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ATUALIZADA 2016

BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL


PRIMEIROS SOCORROS

NBR 14608 – BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL


PUBLICACA EM 29/11/2007
Tabela B.7
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL

1 SUMÁRIO
2 APH - ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO ............................................................ 1
2.1 No Brasil: ............................................................................................................................................... 1
3 Legislação ...................................................................................................................................................... 2
3.1 Portaria 2048 ......................................................................................................................................... 2
3.2 Lei nº 8.080 ............................................................................................................................................ 2
3.3 Portaria 1863 ......................................................................................................................................... 3
4 PROCEDIMENTOS INICIAIS............................................................................................................................. 3
4.1 Ética ....................................................................................................................................................... 3
5 Biossegurança................................................................................................................................................ 5
5.1 Equipamentos de proteção individual do serviço de aph ...................................................................... 7
5.2 Processamento de áreas e artigos ......................................................................................................... 8
6 Noções de anatomia e fisiologia .................................................................................................................... 8
6.1 Sinais vitais .......................................................................................................................................... 12
6.1.1 Pulso ............................................................................................................................................ 12
6.1.2 Respiração ................................................................................................................................... 12
6.1.3 Pressão Arterial............................................................................................................................ 13
6.1.4 Temperatura ................................................................................................................................ 13
6.2 Cinemática do Trauma ......................................................................................................................... 13
7 AVALIAÇÃO INICIAL ..................................................................................................................................... 18
7.1 Controle de Cena ................................................................................................................................. 19
7.2 Abordagem Primária ............................................................................................................................ 20
7.3 Abordagem Secundária ....................................................................................................................... 23
8 VIAS AÉREAS ................................................................................................................................................ 25
9 Tipos de Choque .......................................................................................................................................... 45
9.1 Choque hipovolêmico .......................................................................................................................... 45
9.2 Choque cardiogênico ........................................................................................................................... 46
9.3 Choque neurogênico ........................................................................................................................... 46
9.4 Choque psicogênico ............................................................................................................................. 46
9.5 Choque anafilático ............................................................................................................................... 46
9.6 Choque séptico .................................................................................................................................... 47
10 HEMORRAGIAS ........................................................................................................................................ 47
11 FRATURAS E LUXAÇÕES ........................................................................................................................... 50
11.1 Fraturas ............................................................................................................................................... 50
11.2 Luxações .............................................................................................................................................. 52

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12 FERIMENTOS, CURATIVOS E BANDAGENS ............................................................................................... 53
13 EMERGÊNCIAS CLÍNICAS .......................................................................................................................... 65
14 PESSOAS COM MOBILIDADE REDUZIDA .................................................................................................. 79
15 CATÁSTROFES OU ACIDENTES COM MULTIPLAS VÍTIMAS ....................................................................... 82
16 PSICOLOGIA EM EMERGENCIAS............................................................................................................... 85
17 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ................................................................................................................. 91

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Vários países, em especial os Estados Unidos,
2 APH - ATENDIMENTO PRÉ- passam a demonstrar novos equipamentos e técni-
cas de atendimento emergencial, já no início dos
HOSPITALAR - HISTÓRICO E anos 70. Nesta época ocorre ainda a implementação
de vários programas de treinamento e organizações
LEGISLAÇÃO voltadas para esse fim.

O surgimento dos Primeiros Socorros con- Torna-se inadmissível a manipulação de víti-


funde-se com o aparecimento do próprio homem. mas sem a devida imobilização, bem como o seu
Ataques de animais, picadas e quedas devem ter sido transporte ao hospital mais próximo independente
as lesões mais comuns na vida dos primitivos. Com a de ser ou não o mais adequado para aquele caso.
formação das tribos, o homem se organizava em gru- Ocorre a difusão do princípio da "hora de ouro" que
pos para a caça, sendo que acabavam também trans- defende o aumento do índice de sobrevivência,
portando seus os feridos no regresso. Ao longo da quando as vítimas de acidentes são estabilizadas,
história, as guerras entre os povos, causaram muitos transportadas e recebem procedimentos médicos
mortos e feridos, necessitando de curativos, trans- hospitalares em até uma hora do momento do aci-
porte, e havendo ainda a necessidade de escolher dente.
quem seria ou não socorrido, nascendo aí, a ideia de Recentemente, estudos comparativos mos-
triagem. traram a redução da mortalidade tanto nos aciden-
Com o advento da revolução industrial, tes traumáticos como nas emergências clínicas.
ocorre a eclosão de um tipo de emergência, o aci- Ocorreu também a redução do número de vítimas
dente do trabalho. Os empreendedores e operários com sequelas, dentre elas, a lesão de medula espi-
se viam diante de um ambiente perigoso repleto de nhal, que muitas vezes foi agravada nos acidentes
equipamentos pesados, instalações complexas e mé- traumáticos como nas emergências clínicas. Na mai-
todos de produção que necessitavam, além do traba- oria das vezes, isso ocorria pelo mau socorro pres-
lho braçal, de uma fonte rápida de energia, no caso, tado, numa época em que socorrer era sinônimo de
a combustão e a geração de vapor. transportar rápido a qualquer custo.

No século XX, dois fatores foram essenciais O atendimento médico no Brasil Colônia e no
para a definitiva empreitada no atendimento emer- Brasil Império era escasso.
gencial: as guerras mundiais e o surgimento do auto-
móvel. Após a 2ª guerra mundial, surge uma grande 2.1 NO BRASIL:
quantidade de material escrito pelas forças armadas
sobre técnicas de transporte e reanimação. Em 1789, no Rio de Janeiro, havia somente
quatro médicos em atuação (Salles, 1971), o atendi-
Os textos e gravuras antigas sobre técnicas
mento pré-hospitalar (APH) era inexistente.
de reanimação, hoje, nos parecem absurdas, porém,
constituíram etapas essenciais da pesquisa científica. Em 1808, foi fundada a Escola de Anatomia,
O grande interesse no desenvolvimento de técnicas Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, quando então
e equipamentos de salvamento, retratam a de- se iniciou o transporte e atendimento de vítimas fe-
manda de emergências existente na época. ridas. Desde já, o modelo pré-hospitalar adotado era
estrangeiro, realizado por carruagens.
Com o crescimento dos meios de transporte
urbanos, em especial, o automóvel, também cresce Com a proclamação da república, o atendi-
de forma incontrolável, um tipo de sinistro, o aci- mento foi integrado ao Estado e passou a ser coor-
dente de trânsito. Gerando um grande número de ví- denado ao longo do tempo por diversos serviços pú-
timas fatais ou portadoras de graves sequelas, os aci- blicos: Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de
dentes de trânsito levaram os pesquisadores a estu- Urgência (SAMDU); Instituto Nacional de Previdência
dar formas de imobilização, transporte de vítimas, Social (INPS); Instituto Nacional de Assistência Mé-
equipamentos de segurança, lesões por desacelera- dica e Previdência Social (INAMPS) e, atualmente,
ção e outros relacionados, sendo possível encontrar pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mediante as Se-
textos técnicos já na década de 60. cretarias de Saúde em cooperação com o Corpo de
Bombeiros.

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Em 1981, em Brasília, o Corpo de Bombeiros contribuído decisivamente para a sobrecarga dos
criou um serviço experimental de resgate de vítimas serviços de Urgência e Emergência disponibilizados
feridas, mas ainda desprovido de um modelo con- para o atendimento da população, que as ações de
creto. Cinco anos mais tarde, após um intercâmbio aperfeiçoamento do atendimento às urgências e
de Bombeiros brasileiros nos EUA (Companheiros emergências no país é um assunto de relevância, que
das Américas) foi proposta uma reestruturação do a necessidade de aprofundar o processo de consoli-
sistema, com a criação de um serviço com ambulân- dação dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emer-
cias equipadas e recursos humanos com treina- gência, que a grande extensão territorial do país,
mento específico. também que a expansão de serviços públicos e pri-
vados de atendimento pré-hospitalar móvel e de
Em 1990, começa a funcionar, na grande São
transporte inter-hospitalar e a necessidade de inte-
Paulo o Projeto Resgate em 14 municípios com 38
grar estes serviços à lógica dos sistemas de urgência,
unidades de salvamento. Contudo, o Brasil ainda não
e ainda necessidade de estimular a criação de estru-
dispunha de um modelo autêntico de atendimento e
turas capazes de problematizar a realidade dos ser-
legislação específica sobre APH.
viços e estabelecer o nexo entre trabalho e educa-
No ano seguinte o Ministério da Saúde aprova ção. Onde descreve com detalhe os seguintes tópi-
a normatização do atendimento pré-hospitalar com cos:
a Portaria nº 824, a qual é revogada pela nº 814 de
 PLANO ESTADUAL DE ATENDIMENTO ÀS UR-
2001, mais abrangente. Ainda no mesmo ano o Mi-
GÊNCIAS E EMERGÊNCIAS;
nistério da Saúde cria a Política Nacional de Redução
 A REGULAÇÃO MÉDICA DAS URGÊNCIAS E
de Morbimortalidade por Acidentes e Violência, com
EMERGÊNCIAS;
o intuito de reduzir a hecatombe brasileira.
 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR FIXO ;
Apenas no ano de 1998, o Conselho Federal de  ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL;
Medicina qualifica o atendimento pré-hospitalar  ATENDIMENTO HOSPITALAR, UNIDADES HOSPI-
como serviço médico, tanto na coordenação quanto TALARES DE ATENDIMENTO ÀS URGÊNCIAS E
na supervisão (Resolução CFM nº. 1.529/98). EMERGÊNCIAS;
Em 2002, o Ministério da Saúde aprova a regu-  TRANSFERÊNCIAS E TRANSPORTE INTER-HOSPI-
lamentação técnica dos sistemas estaduais de urgên- TALAR;
cia e emergência (PRT nº 2048/GM), um grande  NÚCLEOS DE EDUCAÇÃO EM URGÊNCIAS;
avanço do governo brasileiro, mas ainda carente de  RECOMENDAÇÃO DE ATIVIDADES PRÁTICAS
um modelo nacional, próprio! Nesta portaria fica
claro a opção pelo modelo Franco-alemão de atendi- 3.2 LEI Nº 8.080
mento pré-hospitalar, paradoxalmente, o treina-
mento preconizado é baseado no modelo Anglo- Regula, em todo o território nacional, as ações
americano. e serviços de saúde, executados, isolada ou conjun-
tamente, em caráter permanente ou eventual, por
Em 2003, é instituído a Política Nacional de pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou
Atenção às Urgências (PRT nº 1863/GM) em todas as privado.
unidades federadas. Finalmente o Brasil tem uma le-
gislação completa na área de urgência e emergência. Sancionada pelo Presidente da República, Sr.
Duas décadas após o pioneirismo em Brasília. Fernando Collor, e decretada pelo Congresso Nacio-
nal, foi publicada no Diário Oficial da União em 20 de
setembro de 1990.
3 LEGISLAÇÃO Essa lei dispõe sobre as condições para a pro-
moção, proteção e recuperação da saúde, a organi-
zação e o funcionamento dos serviços corresponden-
3.1 PORTARIA 2048 tes e dá outras providências. Vigorando em todo o
Considera que a área de Urgência e Emergên- território nacional, para qualquer ação ou serviço de
cia constitui-se em um importante componente da saúde realizado por pessoas ou empresas.
assistência à saúde, que o crescimento da demanda Diretrizes AHA – American Heart Associa-
por serviços nesta área nos últimos anos, que têm tion's
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Resumo das modificações das Diretrizes 2005 · Iniciativa: assumir o controle da situação,
da American Heart Association (AHA) sobre Ressus- adotando as condutas apropriadas e agilizando o aci-
citação Cardiopulmonar e Atendimento Cardiovas- onamento dos recursos necessários;
cular de Emergência, publicadas na edição de 13 de
· Amabilidade: compreensão com o sofri-
dezembro de 2005 da Circulation, a revista oficial de
mento alheio; tratar as vítimas com respeito e sere-
divulgação científica da AHA.
nidade;
· Criatividade: quando situações inesperadas
3.3 PORTARIA 1863 surgirem, ser capaz de diversificar o uso de equipa-
Em 2003, é instituído a: mentos e adaptar as técnicas existentes para soluci-
onar os problemas.
Política Nacional de Atenção às Urgências em
todas as unidades federadas. Finalmente o Brasil
tem uma legislação completa na área de urgência e 4.1 ÉTICA
emergência. Duas décadas após o pioneirismo em
Toda pessoa é dotada de uma consciência mo-
Brasília.
ral que a faz distinguir entre o certo e o errado, entre
o bem e o mal, capacitando-a a avaliar suas ações no
4 PROCEDIMENTOS INICIAIS contexto a que é solicitado, ou seja, é capaz de nor-
tear suas atitudes pela ética, a qual pode-se dizer é
Deve ser perfil do profissional de resgate: um conjunto de valores, que se tornam deveres em
determinadas culturas ou grupos, sendo expressos
· Condicionamento físico: necessário devido às em ações.
particularidades do serviço que exige esforço físico
independente do número de ocorrências diárias A ética é, normalmente, uma norma de cunho
atendidas. Atentar para a segurança do trabalho. Ex: moral que obriga a conduta de uma determinada
utilizar técnicas de levantamento de pesos, correção pessoa, sob pena de sanção específica, mas pode
de postura, etc.; também regulamentar o comportamento de um
grupo particular de pessoas, como, por exemplo,
· Boa apresentação pessoal: própria do bom- bombeiros, policiais, médicos, enfermeiros, etc. A
beiro, que traduz organização. Uma questão de bios- partir deste momento, estamos nos referindo à ética
segurança, devido ao risco de contaminação com do- profissional, mais conhecida como deontologia, que
enças infectocontagiosas. Destaque para a possibili- caracteriza-se como conjunto de normas ou princí-
dade de levar contaminação para a casa através do pios que têm por fim orientar as relações profissio-
uniforme, que deve ser lavado em separado das rou- nais entre pares, destes com os cidadãos, com sua
pas da família; guarnição de serviço, com as instituições a que ser-
· Discrição e sigilo: não revelar informações vem, entre outros.
pessoais ou relativas à situação clínica da vítima a Como a sua margem de aplicação é limitada ao
quem não esteja diretamente envolvido no atendi- círculo profissional, faz com que estas normas sejam
mento da emergência e que dessas informações de- mais específicas e objetivas, gerando o advento dos
vam ter conhecimento. Ex.: vítima que fez uso de dro- Códigos de Ética elaborados por associações de
gas; vítimas de trauma envolvidas em casos extras classe, como, por exemplo, o Código de Ética Médica
conjugais ou homossexuais, aspectos da doença ou Brasileiro.
dos traumas apresentados pela vítima;
O socorrista deve saber equilibrar os dois pra-
· Controlar o vocabulário: evitar conversação tos da balança que formam seu caráter profissional:
imprópria ou que perturbe ou aborreça a vítima e o lado técnico e o lado emocional. Caso haja uma
seus acompanhantes. Evitar o uso de gírias e pala- prevalência de qualquer um dos lados, o atendi-
vras de baixo calão; mento pode ser comprometido tanto pelo lado hu-
· Estabilidade emocional: ter controle emocio- mano, quanto pelo lado científico. O bombeiro socor-
nal, evitando envolvimento no atendimento da ocor- rista que tenha completo domínio do atendimento
rência e mantendo-se neutro aos acontecimentos; pré-hospitalar, mas que não tenha o discernimento

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necessário para atuar com atenção especial nos ca- A Portaria GM/MS n.º 1.863, de 29 de setem-
sos que assim requeiram, não possui o caráter ético- bro de 2003, trata da “Política Nacional de Atenção
profissional para ser socorrista. O mesmo se aplica às Urgências” trazendo novos elementos conceitu-
àquele que possua um equilíbrio emocional e não ais, como o princípio da humanização.
saiba as técnicas pré-hospitalares.
Parece estranho falar de humanização num
Para um atendimento pré-hospitalar satisfató- campo em que deveria ser implícito o “amor ao pró-
rio o socorrista deve possuir, além do equilíbrio emo- ximo”. Todavia, com o advento da vida moderna, a
cional e da competência técnico-científica, uma com- explosão demográfica e os parcos e poucos recursos
petência ética, fundamental para a humanização do e investimentos na área da saúde, fazem com que o
serviço. profissional, muitas vezes, tenha uma sensação de
impotência frente ao sofrimento de milhares de pes-
A competência ética no atendimento pré-hos-
soas, e, com isso faz crescer no seu íntimo, mesmo
pitalar é formada por três vertentes de relaciona-
que de modo imperceptível, mecanismos de defesa
mento, sendo elas:
em que cria uma verdadeira “casca”, não vendo na
● Socorrista e outros profissionais de saúde; vítima uma pessoa, mas um objeto que necessita de
● Socorrista e vítima; seus cuidados profissionais, visto que não tem a so-
lução para todas as mazelas criadas por falta de po-
● Socorrista e parentes/conhecidos/outros en- líticas públicas de saúde.
volvidos.
Necessário foi ao Ministério da Saúde humani-
As relações dos socorristas com outros profis- zar o serviço, através de um programa próprio, vi-
sionais de saúde não trazem muitos problemas, pois sando atenuar os efeitos desumanizantes, que retira
uma boa formação facilita o relacionamento. Resta- da pessoa humana seu mais importante valor: a dig-
nos analisar e fundamentar os princípios para um re- nidade.
lacionamento ético entre bombeiros e vítimas, e
bombeiros e parentes/conhecidos/outros envolvi- No caso do atendimento pré-hospitalar, o co-
dos no trauma. Estes dois tipos de relacionamentos nhecimento cientifico deveria ser, por si só, motivo
estão baseados em três princípios fundamentais: de sucesso para um resultado positivo quando no so-
corro à vítima. O que se tem observado recente-
● Respeito à pessoa; mente é que este fator, somado à estressante rotina
● Solidariedade; dos numerosos atendimentos diários nos grandes
centros, bem como a fragilidade do ser humano,
● Sentimento do dever cumprido. tanto do paciente como do socorrista (ambos envol-
Tendo por base estas três premissas, o socor- vidos com sentimentos de respeito, simpatia, empa-
rista saberá pautar suas atitudes e considerar as al- tia, angústia, raiva, medo, compaixão), o que tem ge-
terações emocionais decorrentes do trauma. Não se rado problemas no atendimento à vítima. Deixamos
deixará influenciar pela conduta social da vítima in- de ver nele muitas vezes o ser humano que está ne-
correndo num julgamento errôneo (fará um atendi- cessitado, hora pelo enfoque direto no trauma, hora
mento imparcial), atentará para os cuidados com a pela banalização do acidente.
exposição da vítima, terá atenção especial com cri- Necessário, então, é falar em humanização no
anças, e terá a seriedade como base para uma pos- atendimento pré-hospitalar. Então: o que é humani-
tura profissional que se espera. zação?
Um atendimento perfeito ocorre quando, - Podemos entendê-la como valor, na medida
mesmo com o sucesso do emprego de todas as técni- em que resgata o respeito
cas dominadas pelo socorrista, atende-se a digni-
dade da pessoa humana em todo seu alcance, anga- à vida humana, levando-se em conta as cir-
riando o respeito e a admiração da vítima e outras cunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas
pessoas envolvidas, pelo elevado grau de profissio- presentes em todo relacionamento humano.
nalismo. Humanizar o atendimento não é apenas cha-
Humanização: Um Abrandamento do Caráter mar a vítima pelo nome, nem ter um sorriso nos lá-
Técnico bios constantemente, mas também compreender

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seus medos, angústias e incertezas, dando-lhe apoio Doenças Infectocontagiosas mais relevantes:
e atenção permanente.
- SIDA (AIDS), infecção por HIV;
O profissional humanizado deve apresentar al-
- Hepatite A;
gumas características que tornam o atendimento a
um traumatizado mais digno: - Hepatite B;
● Focalizar não somente o objeto traumático, - Hepatite C;
mas também os aspectos globais que envolvem o pa- - Tuberculose;
ciente, não se limitando apenas às questões físicas,
mas também aos aspectos emocionais; - Doenças Menigocócicas (meningite);

● Manter sempre contato com a vítima, bus- - Cólera;


cando uma empatia por parte da mesma; - Rubéola (especialmente para o sexo femi-
● Prestar atenção nas queixas do paciente, nino);
tentando sempre que possível aliviar a dor do paci- - Leptospirose;
ente;
- Febre amarela;
● Manter a vítima, sempre que possível, infor-
mada quanto aos procedimentos a serem adotados; - Febre tifóide; e

● Respeitar o modo e a qualidade de vida do - Sarampo.


traumatizado; Transmissão das Doenças Infecto-Contagio-
● Respeitar a privacidade e dignidade do paci- sas:
ente, evitando expor o mesmo sem necessidade. A transmissão pode-se se dar pelo contato di-
reto e indireto:

5 BIOSSEGURANÇA Contato direto:


Caracterizado pelo contato pessoa-pessoa,
Conceito de biossegurança por gotículas de saliva (expelidas pela tosse), pelo
Significa VIDA + SEGURANÇA, em sentido am- beijo, por relações sexuais ou diretamente pela pele.
plo é conceituada como a vida livre de perigos. De Contato indireto:
forma mais ampla, entende-se biossegurança como
o conjunto de medidas que contribuem para a segu- Caracterizado pela a transmissão por meio de
rança da vida, no dia a dia das pessoas (exemplo: alimentos, vetores (mosquito para a dengue ou a ma-
cinto de segurança, faixa de pedestres). lária, urina do rato para a leptospirose etc.), ou obje-
tos contaminados (roupas, equipamentos etc.).
Assim, normas de biossegurança englobam to-
das as medidas que visam evitar riscos físicos (radia-
ção ou temperatura), ergonômicos (posturais), quí-
micos (substâncias tóxicas), biológicos (agentes in-
fecciosos) e psicológicos
(como estresse). RepresentandoFa maior preocupa-
i
ção do trabalho de bombeiro, os griscos biológicos de-
vem ser constantemente combatidos,
u prioritaria-
mente de forma preventiva. r
a
Doenças infectocontagiosas
2 Principais Formas de Contágio no Atendi-
São enfermidades causadas
P mento:
r por micro-orga-
nismos (bactérias, vírus ou parasitas)
e que são trans- - Contaminação das mãos do socorrista no
mitidas à outra pessoa através dac água, alimentos, contato direto com rádio de comunicação, maçane-
a (saliva, muco ou
ar, sangue, fezes, fluidos corporais tas, alça de sacola de PS, puxadores de portas, macas
u
vômito) ou ainda, pela picada deçinsetos transmisso- e pêra de esfigmomanômetro, contaminados;
res de doenças. ã
o
d Página | 5
e
c
o
n
t
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
- Exposição direta dos olhos, boca e mãos do Use luvas apenas quando houver risco de con-
socorrista às secreções da vítima; tato com sangue, secreções ou membranas muco-
sas. Calce-as imediatamente antes do contato com o
- Inalação de vírus e bactérias no ambiente
paciente e retire-as logo após o uso, higienizando as
onde a vítima se encontra;
mãos em seguida.
- Acidente com agulhas contaminadas durante
Use óculos, máscara e/ou avental quando
o atendimento; e
houver risco de contato de sangue ou secreções,
- Inobservância de normas de biossegurança para proteção da mucosa de olhos, boca, nariz,
durante o próprio processo de descontaminação dos roupa e superfícies corporais.
materiais.
Descarte, em recipientes apropriados, serin-
Sinais e Sintomas gas e agulhas, sem desconectá-las ou reencapá-las.
Dependem do tipo de enfermidade. Algumas Indicações: infecção ou colonização por mi-
vítimas de doenças infectocontagiosas não apresen- crorganismo multirresistente, varicela, infecções de
tam sinais ou sintomas evidentes ou observáveis. De pele e tecidos moles com secreções não contidas no
qualquer forma, procure atendimento médico se um curativo, impetigo, herpes zoster disseminado ou em
ou mais sinais e sintomas abaixo relacionados, forem imunossuprimido, etc.
observados após atendimento de ocorrência:
Use luvas e avental durante toda manipulação
- Febre; do paciente, de cateteres e sondas, do circuito e do
- Sudorese; equipamento ventilatório e de outras superfícies
próximas ao leito.
- Vômitos, náuseas, diarreia;
Coloque-os imediatamente antes do contato
- Alteração de coloração na pele; com o paciente ou as superfícies e retire-os logo após
- Cefaleia (dor de cabeça); o uso, higienizando as mãos em seguida.

- Tosse e dificuldade respiratória; e Quando não houver disponibilidade de quarto


privativo, a distância mínima entre dois leitos deve
- Mal-estar geral. ser de um metro.
Precauções padrão Equipamentos como termômetro, esfignoma-
Objetivando prevenir a transmissão de micro- nômetro e estetoscópio devem ser de uso exclusivo
organismos de um paciente a outros pacientes, à do paciente.
guarnição de resgate e aos profissionais de saúde, re- Indicações: meningites bacterianas, coquelu-
comenda-se a adoção das precauções padrão, evi- che, difteria, caxumba, influenza, rubéola, etc.
tando-se a transmissão por sangue, fluidos corpo-
rais, secreções e excreções com ou sem sangue visí- Quando não houver disponibilidade de quarto

F vel. São elas:


i privativo, o paciente pode ser internado com outros
g Higienização das mãos: lave com água e sabo-
nete
u ou friccione as mãos com álcool a 70% (se as infectados pelo mesmo microrganismo. A distância
mãos
r não estiverem visivelmente sujas) antes e após mínima entre dois leitos deve ser de um metro.
a
o contato com qualquer paciente, após a remoção
S O transporte do paciente deve ser evitado,
das
E
luvas e após o contato com sangue ou secreções. mas, quando necessário, ele deverá usar máscara ci-
Q rúrgica durante toda sua permanência fora do
F quarto.
i
g F Página | 6
u i
r g
a u
\ r
* a
A S
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Precaução padrão: higienize as mãos antes e Educação sanitária
após o contato com o paciente, use óculos, máscara
Quando se fala em educação sanitária é prio-
cirúrgica e/ou avental quando houver risco de con-
ridade lembrar que a educação dos profissionais atu-
tato de sangue ou secreções, descarte adequada-
antes constitui-se como elemento fundamental de
mente os pérfuro-cortantes.
um efetivo programa de controle e combate às infec-
ções. Sua adesão dar-se-á, de modo mais intensifi-
cado e natural, a partir do momento em que existe
F
maior poder de compreensão
i do como e porquê se proceder desta ou daquela
g forma, desde a base até o topo de suas orientações
u quanto aos procedimentos e normas.
r
a A educação sanitária deve ser ampla e preven-
Mantenha a porta do quarto SEMPRE Sfechada tiva, abrangendo desde hábitos de saúde (lavagem
E
e coloque a máscara antes de entrar no quarto. das mãos, alimentação equilibrada, atividades físicas
Q
etc.), cuidados e fiscalização com medidas de biosse-
Quando não houver disponibilidade deF quarto gurança próprias e de outros profissionais, até preo-
i
privativo, o paciente pode ser internado comg outros cupações com o meio ambiente e saúde ambiental.
pacientes com infecção pelo mesmo microrganismo.
u Os materiais educativos precisam ser apropriados
r
Pacientes com suspeita de tuberculose a resis-
em conteúdo e vocabulário de acordo com o nível
tente ao tratamento não podem dividir o \mesmo educacional, escolarização e linguagem do profissio-
quarto com outros pacientes com tuberculose. * nal.
A
O transporte do paciente deve ser Revitado, Todo o pessoal do Resgate precisa ser edu-
mas quando necessário o paciente deverá usar A más- cado continuamente acerca da doutrina e procedi-
cara cirúrgica durante toda sua permanênciaBfora do mentos operacionais de prevenção e controle de in-
I fecção da organização.
quarto.
C
3 O enfoque à higiene pessoal tem caráter prio-
P ritário, especialmente a limpeza e antisepsia das
r
e mãos. A técnica de lavagem das mãos deve ser se-
c guida rigorosamente.
u
ç
õ 5.1 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
e
s DO SERVIÇO DE APH
p
Considerações Especiais com as Precauções
a - Luvas de Procedimento ou Estéreis (quando
Padrão indicadas) - usadas quando houver contato com san-
r
aÉ de gue e fluidos corpóreos, mucosas ou peles não inte-
F a
responsabilidade de todo socorrista limitar a possibi- gras, para manuseio de artigos ou superfícies com
i e
lidade de infecção cruzada entre as vítimas. r sangue.
g
u No local da ocorrência recolher todo oo mate- Avental - utilizado em situações com grande
r s
rial utilizado para o atendimento à vítima. s exposição a sangue.
a
S Considerar toda vítima como provável o fonte Máscara - indispensáveis para proteção das
E i
de transmissão de doença infectocontagiosa.s vias aéreas;
Q
F Trocar o uniforme, quando houver exposição Óculos Protetores - limitam entradas de res-
i pingos de sangue e fluídos pelas porções superiores
direta com secreções da vítima.
g
u e laterais dos olhos.
ATENÇÃO: NÃO EXISTE RAZÃO QUE JUSTIFI-
r
QUE O ESQUECIMENTO DAS PRECAUÇÕES PADRÃO
a
DE\ BIOSSEGURANÇA.
*
A Página | 7
R
A
B
I
C
4
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
Principais alvos das medidas de biossegu- Processo químico recomendado: imersão do
rança artigo em detergente enzimático ou aplicação de so-
lução de hipoclorito de sódio a 0,5 % por 10 minutos.
São as áreas e os artigos que, no tocante ao
serviço de APH do bombeiro civil, referem-se especi- Limpeza
almente às viaturas, centros de material e aos mate-
Lavagem, enxágue e secagem do material.
riais de resgate. A escolha dos processos deverá es-
Tendo por objetivo remover totalmente a matéria
tar condicionada ao potencial de contaminação das
orgânica dos artigos.
áreas e artigos e dos riscos inerentes de infecção aos
pacientes e ao pessoal. Desinfecção
Áreas É o processo de destruição de micro-organis-
mos patogênicos ou não, na forma vegetativa (não
Pisos, paredes, tetos e móveis fixos (armá-
esporulada), de artigos considerados semicríticos,
rios, balcões, pias, etc.) de estabelecimentos de sa-
com o objetivo de evitar que a próxima pessoa ao
úde, onde se incluem as viaturas e as salas de higie-
utilizar o material seja contaminada, oferecendo se-
nização com seus armários e bancadas.
gurança ao usuário.
Artigos
O artigo deve estar totalmente seco.
Instrumentos de natureza diversa (tesouras,
Para este procedimento recomenda-se a utili-
cânulas orofaríngeas, pranchas curtas, etc.). São clas-
zação de soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%,
sificados quanto ao potencial de transmissão de in-
glutaraldeido a 2 % ou álcool etílico a 70%.
fecção para o paciente, em: críticos, semicríticos e
não críticos. Processo químico recomendado: deixar o ma-
terial imerso em um balde escuro e com tampa com
Artigos críticos
hipoclorito a 0,5% por 30 minutos (para cada um litro
Instrumentos ou objetos utilizados em inter- de água coloque um litro de hipoclorito de sódio 1%);
venções invasivas, que irão penetrar nos tecidos epi-
Esterilização
teliais, sistema vascular e em outros órgãos isentos
de flora microbiana própria. Estes materiais devem É o procedimento utilizado para a destruição
ser esterilizados. de todas as formas de vida microbiana, isto é, bacté-
rias, fungos, vírus e esporos, e artigos classificados
Artigos semicríticos
como críticos, com o objetivo de evitar que os usuá-
Artigos ou objetos que entram em contato rios sejam contaminados quando submetidos a tra-
com mucosa integra. Estes materiais devem ser de- tamento que exijam o uso desses artigos.
sinfetados.
Processo físico recomendado: vapor satu-
Artigos não-críticos rado sob pressão com utilização de autoclave.
Artigos ou objetos que entram em contato Processo químico recomendado: imersão to-
com a pele integra. Estes artigos devem ser limpos. tal do artigo em produto químico do grupo dos alde-
Entretanto, se houver suspeita ou confirmação por ídos (glutaraldeido ou formaldeido) por 10 horas.
agentes infecciosos transmissíveis, deve ser subme-
Processo físico-químico recomendado: óxido
tida a desinfecção.
de etileno.

5.2 PROCESSAMENTO DE ÁREAS E ARTIGOS


6 NOÇÕES DE ANATOMIA E FISIOLO-
Descontaminação Prévia
Contaminação por matéria orgânica (san-
GIA
gue, pus, secreções corpóreas) para a destruição de
Anatomia
micro-organismos patogênicos, antes de iniciar o
processo de limpeza. Tem o objetivo de proteger as É a ciência que trata da forma e da estrutura
pessoas que irão proceder à limpeza desses artigos. do corpo humano.
Fisiologia
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BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
É a parte da ciência que trata das funções or- Órgãos, aparelhos e sistemas
gânicas, processos ou atividades vitais, como cresci-
Os ÓRGÃOS são formados por tecidos ou
mento, nutrição, respiração, etc.
grupo de tecidos que desempenham funções especi-
Ambas são imprescindíveis ao socorrista ficas. Exemplos: o intestino, o fígado, o cérebro.
para o desenvolvimento seguro e eficaz de sua ativi-
Os APARELHOS são formados por órgãos de
dade. O socorrista deve aplicar os conhecimentos de
vários tecidos. Exemplos: o aparelho digestivo, o
anatomia e fisiologia a ponto de conseguir olhar para
aparelho respiratório, o aparelho circulatório.
o corpo de uma vítima e determinar mentalmente
pela posição, os principais órgãos, aqueles que pos- Os SISTEMAS são formados por órgãos de um
sam ter sido afetados e qual o papel que exercem no mesmo tecido. Exemplos: o sistema ósseo, o sistema
corpo analisando as consequências de seu compro- nervoso.
metimento e antecipando seus resultados no trata- Regiões do corpo
mento imediato. Não se espera do socorrista a
mesma profundidade de conhecimentos e lingua- O corpo humano pode ser dividido em cinco
gem tão especifica quanto ao exigido aos profissio- regiões: cabeça, pescoço, tronco e membros inferio-
nais da área medica, entretanto será importantís- res e superiores.
simo conhecer as estruturas básicas do corpo hu-
mano, sua localização e funcionamento dentro das
complexas
C funções do organismo.
a
Célula
b
e E a menor porção estrutural e funcional
P que
constitui
ç o ser vivo, só podendo ser observada,
e na
t s células
maioria
a dos casos, em microscópio. Algumas
r c
podem ser observadas sem auxílio do microscópio,
o m
o
como por exemplo o ovo. ç e
n
o m
c
b
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o
s
s
u
p
m e
e r
m
i
b
r o
o r
s e
Tecido
i s
n O tecido e um conjunto de células de forma
e função semelhantes.
f
e
r
i
o
r
e
s

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ção pulmonar (pequena circulação) leva o sangue po-
bre em oxigênio desde o ventrículo direito até os pul-
mões e o traz o sangue oxigenado de volta até o átrio
esquerdo.
Sangue

1 2
- - É um fluido complexo composto de uma
parte líquida e de elementos celulares. A parte lí-
Q Q
quida do sangue é chamada de plasma e contém vá-
3S S4 rias substâncias entre as quais os anticorpos e os fa-
-D E- tores de coagulação. Os elementos celulares são as
Q Q hemácias (glóbulos vermelhos ou eritrócitos), os leu-
I cócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. A hemácia
I
1- QSD (quadrante superior direito) Fígado contém hemoglobina e são responsáveis pelo trans-
E
parte do Estômago, pâncreas, veia cava inferior,
E rim porte de oxigênio desde os pulmões até as células do
direito e intestinos. organismo, elas vivem apenas algumas semanas e
2- QSE (quadrante superior esquerdo) Estô- quando envelhecidas são retiradas da circulação
mago, baço, rim esquerdo e intestinos. pelo baço e fígado.
3- QID (quadrante inferior direito) apêndice, Os leucócitos são células responsáveis pela
vasos ilíacos e Intestinos. nossa defesa imunológica, além de produzirem os
anticorpos eles atacam diretamente os micro-orga-
4- QIE (quadrante inferior esquerdo) vasos ilí-
nismos visando a sua destruição.
acos e Intestinos.
Aparelho Circulatório (C)
O aparelho circulatório (cardiovascular) é o
responsável pela circulação do sangue através de
todo o organismo. Seus componentes são o sangue,
o coração e os vasos sangüíneos.
O sangue circula através de dois circuitos pa-
ralelos: a circulação pulmonar e a circulação sistê-
mica. A circulação sistêmica (grande circulação) car-
rega o sangue oxi-
genado (arterial) As plaquetas participam do processo de coa-
desde o ventrículo gulação.
esquerdo para to-
das as regiões do
organismo e traz O volume de sangue circulante corresponde
de volta o sangue de 7 a 8% do peso corporal. Assim um indivíduo de
pobre em oxigênio 70 kg apresenta em média de 4,9 a 5,6 litros de san-
(venoso) até o átrio gue.
direito. A circula-
Coração

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i
g
u
r
a
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É a bomba que promove a circulação do san- Vasos sanguíneos
gue através dos vasos sanguíneos. É um órgão oco,
composto de um tipo especial de músculo involuntá-
rio, o músculo estriado cardíaco, é do tamanho apro-
ximado de um punho fechado.
O coração localiza-se no tórax logo atrás do
esterno e acima do diafragma.

F
i
g São as artérias, arteríolas, capilares, veias e
u vênulas.
r
a Artérias
S
E
São os vasos que saem levando sangue do
Q coração para a circulação pulmonar ou sistêmica. A
F principal artéria do organismo é a aorta. A aorta dá
i origem a vários ramos que irrigam praticamente to-
g
dos as partes do corpo.
u
r Arteríolas
a
\ As artérias vão se bifurcando e se ramifi-
* cando até formarem as arteríolas que são os vasos
A
arteriais de menor calibre antes de se chegar nos ca-
R
A pilares.
B
Capilares
I
C São os vasos sanguíneos de menor calibre e
1 sua parede pode ter apenas uma camada de células
3
C de espessura. Estão distribuídos por todo o orga-
i nismo formando uma rede que está em intimo con-
O sangue venoso pobre em oxigênio e rico
r tato com todas as células. Suas paredes finas permi-
emc dióxido de carbono e resíduos do metabolismo tem que haja troca de substâncias entre as células
celular
u volta ao coração através das veias cavas e de-
dos tecidos e o sangue: oxigênio e nutrientes são li-
semboca no átrio direito. Do átrio direito o sangue
l
a berados para as células que por sua vez se desfazem
passa ao ventrículo direito de onde será bombeado
ç do dióxido de carbono e dos resíduos metabólicos.
para
ã
os pulmões através das artérias pulmonares.
o Veias
No pulmão o sangue sofre a hematose e re-
torna para o átrio esquerdo através das veias pulmo- Após banharem todos os tecidos os capilares
nares (pequena circulação). O ventrículo esquerdo se agrupam formando veias. A válvulas vão se agru-
recebe o sangue do átrio esquerdo e o bombeia para pando em veias cada vez mais calibrosas que final-
todo o organismo através da aorta (grande circula- mente desembocam em uma das duas veias cava. A
ção). pressão no interior das veias é bastante inferior à
pressão arterial, por isso enquanto o sangramento
O coração bombeia em média 5 litros de san-
arterial se faz em jatos o venoso se faz por derrama-
gue por minuto
mento.
F quando em repouso.
i
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a
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e
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f
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s
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6.1 SINAIS VITAIS filiforme, geralmente está associado à diminuição do


volume sanguíneo (hipovolemia).
Os sinais vitais são indicadores das funções
vitais e podem orientar o diagnóstico inicial e o Podem ser considerados normais os seguin-
acompanhamento da evolução do quadro clínico da tes índices de frequência cardíaca:
vítima. São eles: ● Adultos – 60 a 100 bpm;
● Pulso; ● Crianças – 80 a 120 bpm;
● Respiração; ● Bebês – 100 a 160 bpm.
● Pressão arterial; Taquicardia
● Temperatura. Taquicardia é o aumento da frequência car-
Sua verificação é essencial na avaliação da ví- díaca (acima de 100 bpm nos adultos).
tima, devendo ser realizada simultaneamente à his- Embora a ansiedade e a dor possam causar
tória e ao exame físico. taquicardia, em vítimas de trauma, até prova em
Na obtenção dos sinais vitais devemos con- contrário, devemos julgar que ela seja decorrente de
siderar as seguintes condições: hipóxia ou choque hipovolêmico ou cardiogênico.

● Condições ambientais, tais como tempera- Bradicardia


tura e umidade no local, que podem causar variações Bradicardia é a diminuição da frequência
nos valores; cardíaca (abaixo de 60 bpm nos adultos). Pode estar
● Condições pessoais, como exercício físico re- associada também a doenças primárias do coração
cente, tensão emocional e alimentação, que tam- ou doenças da tireóide.
bém podem causar variações nos valores; Locais para Obtenção do Pulso
● Condições do equipamento, que devem ser Os melhores locais para se palpar o pulso são
apropriados e calibrados regularmente. onde artérias de grosso calibre se encontram próxi-
O socorrista deve estar atento, pois o uso de mas à superfície cutânea e possam ser comprimidas
equipamentos inapropriados ou descalibrados po- contra uma superfície firme (normalmente um osso).
dem resultar em valores falsos. As artérias radiais, ao nível dos punhos, são mais co-
mumente usadas na checagem do pulso em vítimas
conscientes. As artérias carótidas, ao nível do pes-
coço, são normalmente usadas para palpação do
6.1.1 Pulso
pulso em vítimas inconscientes.
Pulso é a onda provocada pela pressão do Pode-se também sentir o pulso palpando as
sangue contra a parede arterial cada vez que o ven- seguintes artérias: femoral na raiz da coxa, braquial
trículo esquerdo se contrai. Em locais onde as arté- no braço, axilar na axila e pedioso no dorso do pé.
rias de grosso calibre se encontram próximas à su- Também podermos medir o pulso pela ausculta car-
perfície cutânea, pode ser sentido à palpação. Cada díaca, no ápice ou ponta do coração, no lado es-
onda de pulso sentida é um reflexo do débito cardí- querdo do tórax, levemente abaixo do mamilo (pulso
aco, pois a frequência de pulso equivale à frequência apical).
cardíaca.
A determinação do pulso é parte integrante 6.1.2 Respiração
de uma avaliação cardiovascular. Além da frequência Respiração é o processo através do qual
cardíaca (número de batimentos cardíacos por mi- ocorre troca gasosa entre a atmosfera e as células do
nuto), os pulsos também devem ser avaliados em re- organismo. É composta pela ventilação e pela hema-
lação ao ritmo (regularidade dos intervalos - regular tose. Na ventilação ocorre a entrada de ar rico em
ou irregular) e ao volume (intensidade com que o oxigênio para os pulmões (inspiração) e a eliminação
sangue bate nas paredes arteriais - forte e cheio ou de ar rico em dióxido de carbono para o meio ambi-
fraco e fino). O pulso fraco e fino, também chamado ente (expiração).
A avaliação da respiração inclui:
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- Frequência respiratória (movimentos respi- ● Adultos – 120/80 mmHg;
ratórios por minuto – mrpm);
● Idosos – 140 a 160/90 a 100 mmHg.
- Caráter (superficial e profunda) e
6.1.4 Temperatura
- Ritmo (regular e irregular).
Existem vários fatores que influenciam no
Deve ser avaliada sem que a vítima perceba. controle da temperatura corporal. A temperatura re-
A frequência respiratória pode variar com a flete o balanceamento entre o calor produzido e o
idade: calor perdido pelo corpo.
● Adultos – 12 a 20 movimentos respirató- A temperatura do corpo é registrada em
rios por minuto (mrpm); graus célsius (centígrados).
● Crianças – 20 a 30 mrpm; O índice normal de temperatura é de 37ºC,
admitindo-se variações de até 0,6ºC para mais ou
● Bebês – 30 a 60 mrpm.
para menos. As crianças têm temperaturas mais al-
Outros fatores podem alterar a respiração tas que os adultos, porque seu metabolismo é mais
como exercícios físicos, hábito de fumar, uso de me- rápido. Tem-se observado que a temperatura do
dicamentos e fatores emocionais. corpo é mais baixa nas primeiras horas da manhã, e
Podem ser encontradas as seguintes altera- mais alta no final da tarde ou no início da noite.
ções nos padrões respiratórios: A temperatura corporal pode se elevar em
● Apnéia – Cessação intermitente (10 a 60 situações de infecção, trauma, medo, ansiedade, etc.
segundos) ou persistente (parada respiratória) das Exposição ao frio e choque são causas frequentes de
temperatura abaixo do normal.
respirações;
Locais para Verificação da Temperatura
● Bradipnéia – Respiração lenta e regular;
A temperatura corporal pode ser medida
● Taquipnéia – Respiração rápida e regular;
nos seguintes locais:
● Dispnéia – Respiração difícil que exige es-
forço aumentado e uso de músculos acessórios. - Boca – Temperatura Oral
- Canal anal – Temperatura Retal
- Axila – Temperatura axilar.
6.1.3 Pressão Arterial
A pressão arterial (PA) é a pressão exercida 6.2 CINEMÁTICA DO TRAUMA
pelo sangue no interior das artérias.
Trauma é uma lesão caracterizada por uma
O sangue sempre está sob pressão no inte-
alteração estrutural ou fisiológica resultante da ação
rior das artérias. Durante a contração do ventrículo
de um agente externo que resulta na exposição a
esquerdo (sístole) a pressão está no seu valor má-
uma energia (mecânica, térmica, elétrica), esta ener-
ximo, sendo chamada pressão sistólica ou máxima.
gia pode ter origens bio-físico-químicas.
Durante o relaxamento do ventrículo esquerdo (di-
ástole) a pressão está no seu valor mínimo ou basal, As mortes ocasionadas por traumas ocupam
sendo chamada pressão diastólica ou mínima. entre a segunda ou terceira posição geral na morbi-
dade dos países, (perdendo apenas para as doenças
Valores médios de pressão arterial conside-
cardiovasculares e neoplasias). Porém entre os indi-
rados ideais de acordo com a idade:
víduos das faixas etárias inferiores a 40 anos é a prin-
● 04 anos – 85/60 mmHg; cipal causa de morte.
● 06 anos – 95/62 mmHg; No mundo o trauma é a principal causa de
morte do indivíduo jovem. Mais de 120.000 brasilei-
● 10 anos – 100/65 mmHg;
ros morrem por ano em consequência de acidentes
● 12 anos – 108/67 mmHg; e estima-se de quatro a cinco vítimas com sequelas
● 16 anos – 118/75 mmHg; permanentes para cada óbito.

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Frente a esta realidade, é fundamental que vítima. O entendimento do mecanismo de lesão re-
se desenvolvam serviços de atendimento pré-hospi- duz a possibilidade do Socorrista não reconhecer
talar eficazes em analisar a cena do acidente obser- uma lesão grave e permite que seja desenvolvida
vando os mecanismos que produziram o trauma. tecnologia de proteção. Para possibilitar este estudo
Dessa forma é possível detectar precocemente as le- é necessário que o Socorrista conheça algumas leis
sões potencialmente fatais e iniciar o tratamento da básicas da física:
vítima da forma mais rápida possível, aumentando as
- Lei da Conservação da Energia: a energia não
chances de sobrevida.
pode ser criada nem destruída, mas sua forma pode
Mais de 90% das lesões de qualquer vítima ser modificada.
de acidente podem ser sugeridas através da observa-
- Primeira Lei de Newton: um corpo em movi-
ção e interpretação dos mecanismos que as produzi-
mento ou em repouso permanece neste estado até
ram.
que uma força externa atue sobre ele.

“Saber onde procurar lesões e tão impor- - Segunda Lei de Newton: força é igual a massa
tante quanto saber o que fazer após encon- (peso) do objeto multiplicada por sua aceleração.
tra-las” - Energia Cinética: é a energia do movimento.
É igual à metade da massa multiplicada pela veloci-
Definição dade elevada ao quadrado.

Denominamos cinemática do trauma o pro- - Troca de Energia: quando dois corpos se mo-
cesso de avaliação da cena do acidente, para deter- vimentando em velocidades diferentes interagem, as
minar as lesões resultantes das forças e movimentos velocidades tendem a se igualarem.
envolvidos. - Efeito de Cavitação: quando um objeto em
No momento em que a equipe de socorro movimento colide contra o corpo humano ou quando
chega à cena do acidente e observa os danos, posi- este é lançado contra um objeto parado ocorre uma
ção das vítimas, condições de segurança, suas lesões transferência de energia. Os tecidos humanos são
aparentes etc., está analisando a cinemática do deslocados violentamente para longe do local do im-
trauma. O conjunto dessas informações permite pacto, criando uma cavidade. A cavidade pode ser:
identificar lesões inaparentes e estimar a gravidade Temporária - não é visualizada na avaliação da
do estado da vítima. vítima. Surge no momento do impacto, mas a seguir
Cada vítima de trauma aparenta ter próprias os tecidos conservam sua elasticidade e retornam a
e exclusivas lesões, mas muitas possuem traumatis- sua condição inicial. Ex: soco desferido no abdome -
mos semelhantes, conforme as forças envolvidas no pode não deixar marcas externas visíveis após defor-
acidente. Analisando os mecanismos que pro- mar profundamente a parede abdominal, inclusive
duziram os ferimentos e entendendo-os, os socorris- atingindo órgãos internos.
tas ficam mais aptos para diagnosticar ferimentos Definitiva - a deformidade é visível após o im-
ocultos, ou pelo menos para suspeitar das lesões. pacto. É causada por compressão, estiramento e rup-
O conceito da cinemática do trauma baseia- tura dos tecidos. Um projétil de arma de fogo que
se em princípios fundamentais da física. atinge o corpo humano provoca além da cavidade
definitiva, a temporária causada pela compressão
Princípios básicos da física dos tecidos ao redor da via de penetração. Isto tem
A energia se apresenta em cinco formas bá- importância para compreendermos que a destruição
sicas: (1) mecânica ou cinética, (2) térmica, (3) quí- dos tecidos não é restrita ao trajeto do projétil. Na
mica, (4) elétrica, e (5) radiação. A energia mecânica avaliação da vítima observa-se apenas a cavidade
(movimento) permanece como o agente de lesão definitiva.
mais comum e é o agente dos acidentes automobi- Analisando o mecanismo de trauma é possí-
lísticos, quedas, traumatismos penetrantes e por ex- vel estimar o tamanho da cavidade no momento do
plosão. impacto, assim como as demais lesões decorrentes.
A cinemática do trauma estuda a transferên-
cia de energia de uma fonte externa para o corpo da
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O conhecimento e a apreciação do meca- • a quantidade de energia transmitida e;
nismo de trauma permitem que o socorrista mante-
• a forma como as forças afetaram a vítima.
nha um elevado índice de suspeita para auxiliar na
busca de lesões. As vítimas envolvidas em eventos de Exemplos: altura da queda, calibre da arma,
alta energia são propensas a possuir lesões graves, e tamanho da lâmina, velocidade.
5% a 15% deles, apesar de sinais vitais normais e de Pós-colisão
não possuírem lesões corporais na primeira avalia-
ção, evidenciam lesões graves em exames posterio- As informações conseguidas nas fases ante-
res. riores são usadas para uma abordagem mais efici-
ente da vítima na fase pós-colisão, que se inicia tão
O mecanismo de trauma é uma ferramenta logo a energia tenha sido absorvida pelo paciente.
importante de triagem. A severidade dos danos ao
veículo é utilizada como um instrumento de triagem. Colisões de veículos

As lesões por movimento (mecânicas) são as Você deve considerar as colisões de veículo
principais causas de mortalidade por trauma. Sem- como ocorrendo em três eventos distintos:
pre considerar a lesão potencial como presente até Colisão da máquina - Colisão do corpo –
que esta seja afastada no ambiente hospitalar.
Colisão de órgãos
Existem três mecanismos básicos de lesões
por movimento: Ao examinar o carro colidido observamos as
seguintes evidências de trauma da vítima:
∙ Desaceleração frontal rápida;
Deformidade do veículo (indicação das forças
∙ Desaceleração vertical rápida; envolvidas);
∙ Penetração de projétil. Deformidade de estruturas interiores (indica-
Na avaliação da cinemática do acidente, deve- ção de onde a vítima colidiu) e
se estar atento às três fases de evolução da vítima de Padrões de lesão da vítima (indicação de
trauma, a saber: (1) Pré-colisão; (2) Colisão e (3) Pós- quais partes do corpo podem ter colidido).
colisão – vamos considerar a colisão não apenas em
acidente automobilístico, mas também como a de As colisões de veículos ocorrem em várias
qualquer objeto contra o corpo humano. formas e cada uma delas é associada com certos pa-
drões de lesão. As quatro formas comuns de aciden-
Pré-colisão tes com veículos automotores são:
Começa por dados como ingestão de álcool ∙ Colisão frontal;
ou drogas, doenças preexistentes, condições climáti-
cas e idade da vítima (por exemplo: as estruturas da
criança são mais flexíveis do que de uma pessoa
idosa).
Colisão
Talvez mais importante fase da anamnese
do trauma é a da colisão, que começa quando um ob-
jeto colide com outro, provocando transmissão de
energia entre eles.
O segundo objeto pode estar em movimento
ou estacionado, e qualquer dos objetos (ou ambos)
pode ser um corpo humano. ∙ Colisão lateral;
Nesta fase, são considerações importantes
para o atendimento:
• a direção em que ocorreu a variação de ener-
gia;

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- Manobras evasivas;
- Uso do capacete;
- Vestes de proteção (por exemplo, roupas de
couro, capacete, botas).
Os acidentes de motocicletas são responsá-
veis por grande número de mortes todos os anos. En-
tre os que não morrem, muitos sofrem trauma de
crânio e coluna e ficam com graves sequelas. É muito
importante que os motociclistas usem o capacete.
Os capacetes previnem traumas de cabeça (que cau-
sam 75% das mortes). Os capacetes não protegem a
coluna. Devido à falta de proteção da cabina, existe
frequência mais elevada de lesões de cabeça, pes-
coço e extremidades.
∙ Colisão traseira;

Atropelamentos
As lesões produzidas nos atropelamentos
tendem a ser mais graves, pois o pedestre tem menos
proteção que o ocupante de um veículo em que a car-
roceria absorve parte da energia cinética da colisão.
O pedestre atingido por um carro quase
sempre sofre lesões internas graves, mesmo que o
carro esteja à baixa velocidade.

∙ Capotagem.

Motocicletas
Traumatismos por desaceleração vertical
A queda se caracteriza por uma desacelera-
ção vertical rápida.
No atendimento às vítimas de queda, a
equipe de socorro deve conhecer:
- Altura da queda.
Os motociclistas não estão dentro de cabinas - Tipo de superfície com que a vítima colidiu,
com equipamentos de contenção. por exemplo – gramado/concreto
Quando o motociclista é submetido às coli- - Parte do corpo que sofreu o primeiro im-
sões sua única forma de proteção é: pacto.
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- Estas informações permitem a suspeita de le- da coluna lombar e cervical; forças de desaceleração
sões e orientam o tratamento. vertical para os órgãos; fraturas nos punhos.
Como a velocidade na queda aumenta com Traumatismos penetrantes
a altura, grandes alturas predispõem a lesões mais
Nos ferimentos penetrantes é produzida uma
graves.
cavidade permanente pela passagem do objeto atra-
Cabe-nos determinar a parte do corpo que so- vés do corpo.
freu o primeiro impacto e, consequentemente, de-
Por arma de fogo
duzir as lesões relacionadas.
O projétil é impulsionado através do cano de
Os grupos mais envolvidos em quedas são os
uma arma pela expansão dos gases produzidos pela
adultos e as crianças com menos de cinco anos.
queima do propulsor.
Altura
Quando o projétil atinge o corpo humano
Quanto maior a altura, maior o potencial da sua energia cinética se transforma na força que
lesão. Porém, não seja enganado acreditando que afasta os tecidos de sua trajetória.
existe pouco risco de lesão em quedas de baixa al-
Tamanho do projétil - quanto maior a bala,
tura. A relação entre sobrevida e altura da queda não
maior a resistência oferecida pelos tecidos e maior a
é absoluta, existem casos de óbito em quedas da pró-
lesão produzida pela sua penetração.
pria altura e de sobrevida em quedas de grandes al-
turas. Fatores que influenciam diretamente a le-
são:
Como referência, considera-se grave a queda
de altura três vezes maior do que a altura da vítima. - Deformidade do projétil - balas de “nariz ma-
cio” achatam-se na ocasião do impacto, comprome-
Ponto de impacto
tendo maior superfície.
A densidade da superfície (concreto versus
- Projétil com jaqueta - a jaqueta se expande e
serragem) e irregularidade (chão de um ginásio de
amplia a superfície do projétil.
esportes versus uma escadaria) também influência o
potencial de severidade da lesão. - Giro - o giro do projétil amplia seu poder de
destruição.
A superfície onde ocorre o impacto tem
grande importância, choques contra superfícies que - Desvio - o projétil pode oscilar vertical e hori-
se deformam têm um maior tempo para desacelera- zontalmente ao redor do seu eixo, ampliando seu po-
ção e dissipação de energia cinética do que impactos der de destruição.
contra superfícies rígidas. - Distância do tiro - quanto mais próximo o dis-
Área do corpo atingida paro, maior a lesão produzida.
As lesões da cabeça são comuns em crianças, - Fragmentação do projétil - aumenta a área
pois esta é a parte mais pesada do corpo e deste de dissipação da energia cinética, maior cavitação,
modo é a primeira a sofrer o impacto. maiores danos.
As quedas de adultos são geralmente aciden- - Densidade dos tecidos atingidos - o dano pro-
tes de trabalho ou ocorrem sob influência de álcool e duzido é proporcional à densidade do tecido. Órgãos
drogas. Os adultos tentam aterrissar sobre os pés e altamente densos, como ossos e tendões, sofrem
suas quedas são mais controladas. mais danos do que os menos densos.
Nesta forma de aterrissar, a vítima geral- Devemos lembrar que, ao percorrer o corpo,
mente sofre o primeiro impacto nos pés e depois cai a trajetória da bala nem sempre será retilínea, so-
para trás atingindo o solo com as nádegas e as mãos frendo desvios e atingindo órgãos insuspeitados.
estendidas. FAF têm três componentes:
Este padrão de queda pode resultar em múl- Orifício de entrada: ao redor pode ter tatua-
tiplas lesões em potencial: fraturas dos pés ou das gem da pólvora, área de queimadura e abrasão da
pernas; lesões de quadril e pelve; compressão axial pele.

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pode ocorrer em qualquer lugar. A gravidade das le-
sões depende da força da explosão e da distância da
vítima. Quanto mais próxima, maiores danos.
A energia contida no explosivo é convertida
em luz, calor e pressão.
Luz: pode causar dano ocular, sendo o pri-
meiro agente a atingir a vítima.
Calor: produzido pela combustão do explo-
Orifício de saída: nem todos os orifícios de sivo, é influenciado principalmente pela distância, in-
entrada têm um orifício de saída correspondente, al- tensidade e pela existência de barreiras de proteção
gumas vezes pode haver múltiplos orifícios de saída (roupas, paredes) entre a vítima e a explosão.
devido à fragmentação óssea e do projétil. Geral-
mente o orifício de saída é maior e tem as bordas ir-
regulares para fora. Mecanismos de lesão por explosão
Lesão interna: projéteis de baixa velocidade in- Devem-se a três fatores:
fligem dano principalmente aos tecidos que estão em
contato direto com eles. Primário: deslocamento de ar inicial, criando
onda de pressão.
Secundário: vítima sendo atingida por mate-
rial lançado pela força da explosão.
Terciário: o corpo sendo lançado e atingindo
o solo ou outro objeto.
Lesões secundárias e terciárias são as mais
óbvias e são usualmente as mais agressivamente tra-
tadas, contudo as lesões primárias são as mais gra-
ves e em geral são negligenciadas e algumas vezes
nunca suspeitas. A avaliação adequada dos vários ti-
pos de lesões é vital para o Socorrista tratar a vítima
corretamente.

Lesões por explosão


Explosão é definida como uma rápida dissi-
pação de energia.
Esses acidentes, antes relacionados somente
aos períodos de guerra, estão tornando-se cada vez
mais comuns no mundo civilizado, visto acontece-
rem em refinarias, lojas de fogos de artifício, estalei-
ros, indústrias, minas e também em domicílios, pela
explosão de botijões de gás. 7 AVALIAÇÃO INICIAL
Entretanto, muitos materiais voláteis trans-
portados por caminhões ou trens e gás doméstico Em uma cena, a situação envolve todos os fa-
são itens domésticos comuns, assim uma explosão tores que possam afetar a escolha do atendimento a

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ser dado ao paciente. Esses fatores incluem, mas cer-  Vítima incapaz de se mover;
tamente não se limitam a riscos no local, número de
Conduta:
vítimas envolvidas, localização da vítima, posição do
veículo, contaminação ou preocupação com materi-  Não fazer avaliação da vítima;
ais perigosos, incêndio (ou probabilidade de), condi-  Vítima retirada do incêndio;
ções climáticas, controle e segurança da cena com a  Vítima colocado em prancha:
presença da polícia, tempo/distância dos cuidados  Vítima levada para longe do incêndio;
médicos, número de profissionais envolvidos no  Avaliação completa da vítima;
atendimento e outros profissionais ajudantes no lo-  Vítima transportada rapidamente ao hospi-
cal, outros meios de transporte disponíveis à distân- tal.
cia (ex. helicópteros e ambulâncias adicionais), e
muitos outros fatores. Todas as condições podem
mudar constantemente. Esses fatores e muitos ou- Situação 04:
tros irão variar da forma como você, no papel de so-  Situação de combate com agressor no local
corrista pré-hospitalar, poderá responder às necessi- com arma de fogo atirando ativamente;
dades do paciente.  Policial com ferimento por arma de fogo no
Alguns exemplos de como a situação afeta o joelho e hemorragia severa.
procedimento: Conduta:
Situação 01:  Avaliação à distância;
 Acidente automobilístico;  Presença de outros ferimentos;
 Para-brisa estilhaçado em olho de boi;  Capacidade de ainda atirar sua arma;
 Dia quente ensolarado;  Orientar à distância o policial a realizar con-
 Estrada sem tráfego. tenção de sua própria hemorragia;
 Orientar o policial a ficar em local protegido;
Conduta:  Fazer o resgate quando as condições permi-
 Vítima é atendida dentro do veículo; tirem.
 Colar cervical é aplicado;
 Imobilizar vítima na prancha;
 Gira-lo para realizar imobilização na pran- Concluímos que as variações de situação no
cha; local afetam diretamente a conduta e os procedi-
 Vítima removida do automóvel; mentos a serem realizados. São necessários padrões
 Colocado na maca; de atendimento para que esse possa ser realizado or-
 Avaliação física completa; ganizadamente.
 Transporte para o hospital. O atendimento inicial à vítima de trauma se di-
vide em quatro etapas sequenciais:

Situação 02: 1) Controle de cena;

 Idêntica à acima, porém com vazamento de 2) Abordagem primária;


gasolina no tanque; 3) Abordagem secundária;
 Preocupação com incêndio.
4) Sinais vitais e escalas de coma e trauma.
Conduta:
 Utilizar técnica de remoção rápida; 7.1 CONTROLE DE CENA
 Vítima removida para longe do veículo;
 Avaliação física completa; Segurança do Local
 Transporte para o hospital. Antes de iniciar o atendimento propriamente
dito, a equipe de socorro deve garantir sua própria
condição de segurança, a das vítimas e a dos demais
Situação 03:
presentes. De nenhuma forma qualquer membro da
 Casa totalmente em chamas; equipe deve se expor a um risco com chance de se
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transformar em vítima, o que levaria a deslocar ou Na abordagem primária, havendo mais de
dividir recursos de salvamento disponíveis para uma vítima, o atendimento deve ser priorizado con-
aquela ocorrência. forme o risco, ou seja, primeiro as que apresentem
risco de morte, em seguida as que apresentem risco
Mecanismo de Trauma
de perda de membros e, por último todas as demais.
Enquanto se aproxima da cena do acidente, o Esta recomendação não se aplica no caso de aci-
socorrista examina o mecanismo de trauma, obser- dente com múltiplas vítimas, onde os recursos para
vando e colhendo informações pertinentes. Em uma o atendimento são insuficientes em relação ao nú-
colisão entre dois veículos, por exemplo, avaliar o mero de vítimas e, por tanto, o objetivo é identificar
tipo de colisão (frontal, lateral, traseira), veículos en- as vítimas com maiores chances de sobrevida. A
volvidos, danos nos veículos, número de vítimas, po- abordagem primária é realizada em duas fases:
1) Abordagem primária rápida;
2) Abordagem primária completa.
Abordagem Primária Rápida
É a avaliação sucinta da respiração, circulação
e nível de consciência. Deve ser completada em no
máximo 30 segundos. Tem por finalidade a rápida
sição dos veículos e das vítimas, etc.
identificação de condições de risco de morte, o início
precoce do suporte básico de vida (SBV) e o desen-
7.2 ABORDAGEM PRIMÁRIA cadeamento de recursos de apoio, tais como médico
no local e aeronave para o transporte.
Visa identificar e manejar situações de ameaça
à vida, A abordagem inicial é realizada sem mobilizar Na abordagem primária rápida devem ser se-
a vítima de sua posição inicial, salvo em situações es- guidos os seguintes passos:
peciais que possam comprometer a segurança ou 1) Aproximar-se da vítima pelo lado para o qual a
agravar o quadro da vítima, tais como: face da mesma está voltada, garantindo-lhe o
- Situações climáticas extremas: Geada, chuva, controle cervical.
frio, calor, etc.; 2) Observar se a vítima está consciente e respi-
rando. Tocando o ombro da vítima do lado
- Risco de explosão ou incêndio; oposto ao da abordagem, apresente-se,
- Risco de choque elétrico; acalme-a e pergunte o que aconteceu com ela:
“Eu sou o.... (nome do socorrista), do Corpo de
- Risco de desabamento.
Bombeiros, ou bombeiro civil e estou aqui para
Obs.: Só se justifica mobilizar a vítima de sua te ajudar. O que aconteceu contigo? ” Uma res-
posição inicial na abordagem primária quando a situ- posta adequada permite esclarecer que a vítima
ação de risco não possa ser afastada. Por exemplo: está consciente, que as vias aéreas estão per-
Havendo risco de choque elétrico e sendo possível a meáveis e que respira. Caso não haja resposta,
examinar a respiração. Se ausente a respiração,
iniciar as manobras de controle de vias aéreas e
a ventilação artificial.

3) Simultaneamente palpar pulso radial (em vítima


inconsciente palpar direto o pulso carotídeo) e
definir se está presente, muito rápido ou lento.
interrupção da passagem de energia, não há neces- Se ausente, palpar pulso de artéria carótida ou
F
sidade de mobilizar a femoral (maior calibre) e, caso confirmado que
vítima.
i a vítima está sem pulso, iniciar manobras de re-
g animação cardiopulmonar.
u
r
a
C Página | 20
o
n
t
r
o
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5) Passo “E” (Exposure) – Exposição da vítima
(para abordagem secundária).
Lembre-se de somente passar para próximo
passo após ter completado o passo imediatamente
anterior. Durante toda a abordagem da vítima o con-
trole cervical deve ser mantido. Suspeitar de lesão de
coluna cervical em toda vítima de trauma.
PASSO “A” – VIAS AÉREAS COM CONTROLE
CERVICAL
Após o controle cervical e a identificação, per-
gunte à vítima o que aconteceu. Uma pessoa só con-
segue falar se tiver ar nos pulmões e se ele passar pe-
las cordas vocais. Portanto, se a vítima responder
normalmente, é porque as vias aéreas estão permeá-
veis (passo "A" resolvido) e respiração espontânea
(passo "B" resolvido). Seguir para o passo "C".
4) Verificar temperatura, umidade e coloração da Se a vítima não responder normalmente, exa-
pele e enchimento capilar. Palidez, pele fria e minar as vias aéreas. Desobstruir vias aéreas de san-
úmida e tempo de enchimento capilar acima de gue, vômito, corpos estranhos ou queda da língua,
dois segundos são sinais de comprometimento garantindo imobilização da coluna cervical. Para a
da perfusão oxigenação dos tecidos (choque hi- manutenção da abertura das vias aéreas pode ser
povolêmico por hemorragia interna ou externa, utilizada cânula orofaríngea ou nasofaríngea. Es-
por exemplo), que exigem intervenção imediata. tando as vias aéreas desobstruídas, passar para o
5) Observar rapidamente da cabeça aos pés procu- exame da respiração (passo "B").
rando por hemorragias ou grandes deformida-
des. PASSO “B” – RESPIRAÇÃO
6) Repassar as informações para a Central de Checar se a respiração está presente e efetiva
Emergência. (ver, ouvir e sentir). Se a respiração estiver ausente,
iniciar respiração artificial (passo "B" resolvido tem-
porariamente).
Abordagem
Primária Completa
Na aborda- Estando presente a respiração, analisar sua
gem primária com- qualidade: lenta ou rápida, superficial ou profunda,
pleta segue-se uma de ritmo regular ou irregular, silenciosa ou ruidosa.
Se observar sinais de respiração difícil (rá-
sequência fixa de passos es- F pida, profunda, ruidosa), reavaliar vias aéreas
tabelecida cientificamente. i (passo "A") e solicitar a presença do médico no
g
Para facilitar a memorização, uconvencionou-se o local (se disponível). A necessidade de intervenção
“ABCD do trauma” para designarr essa sequência fixa médica é muito provável. Se observar sinais que an-
de passos, utilizando-se as primeiras
a letras das pala- tecedam parada respiratória (respiração superficial,
R
vras (do inglês) que definem cada um dos passos:
e lenta ou irregular), ficar atento para iniciar respira-
1) Passo “A” (Airway) – Vias aéreas
s com controle ção artificial. Iniciar a administração de oxigênio a 12
cervical; p litros por minuto, sob máscara de contorno facial
i bem-ajustado. Garantir que os passos "A" e "B" não
2) Passo “B” (Breathing) – Respiração
r
(existente e
qualidade); sejam interrompidos antes de passar ao exame da
a
3) Passo “C” (Circulation) – Circulação
ç com con- circulação ("C").
trole de hemorragias; ã
PASSO “C” – CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DE
o
4) Passo “D” (Disability) – Estado neurológico; HEMORRAGIAS

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O objetivo principal do passo "C" é estimar as PASSO “D” – ESTADO NEUROLÓGICO
condições do sistema circulatório e controlar grandes
Tomadas as medidas possíveis para garantir o
hemorragias. Para tanto devem ser avaliados: pulso;
“ABC”, importa conhecer o estado neurológico da ví-
perfusão periférica; coloração, temperatura e umi-
tima (passo "D"), para melhor avaliar a gravidade e a
dade da pele. Neste passo também devem ser con-
estabilidade do quadro.
troladas as hemorragias que levem a risco de morte
eminente. O registro evolutivo do estado neurológico
tem grande valor. A vítima que não apresente altera-
Pulso
ções neurológicas num dado momento, mas passe a
Em vítima consciente, verificar inicialmente o apresentá-las progressivamente, seguramente está
pulso radial; se este não for percebido, tentar palpar em situação mais grave que outra cujo exame inicial
o pulso carotídeo ou o femoral; em vítima inconsci- tenha mostrado algumas alterações que permane-
ente, examinar o pulso carotídeo do lado em que çam estáveis no tempo.
você se encontre.
Na avaliação do estado neurológico o socor-
A avaliação do pulso dá uma estimativa da rista deve realizar a avaliação do nível de consciência
pressão arterial. Se o pulso radial não estiver palpá- e o exame das pupilas.
vel, possivelmente a vítima apresenta um estado de
Avaliação do Nível de Consciência
choque hipovolêmico descompensado, situação
grave que demanda intervenção imediata. Deve sempre ser avaliado o nível de consciên-
cia porque, se alterado, indica maior necessidade de
Se o pulso femoral ou carotídeo estiver au-
vigilância da vítima no que se refere às funções vitais,
sente, iniciar manobras de reanimação cardiopulmo-
principalmente à respiração.
nar. Estando presente o pulso, analisar sua quali-
dade: lento ou rápido, forte ou fraco, regular ou irre- A análise do nível de consciência é feita pelo
gular. método “AVDI”, de acordo com o nível de resposta
que a vítima tem dá aos estímulos:
Perfusão Periférica
A - Vítima acordada com resposta adequada
A perfusão periférica é avaliada através da téc-
ao ambiente.
nica do enchimento capilar. É realizada fazendo-se
uma pressão na base da unha ou nos lábios, de modo V - Vítima adormecida. Os olhos se abrem me-
que a coloração passe de rosada para pálida. Reti- diante estímulo verbal.
rando-se a pressão a coloração rosada deve retomar D - Vítima com os olhos fechados que só se
num tempo inferior a dois segundos. Se o tempo ul- abrem mediante estímulo doloroso.
trapassar dois segundos é sinal de que a perfusão pe-
riférica está comprometida (oxigenação/perfusão O estímulo doloroso deve ser aplicado sob a
inadequadas). Lembre-se que à noite e com frio essa forma de compressão intensa na borda do músculo
avaliação é prejudicada. trapézio, na região
póstero-lateral do
Coloração, Temperatura e Umidade da Pele pescoço.
Cianose e palidez são sinais de comprometi- I - Vítima não
mento da oxigenação e perfusão dos tecidos. Pele reage a qualquer estí-
fria e úmida indica choque hipovolêmico (hemorrá- mulo.
gico).
A alteração do
Controle de Hemor- nível de consciência pode ocorrer pelos seguintes
ragias F
motivos:
i
Se o socorrista verificarg hemorragia externa, - Diminuição da oxigenação cerebral (hipóxia
deve utilizar métodos de controle.
u Observando sinais ou hipoperfusão);
que sugerem hemorragia interna,r deve agilizar o
a - Traumatismo cranioencefálico (hipertensão
atendimento e transportar a vítima o mais breve-
P
mente possível ao hospital, seguindo sempre as ori- intracraniana);
e
entações da Central de Emergências.
r - Intoxicação por álcool ou droga;
f
u Página | 22
s
ã
o
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- Problema clínico metabólico. ambiente público. No hospital, ao contrário, é imper-
doável deixar de despir completamente a vítima an-
Exame das Pupilas
tes de iniciar a abordagem secundária.
Em condições normais as pupilas reagem à luz,
Só iniciar a abordagem secundária depois de
aumentando ou diminuindo seu diâmetro conforme
completada a abordagem primária. Examinar todos
a intensidade da iluminação do ambiente. O au-
os segmentos do corpo, sempre na mesma ordem
mento do diâmetro, ou midríase, ocorre na presença
(exame segmentar): crânio, face, pescoço, tórax, ab-
de pouca luz, enquanto a diminuição, ou miose,
dômen, quadril, membros inferiores, membros supe-
ocorre em presença de
riores e dorso. Nesta fase, realizar:
luz intensa.
- Inspeção: cor da pele, sudorese, simetria, ali-
Quanto à sime-
nhamento, deformidade e ferimento;
tria, as pupilas são clas-
sificadas em isocóricas - Palpação: deformidade, crepitação, rigidez,
(pupilas normais ou si- flacidez, temperatura e sudorese;
métricas), que pos-
- Ausculta: tórax (campos pleuropulmonares e
suem diâmetros iguais, e anisocóricas (pupilas anor-
precordial) – procedimento exclusivo do médico.
mais ou assimétricas), de
diâmetros desiguais. F Durante todo o exame segmentar, manter-se
i atento a sinais de dor ou a modificações das condi-
O socorrista deve avaliar
g as pupilas da vítima ções constatadas na abordagem primária da vítima.
em relação ao tamanho, simetria
u e reação à luz. Pu-
r
pilas anisocóricas sugerem traumatismo ocular ou Exame segmentar:
a
cranioencefálico. Neste caso aP midríase em uma das 1) Cabeça: palpar o crânio com os polegares fixos na
pupilas pode ser consequência u da compressão do região frontal, mantendo o controle cervical. Pal-
nervo oculomotor no nível dop tronco encefálico, su- par as órbitas. Simultaneamente, inspecionar cor
i
gerindo um quadro de gravidade.
l e integridade da pele da face, hemorragia e li-
a Pupilas normais se quorragia pelo nariz e ouvidos, hematoma retro
s
contraem quando sub- auricular (sugestivo de fratura de coluna cervical
metidas à luz, dimi- alta ou base de crânio), simetria da face, hemor-
nuindo seu diâmetro. Se ragia e laceração dos olhos e foto reatividade pu-
a pupila permanece dila- pilar (não a valorize em olho traumatizado). Reti-
tada quando submetida rar corpos estranhos (lentes de contato e próte-
à luz, encontra-se em mi- ses dentárias móveis) eventualmente remanes-
dríase
F paralítica, normalmente observada em pes- centes.
i inconscientes ou em óbito. Pupilas contraídas
soas
g 2) Pescoço: inspecionar o alinhamento da traquéia e
(miose)
u
em presença de pouca luz podem indicar in- a simetria do pescoço. Palpar a cartilagem ti-
toxicação
r por drogas ou doença do sistema nervoso reóide e a musculatura bilateral. Inspecionar as
central.
a veias jugulares: se ingurgitadas, principalmente
P
u Se houver depressão do nível de consciência e com piora na inspiração, preocupar-se com lesão
anisocória,
p ficar alerta, pois existe o risco de parada intratorácica grave (derrame de sangue no peri-
i
respiratória. Manter-se atento para o “ABC”. cárdio, impedindo os movimentos normais do co-
l ração: hemopericárdio com tamponamento car-
a
díaco). Palpar as artérias carótidas separada-
7.3
s ABORDAGEM SECUNDÁRIA mente e a coluna cervical, verificando alinha-
Finalmente, no passo "E", expor a vítima, à mento, aumento de volume, crepitação e rigidez
procura de lesões. Entretanto, em nível pré-hospita- muscular. Completado o exame, colocar o colar
lar, as roupas da vítima só serão removidas para ex- cervical.
por lesões sugeridas por suas queixas ou reveladas 3) Tórax: inspecionar a caixa torácica (face anterior),
pelo exame segmentar, respeitando seu pudor no buscando simetria anatômica e funcional, respi-
ração paradoxal, áreas de palidez, eritema ou he-
matoma (sinais de contusão) e ferimentos. Palpar
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as clavículas separadamente, buscando dor e cre- Fazem também parte da abordagem secundá-
pitação. Palpar os arcos costais e esterno em ria os seguintes procedimentos, que são realizados
busca de rigidez muscular, flacidez e crepitação. por médicos no ambiente hospitalar: radiografias,
Examinar até a linha axilar posterior. Realizar aus- sonda gástrica, toque retal, cateterismo vesical e la-
culta pulmonar e cardíaca (procedimento mé- vagem peritonial.
dico).
Durante a abordagem secundária, o socorrista
4) Abdômen: inspecionar sinais de contusão, disten- deva reavaliar o ABCD quantas vezes forem necessá-
são e mobilidade. Palpar delicadamente, anali- rias, principalmente em vítimas inconscientes.
sando sensibilidade e rigidez de parede (abdô-
Após a abordagem secundária, realizar a veri-
men em tábua).
ficação de dados vitais e escalas de coma e trauma.
5) Quadril: afastar e aproximar as asas ilíacas em re-
Sinais Vitais
lação à linha média, analisando mobilidade anor-
mal e produção de dor. Palpar o púbis no sentido Avaliar pulso, respiração, pressão arterial e
anteroposterior. A região genital também deve temperatura.
ser avaliada, sugerindo haver lesão conforme as Escala de Coma
queixas da vítima ou o mecanismo de trauma.
A Escala de Coma de Glasgow, é baseada na
avaliação da abertura dos olhos (AO), da melhor res-
6) Membros inferiores: inspecionar e palpar da raiz posta motora (MRM) e da melhor resposta verbal
das coxas até os pés. Observar ferimento, alinha- (MRV). É uma escala prática para se avaliar a evolu-
mento, deformidade, flacidez, rigidez e crepita- ção do nível de consciência da vítima. Para cada um
ção. Cortar a roupa onde suspeitar de ferimento dos três itens avaliados é atribuído um número, con-
ou fratura. Retirar calçados e meias. Examinar a forme a resposta da vítima, que somados irão nos
mobilidade articular ativa e passiva. Executar mo- mostrar o nível de consciência da vítima no mo-
vimentos suaves e firmes de flexão, extensão e mento da avaliação.
rotação de todas as articulações. Palpar pulsos Abertura dos Olhos
em tornozelos e pés. Testar sensibilidade, motri-
cidade e enchimento capilar.
7) Membros superiores: inspecionar e palpar dos
ombros às mãos. Observar ferimento, alinha-
mento, deformidade, flacidez, rigidez e crepita-
ção. Cortar a roupa onde suspeitar de ferimento
ou fratura. Palpar os pulsos radiais. Testar a mo-
bilidade ativa e passiva. Executar movimentos su-
aves e firmes de flexão, extensão e rotação de to-
das as articulações. Testar a simetria da força Melhor Resposta Verbal
muscular nas mãos. Verificar sensibilidade, motri-
cidade e enchimento capilar.
8) Dorso: realizar a manobra de rolamento a no-
venta graus para examinar o dorso. Inspecionar
alinhamento da coluna vertebral e simetria das
duas metades do dorso. Palpar a coluna vertebral
em toda a extensão, à procura de edema, hema-
toma e crepitação. Terminado o exame do dorso,
rolar a vítima sobre a tábua de imobilização dor-
Obs.: Impossível avaliar resposta verbal de ví-
sal.
tima que não possa falar (trauma de face ou intuba-
Após completar o exame segmentar, fazer cu- ção oro traqueal).
rativos, imobilizações e outros procedimentos ne-
Melhor Resposta Motora
cessários.

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- Trauma moderado: 07 a 10;
- Trauma mínimo: 11 a 12.
Sempre que na avaliação da Escala de Trauma,
for obtido resultado menor que 9 (nove), torna-se ne-
cessário o acionamento de apoio médico no local da
ocorrência.

8 VIAS AÉREAS
Obs.: Considerar sempre a melhor resposta Aspectos Anatômicos e Funcionais
motora observada, embora ela possa ser isolada (em
As vias aéreas têm como função principal con-
apenas uma extremidade).
duzir o ar entre o meio ambiente e os pulmões (alvé-
olos pulmonares), proporcionando a entrada de ar
filtrado, aquecido e rico em oxigênio, assim como a
A avaliação da gravidade do comprometi-
saída de ar rico em dióxido de carbono do aparelho
mento neurológico será feita com base no resultado
respiratório, participando assim do processo da res-
da escala de coma de Glasgow:
piração. Dividem-se em vias aéreas superiores e vias
- TCE grave: 03 a 08; aéreas inferiores:
- TCE moderado: 09 a 12; Vias Aéreas Superiores:
- TCE leve: 13 a 15. ● Cavidade nasal (nariz);
Sempre que na avaliação da Escala de Coma ● Cavidade oral (boca);
de Glasgow, o estado neurológico for avaliado como
● Faringe (Nasofaringe, orofaringe e laringo-
igual ou menor que 9 (nove), torna-se necessário o
faringe ou hipofaringe. Destas três, a nasofaringe é
acionamento de apoio médico no local da ocorrência.
exclusivamente via aérea, a laringofaringe é exclusi-
Escala de Trauma vamente via digestiva e a orofaringe é um caminho
A escala de trauma leva em consideração os comum ao ar e aos alimentos.);
seguintes itens: frequência respiratória, pressão sis- ● Laringe.
tólica e escala de coma. Com base no valor de cada
item, a cada um deles é atribuída pontuação de zero
a quatro, cuja soma será o resultado da escala de
trauma, que pode variar de zero a doze.

Vias Aéreas Inferiores:


● Traquéia;
● Brônquios/bronquíolos;
● Pulmões/alvéolos pulmonares. O acesso às
Interpretação do resultado da escala de vias aéreas superiores é direto e sua visualização é
trauma: quase completa, exceto pela nasofaringe (região
posterior à cavidade nasal e póstero-superior à úvula
- Trauma grave: 0 a 06;
- "campainha”).
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As vias aéreas superiores terminam e as infe- é causada por trauma cranioencefálico, choque ou si-
riores têm início na laringe, com a epiglote, estrutura tuações clínicas. A inconsciência também favorece o
que protege a abertura das vias aéreas inferiores, refluxo do conteúdo gástrico seguido de broncoaspi-
obstruindo-a durante o reflexo de deglutição e ração.
abrindo-a para a passagem do ar. Seu acesso e visu-
Trauma Direto Sobre Vias Aéreas
alização dependem de procedimento médico deno-
minado laringoscopia. Trauma direto sobre as vias aéreas, causando
sangramento em seu interior, compressão externa
Obstrução de Vias Aéreas
por edema e/ou hematomas e fraturas da árvore la-
O atendimento pré-hospitalar da vítima de ringotraqueobrônquica, e/ou broncoaspiração de
trauma tem por objetivo, após rápida verificação do dentes fraturados.
mecanismo de trauma e das condições de segurança
Queimaduras em Vias Aéreas
no local, prestar suporte básico e avançado de vida,
iniciando-se com a avaliação de vias aéreas (A). Esse Queimaduras em vias aéreas podem produzir
processo denominado avaliação primária ou “ABCD” inflamação e edema de glote e de vias aéreas inferi-
prioriza a abordagem das vias aéreas que, se estive- ores.
rem comprometidas, de imediato afetam as funções Corpo Estranho em Vias Aéreas
vitais – respiração (B) e circulação (C).
Fragmentos de próteses dentárias, alimentos,
Um processo de pensamento organizado e balas, chicletes e pequenos objetos podem causar
condicionado referente aos passos da avaliação pri- obstrução de vias aéreas em diferentes níveis.
mária, impedirá o socorrista deter sua atenção vol-
tada para alterações mais evidentes e menos urgen- Obstrução de Vias Aéreas por Corpo Estranho
tes, como ferimentos e fraturas, despercebendo-se (OVACE)
de alterações nas vias aéreas, principalmente em se Causas de OVACE em Adultos
tratando de vítima inconsciente.
Embora a perda de consciência seja a causa
A avaliação e o controle das vias aéreas se fa- mais frequente de obstrução de vias aéreas, a obs-
zem mediante condutas rápidas e simples, não exi- trução por corpos estranhos pode ser causa de perda
gindo inicialmente qualquer equipamento, bastando de consciência e parada cardiopulmonar. A eventua-
a aplicação de técnicas manuais de controle e de- lidade de corpos estranhos obstruírem vias aéreas
sobstrução, sem a necessidade de aguardar equipa- em pessoas conscientes ocorre mais freqüentemente
mentos ou pessoal. durante as refeições, sendo a carne a causa mais co-
Entende-se por obstrução de vias aéreas toda mum. Outras causas de obstrução: próteses dentá-
situação que impeça total ou parcialmente o trânsito rias deslocadas, fragmentos dentários, chicletes e
do ar ambiente até os alvéolos pulmonares. A restau- balas.
ração e manutenção da permeabilidade das vias aé- A obstrução de vias aéreas pelo conteúdo re-
reas nas vítimas de trauma são essenciais e devem gurgitado do estômago pode ocorrer durante a pa-
ser feitas de maneira rápida e prioritária. rada cardiopulmonar ou nas manobras de reanima-
A vítima de trauma pode ter as vias aéreas ção cardiopulmonar. Pessoas com nível de consciên-
comprometidas direta ou indiretamente por meca- cia alterado também correm risco de obstrução de
nismos distintos, sendo os principais os enumerados vias aéreas pela aspiração de material vomitado.
a seguir: Causas de OVACE em Crianças
Inconsciência Em crianças a principal causa de obstrução de
A causa mais frequente de obstrução de vias vias aéreas é a aspiração de leite regurgitado ou de
aéreas em vítimas de trauma é a inconsciência, pro- pequenos objetos. Outras causas frequentes são ali-
vocando o relaxamento da língua que se projeta con- mentos (balas, chicletes, etc.) e causas infecciosas
tra a orofaringe (fundo da garganta) da vítima em (epiglotite). Neste último caso, a presença do médico
decúbito dorsal, impedindo a passagem de ar das ou o transporte imediato para o hospital se fazem
vias aéreas superiores para as inferiores. Geralmente imperiosos.

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Os lactentes (até 1 ano de idade) são as princi- sente ou não ser detectável. A pronta ação é ur-
pais vítimas de morte por aspiração de corpo estra- gente, preferencialmente enquanto a vítima ainda
nho na faixa etária pediátrica. está consciente.
Vias Aéreas
Reconhecimento
O reconhecimento precoce da obstrução de
vias aéreas é indispensável para o sucesso no atendi-
mento. O socorrista deve estar atento, pois a obstru-
ção de vias aéreas e consequente parada respiratória
rapidamente evolui para parada cardiopulmonar. O pouco tempo o oxigênio disponível nos pul-
A obstrução das vias aéreas pode ser parcial mões será utilizado e, como a obstrução de vias aé-
(leve) ou total (grave). Na parcial, a vítima pode ser reas impede a renovação de ar, ocorrerá a perda de
capaz de manter boa troca gasosa, caso em que po- consciência e, rapidamente, a morte.
derá tossir fortemente, apesar dos sibilos entre as Reconhecimento de OVACE em Vítima In-
tossidas. Enquanto permanecer uma troca gasosa sa- consciente
tisfatória, encorajar a vítima a persistir na tosse es-
pontânea e nos esforços respiratórios, sem interferir Quando um adulto for encontrado inconsci-
nas tentativas para expelir o corpo estranho. ente por causa desconhecida, suspeitar de parada
cardiopulmonar por infarto, acidente vascular ou hi-
A troca insuficiente de ar é indicada pela pre- póxia secundária à obstrução de via aérea. Ele será
sença de tosse ineficaz e fraca, ruídos respiratórios avaliado pensando-se em parada cardiopulmonar,
estridentes ou gementes, dificuldade respiratória deixando para fazer o manejo de desobstrução de
acentuada e, possivelmente, cianose. Neste ponto, vias aéreas apenas se o fato se evidenciar. Tratando-
iniciar o manejo da obstrução parcial como se hou- se de criança, devemos suspeitar imediatamente de
vesse obstrução total. OVACE.
Em adultos, a obstrução por corpo estranho Desobstrução de Vias Aéreas
deve ser suspeitada em toda vítima que subitamente
pare de respirar, tornando-se cianótica e inconsci- Os métodos de desobstrução de vias aéreas
ente, sem razão aparente. dividem-se em dois tipos, conforme a natureza da
obstrução: obstrução por líquido (rolamento de 90º
Deve-se tomar cuidado na diferenciação de e aspiração) ou obstrução por sólido (remoção ma-
OVACE e parada cardiorespiratíria (ver capítulo espe- nual e manobras de desobstrução).
cífico – Ressuscitação Cardiopulmonar).
Obstrução por líquido
Em crianças a OVACE deve ser suspeitada nos
seguintes casos: dificuldade respiratória de início sú- Rolamento de 90º
bito acompanhada de tosse, respiração ruidosa, chi- Esta manobra consiste em lateralizar a vítima
ado e náusea. Se essa obstrução se tornar completa, em monobloco, trazendo-
ocorre agravamento da dificuldade respiratória, cia- a do decúbito dorsal para
nose e perda de consciência. o lateral, com o intuito de
Reconhecimento de OVACE em Vítima Cons- remover secreções e san-
ciente gue das vias aéreas superi-
ores.
A obstrução total das vias aéreas é reconhe-
cida quando a vítima está se alimentando ou acabou
de comer e, repentinamente, fica incapaz de falar ou Es-
tossir. Pode demonstrar sinais de asfixia, agarrando tando a
o pescoço, apresentando cianose e esforço respira- vítima na cena
tório exagerado. O movimento de ar pode estar au- do acidente,
ainda sem in-
tervenção do
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socorrista, ou seja, sem qualquer imobilização (colar
cervical e tábua), havendo a necessidade da mano-
bra, está deverá ser realizada com controle cervical
manual.

Estando a vítima já imobilizada em tábua, pro-


cederFa manobra mediante a lateralização da própria
tábua.i
gAspiração
uA aspiração de secreções e sangue pode ser re-
r ainda na cena do acidente, mediante uso de
alizada
aspiradores
a portáteis, ou no interior da ambulância,
pelo uso
3 de aspiradores fixos. Os aspiradores devem
promover
6 vácuo e fluxo adequado para sucção efe-
tiva da faringe, através de sondas de aspiração de
R Quando aspirando a boca ou a faringe, mo-
vários diâmetros.
o ver o cateter de sucção de tal modo que atinja todas
l A unidade de sucção fixa instalada deve ter po- as áreas acessíveis, evitando que se fixe na mucosa e
tência suficiente para um fluxo de 30 litros por mi- perca sua eficácia. A inserção pode ser continuada
a
nuto na extremidade final do tubo de entrada e um lentamente, com movimentos rotatórios do cateter,
m
vácuo acima de 300 mm de mercúrio quando o tubo enquanto houver material a ser aspirado. Cuidado ao
e
é fechado. Controlar a pressão de sucção em crianças utilizar cateteres duros, para evitar trauma da la-
n intubadas. Para a sucção traqueal, utilizar
e vítimas ringe. Aplicar a sucção por períodos de no máximo 05
um tubo
t em "V" ou ''T', com abertura lateral para segundos de cada vez, alternando-a com o suporte
controlar
o a aspiração intermitente. ventilatório.

Obstrução por Sólido


Remoção Manual
Durante a avaliação das vias aéreas, o socor-
rista pode visualizar corpos estranhos, passíveis de
remoção digital. Somente remover o material que
cause obstrução se for visível. É difícil o uso dos dedos
para remover corpos estranhos das vias aéreas. Em
muitos casos é impossível abrir a boca da vítima e in-
serir os dedos para esse propósito, a menos que a ví-
tima esteja inconsciente. Em alguns casos, especial-
mente envolvendo crianças e lactentes, um dedo
adulto pode aprofundar o corpo estranho, causando
a obstrução completa.

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A técnica de remoção manual consiste em
abrir a boca da vítima utilizando a manobra de tra-
ção da mandíbula ou a de elevação do mento (abor-
dadas à frente) e retirar o corpo estranho com o indi-
cador “em gancho”, deslocar e retirar o corpo estra-
nho. Estando o corpo estranho mais aprofundado,
existe a alternativa de utilizar os dedos indicador e
médio “em pinça”. Em recém-nato e lactente, utilizar
o dedo mínimo em virtude das dimensões reduzidas
das vias aéreas. Somente tentar a remoção se o
corpo estranho estiver visível; se não, está contrain-
dicada a procura do material com os dedos.
Manobras de Desobstrução de Vias Aéreas
em Adultos
São manobras realizadas manualmente para
desobstruir vias aéreas de sólidos que lhe ficarem
entalados.
3) Estando a vítima em pé, ampliar sua base de
Para vítimas inconscientes deve ser aplicada a
sustentação, afastando as pernas, e posicionar uma
manobra de ressuscitação cardiopulmonar, pois as
entre as pernas da vítima, para evitar-lhe a queda
compressões torácicas forçam a expelição do corpo
caso fique inconsciente.
estranho e mantém a circulação sanguínea, aprovei-
tando o oxigênio ainda presente no ar dos pulmões. ● Vítima deitada:
Para vítimas conscientes usa-se uma das se- 1) Posicionar a vítima em decúbito dorsal;
guintes técnicas:
2) Ajoelhar-se ao lado da vítima, ou a cavaleiro
Compressão Abdominal sobre ela no nível de suas coxas, com seus joelhos
tocando-lhe lateralmente o corpo;
Também chamada manobra de Heimlich, con-
siste numa série de quatro compressões sobre a re- 3) Posicionar a palma da mão (região tenar)
gião superior do abdômen, entre o apêndice xifóide sobre o abdômen da vítima, entre o apêndice xifóide
e a cicatriz umbilical. e a cicatriz umbilical, mantendo as mãos sobrepos-
tas;
● Vítima em pé ou sentada:
1) Posicionar-se atrás da vítima, abraçando-a
em torno do abdômen;
2) Segurar o punho da sua outra mão e aplicar
compressão contra o abdômen, entre o apêndice xi-
fóide e a cicatriz umbilical no sentido superior (tó-
rax), por quatro vezes;

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4) Aplicar quatro compressões abdominais no 3) Aplicar quatro compressões torácicas como
sentido do tórax. na manobra de ressuscitação cardiopulmonar - RCP;
Compressão Torácica Manobras de Desobstrução de Vias Aéreas
em Crianças
A compressão torácica é utilizada quando a
compressão abdominal é inviável ou contra-indi- A remoção manual de material que provoque
cada, como nos casos de obesidade com circunferên- obstrução sem ser visualizado não é recomendada.
cia abdominal muito larga e gestação próxima do
Para crianças maiores de um ano, aplicar a ma-
termo. Consciente em uma série de quatro compres-
nobra de Heimlich, de forma semelhante à do
sões torácicas sobre o terço inferior do esterno, logo
adulto; nos lactentes, uma combinação de palmada
acima do apêndice xifóide.
nas costas (face da criança voltada para baixo) e
compressões torácicas (face voltada para cima),
sempre apoiando a vítima no seu antebraço; mante-
nha-o com a cabeça mais baixa que o tronco, pró-
ximo a seu corpo.
● Técnica:
1) Utilizar a região hipotenar das mãos para
aplicar até 05 palmadas no dorso do lactente (entre
as escápulas);
2) Virar o lactente segurando firmemente en-
tre suas mãos e braços (em bloco);
3) Aplicar 05 compressões torácicas, como na
técnica de reanimação cardiopulmonar (comprima o
tórax com 02 dedos sobre o esterno, logo abaixo da
linha mamilar).

● Vítima em pé ou sentada:
1) Posicionar-se atrás da vítima, abraçando-a
em torno do tórax;
2) Segurar o punho da sua outra mão e aplicar
compressão contra o esterno, acima do apêndice xi-
fóide, por quatro vezes;
3) Estando a vítima em pé, ampliar sua base de
sustentação, afastando as pernas, e posicionar uma
entre as pernas da vítima, para evitar-lhe a queda
caso fique inconsciente.
● Vítima deitada:
1) Posicionar a vítima em decúbito dorsal;
Os passos da manobra de Heimlich para crian-
2) Ajoelhar-se ao lado da vítima; ças maiores e os da combinação de palmada nas cos-
tas com compressões torácicas para lactentes devem
ser repetidos até que o corpo estranho seja expelido
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ou a vítima fique inconsciente. Neste caso, proceder Essa técnica tem como vantagens ser tecnica-
as manobras de abertura de vias aéreas, repetir os mente mais fácil de executar se comparada à mano-
passos de desobstrução iniciar manobras de RCP. bra de tração de mandíbula e o socorrista, mesmo
sozinho, consegue manter a manobra sem perder o
Métodos de Controle de Vias Aéreas
controle cervical.
Os métodos de controle de vias aéreas são de
Executar da seguinte forma:
três tipos: manual, mecânico e cirúrgico, sendo que
o método mecânico se subdivide em básicos, avan- 1) Manter o controle cervical com uma das
çados e alternativos. mãos posicionada sobre a região frontal da vítima;
A causa mais comum de obstrução de vias aé- 2) Posicionar o polegar da outra mão no
reas é a inconsciência de qualquer natureza e, na queixo e o indicador na face inferior do corpo da
grande maioria dos casos, os métodos manuais con- mandíbula;
seguem promover e manter a permeabilidade das
3) Pinçar e tracionar anteriormente a mandí-
vias aéreas.
bula, promovendo movimento discreto de extensão
Métodos Manuais da cabeça, o suficiente para liberar as vias aéreas.
Manobra de Tração de Mandíbula (Jaw- Após a realização de qualquer das manobras
Thrust) manuais, o socorrista deve observar a cavidade oral
e, somente caso visualize qualquer corpo estranho
Essa técnica tem como vantagem o fato de
este deve ser removido.
não mobilizar a coluna cervical, visto que promove a
desobstrução das vias aéreas por projetar a mandí- Em caso de corpos líquidos deve ser execu-
bula anteriormente, deslocando também a língua. tado o rolamento de 90º ou a aspiração.
Como desvantagem, é tecnicamente mais difí-
cil de executar, se comparada à manobra de inclina-
Métodos Mecânicos
ção da cabeça e elevação do mento, além de não
permitir que o socorrista (estando sozinho) continue Básicos
a avaliação da vítima, visto que estará com as duas Cânula Orofaríngea
mãos envolvidas na manutenção da manobra.
Também conhecida como cânula de Guedel, é
um dispositivo destinado a manter pérvia a via aérea
Executar da se- F superior em víti-
guinte forma: i mas inconscien-
g tes.
1) Apoiar a região te- u
nar da mão sobre a re- r Introdu-
gião zigomática da ví- a zida em vítima
G
tima, bilateralmente, consciente ou
u
estando posicionado e em estupor,
na sua "cabeceira"; d pode produzir
F e vômito ou larin-
i 2) Colocar a ponta dos dedos indicador e mé- l goespasmo.
g atrás do ângulo da mandíbula, bilateralmente,
dio
u
exercendo força suficiente para deslocá-Ia anterior- É necessário cuidado na colocação da cânula,
r
mente; porque a inserção incorreta pode empurrar a língua
a
V para trás, na faringe, e produzir obstrução de via aé-
3) Apoiar os polegares na região mentoniana,
i rea, manifestada por troca insuficiente de ar, indi-
imediatamente
a abaixo do lábio inferior, e promover
cada por tosse ineficaz e fraca, ruídos respiratórios
a abertura
s da boca.
estridentes, dificuldade respiratória acentuada e até
a
é Manobra de Inclinação da Cabeça e Elevação mesmo cianose (cor azulada de pele, unhas e lábios).
dor Mento (Chin Lift)
A cânula orofaríngea está disponível em medi-
e
a
das para recém-natos, crianças e adultos. O melhor
s modo de identificar o tamanho adequado da cânula
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é segura Ia ao lado da face da vítima, com a extremi- e, delicadamente, introduzi-la até a orofaringe. A câ-
dade inferior tocando o ângulo da mandíbula, logo nula nasofaríngea é preferível à orofaríngea na ví-
abaixo do lóbulo da orelha e estender a outra extre- tima consciente, por ser melhor tolerada e menos
midade até a comissura labial. propensa a induzir vômitos.
Inserir a cânula com a concavidade para cima, Durante a inserção, encontrando obstáculo na
dirigindo sua extremidade para o palato duro ("céu progressão da cânula, interromper imediatamente o
da boca"), logo atrás dos dentes incisivos superiores. procedimento, tentando a seguir introduzi-la através
Não permitir que a cânula toque o palato, aplicando da outra narina.
um movimento de rotação helicoidal de 180º (em
REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR
parafuso) sobre ela mesma, posicionando-a sobre a
língua. Um abaixador de língua pode ser útil para im- As referências às manobras de reanimação da-
pedir que a cânula empurre a língua para trás du- tam da Antigüidade. O primeiro relato de sucesso em
rante sua inserção. RCP encontra-se na Bíblia, quando o profeta Eliseu
reanimou o filho da mulher sumanita, no segundo Li-
vro dos Reis cap. 04 versículos 34 e 35.
Outros relatos esporádicos ocorreram através
da história, entre os quais o uso da flagelação com o
açoite, trotar sobre um cavalo com a vítima debru-
çada sobre este, rolar a vítima sobre um barril e ou-
tros, todos sem qualquer base científica, porém com
alguns relatos de sucesso.
No século anterior surgiram vários métodos de
ventilação e relatos na literatura (Hake, 1874, Keen,
1904) de sucesso, utilizando-se a massagem cardíaca
interna. Crile e Dolley (1906) descreveram o método
experimental de reanimação usando compressão tó-
racica, ventilação artificial e o uso de adrenalina pa-
renteral. Zoll (1956) reverteu a fibrilação ventricular
através da desfibrilação, sem toracotomia. Safar
(1958) publicaram estudos sobre o controle das vias
aéreas e ventilação boca-boca.

Em crianças pequenas, a cânula de Guedel é


inserida diretamente sobre a língua, com a concavi-
dade para baixo, sem a rotação de 180º. Dessa forma
evitam-se traumatizar dentes e palato.
Cânula Nasofaríngea
É um dispositivo confeccionado em látex, mais
flexível e de menor diâmetro que a cânula orofarín-
gea, em virtude de sua inserção através da cavidade
nasal. Bem lubrificada, introduzi-Ia numa das narinas
(naquela que aparentemente não esteja obstruída)

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referência para RCP, as recomendações da American
Heart Association na conferência de 1992.
Em 1993 foi formada uma Aliança Internacio-
nal dos Comitê em Ressuscitação (ILCOR) pelas Soci-
edade de Cardiologia Americana (AHA), pelo Conse-
lho Europeu em Ressuscitação (ERC), e pelo Comitê
Australiano em Ressuscitação com o intuito de reali-
zar estudos a partir de evidências cientificas.
No ano de 2000, o ILCOR realizou a primeira
conferência para um Consenso em RCP e em con-
junto com a AHA lançou uma nova diretriz para RCP.
Em 2005, após uma nova Conferência de Consenso,
a AHA lançou outra diretriz com diversas mudanças
para RCP baseadas em evidências científicas, dentre
as quais a principal é a mudança da taxa de compres-
são-ventilação de 30:2, sendo que anteriormente era
Devido aos poucos conhecimentos sobre os fe- de 15:2.
nômenos envolvidos e das poucas aplicações efetivas O algoritmo de tratamento inicial do paciente
na antiguidade, a possibilidade de reversão do es- visa o reconhecimento da PCR e o primeiro atendi-
tado terminal só se tornou possível a partir de 1900 mento à vítima. Inicialmente deve-se avaliar o estado
em ambiente hospitalar e por volta de 1960 em am- de consciência do paciente. Imediatamente após a
biente extra-hospitalar. O desenvolvimento da mo- detecção da inconsciência chama-se por ajuda e rea-
derna RCP tem permitido que se modifique o curso da lizam-se as manobras de desobstrução das vias aé-
morte. reas e a procura de sinais de ausência de perfusão
O atendimento da parada cardiorrespiratória como: a inconsciência da vítima, inexistência de mo-
(PCR) é conhecimento prioritário de todo profissional vimentos e a ausência de respiração. A ausência de
de saúde, independente de sua especialidade. respiração é determinada através da orientação de
ver, ouvir, sentir. Movimentos inadequados de venti-
O conceito de PCR varia conforme o autor. A
lação devido à desobstrução insuficiente das vias aé-
conceituação de Milstein (1970) é considerada ade-
reas ou gasping são fatores que devem ser descarta-
quada. O autor conceituou PCR como sendo a cessa-
dos.
ção súbita e inesperada da atividade mecânica ven-
tricular útil e suficiente em indivíduo sem moléstia in-
curável, debilitante, irreversível e crônica. O conceito
observava a diferenciação entre PCR e morte, sinali-
zava que determinados pacientes (terminais) pode-
riam não ser reanimados.
A RCP consiste no tratamento da PCR. São
manobras diagnósticas e terapêuticas que objetivam 1º ELO: acionamento rápido do Serviço de
manter a circulação e respiração artificial e restaurá- Emergência Médica, pela pessoa que assiste a emer-
las ao normal o mais breve possível, minimizando a gência;
lesão cerebral. Com o objetivo de manter um atendi-
mento rápido, seguro e eficaz à PCR, ele é realizado 2º ELO: início da reanimação cardiopulmonar
através de uma abordagem de fases e algoritmos. no tempo útil de até 4 minutos após a parada cardi-
Requer cuidadosa ponderação no que diz respeito orrespiratória;
quando iniciar uma determinada manobra, assim 3º ELO: emprego do desfibrilador em até 6 mi-
como quando interrompê-la. nutos após a parada cardiorrespiratória; eficiente
Apesar da diferença de infra-estrutura entre os nos casos em que a vítima apresenta fibrilação ou ta-
países adotaram-se, quase que mundialmente, como quicardia ventricular. Se empregado no 1º minuto

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reverte 70% dos casos. Perde 10% da eficiência a
cada minuto sem emprego; Aspiração (secreções, conteúdo gás-
trico...)
4º ELO: assistência médica pré ou intra-hospi-
talar precoce após a retorno espontâneo da circula-
Bronquiolite: asma brônquica
ção.
CONCEITOS SARA
Parada cardiorespiratória (PCR)
Consiste na cessação da circulação e respira- Embolia pulmonar
ção, sendo reconhecida pela ausência de pulso e ap-
néia em um paciente inconsciente. Circulató- IAM e conplicações
rias

Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP):


Arritmias (fibrilação ventricular, taqui-
Conjunto de manobras realizadas em uma cardia ventricular, bloqueios...)
pessoa em parada cardiorespiratória (PCR) que vi-
sam o retorno à circulação espontânea com mínimo Tamponamento cardíaco
de dano neurológico. Essas manobras devem ser ba-
seadas nas diretrizes mundiais sobre ressuscitação
cardiopulmonar, visando um atendimento organi- Cardiopatias congênitas ou adquiridas
zado.
Choque cardiogênico
Morte biológica irreversível
Deterioração irreversível dos órgãos e siste- ICC
mas, que se segue à PCR, quando não se instituem as
manobras de circulação e oxigenação.
SNC Drogas depressoras do SNC
Morte encefálica
Necrose do tronco e do córtex cerebral pela TCE
falta de oxigenação por mais de 5 minutos.
DIAGNÓSTICO E PROCEDIMENTOS INICIAIS Hemorragias intracranianas
A PCR é uma emergência extrema, pois resulta
em lesão cerebral irreversível e morte, se não inicia- Processos infecciosos do SNC
rem as manobras de reanimação. Até que o diagnós-
tico da causa da PCR seja determinado, a equipe de
Estado epilético
ressuscitação deve preoculpar-se em manter a circu-
lação sanguínea e a função respiratória.
Polineuropatias
A) SITUAÇÕES COM MAIOR RISCO DE EVOLUIR
PARA UMA PCR
Causas Acidose e aucalose metabólicas
metabóli-
Respirató- Obstrução das vias aéreas
cas
rias

Hiper e hipotassemia
Pneumonias

Hiper e hipocalemia
Pneumotórax hipertensivo

Hiper e hipomagnesemia
Afogamento

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• Tontura
Hipoglicemia
• Escurecimento visual
Outras Intoxicação digitálica • Perda de consciência
• Alterações neurológicas
Grandes queimados
• Sinais de baixo débito cardíaco

Inalação de gases (ex: monóxido de • Parada de sangramento prévio


carbono)
C) SINAIS CLÍNICOS DE UMA PCR
Choque

Infusão rápida de antiarrítmicos ▪ Inconsciência


▪ Ausência de movimentos respirató-
Anafilaxia rios
▪ Ausência de pulsos em grandes arté-
Cateterismo cardíaco rias (femural e carótidas) ou ausência de sinais
de circulação
Angiografias ▪ Sinais clínicos de choque, com sudo-
rese, hipotonia e hiporreflexia
Exame proctológico

MODALIDADES DE PCR
Politraumatismo
• Assistolia: é a cessação de qualquer ativi-
Sepse dade elétrica ou mecânica dos ventrículos. No ECG
ausência de atividade elétrica em pelo menos duas
derivações.
Intoxicação exógena

Eletrecução

Tétano
F • Atividade elétrica sem pulso: caracterizada
i
g
Compressão do seio carótido pela ausência de pulso detectável na presença de al-
u gum tipo de atividade elétrica. ECG caracteriza-se
r Curetagem uterina por complexos QRS largos e bizarros que não produ-
a zem resposta de contração miocárdica.
a
s Síndrome da morte súbita na infância
s
i
s
t
o
B) PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS QUE PRECE-
F UMA PCR
DEM
l
i
i
g
a
u
• Dor torácica • Fibrilação ventricular: é a contração incoor-
r
a denada do miocárdio em consequência da atividade
E • Sudorese caótica de diferentes grupos de fibras miocárdicas,
l • Palpitações precordiais
e
t Página | 35
r
o
c
a
r
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resultando na ineficiência total do coração em man- A partir do momento que é constatada a PCR
ter um rendimento de volume sanguíneo adequado. o A-B-C passa a ser C-A-B, e complementado pelo D
No ECG ondas irregulares em zigue-zague, com am- que invés de estado neurológico passa a ser desfibri-
plitude e duração variáveis lação.
● C – Circulação:
Comprimir o tórax (5 cm. em adultos) de
forma a realizar uma pressão intratorácica que faça
o coração bombear sangue para os órgãos vitais;
F • Taquicardia ventricular sem pulso: é a su- ● A – Vias Aéreas:
i
cessão
g rápida de batimentos ectópicos ventriculares Manter as vias aéreas permeáveis para a pas-
que
u podem levam a acentuada deterioração hemo- sagem do ar;
dinâmica,
r chegando à ausência de pulso arterial pal-
a
pável. ECG repetição de complexos QRS alargados ● B – Respiração:
e
não
l
precedidos de ondas P. Ventilar os pulmões do paciente para garantir
e um mínimo de troca de ar;
t
r ● D – Desfibrilação:
o
Aplicação de um choque no coração para nor-
c
a malizar os batimentos cardíacos que entram em mo-
r
Procedimentos para Ressuscitação Cardio- vimentos descompassados como a fibrilação ventri-
pulmonar
d cular e a taquicardia ventricular.
i
o
Ressuscitação cardiopulmonar é o conjunto de Considerado como parte integrante do su-
manobras
g realizadas para restabelecer a ventilação porte básico de vida, a desfibrilação está sempre in-
pulmonar
r e a circulação sanguínea, tais como, respi- dicada nos casos de fibrilação ventricular e taquicar-
a artificial e massagem cardíaca externa, mano-
ração
m
dia ventricular sem pulso.
bras essas utilizadas nos pacientes em parada cardi-
a Para a aplicação do choque, é necessário
opulmonar.
afastar todas as pessoas da vítima. No caso de desfi-
A ressuscitação cardiopulmonar requer uma brilador monofásico, o choque é de 360J, devendo
sequência de procedimentos parecido com o ABCD ser mantido nos demais choques; no desfibrilador bi-
pré-hospitalar com algumas diferenças: fásico, o choque é de 120 a 200J, podendo ser man-
As Diretrizes da AHA 2010 para RCP reco- tido nos próximos choques ou ser aumentado. No
mendam uma alteração na sequência de procedi- caso de crianças e lactentes, com desfibrilador mo-
mentos de SBV de A-B-C (via aérea, respiração, com- nofásico ou bifásico, a 1ª dose é de 2J/kg peso e de-
pressões torácicas) para C-A-B (compressões toráci- mais choques com 4J/kg peso.
cas, via aérea, respiração) em adultos. Após a aplicação do choque, inicie a RCP
Na sequência A-B-C, as compressões toráci- durante 2 minutos ou com 5 ciclos, iniciando pela
cas, muitas vezes, são retardadas enquanto o socor- compressão torácica.
rista abre a via aérea para aplicar respiração boca a
boca, recupera um dispositivo de barreira ou reúne
e monta o equipamento de ventilação. Com a altera- VENTILAÇÃO
ção da sequência para C-A-B, as compressões toráci- Após a abertura das VVAA, analise a respira-
cas serão iniciadas mais cedo e o atraso na ventilação ção da vítima usando o método do Ver-Ouvir-Sentir.
será mínimo (isto é, somente o tempo necessário Este exame não deve demorar mais do que dez se-
para aplicar o primeiro ciclo de 30 compressões to- gundos, se constatar que não há respiração, ou ela
rácicas, ou, aproximadamente, 18 segundos; quando está inadequada (respirações agônicas), ou ainda,
dois socorristas estiverem presentes para a ressusci- você não tem certeza se a respiração é adequada;
tação do bebê ou da criança, o atraso será ainda me- inicie as ventilações artificiais.
nor).
Ventilação Bolsa-Válvula-Mascara (ambú)
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A ventilação bolsa-válvula-máscara é o proce- ● Havendo pulso, efetue de 10 a 12 ventila-
dimento padrão na aplicação da ventilação na RCP. A ções por minuto sem compressões torácicas;
maioria destes equipamentos são constituídos por
● Evite a hiperventilação, pois isto pode cau-
uma máscara que garante a vedação da boca e nariz,
sar uma distensão gástrica reduzindo o débito cardí-
uma válvula que impede a reinalação e uma bolsa
aco.
com um volume aproximado de 1.600 ml. Assim que
possível conecte também o reservatório com O2 Ventilação Boca-nariz
para garantir a entrega de 100% de oxigênio ao paci- Recomendada quando não é possível ventilar
ente, sem este equipamento a entrega de O2 fica em boca a boca, como: trauma de face, boca disforme,
apenas 70%. ou boca-boca/nariz em lactentes:
● Fechar a boca do paciente com a mão;
Para a ven- ● Respire normalmente, coloque os lábios ao
tilação bolsa-vál- redor do nariz do paciente e ventile;
vula-máscara, se-
gure firmemente ● Deixe o paciente expirar passivamente,
com uma das pode ser necessário abrir a boca;
mãos a máscara e ● Manter a mesma recomendação de ritmo
o um dos ângulos anterior (boca-a-boca).
da mandíbula do
F Ventilação Boca-estoma
paciente,
i
com a outra mão comprima lentamente a
bolsa
g até verificar elevação visível do tórax. A venti- A ventilação nestes casos é feita diretamente
lação
u com 2 (dois) socorristas garante uma maior no estoma da mesma maneira do boca-a-boca. Após
r
efetividade, pois enquanto um comprime a bolsa, o a ventilação não esqueça de permitir a saía de ar
a
outro veda a máscara com as duas mãos, uma em após cada ventilação.
A
cada
m ângulo da mandíbula. COMPRESSÃO TORÁCICA
b
ú Conforme a diretriz de 2005 da AHA as com-
Ventilação Boca-a-boca pressões torácicas são enfatizadas. A compressão to-
● Pince o nariz do rácica consegue criar um pequeno fluxo de sangue
paciente usando o pole- para os órgãos vitais, como cérebro e miocárdio. A
gar e dedo indicador; cada interrupção este fluxo para e durante as primei-
ras compressões ele não se estabelece de forma efe-
● Respire normal- tiva, por isto as compressões têm maior importância.
mente e coloque seus lá-
bios na boca do paciente, Posição do Corpo e das Mãos
vedando-a completa- Verificado que o paciente não possui pulso, o
mente, impedindo vaza- F socorrista deve iniciar as compressões torácicas:
mento de ar; i
g ● Certifique-se de que o paciente esteja em
● Ventile 2 (duas) vezes
u (cerca de 1 segundo decúbito dorsal sobre uma superfície rígida;
r (trinta) compressões
para cada ventilação) a cada 30
a ● Dependendo da altura da maca pode-se ajo-
torácicas;
B elhar-se ou ficar em pé ao lado do peito do paciente;
o
● A ventilação deve provocar elevação visível
c ● Exponha o peito do paciente e coloque uma
do tórax;
a das mãos no centro do peito na altura da linha ma-
a
● Observar o tórax subindo e descendo, ouvir milar;
b
e sentir o fluxo de ar;
o ● Coloque a outra mão sobre a primeira e en-
● Manter as vias aéreasc abertas para a expira- trelace os dedos com esta, não aplique nenhuma
ção; a
pressão sobre as costelas, o término do esterno, ou
● Não demore mais do que 10 (dez) segundos o abdômen;
na aplicação das ventilações;
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● Posicione-se verticalmente sobre o paciente Procedimento igual ao da criança com a dife-
com os braços retos e seus ombros sobre o peito do rença de que logo apos o parto se faz necessário as-
paciente e comprima o tórax de forma que o peso de pirar as VVAA por completo para retirar qualquer
seu corpo auxilie na compressão. possibilidade de obstrução pelo liquido amniótico.
Técnica da Compressão Ventilação
Para efetuar as compressões é importante Mesma ventilação recomendada para crianças
lembrar destes detalhes: deve ser aplicada aos neonatos com a diferença de
que neste caso somente deve ser aplicada 1 (uma)
● Comprima 30 (trinta) vezes o peito para
ventilação antes de iniciar as compressões.
cada 02 (duas) ventilações no paciente adulto, inde-
pendente de estar em 1 ou 2 socorristas; Compressão Torácica
● A taxa de compressão deve ser de 100 (cem)
compressões por minuto;
● Comprima rápido, comprima forte e permita
o retorno completo do tórax;
● Execute a compressão com uma profundi-
dade de 4 (quatro) a 5 (cinco) centímetros;
Ressuscitação
Cardiopulmonar Principais diferenças na aplicação de compres-
● Tempo de com- sões torácicas em relação a criança:
pressão e descompres- ● Apalpe o pulso braquial em neonatos, se es-
são devem ser iguais; tiver ausente inicie o RCP;
● Limite as inter- ● A aplicação da compressão e realizada logo
rupções, a compressão abaixo da linha mamilar;
torácica é o procedi-
mento mais importante ● Comprima o tórax com os 2 (dois) polegares,
para garantir uma sobre abraçando o peito da vitima com as mãos;
vida ao paciente; ● Comprima 3 (três) vezes o tórax para cada 1
● Após 2 (dois) minutos ou 5 (cinco) ciclos de (uma) ventilação;
RCP reavalie o paciente, não demore mais do que ● Comprima a uma taxa de 90 (noventa) com-
dez segundos nesta avaliação. pressões por minuto.
● A cada 2 (dois) minutos tro- DESFIBRILADOR EXTERNO AUTOMÁTICO
F
i
que, se possível, o socorrista que com- (DEA)
g prime o tórax; estudos comprovaram
u que mesmo sem referir cansaço o socorrista perde A desfibrilação é a aplicação de uma corrente
r eficiência em apenas dois minutos de compressão. elétrica em um paciente, através de um desfibrilador,
a um equipamento eletrônico cuja função é a reversão
R RCP em Neonatos das arritmias cardíacas pela aplicação de um pulso
C
P Como o RCP em Neonatos somente e aplicável de corrente elétrica de grande amplitude num curto
na primeiras horas apos o parto, dificilmente uma período de tempo. Ao atravessar o coração, esta cor-
equipe de socorristas ira usa-lo, mas como pode ha- rente força uma contração simultânea das fibras car-
ver a ocorrência de um parto de emergência na am- díacas, possibilitando o restabelecimento de um
bulância, o socorrista deve saber aplica-lo. ritmo normal.
Abertura de Vias Aéreas O desfibrilador é constituído de duas pás, liga-
das através de cabos, a um equipamento que trans-
forma a energia elétrica em choques elétricos. A in-
tensidade dos choques é regulável e pode chegar até

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360 joules. As duas pás é que descarregam os cho- Na década de 80 foi realizada a cirurgia para
ques na parede anterior do tórax. O pulso de cor- implantação do primeiro desfibrilador interno auto-
rente elétrica que atravessa o coração promove a mático e Weaver demonstrou que a iniciação de RCP
despolarização (contração) de uma grande quanti- e desfibrilação precoces melhorava as chances de so-
dade de fibras ventriculares que estavam repolariza- brevivência. Também em 1980 Eisenberg e Copass
das (relaxadas) e prolonga a contração das que já es- publicaram um aumento na sobrevivência em paci-
tavam contraídas. Se uma certa massa crítica (75% a entes desfibrilados por equipes especialmente treina-
90%) das fibras responderem simultaneamente a das, comparativamente a equipe não treinada.
esta contração forçada, quando retornarem ao es- Desde o advento dos primeiros desfibriladores exter-
tado de repouso estarão em condições de responder nos automáticos, no ano de 1980, estudos demons-
ao marca-passo natural do corpo e, com o sincro- tram aumento progressivo na sobrevida de pacientes
nismo, o bombeamento é restabelecido. em RCP.
O conceito de desfibrilação foi introduzido em Nos anos 90 surgiram os desfibriladores portá-
1899 por Prevost e Batelli após uma experiência onde teis computadorizados (DEA) com capacidade de
foi aplicado um choque de alta voltagem no coração análise da atividade elétrica do coração e possibili-
de um cachorro com fibrilação ventricular. dade de detecção e classificação das arritmias.
Em 1933, Hooker, Kouwenhoven e Funcionamento do Coração
Langworthy publicaram inúmeros sucessos de desfi-
O coração é um órgão muscular que promove
brilação interna em cães com corrente alternada e
a circulação do sangue pelo corpo. É composto por
em 1936 Ferrie realizou com sucesso a desfibrilação
duas partes distintas, as quais agem como bombas
utilizando corrente alternada diretamente da rede
pulsáteis independentes: o coração direito, respon-
elétrica.
sável pelo bombeamento do sangue venoso para o
Em 1947, Claude Beck reportou o primeiro su- pulmão, e o coração esquerdo, que bombeia o san-
cesso de desfibrilação em humanos, com aplicação gue arterial para os órgãos periféricos [GUYTON;
de uma corrente alternada com uma freqüência de HALL,1997].
60 Hz, durante uma cirurgia.
Cada um dos lados do coração é subdividido
Em 1950 Kouwenhoven realizou as primeiras em duas câmaras internas: o átrio e o ventrículo, as
experiências com desfibrilação em tórax fechado de quais são ligadas entre si por válvulas cardíacas. En-
cães. quanto os átrios podem ser considerados bombas
fracas de escorva, responsáveis por bombear para os
Em 1956 Zoll obteve sucesso na desfibrilação
ventrículos o sangue que chega ao coração, são os
com um humano empregando a técnica que Kouwe-
ventrículos que imprimem a força principal de bom-
nhoven usou em animais.
beamento [GUYTON; HALL,1997]. A Figura 1 apre-
Em estudos posteriores, Edmark e seus cola- senta a estrutura do coração.
boradores descobriram que a corrente direta ou des-
Os movimentos realizados pelo coração para
fibrilação por pulso era mais efetiva e com menos
promover o bombeamento do sangue são conheci-
efeitos adversos do que a corrente alternada e com
dos como batimentos cardíacos. Os eventos que
o advento da eletrônica na década de 60, esta cor-
ocorrem entre o início e o final de cada batimento
rente, melhorada tecnologicamente, passou a ser
constituem o ciclo cardíaco, o qual consiste em um
empregada em larga escala.
período de relaxamento, a diástole, intercalado por
Em 1967 Pantridg e Geddes reportaram au- um período de contração, a sístole [BOND, 2000].
mento na sobrevivência de Reanimação Cárdio Pul-
monar (RCP) pré-hospitalar utilizando uma unidade
móvel de cuidados coronários equipada com desfi-
brilador de corrente direta em Belfast.
Na década de 70 vários experimentos ocorre-
ram na melhoria da detecção de fibrilação ventricu-
lar e surgiu o primeiro desfibrilador externo com de-
tecção automática de fibrilação ventricular.

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A desfibrilação, que é a interrupção da fibrila-
ção, requer a re-sincronização das células do mús-
culo cardíaco. A desfibrilação elétrica atua mediante
a produção de um estado uniforme da excitabilidade
ventricular. O choque elétrico da desfibrilação esti-
mula todo o tecido excitável, levando ao estado re-
fratário uma massa crítica do músculo ventricular, in-
terrompendo a fibrilação. Normalmente, o coração é
capaz de bater sincronizadamente após a desfibrila-
ção elétrica. Para uma célula cardíaca individual, o
Excitação elétrica cardíaca choque não necessita ser maior do que o pulso ge-
rado pelo próprio marca-passo do coração. Nesse
O sistema excitatório cardíaco é composto por sentido, um desfibrilador é um estimulador seme-
tecidos diferenciados, com características específicas lhante a um marca-passo cardíaco de larga escala,
de geração e condução dos impulsos elétricos. As se- que não deve provocar danos ao coração.
guintes estruturas (tecidos) fazem parte deste sis-
tema: Para produzir a mesma densidade de corrente
que o marca-passo cardíaco natural, a desfibrilação
- O nodo sinusal (ou nodo sinuatrial), respon- requer eletrodos corretamente posicionados (ver Fi-
sável por iniciar o impulso cardíaco e controlar a fre- gura 4.1) e de grande superfície pelos quais circulam
qüência de batimento cardíaco (função de marca- correntes de dezenas de ampères, sendo que grande
passo cardíaco); parte dessas correntes acabam passando ao redor e
- A via internodal, que conduz o impulso do não através do coração [COOK A. M. et al.,1982]. É
nodo sinusal para o nodo atrioventricular (nodo A-V); muito difícil medir a corrente elétrica que passa pelo
tórax do paciente durante uma desfibrilação, visto
- O nodo atrioventricular (ou nodo A-V), que que o fluxo varia muito de um indivíduo para outro.
retarda os impulsos conduzidos dos átrios em direção
aos ventrículos;
- O feixe atrioventricular (ou feixe A-V), que
conduz os impulsos do nodo A-V para os ventrículos;
- Os feixes esquerdo e direito das fibras de Pur-
kinje, responsáveis pela disseminação dos impulsos
para todas as partes dos ventrículos.
A Figura 2 mostra a localização das estruturas
do sistema excitatório e condutor no coração.

Desfibriladores Externos Automaticos ( DEA)


Os desfibriladores externos automáticos (DEA)
aplicam um pulso de corrente de grande amplitude
no coração para restituir o ritmo normal dos bati-
mentos cardíacos em pacientes que apresentam fi-
brilação ventricular ou taquicardia ventricular.
Os DEAs diferem dos desfibriladores convenci-
onais porque podem analisar o ritmo cardíaco e de-
terminar se a desfibrilação será necessária; isto eli-
mina a necessidade do operador interpretar o sinal
de ECG antes da desfibrilação.
O DEA foi concebido para ser utilizado princi-
Mecanismo da Desfibrilação
palmente em situações de emergência onde os ope-

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radores não são treinados no suporte de vida avan- ser desfibriladas. Idealmente, os DEAs devem ter
çado, tais como bombeiros, agentes policiais e para- sensibilidade e especificidade de 100%. No entanto,
médicos. isso não é a realidade porque existe um ponto de
equilíbrio (compromisso) entre sensibilidade e espe-
O DEA também pode ser utilizado em áreas do
cificidade.
hospital onde não existem pessoas treinadas para
ministrar um suporte de vida avançado. A especificidade do equipamento em diferen-
ciar arritmias que não necessitam de desfibrilação
Princípios de operação
deve ser superior a 95% na ausência de artefatos.
Os DEAs podem ser classificados em automá- [ECRI. 1993].
ticos ou semi-automáticos.
Estado de Choque
Os modelos automáticos exigem apenas que o
Embora tenha muitas definições, o choque é
operador posicione os eletrodos de desfibrilação e
quase sempre considerado um estado de hipoperfu-
ative a unidade que vai analisar o ECG do paciente e
são celular generalizada no qual a liberação de oxi-
determinar a necessidade de aplicação do pulso elé-
gênio no nível celular é inadequada para atender às
trico; caso necessário, o equipamento automatica-
necessidades metabólicas. Com base nessa de-
mente efetua a descarga.
finição, o choque pode ser classificado em termos
As maiorias dos DEAs são semi-automáticos. dos determinantes da perfusão e oxigenação celula-
Estes equipamentos analisam o ECG do paciente e res. Uma compreensão das alterações celulares que
notificam o operador se a desfibrilação é indicada. surgem desse estado de hipoperfusão, bem como
Desta forma, o operador pode efetuar a descarga. dos efeitos endócrinos, microvasculares, cardiovas-
Os DEAs semi-automáticos podem ser dividi- culares, teciduais e nos órgãos-alvo, também irá aju-
dos em três categorias: equipamentos que podem dar na escolha das estratégias de tratamento.
mostrar a curva de ECG, equipamentos que não mos- Definições mais recentes tendem a se preo-
tram a curva de ECG e os desfibriladores convencio- cupar com a identificação do mecanismo de choque
nais (conhecidos como desfibriladores de consulta). e os efeitos sobre a homeostase do doente. São mais
Estes equipamentos podem utilizar mensagem específicas e, talvez, formem um quadro melhor das
visual, sons e/ou instruções de voz sintetizada para disfunções observadas.
notificar o operador de uma ação. Este é o princípio básico do atendimento pré-
Os DEAs também podem incluir um dispositivo hospitalar, já que o choque não é definido pela baixa
de documentação tal como uma fita cassete ou um pressão arterial, pelo pulso rápido e pela pele fria e
cartão de memória. Cabos reutilizáveis fazem a co- úmida; estas são apenas manifestações sistêmicas
nexão dos eletrodos adesivos de desfibrilação com o de todo o processo patológico denominado choque.
equipamento. Estes eletrodos adesivos são utilizados A definição correta de choque é a ausência
para a monitoração do ritmo cardíaco e a entrega da de perfusão tecidual (oxigenação) em nível celular,
energia de desfibrilação. Para visualização das infor- levando ao metabolismo anaeróbico e à perda da
mações, informações da situação ao operador (paci- produção de energia necessária à vida.
ente e/ou desfibrilador) e para mostrar a onda de
Para o socorrista, ou qualquer outro profissi-
ECG ou informar sobre o início da desfibrilação o
onal de saúde, entender essa condição anormal e ser
equipamento conta com um display LCD ou outro
capaz de desenvolver um plano terapêutico para pre-
tipo de display.
venção ou reversão do choque, é importante conhe-
Precisão cer e compreender o que ocorre no organismo em ní-
A precisão de reconhecimento de algoritmo de vel celular. As respostas fisiológicas normais usadas
um DEA é normalmente descrito em termos de sensi- pelo corpo para se proteger do desenvolvimento de
bilidade e especificidade. choque devem ser entendidas, reconhecidas e inter-
pretadas. Somente, então, é possível desenvolver
A sensibilidade representa a capacidade de uma abordagem racional ao tratamento dos proble-
um DEA identificar arritmias que devem ser desfibri- mas apresentados pelo doente em choque. A palavra
ladas. A especificidade representa a capacidade de importante é “entender”.
um DEA em identificar arritmias que não precisam
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O choque pode matar o doente na cena, no mover o carro, mesmo se houver nova disponibili-
pronto-socorro, no centro cirúrgico ou na unidade de dade de ar e gasolina. No corpo, os problemas da uti-
terapia intensiva. Embora a morte real possa ser re- lização do metabolismo anaeróbico como fonte de
tardada por várias horas a vários dias ou mesmo se- energia são similares às desvantagens do uso da ba-
manas, sua causa mais comum é a falha da reanima- teria para mover o automóvel: sua duração é curta,
ção inicial. A ausência de perfusão das células por a produção de energia é menor e há produção de me-
sangue oxigenado resulta em metabolismo anaeró- tabólitos que são tóxicos para o organismo, cujos da-
bico e diminuição da função necessária à sobrevida nos podem ser irreversíveis.
do órgão. Mesmo quando algumas células são inici-
O principal metabólito do metabolismo ana-
almente poupadas, a morte pode ocorrer mais tarde,
eróbico é a excessiva quantidade de ácido. Além
já que as células restantes são incapazes de desem-
disso, a produção de energia é reduzida em 15 vezes.
penhar, a função daquele órgão. Este capítulo ex-
Se o metabolismo anaeróbico não for revertido rapi-
plica este fenômeno e apresenta métodos para sua
damente, as células não conseguem continuar funci-
prevenção.
onando e morrem. Em caso de morte de um número
Fisiologia elevado de células em qualquer órgão, o funciona-
mento deste é interrompido. Se muitas células de um
Metabolismo: O Motor Humano
órgão morrem, mas não o suficiente para matá-lo,
O corpo humano é composto por mais de 100 sua função será significativamente reduzida, e as cé-
milhões de células, e cada uma destas células requer lulas restantes terão de trabalhar ainda mais para
oxigênio para funcionar e produzir energia. As célu- manter o funcionamento. Estas células sobrecarre-
las necessitam de oxigênio para produzir energia. gadas podem ou não ser capazes de suportar toda a
Esse evento trata se de um tipo de combustão, e os função do órgão.
produtos desse processo são glicose (energia), água
Mesmo com algumas células restantes, o ór-
(H2O) e dióxido de carbono (CO2). Este processo é si-
gão ainda pode morrer.
milar ao que ocorre em um motor de carro: gasolina
e ar são misturados e queimados para produzir ener- Dependendo do órgão inicialmente envol-
gia, e o monóxido de carbono (CO) é criado como re- vido, a progressão da morte celular à morte do orga-
síduo. O motor move o carro, o ar-condicionado re- nismo pode ser rápida ou mais lenta. Podem se pas-
gula a temperatura para o motorista e a eletricidade sar 2 ou 3 semanas antes que o dano causado pela
gerada é usada para acender os faróis, que mostram hipóxia ou pela hipoperfusão nos primeiros minutos
a estrada, tudo devido à queima de gasolina, que pós-trauma leve à morte do doente. A eficácia das
produz energia. ações do socorrista na reversão ou prevenção da hi-
póxia (ausência de quantidade suficiente de oxigênio
O metabolismo aeróbico descreve o uso de
para atender os requerimentos celulares) e da hipo-
oxigênio pelas células. Esta forma de metabolismo é
perfusão (ausência de quantidade adequada de san-
o principal processo de combustão do corpo. A ener-
gue passando pelas células do tecido) no crítico perí-
gia é produzida, usando oxigênio, mediante um com-
odo pré-hospitalar pode não ser imediatamente apa-
plicado processo conhecido como ciclo de Krebs.
rente. Porém, essas medidas de reanimação são in-
As células possuem uma fonte energética al- questionavelmente necessárias à sobrevida do do-
ternativa. O metabolismo anaeróbico ocorre sem o ente. Tais ações iniciais são um componente crítico
uso de oxigênio. É o sistema energético de re- da “hora de ouro” do atendimento a traumas
serva do organismo, usando a gordura armazenada
Essa sensibilidade é denominada isquemia
no corpo como fonte. Comparativamente, fontes al-
(ausência de oxigênio) e é maior no cérebro, no cora-
ternativas de combustível também existem para au-
ção e nos pulmões.
tomóveis; na indisponibilidade de gasolina e ar, é
possível dirigir um carro usando apenas a bateria e o
motor elétrico de arranque. O automóvel somente
pode se mover enquanto houver energia armaze-
nada na bateria. Este movimento é muito mais lento
e bem menos efi ciente do que proporcionado por ga-
solina e ar. De certa forma, porém, funciona, embora
a bateria logo acabe e não haja mais energia para
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gue às células teciduais, poderemos fazer uma ana-
logia interessante usada na descrição da perfusão é
pensar nas hemácias como veículos de transporte, os
pulmões como armazéns de oxigênio, os vasos san-
guíneos como estradas e as células teciduais como o
destino do oxigênio. Um número insuficiente de veí-
culos de transporte, obstruções nas estradas e/ou a
baixa velocidade dos veículos podem contribuir na
A sobrevida em longo prazo de cada órgão e redução da distribuição do oxigênio, levando à morte
do corpo como um todo requer o suprimento de im- das células teciduais.
portantes nutrientes (oxigênio e glicose) às células.
Classificação do Choque
Princípio de Fick
Os determinantes principais da perfusão ce-
O princípio lular são: o coração (que atua como a bomba ou o
de Fick é a descrição motor do sistema), o volume de líquidos (que atua
dos componentes ne- como o fluido hidráulico), os vasos sanguíneos (que
cessários à oxigena- servem como os condutos ou encanamentos) e, final-
ção das células do mente, as células do corpo. Com base nesses compo-
corpo. De forma sim- nentes do sistema de perfusão, o choque pode ser
Fples, estes três com- classificado nas seguintes categorias:
iponentes são:
g 1. Hipovolêmico, essencialmente hemorrágico
u 1. Carrega- no doente traumatizado, relacionado com a perda
rmento de oxigênio de volume sanguíneo circulante. É a causa mais co-
pelas hemácias no pulmão. a mum de choque no doente traumatizado.
C
h
2. Distribuição de hemácias pelas células teci- 2. Distributivo (ou vasogênico), relacionado
o com as alterações do tônus vascular decorrentes de
duais.
q
u
várias causas diferentes.
3. Descarregamento de oxigênio das hemácias
e 3. Cardiogênico, relacionado com a interferên-
para as células teciduais.
cia na função de bombeamento do coração.
O tratamento pré-hospitalar do choque é di-
rigido de forma a garantir que os componentes críti- Anatomia e Fisiologia
cos do princípio de Fick sejam mantidos, com o obje- Coração
tivo de impedir ou reverter o metabolismo anaeró-
bico, assim evitando a ocorrência de morte celular e, O cora-
por fim, morte do doente. Esses componentes de- ção consiste
vem ser bastante enfatizados pelo socorrista e são em duas câ-
implementados no tratamento dos doentes vítimas maras que re-
de trauma por intermédio das seguintes ações: cebem o lí-
quido (os
■ Manutenção de via aérea e ventilação ade- átrios) e duas
quadas, fornecendo, assim, a quantidade correta de câmaras que
oxigênio às hemácias; predominantemente o bombeiam (os ventrículos).
■ Uso criterioso de suplementação com oxigê- Embora seja um órgão único, o coração na
nio como parte da ventilação do doente; verdade tem dois subsistemas. O átrio direito, que
■ Manutenção da circulação adequada, per- recebe o sangue da circulação sistêmica, e o ventrí-
fundindo, assim, as células teciduais com sangue oxi- culo direito, que bombeia o sangue para os pulmões,
genado. são chamados de “coração direito”. O átrio es-
querdo, que recebe o sangue oxigenado dos pul-
F O
mões, e o ventrículo esquerdo, que bombeia o san-
componente
i perfusão, ou seja, a distribuição de san-
g gue para a circulação sistêmica, são chamados de
u “coração esquerdo”.
r
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a
C
i
r
c
u
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
O sangue que volta dos pulmões é bombeado Existem três compartimentos fluidos: o flu-
para fora do coração através da aorta para o resto do ido intravascular (no interior dos vasos), o fluido in-
corpo pela contração do ventrículo esquerdo. tracelular (no interior das células) e o fluido intersti-
cial (entre as células e os vasos). O fluido intersticial
em quantidade superior à normal produz edema, fa-
Em uma posição relaxada (diástole), o ventrí- zendo com que a pele fique esponjosa e úmida
quando comprimida com o dedo.
Sangue
O componente fluido do sistema circulatório
– o sangue – contém não apenas hemácias, como
também fatores que combatem infecções (leucócitos
e anticorpos), plaquetas e fatores essenciais à coagu-
lação do sangue em caso de lesão vascular, proteínas
para a reconstrução celular, nutrientes, como a gli-
cose e outras substâncias necessárias para o meta-
culo enche-se de sangue oriundo das contrações do bolismo e a sobrevivência.
átrio. Nesse período, o sangue flui gradualmente O volume de fluido no interior do sistema
através dos grandes vasos, à medida que a pressão vascular deve ser igual à capacidade dos vasos san-
diminui. Durante a contração ventricular (sístole), guíneos, para que o compartimento seja preenchido
uma grande quantidade de sangue passa para o sis- e a perfusão, mantida. Qualquer variação no volume
tema vascular, aumentando a pressão. A ação cardí- do compartimento do sistema vascular em relação
aca e o fluxo sanguíneo estão ilustrados em A, e a ao volume de sangue ali presente afeta o fluxo san-
onda de pulso é vista em B. guíneo, positiva ou negativamente.
O corpo humano é constituído por 60% de
água, que é a base de todos os fluidos orgânicos.
Uma pessoa de 70 kg tem aproximadamente 40 litros
de água. A água do organismo está presente em dois
compartimentos – intracelular e extracelular.
Conforme mencionado anteriormente, cada
tipo de líquido tem propriedades
F específicas e importantes. O que está dentro das cé-
i
g lulas (intracelular) corresponde a 45% do peso do
u corpo. O que está fora das células (extracelular) que
Embora o coração pareça ser um órgão único,
r correspondem a 15% aproximadamente.
funciona como se fossem dois. O sangue não oxige-a
C Além da movimentação desses fluídos por
nado é recebido no “coração direito”, vindo das veias
o dutos (vasos sanguineos e linfáticos) existem outros
cavas superior e inferior, e é bombeado atravésr da
dois tipos interessantes e importantes de se saber. O
artéria pulmonar até os pulmões, nos quais é oxige-
a
primeiro trata se do movimento através dos poros
nado, retorna ao coração através da veia pulmonarç e
ã dos capilares para fora destes posicionando se no es-
é bombeado pelo ventrículo esquerdo.
o paço intersticial. O segundo é a entrada e saída deles
Vasos Sanguíneos das células através de suas membranas.
Os vasos sanguíneos contêm o sangue e le- Sistema Nervoso
vam-no para as várias áreas e células do organismo.
O sistema nervoso ocupa papel fundamental
São as “rodovias” do processo fisiológico da circula-
na regulação dos mecanismos de fluidos do orga-
ção. O único grande tubo de saída do coração, a
nismo. Tanto na regulação vascular e cardíaca, como
aorta, não pode servir cada célula individual do orga-
na permeabilidade das membranas e excreção de
nismo e, por isso, divide-se em vários vasos de tama-
fluidos.
nho decrescente. Qualquer alteração no fluxo nessas
“rodovias”, poderá levar todo o sistema ao colapso.
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● Respiração rápida e profunda - no agrava-
9 TIPOS DE CHOQUE mento do quadro, a respiração torna- se superficial
e irregular;
9.1 CHOQUE HIPOVOLÊMICO ● Pulso rápido e fraco em casos graves;
quando há grande perda de sangue, pulso difícil de
Tipo mais comum de choque que o socorrista
sentir ou até ausente;
vai encontrar no atendimento pré hospitalar. Sua ca-
racterística básica é a diminuição acentuada do vo- ● Enchimento capilar acima de 2 segundos;
lume de sangue. ● Inconsciência parcial ou total;
Pode ser causado pelos seguintes fatores: ● Pele fria e úmida (pegajosa);
● Perda direta de sangue: hemorragia interna ● Palidez ou cianose (pele e mucosas acinzen-
e externa; tadas); e
● Perda de plasma: em caso de queimaduras, ● Olhos vitrificados, sem brilho, e pupilas dila-
contusões e lesões traumáticas; tadas (sugerindo apreensão e medo). casos graves;
● Perda de líquido pelo trato gastrointestinal: quando há grande perda de sangue, pulso difícil de
provoca desidratação (vômito ou diarréia). sentir ou até ausente.
No caso de fratura de fêmur, estima-se a Cuidados de emergência
perda de aproximadamente 1 litro de sangue circu- O tratamento definitivo do choque hipovolê-
lante, parte devido ao sangramento e parte à transu- mico é a reposição de líquidos (soluções salinas ou
dação (perda de plasma e outros fluidos nos tecidos sangue)
moles danificados pela fratura). Nas queimaduras,
quantidade considerável de plasma deixa a circula- O socorrista deve providenciar a chegada do
ção em direção aos tecidos adjacentes à área quei- profissional médico à cena do atendimento ou o
mada. transporte rápido para o hospital.

A redução no volume de sangue circulante Aplicar as seguintes medidas às vítimas em


causa diminuição no débito cardíaco e reduz toda a choque:
circulação (perfusão tecidual comprometida). O re- ● Tratar a causa: interromper sangramento
conhecimento precoce e o cuidado efetivo no aten- quando acessível (usar o método da pressão direta,
dimento do choque hipovolêmico podem salvar a elevação do membro);
vida do paciente.
● Assegurar via aérea permeável e manuten-
O tratamento definitivo do choque hipovolê- ção da respiração;
mico é a reposição de líquidos (soluções salinas ou
sangue). ● Administrar oxigênio em alta concentração
(12 litros por minuto sob máscara
Sinais e sintomas do choque hipovolêmico po-
dem variar e não aparecer em todas as vítimas. O facial perfeitamente ajustada);
mais importante é suspeitar e estabelecer os cuida- ● Imobilizar e alinhar fraturas - diminui a dor e
dos antes que se desenvolvam. o sangramento;
A vítima apresentaria os seguintes sinais e sin- ● Confortar o paciente - quanto mais calmo e
tomas: colaborativo, melhores chances de sobrevida;
● Ansiedade e inquietação; ● Colocar a vítima em posição de choque: a
● Náusea e vômito; melhor é em decúbito dorsal, com as pernas eleva-
das mais ou menos 25 cm (Trendelemburg). O obje-
● Sede, secura na boca, língua e lábios; tivo é concentrar o volume sanguíneo na cabeça, no
● Fraqueza, tontura e frio; tórax e na parte alta do abdômen. Caso essa posição
não seja possível, isto é, se causar dor ou descon-
● Queda acentuada de pressão arterial (PA forto ao paciente, mantenha-o no plano. Se estiver
menor que 90mm/Hg);

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vomitando e não houver qualquer contra-indicação, ● Arritmias cardíacas (prejuízo da eficácia de
transporte-o em decúbito lateral; contração); e
● Não dar nenhum líquido ou alimento; ● Tamponamento pericárdico (por restrição
de expansão do coração).
● Monitorar o paciente durante o transporte;
conferir os sinais vitais a cada 5 minutos e comunicar Os sinais e sintomas são semelhantes aos do
qualquer alteração; e choque hipovolêmico e o pulso pode estar irregular.
Já com relação aos cuidados de emergência, a vítima
● Manter o paciente aquecido; certificar-se de
não necessita de reposição de líquidos ou elevação
que esteja coberto sob e sobre o corpo, remover a
de membros inferiores; freqüentemente respira me-
roupa úmida, considerando a temperatura do meio
lhor semi-sentada (semi fowler). Administrar oxigê-
ambiente para não provocar sudorese.
nio e, se necessário, manobras de reanimação.
Em resumo, a vítima de trauma em choque hi-
povolêmico deve ter a via aérea permeável, oxigena-
ção restaurada, ser rápida e eficientemente imobili- 9.3 CHOQUE NEUROGÊNICO
zada e transportada imediatamente ao hospital para Causado por falha no sistema nervoso em con-
receber tratamento definitivo. trolar o diâmetro dos vasos, em consequência de le-
Choque hipovolêmico na criança são na medula espinhal, interrompendo a comunica-
ção entre o cérebro e os vasos sangüíneos. O resul-
O trauma na infância geralmente resulta em tado é a perda da resistência periférica e a dilatação
perda significativa de sangue. No entanto, as carac- da rede vascular. Se o leito vascular estiver dilatado,
terísticas fisiológicas próprias da criança fazem com não existirá sangue suficiente para preencher a cir-
que, muitas vezes, as alterações dos sinais vitais se- culação, havendo perfusão inadequada de órgãos.
jam pequenas e o choque hipovolêmico em fase ini-
cial passe despercebido. Daí resulta a indicação para Com exceção do pulso, os sinais e sintomas do
monitorar cuidadosamente a evolução dos sinais vi- choque neurogênico são os mesmos do choque hi-
tais em crianças traumatizadas. povolêmico. O paciente apresenta bradicardia (pulso
lento).
Hemorragia e Choque
A primeira alteração perceptível é a taquicar-
9.4 CHOQUE PSICOGÊNICO
dia que, entretanto, pode ocorrer também como res-
posta ao estresse psicológico, à dor e ao medo. Con- De mecanismo semelhante ao choque neuro-
sidere que a frequência cardíaca varia em função da gênico, aparece em condições de dor intensa, desen-
idade da criança. cadeado por estímulo do nervo vago e tem como ca-
De modo geral, taquicardia com extremida- racterística principal braquicardia inicial seguida de
des frias e PA sistólica menor que 70 mmHg são in- taquicardia na fase de recuperação. O paciente se re-
dicadores de choque na criança. cupera espontaneamente se colocado em decúbito
dorsal.
Os cuidados de emergência a serem dispensa-
dos pelo socorrista são os mesmos descritos para
adultos, ressaltando-se que a perda de calor corporal 9.5 CHOQUE ANAFILÁTICO
numa criança hipotensa pode ser letal. Resulta de uma reação de sensibilidade a algo
a que o paciente é extremamente alérgico; como pi-
9.2 CHOQUE CARDIOGÊNICO cada de inseto (abelhas, vespas), medicação, alimen-
tos, inalantes ambientais, etc.
Decorre de uma incapacidade do coração
bombear o sangue de forma efetiva. Este enfraque- A reação anafilática ocorre em questão de se-
cimento do músculo cardíaco pode ser conseqüência gundos ou minutos após o contato com a substância
de infarto agudo do miocárdio, situação freqüente, a que o paciente é alérgico.
sendo que a vítima, normalmente, apresenta dor to- Alguns sinais e sintomas são característicos:
rácica antes de entrar em choque. Outras situações
● Pele avermelhada, com coceira ou queima-
que podem gerar choque cardiogênico:
ção;
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● Edema de face e língua; de dois fatores: primeiro de volume de sangue sufi-
ciente circulando dentro dos vasos, dependendo
● Respiração ruidosa e difícil devido ao edema
também da pressão sistólica para impulsioná-lo.
de cordas vocais; e
Divide-se interiormente em quatro cavidades,
● Finalmente queda da pressão arterial, pulso
sendo duas superiores e duas inferiores.
fraco, tontura, palidez e cianose; coma.
As cavidades superiores denominam-se átrios
O paciente em choque anafilático necessita de
e as cavidades inferiores denominam-se ventrículos.
medicação de urgência para combater a reação, ad-
Os átrios (direito e esquerdo), não se comunicam en-
ministrada por médico.
tre si. Da mesma forma os ventrículos (direito e es-
Ao socorrista cabe: querdo). Entretanto os átrios comunicam-se ampla-
● Dar suporte básico de vida à vítima (manter mente com os ventrículos correspondentes, comuni-
vias aéreas e oxigenação); e cação esta que permite a divisão do coração em duas
partes completamente distintas; a esquerda por
● Providenciar o transporte rápido ao hospital onde circula o sangue arterial (oxigenado) e a direita
que deverá ser comunicado antecipadamente. por onde transita o sangue venoso (rico em gás car-
bônico).
9.6 CHOQUE SÉPTICO Vasos Sanguineos
Numa infecção severa, toxinas são liberadas Artérias
na circulação, provocando dilatação dos vasos san- São os vasos que se afastam do coração le-
güíneos e conseqüente aumento da capacidade do vando o sangue arterial para distribuí-lo a todos os
sistema circulatório. órgãos do corpo. Desde a sua origem, no coração, as
Além disso, ocorre perda de plasma pela pa- artérias ramificam-se de modo sucessivo ficando
rede dos vasos, diminuindo o volume sangüíneo. progressivamente mais finas, isto é, diminuem de ta-
Esse tipo de choque ocorre em pacientes hospitaliza- manho à medida que se afastam do coração.
dos, sendo excepcionalmente visto por socorrista no As artérias se distribuem em dois circuitos, o
atendimento pré-hospitalar. primeiro, de menor tamanho, que leva o sangue aos
pulmões através do tronco pulmonar (também cha-
mado de pequena circulação); e o outro, de tamanho
10 HEMORRAGIAS maior, que conduz o sangue oxigenado a todas as cé-
lulas do organismo (também chamado de grande cir-
Introdução
culação). As principais artérias do corpo humano
Para um melhor entendimento dos mecanis- são: tronco pulmonar (pequena circulação) e a arté-
mos (da hemorragia e do choque) faz necessário uma ria aorta (grande circulação) responsável pela irriga-
pequena revisão de alguns aspectos conceituais de ção de todo o corpo.
anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular. Ve-
As paredes das artérias são grossas para me-
jamos:
lhor suportarem a pressão arterial; pulsam conforme
Coração a sístole cardíaca. Quando lesadas, a hemorragia se
É um órgão muscular oco que se contrai ritmi- faz por jatos intermitentes.
camente, impulsionando o sangue através de toda a Veias
rede vascular. Está situado no centro do tórax, num
O sangue que sai do coração, por intermédio
espaço denominado mediastino, que fica entre os
das artérias, retorna ao mesmo pelas veias. Por-
dois pulmões (limites laterais), por cima do dia-
tanto, veias são os vasos sanguíneos que trazem o
fragma (limite inferior), por diante da porção torá-
sangue venoso dos diversos órgãos de volta ao cora-
cica da coluna vertebral (limite posterior) e por trás
ção.
do osso esterno (limite anterior). É como uma
bomba que impulsiona o sangue. Para que trabalhe Como as veias convergem, são mais finas
de forma apropriada, necessita fundamentalmente quanto mais distantes e mais calibrosas conforme se

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aproximam do coração. As paredes das veias, finas e Ocorre quando há perda de sangue de uma ar-
delgadas, não pulsam. téria. O sangue tem coloração viva, vermelho claro,
derramado em jato, conforme o batimento cardíaco,
Capilares
geralmente rápido e de difícil controle.
São vasos muito finos que representam a tran-
Venosa
sição entre artérias e veias. É nos capilares que se dá
a troca de oxigênio e nutrientes por gás carbônico e Ocorre quando há perda de sangue por uma
detritos, para serem eliminados pelo sistema ve- veia. Sangramento de coloração vermelho escuro,
noso. em fluxo contínuo, sob baixa pressão. Pode ser con-
siderada grave se a veia comprometida for de grosso
Ao fluxo constante de sangue pelos capilares
calibre.
chamamos de perfusão, sendo ele essencial à manu-
tenção de vida nos tecidos. Capilar
A diminuição do volume sangüíneo afeta a Ocorre quando há sangramento por um leito
perfusão. Uma falha na perfusão leva os tecidos à capilar. Flui de diminutos vasos da ferida. Possui co-
morte. loração avermelhada, menos viva que a arterial, e fa-
cilmente controlada.
Sangue
Fatores determinantes da gravidade da he-
O sangue é constituído por uma parte líquida
morragia
(plasma) e por elementos figurados (glóbulos verme-
lhos, glóbulos brancos e plaquetas). Volume de sangue perdido
O sangue corresponde de 7 a 8% do peso cor- A perda de pequeno volume em geral não pro-
poral de uma pessoa. Seu volume varia de uma pes- duz efeitos evidentes; já a perda de 1,5 litro em
soa para outra, conforme a massa corporal. Por adulto ou 200 ml em criança pode ser extremamente
exemplo: uma pessoa de 75 kg tem um volume de 5 grave, inclusive colocando a vida em risco.
a 6 litros de sangue. A perda de volume sangüíneo é
Calibre do vaso rompido
importante, principalmente pela perda de plasma.
Todas as pessoas necessitam de um volume de san- O rompimento de vasos principais de pescoço,
gue mínimo para manter o aparelho cardiovascular tórax, abdômen e coxa provoca hemorragias seve-
trabalhando de modo eficiente à vida. ras, e a morte pode sobrevir em 1 a 3 minutos.
Hemorragia Tipo do vaso lesado
É o extravasamento de sangue dos vasos san- O sangramento arterial é considerado de
guíneos através de ruptura nas suas paredes. maior gravidade. As veias geralmente estão mais
próximas da superfície do corpo do que as artérias,
Classificação
sendo de mais fácil acesso.
A hemorragia pode ser classificada em:
O sangramento capilar é lento e, via de regra,
Hemorragia externa – visível porque extra- coagula espontaneamente em 6 a 8 minutos.
vasa para o meio ambiente. Exemplos: ferimentos
O processo de coagulação desencadeado em
em geral, hemorragia das fraturas expostas, epistaxe
boa parte dos pequenos e médios sangramentos
(hemorragia nasal).
pode ser suficiente para controlar a hemorragia, e o
coágulo formado age como uma rolha, impedindo a
saída de sangue.
Hemorragia interna – o sangue extravasa para
o interior do próprio corpo, dentro dos tecidos ou ca- Velocidade da perda de sangue
vidades naturais. Exemplos: trauma contuso, ruptura
A perda rápida de 1 litro de sangue pode colo-
ou laceração de órgãos de tórax e abdômen, hemor-
car o indivíduo em risco de vida.
ragia de músculo ao redor de partes moles.
Quando a perda de sangue é lenta, o orga-
Tipos de hemorragia
nismo desenvolve mecanismos de compensação, su-
Arterial portando melhor a situação.

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Sinais e sintomas da hemorragia
A hemorragia externa, por ser visualizada, é Elevação da área traumatizada
facilmente reconhecida. A hemorragia interna pode
desencadear choque hipovolêmico, sem que o socor-
rista identifique o local da perda de sangue. As evi-
dências mais comuns de sangramento interno são
áreas extensas de contusão na superfície corpórea.
Alguém com fratura de fêmur perde facilmente até
um litro de sangue, que fica confinado nos tecidos
moles da coxa, ao redor da fratura.
Outros sinais que sugerem hemorragia severa:
● Pulso fraco e rápido;
● Pele fria e úmida (pegajosa); Quando uma extremidade é elevada, de forma
● Pupilas dilatadas com reação lenta à luz; que a área lesionada fique acima do nível do coração,
a gravidade ajuda a diminuir o fluxo de sangue. Apli-
● Queda da pressão arterial; car este método simultaneamente ao da pressão di-
● Paciente ansioso, inquieto e com sede; reta. Não o utilizar, porém, em casos de fraturas, lu-
xações ou de objetos empalados na extremidade.
● Náusea e vômito;
● Respiração rápida e profunda;
Pressão digital sobre o ponto de pulso
● Perda de consciência e parada respiratória; e
Utilizar a pressão
● Choque
sobre pulso de artéria
quando os dois métodos
anteriores falharem ou
Métodos de controle da hemorragia externa
não tiver acesso ao local
Pressão Direta do sangramento (esma-
Quase todos os casos de hemorragia externa gamento, extremidades
são controlados pela aplicação de pressão direta na presas em ferragens).
ferida, o que permite a interrupção do fluxo de san-
gue e favorece a formação de coágulo. Preferencial-
É a pressão aplicada com os dedos sobre os
mente, utilizar uma compressa estéril, pressio-
pontos de pulso de uma artéria contra uma superfí-
nando-a firmemente por 10 a 30 minutos; a seguir,
cie óssea. É necessária habilidade do socorrista e co-
promover a fixação da compressa com bandagem.
nhecimento dos pontos exatos de pressão das arté-
rias.
Em sangramento Principais pontos:
profuso, não perder
 Artéria braquial - para sangramento de mem-
tempo em localizar a
bros superiores;
compressa (pressionar di-
 Artéria femoral - para sangramento de mem-
retamente com a própria
brosinferiores;
mão enluvada).
 Artéria temporal- para sangramento de couro
F Após controlar um sangramento de extremi- cabeludo
i
dade, certifique-se de que existe pulso distal; em  Artéria radial - sangramento da mão.
g
caso
u
negativo, reajuste a pressão da bandagem para
Aplicação de gelo
restabelecer
r a circulação.
a O uso de compressas de gelo diminui o sangra-
Pressão direta é o método mais rápido e efi-
P mento interno ou mesmo interrompe sangramento
ciente
r para o controle da hemorragia externa
venosos e capilares. Nas contusões, a aplicação de
e
s Página | 49
s
ã
o
d
i
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gelo previne a equimose (mancha arroxeada). Deve- O tratamento de hemorragia interna é cirúr-
se observar o tempo de uso, evitando-se uso dema- gico. O atendimento pré-hospitalar consiste em ins-
siadamente prolongados, pois diminui a circulação, talar duas vias venosas após garantir a respiração da
podendo causar lesões de tecidos. vítima e transportá-la a um centro médico. Adminis-
trar oxigênio em altas concentrações durante o
Torniquete
transporte.
Deve ser considerado como o último recurso
Para detectar hemorragia interna, conhecer o
(praticamente em desuso), o torniquete só será uti-
mecanismo de lesão, observar lesões que possam
lizado se todos os outros métodos falharem, de-
provocar sangramento interno e estar permanente-
vendo ser considerado apenas nos casos de destrui-
mente atento aos sinais e sintomas que a vítima
ção completa ou amputação de extremidades, com
apresentar.
sangramento severo.

11 FRATURAS E LUXAÇÕES

11.1 FRATURAS
Fratura é a lesão óssea de origem traumática,
produzida por trauma direto ou indireto. O conjunto
de fragmentos ósseos produzidos pela fratura e os te-
cidos lesados em torno da lesão é denominado foco
de fratura. O osso é o único tecido do nosso orga-
nismo que cicatriza com o mesmo tecido anterior à
Consiste numa bandagem constritora colo-
lesão. O processo de cicatrização óssea denomina- se
cada em torno de uma extremidade até que o fluxo
consolidação.
sanguíneo pare por completo. Podem ser utilizados
tubos de borracha, gravatas, etc. O risco de surgir uma fratura óssea nas mulhe-
res é maior devido a osteoporose, são fraturas resul-
Apertado demais pode lesar tecidos, múscu-
tantes de quedas de baixo impacto, portanto não re-
los, nervos e vasos. Deve ser colocado entre a ferida
sultantes de acidentes graves. A massa óssea, princi-
e o coração, observado explicitamente o horário de
palmente das mulheres, começa a diminuir depois da
aplicação. O membro abaixo do torniquete deve tor-
menopausa por influência dos hormônios.
nar-se pálido, e o pulso arterial, abaixo do torni-
quete, desaparecer. Caso não esteja apertado o sufi- Os homens também podem sofrer de osteopo-
ciente pode interromper o fluxo venoso sem inter- rose, depois dos 65 anos de idade, mas a relação com
romper o fluxo arterial, dando como resultado maior os hormônios não é tão evidente. A qualidade de vida
sangramento pela ferida. das pessoas idosas, que sofrem fraturas, geralmente,
piora muito, pois, a cicatrizarão é mais lenta e a re-
Métodos de controle da hemorragia interna
cuperação muscular é mais difícil.
Para suspeitar que a vítima esteja com hemor-
Uma das fraturas mais graves no idoso é a do
ragia interna, é fundamental conhecer o mecanismo
fêmur e para sua imobilização não está indicado a
de lesão. Os traumas contusos são as principais cau-
utilização aparelho de tração de fêmur, assim como
sas de hemorragias internas (acidentes de trânsito,
em fraturas expostas.
quedas, chutes e explosões).
Classificação
Alguns sinais de alerta para suspeitar de he-
morragia interna: fratura da pelve ou ossos longos Quanto ao traço de fratura
(braços ou coxa), rigidez abdominal, área de equi-
Incompleta: ocorre a lesão óssea, mas não
mose em tórax e abdômen, ferida penetrante em
rompe a continuidade óssea; tipo de ocorrência co-
crânio, tórax ou abdômen.
mum em crianças.
Completa: os fragmentos ósseos perdem a
continuidade, ficando desviados ou não. O manuseio
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destas fraturas deve ser cuidadoso e técnico, para e velocidade, podendo ocorrer lesões associadas lo-
evitar lesão nos tecidos vizinhos. cais, como as musculares, tendinosas, nervosas, vas-
culares, bem como lesões sistêmicas associadas
(trauma abdominal, torácico e craniano).
Quanto à exposição do foco de fratura
Sintomas e Sinais
Dor
Fechada: o foco
Devido ao trauma localizado, sempre haverá
de fratura está prote-
dor no local da fratura, que varia muito de um paci-
gido por partes moles
ente para outro, sendo aliviada por manobras de tra-
e com pele íntegra.
ção, alinhamento e imobilização.
Aumento de volume
Aberta ou ex-
Devido ao trauma, ocorre uma lesão dos teci-
posta: o foco de fratura está em contato com o meio
dos vizinhos à fratura, produzindo sangramento lo-
externo, com o osso exteriorizado ou não. A pele,
cal, detectado como um aumento de volume, produ-
nestes casos, está sempre lesada. O grau de lesão
zindo, com o passar do tempo, edema localizado. Em
dessas partes moles permite classificar as fraturas
algumas fraturas, de fêmur e pélvis, por exemplo, o
expostas. A lesão da pele pode ocorrer pelo trauma,
sangramento pode causar choque hipovolêmico.
pelos fragmentos ósseos e pelo manuseio intempes-
tivo da vítima, tornando uma fratura fechada em Deformidade
O segmento fraturado apresenta angulações,
rotações e encurtamentos evidentes à simples ob-
servação da vítima, comparando-se o membro le-
sado com o não afetado.
aberta. Impotência funcional
A fratura impede ou dificulta os movimentos,
devido à dor e à alteração musculoesquelética, no
que diz respeito à anatomia.
Crepitação óssea
Sensação audível e palpável causada pelo
Devido à comunicação do foco de fratura com atrito entre os fragmentos ósseos. Não deve ser re-
o meio externo, as fraturas expostas são sempre con- produzida intencionalmente, porque provoca dor e
taminadas, variando apenas o grau de contamina- aumenta a lesão entre os tecidos vizinhos à fratura.
ção, podendo causar osteomielite (infecção óssea),
que retarda ou impede a consolidação óssea; em ca- Atendimento
sos extremos, causa a perda do membro lesado. Em Não movimente vítima com fraturas antes de
casos mais graves, a infecção dissemina-se pelo or- imobilizá-la adequadamente.
ganismo (septicemia) e, em pacientes debilitados,
leva a óbito. A fratura exposta é uma situação de ur- Se há risco real de incêndio, desabamento ou
gência se não for acompanhada de choque. explosão, arraste-a por meio do maior eixo do corpo.
Se há necessidade de posicionar a vítima para insti-
Quanto à presença de lesões associadas tuir RCP, proceda de modo a manter em alinha-
Simples: mento os segmentos fraturados.

A fratura é uma lesão única, sem evidência de Nas fraturas expostas


lesão associada. Controle o sangramento e proteja o feri-
Complicada mento, ocluindo-o com curativos estéreis e banda-
gens.
Está acompanhada de lesões associadas. O
trauma causador de fratura exposta é de alta energia Em fratura dos ossos longos

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Execute manobras de alinhamento e tração Geralmente intensa devido à compressão de
antes de imobiliza-los. Examine a sensibilidade e os estruturas locais; pode levar ao choque neurogênico.
pulsos periféricos antes e depois de tracionar e ali-
Deformidade
nhar.
Sinal evidente à simples inspeção da vítima;
Reveja seu procedimento se esses parâmetros
deve ser comparada com o lado oposto.
mostrarem sinais de piora.
Impotência funcional
Mantenha a tração e o alinhamento até que a
tala de imobilização esteja posicionada e fixa. Devido à perda da congruência articular,
existe perda completa da função articular, e qual-
Imobilize deformidades situadas próximas a
quer tentativa de mobilidade é extremamente dolo-
articulações que não se corrijam com tração suave
rosa.
na posição em que se encontram.
Palidez
Quando imobilizar uma fratura
Localizada, causada pela compressão do osso
Inclua na tala a articulação proximal e distal à
luxado sob a pele.
lesão.
Edema
As talas
Tardio varia com o grau de deformidade e a
Devem ser ajustadas e não apertadas, de ma-
articulação luxada.
neira a não interromper a circulação local. Forre toda
a tala. Nos pontos de deformidade e nas saliências Encurtamento ou alongamento
ósseas, coloque estofamento extra. Podem ocorrer devido à deformidade da arti-
Transporte da vítima culação luxada.
De modo confortável e seguro; o principal ob- Cuidados de emergência
jetivo do resgate é não agravar as lesões preexisten- A manipulação das luxações cabe exclusiva-
tes. O atendimento correto evita o agravamento das mente ao médico. Manobras inadequadas e intem-
lesões, reduz a dor e o sangramento. pestivas podem agravar a lesão já existente e produ-
zir dano adicional aos tecidos vizinhos, inclusive fra-
11.2 LUXAÇÕES turas.

Deslocamento de superfícies articulares, mo- No atendimento pré-hospitalar, a imobilização


dificando as relações naturais de uma articulação. deve ser na posição de deformidade, buscando ofe-
Nas articulações existe recer o máximo de conforto à vítima. Ficar atento a
uma congruência articu- sinais e sintomas de choque, informando se ocorre-
lar entre as superfícies ós- rem.
seas em contato. Estas Luxação Acrômio Clavicular
são recobertas por carti-
Causada por queda sobre ombro, sendo fre-
lagem articular e manti-
quentes principalmente em jovens desportistas.
das por uma cápsula arti-
cular reforçada por ligamentos. Os traumas indire- O acrômio se desloca para baixo e a clavícula
tos, normalmente produzidos por quedas com apoio para cima, principalmente pela ação dos músculos
nas extremidades, fazem com que essas superfícies do trapézio e esternocledomastóideo.
articulares saiam de sua
posição,
F produzindo perda da congruência articular
dai função da articulação correspondente. As luxa- Luxação de cotovelo
g
ções ocorrem mais comumente em articulações mó- Ocorre por trauma indireto causado por
u
veis
r (ombro, quadril, dedos da mão). queda com apoio sobre a mão. A vítima tem dor in-
a tensa, com deformidade visível no nível da articula-
Sinais e sintomas
L
u Dor
x
a
ç Página | 52
ã
o
d
e
o
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ção do cotovelo e impotência funcional. Sempre exa- Esteja atento a sinais de choque neurogênico
minar o vásculo nervoso para detectar qualquer le- e, às vezes, a choque hipovolêmico.
são dessas estruturas.
Luxação de joelho
Luxação do punho
Causada por trauma indireto. A vítima apre-
senta grande deformidade, com dor intensa e impo-
tência funcional do
Rara e nor-
segmento. Examinar
malmente associ-
o vásculo nervoso,
ada ou confundida
pois existe grande in-
com fraturas do ra-
cidência de lesão ar-
diodistal; tanto a
terial associada à lu-
fratura como a lu-
xação de joelho.
xação são causadas
por trauma com Imobilizar a ar-
F
apoio sobre a mão. Imobilizar na posição de defor- ticulação na posição
i
midade
g e sempre examinar a sensibilidade de deformidade, usando tala que se estenda do qua-
e motricidade
u da mão. dril ao tornozelo e acolchoando o joelho de forma a
r proteger a angulação local.A imobilização de joelho
a é semelhante a de cotovelo.
L Luxação dos dedos F
u Luxação de tornozelo
dos
x pés e das mãos i
a g Causada por trauma indireto, apresenta de-
Causada na maioria das vezes
u
durante a prá-
ç formidade característica, às vezes associada a
tica
ã esportiva, manifesta-se porr dor, deformidade,
grande aumento de volume, também com dor in-
encurtamento
o e im- a
L tensa, impotência funcional, geralmente associada à
potência
d para fletir o
e u fratura. Imobilizar na posição de deformidade.
dedo.
Fp O segmento x
u
i a
deve ser protegido,
gn
apoiado e imobilizado
ç
ã
12 FERIMENTOS, CURATIVOS E
h
u
em ro posição de defor-
midade.
a
o
d
BANDAGENS
l e
u Luxação do quadril j Introdução
x o
Ocorre em traumas de alta e energia e veloci- Ferimento é qualquer lesão ou perturbação
a
dade ç em pacientes que sofreraml quedas ou aciden- produzida em qualquer tecido por um agente ex-
h
tesã de trânsito, muitos casos associados a fraturas. A terno, físico ou químico.
vítima tem dor
o o
d Os agentes capazes de produzir um ferimento
intensa, impo-
e podem ser físicos (mecânico, elétrico, irradiante e
tência funcional
t térmico) e químicos (ácidos ou álcalis).
e ogrande defor-
midade
r de todo o Os traumatismos causados por agentes quími-
n
membro inferior cos e por agentes físico-térmicos serão tratados em
o outro capítulo.
lesado. A defor-
z
midade
e caracte- Este capítulo se limita aos traumatismos pro-
riza-se
l por rotação e encurtamento de todo o seg- duzidos por agentes físicos mecânicos.
mento.
o Deve ser cuidadosamente rolada sobre uma
tábua longa. Se necessário erguê-Ia apenas o neces-
sário para deslizar a tábua sob ela. Use almofadas e
cobertores para acolchoar e apoiar o membro lesado
na posição de deformidade. Fixe a vítima à tábua
com cintos e bandagens. Não esqueça de examinar o
vásculo nervoso do segmento lesado.
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● Equimose: extravasamento de sangue no
subcutâneo sem formação de coleção, consequência
da ruptura de capilares.

Os ferimentos podem variar conforme a pro-


fundidade, complexidade, contaminação e natureza
do agente agressor classificando-se conforme indi-
cado abaixo:

Classificação Geral dos Ferimentos


Ferimentos Abertos
Ferimentos Fechados
São os ferimentos que rompem a integridade
São os ferimentos onde não existe solução de da pele, expondo tecidos internos, geralmente com
continuidade da pele, a pele se mantém íntegra. Po- sangramento. Também são denominados feridas.
dendo ser classificada em:
As feridas são traumas de alta ou baixa ener-
● Contusão: lesão por objeto contundente gia, decorrentes da super-
que danifica o fície de contato do agente
tecido subcu- vulnerante.
tâneo subja-
cente, sem Segundo este con-
romper a pele. ceito, as feridas podem ser
classificadas em:

● Incisivas/cortantes: produzidas por agentes


● Hematoma: extravasamento de sangue no vulnerantes cortantes, afiados, capazes de penetrar
subcutâneo com a pele (bisturi, faca, estilete etc), produzindo ferida
formação de co- linear com bordas regulares e pouco traumatizadas.
leção (aumento
de volume), pela ● Contusas: causadas por objetos com super-
ruptura de veias fície romba (instrumento cortante não muito afiado
e arteríolas, con- - pau, pedra, soco etc.), capazes de romper a integri-
sequência de dade da pele, produzindo feridas com bordas trau-
uma contusão. matizadas, além de contusão nos tecidos arredores.
Quando localizado no couro cabeludo, é o hema- São as feridas cortocontusas.
toma subgaleal.

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● Perfurantes: o objeto que as produz a ferida
é geralmente fino e pontiagudo, capaz de perfurar a
pele e os tecidos subjacentes, resultando em lesão
cutânea puntiforme ou linear, de bordas regulares
ou não. As feridas perfurantes podem ser:
○ Perfurocontu-
sas: ocorre quando o ob-
jeto causador da ferida é
de superfície romba (fe-
rimento por arma de
fogo);
○ Perfurocortan-
F tes: quando o agente
i
vulnerante possui superfície de contato laminar ou
g
pontiagudo (ferimento causado por arma branca -
u ● Avulsão ou amputação: ocorre quando uma
faca,
r estilete, adaga).
a
parte do corpo é cortada ou arrancada (membros ou
f parte de membros, orelhas, nariz etc.).
e ● Penetrante: quando o agente vulnerante
r
atinge uma cavidade natural do organismo, geral-
i
mente
m tórax ou abdômen. Apresenta formato ex-
terno
e variável, geralmente linear ou puntiforme.
n
t
o ● Transfixante: este tipo de lesão constitui
s
uma variedade de ferida que pode ser perfurante ou
penetrante; o objeto vulnerante é capaz de penetrar
e atravessar os tecidos ou determinado órgão em
toda a sua espessura saindo na outra superfície.
Pode-se utilizar como exemplo as feridas cau-
sadas por projétil de arma de fogo, que são feridas
perfurocontusas, podendo ser penetrantes e/ou
transfixantes.
As feridas transfixantes possuem:
○ Orifício de Entrada: ferida circular ou oval, ● Lacerações: quando o mecanismo de ação é
geralmente pequena, com bordas trituradas e com uma pressão ou tração
orla de detritos deixada pelo projétil (pólvora, frag-
exercida sobre o te-
mentos de roupas).
cido, causando lesões
○ Orifício de Saída: ferida geralmente maior, irregulares. Os exem-
com bordas irregulares, voltadas para fora. plos são inúmeros.
● Escoriações ou abrasões: produzidas pelo
atrito de uma superfície áspera e dura contra a pele, Cuidados para com as Vítimas de Ferimentos
sendo que somente esta é atingida. Freqüentemente
contém partículas de corpo estranho (cinza, graxa, O atendimento pré-hospitalar dos ferimentos
terra). visa a três objetivos principais:
● Proteger a ferida contra o trauma secundá-
rio;
● Conter sangramentos;

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● Proteger contra infecção. ● Nas feridas lacerantes, controlar o sangra-
mento utilizando os métodos de pressão direta e/ou
Na fase pré-hospitalar deve-se evitar perder
elevação do membro, proteger com uma gaze estéril
tempo em cuidados excessivos com os ferimentos
firmemente pressionada. Lesões graves podem exi-
que não sangram ativamente e não atingem os pla-
gir a imobilização da parte afetada.
nos profundos. Estes cuidados retardam o trans-
porte ao hospital, o que pode agravar o estado geral ● Nas avulsões e amputações, os cuidados de
dos pacientes com lesões internas associadas. emergência requerem, além do controle de sangra-
mento, todo o esforço da equipe de socorro para
No atendimento à vítima com ferimentos
preservar a parte amputada. No caso de retalhos de
deve-se seguir os seguintes passos e cuidados:
pele, recolocá-lo na posição normal delicadamente,
1) Controle do ABC é a prioridade como em após a limpeza da superfície; em seguida, fazer o cu-
qualquer outra vítima de trauma. rativo. Partes do corpo amputadas devem ser colo-
Ferimentos com sangramento importante exi- cadas em bolsa plástica seca, estéril, selada e se pos-
gem controle já no passo C. sível resfriada (jamais congelar), que deve acompa-
nhar o paciente até o hospital.
2) Avaliação do ferimento, informando-se so-
bre a natureza e a força do agente causador, de ● Nas feridas perfurantes, por arma de fogo,
como ocorreu a lesão e do tempo transcorrido até o devem ter os orifícios de entrada e saída do projétil
atendimento. igualmente protegidos. Arma branca que permanece
no corpo não deve ser removida e sim fixada para
3) Inspeção da área lesada, que deve ser cui- que permaneça imobilizada durante o transporte,
dadosa. Pode haver contaminação por presença de pois a retirada pode agravar o sangramento.
corpo estranho e lesões associadas. O ferimento
deve ser exposto e, para isto, pode ser necessário ● Ferimentos em cabeça, tórax e abdome exi-
cortar as roupas da vítima; evite movimentos desne- gem atenção redobrada pela equipe de socorro pelo
cessários com a mesma. risco de comprometer as funções vitais (nível de
consciência, respiração e circulação). Quando na ca-
4) Limpeza da superfície do ferimento para a beça, não pressionar a área atingida sob risco de le-
remoção de corpos estranhos livres e detritos; utili- são de cérebro por extremidades ósseas fraturadas.
zar uma gaze estéril para remoção mecânica deli- Ferimentos penetrantes em tórax podem compro-
cada e, algumas vezes, instilação de soro fisiológico, meter o mecanismo da respiração pela entrada de ar
sempre com cautela, sem provocar atrito. Não per- na cavidade pleural; o curativo deve ser oclusivo
der tempo na tentativa de limpeza geral da lesão, sendo que um dos lados do mesmo não é fixado (três
isto será feito no hospital. Objetos empalados não pontas).
devem ser removidos, mas sim imobilizados para
que permaneçam fixos durante o transporte. ● Nas eviscerações (saída de vísceras abdomi-
nais pelo ferimento) não tentar recolocar os órgãos
5) Proteção da lesão com gaze estéril que para dentro da cavidade abdominal; cobrir com plás-
deve ser fixada no local com bandagem triangular tico esterilizado próprio para este fim ou compressas
ou, se não estiver disponível, utilizar atadura de úmidas (embebidas em soro fisiológico).
crepe.
Conforme a análise do mecanismo que produ-
Cuidados nos Diversos Tipos de Ferimentos ziu a lesão, característica do ferimento (profundo,
● Nas escoriações, é comum a presença de complicado), a região do corpo atingido (cabeça,
corpo estranho (areia, graxa, resíduos de asfalto pescoço, tórax e abdome) e o grau de sangramento
etc.), fazer a tentativa de remoção conforme des- o médico deve ser acionado caso não esteja presente
crito anteriormente; em seguida, cubra a área esco- no local do acidente.
riada com gaze estéril fixando-a no local com atadura
ou bandagem triangular.
Resumo do Atendimento à Vítima de Feri-
● Nas feridas incisivas, aproximar e fixar suas mento
bordas com um curativo compressivo, utilizando ata-
dura ou bandagem triangular. 1) Controle do ABC e análise do mecanismo de
lesão.

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2) Expor o ferimento para inspeção. bandagem para o meio da base do triângulo e faça
dobras sucessivas até obter a largura desejada de
3) Controle do sangramento.
acordo com a extensão da lesão a recobrir. É impor-
4) Limpeza de superfície da lesão. tante salientar que a bandagem triangular não é es-
5) Proteção com gaze estéril. téril, portanto não deve ser utilizada para ocluir feri-
mentos abertos. Antes de fixá-la deve ser aplicada
6) Bandagem triangular ou atadura de crepe gaze ou compressa cirúrgica.
para fixar a gaze. Certifique-se da presença de pulso
distal após a colocação da bandagem porque pode Um detalhe importante e que trás conforto à
estar muito apertada. vítima refere-se à fixação da bandagem. O socorrista
deve sempre lembrar que a fixação (amarração) da
7) Mantenha a vítima imóvel, quando possível. bandagem não deve ser feita sobre o ferimento.
Movimentos desnecessários podem precipitar ou
aumentar sangramentos.
8) Conforte a vítima, informando os procedi- Bandagem em Rolo ou Atadura de Crepe
mentos adotados, assim ela se tranqüiliza e colabora Usada com a mesma finalidade das bandagens
com o atendimento. triangulares, da mesma forma, exige habilidades es-
9) Cuidados para choque hipovolêmico como: pecíficas para sua colocação eficaz.
oxigênio, aquecimento e elevação de MMII nos feri-
mentos graves com sangramentos importantes.
Atadura Circular
10) Não retardar o transporte desnecessaria-
Usada para pescoço, tórax e abdômen. As vol-
mente.
tas da atadura são aplicadas de maneira a que se so-
Curativos e Bandagens breponham, não muito apertadas, de modo a não
Curativos são procedimentos que consistem impedir a respiração.
na limpeza e aplicação de uma cobertura estéril em
uma ferida, com a finalidade de promover a hemos-
Atadura Espiral
tasia, cicatrização, bem como, prevenir contamina-
ção e infecção. Utilizada em segmentos cilíndricos, como de-
dos, antebraço, braço, perna e coxa. Mais indicada
Geralmente nos serviços pré-hospitalares os
que a circular nessas situações, porque apresenta
curativos são realizados com aplicação de gaze ou
maior aderência nessas regiões anatômicas.
compressas cirúrgicas e fixadas com esparadrapo.
As bandagens são constituídas por peças de
tecido em algodão crú cortado em triângulo me- Atadura Cruzada ou "em Oito":
dindo: 1,20m X 1,20m x 1,70m, sendo utilizadas para:
Utilizada para a fixação de curativos nas arti-
● Fixar curativos, cobrindo as compressas; culações.
● Imobilizar e apoiar seguimentos traumatiza- Considerações na utilização de ataduras
dos;
● As ataduras ou bandagens devem ter as-
● Promover hemostasia (conter sangramen- pecto agradável, proporcionando conforto e bem es-
tos). tar à vítima. Ao aplicar uma bandagem, observar o
local e a extensão da lesão e as condições da circula-
As bandagens mais freqüentemente usadas
ção.
são as triangulares e as em rolo. Qualquer que seja o
tipo, conforto da vítima e a segurança do curativo de- ● As bandagens não devem ser muito aperta-
pendem da sua correta aplicação. Uma bandagem das para não impedir o afluxo e refluxo do sangue,
desalinhada e insegura, além de inútil, pode ser no- pois isto pode provocar edema e/ou causar dores in-
civa. tensas. Entretanto, devem ficar firmes e indeslocá-
veis, adaptando-se às formas corporais.
A bandagem triangular pode ser dobrada para
produzir uma espécie de gravata: Traga a ponta da

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● Na aplicação da bandagem, coloque o mem- grande atividade muscular como tremor. O corpo é
bro em posição funcional e evite contato entre duas menos eficiente em ganhar calor de fontes externas,
superfícies cutâneas, para que não haja aderências e tais como parar em frente de fogo ou deitar numa
fricções. praia ensolarada. O corpo reduz a perda de calor
através da vasoconstrição e da formação de um cir-
QUEIMADURAS
cuito secundário de calor, carregando o sangue para
A pele, o longe da pele. Algumas medicações também podem
F
maior órgão do corpo, é composto de três camadas interferir na termorregulação.
dei tecidos - a epiderme, a derme e o tecido subcutâ-
g
neo.
u
A epiderme - a camada mais externa - é com-
posta
r inteiramente de células epiteliais sem vasos
sanguíneos.
a Abaixo da epiderme está a derme, a
P
mais espessa, composta de uma estrutura de tecidos
e
conectivos, que contém vasos sanguíneos, termina-
l
ções
e nervosas, glândulas sebáceas e sudoríparas. A
camada subcutânea é uma combinação de tecido
elástico e fibroso, assim como depósito de gorduras.
A pele dos homens é mais espessa do que a
pele das mulheres, e a pele das crianças e dos indiví-
duos idosos é mais delgada do que a de um adulto
médio. Estes fatos explicam como um indivíduo pode Características da Queimadura
sofrer queimaduras de várias profundidades quando
exposto a um único agente queimante, e como uma Em uma queimadura, temperaturas eleva-
criança pode sofrer uma queimadura profunda, en- das ou de congelamento, radiação ou agente quí-
quanto um adulto com a mesma exposição apre- mico fazem com que as proteínas da pele sejam gra-
senta apenas uma lesão superficial. vemente danificadas, levando à desnaturação. A le-
são cutânea pode ocorrer em duas fases: imediata e
A pele tem várias funções no corpo humano, tardia. A pele é capaz de tolerar temperaturas de 40
a mais importante é a de formar uma barreira prote- graus Celsius por breves períodos de tempo. Con-
tora contra o ambiente externo, que ajuda na pre- tudo, uma vez que as temperaturas excedem este
venção de infecções. A pele também previne a perda ponto, há um aumento na destruição tecidual.
de fluidos e auxilia na regulação da temperatura cor-
pórea. A camada dérmica contém as terminações
nervosas que comunicam impulsos entre o cérebro e A queimadura de espessura completa apre-
o corpo. Quando uma lesão térmica ocorre na pele, senta três zonas de lesão tecidual. A zona central é
muitas ou todas essas funções são destruídas ou gra- denominada zona de coagulação e é a região de
vemente com- maior destruição tecidual. Esta zona apresenta ne-
prometidas. crose e não é capaz de reparo tecidual. Adjacente à
zona de necrose está a região de menor lesão, a
FEssa barreira de zona de estase. As células desta zona são lesadas,
iproteção deve mas não de modo irreversível. Caso sejam subse-
g
ter perfusão quentemente privadas de oxigênio ou de fluxo san-
u
radequada , guíneo, estas células viáveis morrem e passam a ser
acom células necróticas. Esta área é denominada zona de estase,
qvermelhas e já que, imediatamente após a lesão, o fluxo sanguí-
outros nutrientes para manter a sua usobrevivência. neo desta região fica estagnado. O atendimento rá-
e
pido e adequado das queimaduras preserva o fluxo
O corpo trabalha com uma variação
i estreita
m
de temperatura de aproximadamente 3 graus acima sanguíneo e o suprimento de oxigênio a estas células
a
ou abaixo de 37°C. Se a temperatura dcentral se altera danificadas. A reposição fluida do doente elimina a
além desses limites, pode haver graves estase e restabelece o suprimento de oxigênio às cé-
u lesões ou ate
a morte. O corpo pode aumentar a produção do ca- lulas danificadas e suscetíveis. A falha em adminis-
r
a
lor ao aumentar o metabolismo, principalmente por trar a reposição fluida adequada resulta na morte
s
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das células do tecido lesionado e a queimadura de
espessura parcial é, então, convertida a uma quei-
As
madura de espessura completa. Um erro comum,
queimaduras
que provoca danos nesta área, é a aplicação de gelo
de segundo
por um transeunte ou um socorrista bem intecio-
grau apre-
nado. Quando o gelo é usado para interromper o
sentam blhas
processo de queimadura, provoca vasoconstrição,
e podem
impedindo o restabelecimento do fluxo sanguíneo.
ainda ser classificadas como superficiais ou profun-
Por estas razões, as queimaduras contínuas devem
das.
ser lavadas com água à temperatura.
Lesão de Segundo Grau Superficial - Superfície
Profundidade da Queimadura
da derme abaixo da bolhas (molhada brilhante e
A estimativa da profundidade da queima- avermelhada, com sensibilidade exagerada ao to-
dura pode ser difícil, mesmo para o socorrista mais que, exposição ao ar e mudanças de temperatura.
experiente. De modo geral, uma queimadura que pa- Cura-se em 10 a 15 dias.
rece de segundo grau acaba sendo diagnosticada
Lesão de Segundo Grau profunda - Acomete
como de terceiro grau em 24-48 horas.
também uma porção mais profunda da derme. Su-
Queimaduras de Primeiro Grau perfície de um branco séreo, mas macia e elástica,
sensível a pressão e insensível ao toque leve ou a
Queimaduras de primeiro grau envolvem so-
agulhadas suaves. As glândulas sudoríparas e folícu-
mente a epi-
los pilosos, curam-se em 4 a seis semanas.
derme e são ca-
racterizadas por Bolhas
serem vermelhas
Muita discussão foi gerada acerca de bolhas,
e dolorosas. São
se elas devem ou não ser submetidas ao debrida-
também chama-
mento e sobre como abordar as bolhas associadas à
das de queimadu-
queimadura de espessura parcial. A bolha ocorre
ras superficiais.
quando a epiderme se separa da derme subjacente,
É raro que e é preenchida pelo fluido proveniente do extravasa-
estas lesões sejam clinicamente significativas, à ex- mento de vasos adjacentes. A presença de proteínas
ceção das queimaduras solares extensas, nas quais o osmoticamente ativas no fluido contido no interior
doente apresenta dor intensa e é suscetível à desi- da bolha atrai mais líquidos para este espaço, le-
dratação caso não seja submetido à hidratação oral vando ao crescimento da lesão. À medida que a bo-
adequada. Estas queimaduras resolvem-se em cerca lha cresce, ela pressiona o tecido lesionado do leito
de uma semana, e o doente não apresenta cicatrizes. da ferida, aumentando a dor sentida pelo doente.
Muitos pensam que a pele da bolha age como um
curativo e impede a contaminação do ferimento.
Queimadu- Esta pele, porém, não é normal e, portanto, não
ras de Segundo pode atuar como barreira protetora. Além disso,
Grau manter a bolha intacta impede a aplicação de anti-
As queima- bióticos tópicos diretamente sobre a lesão. Por estas
duras de segundo razões, muitos especialistas em queimaduras abrem
F e debridam as bolhas após a chegada do doente ao
grau,
i também denominadas queimaduras de espes-
sura hospital.
g parcial, são aquelas que envolvem a epiderme e
porções
u variadas da derme subjacente. Queimaduras de Terceiro Grau
r
a
t
e As queimaduras de terceiro grau podem apre-
r sentar diversas aparências.
c
e
i
r
o
Página | 59
g
r
a
u
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
Com maior frequência, estes ferimentos são espes- queimaduras de 4º grau. Porém o Ministério da Sa-
sos, secos, esbranqui- úde preconiza os três níveis de queimaduras, ou seja,
çados, com aparência 1º, 2º e 3º grau, sendo que a de 3º grau subdivide se
semelhante a couro, em: com ou sem acometimento de órgãos e ossos.
independentemente
O objetivo da avaliação primária é a análise
da raça ou da cor da
e o tratamento sistemático das alterações possivel-
pele do indivíduo.
mente fatais, em ordem de importância, para preser-
Em casos graves, a pele parece chamuscada, vação da vida. O método de atendimento de trauma
com visível trombose de vasos sanguíneos. Esta le- ABCDE é aplicado ao tratamento do doente vítima de
são por queimadura é também chamada de espes- queimadura, embora seu cuidado possa trazer desa-
sura completa, já que envolve toda a espessura da fios únicos em cada uma de suas etapas.
pele.
Queimaduras extensas são, de modo geral,
associadas à alta letalidade. Apesar do comprometi-
mento da via aérea ou da ventilação relacionado à
As pessoas em ge-
queimadura, a lesão, por si só, não é caracteristica-
ral são ensinadas, errone-
mente associada ao risco imediato de vida. A aparên-
amente, que as queima-
cia total das queimaduras pode ser dramática, até
duras de espessura com-
mesmo grotesca. O socorrista experiente sabe que o
pleta não são dolorosas,
doente também pode ter sofrido um trauma mecâ-
F
uma vez que há destrui-
nico e apresentar lesões internas, menos aparentes,
ção
i das terminações nervosas do tecido queimado. É
associadas a um maior risco de vida.
uma
g percepção errônea pensar que as queimaduras
deu terceiro grau não causam dor. Via Aérea
r
a Os doentes Manter a desobstrução da via aérea é a
q queimaduras
com maior prioridade no atendimento de uma vítima de
deu terceiro grau queimaduras. O calor de um incêndio pode causar
e
sentem
i dor. Estas edema da via aérea, acima do nível das cordas vo-
lesões
m são carac- cais, ocluindo-a. É necessário, portanto, que a avali-
teristicamente
a ação seja cuidadosa e contínua. É um erro acreditar
d
cercadas por áreas que, uma vez completada a avaliação ABC, está tudo
u
der queimaduras de espessura parcial e superficial. bem com a via aérea. Os socorristas que provavel-
Osa nervos destas áreas estão intactos e continuam a mente estarão sujeitos a um tempo prolongado de
transmitir
s a sensação de dor dos tecidos lesionados. transporte precisam ser bastante vigilantes na avali-
Queimaduras desta profundidade podem ser debili- ação da via aérea. Um doente queimado, por exem-
tantes e fatais. plo, pode apresentar via aérea desobstruída à pri-
meira avaliação. A seguir, a face, assim como a via
A imediata excisão cirúrgica e a reabilitação in-
aérea, sofre aumento de volume. Desta maneira,
tensiva, em um centro especializado, são necessá-
uma via aérea que foi considerada satisfatória ao pri-
rias.
meiro exame pode se tornar criticamente estreita
em 30 ou 60 minutos.
Respiração
Al- Assim como em qualquer vítima de trauma,
F guns autores fa- a respiração pode ser adversamente acometida por
i zem referência a problemas como fratura de costelas, pneumotórax e
g um quarto tipo ferimentos torácicos abertos. Em caso de queimadu-
u
r
de queimaduras ras circunferenciais na parede torácica, a complacên-
a quanto a profun- cia da parede é progressivamente reduzida, inibindo
q didade, baseados a capacidade de ventilação. Após uma lesão por
u
em bibliografias norte americanas, denominadas queimadura, a pele queimada começa a endurecer e
e
i
m
a
Página | 60
d
u
r
a
d
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
a se contrair, enquanto os tecidos moles mais pro- roupas da vítima saturadas pelo material suposta-
fundos simultaneamente aumentam de volume. O mente perigoso pode, portanto, causar lesões no do-
resultado final é que as queimaduras contraem a pa- ente e nos socorristas.
rede torácica da mesma maneira que diversos cintos
O controle da temperatura ambiente é crí-
de couro, apertando o tórax do doente.
tico durante o atendimento de doentes com queima-
Circulação duras extensas. As doentes vítimas de queimaduras
não são capazes de reter seu próprio calor corpóreo,
A avaliação e o tratamento da circulação in-
sendo extremamente suscetíveis à hipotermia. Faça
cluem a mensuração da pressão arterial, a avaliação
o possível para preservar a temperatura corpórea.
de queimaduras circunferenciais e a instituição de
Coloque diversas camadas de cobertores. Mantenha
acesso IV. A mensuração precisa da pressão arterial
o compartimento de transporte do doente, na am-
é difícil ou mesmo impossível caso haja queimaduras
bulância ou no helicóptero, aquecido, independen-
em membros e, mesmo que a pressão arterial possa
temente da época do ano. Em regra, caso você, como
ser obtida, é possível que não reflita corretamente a
socorrista, esteja confortável, então a temperatura
pressão arterial sistêmica, devido à presença de le-
ambiente não está alta o suficiente.
sões que acometem toda a espessura e o edema nas
áreas acometidas. Mesmo que o doente apresente Avaliação Secundária
pressão arterial normal, a perfusão distal do membro
Após terminar a avaliação primária, o pró-
pode estar gravemente reduzida pela presença de le-
ximo objetivo é completar a avaliação secundária. A
sões circunferenciais. Os membros queimados devem
avaliação secundária de um doente vítima de quei-
ser mantidos elevados durante o transporte, para re-
madura não é diferente da realizada em qualquer ou-
duzir o grau de aumento de volume do membro afe-
tra vítima de trauma. O socorrista deve completar a
tado.
avaliação dos pés à cabeça, tentando encontrar ou-
Incapacidade tras lesões ou alterações. A aparência das queimadu-
ras pode ser dramática; estes ferimentos, porém,
A vítima de queimadura é também vítima de
tendem a não ser imediatamente fatais. Uma avalia-
traumas, e pode ter sofrido outras lesões que não tér-
ção meticulosa e sistemática precisa ser realizada,
micas. As queimaduras são lesões óbvias e, ocasio-
assim como em qualquer outro doente vítima de
nalmente, intimidantes, mas é vital procurar outras
trauma.
lesões internas, menos óbvias, que podem, em curto
prazo, ser mais fatais do que as lesões por queima- Estimativa (Avaliação) da Extensão da Quei-
dura. Na tentativa de escapar da queimadura, os do- madura
entes pulam janelas de edifícios; elementos da estru-
A estimativa da extensão da queimadura é
tura queimada podem colapsar e cair sobre o doente;
necessária à reposição adequada de fluidos do do-
ou a vítima pode ficar presa nas ferragens em cha-
ente, impedindo as complicações associadas ao cho-
mas. Avalie o doente quanto à presença de déficits
que hipovolêmico da lesão por queimadura. A deter-
neurológicos e motores.
minação da extensão da queimadura também é
Exposição/Ambiente usada como ferramenta para a estratificação da gra-
vidade da lesão e a triagem. O método mais ampla-
A próxima prioridade é a exposição completa
mente aplicado é conhecido como “regra dos nove”.
do doente. Cada centímetro quadrado do doente
deve ser exposto e inspecionado. Todas as roupas e Curativos
jóias devem ser imediatamente removidas. Em víti-
Antes do transporte, os ferimentos devem
mas de trauma mecânico, todas as roupas do doente
ser cobertos com curativos. O objetivo dos curativos
são removidas, para identifique cação de lesões que
é impedir a contaminação contínua e o fluxo de ar
podem estar escondidas. Em vítimas de queimadura,
sobre as feridas, o que ajuda a controlar a dor.
a remoção das roupas pode ter um benefício tera-
pêutico. Como anteriormente observado, as roupas Curativos na forma de tecidos ou toalhas es-
e as jóias podem reter calor residual, o que pode con- téreis são necessários antes do transporte do doente.
tinuar a ferir o doente. Após queimaduras químicas, Diversas camadas de cobertores são, então, coloca-
as roupas podem estar encharcadas com o agente das sobre os tecidos estéreis, auxiliando a manuten-
que gerou as lesões. A manipulação imprópria das ção do calor corpóreo.

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Quanto à Gravidade cial, porque a obstrução das vias aéreas não se ma-
nifesta no momento, mas se desenvolve gradual-
Sete fatores são usados para determinar a gra-
mente à medida que aumenta o edema dos tecidos
vidade da queimadura:
lesados. As vítimas podem necessitar de entubação
● Profundidade; endotraqueal antes que uma obstrução severa a im-
● Extensão (pela regra dos nove); peça. Por isso, é importante identificar os sinais de
queimadura das vias aéreas antes que se desenvolva
● Envolvimento de áreas críticas (mãos, pés, a obstrução.
face e genitália);
Sinais de alerta:
● Idade da vítima (crianças e idosos têm maior
risco); ● Queimaduras faciais;

● Presença de lesão pulmonar por inalação; ● Queimadura das sobrancelhas e vibrissas


nasais;
● Presença de lesões associadas (outros trau-
matismos); ● Depósito de fuligem na orofaringe;

● Doenças preexistentes (Diabetes mellitus, in- ● Faringe avermelhada e edemaciada;


suficiência renal etc.). ● Escarro com resíduos carbonáceos;
Particularidades no Atendimento ● História de confinamento em ambiente in-
A primeira preocupação da equipe é com a sua cendiário ou explosivo.
própria segurança, que se aplica a qualquer situação, Passo “B”
mas devendo ser reforçada ao atender vítimas de
Além da queimadura das vias aéreas, outras
queimaduras em ambientes hostis. Cuidar com as
lesões potencialmente graves são as causadas por
chamas, os gases tóxicos, a fumaça e o risco de ex-
inalação de fumaça e a intoxicação por monóxido de
plosões e desabamentos.
carbono. Suspeite sempre que isso possa ter ocor-
O segundo passo no atendimento à vítima é a rido se há história de confinamento em ambientes
interrupção do processo de queimadura, na seguinte incendiários, explosivos ou se a vítima apresenta al-
sequência: teração do nível de consciência.
1) Extinguir as chamas sobre a vítima ou suas
roupas;
1) Inalação de fumaça e subprodutos da com-
2) Remover a vítima do ambiente hostil; bustão:
3) Remover roupas que não estejam aderidas Partículas inaladas com a fumaça e certos sub-
a seu corpo; produtos resultantes da combustão incompleta de
4) Promover o resfriamento da lesão e de fra- combustíveis atingem as vias aéreas inferiores e os
gmentos de roupas ou substâncias, como asfalto, pulmões, podendo causar lesão química dos brôn-
aderidos ao corpo do queimado. quios e alvéolos pulmonares. Os sintomas dessas le-
sões muitas vezes só aparecem algumas horas após
Após interromper o processo de queimadura, a inalação, ao se desenvolver a inflamação dos brôn-
proceder ao atendimento segundo o A-B-C-D-E. quios ou do pulmão. Lesões por inalação são respon-
Passo “A” sáveis por significativa parcela das mortes por quei-
maduras. O tratamento no ambiente pré-hospitalar
Queimaduras que envolvam vias aéreas são consiste em afastar a vítima do local enfumaçado e
graves, podendo levar à obstrução das superiores. administrar oxigênio.
Queimaduras por vapores aquecidos podem atingir
vias aéreas inferiores, enquanto as produzidas por 2) Intoxicação por monóxido de carbono:
calor seco normalmente atingem apenas as vias aé- O monóxido de carbono é um gás incolor, ino-
reas superiores, porque o ar não é bom condutor de doro. Ele não causa lesão direta às vias aéreas ou ao
calor. A extensão e gravidade da queimadura das pulmão, mas possui afinidade com a hemoglobina
vias aéreas podem ser subestimadas na avaliação ini- 100 vezes maior que a do oxigênio. Isso significa que
ele se liga mais fácil e firmemente à hemoglobina
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que o oxigênio. Quanto maior a quantidade de mo- Cuidados com a Queimadura - Curativos
nóxido de carbono inalada, maior a quantidade de
Somente realizar os curativos após completar
hemoglobina ligada ao monóxido(carboxiemoglo-
a abordagem inicial da vítima pelo AB-C-D-E.
bina) e, portanto, menor a quantidade de hemoglo-
bina ligada ao oxigênio(oxiemoglobina). A diminui- Funções dos curativos nas queimaduras:
ção da oxiemoglobina leva à hipóxia tecidual que, se- ● Diminuir a dor;
vera, causa a morte.
● Diminuir a contaminação;
Os sintomas variam de acordo com o grau da
intoxicação, indo desde náuseas e cefaléia intensa ● Evitar a perda de calor.
até confusão, inconsciência e, finalmente, óbito. A Frequentemente a dor causada pelas queima-
pele se apresenta em tom vermelho cereja, sinal duras é severa e requer administração de analgési-
nem sempre presente. É importante saber que a oxi- cos endovenosos para seu alívio. Uma medida sim-
metria de pulso nessa situação pode levar a conclu- ples para o combate à dor, entretanto, é um curativo
sões falsas. O oxímetro de pulso mede a porcenta- corretamente realizado. Nas queimaduras de pe-
gem de hemoglobina saturada, mas não diferencia a quena extensão, podem ser utilizados curativos úmi-
hemoglobina saturada com oxigênio da saturada dos, frios, com soro fisiológico, para alívio da dor. O
com monóxido de carbono; consequentemente, o uso do soro fisiológico é recomendado para evitar a
resultado obtido deve ser encarado com reservas. contaminação da ferida; na sua ausência, usar água
Assim, o indivíduo pode estar com uma intoxicação limpa. Nas queimaduras extensas, o uso de curativos
severa por monóxido de carbono, inconsciente, e a úmidos, frios, pode levar a hipotermia, porque a pele
leitura da saturação marcar 100% por causa da queimada perde a capacidade de auxiliar na regula-
grande quantidade de carboxiemoglobina. ção da temperatura corporal, ficando a vítima susce-
O tratamento consiste na administração de tível à perda de calor; quando usados, não devem co-
oxigênio na maior concentração possível, de prefe- brir mais que 10% da superfície corporal. Quando a
rência a 100%, em vítimas inconscientes, o que só se extensão da queimadura for muito grande, é prefe-
obtém com a entubação endotraqueal. rível envolver ou cobrir a vítima com lençóis limpos,
secos, em vez de tentar aplicar grandes curativos.
Passo “C” Quando houver hemorragia associada, usar curati-
O grande queimado perde fluidos através das vos compressivos habituais. Não remover roupas fir-
áreas queimadas, devido à formação de edema. lsso memente aderidas nem romper bolhas. Os curativos
pode levar a choque hipovolêmico (não-hemorrá- devem ser espessos e firmes, mas não apertados.
gico), que se desenvolve gradualmente. O quadro de Queimaduras Químicas
choque precoce, logo após a queimadura, normal-
mente se deve a outras lesões associadas com he- As queimaduras químicas ocorrem por con-
morragia, levando à hipovolemia. Não esquecer o tato da pele com substâncias cáusticas. Normal-
princípio de que o queimado é um politraumatizado mente, as queimaduras por álcalis são mais graves
e, portanto, pode ter outras lesões além da queima- que as causadas por ácidos, porque aqueles pene-
dura, considerando sempre o mecanismo do trauma. tram mais profundamente nos tecidos.

Os queimados graves necessitam de reposição O princípio básico do tratamento consiste em


de fluidos intravenosos, feita de acordo com o cál- irrigar a área queimada para retirada de toda subs-
culo da extensão da queimadura. Um detalhe impor- tância cáustica, que continua a reagir enquanto per-
tante é retirar anéis, pulseiras, relógios ou quaisquer manecer em contato com os tecidos. Iniciar a irriga-
outros objetos da região atingida, porque o desen- ção copiosa imediatamente, somente com água cor-
volvimento do edema traz risco de estrangulamento rente ou soro fisiológico; não usar substâncias neu-
do membro e consequente isquemia. tralizantes. A simples utilização de compressas úmi-
das pode agravar a lesão, porque a água em pequena
Passo “D” quantidade reage com certas substâncias e produz
Não se esquecer de que alterações da consci- calor, o que aumenta a severidade da lesão. Retirar
ência podem ser devidas à hipóxia ou à intoxicação roupas e sapatos da vítima enquanto proceder à irri-
por monóxido de carbono, além, é claro, de lesões gação, porque pode haver acúmulo de líquido com
associadas. uma concentração de substância cáustica suficiente
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para produzir queimaduras. Sempre que possível, abaixo dessa temperatura não funcionam. Se o ter-
evitar que o líquido da irrigação escorra por áreas mômetro estiver marcando 35 graus, significa que a
não-queimadas. Proteja-se também durante o pro- temperatura pode estar abaixo desse valor.
cedimento.
● 35 a 32 graus centígrados: vítima apresenta
As substâncias cáusticas na forma de pó, como tremores (calafrios), inicialmente discretos, depois
soda cáustica, por exemplo, devem ser retiradas por violentos; isso ocorre porque os músculos tremem
escovação. Só irrigar as queimaduras produzidas por para produzir calor e tentar elevar a temperatura
pó se as lesões já estiverem úmidas. corporal. A vítima queixa-se de frio e tenta combatê-
lo com movimentos corporais; pode apresentar res-
Lesões Localizadas
postas verbais e motoras lentas, falta de coordena-
Temperaturas próximas ou abaixo do ponto ção motora e confusão mental quando a tempera-
de congelamento podem produzir isquemia tecidual, tura se aproxima dos 32 graus; a pele fica pálida e
congelamento e causando lesões teciduais. Áreas fria.
mais comumente afetadas: dedos, mãos, pés, face e
● 32 a 28 graus centígrados: cessam os tremo-
orelhas.
res e diminui o nível de consciência; a vítima deixa de
A pele se apresenta acinzentada ou amarelada "lutar" contra o frio. Há queda da pressão arterial. O
e fria; a vítima se queixa de dor ou amortecimento pulso é lento, e frequentemente, irregular, devendo
local; as lesões mais profundas deixam a pele com ser palpados os pulsos centrais, porque os periféri-
aspecto de cera; dor e amortecimento desaparecem, cos podem estar ausentes, devido à vasoconstrição
porque as terminações nervosas estarão lesadas. Le- periférica. Diminui a frequência respiratória; as pupi-
sões superficiais podem ser tratadas por reaqueci- las se dilatam, podendo ficar midriáticas e fixas.
mento, colocando a região atingida em contato com
● 28 a 25 graus centígrados: queda ainda
superfície corporal aquecida. Lesões profundas só
maior dos dados vitais; pressão arterial bastante di-
devem ser reaquecidas em ambiente hospitalar. Es-
minuída ou nem mensurável, frequência respiratória
tas são raras em nosso meio.
diminuída para até um ou dois movimentos por mi-
Hipotermia nuto. A vítima pode estar em coma. Nessa fase, mo-
Hipotermia é o resfriamento generalizado do vimentações bruscas da vítima pela equipe de socor-
organismo, que ocorre pela exposição a temperatu- ristas podem desencadear fibrilação ventricular e
ras baixas mas acima do ponto de congelamento. morte. A vítima pode estar "aparentemente morta".
Ocorre rapidamente, sendo mais comum seu desen- ● Abaixo de 25 graus: geralmente sobrevêm a
volvimento gradual. A transferência de calor corpo- morte.
ral é 25 vezes mais rápida em meio líquido que no ar;
Tratamento
daí a hipotermia se desenvolver mais rapidamente
em vítimas imersas em ambiente líquido, como um Segue o A-B-C-D-E. O princípio do tratamento
rio de água fria, por exemplo. A severidade da hipo- consiste em prevenir perdas adicionais de calor, ma-
termia é proporcional ao tempo de exposição ao frio. nusear cuidadosamente a vítima e transportá-Ia sem
Crianças, principalmente recém-nascidas, e idosos demora ao hospital.
são mais propensos a apresentar hipotermia. Outras
1) Manusear a vítima delicadamente devido ao
vítimas com facilidade de apresentar hipotermia são
risco de desencadear fibrilação ventricular;
as alcoolizadas, as desagasalhadas, as desnutridas,
as queimadas e as com alterações da consciência. 2) Colocar a vítima em ambiente aquecido;
Avaliação 3) Retirar roupas molhadas e agasalhá-Ia com rou-
pas secas ou cobertores;
Para fazer o diagnóstico de hipotermia, sem-
pre ter em mente essa possibilidade, mesmo que as 4) Colocá-Ia em posição de choque se estiver hipo-
condições ambientais não sejam altamente propí- tensa;
cias. Os sinais e sintomas se tornam mais severos 5) Infundir endovenosamente soluções aquecidas
com a progressão da hipotermia. Não esquecer que a 39 graus centígrados e evitar soluções frias;
os termômetros comuns de mercúrio só marcam a
temperatura até 35 graus centígrados e, portanto, 6) Não dar bebidas alcoólicas à vítima;

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7) Em caso de parada cardiopulmonar, manter a Quando as artérias coronarianas estão preju-
RCP por tempo prolongado. A vítima hipotér- dicadas na sua função de transportar sangue, o su-
mica suporta tempos maiores em parada cardi- primento de O2 para o miocárdio é reduzido; como
orrespiratória, só devendo ser declarada morta consequência, sua função de bomba estará compro-
após reaquecida, principalmente a criança. metida.
Ao processo lento e gradual de oclusão dos va-
13 EMERGÊNCIAS CLÍNICAS sos sanguíneos chamamos aterosclerose (causa mais
frequente de angina). Na fase inicial da ateroscle-
Introdução rose, ocorre deposição de gordura na parede dos va-
F Este capítulo ex-
sos, estreitando sua luz. Conforme o tempo passa,
põe inoções básicas so- um depósito de cálcio vai endurecendo a parede do
g
bre algumas situações vaso, e o fluxo de sangue no vaso fica reduzido.
u
clínicas
r que mais fre- A irregularidade da superfície provoca adesão
quentemente
a podem de plaquetas circulantes formando um trombo. Este
ser a encontradas na pode alcançar tamanho tal que oclui completamente
t
prática dos socorris- a luz do vaso, ou quebrar-se e transformar-se em
e
tas. r êmbolo (trombo circulante), que causa a obstrução
o do vaso mais à frente.
s
Doenças Cardiovasculares c Quando isso ocorre, os tecidos que dependem
l desse fluxo de sangue, privados de oxigênio, acabam
As doenças cardiovascularese ocupam a pri- morrendo. Quando esse processo ocorre nas artérias
meira causa geral de mortalidader em nosso meio. coronárias, chamamos de doença coronária, que se
o por ano em de-
Mais de 250.000 brasileiros morrem
s
resume no baixo suprimento de sangue ao miocár-
corrência principalmente do infarto
e
agudo do mio- dio. Inclui a angina de peito e o infarto agudo do mi-
cárdio (IAM). Cinquenta por cento das vítimas mor- ocárdio.
rem antes de chegar ao hospital, nas primeiras duas
horas após o início dos sintomas. Assim, a morte sú- Angina de Peito
bita por ataque cardíaco (PCR – parada cardiorrespi- Situações de estresse emocional ou esforço fí-
ratória) é a emergência clínica mais importante nos sico fazem com que o coração trabalhe mais, exi-
dias de hoje. gindo maior fluxo de sangue pelas artérias coroná-
Não raro, o socorrista se depara com vítima de rias para suprir o músculo cardíaco.
trauma que desencadeou quadro de insuficiência co-
ronariana (angina ou IAM) durante o atendimento,
ou atende caso de PCR de causa clínica. É fundamen-
tal saber identificar sinais e sintomas que possa su-
gerir uma situação de emergência clínica e as medi-
das a serem tomadas.
Doença Coronariana
O coração tem seus próprios vasos sanguíneos
para suprir a intimidade do músculo cardíaco de O2
e nutrientes e remover CO2 e outros detritos.

É o sistema coronariano (artérias e veias coro-


nárias). Denominamos o músculo cardíaco de mio-
cárdio. Para que o miocárdio desempenhe de forma
eficiente sua função de bomba, é fundamental que o
sangue oxigenado alcance a intimidade do seu te-
cido.

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repouso. A principal complicação do IAM é a altera-
ção do ritmo cardíaco. Drogas, como a cocaína, po-
Quando as artérias
dem provocar IAM por espasmo do vaso.
coronárias se estreitam
pela aterosclerose, não Sinais e Sintomas
são capazes de suprir o
● Dor torácica de forte intensidade, prolon-
aumento da demanda de
gada (30 minutos a várias horas), que localiza atrás
sangue pelo músculo car-
do esterno e irradia-se para o membro superior, om-
díaco. O miocárdio, pri-
bro, pescoço, mandíbula, etc. Geralmente o repouso
vado
F de oxigênio, faz o paciente sentir dor. É a an-
i pectoris ou dor no peito. não alivia a dor;
gina
g
● Falta de ar;
u Sinais e Sintomas
r ● Náusea, vômitos, sudorese fria;
a Dor torácica retroesternal ou precordial (às
a vezes, desconforto), desencadeada por es- ● Vítima ansiosa, inquieta, com sensação de
n forço físico, estresse, refeição volumosa ou ex- morte iminente;
g
i
posição a temperaturas muito frias. ● Alteração do ritmo cardíaco – bradicardia,
n A dor pode irradiar-se para membros superio- taquicardia, assistolia, fibrilação ventricular;
a res, ombros, mandíbula e porção superior do
abdome. Raramente ultrapassa dois a cinco ● Na evolução, a vítima perde a consciência e
minutos, desaparecendo com repouso e uso desenvolve choque cardiogênico.
de vasodilatador sublingual. Atendimento de Emergência no Pré-hospita-
Atendimento de Emergência no Pré-hospita- lar
lar  Assegurar vias aéreas;
 Confortar e acalmar o paciente;  Tranquilizar a vítima – abordagem calma e se-
 Mantê-lo em repouso, em posição confortá- gura (objetiva diminuir o trabalho do coração);
vel;  Mantê-la confortável, em repouso absoluto.
 Informar-se sobre o uso do vasodilatador sub- Não permitir seu deslocamento;
lingual e se o tem;  Administrar oxigênio;
 Passar os dados clínicos para o médico e  Examinar sinais vitais com frequência;
aguardar instruções;  Monitorização cardíaca;
 Se houver necessidade de transporta-lo, faze-  Saturação de oxigênio (oxímetro de pulso);
lo sem sirene, devagar e monitorando sinais  Conservar o calor corporal;
vitais e se possível monitorização cardíaca.  Se o médico não estiver presente, reporte ao
médico coordenador a história com os dados
vitais da vítima e aguarde instruções;
Infarto Agudo do Miocárdio  Transporte imediatamente, de forma cuida-
dosa, calma, sem sirene, com o objetivo de
Condição em que ocorre necrose (morte) de
não aumentar sua ansiedade, para hospital
parte do miocárdio como resultado da falta de oxi-
equipado com serviço coronariano previa-
gênio. Isso acontece por estreitamento ou oclusão
mente avisado da chegada da vítima;
da artéria coronária que supre de sangue a região. O
 Em vítima inconsciente por parada cardiopul-
infarto agudo do miocárdio (IAM) é a causa mais fre-
monar, iniciar manobras de RCP e comunicar
quente de morte súbita (50% das mortes ocorrem
imediatamente o médico coordenador. Se de-
nas primeiras horas); muitas dessas vítimas pode-
senvolver choque (hipotensão), aplicar os cui-
riam ser salvas com medidas prontas e relativamente
dados de emergência para choque cardiogê-
fáceis (manobras de RCP). Daí a importância de iden-
nico.
tificar precocemente o infarto agudo do miocárdio.
Dispinéia
A causa principal do IAM é a aterosclerose das
coronárias, que pode ser desencadeada por esforço O termo dispinéia significa respiração difícil.
físico, situação de estresse, fadiga, mas também no Não é uma doença primária, mas surge como conse-
quência de condições ambientais, trauma e doenças
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clínicas, como, por exemplo, obstrução das vias aé-  Não dar nada para o paciente comer ou beber.
reas por corpo estranho, doenças pulmonares (bron-  Informar-se sobre a história da vítima (doen-
quite crônica e enfisema), condições cardíacas, rea- ças, medicamentos utilizados, etc.), reporta-la
ções alérgicas, pneumotórax, asma brônquica, etc. ao médico e aguardar instruções.
Em qualquer das situações em que algo im- Coma
peça o fluxo de ar pelas vias aéreas, o paciente au-
As alterações do nível de consciência variam
menta a frequência e a profundidade da respiração.
de uma confusão mental até coma profundo. Na prá-
A dificuldade em suprir de oxigênio a circulação pul-
tica, é útil classificar em subcategorias pacientes com
monar desencadeia hipóxia. Logo, o paciente pode
alteração do nível de consciência de acordo com o
estar cianótico, forçando os músculos de pescoço,
estágio em que ele se encontre, sendo importante
tórax e abdome (em criança observa-se batimento
registrar as respostas do paciente aos vários estímu-
da asa do nariz). Conforme haja agravamento do
los realizados. As subcategorias de alteração do nível
quadro, o paciente desenvolve parada respiratória
de consciência são:
ou apnéia, inconsciência e parada cardíaca.
 Confusão – incapacidade de manter uma linha
Atendimento de Emergência no Pré-hospita-
de pensamento ou ação coerente com desori-
lar
entação no tempo e no espaço.
Quando não se trata de trauma, pode ser difí-  Sonolência – dificuldade de se manter em
cil para o socorrista identificar a causa exata do pro- alerta.
blema. Informe-se junto ao paciente, à família e ob-  Estupor – dificuldade de despertar, resposta
serve o ambiente ao redor. incompleta aos estímulos dolorosos e verbais.
Com respostas motoras adequadas.
Medicamentos utilizados são bons indícios
 Coma superficial – respostas motoras desor-
para definir a causa. Repassar de imediato as infor-
ganizadas aos estímulos dolorosos, não apre-
mações ao médico.
senta resposta de despertar.
 Mantenha a abertura das vias aéreas;  Coma profundo – completa falta de resposta a
 Administre oxigênio com autorização médica, qualquer estímulo.
obedecendo à concentração indicada (oxigê-
As principais causas de alteração de consciên-
nio em alta concentração é prejudicial em do-
cia são divididas em:
enças pulmonares crônicas);
 Transporte o paciente em posição confortável PRIMÁRIAS DO CÉREBRO
(preferencialmente cabeceira elevada 45º) ao
 Trauma;
hospital.
 Doença cerebrovascular – AVC;
Síncope ou Desmaio  Infecções (meningites, encefalites, etc.);
 Neoplasias;
Caracteriza-se por qualquer tipo de perda de
 Convulsões.
consciência de curta duração que não necessite ma-
nobras específicas para a recuperação. O termo lipo- SISTÊMICAS OU SECUNDÁRIAS
timia tem sido utilizado para designar episódio de
 Metabólicas (hipoglicemia, cetoacidose diabé-
perda incompleta de consciência.
tica, distúrbio do cálcio, etc.);
Atendimento de Emergência no Pré-hospita-  Encefalopatias hipóxicas (insuficiência cardí-
lar aca congestiva, doença pulmonar obstrutiva,
etc.);
 Manter a vítima deitada, preferencialmente
 Intoxicações (drogas, álcool, monóxido de car-
com a cabeça abaixo do corpo; se estiver dei-
bono, etc.);
tado, elevar-lhe os membros inferiores mais
 Causas físicas (insolação, hipotermia);
ou menos 20 cm; mantê-lo deitado por alguns
 Estados carênciais.
minutos após recuperar-se.
 Se estiver em local mal ventilado ou ambien- No atendimento a uma vítima inconsciente o
tes lotados, providenciar a remoção para ou- socorrista deve proceder de forma ordenada e siste-
tro mais apropriado. mática monitorando os sinais vitais no sentido de im-
 Liberar vestimentas apertadas; pedir a progressão da lesão neurológica.
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● Colher uma história rápida – doenças pré-
vias, medicações, alcoolismo, uso de drogas, trauma,
etc.
● Realizar exame físico com atenção especial
aos seguintes aspectos:
● Sinais vitais:
○ pele – sinais de trauma, de picadas de agu-
lha, insuficiência vascular
○ cabeça – sinais de trauma craniano, rigidez
de nuca
○ hálito – alcoólico, diabético, etc.
● Exame neurológico – avaliar nível de consci- Acidente Vascular Hemorrágico
ência, pupilas, escala de coma de Glasgow.
Ruptura da parede de um vaso sanguíneo pro-
Atendimento de Emergência no Pré-hospita- vocando hemorragia cerebral. Parte do cérebro fi-
lar cará comprometida pela falta de oxigênio e poderá
 Manter vias aéreas pérvias – cânula de guedel; haver aumento da pressão intracraniana. Essa situa-
 Mantê-la confortável, em repouso absoluto; ção é de maior gravidade pelo risco de compressão
 Conservar o calor corporal; de áreas cerebrais responsáveis pelas funções vitais.
 Se o médico não estiver presente, reporte ao
médico coordenador a história com os dados
vitais da vítima e aguarde instruções; Sinais e Sintomas
 Transporte imediatamente, de forma cuida- Dependem do vaso lesado e da importância
dosa, ao hospital previamente avisado da che- funcional da área cerebral envolvida.
gada da vítima. Se não houver evidência de
trauma, transportar a vítima em decúbito late- Podem surgir:
ral.  Cefaléia, tontura, confusão mental;
Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)  Perda de função ou paralisia de extremidades
(geralmente de um lado do corpo);
AVC é uma desordem do sistema cardiovascu-  Paralisia facial (perda de expressão, geral-
lar, causada por oclusão ou ruptura de um dos vasos mente de um lado da face, com defeito na
que suprem o cérebro de sangue. Embora ocorram fala);
predominantemente nas pessoas mais idosas, fre-  Anisocoria, pulso rápido, respiração difícil,
quentemente surpreendem jovens, comprome- convulsão, coma.
tendo sua capacidade laborativa.
Os casos podem ser súbitos e fugazes (recupe-
Acidente Vascular Isquêmico ração espontânea) ou mais graves, confirmando a
O vaso pode ser obstruído por trombo ou êm- extensão do comprometimento cerebral.
bolo, ou sua luz comprimida por tumor ou trauma.
Como resultado, a função de parte do cérebro que
depende do sangue oxigenado será afetada. A causa Atendimento de Emergência no Pré-hospita-
mais freqüente é a aterosclerose cerebral. lar
 Assegurar abertura e manutenção de vias aé-
reas;
 Tranquilizar o paciente e mantê-lo em re-
pouso;
 Monitorar sinais vitais;
 Reavaliar nível de consciência e escala de Glas-
gow;

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 Não administrar nada via oral; urina. A convulsão demora em média três a cinco mi-
 Mantê-lo aquecido; nutos e é seguida por um período de inconsciência.
 Administrar O2; A consciência é recuperada aos poucos e o paciente
 Aguardar orientações médicas; pode apresentar dor de cabeça, vômitos e confusão
 Transportar ao hospital. mental.
Crise Convulsiva Outro tipo comum de epilepsia é o “pequeno
mal” ou “crise de ausência”, quando a pessoa fica
A convulsão é uma desordem cerebral. Du-
com o olhar fixo por alguns instantes, sem se lembrar
rante breve período de tempo, o cérebro deixa de
depois daquele desligamento.
funcionar normalmente e passa a enviar estímulos
desordenados ao resto do corpo, iniciando as crises Existem vários outros tipos de crise mas sem
convulsivas, também conhecidas por ataques. importância no atendimento pré-hospitalar. Se as
crises duram muito tempo (crises prolongadas, ou
A convulsão é um sintoma comum em uma po-
crises seguidas sem recuperação de consciência)
pulação em geral e em países em desenvolvimento
com duração igual ou superior a 30 minutos, se ca-
pode chegar a 50 casos a cada 1.000 habitantes. Ela
racterizam uma emergência clínica podendo nesse
é mais comum na infância, quando é maior a vulne-
caso haver risco de morte e a vítima deverá ser en-
rabilidade a infecções do sistema nervoso central
caminhada ao hospital pois poderá ocorrer dano ao
(meningite), acidentes (traumatismos do crânio) e
cérebro; são as chamadas crises subentrantes ou es-
doenças como sarampo, varicela e caxumba, cujas
tado de mal epiléptico. Porém, a maioria das crises
complicações podem causar crises epiléticas.
não provoca dano algum, pois são de curta duração
Traumatismo cranioencefálico, infecções, pa- e autolimitadas.
rasitoses (principalmente neurocisticercose), mau
Atendimento de Emergência no Pré-hospita-
formações e tumores cerebrais e abuso de drogas e
lar
álcool são as causas mais comuns de convulsão em
adultos.  Manter-se calmo e procurar acalmar os de-
mais;
Quando a vítima apresenta crises convulsivas
 Colocar algo macio sob a cabeça da vítima pro-
repetidas ao longo de sua vida caracteriza-se então
tegendo-a;
uma doença denominada epilepsia, que não é conta-
 Remover da área objetos que possam causar-
giosa.
lhe ferimento;
Às vezes, a pessoa com epilepsia perde a cons-  Afrouxar gravata ou colarinho de camisa, dei-
ciência, mas outras experimenta apenas pequenos xando o pescoço livre de qualquer coisa que o
movimentos corporais ou sentimentos estranhos. Se incomode;
as alterações epiléticas ficam restritas a uma parte  Girar-lhe a cabeça para o lado. Visando a que
do cérebro, a crise chama-se parcial; se o cérebro in- a saliva não dificulte sua respiração – desde
teiro está envolvido, chama-se generalizada. que não haja qualquer suspeita de trauma ra-
Manifestações Clínicas quimedular;
 Não introduzir nada pela boca, não prender
Existem várias formas de manifestações clíni- sua língua com colher ou outro objeto (não
cas das crises convulsivas e a mais importante no as- existe perigo algum de o paciente engolir a
pecto de atendimento de emergência são as crises própria língua);
generalizadas tônicoclônicas.  Não tentar fazê-lo voltar a si, lançando-lhe
A convulsão pode ou não ser precedida de al- água ou obrigando-o a tomá-la;
gum sintoma que avisa que ela está se iniciando.  Não o agarre na tentativa de mantê-lo quieto.
Logo a seguir, a crise se inicia com um grito que pre- Não se oponha aos seus movimentos apenas o
cede a perda súbita de consciência e enrijecimento proteja de traumatismos.
(fase tônica) do corpo seguido por movimentos tipo  Ficar ao seu lado até que a respiração volte ao
abalos (fase clônica) das quatro extremidades, face e normal ele se levante;
cabeça. Durante a crise a vítima pode apresentar  Se a pessoa for diabética, estiver grávida, ma-
queda e se ferir, morder a língua ou ter perda de chucar-se ou estiver doente durante o ataque,
transporte ao hospital.
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Falsas Crises e Crises Provocadas por Modifi-  A melhor posição para imobilizar a coluna do
cações Fisiológias paciente é a neutra, porém outras podem ser
escolhidas (decúbito ventral, lateral etc.), de-
Todas as pessoas podem apresentar crises que
pendendo das lesões da vítima;
se assemelham às descritas anteriormente mas que
 Para realizar o alinhamento do paciente, é ne-
não têm nada a ver com convulsões.
cessário utilizar ambas as mãos, com gestos
O socorrista deve estar atento a essas pseudo- firmes, mas suaves, tentando evitar qualquer
crises que têm uma origem em alterações emocio- movimento brusco e, especialmente, de "vai-
nais e são desencadeadas por um desejo consciente e-vem";
ou inconsciente de mais atenção e cuidados. Quando  Não tentar mover uma vítima cujo peso seja
se analisa com cuidado o passado recente e remoto provavelmente maior do que aquele que
dessas pessoas (incluindo crianças), freqüentemente possa ser sustentado; neste caso, pedir auxílio
existe história de abuso, negligência ou conflitos a outros socorristas ou mesmo a leigos, estes
muito intensos nas relações interpessoais. Muitas devendo ser adequadamente instruídos;
vezes, essas falsas crises são muito parecidas com  Sempre deve haver um só responsável pela
crises verdadeiramente epilépticas e é necessário o ação, de preferência o mais experiente, a
atendimento por um especialista para fazer um diag- quem caberá a direção da manobra. Sua posi-
nóstico certeiro. ção é junto à cabeça da vítima;
MOVIMENTAÇÃO, REMOÇÃO E TRANSPORTE  Se a vítima estiver consciente, informá-Ia dos
DE VÍTIMAS procedimentos a serem executados, para que
ela possa colaborar e não causar empecilhos;
Introdução  Se a manobra provocar aumento da dor, signi-
Toda vítima de trauma deve ser atendida com fica que algo está errado e o movimento deve
o máximo cuidado, a fim de não agravar suas lesões ser interrompido. Retornar suavemente no
e/ou ferimentos. Isto é particularmente mais impor- movimento e imobilizar nessa posição;
tante nas vítimas com suspeita de lesão na coluna  Se a vítima estiver inconsciente ou incapaz de
vertebral ou traumatismo raquimedular. se comunicar, realize a movimentação, porém
de maneira bastante cuidadosa, interrom-
Considerando que a vítima necessita ser re- pendo-a caso haja alguma resistência ou blo-
movida e transportada do local do acidente para um queio no movimento. Como no caso anterior,
hospital, há grande probabilidade de manejo exces- retroceda um pouco no movimento e, então,
sivo da coluna vertebral, o que pode por em risco a imobilize;
integridade da medula espinhal.  Ao mover uma vítima, mantenha uma posição
Desta forma, é preciso dar prioridade à abor- segura e estável. Estando de pé, procure atuar
dagem da vítima, utilizando técnicas e táticas de com as duas plantas dos pés apoiadas no solo
imobilização e remoção que minimizem ao máximo e as pernas ligeiramente entreabertas; ajoe-
qualquer possibilidade de agravamento de lesões. lhado, apóie um joelho e o pé da mesma perna
no solo, com a perna entreaberta;
Neste capítulo estão descritas as técnicas mais
 Só inicie a mobilização da vítima se todos os
utilizadas no atendimento pré-hospitalar, que, no
materiais necessários estiverem disponíveis e
entanto, algumas vezes não poderão ser utilizadas
à mão, bem como todo o pessoal posicionado
devido a situação da vítima no local. Nestes casos o
e instruído. Combinar previamente e descre-
Socorrista terá forçosamente que adaptar as mano-
ver o movimento antes de realizá-lo.
bras, usar sua capacidade de análise e inferir daí a
 Fixar adequadamente a vítima à maca, tendo
melhor técnica e tática de abordagem para estabili-
o cuidado de utilizar coxins em tamanho e es-
zar a vítima.
pessura adequados, sempre que necessário;
Regras Gerais  Se possível, o transporte de gestante politrau-
matizada deve ser feito em decúbito lateral
Para que as técnicas de imobilização e remo-
esquerdo, para isso inicialmente imobilize e
ção sejam realizadas com êxito é necessário, primei-
alinhe a gestante na tábua em decúbito dorsal
ramente, que se tenha conhecimento das regras
e posteriormente lateralize a tábua;
abaixo descritas:

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 O Socorrista deve conhecer profundamente
todos os itens do seu arsenal de imobilização,
para saber escolher tipo, tamanho e uso ne-
cessários;
 O Socorrista deve lembrar que equipamentos
improvisados oferecem maiores riscos de fa-
lhas;
 Equipamentos normais costumam apresentar
desgaste, por isto deve-se ficar atento à falhas
e ter outros meios disponíveis para cumprir
seu objetivo;
 Os pacientes têm graus variados de lesões.
Utilizar todo recurso necessário disponível,
mas sempre avaliando a gravidade real (lesões
perceptíveis) ou as suspeitas (estudo do meca-
nismo da lesão), para então quantificar o equi-
pamento necessário; A colocação do colar cervical pode ser feita
 No atendimento a vítima não se pode confun- com a vítima sentada, deitada ou em pé. A seguir es-
dir rapidez com pressa, porque a primeira tra- tão descritos os procedimentos que devem ser efeti-
duz eficiência e segurança, enquanto a se- vados pelos Socorristas para a colocação do colar
gunda, precipitação e risco. cervical.
 A rapidez só é alcançável mediante treina-
mento e experiência, sendo sempre almejada, Colocação do Colar Cervical em Vítima Sen-
sem jamais permitir qualquer risco desneces- tada
sário ao paciente; 1) O Socorrista 1 deve aproxima-se por trás da ví-
 Somente é admissível retardar o uso dos equi- tima, posiciona os polegares no nível do occi-
pamentos de imobilização necessários quando pital e os indicadores e médios pressionando a
o paciente apresenta situação clínica alta- mandíbula;
mente instável como parada cardiopulmonar,
por exemplo. 2) Após posicio-
nar as mãos
Imobilização com Colar Cervical o Socorrista
A imobilização com o colar cervical deve ser 1 realizará os
feita em todas as vítimas que sofreram algum tipo de movimentos
lesão e principalmente nas vítimas com suspeita de de alinha-
trauma raquimedular, pois possibilita maior segu- mento e tra-
rança para a mobilização da vítima do local do aci- ção longitu-
dente ao hospital, dinal leve,
F
diminuindo
i também o risco de lesões secundárias. apoiando a região hipotênar das mãos junto à
g base do pescoço. Este movimento deve con-
u duzir a cabeça da vítima até o alinhamento to-
r tal, tanto anteroposterior quanto lateral;
a
C 3) O Socorrista 2 posiciona o colar cervical, (pre-
o viamente selecionado) por baixo da mandí-
l bula da vítima. Na sequência, apoia a extremi-
a dade inferior do colar no esterno, garantindo
r
seu alinhamento junto à linha média da ví-
c
e tima;
r 4) O Socorrista 1, então, eleva os dedos indicador
v e médio, para possibilitar o posicionamento
i da parte posterior do colar cervical;
c
a
l
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5) O Socorrista 2 posiciona, então, a porção pos-
terior do colar apoiando-a no occipital e na
parte superior do tronco;
6) O Socorrista 2 deve envolver totalmente o
pescoço, evitando compressão da via aérea e
dos vasos sanguíneos, para isso pressionará le-
vemente as porções laterais do colar a fim de
garantir o ajuste adequado;
7) Por fim, o Socorrista 2 deverá estender a tira Colocação do Colar Cervical nas Vítimas em
de velcro e prende-la na outra face para fixar Pé
o colar, tendo cuidado para não realizar uma O fato de uma vítima de acidente encontrar-
tração excessiva da tira de velcro, visto que se deambulando ou parada em pé não exclui a pos-
pode desalinhar o colar. sibilidade da existência de lesão cervical. Portanto,
Colocação do Colar Cervical em Vítima Dei- se houver indício de lesão cervical, aplicar colar antes
tada de posicionar a vítima em decúbito.

1) O Socorrista 1 deve posiciona-se por trás da


cabeça, fixando-a com as duas mãos. Apoiar os
polegares na mandíbula e os outros dedos ao
longo do crânio, a partir do occipital, para per-
mitir o posicionamento do colar;
2) O Socorrista 2 deverá posicionar, inicialmente,
a face posterior do colar por trás do pescoço
da vítima e, então, trazer a face anterior do co-
lar para a frente do pescoço, posicionando-o
na linha média. Verificar se o colar está apoi-
ando na mandíbula, no occipital e no tronco;
3) Após isso o Socorrista 2 deve aplicar uma leve
compressão lateral e fechar o colar com a tira
de velcro.

A sequência é semelhante à da vítima sentada,


porém o Socorrista 1 deve posicionar-se em pé, atrás
da vítima, abordá-la e realizar o alinhamento cervi-
cal, enquanto o Socorrista 2 seleciona o colar ade-
quado.
Após isso o Socorrista 2 posiciona o colar por
baixo da mandíbula e apoiado no esterno da vítima,
passa a parte posterior do colar por trás do pescoço
da vítima, aplica uma leve compressão lateral e fecha
o colar com a tira de velcro.
Colocação de Coxins
Tendo em vista que a coluna apresenta quatro
curvaturas diferentes, ao posicionar alguém sobre a
tábua, que é totalmente plana, devemos respeitar as
características anatômicas da vítima em questão.

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1) O Socorrista 1 deverá realizar a abordagem
pelo lado em que a vítima está olhando e con-
secutivamente realizar o controle cervical;
2) O Socorrista 1 deverá apoiar uma das mãos no
chão e deslocar para o topo da cabeça da ví-
tima, procedendo então o alinhamento do
pescoço e;
3) O Socorrista 2 instala o colar cervical e alinha
No adulto, mesmo imobilizado com o colar os braços da vítima junto ao tronco, podendo
cervical adequado, a altura do tórax é normalmente deixar o antebraço, contrário ao rolamento,
maior que a do crânio. Isso fará com que a cabeça sobre o tronco;
provoque uma extensão da coluna cervical, o que 4) O Socorrista 3 deverá alinhar as pernas da ví-
deve ser evitado. Nas vítimas idosas, haverá prova- tima fazendo uma leve tração e posterior-
velmente uma curvatura maior a ser compensada mente amarrar uma bandagem nos tornozelos
com o coxim. da vítima para facilitar o movimento de rola-
Para corrigir esta extensão da coluna cervical mento;
no adulto pode-se usar um coxim de pano, espuma 5) O Socorrista 3 posiciona a tábua de imobiliza-
ou qualquer outro material sob a região occipital do ção ao lado da vítima, observando para que a
crânio, caso não esteja afixado na tábua o imobiliza- tábua fique no lado contrário ao rolamento;
dor lateral de cabeça que já possui um coxim. 6) Após realizado o alinhamento da vítima e po-
sicionada a tábua o Socorrista 2
Na criança, a 1) deve posicionar uma das mãos no ombro da
situação é invertida, vítima e a outra na pelve (crista ilíaca) e o So-
pois a região occipital corrista 3 deve posicionar uma das mãos na
do crânio faz projeção pelve (crista ilíaca) e com a outra segurar a
posterior significativa- bandagem que foi amarrada nos tornozelos da
mente maior do que o vítima;
tronco, e o coxim en- 7) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor-
tão será posicionado sob o tronco,
F desde o ombro ristas realizarão o rolamento de 90º, laterali-
até a pelve. A espessura doi coxim dependerá da zando a vítima;
g
idade e das características anatômicas
u
da criança. 8) Neste momento o Socorrista 3 deverá manter
Imobilização Dorsal emr Tábua o alinhamento das pernas da vítima em rela-
a
ção ao corpo;
A imobilização da vítimac tem por fim evitar le-
o 9) Os Socorristas 2 e 3 deverão puxar a tábua
sões secundárias na vítima traumatizada, bem como,
x para perto da vítima, sendo que para isso o So-
facilitar e dar segurança parai a mobilização da ví-
corrista 2 utilizará a mão que está no ombro e
tima. Para que seja feita a imobilização
n dorsal, ou
o Socorrista 3 a mão que está na pelve;
seja, com a vítima deitada sobres a tábua, os socorris-
10) Após a tábua estar posicionada os Socorristas
tas podem se utilizar de várias técnicas de rolamento
2 e 3 giram as mãos que utilizaram para puxar
e elevação, que a seguir serão descritas.
a tábua e ao comando do Socorrista 1 posicio-
Rolamento de 90° com Três Socorristas nam a vítima sobre a tábua;
Esta é a técnica mais utilizada durante os aten- 11) Caso a vítima não fique centralizada após o ro-
dimentos pré-hospitalares. Para a sua perfeita utili- lamento, é necessário desloca-la para um dos
zação deve-se primeiramente verificar qual lado da lados; para isto o Socorrista 1 deverá, sem per-
vítima apresenta lesões e então realizar os procedi- der o controle da cabeça, pinçar os ombros da
mentos de rolamento para o lado contrário aos feri- vítima e manter o controle da cabeça com os
mentos, caso a vítima apresente lesões em ambos os antebraços; o Socorrista 2 e 3 deverão trans-
lados, ou fratura pélvica, evitar esse procedimento e ferir suas mãos para o lado contrário ao do
substituí-lo. deslocamento da vítima, segurando respecti-
vamente no ombro e pelve, e na pelve e ban-
Feito isto deverão serem tomadas as seguintes dagem;
providências:
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12) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor- 7) O Socorrista 2 passará, então, a segunda faixa
ristas realizarão a centralização da vítima, to- do imobilizador lateral de cabeça no mento da
mando cuidado para que o movimento seja vítima (sobre o colar cervical), pressionando a
feito em bloco, sem permitir deslocamento la- faixa contra os coxins, sendo que o Socorrista
teral da coluna; 1 fixará a faixa cruzando-a para cima;
13) Caso a vítima tenha que ser colocada mais 8) Terminada a fixação do imobilizador lateral de
para cima ou para baixo da tábua o Socorrista cabeça o Socorrista 2 fará a fixação firme do
1 deverá pinçar os ombros da vítima e manter terceiro cinto que deverá estar localizado no
o controle da cabeça com os antebraços; os terço inferior da coxa e com a fivela na lateral;
Socorristas 2 e 3 deverão posicionarem-se 9) Por fim deve-se amarar as mãos da vítima so-
com a vítima entre as pernas segurando res- bre o tórax para possibilitar maior conforto à
pectivamente a pelve e as pernas (gastroc- vítima e evitar agravamento de lesões.
nemios) da vítima;
10) A fixação da vítima na tábua também pode
14) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor-
ser feita predispondo os cintos de fixação na tábua
ristas realizarão o alinhamento da vítima. Ter-
antes de iniciar as manobras de rolamento.
minado o rolamento, centralizada e alinhada a
vítima, deve-se realizar a fixação da vítima na Rolamento de 90º com Dois Socorristas
tábua com a utilização dos cintos de fixação e Para a realização desta manobra, obrigatoria-
imobilizador lateral de cabeça. mente, os cintos de fixação deverão estar predispos-
Os Socorristas deverão proceder da seguinte tos na tábua, pois do contrário faltará um Socorrista
forma: para fazer a passagem e a fixação dos cintos.
1) O Socorrista 1 deverá pinçar os ombros da ví- Na execução desta técnica de rolamento os
tima e manter o controle da cabeça com os an- Socorristas devem-se proceder da seguinte forma:
tebraços; 1) O Socorrista 1 deverá apoiar uma das mão no
2) O Socorrista 3 deverá erguer a tábua até o jo- chão e deslocar para o topo da cabeça da ví-
elho sob o comando do Socorrista 1; tima, procedendo então o alinhamento do
3) O Socorrista 2 deverá passar três cintos de fi- pescoço;
xação sob a tábua; 2) O Socorrista 2 instala o colar cervical, alinha os
4) Após passados os cintos o Socorrista 3 abai- braços da vítima junto ao tronco, podendo
xará a tábua até o solo e o Socorrista 2 deverá deixar o antebraço contrário ao rolamento so-
fixar firmemente o primeiro cinto no tórax (li- bre o tronco, alinhar as pernas da vítima fa-
nha dos mamilos) e o segundo cinto na pelve zendo uma leve tração e posteriormente
(cristas ilíacas), posicionando as fivelas dos amarrar uma bandagem nos tornozelos da ví-
cintos na lateral. O terceiro cinto só será fi- tima para facilitar o movimento de rolamento;
xado após a fixação do imobilizador lateral de 3) O Socorrista 2 posiciona a tábua de imobiliza-
cabeça; ção ao lado da vítima, observando para que a
5) Para a fixação do imobilizador lateral de ca- tábua fique no lado contrário ao rolamento;
beça o Socorrista 1 voltará para a posição nor- 4) O Socorrista 1 deverá deslocar-se para o lado
mal (controle da cabeça com as mãos e não em que a vítima será rolada, colocando uma
com o antebraço) e o Socorrista 2 posicionar das mãos sob a coluna cervical e a outra no
os coxins (um de cada lado da cabeça) empur- ombro da vítima;
rando-os contra a base do pescoço e posteri- 5) O Socorrista 2 posiciona uma das mãos na
ormente ajustando-os nas laterais da cabeça; pelve da vítima e outra segura a bandagem
6) O Socorrista 2 passará a primeira faixa de fixa- amarrada nos tornozelos da vítima;
ção do imobilizador lateral de cabeça na testa 6) Sob o comando do Socorrista 1 os dois Socor-
da vítima, pressionando a faixa contra os co- ristas realizarão o rolamento de 90º, laterali-
xins, de forma a conseguir manter o controle zando a vítima;
da cabeça com os dedos, feito isto o Socorrista 7) Neste momento o Socorrista 2 deverá manter
1 fixará a faixa cruzando-a para baixo, mo- o alinhamento das pernas da vítima em rela-
mento em que reassume o controle da ca- ção ao corpo;
beça;
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8) O Socorrista 2 deverá puxar a tábua para perto 3) Posicionar uma das mãos sob a coluna cervical
da vítima com a mão que estava posicionada da vítima e a outra na pelve;
na pelve sendo auxiliado pelo Socorrista 1; 4) Efetuar o rolamento da vítima lateralizando-a,
9) O Socorrista 1 verifica se a tábua está devida- tomando cuidado para não mover inadequa-
mente posicionada para receber a vítima e en- damente a coluna.
tão comanda o rolamento da vítima sobre a tá-
Rolamento de 180º com Três Socorristas
bua;
10) Caso a vítima fique descentralizada na tábua o Esta técnica de rolamento deve ser utilizada
Socorrista 1 mantém uma das mãos sob a co- pelos Socorristas quando a vítima se encontra em
luna cervical e a outra posiciona no ombro da decúbito ventral, devendo serem adotados as se-
vítima, no lado contrário ao do deslocamento, guintes providências:
o Socorrista 2 coloca uma das mãos na pelve 1) O Socorrista 1 deverá realizar a abordagem
da vítima e a outra na perna, também no lado pelo lado em que a vítima está olhando e con-
contrário ao do deslocamento da vítima; secutivamente realizar o controle cervical;
11) Sob o comando do Socorrista 1 a vítima é, en- 2) O Socorrista 1 deverá apoiar uma das mãos no
tão, corretamente centralizada; chão e deslocar para o topo da cabeça da ví-
12) Caso a vítima tenha que ser colocada mais tima, posicionando as mãos nas laterais da
para cima ou para baixo da tábua o Socorrista face da vítima para poder, posteriormente, re-
1 deverá pinçar os ombros da vítima e manter alizar o rolamento (mão direita na face direita
o controle da cabeça com os antebraços; os e mão esquerda na face esquerda);
Socorristas 2 deverá posicionar-se com a ví- 3) O Socorrista 2 deverá alinhar os braços da ví-
tima entre as pernas segurando a pelve da ví- tima junto ao tronco e o Socorrista 3 deverá
tima; alinhar as pernas da vítima fazendo uma leve
13) Sob o comando do Socorrista 1 os dois Socor- tração e posteriormente amarrar uma banda-
ristas realizarão o alinhamento da vítima; gem nos tornozelos da vítima para facilitar o
14) Terminado o rolamento, centralizada e ali- movimento de rolamento;
nhada a vítima, o Socorrista 2 deve realizar a 4) O Socorrista 3 posiciona a tábua de imobiliza-
fixação da vítima na tábua com a utilização dos ção no lado contrário ao que a vítima está
cintos de fixação e imobilizador, seguindo a se- olhando, deixando-a a cerca de 10 cm da ví-
quência de fixação já descrita (tórax, pelve, ca- tima;
beça e coxa). 5) Após realizado o alinhamento da vítima e po-
Rolamento de 90º com Um Socorrista sicionada a tábua os Socorristas 2 e 3 posicio-
nam-se com um dos joelhos apoiando sobre a
Esta técnica de rolamento dificilmente será
tábua (os dois socorristas devem estar com o
executada pelos Socorristas no Atendimento Pré-
mesmo joelho apoiado sobre a tábua);
hospitalar, pois nesta atividade sempre haverá mais
6) O Socorrista 2 posiciona uma das mãos no om-
de um Socorrista dando suporte a vítima, no entanto
bro e a outra na pelve (crista ilíaca) da vítima,
é importante conhecê-la pois em situações de emer-
por sobre o braço;
gência onde o Socorrista se encontre só e fora de sua
7) O Socorrista 3 deve posicionar uma das mãos
atividade profissional pode ser útil, caso necessite la-
na pelve (crista ilíaca) e com a outra segurar a
teralizar uma vítima que esteja com as vias aéreas
bandagem que foi amarrada nos tornozelos da
comprometidas ou regurgitando, por exemplo.
vítima;
Neste caso o Socorrista deverá proceder da se- 8) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor-
guinte forma: ristas realizarão o rolamento de 90º, laterali-
zando a vítima;
1) Realizar a abordagem pelo lado em que a ví-
9) Enquanto o Socorrista 3 mantém o alinha-
tima está olhando consecutivamente realizar
mento das pernas da vítima o Socorrista 1 re-
o controle cervical;
aliza o alinhamento da coluna cervical da ví-
2) Realizar o alinhamento dos braços e pernas da
tima;
vítima, cruzar o tornozelo contrário ao rola-
10) Os Socorristas 2 e 3 deverão posicionarem-se
mento por cima do outro;
fora da tábua e então deverão girar as mãos

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que estão respectivamente no ombro e na uma bandagem nos tornozelos da vítima, para
pelve da vítima para facilitar o rolamento so- facilitar o movimento de rolamento;
bre a tábua; 3) O Socorrista 2 deverá posicionar a tábua de
11) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor- imobilização no lado contrário ao que a vítima
ristas rolam a vítima sobre a tábua; está olhando, deixando-a a cerca de 10 cm da
12) O Socorrista 2 procede a colocação do colar vítima, tomando o cuidado de deixar os cintos
cervical na vítima; de fixação previamente reparados na tábua;
13) Caso a vítima não fique centralizada após o ro- 4) Após realizado o alinhamento da vítima e po-
lamento, é necessário desloca-la para um dos sicionada a tábua os Socorristas posicionam-
lados; para isto o Socorrista 1 deverá, sem per- se com um dos joelhos apoiando sobre a tábua
der o controle da cabeça, pinçar os ombros da (os dois socorristas devem estar com o mesmo
vítima e manter o controle da cabeça com os joelho apoiado sobre a tábua);
antebraços; o Socorrista 2 e 3 deverão trans- 5) O Socorrista 1 deverá passar um dos antebra-
ferir suas mãos para o lado contrário ao do ços por baixo da axila da vítima e com a mão
deslocamento da vítima, segurando respecti- segurar a mandíbula, com a outra mão deverá
vamente no ombro e pelve, e na pelve e ban- apoiar o occipital e a coluna cervical da vítima;
dagem; 6) O Socorrista 2 deverá segura a pelve e a ban-
14) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor- dagem localizada no tornozelo da vítima;
ristas realizarão a centralização da vítima, to- 7) Sob o comando do Socorrista 1 os dois Socor-
mando cuidado para que o movimento seja ristas realizarão o rolamento de 90º, laterali-
feito em bloco, sem permitir deslocamento la- zando a vítima;
teral da coluna; 8) Enquanto o Socorrista 2 mantém o alinha-
15) Caso a vítima tenha que ser colocada mais mento das pernas da vítima o Socorrista 1 re-
para cima ou para baixo da tábua o Socorrista aliza o alinhamento da coluna cervical da ví-
1 deverá pinçar os ombros da vítima e manter tima;
o controle da cabeça com os antebraços; os 9) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor-
Socorristas 2 e 3 deverão posicionarem-se ristas rolam a vítima sobre a tábua;
com a vítima entre as pernas segurando res- 10) O Socorrista 2 procede a colocação do colar
pectivamente a pelve e as pernas (gastroc- cervical na vítima;
nemios) da vítima; 11) Caso a vítima fique descentralizada na tábua o
16) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor- Socorrista 1 mantém uma das mãos sob a co-
ristas realizarão o alinhamento da vítima; luna cervical e a outra posiciona no ombro da
17) Terminado o rolamento, centralizada e ali- vítima, no lado contrário ao do deslocamento,
nhada a vítima, o Socorrista 2 deve realizar a o Socorrista 2 coloca uma das mãos na pelve
fixação da vítima na tábua com a utilização dos da vítima e a outra na perna, também no lado
cintos de fixação e imobilizador, seguindo a se- contrário ao do deslocamento da vítima;
quência de fixação já descrita (tórax, pelve, ca- 12) Sob o comando do Socorrista 1 a vítima é, en-
beça e coxa). tão, corretamente centralizada;
13) Caso a vítima tenha que ser colocada mais
Rolamento de 180º com Dois Socorristas
para cima ou para baixo da tábua o Socorrista
Está técnica pode ser utilizada, porém trás me- 1 deverá pinçar os ombros da vítima e manter
nos segurança para a coluna da vítima. o controle da cabeça com os antebraços; o So-
Nesta técnica os Socorristas deverão observar corrista 2 deverá posicionar-se com a vítima
a seguinte sequência: entre as pernas segurando a pelve da vítima;
14) Sob o comando do Socorrista 1 os dois Socor-
1) O Socorrista 1 deverá realizar a abordagem da ristas realizarão o alinhamento da vítima;
vítima e consecutivamente realizar o controle 15) Terminado o rolamento, centralizada e ali-
cervical; nhada a vítima, o Socorrista 2 deve realizar a
2) O Socorrista 2 deverá proceder o alinhamento fixação da vítima na tábua com a utilização dos
dos braços e das pernas da vítima fazendo cintos de fixação e imobilizador, seguindo a se-
uma leve tração e posteriormente amarrar quência de fixação já descrita (tórax, pelve, ca-
beça e coxa).
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Rolamento de 180º com Um Socorrista 5) Os braços dos Socorristas 2 e 3 que estão se-
gurando os vãos da tábua devem formar um
Da mesma forma que no rolamento de 90º
ângulo de 90º em relação ao corpo da vítima;
com um Socorrista está técnica raramente será utili-
6) Sob o comando do Socorrista 1 os Socorristas
zada, no entanto em situações extremas pode ser
2 e 3 abaixam a tábua até o solo, soltando as
necessário utilizá-la, mesmo sabendo que esta téc-
mãos que estavam pressionando os cotovelos
nica não trás estabilização suficiente para a coluna
da vítima e posicionam as mesmas nos vãos da
vertebral da vítima, pode assim comprometer, tam-
tábua próximos à cabeça, para auxiliar na
bém, a medula óssea.
descê-la;
Nesta situação o Socorrista deverá: 7) O Socorrista 1 pinça os ombros da vítima man-
1) Realizar a abordagem da vítima e proceder o tendo o controle cervical para que o Socorrista
controle cervical; 3 eleve a parte inferior da tábua;
2) Proceder o alinhamento dos braços e pernas 8) O Socorrista 2 efetua a passagem dos cintos de
da vítima, cruzar o tornozelo contrário ao ro- fixação sob a tábua e então procede a fixação
lamento por cima do outro; dos mesmos e do imobilizador lateral de ca-
3) Passar um dos antebraços por baixo da axila beça, conforme a sequência acima definida;
da vítima e com a mão segurar a mandíbula, Elevação da Vítima para Imobilização
com a outra mão deverá apoiar o occipital e a
A fim de posicionar a vítima na tábua, quando
coluna cervical da vítima;
o rolamento não pode ser executado ou é contrain-
4) Quando estiver devidamente posicionado pu-
dicado, pode-se utilizar a técnica de elevação, que
xar o tronco da vítima para si e realizar o rola-
pode ser efetuada com três ou quatro Socorristas.
mento de 180º, usando a força do braço e do
antebraço que passou sob a axila da vítima, to- Elevação com Três Socorristas
mando cuidado para não movimentar a ca-
Para esta técnica deverá se proceder da se-
beça da vítima;
guinte maneira:
5) Após completar o rolamento o Socorrista irá
passar o controle da cabeça que estava na 1) O Socorrista 1 deverá realizar a abordagem
mandíbula para a testa, fixando-a contra o pelo lado em que a vítima está olhando e con-
solo, e alinhar a coluna cervical da vítima. secutivamente realizar o controle cervical;
2) O Socorrista 1 deverá apoiar uma das mãos no
Imobilização da Vítima em Pé
chão e deslocar para o topo da cabeça da ví-
Quando a vítima traumatizada necessita de tima, procedendo então o alinhamento do
imobilização da coluna, embora se encontre em pé, pescoço;
não é possível deitá-la ao solo sem apoio, pois haverá 3) O Socorrista 2 instala o colar cervical e alinha
flexão da coluna, o que pode provocar danos adicio- os braços da vítima junto ao tronco, podendo
nais. Nesta situação, os Socorristas devem proceder deixar o antebraço contrário ao rolamento so-
da seguinte forma: bre o tronco;
4) O Socorrista 3 deverá alinhar as pernas da ví-
1) O Socorrista 1 deverá informar a vítima dos
tima fazendo uma leve tração e posterior-
procedimentos que irá realizar e posterior-
mente amarrar uma bandagem nos tornozelos
mente abordar a vítima por trás, fazendo o
da vítima para facilitar o movimento de rola-
controle cervical;
mento;
2) O Socorrista 2 posiciona o colar cervical con-
5) O Socorrista 3 posiciona a tábua de imobiliza-
forme descrito a cima;
ção ao lado da vítima;
3) O Socorrista 3 deve passar a tábua entre a ví-
6) Após realizado o alinhamento da vítima e po-
tima e o Socorrista 1;
sicionada a tábua o Socorrista 1 deve (sem
4) Os Socorristas 2 e 3 posicionam-se lateral-
perder o controle cervical) pinçar os ombros
mente em relação à tábua, segurando com
da vítima mantendo o controle cervical com os
uma das mãos em um dos vãos da tábua entre
antebraços, bem como, posicionar o joelho,
o braço e o corpo da vítima (o mais próximo
contrário a tábua, ao lado da cabeça da vítima
possível da axila) e com a outra mão pressiona
e posicionar o pé, do outro membro inferior,
o cotovelo da vítima contra o corpo;
logo após a tábua;
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BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
7) Os Socorristas 2 e 3 posicionam-se com as per- zação dos cintos de fixação e o imobilizador la-
nas aberta sobre a vítima e seguram respecti- teral de cabeça, seguindo a sequência de fixa-
vamente a pelve e as pernas; ção já descrita.
8) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor-
Elevação da Tábua para Transporte
ristas realizarão a elevação e a transferência
da vítima para a tábua, tomando cuidado para Uma vez que a vítima esteja fixa à tábua, é pre-
manter a altura e o alinhamento da vítima; ciso levantá-la do solo para levá-la à ambulância ou
9) Caso a vítima não fique centralizada ou ali- a outro local. Este procedimento pode ser feito com
nhada na tábua os Socorristas, aproveitando a dois, três ou mais socorristas ou colaboradores (po-
posição favorável em que se encontram e ao liciais, populares, amigos da vítima, etc). Sempre que
comando do Socorrista 1, deverão fazer a de- possível, deve-se optar pela elevação da tábua em
vida centralização ou alinhamento; três ou mais socorristas ou colaboradores, visto que
10) Terminada a elevação, a centralização e o ali- muitos Socorristas mais antigos de função reclamam
nhamento a vítima, o Socorrista 2 deve reali- de dores lombares após algum tempo de atividade.
zar a fixação da vítima na tábua com a utiliza- Elevação da Tábua com Dois Socorristas
ção dos cintos de fixação e imobilizador, se-
guindo a sequência de fixação já descrita. Procedimentos:

Elevação com Quatro Socorristas 1) O Socorrista 1deverá se posicionar na cabe-


ceira da tábua e o Socorrista 2 na outra extre-
Esta técnica será utilizada quando a vítima es- midade, ambos com os dois pés totalmente no
tiver em decúbito dorsal. Então os socorristas deve- chão e dobrando os joelhos, objetivando man-
rão agir da seguinte maneira: ter a coluna na posição mais vertical possível;
1) O Socorrista 1 posicionará uma das mãos na 2) Os dois Socorrista posicionam as mãos nos
região occipital do crânio da vítima e a outra vãos da tábua, próximos às extremidades;
na parte posterior do tórax (terço inferior); 3) Sob o comando do Socorrista 1, eleva-se a tá-
2) O Socorrista 2, no lado oposto ao Socorrista 1, bua com a vítima até a altura dos joelhos,
posicionará uma das mãos sob o ombro da ví- apoiando com os cotovelos na coxa, cuidando
tima e a outra sob a pelve; para que a vítima esteja alinhada horizontal-
3) O Socorrista 3, no mesmo lado do Socorrista 1, mente;
posicionará uma das mãos na pelve da vítima 4) Por fim, sob o comando do Socorrista 1, os
e a outra na perna; dois Socorristas levantam-se ao mesmo
4) O Socorrista 4, no lado oposto ao Socorrista 1, tempo, deixando os braços esticados. A partir
posicionará uma das mãos na coxa da vítima e deste momento estão aptos a deslocar com a
a outra na perna; vítima.
5) Sob o comando do Socorrista 1 todos os Socor- Elevação da Tábua com Três Socorristas
ristas deverão apoiar a cabeça no ombro do
colega que está a frente, para garantir estabi- Sempre que a vítima for muito pesada haverá
lidade ao movimento de elevação e a integri- a necessidade do auxílio de mais um Socorrista ou
dade física dos Socorristas; colaborador.
6) Feito isto o Socorrista 1 coordenará a elevação Neste caso:
da vítima, para que uma quinta pessoa (possi-
velmente um policial ou popular) passe a tá- 1) O Socorrista 1 deverá deslocar para um dos la-
bua de imobilização sob a vítima (neste mo- dos da tábua;
mento deve-se atentar para que o movimento 2) O Socorrista 2 deverá deslocar para o lado
da vítima seja feito em bloco); oposto da tábua, de frente para o Socorrista 1;
7) O Socorrista 1 comandará a descida da vítima, 3) O Socorrista 3 permanecerá na extremidade
alinhada e centralizada, sobre a tábua; inferior da tábua, junto aos pés da vítima;
8) Terminada a elevação, a centralizada e o ali- 4) Todos os Socorristas deverão posicionar os
nhada a vítima, os Socorristas 2 e 3 devem re- pés totalmente no chão e dobrar os joelhos,
alizar a fixação da vítima na tábua com a utili- objetivando manter a coluna na posição mais
vertical possível;

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BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
5) Os três Socorristas posicionam as mãos nos Pode parecer fácil comunicar-se com as pes-
vãos da tábua; soas, especialmente se você já as conhece há algum
6) Sob o comando do Socorrista 1, eleva-se a tá- tempo, como membros da família, vizinhos, amigos
bua com a vítima até a altura dos joelhos, e colegas de trabalho. Na comunicação com estas
apoiando com os cotovelos na coxa, cuidando pessoas, nota-se que elas utilizam gestos, desenvol-
para que a vítima esteja alinhada horizontal- veram expressões para substituir palavras e, até
mente; mesmo, utilizam palavras que não existem e, que
7) Por fim, sob o comando do Socorrista 1, todos você compreende sem dificuldade. Quando o socor-
os Socorristas levantam-se ao mesmo tempo, rista tem que interagir e comunicar-se com uma ví-
deixando os braços esticados. A partir deste tima em situações de emergência, ambas as partes,
momento estão aptos a deslocar com a vítima. normalmente, são estranhas uma a outra. A vítima
nestas circunstâncias, pode ter dificuldade de res-
ponder às perguntas feitas e de comunicar suas ne-
14 PESSOAS COM MOBILIDADE cessidades. O Socorrista deve obter as informações
rapidamente e decidir pelo cuidado a ser oferecido
REDUZIDA para a vítima. No caso de vítima especial, deverão ser
tomadas algumas diretrizes.
Introdução
Estabelecer o contato “olho-a-olho”, ou “por
Consideram-se vítimas com necessidades es-
contato”, quando você falar com a vítima e enquanto
peciais, aquelas que possuem particularidades físicas
ela tentar responder às suas perguntas. Esta forma
ou mentais, tais como dificuldade ou impossibilidade
de contato mostra interesse e amizade e sua expres-
de locomoção, visão audição, compreensão, fala,
são pode mostrar compaixão. Algumas vítimas de di-
agilidade e outras, gerando a necessidade de aten-
ferentes culturas podem não devolver este tipo de
ção diferenciada por parte de outras pessoas que as
contato, mas eles saberão que você está tentando
assistem.
ajudar e entendê-lo.
O socorrista deverá avaliar a vítima e iniciar
O posicionamento deve ser feito de modo
os procedimentos operacionais padrão, porém
que a vítima possa vê-lo. Se o socorrista ficar em pé
acrescidos de procedimentos complementares rela-
a uma distância muito grande, ou sentado ao lado da
tivos ao problema encontrado.
vítima, estará dificultando a comunicação, pois ele
O conceito de vítima deficiente é ultrapas- terá que virar ou inclinar a cabeça para falar. É me-
sado, pois é limitada a falta de alguma habilidade dos nos ameaçador se colocar na altura do olho da vítima
sentidos ou de locomoção, sendo inclusive um con- e gesticular de maneira que ela entenda a intenção
ceito preconceituoso e inadequado psicologica- de ajudá-la.
mente no trato com a vítima. Não é só a presença de
Falar à vítima de maneira que ela possa en-
sequelas adquiridas ou de deficiências de nascença,
tender. É mais provável que ele se confunda, se você
que tornam as vítimas como sendo especiais, mas
utilizar terminologia médica. Falar de modo claro e
também, a idade avançada, invalidez, dificuldade de
devagar para assegurar que ele entenda, mas não o
compreensão e outras. O cuidado diferenciado com
trate como se fosse criança. Você poderá determinar
estas vítimas é necessário devido sua inabilidade fí-
se a vítima tem deficiência de desenvolvimento men-
sica, mental ou ainda, a falta de audição que afetará
tal e pode adequar sua comunicação para o nível
a comunicação no caso de uma emergência.
dele.
O grupo de vítimas com necessidades espe-
Explicar os procedimen-
ciais incluem bebês e crianças, surdos e cegos, por-
tos que serão feitos antes de
tadores de deficiências física ou mental, idosos e
executar qualquer ação. Ao en-
pessoas em estado torpe, como os viciados. Lembre-
contrar vítimas que falam outro
se que estas vítimas devem ser tratadas com corte-
idioma, o socorrista deverá ten-
sia, preocupação e devem ser compreendidas, até
tar se comunicar por meio de
que sejam entregues aos profissionais de saúde.
gestos. Mantenha contato “olho-
a-olho” com a vítima. Responda
F
Procedimentos iniciais
i
g Página | 79
u
r
a
c
a
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
honestamente todas as perguntas que a vítima e ex- Quando nós envelhecemos as palavras ficam
plique que um procedimento pode doer. mais importantes. Pessoas de idade gastam mais
tempo pensando no que você diz e no que eles irão
Informe à vítima que ela será examinada
responder. Já foi demonstrado que isto não está re-
pelo pessoal do resgate ou do hospital, para o cui-
lacionado com a diminuição do processo de pensa-
dado apropriado. O socorrista deve manter a vítima
mento.
tão confortável quanto possível e descobrir o seu
nome e a forma que ele gostaria de ser tratada. Pessoas mais velhas, por experiência, sabem
que uma simples resposta pode ter duplo significado
Algumas vítimas mais velhas gostam de ser
durante uma conversa, e até mais significados
tratadas por senhor ou senhora. É mais comum o uso
quando a conversa já estiver terminada.
do primeiro nome, mas cheque primeiro com a ví-
tima, evitando usar expressões como "tio", "meu Muitas pessoas idosas vivem sozinhas e isto
bem" e outras de conotação duvidosa. muda os seus padrões de fala. Como Socorrista, lem-
bre-se que a vítima é um adulto que está passando
Quando for feita uma pergunta à vítima,
por outra crise na vida. Certifique-se que não há ne-
deve ser dado um tempo para que ela possa enten-
nhum fator que lhe ameace a vida e então permita à
der e responder. Elas podem demorar um pouco
vítima que controle o tempo para obtenção da histó-
para compreender o que foi perguntado e formular
ria e o exame físico. Se o cônjuge da vítima ou um
uma resposta.
amigo íntimo estiver por perto, acredite que você
Para todas as situações que envolvem a ví- poderá ter outra vítima. Você pode estar cuidando
tima com necessidades especiais, avalie inicialmente de uma mulher, enquanto aquele que é seu marido
o local da emergência. há trinta anos teme a morte da esposa. Providencie
Deixe a vítima sa- apoio emocional para ambos. Esteja sempre alerta a
ber o que você vai fazer, familiares e amigos, pois a tensão causada pela situ-
antes de iniciar os cuida- ação pode provocar um ataque do coração ou outra
dos, procure saber a his- emergência clínica.
tória e realize o exame fí- Deficiente auditivo
sico. Execute os cuidados
Raramente encontramos uma pessoa surda
iniciais enquanto você
F constrangida, pelo fato de sua deficiência auditiva.
aguarda pelo resgate ou durante o transporte para o
i Frequentemente, é a pessoa que escuta normal-
hospital.
g
Providencie os cuidados como faria para
mente que se envergonha ao tentar comunicar-se
qualquer
u outra a vítima.
com uma pessoa surda.
r
a
Vítimas idosas
Infelizmente, a maioria de nós tem pouca ex-
v Existem idosos de to- periência na comunicação com deficientes auditivos.
í
dos
t
os tipos e personalidades. Isto ainda é verdade, mesmo considerando que há
Nunca
i trace o estereótipo de muitas pessoas totalmente surdas ou com algum
vítimas mais velhas. Lide com
m grau de perda da audição.
a da mesma forma como faria com outra vítima
elas,
s Esteja atento para o fato de que uma vítima
adulta. Descubra seu nome e chame-a por ele. De-
c possa não ouvi-lo. Ele pode conseguir falar clara-
monstre
o respeito tratando a F
mente, ainda que não possa ouvir. Na maioria dos
vítima
m por senhor ou senhora. Nunca
i diga "vovó, ve-
g casos, uma pessoa surda lhe informará esta condição
lho",
n ou expressões parecidas. A audição diminuída
e u apontando para o ouvido e balançando a cabeça
é um problema enfrentado por muitas pessoas
c r para indicar "eu não posso ouvir".
quando
e
envelhecem. A indiferença
a diante de suas
questões
s pode ser devido a um problema
v de audi- Algumas vítimas podem tentar comunicar-se
ção,
s mas não admita antecipadamente que toda pes-
í com você usando a linguagem de sinais, gesticulando
i mais velha não pode ouvir bem
soa t o que está di- com as mãos e dedos. Quando em dúvida, escreva
d i
zendo. Evite gritar e mantenha contato
m
“olho a olho” em um pedaço de papel "você está me ouvindo?" e
a
e dfale diretamente à vítima. Se for
a necessário fale entregue a vítima. Quando estiver certo da surdez da
junto
e ao ouvido da vítima. c vítima ou que ele está ouvindo com dificuldade,
s o
e m
s n Página | 80
p e
e c
c e
i s
a s
BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
saiba se ele pode ler os movimentos dos lábios. Es- lesado ou outra parte do corpo. Você deverá prever
creva ou pergunte para a vítima: "você pode ler os se houve dano e a melhor forma de cuidado.
movimentos dos meus lábios?". Quando você falar
Sempre que uma vítima acidentada apresen-
com uma vítima surda e espere que ele leia os movi-
tar um dano físico, você deverá perguntar a ele, a
mentos dos seus lábios, certifique-se de que sua face
respeito deste trauma, no sentido de averiguar se o
esteja iluminada (usando uma lanterna se dispor).
problema já existia anteriormente ao acidente. Com
Deficiente visual esse procedimento, descarta se a possibilidade de
uma afecção maior estar comprometendo um mem-
Pessoas cegas raramente sentem vergonha
bro paralisado, como um trauma na coluna, por
de sua cegueira. Novamente, é a outra pessoa que se
exemplo.
sente incomodada, tentando comunicar-se com o
deficiente visual. O atendimento de emergência, o Faça perguntas sobre a inaptidão da vítima.
histórico e o exame físico da vítima cega não são tão Use palavras como "impedimento" ou "inaptidão" e
diferentes daquelas vítimas que enxergam normal- nunca expressões como "manco" e "incapaz". Junte
mente. Se você se lembrar de dizer à vítima cega toda informação possível por meio de perguntas e do
tudo o que vai fazer antes de executar, falando e exame físico. Se a vítima lhe contar sobre uma inap-
mantendo contato de toque durante todo o cuidado, tidão ou relatar perda de função após o acidente,
mantenha a pessoa cega informada acerca de tudo o não segure o membro ou tente movê-lo, pois você
que esteja acontecendo (sobre os ruídos estranhos, poderá causar um dano adicional, como fraturas e lu-
a chegada de ajuda adicional), e você não terá difi- xações. Como a maioria das pessoas, o deficiente fí-
culdades no cuidado desta vítima. sico gosta de ser independente. Se você pedir a qual-
quer outra vítima para fazer algo, dê o mesmo privi-
Tente lembrar-se de três coisas quando esti-
légio à vítima portadora de deficiência física.
ver lidando com portadores de deficiência visual:
Deficiente mental e de desenvolvimento
- Primeiro, não grite ao falar com ele. O fato
de a vítima ser cega, não implica que ela não possa Algumas vítimas, por deficiência, não desen-
ouvir. volvem algumas partes da função neurológica. Isto
resulta em retardamento mental ou de desenvolvi-
- Segundo, não mude a maneira de falar, use
mento. Sua principal tarefa será manter-se calmo e
palavras que você usaria normalmente. As pessoas
estabelecer comunicação efetiva com a vítima. Não
ficam aborrecidas quando deixam escapar palavras
é fácil descobrir que uma vítima sofre de retardo
como "veja" ou "olhe" ao se dirigir a pessoas cegas,
mental ou deficiência de desenvolvimento. A
mas na verdade, elas normalmente utilizam estas pa-
princípio você poderá assumir que está lidando com
lavras e saberão que você não está tentando ofendê-
uma vítima normal que se apresenta um pouco con-
las. Tenha contato com a vítima por meio da fala ou
fuso. Sempre que suspeitar que a vítima pode ter al-
do toque.
gum grau de retardo mental ou deficiência de desen-
- Terceiro se você precisar mover a vítima, e volvimento, o socorrista deverá:
ela puder caminhar, permita que ela se apoie em seu
 Tratar a vítima da mesma forma como trataria
braço e mantenha-o ligeiramente atrás de você.
qualquer outra vítima da mesma idade;
Acompanhe seus passos e advirta sobre perigos.
 Fazer perguntas que requerem um "sim" ou
Nunca empurre ou puxe uma vítima cega, ela deve
"não" como resposta e evitar perguntas que re-
ser conduzida.
queiram respostas elaboradas, como por exem-
Deficiente físico plo, se ela gostaria de sentar-se naquela ca-
O maior problema que o socorrista encontra deira.
quando lida com vítimas que apresentam deficiência  Descubra se a vítima sabe onde ele está, o dia
muscular, de sistema nervoso ou esquelético, é na da semana e a data (pelo menos o ano);
avaliação física detalhada. Estas vítimas têm partes  Avaliar as respostas da vítima quanto a compre-
do corpo com o funcionamento comprometido ou ensão, os termos que lhe são familiares e o que
que simplesmente não funcionam. Quando estas ví- você precisa explicar repetidamente.
timas são feridas, frequentemente é impossível para  Escutar cuidadosamente tudo o que a vítima
o Socorrista fazer uma avaliação correta do membro disser, reavaliando o nível de compreensão;

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 Obter a história e fazer o exame físico mais len- doenças infecto-contagiosas, que necessitam de cui-
tamente. Esteja preparado para respostas e dados de saúde pública. Nos casos de terremotos, o
ações lentas, para explicar a situação e suas número de vítimas pode ser enorme, com quebra de
ações para a vítima. toda a estrutura da comunidade, a ajuda muitas ve-
zes é demorada, há um número grande de vítimas
A gentileza e atenção do socorrista são os
com lesões por esmagamento, presas em escombros
melhores procedimen-
F que necessitam de atendimento pré-hospitalar e
tos para com as vítimas especiais, pois vão além dos
i hospitalar de urgência.
procedimentos
g técnicos frios e calculados, vão con-
trau o preconceito e o descaso e mostram que o so- As catástrofes provocadas pelo homem são os
corrista
r pretende além de tudo proteger a dignidade acidentes com trens, explosões, incêndios, acidentes
a
humana. com materiais tóxicos ou radioativos, guerras, entre
c
a
outros.
t
15 CATÁSTROFES OU ACIDENTES
á
No nosso país, onde temos como principais ca-
tástrofes naturais as enchentes, normalmente não
s
tCOM MULTIPLAS VÍTIMAS se faz necessário o atendimento pré-hospitalar de-
r vido aos danos serem basicamente materiais, os ser-
o Introdução viços de atendimento pré-hospitalares atuam, na
f grande maioria das vezes, em catástrofes provoca-
e Pela Organização Mundial de Saúde, catás-
s é um fenômeno ecológico súbito de magnitude das pelo homem e acidentes com múltiplas vítimas.
trofe
suficiente para necessitar de ajuda externa. No aten- Como parâmetro de magnitude, considera-
dimento pré-hospitalar, catástrofe é aquela situação mos acidente com múltiplas vítimas aqueles eventos
em que as necessidades de atendimento, excedem súbitos com mais de 5 (cinco) vítimas graves.
os recursos materiais e humanos imediatamente dis- Acidentes com Múltiplas Vítimas
poníveis, havendo necessidade de medidas extraor-
dinárias e coordenadas para se manter a qualidade O atendimento a acidentes com múltiplas víti-
básica ou mínima de atendimento. mas é um desafio no qual os serviços de atendimen-
tos pré-hospitalares e os hospitais se deparam com
É um desequilíbrio entre os recursos disponí- frequência. Diariamente temos em nosso país aci-
veis e os prescindíveis para o atendimento, de modo dentes dos mais variados tipos com número de víti-
que quanto maior for esse desequilíbrio, mais sérias mas superior a cinco.
serão as consequências às vítimas do evento. Nor-
malmente as catástrofes exigem ajuda externa. Diante dessas situações ocorre uma incapaci-
dade dos serviços de lidarem com esse problema, ha-
vendo, desta forma, necessidade de se estar prepa-
Os acidentes com múltiplas vítimas são aque- rado e treinado para atender esses acidentes.
les que apresentam desequilíbrio entre os recursos O conceito do melhor esforço, ou seja, o me-
disponíveis e as necessidades, e que, apesar disso, lhor atendimento para a vítima mais grave deve dar
podem ser atendidos com eficiência desde que se lugar ao conceito de o melhor atendimento para o
adote a doutrina operacional protocolada. maior número possível de vítimas, no momento que
É fácil concluir que um acidente pode ser uma elas mais precisam e no menor tempo possível. As-
catástrofe ou um sim 3 princípios básicos
F
evento
i normal, dependendo da capacidade de res- no atendimento dessas
posta
g dos órgãos atuantes. situações são fundamen-
u tais: triagem, trata-
r As enchentes são as principais causas de catás-
mento e transporte.
trofes
a naturais no mundo. Os afogamentos, hipoter-
A
mia, os traumas diversos por escombros são as prin-
M causas de morte. Entre os sobreviventes a mi-
cipais
U Para que estes
noria
V necessita de atendimento médico de urgência três princípios básicos
e são ferimentos leves. O grande problema são as
sejam plenamente
atendidos é necessário
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que haja comando, comunicação e controle, que são Cabe à primeira guarnição que chega no local
pontos capitais, indispensáveis para o sucesso do do acidente, procurar congelar a área e iniciar a tria-
atendimento. gem preliminar, enquanto solicita apoio, visando sal-
var o maior número de vítimas de óbito iminente. A
É preciso que haja um comandante da área no
triagem é dinâmica e repetida, pois as vítimas podem
local, junto a um Posto de Comando, identificável
evoluir para melhor ou pior estado de saúde. A tria-
por todos e que todos obedeçam a suas ordens e ori-
gem consiste de ações simples e rápidas, gastando
entações; um coordenador médico para chefiar as
no máximo de 60 a 90 segundos por vítima.
atividades médicas locais e um coordenador opera-
cional para as atividades de salvamento, todos tra- A tática de triagem deve ser utilizada quando
balhando conjuntamente. os recursos de pessoal e de material forem insufici-
entes frente a um acidente que envolve várias víti-
É necessário que haja comunicação entre as
mas. Por exemplo, num acidente com ônibus, com
equipes de atendimento, bem como comunicação
várias vítimas, onde os recursos imediatamente dis-
com a central de operações. Tal comunicação não
poníveis são insuficientes, a triagem é necessária. Di-
deve interferir na rede de comunicações da unidade,
ferentemente, num desabamento de prédio, onde
para evitar congestionamento.
há várias vítimas presas nos escombros, o resgate é
Congelar a área mediante o controle total do lento e cada vítima pode receber atendimento mé-
local do acidente é o primeiro objetivo do coman- dico pleno e ser transportada adequadamente ao
dante da área. Este objetivo visa limitar a extensão hospital, não sendo necessário procedimento ur-
do acidente, organizar ações e medidas efetivas de gente de triagem.
segurança proteção e atendimento pré-hospitalar a
A tática de triagem obedece a técnica denomi-
todas as vítimas envolvidas, no menor tempo possí-
nado START (simples triagem e rápido tratamento)
vel.
por ser um método simples, que se baseia na avalia-
A função de comando tem por objetivo evitar ção da respiração, circulação e nível de consciência,
três grandes transtornos: dividindo as vítimas em quatro prioridades e utiliza
 Ocorrência de novos acidentes; cartões coloridos para definir cada uma das priorida-
 Tratamento e transporte inadequado das víti- des. A Prioridade de Atendimento às Vítimas obe-
mas aos hospitais; dece a seguinte ordem:
 Que o caos local seja transferido ao hospital Cartão Vermelho
mais próximo.
Vítimas que apresentam risco imediato de
Triagem vida; apresentam respiração somente após mano-
A doutrina do atendimento a acidentes com bras de abertura de vias aéreas ou a respiração está
múltiplas vítimas (AMUV), diante do desequilíbrio maior que 30 movimentos respiratórios por minuto;
momentâneo dos recursos disponíveis em relação ao necessitam de algum tratamento médico antes de
grande número de vítimas, preconiza: empregar to- um transporte rápido ao hospital; necessitam ser
dos os esforços para o maior número de vítimas. transportadas rapidamente ao hospital para cirurgia.

Assim sendo, no atendimento a múltiplas víti- Cartão Amarelo


mas, triagem significa atendê-las, classificando-as Vítimas que não apresentam risco de vida ime-
em graus de prioridades para que resulte no salva- diato; necessitam de algum tipo de tratamento no lo-
mento do maior número de vítimas, empregando o cal enquanto aguardam transporte ao hospital.
critério do melhor atendimento para o maior nú-
Cartão Verde
mero de vítimas.
Vítimas com capacidade para andar; não ne-
A triagem consiste numa avaliação rápida das
cessitam de tratamento médico ou transporte ime-
condições clinicas das vítimas para estabelecer prio-
diato, possuem lesões sem risco de vida.
ridades de tratamento médico. É uma tática que de-
termina prioridades de ação que, quando bem utili- Prioridade Preto
zada, determina sucesso na diminuição da mortali-
dade e morbidade das vítimas de acidentes coleti-
vos.
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Vítimas em óbito ou que não tenham chance elas tendem a deixar o local, indo sobrecarregar o
de sobreviver; não respiram, mesmo após manobras hospital mais próximo.
simples de abertura da via aérea.
São os pacientes com:
Detalhamento das Áreas de Prioridade
 Contusões;
Na área destinada às vítimas com Cartão Ver-  Hematomas;
melho vão todos os pacientes com risco de vida ime-  Escoriações;
diato e que terão uma evolução favorável se os cui-  Pequenos ferimentos.
dados médicos forem iniciados imediatamente. Aqui
Na área destinada às vítimas com Cartão Preto
também irão os pacientes que necessitam de um
vão as vítimas em óbito. Naquelas situações em que
transporte rápido até o hospital para serem estabili-
há um desequilíbrio entre os recursos médicos e o
zados no centro cirúrgico.
número de vítimas, todos os pacientes com trauma-
São os pacientes com: tismos severos, com poucas chances de sobrevida,
também vão para essa área de prioridade.
 Choque;
 Amputações. São os pacientes:
 Lesões arteriais;
 Em óbito;
 Hemorragia Severa;
 Múltiplos traumas graves;
 Lesões por inalação;
 Queimaduras de 2 e 3 graus extensas.
 Queimaduras em face;
 Lesão de face e olhos; Técnica START
 Lesões intra-abdominais; Nesta técnica, como acima descrito, cabe à
 Insuficiência Respiratória; primeira guarnição que chega no local do acidente,
 Pneumotórax Hipertensivo procurar congelar a área e iniciar a triagem prelimi-
 Lesões extensas de partes moles; nar, enquanto solicita apoio, visando salvar o maior
 Queimaduras de 2º grau maior que 20% a número de vítimas de óbito iminente. Assim os so-
40%, ou de 3º grau maior que 10 a 30%; corristas deverão realizara a triagem observando a
Na área destinada às vítimas com Cartão Ama- RESPIRAÇÃO, PERFUSÃO e NÍVEL DE CONSCIÊNCIA.
relo vão aquelas vítimas que necessitam de algum Respiração
atendimento médico no local e posterior transporte
hospitalar, porém que não possuem risco de vida Avaliar a frequência respiratória e a qualidade
imediato. da respiração das vítimas. Se a vítima não respira,
checar presença de corpos estranhos causando obs-
São os pacientes com: trução da via aérea. Remova dentadura e dentes sol-
 Fraturas; tos. Alinhe a cabeça cuidando da coluna cervical. Se
 TCE leve, moderado; após esse procedimento não iniciar esforços respira-
 Queimaduras menores; tórios, cartão PRETO. Se iniciar respiração, cartão
 Traumatismos abdominais e torácicos; VERMELHO.
 Ferimentos com sangramento que necessitam Se a vítima respira numa frequência maior do
suturas. que 30 movimentos respiratórios por minuto, cartão
Na área destinada às vítimas com Cartão VERMELHO.
Verde vão as vítimas que apresentam pequenas le- Vítimas com menos de 30 movimentos respi-
sões, geralmente estão sentadas ou andando, sem ratórios por minuto não são classificadas nesse mo-
risco de vida e que podem ser avaliadas ambulatori- mento, deve-se avaliar a perfusão.
amente. São os pacientes que causam mais proble-
mas na cena do acidente, geralmente estão com dor Perfusão
e em estado de choque e tendem a ser pouco coope- O enchimento capilar é o melhor método para
rativos. Não entendem o fato de estarem agrupados se avaliar a perfusão. Pressione o leito ungueal ou os
numa certa área recebendo cuidados mínimos. É ex- lábios e solte. A cor deve retornar dentro de 2 segun-
tremamente importante um apoio psicológico para dos. Se demorar mais de 2 segundos, é um sinal de
manter essas vítimas nessas áreas, pois do contrário perfusão inadequada, cartão VERMELHO.
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BOMBEIRO PROFISSIONAL CIVIL
Se a cor retornar dentro de 2 segundos a ví- Desta forma são funções do Coordenador Mé-
tima não é classificada até que se avalie o nível de dico:
consciência.
 Assumir a coordenação das atividades médi-
Nível de Consciência cas;
 Identificar-se como médico coordenar;
É utilizado para as vítimas que estejam com a
 Gerenciar a triagem das vítimas;
respiração e perfusão adequadas. O socorrista soli-
 Definir prioridades médicas;
cita comandos simples do tipo “Feche os olhos”;
 Definir e estabelecer áreas de prioridade;
“Aperte minha mão”; “Ponha a língua para fora”. Se
 Organizar e distribuir recursos;
a vítima não obedece a esses comandos, cartão VER-
 Comandar atividades médicas.
MELHO. Se a vítima obedece a esses comandos, car-
tão AMARELO. Deve haver um responsável pela chegada e or-
ganização das ambulâncias que devem ficar à distân-
O cartão VERDE é usado para os pacientes que
cia do ponto de triagem e atendimento, de modo a
estejam andando, ou que não se enquadre em numa
receber somente vítimas por ordem do Coordenador
das situações acima.
Médico. Este responsável controlará o fluxo de en-
trada e saída dos veículos sem que haja congestiona-
mento, garantindo que nenhuma ambulância deixe
o local sem a liberação da Coordenação Operacio-
nal, promovendo a aproximação das ambulâncias so-
mente quando forem solicitadas para realizar o
transporte, além de impedir que vítimas que estejam
andando sejam atendidas no interior das ambulân-
cias sem passar pela triagem.
Assim sendo, são funções do Coordenador
Operacional:
 Assumir a comando, coordenação e controle
da cena do acidente;
 Identificar-se como coordenador operacional;
 Congelar a área;
 Definir e estabelecer áreas de prioridade mé-
O Coordenador Operacional dica, em local seguro;
Define uma área segura de coleta das vítimas  Dar prioridade e apoio às atividades médicas;
e as quatro áreas de prioridades, próximas ao local  Coordenar isolamento, combate a incêndio,
do acidente, designando responsáveis para cada proteção às vítimas, transporte e apoio logís-
área. tico;
 Organizar e distribuir os meios disponíveis
Em cada uma das áreas de prioridades, equi-
para atenção às vítimas.
pes de médicos, enfermeiros e socorristas atuam re-
alizando os procedimentos necessários para estabili-
zação e imobilização. Além dessas tarefas, essas 16 PSICOLOGIA EM EMERGEN-
equipes fazem a identificação, com anotação de da-
dos em cartão que fica preso a cada uma das vítimas, CIAS
preparando-as para o transporte. O encaminha-
mento das vítimas a rede hospitalar deverá ser coor- Uma pergunta comum feita pelo público aos
denado pelo médico local, que de acordo com as ne- bombeiros é a seguinte: “Como vocês conseguem li-
cessidades da vítima e a orientação de um médico dar com tragédias, com a morte e ver tantas coisas
coordenador na Central de Operações, em contato graves? ”, sabemos que a resposta é quase sempre a
com a rede hospitalar, define o hospital mais ade- mesma: “eu já estou acostumado” ou “já faz bas-
quado. tante tempo que trabalho nesta área, não ligo mais!

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”. Esta resposta é muito simplista e apenas raciona- nas últimas décadas. O estresse ocupacional é fre-
liza o que poderia ser um complexo depoimento pes- quente quando há a percepção de se ter muitas res-
soal de anos de serviço e cheio de sentimentos. Não ponsabilidades significativas, mas poucas possibili-
devemos apenas enumerar os efeitos emocionais do dades de tomada de decisões e de controle.
serviço de resgate no bombeiro ou socorrista, mas
Alguns aspectos do serviço de resgate, listados
também explicar formas de prevenção, controle ou
abaixo, poderão causar este processo:
tratamento destes efeitos emocionais. Devemos
lembrar que o assunto é cercado de preconceitos, já  Jornada de trabalho em longos turnos;
que em décadas passadas o estresse era tido como  Número intenso de ocorrências consecuti-
um capricho ou desculpa de pessoas emocional- vas;
mente fracas. O próprio profissional afetado pelo  Contato constante com sofrimento humano;
problema tinha preconceito em ser tratado como  Falta de atividade física;
louco se procurasse ajuda de um terapeuta.  Repouso físico e mental insuficiente; e
 Irregularidades na alimentação.
Estresse como efeito do atendimento emer-
gencial. Procedimentos de prevenção e controle do
estresse:
A palavra "estresse" vem do inglês "Stress".
Este termo foi usado inicialmente na física para tra- Como o estresse é uma situação de adapta-
duzir o grau de deformidade sofrido por um material ção, o indivíduo poderá aos poucos ter seus sintomas
quando submetido a um esforço ou tensão. O mé- gradativamente diminuídos. Porém, também poderá
dico Hans Selye (1956) transpôs este termo para a também evoluir para uma manifestação aguda e in-
medicina e biologia, significando esforço de adapta- sustentável. Algumas providências poderão ser
ção do organismo para enfrentar situações que con- tomadas pelos comandantes e pelo próprio profissi-
sidere ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio in- onal para prevenir, amenizar ou extinguir os sinto-
terno. Usamos a palavra "estresse" indiscriminada- mas, melhorando sua qualidade de vida:
mente, sendo comum dizermos: "Estou nervoso, es-  Revezamento das equipes de plantão dentro do
tressado, cansado", quando na verdade, estresse período de serviço;
não é sinônimo de cansaço. "Estresse" é a denomi-  Troca periódica do tipo de atividade operacio-
nação dada a um conjunto de reações orgânicas e nal;
psíquicas de adaptação que o organismo emite  Acompanhamento psicológico e médico;
quando é exposto a qualquer estímulo que o excite,  Prática regular de atividade física;
irrite, amedronte ou o faça muito feliz.  Maior controle do período necessário de re-
Portanto o "estresse" não tem apenas uma pouso;
conotação negativa, podendo estar presente na  Maior controle dos horários e qualidade da ali-
adaptação do indivíduo a situações prazerosas e com mentação;
retorno agradável. Portanto estresse é uma prepara-  Manutenção de atividades de lazer, convívio fa-
ção do organismo para lidar com novas situações, miliar e social;
uma resposta ao estímulo, variável de pessoa para  Promoção de eventos internos e externos de
pessoa. O prolongamento ou a exacerbação da situ- motivação profissional; e
ação é que poderá ser prejudicial à saúde. Citamos  Criação de dispositivos de recompensa e reco-
abaixo alguns sinais e sintomas percebidos em pro- nhecimento profissional.
fissionais aspectos: A síndrome do “Burnout”.no profissional de
 Esgotamento emocional; emergência
 Cansaço físico constante; Pessoas que trabalham em funções que en-
 Desânimo e depressão; volvem risco de morte, que trabalham em turnos de
 Redução da imunidade orgânica; e revezamento, ou seja, pessoas que estão permanen-
 Ansiedade e impaciência. temente ligadas ao que precisam fazer, tornam-se
A organização mundial de saúde afirmou mais vulneráveis a esta síndrome chamada Burnout.
que o estresse é uma "epidemia global", os níveis au- Expressão originalmente usada em 1940 para se re-
mentaram de modo significativo e progressivamente ferir ao colapso dos motores dos jatos, foi importada
por Herbert Freudenberger, em 1973, para o campo
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da saúde, sendo a manifestação radical do estresse  Realização Profissional: grau de insatisfação,
na fase aguda de esgotamento. baixo autoestima e motivação, fracasso,
baixa eficiência e até mesmo o abandono do
Segundo a autora BENEVIDES (2002), o
emprego.
termo inglês, é uma composição de “Burn”(queima)
e “out” (exterior), e se refere àquilo que deixou de Alguns sintomas físicos e facilmente detecta-
funcionar por absoluta falta de energia, logo, a pes- dos na síndrome são:
soa consome-se física e emocionalmente e passa a
 Fadiga constante e progressiva;
apresentar um comportamento agressivo e irritadiço
 Desconcentração e desânimo;
pela má adaptação a um trabalho prolongado e
 Insônia, irritação, pesadelos;
tenso, ocorrendo um sentimento de frustração em
 Cefaléias, enxaquecas e dores no corpo;
relação a si e a este trabalho.
 Saúde vulnerável, imunodeficiência;
Apesar do estresse e o burnout compartilha-  Perturbações gástricas e intestinais;
rem duas características, que são a exaustão emoci-  Transtornos cardiovasculares;
onal e a reduzida realização pessoal, sua diferença  Transtornos respiratórios;
principal está na despersonalização que se define na  Alterações menstruais nas mulheres; e
mudança de atitude do profissional que passa a ter  Diversas disfunções como falta de desejo,
contato frio e impessoal, até mesmo cínico e irônico anorgasmia, disfunção erétil etc.
com as vítimas.
Alguns sintomas psíquicos poderão ser veri-
Enquanto o estresse pode apresentar aspec- ficados como falta de concentração, impaciência, al-
tos positivos ou negativos, o Burnout tem sempre um terações da memória, lentidão, sentimento de soli-
caráter negativo, ou seja, é mais prolongado, denota dão e insuficiência, baixa auto-estima, desânimo, de-
maior gravidade e é vinculado à profissão. As princi- pressão e desconfiança. No aspecto comportamen-
pais profissões de risco são os socorristas, médicos, tal o trabalho do profissional afetado poderá apre-
enfermeiros e bombeiros. Num estudo realizado por sentar sinais de negligência, faltas ao trabalho ou
FELTON (1998), paramédicos e bombeiros observa- atrasos, isolamento, onipotência, excesso de escrú-
dos revelaram significativa fadiga física e emocional, pulo, irritabilidade, agressividade, ironia, humor
apatia, sentimentos de desesperança, sentimento de mórbido, cinismo, perda da iniciativa, aumento do
desamparo, sentimento de culpa, sensação de inade- consumo de substâncias desde café a álcool ou dro-
quação, certa desilusão, atitudes de resignação e de gas, comportamento de risco e até suicídio.
indiferença. Apesar destes sentimentos considera-
Procedimentos de prevenção e controle da
dos “negativos”, é frequente a realização de tarefas
síndrome do burnout:
altamente arriscadas, muitas vezes heroicas e reco-
nhecidas com premiações públicas. O socorrista com síndrome de burnout não
apresentará necessariamente todos os sintomas
 Exposição constante ao perigo;
descritos anteriormente, pois a quantidade e inten-
 Convivência intensa com o sofrimento e com a
sidade de manifestações apresentadas dependerão
morte;
de fatores individuais, como predisposição genética,
 Falta de reconhecimento profissional;
experiências sociais, educacionais, ambientais e ní-
 Longos turnos de serviço sob pressão;
vel de desenvolvimento da síndrome. Algumas pro-
 Exercício cumulativo de atividades ou empre-
vidências deverão ser tomadas pelos comandantes e
gos; e
pelo próprio profissional para prevenir, amenizar ou
 Deficiência ou falta de meios ou equipamen-
extinguir os sintomas, melhorando inclusive sua qua-
tos;
lidade de vida:
Sinais e sintomas da Síndrome de Burnout
 Afastamento do profissional da atividade es-
Alguns fatores são avaliados pelos especia- pecífica, pelo menos por um período;
listas para se detectar a síndrome:  Acompanhamento psicológico e médico;
 Revezamento das equipes de plantão dentro
 Exaustão Emocional: a intensidade deste es-
do período de serviço;
gotamento é um fator de avaliação;
 Prática regular de atividade física;
 Despersonalização: tratamento frio e indife-
rente para com as vítimas; e
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 Maior controle do período necessário de re- situações interpessoais (conflitos familiares como di-
pouso; vórcios, brigas conjugais, perda de ente querido,
 Maior controle dos horários e qualidade da ali- perda de emprego). Com frequência uma crise de an-
mentação; siedade leva o paciente a buscar atendimento de
 Manutenção de atividades de lazer, convívio emergência, muitas vezes desejando apenas ser ou-
familiar e social; vido atentamente para acalmar-se;
 Promoção de eventos internos e externos de
Catástrofes, Acidentes com Múltiplas Víti-
motivação profissional; e
mas:
 Criação de dispositivos de recompensa e reco-
nhecimento profissional. Dependendo da magnitude do evento, há pre-
juízos no controle emocional da própria equipe que
Frequentemente, o socorrista enfrenta situa-
está prestando socorro. São situações de estresse
ções em que, além da responsabilidade de aplicar as
acentuado que exigem auto grau de iniciativa e dis-
técnicas de abordagem e atendimento corretas à ví-
cernimento dos socorristas durante o atendimento.
tima, se vê forçado a restabelecer o equilíbrio emo-
cional e social das pessoas envolvidas no incidente. Como podemos observar, as crises variam
Denominamos “intervenção em crises” a atenção es- quanto ao grau de urgência e gravidade, indo desde
pecial dispensada pela equipe de socorro á vítima, a um quadro de ansiedade até estados de violência ca-
familiares, amigos ou outros espectadores na cena pazes de provocar uma reação defensiva ou atitude
da ocorrência, que se encontrem em estado de crise. negativa por parte de socorristas não preparados, di-
ficultando ou impedindo a resolução do caso. Este
Definimos “crise” como a incapacidade do in-
texto não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas
divíduo em lidar com o estresse por meio de meca-
de repassar orientações básicas que incentivem na
nismos habituais. Quando se defronta com um pro-
busca de novos conhecimentos e informações.
blema novo ou insuportavelmente angustiante, res-
ponde com um temporário estado de desequilíbrio Devemos lembrar que, normalmente, a crise e
emocional. pessoa anteriormente sadia tende a seguir fases su-
cessivas, que volta ao normal, dependendo da abor-
As reações aos diversos agentes estressores
dagem externa que, se adequada, pode abreviar sua
dependem da capacidade emocional e física, variável
duração.
em cada indivíduo.
O assunto psicologia das emergências adquiriu
Assim definido, considera-se a crise uma situ-
novos significados considerando, principalmente, os
ação de emergência, em que a pessoa põe em risco
acontecimentos sociais recentes. O trauma psicoló-
sua própria vida, a de outras pessoas e até a da
gico é uma experiência que atinge a capacidade de
equipe de socorro, em função da desorganização sú-
suportar um revés, traz a perda de sentido, desorga-
bita ou rápida da capacidade de controlar seu pró-
nização corporal e paralisação da consciência tempo-
prio comportamento.
ral, pode deixar marcas que influenciam a criativi-
Situações mais Frequentes Responsabilizadas dade e a motivação para a vida.
por Provocarem Crises
Lidar com situações de emergência exige, so-
Emergências Médicas em Geral bretudo, uma ótima capacidade de lidar com mudan-
ças, pois, nas situações-limite, o desafio é a supera-
Geralmente quando doenças ou acidentes
ção da impotência e o desamparo que, quase sem-
acometem alguém que apresente risco de vida aos
pre, podem “colar” nas vítimas e também nas pes-
olhos dos familiares. O medo e a incapacidade de en-
soas envolvidas.
frentar equilibradamente a situação por parte da ví-
tima e familiares desencadeiam um estado de crise, Como profissional, é de sua competência
que vai de simples alterações de comportamento, apresentar alternativas nas situações com responsa-
como quadros de ansiedade, agitação, apatia, até a bilidade. Neste curso, responsabilidade é entendida
estados mais complexos de depressão e agressão. como uma resposta habilidosa diante de situações
de crise encontradas nos desastres.
Conflitos Emocionais
A capacidade de cada um de suportar eventos
O paciente se apresenta ansioso, confuso e
traumáticos é, aparentemente, uma característica
amedrontado, expressando dificuldade de enfrentar
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dita “individual”. Mas, o quanto a conformação Quando as pessoas têm angústia por aconteci-
dessa capacidade está condicionada pelas determi- mentos na esfera pública (ataque das torres gêmeas,
nações coletivas, que apontam os parâmetros de queda de aviões, guerras, etc.) e que provocam esse
aceitação ou não de comportamentos diante das si- sentimento de desolação, de dor e sofrimento, de-
tuações traumáticas? nomina-se a angústia pública. Sofrimento que, tal-
vez, torne o indivíduo mais impotente do que aquela
A questão principal está nos modelos de inter-
angústia de ordem propriamente pessoal.
venção existentes. É necessário partir da suposição,
como hipótese básica, que diante de um aconteci- Acontecimentos inesperados fazem parte da
mento inesperado – um acidente, um desastre – são história humana, das sociedades e está presente,
necessários procedimentos de primeiros auxílios psi- inevitavelmente, na vida de todos. As questões das
cológicos para o atendimento da(s) vítima(s). emergências são:
A dificuldade de pensar, sentir e estabelecer  Como se lida com isso?
relações emocionais com aquilo que aconteceu com  Como as pessoas reagem e quais os efeitos nas
o corpo e as implicações emocionais/psicológicas de- suas vidas?
pendem de uma cultura que valorize essas represen-  Como a sociedade responde, através de suas
tações. A vulnerabilidade não é só uma questão que instituições, dentre muitas outras dimensões
diz respeito às possibilidades de acontecer um aci- e implicações que surgem nessa antiga proble-
dente, mas também a vulnerabilidade de superar o mática que convive na sociedade?
ocorrido de forma satisfatória.
Fases do morrer
Todo o trabalho com urgências e emergências
Negação, Raiva, Negociação (barganha), De-
exige uma grande quantidade de teorias e habilida-
pressão e Aceitação.
des. É um saber entre a “cruz e a espada” com infini-
tas implicações, exatamente por ser um assunto lo- A reação psíquica determinada pela experiên-
calizado nos limites entre a vida e a morte. A vulne- cia da morte (perda) foi descrita por Elisabeth
rabilidade humana diante da natureza e das próprias Kübler-Ross em seu livro "Sobre a morte e o morrer"
ações humanas coloca esse tema no centro das con- tendo cinco estágios.
tradições do mundo contemporâneo. Kübler-Ross originalmente aplicou estes está-
A psicologia das emergências postula, em pri- gios para qualquer forma de perda pessoal catastró-
meiro lugar, a emergência do humano. Isso não sig- fica, desde a morte de um ente querido até o divór-
nifica ficar colado no drama, que é o emocionalismo cio, qualquer mudança pessoal significativa pode le-
e a paralisia diante da tristeza. Significa, atualmente, var a estes estágios. Também alega que estes está-
discutir e buscar as teorias e práticas que possam gios nem sempre ocorrem nesta ordem, nem todos
oferecer caminhos, sempre levando em conta a ex- são experimentados pelas pessoas, mas afirmou que
periência e o contexto que aparecem as situações de uma pessoa sempre apresentará pelo menos dois.
crise. Negação: ajuda a aliviar o impacto da notícia,
Angústia pública servindo como uma defesa necessária a seu equilí-
brio.
Sentimento difuso de mal-estar que se origina
dos acontecimentos públicos traumáticos, chama- Raiva: o paciente já assimilou seu diagnóstico
dos estressores, tais como os acidentes de trânsito e prognóstico, mas se revolta por ter sido escolhido.
com vítima, assim como os provenientes das demais Negociação: tentativa de negociar o prazo de
situações limite de toda a violência urbana nos de- sua morte, através de promessas e orações. A pessoa
sastres, nas calamidades naturais e nas emergências. já aceita o fato mas tenta adiá-lo. Deve-se respeitar
A angústia é um estado emocional e físico que e ajudar o paciente.
envolve conflitos com forte discrepância entre pro- Depressão: aceita o fim próximo, fazendo uma
cessos interiores e as possibilidades de satisfazê-los, revisão da vida, mostrando-se quieto e pensativo.
isto é, é uma emoção que tem como principal carac-
terística o fato de ser desagradável. Aceitação: a pessoa espera a evolução natural
de sua doença. Poderá ter alguma esperança de so-

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breviver, mas não há angústia e sim paz e tranquili-
dade. Procura terminar o que deixou pela metade,
fazer suas despedidas e se preparar para morrer.

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17 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
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Winter 2005-06.

PHTLS, Comitê do ; National Association of Emergency Medical Technicians (NEAEMT) em colaboração


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