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Revista Científica CENSUPEG, nº. 1, 2013, p. 179-194.

A CRISE DO CONHECIMENTO NA PÓS-


MODERNIDADE

THE CRISIS OF KNOWLEDGE IN POST


MODER ERA
Roberto Carlos Simões Galvão1

Resumo
O presente estudo está pautado na tentativa de traçar um esboço
relativamente à influência do ideário pós-moderno no âmbito político-
pedagógico e, sobretudo, epistemológico contemporâneo. No atual período
histórico o saber científico queda em credibilidade, favorecendo o ceticismo
e o relativismo, ambos característicos da era pós-moderna. A repercussão da
fragilização do saber compromete a eficiência qualitativa da prática
pedagógica, ao mesmo tempo em que estimula seu norteamento pelos
ditames mercadológicos, transformando conhecimento em mercadoria. A
crise do capital globalizado vem tomando fôlego na esteira da ideologia pós-
moderna, enquanto se estabelecem novas práticas capazes de barrar o
derradeiro colapso. A crise dos figurantes na esfera superestrutural – dentre
os quais o conhecimento – espelha nada além que o colapso da estrutura
econômica neoliberal.
Palavras-chave: pós-modernidade; crise econômica; conhecimento.

Abstract
Social This study is guided in an attempt to trace an outline regarding the
influence of postmodern ideas in the political-pedagogical and especially
contemporary epistemological. In the current historical period scientific
knowledge fall in credibility, encouraging skepticism and relativism, both
characteristic of the postmodern era. The impact of the weakening of
knowledge undermines the efficiency of qualitative teaching practice, while it
stimulates your guid by the dictates of marketing, transforming knowledge
into a commodity. The crisis of globalized capital is breath taking in the wake
of post-modern ideology, while establishing new practices that can stop the
ultimate collapse. The crisis of the extras in the superstructural sphere -
among them the knowledge - reflects nothing but the collapse of neoliberal
economic structure.
Keywords: postmodernity; economic crisis; knowledge.

1 INTRODUÇÃO

No decorrer do século XX, sobretudo nas décadas posteriores a Segunda Grande


Guerra, começaram a ser questionadas muitas das verdades históricas até então
estabelecidas ou dogmatizadas. Os avanços da ciência e as novas tecnologias vieram
acompanhados de novas concepções de mundo, foram propostos novos valores, mais
abertos e flexíveis, distantes daquilo que se convencionou entender como os dogmas da
modernidade – o Estado-nação, os partidos e as instituições, a verdade científica e

1
Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá, Professor de Sociologia no Ensino Médio,
SED/SC.E-mail:

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universal, a oposição entre capitalismo e comunismo, as tradições históricas, entre


outros (LYOTARD, 2006).

Em decorrência dessa enorme reconfiguração cultural, política e social, um novo


termo se fez necessário para caracterizar tantas mudanças inesperadas e desconhecidas,
falou-se então de uma Pós-Modernidade.

A denominada era pós-moderna parece ter início com a passagem das relações
de produção industriais para as pós-industriais e está associada à decadência das grandes
ideias, valores e instituições ocidentais. Para alguns autores a pós-modernidade tem
origem mais especificamente no ano de 1968, sendo resultante da geração da alienação,
desiludida com sua própria percepção de mundo (HELLER; FEHÉR, 2002). Nesse
período vinha ganhando força a destruição dos referenciais históricos que norteavam o
pensamento social; a história deixava de ter um sentido específico e contínuo que
pudesse ser captado pela razão.

Segundo entendimento de Santiago,

[...] a condição pós-moderna se inaugura pela atual “incredulidade” em


relação aos metarrelatos, ou seja, essa espécie de “desencanto” com os
grandes discursos produzidos no século XIX e explicadores da condição
histórica do homem ocidental, nos seus aspectos econômicos, sociais e
culturais.
(SANTIAGO, 2006, p.127)

Houve a partir dessa nova ordem social, sobretudo, uma espécie de rompimento
com o antigo duelo teórico-político entre o marxismo e o liberalismo; deu-se algo como
a marca de uma nova fase que se pretendia inovadora e, ao mesmo tempo,
consolidadora do modo de produção capitalista liberal. Não por acaso observou-se uma
assemelhada conjunção de princípios entre a pós-modernidade e a globalização, com
seu suporte econômico neoliberal. Santos (2004) acredita que “os fenômenos a que
muitos chamam de globalização e outros de pós-modernidade na verdade constituem,
juntos, um momento bem demarcado do processo histórico” (SANTOS, 2004, p.118).

Em relação ao período em que precisamente se origina o fenômeno pós-moderno


são encontrados na literatura especializada distintos argumentos esclarecendo a questão,
como se lê abaixo:

Historicamente o pós-modernismo foi gerado por volta de 1955, para vir à


luz lá pelos anos 60. Nesse período, realizações decisivas irromperam na arte,
na ciência e na sociedade. Perplexos, sociólogos americanos batizaram a
época de pós-moderna, usando termo empregado pelo historiador Toynbee
em 1947.
(SANTOS, 1989, p.20)

Connor (2005) remete a origem da pós-modernidade à década de 1970:

Embora o termo pós-modernismo tenha sido usado por alguns escritores dos
anos 50 e 60, não se pode dizer que o conceito de pós-modernismo tenha se
cristalizado antes da metade dos anos 70, quando afirmações sobre a
existência desse fenômeno social e cultural tão heterogêneo começaram a

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ganhar força no interior e entre algumas disciplinas acadêmicas e áreas


culturais, na filosofia, na arquitetura, nos estudos sobre cinema e em assuntos
literários.
(CONNOR, 2005, p.13)

Em síntese é possível dizer que de meados do século XX até nossos dias


observou-se uma sucessão de acontecimentos culturais, políticos e econômicos bastante
particulares – a expansão do comércio internacional, o multiculturalismo, os avanços da
bioengenharia, a secularização da sociedade, o colapso da União Soviética, a queda do
Muro de Berlim –, tudo sugerindo uma ruptura ao mesmo tempo que a necessidade de
rever conceitos e postulados. Algo distinto e com caráter inexplorado anunciava o
surgimento de um novo zeitgeist.

O presente estudo enfatiza, de maneira breve e sucinta, a repercussão no plano


epistemológico e político-pedagógico relativamente ao novo ideário sócio-cultural, ora
em epígrafe. Com efeito, “não se pode entender o estado atual do saber, isto é, que
problemas seu desenvolvimento e difusão encontram hoje, se não se conhece nada da
sociedade na qual ele se insere” (LYOTARD, 2006, p.23).

Objetiva-se, ademais, analisar a questão do conhecimento nesse período


histórico sob a perspectiva de seus fundamentos filosóficos e sociológicos.
Considerando que a finalidade última dos processos educativos em geral é o
conhecimento, as concepções pedagógicas tendem a ter uma estreita conexão com a
teoria sobre o conhecimento prevalecente.

2 O QUE É PÓS-MODERNIDADE

Considerando o acima exposto já é possível delinear uma definição para o


fenômeno da pós-modernidade. Na opinião de Demo (2010, p.90) “o que temos
chamado de pós-modernidade significa crise profunda da cultura ocidental, à medida
que é forçada a rever padrões culturais antes considerados inamovíveis, como sua
racionalidade, progresso, ciência e tecnologia”.

Heller e Fehér (2002) acrescentam outra leitura do fenômeno em discussão, com


alguma divergência:

A pós-modernidade não é nem um período histórico nem uma tendência


cultural ou política de características bem definidas. Pode-se em vez disso
entendê-la como o tempo e o espaço privado-coletivos, dentro do tempo e
espaço mais amplos da modernidade, delineados pelos que têm problemas
com ela e interrogações a ela relativas, pelos que querem criticá-la e pelos
que fazem um inventário de suas conquistas, assim como de seus dilemas não
resolvidos;
(HELLER; FEHÉR, 2002, p.11)

Sob uma perspectiva dialética e histórico-materialista a denominada pós-


modernidade flui do âmago da crise derradeira do capital. Ora, é sabido que a cultura, a
produção de ideias e as representações da consciência estão diretamente entrelaçadas à

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atividade material e ao intercâmbio material. A pós-modernidade pode ser entendida,


portanto, como um estágio na história do modo de produção capitalista.

Enfocando aspectos culturais, alguns autores preferem trabalhar com o conceito


de pós-modernismo quando se retrata a “[...] mistura eclética de elementos de diferentes
lugares e épocas, a erosão da autoridade e o declínio do consenso em relação a valores
centrais” (BRYM et al., 2008, p.103).

Cabe aqui esclarecer que o termo pós-modernidade refere-se a um determinado


período histórico, por outro lado a expressão pós-modernismo representa o reflexo
cultural do atual ambiente político. Ambos os termos se assemelham, possuindo uma
estreita relação conceitual. Alguns autores, não obstante, optam pelo termo hiper-
modernidade, por considerarem que não houve uma ruptura com os tempos modernos,
como o prefixo "pós" parece sugerir.

Relativamente à questão em torno da existência ou não de uma ruptura com a


modernidade, leia-se o posicionamento de Duarte (2004), para quem a pós-
modernidade.

[...] não representa de fato uma profunda ruptura com as teorias que o
precederam. A ruptura pós-moderna é um blefe, pois o que o pós-
modernismo faz é levar às últimas consequências as tendências irracionalistas
que já se vinham fazendo presentes no pensamento burguês desde o século
XIX e que se acentuaram imensamente no século XX.
(DUARTE, 2004, p.221).

Em boa parte da literatura – sobretudo entre os intelectuais da vertente marxista


– prevalece o entendimento de que os tempos atuais são "modernos", tendo havido, isto
sim, uma intensificação de características da modernidade, tais como o individualismo,
o consumismo, o hedonismo e a fragmentação do real.

Segundo o historiador marxista Eric Hobsbawm (1995, p.34) a pós-modernidade


“deve ser entendida na sua relação com a conjuntura atual do capitalismo, ao mesmo
tempo global e fragmentário, e como conseqüência da derrocada de movimentos sociais
e regimes políticos que falavam em nome do marxismo”.

Aqui interessa salientar, sobretudo, que a pós-modernidade está amparada no


ceticismo relativamente à existência de uma realidade objetiva, e/ou à possibilidade de
chegar a uma compreensão aceita dessa realidade por meios racionais. A razão não tem
mais o poder de espelhar o sentido histórico universal. A história agora passa a ser local,
perdendo o enfoque da totalidade e fazendo ressurgir uma perspectiva fragmentada do
real. Não mais se discutem os aspectos da universalidade, permanecendo doravante
inacessíveis à razão (HOBSBAWM, 1995).

“Esse é o clima da pós-modernidade: a história substituída pelo efêmero, pela


imagem do instante, pelo lugar fugidio” (IANNI, 2003, p.213). O saber, ademais, se
fragiliza com consequências favoráveis tão somente no âmbito do ideário neoliberal
globalizante. A educação e o saber perdem fôlego emancipatório. No plano

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epistemológico, temos a crise de confiança da ciência, em particular das ciências


sociais, levando a solapar o privilégio do conhecimento científico (DEMO, 2010).

A expressão pós-modernidade foi bastante difundida a partir da obra de Jean-


François Lyotard (2006), denominada A condição pós-moderna. Nas palavras de
Marcondes, “foi, no entanto, Jean-François Lyotard (1924-1998) vinculado ao mesmo
contexto cultural de Foucault e Deleuze, que efetivamente introduziu na discussão
filosófica a noção de pós-moderno com sua obra A condição pós-moderna”.
(MARCONDES, 2008, p.278).

Para Lyotard (2006), a pós-modernidade representa uma crítica aos antigos


modos de pensar a sociedade e seus valores. A condição pós-moderna é, pois, aquela em
que as meta-narrativas modernas foram desacreditadas, e o conhecimento científico não
mais pode ser considerado como a fonte definitiva da verdade. Dá-se o fim do projeto
da modernidade pautado na ideia de que a razão técnico-científica favorece a
emancipação humana.

Agora as correntes e escolas de pensamento não são mais que ficções arbitrárias
e passageiras, articuladoras de interesses não mais universais. No plano teórico o pós-
modernismo configura mesmo a crise da razão. A objetividade negada transforma-se
numa ficção subjugada à consciência do indivíduo. O conhecimento, outrora associado
a poder, não passa de processos de livre interpretação, validados a partir da
subjetividade humana.

No campo da epistemologia alguns valores centrais da modernidade, como a


ênfase na ciência como modelo de saber, a ênfase na problemática da verdade e do
conhecimento, todos estes elementos são considerados esgotados. Vale agora um saber
norteado pela criatividade, pelo sentimento, onde a estética toma o lugar do científico
(MARCONDES, 2008).

Ressalta-se a perda do sentimento de certeza, prevalecendo o caráter instável e


subjetivo do conhecimento. A cultura pós-moderna se interessa muito por mudança,
mobilidade e flexibilidade. Também traduzem esse período histórico a ausência de
regras, a instabilidade, a pluralidade, a multiplicidade, a temporaneidade e a
antitotalidade.

A ciência nesse novo contexto perdeu todo o seu prestígio, o


ceticismo/relativismo ganhou força e a verdade restou reduzida ao desempenho e à
eficiência produtiva, culminando naquilo que Moraes (2003) chamará de
neopragmatismo.2 Deveras, “[...] a perspectiva neopragmatista reproduz certos temas
pós-modernos em filosofia e educação, como a rejeição de metanarrativas e a aversão da
certeza objetiva” (OZMON; CRAVER, 2004, p.340). O neopragmatismo traduz a
filosofia do indivíduo burguês, voluntarista e egoísta: a ele não interessa a verdade em

2 Um dos mais expressivos representantes do neopragmatismo – e da pós-modernidade – é o americano


Richard Rorty, para quem “a filosofia deve abandonar sua pretensão a fundamentar o conhecimento e a
legitimar práticas éticas e políticas, transformando-se em uma espécie de narrativa, de conversação ou
discussão, em que se dá uma busca de significado e de esclarecimento, sempre em aberto, sem nenhuma
tentativa de estabelecimento de uma teoria ou de um sistema”. (MARCONDES, 2008, p.279).

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si, objetiva e independente de sua vontade. Não por acaso a base material da pós-
modernidade é a globalização econômica – norteada pelos Estados Unidos da América,
com todas as suas implicações (SANFELICE, 2003).

A pós-modernidade não é verdadeiramente uma ruptura com outras teorias


precedentes, tal como se apregoa. Trata-se, isto sim, de uma expressão teórica da
barbárie produzida pelo capitalismo imperialista. Nega-se a possibilidade de
conhecermos cientificamente a realidade social e ao mesmo tempo se pretende destruir a
educação escolar, por meio da negação da existência de um conhecimento objetivo a ser
transmitido para as novas gerações (DUARTE, 2004).

Sob a perspectiva do materialismo histórico dialético, não existe o relativismo


social e epistemológico sobre o qual se fundamenta a pós-modernidade. O mesmo cabe
para a negação da validade universal e objetiva do conhecimento. Os entusiastas do
modismo pós-moderno ignoram o fato de que todo conhecimento é o conhecimento de
um mundo criado pelo homem, isto é, inexistente fora da história, da sociedade e da
indústria (VAZQUEZ, 1977).

Longe das influências do pós-modernismo, a transmissão do conhecimento e da


verdade histórica dos acontecimentos representa um importante instrumento de luta
social (MORAES, 2003). Partindo de uma concepção crítica e dialética da realidade, os
excluídos podem e devem refletir sobre sua situação de miséria e pobreza, identificando
os mecanismos socioeconômicos responsáveis pela marginalização e buscando
caminhos para mudar as situações de opressão.

Não obstante, a pós-modernidade — fundamentada no ceticismo e no


relativismo — tende a abafar a realidade da luta de classes, impedindo a crítica ao
neoliberalismo vigente no mundo contemporâneo.

3 AS INQUIETAÇÕES DA PÓS-MODERNIDADE

As autoridades constituídas, civis e religiosas, intelectuais e educadores de modo


geral, todos permanecem imersos em inúmeras dúvidas e questionamentos frente às
mudanças da era contemporânea. Para os teóricos da pós-modernidade muitas questões
ainda continuam sem resposta. Harvey (2002, p.18), por exemplo, pergunta: “que é esse
pós-modernismo de que muitos falam? Terá a vida social se modificado tanto a partir do
início dos anos 70 que possamos falar sem errar que vivemos numa cultura pós-
moderna, numa época pós-moderna?”.

Segundo Kumar (1997), a questão da pós-modernidade continua a ser uma


questão fundamental, talvez a mais fundamental da teoria social contemporânea. O
autor (1997, p.147) também levanta questões: “onde e como a pós-modernidade se situa
na história? Considera-se como um novo período? Anuncia o surgimento de uma nova
sociedade ou civilização? O que significa o “pós” de pós-modernidade?”.

E prossegue indagando:

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Será ela um simples bordão, um rótulo em moda, para usar à mesa de um


jantar elegante e muito explorado na mídia, um conceito em que tudo cabe,
tão vago e geral que se torna vazio? Ou é alguma coisa com ele parecida,
realmente necessária na atual situação das sociedades ocidentais
contemporâneas? Descreverá um novo e real estado da sociedade, um estado
que requer um novo nome?
(KUMAR, 1997, p.182).

Outros estudiosos, como Heller e Fehér (2002) – para quem os frutos da pós-
modernidade são quase inteiramente negativos –, insistem em perguntar: “será o que
chamamos ‘condição política pós-moderna’ um novo período da política?” (HELLER;
FEHÉR, 2002, p.23). E ainda no clássico A condição política pós-moderna os mesmos
autores escrevem:

Quais perigos ameaçam a linha vital da modernidade, as tradições, os valores,


os legados, as instituições e as aspirações democrático-liberais e ‘socialistas
democráticas’ na ‘condição política pós-moderna’? [...] Como essas
tradições, tendências e aspirações podem não apenas ser redimidas, mas
também ainda mais desenvolvidas?
(HELLER; FEHÉR, 2002, p.25)

Na verdade, o tema da pós-modernidade é intrigante, carregado de ideologia, e


vem sofrendo interpretações distintas, de acordo com o método de abordagem teórica de
cada autor. Entendendo o universo pós-moderno como um novo estágio na história do
modo de produção reinante, Sanfelice (2003, p.06) indaga: “qual é a atitude adequada
ante a pós-modernidade? [...] De que modo podemos relacionar as faces deste fenômeno
com a educação?”.

Bauman (1999), autor d’O mal estar da pós-modernidade, considera esta fase da
história como sendo uma conseqüência sociológica inevitável da modernidade – uma
realidade ambígua, multiforme, paradoxal. Nesse novo ciclo histórico há, certamente,
inúmeros paradoxos que se sobrepõem, tais como o extraordinário progresso científico e
tecnológico ao lado da crescente miséria e da desigualdade socioeconômica que se
alastra pelo mundo. Também se sobressai uma espécie de involução nas estruturas
políticas e econômicas das sociedades ocidentais.

Partindo das mais distintas abordagens e matizes teóricos, os questionamentos


continuam: “Será que o que está acontecendo é fundamentalmente um novo jogo ou
somente uma mudança de direção na história do capitalismo?” (KUMAR, 1997, p.204).
“Que partes da modernidade o pós-modernismo deixou para trás? Todas?”
(EAGLETON, 1998, p.50).

Considerando o individualismo exacerbado que conduz à despolitização e à


indiferença, características da pós-modernidade, convém questionar também: “quem se
preocupa hoje com a verdade? Quem busca a salvação eterna? Por que multidões
viraram carneiros indo para o trabalho, o exército, o estádio?” (SANTOS, 1989, p.75). É
certo que a pós-modernidade despolitiza a sociedade. O irracionalismo pós-moderno
acaba mesmo por desestimular a difícil busca da essência dos fenômenos, para além de
suas aparências.

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Tendo em vista a mistura eclética de elementos culturais de diferentes épocas


e lugares, a erosão da autoridade e o declínio do consenso em relação a
valores centrais, como podemos tomar decisões? Como podemos governar?
Como podemos ensinar a crianças e adolescentes a diferença entre o certo e o
errado? Como podemos transmitir gostos literários aceitos e padrões
artísticos de uma geração a outra? (BRYM et al., 2008, p.96).

Holanda (1992, p.07) dispõe que “é raro uma expressão causar tanto desconforto
quanto o termo pós-moderno”, sendo inevitável o questionamento sobre a existência ou
não de um pós-modernismo. Deveras, há quem pareça não acreditar na sua existência.
“Quando se acelera o processo de globalização, dando a impressão de que a geografia e
a história chegam ao fim, muitos pensam que entrou a pós-modernidade, declinou a
razão e soltou-se a imaginação”, ironiza Ianni (2003, p.211).

Conforme entendimento de Lombardi (2003), o movimento explicitado pelo


termo pós-modernidade precisa ser analisado em profundidade, pois o fato de um tema
não ser suficientemente debatido contribui para a ideologização; e como conceito
ideológico, a pós-modernidade é usada não para elucidar o que está efetivamente
ocorrendo no modo capitalista de produção, mas é destinada a mistificar e a eternizar as
relações fundamentais desse modo de produção. Noutras palavras, busca-se acobertar as
reais relações de exploração e barbárie hoje existentes recorrendo ao advento de uma
suposta pós-modernidade.

4 A IDEOLOGIZAÇÃO PÓS-MODERNA

A pós-modernidade envolve a totalidade das relações sociais, o que inclui


economia, política, ideologia e educação. É um fenômeno que emerge da mudança
histórica ocorrida no mundo globalizado para uma nova forma de capitalismo.

O sistema capitalista segue abarcando em si uma velha contradição fundamental


entre o modo social da produção e o modo privado da apropriação. Isto conduz a um
antagonismo irredutível entre a classe burguesa dominante e a classe trabalhadora. O
caráter social da produção se expressa pela divisão do trabalho entre os operários,
todavia apesar dessa característica da produção, os meios de produção seguem sendo
propriedade privada da classe dominante.

Muito embora não tenha havido nenhuma alteração substancial nos modos de
produção e nas relações de trabalho do capitalismo mundial, o sistema econômico
parece ter sofrido uma mudança de estágio. Com efeito, vem se consolidando nos
últimos decênios a transformação para o “mundo efêmero e descentralizado da
tecnologia, do consumismo e da indústria cultural, no qual as indústrias de serviços,
finanças e informações triunfam sobre a produção tradicional” (EAGLETON, 1998,
p.07).

O desenvolvimento das técnicas e das tecnologias da informação deslocou a


centralidade do trabalho da esfera industrial para o terreno da produção imaterial. O
conhecimento, nesse contexto, surgiu como mera mercadoria e deixou de ser entendido
como sendo a apropriação da realidade objetiva ou como reprodução dessa realidade no

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pensamento.3 Desviou-se do princípio de que “um conhecimento diz-se verdadeiro se o


seu conteúdo concorda com o objeto designado” (HESSE, 1980, p.30).

Apresentado agora como um processo de interpretação subjetiva, o


conhecimento torna-se a principal força econômica de produção. A tal ponto, a
sociedade pós-moderna e pós-industrial passou a ser denominada de sociedade do
conhecimento.

Segundo Giddens (2005):

Atualmente, são muitos os que acreditam que estamos testemunhando a


mudança de uma economia industrial para uma economia do conhecimento,
na qual as ideias, as informações e as formas de conhecimento sustentam o
crescimento econômico.
(GIDDENS, 2005, p.339)

Duarte (2003, p.13), porém, adverte que “[...] a assim chamada sociedade do
conhecimento é uma ideologia produzida pelo capitalismo”. E vale lembrar que, na
sociedade burguesa, o sistema ideológico socialmente estabelecido funciona de modo a
apresentar suas regras de dominação e conveniência como se fossem imparcialmente
definidas.

É sabido que o conhecimento articula-se com as relações de poder, sendo uma


construção política, social e histórica. A concepção de conhecimento que atenda aos
interesses de grupos privilegiados acabará certamente por ser difundida e aceita pela
maioria, forçando assim um caráter de universalidade. Eis o papel da ideologização pós-
moderna.

Portanto, distinto de um processo real, a pós-modernidade surge como conceito


ideológico destinado a mistificar e, sobretudo, eternizar o modo capitalista de produção,
atualmente em crise. Trata-se de um conceito de fundamental relevância no processo de
ideologização produzido a serviço da classe burguesa.

São esclarecedoras as palavras de Lombardi (2003):

Apesar da moda de declaração de crise dos paradigmas científicos e


filosóficos e do anúncio bombástico da morte da modernidade, é evidente
que estas não passam de afirmativas discursivas que estão a cumprir papel
ideológico. Para além do discurso e do pipocar de ideias aparentemente
desconexas, os paradigmas filosóficos e científicos não são tantos assim e
continuam a ser adequadamente caracterizados por suas premissas
ontológicas, gnosiológicas (ou epistemológicas) e axiológicas.

3
Uma vez que o conhecimento humano somente é verdadeiro quando corresponde à realidade, a
verdade não depende da vontade humana, dos desejos do homem. Sendo um reflexo fiel da realidade, a
verdade só pode ser uma só. Estão, portanto, redondamente enganados aqueles que afirmam que cada
um tem a sua verdade, que existem tantas verdades quantos sujeitos e que não existem verdades
objetivas, válidas para todos (BAZARIAN, 1985, p.134).

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(LOMBARDI, 2003, p.XXXV)

É inegável que a pós-modernidade está relacionada a tendências políticas


neoconservadoras, determinadas a combater posicionamentos socialistas que se
oponham ao império do capital. Partindo de um suposto fim da história, o pós-
modernismo passou a ser uma sentença contra as alternativas não-liberais.

Considerando que o mundo pós-moderno caracteriza-se por ser pluralista e


diversificado, nele nenhuma grande teoria política ou social alicerça o seu
desenvolvimento (GIDDENS, 2005). À política não se credita mais o poder de
transformação social. Segundo Kumar (1997, p.145), “a política, sob a forma do
fracasso do comunismo e de outras experiências explicitamente ideológicas de
reconstrução social, minou a confiança em sua capacidade de reformar o mundo”.

Na esteira do relativismo e da flexibilização de valores — símbolos da pós-


modernidade — vem ganhando espaço no Brasil e no mundo a redução ou
flexibilização das leis do trabalho. Negociações sobre salários e condições de trabalho
passaram a ser feitas entre patrões e empregados, visando possibilitar o crescimento
econômico e a saída para o desemprego. Continua prevalecendo a lógica perversa do
não intervencionismo estatal.

A questão social tem sido vista com desprezo e a desregulamentação das


relações do trabalho recebeu uma aprovação acentuada das novas teorias contratualistas
do Estado mínimo. Ganhou ênfase o produtivismo, o livre mercado, o desmonte das
organizações trabalhistas e as limitações dos direitos sociais.

De forma emblemática, outro ponto que vale ressaltar remete ao sistema de


trabalho nos laboratórios de pesquisa científica, agora cada vez mais espelhado em
normas de organização do trabalho nas empresas4: hierarquia, formação de equipes,
estimativa de rendimentos individuais e coletivos, elaboração de programas vendáveis,
procura de clientes, etc. (LYOTARD, 2006).

O processo gradativo de mercantilização do conhecimento científico está


atrelado à reforma neoliberal imposta a universidade pelo capitalismo pós-moderno.
Algumas práticas caracterizam bem o referido processo, tal como o modo de avaliação
quantitativa da produtividade dos cientistas e professores, o número de artigos
publicados, o número de aulas ministradas, o número de orientandos, o número de teses

4
Outra característica das organizações pós-modernas é a tendência em abandonar as especializações
técnicas, pois agora entre os trabalhadores são valorizadas as habilidades mais amplas, contrapondo-se
às tarefas minuciosamente especializadas. “Em organizações pós-modernas ser competente em muitas
áreas de um emprego é mais importante do que desenvolver uma especialidade restrita” (GIDDENS,
2005, p.301).

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e dissertações defendidas e, sobretudo, a tendência à extinção da gratuidade do ensino


público.

[...] as universidades e as instituições de ensino superior são de agora em


diante solicitadas a formar competências, e não mais ideais: tantos médicos,
tantos professores de tal ou qual disciplina, tantos engenheiros,
administradores, etc. A transmissão dos saberes não aparece mais como
destinada a formar uma elite capaz de guiar a nação em sua emancipação.
(LYOTARD, 2006, p.89)

Com efeito, agora o saber científico-acadêmico é norteado por táticas


mercadológicas e a educação só tem valor quando é transformada em mercadoria. Nesse
contexto, é mais o desejo de enriquecimento que o de saber que impõe de início aos
técnicos o imperativo da melhoria das performances e de realização dos produtos
(LYOTARD, 2006). De sua parte, a crítica marxista já havia alertado para o fato de que
o capital se apropria do conhecimento e da ciência para aumentar o tempo de
sobretrabalho.

O projeto econômico, político e educacional da suposta nova ordem mundial em


nada difere da visão burguesa do mundo, sendo, pois, a retomada de seus princípios
liberalizantes. Como elucida Magalhães (2004), a proposta pós-moderna (neoliberal) é
nada menos que o retorno ao seu próprio passado, cuja pretensão é convertê-lo, no
presente, em empreendimento definitivo para o futuro.

5 O CRITÉRIO DA PRÁXIS E A CRISE DO CAPITAL

Sob o ideário pós-moderno são questionadas as noções clássicas de verdade,


razão e objetividade, bem como a ideia de emancipação universal e os sistemas únicos.
Ocorre uma espécie de desencanto com as grandes narrativas produzidas no século XIX,
explicadoras da condição histórica do homem nos seus aspectos econômicos e sociais
(EAGLETON, 1998; LYOTARD, 2006).

Nessa nova sociedade, ademais, há uma aversão a qualquer verdade


fundamental, conforme demonstrado. Não mais se fala em universalidade ou em análise
da totalidade. O que há são micro-esferas do real, diferenças e alternâncias captadas
subjetivamente. Volta-se a atenção para os micro-poderes invisíveis que fundamentam o
contexto social. Foucault (1998), um autor pós-moderno, abordará essa questão em sua
Microfísica do Poder. “As idéias de Foucault – em particular as das primeiras obras –
merecem atenção por terem sido uma fonte fecunda de argumentação pós-moderna.
Nelas, a relação entre o poder e o conhecimento é um tema central” (HARVEY, 2002,
p.50).

Essencialmente, sob o espectro dos novos paradigmas, o conhecimento —


transformado em mercadoria — deixa de ser entendido como apropriação da realidade
objetiva ou como reprodução dessa realidade no pensamento. “Negligencia-se o
princípio humanista segundo o qual a humanidade eleva-se em dignidade e em liberdade
por meio do saber” (LYOTARD, 2006, p.62).

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Dá-se o esvaziamento do conceito de verdade e de conhecimento, posto que


agora o que está em jogo não é a verdade, mas o desempenho. Numa passagem
emblemática Santiago (2006) apregoa: “A pedagogia na sociedade pós-moderna não
desaparece, mudam-se os seus métodos. Ensinam-se não os conteúdos, mas o uso dos
terminais” (SANTIAGO, 2006, p.129).

A ciência no século XXI se reduz a mero jogo de linguagem, não mais um


privilégio sobre outras formas de conhecimento (SANFELICE, 2003). Relativismo e
ceticismo5 traduzem a nova realidade.

Por outro lado – à luz do materialismo histórico dialético –, o problema de saber


se é possível conhecer o mundo ou não, é algo a ser decidido na prática. “O homem
penetra na essência do mundo que o cerca, alcança o seu conhecimento nos processos
de trabalho, na atividade produtiva” (PODOSSETNIK; YAKHOT, 1967, p.102). A
prática é o critério da verdade, a fonte e o objeto do conhecimento. O conhecimento
científico e a teoria científica nascem da prática, que é a base da cognição. A prática
constitui-se no aspecto básico da concepção materialista do conhecimento. Além disso,
a inseparável unidade entre teoria e prática constitui a mais importante conclusão da
teoria marxista do conhecimento.

Na perspectiva do método dialético de Marx e Engels (2002), a análise


reflexiva e crítica da realidade, bem como o estudo dos posicionamentos teóricos
relativos à pós-modernidade devem partir da atividade prática social dos sujeitos
históricos concretos. Logo, não é no espírito dos homens ou na sua compreensão da
verdade, mas nas modificações das formas de produção e de troca que é necessário
procurar as causas últimas de todas as alterações sociais — entre elas o fenômeno
pós-moderno. É ainda na economia e não na filosofia da época em questão que tais
causas devem ser detectadas (ENGELS, 2005). Enfim, a atividade prática dos
homens em sociedade constitui o principal fundamento do processo de conhecimento
da realidade.

Considerando o acima exposto, o pensamento fundamentado no materialismo


histórico e em referenciais teóricos marxistas exige compreender a pós-modernidade no
contexto histórico-social, ou seja, como um estágio do modo de produção capitalista.
Trata-se de um,

Movimento que expressa a difusa e contraditória ideologia do capital


monopolista e que abrange um amplo e complexo arco de posições. É mais
um modismo que no limite não passa de manifestação novidadeira marcado
pelo irracionalismo e que aflora acompanhando a irracionalidade do próprio
capital em sua busca desenfreada pelo lucro.
(LOMBARDI, 2003, p.IX)

5Como acentuam Ozmon e Craver (2004, p.359), “[...] a insistência do pós-modernismo de que não há
uma forma ‘certa’ pode revelar uma suposição encoberta de que ele finalmente ‘acertou’”.

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A pós-modernidade é, assim, um fenômeno que expressa a cultura da


globalização e da ideologia neoliberal. Por intermédio dela, busca-se impor a
globalização, a lógica de mercado e o neoliberalismo como naturais e eternos.

A crise do capitalismo contemporâneo postula o fim das alternativas válidas.


Todavia, não existe e nunca existirá o triunfo final e definitivo do capitalismo.
Tampouco há que se falar em fim da história. A ideia de um capitalismo eterno busca
construir nada além de que a resignação nos homens. Sendo o capitalismo um modo de
produção, então está certamente determinado a ser transitório, passageiro.

A crise econômica enfrentada pelo mundo não tem origem recente, fazendo
parte na verdade de um processo que se arrasta colado à lógica de funcionamento do
capitalismo. Como aquele que melhor compreendeu os fundamentos da sociedade
burguesa, Marx (1956) escreveu:

De que maneira conseguirá a burguesia vencer essa crise? De um lado pela


destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado,
pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos.
A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à
diminuição dos meios de evitá-las.
(MARX, 1956, p.31)

Muito embora a grande narrativa do marxismo tenha sido atacada sob o


argumento de sua deficiência teórica e implausibilidade histórica, segue sendo a
sobrevivente mais visível e mais bem sucedida do pensamento do século XIX.
(KUMAR, 1997). “Seria desonestidade intelectual fingir que o marxismo não representa
mais uma realidade política atuante ou que as perspectivas de mudança socialista, pelo
menos neste momento, não passam de remotíssimas” (EAGLETON, 1998, p.09).

As relações sociais de produção se constituem, na concepção marxista, como


categoria básica que define o homem concreto, histórico, sendo ainda o pressuposto do
conhecimento que segue atrelado à história em sua estrutura e conjunturas e que é, em
cada época, manifestado em seu sentido de diferentes maneiras no interior da escola
(CORTELLA, 2006).

Considerando que a finalidade última dos processos educativos em geral é o


conhecimento, as concepções pedagógicas tendem a ter uma estreita conexão com a
teoria sobre o conhecimento prevalecente. Nesse sentido, se tem como urgente o resgate
da valoração objetiva do conhecimento na prática pedagógica, sob a perspectiva de seus
fundamentos epistemológicos e políticos.

Deve-se, enfim, propor uma crítica à condição do conhecimento enquanto


mercadoria e força de produção no contexto capitalista pós-moderno, onde – conforme
Lyotard (2006) –, o saber não tem mais seu fim em si mesmo como realização da ideia
ou como emancipação dos homens.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo tentou esclarecer alguns aspectos do significado político da


crise da razão e do conhecimento sob a denominada pós-modernidade, que acaba
culminando na educação direcionada aos ditames da produção e do mercado. Foram
propostas algumas reflexões sobre a noção de pós-modernidade e as implicações que
esse conceito engendra nos processos epistemológicos e educacionais. Os defensores do
pós-modernismo atribuem à educação a tarefa de inculcar no aluno o senso de cidadania
burguesa, adaptando-o à sociedade em que vive. Sob o espectro pós-moderno, a
educação formal e a ciência, como vimos, permanecem direcionadas à competitividade
e à empregabilidade.

O debate sobre a pós-modernidade e a lógica cultural do capitalismo vem


ganhando espaço na literatura e nos centros universitários, tanto que já existe um
instituto de estudos pós-modernos na Universidade de Beijing, China. No Brasil a
realidade não é diferente, diversos são os autores que publicaram estudos sobre o tema
nos últimos anos. O ponto comum na vasta literatura sobre o assunto é a tentativa de
encontrar novos rumos para o pensamento, porém a análise reflexiva permeada de
nuances pós-modernos parece mais próxima das artes do que da ciência.

Os intelectuais da pós-modernidade analisam aspectos da vida social,


denunciando formas de opressão presentes na vida cotidiana. Todavia, a denúncia é feita
de forma fragmentada, abordando aspectos singulares e variados, não mais estruturados
numa visão de conjunto. Abandonou-se a pretensão de totalidade que orientava o
pensamento moderno; se busca agora captar as particularidades, as diversidades, o
multicultural, as diferenças.

O conjunto dos estudiosos assinala com veemência que o pós-modernismo como


movimento cultural tem, precisamente, uma mensagem bastante simples: vale tudo. Esta
é a evidência maior de seu vínculo básico (de infra-estrutura econômica) com o
neoliberalismo, pois nesse “vale tudo” vence a classe mais poderosa, a classe burguesa.

Hodiernamente, fala-se em pós-modernidade não apenas na seara da cultura,


como no caso da literatura, arquitetura, pintura e cinema pós-modernos, mas também se
discorre sobre política pós-moderna, economia, família e indivíduo pós-moderno. O
protótipo do indivíduo pós-moderno, aliás, é aquele que se ri de tudo, alienado,
desvinculado, vazio, descomprometido, sem ideologia, sem opinião, leviano, cético,
pragmático, hedonista, individualista, consumista, apático frente aos problemas sociais,
preocupado com sua auto-imagem, amoral, apolítico, narcisista, naturista, imediatista e,
sobretudo, desacreditado da ciência e das grandes narrativas; agora tudo e nada para ele
se equivalem.

A pós-modernidade, concluindo, representa a forma como a classe dominante


vem pleiteando propor uma explicação plausível às sucessivas crises do capital em sua
dimensão globalizada. O suposto colapso de conjunturas até então estáveis –
conhecimento científico, consenso de autoridade, metanarrativas –, é parte de um
processo ideológico carregado de intencionalidade de mercado, meramente
comprometido com a ordem social burguesa em escala global.

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É possível e necessário, portanto, através da crítica à pós-modernidade,


fortalecer o projeto marxista de compreender o capitalismo como totalidade e, dessa
forma, transformar o mundo.

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