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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-graduação em Letras

“PARKEAR OR NOT PARKEAR, THAT’S THE QUESTION: um


estudo sobre as inovações lexicais realizadas por imigrantes brasileiros nos
EUA”

Valquiria Carolina Pimentel Sales de Carvalho

Belo Horizonte

2010
Valquiria Carolina Pimentel Sales de Carvalho

“PARKEAR OR NOT PARKEAR, THAT’S THE QUESTION: um


estudo sobre as inovações linguísticas realizadas por imigrantes brasileiros
nos EUA”

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Letras da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais
como requisito parcial para obtenção do
título de Doutor em Letras.

Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio de


Oliveira
Potifícia Universidade Católica de Minas
Gerais

Co-orientador: Prof. Dr. Ricardo Otheguy


City University of New York

Belo Horizonte

2010
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Carvalho, Valquiria Carolina Pimentel Sales de


C331p Parkear or not Parkear, That’s the Question: um estudo sobre as inovações
linguísticas realizadas por imigrantes brasileiros nos EUA / Valquiria
Carolina Pimentel Sales de Carvalho. Belo Horizonte, 2010
194. f.: il.

Orientador: Marco Antônio de Oliveira


Co-orientador: Ricardo Otheguy
Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
Programa de Pós-Graduação em Letras.
Bibliografia.

1. Linguagem e Línguas. 2. Mudanças Linguísticas. 3. Linguística. 4.


Línguas em contato. I. Oliveira, Marco Antônio de . II. Otheguy, Ricardo. III.
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-
Graduação em Letras. VI. Título.

CDU: 800:88
Valquiria Carolina Pimentel Sales de Carvalho
“Parkear or not parkear, that’s the question: um estudo sobre as
inovações lexicais realizadas por brasileiros imigrantes nos Estados
Unidos da América”
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito
parcial para obtenção do título de Doutor em Letras.
Belo Horizonte, 2010.

_________________________________________________________________

Marco Antônio de Oliveira (Orientador) - PUC Minas

________________________________________________
Vanda de Oliveira Bittencourt - UFMG

__________________________________________________
Carlos Alberto Gohn - UFMG

__________________________________________________
Suely Maria de P. e Silva Lobo - PUC Minas

__________________________________________________
João Henrique Rettore Totaro - PUC Minas
À minha família: Amarilio, Carolina, André, Felipe, Marcela e
Gabriela
Escrever uma tese é deixar um pedaço da gente em folhas de papel...

Para que isso aconteça da melhor forma possível, é necessário que tenhamos o auxílio
precioso de pessoas que estão ao nosso lado, sempre torcendo pela gente...

Agradeço de todo coração ao meu marido, Amarilio, pelo amor, companheirismo e


pela assistência inestimável em assuntos de natureza técnica ou não, e pela cumplicidade em
todos os sentidos.

Agradeço muito à minha irmã Solange, pela disponibilidade ilimitada, pela revisão
deste trabalho e pela confiança em minha capacidade.

Agradeço também ao meu cunhado Amir pelas muitas horas dedicadas à formatação
desta tese.

Agradeço à minha família pela paciência e resignação com que aceitaram uma mãe e
esposa doutoranda.

Meus agradecimentos à CAPES, que possibilitou a viagem e estadia para a coleta de


dados no exterior.

Agradeço à PUCMINAS pelos incentivos ao aperfeiçoamento do profissional de


Ensino Superior.

Meus agradecimentos à CUNY (City University of New York), por me aceitar em seu
quadro de alunos durante o Estágio de Doutorando patrocinado pela CAPES.

Agradeço ao meu orientador, Dr. Marco Antônio de Oliveira, pelo suporte


acadêmico e afetivo, comentários pontuais e disponibilidade dedicada a esta tese.

Agradeço ao meu co-orientador em New York, Dr. Ricardo Otheguy, pelos valiosos
comentários, vasta bibliografia e abnegado suporte acadêmico.

Agradeço, também, aos meus irmãos Raul e Hércules, que nos deixaram recentemente,
mas que, cada qual com seus valores e peculiaridades, marcaram as nossas vidas para
sempre...
“A língua é muito mais do que um amontoado de palavras. É um comportamento social poderoso que
diz muito sobre quem somos, de onde viemos e como nos relacionamos. A língua é um dos mais
poderosos emblemas de comportamento social. Na transferência normal de informações através da
linguagem, nós a usamos para enviar mensagens vitais sobre quem somos, de onde viemos e com
quem nos associamos”. ( WOLFRAM, 1991, tradução nossa)1

1
Language is more than just words. It’s a powerful social behavior that speaks volumes about who we are, where
we come from and how we relate. Language is one of the most powerful emblems of social behavior. In the
normal transfer of information through language, we use language to send vital social messages about who we
are, where we come from, and who we associate with.” (WOLFRAM, 1991)
RESUMO

Esta tese tem como objetivo principal o estudo do falar de brasileiros imigrantes nos Estados
Unidos da América. Os brasileiros imigrantes fazem uso de muitas inovações lexicais que
parecem aproximar o inglês do português ao falarem uns com os outros nos EUA. Essas
inovações apresentam certa regularidade e parecem ser utilizadas por alguns grupos de
brasileiros e estigmatizadas por vários. Com base nos postulados variacionistas de Labov,
Weinreich e outros, fizemos um estudo etnográfico constituído de entrevistas, questionários e
listas de disponibilidade léxica com o objetivo de catalogar, compreender e explicar o uso
dessas inovações lexicais. Entrevistamos 30 informantes com o propósito de descobrir as
características sócio-demográficas dos brasileiros usuários desse falar. Utilizando o teste Qui-
quadrado, fizemos algumas descobertas bastante interessantes. Descobrimos, por exemplo,
que a faixa etária, as atividades que eles desempenham naquele país, a idade de início da
aprendizagem da língua-alvo, a sua proficiência na língua inglesa e o gênero têm um papel
importante nessas escolhas linguísticas.

Palavras-chave: Inovações Lexicais; Variação Linguística; Fatores Sócio-demográficos;


Línguas em Contato
ABSTRACT

This thesis aims at studying the speech of Brazilian immigrants to the United States of
America. The Brazilian immigrants use some lexical innovations which seem to be the result
of language contact between Portuguese and English. These innovations have a certain
regularity and are used only within the Brazilian community in the USA. Based on the
variationist studies of Labov, Weinreich and others, we did an ethnographic study comprizing
Interviews, Questionnaires and a Lexical Availability List. We interviewed 30 informants with
the purpose of discovering the socio-demographic features of the Brazilian Community and
the lexical choices made by them. By using statistical techniques, we reached some interesting
results. We discovered, for example, that age, the type of activities they perform, their age in
the beginning of the target language learning process, their proficiency in the target language
and their gender play an important role in the lexical choices they make.

Keywords: Lexical innovations; Linguistic Variation; Socio-demographic Factors; Languages


in Contact.
LISTA DAS FIGURAS

Figura 1 – Foto de Ironbound, Newark, NJ............................................................................. 83

Figura 2 – Mapa da Baía de Cape Cod, Massachussetts......................................................... 84


LISTA DOS GRÁFICOS

Gráfico 1: Histograma de Frequência Tipos de Inovação Lexical...........................................98

Gráfico 2: Distribuição por Gênero.......................................................................................120

Gráfico 3: Tipos de Inovação por Gênero..............................................................................120

Gráfico 4: Distribuição por Idade..........................................................................................122

Gráfico 5: Tipos de Inovação por Idade.................................................................................122

Gráfico 6: Tempo de Residência nos EUA............................................................................125

Gráfico 7: Tipos de Inovação x Residência nos EUA...........................................................125

Gráfico 8: Nível de Escolaridade...........................................................................................128

Gráfico 9: Tipos de Inovação por Nível de Escolaridade......................................................128

Gráfico 10: Domínio da Língua Inglesa.................................................................................130

Gráfico 11: Tipos de Inovação x Domínio da Língua Inglesa................................................131

Gráfico 12: Correlação entre Domínio de Língua Inglesa e Uso de Calques Mixados..........132

Gráfico 13: Classe Social........................................................................................................134

Gráfico 14: Tipos de Inovação x classe social........................................................................135

Gráfico 15: Início da Aprendizagem.......................................................................................137

Gráfico 16: Tipos de Inovação x Início da Aprendizagem.....................................................138

Gráfico 17: Atividades nos EUA............................................................................................140

Gráfico 18: Tipos de Inovação X Atividades nos EUA.........................................................141

Gráfico 19: Hist.de Frequência: C. Semânticos Detectados nas Inovações Lexicais.............144

Gráfico 20: Gênero..................................................................................................................145

Gráfico 21: Campos Semânticos X Gênero............................................................................145

Gráfico 22: Idade....................................................................................................................147

Gráfico 23: Campos Semânticos X Idade...............................................................................148

Gráfico 24: Tempo de Residência..........................................................................................150

Gráfico 25: Campos Semânticos X Tempo de Residência.....................................................151


Gráfico 26: Nível de Escolaridade..........................................................................................153

Gráfico 27: campos semânticos x nível de escolaridade.........................................................153

Gráfico 28: Domínio da Língua Inglesa.................................................................................155

Gráfico 29: Campos Semânticos X Domínio da Língua Inglesa...........................................156

Gráfico 30: Classe Social........................................................................................................157

Gráfico 31: Campos Semânticos X Classe Social..................................................................158

Gráfico 32: Início da Aprendizagem......................................................................................160

Gráfico 33: Campos Semânticos X Início da Aprendizagem.................................................160

Gráfico 34: Atividades nos EUA............................................................................................162

Gráfico 35: Campos Semânticos X Atividades nos EUA......................................................162

Gráfico 36: Campos Semânticos X Tipos De Inovações Lexicais.........................................165

Gráfico 37: Classes de Palavras X Tipos de Inovações Lexicais...........................................167


LISTA DOS QUADROS

Quadro 1: Dados Sócio-Demográficos ..................................................................................105

Quadro 2: Lista de Disponibilidade Léxica............................................................................171


LISTA DAS TABELAS

Tabela 1: Tipos de Inovação Lexical por Gênero..................................................................121

Tabela 2: Tipos de Inovação Lexical por Idade....................................................................123

Tabela 3: Tipos De Inovação Lexical Por Tempo De Residência Nos Eua...........................125

Tabela 4: Tipos de Inovação Lexical por Nível de Escolaridade..........................................129

Tabela 5: Tipos de Inovação Lexical por Domínio da Língua Inglesa..................................131

Tabela 6: Tipos de Inovação Lexical por Classe Social........................................................136

Tabela 7: Tipos De Inovação Lexical por Início da Aprendizagem......................................138

Tabela 8: Tipos de Inovação Lexical por Atividades nos EUA............................................141

Tabela 9: Resultado do Teste Qui-Quadrado.........................................................................142

Tabela 10: Campos Semânticos por Gênero...........................................................................146

Tabela 11: Campos Semânticos por Idade..............................................................................148

Tabela 12: Campos Semânticos por Tempo de Residência nos EUA....................................151

Tabela 13: Campos Semânticos por Nível de Escolaridade...................................................154

Tabela 14: Campos Semânticos por Domínio da Língua Inglesa...........................................156

Tabela 15: Campos Semânticos por Classe Social.................................................................158

Tabela 16: Campos Semânticos por Início da Aprendizagem...............................................160

Tabela 17: Campos Semânticos por Atividades Nos Eua..................................................... 163

Tabela 18: Resultado do Teste Qui-Quadrado: Inov. Lexicais por Campos Semânticos.......164

Tabela 19: Campos Semânticos X Tipos Inovação Lexical...................................................166

Tabela 20: Classes De Palavras X Tipos Inovação Lexical....................................................168


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................16

1.1. Objetivos da pesquisa ...................................................................................................22

1.1.1. Objetivo Geral ...............................................................................................................22

1.1.2. Objetivos Específicos......................................................................................................23

1.1.2.1. Perguntas de pesquisa...............................................................................................23

1.2. Expectativas de trabalho:...............................................................................................24

1.2.1.Os imigrantes tendem a usar inovações lexicais e sintáticas em palavras de conteúdo,


e não em palavras funcionais..................................................................................................24

1.2.2.Essas inovações parecem incidir mais especificamente sobre verbos de ação............25

1.2.3.As inovações lexicais parecem retratar o vocabulário ligado a profissões exercidas


por seus usuários nos EUA......................................................................................................25

1.2.4 O nível de escolaridade dos falantes usuários dessas inovações é, em geral, mais
baixo.........................................................................................................................................26

1.2.5.Os brasileiros imigrantes, alvos desta pesquisa, têm, via de regra, um nível mais baixo
de proficiência em inglês.........................................................................................................26

1.2.6 Essas inovações são estigmatizadas pelos próprios brasileiros nos EUA.....................27

2. QUADRO TEÓRICO.........................................................................................................28

2.1. Linguagem, língua e fala ..............................................................................................28

2.2. Língua, sociedade e identidade.....................................................................................36

2.3. Motivações para os contatos linguísticos e seus resultados........................................44

2.3.1. Bilinguismo e Diglossia.................................................................................................48

2.3.2. Resultados dos contatos linguísticos ............................................................................51

2.4. As noções de comunidade de fala....................................................................................60

2.5. A gênese das inovações lexicais.......................................................................................65

3 METODOLOGIA................................................................................................................76

3.1. Coleta de dados................................................................................................................86

3.2. A determinação da amostra............................................................................................88


4 ANÁLISE DOS DADOS......................................................................................................92

4.1. Introdução ........................................................................................................................92

4.2. O uso de empréstimos e calques .....................................................................................95

4.3. Tratamento Estatístico...................................................................................................100

4.4. Interpretação dos dados................................................................................................106

4.5. Variáveis testadas...........................................................................................................119

4.5.1. Condições sócio-demográficas versus Tipos de Inovação Lexical ............................119

4.5.1.1 Gênero versus Tipos de Inovações Lexicais ...........................................................120


4.5.1.2. Idade versus Tipos de Inovações Lexicais .............................................................122

4.5.1.3. Tempo de Residência versus Tipos de Inovações Lexicais ..................................124

4.5.1.4. Nível de escolaridade versus Tipos de Inovações Lexicais .................................127

4.5.1.5. Proficiência em língua inglesa versus Tipos de Inovações Lexicais ...................130


4.5.1.6. Classe Social versus Tipos de Inovações Lexicais ................................................134
4.5.1.7 Início de Aprendizagem da Língua-alvo versus Tipos de Inovações Lexicais....136

4.5.1.8. Atividade nos EUA versus Tipos de Inovações Lexicais .....................................139

4.5.2. Ocorrência de Inovações Lexicais categorizada por Campos Semânticos versus


condições sócio-demográficas...............................................................................................143

4.5.2.1. Gênero versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos .....144
4.5.2.2. Idade versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos..........147

4.5.2.3. Tempo de Residência versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos.............................................................................................................................150

4.5.2.4. Nível de Escolaridade versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos.............................................................................................................................152

4.5.2.5. Domínio de Língua Inglesa versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos
Semânticos.............................................................................................................................155

4.5.2.6. Classe Social versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos.............................................................................................................................157
4.5.2.7. Início de Aprendizagem versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos
Semânticos.............................................................................................................................159

4.5.2.8. Atividades ocupacionais versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos.............................................................................................................................161
4.6. OUTRO INSTRUMENTO DE PESQUISA................................................................169

5. CONCLUSÕES................................................................................................................173

REFERÊNCIAS....................................................................................................................183

APÊNDICE A........................................................................................................................193
16

1. INTRODUÇÃO

A profusão de línguas na América fez dela a Babel dos tempos modernos. Tanto no
campo quanto na cidade ela tem se debatido com todos os sotaques europeus, sem
nunca se desviar do curso anglo-saxônico de seus pais fundadores. No curso de um
século, a América absorveu milhões de pessoas e lhes ensinou a sua língua mais
perfeitamente que Roma conseguiu ensinar aos gauleses e ibéricos nos séculos de
domínio absoluto. Chineses e negros, espanhóis e franceses, judeus e gentios, todos
foram domesticados sem, contudo, causar qualquer impacto mais sério ao inglês
americano.2 (HAUGEN, 1972, tradução nossa)

Sabemos que o contato linguístico pode ter várias motivações para sua ocorrência.
Esta tese trata do contato linguístico motivado por questões econômicas. Atualmente,
cerca de três milhões e setecentos mil brasileiros residem e trabalham em terras estrangeiras,
de acordo com os dados do Ministério de Relações Exteriores. Os pontos preferidos pelos
brasileiros são os Estados Unidos (onde se estima que um milhão e quinhentos mil desses
brasileiros vivam), Paraguai e Europa.
Segundo Li Wei (2000), muitas pessoas têm migrado para encontrar trabalho e
melhorar seu padrão de vida. Esse é o fator que mais contribui para a diversidade linguística
dos Estados Unidos da América e o crescente bilinguismo na Europa de hoje.
Segundo Bayley (2004), os níveis de imigração para os EUA têm crescido de forma
exagerada, sendo que, de 1991-2000, os EUA receberam mais imigrantes que na década de
1901-1910. O que caracteriza as imigrações para os EUA é que as mais recentes não são de
pessoas de origem européia, mas, principalmente de pessoas provenientes da América Latina.
Essa crescente imigração deixa consequências políticas, econômicas e educacionais também
para os Estados Unidos. Em termos de língua, as consequências podem ser bastante
perturbadoras para uma nação que se diz monolíngue. Algumas delas são o número crescente
de pessoas que usam outras línguas para uma variedade de propósitos, além do número
crescente de falantes que falam inglês como segunda língua, e a mudança de língua para
inglês por filhos e netos de imigrantes.
Realizamos um estudo etnográfico utilizando 30 informantes brasileiros que residem
nos Estados Unidos da América.

2
America's profusion of tongues has made her the true Babel of a modern age. In city and countryside she has
teemed with all the accents of Europe, yet she has never swerved from the Anglo-Saxon course set by her
founding fathers. In the course of a century she has absorbed her millions and taught them her language more
perfectly than Rome taught the Gauls and the Iberians in centuries of absolute dominion. Chinaman and Negro,
Spaniard and Frenchman, Jew and Gentile have all been domesticated without leaving any serious impression on
American English . (HAUGEN, 1972)
17

Esta tese constitui-se de cinco capítulos. O primeiro capítulo, com o título de


“Introdução”, apresenta a questão que será discutida nos demais capítulos, assim como os
objetivos e as expectativas apontadas nesta pesquisa.
O segundo capítulo, denominado “Quadro Teórico”, discute a literatura específica
sobre a qual este trabalho foi desenvolvido. Nesse capítulo faremos um breve apanhado sobre
a linguística, mais especificamente sobre a sociolinguística variacionista de Labov. Além
disso, abordaremos as diferenças entre linguagem, língua e fala; discorreremos sobre as
relações entre língua, sociedade e identidade. Abordaremos, também, as motivações para os
contatos linguísticos e seus resultados, e faremos, além disso, uma exposição sobre as
diferentes noções de comunidades de fala. Falaremos também mais detalhadamente sobre as
inovações linguísticas.
O terceiro capítulo, intitulado “Metodologia”, discute as metodologias utilizadas neste
trabalho, baseando-se nos postulados da Teoria Variacionista de Labov (1972).
O quarto capítulo lida com a questão dos dados, o tratamento estatístico dado a eles e a
sua interpretação.
No quinto capítulo, elaboramos as conclusões desta pesquisa, comentamos os
resultados e fazemos sugestões para futuras pesquisas nesta área.
Os brasileiros em questão, também popularmente conhecidos por “Brazucas”, fazem
uso de inovações linguísticas que parecem aproximar o inglês do português para comunicar-se
entre si. É natural que, havendo duas ou mais formas de se transmitir uma informação, se
configure aí um processo de variação linguística. Podemos dizer que concorre, então, uma
forma de conflito com a forma “antiga”, denominada “conservadora”, sendo que a
“inovadora” pode vir a substituir a “conservadora”. Os brasileiros usam, sistematicamente,
palavras como “parkear” o carro, que utiliza o conteúdo semântico do inglês, a vogal temática
“a” e a desinência de infinitivo “r”, formando um verbo da primeira conjugação em
português, em vez de dizerem “estacionar” o carro.
Outro exemplo comum de construção usada pelos brasileiros é a expressão “estou
bisado”, que vem de “busy”, o adjetivo inglês para “ocupado” com a terminação do adjetivo e
particípio passado “ado”, do português. Como o recurso principal de que as línguas se servem
para ampliar o léxico é a formação de palavras a partir de palavras/morfemas preexistentes, o
ponto de partida para a criação de novas palavras é a utilização de uma “base” e o acréscimo
de prefixos e sufixos, em um processo conhecido como derivação. (Sandmann, 1992:23-24).
Em português, o adjetivo “ocupado” tem como base o verbo “ocupar” e é acrescido do sufixo
“ado” = sufixo formador de adjetivo e particípio a partir de verbos e/ou substantivos.
18

Outras referências a esse fenômeno têm aparecido também na imprensa local. Em um


artigo intitulado “Bararô no maicroei”, por exemplo, publicado no final da década de 90, o
jornalista Osmar Freitas Jr. aponta vários exemplos de uso dessas inovações linguísticas
cunhadas por brasileiros nos Estados Unidos. O título “bararô” se refere ao alimento mais
próximo ao nosso “pãozinho francês” nos EUA, que é o “buttered-roll”, que os brasileiros
comem aquecidos no “maicroei” (microwave oven = forno de microondas).
Nesse mesmo artigo há vários exemplos dessa “interlíngua”, termo usado aqui sem sua
conotação técnica, apenas como recurso descritivo. No próprio título podemos perceber uma
“adaptação fonológica” dos sons do inglês para o português; “bararô no maicroei” seria o
modo de os brasileiros que não conseguem falar adequadamente o inglês falarem “Buttered-
roll in the microwave”. Nota-se também uma adaptação fonológica do inglês para o português
em palavras como “boila” / bɔɪlə/ em vez de “boiler”/ bɔɪlər /, cona /konə/ em vez de
corner /kɔrnər/, dona/dɔnə /por doughnut /dəʊnət/. Nesse último, a omissão da consoante t é
um fenômeno comum em língua portuguesa, principalmente nos dialetos do sudeste
brasileiro, em que a consoante final não é pronunciada se não for seguida de vogal. Um
exemplo desse fenômeno ocorre com verbos no infinitivo em português, como em “fazer”
passa a “fazê”.
Em outros casos, entretanto, observa-se uma adaptação de cunho mais morfológico, ao
se transformar drive em “draivar”, park em “parkear” e freeze em “frizar”.
Já em outros casos, acrescenta-se som vocálico em situações que o português o exige,
como em palavra iniciada com consoante sem a presença de vogal, como em speak, que se
torna “ispicar”, e steamer, que se torna “estima”.
Segundo Freitas (1995), as pessoas mais humildes aportaram em Newark, uma cidade
de New Jersey, estado vizinho a New York. Essa cidade apresenta uma grande concentração
de imigrantes portugueses e, consequentemente, de brasileiros, que se sentem mais
confortáveis em habitarem um local que, embora situado nos EUA, fale português. Isso
também acontece no entorno de Boston, no estado de Massachussets, outra cidade reduto de
portugueses e brasileiros nos EUA.
Por não conseguirem aprender o inglês, já que mal sabem o português padrão, são
obrigadas a inventar novas maneiras de se comunicar. Quem passa pela “Esquina dos aflitos”
ou “Aflits Cona”, em Newarkês (“dialeto” dos brasileiros imigrantes em Newark), verá a
legião de brasileiros esperando as caminhonetes de empreiteiros portugueses que contratam
para o serviço de diarista em obras da região. São bandos de rapazes falando um dialeto
19

incompreensível. O próprio nome do lugar tem uma etimologia singular: “Aflits” de português
e “cona” de “corner” = esquina, em inglês.
Cada grupo de trabalhadores contribui para o “idioma do crioulo doido”, segundo
Freitas, de acordo com a sua especialidade. Assim, as “go-go girls”, uma das profissões mais
procuradas pelas brasileiras, sabem locais onde se pode “flaxear”, ou mostrar partes do corpo.
Em New Jersey, não se pode mostrar partes do corpo em bares onde circula bebida alcoólica,
portanto, devem-se procurar bares onde o dono seja condescendente com essas práticas. Em
inglês, isso se chama “to flash”, daí o “flaxear”.
Os mecânicos falam em “tunapiá” um “cá”, ou “tune up a car”. O motorista de
caminhão adverte: “non parkeia o troque na bomba da cona prá não apanhar um tíquete”.
Traduzindo: “Não estacione o caminhão em frente ao hidrante para não levar uma multa”.
Outra consideração a ser feita parece envolver também aspectos sintáticos. Estruturas
que podem ser ouvidas tanto no exterior quanto no Brasil parecem ser uma decorrência direta
da influência da língua inglesa, tais como: ”Você é suposto de fazer isso!”, que sofre
influência de inglês “You are supposed to do that” = você deve fazer isso. Em português,
entretanto, o verbo “supor” não tem a acepção de “dever”, não existindo, portanto, o adjetivo
“suposto” com o sentido de “dever”. Eu tive oportunidade de ouvir isso nos EUA e no Brasil,
de pessoas que já moraram lá e pessoas que nunca moraram nos EUA, mas convivem com
pessoas que já tiveram essa oportunidade.
Parece haver uma gradação na mixagem que os brasileiros fazem. É certo que as
palavras de conteúdo têm um papel primordial nessas inovações lexicais, em detrimento das
palavras gramaticais ou funcionais. É possível que haja uma gradação das palavras de
conteúdo, mas sendo essa uma questão empírica, só poderá ser respondida por meio de uma
pesquisa.
Motivada por inquisições a respeito da diversidade entre as línguas e as variações e
mudanças sofridas por elas, decidi pesquisar a fala dos imigrantes falantes de português
brasileiro nos Estados Unidos, mais especificamente em New Jersey e Massachussets, onde a
maioria deles está concentrada. Os imigrantes brasileiros, principalmente aqueles que vivem
ilegalmente em países ricos como os Estados Unidos, Canadá e Austrália, são pessoas que
abandonaram sua terra natal em busca de uma chance de resolverem seus problemas
financeiros em países economicamente estáveis. Sabemos que essas pessoas, em geral,
desempenham trabalhos braçais, que não requerem qualificação acadêmica, trabalham muitas
horas por dia e moram em comunidades brasileiras.
20

O interesse em estudar esse assunto foi advindo de experiências vividas nos EUA e
comentários com outras pessoas que também tiveram essa experiência. O seguinte recorte foi
escolhido: as inovações lexicais realizadas por brasileiros imigrantes que vivem nos Estados
Unidos, mais especificamente nos entornos da cidade de New York e Boston. A motivação de
meu interesse nessa questão vem de experiências pessoais nos Estados Unidos, onde morei
por dois anos e de visitas posteriores a lugares onde havia grandes concentrações de
brasileiros nos EUA, além de leituras de artigos relacionados a esse assunto e comentários
com conhecidos que moraram nos Estados Unidos da América.
O trabalho desempenhado pela maioria dos homens é na construção civil, como
pedreiros e ajudantes de pedreiro; em oficinas mecânicas; como engraxates em prédios de
executivos; como cozinheiros e lavadores de pratos em restaurantes; como motoristas; como
caixas em lojas e supermercados e também como pessoal de limpeza de prédios e lojas; além
de serviços de pintura em automóveis e imóveis. As mulheres trabalham como “babysitters”=
babás de horário integral (também chamadas de “nannies”); como diaristas; cozinheiras;
lavadoras de prato em restaurantes; empregadas domésticas e como atendentes em salões de
beleza. Algumas dessas brasileiras abrem firmas e contratam outras brasileiras num processo
de reinvenção da apropriação da mais valia de suas compatriotas em terras de Tio Sam.
Muitos brasileiros abrem firmas e exploram serviços de pintura em residências e prédios,
construção, limpeza de supermercados e limpeza de sapatos, e empregam outros brasileiros,
muitas vezes em situação ilegal. Esses brasileiros não podem, portanto, exigir seus direitos,
pois se encontram em situação ilegal no país.
Podemos dizer que os brasileiros, assim como outros imigrantes componentes do
“American Melting Pot” (caldeirão americano) desempenham as funções que os americanos
desprezam. Nas palavras do informante 10M:
“Porque normalmente os trabalhos são períodos muito longo que você trabalha. E
você trabalha uns trabalhos que americanos não querem. Normalmente o que acaba
sobrando é essas coisas de limpeza, é restaurante, e trabalho principalmente em restaurante,
a carga horária é muito grande...”
“O pessoal trabalha de às vezes dez da manhã à meia noite. E tem muita gente aqui
que trabalha sete dias por semana e não seis dias.”
Os tipos de trabalho mais pesados, que envolvem algum tipo de insalubridade ou que
não garantem um retorno financeiro expressivo são destinados à mão de obra estrangeira,
mais barata e informal, na maioria das vezes. Digamos que a imigração faz “vista grossa” com
os estrangeiros ilegais, usando-os como uma espécie de válvula de escape ou regulador
21

natural da empregabilidade americana. Quando falta emprego para os americanos, eles


perseguem mais os estrangeiros, e quando a economia vai bem e os empregos abundam, eles
esquecem os imigrantes por algum tempo.
Os brasileiros imigrantes se alimentam, sempre que possível, como no Brasil e vestem-se
como no Brasil. Eles convivem entre si, tendo muito pouco contato com a cultura do país onde moram,
exceto durante o trabalho, que normalmente não envolve comunicação oral significativa. Nas palavras
do informante 10F:

“Faço pão de queijo... Faço bolo, faço tudo. De vez em quando


eu ainda faço que tem cliente que pede pra fazer pão de queijo...”

Segundo Pimenta (2005), 57% dos homens e 67% das mulheres que vivem em
Pompano Beach, uma das cidades-alvo dos brasileiros que emigram para a Flórida em busca
de trabalho, prefere relacionar-se exclusivamente com outros brasileiros nos EUA.
Nos estados do norte nada é diferente. Em Newark, as pessoas todas se conhecem e
sabem da história de vida umas das outras. Nota-se claramente que eles têm contato mínimo
com americanos. Esses brasileiros geralmente sentem-se discriminados pelos nativos, dos
quais eles se ressentem, vendo-os como a cultura dominante, e a si própria, como os
dominados.
Nas palavras de Damatta (1991)

Viver fora do país natal é viver como um objeto deslocado. Quando a pessoa
imagina que está ‘por dentro’ e tem suficiente familiaridade, basta um evento -
objeto, nome próprio, data ou palavra, sobretudo palavra – para confirmar a
ignorância e o fosso incomensurável que separa e divide o nativo do estrangeiro.

O seguinte relato foi retirado do capítulo “Choque do Idioma”, do livro “Como é viver
nos Estados Unidos”, escrito por Aline Tonini (2007).

Os primeiros passeios também deixam claro que viramos analfabetos. Podemos ver
um amontoado de letras, mas elas não dizem nada. "...- Esse arroz deve ser como o
do Brasil....- Será que isso é creme de leite?" Acabamos comprando o que não
queremos, pagando o que nem imaginamos e no final ainda tem que passar pelo
caixa e conseguir dizer - Thank you!
Chegar em casa e tentar relaxar na frente da televisão? Esqueça. A televisão
também só fala inglês. O cartão telefônico para ligar pro Brasil é em inglês, as
22

placas de trânsito, os nomes das ruas, os números, os preços....tudo. Pequenas


coisas, o mais simples, pode se tornar difícil de se resolver nestes momentos...mas...
como o povo brasileiro é muito criativo basta um pouco de coragem e jogo de
cintura para começar a driblar os percalços. Um dia meu padrinho fez uma boa
definição do que vivemos aqui quando falava comigo ao telefone: - Aline, vejo vocês
como passarinhos fora do ninho! Ele disse uma verdade que eu nunca mais esqueci.
É estranho estar entre muitos americanos em um supermercado e ouvir alguém
falar português: "- Brasileiro, brasileiro. Posso entender!" Imediatamente olhamos
para o lado a procura desses outros passarinhos que cantam a nossa canção e uma
sensação de alívio e alegria percorre nosso corpo. Não somos os únicos a voar em
outros ares...

Como podemos perceber pelas observações feitas no parágrafo anterior, a língua


estrangeira é um grande problema para os brasileiros no exterior. Segundo Sankoff (2001),
podemos encontrar minorias linguísticas em todos os cantos do mundo, devido à imigração e
também à adoção e, muitas vezes, imposição de línguas não faladas originalmente pela
população local. Em muitos casos, isso resultou em perdas e reduções da diversidade
linguística, porém, o contato linguístico se tornou parte da vida de milhões de pessoas em
todo o mundo.
Os estudos sobre as propriedades do resultado de contatos linguísticos no discurso dos
bilíngues são bastante complexos. Alguns itens podem ser emprestados de outra língua e
nunca mais serem ouvidos, ou podem vir a ser usados com muita regularidade. Uma palavra
pode seguir o padrão da língua materna ou da língua-alvo, dependendo da habilidade ou
intenção do falante, e também de outros aspectos do contexto.
Toda pesquisa é baseada em objetivos gerais e específicos que a norteiam.
Enumeramos os objetivos gerais e específicos deste trabalho a seguir.

1.1. Objetivos da pesquisa

1.1.1. Objetivo geral

O objetivo geral do presente trabalho é descrever as inovações lexicais encontradas


entre brasileiros residentes nos Estados Unidos, correlacionando-as a fatores linguísticos e
extralinguísticos.
23

1.1.2. Objetivos específicos

Os objetivos específicos do trabalho estão diretamente relacionados às respostas das


perguntas de pesquisa suscitados por esse tema.
Para os sociolinguistas, nas comunidades de fala, frequentemente, existirão formas
linguísticas em variação, isto é, formas que estão em co-ocorrência (quando duas formas são
usadas ao mesmo tempo) e em concorrência (quando duas formas concorrem). Daí ser a
Sociolinguística Variacionista também denominada Teoria da Variação.
Toda a análise sociolinguística é orientada para as variações sistemáticas, inerentes ao
seu objeto de estudo, a comunidade de fala, concebidas como uma heterogeneidade
estruturada. Não existe, portanto, um caos linguístico, cujo processamento, análise e
sistematização sejam impossíveis de serem processados. Há, pelo contrário, um sistema, uma
organização, por trás da heterogeneidade da língua falada.
Considerando-se o exposto anteriormente, passamos às perguntas que nortearam esta
pesquisa, cujas respostas representam os objetivos específicos deste trabalho.

1.1.2.1 Perguntas de pesquisa:

1) Quais são os fatores que contribuem ou favorecem a criação e o uso dessas inovações
lexicais e sintáticas?

2) Como esse fenômeno pode ser caracterizado? Como “pidgin”? Como “interlíngua”, um
estágio na evolução de aprendizagem de Língua Estrangeira?

3) Todos os brasileiros imigrantes se comportam do mesmo modo quanto ao uso dessas


inovações lexicais?

4) Se há diferenças entre eles, quais são as condições, linguísticas e extralinguísticas, que


favorecem e/ou inibem a mixagem observada?
24

1.2. Expectativas de trabalho:

O presente trabalho reconhece o caráter heterogêneo da fala, evidenciado pelas


questões variacionistas e pretende analisar a fala de imigrantes brasileiros nos EUA tendo
como foco as inovações lexicais e sintáticas realizadas por eles.
Essa heterogeneidade não é aleatória, segundo Naro (2003), mas regulada, governada
por um conjunto de regras. Existem condições ou regras mutáveis que favorecem ou
desfavorecem variavelmente e com pesos específicos, o uso de uma forma ou outra em cada
contexto.
Estabelecemos algumas expectativas a respeito do objeto de nosso trabalho - as
inovações lexicais encontradas na fala dos imigrantes brasileiros nos EUA:

1.2.1. Os imigrantes tendem a usar inovações lexicais e sintáticas em palavras de


conteúdo, e não em palavras funcionais.

Isso pode ser justificado a partir da ideia de que a linguagem é muito mais do que um
sistema funcional para dar nome a coisas e seres. As pessoas tendem a usar essas palavras
para transmitir significados, algumas vezes de objetos, na maioria das vezes concretos, dos
quais muitas vezes elas não sabem o nome em português. Ao usar “vaccum”, por exemplo,
uma brasileira sem instrução e vinda de uma vila no interior de Minas Gerais pode nunca ter
usado ou visto um aspirador de pó na vida. As palavras de conteúdo, ou lexicais, carregam
significado em si, e são, por isso mesmo, chamadas de palavras de categoria aberta, pois
novas palavras de conteúdo podem sempre ser criadas. Já as palavras gramaticais, ou
funcionais, servem apenas para denotar uma função gramatical dentro da frase, não
transmitindo significado e sendo em um número finito aproximado de 300. Poplack, Sankoff
e Miller (1985b) alegam que as palavras de conteúdo não são recorrentes, pois para que
fossem repetidas por vários informantes, eles deveriam falar sobre o mesmo assunto e acessar
a mesma palavra de origem inglesa que deu origem ao termo emprestado, enquanto as
palavras funcionais, embora frequentes, raramente sofrem empréstimo.
25

1.2.2. Essas inovações parecem incidir mais especificamente sobre verbos de ação.

Um verbo de ação caracteriza uma atividade expressa pelo verbo e realizada por um
sujeito agente. Indica um fazer por parte do sujeito. Contém traços de atividade relacionadas
com sujeito agente. Isso significa que o sujeito age, realiza ações. Por essas razões compõe
uma frase ativa, com fazer por parte do sujeito. O informante desta pesquisa é um ser agente
por excelência, pois a sua estadia nos EUA é impulsionada pelo trabalho com vistas a uma
remuneração condizente. Os verbos são conjugados em primeira conjugação, com vogal
temática “a”, (classe ar), perfazendo “parkear”, “vaquear”, “mopear”, etc.
Assim também acontece com a língua portuguesa, na qual a maioria dos verbos
termina em ar, tais como em cantar. De uma forma geral, os verbos com a mesma terminação
seguem o mesmo padrão de conjugação, e desse modo temos, por exemplo, parkeio, parkeia,
parkeamos, parkeiam.
Do mesmo modo, um estudo de Poplack, Sankoff e Miller (1985) sobre os contatos
linguísticos entre francês e inglês na província de Quebec, no Canadá, verificou que os verbos
utilizados no corpus de sua pesquisa eram também da primeira conjugação (classe “er”, em
francês), perfazendo “afforder” (ter condições de comprar), “delivrer” (entregar) e “mover”
(mudar).

1.2.3. As inovações lexicais parecem retratar o vocabulário ligado a profissões exercidas


por seus usuários nos EUA.

A maioria dos brasileiros imigrantes desempenha funções diferentes daquelas que


desempenham no Brasil, justamente porque são tipos de atividades que os americanos não
estão dispostos a enfrentar. São serviços que geralmente envolvem força física ou grandes
esforços e pouca remuneração para o padrão norte-americano. Desse modo, os brasileiros
imigrantes que, no Brasil eram donos de estabelecimentos comerciais, professores, pastores
de igreja, administradores, pessoas, em geral insatisfeitas com sua situação financeira no
Brasil, atuam como governantas e babás, engraxates, diaristas, empregadas domésticas,
pintores, pedreiros, lavadores de prato, faxineiros, caddies (carregadores de bolsa do golfista)
em campos de golfe e, até mesmo dançarinas exóticas.
Já que as pessoas desempenham serviços diferentes daquilo que faziam no Brasil, é
natural que não conheçam o jargão de cada profissão nos EUA, o que propicia o aparecimento
26

de termos originais em inglês ou mesmo carregados de inovações lexicais, principalmente


quando os brasileiros trabalham com outros brasileiros, criando, assim, uma perpetuação
desses termos.

1.2.4. O nível de escolaridade dos falantes usuários dessas inovações é, em geral, mais
baixo.

O nível de escolaridade dos brasileiros imigrantes nos EUA é, geralmente, baixo. Só


mesmo pessoas em situação muito precária e sem perspectivas no Brasil costumam se
aventurar em terras estranhas. Alguns dos entrevistados usam um português bastante
estigmatizado no Brasil com desvios considerados graves em sua língua nativa, próprio de
pessoas sem instrução formal. Isso parece contribuir para o uso crescente dessas inovações
lexicais. Termos que eles não conhecem em sua língua nativa passam a ser adquiridos na
língua estrangeira. Além disso, o fato de falarem um inglês, mesmo que “capenga” parece dar-
lhes mais confiança de poderem sobreviver nos EUA, apesar de não dominarem
completamente a língua.

1.2.5. Os brasileiros imigrantes, alvos desta pesquisa, têm, via de regra, um nível mais
baixo de proficiência em inglês.

Os informantes desta pesquisa são brasileiros que se mudaram para os EUA com
intenção de trabalhar e “fazer um pé de meia”, juntar dinheiro para resolverem seus problemas
financeiros no Brasil. Em geral, eles não sabem falar inglês ao se mudarem para os EUA e o
que conseguem aprender lá é, no máximo, o jargão ligado à atividade que desempenham no
Exterior. Como não sabem falar inglês, não têm formação escolar para exercerem atividades
bem remuneradas e estão em situação ilegal, acabam sendo relegados ao subemprego nos
EUA.
Os brasileiros fluentes em inglês geralmente conseguem colocações melhores
trabalhando junto aos americanos, propiciando uma rede social entre os próprios brasileiros
muito menos densa que aquela do Brasileiro não-fluente em inglês. A inserção social do
brasileiro emigrante fluente em inglês na comunidade brasileira tende a ser muito menor, o
que ocasiona um contato menor com brasileiros usuários das inovações lexicais.
27

1.2.6. Essas inovações são estigmatizadas pelos próprios brasileiros nos EUA.

Durante as entrevistas, várias vezes os informantes emitiram juízos de valor em


relação a essas inovações, sempre as considerando “erradas”, “horrível!”, “a gente sabe que
isso não existe!”, embora fizessem uso constante dessas inovações. Parece que quanto mais
alto o nível de escolaridade, mais alto o nível de estigmatização das inovações, já que elas
denotam uma identidade dos brasileiros imigrantes. Entende-se que, aquele que usa essas
inovações lexicais faz parte do grupo de imigrantes de baixa escolaridade, que não é
proficiente em inglês e se sujeita a subempregos nos EUA.
Como podemos perceber através das expectativas estabelecidas neste capítulo, o
presente estudo lida tanto com questões estruturais, assim como tipos de palavras que
costumam sofrer mais frequentemente a “hibridização” sobre a qual estaremos traçando
conjecturas, como com questões de natureza comportamental e social, ligadas ao indivíduo
usuário do tipo de inovações lexicais em questão.
No capítulo 2, a seguir, faremos uma retrospectiva do quadro teórico da linguística,
com o objetivo de situar o nosso estudo dentro da perspectiva sociolinguística variacionista de
Labov.
28

2 QUADRO TEÓRICO

“...o objetivo do sociolinguista é ir em direção a uma teoria que dê uma


contabilização motivada de como a língua é utilizada em uma comunidade, e das
escolhas que as pessoas fazem ao usar a língua. (...) Por exemplo, ao observarmos
como o uso da língua é variado, temos que procurar descobrir as causas de tanta
variação. Depois de observar a variabilidade, buscamos seus correlatos sociais.
Qual é o propósito da variação? Como ela é avaliada na comunidade? O que
significam as suas variantes?” (CHAMBERS, 2003:226, tradução nossa)3

Este capítulo lida com o quadro teórico usado como referência nesta pesquisa.
Faremos, em primeiro lugar, uma retrospectiva, estabelecendo a visão conceitual de
linguagem, língua e fala, conceitos fundamentais em qualquer estudo linguístico.
Em seguida, demonstraremos como língua, sociedade e identidade são instituições que
compartilham uma interface importante em relação ao indivíduo.
A terceira subseção deste capítulo lida com a série de motivações para os contatos
linguísticos, os conceitos de bilinguismo e diglossia, além dos resultados advindos dos
contatos entre línguas.
A seguir, citaremos as várias noções de comunidade de fala estabelecidas por vários
estudiosos da área de sociolinguística, conceitos que normalmente determinam uma tomada
de posição em relação à pesquisa.
A quinta subseção lida com os tipos de inovações linguísticas resultantes dos contatos
entre as línguas.

2.1 Linguagem, língua e fala

Nenhuma outra característica distingue tão bem o homem dos outros animais como o
domínio da linguagem. Ela tem sido o eixo central do desenvolvimento social e cultural da
humanidade.
A importância dos processos comunicativos nas sociedades urbanas e industriais
revela-se na habilidade do falante em usar a sua língua para interagir com seus semelhantes
comunicando seus pensamentos, sentimentos e ações por meio de um sistema de signos
vocais – a língua. Como o ser humano dispõe de inúmeras possibilidades para comunicar-se,

3
the sociolinguist’s aim is to move towards a theory which provides a motivated account of the way language is
used in a community, and of the choices people make when they use language.’ For example, when we observe
how varied language use is we must search for the causes. ‘Upon observing variability, we seek its social
correlates. What is the purpose of the variation? How is it evaluated in the community? What do its variants
symbolize? CHAMBERS, 2003:226
29

cada língua corresponde à expressão de uma escolha entre as várias possibilidades


linguísticas, apresentando variações relevantes em função de valores sociais, regionais, de
faixa etária, de situação econômica, etc.
A língua, como um sistema de possibilidades, oferece um conjunto flexível no que diz
respeito às regras de seleção, combinação e substituição, sem comprometer ou alterar a
interação. É o que entendemos por variação linguística.
Não há hierarquia entre os usos variados da língua, assim como não há uso
linguisticamente melhor que outro. Em uma mesma comunidade linguística, portanto,
coexistem usos diferentes, não existindo um padrão de linguagem que possa ser considerado
superior. As pessoas não falam do mesmo modo e até uma mesma pessoa não fala sempre da
mesma maneira, em todas as situações.
Langue (língua) e parole (fala) formam, juntas, a linguagem, que, para Saussure
(2002), “tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber uma sem a
outra”. Já para Dubois (2000), “Linguagem é a capacidade específica à espécie humana de
comunicar por meio de um sistema de signos vocais (ou língua)”. Por fim, Câmara Jr. (1998)
define linguagem como:

A faculdade que tem o homem de exprimir seus estados mentais por meio de um
sistema de sons vocais chamado língua, que os organiza numa representação
compreensiva em face do mundo subjetivo interior, pela atividade da linguagem ou
fala. (CÂMARA Jr., 1998)

Do ponto de vista da linguística estrutural, Saussure (2006) alega que a linguagem é de


natureza heterogênea, sendo, portanto, multiforme e heteróclita, ao mesmo tempo física,
fisiológica e psíquica e, além disso, pertencendo ao domínio individual e social. Segundo ele,
devido às dificuldades em inferir sua unidade, de não classificá-la em nenhuma categoria de
fatos humanos, a linguagem não pode ser o objeto da linguística.
Já a língua é um produto social da linguagem, constitui algo adquirido e convencional,
compõe-se de um sistema de signos aceitos por uma comunidade linguística. Para Saussure,
esse sistema é homogêneo, estável, social, representado em termos de relações de oposição e
de regras. A fala, entretanto, é um ato individual de vontade e inteligência do indivíduo que a
usa, é acessória e mais ou menos acidental. Com base nessa compreensão, Saussure (2006)
define que a Linguística propriamente dita é a ciência cujo único objeto é a língua. Essa opção
teórica é compartilhada pelos estruturalistas, conhecidos também como formalistas ou
descritivistas. Eles se interessam apenas pelo estudo do sistema da língua, excluindo,
portanto, os aspectos sociais, culturais, históricos e ideológicos que interferem no seu uso. Da
visão estruturalista decorre a concepção de língua como código, como instrumento cuja
30

função é a comunicação humana por meio do qual um emissor comunica a um receptor


determinadas mensagens.
Chomsky (1968), por sua vez, alega que, em muitas ocasiões, a fim de fazer
descobertas sobre a linguagem, os linguistas devem tentar distinguir aquilo que é importante
daquilo que é irrelevante sobre a linguagem e o comportamento linguístico. Para ele, relevante
é aquilo que tem relação com a aprendabilidade de todas as línguas, as características que elas
compartilham, as regras e princípios aparentemente seguidos pelos falantes ao construir e
interpretar sentenças; de somenos importância seriam os problemas ligados ao modo como os
falantes usam determinadas enunciações em uma variedade de maneiras de acordo com a
situação em que se encontram.
Para Lightfoot (2006), “I-language” (Internal language) significa o sistema mental
que caracteriza a amplitude linguística do falante e está representada na mente do indivíduo,
enquanto “E-language” (External language) seria parte do mundo externo, amorfa, não sendo
exatamente um sistema, fluido, em fluxo constante e não-sistemático. Para Lighfoot (2006), I-
language deve ser o foco de interesse do linguista.
Em meados dos anos 50, aparece o gerativismo, uma corrente linguística hegemônica,
quase absoluta na sintaxe dos últimos 50 anos. Segundo Faraco (1998), Chomsky (1965)
fundamentou sua teoria geral da linguagem em uma hipótese de cunho inatista, na qual o fato
empírico central para a linguística é a aquisição de linguagem pelas crianças. No entanto, o
gerativismo não é uma teoria descritiva, mas explicativa, buscando dar conta, de forma
ordenada, explicativa, econômica e teoricamente adequada de fenômenos abstratos e
universais da língua.
É inegável a importância do gerativismo para o estudo da sintaxe e dos problemas
tipológicos da língua. Entretanto, não está nos seus interesses a preocupação com a linguagem
enquanto fenômeno tipicamente social, já que a noção de social ou situacional não é da alçada
do gerativismo. Reconhecendo a importância do movimento gerativista, podemos dizer que,
de forma geral, a contribuição do gerativismo é ligada a questões de natureza teórica.
Sob esse ponto de vista, as investigações linguísticas deveriam concentrar-se no
desenvolvimento de conhecimento da linguagem per se. A tarefa do linguista deveria ser,
segundo esses estudiosos, descrever gramáticas que nos ajudassem a desenvolver nosso
entendimento da linguagem: o que é, como pode ser aprendida e o que ela tem a nos dizer
sobre a mente humana.
Esse tipo de linguística - conhecido como “linguística teórica”- goza de uma posição
privilegiada dentro da linguística geral. Sob essa perspectiva, o uso da linguagem pouco teria
a oferecer. Segundo Marcuschi (2000), a linguística se desenvolveu em meados do século
XIX e, com sucesso, mapeou os falares e as diversas línguas em suas peculiaridades com
31

descrições dialetológicas e históricas, tendo como metodologia básica de trabalho o


comparativismo histórico e descritivo. Sob uma perspectiva pré-estruturalista, a linguística
não distinguia níveis de análise nem se utilizava de estudos sincrônicos. Surgiu, então, a
perspectiva estruturalista que dominou o século XX até os anos 60, e deu lugar a uma visão
multifacetada e pós-estruturalista, a partir dos anos 60, com o surgimento da pragmática, da
sociolinguística, da psicolinguística, da etnometodologia e, mais recentemente, do
cognitivismo.
Chomsky (1965) distingue os conceitos de competência e desempenho, alegando que o
papel do linguista é o de caracterizar aquilo que os falantes sabem sobre a sua língua, ou seja,
a sua competência, e não aquilo que eles fazem com a sua língua, i.e., o seu desempenho. Em
suas próprias palavras:

A teoria linguística está preocupada principalmente com um falante-ouvinte ideal,


em uma comunidade de fala completamente homogênea, que conhece perfeitamente
sua língua e não é afetado por condições gramaticalmente irrelevantes tais como
limitações de memória, distrações, deslocamentos de atenção e interesse, e erros
(aleatórios ou característicos) na aplicação de seus conhecimentos da língua em
desempenho real. Essa parece ter sido a posição dos fundadores da linguística
moderna geral, e nenhuma razão convincente para alterá-la foi oferecida. Para
estudar o desempenho linguístico real, temos de considerar a interação de uma
variedade de fatores, dos quais a competência subjacente do falante-ouvinte é
apenas uma. A este respeito, o estudo da linguagem não é diferente da investigação
empírica de outros fenômenos complexos. (CHOMSKY, 1965, tradução nossa)4

Já Pinker (2007) observa as consequências de tal ponto de vista, ao dizer que, embora
os linguistas teorizem sobre a linguagem como se ela fosse um protocolo fixo de uma
comunidade homogênea de falantes idealizados, eles também sabem que a língua real sofre
pressões constantes de mudanças por parte de falantes diferentes de formas diferentes.
São essas pressões constantes de mudança que interessam a Labov, a figura mais
influente em sociolinguística nos últimos 50 anos.
Para Labov (2006)

O comportamento linguístico dos indivíduos não pode ser compreendido sem o


conhecimento das comunidades às quais eles pertencem. (LABOV, 2006, tradução
nossa)5

4
Linguistic theory is concerned primarily with an ideal speaker–listener, in a completely homogeneous speech-
community, who knows its language perfectly and is unaffected by such grammatically irrelevant conditions as
memory limitations, distractions, shifts of attention and interest, and errors (random or characteristic) in applying
his knowledge of the language in actual performance. This seems to me to have been the position of the founders
of modern general linguistics, and no cogent reason for modifying it has been offered. To study actual linguistic
performance, we must consider the interaction of a variety of factors, of which the underlying competence of the
speaker–hearer is only one. In this respect, study of language is no different from empirical investigation of other
complex phenomena.
32

O conhecimento buscado pelos linguistas deve procurar mais do que explicar a


gramática da língua, porque é sabido que os falantes detêm esse conhecimento. Em seu
desempenho, eles se comportam sistematicamente, sendo que suas ações não são aleatórias,
havendo uma regularidade subjacente que não necessita instrução formal para sua aquisição.
Saber uma língua, segundo Labov (2006) também significa saber como usar uma língua de
forma apropriada, a chamada competência comunicativa, e os aspectos sociais dessa
competência são o foco de nosso interesse neste trabalho.
Bakhtin (1986) também define como seu objeto de estudo a linguagem em uma
perspectiva sócio-interacionista, afirmando que o fenômeno social da interação verbal,
realizado através da enunciação ou das enunciações, é que constitui a realidade fundamental
da linguagem, compreendida pelo princípio dialógico:

...a palavra constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte.


Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. (BAKHTIN, 1986)

Nessa concepção, o ser humano usa a linguagem para agir no contexto social, pois
língua e linguagem são concebidas como atividades interativas, como forma de ação social,
como espaço de interlocução possibilitando a prática social dos mais diversos tipos de atos.
Nessa direção, Cunha (2004) enfatiza que a linguagem se caracteriza pela sua
diversidade de funcionamento, de modos de significar, ou seja, ela é constitutiva, pois os
sujeitos e as relações sociais se constituem na e pela linguagem.
Em relação à língua, Bakhtin afirma que ela é uma abstração quando concebida
isolada da situação social que a determina. Para Bakhtin (1986), “a língua vive e evolui
historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das
formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes”.
É com essa perspectiva bakhtiniana que abordaremos os termos língua, linguagem e
fala, pois Bakhtin, diferentemente dos estruturalistas, reconhece o caráter social da língua e a
relevância da interação verbal como realização da linguagem.
Ao observarmos atentamente qualquer língua, descobrimos que existe uma
considerável variação interna e que os falantes fazem uso constante das muitas diferentes
possibilidades que lhes são oferecidas. Ninguém fala da mesma forma o tempo todo e as
pessoas constantemente exploram as nuances das línguas e falam com uma grande variedade
de efeitos. A consequência é uma espécie de paradoxo: embora muitos linguistas desejassem

5
The linguistic behavior of individuals cannot be understood without knowledge of the communities that they
belong to.
33

exibir um idioma como uma entidade homogênea e cada falante dessa língua como
controlador de apenas um único estilo, na realidade, cada língua exibe considerável variação
interna e não há falantes de um único estilo (ou, se houvesse, isso seria algo disfuncional).
A variação é uma característica intrínseca de todas as línguas em todos os momentos.
Mesmo línguas 'mortas', como o sânscrito, o grego clássico e o latim estão repletos de
variação. Um reconhecimento da variação implica em reconhecermos que uma língua não é
apenas uma espécie de objeto de estudo abstrato. É também algo que as pessoas usam. A
exemplo de Chomsky, muitos linguistas argumentam que não se deveria estudar uma língua
em uso, ou mesmo como a língua é aprendida, sem, primeiro, adquirir-se um conhecimento
adequado sobre o que é a própria linguagem.
No final dos anos 60, surge a ideia de variação linguística, exigindo a volta do olhar
para outros aspectos. Entretanto, nos meados do século XIX, já frutificavam os estudos
dialetológicos que mostravam como a língua variava geograficamente e os falantes não
tinham uma unidade, seja do ponto de vista lexical ou fonético. A relação entre língua e
sociedade, entretanto, já havia sido vislumbrada pelos estruturalistas das décadas de 20 e 30,
segundo Tarallo (1986), porém, preterida pelos gerativistas da década de 60.
Como já havia afirmado Schuchardt em 1885, a pronúncia de um indivíduo nunca está
livre de variações. Sapir (1921) concordou ao dizer que todos sabem que a língua é variável.
Embora todos concordem quanto à existência da variação linguística, somente com o
surgimento da sociolinguística, na década de 60, ela começou a ser sistematicamente
analisada. A Sociolinguística dos anos 60 apresenta um ponto de partida para novas correntes
e orientações de pesquisa, baseadas no fenômeno linguístico relacionado ao seu contexto
sócio-cultural: a sociologia da linguagem, através de Fishman; a sociolinguística interacional,
de Gumperz; a sociolinguística variacionista de Labov; a dialetologia social de Shuy e
Trudgill e a etnografia da comunicação, de Hymes.
A própria noção de competência comunicativa, tal como definida por Dell Hymes
(1972), distancia-se da ideia chomskyana (1965) de competência. Ao fazer a distinção entre
competência linguística e desempenho, por exemplo, Chomsky (1968) não pensava em
falantes reais, mas ideais, enquanto Hymes se preocupava com falantes reais, que usam de
competências estratégicas e sociolinguísticas para suprir suas deficiências linguísticas. A
partir dessas novas conquistas teóricas, o trabalho com a língua passa a encarar, debater e
combater todo o tipo de preconceito linguístico dando lugar às tentativas de valorização das
variedades de língua não-padrão ou não-cultas.
A sociologia da linguagem, outro foco de interesse nosso, lida com fatores sociais em
larga escala associados à linguagem, segundo Camacho (2003). Dentre esses fatores podemos
34

mencionar decadência e assimilação de línguas minoritárias, bilinguismo e planejamento


linguístico em países emergentes.
A sociolinguística preocupa-se em investigar as relações entre língua e sociedade com
o objetivo de obter uma melhor compreensão da estrutura da língua e de como as línguas
funcionam em termos de comunicação. O objetivo equivalente na Sociologia da linguagem é
buscar descobrir como a estrutura social pode ser mais bem compreendida através do estudo
da língua, por exemplo, como certas estruturas linguísticas podem caracterizar determinados
arranjos sociais.
Muitos fatores sociológicos estão inseridos culturalmente em uma interação
conversacional, como bem lembra Chambers, 2003. Segundo ele, embora seja
linguisticamente irrelevante se dirigir a outrem como Sr. Fulano de tal, ou mesmo pelo seu
apelido, sociologicamente isso faz uma tremenda diferença, caso essa distinção marque
obrigatoriamente os ranques sociais dos participantes.
Para Hudson (1996), a sociolinguística é o estudo da língua em relação à sociedade,
enquanto a sociologia da linguagem é o estudo da sociedade em relação à língua. Em outras
palavras, em sociolinguística nós estudamos a língua e a sociedade a fim de descobrirmos o
máximo sobre o que a língua é, e na sociologia da linguagem nós revertemos a direção de
nosso interesse.
Nossa pesquisa tem como pressupostos teóricos a sociolinguística variacionista de
Labov (1966). Essa vertente considera a observação da linguagem no contexto social como o
fator mais relevante para a solução de problemas próprios da teoria da linguagem. A
linguagem é, sob esse ponto de vista, um fenômeno social, sendo necessário, segundo
Camacho (2003), recorrer-se às variações derivadas do contexto social para que se encontrem
respostas aos problemas que emergem da variação inerente ao sistema linguístico.
Variação é o termo que serve para identificar duas ou mais formas alternativas de se
dizer alguma coisa em um mesmo contexto. Já uma variante é uma forma concreta de uso,
determinada por uma ou mais variáveis independentes, de natureza linguística ou
extralinguística. É exatamente por esse motivo, por não ter valor puramente informativo na
comunicação, que a linguística gerativista nunca se preocupou com a variação, dando
preferência ao modelo descritivo baseado em uma comunidade linguística idealizada, como se
todos os falantes tivessem o mesmo comportamento linguístico.
Embora com restrições em relação ao enfoque, nenhum linguista que se preze pode
negar a variabilidade e a heterogeneidade da linguagem humana. Em todos os níveis de
análise deparamo-nos com o fenômeno da variação. Por níveis de análise entenda-se, nível
fonológico, sintático, morfológico, lexical e semântico, usados para esclarecer a configuração
35

das regras linguísticas, sua combinação em sistemas, a coexistência de sistemas alternativos e


a evolução diacrônica dessas regras e sistemas, segundo Labov (1972).
Sabemos que dois falantes de uma mesma língua raramente se expressam do mesmo
modo, assim como um mesmo falante nunca se expressa do mesmo modo em circunstâncias
diferentes. Desse modo, a sociolinguística correlaciona as variações existentes na expressão
verbal a diferenças de natureza social, classificando cada domínio, o linguístico e o social,
como fenômenos estruturados e regulares, segundo Camacho (2003).
Além disso, o conceito de variável linguística pressupõe necessariamente que as duas
ou mais variantes tenham o mesmo significado referencial ou valor de verdade, mas opostas
em sua significação social e/ou estilística, pois os falantes não aceitam facilmente o fato de
que duas expressões distintas signifiquem exatamente a mesma coisa, havendo forte tendência
a atribuir-lhes significados diferentes. Isso se aplica sem maiores controvérsias a variáveis
fonológicas. O mesmo não se pode afirmar sobre as outras variáveis, ou seja, em se tratando
de variável morfossintática, por exemplo, fica difícil dizer quando duas ou mais estruturas
expressam um único significado.
Podemos dizer, desse modo, que a sociolinguística é o estudo da língua na sociedade,
incluindo normas culturais, expectativas e contextos que influenciam o modo como a língua é
usada, havendo uma interseção com a pragmática nesses termos. A sociolinguística também
estuda como a língua costuma diferir de acordo com certas variáveis sociais, tais como
etnicidade, status, gênero, nível de escolaridade e como a criação e aderência a tais variáveis
são utilizadas para categorizar os indivíduos em classes sociais ou socioeconômicas. Assim
como a língua sofre variações de um lugar para outro, criando os chamados regionalismos e
dialetos, ela também varia entre as classes sociais. A sociolinguística estuda os fatores que
podem afetar a língua como um produto social.
O iniciador do modelo teórico-metodológico da sociolinguística quantitativa é William
Labov. Não que ele tenha sido o primeiro a surgir no cenário da investigação sociolinguística,
já que outros modelos do passado mais distante e também mais recente inspiraram-no na
concepção da nova teoria. O modelo de análise de Labov é uma reação à ausência do
componente social na linguística tradicional. Foi Labov quem insistiu na relação entre língua
e sociedade e na possibilidade de se sistematizar a variação existente na língua falada.
Os pilares desta pesquisa estão ancorados na sociolinguística variacionista de Labov e
na sociologia da linguagem de Fishman. Os estudos de Labov em Martha’s Vineyard,
Filadélfia e New York estabeleceram novos padrões de pesquisa em linguística, assim como a
pesquisa de Fishman sobre a relação entre língua, etnicidade e relações de poder entre ambas.
36

O principal pressuposto aqui defendido é o de que a língua não é um sistema


autônomo que se esgota no código linguístico. Mais que um sistema, é uma atividade social,
histórica, cognitiva que varia dependendo de seus contextos de uso.
Abordaremos, na seguinte subseção, a relação entre língua, sociedade e identidade.

2.2. Língua, Sociedade e Identidade

Em qualquer momento, a identidade de um indivíduo é um conjunto heterogêneo


composto de todos os nomes ou identidades dados a ele ou tomados por ele.
entretanto, no processo de vida inteira, a identidade é continuamente recriada, de
acordo com as várias exigências exigências sociais (históricas, institucionais,
econômicas,etc.), interações sociais, encontros e desejos que podem ser muito
subjetivos e únicos, (TABOURET-KELLER, 1998, p.316).6 .

As pessoas sabem usar uma língua ou outra de forma adequada e duas pessoas nunca
usam a língua que compartilham de forma exatamente igual. A causa dessas diferenças pode
ser elucidada através de questões como identidade, capacidade de pertencer a um grupo, poder
e solidariedade.
Segundo Le Page (1980), todo ato de fala é um ato de identidade. A linguagem é o
índice da identidade por excelência. As escolhas linguísticas são processos inconscientes que
o falante realiza e estão associadas às múltiplas dimensões constitutivas da identidade social e
aos múltiplos papéis sociais que o usuário assume na comunidade de fala. O que determina a
escolha de uma ou outra variedade é a situação concreta de comunicação.
Na opinião de Chambers (2003), a causa subjacente das diferenças sociolinguísticas é
o instinto humano inconsciente de se estabelecer e manter-se a identidade social. São muitos
os exemplos, segundo ele, que revelam a necessidade premente de se mostrar pertença a
determinados grupos, às vezes de forma mais restrita, outras vezes de forma mais
generalizada.
Cada um de nós tem a sua identidade (ou um conjunto de identidades), pois ninguém é
somente um professor ou um aluno ou aposentado, ou jogador de golfe, ou bailarina. Somos
um conjunto de identidades, e cada uma delas se faz presente em cada contexto apropriado.

6
At any given time a person's identity is a heterogeneous set made up of all the names or identities, given to and
taken up by her [or him]. But in a lifelong process, identity is endlessly created anew, according to very various
social constraints (historical, institutional, economic, etc.), social interactions, encounters, and wishes that may
happen tobe very subjective and unique.TABOURET-KELLER (1998:316)
37

Para Richards (2006), a nossa identidade não é algo com o qual nascemos ou que
adquirimos ou um estereótipo no qual nos encaixamos, mas é algo formado e forjado através
da ação e demonstrado através do desempenho.
A identidade é construída através da interação com os outros e é resultado da
socialização, ou seja, de nossas experiências com o mundo em toda a sua complexidade. Em
consequência, fatores como raça, etnia, gênero, religião, localidade, classe social, idade, além
de outros a afetam, já que a identidade é criada na lida com esses fatores e com os membros
da sociedade que também são influenciados por esses fatores.
Para Tabouret-Keller, a língua falada por alguém e sua identidade como falante dessa
língua são inseparáveis, sendo que “os atos linguísticos são atos identitários”, segundo Le
Page e Tabouret-Keller (1985). Os gregos, por exemplo, identificavam como “não-gregos”
todos aqueles que soavam para eles como “barbarbar”, denominando-os, então “bárbaros”.
Em uma pesquisa realizada em 1978 em Belize, na América Central, ao ser perguntado
como se reconhece um nativo de Belize, um deles respondeu que aquilo que o identificava era
a língua que ele falava, pois poucos nativos falavam inglês ou espanhol, mas todos falavam
“uma espécie de gíria” chamada crioulo. Podemos inferir os dois significados do verbo
“identificar” através desses dois relatos, segundo Tabouret-Keller. O primeiro ilustra a
acepção de “identificar” tendo a língua como um comportamento externo permitindo a
identificação de um falante como um membro pertencente a um grupo, como no caso dos
“não gregos” identificados pelos gregos como estrangeiros pelo seu seu modo de falar. Já o
segundo caso ilustra a acepção de “identificar” um nativo local através da língua que ele fala.
A identidade de uma pessoa é um conjunto heterogêneo composto de nomes atribuídos
a ela e também adotados por ela. Durante o processo de uma vida inteira, entretanto, a
identidade de um indivíduo é criada e recriada de acordo com as exigências sociais, interações
com outros, desejos e outros fatores subjetivos e também muito particulares.
O que Tabouret-Keller chama de processos de identificação são os processos
psicológicos através dos quais as identidades são criadas. A ligação entre língua e identidade é
tão imbricada que basta um traço fonológico para identificar um indivíduo como membro do
grupo, como aquela história bíblica do campo de batalha de Efraim ilustra. De acordo com
essa história, os soldados usaram, para identificar os amigos em meio aos inimigos, um traço
fonológico característico da língua dos amigos. Para isso, pediram que os soldados
pronunciassem a palavra “shibboleth”. Se o soldado pronunciasse / s / em vez de / ʃ /, ele era
identificado como inimigo e morto.
Esses exemplos mencionados acima mostram como a identidade do indivíduo e a
identidade social são mediadas pela língua: as características linguísticas são a ligação entre
38

as identidades sociais e individuais, sendo que a língua oferece tanto um meio para ligar essas
identidades quanto para expressá-las.
O objeto de nosso estudo é a fala dos brasileiros imigrantes nos EUA. Como muitos
informantes declararam durante as entrevistas, é possível identificar um emigrante brasileiro
apenas pelo seu jeito de falar. Esse processo de identificação do indivíduo pela sua fala é o
que Tabouret-Keller chama de processos psicológicos através dos quais as identidades são
criadas. Como os imigrantes brasileiros só usam esse linguajar entre si, esse falar tornou-se
emblemático de sua situação sócio-econômica nos EUA.
A questão da identidade foi discutida também por Fairclough (1993). Discurso, de
acordo com Fairclough (1993) significa texto + contexto social + contexto cultural. Segundo
essa visão, o uso da linguagem é sempre simultaneamente constitutivo de identidades sociais,
de relações sociais e de sistemas de conhecimentos e sentimentos. Para Kress (1989:450),
“textos são locais de emergência de complexos significados sociais, produzidos numa história
particular de situação de produção e guardando em vias parciais as histórias tanto dos
participantes na produção do texto quanto das instituições que são evocadas”. Por “texto” nós
entendemos, nesse caso, a fala do indivíduo.
O conceito de identidade cultural diz respeito, também, à conexão entre indivíduos e
estrutura social. O mundo das representações, do qual a língua faz parte, tem uma dinâmica
própria, mas sofre influência da base material da sociedade. Nessas representações é que
surgem os conceitos de visão do mundo, concepções e mentalidade, presentes na forma de
comunicação.
A identidade social e cultural é a categoria que define como os indivíduos se inserem
no grupo e como eles agem, tornando-se sujeitos sociais. Define, também, a forma como o
indivíduo incorpora o mundo material a partir da experiência e projeta essa incorporação
como construção simbólica.
A extensão em que os valores primordiais afetam a identidade cultural de um bilíngue
depende do padrão desses valores, resultante de um contato cultural específico e das
circunstâncias sociais que formam o tipo de experiência bilíngue.
Segundo Harmers e Blanc (2000:118), a situação na qual as línguas e culturas estão
em contato engloba uma variedade de casos, tais como:
- o indivíduo fala uma língua em casa diferente da língua falada na comunidade ou
sociedade;
- o indivíduo fala duas línguas em casa, sendo uma delas a língua da comunidade ou
da sociedade;
- o indivíduo fala duas línguas em casa e ambas são utilizadas em duas comunidades
em contato na sociedade;
39

- o indivíduo fala duas línguas em casa e nenhuma delas é utilizada na comunidade ou


sociedade.
Harmers e Blanc (2000:118) afirmam que os casos descritos acima incluem crianças
de casas bilíngues, assim como crianças de famílias imigrantes que vivem em uma sociedade
na qual duas línguas podem ou não estar em contato. Quando pelo menos duas línguas estão
em contato na sociedade, relações de poder entre os grupos etnolinguísticos influenciarão o
desenvolvimento da identidade cultural da criança.
Embora a noção de identidade seja frequentemente acionada para explicar fenômenos
de variação/mudança linguística, a importância atribuída à identidade é diferente conforme a
instância tomada como lócus de análise. Assim, a identidade pode assumir tanto um papel
secundário para a explicação do fenômeno linguístico – o que ocorre com as pesquisas
centradas na concepção de comunidade de fala –, como um papel prioritário no qual
identidade e variação/mudança estão intrinsecamente vinculadas – o que ocorre com os
estudos pautados na noção de comunidade de prática e, em grau menor, na noção de redes
sociais.
De fato, as escolhas linguísticas dos indivíduos se vinculam ao seu processo
identificatório. Tal processo abarca aspectos que envolvem gênero, etnia, faixa etária, classe
social, práticas sociais, etc. Identidade, nesse caso, pode ser mais bem compreendida como “a
negociação ativa da relação de um indivíduo com as estruturas sociais mais amplas, na
medida em que essa negociação é sinalizada através da linguagem e de outros meios
semióticos” (MENDOZA-DENTON, 2004, p. 475). Essa relação pode ser notada em níveis
diferentes seja no nível das práticas sociais, nas quais, através do uso da linguagem, os
indivíduos se engajam; no nível da rede de relacionamentos que atravessa a vida dos
indivíduos; ou no nível mais macro, da relação entre as atitudes que os indivíduos tomam
acerca da linguagem e o seu processo identificatório.
A identidade também é mutável, de acordo com as circunstâncias de mudança de
nossas vidas.
Os grupos também possuem identidade. Para isso, conceitos como comunidade, rede
social e comunidade de prática são muito importantes, pois é nesses grupos que as relações
são aceitas ou rejeitadas.
Para Bordieu (1991), a linguagem é um mercado simbólico onde uns detêm mais
controle sobre os espólios que outros, pois algumas variedades, sotaques e padrões
conseguiram um status maior em relação aos outros, sendo difícil não reconhecer relações de
poder ao considerarmos línguas e relações sociais.
Já a solidariedade, no caso da identidade, se refere às motivações sociais que fazem
com que os indivíduos ajam juntos. Sabemos que as pessoas podem agir juntas por razões que
40

muitas vezes elas não se dão conta, e as consequências podem ser maiores ou menores para o
comportamento linguístico.
Outra característica a ser mencionada é também o fato de uma escolha linguística ser
“marcada” ou “não-marcada”. O modo esperado e “default” é o “não marcado”; qualquer
coisa que seja diferente disso é “marcada”. Assim como usar terno em plena praia de
Copacabana ou contar piada de judeu numa sinagoga, chamar as pessoas de “companheiros e
companheiras”, ou dizer que vai “parkear” o carro são escolhas “marcadas”. A “marcação” é
um conceito muito útil no sentido de que, uma vez identificada uma característica “marcada”,
estaremos mais bem-equipados para descrever a norma esperada.
Entretanto, isso não implica que essas normas sejam imutáveis. Há alguns anos, por
exemplo, ver alguém falando sozinho na rua era um comportamento altamente “marcado”.
Hoje em dia, com o advento do celular, isso passou a ser lugar comum, comportamento “não-
marcado”. O tempo muda os valores que atribuímos tanto a palavras quanto a fatos.
Há várias relações possíveis entre língua, identidade e sociedade. Uma delas é que a
estrutura social pode tanto influenciar quanto determinar a estrutura linguística e ou o
comportamento linguístico. O fenômeno de gradação em relação à idade, por exemplo,
corrobora esse ponto de vista. As crianças mais jovens falam de modo diferente das crianças
mais velhas, que, por sua vez, falam diferente de jovens adultos.
Já a outra relação vai de encontro à primeira. A estrutura linguística e/ou o
comportamento linguístico podem tanto influenciar quanto determinar a estrutura social.
Segundo autores como Bernstein, as línguas podem conter características discriminatórias em
relação a gênero e classe social.
Uma terceira relação possível é que a influência é bi-direcional: a língua e a sociedade
podem se influenciar mutuamente, segundo a visão dialética de Dittmar (1976).
A quarta possibilidade é assumirmos que não há nenhuma relação entre a estrutura
linguística e a estrutura social, e que cada uma independe da outra. Uma variante dessa
possibilidade parece ser a apoiada por Chomsky que, embora considere a possibilidade de
influência de uma estrutura na outra, prefere desenvolver uma linguística “associal” como
uma preliminar para outras linguísticas.
Havendo tantas possibilidades de interpretação, devemos ficar atentos aos vários
aspectos relevantes entre língua e sociedade. Kroch (1978), por exemplo, afirma que os
grupos sociais dominantes tendem a falar de modo a marcarem seu território distintamente
daqueles de seus dominados e a interpretar essa distinção como evidência de qualidades
morais e intelectuais superiores. Isso não acontece somente no estilo da fala do grupo
dominante, estando também presente no seu modo de se vestir e se comportar, introduzindo
maneiras elaboradas e emprestando modos de grupos de pressão externa a eles.
41

Em relação ao uso da língua para aproximar ou distanciar indivíduos, parece-nos


pertinente citarmos um conceito advindo do campo da Psicologia Social, o da acomodação.
Esse conceito surge de um contexto de discussão sobre o comportamento individual em
interação. Segundo a teoria da acomodação, as pessoas são motivadas a ajustar seu discurso_
ou “acomodar”_ a fim de expressar seus valores, atitudes e intenções em relação aos outros.
(Giles, 1980, apud Bortoni-Ricardo:1985: 90).
Essa acomodação pode acontecer em duas direções: a da convergência e a da
divergência. A da convergência linguística baseia-se no princípio da similaridade e da atração
e acontece quando ocorre uma modificação, por parte do falante, da sua variedade para uma
variedade próxima à de seu interlocutor e reflete o desejo pela aprovação social de seus
ouvintes. O processo contrário, entretanto, é chamado de divergência linguística, e baseia-se
no princípio da dissociação, quando um falante deseja dissociar-se da fala de seus
interlocutores, sendo parte de um processo maior de distinção intergrupos.
Segundo Wolfram (1991),

A língua é muito mais que apenas palavras. É um comportamento social poderoso


que diz muito sobre quem somos, de onde viemos e como nos relacionamos. A
língua é um dos mais poderosos emblemas de comportamento social. Na
transferência normal de informações através da linguagem, nós a usamos para
enviar mensagens vitais sobre quem somos, de onde viemos e com quem nos
associamos. (tradução nossa)7

É com essa perspectiva que abordaremos a variação sociolinguística: como o estudo da


relação entre a identidade social e as maneiras de falar das pessoas. O estudo das variações da
língua revela muito sobre as estratégias do falante em relação a variáveis como classe social,
etnia, idade e também possibilita a observação de uma mudança linguística em progresso.
Ainda segundo Wolfram (1991), a noção básica subjacente à sociolinguística é
simples: Language use symbolically represents fundamental dimensions of social behavior
and human interaction, ou seja, o uso da linguagem representa simbolicamente dimensões
fundamentais de comportamento social e interação humana. As relações entre língua e
sociedade afetam tanto relações internacionais quanto estreitos relacionamentos interpessoais.
Embora essa ideia, em si, seja de simples compreensão, as maneiras através das quais a
linguagem reflete o comportamento das pessoas pode ser bem complexa e sutil.
Como exemplo, podemos citar estudos de sociolinguística que investigam a atitude em
relação à linguagem de várias populações em nível nacional. No caso dos Estados Unidos, a

7
Language is more than just words. It’s a powerful social behavior that speaks volumes about who we are, where
we come from and how we relate. Language is one of the most powerful emblems of social behavior. In the
normal transfer of information through language, we use language to send vital social messages about who we
are, where we come from, and who we associate with.
42

proposta de se tornar o inglês a língua oficial através de uma emenda constitucional pode ser
considerado um exemplo dessa atitude. O status do Francês e do Inglês no Canadá também
demonstra atitudes em relação à língua. Nos países em desenvolvimento, as línguas
vernáculas e nacionais funcionam como símbolos de relações sociais muito importantes entre
culturas e nacionalidades diferentes.
A teoria da acomodação pode explicar fatos com que lida a linguística aplicada à
aquisição de segunda língua. Gardner e Lambert (1972) observaram as variáveis
sociolinguísticas que influenciavam a aquisição de segunda língua. Para os autores, há duas
orientações que motivam um indivíduo a adquirir uma segunda língua: a integrativa e a
instrumental. A primeira sugere que o aprendiz se identifica com os falantes da língua-alvo,
desejando tornar-se membro desse grupo. Já a perspectiva instrumentalista considera que o
aprendiz aprenderá a língua quando considerá-la útil a seus propósitos como, por exemplo,
obter ascensão social. Os autores concluíram, entretanto, que, de um modo geral, a orientação
integrativa é um fator motivador mais forte que a instrumental.
Para Gardner & Lambert (1972), pioneiros no estudo da motivação para a
aprendizagem de segunda língua, a motivação é associada a atitudes relacionadas à
comunidade de falantes da língua-alvo, ao desejo expresso de interação com tais falantes e a
um grau de identificação com a comunidade. Desse modo, ela é a combinação de esforço,
desejo de alcançar o objetivo de aprender a língua e atitudes favoráveis à aprendizagem. Em
outras palavras, o sucesso na aprendizagem de uma segunda língua, tanto em quantidade
quanto em nível de proficiência serão aprimorados onde a distância social (grupo) e
psicológica (indivíduo) do aprendiz em relação à comunidade de língua-alvo seja menor.
Quanto maior a distância, menor o contato linguístico, e, em consequência, menor quantidade
e qualidade do insumo linguístico, acarretando menor aprendizagem.
Segundo a Teoria da Aculturação de Schumann (1978), as minorias que se veem como
subordinadas a outros grupos tendem a adotar uma das três estratégias de integração:

 Assimilação: o grupo abandona seu estilo de vida e seus valores e tem grandes chances
de aprender bem a língua.
 Rejeição: se o grupo rejeita a cultura do grupo dominante, é improvável que a
aprendizagem da língua aconteça.
 Adaptação: se o grupo tem uma visão positiva de sua própria cultura e do mesmo
modo, uma visão positiva da cultura-alvo, a aquisição da segunda língua pode variar.
43

Embora o objetivo desta pesquisa não seja o de estudar os mecanismos de


aprendizagem de línguas per se, podemos dizer que, ao estudarmos os processos envolvidos
em contatos linguísticos, naturalmente o processo de aquisição de uma segunda língua vem à
tona. Os processos identificatórios e a teoria da acomodação naturalmente emergem também
em relação à aprendizagem de segunda língua.
Como podemos vislumbrar, o modo de falar serve para mostrar tanto pertença quanto
distinção entre grupos, principalmente quando existe um desequilíbrio de poder envolvido na
questão.
A sociolinguística é, portanto, sob o ponto de vista deste trabalho, o estudo da variação
linguística e o seu objetivo é descobrir o que a variação pode nos dizer sobre a língua, sobre o
conhecimento linguístico de seus falantes, e como as variáveis sócio-demográficas
influenciam o conhecimento inconsciente de diferenças linguísticas sutis.
Discorreremos, a seguir, a respeito das motivações para os contatos linguísticos e os
resultados advindos de tais contatos.

2.3 Motivações para os contatos linguísticos e seus resultados

8
“... o contato linguístico é sempre um produto histórico de forças
sociais.” (SANKOFF 2001,p.638-668 - traduçao nossa)

Existem dois tipos de sociedades no mundo: as monolíngues e as bilíngues ou


multilíngues. Segundo Verma (2002), essa percepção é baseada na tradicional ideologia “uma
raça = uma cultura = uma língua”, que parece privilegiar nações que falam a mesma língua,
considerando o monolinguismo uma vantagem sobre o bi- ou multilinguismo. Até mesmo
países como os EUA, que abrigam populações de raças tão diferentes, continuam a cultuar
uma tradição monolíngue. As pessoas têm a concepção errada de que as nações ocidentais
sejam monolíngues e que o terceiro mundo seja povoado de línguas e dialetos diferentes,
tornando-o multilíngue. Entretanto, podemos dizer, sem medo de errar, que, na verdade, o
multilinguismo seja a norma, e o monolinguismo, a exceção.
Mesmo parecendo, à primeira vista, monolíngues, todas as nações são multi/bilíngues
e heterogêneas. Isso pode ser observado até mesmo na China, que alega ser uma nação
homogênea e monolíngue, e que, no entanto, apresenta uma diversidade dialetal tamanha que
chega a causar ininteligilibilidade e impedir a comunicação entre seus falantes. Todos
8
“...language contact is always the historical product of social forces.” (SANKOFF 2001)
44

adquirem competência em Mandarim, a língua da educação e da academia, através da


educação formal. Os chineses se tornam, então, falantes bilíngues de Hakka, Cantonês e
Mandarim, por exemplo. Países como a Inglaterra e a França, geralmente projetados como
monolíngues, sempre tiveram outras línguas além do Inglês e do Francês em seu repertório.
Na Inglaterra Medieval, além dos dialetos regionais, Inglês, Francês e Latim eram
falados por vários grupos. Uma comunidade em que seus interlocutores falam “Cockney”
(dialeto falado pela classe baixa trabalhadora em Londres) e “RP” (Received Pronunciation)
_padrão acadêmico do inglês falado na Inglaterra_ não poderia ser rotulada de monolíngue e
homogênea. Estima-se, segundo Baker & Eversley (2000), que em Londres aproximadamente
300 línguas convivam hoje, como resultado de migração e de refugiados na segunda metade
do século passado.
Segundo Dittmar (1998), a imigração é uma das características principais do século
XX, com mudanças populacionais ocorrendo de forma regular e global. Dittmar uniu-se a um
grupo de pesquisadores para realizar um estudo centrado em imigrantes que adquirem uma
nova língua. Um dos pontos mais investigados pelo pesquisador foi o estágio de
gramaticalização em que o imigrante vai além do ponto de apenas repetir blocos memorizados
da língua-alvo e passa a internalizar as regras da língua-alvo. O seu interesse foi descobrir
quando e como isso ocorria e que fatores de semelhança ou diferença com a língua materna
influenciavam o desenvolvimento da língua-alvo. Ele procurava responder quanto o contexto
social em que estava inserido o indivíduo influenciava esse desenvolvimento. Já Spolsky
(1998) preocupou-se com a convergência, ou seja, a maneira pela qual um falante estrangeiro
busca modificar a sua pronúncia com o objetivo de aproximar a sua fala da fala de um nativo.
Walters (1998), por sua vez, ocupou-se do efeito dos problemas citados acima no
desenvolvimento da identidade e da aprendizagem de outros aspectos culturais como
educação e polidez.
As comunidades de todo o mundo estão se mudando em resposta a necessidades
econômicas, problemas religiosos e perseguições políticas. Tudo isso criou um ambiente
sociolinguístico favorável à exposição de duas ou mais línguas além da língua materna do
indivíduo. Em muitos casos isso resultou em línguas Pidgin ou Crioulas, consideradas
“amálgamas” de elementos linguísticos de duas ou mais línguas com uma identidade própria,
desenvolvendo um repertório multilíngue. Desse modo, podemos dizer que seria quase
impossível pensarmos em uma comunidade monolíngue, sem a existência, ao menos, de uma
diversidade dialetal, o que representa também uma forma de multilinguismo.
45

Assim como as nações multilíngues, sociedades e comunidades podem ser


multilíngues também. O sul da Ásia e a África são bons exemplos de continentes de nações
multilíngues que ocorrem naturalmente.
Além disso, as pessoas, em sua maioria, não passam a vida inteira em sua cidade natal,
já que a mobilidade física é uma realidade da vida humana. Ao se falar em imigrantes, a
mobilidade salta aos olhos, por ser o primeiro fator a contribuir ou não para o
desenvolvimento de uma língua estrangeira. Sociolinguisticamente falando, de acordo com
Chambers (1995), os efeitos dessa mobilidade incluem multilinguismo, troca de código
linguístico, diglossia, acomodação, troca de estilo linguístico e, de suma importância para este
trabalho, o contato entre diferentes códigos linguísticos, já que uma das consequências da
mobilidade é o encontro de pessoas com sistemas linguísticos diferentes daqueles adquiridos
em sua terra natal.
Lembrando Coleman (1998), ao examinarmos situações de contato linguístico, é
possível examinarmos não apenas detalhes de uma língua em particular, mas também
detalhes sociais e linguísticos que mostram como os falantes bilíngues usam cada língua e
alternam entre elas. Saber quando usar o código adequado ou não, por exemplo, é um aspecto
pragmático que pode ser observado pelo pesquisador.
Há muitos motivos para a existência dos contatos linguísticos. Segundo Li Wei (2000),
estima-se que 6000 línguas sejam faladas no mundo, porém, esse levantamento parece ter sido
insuficientemente estudado sob o ponto de vista linguístico, o que daria margem a um
acréscimo significativo desse número. Havendo pouco menos de 200 países no mundo,
podemos inferir a quantidade de contato linguístico gerado pela grande quantidade de
diferentes línguas sendo faladas em um mesmo território sob uma perspectiva geopolítica,
segundo Edwards (1984).
Os contatos linguísticos podem ser voluntários ou impostos social ou politicamente
(Crystal, 1987). Motivos políticos são, por exemplo, atos políticos ou militares como
colonização, anexação, reassentamento e federalização. Tais atos podem ter influências
linguísticas imediatas. Refugiados, tanto no país de origem quanto em terras estrangeiras, são
frequentemente obrigados a aprender a língua do novo ambiente em que se encontram. Após
uma invasão militar, a população indígena local pode ser obrigada a aprender a língua do
dominador para poder prosperar. Exemplos de colonização como instrumento de contato
linguístico podem ser vistos nas antigas colônias inglesas, francesas, espanholas, portuguesas
e holandesas. A maioria dessas colônias conseguiram sua independência até o início do século
XIX. Como modelo de anexação podemos citar a absorção das repúblicas Bálticas - Lituânia,
Látvia e Estônia - pela antiga União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. Ao final do
46

século XX, muitos exemplos de reassentamento de povos de ascendências étnicas diferentes


foram evidenciados na África Central e na antiga Yugoslávia. Exemplos de “Federalização”
podem ser vistos na Suíça, Camarões e Bélgica.
Outros motivos para a existência de contatos linguísticos podem ter natureza religiosa,
econômica, cultural, educacional, tecnológica, ou podem mesmo ter motivação gerada por
desastres naturais. As pessoas podem se mudar para um país por razões religiosas e, por isso,
têm que aprender uma nova língua, como é o caso dos judeus russos em Israel. O desejo de se
identificar com um grupo étnico, social ou cultural geralmente implica em aprender a língua
daquele grupo, o que pode exemplificar motivação cultural. Em algumas unidades políticas, a
única forma de se obter conhecimento pode ser através de uma língua estrangeira. Foi esse o
fator que desencadeou a disseminação do Latim na Idade Média, e parece ser um dos fatores
que motiva a disseminação da Língua Inglesa em nossos dias. As inovações tecnológicas
fazem do inglês a língua da comunicação no mundo, já que a maioria dos usuários da
tecnologia, e, como exemplo podemos citar os usuários da internet, não são falantes nativos
de língua inglesa. Os desastres naturais também causam a mobilidade de grandes grupos de
pessoas que têm que se deslocar para áreas onde sua língua nativa não é falada.
Como afirmamos anteriormente, os contatos linguísticos aconteceram e acontecem em
condições de desigualdade social resultante de guerras, conquistas e colonialismo, escravidão
e migrações, voluntárias ou não. Porém, outras situações de maior equilíbrio e de contato mais
benéfico de comércio e urbanização também já foram documentadas, segundo Sankoff (1980)
e Sorensen (1967). Para Sankoff (1980), os contatos linguísticos podem ter tido curta duração,
resultando em extinção de línguas e assimilações, com resultados de curto prazo, enquanto
outras situações históricas produziram estabilidade de relativo longo prazo pela população
bilíngue e multilíngue.
Os falantes bilíngues não são mais, como no passado, considerados a “soma de dois ou
mais falantes monolíngues completos ou incompletos”, mas falantes e ouvintes competentes
que desenvolveram competência comunicativa equivalente à do monolíngue, porém de
natureza diferente. Eles fazem uso de uma língua, da outra, ou das duas juntas, dependendo da
situação, do tópico, do interlocutor ou ainda de outros fatores. Podemos dizer, desse modo,
que os bilíngues, hoje em dia, são estudados em termos da totalidade de seus repertórios
linguísticos, e os domínios de uso e as funções das várias línguas que usam também estão
sendo levados em consideração.
Na próxima subseção, falaremos sobre os conceitos de bilinguismo e diglossia.

2.3.1 Bilinguismo e Diglossia


47

Segundo Mackey (2000), o bilinguismo é um padrão de comportamento que varia em


função das modificações em termos de grau, funcionalidade, alternância e interferência das
práticas linguísticas. As características de grau, funcionalidade e alternância entre línguas
determinam a “interferência” de uma língua em outra na fala dos bilíngues.
Há que se distinguir aqui também os conceitos de bilinguismo e diglossia. Ferguson
(1959) lança o conceito de diglossia, definindo-a como a coexistência, numa mesma
comunidade, de duas formas linguísticas que ele batiza de “variedade baixa” (L, de low) e
“variedade alta” (H, de high). E, para ilustrá-lo adequadamente, ele apresenta quatro
exemplos:

 As situações do árabe (Variante baixa / Variante Alta);


 A Grécia (demotiki/katharevousa);
 Haiti (crioulo / francês) e
 A parte alemã da Suíça (alemão suíço / hochdeutch).

Para Ferguson, as situações de diglossia se caracterizam por um conjunto de traços


cujo elenco respectivo é, grosso modo, o seguinte:

 Uma distribuição funcional dos usos: utiliza-se a variedade alta na Igreja, nas Letras,
nos Discursos, na Universidade, etc., enquanto a variedade baixa se utiliza nas conversas
familiares, na literatura popular, etc.
 O fato de que a variedade alta goza de um prestígio social do qual não desfruta a
variedade baixa;
 O fato de que a variedade alta tenha sido utilizada para produzir uma literatura
reconhecida e admirada;
 O fato de que a variedade baixa seja adquirida “naturalmente” (é a primeira língua dos
falantes) enquanto a variedade alta seja adquirida na Escola;
 O fato de que a variedade alta seja reconhecida como a norma gramatical.
(Gramáticas, Dicionários, etc.);
 O fato de que a situação de diglossia seja estável, que possa durar vários séculos;
 O fato de que essas duas variedades de uma mesma língua, vinculadas por uma relação
genética, tenham uma gramática, um léxico e uma fonologia relativamente divergentes.
48

Segundo Ferguson (1959), diglossia é

“uma situação linguística relativamente estável na qual, além de formas


dialetais da língua (que podem incluir um padrão, ou padrões regionais),
existe uma variedade sobreposta bastante divergente, altamente codificada
(gramaticalmente mais complexa), veiculando um conjunto de literatura
escrita e respeitada (…), que é sobretudo estudada na Educação formal,
utilizada na escrita ou em um oral formal, todavia não é utilizada para a
conversação ordinária em nenhuma parte da Comunidade” . (FERGUSON,
1959).

Fishman (1967) distingue, em primeiro lugar, entre o bilinguismo, fato individual, do


âmbito da psicolinguística e a diglossia, fenômeno social, acrescentando que pode haver
diglossia entre mais de dois códigos e, sobretudo, que estes códigos não têm necessariamente
que possuir uma origem comum, uma relação genética. Fishman estabelece quatro situações
polares em relação a bilinguismo e diglossia, a saber

 Bilinguismo com Diglossia: Todos os membros da Comunidade conhecem a forma


alta e a forma baixa. É o caso do Paraguai (Espanhol e Guarani).
 Bilinguismo sem Diglossia: Os membros da Sociedade (embora sejam muitos), não
utilizam as formas linguísticas para usos específicos. Seria o caso de situações instáveis, de
situações de transição entre uma diglossia e uma outra organização da comunidade linguística.
 Diglossia sem Bilinguismo: Em uma Comunidade Social existe distribuição funcional
dos usos entre duas línguas, entretanto, um grupo só fala a forma alta, enquanto o outro só
fala a forma baixa. Nesta situação, como exemplo, Fishman aponta o caso da Rússia czarista
(a nobreza falava francês, já o povo, o russo).
 Nem Diglossia nem Bilinguismo: Situação imaginável apenas numa comunidade
muito pequena: devido à interação intensa entre seus membros e pouca diferenciação em
termos de papéis a serem desempenhados dentro da comunidade. Não ocorrem registros ou
variantes muito diferenciáveis, não ocorrendo, portanto, nem bilinguismo nem diglossia.

A noção de diglossia teve um importante eco no início da sociolinguística, antes de


enfrentar um determinado número de críticas, oriundo, em particular, dos investigadores
trabalhando sobre os crioulos e sobre o bilinguismo hispânico (sobretudo os sociolinguistas
catalães). Tanto Ferguson como Fishman tinham tendência a subestimar os conflitos que
ocorrem em situações de diglossia.
49

Quando Ferguson introduzia a estabilidade na definição do fenômeno, deixava


entender que essas situações podiam ser harmoniosas e duráveis. A diglossia, pelo contrário,
está em perpétua evolução. O caso da Grécia, que, aliás, Ferguson tomava como um dos seus
exemplos paradigmáticos, após trinta anos, modificou-se completamente. Ou seja: A
variedade “baixa”, na concepção de Ferguson, o grego demótico, é atualmente língua oficial,
e a antiga variante “alta” será, em breve, uma língua morta. O Grego Demótico, Dimotiki
(“língua do povo”) é a forma vernacular moderna do Grego. Dimotiki se refere em particular
à forma da língua que evoluiu naturalmente do Grego antigo, opondo-se à forma artificial, o
Catarévussa, que foi a língua padrão até 1976. Os dois tipos de língua grega se
complementavam num exemplo típico de diglossia, até que o "problema da língua grega" foi
resolvido com a adoção, por fim, do Dimotiki. Dimotiki é frequentemente considerado como
sendo o mesmo que “moderna”, porém, esses dois termos não são sinônimos. Enquanto
Dimotiki se aplica à língua que evoluiu até a atual forma coloquial grega, o Grego moderno
(“Padrão”) é uma fusão do Dimotiki com o Catarévussa, embora a influência do Dimotiki seja
bem maior. Trata-se de uma variante do Dimotiki que foi enriquecida por elementos da língua
“educada”.
De uma forma generalizada, a história nos mostra que muito frequentemente, o futuro
das variedades “baixas” é se tornarem variedades “altas”, como foi o caso das línguas
neolatinas, francês, espanhol, italiano, português, etc., face ao latim.
Tem-se a impressão que o êxito do conceito de diglossia se explica pelo momento
histórico em que foi lançado. De fato, quando muitas nações africanas se tornaram
independentes, muitas delas confrontavam-se com uma situação linguística complexa: o
plurilinguismo, por um lado, e predomínio oficial da língua colonial, por outro. Outorgando
um quadro teórico a essa situação, a diglossia aspirava a apresentá-la como normal, estável,
negar o conflito linguístico que se apresentava, a justificar, por assim dizer, que não se muda
nada disso (o que foi, aliás, o caso da maioria dos países descolonizados).
Ao examinarmos os contatos linguísticos sob tais perspectivas, podemos observar não
apenas detalhes de uma língua em particular, mas, também, detalhes sociais e linguísticos que
mostram como os falantes bilíngues usam cada língua e alternam entre elas.
A troca de código linguístico, conhecida em inglês como “codeswitching”, entretanto,
é comum para a maioria dos falantes. Trata-se de uma estratégia conversacional usada para
estabelecer, cruzar ou destruir limites entre grupos, além de criar, evocar ou mudar relações
interpessoais dependendo da situação, direitos e deveres dos participantes do ato
conversacional, segundo Grice (1989).
50

Falaremos, na próxima subseção, acerca dos produtos obtidos através dos contatos
entre as línguas, abordando temas como interlanguage, interference, Pidgin, Crioulo, dialetos,
socioletos, etc.

2.3.2 Resultados dos contatos linguísticos

Os resultados dos contatos linguísticos podem ser muitos. A fim de abordarmos esses
resultados, contudo, é necessário mencionarmos alguns conceitos relevantes nessa área, tais
como, interlanguage e interference.
O termo “interlanguage” mais especificamente, interim language, é um sistema
linguístico emergente desenvolvido por aprendizes de segunda língua que ainda não
apresentam um alto grau de proficiência na segunda língua, mas que tentam aproximações
com a língua-alvo preservando características da sua língua materna ao falar ou escrever na
segunda língua e criando inovações.
A “interlanguage” é baseada nas experiências do aprendiz com a segunda língua,
podendo sofrer um processo de fossilização em qualquer estágio de desenvolvimento. Esse
termo consiste em transferência de língua materna, transferência de treinamento, estratégias
de aprendizagem de segunda língua, como simplificações, por exemplo, estratégias de
comunicação em segunda língua, e supergeneralização dos padrões da segunda língua,
onde alguns itens, regras e estruturas de língua materna podem ser transferidas para a
produção da língua-alvo.
Esse termo foi criado por Selinker (1972), segundo o qual, um falante aprendiz de
língua estrangeira ou segunda língua se engaja numa jornada linguística de sua língua nativa
para a língua-alvo e constrói naturalmente um sistema linguístico particular nesse “meio
tempo”, ou “interim time”. Esse sistema individual é chamado de “interlanguage” por
Selinker (1969, 1972), e de “sistema aproximativo” por Nemser (1971), além de
“competência transicional” por Corder (1967), ou mesmo de “idioleto idiossincrático” pelo
mesmo Corder em 1973.
Grosso modo, seria um estágio intermediário do sistema da língua estrangeira do
aprendiz entre a língua materna e a língua-alvo. Esse termo é também conhecido como as
gramáticas intermediárias construídas pelo aprendiz de língua estrangeira no processo de
aprendizagem da língua-alvo (Mclaughlin, 1987).
51

O desenvolvimento de interlíngua depende de alguns processos cognitivos envolvidos


na aprendizagem de línguas estrangeiras:

 Transferência da língua materna - onde alguns itens, regras e estruturas de língua


materna podem ser transferidas para a produção da língua-alvo. Como exemplo, poderíamos
ter um aprendiz brasileiro de inglês que poderia dizer “*am happy”, sem usar o sujeito,
porque em português o verbo já deixa claro quem é o sujeito do enunciado, podendo ser
omitido. Em inglês, todavia, não se permite essa omissão.
 A transferência de treinamento - quando o treinamento enfatiza determinadas
estruturas em detrimento de outras, resultando em uma língua-alvo diferente da língua-alvo
tradicional
 Estratégias de aprendizagem da língua estrangeira - O aprendiz se sente confortável
com uma estratégia de aprendizagem e só faz uso daquela determinada estratégia, como o uso
de paráfrase, por exemplo.
 Estratégias de comunicação da língua-alvo - o falante omite itens que lhe parecem
gramaticalmente redundantes, mas que, ao omitir, produzem enunciados ruins na língua-alvo.
e.g. “I saw beautiful girl.” omitindo o artigo definido “a”.
 Supergeneralização do material linguístico da língua alvo - simplificação, por
exemplo, quando o aprendiz usa apenas uma forma do verbo; o falante usa regras gramaticais
de modo que não seria usado na língua-alvo.

Os estudos em “Interlanguage” baseiam-se na teoria de que existe uma “estrutura


psicológica latente no cérebro” que é ativada quando um falante tenta aprender uma língua-
alvo. Para Selinker (1972), em determinadas situações, as elocuções produzidas pelo aprendiz
são diferentes daquelas produzidas pelo nativo ao tentar transmitir um mesmo significado,
revelando desse modo, um sistema linguístico separado. Essa comparação pode ser observada,
segundo ele, ao estudarmos as elocuções de aprendizes que tentam produzir uma regra da
língua-alvo. A maior ou menor incidência de uso da “interlanguage” varia de acordo com o
contexto social, fazendo com que o “produto” seja mais ou menos parecido com a língua-alvo
quando produzido em contextos sociais diferentes.
Já “interference” foi usado primeiramente por Weinreich (1968) como termo neutro
significando exemplos de desvio das normas de qualquer uma das línguas que ocorrem no
discurso de bilíngues como resultado de familiaridade com mais de uma língua, i.e., como
resultado de contato linguístico. Esses termos são extremamente importantes para este
52

trabalho, pois as inovações lexicais dos brasileiros no exterior são resultado indiscutível de
contato linguístico em que ocorrem forçosamente “interlanguage” e “interference”.
Outras preocupações com a língua focalizam situações sociais na estrutura das línguas.
Os estudos sobre contato linguístico focalizam, entre outras coisas, a origem e a composição
linguística de línguas pidgin e crioulas. Esses tipos especiais de variações linguísticas
aparecem quando falantes de línguas mutuamente ininteligíveis necessitam de uma língua
comum para que haja comunicação. Há muitos exemplos de tais situações sócio-históricas no
mundo – No Caribe, África, América do Sul, Ásia e Ilhas do Pacífico.
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma
língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e
assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme.
Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma
da língua.
A cada situação de fala da qual participamos, podemos observar que a língua falada é
heterogênea e diversificada, e é precisamente essa heterogeneidade que devemos sistematizar.
Caso a heterogeneidade e o aparente caos não pudessem ser sistematizados, como poderíamos
justificar que essa diversidade linguística não impede os falantes de se comunicarem?
Analisar e aprender a sistematizar variantes linguísticas usadas por uma mesma
comunidade de fala são os principais objetivos dos estudos sociolinguísticos. A teoria da
variação linguística, desenvolvida por Labov, é um modelo teórico-metodológico que assume
o “caos linguístico” como objeto de estudo. Segundo Naro (1992), quando existem duas
formas alternantes em competição e uma delas possui alguma vantagem sobre a outra, esse
fato deve resultar em seu favorecimento durante o processo de mudança.
Segundo Richards, Platt & Weber (1985), os resultados dos contatos entre línguas
podem ser:

 Pidgin: o desenvolvimento de uma forma gramaticalmente reduzida da língua-alvo. A


pidginização costuma ser um estágio temporário da aprendizagem de língua estrangeira. Caso
o aprendiz não evolua, o resultado pode ser uma forma “pidginizada”. De acordo com
Schumann (1978), tais formas pidginizadas ocorrem quando os aprendizes se veem
discriminados em relação aos falantes da língua-alvo, ou quando a língua é usada apenas para
algumas funções limitadas.
53

 Crioulo: é um pidgin que se tornou língua nativa para um grupo de falantes, sendo
usado para a maioria de suas necessidades diárias. A crioulização envolve uma expansão do
vocabulário e do sistema gramatical.
 Interlíngua: tipo de linguagem produzida pelo aprendiz de segunda língua ou língua
estrangeira, ao estar no processo de aprendizagem. Os erros apresentados podem ser causados
por diferentes processos, como empréstimo da língua materna, generalização e paráfrases
estratégicas para suprir deficiências de vocabulário.
 Dialeto: coleção de atributos (fonéticos, fonológicos, sintáticos, morfológicos,
semânticos) que tornam um grupo de falantes diferentes de outro grupo de falantes da mesma
língua.
 Socioleto: Uma variedade linguística que pode ser diferenciada de outra.
 Idioleto: É o modo de falar característico de cada pessoa.

Entre as situações sócio-históricas, em que se formaram as línguas pidgins e crioulas,


devemos destacar: as chamadas plantations, grandes empreendimentos coloniais agro-
exportadores (sobretudo do açúcar) que empregavam largamente a mão-de-obra escrava; os
entrepostos coloniais da costa africana e do sul e sudeste asiático; e os agrupamentos de
escravos foragidos na América e na África, conhecidos como quilombos. Nesse contexto
histórico, estabelece-se a situação sociolinguística prototípica para a emergência de uma
língua crioula: um grupo de falantes adultos de várias línguas mutuamente ininteligíveis são
postos em contato com uma língua de um grupo dominante que passa a ser utilizada em
situações de comunicação emergencial.
Quando os escravos foram trazidos da África para a América do Norte, para trabalhar
nas “Plantations”, eles eram separados de sua comunidade e misturados a outras pessoas de
várias comunidades linguísticas diferentes, não podendo, portanto, comunicar-se entre si. O
objetivo por trás desse estratagema era evitar que a comunicação entre eles levasse a motins,
ou mesmo a uma fuga em massa. Desse modo, a fim de se comunicarem entre si e com seus
capatazes, eles criaram um linguajar intermediário, influenciado tanto por suas línguas
maternas quanto pela língua de seus patrões. Esse linguajar é chamado de “Pidgin” em
sociolinguística. A língua dominante que contribui principalmente com o vocabulário do
Pidgin é chamada “Superestrato”, e a língua minoritária é chamada de “Substrato”. No caso,
por exemplo, do Crioulo de Papua Nova Guiné, o superestrato é a língua Inglesa.
No plano linguístico, quando uma grande população de adultos - em muitos casos
falantes de línguas diferenciadas e mutuamente ininteligíveis - é forçada a adquirir uma
54

segunda língua emergencialmente, em função de relações comerciais ou de escravidão, a


variedade dessa língua alvo que se forma nessa situação inicial de contato apresenta uma forte
redução/simplificação em sua estrutura gramatical, posto que só os elementos essenciais
necessários ao preenchimento das funções comunicativas básicas são mantidos.
É importante ressaltar, contudo, que a ocorrência ou não de um determinado fato
linguístico se deve a uma gama de condicionamentos que podem ser de ordem estrutural ou
social, por assim dizer. Entretanto, a participação desses fatores raramente será uniforme,
podendo todos ter uma probabilidade de ocorrência específica e atuar conjuntamente ou não,
com alguns fatores favorecendo a aplicação de uma regra e outros agindo na direção contrária.
A análise da interação dos grupos de fatores determinará o peso relativo de cada um deles e
informará quais, segundo Monteiro (2008), são irrelevantes ao processo por terem pouca ou
nenhuma interferência no fenômeno considerado.
O presente trabalho lida com a subvariação dialetal que ocorre com a fala de
brasileiros residentes nos Estados Unidos. Segundo Camacho (1988), a variação pode ser
histórica, quando acontece ao longo de um determinado período de tempo, sendo identificada
ao se comparar dois estados de uma língua. Conforme Tarallo (1997), “variantes linguísticas”
são diferentes maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo
valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de “variável linguística”. Assim,
no caso de uma variação fonética, as variantes são os alofones, representando, portanto, as
formas possíveis de realização da variável.
No entanto, na linguística geral, o termo variante dialetal é usado como sinônimo de
dialeto. Um dialeto (do grego διάλεκτος) é a forma como uma língua é realizada em uma
região específica. Cientificamente este conceito é conhecido por "variação diatópica",
"variante geolinguística" ou "variante dialetal". Os critérios que fazem com que um conjunto
de dialetos seja considerado uma língua autônoma e não uma variante de outra língua são
complexos e frequentemente subvertidos por motivos políticos. A Sociolinguística considera
os seguintes critérios para determinar que um conjunto de dialetos fazem parte de uma língua:

 Critério da compreensão mútua: se duas comunidades conseguem facilmente


compreender-se ao usarem o seu sistema linguístico, então, elas falam a mesma língua.
 Critério da existência de um corpus linguístico comum: se entre duas comunidades
existe um conjunto de obras literárias que são consideradas patrimônio usado por ambas (sem
que haja necessidade de tradução), então elas falam a mesma língua.
55

Um dialeto, para ser considerado como tal, tem de ser falado por uma comunidade. As
características da língua que não são específicas de um grupo regional são consideradas
socioletos (variedades próprias de diferentes grupos sociais, etários ou profissionais) ou
idioletos (variedades próprias de cada indivíduo).
As regiões dialetais são estabelecidas por linhas de fronteiras virtuais a que se dá o
nome de isoglossas. Acredita-se que um dialeto seja um linguajar sem regras, porém, todo
dialeto tem as suas normas, regras gramaticais, morfológicas, fonológicas, semânticas e
sintáticas, conhecidas mesmo que intuitivamente por todos os seus falantes, de acordo com
Cintra (1995).
Uma língua divide-se em inúmeras variantes dialetais. Desde as mais abrangentes
(português europeu e português brasileiro) até as sub-variantes mais específicas. Por exemplo:

 O grupo dialetal transmontano-alto-minhoto, que se inclui nos dialetos do norte de


Portugal.
 O grupo dialetal mineiro, que se inclui no grupo dialetal do sudeste do Brasil.

A variável é o traço, forma ou construção linguística cuja realização apresenta


variantes observadas pelo investigador. Ela pode ser geográfica quando trata das diferentes
formas de pronúncia, vocabulário e estrutura sintática entre regiões. Dentro de uma
comunidade mais ampla, formam-se comunidades linguísticas menores em torno de centros
polarizadores da cultura, política e economia, que acabam por definir os padrões linguísticos
utilizados na região de sua influência. As diferenças linguísticas entre as regiões são graduais,
nem sempre coincidindo com as fronteiras geográficas.
As diferenças podem ter cunho social quando agrupam alguns fatores de diversidade:
o nível sócio-econômico, determinado pelo meio social onde vive um indivíduo, o grau de
educação, a idade e o gênero. A variação social ou diastrática não compromete a compreensão
entre indivíduos, como poderia acontecer na variação regional; o uso de certas variantes pode
indicar o nível sócio-econômico de uma pessoa, e há a possibilidade de alguém oriundo de um
grupo menos favorecido economicamente atingir o padrão de maior prestígio.
A variação pode ser também estilística, quando considera um mesmo indivíduo em
diferentes circunstâncias de comunicação: se está em um ambiente familiar, profissional, o
grau de intimidade, o tipo de assunto tratado e quem são os interlocutores. Sem levar em
conta as graduações intermediárias, é possível identificar dois limites extremos de estilo: o
informal, quando há um mínimo de atenção por parte do indivíduo sobre as normas
56

linguísticas, sendo utilizado nas conversações imediatas do cotidiano; e o formal, em que o


grau de atenção prestada à fala é máximo, sendo utilizado em conversações que não são do
dia-a-dia e cujo conteúdo é mais elaborado e complexo.
Para Camacho (1988), as diferentes modalidades de variação linguística não existem
isoladamente, havendo um inter-relacionamento entre elas: uma variante geográfica pode ser
vista como uma variante social, considerando-se a migração entre regiões do país. Observa-se
que o meio rural, por ser menos influenciado pelas mudanças da sociedade, costuma preservar
variantes antigas. Seria, por exemplo, o uso de palavras mais antigas como “derradeiro”, em
vez de “último”, utilizado por pessoas vindas do meio rural. O conhecimento do padrão de
prestígio pode ser fator de mobilidade social para um indivíduo pertencente a uma classe
menos favorecida.
Segundo Fishman (1972), uma situação é definida pela co-ocorrência de dois ou mais
interlocutores mutuamente relacionados de uma maneira determinada, comunicando sobre um
determinado tópico, em um contexto determinado. Essas situações podem ser formais ou
informais, e as formas que os falantes utilizam devem corresponder às expectativas
convencionais, sob pena de algum tipo de “punição” social, segundo Alkmin (2003).
Entre os fatores sociais considerados relevantes para a mudança induzida por contato
(Thomason & Kaufman, 1988; Weinreich, 1953) estão o prestígio das línguas em contato, a
atitude do falante em relação às línguas, o grau de bilinguismo, a quantidade de “pressão
cultural”, além da intensidade e duração do contato, entre outros. Porém, o pré-requisito
tradicional para o empréstimo estrutural, em linguística histórica, é o contato de longa duração
com um bilinguismo muito difundido. A convergência será presumivelmente ainda mais
provável de ocorrer se houver a presença de uma coleção de fatores sociais favoráveis.
Não podemos deixar de mencionar, entretanto, que os parâmetros da variação
linguística estão imbricados, na maioria das vezes. Ao interagir verbalmente, um falante faz
uso de sua variedade regional ou diatópica, segundo sua classe social, idade, escolaridade,
gênero e ainda de acordo com o contexto situacional presente. Isso me lembra um exemplo
doméstico. Uma diarista de 54 anos, analfabeta, vinda do interior, que mal consegue
pronunciar palavras um pouco mais elaboradas e que, ao telefone, quando queria se fazer
passar por outra pessoa, dizia, com voz bem doce (muito diferente do seu estilo usual): “_
Gostaria de falar com Fulano de Tal, por favor.” Esse exemplo ilustra a capacidade do falante
de fazer uso de estilos diferentes de acordo com a exigência da situação.
Entretanto, mesmo existindo uma gama considerável de variação, devemos ter em
mente que há também limites definidos para essa variação, sendo que ninguém é livre para
57

usar a linguagem do jeito que lhe apetece. O indivíduo não pode pronunciar as palavras do
jeito que bem entender e flexioná-las ou não, ou mudar a ordem das palavras dentro da
sentença de modo arbitrário. A variação, portanto, tem limites precisos e completamente
inconscientes (ninguém precisa ter ido à escola para ser compreendido por seus pares), sob
pena de ininteligibilidade. Ainda assim, é difícil explicar como os falantes adquirem
conhecimento das normas de comportamento linguístico, que parecem muito mais sutis que as
normas de comportamento social, de como se vestir e de como se comportar à mesa.
É tarefa do sociolinguista tentar especificar as normas de comportamento linguístico
de determinados grupos e tentar contabilizar comportamentos individuais em relação a essas
normas.
Essa redução na estrutura gramatical da língua alvo pode ocorrer devido a fatores tais
como:

 O difícil acesso dos falantes das outras línguas aos modelos da língua alvo, sobretudo
nas situações em que os falantes dessa língua alvo são numericamente muito inferiores aos
falantes das outras línguas;
 O fato de os falantes dessas outras línguas serem, em sua grande maioria, adultos, não
havendo, pois, o acesso aos dispositivos da faculté du langage, que atuam naturalmente no
processo de aquisição da língua materna;
 A ausência de uma ação normatizadora, ou seja, de uma norma ideal que oriente e
restrinja o processo de aquisição/nativização, já que esse processo tem como objetivo
fundamental a comunicação emergencial com os falantes da língua alvo.

Prolongando-se a situação de contato, essa variedade da língua-alvo falada como


segunda língua pelos indivíduos dos grupos dominados, por ser socialmente mais viável, vai
progressivamente assumindo novas funções na rede de interação linguística, ao mesmo tempo
em que se vai convertendo em modelo para a aquisição da língua materna dos descendentes
dos falantes das outras línguas.
Uma outra abordagem possível em relação à língua focaliza as situações de língua em
seu contexto social propriamente dito. Podemos observar a organização de nossas relações
sociais dentro de uma comunidade quando as pessoas se dirigem umas as outras como
“Senhor” ou “Senhora”, ou através do uso de primeiros nomes ou apelidos.
Como já foi mencionado por Chambers (1995), quando falamos, nós revelamos não
apenas qualidades pessoais e uma certa sensibilidade em relação ao contexto social, mas
58

também demonstramos várias configurações características que são compartilhadas com todos
que se assemelham a nós socialmente, em termos de posição social, local onde fomos criados
e outros pontos chave de nossa história de vida. A linguagem é a forma mais transparente de
se mostrar identidade. Até mesmo na literatura esse fenômeno já foi explorado por vários bons
autores como, George Bernard Shaw em “Pygmalion”, que deu origem à adaptação no cinema
de “My fair lady”. Ao tentar mudar a forma de falar da protagonista, Eliza Doolittle, uma
vendedora ambulante de flores de Londres, Shaw estava, na realidade, afirmando o que os
sociolinguistas começaram a ratificar anos mais tarde: a nossa maneira de falar é socialmente
motivada, ela é o produto do nosso contexto social.
Sabemos também que os resultados dos contatos linguísticos podem diferir devido a
vários fatores, tais como a duração e a intensidade do contato entre os grupos, os tipos de
relacionamentos sociais, econômicos e políticos entre eles, a função que a comunicação entre
eles desempenha e, finalmente, o grau de semelhança entre as línguas.
A pesquisa em questão se ocupa do estudo da língua dentro de uma comunidade de
fala, ou seja, da observação e análise da língua em seu contexto social, assim como é utilizado
em situações cotidianas. Trata-se de uma perspectiva que difere da abordagem teórica de
outros trabalhos, cuja análise se baseia, geralmente, em construtos teóricos em detrimento de
dados coletados de falantes em situações de fala do dia-a-dia.
Acreditamos que a naturalidade contida em dados colhidos de práticas orais,
principalmente da fala espontânea, principal campo de pesquisa laboviana, pode revelar muito
sobre as relações entre língua, sociedade e identidade, no caso de nossa pesquisa. Isso
acontece porque essas relações evidenciam as várias formas linguísticas utilizadas pelos
falantes brasileiros nos EUA para comunicar-se entre si. Essa indissociabilidade entre a língua
e o contexto social estabelece a heterogeneidade ordenada como fator constitutivo de um
sistema linguístico, descartando-se, então, a uniformidade como característica única do jogo
comunicativo na linguagem oral. (LABOV, 1975, p. 203).
Passamos, a seguir, a tratar das diferentes noções de comunidade de fala definidas
pelos mais influentes sociolinguistas, estabelecendo a concepção de comunidade de fala que
orienta esta pesquisa.

2.4. As noções de “comunidade de fala”


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A nossa pesquisa se ocupa da língua usada dentro de uma comunidade de fala, no


sentido sociolinguístico, que expomos a seguir. Embora desde o início da sociolinguística, a
noção de comunidade de fala tenha sido um de seus conceitos-chave, ela ainda parece
insatisfatória.
O surgimento do conceito de comunidade de fala nas pesquisas sociolinguísticas
ocorreu na década de 1960 (PATRICK, 2004 apud SEVERO, 2007). Desde então, a noção de
comunidade de fala vem se constituindo em objeto de estudo da área, embora a utilização de
sua definição passe a ter peso após as pesquisas desenvolvidas por Labov (1972).
Um dos primeiros problemas a serem levantados diz respeito aos conceitos da
equivalência ou não dos termos “comunidade linguística” e “comunidade de fala”.
Para Bloomfield (1926, p.153-4), por exemplo, se um ato de fala é uma enunciação, e
dentro de certas comunidades, enunciações sucessivas são semelhantes ou parcialmente
semelhantes, então, tais comunidades formam “comunidades de fala".
Segundo Gumperz (1962/ 71, p.101), o conceito de “comunidade linguística” envolve
um grupo social que pode ser tanto falante de uma só língua quanto de várias línguas, porém
unidos pela frequência de padrões de interação social e isolados das áreas adjacentes devido à
precariedade das linhas de comunicação. Para ele, tais comunidades podem consistir de
pequenos grupos unidos por contatos face-a-face ou podem cobrir vastas áreas, sendo um
conceito puramente social. Já Gumperz (1968) chama de “comunidade de fala” qualquer
agregação humana dotada de interação regular e frequente por meio de sinais verbais
compartilhados e isolados de outros grupos por diferenças significativas no uso da língua.

As variedades da fala empregadas dentro de uma comunidade de fala formam um


sistema porque elas são relacionadas a um conjunto de normas sociais
compartilhadas... (GUMPERZ 1968, p.219 tradução nossa)9

Em Gumperz (1982) observamos uma maior precisão no conceito de comunidade de


fala:

Um sistema de diversidades organizadas unidas através de normas e aspiraçòes


comuns. Os membros dessas comunidades variam em relação a certas crenças e
outros aspectos do comportamento. Tal variação, que parece irregular quando
observada a nível individual, mostra uma regularidade sistemática no nível
estatístico dos fatos sociais. (GUMPERZ 1982, p.13, tradução nossa)10

9
The speech varieties employed within a speech community form a system because they are related to a shared
set of social norms
60

Nesse caso, Gumperz menciona a diversidade organizada e unida por normas e


aspirações gerais. Ele menciona também a variação sofrida por membros da comunidade de
fala em termos de crenças e comportamento em nível individual, sem deixar, entretanto, de
revelar regularidades estatisticamente demonstráveis de fatos sociais. jhb
Na opinião de Hymes (1967/72, p.54-5)

Uma comunidade compartilhando regras de conduta e interpretação de, pelo menos


uma variedade linguística...um termo primário necessário...que postula as bases da
descrição como uma entidade social, em vez de linguística (HYMES, 1972, tradução
nossa)11

Hymes não entra na seara das diversidades contidas no seio de uma comunidade de
fala, mas ele menciona as regras de conduta e de interpretação de fala de uma variedade
linguística, postulando a base da descrição da língua como uma entidade social, em vez de
linguística.
Segundo Corder (1973) a comunidade de fala é composta por indivíduos que se
consideram falantes de uma mesma língua. Eles não precisam ter nenhum outro atributo
definido. Nota-se aqui uma visão bastante ampla e subjetiva.
Da mesma, forma Halliday adota esse critério em sua definição, como se constata em
sua explicação:

A comunidade de fala é um grupo de pessoas que se consideram como usuários


da mesma língua. Neste sentido, existe uma comunidade de fala “dos chineses”,
uma vez que eles se julgam falantes do “chinês” e não do pequinês, cantonês
etc. Por outro lado, não há uma comunidade de fala em relação às línguas
escandinavas, muito embora estas sejam, em grande parte, compreensíveis entre
si (HALLIDAY et. al apud DITTMAR, 1997, p.134, tradução nossa.)

Para Labov (1972, p.120-1):

A comunidade de fala não é definida por um acordo marcado do uso dos elementos
linguísticos, mas antes pela participação em um conjunto de normas
compartilhadas, que devem ser observadas em tipos de avaliações comportamentais
ostensivas, e pela uniformidade de padrões abstratos de variação que são

10
A system of organized diversity held together by common norms and aspirations. Members of such a
community typically vary with respect to certain beliefs and other aspects of behavior. Such variation, which
seems irregular when observed at the level of the individual, nonetheless shows systematic regularities at the
statistical level of social facts.
11
A community sharing rules for the conduct and interpretation of speech, and rules for the interpretation of at
least one linguistic variety... A necessary primary term... it postulates the basis of description as a social, rather
than a linguistic, entity.
61

invariáveis em relação aos níveis particulars de uso. (LABOV, 1972, tradução


nossa)12

Ou seja, a comunidade de fala não é definida por nenhum acordo marcado no uso de
elementos de linguagem, mas pela participação em um conjunto de normas compartilhadas,
possíveis de serem observadas em certos tipos de comportamento avaliativo, e pela
uniformidade de padrões abstratos de variação que são invariáveis em relação a níveis
particulares de linguagem.
Para Romaine (1994, p.22), comunidade de fala pode ser definida como “um grupo de
pessoas que não compartilham a mesma língua, mas compartilham um conjunto de normas e
regras para seu uso (...). As fronteiras entre as comunidades de fala são essencialmente mais
de caráter social do que linguístico”.
em grau extremo tende a produzir homogeneidade de valores e de normas, incluindo as
normas linguísticas. Assim, as redes densas são responsáveis por uma certa estabilidade linguística
uma vez que Milroy (1980) sugere que a noção de comunidade de fala deve pressupor a noção
de redes sociais, nas quais os usuários de dialetos mais carregados, geralmente são membros
de redes mais densamente construídas, ou “fechadas”, tendo contato quase exclusivamente
dentro do grupo, e os membros da elite atuam em uma rede menos densamente construída, e
portanto, mais “aberta” a outras influências. Laços fortes constituem redes sociais densas –
nas quais todos conhecem todos – e múltiplas – nas quais os indivíduos compartilham mais de
um tipo de relação, como amizade e companheirismo profissional (MILROY & MILROY,
1997). Quanto mais densas e múltiplas forem as redes sociais, maior a probabilidade de elas
operarem de forma normativa, uma vez que densidade se mantém o vernáculo local, com
resistência a pressões linguísticas e sociais de outros grupos. Exemplificando: os
relacionamentos em sociedades tribais, vilarejos ou em comunidades de trabalhadores tendem
a ser mais densos e múltiplos do que em sociedades industriais e urbanas (MILROY, 1987 ).
Por outro lado, laços fracos caracterizam redes com ligações interpessoais.
Os estudos da sociolinguística variacionista normalmente abarcam redes sociais,
conhecidas em inglês como “network studies”, por envolverem grupos sociais de nível micro,
ligados, às vezes, a paróquias, instituições ou vizinhanças, e não a uma estrutura de classe
propriamente dita. Segundo Milroy (1980), em seus estudos em Belfast, as redes sociais são
utilizadas para explicar comportamentos individuais de vários tipos, que não podem ser

12
The speech community is not defined by any marked agreement in the use of language elements, so much as
by participation in a set of shared norms. These norms may be observed in overt types of evaluative behavior,
and by the uniformity of abstract patterns of variation which are invariant in respect to particular levels of usage.
62

explicados em termos de estrutura de classe. Para ela, quanto mais ligado a sua comunidade,
tanto mais próxima será a linguagem do indivíduo das normas vernáculas locais.
Dessa forma, podemos observar que haverá tantas definições de comunidades de fala
quanto linguistas que as defendam, e até mesmo opiniões diferentes de um mesmo autor, em
mais de um momento. Essa é uma questão espinhosa tanto no que tange o estabelecimento de
limites geográficos ou sociais, quanto ao que concernem os critérios de demarcação de uso da
língua. As definições são, às vezes, muito complexas e às vezes muito amplas e pouco
precisas, dependendo dos autores que as empregam, possibilitando, dessa maneira, diferentes
interpretações.
Como sugere Labov (1972), é impossível compreender fenômenos relativos a uma
comunidade linguística fora do contexto social onde eles são produzidos. Portanto, um estudo
que considere a variação linguística um método produtivo para a observação e coleta de dados
deve partir das situações concretas de uso da fala.
O objeto da Sociolinguística é analisar o individuo em sua comunidade, com seu
grupo, e não o individuo isoladamente. Para Labov (1972) o vernáculo é propriedade de um
grupo e não de um indivíduo, entendendo-se como vernáculo a primeira forma de linguagem
empregada de forma natural entre falantes de um mesmo grupo, geralmente adquirida antes da
puberdade.
Desse modo, observamos basicamente três tendências gerais para a definição de
comunidade de fala: a primeira refere-se à comunidade de fala como constituída por pessoas
que têm a mesma primeira língua, ou seja, elas interagem por meio das regras compartilhadas
para o uso da língua materna. Uma outra preconiza o caráter pragmático da comunicação,
independente do número de línguas ou variedades utilizadas; nesse caso, uma comunidade de
fala pode se constituir de pessoas que se compreendem ao fazer uso da mesma língua, mesmo
essa língua não sendo a sua língua materna. Em terceiro lugar, uma comunidade de fala pode
se constituir de pessoas que se identificam socialmente com ela.
A definição do eixo teórico que delimita os contornos do termo “comunidade de fala”
acaba por definir uma tomada de posição em relação à pesquisa, determinando, em
consequência, o tipo de dados a serem coletados em um trabalho de variação e mudança
linguística.
Podemos afirmar, portanto, que a presente pesquisa engloba as três tendências de
definição de comunidade de fala: os informantes que são alvo da pesquisa são falantes nativos
da mesma língua materna - português; esses falantes fazem uso pragmático dessa variedade
63

linguística para comunicarem-se entre si e eles se identificam socialmente com essa


variedade.
A noção de redes sociais estabelecida por Milroy (1987) fornece o arcabouço para esta
pesquisa, já que a densidade das redes parece ser o amálgama do uso das inovações lexicais
que nós estamos pesquisando. Quanto mais densas as redes sociais dos informantes, mais uso
das inovações eles fazem. Quanto menos densas as suas redes sociais, menos inovações
lexicais aparecem em suas falas.
Sabemos que a linguística apresenta um caráter multidisciplinar que busca subsídios
em várias outras áreas, como a história, a sociologia, a psicologia, "para a reflexão crítica do
uso metalinguístico consagrado" (Bastos e Mattos, 1993), ou seja, em quaisquer situações em
que haja uma operação sobre a linguagem. Podemos inferir que a escolha de certas formas
linguísticas não é arbitrária, mas, sim, motivada no âmbito de um grupo social e em um
momento social específico. Segundo Fairclough (1992) "discurso é uma forma de prática
social mais do que uma atividade individual ou um reflexo de variáveis situacionais",
devendo, portanto, ser visto como uma categoria que tem origem e faz parte do domínio
social.
Ao observar esse “quasi-dialeto” utilizado por brasileiros entre si que, na verdade, não
teriam necessidade de fazê-lo para se comunicarem, por exemplo, senti a necessidade de
explorar mais esse fenômeno. Os brasileiros comunicam-se desse modo por não conseguirem
falar inglês de forma satisfatória e terem necessidade de se sentir parte da cultura local? Seria
esse o famoso “jeitinho brasileiro” em ação nos Estados Unidos? Seria essa uma maneira de
brincar com a língua que eles não conseguem dominar?
Na seguinte subseção falaremos sobre as inovações lexicais propriamente ditas.

2.5. A gênese das inovações lexicais

Por que as inovações lexicais ocorrem é uma pergunta que já vem sendo feita há muito
tempo. Em 1988, Otheguy e Garcia questionavam esse assunto no artigo “Diffusion of Lexical
Innovations in the Spanish of Cuban Americans” (Difusão das Inovações Lexicais no
Espanhol de Cubano-americanos). Segundo esses autores, citando Haugen (1938), as
inovações lexicais são uma resposta a duas necessidades conflitantes: falar na sua própria
64

língua nativa e ser capaz de comunicar ideias comumente expressas na língua-alvo, porém
raras ou ausentes em sua língua nativa.
Para nós, linguistas, interessa saber qual o grau de interferência das diferenças sociais
no resultado linguístico do contato entre as línguas. Já em 1886, Hermann Paul observou que
todo empréstimo linguístico implica em conhecimento das duas línguas pelo falante.
Thomason e Kaufman (1988) mencionam duas direções a serem seguidas pelo contato
linguístico - o empréstimo e a interferência do substrato. Como “empréstimo” entende-se os
termos linguísticos estrangeiros incorporados à língua nativa do falante.
O outro processo mencionado por Thomason e Kaufman, “interferência do substrato”,
ocorre quando a estrutura da língua nativa influencia a língua estrangeira. Para eles, existe
uma escala de pressão relativa de um grupo (uma língua) sobre o outro, trazendo à tona o
nível micro (indivíduo) e o nível macro (da língua). Tacitamente, Thomason e Kaufman
(1988) assumem que os falantes podem ser caracterizados em termos de língua nativa e
línguas estrangeiras e que os grupos ou comunidades podem ser relativamente homogêneos
nesses termos.
Para Haugen (1950), termos como mixture (mistura) e hybrid (híbrido) carregam em si
uma conotação até mesmo pejorativa, devendo, portanto ser abandonados, assim como o
fizeram Sapir e Bloomfield. Segundo Haugen (1950), esses termos parecem comparar as
línguas a ingredientes que poderiam ser colocados em uma coqueteleira e misturados para que
se obtivesse um drink diferente dos ingredientes que o compõem. Exceto em casos anormais,
os falantes não foram observados mudando de uma língua para outra repentinamente,
livremente. Eles podem mudar rapidamente de uma para outra, mas, eles estão falando uma
mesma língua, mesmo que recorram a outra como auxílio. Segundo esse autor, a introdução
de elementos de uma língua em outra não chega a representar uma mistura, mas “uma mera
alteração da segunda língua”. Como podemos entender através da metáfora da coqueteleira,
uma mistura implica a criação de uma entidade completamente nova e o desaparecimento de
seus constituintes. Além disso, o uso de termos como “mistura” e “hibridismo” insinua a
existência de línguas que são “puras”, ou que algumas são “mais puras que outras” devido à
quantidade de empréstimos presentes em seu léxico.
A fim de explicar o termo “empréstimo”, Haugen (1950) postulou três axiomas:

 Todo falante tenta reproduzir padrões linguísticos previamente aprendidos para lidar
com novas situações linguísticas.
65

 Entre os novos padrões que ele pode aprender estão aqueles provenientes de uma
segunda língua, que ele também tentará reproduzir.
 Se ele reproduzir o novo padrão linguístico, não no contexto da língua, em que foi
aprendido, mas no contexto de outra língua, isso configura um empréstimo.

O que Haugen (1950) postula é que o termo “empréstimo”, embora também um tanto
inadequado, já que não se devolve nenhum dos empréstimos linguísticos, é um termo mais
amplo que abarca vários outros, que podem ser classificados como decorrentes de:

 Importação
 Palavra estrangeira usada como na língua de origem. e.g. café (do francês) e whiskey
(do inglês)
 Empréstimo (Loanword) = palavras que têm origem estrangeira, porém são adaptadas
para a língua receptora. e.g. abajur (que vem de abat-jour, do francês) e chofer (que vem de
chauffeur , também do francês).
 Substituição parcial: palavras compostas, nas quais uma parte é emprestada, e a outra é
substituída. e.g. Saturnes dag =“Saturday” (de Latim, Saturni dies)
 Substituição total:
 empréstimo traduzido = calque, do francês e.g. OE Monan dæg = moon’s day =
‘Monday’ (< Lat. Lunae dies), ‘rasca·cielos: scrape-sky’, ‘arranha-céus’ (< E skyscraper),
 empréstimo renderizado (processado)= tradução de uma parte dos elementos da
palavra estrangeira, e.g. E brother·hood (< Lat. frater·nitas [= Lat. frater= ‘brother’ +
suffixo]

Haugen fez algumas observações que têm uma relação direta com o presente estudo:

 Um falante bilíngue introduz um novo empréstimo na forma fonética mais próxima à


da língua-alvo possível para si.
 Caso ele repita esse empréstimo, ou mesmo se outro falante bilíngue usar esse
empréstimo, certamente outras substituições de elementos da língua-alvo serão feitas.

Empréstimo linguístico é, para Dubois (2000, p.209):


66

Quando um falar A usa e acaba por integrar uma unidade ou um traço linguístico
que existia precedentemente num falar B e que A não possuía;a unidade ou traço
emprestado é, por sua vez, chamado de empréstimo. O empréstimo é o fenômeno
sóciolinguístico mais importante entre todos os contatos de línguas.

Podemos perceber que o empréstimo linguístico se configura quando emprestamos


uma palavra ou um traço linguístico de outra língua. Esse traço ou palavra, obviamente, não
existia anteriormente na nossa língua. Já por outro lado, os estrangeirismos são, segundo
Câmara Jr. (1998, p.142):

Os empréstimos vocabulares não integrados na língua nacional, revelando-se


estrangeiros nos fonemas, na flexão e até na grafia, ou os vocábulos nacionais
empregados com a significação dos vocábulos estrangeiros de forma semelhante.
Na língua portuguesa os estrangeirismos mais freqüentes são hoje galicismos e
anglicismos. O vocábulo estrangeiro, quando é sentido como necessário, ou pelo
menos útil, tende a adaptar-se à fonologia e à morfologia da língua nacional, o que
para a nossa língua vem a ser o aportuguesamento.

O motivo mais comum para o empréstimo é a ausência de um termo ou expressão em


uma língua, que se vê obrigada a fazer um empréstimo de outra língua. Na palavra iceberg,
por exemplo, não temos uma palavra em português para esse fenômeno que substitua esse
termo. Nesse caso, iceberg é um estrangeirismo, já que não sofreu nenhum tipo de adaptação,
seja fonética ou fonológica, ao português falado no Brasil. Segundo Poplack, Sankoff e Miller
(1985), o fator motivador para o uso de empréstimos é realmente a “necessidade lexical”. Para
eles, de fato, muitos empréstimos que apareceram em seu corpus designam referentes
associados especificamente ao contexto norte-americano ou canadense. Por isso, não deveria
surpreender que muitas “falhas terminológicas” (gaps) fossem preenchidas por novos
referentes originados do inglês.
O surgimento de algo novo é outro motivo para a adoção de um empréstimo. A palavra
stress entrou recentemente em nossa língua para denominar uma doença dos tempos
modernos. Como o termo stress é muito produtivo, acabou sofrendo adaptações ao português
e hoje já é grafado “estresse”. Além disso, já formamos palavras derivadas a partir da
primitiva “estresse”, é o caso de “estressado”, “estressante” e “desestressante”. No caso de
stress>estresse, estamos diante de um empréstimo linguístico, já que o termo sofreu
adaptações ao português, ou seja, foi-lhe acrescentado o grafema-e no início e no fim do
vocábulo, já que não existem, no sistema escrito do português, palavras iniciadas pelo
encontro consonantal str- ou terminadas em -ss.
67

Já Gal (1979) afirma que o empréstimo representa a introdução de palavras ou


pequenas expressões idiomáticas de uma língua em outra. É possível que isso aconteça sem a
ocorrência de mudanças fonológicas e semânticas no item emprestado, mas essa não é a regra:
geralmente acontecem alterações fonológicas ou semânticas.
Gumperz (1982), por outro lado, inclui outros tipos de assimilação. Para ele, os itens
incorporados são integrados à língua, sendo tratados como parte do seu léxico, tomando suas
características morfológicas e entrando em suas estruturas sintáticas.
Sob uma perspectiva sociolinguística, podemos considerar, além dos pressupostos de
Thomason e Kaufman, a variabilidade interna, tanto entre indivíduos de comunidades
bilíngues, quanto através da análise quantitativa de exigências linguísticas nos resultados dos
contatos linguísticos.
Para Sankoff (2000), dois processos sociais se destacam em relação às situações de
contato para os linguistas: as conquistas e as imigrações. A imposição de uma língua de
comunicação mais ampla acontece em decorrência de conquistas propriamente ditas e do
estabelecimento de línguas-padrão, via instituições como a “Educação Elementar Universal”
na Índia. Nesse caso, as populações locais transformaram-se em minorias linguísticas dentro
de uma unidade política mais ampla.
No caso de um grupo linguístico local, conquistado ou cercado por um grupo maior,
uma mudança linguística lenta pode significar várias gerações de bilíngues, o que proporciona
grande oportunidade para a influência do substrato tornar-se estabelecido na língua do
conquistador. Esses povos que passaram por situações de contato linguístico prolongado
sentem os efeitos linguísticos dessas mudanças sociais muito lentamente, o que pode
ocasionar contatos linguísticos que perduram por décadas e mesmo, séculos. Essas situações
de bilinguismo estável parecem ser o que Weinreich chama de “integração”, i.e., a aceitação
de estruturas devido à interferência por parte da língua receptora.
Para Grosjean (1998), considerando-se os fatores citados acima, várias necessidades
linguísticas emergem em falantes em contato com duas ou mais línguas, demandando que eles
desenvolvam competências diferentes na medida exigida por essas necessidades. Em
situações de contato, é raro que todas as facetas da vida exijam a mesma língua ou que elas
sempre exijam duas línguas (língua A no trabalho e B em casa ou com amigos). Na verdade,
as pessoas se utilizam das línguas com objetivos diferentes, em diferentes domínios da vida,
com pessoas diferentes, e é exatamente por causa disso que os falantes bilíngues raramente
desenvolvem fluência equivalente nas duas línguas. O nível de fluência obtido em uma língua
vai depender da necessidade dessa língua e terá domínio específico, sendo, portanto,
68

perfeitamente normal que um falante saiba ler e escrever em apenas uma das línguas, que
tenha fluência limitada em uma língua que usa com um número reduzido de pessoas, ou que
possa falar sobre um assunto específico em apenas uma das línguas.
Um fenômeno pressuposto pelo contato entre línguas é o “codemixing”, ou seja, uma
estratégia conversacional que combina, ou faz uma “mixagem” entre dois códigos
linguísticos. Um exemplo de “codemixing” seria um falante bilíngue de Malaio e Inglês
dizendo: “This morning I hantar my baby tu dekat babysitter tu lah” (hantar=took=levei, tu
dekat=to = para, tu lah = partícula indicativa de solidariedade).
Na visão de Gumperz 1982a e 1982b, a alternância entre línguas é conceptualizada
não como uma deficiência a ser estigmatizada, mas, sim, como um recurso extra através do
qual muitos significados retóricos e sociais são expressos. Ele focaliza mais especificamente
não a estrutura constituinte, mas o discurso e as funções interacionais que o codeswitching
desempenha para os falantes. Na presente pesquisa, segmentos como “trabalhava de couple”,
“fazer shoeshine” e “pedir um black coffee” são exemplos de codeswitching envolvendo
inglês e português. Exemplos de codemixing seriam “parkear", “ordenar” e “vaquear”.
Um código pode ser uma língua, uma variedade ou estilo de uma língua. Enquanto o
“codemixing” implica em hibridismo, segundo o Concise Oxford Companion of the English
Language (1998), o termo “codeswitching” se aplica ao movimento de uma língua em direção
a outra. É possível que tanto o “codeswitching” quanto o “codemixing” ocorram em algum
grau no discurso de todo indivíduo bilíngue, o que possibilita que tais indivíduos tenham a sua
disposição três sistemas linguísticos: a sua língua materna, a língua-alvo e a língua híbrida.
Alguns estudiosos como, por exemplo, Poplack (1980), alegam que há quatro tipos de
“codeswitching”. O primeiro tipo é o chamado “Tag-switching”, quando partes de frases de
uma língua são inseridas em frases de outra língua, como, por exemplo, um falante de
Panjabi/Inglês diria: It's a nice day, hai nã? (hai nā= isn't it) (Belo dia, não é?). Outro tipo de
“switching” é o Intra-sentencial, no qual a inserção ocorre dentro dos limites da sentença ou
da frase, usado por falantes de Yorubá/Inglês: Won o arrest a single person (won o they did
not) (Eles não prenderam ninguém) (won o = eles não). O terceiro tipo de switching, chamado
Intersentencial, é representado pela troca de código linguístico nos limites da sentença ou da
frase, sendo que cada sentença do período é falada em um código linguístico, como, falantes
bilíngues de Espanhol/inglês: Sometimes I'll start a sentence in English y termino en español
(De vez em quando eu começo uma frase em inglês e a termino em espanhol). O quarto tipo é
o “Intra-palavras”, no qual a troca de código ocorre dentro dos limites da palavra, tais como
69

em Panjabi/inglês shoppã (shop = fazer compras, de inglês com o final de plural em Panjabi)
ou kuenjoy (enjoy= divertir, de inglês com o prefixo ku, em Swahili significando “para”).
Em nossa pesquisa, encontramos vários exemplos de codeswitching e codemixing:
“pedir um black coffee”, “você quer um chicken-wings?”, ”trabalhava de couple”, “cashar um
cheque”, e outros tantos. Percebemos que se trata de codeswitching quando ocorre a mudança
de uma língua para outra, e codemixing ao ocorrer o uso de formas híbridas como “cashar”,
to cash = trocar.
Esse fenômeno já foi estudado para o contato entre outras línguas. Algumas
comunidades apresentam nomes especiais, às vezes, pejorativos, para uma variedade híbrida,
como, na India hindlish e hinglish, forma mixada de inglês e hindu, na Nigéria, amulumala
(salada verbal) é usado pela mixagem entre inglês e yorubá; já nas Filipinas, tais
possibilidades são expressas pelos termos tagalog—engalog—taglish, em Quebec, pelo
francês—franglais—frenglish.
Embora as mixagens e trocas de códigos sejam, em sua maioria, formas estigmatizadas
de linguagem nas comunidades em que elas ocorrem, elas, geralmente servem importantes
funções como marcadores de identidade étnica. Entre as minorias, o código materno (we-
code) é usado para significar “pertencente ao grupo”, ou “grupo-in”, e o código-alvo (they-
code) indica “não-pertencente ao grupo”, ou “grupo-out” e é usado para eventos mais formais
e distantes da realidade do grupo. Os falantes utilizam a troca de código linguístico para
indicar a sua atitude em relação a algo que está sendo dito. Um exemplo disso é o diálogo em
Panjabi/inglês, onde o “grupo-in” é marcado com a língua panjabi e o “grupo-out” marcado
com o inglês entre os imigrantes no Reino Unido: Usi ingrezi sikhi e te why can't they learn?
(‘We learn English, so why can't they learn [an Asian language]?’). (Nós aprendemos Inglês,
por que eles não podem aprender uma língua asiática?).
A troca de código linguístico enfatiza o limite entre o “nós” e o “eles”.
Outras razões para a troca de código incluem a busca de prestígio através do conhecimento da
língua dominante do “grupo-out”, que, geralmente pode ser associado a religião,
imperialismo, educação, alguma forma velada ou intenção de poder imposto ao dominado. O
status social dos hindus, por exemplo, pode ser marcado pela introdução de alguns vocábulos
de sânscrito e pali à língua vernácula, enquanto os muçulmanos usam para esse propósito o
árabe e o persa.
Na Europa, usam-se as línguas clássicas, como o Latim e o grego, quando se quer
mostrar mais erudição. Atualmente, na Índia e na América Latina, o status social pode ser
marcado usando-se palavras em inglês. Não é sempre o caso de desconhecimento das palavras
70

em outro idioma que causa o uso de troca de código linguístico. O “codeswitching”


amplamente difundido normalmente indica uma mudança maior ou menor em direção à
língua dominante. Hoje em dia, o inglês é a língua mais usada em “codemixing” e
”codeswitching” no mundo.
Para Gumperz (1982:59) codeswitching é a justaposição, dentro da mesma interação,
de segmentos pertencentes a dois sistemas ou subsistemas gramaticais diferentes. No discurso
em que ocorre codeswitching, os segmentos em questão fazem parte do mesmo ato de fala.
Segundo Romaine (1989), codeswitching difere da diglossia descrita por Ferguson
(1959) na especialização prevista para o uso da diglossia, em que ocorre quase que uma
relação biunívoca entre a escolha lexical e o contexto social, de modo que cada variedade
possa ser vista como portadora de um propósito dentro do repertório de fala local. Em
situações em que essa compartimentalização ocorre, as normas de seleção do código
linguístico tendem a ser bastante estáveis.
Otheguy e Garcia (1988) classificam as inovações lexicais em empréstimos
(loanwords) e calques (englobando o que Weinreich denominava extensões semânticas e
traduções emprestadas, ou literais).
Para Câmara Jr. (1998)

Empréstimo é a ação de traços linguísticos diversos dos do sistema tradicional. O


condicionamento social para os empréstimos é o contato entre povos de línguas
diferentes, o qual pode ser por coincidência ou contiguidade geográfica, ou, à
distância, por intercâmbio cultural em sentido lato. A coincidência ou contiguidade
geográfica determina os empréstimos íntimos e a língua a que é feito o empréstimo
constitui um substrato, um superstrato ou um adstrato. Os empréstimos à distância
são culturais. (CÂMARA Jr., 1998)

Neste trabalho, consideramos os empréstimos linguísticos como um termo importado


da língua-fonte usado na língua recipiente com uma maior ou menor adaptação fonológica,
sendo, que a justificativa para o seu emprego reside no fato de que o falante tem a impressão
de que nenhuma palavra ou expressão em sua língua nativa poderia suprir a lacuna de
significado que ele deseja expressar ao usar esse empréstimo. Ao dizer: “Vou fazer um
‘part-time’ amanhã”, o nosso falante provavelmente quer dizer que vai fazer um serviço de
meio-horário além de seu horário normal de trabalho, com um sentido que ele não conseguiria
transmitir usando somente português.
Autores como Weinreich (1974) fazem distinções também entre “empréstimos de
termo único” e “codeswitching de termo único”. Seguindo a linha de Poplack at al.1988,
71

consideramos empréstimos as palavras que sofreram adaptações fonológicas ao serem


transferidas para português, e codeswitching, as palavras que mantiveram as características
fonológicas de inglês mesmo quando inseridas em segmentos de português.
Otheguy e Garcia (1988) dividem os calques em nível de frases e de palavras, que são,
por sua vez, divididos em calques fonologicamente mixados ou calques fonologicamente
independentes.
Essa tipologia permite descrever as inovações de forma mais detalhada e observar
aquelas que sofrem maior difusão entre os seus usuários.
Os calques fonologicamente mixados são aqueles que usam o morfema da língua
recipiente (português) com uma acepção existente somente na língua doadora (inglês). A
mixagem fonológica acontece devido à semelhança entre as palavras na língua-alvo (inglês) e
na língua materna (português).
Além da caracterização tradicional de empréstimos já integrados à língua nativa, no
caso, o francês, Poplack, Sankoff e Miller descobriram morfemas não-adaptados do inglês
mixados a afixos verbais de particípio e repetições do mesmo item lexical que nem sempre
recorrem na mesma forma fonológica, mesmo quando enunciados pelo mesmo falante. Os
afixos franceses podem até ser enunciados de modo “americanizado”, tendo a palavra uma
morfologia francesa, mas uma fonologia inglesa, como no exemplo seguinte:

“coper”, no lugar de “cop” (policial) e “firer”, no lugar de “fireman” (bombeiro)

Em nossa pesquisa, exemplos de codemixing e codeswitching podem ser encontrados


em palavras como:

“registrar na universidade”= matricular-se na universidade


Existe o verbo “registrar” em português, porém não com esse significado. Esse é um
calque de “register in the university” = matricular-se na universidade
“aplicar para um emprego” = candidatar-se a um emprego
O verbo “aplicar”, embora perfeito em língua portuguesa, não tem o sentido de
concorrer a algum cargo. É um calque de “apply for a job” = candidatar-se a um emprego
“tirar o acento” = tirar o sotaque

O substantivo “acento” é um morfema da língua portuguesa, entretanto, não com a


acepção de “sotaque”, representando “accent” = sotaque. Diz-se “o acento”, designando
72

também gênero masculino à palavra que, em inglês não tem essa característica. Segundo
Poplack, Sanford e Miller (1988), para um empréstimo estar completamente integrado a uma
língua recipiente, ele deve ser adaptado aos padrões existentes naquela língua. Às palavras
emprestadas pelo francês, por exemplo, devem ser designadas categorias gramaticais: aos
substantivos e adjetivos devem ser designados gênero e número. Os verbos devem ser
flexionados em tempo, modo, pessoa e número. Além disso, a forma fonológica do termo
deve se conformar aos padrões da língua recipiente. Tivemos a oportunidade de observar essa
integração dos empréstimos à língua portuguesa. São determinados o gênero, número e grau
aos substantivos, (o acento, a beguinha); e os verbos são flexionados em pessoa e número
(Ele sempre parkeia lá).
Assim como nos empréstimos linguísticos, o falante tem a impressão de que a
mensagem a ser veiculada na língua nativa não teria o alcance do termo usando-se o sentido
transmitido pelo termo da língua-fonte. Isso pode ser explicado pelas situações serem
diferentes nos dois países, ou pela própria situação dos falantes, que talvez não conhecessem
certos procedimentos em seu próprio país. O fato é que “aplicar para um trabalho” parece
muito mais propício para um imigrante brasileiro nos EUA do que “candidatar-se a uma vaga
de emprego”.
Vale lembrar que a inovação lexical, neste caso, é baseada em uma equação
estabelecida entre os termos “aplicar” e “apply” que reside nas similaridades em termos de
significante e também de significado. Usamos o termo “mixado”, mas o termo usado em
inglês é “merged”, que significa “fundido”, sugerindo que houve uma fusão entre os termos
da língua-fonte e da língua nativa, da qual surgiu um novo termo cujo significado migrou do
modelo inglês para o português usado pelos imigrantes brasileiros.
Já os calques fonologicamente independentes são aqueles em que a analogia feita pelo
falante ocorre no nível do significado e não do significante. A “independência” indica que não
há nenhuma semelhança fonológica ou morfológica do termo na língua materna com o termo
na língua-alvo. Segundo Otheguy e Garcia (1988), já que esses calques independentes não
têm semelhança com o modelo inglês, podemos dizer que a conexão entre eles está sendo
feita apenas no nível semântico, como podemos observar nos exemplos a seguir:

“correu” para presidente = concorreu à vaga de presidente (ran for president)

“jogar uma festa” = dar uma festa (throw a party)

“Vou caminhar o cachorro” = levar o cachorro prá passear (walk the dog)
73

Embora tanto os calques fonologicamente mixados quanto os fonologicamente


independentes consistam de palavras em português usadas de forma a decalcar o uso de um
modelo em inglês, eles diferem em termos de pronúncia do calque fonologicamente
independente, que não se assemelha em nada ao termo usado em inglês. A palavra
“independente” foi usada exatamente para sugerir que as similaridades no nível do significado
que foram estabelecidas entre o calque e o modelo em inglês operam independentemente do
tipo de similaridades fonológicas presentes nos calques mixados.
Os calques frasais, por outro lado, são muito similares a calques de palavras no sentido
de que eles são constituídos de palavras da língua recipiente (português), porém com
significado existente apenas na língua doadora (inglês). São usadas frases, compostas de mais
de uma palavra, para expressar ideias comuns na língua-alvo, mas que rescendem a
“novidades” na língua nativa.
Não podemos, entretanto, visualizar nenhuma alteração em termos de palavras, já que
são compostos de palavras de origem portuguesa. Por que, ainda assim, essas expressões
soam como inovações lexicais? Podemos dizer que, ao falarmos em calques frasais, a única
coisa que resta de “inovadora” é realmente a mensagem, que “soa” estrangeira ao falante
nativo de português por enviar uma mensagem de modelagem claramente americana. Elas
representam inovações porque nós, falantes de português nativo, somos capazes de detectar a
novidade cultural, não a novidade linguística, como nos exemplos abaixo:

“Ele é suposto de ir”= ele deve ir (He is supposed to go)

“Ela está com um frio terrível”= ela está muito resfriada (She has a terrible cold)

Dos quatro tipos de inovações lexicais apresentados (empréstimos, calques


fonologicamente mixados, calques fonologicamente independentes e calques frasais),
podemos dizer que apenas os empréstimos, os calques mixados fonologicamente dependentes
e fonologicamente independentes causam consequências à língua recipiente trazendo novas
palavras, novos significados e alterações em significados tradicionais. Os calques frasais, por
sua vez, deixam intocado o sistema linguístico da língua receptora, trazendo inovações apenas
culturais, no nível semântico.
Fechando o quadro teórico, acho pertinente dizer que os conceitos de linguagem,
língua e fala; língua, sociedade e identidade; as motivações para os contatos linguísticos; as
74

noções de comunidade de fala e as inovações lexicais têm muito a dizer em relação a esta
tese, daí se justificando a sua inclusão neste capítulo.
75

3 METODOLOGIA

A Sociolinguística é o estudo dos usos sociais da língua, e os estudos mais


produtivos nas quatro décadas de pesquisa sociolinguística emanaram da
determinação da avaliação social das variantes linguísticas. Essas também são as
áreas mais susceptíveis aos métodos científicos, tais como a formação de hipóteses,
inferências lógicas e testes estatísticos. (CHAMBERS, 2002, p.3, tradução nossa)13

Toda pesquisa é regida por uma teoria científica. Para cada teoria, há procedimentos
metodológicos adequados a serem seguidos em busca de resultados que confirmem ou
rejeitem as hipóteses levantadas. Portanto, a metodologia é um conjunto de procedimentos
que facilita a condução da pesquisa a fim de que os resultados alcançados sejam verificáveis
nos termos do quadro teórico.
Segundo Larsen-freeman & Long (1991), uma metodologia qualitativa típica seria, por
exemplo, um estudo etnográfico em que os pesquisadores não testam hipóteses, mas
observam o que se apresenta e analisam os dados que podem variar durante a observação. Já
um estudo quantitativo seria um experimento projetado para testar uma hipótese através do
uso de instrumentos objetivos e análises estatísticas adequadas.
Segundo Ferguson (1977), a observação direta e cuidadosa da maneira como os
informantes lidam com a língua em seu contexto social pode nos fornecer dados muito
interessantes e até mesmo, surpreendentes. Milroy (1980) apresenta duas abordagens para o
estudo feito em uma comunidade linguística: o dialetológico e o sociolinguístico.
A primeira tem como preocupação primordial o estudo geográfico das diferenças
linguísticas, sendo seu produto final um mapa apresentando limites geográficos de
características linguísticas, geralmente lexicais ou fonológicas. Esses limites, ou isoglossas,
são plotados no mapa, marcando em que ponto a forma A se torna forma B. Os dialetos
existem nos pontos em que as isoglossas coincidem. Os dialetologistas lidam com o conceito
de dialeto em larga escala e com um mapeamento mais amplo da distribuição linguística em
uma determinada área. A dialetologia tradicional tende a focalizar membros mais velhos da
comunidade, na maioria do gênero masculino, e que tenham vivido a maior parte de suas
vidas no mesmo local do seu nascimento, de acordo com Chambers & Trudgill (1980). Para
13
‘Sociolinguistics is the study of the social uses of language, and the most productive
studies in the four decades of sociolinguistic research have emanated from determining
the social evaluation of linguistic variants. These are also the areas most susceptible to
scientific methods such as hypothesis-formation, logical inference, and statistical testing.
CHAMBERS (2002, p. 3)
76

eles, tal fala seria a mais pura forma vernácula possível. Entretanto, esses falantes vivem em
áreas rurais, o que tornava a fala urbana impossível de ser considerada.
Já a segunda abordagem, a sociolinguística, influenciada por Labov, teve suas raízes
em estudos dialetológicos, embora tenha se voltado mais para o lado da observação direta da
mudança linguística em uma comunidade.
Labov entrevistou um grande numero de falantes de várias etnias diferentes em Martha
´s Vineyard, uma ilha na costa leste dos Estados Unidos, no estado de Massachussetts.
Assegurando-se de ter uma amostra representativa de gêneros e idades diferentes, Labov pôde
observar mudanças linguísticas em progresso, focalizando realizações variáveis dos
ditongos /ay/ e /aw/ como em “nice” e “mouse”. Ele notou um movimento diferente do padrão
da região de New England, que compreende os estados de Maine, New Hampshire, Rhode
Island, Vermont e Massachussetts.
Labov observou uma maior centralização do segundo elemento do ditongo,
característica dos conservadores falantes de Vineyard. Surpreendentemente, os falantes mais
carregados desse sotaque eram os homens mais jovens, que buscavam se identificar como
originários de Vineyard, rejeitando os valores do continente e a invasão de ricos veranistas ao
tradicional modo de vida da ilha. O encaixamento linguístico e social da variável linguística,
levou a sociolinguística variacionista à abordagem empiricista dos fatos linguísticos. De um
lado estavam aqueles que reagiam à invasão dos turistas do continente, tentando preservar sua
própria identidade; de outro, aqueles que se identificam com o processo econômico em curso,
buscando a integração cultural com os padrões do continente. Essas atitudes de orientação
cultural ou ideológicas foram determinantes no processo de centralização dos ditongos /ay/
e /aw/, na comunidade da ilha. A centralização dos ditongos tornou-se a marca de identidade
cultural da ilha, pois aqueles habitantes que resistiam à perda de identidade foram os que mais
centralizaram. Esse fator se superpõe e permeia todos os outros fatores sociais considerados.
Assim sendo, apesar de toda a base empírica que dá sustentação ao processo de
centralização dos ditongos em Martha’s Vineyard, a inferência de que a variável subordina-se
à orientação cultural é resultado da interpretação do autor, e não reflexo imediato de uma
quantificação neutra. Passou-se, então, do plano quantitativo, em que há apenas impressões
fragmentárias, para um plano de interpretação qualitativa.
Nas palavras de Lucchesi:

Uma análise desse tipo, que permite uma compreensão globalizante da interação
entre o processo lingüístico e o processo social é, portanto, muito mais
esclarecedora do que uma que apresentasse resultados do tipo: ‘os fazendeiros
77

centralizam mais do que os pescadores’, ‘os homens centralizam mais do que as


mulheres’ etc. Quanto mais esclarecedor for um estudo sobre um processo
particular de mudança (como é o caso de Martha’s Vineyard), mais esse processo
será individualizado e particularizado, já que se trata de uma representação
adequada de um processo histórico e cultural, o que extrapola as generalizações
derivadas do indutivismo empiricista que infelizmente tem marcado as
preocupações da sociolinguística variacionista. (LUCCHESI, 2000, p. 204).

O processo de mudança é sempre resultado de um processo de interação extremamente


complexo. Assim, as generalizações empíricas, principalmente quando não integradas em uma
interpretação globalizante do processo social, muito pouco esclarecem sobre o processo de
mudança, que é historicamente determinado. Para Lucchesi (2000), as quantificações
representam apenas aproximações do fenômeno e “as únicas generalizações possíveis não se
referem ao que foi apreendido, mas como se deu a apreensão” (p. 205).
A partir dos estudos de Labov em Martha’s Vineyard, muitos axiomas tidos como
verdadeiros pelos dialetologistas caíram por terra. Por exemplo, os falantes mais carregados
do sotaque vernáculo não são necessariamente os mais idosos, e tampouco os dialetos mais
conservadores estão dando lugar ao inglês padrão. O conceito de dialetos unitários marcados
por isoglossas agora recende a simplificação demasiada e os falantes exploram recursos do
dialeto como meio de projetar suas identidades sociais.
Outras inovações foram feitas por Labov (1961). Em vez de buscar obter itens lexicais
através de questionários formais, ele baseou sua análise em discursos conversacionais,
suplementados por leituras de textos e listas de palavras. Seu trabalho não teria apresentado
resultados tão reveladores apenas através de entrevistas formais, pois muito do que ele
descobriu dependia de uma compreensão mais global da situação política e social dos
moradores de Martha´s Vineyard, ressentidos pela economia decadente da pesca e movimento
crescente dos turistas de verão, agravada pelas várias etnias presentes e de status diferentes na
ilha, entre outras questões.
A presente pesquisa tem como pressupostos metodológicos a sociolinguística
variacionista de Labov (1966), sendo que a metodologia utilizada para coleta e análise dos
dados foi também baseada nos estudos e pesquisas realizados por Labov.
A sociolinguística variacionista estuda a língua em uso em uma comunidade
linguística, que é heterogênea, sendo que cada comunidade de fala possui características
linguísticas que a distinguem das outras.
Segundo Moura (2007), “nenhum indivíduo na verdade fala uma língua, nem o
espanhol, nem o português, nem o inglês. Todos nós falamos uma variação dessas línguas”.
78

Dessa forma, há um leque de possibilidades de falas à disposição do falante. A essas


formas linguísticas alternativas dá-se o nome de variantes e ao seu conjunto chamamos de
variável. A princípio, temos que considerar que o principal objetivo da sociolinguística é
“compreender os complexos padrões de interação entre língua, cultura e sociedade” como
afirma Moura (2007), e para isso, procura desenvolver novas metodologias.
Como sugere Oliveira e Silva (2003, p.117), a linguagem pouco se presta à
experimentação, já que só se manifesta na espécie humana, dificilmente manipulável para fins
de pesquisa. Portanto, a observação surge como único método para coleta de dados. Mas,
para se colocar em prática essa coleta, é necessário tomar-se uma série de decisões quanto à
comunidade de fala que será analisada, ao número de falantes que serão observados e à
seleção desses falantes. Em alguns casos, a comunidade a ser escolhida depende da seleção do
fenômeno. Para isso ocorrer, é necessário que a fala dessa comunidade já seja, de certa forma,
conhecida.
Pode ocorrer também o inverso, ou seja, o pesquisador pode encontrar primeiro uma
comunidade cuja fala nunca foi estudada e, por isso, considera o seu estudo importante. Dessa
maneira, o fenômeno surgirá a partir dos dados. Essa ordem não é relevante, pois há vários
caminhos adequados a serem seguidos que nos levam a resultados que correspondem à
metodologia proposta. É preciso também que se tenha consciência de que a pesquisa não tem
como englobar todos os falantes de uma comunidade linguística. Assim, o que se tem é uma
amostra representativa da fala dessa comunidade. Para a montagem dessa amostra, é
necessário pensarmos no número de indivíduos, que por sua vez, depende da homogeneidade
da população, que deve compartilhar um grupo de regras de usos linguísticos e culturais; da
quantidade de variáveis analisadas; do fenômeno; do método e do número de membros da
comunidade, além de outros fatores.
De acordo com Labov (2001), em estudos sociolinguísticos, existe a necessidade de se
estabelecer parâmetros tanto de ordem linguística, como de ordem extralinguística (gênero,
faixa etária, escolaridade, procedência, dentre outros) para possível interpretação dos
fenômenos que envolvam variação.
Feita a coleta de dados e uma pré-análise dos mesmos, a etapa seguinte da pesquisa é
transcrever os dados, a fim de poder analisá-los de forma mais consistente, uma vez que “não
conseguimos estudar o oral através do próprio oral”, como afirma Labov (2008, p.135).
Para que se possa ter uma análise o mais fiel possível da fala do indivíduo, existem
procedimentos que devem ser seguidos, sendo que a maioria deles foi projetada a partir de
experimentações práticas de outros pesquisadores. Para se captar o vernáculo, é necessário,
por exemplo, que o falante esteja à vontade e não esteja monitorando a própria fala durante o
79

processo, o que não se consegue facilmente durante uma entrevista. Labov sugere então que o
pesquisador use pessoas da comunidade para entrevistarem seus pares, por exemplo. Alguns
assuntos também tendem a fazer com que o falante “entre no clima” da conversa sem se
lembrar que está sendo entrevistado.
Após essa etapa, podemos montar o ‘corpus’ da pesquisa. Porém, como o
levantamento e a transcrição dos dados são etapas que exigem muito trabalho e atenção do
pesquisador, há, por exemplo, o Varbrul, “um conjunto de programas computacionais de
análise multivariada, especificamente estruturado para acomodar dados de variação
sociolinguística”, segundo Guy e Zilles (2007, p.105) que nos permite utilizar um corpus
levantado e transcrito, facilitando o trabalho do pesquisador.
Em nossa pesquisa, os dados coletados a partir de entrevista sociolinguística baseada
no método LCV desenvolvido por Labov em 1966 foram transcritos e dispostos em tabelas do
Excel.
A pesquisa em questão fez uso de elementos qualitativos e quantitativos. O estudo é
qualitativo em relação à densidade de dados e número de informantes, baseando-se nos
estudos sobre entrevista sociolinguística de Gumperz e Labov. O estudo também mostra uma
perspectiva qualitativa ao tentar estabelecer quem faz uso desse falar, em que circunstâncias
ele ocorre e por que ele ocorre. Podemos dizer também que, em relação ao tipo de estrutura
envolvida, esse estudo é qualitativo, ao verificarmos os tipos de palavras e aspectos
envolvidos na mixagem feita pelos brasileiros nos EUA.
Estamos trabalhando também com uma metodologia quantitativa, que envolve
números e estatísticas, já que a sociolinguística variacionista é uma ciência empírica, que
trabalha com dados reais da fala. Para essa metodologia, o fator quantitativo é determinante
para caracterizar uma variação.
A etapa seguinte constituiu a análise dos dados com o intuito de enumerar e discutir
os fatores linguísticos e extralinguísticos que influenciam o fenômeno em estudo. Essa análise
consistiu em usar os dados como argumento em favor das hipóteses levantadas e não como
mera ilustração. Há vários testes disponíveis que podem apontar os fatores significativos para
a análise. Utilizamos para o tratamento estatístico dos dados desta pesquisa o teste estatístico
Chi-square (Qui-quadrado).
Em um segundo momento, uma perspectiva mais quantitativa analisou
estatisticamente os dados retirados do corpus deste trabalho.
Ao contrário de outras correntes linguísticas, o variacionismo parte do pressuposto de
que a heterogeneidade manifestada na fala pode ser analisada de forma consistente. O
pesquisador deve, portanto, desprezar a tentação de confiar em suas próprias intuições e
exemplos construídos por ele próprio para, em vez disso, segundo Monteiro (2008), colher
80

uma boa quantidade de dados numa comunidade. Tais dados são, posteriormente, submetidos
a análises estatísticas para a testagem de suas hipóteses.
Baseado em suas próprias experiências e nas experiências de Gumperz (1964), Labov
(1966) desenvolveu alguns axiomas metodológicos em relação à pesquisa de campo, a saber:

 Não há falantes que usem apenas um estilo;


 Os estilos podem variar de acordo com a atenção que se dedica ao discurso;
 O vernáculo, onde se percebe atenção mínima à fala, fornece os dados mais
sistemáticos para a análise linguística. Para ele, vernáculo é o modo de falar adquirido durante
a pré-adolescência, tendo um caráter bastante regular.
 Qualquer observação sistemática de um falante define um contexto formal em que
mais do que a atenção mínima é dedicada à fala. Portanto, não é de se esperar que o vernáculo
não apareça na maior parte de uma entrevista face-a-face, não importando o grau de
informalidade do informante. Devemos ter em mente que muitas variáveis linguísticas
aparecerão apenas quando não houver um observador presente;
 As entrevistas face-a-face são o único meio de se obter o volume e qualidade de
registros necessários a uma análise quantitativa confiável.

Labov (1966) atenta para o problema do “Observer´s Paradox”, ou seja, os


informantes devem ser observados quando falam, entretanto eles só usarão o vernáculo
quando sentirem que não estão sendo observados, o que é conhecido em outras áreas como o
“Efeito do Experimentador”. Como todos os métodos citados apresentavam problemas, e com
o objetivo de minimizar as limitações, Labov decidiu combinar as abordagens para obter a
melhor solução para o impasse.
Monteiro (2008), ao analisar o trabalho investigativo de Labov, coloca uma série de
questões de ordem prática que foram também consideradas em nossa pesquisa, tais como:

 Qual o tipo de comunidade de fala?


 Que dialetos existem e quais deles interessam ao investigador?
 Quais as fronteiras que delimitam essa comunidade?
 Quais as características dessa comunidade? Rural, urbana, industrializada?
 Quantos informantes serão necessários para a composição da amostra?
 Como entrar em contato com os informantes?
81

O tipo de comunidade de fala que nos interessava era a comunidade de brasileiros


imigrantes vivendo no entorno de New York e Boston, falantes nativos de português
brasileiro, mas usuários de inovações lexicais em sua fala do dia-a-dia.
A seguir, enumeramos respostas de nossa pesquisa às inquisições relacionadas por
Monteiro (2008) baseadas em Labov (1966), que estão exibidas acima.

 Estudos em comunidades: as pesquisas sociolinguísticas originais enumeravam a


população, selecionando indivíduos ou casas, aleatoriamente, dentro daquela população,
entrevistando, então, cada um por um instrumento padrão. O estudo pode ser estratificado se
selecionarmos indivíduos por gênero, idade, classe ou etnia para obter uma representatividade
de todos os tipos. No presente estudo, a estratificação foi feita em termos de gênero e idade,
já que os demais fatores (classe social, grau de escolaridade, tempo de residência nos EUA,
idade em que iniciaram a aprendizagem de inglês) são as demais variáveis não-estruturais
consideradas neste estudo.
 A seleção de uma comunidade: A seleção constrói uma amostra da cidade em seu
sentido mais amplo. Para isso, os critérios de seleção devem contemplar grupos sociais,
residenciais e étnicos que sejam representativos da cidade. A seleção do presente estudo foi
feita com auxílio do co-orientador nos EUA, tendo-se o cuidado de escolher grupos
representativos da comunidade brasileira dentro das cidades de Newark, Mount Kisco e Cape
Cod.
 A entrada na comunidade: Duas estratégias básicas devem ser utilizadas, sendo a
primeira o contato com indivíduos ou pequenos grupos disponíveis para interação e a segunda
por meio de pessoas com posições centralmente estratégicas em instituições sociais locais,
como estabelecimentos comerciais, escolas e igrejas. Em comunidades de classe média,
observou-se que a segunda abordagem foi mais bem-sucedida, enquanto que em comunidades
de classe trabalhadora, a aproximação informal obteve mais sucesso. A pesquisa em questão
obteve mais sucesso também se utilizando da abordagem “conversa casual” com membros da
comunidade. Essas comunidades costumam fazer uso de jornais e informativos que
mencionam pessoas influentes na comunidade local e eventos em que uma conversa informal
pode acontecer. Como sou brasileira, isso minimizou os efeitos do “observer´s paradox”
(Efeito do Experimentador) mencionado por Labov (1966).

Os brasileiros se comunicam entre si falando o português vernáculo e o português


colorido com as inovações lexicais realizadas pela maioria deles.
82

Pode-se dizer que as fronteiras geográficas que delimitam essas comunidades são as
cidades e estados periféricos a New York e Boston. Tentamos concentrar o estudo em Newark,
New Jersey, Mount Kisco, New York e Cape Cod, Massachussetts.

Figura 1: Ironbound, Newark, NJ – Fonte: Wikipedia

Newark é a maior cidade do estado americano de Nova Jersey, e uma das principais
cidades da Região Metropolitana de New York. A menor das 100 mais populosas cidades
norte-americanas, Newark possui uma área de 63 km², onde moram aproximadamente 273 mil
habitantes, com uma densidade populacional de 4.400/ Km². Um dado interessante é que, na
cidade de Newark, existe um bairro operário chamado "Ironbound", onde há uma enorme
concentração de portugueses, brasileiros e mais recentemente um enorme fluxo de sul-
americanos oriundos em sua maioria do Equador, além de uma grande concentração de
Mexicanos. É um bairro onde o idioma inglês é pouco ouvido, devido à grande concentração
dos idiomas português e espanhol. No bairro citado, a principal rua é a Ferry Street, que sai da
Wilson Avenue e vai até a outra extremidade da cidade, terminando praticamente dentro da
estação de trem chamada PennStation. Newark é um moderno centro comercial, industrial e
financeiro, e onde está localizado o segundo principal aeroporto da zona metropolitana de
New York, que movimenta quase 30 milhões de passageiros anualmente.
Trata-se de comunidades inseridas em cidades pequenas, onde o aluguel em geral é
mais acessível, possibilitando a vida dos brasileiros imigrantes que trabalham em New York e
83

precisam se deslocar até lá, sendo, portanto, não tão onerosas que não possam ser pagas e nem
tão distantes que não ofereçam condições de deslocamento diário.
Como mencionado anteriormente, o nosso estudo foi feito a partir de entrevistas
sociolinguísticas realizadas de acordo com sugestões do orientador no Brasil e do co-
orientador nos EUA. As comunidades de fala escolhidas para tal foram Newark, NJ, reduto
dos brasileiros em busca de trabalho na região de New York, Mount Kisco, N.Y. e Cape Cod,
Massachussetts.

Figura 2: Mapa Da Baía de Cape Cod – Fonte:


HTTP://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/FICHEIRO:CAPE_COD_BAY_MAP.PN

Cape Cod é uma península que forma a Baía de Cape Cod, localizada no extremo leste
do estado de Massachusetts. É um dos pontos turísticos mais visitados dos Estados Unidos da
América durante os meses de verão, por causa de suas praias, o que aumenta
significativamente sua população de 230 mil habitantes para um número flutuante superior a
meio milhão neste período. Um total de 20% das entrevistas foram realizadas em Cape Cod,
localizado a cerca de 1h de Boston, Massachussets.
Entretanto, a maioria das entrevistas foi feita em Newark. Essa cidade oferece
possibilidades de moradia mais econômica e é possível que a presença massiva da
comunidade portuguesa radicada lá, tenha atraído uma quantidade também massiva de
brasileiros, provavelmente pela facilidade de se comunicar em português.
Elaborei um protocolo e agendei algumas entrevistas. A primeira entrevista foi na casa
de uma brasileira, diarista, em uma cidade satélite de New York, chamada Mount Kisco. Nesse
84

mesmo dia entrevistei outras quatro pessoas, perfazendo um total de cinco no primeiro dia. As
demais entrevistas foram feitas no salão de beleza e em casas de amigos.
Observando que as entrevistas, frequentemente, não me propiciavam as evidências que
eu buscava, conversei com meu co-orientador a esse respeito. Segundo ele, o fato de eu ser
uma brasileira que não fazia parte da rotina de vida e trabalho que os brasileiros imigrantes
compartilhavam entre si, sendo eu uma pesquisadora de doutorado, isso acabava inibindo o
uso das inovações lexicais que eles usavam uns com os outros diariamente. Eu ficava, às
vezes, ouvindo conversas de brasileiros e detectava várias evidências de uso das inovações
lexicais que estava pesquisando. Entretanto, ao responder as minhas perguntas, essas
inovações, muitas vezes não apareciam na fala deles.
Chegamos à conclusão, Dr. Otheguy e eu, de que eu deveria fazer uso também de
outros recursos, tais como listas de “disponibilidade léxica” em que eu pedisse aos
entrevistados que citassem palavras que eles usavam em seu trabalho e atividades diárias nos
EUA. Pedir que eles citassem palavras relacionadas ao seu trabalho funcionou relativamente
bem, mas o que realmente obteve um bom resultado foi uma ferramenta que eu acabei
desenvolvendo por conta própria: elaborei uma lista de palavras que evidenciavam a
ocorrência das inovações lexicais nos EUA, que exibiam palavras tais como “parkear”,
“bisado”, “cashar”, entre outras. Os informantes deveriam assinalar aquelas que já haviam
ouvido ou das quais faziam uso. Essa atividade me pareceu produtiva, pois eram palavras que
eu já havia detectado na fala dos brasileiros. A essa lista, acrescentei palavras criadas por
mim, porém que faziam uso das mesmas estratégias de inovação lexical. Usei-as como “grupo
de controle”, um “placebo” que me traria informações de que estaria no caminho certo, caso
eles marcassem apenas as palavras que realmente já faziam parte do repertório dos brasileiros,
e não marcassem as pseudo-inovações criadas por mim.
Isso funcionou muito bem. Os brasileiros marcaram as palavras que já haviam ouvido
ou usado. No capítulo relativo à análise dos dados, página 169, uma cópia dessa lista pode ser
encontrada.
Não consegui, entretanto, fazer com que todos os entrevistados lessem e marcassem
essa lista, pois perdi o contato com muitos deles, que moravam em outras cidades ou haviam
voltado ao Brasil.
Apresentaremos, a seguir, considerações acerca da coleta de dados em sociolinguística
variacionista e, mais especificamente acerca da coleta de dados realizada nesta pesquisa.

3.1. Coleta de dados


85

... cabe [ao linguista] a responsabilidade de descobrir quais são os fatores


relevantes, de levantar e codificar dados empíricos corretamente, e, sobretudo, de
interpretar os resultados numéricos dentro de uma visão teórica da língua.. (NARO,
2003, p. 25)

Nas palavras de Guy (1993), o objetivo principal do estudo quantitativo numa


pesquisa dialetal não é o de produzir números, mas identificar e explicar fenômenos
linguísticos. Para isso, precisamos testar hipóteses, comparar análises alternativas e
desenvolver modelos de dados através dos quais possamos fazer previsões.
Tendo decidido em relação aos procedimentos acima, é preciso refletir sobre o contato
e o número suficiente desses contatos para a coleta dos dados. Basicamente existem três tipos
de contato: interações livres, entrevistas e testes, segundo Oliveira e Silva (2003). Campoy
(2005) apresenta outras alternativas como enquetes e questionários postais, eletrônicos e
presenciais.
Campoy (2005) aborda também alguns tipos possíveis de entrevistas (individual
programada, anônima fugaz e telefônica) e de testes (de disponibilidade léxica e de escalas de
nível). Cada um desses contatos possui vantagens e desvantagens, portanto, essa seleção
dependerá do fenômeno a ser estudado em cada pesquisa.
Os procedimentos para a coleta de dados foram idealizados juntamente com o
orientador no Brasil e o co-orientador nos EUA. Utilizamos o questionário baseado em
Otheguy e Zentella, onde o perfil sociolinguístico do informante pôde ser detectado.
O segundo procedimento foi a entrevista sociolinguística, gravada com equipamento
cedido pela CUNY (City University of New York) com entrada USB para digitalização.
A Entrevista Sociolinguística: A primeira conversa com um membro da comunidade-
alvo deve seguir um protocolo que advém de pesquisas sociolinguísticas (cf. Labov, 1966;
Shy, Wolfram and Riley, 1968; e Labov, Cohen and Robins, 1965).
Os objetivos dessa entrevista são:

 Registrar com razoável fidelidade de 1 a 2 horas de cada falante.


 Obter os dados demográficos necessários para análise dos padrões sociolinguísticos
(idade, residência, escola, ocupação, língua, localização, relacionamentos, renda,
associações).
 Obter respostas comparáveis a questões que definem atitudes contrastivas e
experiências entre subculturas.
 Estimular narrativas de experiências pessoais, onde se revelam estilos comunitários e o
estilo tende a mudar para o vernáculo.
86

 Estimular interação entre os participantes, onde as normas da comunidade geralmente


são reveladas, e o estilo também tende a mudar para o vernáculo.
 Detectar, dentre vários tópicos, aqueles de maior interesse para o informante,
estimulando-o/a a definir o tópico.
 Traçar os padrões de comunicação entre os membros da comunidade, estabelecendo
sua posição na rede de comunicação.
 Obter um registro de atitudes observáveis em relação à língua, características e
estereótipos linguísticos.
 Obter informações específicas de estruturas linguísticas através de citação formal.
 Executar experiências de campo em reações subjetivas em relação à percepção de
formas linguísticas (pares mínimos e testes de comunicação, auto-relatos, testes de reação
subjetiva e testes de história familiar).

O terceiro procedimento foi o uso de uma lista de palavras e expressões que denotam a
ocorrência das inovações lexicais em questão. Os informantes deveriam marcar aquelas que já
haviam usado e/ou testemunhado. Essa lista foi uma adaptação dos recursos de
disponibilidade léxica sugerida pelo co-orientador, Dr. Ricardo Otheguy.
Faremos, a seguir, uma exposição acerca de como a amostra de nossa pesquisa foi
determinada.

3.2. A determinação da amostra

Toda questão de pesquisa define um universo de objetos aos quais os resultados do


estudo deverão ser aplicados. A população-alvo, também chamada população estudada, é
composta de elementos distintos possuindo determinado número de características comuns
(pelo menos uma). Essa característica comum deve delimitar inequivocamente quais são os
elementos que pertencem à população e quais são aqueles que não pertencem. Esses
elementos, chamados de unidades populacionais, são as unidades de análise sobre as quais
serão recolhidas as informações.
Uma amostra é um subconjunto de indivíduos da população-alvo. Existem dois tipos
de amostras, as probabilísticas, baseadas nas leis de probabilidades, e as amostras não-
probabilísticas, que tentam reproduzir o mais fielmente possível a população alvo. Entretanto,
somente as amostras probabilísticas podem, por definição, originar uma generalização
87

estatística, apoiada no cálculo de probabilidades e permitir a utilização da inferência


estatística.
O número da amostra deve, segundo Silva (2003), depender da homogeneidade da
população, do número de variáveis pesquisadas, do fenômeno, do método e, é claro, do
orçamento disponível.
Podemos afirmar, contudo, que qualquer tipo de contato exige recursos tecnológicos e
uma preparação prévia, principalmente no caso de entrevistas em que o pesquisador entra em
contato direto com os informantes. Como o objetivo da Sociolinguística é observar a fala no
cotidiano, deve-se ter muito cuidado para que a fala em observação não seja artificial.
Captar uma fala natural é um dos maiores desafios encontrados pelo pesquisador, uma
vez que este faz uso de recursos tecnológicos como o gravador. Sabemos que a utilização
desse equipamento inibe de imediato o entrevistado, que passa a se preocupar mais com a sua
fala, tentando evitar os “desvios”. Nesse momento, o pesquisador encontra-se no paradoxo do
observador: “o objetivo da pesquisa linguística na comunidade deve ser descobrir como as
pessoas falam quando não estão sendo observadas – no entanto, só podemos obter tais dados
por meio da observação sistemática” como bem lembra Labov (2008, p.244). Obviamente,
esse fato se agrava, caso o entrevistador seja uma pessoa desconhecida dentro da comunidade
em estudo.
Portanto, o pesquisador deve tomar uma série de cuidados para conseguir registrar
uma fala que seja a mais natural possível. Uma técnica para conseguir isso é ter contato com
os informantes antes da realização da coleta de dados. Isso contribuirá para uma maior
familiarização com a comunidade e permitirá que o pesquisador possa comparar as falas, sem
e com o uso de equipamentos que possam registrá-las.
Uma segunda tradição dos métodos de pesquisa de campo dentro dos estudos de
sociolinguística originou-se nos trabalhos de Gumperz (1964), que se utilizou de técnicas de
observação participante a fim de obter amostras registradas de interação de grupos. Não
utilizamos o método de observação participante em nossa pesquisa.
A seleção dos informantes, normalmente, é aleatória. O método aleatório simples parte
do princípio de que “todos os indivíduos têm exatamente igual probabilidade de escolha”,
segundo Oliveira e Silva (2003, p.124). Já a aleatória estratificada separa a amostra, dividindo
a população em células “compostas, cada uma, de indivíduos com as mesmas características
sociais”. O número recomendável de indivíduos por célula é de 5 informantes, dependendo, é
claro, da extensão da comunidade. Portanto, para a variável gênero, por exemplo, teremos 10
falantes, 5 do gênero feminino e 5 do masculino.
88

O tamanho da amostra deve considerar também o número de categorias ou células.


Como este estudo incide sobre um grupo social distribuído em função de gênero e idade,
desenhamos as seguintes combinações:

 Masculino da 1ª faixa etária - 07 a 15 (jovens)


 Masculino da 2ª faixa etária - 16 a 30 (jovens adultos)
 Masculino da 3ª faixa etária – 31+ (adultos)
 Feminino da 1ª faixa etária - 07 a 15 (jovens)
 Feminino da 2ª faixa etária - 16 a 30 (jovens adultos)
 Feminino da 3ª faixa etária - 31 + (adultos)

Muitos estudiosos, incluindo-se aí Tarallo (1986), sugeriram que o número ideal por
célula seria de cinco informantes, advindo daí a determinação do tamanho de nossa amostra.
Torna-se necessário, nesse ponto, fazermos um aparte para relatarmos como o acaso,
às vezes, tem um papel importante nas pesquisas. Ao chegarmos a New York, antes de
conseguirmos um apartamento para morar, ficaríamos uns dias com alguns amigos. O
apartamento deles, entretanto, não estava em condições de receber mais uma família e, assim,
acabamos sendo hospedados por amigos desse nosso amigo, que tinham uma casa maior e em
condições de nos acomodar por alguns dias. Nossos anfitriões, para minha felicidade, tinham
um salão de beleza em Newark (Salão Brazil) que só atendia ao público brasileiro. O salão
tornou-se, então, a minha maior fonte de informantes.
As entrevistas in loco são mais recomendáveis que as feitas por correspondência ou
online, pois durante essas entrevistas ocorre o desejável “mergulho na comunidade”, que
transforma o pesquisador em parte da paisagem, desfazendo as possíveis e prováveis inibições
do informante, ameaçado pela presença do estranho que lhe pergunta coisas da sua vida e
profissão. Normalmente, os entrevistadores são confundidos com informantes do governo,
indesejáveis na comunidade, principalmente em se tratando de imigrantes ilegais.
O questionário que se destina à investigação dialetal deve ser elaborado segundo o
que se pretende atingir: ao se buscar um levantamento geral das características dialetais da
região, o questionário deve ser amplo e abrangente, abordando as diferentes áreas semânticas
que informam e recortam o universo biossocial do pesquisado.
Em nossa pesquisa, os informantes foram selecionados de acordo com os critérios que
evidenciam a pesquisa: trabalhadores braçais, culturalmente desengajados da cultura
americana e não fluentes na língua inglesa. Isso foi feito utilizando-se eventos comunicativos
reais, sempre que possível.
A comunidade foi escolhida conforme sugestões do orientador no Brasil e do co-
orientador nos EUA, considerando-se os estudos de Labov (1966) e Milroy (1980) em relação
a esse tema. Uma entrevista-piloto foi feita, em primeiro lugar, com o objetivo de apurar as
89

condições de realização do estudo e prever possíveis falhas durante a aplicação das


entrevistas. A entrevista-piloto, que teve um protocolo baseado em Labov (1966), foi aplicada
a uma célula composta de cinco informantes.
Após análise da entrevista-piloto e ajustes que se fizeram necessários, a entrevista
baseada em Labov (1966) foi aplicada. A entrevista sociolinguística teve apenas a parte
informal baseada em Labov (1966), já que não se pode extrair um “vernáculo” da interlíngua
dos brasileiros desterrados, pelo menos dos adultos, que já eram falantes nativos de português
antes de emigrarem para os EUA. A entrevista foi, na verdade, uma conversa casual com um
script previamente selecionado pela entrevistadora, visando produzir as inovações lexicais
utilizadas pelos brasileiros. Para isso, bastou introduzir o tópico “trabalho”, por exemplo, e as
inovações lexicais se manifestaram naturalmente.
Essa foi a forma mais adequada de se coletar dados para esta pesquisa. Segundo Perini
(2007),

a exigência de exaustividade (na medida do possível) é importante para evitar a


seleção de evidência, voluntária ou involuntária, que constitui uma das pragas da
metodologia linguística atual. O pesquisador, na preocupação de encontrar
evidência que corrobore sua teoria, seleciona dados favoráveis com muito mais
energia do que a que utiliza na procura de dados desfavoráveis, apresentando,
dessa maneira uma imagem deformada da realidade linguística em estudo.
(PERINI, 2007).

Uma etapa posterior foi dedicada à transcrição das entrevistas e estudo detalhado dos
aspectos fonológicos, sintáticos, morfológicos, semânticos e pragmáticos do corpus coletado,
incluindo-se aí a análise das causas de ocorrência e circunstâncias que promovem as variações
que verificamos. Ao analisarmos esses aspectos dos dados coletados fizemos uma
contribuição para o estudo da linguística, no sentido de compreendermos o que acontece
quando duas línguas entram em contato tão direto.
Uma pesquisa muitas vezes suscita muito mais perguntas que respostas. A conclusão
do trabalho pode acabar revelando aberturas a novas propostas. A pesquisa em questão
caracterizou-se como um estudo das atitudes linguísticas de brasileiros vivendo em um país
estrangeiro, dentro de seu próprio contexto linguístico. Foi dado um tratamento inovador à
questão da variação linguística ao abordarmos o fenômeno sob o ponto de vista dos usuários
comuns da língua, o que revelou valores e representações que parecem estar na base do
processo de construção de uma identidade linguística por parte dos usuários.
Sabemos que uma das tarefas da sociolinguística é descrever as línguas em sua
diversidade funcional e social. No modelo laboviano, a opção de pesquisa tem sido a análise
quantitativa da fala de um grupo de indivíduos, isso porque o vernáculo é a propriedade de um
90

grupo, não de um indivíduo. A preocupação do investigador é, então, descrever uma variedade


linguística, cujo problema maior é estabelecer suas fronteiras.
Após a análise do corpus, foi realizado um estudo que apontou as circunstâncias que
levam à criação e manutenção desse tipo de inovação lexical procurando resolver a seguinte
questão: uma vez criada, o que favorece ou inibe a sua utilização? Sendo um estudo de
natureza empírica e lidando exclusivamente com dados coletados a partir de entrevistas com
os informantes, formalizou-se algo que já era de conhecimento tácito dos brasileiros
imigrantes nos EUA. Além de trazer esse assunto de natureza prática à academia, procuramos
detectar as causas e as características das inovações lexicais realizadas pelos brasileiros
imigrantes nos EUA.
91

4 ANÁLISE DOS DADOS

...minha dívida mais profunda é para com os muitos falantes de inglês que me
convidaram às suas casas, compartilharam comigo suas varandas, suas esquinas de
rua e seus bancos de praça, que se desviaram de outros afazeres para conversar,
transformando suas próprias experiências em linguagem para o meu benefício.
(LABOV 2008)

4.1. Introdução

Passamos, agora, à análise quantitativa e qualitativa dos dados desta tese. Para isso,
faremos primeiramente um apanhado sobre o paradigma quantitativo da sociolinguística.
Descreveremos, então, os procedimentos adotados na análise e, depois disso, faremos
uma descrição das peculiaridades sócio-demográficas dos informantes.
O próximo passo será uma descrição sobre o que entendemos em relação às inovações
lexicais. Por ser um assunto que suscita terminologias diferentes e pontos de vista de autores
diferentes, decidimos abordar esse tópico nesta parte da pesquisa, onde lidamos diretamente
com os dados.
Passamos, no próximo subseção, ao tratamento estatístico realizado com os dados
desta pesquisa.
A próxima etapa constitui a análise dos dados com o intuito de observar quais os
fatores linguísticos e extralinguísticos podem estar influenciando a fala da comunidade
linguística em estudo.
O paradigma quantitativo originou-se em sociolinguística com os estudos de Labov
em New York e Filadélfia nos anos 60 e 70, segundo Bayley (1996). Essa abordagem ao
estudo de línguas em uma comunidade foi, posteriormente, estendida a várias comunidades
linguísticas pelo mundo afora, incluindo-se aí o Panamá com Cedergreen (1973), Norwich, na
Inglaterra com Trudgill (1974), Guiana com Rickford (1987) e Rio de Janeiro, com Guy
(1981).
Os princípios-chave que norteiam o paradigma quantitativo da sociolinguística são,
segundo Bayley (2002), o “Princípio da Modelagem Quantitativa” e o “Princípio das Causas
Múltiplas”. O primeiro afirma que podemos examinar atentamente as formas que a variável
92

pode tomar e observamos que características contextuais (ambiente linguístico que envolve a
variável e os fenômenos sociais que a circundam) co-ocorrem junto a essa variação.
Já o segundo princípio, o “Princípio das causas múltiplas”, afirma que um único fator
contextual não pode ser responsável por uma variável linguística, havendo, geralmente, várias
causas, tanto linguísticas quanto extralinguísticas, que podem explicar uma variação.
Para Guy (1991), além dos princípios mencionados por Bayley (2002), devemos
também considerar as diferenças inerentes ao próprio indivíduo, que podem diferir quanto à
taxa de uso de uma regra variável, por exemplo, e que os indivíduos considerados devem
pertencer à mesma comunidade de fala, apresentando, desse modo valores idênticos ou
similares às variáveis em questão.
Em suma, o paradigma quantitativo da sociolinguística demonstra a natureza
sistemática das variações linguísticas que se acreditava aleatória. Além disso, as pesquisas
têm mostrado que as formas linguísticas variáveis são regidas por múltiplos fatores externos e
internos e que os padrões individuais tendem a se igualar aos padrões comunitários. Isso foi
conseguido através de métodos de pesquisa que passaram de linguisticamente intuitivos a
compilações de interações reais com os falantes da comunidade linguística.
Sob essa perspectiva, ressaltamos que a presente pesquisa tem como base a análise
quantitativa e qualitativa de dados de fala obtidos a partir da orientação dos pressupostos
teórico-metodológicos da Teoria da Variação ou Sociolinguística Variacionista (LABOV,
1972).
Entrevistamos 30 informantes, 15 do gênero feminino e 15 do gênero masculino, todos
brasileiros imigrantes nos Estados Unidos da América. Como anteriormente mencionado, a
maioria dos entrevistados eram moradores de Newark, New Jersey; outros eram moradores de
Mount kisco, New York e Cape Cod, Massachussetts.
Os informantes desta pesquisa estão descritos como 1F, 2F, 3F....15F, para as mulheres
e 1M, 2M, 3M.....15M, para os homens, perfazendo um total de 30 informantes, um número
considerado razoável para um estudo de base qualitativa e quantitativa.
Todas as entrevistas dos 30 informantes foram ouvidas e transcritas, sendo
posteriormente analisadas e colocadas em tabelas onde foi contabilizada a ocorrência das
inovações lexicais.
As idades dos informantes deste estudo variaram entre 12 e 58 anos. Dois dos
informantes nasceram nos EUA, 4M e 9F, sendo americanos, porém considerados para esta
pesquisa como brasileiros de segunda geração. Ambos passaram pelo menos um ano no
Brasil, mas 9F, de 12 anos, consegue se comunicar em português com muito mais
93

desenvoltura que 4M, de 18. Esses dois informantes têm proficiência nativa em inglês.
Durante a entrevista, 4M falou 70% em inglês e 30% em português e não usou nenhuma
inovação lexical. Quando perguntado a respeito de que língua usava em casa, ele alegou falar
inglês com os pais, que falam muito pouco inglês, mas disse entender o português que os pais
falam com ele. Disse já ter observado o uso das inovações entre brasileiros, mas declarou não
fazer uso delas, pessoalmente. Relatou, entretanto, usar expressões traduzidas literalmente de
português, tais como: “cara” referindo-se a um rapaz. No caso, ele dizia: “face”, e seus
interlocutores brasileiros notaram que não fazia nenhum sentido usar isso em inglês. Já 9F
falou sempre em português e nenhuma inovação lexical foi detectada, a não ser quando ela
mencionou alguns episódios em que uma influência de inglês fez com que ela cometesse erros
ao falar português com a avó brasileira, por exemplo, “minha mãe tá muito depressionada”,
“...ela está obsessiva com isso!”
Alguns dos entrevistados eram fluentes em inglês e português, como foi o caso de 6F,
7F, 8F,11F, 12F, 13F, 14F, 15F, 5M, 11M e 15M. Observamos que apenas três informantes do
gênero masculino eram fluentes em inglês, enquanto oito informantes do gênero feminino
eram fluentes. O informante 5M nasceu no Brasil e foi para os EUA com 7 anos, sempre
frequentando a escola americana, inclusive o curso superior. Ele trabalha com americanos e
fala um português muito bom para quem vive fora há tanto tempo, já que ele tem agora 30
anos. Um uso restrito de inovações lexicais foi observado em sua fala. Podemos dizer que ele
seria um exemplo de bilíngue equivalente, que domina, segundo Li Wei (2000), as duas
línguas de modo equilibrado.
Estamos trabalhando com uma metodologia quantitativa, que envolve números e
estatísticas, já que a sociolinguística variacionista é uma ciência empírica, que trabalha com
dados reais da fala. De acordo com essa metodologia, o fator quantitativo é determinante para
caracterizar uma variação. Por outro lado, a metodologia qualitativa não é descartada, uma
vez que também nos utilizamos dela para interpretar os dados desta pesquisa. O Teste Qui-
Quadrado (Chi-square) foi usado para apontar os fatores significativos para a análise.
Em termos de classe social, podemos dizer que a maioria dos informantes pertenciam
à mesma classe social, classe trabalhadora baixa, nos EUA, com exceção de alguns
informantes, 2M, 5F, 6F, 7F e 11F que gozavam de uma situação um pouco mais confortável,
tinham uma empresa, uma boa casa, carros novos na garagem, um barco e outras amenidades,
e 14F, que tinha um trabalho de nível superior, o que lhe garantia um certo prestígio social.
Coincidência ou não, 5F, 6F, 7F, e 11F fazem parte da mesma família, sendo que os pais
desejam ser aceitos pela sociedade americana. Talvez sejam, dentre os informantes, os únicos
94

brasileiros que desejam permanecer nos EUA, já que a maioria dos brasileiros tem intenção de
ganhar bastante dinheiro lá e voltar para investir no Brasil.
Em relação às classes sociais estabelecidas nesta pesquisa, é necessário esclarecer
que, na verdade, não estamos falando de classe alta, média e baixa nos padrões americanos. A
categorização dessas classes foi feita para brasileiros imigrantes em relação a outros
brasileiros imigrantes vivendo nos EUA. Em nossa pesquisa, a maioria brasileiros era de
classe trabalhadora baixa.
Os informantes 5M, 7M e 12M também tinham uma situação sócio-econômica mais
confortável. 5M tinha um bom trabalho como administrador, exercendo a profissão dentro da
área em que se especializou. 7M e 12M eram proprietários de um salão de beleza e tinham
outros imóveis nos EUA, também.
Para Guy (1988), embora a estratificação social seja um tanto quanto óbvia, defini-la
de modo objetivo apresenta um problema. Segundo ele, a questão do “prestígio” se refere à
quantidade de respeito e deferência que um indivíduo inspira em seus semelhantes, e “poder”
se refere aos recursos materiais e sociais que o indivíduo detém e à sua capacidade de tomar
decisões e influenciar eventos. Entre os fatores sócio-demográficos que parecem influenciar o
favorecimento de uma variante em detrimento de outra, as categorias mais atuantes parecem
ser idade, gênero, nível sócio-econômico e formação escolar. Por isso, codificamos os
informantes de acordo com suas condições sócio-demográficas_gênero, idade, tempo de
residência nos EUA, nível de escolaridade, proficiência em língua inglesa, idade de início da
aprendizagem, classe social e atividades desempenhadas nos EUA.
Outros fatores sócio-demográficos que parecem se destacar em alguns fenômenos
variáveis são a posição do falante no mercado de trabalho e sua interação com a mídia,
segundo Naro (2007). Entretanto, não foi possível observarmos esses fenômenos em relação
aos nossos informantes.

4.2. O uso de empréstimos e calques para análise

Muitas características de um indivíduo parecem afetar seu comportamento em relação


ao uso de inovações lexicais. Estudos anteriores sugerem que alguns desses fatores sejam
gênero, idade, nível de escolaridade, proficiência na língua-alvo e também as normas da
comunidade de fala onde ele reside, (Cf. Poplack, Sankoff e Miller, 1988). Nesta seção,
investigaremos cada um desses fatores a fim de determinarmos quais deles são preditivos de
taxas de uso Inovações Lexicais (em termos de tipos de inovações) e/ou padrões (empréstimos
ou calques).
95

Como foi observado no capítulo relativo ao quadro teórico, há muita discrepância em


relação à taxonomia usada para analisar as inovações lexicais resultantes de contato entre
línguas. Resolvemos optar por uma classificação que nos pareceu mais transparente e que
oferecia, portanto, mais visibilidade em relação a essas inovações lexicais. Optamos pela
classificação utilizada por Otheguy e Garcia (1988), que estratifica as inovações em termos
de: empréstimos, calques fonologicamente mixados, calques fonologicamente independentes
e calques frasais.
Tanto Haugen (1950) quanto Weinreich (1953) distinguiram os empréstimos das
demais inovações lexicais de outros tipos de contato linguístico, sendo que Weinreich
distinguia “transferência” de “modelagem”. Por “transferência” entende-se a importação de
elementos da língua-fonte e “modelagem” consiste em se usarem termos da língua nativa na
reprodução de padrões da língua-alvo. Weinreich distinguia as modelagens de palavras
simples e compostas. As simples eram chamadas “extensões semânticas” e as compostas eram
chamadas “traduções emprestadas” (loan translations). Já Haugen (1978) optou por um termo
somente, tratando ambos os casos de modelagem como “loanshifts” ou “trocas emprestadas”
(tradução nossa).
Como essa taxonomia se provasse um tanto obscura e confusa, classificamos as
inovações lexicais em dois grupos: os “empréstimos” e os “calques”, sendo que os calques
englobam os conceitos de “extensões semânticas” e “traduções emprestadas” de Weinreich.
Os “empréstimos” estão para a Transferência assim como os “calques” estão para a
Modelagem, usando-se uma linguagem mais matemática.
Um “calque” ou “tradução emprestada” é uma palavra ou frase emprestada de outra
língua, literalmente, palavra por palavra (do latim: "verbum pro verbo") ou tradução da raiz.
Como exemplo temos “arranha-céu” como tradução literal de “skyscraper”, que vem do
inglês. Os calques são divididos em “calques de palavras” e “calques frasais”.
Os “calques de palavra” são, por sua vez, subdivididos em “calques fonologicamente
mixados” e “calques fonologicamente independentes”.
Como exemplos de empréstimos, temos palavras como “Marketing” e “show”, que
foram tomadas emprestadas do inglês por falta de palavras concisas que englobassem toda a
ideia contida nos vocábulos tal como eles foram concebidos no original.
Já como calques fonologicamente mixados temos “aplicar para um trabalho”, donde,
“aplicar” existe em português, porém com um sentido diferente do inglês, mas a semelhança
entre os termos em português e em inglês faz com que ele seja usado ao se falar o “português-
brasileiro dos EUA”, ou como alguns dos informantes o nomearam, o “Newarkês” ou
“Portuglês”.
96

O calque fonologicamente independente seria aquele que não guarda nenhuma


semelhança fonológica entre o termo na língua-alvo e o termo na língua nativa. Um exemplo
seria “isso pertence prá lá” como foi usado por uma das informantes para “it belongs there”.
Somente a ideia foi traduzida, mas de forma a apresentar também uma inovação lexical.
Já os calques frasais são expressões compostas de mais de uma palavra, em que todas
as palavras estão na língua nativa dos falantes, porém motivadas por uma expressão da língua-
alvo. Como exemplo disso temos “ele é suposto de fazer isso”, motivado por “He is supposed
to do that”.
Algumas previsões podem ser feitas a respeito dos fatores que afetam as variáveis em
estudo: a conscientização, a adoção, a aceitabilidade e a difusão dessas inovações lexicais.
Baseado nos estudos de Otheguy e Garcia (1988),verificamos que os fatores
explanatórios operacionais para o fenômeno são: a visibilidade do fenômeno (a capacidade de
o informante reconhecer uma inovação como tal) e o grau de desvio sistêmico da inovação
(ou seja, o quanto essas inovações se distanciam do sistema linguístico do português
brasileiro).

 A visibilidade tende a ser maior em relação às palavras do que em relação aos


significados. Notam-se mais problemas de pronúncia – sotaques, entonação, lapsos - do que
diferenças ligadas ao significado das palavras. Conclui-se, portanto, que a visibilidade é maior
em relação aos empréstimos que se configuram como palavras de origem inglesa, no caso. Por
conseguinte, a visibilidade incide em menor grau nos calques frasais, que não têm nenhuma
semelhança com o termo em inglês.

 O desvio sistêmico tende a ser maior em empréstimos linguísticos e menor em calques


frasais. Os empréstimos têm dois componentes de desvio, um da perspectiva do significante e
outro da perspectiva do significado. O significado apresenta uma “novidade” na língua
recipiente, e o significante é uma palavra de origem estrangeira, apresentando também uma
“novidade” na língua recipiente. Já os “calques de palavras” têm apenas um elemento de
desvio porque eles são formados de palavras do português brasileiro com significado
importado do inglês. Nesse caso, somente o significado apresenta “novidade” na língua
recipiente. É o caso de “realizar” com a acepção de “entender”. Os calques frasais, assim
como os calques de palavras, apresentam “novidade” também somente no nível semântico, já
que as palavras que os compõem são provenientes de português brasileiro.
97

Em termos de adoção e aceitabilidade podemos prever que as variáveis ocorrerão em


ordem crescente: em calques frasais, calques fonologicamente independentes, calques
mixados e empréstimos.
Elaboramos um Histograma de Frequência (fig.2, pág.94) com todos os informantes e
as inovações lexicais e verificamos que a incidência em maior número de ocorrências foi com
empréstimos de inglês, a maioria deles com alguma interferência fonológica de português.
Exemplos de empréstimos ocorridos foram “roomates”, “cable” e “prom”.

Gráfico 1: Histograma de Frequência Tipos De Inovação Lexical – Fonte: Dados da


Pesquisa

Em seguida vieram os calques mixados, em palavras como “parkear”,”bisado” ,


“beguinha” e “acento”. Esses exemplos ilustram os calques mixados ocorrendo como núcleo
do sintagma verbal (SV), núcleo do sintagma nominal (SN) e como adjetivo. Com relação à
colocação do adjetivo no sintagma, segundo a teoria de Borba (1996) os adjetivos ligam-se ao
nome, ou seja, ao substantivo de duas maneiras distintas, sendo uma ligada diretamente ao
nome, compondo um sintagma nominal (SN) e outra que se associa ao nome de maneira
indireta, onde o adjetivo é ligado ao nome através de um verbo-suporte (tipo copulativo) e
ocupando neste caso o núcleo do sintagma verbal (SV). Quando o adjetivo se liga ao nome de
maneira direta ocupa a posição adnominal (Padn) e quando de maneira indireta coloca-se em
98

posição predicativa (Ppred). Entretanto, a incidência maior das inovações lexicais foi no
núcleo dos Sintagmas Verbais (SV), sendo que ocorreu em apenas um adjetivo (Ppred) =
bisado = busy+ocupado e dois núcleos do Sintagma Nominal (SN)=beguinha= bag +sufixo–
inha(diminutivo),(SN)=acento.
Em terceiro lugar houve incidência de calques frasais ocorrendo em frases do tipo:
“me deixe saber” de “let me know”, “faço driver” de “I work as a driver”, “eu to indo prá
school tomorrow”, “eu trabalho pra mim , de “I work for myself”= eu sou autônomo
Em quarto e último lugar ocorreram os calques fonologicamente independentes, em
“ao alcance de fazer as terapias”=”available to do therapy”; “eu vou jogar uma festa” de
“I’m gonna throw a party”= Vou dar uma festa
Foi observado também que as inovações pareciam incidir com mais frequência sobre
certos campos semânticos específicos, ligados à atividade desempenhada pelo informante,
moradia, imigração e eletrodomésticos ou equipamentos de trabalho e locais públicos.
O campo semântico é o conjunto dos empregos de uma palavra em um determinado
contexto. Dessa forma, o campo semântico de uma determinada palavra é dado pelas diversas
nuances de significado que ela assume. As diversas acepções que essa palavra toma serão
dadas pelas relações dela com outras palavras do mesmo texto. A teoria dos campos
semânticos tem-se concentrado apenas em alguns grupos bem definidos como as cores, as
relações de parentesco, as experiências religiosas, etc. Segundo Stephen Ullman (1977), “a
teoria dos campos fornece um método valioso para abordar um problema difícil, mas de
crucial importância: a influência da linguagem no pensamento. Um campo semântico não
reflete apenas as ideias, os valores e as perspectivas da sociedade contemporânea; cristaliza-as
e perpetua-as também; transmite às gerações vindouras uma análise já elaborada da
experiência através da qual será visto o mundo, até que a análise se torne tão palpavelmente
inadequada e antiquada que todo o campo tenha de ser refeito.”
Como já mencionamos anteriormente, uma pesquisa dessa natureza pode suscitar mais
perguntas que respostas e abrir frentes para novas inquisições.

4.3. Tratamento Estatístico

Esta subseção aborda o tratamento estatístico dado a esta pesquisa. Faremos,


primeiramente, um apanhado sobre os métodos quantitativos utilizados em pesquisas
empíricas e estabeleceremos, posteriormente, as variáveis dependentes e independentes
99

estabelecidas neste estudo. Faremos uma descrição das inovações lexicais que estamos
estudando e terminaremos a subseção com uma tabela que classifica os informantes, em
relação aos seus dados sócio-demográficos.
Uma análise quantitativa pode ter quatro objetivos diferentes:

 Redução de dados – sumarização de tendências, captura de aspectos comuns de um


conjunto de observações tais como médias, desvio-padrão e correlações entre variáveis.

 Inferência – generalização de um conjunto representativo de observações a um


universo maior de observações possíveis usando testes de hipótese tais como o “t-test”, “Chi-
square” (qui-quadrado) ou Análise de Variância.

 Descoberta de relações – descobrir padrões causais em dados que podem ser descritos
em modelos de regressão múltipla ou em análises de fatores.

 Exploração de processos que podem ter uma base em probabilidade.

O problema crucial de redução dos dados é, segundo Guy (1993), descobrir um


sumário dos dados que minimize detalhes irrelevantes e apresente eficientemente um
panorama relevante aos interesses do pesquisador, sem que, para isso ocorra uma distorção
dos dados originais ou omissão de fatos importantes.
Para Bayley (1996), existem vários princípios teóricos subjacentes à adoção do
paradigma quantitativo em sociolinguística. O primeiro deles é o princípio da modelagem
quantitativa , segundo o qual, ao examinarmos atentamente a forma que a variável linguística
toma, podemos também observar as características de contexto em que co-ocorrem essas
variáveis. Por contexto, entende-se o ambiente linguístico que envolve o uso da variável e o
fenômeno social que co-ocorre com essa variável. Obtendo-se um conjunto suficiente de
dados, podemos inferir a co-ocorrência de uma forma variável e de quaisquer características
contextuais que nos interessam. Essas inferências expressam, em termos quantitativos, a força
de associação entre a característica contextual e a variável linguística.
O segundo princípio mencionado por Bayley (1996) é o princípio de causas múltiplas,
segundo o qual é altamente improvável que um único fator contextual seja responsável pela
ocorrência de uma variável linguística.
Guy (1991) estabelece dois outros princípios além dos mencionados acima: o
princípio de que falantes individuais podem diferir quanto à taxa básica de uso de uma regra
variável, ou seja, na probabilidade de uso da regra variável. O outro princípio estabelecido por
100

Guy (1991) é o de que os indivíduos devem ser semelhantes ou idênticos em termos de


valores estabelecidos como características de uso da regra variável, devendo pertencer a uma
mesma comunidade linguística.
A fim de analisarmos os dados quantitativos obtidos através das entrevistas, foram
estabelecidas, primeiramente, as variáveis dependentes e independentes do nosso estudo.
Variável é uma característica da população. Toda questão de pesquisa define um número de
construções teóricas que o pesquisador quer associar. O grau de operacionalização dessas
construções não faz parte de um consenso. Por essa razão, a seção que trata das definições das
variáveis deve permitir ao leitor avaliar a adequação dos instrumentos utilizados, as variáveis
escolhidas e as construções teóricas descritas no quadro conceitual.
As Variáveis Dependentes (VD) medem o fenômeno que se estuda e que se quer
explicar. São aquelas cujos efeitos são esperados de acordo com as causas. Elas se situam,
habitualmente, no fim do processo causal e são sempre definidas na hipótese ou na questão de
pesquisa. Uma hipótese é um enunciado formal das relações esperadas entre pelo menos uma
variável independente e uma variável dependente. Nas pesquisas exploratórias, as hipóteses
podem se tornar questões de pesquisa. Essas questões, devido a sua especificidade, devem dar
testemunho do trabalho conceitual efetuado pelo pesquisador e, pela sua clareza, permitir uma
resposta interpretável.

Estabelecemos, em segundo lugar, as variáveis independentes:

 A Variável Independente é aquela variável candidata a explicar a(s) variável(eis)


dependente(s), cujos efeitos queremos medir. Aqui devemos ter cuidado, pois mesmo
encontrando relação entre as variáveis isso, não necessariamente, significa relação causal.

 Como Variável Dependente definimos o fenômeno em questão: o uso das inovações


lexicais realizadas por brasileiros imigrantes nos EUA.

Sabemos que, para qualquer hipótese formulada na base de fatos quantitativos


encontrados em uma pesquisa empírica, é necessário algum procedimento estatístico que nos
permita a tomada de decisão de rejeitá-la ou não rejeitá-la. Rejeitar uma hipótese que, em
estatística se denomina “nula”, significa concluir, dentro de um certo grau de certeza, que as
diferenças entre os efeitos dos fatores analisados não são aleatórios. Isso significa,
indiretamente, que as diferenças entre os efeitos dos fatores são confiáveis e explicam
quantitativamente a variação que está sendo analisada.
101

O tratamento estatístico realizado encontrado em algumas pesquisas de Labov - como


a centralização dos ditongos (ay) e (aw) em Martha’s Vineyard ou a pronúncia do (r) em New
York - é muito simples e se resume em cálculos de frequência expressos em percentuais.
Em nosso estudo, foi verificado que as variáveis independentes poderiam ser de
natureza estrutural e não-estrutural. Decidimos, então, analisar em primeiro lugar as variáveis
de natureza estrutural, aquelas que dizem respeito à estrutura das palavras e expressões que
suscitam alguma relação com a língua inglesa, tanto em termos lexicais quanto em termos de
traduções literais do inglês para português. As variáveis de natureza não-estrutural são, neste
caso, as condições sócio-demográficas dos informantes.
A variação linguística é uma das características universais das línguas naturais que
convive com as forças de estabilidade. Aparentemente caótica e aleatória, a face heterogênea
imanente da língua é regular, sistemática e previsível, porque os usos são controlados por
variáveis estruturais e sociais que podem ser agentes internos e externos ao sistema
linguístico.
Desse modo, toda a análise sociolinguística passa a ser orientada para as variações
sistemáticas, inerentes ao seu objeto de estudo, a comunidade de fala, concebidas como uma
heterogeneidade estruturada. Podemos deduzir, através deste estudo, que existe um sistema,
uma organização por trás da heterogeneidade da língua falada pelos imigrantes brasileiros nos
Estados Unidos da América.
Deparei-me com um estudo realizado por Otheguy e Garcia em 1988, que analisava o
uso de inovações lexicais realizadas no espanhol de cubanos nos EUA. Decidi, então, adotar a
classificação das Inovações Lexicais de forma mais clara, classificando as inovações lexicais
em Empréstimos e Calques, discutidos anteriormente.
Proponho, neste ponto, traçarmos um paralelo entre empréstimos, calques,
codeswitching e codemixing. Como “empréstimo” entendem-se os termos linguísticos
estrangeiros incorporados à língua nativa do falante, segundo Haugen (1950). Ao fazermos
uso de um empréstimo=língua-alvo em um segmento de língua materna, estamos fazendo uso
de codeswitching. Ao usarmos um calque mixado, que é o uso de formas híbridas, que usam o
significante da língua recipiente (português) com um significado existente somente na língua
doadora (inglês), estamos fazendo uso de codemixing, já que é essa a sua definição.
Considerei importante fazer essa ressalva para justificar os termos usados ao
classificarmos as inovações lexicais, que, de agora em diante serão chamadas de empréstimos
e calques, mas que, na verdade, tratam-se também de codeswitching e codemixing.
Tendo esclarecido a questão supracitada, trataremos, agora, das variáveis dependentes
e independentes consideradas nesta pesquisa. As variáveis independentes não-estruturais
102

constituem um primeiro nível de operacionalização de uma construção teórica e, para cada


uma, se deve dar, em seguida, uma descrição operacional. Para algumas variáveis a descrição
é simples, porém, em outros casos, essa definição é mais complexa.
De acordo com Preti (1982, p.09), as variáveis extralinguísticas que podem
manifestar-se no diálogo podem ser:

 Geográficas: envolvem as variações regionais, lembrando que se deve tomar cuidado


para que as diferenças linguísticas por elas determinadas não sejam confundidas com aquelas
ocorridas por influência sociológica numa mesma comunidade.
 Contextuais: constam de tudo aquilo que possa determinar diferenças na linguagem do
locutor, por influências alheias a ele, como o assunto, o tipo de ouvinte, o lugar em que o
diálogo ocorre e as relações que unem os interlocutores.
 Sociológicas: aquelas determinadas pela idade, gênero, profissão, escolaridade, classe
social, localização dentro da mesma região, raça.

Consideramos, para este trabalho, as variáveis sociológicas, assim como definidas por
Preti (1982), chamando-as variáveis “sócio-demográficas”. A primeira variável independente
não-estrutural que observamos foi o gênero. Desse modo, entrevistamos 15 informantes do
gênero feminino e 15 do gênero masculino, a fim de observarmos se os homens tendem a
favorecer as inovações lexicais mais que as mulheres ou vice-versa, ou mesmo, se isso não faz
nenhuma diferença.
A segunda variável independente não-estrutural foi a faixa etária. Foi feita uma divisão
de 07 a 15 anos, a que chamamos “jovens”; 16 a 30, a que chamamos “jovens adultos” e 31 +
a que chamamos “adultos”.
A terceira variável independente não-estrutural observada foi a idade de início de
aprendizagem. A divisão foi feita em 0-20 anos e 21+.

A quarta variável independente não-estrutural foi o nível de proficiência em língua


inglesa. O nível de proficiência dos informantes foi considerado segundo informação dos
próprios informantes em questionário (vide Apêndice, pág. 184) preenchido por eles próprios.

Como quinta variável independente não-estrutural consideramos o nível de


escolaridade dos entrevistados, já que, a princípio, tínhamos a impressão de que isso fosse
influenciar a quantidade e qualidade dos dados.
103

Já a sexta variável observada foi o tempo de residência nos EUA, pois parecia que era
uma variável diretamente proporcional à taxa de uso de inovações lexicais realizadas pelos
brasileiros imigrantes.

A sétima variável foi a classe social dos informantes. A maioria dos informantes
pertence à classe trabalhadora baixa nos EUA, e os outros podem ser considerados classe
média.

A oitava variável foi o tipo de atividade do informante nos EUA. Como os brasileiros
imigrantes, em sua maioria, estão nos EUA para trabalhar, parecia óbvio que a profissão
desempenhada ali fosse bastante relevante nesta pesquisa.

A fase de interpretação dos resultados é de suma importância para a pesquisa, sendo


que é possível que os coeficientes desmintam as hipóteses formuladas.

Tendo transcrito e analisado os textos de trinta informantes, 15 do gênero feminino e


15 do gênero masculino, podemos inferir tendências a respeito das inovações lexicais
praticadas por brasileiros nos EUA.

O quadro 1, a seguir, distribui os informantes em termos de gênero, idade, início de


aprendizagem da segunda língua, nível de escolaridade, proficiência em inglês, tempo de
residência nos EUA, classe social e atividade desempenhada naquele país.

DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS DOS INFORMANTES

Informante Idade Início da Aprendizagem Escolaridade Proficiência Inglês Tempo nos EUA Classe Atividade nos EUA
Social
1M 48 41 EF Mínima 7 Baixa Pintor de automóveis
2M 38 29 EF Média 10 Média Pintor de casas
3M 47 22 EM Média 23 Baixa Motorista e carregador
4M 18 0 EM Nativo 18 Baixa Estudante e estagiário
5M 30 7 ES Fluente 23 Média Analista
6M 55 31 ES Média 14 Baixa Caddy
7M 58 34 EF Mínima 24 Média Cabeleireiro
8M 18 18 EM Mínima 10 meses Baixa Estudante
9M 40 28 ES Média 12 Baixa Caseiro
10M 38 34 ES Média 4 Baixa Driver
11M 37 25 EM Fluente 12 Baixa Caddy
12M 48 33 EM Média 15 Baixa Caddy/ construção civil
13M 31 26 EM Média 5 Baixa Caddy
14M 40 28 ES Média 12 Média Cabeleireiro
15M 52 16 ES Fluente 1 Baixa Caddy
1F 35 20 ES Média 12 Baixa Housekeeper
2F 50 28 EM Média 22 Baixa Housekeeper
3F 44 20 EF Mínima 24 Baixa Housekeeper
4F 32 32 ES Mínima 1 Baixa Housekeeper
5F 37 29 EM Média superior 10 Média Housekeeping business
6F 13 5 EF Fluente 9 Média Estudante
7F 16 7 EM Fluente 9 Média Estudante
104

8F 43 25 ES Fluente 18 Baixa Babá


9F 12 2 EF Nativo 8 Baixa Estudante
10F 44 39 EF Mínima 5 Baixa Manicure
11F 21 12 ES Fluente 6 Média Estudante
12F 51 18 ES Fluente 33 Média Enfermeira
13F 50 24 ES Fluente 26 Média Baby-sitter
14F 38 21 PG Fluente 6 Média Publicitária
15F 32 23 ES Fluente 9 Média Self-employed
Quadro 1: dados sócio-demográficos – Fonte:Dados da Pesquisa 14
Fonte: dados da pesquisa

4.4. Interpretação dos dados

O objetivo desta subseção é a interpretação dos dados desta pesquisa. Para isso,
faremos, primeiramente, uma retrospectiva das expectativas traçadas no início desta tese.
Algumas dessas expectativas, baseadas em observações empíricas, foram consideradas
verdadeiras e procedentes, enquanto outras não se mostraram procedentes.
No início deste trabalho, seis expectativas traçadas a partir de nossas observações,
foram colocadas com o objetivo de serem verificadas no decorrer do estudo:

A expectativa 1 – “Os imigrantes tendem a usar inovações lexicais e sintáticas em


palavras de conteúdo e não em palavras funcionais” foi confirmada em parte através desta
pesquisa. Não foram observadas ocorrências de inovações lexicais em palavras funcionais, e
nem mesmo empréstimos linguísticos envolvendo palavras funcionais como preposições e
artigos, a não ser em um verbo preposicionado, “trabalhar dentro”=”work in”. Nesse caso, a
preposição “dentro” está sendo usada para indicar que as pessoas moram no emprego,
tratando-se de um calque fonologicamente independente, onde estão sendo usadas palavras de
língua portuguesa, porém motivadas por uma expressão da língua inglesa.

14

EF = Ensino Fundamental, completo ou incompleto


EM = Ensino Médio, completo ou incompleto
ES = Ensino Superior, completo ou incompleto
Tempo de residência nos EUA em anos, a não ser quando especificado em “meses”.
caddy = carregador da bosa de tacos de golfe
driver = motorista
housekeper= empregada doméstica / faxineira / diarista
housekeeping business = proprietária de firma de empregadas domésticas
housekeeping business = proprietária de firma de empregadas domésticas
baby-sitter= babá
self-employed = autônomo
105

Para Halliday (1989/1994) e Thompson (1996) os seres humanos expressam


significados através de três níveis de linguagem diferentes e complementares: um ligado ao
relacionamento entre as pessoas (Metafunção Interpessoal), outro relacionado à representação
dos mundos interior e exterior (Metafunção Experiencial) e um último que dá a sentença seu
status de mensagem (Metafunção Textual). A Metafunção Textual é responsável pela
organização dos significados experienciais (primeiro nível) e interpessoais (segundo nível) em
um todo coerente. Em português, inglês e em muitas outras línguas, essa organização é feita
principalmente através da escolha que fazemos do elemento que ocupa a posição inicial de
cada oração que enunciamos − esse elemento é chamado de Tema, ou ponto-de-partida da
mensagem, dentro da Gramática Sistêmico-Funcional (GSF).
A observação da organização dos Temas de um texto e da estrutura de informação
desse texto revela não apenas o que o autor coloca em destaque, como também nos traz
importantes pistas sobre o desenvolvimento do texto, ajudando a determinar como a
informação se desenvolve. Assim, é importante distinguir entre a definição de Tema e a
maneira como podemos identificar o Tema de uma oração. A definição de Tema é funcional: o
Tema é um elemento dentro de uma determinada configuração estrutural que organiza a
oração como mensagem; essa configuração é: Tema + Rema. Quanto à sua identificação: o
Tema pode ser identificado como o elemento que aparece em posição inicial na oração.
Fries (1994) cunhou o termo N-Rema (N vem de informação nova) para indicar o
último constituinte da oração, pois diz que "o Rema inclui elementos demais" − tudo que não
é o Tema. Assim, o N-Rema é a parte da oração dedicada à informação nova, é a parte da
oração que o escritor quer que fique gravada na memória do leitor. Espera-se, portanto, que o
conteúdo do N-Rema se correlacione aos objetivos do texto como um todo, aos objetivos do
segmento do texto dentro desses objetivos maiores, e também aos objetivos da sentença e da
oração. Por outro lado, o Tema é o orientador da mensagem transmitida pela oração; ele diz ao
leitor como ele deve entender a informação nova transmitida pela oração.
Aplicando-se as noções de Tema-Rema a este trabalho, podemos fazer algumas
inferências, já que as inovações ocorrem no Rema, que é a informação nova, que o falante
deseja que o seu ouvinte conheça.
As inovações não foram detectadas na posição de Tema em nenhuma das falas dos
informantes. Segundo Ventura e Lima-Lopes (2001), Fries analisa uma carta mandada pelo
grupo de ação política Zero Population Growth (ZPG) a simpatizantes, com o objetivo de
levantar fundos para suas causas. Através da análise dos Temas e N-Remas de cada oração,
Fries mostra que as informações enfatizadas pela autora da carta como motivos sólidos para
106

que o leitor contribua financeiramente com o ZPG aparecem N-Rematicamente, e que as


informações relacionadas ao pano-de-fundo foram colocadas em posição temática. Do mesmo
modo, os informantes desta pesquisa usaram as inovações N-Rematicamente, já que elas
apresentam informação nova, que eles desejam que o ouvinte venha a conhecer.
Havia a suspeita de que seriam, certamente, palavras de conteúdo, em detrimento de
palavras funcionais, mas não se concebia a ideia de que se tratasse de forma tão maciça de
empréstimos linguísticos, que são em geral substantivos, um tipo de inovação lexical muito
usual em situações de contato linguístico.

Já a expectativa 2 - “As inovações parecem incidir mais especificamente sobre verbos


de ação” foi confirmada em parte. Ao usarem verbos, eles são sempre verbos de ação.
Entretanto, havia expectativa de que a ocorrência de verbos fosse mais abundante que a
ocorrência de qualquer outra classe de palavras.
Foram verificadas, primeiramente, todas as palavras e expressões, com inovações
lexicais ou não, mas desde que apresentassem traços de inglês ou pelo menos uma construção
motivada por tradução literal. Depois disso, foram verificadas as classes gramaticais a que as
palavras pertenciam.
Talvez um pouco influenciada pela palavra-título desta tese, parkear, acreditava-se
que a maioria das inovações lexicais fosse proveniente de formas verbais, o que não se
mostrou verdadeiro para o total de ocorrências verificadas. Houve maior incidência de
substantivos (321) e não de verbos (130). A explicação para este fato é que a maioria dessas
ocorrências de inovações retrata o uso de empréstimos linguísticos, e, como bem lembra
Haugen (1950), o substantivo é a classe de palavras mais “afeita” a empréstimos linguísticos,
daí a maior ocorrência de substantivos.
O que podemos observar, entretanto, é que as inovações propriamente ditas (flexões de
gênero e número, acréscimos de morfemas indicativos de conjugações verbais, flexão de
tempo e modo verbal, acréscimo de afixos em geral) ocorrem de forma tímida em relação aos
substantivos (4,36%) e de forma expressiva em relação aos verbos (75,3%)
Como exposto acima, os empréstimos não são exatamente aquilo que consideramos
uma “inovação lexical”, já que eles não trazem nenhum tipo de “novidade” ou alteração
significativa ao vocábulo em si. Aqueles que realmente executam alguma “reforma” ou
alteração no vocábulo motivado por outra língua são os calques: os mixados fonologicamente,
os fonologicamente independentes e os calques frasais. Nesses calques, como podemos
verificar nas próximas páginas, a incidência maior foi, realmente, de sintagmas verbais.
107

A expectativa 3: “As inovações lexicais parecem retratar o vocabulário ligado a


atividades profissionais exercidas por seus usuários nos EUA” pode ser confirmada nas
próprias palavras dos informantes, como em:

 2M = “aí tem os linguajares dos brasileiros, porque só tem brasileiro que trabalha
comigo...por exemplo. a gente vai “espreiá”uma parede, fala ‘nós vamo dá uma
espreiada hoje..Aí, vai rolar uma parede(...)’”
 4F = “Ah! Ela fala prá mim tudo em português, né?Hoje nós vai dividir o trabalho,
você vai limpar os “bedrúm”(bedroom=quarto)...pega o “perpetal”(paper towel=
papel-toalha)...papel de toalha...Eu também não sabia o que era, não, mas tem que
perguntar: O que é isso? E ela: O papel toalha,......! Perpetal, né? tá! Aí você vai
limpar a “kitchin”(cozinha), e eu pensava: não é mais fácil falar: vai limpar a
cozinha, o banheiro...”
 3M = “Então os brasileiros lá falam: vou fazer um shoeshine (engraxar sapato) no
Mr. Num-sei-o-quê, vou fazer um ‘spitshine’(graxa feita com água)
 5F = O tempo todo que está trabalhando, a gente observa elas falando: vai
vaquear(usar o aspirador) aqui. Não é prá espreiar (usar o spray) nada nos móveis,
sempre usar o produto nos paninhos. É uma coisa que se fala muito, vou espreiá, ou
mopear (usar o esfregão) aqui. Já tô vaqueando...você vem vaqueando que eu vou
mopeando. Na limpeza, acontece muito. Acho que quando a pessoa já está assim,
muito envolvida, ela, 100%, ela usa o termo. A gente aqui, no dia a dia, né? “Mas usa
muito, na limpeza, acho que até facilita, mesmo...porque a pessoa não sabe o inglês
direito e vai seguindo...As vezes é uma coisa nova, por exemplo, “aspirador de pó”,
aí você aprendeu que “vaccum” é aspirador de pó, você não fala aspirador de pó
porque é grande demais e o tempo é curto. E o “mop” que não existe lá, tô passando
o rodo, aqui, ‘tô mopando’” (...) “Em toda atividade o brasileiro vai arranjar o seu
vocabulário próprio, porque são as palavras que às vezes em português vai ficar
grande demais ou uma expressão até, que se resume em duas palavrinhas em inglês ,
ou uma...e a questão do tempo, Também..você tá falando, tá trabalhando, também,
quer andar rápido e tem que ter uma rotina...porque você acaba realmente adaptando
a sua linguagem do seu trabalho a sua atividade porque fica tudo mais rápido...
Parece que já fica uma coisa mecânica, fica mais automatizado, eu acredito.” (...) “E
acho que cada área, os “cukas”(cozinheiros), os carpinteiros, todos têm, na pintura
108

tem várias, isso o fulano vai poder te falar muito bem...tem muitas coisas
interessantes e na área de carpintaria também. Você observa que cada área, cada
profissão vai ter o vocabulário próprio pela facilidade, acho que é mesmo pela
facilidade...”

As palavras do informante 5F corroboram o estudo de Poplack, Sankoff e


Miller (1988), que alega que o uso de formas mais simples na língua-alvo é realmente
muito frequente. Exemplos disso são “snap” para “bouton-pression” (botão de
pressão) ou “truster” para “se fier a” (confiar em) no francês da região de Ottawa-
Hull. Para eles, isso pode ser explicado pela preferência psicológica dos falantes por
itens morfologicamente simples em detrimento de itens mais complexos para
expressar o mesmo referente

 6M = “Então pra quem tá de fora não tem costume não sabe o que que é o
Green...”( parte do campo de golfe que circunscreve o buraco) (...) “No golf, né?
Então... É outro exemplo é... Que a gente utiliza muito lá é... é o drop, né?” (...) “Mas
tem a ver com o trabalho. Porque geralmente você faz a... entrevista cê vai...(...) É...
Tem um ... pra emprego cê fala tenho um apontamento (appointment=compromisso
com hora marcada) com o fulano de tal...”

 8M = “E na semana assim, quando tá o ..... tá precisando de um landscape (trabalho


de jardinagem) aqui.””...ajuda quando eles tão blowando (soprando as folhas com o
equipamento) ali.” (...) “É cortar a grama, plantar planta, colocar mulch (composto
orgânico)...”

 14F = “...trabalhava ela falava assim “vocês não tem mop?” aí eu falava “um mop,
mas o que é isso?” “um mop, um mop.” “mop aquilo que você passa no chão”. “Ah,
um rodo?” “É. Mas não é um rodo. É um mop” (...) “...dá um search (busca) no
Google. Você também pode checar (verificar) na Price Line. No website (página do
sítio eletrônico) na Price Line. Cê também pode checar na Price Line. Bida (bid =dar
um lance, fazer uma oferta) umas passagens. Bida...” (...) “Eu vou dar um forward
(encaminhar) nesse e-mail”

 9M = “E vai... A necessidade vai... E cada um se especializa num... Se a pessoa


trabalha na construção civil, ela fala inglês pra área dela. Se ela trabalha noutra
109

profissão...O pessoal forma uma outra língua. Ah!... novas palavras. Os imigrantes
brasileiros, por exemplo, o... Parquear (estacionar) o carro...” (...) “Eles formam o
próprio vocabulário em relação ao trabalho dele. Eles formam uma mistura de inglês
e português e vão levando.”

A expectativa 4, segundo a qual “O nível de escolaridade dos falantes usuários dessas


inovações é, em geral, mais baixo” não se confirma. Dos informantes do gênero masculino,
40% tinham curso superior completo ou incompleto, 40% tinham ensino médio completo,
20% tinham ensino fundamental completo ou incompleto, como podemos observar na tabela 1
da página 100, acima.
Das informantes do gênero feminino, 46,6% tinham curso superior completo, ou
incompleto, 26,6% tinham ensino médio completo ou incompleto, e 26,6 % tinham ensino
fundamental completo ou incompleto.
Em resumo, totalizando os níveis de escolaridade dos informantes teremos 43,3% de
informantes com curso superior (completo ou não), 33,3% dos informantes com Ensino médio
(completo ou em curso) e apenas 23,3% dos informantes com ensino Fundamental (completo
ou não).
Havia a expectativa de que o nível de escolaridade dos informantes fosse mais baixo,
porém, se considerarmos que, conseguir um emprego nos EUA e fazer um “pé-de-meia” ainda
é uma alternativa cada vez mais procurada no Brasil, mesmo por aqueles já formados em um
curso superior e que se dispõem a trabalhar fora da sua área de especialização, podemos
entender porque a expectativa 4 não se confirmou. Não é verdade, entretanto, que não existam
imigrantes brasileiros de nível de escolaridade bem baixo, vindos de pequenas cidades do
interior, que inclusive, nunca haviam entrado em um elevador ou se deparado com uma
escada rolante na vida. Em nossa pesquisa, entretanto, esses informantes foram poucos.

A expectativa 5 – Os brasileiros imigrantes, alvos desta pesquisa, têm, via de regra, um


nível mais baixo de proficiência em inglês – também não se confirmou, pois um dos
informantes do gênero masculino era nativo dos EUA (6,6%), portanto, segunda geração de
brasileiros, 26,6% eram fluentes em inglês, 40% tinham proficiência média e, apenas 13,3%
tinham proficiência mínima.
110

Em relação às informantes, 6,6% eram nativas nos EUA e segunda geração de


brasileiras; 53% eram fluentes, 20% tinham proficiência média e 20% tinham proficiência
mínima em inglês.
Considerando-se todos os informantes, independente do gênero, teremos apenas 20%
com proficiência mínima de inglês, 36,6% com proficiência média, 43,3% com proficiência
plena, como pode ser verificado através da tabela 1, pág.100.
Apesar de não termos testado a proficiência dos informantes formalmente,
consideramos as respostas ao questionário sócio-demográfico preenchido por eles. Como
pode ser verificado no Apêndice A, página 184, perguntamos se os informantes falavam inglês
e em que nível, se sabiam ler e escrever em inglês, se usavam muito ou pouco e em que
situação o usavam.
Os informantes 1M, 2M e 3M tinham idade entre 38 e 48 anos e o grau de
escolaridade variava entre Ensino Fundamental incompleto e Ensino Médio. Dois deles
apresentavam boa fluência na fala e boa compreensão auditiva de inglês, mas pouca
habilidade em leitura e escrita. O Informante 1M tinha o menor grau de escolaridade
observado e aprendeu a segunda língua em idade mais avançada, 41 anos, o que, além da
pouca disponibilidade pra dedicação à aprendizagem da segunda língua, pode ter ocasionado
o seu desempenho sofrível na mesma. Esse informante, (1M), apresentava um português
também bastante estigmatizado, com desvios que denotam pouco contato com a vida escolar.
Dentre os três, era também o que tinha a estadia mais curta nos EUA, de apenas 7 anos. As
profissões dos informantes variavam entre pintores de carros e casas e carregadores, sendo
todas consideradas “labor” em inglês, o que corresponderia ao nosso trabalho braçal, que
exige mais força física do que treinamento acadêmico. Os informantes 2M e 3M tinham,
respectivamente, residido 10 e 23 anos nos EUA, porém, acredito que o nível de proficiência
de inglês de ambos seja bem comparável.
O informante 6M tem 55 anos e está há 14 anos nos EUA. Trabalha como “caddy”,
carregando bolsas de tacos para os jogadores em campos de golfe e com limpeza de aviões.
Fala inglês com proficiência média e faz uso de inovações lexicais com amigos e colegas de
trabalho brasileiros.
O informante 7M tem 58 anos, é cabeleireiro e mora nos EUA há 20 anos. É dono de
seu próprio salão de beleza, tem propriedades nos EUA, sendo muito bem-sucedido
profissionalmente. Ele não fala inglês com muita desenvoltura, talvez pelo contato contínuo
apenas com brasileiros, tanto no trabalho quanto em casa.
111

Já 8M tem apenas 7 meses de América, está fazendo curso de inglês e já usa as


inovações lexicais com muita desenvoltura.
9M está nos EUA há 12 anos e só recentemente conseguiu o seu greencard
(documento de imigração). Ele tem um nível médio de proficiência em inglês, faz uso das
inovações lexicais com amigos e no trabalho, mas considera isso uma prática ruim.
O informante 10M, de 38 anos, trabalha como motorista de caminhão e já tem 5 anos
de América. Ele tem proficiência média em inglês e, como tem muito contato com outros
brasileiros, faz bastante uso das inovações lexicais.
O informante 11M tem 37 anos, 12 de América. Ele trabalha como “caddy” =
carregador de bolsa do golfista, tem inglês fluente e faz uso de inovações com seus colegas
brasileiros.
12M tem 48 anos de idade e está há 15 anos nos EUA. Ele trabalha como “caddy” e
interage bastante com americanos.
O informante 13M tem 31 anos de idade e também trabalha com “caddy” em campo
de golfe. Ele está nos EUA há cinco anos e tem proficiência média em inglês. Ele usa as
inovações lexicais com colegas brasileiros geralmente no trabalho.
O informante 14M é sócio de um salão de beleza, está nos EUA há 12 anos e se recusa
terminantemente a repetir as inovações lexicais que ouve em abundância no seu salão. Ele tem
um nível médio de proficiência de inglês.
O informante 15M ficou recentemente 11 meses nos EUA, trabalhando como “caddy”
durante 3 meses. Ele já havia morado nos EUA duas vezes antes, por 6 meses e por dois anos.
O informante 15M fala inglês fluentemente e usa as inovações lexicais no trabalho e com
amigos.
Nesta pesquisa, os informantes 1F e 2F tinham nível de proficiência médio, com
fluência média em inglês falado e boa compreensão auditiva, mas pouca desenvoltura na
escrita. A informante 3F dizia falar “algum inglês”, demostrando que ela tinha uma
desenvoltura não expressiva em inglês. As três informantes tinham a mesma profissão nos
EUA, de empregada doméstica. Duas delas começaram a aprender inglês aos 20 anos, e uma
aos 28 anos. A informante 1F passou 12 anos nos EUA, 2F passou 22 anos, e 3F passou 24
anos lá.
A informante 4F estava nos EUA há apenas 10 meses, tendo proficiência mínima em
inglês, mas uma grande curiosidade em relação à língua e às pessoas e tudo o que estava a sua
volta. Ela fazia bastante uso das inovações lexicais, principalmente no que tangia a atividades.
112

A informante 4F trabalhava como diarista e estava sempre contando histórias engraçadas


envolvendo essa mistura de inglês e português.
Já a informante 5F tinha uma situação financeira mais confortável, embora tivesse
trabalhado como diarista muitos anos. Ela agora agencia outras diaristas fazendo a mediação
entre americanos que não falam português e brasileiras que não falam inglês. Ela se comunica
bem em inglês, mas com as suas “agenciadas” faz uso constante das inovações lexicais,
perpetuando o seu uso.
A informante 6F tem apenas 13 anos, dos quais 9 passou nos EUA. Ela sempre
frequentou a escola nos Estados Unidos e tem dificuldades em escrever português, mas
conversa fluentemente em português e inglês. Faz um pouco de mistura de inglês e português
ao conversar com outros filhos de brasileiros com quem convive. Às vezes uma ou outra
inovação lexical aparece em sua fala, mas não é uma coisa frequente.
A informante 7F tem 16 anos, dos quais 7 passou nos EUA. Ela frequentou a escola
nos EUA a maior parte da sua vida, estando agora no segundo ano do Ensino Médio. Ela fala
português e inglês fluentemente e diz nunca fazer uso das tais inovações lexicais. Muitas
vezes os empréstimos são inevitáveis, mas inovações ela diz evitar porque acha muito feio.
A informante 8F mora nos EUA há 18 anos, tendo agora 43 anos de idade. Ela trabalha
como “baby-sitter” há 18 anos e quer mudar de profissão porque, apesar de adorar o que faz,
tem muito pouca chance de interagir com adultos e exercitar a língua inglesa. Ela faz bastante
uso das inovações lexicais no dia-a-dia conversando com colegas brasileiras.
A informante 11F tem 21 anos e está há 7 anos nos EUA. Ela passou a maior parte da
vida escolar nos EUA e fala inglês e português fluentemente. Essa informante apresentou alto
nível de estigmatização em relação às inovações, embora confessasse fazer muito uso de
empréstimos em casa.
A informante 12 F está nos EUA desde os 18 anos, tendo agora 51 anos de idade. Ela
frequentou universidade nos EUA e trabalha como enfermeira em um hospital de New Jersey.
Fala inglês e português fluentemente. Usa as mixagens com outros brasileiros, mas como
trabalha com americanos e é casada com um uruguaio, esse uso fica restrito a interações
esporádicas.
A informante 13F tem 50 anos e está há 24 anos nos EUA. Ela trabalha como babá
para um casal de brasileiros de classe média-alta nos EUA. As duas crianças de quem ela
cuida praticamente só falam inglês. Ela fala inglês fluentemente e faz uso das inovações
lexicais ao interagir com outros brasileiros.
113

A informante 14F tem 38 anos e, assim como 5M, é uma profissional bem-sucedida no
mercado de trabalho americano, trabalhando com publicidade, o mesmo campo de trabalho
desenvolvido por ela no Brasil. Ela está nos EUA há 6 anos. A informante fala inglês
fluentemente e faz muito uso de empréstimos, mas confessa também usar as mixagens em
interações com brasileiros, principalmente com a babá brasileira de seu filho.
A respondente 15F tem 32 anos e está nos EUA há 9 anos. É auto-didata e parece
esforçada em aperfeiçoar o seu inglês que é fluente. Ela sempre conviveu muito com outros
brasileiros nos EUA e faz muito uso das inovações lexicais.

A expectativa 6 – As inovações são estigmatizadas pelos próprios brasileiros nos EUA


– teve respaldo de muitos dos dados dos informantes. Muitos imigrantes brasileiros
apresentavam alto grau de estigmatização em relação às inovações lexicais. Sempre
faziam questão de dizer que “aquilo era horrível”, “a gente sabe que isso não existe”, e outros
comentários que deixavam transparecer muito preconceito em relação aos usuários das
inovações e o que isso representava. Isso não significa, entretanto, que não fizessem uso desse
recurso tão comum entre os brasileiros imigrantes nos EUA. Analisando as entrevistas e
questionários (vide apêndice A, página 193) respondidos pelos informantes, decidi trazer para
o texto excertos das entrevistas que denotavam estigmatização das inovações lexicais
realizadas por imigrantes brasileiros nos EUA.
Dentre os homens entrevistados, 60% fizeram críticas, às vezes veladas a respeito do
uso dessas inovações. Dentre as mulheres, 26% estigmatizaram as inovações lexicais.
Algumas pessoas chegaram a afirmar poderem reconhecer há quanto tempo o falante se
encontrava nos EUA e a que classe social ele pertencia através do modo de falar o português
colorido com as inovações lexicais.
Para Schilling-Estes e Wolfram (1998), as diferenças linguísticas se tornam inevitáveis
em uma sociedade composta de diferentes grupos sociais, sendo, portanto, um “fato da vida”.
Os seguintes excertos ilustram o tipo de estigmatização detectado nas falas dos
informantes:

 2M =“você fica olhando assim...e morre de rir por dentro...pq vc vê cada palavra
engraçada, porque o pessoal mais simples, que vem do interior, mal sabe conversar,
então eles querem emendar, falar o inglês com um pouquinho de português...então
você vê aquelas palavras mais absurda, e você fala assim: Meu Deus! O que que é
que tá falando?” (...) “Isso, de cara, só de você ver a pessoa vc já sabe que ela não
114

sabe falar inglês, e por ela estar aqui nos Estados Unidos, e por ex., trabalhar com
americano, ele ouve inglês o tempo todo, mas não consegue captar aquilo aqui que
ele quer saber, vc consegue definir, com certeza...se a pessoa fala, se não fala...se ela
fala bem, se fala mal, só de abrir a boca você já vê...porque tem uns que acha que tá
falando inglês, mas enrola todinho...embola totalmente, na hora que ele abre a boca e
começa a falar, você já vê, ele só tenta, né? Tem até o esforço, né, mas dá prá vc
saber, sim, com certeza...se fala pouco, se fala muito, se fala bem, se fala errado, a
gente consegue identificar, sim, com certeza...” (...) “você ouve muita coisa, só
besteira...besteira, no sentido assim de palavra errada...Entendeu, que eles vão
querer falar certo e falam errado...e acha que tão falando certo...Por ex., tô bisado e
acha que tá certo...ou várias outras palavras que eles falam...Entendeu? acha que
está falando certo, mas, infelizmente num tá, né? e a gente automaticamente acaba
falando algumas palavras entre a gente...é lógico que com o cliente você não vai falar
isso...tô bisado, não existe...mas entre a comunidade brasileira fala muita palavra
errada” (...) “Mexer com brasileiro aqui não é fácil, é um pessoal mais complicado
de mexer. Eu já ouvi casos de pessoas, que quando eu cheguei trabalhava com essa
pessoa, que fez serviço prá brasileiro, e teve problema com brasileiro, em todos os
sentido...então, mesmo se me chamarem hoje, eu prefiro não ir...Estou nos Estados
Unidos, vou trabalhar prá brasileiro? Prefiro prestar serviço prá americano...não só
pelo dinheiro, mas pela situação, também...”
 3M =”você reage naturalmente, mas sabendo que, se você parar friamente prá
analisar, você sabe que aquilo está errado, mas você assimila normalmente, porque
você vai vendo que as culturas estão difundidas aqui de uma tal maneira que, é meio
estranha, mas funciona...eles realmente conseguem passar, errado ou não, conseguem
passar aquilo que quer.” (...) “Ah! Tinha uns lá que eram fora de série...era fora de
série mesmo!”
 5F = “Tô muito bisado, acho que não tem nada a ver, essa expressão...o apontamento
também eu acho muito... de doer! E acho que um pouquinho que a gente vai
aprendendo mais...quando a gente não sabe o inglês direito, não faz muita diferença,
acha até que a pessoa tá falando uma coisa que existe...Depois do você começa a
entender, começa a ver e conhecer o vocabulário, você começa já a fazer uma
separação...começa a ficar feio, assim, né? a gente sabe que está errado...”.
 5M = “... De vez em quando não... Eu até quando eu tô ouvindo pessoas falando em
português tem palavras que eu pego e que eu sei que a pe... Que tá sendo falado
errado.”
115

 7F = “Muita gente inventa palavra assim...Eu lembro de Bisado...frizado, tipo,


freezing...É horrível, detesto isso!” (...) “Ah... Normalmente as pessoas mais... Cultos
não falam isso por que num tá assim, nada a ver... Uma palavra aí... Eu acho feio...
Aí eu não falo com a pessoa que é feio não... Mas... É estranho.”
 6M = “Então é mais fácil falá ela desse jeito errado também do que fala em inglês”
 11F =” Eu observo que existe os dois tipos né do brasileiro que ta aqui.”; “É aquele
que mistura o português e o inglês...” (...) “Mas da forma correta que...” (...) “...e
aqueles que criam uma nova palavra pra substituir uma que às vezes existe, mas não
tá ali na memória deles no momento...”(...) “É que na minha opinião, quem tem um
nível, um grau de estudo maior, não vai se permitir usar esses meios...” (...) “Porque
isso pra mim e pra muita gente também pode ser considerado errado...” (...) “Mas
essas palavras assim, diferentes que são a junção dos... Das línguas... Eu não falaria
porque na minha opinião não é certo.” (...) “Mas se eu falar uma coisa dessa perto da
minha avó, vamos supor. Ela vai falar que é isso, minha filha, fala direito. Porque ela
vai imaginar que eu to diminuindo meu português. Como se eu não tivesse
valorizando o que eu aprendi.” (...) “... Pelo menos aqui eu vejo assim, você
consegue diferenciar a pessoa pelo modo de falar. Cê consegue ver quem veio pra cá
muito cedo. (...) Cê consegue vê quem veio pra cá sem estudo nenhum e cê consegue
vê quem nasceu aqui. Igual o fulano que nasceu aqui e quer falar o português... Né,
que a família fala português também dessa forma bem simples assim pela questão de
educação e tudo. Usa esses termos... E tentando falar o correto. Então sai palavras
que você não imagina. Sai umas palavras assim, que você não imagina.”
 14F = “A minha babá tá aqui há doze anos e ela tem um assim... Conhecimento
básico de inglês. É... então ela, ela mora aqui em Newark, então porque ela mora
aqui ela não necessariamente precisa aprender Inglês. E ela sempre só trabalhou com
brasileiro então ela só fala português fluente...”
 9M = “Não chegam a aprender inglês. E você se distancia do português que você
aprendeu na tua terra. É... Com os anos aqui cê começa a falar português, você
percebe. A pessoa que está aqui há dezoito, dezenove anos, que quase não vai no
Brasil e às vezes não convive com a... Com a comunidade brasileira. O inglês dela é
terrível. O português é terrível...”
 13M = “Bisado está errado!” “porque não sei, mas está errado!”
 14M = “Lá no salão, se alguém começa a falar “parkear”, “bisado” fico uma fera!
As meninas já sabem, perto de mim ninguém fala isso não.” Com os clientes não
116

posso brigar, né? mas com as meninas do salão...não deixo mesmo...vão acabar
esquecendo o português e não vão aprender o inglês...

Sabemos que as variantes adquirem prestígio se forem associadas a um falante ou


grupo social de status superior, tendendo a ser imitadas por pessoas de classe inferior. Desse
modo, a variedade linguística própria da classe dominante se impõe como marca de prestígio,
determinando a atitude de falantes dos grupos dominados por essa variedade. Para Boyer
(1991) os colonizados sabem muito bem disso e um de seus primeiros cuidados é o de avaliar
pejorativamente as línguas vernáculas a ponto de os colonizados desvalorizarem as suas
próprias línguas nativas, envergonhando-se de não falarem a língua do colonizador.
Como era de se esperar, as variantes estigmatizadas são aquelas que maior preconceito
sofrem em uma sociedade de classes. Caso um falante seja camponês ou morador de uma
favela, analfabeto ou com baixo nível de escolaridade, sua maneira de falar será um reflexo de
sua condição social, e nunca será a mesma que as pessoas que se situam no topo da pirâmide
social. Dessa forma, uma vez que a variação linguística pressupõe a valoração social, as
variantes empregadas por falantes dos extratos mais baixos da sociedade são, em grande parte,
estigmatizadas. Quanto mais identificada à forma estigmatizada for com a variante
empregada, tanto mais discriminada ela será.
É por isso que as inovações lexicais carregam consigo um estigma, já que denotam um
brasileiro proveniente de uma classe social mais baixa, detendo um baixo nível de
escolaridade e um baixo nível de proficiência em inglês.
Observando as entrevistas e questionários preenchidos pelos próprios informantes,
procuramos detectar graus de estigmatização que essa variante inovadora carrega em si.
Procuramos fazer uma correlação entre alguns dos fatores sociais que podem ter motivado
essa estigmatização da variável “inovação lexical” no português de brasileiros imigrantes nos
EUA.
Segundo Schilling-Estes e Wolfram (1998), um estudo que faça a correlação entre
comportamento linguístico e estratificação social deve ser embasado por classificações
realistas de falantes em estratos sociais. Sendo bem objetivos, podemos afirmar que algumas
pessoas têm prestígio, poder e dinheiro, e outras contam com poucas dessas “commodities”
para negociar no mercado social.
Ao examinar causas externas da variação e da mudança linguística, um modelo
satisfatório deve incorporar a análise do perfil social dos falantes de uma dada comunidade de
fala. Tradicionalmente, as variáveis sociais independentes como idade, gênero e classe social
117

são parâmetros pertinentes, seja para estudar a heterogeneidade linguística, seja para indicar o
dinamismo das mudanças em tempo aparente.
Esses parâmetros extralinguísticos dividem a sociedade em grupos fixos, estabelecem
correlações diretas entre uso de variantes e estratificação social e buscam identificar o locus
da mudança no indivíduo em determinado ponto da estrutura social. Daí a coexistência de
grupos inovadores e conservadores em uma relação dinâmica que pode apontar os caminhos
da língua.

4.5. Variáveis testadas

A fim de interpretarmos dados, devemos testar hipóteses, comparar análises


alternativas e desenvolver modelos de dados através dos quais possamos fazer previsões. Com
esse propósito, usamos a Estatística Inferencial e, mais especificamente, os testes de
significância.
No presente estudo utilizamos o teste de significância Chi-square, ou Qui-quadrado,
com o objetivo de testar as variáveis estruturais e não-estruturais contra as variáveis sócio-
demográficas deste trabalho.
Realizamos testes de hipóteses para “Tipos Inovações Lexicais” e “Inovações
realizadas em determinados Campos Semânticos” detectados nas entrevistas com os
informantes, contra as variáveis sócio-demográficas deste estudo, a saber: gênero, idade,
tempo de residência do informante nos EUA, nível de escolaridade, proficiência de língua
inglesa, classe social, idade no início da aprendizagem de língua inglesa e atividades
ocupacionais desempenhadas nos EUA.
O objetivo dos testes foi de verificar a nulidade da hipótese de relação entre tipos de
inovação lexical, ocorrência de inovações lexicais e as condições sócio-demográficas
determinadas acima, nos campos semânticos em que as inovações lexicais foram detectadas.

4.5.1. Condições sócio-demográficas versus Tipos de Inovação Lexical


118

Apresentaremos, primeiramente, os testes realizados com o propósito de verificar a


nulidade da hipótese de relação entre os Tipos de Inovação Lexical (empréstimos e calques) e
as condições sócio-demográficas dos informantes: gênero, idade, tempo de residência do
informante nos EUA, nível de escolaridade, proficiência (domínio) de língua inglesa, classe
social, idade no início da aprendizagem de língua inglesa e atividades ocupacionais
desempenhadas pelos informantes desta pesquisa nos EUA.

4.5.1.1 Gênero versus Tipos de Inovações Lexicais

A primeira variável, “Gênero” (masculino/feminino), foi testada em relação aos tipos


de inovações lexicais mencionadas no capítulo anterior: calques fonologicamente mixados,
calques fonologicamente independentes, calques frasais e empréstimos.

Gráfico 2: Distribuição por Gênero –– Fonte: Dados da Pesquisa


119

Gráfico 3: Tipos de Inovação por Gênero – Fonte: Dados da Pesquisa

A tabela 1, a seguir, apresenta o teste “qui-quadrado” feito para verificar a aceitação da


Hipótese de nulidade (H0) da relação entre o gênero e o tipo de inovação lexical usada pelo
informante. De outra forma, validar a hipótese de haver relação (H1) entre tais variáveis.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre gênero e o tipo de inovação lexical usado pelos informantes
H1 = Existe relação entre gênero e o tipo de inovação lexical usado pelos informantes

Tabela 1: Tipos de Inovação X Gênero – Fonte: Dados da Pesquisa


120

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO


Se X² crítico (7,81) > X² verificado (4,93), então H0 é aceita
Logo, o GÊNERO e o TIPO DE INOVAÇÃO são variáveis cuja relação NÃO pode
ser verificada para o nível de significância de 5%.
De acordo com o teste qui-quadrado aplicado, para um nível de significância de 5%, o
teste de nulidade da hipótese foi aceito. Gênero e os Tipos de Inovações Lexicais realizadas
são variáveis cuja relação não pode ser verificada. Isso significa que o gênero não se
correlaciona com o tipo de inovação lexical apresentada pelos informan tes. Na medida em
que não verificamos grau de dependência, não podemos traçar inferências a esse respeito.

4.5.1.2. Idade versus Tipos de Inovações Lexicais

Baseado nos estudos de Otheguy e Garcia (1988) e Poplack, Sankoff e Miller (1988),
segundo os quais a idade do falante tem um papel importante no uso e difusão das inovações
lexicais, testamos a variável Idade em relação aos tipos de Inovações Lexicais.

Gráfico 4: Distribuição por Idade – Fonte: dados da pesquisa


121

Gráfico 5: Tipo de Inovação Por Idade – Fonte: dados da pesquisa

A tabela 2, a seguir, apresenta o teste “qui-quadrado” feito para verificar a aceitação da


Hipótese de nulidade (H0) da relação entre a idade e o tipo de inovação lexical usada pelo
informante. De outra forma, validar a hipótese de haver relação (H1) entre tais variáveis.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre a idade do informante e o tipo de inovação lexical usado
pelos informantes
H1 = Existe relação entre a idade do informante e o tipo de inovação lexical usado
pelos informantes
122

Tabela 2: Tipos de Inovação X Idade – Fonte: Dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (12,50) < X² verificado (20,53), então H0 é rejeitada

Logo, a IDADE e o TIPO DE INOVAÇÃO são variáveis cuja relação pode ser
verificada para o nível de significância de 5%.

Verificamos, assim, que a idade tem relação com o Tipo de Inovação Lexical
utilizada. Parece que as inovações mais utilizadas são mesmo os empréstimos linguísticos,
para todas as faixas etárias analisadas. Alguns dos exemplos de empréstimos detectados foram
“delivery”= entrega e “driver”= motorista. Em segundo lugar, os calques fonologicamente
mixados, como “acento”= sotaque e “printar”= imprimir. Em terceiro lugar ficaram os
calques frasais, como “ele é suposto de fazer isso”. Já em quarto lugar ficaram os calques
independentes fonologicamente, como em “jogar uma festa”. Pottier (1968) menciona a
questão a propósito das causas do bilingüismo em algumas regiões da França, em que as
diferenças linguísticas seriam oriundas de fatores como atividades profissionais, situação
geográfica, classe social, gênero e idade. Preti (1982) também faz algumas considerações a
respeito dessas variáveis. Segundo o autor, sobre a variável idade/faixa etária, quando se
123

analisa um falante adulto, as variações relativas às devidas faixas etárias limitam-se muito
mais ao vocabulário e nem sempre são facilmente percebidas.
Foi detectado que o uso de empréstimos é inversamente proporcional à idade do
indivíduo, ou seja, quanto mais jovem, mais uso o indivíduo faz dos empréstimos linguísticos,
e quanto mais velho menos uso dessa estrutura ele faz, em relação ao esperado.
No que concerne o uso de calques mixados, houve uma relação diretamente
proporcional ao seu uso, sendo que quanto mais velho, mais uso o indivíduo faz dessa
estrutura.
Possivelmente isso se explica devido ao fato de que a língua materna parece interferir
mais no processo de aquisição de linguagem de um indivíduo mais velho, que por
consequência, faz mais uso de estruturas da língua nativa ao usar a língua-alvo.

4.5.1.3. Tempo de Residência versus Tipos de Inovações Lexicais

Cruzamos os dados obtidos com “Tipos de Inovações” e “Tempo de Residência nos


EUA”, pois, de acordo com os estudos de Poplack at al. (1988), o tempo de residência no
país de língua-alvo pode se tornar um fator decisivo de uso de inovações lexicais.

Gráfico 6: Tempo de Residência nos EUA – Fonte: Dados da pesquisa


124

Gráfico 7: Tipos de Inovação X Residência nos EUA– Fonte: Dados da pesquisa

A tabela 3, a seguir, apresenta o teste “qui-quadrado” feito para verificar a aceitação da


Hipótese de nulidade (H0) da relação entre o tempo de residência nos EUA e o tipo de
inovação lexical usada pelo informante. De outra forma, validar a hipótese de haver relação
(H1) entre tais variáveis.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre o tempo de residência nos EUA e o tipo de inovação lexical
usado pelos informantes
H1 = Existe relação entre o tempo de residência nos EUA e o tipo de inovação lexical
usado pelos informantes
Os gráficos 6 e 7, a seguir, ilustram as relações entre os tipos de inovação lexical e o
tempo que o informante passou nos EUA.
Podemos observar claramente que as pessoas que passaram menos tempo nos EUA, de
0 a 10 anos, usam mais empréstimos e calques mixados.
125

Tabela 3: Tipos de Inovação X Residência nos EUA – Fonte: Dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (12,50) < X² verificado (47,42), então H0 é rejeitada

Logo, o TEMPO DE RESIDÊNCIA NOS EUA e o TIPO DE INOVAÇÃO LEXICAL


são variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

Verificamos que os informantes que se encontram nos EUA há menos tempo, de 0-10
anos tendem a usar calques mixados mais intensamente do que seria esperado, provavelmente
ainda sofrendo forte influência da língua materna. Do mesmo modo, os informantes que estão
nos EUA de 11 a 20 anos tendem a fazer uso de calques mixados em número inferior ao
esperado, tendência mantida também para os informantes que residem nos EUA há 21 anos ou
mais.
Podemos inferir que o tempo de residência nos EUA seria inversamente proporcional
ao uso dos calques mixados.
Verificamos através dos dados que existe uma correlação direta entre o uso de calques
frasais e o tempo de residência nos EUA. O indivíduo que mora há menos tempo naquele país
usa proporcionalmente menos essa inovação do que aquele que mora lá há mais tempo.
126

É possível que isso se explique devido ao fato de que os calques frasais exijam uma
familiaridade maior com a língua, que só pode ser atingida com um tempo maior de
residência naquele país.

4.5.1.4. Nível de escolaridade versus Tipos de Inovações Lexicais

Realizamos, então, o teste para Nível de Escolaridade versus Tipo de Inovação


Lexical. Como pode ser verificado nos gráficos 8 e 9, abaixo, o nível de escolaridade se
mostra bem revelador para o tipo de inovação lexical utilizada pelo informante. Os
informantes que têm curso fundamental apenas, que representam 23,3% da amostra, fizeram
uso mais intenso de calques fonologicamente mixados, o “parkear”, enquanto os demais, que
têm curso médio ou instrução superior fizeram uso mais intenso de Empréstimos Linguísticos,
como “bills” ou fazer “delivery”.
127

Gráfico 8: Nível de Escolaridade – Fonte: Dados da pesquisa

Gráfico 9: Tipos de Inovação X Nível de Escolaridade – Fonte: Dados da pesquisa

A tabela 4, a seguir, apresenta o teste “qui-quadrado” feito para verificar a aceitação da


Hipótese de nulidade (H0) da relação entre o Nível de escolaridade e o tipo de inovação lexical
usada pelo informante. De outra forma, validar a hipótese de haver relação (H1) entre tais
variáveis.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre o Nível de escolaridade e o tipo de inovação lexical usado
pelos informantes
128

H1 = Existe relação entre o Nível de escolaridade e o tipo de inovação lexical usado


pelos informantes

Tabela 4: Tipos de Inovação X Nível de Escolaridade – Fonte: Dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (12,50) < X² verificado (34,70), então H0 é rejeitada

Logo, o NÍVEL DE ESCOLARIDADE e o TIPO DE INOVAÇÃO LEXICAL são


variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

Parece que o indivíduo de Ensino fundamental faz uso de estruturas mais simples,
mais familiares, usando a língua materna como matriz, justificando, desse modo o uso mais
intenso de calques mixados nessa categoria.
Já os indivíduos que têm curso superior sentem dificuldade de encontrar termos mais
precisos para situações que a língua materna não contempla com um termo adequado, fazendo
uso mais intenso de empréstimos. A busca de prestígio e reconhecimento do conhecimento de
uma segunda língua também podem ser fatores que justificam o uso maior de empréstimos
linguísticos por indivíduos que tem formação acadêmica mais avançada.
129

Já o estudo de Poplack, Sankoff e Miller (1985) encontrou uma relação entre níveis de
escolaridade e uso de empréstimos, sendo que os empréstimos mais integrados à língua
materna tendem a ser mais utilizados pelos falantes de baixo nível de escolaridade, enquanto
os mais inovadores foram usados por falantes de nível secundário ou superior.

4.5.1.5. Proficiência em língua inglesa versus Tipos de Inovações Lexicais

Em sexto lugar, testamos a variável proficiência (domínio) da língua inglesa que os


informantes detêm, pois havia uma expectativa de que os brasileiros imigrantes nos EUA não
tinham proficiência nessa língua.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre Proficiência em língua inglesa e o tipo de inovação lexical
usado pelos informantes
H1 = Existe relação entre Proficiência em língua inglesa e o tipo de inovação lexical
usado pelos informantes

Os gráficos 10 e 11, a seguir, demonstram a proficiência dos informantes em relação


aos tipos de inovações lexicais usadas por eles.

Gráfico 10: Domínio da Língua Inglesa – Fonte: Dados da pesquisa


130

O nível de proficiência em inglês observado por si só já foi uma surpresa, pois a


expectativa era de um nível inferior ao encontrado. Como pode ser observado no gráfico 10,
acima, 43,3% dos informantes eram proficientes em língua inglesa, enquanto 36,7% tinham
nível médio de proficiência e apenas 20% tinha nível baixo de proficiência em língua inglesa.

Gráfico 11: Tipos de Inovação X Domínio da Língua Inglesa– Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 5: Tipos de Inovação X Domínio da Língua Inglesa– Fonte: Dados da


Pesquisa
131

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (12,50) < X² verificado (48,70), então H0 é rejeitada

Logo, o DOMÍNIO DA LINGUA INGLESA e o TIPO DE INOVAÇÃO LEXICAL


são variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

Como pode ser verificado na tabela 5, acima, os informantes de baixa proficiência em


inglês fizeram uso mais acentuado de calques mixados do que seria esperado (74 X 45),
enquanto os informantes de maior proficiência fizeram uso menos acentuado (44 X 71).
Sugerindo uma tendência de mixagem por falantes que não são proficientes na língua-alvo,
possivelmente porque estariam mais susceptíveis à interferência da língua materna. Em
relação a utilização de empréstimos, a relação seria de ordem inversa, ou seja, os informantes
de maior proficiência em inglês fizeram uso mais acentuado de empréstimos do que seria
esperado ( 132 X 113), enquanto os informantes de menor proficiência fizeram uso menos
acentuado (57 X 71). Isso sugere uma tendência da utilização de empréstimos por falantes que
são proficientes na língua-alvo, possivelmente por mera questão de escolha lexical.

Gráfico 12: Correlação Entre Domínio de Língua - Alvo e Calques Mixados


Fonte: Dados da pesquisa
132

Embora a amostra não fosse definida com o propósito de fazer tal aferição, pudemos
verificar, a partir dos dados coletados, que o nível de domínio da língua-alvo apresenta uma
correlação direta com o uso de empréstimos linguísticos, e uma correlação inversa com o uso
de calques mixados. A validação desta constatação dependeria de um estudo mais profundo e
da definição de uma amostra com esse propósito.
Por outro lado, os estudos realizados por Poplack, Sankoff e Miller (1988)
encontraram que, para as inovações lexicais que ocorrem no francês de moradores de Quebec,
Canadá, no que tange a empréstimos, a pertença à classe social parece ser um fator mais
significativo que efeitos ambientais ou proficiência bilíngue. Já em relação aos padrões de
inovações, os efeitos ambientais são muito importantes, sugerindo que o uso de empréstimos é
um comportamento adquirido, e não uma mera necessidade terminológica. Para Poplack,
Sankoff e Miller (1988), os bilíngues equivalentes são, geralmente, os responsáveis pela
criação e disseminação de inovações lexicais. Segundo eles, a sua familiaridade com a
segunda língua é o fator que possibilita o uso e difusão de inovações lexicais.
Pode-se observar também que o uso de calques fonologicamente independentes foi
baixo nas três categorias, sendo proporcionalmente mais baixo nos informantes mais
proficientes em inglês.
Assim, Poplack, Sankoff e Miller (1985) verificaram em seu estudo que, a proficiência
do falante na língua-alvo não exerce influência importante na taxa de uso geral de
empréstimos. Desse modo, não importando a capacidade linguística desse falante, tendo
acesso a itens lexicais de outra língua, ele agirá conforme as tendências prevalentes na sua
comunidade de fala. Caso ele resida em uma comunidade onde o uso de empréstimos é uma
prática comum, podemos deduzir que grande porção do seu vocabulário será constituído de
empréstimos, conquanto as circunstâncias sociais não militem contra o seu uso.
O uso de calques frasais, embora apresentando um peso relativamente menor na
totalidade das observações, teria sido menos intensamente utilizado pelos elementos de
menor proficiência da língua-alvo do que seria esperado (9 X 24) ao mesmo tempo em que se
verifica que os elementos de média e alta proficiência utilizam mais intensamente os calques
frasais do que seria esperado (38 X 24) e (47 X 32), respectivamente. Isso sugere, portanto
que a preferência de uso dos calques frasais pode ser um indicativo de uma relação ou que
pudesse ser explicada a partir dos níveis de Proficiência da Lingua-Alvo.
Importante salientar que o contraponto verificado por Poplack, Sankoff e Miller
(1988), de certa forma também corrobora a constatação verificada nesta pesquisa, visto que
133

reconhece a função do contexto na utilização das citadas variações. Para um melhor


entendimento, seria imperativo observar em que proporção a utilização das citadas variações
poderia ser reconhecida como um indicativo de prestígio ou estimatização em cada contexto.
Assim, seria natural presumir que o elemento com maior proficiência em duas línguas fizesse
o uso das variações lexicais, de forma mais ou menos intensa, segundo sua conveniência
contextual. Os resultados, ainda que eventualmente divergentes, indicariam o grau de
influência do contexto enquanto fator motivador ou inibidor do uso de tais inovações.

4.5.1.6. Classe Social versus Tipos de Inovações Lexicais

Em sétimo lugar, testamos a classe social dos informantes. Esse é um fator sócio-
demográfico bastante importante na área de variação sociolinguística. Entretanto, para um
grau de significância de 5%, esse fator não tem relação com o uso de inovações lexicais.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre Classe Social e o tipo de inovação lexical usado pelos
informantes
H1 = Existe relação entre Classe Social e o tipo de inovação lexical usado pelos
informantes

Gráfico 13: Classe Social


134

Fonte: Dados da pesquisa

Gráfico 14: Tipos de Inovação X Classe Social – Fonte: Dados da pesquisa

Como já havíamos mencionado anteriormente, as classes sociais em questão não se


relacionam às questões de divisão de classe da sociedade americana. Quando classificamos os
brasileiros imigrantes em “classe média” e “classe baixa”, tínhamos em mente a situação dos
brasileiros. Muito provavelmente o que é considerado classe média para um americano não
seria o mesmo que nós consideramos. Classe média para esta pesquisa significa uma pessoa
que tem imóveis, carros, um bom emprego, acesso a escolas particulares e uma vida sem
atropelos de ordem financeira.
Como não havia classe alta de brasileiros, pelo menos entre os informantes,
resolvemos abandonar essa classe e nos concentrarmos nas classes média e baixa.
135

Tabela 6: Tipos de Inovação X Classe Social – Fonte: Dados da pesquisa

Se X² crítico (7,81) > X² verificado (5,98), então H0 é aceita

Logo, a CLASSE SOCIAL e o TIPO DE INOVAÇÃO LEXICAL são variáveis cuja


relação não pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

Os estudos de Poplack, Sankoff e Miller (1988) corroboram esse resultado, no sentido


de que ao estudarem os padrões de empréstimo feito por moradores de Quebec, a proporção
das chamadas “nonce words”, termo equivalente a calques mixados, a classe social não
explica a grande influência que tem na taxa de uso geral de empréstimos. Eles encontraram,
entretanto, uma relação direta entre alta proficiência na língua-alvo e a propensão ao uso de
calques mixados. Já os empréstimos formam parte do léxico estigmatizado e desse modo, são
evitados pelas classes mais altas.

4.5.1.7. Início de Aprendizagem da Língua-alvo versus Tipos de Inovações Lexicais

Em um estudo realizado por Poplack (1999), a classificação dos informantes porto-


riquenhos foi feita de acordo com a idade do informante ao chegar nos EUA e a preferência
de língua usada, espanhol ou inglês. As idades eram de 0-6 anos quando a influência dos pais
136

é primordial; de 7-12, quando a influência dos pares começa a se interpôr à influência dos
pais; de 13-17, quando a influência dos pares se torna a principal e de 18 anos em diante,
quando os padrões de uso da linguagem tendem a se tornar cristalizados.
Para Beardsmore (1986), a idade do falante no início de uma exposição prolongada à
segunda língua pode influenciar sobremaneira o desempenho desse falante, aliado a outros
fatores, como a natureza do input e o nível de interferência da língua materna, por exemplo.
Segundo Beardsmore, a fossilização ou cristalização de estruturas pode ocorrer em
vários estágios da aprendizagem de uma segunda língua, levando a uma aquisição parcial do
domínio dessa língua. Como isso se aplica a grupos de indivíduos, assim como para
indivíduos, podemos dizer que a fossilização pode levar ao surgimento de um “dialeto de
contato”, segundo Haugen (1977), em que uma competência interlinguística fossilizada pode
ser a situação normal.
Com base nesse estudo, testamos, então, a data de início da aprendizagem de língua
estrangeira dos nossos Informantes.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre Início de Aprendizagem e o tipo de inovação lexical usado
pelos informantes
H1 = Existe relação entre Início de Aprendizagem e o tipo de inovação lexical usado
pelos informantes

Gráfico 15: Início da Aprendizagem – Fonte: Dados da pesquisa


137

Gráfico 16: Tipos de Inovação X Início da Aprendizagem – Fonte: Dados da pesquisa

Procuramos observar, com esses dados, se a idade em que o informante começou a ter
contato com a língua estrangeira poderia ter alguma influência no tipo de inovações lexicais
que ele apresentava em seu discurso.

Tabela 7: Tipos de Inovação X Início do Aprendizado – Fonte: Dados da pesquisa

Se X² crítico (7,81) < X² verificado (25,01), então H0 é rejeitada


138

Logo, a IDADE DE INÍCIO DO APRENDIZADO DA LINGUA INGLESA e o TIPO


DE INOVAÇÃO LEXICAL são variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de
significância de 5%.

Verificamos uma correlação diretamente proporcional em função da idade de


aprendizagem de língua-alvo para a utilização de calques mixados, e inversamente
proporcional para uso de empréstimos linguísticos. Os informantes que iniciaram a
aprendizagem da língua-alvo de 0 a 20 anos de idade, que tendem a adquirir uma proficiência
mais equivalente entre língua materna e língua-alvo, fizeram proporcionalmente mais uso de
empréstimos linguísticos que das demais inovações lexicais. Já as pessoas que iniciaram seu
aprendizado após os 21 anos, que têm uma tendência maior a utilizar a língua materna como
referência, fizeram proporcionalmente mais uso de calques mixados do que das demais
inovações linguísticas.

4.5.1.8. Atividade nos EUA versus Tipos de Inovações Lexicais

Segundo Poplack (1999), os fatores funcionais, que podemos chamar também de


“atividades funcionais”, são os fatores mais fortes para a ocorrência de codeswitching, embora
os fatores linguísticos também tenham um papel a desempenhar nesse processo.

O tipo de atividade nos EUA foi testado frente ao tipo de inovação lexical para
verificar a hipótese de relação entre essas variáveis. Como vimos anteriormente, esta se
mostrava como uma variável muito importante em relação ao tipo de inovação.
139

Gráfico 17: Atividades nos EUA – Fonte: Dados da pesquisa

Testamos, então, o tipo de atividade dos informantes nos EUA.

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:
H0 = Não há relação entre o tipo de atividade dos informantes nos EUA e o tipo de
inovação lexical usado pelos informantes
H1 = Existe relação entre o tipo de atividade dos informantes nos EUA o tipo de
inovação lexical usado pelos informante
140

Gráfico 18: Tipos de Inovação X Atividades nos EUA – Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 8: Tipos de Inovação X Atividades nos EUA – Fonte: Dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (12,50) < X² verificado (58,51), então H0 é rejeitada

Logo, o TIPO DE ATIVIDADE DESEMPENHADA NOS EUA e o TIPO DE


INOVAÇÃO LEXICAL são variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de
significância de 5%. Essa hipótese se confirma de acordo com o teste qui-quadrado. As
141

atividades ligadas à mão de obra braçal representam mais de 53,3% das ocupações
desempenhadas pelos brasileiros informantes desta pesquisa, seguidas de cerca de 26,7% de
mão de obra qualificada e 20% de estudantes.
A única categoria que apresentou maior incidência de calques mixados do que o
esperado foi a categoria dos representantes da mão-de-obra braçal. Isso sugere, como já
havíamos aventado no capítulo 1, página 16, que as pessoas que desempenham trabalhos
braçais, que não requerem treinamento acadêmico, se utilizam mais dos calques mixados,
usando o significante de inglês com o significado em português. Os empréstimos foram
utilizados em proporção maior do que esperado pelos estudantes de nossa pesquisa, que são,
em geral, mais jovens e fluentes em inglês.

Tabela 9: Resultado do Teste Qui-Quadrado – Inovações – Fonte: Dados da pesquisa

Verificamos, como pode ser atestado observando-se a tabela 9, acima, que, para um
nível de significância de 5%, as variáveis “Atividades nos EUA”, “Domínio de Língua
Inglesa”, “Tempo de residência nos EUA”, “Escolaridade”, “Idade do Início da
aprendizagem” e “Idade” permitem a rejeição da Hipótese Nula.

No que concerne às variáveis “Classe” e “Gênero”, entretanto, a Hipótese Nula foi


aceita para um nível de significância de 1% a 5%, o que significa que elas não interferem na
determinação do Tipo de Inovação Lexical a ser utilizado pelo informante.
142

4.5.2. Ocorrência de Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos


versus condições sócio-demográficas

Muitos estudiosos consideram o campo semântico como um importante


aspecto a ser considerado ao se tratar de inovações lexicais, pelo fato de que os hibridismos
resultantes de contato linguístico parecem incidir mais sobre alguns campos semânticos do
que sobre outros.
Poplack, Sankoff e Miller (1988) alegam que os empréstimos aparentemente
motivados por necessidade estão concentrados em alguns campos semânticos. No caso da
pesquisa desses autores citados acima, trata-se de áreas em que a influência da cultura e das
instituições anglofônicas são muito fortes no Canadá.
Tyson, 1993, por exemplo, ao fazer um estudo sobre o uso disseminado de
empréstimos de inglês no Coreano, alega que há determinados campos semânticos em que
exemplos de empréstimos linguísticos de inglês são muito comuns. Isso acontece, segundo
ele, porque algumas áreas estão mais propensas a uma aceitação maior de vocabulário novo
do que outras, como tecnologia, medicina, alimentação e utensílios para o lar, engenharia,
esportes e moda.
Com essa perspectiva em vista, buscando fazer uma ponte entre as
características sócio-demográficas dos informantes e as inovações lexicais utilizadas por eles
em determinados campos semânticos, elaboramos um Histograma de Frequência onde
aparecem as inovações lexicais separadas pelos campos semânticos abordados pelos
informantes.
143

Gráfico 19: Histograma de Frequência: Campo Semântico Detectado nas Inovações Lexicais
Fonte: Dados da pesquisa

Importante salientar que, das 555 ocorrências de inovações lexicais detectadas, 390
puderam ser categorizadas nos campos semânticos evidenciados acima: moradia, imigração,
equipamentos/eletrodomésticos, lugares e atividades desempenhadas pelos imigrantes nos
EUA. Os demais campos semânticos abordados pelos informantes não puderam ser
categorizados devido à variedade de assuntos que eles suscitavam, sendo, portanto,
desconsiderados para efeito de avaliação.

4.5.2.1. Gênero versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos

A seguir, demonstraremos os testes realizados entre as inovações lexicais detectadas


nos diferentes campos semânticos abordados pelos informantes durante as entrevistas e os
dados sócio-demográficos desses informantes.
Primeiramente testamos a variável “gênero”. O objetivo de testar os campos
semânticos mais salientes em relação ao uso de inovações lexicais foi o de verificar se essa
condição sócio-demográfica propicia mais o uso de inovações lexicais ao se falar sobre
determinados campos semânticos ou não.
144

Testamos, então, o gênero dos informantes ao usarem as inovações lexicais


categorizadas por diferentes campos semânticos.

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:
H0 = Não há relação entre o gênero dos informantes e as inovações lexicais
categorizadas por diferentes campos semânticos.
H1 = Existe relação entre o gênero dos informantes e as inovações lexicais
categorizadas por diferentes campos semânticos

Gráfico 20: Gênero – Fonte: Dados da pesquisa

Gráfico 21: Campos Semânticos X Gênero – Fonte: Dados da pesquisa


145

Tabela 10: Campos Semânticos X Gênero – Fonte: Dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (9,49) < X² verificado (60,61), então H0 é rejeitada

Logo, o GÊNERO e o CAMPO SEMÂNTICO EM QUE APARECEM AS


INOVAÇÕES LEXICAIS são variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de
significância de 5%.

Como a tabela 10 parece sugerir, as inovações lexicais foram utilizadas pelas mulheres
mais do que o esperado ao tratarem de assuntos como “moradia”, “imigração” e
“eletrodomésticos”. Talvez a explicação desse resultado esteja no fato de que a mulher em
questão se preocupe com a sua segurança tendo uma moradia e estando legalmente no país.
Os campos semânticos “eletrodomésticos” e “moradia” foram salientes em relação ao uso de
inovações lexicais devido às atividades ocupacionais das nossas informantes, geralmente
ligadas à área de faxina, onde os equipamentos domésticos têm um papel primordial.
Já os campos semânticos “Lugares” e “Atividades” foram predominantemente mais
usados pelos homens, possivelmente por serem ligados às atividades desempenhadas por eles,
que também envolvem frequentes deslocamentos.
146

Poplack, Sankoff e Miller (1985) observaram que os trabalhadores sem qualificação e


aqueles que apresentam “desemprego crônico” utilizam muito menos substantivos, cerca de
55%, com mais empréstimos distribuídos entre as classes de palavras em que se realizam mais
inovações do que os informantes que desempenham outras atividades no Canadá. Isso sugere
que não apenas os empréstimos, mas especificamente os empréstimos feitos na categoria mais
comum (66% a 77% de substantivos) são estigmatizados pela mão-de-obra especializada.

4.5.2.2. Idade versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos

Testamos, então, a Idade dos informantes ao usarem as inovações lexicais


categorizadas por diferentes campos semânticos.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre a Idade dos informantes e as inovações lexicais
categorizadas por diferentes campos semânticos.
H1 = Existe relação entre a Idade dos informantes e as inovações lexicais categorizadas
por diferentes campos semânticos

Gráfico 22: Idade


Fonte: Dados da pesquisa
147

Gráfico 23: Campos Semânticos X Idade


Fonte: dados da pesquisa

Em segundo lugar, testamos a variável idade para as inovações lexicais categorizadas


por campos semânticos.

Tabela11: Campos Semânticos X Idade – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (15,51) < X² verificado (23,64), então H0 é rejeitada


148

Logo, a IDADE e o CAMPO SEMÂNTICO EM QUE APARECEM AS INOVAÇÕES


LEXICAIS são variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

Em relação à idade, podemos dizer que os informantes mais jovens, minoria da nossa
amostra, fizeram uso de inovações lexicais conforme esperado, ao falarem sobre suas
atividades ocupacionais, geralmente sobre a escola, os colegas, etc. Como o uso de inovações
lexicais foi apenas um pouco superior ao esperado, isso pode sugerir que os falantes mais
jovens, de 07 a 15 anos, fazem menos uso de inovações lexicais em geral, mesmo falando de
suas atividades diárias.
Os informantes de 16 a 30 anos fizeram mais uso de inovações lexicais do que o
esperado ( 51 X 43) ao falar sobre atividades, enquanto os informantes de 31 anos de idade ou
mais fizeram mais uso de inovação ao falarem sobre eletrodomésticos e atividades
ocupacionais.
Essas parciais se justificam pelo fato de que a maioria dos informantes de 16 a 30 anos
eram estudantes e faziam inovações lexicais ao falarem sobre suas atividades escolares.

Já os informantes de idades acima de 31 anos, que eram, em sua maioria,


trabalhadores, cuja ocupação representava a sua sobrevivência nos EUA e a possibilidade de
enviar fundos ao Brasil, fizeram uso intenso de inovações lexicais ao abordarem os campos
semânticos “eletrodomésticos” e “imigração”. Isso sugere que o campo semântico
“eletrodomésticos” era parte integrante de várias atividades desempenhadas pelos brasileiros
informantes desta pesquisa, que desempenhavam atividades de faxineiros, caseiros, etc. Já o
campo semântico “imigração”, que também suscitou o uso de inovações lexicais, também é
uma preocupação constante dos imigrantes mais velhos, que veem na imigração um risco à
sua segurança nos EUA.

Como o valor do qui-quadrado crítico é próximo ao valor do qui-quadrado verificado,


não é possível traçarmos muitas inferências a esse respeito, já que não houve muitas
divergências entre o verificado e o esperado.
149

4.5.2.3. Tempo de Residência versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos

Em seguida testamos a variável inovações lexicais detectadas nos campos semânticos


contra o tempo de residência nos EUA.

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:

H0 = Não há relação entre o Tempo de Residência nos EUA e as inovações lexicais


categorizadas por diferentes campos semânticos.
H1 = Existe relação entre o Tempo de Residência nos EUA e as inovações lexicais
categorizadas por diferentes campos semânticos

Gráfico 24: Tempo de Residência


Fonte: dados da pesquisa
150

Gráfico 25: Campos Semânticos X Tempo de Residência


Fonte: dados da pesquisa

Tabela12 – Campos Semânticos X Tempo de Residência – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:


151

Se X² crítico (15,51) < X² verificado (61,93), então H0 é rejeitada

Logo, o TEMPO DE RESIDÊNCIA NOS EUA e o CAMPO SEMÂNTICO EM QUE


APARECERAM AS INOVAÇÕES LEXICAIS são variáveis cuja relação pode ser verificada
para o nível de significância de 5%.

Como é observável pela tabela 12, os campos semânticos “eletrodomésticos” e


“atividades” foram aqueles em que o uso de inovações lexicais teve maior incidência, entre os
informantes que residiam nos EUA de 0 a 10 anos. Esse resultado é compatível com a
realidade dos brasileiros que moram nos EUA há menos de 10 anos, cuja preocupação
primordial é com a atividade profissional e, como muitas dessas atividades são ligadas a
eletrodomésticos por envolverem limpeza, as inovações lexicais nesse campo semântico são
também muito citadas nas entrevistas.

4.5.2.4. Nível de Escolaridade versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos

Testamos, em seguida, a variável inovações detectadas nos campos semânticos contra


o nível de escolaridade dos informantes, como pode se verificado na tabela a seguir.
152

Gráfico 26: Nível de Escolaridade – Fonte: dados da pesquisa

Gráfico 27: Campos Semânticos X Nível de Escolaridade – Fonte: dados da pesquisa

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:
H0 = Não há relação entre o nível de escolaridade dos informantes e as inovações
lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos.
153

H1 = Existe relação entre o nível de escolaridade dos informantes e as inovações


lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos.

Tabela13: Campos Semânticos X Nível de Escolaridade – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (15,51) < X² verificado (39,74), então H0 é rejeitada

Logo, o NÍVEL DE ESCOLARIDADE e o CAMPO SEMÂNTICO EM QUE


APARECERAM AS INOVAÇÕES LEXICAIS são variáveis cuja relação pode ser verificada
para o nível de significância de 5%.

Em relação ao nível médio de escolaridade, observamos que os informantes


mencionam o campo semântico “atividades” mais do que os seus pares. Outra tendência
observável através da tabela 13, é que o falante de nível superior tem uma preocupação maior
do que esperada em relação à imigração.

Traçando inferências a respeito dessas duas conjecturas, podemos dizer que o


informante de ensino médio talvez se sinta bastante confortável ao falar de suas atividades nos
EUA comparando-as com atividades paralelas no Brasil, onde o salário seria, certamente
muito mais baixo. Já o falante de ensino superior parece não se sentir muito confortável
154

falando de atividades desempenhadas nos EUA, de status muito inferior ao que um


trabalhador de nível universitário se sujeitaria no Brasil. Além disso, a preocupação dos
informantes de nível superior com a imigração pode estar relacionada à legalização e
melhores oportunidades profissionais na América, compatíveis com o seu nível de
escolaridade.

4.5.2.5. Domínio de Língua Inglesa versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos
Semânticos

Testamos, em seguida, a variável “Inovações” detectadas nos campos semânticos


contra o Domínio de Língua Inglesa dos informantes, como pode se verificado na tabela 15 a
seguir.

Gráfico 28: Domínio da Língua Inglesa – Fonte: dados da pesquisa


155

Gráfico 29: Campos Semânticos X Domínio da Língua Inglesa – Fonte: dados da pesquisa

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:
H0 = Não há relação entre o Domínio de Língua Inglesa dos informantes e as
inovações lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos.
H1 = Existe relação entre o Domínio de Língua Inglesa dos informantes e as inovações
lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos

Tabela14: Campos Semânticos X Domínio da Língua Inglesa – Fonte: Dados da


Pesquisa
156

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (15,51) < X² verificado (18,41), então H0 é rejeitada

Logo, o NIVEL DE DOMÍNIO DA LINGUA INGLESA e o CAMPO SEMÂNTICO


em que APARECERAM AS INOVAÇÕES LEXICAIS são variáveis cuja relação pode ser
verificada para o nível de significância de 5%.

Como podemos observar a partir da tabela 14, apenas os campos semânticos


“imigração” e “atividades” se sobressaíram entre os outros. Os informantes de domínio médio
da língua inglesa falam mais sobre as atividades exercidas nos EUA, já que os altos salários
recebidos por atividades mal-remuneradas no Brasil fazem com que eles se sintam orgulhosos
de desempenharem tais atividades.
Os informantes de nível alto de proficiência em inglês, por sua vez, têm uma
preocupação com a imigração, provavelmente porque, falando um bom nível de inglês, se eles
estivessem legalizados conseguiriam um emprego melhor nos EUA.

4.5.2.6. Classe Social versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos

Verificamos, então, a classe social dos informantes, a conferir nos gráficos abaixo.

Gráfico 30: Classe Social – Fonte: dados da pesquisa


157

Gráfico 31: Campos Semânticos X Classe Social – Fonte: dados da pesquisa

Testamos, em seguida, a variável “Inovações” detectadas nos campos semânticos contra a


Classe Social dos informantes, como pode se verificado na tabela 15 a seguir.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre a Classe Social dos informantes e as inovações lexicais
categorizadas por diferentes campos semânticos.
H1 = Existe relação entre a Classe Social dos informantes e as inovações lexicais
categorizadas por diferentes campos semânticos
158

Tabela15: Campos Semânticos X Classe Social – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (9,49) < X² verificado (3,99), então H0 é aceita

Logo, a CLASSE SOCIAL e o CAMPO SEMÂNTICO EM QUE APARECERAM AS


INOVAÇÕES LEXICAIS são variáveis cuja relação NÃO pode ser verificada para o nível de
significância de 5%.
Conforme constatado através do teste qui-quadrado, a variável “Classe Social” não
mostrou correlação com os campos semânticos observados. Não podemos, portanto, traçar
inferências a esse respeito.

4.5.2.7. Início de Aprendizagem versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos

Testamos, depois disso, o Início de Aprendizagem do informante em relação ao


Campo Semântico, com resultados mostrados nos gráficos abaixo.
159

Gráfico 32: Início do Aprendizado – Fonte: dados da pesquisa

Gráfico 33: Campos Semânticos X Início do Aprendizado – Fonte: dados da pesquisa

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:
H0 = Não há relação entre o Início de aprendizagem do informante e as inovações
lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos.
H1 = Existe relação entre o Início de aprendizagem do informante e as inovações
lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos
160

Tabela16: Campos Semânticos X Início do Aprendizado – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (9,49) < X² verificado (20,30), então H0 é rejeitada

Logo, a IDADE NO INÍCIO DA APRENDIZAGEM DA LINGUA INGLESA e o


CAMPO SEMÂNTICO EM QUE AS INOVAÇÕES APARECERAM são variáveis cuja
relação pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

Os informantes que iniciaram a aprendizagem da língua-alvo de 0 a 10 anos de idade


tiveram maior preocupação com as atividades desempenhadas nos EUA. A maioria deles era
estudante, então, a atividade escolar corrobora essa inferência, o mesmo ocorrendo com os
informantes que iniciaram a aprendizagem dos 11 aos 20 anos, pelas mesmas razões.

No que concerne aos informantes que começaram a aprender inglês depois dos 21
anos, grande maioria dos informantes, a maior preocupação manifestada por eles foram os
“eletrodomésticos”. A atividade dos informantes certamente influenciou essa tendência,
sendo muito provável que o trabalho desempenhado por eles seja relacionado ao trabalho
doméstico.
161

4.5.2.8. Atividades ocupacionais versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos


Semânticos

Testamos, por fim, as atividades ocupacionais dos informantes versus as Inovações


Lexicais categorizadas pelos Campos Semânticos mencionados pelos informantes, ilustradas
pelos gráficos 33 e 34, abaixo.

Gráfico 34: Atividades nos EUA – Fonte: dados da pesquisa

Gráfico 35: Campos Semânticos X Atividades nos EUA – Fonte: dados da pesquisa
162

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:
H0 = Não há relação entre as atividades ocupacionais dos informantes e as inovações
lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos.
H1 = Existe relação entre as atividades ocupacionais dos informantes e as inovações
lexicais categorizadas por diferentes campos semânticos

Tabela17: Campos Semânticos X Atividade nos EUA – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (15,51) < X² verificado (18,20), então H0 é rejeitada

Logo, o TIPO DE ATIVIDADE DESEMPENHADA NOS EUA e o CAMPO


SEMÂNTICO EM QUE APARECERAM AS INOVAÇÕES LEXICAIS são variáveis cuja
relação pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

A variável “Atividade” mostrou-se bastante relevante em termos dos campos


semânticos abordados pelos informantes. A mão-de-obra braçal, maioria absoluta dos
informantes desta pesquisa (53,3%), fez uso relevante de inovações lexicais ao abordar os
campos semânticos “Imigração” e “Atividades”. Muito coerente com a realidade já
conhecida, de brasileiros trabalhadores informais preocupados com a ilegalidade de sua
163

situação e com o trabalho propriamente dito. Já a mão-de-obra qualificada fez uso de


inovações lexicais ao mencionar o campo semântico “Eletrodomésticos”, provavelmente por
estar ligado às atividades de seus subordinados.
Para Poplack, Sankoff e Miller (1985), alguns contextos e tópicos de conversa
favorecem certos tipos de empréstimos que tendem a ser usados repetidamente. Podemos
observar também em nosso estudo, que muitos empréstimos aparentemente motivados por
necessidade estão concentrados em certos campos semânticos, áreas em que, de fato, a
influência do ambiente da língua inglesa é palpável.
A seguir, verificamos, através da tabela 18, abaixo, as relações de dependência entre os
campos semânticos abordados pelos informantes e as características sócio-demográficas
apontadas neste estudo.

Tabela18: Resultado Teste Qui-Quadrado – Inovações Lexicais Por Campos Semânticos


Fonte: dados da pesquisa

O estudo atesta que, para um nível de significância entre 1% e 5%, as variáveis


“tempo de residência nos eua”, “gênero”, “escolaridade”, “idade de início de aprendizagem da
língua-alvo”, “atividade nos eua” e “idade” rejeitam a hipótese nula, tendo correlação com o
uso de inovações lexicais detectadas nos campos semânticos mencionados no teste. Já para o
nível de significância de 1%, a variável “domínio de língua inglesa” aceita a hipótese nula,
indicando que não existe correlação entre o uso de inovações lexicais detectadas nos campos
semânticos e os fatores sócio-demográficos dos informantes, sendo que a hipótese nula é
rejeitada apenas para um nível de significância de 5%. A variável “classe” aceita a hipótese
nula tanto para para um nível de significação de 1% quanto de 5%, indicando não ser
correlacionada ao uso de inovações lexicais detectadas nos campos semânticos abordados
pelo estudo em questão.
164

isso significa, portanto, que as variáveis supracitadas influenciam o uso de inovações


lexicais em determinados campos semânticos, com prevalência em “atividades desenvolvidas
nos eua”.
tendo isso em mente, verificamos abaixo se o campo semântico influenciaria o tipo de
inovação lexical a ser utilizado pelo informante. Partindo da premissa de que a ocorrência de
calques independentes e calques frasais foi inexpressiva, comparando-a às ocorrências de
calques mixados e empréstimos linguísticos, decidimos considerar apenas as ocorrências de
calques mixados e empréstimos.
Do mesmo modo, como as incidências dos campos semânticos “Lugares”e “Moradia”
fossem também inexpressivas, decidimos desconsiderá-las, comparando, então, os “Tipos de
Inovações Lexicais”, divididos em “Calques Mixados”e “Empréstimos” e os “Campos
semânticos” em que elas ocorreram, divididos em “Atividades”, “Eletrodomésticos” e
“Imigração”.
Testamos os campos semânticos “Atividades”, “Eletrodomésticos” e “Imigração”
detectados nas falas dos informantes versus as Inovações Lexicais utilizadas por eles,
ilustrados pelo gráfico 36, abaixo.

Gráfico 36: Campos Semânticos X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:
165

H0 = Não há relação entre os campos semânticos abordados pelos informantes e os


tipos de inovações lexicais utilizados por eles.
H1 = Existe relação entre os campos semânticos abordados pelos informantes e os tipos
de inovações lexicais utilizados por eles.

Tabela 19: Campos Semânticos X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (5,99) > X² verificado (0,26), então H0 é aceita

Logo, o CAMPO SEMÂNTICO e os TIPOS DE INOVAÇÕES LEXICAIS são


variáveis cuja relação não pode ser verificada para o nível de significância de 5%.

Como pode ser verificado no gráfico 36 e na tabela 19, acima, não foi possível
identificar correlação entre campos semânticos e o tipo de inovação lexical utilizada, o que
muito nos impressionou, já que tínhamos expectativa de que o campo semântico “Atividades”
apresentasse uma prevalência de calques mixados. Entretanto, a hipótese nula não pôde ser
rejeitada para um nível de significância de 5% mostrando não haver correlação entre essas
variáveis.
A seguir, a fim de verificarmos as classes de palavras mais frequentemente utilizadas
nos tipos de inovações lexicais que foram mais detectados nesta pesquisa, elaboramos um
gráfico tabulando esses dados, como pode ser visualizado no gráfico 37, abaixo.
166

Gráfico 37: Classes de Palavras X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa

Como podemos inferir ao visualizar o gráfico 37, acima, os substantivos foram


realmente a classe de palavras mais detectada nas inovações lexicais realizadas pelos nossos
informantes, perfazendo um total de 300 ocorrências, seguidos pelos verbos (122 ocorrências)
e adjetivos (32 ocorrências). Houve ocorrência de alguns advérbios e interjeições também,
mas como a quantidade se mostrasse inexpressiva frente às três classes de palavras
mencionadas anteriormente (substantivos, verbos e adjetivos), decidimos nos concentrar
nessas três classes de palavras.
Como já havíamos mencionado anteriormente, citando Haugen (1950), algumas
classes de palavras são mais afeitas a determinados tipos de inovações lexicais. Esse é o caso
dos substantivos em relação aos empréstimos linguísticos, o que foi confirmado pela nossa
pesquisa. O que nos parece bastante relevante em relação a esse fato é que, embora o número
de substantivos fosse ainda bem maior que o esperado em relação aos empréstimos
linguísticos (252 X 184,36), em relação aos calques mixados a sua ocorrência foi bem menor
que o esperado (48 X 115,64), o que mostra claramente que os substantivos se prestam mais a
empréstimos linguísticos, e em bem menor proporção, a calques mixados.
Já em relação aos verbos, que apresentaram 122 ocorrências, houve 103 delas
ocorrendo em calques mixados, em número muito maior que o esperado (103 X 47,03). Isso
revela aquilo que buscamos mostrar desde o princípio desta discussão: as inovações lexicais
propriamente ditas, que ilustram criatividade do falante ao manusear os dois códigos
linguísticos que ele tem em seu poder, estão concentradas nos calques mixados, mais
especificamente nos sintagmas verbais. É nos sintagmas verbais que as desinências modo-
167

temporais e de número e pessoa são atribuídas ao radical. Isso acontece também com a vogal
temática atribuída ao verbo, que, aliás, é sempre “a”, indicando a primeira conjugação em
português.

Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,


temos:

H0 = Não há relação entre as classes de palavras e os tipos de inovações lexicais


utilizadas pelos informantes.
H1 = Existe relação entre as classes de palavras e os tipos de inovações lexicais
utilizadas pelos informantes.

Tabela 20: Classes de Palavras X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa

RESULTADO DO TESTE QUI-QUADRADO:

Se X² crítico (5,99) < X² verificado (190,74), então H0 é rejeitada

Logo, as CLASSES DE PALAVRAS e os TIPOS DE INOVAÇÕES LEXICAIS são


variáveis cuja relação pode ser verificada para o nível de significância de 5%.
Foi possível observar essa correlação entre substantivos e empréstimos e entre calques
mixados e verbos muito claramente em nossa pesquisa. A maioria dos empréstimos (prom,
168

cable, pantry) pareciam revelar mais uma tomada de posição em relação à cultura norte-
americana do que uma necessidade terminológica premente. Normalmente tratava-se de
empréstimos, com pouca interferência fonológica de português.
Além disso, fizemos algumas observações interessantes em relação aos verbos usados
por nossos informantes. Todos eles eram de primeira conjugação (parkear, mopear, drivar,
shopar, dropar, etc.), tendo como vogal temática a letra “a”. Sabemos que essa é uma norma
gramatical, pois, segundo Possenti (2003), os verbos importados se tornam verbos regulares
da primeira conjugação, assim como “printar, estartar, inicializar, guglar”, etc. Entretanto,
como o nosso informante não é um estudioso da gramática normativa do português, podemos
deduzir que se trata de uma norma a ser internalizada pelos falantes brasileiros nessa situação.
Todo falante de uma língua, durante a fase de aquisição, assimila ou "internaliza", uma série
de princípios e regras altamente elaborados, que lhe permitem produzir enunciados que serão
reconhecidos como bem formados pelos demais membros de sua comunidade.

4.6. Outro instrumento de pesquisa

A presente pesquisa tem um cunho qualitativo relevante e considero importantes as


descobertas feitas nesse âmbito até o presente momento. Os testes quantitativos confirmam as
hipóteses apontadas no início deste texto e as inferências de ordem qualitativa desta pesquisa.

Muitos sociolinguistas acreditam que os falantes trazem para a interação social


expectativas, crenças e normas previamente formadas. Eles utilizam informações de aspectos
culturais para analisar o texto. Por isso o método de observação participante tem sido
importante no trabalho de sociolinguística qualitativa.

Evidentemente, qualquer explicação que considere o efeito gênero/gênero, ou idade,


ou classe social, requer alguma cautela, já que existem peculiaridades na organização social
de cada comunidade que podem favorecer ou não o surgimento de variáveis linguísticas, que
podem até mesmo tornar-se de prestígio ou estigmatizadas.
169

Com respeito à proporção de uso de empréstimos em relação ao vocabulário total, a


classe social foi considerada mais importante que efeitos ambientais (bairro, por exemplo) ou
atributos pessoais, como proficiência em língua-alvo para o experimento realizado por
Poplack, Sankoff e Miller (1985). O efeito “classe social” pode ser entendido como “falar
bem” e o uso de empréstimos tende a ser estigmatizado, sendo assim preterido pelas classes
sociais mais altas.

Além das entrevistas e questionários respondidos pelos informantes desta pesquisa,


outro instrumento de coleta foi utilizado – uma lista de disponibilidade léxica. A ideia de usar
essa lista foi sugerida pelo co-orientador para que a pesquisa pudesse contemplar mais
exemplos de inovações lexicais, que não apareciam nas entrevistas. Os informantes sentiam-
se impelidos a falar um português mais “correto” comigo, diferente daquele que costumam
usar no dia-a-dia com seus pares. Na verdade, eu não era parte do grupo dos “pares”, não
fazia parte daquele mundo e eles sabiam disso, sentiam-se observados e avaliados em suas
palavras. Algumas vezes tive a sensação de que eles suspeitavam que eu fizesse parte da
imigração e estivesse tentando descobrir brasileiros ilegais nos EUA.

A cópia da lista de disponibilidade léxica pode ser vista na página seguinte. Um total
de 64 palavras constam da lista de disponibilidade léxica, sendo que 8 eram do grupo de
controle, palavras criadas usando-se as mesmas estratégias usadas pelos usuários das
inovações lexicais, porém, desconhecidas da pesquisadora.

Desse modo, 54 palavras apresentavam tipos diferentes de inovações: empréstimos


linguísticos (01), calques fonologicamente independentes (01), calques frasais (01) e calques
mixados (51).
170

Marque com x as palavras que você já ouviu ou já usou, em conversas em português, nos EUA:
PALAVRA / EXPRESSÃO USADA / OUVIDA MUITO (1) / POUCO (2)
1-PARKEAR
2-VAQUEAR (usar o vaccum cleaner)
3-FRIZAR (com sentido de congelar)
4-ORDENAR (com sentido de encomendar)
5-FLAXEAR (mostrar partes do corpo)
6-SCHEDIAR / SCHEDULAR
7-SHOPAR / SHOPEAR
8-TRIPAR / TRIPEAR
9-BRUSHAR / BRUSHEAR
10-BISADO / BISADÃO
11-CHAMAR (com sentido de telefonar)
12-DELETAR
13-FORGETEAR
14-BODYSHAPA
15-SHAPERO
16-RENTA/ RENDA/RENTAR
17-TÍQUETES (multas de trânsito)
18-MOPEAR / MOPAR
19-ESPREIAR
20-MULCHEAR (jardinagem)
21-ESCANEAR
22-TRANSLEITAR
23-ELE É SUPOSTO DE IR
24-BARARÔ NO MAICROEI
25-STAMPAR
26-FIQUEI STUCKADO NO TRÂNSITO
27-DRAIVAR
28-BLOWAR (soprar folhas c/o aparelho)
29-DONA ( donut)
30-BABY-SITTAR / SITTAR (trabalhar como baby-sitter)
31-BLOWDRYAR
32-DRYWALLAR / FAZER UM DRYWALL
33-INSULAR / INSULATEAR
34-DRYAR
35-BAKEAR
36-BROILAR / BROILEAR
37-PICKUPEAR
38-SLICE DE PIZZA
39-STEAMAR / ESTIMA
40-POKEAR
41-REALIZAR (com sentido de entender)
42-TEXTEAR (passar mensagem de texto)
43-BOILA ( boiler)
44-CLOSETA (closet)
45-CONA (corner)
46-DONA (donut)
47-ESPICAR
48-ESTIMA (steamer)
49-UMA INCHA
50-APLICAR ( candidatar)
51-TUNAPIAR UM CÁ (tune up a car)
52-RUMOS (rooms)
53-RUFO (roof)
53-SINOWAR (snow)
55-TAPISTA (typist)
56-TROQUE (truck)
57-UÓRA (water)
58-MOURA VEÍCULOS( Motor Vehicles)
59-DROPAR
60-UARÉVA (tanto faz)
61- PAPEL (documentos de legalização)
62- BUTAR/ FAZER UM BOOT(computador)
63- APARTIME/ APARTAIMI
64- RESPONDER / IR À CORTE
Quadro 2: lista de Disponibilidade de Léxica
Fonte: Dados da pesquisa
171

Essas listas proporcionaram um resultado muito positivo, porém, como nem todos os
informantes retornaram as listas preenchidas, não considerei válido computar os dados
obtidos através delas.
Somente a título de curiosidade, podemos dizer que a expectativa de que o uso de
inovações Lexicais fosse relacionado às atividades ocupacionais praticadas nos EUA foi, de
certa forma, atingida. A maioria dos informantes reconheceu as palavras que não são
relacionadas a atividades específicas e nenhum deles reconheceu as palavras do grupo de
controle (marcadas em vermelho).
A maioria deles declarou conhecê-las e usá-las, o que pode ser interpretado como
“conscientização” e “aceitação”. Esta seria uma sugestão para futuras pesquisas: qual seria o
grau de difusão dessas inovações lexicais e como o usuário considera essas inovações em
relação à língua materna.
172

5. CONCLUSÕES

Esta pesquisa foi desenhada com o objetivo de conhecer e analisar o universo da fala
dos brasileiros imigrantes nos EUA à luz da teoria variacionista de Labov. Foi um estudo de
natureza exploratória, partindo de observações empíricas e chegando a conclusões de natureza
científica, se considerarmos o estudo quantitativo e qualitativo realizado em torno do assunto
“inovações lexicais realizadas por brasileiros nos Estados Unidos”.
O presente estudo mostrou-se uma excelente oportunidade de observar a língua como
produto da identidade social dos indivíduos. Sabemos que diferentes formas linguísticas
servem para dizer a mesma coisa, porém, nunca imaginamos o quanto as escolhas lexicais do
indivíduo podem torná-lo parte do grupo ou excluí-lo, assunto já aventado por vários autores,
como Chambers (1993), Le Page e Tabouret-Keller (1985).
O objetivo geral do presente trabalho era descrever as inovações lexicais encontradas
entre brasileiros imigrantes nos Estados Unidos, correlacionando-as a fatores linguísticos e
extralinguísticos.
Com esse propósito fizemos um alto investimento no sentido de investigarmos a fala
desses brasileiros. Optamos pela investigação coletada a partir de dados empíricos feita in
loco.
Descobrimos um mundo onde brasileiros parecem viver em um universo paralelo, com
regras de conduta próprias, cheio de estereótipos, histórias de vida incríveis, coisas que “só
valem para lá”. As pessoas que estão nos Estados Unidos para trabalhar não agem como
agiriam no Brasil. Os graus de latitude e longitude mudam, os valores parecem mudar com
eles. “ - A minha profissão no Brasil? Engenheiro... Aqui é ‘bus-boy’!”, que significa ajudante
de garçom, profissão de menor status na escala de profissões dos Estados Unidos. Isso é a
coisa mais comum de se ouvir entre os brasileiros nos EUA. Há regras não-escritas a serem
seguidas, e não estamos falando das leis americanas. É realmente um código de conduta que
os brasileiros aprendem uns com os outros, em doses homeopáticas - quanto mais tempo se
passa lá, mais se aprende sobre elas.
Não posso deixar de mencionar aqui que o fato de estar próxima àqueles brasileiros
nos EUA, foi o que me proporcionou muitas das inferências que seriam impossíveis de serem
feitas, não vivendo como parte daquela outra dimensão. O contexto é muito importante
quando se trata de estudos exploratórios.
173

Como não poderia deixar de ser, era necessário que houvesse uma língua que
retratasse essa situação paralela e tão sui generis dos brasileiros nos EUA, já que a língua é
emblemática em termos de identidade. Assim, com empréstimos aqui, mixagens ali e algumas
traduções literais acolá, criou-se a língua que os brasileiros falam lá nos EUA. Se essa língua
tem nome, não sei... Ouvi vários: Newarkês, Portuglês, Portinglês, mas preferi não rotular e
simplesmente considerei esse “jeitinho brasileiro” de falar como “inovações lexicais” feitas
no português de brasileiros moradores nos EUA.
As inovações lexicais foram coletadas, contabilizadas, descritas e analisadas em
termos de quem usa mais determinado tipo de inovação e por quê.
Algumas perguntas de pesquisa relacionadas aos fatores que contribuem ou favorecem
a criação e o uso dessas inovações lexicais e sintáticas nortearam esta pesquisa.
Repetimos, a seguir, as perguntas colocadas no início deste trabalho:

1) Quais são os fatores que contribuem ou favorecem a criação e o uso dessas inovações
lexicais e sintáticas?
2) Como esse fenômeno pode ser caracterizado? Como “interlíngua”? Como “pidgin”?
Como um estágio na evolução de aprendizagem de Língua Estrangeira?
3) Todos os brasileiros imigrantes se comportam do mesmo modo quanto ao uso dessas
inovações lexicais?
4) Se há diferenças entre eles, quais são as condições, linguísticas e extralinguísticas, que
favorecem e/ou inibem a mixagem observada?

Verificamos que os fatores que contribuem ou favorecem a criação e uso das


inovações estão ligados a algumas condições sócio-demográficas dos usuários. Podemos, com
base nas descobertas feitas até aqui, enumerar as características dos sujeitos-alvo desta
pesquisa:
Dentre os brasileiros que estão nos Estados Unidos para trabalhar, mais de 50%
desempenham atividade braçal, porém, mais de 40% desses brasileiros têm alto nível de
proficiência em inglês. A maioria deles aprendeu inglês depois dos 21 anos e tem nível de
escolaridade superior (43,3%). Cerca de 80% dos informantes têm mais de 31 anos de idade e
reside nos EUA há menos de 10 anos. Esse é, portanto, o perfil de nosso respondente.
Verificamos através da pesquisa que os usuários dessas inovações são, em geral,
brasileiros de primeira geração, filhos de pais brasileiros que moram no Brasil, nascidos no
Brasil, que foram para os Estados Unidos já adultos ainda sem terem competência linguística
174

no idioma inglês. Esses brasileiros estão nos Estados Unidos com o objetivo de trabalhar e
angariar fundos para investir em um futuro financeiro mais confortável no Brasil.
Pode-se dizer que 99% dos entrevistados têm intenção de voltar ao Brasil para morar.
Em geral, os usuários dessas inovações desempenham atividades manuais e informais nos
EUA, sendo denominadas “labor” = trabalho braçal. Além das entrevistas, era muito comum
ouvir na rua as pessoas dizerem que iam “ordenar” (de “order = encomendar”) um produto na
fábrica, que iam “shopar” (de “shop = fazer compras”) naquela loja ou que estava “frizado” =
freezing + gelado , já que a temperatura era de -10˚C.
Dos 30 informantes da pesquisa, todos fizeram uso, em maior ou menor grau, de
inovações lexicais. Dos 4 informantes (13,3%) que fizeram uso reduzido dessas inovações,
três estavam, de certa forma, fora das condições sócio-demográficas estabelecidas acima: 4M,
de 18 anos, era filho de brasileiros de classe trabalhadora e moradores nos EUA, porém, ele
foi nascido nos EUA, sendo americano, ou segunda geração de brasileiro. Ele sempre
frequentou a escola nos EUA e, portanto, tem inglês fluente, mas seu português deixa muito a
desejar. Para Bills, Hudson e Chávez (1995), isso é consistente com a premissa do modelo
linguístico descrito por Fishman (1966), Grosjean (1982) e Romaine (1995) segundo o qual a
primeira geração de imigrantes permanece monolíngue em sua língua nativa, a segunda se
torna altamente bilíngue e a terceira se torna dominante ou mesmo monolíngue na língua-
alvo. O informante 4M passou um ano no Brasil, quando era ainda criança. Segundo o
próprio informante, foi uma péssima experiência, pois ele não sabia português e teve enormes
dificuldades na escola. Ao voltar para os EUA ele foi colocado em uma série anterior, o que
parece ter sido bastante traumatizante para ele. Esse informante respondeu cerca de 70% da
entrevista completamente em inglês. No caso desse informante, as inovações lexicais
ocorreram no sentido inverso. O português acabou influenciando o seu inglês. O informante
declarou usar expressões como “face” no lugar da interjeição “cara” e foi ridicularizado pelos
colegas brasileiros por isso. Outro exemplo de influência do português no inglês foi quando
ele perguntou à mãe: “_Are you on?” referindo-se à gíria comum entre os jovens brasileiros:
“Tá ligado?” Observamos que 4M fez uso de inovações lexicais no sentido inverso àquele
investigado por esta pesquisa. Em ambos os casos ocorreram calques fonologicamente
independentes, com traduções literais de português para inglês, usando-se palavras que não
guardam semelhança fonológica entre si, como em cara = face e ligado = to be on.
Já o respondente 5M foi para os EUA com apenas 7 anos de idade e sempre frequentou
a escola nos EUA, sendo, portanto um bilíngue perfeito, estando, agora, com 29 anos de
idade. Além disso, 5M formou-se em administração nos EUA e atua como administrador em
175

uma empresa americana tendo um emprego almejado até por americanos, com um bom
salário e estabilidade financeira. O sonho dele é, entretanto, conseguir um emprego no Brasil
e se mudar prá cá com sua esposa brasileira que conheceu em uma viagem de avião para os
EUA.
A respondente 9F é uma brasileira de segunda geração, nascida nos EUA, cujos pais,
separados, vivem nos EUA, o pai na Flórida e a mãe com ela em em New York. Ela é falante
nativa de inglês e sua competência comunicativa em português é também muito boa. Os
desvios cometidos por ela poderiam ser cometidos por qualquer pré-adolescente de 12 anos
que se aventurasse a dizer palavras um pouco mais sofisticadas sem muito conhecimento de
causa sobre o assunto. Ela teve problemas com palavras como “depressionada” significando
“depressiva”, e “obsessiva” significando “obcecada”. Ela se interessa por línguas estrangeiras
e está também aprendendo chinês na escola.
A informante 10F é uma mulher de meia idade, mãe de família, que deixou os filhos
no Brasil em busca de melhores condições de vida para criá-los no Brasil, mesmo estando nos
EUA. Ela foi a única do grupo de inovações reduzidas que se encaixava perfeitamente no
perfil dos usuários das inovações, embora não as tivesse utilizado durante a entrevista.
Mesmo depois de cinco anos morando naquele país, 10F não parece se interessar por nada que
se relacione aos Estados Unidos ou à língua falada naquele país. Ela trabalha em um salão de
beleza de brasileiros para brasileiros como manicure. A impressão que se tem é que ela rejeita
tudo que a lembre de sua condição de estar ali, contra a sua vontade, longe dos filhos, com o
objetivo de ganhar dinheiro e comprar uma casa.
Os restantes vinte e seis informantes brasileiros, mesmo quando não fizeram uso
explícito das inovações lexicais, demonstraram claro conhecimento sobre elas, seu significado
e a razão de seu uso e vasta difusão. Todos os vinte e seis informantes são brasileiros de
primeira geração, falam português fluentemente, todos trabalham ou estudam nos EUA, e a
maioria deles desempenha atividades consideradas trabalhos braçais.
A segunda pergunta foi em relação ao fenômeno a ser caracterizado:

Como esse fenômeno pode ser caracterizado? Como “pidgin”? Como


“interlíngua”, um estágio na evolução de aprendizagem de Língua Estrangeira?

O meu propósito era então, taxonômico, pois havia necessidade de se encaixar esse
fenômeno em algum fenômeno já descrito pela linguística. Pidgin, interlíngua, estágio na
176

evolução da aprendizagem de língua estrangeira pareciam opções interessantes naquele


momento.
Na falta de um termo mais adequado, adotamos o termo “inovação lexical” para evitar
rótulos. Sabemos, entretanto, que não se trata de interlíngua, termo segundo o qual, um falante
aprendiz de língua estrangeira ou segunda língua engaja numa jornada linguística de sua
língua nativa para a língua-alvo e constrói naturalmente um sistema linguístico particular
nesse “meio tempo”, ou “interim time”.
A teoria da Interlíngua é muito importante no processo de Aquisição de Segunda
Língua porque foi a primeira a tentar explicar esse processo sem contradizer a Hipótese do
período crítico para aquisição de segunda língua. Além disso, buscava explicações para o fato
de que a maioria dos falantes não adquirem competência plena em língua estrangeira, um
problema que continua incomodando linguistas e professores de línguas em toda parte.
Como podemos verificar, a primeira parte da pergunta e a terceira se sobrepõem, já
que a interlíngua pode ser considerada um estágio de aprendizagem da língua estrangeira. Não
parece ser o caso da fala dos brasileiros nos EUA. Os brasileiros fazem uso sistemático
dessas inovações, mesmo quando já falam inglês fluente, mas estão falando com outros
brasileiros.
A segunda parte da pergunta, porém, menciona o pidgin que vem a ser uma linguagem
de vocabulário limitado e gramática simplificada utilizada para permitir a comunicação de
grupos que não falam a mesma língua. Quando um “pidgin se estabelece como língua nativa
de uma comunidade linguística, ele se torna um “crioulo”.
Nesse caso, as próprias definições de “pidgin” e “crioulo” respondem a pergunta. Já
que essa modalidade de linguagem serve para permitir comunicação de falantes de línguas
diferentes, essa definição não se encaixa nas inovações lexicais realizadas pelos brasileiros
nos EUA, pois todos são falantes de português brasileiro como língua materna.
Rótulos como “dialeto”, “pidgin” e “interlanguage” são, portanto, inadequados para
explicar a ocorrência dessas variações características da fala dos brasileiros nos EUA.
Buscando elucidar a pergunta, podemos caracterizar a fala dos brasileiros imigrantes
nos EUA como um português repleto de inovações lexicais que geralmente resultam de
línguas em contato.
A terceira pergunta tinha relação com o comportamento linguístico dos brasileiros em
questão e as condições linguísticas e extralinguísticas favoráveis ou desfavoráveis à mixagem
observada:
177

“Todos os brasileiros imigrantes se comportam do mesmo modo quanto ao uso dessas


inovações lexicais? Se há diferenças entre eles, quais são as condições, linguísticas e
extralinguísticas, que favorecem e/ou inibem a mixagem observada?”
Tendo em mente a parte quantitativa aqui desenvolvida, podemos responder a essa
pergunta, agora com dados mais realistas e sem a atitude puramente intuitiva que marcou o
início deste trabalho.
Como pudemos observar no decorrer desta pesquisa, os brasileiros imigrantes alvos de
nosso estudo se comportam, no que concerne ao uso e difusão das inovações lexicais, de
formas diferentes, motivadas por condições sócio-demográficas diferentes.
Os informantes participantes desta pesquisa, entretanto, eram, em sua maioria,
brasileiros de primeira geração, ou seja, nascidos no Brasil, e que se mudaram para os Estados
Unidos depois dos 31 anos de idade, ainda sem saber falar inglês. O objetivo primordial
desses brasileiros não era aprender inglês, conhecer uma nova cultura ou fazer turismo no
exterior. O objetivo de todos eles era trabalhar e ganhar dinheiro para voltar ao Brasil,
comprar imóveis e viver no Brasil pelo resto da vida.
Em relação aos tipos de inovações lexicais mais usados pelos informantes, podemos
dizer que a maioria dos brasileiros usa pelo menos um tipo de inovação: o empréstimo
linguístico. Esse tipo de inovação costuma ser classificado como empréstimo para
comunidades linguísticas que mantêm a sua língua materna e como substrato caso a língua
seja trocada por outra. O motivo do aparecimento desse fenômeno é bastante óbvio.
Emprestam-se termos que não estão disponíveis na língua de origem, nesse caso, o português,
por alguma razão. As razões dessa indisponibilidade podem ser caracterizadas como a
aparição de novos conceitos oriundos da língua-alvo ou a busca de adequação terminológica.
Seria muito difícil conseguirmos um termo mais adequado do que “marketing” para expressar
essa ideia, por exemplo. O termo em português existe, é “mercadologia”, mas não tem o
alcance semântico do termo em inglês.
É natural que o contato entre os vários idiomas do mundo tenha provocado o
surgimento de dois fenômenos linguísticos, o estrangeirismo e o empréstimo. No senso
comum, emprestar é confiar algo a alguém por algum tempo, com promessa de restituição.
Não é, com certeza, o caso dos empréstimos linguísticos, que nunca são restituídos. A
diferença básica entre os dois é, como já mencionamos no capítulo 2, que o estrangeirismo,
além de ser uma palavra emprestada de outra língua, sofre mudanças morfológicas e
fonológicas na língua recipiente, como seria o caso do “deletar”. Em termos de adaptação
178

fonológica, um exemplo seria o fonema [r] retroflexo em “parkear”, que será pronunciado
como [h], em uma aproximação com a pronúncia do português do Brasil.
Já o empréstimo não sofre alterações morfológicas, sendo usado com a forma
fonológica mais próxima possível da língua-alvo, caso do comumente utilizado “delivery”.
Em segundo lugar, observamos os calques fonologicamente mixados. As condições
linguísticas que parecem favorecer esse tipo de inovação lexical são a proximidade fonológica
e morfológica entre os termos, como em “aplicar” e “apply” e o fato de o termo não ser do
conhecimento do indivíduo em sua língua nativa, como em “vaquear” = usar aspirador de
pó ou “mopear” = usar o esfregão. Como exemplo de calques fonologicamente mixados,
temos “acento”= sotaque e “printar”= imprimir.
Em terceiro lugar foram observados os calques frasais, como “ele é suposto de fazer
isso”. Já em quarto lugar ficaram os calques independentes fonologicamente, como em “vou
caminhar o cachorro”. Tanto os calques frasais quanto os calques fonologicamente
independentes ocorreram nas entrevistas, porém, com frequência insignificante em relação ao
universo de inovações lexicais. Entretanto, podemos traçar o perfil do usuário dessas
inovações lexicais.
A motivação linguística para o uso de calques fonologicamente independentes está na
analogia feita pelo falante no nível do significado e não do significante. Não há nenhuma
semelhança fonológica ou morfológica do termo na língua materna com o termo na língua-
alvo. A conexão entre eles está sendo feita apenas no nível semântico. “correu” para
presidente = concorreu à vaga de presidente (ran for president);“jogar” uma festa= dar uma
festa (throw a party);Vou “caminhar” o cachorro = levar o cachorro prá passear (walk the
dog); “Ele é suposto de ir” =( ele deve ir) para (He is supposed to go)
A motivação linguística para o uso desse tipo de inovação reside no fato de que o
falante deseja expressar uma ideia da língua-alvo que não está disponível na língua materna.
Um bom exemplo de calque frasal é : “Me deixe saber!” (Mantenha-me informado) oriundo
de “let me know”, expressão muito usada em inglês e que o brasileiro adota em “português”.

A pergunta 4 : Se há diferenças entre eles, quais são as condições, linguísticas e


extralinguísticas, que favorecem e/ou inibem a mixagem observada?

Os dados obtidos através desta pesquisa sugerem que as condições linguísticas que
favorecem as inovações lexicais são, em primeiro lugar, o fato de ser uma palavra de
conteúdo e, em segundo lugar, a classe de palavras em que incide a inovação.
179

Já as condições extralinguísticas que favorecem o uso de inovações lexicais são a


idade, tempo que os indivíduos passam nos EUA, nível de escolaridade, nível de
proficiência em língua inglesa, início da aprendizagem de língua estrangeira e o tipo de
atividade exercida pelos informantes nos EUA.
Verificamos, através dos dados, que as palavras de conteúdo usadas nas inovações são,
em larga escala, substantivos, verbos e adjetivos, nessa ordem.
As inovações lexicais que tiveram mais ocorrência em nossos dados foram os
empréstimos linguísticos, constituídos, em sua maioria, de substantivos. Os informantes que
fizeram maior uso de empréstimos foram os jovens adultos, de menos de 30 anos de idade,
com tempo de residência de menos de 20 anos nos EUA, de nível de escolaridade média ou
superior, nível alto de proficiência da língua inglesa, iniciando sua aprendizagem de inglês
antes dos 20 anos e representantes da mão-de-obra braçal nos EUA.
Em segundo lugar detectamos a ocorrência de calques mixados, constituídos, em sua
maioria, de verbos. Os informantes que fizeram maior uso de calques mixados foram adultos
de mais de 31 anos de idade, com menos de 10 anos de residência nos EUA, com nível
fundamental de escolaridade, nível baixo de proficiência de língua inglesa, que iniciaram a
aprendizagem de língua inglesa após os 21 anos de idade e representantes da mão-de-obra
braçal.
Detectamos uma maior incidência de inovações lexicais em determinados campos
semânticos, como “Atividades desempenhadas pelos informantes nos EUA” e
“Eletrodomésticos”, porém, ao verificarmos se o campo semântico influenciaria o tipo de
inovação lexical a ser utilizado pelo informante, constatamos, através do teste Qui-quadrado,
que essas variáveis não guardam correlação, o que foi uma surpresa para nós, que tínhamos
expectativa de que, ao falar sobre as suas atividades nos EUA, os informantes fizessem mais
uso de calques mixados, o que, contudo, não se confirmou, como pode ser verificado na
página 161.
Como as classes de palavras saltam aos olhos do pesquisador desse tipo de dados,
decidimos verificar uma possível correlação entre as classes de palavras e os tipos de
inovações lexicais detectadas em nosso corpus. Sabemos que algumas classes de palavras são
mais propícias a alguns tipos de inovações lexicais, como é o caso dos substantivos face aos
empréstimos linguísticos, plenamente documentados neste trabalho. Em nosso corpus, os
substantivos ocorreram em frequência superior ao esperado em respeito aos empréstimos
linguísticos e inferior em respeito aos calques mixados, ilustrando a hipótese de que os
substantivos se prestam mais a empréstimos linguísticos e menos a calques mixados.
180

Os verbos, por sua vez, ocorreram em frequência muito superior ao esperado nos
calques mixados, revelando que, aquilo que realmente pode ser chamado de inovação lexical,
que realmente opera alterações nos vocábulos da língua recipiente e da língua doadora, como
o acréscimo de afixos, desinências, vogais temáticas, que mostram a criatividade do
informante no manuseio de dois códigos linguísticos, estão concentradas nos calques
mixados, mais especificamente nos sintagmas verbais. Não é de se estranhar que isso
ocorresse, já que o nosso informante é um ser agente por natureza, que se encontra nos EUA
para agir, trabalhar, “mopar”, “vaquear” e por que não, “parkear”.
Essa conclusão tem respaldo também na pesquisa de Poplack, Sankoff e Miller (1988),
que afirmam que, embora todas as palavras de conteúdo se encaixem na categoria “adequadas
para empréstimo”, especialmente os substantivos e algumas outras classes de palavras, como
verbos, adjetivos e advérbios, apenas alguns itens são recorrentes, sendo que apenas um
conjunto mais restrito é usado pelos monolíngues, ou bilíngues com pouca fluência em inglês.
O português dos brasileiros imigrantes nos Estados Unidos apresenta evidências
consideráveis de penetração lexical de inglês. Essa influência pode ser considerada um tipo de
adaptação linguística criativa por parte de uma comunidade que aparentemente deseja
continuar comunicando, em sua língua materna, mensagens que são características da cultura
de língua inglesa.
Em relação à motivação para a ocorrência dessas inovações lexicais, nossa pesquisa
confirma a afirmativa de Otheguy e Garcia (1988) de que o falante de uma minoria linguística
tem duas necessidades básicas conflitantes: falar a sua língua nativa e comunicar ideias,
noções e mensagens que não estão disponíveis em sua língua materna, mas que são de
repertório corriqueiro na língua-alvo. Essa afirmativa, aliás, já havia sido sugerida por
Haugen, em 1938.
A nossa pesquisa confirma também algumas descobertas feitas por Poplack, Sankoff e
Miller (1988). A proficiência em duas línguas tem um efeito sistemático no uso de inovações
lexicais, já que é o conhecimento de ambas as línguas que pressupõe o uso de estratégias de
formação de novas palavras, conhecidas também por ‘nonce borrowings’. Entretanto, as
normas da comunidade de fala superam em muito as habilidades individuais. Caso o
indivíduo resida em uma área em que todos os membros se dirijam uns aos outros fazendo uso
das inovações lexicais, naturalmente elas serão usadas pelo indivíduo, como já exposto no
capítulo 2, página 36, quando mencionamos a “Teoria da Acomodação” de Giles (1980). Essa
descoberta, relatada pela primeira vez por Poplack, Sankoff e Miller (1988) e ratificada pela
presente pesquisa, nos mostra que o comportamento em relação ao uso de inovações lexicais é
181

adquirido, não sendo apenas uma questão de necessidade lexical. Se não fosse assim, a
capacidade individual seria mais importante que o contato que ele tem com a sua comunidade
de fala. Em vez disso, tanto os padrões de uso de empréstimos quanto a quantidade de
inovações utilizadas parecem corresponder a normas ambientais mais abrangentes,
evidenciadas por estigmatizações em relação ao uso dessas inovações ou simplesmente por
uma tendência da comunidade de usar um padrão particular de inovações lexicais.
Como pudemos verificar até mesmo através das entrevistas dos informantes, os
indivíduos estão interessados na comunicação rápida e eficiente de mensagens que são
relevantes à sociedade em que estão inseridos, não relutando em introduzir itens lexicais e
conceitos que são respaldados pelos seus pares, eliminando-os quando eles criam
ambiguidades. Isso também confirma as afirmativas de Otheguy e Garcia (1988).
As situações de contato linguístico parecem estar sujeitas a dois tipos de forças
conflitantes: a necessidade de atingir eficiência comunicativa para conseguir interação e a
necessidade de se preservar a distinção de identidade de grupo. Se a maioria dos falantes de
português brasileiro nos Estados Unidos, na situação social determinada anteriormente, fala
“... vou “parkear” o carro e não, “... vou estacionar o carro”, tendemos a inferir, com base nos
postulados da sociolinguística, que não se trata de um fenômeno aleatório de uso arbitrário e
inconsequente dos falantes, mas, sim do uso sistemático e regular da variação linguística. É
exatamente essa regularidade e sistematicidade que buscamos demonstrar com o presente
trabalho.
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192

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SÓCIO-CULTURAL

Núú mero do informante ________________________________________


Nome do informante _________________________________________
Nome completo do entrevistador ______________________________
1. Ingleê s e portúgúeê s
a. Fala ingleê s? Sim_______ Naã o________
Excelente ______ Múito bem_______ Razoaú vel________ Mal________
b. Sabe ler e escrever em ingleê s? Ler ________ Escrever ________
2 . Fala Portúgúeê s? Sim _______ Naã o ________
Excelente ______ Múito bem_______ Razoaú vel________ Mal________
3. Qúal idioma aprendeú primeiro? ingleê s ____ portúgúeê s_____ ambos júntos _____
4. Em qúe idade aprendeú o oútro idioma? ______
5. Como/onde o aprendeú? escola ______ TV ______famíúlia _______ oútro _______
6. Qúal idioma voceê sabe mais? ingleê s ____ portúgúeê s_____ os dois _____
7. De qúal voceê gosta mais? ingleê s ____ portúgúeê s_____ dos dois _____
8. Leitúra e escrita

a. Sabe ler _______ e escrever ________em portúgúeê s?

b. Sabe ler _______ e escrever ________ em ingleê s?

9. Pertencer ao grúpo nacional

a. EÉ possíúvel ser (de seú grúpo) e falar somente em ingleê s, (naã o saber portúgúeê s)? Sim_____ Naã o______

b. EÉ possíúvel ser norte-americano e falar somente portúgúeê s, (naã o saber ingleê s)? Sim______ Naã o ______

10. Marqúe I, P, A nos espaços corinformantes (I = ingleê s, P = portúgúeê s , A = ambos)

Qúal (is) idioma(s) fala [oú falava] com seú(s):

_____ Pai _____ amigos

_____ Maã e _____chefe

_____ irmaã s/os _____ colegas de trabalho

_____ filhos menores _____ colegas de escola

_____ filhos maiores _____ esposa/o oú noiva/o

11. Marqúe P oú M nos espaços corinformantes (P = poúco, M = múito)

Qúanto portúgúeê s voceê úsa:

_____ em casa

_____ na escola

_____ no trabalho

_____ em atividades sociais

_____ ao ler

_____ ao escútar o raú dio

_____ ao assistir aà televisaã o


193

12. Voceê acredita qúe o portúgúeú s deveria ser ensinado nas escolas nos EUA? Sim _____ Naã o______

13. Por qúeê ? ____________________________________________________________

14. Algúma vez voceê combina os dois idiomas? Sim _____ Naã o ______

15. Algúma razaã o? _________________________________________________________

16. Conhece oútro(s) qúe fazem isso tambeú m? Sim _____ Naã o _____

17. Qúem? ______________________________________________________________

18. Acredita qúe a alternaê ncia/mescla ocorre porqúe aqúeles qúe a fazem:

Sim Naã o

a. sabem os dois idiomas bem _____ _____

b. naã o sabem os dois idiomas bem _____ _____

c. existem as dúas possibilidades _____ _____

19. Mesclar idiomas

a. Qúal a súa opiniaã o sobre mesclar? ____________________________________________

b. Aceita a mescla em sitúaçoã es:

informais (ex. com amigos) Sim ______ Naã o _______

formais (ex. com seú chefe) Sim ______ Naã o _______ _____ ambas _____ nenhúma _____

20. Voceê acha qúe “mesclar” caúsa problemas ao portúgúeê s? Sim ______ Naã o ______

21. Voceê acha qúe “mesclar” caúsa problemas ao ingleê s? Sim ______ Naã o ______

22. Voceê acha qúe os brasileiros nos EUA devem manter o portúgúeê s? Sim _____ Naã o _____

23. EÉ múito importante ______ eú importante ______ naã o importa ______

24. Voceê gostaria qúe seús filhos e netos aprendessem

Portúgúeê s _____ ingleê s _____ ambos _____

25. Por qúeê ? ______________________________________________________________

26. O qúe voceê faz/ faraú para assegúrar qúe aprendam portúgúeê s?

_____________________________________________________

*****A edúcaçaã o bilíúngúü e*****

27. A súa opiniaã o sobre a edúcaçaã o bilíúngúe eú : positiva ______ negativa _______ (naã o a conheço) _______

27. Por qúeê ? ______________________________________________________________

28. Voceê acha qúe os paíús brasileiros devem ensinar portúgúeê s aos filhos em casa? Sim _____ Naã o _____

29. Os patroã es / chefes teê m direito, na súa opiniaã o, de exigir qúe seús empregados falem somente em ingleê s?

30. Idade _____

31. Geê nero _____

32. Profissaã o:

a. Profissaã o nos EUA____________________________


194

b. Profissaã o no Brasil______________________

33. Cidade / Estado de origem __________________

34. Edúcaçaã o:

Onde estúdoú: ___________________

Níúvel de escolaridade (ateú onde chegoú)

primaú rio _____ secúndaú rio _____ úniversidade_____ poú s-gradúaçaã o ______

Anos completados ______

35. Classe social a qúe pertence: Alta _____ Meú dia _____ Trabalhadora _____

36. Tempo passado nos EUA ______

37. a. Anos nos EUA ______

b. Idade em qúe chegoú aos EUA _______

38. Por qúe veio para os EUA?

________________________________________________________

39. Identificaçaã o nacional

a. Como voceê se identifica (nacionalidade)? _____________________

b. E seús filhos? __________________________

c. Voceê eú casado com pessoa de oútra nacionalidade? Sim ______ Naã o ______ Qúal ______

d. Como prefere qúe o/a identifiqúem: como hispano _____ latino _____ brasileiro ______

40. Pai:

Local de nascimento ___________ profissaã o _____________ graú de escolaridade __________

41. Maã e:

Local de nascimento ___________ profissaã o _____________ graú de escolaridade __________

42.Qúal eú a nacionalidade da maioria de seús vizinhos? ___________

de súas amizades? __________

43. Voceê tem intençaã o de retornar ao Brasil? ________ oú gostaria de ficar aqúi__________

Por qúeê ? ___________________________________________________________________

44. Ingleê s como líúngúa oficial

a. Voceê eú a favor ____________oú contra _____________ o projeto de lei para tornar o ingleê s o idioma oficial do estado
de New York e dos Estados Unidos?
195

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