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B. R. B. Florentino e W.

Melo 3

A INSERÇÃO DA PSICOLOGIA NO SISTEMA ÚNICO


DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: NOTAS INTRODUTÓRIAS
THE INSERTION OF THE PSYCHOLOGIST IN THE SOCIAL ASSISTANCE SYSTEM:
INTRODUCTORY NOTES

Bruno Ricardo Bérgamo Florentino1, Walter Melo2

Universidade Federal de São João Del Rei, São João Del Rei, Minas Gerais, Brasil

RESUMO
A implantação do Sistema Único de Assistência Social, para além de representar uma nova estratégia na
prestação dos serviços socioassistenciais, baseada no paradigma dos direitos, apresenta-se como uma pers-
pectiva de abandonar o assistencialismo e adentrar a profissionalização dessa política. Diante do exposto,
o presente artigo discutirá a inserção da Psicologia nesse contexto, assinalando as principais considerações
que envolvem as equipes de referência que ofertam os serviços socioassistenciais, a destacar, sobretudo, as
possibilidades e desafios do psicólogo. A partir de uma revisão de literatura, utilizando o método descritivo,
os resultados apontam que a inserção da Psicologia no SUAS representa uma grande possibilidade para a
efetivação dessa política pública; no entanto, para tal, os profissionais terão de enfrentar alguns desafios
inerentes à própria constituição da assistência social e da profissão.
Palavras-chave: Sistema Único de Assistência Social; psicologia; assistência social; exercício profissional.

ABSTRACT
Deploying Unified Social Assistance, as well as representing a new strategy in the provision of social as-
sistance services, based on the paradigm of rights, is presented as a perspective from leaving welfare and
entering the professionalization of this policy. Given the above, this article will discuss the inclusion of
psychology in this context, noting the main considerations that involve reference teams that offer the social
assistance services, to highlight above all the possibilities and challenges for the psychologist. From a litera-
ture review, using the descriptive method, the results indicate that the inclusion of psychology in ITS is a
great possibility for the realization of this policy, however, for such professionals will face some challenges
inherent to constitution of social assistance and the profession.
Keywords: Attitudes; violence in schools; adolescents; scale; validity.

1
Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ); bruno_psicologia@hotmail.com
2
Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ); wmelojr@gmail.com

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A inserção da psicologia no sistema único de assistência social: notas introdutórias 4

Introdução A discussão está estruturada em três mo-


A atual política de assistência social, edi- mentos distintos e complementares. Inicialmente,
ficada sobre as matrizes do Sistema Único de As- apresentar-se-á certos aspectos do Sistema Único
sistência Social (SUAS), atravessa um contexto de Assistência Social (SUAS), como as caracte-
praticamente inédito (se comparado à história da rísticas, as diretrizes e a reorganização da oferta
assistência social no Brasil) no que se refere à ga- de serviços socioassistenciais, com destaque para
rantia dos direitos sociais. É inegável que se trata de uma nova representação de proteção social e a
uma política social que, nos últimos anos, vem se profissionalização da política de assistência social.
transformando e aprimorando seu modus operandi. No segundo momento, discutir-se-á a pro-
Dentre algumas transformações, ressalta- fissionalização das ações, serviços, programas, proje-
se o nobre esforço para profissionalizar a política tos e benefícios socioassistenciais a partir da consti-
de assistência social, ofertando ações, serviços e tuição das equipes de referência. De modo geral, será
benefícios abalizados por uma concepção de direi- assinalada a complexidade das necessidades sociais
tos sociais e recusa a qualquer tipo de “boas inten- que legitimam o trabalho social desenvolvido por
ções” realizadas por voluntários ou “sujeitos com equipes multidisciplinares – tanto na proteção social
um bom coração”. básica como na proteção social especial.
Uma das interessantes inovações do SUAS Por fim, destacar-se-á a inserção da Psico-
é justamente a possibilidade de integração entre di- logia no SUAS e os principais aspectos desse recen-
ferentes categorias profissionais, as quais, dependen- te e expansivo campo de trabalho. Será discutido o
do das peculiaridades do território, vão compor as processo de reconstrução das práticas psicológicas
equipes de referência – dos Centros de Referência de no campo social, a relação com o tema da vulne-
Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência rabilidade social e com os sujeitos que demandam
Especializada de Assistência Social (CREAS) – que os serviços e, sobretudo, as principais orientações,
ofertarão os serviços e benefícios socioassistenciais. atribuições e desafios que o exercício profissional
Nesse ínterim, as recentes normatizações dos psicólogos envolve nesse contexto.
da política de assistência social – como a Norma O objetivo deste estudo, fundamental-
Operacional Básica de Recursos Humanos do Sis- mente, é descrever a expansiva inserção da Psi-
tema Único de Assistência Social e a Resolução nº cologia no Sistema Único de Assistência Social
017 de 2011 do Conselho Nacional de Assistência (SUAS), assinalando as atribuições e os desafios
Social – passaram a considerar a Psicologia como dos psicólogos que integram as equipes de refe-
uma profissão que obrigatoriamente deverá estar rência. Ressalta-se que este artigo não deseja as-
presente tanto nos CRAS como nos CREAS, o sumir o compromisso de explicar os fenômenos
que leva à necessidade de se investigar determina- que descreve, embora possa servir de base para
das questões: O que a inserção da Psicologia nes- algumas explicações e futuras investigações. Logo,
se contexto pretende oferecer à sociedade? Quais todo o conteúdo que está por vir poderá oferecer
são as principais novidades, expectativas e desafios uma perspectiva da realidade de parte dos profis-
que os psicólogos vão vivenciar? O que esse espa- sionais envolvidos nesse contexto e, inclusive, um
ço de trabalho representa para a profissão? conjunto de questões que precisam ser pondera-
Este artigo, estruturado a partir do méto- das e transformadas.
do descritivo, apoiou-se em diferentes referências
bibliográficas, sobretudo as recentes produções do 1 O Sistema Único de Assistência Social en-
Conselho Federal de Psicologia (CFP), do Centro quanto reorganização da política de assistên-
de Referência em Psicologia e Políticas Públicas cia social
de Minas Gerais (CREPOP-MG), do Ministério No Brasil, até pouco tempo, predominava
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome a compreensão de que a assistência social se cons-
(MDS) e de alguns autores que já se debruçaram tituía através de ações majoritariamente voltadas
sobre o tema em questão. a minorar ou combater a pobreza, não havendo,

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portanto, a compreensão de que essa seria uma sistema único (federativo e descentralizado) que
política igualmente necessária para promover a define os serviços de acordo com as complexida-
proteção social. des; elege a família como unidade de intervenção,
Lopes (2006) afirma que, no nível federal, buscando, assim, a possibilidade de romper com
até 2003, a política de assistência social apresen- as tradicionais segmentações de seu público-alvo;
tava as seguintes características: estrutura estatal elege o Centro de Referência de Assistência Social1
paralisante, burocracia excessiva, não consolida- (CRAS) como equipamento e serviço de proteção
ção de um comando único nacional, desconside- social básica, sendo a porta de entrada para o siste-
ração das deliberações das conferências nacionais, ma; elege o Centro de Referência Especializado de
congelamento orçamentário e execução financeira Assistência Social2 (CREAS) como equipamento
inexpressiva, fragmentação entre serviços e bene- de referência da proteção social especial de média
fícios, descompasso entre gestão e planejamento e alta complexidade, responsável pelo atendimen-
financeiro, além de outros fatores que corrobora- to das famílias que se encontram sem referência.
vam as afirmações de que a política de assistência A proteção básica, ofertada no CRAS,
social não era matéria de grande interesse na esfera apresenta-se como possibilidade de prevenir:
pública governamental.
[...] situações de risco por meio do desenvolvi-
Para agravar a situação, alguns programas
mento de potencialidades e aquisições, e o forta-
mais relevantes – como o Programa de Erradica-
ção do Trabalho Infantil, o Projeto Agente Jovem lecimento de vínculos familiares e comunitários.
e o Programa Sentinela –, do ponto de vista de sua Destina-se à população que vive em situações
natureza e objetivos, nunca receberam regulações de vulnerabilidade social decorrente da pobre-
adequadas, financiamento projetado, transparência za, privação (ausência de renda, precário ou nulo
nos critérios de partilha e o devido controle social. acesso aos serviços públicos, dentre outros) e/
Toda essa falta de definição no nível federal tam- ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais
bém se manifestava nos demais entes federados, e de pertencimento social (discriminações etá-
fazendo com que a política de assistência social rias, étnicas, de gênero ou por deficiências, den-
ofertada pelos estados e municípios também apre- tre outras). (Brasil, 2004, p. 34)
sentasse características indefinidas, inexistência de
orçamentos, precariedade nas formas de atendi- Os trabalhadores do CRAS, nesse con-
mento, desarticulação entre os gestores, além de texto, são os principais responsáveis pelo plane-
outras realidades que apenas contribuíam para a jamento e execução dos serviços3, pela articulação
manutenção de uma concepção conservadora e entre serviços e benefícios e pela integração do
a prevalência da rede filantrópica em vez de uma equipamento à rede de serviços socioassistenciais
rede de serviços públicos (Lopes, 2006). e intersetoriais, de forma a potencializar a família
Com a implantação do SUAS, em 2005, como unidade de referência. Todas as diretrizes
além da possibilidade de considerar as particulari- revelam a expectativa de que o CRAS seja um es-
dades locais e regionais, organizar, normatizar, pa- paço de protagonismo de seus usuários, por meio
dronizar e racionalizar os serviços prestados, veio, da oferta de serviços que visam estimular a con-
também, a expectativa de superar uma característi- vivência, a socialização e o acolhimento de famí-
ca extremamente indesejada e incômoda para mui- lias cujos vínculos familiares e comunitários não
tos: o assistencialismo, cuja lógica acaba reforçan- foram rompidos, isto é, situações consideradas de
do práticas clientelistas, patrimonialistas etc. menor complexidade (Brasil, 2004).
Carvalho (2006), ao registrar os principais Nessa perspectiva, espera-se que os ser-
avanços decorrentes do SUAS, assinala que este: viços do CRAS estejam disponíveis, de alguma
traduz e delimita os serviços socioassistenciais em forma, para o maior número de sujeitos que se
todo o território nacional e, por conseguinte, para encontrem em situações de risco ou vulnerabilida-
todos os cidadãos que dele necessitar; regula um de social4, os quais poderão acessá-los a qualquer

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momento, tornando-se referência para famílias, possam ser “[...] geridos a partir de um padrão na-
grupos e indivíduos. cional que respeita as diversidades e condições lo-
A proteção social especial, por sua vez, cais com outras possibilidades para se desenvolver
divide-se em duas modalidades: média e alta com- [...]” (Lopes, 2006, p. 89), ratificando o caráter de
plexidade. A proteção social especial de média política universal em prol da garantia de direitos
complexidade5, ofertada pelo CREAS, organiza-se individuais e coletivos.
para acolher e dar respostas a situações em que os Nesse contexto, o debate sobre os recur-
direitos dos sujeitos estão ameaçados e/ou viola- sos humanos que compõem as equipes de referên-
dos por omissão ou ação de pessoas e/ou insti- cias – dos CRAS e CREAS – permanece no cerne
tuições. Os profissionais que atuam nessa modali- dos princípios organizativos e operacionais da po-
dade de proteção se deparam com situações mais lítica de assistência social; afinal, a ruptura com as
complexas, as quais, comumente, exigem a perma- tradicionais formas de atendimento é uma grande
nente articulação com outras políticas públicas e preocupação para a consolidação e aprimoramen-
com o sistema de garantia de direitos, tais como o to do SUAS.
Conselho Tutelar, o Ministério Público e o Poder
Judiciário (Brasil, 2004). 2 Equipes de referência: tecnologias funda-
As diretrizes determinam que os profis- mentais
sionais do CREAS promovam ações e proteções Para Aldaíza Sposati (2006), seja no CRAS
socioassistenciais para os indivíduos e famílias que ou no CREAS, os recursos humanos7 representam
se encontram em situações de risco pessoal e so- um dos principais aspectos para que a política de
cial, decorrentes de: abandono, maus-tratos físicos assistência social cumpra seus objetivos. Consi-
e/ou psíquicos, violência sexual, cumprimento de derando que o SUAS não opera por tecnologias
medidas socioeducativas, situação de rua, situação substitutivas, o trabalho social, realizado pelas
de trabalho infantil, além de outras situações que equipes de referências, torna-se imprescindível
violam os direitos (Brasil, 2004). para a concretização das diretrizes expressas pelos
A proteção social especial de alta comple- diversos documentos normativos.
xidade , acionada nos casos que requerem proteção
6
Com a finalidade de regulamentar as equi-
integral dos indivíduos e famílias, objetiva garantir o pes de referência – da proteção social básica e es-
atendimento das necessidades básicas – sobretudo pecial de média e alta complexidade –, o Conselho
moradia, alimentação e higienização – dos sujeitos
Nacional de Assistência Social publicou, em 17 de
que se encontram sem referência, o que pode de-
junho de 2011, a Resolução nº 017/2011, com o
correr de vínculos rompidos, pessoas que foram re-
objetivo de:
tiradas de seu núcleo familiar ou comunitário, ou as
vítimas de desastres naturais (Brasil, 2004). [...] ratificar a equipe de referência definida pela
A configuração de tais modalidades de Norma Operacional Básica de Recursos Hu-
proteção, ao menos no plano normativo, significa manos do Sistema Único de Assistência Social
que a implantação do SUAS propulsionou a ofer- – NOB-RH/SUAS e reconhecer as categorias
ta de serviços relativamente novos no contexto da profissionais de nível superior para atender as es-
política de assistência social, os quais possuem (ou pecificidades dos serviços socioassistenciais e das
pelo menos deveriam possuir) ações específicas a funções essenciais de gestão do Sistema Único de
diferentes segmentos que, para acessá-los, não de- Assistência Social – SUAS. (Brasil, 2011, p. 1)
pendem de qualquer tipo de contribuição prévia
(caráter não contributivo). Com a publicação da resolução 017/11 do
Diante de todo o conteúdo apresentado, Conselho Nacional de Assistência Social8, a inser-
até o momento, observa-se que o SUAS representa ção da Psicologia na política de assistência social
a possibilidade de unificação das ações da assis- passa a ser obrigatória (e não mais preferencial,
tência social de modo que os serviços e benefícios como era até então) em todos os níveis de prote-

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ção social. Apesar da obrigatoriedade de algumas das políticas sociais e públicas carrega uma série
categorias profissionais, sobretudo a Psicologia e o de tensões que precisam ser desvendadas criti-
Serviço Social, a resolução também reconhece ou- camente. A autora comenta que as respostas do
tras categorias profissionais de nível superior que Estado à questão social se inserem num modelo
também poderão integrar as equipes de referência, caracterizado pela fragmentação e setorização das
a saber: Antropologia, Economia Doméstica, Pe- necessidades sociais, recortando-as em problemas
dagogia, Sociologia, Musicoterapia e Terapia Ocu- sociais distintos ou “particulares”, como a fome, o
pacional (Brasil, 2011). desemprego, a violência, o analfabetismo, a doen-
Em atendimento às requisições especí- ça e outros. Esse “recorte” dos problemas sociais
ficas dos serviços socioassistenciais, tais catego- dificulta a explicitação de sua raiz comum numa
rias profissionais poderão compor as equipes de perspectiva de totalidade, “[...] provocando a ato-
referência com o objetivo de atender as especi- mização das demandas e a competição entre os
ficidades e particularidades locais e regionais, do segmentos demandantes do acesso a parcelas do
território e das necessidades dos usuários, com fundo público” (p. 75).
a finalidade de aprimorar e qualificar os serviços Cruz e Guareschi (2009), ao refletirem
socioassistenciais. O documento também sugere acerca do trabalho social desenvolvido pelas equi-
os profissionais que, preferencialmente, deverão pes de referência da proteção social básica e es-
compor a gestão do SUAS, sendo eles: psicólogo, pecial de média e alta complexidade, questionam:
assistente social, advogado, administrador, antro- como trabalhar com os programas de orientação
pólogo, contador, economista, pedagogo, sociólo- e apoio sociofamiliar de forma a promover a au-
go e terapeuta ocupacional (Brasil, 2011). tonomia, os direitos das famílias, sem que a ação
Couto (2006) defende que o trabalho pro- dos trabalhadores sociais se transforme em mais
fissional, entre as diferentes categorias profissio- um veículo de controle? Seriam esses programas
nais, constitui-se num requisito fundamental para os novos aparelhos da “polícia das famílias”?
a garantia dos direitos dos usuários. No campo da A indagação anterior, realizada de modo
definição de estratégias e formulação dos serviços, bastante contundente, possibilita a incitação de
“[...] o Suas vai impor com clareza a necessidade outros questionamentos acerca do trabalho social
de estudos, pesquisas, referenciais teóricos que re- desenvolvido junto ao público da política de as-
tiram a improvisação e o bom-senso como forma sistência social: de que modo os profissionais têm
de estruturar o atendimento” (p. 51). olhado para o sujeito que requisita os serviços e
Ao percorrer parte das transformações benefícios? Qual é a leitura que os profissionais
em movimento, logo se chega à conclusão de que realizam sobre a permanência e a superação da po-
a política de assistência social atravessa uma tran- breza e extrema pobreza?
sição marcada por interesses, subjetividades, rela- São perguntas extremamente necessárias,
ções e atribuições que exigem um amplo esforço pois a ausência dessa reflexão poderá implicar em
interpretativo por parte de todos os profissionais uma equivocada compreensão de que muitas ques-
– técnicos e gestores – que compõem esse sistema. tões são atributos individuais do sujeito que não se
Partindo dessa premissa, os trabalhadores são dia- empenha o suficiente para superá-las. Em outros
riamente desafiados a transformar a demanda dos termos, a afirmação anterior se traduz em afirma-
usuários em ações condizentes com o arcabouço tivas de que “a família prefere receber o Bolsa Fa-
normativo que regula a assistência social, atenden- mília a procurar um emprego”, “só não trabalha
do os sujeitos através de processos igualitários, quem não quer”, “as mulheres estão engravidando
contínuos e de qualidade. cada vez mais para aumentarem o valor do Bolsa
Raichelis (2010) alerta que o movimento Família”, além de outras concepções inadmissíveis
de implantação do SUAS, caracterizado por uma para o psicólogo ou qualquer profissional que tra-
grande complexidade, vai impor diversos desafios balha nos equipamentos de referência do Sistema
aos profissionais, pois a própria implementação Único de Assistência Social.

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3 A Psicologia no SUAS: alguns desafios anterior afirmando que, para muitos psicólogos, as
Ainda que a atuação do psicólogo tenha atividades que conferem uma identidade profissional
assumido lugar de destaque apenas com a criação distinta daquela do assistente social são as de esco-
do SUAS, sabe-se que a atuação da categoria na po da clínica tradicional, como as psicoterapias e a
assistência social antecede a implantação da polí- avaliação e o aconselhamento psicológicos – embora
tica. Não há registros consistentes acerca de sua as diretrizes do CRAS não permitam tal prática pro-
trajetória nessa política, o que dificulta identificar fissional, causando desconforto em grande parte da
um marco de entrada desse profissional (Coimbra, categoria que trabalha nesse equipamento.
2003). Todavia, sabe-se que a presença do psicó- Com a crescente inserção dos psicólogos
logo na assistência social aumentou consideravel- no SUAS, diversos autores (Afonso, 2009; CFP,
mente após o período de implementação da Polí- 2007; Crepop-MG, 2011; Cruz & Guareschi, 2009;
tica Nacional de Assistência Social (PNAS), nos argumentam que, nesse contexto, a Psicologia pre-
últimos dez anos (Nery, 2009). cisa enfrentar um processo de ressignificação do
Oliveira (2012), ao refletir a relação entre seu exercício profissional, revendo sua relação com
Psicologia e assistência social, afirma que uma pri- o tema da vulnerabilidade social e desconstruindo
meira observação a ser mencionada é que os mo- determinadas concepções estáveis e práticas cristali-
delos de atuação nessa política, independentemen- zadas pelo tempo, abrindo-se para a emergência do
te da categoria profissional em discussão, ainda novo, da descoberta, do acontecimento.
estão em construção. No caso da Psicologia, até a Afonso (2009) esclarece que esse proces-
implantação do SUAS, as referências ou sistemati- so de reconstrução – das práticas psicológicas – no
zações eram praticamente inexistentes, seja para o campo social é fruto do “fantasma da psicologização
fornecimento de subsídios à atuação profissional, da questão social” (p. 5), como ela denomina. Isso
seja para a elaboração de modelos de trabalho. porque o histórico paradigma assistencialista, indivi-
dualista, moralizante e de culpabilização da questão
Os principais desafios na construção de parâme- social, alavancado por parte dos psicólogos (e demais
tros de atuação para o psicólogo na Assistência profissionais), por vezes, atendeu a manutenção da
Social têm múltiplos aspectos. Alguns podemos ideologia dominante. As lembranças desse período
chamar de macroestruturais, das políticas sociais (não tão longínquo), atualmente, reacendem o medo
nos marcos do modo de produção capitalista; de despertar o fantasma da psicologização das ma-
outros, referentes ao desenvolvimento histórico zelas sociais e do indivíduo, fazendo “[...] com que a
e à consolidação da Psicologia como ciência e incorporação da Psicologia ao sistema passe a ser, a
profissão. Sem dúvida, ambos fazem parte de um só tempo, temida e desejada” (p. 5).
um mesmo processo histórico-dialético. (Olivei- Para não incorrer nos mesmos desacertos
ra, 2012, p. 43) do passado, a parceria da assistência social com a
Psicologia pressupõe o reconhecimento de que o
Fontenele (2008) alega que, de certo modo, trabalho social – exercido pelos psicólogos – foi
há psicólogos que desconhecem os meandros do devidamente ampliado para considerar as ques-
Sistema Único de Assistência Social, de forma que tões subjetivas e intersubjetivas que impactam no
muitos profissionais se mantêm presos a práticas tra- cotidiano dos usuários que recorrem à política de
dicionais e conservadoras dentro do arcabouço ins- assistência social. Nesse contexto, Afonso (2009)
trumental da profissão. Nesse ínterim, algumas ações menciona a entrada de um “sujeito social” em cena,
– como a visita domiciliar, o estudo social, a busca e não apenas um “usuário” passivo dos serviços.
ativa e a territorialização – são incorporadas com um Cruz e Guareschi (2009) reforçam que a
certo “estranhamento” por parte dos psicólogos, ou entrada desse sujeito social implica outro desafio
mesmo identificadas como atribuições exclusivas do a ser encarado pelo psicólogo: a transparência da
assistente social. informação. Isso porque, muitas vezes, a popula-
Oliveira (2012) complementa a perspectiva ção não reconhece seus direitos, não é informada a

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respeito dos programas disponíveis e, mesmo nas famílias, grupos e indivíduos que carregam tantas
ocasiões em que aciona os equipamentos, adota vulnerabilidades que a falta de recursos técnicos
uma postura de descrédito quanto à efetividade e operativos acaba gerando uma angústia por não
dos serviços, programas e projetos. conseguir dar respostas a determinadas questões.
A relação desse sujeito com o psicólogo, Por um lado, não é possível desconside-
usualmente, acontece através de situações que en- rar que diversas orientações e objetivos, por vezes
volvem: conflitos familiares, brigas de pais/mães/ quiméricos, são atribuídos ao exercício profissio-
responsáveis e filhos, “devolução dos filhos” à nal do psicólogo no contexto do SUAS. É comum
mãe ou aos pais biológicos, crianças que não pos- depararmo-nos com diretrizes recomendando que
suem a referência maternal ou paternal, presença o psicólogo fortaleça os usuários como sujeitos de
de alcoolismo e drogas no contexto familiar, de- direitos sociais, contribua para o aprimoramento
semprego e/ou emprego informal, além de outras das políticas sociais e públicas, execute ações para
inúmeras situações. desenvolver a autonomia e cidadania dos sujeitos,
Nesse contexto: além de outras complexas atribuições.

A escuta surda da agonia de ideais modernos na Como trabalhador da área da assistência social,
qual é vívida a falta de recursos metodológicos o psicólogo deverá atuar criando condições
e técnicos da Psicologia que sejam pertinentes sociais para o exercício da cidadania (oferta de
a essa realidade vem fortalecer o compromisso serviços, construção de rede, respeito aos prin-
ético/político/científico de ressignificar o fazer cípios dos direitos humanos e direitos de cida-
da Psicologia em relação aos “sujeitos vulnerá- dania, participação social, protagonismo, entre
veis” e a necessidade de políticas públicas que outros) e, ao mesmo tempo, apoiando e promo-
enfrentem os seus efeitos não desejáveis. (Cruz vendo as condições subjetivas para o seu exercí-
& Guareschi, 2009, p. 66) cio (circular informação, fortalecer participação
e protagonismo, desenvolver potencialidades no
Para os autores, o processo de ressignifi- contexto social, facilitar os consensos, eleição
cação da prática profissional passa pela necessida- de objetivos e princípios para a ação individual
de de descontruir alguns conceitos já cristalizados e coletiva, comunicação, mediação de conflitos,
pela profissão. A desconstrução, nesse caso, não processos decisórios, cooperativos e proativos,
seria tomada como uma destruição dos conceitos entre outros, junto aos indivíduos e grupos, in-
e significações, mas como uma retomada circular cluindo a família). (Afonso, 2009, p. 18)
que permita a emergência de novos pressupostos
e perspectivas. Esse surgimento do novo não cor- O próprio Conselho Federal de Psico-
responde ao abandono, negação ou substituição logia (CFP, 2007), ao discorrer sobre a inserção
da história do conhecimento já existente, mas à da Psicologia no SUAS, afirma que o psicólo-
“[...] invenção como um processo de criação que go deverá integrar as equipes de referência em
coloca em análise o conhecimento a partir das igualdade de condições e com liberdade de ação,
situações que precisam ser escutadas” (Cruz & “[...] num papel de contribuição nesse processo
Guareschi, 2009, p. 67). de construção de uma nova ótica da promoção,
Sobre a ausência de recursos metodoló- que abandona o assistencialismo, as benesses,
gicos e técnicos da Psicologia, sabe-se que há si- que não está centrada na caridade e nem favor,
tuações que realmente devem ser identificadas e rompendo com o paradigma da tutela, das ações
encaminhadas à reflexão. Uma delas refere-se ao dispersas e pontuais” (p. 27).
fato de que, muitas vezes, o psicólogo se depara Nesse contexto de extensas pondera-
com demandas que extrapolam suas possibilida- ções, entretanto, verifica-se a necessidade de no-
des de intervenção e os próprios limites institucio- vos estudos acerca da confluência entre o exer-
nais do SUAS, isso é, ele pode se encontrar com cício profissional dos psicólogos que atuam nos

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CRAS e CREAS com as orientações, normatiza- técnico-especializados de outros profissionais, so-


ções e diretrizes do SUAS; afinal, cada vez mais, é bretudo do psicólogo. Em outros termos, nota-se
inegável que a inserção da Psicologia nesse con- que o trabalho social desenvolvido por equipes de
texto é algo que veio para transformar, tanto os referência multiprofissionais representa uma das
direcionamentos da política de assistência social principais estratégias para que a política de assis-
como a profissão. tência social alcance os seus objetivos.
A junção de diferentes categorias profis-
Considerações finais sionais acerca de um projeto comum, para além
A assistência social disponível à popula- de convocar e valorizar a prestação de serviços
ção brasileira, durante séculos, fez-se através de dos psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, ad-
pequenas tutelas destinadas aos mais miseráveis, vogados ou demais profissionais que formalmen-
as quais, na maior parte dos casos, aconteciam te estão aptos a participar do processo de implan-
por meio de ações constrangedoras e vexatórias tação e implementação da política de assistência
aos sujeitos que delas necessitavam. Tanto tempo social, também apresenta desafios de convivência,
de assistencialismo consolidou um paradigma que relacionamento, proposição de ideias e especifica-
ainda está impregnado no cotidiano dos trabalha- ção das atribuições profissionais.
dores da política de assistência social, exigindo a Já a inserção específica dos psicólogos
constante reflexão sobre os possíveis caminhos na política de assistência social, para além de um
que poderão levar, definitivamente, a extinguir grande e novo campo de trabalho, também repre-
esse passado indesejado: quais são as estratégias senta um marco histórico para a profissão. O tra-
para romper essa realidade que ainda hoje se apre- balho do psicólogo no SUAS, a princípio, significa
senta com tanta frequência no contexto do SUAS? o reconhecimento da categoria profissional e de
Ao considerar as principais transforma- suas possíveis contribuições para a política públi-
ções da política de assistência social nos últimos ca, que atualmente recebe um grande aporte de
anos, é possível notar a existência de uma nova investimentos por parte do governo federal.
concepção de proteção social e do modo como Visto que a política de assistência social
as ações, os serviços e os benefícios devem ser vem requisitando em grande escala os serviços
planejados e executados pelos profissionais. A im- técnicos dos psicólogos, o próprio Conselho Fe-
plantação e implementação do Sistema Único de deral de Psicologia (CFP), por meio do Centro de
Assistência Social, assim, representa um momen- Referência Técnica em Psicologia e Políticas Pú-
to de possibilidades e desafios. blicas (CREPOP), destaca a constante necessida-
Esse momento distinto, inclusive, apre- de de se realizar pesquisas, investigações, relatos
senta-se na forma de desafios lançados aos tra- de experiência e outras contribuições que pos-
balhadores do SUAS, a destacar: a proposta de sam ampliar o arcabouço teórico-metodológico
debater categorias e conceitos que jamais foram e técnico-operativo dos psicólogos inseridos no
incorporados nas políticas públicas; a intenção de contexto do SUAS.
operar a assistência social como uma política de Por fim, considera-se que a inserção da
inclusão, de direitos, e não mais com o caráter de Psicologia no Sistema Único de Assistência Social
favor de algum político de plantão; a junção de evidencia o reconhecimento de que a categoria
diferentes categorias profissionais acerca de um profissional adquiriu um acúmulo de conheci-
objetivo comum; além de outros. mentos relevantes para o contexto dessa política
Com o SUAS, a assistência social opor- pública. Em outros termos, essa inserção indica
tunizou a abertura para que diferentes categorias que, novamente, o Estado brasileiro lança mão
profissionais componham seu quadro de recursos dessa “bagagem” de saberes adquiridos pela pro-
humanos. Isso significa que a assistência social fissão e deposita a expectativa de que os servi-
deixou de ser um campo de trabalho específico do ços psicológicos podem ser úteis para amenizar
assistente social e passou a requerer os serviços determinadas formas de exclusão, além de evitar

Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 10 (1), jan-jun, 2017, 3 - 12


B. R. B. Florentino e W. Melo 11

a cronificação dos quadros de vulnerabilidade e política pública: do sistema descentralizado e par-


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Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 10 (1), jan-jun, 2017, 3 - 12


A inserção da psicologia no sistema único de assistência social: notas introdutórias 12

tes em 5.477 municípios brasileiros. Ao revelar a o CREAS ofereça espaços para fortalecimento
quantidade de CRAS instalados pelo país, o infor- dos vínculos afetivos e sociais das pessoas que
mativo também revelou que o MDS possui a meta necessitam dos seguintes serviços: plantão social;
de atingir 100% dos municípios e aumentar a co- abordagem de rua; cuidado no domicílio; acompa-
bertura da oferta de serviços. nhamento psicossocial; serviço apoio e orientação
aos indivíduos e às famílias vítimas de violência;
2 O Informativo Suas n° 50 também apontou que serviço de enfrentamento à violência, ao abuso e à
o Brasil possui 2.109 CREAS cofinanciados pelo exploração sexual contra crianças e adolescentes e
MDS, nos quais há 580 mil adolescentes atendidos suas famílias; serviço de orientação e acompanha-
pelo Pró-Jovem Adolescente e 853,7 mil crianças mento a adolescentes em cumprimento de medida
e jovens inseridos no Programa de Erradicação do socioeducativa de liberdade assistida e de presta-
Trabalho Infantil (PETI) e em atividades de con- ção de serviços à comunidade e suas famílias; ser-
vivência e fortalecimento de vínculos familiares viço de habilitação e reabilitação na comunidade
existentes em 3.597 municípios. das pessoas com deficiência (Brasil, 2004).

3 A Tipificação Nacional dos Serviços Socioassis- 6 A proteção social especial de alta complexidade
tenciais (Brasil, 2009) destaca que a proteção so- se materializa por meio de programas, instituições
cial básica deve se responsabilizar pelos seguintes e serviços de acolhimento e abrigamento dos su-
serviços: a) Serviço de Proteção e Atenção Inte- jeitos, a destacar: casa lar, casa de passagem, alber-
gral à Família (PAIF), b) Serviço de Convivência gue, abrigos, lar de idosos, família substituta, famí-
e Fortalecimento de Vínculos e c) Serviço de Pro- lia acolhedora, medidas socioeducativas restritivas
teção Social Básica no domicílio para pessoas com e privativas de liberdade (internação provisória e
deficiência e idosas. O Serviço de Convivência e sentenciada) (Brasil, 2004).
Fortalecimento de Vínculos, por sua vez, realiza-
se em públicos específicos: para crianças de até 7 O Informativo Suas n° 50 revelou que a política
seis anos, para crianças e adolescentes de seis a 15 de assistência social conta com um total de 232
anos, para adolescentes e jovens de 15 a 17 anos e mil trabalhadores, isto é, um número que repre-
para idosos. senta aproximadamente 70% a mais em relação
aos que trabalhavam no setor em 2005, ano em
4 De acordo com a PNAS (Brasil, 2004), as situa- que o SUAS nasceu.
ções de risco ou vulnerabilidade social são decorren-
tes de situações que envolvem: perda ou fragilidade 8 O parágrafo único da resolução apresenta o se-
de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabi- guinte texto: Compõem obrigatoriamente as equi-
lidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em pes de referência: I – da Proteção Social Básica:
termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pesso- Assistente Social; Psicólogo; II – da Proteção So-
al resultante de deficiências; exclusão pela pobreza cial Especial de Média Complexidade: Assistente
e/ou no acesso às demais políticas públicas; uso de Social; Psicólogo; Advogado; III – da Proteção
Social Especial de Alta Complexidade: Assistente
substâncias psicoativas; diferentes formas de violên-
Social; Psicólogo (Brasil, CNAS, 2011, p. 1).
cia advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos;
inserção precária ou não inserção no mercado de
trabalho – formal e informal.
Recebido em 03/05/2014
5 A proteção social especial de média complexi-
dade representa uma proposta de proteção aos Aceito em: 10/07/2015
indivíduos e às famílias que enfrentam dificulda-
des para se protegerem e/ou se desenvolverem
enquanto unidade familiar. Assim, espera-se que

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