Tratamentos pré-germinativos em sementes de vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.). Horticultura Brasileira 30:
S7929-S7936.
RESUMO
O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência de tratamentos pré-germinativos na superação da
dormência de sementes de vinagreira. O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de
Sementes, do Departamento de Ciências Agrárias (DCA) da Universidade Estadual de Montes
Claros - Unimontes, Campus Janaúba-MG, durante o período de março a abril de 2012. Foram
realizadas as seguintes determinações para avaliação da qualidade fisiológica das sementes:
germinação, primeira contagem de germinação, emergência de plântulas e índice de velocidade de
emergência, comprimento e massa seca de plântulas. O delineamento experimental utilizado foi
inteiramente casualizado com quatro repetições de 50 sementes por tratamento, sendo: T1-
testemunha; T2 - embebição das sementes em água destilada a temperatura de 70 ºC por 10
minutos; T3 - pré-esfriamento das sementes sob temperatura de 10 ºC por 4 dias; e T4 -
escarificação química com ácido sulfúrico durante 5 minutos. Os dados foram submetidos à análise
de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5 % de probabilidade. A escarificação
química com ácido sulfúrico durante 5 minutos reduz a dormência e promove incrementos na
qualidade fisiológica das sementes da vinagreira.
PALAVRAS-CHAVE: Hibiscus sabdariffa L., germinação, dormência.
ABSTRACT
Treatments pre-germination in seeds of hibiscus (Hibiscus sabdariffa L.)
The objective of this study was to evaluate the efficiency of pre-germination treatments for
overcoming dormancy of seeds of vinegar. The experiment was conducted at the Seed Analysis
Laboratory, Department of Agricultural Sciences (DCA), State University of Montes Claros -
Unimontes Campus Janaúba-MG during the period March-April 2012. The following
determinations were carried out to evaluate the physiological quality of seeds: germination, first
count of germination, seedling emergence and emergence rate index, length and seedling dry
weight. The experimental design was completely randomized with four replications of 50 seeds per
treatment were: T1-control, T2 - soaking the seeds in distilled water at 70 ° C for 10 min, T3 - pre-
cooling of the seeds at a temperature of 10 ° C for 4 days and T4 - chemical scarification with
sulfuric acid for 5 minutes. The data were submitted to ANOVA and means compared by Tukey
test at 5% probability. The chemical scarification with sulfuric acid for 5 minutes reduces dormancy
and promotes increases in seed physiological quality of vinegar.
Keywords: Hibiscus sabdariffa L., germination, dormancy.
A vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.) também conhecida como rosela, azedinha, quiabo azedo,
dentre outros é uma das espécies consideradas como subutilizadas no Brasil, porém com grande
potencial para fazer parte da cadeia produtiva das hortaliças a nível local, regional ou nacional
(Melo, 2007). Apresenta-se como um arbusto semi-lenhoso, bianual ou perene, ereto ou ramificado
conforme a condução, podendo chegar aos 3 metros de altura.
É usada como hortaliça, medicinal e ornamental, sendo rica em vitamina A e B1 e em ácidos:
cítrico, málico e tartárico. Indicado como diurético, calmante, estomáquico é ainda usado na
fabricação de doces, geléias e sucos, sendo os cálices a parte mais consumida da planta (Castro et
al., 2004). As sementes possuem 17% de óleo e 25,2% de proteínas (Cardoso, 1997).
O estudo da germinação das sementes de espécies medicinais tem merecido atenção especial da
comunidade científica, devido ao incremento ao seu potencial farmacológico, aliado a necessidade
de proceder a cultivos racionais destinados a produção de fitoterápico (Pereira, 1992).
Outro fator de relevância no estudo da germinação é a dormência das sementes, fator caracterizado
pelo atraso na germinação quando, mesmo as sementes encontrando as condições favoráveis não
germinam. O fenômeno de dormência em sementes, que geralmente ocorre após estas atingirem a
maturidade fisiológica, advêm de uma adaptação da espécie as condições ambientais em que ela se
reproduz, sendo, portanto, um recurso utilizado pelas plantas para germinarem na estação mais
propicia ao seu desenvolvimento, buscando por meio disso a perpetuação da espécie (Guimalhães et
al., 2006). Considerando a adaptação das espécies ao seus habitats, a dormência é benéfica na
medida que impede a germinação até que se instalem condições ambientais propícias, impede a
viviparidade e atua na conservação in situ, permanecendo viáveis no solo reduzindo a probabilidade
de extinção. Entretanto, espécies que apresentam esse mecanismo exigem tratamentos especiais
para a quebra da dormência o que representa aumentos no custo de produção (Guimarães et al.,
2006). A dormência em sementes de plantas cultivadas é atribuída usualmente a tegumentos
impermeáveis e à imaturidade fisiológica.
Ao se deparar com esse fenômeno, há necessidade de conhecer como as espécies superam o estado
de dormência em condições naturais, a fim de que, por analogia, sejam desenvolvidos tratamentos
alternativos para uma germinação rápida e uniforme, quando da utilização agronômica da espécie.
Diversos métodos têm sido empregados visando à superação da dormência, principalmente quando
se refere ao impedimento à entrada de água, tais como: a escarificação mecânica e química, a
embebição das sementes em água e tratamentos com altas temperaturas. Contudo, a aplicação e
eficiência desses métodos dependem da causa e do grau da dormência, o que é bastante variável
entre as espécies (Lima & Garcia, 1996).
Assim, face às considerações, objetivou-se nessa pesquisa avaliar a eficiência de diferentes
tratamentos pré-germinativos na superação de dormência em sementes de vinagreira.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes, do Departamento de Ciências
Agrárias (DCA) da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, Campus Janaúba-MG,
durante o período de março a abril de 2012.
Foram utilizadas sementes de vinagreira provenientes de frutos maduros colhidos de plantas
oriundas do Horto de Plantas Medicinais - HPM da Unimontes. As sementes foram extraídas
manualmente dos frutos e acondicionadas em embalagem de papel, sendo mantidas sob condições
ambientais de laboratório à temperatura média de 25 ºC até a realização das análises.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado (DIC) com quatro repetições de
50 sementes por tratamento que consistiram em: T1- testemunha (sem tratamento pré-germinativo);
T2- embebição das sementes em água destilada a temperatura de 70 ºC por 10 minutos; T3- pré-
esfriamento das sementes sob temperatura de 10 ºC por 4 dias; T4 – escarificação química com
ácido sulfúrico (H2SO4) durante 5 minutos.
Foram realizadas as seguintes determinações para avaliação da qualidade fisiológica das sementes:
Teor de água: determinado conforme metodologia prescrita nas Regras para Análise de Sementes -
RAS (Brasil, 2009), utilizando o método da estufa, a 105 ± 3 oC, durante 24 horas, com três
repetições de 5 g de sementes, sendo os resultados expressos em % de teor de água.
Teste de Germinação: para a realização do teste, utilizou-se o substrato rolo de papel. Foram
utilizadas três folhas de papel germitest por rolo, umedecido com água destilada, utilizando-se um
volume equivalente a 2,5 vezes o peso do papel. Os rolos foram colocados em germinadores
previamente regulados à temperatura constante de 25 ºC. Os resultados foram expressos em
porcentagem de plântulas normais computadas após determinação, em testes preliminares, dos dias
para a primeira e última contagem do teste (7º e 14º, respectivamente), como recomendam as RAS
(Brasil, 2009), onde foram avaliadas também a porcentagem de plântulas anormais, sementes
mortas e sementes duras.
Primeira contagem do teste de germinação: Os resultados do teste de primeira contagem foram
obtidos pelo número de plântulas normais, determinado por ocasião da primeira contagem do teste
de germinação, ao sétimo dia após a semeadura (Brasil, 2009).
Emergência de plântulas: realizado sob condições ambientais de laboratório. Utilizou-se areia
lavada e esterilizada em estufa a 200 ºC durante duas horas. As sementes foram semeadas em caixas
plásticas a uma profundidade de 3 cm e o teor de água foi mantido com irrigações leves
diariamente. Utilizou-se quatro repetições de 50 sementes por tratamento e os resultados foram
expressos em porcentagem de plântulas normais emergidas, que apresentaram alça cotiledonar
visível, até a estabilização do estande, aos quatorze dias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A determinação do teor de água das sementes de vinagreira, como procedimento inicial na
avaliação da qualidade, indicou que as sementes apresentaram-se com 9,6 % de umidade.
Na Tabela 1 são apresentados os resultados médios referentes à germinação (G), plântulas anormais
(PA), sementes mortas (SM) e sementes dormentes (SD), de sementes de vinagreira, em função dos
tratamentos pré-germinativos. Observa-se que os resultados de germinação (G), plântulas anormais
(PA) e sementes mortas (SM) foram influenciados pelos tratamentos pré-germinativos. Entretanto,
para a variável, sementes dormentes (SD) não foi verificado efeito dos tratamentos utilizados
(Tabela 1).
Por meio do teste de germinação, verifica-se que as sementes que receberam pré-esfriamento a 10
ºC durante 4 dias não apresentaram diferenças no percentual germinativo entre o tratamento
controle (testemunha). Entretanto, quando as sementes foram escarificadas com ácido sulfúrico
(H2SO4) durante 5 minutos observou-se incrementos significativos na porcentagem de plântulas
normais quando comparado aos demais tratamentos (Tabela 1). Vale ressaltar que o tratamento com
ácido sulfúrico tem sido indicado por vários autores (Rodrigues et al., 1990; Bruno et al., 2001;
Silva et al., 2001; Santarém & Aquila, 1995; Alves et al., 2006; Martins & Nakagawa, 2008), como
um dos mais promissores para superação da dormência em sementes de diversas espécies, nesse
sentido, Martins et al. (2011) verificaram que a imersão das sementes em ácido sulfúrico durante 4
AGRADECIMENTOS
A Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, pelo suporte técnico, e à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
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superação da dormência de unidade de dispersão de juazeiro (Zizyphus joazeiro Mart.). Revista
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(Ker Gawl.) Miers] – Bignoniaceae. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.10, n.4, p.37-42.
Tabela 1. Porcentagem dos dados obtidos no teste de germinação, referentes às plântulas normais
(PN), plântulas anormais (PA), sementes mortas (SM) e sementes dormentes (SD) de sementes de
vinagreira, em função dos tratamentos pré-germinativos (Percentage of data obtained in the
germination test, referring to normal seedlings, abnormal seedlings, dead seeds and seed dormancy
of vinegar, depending on the pre-germination treatments). Janaúba, MG. 2012.
Variáveis
Tratamentos
PN PA SM SD
1- Testemunha 33 B 6 AB 28 A 33B
2- Água quente a 70 ºC/10 min. 0C 2 AB 20 A 78 A
3- Pré-esfriamento a 10 ºC/4 dias 31 B 8A 24 A 37 B
4- Escarificação química H2SO4/5 min. 46 A 1B 23 A 30 B
Médias 27,5 4,2 23,7 44,5
Médias seguidas por letras diferentes, na coluna, diferem estatisticamente pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Tabela 2. Resultados médios dos testes de primeira contagem (PC), emergência de plântulas (EP),
índice de velocidade de emergência (IVE), comprimento (CP) e massa seca (MS) de plântulas de
vinagreira, em função dos tratamentos pré-germinativos (Average test results of the first count,
seedling emergence, speed of emergence index, length and seedling dry weight of vinegar,
depending on the pre-germination treatments). Janaúba, MG. 2012.
Variáveis
Tratamentos
PC (%) EP (%) IVE CP (cm) MS (g)
1- Testemunha 13 C 27 B 1,5BC 7,7 B 1,7 B
2 Água quente a 70 ºC/10 min. 0D 2C 0,1C 3,0 C 0,0 C
3 Pré-esfriamento a 10 ºC/4 dias 24 B 44 A 3,3 AB 8,8 B 3,3 A
4- Escarificação química H2SO4/5 min. 37 A 45 A 4,5 A 10,7 A 4,3 A
Médias 18,5 29,5 2,3 7,5 2,3
Médias seguidas por letras diferentes, na coluna, diferem estatisticamente pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.