AULA 01
APLICA‚ÌO DA LEI PENAL. INFRA‚ÌO PENAL. DISPOSI‚ÍES
PRELIMINARES DO CP.
SUMçRIO
1 INFRA‚ÌO PENAL ................................................................................................. 3
1.1 Conceito ......................................................................................................... 3
1.2 Conceito de Crime .......................................................................................... 3
1.3 Contraven•‹o Penal ....................................................................................... 5
2 APLICA‚ÌO DA LEI PENAL .................................................................................... 6
2.1 Aplica•‹o da Lei penal no tempo .................................................................... 6
2.1.1 Conflito de Leis penais no Tempo ..................................................................... 8
2.1.1.1 Lei nova incriminadora ............................................................................. 8
2.1.1.2 Lex Gravior ............................................................................................ 8
2.1.1.3 Abolitio Criminis ...................................................................................... 8
2.1.1.4 Lex Mitior ou Novatio legis in mellius ........................................................ 10
2.1.1.5 Lei posterior que traz benef’cios e preju’zos ao rŽu .................................... 10
2.1.2 Tempo do crime ........................................................................................... 13
2.2 Aplica•‹o da lei penal no espa•o .................................................................. 14
2.2.1 Territorialidade ............................................................................................ 14
2.2.2 Extraterritorialidade ..................................................................................... 15
2.2.2.1 Princ’pio da Personalidade ou da nacionalidade .......................................... 16
2.2.2.2 Princ’pio do domic’lio ............................................................................. 17
2.2.2.3 Princ’pio da Defesa ou da Prote•‹o .......................................................... 17
2.2.2.4 Princ’pio da Justi•a Universal .................................................................. 18
2.2.2.5 Princ’pio da Representa•‹o ou da bandeira ou do Pavilh‹o .......................... 19
2.2.3 Lugar do Crime ............................................................................................ 20
2.2.4 Extraterritorialidade condicionada, incondicionada e hipercondicionada ................ 20
2.3 Aplica•‹o da Lei penal em rela•‹o ˆs pessoas .............................................. 23
2.3.1 Sujeito ativo................................................................................................ 23
2.3.1.1 Imunidades Diplom‡ticas........................................................................ 25
2.3.1.2 Imunidades Parlamentares ..................................................................... 25
(a) Imunidade material ............................................................................................ 26
(b) Imunidade formal ............................................................................................... 27
2.3.2 Sujeito Passivo ............................................................................................ 28
3 DISPOSI‚ÍES PRELIMINARES DO CP ................................................................. 29
3.1 Contagem de prazos..................................................................................... 29
3.2 Fra•›es n‹o comput‡veis de pena ................................................................ 30
3.3 Efic‡cia da senten•a estrangeira .................................................................. 30
3.4 Interpreta•‹o e integra•‹o da lei penal ....................................................... 31
Bons estudos!
Prof. Renan Araujo
1.1! Conceito
A infra•‹o penal Ž um fen™meno social, disso ninguŽm duvida. Mas como
defini-la?
Podemos conceituar infra•‹o penal como:
CRIMES
INFRAÇÕES
PENAIS
CONTRAVENÇÕES
PENAIS
MATERIAL
CONCEITO DE TEORIA
FORMAL
CRIME BIPARTIDA
TEORIA
QUADRIPARTIDA
Esse œltimo conceito de crime (sob o aspecto anal’tico), Ž o que vai nos
fornecer os subs’dios para que possamos estudar os elementos do crime (Fato
t’pico, ilicitude e culpabilidade). Entretanto, isso Ž tema para nossa pr—xima aula
apenas!
CRIMES CONTRAVEN‚ÍES
Admitem tentativa (art. 14, II). N‹o se admite puni•‹o de
contraven•‹o na modalidade
tentada. Ou se pratica a contraven•‹o
consumada ou se trata de um indiferente
penal.
Se cometido crime, tanto no A pr‡tica de contraven•‹o no exterior
Brasil quanto no estrangeiro, e n‹o gera efeitos penais, inclusive para
vier o agente a cometer fins de reincid•ncia. S— h‡ efeitos penais
contraven•‹o, haver‡ em rela•‹o ˆ contraven•‹o praticada no
reincid•ncia. Brasil!
Tempo m‡ximo de cumprimento Tempo m‡ximo de cumprimento de
de pena: 30 anos. pena: 05 anos.
Aplicam-se as hip—teses de N‹o se aplicam as hip—teses de
extraterritorialidade (alguns extraterritorialidade do art. 7¡ do
crimes cometidos no C—digo Penal.
estrangeiro, em determinadas
circunst‰ncias, podem ser
julgados no Brasil)
N‹o se prendam a estas diferen•as! Para o estudo desta aula o que importa
Ž saber que Hç DIFEREN‚AS PRçTICAS entre ambos.
Portanto, crime e contraven•‹o s‹o termos relacionados ˆ mesma
categoria (infra•‹o penal), mas n‹o se confundem, existindo diferen•as
pr‡ticas entre ambos.
Em termos gr‡ficos:
|----------|-------------------------------------------------------|
Logo, podemos perceber que a lei penal, assim como qualquer lei, somente
produz efeitos durante o seu per’odo de vig•ncia. ƒ o que se chama de princ’pio
da atividade da lei.
Em alguns casos, porŽm, a lei penal pode produzir efeitos e atingir fatos
ocorridos antes de sua entrada em vigor e, atŽ mesmo, continuar produzindo
efeitos mesmo ap—s sua revoga•‹o. Vamos analis‡-los individualmente.
Frise-se que a lei nova ser‡ considerada mais gravosa ainda que n‹o
aumente a pena prevista para o crime. Basta que traga qualquer preju’zo ao
rŽu2, como forma de cumprimento da pena, redu•‹o ou elimina•‹o de benef’cios,
etc.
1
TambŽm chamada de ou Novatio Legis in Pejus ou Lei nova mais gravosa.
2
BITENCOURT, Op. cit., p. 208
3
Art. 5¼ (...)
XL - a lei penal n‹o retroagir‡, salvo para beneficiar o rŽu;
[...]
Art. 2¼ - NinguŽm pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execu•‹o e os efeitos penais da senten•a condenat—ria.
4
A Lei 12.015/09 revogou o art. 214 do CP, que previa o crime de atentado violento ao pudor. Entretanto,
ao mesmo tempo, ampliou a descri•‹o do tipo penal do estupro para abranger tambŽm a pr‡tica de atos
libidinosos diversos da conjun•‹o carnal, que era a descri•‹o do tipo penal de atentado violento ao pudor.
Assim, o que a Lei 12.015/09 fez, n‹o foi descriminalizar o Atentado Violento ao Pudor, mas dar a ele novo
contorno jur’dico, passando agora o fato a ser enquadrado como crime de estupro, tendo, inclusive, previsto
a mesma pena anteriormente cominada ao Atentado Violento ao Pudor. Assim, n‹o houve abolitio criminis,
pois o fato n‹o deixou de ser crime, apenas passou a ser tratado em outro tipo penal.
5
TambŽm n‹o h‡ abolitio criminis quando a lei nova revoga uma lei especial que criminaliza um
determinado fato, mas que mesmo assim, est‡ enquadrado como crime numa norma geral.
Explico:
Imagine que a Lei ÒAÓ preveja o crime de roubo a empresa de transporte de valores, com pena de 4 a 12
anos. Posteriormente, entra em vigor a Lei ÒBÓ, que revoga expressa e totalmente a Lei ÒAÓ. Pode-se dizer
que o roubo a empresa de transporte de valores deixou de ser crime? Claro que n‹o, pois a conduta, o fato,
est‡ previsto no art. 157 do C—digo Penal (crime de roubo). Assim, apenas deixou de existir a lei especial
que previa pena diferenciada para este fato, passando o mesmo a ser regido pelo tipo previsto no C—digo
Penal. Pode-se dizer, no entanto, que houve novatio legis in mellius, ou Lex mitior, que Ž a superveni•ncia
de lei mais benŽfica.
6
Art. 2¼ (...)
Par‡grafo œnico - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por senten•a condenat—ria transitada em julgado.
Mas e se a lei nova for revogada por outra lei mais gravosa? Nesse
caso, a lei mais gravosa n‹o se aplicar‡ aos fatos regidos pela lei mais benŽfica,
pois isso seria uma retroatividade da lei em preju’zo do rŽu. No momento em que
a lei intermedi‡ria (a que revogou, mas foi revogada) entrou em vigor, passou a
reger os fatos ocorridos antes de sua vig•ncia. Sobrevindo lei posterior mais
grave, aplica-se a regra geral da irretroatividade da Lei em rela•‹o a esta œltima.
|----|------|------------------------------------------------------|
Fato VIGæNCIA DA LEI B
7
Entretanto, no julgamento do RE 596152/SP, o STF adotou posi•‹o contr‡ria, ou seja, permitiu a
combina•‹o de leis. Trata-se de uma decis‹o isolada, portanto, n‹o caracteriza uma Òjurisprud•nciaÓ de
verdade.
8
E de forma a consolidar sua tese, o STJ editou o verbete n¼ 501 de sua sœmula de jurisprud•ncia,
entendendo, relativamente aos crimes da lei de drogas, a impossibilidade de combina•‹o de leis. Vejamos:
SòMULA N¼ 501
ƒ cab’vel a aplica•‹o retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incid•ncia das suas
disposi•›es, na ’ntegra, seja mais favor‡vel ao rŽu do que o advindo da aplica•‹o da Lei n. 6.368/1976,
sendo vedada a combina•‹o de leis.
9
Quando a lei Ž aplicada fora de seu per’odo de vig•ncia, diz-se que h‡ extratividade. A extratividade pode
ocorrer em raz‹o da ultratividade ou da retroatividade, a depender do caso. A extratividade, portanto, Ž um
g•nero, que comporta duas espŽcies: retroatividade e ultratividade. BITENCOURT, Op. cit., p. 207/209
2.1.2!Tempo do crime
Para podermos aplicar corretamente a lei penal, Ž necess‡rio saber quando
se considerada praticado o delito. Tr•s teorias buscam explicar quando se
considera praticado o crime:
1)! Teoria da atividade Ð O crime se considera praticado quando da a•‹o
ou omiss‹o, n‹o importando quando ocorre o resultado. ƒ a teoria
adotada pelo art. 4¡ do C—digo Penal, vejamos:
Art. 4¼ - Considera-se praticado o crime no momento da a•‹o ou omiss‹o, ainda que
outro seja o momento do resultado.
2.2.1!Territorialidade
Essa Ž a regra no que tange ˆ aplica•‹o da lei penal no espa•o. Pelo
princ’pio da territorialidade, aplica-se ˆ lei penal aos crimes cometidos no
territ—rio nacional. Assim, n‹o importa se o crime foi cometido por estrangeiro ou
contra v’tima estrangeira. Se cometido no territ—rio nacional, submete-se ˆ lei
penal brasileira.
ƒ o que prev• o art. 5¡ do C—digo Penal:
Art. 5¼ - Aplica-se a lei brasileira, sem preju’zo de conven•›es, tratados e regras de
direito internacional, ao crime cometido no territ—rio nacional.
10
Cezar Roberto Bitencourt critica parcialmente a sœmula, ao entendimento de que ela poderia ser aplic‡vel
ao crime permanente, sem nenhuma viola•‹o ˆ irretroatividade da lei mais gravosa, mas a mesma solu•‹o
n‹o poderia ser adotada em rela•‹o ao crime continuado, por n‹o se tratar de crime œnico com execu•‹o
prolongada no tempo, e sim mera fic•‹o jur’dica que considera como crime œnico (para fins de aplica•‹o da
pena), uma sŽrie de delitos. BITENCOURT, Op. cit., p. 220.
A maioria da Doutrina, contudo, n‹o tece cr’ticas ˆ sœmula. Ver, por todos, BITENCOURT, Op. cit., p. 120.
11
Ver, por todos, GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 123/124 e GOMES, Luiz Flavio.
BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 222.
Assim, aos crimes praticados nestes locais aplica-se a lei brasileira, pelo
princ’pio da territorialidade.
ATEN‚ÌO! Como sabemos, a Lei penal brasileira ser‡ aplicada aos crimes
cometidos a bordo de aeronaves ou embarca•›es estrangeiras, mercantes ou
de propriedade privada, desde que se encontrem no espa•o aŽreo brasileiro ou
em pouso no territ—rio nacional, ou, no caso das embarca•›es, em porto ou mar
territorial brasileiro.
Contudo, a Doutrina aponta uma exce•‹o ˆ aplica•‹o da lei penal brasileira
neste caso. Trata-se do PRINCêPIO DA PASSAGEM INOCENTE. Este
princ’pio, decorrente do Direito Internacional Mar’timo, estabelecido na
Conven•‹o de Montego Bay (1982), que foi assinada pelo Brasil, prev• que
uma embarca•‹o de propriedade privada, de qualquer nacionalidade, possui o
direito de atravessar o mar territorial de uma na•‹o, desde que n‹o ameace
a paz, a seguran•a e a boa ordem do Estado.
Aplicando tal princ’pio ao Direito Penal, a Doutrina entende que se um crime for
praticado a bordo de uma embarca•‹o que se encontre em Òpassagem
inocenteÓ, n‹o ser‡ aplic‡vel a lei brasileira a este crime, desde que o crime em
quest‹o n‹o afete nenhum bem jur’dico nacional. Ex.: Um americano mata
um holand•s dentro de um navio argentino em situa•‹o de passagem
inocente.
Parte da Doutrina estende a aplica•‹o do princ’pio tambŽm ˆs aeronaves
privadas em situa•‹o semelhante.
CUIDADO! Este princ’pio s— se aplica ˆs embarca•›es ou aeronaves que
utilizem o territ—rio do Brasil como mera ÒpassagemÓ. Se o Brasil Ž o destino da
aeronave ou embarca•‹o, n‹o h‡ aplica•‹o do princ’pio.
Assim, para que possamos trabalhar com este princ’pio na prova, a quest‹o
deve deixar clara a situa•‹o de Òpassagem inocenteÓ, ou seja, a Banca
tem que deixar claro que pretende saber se voc• tem conhecimento
disso. Caso contr‡rio, esque•a tal exce•‹o.
2.2.2!Extraterritorialidade
A extraterritorialidade Ž a aplica•‹o da lei penal brasileira a um fato
criminoso que n‹o ocorreu no territ—rio nacional.
Pode se dar em raz‹o de diversos princ’pios, que veremos a seguir:
No primeiro caso, basta que o crime de genoc’dio tenha sido cometido por
brasileiro para que a lei brasileira seja aplicada, n‹o havendo qualquer condi•‹o
alŽm desta.
No segundo caso (crime comum cometido por brasileiro no exterior),
algumas condi•›es devem estar presentes, conforme preceitua o ¤2¡ do art. 7¡
do CPB:
¤ 2¼ - Nos casos do inciso II, a aplica•‹o da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condi•›es: (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 1984)
a) entrar o agente no territ—rio nacional; (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 1984)
b) ser o fato pun’vel tambŽm no pa’s em que foi praticado; (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209,
de 1984)
c) estar o crime inclu’do entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradi•‹o;
(Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 1984)
d) n‹o ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou n‹o ter a’ cumprido a pena;
(Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 1984)
e) n‹o ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, n‹o estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favor‡vel. (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de
1984)
Assim, n‹o basta que o crime tenha sido cometido por brasileiro, Ž
necess‡rio que as condi•›es acima estejam presentes, ou seja: O fato deve ser
pun’vel tambŽm no local onde fora cometido o crime; deve o agente entrar no
territ—rio brasileiro; O crime deve estar inclu’do no rol daqueles que autorizam
extradi•‹o e n‹o pode o agente ter sido absolvido ou ter sido extinta sua
punibilidade no estrangeiro.
12
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 127
Vejam que se trata de bens jur’dicos altamente relevantes para o pa’s. N‹o
se trata de considerar a vida e a liberdade do Presidente da Repœblica mais
importante que a vida e a liberdade dos demais brasileiros. Nesse caso, o que se
busca Ž garantir que um crime praticado contra a figura do Presidente da
Repœblica n‹o fique impune, pois Ž mais que um crime contra a pessoa, Ž um
crime contra toda a na•‹o.
Reparem, ainda, que n‹o Ž qualquer crime cometido contra o
Presidente, mas somente aqueles que atentem contra sua vida ou
liberdade.
Estas hip—teses dispensam outras condi•›es, bastando que tenha sido o
crime cometido contra estes bens jur’dicos. Ali‡s, ser‡ aplicada a lei brasileira
ainda que o agente j‡ tenha sido condenado ou absolvido no exterior:
¤ 1¼ - Nos casos do inciso I, o agente Ž punido segundo a lei brasileira, ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro.
13
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 129
5
Crimes contra a
administração pública,
por quem está a seu
serviço
PRINCÍPIO DA JUSTIÇA
UNIVERSAL OU DO Crime de genocídio, quando o agente for
DOMICÍLIO OU DA brasileiro ou domiciliado no Brasil
PERSONALIDADE ATIVA
EXTRATERRITORIALIDADE
CONDICIONADA
Entrar o agente no território nacional
Neste caso, alŽm das condi•›es anteriores, existem ainda duas outras
condi•›es:
2.3.1!Sujeito ativo
Sujeito ativo Ž a pessoa que pratica a conduta descrita no tipo penal.
Entretanto, atravŽs do concurso de pessoas, ou concurso de agentes, Ž poss’vel
que alguŽm seja sujeito ativo de uma infra•‹o penal sem que realize a
conduta descrita no tipo penal.
EXEMPLO: Pedro atira contra Paulo, vindo a causar-lhe a morte. Pedro Ž
sujeito ativo do crime de homic’dio, previsto no art. 121 do C—digo Penal, isso
n‹o se discute. Mas tambŽm ser‡ sujeito ativo do crime de homic’dio, Jo‹o, que
lhe emprestou a arma e lhe encorajou a atirar. Embora Jo‹o n‹o tenha realizado
a conduta prevista no tipo penal, pois n‹o praticou a conduta de Òmatar alguŽmÓ,
auxiliou material e moralmente Pedro a faz•-lo.
Somente o ser humano, em regra, pode ser sujeito ativo de uma
infra•‹o penal. Os animais, por exemplo, n‹o podem ser sujeitos ativos da
infra•‹o penal, embora possam ser instrumentos para a pr‡tica de crimes.
14
Art. 43.1 do Decreto 61.078/67 Ð Promulga•‹o da Conven•‹o de Viena sobre Rela•›es Consulares.
Vejam que Ž necess‡rio que o ato (no caso dos vereadores) tenha sido
praticado na circunscri•‹o do munic’pio. Caso contr‡rio, n‹o haver‡ a
incid•ncia da prote•‹o constitucional.
2.3.2!Sujeito Passivo
O sujeito passivo nada mais Ž que aquele que sofre a ofensa causada
pelo sujeito ativo. Pode ser de duas espŽcies:
1)! Sujeito passivo mediato ou formal Ð ƒ o Estado, pois a ele pertence
o dever de manter a ordem pœblica e punir aqueles que cometem crimes.
3! DISPOSI‚ÍES PRELIMINARES DO CP
Como se v•, a lei estabelece que os prazos previstos na Lei Penal sejam
contados de forma a incluir o dia do come•o. Desta forma, se Bruno Ž
condenado a um m•s de pris‹o e o mandado Ž cumprido dia 10 de junho, essa
data Ž considerada o primeiro dia de cumprimento da pena, que ir‡ se extinguir
no dia 09 de julho, independentemente de o mandado ter sido cumprido no dia
10 de junho ˆs 23h45min. Esse dia ser‡ computado como um dia inteiro
para fins penais.
O artigo diz, ainda, que se computam os prazos pelo calend‡rio comum
(chamado de gregoriano), que Ž o que todos n—s utilizamos. Assim, no c™mputo
de meses n‹o levam em considera•‹o os dias de cada um (28, 29, 30 ou 31 dias).
Se um sujeito Ž condenado a pena de um m•s, e come•a a cumpri-la no dia 05,
sua pena estar‡ extinta no dia 04 do m•s seguinte, independentemente de o m•s
ter quantos dias for, o que na pr‡tica, gera algumas injusti•as. Com rela•‹o aos
anos, aplica-se a mesma regra (n‹o importa se o ano Ž bissexto ou n‹o).
Esta sœmula Ž, digamos, desnecess‡ria, eis que o art. 788, III do CPP j‡
exige o tr‰nsito em julgado como condi•‹o para a homologa•‹o da senten•a
estrangeira.
Percebam, por fim, que n‹o h‡ possibilidade de homologa•‹o da
senten•a penal estrangeira para fins de cumprimento de PENA. A
aplica•‹o de pena criminal Ž um ato de soberania do Estado e, portanto, entende-
se que n‹o poderia um Estado (no caso, o Brasil), aplicar a pena criminal imposta
em outro pa’s15. Se for o caso, poderia o Brasil proceder ao julgamento do
infrator, no Brasil.
15
Lembrando que Ž poss’vel a celebra•‹o de tratados internacionais de coopera•‹o jur’dico-penal para
transfer•ncia de presos, etc. Assim, as regras do CP se aplicam desde que n‹o haja tratado espec’fico
regulando a matŽria. Para os fins do nosso estudo basta que saibamos isso. N‹o Ž necess‡rio analisar a
exist•ncia de eventuais tratados ou acordos bilateriais internacionais.
3.4.2!Analogia
A analogia, por sua vez, n‹o Ž uma tŽcnica de interpreta•‹o da Lei Penal.
Trata-se de uma tŽcnica integrativa, ou seja, aqui se busca suprir a falta de
uma lei. Lembrem-se disso! N‹o confundir analogia com interpreta•‹o
anal—gica!
Na analogia, por n‹o haver norma que regulamente o caso, o aplicador
do Direito se vale de uma outra norma, parecida, de forma a aplic‡-la ao
caso concreto, a fim de que este n‹o fique sem solu•‹o.
A analogia nunca poder‡ ser usada para prejudicar o rŽu (analogia in
malam partem). Entretanto, Ž poss’vel sua utiliza•‹o em favor do rŽu
(analogia in bonam partem). Ex.: O art. 128, II do CP permite o aborto no caso
de gravidez decorrente de estupro. Entretanto, imaginem que uma mulher
engravidou somente atravŽs de atos libidinosos diversos da conjun•‹o carnal
(sexo anal com ejacula•‹o pr—ximo ˆ vagina). AtŽ 2009 eram crimes diversos,
hoje a conduta passou a tambŽm ser considerado estupro. Assim, nada impedia
que o aplicador do Direito entendesse poss’vel ˆ aplica•‹o do art. 128, II ao caso
dessa mulher, por ser analogia em favor do rŽu (m‹e que comete o aborto), pois
decorrente de situa•‹o extremamente parecida que n‹o possu’a regulamenta•‹o
legal.
Nesse œltimo caso, houve aplica•‹o da analogia in bonam partem,
considerada, ainda, analogia legal, pois se utilizou uma outra norma legal
para suprir a lacuna. Nada impede, porŽm, a analogia jur’dica, que Ž aquela
na qual o operador do Direito se vale de um princ’pio geral do Direito para
suprir a lacuna.
3.5.2!Princ’pio da subsidiariedade
Aqui n‹o h‡ uma rela•‹o de Òg•nero e espŽcieÓ, como ocorre na
especialidade. Aqui, a rela•‹o entre as normas aparentemente em conflito Ž de
ÒsubsidiariedadeÓ, ou seja, uma Ž mais abrangente que a outra.
EXEMPLO: H‡ subsidiariedade entre as normas dos arts. 163 (crime de dano) e
155, ¤4¼, I do CP (crime de furto qualificado pelo rompimento de obst‡culo).
Nesse caso, aparentemente, o agente deveria responder pelos dois crimes.
Todavia, para evitar o bis in idem, o agente responde apenas pelo crime descrito
na norma prim‡ria (crime de furto qualificado pelo rompimento de obst‡culo),
afastando-se a aplica•‹o da norma subsidi‡ria (crime de dano).
16
Alguns autores, como RogŽrio Greco, entendem que a ideia de subsidiariedade Ž desnecess‡ria, de forma
que o conflito poderia ser perfeitamente revolvido por meio do critŽrio da especialidade.
17
Extravio, sonega•‹o ou inutiliza•‹o de livro ou documento
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em raz‹o do cargo; soneg‡-
lo ou inutiliz‡-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclus‹o, de um a quatro anos, se o fato n‹o constitui crime mais grave.
3.5.4!Princ’pio da alternatividade
Trata-se de um princ’pio que n‹o Ž citado por todos os Doutrinadores, mas
que possui alguns adeptos. Este princ’pio seria aplic‡vel nas hip—teses em que
uma mesma norma penal descreve diversas condutas que s‹o criminalizadas,
sendo que a pr‡tica de qualquer uma delas j‡ consuma o delito (n‹o Ž necess‡rio
praticar todas), mas a pr‡tica de mais de uma das condutas, no mesmo contexto
f‡tico, n‹o configura mais de um crime (chamados de Òtipos mistos alternativosÓ).
18
Por exemplo, Cezar Roberto Bitencourt.
5! SòMULAS PERTINENTES
5.1! Sœmulas do STF
ÄSœmula n¼ 611 do STF Ð Uma vez ocorrido o tr‰nsito em julgado, caso haja
superveni•ncia de lei mais benŽfica, sua aplica•‹o compete ao Ju’zo da Execu•‹o
Penal:
SòMULA N¼ 611
Transitada em julgado a senten•a condenat—ria, compete ao Ju’zo das execu•›es a
aplica•‹o da lei mais benigna.
ÄSœmula n¼ 420 do STF - O STF exige que tenha havido o tr‰nsito em julgado
da senten•a penal condenat—ria para que possa ser realizada a homologa•‹o:
Sœmula 420 do STF
NÌO SE HOMOLOGA SENTEN‚A PROFERIDA NO ESTRANGEIRO SEM PROVA DO
TRåNSITO EM JULGADO.
6! RESUMO
INFRA‚ÌO PENAL
Conceito - A conduta, em regra praticada por pessoa humana, que ofende um
bem jur’dico penalmente tutelado, para a qual a lei estabelece uma pena, seja
ela de reclus‹o, deten•‹o, pris‹o simples ou multa.
EspŽcies
§! Crime - Infra•‹o penal a que a lei comina pena de reclus‹o ou de deten•‹o,
isoladamente, alternativa ou cumulativamente com a pena de multa
(conceito formal de crime).
§! Contraven•‹o - Infra•‹o penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
pris‹o simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
OBS.: Crime (conceito anal’tico) Ð ado•‹o da teoria tripartida: fato t’pico,
ilicitude e culpabilidade.
Abolitio criminis Ð Lei nova passa a n‹o mais considerar a conduta como
criminosa (descriminaliza•‹o da conduta).
Continuidade t’pico-normativa - Em alguns casos, embora a lei nova revogue
um determinado artigo que previa um tipo penal, a conduta pode continuar sendo
considerada crime (n‹o h‡ abolitio criminis):
§! Quando a Lei nova simultaneamente insere esse fato dentro de outro tipo
penal.
§! Quando, mesmo revogado o tipo penal, a conduta est‡ prevista como crime
em outro tipo penal.
OBS.: Faz cessar a pena e os efeitos penais da condena•‹o.
OBS.: Estas hip—teses dispensam outras condi•›es, bastando que tenha sido o
crime cometido contra estes bens jur’dicos.
OBS.2: Ser‡ aplicada a lei brasileira ainda que o agente j‡ tenha sido condenado
ou absolvido no exterior.
OBS.3: Caso tenha sido o agente condenado no exterior, a pena cumprida no
exterior ser‡ abatida na pena a ser cumprida no Brasil (DETRA‚ÌO PENAL).
SUJEITO PASSIVO
ƒ quem sofre a ofensa causada pela infra•‹o penal. Pode ser de duas espŽcies:
§! Sujeito passivo mediato ou formal Ð ƒ SEMPRE o Estado, pois a ele
pertence o dever de manter a ordem pœblica e punir aqueles que cometem
crimes.
§! Sujeito passivo imediato ou material Ð ƒ o titular do bem jur’dico
efetivamente lesado (Ex.: No furto, o dono da coisa furtada).
OBS.: O Estado tambŽm pode ser sujeito passivo imediato (Ex.: crimes contra o
patrim™nio pœblico).
T—picos importantes
§! Pessoa jur’dica pode ser sujeito passivo
§! Mortos n‹o podem ser sujeitos passivos (pois n‹o s‹o sujeitos de direitos)
§! Animais n‹o podem ser sujeitos passivos (pois n‹o s‹o sujeitos de direitos)
OBS.: Crime ambiental (ex.: maus-tratos a animais): sujeito passivo Ž a
coletividade.
OBS.: NinguŽm pode ser sujeito ativo e passivo do MESMO crime. Parte
da Doutrina entende que isso Ž poss’vel no crime de rixa, mas isso n‹o Ž posi•‹o
un‰nime
7! EXERCêCIOS DA AULA
8! EXERCêCIOS COMENTADOS
Como se v•, a lei estabelece que os prazos previstos na Lei Penal sejam contados
de forma a incluir o dia do come•o. O art. 11 do CP, por sua vez, diz o seguinte:
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos,
as fra•›es de dia, e, na pena de multa, as fra•›es de cruzeiro.
Desta forma, Ž tambŽm aplic‡vel a lei penal brasileira aos crimes praticados em
embarca•‹o estrangeira de propriedade privada navegando no mar territorial do
Brasil.
Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA ƒ A LETRA B.
9! GABARITO
1.! ALTERNATIVA B
2.! ALTERNATIVA C
3.! ALTERNATIVA A
4.! CORRETA
5.! CORRETA
6.! CORRETA
7.! ERRADA
8.! ERRADA
9.! ERRADA
10.! ALTERNATIVA A
11.! ERRADA
12.! ERRADA
13.! ERRADA
14.! ERRADA
15.! ALTERNATIVA B
16.! ALTERNATIVA A
17.! ALTERNATIVA A