Dennett
Quebrando o encanto
A religião como fenômeno natural
tradução:
Helena Londres
E ele lhes falou muitas coisas em parábolas, dizendo: olhai, um semeador foi
semear, e quando ele semeou, algumas sementes caíram à beira da estrada e as
aves vieram e as devoraram. [Mateus 13, 3-4]
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2. um a d e f i n i ç ã o q u e f u n c i o n a pa r a a r e l i g i ã o
Os filósofos ampliam o significado das palavras até que elas pouco conservem de
seu significado original; ao chamar de “Deus” alguma abstração vaga que criaram
para si mesmos, eles se apresentam como deístas, crentes, ante o mundo; podem
até se orgulhar de terem atingido uma idéia mais elevada e mais pura de Deus,
embora o Deus deles não passe de uma sombra sem substância e não seja mais a
personalidade poderosa da doutrina religiosa.
[Sigmund Freud, O futuro de uma ilusão]
Como defino religião? Não importa apenas como a defino, já que tenho pla-
nos de examinar e discutir os fenômenos seus vizinhos que (provavelmen-
te) não são religiões — espiritualidade, compromisso com organizações
seculares, devoção fanática a grupos étnicos (ou times esportivos), supers-
tição... Então, seja onde for que eu “trace o limite”, de qualquer modo irei
ultrapassá-lo. Como se verá, aquilo que em geral chamamos de religião é
composto de uma variedade de fenômenos bastante diferentes, que surgem
de circunstâncias diferentes e têm diferentes implicações, formando uma
família frouxa de fenômenos, não um “tipo natural”, como um elemento
químico ou uma espécie.
Qual a essência da religião? Esta pergunta deve ser encarada com
certa desconfiança. Ainda que haja uma afinidade profunda e importante
entre muitas ou mesmo a maioria das religiões do mundo, certamente há
variações que compartilham de alguns aspectos típicos, ao mesmo tempo
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