimpo de Nova Esperança, a Funai encontrou a
Teles Pires/Tapajós, até autorização do Congres- Mineração Rio Tinto, subsidiária da empresa
as de ação de garimpeiros na reserva Silva e João Ivan Bezerra de Ahneida. Juntamente timas manifestações de desejo de seu pai,
Munduruku foram identificadas recentemente com a contestação da Prefeitura Municipal de Laurelino Floriano Cruz, 88 anos, antes de sua
pela Funai na região sudeste da área. (O Libe- Jacareacanga, tais contestações foram conside- morte, ano de 1997. “Seu Laurelino” era
110
ral, 22/3/98) radas improcedentes pelo Ministro da Justiça, muito conhecido na região por seus trabalhos
que considerou que as alegações não tinham de curandeiro. Ele garantia terem sido seus pais
TERRA DISPUTADA “força jurídica para descaracterizar a natureza indígenas, de quem havia herdado os conheci-
indígena das terras em questão". (Despacho mentos de pajelança. (Últimas Notícias/ISA, 06/
Publicado o Resumo do Relatório de Identifi- do Ministro da Justiça, DOU, 11/12/98) 01/99, a partir de O Liberal, 17/12/98)
cação e Delimitação da Terra Indígena
Munduruku no dia 4 de março de 1998, a Pre-
TI COATÁ LARANJAL MORADORES DA FLONA
feitura Municipal de Jacareacanga apresentou
dios Munduruku e Sateré- Mawé, confimando a desrespeito de áreas comunitárias por parte
Três contestações se seguiram à publicação do extensão aprovada pela Funai. (DOU, 08/10/99) das madeireiras. (ISA, a partir de O Liberal,
Relatório dc Identificação da TI Munduruku. 17/12/98)
No dia 15 de junho, a Prefeitura de Jacarca-
canga, através de seus advogados e procurado-
FLORESTA NACIONAL
“MISSA INDÍGENA” É
res, entrou com um pedido de impugnação/ D0 TAPAJÓS REALIZADA EM TAKUARA
anulação do referido relatório, sob o argumento
que a T.I. Munduruku está localizada no muni- MORADORES DE TAKUARA Em vez dc vinho na Eucaristia tarubá e caxará
cípio de Jacareacanga, e não Itaituba, como (bebidas fermentadas feitas a partir de mandi-
QUEREM RECONHECIMENTO
consta no Relatório da Funai. A Prefeitura ar- oca) no lugar da evocação dos santos c márti-
gumenta ainda em favor da população não-ín-
COMO MUNDURUKU res
;
dia moradora do município de Jacareacanga, As famílias da comunidade de Takuara, locali- dos deuses e espíritos da floresta. Essa foi a tô-
que reside nos limites da área proposta para zada na margem direita do rio Tapajós, municí- nica da missa indígena realizada na região oes-
ampliação da TI. A contestação apresentada diz pio de Belterra, e inserida na área da Flona do te do Pará e que teve como palco a Comunida-
respeito ã área conhecida como “Bico das Tro- Tapajós, solicitaram da Funai 0 reconhecimen- de de Takuara (município de Belterra), distan-
pas”, localizada entre o rio das Tropas e o to de sua origem indígena Munduruku ou te cerca de 100 km de Santarém, cujos mora-
Igarapé Mutum, que está registrada sob admi- Thpinambarana. São aproximadamente 130 pes- dores são descendentes dos antigos índios
nistração do Incra. soas que vivem em terras de seus ancestrais, de Munduruku. A celebração teve seu ponto alto
Em agosto a TI Munduruku sofreu nova con- quem herdaram os traços culturais. no último domingo, 1 1 quando foi erguido um
,
testação, desta vez encaminhada pelo EMFA à A Funai determinou a execução de um estudo altar às margens do rio Tapajós e, em meio a
Funai. À solicitação de revisão dizia respeito antropológico para confirmar a veracidade desta cantos em nheengatu (língua do tronco tupi),
agora aos limites sul/sudeste da '0 Munduruku, descoberta, “É um fato muito significativo, pois bebidas e rituais indígenas, 0 padre Ademar
que incidiam sobre a base da Serra do Cachim- são famílias que durante mais de 70 anos não Ribeiro (nativo da região) consagrou a cerimônia
bo, onde a Aeronáutica mantém uma Base de se diziam mais indígenas”, afirmou 0 padre so- com a tradicional liturgia da Igreja Católica.
Testes. A contestação foi acolhida pela Funai, ciólogo frei Florêndo Vaz, que vem dando apoio Membros de ONGs nacionais, como 0 GCI (Gru-
que passou a partir dessa data a considerai' a neste processo de reconhecimento. Segundo ele, po de Consciência Indígena), GDA (Grupo de
superfície da TI Munduruku aprovada de nessa .situação estão muitas outras comunida- Defesa da Amazônia) do Conselho Nacional de
,
2.340.360 ha. des vizinhas, no rio Tapajós e Arapiuns. A soli- Seringueiros, e até uma ONG finlandesa estive-
MURA
IDENTIFICAÇÃO DAS TERRAS
O trabalho de estudos e identificação das ter-
Pe Ademar, membro da comunidade, durante celebração da missa que genheiros agrônomos, agrimensores, biólogos,
reiterou uma antiga reivindicação: o reconhecimento da identidade indígena. comandantes de barcos ribeirinhos, canoeiros
estão percorrendo áreas extensas, no interior
da floresta, guiados por satélites e antigos ma-
ram participando da cerimônia. Dezenas de drugada de domingo. Às 8h30 do dia seguinte,
pas, para estabelecer os parâmetros amais.
moradores das comunidades vizinhas a Takuara, o ritual recomeçou, sendo formado um grande
Os tempos são outros para os Mura, uma etnia
como Pinhel e Suruacá, onde igualmente é de- em redor do altar coloca-
círculo pelos nativos
que acumula três séculos de contato com a so-
senvolvido trabalho de reafirmação da identi- do a poucos metros das águas do rio Tapajós.
ciedade nacional, e uma história marcada pelo
dade indígena, também participaram do ritual. “Essa aproximação e respeito para com a natu-
preconceito e discriminação. (A Crítica,
Além de muito peixe, carne, fintas, os nativos reza é fundamental na espiritualidade dos po-
06/04/97)
prepararam cerca de 250 litros de tarubá e vos indígenas da floresta", comentou Horêndo
caxará, servidos aos presentes. Vaz. Por mais de duas horas, a tradicional
O rimai começou no sábado à tarde quando liturgia da Igreja Católica foi celebrada em meio AGILIDADE NAS DEMARCAÇÕES
moradores do local organizaram uma assem- a diversas manifestações indígenas. Na leitura Para 1999 foi previsto a demarcação de seis
bléia e expuseram a todos a luta que travam há do Evangelho, por exemplo, a Bíblia foi levanta- terras indígenas do povo Mura, quatro no mu-
anos para que sejam reconhecidos como povo da aos céus por uma nativa numa atitude de nicípio de Manicoré e duas no município de
indígena, e a partir de então, a Funai deu início respeito e devoção. TVipã, deus indígena, e a
Autazes. Entretanto as demarcações não acon-
à demarcação de suas terras. "A solidariedade Poraquê encantada também foram respeitosa- teceram, gerando insatisfação entre as comu-
de todos vocês que aqui estão presentes pela mente mencionadas no ritual. A nação nidades que há muito tempo lutam para que a
primeira vez é fundamental para nós, para a Munduruku foi lembrada através de um depoi- situação fundiária seja solucionada.
nossa luta", declarou Eurico Floriano Cruz, o mento, em fita gravada, dado pelo seu Laurelino O coordenador geral do CIM, Maurício dos San-
Eurico Caboclo, 59 anos, filho mais velho do meses antes de morrer. tos, explica que o projeto aprovado pelo
já foi
"seu" Laurelino, b'der da comunidade falecido A celebração da fé cristã de modo mais próxi- PPTAL. “Mas a demarcação depende de uma
no ano passado e que começou o processo de mo aos costumes de cada povo é iniciativa da viagem preparatória que deve ser feita por um
resgate da cultura indígena em Takuara. própria Igreja, As liturgias afro têm sido o exem- grupo de técnicos e assessores do PPTAL, Funai
À noite, ao redor de uma fogueira, e com a par- plo mais visível desta prática, “A missa simboli-
e representantes indígenas, e nós estamos es-
ticipação do padre Ademar foram entoados can- za um novo tempo de relacionamento entre Igre-
perando o contato com o PPTAL para definir a
tos indígenas, invocando-se a presença dos es- ja e os povos nativos”, disse o frei Florêncio Vaz,
data". (Jornal da Coiab, dez/99)
píritos dos rios e da Enquanto a batida
floresta. um dos maiores incentivadores do evento. “Foi
surda dos tambores marcava o compasso das também a forma encontrada pela Comunidade
A SAÚDE VAI MAL
danças, era feita a defumação do espaço onde de Takuara de dizer quem é, e que quer ser re-
se realizava a cerimônia, com cascas de várias conhecida como povo indígena”. Esse reconhe- É grave a situação de saúde da população mura
árvores da floresta, lidas como sagradas e res- cimento, segundo ele, é fundamental para que do rio Igapó Àçú. Os Mura viveram nos últimos
ponsáveis para afastar os maus espíritos. a Funai dê início ao processo de demarcação meses o pesadelo da maior epidemia de malá-
Logo em seguida foram apresentadas danças das terras indígenas. Essa solicitação foi feita à ria registrada em sua história, que atingiu 100%
típicas daquele povo indígena, como o do Funai, mas só depois de estudos antropológi- da população aldeada, resultando em três ca-
Gambá, e outras nações silvícolas, como a Dança cos realizados por técnicos do órgão é que po- sos de morte no último ano. A dramática situa-
dos Andirás - com o tarubá e o caxará sendo derá ou não ser expedido o reconhecimento. ção espelha o abandono dos Mura pela Funai,
servido à vontade a todos os presentes até a ma- (Celimldo Carneiro. O Liberal. 18/04/99) que só em meados dos anos 1990, no contexto
ano 2000 pela Fundação Nacional da Saúde sa de petróleo em suas terras, na região de
Os índios Sateré-Mawé conscientizaram-se de
(Funasa) é, nesse senúdo, alvissareira. A Funasa Mamuru, localizada entre os municípios de Juriti
que precisavam ter representantes próprios nas
vem operando na área por meio do Sub-Distri- (PA) c Barreirinha (AM) no Médio Amazonas.
,
mim
DISTRITO DE SAÚDE INDÍGENA DE PARINT1NS
Em dezembro de 1999, a Fundação Nacional de las. Esse montante é destinado à implantação de Agentes Indígenas de Saúde locados nesses pólos
Saúde (Punasa) estabeleceu uma parceria com a um projeto de saúde, que visa, entre outros, afor- base foram formados para as ações (supervisa-
Ameríndia Cooperação para a execução das ações mação de Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e o dos a distância ou acompanhados em serviço pelo
de atenção à saúde e formação de recursos hu- fornecimento de equipamento clínico primário, equipe técnico) desse modelo operacional.
manos dentro do processo de implantação do Dis- transportes náuticos, radiofonias e a opera-
cionalização integrada de todas as ações. Todas
DST E AIDS
tritode Saúde Especial Indígena de Parintins. Esse
distrito abrange os povos Sateré-Mawé, os projetos são articuladas às Organizações Indí- Através do Projeto Mttrubi de Prevenção de DST e
Hixkaryana, Wai WaieosZoé. nos municípios de genas Sateré-Mawé. AIDS financiado pelo Ministério da Satíde, foram
Nbamundá, Oriximiná (no Fará) e Maués, Entre suas metas, além de inserir a comunidade capacitados, ao todo, 98 AIS. A capacitação des-
Barreirinba e Parintins (no Amazonas) com uma Sateré-Mawé no processo de assistência à saúde, ses agentes teve como objetivo ensiná-los reco-
população total de 9000 pessoas distribuídas em acrescenta-se o apoio às escolas e professores in- nhecer o quadro clínico das DST e AIDS e pautar
90 aldeias. dígenas, à consolidação da Organização das Mu- os procedimentos e o diagnóstico deUis, assim
As ações compreendidas pelo convênio visam a lheres Indígenas Sateré-Mawé, às ações para auto- como ensiná-los a informar a população Sateré-
formação, acompanhamento e supervisão conti- sustento alimentar e o suporte às organizações Mawé mais vulnerável essas doenças, setisibili-
nuada dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) lo- indígenas de base no processo de autogestão. zando-a para as medidas preventivas. Em seis
cados nas tddeias indígenas, a atenção básica à Alcançadas essas metas em 1997, além de ter dado meses, foram realizado 17 encontros com a popula-
saúde em campo, a consolidação de uma rede in- continuidade até 1999 ao projeto originalfinan- ção que atingiram a audiência de 3694 pessoas.
tegrada e estratificada de saúde, com complexi- ciado desde Espanha, a Ameríndia assinou um
dade crescente e articulada com a rede do SUS, o convênio com o Ministério de Saúde - Programa SAÚDE BUCAL
equipamento e organização de redes de transpor- DST/AIÜS, por indicação das Organizações Indí- Foram formados note agentes indígenas de saú-
te e de comunicação, a consolidação de um siste- genas. para desenvolver atividades de prevenção de bucal locados nos fxílos base.
ma de informação para uma vigilância em saúde a essas doenças e educação para saúde. 0 primeiro diagnóstico de saúde bucalfoi reali-
adeqtuula à realidade e a implantação e funcio- Ainda nesse mesmo ano. a ONG espanhola assi- zado por um cirurgião dentista nas aldeias do
namento de instâncias (Conselhos Locais e nou convênio com a Funai para dar assistência à Marau em 1994. Em 1997, ele se realizou nas al-
Distrital) destinadas a garantir o controle social saúde nas aldeias Sateré-Mawé dos rios Andirá deias do Andirá.
sobre as políticas de saúde. Aicurapá e Marau/Urupadí, assim como 0 processo deformação desses agentes se deu em
Para que o objetivo fosse alcançado, foi feita a Hexkaryanas do rio Nbamundá. Esse acordo expi- três etapas. A últimafoifeita através de uma par-
contratação de enfermeiros e auxiliares de enfer- rou em julho de 1999, tendo consolidado o pro- ceria com a Universidade de Brasília (UnB). Foi
magem, destinados a pontos fixos de ação (Casa cesso de regionalização operacional da área reativado o programa de aplicação deflúor e edu-
de Saúde Indígena e algumas aldeias indígenas Sateré-Mawé. cação para a saúde. Em parceria com a Funai,
de alta densidade populacional) equipes ,
aconteceu oprograma de assistência odontológica
multidisciplinares ( médico-enfermeiro) para vi-
A REGIONALIZAÇÃO em campo.
sitar periodicamente as aldeias e 97 AIS. Também DA ÁREA SATERÉ-MA WÉ
foi contratada uma equipe de administração, fi-
OUTRAS ATIVIDADES
A regionalização começou a serfeita 1995junto à
nanças e logística para operar na sede. coordenação da Organização dos Agentes Indíge- A Ameríndia proporcionou e apoiou a formação
nas Sateré-Mawé (Oasism) e às lideranças tanto de AIS como multiplicadores nas ações de educa-
A EXPERIÊNCIA DA ONG do Marau quanto do Andirá. Ela esteve baseada ção para saúde; implementou um programa de
AMERÍNDIA COM OS SATERÉ-MA WÉ em critérios geográficos e antropológicos e resul- controle de saúde infantil; realizou um curso de
A mais de dez anos, a Ameríndia Cooperação, or- tou em nove sub-regiões operacionais, cada uma ensino de í grau para um grupo de 30 AIS; apoiou
ganização não -governamental espanhola com um pólo base equipado (radiofonia/placa efinanciou ações da Associação das Mulheres In-
(Catalunha), trabalha junto ao povo indígena solar, transporte náutico, balança pediátrica, etc.) dígenas Sateré-Mawé (Amism) e discutiu e fixou
Sateré-Mawé atendendo às solicitações das suas onde, desde então, acontecem todas as ações de estratégias de ação Jmra combater afome na re-
lideranças indígenas referentes à saúde nas aldeias. saúde de assistência tias aldeias, consultas assis- gião, o pior agravo à saúde entre os Sateré-Mawé.
Desde 1992, tem seus recursos financiados por tidas por radiofonia, e referências/contra- referên - (Dra. Cristina Alvarez/Ameríndia Cooperação)
diversas instituições públicas e privadas espanho- cias depacientes entre as aldeias e a cidade. Os
A Funai denunciou ontem formalmente às enti- MADEIRA É APREENDIDA utilizada nas instalações da empresa na Barrei-
dades ambientalistas o presidente da Câmara PRÓXIMA À TERRA INDÍGENA ra do Andirá., onde está sendo implantado o
Municipal de Barreirinha, vereador Claubert Pe- projeto de enriquecimento florestal. A empre-
reira Lopes, como testa de ferro da madeireira Fiscaisdo Ibarna apreenderam 3 mil peças de sa holandesa não tem licença para desen-
Eco-Brasil-Holanda Andirá, responsável pela madeira, entre cedro, açariquara, maçaranduba volver suas atividades, lendo sido embargada
contratação de equipes de mateiros que estão e piquiá, extraídas ilegalmente em área limite pelo ipaam.
extraindo vastos estoques de madeira da re- com a reserva indígena dos Sateré-Maué, no rio A Funai denunciou ainda que poderia estar ha-
serva indígena Sateré-Mawé. (A Crítica, 26 e Andirá, município de Barreirinha/AM Parte da vendo invasão da reserva indígena, o que levou
31/03/99) madeira estava submersa nos rios Ariaú, Tigre, os fiscais a uma operação conjunta, com mili-
Llrumatuba e Mirana, numa estratégia de camu- tares e índios Sateré-Mawé, durante dez dias.
flagem usada para driblar a fiscalização. Os Ainda que a reserva não tenha sido atingida, os
extratores surpreendidos no local disseram que índios ficaram em alerta. 0 administrador da
a madeira fora encomendada pelo vereador Funai em Parintins, o índio Sateré-Maué Lúcio
Claubert Lopes, dc Barreirinha, intermediário Menezes, foi que recebeu as denúncias de que
da empresa Eco Brasil Holanda Andirá, e seria 10 mil toras de açariquara já foram dcmiba-
das. Menezes alertou para o fato que deve ha- ... MAS VOLTA ATRÁS golpe, mas estes se recusaram a comparecer
ver ainda tnadeira escondida na mata. "Nós que- na reunião, “Mesmo assim, João Canarinho se
remos ter certeza que não estão explorando a
Em dois dias de negociações entre os índios auto-indicou como liderança maior da nação
Sateré-Mawé, Hixkariana e o administrador da Sateré-Mawé do Andirá” comentou Lico.
terra dos índios”, disse Menezes. (A Crítica, rio
18/04/99)
Funai em Manaus, Benedito Rangel de Moraes,
Segundo Zeila da Silva Vieira, que faz parte do
indicado pela presidência da Funai para resol- Conselho das Mulheres Sateré-Mawé, a tribo não
ver o impasse criado na regional, prevaleceu a
LÍDERES DENUNCIAM concorda com o retorno de Lúcio Menezes ao
decisão das lideranças indígenas que exigiram
ADMINISTRADOR DA FUNAI comando da Funai em Parintins. “Ele passou
a permanência de Santana no cargo de admi- quatro anos no cargo e não fez nada pelas co-
Lideranças das nações indígenas Sateré-Mawé nistrador da regional de Parintins. (A Crítica,
munidades indígenas da região."
e HLxkariana, localizadas nos municípios de 13/08/99 Os representantes indígenas informaram que o
Andirá e Maraú e Nhamundá no Baixo Amazo- procurador geral Sérgio Lauria deu parecer fa-
nas estão exigindo a destituição do administra- OPERÁRIOS DA vorável à carta denúncia e determinou que fos-
dor da Ftmai do município de Parintins, Lúcio PETROBRÁS PERTO DA TI se insiaurado um inquérito para apurar os fa-
Ferreira Menezes. O administrador é acusado CAUSAM PREOCUPAÇÃO tos. “A Policia Federal deverá ser acionada para
de descaso com a população indígena O coor- investigar o caso de tentativa dc golpe. Temos
denador geral da tribo Sateré-Maué, Obadis A presença de máquinas e equipamentos de que acabar com essa prática de luta pelo poder
Batista Garcia, que diz representar os 6 mil ín- prospecção de petróleo na região do rio dentro da Funai pela qual apenas algumas pes-
dios que vivem em Parintins, afirma que a vida Mamuru, no limite da TI Andirá Marau, deixou soas se beneficiam colocando as lideranças In-
das populações indígenas está insustentável. em estado de alerta os índios da área, que te-
dígenas em conflito. Enquanto a maioria
Lúcio é denunciado como traidor da causa in- mem a invasão da reserva pela empresa contra- dosíndios continuam sem assistência médica
dígena por usar recursos da Funai em benefi- tada da Petrobrás. Os índios levaram suas preo-
e educação”, lamentou lico Paz. (A Crítica ,
dades enfrentadas pela administração da Funai dade ura comunicado chamando o responsável
PROJETO DE ESTRADA
em Parintins são resultado do corte de verbas pela empresa a prestar esclarecimentos sobre
os limites da área de atuação. “Não queremos
REVOLTA LIDERANÇAS
do Governo Federal. Questionou também a li-
atrapalhar a Petrobrás, mas temos que preser-
INDÍGENAS
derança do grupo que o denunciou. “Isso é bri-
ga pelo poder e eu lamento porque sou Sateré. var a reserva", disse Santana.
As lideranças indígenas dos Sateré-Mawé estão
Eles são meus parentes, mas como não faço A Petrobrás vem realizando pesquisas no rio
em clima de revolta. O motivo é o projeto de
parte de nenhum dos três grupos políticos exis- Mamuru há alguns anos e, nos últimos quatro construção de uma estrada que passará bem no
tentes, estão querendo me derrubar", conclui meses, cerca de cem trabalhadores estão pre-
melo da reserva indígena, já homologada, de
Menezes. (A Crítica, 27/07/99) parando a região para a instalação da sonda de
788.528 ha. Além de não terem sido consulta-
perfuração. A base da empresa está localizada
dos, os índios dizem que a estrada representa-
FUNAI EXONERA próximo à comunidade de Samaúma, perto da rá o extermínio dos Sateré-Mawé.
ADMINISTRADOR... fronteira do Amazonas com o estado do Pará. A estrada, de acordo com os líderes indígenas,
(A Crítica, 09/09/99)
é “um sonho" do prefeito Carlos Esteves, que
Acusado de introduzir maconha entre os índi-
pretende ligar Maués à cidade paraense de
os Sateré-Maué, o indigenista José Victor LIDERANÇAS DENUNCIAM Itaituba. “Isso vai ser a destruição total do nos-
Santana foi exonerado no dia de agosto de 1 999
MANOBRAS PARA MUDANÇA so povo. Pode vir muita coisa ruim por essa
do cargo de administrador provisório da Funai
em Parintins.
DO ADMINISTRADOR estrada, como violência, estupro, bebedeira”,
avalia o coordenador geral da tribo Saíeré-Mawé
Santana havia sido nomeado pelo presidente do Cinco representantes do Conselho Geral das Tri-
do rio Marau, Francisco Alencar.
órgão Márcio Lacerda para substituir Lúcio bos Sateré-Mawé e Hixkariana (CGTSMH) O receio dos índios não é atoa. Eles não enten-
Ferreira Menezes. Victor Santana considerou protocolaram no dia 18 de novembro de 1999
dem que tipo dc desenvolvimento pode vir da
absurda a acusação: “Fiquei surpreso dupla- uma carta denúncia à Procuradoria Geral da
cidade dc Itaituba, que vive problemas sociais
mente. Primeiro por ter si do indicado pelas pró- República revelando uma tentativa de golpe na
sérioscom a decadência do garimpo.
prias lideranças indígenas em assembléia para comunidade indígena de Ponto Alegre.
Os Sateré-Mawé temem ainda que os projetos
assumir o cargo, e depois por ter sido exone- Algumas lideranças indígenas estariam tentan-
de desenvolvimento, como a exportação de
rado em razão de acusações sem provas, sobre do nomear João Canarinho como tuxaua geral
guaraná para a Alemanha, que eles estão crian-
fatos que teriam ocorrido há 1 5 anos”, disse. 0 da tribo para forçar a saída do atual adminis-
do, possa vir abaixo com uma única estrada.
indigenista também questiona a repre- trador regional da Funai em Parintins, Vítor
“Todo o nosso trabalho e cuidado para preser-
sentatMdade de lideranças que teriam invadi- Santana.0 objetivo do golpe seria abrir cami- -
var o meio ambiente pode se acabai ", reforça
do a administração da Funai em Parintins, re- nho para o retorno do antigo adminislrador,
o coordenador. (A Crítica, 10/06/00)
voltados com a sua indicação. Para Santana Lúcio Menezes.
o grupo é ligado à família do ex-administrador, De acordo com o coordenador geral dos pro-
Menezes, e tem interesses pessoais no cargo.
GUARANÁ VAI PARA A EUROPA
fessores sateré-mawé, í.ico Lopes da Paz., os ín-
(A Crítica, 07/08/99) dios se reuniram na última segunda-feira na Os Sateré-Mavvé, que vivem no Amazonas, con-
comunidade de Ponto Alegre. Eles leriam con- seguiram uma produção recorde de guaraná na
vocado os tuxauas da tribo para apoiarem o safra 2000: dez toneladas. São cinco toneladas
acima do estimado. Essa safra foi negociada com os índioscom revólver. Carlos Alberto, ao to- Segundo a líder da “tribo urbana”, Zelinda
a organização européia Comércio para o Ter- mar conhecimento da denúncia, disse que tudo Freitas, o buraco onde a fossa está sendo
ceiro Mundo (CTM) da Itália, que apoia proje-
,
não passava dc um mal-entendido e que nunca construída não tem profundidade suficiente
tos comunitários de produção sustentada. O ameaçara os índios. Ele mostrou os documen- para garantir a segurança da comunidade: “Não
Projeto Guaraná, como é conhecido pelas co- tos de sua casa, comprovando que mora no lo- mede mais que quatro metros e quando a chu-
munidades indígenas, foi criado há seis anos, cal há 15 anos e que se trata de duas áreas dife- va cair pode encher a tal ponto de escorrer para
mas só nesse ano conseguiu atingir a meta esti- rentes: “Eu só vou fazer um muro para dividir dentro de nossas casas. As crianças aqui já es-
pulada para a exportação. O objetivo inicial do melhor o meu terreno, não vou nem tocar ne- tão doentes, com diarréia, vômitos e febre e com
CGTSM era exportar, para a Europa, qualro tone- les”, afirmou, essa fossa espalhando mau cheiro, a situação
ladas de guaraná. Até agora, essa meta não havia Na audiência que ocorreu ontem, o delegado pode piorar", afirmou, Ela conta que a obra
sido alcançada, em função da baixa produção. proibiu qualquer ato das partes envolvidas, está causando conflito entre os próprios índi-
Para estimular o plantio, a entidade fez um tra- como corte de plantas ou qualquer construção, os, pois a vizinha branca está pagando aos
balho de conscientização junto às comunida- até que os órgãos competentes que trabalham Sateré para dar continuidade ao serviço: “Até
des, estimulando os produtores para que reser- com as terras urbanas definam a quem perten- nossa matriarca, Tereza Farias, estáafavor dela",
vassem áreas maiores para a plantação de cem as terras. (A Crítica, 16/01/96) completou.
guaraná. Obadias Garcia afirma que o resulta- O grupo foi recebido pelo presidente da Urbam
do foi uma surpresa, até mesmo para os diri- SATERÉ CONQUISTAM ÁREA que embargou a obra e prometeu ir ao local
gentes da CGTSM, que não esperavam um re- EM LITÍGIO NA CIDADE hoje. Ele orientou Fátima Carvalho a fazer o en-
tomo tão imediato. "Durante três anos conse- canamento até o igarapé onde os dejetos de-
cutivos,não tínhamos conseguido cumprir o As 1 5 famílias de Sateré-Mawé poderão perma- vem ser despejados. (A Crítica, 08/02/96)
contrato com o CTM”, diz. “Esse ano, quando necer na área verde entre os conjuntos
residenciais Santos Dumont e Hiléia, onde mo-
fui comprar o guaraná nas comunidades, me sur- GRUPO QUE SE APRESENTA
ram há quinze anos, A garantia foi dada pelo
preendi com a produção, muito além da expecta- NO HOTEL ARIAÚ TOWER
o projeto vem dando certo." presidente da Empresa Municipal de Urbaniza-
tiva. Isso prova que
ção (Urbam) Waldiison Cruz, que visitou on-
DENUNCIA MAUS TRATOS
O quilo do guaraná é exportado a US$ 32. Des- ,
se valor, US$ 8 são destinados para o desenvol- tem o focal após uma audiência das lideranças Quinze índios Sateré-Mawé abandonaram on-
vimento de pesquisas que resultem na melhoria Sateré-Mawé com o prefeito em exercício, tem as vizinhanças do Hotel Ariaú Tower, de
da qualidade do produto e, também, em análi-
Bosco Saraiva. propriedade de Ritta Bernardino, localizado a
26/07/00)
paz”, disse uma das líderes Sateré, Zelinda mo proprietário. Revoltados com o não cum-
Freitas, referindo-se ao conflito pela proprie- primento de acordo firmado com o empresá-
dade da área onde moram. O prefeito encami- rio, os Sateré alegam que na ocasião que se
SATERÉ-MAWÉ nhou o caso para ser decidido pela Urbam, após transferiram para as proximidades do hotel, o
EM MANAUS a audiência com os índios. empresário garantiu fornecimento de rancho e
O presidente da Urbam embargou a construção medicamentos para as três famílias que mora-
CONFLITO EM DISPUTA do muro pretendido por Carlos Alberto vam na área. Os índios participavam de ativida-
DE TERRA URBANA Burlamaqui e disse que as famílias serão pre- des dirigidas aos turistas do hotel. Na comuni-
servados no local. Ele explicou que o terreno dade indígena, localizada a 20 minutos da sede
Um grupo de Sateré-Mawé residente em faz parte da área verde dos conjuntos Hiléia e do hotel, os índios apresentavam rituais dos
Manaus, vestiu-se com trajes e pinturas adequa- Santos Dumont, e como se tratava de terras de Sateré-Mawé, como a dança datucandeira, uti-
a
dos a uma ocasião de guerra e foram à 4 . dele- domínio do município, não valeria a apresenta- lizada como rito de passagem da criança Sateré
gacia de policia. Pacificamente prestaram queixa ção de documentos de propriedade do terreno para a idade adulta. No ritual, as crianças can-
contra o proprietário do terreno que eles inva- por particulares: “A área foi tomada por inva- tam e dançam durante uma semana com a mão
diram, entre os conjuntos Hiléia e Santos são, tanto de índios e brancos em terras públi- enfiada em luvas, recheadas com formigas
Dumont São ao todo 15 famílias, contando cer- cas, mas que já tiveram aceitação inclusive da tucandeiras.
ca de 40 pessoas. Eles moram em habitações Prefeitura”, disse citando como exemplo algu- À prisão de um índio, acusado injustamente de
improvisadas e sobrevivem do artesanato que mas obras públicas no local. (Â Crítica, roubar uma bateria do hotel, motivou a revol-
fabricam no local. 18/01/96) ta. Os índios querem dinheiro para retornar ao
O administrador da Funai, Raimundo Serejo, bairro de Redenção, zona Centro-Oeste da
disse que o órgão estava acompanhando o caso, Manaus, de onde foram retirados, (d Crítica
SAÚDE AMEAÇADA ,
de conflito com populações indígenas da Amazô- Fundiários do órgão indigenista, e publicado no maneira desincumbe o governo federal de
nia. A Comissão Pró-Hidrovia Teles Pires-Tapajós
Diário Oficial da União em 25 dejunho passado -, defendê-la. O ICV informa que a Comissão Pró-
do Rotary International de Alta Floresta (MT), as nascentes do rio Curuzinbo e de seus afluentes Hidrovia argumenta que os impactos ambientais
encaminhou carta-protesto ao presidente da Re- passariam a fazer parte da área a ser demarcada, e sociais trazidos pelo bidrovia em operação se-
pública, Fernando Henrique Cardoso, solicitan- de modo a garantir a sobrevivênciafísica e cultu- rão baixos, mas que para o seu funcionamento
do que 0 governo não aprove a ampliação da Ter- ral dos índios. Segundo informa o ICV, outras áre- pleno está prevista a construção de um dique em
ra Indígena Cayabi, situada na região dos muni- asforam incluídas nesta proposta para eintar pos- uma cachoeira.
cípios e Jacareacanga e Apiacás (sul do PA e norte síveis invasões de garimpeiros e nova contami- Em seu boletim, o ICV considera "grave" ofato de
do MT respectivamente). nação dos rios por mercúrio. os grandes produtores de grãos estarem querendo
A informação foi repassada pelo Instituto Centro A publicação do despacho da Funai abriu um pe- margens dos rios futra plantar soja. “
utilizar as
de Vida (ICV), de Cuiabá (MT). Segundo o ICV, a ríodo de 90 dias fiara que os interesses contraria- Grupo Maggi, maior produtor de soja no Brasil está
comissão alega que "a ampliação da reserva vai dos se manifestassem. Aofim desse período, se as financiando pesadamente pesquisas de cultiva-
inviabilizara implantação da bidrovia por atin- contestações forem consideradas improcedentes, res adequadas para diferentes regiões da Amazô-
gir o ponto considerado idealpara o acesso rodo- o ministro daJustiçaJosé Carlos Dias deverá assi - nia. /Í5 pesquisas vêm sendo realizadas com a
viário ao porto fluvial da bidrovia, no município nar portaria aprovando os novos limites e deter- Fundação Mato Grosso e Empresa Brasileira de
de Apiacás". minando à Funai a realização da demarcação fí- Agropecuária (Embrapa) em sete pólos da região ",
A redefinição dos limites da Terra Indígena Cayabi sica da área. informa a organização não governamental.
é reivindicação antiga dos índios kayabi e (Ultimas Notícias/ISA, 16/11/99)
AMAZÔNIA PARA A SOJA
munduruku que a habitam. Por conta de déca-
das de exploração garimpeiro, os rios que cor- A exemplo da bidrovia Araguaia- Tocantins, a Teles
rem pela área indígena se encontram muito de- Pires-Tapajós éprojeto de interesse dos plantadores
8. SUDESTE DO PARÁ
Xikrin do Cateté
Copyrlghtod r
^Lf?^ Acervo
-V/f ISA
8. SUDESTE DO PARA
— limite interestadual
rodovia implantada
estrada de ferro
TERRAS INDÍGENAS
reconhecidas olicialmente
mais de 22.000 ha
reconhecida oficialmente
• menos de 8.000 ha ou
cidade
sem perímetro conhecido
Unidade em identificação ou a identificar
Copyrighletí m:
DO PARÁ/TOCANTINS
Terras Indígenas
Instituto Socioambicntal - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
mapa {n 4, fonte, dala) (ha)
6 Alto Rio Guamá Kreje 922 Fiinai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU, 279.897 Paragominas PA Requerimento e alvará de pesquisa
Kaopor Dec. a/n de 04/10/93 homologa a demarcação N. Esperança do Piriá PA mineral. Rodovia planejada PA- 108.
Guajá (DOU, 05/10/931. Reg. CRI Nova Esp. do Piriá Santa Luzia do Pará PA
Tembé Urubu Comarca de Vizeu Matr.1.518, Liv. 2-E,
.
11 Anamté Anambé 132 Furtai Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 7.882 Moju PA
Dec. 380 de 24/12/91 homologa demarcação
(DOU, 26/12/91). Reg. CRI Moju, Matr. 4.024,
Liv. AT, 11.124 verso em 20/03/92. Reg. SPU
Cert. 09 em 05/08/94.
193 Mãe Maria Gavião Parkatejê 414 Funai Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 62.488 B. Jesus do PA Carajás. Requerimento e alvará de
Dec. 93.148 de 20/08/86 homologa a demarcação Tocantins pesquisa mineral. Rodovia PA-222,
{DOU, 21/08/861. Reg. CRI Matr. 6587, Liv. 2-Z, ferrovia, Linha de transmissão
01 em 17/07/85. Rag. SPU PA04 Liv. 2,
fl.
cortam a área. Hidrelétrica
fl. 484/485 em 08/09/86. planejada (Marabá).
236 Parakanã Parakanã 498 Funa! Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 351.697 Itupiranga PA Carajás. Requerimento e alvará de
Dec. 248 de 29/10/91 homologa demarcação Jacundá PA pesquisa mineral. Transferidos da
ÍD0U, 30/10/91). Reg. CRI de Itupiranga Com. de Tucurui PA TI Pucuruí inundada pelo lago de
Marabá Matr. 9.681. Liv. 2-AM, fl. 1V/02 em 29/05/87; Tucurui. Rodovia BR-230 no limite.
Jacudanga Com. de Jacundá Matr. 004, Liv. 2-A,
fl. 002. Reg. SPU 02 em 27/10/87.
295 Sorcrc Surui Aikewara 289 Funai Marabá: 00 Homologada. Reg. CR! e SPU. 26.258 S. Domingos Araguaia PA Carajás. Requerimento de pesquisa
Dec. 88.648/83 homologa a demarcação. mineral. Os índios vão entrar com
Reg. CRI de S. João do Araguaia, Com. Marabá ação para ampliação da TI para
Matr. 4.857, Liv. 2 RG, fl. 01 de 07/03/89. Reg. SPU incluir a área do polígono dos
Cert. 05 em 07/03/89. Port. 1 .038 de -34/1 1/99 cria castanhais.
GT p/realizar novos estudos da TI. {DOU, 9/1 1/99)
306 Temhé Turiwara GG Funai Salem: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.075 Tome Açú PA Rodovias planejadas
Dec. 389 de 24/12/91 homologa demarcação PA-1DB e PA-252.
(DOU. 26/12/91). Reg. CRI Matr. 2.970, üv. 2 em
29/01/92. Rag. SPU Cert. 03 em 15/06/94.
320 Trocará Asurirl do Tocantins 302 Funai Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 21.722 Tucurui PA Carajás. Requerimento de
Dec. 87.845 de 22/1 1/82 homologa a demarcação pesquisa mineral, Rode via
(DOU, 24/l1/82).Reg. CRI em Baião Matr. 1.060, PA-156 corta a área.
Liv, 2-F, fl. 282 em 22/09/83. Reg. CRI Tucurui
Matr, 3092, Liv 2-N, fl. 269 em 24/C5/90. Oaininiai
565 Turé-Mariquila Tembé 40 Furai Belém: 98 Homologada. Reg. CRI a SPU. 147 Tome Açú PA
Deo. 304 da 29/10/91 homologa demarcação
{DOU, 30/10/911. peg. CRI Matr. 2.964, Liv. RO 2-1
80 Xlkrin do Cateté Kayspõ 659 Vieira Filho: 99 Homologada. Reg. CRI a SPU. 439.151 Paraupebas PA Carajás. Requerimento e alvará de
Xikrin do Cateté Dec 384 de 24/12/91 homologa demarcação pesquisa mineral. Garimpo não-
(DOU, 26/12/91). Reg. CRI Matr. 98, Uv. 2 RG, indigena intermitente. Hidrelétrica
fl. 98 em 17/08/92 na Comaroa de Parauapebas. planejada (Itacaiunas 1). Isolados.
Reg. SPU Cert. 02 em 21/06/94.
DO PARA/XINGU
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra IndTgena Povo PopulaçSo Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (na fonte, data}
, (ha)
18 Apyterewa Parakanã 248 Funai Altamira: 99 Delimitada. 980.000 Altamira PA Carajás. Requerimento e alvará de
Port Min. 267 de 28/05/92 declara de posse S. Félix do Xingu PA pesquisa mineral. Garimpo n 5o-
permanente (ÜDU, 29/05/92). Port Funai 710 de indigena intermitente. Hidrelétrica
30/08/96 cria GT p / estudos e levantamentos planejada (Ipixuna).
complementares na TI |DDU, 03/99/96).
29 Arara Arara 143 Funai Altamira: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 274.010 Altamira PA Requerimento e alvará de pesquisa
Dec. 399 de 24/12/91 homologa demarcação Medicilândia PA mineral. Hidrelétrica planejada
(DOU, 26/12/91). Rag. CRI Altamira (206.862. ha) Uruará PA (Babaquara). Rodovia BR-230 no
Matr. 21 .084, Liv. 2 ACC, fl. 255 em 1 5/07/92. limite. Os Arara que viviam na TI
Reg. CRI Uruará Mair. 103, Liv. 2-A,fl. 103 Arara II, interditada em 04/01/83,
em 06/02/96. Reg. SPU Cert 04 de 22/05/94. foram contatados e transferidos
para a TI Arara.
35 Araweté/lg. Ipixuna Ar&weté 269 Funai Altamira: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 940.900 Altamira PA Requerimento de pesquisa minara
Oec. do pres. F. H. Cardoso do dia 05/01/96 S. Félix da Xingu PA Hidrelétrica planejada
h.omeloga a demarcação administrativa Se. José Porfírio PA (Babaquara).
(DOU, 08/01/96). Reg. CRI de S, Féfix do Xingu.
Comarca do S. Félix do Xingu (1 75.126 ha}
Matr. 1.485. Liv. 2-H, fl. 76 em 09/02/96. Reg. CRI
de Senador José Porlirio Matr. 522, Liv. 2-C,
fl. 29 em 09/02/9. Reg. CRI Altamira Matr. 21357,
Liv. 2-AAQ, 220 em 04/03/96.
fl. Reg. SPU
Cert. s/n em 20/05/97.
51 Baú Kayapó Mekragnoti 128 NairTanakfl:94 Delimitada. 1.850.000 Altamira PA Requerimentos alvará de pesquisa
Port. do ministro da Justiça 826 de 11/12/98 mineral. Garimpo não-indígena. A
declara de posse permanente dos área do Exército Gleba Limão
índios (DOU, 14/12/98). incide aproximadamente 6.775 ha
na TI. E a Flana de Altamira in cide
na TI em 1.061 há
26 Cachoeira Seca Arara 57 Funai Altamira: 99 Delimitada. 760.000 Rurépolis PA Requerimento de pesquisa mineral.
do Irlri Port. Min. 26 de 22/01/93 declara de posse Altamira PA Hidrelétricas planeiadas
permanente indígena (DOU, 25/01/93). Uruará PA (Babaquara e Iriri). Lei Municipal
Port. Furtai 428 de 27/04/94 designa antropóloga 338/92 da 25/2/92 cria Distrito Porto
p/estudos antropológicos conclusivos Bannach dentro de Tl.
<D0U, 06/05/341.
75 Capoto/Jarina Kayapó MetiKtlre 577 EPM: 97 Homologada. Reg. CRI e SPU. 634.915 Colide' MT Requerimento de pesquisa mineral.
Dec. s/n de 25/1/91 homologa demarcação Hidrelétrica planejada. Rodovia
acminist. (DOU, 28/1/91). Reg. CRI Luciara BR-Q9Ü no limite. Prodesgro.
Matr. 6.162, Liv. 2, fl. 01/02 em 18/04/86
e Reg. CRI de Colider Matr, 1.790, Llv2 em
7/07/87. Reg. SPU Cart s/n em 28/05/B7.
90 Curuá Xípala-Kuruala 91 Funai Altamira: 99 Delimitada. 19.450 Altamira PA Requerimento e alvará de pesquisa
Port minist. 550 de 16/11/92 declara mineral. Hidrelétrica planejada
de posse permanente (DOU, 17/11/92). (Iriri). Garimpo indígena.
164 Kararaô Kararaô 28 Funai Altamira: 93 Homologada. 330.837 Altamira PA Requerimento da pesquisa mineral.
Decr. s/n dB 14/04/98 homologa a demarcação Hidretátrica planejada
(DOU, 15/04/98). Resolução da Com. de Sindicância (Babaquara). Rodovia
da Funai lista os ocupantes de boa-fó d a TI planejada PA-167.
p/e leito de indenização de benfeitorias
(DOU, 17/11/99). Port. 1.160 cria CT p/realízar
pagto das benfeitorias (DDU, 23/12/99).
173 Kayapó Kuben Kran Ken 2866 Funasa: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 3.284,005 S. Félix do Xingu PA Requerimento e alvará de pesquisa
Kikretum D ac. 316 da 29/1.0/91 homologa demarcação mineral. Garimpo nSo-indigena.
Gorotire (DOU, 30/10/91). Reg. CRI Matr.l8.80/. Liv2.AAD, Reserva Garimpeira do Cumaru.
Kokraimorc fl.129 em 21/12/87. Reg. SPU Cert. 3 em 27/10/87. Hidrelétrica planejada.
Maikarakô
A'Ukre
175 Koetinemo Asurini do Xingu 91 Funai Altamira: 99 Homologada. Reg. CRI. 387.304 Altamira PA Requerimento de pesquisa mineral.
Dec. S/N de 05/01/96 homologa a demarcação Hidrelétrica planejada
(DOU, 08/01/96). Reg. CRI em Altamira (Babaquara). Isolado. Antes
Matr. 22.341, üv 2-AAQ . fl. 197 em 05/02/96. Identificada com 2B8.500 há.
453 Menkragnoti Keyapo 657 NairTanaka:94 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.914.255 Altamira PA Requerimento e alvará de pesquisa
Mekragnoti Dec. s/n de 19/08/93 homologa a demarcação S. Félix do Xingu PA mineral. Isolados Mengra Mrari.
Kayapó (DOU, 20/08/93). Reg. CRI de S. Félix do Xingu
(isolados) (1.432.481 ha) Ma Ir. T.209. üv. 2-F, fl. 195 em 26/8/95;
dB Altamira (3.33S.390 ha) Matr. 22.341, üv. 2-AAQ,
197 em 9/2/96; de Peixoto Azevedc (128.305 ha)
fl.
'3^-JZ^ Acervo
-V/flSA
SUDESTE DO PARA/XINGU
Terras Indígenas (Continuação}
Instituto Socioambientaí - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa {n°, fonte, data} (ha)
813 Panará Panaré 202 ISA: 00 Delimitada. 495X00 Guaranta do Norte MT Prodaagro, requerimento e alvarás
Em demarcação Port.do Ministrada Justiça Alta mira PA de pesquisa mineral
n.667 de 01/1 1/96 declara de posse permanente
indígena (DOU, 04/11/95} Funaífaz contraio p
demarcação física com Três irmãos Engenharia
e Planejamento Imobiliário Ltda. Valor R$ 148.925,70,
vigência um ano a partir de 06/03/98 (00U, 15/03/98)
Foi republicado a mesmo contraio em 13/04/98
232 Paquiçamba Juruna 35 Funai Altamira: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.348 Se. José Parfírio PA Requerimento de pesquisa minera!.
Dec. 388 de 24/12/91 homologa demarcação Hidrelétrica planejada (Belo
(DOU, 26/12/91). Reg. CRI Matr. 103. Uv. 2 A, Monte).
108 em 12/11/90. Reg. SPU Cert. 10 em 05/08/94.
íl.
Pu*ro- Baixu Rio Curuá Kayapó PuVo {isolados) 0 A identificar. 0 Altamira PA Isolados.
Equipe de redação
DE VOLTA ÀS CABECEIRAS DO IRIRI, DEPOIS chegou a Nansepotite em março de 1997, concluindo o retomo,
DE 20 ANOS NO PARQUE DO XINGU, OS PANARÁ da mesma forma que, em 1995, a Funai colocou um avião à dispo-
CONSOLIDAM NOVA ALDEIA E CONSEGUEM sição para fazer o trajeto do posto Araruna até a aldeia nova e
DUAS GRANDES VITÓRIAS: A DEMARCAÇÃO E prestou serviços básicos de assistência à saúde, quando em 1999
essa atividade tornou-se responsabilidade da Fundação Nacional
UMA DECISÃO INÉDITA DA JUSTIÇA FEDERAL
da Saúde (Funasa).
QUE OBRIGA 0 ESTADO A INDENIZÁ-LOS PELAS
MORTES OCORRIDAS APÓS 0 CONTATO, NA Entre 1995 e 2000 ocorreram poucos conflitos fundiários na Ter-
DÉCADA DE 70. O MAIOR DESAFIO AGORA É ra Panará, se comparada com outros casos do mesmo contexto
regional. Antes do retomo dos Panará, a área - terra da União -
ENFRENTAR AS INVASÕES DAS MADEIREIRAS
era ocupada por grileiros, pequenos fazendeiros e um grupo de
QUE PREDAM A REGIÃO
pessoíis articuladas ent torno da Cooperativa do Vale do Rio
No final de 1998, esses ocupantes deixaram a região es-
Ipiranga.
As conquistas dos Panará (Krenhacãrore) nos últimos cinco anos pontaneamente, sem sucesso em seus pleitos judiciais
marcaram a história do indigenismo brasileiro. Os “gigantes” contestatórios e conformados com o reconhecimento oficiai da
Panará, que hoje contam com uma população de cerca de 200 Terra Panará, fazendo cessar os conflitos se faziam notar no perí-
habitantes na aldeia Nansepotite (bacia do rio Peixoto de Azevedo, odo anterior.
norte do Mato Grosso), ofereceram um exemplo de resistência e
força de vontade na luta pelos seus direitos e pelo seu território
O PESADELO DAS MADEIREIRAS
tradicional, para o qual retornaram, a partir de 1994, depois de
Apesar da calmaria relativa em relação aos conflitos com os fazen-
um longo exílio no Parque Indígena do Xingu (PK).
deiros, o problema da extração de mogno na Terra Panará é res-
Ao contato forçado com os brancos, consumado pela Funai em ponsável por boa parte dos distúrbios causados a essa população
1973, quando a rodovia Cuiabá-Santarém já havia cortado seu ter-
nos últimos anos. Até hoje, os Panará têm se mostrado bastante
ritório tradicional, seguiu-se o abandono. Vieram as doenças, as hostis em relação aos madeireiros, interrompendo, em vários
mortes, a transferência para o Xingu e a humilhação do No
exílio.
momentos, as invasões. Nesse ponto, diferem significativamente
início dos anos 90, esse quadro começou a ser revertido com a de seus vizinhos Kayapó, que muitas vezes se aliam a essas empre-
decisão dos Panará em reaver seu território tradicional, a qual con- sas, facilitando a progressão do modelo ilegal e predatório de ex-
tou com o apoio dedicado do Instituto Socíoambiental (ISA), além ploração florestal.
de outras organizações governamentais e não-governamentais.
Em setembro de 1996, os Panará encontraram, a duas horas de
caminhada a nordeste da aldeia, um caminhão, dois tratores e um
O RETORNO CONSUMADO estoque de toras de mogno. Furiosos, quebraram os tratores e
Em 1995, um grupo de 50 Panará deixou o P1X para fundar a nova botaram os peões para correr. Esses disseram trabalhar a mando
aldeia nas cabeceiras do rio Iriri. Depois de um ano e meio de do sr. Fernando Munhoz Garcia, mais conhecido na região como
muito trabalho para construir casas e botar as roças, aconteceu a “Fernandão”, responsável peio assentamento ilegal de pessoas em
volta dos demais. O segundo grupo, composto de 130 pessoas, lotes incidentes nas terras indígenas em troca de mogno e outros
ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na- da aldeia Kubenkranken, que mantinham estradas que ligavam a
turais Renováveis (Ibama) que realizasse uma expedição para porção sudoeste da TI Mekragnoti com a parte norte da TI Panará,
apreender madeira e máquinas, apresentando à Funai a urgência contígua. Assim, grande parte da madeira extraída da TI Panará
Em outubro de 1997, um novo sobrevoo promovido pelo ISA e zou e apreendeu 600 toras de mogno nessa região, encaminhan-
acompanhado pela Administração Regional da Funai de Coiíder, do-as para a Justiça Federal, onde aguardam leilão.
1999
BÒAS
VILIAS
ANDRÉ
— //\C I SA
e a Funai. No entanto, a empresa contratada para realizar essa cas culturais, como a realização, cada vez mais freqiiente, de festas
nica para assumir um projeto dessa envergadura e acabou deixan- dígena do Xingu, os Panará passaram a experimentar novas formas
do problemas para serem resolvidos pela Funai, como a impreci- de afirmação étnica. Se antes sua participação política se dava na
são da implantação dos pontos geodésicos, de picadas e de mar- condição de minoria subordinada à hegemonia de outros grupos
cos intermediários e a colocação de placas sem respeitar as nor- étnicos, na terra recém-retomada e demarcada, cabem a eles todas
mas técnicas, entre outras coisas. Isso exigiu do órgão indigenista as esferas de decisão política e gestão comunitária. “Hoje, o exer-
a elaboração de um programa especial de vistoria capaz de corri- cício político dos Panará é a sua autogestão. No PBÍ, a relação com
gir as falhas deixadas pela ineficiência do trabalho de demarca- os brancos e com a Funai era mediada por vários grupos. Eles
ção. Enquanto são reparadas essas falhas, os Panará aguardam estavam numa condição de minoridade. Ao se mudar, é a vez de
com ansiedade a homologação, que deve ocorrer ainda em 2000. eles gerirem as relações com o mundo de fora, com a Funai, com o
ISA, com os madeireiros, com os fazendeiros” explica André Villas
,
André Villas Bôas, coordenador do Programa Xingu do ISA, de-
Bôas. A condução política da comunidade voltou, depois de muitos
monstra confiança quanto ao processo de consolidação da demar-
anos, a ser exercida nos moldes da estrutura política tradicional
cação da Terra Indígena Panará: “a retomada pelos Panará das
suas terras foi totalmente absorvida pelo contexto regional. As pes- Desde o primeiro momento de reocupação, o ISA se encarregou
soas não questionam mais a demarcação, apenas solicitam indeni- de prestar serviços de assistência, como saneamento básico, for-
zações para a Funai. A questão da demarcação está praticamente mação de pomar e a continuidade do curso de formação de pro-
resolvida", afirma. fessores indígenas, tal como realizado no PIX. André Villas Bôas
to, e enfrentar o gerenciamento do patrimônio natural das terras demarcada. Para tanto, foi instalado um posto de vigilância da Funai
às quais têm direito de usufruto exclusivo”, acrescenta. na região do rio Ipiranga, norte da área, equipado com sistema de
rádio. A porção norte e leste da TI Panará, limite da TI Mekragnoti,
NOVOS DESAFIOS apresenta dificuldades para a fiscalização, uma vez que os Kayapó
da aldeia Kubenkókre continuam compactuando com a explora-
Em 14 de setembro de 2000, os Panará saíram vitoriosos pela ação
ção madeireira na região. Dão cobertura à entrada ilegal das em-
indenizatória movida por advogados do ISA, a pedido deles, con-
presas e controlam as estradas que unem as duas áreas.
tra a União e a Funai pelos danos materiais e morais causados pelo
contato, promovido a partir de 1973, por conta da construção da Tal realidade significa prejuízos imediatos ao patrimônio da TI
Rodovia Cuiabá-Santarém. A 3' Turma do Tribunal Regional Fede- Panará e riscos virtuais, sobretudo no que diz respeito à possibili-
ral de Brasília condenou ambas a pagar 4 mil salários mínimos dade de “sedução” pelas benesses temporárias da exploração pre-
corrigidos (cerca de R$ 1 milhão) aos índios, o que consiste em datória de madeira. Na região, a pressão para que essa alternativa
um fato inédito, de repercussão na história do indigenismo. Pela vigore é grande e, para piorar a situação, a própria Funai se mos-
primeira vez, uma população indígena é ressarcida pelo “pouco tra muitas vezes conivente com a atitude dos Kayapó.
caso” da parte da União e do órgão indigenista.
Entre os Panará, no entanto, a experiência dos últimos cinco anos
Essa decisão tem um aspecto simbólico importante para os Panará. tem dado sinais positivos. Em lugar de ceder à dura realidade que
Além disso, os recursos financeiros que virão, ainda que demo- cerca a sua terra, os Panará têm recobrado forças para entrar em
rem, poderão ser aplicados em projetos que revertam para a um processo de luta para reaver os seus direitos e, assim, abrir
sustentabilidade futura do grupo. caminho para sua autodeterminação, (setembro, 2000)
Acervo
//\C ISA
APESAR DOS PRECONCEITOS, DA RESISTÊNCIA tência, das discussões pobticas e jurídicas que envolvem a gestão
DO INDIGENISMO OFICIAL E DA DIFÍCIL RELAÇÃO dos seus recursos naturais.
COM 0 MERCADO, OS XIKRIN DO CATETÉ Sem dúvida, podemos afirmar que houve uma apropriação
INSISTEM NA PROPOSTA PIONEIRA DE conceituai e política dos sub-projetos “comercialização da casta-
Cateté, envolvendo uma equipe de técnicos do Instituto Socio- culdades. O projeto de castanha é uma atividade que está próxima
ambiental (ISA) e a comunidade indígena, além de eventuais ser- ao que em geral se conceitua como permitido, ao passo que o
viços de terceiros. O “Projeto Xikrin” visa o manejo, exploração e projeto de manejo florestal mexe com os preconceitos e, por ser
comercialização de recursos madeireiros e não-madeireiros, de inovador, também com a estrutura das instituições que não estão
forma sustentável, maximizando a participação e gestão indígena. prontas ou não possuem elementos de análise capazes de dar con-
Pressupõe um complexo processo de articulações interínstitucio- ta da proposta. O projeto exige um posicionamento (e não a omis-
nais, espedalmcnte com órgãos oficiais, além da capacidade dc são) das diferentes instituições envolvidas.
interlocução permanente, por parte da equipe do ISA. com a co- Por outro lado, o acesso ao mercado não é simples: o comprador
munidade indígena, (sobre a região onde está a TI Cateté, ver box). de madeira, por exemplo, não está interessado em participar da
O projeto tem como prioridade a consolidação e o gerenciamento construção de um empreendimento florestal indígena; ele não é
do plano de manejo sustentável dos recursos naturais, gestão um parceiro, quer um produto de boa qualidade, sem questio-
territorial integrada, geração de renda com a comercialização de namentos políticos ou legais e com o carimbo da certificação flo-
dois produtos (madeira e castanha-do-pará), capacitação admi- resta) internacional (FSC)
nistrativa de quadros da organização indígena local (Associação Também devemos considerar que a competição entre um empreen-
Bep-Nói) e a gestão participativa c transparente, por essa Associa- dimento florestal comunitário e empresas madeireiras é desigual,
ção, dos recursos financeiros gerados pelos projetos econômicos.
pois estas já participam do mercado com linhas de crédito específi-
Com o tempo, os trabalhos desenvolvidos foram tendo uma com- cas para investimento e capital de giro. O mercado financeiro não
preensão crescente tanto por parte da comunidade como tem experiência em operar com linhas de crédito que estejam fora
do próprio ISA. Juntos, conseguiram avançar na percepção dos de suas regras tradicionais, como no caso de uma comunidade in-
passos necessários para se realizar uma exploração com planeja- dígena. O que se observa é que financiadores e comerciantes têm
mento, dos pontos-de-vista técnico, político, jurídico e adminis- suas exigências e imposições, criando barreiras e distanciando-se
trativo. Os Xikrin participam ativamente dos inventários florestais, da lógica de um projeto de desenvolvimento sustentável em cons-
do zoneamento, do censo para aproveitamento de madeira, da trução. Salta aos olhos a reação não apenas do órgão indigenisla
busca de financiamento, do planejamento, das atividades oficial, a Funai, mas também a das outras instituições financiadoras,
extrativistas, das discussões sobre definições de áreas de subsis- que vêem neste órgão o aval ou a garantia que o sistema exige.
Tucumã, Xinguara e Paraupebas, apresenta uma alta taxa de retornar ao rio Cateté, constituindo uma aldeia comum.
desmatamento. Após a construção das estradas que cortam a região,
Até 1962, o contato entre os castanheiros e os Xikrin era esporádi-
na década de 70, ocorreu um ciclo de extração de madeiras nobres,
co e ocasional. Logo, porém, a aldeia, bem localizada, transfor-
especialmente mogno e cedro. Esta extração se deu de forma
desordenada, provocando grandes prejuízos à cobertura florestal.
mou-se em pousada (hotel e bordel) e posto de comércio. Em
Em anos seguintes, estas áreas sofreram ação de grandes incêndios,
seguida, os Xikrin iniciaram um processo de resistência a esses
que completaram o desmatamento da floresta para a implantação fatos. Após a criação do posto da Funai, em 1973, os Xikrin vive-
portas, e restam apenas grandes extensões de pastagens de baixa safra de 1977, com a ajuda do chefe de posto, Fred Spati, conse-
qualidade. A principal atividade na região é a pecuária, que gera um guiram, pela primeira vez e devido à alta dos preços, uma com-
pequeno número de empregos. Outra atividade que ainda apresenta pensação financeira.
alguma importância na região éa atividade madeireira, embora com
peso muito inferior que cinco ou dez anos Para os Xikrin, a extração da castanha é uma atividade-meio e não
atrás. Outras atividades
de importância na geração de empregos são o comércio, os serviços e uma atividade-fim. Faz com que os eles saiam da vida sedentária
as empresas públicas. da aldeia, organizem-se para o trabalho (seja através de grupos de
parentesco ou grupos de categoria de idade), coletem matéria-
Uma exceção a este quadro é a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),
que tem uma grande base montada para exploração de minérios de
prima, cacem e pesquem em cantos de difícil acesso, retomem
ferro, ouro e manganês na região, o Projeto Carajás. Este projeto está
contato com seus rios, corredeiras e cachoeiras, reconheçam seu
localizado no município de Paraupebas, porém se estende até o limi- território, suas trilhas tradicionais, inclusive dentro das áreas de
te leste da área Xikrin. Esla empresa gera um razoável número de posse da Companhia Vale do Rio Doce e da Flona Aquiri/Tapirapé
em/tregos e outros benefícios para o município e região. e, finalmenle, possibilita, entre tantas outras coisas aqui não enu-
Apesar de tudo e cada vez mais, os Xikrin se empenham, somam foi neste sentido que eles se dirigiram ao ISA para conseguir apoio
esforços e se mobilizam para o sucesso das atividades envolvendo à retomada das atividades de extrativismo da castanha-do-Pará,
a castanha e a madeira. Bles mostram clareza na percepção das que têm um lugar destacado na história do seu contato com os
negociações políticas e das dificuldades colocadas pelos órgãos brancos.
oficiais e financiadores no reconhecimento de seus direitos de se Nas nossas conversas com os índios, ficou claro que esse apoio
organizar, de explorar de forma planejada os recursos naturais de deveria considerar a importância da mobilização social descrita aci-
seu território e de realizar parcerias de sua escolha. No plano sim- ma e, também, promover a difícil tarefa da suslentabilidade ambiental
bólico, a percepção xikrin desses processos pode ser ‘lida" num e econômica dessa atividade. Para isso, seriam necessários: (1)
dos rituais que realizaram durante o período de implantação do planejamento anual dos castanhais explorados, seguindo critérios
“Projeto" (ver box). quantitativos levantados em inventários prévios, (2) verticalização
Os avanços e as dificuldades enfrentadas pelo Projeto Xikrin po- do projeto e (3) comercialização mais justa para os Xikrin.
dem ser acompanhados a partir de relatos e considerações sobre
No final de 1 993, solicitamos à Sociedade para o Desenvolvimento
suas duas atividades principais: as que envolvem a castanha-do-
Tecno-Ecológico (Ecotec) um estudo para implantação de projeto
pará e o manejo da madeira.
de processamento descentralizado de castanha-do-pará na TI Xikrin
do Catcté. Este estudo foi elaborado com os dados obtidos no le-
A CASTANHA DOS XIKRIN vantamento e análise do potencial dos castanhais na TI, realizado
ra próxima ao mundo vivido pelos índios Xikrin. Os rapazes, compa- Fim do ritual, os /mis das nominadas oferecem a todos os partici-
nheiros da categoria de idade menonmu (jovens iniciados e que dor- pantes beiju de peixe, caça assada noforno de pedra, banana, batata
mem na casa dos homens), formaram duas filas paralelas, uma das doce, café, Janta e coca -cola.
Receber um nomefaz parte de um longo processo de socialização do sociedade e do seu universo. Os aspectos essenciais são transmitidos
indivíduo. No decorrer de sua vida, uma pessoa acumula inúmeros de modo claro, explícito, ordenado, mostrando que os Xikrin estão
nomes, transmitidos pela categoria de nominadores e que inclui vá- conscientemente em comando de seu mundo. (I.V.G., originalmcnte
rias posições genealógicas. Os nomes além de relacionarem os ho- publicado na revista Poematropic, Belém: UFPA, n" 2, jul -dez/98)
uma mobilização quase que total da comunidade, envolvendo (1) lização no mercado brasileiro ou exportação; (4) parcerias na
os aspectos de divisão das áreas de coleta em função das diversas exploração, processamento e comercialização; (5) formas de ges-
categorias de idade e lideranças xikrin; (2) transporte e (3) tão e administração do projeto pelos Xikrin. As decisões tomadas
comercialização, feita basicamente pelos índios, na cidade de a partir dessa discussão serviram de base para a elaboração do
Marabá. No final daquele ano, visando a safra seguinte, enquanto documento “Business Plan: Tisnber Operations on the Indigenous
os índios se mobilizavam para a limpeza dos rios Cateté, Aquiri, Territory of the Xikrins of Cateté", plano de negócios cujas diretri-
Bekware e Cinzento com o objetivo de facilitar o transporte fluvial zes estão sendo seguidas desde março de 1997.
da castanha (a comunidade adquiriu uma embarcação com maior
A partir da posição tomada pelos Xikrin, que desconsideraram a
capacidade de carga), o ISA entrou em contato com dois comuni-
possibilidade, a curto prazo, de verticalização do empreendimen-
tários do Conselho Nacional de Seringueiros, pertencentes à Coo-
to madeireiro, em favor da participação direta da comunidade
perativa de Produtores de Xapuri, com a finalidade de realizarem,
apenas nas atividades florestais, de gerenciamento e fiscalização
na aldeia do Cateté, o treinamento dos Xikrin para o beneficiamento
do projeto, o estudo de viabilidade apontou para a necessidade de
da castanha. Segundo os Xikrin, essa atividade, realizada durante
parceria local na exploração, processamento e comercialização
os meses de janeiro e fevereiro de 1998, foi um sucesso, pois,
da madeira. As negociações para a comercialização da madeira
além de envolver os homens na extração, mobilizou, na etapa de
tiveram início em 1996, com a visita do consultor Igor
beneficiamento, todas as mulheres da aldeia.
Mousastícoshvily às empresas madeireiras da Europa, prosseguin-
Nas safras de 97 e 98, de modo semelhante ao que ocorrera na do com a visita à área Xikrin de um representante da empresa
primeira safra proveitosa para os Xikrin (1977), o mais importan- holandesa Van den Berg BV. Na terceira fase, a empresa enviou seu
te foi o fato de eles terem varado e vasculhado lugares que lhes diretor comercial para verificar as condições de compra/venda de
pertencem desde sempre. madeira oriunda do manejo xikrin.
498 I
SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
Acervo
_/> ISA
ram extremamente difíceis e burocráticas, estendendo-se até o iní- seguimos definir a empresa parceira no benefidamento e
cio do ano de 1998. Com a criação do GT pela Funai, a CVRD, por comercialização da madeira, discutir e amadurecer interesses co-
precaução, recuou e passou a solicitar uma garantia dos órgãos muns de longo prazo, bem como possibilidades de uma certificação
governamentais na aprovação do contrato ISA/CVRD. da cadeia de custódia,
No início de outubro de 1997, os líderes jovens da comunidade do Durante 1999, o empreendimento florestal Xikrin, comparado aos
Cateté, Karangré e Bepkaroti, encaminharam ao presidente da Funai dois anos anteriores, parece ter dado um salto qualitativo no que
uma carta solicitando a presença do mesmo na aldeia, com a fina- se refere à sua implantação. Para a colheita da primeira safra de
lidade de discutirem o projeto. Nunca houve resposta ou presença madeira, foi assinado um termo de acordo de empréstimo de ca-
de um representante do órgão indigenista na área. Num ato de pital de giro entre a CVRD e a Associação Bep-Nói, com a interven-
desrespeito, a Funai simplesmente ignorou a organização dos ín- ção do ISA. Acordos para a contratação dos serviços de certificação
dios xikrin. fnfelizmente, essa atitude do órgão e seu não e pesquisa do mogno e treinamento em exploração de baixo im-
posicionamento levou ao confronto entre os Xikrin e ele. Adverti- pacto foram firmados, diretamente pelo ISA, com as instituições
dos pelo ISA sobre o impasse da situação e cansados de tanta con- Smartwood, Embrapa e Fundação Floresta Tropical (FFT) respec- ,
versa, os índios, no início de 98, desiocaram-se para Carajás e tivamente. Nesse mesmo ano, o empreendimento florestal Xikrin
solicitaram, novamente, a presença do presidente da Funai. E ele ainda conseguiu aprovação de financiamento, por mais três anos,
não compareceu. Através de uma forte mobilização política, que através do Programa Iniciativas Promissoras do Ministério do Meio
culminou na paralisação da rodovia que liga Parauapebas à mina Ambiente - Pró-Manejo.
de Carajás, os Xikrin conquistaram o apoio formal e por escrito do
Os Xikrin ainda não colheram o fruto de dez anos de trabalho.
presidente da Funai.
Podemos dizer que, em 1 999, o único fator limitante para a execu-
ção da exploração de madeira na área de manejo foi a falta de
ÚLTIMOS ACERTOS manutenção da estrada. Por motivos alheios à nossa vontade, ou
seja, devido à contratação indevida, por um processo de licitação
O empreendimento do manejo de madeira está baseado em parce-
elaborado pela CVRD (em que vence o menor preço), de uma
ria entre duas instituições. Uma é a Associação Bep-Nói, que tem a
empresa pouco capacitada para a execução dos serviços, a estra-
responsabilidade das operações relacionadas aos inventários flo-
da não teve condições de trânsito.
restais, extração e monitoramento ambiental A outra é uma em-
presa madeireira com experiência em benefidamento, A decisão de iniciarmos a exploração somente no ano 2000 cau-
comercialização local e credenciada para exportação. Nenhuma sou uma enorme decepção àqueles que percebem o empreendi-
serraria na região tem experiência com certificação florestal e prá- mento florestal como um instrumento de autonomia financeira e
ticas de ‘'bom manejo”, o que, de fato, restringe as possibilidades contra as ações ilegais de madeireiros na Terra indígena. Os Xikrin
de consolidação de parceria, do necessário treinamento em ex- queriam explorar a qualquer preço. Segundo eles, já tínhamos tra-
ploração dc baixo impacto, assim como um investimento a curto e balhado muito e aplicado muitos recursos financeiros neste proje-
médio prazo na serraria, voltado à agregação de valor aos produ- to para desistirmos. Porém, chegamos a um consenso: dar mais
tos e a uma maneira de trabalhar que aumente o aproveitamento um crédito aos que estão trabalhando seriamente para o seu su-
dos resíduos. Mesmo assim, ao longo dos últimos três anos, con- cesso. (abril, 2000)
ração madeireira no âmbito do plano de manejo. Após a experiência ra cortada, restava aos Xikrin apenas transportar as toras até a cida -
fracassada de 1999, e em lista das pressões dos índios, a CVRD desti- de de Tucumã, onde serão serradas e comercializadas peta empresa
nou verba necessária para a manutenção da estrada ligando a área Brumila. para tomarem real um novo padrão de empreendimento
de manejo até o município de Tucumã. Com a estrada aberta, as floresta! na região do sul do Pará.
atividades de manejo ganharam ritmo e sistematicidade, tendo sido
Apesar de um atraso imprevisto nas obras de abertura da estrada e
possível explorara área piloto de 1. 400 ha, aprovada pelo Ibama des-
das chuvas que começaram a cair na região, os Xikrin iniciaram o
de 1995, e realizar inventários florestais em unidades de exploração
transporte da madeira no dia 14 de outubro. Até o final do mês havi-
a serem trabalhadas nos próximos anos. Graças a isso, os Xikrin re-
am transportado cerca de 300m’ de mogno.
cobraram confiança na concretização de um projeto iniciado há tan-
tos anos. Os Xikrin ainda não sabem o que fazer com os recursos obtidos da
jirlmeira colheita de seu plano de manejo florestal. Decidiram, no
Em agosto, a associação dos Xikrin, Bep-Nói, assinou contrato com a entanto, festejar com um grande ritual essa importante conquista. A
empresa lirumila Norte Industrial Madeireira Lida. . de Marabá, para festa ocorreu no dia 25 de outubro na aldeia Cateté, e contou com a
que esta realize as atividades de serragem de toras, secagem em estu- presença dos ministros da justiça, do Meio Ambiente, dos presidentes
fa da madeira serrada, embalagem e comercialização da madeira da Fttnai e do ibama.
proveniente da primeira colheita do manejo na área do Cateté.
Os índios sentiram-se muito satisfeitos com a visita das autoridades
Em setembro, realizou-se o corte da madeira na área prevista, tota- e cobraram deles maior apoio para que seu projeto de manejo tenha
lizando. neste primeiro ano do empreendimento. W00 m3 . for oca- continuidade, e para que outros povos indígenas que enfrentam o
sião do corte, os Xikrin receberam a visita de técnicos do Ibama, que problema da extração ilegal de madeira em suas terras jmsam um
verificaram as atividades e emitiram parecer favorável ao manejo, dia celebrar também uma ‘festa ila madeira (Cesar Gordor, antro-
permitindo que o órgão em Belém expedisse as autorizações de trans- pólogo, assessor do Projeto Xikrin, out/00)
DECRETO 1.775 E DESPACHO 17, HERANÇAS sociedade fosse um agregado de indivíduos abstraios, igualmente
JURÍDICAS DO EX-MINISTRO JOBIM, livres em sua capacidade de escolha.
FAVORECERAM INTERESSES PARTICULARES No caso das terras indígenas, a Constituição de 1 988 ao consagrar
E AINDA IMPEDEM REGULARIZAÇÃO DA o direito originário dos índios às suas terras, a sociedade brasilei-
TERRA DOS PARAKANÃ ra contemporânea reconliece que o país não foi simplesmente “des-
coberto" e “povoado”, mas conquistado e reocupado. A regra es-
tabelece uma diferença para contrabalançar uma desigualdade:
Mais de um ano após a assinatura do Decreto 1,775, que modifi-
aquela entre sociedade envolvente (e seus agentes) e povos nati-
cou o procedimento para a demarcação das Terras Indígenas no
vos. O Decreto 1.775, ao contrário, introduz uma igualdade for-
Brasil, é preciso fazer um balanço dc seu significado, Na época, o
ma! para reforçar uma desigualdade de fato. 0 discurso
decreto foi vendido à sociedade como uma necessidade, digamos,
consíitucionalista que legitimava o decreto interverte-sc, assim, em
técnica. Matéria etérea, a qual só os doutores da lei podiam ter
um instrumento anticonstUucional, solapando os princípios éüco-
acesso, e que era neutra do ponto de vista político. O enlão ministro
políticos que fundamentam o art. 231.
Jobim apresentava-o como um instrumento de modernização e ra-
cionalização, cujo intuito era sanear, jurídica e administrativamen-
cesso por uma expressão, esta deveria ser “modernização tantes de ONGs, com membros da Igreja e levado ao Poder Execu-
clientelista". Sob o verniz iluminista escondia-se - e isto a socie- tivo. O ex-ministro Jobim, contudo, preferiu ignorar nossa pro-
dade civil jamais ignorou - uma transferência de poder, que per- posta, deixando claro que, em seu entendimento, o decreto era
mite ao ministro da Justiça e ao Governo como um todo atender às uma espécie de carta branca conferida ao titular da pasta da Justi-
demandas de grupos políticos e interesses privados locais. A tese ça. E ele, de fato, fez uso dessa prerrogativa que atribuíra a si mes-
sobre a necessidade de universalizar as regras constitucionais, das mo, por meio de um despacho publicado no DOU em 8 de abril de
quais as terras indígenas teriam sido incorretamente excluídas, 1997 (Despacho 17) pouco antes de assumir uma vaga no Supre-
,
Não me cabe aqui desmentir tal afirmação. Todos os dados neces- dade socioeconômica sobre a qual se aplicaria, admitiram-se os
sários para esse fim encontram-se no relatório técnico que o gru- eleitos perversos que ele veio a ter. O falo de o despacho sobre a TI
po responsável pelos estudos complementares sobre a TI Apyterewa Apyterewa-Parakanã, assim como outros em seu gênero, ferir os
entregou à Funai em 1996. No mais, se o ministro admite que a princípios constitucionais, não deve nos surpreender, pois tais
delimitação original está em acordo com a Constituição Federai, princípios tundam-se em percepções ético-políticas diversas da-
como é possível que parte do território não o esteja? O todo está quelas que estão na origem do Decreto 1.775.
Por último, é preciso inserir o despacho nas condições sociais e não falar da cadeia dominial fantasma desses títulos) . Contudo, se
políticas reais. A Perachi é tuna grande madeireira com sede em pouco ou nada foi feito para regularizar a situação da TI Apyterewa
Belém, que invadiu os territórios dos Parakanã, Xikrin e Araweté, neste período, muito se fez localmente em termos de irregularida-
explorando ilegalmente mogno na região de 1986 até hoje. Foi de: há um crescente envolvimento de jovens parakanã com madei-
autuada e multada pelo Ibama, processada pelo Núcleo de Direitos reiros, há trabalho escravo em fazendas ünplantadas dentro da
Indígenas e, por diversas vezes, saqueada em ataques dos Parakanã. área, os lotes dos colonos assentados pelo Incra estão sendo re-
Devastou cinco mil ha de floresta virgem no centro do território vendidos e o narcotráfico está em franca operação na região. En-
indígena para formação de pastagens, e construiu mais de cem km fim, um cenário que sintetiza bem os 500 anos de colonização.
de estrada, rasgando a mata, para escoar a madeira até a cidade de (setembro, 2000)
empresário Cctílio do Rego Almeida, dono da Carlos Lamarão. A revista informa que “há 12 domínio privado”. (ISA, a partir de O Liberal,
empreiteira CR Almeida, uma das maiores do anos, um sujeito chamado Umbelino José de 06/10/96)
país. A documentação foi apresentada por Oliveira Filho forjouem cartório uma escritura
Almeida para justificar a instalação de um gran- da área, com base num levantamento fundiário FRAUDES FUNDIÁRIAS
feiio pelo Incra. Como os antigos donos. Olivei-
de projeto no sul do Estado, que, segundo o CONTINUAM
empresário, será ecoiógico, Almeida diz que a ra aplicou um truque c declarou-se dono do
primeira atividade econômica do projeto será lugar. Cecílio Almeida foi avisado de que as ter- O Iterpa ingressou na Justiça de Altamira, o
a pesquisa de espécies farmacológicas. Ao mes- ras são irregulares. Mesmo assim, foi em frente maior município do estado, com mais duas
a partir de ações de nulidade e cancelamento de registro
mo tempo, ele adverte que não tolerará invaso- e assinou o contrato". (ISA, Veja,
imobiliário de terras que teriam sido adquiri-
res em suas terras e promete enfrentá-los com 24/04/96)
das de forma irregular por se tratar de áreas
jagunços armados.
Aproveitando a Lei de Patentes, recentemente ... E ENTRA EM CONFRONTO de domínio público. As duas ações envolvem
aprovada pelo Senado, a CR Almeida trará téc- COM INTERPA quase dois milhões de ha. Segundo o procura-
dor do Estado e diretor jurídico do Iterpa, Car-
nicos da Universidade de Xangai, na China, para
O jornal O Liberal publicou, em 6 de outubro losLamarão, “uma onda de fraudes fundiárias
estudar a biodiversidade da região. O governo
de 1 996, entrevista de uma página e meia, sem vem assolando nos últimos tempos o estado do
do PA não rebeceu qualquer especificação so-
fotos, onde o jornalista Evandro de Oliveira Bas- PA, tentando transferir enormes extensões de
bre o projeto. Há cerca de 15 dias, Cecüio do
tos, assessor do projeto de uso múltiplo da terras públicas para particulares".
Rego Almeida - que foi indiciado pela PF por
empreiteira CR Almeida em Altamira, afirma que Uma das ações é contra o Seringal Yucatan, numa
envolvimento com o esquema de extorsão do
a ação judiciai interposta pelo Iterpa “é um fes- área de 1 ,6 milhão de ha, pertencente ãs em-
ex-tesoureiro de Fernando Gollor, Paulo César
lival de desinformação e exibição de burrice presas Agropecuária Fazenda Urubu, de Brasília,
Farias, e apontado como um dos maiores
explícita”. Em
do mega latifúndio, o as-
defesa eà Kramm Assessoria e Engenharia, de Cuiabá.
beneficiários da máfia do Orçamento - esteve
sessor acusou o presidente do Iterpa, Ronaldo A outra é contra o seringal Monte Alegre, de 330
com o governador Afmir Gabriel, fazendo uma
Barata, e o consultor jurídico da instituição de mil ha. Em relação ao Seringal Yucatan, o Iterpa
exposição verbal de seus pianos, “Na ocasião,
tentativa de extorsão, alegando que a ação judi- afirma que não há nenhum título na origem da
pedimos para verificar a documentação dos 4,7
cial foi provocada pela própria CR Almeida a inscrição do imóvel no registro de proprieda-
milhões de ha que ele disse já ter comprado,
fim de afastar a pressão dos “chantagistas” e des. Apenas contratos de arrendamentos para
mas até agora não recebemos nada", disse o
trazer o caso para o terreno da Justiça. O Iterpa exploração de castanhais e seringueiras perten-
presidente do Iterpa, Ronaldo Barata. “Parti-
pediu a anulação do registro da área, com 4,7 centes ao patrimônio público estadual, que não
cularmente, desconfio da autenticidade dessa
milhões de ha, no último dia 30 de agosto em geram direitos de propriedade ou mesmo de
litulação e considero preocupante a existência
ação encaminhada pelo juiz da 1” Vara da posse e não podem ser transferidos a terceiros.
de uma propriedade desse tamanho nas mãos
Comarca de Marabá, José Torquato. (Gazeta Mercantil, 22/10/96)
de uma pessoa", concluiu.
O assessor de imprensa de Cecílio do Rego
No fim de março, em Curitiba, o empresário
Almeida desmente a informação, contida na ação
informou que já linha comprado, com recur- GOVERNO QUER RETOMAR
judicial, de que o Iterpa havia prevenido o em-
sos próprios, 50 mil km !
(aproximadamente 5 PROJETO DE HIDRELÉTRICA
presário para que ele não comprasse as terras.
milhões de ha) e que pretendia adquirir outros
Segundo ele, quem procurou o empresário foi 0 governo deverá licitar em 1999 a concessão
40 mil knr para completar a área prevista do
um casal que negociava terras na região e con- para a construção de um dos mais polêmicos
projeto. A área, que equivale ao estado de SC,
sultou o órgão sobre glebas “que somavam mais empreendimentos hidrelétricos do país: a UHE
fica àsmargens do rio lrirl, se projetando em
de 12 milhões de ha". Oliveira afirmou que esse Cararaô, rebatizada de Belo Monte, projetada
direção à rodovia Cuiabá-Santarém. Almeida
casal repassou a Cecílio Almeida, “depois de um para ser construída no rio Xingu, cujo lago de-
disse que a preservação da floresta é ponlo fun-
minucioso esludo de documentos do cartório verá inundar parte da reserva Kayapó. A cons-
damental no projeto e que pretende, ainda, de-
de Registro de Imóveis de Altamira" a área de trução ficará a cargo da iniciativa privada. A
senvolver programas de ecolurismo. (O Globo.
4,7 milhões de ha" que o empreiteiro diz ser índia Kayapó 'Mra tornou-se, cm 1989, um
09/04/96)
sua propriedade, emblema da resistência dos índios e dos ecolo-
O assessor da CR Aimeida disse que tem “con- gistas à construção da hidrelétrica depois de
... APROPRIA-SE
vicção radical" de que o Iterpa sabe existirem esfregar a lâmina de seu terçado no rosto de
DE ÁREAS INDÍGENAS... no estado cerca de 55 mil títulos falsos de pro- José Antônio Muniz Lopes, então diretor de Pla-
A revista Veja afirma que Cecílio Aimeida com- priedade de terras rurais. “Se o Iterpa existe há nejamento da Eletronorte. A reação contrária
prou uma fazenda podre, com “uma aldeia in- 30 anos e não fez nada para corrigir essa ano- ao projeto levou o Bird a cancelar o financia-
dígena” dentro da área. Na verdade, duas áreas malia, é claro que se tornou no mínimo coni- mento ao projeto.
indígenas já delimitadas pela Ftmai (Baú e vente com ela. Não é possível que entre os pro- De acordo com o projeto original da Eletro-
Curuá) e uma em vias de ser identificada (Cu- dutores rurais do PA existam 55 mil grileiros. norte. Belo Monte deverá custar cerca de US$
cantil, 31/03/97) (ver capítulo Desenvolvi- ESTUDO DE VIABILIDADE No que se refere à saúde, almejam-se a melhoria
mento Regional/UHE) da infra-estrutura básica dentro e fora das áre-
Predisposto a apoiar a criação do Instituto
as indígenas, a viabilização de um sistema de
Raoni, o governo francês, através da ONG de
RAONI BUSCA NA transporte que assegure a transferência dos
pesquisa Gret (Paris) constituiu uma equipe
EUROPA APOIO PARA ,
504 J
SUDESTE D0 PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
)
va para gerar renda sem grandes impactos para madeireira existente em suas terras. Para isso, que ocupa o cargo de chefe do posto Indígena
o ambiente. enviaram esta semana a Belém um de seus mais da Funai cm Colider (MT) justifica a aproxima-
1
Além de instalações ecologicamente corretas, conhecidos e polêmicos líderes, Paulinho Paia- ção dos índios aos madeireiros. ‘Se a Funai nada
abastecidas por energia solar e com sistemas kan, da aldeia ATkre. Ele vai acompanhar, a faz pelo índio, ele não vai viver de vento. Preci-
de tratamento de efluentes, o hotel também convite dos organizadores, os debates do III sa comer, vestir, comprar remédio", diz Mega-
colabora de tòrma indireta para a preservação Congresso Internacional de Compensado e Ma- ron. Reconhece, no entanto, que os índios são
da floresta. Os lucros da exploração turística deira Tropical e conhecer o que existe de mais enganados pelos madereiros. “Já estive várias
serão utilizados para reforçar a fiscalização nas moderno cm equipamentos e serviços que es- vezes reunidocom meus irmãos caciques mos-
terras indígenas da região, vítimas de constan- tão sendo oferecidos pela II Feira de Máquinas trando o problema. Acho que eles devem co-
tes invasões de madeireiras e garimpeiros. e Produtos do Setor Madeireiro. brar dos madeireiros um preço melhor para
Com 15 quartos distribuídos em duas cabanas “Vim aqui para aprender, aproveitar essa opor- continuar permitindo o corte do mogno nas
de madeira e palha e equipados com duas ca- tunidade para ver a tecnologia que estão usan- reservas", acrescentou. (O Liberal 08/11/98
mas, banheiro c telas dc proteção contra mos- do na exploração de madeira, como estão fa-
quitos, o Tataquara tem como público-alvo os zendo o reflorestamento, o manejo sustentado, ESQUEMA “ESQUENTA”
turistas estrangeiros. Nos cinco ha da ilha, os a comercialização. Quero saber como o índio MADEIRA ILEGAL
visitantes poderão percorrer trilhas abertas em pode trabalhar na floresta sem destruir”, afir-
ma Paulinho A Operação Mogno, desencadeada pelo Ibama,
meio ã mata virgem, passear por rios e sabore- Paiakan. É sua primeira aparição
ar frutas regionais colhidas na hora nas planta- pública depois do processo que respondeu na
em conjunto com a Funai e a PF, produziu um
relatório que mostra o esquema montado para
ções existentes próximas ao botei. Outra atra- Justiça, acusado de estupro.
“esquentar" mogno retirado ilegabnente de ter-
ção, ainda em construção, é uma maloca onde Paulinho Paiakan não vê nenhuma contradição
ras indígenas no Pará e uma relação de madei-
ficarão expostas para venda peças de artesana- entre a antiga imagem de defensor da ecologia
reiras envolvidas.
to indígena. e sua posição atual cm favor da exploração da
Entre as madeireiras autuadas estão pelo me-
A região é rodeada por aldeias indígenas- a mais madeira na reserva Kayapó. “As pessoas falam
nos duas (Exportadora Peracchi Ltda. e Indús-
próxima fica a apenas 40 minutos de lancha - em ecologia, em preservar tudo. Elas vão viver
tria Paraense de Madeiras-Ipama) que, em de-
mas a visitação a esses locais é proibida pela de quê, então? Elas têm que produzir. O que
zembro de 1992, assinaram declaração da As-
própria administração do hotel, que é contrária querem é que o índio preserve pro gringo, que
sociação das Indústrias Exportadoras de Madei-
à banalização da cultura indígena comum em vai viver melhor e não ajuda o índio. E nós, va-
ra do Estado do Pará (Aimcx) garantindo aos
estabelecimentos deste tipo. Isto não significa que mos continuar sofrendo?", pergunta Paiakan.
compradores internacionais que não
os hóspedes deixarão de ter contato com as “Nos últimos 500 anos o homem branco só fez
comercializariam madeira de terras indígenas.
etnias que povoam as reservas no Xingu. Os gui- destruir a natureza e agora está querendo con-
No documento, averbado em cartório por cada
as para os passeios nas trilhas, por exemplo, são vencer o índio de que ele tem que preservar o
uni dos 20 signatários, a Aímex se comprome-
da etnia Wai-Wai. À noite, os visitantes poderão que ainda resta". (Gazeta Mercantil, 05/11/97)
tia a realizar a autofiscalização e excluir da en-
ouvir histórias e lendas contadas por índios.
Entre tis entidades financiadoras do empreen- CONTRABANDO DE MOGNO tidade as empresas que exercessem essa ativi-
dade ilegal.
dimento detaca-se a Fundação Bocly Shop, da LEVA11$ 300 MI POR ANO
Inglaterra, responsável por 50% dos investimen-
A Operação Mogno, durante ação realizada na
Entidades ambientalistas, empresas madeireiras Terra Indígena Mekranotire, em agosto de 1998.
tos. Operadoras de turismo da Suécia e da In-
e o Ibama estimam que cerca de US$ 300 mi- apreendeu farta documentação utilizada para
glaterra já começaram a vender pacotes para o
lhões são apurados anualmcnte com a extração "esquentar” a madeira. Foram 21 Autorizações
Tataquara. Aprovados pela cooperativa, os pa-
clandestina de mogno em áreas indígenas. As de Transporte de Produtos Florestais (ATPF),
cotes preveem grupos com um máximo de seis
populações indígenas envolvidas diretamente em preenchidas como se 0 mogno fosse originário
pessoas e tempo mínimo de permanência de
lais negócios clandestinos dos madeireiros são do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS)
três dias. Os hóspedes do Tataquara passam
os que menos lucram com a operação. Os 3138/94 da Madeireira Universal, cujo projeto
primeiro por Altamira e, depois, seguem para
Kayapó, Xikrin, Arara e Assurini que permitem localiza-se ao lado da área Mekranotire, e, conto
o hotel, em viagem de três horas subindo as
o corte de uma árvore de mogno recebem por destinatário, a Madeireira Marcou Ltda., locali-
águas escuras do rio Xingu, (Gazeta Mercan-
volta de R$ 50,00. Depois de cortada em toras, zada na cidade de Castelo dos Sonhos (Pa).
til 04/07/00)
a mesma árvore chega a alcançai' R$ 2 1 mil no , As toras de mogno apreendidas no da interior
mercado internacional. Reserva ostentavam numeração sequencial e a
EXPLORAÇÃO Em novembro de 1998, os fiscais do Ibama cons- marca “L”, que identificava 0 seu extrator. Toras
tataram irregularidades em 12 madeireiras da com essa mesma marcação e sequência numé-
DE MADEIRA região. Nenhuma delas conseguiu comprovar a rica foram localizadas no pátio da Madeireira
origem do mogno estocado em seus pátios. Em Marcon e foram também apreendidas.
LÍDER KAIAPÓ VAI A Redenção, os fiscais localizaram 15 mil nr' de Com essas informações, 0 Ibama passou a fisca-
ENCONTRO MADEIREIRO mogno escondido próximo de uma aldeia Kayapó. lizar as madeireiras de São Félix do Xingu,
Os fiscais do Ibama encontraram também nas Tucumã e Redenção (no Pará), identificadas
Os índios Kayapó, considerados um dos gru- madeireiras pianos de manejo falsificado, o que como as principais receptoras da madeira. Foi
pos indígenas que historicamente têm várias levou a presidência do Instituto à certeza que o confirmado que os projetos foram superdimen-
contribuições a dar para a exploração racional mogno fora retirado de terra indígena. sionados, ou seja, não existe volume de mogno
dos recursos naturais da região, resolveram as- Acusando a Funai dc não oferecer alternativas na quantia alegada. A diferença d enxertada com
sumir de vez a exploração da imensa reserva econômicas para os Kayapó, o cacique Megaron, a madeira das reservas indígenas, legalizadas
KAYAPÓ/GERAL
BOICOTE Às
ELEIÇÕES MUNICIPAIS
Cerca de 3 mil índios Kayapó de várias áreas do
sul do PA decidiram boicotar as eleições muni-
cipais deste ano, embora estejam aptos a votar.
Só em Redenção, cerca de 1,2 mil índios elei-
tores não compareceram às umas e as princi-
pais lideranças, entre elas Kube-Í e Paíakan, não
se empenharam em deslocar a comunidade para
a cidade, alegando dificuldades financeiras. A
decisão dos índios é uma represália ao atual
prefeito de Redenção, Wagner Fontes, conside-
rado inimigo dos Kayapó. Embora inimputáveis,
os Kayapó têm o direito de votar por terem sido Os Kayapó com o ministro do Meio Ambiente, Sarney P, em Brasília:
alistados na época em que Redenção foi funda- acordo para barrar a exploração madeireira.
fiscalização das terras indígenas. 0 prazo de vi- ções sexuais com uma prostituta de Serra Pela-
Um acordo inédito, celebrado entre o governo
gência do acordo é de dois anos, a contar de em
da, Curionópolis. (O Liberal, 28/08/98)
federal e lideranças Kayapó, assinado no últi-
sua publicação no DOU. (Últimas Notícias/ISA,
mo dia 3 de fevereiro, pretende pôr fim à ex-
04/02/99) TUBERCULOSE
ploração predatória de mogno dentro de áreas
indígenas do sul do Pará. Tanto os índios como A tuberculose começa a atingir os índios do sul
to, preocupa os técnicos da Funai. Nas aldeias, tro da área, localizada entre os rios Xingu e Fres-
O juiz Urbano Leal Berquó Julgou improceden-
a desnutrição é grande e as precárias condi- co, estão cinco aldeias, onde vivem cerca de
te uma ação ordinária para indenização, pro-
ções de higiene facilitam o contágio da doen- 2.500 índios. A área foi demarcada e homolo-
posta por Waldír Martins de Moraes e Geraldo
ça. O médico Luís Rogério Miranda afirma ha- gada pela Funai em 1991, mas entrou no negó-
Lucas, contra a União, o Incra e a Funai. Ou
ver risco de contágio entre os Kayapó e infor- cio como se nunca tivesse existido. A escritura
autores pretendiam receber reparação pecuni-
ma que os agentes de saúde estão “tentando pública de compra e venda foi lavrada no dia 9
ária pela áreade 13 mil ha, denominada Fazen-
rastrear as pessoas que podem ser expostas à de setembro do ano passado, enquanto o regis-
da Paraíso do Norte, que foi agregada às terras
íioença. Esposas, filhos, irmãos dos doentes são tro foi feito no dia 10 de fevereiro deste ano. No
Kayapó. Em julho de 1981, os autores da ação
comunicados, para que se possa fazer o exame lugar da terra dos índios, o que aparece no re-
haviam comprado a fazenda de Antonio Alcazas
de prevenção.
gistro de imóveis e na escritura do Cartório de
Martin. Em outubro de 1991, um decreto fede-
O maior problema, segundo o médico, é a re- Notas de São Félix do Xingu são as fazendas
ral homologou a demarcação da TI Kayapó, in-
sistência dos índios a fazer tratamento comple- Carapanã e Santa Margarida, com 3,176 milhões
corporando terras da fazenda.
de ha, supostamente de propriedade do agri-
to. Embora a tuberculose tenha cura, muitos Na sentença, o magistrado afirmou que, pela
cultor paraense Jovelino Nunes Batista. Nessa
índios abandonam o tratamento assim que co- documentação arrolada, prova-se que a área em
meçam a sentir melhoras em seu estado geral. área toda cabe o Estado de Alagoas inteiro e mais
questão já fazia parte da reserva. Além disso,
Deixar de tomai os medicamentos, no entanto,
1 seis cidades do tamanho de Belém. Mesmo exis-
“os proprietários, por serem pessoas esclare-
é um grande erro, e pode mesmo ser fatal. tindo informações da Funai e do Incra, em
cidas, com formação superior, não se pode su-
Quando interrompido o tratamento, o bacilo Brasília, suficientes para impedir qualquer ne-
por que adquiriram fazenda limítrofe com anti-
gócio, a transação foi realizada. E, pior, até agora
transmissor da tuberculose torna-se resistente ga reserva indígena sem saber o risco que cor-
ao remédio, e isso aumenta o perigo de conta- não foi cancelada. Levantamento feito nos ar-
riam”. Ainda segundo o juiz, “se a ocupação ti-
mento do presidente, vereador Divino Lourival os responsáveis. Com a omissão do Poder Judi-
Cera índios Kayapó ocupam desde domingo a Vieira da Cunha, conhecido por “Divino Dentis- ciário c a inércia do Incra para proteger as ter-
sede da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) ras da União Federal na região, a situação no
ta”, Para evitar o que já aconteceu no dia 21,
cm Redenção, no sul do Pará. Eles exigem re-
quando a sessão teve quebra-quebra e tiros, o
município chegou ao fundo do poço. (O Libe-
médios, melhor atendimento médico e melho- rai, 19/12/99)
comando do Batalhão Araguaia enviou à Reden-
rias físicas nos postos de saúde de suas cinco
ção um contingente de oito policiais militares.
aldeias em São Félix do Xingu, e dizem que só Além dos índios e dos correligionários do vere- ... DEVE SER ANULADA
deixarão o prédio quando a direção da Funasa
ador, há um terceiro grupo envolvido na dispu-
em Brasíliauma resposta positiva. Os índi-
der
ta,formado por homens que teriam sido con-
O procurador da República e dos Direitos do
os mantiveram uma antropóloga da Funai e três Cidadão no Pará, Ubiratan Cazetta, determinou
tratados pelo prefeito Ronaldo Aquino Bonfim
funcionários da Funasa como reféns até ante- ontem a abertura de procedimento interno para
e que estariam armados. O presidente da Câ-
ontem. No início do ano, o governo destinou requisitar do cartório de Notas e do Único Ofí-
mara está sendo acusado por crimes adminis-
R$ 2,8 milhões para os postos da área e três cio de São Félix do Xingu, no sul do Estado, a
trativos e falta de decoro parlamentar. Dos nove
parcelas de Rí 500 mil foram liberados.
“O que apresentação de todos os documentos relati-
vereadores, apenas dois apoiam Divino Dentis-
mais deixa os índios revoltados é que não se vos à transação que envolveu a venda de
ta. A presença dos Kayapó foi convocada peio
sabe como esse dinheiro foi usado”, disse o 3.1 76.000 ha de terras à empresa norte-ameri-
vereador Tapiêt, interessado na cassação do
cacique Tokran Kaiapó, administrador da Funai cana 'Workhvide Ecologícal Handling Timber
presidente da Câmara. (O Liberal, 24/08/96)
em Redenção. (OESP, 06/09/00) Corporation Limitada. Dentro da área, negoci-
ada pelo procurador do agricultor paraense
Jovelino Nunes Batista, o engenheiro químico
gaúcho Amir Santos Jobim, estão 2.459.000 ha to de replantio de mogno para exploração sus- Machado, que acusa as empresas madeireiras
da reserva indígena Kaiapó. A venda foi efetua- tentável. No projeto, o replantio começaria pela de derrubar indiscriminadamente a floresta,
da em setembro do ano passado, mas o regis- área da aldeia A’Ukre, da qual Paiakan é líder, e interessadas apenas no lucro. "Quanto aos ín-
tro do imóvel no cartório daquele município se espalharia por toda a reserva Kayapó. (O Li- dios, eles estão sendo aliciados pelas madei-
ocorreu em fevereiro de 99. berai 18/06/96) reiras para permitir a derrubada do mogno",
O cacique lreô Kayapó não gostou de ficar sa- disse o delegado. Em Belém, a chefe substituta
da Divisão Fundiária da Funai, Edna Miranda,
... MAS É ACUSADO DE
bendo que a reserva de seu povo foi negociada
com uma empresa estrangeira: "O que eu que- endossou as palavras do delegado da PF, acres-
NEGOCIAR COM MADEIREIROS
ro é saber quem é que vai ter a coragem de centando que os índios mais jovens andam nos
entrar nas nossas aldeias e tomar posse. Os ín- O delegado Adolfo Machado, da PF de Marabá aviões das empresas e “são levados para farras
dios não vão deixar. Vai ter guerra no Xingu”. A (PA), pediu ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, em boates de São Félix do Xingu”. A falta de
voz do cacique no telefone da Funai de Reden- providências urgentes contra empresas madei- recursos, tanto da PF como da Funai, tem difi-
ção, no sul do Pará, é de alguém muito nervo- reiras que estão extraindo e vendendo ilegal- cultado a realização de um trabalho permanente
so. Uma funcionária do órgão pede o telefone e mente mogno das Ais Kayapó e Apiterewa (ver contra a retirada de mogno das terras indíge-
recebendo gordas comissões pela venda da vas para "botar um freio na devastação do mog-
KAYAPÓ A UKRE madeira. Um dos acusados de receber dinheiro no”. (Diário do Nordeste, 15/01/97)
das madeireiras é o cacique Paulinho Paiakan.
guir um financiamento do Bird para um proje- tecendo na reserva dos índios”, argumentou
a comunidade se propôs a não caçar e não retirar simas densidades populacionais e o costume kaya- da área de conservação de biodiversidade. É in-
madeira. Criou-se, assim, o Projeto Pinkeiti. pó de patrulhar e defender seu territóriofaz dessa centivada a realização de trabalhos de pós-gra-
Nessa base de pesquisas, estudantes do Brasil e do Reserva uma área particularmente promissora duação de estudantes de universidades brasilei-
exterior tem desenvolvido pesquisas científicas so- para a conservação de biodiversidade e ideal para ras e estrangeiras.
bre espécies de grande relevância ecológica ou eco- o investimento de recursos de conservação. • Pesquisar a ecologia de espécies florestais de
nômica. Den tre as espécies estudadas figuram o Os objetivos do Projeto Pinkeiti foram formula- importância econômica, relevantes para desen-
mogno, a castanheiro, palmeiras de grande porte dos a partir do reconhecimento da importância volver planos de exploração sustentável que pos-
e espécies animais como cutias e jabutis. dessa Reserva para a conservação dafloresta ama- sam ser aplicados não apenas na Al Kayapó, mas
A base de pesquisas do Pinkeiti está localizada a zônica, da necessidade de se direcionarem esfor- também em outras regiões da Amazônia.
cerca de 20 km da aldeia A Vkre. O acesso à aldeia ços para sua conservação e da falta de conheci- • Implantar projetos de exploração dos recur-
éfeito através de avião, a partir da cidade de Re- mento ecológico básico sobre a região. O projeto sos naturais da Reserva que ajudem as comuni-
denção, localizada a aproximadamente 200 km a apoia-se no princípio de que esforços efetivos de dades indígenas a obter renda suficiente para
leste. Da aldeia, o acesso à base é feito de barco, conservação nessa Reserva devem ser articulados atender às suas necessidades sem depredar tais
pelo rio Riozinho, afluente de segunda ordem do em cooperação com a comunidade indígena, e que recursos ou comprometer os processos normais
rio Xingu. A base de pesquisas conta com acam- a preservação de seus ecossistemas depende do de regeneração da floresta madu ra. Tais proje-
pamento, placas solares, barco, motor de popa e bem estar dessa comunidade, bem como da ma- tos variam desde a implantação de um progra-
cozinheiro. nutenção de sua integridade cultural. Resumida- ma de exploração sustentável de mogno à
Localizada no alto da bacia do Xingu acima de , mente, seus objetivos são: visitação da reserva por pequenos grupos de tu-
muitas corredeiras e cachoeiras, a área permane- • Servir de canal de comunicação entre as comu- ristas.
ceu preservada, entre outras coisas, graças às di- nidades indígenas e o mundo exterior. Para a con- • Canalizar para a Reserva recursos de diversas
ficuldades de navegação nos rios da região. A ve- servação a longo prazo dessa área. é importante que fontes,como de empresas ou ONGs brasileiras e
getação predominante é de floresta aberta mista. a sociedade brasileira e a comunidade internacio- internacionais, para a implantação de projetos
Destaca-se a extrema heterogeneidade de suas nal tenham consciência da importância de sua con- que venham a melhorar a qualidade de vida de
fisionomias,com castanhais cujo dossel chega a servação e mantenham-se informadas sobre seus suas comunidades. (Claudia Baider, Adriano Jero-
30 metros de altura, florestas de cipós, tnatas de problemas e as ameaças que possam vir a sofrer. zolimski e Rodolfo Salm, niai/00)
descaso do governo com a questão indígena. O advogado que o defendeu em outros processos. veram direito a um advogado de defesa nomea-
processo previa a expulsão dos três do Brasil. Castro estava defendendo Paiakan também nes-
do pela Justiça em Redenção. Em 1994, eles
Apesar de absurda, o que livrou os caciques da te caso envolvendo a professoraLetícia, mas se
foram julgados e absolvidos pelo juiz local, ape-
punição foi o fato de serem tutelados pela Funai. retirou quando a própria Funai sugeriu que a sar de um ter acusado o outro do crime.
A defesa dos Kayapó deverá ser acionada em 15 defesa de Paiakan utilizasse um intérprete para
O casal permanecerá em liberdade, de acordo
dias, quando os advogados devem recorrer, evi- traduzir os depoimentos de Paiakan, reforçan-
com a liminar, até o julgamento pelo STF do
tando a prisão de Paiakan. (JB, 23/12/98) do a tese que o cacique não era aculturado. “Eu pedido de anulação do processo judicial, apre-
IMAGEM
lho Filho e Maurício Araújo. “A nomeação de
um só defensor técnico para acusados que apre-
sentem teses conflitantes compromete o direito
GAUOÉNCIO/FOLHA
de defesa e frustra a eficácia do princípio cons-
titucional no qual ele tem assento, gerando em
conseqüência, irremissível (inevitável) nulida-
de processual”, afirma o presidente do STF. (FS1'.
ANTONIQ
27/01/99)
Paiakan e Irekran, na sessão do júri na Câmara Municipal de Redenção (PA) gundo ele, “o STF negou a Paiakan a condição
que os absolveu, em 1994, por falta de provas. de índio. Essa decisão equivale a uma sentença
de morte, já que ele não conseguirá sobreviver
em uma prisão*'. (PSP, 17/12/99)
da na capa de outra revista e por razões bem di- Nesses tribunais, Paiakan é considerado "bran- meio da pena de seis anos. Seus advogeulos pre-
versas: Paiakanfoi apontado como "The man who co", já que fala português, dirige automóvel e é tendem entrar com um novo, e último, pedido de
wouldsave tbe world" (“o homem que poderia sal- eleitor. "Mas essesfatores não apagam sua herança fjabeas corpus perante o Supremo Tribunal Fede-
var o mundo") no encarte dominical do jorna! cultural. Ele está sendo tratado como se fosse um ral. (Valéria Macedo, ISA, set/00)
Ferreira de Almeida. Ele disse que na hora do Garimpeiros que extraíam ouro da reserva federais descobriram um contrato com os ín-
ataque estavam no local Edvaldo e sua família, Kayapó, nas proximidades de Tucumã, começa- dios Kayapó Kokraimoro, que previa o paga-
que ocupam a ilha há sete anos. ram a ser retirados pela PF que pretende mento de R$45,00 por metro cúbico de mog-
A invasão começou com a chegada de uma desativar nove garimpos irregulares da região. no, que pode ser exportado por cerca de
voadeira "lotada de índios" sob o comando do A operação foi comandada pela delegada Silvana R$800,00. A operação federal envolve 610 ho-
Capitão Niti (filho do ex-líder lútu Pombo), cujo Borges, e contou com o apoio de um helicópte- mens, sendo 300 do Exército, 200 da PK 80 da
objetivo aparente era caçar. Logo depois, apa- ro e de um grupo de elite do Comando de Ope- Polícia Militar e 30 da Polícia Civil. [Gazeta
receu um outro grupo de índios exigindo que rações Táticas Especiais da PF. Houve tiros para Mercantil, 15/04/97)
Edvaldo deixasse a ilha. Armados de cartuchei- o alto, mas a retirada foi pacífica. Esta não é a
ras e armas de repetição, os índios começaram primeira vez que os garimpeiros são expulsos
a matar porcos e galinhas, encostando a arma da área. Em fevereiro de 1994, a Justiça Federal
KAYAPÓ KUBENKANKREN
numa criança de sete anos. No domingo, dia havia mandado a retirada de cerca de cem mil
24, os índios voltaram. Segundo Francisco garimpeiros nos garimpos Santídio, Cumaru- FUNAI QUER FAMÍLIA
Ferreira, os prejuízos foram, então, totais: eles Mutum, Filomeno, Rio Bran-
zinho, Batéia 1 e 2, FORA DE FAZENDA
jogaram no rio o que não puderam levar, apos- co, São Francisco e Nhanquim, a maioria próxi-
sando-se de 66 sacas de arroz, quatro carros mos das aldeias Gorotire e Kriketum. (O Libe- A Funai deu prazo de até 1" de fevereiro para
de milho, todas as roupas, dois sacos de feijão, ral, 28/03/96) que o cacique Kayapó Pangrá, da aldeia Kuben-
três sacos de castanha e 40 dúzias de ovos. Ses- kankren, desocupe a fazenda Fortaleza, locali-
senta e seis porcos foram mortos pelos índios, zada no município de São Félix do Xingu. A fa-
denção. Mas João Melo não autorizou o frete da ranças, isso foi feito para impedir qualquer ten-
O fazendeiro Aloísio Viana acusou o líder
aeronave. Moirumu Kayapó, o mais velho índio tativa de resgate dos reféns. No final da tarde, a
kayapó Paulinho Paiakan de querer lomar "na
da morreu e o administrador não auto-
aldeia, pista foi liberada para que as equipes jornalísticas
marra" suas terras pura facilitar a venda ilegal
rizou a compra de um caixão para sepultar seu pudessem deixar a área. (O Globo, 15/02/96)
de mogno para as madeireiras dos municípios
corpo. João Melo teria também desautorizado
de Redenção e São Fé] ix do Xingu. A denúncia
que uma criança que quebrou o braço fosse ... E FUNAI LIBERA
foi feita à Polícia Federal de Marabá, sul do Pari
Os Kayapó impediram o empresário de entrar
transportada até Redenção de avião. Segundo o RECURSOS, SOLICITANDO
com 15 homens armados na fazenda Fortaleza,
líder João Pangrá- Kayapó, os Kayapó vão pedir FIM DO CATIVEIRO
a destituição do administrador ao presidente da
que o fazendeiro diz ser sua, O confronto foi
A presidência da Funai autorizou ontem a libe-
Funai, Márcio Santilli. (O Liberal, 12/02/96)
evitado por meio de intervenção da Polícia Fe- ração de R$ 1.4 milhão para saldar as dívidas
deral e da Funai. Segundo a Funai, a fazenda contraídas pelos índios em Redenção. Em men-
em questão está dentro da reserva indígena. O REIVINDICAÇÕES
sagem enviada aos índios, Márcio Santilli soli-
cacique Paulinho Paiakan tomou conhecimen- O Conselho dos Caciques Kayapó reúne-se hoje citou a soltura de João Melo para que ele assi-
to das acusações feitas por Viana, mas limitou- na aldeia Pukanu, onde permanecem como re- ne a documentação necessária à liberação dos
se a dizer que o denunciante não tem moral féns o administrador da Funai mais dois funcio- recursos. Mas isso não foi suficiente para que
para falar mal dos índios. “Ele é invasor das nários do órgão e o delegado da PF, íris João. os índios decidissem por fim ao cativeiro. Eles
nossas terras”. (A farde 16/02/98) ,
Os reféns circulam livremente pela aldeia, mas insistem na suspensão da liminar federal que
sempre acompanhados por guerreiros Kayapó. proíbe a comercialização de mogno e da entra-
TI BADJÔNKÔRE O aeroporto de Redenção teve um dia agitado, da de garimpeiros em suas terras.
É RECONHECIDA com muitos pousos e decolagens de aeronaves O presidente da Funai, Márcio Santilli, informou
Em abril de 1999 a Funai publicou os resulta- que conduzem grupos Kayapó para Pukanu. Os ontem aos Kayapó que o dinheiro obtido com o
dos do Relatório de Identificação e Delimita-
índios apresentaram uma pauta de reivindica- leilão da madeira líegalmente retirada da área
ção da Ti Badjônkôre, dos Kayapó Mebengrokrê ções: o afastamento imediato de João Melo da - apreendida em uma operação da PF com o
(Kubenkrankêng) localizada nos municípios de direção da ADR Redenção, e a revogação da Ibama está sob responsabilidade da Justiça
,
São Félix do Xingu e Cumaru do Norte, estado liminar federal que proíbe a exploração de ouro Federal. Segundo Santilli, os recursos serão li-
do Pará. O processo de reconhecimento da ter- e madeira dentro das terras Kayapó. “Antes desse berados para financiar projetos de longo pra-
ra foi iniciado pela reivindicação dos índios de documento, nosso povo não dependia do go- zo. Ontem mesmo a Funai solicitou que parte
uma faixa territorial, localizada na região sul verno”, disse um dos líderes da aldeia Pukatôty. do dinheiro seja destinado à aquisição de um
do estado do Pará, que liga a TI Kayapó em sua Ele afirmou que a Funai não dá conta de resol- imóvel em Redenção e de equipamentos neces-
porção sul/sudeste até alcançar os limites nor- ver os problemas dos índios e que só a libera- sários ao processamento de castanha, produto
te-nordeste da TI Capoto/Jarina, situada no es- ção do garimpo e do comércio de madeira pode exportado pela aldeia A’Ukre, de Paiakan. (O
tado do Mato Grosso, ocupada pelos Metuktíre reverter a situação. Em Redenção, a sede da Liberal, 16/02/96)
(ou Txukahamãe) . A TI Badjônkôre tem uma Funai permaneceu fechada ontem, com um avi-
superfície de 222.000 ha e 293 Km de períme- so “fechado por falta de pagamento”, colocada MPF PROÍBE COMÉRCIO
provavelmente pelos comerciantes da cidade. (O
tro. A Fazenda Fortaleza está dentro do períme- DE LOTES DENTRO DA TI
tro da terra Badjônkôre. (DOU 14/04/99) Liberai 13/02/96)
O MPF moveu ação contra o Interpa e compra-
Indignados com a postura radical do novo ad- os Kayapó. Os cinco homens foram surpreendi- mesmo que não estivesse, ela é reconhecida
ministrador de Redenção João Melo, os Kayapó dos na pista de vôo da reserva e impedidos de como terra de índios desde lei de 1950. A tute-
da aldeia Pukanu atraíram o servidor para uma sair. No Fim da tarde, o presidente da Funai, la antecipada que a procuradoria da República
cilada e o fizeram refém na reserva João Melo Márcio Santilli, entrou em contato com a aldeia requeria tem o saudável objetivo de preservá-la
está retido na reserva desde ontem, 1 1 de feve- propondo aos índios o transporte de todos os da exploração econômica e de evitar mais um
reiro, juntamente com um delegado da PF e reféns até Brasília. A proposta foi rejeitada pe- conflito fundiário que nos envergonharia. (O
outros dois servidores. Lideranças indígenas los índios, que aceitaram ir a Brasília para ne- Liberal, 28/06/96)
Em 16 de novembro último, o líder Megaron Txu- deu as boas-vindas à primeira criança ali nasci- Junina aos Kayapó. Com a morte da esposa,
camtmõe anunciou a morte do cacique Bepgogoti, da - um menino que se chamou Bepgogoti. Bepgogoti se aliou a Kretire. A comunidade ficou
respeitado guerreiro Kayapó. Bepgogoti morreu no A história de Bepgogoti semprefoi peculiar. Órfão isolada até meados dos anos 60, quando missio-
dia 10 de novembro tinha quase cem anos e acu-
,
desde cedo, foi adotado por um influente mem- nários e representantes da Punai tentaram uma
mulava um vasto conhecimento da história e das bro da comunidade, que, anos depois, teve outro aproximação. Anos depois, nova cisão: Kretire e
tradições de seu povo.“Lamentamos muito o fa- filho, Ropni hoje líder de umas das comunidades
. seu grupo se separaram de Bepgogoti, que perma-
lecimento do nosso cacique, pois coube a ele de- Mekragnoti. neceu às margens do Iriri com cerca de 150 índi-
fender os nossos direitos, lutando ao lado de Raoni Durante a infância, Bepgogoti foi treinado pelo os. Kretire, por sua vez, voltou para o Xingu. Du-
e do cantor inglês Sting para demarcar nossas ter- cacique ancião Karanhi para assumira liderança rante mais de 15 anos, a sabedoria e a força mo-
ras. Admiramos muito este homem que, infeliz- dos Mekragnoti. Quase diariamente, ia visitar o ral de Bepgogoti aplacaram confrontos entre os
mente, a doença en velheceu e levou para longe de velho sábio para aprender as canções que todo lí- membros do grupo. Assim, ele ganhoufamae no-
nós", escreveu Megaron. der deve saber, os mitos do seu povo, sua história, vos adeptos, entre des, numerosos vizinhos Kayapó
Segundo ele, Bepgogoti foi um valente guerreiro práticas e táticas de guerra. Assim, à medida que que migraram para a comunidade dispostos a se-
Kayapó; lutou contra os Krenakore (os Panará) e crescia, Bepgogoti reforçava o sentimento de ter gui-lo. Em 1980, esse grupojá somava 300 índios.
contra facções dissidentes do seu próprio grupo. nascido para se tornar um bravo guerreiro, lou- () prestígio de Bepgogoti conquistou novas fron-
“Antes de morrer, pediu três vezes aos seus filhos vado pela sim coragem em desafiar e vencer os teiras. Muito procurado pela mídia, recusava-se
e netos que evitassem brigas e cisões", explicou vizinhos Krenakore. a abandonar sua aldeia para atender convites.
Megaron. “Só queria paz para os índios". Nofinal dos anos 40, novos líderes emergiram en- Corre a história de que ele sentava num tronco
Antes de perder Bepgogoti, os Kayapó viram desa- tre os Mekragnoti: Kretire e Kremoro acabaram in- de árvore e, por rádio, conseguia acalmar fac-
parecer também dois outros guerreiros lendários surgindo a comunidade e dividindo-a em duasfa- ções inimigas e líderes insurgentes distantes mais
- Kretire e Kremoro. Com a morte de Bepgogoti, ago- ções inimigas. Um terceiro grupo optou por se de 200 km. Mesmo velho e doente, continuou par-
ra, as músicas e as rituais nuiis tradicionais dopovo manter neutro, sob a liderança de Bepgogoti. Oano ticipando dos rituais indígenas e treinando no-
Kayapó correm o risco de se calar para sempre. de 1953 marcou as primeiras tentativas de conta- vos lideres. Sua morte representa uma grande
Em fins do século passado, um grupo de 200 dis- to dos Viüas-Boas na área do Parque do Xingu. As perda para os Kayapó: Bepgogoti era o mais velho
sidentes se separou dos Corotífe, a comunidade relações entre as duas facções estavam deteriora- líder Kayapó Mekragnoti vivo e um dos últimos
Kayapó de mais de dois mil índios que vive às mar- das a ponto de Kretire ter decidido instalar nova guerreiros tradicionais. Será lembrado ftela sua
gens do Riozinho, no Pará. Autodenominado aldeia entre os rios Iriri e Curuá. 0 líder Kremoro eloquência, sabedoria e senso de humor. (Gustaaf
Mekragnoti, ele se dirigiu a sudoeste, atravessou e seu grupo, por sua passaram a ser conheci-
vez, Verswijver, antropólogo do Royal Museum of Cen-
o rio Xingu e se instalou num descampado. Logo, dos por Txucarramãe, nome dado pelos índios tral África, Bélgica, nov/96)
para expulsar vários madeireiros que atuam na e da PF negaram que seus funcionários estejam rio indígena, deixou a reserva sem poder com-
reserva. A entrada de estranhos na área é proi- como reféns dos índios. Não é essa a mensa- pletar seu trabalho: a apreensão de cerca de
bida desde o ano passado pelos índios. Até gem que os Kayapó têm passado por rádio para 2,5 mil m' da madeira tida como uma das mais
mesmo policiais teriam de pedir autorização aos Tokran em Redenção. ”0 pessoal está proibido nobres.
caciques para ingressar no locai. de sair e é por isso que eu e o Megaron (chefe Impedidos pelos índios de procederem a me-
Para negociar a libertação dos reféns, os Kayapó do Posto da Funai em Colíder/ MT) vamos para dição e retenção das toras, sob a alegação de
exigem a presença de representantes do Minis- lá”, disse o cacique. Ele desconversou quando que se tratava de produto de sua propriedade,
tério Público Federal e da Funai. 0 chefe de perguntado se os índios continuam negociando os fiscais do Ibama tiveram de abortar a opera-
posto da Funai em Redenção, cacique Tokran a venda de mogno para madeireiras de Reden- ção nas terras indígenas. 0s índios alegam que
Kayapó, disse que não linha informações sobre ção e São Félix do Xingu: "Desconheço o pro- a madeira está sendo extraída de seu território
a situação dos reféns. "A única coisa que eu sei blema e nunca soube disso”. (Diário do Gran- e que não cabe aos brancos interferir.
é que meu povo ficou muito nervoso com esse deABC, 20/09/00) Embora no território kayapó parecesse haver
pessoal entrando na reserva sem qualquer avi- unanimidade sobre essa postura, outros líde-
so”, disse. (OBSP, 27/09/00) res da mesma tribo reunidos ontem à tarde pela
Funai disseram o que o governo queria ouvir.
Com o cacique Megaron como porta-voz, a re-
A principal queixa dos caciques que o gover- mílias, titulou as terras e a região prosperou. Pintados para a guerra e dispostos a não per-
é
no apreende a madeira retirada das terras in- (ISA. a partir de O liberal, 24/01/97) mitir a invasão de suas terras por garimpeiros,
dígenas e leva a mercadoria a leilão pela Justi- cerca de 280 índios Kayapó da reserva do Baú,
ça, sem que seus verdadeiros donos, os índios, lOBIM AVISA QUE município de Altamira, mantiveram por vários
dias dois reféns e dois aviões da Funai. Os fun-
recebam parte desse dinheiro. “Se esses recur- DECISÃO ESTA PRÓXIMA...
sos retomassem para os índios de alguma for- cionários realizavam inspeção da área, próxi-
ma, a situação seria diferente”, ponderou Em visita a cidades do interior do Pará, Nelson ma ao município de Novo Progresso (PA) quan-
Megaton. (JB, 29/09/00) Jobim garanliu que irá decidir os destinos da TI do foram detidos pelos índios. Os seqüestrados
Baú ainda antes da Semana Saiila. Jobim disse eram Lindolfo Ferreira, funcionário da
não haver necessidade de fazer uma visita à área, mineradora Tamim, c Luiz Carlos Sampaio, qnc
KAYAPÓ MEKRAGNOTI/ conforme estava programado, alegando já ler é funcionário da Funai na região. Os Kayapó
examinado todos os elementos necessários à sua exigem que seja feita a demarcação da área in-
TI BAÚ com sua
decisão. Ele vai se reunir assessoria dígena, que ao longo dos anos vem sendo inva-
jurídica para encerrar a análise da questão e dida por mineradores. (JB, 21/07/98)
DECRETO 1.775 LEVA tomar sua decisão, que “deverá estar dentro da
A REESTUDO DA TI conveniência, da necessidade e obedecendo a TENSÃO
Constituição". (O Liberal, 24/03/97)
Encerrado o prazo de 30 dias estabelecido pelo
Os 1 20 índios Kayapó da TI Baú estão na iminê-
Decreto 1.775 para que o ministro da Justiça,
... E MANDA REDUZIR ncia de um confronto armado com fazendeiros,
Nelson Jobim, decidisse sobre as demarcações moradores e pequenos produtores rurais da
que foram objeto de contestações, o Diário Ofi-
PORÇÃO OESTE DA TI
região. O motivo é a ampliação da reserva, con-
cial de 10 de junho publicou os pareceres so- No forme portaria de 14 de dezembro de 98, assi-
dia 8 de abril, pouco antes de deixar o Mi-
bre as terras contestadas, determinando que a nistério da Justiça para ocupar uma vaga no STF, nada pelo ministro dajustiça, Renan Calheiros,
Funai realize novas diligências a respeito. En-
Nelson Jobim assinou despachos sobre as Tis que aumenta de 890 mil ha para 1,8 milhão de
tre as oito áreas que ficaram na peneira do
cujas demarcações foram obstruídas pelo De- ha a área indígena. (A Critica, 15/01/99)
1.775, está a TI Baú, dos Kayapó. A TI Baú é
creto 1.775. Em relação à TI Baú, o ministro
parte de um polígono de terras contínuas, onde alega, no despacho número que as contes- KAYAPÓ FAZEM
18,
há posseiros e garimpeiros. Não se sabe se sua
tações apresentadas pela prefeitura de Novo 15 TURISTAS REFÉNS...,
inclusão entre as oito áreas passíveis de novos
Progresso e por mineradoras com pedidos de
estudos poderá redundar em redução de seus lavra incidentes na área dos Kayapó não são Cerca de 50 índios guerreiros da etnia Kaiapó
limites. (ISA,jul/96)
procedentes do ponto de vista jurídico. No en- mantêm 15 turistas como reféns na aldeia Baú
tanto, o ministro considerou (pie, apesar da
no município Novo Progresso (sul do Pará) . Dos
DEPUTADO PROTESTA conformidade da proposta antropológica que 15 reféns, dez são de Avaré (SP) e cinco, de
CONTRA DEMARCAÇÃO gerou a atual proposta de limites da área, há Novo Progresso.
rio Curuá. “Essa parle oeste não fora incluída nada aconteceu. Os Kaiapó estão cansados", dis-
tituição dedicamos um Capítulo ao índio, a fim
de preservar seus direitos e sua cultura e ga- em nenhuma das propostas anteriores de iden- se Megaron. Um funcionário daFuuai já está no
tificação e delimitação”, escreve em seu despa- local e agentes da PE devem seguir hoje para a
rantir as condições absolutamente indispensá-
cho, determinando que seja “restabelecida a aldeia. Apesar de estarem pintados para a guer-
veis à sua sobrevivência”,
fronteira oeste original, constante das delimita- ra, Megaron garante que não houve violência
Para o parlamentar, “a Funai, exorbitando de
ções anteriores", o que deve reduzir a TI Baú física contra ninguém do grupo. O administra-
suas atribuições, ampliou desmesuradamente
em 350 mil ha. (DOU, 08/04/97) dor lembra, no entanto, que algumas pessoas
as prerrogativas que a legislação lhe outorgou
de Novo Progresso estariam ameaçando tirar os
para, distorcendo a verdade dos fatos, aumen-
pescadores do local à força. (737! 01/08/00)
tar as áreas indígenas, impossibilitando que os
setores produtivos dispusessem de terras para
trabalhar”. Asdrúbal Bentes considera que me-
... E REFÉNS SÃO LIBERTADOS Progresso desde o último dia 4, depois que os
índios Kaiapó libertaram 16 turistas e pescado- AM
Os índios Kaiapó da Reserva Baú libertaram res esportivos, que mantiveram como reféns
ontem os 16 turistas e pescadores esportivos durante setes dias em uma clareira a dez km da
que foram mantidos reféns durante sete dias margem esquerda do rio Curuá. A área, segun- Novo»
em uma clareira a dez km da margem esquer- do os índios, é parte integrante da Reserva Baú. Progresso
da do Rio Curuá. Os barcos e duas caminhone- Para os fazendeiros, a demarcação será desas- Ãrea onde vivem os caiapós - 14/N/DO
tes pertencentes aos pescadores foram devol- trosa. Eles temem perder os 600 mil ha da área 1,2 milhão de hectares
vidos pelos índios. -
onde vivem há mais de dez anos. A Funai afirma Área em litígio ocupada por pequenos
A libertação do grupo só foi possível depois que que os 600 mil ha são parte integrante dos produtores - 600 mil hectares
ÊPQCA
de comunicação com a aldeia o documento as- Público Federal, a Funai e a Polícia Federal quei-
sinado pelo ministro da Justiça, José Gregori, ram transformar a nossa região em palco de mogno, madeira de maior cotação no mercado
determinando à direção da Funai a demarca- conflitos”, argumentou o prefeito Juscelino
internacional, é o verdadeiro motivo da resis-
ção imediata da reserva. Rodrigues. tência de fazendeiros e madeireiros à demar-
“Eu dve de ler e repelir várias vezes o docu- O fazendei ro José Sebold, bastante irritado, disse cação da TI Baú.
mento para que os índios acreditassem”, con- à reportagem que não irá entregar suas terras
“Ninguém tem título de terra do Instituto Naci-
tou Megaron, que viajou pela manhã para a al-
para os índios: “se é paia começar toda uma onal de Colonização e Reforma Agrária (Incra)
deia levando a cópia da portaria assinada pelo
vidaem outro lugar, prefiro morrer aqui. E vou na área e todos são invasores'', disse Felício. O
ministro. (OESP, 05/08/00)
morrer lutando. Até matar, pelo meu direito, eu assentamento do Incra mais próximo - a gleba
mato". O diretor do Sindicato dos Produtores Curuá, onde estão os projetos Nova Fronteira e
PFQUER IMPEDIR REAÇÃO DE Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes, Santa Júlia - está a cerca de 200 km do local
FAZENDEIROS À DEMARCAÇÃO é taxativo: “nem à força o governo vai tomar o do conflito, a oeste da reserva Baú. (Tribuna
que conquistamos com muito suor e trabalho". da Imprensa, 10/08/00)
O superintendente da Polícia Federal no Pará,
(O Liberal, 08/08/00)
Geraldo Araújo, colocou seus agentes em esta-
do de alerta para entrar em ação a qualquer
FAZENDEIROS FORJARAM
“FAZENDEIROS QUEREM O ESCRITURA DE TERRAS
momento e impedir uma reação armada de fa-
MOGNO”, DIZ PROCURADOR
zendeiros e madeireiros de Novo Progresso A Diretora da Divisão de Cadastro do Incra em
contra a demarcação da TI Baú, da tribo kaiapó. O procurador da República em Belém, Felício Belém, Maria Santana Tavares da Silveira, in-
Na área a ser demarcada existem 250 fazendas Pontes Júnior, afirmou que a exploração de formou que os fazendeiros que ocupam a re-
AsdrtSbal Bentes, alega que o ex-ministro da quando estava com crise de epilepsia. Ele pio-
Justiça, Nelson jobim, descaracterizou como rou e não reconhecia as pessoas. Achava que
área indígena a parte oeste da reserva Baú e KAYAPÓ METUKTIRE estava matando bicho. Quando voltou ao nor-
que Crcgori incluiu novamente, sem que hou- mal, ficou muito triste, Raoni achou que Takumã
vesse qualquer laudo ou fato novo que justifi-
MORTE DE UMORO GERA ia curar ele com raízes. Por isso, deixou Umoro
casse a decisão. “O decreto do ministro deve- sob a responsabilidade dos Kamayurá. Takumã,
CRISE ENTRE METUKTIRE
ria provar que a área satisfaz os requisitos cons- Kanato e Sapain são grandes feiticeiros. Eles já
E KAMAYURÁ...,
titucionais”, diz Bentes, devem estar fazendo fei tiço paia os Kayapó .Por
A reserva Baú possui uma população de 1.300 A morte de Umoro, de 30 anos, filho do líder isso, as quem são essas
pessoas têm que saber
índios da etnia Kayapó. A ação da Prefeitura de Raoní, gerou uma crise enlre os índios que vi- pessoas. Takumã está com medo e fica falando
Novo Progressso tem uma explicação econô- vem na região do Xingu. Umoro tinha epilepsia que os Kayapó vão matar todo mundo no Xingu.
mica: a parle oeste é a mais produtiva do mu- e fora acusado de ter matado dois índios de sua Kayapó não vai fazer guerra contra ninguém.
nicípio, com tremendo potencial, principalmen- aldeia, na TI Capoto-Jarina, há quase dois anos. Raoni vai ao local da morte de Umoro para fa-
te para a exploração do ecoturismo. Por isso, Raoni mandou que ele fosse morar no zer pajelança. O espírito de Umoro é que vai
O julgamento do mérito pode demorar alguns PIX, a cerca de 500 km de sua área de origem. falar como e por que ele morreu. Como lêni
meses. Anles disso, o ministro José Gregori vai No último dia 16 de janeiro, Umoro foi encon três Kamayurá envolvidos na morte, ele vai faiar
ter um prazo para prestar as informações, em trado morto em um rio próximo à Base Jacaré, os nomes. Takumã não pode envolver outras tri-
seguida se manifesta o Ministério Público Fe- no Parque do Xingu. Há duas versões para a bos. Eles não podem dizer que não sabem por-
deral e só então sai a decisão final. (O Liberal, morte de Umoro. Raoni e Megaron filiam em fei- que Takumã é grande pajé e grande feiticeiro”.
23/08/00) tiçaria e homicídio. No entanto, um índio (Megaron Txucarramãe, FSP, 03/05/%)
PAJÉS VÃO A RORAIMA consequência de problemas respiratórios, no foram identificados peio índio da aideia Capo-
lo, que eslava caçando próximo ao locai onde
FAZER RITUAL DA CHUVA... início de junho de 1998, na aldeia Cachoeira/
Metuktire, localizada na TI Capoto/Jarina, re- começou o incêndio e denunciou o caso. A in-
Dois pajés Kayapó viajaram de Mato Grosso para
gião de Colider (MT) formação é do chefe da Funai em Colider,
fazero ritual da chuva na reserva dos úidios
Krumare fez parte da história de resistência dos Megaron Txticarramãe. Na tarde de ontem, ele
Yanomami, em Roraima. A reserva foi atingida
índios Kayapó às arbitrariedades trazidas pelo informou, através de fax enviado ao jornal A
pelo megaincêndio, que chegou a afetar 25% Gazeta, que um fato semelhante aconteceu na
contato com os brancos. À época do contato com
da área do estado. A meteorologia informou na no estado do
os Metuktire - que durante muito tempo foram aldeia Kayapó, Pará, (A Gazeta,
ocasião não haver perspectiva de chuva ao nor-
chamados deTxukahamãe (“gente sem arco”), 27/10/99)
te de Roraima. Os pajés escolheram fazer o ri-
denominação que lhes deram osjuruna (Yudja)
tual da chuva na aldeia do Demini, porque lá
na década de 50, Orlando e Cláudio Villas-
existem montanhas, consideradas fontes de
Bôas convenceram uma parte do povo KAYAPÓ KARARAÔ
energia.
Metuktire, liderada por Raoni ÍRopni) a cons- ,
são não deixou feridos. O objeto caiu em uma da de 80, quando, com o esgotamento do po-
Um dos grandes guerreiros dos Kayapó Melti- área onde estão localizadas duas aldeias, com tencial pesqueiro nas' regiões próximas a
ktire, Krumare foi protagonista da luta de seu aproximadamente 500 indígenas. A explosão Altamira, os pescadores passaram a rumar rio
povo na reconquista de suas terras tradicionais. ocasionou um incêndio florestal, que durou acima. Depois do violento conflito de 1996,
Com cerca de 80 anos, Krumare morreu em quatro dias. Tanto o avião quanto o objeto não entre os Kayapó de Kararaô e pescadores, hou-
rodovia. Saqueie período, foram contatados os mília, o grujx) eslava arriscado ao incesto. Este ram a aparecer, na imprensa, as primeira denún-
seguintes grufms: Kararaô, Assurini, Parakanã, episódio, profundanwnte equivocado e de fundo que o Exército, através do Comando 51"
cias de
Arara eAraweté, todos habitantes do rio Xingu e etnocêntrico, marcou a história dos Kararaô. emolindo com a exploração ilegal de
BIS, estaria
seus afluentes, na região dos municípios de Em 1979 o antropólogo Gustaff Verswijer enca-
,
mogno na Gleba Mossoró. 0 escândalo, compro-
Altamira. Senador José Porfírio, São Félix e minhou ao órgão indigenista uma carta denun- vado pelo Ibama em 25 de outubro de 1994, en-
a
Parcajá, todos no estado do Pará. ciando as condições a que os Kararaô estavam volvia o comando do 51" BIS e da Brigada da 23
Os Kararaô foram, então, submetidos à lógica da sendo submetidos com as tentativas de remoção Brigada de Infantaria da Selva, o ex-vereador
política públicada época:foram adensados junto da população para outra terra indígena. Manoel Mansour de Jesus Abucater e a madereira
aos Postos Indígenas da Funai, por meio da farta Em 1988, a Funai de Belém informou a existência Banacb.
distribuição de brindes e objetos industrializados. de um garimpo de "ametista ” na Grota da Areia Em 1994, o presidente da República Itamar Fran-
A Reserva Indígena Kararaô foi criada pelo De- Branca, além da presença de famílias de não -ín- co, através do Decreto de 28 de julho, restituiu
creto n° 69 914, de 13 dejulho de 1971, com 2. 727 dios localizadas nas margens do rio Xingu. Na- 57.941 ha aos Kararaô, que estavam sendo objeto
km J (272. 700 ba) e uma população estimada em quele mesmo ano, foram realizados pela Funai os das invasões do Exército. Em 1996, a TI Kararaô
80 pessoas. Em 1974, o presidente da Funai in- primeiros trabalhos de demarcação dos limites da foi encaminhada para demarcação, com recur-
formou. através de ofício, que a Reserva, por TI Kararaô. No ano seguinte, o levantamento sos do PPTAI.. A demarcaçãofoi realizada fwla fir-
motivos surgidos na área, não seria demarcada fundiário realizado pela Funai identificou "oito ma Martop no ano seguinte. (Eduardo Vieira
até posterior deliberação. Na ocasião, o grupo famílias de ocupantes não-índios, alguns com Bames, '
Remato de uma visita a oito Terras Indíge-
a
Kararaô havia sido transferido para as TI do mais de 15 anos na área." (4 Suer/DFU/Funai/ nas na Amazônia Legal”, PPTA1/PP-G7, 97A)8)
ve um breve período de trégua, marcado por POSSEIROS SAO procurador da República Übiratan Caseta en-
debates públicos entre as entidades envolvidas RETIRADOS DA TI caminhou um ofício ao superintendente regio-
no assunto e demais interessados. Agora, os nal do Incra, onde expressava sua apreensão.
Foi iniciada a retirada de 400 posseiros da TI de Segundo a retirada dos trabalhadores da
invasores retomaram suas investidas. ele,
Trincheira, município de Senador José Porfírio, área indígena uma operação custosa, difícil
Para terem acesso a locais de boa pescaria no foi
depois que a Justiça concedeu liminar de reinte-
interior de áreas indígenas, fornecem produ- e que seu sucesso se deveu ao trabalho integra-
gração de posse aos Kayapó. De acordo com o do de diversos segmentos da sociedade e da ad-
tos como bebida alcoólica e, mais recentemen-
procurador da República, übiratan Caseta, a de-
te, maconha aos índios. Em troca desses pro- ministração pública. Para evitar a tensão soci-
cisão de agir contra invasores de terras indíge- diz o documento, seria necessário que se
dutos, há informações de que os pescadores al,
também estão recebendo mulheres indígenas. nas é apenas a primeira de uma série de provi- adotasse efetivamente um conjunto de me-
dências que serão tomadas agora para proteger didas que inclui liberação de créditos à pro-
(ISA, a partir de Relatório da Funai/Altamira,
os 14 mil índios que vivem no Pará. dução, fornecimento de infra-estrutura bási-
jan/99)
Os posseiros encontravam-se assentados na área ca, fornecimento regular de cestas básicas, en-
há dois anos. Caseta anunciou que a próxima quanto são providenciadas novas plantações
KAYAPÓ XIKRIN operação policial será contra invasores das re-
de subsistência.
servas dos Tembé, que vivem em 300 mil ha no A Fazenda Flor da Mata, para onde foram con-
DO BACAJÁ município de Capitão Poço. Lá os posseiros re-
duzidos os posseiros, foi desapropriada pelo
sistem à idéia de sair da reserva, alegando que governo federal para utilização na reforma agrá-
PREFEITO DENUNCIA moram, plantam e caçam há mais de 20 anos ria, após a fiscalização do Ministério do Traba-
ATAQUES DOS ÍNDIOS naquela região. (CB, 27/04/98) lho e Polícia Federal terem constatado que 222
índios Xikrin do Bacajá estão atacando colo- homens, mulheres e crianças viviam em condi-
TENSÃO ENTRE ÍNDIOS ções de trabalho escravo, impedidos de sair do
nos da gleba sudoeste, no município de São
E COLONOS AGRAVA-SE local por seguranças armados. (Gazeta do Povo
Félix do Xingu. A denúncia foi feita pelo prefei-
to de Hicumã, Laudi Witeck, segundo informa- Colonos e os Xikrin estiveram na eminência de 16/11 e O Liberal 18/12/98)
ções do senador Ademir Andrade (PSB-PA), um confronto diante dos impasses no processo
Ontem, o senador enviou um ofício ao ministro de reassentamento das 450 famílias de possei- XIKRIN PROTESTAM
da Justiça, Nelson Jobim, e ao presidente da ros que ocupavam anteriormente a área indíge- CONTRA MUDANÇAS
Funai, Júlio Gaiger, pedindo providências para na. “Não se pode condicionar a liberação das NA POLÍTICA DE SAÚDE
a solução do conflito. De acordo com Ademir verbas do projeto de assentamento das 450 fa-
Andrade, os índios têm saqueado e incendiado mílias à solução da avaliação da Fazenda Flor Primeiro foram os índios Tembés e Kaapor.
residências e agredido os colonos. Segundo da Mata”, afirmava o procurador Federal dos Agora, são os Xikrin da aldeia Bacajá, cm
Witeck. os ataques indígenas estão relaciona- Direitos do Cidadão, Wagner Gonçalves, a res- Altamira, no sudoeste do Estado, que estão
dos com a exploração madeireira na gleba. (0 peito da tensão existente na área do Bacaji Os protestando contra a entrega, pelo governo fe-
Liberal, 09/08/96) colonos ameaçavam retornar à área indígena deral, da assistência médica das nove tribos
caso o impasse não se resolva. Em outubro o da região à Funasa. Os Xikrin preferem que o
atendimento médico, vacinas, primeiros socor- A Funasa assumiu a tarefa há dois meses, mas DSEI da FNS em Altamira, para desespero dos
ros e transferência de doentes retorne à Funai. parece que não está dando conta do serviço. O Xikrin, é o único no Brasil ainda sem diretor.
antes,uma cisão, quando uma fração acompa- sas expedições, reviviam um período de MISSIONÁRIOS PROTESTANTES
nhou o chefe Onça ( Bep-Tok) e construiu uma nomadismo, algumas famílias acampando em Os Xikrin do Bacajápermaneceram todo esse tem-
aldeia próxima ao igarapé Carapanã, a jusante, roças subsequentes, colhendo seus produtos, em po sem maiores contatos com missionários, em-
na outra margem do rio. A aldeia do Trincheira parte consumidos lá mesmo, em parte prepara- bora alguns deles visitem com certa freqüência a
havia sido abandonada um pouco antes da ten- dos para serem levados à aldeia, e caçando, com aldeia dos Xikrin do Cateté, ondehá índios prati-
tativa de cisão, seus membros tendo-se dispersa- bons resultados, já que essa região é menos ex- cantes do protestantismo. Desde que um jovem
do com suas famílias por ou tras aldeias Kayapó, plorada pelos caçadores. do Cateté se estabeleceu no Bacajá, lá casando e
como Baú e Tukanu. iniciando pregações que por muito tempo per-
Eles decidiram, no entanto, retomarafartura que ENTRE GARIMPEIROS E MADEIREIROS maneceram sem grande apelo, começaram as vi-
lhes oferecia a área do Trincbeira-Bacajá, já que Alguns comentários informam também sobre a sitas dos missionários. Quem visita as aldeias é
ruis aldeias nas quais moravam a caça e a pesca situação do garimpo do Manelão, na fronteira da Trapp, missionário do SIL que tem décadas de
eram Venderam todo o gado que cria-
limitadas. área, que tem um histórico de relações amistosas convívio e trabalho evangelizador entre os Kayapó
vam (uma das características da aldeia Trinchei- com os índios, os quais, por muito tempo, recebe- e que muito impressionou os índios por ser um
ra é a criação de gatlo e a monocultura em algu- ram uma espécie de indenização pela exploração velho “de cabelos brancos " que fala a língua
mas roças, como o arroz), pretendendo comprar do ouro. Os Xikrin vão frequentemente visitar o kayapó “como um Kayapó".
novas cabeças e retomar a produção agrícola. São garimpo e avaliar seu funcionamento, fyermane- Os protestantes têm levado quatro jovens a um
incertos os motivos do êxodo, mas vale lembrar cendo algum tempo por lá. No ano passado, esta- sítio em São Félix do Xingu, onde são alfabetiza-
que as relações entre as dmts aldeias nem sempre vam surpresos com o esvaziamento do garimpo dos e iniciados no Novo Testamento, voltando para
sãofáceis (já viveram nunut aldeia única e a situ- em área que já reuniu milhares de pessoas. Uma a aldeia com um exemplar traduzido para o
ação da formação de duas aldeias data de meados das razões para isso, acreditam, seria a disputa kayapó. Os missionáriosfornecem, também, uma
da década de 1980). Embora algumasfamílias di- pelo controle do garimpo, o que leira a violências. enorme quantidade de fitas gravadas com
indam-se até hoje entre as duas aldeias, elas man- Quanto à exploração ilegal de madeira, não haina cânticos religiosos na língua indígena, que po-
têm, às vezes mais agudamente, projetos e estra- notícias de sua retomada durante essa visita. Po- dem ser ouvidas na maior parte das casas. Essa é
tégias políticas diiersos. A venda de madeira, por rém. março não é uma boa época para sabê-lo, já uma estratégia de entrada especialmente bem
exemplo, é um tema recorrente para disputas. que a retirada é realizada na época da seca e a sucedida, já que grande parte da aldeia não é al-
busca das árvores para marcação tem início por fabetizada. Assim, elesfornecem acesso à religião
RETOMANDO TERRAS INVADIDAS volta de abril. Não se conseguiu dar um fim à ex- por meio das fitas e dos cânticos e ainda têm um
Os Xikrin disseram retomado urna fazenda
ter ploração ilegal de madeira, apesar de alguns es- grande apelo aosjovens que são levados para " cur-
construída em sua área. Essa informação me sur- forços da Funai e de tentativas defazerflagrantes sos ” (como eles mesmo os chamam, em portugu-
preendeu - de fato, quando retomei a Altamira, com a Polícia Federal. Em 1997, porém, o traba- ês) em que aprendem a ler e escrever.
constatei que essa conquista não era conltecida lho dos tratores, em várias frentes, já podia ser Essa situação deu nova vida aos cu/tos protes-
por lá. A fazenda ficaria próxima à aldeia, além ouvido da aldeia, o que mostra claramente o quan -
tantes realizados na aldeia, aumentando o nú-
da margem oposta do rio, na direção do igara/w to eles estão se aproximando. Como acontece com mero de pastores, que se revezam na pregação aos
Cara/xinã. Eles chegaram a me convidara ir visitá- freqüência, os índios quase nada recebem em tro- domingos no centro da aldeia. Esses cultos tive-
la, mas, por diversas razões, não conseguimos ar- ca da madeira retirada de seu território e estão ram grande freqüência no período em que estive
ranjar essa visita. Pelo que dizem, a fazenda já sempre devendo. Alas eles não estão ainda plena- lá, especialmente dos jovens, que ouvem em si-
teria urna parte desmaiada e preparada jmra a mente convencidos das consequências que isso lêncio a leitura do Novo Testamento e juntam-se
criação de gado. Para isso. contam com a colabo- pode trazer ao ecossistema, embora tenham per- ao coro quando entoados os cânticos.
ração do Trincheira, que, como já foi dito, tem cebido de algum modo a exploração que sofrem e Quando o jovem pastor vindo do Cateté passou a
experiência com pecuária. Porém, para viabilizar tentem, agora, melhor controlar a situação, man- morar na aldeia, houve, aparentemente, uma
esse projeto, eles pareciam planejar recorrer a uma dando grupos de homensfazer medições e acom- grande curiosidade quanto à religião protestan-
negociação com madeireiros, já que necessitam panhar o trabalfx) dos madeireiros. te. Por muitos anos, só se ouvia ele e um outro
de capita! para a compra do gado e querem con- Essa atividade trouxe, em 1999, um problema jovem que morou por algum tempo no 'Trinchei-
tratar alguém para permanecer na sede dafazen- imprevisto. Descobriu-se que um casal de profes- ra entoar cânticos baixinho e em casa, sem cha-
da cuidando das reses. sores que lecionava na escola desde 1995, contra- mar a atenção dos outros. Resta saber, agora,
A retomada de terras invadidas havia sido reali- tados pela Secretaria do Estado de Educação quanto tempo essa retomada religiosa vai durar,
zada por eles alguns anos antes, na fronteira sul (Seduc) e recém -concursados como professores embora não se deva esquecer que ela acontece,
da Área, quefoi ocupadapor um grupo de possei indígenas, estavam en volvidos com madeireiros e dessa vez, em outros moldes, com um maior nú-
ros. Os Xikrin foram pessoalmente expulsar os deles recebiam pagamentos. Logo após a desco- mero dejovens evangelizados e com os “cursos ",
posseiros e relembravam seu susto e medo. Há berta,ambos foram retirados da área e substituí- que eles tanto têm valorizado. Por outro lado. essa
rumores de que esses teriam comprado lotes em dos.No entanto, por serem contratados pela Seduc, situação nos diz que devemos empreender esfor-
área indígena de um político cm Tucumã. Eles já tudo o que a Funai pode garantir é que eles não çar para viabilizar e redefinir a educação esco-
haviam aberto roças e os Xikrin aproveitavam fiermaneçam nessa área. Um problema assusta- lar no Bacajá, já que essa é uma das portas de
ex/wdições para se certificar da retirada dos pos- dor que vem se somar às dificuldades de estabe-
:
entrada dos missionários protestantes. (Clarice
seiros para colher de suas roças arroz, milho e lecimento de uma escola na área do Bacajá - a Cohn, abr/OO)
Nem a FNS, nem a prefeitura de Altamira, res- quesa, depois de tomar conhecimento da ori- frentes de trabalho silmultâneas: a elaboração
ponsável pelo convênio de municipalização do gem do mogno que havia adquirido, afirmou que do Programa de Manejo Sustentável dos Recur-
atendimento nas aldeias, tomaram até hoje suspenderia a importação de madeiras dessa sos Florestais da Terra indígena Xikrin do
qualquer medida para regularizar a situação, serraria a fim de que ocorresse uma investiga- Cateté, em uma área de 40 mil ha (9% do terri-
(O liberal, 29/10/99) ção. Os repórteres britânicos mostraram as pro- tório Xikrin), e o treinamento das equipes que
vas ao lbama, que se negou a confiscar a ma- farão, nos próximos meses, a exploração sus-
deira. “Se querem atuar como espiões, que o tentável de uma área piloto de 1.4Ó0 ha, já apro-
KAYAPÓ XIKRIN façam em seu próprio país", teria dito um fun- vada pelo lbama e pela Funai.
cionário do lbama aos repórteres. (A Crítica, Serão destinados recursos também para os pro-
DO CATETÉ 16/06/96) cedimentos de certificação dos produtos flores-
tais da área piloto, em conformidade com os
COMISSÃO ACOMPANHARÁ PROJETO DE MANEJO princípios e critérios do Conselho Florestal Mun-
PROJETO DE MANEIO FLORESTAL OBTÉM dial (FSC) e ISO 14.001, além de apoio finan-
FLORESTAI, FINANCIAMENTO... ceiro a pesquisadores da Embrapa, que farão
nessa área o primeiro estudo sistemático da re-
Funai e lbama assinaram a Portaria 574, de 17 A CVRD vai destinar 400 mil dólares de recur-
generação do mogno em território brasileiro.
de abril de 1996, constituindo uma Comissão sos do Japanese Trust Fund, captados através
A parceria dos Xikrin com o ISA tem mais de
de Avaliação e Auditoria, com a finalidade de do Bird, para um programa de uso sustentável
cinco anos e envolve apoio técnico e jurídico à
assessorar as presidências dos dois órgãos no de recursos florestais da área indígena Xikrin
comunidade (Ver artigo de Isabelle Vidal Gia-
acompanhamento da execução do Plano de do Cateté, situada no município de Parauapebas,
nnini neste capítulo). Entre os parceiros do
Manejo Florestal da TI Xikrin do Cateté. O plano no estado do Pará. A coordenação desse proje-
projeto, estão ainda o Programa Norueguês para
em questão resultou dos trabalhos coordenados to, inédito no país, será feita pelo ISA, que pos-
Povos Indígenas - Fafo, a Fundação Ford, o
pela antropóloga ISAbclle Vidal Giannini, do ISA, sui um convênio de cooperação com a Associa-
Imaflora, o PDA/MMA/Banco Mundial, a Rain-
em conjunto com a Associação Bep-Nói de De- ção Bép-Nói, criada pelos Xikrin em 1995 para
forest International, a lcco e a Escola Superior
fesa do Povo Xikrin do Cateté, e foi encaminha- defender seus direitos e interesses.
de Agricultura Luís Queiroz (Esalq/USP). (Ul-
do aos ministérios da Justiça e do Meio Ambien- A cerimónia de assinatura do contrato será dia
timas Notícias/ISA, 02/02/98)
te em junho de 95. A comissão será integrada 4 de fevereiro, às 9h30, na sede do Banco Mun-
por um representante do lbama, Funai. imazon dial, em Brasília. O evento, do qual participarão
... E XIKRIN DENUNCIAM
e ABA. (ISA, a partir de DOU, 18/04/96 os líderes xikrin Karangré, Bepkaroti, Bebdjare,
OPOSIÇÃO DA FUNAI
Katendjô, Bep-Djô e Kropidjô, deve contar com
a presença dos ministros do Meio Ambiente e índios correm o risco de perder recursos doa-
JORNALISTAS BRITÂNICOS
da Amazônia Legal, Gustavo Krause, e da Justi- dos pelo governo japonês, com intermediação do
RASTREIAM RAPINA DE
ça, íris Resende, e dos presidentes da Funai, Bird e da CVRD, para a realização do primeiro
MOGNO NA TI Sulivan Silvestre, e do lbama, Eduardo Martins. plano de manejo florestal sustentável em terras
Jornalistas britânicos, fazendo se passar por O contrato prevê recursos para as atividades de indígenas do Brasil, devido à burocracia da Funai.
consultores de uma indústria madeireira, in- gerenciamento do ISA e o financiamento de duas Em entrevista coletiva à imprensa no dia 19 de
gressaram em áreas de corte de mogno, próxi-
mo de Tucumã, e, utilizando um GPS, conse-
guiram estabelecer que o desmatamento acon-
tecia dentro das terras dos índios Xikrin do
Cateté. A reportagem foi ao ar na série
“Dispatches", exibido no Channel Four, afir-
tentável, de baixo impacto ambiental, enquanto relação ao contrato com a CVRD. No entanto, para que todos estes possam se apresentar de
em relação à intensa venda ilegal de
se omite até hoje, já transcorridos 45 dias da assinatura forma adequada na comunidade.
mogno em áreas indígenas vizinhas no Pará. do contrato, esse posicionamento não foi apre- Patrocinado pela Fundação Carajás e pela CVRD,
Em 20 de fevereiro, não tendo ocorrido a mani- sentado, Ao mesmo tempo, chegou aos índios, o projeto consiste na apücação do grafismo em
festação da Funai e já estando atrasado o através de funcionários da Funai,a informação produtos de qualidade voltados para a
cronograma de execução das atividades previs- de que o Plano de Manejo será suspenso. comercialização, mantendo-se fidelidade aos
tas no contrato, o ISA enviou correspondência Considerando a absurda situação presente, a desenhos, cores e proporções originais. 0 ob-
ao presidente da Funai solicitando a sua mani- comunidade indígena Xikrin do Cateté preten- jetivo é múltiplo: divulgar para o público não-
festação. Em resposta, o presidente convidou de deslocar-se para a Vila de Carajás e solicitar indígena a arte gráfica xikrin e estimular esta
reprentantesdo ISA para uma reunião, realizada a presença do presidente da Funai, Sulivan Sil- atividade feminina permanente, gerando renda
em 4 de março, para informar a posição da Funai. vestre de Oliveira, para apresentar a posição e autonomia para as mulheres, além de auxili-
O presidente da Funai abriu a reunião com um definitiva da Funai em relação ao Plano de Ma- ar os Xikrin do Cateté na preservação de sua
pronunciamento favorável ao projeto, mas dela nejo, bem como as providências que pretende cultura e de seu território. (ISA, jun/00)
retirou-se em função de compromisso no Mi- tomar para assegurar as condições de vida dos
nistério dajustiça, solicitando que os represen- índios e a proteção das suas terras frente à pres-
tantes do ISA discutissem com os técnicos do são das madeireiras que deverão voltar a inva-
Departamento de Patrimônio Indígena aspec- di-las com o próximo final do período das chu-
tos do contrato, até o seu retomo para finali- vas na região amazônica. (ISA, 19/03/98)
ao ISA, através do rádio, que alguns Panará ha- da comunidade indígena conhecida como gal de madeira na reserva Panará, fato que ha-
viam saído numa expedição para localizar e Krenakarore, que, durante mais de duas déca- via sido denunciado por MegaronTxukaiamãe.
enfrentar invasores na TI Panará. Ele solicitou das, iutou para reaver seu território tradicio- Segundo Megaron, quem está causando o con-
que o fato fosse comunicado aMegaron, admi- nal, ao ser transferida para o Parque do Xingu, flito são dois fazendeiros, conhecidos com o
ADR de Colíder.
nistrador da A saga dos Panará, cuja lenda foi fartamente ex- nome de Fernandão e Paulinho. Assim que sou-
Uma equipe do ISA deslocou-se para as redon- plorada pela mídia, começou nos anos 70, quan- beram que a área havia sido delimitada para
dezas da aldeia, no sentido nordeste, área na do eles experimentaram os frutos do contato ser demarcada para os índios, os fazendeiros
qual os Panará informaram que, no início do com o homem branco. Depois de cultivar sécu- iniciaram a exploração ilegal da madeira
mês, escutaram barulho de maquinaria pesada los de isolamento, com a BR163, seu território Através da Portaria iri 667, de 1“ de novembro
trabalhando. Àquela altura, os Panará decidi- tradicional foi rasgado pelo asfalto. Conhece- de 1996, 0 presidente Fernando Henrique Gtr-
ram verificar o que estava acontecendo. Saíram ram então a doença, a prostituição, a morte, doso delimitou a reserva Panará, medindo 484
da aldeia e encontraram uma estrada aberta quase o extermínio. Transferidos para o Parque ha. (A Gazeta, 22/10/97)
pelos madeireiros, Seguindo pela estrada, en- do Xingu, os “índios gigantes”, como foram ape-
contraram dois tratores e um caminhão, com lidados, iniciaram verdadeira cruzada para vol- DEMORA NA DEMARCAÇÃO
oito a dez homens e várias toras de mogno es- tar para casa. (ISA, 05/11/96) CAUSA CONFLITOS
tocadas. Ao perceberem a aproximação dos ín-
dios, os homens fugiram no caminhão. Os ... QUE RETORNAM AO SEU A demora da demarcação física das terras Pana-
Panará seguiram o caminhão e chegaram ao TERRITÓRIO TRADICIONAL... rá tem causado conflitos no município de
acampamento dos madeireiros, onde prende- Guarantã. Armados com escopetas calibre 12 e
Depois de urn quarto de século e pela primeira revólveres, 50 índios Panará invadiram as
ram um trabalhador, Renato, que os informou fa-
das. Não há interesse por parte do órgão de as- COM A ESTAÇÃO SECA, unanimidade, a União e a Funai a pagar uma
sentar colonos na referida gleba: “É ttma re- VOLTAM OS MADEIREIROS indenização de 4 mil salários mínimos corrigi-
gião muito distante de grandes centros, e um dos (cerca de R$ 1 milhão) ao povo Indígena
Os Panará terão que resistir ao jogo de sedução Panará pelos danos materiais e morais provo-
assentamento sairia muito caro ao Incra", in-
de índios. Os Panarás ou Krecn-akarore, de peradas às aldeias. André Villas Bôas, indigenista gamento os juízes Saulo José Casali Bahia
Mato Grosso, também conhecidos como índios do ISA que acompanhou a luta desses índios, afir-
(relator) Aníonio Ezequiel e Eusláquio Silveira.
,
gigantes, vão receber indenização de quatro mil ma que uma das táticas dos madeireiros é ir en- O Ministério Público foi representado pela
salários-mínimos por terem sido dizimados por volvendo os Panará em dividas na cidade, de for- procuradora Deborah Duprat,
doenças com gripe e diarréia entre 1973 e 1975 ma a se transformarem em credores dos índios. Esta é a primeira e única decisão do Judiciário
- quando 0 Governo promoveu uma aproxima- A amortização dessa “dívida" virá obviamente sob brasileiro a reconhecer a responsabilidade do
ção apressada e descuidada com a tribo para a forma de madeira de lei, extraída das matas Estado com relação à sua pofítica para os índi-
construir, em sua reserva, a BR-163, que liga situadas dentro da área indígena. os. “A decisão é histórica, pois possibilita, por
Cuiabá a Santarém (PA). Na ocasião, morreram André Villas Bôas informa que, diante do assé- um lado, às populações que se sentirem vio-
175 índios e os 79 sobreviventes foram transfe- dio madeireiro, a comunidade está dividida.
lentadas pelo Estado, reclamarem seus direitos
ridos pela Funai para 0 Parque Indígena do Influenciados pelas prâicas dos Kayapó, alguns por outro lado, põe em alerta as políticas
e,
Xingu, onde nunca se adaptaram. Panará mais pragmáticos repetem 0 argumento públicas desrespeitosas às populações indíge-
A sentença favorável aos índios foi dada pelo dos madeireiros: em vez de deixar a madeira nas", afirmou 0 advogado Carlos Frederico
juiz da 71 Vara Federal de Brasília, Novély apodrecer, porque não vendê-las aos brancos? Marés, que representou 0 povo Panará durante
Vilanova da Silva Reis. Além da indenização por Outros resistem, mas teme-se que a abertura da o julgamento. Cinco representantes do povo
danos morais, a União foi condenada a pagar área para a simples retirada das toras desenca- Panará acompanharam 0 julgamento. (Marco
pensão mensal de dois salários-mínimos para deie um processo sem volta. Aníonio Gonçalves/ISA, 14/09/00)
a família de cada índio morto na ocasião, com A experiência mostra que, uma vez urdidas as
correção monetária e juros. A ação foi movida relações de comércio entre índios e madeirei-
em 1995 com a ajuda do Instituto Socioam- ros, mesmo entre apenas alguns indivíduos, es- PARAKANÃ/TI
bienlal, uma organização não-governamental de tas tendem a se perpetuar - ainda que flagran-
defesa dos índios, e agora deve ser estendida temente ilegais. Ele considera a situação dos
APYTEREWA
para outras tribos indígenas dizimadas no con- Panará como “de difícil solução". “Nesse con-
EVENTO NO SESC monte da estrutura de exploração ilegal dos solicitou a redução da TI Apyterewa em cerca
madeireiros, agora, com 0 auxílio da nova Lei de 40% de sua extensão original em cartas en-
HOMENAGEIA POVO PANARÁ
de Crimes Ambientais”, afirma. (Últimas Notí- viadas a Raul Jungmann, ministro de Política
A tribo dos Panará recuperou 0 orgulho de vi-
cias/ISA, 18/06/98) Fundiária, e a Júlio Gaiger, presidente da Funai.
ver e de lutar e está de volta em casa, depois de As cartas, datadas de 27/06/96, foram assina-
quase ter desaparecido do mapa. MAREUI MIRANDA das ainda pelo Sindicato dos Trabalhadores
O fato auspicioso, já celebrado em Nacypotire, VISITA OS PANARÁ Rurais de Tucumã, a Associação Comercial e a
a nova aldeia nas cabeceiras do Rio Iriri, agora Associação Ruralista locais, além de um verea-
será comemorado com uma programação cul- Em dezembro de 1 999, a cantora e pesquisado-
dor do município. A redução atenderia aos in-
ra musical Marlui Miranda esteve na aldeia
tural 110 Sesc Pompéia, em São Paulo, entre os teresse dos posseiros que foram assentados 11 a
antecipando a Semana do
panará, atendendo a convite feito em 1998,
que
dias 6 e 7 de abril, área, e também da Madeireira Peracchi,
com quando os Panará estiveram em São Paulo para
índio. Essa história será contada, a pre- detém títulos de propriedade (nulos) inciden-
sença dos Panará, na programação cultural que
0 lançamento de um livro e de uma exposição
tes sobre a mesma. A CPT reivindica ainda a
0 Instituto Sodoambiental estará realizando em (ver acima ) A visita foi marcada por um inten-
retirada dos garimpeiros, que também ocupam
so intercâmbio musical, que abriu a perspecti-
parceria com 0 Sesc São Paulo e a produtora e ilegalmente a área, e a recuperação da estrada
gravadora Pau-Brasil.
va de um trabalho futuro de registro e divulga-
Morada do Sol, aberta pelas madeireiras quan-
ção do patrimônio musical panará. (André
Fará parte do evento uma homenagem póstuma do iniciaram a extração predatória de mogno
Villas Bôas/ISA, jan/00)
a Cláudio Villas Bôas, sertanista que chefiou a na região. O bispo de Ahamira, d. Erwin
expedição da Funai que consumou 0 contato com Krautler, a cuja jurisdição Ifícumã pertence, não
os Panará, (Últimas Notícias/ISA, 20/12/98)
UNIÃO E FUNAI CONDENADOS
chegou a tomar conhecimento do documento,
A INDENIZAR POVO PANARÁ
que condena.
Em decisão inédita, a 3“ IXirma do Tribunal Re- A TI Apyterewa é uma das oito áreas que têm
gional Federal de Brasília condenou hoje, por seus processos demarcatórios sujeitos a novas
de avaliação por parte dos técnicos da Funai setor madeireiro e a Associação dos Agriculto-
, nicos do Cimi nas aldeias, eles atenderam 286
no processo de demarcação, o que obrigará a res Rurais do Vale da Água Suja discordam da casos de doenças entre os índios. Malária, di-
uma revisão da área. Os colonos, preocupados atual proposta para a demarcação da área. O arréia, verminoses, micoses e otites foram os
com a morosidade na solução do problema, GT afirma que as contestações sugerem ter ha- males mais freqiientes. Não havia medicamen-
dizem que há inquietação na área. “Vendo o vido“uma ampliação indevida da área, que pas- tos suficientes no posto da Funai para atender a
tempo passar sem que se vislumbre uma solu- sou a englobar ‘propriedades’ e posses parti- todos os doentes. Peio menos 30% da AI Apyte-
ção, podem esses colonos tomar medidas drás- culares, bem como áreas de jurisdição estadu- rewa já foi invadida por garimpeiros, fazendei-
ticas no intuito de manter os seus direitos”, ai- al". Os argumentos dos contrários afirmam que a ros, posseiros e colonos ávidos pelo mogno ain-
gumenta o presidente da Associação dos Pro- demarcação da TI significou uma ampliação dos da existente na área. (O liberal. 12/01/97)
dutores Rurais do Vale do Cedro. “Lembramos limites da área de 2.668 km 1
para 9-811, 77 km 2 .
em tempo que na região da gleba São Francis- Argumentos falhos - Pelo relatório do GT, esse IBAMA E FUNAI REALIZAM
co e da gleba São José estão localizados assen- argumento não procede por confundir a inter-
AÇÃO CONTRA MADEIREIROS
tamentos do Incra, portanto, merecedores de dição da área, feita em 1987, com a delimita-
atenção”, diz ele. (O Liberal, 23/07/96) ção, baseada cm laudo antropológico, que iden- A Funai e 0 Ihama, com 0 apoio do Cimi e do
tifica a área de ocupação tradicional do grupo Ministério Público, realizaram uma operação,
ERRO CAUSOU AUMENTO indígena, publicada em 1992. Ainda segundo nos dias 24 e 25 de fevereiro de 1997, para coi-
há equívocos quanto ao entendi- bir a extração de mogno na TI Apyterewa. A
DA TI, DIZ GAIGER este relatório,
mento jurídico da questão, em especial da apli- operação ocorre um mês depois dos madeirei-
Reafirmando a disposição da Funai em reduzir cação do art. 2.51 da Constituição, já que 0 re- ros terem enviado um grupo de índios Parakanã
a AI Apyterewa, o presidente do órgão, Júlio conhecimento oficia] das terras indígenas (a à ADR Funai em Altamira com 0 objetivo de ob-
Gaiger disse que um erro de plotagem dos mar- chamada “demarcação”) “é um ato secundá- ter a anuência do órgão para a continuidade da
cos cartográficos causou o aumento nos limi- rio, pois 0 direito originário dos índios sobre exploração, A operação foi autorizada pelo
tes da terra em questão. Segundo Júlio Gaiger, suas terras a precede e não se extingue com Ibama de Brasília depois de sucessivas denún-
isso teria ocorrido pelo fato da plotagem ter este reconhecimento”, explica. “Qualquer pleito cias encaminhadas pelo administrador de
tiram-se e, em alguns momentos, colaboraram rio Xingu, de onde seria escoado em balsas para administração das terras indígenas a um consór-
ativamente para que a invasão se consumasse. Há São Félix e vendido. Não temos ainda informa- cio de míuleireiras e mineradoras. Pois se não é
cerca de dois meses, vem -se denunciando ao Mi- ções sobre a empresa para a qual o sr. Evandro esse seu intento, bem que está parecendo. (Carlos
nistério da Justiça que a situação na região che- trabalha, mas é provável o envolvimento de al- Fausto, dez/96)
gara a um ponto crítico. gum grupo de médio ou grande porte, pois a es-
Altamira, Benigno Pessoas Marques, ao Depar- moradores de São Félix, estes pelos crimes de ficaram caracterizados como de uso indígena e
tamento de Patrimônio Indígena da Funai, na roubo, receptação, dano ao patrimônio público, que, por isso, deverão ser excluídos da TI. Fi-
capital federal. Segundo Benigno, todos os co- formação de quadrilha e ameaça a índios e funci- cam também excluídas “as estradas e vias públi-
municados ao Departamento sobre a rapina onários da Funai; anulada a autorização de funci- cas que atravessam a área indígena, bem como
promovida pelos madeireiros na área Parakanã onamento da Madeireira Ouro Verde; levantado suas respectivas áreas de domínio público” além
ficaram sem resposta. o impacto ambiental causado pela extração ma- do curso do rio Xingu, sem prejuízo da autono-
Segundo o relatório da operação, a ação ocor- deireira na área indígena; avaliado o potencial de mia indígena sobre suas ilhas, ficando "assegu-
reu num momento favorável, quando um grupo aproveitamento sustentável dos recursos naturais rada a livre circulação de pessoas, veículos e
de índios Parakanã esteve em Altamira solici- existentes na reserva, com o apoio de institutos embarcações pelas vias aludidas". O despacho
tando a intervenção da Funai para interromper de pesíjuisa; e agilizado o processo de leilão da determina à Funai que refaça a linha divisória
as atividades dos madeireiros na área. Dois dias madeira apreendida. (ISA, a partir do Relatório sudeste. (ISA, a partir de ÜOU, 08/04/97)
antes da operação, a ADR de Altamira recebeu da Operação na TI Apyterewa, fev/97)
ainda a informação de que os próprios índios MPF gUER FIM DE
haviam apreendido madeiras, máquinas e dez JOBIM PROPÕE LEILÕES DE MADEIRAS
pessoas que ocupavam uma balsa na área. Ain- REDUÇÃO DA TI
da de acordo com o relatório, os madeireiros O fim dos leilões de madeira na região e a apli-
aprisionados foram soltos por um grupo de ín- Antes de deixar o Ministério da Justiça para ocu- cação de ações contra os madeireiros respon-
dios cooptados pelos invasores algumas horas par vaga no STF, Nelson Jobim assinou o Despa- sáveis pela extração ilegal em áreas indígenas
antes da chegada de um dos dois aviões mobili- cho n° 17, que trata das contestações e do reen- são as medidas imediatas que serão solicitadas
zados para a ação. Na ocasião, foram encontra- caminhamento da demarcação da TI Apyterewa. pelo MPF à Justiça, na tentativa de coibir a ex-
das na aldeia Xingu cerca de 70 toras de mog- Pelo despacho, Jobim considerou improceden- tração de madeiras em terras habitadas por
no na beira do rio, já preparadas para serem tes as alegações apresentadas pelos contes- povos indígenas. Estas decisões são os primei-
rebocadas pela balsa. tadores - prefeitura de Tucumã, Exportadora ros resultados da audiência pública, promovi-
Segundo informações obtidas pelos membros da Peracchi, Agrivas e duas pessoas físicas. No en- da pela Procuradoria da República em Santarém
operação, a madeira havia sido extraída a man- tanto, o Despacho acata proposta de redução para discutir sobre a extração ilegal de madei-
do do senhor Leonardo, de Evandro Moreira da pane sudeste da área, apresentada pela ADR ra, principalmente mogno, na reserva
Peres e Crezu Fadu Magalhães, e estaria sendo Funai/Altamira, como meio para mitigar confli- Apyterewa, habitada pelos índios Parakanã.
negociada com a empresa madeireira Ouro Ver- tos entre os Parakanã e fazendeiros, posseiros e “De imediato, vamos fazer a apreensão desta
de, situada próxima ao aeroporto da cidade de outros ocupantes não-indígenas. Para justificar madeira e sua reversão para o patrimônio da
São Félix do Xingu, com intermediação de Wag- essa redução, Jobim alega que o laudo antropo- União. Ou seja, não haverá mais a possibilida-
ner Bemardes de Freitas. No dia 25 de fevereiro, lógico não caracteriza essa área como indígena de de leilões de madeira na região, visto que
a equipe da operação multou o intermediador. O segundo os preceitos constitucionais. todos estavam servindo apenas para esquentar
relatório da operação na TI Apyterewa recomenda Mesmo afirmando que a alegação da Exportado- madeiras extraídas ilegalmente”, disse o pro-
que seja: decretada a prisão dos madeireiros iden- ra Peracchi não procede, Jobim considerou que curador Felício Fontes Júnior. Segundo ele, o
tificados pelos índios bem como de todos os os 39,2 mil ha reclamados pela madeireira não dinheiro das ações de indenização será reser-
vado à Funai, em prol dos índios afetados, como do Xingu e Marabá é oriundo das Tis Apyterewa anteriores, a Funai de Altamira mantém deta-
forma de ressarcir os prejuízos causados a eles. e Trindieira/Bacajá. (ISA, a partir de Relató- lhes do plano em sigilo. Calcula, entretanto, que
O debate - A audiência pública reuniu várias rio da Funai/Altamira, jan/99) a operação, com duração de 1 5 dias e custo pre-
autoridades na sala de audiência da Justiça Fe- visto de cerca de R$ 27 mil, envolva 12 agentes
deral no último dia 24. Estiveram presentes pro- FAZENDA DENTRO DA TI federais e um delegado, alem de técnicos do
curadores federais e representantes da Funai, USAVA TRABALHO ESCRAVO próprio órgão indigenista. A Administração Re-
Ibama, Cimi, PF, Receita Federal, OAB e outros da Funai espera que a equipe tenha auto-
gional
Virou confirmação a desconfiança de fiscais do
órgãos envolvidos na discussão dos problemas nomia de ação e determinação em prender to-
dos Parakanã. Benigno Pessoa Marques, admi- Ministério do Trabalho e agentes da Polícia Fe-
dos as pessoas envolvidas, inclusive índios ado-
nistrador regional da Funai em Altamira, fez um deríd que estiveram no sul do Pará há 15 dias,
lescentes e ribeirinhos da região que vêm cola-
relato do problema desses índios com os ma- libertando trabalhadores que viviam em regime borando com os madeireiros e manifestando
deireiros, o que culminou com uma ação con- de escravidão na fazenda Maciel II, em São Félix
oposição aos servidores do órgão. (ISA, a par-
junta, proposta no último mês de fevereiro, pela do Xingu: a fazenda está dentro da reserva dos tir de relatório da Funai/Altamira, mar/00)
Funai, Ministério Público, Ibama, Polícia Civil índios Parakanã e não poderá servir para a re-
nal de 1998, servidores do Ibama e Polícia Fe- um ano. superposta à TI Apyterewa. A ação civil pública
deral estiveram na região, com a “Operação Em consequência do quadro dramático, que já contra Marinho para tomar a fazenda indispo-
Macauã”, e decretaram a proibição da explo- perdura há muitos anos, a Administração da nível foi impetrada pelos procuradores da Re-
ração, transporte e comercialização do mog- Funai/Altamira prepara um Plano Emergendal pública, Sidney Pessoa Madruga, Felício Pontes
no. A quase totalidade do mogno de Fiscalização para a área. Considerando que Júnior, e pela subprocuradora do Ibama na Es-
comercializado na região de lúcumã, São Félix o vazamento de informações prejudicou ações tado, Creonor Santos Aragão.
Tentando safar-se da prisão em Foz do Iguaçu, curadoria Geral da República. O ministro do os serviços foram contratados pelo prefeito-
Marinho exibiu documentos do TJE do Pará as- Meio Ambiente, José Samey Filho, informou que interventor de Rurópolis/PA, Averaldo Pereira
sinados pela juíza Rosa Portugal, reconhecen- já enviou para o local uma equipe destinada a Lima, e pelo empresário do ramo madeireiro
do a área como de Carlos Medeiros. Ele tam- apurar os fatos. Segundo Samey, a Polícia Fe- Sérgio Rigone, de Paragominas/PA. As informa-
bém mostrou certidão assinada pelo ex-diretor deral também mandou um grupo de agentes ções de Brito foram reunidas num Termo de
de cadastro da Superintendência do Incra em para a área. A denúncia foi encaminhada ao de- Declarações colhido na Delegacia de Polícia
Belém, André Luiz Banhos, afirmando que a área putado pela Federação dos Trabalhadores na Civilde Santarém.
lhe foi vendida por Medeiros. André não tem Agricultura no Estado do Pará (Fetagri) Segun-
. Segundo a Funai de Altamira, os trabalhadores,
competência para assinar o documento, pois o do o ofício do presidente da Fetagri, Aírton que estiveram presos entre 2 1 e 26 de maio de
município de S. Félix do Xingu é subordinado à Faleiro, a terra dos índios Arara, na localidade 1999 por força de um mandado de prisão pre-
Superintendência do Incra de Marabá, que é de Cachoeira Seca, município de Altamira, vem foram soltos, mas serão indiciados cri-
ventiva,
autônoma. sendo alvo de roubo sistemático de madeira. minalmente. O prefeito e o empresário menci-
Ocupantes não-índios serão multados - Na (O Liberal, 17/04/99) onados como contratantes do serviço foram no-
sentença do juiz, ele determina que os réus se tificados e deverão prestar esclarecimentos em
abstenham de ocupar o imóvel lote 6 da gleba OPERAÇÃO SURPREENDE Santarém/PA. (ISA, a partir de informações da
São Sebastião. Ele fixou em R$ 10 mil por dia MADEIREIROS NA TI Fmai/Altamira, mai/99)
de multa a ser paga pelos acusados no caso de
descumprimento da decisão. Ribeiro também Funai e Ibama, em vistoria conjunta realizada MORTE DE ARARA LEVA
determinou a suspensão dos efeitos do plano em março e abril de 1 999, localizaram extrato- PESCADORES À PRISÃO
de manejo florestal sustentado de número 87 1 2/ res de madeira atuando na região do igarapé
Dois Irmãos, dentro da TI Cachoeira Seca. Fo- A morte do índio Karaya Arara, da aldeia Iriri
93, aprovado pela Superintendência do Ibama.
ram destruídos três acampamentos que servi- (TI Cachoeira Seca) notificada em 1 5 de maio,
A “ajuda" do Ibama permite que os supostos ,
TI CACHOEIRA SECA que corta a TI de norte a sul, até a margem es- indígenas, utilizando técnicas (geleiras, redes,
querda do rio Iriri. No período de seca, ela per- sistema de arrastão e mesmo desrespeitando
mite acesso mais rápido, desde Altamira, ao tre- os períodos de desova) que prejudicam a ob-
cho do Iriri que se encontra dentro da TI. (ISA, tenção da alimentação diária das famílias indí-
a partir de relatório da Fiinai/AUamira, abr/99 genas. No mesmo dia em que recebeu a notícia
da morte de Karaya, a Funai foi informada de
ARARA PRENDEM INVASORES outro incidente: uma embarcação conduzida
QUE ABRIAM ESTRADA pelo chefe do Posto Iriri, Afonso Alves da Cruz,
na qual também estavam funcionários do Cimi,
Oito trabalhadores que estavam a cerca de três foi perseguida por pescadores e alvejada por
órgão indigenista. (ISA, a partir de Relatório prisão preventiva do madeireiro Constante dovia Transcatnetá. Em Brasília, o senador
da Funa/Âltamira,
Trzedak, que está sendo procurado em toda a Ademir Andrade (PSB-PA) também se manifes-
.30/05/00)
região da rodovia Transatnazônica por agentes tou sobre o assunto. Eie enviou, no final da tar-
da Polícia Federal. Trzedak foi acusado de in- de de ontem, fax para o ministro da Justiça,
ARARA/TI ARARA vadir e retirar ilegabnente mogno da aldeia la- Renan Calheiros, para o presidente da Funai,
ranjal, dos índios Arara, no ktn 75 da rodovia Márcio Lacerda, e para o governador do Pará,
Transamazônica, no município de Medidlândia. Almir Gabriel, .solicitando providências urgen
PESCADORES VOLTAM Os Arara estão revoltados com a invasão de suas tes para a desobstrução da PA- 156. (O Liberal,
A INVADIR TI terras. Um grupo deles saiu da aldeia para quei- 23/04/99)
Nas Tis do médio lriri, a invasão de pescadores mar barracos e roças no km 90, ameaçando
entrar em guerra armada contra madeireiros e ... E OBTÊM PROMESSA
é um problema que vem desde a década de 80,
quando o esgotamento do potencial pesqueiro colonos que se negam a sair da área. ( O Libe- DE ATENDIMENTO A
nas regiões próximas a Altamira começou a fa- ral, 28/10 e A Critica, 06/11/99) REIVINDICAÇÕES
zer com que eles rumassem rio acima. Em 1996,
Teve um final feliz a interdição da rodovia
um conflito entre os Kayapó de Kararaô e pes- ... MAS CONTINUA AGINDO Transcamctá pelos Assurini. Os índios, após
cadores resultou na morte de dois destes e na
0 mandado de prisão preventiva do madeireiro exaustivas negociações, liberaram a rodovia.
fuga de outros sete, Agora, após um período de Constante Trzedak ainda não foi cumprido. A Um acordo, intermediado pelo procurador da
trégua marcado por debates públicos entre as
Funai de Altamira já tomou conhecimento de República no Pará, Ubiratan Cazetta, Funai e or-
entidades envolvidas no assunto e demais inte-
que o madeireiro pretende continuar com a ganizações não-governamentais ligadas á cau-
ressados, os invasores retomaram suas
exploração na TI Arara. A Polícia Federal alega sa indígena permitirá o atendimento das rei-
investidas. Para terem acesso a locais de boa
que eie está foragido. Porém, na região, é de vindicações dos Assurini pelo governo do Esta-
pescaria no interior de áreas indígenas, forne-
conhecimento público que Trzedak se encon- do. O governo prometeu recuperar 20 km da
cem produtos como bebida alcoólica e, mais
tra em suas terras, no km 80 da Transamazônica. rodovia, que passam por dentro da reserva in-
recememente, maconha aos índios. Em troca
(ISA, a partir de informação da Funai/Altami- dígena, construir uma ponte sobre o igarapé
desses produtos, há informações de que os pes-
ra, ago/00) Tracoazinho, que dá acesso à aldeia, cavar poço
cadores também estão recebendo mulheres in-
artesiano para fornecer água aos índios. O tre-
dígenas. Em acréscimo, especificainente na TI
cho da estrada também será cercado com ara-
Arara, a Justiça regional concedeu liminar a um ASSURINI DO TROCARÁ me farpado nas duas margens, para evitar inva-
colono instalado no interior do território indí-
sões de madeireiros e caçadores. Os Assurini
gena, permitindo que de permanecesse por lá,
o que leva a imaginar que novas invasões por
ÍNDIOS FECHAM RODOVIA ..., ainda receberão motosserras, terão suas casas
pintadas peio governo e outras benfeitorias. (O
parte de colonos possam acontecer. (ISA, apar- Armados com flechas e espingardas, cerca de
Liberal, 25/04/99)
tir de Relatório da Fumi/Altamira, fev/99) 400 índios Assurini, da aldeia Trocará, estão
bloqueando a Rodovia Transcatnetá (PA-156),
MADEIREIRO EM TI É na altura do km 20, entre os municípios de GAVIÃO PARKATEJÊ
AMPARADO POR LIMINAR... Tucuruí e Cametá. Eles exigem que o governo
do Estado cumpra um acordo firmado há cinco INVASORES NA TI
Irregularidades referentes ;t exploração de ma-
anos, ainda na gestão do governador Jáder
deira no interior da TI Arara foram denuncia- Dezoito agricultores sem-terra fonim presos por
Barbalho (PMDB) Segundo o cacique Francis-
.
PAVIMENTAÇÃO DA porta um pesado fluxo de veículos, inclusive de ria da República de Marabá, visou corrigir a
BR-222 FICA PRONTA transporte de carga e coletivos de linha regular. irregularidade de não se haver realizado o EIA-
Em nenhum momento o governo do estado do Rima para o licenciamento das obras de cons-
0 governo do estado do Pará concluiu a obra Pará negociou a passagem da rodovia pela re- trução e pavimentação da rodovia.
de pavimentação da BR-222, com 221 km de serva indígena. Os Gavião, assim, esperam ansi- A Procuradoria suspendeu, em dezembro de
extensão, que liga Marabá a Dom Eliseu. A ro- osos a indenização devida. Entendem que a exis- 1997, as obras de pavimentação da rodovia, que
dovia foi implantada há 32 anos, no governo de tência da rodovia cortando a área indígena é vinham sendo realizadas pela Setran, argumen-
Jarbas Passarinho, e desde então vem operan- irreversível, e constitui hoje uma importante via tando que as obras eram irregulares, já que afe-
do com tráfego intenso dei .200 veículos diári- de comunicação, tanto para os índios, como tavam uma comunidade indígena. Após as ne-
os, volume que deverá ser aumentado signifi- para os habitantes da região. A estrada garante gociações entre 0 estado do Pará e as lideran-
cativamente com a pavimentação. A obra ficou a rápida ligação da comunidade indígena com ças indígenas, a Setran comprometeu-se a acei-
paralisada de dezembro de 1997 a abril deste os centros mais próximos; auxilia nos casos de tar os termos do laudo antropológico para evi-
ano, por força do embargo promovido pelo MPF, urgências médicas c no escoamento da produ- tar 0 retardamento das obras.
relativo a questões socioambientais, dada a pro- ção de castanha-do-parã c dos frutos regionais.
Os Sumí convivem há 2 6 anos com a rodovia e
ximidade da reserva indígena. À Procuradoria A BR-222, no entanto, produziu grande de-
com os transtornos sociais acarretados pela
da República pediu a implementação de medi- gradação na Ti Mãe Maria, com o corte de 22
mesma. Em 1971, 0 trecho da rodovia
das para minimizar o impacto da rodovia na km na floresta nativa dos Gavião, o que se es-
Transamazônica que vai de Porto da Balsa (ou
reserva indígena, A Secretaria de Estado de tendeu por mais de 100 m de largura. O gover- Porto Jarbas Passarinho) a Marabá foi libera-
Transportes do Pará (Setran) elaborou um Pla- no do estado foi responsável pelos suces-
do. Para além do Pará, abria-se uma via de co-
no de Controle Ambiental, que constou na cons- sivos desma-tamentos executados na TI Mãe
municação com a Belém-Brasília, que ia de
trução de duas passagens sob pontes, próximas Maria Os Gavião relatam que, na época da cons-
Tocantinópolis a Estreito. Apesar de acanhadas,
à entrada da aldeia, via para pedestres em tre- trução da estrada, “...o trator passou der-
as ligações sustentaram, desde sua abertura, um
chos possíveis da rodovia. O acesso à aldeia, de rubando mata, tudinho, tudinho, dava pena!
pesado fluxo de veículos, especialmente trans-
800 metros, foi pavimentado, e pórticos estão Era muito jaboti esmagado, madeira de mogno,
porte de carga e coletivos regulares. Por oca-
sendo afixados, indicando o trecho da estrada lai de maracatiara, cedro ...Morreu muito bi-
sião das obras, São Domingos do Araguaia ser-
que coincide com a Ti Mãe Maria. Também fo- cho, madeira apodreceu, foi chuva, foi sol, nem
viu de acampamento para os 200 empregados
ram instalados redutores de velocidade para fizeram nada ..."
da empresa responsável pelo empreendimento
evitar atropelamentos na entrada de acesso à O relatório antropológico argumenta que a pro-
(Engeplan). Hoje, 0 canteiro de obras produz
aldeia e na área de caça, no Km 25. (O liberal dução da castanha-do-pará foi reduzida em mais
movimento semelhante na sede do município.
20/10/98) de 70% nestes últimos 30 anos, o que significa
Sobre as mudança na década de 1970, os Suruí
que os Gavião deixaram de ganhar anualmente
lembram: Essa aí, a BR-1 53, eles (0 Exérci-
LAUDO ANTROPOLÓGICO o correspondente a 2.000 hectolitros de casta-
to) fizeram de primeiro no facão. Daí. à tarde,
AVALIA IMPACTO DA BR-222 nha. A experiência da comercialização autôno-
tinha as máquinas que chamam moto, moto de
ma da castanha, conduzida pelos Gavião nos
Em novembro de 1998, a procuradoria da Re- serra. Derrubava as árvores. Depois, tinha outra
anos 70, é lembrada para ilustrar possibilida-
pública em Marabá suspendeu as obras de pa- máquina, que deixava pronto. Foi assim que eles
des, apontadas pelos próprios índios, de se ter
vimentação da BR-222, que vinham sendo rea- passaram aqui. Mas eles nunca diziam nada para
um maior controle sobre a comercialização
ninguém. Vinham derrubando tudinho, daqui no
lizadas peia Secretaria de Estado de Transpor-
deste produto. A experiência, que contou com
tes do Pará (Setran), e encomendou um laudo São Geraldo. Depois que a gente prendeu as
a assessoria da antropóloga Iara Ferraz, rever-
antropológico que avaliasse o impacto do em- máquinas, que eles fizeram 0 desmatamento, é
tia um quadro no qual os funcionários da Funai que eles fizeram essa estradinha da aldeia. Para
preendimento sobre avida da Comunidade Ga-
desviavam parte do lucro obtido com a venda
vião Parkatêjê. A elaboração do diagnóstico des- agente, faz de conta que é dinheiro, naquele tem-
da castanha. O relatório antropológico aponta,
po não sabia de nada".
tinava-se a suprir a ausência do EIA-Rima, não
assim, para a viabilidade de um programa de
realizado na época em que a pavimentação da O laudo antropológico apresentou as reivindi-
desenvolvimento autônomo da reserva indíge-
rodovia obteve licenciamento. Os Gavião convi- cações dos Suruí relativas à presença da da BR-
na, baseado na coleta e comercialização da cas-
vem com a rodovia e com os transtornos acar- 153 na TI e encaminhou 0 pedido de indeniza-
tanha e também dos frutos nativos, corno o
retados pela mesma há mais de 30 anos. ção requerido peia Comunidade Indígena Surui
cupuaçu. (Trechos do laudo de Jane Felipe
A ação judicial que suspendeu as obras teve ori- Ãikewara ao Governo do Estado do Pará, em
Beltrão, nov/98)
gem num documento encaminhado pelos Ga- função da abertura e pavimentação da estrada.
vião à Procuradoria da República de Marabá As reivindicações levam em conta que 0 alarga-
em janeiro de 1998, no qual os primeiros rei- SURUÍ AIKEWARA mento e pavimentação da estrada intensificará
vindicavam indenização pela construção da ro- 0 trânsito de veículos na rodovia; que a intensi-
dovia na TI Mãe Maria, no trecho compreendi- ficação do tráfego acarretará aumento de peri-
IMPACTO DA BR- 15 3
do entre os rios Flexeira e Jacundá. gos e de ruídos; que 0 uso da rodovia pelos
É AVALIADO
O laudo partiu de um estudo retroativo, que ava- Suruí é intenso; que 0 gado criado por esses
liou o impacto da rodovia a partir de 1 967. Des- Em dezembro de 1998, foi concluído o laudo índios é forçado a atravessar a estrada para
de então, nada foi feito para resguardar os di- antropológico sobre o impacto da pavimenta- chegar até a aldeia; que 0 trânsito na BR-153,
reitos dos Gavião. Diz o relatório que, durante ção da BR- 153 na Área Indígena Sororó, locali- após a pavimentação, facilitará a entrada e saí-
30 anos, os Gavião têm assistido ao aumento zada no município de São Domingos do da de estranhos na área indígena, que, assim,
crescente do tráfego na rodovia, que hoje com- Araguaia. O estudo, solicitado pela Procurado- estará sob ameaça de invasão e ocupação, bem
como de roubo de castanha-do-pará, cupuaçu negociações para o Programa vinham desde o dia 29 de maio. Alguns jornais informam
e animais silvestres; que acidentes e atropela- 1992. Diante da morosidade do processo, Lú- que esse número alcançaria 80 índios e que,
mentos multiplicaram-se após a pavimentação cio Tembé disse que “índio não quer papel, ín- além deles, quatro funcionários da Funai tam-
da rodovia. (Trechos do laudo de Jane Felipe dio quer trator". (O Liberal, 09/11/96) bém são mantidos em cativeiro pelos colo-
çam adotar represálias. A Pará Pigmentos é uma do mantidos em um barracão junto com os ser-
associação da Caulim da Amazónia S/A (Grupo OCUPANTES DA TI FAZEM No início da noite, o delega-
vidores da Funai.
agência financeira do Bird. (Gazeta Mercan- Moradores de Vila Livramento, instalada den- nos, enviou um ônibus para buscá-los. (ISA, a
tro da TI Alto Rio Guamá, mantêm 77 índios partir de FSP e O Liberal, 31/05/96)
til, 04 a 06/10/96)
Tembé, Kaapor e Timbira como reféns desde
... E RESPONSABILIZA-SE
POR PROGRAMA TEMBÉ”
Com a presença do presidente da Funai, Júlio
Gaiger, a empresa Pará Pigmentos assinou o ter-
Teinbé estão prometendo vingança contra os através de uma ação conjunta da Funai, Polícia tuação nas tribos vizinhas dos Araweté
moradores de Vila Livramento. “Quem entrar na Federal, Ibama, Incra e Polícia Militar. (Paracanâ, Arara e Xicrim do Bacajá) é bem
nossa terra vai morrer, seja pequeno, grande, Os Tembé informaram que a omissão das auto- melhor. “Eles até tiveram contato com o vírus
homem ou mulher", disse o índio Ednaldo ridades tem garantido sucesso a uma indústria da catapora, mas estão mais fortes e bem
Tembé. Todos estão reunidos há alguns dias para promissora levada pelos colonos invasores na alimentados e não adoeceram”, disse.
discutir o que fazer contra a ocupação da resei- área Tembé: a produção de maconha. (0 Libe- Thereza contou ainda que a vacina da catapora
va. Em coletiva dada à imprensa, o porta-voz dos ral 16/08/98) é restrita à rede pública de São Paulo, mas que
Tembé, Valdeci, disse que esperam que o gover- pediu às autoridades federais doses para pre-
no federal tome providências para desintnisar venir novos surtos na tribo. “Na situação atual,
as terras. Mas que, se nada for feito, novos' confli- ARAWETÉ de nada adiantaria a vacina, mas espero que o
tos poderão surgin (O Liberal, 03/06/96) governo se sensibilize com o quadro atual e faça
a compra", disse. (C. Chagas, Ultimo Segun-
CATAPORA MATA 4
PREFEITO INCENTIVA do/IG, 04/11/00)
Segundo o médico, a situação na aldeia Ipixuna ma 0 antropólogo. (Ana Paula Cbineüi, Ulti- imunológica de todas as aldeias indígenas sus-
favorece a doença porque os índios têm alimen- mo Segundo/IG, 06/11/00) cetíveis à doença. Outra atitude imediata do
tação deficiente e higiene precária. A equipe diretor de Saúde indígena da FUNASA, que está
médica está fornecendo alimentos conto arroz, POLÊMICA MÉDICA em Altamira (localizada a 800 km da capita!
feijão, mandioca e a limpeza das bolhas com SOBRE A VACINA paraense), foi encaminhar para as aldeias mais
permanganato das feridas o que evita a infec- infectadas uma equipe de profissionais de sau-
Dois técnicos do Programa Nacional de Imuni- de que iniciaram hoje 0 levantamento
ção. Os casos mais graves foram tratados com
zação, que é ligado ao Ministério da Saúde, che- epidemiológko da doença no oeste do Pará"
antibióticos, (C. íôbo, Ultimo Segundo/IG,
04/11/00)
gam nesta terça-feira aos Araweté. De acordo (Carina Martins & Heloísa Ribeiro Ultimo Se-
com a coordenadora do Programa Nacional de gundo/IG, 07/11/00)
Imunização, Maria de Lurdes Maia, além dos
FUNAI E ANTROPÓLOGO NÃO
ACREDITAM EM DESNUTRIÇÃO técnicos, 300 doses de vacina contra varicela já
QUEM VAI SEGURAR O
deixaram 0 Rio de Janeiro, e também devem
RESCALDO DA CRISE?
Nerci Caetano Ventura, diretor de assistência de chegar hoje à tribo. A tribo receberá também
administração da Funai (órgão do Ministério.da 400 doses de imunoglobulina específica contra “A fase difícil já passou e a situação agora está
Justiça) na região de Altamira, sudoeste do Fará, catapora, que é um anticorpo que pode ser apli- sob controle". Este foi 0 diagnóstico de Benig-
afirma que a dieta dos índios Araweté é equili- cado em indivíduos que já foram contaminados, no Marques, administrador da Funai em
brada. A subnutrição foi apontada pela Funasa e nos quais a vacina não leria mais eficácia. Altamira e ex-chefe de posto na Terra Indígena
- órgão do Ministério da Saúde responsável pela O infectoiogista da Universidade Federal de São Araweté do Igarapé Ipixuna, no sudoeste do
saúde dos índios - como uma das causas da Paulo, Araty da Cruz Tfriba, compara 0 uso de Pará, onde habitam cerca de 280 índios, dos
morte de cinco indígenas infectados por um vacinas num momento de epidemia a uma cor- quais pelo menos 218 foram acometidos pelo
surto de catapora na aldeia. Caetano garante que rida de fórmula 1. “0 vírus que saí na frente surto de varicela - doença de origem virótica
tratou profissionais sem experiência, os quais que a chegada da catapora na aldeia Ipixuna, dade. "No entanto, brancos e índios formam fi-
permitiram que índios doentes retornassem às em julho, é mais um caso de epidemia não noti- las diariamente nesses locais e, na prática, a
comunidades e contaminassem os demais. De ficada pelos auxiliares de enfermagem das aldeias prioridade não funciona”, revela Marcos Anto-
acordo com Tarcísio Feitosa da Silva, a epide- no momento cm que o primeiro caso ocorre. nio Reis, do Cimi,
mia teve início em julho passado, quando um “Os índios gostam de vir à cidade fazer super- "Não é verdade, só depois que concluímos que
Araweté teve catapora e relomou ao Ipixuna mercado, pegar a aposentadoria, visitar paren- a demanda indígena não era alia, decidimos
levando a doença, No caso dos Araweté, diz Be- tes e, na Casa do índio, misturam-se às pessoas atender a população branca. E já estamos dis-
nigno, há o agravante de que eles sempre tive- que ainda não foram completamente curadas”, cutindo uma escala de horários em que só os
ram “baixa resistência”, desde o tempo dos explica Marcos Antonio Reis, membro da equi-
índios serão atendidos”, explica a representan-
primeiros contatos, quando boa parte morreu pe do Cimi/Altamira. Segundo ele, os auxiliares teda Funasa no local.
contaminada por uma epidemia de conj untivite. de enfermagem nunca removem os índios no A construção de poços dagua em três aldeias
O funcionário da Funai também rejeitou todas momento em que identificam os primeiros sin- do Oeste paraense é outra situação denunciada
as justificativas para o surto dadas pelos repre- tomas de uma possível epidemia. pelo Cimi: houve desperdício de verbas, já que
sentantes locais da Funasa, como subnutrição Uma araweté portadora de catapora morreu os poços foram perfurados em locais onde a
peio finai da estação seca, falta de higiene e ontem com complicações generalizadas, por água não é potável, primeira condição para um
número de pessoas por residência coletiva. perda de resistência e, segundo membros do Cimi, bom controle sanitário.
Na mesma direção, Tarcísio Feitosa aponta a por ter desenvolvido também a tuberculose. A Funasa rebate: “os três poços não deram água
má aplicação dos recursos do convênio da O Cimi de Altamira diz estar atento para a situa- de boa qualidade, mas o sistema de infra-estru-
Funasa pela Prefeitura, dando exemplos como ção das 12 aldeias do Oeste paraense. “Quando tura sanitária está começando a ser construído
a compra de gabinetes dentários que ficam na os índios deixam a aldeia e vêm ficar interna- este ano. O Cimi está pegando casos isolados
cidade, enquanto na aldeia o dentista trata os dosnum espaço desconhecido, ffeqiiente-mente para criar confusão, antes dos investimentos
Araweté em um banquinho; disse ainda que as entram em depressão e resistem a tomar os públicos não havia nem enfermeiros nas tribos”.
instalações do posto de saúde no Ipixuna, medicamentos, Tanto que o estado de saúde dos Para Reis, “se a administração do distrito usas-
construído com verba do convênio, são abso- três Araweté ainda internados é grave”, revela se a verba que paga o salário de alguns funcio-
íutamente inapropriadas, de modo que “não dá Marcos Antonio Reis, da equipe do Cimi/ nários e contratasse um engenheiro para estu-
nem pra atar uma rede!". Altamira. dar os melhores locais para instalação dos po-
Na avaliação de Beto Ricardo, antropólogo e Todas as seis mortes até o momento foram en- ços, evitaria desperdício, beneficiando direta-
pesquisador do ISA que esteve com os Araweté tre os Araweté: uma criança recém-nascida e mente os índios. Ilá funcionários ganhando R$
no início da década de 90, de agora em diante, cinco adultos (Iripubai-hi, Araiinha-hi, Mitan- 3 mil reais por mês na Secretaria de Saúde, sem
espera-se que, além do Ministério Público Fe- hi e sen genro e, ontem, Tiai-ln), mas o Cimi nenhuma formação superior”, denuncia Reis.
deral apurar as responsabilidades, o Ministé- garante que o vírus ressurgiu em Túcainã, Caju- A Funasa lembra que os recursos são aplicados
rio da Saúde deve garantir a erradicação da do- eiro, Koalinemo, Apiterewa, Xingu e Bacajá. compra de medicamentos,
prioritariamente na
ença na região. Em razão dos poucos recursos (Heloísa Ribeiro, Ultimo Segundo/IG, pagamento das equipes médicas (um médico,
que sobraram do convênio com a prefeitura 13/11/00) um enfermeiro e um auxiliar de enfermagem,
nesse finai de exercício, é preciso a liberação cada) e leitos hospitalares. (Heloisa Ribeiro,
de verbas extras para instalar um posto de saú- FUNASA E CIMI DIVERGEM Ultimo Segundo/IG, 14/11/00)
de adequado no Ipixuna e assegurar uma equi- SOBRE APLICAÇÃO DE
pe médica especializada de plantão em Altamira, RECURSOS OITAVA MORTE
com plenas condições de se deslocar para as
Entre janeiro e novembro deste ano foram in- Mais uma Araweté morreu em consequência da
aldeias, caso haja novos casos da doença, até o
vestidos R? 1 milhão e 300 mil reais na área de catapora. Desta vez foi Kamadin-hi, 62, que
final do surto. O pior já passou, mas é preciso
saúde indígena paia as 12 tribos do Oeste do morreu no Hospital Universitário Barros Bar-
que o governo responsabilize-se peio rescaldo
Pará, mas membros da equipe do Cimi de reto, em Belém, onde estava usando respirado-
da crisc. (Valéria Macedo, Notícias Socio-
Altamira entendem que há pelo menos três casos res artificiais, por conta de uma infecção
ambientais/lSA, 09/11/00)
concretos sobre a má utilização desses recursos. pulmonar derivada, segundo o médico Carlos
Primeiro, a Funasa em convênio com o distrito Barreto. Outro Araweté está internado no mes-
de Altamira optou pela construção de três “ga- mo hospital. (A Crítica, 22/11/00)
9. NORDESTE
CopyWtod mnUniil
Acervo
-//'SÁ
NOROESTE
°
|
44
ATLANTICO
rodovia implantada
capital de Estado
cidade
TERRAS INDÍGENAS
(áreas não representáveis
nesta escala)
^ reconhecida olicialmente
A em
ou a
identificação
identificar
apresentada em
outro capitulo
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
s
Mapa fn . fonte, data I lha)
39 Atikum Atikum 2.743 Fu na sa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 16.299 Carnaubeira da Penha PE Rodovia PE-423 corta a área.
Dec. de 05/01/96 da pres. F.H. Cardoso, homologa
a demarcação administrativa (DOU, 08/01/96).
Reg. CRI de Carneubeira Penha, Comarca de
Floresta Matr. 1.093, Liv2-I,fl. 26 em 18/01/96.
Reg. SPU. Cert. 005 em 27/08/96.
55 Caiçara/ Xokó 310 Funai: 96 Homologada. Reg. CRI. 4.318 Porto da Folha SE Hidrelétrica planejada (Pao de
Ilha de SSo Pedro Dec.401 de 24/12/91 homologa demarcação Acucar - A Ilha de São
Chesf).
(DOU, 26/12/Dll. Esse aio uniu a Al Caiçara à Jlha Pedro foi doada pelo governo de
de S. Pedro que tem 97 ha. Reg. CRI de Porto da Sergipe â União para uso da Funai
Folha Matr. 4.685, üv. 2-U. fL 14 em 31/08/92 em 1980. Reg. CRI Matr. 1211. Uv.
Doação av. 3.211 em 19/08/85. Port Funai 35 de ZF, fl, 211 em 17/1 Z/79.
1355 Córrego João Pereira Tremembé 336 GT/Funai; 99 Em identificação. 3.14Q Itarema CE
Port. 10 de 13/01/99 cria GT p/ identificação
da Tl (O 0U, 15/01/99).
100 Fazenda Canta Xukuru-Kariri 1.300 Funai: 96 Dominial Indígena. Reg. CRI. 372 Palmeira cos índios AL Ferrovia RFFSA corta a área.
Reg. Cartório 20o. da GT p/conclusão dos trabalhos
de levantamento fundiário (DOU, 30/03/99).
104 Fulni-Ô Fulni-ô 2.930 Funai: 99 Dominial Indígena. 11.506 Itaiba PE Rodovias BR-423, PE-300 e PE-244
Área correspondente a 427 lotes de 30 ha cada, Águas Belas PE cortam a área.
distribuídos entre as famílias em 1926.
T21 lootirama Tuxá 513 Funasa: 99 Homologed8. 2.019 Ibptirama BA Parte da comunidade transferida
Dec. 379 de 24/12/91 homologa demarcação daTI Rodelas, segunda acordo
(OOU, 26/12/91). Caracterizada como de domínio Chesf/ Funai sobre inundação da
indígena. Port. Funai 406 de 09/06/99 delega área, para áreas adquiridas das
competência ao administrador da ADR de Paulo faz. Morrinhos e Giteros pela
Afonso/BAparo representara Funeí na escritura Chesf.
e doação a ser celebrada entra a Chesf e a União
Federal dos imóveis: Fazendas Morrinhose Outeiro
e de outras áreas de terras integrantes da Tl
(DOU, 11/06/99).
546 Jacaré de Potiguara 592 Funai Homologada. Reg. CRI e SPU. 5.032 Rio Tinto PB
São Domingos João Pessoa: 00 Dec. s/r. de 01/10/93 homologa a demarcação
(DOU, 04/10/93). Reg. CRI de Baía da Traição
Comarca Rio Tinta Matr. 1.325. Llv. 2G/RG. fl. 225
em 17/11/93. Reg. SPU Cert. 01 em 03/01/95.
157 Kambiwá Kambiwá 1.578 Funasa: 99 Homologada. 31.495 Floresta de Inajá PE Rodovia BR-110 corta a érea.
Decreto s/n de 11/12/98 homologa a demarcação ibimirim PE
(DOU, 14/12/931.
550 Kantaruré Kantaruré 244 Funai: SB Delimitada. Em Dem. 1.811 Nova Glória BA Hidrelétrica construída (itaparica).
Port. Min. 245 da 30/03/98 declara de posse
permanente indígena (DOU, 31/03/98). Extrato de
contrato 31/99 entre Funai e Meridional Consultaria
Projetos e Construções Ltda. p/ demarcação da Tl.
162 Kapinawá Kapinawá 95G Funasa: 99 Homologada. 12.403 Ibimirim Tapa catinga BuiquePE PE PE
Dec. s/n de 1 1/12/98 homalúga a demarcação
(DOU. 14/12/981. Resolução 87 de 11/2/00 considera •
tL 7^ Acervo
—l/£ S A
I
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observaç&es
Mapa (nâ , fonte, data ) (ba)
166 Kariri-Xocé Kariri-Xokó 1.433 Funasa: 99 Homologada. 699 Porto Rea! do Colégio AL Rodovia BR-101 e ferrovia RFFSA
Dec. s/n de 04/10/93 homologa a demarcação nu limite.
174 Kiriri Kiriri 1.346 Funasa: SB Homologada. Reg. CRI a SPU. 12.300 Ribeira do Pombal BA Port Funai de 30/12/97 cria GT p
Dec. 98828 de 15/01/90 homologe a demarca çãc Quijingue BA constatar a veracidade das
como Colônia Indígena (DOU, 16/01/901. Reg. CRI alegações das ocupações ra TI.
Matr. 2969, Liv. 2-M, 11. 83 em 22/03/90. Reg, SPU Port Funai 284 cria GT p/ efetuar
Cert. 28 em 14/06/96. Port.Funai 85 de 05/03/96 cria pagamento das benfeitorias
GT p/ estudos e levantam/ do uso do solo para os implantadas por ocupantes não-
Kiriri. Instalação de 8 marcos geodésicos. Port. Funai indios na TI, considerados de boa-
449 de 13/6/95 envia funcionai ic p/pgto das benfeitorias fé p/Comissão Permanente de
de boa-fé definidas p/ResoluçSo tie 15/5/96, implantadas Sindicância (DOU, 06/04/98). Port
pelos nâo-indros. Delega competência ao mesmo p Funai 269 de 23/04/99 constitui a
assinar em favor da União, escritura pública de Com. Técnica p/dar continuidade
reconhecimento de domínio que será lavrade p ao pagtos de indenização (DOU,
ocupante; não-ínriins, detentores de domínios 27/04/99). Port. Funai 543 cria CT
incidentes na Al. |DOU, 19/06/96). Realiz. Levantam. p/ dar continuidade ao pagtos
Cadastral das pessoas que requerem o recanhecim. (DOU, 09/07/99)
da ocupação de boa-fè por não terem sido incluídas na
relação de pagto das benfeitorias (DOU, 0T/01/98).
760 Lagoa da Encantada Paiaku 220 Funai Com Restrição de Uso. 1 .075 Aquiraz
João Pessoa: CO Port. Funai 6 de 07/01/99 estabelece restrição aO
direito de ingresso, locomoção e permanência de
pessoas estranhas aos quadros da Funai pelo período
de 6 meses, para fins de estudos o reconhecimento da
TI (DOU, 02/02/99). Pbrt 38 de 31/01/00 determina
deslocamento de técnicos p/ complementar os
estudes da identificação IDOU, 02/02/00).
204 Massacará Kaimbé 634 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 8.020 Euclides da Cunha SA
Dac. 395 da 24/12/91 homologa demarcação
(DOU 26/12/91). Reg. CRI de Euclides da Cunha
Matr. 2813, Liv. 2-H,fl. 577 em 23/12/88. Reg, SPU
Cert. 066 em 16/10/96. Fort. Furai 449 de 13/06/96
envia funcionário p/reavaliar as benfeitorias cadas-
tradas no levantam. Fundiário da AI (DOU. 19/06/96).
2G5 Mata da Cafurna Xukuru-Kariri 455 Funai: 94 Dominial Indígena. Reg. CRI. 117 Palmeira nos índios AL
Port 959/E de 16/07/81. Reg. CRI de Palmeira dos
Índios Matr. 3149, Liv. 2-N, fl. 1 17 am 23/02/31
222 Nova Rodelas Tuxá 409 Funasa: 99 Adquirido p/ossentomerlo- 104 Rodelas BA Parte da comunidade transferida
(área urbana) Área adquirida pela Chesf p/reassenta mento da TI Rodelas, segundo acordo
dos Tuxá atingidos pola UHE de Itaparlea (Funai, 90). Chesf,' Funai sobre inundação da
Port. 1.096 de 24/10/97 cria GT p/ proceder eleição de área. Rodovia BA-21G no limite.
nova área para a comunidade indígena Tuxá de Rodelas
(DOU, 14/11/971.
230 Pankararé Pankararé 200 Sampaio: 89 Homologada. Reg. CRI e SPU. 29.597 Glória BA
Dec. s/nde 05/01/96 homologa demarcação
(DOU, 08/0 1/96). Reg. CRI Comarca de Glória
Matr. 5.88B, Liv. 2 AB-RG, fl. 44 em 16/01/96. Reg.
SPU. Cert. 31 em 14/08/96. Port. Funai 291 cria CT
p/ pagto de benfeitoria de boa-fé. (DOU, 02/05/00).
231 Pankararu Pankararu 4.146 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI. 8.10» Petroiândia PE Hidrelétrico construída Htaparica).
Dec. 94603 de 14/07/87 homuluça a demarcação Tacaratu PE Rodovia PE-345 corta a área.
reduzindo a área de acordo com Parecer/GT1 155/87.
Reg. CRI de Petroiândia (8.051 hg) Matr. 1.557, Liv.2-1,
75T Pitaguary Pitaguari 871 GT/Funai: 99 Identificada/Aprovada/Funai. Sujaita à Contestações. 1.735 Maracanau CE
Despacho do pres.da Funai aprova o$ estudos
de identificação da TI. (DOU 05/07/2000)
Acervo
//\C I SA
NORDESTE
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. TBrra Indígana Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n°, fonte, data ihal
252 Potiguar* Potiguara 5-901 Funai Homologada. Reg. CRI e SPU. 21.238 Baía daTratçãc PB Rodovia PB-041 corta a
Joâo Pessoa: 00 Dec 267 do 29/10/91 homologa demarcação Rio Tinto PB área. Faixa costeira.
administrativa (DOU, 30/t 0/9 IJ. Reg. CRt de Rio
Tinto, Comarca Rio Tinto Matr. 9GQ, Liv. 2-F, fl. 6S
emlO/06/67. Reg. CRI da Baia da Traição, Comarca
Rio Tinto Matr. 901, Lrv. 2-F, fl. 69 em 10/06/87. Reg.
SPU Cert. 002 em 07/02/95.
553 Riacho do Bento Tuxá 708 Funai: 94 Adquirida p/asseníamerto. 4.332 Rodelas BA Hidrelétrica construída (Itapariea)
Adquirida pela Chesf, porém ainda sob sua posse. e planejada. (Ibó). Rodovia BA-210
nos termos do acordo Chest/Funai, rei. Transferência corta a área.
dos Tuxá da área inundada p/ UHc de litaparica
(Sampaio, 89).
301 Tapcba Tapeba 2.491 Funasa: 99 Delimitada. 4.658 Caucaia CE Faixa costeira. Rodovia BR 222 no
Porl. Ministerial 967 de 24/09/97 declarou de limite.
314 Tingüi-Bc-tó Tinguí Botó 288 Funasa: 99 Dominial Indígena. Reg. CRI. 122 Feira Grande AL
Port 817/N/83. Reg. CRI Arapiraca Malr. R3-308 e
R3-532,Liv. 2-B, fl. 8V e 232V em 04/09/34. Reg. CRI
509 Tremembé de Almolala Tremembé 1.175 Funai Em Identificação/Revisão. 4.900 Itarema CE Faixa costeira.
João Pessoa: CO Port. Funai 1.366 de 04/09/92. Despacho do pres.
da Funai 37 (DOU, 08/07/93). Sub judice.
221 Tru ká Truká 1.333 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.592 Cabrobó PE Hidrelétrica de Itapariea. Área de
Dec. s/n. de 05/01/96, homologa a demarcação inundação de hidrelétrica
IDOU. 08/01/96). (DOU. 03/09/96). Reg CRI em plarajada.(lbó). Port. Funai cria GT
Cabrobo Matr. 3,820, Uv. 2-U, fl. 04 em 16/01/95. p/levsntam. fundiário no imóvel de
Reg. SPU Cert. 002 em 20/05/96. Port. Funai 93S da interesse do Instituto de Pesquisa
14/10/98 delega competência ao administrador da Agropecuária de Pernambuco
AOR/Reclfe p/ assinar escritura pública de (IPA) ocupado p/comunidade Truká
reconhecimento de domino em favor da União com vistes a entendimento entre o
que será firmada entre o IPA e a Funai, tendo emprese e a Funai, face a neriida
como cbjetod gleba de terra localizada na Ilha de liminar de 11/01/96 do juiz da 8a.
N.S de Assunção, destinada à posse e usufruto Vara Petrolina/P.E objeto de
exclusivo da comunidade Truká (DOU. 15/10/98). reintegração de posse cnntra a
Port. Funai 1.143 cria CT p/pagto das benfeitorias comunidade Truká. E levantam.
de boa-fé (DOU, 16/12/99|. Port. Funai 65 de 27/01/99 fundiário no lote do imóvel rural
cria GT p / novos estudos e levanramenms de Favela (23,54 ha) de interesse de
identificação da TI IDüU, 29/01/S9). Port. Funei 562 Ezilda Cavalcanti VasconceFos,
de 28/0S/00 cria Com. Técnica p/pagto das localiz. na Ilha de N.S. de
indenizações IDOU. 29/C6/0Q). Assunção
335 Vargem Alegre Pgnkaru 84 Funasa; 99 Homologada. Reg. CRI. 931 Serra do Ramalho BA
Dec. 247 de 29/10/91 homologa a demarcação como
reserva indígena (DOU, 30/10/91)- Reg. CRI Bom Jesus
da Lapa, Matr.8.205, Uv. R0 2 E, fl. 153 em 11/12/91.
341 Wassu-Cocal Wassu 1.447 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 2.75B Joaquim Gomes AL Rodovia BR-101 corta a área.
Dec. 392 de 24/12/91 homologa demarcação
(OOU 26/12/91). Reg. CRI Matr. 855, Liv. 2-G, fl.65
em 2 Z/05/89- Reg. $PU Cert, W2 em 08/06/88-
NORDESTE
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro -de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n", fonte, data (ba)
348 Xucuru Xukuru G.363 Funasa:99 DeJimrtada. Demarcação Física. 26.980 Pesqueira PE
Port. Min. 259 cíb 2 R/05/92 declara de posse
permanente [DOU, 29/05/92). Demarcada em 1S95/96.
Despacha dc pres. da Funai - em atendimento à
decisão pela la. Seção do STJ em 28/05/97 nos autos
do Mandado de Segurança impetrado contra o
Despacho 32 09/07/96 do Min. da Justiça, comunica
a abertura do prazo de 90 dias p/que os interessadas
relacionados n/Portaria possam manifestar-se,
apresentando à Funai razões instruídas c/todas as
provas pertinentes {DOU, 13/04/99). Port. Funai 193
üe 30/03/CD Cria GT p/atualização do levantam,
fundiário, cartorial e dos valores das benfeitorias
cfe boa-fé. {DOU. 33/04/00).
De Ignorados a Reconhecidos:
a "Virada" dos Povos
Indígenas no Ceará
NAS DUAS ÚLTIMAS DÉCADAS, OS ÍNDIOS o órgão indigenista para pedir a regularização de suas terras, logo
Entre os acontecimentos mais marcantes na situação atual dos auto-afirmação ievada a cabo pelos índios e cenirado, sobretudo,
povos indígenas situados no Ceará, destaca-se o reconhecimento na conquista dos direitos territoriais. Inicialmente foram tomadas
jurídico pelo Estado brasileiro das terras pertencentes a quatro iniciativas isoladas, em que os grupos receberam apoio da igreja
grupos étnicos: os Tremembé, os 'lápeba, os Pitaguarí e os Paiakú/ católica e de missionários para encaminhar suas demandas. Aos
Jenipapo-Kanindé. De 1985 a 1999, a Funai identificou e delimi- poucos eles estabeleceram relações com os movimentos indíge-
tou as Terras Indígenas habitadas por esses grupos e agora pro- nas que atuam no plano regional e nacional e passaram a se orga-
grama a identificação das terras de outros quatro: os Kanindé, os nizar em defesa de seus interesses, ganhando experiência e
Potiguara, os Tabajara e os Kalabaça. interagindo com as várias agências e organizações, tanto oficiais
no litoral noroeste cearense, e ocupam duas áreas: Almofala e Em muitos aspectos, os grupos étnicos identificados no Ceará en-
Córrego João Pereira. Os Tapeba e os Pitaguarí vivem em terras contram-se em situação semelhante a de outros povos indígenas
próximas a Fortaleza, respectivamente nos municípios de Caucaia situados no nordeste do país. Há, no entanto, certas especificidades
extintos pelo governo da província. O antigo Serviço dc Proteção pode-se dizer que os índios continuam, em grande medida, “en-
(SPI) ao índio ignorou-os e a Funai só tomou conhecimento de treguei à sua própria sorte”. Na prática, são obrigados a enfrentar
sua existência a partir de 1 985/86, quando os Tapeba procuraram quase sozinhos seus problemas, apesar da participação constante
nização social e à capacidade de controle que conseguiram exer- vos forçados. Nenhum dos grupos em questão teve que abandonar
cer sobre o espaço habitado. totalmente suas terras nem foi desalojado ou transferido em blo-
cas em comum: há um relativo fechamento dos grupos; as unida- O movimento de organização indígena no Ceará passou por dois
des domésticas são identificadas pela descendência familiar e pela momentos. Iniciado em meados da década de 1980, nos primei-
procedência comum; as famílias nucleares compõem parentelas ros anos limitou-se a ações tímidas e isoladas por parte dos índi-
extensas e o casamento se dá, preferencialmente, entre primos e os, assessorados pela Arquidiocese de Fortaleza, pelo Conselho
primas ou entre tios e sobrinhas, A baixa laxa de mobilidade para Indigenista Missionário (Cimi) e por missionários católicos. Aos
fora da localidade onde nasceram e foram criados, combinada à poucos, formaram-se as primeiras lideranças e ampliou-se o le-
pequena incidência de uniões com não-indígenas, toma frequente que de interlocutores. Buscou-se apoio junto a antropólogos, ju-
o uso de expressões como “aqui é tudo uma família só” ou “a ristas, parlamentares, sindicalistas, ambientalistas, jornalistas e
gente costuma casar na família”, para qualificar os núcleos locais outros setores profissionais receptivos às questões indígenas, den-
mais tradicionais e coesos. É também comum o emprego de clas- tro do estado e em outras áreas do país. Foram criadas as primei-
sificadores “índios velhos", "troncos” e “raízes” para nomear os ras associações indígenas, que hoje são cinco: Conselho Indígena
antepassados, designar a origem indígena e enfatizar a continuida- Tremembé de Almofala (Cita); Associação das Comunidades dos
de dos grupos de descendência, cujas gerações mais jovens costu- índios Tapeba (Acit) Conselho Indígena Pitaguarí (Coípy) Conse-
; ;
mam ser descritas como “ramos” e "brolhos”. lho Indígena de Crateus e Conselho Indígena Kanindé de Aratuba
(Cinera).
A forma de ocupação da terra é um fator inseparável da unidade
grupai. Na maior parte dos grupos estudados, a distribuição das Num segundo momento, os grupos organizaram-se no plano esta-
moradias, a fixação de novos domicílios, a localização das roças, dual para enfrentar, em conjunto, a forte pressão dos interesses
a utilização de recursos naturais, os mutirões de ajuda mútua e as regionais contrários à demarcação das terras. Em 1993, lançaram
diversas atividades em que a família aparece como unidade de pro- a Campanha pela Demarcação das Terras Indígenas no Ceará. Ins-
dução e consumo dependem do uso comunal do espaço habitado talados na movimentada Praça José de Alencar, no centro de For-
e das condições de auto-sustentação. O espaço é vital porque a taleza, os grupos ah permaneceram durante quatro dias em uma
organização social se realiza nele e também porque é no espaço ação conjunta visando obter o reconhecimento oficial e sensibili-
que se expressa o simbolismo, a cognição, a transmissão de co- zar a população para seus problemas. Desde então, o movimento
nhecimentos, a cosmologia... Muitas festas seguem o calendário passou a enfatizar a diversidade étnica e a ressaltar as práticas da
anual das colheitas, há uma farmacopéia tradicional cuja eficácia cultura tradicional, adotando e manipulando publicamente signos
depende de práticas rituais integradas ao ecossistema circundante, de alteridade como o uso de adornos, indumentárias e objetos de
as narrativas orais estão repletas de seres que habitam as matas e índio, exibindo danças e cânticos, vendendo artesanato etc. Apro-
lagoas e assim por diante.A terra representa um elo de ligação priaram-se da linguagem “que os brancos entendem” a respeito
com os antepassados, cuja memória está associada à ocupação de quem são os índios e tornaram-se mais incisivos ao dirigirem-
espacial, seus limites e marcos físicos e sua variação no tempo. se às autoridades e à sociedade nacional.
As terras reivindicadas para demarcação correspondem a parce- Entre 1994 e 1999 foram realizadas cinco Assembléias Indígenas
las dosmesmos espaços em que as etnias identificadas estão fixa- no estado. O primeiro encontro deu-sc no município dc Poranga,
das há pelo menos 300 anos. São terras oriundas dc aldeamentos onde vivem os Kalabaça. O segundo em Maracanaú, nas terras dos
missionários coloniais e da doação de sesmarias feitas aos índios Pitaguarí; o terceiro na lagoa da Encantada, dos Paiakú/|enipapo-
da região no século XVIII. Algumas dessas “terras de aldeias” fo- Kanindé; o quarto em Caucaia, entre os Tapeba e o quinto em
ram regularizadas em nome dos índios que as habitavam, no de- Almofala dos Tremembé. A partir dos encontros anuais, cada gru-
correr do século XIX. Outras continuaram de posse Indígena se- po passou a incorporar, à sua maneira e de modo diferenciado, as
guindo arranjos fundiários específicos que não podem ser abor- idéias de união adotadas por setores do movimento indígena naci-
dados nos limites deste artigo, mas que são de fundamental impor- onal e a noção de que os índios são um só povo. Propagadas pelas
tância para entender a permanência de longo termo no mesmo lideranças e representantes, as propostas do movimento indígena
local. Deve-se ressalvar que a manutenção dos antigos domínios foram assimiladas pelos grupos que assumem uma participação
ao contato externo, permanecendo distantes desses processos, em Funai, à Justiça Federal e outras esferas de poder estadual e regio-
suas terras, das quais raramente se afastam. nal. Pede-se, inclusive, a instalação de uma Administração Regio-
fáceis de acompanhar e, inclusive, perceber. do do Ceará, cujas intervenções prudentes e eficazes têm sido pau-
1997
POVO
UMA/JOftNAL
CLÁUDIO
cações e devem ser assegurados pelos poderes da República. Essa sob a ótica romântica e pessimista do índio “vítima sacrificial'’ da
postura encontra respaldo na legislação referente aos espaços história. Muitos os vêem como se fossem resíduos extemporâneos
ambientais protegidos e unidades de preservação, especialmente de uma identidade perdida, quando não farsantes. São freqüen-
o Decreto n° 24, de 4 de fevereiro de 1991, que regula a obriga- temente desqualificados com o tratamento de “caboclos", termo
ção do Estado de proteger ambientabneme as terras indígenas e ofensivo nos sertões cearenses, onde é acionado para denotar um
seu contorno, para manter as condições ecológicas necessárias à desprezo geralmente seguido de violências e abusos, praticados
sobrevivência física e cultural das populações indígenas. contra os índios desde os tempos coloniais.
No momento, o Ministério Público move uma Ação Civil Pública Nas esferas jurídico-administrativas, a contestação da existência
(Processo n° 95.00,3114-0 contra a União Federal e outros) para histórica dos índios e a recusa ao reconhecimento da identidade
proteção do patrimônio público e resguardo do meio ambiente são argumentos usados pelos atuais ocupantes e interessados em
da TI Tremembé, onde o ex-prefeito de Itarema e outros ocu- se apossar das terras indígenas como principal estratégia para
pantes cercaram lagoas na localidade da Batedeira, provocando bloquear o andamento dos processos de demarcação, impedindo
queimadas e outras agressões ao meio ambiente e ameaçando as inclusive a realização de perícias antropológicas. Os Tapeba aguar-
famílias Tremembé ali residentes, A área foi interditada por meio daram 11 anos até que a Portaria n° 967, de 24 de setembro de
de liminar concedida nos autos da ação, em meio a forte tensão 1997, declarando a Tí Tapeba como território tradicional indíge-
social gerada na área. na fosse assinada pelo ministro da Justiça. Logo em seguida, a Pre-
feitura Municipal de Caucaia impetrou um mandado de segurança
Outra Ação Civil Pública (n° 006/98) foi movida pelo mesmo ói-
no Superior Tribunal de Justiça contestando a portaria declaratória,
gão e pela Funai em defesa da TI Lagoa da Encantada, habitada
alegando vício de procedimento. O mandado foi acatado c a porta-
pelos Paiakú/Jenipapo-Kanindé, contra a empresa M. Dias Branco
ria anulada. Os Tremembé enfrentam na Justiça vários processos a
S.A. Comércio e Indústria e outros interessados do setor imobiliá-
respeito de uma ação movida pela empresa Ducoco Agrícola S.A.,
rio, responsáveis por desmatamentos e início de loteamentos na
instalada na área, suspendendo a demarcação da TI, alegando que
área. Trata-se dc um grupo empresarial que planeja construir um
ah não existem índios, mas somente pessoas que hoje se prestam a
complexo turístico-hoteleiro no município de Aquiraz, intitulado
fantasiar-se de índios.
AquirazResort com incidência na TI. As invasões foram sustadas
,
e seus responsáveis retirados liminarmente da área. Notificado nos Romper com uma correlação de forças secularmente desfavorável
autos da ação, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) e profundamente desigual não é tarefa fácil. Desconsiderados em
aprovou a concessão de licença de instalação do empreendimento sua identidade e menosprezados em muitas circunstâncias do tra-
turístico, porém com o condicionante de que o projeto deverá ter to diário, a transição para índios sujeitos de direito é a condição
sua área readequada aos contornos da TI Lagoa da Encantada, necessária para, como dizem, serem acreditados. Porém, esta é a
entre ontras medidas de resguardo ambiental a serem tomadas. lace pública da situação concreta de grupos que continuam a exis-
tir porque foram capazes de valer-se da capacidade que demons-
dentes de segunda categoria dos índios puros do passado. Em ter- sistam em negar-lhes a existência, (maio, 1999)
OCUPANTES NÃO-ÍNDIOS POR PARTE DO Morais e espólio de Arthur Herman Lundgren). Inicialmente con-
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA QUE, UTILIZANDO-SE sideradas improcedentes pela Funai, em meados de 1999 elas fo-
DOS RECURSOS DO DECRETO 1775, ALEGARAM ram acatadas pelo ministro da Justiça, Renan Calheiros, que pro-
pôs a desaprovação da identificação, o arquivamento do processo
PRECEDÊNCIA NA OCUPAÇÃO DAQUELAS TERRAS
e o retorno dos autos à Funai, para proceder a novos estudos que
excluíssem as propriedades dos contestantes.
A luta dos Potiguara pela retomada das terras que lhes foram usurpa-
das desde o início da colonização obteve, em Os Potiguara de Monte-Mor recorreram então ao Ministério Públi-
1983, seus primeiros
resultados, com a declaração de posse permanente dos 21,238 lm da
co. através da Procuradoria-Geral da República na Paraíba, e
um avanço, com a identificação de excluíssem a área pretendida pelos comestantes. Acatando tal de-
índios. Em 1988, foi possível mais
terminação judicial, o presidente da Fundação, Marcos Lacerda,
mais 4.500 ha, correspondentes à área da TIJacaré de São Domingos,
ainda que uma parcela considerável da população indígena da Paraí-
designou cm outubro de 1999 o antropólogo Sidnei Peres para
realizar os novos estudos de identificação, executados em janeiro
ba continuasse sem o reconhecimento de seu território tradicional.
c abril de 2000. Houve então um acréscimo de 600 ha em relação
Em 1993, algumas lideranças de Jaraguá e Vila Monte-Mor solici-
à extensão proposta na primeira identificação, referente à redu-
taram à Funai novos estudos visando a identificação e delimitação
ção do perímetro que fora reservado para a expansão da cidade
das suas terras, trabalho realizado em 1995 sob a coordenação da de Marcação e à correção do vão existente entre as TI Potiguara e
antropóloga Maria de Fátima Campeio Brito, da Funai/Recife. A
Potiguara de Monte-Mor. Ambas as alterações foram reivindicadas
área identificada abrangia então 5.300 ha, nos quais estavam in-
pelos índios por tratarem-se dc terras consideradas essenciais ao
cluídos os assentamentos indígenas de Lagoa Grande, Nova Brasília
desenvolvimento das suas atividades agrícolas.
e jaraguá, assim como a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.
Ficaram fora dos limites da TI a cidade de Marcação (sede do
município de mesmo nome, criado em 1994), a Vila Regina e a
A VILA E A SANTA
Vila Monte-Mor. Apesar da presença indígena nestas localidades, Em 1866, o encarregado da medição das terras dos patrimônios
os Potiguara concordaram em excluí-las, após argumentação de indígenas da Paraíba concluiu a demarcação do perímelro da
Maria de Fátima Brito de que isto poderia dificultar a demarcação. Sesmaria de Monte-Mor, delimitando os lotes de 165 índios e dos
Aproximadamente 90% da área identificada está ocupada com plan- arrendatários, estes nominalmente relacionados. Apresentou tam-
tações de cana que suprem as usinas da região. bém o quadro da aldeia de Monte-Mor com 75 posses para índios,
terrenos demarcados não poderiam ser vendidos, devido à condi- pousio (“descanso”) da terra. Todavia, 0 poder de coerção exer-
ção jurídica de órfãos, dos Potiguara. cido pelos seguranças particulares dos canaviais tenta impor um
domínio absoluto - a partir de um suposto e questionável direito
As primeiras décadas do século XX foram marcadas peia gradativa
de propriedade - sobre imensas porções de terra e inviabiliza toda
perda desses títulos pelos índios. Os Potiguara eram forçados a vender
uma lógica produtiva baseada num regime de rotação de terras e
suas terras, cedendo espaço para a atuação da Companhia de Tecidos
na força de trabalho familiar; que exige uma extensão territorial
Rio Tinto. Aos índios restava a alternativa de se empregarem como
bem maior do que aquelas nas quais estão situadas as casas indí-
operários da fábrica, passando a morar em casas alugadas pela Com-
genas. À ocupação predatória implantada pelos usineiros, basea-
panhia. As casas antigas, feitas de taipa e cobertas com palha, foram
da no emprego de fertilizantes e na exploração intensiva do solo,
demolidas. Também na Vila Monte-Mor, onde foi construída uma se-
contrapõe-se nm tipo de agricultura tradicional, alicerçada no uso
gunda fábrica, os índios foram expuisos e tiveram as suas casas de
sustentável dos recursos fundiários.
palha incendiadas. Dupla violência: física e simbólica.
Brasília participam da festa de São Miguel na Vila São Miguel. nou-se Área de Proteção Ambiental (APA) em 1993. Os pescado-
res e catadores indígenas apontam 0 impacto dos canaviais sobre
os manguezais como 0 derramamento da calda da cana no esUi-
-
TEMPO DAS USINAS: ário do Mamanguape - como a principal causa da recente mortan-
DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL dade de caranguejos e peixes. Contrapõem a este tempo de carên-
NO VALE DO MAMANGUAPE cia, no qual só conseguem pegar uma ou duas cordas de caran-
guejo, um outro de fartura, quando a sua produção era de 20 a 25
Os Potiguara da antiga Sesmaria de Monte-Mor - ou Preguiça - estão
cordas. Esta atividade era suficiente para sustentar a família, 0
distribuídos em três comunidades: Jaraguã, Lagoa Grande e Nova
mangue era uma fonte de renda que supria as necessidades de
Brasília, localizadas nos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e
alimentação, vestuário e educação do grupo doméstico.
Marcação. A população indígena abrange aproximadamente dois ter-
ços da população total destes povoados, incluindo-se as famílias for- Os Potiguara se empregam como assalariados nos canaviais, tipo
madas por casamentos interétnicos. Na Vila Monte-Mor moram 48 de atividade que é sazonal, ou seja, intercalada por períodos de
famílias indígenas e na cidade de Marcação, mais de 30. Os não-índios desemprego. Além disso, a disponibilidade desta alternativa eco-
casados com índios correspondem a 16% da população não-indíge- nômica depende da negação da identidade indígena, principalmente
na. A população total equivale a 1.269 pessoas e 271 famílias. no contexto atual, no qual se travam as lutas pela reconquista do
superior aos 18 anos, muitos deles casados, empregam-se nos genas (na faixa dos 18 a 35 anos) que foram fichados recente-
canaviais. Alguns, quando a necessidade e os gatos obrigam, le- mente já têm uma longa história, que para alguns começou quan-
vam os filhos pequenos para ajudar a aumentar um pouco mais os do tinham quatro ou cinco anos, como clandestinos. Mas mesmo
parcos rendimentos obtidos nesta atividade econômica. os que trabalham com carteira assinada não deixam de ter proble-
O recrutamento da mão de obra se dá através de contratos for- ceiro, ferias, PIS, etc.), recorrendo ao advogado do Sindicato dos
mais, nos quais se garante os direitos trabalhistas corresponden- Trabalhadores Rurais em Rio Tinto para não serem lesados pelo
tes, e por meio de compromissos informais, através do gato. Estas empregador, (julbo 2000) ,
Acervo 2' -
'X^f * í
*
—
/ TnafiHíHi
Fonte. Â
^ftmembé
tradição por trás da criação- Ca rtiíha do povo Ttemembé.
Eyaldo Mendçs Silva, Ivo Sousa, lÍBrla Virgima Monteiro!
Forjaiejg; Seduc, 1998 ^ .....
GERAL MAIS DE 20 MIL ÍNDIOS DE to, pensado sem ouvir as comunidades indíge-
PE SOFREM COM ESTIAGEM nas e ribeirinhas, dificultará a sobrevi vência dos
povos que dependem do Rio.
ÍNDIOS DO CE DISCUTEM Dos 23 mil índios de Pernambuco, quarto estado O Rio São Francisco já passa por graves pro-
LUTA PELA TERRA em população indígena, 21 mil estão no sertão e blemas. Com a construção da Hidrelétrica de
sofrem os efeitos da seca. Eles são das etnias Sobradinho, na Bahia, a nível do Riu foi drasti-
Representantes das comunidades indígenas
Atikum, Fulni-ô, Pankaram, Xuktiru, Kapinawá, camente reduzido em 70%. A vegetação nativa
Tapeba, Tremembé, Pitaguary e Jenipapo-
Truká, Hixá e Kambiwá.
Canindé estarão reunidos de 2 1 a 23 deste mês, acabou, começaram problemas de erosão, a
A Al Atikum, em Floresta (PE), de onde saíram pesca foi praticamente extinta.
na área indígena de Capuã, em Caucaia, para
as famílias que hoje vivem em MS, está entre as
Com o atual nível de água, a transposição po-
avaliai' os trabalhos durante o ano de 1997, pla-
áreas consideradas pela Funai como mais atingi- derá reduzi-lo em mais 70%, segundo informa-
nejar as atividades para este ano e definir as
das pela seca neste ano. 0 administrador regio-
ções do engenheiro de Israel que foi a Ilha de
prioridades do Movimento Indígena Regional.
nal da Funai em PE, José Osório Galvão de Olivei-
Assunção, Cabrobó (PE), para fazer as sonda-
O encontro é promovido pola Articulação dos
ra, disse que há oito meses o governo federal dis- gens de solo. Isto significa que o rio ficara com
Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e
tribui cestas básicas mas em número
na aldeia,
apenas 30% do nível para baixo do ponto de
Espírito Santo (Apoimnc) que também fará vi-
insuficiente. Parte da aldeia vem sendo atendida
sitas nos próximos dias 1 9 e 20 às áreas dos captação da transposição.
com carros-pipa, mas em condições precárias.
índios Tapebas, Pitagiiarís e Gentpapo-Canindés. Já tivemos notícia do exemplo negativo sobre a
Há casos de anemia e verminoses entre os 2.744 transposição do Rio Nilo, no Egito, que trouxe
Segundo Maninha Xticuru Kariri, da Apoinine,
índios da área, segundo Oliveira. A área Atikum todos esses problemas que colocamos aqui e
a bandeira de luta dos povos indígenas conti-
fica na região conhecida como “Polígono da Ma- outros mais. Foram destruídos monumentos
nua sendo a terra. Em Caucaia, os Tapebas ain-
conha”, considerada a maior produtora da dro-
da aguardam que a Funai em João Pessoa (PB) históricos, estátuas, memoriais e templos reli-
ga no país. (FSPeA Tarde, 29/06/98)
- giosos dos povos que habitavam a região.
à qual o Ceará está subordinado administra-
tivamente - providencie a demarcação física dos Outra preocupação que não podemos esque-
ÍNDIOS DO CE QUEREM cer é que uma obra deste porte aumentará, na
4.658 ha de terras pertencentesàtribo. (O Povo.
15/01/98)
ESCRITÓRIO DA FUNAI região, os problemas como a prostituição, o uso
e comércio ilegal de entorpecentes como a
Representantes dos povos indígenas do estado,
maconha, a cocaína e outras drogas que
ÍNDIOS DA BA RECLAMAM que estiveram reunidos de 9 de julho, parti-
5 a
tenta-
na para a Funai. Hoje, a verba é administrada CONTRA A TRANSPOSIÇÃO Os Atikum, íogo batizados de “terra seca” pe-
pela Fundação Nacional de Saúde - FNS, órgão DO RIO SÃO FRÃNCISCO começaram a chegar na TI Nioaque,
los Terena,
a 185 km de Campo Grande, há cerca de
que os índios repudiam em razão da total
“Nós. representantes (los povos Truká, IVim- 13 anos.
desassistência a questões essenciais, como trata-
mento de água e saneamento básico. Zezinho faz
balalá e ribeirinhos queremos manifestar nossa 0 primeiro do grupo a deixar a aldeia no mu-
opinião de repíídio a respeito da Transposição nicípio de Floresta (PE) foi Aliano José Vicente.
parte do Conselho de Saúde Indígena, mas até
hoje não sabe para onde foram R$ 450 mil anun- do Rio São Francisco, uma vez que seremos Ele ficou sabendo, vagamente, que um primo
ciados pela Fundação em 96, numa reunião em diretamente afeiados pela obra. tinha ido para “o sul” tentar um “lugar mais
Vicente conversou com as lideranças e pediu cando vassouras (média de 3.500 por semana) descoberto. Se houver um respaldo jurídico, a
um lugar para ficar. Os Terena discutiram o as- tapetes, chapéus e esteiras de palha de ouricuri; prefeitura tem o maior interesse em saldar essa
sunto em assembléia e o autorizaram a se ins- outra parte planta milho e feijão; 42 são funcio- dívida".
talar na área, um mês depois. Aos poucos, che- nários da Funai, ganhando, em média, 650 re- Durante a negociação, encerrada no início da tar-
garam os 1 1 filhos e a mulher dc Vicente. Aos ais por mês. (Jornal do Commércio, 02/02/97) de de ontem, os Fufni-ô decidiram reduzir o va-
nordestinos, foi destinado um canto cia aldeia lor para R$ 8.480,00, o mesmo pago pela admi-
Água Branca, que passou a ser chamado aldeia OCUPAÇÃO DO CEMITÉRIO nistração anterior. O pagamento deverá ser feito
do que a melhor terra de lá". (FSP e A Tarde, Aproximadamente cem índios Fulni-ô ocupam remos a fechar o cemitério”, afirmou Jair.
29/06/98) desde ontem o cemitério de Águas Belas. A in- O chefe de posto da Funai no município,
terdição é feita por uma cerca de arame fincada Arnaldo Pereira, disse considerar o arrenda-
DENÚNCIA DE NARCOTRÁFICO na frente do cemitério e reforçada por um gru- mento ilícito. Esteve presente apenas para
po de índios armados com flechas e facões, im- acompanhar as negociações. Segundo eie, “o
A subprocuradora-geral da República Maria pedindo, entre outras coisas, a realização de en- Departamento Jurídico da Funai entrará com
Eliane Menezes de Farias, coordenadora da 6* que a prefeitura pague
terros. Eles reivindicam um pedido de reintegração de posse e não mais
Câmara de Coordenação e Revisão do Ministé- um arrendamento pelo uso do terreno, perten- permitirá os arrendamentos”. (Diário de
rio Público Federal (responsável pelas comu- cente à AI Fulni-ô, no valor de R$ U.900,00 Pernambuco, 09/05/98)
nidades indígenas e minorias), comunicou ao por ano. Segundo o administrador regional da
procurador-geral da República, Geraldo Brin- Funai Otávio Uchôa, a cobrança - caso seja com-
,
FAZENDA EM ÁGUAS
deiro, a ocorrência de tráfico na área indígena provada é
Atikum-Umã, siluada no município de Carnau-
- ilegal.
BELAS É OCUPADA
0s índios também interditaram a torre que ser-
beira da Penha, Pernambuco. Em visla do co- ve à central telefônica e ao sistema repetidor de Cerca de cem Fulni-ô ocuparam a Fazenda Peró,
municado, Geraldo Bríndeiro solicitou ao mi- televisão, mas concordaram em desocupar. 0 em Águas Belas (PE). Os homens, mulheres e
nistro da Justiça que seja feita operação emer- agente da Delegacia de Águas Belas, Carlos crianças acampados na fazenda reivindicam a
gential para a eliminação do narcotráfico na Sampaio Brito, disse que a prefeitura provou que incorporação da propriedade às terras indíge-
área. (Ofício da Procuradoria Geral da Repú- a área não pertence aos Fulni-ô e eles atende- nas demarcadas na localidade. Segundo a Su-
blica n°294, 02/07/99) ram à polícia, desocupando a estação de tele- perintendência da Funai em Recife, a fazenda
comunicações da cidade. não está entre as áreas do corredor de terras
Araújo. “Há cerca de dois anos de entrou no Kantaruré, que aguardavam a portaria ministe- te processo,
Programa de Demissão Voluntária do Governo rial desde 13/05/97, quando o presidente da Líderes indígenas se reuniram à tarde, na Pro-
Federal”, disse. A Funai não sabe a procedên- Funai assinou despacho aprovando os limites curadoria Geral da República, com o procura-
cia das demais pessoas que estão em Petrolina. propostos pelo “Relatório de Identificação e dor dos Direitos do Cidadão, Delson Lyra, re-
“Desconheço de onde são essas famílias. É até Delimitação da Terra Indígena Kantaruré”, de presentantes da Funai, Advogada da União e
negativo para os Kambiwá ter o seu nome rela- autoria dos antropólogos José Augusto laran- Cimi. O procurador deixou claro haver neces-
cionado com invasões de terra”, afirmou José jeiras Sampaio e Sheila dos Santos Brasileiro, sidade de entendimento para que o pagamento
Osúrio. (Jornal do Commércio, 14/08/98) publicado no DOL1 em 16/05/97. Mesmo sem seja efetuado e a posse da terra passe a ser dos
ter sido contestada durante o processo, a TI índios. “O entrave burocrático precisa scr sa-
GRUPO AMEAÇA INVADIR Kantaruré demorou quase um ano para ser de- nado para que o pagamento seja feito. Caso
clarada pelo ministro. (ISA, 02/04/98, a partir contrário, o juiz pode julgar que a terra perten-
RESERVA BIOLÓGICA
do DOU, 16/05/97 e 31/03/98) ce ao proprietário, expulsando os índios daque-
Remanescentes dos índios Pipipâ (grupo inte- la área. À União dispõe de recursos para inde-
grado aos Kambiwá) ameaçam ocupar a Reser nizar também os outros proprietários, cujos
va Biológica de Serra Negra. Eles se reuniram KARAPOTÓ (AL) valores são menores do que os de Luiz Couti-
anteontem numa comunidade rural, nas ime- nho”, argumentou. (Gazeta de Alagoas e OJor-
diações da reserva pertencente á União, para LINHA DE TRANSMISSÃO PASSA nal (AL), 27/09/9?)
discutirem o que chamam de “ocupação DENTRO DE ÁREA INDÍGENA
indevida da área por fazendeiros, que pertence
historicamente aos índios Pipipâ”, além de de- A comunidade indígena Karapoíó firmou um KIRIRI (BA)
cidirem sobre estratégias a serem utilizadas termo de compromisso com a Companhia
para a recuperação da área que inclui a pró- Energética de Alagoas (Ceai) permitindo a pas- CONFLITO VOLTA A MIRANDELA
pria Reserva Biológica. sagem de uma linha de transmissão de 69 KV
ligando os municípios de Penedão e Arapiraca. O conflito entre brancos e índios Kiriri ameaça
A intenção das 194 famílias, distribuídas em
A linha passa dentro da área indígena. O acor- recrudescer. Nove meses depois da desocupa-
cinco comunidades, e representadas pela As-
do, que prevê a proteção da comunidade aos ção do povoado, cerca de 70 das 180 famílias
sociação Pau Ferro Grande dos índios, sediados
impactos advindos da implantação e manuten- de posseiros que deixaram o lugar após mais
a 12 km da reserva, é ocupar de imediato os
1.100 ha da Rebio e permanecer por tempo ção da linha, foi assinado pelo presidente da de um século de ocupação, ameaçam invadir
Ceai, Newton Silva, pelo cacique Juarez de Sou- as terras que antes lhes pertenciam porque o
indeterminado para forçar o Ministério da Jus-
pelo pajé Antonio José Filho e pelo presi- governo federal não indenizou olarias, roças e
tiça e a Funai a tomarem uma posição quanto a za,
dente da Funai, Julio Geiger. (DOU, 28/11/96) residências e nem desapropriou as fazendas
um abaixo assinado encaminhado por eles em
Bananeira e Mata do Couro, onde deveriam es-
abril de 99- No documento, os índios solicitam
COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO tar rea5sentados. Eles afirmam que passam sé-
a demarcação da área, baseada, segundo eles,
rias dificuldades, e que está passando da hora
em documentos que comprovam a ocupação PARA IMPEDIR DESPEJO
de plantar milho, feijão e mandioca, e garan-
histórica das terras por seus ancestrais.
Cerca de 50 índios Karapoíó ocuparam a sede tem que entrarão na reserva Kiriri.
"Esta é a forma que encontramos para chamar a
da Funai, ontem pela manhã, para cobrar o cum- Os índios também vivem o mesmo dilema. Es-
atenção para um problema que algumas autori-
primento da indenização da Fazenda Taboada, tão em alerta em Mirandela, argumentando que
dades insistem em ignorar”, disse Genildo Pipipâ,
em São Sebastião. Eles reclamam que viverão não podem sair para trabalhar nas roças por
um dos líderes. Segundo ele, o grupo se tornou
dissidente dos Kambiwá há um ano e meio, por
tensos, sob ameaças de despejo, enquanto a ter- causa da ameaça da Invasão. Em Mirandela
ra não for indenizada. moram hoje em tomo de mil índios Kiriri, en-
razões culturais e polílicas. Ele garante que seus
Apesar de a área ter sido desapropriada por tre homens, mulheres e crianças. “Não pode-
ancestrais já ocupavam a área em 1802, quando
uma missão dos Capuchinhos chegou à região.” decreto, em 1992, o valor depositado pela União mos deixar nossas mulheres e filhos expostos
para indenizar os quase 30 proprietários foi diante da ameaça de invasão", afirma o caci-
(Jornal do Commércio, 12/10/99)
considerado, pela Justiça Federal, inferior ao que Lázaro. (A Tarde 18/04/96) ,
posse definitiva de uma área com 1.695 ha no Coutinho, que ingressou, este ano, na Justiça de reserva, a menos de um quilômetro do po-
município de Nova Glória (BA). A conquista é Federal, com ação de reintegração de posse. voado, garantindo que só sairão quando o go-
resultado da Portaria n” 245, de 30/03/98, as- Apesar de dispor de R$ 1. 169 mil para pagar ao verno pagar as indenizações deles e passar as
sinada pelo ministro da Justiça, íris Rezende, proprietário, a União precisa desistir do agravo terras do reassentamento, como prometeu des-
determinando a demarcação da TI. A Portaria impetrado para disponibilizar os R$ 560 mil do de agosto do ano passado, quando entregaram
foi publicada no DOU do dia 31/03/98. processo extinto (que corre na 5‘ região em suas propriedades aos Kiriri.
metiam resistir a qualquer tentativa de ocupa- o índio Bonifácio, um dos líderes da invasão. as outras casas foram atacadas pelos índios de
ção. “Aqui eles não entram", avisaram. Os pos- “Não respeitam nosso povo”, diz o cacique Ma- Mirandela. (A Tarde, 22/12/96)
seiros demonstravam disposição de não arre- nuel, de Cantagalo.
dar o pé: “Ou o governo decide a questão ou Na região, os de Cantagalo são tidos como ÍNDIOS OCUPAM
vamos marchar para Mirandela”, garantiram. mais pacíficos. O cacique Manoel diz que a
CASAS DE PAU FERRO
A casa-sede da antiga fazenda do ex-prefeito de área tem limites naturais que não podem ser
Pombal, Edval Calazans, estava trancada ejásob ultrapassados ao bel-prazer da outra facção índios da tribo Kiriri ocuparam, ontem, todas
domínio dos índios, mas os posseiros abriram e se mostra disposto a enfrentar a outra tri- as casas do povoado de Pau Ferro, em Banzaê.
as portas e garantiram que vão ficar lá. “Está bo. Ao mesmo tempo dizem que não querem O povoado tinha 40 casas ainda habitadas por
chegando o inverno, é hora de plantar. Há mais guerra. brancos que aguardavam indenização da Fiuiai,
de um ano que não plantamos nada por causa Depois de duas noites na estrada, finalmente Os índios deram um prazo de 24 horas para
dessa confusão, não pagaram nossas indeniza- os índios permitiram que parte dos possei- que as famílias de posseiros deixassem a reser-
ções e não podemos Bear à mercê da sorte. ros entrasse em Gado Velhaco para apanhar va. Não houve violência, apesar de nenhum
Muitos estão passando dificuldades”, afirmou seus pertences. A prefeitura de Banzaê alo- policial federal ou militar ter ido ao local.
José Souza Dantas, que tinha uma casa e uma jou algumas famílias (muitos não arredam o O líder Lázaro viajou a Paulo Afonso para co-
roça e direito à indenização de R$ 17 mil, “uma pé do acampamento à beira da estrada) no municar à Futiai a expulsão dos brancos do
ninharia de dinheiro", mas que até agora não centro de abastecimento da cidade. (Jornal povoado. Os moradores foram abrigados em
recebeu um único centavo. de Brasília, 16/07 e A Tarde, 18/07/96) casas dc parentes e amigos, num local pró-
A possibilidade de novos conflitos é admitida ximo denominado Queimada Grande. A
pelos posseiros. “Não é assim que o governo MORTE PODE prefeita de Banzaê, Jailma Dantas, informou
quer?”, assinalou Celso Geraldo Dantas, 60 anos, ACIRRAR CONFLITO que está providenciando abrigo para 1 1 7 fa-
nascido e criada em Mirandela, lembrando que mílias sem moradia. A decisão de expulsar
A situação continua tensa na reserva indíge-
os posseiros tomada após o índio Osana
“ninguém quer briga”, mas diante da. situação foi
Velhaco, entre Mirandela e Banzaê, nas proximi- Kiriri. O incidente, explicou o prefeito, acon- da Silva, o Ministério ainda deve um repasse de
dades de Ribeira do Pombal, A ocupação dividiu teceu em Lagoa Grande, depois que seguido- R$ 70 mil, referente ao orçamento do ano pas-
as duas facções locais indígenas: os de Cantagalo res do cacique Lázaro atearam fogo em casas sado, “Além disso, só recebemos cerca de Rí
não concordaram com a ocupação. onde vivem índios Kiriri da facção de Manoel. 500 mil este ano, o que é insuficiente para in-
Não houve conflitos durante a ação. Os caci- Em represália, esses índios acabaram atean- denizar todas as famílias que ocupam a reserva
ques explicaram que só querem reaver suas do fogo em casas de seus rivais, gerando o dos Kiriri' disse. (Tribuna da Bahia eA Tar-
,
terras e que não querem guerra. Mesmo assim, conflito. (A Tarde, 17/12/96) de, 16/09/97)
as entradas da cidade estão bloqueadas pelos
índios e os posseiros acampados há alguns qui- LAGOA GRANDE POSSEIROS OCUPAM
lômetros de suas antigas casas.
TEME EMBOSCADA FAZENDA MURITI
Acusações de ambas as partes: este é o clima
na região de Banzaê. A lhinai acusa a prefei- O medo ronda as famílias da aldeia de Lagoa Cerca de 200 famílias de não-índios reocu-
tura de abandonar Mirandela (povoado to- Grande, a maior da tribo dos Kiriri de Cantagalo, param ontem, pela terceira vez, a Fazenda
mado pelos índios no ano passado). A pre- lideradas pelo cacique Manoel Cristóvão Batis- Muriti, que tem uma área de 6.340 ha, no mu-
feituraacusa a Punai de proteger o cacique ta. Coro medo de emboscadas dos irmãos de nicípio de Tucano Essa é uma das cinco fazen-
Lázaro. Os Kiriri de Mirandela dizem que os Mirandela, os índios evitam sair à noite e só das já Estadas pelo Incra,com indicação do
de Cantagalo abandonaram as origens. Estes andam em grupos. As casas mais distantes do Fórum de Entidades que apoiam os Não-Índios
reagem à altura: dizem que o pessoal do mícieo principal da aldeia foram abandonadas, Expulsos das Terras dos Kiriri, onde deverão
Lázaro quer tudo e que “somos índios tam- depois que várias delas foram incendiadas na ser reassentadas 326 (amílias de não-índios.
bém”. Os Kiriri de Mirandela e os índios de semana passada por um grupo de mais de 30 O diretor da Federação dos Trabalhadores na
Cantagalo, na verdade duas facções da mes- Kiriride Mirandela. A casa de João Jesus dos Agricultura no Estado da Bahia (Fetag) entida- ,
mo tribo que se separaram por divergências Reis foi invadida pelos índios vindos de Miran- de que coordena o Fórum, explica que o presi-
ideológicas, juram que não querem briga. dela. João foi morto, crivado de balas ao tentar dente do Incra reconheceu dificuldades de or-
Mas estão armados com flechas e paus para escapar do fogo. Seu sogro, José Amor Francis- dem técnica para atender à demanda, ou seja,
“o caso de ser necessário brigar”. Os de co dos Santos, conseguiu escapar, fugindo cm reassentar as 2,8 mil famílias de não-índios que
Cantagalo afirmam que os Kiriri invadiram meio ao milharal. Da casa, restaram apenas al- somam 8 mil pessoas, mas garantiu que dará
terras de seu território. Isto porque quatro gumas paredes queimadas. Todo o milho e fei- prioridade à questão.
De maneira geral, os sem-terra não se confor- ra", disse o agricultor Oswaldo Chaves do Nas- Pelo acordo firmado na reunião no Fórum de
mam com o fato de o governo federai ter ga- cimento, com 62 anos. Elenilda Silva Moraes, Ribeira do Pombal, os índios não vão devolver-
rantido o direito dos índios em detrimento do com 19 anos, conta: “os índios queriam ocupar as áreas reocupadas nos últimos dias e os colo-
deles, o que consideram uma discriminação. a minha casa imediatamente e só deu tempo de nos terão que permanecer onde estão. 0 prazo
A juíza de Tucano, Newcy Gidi, já concedeu a carregar o fogão. dado pelos índios é considerado apertado para
reintegração de posse da Fazenda Muriti e pe- O coronel da PM Aloysio Campos Pilho disse que a Funai consiga os RS 6 milhões necessári-
diu reforço policial ao Batalhão da PM de ontem que os índios não serão retirados das os para resolver o problema. O dinheiro só pode
Alagoinhas parti desocupar a propriedade, mas áreas invadidas. “O governo federal já demar- ser obtido via medida provisória assinada peio
a ordem judicial ainda não foi cumprida. Os cou a área há 1 anos e agora tem de cumprir a presidente ou por suplementação orçamentá-
próprios donos querem a desapropriação, des- promessa de pagar as indenizações aos antigos ria votada pelo Congresso Nacional. A Funai
de que o Incra pague um preço justo. Os sem- moradores”, disse. (FSP, 26/03/98) anunciou a liberação de uma verba emergencial
terra afirmam que não pretendem resistirá ação de R$ 2 milhões para iniciar a indenização dos
policial, mas ameaçam acampar na sede do GOVERNO ESTUDA não-índios. (FSPeA Tarde, 29/03/98)
Incra ou em frente ao batalhão, caso sejam ex-
INTERVENÇÃO EM BANZAÊ
pulsos. (Tribuna da Bahia. 23/09 e A Tarde ,
Kiriri, que só utilizam arcos e flechas. Na luta que ocorreu ontem entre FHC e o presidente da ços estavam sendo executados pelo Instituto de
para impedir a invasão, o índio Antônio de Je- CNBB, cardeal dom Lucas Moreira Neves. Terras de Alagoas (Itera!) e foram interrompi-
sus Santos morreu baleado e o conselheiro filias Encontram-se ocupados pelos índios os povoa- dos em decorrência da reação de posseiros alt
Jesus da Hora foi baleado no peito. dos de Marcação, Baixa Nova, Baixa da Can- instalados há muitos anos.
Segundo o advogado da Diocese de Paulo Afon- galha, Baixa do Joá, Segredo, Pau Feiro e Araçás, Eles invocaram o acordo celebrado, em 1985,
so, Jairo Monteiro, outros índios ficaram feri- além de Mirandela e Gado Velhaco, os primei- com os índios para evitar que mais de 17.700
dos, mas com menor gravidade. A Diocese ros a serem tomados pelos Kiriri. Se o clima é ha fossem incorporados no território Pankararé.
aguarda com urgênda uma intervenção na área absolutamente normal e tranqüilo nesses últi- O administrador regionai da Funai chegou a
das polidas Federal e Militar, para evitar que mos, em Araçás e Marcação, apesar da aparen- pedir a presença de agentes da PF para garantir
ocorram mais mortes, pois existia a ameaça de te calma, íem-se a impressão de que pode es- a continuidade dos trabalhos de demarcação,
uma nova tentativa de invasão. Ainda segundo tourar uma guerra a qualquer momento. Araçás mas os posseiros reagiram e tiveram o apoio
o advogado, a intenção do cacique Lázaro, que virou a base do cacique Manoel (que faz uma da Igreja, através do bispo Dom Mário Zanetla.
lidera 110 famílias alojadas nos povoados de linha mais pacifista e defende o pagamento das Na próxima semana, o administrador Moreira
Mirandela, Pau Ferro e Gado Velhaco, é se apro- indenizações dos posseiros antes da ocupação irá a Brasília levando o relatório sobre a pen-
priar das benfeitorias realizadas por brancos dos povoados). Marcação é onde o cacique dência. Os posseiros, mesmo com o afastamento
nas terras do cacique Manoel, que compreen- Lázaro (que cansou de esperar as providências da PF, dos funcionários do Iterai e da própria
de os povoados de Araçá, Segredo, Marcação e e vem tentando expulsar os brancos “na raça") Funai, continuam em estado de alerta até que o
Monte”. (A Tarde. 11/02/98) montou seu “quartel general”. Marcação é 0 governo federa] descarte a nova demarcação de
pomo da discórdia entre os dois caciques. (FSP terras em favor de um grupo de índios dissi-
SÃO EXPULSAS
CACIQUES ACEITAM TRÉGUA MP INVESTIGA DESMATAMENTO
A presença de policiais federais, militares e tro-
NO BREJO DO BURGO
pas do Exército na área não inibiu a invasão Os caciques Lázaro c Manoel chegaram a um
ontem dc mais quatro povoados do município acordo com a Funai, no final da tarde de on- A Promotoria dc Justiça da Comarca de Glória
de Banzaê, totalizando 260 casas ocupadas e a tem, e decidiram por uma trégua até o dia 15 instaurou inquérito civil para apurar responsa-
expulsão de mais 1.100 moradores. Cerca de de abril. Até lá as duas facções Kiriri não vão bilidades no desmatamento ocorrido na locali-
2.500 pessoas dc nove povoados já foram ex- promover a retomada de novas áreas ocupadas dade do Brejo do Burgo, onde vive a tribo Pan-
pulsas pelos índios nos últimos cinco dias, se- pelos colonos nem vão entrar em conflito. kararé. A representante do Ministério Publico,
gundo a PM de Banzaê. Manoel aceitou o acordo com Lázaro conquan- Isabel Adelaida de Melo Andrade, informou que
Sem alternativa, os moradores estão deixando to este desocupe o povoado de Marcação. Ele já foi solicitada ao Ibama uma vistoria para com-
suas casas e levando o que podem. Alguns es- diz que seu grupo chegou primeiro ao povoado provar o impacto ambiental que atinge a Reser-
tão destruindo as casas para utilizar tijolos e e aceita negociar, desde que os rivais não quei- va Ecológica do Raso da Catarina. O desma-
madeiras. “Estou começando minha vida ago- ram impor o comando. tamento é uma prática que está devastando a
açam deixar seis estados do NE sem energia elé- mílias que moram na favela do Reat Parque, Zona
trica, caso 483 famílias de posseiros não sejam Sul, já estão em alojamentos, mas afirmam que
retiradas da área indígena nos próximos 60 dias. foram enganadas e que não desejam os aparla-
sar no problema da favela. "A prioridade são de atividades pastoris e de manutenção de infra- memória dos mais velhos e dos líderes do grupo
os índios aldeados c, mesmo assim, há poucos estrutura. A restrição tem duração de seis me- mas, até ofinal da década de 1980, os índios cos-
recursos para atendê-los", argumenta. “Existe ses para realização de estudos e reconhecimento
tumavam atender apenas pela alcunha de "cabe-
ludos da Encantada modo como eram chama-
”,
um vácuo nessa história toda porque não sabe- da terra indígena. (DOU, 02/02/99)
dos por seus vizinhos não-indígenas. A denomi-
nação Jenipapo-Kanindé, até então desconhecida
indeiidamente aplicada com base
f)or eles, foi-lhes
em pesquisas históricas pouco aprofundadas, con-
fundindo-os com antigos povos vizinhos, quando
o grujw começou a participar dos movimentos
indígenas. (Maria Sylvia Porto Alegre, jul/98)
PITAGUARÍ (CE)
DEMARCAÇÃO E RESPEITO
POTIGUARA (PB) Foi constatada in loco a construção de um sintomas da doença, o índio infectado pelo H1V
lotcamento, onde já foi feito desmatamento, foi tratado à base de rezas e raízes, portanto já
posteamento, divisão e venda de lotes. Foi tam- foi encontrado bastante debilitado morrendo
ÍNDIOS TENTAM INVADIR CADEIA
bém verificada a existência de construções de neste mesmo ano”, esclareceu.
Cerca de 100 Potiguara, da aldeia Jacaré de São casas de alvenaria dentro da TI, o que está sen- Para tentar evitar casos casos semelhantes a
Domingos, em Rio Tinto (53 km ao norte de do feito em desacordo com a vontade da popu- FNS, Funai e Secretaria de Saúde do Estado,
João Pessoa), tentaram invadir ontem à tarde a lação indígena. O inquérito também considera estão trabalhando em parceria. Nos meses de
cadeia da cidade para libertar 12 índios pre- que a Funai não concluiu até hoje o processo julho e agosto foram realizados treinamentos
sos. Os índios são acusados de cortar árvores demarcatório que teve início há dois anos, o que com agentes comunitários e professores que
de uma reserva de Mata Atlântica supervisiona- contribui para ferir os direitos indígenas sobre atendem na área indígena da Baía da Traição.
da pelo Ibama. Segundo a polícia e o Ibama, as a área tradicionalmente ocupada pelos (Correio da Paraíba, 15/09/98)
árvores seriam vendidas em serrarias de João Potiguara. (ISA, a partir do Diário da Justiça
Pessoa ou transformadas em carvão. 16/06/97) PREFEITO É POTIGUARA
Eles foram autuados em flagrante. O delegado
O prefeito do município de Baía da Traição, o
de Rio Tinto, Walter Cunha, disse que, durante FUNAI APROVA RELATÓRIO
índio Potiguara Marcos Antônio dos Santos, está
a tentativa de invasão da cadeia, houve um iní-
dios recuaram, “porque a PM está armada com Monte-Mor, de ocupação do povo Potiguara, des indígenas. (Correio da Paraíba, 21/09/98)
metralhadoras”. Os índios prometeram só com superfície e perímetro aprovados de 5.300
lece os limites das terras reivindicadas pelos truídas e ocupadas 11 a Praia do Coqueirinho, no pesca do camarão.
Potiguara foi contestado oficialmente junto à Município de Bala Traição, devem ser imediata- Segundo 0 líder Francisco Rodrigues Teixeira, 0
Punai por três Interessados - os herdeiros da mente desocupadas e lacradas. São mais de 70 cacique Alberto, faz tempo que 0 rio Ceará já
família lundgren e dois usineiros do setor casas construídas e utilizadas 11 a área indígena não abastece a comunidade. “Quem comer um
sucroalcooleiro, que alegam serem proprietá- e os invasores são pessoas da alta sociedade peixe deste rio está arriscado a morrer”. For
rios das áreas. Entretanto, todas as contesta- paraibana. (Antônio Edüio Magalhães Teixeira, causa disso, a opção de sobrevivência passou a
ções foram rejeitadas pela Funai, procurador da República, 22/05/00) ser 0 artesanato e a agricultura. As mulheres fa-
O documento seguiu parao Ministério dajusti- zem colares, anéis, pulseiras, cocares e porangas
ça, para que fosse declarada a posse indígena que são vendidas geralmente aos alunos que vêm
sobre a área e determinada sua demarcação. TABEPA (CE) em excursão conhecer a comunidade indígena
Desde então, nenhuma decisão foi tomada. "A dos Tapebas. (Diário do Nordeste, 01/04/97)
terra é nossa, e já que temos direito, não va- TERRA INDÍGENA É INVADIDA
mos esperar mais e nós mesmos vamos fazer a PARA PREFEITO, TI IMPEDE
Cerca de 100 pessoas invadiram uma área per-
demarcação”, declarou ao jornal o líder CRESCIMENTO DE CAUCAIA
tencente aos índios Tapeba, localizada às mar-
potiguara José Vicente.
A reportagem registra que são 80 as famílias dos
gens do km 8 da BR-222. Os invasores se apos- “A área da reserva indígena impede 0 municí-
Potiguara da aldeia jaraguá, vivendo em situação saram de aproximadamente cinco hectares. A pio de crescer e cria um problema social para
de extrema pobreza. A demarcação das terras, se-
terra já foi toda dividida. Até queimadas já fo- quase 30 mil famílias". A opinião é do prefei-
gundo José Vicente, representaria um novo come- ram feitas com 0 objetivo de limpar 0 terreno. to de Caucaia, José Gerardo Arruda, para quem
ço para a comunidade indígena. Segundo disse De acordo com 0 advogado da Pastoral existe no município somente cerca de 60 a 70
ao jornal, depois da demarcação os Potiguara pla- Indigenlsta da Arquidiocese de Fortaleza, Aécio índios Tapeba. O prefeito diz que a delimita-
nejam fundar uma associação para ajudar na so- Aguiar da Ponte, a ação foi promovida pelo can- ção pela Funai de 4.658 ha de reserva dos
TI Potiguara de Monte-Mor, localizada nos mu- vembro do ano passado, a juíza Germana de INFECÇÃO RESPIRATÓRIA
Oliveira Morais, da 8* Vara, expediu liminar
nicípio de Rio Tinto, Marcação e Baía da Trai- MATA CRIANÇAS
ção, no estado da Paraíba, com base no Decreto garantindo 0 direito dos índios. Até mesmo a
1 .775/96. A determinação, publicada no DOU de ação impetrada junto ao Ministério da Justiça, Desde 0 início do ano até hoje, já morreram
15 de julho (seção I, página 2), manda a Funai contestando a identificação da área como sen- oito crianças Tapeba, em Caucaia. Os óbitos
arquivar 0 processo e proceder novos estudos do indígena, foi considerada improcedente. O foram provocados, em sua maioria, por infec-
com vistas à identificação c delimitação da área ministro Nelson Jobim ainda deu um prazo de ções respiratórias. A informação é da índia
remanescente, excluídas as terras dos 120 dias para que os ocupantes peçam indeni- Francineide Pereira da Silva. As doenças são
contestantes. (ISA, 20/07/99) zação por benfeitorias, agravadas por quadros de subnutrição e falta
A área total do território dos Tapeba é de 4.658 de saneamento. A poluição do rio Ceará, 0 con-
FUNAI DETERMINA ha Nela vivem hoje 500 famílias. “Nós mora- tato com 0 lixo provocado pelas enchentes e a
NOVOS ESTUDOS mos lá há várias gerações. Desde os nossos an- falta de água potável, tomam os menores muito
tepassados”, afirma 0 índio Dourado Tapeba. vulneráveis às doenças. (Diário do Nordeste,
Através da Portaria n° 250, de 13/04/2000, 0 Ele revela, ainda, que José Geraldo já é conhe- 20/04/97)
diretor de Assuntos Fundiários da Funai, Ro- cido na cidade por fazer doações de terras alhei-
que Barros Laraia, enviou um antropólogo e um as:“Toda vez que ele se candidata, tem essa MINISTRO DECLARA TI TAPEBA
engenheiro agrimensor para os estudos de mania de doar tem que não é dele", (Diário DE POSSE PERMANENTE
reidentificação da TI Potiguara de Monte-Mor. de Fortaleza, 01/08/96)
(DOU, 17/04/00) O ministro da Justiça, íris Rezende, julgando
improcedentes as contestações opostas à iden-
ARTESANATO E AGRICULTURA
CASAS DE VERANEIO SUBSTITUEM CARANGUEJO tificação e delimitação da terra indígena locali-
zada no Município de Caucaia (CE), declara de
SERÃO DESOCUPADAS
A captura do caranguejo como fonte de renda da posse permanente dos índios a Terra Indígena
O do Tribunal Regional
juiz Petrúcio Ferreira, comunidade dos índios Tapeba está com seus dias Tapeba, com aproximada de 4.658
superfície
Federal da 5* Região, concedeu liminar contados. Na área, às margens do rio Ceará, onde ba e perímetro também aproximado de 77 5 km. ,
substitutiva em Agravo de. Instrumento interpos- praScamente 44 famílias vivem dapesca e da agri- Caberá à Funai promover a demarcação admi-
to contra decisão denegatória de liminar em cultura, 0 caranguejo não é mais 0 único “ga- nistrativa da TI assim declarada, para posterior
Ação Civil Pública do Ministério Público Fede- nha-pão" dos índios. Com a poluição do rio Ce- homologação pelo presidente da República.
ral em Favor da comunidade indígena Potiguara. ará e 0 desaparecimento do caranguejo, os índi- (DOU, 25/09/97)
PREFEITURA CONSTRÓI O cacique José Saraiva Irmão disse que a decisão trução de uma casa de farinha, motor para irri-
ESTRADA DENTRO DA TI da Funai de só liberar dinheiro para os Wassu gação e o conserto da barragem", ressaltou Sa-
criou um mal-estar entre as comunidades indí- raiva. (Gazeta de Alagoas, 04/08/98)
A construção da estrada Via de Integração, que genas de AI.. Ele afirmou que a intenção dos índi-
irá ligar o distrito de Jurema ao centro de os não é brigar com os Wassu, mas exigir que a
Caucaia, vem gerando polêmica. De acordo com Funai dispense o mesmo tratamento para todas TREMEMBÉ (CE)
informações do chefe de posto da Funai, Fran- as comunidades. (Gazeta de Alagoas. 23/08/97)
cisco Araújo Magalhães, um trecho próximo à
JUSTIÇA NEGA TERRA
BR-020 passará dentro da TI dos Tapeba. Ele
COMUNIDADE QUER
informou que a prefeitura de Caucaia iniciou a No último dia 23 de setembro, a juíza federal da
ALISTAMENTO EM
construção sob a ordem de um mandato de se- a
3 Vara, Germana de Oliveira Moraes, apresentou
FRENTES DE TRABALHO
gurança impetrado pelo MJ, que está julgando sua sentença do processo de demarcação das ter-
o processo de demarcação da área. “Porém, o Um grupo de índios Tingui-Botó, do município ras dos Tremembé no distrito de Almofala
processo ainda não foi julgado. Enquanto isso de Feira Grande, sertão alagoano, esteve ontem (Itarema) A juíza, em sua decisão, afirma que não
.
não acontece, a União, Estado e Município de- na sede da Funai-AL, reivindicando ao adminis- há ocupação tradicional na área, contrariando um
vem preservar o direito dos Tapebas”, ressal- trador do órgão, Luiz Gonzaga, intermediação relatório da Funai de 1993, que registra a existên-
tou. (Diário do Nordeste, 24/07/98) para serem incluídos nas frentes de trabalho que cia dos Tremembé nesta área desde o descobri-
o governo federal está formando nas cidades atin- mento do país e sua resistência no local até os
PF PRENDE EQUIPE DA gidas pela seca. Segundo o cacique Saraiva, as dias atuais, delimitando, assim, uma área indíge-
PREFEITURA DE CAUCAIA frentes de trabalho estão excluindo a comunida- na de 4.900 ha. A juíza considerou a perícia an-
de indígena. “Isso não está certo. índio também tropológica desnecessária e reconheceu a valida-
Seis caminhões, uma pá mecânica e um trator centenários de certas propriedades
está passando necessidade e precisa produzir de dos títulos
esteira foram apreendidos ontem pela Delegacia
para ganhar dinheiro e ter como sustentar a fa- particulares no espaço em questão. Mais uma vez,
Fazendária da PF e 13 homens foram presos, au-
mília”, disse o cacique. a lei esbarra na cerca. “Todo continente brasilei-
tuados em flagrante por crime de devastação, in-
Os índios também reclamaram por ainda não ro poderia vir a ser discriminado na via adminis-
vasão de terras indígenas e extração de minérios
terem recebido uma resposta sobre as reivindi- trativa, para atribuição da sua posse aos índios,
sem autorização do Ibama Eles estavam retiran-
no passado,
cações protocoladas pessoalmente, na sede da sob o argumento de que foram eles,
do ilcgalmente areia da área dos Tapeba. Dos seis
Funai em Brasília e no Ministério da Justiça. os seus ocupantes’', justifica-se Germana Moraes.
caminhões apreendidos, cinco pertencem à Pre-
“Nesse documento, entregue no dia 14 de maio Joyciane Bezerra de Menezes, professorado Cur-
feitura de Caucaia - todos novos, de chapa bran-
por um grupo de pajés e caciques, pedimos am- so de Direito na Universidade de Fortaleza
ca e com a inscrição lateral: “uso exclusivo em
pliação das nossas terras, de 120 ha para mil, (Unifor) e uma das advogadas dos Tremembé,
serviço”. Dos 1,3 presos, seis são motoristas, dois
já que somos 260 pessoas e precisamos, além acredita que a decisão judicial foi precipitada e
operadores de máquinas e cinco ajudantes. (Di-
de plantar, de espaço suficiente para os nossos entrou na última sexta-feira 6, com uma apela-
ário do Nordeste, 19/09/98)
rituais. Pedimos também recursos para cons- ção. “Nesses casos de litígio a sentença deve ser
PÉ DE GUERRA
Os conflitos de terra podem agravar-se na la-
goa dos Tapeba, em Caucaia. Um posseiro, que
já tem uma cerâmica e uma pedreira no local,
tentou cercar uma área maior, chegando a pe-
gar parte da lagoa dos Tapeba. Foi a segunda
vez que os índios flagraram a tentativa de inva-
são. É da lagoa que os índios tiram a sua sub-
sistência. (Diário de fortaleza, OS/03/99)
TINGUI-BOTÓ (AL)
0 Supremo Tribunal Federal pode anulá-los, (Cita) denuncia que a empresa Ducoco Agríco- lítrma do TRF reformaram a sentença dada pela
como o fez em situação semelhante em Minas la S/A está querendo vender a área em litígio
juíza Germana Moraes, que havia reconhecido
Gerais, no processo de demarcação de terra dos com os índios. A empresa é proprietária da Fa-
a propriedade da terra reivindicada pelos índi-
índios Krenak", afirma, acrescentando que a zenda São Gabriel, mas cercou irregularmente como sendo da Ducoco Agropecuária
ex- os S/A,
pulsão involuntária não cessa o direito de posse Ioda a área em volta, que compreende as terras
autora da ação.
dos primeiros indígenas nas localidades Córrego Prelo. Varjota Assim, o processo de demarcação dos 4.900 ha
habitantes. (0 Povo, 09/11/96)
e Tapera, onde antigamente moravam famílias
identificadoscomo terra indígena deverá ter
Tremembé que foram expulsas do local. (Diá- prosseguimento, com a realização de perícia
MINISTÉRIO PÚBLICO E PF
rio do Nordeste - Fortaleza, 11/05/98)
antropológica na área, que tem como objetivo
TENTAM CONTER INVASÕES
comprovar de forma clara a posse imemorial e
A demarcação da terra indígena Tremembé in- o direito da Comunidade Indígena Tremembé
vade um vasto território de interesses. A não sobre a área em litígio. (Fernando llaptista/
delimitação dessa área vem provocando inva- ISA, 26/03/99)
“COMO ÉQUEA DRA. JUÍZA PODE DIZER QUE ESTA TERRA NÃO É NOSSA, DOS ÍNDIOS TREMEMBÉ?
Nós, Tremembé da Varjota/Tapera da Área Indí-
,
eles que viessem se entender com as famílias mo- Ceará tinham os Tapeba, começando a se organi-
gena de Almofala, em Itarema, estamos muito pre- radoras da Tapera, para ver o que nós dizíamos. zar mas não se sabia de resultado favorável e nós
ocupados com a decisão da Ura. Juíza Processo (...) Mas ninguém veio se entender conosco. (...) tínhamos pressa de segurar nosso terreno.
u
n 93-0021901 -4 Ação Discriminatória, da Em-
- E começaram a cercar o terreno. 0 Doutor Juiz do Acarau, depois de ouvir nossas
presa Ducoco Agrícola S/A, contra a Funai, a União Depois de terminada a cerca, foi que chamaram testemunhas, reconheceu nosso direito e nossa
Federal e outros. A sentença está datada de 23 de os moradores para uma conversa. E essa conversa posse, conforme o Processo 943/84. Nossas teste-
setembro passado e agora está sendo feita a co- foi para pagar as indenizações das nossas planta- munhas confirmaram que essa terra é a Terra do
municação jiara as /mrtes interessadas, inclusive ções. Era um agrado e nós tínhamos que desocu- Aldeamento e que nós nunca tivemos patrão. Nós
a Comunidade Indígena Tremembé de Almofala. par a que é nossa, dos nossos antepassados.
terra podemos dar provas destas verdades porque a
Sobre essa sentença nós temos a dizer que: Nós nos juntamos e fomos atrás dos nossos direi- maioria das pessoas que moravam nesse terreno
Nossos pais sempre nos contaram os limites da tos. Procuramos o vigário de Itarema, Pe. Aristides ainda existem, estão vivas, conhecem esta histó-
nossa terra que era conhecida como a "Terra do Sales. Não conseguimos nada. E perdemos nossas ria. Estão boa parte ainda na Tapera, que eles cha-
Aldeamento". (...) Marciano Correia nasceu em terras, nossas plantações, nossas criações, nossas mam de Vila Ducoco. Estão vivendo uma parte na
1901 e, nessa ocasião, o local era conhecido por casas. Uma parte de nós saiu da terra, do local redondeza (os que foram expulsos e não resisti-
Taperinha. A mata começava desde a beira-praia. que vivia, mas não saímos da nossa terra. Afirma ram) e nós da Varjota e do Córrego Preto conti-
(...) Se vivia mais da caça, da coleta de frutas e tei>e que deixar uma nesga de terra, 18 ha, para 47 nua lá no mesmo lugar.
da pesca no mar, no rio e nas lagoas. No ano de famílias, que ainda hoje residem nesse mesmo (...) Como é que a Dra. Juíza pode dizer que esta
1895, mais ou menos, as dunas cobriram uma local terra não é tradicionalmente ocupada por nós,
boa parte das matas e da praia. Até a igrejinha da Ao todo só na Taperinha nós éramos umas 80 fa- índios Tremembé, se nunca deixamos de morar
Almofalafoi encoberta por essa duna. A barra do mílias dos Tremembé e a parte que saiu foram: lá e se algumas famílias só saíram por sujeição,
rio Aracati- Mirim foi entupida e o rio secou. Nes- sete famílias para morar no Mineiro, uma terra porque foram expulsas e amedrontadas e não
se tempo a agricultura era pouca. Era umafartu- ali. na mesma região, e ainda hoje estão lá; umas puderam suportar o sofrimento?
ra de caça e de peixe. Nossos avós e nossos pais 20 foram para a Batedeira, que é terra do Como ela pode dizer que nós não ocupamos a
viviam livres, sem sujeição de ninguém. Eram co- Aldeamento e ainda hoje estão lá e para o Urubu, nossa terra, que não tem tradição de presença dos
nhecidos na vizinhança e em toda região por ín- do outro lado do rio, foram seis famílias. Tremembé nesse terreno, se a nossa terra foi in-
dios Tremembé. Nas grandes secas eles faziam Das famílias do Córrego Preto, três foram expul- vadida pela empresa Ducoco e que de lá foi ex-
plantações dentro das lagoas, para sobreviver. sas: (...) Nós da Varjota, enfrentamos a Firma, re- pulsa 80famílias Tremembé, só da Tapera? E mais
Nossa cultura era o Torém, a Aranha e a Bulieira. sistimos durante quatro anos. Nossa terrafoi cer- três famílias do Córrego Preto?
Principalmente no tempo do caju que é o tempo cada, nossas plantas foram destruídas. Mas não (...) Nós também temos uma certidão quefoifeita
próprio do nosso ritual. Sempre nossos avós e nos- saímos das nossas moradias. Jyelo Cartório doAcarau de 50 anos para trás. Onde
sos pais eram convidados para a dança do Torém. Procuramos orientação e encontramos apoio na éque tem essa prova de que durante 100 anos nun-
Nos anos 70, uma empresa de coco comprou as Diocese de itapipoca. Demos entrada no pedido ca viveu os Tremembé nesse terreno que hoje está
terras do Aquino e da Miranda, a Fazenda São de usucapião coletivo na Justiça doAcarau. Nós localizada afirma Ducoco? (...) (Conselho Indíge-
Gabriel, que é nossa mzinba. Ela quis comprar a quisemos lutar pela nossa terra como índio, mas na Tremembé de Almofala, 20/10/%, assinado por
Taperinha, mas o Aquino não vendia. Primeiro, não encontramos o caminho para fazer isso. No 12 lideranças Tremembé e editado pelo ISA)
terras de Assunção", explica Uairandyr de Oli- dias invadiram a representação indigenista no ras dos índios Truká, em Cabrobó. Segundo 0
veira. De acordo com o procurador da Repú- Sertão de Moxotó. Os índios fizeram a ocupa- delegado de Cabrobó, Varoberto de Souza, os
blica, os índios ocupam a ilha desde o século ção para pressionar a Funai a garantir a posse traficantes não têm interesse na desapropria-
XVII, Neste século, as invasões provocaram su- deles em quatro mi! ha da ilha de Assunção, e ção das terras do arquipélago, onde vivem mais
cessivas perdas do território indígena, que de reivindicar o controle de uma estação experi- de dois mil índios e cerca de 37 posseiros, e
6.000 ha (área total da ilha) loi reduzido aape- mental que o IPA deixou nas terras da tribo. onde, há 20 dias, a Polícia Federal queimou 20
nas 1.650 ha, através do decreto de 1984, de- Segundo o administrador da Funai em Arco- mil pés de maconha. O líder da rebebão dos
marcado dez anos depois. Algumas das cerca verde, esta última questão é mais delicada. Ele Truká, Aflson Truká, confirma a presença de
de mil famfllas Truká deixaram a reserva nos disse que a Justiça reconheceu o direito do IPA traficantes nas ilhas e diz que, além de amea-
últimos anos e moram nos municípios de reaver a estação e prometeu determinar a pos- çar os funcionários da Funai e Incra que reali-
Petrolina e Santa Maria da Boa Vista.
se ainda hoje. Para João Ferreira, “se isso acon- zam 0 levantamento fundiário, os traficantes já
Cansados de depender da Funai para defender tecer, as consequências são imprevisíveis, por- atiraram contra índios e contam com 0 apoio
seus interesses, aproximadamente 300 índios in- que o cacique Ulisses Mendes prometeu reagir de diversos posseiros. Ontem, os Truká que
vadiram e ocuparam, em setembro, áreas fora à determinação judicial”. comandam a rebelião, entraram em acordo
da reserva, no extremo oposto de Assunção. A Ferreira disse que entrou em contato com o IPA, com a administradora regional substituta da
ocupação indígena já rendeuàS* Vara da Justiça ontem, informando da disposição dos índios, mas Funai, Esteia Parnes, e liberaram os agrônomos
Federai, em Petrolina, três ações de reintegra- não recebeu nenhuma resposta. Segundo ele, os Alexandre Didier e Marcos Florentlno Ferraz,
ção de posse, com pedido de liminar, em apenas Truká não querem tomar a propriedade do Esta- que esíavam como reféns do grupo há dois dias,
5 meses. O juiz Rogério de Meneses Fialho do. Pedem apenas o direito de explorar a esta- Os índios também prometeram moderar 0 pro-
Moreira, deferiu os pedidos de liminar, em favor ção em regime de comodato. Isso permitiria que testo, até a retomada do levantamento. (Diário
do hisiiiuto de Pesquisas Agronômicas de Per- eles plantassem lavoura de subsistência e usas- de Pernambuco, 08/05/99)
nambuco (IPA), que mantém uma estação de sem um secador e uma despolpadeira no
pesquisas na ilha, além de fazendeiros. No docu- benelkiamento de arroz que cultivam na área.
mento, Meneses lembra que a reserva indígena, Com relação às reivindicações que os índios fa-
TUXÁ (BA)
reconhecida pela Funai, se hniita aos 1 .650 ha e zem à Funai, o administrador disse que elas já
que os Truká não comprovaram a posse efetiva
estão tramitando em Brasília. Além da posse dos SEDE DA CHESF É OCUPADA
da área ocupada durante a invasão. Rogério quatro mil ha, os Truká pedem financiamento
Meneses explica, também, que a liminar é provi- Inconformados porque a Chesf até hoje não
bancário para investir em melhorias na ilha.
sória e que a ação ainda não foi julgada em cará- implantou o projeto de irrigação em suas ter-
(Diário de Pernambuco, 05/03/97)
ter definitivo, se encontrando em fase de instru- ras,prometido há 1 1 anos, 164 índios Tuxá
ção (recolhimento de provas). ocuparam na madrugada de ontem a sede da
Apesar da tramitação da ação judicial, o procu-
DOIS REFÉNS EM CABROBÓ empresa em Salvador. “Só sairemos daqui quan-
rador Uairandyr de Oliveira aposta e luta pelo índios Truká tomaram dois reféns anteontem, do estiver tudo resolvido”, diz Adelino dos San-
entendimento entre as partes, que garanta lau- na reserva, na Ilha de Assunção, em Cabrobó. dos líderes da tribo, que promete: “se
tos, uin
to o direito histórico dos índias como o direito Estão com eles um funcionário da Funai e um não atenderem a gente, vou mandar buscar o
dos posseiros, fazendeiros e IPA. As 170 famíb- do Os índios querem a retomada do le-
Incra. restante”. (A Tarde, 06/05/97)
as de posseiros que moram na ilha de Assun- vantamento que estava sendo feito para ampliar
TRAÍDOS” PELO RÁDIO de ameaçar os índios nas eleições municipais de e ônibus nas vias de acesso à aldeia Pedra
96, obrigando-os a votar no candidato a verea- ÍVÁgua, transportando índios de diversas etnias,
Entre as contestações apresentadas contra a área
dor Antônio Pereira (PSB), também Xukuru. O simpatizantes da causa indígena e outros inte-
Xukuru, pelo menos 30 são de Xukuru, segun-
protesto ocorreu na aldeia São José, em frente ressados em participar da cerimônia. As etnias
do o cacique Chicão. Os índios contestaram suas
ao posto da Funai, e contou com a presença do Pankaram, Truká, Fulni-ô e Kapinawá, de PE,
próprias terras levados por uma propaganda
prefeito de Pesqueira, Eutrópio Monteiro ( PSDB) Potiguara, da PB, Xokó. de SE e Xukuni-Kariri
enganosa de uma rádio local que os convidou a
vereadores, dirigentes do PSB e cerca de 400 ín- e Karapotó, de AL, enviaram representantes.
aparecer no Sindicato Rural de Pesqueira com
dios. Além de solicitar apoio às autoridades, os O pajé Xukuru, Pedro Rodrigues Bispo, deu iní-
a “papelada" para que suas terras fossem regu-
Xukuru dançaram o Toré, recorrendo a llipã para cio ao ritual de pajelança às oito horas da ma-
lamentadas.
livrá-los desta chama de calúnias. Ao final do pro- nhã. Quarenta índios de diversas etnias, trajan-
Quem dá este depoimento é Manoel José da Cruz,
testo, foram redigidos documentos pelos chefes do o totá ( traje típico) ,
ajoelharam-se diante do
64 anos, um dos que contestaram a área de dez
das 23 aldeias e um abaixo assinado, que serão caixão, chorando ao som grave e triste das flau-
ha na aldeia chamada de Caetano. Sem saber ler
entregues à Funai, Ministério da Justiça, governo tas de bambu nativo. Um grupo de católicos do
nem escrever, ele afirma que foi ao Sindicato,
do Estado e outras instituições, até mesmo do Movimento de Renovação Carismática que en-
"para ajeitar a papelada e ficar em dia com o
exterior. toava cânticos foi silenciado por algumas índi-
documento”. Seu primo, Alexandre José da Cruz,
As acusações ao cacique Chicão foram feitas atra- as. “Parem com isso e respeitem nosso cacique.
76 anos. também foi levado pela mesma propa-
vés de uma carta sem assinatura, mas com o tim- Ele deve ser enterrado como índio e não como
ganda e parou na porta do Sindicato. “Não con-
bre da Comissão de Justiça e Paz do município, branco", gritava Tania de Souza, pedindo silên-
testei nada. Fiz isso enganado", argumenta.
datada de setembro, que foi enviada ao Ministé- cio para o ritual da pajalança. Dançando o toré
As declarações dos dois índios são contestadas pelo
rio da Justiça e de lá seguiu para a Funai. A carta e tocando as maracás, os índios depositaram o
presidente do Sindicato Rural de Pesqueira,
afirma que “o cacique Chicão criou um grupo de caixão na cova. A viúva Zenilda Maria de Araújo
Fernando Queiroz: “Desconheço esta propagan-
12 pessoas, o quaJ chama de comissão, que de- balbuciava, com emoção: “acode teu filho, mãe
da e os que compareceram ao Sindicato foram
cide todas as ações, inclusive até quem deve mor- natureza. Faz justiça pelo sangue derramado”.
proprietários de terras, que têm suas escrituras e
rer e executar as mortes”. O pároco de Pesquei- Estão correndo em paralelo os inquéritos civil
pagam imposto territorial. Não me consta que se-
ra, pe. Agenor, não soube justificar como a carta e federal, até que seja confirmado se o crime
jam índios". (Diário de Pernambuco, 14/04/%)
partiu do município, já que a Comissão de Justi- está ou não vinculado à questão da luta pela
ça e Paz é ligada à Igreja Católica. demarcação das terras indígenas, condição para
TI É RETIRADA DA
O cacique apontou os fazendeiros instalados no que o processo siga na esfera federal. A Polícia
LISTA DE HOMOLOGAÇÃO da reserva, da cidade e até o depoimento de
interior políticos índi- Civil já registrou 1
2 pessoas.
A terra dos Xukuru, que já está demarcada fisi- os traidores como autores das denúncias. Segun- (Jornal do Commércio e Diário de Pernam-
camente, estava listada com as outras 22 Tis en- do ele, a intenção é emperrar o processo de de- buco, 23/05/98)
caminhadas no último dia 03 de novembro ao marcação das terras, sujando a imagem dos
presidente FHC para assinatura dos decretos de Xukuru. O processo vinha em ritmo normal de
homologação, e foi retirada na última hora. O tramitação, até o surgimento da tal carta de acu- ENTREVISTA COM CHICÃO
motivo foi uma decisão do STJ, impedindo a ho- sações. (Diário de Pernambuco, 28/11/97) Chicão. que saiu de Pesqueira em 1975 para tra-
mologação da demarcação daquela terra, bem balhar em São Patdo, viajou o país como traba-
como a retirada dos ocupantes ilegais. A decisão LÍDER É ASSASSINADO lhador da construção civil. Tendo um dia voltado
a PP para tratamento médico, descobriu que es-
doSTJ foi dada no âmbito de uma Ação Judicial, EM PERNAMBUCO tava com leucemia. Restava-lhe pouco tempo de
chamada de Mandato de Segurança, de autoria
Francisco de Assis Araújo, Chicão Xukuru, foi vida, avisaram os médicos.
de Gileno de Carli.
assassinado na manhã do último dia 20 com Suma entrevista concedida ao Centro de Cultura
A decisão é preocupante, pois representa um Luiz Freire, de PE, revelou que a doença o levou a
quatro tiros quando saía de casa, no município
perigoso precedente. Agora, é necessário que o fazer unut promessa a 1'amaim, Sossa Senhora das
de Pesqueira (PE). A informação foi divulgada
governo federal se empenhe em obter a modifi- Montanhas. "A promessa que eu fiz era que eu ia
pelo Jornal do Brasil.
cação da decisão contrária aos Xukuru. É preci- trabalhar para meus paren tes até a hora de mor-
Segundo o jornal, Chicão Xukuru era presidente
so que o presidente FHC determine à Advocacia rer, enquanto eu tivesse vida". Um mês e pouco
da Associação dos Povos Indígenas do Nordeste depois, estava curado. Era hora de cumprir o pro-
Geral da União que recorra dessa decisão, pe-
dindo sua anulação. Está claro que a decisão foi
e estava à frente de um movimento que visava a metido. E nãofoifácil, desde o início. A comuni-
CHICÃO DE CALÚNIAS EM GRUTA NA MATA dio tem, o direito que o índio tem e a obrigação
que o governo tem para com os índios".
Os Xukuru realizaram, ontem, um protesto em Uma multidão estimada em três mil pessoas "Comecei a me interessar {tela demarcação de ter-
apoio ao cacique Chicão e mais 1 2 índios, acu- acompanhou, ontem, o enterro do cacique ra porque, até então, eu achava que o trabalho
sados de serem responsáveis por sete crimes Chicão. Logo nas primeiras horas da manhã, já da gente de cobrar a terra era irregular, era fora
ocorridos na cidade. Chicão também é acusado era grande o movimento de carros, caminhões da lei". (Sem Fronteiras, n° 236, oul/98)
MULHERES INVADEM A XUKURU-KARIRI (AL) Mana Xukuru explicou que atualmente existem
PROTESTO EM RECIFE nham que promover matança. Revoltado, Belo horas, um trecho da BR- 101 ,
que figa AL a PE, na
garante que os proprietários estão nas terras há altura do mmticípiojoaquim Gomes, onde fia a
Um grupo de 98 índios Xukuru de Pesqueira
mais de 1 50 anos e que não eslão dispostos a
aldeia, a 80 km de Maceió.cobram R$ 1,00
Eles
protestou, ontem, em frente à Assembléia
sairde lá. “Por que a Funai não procura terras de pedágio por cada veículo que passa pelo tre-
Legislativa contra o atraso na conclusão dos in-
que não estejam sendo cultivadas? São cerca de cho interditado. O cacique Severino Anlonio da
quéritos que investigam o assassinato do líder
200 índios contra cinco mil proprietários e não Silva disse que as 364 famílias Wassu estão pas-
Chicão. “Os inquéritos estão atrasados pelo
vamos perder nossos direitos", advertiu. sando fome e o pedágio é uma forma de arreca-
menos dois meses. Não conseguimos informa-
Em cumprimento à Portaria 689/97 da presi- dar dinheiro para comprar comida. O protesto
ções precisas sobre o andamento dos proces-
dência da Funai, a representação do órgão em deve durar 15 dias, até que o governo federal
sos na Justiça, nem aposse de nossa terra. Ain-
Alagoas está concluindo o levantamento libere RS 680 mil para financiar a agricultura de
da sofremos constantes ameaças", relatou José
fundiário da região, que deve ser enviado a subsistência na aldeia. Se o financiamento não
de Santa, um dos líderes da tribo. À cerimônia
Brasília até o final deste ano, para ser analisa- for liberado, o pedágio será reiniciado no fim de
na Assembléia serviu para a entrega de um
do. “já realizamos o levantamento antropológi- agosto, por mais 15 dias.
dossiê. Em seguida, os índios saíram em passe-
co e agora três equipes estão fazendo o O protesto ocorreu pacificamente. Armados de
ata no Centro de Recife, passando pelo Palácio
fundiário”, explica o administrador regional da foices e vestidos a caráter, os índios paravam os
das Princesas, em direção ao Ministério Públi-
Funai, Paulo Fernando da Silva. Ele garantiu que, carros, pediam ajuda e anotavam as placas dos
co. (Jornal do Commércio, 06/09 e Diário de
se forem obrigados a desocupar as terras, os veículos que não contribuíam. Quem queria con-
Pernambuco, 11/09/98
proprietários terão todos os direitos assegura- tribuir. era liberado. Para o cacique Severino, a
dos pelo governo, receberão indenizações dos receptividade das pessoas superou as expectati-
GARANTIA DE VIDA vas e, na primeira hora de pedágio, arrecada-
valores das benfeitorias e deverão ser assenta-
Os índios Xticuru Marcos Luidson de Araújo, dos em outras áreas, (O Jornal -Ai, 14/10/97) ram R? 80,00. “A contribuição é importante, mas
23, filho do cacique Chicão, ejosé Barbosa dos o principal objetivo do pedágio é chamar a aten-
Santos, 52, usando pinturas de guerra, em com- TIROTEIO MARCA ção do governo federal para a situação da tribo”,
panhia da viúva de Chicão, Zenilda Maria de ENTERRO DE PAJÉ disse o cacique. (Diário de Pernambuco
Araújo, 48, forant pedir, ontem, garantia devida 30/07 e 0 Liberal - Belém, 01/08/97)
índios Xukuru-Kariri da Fazenda do Canto troca-
ao governador Jarbas Vasconcelos, Eles tam-
ram tiros ontem, no fim da tarde, durante a ceri-
bém estiveram na OAB denunciando que os as- CRISE EM
AL PREJUDICA
mônia fúnebre do pajé Miguel Celestino da Silva.
sassinos do cacique vêm fazendo ameaças de O CRÉDITO DOS ÍNDIOS
morte à viúva e às lideranças Xucuru. “Eles pen-
O índio Dorgival Ricardo da Silva letiton matar
Manoel Celestino, ex-cacique e sobrinho do pajé Além dos funcionários públicos civis e militares
savam que com a morte do meu marido a luta
sepultado. Manoel revidou os tiros, causando e do comércio de Maceió, que quase quebrou, a
pelas terras terminaria", disse Zenilda. (Jornal
pânico e revolta nos familiares do pajé. crise administrativa em Al fez vítimas também os
do Commércio, 02/06/99)
Segundo os índios, Dorgival Ricardo há dois anos índios Wassu, que deixaram de receber R$ 680
esfaqueou o filho do pajé Miguel Celestino e foi mil porque o governo estadual, devido à
condenado pelajustiça a prestar serviços na Fun- inadimplência, perdeu o crédito junto à União.
dação de Amparo ao Menor, doar uma cesta bá- O dinheiro deveria ter sido liberado em 95, mas
sica por mês aos idosos necessitados e entregar como o governo Suruagy perdeu o controle so-
RS 300,00 ao pajé para despesas com medica- bre as contas públicas, o financiamento foi re-
— //\v I SA
10. ACRE
Copyrlghled malen;
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa |n°, fonte, data I (ha)
7 Alto Rio Punis Kaxinawa 1691 CPI/AC: 99* Homologada. Reg.CRI 263.129 Manuel Urbano AC PMACf. Faixa de fronteira.
Jaminawa Dâc.de 05/01.96 homologa a demarcação. Sta Rosa do Purus AC
Kulina (DOU, 08/C 1/96) Reg.CRI na Comarca de Manuel
Urbano Matr. N. 2.061 Liv. 2-RG, fl 130 em 17/01/96.
Reg CRI de Sena Madureira Matr. 2.U62.
Livro 2-RG, fl 131 em 17/01/96
354 Alto Iara ua cá Isolados 0 Identificada/Aprovada/Funai.Sujeíta a Contestação. 142.600 Feijó AC Faixa de fronteira. Isolados.
Port.Funai cria GT p/ estudas a identif. da TI. Foz do Jordão AC
Despacho do pres.da Funai aprova estudos
deidenliíic. |D0U, 20/04/00)
32 Arara Arara 200 CPI/AC;99 Em Identiíicação/Ravísãc. 27.700 Porto Walter AC Faixa de fronteira.
Igarapé Humaiíá Shawanaua Pqrt. Funai PP/2.747 de 31/07/67 interdita a TI.
373 Cabeceira do Rio Acre Jaminawa 123 CPI/AC: 99 Homologada. 78.512 Assis Brasil PMACI. Na fronteira, (solados na
Decreta s/n de 14/04/98 homologa cabeceira do rio Acre.
a demarcação (D OU. 15/04/98)
70 Campinas Katukina Pano 318 Lima, 98 Homologada Reg CRI.. 32.683 Ipixuna AM Faixa de fronteira. Rodovia
Katukina Dec. S/n de 12/08/93 homologa a demarcação Tarauacá AC BR-364 corta a área.
_ CRI de Ipixuna (6.762 hál
(DOU, 13/008/93) Rac.
Matr 76 LÍV.2-A 11. 76 em 25/07/95. Reg CRI de
Tarsuacé (25.861 há) Mat.758, Liv. 2-B fl 03
em T 2/01/95. 0F373 ao SPU/DAF em 26/1 1/93
125 Igarapé do Caucho Kaxinawa 310 CPI/AC: 99 Homologada. Reg CRI e SPU. 12.318 Tarauacá AC Faixa de fronteira.
Dec. 278 de 29/10/91 homologa demarcação
(0DU, 30/10/91) Rag. CRI de Tarauacá Mat. 583
LÍV.2-C, 11119 em 12/12/91
143 Jaminawa do Jaminawa 160 CPI/AC: 99 Homologada. 25.651 Rodrigues Alves AC Faixa de fronteira
Igarapé Preta Decretos/n de 11/12/98 homologa a demarcaç3c
(DOU. 14/12/98)
144 Jaminawa Jaminawa 165 CPI/AC: 99 Homologada. 28.926 Mal.Taumalurgo AC Faixa de fronteira. Faz limite com
Arara do Rio Bagé Arara Shawanaua Decreto s/n de 11/12/98 homologa a demarcação a Res. Extrat. Alto Juruá.
{DOU, 11/12/98) PortFunai n. 664 de 12/08/99 cria
CT p/efetuar pagtos de indenização por benfeitorias
consideradas de boa-fé. (QOU, 16/08/991
746 Kampa do Igarapé Ashaninka 21 Funai: 94 Delimitada. :m Demarcação. 21,800 Tarauacá Faixa de Fronteira.
Primavera Port. Min. n. 454 de 25/0G/98 declara de posse
permanente indígena {DOU, 26/06/98). Contrato
Funai e Asserplan - Engenharia e Consult. 3/
demarcar a TI. Valor RS 243.892,60 Vigência a .
158 Kampa do Rio Am&nea Ashaninka 318 Kitaka Mendes: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 87.205 Mal. Taumaturga AC Faixa de fronteira. Faz limite com o
Dec. s/n, de 23/11/92 homologa a demarcação PN da Serra do Divisor.
(DOU r 24/11/92). Reg. CRI de Marechal Taumaturgo
Matr. 3.764, Uv. 2L/RG, fl. 202 em 29/12/92, Reg. SPU
Cert.008, 23/11/95.
159 Kampa Ashaninka 230 CPI/AC: 99 Homúloqude. 232.795 Feijó AC Faixa de frontBira. Isolados
Isolados do Ria Envira Decreto s/n. de 11/12/98 homologa a demarcação Amauaka.
(DOU, 14/52/98).
168 Katukina/Ksxinawa Kaxinawa 536 CPI/AC: 99 Homologada. Reg. CRI. 23.474 Envira AM Parcialm/ na faixa de fronteira.
Katukina Shanenawa Dec. 283 de 29/10/91 homologa demarcação Feijó AC
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI da Faijó Matr. 439
Uv. 2-C, fl. .93 EM 04/10/89- Reg. CRI Envira
Matn.R-1 -223, Liv.2, fl. 223 em 06/05/97.
84 Kaxinawa da Kaxinawa 95 CPI/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 105 Tarauacá AC Faixe de fronteira. Dois loles
Colônia Vinte e Sete Dec.n.268de 29/10/91 homologa damarcação. demarcados em projeto de
(DOU. 30/10/91. Reg. CRI.de Feijó Matr. 321, colonização do Incra.
Liv. 2- B 141 em 04/09/85. Reg. SPU Cert. 005
em 15/04/96.
1332 Kaxinawa do Kaxinawa 203 CPI/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 7.700 Jordão AC Faixa de fronteira.
Baixo Jordão Port do ministro da Justiça n. 825 de 11/12/98
declara de posse permanente dos índios
(DOU, 14/12/98). Contrate Funai e Asserplan
Engenharia e Cons. p/ demarcar a TI. Vigência a
partir de 24/01/CD (DOU, 28/01/00). Resolução da
Comissão de Sindicância n. 91 de 1 6/05/00 considera
de boa fé 7 ocupantes da TI (DOU, 18/05/00).
Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF ObservaçBes
Mapa (r.°, fonte, data )
(ha)
170 Kaxinawa do Kaxinsws/Ashaninka 259 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 127.383 Fetjó AC Faixa de fronteira.
Rio Humana Dec. 279 de 29/10/ homologa demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI Matr. 313, Liv. 2-B,
fl. 252 em 08/10/86. Reg. SPU/RR-54 em 23/09/87.
171 Kaxinawa do Kaxinawa 920 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 87.293 Foz do Jordão AC Faixa de fronteira.
Rio Jordão Dec. 255 de 29/10/91 homologa demarcação
IDOU, 30/10/91).Reg. CRI de Tarauacá Matr. 332,
Liv. 2-B, fl. .219 em 04/07/88. Reg. SPU/AC-55
em 28/04/88.
172 Kaxinawa Nova Olinda Kaxinawa 150 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI. 27.533 Feíjó AC Faixa de fronteira.
Dec. 294 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU, 30/10/91) Reg. CRI de Feijó Matr. 439,
Liv. 2-C, fl, 105V em 01/08/90. Proc. SPU CT 091
SUAF em 30/04/90.
362 Kaxinawa Kaxinawa 246 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 61.307 Tarauacá AC Sem localização.
Praía do Carapanã Port. mín. 455 do 25/06/98 declara de passa
permanente (DOU, 26/06/981. Contrata Funai e
Asserplan Engenharia e Cônsul, p/demarcar a TI.
Vigência de um ano a partir de 2/01/00 (DOU. 23/01/00).
431 Kaxinawa Ashaninka 425 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 23.840 Mal. Taumaturgo Ne fronteira.
Ashaninka do Rio Breu Kaxinawa Portaria do Min. da Justiça n. 600 de 02/10/96
declara de posse permanente indígena. Contrato
Funai e Asserplan Engenharia e Consultoria p
demarcar a TI. Vigência de um ano a partir de
24/01/C0. (DOU. 23/01/00).
180 Kulina do Kulina 96 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 44.050 Feijó AC Faixe de fronteira.
Igarapé do Pau Portaria Min. da Justiça n. 308 de 16/08/93 declara
de posse permanente indígena {DOU, 17/08/93).
Contrato Funai e Pórtico Engenharia Ltdu p/
demarcação topográfica da TI. Valor RS 88.916,00.
Prazo um ano a paitir de 01/03/00 {DOU. 15/03/00).
182 Kulina do Rio Envira Kulina 235 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 84.365 Feijó AC Faixa de fronieira/lsolados.
Dec. 280 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI de Feijó Matr. 405,
Liv. 2-C em 04/08/88. Reg. SPU Cert. 013 em 1 1/1 2/96.
195 Mamoadate Machinerl 459 576 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 313.647 Sena Madureira AC PMACI, Na fronteira/lsolados na
Jantinawa 117 Dec. 254 de 29/10/91 homologa demarcação Assis Brastl AC cabeceira do rio laco. Faz limite
(DOU, 30/1D/91).Reg. CRI de Sena Madureira com a Estação Ecoiógica Rio Acre.
Matr. 1.518 . Liv. 2-E, fl. 143 em 09/04/87. Reg.
CRI Brasiléia Matr. 946 Liv. 2-C fl.167 em 08/10/87.
Reg. S PU/RR 357 em 01/05/87.
224 Nukini Nukini 425 CPl/AC: 99 Homologaca. Reg. CRI e SPU. 27.263 Máncio Lima AC Faixa da fronteira. Requerimento
Oec,4úO de 24/12/91 homologa demarcação de pesquisa mineral. Faz limite
(DOU, 28/12/91). Reg. CRI de Máncio Lima com o PN Serra do Divisor.
Matr. 3.620, Liv. 2-L, fl. 45 em 15/01/92.
Reg. SPU Cert. s/n. em 12/05/97.
253 Poyanawa Poyanawa 403 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 20.081 Mâncio Lima AC Faixa de fronteira.
Port. Min. da Justiça n. 67 de 02/03/93 declara
de posse permanente (D 0U, 03/03/93). Contrato
Funai e Asserplan, Engenharia e Consultoria Ltda.
p/ demarcar a TI. Valor RS 24.047,93. Vigência
269 Rio Greçório Katukina Pano 480 Qayerg: 98 Homologada. Rog. CRI. 92.859 Tarauacá AC Faixa de fronteira.
517 Xinana Isol. do ig. Xnane 0 CPl/AC: 99 A Identificar/lnterditada. 1757)00 Feijó Faixa de fronteira/lsolados.
Isol, do ig. Tabocal Port. Funai/PP/3.765de 13/11/87 interdita a área
para estudos e definição. (DOU, 01/12/87).
mada por 1 2 diferentes povos falantes de línguas Pano, Aruak e das pelas comunidades indígenas, suas lideranças e organizações de
representação política e pelas entidades não governamentais de apoio
Arawá. Essa estimativa, no entanto, não inclui os integrantes de
aos índios.
diferentes grupos "isolados”, que perambulam ao longo de toda a
fronteira internacional com 0 Peru. As iniciativas do Gotemo da Floresta, nome com 0 qualfoi batizada
a nova administração estadual, devem apoiar 0 avanço dos proces-
Nos últimos 25 anos, foram reconhecidas pelo governo federal 28
sos de regularização das terras indígenas do Acre. dando condições
terras indígenas no Acre. Situadas em 1 1 dos 22 municípios para a vigilância de seus limites, o uso sustentado de suas riquezas e
acreanos, essas terras abrangem hoje 2.167.046 ha ou 14,3% da a preservação dajhresta. Devem também viabilizar a continuação
superfície do estado. Desse total . 1 7 terras, que representam 7 1 ,3% dos processos deformação de professores bilíngües, agentes de saúde
da extensão das terras indígenas existentes no estado, tiveram suas e agroflorestais e outros recursos humanos locais. Em linhas gerais,
demarcações físicas homologadas por decretos presidenciais. Des- essas iniciativas precisam, portanto, garantir a melhoria da quali-
dade de vida dets populações indígenas, no tocante à cidadania, educa-
sas, 1 3 têm concluído seu processo de regularização fundiária,
ção, saiíde, alternativas econômicas, trans/xirte e comunicação.
estando registradas em cartório de imóveis e cadastradas na Se-
façam o acompanhamento dos trabalhados da empresa durante a e Aliamira, com extensão de 14.750 ha, adquiridos pela Associa-
ção dos Seringueiros Kaxinawá do Rio Jordão (ASKARJ) com re-
demarcação suas terras.
cursos do Prêmio de Direitos Humanos da Rccbok, recebido por
Apenas em dezembro de 1999, contudo, aFunai logrou encerrar o seu presidente, Siã Kaxinawá, em 1993- Em março do ano seguin-
-
processo licitatório para a contratação da empresa, a Asserplan te, grupo técnico instituído pela Portaria n° 1 .204/93 visitou estes
Engenharia e Consultoria Ltda., que demarcará as primeiras cinco seringais e realizou os estudos que embasaram o relatório de iden-
terras, trabalho que leve início em fevereiro de 2000. A demarca- tificação e delimitação, entregue à DAF em novembro de 1995.
ção da terra Kulina, a cargo da Pórtico, tem início previsto para
Nos últimos cinco anos, a ASKARJ e as lideranças Kaxinawá têm
abril. No segundo semestre está prevista a indenização das
reivindicado o reconhecimento oficial desses dois seringais como
benfeitorias das famílias de seringueiros que ainda vivem em três
“terra dominial indígena”, conforme previsío na Lei 6.001/73. Esta
destas terras: a Kampa do Igarapé Primavera e as Kaxinawá do
demanda recebeu pareceres favoráveis do Departamento de Iden-
Carapanã e do BaLxo Rio Jordão.
tificação e Delimitação, da DAF. No entanto, dois pareceres da Pro-
Nos próximos anos, a Funai, com recursos do PPTAL, pretende curadoria Geral do órgão indigenista, emitidos em 1996 e 1997,
concluir a demarcação e regularização de outras quatro terras, por considerar que os seringais não constituem terra tradicional-
situadas em três municípios do Alto Juruá: Jaminauá-Envira e mente ocupada pelos Kaxinawá, levantaram obstáculos legais à
Xinanc,em Feijó; Alto Tarauacá, em Jordão; e Arara do Igarapé criação dessa terra indígena. Em dezembro de 1999, a nova dire-
Humaitá, em Porto Walter. Embora constasse como prioridade no toria da DAF determinou que a administração da Funai de Rio Bran-
POA do PPTAL desde 1998, os estudos para a reidenlificação dessa co assessore o presidente da ASKARJ no registro em cartório des-
última foram iniciados pelo grupo técnico Instituído pela Portaria tes dois seringais em nome do povo Kaxinawá, de forma a abrir
n° 031/Pres, de 26 de janeiro de 2000. alternativas efetivas para seu reconhecimento como terra dominial.
Cabe ressaltar que a TI Kaxinawá do Seringal Independência cons-
Em futuras listas de prioridades do PPTAL, é importante a inclusão
ta, desde 1996, de todas as listagens de terras elaboradas pela DAF
da identificação da TI Kaxinawá do Seringal Cürralinho. situada
e pelo PPTAL.
em Feijó, de forma a garantir os direitos das famílias indígenas
que ali moram há décadas que nos últimos anos têm sido alvo de A segunda terra, situada no seringal Boa Vista, no rio Caeté, em
ameaças e violências por parle de pretensos proprietários e da Sena Madureira/AC, é para onde, em 1997, a Administração da
polícia militar local. Demandas neste sentido têm sido feitas desde Funai local levou várias famílias Jaminawa que mendigavam nas
1988 pelas lideranças Kaxinawá, com apoio da Organização dos ruas de Rio Branco. Na época, esta foi a alternativa encontrada
Povos Indígenas do Rio Envira (Oplre) e da própria Administra- para tentar dar a essas famílias meios mais dignos de vida e aten-
ção Executiva Regional da Funai de Rio Branco (AER-RBR). A der às recorrentes cobranças feitas pelo Ministério Público Fede-
tradidonaiidade da ocupação dos seringais que incidem na área ra], por diferentes órgãos do governo esladual, pela imprensa e
25 anos, pelas populações indígenas no estado. Se houver vontade em 1996- No ano seguinte, o seringueiro Domingos Neves foi mor-
política para participar destes processos, através de convênios e to a flechadas no seringal Alegria, no rio Douro, afluente da mar-
outras formas de parceria, o governo estadual poderá assegurar gem direita do Tarauacá, a pouco mais de um dia de viagem da
recursos federais e/ou da cooperação internacional para garantir sede municipal. O acirramento dos conflitos, as ameaças de re-
a regularização fundiária dessas duas terras de pretensão indígena. presálias por parte dos seringueiros e a ampla divulgação dada
aos acontecimentos na imprensa de Rio Branco motivaram, em
março de 1998, a ida à região do chefe do Departamento de índi-
cio deste século, frequentes têm sido os conflitos, inclusive com Atendendo recomendação dos chefes do DII e da FCE, a presidên-
inúmeros casos de morte, envolvendo, de um lado, os “isolados” cia da Funai promulgou a Portaria n° 476 de 2 1 de maio de 1998,
e, de outro, índios Kaxinawá, Ashaninka, Kulina, Manchineri e se- restabelecendo, pelo prazo de três anos, a “restrição ao direito de
vamente, que constavam na Porlaria n° 3.764 de 13 de novembro mente a fuga dos integrantes da FCE. Nada roubaram, apenas ma-
de 1987, que interditara a área para “fins de estudo e definição”. taram os cachorros e as criações domésticas. Em reconhecimento
feito dias depois, foram localizados cerca de 45 tapiris que tinham
Em seguida, a presidência da Funai constituiu grupo técnico (GT) servido como locais de acampamento para famílias extensas intei-
pela Portaria n“ 483 de 22 de maio de 1998, para proceder com a ras, homens, mulheres e crianças. Segundo informações presta-
identificação e delimitação dessa 11. Os integrantes do GT estive- das posteriormente peio sertanista da Funai, trata-se de índios "iso-
ram em campo nos meses de junho e julho deste ano, percorren- lados”, conhecidos como Masko, que habitam território peruano
do a pé o rio Douro, de sua foz às cabeceiras, todo o alto curso do e perambulam entre a margem direita do alto rio Purus e as cabe-
rio Tarauacá, de suas cabeceiras até a foz do Douro e o alto rio ceiras do rio laco e do igarapé Abismo, adentrando, no verão, a TI
Murú, visitando todos os seringais incidentes na TI, bem como as Mamoadate para pescar e coletar ovos de tracajá e tartaruga.
colocações então ocupadas e outras que haviam sido recentemen-
"Isolados” do rio Humaitá
te desocupadas por seringueiros regionais, devido aos constantes
No sobrevoo realizado pelos sertanistas da Funai, em fevereiro de
ataques e saques promovidos por índios “isolados”. Foram, então,
1998, nas cabeceiras do rio Humaitá foram localizadas três malocas
preenchidos os laudos de vistoria e avaliação de benfeitorias das
de índios “isolados”. No ano seguinte, estes índios invadiram e
53 famílias de seringueiros acreanos, que ocupavam colocações
roubaram diversos instrumentos de trabalho na aldeia São Luiz,
de vários seringais do rio Douro e do alto Tarauacá.
situada na TI Kaxinawá do Rio Humaitá.
a
No final dc 1998, a 6 Câmara de Coordenação e Revisão da Pro- "Isolados” do Xinane
curadoria Geral da República encaminhou oficio à diretoria da A TI Xinane, com extensão estimada em 175.000 ha, situada na
DAT, solicitando informações a respeito das providências já margem direita do rio Envira, no Município de Feijó, também des-
adotadas para a conclusão dos estudos de identificação e delimita- tinada a grupos “isolados”, foi interditada em 1987 para “fins de
ção dessa terra indígena. Em maio do ano seguinte, a Procurado-
esludo e definição”. Desde então, nenhuma providência foi toma-
ria da República no Estado do Acre enviou oficio à presidência da da pela Funai para a realização dos estudos de identificação e de-
Funai, recomendando que o órgão amasse com urgência para evi- limitação, agora prevista no POA do PPTAL para o ano 2000. É
tar o agravamento dos conflitos e problemas sociais, já em curso importante que o governo estadual faça gestões junto à Secretaria
na região, e tornasse disponíveis os recursos para a indenização Técnica do projeto e diretoria da DAF para garantir o reconheci-
das 53 famílias de ocupantes não-índios. Muitas destas, com medo mento oficial e a regularização desta terra, processo no qual a PCE
de novos conflitos e mortes, haviam abandonado suas colocações poderá prestar relevantes serviços.
e rumado para a sede do Jordão ou para a cidade de Tarauacá.
Das 401 pessoas cadastradas em meados de 1998, apenas 174 Tendo em vista o peso que a existência dos índios “isolados” joga
na questão dos limites internacionais com o Peru, bem como a
continuavam morando ali um ano depois,
importância da manutenção de suas terras, áreas de perambulação
O relatório de identificação e delimitação da TI Alto Tarauacá foi e formas tradicionais dc vida, é desejável que o governo do estado
entregue à D AP, em janeiro de 2000, pelo antropólogo .Antônio estabeleça parceria com o órgão indigenisla oficial, visando forta-
Pereira Neto, coordenador do GT e atual administrador regional lecer as atividades da FCE, dotando-a de infra-estrutura necessária
da Funai de Rio Branco. Esta terra, com extensão de 142.600 ha e e de maiores recursos humanos e financeiros.
Em maio de 1998, durante os trabalhos de demarcação física da bem como de incorporar suas demandas ao planejamento e exe-
TI Kampa e Isolados do Rio Envira, no município de Feijó, e logo cução de ações preocupadas em conciliar o desenvolvimento do
após o sobrevoo realizado por sobre suas malocas, os “isolados” estado, aproteção do meio ambiente e amelhoria da vida de todos
atacaram a sede da FCE e queimaram todas as suas instalações. Os os acreanos do Alto Juruá. Provas disso foi a realização da audiên-
funcionários da empresa de topografia e da FCE, junto com índios cia pública na cidade de Cruzeiro do Sul, em julho de 1999, e a
Kampa que os acompanhavam na abertura das picadas, tiveram de formação de uma comissão interinstltucional para acompanhar a
ser resgatados por um helicóptero do Exército, após terem sido revisão do EIA/RÍMA anterior, elaborado, três anos antes, no go-
cercados por índios “isolados”. verno de Orleir Cameli. As reuniões que se seguiram, contando
ESPECIAIS INDÍGENAS O Governo da Floresta deve priorizar ações que fortaleçam ou im-
Na saúde também ganharam contorno canais institucionalizados, plantem sistemas coletivos de transporte nas aldeias, através da
envolvendo o Ministério da Saúde, a Fundação Nacional de Saúde compra de embarcações motorizadas e veículos terrestres, bem
(Funasa) e a União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazo- como da reforma de barcos e equipamentos já existentes, aliadas
tos Sanitários Especiais Indígenas no Acre, O primeiro, com sede mecânica. Por outro lado, é primordial a oferta de serviços fluvi-
na capital Rio Branco, tem área de abrangência nos municípios ais públicos de transporte de passageiros e da produção, que li-
acreanos do Vale do Acre e Alto Purus, contemplando ainda os guem com periodicidade regular as aldeias, seringais e sedes de
municípios de Boca do Acre e Pauini, no Amazonas; o segundo, municípios menores às principais sedes municipais.
com sede na cidade de Cruzeiro do Sul, abrange os oito municípi- Há hoje no estado duas redes de radiofonia gerenciadas por orga-
os do Alto juruá acreano. Convênio assinado com a Funasa, em nizações indígenas, a da UNI e a da ASKARJ, implantadas com re-
setembro de 1999, garantiu à UNI, pelo prazo de três anos, o papel cursos do PPTAI/KfW e da Comunidade Econômica Européia, atra-
de gestora do processo de criação e gerenciamento dos dois dis- vés de parcerias com o Programa Amazônia, de Amigos da Terra.
tritos sanitários.
É importante alargar a área de abrangência destas duas redes, de
Os próximos anos serão marcados pelo enorme desafio de viabilizar maneira a possibilitar a ágil circulação de informações entre as
a implantação desses dois distritos, através do estabelecimento de aldeias, as sedes municipais e a capital do estado, mobilizando
formas concretas de parceria entre as comunidades, o movimento lideranças locais, o movimento indígena e as organizações oficiais
indígena, os órgãos governamentais das esferas federal, estadual e e não governamentais de apoio.
municipais e as entidades não-governamentais de apoio.
A instalação de equipamentos de radiofonia cm terras indígenas,
Apesar da existência de um fórum institucionalizado para o enca- ainda não ligadas a essas redes, é iniciativa louvável, que deve vir
minhamento inicial das questões relativas à saúde indígena, neste junto com ações que garantam assistência técnica aos rádios já
primeiro momento sob atribuição direta da Funasa e da UM, é existentes, através de parcerias com a UNI e a ASKARJ,
fundamental que o Governo da Floresta participe desse processo,
A instalação de redes internas em terras indígenas maiores, onde
através da garantia de bom atendimento aos pacientes índios nos
há aldeias espalhadas por diferentes partes do território, é uma
hospitais dos municípios, da regularização e construção dos pos-
estratégia a ser também contemplada, de maneira a potencializar
tos de saúde e, ainda, do apoio a processos continuados de
mobilizações locais com vistas à vigilância territorial, atividades
capacitação dos agentes de saúde c outros recursos humanos locais.
econômicas, reuniões, saúde, educação e representação política.
muitas famílias indígenas do estado. sando fortalecer as atividades agrícolas e de pesca, bem como