Resumo
O presente estudo está pautado na tentativa de traçar um esboço
relativamente à influência do ideário pós-moderno no âmbito político-
pedagógico e, sobretudo, epistemológico contemporâneo. No atual período
histórico o saber científico queda em credibilidade, favorecendo o ceticismo
e o relativismo, ambos característicos da era pós-moderna. A repercussão da
fragilização do saber compromete a eficiência qualitativa da prática
pedagógica, ao mesmo tempo em que estimula seu norteamento pelos
ditames mercadológicos, transformando conhecimento em mercadoria. A
crise do capital globalizado vem tomando fôlego na esteira da ideologia pós-
moderna, enquanto se estabelecem novas práticas capazes de barrar o
derradeiro colapso. A crise dos figurantes na esfera superestrutural – dentre
os quais o conhecimento – espelha nada além que o colapso da estrutura
econômica neoliberal.
Palavras-chave: pós-modernidade; crise econômica; conhecimento.
Abstract
Social This study is guided in an attempt to trace an outline regarding the
influence of postmodern ideas in the political-pedagogical and especially
contemporary epistemological. In the current historical period scientific
knowledge fall in credibility, encouraging skepticism and relativism, both
characteristic of the postmodern era. The impact of the weakening of
knowledge undermines the efficiency of qualitative teaching practice, while it
stimulates your guid by the dictates of marketing, transforming knowledge
into a commodity. The crisis of globalized capital is breath taking in the wake
of post-modern ideology, while establishing new practices that can stop the
ultimate collapse. The crisis of the extras in the superstructural sphere -
among them the knowledge - reflects nothing but the collapse of neoliberal
economic structure.
Keywords: postmodernity; economic crisis; knowledge.
1 INTRODUÇÃO
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Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá, Professor de Sociologia no Ensino Médio,
SED/SC.E-mail:
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A denominada era pós-moderna parece ter início com a passagem das relações
de produção industriais para as pós-industriais e está associada à decadência das grandes
ideias, valores e instituições ocidentais. Para alguns autores a pós-modernidade tem
origem mais especificamente no ano de 1968, sendo resultante da geração da alienação,
desiludida com sua própria percepção de mundo (HELLER; FEHÉR, 2002). Nesse
período vinha ganhando força a destruição dos referenciais históricos que norteavam o
pensamento social; a história deixava de ter um sentido específico e contínuo que
pudesse ser captado pela razão.
Houve a partir dessa nova ordem social, sobretudo, uma espécie de rompimento
com o antigo duelo teórico-político entre o marxismo e o liberalismo; deu-se algo como
a marca de uma nova fase que se pretendia inovadora e, ao mesmo tempo,
consolidadora do modo de produção capitalista liberal. Não por acaso observou-se uma
assemelhada conjunção de princípios entre a pós-modernidade e a globalização, com
seu suporte econômico neoliberal. Santos (2004) acredita que “os fenômenos a que
muitos chamam de globalização e outros de pós-modernidade na verdade constituem,
juntos, um momento bem demarcado do processo histórico” (SANTOS, 2004, p.118).
Embora o termo pós-modernismo tenha sido usado por alguns escritores dos
anos 50 e 60, não se pode dizer que o conceito de pós-modernismo tenha se
cristalizado antes da metade dos anos 70, quando afirmações sobre a
existência desse fenômeno social e cultural tão heterogêneo começaram a
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2 O QUE É PÓS-MODERNIDADE
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[...] não representa de fato uma profunda ruptura com as teorias que o
precederam. A ruptura pós-moderna é um blefe, pois o que o pós-
modernismo faz é levar às últimas consequências as tendências irracionalistas
que já se vinham fazendo presentes no pensamento burguês desde o século
XIX e que se acentuaram imensamente no século XX.
(DUARTE, 2004, p.221).
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Agora as correntes e escolas de pensamento não são mais que ficções arbitrárias
e passageiras, articuladoras de interesses não mais universais. No plano teórico o pós-
modernismo configura mesmo a crise da razão. A objetividade negada transforma-se
numa ficção subjugada à consciência do indivíduo. O conhecimento, outrora associado
a poder, não passa de processos de livre interpretação, validados a partir da
subjetividade humana.
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si, objetiva e independente de sua vontade. Não por acaso a base material da pós-
modernidade é a globalização econômica – norteada pelos Estados Unidos da América,
com todas as suas implicações (SANFELICE, 2003).
3 AS INQUIETAÇÕES DA PÓS-MODERNIDADE
E prossegue indagando:
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Outros estudiosos, como Heller e Fehér (2002) – para quem os frutos da pós-
modernidade são quase inteiramente negativos –, insistem em perguntar: “será o que
chamamos ‘condição política pós-moderna’ um novo período da política?” (HELLER;
FEHÉR, 2002, p.23). E ainda no clássico A condição política pós-moderna os mesmos
autores escrevem:
Bauman (1999), autor d’O mal estar da pós-modernidade, considera esta fase da
história como sendo uma conseqüência sociológica inevitável da modernidade – uma
realidade ambígua, multiforme, paradoxal. Nesse novo ciclo histórico há, certamente,
inúmeros paradoxos que se sobrepõem, tais como o extraordinário progresso científico e
tecnológico ao lado da crescente miséria e da desigualdade socioeconômica que se
alastra pelo mundo. Também se sobressai uma espécie de involução nas estruturas
políticas e econômicas das sociedades ocidentais.
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Holanda (1992, p.07) dispõe que “é raro uma expressão causar tanto desconforto
quanto o termo pós-moderno”, sendo inevitável o questionamento sobre a existência ou
não de um pós-modernismo. Deveras, há quem pareça não acreditar na sua existência.
“Quando se acelera o processo de globalização, dando a impressão de que a geografia e
a história chegam ao fim, muitos pensam que entrou a pós-modernidade, declinou a
razão e soltou-se a imaginação”, ironiza Ianni (2003, p.211).
4 A IDEOLOGIZAÇÃO PÓS-MODERNA
Muito embora não tenha havido nenhuma alteração substancial nos modos de
produção e nas relações de trabalho do capitalismo mundial, o sistema econômico
parece ter sofrido uma mudança de estágio. Com efeito, vem se consolidando nos
últimos decênios a transformação para o “mundo efêmero e descentralizado da
tecnologia, do consumismo e da indústria cultural, no qual as indústrias de serviços,
finanças e informações triunfam sobre a produção tradicional” (EAGLETON, 1998,
p.07).
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Duarte (2003, p.13), porém, adverte que “[...] a assim chamada sociedade do
conhecimento é uma ideologia produzida pelo capitalismo”. E vale lembrar que, na
sociedade burguesa, o sistema ideológico socialmente estabelecido funciona de modo a
apresentar suas regras de dominação e conveniência como se fossem imparcialmente
definidas.
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Uma vez que o conhecimento humano somente é verdadeiro quando corresponde à realidade, a
verdade não depende da vontade humana, dos desejos do homem. Sendo um reflexo fiel da realidade, a
verdade só pode ser uma só. Estão, portanto, redondamente enganados aqueles que afirmam que cada
um tem a sua verdade, que existem tantas verdades quantos sujeitos e que não existem verdades
objetivas, válidas para todos (BAZARIAN, 1985, p.134).
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Outra característica das organizações pós-modernas é a tendência em abandonar as especializações
técnicas, pois agora entre os trabalhadores são valorizadas as habilidades mais amplas, contrapondo-se
às tarefas minuciosamente especializadas. “Em organizações pós-modernas ser competente em muitas
áreas de um emprego é mais importante do que desenvolver uma especialidade restrita” (GIDDENS,
2005, p.301).
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5Como acentuam Ozmon e Craver (2004, p.359), “[...] a insistência do pós-modernismo de que não há
uma forma ‘certa’ pode revelar uma suposição encoberta de que ele finalmente ‘acertou’”.
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A crise econômica enfrentada pelo mundo não tem origem recente, fazendo
parte na verdade de um processo que se arrasta colado à lógica de funcionamento do
capitalismo. Como aquele que melhor compreendeu os fundamentos da sociedade
burguesa, Marx (1956) escreveu:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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