Brasileiros
Contemporâneos
Organização:
Julieta de Godoy Ladeira
Digitalização: SCS
Sumário
Observação:
Um outro nome fazia parte desta antologia. Nem poderia
deixar de fazer. Trata-se do escritor João Guimarães Rosa. Levamos
um ano tentando obter todas as autorizações necessárias para a
publicação. Infelizmente não conseguimos obtê-las.
CLARICE LISPECTOR
(Laços de família. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1960.)
© Herdeiros de Clarice Lispector, 1960
Clínica de repouso
DALTON TREVISAN
(20 contos menores. 1. ed. Rio de Janeiro, Record, 1979.)
Os músculos
(...)
Os fatos
(Dentes ao sol. Rio de Janeiro, Ed. Brasília/Rio, 1976.)
Guardador
JOÃO ANTÔNIO
(Abraçado ao meu rancor. Rio de Janeiro,
Ed. Guanabara, 1986.)
A caçada
(Antes do baile verde. 5. ed. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1979.)
Luz sob a porta
LUIZ VILELA
(Tarde da noite. 4. ed. São Paulo, Ática, 1988.)
A moça tecelã
MARINA COLASANTI
(Doze reis e a moça no labirinto do vento.
2. ed. Rio de Janeiro, Nórdica, 1985.)
No retiro da figueira
MOACYR SCLIAR
(Os melhores contos. 2. ed. São Paulo, Global, 1986.)
Botão-de-rosa
MURILO RUBIÃO
(O convidado. 3. ed. São Paulo, Ática, 1983.)
Noivado
OSMAN LINS
(Nove, novena. 4. ed. São Paulo,
Ed. Companhia das Letras, 1994.)
Circuito fechado (1)
RICARDO RAMOS
Muito prazer. Por favor, quer ver o meu saldo? Acho que sim.
Que bom telefonar, foi ótimo, agora mesmo estava pensando em
você. Puro, com gelo. Passe mais tarde, ainda não fiz, não está
pronto. Amanhã eu ligo, e digo alguma coisa. Guarde o troco. Penso
que sim. Este mês, não, fica para o outro. Desculpe, não me lembrei.
Veja logo a conta, sim? É pena, mas hoje não posso, tenho um jantar.
Vinte litros, da comum. Acho que não. Nas próximas férias, vou até
lá, de carro. Gosto mais assim, com azul. Bem, obrigado, e você?
Feitas as contas, estava errado. Creio que não. Já, pode levar. Ontem
aquele calor, hoje chovendo. Não, filha, não é assim que se faz. Onde
está minha camisa amarela? As vezes, só quando faz frio. Penso que
não. Vamos indo, naquela base. Que é que você tem? Se for preciso,
dou um pulo aí. Amanhã eu telefono e marco, mas fica logo
combinado, quase certo. Sim, é um pessoal muito simpático. Foi por
acaso, uma coincidência. Não deixe de ver. Quanto mais quente
melhor. Não, não é bem assim. Morreu, coitado, faz dois meses.
Você não reparou que é outra? Salve, lindos pendões. Mas que
esperança. Nem sim, nem não, muito pelo contrário. Como é que eu
vou saber? Antes corto o cabelo, depois passo por lá. Certo. Pra mim,
chega. Espere, mais tarde nós vamos. Aí foi que ele disse, não foi no
princípio, quem ia adivinhar? Deixe, vejo depois. Sim, durmo de
lado, com uma perna encolhida. O quê? É, quem diria. Acredito que
sim. Boa tarde, como está o senhor? Pague duas, a outra fica para o
mês que vem. Oh, há quanto tempo! De lata e bem gelada. Perdoe,
não tenho miúdo. Estou com pressa. Como é que pode, se eles não
estudam? Só peço que não seja nada. Estou com fome. Não vejo a
hora de acabar isto, de sair. Já que você perdeu o fim de semana, por
que não vai pescar? É um chato, um perigo público. Foi há muito
tempo. Tudo bem, tudo legal? Gostei de ver. Acho que não, penso
que não, creio que não. Acredito que sim. Claro, fechei a porta e
botei o carro pra dentro. Vamos dormir? É, leia que é bom. Ainda
agosto e esse calor. Me acorde cedo amanhã, viu?
Circuito fechado (4)
(Circuito fechado. 2. ed. Rio de Janeiro, Record, 1978.)
Composição II
SÉRGIO SANT'ANNA
Uma sala.
AS CONSTELAÇÕES
(Notas de Manfredo Rangel, repórter.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1973.)
Nunca é Tarde, Sempre é Tarde
SILVIO FIORANI
(Os estandartes de Átila. Rio de Janeiro, Ed. Codecri, 1980.)
Notas Biográficas
CLARICE LISPECTOR
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1925. Veio para o
Brasil com 2 meses de idade e faleceu no Rio de Janeiro, em 1977.
Intuitiva até certo ponto, lírica (sem jamais esbarrar no
sentimentalismo), Clarice Lispector tenta desvendar o mundo, em
sua literatura, através do olhar voltado para si mesma. Descobrindo-
se, passa a descobrir "o outro" para o leitor. "O outro", que tanto
pode ser homem, planta, luz ou animal — universo por onde seu
mistério e suas dúvidas circulam.
Por meio da construção original de frases, da estrutura da
linguagem e da maneira "íntima" de observar a vida, transmite
efeitos surpreendentes. O conto "Feliz aniversário", perfeito,
apresenta nuances das relações familiares.
Além dos destacados romances Perto do coração selvagem
(1944), A paixão segundo G.H. (1964) e A hora da estrela (1977),
publicou vários livros de contos, entre os quais se destacam: Laços
de família (1960), A legião estrangeira (1964), Felicidade
clandestina (1971), Imitação da rosa (1973), A via-crúcis do corpo
(1974), Onde estivestes de noite (1974), A bela e a fera (contos de
1940-41 e inéditos de 1979), Um sopro de vida (1978, publicação
póstuma).
DALTON TREVISAN
Dalton Trevisan nasceu no Paraná, em 1925. Frases contidas,
estilo conciso, Dalton Trevisan possui o raro poder de caracterizar
sentimentos, personagens e situações com as palavras mais precisas,
diretas. No conto "Clínica de repouso", por exemplo, a idéia de falta
de sensibilidade, de miséria moral e de desamparo chega ao leitor
quase sem adjetivos, através apenas de fatos concretos. O ambiente
que recria é, também neste conto, o da classe média suburbana. A
filha servia "cálice de vinho doce com broinha de fubá mimoso".
Em termos de solidão, raramente encontramos na literatura
cena tão patética quanto à do final da história transcrita nesta
antologia.
Publicou o romance A polaquinha (1985) e vários livros de
contos, entre os quais se destacam: Novelas nada exemplares (1959),
Cemitério de elefantes (1964), Morte na praça (1964), O vampiro de
Curitiba (1965), Desastres de amor (1968), Mistérios de Curitiba
(1968), A guerra conjugal (1969), O rei da Terra (1972), O pássaro de
cinco asas (1974), A faca no coração (1975), Abismo de rosas (1976),
A trombeta do anjo vingador (1977), Crimes de paixão (1978),
Virgem louca, loucos beijos (1979), Primeiro livro de contos
(antologia pessoal — 1979), 20 contos menores (antologia escolar —
1979), Lincha tarado (1980), Chorinho brejeiro (1981), Essas
malditas mulheres (1982), Meu querido assassino (1983), Contos
eróticos (1984), Pão e sangue (1988), Pico na veia (2002), Capitu
sou eu (2003), Arara bêbada (2004).
JOÃO ANTÔNIO
João Antônio nasceu em São Paulo, em 1937, e faleceu no Rio
de Janeiro, em 1996. "Quando a peça não tem o que fazer, não tem
nada o que fazer." João Antônio tem essas tiradas. Joga bem as
frases, cada palavra, trabalhada, aparece como se não fosse. Faz e
desfaz, capricha para conseguir. Escritor exigente, conhece o ponto,
sabe as palavras. O mundo de sua obra, em geral, é povoado por
pivetes, lavadores, engraxates, jogadores de bicho, ventanistas,
camelôs. Conhece, ama o povo brasileiro — "toda essa gente sem
registro".
O conto selecionado para esta antologia, "Guardador", ganhou
o Prêmio Jabuti, em 1993, na categoria Conto.
Suas obras principais são: Malagueta, perus e bacanaço (1963),
Leão de chácara (1975), Malhação do Judas Carioca (1975), Casa de
loucos (1976), Lambões de caçarola (1977), O Copacabana (1978),
Noel Rosa (1982), Dedo-duro (1982), Meninão do caixote (1983), 10
contos escolhidos (1983), Abraçado ao meu rancor (1986).
LUIZ VILELA
Luiz Vilela nasceu em Minas Gerais, em 1942. A arte difícil de
expressar com economia de palavras o que transita entre as pessoas,
atrás do óbvio, do aparente, é característica marcante no estilo de
Luiz Vilela. Segue a tendência mineira de evitar excessos. Cria, em
atmosferas densas, situações que o leitor recebe através de um
código sutil. As palavras como um gesto leve, quase um olhar,
brotam espontâneas.
Publicou os romances O inferno é aqui é mesmo (1983), Entre
amigos (1983), Os novos (1984), O choro no travesseiro (2000) e os
seguintes livros de contos: Tremor de terra (1967), No bar (1968),
Tarde da noite (1970), O fim de tudo (1973), Lindas pernas (1979),
Histórias de família (2001), Os melhores contos (2001), A cabeça
(2002).
MARINA COLASANTI
Marina Colasanti nasceu na Etiópia, em 1937. Mudou-se para a
Itália no início da Segunda Guerra Mundial e para o Brasil em 1948.
Jornalista, desenvolve sua criação literária não levantando
artificialmente muros entre uma e outra linguagem, nem as
descaracterizando, mas aproveitando todas as possibilidades de cada
uma. O conto "A moça tecelã" é um bom exemplo. Ele reúne alguma
coisa da técnica cinematográfica da animação, da arte da tapeçaria e
das baladas medievais. Em uma linguagem mais corrente, a autora,
com inteligência, ignora qualquer limite entre o que alguns gostam
de rotular como "fantasia" ou "realidade" e cria uma delicada saga
familiar, de ambição e desencanto, em que, com a maior sutileza, o
poder feminino faz e desfaz o destino.
Publicou os seguintes livros de contos: Zooilógico (1975), A
nova mulher (1980), Contos de amor rasgados (1986), Eu sei mas
não devia (1999), A morada do ser (2004).
MOACYR SCLIAR
Moacyr Scliar nasceu no Rio Grande do Sul, em 1937. Notável
em Scliar a tendência para narrar cenas da classe média que oscilam
entre o trágico e o anedótico, passando muitas vezes pelo absurdo. O
insólito das situações cotidianas nem sempre percebido pelas
pessoas. "No Retiro da Figueira" é um conto irônico sobre as
aspirações despertadas por folhetos imobiliários. O sonho
aprisionando o homem. O consentimento, a ilusão de um "novo
estilo de vida", que quase todos desejam, e a decisão de residir em
um determinado local "por causa da segurança", o que, afinal, reduz,
cerca.
Além dos destacados romances A mulher que escreveu a bíblia
(1999), Max e os felinos (2001), Eden-Brasil (2002), O ciclo das
águas (2002) e O centauro no jardim (2004), publicou também os
seguintes livros de contos: O carnaval dos animais (1968), Histórias
da terra trêmula (1976), A balada do falso Messias (1976), O anão no
televisor (1979), Contos reunidos (1995), Porto de histórias (2000),
O imaginário cotidiano (2001).
MURILO RUBIÃO
Murilo Eugênio Rubião nasceu em Minas Gerais, em 1916, e aí
faleceu, em 1991, Precursor do realismo mágico em nossa literatura,
kafkiano antes de ter lido Kafka, Murilo Rubião consegue, no plano
da grande arte literária, dar aos temas mineiros mais constantes
(religiosidade, intimismo, solidão) enfoques novos, originais, de
intenso brilho, extremo rigor na linguagem e visão crítica da
sociedade.
Para Massaud Moisés,1 Murilo Rubião, em seus contos, às
vezes parece perguntar: "Por que haver dragões perambulando pelas
ruas será mais surpreendente do que haver pessoas e automóveis?"
Suas obras principais são: O ex-mágico (1947), A estrela
vermelha (1953), Os dragões e outros contos (1965), O pirotécnico
Zacarias (1974), O convidado (1974), A casa do girassol vermelho
(1978), O homem do boné cinzento e outras histórias (1990).
OSMAN LINS
Osman da Costa Lins nasceu em Pernambuco, em 1924, e
faleceu em São Paulo, em 1978. Renovador de estrutura, linguagem,
temas e conceitos literários, Osman Lins, de forma muito particular,
trabalha com o tempo, os sons, o espaço e o foco narrativo. Em
"Noivado" observa-se isso com facilidade. Eliminando a perspectiva,
como nos retábulos antigos, e com uma visão cósmica do mundo, o
autor não apresenta o fantástico, em sua obra, como "simbólico",
mas como uma realidade literária. Dessa matéria constrói o extenso
e mágico universo de seus livros. Tudo acontece mesmo, existe,
porque é palavra. Poucos autores trabalham com tanta fé na
literatura, tanta paixão.
Publicou os romances O visitante (1955), A rainha dos
cárceres da Grécia (1976) e Avalovara (1995), além dos seguintes
livros de contos: Nove, novena (1994), Os gestos (2003), ambos
reeditados, Os melhores contos (2003).
RICARDO RAMOS
Ricardo Ramos nasceu em Alagoas, em 1929, e faleceu em São
Paulo, em 1992. Em seus primeiros contos, Ricardo Ramos já
expunha o conflito do nordestino quando fora de seu meio: a perda
dos valores, a imposição de outra cultura. Depois, o autor parte para
temas urbanos, dentro do mesmo conceito: lutar por um mundo
mais claro por meio do rigor da palavra, do ritmo das frases, da
estética da linguagem — a literatura como música de câmara. Em
1
Massaud Moisés, História da Literatura Brasileira — Modernismo, São Paulo, Cultrix/Edusp.
"Circuito fechado" sente-se a emoção contida na precisão exigente
da estrutura, nos clipes renovadores. Só e aos pedaços, de forma
atual, mais uma vez aí o verbo se faz homem, completando-se.
Publicou vários livros de contos, entre os quais se destacam:
Tempo de espera (1954), Terno de reis (1957), Os desertos (1961),
Rua desfeita (1963), Matar um homem (1970), Toada para surdos e
Circuito fechado (1978), Os inventores estão vivos (1980), O
sobrevivente (1984), Os amantes iluminados (1988).
SÉRGIO SANT'ANNA
Sérgio Sant'Anna nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. Às vezes
lembra Picasso: objetos desarrumados, a adolescente, anônima, de
olhos negros. Pinceladas fortes, a violência dos substantivos —
"Sobre a cabeça do homem, em letras grandes e vermelhas, imitando
fogo, está impressa a palavra 'inferno'". O estilo de Sérgio Sant'Anna
é feito do moderno, do trágico, do inesperado. Fez escolha do novo,
indo com muita garra ao centro das coisas. Compõe, trabalha, varia.
Usa com inteligência a sonoridade de nomes conhecidos de ruas, de
atores, de livros.
Publicou os romances Amazona (1986), Senhorita Simpson
(1989), Confissões de Ralfo (1995) e os seguintes livros de contos: O
sobrevivente (1969), Notas de Manfredo Rangel, repórter (1973 — a
respeito de Kramer), O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro
(1982), Contos e novelas reunidos (1997), O vôo da madrugada
(2003).
SILVIO FIORANI
Silvio Fiorani nasceu em São Paulo, em 1943. Mestre em criar
situações estranhas, apresentando-as como muito naturais, Fiorani
diversifica seus temas entre o cotidiano mágico e a saga de
imigrantes italianos, seus ancestrais, o que tece com severidade e
grandeza. No conto "Nunca é tarde, sempre é tarde", trata o absurdo,
em pequeníssimo espaço, de forma minuciosa e viva.
Além do livro de contos Os estandartes de Átila, Fiorani
publicou, entre outros, os romances O evangelho segundo Judas,
Entre os Reinos de Gog e Magog e Investigação sobre Ariel. O autor
teve textos publicados na Itália, França, Espanha, Portugal, Taiwan,
República Tcheca e Estados Unidos. Nunca é tarde, sempre é tarde
e outros dois contos seus fazem parte da antologia Modern Poetry in
Translation, publicada pela editora do King's College, de Londres, e
dedicada à poesia brasileira. Tratando-se dos únicos textos em prosa
da antologia, o editor Daniel Weissbort justificou: "Nós incluímos
estas três peças de Sílvio Fiorani porque elas nos golpearam não
como histórias, mas como poémes en prose no sentido baudelairiano
do termo".
Sinopse: Nesta antologia, você encontrará um painel dos mais expressivos contos da
literatura brasileira contemporânea. Esta obra selecionou alguns dos mais destacados
escritores brasileiros, com livros lançados dos anos 50 em diante, que focalizam
relações familiares, desnudam conflitos sociais e psicológicos, mergulham no interior
do ser humano, revelam o absurdo da vida, introduzem o fantástico no cotidiano. A
diversidade temática e estilística oferece ao leitor uma boa amostragem da riqueza da
literatura brasileira nessa área.
ANTOLOGIA DE CONTOS
Organização e apresentação de
JULIETA DE GODOY LADEIRA
PROJETO DE LEITURA
Douglas Tufano
Maria José Nóbrega
Leituras da vida
DOUGLAS TUFANO
2
de fazer vários percursos históricos, conhe- lhe o raciocínio, fazê-lo perceber as várias
cendo autores de hoje e de ontem. Passará facetas de um problema, é ensiná-lo a con-
pela literatura de cordel, pelo folclore, siderar as coisas de outros pontos de vista,
pela história. Tomará contato com uma a levar em conta os argumentos alheios. É,
ampla variedade de estilos literários e afi- enfim, ajudá-lo a se tornar maduro e a ser
nará sua sensibilidade para questões de autocrítico.
linguagem. A vida palpita na literatura.
No mundo de hoje, massificado e massi- Saibamos recriar essa vida na sala de aula,
ficante, o trabalho com a leitura se torna ajudando os alunos a perceber que os livros
mais urgente do que nunca. Ajudar o aluno convidam a um diálogo, a uma troca de
a se tornar um leit or crítico é ajudá-lo a se idéias, e que toda leitura, no fundo, é um
desenvolver como pessoa, é dar-lhe auto- reencontro do leitor consigo mesmo, em
nomia de pensamento. Discutir com ele as busca de respostas para suas inquietações
questões suscitadas pela leitura é estimular- mais profundas.
3
PROPOSTAS DE ATIVIDADES de respostas a questões formuladas pelo pro-
fessor em situação de leitura compartilhada.
a) antes da leitura • Apreciação dos recursos expressivos em-
Os sentidos que atribuímos ao que se lê pregados na obra.
dependem, e muito, de nossas experiências • Identificação e avaliação dos pontos de
anteriores em relação à temática explorada vista sustentados pelo autor.
pelo texto, bem como de nossa familiaridade • Discussão de diferentes pontos de vista e
com a prática leitora. As atividades sugeridas opiniões diante de questões polêmicas.
neste item favorecem a ativação dos conhe- • Produção de outros textos verbais ou ainda
cimentos prévios necessários à compreensão de trabalhos que contemplem as diferentes lin-
e interpretação do escrito. guagens artísticas: teatro, música, artes plásticas,
etc.
• Explicitação dos conhecimentos prévios
necessários à compreensão do texto. ✦ nas telas do cinema
• Antecipação de conteúdos tratados no texto
a partir da observação de indicadores como • Indicação de filmes, disponíveis em VHS ou
título da obra ou dos capítulos, capa, ilustração, DVD, que tenham alguma articulação com a
informações presentes na quarta capa, etc. obra analisada, tanto em relação à temática
• Explicitação dos conteúdos da obra a partir como à estrutura composicional.
dos indicadores observados.
✦ nas ondas do som
b) durante a leitura
• Indicação de obras musicais que tenham
São apresentados alguns objetivos orienta- alguma relação com a temática ou estrutura
dores para a leitura, focalizando aspectos da obra analisada.
que auxiliem a construção dos sentidos do
texto pelo leitor.
✦ nos enredos do real
• Leitura global do texto.
• Ampliação do trabalho para a pesquisa de
• Caracterização da estrutura do texto.
• Identificação das articulações temporais e informações complementares numa dimen-
lógicas responsáveis pela coesão textual. são interdisciplinar.
• Apreciação de recursos expressivos empre-
gados pelo autor. DICAS DE LEITURA
4
ANTOLOGIA DE CONTOS
Organização e apresentação de
JULIETA DE GODOY LADEIRA
5
QUADRO-SÍNTESE outros títulos para os contos, submetendo-
os depois à apreciação dos colegas, que
Gênero: conto julgarão se eles são mais interessantes
do que os títulos originais. Essa atividade
Palavras-chave: análise psicológica, con-
flito moral, fantástico, relações familiares, estimula os alunos a refletirem sobre as
mistério, crítica social características principais dos contos que
devem analisar.
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa
6
5. Comparar os contos “Feliz aniversário” e ✦ nas telas do cinema
“Luz sob a porta”. A variedade dos temas abordados no livro
6. Explicar a ironia do título “Clínica de re- permite a sugestão de numerosos filmes,
pouso”, do conto de Dalton Trevisan. que vão do humor ao trágico, passando pelo
sobrenatural, romântico e policial. Algumas
7. Em “A moça tecelã”, a realidade tecida
dicas:
pela moça não corresponde aos seus sonhos
• Cidade de Deus. Dir. de Fernando Meirelles
e ela acaba por desfazê-la. Discutir o sentido
e Kátia Lund. Um retrato sem maquiagem da
simbólico desse conto.
violência no Brasil.
8. O mundo da imaginação invade a realida- • O iluminado. Dir. de Stanley Kubrick. Um
de em “A caçada”. Mas o sonho se converte dos clássicos dos filmes de suspense, mistério
em pesadelo, e o caçador vira caça. Discutir os e sobrenatural.
possíveis significados simbólicos desse conto • Nunca te vi, sempre te amei. Dir. de David
misterioso. Jones. Uma história de amor muito diferente
9. Discutir a relação entre o título “Os mús- daquelas que estamos acostumados a ver.
culos” e o desenvolvimento da história de • Histórias maravilhosas. Dir. de Steven
Ignácio de Loyola Brandão. Spielberg, William Dear e Robert Zemeckis.
10. Considerando o conto “Nunca é tarde, Histórias fantásticas que provocam sustos e
sempre é tarde”, apontar as semelhanças emocionam.
entre ele e o conto “A caçada”.
11. No conto “O guardador”, o foco nar- ✦ nas ondas do som
rativo é centrado em Jacarandá, um velho Seria interessante pedir aos alunos que eles
que ganha a vida tomando conta de carros mesmos pesquisem músicas que tenham re-
estacionados. Ao centrar o foco narrativo lação com os assuntos tratados nos contos.
nesse personagem, que visão da sociedade Algumas dicas:
o autor pretende nos passar? • Ronda, de Paulo Vanzolini, uma pungente
canção de amor perdido.
12. Sob o título “Circuito fechado”, Ricardo
• De frente pro crime, de João Bosco e
Ramos construiu cinco textos. Explicar o
Aldir Blanc, sobre a violência nas ruas das
processo de construção dos textos e por que
cidades.
receberam esse título.
• O meu guri, de Chico Buarque, tem uma
13. O conto “O retiro da figueira” pode ser letra muito inteligente que mostra a vida de
visto como uma espécie de metáfora dos um marginal contada por sua mãe. A visão
tempos modernos. Tanto os moradores do surpreendente que a mulher tem de seu fi-
condomínio como os leitores do conto são lho pode estimular uma conversa a respeito
iludidos e só descobrem a verdade no final. da importância do foco narrativo, isto é, do
Qual é essa verdade? Imaginar essa história ângulo de visão a partir do qual uma história
contada pelo chefe dos guardas e por um é contada.
repórter de jornal.
14. Explicar o processo de construção do DICAS DE LEITURA
conto “Noivado”.
◗ de outros autores
15. Explicar em que aspectos o conto “Com-
posição II” rompe com a estrutura tradicional • Os 100 melhores contos brasileiros do século
da narrativa. XX –– Rio de Janeiro, Objetiva
7
• Os 100 melhores contos de crime e mistério a elaborar um sentido simbólico para essa
–– Rio de Janeiro, Ediouro estranha história, uma das mais célebres da
• Os 100 melhores contos de humor –– Rio literatura universal. Sugerimos a edição pu-
de Janeiro, Ediouro blicada pela Companhia das Letras.
• A cartomante e outros contos –– Machado • Decamerão –– Giovanni Boccaccio, uma
de Assis, São Paulo, Moderna famosa coletânea de breves contos popu-
• Os buracos da máscara: antologia de contos lares do século XIV, consagrada como uma
fantásticos –– São Paulo, Brasiliense das obras-primas da literatura universal.
• O conto brasileiro contemporâneo –– São Reunindo humor, suspense, sátira e crítica
Paulo, Cultrix social, essa coletânea prende a atenção do
leitor do começo ao fim.
◗ leitura de desafio • O assassinato e outras histórias –– Anton
Tchekhov, São Paulo, Cosac & Naify. Nessa
• A metamorfose –– Franz Kafka. Certa ma- coletânea vemos por que esse escritor rus-
nhã, um rapaz desperta e se vê transformado so é considerado um dos mestres do conto
num inseto. O fantástico e o inusitado surpre- psicológico e um dos grandes autores da
endem o leitor a cada página, desafiando-o literatura universal.