A justiça, em sua acepção subjetiva, apresenta três significações de extensões
diferentes: a) sentido latíssimo; b) sentido lato; c) sentido próprio ou estrito.
3.1 Sentido Latíssimo
No primeiro caso, justiça significa a virtude em geral. O conjunto de todas as virtudes. O justo é o virtuoso. Justiça significa nesse caso a santidade. É esta a acepção do vocábulo em diversas passagens da Bíblia, em que o justo é equiparado ao santo. É o caso da expressão citada: “A justiça do simples dirige o seu caminho”. Na filosofia estóica predominou, também, esse sentido amplo da justiça. E como o estoicismo exerceu poderosa influencia sobre o Direito Romano, nos textos do Digesto vamos encontrar o mesmo conceito: “Direito é a arte do bem e do equitativo” (Jus est ars boni et aequi). E entre os precepta júris, de Ulpiano, vem, em primeiro lugar, o “viver honestamente” (honeste vivere). Ora, é esse um preceito de moral geral. Justiça se identifica, aí, com a virtude em geral ou o conjunto de todas as virtudes. No mesmo sentido S. João Crisóstomo definiu a justiça como o cumprimento dos mandamentos ou das obrigações em geral.
3.2 Sentido Lato
Numa acepção menos ampla, “justiça” significa não a virtude em geral, mas apenas o conjunto das virtudes sociais ou virtudes de relação e convivência humana. Nesse sentido é empregada a palavra justiça quando a considerarmos uma das quatro virtudes cardiais. As demais virtudes: prudência, temperança ou coragem, podem ser exercidas pelo homem isoladamente. Mas a justiça supõe a existência de outras pessoas. Regula as relações de pessoa a pessoa. Justiça, em sentido lato, significa o conjunto das virtudes que regulam as relações entre os homens. Inclui, portanto, além dos deveres de justiça estrita, as virtudes da amizade, da veracidade, do respeito filial etc.
3.3 Sentido estrito
Mas, em sentido estrito e próprio, a justiça designa uma virtude com objeto especial. Nesse sentido, “a essência da justiça consiste em dar a outrem o que lhe é devido, segundo uma igualdade” (simples ou proporcional), conforme a definição lapidar de S. Tomás. Só é justiça propriamente dita a relação que tem por objeto: - dar a outrem; - o que lhe é devido; - segundo uma igualdade. A essas três notas correspondem as características essenciais da justiça, em sentido estrito: - a alteridade ou pluralidade de pessoas (alteritas, de alter); - o devido (debitum); - a igualdade (aequalitas).
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 29. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. 688 p.