Belo Horizonte
2010
Valquiria Carolina Pimentel Sales de Carvalho
Belo Horizonte
2010
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
CDU: 800:88
Valquiria Carolina Pimentel Sales de Carvalho
“Parkear or not parkear, that’s the question: um estudo sobre as
inovações lexicais realizadas por brasileiros imigrantes nos Estados
Unidos da América”
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito
parcial para obtenção do título de Doutor em Letras.
Belo Horizonte, 2010.
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Vanda de Oliveira Bittencourt - UFMG
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Carlos Alberto Gohn - UFMG
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Suely Maria de P. e Silva Lobo - PUC Minas
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João Henrique Rettore Totaro - PUC Minas
À minha família: Amarilio, Carolina, André, Felipe, Marcela e
Gabriela
Escrever uma tese é deixar um pedaço da gente em folhas de papel...
Para que isso aconteça da melhor forma possível, é necessário que tenhamos o auxílio
precioso de pessoas que estão ao nosso lado, sempre torcendo pela gente...
Agradeço muito à minha irmã Solange, pela disponibilidade ilimitada, pela revisão
deste trabalho e pela confiança em minha capacidade.
Agradeço também ao meu cunhado Amir pelas muitas horas dedicadas à formatação
desta tese.
Agradeço à minha família pela paciência e resignação com que aceitaram uma mãe e
esposa doutoranda.
Meus agradecimentos à CUNY (City University of New York), por me aceitar em seu
quadro de alunos durante o Estágio de Doutorando patrocinado pela CAPES.
Agradeço ao meu co-orientador em New York, Dr. Ricardo Otheguy, pelos valiosos
comentários, vasta bibliografia e abnegado suporte acadêmico.
Agradeço, também, aos meus irmãos Raul e Hércules, que nos deixaram recentemente,
mas que, cada qual com seus valores e peculiaridades, marcaram as nossas vidas para
sempre...
“A língua é muito mais do que um amontoado de palavras. É um comportamento social poderoso que
diz muito sobre quem somos, de onde viemos e como nos relacionamos. A língua é um dos mais
poderosos emblemas de comportamento social. Na transferência normal de informações através da
linguagem, nós a usamos para enviar mensagens vitais sobre quem somos, de onde viemos e com
quem nos associamos”. ( WOLFRAM, 1991, tradução nossa)1
1
Language is more than just words. It’s a powerful social behavior that speaks volumes about who we are, where
we come from and how we relate. Language is one of the most powerful emblems of social behavior. In the
normal transfer of information through language, we use language to send vital social messages about who we
are, where we come from, and who we associate with.” (WOLFRAM, 1991)
RESUMO
Esta tese tem como objetivo principal o estudo do falar de brasileiros imigrantes nos Estados
Unidos da América. Os brasileiros imigrantes fazem uso de muitas inovações lexicais que
parecem aproximar o inglês do português ao falarem uns com os outros nos EUA. Essas
inovações apresentam certa regularidade e parecem ser utilizadas por alguns grupos de
brasileiros e estigmatizadas por vários. Com base nos postulados variacionistas de Labov,
Weinreich e outros, fizemos um estudo etnográfico constituído de entrevistas, questionários e
listas de disponibilidade léxica com o objetivo de catalogar, compreender e explicar o uso
dessas inovações lexicais. Entrevistamos 30 informantes com o propósito de descobrir as
características sócio-demográficas dos brasileiros usuários desse falar. Utilizando o teste Qui-
quadrado, fizemos algumas descobertas bastante interessantes. Descobrimos, por exemplo,
que a faixa etária, as atividades que eles desempenham naquele país, a idade de início da
aprendizagem da língua-alvo, a sua proficiência na língua inglesa e o gênero têm um papel
importante nessas escolhas linguísticas.
This thesis aims at studying the speech of Brazilian immigrants to the United States of
America. The Brazilian immigrants use some lexical innovations which seem to be the result
of language contact between Portuguese and English. These innovations have a certain
regularity and are used only within the Brazilian community in the USA. Based on the
variationist studies of Labov, Weinreich and others, we did an ethnographic study comprizing
Interviews, Questionnaires and a Lexical Availability List. We interviewed 30 informants with
the purpose of discovering the socio-demographic features of the Brazilian Community and
the lexical choices made by them. By using statistical techniques, we reached some interesting
results. We discovered, for example, that age, the type of activities they perform, their age in
the beginning of the target language learning process, their proficiency in the target language
and their gender play an important role in the lexical choices they make.
Gráfico 12: Correlação entre Domínio de Língua Inglesa e Uso de Calques Mixados..........132
Tabela 18: Resultado do Teste Qui-Quadrado: Inov. Lexicais por Campos Semânticos.......164
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................16
1.2.4 O nível de escolaridade dos falantes usuários dessas inovações é, em geral, mais
baixo.........................................................................................................................................26
1.2.5.Os brasileiros imigrantes, alvos desta pesquisa, têm, via de regra, um nível mais baixo
de proficiência em inglês.........................................................................................................26
1.2.6 Essas inovações são estigmatizadas pelos próprios brasileiros nos EUA.....................27
2. QUADRO TEÓRICO.........................................................................................................28
3 METODOLOGIA................................................................................................................76
4.5.2.1. Gênero versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos .....144
4.5.2.2. Idade versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos..........147
4.5.2.5. Domínio de Língua Inglesa versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos
Semânticos.............................................................................................................................155
5. CONCLUSÕES................................................................................................................173
REFERÊNCIAS....................................................................................................................183
APÊNDICE A........................................................................................................................193
16
1. INTRODUÇÃO
A profusão de línguas na América fez dela a Babel dos tempos modernos. Tanto no
campo quanto na cidade ela tem se debatido com todos os sotaques europeus, sem
nunca se desviar do curso anglo-saxônico de seus pais fundadores. No curso de um
século, a América absorveu milhões de pessoas e lhes ensinou a sua língua mais
perfeitamente que Roma conseguiu ensinar aos gauleses e ibéricos nos séculos de
domínio absoluto. Chineses e negros, espanhóis e franceses, judeus e gentios, todos
foram domesticados sem, contudo, causar qualquer impacto mais sério ao inglês
americano.2 (HAUGEN, 1972, tradução nossa)
Sabemos que o contato linguístico pode ter várias motivações para sua ocorrência.
Esta tese trata do contato linguístico motivado por questões econômicas. Atualmente,
cerca de três milhões e setecentos mil brasileiros residem e trabalham em terras estrangeiras,
de acordo com os dados do Ministério de Relações Exteriores. Os pontos preferidos pelos
brasileiros são os Estados Unidos (onde se estima que um milhão e quinhentos mil desses
brasileiros vivam), Paraguai e Europa.
Segundo Li Wei (2000), muitas pessoas têm migrado para encontrar trabalho e
melhorar seu padrão de vida. Esse é o fator que mais contribui para a diversidade linguística
dos Estados Unidos da América e o crescente bilinguismo na Europa de hoje.
Segundo Bayley (2004), os níveis de imigração para os EUA têm crescido de forma
exagerada, sendo que, de 1991-2000, os EUA receberam mais imigrantes que na década de
1901-1910. O que caracteriza as imigrações para os EUA é que as mais recentes não são de
pessoas de origem européia, mas, principalmente de pessoas provenientes da América Latina.
Essa crescente imigração deixa consequências políticas, econômicas e educacionais também
para os Estados Unidos. Em termos de língua, as consequências podem ser bastante
perturbadoras para uma nação que se diz monolíngue. Algumas delas são o número crescente
de pessoas que usam outras línguas para uma variedade de propósitos, além do número
crescente de falantes que falam inglês como segunda língua, e a mudança de língua para
inglês por filhos e netos de imigrantes.
Realizamos um estudo etnográfico utilizando 30 informantes brasileiros que residem
nos Estados Unidos da América.
2
America's profusion of tongues has made her the true Babel of a modern age. In city and countryside she has
teemed with all the accents of Europe, yet she has never swerved from the Anglo-Saxon course set by her
founding fathers. In the course of a century she has absorbed her millions and taught them her language more
perfectly than Rome taught the Gauls and the Iberians in centuries of absolute dominion. Chinaman and Negro,
Spaniard and Frenchman, Jew and Gentile have all been domesticated without leaving any serious impression on
American English . (HAUGEN, 1972)
17
incompreensível. O próprio nome do lugar tem uma etimologia singular: “Aflits” de português
e “cona” de “corner” = esquina, em inglês.
Cada grupo de trabalhadores contribui para o “idioma do crioulo doido”, segundo
Freitas, de acordo com a sua especialidade. Assim, as “go-go girls”, uma das profissões mais
procuradas pelas brasileiras, sabem locais onde se pode “flaxear”, ou mostrar partes do corpo.
Em New Jersey, não se pode mostrar partes do corpo em bares onde circula bebida alcoólica,
portanto, devem-se procurar bares onde o dono seja condescendente com essas práticas. Em
inglês, isso se chama “to flash”, daí o “flaxear”.
Os mecânicos falam em “tunapiá” um “cá”, ou “tune up a car”. O motorista de
caminhão adverte: “non parkeia o troque na bomba da cona prá não apanhar um tíquete”.
Traduzindo: “Não estacione o caminhão em frente ao hidrante para não levar uma multa”.
Outra consideração a ser feita parece envolver também aspectos sintáticos. Estruturas
que podem ser ouvidas tanto no exterior quanto no Brasil parecem ser uma decorrência direta
da influência da língua inglesa, tais como: ”Você é suposto de fazer isso!”, que sofre
influência de inglês “You are supposed to do that” = você deve fazer isso. Em português,
entretanto, o verbo “supor” não tem a acepção de “dever”, não existindo, portanto, o adjetivo
“suposto” com o sentido de “dever”. Eu tive oportunidade de ouvir isso nos EUA e no Brasil,
de pessoas que já moraram lá e pessoas que nunca moraram nos EUA, mas convivem com
pessoas que já tiveram essa oportunidade.
Parece haver uma gradação na mixagem que os brasileiros fazem. É certo que as
palavras de conteúdo têm um papel primordial nessas inovações lexicais, em detrimento das
palavras gramaticais ou funcionais. É possível que haja uma gradação das palavras de
conteúdo, mas sendo essa uma questão empírica, só poderá ser respondida por meio de uma
pesquisa.
Motivada por inquisições a respeito da diversidade entre as línguas e as variações e
mudanças sofridas por elas, decidi pesquisar a fala dos imigrantes falantes de português
brasileiro nos Estados Unidos, mais especificamente em New Jersey e Massachussets, onde a
maioria deles está concentrada. Os imigrantes brasileiros, principalmente aqueles que vivem
ilegalmente em países ricos como os Estados Unidos, Canadá e Austrália, são pessoas que
abandonaram sua terra natal em busca de uma chance de resolverem seus problemas
financeiros em países economicamente estáveis. Sabemos que essas pessoas, em geral,
desempenham trabalhos braçais, que não requerem qualificação acadêmica, trabalham muitas
horas por dia e moram em comunidades brasileiras.
20
O interesse em estudar esse assunto foi advindo de experiências vividas nos EUA e
comentários com outras pessoas que também tiveram essa experiência. O seguinte recorte foi
escolhido: as inovações lexicais realizadas por brasileiros imigrantes que vivem nos Estados
Unidos, mais especificamente nos entornos da cidade de New York e Boston. A motivação de
meu interesse nessa questão vem de experiências pessoais nos Estados Unidos, onde morei
por dois anos e de visitas posteriores a lugares onde havia grandes concentrações de
brasileiros nos EUA, além de leituras de artigos relacionados a esse assunto e comentários
com conhecidos que moraram nos Estados Unidos da América.
O trabalho desempenhado pela maioria dos homens é na construção civil, como
pedreiros e ajudantes de pedreiro; em oficinas mecânicas; como engraxates em prédios de
executivos; como cozinheiros e lavadores de pratos em restaurantes; como motoristas; como
caixas em lojas e supermercados e também como pessoal de limpeza de prédios e lojas; além
de serviços de pintura em automóveis e imóveis. As mulheres trabalham como “babysitters”=
babás de horário integral (também chamadas de “nannies”); como diaristas; cozinheiras;
lavadoras de prato em restaurantes; empregadas domésticas e como atendentes em salões de
beleza. Algumas dessas brasileiras abrem firmas e contratam outras brasileiras num processo
de reinvenção da apropriação da mais valia de suas compatriotas em terras de Tio Sam.
Muitos brasileiros abrem firmas e exploram serviços de pintura em residências e prédios,
construção, limpeza de supermercados e limpeza de sapatos, e empregam outros brasileiros,
muitas vezes em situação ilegal. Esses brasileiros não podem, portanto, exigir seus direitos,
pois se encontram em situação ilegal no país.
Podemos dizer que os brasileiros, assim como outros imigrantes componentes do
“American Melting Pot” (caldeirão americano) desempenham as funções que os americanos
desprezam. Nas palavras do informante 10M:
“Porque normalmente os trabalhos são períodos muito longo que você trabalha. E
você trabalha uns trabalhos que americanos não querem. Normalmente o que acaba
sobrando é essas coisas de limpeza, é restaurante, e trabalho principalmente em restaurante,
a carga horária é muito grande...”
“O pessoal trabalha de às vezes dez da manhã à meia noite. E tem muita gente aqui
que trabalha sete dias por semana e não seis dias.”
Os tipos de trabalho mais pesados, que envolvem algum tipo de insalubridade ou que
não garantem um retorno financeiro expressivo são destinados à mão de obra estrangeira,
mais barata e informal, na maioria das vezes. Digamos que a imigração faz “vista grossa” com
os estrangeiros ilegais, usando-os como uma espécie de válvula de escape ou regulador
21
Segundo Pimenta (2005), 57% dos homens e 67% das mulheres que vivem em
Pompano Beach, uma das cidades-alvo dos brasileiros que emigram para a Flórida em busca
de trabalho, prefere relacionar-se exclusivamente com outros brasileiros nos EUA.
Nos estados do norte nada é diferente. Em Newark, as pessoas todas se conhecem e
sabem da história de vida umas das outras. Nota-se claramente que eles têm contato mínimo
com americanos. Esses brasileiros geralmente sentem-se discriminados pelos nativos, dos
quais eles se ressentem, vendo-os como a cultura dominante, e a si própria, como os
dominados.
Nas palavras de Damatta (1991)
Viver fora do país natal é viver como um objeto deslocado. Quando a pessoa
imagina que está ‘por dentro’ e tem suficiente familiaridade, basta um evento -
objeto, nome próprio, data ou palavra, sobretudo palavra – para confirmar a
ignorância e o fosso incomensurável que separa e divide o nativo do estrangeiro.
O seguinte relato foi retirado do capítulo “Choque do Idioma”, do livro “Como é viver
nos Estados Unidos”, escrito por Aline Tonini (2007).
Os primeiros passeios também deixam claro que viramos analfabetos. Podemos ver
um amontoado de letras, mas elas não dizem nada. "...- Esse arroz deve ser como o
do Brasil....- Será que isso é creme de leite?" Acabamos comprando o que não
queremos, pagando o que nem imaginamos e no final ainda tem que passar pelo
caixa e conseguir dizer - Thank you!
Chegar em casa e tentar relaxar na frente da televisão? Esqueça. A televisão
também só fala inglês. O cartão telefônico para ligar pro Brasil é em inglês, as
22
1) Quais são os fatores que contribuem ou favorecem a criação e o uso dessas inovações
lexicais e sintáticas?
2) Como esse fenômeno pode ser caracterizado? Como “pidgin”? Como “interlíngua”, um
estágio na evolução de aprendizagem de Língua Estrangeira?
Isso pode ser justificado a partir da ideia de que a linguagem é muito mais do que um
sistema funcional para dar nome a coisas e seres. As pessoas tendem a usar essas palavras
para transmitir significados, algumas vezes de objetos, na maioria das vezes concretos, dos
quais muitas vezes elas não sabem o nome em português. Ao usar “vaccum”, por exemplo,
uma brasileira sem instrução e vinda de uma vila no interior de Minas Gerais pode nunca ter
usado ou visto um aspirador de pó na vida. As palavras de conteúdo, ou lexicais, carregam
significado em si, e são, por isso mesmo, chamadas de palavras de categoria aberta, pois
novas palavras de conteúdo podem sempre ser criadas. Já as palavras gramaticais, ou
funcionais, servem apenas para denotar uma função gramatical dentro da frase, não
transmitindo significado e sendo em um número finito aproximado de 300. Poplack, Sankoff
e Miller (1985b) alegam que as palavras de conteúdo não são recorrentes, pois para que
fossem repetidas por vários informantes, eles deveriam falar sobre o mesmo assunto e acessar
a mesma palavra de origem inglesa que deu origem ao termo emprestado, enquanto as
palavras funcionais, embora frequentes, raramente sofrem empréstimo.
25
1.2.2. Essas inovações parecem incidir mais especificamente sobre verbos de ação.
Um verbo de ação caracteriza uma atividade expressa pelo verbo e realizada por um
sujeito agente. Indica um fazer por parte do sujeito. Contém traços de atividade relacionadas
com sujeito agente. Isso significa que o sujeito age, realiza ações. Por essas razões compõe
uma frase ativa, com fazer por parte do sujeito. O informante desta pesquisa é um ser agente
por excelência, pois a sua estadia nos EUA é impulsionada pelo trabalho com vistas a uma
remuneração condizente. Os verbos são conjugados em primeira conjugação, com vogal
temática “a”, (classe ar), perfazendo “parkear”, “vaquear”, “mopear”, etc.
Assim também acontece com a língua portuguesa, na qual a maioria dos verbos
termina em ar, tais como em cantar. De uma forma geral, os verbos com a mesma terminação
seguem o mesmo padrão de conjugação, e desse modo temos, por exemplo, parkeio, parkeia,
parkeamos, parkeiam.
Do mesmo modo, um estudo de Poplack, Sankoff e Miller (1985) sobre os contatos
linguísticos entre francês e inglês na província de Quebec, no Canadá, verificou que os verbos
utilizados no corpus de sua pesquisa eram também da primeira conjugação (classe “er”, em
francês), perfazendo “afforder” (ter condições de comprar), “delivrer” (entregar) e “mover”
(mudar).
1.2.4. O nível de escolaridade dos falantes usuários dessas inovações é, em geral, mais
baixo.
1.2.5. Os brasileiros imigrantes, alvos desta pesquisa, têm, via de regra, um nível mais
baixo de proficiência em inglês.
Os informantes desta pesquisa são brasileiros que se mudaram para os EUA com
intenção de trabalhar e “fazer um pé de meia”, juntar dinheiro para resolverem seus problemas
financeiros no Brasil. Em geral, eles não sabem falar inglês ao se mudarem para os EUA e o
que conseguem aprender lá é, no máximo, o jargão ligado à atividade que desempenham no
Exterior. Como não sabem falar inglês, não têm formação escolar para exercerem atividades
bem remuneradas e estão em situação ilegal, acabam sendo relegados ao subemprego nos
EUA.
Os brasileiros fluentes em inglês geralmente conseguem colocações melhores
trabalhando junto aos americanos, propiciando uma rede social entre os próprios brasileiros
muito menos densa que aquela do Brasileiro não-fluente em inglês. A inserção social do
brasileiro emigrante fluente em inglês na comunidade brasileira tende a ser muito menor, o
que ocasiona um contato menor com brasileiros usuários das inovações lexicais.
27
1.2.6. Essas inovações são estigmatizadas pelos próprios brasileiros nos EUA.
2 QUADRO TEÓRICO
Este capítulo lida com o quadro teórico usado como referência nesta pesquisa.
Faremos, em primeiro lugar, uma retrospectiva, estabelecendo a visão conceitual de
linguagem, língua e fala, conceitos fundamentais em qualquer estudo linguístico.
Em seguida, demonstraremos como língua, sociedade e identidade são instituições que
compartilham uma interface importante em relação ao indivíduo.
A terceira subseção deste capítulo lida com a série de motivações para os contatos
linguísticos, os conceitos de bilinguismo e diglossia, além dos resultados advindos dos
contatos entre línguas.
A seguir, citaremos as várias noções de comunidade de fala estabelecidas por vários
estudiosos da área de sociolinguística, conceitos que normalmente determinam uma tomada
de posição em relação à pesquisa.
A quinta subseção lida com os tipos de inovações linguísticas resultantes dos contatos
entre as línguas.
Nenhuma outra característica distingue tão bem o homem dos outros animais como o
domínio da linguagem. Ela tem sido o eixo central do desenvolvimento social e cultural da
humanidade.
A importância dos processos comunicativos nas sociedades urbanas e industriais
revela-se na habilidade do falante em usar a sua língua para interagir com seus semelhantes
comunicando seus pensamentos, sentimentos e ações por meio de um sistema de signos
vocais – a língua. Como o ser humano dispõe de inúmeras possibilidades para comunicar-se,
3
the sociolinguist’s aim is to move towards a theory which provides a motivated account of the way language is
used in a community, and of the choices people make when they use language.’ For example, when we observe
how varied language use is we must search for the causes. ‘Upon observing variability, we seek its social
correlates. What is the purpose of the variation? How is it evaluated in the community? What do its variants
symbolize? CHAMBERS, 2003:226
29
A faculdade que tem o homem de exprimir seus estados mentais por meio de um
sistema de sons vocais chamado língua, que os organiza numa representação
compreensiva em face do mundo subjetivo interior, pela atividade da linguagem ou
fala. (CÂMARA Jr., 1998)
Já Pinker (2007) observa as consequências de tal ponto de vista, ao dizer que, embora
os linguistas teorizem sobre a linguagem como se ela fosse um protocolo fixo de uma
comunidade homogênea de falantes idealizados, eles também sabem que a língua real sofre
pressões constantes de mudanças por parte de falantes diferentes de formas diferentes.
São essas pressões constantes de mudança que interessam a Labov, a figura mais
influente em sociolinguística nos últimos 50 anos.
Para Labov (2006)
4
Linguistic theory is concerned primarily with an ideal speaker–listener, in a completely homogeneous speech-
community, who knows its language perfectly and is unaffected by such grammatically irrelevant conditions as
memory limitations, distractions, shifts of attention and interest, and errors (random or characteristic) in applying
his knowledge of the language in actual performance. This seems to me to have been the position of the founders
of modern general linguistics, and no cogent reason for modifying it has been offered. To study actual linguistic
performance, we must consider the interaction of a variety of factors, of which the underlying competence of the
speaker–hearer is only one. In this respect, study of language is no different from empirical investigation of other
complex phenomena.
32
Nessa concepção, o ser humano usa a linguagem para agir no contexto social, pois
língua e linguagem são concebidas como atividades interativas, como forma de ação social,
como espaço de interlocução possibilitando a prática social dos mais diversos tipos de atos.
Nessa direção, Cunha (2004) enfatiza que a linguagem se caracteriza pela sua
diversidade de funcionamento, de modos de significar, ou seja, ela é constitutiva, pois os
sujeitos e as relações sociais se constituem na e pela linguagem.
Em relação à língua, Bakhtin afirma que ela é uma abstração quando concebida
isolada da situação social que a determina. Para Bakhtin (1986), “a língua vive e evolui
historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das
formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes”.
É com essa perspectiva bakhtiniana que abordaremos os termos língua, linguagem e
fala, pois Bakhtin, diferentemente dos estruturalistas, reconhece o caráter social da língua e a
relevância da interação verbal como realização da linguagem.
Ao observarmos atentamente qualquer língua, descobrimos que existe uma
considerável variação interna e que os falantes fazem uso constante das muitas diferentes
possibilidades que lhes são oferecidas. Ninguém fala da mesma forma o tempo todo e as
pessoas constantemente exploram as nuances das línguas e falam com uma grande variedade
de efeitos. A consequência é uma espécie de paradoxo: embora muitos linguistas desejassem
5
The linguistic behavior of individuals cannot be understood without knowledge of the communities that they
belong to.
33
exibir um idioma como uma entidade homogênea e cada falante dessa língua como
controlador de apenas um único estilo, na realidade, cada língua exibe considerável variação
interna e não há falantes de um único estilo (ou, se houvesse, isso seria algo disfuncional).
A variação é uma característica intrínseca de todas as línguas em todos os momentos.
Mesmo línguas 'mortas', como o sânscrito, o grego clássico e o latim estão repletos de
variação. Um reconhecimento da variação implica em reconhecermos que uma língua não é
apenas uma espécie de objeto de estudo abstrato. É também algo que as pessoas usam. A
exemplo de Chomsky, muitos linguistas argumentam que não se deveria estudar uma língua
em uso, ou mesmo como a língua é aprendida, sem, primeiro, adquirir-se um conhecimento
adequado sobre o que é a própria linguagem.
No final dos anos 60, surge a ideia de variação linguística, exigindo a volta do olhar
para outros aspectos. Entretanto, nos meados do século XIX, já frutificavam os estudos
dialetológicos que mostravam como a língua variava geograficamente e os falantes não
tinham uma unidade, seja do ponto de vista lexical ou fonético. A relação entre língua e
sociedade, entretanto, já havia sido vislumbrada pelos estruturalistas das décadas de 20 e 30,
segundo Tarallo (1986), porém, preterida pelos gerativistas da década de 60.
Como já havia afirmado Schuchardt em 1885, a pronúncia de um indivíduo nunca está
livre de variações. Sapir (1921) concordou ao dizer que todos sabem que a língua é variável.
Embora todos concordem quanto à existência da variação linguística, somente com o
surgimento da sociolinguística, na década de 60, ela começou a ser sistematicamente
analisada. A Sociolinguística dos anos 60 apresenta um ponto de partida para novas correntes
e orientações de pesquisa, baseadas no fenômeno linguístico relacionado ao seu contexto
sócio-cultural: a sociologia da linguagem, através de Fishman; a sociolinguística interacional,
de Gumperz; a sociolinguística variacionista de Labov; a dialetologia social de Shuy e
Trudgill e a etnografia da comunicação, de Hymes.
A própria noção de competência comunicativa, tal como definida por Dell Hymes
(1972), distancia-se da ideia chomskyana (1965) de competência. Ao fazer a distinção entre
competência linguística e desempenho, por exemplo, Chomsky (1968) não pensava em
falantes reais, mas ideais, enquanto Hymes se preocupava com falantes reais, que usam de
competências estratégicas e sociolinguísticas para suprir suas deficiências linguísticas. A
partir dessas novas conquistas teóricas, o trabalho com a língua passa a encarar, debater e
combater todo o tipo de preconceito linguístico dando lugar às tentativas de valorização das
variedades de língua não-padrão ou não-cultas.
A sociologia da linguagem, outro foco de interesse nosso, lida com fatores sociais em
larga escala associados à linguagem, segundo Camacho (2003). Dentre esses fatores podemos
34
As pessoas sabem usar uma língua ou outra de forma adequada e duas pessoas nunca
usam a língua que compartilham de forma exatamente igual. A causa dessas diferenças pode
ser elucidada através de questões como identidade, capacidade de pertencer a um grupo, poder
e solidariedade.
Segundo Le Page (1980), todo ato de fala é um ato de identidade. A linguagem é o
índice da identidade por excelência. As escolhas linguísticas são processos inconscientes que
o falante realiza e estão associadas às múltiplas dimensões constitutivas da identidade social e
aos múltiplos papéis sociais que o usuário assume na comunidade de fala. O que determina a
escolha de uma ou outra variedade é a situação concreta de comunicação.
Na opinião de Chambers (2003), a causa subjacente das diferenças sociolinguísticas é
o instinto humano inconsciente de se estabelecer e manter-se a identidade social. São muitos
os exemplos, segundo ele, que revelam a necessidade premente de se mostrar pertença a
determinados grupos, às vezes de forma mais restrita, outras vezes de forma mais
generalizada.
Cada um de nós tem a sua identidade (ou um conjunto de identidades), pois ninguém é
somente um professor ou um aluno ou aposentado, ou jogador de golfe, ou bailarina. Somos
um conjunto de identidades, e cada uma delas se faz presente em cada contexto apropriado.
6
At any given time a person's identity is a heterogeneous set made up of all the names or identities, given to and
taken up by her [or him]. But in a lifelong process, identity is endlessly created anew, according to very various
social constraints (historical, institutional, economic, etc.), social interactions, encounters, and wishes that may
happen tobe very subjective and unique.TABOURET-KELLER (1998:316)
37
Para Richards (2006), a nossa identidade não é algo com o qual nascemos ou que
adquirimos ou um estereótipo no qual nos encaixamos, mas é algo formado e forjado através
da ação e demonstrado através do desempenho.
A identidade é construída através da interação com os outros e é resultado da
socialização, ou seja, de nossas experiências com o mundo em toda a sua complexidade. Em
consequência, fatores como raça, etnia, gênero, religião, localidade, classe social, idade, além
de outros a afetam, já que a identidade é criada na lida com esses fatores e com os membros
da sociedade que também são influenciados por esses fatores.
Para Tabouret-Keller, a língua falada por alguém e sua identidade como falante dessa
língua são inseparáveis, sendo que “os atos linguísticos são atos identitários”, segundo Le
Page e Tabouret-Keller (1985). Os gregos, por exemplo, identificavam como “não-gregos”
todos aqueles que soavam para eles como “barbarbar”, denominando-os, então “bárbaros”.
Em uma pesquisa realizada em 1978 em Belize, na América Central, ao ser perguntado
como se reconhece um nativo de Belize, um deles respondeu que aquilo que o identificava era
a língua que ele falava, pois poucos nativos falavam inglês ou espanhol, mas todos falavam
“uma espécie de gíria” chamada crioulo. Podemos inferir os dois significados do verbo
“identificar” através desses dois relatos, segundo Tabouret-Keller. O primeiro ilustra a
acepção de “identificar” tendo a língua como um comportamento externo permitindo a
identificação de um falante como um membro pertencente a um grupo, como no caso dos
“não gregos” identificados pelos gregos como estrangeiros pelo seu seu modo de falar. Já o
segundo caso ilustra a acepção de “identificar” um nativo local através da língua que ele fala.
A identidade de uma pessoa é um conjunto heterogêneo composto de nomes atribuídos
a ela e também adotados por ela. Durante o processo de uma vida inteira, entretanto, a
identidade de um indivíduo é criada e recriada de acordo com as exigências sociais, interações
com outros, desejos e outros fatores subjetivos e também muito particulares.
O que Tabouret-Keller chama de processos de identificação são os processos
psicológicos através dos quais as identidades são criadas. A ligação entre língua e identidade é
tão imbricada que basta um traço fonológico para identificar um indivíduo como membro do
grupo, como aquela história bíblica do campo de batalha de Efraim ilustra. De acordo com
essa história, os soldados usaram, para identificar os amigos em meio aos inimigos, um traço
fonológico característico da língua dos amigos. Para isso, pediram que os soldados
pronunciassem a palavra “shibboleth”. Se o soldado pronunciasse / s / em vez de / ʃ /, ele era
identificado como inimigo e morto.
Esses exemplos mencionados acima mostram como a identidade do indivíduo e a
identidade social são mediadas pela língua: as características linguísticas são a ligação entre
38
as identidades sociais e individuais, sendo que a língua oferece tanto um meio para ligar essas
identidades quanto para expressá-las.
O objeto de nosso estudo é a fala dos brasileiros imigrantes nos EUA. Como muitos
informantes declararam durante as entrevistas, é possível identificar um emigrante brasileiro
apenas pelo seu jeito de falar. Esse processo de identificação do indivíduo pela sua fala é o
que Tabouret-Keller chama de processos psicológicos através dos quais as identidades são
criadas. Como os imigrantes brasileiros só usam esse linguajar entre si, esse falar tornou-se
emblemático de sua situação sócio-econômica nos EUA.
A questão da identidade foi discutida também por Fairclough (1993). Discurso, de
acordo com Fairclough (1993) significa texto + contexto social + contexto cultural. Segundo
essa visão, o uso da linguagem é sempre simultaneamente constitutivo de identidades sociais,
de relações sociais e de sistemas de conhecimentos e sentimentos. Para Kress (1989:450),
“textos são locais de emergência de complexos significados sociais, produzidos numa história
particular de situação de produção e guardando em vias parciais as histórias tanto dos
participantes na produção do texto quanto das instituições que são evocadas”. Por “texto” nós
entendemos, nesse caso, a fala do indivíduo.
O conceito de identidade cultural diz respeito, também, à conexão entre indivíduos e
estrutura social. O mundo das representações, do qual a língua faz parte, tem uma dinâmica
própria, mas sofre influência da base material da sociedade. Nessas representações é que
surgem os conceitos de visão do mundo, concepções e mentalidade, presentes na forma de
comunicação.
A identidade social e cultural é a categoria que define como os indivíduos se inserem
no grupo e como eles agem, tornando-se sujeitos sociais. Define, também, a forma como o
indivíduo incorpora o mundo material a partir da experiência e projeta essa incorporação
como construção simbólica.
A extensão em que os valores primordiais afetam a identidade cultural de um bilíngue
depende do padrão desses valores, resultante de um contato cultural específico e das
circunstâncias sociais que formam o tipo de experiência bilíngue.
Segundo Harmers e Blanc (2000:118), a situação na qual as línguas e culturas estão
em contato engloba uma variedade de casos, tais como:
- o indivíduo fala uma língua em casa diferente da língua falada na comunidade ou
sociedade;
- o indivíduo fala duas línguas em casa, sendo uma delas a língua da comunidade ou
da sociedade;
- o indivíduo fala duas línguas em casa e ambas são utilizadas em duas comunidades
em contato na sociedade;
39
muitas vezes elas não se dão conta, e as consequências podem ser maiores ou menores para o
comportamento linguístico.
Outra característica a ser mencionada é também o fato de uma escolha linguística ser
“marcada” ou “não-marcada”. O modo esperado e “default” é o “não marcado”; qualquer
coisa que seja diferente disso é “marcada”. Assim como usar terno em plena praia de
Copacabana ou contar piada de judeu numa sinagoga, chamar as pessoas de “companheiros e
companheiras”, ou dizer que vai “parkear” o carro são escolhas “marcadas”. A “marcação” é
um conceito muito útil no sentido de que, uma vez identificada uma característica “marcada”,
estaremos mais bem-equipados para descrever a norma esperada.
Entretanto, isso não implica que essas normas sejam imutáveis. Há alguns anos, por
exemplo, ver alguém falando sozinho na rua era um comportamento altamente “marcado”.
Hoje em dia, com o advento do celular, isso passou a ser lugar comum, comportamento “não-
marcado”. O tempo muda os valores que atribuímos tanto a palavras quanto a fatos.
Há várias relações possíveis entre língua, identidade e sociedade. Uma delas é que a
estrutura social pode tanto influenciar quanto determinar a estrutura linguística e ou o
comportamento linguístico. O fenômeno de gradação em relação à idade, por exemplo,
corrobora esse ponto de vista. As crianças mais jovens falam de modo diferente das crianças
mais velhas, que, por sua vez, falam diferente de jovens adultos.
Já a outra relação vai de encontro à primeira. A estrutura linguística e/ou o
comportamento linguístico podem tanto influenciar quanto determinar a estrutura social.
Segundo autores como Bernstein, as línguas podem conter características discriminatórias em
relação a gênero e classe social.
Uma terceira relação possível é que a influência é bi-direcional: a língua e a sociedade
podem se influenciar mutuamente, segundo a visão dialética de Dittmar (1976).
A quarta possibilidade é assumirmos que não há nenhuma relação entre a estrutura
linguística e a estrutura social, e que cada uma independe da outra. Uma variante dessa
possibilidade parece ser a apoiada por Chomsky que, embora considere a possibilidade de
influência de uma estrutura na outra, prefere desenvolver uma linguística “associal” como
uma preliminar para outras linguísticas.
Havendo tantas possibilidades de interpretação, devemos ficar atentos aos vários
aspectos relevantes entre língua e sociedade. Kroch (1978), por exemplo, afirma que os
grupos sociais dominantes tendem a falar de modo a marcarem seu território distintamente
daqueles de seus dominados e a interpretar essa distinção como evidência de qualidades
morais e intelectuais superiores. Isso não acontece somente no estilo da fala do grupo
dominante, estando também presente no seu modo de se vestir e se comportar, introduzindo
maneiras elaboradas e emprestando modos de grupos de pressão externa a eles.
41
7
Language is more than just words. It’s a powerful social behavior that speaks volumes about who we are, where
we come from and how we relate. Language is one of the most powerful emblems of social behavior. In the
normal transfer of information through language, we use language to send vital social messages about who we
are, where we come from, and who we associate with.
42
proposta de se tornar o inglês a língua oficial através de uma emenda constitucional pode ser
considerado um exemplo dessa atitude. O status do Francês e do Inglês no Canadá também
demonstra atitudes em relação à língua. Nos países em desenvolvimento, as línguas
vernáculas e nacionais funcionam como símbolos de relações sociais muito importantes entre
culturas e nacionalidades diferentes.
A teoria da acomodação pode explicar fatos com que lida a linguística aplicada à
aquisição de segunda língua. Gardner e Lambert (1972) observaram as variáveis
sociolinguísticas que influenciavam a aquisição de segunda língua. Para os autores, há duas
orientações que motivam um indivíduo a adquirir uma segunda língua: a integrativa e a
instrumental. A primeira sugere que o aprendiz se identifica com os falantes da língua-alvo,
desejando tornar-se membro desse grupo. Já a perspectiva instrumentalista considera que o
aprendiz aprenderá a língua quando considerá-la útil a seus propósitos como, por exemplo,
obter ascensão social. Os autores concluíram, entretanto, que, de um modo geral, a orientação
integrativa é um fator motivador mais forte que a instrumental.
Para Gardner & Lambert (1972), pioneiros no estudo da motivação para a
aprendizagem de segunda língua, a motivação é associada a atitudes relacionadas à
comunidade de falantes da língua-alvo, ao desejo expresso de interação com tais falantes e a
um grau de identificação com a comunidade. Desse modo, ela é a combinação de esforço,
desejo de alcançar o objetivo de aprender a língua e atitudes favoráveis à aprendizagem. Em
outras palavras, o sucesso na aprendizagem de uma segunda língua, tanto em quantidade
quanto em nível de proficiência serão aprimorados onde a distância social (grupo) e
psicológica (indivíduo) do aprendiz em relação à comunidade de língua-alvo seja menor.
Quanto maior a distância, menor o contato linguístico, e, em consequência, menor quantidade
e qualidade do insumo linguístico, acarretando menor aprendizagem.
Segundo a Teoria da Aculturação de Schumann (1978), as minorias que se veem como
subordinadas a outros grupos tendem a adotar uma das três estratégias de integração:
Assimilação: o grupo abandona seu estilo de vida e seus valores e tem grandes chances
de aprender bem a língua.
Rejeição: se o grupo rejeita a cultura do grupo dominante, é improvável que a
aprendizagem da língua aconteça.
Adaptação: se o grupo tem uma visão positiva de sua própria cultura e do mesmo
modo, uma visão positiva da cultura-alvo, a aquisição da segunda língua pode variar.
43
8
“... o contato linguístico é sempre um produto histórico de forças
sociais.” (SANKOFF 2001,p.638-668 - traduçao nossa)
Uma distribuição funcional dos usos: utiliza-se a variedade alta na Igreja, nas Letras,
nos Discursos, na Universidade, etc., enquanto a variedade baixa se utiliza nas conversas
familiares, na literatura popular, etc.
O fato de que a variedade alta goza de um prestígio social do qual não desfruta a
variedade baixa;
O fato de que a variedade alta tenha sido utilizada para produzir uma literatura
reconhecida e admirada;
O fato de que a variedade baixa seja adquirida “naturalmente” (é a primeira língua dos
falantes) enquanto a variedade alta seja adquirida na Escola;
O fato de que a variedade alta seja reconhecida como a norma gramatical.
(Gramáticas, Dicionários, etc.);
O fato de que a situação de diglossia seja estável, que possa durar vários séculos;
O fato de que essas duas variedades de uma mesma língua, vinculadas por uma relação
genética, tenham uma gramática, um léxico e uma fonologia relativamente divergentes.
48
Falaremos, na próxima subseção, acerca dos produtos obtidos através dos contatos
entre as línguas, abordando temas como interlanguage, interference, Pidgin, Crioulo, dialetos,
socioletos, etc.
Os resultados dos contatos linguísticos podem ser muitos. A fim de abordarmos esses
resultados, contudo, é necessário mencionarmos alguns conceitos relevantes nessa área, tais
como, interlanguage e interference.
O termo “interlanguage” mais especificamente, interim language, é um sistema
linguístico emergente desenvolvido por aprendizes de segunda língua que ainda não
apresentam um alto grau de proficiência na segunda língua, mas que tentam aproximações
com a língua-alvo preservando características da sua língua materna ao falar ou escrever na
segunda língua e criando inovações.
A “interlanguage” é baseada nas experiências do aprendiz com a segunda língua,
podendo sofrer um processo de fossilização em qualquer estágio de desenvolvimento. Esse
termo consiste em transferência de língua materna, transferência de treinamento, estratégias
de aprendizagem de segunda língua, como simplificações, por exemplo, estratégias de
comunicação em segunda língua, e supergeneralização dos padrões da segunda língua,
onde alguns itens, regras e estruturas de língua materna podem ser transferidas para a
produção da língua-alvo.
Esse termo foi criado por Selinker (1972), segundo o qual, um falante aprendiz de
língua estrangeira ou segunda língua se engaja numa jornada linguística de sua língua nativa
para a língua-alvo e constrói naturalmente um sistema linguístico particular nesse “meio
tempo”, ou “interim time”. Esse sistema individual é chamado de “interlanguage” por
Selinker (1969, 1972), e de “sistema aproximativo” por Nemser (1971), além de
“competência transicional” por Corder (1967), ou mesmo de “idioleto idiossincrático” pelo
mesmo Corder em 1973.
Grosso modo, seria um estágio intermediário do sistema da língua estrangeira do
aprendiz entre a língua materna e a língua-alvo. Esse termo é também conhecido como as
gramáticas intermediárias construídas pelo aprendiz de língua estrangeira no processo de
aprendizagem da língua-alvo (Mclaughlin, 1987).
51
trabalho, pois as inovações lexicais dos brasileiros no exterior são resultado indiscutível de
contato linguístico em que ocorrem forçosamente “interlanguage” e “interference”.
Outras preocupações com a língua focalizam situações sociais na estrutura das línguas.
Os estudos sobre contato linguístico focalizam, entre outras coisas, a origem e a composição
linguística de línguas pidgin e crioulas. Esses tipos especiais de variações linguísticas
aparecem quando falantes de línguas mutuamente ininteligíveis necessitam de uma língua
comum para que haja comunicação. Há muitos exemplos de tais situações sócio-históricas no
mundo – No Caribe, África, América do Sul, Ásia e Ilhas do Pacífico.
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma
língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e
assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme.
Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma
da língua.
A cada situação de fala da qual participamos, podemos observar que a língua falada é
heterogênea e diversificada, e é precisamente essa heterogeneidade que devemos sistematizar.
Caso a heterogeneidade e o aparente caos não pudessem ser sistematizados, como poderíamos
justificar que essa diversidade linguística não impede os falantes de se comunicarem?
Analisar e aprender a sistematizar variantes linguísticas usadas por uma mesma
comunidade de fala são os principais objetivos dos estudos sociolinguísticos. A teoria da
variação linguística, desenvolvida por Labov, é um modelo teórico-metodológico que assume
o “caos linguístico” como objeto de estudo. Segundo Naro (1992), quando existem duas
formas alternantes em competição e uma delas possui alguma vantagem sobre a outra, esse
fato deve resultar em seu favorecimento durante o processo de mudança.
Segundo Richards, Platt & Weber (1985), os resultados dos contatos entre línguas
podem ser:
Crioulo: é um pidgin que se tornou língua nativa para um grupo de falantes, sendo
usado para a maioria de suas necessidades diárias. A crioulização envolve uma expansão do
vocabulário e do sistema gramatical.
Interlíngua: tipo de linguagem produzida pelo aprendiz de segunda língua ou língua
estrangeira, ao estar no processo de aprendizagem. Os erros apresentados podem ser causados
por diferentes processos, como empréstimo da língua materna, generalização e paráfrases
estratégicas para suprir deficiências de vocabulário.
Dialeto: coleção de atributos (fonéticos, fonológicos, sintáticos, morfológicos,
semânticos) que tornam um grupo de falantes diferentes de outro grupo de falantes da mesma
língua.
Socioleto: Uma variedade linguística que pode ser diferenciada de outra.
Idioleto: É o modo de falar característico de cada pessoa.
Um dialeto, para ser considerado como tal, tem de ser falado por uma comunidade. As
características da língua que não são específicas de um grupo regional são consideradas
socioletos (variedades próprias de diferentes grupos sociais, etários ou profissionais) ou
idioletos (variedades próprias de cada indivíduo).
As regiões dialetais são estabelecidas por linhas de fronteiras virtuais a que se dá o
nome de isoglossas. Acredita-se que um dialeto seja um linguajar sem regras, porém, todo
dialeto tem as suas normas, regras gramaticais, morfológicas, fonológicas, semânticas e
sintáticas, conhecidas mesmo que intuitivamente por todos os seus falantes, de acordo com
Cintra (1995).
Uma língua divide-se em inúmeras variantes dialetais. Desde as mais abrangentes
(português europeu e português brasileiro) até as sub-variantes mais específicas. Por exemplo:
usar a linguagem do jeito que lhe apetece. O indivíduo não pode pronunciar as palavras do
jeito que bem entender e flexioná-las ou não, ou mudar a ordem das palavras dentro da
sentença de modo arbitrário. A variação, portanto, tem limites precisos e completamente
inconscientes (ninguém precisa ter ido à escola para ser compreendido por seus pares), sob
pena de ininteligibilidade. Ainda assim, é difícil explicar como os falantes adquirem
conhecimento das normas de comportamento linguístico, que parecem muito mais sutis que as
normas de comportamento social, de como se vestir e de como se comportar à mesa.
É tarefa do sociolinguista tentar especificar as normas de comportamento linguístico
de determinados grupos e tentar contabilizar comportamentos individuais em relação a essas
normas.
Essa redução na estrutura gramatical da língua alvo pode ocorrer devido a fatores tais
como:
O difícil acesso dos falantes das outras línguas aos modelos da língua alvo, sobretudo
nas situações em que os falantes dessa língua alvo são numericamente muito inferiores aos
falantes das outras línguas;
O fato de os falantes dessas outras línguas serem, em sua grande maioria, adultos, não
havendo, pois, o acesso aos dispositivos da faculté du langage, que atuam naturalmente no
processo de aquisição da língua materna;
A ausência de uma ação normatizadora, ou seja, de uma norma ideal que oriente e
restrinja o processo de aquisição/nativização, já que esse processo tem como objetivo
fundamental a comunicação emergencial com os falantes da língua alvo.
também demonstramos várias configurações características que são compartilhadas com todos
que se assemelham a nós socialmente, em termos de posição social, local onde fomos criados
e outros pontos chave de nossa história de vida. A linguagem é a forma mais transparente de
se mostrar identidade. Até mesmo na literatura esse fenômeno já foi explorado por vários bons
autores como, George Bernard Shaw em “Pygmalion”, que deu origem à adaptação no cinema
de “My fair lady”. Ao tentar mudar a forma de falar da protagonista, Eliza Doolittle, uma
vendedora ambulante de flores de Londres, Shaw estava, na realidade, afirmando o que os
sociolinguistas começaram a ratificar anos mais tarde: a nossa maneira de falar é socialmente
motivada, ela é o produto do nosso contexto social.
Sabemos também que os resultados dos contatos linguísticos podem diferir devido a
vários fatores, tais como a duração e a intensidade do contato entre os grupos, os tipos de
relacionamentos sociais, econômicos e políticos entre eles, a função que a comunicação entre
eles desempenha e, finalmente, o grau de semelhança entre as línguas.
A pesquisa em questão se ocupa do estudo da língua dentro de uma comunidade de
fala, ou seja, da observação e análise da língua em seu contexto social, assim como é utilizado
em situações cotidianas. Trata-se de uma perspectiva que difere da abordagem teórica de
outros trabalhos, cuja análise se baseia, geralmente, em construtos teóricos em detrimento de
dados coletados de falantes em situações de fala do dia-a-dia.
Acreditamos que a naturalidade contida em dados colhidos de práticas orais,
principalmente da fala espontânea, principal campo de pesquisa laboviana, pode revelar muito
sobre as relações entre língua, sociedade e identidade, no caso de nossa pesquisa. Isso
acontece porque essas relações evidenciam as várias formas linguísticas utilizadas pelos
falantes brasileiros nos EUA para comunicar-se entre si. Essa indissociabilidade entre a língua
e o contexto social estabelece a heterogeneidade ordenada como fator constitutivo de um
sistema linguístico, descartando-se, então, a uniformidade como característica única do jogo
comunicativo na linguagem oral. (LABOV, 1975, p. 203).
Passamos, a seguir, a tratar das diferentes noções de comunidade de fala definidas
pelos mais influentes sociolinguistas, estabelecendo a concepção de comunidade de fala que
orienta esta pesquisa.
9
The speech varieties employed within a speech community form a system because they are related to a shared
set of social norms
60
Hymes não entra na seara das diversidades contidas no seio de uma comunidade de
fala, mas ele menciona as regras de conduta e de interpretação de fala de uma variedade
linguística, postulando a base da descrição da língua como uma entidade social, em vez de
linguística.
Segundo Corder (1973) a comunidade de fala é composta por indivíduos que se
consideram falantes de uma mesma língua. Eles não precisam ter nenhum outro atributo
definido. Nota-se aqui uma visão bastante ampla e subjetiva.
Da mesma, forma Halliday adota esse critério em sua definição, como se constata em
sua explicação:
A comunidade de fala não é definida por um acordo marcado do uso dos elementos
linguísticos, mas antes pela participação em um conjunto de normas
compartilhadas, que devem ser observadas em tipos de avaliações comportamentais
ostensivas, e pela uniformidade de padrões abstratos de variação que são
10
A system of organized diversity held together by common norms and aspirations. Members of such a
community typically vary with respect to certain beliefs and other aspects of behavior. Such variation, which
seems irregular when observed at the level of the individual, nonetheless shows systematic regularities at the
statistical level of social facts.
11
A community sharing rules for the conduct and interpretation of speech, and rules for the interpretation of at
least one linguistic variety... A necessary primary term... it postulates the basis of description as a social, rather
than a linguistic, entity.
61
Ou seja, a comunidade de fala não é definida por nenhum acordo marcado no uso de
elementos de linguagem, mas pela participação em um conjunto de normas compartilhadas,
possíveis de serem observadas em certos tipos de comportamento avaliativo, e pela
uniformidade de padrões abstratos de variação que são invariáveis em relação a níveis
particulares de linguagem.
Para Romaine (1994, p.22), comunidade de fala pode ser definida como “um grupo de
pessoas que não compartilham a mesma língua, mas compartilham um conjunto de normas e
regras para seu uso (...). As fronteiras entre as comunidades de fala são essencialmente mais
de caráter social do que linguístico”.
em grau extremo tende a produzir homogeneidade de valores e de normas, incluindo as
normas linguísticas. Assim, as redes densas são responsáveis por uma certa estabilidade linguística
uma vez que Milroy (1980) sugere que a noção de comunidade de fala deve pressupor a noção
de redes sociais, nas quais os usuários de dialetos mais carregados, geralmente são membros
de redes mais densamente construídas, ou “fechadas”, tendo contato quase exclusivamente
dentro do grupo, e os membros da elite atuam em uma rede menos densamente construída, e
portanto, mais “aberta” a outras influências. Laços fortes constituem redes sociais densas –
nas quais todos conhecem todos – e múltiplas – nas quais os indivíduos compartilham mais de
um tipo de relação, como amizade e companheirismo profissional (MILROY & MILROY,
1997). Quanto mais densas e múltiplas forem as redes sociais, maior a probabilidade de elas
operarem de forma normativa, uma vez que densidade se mantém o vernáculo local, com
resistência a pressões linguísticas e sociais de outros grupos. Exemplificando: os
relacionamentos em sociedades tribais, vilarejos ou em comunidades de trabalhadores tendem
a ser mais densos e múltiplos do que em sociedades industriais e urbanas (MILROY, 1987 ).
Por outro lado, laços fracos caracterizam redes com ligações interpessoais.
Os estudos da sociolinguística variacionista normalmente abarcam redes sociais,
conhecidas em inglês como “network studies”, por envolverem grupos sociais de nível micro,
ligados, às vezes, a paróquias, instituições ou vizinhanças, e não a uma estrutura de classe
propriamente dita. Segundo Milroy (1980), em seus estudos em Belfast, as redes sociais são
utilizadas para explicar comportamentos individuais de vários tipos, que não podem ser
12
The speech community is not defined by any marked agreement in the use of language elements, so much as
by participation in a set of shared norms. These norms may be observed in overt types of evaluative behavior,
and by the uniformity of abstract patterns of variation which are invariant in respect to particular levels of usage.
62
explicados em termos de estrutura de classe. Para ela, quanto mais ligado a sua comunidade,
tanto mais próxima será a linguagem do indivíduo das normas vernáculas locais.
Dessa forma, podemos observar que haverá tantas definições de comunidades de fala
quanto linguistas que as defendam, e até mesmo opiniões diferentes de um mesmo autor, em
mais de um momento. Essa é uma questão espinhosa tanto no que tange o estabelecimento de
limites geográficos ou sociais, quanto ao que concernem os critérios de demarcação de uso da
língua. As definições são, às vezes, muito complexas e às vezes muito amplas e pouco
precisas, dependendo dos autores que as empregam, possibilitando, dessa maneira, diferentes
interpretações.
Como sugere Labov (1972), é impossível compreender fenômenos relativos a uma
comunidade linguística fora do contexto social onde eles são produzidos. Portanto, um estudo
que considere a variação linguística um método produtivo para a observação e coleta de dados
deve partir das situações concretas de uso da fala.
O objeto da Sociolinguística é analisar o individuo em sua comunidade, com seu
grupo, e não o individuo isoladamente. Para Labov (1972) o vernáculo é propriedade de um
grupo e não de um indivíduo, entendendo-se como vernáculo a primeira forma de linguagem
empregada de forma natural entre falantes de um mesmo grupo, geralmente adquirida antes da
puberdade.
Desse modo, observamos basicamente três tendências gerais para a definição de
comunidade de fala: a primeira refere-se à comunidade de fala como constituída por pessoas
que têm a mesma primeira língua, ou seja, elas interagem por meio das regras compartilhadas
para o uso da língua materna. Uma outra preconiza o caráter pragmático da comunicação,
independente do número de línguas ou variedades utilizadas; nesse caso, uma comunidade de
fala pode se constituir de pessoas que se compreendem ao fazer uso da mesma língua, mesmo
essa língua não sendo a sua língua materna. Em terceiro lugar, uma comunidade de fala pode
se constituir de pessoas que se identificam socialmente com ela.
A definição do eixo teórico que delimita os contornos do termo “comunidade de fala”
acaba por definir uma tomada de posição em relação à pesquisa, determinando, em
consequência, o tipo de dados a serem coletados em um trabalho de variação e mudança
linguística.
Podemos afirmar, portanto, que a presente pesquisa engloba as três tendências de
definição de comunidade de fala: os informantes que são alvo da pesquisa são falantes nativos
da mesma língua materna - português; esses falantes fazem uso pragmático dessa variedade
63
Por que as inovações lexicais ocorrem é uma pergunta que já vem sendo feita há muito
tempo. Em 1988, Otheguy e Garcia questionavam esse assunto no artigo “Diffusion of Lexical
Innovations in the Spanish of Cuban Americans” (Difusão das Inovações Lexicais no
Espanhol de Cubano-americanos). Segundo esses autores, citando Haugen (1938), as
inovações lexicais são uma resposta a duas necessidades conflitantes: falar na sua própria
64
língua nativa e ser capaz de comunicar ideias comumente expressas na língua-alvo, porém
raras ou ausentes em sua língua nativa.
Para nós, linguistas, interessa saber qual o grau de interferência das diferenças sociais
no resultado linguístico do contato entre as línguas. Já em 1886, Hermann Paul observou que
todo empréstimo linguístico implica em conhecimento das duas línguas pelo falante.
Thomason e Kaufman (1988) mencionam duas direções a serem seguidas pelo contato
linguístico - o empréstimo e a interferência do substrato. Como “empréstimo” entende-se os
termos linguísticos estrangeiros incorporados à língua nativa do falante.
O outro processo mencionado por Thomason e Kaufman, “interferência do substrato”,
ocorre quando a estrutura da língua nativa influencia a língua estrangeira. Para eles, existe
uma escala de pressão relativa de um grupo (uma língua) sobre o outro, trazendo à tona o
nível micro (indivíduo) e o nível macro (da língua). Tacitamente, Thomason e Kaufman
(1988) assumem que os falantes podem ser caracterizados em termos de língua nativa e
línguas estrangeiras e que os grupos ou comunidades podem ser relativamente homogêneos
nesses termos.
Para Haugen (1950), termos como mixture (mistura) e hybrid (híbrido) carregam em si
uma conotação até mesmo pejorativa, devendo, portanto ser abandonados, assim como o
fizeram Sapir e Bloomfield. Segundo Haugen (1950), esses termos parecem comparar as
línguas a ingredientes que poderiam ser colocados em uma coqueteleira e misturados para que
se obtivesse um drink diferente dos ingredientes que o compõem. Exceto em casos anormais,
os falantes não foram observados mudando de uma língua para outra repentinamente,
livremente. Eles podem mudar rapidamente de uma para outra, mas, eles estão falando uma
mesma língua, mesmo que recorram a outra como auxílio. Segundo esse autor, a introdução
de elementos de uma língua em outra não chega a representar uma mistura, mas “uma mera
alteração da segunda língua”. Como podemos entender através da metáfora da coqueteleira,
uma mistura implica a criação de uma entidade completamente nova e o desaparecimento de
seus constituintes. Além disso, o uso de termos como “mistura” e “hibridismo” insinua a
existência de línguas que são “puras”, ou que algumas são “mais puras que outras” devido à
quantidade de empréstimos presentes em seu léxico.
A fim de explicar o termo “empréstimo”, Haugen (1950) postulou três axiomas:
Todo falante tenta reproduzir padrões linguísticos previamente aprendidos para lidar
com novas situações linguísticas.
65
Entre os novos padrões que ele pode aprender estão aqueles provenientes de uma
segunda língua, que ele também tentará reproduzir.
Se ele reproduzir o novo padrão linguístico, não no contexto da língua, em que foi
aprendido, mas no contexto de outra língua, isso configura um empréstimo.
O que Haugen (1950) postula é que o termo “empréstimo”, embora também um tanto
inadequado, já que não se devolve nenhum dos empréstimos linguísticos, é um termo mais
amplo que abarca vários outros, que podem ser classificados como decorrentes de:
Importação
Palavra estrangeira usada como na língua de origem. e.g. café (do francês) e whiskey
(do inglês)
Empréstimo (Loanword) = palavras que têm origem estrangeira, porém são adaptadas
para a língua receptora. e.g. abajur (que vem de abat-jour, do francês) e chofer (que vem de
chauffeur , também do francês).
Substituição parcial: palavras compostas, nas quais uma parte é emprestada, e a outra é
substituída. e.g. Saturnes dag =“Saturday” (de Latim, Saturni dies)
Substituição total:
empréstimo traduzido = calque, do francês e.g. OE Monan dæg = moon’s day =
‘Monday’ (< Lat. Lunae dies), ‘rasca·cielos: scrape-sky’, ‘arranha-céus’ (< E skyscraper),
empréstimo renderizado (processado)= tradução de uma parte dos elementos da
palavra estrangeira, e.g. E brother·hood (< Lat. frater·nitas [= Lat. frater= ‘brother’ +
suffixo]
Haugen fez algumas observações que têm uma relação direta com o presente estudo:
Quando um falar A usa e acaba por integrar uma unidade ou um traço linguístico
que existia precedentemente num falar B e que A não possuía;a unidade ou traço
emprestado é, por sua vez, chamado de empréstimo. O empréstimo é o fenômeno
sóciolinguístico mais importante entre todos os contatos de línguas.
perfeitamente normal que um falante saiba ler e escrever em apenas uma das línguas, que
tenha fluência limitada em uma língua que usa com um número reduzido de pessoas, ou que
possa falar sobre um assunto específico em apenas uma das línguas.
Um fenômeno pressuposto pelo contato entre línguas é o “codemixing”, ou seja, uma
estratégia conversacional que combina, ou faz uma “mixagem” entre dois códigos
linguísticos. Um exemplo de “codemixing” seria um falante bilíngue de Malaio e Inglês
dizendo: “This morning I hantar my baby tu dekat babysitter tu lah” (hantar=took=levei, tu
dekat=to = para, tu lah = partícula indicativa de solidariedade).
Na visão de Gumperz 1982a e 1982b, a alternância entre línguas é conceptualizada
não como uma deficiência a ser estigmatizada, mas, sim, como um recurso extra através do
qual muitos significados retóricos e sociais são expressos. Ele focaliza mais especificamente
não a estrutura constituinte, mas o discurso e as funções interacionais que o codeswitching
desempenha para os falantes. Na presente pesquisa, segmentos como “trabalhava de couple”,
“fazer shoeshine” e “pedir um black coffee” são exemplos de codeswitching envolvendo
inglês e português. Exemplos de codemixing seriam “parkear", “ordenar” e “vaquear”.
Um código pode ser uma língua, uma variedade ou estilo de uma língua. Enquanto o
“codemixing” implica em hibridismo, segundo o Concise Oxford Companion of the English
Language (1998), o termo “codeswitching” se aplica ao movimento de uma língua em direção
a outra. É possível que tanto o “codeswitching” quanto o “codemixing” ocorram em algum
grau no discurso de todo indivíduo bilíngue, o que possibilita que tais indivíduos tenham a sua
disposição três sistemas linguísticos: a sua língua materna, a língua-alvo e a língua híbrida.
Alguns estudiosos como, por exemplo, Poplack (1980), alegam que há quatro tipos de
“codeswitching”. O primeiro tipo é o chamado “Tag-switching”, quando partes de frases de
uma língua são inseridas em frases de outra língua, como, por exemplo, um falante de
Panjabi/Inglês diria: It's a nice day, hai nã? (hai nā= isn't it) (Belo dia, não é?). Outro tipo de
“switching” é o Intra-sentencial, no qual a inserção ocorre dentro dos limites da sentença ou
da frase, usado por falantes de Yorubá/Inglês: Won o arrest a single person (won o they did
not) (Eles não prenderam ninguém) (won o = eles não). O terceiro tipo de switching, chamado
Intersentencial, é representado pela troca de código linguístico nos limites da sentença ou da
frase, sendo que cada sentença do período é falada em um código linguístico, como, falantes
bilíngues de Espanhol/inglês: Sometimes I'll start a sentence in English y termino en español
(De vez em quando eu começo uma frase em inglês e a termino em espanhol). O quarto tipo é
o “Intra-palavras”, no qual a troca de código ocorre dentro dos limites da palavra, tais como
69
em Panjabi/inglês shoppã (shop = fazer compras, de inglês com o final de plural em Panjabi)
ou kuenjoy (enjoy= divertir, de inglês com o prefixo ku, em Swahili significando “para”).
Em nossa pesquisa, encontramos vários exemplos de codeswitching e codemixing:
“pedir um black coffee”, “você quer um chicken-wings?”, ”trabalhava de couple”, “cashar um
cheque”, e outros tantos. Percebemos que se trata de codeswitching quando ocorre a mudança
de uma língua para outra, e codemixing ao ocorrer o uso de formas híbridas como “cashar”,
to cash = trocar.
Esse fenômeno já foi estudado para o contato entre outras línguas. Algumas
comunidades apresentam nomes especiais, às vezes, pejorativos, para uma variedade híbrida,
como, na India hindlish e hinglish, forma mixada de inglês e hindu, na Nigéria, amulumala
(salada verbal) é usado pela mixagem entre inglês e yorubá; já nas Filipinas, tais
possibilidades são expressas pelos termos tagalog—engalog—taglish, em Quebec, pelo
francês—franglais—frenglish.
Embora as mixagens e trocas de códigos sejam, em sua maioria, formas estigmatizadas
de linguagem nas comunidades em que elas ocorrem, elas, geralmente servem importantes
funções como marcadores de identidade étnica. Entre as minorias, o código materno (we-
code) é usado para significar “pertencente ao grupo”, ou “grupo-in”, e o código-alvo (they-
code) indica “não-pertencente ao grupo”, ou “grupo-out” e é usado para eventos mais formais
e distantes da realidade do grupo. Os falantes utilizam a troca de código linguístico para
indicar a sua atitude em relação a algo que está sendo dito. Um exemplo disso é o diálogo em
Panjabi/inglês, onde o “grupo-in” é marcado com a língua panjabi e o “grupo-out” marcado
com o inglês entre os imigrantes no Reino Unido: Usi ingrezi sikhi e te why can't they learn?
(‘We learn English, so why can't they learn [an Asian language]?’). (Nós aprendemos Inglês,
por que eles não podem aprender uma língua asiática?).
A troca de código linguístico enfatiza o limite entre o “nós” e o “eles”.
Outras razões para a troca de código incluem a busca de prestígio através do conhecimento da
língua dominante do “grupo-out”, que, geralmente pode ser associado a religião,
imperialismo, educação, alguma forma velada ou intenção de poder imposto ao dominado. O
status social dos hindus, por exemplo, pode ser marcado pela introdução de alguns vocábulos
de sânscrito e pali à língua vernácula, enquanto os muçulmanos usam para esse propósito o
árabe e o persa.
Na Europa, usam-se as línguas clássicas, como o Latim e o grego, quando se quer
mostrar mais erudição. Atualmente, na Índia e na América Latina, o status social pode ser
marcado usando-se palavras em inglês. Não é sempre o caso de desconhecimento das palavras
70
também gênero masculino à palavra que, em inglês não tem essa característica. Segundo
Poplack, Sanford e Miller (1988), para um empréstimo estar completamente integrado a uma
língua recipiente, ele deve ser adaptado aos padrões existentes naquela língua. Às palavras
emprestadas pelo francês, por exemplo, devem ser designadas categorias gramaticais: aos
substantivos e adjetivos devem ser designados gênero e número. Os verbos devem ser
flexionados em tempo, modo, pessoa e número. Além disso, a forma fonológica do termo
deve se conformar aos padrões da língua recipiente. Tivemos a oportunidade de observar essa
integração dos empréstimos à língua portuguesa. São determinados o gênero, número e grau
aos substantivos, (o acento, a beguinha); e os verbos são flexionados em pessoa e número
(Ele sempre parkeia lá).
Assim como nos empréstimos linguísticos, o falante tem a impressão de que a
mensagem a ser veiculada na língua nativa não teria o alcance do termo usando-se o sentido
transmitido pelo termo da língua-fonte. Isso pode ser explicado pelas situações serem
diferentes nos dois países, ou pela própria situação dos falantes, que talvez não conhecessem
certos procedimentos em seu próprio país. O fato é que “aplicar para um trabalho” parece
muito mais propício para um imigrante brasileiro nos EUA do que “candidatar-se a uma vaga
de emprego”.
Vale lembrar que a inovação lexical, neste caso, é baseada em uma equação
estabelecida entre os termos “aplicar” e “apply” que reside nas similaridades em termos de
significante e também de significado. Usamos o termo “mixado”, mas o termo usado em
inglês é “merged”, que significa “fundido”, sugerindo que houve uma fusão entre os termos
da língua-fonte e da língua nativa, da qual surgiu um novo termo cujo significado migrou do
modelo inglês para o português usado pelos imigrantes brasileiros.
Já os calques fonologicamente independentes são aqueles em que a analogia feita pelo
falante ocorre no nível do significado e não do significante. A “independência” indica que não
há nenhuma semelhança fonológica ou morfológica do termo na língua materna com o termo
na língua-alvo. Segundo Otheguy e Garcia (1988), já que esses calques independentes não
têm semelhança com o modelo inglês, podemos dizer que a conexão entre eles está sendo
feita apenas no nível semântico, como podemos observar nos exemplos a seguir:
“Vou caminhar o cachorro” = levar o cachorro prá passear (walk the dog)
73
“Ela está com um frio terrível”= ela está muito resfriada (She has a terrible cold)
noções de comunidade de fala e as inovações lexicais têm muito a dizer em relação a esta
tese, daí se justificando a sua inclusão neste capítulo.
75
3 METODOLOGIA
Toda pesquisa é regida por uma teoria científica. Para cada teoria, há procedimentos
metodológicos adequados a serem seguidos em busca de resultados que confirmem ou
rejeitem as hipóteses levantadas. Portanto, a metodologia é um conjunto de procedimentos
que facilita a condução da pesquisa a fim de que os resultados alcançados sejam verificáveis
nos termos do quadro teórico.
Segundo Larsen-freeman & Long (1991), uma metodologia qualitativa típica seria, por
exemplo, um estudo etnográfico em que os pesquisadores não testam hipóteses, mas
observam o que se apresenta e analisam os dados que podem variar durante a observação. Já
um estudo quantitativo seria um experimento projetado para testar uma hipótese através do
uso de instrumentos objetivos e análises estatísticas adequadas.
Segundo Ferguson (1977), a observação direta e cuidadosa da maneira como os
informantes lidam com a língua em seu contexto social pode nos fornecer dados muito
interessantes e até mesmo, surpreendentes. Milroy (1980) apresenta duas abordagens para o
estudo feito em uma comunidade linguística: o dialetológico e o sociolinguístico.
A primeira tem como preocupação primordial o estudo geográfico das diferenças
linguísticas, sendo seu produto final um mapa apresentando limites geográficos de
características linguísticas, geralmente lexicais ou fonológicas. Esses limites, ou isoglossas,
são plotados no mapa, marcando em que ponto a forma A se torna forma B. Os dialetos
existem nos pontos em que as isoglossas coincidem. Os dialetologistas lidam com o conceito
de dialeto em larga escala e com um mapeamento mais amplo da distribuição linguística em
uma determinada área. A dialetologia tradicional tende a focalizar membros mais velhos da
comunidade, na maioria do gênero masculino, e que tenham vivido a maior parte de suas
vidas no mesmo local do seu nascimento, de acordo com Chambers & Trudgill (1980). Para
13
‘Sociolinguistics is the study of the social uses of language, and the most productive
studies in the four decades of sociolinguistic research have emanated from determining
the social evaluation of linguistic variants. These are also the areas most susceptible to
scientific methods such as hypothesis-formation, logical inference, and statistical testing.
CHAMBERS (2002, p. 3)
76
eles, tal fala seria a mais pura forma vernácula possível. Entretanto, esses falantes vivem em
áreas rurais, o que tornava a fala urbana impossível de ser considerada.
Já a segunda abordagem, a sociolinguística, influenciada por Labov, teve suas raízes
em estudos dialetológicos, embora tenha se voltado mais para o lado da observação direta da
mudança linguística em uma comunidade.
Labov entrevistou um grande numero de falantes de várias etnias diferentes em Martha
´s Vineyard, uma ilha na costa leste dos Estados Unidos, no estado de Massachussetts.
Assegurando-se de ter uma amostra representativa de gêneros e idades diferentes, Labov pôde
observar mudanças linguísticas em progresso, focalizando realizações variáveis dos
ditongos /ay/ e /aw/ como em “nice” e “mouse”. Ele notou um movimento diferente do padrão
da região de New England, que compreende os estados de Maine, New Hampshire, Rhode
Island, Vermont e Massachussetts.
Labov observou uma maior centralização do segundo elemento do ditongo,
característica dos conservadores falantes de Vineyard. Surpreendentemente, os falantes mais
carregados desse sotaque eram os homens mais jovens, que buscavam se identificar como
originários de Vineyard, rejeitando os valores do continente e a invasão de ricos veranistas ao
tradicional modo de vida da ilha. O encaixamento linguístico e social da variável linguística,
levou a sociolinguística variacionista à abordagem empiricista dos fatos linguísticos. De um
lado estavam aqueles que reagiam à invasão dos turistas do continente, tentando preservar sua
própria identidade; de outro, aqueles que se identificam com o processo econômico em curso,
buscando a integração cultural com os padrões do continente. Essas atitudes de orientação
cultural ou ideológicas foram determinantes no processo de centralização dos ditongos /ay/
e /aw/, na comunidade da ilha. A centralização dos ditongos tornou-se a marca de identidade
cultural da ilha, pois aqueles habitantes que resistiam à perda de identidade foram os que mais
centralizaram. Esse fator se superpõe e permeia todos os outros fatores sociais considerados.
Assim sendo, apesar de toda a base empírica que dá sustentação ao processo de
centralização dos ditongos em Martha’s Vineyard, a inferência de que a variável subordina-se
à orientação cultural é resultado da interpretação do autor, e não reflexo imediato de uma
quantificação neutra. Passou-se, então, do plano quantitativo, em que há apenas impressões
fragmentárias, para um plano de interpretação qualitativa.
Nas palavras de Lucchesi:
Uma análise desse tipo, que permite uma compreensão globalizante da interação
entre o processo lingüístico e o processo social é, portanto, muito mais
esclarecedora do que uma que apresentasse resultados do tipo: ‘os fazendeiros
77
processo, o que não se consegue facilmente durante uma entrevista. Labov sugere então que o
pesquisador use pessoas da comunidade para entrevistarem seus pares, por exemplo. Alguns
assuntos também tendem a fazer com que o falante “entre no clima” da conversa sem se
lembrar que está sendo entrevistado.
Após essa etapa, podemos montar o ‘corpus’ da pesquisa. Porém, como o
levantamento e a transcrição dos dados são etapas que exigem muito trabalho e atenção do
pesquisador, há, por exemplo, o Varbrul, “um conjunto de programas computacionais de
análise multivariada, especificamente estruturado para acomodar dados de variação
sociolinguística”, segundo Guy e Zilles (2007, p.105) que nos permite utilizar um corpus
levantado e transcrito, facilitando o trabalho do pesquisador.
Em nossa pesquisa, os dados coletados a partir de entrevista sociolinguística baseada
no método LCV desenvolvido por Labov em 1966 foram transcritos e dispostos em tabelas do
Excel.
A pesquisa em questão fez uso de elementos qualitativos e quantitativos. O estudo é
qualitativo em relação à densidade de dados e número de informantes, baseando-se nos
estudos sobre entrevista sociolinguística de Gumperz e Labov. O estudo também mostra uma
perspectiva qualitativa ao tentar estabelecer quem faz uso desse falar, em que circunstâncias
ele ocorre e por que ele ocorre. Podemos dizer também que, em relação ao tipo de estrutura
envolvida, esse estudo é qualitativo, ao verificarmos os tipos de palavras e aspectos
envolvidos na mixagem feita pelos brasileiros nos EUA.
Estamos trabalhando também com uma metodologia quantitativa, que envolve
números e estatísticas, já que a sociolinguística variacionista é uma ciência empírica, que
trabalha com dados reais da fala. Para essa metodologia, o fator quantitativo é determinante
para caracterizar uma variação.
A etapa seguinte constituiu a análise dos dados com o intuito de enumerar e discutir
os fatores linguísticos e extralinguísticos que influenciam o fenômeno em estudo. Essa análise
consistiu em usar os dados como argumento em favor das hipóteses levantadas e não como
mera ilustração. Há vários testes disponíveis que podem apontar os fatores significativos para
a análise. Utilizamos para o tratamento estatístico dos dados desta pesquisa o teste estatístico
Chi-square (Qui-quadrado).
Em um segundo momento, uma perspectiva mais quantitativa analisou
estatisticamente os dados retirados do corpus deste trabalho.
Ao contrário de outras correntes linguísticas, o variacionismo parte do pressuposto de
que a heterogeneidade manifestada na fala pode ser analisada de forma consistente. O
pesquisador deve, portanto, desprezar a tentação de confiar em suas próprias intuições e
exemplos construídos por ele próprio para, em vez disso, segundo Monteiro (2008), colher
80
uma boa quantidade de dados numa comunidade. Tais dados são, posteriormente, submetidos
a análises estatísticas para a testagem de suas hipóteses.
Baseado em suas próprias experiências e nas experiências de Gumperz (1964), Labov
(1966) desenvolveu alguns axiomas metodológicos em relação à pesquisa de campo, a saber:
Pode-se dizer que as fronteiras geográficas que delimitam essas comunidades são as
cidades e estados periféricos a New York e Boston. Tentamos concentrar o estudo em Newark,
New Jersey, Mount Kisco, New York e Cape Cod, Massachussetts.
Newark é a maior cidade do estado americano de Nova Jersey, e uma das principais
cidades da Região Metropolitana de New York. A menor das 100 mais populosas cidades
norte-americanas, Newark possui uma área de 63 km², onde moram aproximadamente 273 mil
habitantes, com uma densidade populacional de 4.400/ Km². Um dado interessante é que, na
cidade de Newark, existe um bairro operário chamado "Ironbound", onde há uma enorme
concentração de portugueses, brasileiros e mais recentemente um enorme fluxo de sul-
americanos oriundos em sua maioria do Equador, além de uma grande concentração de
Mexicanos. É um bairro onde o idioma inglês é pouco ouvido, devido à grande concentração
dos idiomas português e espanhol. No bairro citado, a principal rua é a Ferry Street, que sai da
Wilson Avenue e vai até a outra extremidade da cidade, terminando praticamente dentro da
estação de trem chamada PennStation. Newark é um moderno centro comercial, industrial e
financeiro, e onde está localizado o segundo principal aeroporto da zona metropolitana de
New York, que movimenta quase 30 milhões de passageiros anualmente.
Trata-se de comunidades inseridas em cidades pequenas, onde o aluguel em geral é
mais acessível, possibilitando a vida dos brasileiros imigrantes que trabalham em New York e
83
precisam se deslocar até lá, sendo, portanto, não tão onerosas que não possam ser pagas e nem
tão distantes que não ofereçam condições de deslocamento diário.
Como mencionado anteriormente, o nosso estudo foi feito a partir de entrevistas
sociolinguísticas realizadas de acordo com sugestões do orientador no Brasil e do co-
orientador nos EUA. As comunidades de fala escolhidas para tal foram Newark, NJ, reduto
dos brasileiros em busca de trabalho na região de New York, Mount Kisco, N.Y. e Cape Cod,
Massachussetts.
Cape Cod é uma península que forma a Baía de Cape Cod, localizada no extremo leste
do estado de Massachusetts. É um dos pontos turísticos mais visitados dos Estados Unidos da
América durante os meses de verão, por causa de suas praias, o que aumenta
significativamente sua população de 230 mil habitantes para um número flutuante superior a
meio milhão neste período. Um total de 20% das entrevistas foram realizadas em Cape Cod,
localizado a cerca de 1h de Boston, Massachussets.
Entretanto, a maioria das entrevistas foi feita em Newark. Essa cidade oferece
possibilidades de moradia mais econômica e é possível que a presença massiva da
comunidade portuguesa radicada lá, tenha atraído uma quantidade também massiva de
brasileiros, provavelmente pela facilidade de se comunicar em português.
Elaborei um protocolo e agendei algumas entrevistas. A primeira entrevista foi na casa
de uma brasileira, diarista, em uma cidade satélite de New York, chamada Mount Kisco. Nesse
84
mesmo dia entrevistei outras quatro pessoas, perfazendo um total de cinco no primeiro dia. As
demais entrevistas foram feitas no salão de beleza e em casas de amigos.
Observando que as entrevistas, frequentemente, não me propiciavam as evidências que
eu buscava, conversei com meu co-orientador a esse respeito. Segundo ele, o fato de eu ser
uma brasileira que não fazia parte da rotina de vida e trabalho que os brasileiros imigrantes
compartilhavam entre si, sendo eu uma pesquisadora de doutorado, isso acabava inibindo o
uso das inovações lexicais que eles usavam uns com os outros diariamente. Eu ficava, às
vezes, ouvindo conversas de brasileiros e detectava várias evidências de uso das inovações
lexicais que estava pesquisando. Entretanto, ao responder as minhas perguntas, essas
inovações, muitas vezes não apareciam na fala deles.
Chegamos à conclusão, Dr. Otheguy e eu, de que eu deveria fazer uso também de
outros recursos, tais como listas de “disponibilidade léxica” em que eu pedisse aos
entrevistados que citassem palavras que eles usavam em seu trabalho e atividades diárias nos
EUA. Pedir que eles citassem palavras relacionadas ao seu trabalho funcionou relativamente
bem, mas o que realmente obteve um bom resultado foi uma ferramenta que eu acabei
desenvolvendo por conta própria: elaborei uma lista de palavras que evidenciavam a
ocorrência das inovações lexicais nos EUA, que exibiam palavras tais como “parkear”,
“bisado”, “cashar”, entre outras. Os informantes deveriam assinalar aquelas que já haviam
ouvido ou das quais faziam uso. Essa atividade me pareceu produtiva, pois eram palavras que
eu já havia detectado na fala dos brasileiros. A essa lista, acrescentei palavras criadas por
mim, porém que faziam uso das mesmas estratégias de inovação lexical. Usei-as como “grupo
de controle”, um “placebo” que me traria informações de que estaria no caminho certo, caso
eles marcassem apenas as palavras que realmente já faziam parte do repertório dos brasileiros,
e não marcassem as pseudo-inovações criadas por mim.
Isso funcionou muito bem. Os brasileiros marcaram as palavras que já haviam ouvido
ou usado. No capítulo relativo à análise dos dados, página 169, uma cópia dessa lista pode ser
encontrada.
Não consegui, entretanto, fazer com que todos os entrevistados lessem e marcassem
essa lista, pois perdi o contato com muitos deles, que moravam em outras cidades ou haviam
voltado ao Brasil.
Apresentaremos, a seguir, considerações acerca da coleta de dados em sociolinguística
variacionista e, mais especificamente acerca da coleta de dados realizada nesta pesquisa.
O terceiro procedimento foi o uso de uma lista de palavras e expressões que denotam a
ocorrência das inovações lexicais em questão. Os informantes deveriam marcar aquelas que já
haviam usado e/ou testemunhado. Essa lista foi uma adaptação dos recursos de
disponibilidade léxica sugerida pelo co-orientador, Dr. Ricardo Otheguy.
Faremos, a seguir, uma exposição acerca de como a amostra de nossa pesquisa foi
determinada.
Muitos estudiosos, incluindo-se aí Tarallo (1986), sugeriram que o número ideal por
célula seria de cinco informantes, advindo daí a determinação do tamanho de nossa amostra.
Torna-se necessário, nesse ponto, fazermos um aparte para relatarmos como o acaso,
às vezes, tem um papel importante nas pesquisas. Ao chegarmos a New York, antes de
conseguirmos um apartamento para morar, ficaríamos uns dias com alguns amigos. O
apartamento deles, entretanto, não estava em condições de receber mais uma família e, assim,
acabamos sendo hospedados por amigos desse nosso amigo, que tinham uma casa maior e em
condições de nos acomodar por alguns dias. Nossos anfitriões, para minha felicidade, tinham
um salão de beleza em Newark (Salão Brazil) que só atendia ao público brasileiro. O salão
tornou-se, então, a minha maior fonte de informantes.
As entrevistas in loco são mais recomendáveis que as feitas por correspondência ou
online, pois durante essas entrevistas ocorre o desejável “mergulho na comunidade”, que
transforma o pesquisador em parte da paisagem, desfazendo as possíveis e prováveis inibições
do informante, ameaçado pela presença do estranho que lhe pergunta coisas da sua vida e
profissão. Normalmente, os entrevistadores são confundidos com informantes do governo,
indesejáveis na comunidade, principalmente em se tratando de imigrantes ilegais.
O questionário que se destina à investigação dialetal deve ser elaborado segundo o
que se pretende atingir: ao se buscar um levantamento geral das características dialetais da
região, o questionário deve ser amplo e abrangente, abordando as diferentes áreas semânticas
que informam e recortam o universo biossocial do pesquisado.
Em nossa pesquisa, os informantes foram selecionados de acordo com os critérios que
evidenciam a pesquisa: trabalhadores braçais, culturalmente desengajados da cultura
americana e não fluentes na língua inglesa. Isso foi feito utilizando-se eventos comunicativos
reais, sempre que possível.
A comunidade foi escolhida conforme sugestões do orientador no Brasil e do co-
orientador nos EUA, considerando-se os estudos de Labov (1966) e Milroy (1980) em relação
a esse tema. Uma entrevista-piloto foi feita, em primeiro lugar, com o objetivo de apurar as
89
Uma etapa posterior foi dedicada à transcrição das entrevistas e estudo detalhado dos
aspectos fonológicos, sintáticos, morfológicos, semânticos e pragmáticos do corpus coletado,
incluindo-se aí a análise das causas de ocorrência e circunstâncias que promovem as variações
que verificamos. Ao analisarmos esses aspectos dos dados coletados fizemos uma
contribuição para o estudo da linguística, no sentido de compreendermos o que acontece
quando duas línguas entram em contato tão direto.
Uma pesquisa muitas vezes suscita muito mais perguntas que respostas. A conclusão
do trabalho pode acabar revelando aberturas a novas propostas. A pesquisa em questão
caracterizou-se como um estudo das atitudes linguísticas de brasileiros vivendo em um país
estrangeiro, dentro de seu próprio contexto linguístico. Foi dado um tratamento inovador à
questão da variação linguística ao abordarmos o fenômeno sob o ponto de vista dos usuários
comuns da língua, o que revelou valores e representações que parecem estar na base do
processo de construção de uma identidade linguística por parte dos usuários.
Sabemos que uma das tarefas da sociolinguística é descrever as línguas em sua
diversidade funcional e social. No modelo laboviano, a opção de pesquisa tem sido a análise
quantitativa da fala de um grupo de indivíduos, isso porque o vernáculo é a propriedade de um
90
...minha dívida mais profunda é para com os muitos falantes de inglês que me
convidaram às suas casas, compartilharam comigo suas varandas, suas esquinas de
rua e seus bancos de praça, que se desviaram de outros afazeres para conversar,
transformando suas próprias experiências em linguagem para o meu benefício.
(LABOV 2008)
4.1. Introdução
Passamos, agora, à análise quantitativa e qualitativa dos dados desta tese. Para isso,
faremos primeiramente um apanhado sobre o paradigma quantitativo da sociolinguística.
Descreveremos, então, os procedimentos adotados na análise e, depois disso, faremos
uma descrição das peculiaridades sócio-demográficas dos informantes.
O próximo passo será uma descrição sobre o que entendemos em relação às inovações
lexicais. Por ser um assunto que suscita terminologias diferentes e pontos de vista de autores
diferentes, decidimos abordar esse tópico nesta parte da pesquisa, onde lidamos diretamente
com os dados.
Passamos, no próximo subseção, ao tratamento estatístico realizado com os dados
desta pesquisa.
A próxima etapa constitui a análise dos dados com o intuito de observar quais os
fatores linguísticos e extralinguísticos podem estar influenciando a fala da comunidade
linguística em estudo.
O paradigma quantitativo originou-se em sociolinguística com os estudos de Labov
em New York e Filadélfia nos anos 60 e 70, segundo Bayley (1996). Essa abordagem ao
estudo de línguas em uma comunidade foi, posteriormente, estendida a várias comunidades
linguísticas pelo mundo afora, incluindo-se aí o Panamá com Cedergreen (1973), Norwich, na
Inglaterra com Trudgill (1974), Guiana com Rickford (1987) e Rio de Janeiro, com Guy
(1981).
Os princípios-chave que norteiam o paradigma quantitativo da sociolinguística são,
segundo Bayley (2002), o “Princípio da Modelagem Quantitativa” e o “Princípio das Causas
Múltiplas”. O primeiro afirma que podemos examinar atentamente as formas que a variável
92
pode tomar e observamos que características contextuais (ambiente linguístico que envolve a
variável e os fenômenos sociais que a circundam) co-ocorrem junto a essa variação.
Já o segundo princípio, o “Princípio das causas múltiplas”, afirma que um único fator
contextual não pode ser responsável por uma variável linguística, havendo, geralmente, várias
causas, tanto linguísticas quanto extralinguísticas, que podem explicar uma variação.
Para Guy (1991), além dos princípios mencionados por Bayley (2002), devemos
também considerar as diferenças inerentes ao próprio indivíduo, que podem diferir quanto à
taxa de uso de uma regra variável, por exemplo, e que os indivíduos considerados devem
pertencer à mesma comunidade de fala, apresentando, desse modo valores idênticos ou
similares às variáveis em questão.
Em suma, o paradigma quantitativo da sociolinguística demonstra a natureza
sistemática das variações linguísticas que se acreditava aleatória. Além disso, as pesquisas
têm mostrado que as formas linguísticas variáveis são regidas por múltiplos fatores externos e
internos e que os padrões individuais tendem a se igualar aos padrões comunitários. Isso foi
conseguido através de métodos de pesquisa que passaram de linguisticamente intuitivos a
compilações de interações reais com os falantes da comunidade linguística.
Sob essa perspectiva, ressaltamos que a presente pesquisa tem como base a análise
quantitativa e qualitativa de dados de fala obtidos a partir da orientação dos pressupostos
teórico-metodológicos da Teoria da Variação ou Sociolinguística Variacionista (LABOV,
1972).
Entrevistamos 30 informantes, 15 do gênero feminino e 15 do gênero masculino, todos
brasileiros imigrantes nos Estados Unidos da América. Como anteriormente mencionado, a
maioria dos entrevistados eram moradores de Newark, New Jersey; outros eram moradores de
Mount kisco, New York e Cape Cod, Massachussetts.
Os informantes desta pesquisa estão descritos como 1F, 2F, 3F....15F, para as mulheres
e 1M, 2M, 3M.....15M, para os homens, perfazendo um total de 30 informantes, um número
considerado razoável para um estudo de base qualitativa e quantitativa.
Todas as entrevistas dos 30 informantes foram ouvidas e transcritas, sendo
posteriormente analisadas e colocadas em tabelas onde foi contabilizada a ocorrência das
inovações lexicais.
As idades dos informantes deste estudo variaram entre 12 e 58 anos. Dois dos
informantes nasceram nos EUA, 4M e 9F, sendo americanos, porém considerados para esta
pesquisa como brasileiros de segunda geração. Ambos passaram pelo menos um ano no
Brasil, mas 9F, de 12 anos, consegue se comunicar em português com muito mais
93
desenvoltura que 4M, de 18. Esses dois informantes têm proficiência nativa em inglês.
Durante a entrevista, 4M falou 70% em inglês e 30% em português e não usou nenhuma
inovação lexical. Quando perguntado a respeito de que língua usava em casa, ele alegou falar
inglês com os pais, que falam muito pouco inglês, mas disse entender o português que os pais
falam com ele. Disse já ter observado o uso das inovações entre brasileiros, mas declarou não
fazer uso delas, pessoalmente. Relatou, entretanto, usar expressões traduzidas literalmente de
português, tais como: “cara” referindo-se a um rapaz. No caso, ele dizia: “face”, e seus
interlocutores brasileiros notaram que não fazia nenhum sentido usar isso em inglês. Já 9F
falou sempre em português e nenhuma inovação lexical foi detectada, a não ser quando ela
mencionou alguns episódios em que uma influência de inglês fez com que ela cometesse erros
ao falar português com a avó brasileira, por exemplo, “minha mãe tá muito depressionada”,
“...ela está obsessiva com isso!”
Alguns dos entrevistados eram fluentes em inglês e português, como foi o caso de 6F,
7F, 8F,11F, 12F, 13F, 14F, 15F, 5M, 11M e 15M. Observamos que apenas três informantes do
gênero masculino eram fluentes em inglês, enquanto oito informantes do gênero feminino
eram fluentes. O informante 5M nasceu no Brasil e foi para os EUA com 7 anos, sempre
frequentando a escola americana, inclusive o curso superior. Ele trabalha com americanos e
fala um português muito bom para quem vive fora há tanto tempo, já que ele tem agora 30
anos. Um uso restrito de inovações lexicais foi observado em sua fala. Podemos dizer que ele
seria um exemplo de bilíngue equivalente, que domina, segundo Li Wei (2000), as duas
línguas de modo equilibrado.
Estamos trabalhando com uma metodologia quantitativa, que envolve números e
estatísticas, já que a sociolinguística variacionista é uma ciência empírica, que trabalha com
dados reais da fala. De acordo com essa metodologia, o fator quantitativo é determinante para
caracterizar uma variação. Por outro lado, a metodologia qualitativa não é descartada, uma
vez que também nos utilizamos dela para interpretar os dados desta pesquisa. O Teste Qui-
Quadrado (Chi-square) foi usado para apontar os fatores significativos para a análise.
Em termos de classe social, podemos dizer que a maioria dos informantes pertenciam
à mesma classe social, classe trabalhadora baixa, nos EUA, com exceção de alguns
informantes, 2M, 5F, 6F, 7F e 11F que gozavam de uma situação um pouco mais confortável,
tinham uma empresa, uma boa casa, carros novos na garagem, um barco e outras amenidades,
e 14F, que tinha um trabalho de nível superior, o que lhe garantia um certo prestígio social.
Coincidência ou não, 5F, 6F, 7F, e 11F fazem parte da mesma família, sendo que os pais
desejam ser aceitos pela sociedade americana. Talvez sejam, dentre os informantes, os únicos
94
brasileiros que desejam permanecer nos EUA, já que a maioria dos brasileiros tem intenção de
ganhar bastante dinheiro lá e voltar para investir no Brasil.
Em relação às classes sociais estabelecidas nesta pesquisa, é necessário esclarecer
que, na verdade, não estamos falando de classe alta, média e baixa nos padrões americanos. A
categorização dessas classes foi feita para brasileiros imigrantes em relação a outros
brasileiros imigrantes vivendo nos EUA. Em nossa pesquisa, a maioria brasileiros era de
classe trabalhadora baixa.
Os informantes 5M, 7M e 12M também tinham uma situação sócio-econômica mais
confortável. 5M tinha um bom trabalho como administrador, exercendo a profissão dentro da
área em que se especializou. 7M e 12M eram proprietários de um salão de beleza e tinham
outros imóveis nos EUA, também.
Para Guy (1988), embora a estratificação social seja um tanto quanto óbvia, defini-la
de modo objetivo apresenta um problema. Segundo ele, a questão do “prestígio” se refere à
quantidade de respeito e deferência que um indivíduo inspira em seus semelhantes, e “poder”
se refere aos recursos materiais e sociais que o indivíduo detém e à sua capacidade de tomar
decisões e influenciar eventos. Entre os fatores sócio-demográficos que parecem influenciar o
favorecimento de uma variante em detrimento de outra, as categorias mais atuantes parecem
ser idade, gênero, nível sócio-econômico e formação escolar. Por isso, codificamos os
informantes de acordo com suas condições sócio-demográficas_gênero, idade, tempo de
residência nos EUA, nível de escolaridade, proficiência em língua inglesa, idade de início da
aprendizagem, classe social e atividades desempenhadas nos EUA.
Outros fatores sócio-demográficos que parecem se destacar em alguns fenômenos
variáveis são a posição do falante no mercado de trabalho e sua interação com a mídia,
segundo Naro (2007). Entretanto, não foi possível observarmos esses fenômenos em relação
aos nossos informantes.
posição predicativa (Ppred). Entretanto, a incidência maior das inovações lexicais foi no
núcleo dos Sintagmas Verbais (SV), sendo que ocorreu em apenas um adjetivo (Ppred) =
bisado = busy+ocupado e dois núcleos do Sintagma Nominal (SN)=beguinha= bag +sufixo–
inha(diminutivo),(SN)=acento.
Em terceiro lugar houve incidência de calques frasais ocorrendo em frases do tipo:
“me deixe saber” de “let me know”, “faço driver” de “I work as a driver”, “eu to indo prá
school tomorrow”, “eu trabalho pra mim , de “I work for myself”= eu sou autônomo
Em quarto e último lugar ocorreram os calques fonologicamente independentes, em
“ao alcance de fazer as terapias”=”available to do therapy”; “eu vou jogar uma festa” de
“I’m gonna throw a party”= Vou dar uma festa
Foi observado também que as inovações pareciam incidir com mais frequência sobre
certos campos semânticos específicos, ligados à atividade desempenhada pelo informante,
moradia, imigração e eletrodomésticos ou equipamentos de trabalho e locais públicos.
O campo semântico é o conjunto dos empregos de uma palavra em um determinado
contexto. Dessa forma, o campo semântico de uma determinada palavra é dado pelas diversas
nuances de significado que ela assume. As diversas acepções que essa palavra toma serão
dadas pelas relações dela com outras palavras do mesmo texto. A teoria dos campos
semânticos tem-se concentrado apenas em alguns grupos bem definidos como as cores, as
relações de parentesco, as experiências religiosas, etc. Segundo Stephen Ullman (1977), “a
teoria dos campos fornece um método valioso para abordar um problema difícil, mas de
crucial importância: a influência da linguagem no pensamento. Um campo semântico não
reflete apenas as ideias, os valores e as perspectivas da sociedade contemporânea; cristaliza-as
e perpetua-as também; transmite às gerações vindouras uma análise já elaborada da
experiência através da qual será visto o mundo, até que a análise se torne tão palpavelmente
inadequada e antiquada que todo o campo tenha de ser refeito.”
Como já mencionamos anteriormente, uma pesquisa dessa natureza pode suscitar mais
perguntas que respostas e abrir frentes para novas inquisições.
estabelecidas neste estudo. Faremos uma descrição das inovações lexicais que estamos
estudando e terminaremos a subseção com uma tabela que classifica os informantes, em
relação aos seus dados sócio-demográficos.
Uma análise quantitativa pode ter quatro objetivos diferentes:
Descoberta de relações – descobrir padrões causais em dados que podem ser descritos
em modelos de regressão múltipla ou em análises de fatores.
Consideramos, para este trabalho, as variáveis sociológicas, assim como definidas por
Preti (1982), chamando-as variáveis “sócio-demográficas”. A primeira variável independente
não-estrutural que observamos foi o gênero. Desse modo, entrevistamos 15 informantes do
gênero feminino e 15 do gênero masculino, a fim de observarmos se os homens tendem a
favorecer as inovações lexicais mais que as mulheres ou vice-versa, ou mesmo, se isso não faz
nenhuma diferença.
A segunda variável independente não-estrutural foi a faixa etária. Foi feita uma divisão
de 07 a 15 anos, a que chamamos “jovens”; 16 a 30, a que chamamos “jovens adultos” e 31 +
a que chamamos “adultos”.
A terceira variável independente não-estrutural observada foi a idade de início de
aprendizagem. A divisão foi feita em 0-20 anos e 21+.
Já a sexta variável observada foi o tempo de residência nos EUA, pois parecia que era
uma variável diretamente proporcional à taxa de uso de inovações lexicais realizadas pelos
brasileiros imigrantes.
A sétima variável foi a classe social dos informantes. A maioria dos informantes
pertence à classe trabalhadora baixa nos EUA, e os outros podem ser considerados classe
média.
A oitava variável foi o tipo de atividade do informante nos EUA. Como os brasileiros
imigrantes, em sua maioria, estão nos EUA para trabalhar, parecia óbvio que a profissão
desempenhada ali fosse bastante relevante nesta pesquisa.
Informante Idade Início da Aprendizagem Escolaridade Proficiência Inglês Tempo nos EUA Classe Atividade nos EUA
Social
1M 48 41 EF Mínima 7 Baixa Pintor de automóveis
2M 38 29 EF Média 10 Média Pintor de casas
3M 47 22 EM Média 23 Baixa Motorista e carregador
4M 18 0 EM Nativo 18 Baixa Estudante e estagiário
5M 30 7 ES Fluente 23 Média Analista
6M 55 31 ES Média 14 Baixa Caddy
7M 58 34 EF Mínima 24 Média Cabeleireiro
8M 18 18 EM Mínima 10 meses Baixa Estudante
9M 40 28 ES Média 12 Baixa Caseiro
10M 38 34 ES Média 4 Baixa Driver
11M 37 25 EM Fluente 12 Baixa Caddy
12M 48 33 EM Média 15 Baixa Caddy/ construção civil
13M 31 26 EM Média 5 Baixa Caddy
14M 40 28 ES Média 12 Média Cabeleireiro
15M 52 16 ES Fluente 1 Baixa Caddy
1F 35 20 ES Média 12 Baixa Housekeeper
2F 50 28 EM Média 22 Baixa Housekeeper
3F 44 20 EF Mínima 24 Baixa Housekeeper
4F 32 32 ES Mínima 1 Baixa Housekeeper
5F 37 29 EM Média superior 10 Média Housekeeping business
6F 13 5 EF Fluente 9 Média Estudante
7F 16 7 EM Fluente 9 Média Estudante
104
O objetivo desta subseção é a interpretação dos dados desta pesquisa. Para isso,
faremos, primeiramente, uma retrospectiva das expectativas traçadas no início desta tese.
Algumas dessas expectativas, baseadas em observações empíricas, foram consideradas
verdadeiras e procedentes, enquanto outras não se mostraram procedentes.
No início deste trabalho, seis expectativas traçadas a partir de nossas observações,
foram colocadas com o objetivo de serem verificadas no decorrer do estudo:
14
2M = “aí tem os linguajares dos brasileiros, porque só tem brasileiro que trabalha
comigo...por exemplo. a gente vai “espreiá”uma parede, fala ‘nós vamo dá uma
espreiada hoje..Aí, vai rolar uma parede(...)’”
4F = “Ah! Ela fala prá mim tudo em português, né?Hoje nós vai dividir o trabalho,
você vai limpar os “bedrúm”(bedroom=quarto)...pega o “perpetal”(paper towel=
papel-toalha)...papel de toalha...Eu também não sabia o que era, não, mas tem que
perguntar: O que é isso? E ela: O papel toalha,......! Perpetal, né? tá! Aí você vai
limpar a “kitchin”(cozinha), e eu pensava: não é mais fácil falar: vai limpar a
cozinha, o banheiro...”
3M = “Então os brasileiros lá falam: vou fazer um shoeshine (engraxar sapato) no
Mr. Num-sei-o-quê, vou fazer um ‘spitshine’(graxa feita com água)
5F = O tempo todo que está trabalhando, a gente observa elas falando: vai
vaquear(usar o aspirador) aqui. Não é prá espreiar (usar o spray) nada nos móveis,
sempre usar o produto nos paninhos. É uma coisa que se fala muito, vou espreiá, ou
mopear (usar o esfregão) aqui. Já tô vaqueando...você vem vaqueando que eu vou
mopeando. Na limpeza, acontece muito. Acho que quando a pessoa já está assim,
muito envolvida, ela, 100%, ela usa o termo. A gente aqui, no dia a dia, né? “Mas usa
muito, na limpeza, acho que até facilita, mesmo...porque a pessoa não sabe o inglês
direito e vai seguindo...As vezes é uma coisa nova, por exemplo, “aspirador de pó”,
aí você aprendeu que “vaccum” é aspirador de pó, você não fala aspirador de pó
porque é grande demais e o tempo é curto. E o “mop” que não existe lá, tô passando
o rodo, aqui, ‘tô mopando’” (...) “Em toda atividade o brasileiro vai arranjar o seu
vocabulário próprio, porque são as palavras que às vezes em português vai ficar
grande demais ou uma expressão até, que se resume em duas palavrinhas em inglês ,
ou uma...e a questão do tempo, Também..você tá falando, tá trabalhando, também,
quer andar rápido e tem que ter uma rotina...porque você acaba realmente adaptando
a sua linguagem do seu trabalho a sua atividade porque fica tudo mais rápido...
Parece que já fica uma coisa mecânica, fica mais automatizado, eu acredito.” (...) “E
acho que cada área, os “cukas”(cozinheiros), os carpinteiros, todos têm, na pintura
108
tem várias, isso o fulano vai poder te falar muito bem...tem muitas coisas
interessantes e na área de carpintaria também. Você observa que cada área, cada
profissão vai ter o vocabulário próprio pela facilidade, acho que é mesmo pela
facilidade...”
6M = “Então pra quem tá de fora não tem costume não sabe o que que é o
Green...”( parte do campo de golfe que circunscreve o buraco) (...) “No golf, né?
Então... É outro exemplo é... Que a gente utiliza muito lá é... é o drop, né?” (...) “Mas
tem a ver com o trabalho. Porque geralmente você faz a... entrevista cê vai...(...) É...
Tem um ... pra emprego cê fala tenho um apontamento (appointment=compromisso
com hora marcada) com o fulano de tal...”
14F = “...trabalhava ela falava assim “vocês não tem mop?” aí eu falava “um mop,
mas o que é isso?” “um mop, um mop.” “mop aquilo que você passa no chão”. “Ah,
um rodo?” “É. Mas não é um rodo. É um mop” (...) “...dá um search (busca) no
Google. Você também pode checar (verificar) na Price Line. No website (página do
sítio eletrônico) na Price Line. Cê também pode checar na Price Line. Bida (bid =dar
um lance, fazer uma oferta) umas passagens. Bida...” (...) “Eu vou dar um forward
(encaminhar) nesse e-mail”
profissão...O pessoal forma uma outra língua. Ah!... novas palavras. Os imigrantes
brasileiros, por exemplo, o... Parquear (estacionar) o carro...” (...) “Eles formam o
próprio vocabulário em relação ao trabalho dele. Eles formam uma mistura de inglês
e português e vão levando.”
A informante 14F tem 38 anos e, assim como 5M, é uma profissional bem-sucedida no
mercado de trabalho americano, trabalhando com publicidade, o mesmo campo de trabalho
desenvolvido por ela no Brasil. Ela está nos EUA há 6 anos. A informante fala inglês
fluentemente e faz muito uso de empréstimos, mas confessa também usar as mixagens em
interações com brasileiros, principalmente com a babá brasileira de seu filho.
A respondente 15F tem 32 anos e está nos EUA há 9 anos. É auto-didata e parece
esforçada em aperfeiçoar o seu inglês que é fluente. Ela sempre conviveu muito com outros
brasileiros nos EUA e faz muito uso das inovações lexicais.
2M =“você fica olhando assim...e morre de rir por dentro...pq vc vê cada palavra
engraçada, porque o pessoal mais simples, que vem do interior, mal sabe conversar,
então eles querem emendar, falar o inglês com um pouquinho de português...então
você vê aquelas palavras mais absurda, e você fala assim: Meu Deus! O que que é
que tá falando?” (...) “Isso, de cara, só de você ver a pessoa vc já sabe que ela não
114
sabe falar inglês, e por ela estar aqui nos Estados Unidos, e por ex., trabalhar com
americano, ele ouve inglês o tempo todo, mas não consegue captar aquilo aqui que
ele quer saber, vc consegue definir, com certeza...se a pessoa fala, se não fala...se ela
fala bem, se fala mal, só de abrir a boca você já vê...porque tem uns que acha que tá
falando inglês, mas enrola todinho...embola totalmente, na hora que ele abre a boca e
começa a falar, você já vê, ele só tenta, né? Tem até o esforço, né, mas dá prá vc
saber, sim, com certeza...se fala pouco, se fala muito, se fala bem, se fala errado, a
gente consegue identificar, sim, com certeza...” (...) “você ouve muita coisa, só
besteira...besteira, no sentido assim de palavra errada...Entendeu, que eles vão
querer falar certo e falam errado...e acha que tão falando certo...Por ex., tô bisado e
acha que tá certo...ou várias outras palavras que eles falam...Entendeu? acha que
está falando certo, mas, infelizmente num tá, né? e a gente automaticamente acaba
falando algumas palavras entre a gente...é lógico que com o cliente você não vai falar
isso...tô bisado, não existe...mas entre a comunidade brasileira fala muita palavra
errada” (...) “Mexer com brasileiro aqui não é fácil, é um pessoal mais complicado
de mexer. Eu já ouvi casos de pessoas, que quando eu cheguei trabalhava com essa
pessoa, que fez serviço prá brasileiro, e teve problema com brasileiro, em todos os
sentido...então, mesmo se me chamarem hoje, eu prefiro não ir...Estou nos Estados
Unidos, vou trabalhar prá brasileiro? Prefiro prestar serviço prá americano...não só
pelo dinheiro, mas pela situação, também...”
3M =”você reage naturalmente, mas sabendo que, se você parar friamente prá
analisar, você sabe que aquilo está errado, mas você assimila normalmente, porque
você vai vendo que as culturas estão difundidas aqui de uma tal maneira que, é meio
estranha, mas funciona...eles realmente conseguem passar, errado ou não, conseguem
passar aquilo que quer.” (...) “Ah! Tinha uns lá que eram fora de série...era fora de
série mesmo!”
5F = “Tô muito bisado, acho que não tem nada a ver, essa expressão...o apontamento
também eu acho muito... de doer! E acho que um pouquinho que a gente vai
aprendendo mais...quando a gente não sabe o inglês direito, não faz muita diferença,
acha até que a pessoa tá falando uma coisa que existe...Depois do você começa a
entender, começa a ver e conhecer o vocabulário, você começa já a fazer uma
separação...começa a ficar feio, assim, né? a gente sabe que está errado...”.
5M = “... De vez em quando não... Eu até quando eu tô ouvindo pessoas falando em
português tem palavras que eu pego e que eu sei que a pe... Que tá sendo falado
errado.”
115
posso brigar, né? mas com as meninas do salão...não deixo mesmo...vão acabar
esquecendo o português e não vão aprender o inglês...
são parâmetros pertinentes, seja para estudar a heterogeneidade linguística, seja para indicar o
dinamismo das mudanças em tempo aparente.
Esses parâmetros extralinguísticos dividem a sociedade em grupos fixos, estabelecem
correlações diretas entre uso de variantes e estratificação social e buscam identificar o locus
da mudança no indivíduo em determinado ponto da estrutura social. Daí a coexistência de
grupos inovadores e conservadores em uma relação dinâmica que pode apontar os caminhos
da língua.
Baseado nos estudos de Otheguy e Garcia (1988) e Poplack, Sankoff e Miller (1988),
segundo os quais a idade do falante tem um papel importante no uso e difusão das inovações
lexicais, testamos a variável Idade em relação aos tipos de Inovações Lexicais.
Logo, a IDADE e o TIPO DE INOVAÇÃO são variáveis cuja relação pode ser
verificada para o nível de significância de 5%.
Verificamos, assim, que a idade tem relação com o Tipo de Inovação Lexical
utilizada. Parece que as inovações mais utilizadas são mesmo os empréstimos linguísticos,
para todas as faixas etárias analisadas. Alguns dos exemplos de empréstimos detectados foram
“delivery”= entrega e “driver”= motorista. Em segundo lugar, os calques fonologicamente
mixados, como “acento”= sotaque e “printar”= imprimir. Em terceiro lugar ficaram os
calques frasais, como “ele é suposto de fazer isso”. Já em quarto lugar ficaram os calques
independentes fonologicamente, como em “jogar uma festa”. Pottier (1968) menciona a
questão a propósito das causas do bilingüismo em algumas regiões da França, em que as
diferenças linguísticas seriam oriundas de fatores como atividades profissionais, situação
geográfica, classe social, gênero e idade. Preti (1982) também faz algumas considerações a
respeito dessas variáveis. Segundo o autor, sobre a variável idade/faixa etária, quando se
123
analisa um falante adulto, as variações relativas às devidas faixas etárias limitam-se muito
mais ao vocabulário e nem sempre são facilmente percebidas.
Foi detectado que o uso de empréstimos é inversamente proporcional à idade do
indivíduo, ou seja, quanto mais jovem, mais uso o indivíduo faz dos empréstimos linguísticos,
e quanto mais velho menos uso dessa estrutura ele faz, em relação ao esperado.
No que concerne o uso de calques mixados, houve uma relação diretamente
proporcional ao seu uso, sendo que quanto mais velho, mais uso o indivíduo faz dessa
estrutura.
Possivelmente isso se explica devido ao fato de que a língua materna parece interferir
mais no processo de aquisição de linguagem de um indivíduo mais velho, que por
consequência, faz mais uso de estruturas da língua nativa ao usar a língua-alvo.
Verificamos que os informantes que se encontram nos EUA há menos tempo, de 0-10
anos tendem a usar calques mixados mais intensamente do que seria esperado, provavelmente
ainda sofrendo forte influência da língua materna. Do mesmo modo, os informantes que estão
nos EUA de 11 a 20 anos tendem a fazer uso de calques mixados em número inferior ao
esperado, tendência mantida também para os informantes que residem nos EUA há 21 anos ou
mais.
Podemos inferir que o tempo de residência nos EUA seria inversamente proporcional
ao uso dos calques mixados.
Verificamos através dos dados que existe uma correlação direta entre o uso de calques
frasais e o tempo de residência nos EUA. O indivíduo que mora há menos tempo naquele país
usa proporcionalmente menos essa inovação do que aquele que mora lá há mais tempo.
126
É possível que isso se explique devido ao fato de que os calques frasais exijam uma
familiaridade maior com a língua, que só pode ser atingida com um tempo maior de
residência naquele país.
Parece que o indivíduo de Ensino fundamental faz uso de estruturas mais simples,
mais familiares, usando a língua materna como matriz, justificando, desse modo o uso mais
intenso de calques mixados nessa categoria.
Já os indivíduos que têm curso superior sentem dificuldade de encontrar termos mais
precisos para situações que a língua materna não contempla com um termo adequado, fazendo
uso mais intenso de empréstimos. A busca de prestígio e reconhecimento do conhecimento de
uma segunda língua também podem ser fatores que justificam o uso maior de empréstimos
linguísticos por indivíduos que tem formação acadêmica mais avançada.
129
Já o estudo de Poplack, Sankoff e Miller (1985) encontrou uma relação entre níveis de
escolaridade e uso de empréstimos, sendo que os empréstimos mais integrados à língua
materna tendem a ser mais utilizados pelos falantes de baixo nível de escolaridade, enquanto
os mais inovadores foram usados por falantes de nível secundário ou superior.
Gráfico 11: Tipos de Inovação X Domínio da Língua Inglesa– Fonte: Dados da pesquisa
Embora a amostra não fosse definida com o propósito de fazer tal aferição, pudemos
verificar, a partir dos dados coletados, que o nível de domínio da língua-alvo apresenta uma
correlação direta com o uso de empréstimos linguísticos, e uma correlação inversa com o uso
de calques mixados. A validação desta constatação dependeria de um estudo mais profundo e
da definição de uma amostra com esse propósito.
Por outro lado, os estudos realizados por Poplack, Sankoff e Miller (1988)
encontraram que, para as inovações lexicais que ocorrem no francês de moradores de Quebec,
Canadá, no que tange a empréstimos, a pertença à classe social parece ser um fator mais
significativo que efeitos ambientais ou proficiência bilíngue. Já em relação aos padrões de
inovações, os efeitos ambientais são muito importantes, sugerindo que o uso de empréstimos é
um comportamento adquirido, e não uma mera necessidade terminológica. Para Poplack,
Sankoff e Miller (1988), os bilíngues equivalentes são, geralmente, os responsáveis pela
criação e disseminação de inovações lexicais. Segundo eles, a sua familiaridade com a
segunda língua é o fator que possibilita o uso e difusão de inovações lexicais.
Pode-se observar também que o uso de calques fonologicamente independentes foi
baixo nas três categorias, sendo proporcionalmente mais baixo nos informantes mais
proficientes em inglês.
Assim, Poplack, Sankoff e Miller (1985) verificaram em seu estudo que, a proficiência
do falante na língua-alvo não exerce influência importante na taxa de uso geral de
empréstimos. Desse modo, não importando a capacidade linguística desse falante, tendo
acesso a itens lexicais de outra língua, ele agirá conforme as tendências prevalentes na sua
comunidade de fala. Caso ele resida em uma comunidade onde o uso de empréstimos é uma
prática comum, podemos deduzir que grande porção do seu vocabulário será constituído de
empréstimos, conquanto as circunstâncias sociais não militem contra o seu uso.
O uso de calques frasais, embora apresentando um peso relativamente menor na
totalidade das observações, teria sido menos intensamente utilizado pelos elementos de
menor proficiência da língua-alvo do que seria esperado (9 X 24) ao mesmo tempo em que se
verifica que os elementos de média e alta proficiência utilizam mais intensamente os calques
frasais do que seria esperado (38 X 24) e (47 X 32), respectivamente. Isso sugere, portanto
que a preferência de uso dos calques frasais pode ser um indicativo de uma relação ou que
pudesse ser explicada a partir dos níveis de Proficiência da Lingua-Alvo.
Importante salientar que o contraponto verificado por Poplack, Sankoff e Miller
(1988), de certa forma também corrobora a constatação verificada nesta pesquisa, visto que
133
Em sétimo lugar, testamos a classe social dos informantes. Esse é um fator sócio-
demográfico bastante importante na área de variação sociolinguística. Entretanto, para um
grau de significância de 5%, esse fator não tem relação com o uso de inovações lexicais.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre Classe Social e o tipo de inovação lexical usado pelos
informantes
H1 = Existe relação entre Classe Social e o tipo de inovação lexical usado pelos
informantes
é primordial; de 7-12, quando a influência dos pares começa a se interpôr à influência dos
pais; de 13-17, quando a influência dos pares se torna a principal e de 18 anos em diante,
quando os padrões de uso da linguagem tendem a se tornar cristalizados.
Para Beardsmore (1986), a idade do falante no início de uma exposição prolongada à
segunda língua pode influenciar sobremaneira o desempenho desse falante, aliado a outros
fatores, como a natureza do input e o nível de interferência da língua materna, por exemplo.
Segundo Beardsmore, a fossilização ou cristalização de estruturas pode ocorrer em
vários estágios da aprendizagem de uma segunda língua, levando a uma aquisição parcial do
domínio dessa língua. Como isso se aplica a grupos de indivíduos, assim como para
indivíduos, podemos dizer que a fossilização pode levar ao surgimento de um “dialeto de
contato”, segundo Haugen (1977), em que uma competência interlinguística fossilizada pode
ser a situação normal.
Com base nesse estudo, testamos, então, a data de início da aprendizagem de língua
estrangeira dos nossos Informantes.
Realizando-se os cálculos para o teste qui-quadrado através dos dados da pesquisa,
temos:
H0 = Não há relação entre Início de Aprendizagem e o tipo de inovação lexical usado
pelos informantes
H1 = Existe relação entre Início de Aprendizagem e o tipo de inovação lexical usado
pelos informantes
Procuramos observar, com esses dados, se a idade em que o informante começou a ter
contato com a língua estrangeira poderia ter alguma influência no tipo de inovações lexicais
que ele apresentava em seu discurso.
O tipo de atividade nos EUA foi testado frente ao tipo de inovação lexical para
verificar a hipótese de relação entre essas variáveis. Como vimos anteriormente, esta se
mostrava como uma variável muito importante em relação ao tipo de inovação.
139
Gráfico 18: Tipos de Inovação X Atividades nos EUA – Fonte: Dados da pesquisa
atividades ligadas à mão de obra braçal representam mais de 53,3% das ocupações
desempenhadas pelos brasileiros informantes desta pesquisa, seguidas de cerca de 26,7% de
mão de obra qualificada e 20% de estudantes.
A única categoria que apresentou maior incidência de calques mixados do que o
esperado foi a categoria dos representantes da mão-de-obra braçal. Isso sugere, como já
havíamos aventado no capítulo 1, página 16, que as pessoas que desempenham trabalhos
braçais, que não requerem treinamento acadêmico, se utilizam mais dos calques mixados,
usando o significante de inglês com o significado em português. Os empréstimos foram
utilizados em proporção maior do que esperado pelos estudantes de nossa pesquisa, que são,
em geral, mais jovens e fluentes em inglês.
Verificamos, como pode ser atestado observando-se a tabela 9, acima, que, para um
nível de significância de 5%, as variáveis “Atividades nos EUA”, “Domínio de Língua
Inglesa”, “Tempo de residência nos EUA”, “Escolaridade”, “Idade do Início da
aprendizagem” e “Idade” permitem a rejeição da Hipótese Nula.
Gráfico 19: Histograma de Frequência: Campo Semântico Detectado nas Inovações Lexicais
Fonte: Dados da pesquisa
Importante salientar que, das 555 ocorrências de inovações lexicais detectadas, 390
puderam ser categorizadas nos campos semânticos evidenciados acima: moradia, imigração,
equipamentos/eletrodomésticos, lugares e atividades desempenhadas pelos imigrantes nos
EUA. Os demais campos semânticos abordados pelos informantes não puderam ser
categorizados devido à variedade de assuntos que eles suscitavam, sendo, portanto,
desconsiderados para efeito de avaliação.
Como a tabela 10 parece sugerir, as inovações lexicais foram utilizadas pelas mulheres
mais do que o esperado ao tratarem de assuntos como “moradia”, “imigração” e
“eletrodomésticos”. Talvez a explicação desse resultado esteja no fato de que a mulher em
questão se preocupe com a sua segurança tendo uma moradia e estando legalmente no país.
Os campos semânticos “eletrodomésticos” e “moradia” foram salientes em relação ao uso de
inovações lexicais devido às atividades ocupacionais das nossas informantes, geralmente
ligadas à área de faxina, onde os equipamentos domésticos têm um papel primordial.
Já os campos semânticos “Lugares” e “Atividades” foram predominantemente mais
usados pelos homens, possivelmente por serem ligados às atividades desempenhadas por eles,
que também envolvem frequentes deslocamentos.
146
Em relação à idade, podemos dizer que os informantes mais jovens, minoria da nossa
amostra, fizeram uso de inovações lexicais conforme esperado, ao falarem sobre suas
atividades ocupacionais, geralmente sobre a escola, os colegas, etc. Como o uso de inovações
lexicais foi apenas um pouco superior ao esperado, isso pode sugerir que os falantes mais
jovens, de 07 a 15 anos, fazem menos uso de inovações lexicais em geral, mesmo falando de
suas atividades diárias.
Os informantes de 16 a 30 anos fizeram mais uso de inovações lexicais do que o
esperado ( 51 X 43) ao falar sobre atividades, enquanto os informantes de 31 anos de idade ou
mais fizeram mais uso de inovação ao falarem sobre eletrodomésticos e atividades
ocupacionais.
Essas parciais se justificam pelo fato de que a maioria dos informantes de 16 a 30 anos
eram estudantes e faziam inovações lexicais ao falarem sobre suas atividades escolares.
4.5.2.5. Domínio de Língua Inglesa versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos
Semânticos
Gráfico 29: Campos Semânticos X Domínio da Língua Inglesa – Fonte: dados da pesquisa
4.5.2.6. Classe Social versus Inovações Lexicais categorizadas por Campos Semânticos
Verificamos, então, a classe social dos informantes, a conferir nos gráficos abaixo.
No que concerne aos informantes que começaram a aprender inglês depois dos 21
anos, grande maioria dos informantes, a maior preocupação manifestada por eles foram os
“eletrodomésticos”. A atividade dos informantes certamente influenciou essa tendência,
sendo muito provável que o trabalho desempenhado por eles seja relacionado ao trabalho
doméstico.
161
Gráfico 35: Campos Semânticos X Atividades nos EUA – Fonte: dados da pesquisa
162
Gráfico 36: Campos Semânticos X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa
Tabela 19: Campos Semânticos X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa
Como pode ser verificado no gráfico 36 e na tabela 19, acima, não foi possível
identificar correlação entre campos semânticos e o tipo de inovação lexical utilizada, o que
muito nos impressionou, já que tínhamos expectativa de que o campo semântico “Atividades”
apresentasse uma prevalência de calques mixados. Entretanto, a hipótese nula não pôde ser
rejeitada para um nível de significância de 5% mostrando não haver correlação entre essas
variáveis.
A seguir, a fim de verificarmos as classes de palavras mais frequentemente utilizadas
nos tipos de inovações lexicais que foram mais detectados nesta pesquisa, elaboramos um
gráfico tabulando esses dados, como pode ser visualizado no gráfico 37, abaixo.
166
Gráfico 37: Classes de Palavras X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa
temporais e de número e pessoa são atribuídas ao radical. Isso acontece também com a vogal
temática atribuída ao verbo, que, aliás, é sempre “a”, indicando a primeira conjugação em
português.
Tabela 20: Classes de Palavras X Tipos Inovação Lexical – Fonte: dados da pesquisa
cable, pantry) pareciam revelar mais uma tomada de posição em relação à cultura norte-
americana do que uma necessidade terminológica premente. Normalmente tratava-se de
empréstimos, com pouca interferência fonológica de português.
Além disso, fizemos algumas observações interessantes em relação aos verbos usados
por nossos informantes. Todos eles eram de primeira conjugação (parkear, mopear, drivar,
shopar, dropar, etc.), tendo como vogal temática a letra “a”. Sabemos que essa é uma norma
gramatical, pois, segundo Possenti (2003), os verbos importados se tornam verbos regulares
da primeira conjugação, assim como “printar, estartar, inicializar, guglar”, etc. Entretanto,
como o nosso informante não é um estudioso da gramática normativa do português, podemos
deduzir que se trata de uma norma a ser internalizada pelos falantes brasileiros nessa situação.
Todo falante de uma língua, durante a fase de aquisição, assimila ou "internaliza", uma série
de princípios e regras altamente elaborados, que lhe permitem produzir enunciados que serão
reconhecidos como bem formados pelos demais membros de sua comunidade.
A cópia da lista de disponibilidade léxica pode ser vista na página seguinte. Um total
de 64 palavras constam da lista de disponibilidade léxica, sendo que 8 eram do grupo de
controle, palavras criadas usando-se as mesmas estratégias usadas pelos usuários das
inovações lexicais, porém, desconhecidas da pesquisadora.
Marque com x as palavras que você já ouviu ou já usou, em conversas em português, nos EUA:
PALAVRA / EXPRESSÃO USADA / OUVIDA MUITO (1) / POUCO (2)
1-PARKEAR
2-VAQUEAR (usar o vaccum cleaner)
3-FRIZAR (com sentido de congelar)
4-ORDENAR (com sentido de encomendar)
5-FLAXEAR (mostrar partes do corpo)
6-SCHEDIAR / SCHEDULAR
7-SHOPAR / SHOPEAR
8-TRIPAR / TRIPEAR
9-BRUSHAR / BRUSHEAR
10-BISADO / BISADÃO
11-CHAMAR (com sentido de telefonar)
12-DELETAR
13-FORGETEAR
14-BODYSHAPA
15-SHAPERO
16-RENTA/ RENDA/RENTAR
17-TÍQUETES (multas de trânsito)
18-MOPEAR / MOPAR
19-ESPREIAR
20-MULCHEAR (jardinagem)
21-ESCANEAR
22-TRANSLEITAR
23-ELE É SUPOSTO DE IR
24-BARARÔ NO MAICROEI
25-STAMPAR
26-FIQUEI STUCKADO NO TRÂNSITO
27-DRAIVAR
28-BLOWAR (soprar folhas c/o aparelho)
29-DONA ( donut)
30-BABY-SITTAR / SITTAR (trabalhar como baby-sitter)
31-BLOWDRYAR
32-DRYWALLAR / FAZER UM DRYWALL
33-INSULAR / INSULATEAR
34-DRYAR
35-BAKEAR
36-BROILAR / BROILEAR
37-PICKUPEAR
38-SLICE DE PIZZA
39-STEAMAR / ESTIMA
40-POKEAR
41-REALIZAR (com sentido de entender)
42-TEXTEAR (passar mensagem de texto)
43-BOILA ( boiler)
44-CLOSETA (closet)
45-CONA (corner)
46-DONA (donut)
47-ESPICAR
48-ESTIMA (steamer)
49-UMA INCHA
50-APLICAR ( candidatar)
51-TUNAPIAR UM CÁ (tune up a car)
52-RUMOS (rooms)
53-RUFO (roof)
53-SINOWAR (snow)
55-TAPISTA (typist)
56-TROQUE (truck)
57-UÓRA (water)
58-MOURA VEÍCULOS( Motor Vehicles)
59-DROPAR
60-UARÉVA (tanto faz)
61- PAPEL (documentos de legalização)
62- BUTAR/ FAZER UM BOOT(computador)
63- APARTIME/ APARTAIMI
64- RESPONDER / IR À CORTE
Quadro 2: lista de Disponibilidade de Léxica
Fonte: Dados da pesquisa
171
Essas listas proporcionaram um resultado muito positivo, porém, como nem todos os
informantes retornaram as listas preenchidas, não considerei válido computar os dados
obtidos através delas.
Somente a título de curiosidade, podemos dizer que a expectativa de que o uso de
inovações Lexicais fosse relacionado às atividades ocupacionais praticadas nos EUA foi, de
certa forma, atingida. A maioria dos informantes reconheceu as palavras que não são
relacionadas a atividades específicas e nenhum deles reconheceu as palavras do grupo de
controle (marcadas em vermelho).
A maioria deles declarou conhecê-las e usá-las, o que pode ser interpretado como
“conscientização” e “aceitação”. Esta seria uma sugestão para futuras pesquisas: qual seria o
grau de difusão dessas inovações lexicais e como o usuário considera essas inovações em
relação à língua materna.
172
5. CONCLUSÕES
Esta pesquisa foi desenhada com o objetivo de conhecer e analisar o universo da fala
dos brasileiros imigrantes nos EUA à luz da teoria variacionista de Labov. Foi um estudo de
natureza exploratória, partindo de observações empíricas e chegando a conclusões de natureza
científica, se considerarmos o estudo quantitativo e qualitativo realizado em torno do assunto
“inovações lexicais realizadas por brasileiros nos Estados Unidos”.
O presente estudo mostrou-se uma excelente oportunidade de observar a língua como
produto da identidade social dos indivíduos. Sabemos que diferentes formas linguísticas
servem para dizer a mesma coisa, porém, nunca imaginamos o quanto as escolhas lexicais do
indivíduo podem torná-lo parte do grupo ou excluí-lo, assunto já aventado por vários autores,
como Chambers (1993), Le Page e Tabouret-Keller (1985).
O objetivo geral do presente trabalho era descrever as inovações lexicais encontradas
entre brasileiros imigrantes nos Estados Unidos, correlacionando-as a fatores linguísticos e
extralinguísticos.
Com esse propósito fizemos um alto investimento no sentido de investigarmos a fala
desses brasileiros. Optamos pela investigação coletada a partir de dados empíricos feita in
loco.
Descobrimos um mundo onde brasileiros parecem viver em um universo paralelo, com
regras de conduta próprias, cheio de estereótipos, histórias de vida incríveis, coisas que “só
valem para lá”. As pessoas que estão nos Estados Unidos para trabalhar não agem como
agiriam no Brasil. Os graus de latitude e longitude mudam, os valores parecem mudar com
eles. “ - A minha profissão no Brasil? Engenheiro... Aqui é ‘bus-boy’!”, que significa ajudante
de garçom, profissão de menor status na escala de profissões dos Estados Unidos. Isso é a
coisa mais comum de se ouvir entre os brasileiros nos EUA. Há regras não-escritas a serem
seguidas, e não estamos falando das leis americanas. É realmente um código de conduta que
os brasileiros aprendem uns com os outros, em doses homeopáticas - quanto mais tempo se
passa lá, mais se aprende sobre elas.
Não posso deixar de mencionar aqui que o fato de estar próxima àqueles brasileiros
nos EUA, foi o que me proporcionou muitas das inferências que seriam impossíveis de serem
feitas, não vivendo como parte daquela outra dimensão. O contexto é muito importante
quando se trata de estudos exploratórios.
173
Como não poderia deixar de ser, era necessário que houvesse uma língua que
retratasse essa situação paralela e tão sui generis dos brasileiros nos EUA, já que a língua é
emblemática em termos de identidade. Assim, com empréstimos aqui, mixagens ali e algumas
traduções literais acolá, criou-se a língua que os brasileiros falam lá nos EUA. Se essa língua
tem nome, não sei... Ouvi vários: Newarkês, Portuglês, Portinglês, mas preferi não rotular e
simplesmente considerei esse “jeitinho brasileiro” de falar como “inovações lexicais” feitas
no português de brasileiros moradores nos EUA.
As inovações lexicais foram coletadas, contabilizadas, descritas e analisadas em
termos de quem usa mais determinado tipo de inovação e por quê.
Algumas perguntas de pesquisa relacionadas aos fatores que contribuem ou favorecem
a criação e o uso dessas inovações lexicais e sintáticas nortearam esta pesquisa.
Repetimos, a seguir, as perguntas colocadas no início deste trabalho:
1) Quais são os fatores que contribuem ou favorecem a criação e o uso dessas inovações
lexicais e sintáticas?
2) Como esse fenômeno pode ser caracterizado? Como “interlíngua”? Como “pidgin”?
Como um estágio na evolução de aprendizagem de Língua Estrangeira?
3) Todos os brasileiros imigrantes se comportam do mesmo modo quanto ao uso dessas
inovações lexicais?
4) Se há diferenças entre eles, quais são as condições, linguísticas e extralinguísticas, que
favorecem e/ou inibem a mixagem observada?
no idioma inglês. Esses brasileiros estão nos Estados Unidos com o objetivo de trabalhar e
angariar fundos para investir em um futuro financeiro mais confortável no Brasil.
Pode-se dizer que 99% dos entrevistados têm intenção de voltar ao Brasil para morar.
Em geral, os usuários dessas inovações desempenham atividades manuais e informais nos
EUA, sendo denominadas “labor” = trabalho braçal. Além das entrevistas, era muito comum
ouvir na rua as pessoas dizerem que iam “ordenar” (de “order = encomendar”) um produto na
fábrica, que iam “shopar” (de “shop = fazer compras”) naquela loja ou que estava “frizado” =
freezing + gelado , já que a temperatura era de -10˚C.
Dos 30 informantes da pesquisa, todos fizeram uso, em maior ou menor grau, de
inovações lexicais. Dos 4 informantes (13,3%) que fizeram uso reduzido dessas inovações,
três estavam, de certa forma, fora das condições sócio-demográficas estabelecidas acima: 4M,
de 18 anos, era filho de brasileiros de classe trabalhadora e moradores nos EUA, porém, ele
foi nascido nos EUA, sendo americano, ou segunda geração de brasileiro. Ele sempre
frequentou a escola nos EUA e, portanto, tem inglês fluente, mas seu português deixa muito a
desejar. Para Bills, Hudson e Chávez (1995), isso é consistente com a premissa do modelo
linguístico descrito por Fishman (1966), Grosjean (1982) e Romaine (1995) segundo o qual a
primeira geração de imigrantes permanece monolíngue em sua língua nativa, a segunda se
torna altamente bilíngue e a terceira se torna dominante ou mesmo monolíngue na língua-
alvo. O informante 4M passou um ano no Brasil, quando era ainda criança. Segundo o
próprio informante, foi uma péssima experiência, pois ele não sabia português e teve enormes
dificuldades na escola. Ao voltar para os EUA ele foi colocado em uma série anterior, o que
parece ter sido bastante traumatizante para ele. Esse informante respondeu cerca de 70% da
entrevista completamente em inglês. No caso desse informante, as inovações lexicais
ocorreram no sentido inverso. O português acabou influenciando o seu inglês. O informante
declarou usar expressões como “face” no lugar da interjeição “cara” e foi ridicularizado pelos
colegas brasileiros por isso. Outro exemplo de influência do português no inglês foi quando
ele perguntou à mãe: “_Are you on?” referindo-se à gíria comum entre os jovens brasileiros:
“Tá ligado?” Observamos que 4M fez uso de inovações lexicais no sentido inverso àquele
investigado por esta pesquisa. Em ambos os casos ocorreram calques fonologicamente
independentes, com traduções literais de português para inglês, usando-se palavras que não
guardam semelhança fonológica entre si, como em cara = face e ligado = to be on.
Já o respondente 5M foi para os EUA com apenas 7 anos de idade e sempre frequentou
a escola nos EUA, sendo, portanto um bilíngue perfeito, estando, agora, com 29 anos de
idade. Além disso, 5M formou-se em administração nos EUA e atua como administrador em
175
uma empresa americana tendo um emprego almejado até por americanos, com um bom
salário e estabilidade financeira. O sonho dele é, entretanto, conseguir um emprego no Brasil
e se mudar prá cá com sua esposa brasileira que conheceu em uma viagem de avião para os
EUA.
A respondente 9F é uma brasileira de segunda geração, nascida nos EUA, cujos pais,
separados, vivem nos EUA, o pai na Flórida e a mãe com ela em em New York. Ela é falante
nativa de inglês e sua competência comunicativa em português é também muito boa. Os
desvios cometidos por ela poderiam ser cometidos por qualquer pré-adolescente de 12 anos
que se aventurasse a dizer palavras um pouco mais sofisticadas sem muito conhecimento de
causa sobre o assunto. Ela teve problemas com palavras como “depressionada” significando
“depressiva”, e “obsessiva” significando “obcecada”. Ela se interessa por línguas estrangeiras
e está também aprendendo chinês na escola.
A informante 10F é uma mulher de meia idade, mãe de família, que deixou os filhos
no Brasil em busca de melhores condições de vida para criá-los no Brasil, mesmo estando nos
EUA. Ela foi a única do grupo de inovações reduzidas que se encaixava perfeitamente no
perfil dos usuários das inovações, embora não as tivesse utilizado durante a entrevista.
Mesmo depois de cinco anos morando naquele país, 10F não parece se interessar por nada que
se relacione aos Estados Unidos ou à língua falada naquele país. Ela trabalha em um salão de
beleza de brasileiros para brasileiros como manicure. A impressão que se tem é que ela rejeita
tudo que a lembre de sua condição de estar ali, contra a sua vontade, longe dos filhos, com o
objetivo de ganhar dinheiro e comprar uma casa.
Os restantes vinte e seis informantes brasileiros, mesmo quando não fizeram uso
explícito das inovações lexicais, demonstraram claro conhecimento sobre elas, seu significado
e a razão de seu uso e vasta difusão. Todos os vinte e seis informantes são brasileiros de
primeira geração, falam português fluentemente, todos trabalham ou estudam nos EUA, e a
maioria deles desempenha atividades consideradas trabalhos braçais.
A segunda pergunta foi em relação ao fenômeno a ser caracterizado:
O meu propósito era então, taxonômico, pois havia necessidade de se encaixar esse
fenômeno em algum fenômeno já descrito pela linguística. Pidgin, interlíngua, estágio na
176
fonológica, um exemplo seria o fonema [r] retroflexo em “parkear”, que será pronunciado
como [h], em uma aproximação com a pronúncia do português do Brasil.
Já o empréstimo não sofre alterações morfológicas, sendo usado com a forma
fonológica mais próxima possível da língua-alvo, caso do comumente utilizado “delivery”.
Em segundo lugar, observamos os calques fonologicamente mixados. As condições
linguísticas que parecem favorecer esse tipo de inovação lexical são a proximidade fonológica
e morfológica entre os termos, como em “aplicar” e “apply” e o fato de o termo não ser do
conhecimento do indivíduo em sua língua nativa, como em “vaquear” = usar aspirador de
pó ou “mopear” = usar o esfregão. Como exemplo de calques fonologicamente mixados,
temos “acento”= sotaque e “printar”= imprimir.
Em terceiro lugar foram observados os calques frasais, como “ele é suposto de fazer
isso”. Já em quarto lugar ficaram os calques independentes fonologicamente, como em “vou
caminhar o cachorro”. Tanto os calques frasais quanto os calques fonologicamente
independentes ocorreram nas entrevistas, porém, com frequência insignificante em relação ao
universo de inovações lexicais. Entretanto, podemos traçar o perfil do usuário dessas
inovações lexicais.
A motivação linguística para o uso de calques fonologicamente independentes está na
analogia feita pelo falante no nível do significado e não do significante. Não há nenhuma
semelhança fonológica ou morfológica do termo na língua materna com o termo na língua-
alvo. A conexão entre eles está sendo feita apenas no nível semântico. “correu” para
presidente = concorreu à vaga de presidente (ran for president);“jogar” uma festa= dar uma
festa (throw a party);Vou “caminhar” o cachorro = levar o cachorro prá passear (walk the
dog); “Ele é suposto de ir” =( ele deve ir) para (He is supposed to go)
A motivação linguística para o uso desse tipo de inovação reside no fato de que o
falante deseja expressar uma ideia da língua-alvo que não está disponível na língua materna.
Um bom exemplo de calque frasal é : “Me deixe saber!” (Mantenha-me informado) oriundo
de “let me know”, expressão muito usada em inglês e que o brasileiro adota em “português”.
Os dados obtidos através desta pesquisa sugerem que as condições linguísticas que
favorecem as inovações lexicais são, em primeiro lugar, o fato de ser uma palavra de
conteúdo e, em segundo lugar, a classe de palavras em que incide a inovação.
179
Os verbos, por sua vez, ocorreram em frequência muito superior ao esperado nos
calques mixados, revelando que, aquilo que realmente pode ser chamado de inovação lexical,
que realmente opera alterações nos vocábulos da língua recipiente e da língua doadora, como
o acréscimo de afixos, desinências, vogais temáticas, que mostram a criatividade do
informante no manuseio de dois códigos linguísticos, estão concentradas nos calques
mixados, mais especificamente nos sintagmas verbais. Não é de se estranhar que isso
ocorresse, já que o nosso informante é um ser agente por natureza, que se encontra nos EUA
para agir, trabalhar, “mopar”, “vaquear” e por que não, “parkear”.
Essa conclusão tem respaldo também na pesquisa de Poplack, Sankoff e Miller (1988),
que afirmam que, embora todas as palavras de conteúdo se encaixem na categoria “adequadas
para empréstimo”, especialmente os substantivos e algumas outras classes de palavras, como
verbos, adjetivos e advérbios, apenas alguns itens são recorrentes, sendo que apenas um
conjunto mais restrito é usado pelos monolíngues, ou bilíngues com pouca fluência em inglês.
O português dos brasileiros imigrantes nos Estados Unidos apresenta evidências
consideráveis de penetração lexical de inglês. Essa influência pode ser considerada um tipo de
adaptação linguística criativa por parte de uma comunidade que aparentemente deseja
continuar comunicando, em sua língua materna, mensagens que são características da cultura
de língua inglesa.
Em relação à motivação para a ocorrência dessas inovações lexicais, nossa pesquisa
confirma a afirmativa de Otheguy e Garcia (1988) de que o falante de uma minoria linguística
tem duas necessidades básicas conflitantes: falar a sua língua nativa e comunicar ideias,
noções e mensagens que não estão disponíveis em sua língua materna, mas que são de
repertório corriqueiro na língua-alvo. Essa afirmativa, aliás, já havia sido sugerida por
Haugen, em 1938.
A nossa pesquisa confirma também algumas descobertas feitas por Poplack, Sankoff e
Miller (1988). A proficiência em duas línguas tem um efeito sistemático no uso de inovações
lexicais, já que é o conhecimento de ambas as línguas que pressupõe o uso de estratégias de
formação de novas palavras, conhecidas também por ‘nonce borrowings’. Entretanto, as
normas da comunidade de fala superam em muito as habilidades individuais. Caso o
indivíduo resida em uma área em que todos os membros se dirijam uns aos outros fazendo uso
das inovações lexicais, naturalmente elas serão usadas pelo indivíduo, como já exposto no
capítulo 2, página 36, quando mencionamos a “Teoria da Acomodação” de Giles (1980). Essa
descoberta, relatada pela primeira vez por Poplack, Sankoff e Miller (1988) e ratificada pela
presente pesquisa, nos mostra que o comportamento em relação ao uso de inovações lexicais é
181
adquirido, não sendo apenas uma questão de necessidade lexical. Se não fosse assim, a
capacidade individual seria mais importante que o contato que ele tem com a sua comunidade
de fala. Em vez disso, tanto os padrões de uso de empréstimos quanto a quantidade de
inovações utilizadas parecem corresponder a normas ambientais mais abrangentes,
evidenciadas por estigmatizações em relação ao uso dessas inovações ou simplesmente por
uma tendência da comunidade de usar um padrão particular de inovações lexicais.
Como pudemos verificar até mesmo através das entrevistas dos informantes, os
indivíduos estão interessados na comunicação rápida e eficiente de mensagens que são
relevantes à sociedade em que estão inseridos, não relutando em introduzir itens lexicais e
conceitos que são respaldados pelos seus pares, eliminando-os quando eles criam
ambiguidades. Isso também confirma as afirmativas de Otheguy e Garcia (1988).
As situações de contato linguístico parecem estar sujeitas a dois tipos de forças
conflitantes: a necessidade de atingir eficiência comunicativa para conseguir interação e a
necessidade de se preservar a distinção de identidade de grupo. Se a maioria dos falantes de
português brasileiro nos Estados Unidos, na situação social determinada anteriormente, fala
“... vou “parkear” o carro e não, “... vou estacionar o carro”, tendemos a inferir, com base nos
postulados da sociolinguística, que não se trata de um fenômeno aleatório de uso arbitrário e
inconsequente dos falantes, mas, sim do uso sistemático e regular da variação linguística. É
exatamente essa regularidade e sistematicidade que buscamos demonstrar com o presente
trabalho.
182
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a. EÉ possíúvel ser (de seú grúpo) e falar somente em ingleê s, (naã o saber portúgúeê s)? Sim_____ Naã o______
b. EÉ possíúvel ser norte-americano e falar somente portúgúeê s, (naã o saber ingleê s)? Sim______ Naã o ______
_____ em casa
_____ na escola
_____ no trabalho
_____ ao ler
12. Voceê acredita qúe o portúgúeú s deveria ser ensinado nas escolas nos EUA? Sim _____ Naã o______
14. Algúma vez voceê combina os dois idiomas? Sim _____ Naã o ______
16. Conhece oútro(s) qúe fazem isso tambeú m? Sim _____ Naã o _____
18. Acredita qúe a alternaê ncia/mescla ocorre porqúe aqúeles qúe a fazem:
Sim Naã o
formais (ex. com seú chefe) Sim ______ Naã o _______ _____ ambas _____ nenhúma _____
20. Voceê acha qúe “mesclar” caúsa problemas ao portúgúeê s? Sim ______ Naã o ______
21. Voceê acha qúe “mesclar” caúsa problemas ao ingleê s? Sim ______ Naã o ______
22. Voceê acha qúe os brasileiros nos EUA devem manter o portúgúeê s? Sim _____ Naã o _____
26. O qúe voceê faz/ faraú para assegúrar qúe aprendam portúgúeê s?
_____________________________________________________
27. A súa opiniaã o sobre a edúcaçaã o bilíúngúe eú : positiva ______ negativa _______ (naã o a conheço) _______
28. Voceê acha qúe os paíús brasileiros devem ensinar portúgúeê s aos filhos em casa? Sim _____ Naã o _____
29. Os patroã es / chefes teê m direito, na súa opiniaã o, de exigir qúe seús empregados falem somente em ingleê s?
32. Profissaã o:
b. Profissaã o no Brasil______________________
34. Edúcaçaã o:
primaú rio _____ secúndaú rio _____ úniversidade_____ poú s-gradúaçaã o ______
35. Classe social a qúe pertence: Alta _____ Meú dia _____ Trabalhadora _____
________________________________________________________
c. Voceê eú casado com pessoa de oútra nacionalidade? Sim ______ Naã o ______ Qúal ______
d. Como prefere qúe o/a identifiqúem: como hispano _____ latino _____ brasileiro ______
40. Pai:
41. Maã e:
43. Voceê tem intençaã o de retornar ao Brasil? ________ oú gostaria de ficar aqúi__________
a. Voceê eú a favor ____________oú contra _____________ o projeto de lei para tornar o ingleê s o idioma oficial do estado
de New York e dos Estados Unidos?
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