A ÁGUA NA NATUREZA
A água abrange quase 4/5 da superfície terrestre; desse total, 97,0% referem-se aos
mares e os 3% restantes às águas doces. Dentre as águas doces, 2,7% são formadas por
geleiras, vapor de água e lençóis existentes em grandes profundidades (mais de 800 m), não
sendo economicamente viável seu aproveitamento para o consumo humano.
Em conseqüência, constata-se que somente 0,3% do volume total de água do planeta
pode ser aproveitado para nosso consumo, sendo 0,01% encontrada em fontes de superfície
(rios, lagos) e o restante, ou seja 0,29%, em fontes subterrâneas (poços e nascentes).
A água subterrânea vem sendo acumulada no subsolo há séculos e somente uma fração
desprezível é acrescentada anualmente através das chuvas ou retirada pelo homem. Em
compensação, a água dos rios é renovada cerca de 31 vezes, anualmente. A precipitação
média anual, na terra, é de cerca de 860 mm. Entre 70 e 75% dessa precipitação voltam à
atmosfera como evapotranspiração (Figura 1).
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O Brasil possui grande quantidade de água em seu território, com 12% de água doce
disponível no mundo e 28% do total presente no Continente Americano. Segundo o
Ministério do Meio Ambiente (MMA 2007), o país é considerado rico em termos de vazão
média por habitante com, aproximadamente, 33 x 103 m3/hab.ano, mas apresenta uma grande
variação espacial e temporal das vazões. A região hidrográfica amazônica, por exemplo,
detém 74% dos recursos hídricos superficiais e é habitada por menos de 5% da população
brasileira. O restante do país, com 95% da população, dispões de somente 26% da água doce.
Com relação a distribuição de recursos hídricos renováveis no planeta, o Brasil,
juntamente com a Rússia e o Estados Unidos da América, detêm maiores potenciais hídricos.
O consumo médio de água no planeta é extremamente variável, entre 40 m3/hab.ano
(Etiópia) e 2.000 m3/hab.ano (EUA). Esse consumo no Brasil é da ordem de 35 m3/hab.ano.
Do consumo de água no planeta, aproximadamente 69% destinam-se ao setor agrícola, 29%
ao industrial e apenas 10% ao doméstico.
A Figura 2 apresenta a disponibilidade hídrica social no Brasil, verificando-se a
existência de algumas regiões pobres de água ( < 1.000 m3/hab.ano) e outras em situação
crítica ( < 500 m3/hab.ano). Na porção semi-árida das regiões com pouca disponibilidade
hídrica, a presença de açudes para o armazenamento de água e a regularização das vazões dos
rios intermitentes são fundamentais e estratégicas para o abastecimento público,
dessedentação de animais, irrigação e demais usos.
A distribuição relativa do consumo de água no Brasil, referente às principais
atividades desenvolvidas, está relacionado abaixo:
• Irrigação – 46 %
• Animal – 6 %
• Indústria – 18 %
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• Humana rural – 3 %
• Humana urbana – 27 %
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subsolo dos estados de: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O aquífero tem espessura entre 200 e 800 m,
com valor médio de 250 m. A reserva renovável do aquífero corresponde a aproximadamente
800 m3/s, da qual 160 m3/s podem ser explorados. A Figura 3 demonstra a localização do
aquífero Guaraní na América do Sul.
O Brasil é o país com maior área do aquífero Guaraní (70,2 %), seguido pela
Argentina (18,9), Paraguai (6,0 %) e Uruguai (4,9 %). O aquífero Guaraní se encontra, em
várias regiões, compartimentado por falhas geológicas e por intrusões de rochas, constituindo
diques, que funcionam como barreiras hidráulicas, segmentando o aquífero e afetando o
escoamento subterrâneo e a qualidade da água. Essa pode ser a principal explicação para que
algumas cidades do estado de São Paulo, localizadas a menos de 200 km entre si, tenham
poços com água de qualidade distinta. Os tipos de culturas desenvolvidas em cada região do
aquífero Guaraní justificam o grande potencial de contaminação da água subterrânea, devido,
principalmente, ao uso de herbicidas.
Ao falar, por exemplo, em uma região de plantação de cana de açúcar situada na
região de recarga de um aquífero, onde existem poços para captação de água destinada ao
consumo humano, têm-se, evidentemente, uma situação indesejável, pois na cultura da cana-
de-açúcar são usados herbicidas que podem infiltrar no solo e contaminar a água subterrânea.
Alguns herbicidas à base de diuron e hexazinona além de possivelmente tóxicos ao ser
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Figura 4 – Esquema geral típico de um sistema de abastecimento com uso de água superficial
e subterrânea.
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PARÂMETROS FÍSICOS
Define-se como cor verdadeira aquela que não sofre interferência de partículas
suspensas na água, sendo obtida após a centrifugação ou a filtração da amostra. A cor
aparente é aquela medida sem a remoção das partículas suspensas na água.
Nas estações, em geral, são usados métodos de comparação visual ou
espectrofotometria para medir a cor da água. A cor devida à presença de substâncias húmicas,
pode ser decorrente a existência de turfa no solo em contato com a água ou da decomposição
da vegetação submersa, denominadas substâncias húmicas aquáticas, que são as principais
causadoras de cor nas águas naturais.
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Cor aparente deve ser distinguida da cor verdadeira → no valor da cor aparente por
estar incluída uma parcela devida à turbidez da água, que pode ser removida por
centrifugação ou filtração
Turbidez
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Figura 5 – tamanhos das partículas suspensas, dos colóides, dos microorganismos e das
moléculas presentes na água
Sabor e odor
O sabor é a interação entre o gosto (salgado, doce, azedo e amargo) e o odor (sensação
olfativa). São características de difícil avaliação por serem de sensação subjetiva.
Normalmente decorrem de matéria excretada por algumas espécies e de substâncias
dissolvidas, e em alguns casos, do lançamento de despejos nos cursos d’água. Para sua
remoção, normalmente aplica-se aeração, além da aplicação de um oxidante e de carvão
ativado, para a adsorção dos compostos causadores. Seus componentes são os sólidos em
suspensão, sólidos dissolvidos e gases dissolvidos. Apesar de não representarem riscos à
saúde, mas por transmitir não confiabilidade geram reclamações dos consumidores, e, por
este mesmo motivo, são parâmetros normalmente utilizados na caracterização de águas de
abastecimento, brutas ou tratadas.
Temperatura
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Condutividade Elétrica
PARÂMETROS QUÍMICOS
pH
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Alcalinidade
Acidez
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A acidez da água depende do pH, porque é devido ao CO2, que estará presente
somente para pH entre 4,4 e 8,3, pois abaixo do valor mínimo, a acidez decorre da presença
de ácidos fortes, os quais são incomuns nas águas naturais. Embora de pouco significado
sanitário, há interesse em se conhecer a acidez, porque o condicionamento final da água, em
uma ETA, pode exigir a adição de alcalinizante para manter a estabilidade do carbonato de
cálcio e evitar problemas relacionados à corrosão no sistema de abastecimento de água. As
causas são o CO2 (absorvido da atmosfera ou resultante da decomposição da matéria orgânica)
e gás sulfídrico, que são de origem natural e despejos industriais (ácidos minerais ou
orgânicos) e a passagem da água por minas abandonadas de origem antropogênica
A acidez também é expressa em termos de carbonato de cálcio e pode ser determinada
por titulação utilizando uma base para neutralizar o CO2 presente.
Dureza
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Ferro e manganês
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Cloretos
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Nitrogênio
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troca iônica e osmose reversa podem ser usadas. É um elemento indispensável para o
crescimento de algas e, quando em elevadas concentrações em lagos e represas, pode conduzir
a um crescimento exagerado desses organismos (eutrofização).
Fósforo
Oxigênio dissolvido
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DBO5,20 e DQO
Alumínio
O alumínio pode estar presente nos corpos d’água como consequência da lixiviação de
rochas ou como resultado de atividades industriais. As concentrações desse metal
normalmente são baixas, porém, valores superiores a 0,2 mg/l podem gerar gosto
desagradável à água. Os sais de alumínio, utilizados como coagulante no tratamento podem
causar residuais de Al na água de consumo, neste caso, sua concentração depende das
características da fonte de abastecimento, da quantidade do coagulante empregado, do pH da
água tratada e do desempenho da ETA. Quando o residual de alumínio é alto e encontra-se
dissolvido pode haver formação de precipitado, causando a formação de incrustações nas
paredes internas das tubulações da rede de distribuição.
O alumínio tem sido vinculado a doenças neurológicas graves como a doença de
Parkinson e Alzheimer. Nos dois casos o alumínio é um dos inúmero fatores responsáveis
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pelos males. Técnicas como troca iônica e tratamento por membranas podem ser eficientes na
remoção de alumínio na água de consumo, entretanto, várias medidas podem ser tomadas para
reduzir sua concentração como otimização da coagulação floculação e filtração na ETA.
Chumbo
O chumbo não é comum nos corpos d’água, no entanto, aparece pela combinação por
descargas industriais ou contribuição atmosférica. A concentração de chumbo na água de
consumo depende da ocorrência do metal nas tubulações, o que é dependente do pH e da
temperatura. A importância sanitária do chumbo está associada aos efeitos adversos que ele
pode gerar na saúde, especialmente considerando que esse metal é biocumulativo. Em
humanos, sinais de distúrbios mentais, trmos muscular, dor abdominal e danos aos rins são
efeitos típicos de intoxicação por chumbo, entretanto, esses efeitos agudos são extremamente
raros. No Brasil, algumas cidades que possuam atividades de mineração, apresentaram
contaminação por chumbo em suas águas.
Não existe uma te´cnica economicamente viável para reduzir altas concentrações de
chumbo na água, assim, alternativas como osmose reversa, precipitação química e troca iônica
devem ser avaliadas antes de serem utilizadas no tratamento da água para consumo.
Mercúrio
O mercúrio pode ocorrer nos corpos d’água de forma natural ou como consequência
das atividades humanas. Em fontes superficiais, as concentrações têm sido naturalmente
inferiores a 0,05 µg/l, porém, em fontes subterrâneas, há relatos de valores de até 5,5 µg/l. Na
água de consumo geralmente sua concentração é inferior a 25 µg/l.
Nas células o mercúrio é potente desnaturalizador de proteínas e inibidor de
aminoácidos, interferindo nas funções metabólicas celulares. o metal causa sérios danos à
membrana celular ao interferir em suas funções e no transporte através da membrana,
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especialmente, nos neurotransmissores cerebrais. O metal pode causar risco agudo causando
rompimento de tecidos, distúrbios neurológicos e renais.
No Brasil, concentrações altas de mercúrio foram encontradas em peixes e na região
ribeirinha do Rio Negro, verificando que 90% das pessoas estavam contaminadas, sendo 17%
em estado grave. A análise da situação revelou que o solo da região apresentava naturalmente
valores elevados do metal, contaminando o rio em níveis comparáveis com regiões
industrializadas. No caso do Rio Negro provou-se que a contaminação é natural, porém, em
outros casos, é comum a contaminação pelo garimpo.
A remoção de compostos nitrogenados da água é complicada e onerosa, porque os
tratamentos comumente utilizados nas ETA’s não são eficientes. Técnicas como troca iônica e
osmose reversa podem ser usadas.
PARÂMETROS BIOLÓGICOS
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Coliformes Totais
Escherichia coli
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Protozoários e vírus
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Algas e cianobactérias
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• alcaloides de ação rápida – causam a morte por parada respiratória em poucos minutos
após sua ingestão;
As algas, em geral, podem causar sérios problemas operacionais nas estações, podendo
flotar nos decantadores, sendo carreadas para os filtros, obstruindo-os em poucas horas de
funcionamento, além de poderem liberar cianotoxinas nas águas.
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